Post on 15-Oct-2021
Taiza Ramos De Souza Costa Ferreira
CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES Definiccedilotildees associaccedilotildees
com a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo
Rio de Janeiro
2018
Taiza Ramos de Souza Costa Ferreira
CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES Definiccedilotildees associaccedilotildees com
a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Sauacutede Puacuteblica da Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica
Seacutergio Arouca na Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz como
requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em
Sauacutede Puacuteblica - aacuterea de concentraccedilatildeo Violecircncia e Sauacutede
Orientadora
Profa Dra Suely Ferreira Deslandes
Data da defesa 04052018
Rio de Janeiro
2018
Catalogaccedilatildeo na fonte
Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz
Instituto de Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica em Sauacutede
Biblioteca de Sauacutede Puacuteblica
F383c Ferreira Taiza Ramos de Souza Costa
Cyberbullying de crianccedilas e adolescentes definiccedilotildees associaccedilotildees
com a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo Taiza Ramos de Souza
Costa Ferreira -- 2018
120 f
Orientadora Suely Ferreira Deslandes Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz Escola Nacional
de Sauacutede Puacuteblica Sergio Arouca Rio de Janeiro 2018
1 Bullying - psicologia 2 Internet ndash utilizaccedilatildeo 3 Miacutedias Sociais
4 Sauacutede 5 Educaccedilatildeo 6 Violecircncia 7 Crianccedila 8 Adolescente
9 Cyberbullying I Tiacutetulo
CDD ndash 22ed ndash 3023
Taiza Ramos De Souza Costa Ferreira
CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES Definiccedilotildees associaccedilotildees com
a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Sauacutede Puacuteblica da Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica
Seacutergio Arouca na Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz como
requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em
Sauacutede Puacuteblica Aacuterea de concentraccedilatildeo Violecircncia e Sauacutede
Aprovada em 04052018
Banca Examinadora
Dra Giovanna Marafon
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Dra Simone Gonccedilalves de Assis
Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca - ENSP
Suely Ferreira Deslandes (orientadora)
Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca - ENSP
Rio de Janeiro
2018
Dedico este trabalho a todas as crianccedilas e (os) adolescentes que sofreram ou sofrem com os
impactos do cyberbullying em sua sauacutede psiacutequica que possam encontrar os mecanismos de
apoio necessaacuterios que lhes possibilite enfrentar essa forma de violecircncia tatildeo cruel
Agradecimentos
Agrave Deus por ter me dado a graccedila de conseguir cursar um curso de poacutes-graduaccedilatildeo
Scricto Sensu numa instituiccedilatildeo renomada como a ENSP e poder seguir minha trajetoacuteria
acadecircmica iniciada nesta casa em 2012 com a especializaccedilatildeo em Direitos Humanos e Sauacutede
Agrave minha famiacutelia por todo apoio recebido paciecircncia nos meus dias estressantes
incentivo para que eu natildeo desistisse do meu objetivo Obrigado por terem sonhado comigo
em especial meu esposo Eduardo Brito que acreditou que eu seria capaz antes mesmo de eu
pensar em cursar o mestrado Te amo
Quero tambeacutem registrar minha gratidatildeo pelo privileacutegio de ter Suely Deslandes como
minha orientadora mentora amiga agraves vezes matildee (matildee loira minha diva da vida academia)
por todas as orientaccedilotildees recebidas por ter acreditar em mim pelo incentivo pelas chamadas
para a realidade pelas dicas compreensatildeo paciecircncia (e como vocecirc exerceu esse dom comigo)
diante das minhas dificuldades e limitaccedilotildees diante do trabalho aacuterduo que eacute construir um
trabalho acadecircmico com qualidade Cada sessatildeo ligaccedilatildeo e encontros foram importantes
Jamais vou esquecer todo o suporte que meu deu aprendi e aprendo muito com vocecirc Eacutes uma
inspiraccedilatildeo para mim Muito obrigada
Agrave coordenaccedilatildeo acadecircmica do Programa de Mestrado em Sauacutede Puacuteblica da ENSP todo
corpo docente docentes convidados pela competecircncia e excelecircncia no ensino Agradeccedilo em
especial aos docentes e pesquisadores da minha subaacuterea violecircncia e sauacutede por terem me
oportunizado refletir apreender e conhecer sobre a violecircncia suas especificidades Obrigada
pelos encontros reflexivos provocadores e desafiadores (Maria Ceciacutelia Minayo ndash nossa diva
maior Suely Deslandes Patriacutecia Constantino Joviana Avanci Simone de Assis Kathie
Njaine Ednilsa Ramos Liana Pinto Fatima Cequetto Ana Elisa Miriam Schenker e Liane da
Silveira) Obrigada a todos os colegas da turma MSP2016 tenho orgulho dessa turma
Saudade dos nossos cafeacutes e chaacute de bebecircs
Agrave minha turma da subaacuterea Ethos Guerreiro (Adri Bruno Cynthia Lu Ju Hellen
Rodolfo e Val) pela solidariedade incentivo e empatia ao longo desses dois anos Foram
muitas batalhas conquistas alegrias perdas anguacutestias e tristezas partilhadas natildeo vou me
esquecer do que vivemos juntos virtualmente e presencialmente Temos um Ethos coletivo
que eacute de Guerreiro
Obrigada membros da banca por acreditar no meu trabalho e me possibilitar chegar
ainda mais perto dessa realizaccedilatildeo que eacute me tornar mestre Bibliotecaacuterio Adriano equipe da
secretaria acadecircmica pela prontidatildeo e profissionalismo muito obrigada
Encerra-se um ciclo para que outro se inicie
Como diz um salmo de Davi e nisso me apeguei ―Confie no Senhor Tenha feacute e
coragem Confie em Deus o Senhor (Salmos cp27 v14) Bestrong Gratidatildeo
RESUMO
Este estudo trata o cyberbullying como uma violecircncia psicoloacutegica que ocorre entre pares no
contexto das sociabilidades digitais logo se configura como um problema de sauacutede puacuteblica
que traz impactos agrave sauacutede emocional de crianccedilas e adolescentes que pode desencadear
inclusive em suiciacutedio Analisamos as formas de conceituar os fenocircmenos e suas dinacircmicas
quais os personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede dos perpetradores
e acometidos por essa categoria de violecircncia A seguir analisamos as propostas e enunciados
de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo propostas pelo e para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo (quem
satildeo os atores implicados e quais as estrateacutegias recomendadas) analisar os discursos sobre
prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno
Empreendemos tal estudo a partir de uma revisatildeo criacutetica da literatura tomando como base a
Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) nos moldes propostos por Fairclough sobretudo no que
diz respeito aos discursos e enunciados evocados em sua interdiscursividade (manifesta e
constitutiva) forccedila e praacutetica social Percebeu-se uma necessidade de novos estudos que
contextualizem a questatildeo do cyberbullying na cibercultura e novas possibilidades de interaccedilatildeo
digitais bem como estudos que discutam com maior aprofundamento o papel dos
profissionais de sauacutede no enfrentamento e na prevenccedilatildeo
Palavras-chaves Cyberbullying Sauacutede Educaccedilatildeo violecircncia
ABSTRACT
This study deals with cyberbullying as a psychological violence that occurs between peers in
the context of digital sociabilities and is therefore a public health problem that impacts the
emotional health of children and adolescents which can lead to suicide We analyze the ways
of conceptualizing the phenomena and their dynamics which characters are identified and
which associations point to the health of the perpetrators and affected by this category of
violence Next we analyze the proposals and statements of prevention and intervention
proposed by and for the fields of Health and Education (who are the actors involved and what
strategies are recommended) analyze the discourses on prevention accountability coping
modes and dynamics of the phenomenon We undertake such a study based on a critical
review of literature based on the Analysis of Critical Discourse (ADC) in the ways proposed
by Fairclough especially with regard to the discourses and statements evoked in his
interdiscursividade (manifest and constitutive) strength and social practice There was a need
for new studies that contextualize the issue of cyberbullying in cyberculture and new
possibilities for digital interaction as well as studies that discuss with a deeper understanding
the role of health professionals in coping and prevention
Key-words Cyberbullying Health Education violence
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO13
11 Objetivos13
12 Metodologia 19
2 MARCO TEOacuteRICO24
21 Cibercultura sociabilidade digital e ciberespaccedilo 24
22 Bullying29
23 Cyberbullying35
231 Cyberbullying Violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica35
3 ARTIGO 1 CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES
CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E IMPLICACcedilOtildeES COM
A SAUacuteDE44
Introduccedilatildeo45
Meacutetodos49
Conceituaccedilatildeo51
Descriccedilotildees das dinacircmicas56
Personagens envolvidos58
Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos61
Discussatildeo62
4 ARTIGO 2 CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO
PARA O CAMPO DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE
LITERATURA64
Introduccedilatildeo64
Metodologia66
Caracterizaccedilatildeo do acervo69
Estrateacutegias de prevenccedilatildeo74
Estrateacutegias de intervenccedilatildeo80
5 CONCLUSOtildeES 87
6 REFEREcircNCIAS91
Sumaacuterio de Quadros
Quadro 1 Seleccedilatildeo do acervo22
Quadro 2 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo24
Quadro 3 Vocaacutebulo designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas37
Quadro 4 Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de Cyberbullying
(2010-2016)69
Sumaacuterio de Tabelas
Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma51
Sumaacuterio de figuras
Figuras 1 Modelo Tridimensional de Norman Fairclough23
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Em tempos em que manter-se por muitas horas diaacuterias conectadas agrave internet atraveacutes de
aparelhos eletrocircnicos eacute uma realidade cotidiana de parte da sociedade na contemporaneidade
natildeo eacute de se espantar que a sociabilidade tenha sofrido alteraccedilotildees para novas formas de
interaccedilatildeo mediadas por diferentes miacutedias sociais De tal modo a violecircncia tambeacutem ganhou
novas formas de expressatildeo
A violecircncia e suas mais distintas expressotildees tecircm sido pauta de estudos em diferentes
aacutereas do conhecimento inclusive no campo da Sauacutede
Segundo Assis e Marriel (2010) conceituar violecircncia eacute uma tarefa difiacutecil por se tratar
de um fenocircmeno de muacuteltiplas causalidades
Ainda sobre as violecircncias Wanzinack e Signorelli (2015 p 09) afirmam que elas
atingem de forma natildeo apenas diferente mas sobretudo desigual a distintos sujeitos e grupos
da sociedade Assim sendo as violecircncias se manifestam por meio de diferentes atores e
encontram- se em variados cenaacuterios
Entende-se que existe uma relaccedilatildeo estreita poreacutem natildeo exclusiva entre a Violecircncia e a
Sauacutede conforme apontam Minayo e Souza (1998 p520) ―a violecircncia natildeo eacute objeto restrito e
especiacutefico da sauacutede mas estaacute intrinsecamente ligada a ela Cabe ressaltar que o campo da
Sauacutede possui um papel social de relevacircncia pois dentre suas funccedilotildees estatildeo a elaboraccedilatildeo de
estrateacutegias preventivas a promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede coletiva e individual
O cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se manifesta sob os moldes de
agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para aleacutem da
subjetividade do indiviacuteduo resultando em implicaccedilotildees praacuteticas e reais no cotidiano e
individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)
Um estudo (Silva Silva Saldanha 2011) realizado atraveacutes de um questionaacuterio com
114 crianccedilas e adolescentes portuguesas constatou que o cyberbullying causa efeitos
devastadores na sauacutede mental e fiacutesica Entre as consequecircncias mais frequentes estavam as
crises de choro (714) a ansiedade (571) a dificuldade de concentraccedilatildeo (571) e os
pesadelos (571)
O cenaacuterio para este estudo foi o ambiente virtual visto que a violecircncia tem alcanccedilado
relevante capilaridade neste espaccedilo o que tem gerado amplas consequecircncias Satildeo
14
repercussotildees que perpassam tanto as relaccedilotildees sociais iniciadas fora do ambiente virtual que
podem ou natildeo ser nutridas neste ambiente (como exemplo relaccedilotildees familiares entre colegas
e vizinhos) ou ainda interaccedilotildees sociais mais superficiais (amigos virtuais eou seguidores de
redes sociais que podem ou natildeo ter uma relaccedilatildeo social real com o usuaacuterio nessas redes
sociais) Certas vinculaccedilotildees desenvolvidas neste espaccedilo satildeo conexotildees construiacutedas por meio de
interesses comuns que todavia podem ser rompidas a qualquer momento devido agrave
superficialidade nessas conexotildees
Essas relaccedilotildees sociais que ocorrem no ciberespaccedilo (espaccedilo virtual) e que podem
culminar em atos violecircncia na comunicaccedilatildeo digital se manifestam em meio a uma cultura
digital Cultura esta que alguns estudiosos da aacuterea das ciecircncias da comunicaccedilatildeo e ciecircncias
sociais chamam de cibercultura
Segundo Andreacute Lemos (2015) a cibercultura seria uma confluecircncia entre as formas
sociais praacuteticas humanas e a tecnologia sendo atraveacutes da inclusatildeo da sociabilidade na praacutetica
diaacuteria da tecnologia que ela adquire os seus contornos mais niacutetidos A existecircncia de uma nova
forma de apresentaccedilatildeo da cultura e da proliferaccedilatildeo de uma sociabilidade digital traz consigo
distintas facetas entre elas a violecircncia se faz presente no ciberespaccedilo e nas relaccedilotildees digitais
que ali se estabelecem A nova sociabilidade digital eacute mediada por distintas tecnologias que
facilitam o uso e acesso individual e remoto tais como os smarthphones notebooks e outros
modos de comunicaccedilatildeo que possibilitam o envio e recebimento de mensagens de textos
aacuteudios imagens fotos e viacutedeos Essas muacuteltiplas formas de interaccedilatildeo digital podem ser
utilizadas para depreciar denegrir e expor vexatoriamente eou negativamente agrave imagem de
algueacutem Assim o cyberbullying pode ser concebido e difundido poreacutem agraves vezes seus autores
natildeo satildeo identificados devido agrave possibilidade de anonimato (ainda existente) no ambiente
virtual ou ainda a morosidade na identificaccedilatildeo desses autores Apesar de todos os avanccedilos
tecnoloacutegicos que possibilitam rastreamentos e localizaccedilatildeo de aparelhos eletrocircnicos de
comunicaccedilatildeo
Aleacutem disso uma vez que uma imagem eacute veiculada no ambiente virtual essas
informaccedilotildees poderatildeo estar pra sempre circulando na rede mundial de computadores por meio
das diferentes conexotildees que podem ser realizadas Lemos (2015) considera o ciberespaccedilo
como um ambiente onde ocorre uma significaccedilatildeo sensorial da civilizaccedilatildeo pautada em
informaccedilotildees digitais
15
Jaacute Martino (2015) ao tratar das questotildees caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais
contemporacircneas afirma que os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos
estabelecidos conforme a necessidade de um momento e desmanchados depois Haacute uma
dinacircmica nos contatos sociais feitos atraveacutes da internet partindo da ideia do nuacutemero e dos
tipos de conexotildees que podem ser estabelecidas entre os participantes das redes sociais
presentes no chamado ciberespaccedilo
Eacute inevitaacutevel falar cyberbullying sem mencionar o fenocircmeno bullying por ambos os
fenocircmenos ocorrerem entre pares e pelo fato deste primeiro ser chamado de a versatildeo digital
do bullying dito como tradicional
Jaacute que para alguns o cyberbullying representaria ―uma nova forma de bullying (Neto
2005) O autor cita Bill Belsey professor que teria utilizado pela primeira vez o conceito
trata-se do uso da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (e-mails
telefones celulares mensagens por pagers ou celulares fotos digitais sites
pessoais difamatoacuterios accedilotildees difamatoacuterias online) como recurso para a
adoccedilatildeo de comportamentos deliberados repetidos e hostis de um individuo
ou grupo que pretende causar danos a outro (s)
Sabe-se que os primeiros estudos sobre o bullying satildeo oriundos dos paiacuteses do norte da
Europa dos paiacuteses considerados noacuterdicos na deacutecada de 1970 pelo professor universitaacuterio
Dan Olweus e posteriormente na Sueacutecia com Heinz Leymann Dan Olweus eacute apresentado
como o precursor em realizar pesquisas sistemaacuteticas sobre o tema Em 1989 Olweus e
Roland divulgaram os primeiros diagnoacutesticos de seu estudo sobre o bullying No entanto
estudos de bullying entre estudantes passaram ser mais observados em outros paiacuteses como os
Estados Unidos a partir da deacutecada de 1980 (Olweus 2003)
Segundo Malta et al (2010) o Bullying eacute uma praacutetica antiga Os autores o entendem
como uma ―violecircncia que traz repercussotildees no cotidiano de suas viacutetimas como uma ameaccedila
diaacuteria a integridade fiacutesica psiacutequica e da dignidade humana (pg3069) Os autores enfocam
ainda que o bullying natildeo eacute uma violecircncia demarcada por recortes sociais e econocircmicos e
perpassa por distintas camadas sociais e ―niacuteveis culturais Segundo Cleo Fante (2008 p 86)
o ―bullying eacute uma palavra de origem inglesa adotada em muitos paiacuteses para definir o desejo
consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocaacute-la sob tensatildeo Conforme Shariff
16
(2011) trabalhadores britacircnicos de minas de carvatildeo discorriam sobre colegas de trabalho
como bullies e a partir daiacute iniciou-se uma associaccedilatildeo dos bullies com ―brigotildees ou
―valentotildees Poreacutem somente a partir na deacutecada de 1800 (seacutec XIX) a termologia (bullies)
passou a se referir agrave fraqueza covardia tirania e violecircncia tendo ainda uma associaccedilatildeo a
gangues Deste modo agir como um bully representava tratar de maneira ―autoritaacuteria
intimidadora e apavoradora O que nos leva a entender que haacute provaacutevel relaccedilatildeo etimoloacutegica da
palavra bullying e o prefixo bully como falaremos a seguir
Ainda em Sharrif (2011) a etimologia expotildee muito sobre a problemaacutetica existente em
identificar o bullying ao reconhecer que houve uma transiccedilatildeo do que representaria um
comportamento valentatildeo de modo amplo para um trato de autecircntica hostilidade ao destacar a
comparaccedilatildeo existente entre a evoluccedilatildeo histoacuterica da palavra e do bullying no ambiente escolar
contemporacircneo
Assim o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma
disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre
sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidados (Alim
2016) Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs
horas diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de cyberbullying
(Arsegravene Raynaud 2015) Li et al (2012) trazem destaque sobre os efeitos do cyberbullying
que podem ser tatildeo graves quanto o do bullying presencial As viacutetimas apresentam a
probabilidade de sofrer de depressatildeo sendo que os autores (em geral tambeacutem crianccedilas e
adolescentes) enfrentam esse problema posto que seja uma violecircncia entre pares Em
decorrecircncia disso a violecircncia psicoloacutegica reproduzida no ambiente virtual pode desencadear
consequecircncias graves a sauacutede de suas viacutetimas (Li et al 2012)
Existem autores que consideram a necessidade de compreensatildeo por parte dos
profissionais de que o cyberbullying seria um processo que ocorre em adiccedilatildeo ao bullying
tradicional como um subtipo de bullying com caracteriacutesticas especiacuteficas (Stelko-Pereira e
Williams 2011 in Wendt 2013) Entretanto para Wendt (2013) em muitos casos pode natildeo
haver o bullying [no acircmbito da vida real] mas pode estar ocorrendo a vitimizaccedilatildeo [apenas]
17
online portanto trata-se de processos sobrepostos embora independentes (p83) [grifos
nosso]
Uma pesquisa internacional a TIC KIDS ONLINE (2015) que visa mapear possiacuteveis
riscos oportunidades na internet e aponta dados sobre mediaccedilatildeo parental ao entrevistar
crianccedilas e adolescentes entre 09 e 17 anos revelou que cerca de 20 foram tratados de forma
ofensiva na internet nos uacuteltimos 12 meses Entre os entrevistados 9 receberam mensagens
ofensivas pela internet 4 declarou que outras pessoas postaram mensagens ofensivas na
internet para outras pessoas verem o mesmo percentual de jovens foi excluiacutedo de grupo ou
rede social
Uma pesquisa nacional realizada no segundo semestre de 2009 neste caso
apresentada pela ONG SAFERNET cuja amostra contou com a participaccedilatildeo de 2525 alunos
e 966 educadores das redes puacuteblicas e privadas identificou com relaccedilatildeo a situaccedilotildees de
cyberbullying ―que 33 dos entrevistados jaacute haviam tido algum amigo viacutetima desse tipo de
humilhaccedilatildeo na rede
Tais maus tratos consistem em praacuteticas de difamaccedilatildeo humilhaccedilatildeo
ridicularizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo por meio de ferramentas da internet
Com o atual aumento das facilidades para acesso ao mundo virtual por
parte de crianccedilas e adolescentes esse tipo de agressatildeo se torna cada
vez mais frequente Uma caracteriacutestica importante desse tipo de
agressatildeo eacute que consiste num ―fenocircmeno sem rosto agrave medida que na
internet o agressor pode muitas vezes natildeo se identificar
(httpwwwpromeninoorgbrportals0pesquisabullyingpdf)
Compreende-se que existem situaccedilotildees na vida que podem gerar abalo emocional e
consequentemente paralisam pessoas algumas conseguem superar tais situaccedilotildees e saiacuterem
delas fortalecidas Um dos motivos para que cada indiviacuteduo lide de modo distinto com
problemas semelhantes estaacute relacionado com o conceito de resiliecircncia A resiliecircncia pode ser
caracterizada como a capacidade de superar uma dada situaccedilatildeo de adversidade e sair
fortalecido (Angst 2009) Importante considerar essa capacidade de recuperar-se de lidar de
forma positiva com as pressotildees eou estresse em situaccedilotildees de adversidades Interessante
apontar que o conceito de coping apresenta uma base conceitual semelhante agrave resiliecircncia
todavia natildeo se confunde agrave ela correspondendo a uma capacidade cognitiva comportamental
O coping eacute definido como ―conjunto das estrateacutegias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-
18
se a circunstacircncias adversas ou estressantes (Antoniazzi Bandeira DellacuteAglio 1998 in
Taboada et al 2006) Tais estrateacutegias individuais podem ser utilizadas como manejo
individual diante eou apoacutes situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying
Entende-se que existe um grau de fragilidade quando os jovens satildeo expostos ao uso da
internet seja devido ao uso prolongado das redes sociais e outras formas de navegaccedilatildeo na
web ou ainda o uso da internet sem o monitoramento dos responsaacuteveis bem como o uso de
aparelhos com acesso agrave internet desprotegidos de sistema de seguranccedila de dados e
informaccedilotildees Fatos como esses podem contribuir para o iniacutecio de um ciclo de violecircncia
Embora jaacute existam poliacuteticas de conscientizaccedilatildeo sobre uso adequado da internet
seguranccedila virtual e de responsabilizaccedilatildeo de pessoas que cometem crimes virtuais natildeo
necessariamente faz com que todas as formas de violecircncia virtual sejam identificadas eou
tenham seu ciclo rompido
Partindo desse recorte analiacutetico utilizamos as seguintes questotildees investigativas
- Como a literatura nacional e internacional conceitua o cyberbullying e descreve suas
dinacircmicas
- Qual o papel de gecircnero em tais dinacircmicas
- Quais conexotildees satildeo feitas com a sauacutede de crianccedilas e adolescentes que sofrem e praticam o
cyberbullying
- Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees propostos pela
literatura sobre cyberbullying - Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a questatildeo da
sociabilidade virtual juvenil (Deve haver regulaccedilatildeo Como ocorre Deve ser proibida)
- Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullyin
- O que fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying
Nosso objetivo geral foi analisar como a literatura nacional e internacional aborda o
tema as associaccedilotildees que delimita entre o cyberbullying e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes e
as accedilotildees propostas de intervenccedilatildeoprevenccedilatildeo para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo
19
Nossos objetivos especiacuteficos foram
1 Analisar as conceituaccedilotildees utilizadas para caracterizar o cyberbullying explorando
eventuais diferenccedilas entre os autores nacionais e estrangeiros
2 Analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela comunidade cientiacutefica sobre as
propostas de prevenccedilatildeo do cyberbullying e modos de enfrentamento no campo da
sauacutede e educaccedilatildeo
3 Analisar as representaccedilotildees associadas agrave construccedilatildeo dos sentidos do fenocircmeno (causas
personagens envolvidos e responsabilidades implicadas)
4 Analisar as praacuteticas de cyberbullying (perpetrar sofrer testemunhar) a partir das
dinacircmicas das relaccedilotildees de gecircnero
5 Identificar associaccedilotildees e implicaccedilotildees agrave sauacutede das pessoas intimidadas e dos
perpetradores causados pelos diferentes tipos de cyberbullying
6 Analisar as propostas de enfrentamento sugeridas para Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores
implicados e estrateacutegias sugeridas)
Diante disso apresentaremos como resultado dessa dissertaccedilatildeo dois artigos O primeiro
buscou analisar as conceituaccedilotildees de cyberbullying adotadas pela literatura nacional e
internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo enfocando suas ecircnfases e
―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as associaccedilotildees que delimitam
entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes
No segundo artigo buscamos analisar criticamente as estrateacutegias de enfrentamento do
cyberbullying tanto no campo da Sauacutede quanto no campo da Educaccedilatildeo Elencando quem
seriam os atores implicados e que tipos de estrateacutegias haviam sido apontados pela literatura
investigada com enfoque em analisar criticamente tais discursos
METODOLOGIA
Propomos realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa considerando que este tipo
de estudo se compromete em trabalhar com ―os significados atribuiacutedos pelos sujeitos aos
fatos agraves relaccedilotildees praacuteticas bem como ―as interpretaccedilotildees dessas praacuteticas ao estudar uma
realidade especiacutefica (Minayo e Deslandes 2002)
20
Com relaccedilatildeo ao meacutetodo investigativo inicialmente haviacuteamos optado por utilizar do
meacutetodo de revisatildeo sistemaacutetica integrativa todavia a busca trouxe uma quantidade muito
elevada de trabalhos (7785) considerando o tempo para uma anaacutelise coerente de modo a
cumprir o cronograma proposto assim optamos por fazer uso de revisatildeo de literatura do tipo
―revisatildeo criacutetica (critical review)
Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um
tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant Booth
2009) A contribuiccedilatildeo de uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas
discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel
(Paregrave et al 2015) O escopo analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou
estatisticamente representativo Esse tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos
selecionados o que eacute considerado o seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as
revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo
(siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais
positivista (anaacutelise de conteuacutedo)
Cabe mencionar que preferimos por delimitar temporalmente o escopo da busca das
referecircncias para a revisatildeo literaacuteria sobre o tema proposto (de 2006 a 2016) Tal escolha
temporal se refere agrave disseminaccedilatildeo do acesso agrave internet por aplicativos em aparelhos moacuteveis
bem como a ampla disseminaccedilatildeo do maior site de relacionamento do mundo (FACEBOOK)
por exemplo datados a partir da deacutecada que trataremos a seguir
Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo
BVS Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA
(Applied Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017
Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos
(all fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no
Medical Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying
(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos
vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo
Com o intuito de reduzir e qualificar mais esse acervo optou-se por trabalhar apenas os
estudos de revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no
tiacutetulo e ―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de
21
qualquer natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas
modalidades revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica
sistemaacutetica revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo
sistemaacuteticas e revisatildeo narrativa
Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis
para acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em
301 estudos Depois de analisar cada artigo no MENDLEY foi identificado 156 artigos em
duplicidade que natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias
(MENDLEY) como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com
traduccedilatildeo de texto para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou
francecircs e quando houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor
seguido de et al Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com
recorte temporal de publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem
sendo difundido na uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo
Desse nuacutemero de artigos apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo (conforme
quadro 1) Destacamos ainda que migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias
ZOTERO por ser um programa open sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados
pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos
salvos nos mais distintos formatos
22
Quadro 1 ndash Seleccedilatildeo do acervo
ACERVO (cyberbullying)
7785 estudos (allfields)
301
(apoacutes criteacuterio de exclusatildeo)
141
(apoacutes exclusatildeo das duplicidades)
72
(apoacutes recorte temporal)
57 estudos (prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo )
O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia
dos autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus
conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes
categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do
cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede
No que se refere agrave anaacutelise de dados especialmente no segundo artigo adotamos o
meacutetodo de Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) Considerando que a ADC possui outras
correntes de anaacutelise tomamos como referecircncia a orientaccedilatildeo dada por Norman Fairclough que
propotildee estudos criacuteticos e interdisciplinares sobre a praacutetica discursiva e sua relaccedilatildeo com a
transformaccedilatildeo social e de cultura Para Fairclough (2001) os discursos contribuem
diretamente para a construccedilatildeo dos sistemas de conhecimento e crenccedilas tendo trecircs funccedilotildees e
dimensotildees de sentido que ―coexistem e ―interagem em todo discurso sendo elas identitaacuteria
relacional e ideacional Na funccedilatildeo identitaacuteria estatildeo implicados os modos pelos quais as
23
identidades sociais satildeo constituiacutedas na funccedilatildeo relacional como as relaccedilotildees sociais entre os
atores presentes nos discursos satildeo representadas e ―negociadas na funccedilatildeo ideacional os
modos pelos quais significam o mundo seus processos entidades e relaccedilotildees Essas duas
uacuteltimas satildeo interpretadas (Halliday 1978 In Fairclough 2001) como de caraacuteter ―interpessoal
Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de
praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos
discursos adotados nos estudos analisados Sendo assim se torna caro para noacutes identificarmos
que accedilotildees estatildeo sendo ditas a partir dos discursos construiacutedos nos estudos que seratildeo
analisados sobre o tema proposto Ou seja o que tem sido dito pelos estudos acerca do
cyberbullying Cabe destacar que o modelo proposto por Fairclough para a ADC abarca a
anaacutelise da praacutetica discursiva do texto e da praacutetica social
Conforme descrito na figura seguinte
Figura 1 - Concepccedilatildeo tridimensional do discurso em Fairclough (2001101)
O modelo tridimensional da ADC proposto por Fairclough distingue trecircs dimensotildees
dessa forma de anaacutelise de discurso texto praacutetica discursiva e praacutetica social Ao tratar
dimensatildeo textual o autor traz o entendimento de que todo o texto eacute elaborado de modo que
satildeo repletos de significados e inclusive de ambiguidades No que tange a praacutetica discursiva
segundo Fairclough (2001) permite explicar como os discursos satildeo produzidos distribuiacutedos
consumidos e interpretados reduzindo assim as possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva
propotildee categorias como a forccedila coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz
referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos de fala que o texto realiza [o que o texto evoca] a
coerecircncia trata do sentido que o texto possui [para quem faz sentido qual a loacutegica das
marcaccedilotildees e conexotildees] a intertextualidade ―eacute basicamente a propriedade que tecircm os textos de
PRAacuteTICA SOCIAL
PRAacuteTICA DISCURSIVA
TEXTO
24
serem cheios de fragmentos de outros textos (Fairclough 2001) [grifos nossos] A categoria
intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta
aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de
textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que o Fairclough vai chamar
de interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A
praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto
Ao que se refere ao discurso como praacutetica social em Fairclough (2001) estaria
implicada necessariamente como uma dimensatildeo que produz os efeitos ideoloacutegicos e
hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees
econocircmica cultural e ideoloacutegica Sendo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo
de identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas
de crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente
Neste sentido todo o discurso possuiu uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir
uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma
determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir
mudanccedila social em uma dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de relaccedilotildees
sociais
Destacamos que para realizar o processo de anaacutelise de discurso proposto utilizamos
um roteiro com matrizes de perguntas como Qual a conceituaccedilatildeo para o cyberbullying Quais
as definiccedilotildees e ou descriccedilotildees sobre as dinacircmicas do cyberbullying Como os personagens
envolvidos na praacutetica de cyberbullying satildeo descritos
No que tange a designaccedilatildeo e dinacircmica da anaacutelise submetemos os artigos selecionados
agraves matrizes de perguntas e posteriormente criamos bancos de dados temaacuteticos para as
definiccedilotildees propostas de enfrentamento diferenccedilas de gecircnero conexotildees entre a sauacutede de
crianccedilas e adolescente que sofrem e praticam cyberbullying Os quadros temaacuteticos permitiram
organizaccedilatildeo das informaccedilotildees extraiacutedas e faacutecil acesso ao conteuacutedo no momento da anaacutelise
propriamente dita Para exemplificar segue abaixo o modelo de quadro temaacutetico
25
Quadro 02 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo
Matrizes de perguntas ndash Roteiro para a anaacutelise
Enfim cabe esclarecer que consideramos neste campo reflexivo as accedilotildees praacuteticas
apontadas nos estudos para os setores da Sauacutede e da Educaccedilatildeo incluindo as accedilotildees de cunho
preventivo e promotoras de cultura de paz1
Por fim por se tratar de um estudo de revisatildeo bibliograacutefica a pesquisa natildeo necessitou
ser submetida a um comitecirc de eacutetica em pesquisa com seres humanos
1 A cultura de paz estaacute intrinsecamente relacionada agrave prevenccedilatildeo e agrave resoluccedilatildeo natildeo violenta dos conflitos Eacute uma
cultura baseada em toleracircncia e solidariedade uma cultura que respeita todos os direitos individuais que
assegura e sustenta a liberdade de opiniatildeo e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os () A cultura
de paz procura resolver os problemas por meio do diaacutelogo da negociaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo de forma a tornar a guerra e a violecircncia inviaacuteveis Disponiacutevel em httpunesdocunescoorgimages0018001899189919porpdf
Acessado em 26052018
PERGUNTAS SAUacuteDE EDUCACcedilAtildeO
Como o Cyberbullying eacute
conceituado
Quais as descriccedilotildees das
dinacircmicas
Quais as descriccedilotildees dos
personagens
Quais as associaccedilotildees e
implicaccedilotildees com a sauacutede das
pessoas intimidadas e dos
perpetradores
Como as propostas de
intervenccedilatildeo satildeo apresentadas
(estrateacutegias de accedilatildeo objetivos
personagens envolvidos)
26
1 MARCO TEOacuteRICO
11 CIBERCULTURA SOCIABILIDADE DIGITAL E CIBERESPACcedilO
O surgimento da internet teria sido fruto da ARPANET uma rede de computadores
construiacuteda nos EUA pela Advanced Projects Agency (ARPA) do Departamento de Defesa
americano em 1969 com intuito de mobilizar recursos de pesquisas universitaacuterias para obter
superioridade tecnoloacutegica militar em comparaccedilatildeo a Uniatildeo Sovieacutetica Contudo somente na
deacutecada de 1980 eacute que a tecnologia da rede de computadores passou a ser comercializada ―Por
razotildees histoacutericas e culturais a internet foi deliberadamente projetada como uma tecnologia de
comunicaccedilatildeo livre (Castells 200310)
Desde entatildeo a sociabilidade contemporacircnea passou por significantes transformaccedilotildees
a partir do advento da internet De acordo com Castells (2003) a internet passou a ser a base
tecnoloacutegica para a forma organizacional da era da informaccedilatildeo Sendo assim da internet incide
a capacidade de distribuiccedilatildeo da forccedila informacional por todo o domiacutenio da atividade humana
permitindo pela primeira vez a comunicaccedilatildeo de muitos com muitos num momento
escolhido em escala global
De acordo com o dicionaacuterio Priberam (2016) internetlsquo eacute uma palavra de origem
inglesa que significa
―Rede informaacutetica utilizada para interligar computadores agrave niacutevel
mundial agrave qual pode aceder qualquer tipo de usuaacuterio e
que possibilita o acesso a toda a espeacutecie de informaccedilatildeo (httpswwwpriber
amptDLPOinternet)
Haacute um entendimento de que a internet contribui para as dinacircmicas de mercado
ampliaccedilatildeo e agilidade nas redes de contato acesso a informaccedilatildeo entre outros aspectos
concernentes agraves sociedades poacutes-modernas Atraveacutes dos avanccedilos tecnoloacutegicos na atualidade eacute
possiacutevel o acesso agrave internet por meios eletrocircnicos modernos como smartphones tablets
notebooks e ultrabooks
Cabe salientar que os avanccedilos tecnoloacutegicos bem como todo esse aprimoramento com
relaccedilatildeo agrave experiecircncia de interaccedilatildeo eou de estar conectado permitiu que novos modos de
27
sociabilidade fossem permitidos como as redes sociais Barnes foi apontado como um dos
criacuteticos que defende a ideia de alargamento e natildeo delimitaccedilatildeo do que hoje conhecemos como
redes sociais Ao realizar uma etnografia sobre o iniacutecio de uma estratificaccedilatildeo social numa ilha
norueguesa tal antropoacutelogo desenvolvera uma tese segundo a qual todos seus habitantes
estariam interligados uns aos outros por cadeias de conhecimentos interligados e pouco
extensatildeo mas que natildeo se limitava aos limites da ilha entretanto ligavam seus habitantes a
outros sujeitos fora do seu contexto social e topograacutefico de pertencimento (Barnes A 1954
apud Marteleto 2010)
Jaacute Lemos (2015) ao relatar sobre o ciberespaccedilo declara que este eacute compreendido como
um espaccedilo sem dimensotildees um universo de informaccedilotildees navegaacuteveis de forma instantacircnea e
reversiacutevel Afirma ser uma ―nova dimensatildeo espaccedilo temporal de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo
(p127) Para o autor esse natildeo lugar remete a duas perspectivas 1ordf O lugar onde estamos
quando entramos em um ambiente simulado (ambiente virtual) 2ordf Um conjunto de redes de
computadores interligadas ou natildeo em todo o planeta a internet ―as redes vatildeo se interligar
entre si e permitir a interaccedilatildeo por mundos virtuais () (pg128) Natildeo obstante a cibercultura
representaria um conjunto de aspectos e padrotildees culturais relacionados com a internet e a
comunicaccedilatildeo em redes de computadores (Dicionaacuterio online Priberam 2016) Com a criaccedilatildeo
dessa nova expressatildeo da cultura inserida no ambiente virtual foram estabelecidos novos
paracircmetros de privacidade do sujeito agrave medida que cada vez mais as pessoas estatildeo sendo
observadas por todos em todos os lugares fenocircmeno que alguns autores chamam de
vigilacircncia e visibilidade
Segundo Levy (2010) a Cibercultura em sua essecircncia tem caraacuteter de um universal
poreacutem sem totalidade pois ele seria indeterminado agrave medida que em cada nova transmissatildeo
pode representar um receptor ou emissor de informaccedilotildees de dimensotildees inalcanccedilaacuteveis e
aleatoacuterias Na cibercultura o real e virtual estatildeo a todo tempo em contato ao passo que um
indiviacuteduo pode estar no Brasil conectado online com uma pessoa do Japatildeo ou ainda em
conexatildeo com pessoas em diferentes nacionalidades numa mesma interaccedilatildeo online
Entendemos que esta universalidade eacute alcanccedilada agrave medida que possibilita diferentes e
muacuteltiplas conexotildees entre seres humanos em todo o planeta Deixa de ser total por natildeo
possuirmos o controle das dimensotildees que essas conexotildees podem alcanccedilar pela falta de
28
domiacutenio sobre as informaccedilotildees partilhadas visto que uma vez lanccediladas na rede natildeo se pode
mensurar o potencial de compartilhamentos acessos e quais novas conexotildees podem ser
geradas Nesse aspecto a interconexatildeo generalizada emerge do crescimento da internet como
uma nova forma de universal Para Levy (2010) o universo da cibercultura eacute indefinido se
considerada a gama de conexotildees que podem ser estabelecidas ao passo que o emissor ou
produtor a todo o momento pode estabelecer diferentes conectividades
Nessa sociedade poacutes-moderna os modos de conexotildees atraveacutes das distintas tecnologias
digitais tecircm gerado novas formas do que representa viver em sociedade Entre as
caracteriacutesticas da sociabilidade digital estaacute a hipervisibilidade e o tribalismo No que tange a
hipervisibilidade o ciberespaccedilo contribui para a criaccedilatildeo de uma ―realidade aumentada
(Lemos 2015) Que pode ser configurada com a exposiccedilatildeo e maior visibilidade que as vidas e
os corpos passam a ganhar Dados como localizaccedilatildeo fotos e hipertextos expotildeem informaccedilotildees
sobre o indiviacuteduo e todos que possui um viacutenculo virtual seja este viacutenculo ―fraco ou ―forte
O privado passa a ser publicizado a partir dos compartilhamentos realizados neste universo de
informaccedilotildees instantacircneas em tempo real Outra dimensatildeo da sociabilidade digital presente na
cibercultura eacute o que Lemos (2015) chama de tribalismo sendo esta uma ―tendecircncia
comunitaacuteria na rede social complexa do ciberespaccedilo Essa caracteriacutestica de tribalismo
concebe uma ideia de agregaccedilatildeo social empatia pautados no interesse muacutetuo de estar
conectados por ideologias ou alguma outra identificaccedilatildeo Contudo essa socialidade tribal traz
consigo um ethos de compartilhamento baseado no que Maffesoli vai chamar de eacutetica da
esteacutetica (Maffesoli 1987 apud Lemos 2015) Esse termo designa um processo em que a
sociedade eacute mascarada assumindo um ethos a partir daquilo que pretende compartilhar com
os outros um modo de ser partindo do que se quer ostentar
E se analisarmos o crescimento do acesso agrave conexatildeo de internet cada vez mais
pessoas estatildeo navegando na rede e compartilhando de seus interesses abrindo suas vidas
quase que indiscriminadamente
Para ressaltarmos o quanto o acesso agrave internet tem crescido no paiacutes verificamos que
em 2009 segundo o resultado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) feita pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) cerca de 679 milhotildees de brasileiros
teriam conexatildeo com a internet ou seja o nuacutemero de domiciacutelios com acesso agrave internet no
Brasil aumentou em 71 entre 2005 e 2009 (Site UOL) Jaacute os resultados da PNAD 2013
divulgados em 2015 nos mostraram que cerca de 856 milhotildees de brasileiros (acima de 10
anos) o equivalente a 494 da populaccedilatildeo teriam acesso agrave internet incluindo por meio de
29
aparelhos que natildeo fosse notebooks e desktops Dos 312 milhotildees das residecircncias com
acesso agrave internet 977 estatildeo conectados por banda larga Em meacutedia 771 dos
domiciacutelios conectam a internet por banda larga fixa enquanto 435 teriam acesso
agrave banda larga moacutevel (Site EBC)
Em contrapartida apesar dos nuacutemeros expressivos o direito agrave inclusatildeo digital ainda
natildeo corresponde agrave realidade de todos os brasileiros sendo um tema de grande discussatildeo
Todavia jaacute eacute uma realidade em parte do Brasil acessar a internet por WIFI internet agrave raacutedio ou
modems 3G e 4G moacuteveis A partir da instalaccedilatildeo de aplicativos (apps) em aparelhos moacuteveis
que comportam o acesso agrave internet eacute possiacutevel conectar-se a Redes Sociais como Facebook
WHATSAPP INSTAGRAM TWITTER SNAPCHAT entre outras inclusive de forma
―gratuita Obviamente tal gratuidade possui interesses e contrapartidas comerciais Todavia
o que nos chama atenccedilatildeo eacute que essas redes sociais representam um ponto de encontro de
centenas de milhares de jovens ao redor do mundo diariamente com longas duraccedilotildees de
conexotildees (sempre online) e em grande escala sem administraccedilatildeo de tempo eou supervisatildeo de
um adulto responsaacutevel Cada vez mais cedo crianccedilas tecircm acesso agraves redes sociais O que nos
leva a crer que crianccedilas por vezes com apoio de seus responsaacuteveis estariam omitindo ou
adulterando sua idade real para que tenham acesso agraves redes sociais que natildeo permitem o
acesso de crianccedilas menores de 13 anos (como no caso do FACEBOOK)2 Essa espeacutecie de
conivecircncia dos pais que permitem que seus filhos utilizem redes sociais mesmo quando
algumas plataformas digitais natildeo permitem o acesso de crianccedilas Inclusive esse acesso pode
ser considerado como um risco a sauacutede e a seguranccedila das crianccedilas
O estudo de Machold et al (2012) com 474 estudantes Irlandeses de trecircs escolas
secundaacuterias entre 11 e 16 anos de idade para avaliar padrotildees gerais de uso da internet e
identificar potenciais de risco incluindo cyberbullying contato improacuteprio uso excessivo
dependecircncia e invasatildeo de privacidade por outros usuaacuterios detectou que (403) o equivalente agrave
95 dos adolescentes fazem uso de redes sociais Com relaccedilatildeo ao tempo de uso duas horas
ou mais foram gastas nas redes sociais diariamente por (285) o correspondente a 62 sendo
que 450 estudantes cerca de (98) fazem uso sem supervisatildeo
Entretanto os laccedilos de afinidade neste ambiente invisiacutevel onde os perfis e as novas
relaccedilotildees estabelecidas nas redes sociais podem natildeo ser verdadeiros mas simulaccedilotildees Essa
realidade estaacute presente no cotidiano de milhares de pessoas que estatildeo predispostas a manter
2 httpspt-brfacebookcomhelp210644045634222
30
um contato virtual na maioria das vezes pautado na superficialidade agrave medida que esse
ambiente invisiacutevel (considerando suas dimensotildees) traz visibilidade para nossa localizaccedilatildeo e
atividades compartilhadas com os ―amigos virtuais Martino (2015) ao tratas das relaccedilotildees
sociais mantidas na rede considera que ―por seu turno conexotildees satildeo criadas mantidas eou
abandonadas a qualquer instante sem maiores problemas comparadas as ―instituiccedilotildees
sociais como a famiacutelia trabalho ou religiatildeo tendem a ser mais riacutegidas para com seus membros
do que as redes sociais
A internet trouxe um desenvolvimento expressivo para o funcionamento das
sociedades modernas Para Shariff (2011) pela sua natureza os meios eletrocircnicos permitem
que as formas tradicionais do bullying assumam caracteriacutesticas que satildeo especiacuteficas do
ciberespaccedilo
Esse espaccedilo seria representado por um solo natildeo configurado onde os sujeitos se
relacionam de qualquer territoacuterio fiacutesico com pessoas que estejam em um diferente local
como se ambas estivessem frente a frente sem a necessidade de haver um contato fiacutesico ou
real o encontro se daacute em uma nova dimensatildeo o ciberespaccedilo
Concluiacutemos que o ciberespaccedilo eacute um campo natildeo material poreacutem virtual onde a noccedilatildeo
de espaccedilo eacute perdida e o real eacute aumentado possibilitando a comunicaccedilatildeo por meios eletrocircnicos
e a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees em larga escala com muacuteltiplas e distintas pessoas
22 Bullying
A violecircncia admite distintas expressotildees e multicausalidades (Ferreira e Tavares 2012)
Desse modo se faz necessaacuterio abordar a questatildeo do bullying antes de aprofundarmos sobre a
questatildeo central deste trabalho Segundo Fante e Pedra (2008) na maioria dos paiacuteses onde o
fenocircmeno eacute estudado emprega-se o termo em inglecircs (bullying) Entretanto existem
alguns paiacuteses que utilizam outros termos de sua liacutengua sem que se perca o
significado Satildeo usados por exemplo mobbing na Noruega e na Dinamarca [t raduz ido
para o po rtuguecircs co mo bu l lying] mobbning na Sueacutec ia e na F in lacircnd ia
[ t raduz ido para o por tuguecircs como b u l lying] hercegravelement quotidien na Franccedila
[traduzido para o portuguecircs como asseacutedio diaacuterio] prepotenza ou bullismo na I t aacute l ia
[traduzido para o portuguecircs como bullying] ijime no Japatildeo [traduzido para o portuguecircs
31
como arrelia3] Agressionen unter S h uuml le r n na Alemanha (traduzido para o portuguecircs
como agressatildeo entre alunos) a c o s o e a m e n a z a entre escolares ou in t i m i d a c ioacute n na
Espanha [traduzido para o portuguecircs como perseguiccedilatildeo ameaccedila e intimidaccedilatildeo] (pg 34)
[grifos nossos]
Algo que nos chama agrave atenccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave temaacutetica bullying eacute a compreensatildeo que
alguns autores tecircm acerca do significado e ambiguidade entre a questatildeo do bullying e o
Asseacutedio Moral (mobbing4
) cabe destacar que por se tratar de palavras inglesas essa
ambiguidade se apresenta a partir da realizaccedilatildeo de traduccedilatildeo da temaacutetica como no caso da
liacutengua espanhola Como exemplo destacamos ao estudo peruano de Armeno (2011) que ao
tratar do assunto bullying escolar utiliza a palavra acoso (perseguiccedilatildeo) escolar poreacutem ao
serem utilizadas em conjunto (acoso escolar) eacute traduzida para o portuguecircs como bullying
Contudo algumas traduccedilotildees por exemplo traduz ―acoso escolar como asseacutedio moral
quando as palavras estatildeo juntas poreacutem acoso sem escolar tem como significado perseguiccedilatildeo
como mostrado no quadro anterior
Eacute possiacutevel ver neste estudo que satildeo muitas as definiccedilotildees tratadas para este assunto
desde o entendimento sobre o significado ou a magnitude do cyberbullying e sobre o bullying
Em alguns casos tanto cyberbullying como o bullying podem ser confundidos por
dificuldades na clareza de suas definiccedilotildees Contudo Farrington (1993381) define o bullying
como uma ―opressatildeo repetida de caraacuteter fiacutesico ou psiacutequico de uma pessoa com menos poder
por outra com mais poder Neste sentido o mais forte exerce poder sobre o mais fraco seja
esse poder de ordem fiacutesica por meio de agressatildeo ou psicoloacutegica de modo a causar medo e
intimidaccedilatildeo
Dentre vaacuterias definiccedilotildees para o que se entende por bullying Melo (2011) define como
uma agressatildeo fiacutesica psicoloacutegica verbal moral sexual material ou virtual praticada por uma
ou vaacuterias pessoas contra uma mesma viacutetima de forma repetitiva por um periacuteodo prolongado
de tempo sem motivo aparente baseada numa relaccedilatildeo desigual de poder dificultando a
defesa da viacutetima e que deixa sequelas marcas e consequecircncias (pg21) Natildeo podemos deixar
de mencionar que o bullying eacute uma violecircncia entre pares
3 Arrelia traz entre sua significaccedilatildeo 1 Amofinaccedilatildeo [ato de aborrecer] apoquentaccedilatildeo [aborrecimento
aporrinhaccedilatildeo] 2falta de paciecircncia pressa sofreguidatildeo 3contenda rixa desavenccedila 4pressentimento de coisa
maacute mau agouro (Google) wwwgooglecombrsearch Acessado em 27102016
4 Palavra inglesa para asseacutedio moral
32
Armeno (2011) considera a questatildeo do bullying (―acoso escolar) como uma
violecircncia social que pode asssumir forma verbal fiacutesica e por isolamento social da viacutetima
Para o autor os espectadores (outros estudantes) seriam necessaacuterios visto que satildeo
para esses que o perpetrador do bullying ―perseguidor ―mostra seu poder O silecircncio dos
espectadores permite que as accedilotildees sejam sistemaacuteticas Em termos de conteuacutedos eles podem
ser racistas se a origem da questatildeo eacute eacutetnica se eles incluem piadas obcenas de cunho sexual
ou ainda homofoacutebicas se tecircm a ver com a suposta orientaccedilatildeo sexual dos que sofrem a accedilatildeo
Se os meios utilizados satildeo as mensagens por telefones celulares ou computadores considera
como bullying digital o que para o autor pode ser devastador porque a viacutetima natildeo teria um
lugar para fugir das accedilotildees de bullying sofridas na escola visto que na internet a accedilatildeo pode ter
continuidade (Armeno 2011) Diante disso entendemos que o autor compreende o ―bullying
digital como uma extensatildeo do bullying tradicional e que a escola eacute o campo em que tais
accedilotildees satildeo iniciadas e que a presenccedila de espectadores pode potencializar ainda mais as accedilotildees
promovidas pelos perpetradores por encontrarem nestes a ―plateacuteia para realizaccedilatildeo de seus
atos de bullying
Compete resgatar que o iniacutecio da conscientizaccedilatildeo acerca deste grave problema no
acircmbito escolar bem como ressaltar que os primeiros estudos sobre o assunto foram
produzidos pelo Professor Universitaacuterio Dan Olweus na Noruega como jaacute mencionado Em
1993 Olweus publica na Escandinaacutevia o livro ―Bullying at School onde expotildee o bullying
como um fenocircmeno presente no contexto escolar trazendo uma discussatildeo a partir dos
resultados obtidos em seus estudos projetos de investigaccedilatildeo apresentando uma possiacutevel
correlaccedilatildeo de ―caracteriacutesticas que poderiam identificar os perfis de viacutetimas e agressores O
livro apresenta o resultado obtido em sua pesquisa sistemaacutetica realizada na deacutecada de 1980
com 150000 estudantes escandinavos onde descobriu que 15 dos estudantes entre 08 e 16
anos estavam envolvidos com a questatildeo do bullying sendo viacutetimas e agressores com
regularidade e entre esses havia casos de agressores que tambeacutem eram vitimas de Bullying
(Olweus 2003) Como repercussatildeo do estudo de Olweus e Roland ―Bullying at School uma
Campanha Nacional Anti Bullying foi desenvolvida nas escolas norueguesas em 1993 com o
apoio do Governo tendo com resultado a reduccedilatildeo em cerca de 50 nos casos de bullying nas
escolas
Outro ponto relevante eacute com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero entre os personagens do
fenocircmeno bullying Cabe destacar a pesquisa de Da Costa et al (2015) que ao analisar a
prevalecircncia de casos de bullying entre 598 adolescentes brasileiros na faixa etaacuteria de 14 agrave 17
33
anos de aacuterea urbana de Belo Horizonte em 2009 constatou que houve uma prevalecircncia de
264 entre os entrevistados Sendo 280 entre os entrevistados de sexo masculino e 240
entre o puacuteblico do sexo feminino Isso significa que frac14 dos adolescentes que responderam ao
questionario sofreram bullying Entre os meninos esse nuacutemero foi um pouco mais elevado do
que entre as meninas A questatildeo do bullying estaria associada agrave insatisfaccedilatildeo com a vida que
levam dificuldades na relaccedilatildeo com pais envolvimento em brigas com colegas (pares) e
inseguranccedila na regiatildeo onde residem Uma observaccedilatildeo interessante eacute que o estudo de Da Costa
et al (2015) foi realizado no mesmo ano que a primeira Pesquisa Nacional de Sauacutede do
Escolar (PENSE5) 2009 realizada pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e
Ministeacuterio da Sauacutede Poreacutem os resultados foram divergentes com relaccedilatildeo a mesma capital
investigada BH Com relaccedilatildeo agrave PENSE a pesquisa foi realizada em escolas para investigar
fatores de risco e proteccedilatildeo da sauacutede dos escolares jaacute a pesquisa de Da Costa e colaboradores
foi um estudo populacional realizado no domiciacutelio dos entrevistados por meio de inqueacuterito
com amostragem probabiliacutestica em trecircs estaacutegios setores censitaacuterios residecircncia e indiviacuteduos
Os inquiridos responderam questotildees sobre bullying caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
comportamentos de risco agrave sauacutede bem-estar educacional estrutura familiar atividade fiacutesica
marcadores de haacutebitos alimentares e bem-estar subjetivo (percepccedilatildeo corporal satisfaccedilatildeo
pessoal e satisfaccedilatildeo com a vida atual e futura) Outro fator que pode ter influecircncia nos
resultados foi o tamanho da amostra visto que a pesquisa PENSE analisou apenas alunos
matriculados no 8ordf Seacuterie fundamental (atual 9ordm ano) de escolas puacuteblicas e particulares da
cidade de BH enquanto que o estudo de Da Costa a escolaridade dos investigados natildeo foi um
recorte A prevalecircncia de bullying na PENSE 2009 em BH foi de 69 segundo Malta
(2014)
Haacute um entendimento de que os adolescentes do sexo masculino seriam os maiores
praticantes e alvos de bullying conforme aponta resultado da pesquisa PENSE 2012 Nesse
estudo observou-se maior praacutetica de bullying entre os estudantes do sexo masculino (261)
e 160 entre as estudantes do sexo feminino (IBGE 2013)
Com relaccedilatildeo ao enfrentamento a essa problemaacutetica Schutz et al (2012) defendem a
ideia de que a atuaccedilatildeo contra o bullying assim como cyberbullying natildeo pode estar restrita agrave
individualidade das caracteriacutesticas dos sujeitos em questatildeo ou seja autor e alvo ignorando a
5 Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar ndash PENSE eacute um inqueacuterito com alunos de escolas puacuteblicas e particulares
realizado pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que disponibiliza informaccedilotildees para o sistema de informaccedilotildees para o Sistema de Vigilacircncia de Fatores de Riscos e Proteccedilatildeo as Doenccedilas Crocircnicas do Brasil
Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfressv26n32237-9622-ress-26-03-00605pdf Acessado em 26062018
34
teia complexa das relaccedilotildees que implicam a manutenccedilatildeo do fenocircmeno Os autores sugerem
uma anaacutelise sistecircmica da complexidade dos diversos sistemas envolvidos e das relaccedilotildees
estabelecidas entre autor e alvo testemunhas famiacutelia comunidade escolar a cultura na qual
estatildeo inseridos Apontam a necessidade de investigaccedilatildeo que verifique a incidecircncia dos casos e
abrangecircncia do problema incluindo toda a comunidade escolar
Em 2015 o Brasil passou a dispor de uma legislaccedilatildeo Federal que trata da questatildeo A
lei Anti Bullying instituiu o Programa Nacional de Combate agrave Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica
(bullying) Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica eacute a configuraccedilatildeo utilizada no Brasil para classificar o ato
de violecircncia que internacionalmente eacute denominado por Bullying
―No contexto e para os fins desta Lei considera-se intimidaccedilatildeo
sistemaacutetica (Bullying) todo ato de violecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica
intencional e repetitivo que ocorre sem motivaccedilatildeo evidente praticado
por indiviacuteduo ou grupo contra uma ou mais pessoas com o objetivo
de intimidaacute-la ou agredi-la causando dor e anguacutestia agrave viacutetima em uma
relaccedilatildeo de desequiliacutebrio de poder entre as partes envolvidas
(Paraacutegrafo 1ordm da Lei 131852015)
Cabe mencionar que a lei natildeo deixa expliacutecito se inclui a questatildeo do asseacutedio moral no
trabalho visto que ao instituir o programa propotildee accedilotildees no acircmbito escolar com enfoque nos
estudantes
Outra definiccedilatildeo para a questatildeo do bullying bastante coerente adveacutem da lei do Estado
do Rio de Janeiro jaacute mencionada anteriormente que define o bullying como
A praacutetica reiterada e habitual de atos de violecircncia fiacutesica verbal ou
psicoloacutegica de modo intencional exercida por indiviacuteduo ou grupos de
indiviacuteduos contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidar
agredir causar dor ou sofrimento anguacutestia ou humilhaccedilatildeo agrave vitima
inclusive por meio de exclusatildeo social (Paraacutegrafo 1ordm da Lei 64012013
- RJ)
A lei que institui 7 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento a Violecircncia na
escola faz menccedilatildeo ao Massacre de Realengo trageacutedia ocorrida em abril do ano de 2011
35
quando doze crianccedilas entre 13 e 16 anos (dez meninas e dois meninos) foram assassinados a
tiros na Escola Municipal Tasso da Silveira por um ex aluno da unidade escolar que apoacutes ser
atingido por um tiro disparado por um policial militar teria se suicidado (AGEcircNCIA
SENADO 2016) Segundo relatos a motivaccedilatildeo do crime seria incerta poreacutem a nota do
suiciacutedio deixada pelo o autor do massacre e de acordo com o testemunho da irmatilde adotiva o
jovem sofria bullying
Natildeo podemos deixar de mencionar que Campanhas de enfrentamento ao Bullying tecircm
aparecido em pautas de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGs) e Governamentais como
Stop Bullying do Department of Health and Human Services dos Estados Unidos (EUA)
comunidades escolares e universidades como Massachusettes Aggresion Reduction Center
da Brigde State University (EUA) e em diferentes paiacuteses como Portugal Inglaterra Canadaacute
e Noruega Este uacuteltimo foi um dos primeiros paiacuteses a desenvolver campanhas anti bullying
alertando sobre seus impactos na vida e sauacutede dos que sofre essa violecircncia
Por fim cabe discorrer sobre os agravos agrave sauacutede relacionados a sofrer bullying Os
meninos e meninas alvos de bullying estariam propensos a desenvolver episoacutedios de
ansiedade baixo rendimento escolar inseguranccedila na escola sofrer de tensatildeo crescente
estando preacute-dispostos ao maior uso abusivo de drogas e em alguns casos mais graves ao
suiciacutedio (Malta et al 2010) Gera tanto um sofrimento emocional moral quanto fiacutesico
podendo desencadear outros agravos tais como baixa autoestima depressatildeo estresse
doenccedilas psicossomaacuteticas transtornos mentais (Calhau 2008 p88) O bullying natildeo deve ser
considerado como uma simples brincadeira (―zoaccedilatildeo) entre crianccedilas e adolescentes muito
menos ser banalizado ao passo de ser algo rotineiro Pelo contraacuterio esse assunto carece de ser
tratado como uma questatildeo de Sauacutede Puacuteblica que deve ser discutida investigada e enfrentada
por muacuteltiplos setores
A PENSE (Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar) uma pesquisa com escolares
adolescentes de escolas puacuteblicas e privadas realizada pelo IBGE que entre os objetivos visa
aferir dados sobre bullying incluiu na ediccedilatildeo de 2015 uma segunda amostra O que
representou um diferencial com relaccedilatildeo agraves ediccedilotildees anteriores De acordo com a pesquisa
(2015) a primeira amostra foi realizada com 2630835 estudantes frequentando o 9ordm ano do
ensino fundamental de escolas puacuteblicas e privadas do Brasil em Grandes Regiotildees Distrito
Federal Capitais e Estados e a segunda amostra realizada com 13199862 estudantes de 13 a
17 anos de idade frequentando as etapas do 6ordm ao 9ordm Ano (antiga 5ordf a 8ordf seacuteries) do ensino
36
fundamental e alunos do 1ordm ao 3ordm ano do Ensino Meacutedio (antigo 2ordm Grau) de escolas puacuteblicas e
privadas para o conjunto do paiacutes e em grandes capitais no ano de referecircncia da pesquisa
(IBGE 2015) Dentre os entrevistados desta ediccedilatildeo a primeira amostra 74 sofreram
provocaccedilotildees ou foram humilhados sempre ou na maior parte do tempo nos uacuteltimos 30 dias
que antecederam a pesquisa O estudo apontou com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que os
percentuais foram proacuteximos para os estudantes do sexo feminino 72 e sexo masculino
75 Jaacute os estudantes da regiatildeo Sudeste apresentaram o maior percentual 83 estes
afirmaram sofrer humilhaccedilotildees e constrangimentos no acircmbito escolar Outro dado relevante eacute
do Estado de Satildeo Paulo que obteve o maior percentual 90 se comparado ao percentual
obtido pela regiatildeo sudeste e demais regiotildees A aparecircncia do corpo e do rosto foram os
principais motivos da violecircncia psicoloacutegica sofrida pelos escolares Com relaccedilatildeo aos
perpetradores aproximadamente 198 dos escolares brasileiros haviam praticado atos
configurados como bullying (ter esculachado zombado mangado intimidado ou caccediloado)
poreacutem entre os estudantes do sexo masculino este nuacutemero foi mais elevado aproximadamente
242 Interessante que com relaccedilatildeo aos intimidados (aqueles que declararam se sentir
humilhados e provocados com frequecircncia pelos colegas) os nuacutemeros apresentados foram de
74 entre a faixa etaacuteria de 13 a 15 anos e 52 dos estudantes entre 16 e 17 anos (IBGE
2015) Na ediccedilatildeo da PENSE supracitada foi incluiacuteda uma questatildeo especiacutefica para abordar a
questatildeo do bullying natildeo utilizado nas PENSEs 2009 e 2012 Nessas ediccedilotildees ―bullying era
substituiacutedo por verbos como (esculachar zoar mangar caccediloar e intimidar) entretanto
passaram a adotar o termo ―intimidaccedilatildeo em consonacircncia a nomenclatura adotada a partir da
Lei de Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica (Lei Anti bullying e cyberbullying brasileira)
promulgada no ano em que a pesquisa foi realizada (2015) Relevante informar que o estudo
aponta como legiacutetimo o reconhecimento do bullying como uma importante questatildeo de Sauacutede
Puacuteblica bem como a relevacircncia de estrateacutegias intersetoriais de enfrentamento Natildeo houve
uma especificaccedilatildeo para o cyberbullying na pesquisa PENSE 2015 no quadro que analisou a
questatildeo da intimidaccedilatildeo apesar da lei vigente no paiacutes incluir e reconhecer a versatildeo virtual do
bullying Embora tenham mencionado no texto e haverem citado o recorte dado na Lei de
Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica sobre a questatildeo do cyberbullying nos dados
analisados pela pesquisa Natildeo houve ainda um toacutepico especiacutefico que pudesse identificar onde
ocorriam as ―intimaccedilotildees zoaccedilotildees e esculachos subentendendo-se que ocorria na escola
aleacutem disto os meios eletrocircnicos natildeo foram apontados
37
23 CYBERBULLYING
231 Cyberbullying violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica
Entre o grande nuacutemero de pessoas conectadas pela internet novos modos de
interaccedilotildees aparecem a partir da utilizaccedilatildeo de dispositivos eletrocircnicos possibilitando assim a
disseminaccedilatildeo irrestrita de informaccedilotildees em formato ―multimodal onde ―os recursos de miacutedia
integram coacutedigos texto som e imagem (Junior E Rocha 2013 pg206) Com a internet o
potencial de transmissatildeo e receptaccedilatildeo de informaccedilatildeo se tornou mais expansivo em relaccedilatildeo a
outras miacutedias como o caso da TV analoacutegica (atualmente substituiacuteda pela TV digital) (idem)
Permitindo assim que o compartilhamento de informaccedilotildees seja propagado com maior
facilidade inclusive as informaccedilotildees difamatoacuterias
O uso da internet em especial de redes de relacionamentos traz consigo a
probabilidade de disseminaccedilatildeo de violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de
relacionamentos criaccedilatildeo de falsos (―fakes) perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo ao
convite ao suiciacutedio por meio de sites escolares clandestinos No Japatildeo satildeo conhecidos como
