1º e 2º Timótio e Tito. Características: As três Cartas Pastorais tem determinadas...

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1º e 2º Timótio e Tito

Características:As três Cartas Pastorais tem

determinadas características em comum, sendo endereçadas aos chefes das comunidades cristãs e visando regular a vida e a organização eclesiástica; Ou seja, elas querem ser uma espécie de manual para a organização da comunidade e a vida prática dos cristãos.

O termo pastoral, em relação às nossas cartas, deve ser entendido em sentido amplo, mais próximo a “comunitário” ou eclesial do que a “clerical-eclesiástico”.

Temática de fundo: Eclesiológica - A doutrina sobre a Igreja, instituída por Cristo e organizadas em comunidade de fé e comunidade ética a serviço da santificação dos fiéis;

A preocupação principal desses escritos é a de conservar e transmitir fielmente o “depósito da fé”, mais do que renove-lo, para adaptá-lo a novas situações.

As instruções propostas aos responsáveis por comunidades abarcam todos os setores e momentos da vida comunitária, da oração à vida de relação, do contato com os dissidentes ao testemunho cristão diante do ambiente externo.

O conjunto de normas, regras e exortações práticas é sustentado por fragmentos de catequese, hinos e profissões de fé, sentenças ou ditos sapienciais que provêm do patrimônio tradicional cristão.

Por isso as três cartas, além de nos dar uma panorâmica da vida e organização das primeiras comunidades cristãs, transmitem-nos também uma documentação preciosa sobre as fórmulas de fé e de catequese dos primeiros tempos.

A característica peculiar das nossas três cartas é constituída pelo fato de as instruções, regulamentos e normas tenderem a se tornar gerais, como numa espécie de manual eclesiástico desvinculado de situações concretas.

Autoria das cartasPor trás das cartas “pastorais” está

a figura do velho Paulo, o missionário que peregrina entre as cidades gregas ou está preso em Roma? Ou um discípulo seu que escreve com o nome e a autoridade do grande mestre e apóstolo?

Segundo alguns autores, trata da autenticidade paulina da 2Tm, à qual são ajuntadas 1Tm e Tt, cujo conteúdo foi formulado posteriormente com base nas instruções redigidas pelo apóstolo Paulo relativas aos chefes das Igrejas em épocas e situações diferentes (1Tm em Éfeso [1,3]; Tt em Creta [1,5]; 2Tm em Éfeso [4,19];

Existem, entretanto, paralelismos entre as várias listas de virtudes ou deveres dos chefes responsáveis por comunidades nas três cartas, que se supõe terem sido endereçadas em épocas e situações respectivamente diferentes;

Estudiosos levantam uma provável hipótese: vários fatores os levam a pensar o autor das pastorais seja um discípulo de Paulo que escreve às comunidades da Ásia Menor, na intenção de promover a fidelidade à tradição paulina, ante os riscos das tendências heréticas, de legitimar a estrutura organizacional das Igrejas locais e consolidar a práxis cristã.

O conjunto dos dados lingüísticos e culturais presentes nas cartas pastorais torna plausível a identificação do autor como um cristão de origem judaica, que, porém, viveu e foi educado na diáspora helenista.

O tempo de composição desses escritos pode oscilar entre dois extremos cronológicos: pelo final do século I ou em torno dos anos 70 da nossa era.

Um perigo que rondava as três comunidades eram as heresias que ameaçavam a integridade da fé e a unidade eclesial. Elas, no entanto, se guiaram um modelo fixo – podemos dizer que era adotado um antídoto comum.

No entanto, existem peculiaridades. A 2Tm assume, por exemplo, uma estrutura de testamento espiritual, em que o apóstolo se torna o modelo do mártir fiel e perseverante nas provações. Essa carta tem um tom mais personalizado, mais próximo do discurso de despedida ou testamento espiritual do que de um documento de organização pastoral como é o caso das duas outras cartas.

Mensagem Teológica e EspiritualAs cartas querem deixar claro que a

fé que constitui a Igreja funda-se na sã doutrina, no evangelho de Jesus Cristo, do qual Paulo é apóstolo, arauto e mestre categorizado.

Um exemplo dessa sã doutrina, que coincide com a verdade segura e íntegra, é dado pela série de fórmulas ou citações de hinos e lições catequéticas, que no seu conjunto constituem um pequeno credo, bem articulado em seus pontos essenciais: Deus Pai tem a iniciativa do projeto salvífico que se manifestou historicamente em Jesus Cristo salvador e que vai se realizando na Igreja, onde os fiéis batizados esperam a salvação definitiva, por meio de uma vida marcada pela perseverança nas boas obras.

Embora as três cartas sejam direcionadas para a organização pastoral das comunidades, não se exclui a possibilidade de um discurso teológico que fundamente o projeto pastoral e a prática cristã recomendadas. Isto é, numa ótica prática, a atenção teológica volta-se para o papel salvífico de Deus e do Cristo, para a Igreja e, enfim, para o ideal cristão.

