Post on 22-Mar-2016
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Após o surgimento do documentário «Rize», ao
ritmo do Hip Hop, o Krump tem conquistado o
mundo. Será que Portugal também se rendeu à
irreverência e originalidade desta dança?
O espaço urbano é fértil no que se refere a emergência de novos movimentos culturais. Conhecido por Krump ou Krumping, consiste num estilo de dança underground que despertou a curiosidade do mundo. Marcado por
movimentos de estilo livre e expressivos é mais do que uma moda, tratasse de um movimento que veio para ficar.
KRUMP
A NOVA EXPRESSÃO DA CULTURA HIP HOPA NOVA EXPRESSÃO DA CULTURA HIP HOP
Contemporânea.», conta Rita Spider, que teve no Krump uma nova paixão.
«O primeiro impacto com o Krumping foi na época que vivi em Londres, onde estava a trabalhar num Festival de dança chamado Breakin' Convention e conheci alguns membros dos Tommy and Clown e dos Krumping Kings (grupos precursores do estilo). Na altura, o que mais cativou a jovem dançarina «foi a energia com que aqueles bailarinos dançavam. Era super explosiva e forte! Super! O que para mim foi hilariante pois eu sempre fui muito curiosa sobre tudo
Foi sensivelmente aos cinco anos de idade que tudo começou. Desde menina ansiou vivenciar o universo do ritmo e do movimento. Hoje, com 26 anos, Rita Spider é uma das figuras mais represen-tativas da dança urbana em Portugal. «Embora durante alguns tenha andado entre a dança e a ginástica acro-bática de competição (…) algo me puxava constante-mente para o movimento e a vida da dança», confes-sa. «A música e os diver-sos estilos de dança sem-pre mexeram duma forma muito forte comigo. Fui influenciada por artistas
como Michael Jackson e grandes bailarinos mun-diais. Fiz muita formação, cursos e workshops com professores nacionais e internacionais.»
Mais tarde, entrou para a Academia de Dança Contemporânea de Setú-bal, onde teve oportunida-de de estudar e trabalhar, de forma mais intensiva, as bases da dança clássica e moderna. Esteve em Lon-dres, nos E.U.A e noutros países «a estudar, a traba-lhar e a viver da dança. Hoje em dia, além de baila-rina e coreógrafa, sou tam-bém professora de dança, mais dentro das áreas do Hip Hop, dança Jazz e
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EXPLOSIVA E SEM LIMITES!
Por Grethel Ceballos
«A ENERGIA COM
QUE AQUELES
BAILARINOS
DANÇAVAM ERA
SUPER
EXPLOSIVA E
FORTE!»
-- RRITAITA SSPIDERPIDER
MODA RECORRE AO KRUMP—CAMPANHA ADIDAS ‘08
ORIGENS:
CLOWING E KRUMPING
o que estivesse à volta do Hip Hop», explica. «O Krumping foi, sem dúvida, um ar novo e forte e levou-me de imediato a querer aprender e a sentir aquela energia muito urgen-temente.»
Krump ou Krumping é um estilo de dança urba-na. Caracteriza-se pela intensa carga energética e pela forma como seus dan-çarinos (também chamados de Krumpers) expressam a agressividade em movimen-tos.
O termo é acrónimo de: Kingdom (Reino); Radically (Radicalmente); Uplifted (Elevado); Mighty (Poderoso); Praise (Paraíso).
Em 2005, o docu-mentário «Rize», do singu-lar fotógrafo e realizador americano David LaCha-pelle, divulgou a dança em todo o mundo.
O documentário conta a história do Krum-ping, um surpreendente produto, que floresceu onde a violência para os jovens parecia ser o mais provável destino.
«Rize» ultrapas-sou as fronteiras de uma comunidade fechada e com valores muito próprios e catapultou o estilo para as luzes da ribalta.
numa festa. Os dois rapida-
mente começaram a traba-
lhar, partilharam ideias e
empenharam-se em criar e
dominar seu próprio estilo
de dança. Chamaram-lhe
Wilin 'Out. O desenvolvi-
mento do Willin’ Out levou
os seus precursores a um
segundo nível. Na sequên-
cia de uma segunda audi-
ção com Tommy, Tight
Eyez e Mijo, integraram a
crew The Lay Clown's Low,
em 2000. Foi então que um
novo elemento se juntou ao
grupo. Lil ‘C começou a
aprender a nova vertente.
À medida que
foram evoluindo, até ao
nível mais alto, para a
Tommy's' High Class
Clown's, (A alta turma dos
palhaços do Tommy) tor-
nou-se evidente que o seu
estilo era diferente. Inicial-
mente, as sessões de bat-
tles (ou desafios em dança
urbana) foram realizadas
todas as sextas - feiras, e
Os primórdios do Krump remontam à década de noventa. Nasceu na periferia californiana, preci-samente no bairro South Central em Los Angeles.