―gakko ura saito os sites escolares clandestinos acessados pelo celular Eles geram uma nova
forma de cyberbullying em grupo poreacutem sem a necessidade de identificaccedilatildeo dos chamados
―caluniadores anocircnimos (Hasegawa et al 2007 Shariff 2011) O ijime-jisatsu [suiciacutedio
associado ao ijimi - cullying] eacute uma das consequecircncias desastrosas e culturalmente incidentais
do fenocircmeno no Japatildeo Outro aspecto cultural no Japatildeo do netto-ijime [cyberbullying] eacute a
taxa elevada de suiciacutedio entre os jovens O que nos mostra o quanto o territoacuterio invisiacutevel da
internet pode desencadear no campo presencial consequecircncias agrave sauacutede de seus afetados
Admitindo que vivenciar uma experiecircncia de violecircncia no universo digital pode ser bastante
devastador Conforme afirma Santos et al (2013) a internet se torna um palco de grandes
riscos
Entendemos que o cyberbullying manteacutem muitas das caracteriacutesticas do bullying
poreacutem natildeo constitui meramente uma de suas expressotildees na instacircncia virtual pois possui
algumas caracteriacutesticas proacuteprias como o longo alcance do conteuacutedo depreciativo audiecircncia
de larga escala (testemunhas) por causar impacto nas viacutetimas sem precedentes pela
38
possibilidade de anonimato por parte dos perpetradores Aleacutem disso a ocorrecircncia do
cyberbullying pode se dar a qualquer momento e em qualquer lugar pela
dificuldademorosidade na detecccedilatildeo dos praticantes do cyberbullying ou dos criadores de
perfis falsos constituiacutedos no intuito de depreciar agredir e constranger Ao que se refere agraves
traduccedilotildees para o portuguecircs dos termos adotados para a palavra cyberbullying a traduccedilatildeo
aparece disponiacutevel em vaacuterias liacutenguas conforme Google Tradutor
Quadro 3 Vocaacutebulos designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas
Palavra Liacutenguas Traduccedilatildeo para Portuguecircs
Kiberzapugivanieye Russo Cyberbullying
Cyber-mobbing Alematildeo Cyberbullying
naumltmobbning Sueco Cyberbullying
Cyberintimidation Francecircs Cyberbullying
Cyber bullismo Italiano Cyberbullying
Netto yjime Japonecircs Cyberbullying
Cyberpesten Holandecircs Cyberbullying
El ciberacoso Espanhol Cyberbullying
Seiber-fwlio Galecircs Cyberbullying
Maltretiranje Seacutervio Cyberbullying
Cyberprzemoc Polonecircs Cyberbullying
Fonte da traduccedilatildeo Google Tradutor
O termo cyberbullying teria sido criado pelo educador e pesquisador do Canadaacute Bill
Belsey para identificar o bullying virtual que faz uso das tecnologias digitais e para de modo
39
insistente e repetitivo hostilizar ofender ou ameaccedilar algueacutem (Maldonado 2009 in Melo
2011)
O que tem ocorrido eacute o crescimento de casos de agressotildees virtuais concebidas no
ambiente do ciberespaccedilo A forma de propagaccedilatildeo desse tipo de violecircncia deve ser analisada e
contextualizada O uso da internet pode ter um cunho prejudicial e essa consequente situaccedilatildeo
de exposiccedilatildeo pode tornar os sujeitos vulneraacuteveis ao passo de atingir em maior proporccedilatildeo a
geraccedilatildeo digital (os mais jovens) sendo necessaacuteria a mobilizaccedilatildeo de discussotildees sobre o papel
da escola na mediaccedilatildeo prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo virtual (Wendt 2011 p8)
Estudos tecircm advertido o quanto o cyberbullying tambeacutem pode desencadear agravos
relevantes agrave sauacutede de crianccedilas e adolescentes inclusive apontando um recorte de gecircnero
numa loacutegica binaacuteria desprovida de informaccedilotildees que caracterizem questotildees como a orientaccedilatildeo
sexual dos sujeitos Por exemplo Amemyia et al (2013) e Aranzales et al (2014) acreditam
que a praacutetica do cyberbullying eacute maior entre pessoas do sexo masculino Todavia minorias e
pessoas do sexo feminino satildeo mais propensas a serem atemorizados por estarem mais
vulneraacuteveis a situaccedilotildees de intimidaccedilatildeo Um estudo de meta-anaacutelise feito por Barllet et al
(2014) tendo como hipoacuteteses se cyber-bullying eacute considerado uma forma de bullying
tradicional e agressatildeo pessoas do sexo masculino seriam propensos a serem ―cyber-
valentotildees mais do que as do sexo feminino Inversamente se cyberbullying eacute considerado
relacional agressatildeo indireta as meninas seriam ligeiramente mais propensas a serem
perpetradoras de cyberbullying que os meninos Os autores apresentaram ainda outros
aspectos relevantes ao considerar na avaliaccedilatildeo questotildees como paiacutes continente e ano de
publicaccedilatildeo dos estudos bem como a idade dos atores pesquisados Ainda em Barllet et al
(2014) essas variaacuteveis poderiam influenciar significativamente os resultados de estudos sobre
cyberbullying Um dos fatores destacado tratou sobre as publicaccedilotildees que consideram o
cyberbullying uma forma de bullying tradicional e agressatildeo nesses casos os meninos seriam
mais propensos a serem perpetradores do que as meninas Contudo os resultados de
estimativas desse estudo afirmam que ainda sim os meninos teriam maior predisposiccedilatildeo a ser
―cyber-valentotildees Outro dado relevante eacute que no caso das meninas que relataram sofrer
cyberbullying a faixa etaacuteria estava entorno do iniacutecio adolescecircncia entretanto os meninos que
relataram sofrer cyberbullying apresentavam uma meacutedia de idade maior que as meninas
40
Assim o ambiente virtual eacute um terreno capaz de propiciar atos de violecircncia repetitiva
e ainda onde seus autores dificilmente satildeo descobertos o cyberbullying configura-se como
um tipo de violecircncia capaz de trazer consequecircncias graves as suas viacutetimas Para um usuaacuterio
do ambiente virtual que possui a imagem distorcida a internet pode representar uma
ferramenta de autodestruiccedilatildeo se natildeo utilizada de forma correta ou saudaacutevel Estudos apontam
dados significativos sobre os impactos do cyberbullying em estudantes6
Um fator relevante eacute que grande parte dos estudos ao mencionar sobre as pessoas que
satildeo atingidas pelo cyberbullying se referem a estes uacuteltimos utilizando o substantivo ―viacutetima
para identificar aqueles que sofrem este tipo de violecircncia Contudo acreditamos que o termo
traz a conotaccedilatildeo de passividade sugerindo ainda uma natildeo possibilidade de superaccedilatildeo da
condiccedilatildeo sofrida Eacute bem verdade que estudos apontam sobre as dificuldades das ditas
―viacutetimas em expor o dano sofrido ou pedir ajuda Entretanto outros conseguem ter
resiliecircncia a ponto de solicitar auxilio de familiares profissionais ou ainda autoridades Outro
aspecto relevante eacute que podem existir casos em que o intimidado pelo cyberbullying pode se
tornar um perpetrador ou ter sido um em outra situaccedilatildeo Inclusive pode haver casos em que
uma viacutetima de cyberbullying tenha sido um agressor (no caso do bullying tradicional) ou vice
versa Diante disso utilizaremos outros substantivos para relacionar aqueles que sofrem com
o Cyberbullying como por exemplo intimidados atingidos ou acometidos
Cassidy et al (2009) afirmam que adolescentes acometidos de cyberbullying teriam
uma maior predisposiccedilatildeo ao suiciacutedio do que aqueles que natildeo vivenciaram essas formas de
agressatildeo entre pares Apesar disso muitos dos que sofrem com o cyberbullying se calam
mesmo diante das constantes humilhaccedilotildees e depreciaccedilotildees Acreditamos que este calar por
parte dos intimidados pode representar tanto uma imaturidade acerca de como agir diante de
tal situaccedilatildeo como a falta de esclarecimento acerca dos serviccedilos e profissionais que podem
cuidar e acompanhar os casos de cyberbullying ou ainda uma ausecircncia de mecanismos de
apoio de faacutecil acesso que decircem conta de questotildees como esta Baronceli e Ciucci (2014) ao
6 Patchin e Hinduja (2010) dirigiram um estudo que objetivou apurar quais os impactos do
cyberbullying em jovens envolvendo 1963 alunos do ensino meacutedio oriundos de 30 escolas americanas Atraveacutes
de um instrumental de autodeclaraccedilatildeo estes estudiosos verificaram que tanto os cyberbullies (agressores) como
as viacutetimas apresentaram niacuteveis baixos de autoestima em maior frequecircncia quando comparados aos alunos sem
histoacuteria de vitimizaccedilatildeo online No entanto 231 dos alunos declararam ter sido perpetradores e 188 terem
sido viacutetimas de Cyberbullying Todavia as questotildees de gecircnero representaram diferenccedilas delimitadas
identificadas na ocorrecircncia dos subtipos de vitimizaccedilatildeo virtual entre meninos e meninas
41
investigar 529 preacute-adolescentes com idade inferior a 12 anos e 7 meses comparam
caracteriacutesticas de inteligecircncia emocional e controle negativo das emoccedilotildees relacionados ao
bullying e cyberbullying compreendendo que o bullying tradicional e cyberbullying satildeo duas
formas distintas de fenocircmenos da violecircncia envolvendo diferentes traccedilos de personalidades
Com relaccedilatildeo agraves formas de atuaccedilatildeo diante do cyberbullying segundo Melo (2011)
podemos encontrar a accedilatildeo direta e indireta Sendo a direta agressotildees por e-mail mensagens
instantacircneas natildeo havendo por parte do agressor o intuito de ficar no anonimato Jaacute a forma
indireta eacute vista como mais ―covarde e ―nefasta pois o agressor passa a usar nomes fictiacutecios
ou de terceiros o que pode ampliar a gravidade do problema visto que outras pessoas
(aqueles que assistem e disseminam a informaccedilatildeo) podem contribuir para esse estaacutegio de
―vitimizaccedilatildeo Entre as accedilotildees estatildeo votaccedilotildees online difamatoacuterias inclusatildeo de viacutedeos e
imagens vexatoacuterias entre outras
O campo virtual se tornou tambeacutem um meio de accedilotildees criminosas e violaccedilotildees de
direitos neste sentido atualmente jaacute existem Delegacias nuacutecleos e divisotildees policiais de
combate aos crimes de informaacutetica ou crimes ciberneacuteticos em diversos estados do paiacutes No
Rio de Janeiro por exemplo existe a Delegacia de Repressatildeo aos Crimes de Informaacutetica
(DRCI) localizada na Cidade da Poliacutecia na regiatildeo da Zona Norte da cidade e a Delegacia de
Proteccedilatildeo agrave crianccedila Viacutetima (DCAV) O que nos leva a entender que o cyberbullying jaacute pode ser
enquadrado como um crime contra a honra e dignidade por repercutir em danos agrave moral do
indiviacuteduo Natildeo podemos deixar de destacar que em algumas cidades brasileiras existem as
Delegacias de Proteccedilatildeo agrave crianccedila viacutetima de violecircncia Neste sentido cabe destacar o estudo de
Della Flora (2014) ao investigar 191 alunos de quatro turmas de 8ordf seacuterie (atual 9ordm ano)
fundamental e duas turmas de 1ordm ano do ensino meacutedio politeacutecnico e 17 professores constatou
que grande parte de alunos e professores citaram o registro de boletim de ocorrecircncia policial
como uma alternativa de enfrentamento ao cyberbullying por considerarem o ato como crime
em que o autor natildeo deve ficar impune Todavia uma vez que muitos de seus autores satildeo
outras crianccedilas ou adolescentes Segundo o artigo 104 do Estatuto da Crianccedila e adolescente -
ECA (Lei 806090) os menores de dezoito anos satildeo inimputaacuteveis Todavia a partir dos doze
anos de idade podem ser responsabilizados juridicamente caso cometam atos infracional
(conduta descrita no art 103 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente como crime ou
contravenccedilatildeo penal) Ainda assim a questatildeo da responsabilizaccedilatildeo merece atenccedilatildeo cuidadosa
O que nos leva reconhecer a importacircncia de uma normatizaccedilatildeo que advirta e responsabilize os
42
responsaacuteveis pelo cyberbullying natildeo extinguindo o potencial e a necessidade de accedilotildees
preventivas de maior impacto
Com relaccedilatildeo ao manejo prevenccedilatildeo e enfrentamento do bullying e suas apresentaccedilotildees
foram realizadas nos uacuteltimos anos no Brasil algumas estrateacutegias de enfrentamento no campo
juriacutedico algumas delas jaacute mencionadas anteriormente Essas legislaccedilotildees apresentam cunho de
responsabilizaccedilatildeo das escolas em notificar accedilotildees de violecircncia no contexto escolar aleacutem de
atividades de conscientizaccedilatildeo incluindo informaccedilotildees sobre o cyberbullying atraveacutes do
enfrentamento por meio de accedilotildees educativas e capacitaccedilotildees Em contrapartida as escolas por
vezes natildeo se responsabilizam por questotildees que emergem no campo virtual como eacute o caso dos
sites de relacionamentos (Redes Sociais) considerando que estas uacuteltimas estariam aleacutem de
suas responsabilidades interventivas
Refletimos que algumas leis7 implantadas representam respostas a clamores sociais
muito particulares como eacute o caso do Massacre de Realengo jaacute mencionado anteriormente
Principalmente quando evidenciados eou provocados pela miacutedia (com destaque as
reportagens em canais abertos que atingem a grande massa da populaccedilatildeo) aos viacutedeos
inseridos em plataformas como YOUTUBE e Redes Sociais e que satildeo acessados por uma
parcela significativa da populaccedilatildeo Ao mesmo tempo as ferramentas digitais tambeacutem trazem
maior notoriedade para a difusatildeo do cyberbullying entre pares
Segundo apontam os indicadores do SAFERNET entre as principais violaccedilotildees das
quais os internautas solicitaram ajuda no ano de 2015 atraveacutes do Helpline (canal de
atendimento) estaacute o Cyberbullying com 265 (duzentos e sessenta e cinco) denuacutencias sendo
que 178 (cento e setenta e oito) eram do Brasil O estado de Satildeo Paulo liderou o nuacutemero de
registros com 54 (cinquenta e quatro) Entre os atendidos pelo Helpline ao longo do
funcionamento do serviccedilo de denuacutencia de crimes ciberneacuteticos ajuda e orientaccedilotildees estatildeo
crianccedilas adolescentes pais educadores e outros adultos Com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero
presente nas denuacutencias no ano de 2012 por exemplo foi registrado o contato de 27 mulheres
e 10 homens atraveacutes do nuacutemero das conversas via chat disponiacutevel no portal da Organizaccedilatildeo
(Site SAFERNET)
Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees contra o cyberbullying inerentes ao campo da sauacutede natildeo
identificamos registros de accedilotildees voltadas agrave prevenccedilatildeo do cyberbullying as accedilotildees observadas
ateacute o momento estavam estritamente ligadas aos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo e que
7 Observamos que algumas leis nacionais foram promulgadas nos uacuteltimos anos
43
segundo os achados careciam de capacitaccedilatildeo para realizar tais atividades de cunho
informativo vide as legislaccedilotildees municipais e estaduais que tratam sobre conscientizaccedilatildeo
sobre bullying e cyberbullying Seraacute que o tema tem sido tratado pelos profissionais dos
serviccedilos de sauacutede como CAPSI ndash Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Infantil e pelas equipes de
Programas de Sauacutede Escolar (PSE) Pois se presume que a implantaccedilatildeo do Programa Sauacutede
Escolar tenha sido um ganho para as unidades escolares por propor um trabalho integrativo
entre as redes de Educaccedilatildeo e Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede Tendo em vista que o programa tem
como objetivo avaliar as condiccedilotildees de sauacutede dos estudantes aleacutem do desenvolvimento de
atividades de formaccedilatildeo integral dos estudantes mas seu funcionamento nos municiacutepios eacute
bastante limitado por se tratarem de equipes miacutenimas para um universo de escolas e demandas
de alunos
Desse modo refletimos sobre a necessidade de suporte familiar social educacional e
psicoloacutegico agrave medida que o estado emocional desses indiviacuteduos eacute afetado assustadoramente
atraveacutes desse ato de violecircncia
Entendemos que o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta sob
as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para
aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em repercussotildees praacuteticas e reais seja nas
relaccedilotildees sociais ou na individualidade do sujeito (Dahberg e Krug 2007)
O conceito dado por Pierre Bourdieu (2001) para Violecircncia Simboacutelica traz uma
conotaccedilatildeo coerente com o tipo de violecircncia concebido no ambiente virtual
A violecircncia simboacutelica eacute uma espeacutecie de coerccedilatildeo que se institui por intermeacutedio
da adesatildeo que o dominado [viacutetima] natildeo pode deixar de conceder ao
dominante ou seja dominaccedilatildeo quando dispotildee apenas para pensaacute-lo e para
pensar a si mesmo ou melhor para pensar a relaccedilatildeo com ele de instrumentos
repartidos e que fazem surgir essa relaccedilatildeo com o natural partindo do princiacutepio
de ser a forma incorporada da estrutura da relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo [grifo nosso]
(Bourdieu 2001 p206)
Essa violecircncia eacute conduzida por um indiviacuteduo ou por um grupo que controla o poder
simboacutelico sobre os outros produzindo assim crenccedilas no processo de socializaccedilatildeo induzindo
os dominados a enxergarem e avaliarem o mundo sob as perspectivas e padrotildees estabelecidos
pelos dominantes (Souza 2012) Ou seja aquele que sofre de cyberbullying tem sua imagem
depreciada quer seja pelos xingamentos fotos postadas distorcidas disseminaccedilatildeo de
44
difamaccedilatildeo virtual ao ponto que os dominados dessa relaccedilatildeo de poder podem ser convencidos
de que as informaccedilotildees depreciativas divulgadas sobre ele satildeo de fato reais passando assim a
internalizar tais expressotildees Compreendemos que as relaccedilotildees na internet podem exercer um
poder sobre a vida de seus usuaacuterios e esse manejo utilizado de forma depreciativa por parte de
intimidadoreslsquo tem uma representatividade simboacutelica na vida de crianccedilas e adolescentes e de
todo o contexto em que a violecircncia virtual eacute concebida
A imposiccedilatildeo de significaccedilotildees que a ideia de violecircncia simboacutelica traz contribui para
entendermos o quanto as relaccedilotildees virtuais podem ser assimeacutetricas e desiguais Outro ponto
considerado eacute o fato de que os que satildeo atingidos por essas accedilotildees por vezes natildeo conseguem
inicialmente ponderar os xingamentos como depreciativos de modo que naturalizam tal
questatildeo enquadrando-as como brincadeiras como o exemplo dos apelidos (exemplo baleia
rolha de poccedilo) entre outros De certo modo o que ocorre eacute um poder simboacutelico no que
concerne a relaccedilatildeo entre perpetradores e aqueles que sofrem o cyberbullying Mais uma vez
recorremos a Bourdieu (2001) ao afirmar que o poder simboacutelico eacute representado por esse poder
invisiacutevel que eacute exercido somente a partir da permissividade eou conivecircncia daqueles que
natildeo querem saber que lhes estatildeo sujeitados ou mesmo que o exercem
Com base no arcabouccedilo teoacuterico jaacute utilizado observamos que a violecircncia psicoloacutegica
pode se apresentar em diferentes expressotildees como humilhaccedilatildeo o uso de poder xingamento e
insultos (OMS 2002)
A naturalizaccedilatildeo do cyberbullying pode permitir com que ela se torne uma violecircncia
simboacutelica e ao mesmo tempo velada tanto pelo oprimido quanto pelo opressor que durante o
processo de intimidaccedilatildeo virtual detecircm o poder da ofensa jaacute naturalizada e aceita como a
verdade pelo oprimido
45
Artigo 1
2 CYBERBULLYING CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E
IMPLICACcedilOtildeES Agrave SAUacuteDE (submetido em 28122017 e aprovado em 26032018
na revista Ciecircncia e Sauacutede Coletiva)
RESUMO
O estudo buscou realizar a revisatildeo criacutetica de um conjunto de revisotildees bibliograacuteficas no intuito
de conhecer como o cyberbullying eacute compreendido pela comunidade cientiacutefica como o
fenocircmeno vem sendo conceituado como suas dinacircmicas tecircm sido descritas quais
personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede das pessoas intimidadas e
dos perpetradores A literatura mostrou que natildeo haacute um consenso sobre a conceituaccedilatildeo de
cyberbullying contudo haacute argumentos que defendem sua especificidade e diferenciaccedilatildeo em
relaccedilatildeo ao bullying (pode ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo demarcado
fisicamente pode ser disseminado globalmente o tempo de permanecircncias das postagens
ofensivas eacute indeterminado) Quanto agrave questatildeo de gecircnero associada a essa praacutetica observou-se
um vieacutes reducionista do debate indicando diferenccedilas baseadas numa suposta superioridade
tecnoloacutegica dos meninos Os estudos revisados apontam que tanto as viacutetimas quanto os
46
praticantes de cyberbullying vivenciam experiecircncias negativas em sua sauacutede psicoloacutegica e
comportamental podendo ocorrer inclusive evasatildeo escolar isolamento social depressatildeo
ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio Todavia pouco se problematiza sobre a cultura ciber e como esta
estabelece novas socialidades ndash conhecimento e debate cruciais agrave compreensatildeo do fenocircmeno
Palavra-chave Cyberbullying violecircncia redes sociais ciberespaccedilo sauacutede
ABSTRACT
The study sought to perform a critical review of a set of bibliographical reviews in
order to understand how cyberbullying is understood by the scientific community how the
phenomenon has been conceptualized how its dynamics have been described what characters
are identified and what associations are related to health intimidated persons and perpetrators
The literature has shown that there is no consensus on the concept of cyberbullying but there
are arguments that defend its specificity and differentiation in relation to bullying (it can
occur at any moment and without a physically demarcated space it can be disseminated
globally of the offensive posts is undetermined) As for the gender issue associated with this
practice there was a reductionist bias in the debate indicating differences based on a
supposed technological superiority of the boys The reviewed studies show that both victims
and cyberbullying experience negative experiences in their psychological and behavioral
health including school dropout social isolation depression suicidal ideation and suicide
However there is little question about cyber culture and how it establishes new socialities -
knowledge and debate crucial to understanding the phenomenon
Key-words Cyberbullying violence social networks cyberspace health
INTRODUCcedilAtildeO
O cyberbullying eacute uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se configura como um
―problema social constituindo tema e preocupaccedilatildeo de diversos campos disciplinares aleacutem
de ser representado por alguns autores com uma questatildeo de sauacutede puacuteblica (Brochado Jackson
47
e Cassidy 2006 Carpenter E Hubbard 2014 Nixon 2014 Bottino at al 2015 Yang
Grinshteyn 2016 Brochado Soares e Fraga 2016) As distintas configuraccedilotildees do
Cyberbullying podem ser reconhecidas como atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica
contra crianccedilas e adolescentes perpetrados nas ambiecircncias das redes de sociabilidade digital
podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo circunscrito e demarcado fisicamente
Essa forma de agressatildeo eacute perpetrada por meios eletrocircnicos sejam estes mensagens de textos
fotos aacuteudios ou viacutedeos expressos nas redes sociais ou em jogos em rede transmitidas por
telefone celulares tablets ou computadores e cujo teor tem a intencionalidade de causar dano
agrave outra pessoa de modo repetitivo e hostil conforme Ortega et al apud Brochado Soares e
Fraga (2016)
O cyberbullying tem emergecircncia recente e sua conceituaccedilatildeo ainda em construccedilatildeo abriga
consideraacutevel polissemia em suas definiccedilotildees (Garaigordobil 2011 Torres e Vivas 2012 Della
Ciopa Olsquoneil E Craig 2015) Pesquisas apontam que essa diversidade conceitual por vezes
tem direcionado os estudiosos a usar termos diferentes para se referir ao mesmo conceito ou
usar o mesmo termo com diferentes significados (Tokunaga 2010 Notar 2013 Ybarra et el
Apud Lucas-Molina et al 2016)
Nota-se que a violecircncia tambeacutem se manifesta neste novo espaccedilo o ―ciberespaccedilo ou seja
nesse ―lugar de interaccedilatildeo que se daacute no contexto de uma cultura peculiar conhecida como
cultura ―ciber ou cibercultura Vale pontuar que alguns autores questionam se o conceito de
cibercultura ainda seria vaacutelido dado o borramento das fronteiras considerando que as
relaccedilotildees digitais atravessam de forma onipresente o cotidiano (Roger E Saldado 2016)
O termo sociabilidade cunhado por Mafessoli (2006) faz referecircncia aos haacutebitos costumes
e uma espeacutecie de polidez presente na contemporaneidade A socialidade digital produz um
ethos que gera a necessidade de construir uma imagem social positiva O que eacute postado em
rede a maneira como se eacute visto neste ambiente ou ainda as maacutescaras que satildeo construiacutedas
48
sobre si neste espaccedilo valoram essa teatralidade a partir daquilo que se quer ou se permite que
os outros vejam (Mafessoli 2006) Para crianccedilas e adolescentes que estatildeo em
desenvolvimento essa identidade que se constroacutei pode ser significativamente influenciada a
partir dos padrotildees impostos pela rede A necessidade de ―estar conectado sendo sempre
visto por outros vem sendo aprimorada a cada nova atualizaccedilatildeo que os aplicativos de redes
sociais geram criando e forccedilando novas experiecircncias de compartilhamento para os seus
usuaacuterios digitais Bruno (2013) vai refletir sobre a importacircncia do olhar do outro para
constituir a imagem de si uma imagem engendrada na perspectiva de espetaacuteculo que
contribui para a construccedilatildeo de uma autoestima balizada pela popularidade que se tem nas
redes sociais Observa-se a partir da reflexatildeo de Bruno (2013) que os viacutenculos que se
estabelecem natildeo precisam ser necessariamente fortes para influenciarem as redes sociais Por
vezes aqueles que mais curtem e comentam um conteuacutedo digital satildeo pessoas cujas
vinculaccedilotildees sociais constituem ―laccedilos fracos Outra caracteriacutestica eacute a fluidez dessas relaccedilotildees
pois mesmo modo que novas conexotildees satildeo estabelecidas exclusotildees e bloqueio de pessoas
podem ocorrer sem motivos relevantes (2014)
Ao falar sobre a ―realidade social da virtualidade da internet Castells (2015) afirma que
a internet foi apropriada pela praacutetica social em toda a sua diversidade embora ela tenha
efeitos especiacuteficos sobre tais praacuteticas Aborda como as pessoas se comportam no ambiente
virtual como esperam ser vistas pelos outros Os jovens por exemplo estatildeo nesse processo de
descoberta de identidade de desvendar quem de fato eles satildeo ou gostariam de ser
As relaccedilotildees digitais redefinem dinacircmicas sociais contemporacircneas convocando aos
indiviacuteduos estarem sempre conectados atraveacutes das novas tecnologias independente da
geolocalizaccedilatildeo tempo e do quantitativo de pessoas a quem estatildeo vinculados Traccedilo marcante
da sociabilidade digital eacute a hipervisibilidade (2015) uma exposiccedilatildeo constante e voluntaacuteria dos
fatos e atos cotidianos e iacutentimos O privado passa a ser publicizado a partir dos
49
compartilhamentos realizados neste mundo de informaccedilotildees instantacircneas em tempo real
(2012)
Os jovens ―nativos digitais (2013) estatildeo cada vez mais cedo conectados nas redes sociais
digitais atraveacutes das TICsndash Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Segundo a Pesquisa
Nacional de Amostra por Domiciacutelios ndash PNAD (2015) no Brasil aproximadamente 1021
milhotildees de pessoas de 10 anos ou mais de idade tiveram acesso agrave internet no periacuteodo em que a
pesquisa ocorreu Em 2015 ano da pesquisa com relaccedilatildeo aos grupos etaacuterios observou-se que
os adolescentes de 15 a 17 anos bem como os de 18 e 19 anos de idade apresentaram o maior
iacutendice percentual dentre os usuaacuterios da internet (sendo 82 e 829 respectivamente)
Brunnet et al (2013) apontam um estudo americano que descreve que em meacutedia 93 dos
adolescentes entre 12 e 17 anos acessam a internet e dessa populaccedilatildeo 75 possuem seu
proacuteprio celular
O uso da internet em especial de redes de relacionamentos favorece as praacuteticas de
violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de relacionamentos criaccedilatildeo de falsos
perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo o convite ao suiciacutedio por sites clandestinos ou
comunidades (2011)
Assim o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma
disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre
sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidado (Alim 2016)
Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs horas
diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de Cyberbullying (Arsegravene
Raynaud 2014)
Embora associado ao tema do bullying mais consolidado teoricamente o cyberbullying
tem recebido bastante atenccedilatildeo da comunidade cientiacutefica internacional contudo pouco
estudado no Brasil
50
Diante disso o artigo tem como objetivo analisar as conceituaccedilotildees de Cyberbullying
adotadas pela literatura nacional e internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo
enfocando suas ecircnfases e ―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as
associaccedilotildees que delimitam entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes
MEacuteTODOS
Trata-se de revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo criacutetica (critical review) Essa abordagem
metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um tema revelando fraquezas
contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant MJ Booth 2009) A contribuiccedilatildeo de
uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas discrepacircncias ou aacutereas em
que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel (Paregrave et al 2015)O escopo
analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou estatisticamente representativo Esse
tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos selecionados o que eacute considerado o
seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos
meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo (siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso
anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais positivista (anaacutelise de conteuacutedo)
Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo BVS
Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA (Applied
Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017
Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos (all
fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no Medical
Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying
51
(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos
vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo
Visando reduzir e qualificar mais esse acervo optamos por trabalhar apenas os estudos de
revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no tiacutetulo e
―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de qualquer
natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas modalidades
revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica sistemaacutetica
revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo sistemaacuteticas e
revisatildeo narrativa
Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para
acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em 301
estudos Depois da anaacutelise de cada artigo foram identificados 156 artigos em duplicidade que
natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias (MENDLEY)
como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com traduccedilatildeo de texto
para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou francecircs e quando
houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al
Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com recorte temporal de
publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem sendo difundido na
uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo
O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia dos
autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo (tabela 1) Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus
conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes
categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do
cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede
52
RESULTADOS
Observa-se uma produccedilatildeo crescente no periacuteodo analisado (exceto 2016) com
predominacircncia de artigos americanos (27) O baixo nuacutemero de publicaccedilotildees em 2016 pode
refletir o pouco tempo entre a publicaccedilatildeo e a sua disponibilizaccedilatildeo nas bases de indexaccedilatildeo
pois a busca foi feita no iniacutecio de 2017
Com relaccedilatildeo aos campos da Sauacutede e Educaccedilatildeo natildeo houve diferenccedilas significativas
quanto ao nuacutemero de publicaccedilotildees Sauacutede (26) e Educaccedilatildeo (27) muito menos ao tipo de
abordagem produzida sobre o tema As demais publicaccedilotildees foram consideradas como
multidisciplinarinterdisciplinar As revistas com maior representaccedilatildeo neste acervo foram
Aggression and Violent Behavior (10) seguida da Computers in Human Behavior (5) Assim
tratamos o acervo a partir das especificidades entre os estudos e natildeo de suas aacutereas de origem
Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma
PUBLICACcedilOtildeES 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006
NUacuteMERO DE
PUBLICACcedilOtildeES
8 21 12 11 7 6 1 2 1 2 1
NACIONALIDADE
DO ESTUDO
EUA Reino Unido
Austraacutelia Portugual Belgica
Espanha e Greacutecia
EUA Singapura
Greacutecia Itaacutelia Brasil China
Canadaacute Franccedila
Austraacutelia Reino
Unido e Espanha
Franccedila EUA Itaacutelia
Turkia e Reino Unido
EUA Canadaacute e
Brasil
Sueacutecia Alemanha
Suiacuteccedila Reino Unido EUA e
Colocircmbia
EUA Espanha Meacutexico Austraacutelia
EUA Austraacutelia EUA EUA Canadaacute
IDIOMA Inglecircs (7) e
Espanhol (1)
Inglecircs (18)
Portuguecircs (2) e
Francecircs (1)
Francecircs (1)
Inglecircs (10) e
Portuguecircs (1)
Inglecircs (10) e
Portuguecircs (1)
Inglecircs (6) Espanhol
(1)
Inglecircs (2) e
Espanhol (2)
Inglecircs (1)
Inglecircs (2)
Inglecircs (1)
Inglecircs (2)
Inglecircs (1)
53
Conceituaccedilatildeo
O cyberbullying possui muitas conceituaccedilotildees revelando distintas interpretaccedilotildees adotadas
pela comunidade cientiacutefica Parte dos estudos analisados natildeo construiu uma definiccedilatildeo para o
cyberbullying mas toma de empreacutestimo os conceitos de bullying agressatildeo e asseacutedio jaacute
existentes na literatura (Zych Ortega-Ruiz Del Rey 2015 Remond Ker Romo 2015
Carpenter Hubbart 2014 Sabella Patchim Hinduja 2013 Bailey 2013 Bauman 2013
Stewart Fritsch 2011 Hanewald 2009)
Havia no acervo uma polifonia de definiccedilotildees para o cyberbullying sugerindo que a
comunidade cientiacutefica natildeo produziu um consenso sobre o entendimento da natureza e limites
