FERRAMENTA DE SIMULAO PARA AUXILIAR O PRODUTOR
BRASILEIRO DE SOJA NO DESENVOLVIMENTO DE ESTRATGIA
LOGSTICA E FINANCEIRA DE COMERCIALIZAO DE UMA SAFRA DO
PRODUTO A GRANEL
Edson Jos Dalto
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto COPPEAD de Administrao
Orientador: Prof. Eduardo Saliby, Ph. D.
Rio de Janeiro, RJ Brasil
Dezembro de 2003
iii
Dalto, Edson Jos
Ferramenta de Simulao para Auxiliar o Produtor Brasileiro de Soja no Desenvolvimento de Estratgia Logstica e Financeira de Comercializao de uma Safra do Produto a Granel / Edson Jos Dalto Rio de Janeiro, 2003.
xvii, 230 f.: il.
Tese (Doutorado em Administrao) Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, Instituto COPPEAD de Administrao, 2003.
Orientador: Eduardo Saliby
1. Logstica Empresarial. 2. Agronegcios. 3. Simulao. 4. Administrao Teses.
I. Saliby, Eduardo (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administrao. III. Ttulo.
iv
Dedico este trabalho a minha me, Dona Isaura, como homenagem pstuma.
Dela guardo as melhores lembranas de minha formao.
A minha irm Rita que, na ausncia de Dona Isaura, assumiu o papel de me para mim.
Carinhosa, apoiando-me, aconselhando-me em cada passo e sempre pendente dos
resultados.
Ao meu pai, Seu Luiz, que apostou em minha escolha, viabilizou financeiramente boa
parte desse caminho e transmitiu-me os seus valores, sempre muito importantes em
minha vida
v
AGRADECIMENTOS
Ao professor Eduardo Saliby, amigo e bom guia nesta longa e difcil trajetria do
Doutorado. Agradeo-o pelo acolhimento desde quando o procurei com a inteno de
iniciar o curso, por ter apostado em mim, pelos ensinamentos transmitidos, pelo apoio,
proteo e orientao que recebi, por ter sabido dividir comigo as alegrias e dificuldades
do processo e por ter-me ouvido nas angstias que fazem parte desse caminho.
Ao Prof. Nlio Pizzolato, membro da banca de Tese, do Exame de Qualificao e do
Projeto de Tese. Obrigado pelos conselhos e pelas diversas ajudas sempre que fui
procur- lo e por ter se interessado, de verdade, pelo meu trabalho. Penso que posso
cham-lo de co-orientador.
Ao Prof. Licnio Portugal, membro da banca e amigo das horas difceis. Meus sincero
agradecimento por ter aceitado participar da banca, apesar do convite em uma hora
intempestiva e pelos conselhos relevantes durante a defesa.
Ao Professor Celso Lemme, membro da banca de Tese e do Projeto de Tese. Sempre
muito prestativo, oferecendo-me bons conselhos, ajuda efetiva e deslindando horizontes
mais amplos para o meu trabalho. Suas colocaes durante as defesas do Projeto e da
Tese foram muito agudas e oportunas.
Ao Prof. Virglio que me acompanhou durante o Exame de Qualificao, Projeto de
Tese e formou parte da banca de Defesa de Tese. Agradeo pelas sugestes,
esclarecimentos e por ter-me ouvido sempre que necessitei.
Ao Prof. Carlos Nassi que, embora no tenha podido participar da Banca de Defesa de
Tese um amigo por quem guardo muita admirao.
Aos professores do Instituto COPPEAD que compartilharam conosco seus
conhecimentos e nos ensinaram a tomar um gosto ainda maior pela pesquisa e o estudo.
vi
Aos funcionrios do Instituto COPPEAD que prestaram sua valiosa colaborao nas
diversas tarefas de apoio. Gostaria de fazer uma referncia especial a Cida, por sua
extraordinria dedicao.
Aos colegas de curso, com quem muitas vezes compartilhamos dores e alegrias neste
longo caminho e que, pela compreenso, apoio e reciprocidade tornaram-se grandes
amigos. Destaco deste grupo, meu grande amigo Paulo Roberto, referncia imediata nas
minhas necessidades de comunicao.
Ao CNPq, pelos quase 4 anos de apoio financeiro.
A todos os amigos que prestigiaram minha defesa e vieram dar o seu apoio neste
momento muito importante e queles que, querendo participar, no puderam estar
presentes. Lamento no poder destacar seus nomes. Foram inmeros.
queles que involuntariamente omiti e que, de alguma forma, me ajudaram no
desenvolvimento deste trabalho, meus mais sinceros agradecimentos.
Agradeo sobretudo a Deus a quem devo em primeiro lugar tudo o que de bom h em
mim.
Finalmente, gostaria de afirmar que me sinto muito orgulhosos e honrado em participar
desta seleta comunidade, o Instituto COPPEAD de Administrao, que me
proporcionou os mais ricos anos de formao profissional em minha vida.
vii
RESUMO
Esta pesquisa visa a apresentar o projeto de uma ferramenta de simulao, em
forma de planilha, para que um produtor de soja possa, em cada regio de cultivo e de
acordo com seu perfil de averso ao risco e necessidade de formao de capital de
custeio, desenvolver uma estratgia logstica e financeira de comercializao de uma
safra do produto a granel, com o propsito de maximizar sua receita de venda. Atravs
desse instrumento o produtor ter a possibilidade de decidir sobre a forma de
comercializao (venda especulativa, antecipada, futura ou opo de venda), o local de
entrega do produto e as quantidades vendidas em cada poca, em uma deciso
reavaliada ms a ms. As premissas para a tomada desse conjunto de decises
fundamentam-se na considerao das expectativas de valor futuro da cotao do gro na
Bolsa de Chicago e nos mercados locais, da taxa de cmbio e dos custos logsticos nos
canais de escoamento do produto. O modelo contempla as principais reas produtoras
de soja do pas, porm a anlise individual para a regio escolhida. O ambiente de
planejamento envolve um horizonte de 18 meses onde, para cada ms, so
contabilizados receitas e custos provenientes da produo e da venda do produto.
viii
ABSTRACT
The objective of this research is the proposal of a simulation tool, in spreadsheet
form, so that a soybean producer might be able to develop a logistical and financial
strategy of commercialization of the harvest in bulk form, in a way to maximize its
gross income, in accordance of the region selected for analysis and the producers
profile of risk aversion and his necessity of expenditure capital. Through this model, the
producer will decide on the commercialization form (speculative, anticipated, future or
selling option), the place of delivery of the product and the amounts sold at each time, in
a month by month reevaluation decision. For taking decisions, the assumptions used in
the model are based on the expectations about future values of the grain in the Chicago
Board of Trade and in local markets, the exchange rate and the logistical costs of
transporting the product to the closest port. The model contemplates the main producing
areas of soybean of the country, however the analysis is specialized for the chosen
region. The planning environment involves a horizon of 18 months where, for each
month, accounted incomes are forecasted and costs proceeding from the production and
selling of the product are taken into consideration.
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura I.1 Evoluo da produo de Soja dos trs principais pases produtores
Figuras II.1 a), b) e c) Principais produtores, exportadores e importadores de soja
estimados para a safra 2002/03
Figuras II.2 a), b) e c) Evoluo comparada da rea cultivada, produo e
produtividade da soja entre as regies Sul e Centro-Oeste do Brasil
Figura II.3 Evoluo da produo da soja nos principais estados do Brasil
Figura II.4 Capacidade Instalada de Processamento de Oleoginosas por estados do
Brasil
Figura III.1 Custos comparativos de produo de soja no Brasil, EUA e Argentina
Figura III.2 Matriz de Transportes para a soja entre os pases exportadores
Figura III.3 Evoluo na participao dos portos dos portos brasileiros na exportao
de soja em gros
Figura III.4 Principais reas produtoras de soja do Cerrado e corredores da malha
brasileira de escoamento de gros
Figura III.5 Valor no tempo de uma opo
Figura IV.1 Cotaes da Soja em gros na CBOT
Figura IV.2 Cotaes da Soja em gros em Chicago e Paranagu e Cotao do Dlar
em uma situao hipottica
Figura V.1 Painel Formas de Comercializao ilustrando o acesso por via de atalho
Figura V.2 Ilustrao da forma de insero de dados em um formulrio
Figura V.3 Mapa do Brasil com todas as regies produtoras de soja contempladas pelo
modelo e rede logstica para exportao
Figura V.4 Tela para insero das Informaes Iniciais para o planejamento
Figura V.5 Tela para insero de Distncias e Cotaes Iniciais
Figura V.6 Tela para insero da rea Plantada e Volume Colhido
Figura V.7 Tela mostrando o Ambiente de Planejamento
Figura V.8 Tela de aviso alertando sobre a contratao de transporte sem uma
correspondente venda no porto para a data
Figura V.9 Tela de aviso alertando sobre a venda de parte da produo para entrega no
porto sem contratao de transporte para a data
Figura V.10 Tela de aviso alertando sobre o saldo negativo em caixa
x
Figura V.11 Tela indicando o final da etapa de planejamento
Figura V.12 Informaes acessadas atravs do boto Analisar Grfico
Figura V.13 Grfico acessado pelo acionamento do boto Cotaes em US$
Figura V.14 Tela de interface para seleo de Formas de Comercializao
Figura V.15 Tela de aviso mostrada ao se acionar o boto Refazer, alertando sobre as
conseqncias dessa deciso
Figura V.16 Tela de interface para contratao de CPR
Figura V.17 a), b) e c) Telas de aviso mostrando a necessidade de alguma deciso
prvia para dar continuidade ao planejamento
Figura V.18 Tela de aviso mostrando a disponibilidade de volume para a Forma
Contratual pretendida
Figura V.19 Tela de interface para contratao de CPR Financeira
Figura V.20 Tela de interface para contratao de Futuro
Figura V.21 Tela de interface para contratao de Opo
Figura V.22 Tela de interface para contratao de CPRF + Seguro de Preo
Figura V.23 Tela de interface para comercializao Spot
Figura V.24 Tela de interface para contratao de transporte
Figura V.25 rea de Informaes sobre Frete Multimodal
Figura V.26 rea de Informaes sobre Frete Rodovirio
Figura V.27 rea de Informaes sobre disponibilidade de transporte multimodal na
planilha Sazonalidades
Figura V.28 Processo de clculos dos missing values para a Cotao Paranagu
Figura V.29 Custos Unitrios de Produo considerados no modelo
Figura V.30 Exemplo ilustrativo da construo das variveis do Painel de Tendncias
Figura V.31 Curva de atenuao de probabilidade de acerto nas previses de Longo
Prazo
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela II.1 Capacidade Instalada de Processamento de Oleoginosas por empresas no
Brasil
Tabela III.1 Custos de produo da soja: EUA, Brasil e Argentina, safra 98/99
Tabela III.2 - Custos de exportao da soja: EUA, Brasil e Argentina, safra 98/99
Tabela III.3 - Produo de soja no Brasil, segundo a condio de posse e rea do
produtor (Safra 95/96)
Tabela III.4 rea cultivada com soja, segundo grupos de rea total dos
estabelecimentos nos estados de maior participao na produo - 1995/96 (mil ha)
Tabela III.5 - Plantio e colheita de soja por regio brasileira
Tabela III.6 - Ciclo produtivo da soja nos principais pases produtores
Tabela III.7 Paridade para Exportao x Mercado Interno
Tabela III.8 Participao dos principais portos brasileiros na exportao do complexo
soja no ano de 2001
Tabela III.9 Exemplo ilustrativo da formao de hedge em mercado futuro com ganho
na Bolsa
Tabela III.10 Exemplo ilustrativo da formao de hedge em mercado futuro com
perda na Bolsa
Tabela III.11 Meses de expirao para contratos futuro e de opo e para sries de
opes da soja a granel negociados na CBOT
xii
LISTA DE ANEXOS
Figura 1 Mapa geral dos produtos originados da soja
Figura 2 Histrico de valores do Dlar, Prmio em Paranagu e cotao da soja em
diversos pontos de venda
Figura 3 Prmio no preo da soja por porto de embarque
Figura 4 reas de Informaes apresentadas na planilha Real
Figura 5 a) reas de Informaes apresentadas na planilha Sazonalidade
Figura 5 b) reas de Informaes apresentadas na planilha Sazonalidade
Figura 6 reas de Informaes apresentadas na planilha Produo
Figura 7 a) Clculo dos fatores de decomposio da Cotao Chicago
Figura 7 b) Clculo dos fatores de decomposio da Cotao Chicago
Figura 7 c) Clculo dos fatores de decomposio da Cotao Chicago
Figura 7 d) Clculo dos fatores de decomposio da Cotao Chicago
Figura 7 e) Clculo dos fatores de decomposio da Cotao Chicago
Figura 8 a) Valores histricos de volatilidade da soja na Bolsa de Chicago
Figura 8 b) e c) Valores histricos de volatilidade da soja na Bolsa de Chicago
Figura 9 a), b), c) e d) Estatsticas geradas no processo de calibrao da Cotao
Chicago
Figura 10 a) e b) Calibrao dos parmetros da equao da Cotao Paranagu
Figura 10 c) Calibrao dos parmetros da equao da Cotao Paranagu
Figura 11 a), b), c) e d) Estatsticas geradas no processo de calibrao da Cotao
Paranagu
Figura 12 a), b), c) e d) Estatsticas geradas no processo de calibrao da Cotao
