Marion Vaz
2
Sobre a autora
Marion Vaz nasceu em 1962. A paixão pelos
livros levou a autora a escrever romances e
outras obras, além de diversos artigos, contos e
poemas a disposição de todos os leitores em
seus blogs.
Atualmente mora no Rio de Janeiro e
administra o site Point do Escritor para
auxiliar os novos talentos da literatura
brasileira.
http://pointdoescritor.webnode.com/
No site você encontra artigos, sugestões, links
e diversos assuntos que o estimularão a
continuar a escrever e publicar suas obras.
Sugestões, críticas e comentários sobre o
conteúdo [email protected]
É proibida a reprodução. A obra está registrada
no Escritório de Registros Autorais.
Rio de Janeiro/RJ
2013
3
“Por que Dele e, por Ele e para Ele,
São todas as coisas”
4
Introdução:
Quando pensei em escrever a história de
Jesus, observei que já existiam tantos outros
livros escritos em forma de estudos bíblicos,
que eu optei por esta forma de romance.
Esta era a melhor maneira de expressar
todos os sentimentos, colocando alguns fatos
em ordem cronológica e outros não.
Entrelaçando lembranças com fatos reais.
Expondo a história da vida de Jesus, como
também uma parcela do dia a dia de Israel,
naquele período da História.
A obra Solidão no Getsêmani não deve
ser lida como ficção. Ela mostra passo a passo,
acontecimentos reais, que fizeram diferença no
mundo antigo e até hoje influenciam a vida de
todos nós.
As passagens bíblicas que são comentadas
nos púlpitos das igrejas, e foram vivenciadas
por cada personagem mostram o contexto
social e espiritual da época e aqui o leitor vai
ter uma nova percepção do cotidiano da vida
de Jesus.
O desejo de a autora é converter os
corações a Deus, o Eterno, que segundo as
Escrituras, enviou seu filho para salvar um
5
mundo perdido (João 3.16). O homem simples
que nasceu na cidade de Belém, na Judeia,
num momento em que os homens estavam
famintos por mudanças sociais e espirituais,
caminhou de um lugar ao outro proclamando
uma mensagem de amor e vida.
Jesus andou na companhia de pessoas
simples, e algumas delas eram consideradas
como pecadores pela sociedade da época.
Mas para ele, o importante era poder
estender a mão e ajudar alguém a se
reencontrar com Deus. E muitas pessoas foram
abençoadas, curadas, salvas e transformadas
com um simples toque de suas mãos! Quantas
vidas tiveram uma nova chance?!
Ele, que recebeu títulos como o homem
de Nazaré, o Galileu, o Profeta, o Nazareno, o
Rei dos judeus, o Salvador e que após realizar
tantos milagres, foi abandonado. E foi ali, no
Jardim do Getsêmani, quando precisou
enfrentar um dos maiores conflitos da sua
vida, que descobriu que não podia contar com
ninguém, nem mesmo com seus discípulos!
Naquele momento ele tinha que decidir se
seguia em frente ou... Não! A solidão no
Getsêmani contribuiu para sua decisão!
6
A obra não contém todos os feitos de
Jesus, pois, como nos informou João – o
apóstolo – nem todos os livros do mundo
poderiam conter tantos fatos.
Mas, se de tudo o que for lido, uma
pequena partícula resgatar uma vida e mudar
os sentimentos das pessoas, ou reconstruir um
sonho ou trazer salvação a uma alma, essa
obra já terá o seu retorno e a autora sentir-se-á
recompensada pelo seu esforço e por todas as
críticas que poderá receber.
A autora.
7
O Princípio do Fim
8
Um grupo de homens caminha por uma
estrada empoeirada. Na frente, o líder do
grupo aponta para o Monte das Oliveiras, os
demais o seguem sem nada perguntar, estão
cansados e visivelmente esgotados, olhos
carregados de sono, mas mesmo assim seguem
o mestre, como fizeram anteriormente em suas
andanças.
O Silêncio
O líder, Jesus, também parece cansado,
está diferente e não caminha como das outras
vezes, confiante e consciente de sua missão.
Não! Naquele instante está pensativo. Os
discípulos até estranham e perguntam entre si
por que não há ensinamentos, nem risos, nem
mesmo palavras de repreensão? E por que
todos caminham em silêncio?