do fenocircmeno Talvez por ―imaturidade ou como reflexo dessa processualidade visto que as
relaccedilotildees digitais satildeo dinacircmicas e influenciadas pelas novas tecnologias constantemente
incorporadas ao universo ciber Todavia tal polissemia gera uma espeacutecie de inconsistecircncia
nos dados das pesquisas e difiacuteculdades de comparaccedilatildeo entre os estudos (Aboujaoude et al
2013)
As traduccedilotildees de definiccedilotildees propostas em inglecircs e apropriadas por estudos de liacutengua latina
podem tambeacutem variar semanticamente e levar a compreensotildees diferenciadas como no
exemplo dos sentidos entre cyberbullying e acosso digital Estudos alematildees usam o termo
ciber-mobbing Tais termos retraduzidos ao portuguecircs produzem ecircnfases diferenciadas No
caso da traduccedilatildeo de acosso se evidencia o caraacuteter de perseguiccedilatildeo sistemaacutetica caracteriacutestica
natildeo necessariamente presente no fenocircmeno do cyberbullying
Aboujaoude et al (2015) identificaram diferentes designaccedilotildees para o cyberbullying como
cyberstalking agressatildeo on-line asseacutedio ciberneacutetico asseacutedio na Internet bullying na Internet e
54
vitimizaccedilatildeo ciberneacutetica ou cybervitimizaccedilatildeo A natureza hostil do ato e a intenccedilatildeo de causar
sofrimento foram considerados pela maioria dos estudiosos como cruciais para a definiccedilatildeo de
cyberbullying
Como avaliam Smith et al(2012) caracterizar o cyberbullying apenas como uma forma
de ―bullying digital tem sido uma tendecircncia e apoacutes analisarem diversos estudos concluem
que existe um debate sobre o uso de uma definiccedilatildeo generalista (bullying) ou a necessidade de
substituiacute-la por outra mais especiacutefica
Considerando o acervo analisado as principais definiccedilotildees adotadas podem ser divididas
em dois blocos as que reconhecem o cyberbullying como uma (nova) forma de bullying
apontando diferenccedilas e similaridades e as que tratam o cyberbullying como um fenocircmeno de
outra natureza diferente do bullying Analisaremos a seguir os argumentos que tratam das
especificidades que aproximariam e distinguiriam o bullying e o cyberbullying
No primeiro bloco de estudos a maioria do acervo reconhece o cyberbullying como o
bullying por meio digital eou uma variaccedilatildeo do bullying
Dentre os autores que percebem o cyberbullying como uma variaccedilatildeo de bullying alguns
defendem a importacircncia de contextualizar a violecircncia digital e sua expressatildeo nos
comportamentos agressivos (Ang 2015 Castro Schreiber Antunes 2015 Wendt Lisboa
2014 Chibarro 2007) A revisatildeo de Allison e Bussey (2016) apresenta o cyberbullying como
―agressatildeo intencional por meio eletrocircnico que ocorre de vaacuterias formas como insultos
ameaccedilas divulgaccedilatildeo de fotos embaraccedilosas e pode ser perpetrado atraveacutes de diversas miacutedias
sem a necessidade da presenccedila fiacutesica dos envolvidos Os autores se basearam em extensa
literatura de bullying e ao comparaacute-lo ao cyberbullying constataram que satildeo diferentes em
muitos aspectos tais como anonimato maior impacto uma maior audiecircncia de espectadores
individualidade na praacutetica de perpetrar ser dispensaacutevel a presenccedila fiacutesica dos envolvidos e a
55
viacutetima ser atingida em qualquer lugar e a qualquer momento (Kowalski et al 2014 Tanrikulu
2014 Thomas Conor Scott 2014) Para alguns o caraacuteter repetitivo natildeo estaria
necessariamente presente no cyberbullying (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Carpenter
Hubbert 2014 Slonje 2012) pois apenas uma postagem depreciativa leva o conteuacutedo a ficar
permanentemente exposto Jaacute a capacidade de anonimato eacute apontada como a principaluacutenica
diferenccedila entre os dois fenocircmenos (Bailey 2013 Zych Ortega-Ruiz e Allison e Bussy 2016)
Algumas revisotildees (Aboujaoude et al 2015 Ang 2015 Antoniadou Kokkinos 2015
Cantone 2015 Berne et al 2012) revelaram que natildeo haacute consenso se a repeticcedilatildeo das accedilotildees e o
desequiliacutebrio de poder seriam dinacircmicas do cyberbullying mas certamente ocorrem nos casos
do bullying O desequiliacutebrio de poder foi associado diversas vezes como suposta incapacidade
de resposta por parte da pessoa alvo do cyberbullying ou ainda por falta de habilidades
tecnoloacutegicas que permitiriam uma melhor resposta no meio digital Para Faucher Cassidy e
Jackson (2015) esse exerciacutecio de poder estaria associado ao quatildeo vulneraacutevel estatildeo os
conteuacutedos privados da pessoa alvo ou ainda por divulgar tais informaccedilotildees sem levar em conta
as consequecircncias de uma exposiccedilatildeo nas redes sociais (Suzuki et al 2012)
Em relaccedilatildeo agraves similaridades grande parte dos estudos aponta o caraacuteter de repeticcedilatildeo o uso
das palavras ferinas o desequiliacutebrio de poder e o dano intencional (Yang Grinshteyn 2016
El Asam Samara 2016 Baldry Farrington Sorrentino 2015 Della Cioppa OlsquoNeil Craig
2015 Chan H C Wong 2015 Cantone 2015 Chisholm 2014 Wingate Minney
Guadagno 2013 Nosworthy Rinaldi 2013 Burnett Yozwiak Omar 2013 Bailey 2013
Von Mareacutees N Pettermann 2012 Garciacutea-Maldonado Joffre-Velaacutezquez Martiacutenez-Salazar
2011 Mason 2008 Chibarro 2007) Thomas et al (2015) afirmam que os ataques de
bullying e de cyberbullying satildeo mais parecidos que diferentes e muitas vezes co-ocorrem
Para Yang e Grinshteyn (2016) o fechamento de uma acepccedilatildeo conceitual natildeo seria
beneacutefico pois uma definiccedilatildeo delimitada e concisa poderia excluir grande quantidade de
56
comportamentos potencialmente nocivos Aleacutem disso uma definiccedilatildeo que inclui elementos
descritivos da praacutetica de cyberbullying especificando certos tipos de dispositivos eletrocircnicos
com o passar do tempo pode se tornar obsoleta apoacutes o lanccedilamento de novas tecnologias
No segundo bloco estatildeo os autores que afirmam que cyberbullying eacute uma nova forma de
agressatildeo que apresenta diferenccedilas significativas em relaccedilatildeo ao bullying todavia muitos deles
natildeo se dedicaram a produzir uma teoria ou definiccedilatildeo especiacutefica (Brochado S Soares S
Fraga 2016 Chan Wong 2015 Chisholm 2014 Baek Bullock 2013 Cassidy Faucher et
al 2014 Jackson 2013)
Considerando a argumentaccedilatildeo sobre a natureza ineacutedita do fenocircmeno aponta-se o papel da
audiecircncia no contexto da perpetraccedilatildeo (Smith 2015 Baek e Bullock 2014) A audiecircncia do
cyberbullying eacute concedida em larga escala pelas plataformas digitais propagando esse
conteuacutedo depreciativo para milhares de pessoas tanto no ato da transmissatildeo da mensagem
viacutedeo ao vivo ou em outro momento aleacutem da possibilidade de baixar o conteuacutedo para acesso
offline Logo a capacidade exponencial de compartilhamento desse conteuacutedo natildeo pode ser
dimensionada pelo perpetrador e mesmo que a intenccedilatildeo de propagaccedilatildeo do conteuacutedo seja para
um grupo menor de pessoas o intimidador passa a natildeo ter mais domiacutenio sobre esse conteuacutedo
Quanto mais vizualizado eou compartilhado a audiecircncia aumenta significativamente
diferente do bullying cuja audiecircncia eacute limitada ao puacuteblico que estava presente no momento
do ataque No caso bullying mesmo que a cada novo ataque o grupo de espectadores cresccedila
natildeo se compara ao nuacutemero de pessoas que teratildeo acesso a um conteuacutedo hostil na internet
Brown Jackson e Cassidy (2006) alertam que o ambiente virtual favorece a desinibiccedilatildeo
mencionando o caso de pessoas que sofrem com o bullying e que utilizam a internet para se
vingar daquele que praticou tal bullying jaacute que a internet lhes oferta a possibilidade de
anonitamato atraveacutes de identidade alternativa (uso de perfis falsos) para assediar Deste modo
57
em alguns casos quem sofre bullying pode ser um perpetrador de cyberbullying contra seu
algoz de bullying face a face principalmente quando essa― revanche natildeo seria possiacutevel
acontecer como entre sujeitos com diferenccedila de padrotildees fiacutesicos
Cabe mencionar que parte dos estudos corrobora acerca de suposta inconsistecircncia nas
definiccedilotildees encontradas na literatura (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Zych Ortega-Ruiz
Del Rey 2015) e que falta consenso entre os estudiosos que investigam o tema seja com
relaccedilatildeo agraves conceituaccedilotildees e termos ou sobre os aspectos de semelhanccedila e diferenccedila entre o
cyberbullying e bullying Conforme esse arcabouccedilo teoacuterico se expande eacute provaacutevel que novas
discordacircncias cientiacuteficas perpassem por esse campo em construccedilatildeo
Descriccedilotildees das dinacircmicas
As dinacircmicas de cyberbullying dependem das accedilotildees e representaccedilotildees de cada pessoa
envolvida nesse ciacuterculo de violecircncia Neste cenaacuterio atuam os perpetradores ndash os que praticam
a violecircncia os acometidos (chamados de viacutetimas) os espectadores (aqueles que assistem e
compartilham o conteuacutedo que viola outrem) os educadores e pais que por vezes satildeo os
uacuteltimos a tomar conhecimento do abuso
Houve diferenccedilas significativas sobre as descriccedilotildees das dinacircmicas do cyberbullying e os
motivos provaacuteveis estariam associados ao periacuteodo em que os estudos foram publicados pois
algumas formas de cyberbullying ainda natildeo eram reconhecidas anteriormente e os tipos de
dispositivos tecnoloacutegicos e as formas de conversaccedilatildeocomunicaccedilatildeo e compartilhamento de
conteuacutedo online disponiacuteveis tambeacutem mudaram rapidamente Haacute algum tempo o e-mail e as
58
mensagens de texto eram as formas mais disseminadas atualmente as interaccedilotildees atraveacutes das
redes sociais ganharam maior espaccedilo entre os jovens (transmissatildeo ao vivo viacutedeos chamadas
compartilhamentos em massa jogos online em grupo etc)
Destacam-se quatro estudos que exemplificam as dinacircmicas de cyberbullying Julia
Wilkins et al (20120 descrevem fundamentados no texto que institui o Programa Anti-
Bullying de Londres sete tipos de cyberbullying e Suzuki et al (2012) tambeacutem identificam as
mesmas modalidades a seguir compiladas 1 Por mensagem de texto - enviada via telefone
celular com a intenccedilatildeo de causar desconforto e ameaccedila 2 Imagemvideo-clipe - quando as
imagens das viacutetimas satildeo enviandas para outras pessoas no intuacuteito de ameaccedilar ou constranger
3 Intimidaccedilatildeo por chamada telefocircnica - por meio de chamadas silenciosas ou por mensagens
abusivas ou quando o celular da viacutetima eacute roubado e usado para perseguir outros culpando o
proprietaacuterio do telefone 4 intimidaccedilatildeo por e-mail quando satildeo enviados conteuacutedos muitas
vezes usando um pseudocircnimo ou o nome de outra pessoa para fazer com que essa pessoa se
pareccedila com o perpetrador (modalidade desatualizada) 5 chat room bullying - respostas
agressivas e intimidadoras em sala de bate papos (tambeacutem mais desatualizada) 6 intimidaccedilatildeo
atraveacutes de mensagens instantacircneas 7 bullying atraveacutes de websites ndash com uso de blogs
difamatoacuterios sites pessoais sites de pesquisa pessoais online e sites de redes sociais (por
exemplo MySpace) aleacutem da criaccedilatildeo de foacuteruns
Entre as dinacircmicas do cyberbullyng destacadas na literatura estariam ―namecalling
(apelidar algueacutem de modo rude) propagaccedilatildeo de rumores ―flamings (discussotildees calorosas
online) ameaccedilas fingir ser outra pessoa online (fakenames) envio de fotos indesejadas ou
mensagens de texto (sexting) postar eou compartilhar imagens e viacutedeos com conteuacutedo
iacutentimo de outra pessoa sem consentimento desta (Carpenter Hubbard 2014) excluir uma
pessoa de um circulo social online de forma intencional (Bailey 2013) Aleacutem das redes
59
sociais o cyberbulling tambeacutem se manifestaria em jogos MMOGs - jogos onlines com
muacuteltiplos jogadores (multiplayers games) um jogador poderoso pode ―trollar (zombar
humilhar) algueacutem roubando itens do jogo como recompensas invadindo a conta formar
gangues e bloquear pessoas em uma rede social fazendo piadas com a imagem de uma pessoa
e controlando remotamente a cacircmeracomputador de uma pessoa sem o consentimento desta
(Chisholm 2014)
A revisatildeo de Kowalski et al (2014) ratifica as formas jaacute mencionadas e reconhece outras
formas de perpetraccedilatildeo entre elas harassament (envio de mensagens repetitivas e com
conteuacutedo ofensivo) bloqueio online solicitar informaccedilatildeo online de conteuacutedo pessoal e
posteriormente compartilhar a terceiros sem consentimento cyber-stalking (usar comunicaccedilatildeo
eletrocircnica para perseguir outra pessoa) e postar informaccedilatildeo inapropriada ou de cunho
depreciativo se passando por outra pessoa
Mehari Farell Le (2014) refletem que os comportamentos agressivos nas relaccedilotildees
sociais na internet tecircm baixo controle social e satildeo menos recriminados se comparados aos
perpetrados nas relaccedilotildees face a face Outro aspecto apontado na revisatildeo de Mehari et al
(2014) eacute a falta ou escassez de indiacutecios verbais que aumentaria a probabilidade de
desentendimentos e interpretaccedilotildees errocircneas Assim o que um jovem pretende como uma
brincadeira interaccedilatildeo amigaacutevel pode rapidamente tornar-se uma interaccedilatildeo mutuamente
agressiva se a outra pessoa interpreta o comentaacuterio como um insulto ou uma ameaccedila A falta
de sugestotildees natildeo verbais tambeacutem pode reduzir a empatia que serve como um controle natural
do comportamento dos adolescentes
Arsene e Raynaud (2014) destacam que o cyberbullying que ocorre por meios visuais
(foto ou viacutedeo) eacute mais prejudicial e mais negativo do que os que envolvem mensagens por
(SMS) e de texto na Internet As consequecircncias seriam mais graves as viacutetimas mais afetadas
60
do que em outras formas de cyberbullying e o risco de sofrimento psicossocial teria maior
potencial Na revisatildeo desses autores (2014) as fotos ou videoclipes tiveram impacto mais
negativo do que no asseacutedio tradicional (interpetrado como bullying)
Os personagens envolvidos
Os principais personagens do cyberbullying satildeo os praticantes e as pessoas escolhidas como
alvo (as denominadas viacutetimas) Poucos estudos como os Allison e Bulsey (2016) e Desmet et
al (2016) analisaram a figura dos espectadores (testemunhas) e seu papel na manutenccedilatildeo do
ciclo de violecircncia e propagaccedilatildeo do cyberbullying Allison e Bulsey (2016) identificaram quais
os fatores que influenciam as respostas das testemunhas aos atos de cyberbullying
Concluiram que os espectadores satildeo importantes no cyberbullying pois eles tem ―o pontecial
de alterar a situaccedilatildeo ao intervir mas a maioria das testemunhas permanece passiva (pg183)
Outro estudo indica que os espectadores seriam capazes de determinar qual o potencial de
extensatildeo que um episoacutedio de cyberbullying pode ter ao compartilhar curtir comentar um ato
de violecircncia nestes moldes Runions Bak (2015)
Haacute divergecircncia na literatura analisada com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que perpassa o
cyberbullying A maioria reduz o debate agrave variaacutevel ―sexo buscando saber se meninos ou
meninas satildeo os maiores viacutetimas ou agressoras ou quais deles sofreriam mais as
consequecircncias do cyberbullying (Bauman 2013 Baldry Farringtone Sorrentino 2015)
Bauman et al (2013) identificaram na literatura casos de pessoas do sexo masculino que ao
mesmo tempo que eram praticantes de cyberbullying e de bullying Para outros estudos
pessoas do sexo feminino estariam mais envolvidas em cyberbullying e os meninos em
situaccedilotildees de bullying8 Isso sem considerar a orientaccedilatildeo sexual desses indiviacuteduos ou sua
8 A literatura apresenta recorrente associaccedilatildeo entre cyberbullying e bullying
61
posiccedilatildeo de gecircnero Bailey (2013) alega haver dissenso sobre os rapazes serem os maiores
causadores de cyberbullying
Por outro lado muitos autores acabam por reforccedilar estereoacutetipos de gecircnero de forma
acriacutetica No estudo Dooley Pyżalski Cross (2009) as garotas teriam maior interesse com a
aparecircncia sauacutede enquanto garotos estariam mais implicados com jogos on-line Tal texto
reproduz uma leitura de gecircnero onde meninas tendem a ter laccedilos de amizades mais intensos
compartilhando conteuacutedos iacutentimos e segredos pessoais principalmente atraveacutes de mensagens
de texto jaacute meninos socializam nas redes sociais em maiores grupos e compartilham menos
detalhes pessoais Chibbaro (2007) destaca estudo que afirma que a maioria (53) das
meninas sofreu cyberbullying de conhecidos como colega da escola seguido de amigo e em
um nuacutemero menor o irmatildeo foi o causador do ato Alim (2016) baseado no site
NoBullyingcom afirma que as meninas satildeo duas vezes mais causadoras de Cyberbullying do
que os meninos porque meninos seriam mais agressivos em termos fiacutesicos enquanto que
meninas tendem a ser mais ―silenciosas quando querem atingir algueacutem por vezes quando
intimidam o fazem em seacuterie Na mesma linha sexista estudos como de Chan e Wong (2015)
alegam que garotos satildeo os maiores perpetradores por serem mais haacutebeis no uso de tecnologias
do que as garotas
Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem houve dissenso A maior incidecircncia estaacute entre os
adolescentes e os casos diminuem na fase universitaacuteria (Antoniadou Kokkinos 2015)
Segundo Suzuky et al (2014) as meninas seriam as maiores acometidas poreacutem entre 15 e 17
anos a incidecircncia eacute muito maior do que entre jovens de 12 e 14 anos Para Hamn et Al (2015)
o fator idade natildeo eacute determinante para ser alvo de Cybebullying
Para Alim (2016) haveria um recorte de condiccedilatildeo social pois os que mais sofreriam
seriam pessoas oriundas dos estratos de baixa renda
62
Da mesma forma natildeo haacute uma concordacircncia na literatura sobre o recorte eacutetnicoracial
Estudantes brancos satildeo considerados maiores perpetradores do que outras categorias eacutetnicas
(Ham et al 2015 Peterson M B Peterson 2014) O estudo de Peterson e Peterson (2014)
foi o uacutenico que objetivou examinar possiacuteveis ligaccedilotildees entre comportamentos de ciberbullying
e grupos eacutetnicos especiacuteficos Essa lacuna parece evidenciar que se desconsidera que a
discriminaccedilatildeo por etniacor da pele pode gerar experiecircncias de cyberbullying Para Peterson e
Peterson (2014) alguns aspectos precisam ser analisados tais como o perfil populacional das
pessoas que utilizam TICs a escassez de estudos que analisam especificamente o quesito
raccedilacor bem como o territoacuterio em que esses estudos estatildeo sendo produzidos e onde esses
dados de amostras estatildeo sendo coletas
Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos
As psicopatologias estatildeo entre as principais implicaccedilotildees agrave sauacutede dos envolvidos nas
praacuteticas de cyberbullying (Reed et al 2016 Foody Samara Calbring 2015 Arsegravene
Raynaud 2014 Pearce 2011)
Os principais agravos listados para os que sofrem foram insocircnia depressatildeo baixo
rendimento escolar ou baixa concentraccedilatildeo (Couvillon Illieva 2011) Jaacute Burnett Yozwiak e
Omar (2013) apresentam estudos que afirmam que pessoas que sofrem Cyberbullying tem
menos horas de sono e menos apetite do que pessoas que sofreram outras formas de violecircncia
Bailey31
ao analisar a Child Behavior Checklist (CBC) inclusa em um dos estudos verificados
indicou que aqueles assediados por conhecidos tambeacutem eram mais propensos a relatar
maiores conflitos com os pais casos de abuso fiacutesico ou sexual vitimizaccedilatildeo interpessoal off-
line e comportamento agressivo aleacutem de outros problemas sociais (pg 2)
63
Aquele que eacute intimidado com cyberbullying teria aproximadamente oito vezes mais
chances de levar uma arma para escola do que outros estudantes que natildeo tiveram essa
experiecircncia (Burnett Yozwiak Omar 2013) Grande parte dos estudos considera ainda que o
cyberbullying estaacute associado agrave depressatildeo uso de drogas ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio estresse
solidatildeo e ansiedade (El Asam Samara 2016 Hinduja S Patchin 2011 Gini G Espelage
2014) com consequecircncias psiquiaacutetricas que afetam a sauacutede mental e o desenvolvimento
escolar (Carpenter Hubbard 2014) principalmente dos adolescentes que satildeo alvo A busca
por experiecircncias de risco ―viacutecio no uso de internet solidatildeo e o suiciacutedio satildeo alguns dos
fatores psicoloacutegicos para ambos os personagens (viacutetimas e agressores) sendo que para os que
praticam os fatores estariam interligados entre si (Alim 2016) Natildeo encontramos subsiacutedios
que fundamente os impactos da sauacutede dos espectadores
DISCUSSAtildeO
A escassez de estudos que refletem sobre a contextualizaccedilatildeo do cyberbullying na
cibercultura (Stylios et al 2016 Roger e Salgado 2016 Castro Schreiber Antunes 2015
Nocentini Zambuto e Menesini 2015) e nos seus modos de socialidade foi o aspecto mais
marcante nesta revisatildeo de revisotildees Como discutir um fenocircmeno sem relacionar ao seu
contexto sociocultural de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo Eacute preciso reconhecer que a juventude que
vivencia o cyberbullying eacute em boa parte ―nativa digital implicando o domiacutenio de
comportamentos e gramaacuteticas proacuteprias aleacutem desse espaccedilo de convivecircncia ser estrateacutegico agraves
afirmaccedilotildees identitaacuteria desse segmento (Brown Jackson E Cassydy 2006 Wendt e Lisboa
2014)
Percebe-se que apesar da redundacircncia conceitual houve um avanccedilo expressivo na
busca por aprofundar as especificidades caracteriacutesticas do Cyberbullying Salienta-se ainda a
64
peculiaridade no cyberbullying da expansatildeo exponencial do puacuteblico de expectadores no que
tange agrave disseminaccedilatildeo do conteuacutedo ofensivo e por tempo indeterminado - elementos que
desafiam o trabalho de promoccedilatildeo de resiliecircncia aos que sofreram tais praacuteticas Uma pessoa
pode ser estigmatizada por um longo periacuteodo agrave medida que esse conteuacutedo natildeo pode ser
apagado facilmente como nos casos de sexting em que o conteuacutedo fica disponiacutevel em
buscadores associados ao nome da pessoa que sofreu a violecircncia Uma vez que o
Cyberbullying pode ocorrer em qualquer tempo e territoacuterio e se dispotildee de mecanismos de
ocultaccedilatildeo de conteuacutedos e torna mais difiacutecil a detecccedilatildeo preacutevia por parte dos adultos e
responsaacutevies
Em relaccedilatildeo aos aspectos de gecircnero destacamos a revisatildeo de Chan e Wong (2015) que
analisou as taxas de prevalecircncia de bullying e cyberbullying a respeito das caracteriacutesticas dos
praticantes e intimidados e em que circunstacircncias a accedilotildees eram descritas na China Taiwan
Hong Kong e Macau Percebemos um discurso sexista9 quando os autores fazem um recorte
de gecircnero em sua anaacutelise e como exemplos mencionam no estudo que em Taiwan um dos
fatos de meninos serem os maiores intimidadores se justificaria por uma maior habilidade no
uso de tecnologias Apesar da questatildeo cultural ser evidente favorece a interpretaccedilotildees de que
as adolescentes do sexo feminino natildeo teriam habilidades com tecnologias se comparada aos
adolescentes do sexo masculino natildeo refletindo sobre o tipo de acesso que as meninas
possuem aos meios tecnoloacutegicos culturais e educacionais em paiacuteses onde o homem eacute
considerado superior Outro registro sexista aparece no estudo de Chisholm (2014) que
defende que meninas tendem a se envolver em agressatildeo indireta social e relacional como no
cyberbullying para excluir pessoas em redes sociais e espalhar rumores A natureza
9 Um discurso sexista declara em seu posicionamento que determinado papel eou estereoacutetipo de gecircnero ou sexo
eacute superior que o outro Pode ser inclusive configurado como preconceito e discriminaccedilatildeo com base nesses
marcadores sociais (sexo ou gecircnero)
65
―competitiva das mulheres foi um aspecto destacado por Wingate (2013) ao corroborar a
ideia que as garotas estariam mais envolvidas com praacuteticas de cyberbullying relacionais
Por fim notamos tambeacutem que eacute consensual o reconhecimento de impactos na sauacutede
psiacutequica e no cotidiano escolar dos intimidados e apenas um pequeno grupo reconhece que
existem impactos entre os intimidadores No contexto da Sauacutede o tema ainda eacute recente e
pouco disseminado anunciando um longo percurso a ser percorrido no sentido de sua
compreensatildeo e de posicionamento do campo Jaacute no contexto da Educaccedilatildeo o tema comeccedilou a
ser discutido anteriormente o que pode ser atribuiacutedo agrave recorrente correlaccedilatildeo com o bullying
que perpassa o cotidiano da escola
Artigo 2
4CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA O CAMPO
DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE LITERATURA (natildeo submetido)
RESUMO
O presente estudo propotildee uma revisatildeo criacutetica de estudos sobre o cyberbullying com recorte
temporal entre os anos de 2006 e 2016 Os objetivos deste estudo foram analisar as propostas
de enfrentamento sugeridas para os setores da sauacutede e educaccedilatildeo (atores implicados e
estrateacutegias sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de
enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno Os resultados foram discutidos com base na anaacutelise
de discurso criacutetica proposta por Norman Fairclough Identificou-se na literatura revisada uma
maioria de accedilotildees baseadas na proposta de monitoramento e controle parental e escolar
discursos que propotildee praacuteticas no intuito de gerar uma mudanccedila no comportamento dos
66
indiviacuteduos envolvidos com o cyberbullying e propostas que expressam forte
intertextualidade manifesta do saber meacutedico
Palavra-chave Cyberbullying violecircncia intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo sauacutede e educaccedilatildeo
ABSTRACT
The present study proposes a critical review of studies on cyberbullying with temporal cut
between 2006 and 2016 The objectives of this study are to analyze the proposed proposals
for sectors of Health and Education (implicated actors and suggested strategies) and analyze
the discourses on prevention accountability coping methods and dynamics of the
phenomenon The results were discussed on the basis of critical discourse analysis proposed
by Norman Fairclough It was identified in the reviewed literature a majority of actions
based on the parental and school monitoring and control proposal discourses that proposes
actions aimed at changing the social behavior of individuals involved with cyberbullying and
proposals that express a strong intertextuality of medical knowledge
Key-words Cyberbullying violence intervention prevention health and education
INTRODUCcedilAtildeO
A virtualizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais trouxe profunda transformaccedilatildeo para a
sociabilidade contemporacircnea permitindo que novos espaccedilos de trocas de informaccedilotildees e que
relaccedilotildees comerciais esteacuteticas e afetivo-sexuais fossem constituiacutedas a partir das tecnologias de
comunicaccedilatildeo digital (Castells 2003) No ciberespaccedilo esse novo espaccedilo de interaccedilatildeo os
viacutenculos sociais se estabelecem atraveacutes da internet ganhando assim nova capilaridade As
redes sociais e outros modelos de conexotildees surgem com uma identidade proacutepria que
legitimam uma cultura peculiar a cibercultura ou cultura digital (Levy 2010) Entretanto
para alguns autores o conceito de cibercultura poderaacute cair em desuso visto que as relaccedilotildees
digitais possuem total interface com o cotidiano dos sujeitos sociais (Roger e Salgado 2016)
Martino (2015) ao tratar das caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais afirma que na
cultura digital os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos estabelecidos
conforme a necessidade de um momento e a seguir desmanchados As relaccedilotildees digitais
permitem a disseminaccedilatildeo imediata e sem fronteiras geograacuteficas de informaccedilotildees e saberes de
apoio aleacutem de permitir trocas diversas (afetivas comerciais intelectuais) de favorecer ao
67
associativismo e possibilitar a organizaccedilatildeo de grupos em torno de vivecircncias comuns agendas
e pautas de atuaccedilatildeo (Lemos 2015) Todavia pode contribuir tambeacutem para que praacuteticas de
violecircncia sejam produzidas e disseminadas no ambiente virtual
O Cyberbullying representa uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se manifesta
atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica entre pares nas ambiecircncias das redes de
socialidade digital que podem ocorrer em qualquer espaccedilo geograacutefico Eacute considerado por
diferentes estudiosos como um problema de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede emocional de
crianccedilas e adolescentes (Brown Jackson e Cassidy 2006 Carpenter e Hubbard 2014 Nixon
2014 Bottiono et al 2015 Yang 2016)
Partimos do entendimento que o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se
apresenta sob as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode
repercutir para aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em consequecircncias praacuteticas e
reais no cotidiano e individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)
O cyberbullying se configura ainda como um tipo de representaccedilatildeo e praacutetica social no
ambiente virtual (traduzido no Brasil como Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica) Tal traduccedilatildeo brasileira
ocorreu a partir da Lei 1318515 (BRASIL 2015) que estabeleceu o Programa Nacional de
combate agraves formas de Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica entre elas a que ocorre na rede mundial de
computadores
O tema cyberbullying vem sendo discutido de forma ampliada pela literatura
internacional ao longo das uacuteltimas deacutecadas (Garaigordobil 2011 Torres e Marcieles 2012
Della Ciopa et al 2015) Embora geralmente associada ao tema Bullying (possuidor de um
arcabouccedilo teoacuterico consolidado) a temaacutetica vem ganhando lentamente espaccedilo na literatura
cientiacutefica brasileira O fenocircmeno do Cyberbullying tem tido destaque nas miacutedias
especialmente em casos cujas repercussotildees satildeo de extrema violecircncia como os assassinatos em
seacuterie eou suiciacutedio Todavia haveria uma desconexatildeo significativa entre o que o puacuteblico
precisa saber e o que eacute realmente conhecido sobre o fenocircmeno cyberbullying (Carpenter e
Hubbard 2014)
Muitos programas e propostas de intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo surgiram nos uacuteltimos anos
mas estudos que analisam o conjunto dessas propostas ainda satildeo escassos Segundo Wendt e
Lisboa (2014) ―se faz urgente e necessaacuteria uma maior compreensatildeo acerca desse fenocircmeno
para que seja possiacutevel o desenho de accedilotildees preventivas e interventivas eficazes (pag42)
68
Este estudo pretende portanto analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela
comunidade cientiacutefica sobre as propostas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo de cyberbullying a
serem aplicadas no campo da Sauacutede e da Educaccedilatildeo
Os objetivos propostos para este trabalho foram analisar as propostas de
enfrentamento sugeridas para os setores da Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores implicados e estrateacutegias
sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo e modos de
enfrentamento Partindo desse recorte analiacutetico tratamos das seguintes questotildees
investigativas Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees
propostos pela literatura sobre cyberbullying Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a
questatildeo da sociabilidade virtual juvenil Qual o papel dos educadores diante de casos de
cyberbullying Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullying O que
fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying
METODOLOGIA
Como meacutetodo investigativo optou-se por uma revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo
criacutetica (critical review) Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a
literatura sobre um tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias
(Grant 2014) Uma revisatildeo criacutetica tem sua relevacircncia por sua capacidade de destacar
problemas discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute
confiaacutevel (Paregrave et al 2015) Assim como as revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem
adotar diferentes meacutetodos de anaacutelise sejam com vieacutes interpertativo como nos casos das
siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica ou ateacute mesmo os de recorte mais
positivista como a anaacutelise de conteuacutedo em sua vertente quantitativa
Foram consultadas sete bases internacionais - Scielo BVS Scopus PubMed
American Psychological Association Eric e Applied Social Sciences Index and Abstracts-
durante o mecircs de fevereiro do ano de 2017
Inicialmente iriacuteamos realizar uma revisatildeo do tipo integrativa todavia durante a busca
inicial aplicamos o termo cyberbullying em todos os campos (all fields) e obtivemos o
resultado de 7785 artigos Durante o levantamento de dados buscamos pelo termo
―cyberbullying atraveacutes do Medical Subject Headings (MeSH) e constatamos apenas a
presenccedila do termo bullying (httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying)
Verificou-se assim que o tema cyberbullying era tratado como subitem ou tema secundaacuterio
69
em estudos sobre o bullying O que pode estar ligado ainda agrave ideacuteia de que bullying e
cyberbullying seriam o mesmo fenocircmeno poreacutem ocorrendo em ambientes diferentes Assim
com a primeira busca usando o descritor cyberbullying em todos os campos surgiram 7785
artigos
No intuito de recortar e permitir maior aprofundamento analiacutetico do acervo optou-se
por trabalhar apenas com estudos de revisatildeo Foram selecionados apenas estudos cujo termo
―cyberbullying estava no tiacutetulo e ―revisatildeo presente em todos os campos Aplicaram-se ainda
criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para acesso livre
acervo cinza dissertaccedilotildees monografias - o que resultou em 301 artigos Posteriormente
foram identificados 156 artigos em duplicidade que natildeo haviam sido contabilizados pelo
gerenciador de referecircncia MENDLEY por limitaccedilatildeo do programa Entre essas duplicidades
natildeo identificadas pelo programa encontraram-se estudos registrados em escrita por caixa alta
eou por traduccedilatildeo de texto para o idioma inglecircs nos casos em que o estudo original era em
outro idioma como espanhol ou francecircs ou quando havia subtraccedilatildeo de algum dos autores
tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al Foi gerado um acervo de 145
artigos e um novo refinamento estabeleceu um recorte temporal visando analisar apenas
publicaccedilotildees datadas dos anos de 2006 ateacute 2016 de modo a apreender como o tema veio sendo