Dlar
Figura 13 a) Comparaes de Cotaes da soja em Paranagu, Maring, Mogiana,
Passo Fundo e Rondonpolis
Figura 13 b) Comparaes de Cotaes da soja em Paranagu, Maring, Mogiana,
Passo Fundo e Rondonpolis
Figura 14 a) Clculo dos valores de frete em cada ms e ligao
Figura 14 b) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao
Figura 14 c) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao
Figura 14 d) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao
xiii
Figura 14 e) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao
Figura 14 f) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao
Figura 14 g) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao
Figura 14 h) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao
Figura 14 i) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao
Figura 14 j) Clculo dos valores de Frete Rodovirio em cada ms e ligao na ligao
de curta distncia
Figura 15 a) Clculo dos valores de Frete Ferrovirio em cada ms e ligao
Figura 15 b) Clculo dos valores de Frete Ferrovirio em cada ms e ligao
Figura 15 c) Clculo dos Fatores Sazonais Ferrovirios
Figura 16 a) Clculo dos valores de Frete Hidrovirio em cada ms e ligao
Figura 16 b) Clculo dos valores de Frete Hidrovirio em cada ms e ligao
Figura 16 c) Clculo dos Fatores Sazonais Hidrovirios
Figura 17 Processo de construo da varivel Auxiliar1
Figura 18 Exemplo de Restrio imposta por Auxiliar1 para Volume Disponvel para
Venda Spot
Figura 19 Processo de construo da varivel Auxiliar2
Figura 20 Exemplo de Restrio imposta por Auxiliar2 para Volume Disponvel para
Venda CPR
Figura 21 Exemplo de clculo da varivel Volume Disponvel para Venda na Fazenda
Figura 22 Exemplo ilustrativo do Volume Disponvel para Venda no Porto
Figura 23 Ilustrao do preenchimento do vetor Disponibilidade Multimodal
Figura 24 Exemplo ilustrativo dos valores assumidos pela varivel Volume
Disponvel para Transporte
Figura 25 Exemplo ilustrativo da composio da varivel Futuro e Opo a partir das
informaes sobre os Contratos
Figura 26 Equao de regresso para o clculo do Custo da Terra
Figura 27 Utilizao da equao de regresso para o clculo do Custo da Terra
Figura 28 Processo de Clculo dos Custos Fixos
Figura 29 Relao de atenuao dos Custos Fixos com o tamanho do lote
Figura 30 Processo construtivo do Cronograma de Desembolso para os Custos de
Produo
xiv
SUMRIO
I INTRODUO...........................................................................................................1
I.1 CONTEXTUALIZAO DO TRABALHO..................................................1
I.2 OBJETIVO DA PESQUISA...........................................................................3
I.3 IMPORTNCIA DA PESQUISA...................................................................4
I.4 ESTRUTURA E CONTEDO DO TRABALHO..........................................5
II O AGRONEGCIO DA SOJA..................................................................................6
II.1 HISTRICO DO DESENVOLVIMENTO DA SOJA..................................6
II.2 A SOJA COMO PROPULSIONADORA DO AGRONEGCIO
BRASILEIRO..........................................................................................................7
II.3 ESTRUTURA DA OFERTA E DEMANDA MUNDIAL E NACIONAL...8
II.4 O PROCESSO INDUSTRIAL.....................................................................12
III FATORES DA COMPETITIVIDADE DO COMPLEXO DA SOJA....................15
III.1 INTRODUO..........................................................................................15
III.2 ESTRUTURA AGRRIA NA PRODUO DA SOJA...........................17
III.3 FATORES DE COMPETITIVIDADE DE PRODUO..........................20
III.3.1 Plantio Direto..................................................................................22
III.3.2 A Soja Transgnica.........................................................................23
III.4 FATORES DE COMPETITIVIDADE DE MERCADO............................26
III.5 FATORES DE COMPETITIVIDADE DE COMERCIALIZAO.........31
III.5.1 Logstica para o Escoamento da Soja.............................................32
III.5.2 Instrumentos Financeiros para a Comercializao da Soja............38
III.5.2.1 Venda Especulativa............................................................40
III.5.2.2 Mercado Futuro..................................................................41
III.5.2.3 Mercado de Opes............................................................45
III.5.2.4 Mercado a Termo...............................................................51
III.5.2.5 A Utilizao dos Mecanismos de Comercializao...........54
IV PROPOSTA CONCEITUAL DE UM MODELO DE SIMULAO PARA
COMERCIALIZAO DE SOJA EM GRO..............................................................57
IV.1 O PROCESSO DE COMERCIALIZAO DA SOJA EM GRO..........57
IV.2 CARACTERIZAO DO MODELO PROPOSTO..................................60
IV.2.1 Caractersticas gerais da modelagem..............................................61
xv
IV.2.2 Horizonte de Planejamento.............................................................62
IV.2.3 Condies de Venda.......................................................................62
IV.2.4 Regies Contempladas...................................................................63
IV.2.5 Opes de Escoamento para Exportao........................................64
IV.2.6 Formas Comerciais Adotadas.........................................................65
IV.2.7 Custos de Produo........................................................................67
IV.2.8 Estrutura de Armazenagem............................................................68
IV.2.9 Cotaes Futuras............................................................................69
V CONSTRUO E CALIBRAO DO MODELO................................................76
V.1 ASPECTOS GERAIS DO MODELO..........................................................76
V.2 DESCRIO DO FUNCIONAMENTO DO MODELO............................80
V.2.1 Regies Produtoras de Soja.............................................................81
V.2.2 Informaes Iniciais.........................................................................82
V.2.3 Distncias e Cotaes Iniciais..........................................................84
V.2.4 rea Plantada e Volume Colhido....................................................86
V.2.5 Ambiente de Planejamento..............................................................88
V.2.5.1 Informaes Estticas..........................................................91
V.2.5.2 Informaes sobre os Volumes...........................................92
V.2.5.3 Informaes sobre Cotaes................................................92
V.2.5.4 Informaes sobre Formas Comerciais...............................92
V.2.5.5 Informaes sobre Localidades de Venda...........................93
V.2.5.6 Informaes sobre Transportes...........................................93
V.2.5.7 Informaes sobre Armazenagem.......................................94
V.2.5.8 Informaes sobre Fluxos Contratuais................................94
V.2.5.9 Informaes sobre Custos...................................................95
V.2.5.10 Informaes sobre o Caixa................................................96
V.2.5.11 Informaes sobre os Contratos........................................97
V.2.6 Boto Prximo Ms.........................................................................98
V.2.7 Boto Analisar Grfico..................................................................100
V.2.8 Boto Formas Comerciais..............................................................103
V.2.8.1 Forma de Comercializao CPR.......................................104
V.2.8.2 Forma de Comercializao CPR Financeira.....................106
xvi
V.2.8.3 Forma de Comercializao Futuro....................................107
V.2.8.4 Forma de Comercializao Opo....................................107
V.2.8.5 Forma de Comercializao CPRF + Seguro de Preo.......108
V.2.8.6 Forma de Comercializao Spot........................................109
V.2.9 Boto Transporte............................................................................109
V.3 ESTRUTURAO DO MODELO...........................................................110
V.3.1 Planilha Mapa................................................................................111
V.3.2 Planilha Modelo.............................................................................111
V.3.3 Planilha Real..................................................................................112
V.3.4 Planilha Fretes................................................................................114
V.3.5 Planilha Sazonalidade....................................................................115
V.3.6 Planilha Produo..........................................................................117
V.4 METODOLOGIA CONSTRUTIVA E CALIBRAO DO MODELO..118
V.4.1 Regies Produtoras de Soja...........................................................118
V.4.2 Informaes Estticas....................................................................119
V.4.3 Informaes sobre os Volumes......................................................122
V.4.4 Informaes sobre Cotaes..........................................................122
V.4.4.1 Cotao Chicago................................................................122
V.4.4.2 Cotao Paranagu............................................................124
V.4.4.3 Cotao Dlar....................................................................127
V.4.4.4 Cotao Porto....................................................................128
V.4.4.5 Cotao Fazenda................................................................129
V.4.4.6 Cotao Rodovirio...........................................................129
V.4.4.7 Cotao Multimodal..........................................................134
V.4.5 Informaes sobre Formas Comerciais..........................................136
V.4.6 Informaes sobre Localidades de Venda.....................................139
V.4.7 Informaes sobre Transportes......................................................141
V.4.8 Informaes sobre Armazenagem.................................................143
V.4.9 Informaes sobre Fluxos Contratuais..........................................144
V.4.10 Informaes sobre Custos............................................................147
V.4.10.1 Custo de Produo...........................................................147
V.4.10.2 Custo de Armazenagem e de Estoque.............................151
xvii
V.4.10.3 Custo de Transportes.......................................................152
V.4.10.4 Custo Contratuais e Custo Total......................................153
V.4.11 Informaes sobre o Caixa..........................................................153
V.4.12 Informaes sobre os Contratos...................................................154
V.4.12.1 CPRs...............................................................................154
V.4.12.2 Futuro..............................................................................155
V.4.12.3 Opo...............................................................................158
V.4.12.4 Spot..................................................................................160
V.4.13 Informaes sobre Tendncias.....................................................160
VI CONCLUSES E RECOMENDAES.............................................................166
RERERNCIAS............................................................................................................171
ANEXOS.......................................................................................................................178
1
CAPTULO I
INTRODUO
I.1 CONTEXTUALIZAO DO TRABALHO
O Brasil vem ocupando a cada ano uma posio de maior destaque entre os
principais produtores mundiais de soja, impulsionado pelo forte aquecimento da
demanda mundial, com preos recompensadores. A produo nacional, estimada
preliminarmente para a safra de 2002/03, segundo o Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos (USDA, 2003, p.6), ser de 52,5 milhes de toneladas, enquanto os
Estados Unidos produziro 74,8 milhes de toneladas (USDA, 2003, p.6). Soma-se
ainda que a possibilidade de expanso produtiva mundial est quase toda no Brasil, em
termos topogrficos, meteorolgicos, de disponibilidade de terras e tecnolgicos, que
propiciam o cultivo em larga escala, tendncia mundial na produo de gros
(EMBRAPA, 2001).
