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A EVASÃO ESCOLAR DO ENSINO FUNDAMENTAL NO PERÍODO NOTURNO
OLIVEIRA, Antonio Carlos de1
INTRODUÇÃO
"A evasão escolar do ensino fundamental no período noturno" tem
objetivo estudar, compreender, e, enfrentar a questão da evasão na Escola Estadual Professor
Paulo Mozart Machado - Ensino Fundamental, no período de 2006 a 2010, através de dados
emitidos pela secretaria da escola.
Nesse sentido, definiu-se como objetivo geral analisar as possíveis causas
da evasão escolar do ensino noturno numa quinta série do ensino fundamental. O que de forma
mais concreta se expressa no desafio de identificar o índice de evasão escolar no ensino
noturno da Escola Estadual Professor Paulo Mozart Machado - Ensino Fundamental, no
período de 2006 a 2010, através de dados oficiais e, dados emitidos pela secretaria da escola;
estabelecer correlação entre as variáveis: evasão, idade, sexo e repetências ocorridas na 5ª
série do período noturno; promover redimensionamentos que contribuam para enfrentar este
problema.
O interesse de estudar a problemática da evasão no âmbito do Programa de
Formação Continuada (PDE) oferecido aos docentes pela Secretaria de Estado da Educação
(SEED) surgiu de observações e experiências em minha trajetória profissional que teve início
em 1985, quando ingressei na rede pública para lecionar Física no Colégio Estadual Paulina
Pacífico Borsari, na cidade de Rancho Alegre-Pr e, posteriormente, Matemática no ensino
fundamental e Física no ensino médio no período noturno, nas cidades de Uraí, Rancho Alegre
e Cornélio Procópio.
A atuação como docente possibilitou-me presenciar a evasão escolar como
uma das maiores responsáveis pelo esvaziamento das salas de aula ao longo do ano letivo,
razão pela qual esta problemática se constituía (e se constitui) em tema recorrente em
reuniões administrativas e pedagógicas das quais participo nas escolas públicas. É fato
1 Antonio Carlos de Oliveira (PDE), Professor da Rede Básica de Ensino do Paraná.
comum que muitos alunos e alunas matriculados/as nas escolas, comecem a faltar nas aulas
no final do primeiro semestre. Após "pararem" no meio do ano alguns retornam no ano seguinte
para prosseguimento da escolarização. Contudo, há muitos alunos/as que "páram" e não
retornam à escola, ou seja, "desistem".
A importância de compreendermos as possíveis causas da evasão reside no
fato de só assim ser possível pensar em ações para preveni-la e enfrentá-la. Nesse sentido,
estudar a evasão escolar se faz necessário uma vez que é um dos graves problemas que
afetam a escola pública e traz prejuízos para o poder público que tem alargado o tempo
necessário para a conclusão de estudos dos alunos que se evadem, engrossando as fileiras do
fracasso escolar e produzindo prejuízos aos cidadãos que vêm distanciando-se cada vez mais
das oportunidades de acesso aos conhecimentos sistematizados.
Portanto, este projeto propõe reflexão e análise acerca da expressão do
fenômeno da evasão escolar, no período noturno, especificamente numa 5ª série do ensino
fundamental em escola pública do município de Uraí.
A Constituição Federal de 1988, em seu Art. 206, inciso I, explicita como
primeiro princípio do ensino brasileiro a "igualdade de condições para o acesso e a
permanência na escola". A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBN. 9394/96), reforça
esse princípio em seu Art. 3º. Inciso I.
A despeito disto, o que se observa é que a educação não tem sido plena no
que se refere ao alcance de todos os cidadãos, assim como no que se refere à conclusão de
todos os níveis de escolaridade.2 Desafios de tal magnitude explicitam um longo caminho a
ser percorrido em busca da qualidade educacional para o nosso país. Observa-se que a cada dia
os fenômenos como a repetência, o fracasso e a evasão escolar tem sido alvo de discussões e
reflexões.
Assim, um dos desafios que a escola pública brasileira de ensino
fundamental não tem conseguido superar é o fato de muitos alunos nela matricularem e
poucos permanecerem. Nesse sentido, neste estudo, pretende-se indagar pela expressão do
fenômeno da evasão escolar, no período noturno, especificamente numa 5ª série do ensino
fundamental em escola pública do município de Uraí.