Agora atravessam o vale, hoje chamado
vale de kidron, mas em outras épocas também
conhecido como vale de Jeosafá. Nas grandes
chuvas, havia água em abundância, mas agora
estava seco.
De longe podiam avistar as grandes
árvores. O jardim ficava movimentado durante
o dia, mas aquela noite escura indicava que
algo estava para acontecer. Os passos lentos do
mestre pareciam não querer chegar ao seu
9
destino. Podia-se se ouvir a respiração dele, os
cabelos soltos trepidavam ao vento. O som das
sandálias pisando o chão coberto de folhas
parecia o som de ossos se quebrando. Mas ele
caminhava consciente do seu destino e não se
deixava intimidar pelas dúvidas que pairam em
sua mente.
Finalmente chegam a um lugar chamado
Jardim de Getsêmani. O local era um dos
muitos hortos que se espalhavam pelas férteis
encostas do Monte das Oliveiras, separado de
Jerusalém pelo Vale. Prensas de azeitonas
produziam o azeite necessário pára abastecer a
região. Era uma fonte de renda dos habitantes
de Jerusalém por causa dos olivais plantados
por todo lugar.
Em outras ocasiões o jardim era o
preferido de Jesus e era ali que ele passava
algumas horas descansando depois de uma
viagem, ou tirava um tempo para orar ou para
conversa sobre o futuro. Judas, o décimo
segundo discípulo, não estava entre eles. Ficou
para trás quando saiu no meio da celebração
do Seder. Por certo estava envergonhado
depois que Jesus disse que ele era um traidor.
O mestre para num determinado lugar e
aponta para os discípulos dividindo o grupo
em dois, uma parte deveria ficar na entrada, o
10
outro grupo composto de Pedro, Tiago e João
caminhou com ele para mais adiante.
O silêncio que os acompanhou durante
todo o trajeto é quebrado quando Jesus
expressa toda angustia que sentia seu coração.
- “A minha alma está profundamente triste até
a morte”.1 Disse o líder. Ficai aqui e vigiai.
Os discípulos não comentam o assunto.
Estavam tão cansados! As últimas semanas
foram de muito trabalho. Vigiar? Por quê?
Perguntam entre si quando olham um para o
outro. Ninguém responde. Então, um a um, se
assentam próximo a uma pedra e recostam a
cabeça. Jesus segue um pouco mais para
dentro do jardim. Precisava ficar só e orar. As
mãos apalpam uma árvore e logo aparece uma
cena em sua mente:
O sol estava alto e em algum longe dali
alguns homens com machados nas mãos estão
cortando algumas árvores, eles derrubam uma
delas no chão e com estranha rapidez vão
cortando os galhos ainda cheios de folhas.
Dois homens se aproximam e puxam o tronco
mal podado e arrastam-no até os demais que
estão caídos no chão. Um terceiro homem
chega perto e conta os troncos, parece o chefe
do grupo, ele grita:
1 Evangelho de Mateus 26. 38
11
- Cortem mais um, pode ser que tenhamos
mais crucificações este ano! O homem ri da
piada. Afinal, todos sabiam que aquele tipo de
sentença era comum no governo do Império
romano. Os troncos são amarrados e puxados
por burros até o local designado pelo chefe.
Após essa visão, Jesus parece ainda mais
cansado e angustiado, com as mãos para o alto,
ora a Deus pedindo forças.
O coração descompassado não aguenta
mais tantas lembranças. Algumas, de um
passado bem distante surgem agora em sua
mente:
- José, venha comer, traga o menino! A voz
feminina era familiar.
Numa espécie de carpintaria, o pai
ensinava o filho o seu oficio: Trabalhar com
madeira. O menino tem cerca de quinze anos.
Os dois limpam as mãos no pedaço de trapo e
seguem em direção a casa. O pai sorri para o
filho, está satisfeito com o trabalho dele e
mexe no cabelo em desalinho colocando parte
dos fios no lugar. Outras crianças também
estão por perto...