A figura I.1 ilustra a evoluo comparada da produo de soja dos trs principais
pases produtores, desde a safra de 99/00, at aquela prevista para o ano safra 03/04.
Figura I.1 Evoluo da produo de Soja dos trs principais pases produtores
Evoluo da Produo de Soja
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
99/00 00/01 01/02 02/03 03/04
Safras
Milh
es
de
To
nel
adas
Estados Unidos Brasil Argentina
Fonte: USDA.
2
Estima-se que sistema agro-industrial brasileiro, como um todo, contribua com
35% no valor total do PIB, ou seja, US$ 163 bilhes do PIB projetado para 2003 de
US$ 467 bilhes. Desse total, a cadeia agro- industrial da soja participa com pelo menos
16%, o que significa um montante de US$ 26 bilhes anuais (EMBRAPA, 2001). Esses
nmeros mostram a importncia econmica da soja para o Pas.
As projees para a safra de 2002/03 indicam que o Brasil bater novos recordes
de exportao, atingindo 21 milhes de toneladas de soja em gro (57%), 13,75 milhes
de toneladas de farelo (37 %) e apenas 2,25 milhes de toneladas de leo (6%), de um
total de 37 milhes de toneladas exportadas, representando acrscimo de 21% sobre as
exportaes da safra anterior e superando as exportaes dos EUA, que registraro para
o complexo soja (gros, farelo e leo), 35 milhes (USDA, 2003). Em valores
monetrios, as exportaes de soja brasileira devem situar-se perto de US$ 8 bilhes
contra US$ 7,2 bilhes dos norte-americanos.
Com a atual safra de gros prevista em 122,2 milhes de toneladas (IBGE,2003),
o Agronegcio brasileiro dever atingir em 2003 um supervit comercial de US$ 25
bilhes, contra US$ 20,3 bilhes de 2002 (mais de 23 % em um ano), sendo o mercado
exportador mais dinmico da economia brasileira. O agronegcio representa mais de
40% da pauta de exportaes e 11% de importaes.
Costuma-se afirmar que o agricultor brasileiro extremamente competitivo da
porteira para dentro da fazenda e os nmeros da produtividade comparada dos trs
principais players confirmam essa informao1. Entre os elementos que propiciam essa
posio de relevo na agricultura mundial, destacam-se o desenvolvimento de sementes
adequadas a cada regio, resistentes s doenas; o tratamento cientfico dos solos; o
sistema inovador de plantio direto2 e a intensa mecanizao da lavoura (PAULA e
FAVERET, 2000, p.1).
Por outro lado, o aspecto da comercializao da produo no acompanha o
mesmo desenvolvimento contemplado no campo. As deficincias no sistema de
armazenagem obrigam o produtor a vender quase a totalidade de sua safra no momento
1 As produtividades em toneladas por hectare, para os Estados Unidos, Brasil e Argentina, nesta ordem, os maiores produtores mundiais, foram, para a safra 2002/03, respectivamente de: 2,55; 2,85 e 2,82. 2 Ver item III.3.1.
3
da colheita, quando os preos so mais baixos e os fretes mais caros; a restrio nas
opes de compradores, devido a uma viso do negcio muito regionalizada, sem
considerar a possibilidade de exportao direta; as dificuldades da operacionalizao
logstica e os altos volumes exigidos em uma exportao; o elevado custo de
escoamento, devido escassez de modais mais baratos, condies inadequadas de
estradas e custos excessivos de terminais porturios; o desconhecimento dos sistemas de
proteo de preo em mercado futuro; as elevadas taxas de desconto cobradas pelos
mecanismos de antecipao da venda para custeio da lavoura; a escassa ou ineficiente
assistncia de cooperativas em algumas regies produtoras, entre outros problemas,
fazem com que o produtor perca boa parte da competitividade alcanada na produo.
I.2 OBJETIVO DA PESQUISA
O principal objetivo desta tese consiste no desenvolvimento de uma ferramenta
de simulao, em forma de planilha, que auxilie o produtor na determinao de uma
estratgia de venda, ms a ms, de uma safra de soja a granel.
Com o apoio desse instrumento, o produtor ter a possibilidade de decidir sobre
a forma de comercializao (venda especulativa, antecipada, futura ou opo de venda),
o local de entrega do produto e as quantidades vendidas em cada poca, em uma deciso
reavaliada ms a ms. As premissas para a tomada desse conjunto de decises
fundamentam-se na considerao das expectativas de valor futuro, para cada ms, da
cotao do gro na Bolsa de Chicago e nos mercados locais, da taxa de cmbio e dos
custos logsticos nos canais de escoamento do produto.
O modelo contempla as principais reas produtoras de soja do pas, porm a
anlise individual para a regio escolhida. O ambiente de planejamento envolve um
horizonte de 18 meses onde, para cada ms, so contabilizados receitas e custos
provenientes da produo e da venda do gro.
4
I.3 IMPORTNCIA DA PESQUISA
A literatura concede grande importncia ao estudo dos aspectos de
competitividade na produo e comercializao da soja, encarada, sobretudo, em uma
perspectiva macroeconmica. No entanto, estudos relacionados competitividade do
produtor so escassos. Este trabalho pretende abordar o problema das decises logsticas
e financeiras que afetam o produtor de soja, em sua estratgia de comercializao de
uma safra, particularizando cada regio produtora e poca do ano, com o apoio de um
modelo de simulao em forma de planilha eletrnica.
Ao planejar a comercializao de uma safra anual de soja, o modelo permite ao
analista considerar, em suas especificidades logsticas, cada uma das principais regies
produtoras do pas, delimitadas pelo critrio da homogeneidade dos canais de
escoamento para exportao. O decisor pode escolher entre os locais de venda na
fazenda ou no porto, analisando os custos comparados do deslocamento do produto por
um processo multimodal ou exclusivamente rodovirio.
Simultaneamente, o programa facilita a anlise do papel que a armazenagem
desempenha, como vantagem comercial para o produtor, na reteno da venda, em cada
poca do ano.
Alm das decises relacionadas ao ponto de venda, reteno de estoques e
escolha modal, o modelo permite a considerao, de maneira integrada, sobre a
utilizao de formas de comercializao (venda especulativa, antecipada, formao de
hedge e seguro de preo) e a quantidade negociada em cada etapa da venda.
Esse painel abrangente de decises, que devem ser tomadas de forma integrada,
em um cenrio mutante, constitui um problema muito complexo para o analista, da a
convenincia de que ele disponha de uma ferramenta que o auxilie no sentido de
maximizar sua receita comercial, de forma coerente com sua necessidade de formao
de capital de custeio para a safra e seu perfil de averso ao risco.
5
I.4 ESTRUTURA E CONTEDO DO TRABALHO
Esta tese foi organizada em seis captulos, mais uma parte de anexos.
O captulo de introduo situa o trabalho no contexto do agronegcio brasileiro e
apresenta os objetivos e a importncia da pesquisa. O captulo seguinte revela um
aspecto da reviso de literatura, apresentando uma breve histria do desenvolvimento da
soja. A seguir destaca o papel desta commodity como propulsionadora do agronegcio
brasileiro, apresenta a estrutura da oferta e demanda mundial e nacional e o processo
industrial da soja. No terceiro captulo, segue-se outra abordagem da reviso de
literatura relacionada aos fatores de competitividade do complexo da soja,
apresentando-se a estrutura agrria na produo desta oleoginosa e os fatores de
competitividade de produo, de mercado e de comercializao.