Este estudo tem como objetivo analisar as possíveis causas da evasão
escolar do ensino noturno numa quinta série do ensino fundamental, bem como identificar
redimensionamentos que contribuam para enfrentar este problema. Assim, ampara-se na
investigação quantitativa, que atua em níveis de realidade e tem como objetivo trazer à luz
2 http://www.anped.org.br/reunioes/25/lucileidedomingosqueirozt13.rtf
dados, indicadores e tendências observáveis (MINAYO & SANCHES, 1993). Para a coleta
dos dados quantitativos serão consultados os documentos disponibilizados pela Secretaria da
Escola, referentes à: ano, série, número de alunos matriculados, número de alunos evadidos,
sexo, idade em que desistiram - total e percentual.
Considerou-se ainda a importância de buscar um olhar não apenas
quantitativo, mas de atenção sobre seu contexto, para auxiliar na compreensão das
informações, indagações, significações e reflexões que a investigação trouxe à tona. Assim,
também a necessidade do amparo da abordagem qualitativa de pesquisa, para trabalhar com
valores, crenças, representações, hábitos, atitudes e opiniões. O instrumento utilizado para
coleta de dados será o questionário, com perguntas fechadas e de múltipla escolha, realizado
com alunos (as) da escola.
O texto encontra-se organizado em quatro itens: 1. O fenômeno da evasão
escolar na escola de ensino fundamental que aborda levantamento estatístico através da
pesquisa de campo feita no estabelecimento escolar. A coleta de dados correspondente aos
períodos de 2006 a 2010 sobre evasão, aprovação e retenção. O termo evasão e/ou
abandono, aqui focado, abrangerá somente os alunos que abandonaram a escola
temporariamente e voltaram a freqüentá-la, com o objetivo de questioná-los sobre o motivo de
suas interrupções e o seu retorno ao ambiente escolar. 2. A evasão escolar no ensino noturno
da Escola Estadual Professor Paulo Mozart Machado - Ensino Fundamental, no período
de 2 006 a 2010. Nesta parte trabalhamos com coleta de dados através de
questionário/entrevista realizada com os alunos durante o transcorrer de uma aula com o
objetivo de apresentar uma visão realista do público que se destina. 3. "A correlação entre as
diversas variáveis da evasão", com o objetivo de analisar e comparar os dados oficiais
emitidos através do Sistema Estadual de Registro Escolar (Sere) e a realidade do ensino
fundamental noturno abordando especificamente a 5ª série. O que se fez a partir da pesquisa
realizada na instituição de ensino por meio de consultas aos documentos escolares da
Secretaria da Escola foi estabelecer uma relação da realidade dos dados computados no
sistema oficial Sere e suas variáveis, e os dados coletados na instituição de ensino. Por fim,
item 4. Possibilidades de enfrentamento da evasão nas quintas/séries/sexto ano.
Procuramos evidenciar através do diagnóstico real da escola a necessidade de um trabalho
coletivo entre professores, equipe pedagógica e a comunidade escolar a tomarem medidas
que proporcione uma redução do abandono e/ou evasão a partir de ações internas e externas
e parcerias com o Ministério Público.
1. O fenômeno da evasão escolar na escola de ensino fundamental.
O fracasso escolar surgiu quando as classes trabalhadoras rurais e urbanas
tiveram acesso à escola pública e gratuita, conforme artigo científico da Professora PDE
Lucidalva (2009) define evasão como: "A palavra evasão significa fuga, abandono de um
determinado recinto, de um lugar onde a pessoa tem o dever de estar. E no sentido,
especificamente escolar, significa abandonar a escola antes do término do curso ou do ano
letivo". Partindo deste contexto, o fracasso e/ou abandono escolar não pode ser
compreendido, analisado de forma isolada. Isto porque, as dimensões socioeconômicas,
culturais, educacionais, históricas e sociais entre outras, influenciam na decisão tomada pela
pessoa em abandonar a escola. Um dos desafios que a escola não tem conseguido superar
são o fato de muitos alunos matricularem e poucos permanecerem. As estatísticas oficiais
mostram um crescimento de matricula de alunos em todas as fases escolares. No Brasil, o
Censo Demográfico de 2000 apontou para uma tendência a universalização no acesso à
escola, para o ensino fundamental. Os dados censitários mostraram uma cobertura de quase
95% para as crianças de 7 a 14 anos. Dados mais recentes (PNAD, 2006) mostraram que a
taxa de escolarização para os estudantes desse grupo etário equivaleu a quase 98%%.
Considerando que a questão do acesso a escola esta em vias de ser solucionada, nos últimos
anos a atenção dos pesquisadores brasileiros tem sido direcionada basicamente para os
problemas da repetência e da evasão.