discutido ao longo da uacuteltima deacutecada resultando em 72 artigos de revisatildeo Desse nuacutemero
apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo este o acervo analisado nesta obra
Migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias ZOTERO por ser um programa open
sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em
portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos salvos nos mais distintos
formatos
Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de
praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos
discursos adotados nos estudos analisados Assim analisamos quais accedilotildees estatildeo sendo
propostas partir dos discursos construiacutedos O modelo proposto por Fairclough para a Anaacutelise
do Discurso Criacutetica (ADC) demanda analisar o que o autor denomina de concepccedilatildeo
tridimensional pois propotildee examinar a praacutetica social dos discursos a praacutetica discursiva
presente no estudo e a proacutepria conformaccedilatildeo do texto
A anaacutelise da praacutetica discursiva segundo Fairclough (2001) permite explicar como os
discursos satildeo produzidos distribuiacutedos consumidos e interpretados explorando assim as
70
possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva inclui categorias analiacuteticas como a forccedila
coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos
de fala que o texto realiza (o que o texto evoca) a coerecircncia trata do sentido que o texto
possui (para quem faz sentido qual a loacutegica das marcaccedilotildees e conexotildees) a intertextualidade ―eacute
basicamente a propriedade que tecircm os textos de serem cheios de fragmentos de outros textos
permitindo reconstituir as influecircncias daquele discurso (Fairclough 2001) A categoria
intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta
aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de
textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que Fairclough vai chamar de
interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A
praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto Tratar a dimensatildeo do
discurso como praacutetica social implica reconhecer a produccedilatildeo de efeitos ideoloacutegicos e
hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees
econocircmica cultural e ideoloacutegica Satildeo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo de
identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas de
crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente
Nessa perspectiva todo o discurso possui uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir
uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma
determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir
modos de ver e se portar numa dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de
relaccedilotildees sociais
Nossa anaacutelise focou nas dimensotildees textuais (gramaacutetica e figuras de linguagem) e
categorias da praacutetica discursiva com enfoque na intertextualidade (manifesta e constitutiva)
Buscamos analisar o que os textos tecircm evocado a partir dos conceitos estabelecidos ou
ratificados pela comunidade cientiacutefica cuja escrita exerce um poder que influi na praacutetica
social
CARACTERIZACcedilAtildeO DO ACERVO
Cada texto foi lido integralmente e os temas de interesse do estudo (estrateacutegias de
prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo) foram identificados comparados e
interpretados
71
Como pode ser visto no quadro 1 os EUA foi o paiacutes que mais publicou estudos sobre o tema
e o que possui o maior nuacutemero de revistas cientiacuteficas que abordou o assunto no periacuteodo
analisado O que demonstra um maior investimento na produccedilatildeo cientiacutefica dos EUA e a
relevacircncia do tema para a comunidade cientiacutefica do paiacutes supracitado A Agression and Violent
Behavior foi a revista estadunidense que mais publicou sobre o tema (8) seguida da
Computers in Human Behavior (5) do Reino Unido - ambas revistas classificadas como
intermultiprofissionais A revista Preventing School Failure Alternative Education for
Children and Youth do setor educaccedilatildeo publicou trecircs artigos e do setor sauacutede a revista alematilde
International Journal of Adolescent Medicine and Health teve duas publicaccedilotildees
Quadro 4 ndash Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de
Cyberbullying (2010-2016)
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
1 Canadian Journal of
Educational
Administration and
Policy
1
Educaccedilatildeo
Canadaacute
2 Journal of Child and
Adolescent
Psychiatric Nursing
1 Sauacutede EUA
3 Adolescent Health
Medicine and
Therapeutics Journal
1 Sauacutede Reino Unido
4 World Medical amp
Health Policy
1 Sauacutede EUA
5 International Journal
of Psychology and
1 Sauacutede Espanha
72
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
Psychological
Therapy
6 Psicologiacutea desde el
Caribe
1 Psicologia Colombia
7 Agression and
Violent Behavior
08 Intermultidisciplar EUA
8 Computers in
Human Behavior
5 Intermultidisciplar Reino Unido
9 International Journal
of Adolescent
Medicine and Health
2 Sauacutede Alemanha
10 International Journal
of Cyber Behavior
Psychology and
Learning
1 Intermultidisciplar EUA
11 Neuropsychiatrie de
llsquoEnfance et de
llsquoAdolescence
1 Sauacutede Franccedila
12 Australian
Education
Computing
1 Educaccedilatildeo Austraacutelia
13 Current Issues in
Middle Level
Education (CIMLE)
1 Educaccedilatildeo EUA
14 Journal Theory Into
Practice
1 Educaccedilatildeo EUA
15 Journal of
Adolescent Health
1 Sauacutede EUA
73
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
16 Journal of Research
in Special
Educational Needs
1 Educaccedilatildeo Gratilde Bretanha
17 Temas em
Psicologia
1 Sauacutede Brasil
18 Boletim Academia
Paulista de
Psicologia
1 Sauacutede Brasil
19 Children and Youth
Services Review
1 Intermultidisciplar EUA
20 Psychological
Bulletin
1 Sauacutede EUA
21 International Journal
of Adolescence and
Youth
1 Intermultidisciplar Reino Unido
22 Clinical Practice amp
Epidemiology in
Mental Health
1 Sauacutede Emirados Aacuterabes Unidos
23 Journal of Education
and Training Studies
1 Educaccedilatildeo EUA
24 Social Influence
Journal
1 Intermultidisciplar Reino Unido
25 Journal of
Information Systems
Education
1 Educaccedilatildeo EUA
26 Professional School
Counseling Journal
1 Educaccedilatildeo EUA
27 School Psychology 1 Educaccedilatildeo EUA
74
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
International
28 Emotional and
Behavioural
Difficulties
1 Intermultidisciplar Reino Unido
29 Gifted Education
International
1 Educaccedilatildeo EUA
30 Internet
Interventions
1 Sauacutede EUA
31 Preventing School
Failure Alternative
Education for
Children and Youth
3 Educaccedilatildeo
32 JAMA - Journal of
the American
Medical Association
1 Sauacutede EUA
33 Revista de
Psicologia Cliacutenica
1 Sauacutede EUA
34 School Psychology
International
1 Educaccedilatildeo EUA
35 LEnceacutephale 1 Sauacutede Franccedila
36 Journal of Human
Behavior in the
Social Environment
1 Serviccedilo Social
37 Australian Journal
of Guidance and
Counselling
1 Educaccedilatildeointerdisciplinar Inglaterra
38 Alberta Journal of
Educational
1 Educaccedilatildeo Canadaacute
75
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
Research
39 Nova Science
publishers
1 Educaccedilatildeo EUA
40 Psychiatric
Quarterly
1 Sauacutede EUA
41 Education Diggest 1 Educaccedilatildeo EUA
42 ACM ndash Association
for Computing
Machinery
1 Intermultidisciplar EUA
43 Psychology in the
Schools
1 Educaccedilatildeointerdisciplinar EUA
TOTAL 57
ESTRATEacuteGIAS DE PREVENCcedilAtildeO
Organizamos a apresentaccedilatildeo dos resultados em blocos temaacuteticos identificando seu
setor de origem (Educaccedilatildeo Sauacutede) entendendo que tais propostas possuem uma
especificidade disciplinar e mesmo discursiva Analisamos as possiacuteveis ambiguidades
contradiccedilotildees bem como os tipos de argumentos sobre prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo produzidos
nesses textos Todavia independente da origem boa parte do acervo apresentou evocacccedilotildees
discursivas a accedilotildees ―coletivas e interdisciplinares reconhecendo ser essencial que os
esforccedilos sejam sineacutergicos entre escola famiacutelia e sociedade devendo incluir accedilotildees preventivas
de modo a atuar em situaccedilotildees geneacutericas conduzidas para qualificar as relaccedilotildees sociais
prevenir as agressotildees online e buscando evitar novos episoacutedios de cyberbullying
Para Baek e Bullock (2013) apesar dos muitos estudos sobre cyberbullying haveria
uma lacuna de produccedilotildees que tragam uma perspectiva internacional sobre como o tema vem
76
sendo discutido pelo mundo Entre os estudos analisados pelos autores que abordam sobre
prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo tais programaspropostas podem ser divididas nas categorias leis e
poliacuteticas abordagens educacionais esforccedilos das escolas e papeacuteis dos pais Entretanto nesses
moldes de classificaccedilatildeo identificamos ambiguidades sobre o papel dos pais poliacuteticas de
enfrentamento e no que tange aos modus operandi dos programas mencionados pois ora satildeo
apresentados como propostas punitivas ora apresentam um vieacutes reflexivo numa perspectiva
de cultura de paz ou de copinglsquo
As contribuiccedilotildees associadas agrave Educaccedilatildeo agrave Sauacutede e de origem Interdisciplinar
identificadas nete estudo se caracterizaram por defender estrateacutegias preventivas baseadas 1
no controle e monitoramento das atividades online praticadas pelos jovens 2 no
estreitamento de viacutenculos entre profissionais da rede escolar e alunos e entre pais e jovens
3e na disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo e campanhas sobre cyberbullying bem como na
capacitaccedilatildeo de profissionais pais e alunos sobre o tema Por fim elencamos mais uma
categoria discursiva organizadora do acervo que trata dos fatores que levariam a ecircxitos e
fracassos das propostas de prevenccedilatildeo (4)
Controle e monitoramento
As estrateacutegias de prevenccedilatildeo baseadas na perspectiva de controle e monitoramento
foram as mais comuns As revisotildees de Couvillon e Ilieva (2011) e Smith et al (2012)
sugerem por exemplo limitar o uso de celulares na escola Esse texto como em muitos
outros os nuacutecleos verbais satildeo evidentes em sua perfomatividade proibitiva (implementar
controlesrestringir acessoexcluir miacutedias)
―As escolas podem implementar controles sobre a miacutedia existente
restringindo o acesso agraves aacutereas de Internet em que o ciberbullying
provavelmente ocorreraacute (por exemplo salas de bate-papo miacutedias sociais
sites) e excluir a miacutedia natildeo necessaacuteria para a experiecircncia de aprendizagem
como celular Smith et al 2012 (pg 121)
Considerando que a sociabilidade digital jaacute estaacute engendrada no cotidiano de crianccedilas e
adolescentes alguns estudos revisados por Sabella et al (2013) ponderam que a tecnologia
aleacutem de ser uma ferramenta social e de educaccedilatildeo desligar o computador natildeo interrompe
muitas formas de cyberbullying
77
Foram poucos os tipos de estrateacutegias de prevenccedilatildeo direcionadas para o campo da
Sauacutede ou por ele propostas se comparados agrave diversidade de propostas da Educaccedilatildeo mas
dentre estas destacam-se as propostas relativas ao que os artigos nomearam como controle e
monitoramento das atividades online das crianccedilas e adolescentes Uma revisatildeo do campo da
sauacutede propocircs que psiquiatras ―eduquem os pais de adolescentes viacutetimas de cyberbullying
que ―informem sobre monitoramento e controle do uso de tecnologias (Korenis e Billick
2015) Reconhecemos aiacute a presenccedila de interdiscussividade com o discurso biomeacutedico
sugerindo a influecircncia da autoridade meacutedica sobre os pais mesmo diante de fatos relativos agrave
sociabilidade e de cunho comportamental Confirma-se o campo de exerciacutecio da biomedicina
para aleacutem das fronteiras cliacutenicas incorporando o manejo de questotildees da vida social
Outros estudos tambeacutem apresentaram o discurso do monitoramento e controle como
estrateacutegia ―essencial de prevenccedilatildeo com intertextualidade constituiacuteda de um enunciado que
reforccedila a necessidade de supervisatildeo das praacuteticas juvenis e controle parental (Garcia
Maldonado 2011 Perren et al 2012 Torres e Vivas 2012 Bailey 2013 Brunett et al 2013
Aresene e Raynaud 2014)
No que tange agraves propostas interdisciplinares voltadas para a ―proteccedilatildeo online
estudos sugerem a ―tutoria de atividades ―programas de seguranccedila na internet voltado para
pais professores comunidade escolar e alunos e ainda o desenvolvimento precoce de haacutebitos
relacionados ao ―uso seguro da internet para crianccedilas de modo a garantir a efetiva
―internalizaccedilatildeo desses comportamentos (Hanewald 2009 Wendt e Lisboa 2014 Ang
2015) Tal discurso de proteccedilatildeo eacute portador de ambiguumlidades ora propondo um
―acompanhamento (necessaacuterio para determinadas faixas etaacuterias) o que pressupotildee certa
agecircncia e autonomia dos meninos e meninas em navegar online bem como evoca a ideacuteia de
controle (antiacutetese da autonomia sugerida) como estrateacutegia de prevenccedilatildeo Poreacutem natildeo fica claro
como tais propostas consideram os princiacutepios de liberdade de expressatildeo privacidade e
autonomia das crianccedilas e adolescentes
Nesse sentido a literatura analisada sustenta enunciados que reforccedilam a ideacuteia de que
os pais devem ser informados sobre boas praacuteticas e riscos na internet inclusive os riscos do
cyberbullying aleacutem de ―ter conhecimento dos tipos de tecnologias que satildeo utilizadas pelos
jovens para assim supervisionar ―monitorar no sentido de participaccedilatildeo das atividades online
(Hanewald 2009 Bayley 2013 Burnett et al 2013 Arsene e Raynaud 2014) Outros autores
tentam atenuar o confronto entre autonomiamonitoramentocontrole com expressotildees do tipo
78
―monitoramento no sentido de participaccedilatildeo da navegaccedilatildeo em alguns sites e apresentam uma
coerecircncia textual para que natildeo haja maacute interpretaccedilatildeo por parte dos jovens por acharem que
haveria uma perda de autonomia para navegaccedilatildeo na web Ao mesmo tempo o trecho traz
como forccedila um discurso de direcionamento tanto para as crianccedilas e adolescentes quanto para
os pais sobre um modelo de ajuste das praacuteticas rotineiras para que as formas de
monitoramento sejam naturalizadas e inseridas no cotidiano com a justificativa de prevenir da
violecircncia virtual Tal discurso tem tambeacutem como perspectiva de accedilatildeo a participaccedilatildeo dos pais
no universo online de seus filhos propiciando assim novas possibilidades de interaccedilatildeo
familiar
Wendt e Lisboa (2014) afirmam que os jovens acreditam que os adultos natildeo sabem
lidar com o cyberbullying todavia sugerem que o monitoramento parental visto como ―fator
protetivo pode contribuir para um menor comportamento de risco para os jovens na internet
Outra reflexatildeo apontada nessa literatura eacute que conforme os adolescentes se desenvolvem e
passam a adquirir maior independecircncia em relaccedilatildeo aos pais estes uacuteltimos costumam ajustar as
praacuteticas de supervisatildeo permitindo maior liberdade ao adolescente
Jaacute Sabella et al (2013) assinalam que o controle parental natildeo eacute tarefa faacutecil visto que os
aparelhos eletrocircnicos da atualidade satildeo de uso individual Aleacutem disso os adolescentes teriam
mais expertise no uso de tecnologias do que os adultos (Sabella et al 2013)
Estreitamento de laccedilos
No cenaacuterio das propostas oriundas da Educaccedilatildeo o estreitamento de laccedilos entre
alunos e professores se mostrou como uma alternativa relevante como apontam Couvillon e
Ilieva (2011) que ressaltam a necessidade de se ―avanccedilar de modo a ampliar a relaccedilatildeo de
confianccedila apoio e instruccedilatildeo entre alunos professores e demais funcionaacuterios (pg97)
No que concerne aos laccedilos familiares assinalados como relevantes para as accedilotildees de
prevenccedilatildeo percebe-se que a literatura analisada natildeo sinaliza claramente se reconhece a
existecircncia de rearranjos familiares e novos modelos de famiacutelias de crianccedilas e adolescente que
vivenciam experiecircncias de cyberbullying sejam como perpetradores acometidos eou
expectadores pois as orientaccedilotildees sempre invocam os personagens ―pais desconsiderando
que o cuidado dos filhos ocasionalmente esteja sob responsabilidade de outro adulto ou
tutor
79
Assim algumas revisotildees apontaram que os pais teriam um papel significativo na
prevenccedilatildeo do cyberbulyying quando esses permitem que seus filhos acessem somente a sites
considerados ―apropriados Assim essa permissatildeo demonstraria uma forma de cuidado e
propiciaria um ―ambiente saudaacutevel para que os filhos se sintam seguros de falar sobre alguma
situaccedilatildeo de cyberbullying vivenciada (Smith et al 2012 pg 121) Mas como os pais
poderiam valorar qual o poder ofensivo de redes sociais que satildeo os endereccedilos virtuais mais
utilizados pelos jovens na contemporaneidade Em contraponto um estudo revisado por
Slonje et al (2013) que investigou jovens de 25 paiacuteses constatou que 77 das viacutetimas
contaram o problema para algueacutem 42 contaram para os pais 52 para um amigo 7 para
os professores
Wendt e Lisboa (2014) pontuam que a ecircnfase e atenccedilatildeo devem ser voltadas para a
qualidade da relaccedilatildeo entre pais e filhos tal como agrave coerecircncia entre as praacuteticas parentais
utilizadas e a abertura para o diaacutelogo e negociaccedilatildeo Ressaltam ainda que o tempo gasto na
internet prejudica a qualidade na convivecircncia familiar
Capacitaccedilatildeo sensibilizaccedilatildeo campanhas
No que concerne agrave capacitaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo sobre o problema a literatura
reforccedila que as escolas precisam incluir o tema em suas pautas poliacuteticas escolares de prevenccedilatildeo
e incluindo a conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar capacitando natildeo soacute os
professores que satildeo considerados imigrantes digitiais mas os alunos e demais profissionais da
escola promovendo assim um ambiente no qual o cyberbullying seja socialmente inaceitaacutevel
(Sabella et al 2013 Suzuky et al 2012 Smith et al 2012 Von Mareacutees Peterson 2012
Nosworty e Rinaldi 2013) Na revisatildeo de Sabella et al (2013) vemos a evocaccedilatildeo da ideia-
forccedila de conclamaccedilatildeo para que as escolas ampliem o conhecimento sobre poliacuteticas de bullying
e cyberbullying para ajudar a proteger os alunos e resguardar as escolas de sanccedilotildees legais
aleacutem de contribuir para o fortalecimento de viacutenculos no ambiente escolar e comunicaccedilatildeo
aberta entre os alunos
Ainda sobre tipos de prevenccedilatildeo nas escolas encontramos na literatura a proposta de
―capacitar os professores utilizando material com conteuacutedo objetivo e claro para que estes
tenham condiccedilotildees de entender o que representa o cyberbullying ―identificar casos seja
atraveacutes de manifestaccedilotildees psicopatoloacuteloacutegicas comportamentais ou ausecircncia escolar bem como
para o ―fortalecimendo de accedilotildees ciacutevicas no ambiente escolar que conscientizam de modo a
80
―contribuir para um ambiente harmocircnico e uma relaccedilatildeo de confianccedila entre esses atores
(Couvillon e Illieva 2011)
No campo da Sauacutede estudos apontaram a necessidade de campanhas de
conscientizaccedilatildeo para prevenir o cyberbullying (Mareacutees e Peterson 2012 Chisholm 2014) e
defendem que profissionais de sauacutede que trabalhem ou natildeo nas escolas deveriam ―capacitar
alunos e pais Enfatizam a importacircncia de instruir para o desenvolvimento de habilidades
emocionais de modo a reduzir comportamentos impulsivos agressivos e encorajar crianccedilas e
adolescentes a desenvolverem empatia e controlar a raiva utilizando teacutecnicas de ―auto-gestatildeo
emocional ou resiliecircncia (Von Mareacutees e Peterson 2012 e Suzuky et al 2012) O estudo de
Suzuky et al (2012) considera relevante que pais sejam conscientizados por conselheiros
escolares ou profissioanis de sauacutede sobre os problemas que o cyberbullying pode acarretar
Aresene e Raynaud (2014) destacaram a presenccedila recorrente de campanhas
governamentais a niacutevel nacional na Franccedila especiacuteficamente realizada por profissionais de
Sauacutede Puacuteblica chamando a atenccedilatildeo sobre o protagonismo do Setor nesse paiacutes frente ao tema
se comparados a outros campos como a Educaccedilatildeo
A disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees foi um tipo de prevenccedilatildeo sugerida Algumas
propostas relevantes foram destacadas para o setor Sauacutede Puacuteblica como a criaccedilatildeo de material
informativo com enfoque na prevenccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas escolares que alcance
municiacutepios e estados com base em resultados de pesquisas (Gaacutercia Maldonado et al 2011
Kowalski et al 2014)
Ecircxitos e fracassos
Brown et al (2006) ressaltam que a literatura sugere como estrateacutegia de prevenccedilatildeo
primaacuteria que ―explorem a mentalidade digital como uma tarefa de poliacutetica escolar ou seja
que ―criem sites com uma linguagem digital apropriada para ―falar com os grupos de pares
utilizem desse mecanismo como estrateacutegia para que crianccedilas e adolescentes se relacionem e se
expressem nessa rede social escolar Tal literatura apresentou um discurso constitutivo que
propotildee mudanccedila de comportamento de alunos envolvidos em cyberbullying Quando se
propotildee a falar a linguagem dos nativos digitaislsquo essa estrateacutegia utiliza do convencimento para
propor intencionalmente um novo modelo de relaccedilotildees interpessoais desses jovens
81
Os autores mencionam a importacircncia de considerar as dinacircmicas sociais que
circundam a cibercultura como uma base para que praacuteticas positivas sejam desenvolvidas
Propor programas de acordo com a cultura local de um paiacutes ou regiatildeo foi visto como uma
accedilatildeo coerente ao inveacutes de copiar propostas de accedilatildeo jaacute existentes em outros paiacuteses De acordo
com um estudo grego embora haja uma seacuterie de programas de conscientizaccedilatildeo e material
relacionado a maioria dos programas foi projetada a partir de programas europeus muitas das
vezes ignorando que para aumentar a possibilidade de eficaacutecia de um programa de
intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio sua adaptaccedilatildeo agraves necessidades e cultura do paiacutes (Antoniadou e
kokkinos 2013) Percebe-se neste contexto a denuacutencia sobre uma certa dominaccedilatildeo ideoloacutegica
de modelos que satildeo exportados de paiacuteses ―centrais que desconsidera aspectos importantes
como a especificidade da cultura de determinada regiatildeo a forma como os jovens interagem
nos meios digitais e como vivenciam as praacuteticas de violecircncia nessa acircmbiencia
Um estudo revisado por Slonje (2013) apontou que satildeo razoaacuteveis as taxas de sucesso
dos programas escolares de prevenccedilatildeo ao bullying Os autores acreditam que os programas de
prevenccedilatildeo ao bullying podem ser ampliados sem a necessidade de grandes alteraccedilotildees
incluidno a demanda do cyberbullying Assim seria um componente de uma poliacutetica anti-
bullying em toda a escola com accedilotildees de conscientizaccedilatildeo e atividades nesse aspecto poderiam
ser incluiacutedas no curriacuteculo escolar
Programas com vieacuteses punitivos voltados para que perpetradores ―tirem uma liccedilatildeo
sobre seus atos foram considerados ineficazes por parte da literatura Todavia haacute divergecircncia
no discurso sobre as abordagens punitivas no trato com o cyberbullying Segundo a revisatildeo de
Hanewald (2009) estudos consideraram a responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores e a criaccedilatildeo de
poliacuteticas que tratam sobre a questatildeo da violecircncia digital como fatores positivos que inibiriam
novas accedilotildees de cyberbullying Um estudo do campo da Educaccedilatildeo defende que a
judicializaccedilatildeo dos casos de cyberbullying eacute uma estrateacutegia negativa ―Os distritos escolares
devem considerar cuidadosamente as accedilotildees que as escolas podem realizar sem colocar nossa
juventude no sistema de justiccedila criminal (Bailey 2013 pg 6) Tal referecircncia conclama as
instituiccedilotildees escolares tomarem para si a responsabilidade de atuar de forma preventiva de
modo que natildeo seja necessaacuteria uma intervenccedilatildeo de cunho punitivo no acircmbito judicial com os
jovens envolvidos com o cyberbullying Outros textos trazem a mesma perspectiva
(Aboujaoude et al 2015 Alim 2016 Baek e Bullock 2014 Bailey 2013 Baldry et al 2015
Berne et al2013 Cantone et al 2015 Cassidy Faucher e Jackson 2013)
82
A criaccedilatildeo de leis punitivas dividiu os autores Uns consideram que tais normativas
serviriam de base tanto para prevenccedilatildeo quanto para o enfrentamento aleacutem de servir de
paracircmetro legal para possiacuteveis accedilotildees praacuteticas adotadas pelas escolas diante de tais situaccedilotildees
(Baek e Bullock 2013 Bailey 2013)
Por outro lado os programas de prevenccedilatildeo que propiciem uma cultura de paz foram
considerados como uma alternativa eficiente no enfrentamento ao cyberbullying(Cassidy et al
2012)
Por fim um estudo de Della Cioppa et al (2015) que analisou programas de
prevenccedilatildeo do cyberbullying revelou que a maioria desses programas natildeo transcende a escola
(por exemplo para a famiacutelia a miacutedia) - o que pode explicar porque poucos programas de
prevenccedilatildeo natildeo conseguiram reduzir a vitimizaccedilatildeo dos casos de cyberbullying
ESTRATEacuteGIAS DE ldquoINTERVENCcedilAtildeOrdquo
Verificamos no acervo deste estudo duas linhagens de intervenccedilatildeo propostas diante de
casos jaacute ocorridos a primeira toma o foco das accedilotildees realizadas por instituiccedilotildees e a segunda
voltada para o manejo de cunho individual cujas accedilotildees satildeo alinhadas agrave perspectiva de coping
(modos de lidar)
Respostas institucionais de intervenccedilatildeo
De acordo com a literatura estudada (Mason 2008 Garaigordobil 2011) as propostas
de intervenccedilatildeo devem inicialmente identificar os casos de cyberbullying e sinalizar possiacuteveis
estrateacutegias para evitar que essas praacuteticas de violecircncia se consolidem a partir de accedilotildees
especiacuteficas de intervenccedilatildeo que tenham enfoque individual e nos grupos de agressores Intervir
em situccedilotildees concretas de cyberbullying de sorte que se torne possiacutevel minimizar os impactos
dessa violecircncia sobre os acometidos ofertando apoio psicoteraacutepico e proteccedilatildeo agraves viacutetimas sem
desconsiderar accedilotildees junto ao puacuteblico de espectadores
No primeiro grupo estatildeo aqueles que corroboram a ideia que a proteccedilatildeo dos dados
digitais eacute uma forma de lidar com o cyberbullying Essa proteccedilatildeo de dados tem como objetivo
natildeo permitir que conteuacutedos de cunho pessoal sejam acessados e expostos sem o
consentimento do proprietaacuterio Salientamos o discurso evocado na revisatildeo de Ang (2015)
sobre a praacutetica social do exibinicionismo tatildeo naturalizada nas miacutedias sociais digitais Ang
identificou entre os estudos revisados por ele mecanismos de accedilatildeo pelo qual essa loacutegica
83
narcisista ao extremo poderia contribuir para praacuteticas de cyberbullying contra pessoas que natildeo
se encaixam em determinados padrotildees esteacuteticos O autor reflete ainda que o anonimato na
Internet poderia ―exacerbar o senso desses adolescentes de desrespeitar os outros com a
crenccedila de que a agressatildeo eacute ―razoaacutevel aceitaacutevel e justificaacutevel (pg 38) Os elementos
discursivos desse estudo trazem o modo de representaccedilatildeo dos jovens sobre o mundo e sobre
os outros enfatizando o exibicionismo e natildeo empatia com seus pares
Com relaccedilatildeo agraves implicaccedilotildees para a escola segundo a revisatildeo de Hinduja e Patchin
(2011) a escola e seus administradores teriam obrigaccedilatildeo legal de agir quando ocorre a
violecircncia fora da internet e dentro dela quando esses atores tiverem ciecircncia desses fatos Para
Castro Schneider (2015) a escola teria como funccedilatildeo social a co-responsabilidade nos casos de
cyberbullying devendo a direccedilatildeo acionar os pais os Conselhos Tutelares e outros oacutergatildeos de
proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente aleacutem de aconselhar as viacutetimas (Faucher et al 2015) os
perpetradores (Chibbaro 2015) e ensinar aos alunos qual a maneira mais adequada de
responder a episoacutedios de cyberbullying (Notar et al 2016) Espera-se ainda da escola que
capacite professores a terem uma escuta qualificada e que tenham um espaccedilo sigiloso como
referecircncia de apoio para os alunos para que se sintam seguros em compartilhar sobre situaccedilotildees
de cyberbullying (Wingate et al 2013) A literatura ainda sugeriu que as escolas devam criar
programas que melhorem o clima escolar e que contribuam para o desenvolvimento da
empatia e resoluccedilatildeo de conflitos Percebe-se que haacute uma tendecircncia nos textos em sugerir
modelos de condutas por parte das escolas de modo a criar protocolos de comportamentos
diante de situaccedilotildees de bullyingcyberbullying
Destaca-se neste bloco de informaccedilotildees o papel da escola no acircmbito interventivo a
ideia de que funcionaacuterios escolares terem autonomia de impor restriccedilotildees e disciplina caso
regras escolares sejam violadas pelos alunos (Mason 2008) Tal discurso apresenta uma forccedila
discursiva ao designar uma ordem social em ―impor restriccedilotildees por parte dos profissionais da
educaccedilatildeo
A escola eacute chamada a oferecer capacitaccedilatildeo para pais cujos filhos estejam
envolvidos com cyberbullying de modo que esse treinamento tenha um recorte interventivo
ao buscar trabalhar com o puacuteblico dos estudantes cyberagressores no sentido de instruir esses
uacuteltimos e informar sobre o problema
Outras accedilotildees foram destacadas como propostas de cunho didaacutetico de modo a incluir a
famiacutelia e a comunidade no processo de intervenccedilatildeo (Garaigordobil 2011) e monitorar as
84
atividades online feita pelos alunos (Cassidy et al 2013 Carpenter e Hubbard 2014) Essa
uacuteltima proposta coloca em questatildeo como jaacute discutido anteriormente regras de convivecircncia
que interferem na privacidade dos alunos aleacutem das formas de se relacionar na
contemporaneidade ateacute mesmo da individualidade e autonomia dos jovens de fazerem o uso
de seus pertences tecnoloacutegicos no ambiente escolar
Jaacute a revisatildeo de Wendt e Lisboa (2014) evidencia que a falta de diaacutelogo entre pais e os
jovens precisa ser foco de intervenccedilatildeo por parte de psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede
dado que a vulnerabilidade na comunicaccedilatildeo familiar representa um fator de risco no que tange
aos moldes que a violecircncia apresenta no meio digital Os autores percebem que haacute um
distanciamento cultural por parte de pais e professores Sugerem que programas de
intervenccedilatildeo direcionados pelas escolas poderiam desenvolver grupos de responsaacuteveis com
atividades luacutedicas que envolvam o uso das novas tecnologias de modo a propiciar um
compartilhamento de experiecircncias entre responsaacuteveis professores e os alunos Wendt e
Lisboa ainda recomendam que psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede ofertem suporte
emocional aleacutem de reflexotildees sobre os riscos e os benefiacutecios que as dinacircmicas digitais
oferecem na contemporaneidade Todavia identificamos um estudo que sugere a puniccedilatildeo com
o argumento de reparar o dano pelos maus atos praticados pelos filhos (Faushe et al 2015)
Accedilotildees interdisciplinares foram propostas como manejo de intervenccedilatildeo O estudo de
Gine e Espelage (2014) apesar de natildeo descreverem qual o papel de psiquiatras meacutedicos pais
e professores diante de casos de cyberbullying sugere que a intervenccedilatildeo por parte desses eacute
necessaacuteria para diminuir o risco de angustias que podem repercutir em suiciacutedio Neste caso o
discurso apresenta uma funccedilatildeo de linguagem identitaacuteria ao reconhecer o papel social desses
atores e a necessidade de sua atuaccedilatildeo Reed (2015) destacou a formulaccedilatildeo de programas de
intervenccedilatildeo com base em modelos jaacute existentes como uma estrateacutegia positiva designada para
intervir na depressatildeo de pessoas que vivenciaram o cyberbullying Outro modelo semelhante
visa agrave formaccedilatildeo de ciacuterculos restaurativos e grupos de reflexatildeo voltado para os agressores
mas com monitoramento das accedilotildees de cyberbullying por eles praticadas Tanto no que se
refere aos autores como aos acometidos a perspectiva de mudanccedila de comportamento adveacutem
de tratamento psicoloacutegico sem desconectar a oferta de aconselhamento Experiecircncias como
estas foram consideradas exitosas quando reproduzidas (Suzuky et al 2012 Sabella et al
2013 Slonje et al 2013)
85
Programas de conscientizaccedilatildeo tambeacutem foram considerados como accedilotildees de intervenccedilatildeo
cujos objetivos satildeo o de contribuir para a reduccedilatildeo do estresse imediato e ajudar a prevenir
consequecircncias de longo prazo bem como um mecanismo para denuacutencias anocircnimas aos canais
e oacutergatildeos de proteccedilatildeo (Garaigordobil 2011 Raskauskas e Ruyinh 2015)
Criar instrumentos para avaliar os riscos de um jovem sofrer cyberbullying tambeacutem foi
considerado pelos estudos como um instrumento de intervenccedilatildeo ao passo que permitiria a
criaccedilatildeo de novas estrateacutegias de accedilotildees (Baldry et al 2015) Entendemos que a criaccedilatildeo de
instrumentos para avaliaccedilatildeo traz como implicaccedilatildeo discursiva as maneiras de interpretar o
sentido de haver riscos de sofrer cyberbullying
Por fim um uacuteltimo grupo de propostas de intervenccedilatildeo se refere agrave criaccedilatildeo de leis
coibitivas da praacutetica de cyberbullying No que tange a legislaccedilatildeo a criaccedilatildeo de leis especiacuteficas
para lidar com cyberbullying abre margem para uma argumentaccedilatildeo de que se faz ―necessaacuteria
a criminalizaccedilatildeo do fenocircmeno como condiccedilatildeo efetiva para lidar com ele A anaacutelise dessas
propostas envolve a agurmentaccedilatildeo sobre execuccedilatildeo das leis podendo inclusive resultar em
accedilotildees paliativas aleacutem da presenccedila de um discurso apelativo de judicializaccedilatildeo das relaccedilotildees
sociais em conflito (Yan e Grinshteyn 2016)
Entendemos que as estrateacutegias relacionadas acima correspondem a accedilotildees de cunho
institucional e poliacutetico Natildeo encontramos modelos de intervenccedilatildeo especiacuteficos para o campo da
sauacutede
bdquoCoping‟ ndash o manejo individual