Clowning, ou Clown Dancing, foi a dança antecessora do Krump. Posteriormente foi adopta-da como um estilo ou movi-mento de Krump: Krump Clown. O seu primeiro representante foi o Thomas Johnson, um ex-traficante de droga que mais tarde ficou famoso e reconhecido como Tommy the Clown.
O Krump Clown é marcado por movimentos livres, enérgicos e pelo uso de pinturas faciais.
Tommy utilizava a dança para animar festas infantis e rapidamente des-cobriu que o seu estilo úni-co de dançar, de vibe posi-tiva e alto desempenho enérgico, revelou-se um êxito entre as crianças.
O estilo ganhou fãs e espalhou-se por toda a Califórnia. Assim, Tommy começou uma clowning
crew (grupo): os Hip Hop Clowns. As regras da crew eram simples: dizer não às drogas, estudar e ser um modelo positivo para a sociedade. O sucesso incentivou outros a criar as suas próprias crews.
Em 1999 o jovem Tight Eyez (ou Ceasare la ron Willis), de 14 anos de idade, mudou-se para o bairro berço do Krump. Atraído pelo movimento, frequentava as festas que as clowing crews organiza-vam, e logo, nas esquinas do bairro, passou a imitar o estilo vigoroso do Clowing. O jovem participou numa audição para integrar na crew liderada por Tommy the Clown, mas não foi bem-sucedido. Contudo, Tight Eyez não desistiu e ficou determinado em dominar o equilíbrio e o movimento.
Outros juntaram-
se a Tight Eyez. A dançari-
na Mijo foi convocada devi-
do a sua capacidade de
dominar o difícil C-walk que
ela vira Tight Eyez executar
Página Página 33 A NOVA EXPRESSÃO DA CULTURA HIP HOP
100 bailarinos e espectado-
res apareciam para ver os
inovadores movimentos-
Tight Eyez e Mijo baptiza-
ram este excitante novo
estilo de Krump.
Embora os termos
Krumping e Clowning
sejam, por vezes, utilizados
alternadamente, são duas
formas de dança separa-
das. Partilham origens e
algumas das suas técnicas,
mas distinguem-se, tal
como a dança Hip Hop se
distingue do B-boying
(vulgarmente chamadode
Breakdance). Os krumpers
reconhecem o Clowning
como ponto de origem.
Porém, o Krump é estrita-
mente encarado como uma
dança que expressa senti-
mentos como raiva, frustra-
ção e outras emoções
intensas de uma forma
peculiar, por oposição ao
mero entretenimento.
Pioneira do Krump em Portugal, Rita Spider é detentora de um talento ímpar. Ganhou a
premeria edição do concurso ‘Aqui há talento’ (emitido pela RTP1 em 2007) em conjunto
com o grupo Abstractin’, A bailarina também participou na versão portuguesa do programa
Do you think you can dance? (Achas que sabes dançar emitido pela estação televisiva SIC).
isso era preciso outra vida,
24 horas num dia não che-
gam.»
O professor de
dança, premiado várias
vezes e dançarino de
suporte de artistas interna-
cionais como Jenifer
Lopez, ainda realça que ao
Krump também está asso-
ciada uma técnica muito
específica.
«O Krump tem uma particularidade: a téc-nica às vezes não é muito perceptível para quem não sabe. Há muita gente que diz que dança Krump e depois age apenas tipo anger management. «Ligam-se à corrente» e fazem macaquices. Não imaginam que existem bases. É com me disse uma vez um amigo meu «se tu te meteres a dar cabeçadas no chão não é Krumping é cabeçadas no chão!”»
Uma das princi-pais discussões face ao Krump é se se trata de um movimento independente da cultura Hip Hop.
Para Rita Spider,
«o Hip Hop é a mãe. É a
cultura base que deu forma
e vida a diversos estilos.
Começou com o B’ Boying
até que recentemente, nas-
ceu o Krumping. Um estilo
de rua, muito Street, revo-
lucionário e explosivo»,
explica. «Uns dizem que é
diferente outros dizem que
não. Eu vejo muitas dife-
renças a nível de movimen-
to e execução. Se virmos
um Krumper, um B'Boy e
um Hip Hop Dancer a dan-
çar, vemos diferenças mui-
to facilmente», faz notar a
artista.
A mesma opinião,
de que o Krump faz parte
da cultura Hip Hop, é parti-
lhada por Rodrigo Santos,
que considera que o facto
de se dançar ao som da
música Hip Hop já é indica-
dor de um vínculo.