Para Costa (2000), "a falta de conhecimento dos seus direitos, e, como
prática pedagógica tem sido conduzida, são alguns fatores que não têm contribuído para
minorar a questão", pois a medidas paliativas para conter a evasão como: formação de
grupos, e bandas musical conjugados com aulas de danças, não é capaz de atrair os alunos de
uma forma ampla, alçando uma pequena parcela. Quando se fala em parcela, não há intenção
de encontrar culpados pela evasão, mas procurar entender por que ela acontece mais
intensamente nas primeiras séries do ensino fundamental. Igualmente, são as
responsabilidades dos profissionais da educação nesta questão, mas ao professor o
compromisso recai com maior proporção, pois dele detém de transmitir conhecimento
sistematizado em cada aula e, considerar o conhecimento comum do educando para que haja
uma correlação entre o científico e o conhecimento empírico.
Segundo FREIRE (1991): "O ensino deve sempre respeitar os diferentes
níveis de conhecimento que o aluno trás consigo a escola."
Para Freire, refletir sobre o que o aluno trás em sua história de vida não
pode ser rejeitado, mas este conhecimento deve ser reelaborado numa dimensão mais ampla
nas relações científicas e pedagógicas influenciadas pela escola.
Os estudos sobre evasão escolar realizados nos anos 70 apontavam a
desigualdade social como causa principal afirmando que as crianças de famílias pobres
apresentavam um desempenho abaixo do esperado, pois a sua realidade familiar não
contribuía para o seu desempenho, mesmo porque, as atividades pedagógicas aplicadas não
estavam em sintonia com a sua realidade. Para o autor, o fracasso escolar é mais pedagógico
do que técnico, pois muitas vezes os educadores desconhecem os direitos que a instituição de
ensino promulga em seu interior da escola e acabam perdendo seus direitos constitutivos.
Segundo Costa: "O fracasso escolar não é somente um problema técnico do interior da escola; é conseqüência do desreconhecimento dos trabalhadores como sujeitos de direito na instituição escolar, na medida em que, por muitas vezes, sua estrutura e funcionamento transformam-se em barreiras para conciliação entre trabalhos e estudos, culminando em episódios de repetência e evasão, privando-os do direito à escolarização básica regular, gratuita, obrigatória e universal A evasão escolar é o afastamento do aluno da escola. Um problema social que desencadeia a criação de uma sociedade marginalizada e desprovida de conhecimentos dos seus direitos de cidadania". (COSTA, apud Teles, 1999, p.89,90).
Para conhecer o universo dos alunos pesquisados e dimensionar os seus
objetivos, planos e sonhos realizou-se uma entrevista investigativa relatando as suas falas na
íntegra: aluno A - "estudar prá quê, prá colhê uva e trabalhar na roça, melhor ficar vendo as
minas e dando um role por aí", aluno B de 16 anos acrescenta" eu sou burro, não consigo
aprender nada", aluna C "acho importante estudar, mas não tem emprego, tem gente que tem
faculdade e está trabalhando nos mercados no serviço pesado", aluna D de 43 anos, " Eu sinto
não ter estudado quando era jovem, casei logo, e fui cuidar da casa e de meu filho, só agora
voltei, mas na minha classe tem muito barulho e bagunça, não sei se vou agüentar" Os
alunos do sexo masculino que foram entrevistados já reprovaram mais de uma vez e
demonstraram seu pessimismo e desinteresse, a aluna com a idade mais avançada para
série/ano tem sonhos, mas as angústia da sala de aula comprometem o seu rendimento.
2. A evasão escolar no ensino noturno da Escola Estadual Professor Paulo Mozart
Machado – Ensino Fundamental, no período de 2 006 a 2010.