No quarto captulo, comea-se a esboar a ferramenta proposta, com a
proposio conceitual um modelo de simulao para comercializao de soja em gros,
esmiuando-se as etapas deste processo e caracterizando-se a sua estrutura terica,
acompanhada de uma declarao de escopo.
O quinto captulo o cerne da metodologia do trabalho e intitula-se Construo
e Calibrao do Modelo. Inicialmente so apresentados os aspectos gerais da
modelagem, com nfase para as caractersticas adotadas na programao;
posteriormente, descreve-se o funcionamento do modelo, sua estruturao em mdulos
e, encerrando o captulo, a metodologia construtiva e o processo de calibrao do
modelo.
O sexto captulo reservado s concluses e recomendaes, destacando as
principais virtudes e limitaes do modelo e proposies sobre as caractersticas a serem
consideradas em novos estudos.
Finalmente, nos anexos, so apresentadas algumas figuras que complementam o
entendimento do texto da tese.
6
CAPTULO II
O AGRONEGCIO DA SOJA
II.1 HISTRICO DO DESENVOLVIMENTO DA SOJA
De acordo com a Embrapa (2001, p.1), a soja uma leguminosa cultivada pelos
chineses h cerca de cinco mil anos. Sua espcie mais antiga, a soja selvagem, crescia
principalmente nas terras baixas e midas, junto aos juncos nas proximidades dos lagos
e rios da China Central. H trs mil anos a soja se espalhou pela sia, onde comeou a
ser utilizada como alimento. Foi no incio do sculo XX que passou a ser cultivada
comercialmente nos Estados Unidos. A partir de ento, houve um rpido crescimento na
produo, com o desenvolvimento das primeiras cultivares comerciais.
No Brasil, o feijo chins, como algumas vezes chamada a soja, chegou em
1882, implantado na Bahia. Em 1941, apareceu pela primeira vez nas estatsticas
oficiais do Rio Grande do Sul (VERNETTI, 1977), onde, neste mesmo ano, foi
construda a primeira fbrica de processamento de soja.
O gro de soja d origem a subprodutos dos quais os principais so o farelo e o
leo. Outros, mais elaborados, so utilizados pela agroindstria de alimentos e indstria
qumica. A protena de soja d origem a produtos comestveis (ingredientes de padaria,
massas, produtos de carne, cereais, misturas preparadas, bebidas, alimentao para
bebs, confeces e alimentos dietticos). utilizada tambm pela indstria de adesivos
e nutrientes, alimentao animal, adubos, formulador de espumas, fabricao de fibra,
revestimento, papel, emulso para tintas e outras aplicaes. A soja integral utilizada
pela indstria de alimentos em geral e o leo bruto se transforma em leo refinado e
lecitina, que d origem a inmeros outros produtos (EMBRAPA, 2001, p.1).
A figura 1 dos Anexos apresenta um mapa geral dos produtos originados da soja.
O interesse do Governo brasileiro pela expanso na produo da soja para
atender indstria fez com que a leguminosa ganhasse cada vez mais incentivos
oficiais. Para atender s exigncias de produo de uma cultura altamente demandante
7
de tecnologia, foi criado, em 1975, em Londrina, o Centro Nacional de Pesquisa de Soja
(atual Embrapa Soja), como uma das unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuria (Embrapa). Sua principal incumbncia era conquistar a independncia
tecnolgica para a produo brasileira, que at ento estava concentrada nos estados do
Sul do Pas, aproveitando a entressafra da cultura do trigo que, na poca, recebia
incentivos do governo. A boa adaptao da soja nas terras do Sul do pas e a crescente
demanda dos mercados interno e externo deram estabilidade aos preos do produto, o
que incentivou o aumento de rea.
Em pouco tempo, os cientistas no s criaram tecnologias especficas para as
condies de solo e clima do Sul, como conseguiram desenvolver a primeira cultivar
para regies tropicais brasileiras, que viabilizou a produo no Cerrado, onde antes a
planta no se desenvolvia. A criao de novas sementes fez muito mais do que
desbravar as novas fronteiras agrcolas do Brasil, at ento consideradas improdutivas;
levaram a soja a todas as regies de clima tropical do mundo.
II.2 A SOJA COMO PROPULSIONADORA DO AGRONEGCIO
BRASILEIRO
De acordo com Paula e Faveret (2000, p.1) Pode-se dizer, sem medo de errar,
que a expanso da cultura da soja foi a principal responsvel pela introduo do
conceito de agronegcio no pas, no s pelo volume fsico e financeiro envolvido, mas
tambm pela necessidade da viso empresarial de administrao da atividade por parte
dos produtores, fornecedores de insumos, processadores da matria-prima e
negociantes, de forma a manter e ampliar as vantagens competitivas da produo.
O processo de mecanizao da agricultura brasileira e a introduo de tcnicas
modernas de plantio, colheita e processamento de gros devem-se, em grande parte,
expanso do cultivo de soja ocorrido nas ltimas trs dcadas.
Os setores agro- industriais relacionados produo de carnes consolidaram-se e
expandiram-se, graas oferta abundante de raes obtidas atravs da soja.
8
Cooperativas e traders ampliaram significativamente suas atividades, apoiadas
na oferta interna de gros e na facilidade de comrcio desta commodity, tanto no
mercado interno como para exportao.
A conquista do oeste brasileiro ocorreu no rastro do ouro-verde, que hoje j
procura as fronteiras do Norte para ocupar seu espao (PAULA e FAVERET, 2000,
p.1).
Estruturas de armazenagem, processamento, transporte e exportao foram
bastante ampliados a partir do significativo aumento da produo e expandiram-se fora
das regies tradicionais de plantio, acompanhando a ampliao da fronteira agrcola,
embora em ritmo descompassado.
A competio acirrada no comrcio internacional exige grande dinamismo de
todos os fatores, razo pela qual a pesquisa tecnolgica, especialmente agronmica,
desenvolveu-se no mesmo diapaso, oferecendo novas tcnicas e cultivares adequados
s regies, de diversas especificaes (conforme o uso pretendido) e resistentes s
doenas.
II.3 ESTRUTURA DA OFERTA E DEMANDA MUNDIAL E NACIONAL
Estados Unidos, Brasil, Argentina e China lideram a produo mundial de soja,
respondendo, em mdia, por 91% do total produzido, conforme estimativas do United
States Department of Agr iculture (USDA, 2003) para a safra de 2002/03. Estes mesmos
pases, com exceo da China, lideram o ranking de exportao. Entre os principais
importadores do complexo soja, a Unio Europia, China, Japo e Mxico respondem
por 57% do volume total. As figuras II.1 a), b) e c) ilustram essas informaes.
A Unio Europia a grande importadora, com uma parcela superior a 30%. A
China tornou-se forte importadora no incio do sculo, assumindo cerca de 18% do total
comercializado, como resultado do grande crescimento da demanda interna de carnes.
Japo e Mxico tm parcelas semelhantes, em torno de 4%. Pases da Oceania, embora
9
no apaream no grfico, importam perto de 8 milhes de toneladas de farelo de soja,
para alimentao de seu expressivo rebanho bovino.
Figuras II.1 a), b) e c) Principais produtores, exportadores e importadores de
soja estimados para a safra 2002/03
Fonte: USDA
Dentre as naes que se destacam como as mais promissoras importadoras de
soja para o futuro, esto a China, os pases do Leste Europeu, Norte da frica, Oriente
Mdio e Amrica Latina, particularmente o Mxico. Nesses pases, a maior parte da
populao apresenta alta elasticidade-renda na demanda de alimentos, principalmente de
origem animal. Dessa forma, o aumento esperado da renda per capita desses pases,
causar um aumento sem precedentes na demanda de oleaginosas (EMBRAPA, 2001).
De acordo com dados do USDA (2003), a produo brasileira de soja alcanar
60 milhes de toneladas na safra de 2003/04, ocupando uma rea de 21 milhes de
hectares com uma produtividade de 2,86 t/ha.
A evoluo da rea cultivada, produo e produtividade da soja brasileira,
apresentadas em forma comparativa entre as regies Sul e Centro-Oeste, podem ser
10
acompanhadas nas figuras II.2 a), b) e c), extrada do relatrio Agriculture in Brazil and
Argentina: Developments and Prospects for Major Field Crops (USDA, 2001).
Figuras II.2 a), b) e c) Evoluo comparada da rea cultivada, produo e produtividade da soja entre as regies Sul e Centro-Oeste do Brasil
A expanso da rea cultivada de soja no Brasil resultado tanto da incorporao
de novas reas, nas regies Centro-Oeste e Norte, quanto da substituio de outras
culturas, na Regio Centro-Sul, segundo a Embrapa (2001). Quanto ao aumento da
produtividade o fator decisivo foi o sistema de pesquisa da Embrapa (PAULA e
FAVERET, 2000, p.5).
11
Em termos regionais, a figura II.3 revela a evoluo da produo nos principais
estados onde a soja cultivada.
Figura II.3 Evoluo da produo da soja nos principais estados do Brasil
Soja - Evoluo da Produo nos principais estados
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
8.000
9.000
10.000
11.000
12.000
13.000
14.000
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
ano
mil
ton
Fonte: IBGE e CONAB
MT
PR
RS
GO
MS
BA
Cabe destaque ao crescimento da produo e da produtividade no Mato Grosso
que assumiu, na safra de 1999/00, a posio de maior produtor brasileiro de soja, com
um volume de 8,77 milhes de toneladas em uma rea plantada de 2,91 milhes de
hectares, perfazendo uma produtividade superior a 3 t/ha, quando a mdia nacional
naquela safra foi de 2,34 t/ha. Tecnologia, terras planas, grandes lotes e regularidade
climtica explicam a liderana na produtividade e o crescimento da produo neste
estado.
O Rio Grande do Sul, bero da cultura da soja, apresenta grandes variaes de
produo e produtividade em razo de flutuaes climticas prejudiciais cultura na
poca da colheita.
12
II.4 O PROCESSO INDUSTRIAL
O processo de industrializao da soja, de acordo com Paula e Faveret (2000,
p.14) inicia-se pela secagem e limpeza do gro, quebra e prensagem. Desse
processamento resulta o leo e uma massa que lavada com solvente. O leo passa por
um sistema de retirada de goma (degomagem) para alcanar o estgio de leo bruto,
enquanto a massa, aps secagem e tostagem, resulta no farelo. A goma tanto pode ser
utilizada para a produo de lecitina de soja quanto ser adicionada ao farelo. No incio
do processo industrial pode ser feita a retirada da casca do gro, resultando em um
farelo de maior quantidade de protena (hi-pro).