Natural de Faro,
Rodrigo é um dos pioneiros
da dança Hip Hop em Por-
tugal e confessa que não
dança Krump, pois «sendo
o mundo da dança Hip Hop
muito vasto, é impossível
dominar todos os estilos».
Como reconhece:
«normalmente os dançari-
nos optam por aprofundar
um ou dois, ainda que
sabendo as bases de todos
os outros». Rodrigo afirma
sentir-se «muito mais atraí-
do pela vertente do old
school, e o Krump foi um
fenómeno bastante recen-
te. Há muita gente que não
sente o Krump, porque
[este estilo] tem uma ener-
gia muito própria.» Ainda
assim, Rodrigo não deixa
de lamentar: «tenho pena,
pois gostava de dominar
todos os estilos, mas para
FAZ PARTE DA CULTURA HIP HOP?
Página Página 44 EXPLOSIVA E SEM LIMITES!
«HÁ MUITA
GENTE QUE NÃO
SENTE O KRUMP,
PORQUE TEM
UMA ENERGIA
MUITO PRÓPRIA.»
-- RODRIGO RODRIGO
SANTOSSANTOS
O KRUMPER LIL’ VANIL EM COM-
PETIÇÕES INTERNACIONAIS.
A TÉCNICA POR DETRÁS DA
EXPRESSIVIDADE
Homies - «os jovens
manos» - dançarinos
menos experientes. O Big
Homie condiciona a hierar-
quia e os termos de pro-
gressão no seio da
«família».
Em 2001, Tight
Eyez e Mijo formaram a
Cartoonz, uma crew consti-
tuída exclusivamente por
krumpers. Em 2003 os fun-
dadores do movimento
formaram-se como profes-
sores e um ano depois
criaram a famosa Krump
Kings crew, peculiar pela
originalidade dos seus
krumpers. Desde então, o
Krump adquiriu uma outra
dimensão.
Com recurso a
filmes e DVD instrutivos,
protagonizados pelos krum-
pers e veiculando os seus
hábitos e crenças, foi pos-
sível difundir o trabalho dos
Krump Kings junto de
jovens de todo o mundo..
O Krump é geral-
mente apresentado em
competições. Apesar de
permitir o contacto físico
entre os dançarinos, não
há lugar para a violência. A
rapidez e a movimentação
agressiva lembram uma
luta real. Além disso, é uma
dança tolerante, onde
homens, mulheres, altos,
magros ou não, e inclusive
crianças, são aceites de
igual forma. Tanto Krum-
pers como clowners podem
ser vistos em competições
como a Tommy’s Annual
Dance e Battle Zone. A
última criada como uma
solução pacífica para a
competitividade que surgiu
entre as crews de Los
Angeles.
O Krump absor-
veu a cadência da dança
tradicional africana e da
dança jamaicana. Tem um
carácter Freestyle, ou seja
raramente é coreografada.
Resulta do improviso e da
espontaneidade. Para além
do Clown dancing, o Krump
inclui vários movimentos
como: Arm Swings
(balanços de braços), os
Wobles (balanços), os
Chest pops (o «estalar» do
peito) e os Stomps
(pisadas firmes), entre
outros. Para matar a curio-
sidade, nada mais apro-
priado do que visionar os
vários filmes sobre Krump
disponíveis em websites de
partilha de vídeo.
Dentro do mundo
do Krump existe uma hie-
rarquia e um sistema de
aprendizagem bem estabe-
lecido. Os grupos de krum-
pers são conhecidos como
famílias ou 'FAMS. Organi-
zados em torno de um
krumper mais experiente,
chamado de Big homie. O
Big homie ou «mano gran-
de» opera como um instru-
tor, ensinando os Lil’
Página Página 55 A NOVA EXPRESSÃO DA CULTURA HIP HOP
O KRUMPER LIL’ VANIL EM COM-
PETIÇÕES INTERNACIONAIS.
« O KRUMPING SAIU
DO CLOWNING.
DEPOIS DE EU
CRIAR A BATTLE
ZONE , TORNOU-SE
O SHOW MAIS
INTENSO ONDE OS
"CLOWNS" PODEM
"LUTAR" UNS
CONTRA OS
OUTROS.» - TOMMY
THE CLOWN IN THE
CLOWNS RIZE AGAIN!
(MOVIEPICTURES.COM)
«SOU MUITO EXPRESSIVO E AGRESSIVO NOS MEUS
tos, todos lisboetas, que têm individualmente um nome artístico, que identifi-ca a sua ‘personagem’. Para além da fruição da dança, o objectivo destes jovens é o divulgar o movi-mento em Portugal.