Um breve histórico da escola onde se realizará a pesquisa e a proposta de
intervenção. A Escola Estadual Professor Paulo Mozart Machado, possui uma boa estrutura
física, as salas de aulas tem 49 m2 e possuem dois ventiladores, TV multimídia, cortinas, suas
carteiras e cadeiras estão em bom estado de uso, a biblioteca dispõe de vários volumes para
leitura, sala de recursos, sala de apoio pedagógico, laboratório de ciências, laboratório de
informática com mais de 40 computadores, amplo refeitório, duas quadras poliesportiva,
sendo uma com cobertura, dispõe de um corpo técnico administrativo qualificado e o corpo
docente em sua maioria de professores do quadro próprio do magistério (QPM) com
especialização em suas disciplinas e alguns com mestrados. A Escola atua nos três períodos:
matutino 7ª e 8ª séries, vespertino 5ª e 6ª séries e no noturno 5ª à 8ª séries. Para investigar o
problema da evasão usou do instrumento de questionário/entrevista implementado durante
uma aula de Português com a permissão da Equipe Pedagógica e da Professora regente. O
questionário aborda perguntas de múltiplas escolhas e questões abertas e fechadas pertinentes
ao universo dos alunos (as) da 5ª série do ensino fundamental noturno. A idade dos alunos
que responderam o questionário varia de 14 a 43 anos sendo que 50% trabalham na área rural
recebendo aproximadamente um salário mínimo mensal e 60% deles moram com os pais ou
responsáveis. 25% dos entrevistados são casados e possuem filhos. A coleta de dados foi
tabulada com o objetivo apresentar uma visão realista do público ao qual destina. A
necessidade do amparo da abordagem qualitativa de pesquisa, para trabalhar com valores,
hábitos, atitudes e opiniões. Tal busca se deu a partir da afirmação de Minayo de que hà uma
diversidade de fatores que envolvem a operacionalidade da pesquisa.
Tabela 1 - Você acha importante estudar?
Sim 10 83,33%Não 01 8,33%
Não sei 01 8,33%
Tabela 2 – Quantas disciplinas você gosta?
Uma 06 50,00%Duas 00 00000Três 02 16,66%
Quatro ou mais 01 8,33%Nenhuma 03 25,00%
A tabela 1e 2 ,o questionário foi respondido por 12 alunos, sendo oito do
sexo masculino. A maioria respondeu que acha importante estudar (83,33%), mas quanto o
número disciplinas: 50% gostam de apenas uma disciplina, 25% de nenhuma e apenas 8,33%
demonstra interesse por quatro ou mais disciplinas.
Tabela 3 - Qual o tipo de leitura você gosta?
Livro 04 33,33%Revista 02 16,66%
Gibi 02 16,66%Nenhum 04 33,33%
Tabela 4 – Você entende o que lê?
Sim 03 25,00%Não 01 8,33%
Às vezes 08 66,66%
Tabela 3 e 4 os entrevistados foram 12 alunos com a predominância do sexo
masculino (8) observa se que 33,33% não gostam de nenhum tipo de leitura e 66,66% não
conseguem compreender totalmente o que lê. A dificuldade de leitura e interpretação de texto
é dominante, o que nos leva a inferir que esse aspecto influenciará diretamente na produção de
outro índice que tem crescido o analfabetismo. A leitura é uma questão que ultrapassa os
limites regionais, as pesquisas e reportagens relatam o fato comprovam que mesmo com os
avanços da tecnologia, os educandos precisam de estímulo.
Em recente reportagem Folha de São Paulo de quarta feira dia 8 de
dezembro de 2010, traz o resultado do PISA (Programa Internacional de Avaliação
Estudantil) do ano de 2009, demonstra que entre 65 países participantes, com alunos de 14 a
16 anos, o Brasil ficou em 53º lugar no quesito leitura, 57º lugar em Matemática e 53º em lugar
em Ciências, perdendo em índices de proficiência para países como Trinidad e Tobago,
Colômbia e Chile só para citar alguns, que inquestionavelmente tem uma economia frágil
em comparação com o Brasil. Internamente o Estado do Paraná,
apresentou como resultados: 7º lugar em Leitura, 5º lugar em Matemática e a mesma posição
em Ciências, o que não pode ser motivo de alegria já que o índice médio de proficiências
nessas disciplinas foi de 417 pontos, que se comparados ao total de 800, nos faz refletir o que
falta para esse total. A falta de interesse pela leitura interfere no acompanhamento dos
conteúdos, no aproveitamento e avaliação. As tabelas abaixo 5 a 7 apontam esses desvios
Tabela 5 - Você já reprovou?
Nenhuma vez 02 16,66%Uma vez 02 16,66%
Duas vezes 01 8,33%Três vezes 04 33,33%
Quatro vezes ou mais 03 25,00%
Tabela 6 – Você já desistiu da escola?
Nunca 08 66,66%Uma vez 02 16,66%
Duas vezes 00 0000Três vezes 01 8,33%
Quatro vezes ou mais 01 8,33%
Tabela 7– Qual o motivo de sua desistência?
Trabalho 04 33,33%Saúde 00 00000Dificuldade de aprendizagem 00 0000Nunca desistiu 03 25,00%Desinteresse pelo estudo 02 16,66%Outro* 03 25,00%
A pesquisa sobre reprova e desistência nas tabelas 5, 6,7 detectou alguns
dados importantes dos entrevistados e os principais foram: desinteresse, influências de
amigos, não conseguir acompanhar os conteúdos, preguiça e trabalho. O que confirma as
suspeitas já apontadas pelo senso comum.