Os modelos de coping apresentados nos estudos analisados reportam a um manejo de
ordem psiacutequica e individual ofertando ainda a possibilidade de acionamento de outros sujeitos
como professores amigos e famiacutelia Natildeo estatildeo relacionados diretamente ao campo Educaccedilatildeo
mas ao manejo que prioriza a sauacutede mental dos indiviacuteduos
Apresentaremos a seguir as propostas de enfrentamento designadas pela literatura
como modelos de intervenccedilatildeo de ordem individual Verificamos que natildeo se trata propriamente
de modelos de intervenccedilatildeo mais sim de estrateacutegias de como lidar com o fenocircmeno Nesse
bloco ressaltam-se os modos de lidar que promovem resiliecircncia sugeridos a partir de
experiecircncias existentes ensinadas e replicadas ou seja sugestotildees de formas de prevenccedilatildeo de
86
novos agravos agrave sauacutede psiacutequica dos envolvidos com o cyberbullying ou ainda formas de
coping que supunham que a partir de determinado comportamento natildeo ocorram novos
episoacutedios do fenocircmeno Estrateacutegias de enfrentamento (coping) satildeo consideradas praacuteticas de
esforccedilos cognitivos e comportamentais para tratar das demandas peculiares e os objetivos
desses modos de lidar satildeo distintos e tomam por base o niacutevel de envolvimento desse sujeito
com a questatildeo do cyberbullying (no caso das viacutetimas) por exemplo o que vai determinar
quais os tipos e niacuteveis de estrateacutegias seraacute adotado para lidar como o cyberbullying (Castilho
2010 Bezzara in Veiga e Caetano 2014)
Como formas de coping satildeo discutidas o confronto a resoluccedilatildeo planejada do
problema a aceitaccedilatildeo o autocontrole a procura de ajuda a reavaliaccedilatildeo positiva da situaccedilatildeo o
distanciamento e fugaevitamento do problema (Serra 1987 Ribeiro e Rodrigues 2004)
O manejo utilizado por vitimados foi pontuado de forma recorrente pelos estudos
analisados Dentre as formas de lidar com o cyberbullying estatildeo informar algueacutem sobre o
ocorrido evitar a pessoa que praticou o cyberbullying revidar a accedilatildeo de alguma maneira
bloquear certas pessoas de contato on-line alterar senhas e nome de usuaacuterio excluir
mensagens anocircnimas sem ler evitar socializar abertamente o nuacutemero de celular rastrear
nuacutemero de IP do agressor e informar aos canais de atendimento de sites de relacionamentos
sobre a ocorrecircncia de atos de cyberbullying trocar nome e nuacutemero de telefone caso se sinta
ameaccedilado (Slonje et al 2013 Nixon 2014) Poreacutem eacute prematuro dizer que tais
comportamentos possam impedir um indiviacuteduo de vivenciar tal experiecircncia muito menos dar
conta da dimensatildeo exponencial que o cyberbullying pode alcanccedilar Entendemos que haveria
um discurso de intencionalidade devido agrave forccedila dos verbos utilizados bloquearlsquo alterarlsquo
rastrearlsquo revidar Ao fazer uso de tais verbos o discurso produz um sentido de proposiccedilatildeo
de construccedilatildeo de praacuteticas ativas que confrontem as accedilotildees de cyberbullying vivenciadas pelos
acometidos
Verifica-se que satildeo muacuteltiplas as formas de copinglsquo sinalizadas pelo acervo analisado
Em meio agraves distintas formas de lidar com o cyberbullying encontram-se atores que estariam
em uma posiccedilatildeo de passividade diante de accedilotildees do cyberbullying os chamados expectadores
Pode-se disser que esse tipo de comportamento tambeacutem representa um modo de lidar
contudo sem um caraacuteter de enfrentamento Neste caso o comportamento dos expectadores
nos chama atenccedilatildeo em meio ao cenaacuterio das propostas de enfrentamentos devido a sua ineacutercia
A falta de intervenccedilatildeo diante de um episoacutedio de cyberbullying por parte dos expectadores se
87
configura com o que Wingate et al (2013) denominam de ―ignoracircncia pluralista que
corresponde a um comportamento grupal onde sujeitos de um determinado grupo ao terem
uma opiniatildeo diferente preferem se calar diante de uma resposta contraacuteria a deste grupo ao
qual pertence O vocabulaacuterio em destaque traz como lexicaccedilatildeo agrave falta de conhecimento dos
espectadores diante dos danos que o cyberbullying pode causar em outrem Wingate et al
(2013) salientam que ocorre uma espeacutecie de ―efeito espectador (O que o grupo vai pensar
caso tenha uma reaccedilatildeo diferente das regras culturais estabelecidas pela comunidade que faz
parte) Por exemplo uma viacutetima de cyberbullying pode ter muitos amigos numa rede social
mas se eles natildeo reagirem cria a impressatildeo de que ignorar o cyberbullying eacute a resposta
normativa (Wingate et al 2013)
Uma das revisotildees (Raskauska e Ruinh 2015) tratou de identificar estrateacutegias para
lidar com o cyberbullying promotoras de reduccedilatildeo imediata do estresse gerado pelo fenocircmeno
ou aquelas que contribuam para diminuiccedilatildeo em longo prazo tais como praacuteticas com enfoque
nas emoccedilotildees e que promovam uma cultura de paz para evitar o confronto estrateacutegias de apoio
social que ofertem suporte que provoquem o amortecimento do impacto negativo do
cyberbullying (falar com um amigo professor ou profissional sobre o assunto) estrateacutegias
focadas na evacuaccedilatildeo que incluem distanciamento do enfrentamento no qual se evita ou se
retira da situaccedilatildeo estressante (como os bloqueios de perfis e exclusotildees) ou accedilotildees que gerem
resiliecircncia e porporcione o bem estar e sauacutede mental (como o natildeo pensar sobre o fato
ocorrido) A procura por apoio social se revelou mais peculiar entre o gecircnero feminino de
acordo com dois estudos revisados por Raskauska e Ruinh (2015)
O estudo de Nixon por exemplo embora revisasse pesquisas sobre eficaacutecias das
estrateacutegias de intervenccedilatildeo verificou que a maioria dessas pesquisas teria examinado
estrateacutegias de reduccedilatildeo de risco ou promoccedilatildeo de comportamentos que superem os riscos como
o suiciacutedio baixo rendimento escolar entre outros Tais estrateacutegias quando adotadas pelos
adolescentes podem mitigar ou reduzir o impacto negativo do cyberbullying (Nixon 2014)
A revisatildeo de Alim (2016) destaca um estudo de Justim Patchim e Sammer Hinduja
com adolescentes americanos de 11 a 18 anos de idade que analisou a probabilidade de um
jovem ser punido por um adulto como um fator para praticar ou natildeo atos de cyberbullying
Tal estudo observou que os adolescentes que pensavam que os adultos poderiam puni-los
eram menos propensos a fazer cyberbullying Alim (2016) ainda elencou as formas como os
adolescenes lidam com o fenocircmeno entre elas (a) responder aos ataques (b) saber em quem
88
confiar (c) ser astuto em relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecnologia (d) respeitar os
outros (e) estar no controle e (f) falar cara a cara (Fisher 2013 apud Alim 2016) Entre as
estrateacutegias relatadas pelos adolescentes consideradas eficazes e que impedem accedilotildees de
cyberbullying incluem accedilotildees tecnoloacutegicas como a exclusatildeo do perfil e o ajuste da
privacidade uso de configuraccedilotildees para evitar o contato Estas seriam moderadamente uacuteteis
para pessoas que sofrem com cyberbullying e outras formas de asseacutedio on-line O bloqueio do
agressor foi uma das respostas mais predominantes relatar o incidente a um consultor on-line
ou denunciar atraveacutes de relatoacuterio on-line tambeacutem foi identificada aleacutem de bloquear o acesso
do perpetrador agraves informaccedilotildees pessoais na linha do tempo de redes sociais Para Alim (2016)
as estrateacutegias dos adolescentes para o enfrentamento mudam com o passar dos anos e que as
soluccedilotildees tecnoloacutegicas e a procura de apoio satildeo eficazes na luta contra o ciberbullying Jaacute a
revisatildeo de de Allison e Busey (2016) ressaltou estudos que apontam que as normas de
comportamentos sociais entre pares podem influenciar a decisatildeo de transeuntes do universo
online participarem de cyberbullying inclusive no que tange ao comportamento dos
expectadores Verifica-se que o texto se apropia de elementos discursivos de forccedila (modos de
accedilatildeo) ―bloquear o agressor ―responder aos ataquese ao mesmo tempo de modos de
representaccedilatildeo desses sujeitos que fazem parte de comunidades sociais ―falar cara a cara
―saber em quem confiar Esse tipo de discurso contribui para moldar e restrigir as normas e
convenccedilotildees entre agressores e acometidos
Cabe destacar que parte das revisotildees que sugerem modos de lidar (coping) com o
cyberbullying propocircs accedilotildees preventivas concomitantemente Aleacutem disso pensar tais
estrateacutegias e reproduzir tais praacuteticas adequando as novas complexidades do fenocircmeno e da
cibercultura se fazem necessaacuterios (Aboujaoude et al 2015) visto que um modelo de
intervenccedilatildeo fechado natildeo daria conta da constante atualizaccedilatildeo tanto das tecnologias que
possibilitariam praacuteticas de cyberbullying como das ambiecircncias relacionais da cibercultura
CONCLUSOtildeES
No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um
assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns
pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das
89
expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o
evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares
Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa
levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia
Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a
cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo
Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o
conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o
contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que
podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying
podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas
atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais
Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio
na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia
psicoloacutegica e que ocorre entre pares
Percebemos que a literatura analisada por muitos momentos demonstrou uma
aproximaccedilatildeo do tema cyberbullying com o bullying tradicional Eacute suficiente considerar o
cyberbullying mais do mesmo neste caso bullying
Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma
personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o
cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de
alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos
produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet
voltar a circular apoacutes tempos depois em que o conteuacutedo foi disparado e o assunto degradante
veio agrave tona
Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos
estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio
(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre
quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas
do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a
atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as
habilidades dos meninos como superiores comparados com as meninas em aspectos
tecnoloacutegicos
90
Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagado deliberadamente em redes
sociais contra grupos eacutetnicos raciais natildeo brancos eacute inquietante natildeo ter identificado na
literatura reflexotildees sobre cyberbullying e gecircnero que transcendam a classificaccedilatildeo binaacuteria
aleacutem de invisibilizar questotildees como o racismo Tambeacutem cabe considerar que natildeo bastaria
nomear situaccedilotildees como cyberbullying sem refletir sobre o tipo de violecircncia praticada com tais
sujeitos Para isso eacute preciso ter ciecircncia do que de fato se configura cyberbullying para que
equiacutevocos interpretativos natildeo ocorram ao passo de classificar qualquer tipo de violecircncia
digital como cyberbullying desconsiderando por exemplo que trata-se de uma violecircncia
entre pares Estudos que apontem prevalecircncia de casos de cyberbullying contra jovens LGBT
grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio mulccedilumanos e
religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos satildeo de grande relevacircncia
Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre
o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis
por proliferar o conteuacutedo difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying
que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um
controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta
Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser
ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os
impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que
diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar
cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica do
cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas
ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os
seus perfis analisando inclusive se aqueles que cometem cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram
algum tipo de violecircncia
Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo
ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou
seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute
viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo anonimato
Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que
haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem
existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas
implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de
91
Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam
adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz
respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais
digitais
Ainda assim a literatura direciona maior responsabilidade no trato da prevenccedilatildeo do
cyberbullying agrave comunidade escolar Teriam as escolas capacidade de capacitar prevenir e
ainda intervir em situaccedilotildees de cyberbullying isoladamente Por outro lado natildeo eacute possiacutevel
admitir que questotildees de cyberbullying na escola sejam classificadas como uma problemaacutetica
de menor impacto para os alunos ou ―brincadeira de adolescente uma demanda que foge da
competecircncia escolar por transcender o seu espaccedilo fiacutesico Pensando nessa suposta
responsabilidade em alguns paiacuteses como no Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe
multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem dar conta de certas demandas por falta de
suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar continuidade a projetos iniciados por falta de
recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio refletir se de fato tais propostas e manejo
seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno complexo e com atravessamentos
peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros setores e atores sociais Partimos do
entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos de cyberbullying necessitam ser
realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes atores
Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados
tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de
revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou
analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento
Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a
necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos
pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos
online jaacute faccedila parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem
refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos ―nativos digitais e restrigir punir ou
controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens pode ter tambeacutem
aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria Quais os
seus limites Quando um profissional eou um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a
privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais
enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do
monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e
92
adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos
e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos
jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que
supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre o uso das novas tecnologias esses
possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua
responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um
aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso
aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de
identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de
monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que
tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a uma banalizaccedilatildeo do monitoramento
de praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da
liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo
familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz
necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado
pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos
Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado
de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos
publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo
foi o nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede
reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a
criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem
com esta demanda de forma coerente
Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do
conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios
novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e
intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento
sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre
avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de
intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)
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CONCLUSOtildeES
No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um
assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns
pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das
expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o
evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares
Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa
levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia
Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a
cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo
Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o
conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o
contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que
podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying
podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas
atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais
Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio
na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia
psicoloacutegica e que ocorre entre pares
Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma
personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o
cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de
alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos
produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet
100
voltar a circular apoacutes tempos depois em que esse conteuacutedo foi disparado e o assunto
degradante veio agrave tona
Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos
estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio
(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre
quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas
do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a
atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as
habilidades dos meninos como superiores se comparados com as meninas em aspectos
tecnoloacutegicos
Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagando deliberadamente em redes
sociais percebeu-se ainda uma ausecircncia de reflexotildees sobre a questatildeo do cyberbullying contra
jovens LGBT grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio
mulccedilumanos e religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos
Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre
o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis
por proliferar o material difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying
que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um
controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta
Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser
ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os
impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que
diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar
cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica de
cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas
ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os
seus perfis analisando inclusive se aqueles que praticam cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram
algum tipo de violecircncia
Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo
ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou
seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute
viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo do anonimato
101
Eacute possiacutevel considerar que o cyberbullying se configura como uma nova forma de
violecircncia sistemaacutetica que se manifesta atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica
entre pares nas ambiecircncias das redes de socialidade digital que podem ocorrer em qualquer
espaccedilo geograacutefico Inclusive sendo considerado por estudiosos como um problema de sauacutede
social e de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede mental de crianccedilas e adolescentes
Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que
haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem
existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas
implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de
Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam
adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz
respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais
digitais
Ainda assim a literatura apontou excessiva responsabilidade da escola no trato da
prevenccedilatildeo do cyberbullying agrave comunidade escolar Entretanto em alguns paiacuteses como no
Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem
dar conta de certas demandas por falta de suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar
continuidade a projetos iniciados por falta de recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio
refletir se de fato tais propostas e manejo seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno
complexo e com atravessamentos peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros
setores e atores sociais Partimos do entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos
de cyberbullying necessitam ser realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes
atores
Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados
tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de
revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou
analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento
Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a
necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos
pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos
online jaacute faccedilam parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem
refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos nativos digitais e restrigir punir ou
controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens podem ter
102
tambeacutem aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria
Quais os seus limites Quando um profissional e um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a
privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais
enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do
monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e
adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos
e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos
jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que
supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre uso das novas tecnologias esses
possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua
responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um
aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso
aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de
identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de
monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que
tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a banalizar o monitoramento de
praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da
liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo
familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz
necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado
pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos
Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado
de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos
publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo
foi nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede
Reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a
criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem
com esta demanda de forma coerente
Identificou-se a necessidade de estudos futuros investigarem as redes sociais como
um territoacuterio de praacutetica e propagaccedilatildeo de atos de cyberbullying Que estudos com esse recorte
aponte quais os papeis dessas plataformas digitais no manejo com o cyberbullying
Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do
conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios
103
novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e
intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento
sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre
avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de
intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)
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Taiza Ramos de Souza Costa Ferreira
CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES Definiccedilotildees associaccedilotildees com
a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Sauacutede Puacuteblica da Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica
Seacutergio Arouca na Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz como
requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em
Sauacutede Puacuteblica - aacuterea de concentraccedilatildeo Violecircncia e Sauacutede
Orientadora
Profa Dra Suely Ferreira Deslandes
Data da defesa 04052018
Rio de Janeiro
2018
Catalogaccedilatildeo na fonte
Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz
Instituto de Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica em Sauacutede
Biblioteca de Sauacutede Puacuteblica
F383c Ferreira Taiza Ramos de Souza Costa
Cyberbullying de crianccedilas e adolescentes definiccedilotildees associaccedilotildees
com a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo Taiza Ramos de Souza
Costa Ferreira -- 2018
120 f
Orientadora Suely Ferreira Deslandes Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz Escola Nacional
de Sauacutede Puacuteblica Sergio Arouca Rio de Janeiro 2018
1 Bullying - psicologia 2 Internet ndash utilizaccedilatildeo 3 Miacutedias Sociais
4 Sauacutede 5 Educaccedilatildeo 6 Violecircncia 7 Crianccedila 8 Adolescente
9 Cyberbullying I Tiacutetulo
CDD ndash 22ed ndash 3023
Taiza Ramos De Souza Costa Ferreira
CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES Definiccedilotildees associaccedilotildees com
a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Sauacutede Puacuteblica da Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica
Seacutergio Arouca na Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz como
requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em
Sauacutede Puacuteblica Aacuterea de concentraccedilatildeo Violecircncia e Sauacutede
Aprovada em 04052018
Banca Examinadora
Dra Giovanna Marafon
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Dra Simone Gonccedilalves de Assis
Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca - ENSP
Suely Ferreira Deslandes (orientadora)
Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca - ENSP
Rio de Janeiro
2018
Dedico este trabalho a todas as crianccedilas e (os) adolescentes que sofreram ou sofrem com os
impactos do cyberbullying em sua sauacutede psiacutequica que possam encontrar os mecanismos de
apoio necessaacuterios que lhes possibilite enfrentar essa forma de violecircncia tatildeo cruel
Agradecimentos
Agrave Deus por ter me dado a graccedila de conseguir cursar um curso de poacutes-graduaccedilatildeo
Scricto Sensu numa instituiccedilatildeo renomada como a ENSP e poder seguir minha trajetoacuteria
acadecircmica iniciada nesta casa em 2012 com a especializaccedilatildeo em Direitos Humanos e Sauacutede
Agrave minha famiacutelia por todo apoio recebido paciecircncia nos meus dias estressantes
incentivo para que eu natildeo desistisse do meu objetivo Obrigado por terem sonhado comigo
em especial meu esposo Eduardo Brito que acreditou que eu seria capaz antes mesmo de eu
pensar em cursar o mestrado Te amo
Quero tambeacutem registrar minha gratidatildeo pelo privileacutegio de ter Suely Deslandes como
minha orientadora mentora amiga agraves vezes matildee (matildee loira minha diva da vida academia)
por todas as orientaccedilotildees recebidas por ter acreditar em mim pelo incentivo pelas chamadas
para a realidade pelas dicas compreensatildeo paciecircncia (e como vocecirc exerceu esse dom comigo)
diante das minhas dificuldades e limitaccedilotildees diante do trabalho aacuterduo que eacute construir um
trabalho acadecircmico com qualidade Cada sessatildeo ligaccedilatildeo e encontros foram importantes
Jamais vou esquecer todo o suporte que meu deu aprendi e aprendo muito com vocecirc Eacutes uma
inspiraccedilatildeo para mim Muito obrigada
Agrave coordenaccedilatildeo acadecircmica do Programa de Mestrado em Sauacutede Puacuteblica da ENSP todo
corpo docente docentes convidados pela competecircncia e excelecircncia no ensino Agradeccedilo em
especial aos docentes e pesquisadores da minha subaacuterea violecircncia e sauacutede por terem me
oportunizado refletir apreender e conhecer sobre a violecircncia suas especificidades Obrigada
pelos encontros reflexivos provocadores e desafiadores (Maria Ceciacutelia Minayo ndash nossa diva
maior Suely Deslandes Patriacutecia Constantino Joviana Avanci Simone de Assis Kathie
Njaine Ednilsa Ramos Liana Pinto Fatima Cequetto Ana Elisa Miriam Schenker e Liane da
Silveira) Obrigada a todos os colegas da turma MSP2016 tenho orgulho dessa turma
Saudade dos nossos cafeacutes e chaacute de bebecircs
Agrave minha turma da subaacuterea Ethos Guerreiro (Adri Bruno Cynthia Lu Ju Hellen
Rodolfo e Val) pela solidariedade incentivo e empatia ao longo desses dois anos Foram
muitas batalhas conquistas alegrias perdas anguacutestias e tristezas partilhadas natildeo vou me
esquecer do que vivemos juntos virtualmente e presencialmente Temos um Ethos coletivo
que eacute de Guerreiro
Obrigada membros da banca por acreditar no meu trabalho e me possibilitar chegar
ainda mais perto dessa realizaccedilatildeo que eacute me tornar mestre Bibliotecaacuterio Adriano equipe da
secretaria acadecircmica pela prontidatildeo e profissionalismo muito obrigada
Encerra-se um ciclo para que outro se inicie
Como diz um salmo de Davi e nisso me apeguei ―Confie no Senhor Tenha feacute e
coragem Confie em Deus o Senhor (Salmos cp27 v14) Bestrong Gratidatildeo
RESUMO
Este estudo trata o cyberbullying como uma violecircncia psicoloacutegica que ocorre entre pares no
contexto das sociabilidades digitais logo se configura como um problema de sauacutede puacuteblica
que traz impactos agrave sauacutede emocional de crianccedilas e adolescentes que pode desencadear
inclusive em suiciacutedio Analisamos as formas de conceituar os fenocircmenos e suas dinacircmicas
quais os personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede dos perpetradores
e acometidos por essa categoria de violecircncia A seguir analisamos as propostas e enunciados
de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo propostas pelo e para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo (quem
satildeo os atores implicados e quais as estrateacutegias recomendadas) analisar os discursos sobre
prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno
Empreendemos tal estudo a partir de uma revisatildeo criacutetica da literatura tomando como base a
Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) nos moldes propostos por Fairclough sobretudo no que
diz respeito aos discursos e enunciados evocados em sua interdiscursividade (manifesta e
constitutiva) forccedila e praacutetica social Percebeu-se uma necessidade de novos estudos que
contextualizem a questatildeo do cyberbullying na cibercultura e novas possibilidades de interaccedilatildeo
digitais bem como estudos que discutam com maior aprofundamento o papel dos
profissionais de sauacutede no enfrentamento e na prevenccedilatildeo
Palavras-chaves Cyberbullying Sauacutede Educaccedilatildeo violecircncia
ABSTRACT
This study deals with cyberbullying as a psychological violence that occurs between peers in
the context of digital sociabilities and is therefore a public health problem that impacts the
emotional health of children and adolescents which can lead to suicide We analyze the ways
of conceptualizing the phenomena and their dynamics which characters are identified and
which associations point to the health of the perpetrators and affected by this category of
violence Next we analyze the proposals and statements of prevention and intervention
proposed by and for the fields of Health and Education (who are the actors involved and what
strategies are recommended) analyze the discourses on prevention accountability coping
modes and dynamics of the phenomenon We undertake such a study based on a critical
review of literature based on the Analysis of Critical Discourse (ADC) in the ways proposed
by Fairclough especially with regard to the discourses and statements evoked in his
interdiscursividade (manifest and constitutive) strength and social practice There was a need
for new studies that contextualize the issue of cyberbullying in cyberculture and new
possibilities for digital interaction as well as studies that discuss with a deeper understanding
the role of health professionals in coping and prevention
Key-words Cyberbullying Health Education violence
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO13
11 Objetivos13
12 Metodologia 19
2 MARCO TEOacuteRICO24
21 Cibercultura sociabilidade digital e ciberespaccedilo 24
22 Bullying29
23 Cyberbullying35
231 Cyberbullying Violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica35
3 ARTIGO 1 CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES
CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E IMPLICACcedilOtildeES COM
A SAUacuteDE44
Introduccedilatildeo45
Meacutetodos49
Conceituaccedilatildeo51
Descriccedilotildees das dinacircmicas56
Personagens envolvidos58
Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos61
Discussatildeo62
4 ARTIGO 2 CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO
PARA O CAMPO DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE
LITERATURA64
Introduccedilatildeo64
Metodologia66
Caracterizaccedilatildeo do acervo69
Estrateacutegias de prevenccedilatildeo74