O formador da crew, Ivanildo, também conhecido como Lil.’ Vanil, esforça-se por cumprir essa tarefa, inclusive além-fronteiras.
«Danço Krump já há dois anos e o que me cativou foi a maneira como a dança expressa a agres-sividade. Desde o dia que vi o Tight Eyez fiquei mes-mo encantado da forma como dançava», afirma. Procurou docu-mentar-se, aprendeu as bases, evolui até criar os seus próprios movimentos e já é considerado, por muitos, o melhor Krumper de Portugal.
«Porque o meu estilo relação os outros krumpers é muito diferente. Eu sou mas style killer. Esse é o nome que me deram porque sou muito expressivo e agressivo nos meus movimentos. Tudo em mim é rápido», assume este krumper de 22 anos de idade.
Por terras lusas, o Krump ainda dá passos tímidos. Rodrigo Santos acompanhou o crescimento da cultura Hip Hop em Por-tugal e é com bons olhos que vê o surgimento de novos movimentos, embora reconheça que o Krump é um movimento de pouca expressão.
«A verdade é que o Krump é ainda um estilo muito específico e aqui em Portugal não tem grande expressão. Houve, de fac-to, a febre do Krump quan-do surgiu esse filme (...) nessa altura todos os gru-pos de dança Hip Hop em Portugal incluíam Krump nas suas actuações. Tudo um pouco rudimentar por imitação ao «Rize», conta Rodrigo. «Mas a verdade é que por cá este estilo conti-nuará sempre pouco popu-lar, não é muito comercial, é underground. Mas neste momento só existe um gru-po de Krumpers em Portu-gal», comenta.
Na zona oriente da capital Lisboeta, os King Street treinam e aperfei-çoam aquilo que lhes dá tanto gosto fazer. São a primeira crew de Krump portuguesa. Ao todo, é composta por 15 elemen-
regras», considera. Ainda que já se possa falar numa comuni-dade de krumpers em Por-tugal, como nos conta Lil Vanil, a dimensão não se compare à aceitação que tem tido em países como a França, Hungria, Rússia e Espanha. São poucos os dançarinos que se dedicam exclusivamente ao estilo e
Conjugada com outras características, a rapidez fez com que fosse distinguido como o melhor dançarino em termos de agressividade e técnica. A façanha deu-se em 2008 na França, durante a com-petição Urban DanceOma-rion & Friends. Em 2010, foi con-vidado por uma comunida-de de Krumpers em Nova
Iorque, que admirou os seus vídeos publicados na Internet. Competirá na Hungria e novamente em França. Na bagagem Lil’ Vanil leva não só a vonta-de de vencer, mas também a identidade de um movi-mento que em Portugal não é muito apreciado. «Por ser um estilo under-ground e porque o Krump em batalhas não tem
KRUMP EM PORTUGAL
Página 6 EXPLOSIVA E SEM LIMITES!
MOVIMENTOS BÁSICOS
ARMS SWINGS
CLOWN DANCING
CHEST POPS
CHEST LOCKS
FOOT STOMPS
LEGS POPS
HANDS GRABS
SHOULDER ROLLS
STOMP
WOBLES
fuso para eles comentar». Só o tempo dirá
se o Krump marcará ou
não a dança underground
em Portugal. Embora não
seja encarado como uma
expressão artística por
muitos, quer se goste, quer
não, não se fica indiferente
a uma dança tão explosiva
e onde a expressividade
não tem limites
que têm o conhecimento e a formação adequados. Marcos do Krump em Portugal foram as duas ocasiões em que houve a possibilidade de obter for-mação com os precursores do movimento: há cerca de quatro anos em Lisboa, com o Tight Eyez, e há dois, com a Miss Prissy. Miss Prissy é con-siderada a «rainha» do Krump. Para além de ter participado no documentá-rio de David LaChapelle, foi possível comprovar o seu talento em vários videoclipes musicais, como o Hung Up de Madonna. A diva da música pop foi uma
dos vários artistas que se renderam à irreverência do Krump. Relativamente à competição, em Portugal existem categorias de breakdance, de popping, ou de lockin, mas raramen-te existe uma categoria restrita ao Krump (por vezes apresentado na categoria new style). Ofi-cialmente, só ocorreu uma única battle de Krump em Portugal, mas, como refere Lil Vanil, os júris «não esta-vam preparados e era con-
O KRUMPER LIL’ VANIL LÍDER DA CREW KING STREET—A PRIMEIRA CREW DE KRUMP EM
PORTUGAL .
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Tight Eyez e Miss Prissy no documentário Rize. .