3. “A correlação entre as diversas variáveis da evasão.
A pesquisa quantitativa dos registros escolares foi efetuada no
estabelecimento escolar. A reprovação e a evasão na escola pública de primeiro grau (objeto
de pesquisa) apresentam índice e elevado no ano de 2009-2010. A pesquisa Sere (Sistema
estadual de registro escolar) apresenta resultados com índice menores devido à forma da
amostragem dos dados que prioriza a média do universo da escola.
Tabela com dados comparativos dos alunos de 5ª série do ensino fundamental no período
noturno referente ao período de 2 006 a 2010 fornecidos pela Secretaria.
Matrículas Movimentação Evasão %Período Inicia
lFinal Apro. Retidos Transferidos Ret.freq
.Desistência
sTota
l2009 22 15 08 01 - 06 07 13 59,09%2010 28 15 06 09 01 00 12 12 42,85%
Fonte: Secretaria da Escola Estadual Professor Paulo Mozart Machado – Ensino Fundamental.
A evasão escolar é um problema que vem sendo discutido por diversos
pesquisadores e educadores há muito tempo. Porém, essa é uma questão que está longe de ser
resolvida e os índices de abandono da escola têm aumentado a cada ano, bem como as altas
taxas de reprovação que juntos caracterizam o fracasso escolar.
Segue os indicadores de aprovação, reprovação, taxa de abandono escolar
dos anos de 2009 e 2010 na Escola Estadual Professor Paulo Mozart Machado.
Fonte: Replica-SAEReferência: 2006
Totais de Turmas e Matrículas - Ano 2006
Curso Turno Serie* Turmas Matrículas
ENS. DE 1 GR-REGULAR 5/8 SERIE
Manhã6 3 1017 5 1808 3 113
Tarde5 6 1886 2 618 1 32
Noite5 1 176 1 23
Total 22 715
* Para cursos PROEJA "Série" corresponde a "Semestre".
Os Cursos com demanda especial/manual não estão computados.
Rendimento/Movimento Escolar - Ano 2006 Fonte: SERE/ABC
Ensino/SérieRendimento Escolar
Taxa de Aprovação Taxa de Reprovação Taxa de Abandono
FUNDAMENTAL - TOTAL 83,40% 14,30% 2,20%
5ª SERIE 82,50% 13,90% 3,40%
6ª SERIE 81,60% 14,00% 4,30%
7ª SERIE 84,60% 14,80% 0,50%
8ª SERIE 85,40% 14,50% 0,00%
Fonte: Replica-SAEReferência: 2007
Totais de Turmas e Matrículas - Ano 2007
Curso Turno Serie* Turmas MatrículasENS. DE 1 GR-REGULAR 5/8 SERIE Manhã 7 5 159
8 5 152
Tarde5 5 1636 5 171
Noite
5 1 106 1 197 1 208 1 12
Total 24 706
* Para cursos PROEJA "Série" corresponde a "Semestre".
Os Cursos com demanda especial/manual não estão computados.
Fonte: Replica-SAEReferência: 2008
Rendimento/Movimento Escolar - Ano 2007 Fonte: SERE/ABC
Ensino/SérieRendimento Escolar
Taxa de Aprovação Taxa de Reprovação Taxa de Abandono
FUNDAMENTAL - TOTAL 78,80% 16,50% 4,50%
5ª SERIE 74,30% 20,60% 5,00%
6ª SERIE 74,10% 18,20% 7,60%
7ª SERIE 78,10% 19,10% 2,70%
8ª SERIE 90,30% 7,20% 2,40%
Totais de Turmas e Matrículas - Ano 2008
Curso Turno Serie* Turmas Matrículas
ENS. DE 1 GR-REGULAR 5/8 SERIE
Manhã7 5 1398 5 161
Tarde5 6 1536 5 176
Noite
5 1 156 1 167 1 178 1 15
Total 25 692
* Para cursos PROEJA "Série" corresponde a "Semestre".
Os Cursos com demanda especial/manual não estão computados.