Deus e Cristo no projeto salvíficoAs três cartas acentuam o aspecto

salvador da ação de Deus e de Cristo. Existe uma freqüência de terminologias “salvíficas”: o apelativo dado a Deus e a Cristo – sôter (“salvador”) – aparece dez vezes, num total de 13 no NT; o verbo sôzein (“salvar”), sete vezes; e sôtêria (“salvação”), duas vezes. A iniciativa do que é chamado o projeto salvífico remonta a Deus Pai (2Tm1,9).

Deus é proclamado “salvador”, por “quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,3-4).

A gratuidade dessa iniciativa é ressaltada e expressa por um vocábulo cheio de ressonâncias religiosas, inclusive no ambiente helenista, charis (“amor benigno e gratuito” (Tt 2,11; 3,7).

Essa charis do único, imortal e invisível Deus torna-se visível em Cristo.

Ele é o lugar histórico dessa manifestação gratuita e ativa do amor de Deus.

"Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores", afirma-se numa pequena sentença programática (1Tm 1,15).

Essa salvação, que define a missão histórica de Jesus, realiza-se mediante a sua autodoação na morte em favor dos homens e pela sua libertação (1Tm 2,5; Tt 2,14).

Apesar da preocupação eclesial, é característica dessas fórmulas soteriológicas a dimensão ecumênica.

Essa abertura universal não depende apenas da assunção material de fórmulas arcaicas, mas corresponde à perspectiva "ecumênica" própria das pastorais que olham com otimismo para a história humana e para os valores humanistas, embora com reserva crítica ante as degradações idolátricas e os desvios éticos.

Quanto à cristologia das cartas: Cristo é apresentado como o único Kirios (rei imortal – Senhor) ao qual se deve honra e poder (1Tm 3,17; 6,15-16; 2Tm 4,18b).

Cristo se revelou como autêntico sôter na sua manifestação histórica, a primeira epifaneia (2Tm 1,10), e mediante a ressurreição venceu a morte, para fazer resplandecer a vida e a imortalidade em favor de todos os que crêem.

A manifestação histórica da potência salvífica de Deus, em Cristo, antecipa e garante a manifestação (epifaneia) final, que dará cumprimento à esperança e realizará as expectativas dos fiéis por uma vida plena (Tt 2,11-14; 3,7).

A atenção se concentra no papel do Cristo glorioso e em sua caminhada salvífica que culmina na ressurreição, que marca uma virada histórica e cósmica universal, como aparece claramente na pequena jóia que é o hino de 1Tm 3,16.

A cruz, a humilhação e a morte de Cristo permanecem como pano de fundo e de vez em quando são evocadas como modelo para os fiéis ou motivação profunda para a sua perseverança nas provações (cf. 2Tm 2,11-13; Tt 6,13).

As Igrejas das cartas pastoraisUm fato à primeira vista estranho é que os três

escritos, que se interessam tanto pela organização e pela vida da Igreja, dela falem pouquíssimo em termos explícitos:

Três vezes, apenas, aparece o termo ekklêsia (1Tm 3,5.15; 5,16). Porém, a formula usada ekklêsia tou theou ("a Igreja de Deus") é rica de ressonâncias teológicas, pois lembra a história do povo de Deus e a convocação escatológica dos salvos, anunciada pelos profetas.

A imagem do "povo de Deus", libertado e convocado para a aliança por Deus, é expressamente retomada no pequeno catecismo de Tt 2,11-14.

No interior dessa casa de Deus, as relações são do tipo familiar. Os responsáveis (presbíteros-bispos), colaboradores, diáconos homens e mulheres têm a função de prover às exigências ou serviços essenciais que asseguram a vida e a ordem da comunidade.

A primeira missão desses é garantir o "serviço da Palavra", em suas múltiplas formas, que vão do anúncio ao testemunho concreto e prático (1Tm 4,12; 5,17; 2Tm2,15; 4,2; Tt 2,8).

Esse papel educativo dos pastores afina-se perfeitamente com a preocupação da três cartas de conservar a fé genuína e íntegra, ante a ameaça desagregadora da incipiente heresia.

A autoridade do ensinamento ou da sã doutrina baseia-se na "tradição", ou seja, no evangelho de Jesus Cristo, de quem Paulo é testemunha e fiador autorizado. Embora não se mensione os outros apóstolos, a referência ao credo tradicional pré-paulino é sinal da consciência histórica mais ampla em relação à tradição cristã.

É importante observar: A Igreja, nas pastorais, não é a substituta de Cristo, mas o espaço ideal onde, mediante o "conhecimento da verdade", se realiza a caminhada de salvação inaugurada no batismo, por meio do qual é dado com abundância o dom do Espírito, garantia e penhor da nova vida, dom final da fidelidade generosa de Deus (Tt 3,4-6).