Estrateacutegias de intervenccedilatildeo80
5 CONCLUSOtildeES 87
6 REFEREcircNCIAS91
Sumaacuterio de Quadros
Quadro 1 Seleccedilatildeo do acervo22
Quadro 2 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo24
Quadro 3 Vocaacutebulo designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas37
Quadro 4 Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de Cyberbullying
(2010-2016)69
Sumaacuterio de Tabelas
Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma51
Sumaacuterio de figuras
Figuras 1 Modelo Tridimensional de Norman Fairclough23
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Em tempos em que manter-se por muitas horas diaacuterias conectadas agrave internet atraveacutes de
aparelhos eletrocircnicos eacute uma realidade cotidiana de parte da sociedade na contemporaneidade
natildeo eacute de se espantar que a sociabilidade tenha sofrido alteraccedilotildees para novas formas de
interaccedilatildeo mediadas por diferentes miacutedias sociais De tal modo a violecircncia tambeacutem ganhou
novas formas de expressatildeo
A violecircncia e suas mais distintas expressotildees tecircm sido pauta de estudos em diferentes
aacutereas do conhecimento inclusive no campo da Sauacutede
Segundo Assis e Marriel (2010) conceituar violecircncia eacute uma tarefa difiacutecil por se tratar
de um fenocircmeno de muacuteltiplas causalidades
Ainda sobre as violecircncias Wanzinack e Signorelli (2015 p 09) afirmam que elas
atingem de forma natildeo apenas diferente mas sobretudo desigual a distintos sujeitos e grupos
da sociedade Assim sendo as violecircncias se manifestam por meio de diferentes atores e
encontram- se em variados cenaacuterios
Entende-se que existe uma relaccedilatildeo estreita poreacutem natildeo exclusiva entre a Violecircncia e a
Sauacutede conforme apontam Minayo e Souza (1998 p520) ―a violecircncia natildeo eacute objeto restrito e
especiacutefico da sauacutede mas estaacute intrinsecamente ligada a ela Cabe ressaltar que o campo da
Sauacutede possui um papel social de relevacircncia pois dentre suas funccedilotildees estatildeo a elaboraccedilatildeo de
estrateacutegias preventivas a promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede coletiva e individual
O cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se manifesta sob os moldes de
agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para aleacutem da
subjetividade do indiviacuteduo resultando em implicaccedilotildees praacuteticas e reais no cotidiano e
individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)
Um estudo (Silva Silva Saldanha 2011) realizado atraveacutes de um questionaacuterio com
114 crianccedilas e adolescentes portuguesas constatou que o cyberbullying causa efeitos
devastadores na sauacutede mental e fiacutesica Entre as consequecircncias mais frequentes estavam as
crises de choro (714) a ansiedade (571) a dificuldade de concentraccedilatildeo (571) e os
pesadelos (571)
O cenaacuterio para este estudo foi o ambiente virtual visto que a violecircncia tem alcanccedilado
relevante capilaridade neste espaccedilo o que tem gerado amplas consequecircncias Satildeo
14
repercussotildees que perpassam tanto as relaccedilotildees sociais iniciadas fora do ambiente virtual que
podem ou natildeo ser nutridas neste ambiente (como exemplo relaccedilotildees familiares entre colegas
e vizinhos) ou ainda interaccedilotildees sociais mais superficiais (amigos virtuais eou seguidores de
redes sociais que podem ou natildeo ter uma relaccedilatildeo social real com o usuaacuterio nessas redes
sociais) Certas vinculaccedilotildees desenvolvidas neste espaccedilo satildeo conexotildees construiacutedas por meio de
interesses comuns que todavia podem ser rompidas a qualquer momento devido agrave
superficialidade nessas conexotildees
Essas relaccedilotildees sociais que ocorrem no ciberespaccedilo (espaccedilo virtual) e que podem
culminar em atos violecircncia na comunicaccedilatildeo digital se manifestam em meio a uma cultura
digital Cultura esta que alguns estudiosos da aacuterea das ciecircncias da comunicaccedilatildeo e ciecircncias
sociais chamam de cibercultura
Segundo Andreacute Lemos (2015) a cibercultura seria uma confluecircncia entre as formas
sociais praacuteticas humanas e a tecnologia sendo atraveacutes da inclusatildeo da sociabilidade na praacutetica
diaacuteria da tecnologia que ela adquire os seus contornos mais niacutetidos A existecircncia de uma nova
forma de apresentaccedilatildeo da cultura e da proliferaccedilatildeo de uma sociabilidade digital traz consigo
distintas facetas entre elas a violecircncia se faz presente no ciberespaccedilo e nas relaccedilotildees digitais
que ali se estabelecem A nova sociabilidade digital eacute mediada por distintas tecnologias que
facilitam o uso e acesso individual e remoto tais como os smarthphones notebooks e outros
modos de comunicaccedilatildeo que possibilitam o envio e recebimento de mensagens de textos
aacuteudios imagens fotos e viacutedeos Essas muacuteltiplas formas de interaccedilatildeo digital podem ser
utilizadas para depreciar denegrir e expor vexatoriamente eou negativamente agrave imagem de
algueacutem Assim o cyberbullying pode ser concebido e difundido poreacutem agraves vezes seus autores
natildeo satildeo identificados devido agrave possibilidade de anonimato (ainda existente) no ambiente
virtual ou ainda a morosidade na identificaccedilatildeo desses autores Apesar de todos os avanccedilos
tecnoloacutegicos que possibilitam rastreamentos e localizaccedilatildeo de aparelhos eletrocircnicos de
comunicaccedilatildeo
Aleacutem disso uma vez que uma imagem eacute veiculada no ambiente virtual essas
informaccedilotildees poderatildeo estar pra sempre circulando na rede mundial de computadores por meio
das diferentes conexotildees que podem ser realizadas Lemos (2015) considera o ciberespaccedilo
como um ambiente onde ocorre uma significaccedilatildeo sensorial da civilizaccedilatildeo pautada em
informaccedilotildees digitais
15
Jaacute Martino (2015) ao tratar das questotildees caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais
contemporacircneas afirma que os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos
estabelecidos conforme a necessidade de um momento e desmanchados depois Haacute uma
dinacircmica nos contatos sociais feitos atraveacutes da internet partindo da ideia do nuacutemero e dos
tipos de conexotildees que podem ser estabelecidas entre os participantes das redes sociais
presentes no chamado ciberespaccedilo
Eacute inevitaacutevel falar cyberbullying sem mencionar o fenocircmeno bullying por ambos os
fenocircmenos ocorrerem entre pares e pelo fato deste primeiro ser chamado de a versatildeo digital
do bullying dito como tradicional
Jaacute que para alguns o cyberbullying representaria ―uma nova forma de bullying (Neto
2005) O autor cita Bill Belsey professor que teria utilizado pela primeira vez o conceito
trata-se do uso da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (e-mails
telefones celulares mensagens por pagers ou celulares fotos digitais sites
pessoais difamatoacuterios accedilotildees difamatoacuterias online) como recurso para a
adoccedilatildeo de comportamentos deliberados repetidos e hostis de um individuo
ou grupo que pretende causar danos a outro (s)
Sabe-se que os primeiros estudos sobre o bullying satildeo oriundos dos paiacuteses do norte da
Europa dos paiacuteses considerados noacuterdicos na deacutecada de 1970 pelo professor universitaacuterio
Dan Olweus e posteriormente na Sueacutecia com Heinz Leymann Dan Olweus eacute apresentado
como o precursor em realizar pesquisas sistemaacuteticas sobre o tema Em 1989 Olweus e
Roland divulgaram os primeiros diagnoacutesticos de seu estudo sobre o bullying No entanto
estudos de bullying entre estudantes passaram ser mais observados em outros paiacuteses como os
Estados Unidos a partir da deacutecada de 1980 (Olweus 2003)
Segundo Malta et al (2010) o Bullying eacute uma praacutetica antiga Os autores o entendem
como uma ―violecircncia que traz repercussotildees no cotidiano de suas viacutetimas como uma ameaccedila
diaacuteria a integridade fiacutesica psiacutequica e da dignidade humana (pg3069) Os autores enfocam
ainda que o bullying natildeo eacute uma violecircncia demarcada por recortes sociais e econocircmicos e
perpassa por distintas camadas sociais e ―niacuteveis culturais Segundo Cleo Fante (2008 p 86)
o ―bullying eacute uma palavra de origem inglesa adotada em muitos paiacuteses para definir o desejo
consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocaacute-la sob tensatildeo Conforme Shariff
16
(2011) trabalhadores britacircnicos de minas de carvatildeo discorriam sobre colegas de trabalho
como bullies e a partir daiacute iniciou-se uma associaccedilatildeo dos bullies com ―brigotildees ou
―valentotildees Poreacutem somente a partir na deacutecada de 1800 (seacutec XIX) a termologia (bullies)
passou a se referir agrave fraqueza covardia tirania e violecircncia tendo ainda uma associaccedilatildeo a
gangues Deste modo agir como um bully representava tratar de maneira ―autoritaacuteria
intimidadora e apavoradora O que nos leva a entender que haacute provaacutevel relaccedilatildeo etimoloacutegica da
palavra bullying e o prefixo bully como falaremos a seguir
Ainda em Sharrif (2011) a etimologia expotildee muito sobre a problemaacutetica existente em
identificar o bullying ao reconhecer que houve uma transiccedilatildeo do que representaria um
comportamento valentatildeo de modo amplo para um trato de autecircntica hostilidade ao destacar a
comparaccedilatildeo existente entre a evoluccedilatildeo histoacuterica da palavra e do bullying no ambiente escolar
contemporacircneo
Assim o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma
disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre
sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidados (Alim
2016) Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs
horas diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de cyberbullying
(Arsegravene Raynaud 2015) Li et al (2012) trazem destaque sobre os efeitos do cyberbullying
que podem ser tatildeo graves quanto o do bullying presencial As viacutetimas apresentam a
probabilidade de sofrer de depressatildeo sendo que os autores (em geral tambeacutem crianccedilas e
adolescentes) enfrentam esse problema posto que seja uma violecircncia entre pares Em
decorrecircncia disso a violecircncia psicoloacutegica reproduzida no ambiente virtual pode desencadear
consequecircncias graves a sauacutede de suas viacutetimas (Li et al 2012)
Existem autores que consideram a necessidade de compreensatildeo por parte dos
profissionais de que o cyberbullying seria um processo que ocorre em adiccedilatildeo ao bullying
tradicional como um subtipo de bullying com caracteriacutesticas especiacuteficas (Stelko-Pereira e
Williams 2011 in Wendt 2013) Entretanto para Wendt (2013) em muitos casos pode natildeo
haver o bullying [no acircmbito da vida real] mas pode estar ocorrendo a vitimizaccedilatildeo [apenas]
17
online portanto trata-se de processos sobrepostos embora independentes (p83) [grifos
nosso]
Uma pesquisa internacional a TIC KIDS ONLINE (2015) que visa mapear possiacuteveis
riscos oportunidades na internet e aponta dados sobre mediaccedilatildeo parental ao entrevistar
crianccedilas e adolescentes entre 09 e 17 anos revelou que cerca de 20 foram tratados de forma
ofensiva na internet nos uacuteltimos 12 meses Entre os entrevistados 9 receberam mensagens
ofensivas pela internet 4 declarou que outras pessoas postaram mensagens ofensivas na
internet para outras pessoas verem o mesmo percentual de jovens foi excluiacutedo de grupo ou
rede social
Uma pesquisa nacional realizada no segundo semestre de 2009 neste caso
apresentada pela ONG SAFERNET cuja amostra contou com a participaccedilatildeo de 2525 alunos
e 966 educadores das redes puacuteblicas e privadas identificou com relaccedilatildeo a situaccedilotildees de
cyberbullying ―que 33 dos entrevistados jaacute haviam tido algum amigo viacutetima desse tipo de
humilhaccedilatildeo na rede
Tais maus tratos consistem em praacuteticas de difamaccedilatildeo humilhaccedilatildeo
ridicularizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo por meio de ferramentas da internet
Com o atual aumento das facilidades para acesso ao mundo virtual por
parte de crianccedilas e adolescentes esse tipo de agressatildeo se torna cada
vez mais frequente Uma caracteriacutestica importante desse tipo de
agressatildeo eacute que consiste num ―fenocircmeno sem rosto agrave medida que na
internet o agressor pode muitas vezes natildeo se identificar
(httpwwwpromeninoorgbrportals0pesquisabullyingpdf)
Compreende-se que existem situaccedilotildees na vida que podem gerar abalo emocional e
consequentemente paralisam pessoas algumas conseguem superar tais situaccedilotildees e saiacuterem
delas fortalecidas Um dos motivos para que cada indiviacuteduo lide de modo distinto com
problemas semelhantes estaacute relacionado com o conceito de resiliecircncia A resiliecircncia pode ser
caracterizada como a capacidade de superar uma dada situaccedilatildeo de adversidade e sair
fortalecido (Angst 2009) Importante considerar essa capacidade de recuperar-se de lidar de
forma positiva com as pressotildees eou estresse em situaccedilotildees de adversidades Interessante
apontar que o conceito de coping apresenta uma base conceitual semelhante agrave resiliecircncia
todavia natildeo se confunde agrave ela correspondendo a uma capacidade cognitiva comportamental
O coping eacute definido como ―conjunto das estrateacutegias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-
18
se a circunstacircncias adversas ou estressantes (Antoniazzi Bandeira DellacuteAglio 1998 in
Taboada et al 2006) Tais estrateacutegias individuais podem ser utilizadas como manejo
individual diante eou apoacutes situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying
Entende-se que existe um grau de fragilidade quando os jovens satildeo expostos ao uso da
internet seja devido ao uso prolongado das redes sociais e outras formas de navegaccedilatildeo na
web ou ainda o uso da internet sem o monitoramento dos responsaacuteveis bem como o uso de
aparelhos com acesso agrave internet desprotegidos de sistema de seguranccedila de dados e
informaccedilotildees Fatos como esses podem contribuir para o iniacutecio de um ciclo de violecircncia
Embora jaacute existam poliacuteticas de conscientizaccedilatildeo sobre uso adequado da internet
seguranccedila virtual e de responsabilizaccedilatildeo de pessoas que cometem crimes virtuais natildeo
necessariamente faz com que todas as formas de violecircncia virtual sejam identificadas eou
tenham seu ciclo rompido
Partindo desse recorte analiacutetico utilizamos as seguintes questotildees investigativas
- Como a literatura nacional e internacional conceitua o cyberbullying e descreve suas
dinacircmicas
- Qual o papel de gecircnero em tais dinacircmicas
- Quais conexotildees satildeo feitas com a sauacutede de crianccedilas e adolescentes que sofrem e praticam o
cyberbullying
- Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees propostos pela
literatura sobre cyberbullying - Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a questatildeo da
sociabilidade virtual juvenil (Deve haver regulaccedilatildeo Como ocorre Deve ser proibida)
- Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullyin
- O que fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying
Nosso objetivo geral foi analisar como a literatura nacional e internacional aborda o
tema as associaccedilotildees que delimita entre o cyberbullying e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes e
as accedilotildees propostas de intervenccedilatildeoprevenccedilatildeo para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo
19
Nossos objetivos especiacuteficos foram
1 Analisar as conceituaccedilotildees utilizadas para caracterizar o cyberbullying explorando
eventuais diferenccedilas entre os autores nacionais e estrangeiros
2 Analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela comunidade cientiacutefica sobre as
propostas de prevenccedilatildeo do cyberbullying e modos de enfrentamento no campo da
sauacutede e educaccedilatildeo
3 Analisar as representaccedilotildees associadas agrave construccedilatildeo dos sentidos do fenocircmeno (causas
personagens envolvidos e responsabilidades implicadas)
4 Analisar as praacuteticas de cyberbullying (perpetrar sofrer testemunhar) a partir das
dinacircmicas das relaccedilotildees de gecircnero
5 Identificar associaccedilotildees e implicaccedilotildees agrave sauacutede das pessoas intimidadas e dos
perpetradores causados pelos diferentes tipos de cyberbullying
6 Analisar as propostas de enfrentamento sugeridas para Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores
implicados e estrateacutegias sugeridas)
Diante disso apresentaremos como resultado dessa dissertaccedilatildeo dois artigos O primeiro
buscou analisar as conceituaccedilotildees de cyberbullying adotadas pela literatura nacional e
internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo enfocando suas ecircnfases e
―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as associaccedilotildees que delimitam
entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes
No segundo artigo buscamos analisar criticamente as estrateacutegias de enfrentamento do
cyberbullying tanto no campo da Sauacutede quanto no campo da Educaccedilatildeo Elencando quem
seriam os atores implicados e que tipos de estrateacutegias haviam sido apontados pela literatura
investigada com enfoque em analisar criticamente tais discursos
METODOLOGIA
Propomos realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa considerando que este tipo
de estudo se compromete em trabalhar com ―os significados atribuiacutedos pelos sujeitos aos
fatos agraves relaccedilotildees praacuteticas bem como ―as interpretaccedilotildees dessas praacuteticas ao estudar uma
realidade especiacutefica (Minayo e Deslandes 2002)
20
Com relaccedilatildeo ao meacutetodo investigativo inicialmente haviacuteamos optado por utilizar do
meacutetodo de revisatildeo sistemaacutetica integrativa todavia a busca trouxe uma quantidade muito
elevada de trabalhos (7785) considerando o tempo para uma anaacutelise coerente de modo a
cumprir o cronograma proposto assim optamos por fazer uso de revisatildeo de literatura do tipo
―revisatildeo criacutetica (critical review)
Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um
tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant Booth
2009) A contribuiccedilatildeo de uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas
discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel
(Paregrave et al 2015) O escopo analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou
estatisticamente representativo Esse tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos
selecionados o que eacute considerado o seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as
revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo
(siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais
positivista (anaacutelise de conteuacutedo)
Cabe mencionar que preferimos por delimitar temporalmente o escopo da busca das
referecircncias para a revisatildeo literaacuteria sobre o tema proposto (de 2006 a 2016) Tal escolha
temporal se refere agrave disseminaccedilatildeo do acesso agrave internet por aplicativos em aparelhos moacuteveis
bem como a ampla disseminaccedilatildeo do maior site de relacionamento do mundo (FACEBOOK)
por exemplo datados a partir da deacutecada que trataremos a seguir
Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo
BVS Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA
(Applied Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017
Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos
(all fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no
Medical Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying
(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos
vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo
Com o intuito de reduzir e qualificar mais esse acervo optou-se por trabalhar apenas os
estudos de revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no
tiacutetulo e ―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de
21
qualquer natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas
modalidades revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica
sistemaacutetica revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo
sistemaacuteticas e revisatildeo narrativa
Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis
para acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em
301 estudos Depois de analisar cada artigo no MENDLEY foi identificado 156 artigos em
duplicidade que natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias
(MENDLEY) como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com
traduccedilatildeo de texto para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou
francecircs e quando houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor
seguido de et al Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com
recorte temporal de publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem
sendo difundido na uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo
Desse nuacutemero de artigos apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo (conforme
quadro 1) Destacamos ainda que migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias
ZOTERO por ser um programa open sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados
pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos
salvos nos mais distintos formatos
22
Quadro 1 ndash Seleccedilatildeo do acervo
ACERVO (cyberbullying)
7785 estudos (allfields)
301
(apoacutes criteacuterio de exclusatildeo)
141
(apoacutes exclusatildeo das duplicidades)
72
(apoacutes recorte temporal)
57 estudos (prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo )
O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia
dos autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus
conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes
categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do
cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede
No que se refere agrave anaacutelise de dados especialmente no segundo artigo adotamos o
meacutetodo de Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) Considerando que a ADC possui outras
correntes de anaacutelise tomamos como referecircncia a orientaccedilatildeo dada por Norman Fairclough que
propotildee estudos criacuteticos e interdisciplinares sobre a praacutetica discursiva e sua relaccedilatildeo com a
transformaccedilatildeo social e de cultura Para Fairclough (2001) os discursos contribuem
diretamente para a construccedilatildeo dos sistemas de conhecimento e crenccedilas tendo trecircs funccedilotildees e
dimensotildees de sentido que ―coexistem e ―interagem em todo discurso sendo elas identitaacuteria
relacional e ideacional Na funccedilatildeo identitaacuteria estatildeo implicados os modos pelos quais as
23
identidades sociais satildeo constituiacutedas na funccedilatildeo relacional como as relaccedilotildees sociais entre os
atores presentes nos discursos satildeo representadas e ―negociadas na funccedilatildeo ideacional os
modos pelos quais significam o mundo seus processos entidades e relaccedilotildees Essas duas
uacuteltimas satildeo interpretadas (Halliday 1978 In Fairclough 2001) como de caraacuteter ―interpessoal
Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de
praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos
discursos adotados nos estudos analisados Sendo assim se torna caro para noacutes identificarmos
que accedilotildees estatildeo sendo ditas a partir dos discursos construiacutedos nos estudos que seratildeo
analisados sobre o tema proposto Ou seja o que tem sido dito pelos estudos acerca do
cyberbullying Cabe destacar que o modelo proposto por Fairclough para a ADC abarca a
anaacutelise da praacutetica discursiva do texto e da praacutetica social
Conforme descrito na figura seguinte
Figura 1 - Concepccedilatildeo tridimensional do discurso em Fairclough (2001101)
O modelo tridimensional da ADC proposto por Fairclough distingue trecircs dimensotildees
dessa forma de anaacutelise de discurso texto praacutetica discursiva e praacutetica social Ao tratar
dimensatildeo textual o autor traz o entendimento de que todo o texto eacute elaborado de modo que
satildeo repletos de significados e inclusive de ambiguidades No que tange a praacutetica discursiva
segundo Fairclough (2001) permite explicar como os discursos satildeo produzidos distribuiacutedos
consumidos e interpretados reduzindo assim as possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva
propotildee categorias como a forccedila coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz
referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos de fala que o texto realiza [o que o texto evoca] a
coerecircncia trata do sentido que o texto possui [para quem faz sentido qual a loacutegica das
marcaccedilotildees e conexotildees] a intertextualidade ―eacute basicamente a propriedade que tecircm os textos de
PRAacuteTICA SOCIAL
PRAacuteTICA DISCURSIVA
TEXTO
24
serem cheios de fragmentos de outros textos (Fairclough 2001) [grifos nossos] A categoria
intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta
aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de
textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que o Fairclough vai chamar
de interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A
praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto
Ao que se refere ao discurso como praacutetica social em Fairclough (2001) estaria
implicada necessariamente como uma dimensatildeo que produz os efeitos ideoloacutegicos e
hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees
econocircmica cultural e ideoloacutegica Sendo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo
de identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas
de crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente
Neste sentido todo o discurso possuiu uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir
uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma
determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir
mudanccedila social em uma dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de relaccedilotildees
sociais
Destacamos que para realizar o processo de anaacutelise de discurso proposto utilizamos
um roteiro com matrizes de perguntas como Qual a conceituaccedilatildeo para o cyberbullying Quais
as definiccedilotildees e ou descriccedilotildees sobre as dinacircmicas do cyberbullying Como os personagens
envolvidos na praacutetica de cyberbullying satildeo descritos
No que tange a designaccedilatildeo e dinacircmica da anaacutelise submetemos os artigos selecionados
agraves matrizes de perguntas e posteriormente criamos bancos de dados temaacuteticos para as
definiccedilotildees propostas de enfrentamento diferenccedilas de gecircnero conexotildees entre a sauacutede de
crianccedilas e adolescente que sofrem e praticam cyberbullying Os quadros temaacuteticos permitiram
organizaccedilatildeo das informaccedilotildees extraiacutedas e faacutecil acesso ao conteuacutedo no momento da anaacutelise
propriamente dita Para exemplificar segue abaixo o modelo de quadro temaacutetico
25
Quadro 02 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo
Matrizes de perguntas ndash Roteiro para a anaacutelise
Enfim cabe esclarecer que consideramos neste campo reflexivo as accedilotildees praacuteticas
apontadas nos estudos para os setores da Sauacutede e da Educaccedilatildeo incluindo as accedilotildees de cunho
preventivo e promotoras de cultura de paz1
Por fim por se tratar de um estudo de revisatildeo bibliograacutefica a pesquisa natildeo necessitou
ser submetida a um comitecirc de eacutetica em pesquisa com seres humanos
1 A cultura de paz estaacute intrinsecamente relacionada agrave prevenccedilatildeo e agrave resoluccedilatildeo natildeo violenta dos conflitos Eacute uma
cultura baseada em toleracircncia e solidariedade uma cultura que respeita todos os direitos individuais que
assegura e sustenta a liberdade de opiniatildeo e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os () A cultura
de paz procura resolver os problemas por meio do diaacutelogo da negociaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo de forma a tornar a guerra e a violecircncia inviaacuteveis Disponiacutevel em httpunesdocunescoorgimages0018001899189919porpdf
Acessado em 26052018
PERGUNTAS SAUacuteDE EDUCACcedilAtildeO
Como o Cyberbullying eacute
conceituado
Quais as descriccedilotildees das
dinacircmicas
Quais as descriccedilotildees dos
personagens
Quais as associaccedilotildees e
implicaccedilotildees com a sauacutede das
pessoas intimidadas e dos
perpetradores
Como as propostas de
intervenccedilatildeo satildeo apresentadas
(estrateacutegias de accedilatildeo objetivos
personagens envolvidos)
26
1 MARCO TEOacuteRICO
11 CIBERCULTURA SOCIABILIDADE DIGITAL E CIBERESPACcedilO
O surgimento da internet teria sido fruto da ARPANET uma rede de computadores
construiacuteda nos EUA pela Advanced Projects Agency (ARPA) do Departamento de Defesa
americano em 1969 com intuito de mobilizar recursos de pesquisas universitaacuterias para obter
superioridade tecnoloacutegica militar em comparaccedilatildeo a Uniatildeo Sovieacutetica Contudo somente na
deacutecada de 1980 eacute que a tecnologia da rede de computadores passou a ser comercializada ―Por
razotildees histoacutericas e culturais a internet foi deliberadamente projetada como uma tecnologia de
comunicaccedilatildeo livre (Castells 200310)
Desde entatildeo a sociabilidade contemporacircnea passou por significantes transformaccedilotildees
a partir do advento da internet De acordo com Castells (2003) a internet passou a ser a base
tecnoloacutegica para a forma organizacional da era da informaccedilatildeo Sendo assim da internet incide
a capacidade de distribuiccedilatildeo da forccedila informacional por todo o domiacutenio da atividade humana
permitindo pela primeira vez a comunicaccedilatildeo de muitos com muitos num momento
escolhido em escala global
De acordo com o dicionaacuterio Priberam (2016) internetlsquo eacute uma palavra de origem
inglesa que significa
―Rede informaacutetica utilizada para interligar computadores agrave niacutevel
mundial agrave qual pode aceder qualquer tipo de usuaacuterio e
que possibilita o acesso a toda a espeacutecie de informaccedilatildeo (httpswwwpriber
amptDLPOinternet)
Haacute um entendimento de que a internet contribui para as dinacircmicas de mercado
ampliaccedilatildeo e agilidade nas redes de contato acesso a informaccedilatildeo entre outros aspectos
concernentes agraves sociedades poacutes-modernas Atraveacutes dos avanccedilos tecnoloacutegicos na atualidade eacute
possiacutevel o acesso agrave internet por meios eletrocircnicos modernos como smartphones tablets
notebooks e ultrabooks
Cabe salientar que os avanccedilos tecnoloacutegicos bem como todo esse aprimoramento com
relaccedilatildeo agrave experiecircncia de interaccedilatildeo eou de estar conectado permitiu que novos modos de
27
sociabilidade fossem permitidos como as redes sociais Barnes foi apontado como um dos
criacuteticos que defende a ideia de alargamento e natildeo delimitaccedilatildeo do que hoje conhecemos como
redes sociais Ao realizar uma etnografia sobre o iniacutecio de uma estratificaccedilatildeo social numa ilha
norueguesa tal antropoacutelogo desenvolvera uma tese segundo a qual todos seus habitantes
estariam interligados uns aos outros por cadeias de conhecimentos interligados e pouco
extensatildeo mas que natildeo se limitava aos limites da ilha entretanto ligavam seus habitantes a
outros sujeitos fora do seu contexto social e topograacutefico de pertencimento (Barnes A 1954
apud Marteleto 2010)
Jaacute Lemos (2015) ao relatar sobre o ciberespaccedilo declara que este eacute compreendido como
um espaccedilo sem dimensotildees um universo de informaccedilotildees navegaacuteveis de forma instantacircnea e
reversiacutevel Afirma ser uma ―nova dimensatildeo espaccedilo temporal de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo
(p127) Para o autor esse natildeo lugar remete a duas perspectivas 1ordf O lugar onde estamos
quando entramos em um ambiente simulado (ambiente virtual) 2ordf Um conjunto de redes de
computadores interligadas ou natildeo em todo o planeta a internet ―as redes vatildeo se interligar
entre si e permitir a interaccedilatildeo por mundos virtuais () (pg128) Natildeo obstante a cibercultura
representaria um conjunto de aspectos e padrotildees culturais relacionados com a internet e a
comunicaccedilatildeo em redes de computadores (Dicionaacuterio online Priberam 2016) Com a criaccedilatildeo
dessa nova expressatildeo da cultura inserida no ambiente virtual foram estabelecidos novos
paracircmetros de privacidade do sujeito agrave medida que cada vez mais as pessoas estatildeo sendo
observadas por todos em todos os lugares fenocircmeno que alguns autores chamam de
vigilacircncia e visibilidade
Segundo Levy (2010) a Cibercultura em sua essecircncia tem caraacuteter de um universal
poreacutem sem totalidade pois ele seria indeterminado agrave medida que em cada nova transmissatildeo
pode representar um receptor ou emissor de informaccedilotildees de dimensotildees inalcanccedilaacuteveis e
aleatoacuterias Na cibercultura o real e virtual estatildeo a todo tempo em contato ao passo que um
indiviacuteduo pode estar no Brasil conectado online com uma pessoa do Japatildeo ou ainda em
conexatildeo com pessoas em diferentes nacionalidades numa mesma interaccedilatildeo online
Entendemos que esta universalidade eacute alcanccedilada agrave medida que possibilita diferentes e
muacuteltiplas conexotildees entre seres humanos em todo o planeta Deixa de ser total por natildeo
possuirmos o controle das dimensotildees que essas conexotildees podem alcanccedilar pela falta de
28
domiacutenio sobre as informaccedilotildees partilhadas visto que uma vez lanccediladas na rede natildeo se pode
mensurar o potencial de compartilhamentos acessos e quais novas conexotildees podem ser
geradas Nesse aspecto a interconexatildeo generalizada emerge do crescimento da internet como
uma nova forma de universal Para Levy (2010) o universo da cibercultura eacute indefinido se
considerada a gama de conexotildees que podem ser estabelecidas ao passo que o emissor ou
produtor a todo o momento pode estabelecer diferentes conectividades
Nessa sociedade poacutes-moderna os modos de conexotildees atraveacutes das distintas tecnologias
digitais tecircm gerado novas formas do que representa viver em sociedade Entre as
caracteriacutesticas da sociabilidade digital estaacute a hipervisibilidade e o tribalismo No que tange a
hipervisibilidade o ciberespaccedilo contribui para a criaccedilatildeo de uma ―realidade aumentada
(Lemos 2015) Que pode ser configurada com a exposiccedilatildeo e maior visibilidade que as vidas e
os corpos passam a ganhar Dados como localizaccedilatildeo fotos e hipertextos expotildeem informaccedilotildees
sobre o indiviacuteduo e todos que possui um viacutenculo virtual seja este viacutenculo ―fraco ou ―forte
O privado passa a ser publicizado a partir dos compartilhamentos realizados neste universo de
informaccedilotildees instantacircneas em tempo real Outra dimensatildeo da sociabilidade digital presente na
cibercultura eacute o que Lemos (2015) chama de tribalismo sendo esta uma ―tendecircncia