O destino do leo o refino e o farelo vai para a alimentao animal,
diretamente ou atravs das misturas feitas pelas fbricas de rao. O aproveitamento
mdio do gro resulta em 79% de farelo e 19,8% de leo bruto.
A cadeia no pra nestes dois produtos. O leo segue seu caminho, sendo
transformado em vrios subprodutos, dos quais a margarina se coloca em maior
destaque.
Esmagamento
Boa parte das esmagadoras funciona com capacidade ociosa acima de 40%,
iniciando em maro e parando em setembro, perodo que coincide com escoamento da
safra, quando cerca de 79% de toda a soja esmagada. O volume restante, processado
nos outros meses, origina-se da soja precoce no ms de fevereiro (4% a 5% do
esmagamento total), drawback e estoques (PAULA e FAVERET, 2000, p.15).
O motivo bsico para o superdimensionamento das plantas industriais a
concorrncia pela compra da matria-prima no incio da safra, quando os preos so
mais favorveis. Alm disso, a maioria das plantas so conversveis para o
processamento de outras oleaginosas, no demandando maiores modificaes de fluxo
para esmagar soja, milho ou girassol.
A indstria do esmagamento da soja bastante concentrada, tanto em termos de
empresas quanto de localizao.
13
Quanto localizao, a figura II.4 ilustra os estados com suas respectivas
capacidades instalada de processamento.
Figura II.4 Capacidade Instalada de Processamento de Oleoginosas por estados
do Brasil
Fonte: ABIOVE
O fato das grandes firmas poderem integrar as cadeias de gros e carnes a
partir da produo de leo e farelo confere a elas uma enorme capacidade de gerar
sinergias. Sendo os conglomerados transnacionais os lderes nesses mercados, como
ilustra a tabela II.1.
Tabela II.1 Capacidade Instalada de Processamento de Oleoginosas por
empresas no Brasil
t/dia %Bunge 29.180 24,8%Louis Dreyfus 8.350 7,1%ADM 6.890 5,8%Cargill 6.700 5,7%Outras 66.755 56,6%Total 117.875 100,0%
Capacidade de EsmagamentoEmpresa
14
Refino
A concentrao na rea do refino de leos no muito diferente do que ocorre
no setor de esmagamento, embora o nmero de empresas que trabalham com refino seja
menor: 47 refinadoras contra 67 esmagadoras (PAULA e FAVERET, 2000, p.22).
As quatro maiores refinadoras detm 46% da capacidade instalada. As tradings
concentram 34%, participao menor que no setor de esmagamento, e a Bunge sozinha
detm 28%.
15
CAPTULO III
FATORES DA COMPETITIVIDADE DO COMPLEXO DA SOJA
III.1 INTRODUO
A competitividade no mercado de commodities, tal como apresentado pelo
Relatrio Agriculture in Brazil and Argentina: Developments and Prospects for Major
Field Crops (2001, p.53) resultado da influncia de muitos fatores, como a
disponibilidade de recursos naturais e condies agroclimticas, o impacto de polticas
macroeconmicas (que afetam a taxa de cmbio, mercado de trabalho, investimentos,
disponibilidade e custos de energia etc.), polticas especficas do setor (tais como
crditos subsidiados, taxas de importao e exportao para insumos e produtos
acabados), infra-estrutura (para armazenagem e transporte) e instituies de suporte
(tais como crditos, regulamentao, notcias e informaes etc.) que ajudam os
mercados a operar eficientemente. A conquista de mercados e o crescimento tambm
dependem da demanda interna, da remunerao relativa a outras culturas e outras
condies.
No entanto, de forma mais simples, a competitividade no mercado internacional
consiste na capacidade de colocar o produto no ponto de venda ao mais baixo custo
possvel, isto , com o mais baixo custo combinado no nvel de produo na fazenda,
transporte e custos de comercializao. Neste sentido, a anlise comparada da estrutura
de custos entre Brasil, Argentina e Estados Unidos, para a safra de 1998/99, relativa
produo, transporte e comercializao de soja desde as principais reas de plantio at
um porto de exportao comum, Roterd, sugere que os EUA ficam ligeiramente atrs
de Argentina e Brasil, conforme ilustram as tabelas III.1 e III.2 apresentadas a seguir.
16
Tabela III.1 Custos de produo da soja: EUA, Brasil e Argentina, safra 98/99
Itens de custo
Custos variveis:Sementes 19,77 16,69 11,23 n/d 17,90Fertilizantes 8,22 20,66 44,95 n/d 0,00Produtos Qumicos 27,31 20,56 39,97 n/d 16,90Mquinas Operao/Reparos 20,19 26,88 18,22 n/d 24,00Juros 1,81 5,63 12,11 n/d n/dMo-de-obra contratada 1,29 22,72 5,58 n/d 4,30Colheita n/d n/d n/d n/d 22,24Outros n/d 2,00 n/d n/d n/dTotal de custos variveis 78,59 115,14 132,06 96,29 85,34
Custos fixos:
47,99 41,04 8,97 19,08Custo da terra (taxa de aluguel) 87,96 14,28 5,84 62,72Taxas e seguro 6,97 1,63 0,55 n/dOverhead 13,40 n/d n/d 20,67Total de custos fixos 156,32 56,95 30,01 102,47
Custo total de produo 234,91 172,09 162,08 198,76
Produtividade (bushels/acre) 46,00 41,35 41,65 50,60Custo varivel por bushel 1,71 2,78 3,17 1,90Custo fixo por bushel 3,40 1,38 0,72 2,02Custo total por bushel 5,11 4,16 3,89 3,92Fonte: USDA
US$ / acre
Depreciao de mquinas e equipamentos
Brasil Argentina
Paran Mato Grosso
Norte de Buenos
Aires e Sul de Santa F
Chaco
Principal rea
Produtora dos EUA
Tabela III.2 - Custos de exportao da soja: EUA, Brasil e Argentina, safra 98/99
Itens de custo
Custos de Produo:Custos Variveis 1,71 2,78 3,17 1,90Custos Fixos 3,40 1,38 0,72 2,02Custo Total de Produo 5,11 4,16 81 3,89 76 3,92 7 7
Transporte interno e comercializao 0,43 0,85 1,34 0,81Custo a bordo 5,54 5,01 90 5,23 94 4,73 8 5
Custo de Frete para Roterd 0,38 0,57 0,57 0,49Preo em Roterd 5,92 5,58 94 5,80 98 5,22 8 8Fonte: USDA
% Custo EUA
Principal rea Prod.
dos EUAParan
ArgentinaBrasil
Mato GrossoBuenos Aires e
Santa F
US$/bu US$/bu US$/bu US$/bu% Custo
EUA% Custo
EUA
De acordo com o relatrio da Embrapa (2001), a produo brasileira de soja,
bem como seus derivados semi- industrializados e industrializados, sofre forte
concorrncia mundial, com tendncias a se acirrar na primeira dcada do novo milnio.
17
As polticas dos pases desenvolvidos que procuram restringir o acesso aos seus
mercados domsticos, agravadas pelos subsdios s exportaes; a estabilizao do
consumo de protenas de origem animal nos pases de alta renda per capita, o
surgimento de produtos substitutos dos leos vegetais e protenas para rao animal e o
aumento de produo dos pases competidores, so alguns fatores que pressionam a
posio brasileira no mercado mundial de soja e seus derivados.
Internamente, a necessidade de reestruturao do sistema industrial para fazer
frente globalizao tambm afeta a cadeia agro- industrial da soja. Essa combinao de
competitividade externa, aliada situao interna, exige a crescente busca de vantagens
comparativas por parte dos setores e empresas participantes da cadeia da soja, e de
polticas pblicas que garantam suporte e incentivo para sua capacitao competitiva.
III.2 ESTRUTURA AGRRIA NA PRODUO DA SOJA
De acordo com a Embrapa (2001) difcil conhecer o nmero de pessoas
ocupadas na produo de soja, j que no existem estatsticas que forneam essa
informao de maneira direta. possvel, no entanto, estimar este valor. Segundo o
Censo Agropecurio do IBGE, o pessoal ocupado com lavouras temporrias no Brasil,
no ano de 1996, era de 6 780 333 trabalhadores, em 1 844 451 estabelecimentos
agropecurios. Isto significa aproximadamente 3,67 pessoas por estabelecimento.
Sabendo-se que existiam, entre estes estabelecimentos, 242 998 unidades que se
dedicavam tambm ou exclusivamente ao cultivo de soja (13,17%), pode-se estimar a
existncia de 891 802 pessoas ocupadas diretamente com a produo de soja no Pas.
Naturalmente, essa uma estimativa baseada em apenas um critrio e sujeita a erros.
Sabe-se que a soja uma cultura totalmente mecanizada, no possuindo, portanto, o
mesmo nmero de pessoas ocupadas quando comparado com outras culturas.
Embora a produo de soja tenha aumentado significativamente de 1996 para
2003, no se acredita que o nmero de pessoas diretamente envolvidas com essa
produo tenha crescido. Ao contrrio, estima-se que a expanso da soja na Regio
18
Centro-Oeste e a diminuio das pequenas propriedades da Regio Sul tenham
contribudo para a queda do nmero de pessoas envolvidas diretamente com a cultura.
A partir dos dados censitrios de 1996, observa-se que o produtor mdio de soja
ocupou uma rea de 38,02 ha e produziu 88,84 toneladas de gros, equivalente a uma
produtividade de 2 273 kg/ha (Tabela III.3).
Tabela III.3 - Produo de soja no Brasil, segundo a condio de posse e rea do
produtor (Safra 95/96)
Com relao situao de posse da terra dedicada soja nota-se, com os dados
do censo de 1996, que os proprietrios representavam 82,26% dos produtores,
produzindo 84,81% da safra total e ocupando 84,57% da rea total destinada cultura.