Rendimento/Movimento Escolar - Ano 2008 Fonte: SERE/ABC
Ensino/SérieRendimento Escolar
Taxa de Aprovação Taxa de Reprovação Taxa de Abandono
FUNDAMENTAL - TOTAL 72,90% 19,50% 7,50%
5ª SERIE 66,50% 25,00% 8,50%
6ª SERIE 74,20% 19,60% 6,10%
7ª SERIE 70,70% 17,50% 11,70%
8ª SERIE 81,90% 15,00% 3,00%
Fonte: Replica-SAE
Referência: 2009
Totais de Turmas e Matrículas - Ano 2009
Curso Turno Serie* Turmas Matrículas
ENS. DE 1 GR-REGULAR 5/8 SERIE
Manhã7 5 1328 5 134
Tarde5 6 1756 5 139
Noite
5 1 226 1 237 1 218 1 22
Total 25 668
Atividade Complementar
COMPLEMENTACAO CURRICULAR. EMManhã 1 1 24Tarde 1 1 26
Total 2 50
* Para cursos PROEJA "Série" corresponde a "Semestre".
Os Cursos com demanda especial/manual não estão computados.
Rendimento/Movimento Escolar - Ano 2009 Fonte: SERE/ABC
Ensino/SérieRendimento Escolar
Taxa de Aprovação Taxa de Reprovação Taxa de Abandono
FUNDAMENTAL - TOTAL 81,10% 13,30% 5,40%
5ª SERIE 79,80% 14,00% 6,00%
6ª SERIE 83,50% 13,40% 3,00%
7ª SERIE 79,80% 15,50% 4,50%
8ª SERIE 81,50% 10,10% 8,20%
Fonte: Replica-SAEReferência: 2010
Totais de Turmas e Matrículas - Ano 2010
Curso Turno Serie* Turmas Matrículas
ENS. DE 1 GR-REGULAR 5/8 SERIE
Manhã7 5 1378 4 109
Tarde5 6 1626 5 162
Noite
5 1 286 1 287 1 288 1 37
Total 24 691
Atividade Complementar
COMPLEMENTACAO CURRICULAR. EFManhã 5 1 25Tarde 5 1 56
Total 2 81
* Para cursos PROEJA "Série" corresponde a "Semestre".
Os Cursos com demanda especial/manual não estão computados.
Fonte: SERE - Sistema Estadual de Registro Escolar – SEED –ac.09/07/2011, 22h30minh
Considerando que existe apenas uma turma em cada série no ensino
fundamental noturno da Escola Estadual Paulo Mozart Machado a pesquisa priorizou
contemplar os anos mais recentes: 2009 e 2010. A análise comparativa se deu a partir de
material oficial na Secretaria da Escola e os dados oficiais no Sistema Estadual de Registro
Escolar (SERE): A estatística macro do Sere apresenta a média de abandono geral nas 5ª
séries de 6,0%, mas este índice camufla o abandono e/ou evasão real no período noturno,com
percentual de 59,09%. Existe ainda, a distorção entre a taxa média de aprovação das 5ª séries
de 79,8%, com a taxa de aprovação da 5ª série do período noturno de 36,36%. A taxa média
de reprovação nas 5ª séries via Sere é de 14%, e, a taxa de reprovação no período noturno na
mesma 5ª série é de 31,8%. O ensino fundamental regular no período noturno tem as suas
peculiaridades e conseqüentemente, isto tem reflexo na reprovação e abandono escolar, as taxas
comparativas confirmam esta hipótese.
Os dados do MEC referente ao Censo Escolar 2010 apontam que um em
cada cinco estudantes brasileiros do ensino fundamental está atrasado na escola. No ensino
médio, pelo menos três em cada dez alunos também estão nessa situação3. O indicador
aponta a proporção de alunos que não estão matriculados na série indicada à faixa etária.4
De acordo com a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação
(MEC), Maria do Pilar Lacerda:
[...] essa estagnação é resultado do arrefecimento da política de progressão continuada. Muitas redes de ensino que tinham como orientação a não reprovação dos alunos nos primeiros anos do ensino fundamental mudaram essas diretrizes.[...]Apesar da estabilidade na taxa de distorção da idade-série nos últimos anos, Maria do Pilar destaca que na última década a redução do índice foi maior: entre 2001 e 2011 essa diferença caiu 16 pontos percentuais no ensino fundamental.[...]A taxa de distorção idade-série atinge picos no 6° ano do ensino fundamental, onde 32% dos alunos estão atrasados, e no 1° ano do ensino médio, quando o problema atinge 37,8% dos jovens. O MEC preparou um material específico para trabalhar com alunos de 15 a17 anos que ainda estão no ensino fundamental. Será uma espécie de "curso" especial em que o conteúdo será ministrado de forma diferenciada, bem como a organização dos alunos. Em 2009, metade dos adolescentes de 15 a 17 anos não freqüentavam a série adequada para sua faixa etária, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 5
Em 2002, as pesquisas do IBGE apontaram os anos necessários de estudos
para a conclusão do ensino fundamental, baseados na idade de14 anos estariam defasados e
somente na faixa de 19 a 24 anos de idade que a média da população alcança os oito anos de
estudo.