* * *
12
O voo de um pássaro o traz de volta a
realidade. A ave se esconde no meio das
árvores e o silêncio, que toma conta do lugar,
parece cercá-lo. Jesus olha a sua volta e não vê
ninguém. Está sozinho. E sabe muito bem tudo
o que vai acontecer. Já conhecia o futuro desde
o passado. Esse era o destino e foi para isso
que veio ao mundo, para salvar a humanidade.
Cenas do tempo em que sentava a direita
do Pai passaram na sua frente: O Pai e o Filho.
Ele se lembra da criação da Terra, do Jardim
do Éden e daquela voz poderosa:
- “Façamos o homem a nossa imagem e
semelhança”.2
E assim o homem foi feito do pó da terra
e passou a ter comunhão com Deus. Adão e
sua companheira Eva pecaram, desobedecendo
a uma ordem direta do seu Criador. Expulsos
do jardim enfrentaram muitas dificuldades,
mas enfim povoaram a terra.
Lá do alto, Jesus assisti o crescimento e a
organização da sociedade, seu pleno
desenvolvimento, as guerras, as mortes. Deus
estava enojado do homem que havia criado e
resolve destruir tudo. Mas Ele contempla a
terra atentamente e seus olhos acham um
homem diferente: Noé. Ele sorri, ainda resta
2 Gênesis 1.26
13
uma esperança. Mas o dilúvio destrói toda a
terra...
Como relâmpagos outros acontecimentos
aparecem diante de Jesus. Ele está no centro
do jardim e seu corpo gira à medida que as
imagens aparecem e depois somem dando
lugar a outras:
Pessoas gritando sendo carregadas pelas
águas do dilúvio, choro, pavor, morte. A
embarcação pairando em cima das águas. O
tempo passando e a força do vento jogando a
arca de um lado para outro.
Depois a leve brisa, a pomba, o ramo de
Oliveira... O arco nos céus...
A torre de babel afronta o Criador... A
confusão das línguas... Os homens se
espalhando pela terra... Cidades surgindo aqui
e ali... O povo peca outra vez... Adoram
deuses...
Em Ur dos Caldeus um homem olhando
para os céus, assustado com a voz que o
manda sair para terras distantes...3
Abraão, Isaque e Jacó... Três gerações...
Na quarta... Moisés - O libertador...
3 Gênesis 12.1
14
Um povo cativo, gemendo, oprimido... E
Faraó zombando de Deus...
- Deixa meu povo ir...
Uma multidão de gente caminhando... O
mar se abre e o povo atravessa para o outro
lado. O deserto... A Lei... O Tabernáculo...
Sacrifícios e ofertas... Enfim... A Terra
Prometida...
Um povo, uma terra, um só Deus...
Josué, Juízes, reis e profetas... Sacrifícios e
castigos... Cativeiro... Retorno... As visões
somem. Jesus cai, prostrado na terra...
Exausto.
A Lei... Os profetas... Todos apontam
para a vinda do Mashiach.
* * *
“Um Filho vos nasceu e seu nome será:
Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai
da Eternidade e Príncipe da Paz”
Isaías 9.6
* * *
15
Um menino nasce em Beit Lehem...
José está em pé, no meio da rua. Está
nervoso, cansado. Não havia lugar para se
hospedar com a mulher. Não podia voltar para
Nazaré, tinha que ficar em Belém até se alistar
conforme o decreto de César Augusto. Maria
inclina o corpo e apoia a barriga com as mãos.
A criança se mexe dentro dela. Só então ela se
lembra de que não comeu nada. O homem ao
seu lado sorri. Ele acaricia seus cabelos e diz
que volta logo. Maria senta-se num banco de
madeira e fica esperando o marido. Ela olha
em volta, Belém está agitada.
A quantidade de pessoas que transita por
suas ruelas é muito grande. Eles andam
apressadamente. As vozes se misturam com o
vai e vem e desaparecem dando lugar a outros
barulhos: O canto de mulheres, os cascos das
patas dos burricos no chão de pedra. Um grito
aqui e ali de vendedores... Ela ficou zonza.
- Está tudo bem? Perguntou o marido. Maria
sorri. Trouxe algo para comer.
A mulher agrade. O gosto era bom. José
também se alimenta. Está inquieto, mais do
que das outras vezes.
- Não há lugar nas estalagens. Falou baixo. A
mulher olha o homem coçando o rosto
barbudo e pensa no quanto ela o amava.