Os arrendatrios constituam 8,68% dos produtores e produziam 12,12% da soja, com
um volume mdio de 124,06 toneladas. A produtividade do produtor arrendatrio era de
2 304 kg/ha, muito prxima do valor dos proprietrios que era de 2 343 kg/ha,
indicando que a tecnologia utilizada semelhante. Os parceiros constituam 5,70% dos
produtores, mas sua produo atingiu apenas 2,13% da produo total, o que
corresponde observao de que o tamanho mdio da rea do produtor parceiro estava
bem abaixo da mdia geral, j que a produtividade dessa categoria foi de 2 293 kg/ha,
indicando o uso da mesma tecnologia das categorias anteriores. Os ocupantes
constituam 3,36% dos produtores de soja, gerando apenas 0,90% do volume colhido. A
rea mdia ocupada foi a mais baixa entre os quatro grupos, o mesmo ocorrendo com a
produtividade que foi de 2 252 kg/ha.
Totais 242.998,0 21.588.193,0 9.240.289,0 88,8 38,0
Proprietrios 199.884,0 18.309.949,0 7.814.314,0 91,6 39,1 2.343 Arrendatrios 21.101,0 2.617.882,0 1.136.301,0 124,1 53,9 2.304 Parceiros 13.839,0 460.868,0 201.002,0 33,3 14,5 2.293 Ocupantes 8.174,0 199.494,0 88.672,0 24,4 10,8 2.252
Ganho %Menos de 10 ha 57.203,0 356.726,0 195.068,0 6,2 3,4 1.830 - 10 a 100 ha 157.147,0 5.059.819,0 2.337.097,0 32,2 14,9 2.165 18,34%100 a 1000 ha 24.713,0 8.602.393,0 3.759.820,0 348,1 152,1 2.288 5,66%1000 a 10000 ha 3.774,0 6.656.601,0 2.809.816,0 1.763,8 744,5 2.369 3,54%Mais de 10000 ha 153,0 912.441,0 386.171,0 5.963,7 2.524,0 2.363 -0,26%No informado 8,0 213,0 96,0 26,6 12,0 2.218
Fonte: FIBGE - Censo Agropecurio do Brasil de 1995/96.
rea Mdia (ha)
Condio do produtor
Grupos de rea
Produtividade (kg/ha)
Nmero de Informantes
Produo (t) rea (ha)Produo Mdia (t)
19
Observa-se, com base nos dados anteriores, um ganho de produtividade
decrescente ao se passar dos estratos de menor rea para as maiores glebas. O efeito
positivo da rea sobre a produtividade justifica-se pelo emprego de um melhor nvel de
tecnologia, que se manifesta at um determinado tamanho de propriedade, a partir do
qual desprezvel.
A tabela III.4 revela a distribuio dos tamanhos de propriedades que cultivam
soja nos principais estados produtores.
Tabela III.4 rea cultivada com soja, segundo grupos de rea total dos
estabelecimentos nos estados de maior participao na produo - 1995/96 (mil ha)
Analisando-se a tabela III.4, pode ser observado que, no Rio Grande do Sul e no
Paran, os produtores que trabalhavam reas menores que 100 ha representavam quase
50% da rea cultivada com soja. Os produtores que trabalhavam reas entre 100 ha e
1 000 ha representavam 41% da rea total cultivada no Rio Grande do Sul e 44% no
Paran. Os produtores com mais de 1 000 ha representavam 10% e 8%,
respectivamente, da rea cultivada. No entanto, a produo nas reas acima de 100 ha,
representava, respectivamente, 51% e 53% do total.
No Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul e em Gois, a rea cultivada por
produtores de menos de 100 ha representava uma parcela muito reduzida da rea total,
sendo esses valores, respectivamente, 0,3%, 6,7% e 3%. A rea cultivada entre 100 ha e
Grupos de rea Brasil RS PR MT MS GO Outros0 - 10 ha 195 112 72 1 3 - 7 10 - 100 ha 2.168 1.070 1.002 4 47 26 19 100 - 1000 ha 3.759 977 1.007 383 332 392 668 1000 - 10000 ha 2.810 244 182 122 315 429 518 10000 ha e mais 383 - 5 230 50 16 83 sem dados 1 - - - - - - Total 9.316 2.403 2.268 1.740 747 863 1.295
0 - 10 ha 2,09 4,67 3,17 0,06 0,40 - 0,5410 - 100 ha 23,27 44,53 44,18 0,23 6,29 3,02 1,47100 - 1000 ha 40,35 40,66 44,40 22,01 44,44 45,42 51,581000 - 10000 ha 30,16 10,14 8,02 64,48 42,18 49,71 40,0010000 ha e mais 4,12 0,00 0,23 13,22 6,69 1,85 6,41sem dados 0 - - - - - - Total 100 100 100 100 100 100 100Fonte: IBGE - Censo Agropecurio do Brasil de 1995/96.
Em percentuais de produo
Valores em Hectares
20
1 000 ha representava, respectivamente, 22%, 44% e 45%. A rea cultivada por
produtores, cuja propriedade possua mais de 1 000 ha, representava 77% no caso do
Mato Grosso, 49% no Mato Grosso do Sul e 52% em Gois.
Observa-se assim que os produtores do Centro-Oeste (principalmente no caso do
Mato Grosso) ocupavam reas bem maiores do que os da Regio Sul. Essa observao
permite inferir que a grande expanso da soja no Centro-Oeste se realizou e est se
realizando com base em cultivos extensivos, aproveitando economias de escala,
enquanto que no Sul houve e continua havendo uma tendncia de aumento da rea das
propriedades produtoras de soja, pois a produo de gros no se sustenta mais em
pequenas propriedades que procuram fazer dessa atividade a sua principal fonte de
receita (EMBRAPA, 2001).
Para se ter uma idia da tendncia da produo de soja quanto aos parmetros
analisados, procura-se compar- los com os dados do Censo Agropecurio de 1985. Os
dados comparativos dos dois Censos indicam que houve uma diminuio de 177 206
estabelecimentos que produziam soja de 1985 a 1996. Naturalmente, a maior parte
desses estabelecimentos possua pequenas reas. Por exemplo, as propriedades de reas
abaixo de 100 ha diminuram, nesse perodo, em 13,50%. As reas, na faixa de 100 ha a
1 000 ha permaneceram no mesmo percentual, em torno de 40%. No entanto, as reas
acima de 1 000 ha passaram de 18% para 30%. Na verdade, a grande produo de soja a
partir dos anos 90 est concentrada em propriedades cuja rea est acima de 200 ha
(65%) e a tendncia que a produo se concentre cada vez mais em propriedades
acima dos 500 ha (EMBRAPA, 2001).
III.3 FATORES DE COMPETITIVIDADE DE PRODUO
A competitividade na produo da soja, enquanto matria-prima, no consiste no
maior problema da cadeia produtiva deste insumo, como pode ser visto na tabela III.1.
O Brasil est na vanguarda mundial da tecnologia de produo desta oleoginosa nas
regies tropicais. A potencialidade do aumento de produo de soja no mundo est
localizada entre os paralelos 20S e 20N (EMBRAPA, 2001). Estima-se que o Brasil
21
possua entre 90 e 100 milhes de hectares de Cerrado para explorao agrcola, o que
permitiria aumentar em at dez vezes a produo atual de soja (WARNKEN, 2000,
P.62).
Levantamentos sobre custos de produo demonstram que, ao contrrio do que
se poderia imaginar, no so to grandes as diferenas entre o Cerrado e o Sul. Os dados
do conta de custos na faixa de US$ 5,31 a US$ 6,01 por saca, para uma produtividade
de 55 sc/ha em plantio direto. A razo principal que os custos se compensam:
enquanto o Sul tem custos menores de insumos, no Cerrado o custo de mo-de-obra e
remunerao da terra so mais baixos. A figura III.1 ilustra comparativamente os custos
de produo para diversos estados brasileiros, para a mdia brasileira e para EUA e
Argentina.
Figura III.1 Custos comparativos de produo de soja no Brasil, EUA e
Argentina
Existem algumas variedades de sementes que viabilizam um ciclo de produo
mais curto ou mais longo, conforme as necessidades. As cultivares precoces possuem
um ciclo de produo de 110 dias, as semi-precoces de 130 dias e as tardias de 145 dias.
22
Estima-se que, na safra 01/02, 42% das reas brasileiras foram cultivadas com sementes
de ciclo mdio, 29% com ciclo tardio, 23% com precoces e 2% com superprecoces
(SOUZA, 2003).
Regionalmente, os ciclos de plantio e colheita variam como indica a tabela III.5.
Tabela III.5 - Plantio e colheita de soja por regio brasileira
Regies Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov DezNorte P C C C P P PNordeste P C C C P P PSudeste C C C C C P P P PSul C C C C P P P PCentro-Oeste C C C C C P P P PLegenda: P = Plantio; C = Colheita
Fonte: EMATER
Comparativamente entre Brasil, EUA e Argentina, o ciclo completo de produo
mostrado na tabela III.6.
Tabela III.6 - Ciclo produtivo da soja nos principais pases produtores
Ciclo produtivo da soja nos principais pases produtoresPases Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov DezEUA P P C/F V G H HBrasil F V G H H P P CArgentina C F V G H H P PLegenda: P = Plantio; C = Crescimento; F = Florescimento; V = Emisso de Vagens;
G = Formao de Gros; H = ColheitaFonte: USDA
Fonte: USDA
III.3.1 Plantio Direto
De acordo com Paula e Faveret (2000, p.32), preocupados com os custos de
mecanizao, uso de insumos e degradao do solo com as sucessivas safras a campo
aberto, pesquisadores e agricultores uniram-se na busca de novas tcnicas de plantio e
manejo. A tcnica do plantio direto consiste em plantar, sem utilizao das operaes
usuais de gradagem e arao, sobre os restos de uma cultura anterior, que fazem a
cobertura do solo, evitando o seu ressecamento e a evaporao de nutrientes.
23
A maioria dos estudos apontam significativas vantagens desse sistema em
comparao ao convencional. Alm da diminuio dos custos de mecanizao, a
dispensa de operaes de gradagem e arao traz vantagens como a no compactao do
solo em virtude de menor trnsito de tratores pesados. Com a manuteno da palha
sobre o solo e a conseqente criao de condies para desenvolvimento e manuteno
da fauna microbiana, as pesquisas constataram maior aerao do solo e melhor
distribuio dos nutrientes, o que traz como resultado menor necessidade de adubao e
calagem.
Outra observao importante, tanto em benefcio ambiental como econmico,
que, com cobertura, o solo fica menos suscetvel a perdas por carregamento pelas
chuvas que provocam lixiviao (perda de nutrientes) e assoreamento dos rios.