3 http://www.correioweb.com.br/euestudante/noticias.php?id=209344 http://www.correioweb.com.br/euestudante/noticias.php?id=20934
4. Possibilidades de enfrentamento da evasão nas quintas/séries/sexto ano.
A educação tem por finalidade promover a formação e o desenvolvimento
humano em todas as suas dimensões possibilitando o acesso e a permanência na escola. A
escalada social através da educação proporcionará desenvolvimento pleno da cidadania.
O Brasil tem conquistado expressivos avanços no setor educacional, com
destaque para o aspecto quantitativo (acesso, especialmente de 7 a 14 anos), mas tem
enfrentado reveses no aspecto qualitativo e principalmente na problemática da evasão escolar.
As políticas públicas para combater as desigualdades sociais e possibilitar a permanência do
educando na escola tem minorado a situação, mas ainda não tem surtido efeito necessário.
Conforme Patto (1999, p.411) "O fracasso da escola pública elementar é o
resultado inevitável de um sistema educacional congenitamente gerador de obstáculos à
realização de seus objetivos que reproduz as condições de produção dominantes na
sociedade, as relações hierárquicas de poder, a segmentação e a burocratização do trabalho
pedagógico".
Os problemas relacionados à Escola Estadual Paulo Mozart Machado,
objeto de pesquisa, são semelhantes aos de outras escolas do Núcleo Regional de Cornélio
Procópio que ofertam o ensino fundamental noturno, As entrevistas com alunos demonstram
esta realidade. O desinteresse pelos estudos e a falta de perspectivas se destacam entre os
problemas detectados. A equipe pedagógica tem procurado dialogar e manter a sua
permanência e o interesse, mas certamente este é um trabalho que envolve todo o coletivo da
instituição. A escola tem mantido o procedimento padrão A Ficha de Acompanhamento dos
Alunos (FICA) e os procedimentos de parceria com o Conselho Tutelar, com propósito de
resgatar os alunos evadidos e, trazer aos pais o comprometimento com as normas vigentes,
todavia, a resistência e desinteresse dos pais ou responsáveis tem prejudicado o êxito desta
política pública de governo.
Com o diagnóstico da realidade da escola em mãos, foi feita uma análise dos
dados para o enfrentamento à evasão e/ou abandono, medidas para serem colocadas em
prática que objetiva reduzir as causas. As medidas são simples, mas parte da premissa de uma
gestão democrática e comprometedora envolvendo todo o corpo docente e a comunidade
escolar: conscientização da família; parceria com o Ministério Público, Conselho Tutelar
com palestras para pais e alunos, projetos culturais que despertem os interesses dos alunos e
tenham participação dos familiares. Ex. Feira de talentos; motivação e preparação teórica dos
5 http://www.correioweb.com.br/euestudante/noticias.php?id=20934
educadores (reuniões pedagógicas e palestras que contribua para despertar, motivar,
encorajar e capacitar os professores; ambiente agradável que inclua música, cartazes, painéis,
torneios, gincanas; Ficha de acompanhamento de freqüência e reposição de conteúdos;
reuniões coletivas com pais de alunos; conselho de classe com representantes de alunos;
participação de entidades representativa da comunidade local com peças de teatro que
desperte a auto-estima e combata o uso de drogas e resgate valores; incentivar os
professores a utilizar os recursos da multimídia na sala de aula e no Laboratório de
informática. As ações elencadas poderão contribuir para o conhecimento e entendimento do
aluno de ensino fundamental noturno, no interior de suas dificuldades e condições sócio-
econômica, e, procurar criar dentro da escola, um espaço agradável e democrático, onde não
exista exclusão, discriminação ou inferiorização dos que não se adaptam aos padrões pré-
estabelecidos e redirecionar este aluno (a) com prática pedagógica a que venha atender as
suas necessidades.
Para minimizar os problemas que envolvem a evasão escolar no período
noturno faz-se necessário um estudo mais aprofundando dos envolvidos no processo de
aprendizagem. Portanto, o envolvimento dos professores no grupo de estudo com fontes
relevantes ao tema é fundamental nesta ação. Assim sendo, abordaremos a questão da seguinte
forma:
1. Apresentação da Produção Didática Pedagógica. Comentário e interação
com a Equipe Pedagógica e Professores dos pontos principais da Produção, de forma a
discutir a questão a partir dos dados da própria instituição pesquisada.