Observaes de pesquisa chegam a detectar perdas de 18,4 toneladas/hectare/ano de
solo no plantio convencional, contra 0,14 tonelada/hectare/ano no plantio direto sobre a
palha.
Esta melhoria, alm do aspecto de menor custo proporciona uma melhor
produtividade, como confirma um estudo de Richetti e Mello Filho (2002).
Comparaes entre os sistemas de plantio direto e convencional para Dourados (MS)
revelam custos de US$ 343,85/ha e uma produtividade de 50 sc/ha, para o plantio
convencional, contra um custo de US$ 322,93/ha e uma produtividade de 55 sc/ha para
o plantio direto.
III.3.2 A Soja Transgnica
Das novas tecnologias aplicadas ao cultivo da soja, destaca-se a criao de
sementes geneticamente modificadas, nas quais genes da planta original so
modificados a fim de se obter maior rendimento na extrao de leo ou maior
resistncia a doenas.
Das chamadas variedades transgnicas, destaca-se o cultivar da Monsanto, a
Roundup Ready (RR), geneticamente modificado para resistir ao herbicida da empresa.
24
Grandes polmicas tm sido travadas sobre os limites da manipulao gentica e
seus efeitos sobre o biossistema, tanto pelos ambientalistas como tambm por tcnicos e
estudiosos da agricultura. A polmica principal, por parte dos ambientalistas, a
conseqncia que a modificao gentica pode trazer na alimentao humana,
principalmente em relao sade. Os tcnicos argumentam que ainda no est
devidamente provado que a resistncia a herbicidas no ser expandida para o ambiente,
tornando outras plantas, inclusive as invasoras, resistentes tambm (PAULA e
FAVERET, 2000, p.30).
No Brasil, a definio est a cargo da Comisso Tcnica Nacional de
Biossegurana (CTNBIO), que tem permitido alguns experimentos de pesquisa com a
soja geneticamente modificada.
Discute-se a rotulao de produtos que utilizem insumos modificados
geneticamente, de forma que o consumidor possa ter informao sobre o contedo do
alimento que est comprando.
De acordo com o USDA (PESSA, 2001), 78% do volume plantado nos EUA
na safra de 00/01, foi de soja transgnica. Na Argentina, esse percentual excede 95%.
No Brasil, especula-se que seja entre 15% e 20%, cultivados sobretudo no Rio Grande
do Sul, onde o percentual ultrapassa os 70%.
Unio Europia e Japo mantm resistncia ao consumo de produtos
transgnicos e, em decorrncia, sua importao. A liberao do plantio, no Brasil,
podesignificar uma eventual restrio s exportaes para aqueles mercados. Ser mais
difcil assegurar a no contaminao dos produtos, estando liberado seu plantio no
pas. A maior parte das exportaes agrcolas brasileiras (cerca de 60% da soja, 75% do
farelo de soja e 60% do total de exportaes agr colas) so dirigidas Europa
(ARAJO, 2001, p.33).
Discute-se, no entanto, este impacto, uma vez que, de acordo com Pessa
(2001), a Unio Europia tem adquirido cada vez mais soja Norte Americana e
Argentina e sabe-se que menos de 10% da soja no transgnica certificada nesses
pases. Se houvesse, de fato, restrio, deveramos estar enfrentando uma gigantesca
25
presso sobre a cotao da soja brasileira com prmios nas alturas, mas no isso que
temos visto. O que vimos foi a Unio Europia comprando mais e mais soja transgnica
americana e argentina. Portanto, o bom senso exige uma reflexo desapaixonada de qual
, de fato, o tamanho do mercado de no transgnicos hoje e no futuro, pois estou
convencido de que esse ser muito pequeno, apenas um nicho de mercado.
Ainda de acordo com Pessa (2001), nos EUA, onde j existia a prtica de
segregao de tipos diferentes de produto, antes mesmo da existncia dos transgnicos,
o prmio pago por produto no transgnico, segregado desde o plantio, passando pela
armazenagem e contando com certificao at a chegada ao porto de exportao ou
porta da fbrica, gira entre 1,0 e 3,0% no caso da soja, e chega a 6% no caso do milho,
sobre o valor do produto no segregado e no certificado. Ressalte-se que esse prmio,
na maioria dos casos, mal cobre os custos relativos sua segregao e certificao.
De fato, se comparados os preos cotados na Chicago Board of Trade (CBOT)
com aqueles praticados em Paranagu, para o perodo entre janeiro de 1998 e setembro
de 2003, observa-se para aqueles uma mdia de 191,42 US$/t, contra 201,79 para
Parangu, uma diferena de 5,4% (ABIOVE, 2003). Deve-se ressaltar que os preos da
CBOT tambm levam em considerao a produo brasileira e que influenciam nestes
valores questes logsticas e aspectos particulares do mercado nacional. No entanto, a
diferena nas mdias indica a existncia de um prmio maior para a soja convencional.
Recentemente surgiu um atrito na exportao de soja brasileira para a China,
uma vez que esta nao baixou uma nova regulao que exige do pas de origem uma
certificao de que o produto no traz riscos sade humana, sade animal e ao meio
ambiente. O governo brasileiro entrou em acordo com o governo chins para emitir um
certificado provisrio, atestando que a soja exportada preponderantemente
convencional, mas que pode haver contaminao, em algumas cargas, de soja
transgnica e que, se isso ocorrer, ser com a soja do tipo Roundup Ready, que j
recebeu da CTNBio um atestado de que no traz riscos para a sade humana, animal ou
ao meio ambiente, sendo do mesmo tipo que os chineses esto importando regularmente
dos EUA e da Argentina.
26
O aspecto mais importante, do ponto de vista econmico, relacionado liberao
ou no da soja geneticamente modificada, reside nos custos de produo, com
diminuio do uso de herbicidas. Um estudo desenvolvido pela Embrapa (ROESSING,
2002, p.17), sinaliza uma reduo de custos de produo da ordem de 17% (US$
6,05/saca de 60 Kg para soja convencional e US$ 5,02/saca de 60 Kg para soja
transgnica).
III.4 FATORES DE COMPETITIVIDADE DE MERCADO
De acordo com Paula e Faveret (2000, p.11), os preos no Brasil guardam
relao direta com os internacionais e so praticados em estreita sintonia com a Bolsa de
Chicago, o que reflete a grande importncia das exportaes como destino da produo
(cerca de 71% da safra de 02/03). Trata-se de um dos produtos com maior exposio
internacional.
Os preos pagos ao produtor so baseados no preo internacional, descontados
os valores referentes a frete e impostos, que levam ao chamado preo de internalizao
ou de paridade, conforme ilustra a tabela III.7.
O prmio uma varivel de ajuste na negociao internacional que leva em
conta a origem e o destino do produto exportado, a qualidade e a oportunidade. A
incluso da varivel de ajuste da negociao internacional nas compras nacionais (que
no sejam para exportao) procura adequar o preo pago ao produtor com o valor
internacional do produto. Assim, a tendncia de preos da soja no mercado interno
segue a mesma verificada do mercado mundial.
Deve ser observado, como nota o Relatrio Agriculture in Brazil and Argentina:
Developments and Prospects for Major Field Crops (2001, p.44) que a taxa de ICMS
(Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios) causa distores no mercado
para as indstrias esmagadoras domsticas.
O ICMS representa a principal fonte de recurso dos estados e varia de 5% a 13%
dependendo do produto e se este vendido no limite do estado, para outro estado ou se
27
exportado. No entanto, a Lei 87 (conhecida com lei Kandir) promulgada em setembro
de 1996, isenta dessa taxa a exportao de insumos e produtos semimanufaturados.
Tabela III.7 Paridade para Exportao x Mercado Interno
FARELO LEO
1 - Fechamento Chicago* 642,50 642,50 642,50 156,20 28,372 - Prmio/Desconto -9,00 -5,00 -9,00 -16,50 1,003 - Converso (US$/Tonelada) 232,77 234,24 232,77 153,99 647,494 - Relao Cambial 1,15 1,15 1,15 1,15 1,155 - Receita Bruta (R$/Tonelada) 266,41 268,09 266,41 176,24 741,056 - DespesasICMS 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00Fretes 26,00 19,00 54,00 10,50 10,23Despesas Porto 8,01 8,01 8,01 8,01 11,45PISTaxas/Comisses 0,57 0,57 0,57 0,57 1,14Corret. Cmbio 0,50 0,50 0,50 0,33 1,39Cofins7 - Despesa Total 35,08 28,09 63,08 19,41 24,218 - Receita Lquida 231,32 240,00 203,32 156,83 716,849 - Paridade/60 Kg 13,88 14,40 12,2010 - Mercado Interno 13,80 14,50 11,90 180,00 720,0011 - Relao % (10)/(9) -0,57 0,69 -2,45 14,77 0,44Fonte: Safras & Mercado.* Em US$ cents/bushel para soja, US$/tonelada curta para farelo e US$ cents/libra para leo.
Referncia: 05/1998
Ponta Grossa
Ponta Grossa
SOJA EM GRO
CascavelPasso Fundo
Rondonpolis
As esmagadoras, quando compram a soja de outros estados para reexport- lo,
pagam o ICMS, recuperando-o em data posterior. Entretanto, como sustenta o referido
relatrio (2001, p.45), o sistema de recuperao desse imposto no funciona bem. As
esmagadoras, quando supridas por insumos de um outro estado, acumulam os
descontos, em forma de bnus, at que efetivamente exportem o produto final. Para
evitar esta restrio no fluxo de caixa, as esmagadoras competem por insumos dentro do
prprio estado, o que pode fazer com que o preo local aumente, se a capacidade de
esmagamento dentro do estado grande, relativamente ao suprimento. Assim, os
pequenos esmagadores esto em desvantagem, uma vez que suas margens apertadas no
lhes permitem pagar o mesmo preo pago pelas trading companies no mercado
internacional. Grandes empresas multinacionais que tanto esmagam quando
comercializam internacionalmente so menos afetadas.
28
A peculiaridade dessa taxa tem encorajado produtores brasileiros a investir em
fazendas de soja nos vizinhos pases Paraguai e Bolvia. A soja importada para o Brasil
no taxada com ICMS se o produto, processado ou no, reexportado. Este fato tem
estimulado a importao de soja paraguaia e boliviana para as plantas brasileiras.