2. Estudo do texto “A Escola-sacrifício”, de Áurea de Carvalho Costa por
meio de leitura do texto, discussões; e resoluções de questões propostas a partir do texto.
3. Exibição do documentário “Pro dia nascer feliz”, de João Jardim –
documentário, seguida de debate sobre a educação e a relação do filme com a realidade da
Escola Estadual Professor Paulo Mozart Machado. Resultados organizados na forma de
relatório coletivo.
4. Estudo do texto “A Escola e a Exclusão”, de Fraçois Dubet, seguido de
discussões; e resoluções de questões propostas a partir do texto.
5. Exibição do filme “O primeiro da turma”, seguido de atividades sobre
preconceito e exclusão por meio de questões abertas.
As atividades a serão encerradas com a produção de texto a partir do
seguinte questionamento: qual sua relação com a evasão escolar?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo nos permitiu as seguintes considerações a partir de cada item
discutido. A discussão promovida em "O fenômeno da evasão escolar na escola de ensino
fundamental" nos possibilitou identificar a necessidade de um trabalho entre professores,
equipe pedagógica e família para combater a problemática da evasão. O que deverá promover
a preparação e capacitação teórica dos professores através de textos, leitura, vídeos que
abordem a questão e capacitação técnica para utilizar os recursos midiáticos disponíveis, com
o objetivo de propiciar uma aula dinâmica e atrativa. A equipe pedagógica participará com
professores dando suporte no planejamento e no desenvolvimento das ações. Caberá ao
gestor e a equipe pedagógica fazer o elo de ligação entre a família e os professores, para
discutirem a importância de seus filhos permanecerem na escola e conscientizarem dos
reflexos da evasão na vida de seus filhos e o seu envolvimento na questão.
O quadro da "A evasão escolar no ensino noturno da Escola Estadual
Professor Paulo Mozart Machado - Ensino Fundamental, no período de 2006 a 2010" e
a tentativa de comparação com outros dados indica a necessidade de um trabalho
motivacional com os alunos e pais para despertar a auto-estima e alavancar horizontes
perdidos em suas perspectivas de vida. O que demanda reuniões coletivas e individuais com
os pais para conscientização da situação e trabalhar juntos na busca de caminhos que afasta o
fracasso escolar. As reuniões serão com a equipe pedagógica e professores que estejam na
hora atividade.
Ao tentar compreender "A correlação entre as diversas variáveis da
evasão", foi possível perceber que os índices de reprovação e evasão na macro amostragem
do Sistema Estadual de Registro Escolar (Sere), dilui a evasão e reprovação real que acontece
no período noturno. Conseqüentemente os dados apresentados não correspondem a realidade
do ensino fundamental no período noturno e o resultado é:
alunos defasados na idade/série, custo elevado do educando para o Estado, desinteresse,
possibilidades de fechamento de turma.
Quanto às "Possibilidades de enfrentamento da evasão nas quintas
séries/sexto ano noturno", a experiência amparada nos dados específicos sobre a escola
objeto do presente estudo e ancorada nas referencias bibliográficas elencadas nos leva concluir
que as medidas pedagógicas decorrentes, podem e devem ser ampliadas, mas com a
participação efetiva da família e toda a comunidade escolar. O caminho deverá ser de uma
gestão democrática que possibilite o contato entre professores, pais, e equipe pedagógica,
conhecendo o universo do educando, incluir a participação dos pais e da comunidade na
construção, implementação e avaliação do Projeto Político Pedagógico, compartilhando
assim as responsabilidades.
Considerando que o objeto central do estudo "A evasão escolar do ensino
fundamental no período noturno, foi compreender e enfrentar a questão da evasão na
Escola Estadual Professor Paulo Mozart Machado - Ensino Fundamental, a partir de dados
referentes ao período de 2006 a 2010, pode dizer que o enfrentamento da questão, além de
ações que se aproximam a soluções estabelecidas no comum de escolas que enfrentam a
evasão na região, no caso específico da escola objeto de estudo dever-se-á estabelecer o
reconhecimento da questão e aprimorar medidas pedagógicas sustentáveis no combate da
problemática da evasão escolar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/
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http://www.correioweb.com.br/euestudante/noticias.php?id=20934. Acesso em: 09/05/2011.