O farelo segue as mesmas tendncias do gro, pois no tem no mercado, como
fonte protica para rao animal, concorrentes de peso, sendo o preo do gro o
determinante para o farelo. J o leo sofre a concorrncia dos diversos tipos de leos
vegetais, seja para uso basicamente domstico (colza, girassol e oliva) ou misto, como
palma, algodo, coco e amendoim. Desta maneira, seu preo sofre a influncia da oferta
de outros leos, alm da atividade industrial do setor de alimentos.
Alm dos fatores de formao de preo, a questo da carncia de estrutura de
armazenagem para muitos produtores, os fora comercializao durante a safra,
quando os preos do produto esto mais baixos e os fretes so significativamente mais
caros, em funo do aumento da demanda por transporte Caixeta Filho et al. (2001,
p.136). Nos Estados Unidos, os produtores maximizam a lucratividade conjugando a
armazenagem na fazenda com o transporte da safra via ferrovia-hidrovia. J no Brasil s
os grandes produtores dispem de estrutura de armazenagem na fazenda, enquanto os
pequenos e mdios defrontam-se com duas opes: ou fazem a venda logo aps a
colheita, ou utilizam armazns de terceiros.
Dados de mercado (Gazeta Mercantil, 27 mai. 2003) registram que, no Brasil,
apenas 5% da capacidade total de armazenagem est dentro das fazendas entre 30 e 500
hectares, contra uma mdia de 65% nos EUA, 50% na Europa e 25% na Argentina.
Por outro lado, as cooperativas e empresas privadas possuem uma boa
capacidade de armazenamento da soja, fazendo com que as unidades agrcolas sejam as
que mais sofrem com esta descompensao nos fretes.
Do lado da demanda por transportes, esto os produtores rurais, as agroindstrias
e as tradings e, ofertando estes servio, encontram-se as transportadoras e os autnomos
e seus agenciadores. Os produtores rurais, individualmente, movimentam baixos
volumes de carga, e dificilmente colocam sua produo em pontos distantes de sua
29
fazenda ou de l trazem mercadorias. Podem realizar o transporte atravs de uma
cooperativa, agroindstria ou pulverizadamente, sendo comum, nestes casos, o
agricultor se responsabilizar pelos custos de transporte, mas com a agroindstria ou
tradings representando-o nas negociaes.
A agroindstria exerce a atividade mais abrangente no setor, sendo um elemento
bastante capacitado para administrar o abastecimento de matrias-primas ou o
escoamento da produo. Quanto s tradings, que se caracterizam por serem grandes
compradores de commodities, suas operaes proporcionam menor volatilidade ao
mercado de frete e o uso de menor nmero de veculos, alm da possibilidade de
utilizao de outros modais, o que seria ainda pouco vivel aos agricultores.
Principalmente no caso de distncias maiores, o comprador da soja adquire o produto
FOT (Free on Truck), responsabilizando-se assim pelo transporte (CAIXETA FILHO et
al., 2001, p.138).
Segundo Soares & Caixeta Filho (1996), a diferena entre transportadoras e os
motoristas autnomos (carreteiros) reside no preo do frete. As transportadoras so
empresas que concentram a maior parte do transporte nos veculos da prpria frota,
controlam seus custos e oferecem seguro por perdas que possam ocorrer em funo de
quebras durante o transporte. Mas a frota das transportadoras no suficiente para
movimentar o volume gerado pelas safras, fazendo com que os motoristas autnomos
desempenhem uma importante funo na oferta de veculos. No transporte de gros e
outras mercadorias ensacadas, os autnomos acabam por dominar o mercado, tendo
como principal fator de competitividade o baixo preo a que se sujeitam a operar. O
contato entre os motoristas autnomos e os embarcadores implementado pelos
agenciadores, que intermedeiam as negociaes entre os carreteiros e os proprietrios de
cargas. Esses agenciadores no se responsabilizam por quebras de transporte, havendo
necessidade de que os embarcadores providenciem o seguro, caso desejem. Mas,
segundo os demandantes, a perda obtida com transporte de cargas de baixo valor
agregado no significante, sendo prefervel assumir o risco de se trabalhar com
autnomos (EMBRAPA, 2001).
O pico da safra de soja comea na segunda quinzena de maro e vai at a
segunda quinzena de abril. A primeira etapa consiste no transporte entre o produtor e a
30
indstria de esmagamento, ou armazenamento do produto. Essa fase representa um
custo mais elevado, em decorrncia das estradas rurais no serem pavimentadas,
ocasionando deslocamento mais lento, perodos de interrupo por causa das chuvas,
alm de elevao dos custos de manuteno do caminho. A segunda etapa caracteriza-
se pelo transporte do gro armazenado para a indstria de processamento ou dos
armazns e indstrias aos portos, com destino ao mercado externo. Ao contrrio do que
acontece com o milho, existe maior capacidade de armazenagem de soja graas s
instalaes de cooperativas e outras empresas. Isso implica em que o verdadeiro pico no
mercado de frete, ocorra nos trechos que tm como origem a unidade agrcola.
Com relao produtividade dos veculos, o fato do carregamento se realizar na
prpria lavoura, devido j referida carncia de armazenagem, restringe a velocidade de
operao da carga, sendo comum que as ms condies climticas impeam a operao
das mquinas que efetuam a colheita.
O escoamento do farelo de soja no tem como caracterstica picos de atividade,
pois a soja em gros estocada de modo a estabilizar a produo das esmagadoras. Seu
armazenamento, por outro lado, torna-se dispendioso, em virtude de sua baixa relao
valor/volume, havendo algumas implicaes de ordem logstica. Dessa forma, os
administradores devem operar de modo a minimizar o tempo de estocagem do produto
dentro da empresa.
O mercado de frete para o farelo de soja distinto do da soja em gro. O farelo
sai da esmagadora e vai para a fbrica de rao ou armazm. No so envolvidos
agricultores, com o produto sendo escoado conforme as condies de mercado.
Naturalmente, em uma situao em que o produto esteja bem cotado, a solicitao de
transporte aumenta.
O caminho utilizado exatamente o mesmo da soja e do milho em gros.
Normalmente, os agentes do mercado de farelo entram no mercado spot de fretes,
procurando motoristas que efetuem o servio.
31
O transporte de farelo de soja tende a concentrar a procura por transportes em
ofertantes da prpria regio de origem, j que as distncias envolvidas so relativamente
menores. A soja em gros, ao contrrio, atrai caminhes de diversificada gama de plos.
Outra questo que tambm interfere na rentabilidade do produtor, de acordo com
Paula e Faveret (2000, p. 16), e que passa despercebida na maioria das anlises, o
nvel de juros praticado pelo mercado, o que se explica pelo fato de que a anlise
clssica leva em conta, no clculo dos juros do custeio da safra, a taxa praticada para o
crdito rural, determinado pelo plano de safra nacional, atualmente em 8,75% ao ano.
Porm, sendo a soja uma produo de larga escala, mdios e grandes produtores tm
necessidade de custeio superior ao limite fixado pelo Conselho Monetrio Nacional e,
para se financiarem, recorrem ao mercado bancrio comum, ou utilizam outros
instrumentos de financiamento, sujeitando-se s taxas de juros normais, que, nos
ltimos tempos, esto bastante elevadas.
Ainda outra questo importante sob a tica comercial que, de acordo com
Warnken (2000, p.64), nenhuma outra poltica econmica pode ter um impacto
potencial maior sobre o setor da soja brasileira do que o preo da moeda do pas. A taxa
de cmbio o preo mais importante no Brasil e, no caso do setor da soja, vital para
alcanar, manter ou perder a posio competitiva no mercado internacional.
III.5 FATORES DE COMPETITIVIDADE DE COMERCIALIZAO
Na perspectiva de aumento da competitividade da soja brasileira do ponto de
vista da comercializao, dois aspectos mostram-se fundamentais. Em um primeiro
plano reside o melhor equacionamento da rede logstica, que, como pode ser observado
na tabela III.2, onera significativamente o ciclo produo-comercializao da safra
nacional, principalmente a partir das grandes distncias a serem percorridas das
fronteiras agrcolas at os portos de embarque para exportao. Por outro lado, conciliar
uma demanda estvel com uma oferta agrcola que flutua sazonalmente o outro
desafio da comercializao de produtos agro- industriais. De um modo geral, os
mecanismos financeiros de comercializao foram desenvolvidos para dar conta do
32
descasamento entre procura e oferta. Como as margens de lucro envolvidas no
agronegcio so geralmente estreitas, garantidas pelo esforo de reduzir os custos de
produo, muitas vezes a no utilizao ou escolha equivocada de um mecanismo de
comercializao pode pr tudo a perder. A eficincia de um negcio, portanto, mais
abrangente do que simplesmente seu desempenho produtivo.
III.5.1 Logstica para o Escoamento da Soja
O transporte da soja brasileira, desde a lavoura aos armazns e da para as
indstrias esmagadoras ou aos portos para a exportao, onera o produto, como j visto,
e afeta a sua competitividade. Na verdade, esse problema logstico reflete a situao
geral do escoamento de gros no pas, com a concentrao no uso do modo rodovirio.
Para efeito de comparao, considerando-se uma mesma distncia da regio
produtora ao porto (1 400 km), o frete no Brasil custa em torno de US$ 50/t, enquanto o
produtor do Mississipi (Estados Unidos) despende apenas US$ 6,60/t, segundo dados da
Companhia Vale do Rio Doce (PAULA e FAVERET, 2000, p.23). A figura III.2 ilustra
comparativamente a matriz de transportes para a soja entre os principais exportadores.
Figura III.2 Matriz de Transportes para a soja entre os pases exportadores
Rodovia Ferrovia Hidrovia
Fonte: Associao Nacional de Exportadores de Cereais (Anec)
Distncia Mdia ao Porto
900 a 1 000 Km 1 000 Km 250 a 300 Km
Como a Soja chega ao Porto
Estados Unidos
16%
23%61%
Brasil
60%33%
7%
Argentina
82%
16% 2%
33
O custo do frete por tonelada de gros em geral, em trecho mdio de mil
quilmetros, de US$ 32,00 pelo modal rodovirio; US$ 15,00 a 18,00 por ferrovia e
apenas US$ 7,00 a 8,00 na hidrovia (A Granja, abr 2001). No caso dos sojicultores, o
valor do frete chega a r
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