comunitaacuteria na rede social complexa do ciberespaccedilo Essa caracteriacutestica de tribalismo
concebe uma ideia de agregaccedilatildeo social empatia pautados no interesse muacutetuo de estar
conectados por ideologias ou alguma outra identificaccedilatildeo Contudo essa socialidade tribal traz
consigo um ethos de compartilhamento baseado no que Maffesoli vai chamar de eacutetica da
esteacutetica (Maffesoli 1987 apud Lemos 2015) Esse termo designa um processo em que a
sociedade eacute mascarada assumindo um ethos a partir daquilo que pretende compartilhar com
os outros um modo de ser partindo do que se quer ostentar
E se analisarmos o crescimento do acesso agrave conexatildeo de internet cada vez mais
pessoas estatildeo navegando na rede e compartilhando de seus interesses abrindo suas vidas
quase que indiscriminadamente
Para ressaltarmos o quanto o acesso agrave internet tem crescido no paiacutes verificamos que
em 2009 segundo o resultado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) feita pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) cerca de 679 milhotildees de brasileiros
teriam conexatildeo com a internet ou seja o nuacutemero de domiciacutelios com acesso agrave internet no
Brasil aumentou em 71 entre 2005 e 2009 (Site UOL) Jaacute os resultados da PNAD 2013
divulgados em 2015 nos mostraram que cerca de 856 milhotildees de brasileiros (acima de 10
anos) o equivalente a 494 da populaccedilatildeo teriam acesso agrave internet incluindo por meio de
29
aparelhos que natildeo fosse notebooks e desktops Dos 312 milhotildees das residecircncias com
acesso agrave internet 977 estatildeo conectados por banda larga Em meacutedia 771 dos
domiciacutelios conectam a internet por banda larga fixa enquanto 435 teriam acesso
agrave banda larga moacutevel (Site EBC)
Em contrapartida apesar dos nuacutemeros expressivos o direito agrave inclusatildeo digital ainda
natildeo corresponde agrave realidade de todos os brasileiros sendo um tema de grande discussatildeo
Todavia jaacute eacute uma realidade em parte do Brasil acessar a internet por WIFI internet agrave raacutedio ou
modems 3G e 4G moacuteveis A partir da instalaccedilatildeo de aplicativos (apps) em aparelhos moacuteveis
que comportam o acesso agrave internet eacute possiacutevel conectar-se a Redes Sociais como Facebook
WHATSAPP INSTAGRAM TWITTER SNAPCHAT entre outras inclusive de forma
―gratuita Obviamente tal gratuidade possui interesses e contrapartidas comerciais Todavia
o que nos chama atenccedilatildeo eacute que essas redes sociais representam um ponto de encontro de
centenas de milhares de jovens ao redor do mundo diariamente com longas duraccedilotildees de
conexotildees (sempre online) e em grande escala sem administraccedilatildeo de tempo eou supervisatildeo de
um adulto responsaacutevel Cada vez mais cedo crianccedilas tecircm acesso agraves redes sociais O que nos
leva a crer que crianccedilas por vezes com apoio de seus responsaacuteveis estariam omitindo ou
adulterando sua idade real para que tenham acesso agraves redes sociais que natildeo permitem o
acesso de crianccedilas menores de 13 anos (como no caso do FACEBOOK)2 Essa espeacutecie de
conivecircncia dos pais que permitem que seus filhos utilizem redes sociais mesmo quando
algumas plataformas digitais natildeo permitem o acesso de crianccedilas Inclusive esse acesso pode
ser considerado como um risco a sauacutede e a seguranccedila das crianccedilas
O estudo de Machold et al (2012) com 474 estudantes Irlandeses de trecircs escolas
secundaacuterias entre 11 e 16 anos de idade para avaliar padrotildees gerais de uso da internet e
identificar potenciais de risco incluindo cyberbullying contato improacuteprio uso excessivo
dependecircncia e invasatildeo de privacidade por outros usuaacuterios detectou que (403) o equivalente agrave
95 dos adolescentes fazem uso de redes sociais Com relaccedilatildeo ao tempo de uso duas horas
ou mais foram gastas nas redes sociais diariamente por (285) o correspondente a 62 sendo
que 450 estudantes cerca de (98) fazem uso sem supervisatildeo
Entretanto os laccedilos de afinidade neste ambiente invisiacutevel onde os perfis e as novas
relaccedilotildees estabelecidas nas redes sociais podem natildeo ser verdadeiros mas simulaccedilotildees Essa
realidade estaacute presente no cotidiano de milhares de pessoas que estatildeo predispostas a manter
2 httpspt-brfacebookcomhelp210644045634222
30
um contato virtual na maioria das vezes pautado na superficialidade agrave medida que esse
ambiente invisiacutevel (considerando suas dimensotildees) traz visibilidade para nossa localizaccedilatildeo e
atividades compartilhadas com os ―amigos virtuais Martino (2015) ao tratas das relaccedilotildees
sociais mantidas na rede considera que ―por seu turno conexotildees satildeo criadas mantidas eou
abandonadas a qualquer instante sem maiores problemas comparadas as ―instituiccedilotildees
sociais como a famiacutelia trabalho ou religiatildeo tendem a ser mais riacutegidas para com seus membros
do que as redes sociais
A internet trouxe um desenvolvimento expressivo para o funcionamento das
sociedades modernas Para Shariff (2011) pela sua natureza os meios eletrocircnicos permitem
que as formas tradicionais do bullying assumam caracteriacutesticas que satildeo especiacuteficas do
ciberespaccedilo
Esse espaccedilo seria representado por um solo natildeo configurado onde os sujeitos se
relacionam de qualquer territoacuterio fiacutesico com pessoas que estejam em um diferente local
como se ambas estivessem frente a frente sem a necessidade de haver um contato fiacutesico ou
real o encontro se daacute em uma nova dimensatildeo o ciberespaccedilo
Concluiacutemos que o ciberespaccedilo eacute um campo natildeo material poreacutem virtual onde a noccedilatildeo
de espaccedilo eacute perdida e o real eacute aumentado possibilitando a comunicaccedilatildeo por meios eletrocircnicos
e a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees em larga escala com muacuteltiplas e distintas pessoas
22 Bullying
A violecircncia admite distintas expressotildees e multicausalidades (Ferreira e Tavares 2012)
Desse modo se faz necessaacuterio abordar a questatildeo do bullying antes de aprofundarmos sobre a
questatildeo central deste trabalho Segundo Fante e Pedra (2008) na maioria dos paiacuteses onde o
fenocircmeno eacute estudado emprega-se o termo em inglecircs (bullying) Entretanto existem
alguns paiacuteses que utilizam outros termos de sua liacutengua sem que se perca o
significado Satildeo usados por exemplo mobbing na Noruega e na Dinamarca [t raduz ido
para o po rtuguecircs co mo bu l lying] mobbning na Sueacutec ia e na F in lacircnd ia
[ t raduz ido para o por tuguecircs como b u l lying] hercegravelement quotidien na Franccedila
[traduzido para o portuguecircs como asseacutedio diaacuterio] prepotenza ou bullismo na I t aacute l ia
[traduzido para o portuguecircs como bullying] ijime no Japatildeo [traduzido para o portuguecircs
31
como arrelia3] Agressionen unter S h uuml le r n na Alemanha (traduzido para o portuguecircs
como agressatildeo entre alunos) a c o s o e a m e n a z a entre escolares ou in t i m i d a c ioacute n na
Espanha [traduzido para o portuguecircs como perseguiccedilatildeo ameaccedila e intimidaccedilatildeo] (pg 34)
[grifos nossos]
Algo que nos chama agrave atenccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave temaacutetica bullying eacute a compreensatildeo que
alguns autores tecircm acerca do significado e ambiguidade entre a questatildeo do bullying e o
Asseacutedio Moral (mobbing4
) cabe destacar que por se tratar de palavras inglesas essa
ambiguidade se apresenta a partir da realizaccedilatildeo de traduccedilatildeo da temaacutetica como no caso da
liacutengua espanhola Como exemplo destacamos ao estudo peruano de Armeno (2011) que ao
tratar do assunto bullying escolar utiliza a palavra acoso (perseguiccedilatildeo) escolar poreacutem ao
serem utilizadas em conjunto (acoso escolar) eacute traduzida para o portuguecircs como bullying
Contudo algumas traduccedilotildees por exemplo traduz ―acoso escolar como asseacutedio moral
quando as palavras estatildeo juntas poreacutem acoso sem escolar tem como significado perseguiccedilatildeo
como mostrado no quadro anterior
Eacute possiacutevel ver neste estudo que satildeo muitas as definiccedilotildees tratadas para este assunto
desde o entendimento sobre o significado ou a magnitude do cyberbullying e sobre o bullying
Em alguns casos tanto cyberbullying como o bullying podem ser confundidos por
dificuldades na clareza de suas definiccedilotildees Contudo Farrington (1993381) define o bullying
como uma ―opressatildeo repetida de caraacuteter fiacutesico ou psiacutequico de uma pessoa com menos poder
por outra com mais poder Neste sentido o mais forte exerce poder sobre o mais fraco seja
esse poder de ordem fiacutesica por meio de agressatildeo ou psicoloacutegica de modo a causar medo e
intimidaccedilatildeo
Dentre vaacuterias definiccedilotildees para o que se entende por bullying Melo (2011) define como
uma agressatildeo fiacutesica psicoloacutegica verbal moral sexual material ou virtual praticada por uma
ou vaacuterias pessoas contra uma mesma viacutetima de forma repetitiva por um periacuteodo prolongado
de tempo sem motivo aparente baseada numa relaccedilatildeo desigual de poder dificultando a
defesa da viacutetima e que deixa sequelas marcas e consequecircncias (pg21) Natildeo podemos deixar
de mencionar que o bullying eacute uma violecircncia entre pares
3 Arrelia traz entre sua significaccedilatildeo 1 Amofinaccedilatildeo [ato de aborrecer] apoquentaccedilatildeo [aborrecimento
aporrinhaccedilatildeo] 2falta de paciecircncia pressa sofreguidatildeo 3contenda rixa desavenccedila 4pressentimento de coisa
maacute mau agouro (Google) wwwgooglecombrsearch Acessado em 27102016
4 Palavra inglesa para asseacutedio moral
32
Armeno (2011) considera a questatildeo do bullying (―acoso escolar) como uma
violecircncia social que pode asssumir forma verbal fiacutesica e por isolamento social da viacutetima
Para o autor os espectadores (outros estudantes) seriam necessaacuterios visto que satildeo
para esses que o perpetrador do bullying ―perseguidor ―mostra seu poder O silecircncio dos
espectadores permite que as accedilotildees sejam sistemaacuteticas Em termos de conteuacutedos eles podem
ser racistas se a origem da questatildeo eacute eacutetnica se eles incluem piadas obcenas de cunho sexual
ou ainda homofoacutebicas se tecircm a ver com a suposta orientaccedilatildeo sexual dos que sofrem a accedilatildeo
Se os meios utilizados satildeo as mensagens por telefones celulares ou computadores considera
como bullying digital o que para o autor pode ser devastador porque a viacutetima natildeo teria um
lugar para fugir das accedilotildees de bullying sofridas na escola visto que na internet a accedilatildeo pode ter
continuidade (Armeno 2011) Diante disso entendemos que o autor compreende o ―bullying
digital como uma extensatildeo do bullying tradicional e que a escola eacute o campo em que tais
accedilotildees satildeo iniciadas e que a presenccedila de espectadores pode potencializar ainda mais as accedilotildees
promovidas pelos perpetradores por encontrarem nestes a ―plateacuteia para realizaccedilatildeo de seus
atos de bullying
Compete resgatar que o iniacutecio da conscientizaccedilatildeo acerca deste grave problema no
acircmbito escolar bem como ressaltar que os primeiros estudos sobre o assunto foram
produzidos pelo Professor Universitaacuterio Dan Olweus na Noruega como jaacute mencionado Em
1993 Olweus publica na Escandinaacutevia o livro ―Bullying at School onde expotildee o bullying
como um fenocircmeno presente no contexto escolar trazendo uma discussatildeo a partir dos
resultados obtidos em seus estudos projetos de investigaccedilatildeo apresentando uma possiacutevel
correlaccedilatildeo de ―caracteriacutesticas que poderiam identificar os perfis de viacutetimas e agressores O
livro apresenta o resultado obtido em sua pesquisa sistemaacutetica realizada na deacutecada de 1980
com 150000 estudantes escandinavos onde descobriu que 15 dos estudantes entre 08 e 16
anos estavam envolvidos com a questatildeo do bullying sendo viacutetimas e agressores com
regularidade e entre esses havia casos de agressores que tambeacutem eram vitimas de Bullying
(Olweus 2003) Como repercussatildeo do estudo de Olweus e Roland ―Bullying at School uma
Campanha Nacional Anti Bullying foi desenvolvida nas escolas norueguesas em 1993 com o
apoio do Governo tendo com resultado a reduccedilatildeo em cerca de 50 nos casos de bullying nas
escolas
Outro ponto relevante eacute com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero entre os personagens do
fenocircmeno bullying Cabe destacar a pesquisa de Da Costa et al (2015) que ao analisar a
prevalecircncia de casos de bullying entre 598 adolescentes brasileiros na faixa etaacuteria de 14 agrave 17
33
anos de aacuterea urbana de Belo Horizonte em 2009 constatou que houve uma prevalecircncia de
264 entre os entrevistados Sendo 280 entre os entrevistados de sexo masculino e 240
entre o puacuteblico do sexo feminino Isso significa que frac14 dos adolescentes que responderam ao
questionario sofreram bullying Entre os meninos esse nuacutemero foi um pouco mais elevado do
que entre as meninas A questatildeo do bullying estaria associada agrave insatisfaccedilatildeo com a vida que
levam dificuldades na relaccedilatildeo com pais envolvimento em brigas com colegas (pares) e
inseguranccedila na regiatildeo onde residem Uma observaccedilatildeo interessante eacute que o estudo de Da Costa
et al (2015) foi realizado no mesmo ano que a primeira Pesquisa Nacional de Sauacutede do
Escolar (PENSE5) 2009 realizada pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e
Ministeacuterio da Sauacutede Poreacutem os resultados foram divergentes com relaccedilatildeo a mesma capital
investigada BH Com relaccedilatildeo agrave PENSE a pesquisa foi realizada em escolas para investigar
fatores de risco e proteccedilatildeo da sauacutede dos escolares jaacute a pesquisa de Da Costa e colaboradores
foi um estudo populacional realizado no domiciacutelio dos entrevistados por meio de inqueacuterito
com amostragem probabiliacutestica em trecircs estaacutegios setores censitaacuterios residecircncia e indiviacuteduos
Os inquiridos responderam questotildees sobre bullying caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
comportamentos de risco agrave sauacutede bem-estar educacional estrutura familiar atividade fiacutesica
marcadores de haacutebitos alimentares e bem-estar subjetivo (percepccedilatildeo corporal satisfaccedilatildeo
pessoal e satisfaccedilatildeo com a vida atual e futura) Outro fator que pode ter influecircncia nos
resultados foi o tamanho da amostra visto que a pesquisa PENSE analisou apenas alunos
matriculados no 8ordf Seacuterie fundamental (atual 9ordm ano) de escolas puacuteblicas e particulares da
cidade de BH enquanto que o estudo de Da Costa a escolaridade dos investigados natildeo foi um
recorte A prevalecircncia de bullying na PENSE 2009 em BH foi de 69 segundo Malta
(2014)
Haacute um entendimento de que os adolescentes do sexo masculino seriam os maiores
praticantes e alvos de bullying conforme aponta resultado da pesquisa PENSE 2012 Nesse
estudo observou-se maior praacutetica de bullying entre os estudantes do sexo masculino (261)
e 160 entre as estudantes do sexo feminino (IBGE 2013)
Com relaccedilatildeo ao enfrentamento a essa problemaacutetica Schutz et al (2012) defendem a
ideia de que a atuaccedilatildeo contra o bullying assim como cyberbullying natildeo pode estar restrita agrave
individualidade das caracteriacutesticas dos sujeitos em questatildeo ou seja autor e alvo ignorando a
5 Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar ndash PENSE eacute um inqueacuterito com alunos de escolas puacuteblicas e particulares
realizado pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que disponibiliza informaccedilotildees para o sistema de informaccedilotildees para o Sistema de Vigilacircncia de Fatores de Riscos e Proteccedilatildeo as Doenccedilas Crocircnicas do Brasil
Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfressv26n32237-9622-ress-26-03-00605pdf Acessado em 26062018
34
teia complexa das relaccedilotildees que implicam a manutenccedilatildeo do fenocircmeno Os autores sugerem
uma anaacutelise sistecircmica da complexidade dos diversos sistemas envolvidos e das relaccedilotildees
estabelecidas entre autor e alvo testemunhas famiacutelia comunidade escolar a cultura na qual
estatildeo inseridos Apontam a necessidade de investigaccedilatildeo que verifique a incidecircncia dos casos e
abrangecircncia do problema incluindo toda a comunidade escolar
Em 2015 o Brasil passou a dispor de uma legislaccedilatildeo Federal que trata da questatildeo A
lei Anti Bullying instituiu o Programa Nacional de Combate agrave Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica
(bullying) Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica eacute a configuraccedilatildeo utilizada no Brasil para classificar o ato
de violecircncia que internacionalmente eacute denominado por Bullying
―No contexto e para os fins desta Lei considera-se intimidaccedilatildeo
sistemaacutetica (Bullying) todo ato de violecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica
intencional e repetitivo que ocorre sem motivaccedilatildeo evidente praticado
por indiviacuteduo ou grupo contra uma ou mais pessoas com o objetivo
de intimidaacute-la ou agredi-la causando dor e anguacutestia agrave viacutetima em uma
relaccedilatildeo de desequiliacutebrio de poder entre as partes envolvidas
(Paraacutegrafo 1ordm da Lei 131852015)
Cabe mencionar que a lei natildeo deixa expliacutecito se inclui a questatildeo do asseacutedio moral no
trabalho visto que ao instituir o programa propotildee accedilotildees no acircmbito escolar com enfoque nos
estudantes
Outra definiccedilatildeo para a questatildeo do bullying bastante coerente adveacutem da lei do Estado
do Rio de Janeiro jaacute mencionada anteriormente que define o bullying como
A praacutetica reiterada e habitual de atos de violecircncia fiacutesica verbal ou
psicoloacutegica de modo intencional exercida por indiviacuteduo ou grupos de
indiviacuteduos contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidar
agredir causar dor ou sofrimento anguacutestia ou humilhaccedilatildeo agrave vitima
inclusive por meio de exclusatildeo social (Paraacutegrafo 1ordm da Lei 64012013
- RJ)
A lei que institui 7 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento a Violecircncia na
escola faz menccedilatildeo ao Massacre de Realengo trageacutedia ocorrida em abril do ano de 2011
35
quando doze crianccedilas entre 13 e 16 anos (dez meninas e dois meninos) foram assassinados a
tiros na Escola Municipal Tasso da Silveira por um ex aluno da unidade escolar que apoacutes ser
atingido por um tiro disparado por um policial militar teria se suicidado (AGEcircNCIA
SENADO 2016) Segundo relatos a motivaccedilatildeo do crime seria incerta poreacutem a nota do
suiciacutedio deixada pelo o autor do massacre e de acordo com o testemunho da irmatilde adotiva o
jovem sofria bullying
Natildeo podemos deixar de mencionar que Campanhas de enfrentamento ao Bullying tecircm
aparecido em pautas de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGs) e Governamentais como
Stop Bullying do Department of Health and Human Services dos Estados Unidos (EUA)
comunidades escolares e universidades como Massachusettes Aggresion Reduction Center
da Brigde State University (EUA) e em diferentes paiacuteses como Portugal Inglaterra Canadaacute
e Noruega Este uacuteltimo foi um dos primeiros paiacuteses a desenvolver campanhas anti bullying
alertando sobre seus impactos na vida e sauacutede dos que sofre essa violecircncia
Por fim cabe discorrer sobre os agravos agrave sauacutede relacionados a sofrer bullying Os
meninos e meninas alvos de bullying estariam propensos a desenvolver episoacutedios de
ansiedade baixo rendimento escolar inseguranccedila na escola sofrer de tensatildeo crescente
estando preacute-dispostos ao maior uso abusivo de drogas e em alguns casos mais graves ao
suiciacutedio (Malta et al 2010) Gera tanto um sofrimento emocional moral quanto fiacutesico
podendo desencadear outros agravos tais como baixa autoestima depressatildeo estresse
doenccedilas psicossomaacuteticas transtornos mentais (Calhau 2008 p88) O bullying natildeo deve ser
considerado como uma simples brincadeira (―zoaccedilatildeo) entre crianccedilas e adolescentes muito
menos ser banalizado ao passo de ser algo rotineiro Pelo contraacuterio esse assunto carece de ser
tratado como uma questatildeo de Sauacutede Puacuteblica que deve ser discutida investigada e enfrentada
por muacuteltiplos setores
A PENSE (Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar) uma pesquisa com escolares
adolescentes de escolas puacuteblicas e privadas realizada pelo IBGE que entre os objetivos visa
aferir dados sobre bullying incluiu na ediccedilatildeo de 2015 uma segunda amostra O que
representou um diferencial com relaccedilatildeo agraves ediccedilotildees anteriores De acordo com a pesquisa
(2015) a primeira amostra foi realizada com 2630835 estudantes frequentando o 9ordm ano do
ensino fundamental de escolas puacuteblicas e privadas do Brasil em Grandes Regiotildees Distrito
Federal Capitais e Estados e a segunda amostra realizada com 13199862 estudantes de 13 a
17 anos de idade frequentando as etapas do 6ordm ao 9ordm Ano (antiga 5ordf a 8ordf seacuteries) do ensino
36
fundamental e alunos do 1ordm ao 3ordm ano do Ensino Meacutedio (antigo 2ordm Grau) de escolas puacuteblicas e
privadas para o conjunto do paiacutes e em grandes capitais no ano de referecircncia da pesquisa
(IBGE 2015) Dentre os entrevistados desta ediccedilatildeo a primeira amostra 74 sofreram
provocaccedilotildees ou foram humilhados sempre ou na maior parte do tempo nos uacuteltimos 30 dias
que antecederam a pesquisa O estudo apontou com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que os
percentuais foram proacuteximos para os estudantes do sexo feminino 72 e sexo masculino
75 Jaacute os estudantes da regiatildeo Sudeste apresentaram o maior percentual 83 estes
afirmaram sofrer humilhaccedilotildees e constrangimentos no acircmbito escolar Outro dado relevante eacute
do Estado de Satildeo Paulo que obteve o maior percentual 90 se comparado ao percentual
obtido pela regiatildeo sudeste e demais regiotildees A aparecircncia do corpo e do rosto foram os
principais motivos da violecircncia psicoloacutegica sofrida pelos escolares Com relaccedilatildeo aos
perpetradores aproximadamente 198 dos escolares brasileiros haviam praticado atos
configurados como bullying (ter esculachado zombado mangado intimidado ou caccediloado)
poreacutem entre os estudantes do sexo masculino este nuacutemero foi mais elevado aproximadamente
242 Interessante que com relaccedilatildeo aos intimidados (aqueles que declararam se sentir
humilhados e provocados com frequecircncia pelos colegas) os nuacutemeros apresentados foram de
74 entre a faixa etaacuteria de 13 a 15 anos e 52 dos estudantes entre 16 e 17 anos (IBGE
2015) Na ediccedilatildeo da PENSE supracitada foi incluiacuteda uma questatildeo especiacutefica para abordar a
questatildeo do bullying natildeo utilizado nas PENSEs 2009 e 2012 Nessas ediccedilotildees ―bullying era
substituiacutedo por verbos como (esculachar zoar mangar caccediloar e intimidar) entretanto
passaram a adotar o termo ―intimidaccedilatildeo em consonacircncia a nomenclatura adotada a partir da
Lei de Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica (Lei Anti bullying e cyberbullying brasileira)
promulgada no ano em que a pesquisa foi realizada (2015) Relevante informar que o estudo
aponta como legiacutetimo o reconhecimento do bullying como uma importante questatildeo de Sauacutede
Puacuteblica bem como a relevacircncia de estrateacutegias intersetoriais de enfrentamento Natildeo houve
uma especificaccedilatildeo para o cyberbullying na pesquisa PENSE 2015 no quadro que analisou a
questatildeo da intimidaccedilatildeo apesar da lei vigente no paiacutes incluir e reconhecer a versatildeo virtual do
bullying Embora tenham mencionado no texto e haverem citado o recorte dado na Lei de
Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica sobre a questatildeo do cyberbullying nos dados
analisados pela pesquisa Natildeo houve ainda um toacutepico especiacutefico que pudesse identificar onde
ocorriam as ―intimaccedilotildees zoaccedilotildees e esculachos subentendendo-se que ocorria na escola
aleacutem disto os meios eletrocircnicos natildeo foram apontados
37
23 CYBERBULLYING
231 Cyberbullying violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica
Entre o grande nuacutemero de pessoas conectadas pela internet novos modos de
interaccedilotildees aparecem a partir da utilizaccedilatildeo de dispositivos eletrocircnicos possibilitando assim a
disseminaccedilatildeo irrestrita de informaccedilotildees em formato ―multimodal onde ―os recursos de miacutedia
integram coacutedigos texto som e imagem (Junior E Rocha 2013 pg206) Com a internet o
potencial de transmissatildeo e receptaccedilatildeo de informaccedilatildeo se tornou mais expansivo em relaccedilatildeo a
outras miacutedias como o caso da TV analoacutegica (atualmente substituiacuteda pela TV digital) (idem)
Permitindo assim que o compartilhamento de informaccedilotildees seja propagado com maior
facilidade inclusive as informaccedilotildees difamatoacuterias
O uso da internet em especial de redes de relacionamentos traz consigo a
probabilidade de disseminaccedilatildeo de violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de
relacionamentos criaccedilatildeo de falsos (―fakes) perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo ao
convite ao suiciacutedio por meio de sites escolares clandestinos No Japatildeo satildeo conhecidos como
―gakko ura saito os sites escolares clandestinos acessados pelo celular Eles geram uma nova
forma de cyberbullying em grupo poreacutem sem a necessidade de identificaccedilatildeo dos chamados
―caluniadores anocircnimos (Hasegawa et al 2007 Shariff 2011) O ijime-jisatsu [suiciacutedio
associado ao ijimi - cullying] eacute uma das consequecircncias desastrosas e culturalmente incidentais
do fenocircmeno no Japatildeo Outro aspecto cultural no Japatildeo do netto-ijime [cyberbullying] eacute a
taxa elevada de suiciacutedio entre os jovens O que nos mostra o quanto o territoacuterio invisiacutevel da
internet pode desencadear no campo presencial consequecircncias agrave sauacutede de seus afetados
Admitindo que vivenciar uma experiecircncia de violecircncia no universo digital pode ser bastante
devastador Conforme afirma Santos et al (2013) a internet se torna um palco de grandes
riscos
Entendemos que o cyberbullying manteacutem muitas das caracteriacutesticas do bullying
poreacutem natildeo constitui meramente uma de suas expressotildees na instacircncia virtual pois possui
algumas caracteriacutesticas proacuteprias como o longo alcance do conteuacutedo depreciativo audiecircncia
de larga escala (testemunhas) por causar impacto nas viacutetimas sem precedentes pela
38
possibilidade de anonimato por parte dos perpetradores Aleacutem disso a ocorrecircncia do
cyberbullying pode se dar a qualquer momento e em qualquer lugar pela
dificuldademorosidade na detecccedilatildeo dos praticantes do cyberbullying ou dos criadores de
perfis falsos constituiacutedos no intuito de depreciar agredir e constranger Ao que se refere agraves
traduccedilotildees para o portuguecircs dos termos adotados para a palavra cyberbullying a traduccedilatildeo
aparece disponiacutevel em vaacuterias liacutenguas conforme Google Tradutor
Quadro 3 Vocaacutebulos designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas
Palavra Liacutenguas Traduccedilatildeo para Portuguecircs
Kiberzapugivanieye Russo Cyberbullying
Cyber-mobbing Alematildeo Cyberbullying
naumltmobbning Sueco Cyberbullying
Cyberintimidation Francecircs Cyberbullying
Cyber bullismo Italiano Cyberbullying
Netto yjime Japonecircs Cyberbullying
Cyberpesten Holandecircs Cyberbullying
El ciberacoso Espanhol Cyberbullying
Seiber-fwlio Galecircs Cyberbullying
Maltretiranje Seacutervio Cyberbullying
Cyberprzemoc Polonecircs Cyberbullying
Fonte da traduccedilatildeo Google Tradutor
O termo cyberbullying teria sido criado pelo educador e pesquisador do Canadaacute Bill
Belsey para identificar o bullying virtual que faz uso das tecnologias digitais e para de modo
39
insistente e repetitivo hostilizar ofender ou ameaccedilar algueacutem (Maldonado 2009 in Melo
2011)
O que tem ocorrido eacute o crescimento de casos de agressotildees virtuais concebidas no
ambiente do ciberespaccedilo A forma de propagaccedilatildeo desse tipo de violecircncia deve ser analisada e
contextualizada O uso da internet pode ter um cunho prejudicial e essa consequente situaccedilatildeo
de exposiccedilatildeo pode tornar os sujeitos vulneraacuteveis ao passo de atingir em maior proporccedilatildeo a
geraccedilatildeo digital (os mais jovens) sendo necessaacuteria a mobilizaccedilatildeo de discussotildees sobre o papel
da escola na mediaccedilatildeo prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo virtual (Wendt 2011 p8)
Estudos tecircm advertido o quanto o cyberbullying tambeacutem pode desencadear agravos
relevantes agrave sauacutede de crianccedilas e adolescentes inclusive apontando um recorte de gecircnero
numa loacutegica binaacuteria desprovida de informaccedilotildees que caracterizem questotildees como a orientaccedilatildeo
sexual dos sujeitos Por exemplo Amemyia et al (2013) e Aranzales et al (2014) acreditam
que a praacutetica do cyberbullying eacute maior entre pessoas do sexo masculino Todavia minorias e
pessoas do sexo feminino satildeo mais propensas a serem atemorizados por estarem mais
vulneraacuteveis a situaccedilotildees de intimidaccedilatildeo Um estudo de meta-anaacutelise feito por Barllet et al
(2014) tendo como hipoacuteteses se cyber-bullying eacute considerado uma forma de bullying
tradicional e agressatildeo pessoas do sexo masculino seriam propensos a serem ―cyber-
valentotildees mais do que as do sexo feminino Inversamente se cyberbullying eacute considerado
relacional agressatildeo indireta as meninas seriam ligeiramente mais propensas a serem
perpetradoras de cyberbullying que os meninos Os autores apresentaram ainda outros
aspectos relevantes ao considerar na avaliaccedilatildeo questotildees como paiacutes continente e ano de
publicaccedilatildeo dos estudos bem como a idade dos atores pesquisados Ainda em Barllet et al
(2014) essas variaacuteveis poderiam influenciar significativamente os resultados de estudos sobre
cyberbullying Um dos fatores destacado tratou sobre as publicaccedilotildees que consideram o
cyberbullying uma forma de bullying tradicional e agressatildeo nesses casos os meninos seriam
mais propensos a serem perpetradores do que as meninas Contudo os resultados de
estimativas desse estudo afirmam que ainda sim os meninos teriam maior predisposiccedilatildeo a ser
―cyber-valentotildees Outro dado relevante eacute que no caso das meninas que relataram sofrer
cyberbullying a faixa etaacuteria estava entorno do iniacutecio adolescecircncia entretanto os meninos que
relataram sofrer cyberbullying apresentavam uma meacutedia de idade maior que as meninas
40
Assim o ambiente virtual eacute um terreno capaz de propiciar atos de violecircncia repetitiva
e ainda onde seus autores dificilmente satildeo descobertos o cyberbullying configura-se como
um tipo de violecircncia capaz de trazer consequecircncias graves as suas viacutetimas Para um usuaacuterio
do ambiente virtual que possui a imagem distorcida a internet pode representar uma
ferramenta de autodestruiccedilatildeo se natildeo utilizada de forma correta ou saudaacutevel Estudos apontam
dados significativos sobre os impactos do cyberbullying em estudantes6
Um fator relevante eacute que grande parte dos estudos ao mencionar sobre as pessoas que
satildeo atingidas pelo cyberbullying se referem a estes uacuteltimos utilizando o substantivo ―viacutetima
para identificar aqueles que sofrem este tipo de violecircncia Contudo acreditamos que o termo
traz a conotaccedilatildeo de passividade sugerindo ainda uma natildeo possibilidade de superaccedilatildeo da
condiccedilatildeo sofrida Eacute bem verdade que estudos apontam sobre as dificuldades das ditas
―viacutetimas em expor o dano sofrido ou pedir ajuda Entretanto outros conseguem ter
resiliecircncia a ponto de solicitar auxilio de familiares profissionais ou ainda autoridades Outro
aspecto relevante eacute que podem existir casos em que o intimidado pelo cyberbullying pode se
tornar um perpetrador ou ter sido um em outra situaccedilatildeo Inclusive pode haver casos em que
uma viacutetima de cyberbullying tenha sido um agressor (no caso do bullying tradicional) ou vice
versa Diante disso utilizaremos outros substantivos para relacionar aqueles que sofrem com
o Cyberbullying como por exemplo intimidados atingidos ou acometidos
Cassidy et al (2009) afirmam que adolescentes acometidos de cyberbullying teriam
uma maior predisposiccedilatildeo ao suiciacutedio do que aqueles que natildeo vivenciaram essas formas de
agressatildeo entre pares Apesar disso muitos dos que sofrem com o cyberbullying se calam
mesmo diante das constantes humilhaccedilotildees e depreciaccedilotildees Acreditamos que este calar por
parte dos intimidados pode representar tanto uma imaturidade acerca de como agir diante de
tal situaccedilatildeo como a falta de esclarecimento acerca dos serviccedilos e profissionais que podem
cuidar e acompanhar os casos de cyberbullying ou ainda uma ausecircncia de mecanismos de
apoio de faacutecil acesso que decircem conta de questotildees como esta Baronceli e Ciucci (2014) ao
6 Patchin e Hinduja (2010) dirigiram um estudo que objetivou apurar quais os impactos do
cyberbullying em jovens envolvendo 1963 alunos do ensino meacutedio oriundos de 30 escolas americanas Atraveacutes
de um instrumental de autodeclaraccedilatildeo estes estudiosos verificaram que tanto os cyberbullies (agressores) como
as viacutetimas apresentaram niacuteveis baixos de autoestima em maior frequecircncia quando comparados aos alunos sem
histoacuteria de vitimizaccedilatildeo online No entanto 231 dos alunos declararam ter sido perpetradores e 188 terem
sido viacutetimas de Cyberbullying Todavia as questotildees de gecircnero representaram diferenccedilas delimitadas
identificadas na ocorrecircncia dos subtipos de vitimizaccedilatildeo virtual entre meninos e meninas
41
investigar 529 preacute-adolescentes com idade inferior a 12 anos e 7 meses comparam
caracteriacutesticas de inteligecircncia emocional e controle negativo das emoccedilotildees relacionados ao
bullying e cyberbullying compreendendo que o bullying tradicional e cyberbullying satildeo duas
formas distintas de fenocircmenos da violecircncia envolvendo diferentes traccedilos de personalidades
Com relaccedilatildeo agraves formas de atuaccedilatildeo diante do cyberbullying segundo Melo (2011)
podemos encontrar a accedilatildeo direta e indireta Sendo a direta agressotildees por e-mail mensagens
instantacircneas natildeo havendo por parte do agressor o intuito de ficar no anonimato Jaacute a forma
indireta eacute vista como mais ―covarde e ―nefasta pois o agressor passa a usar nomes fictiacutecios
ou de terceiros o que pode ampliar a gravidade do problema visto que outras pessoas
(aqueles que assistem e disseminam a informaccedilatildeo) podem contribuir para esse estaacutegio de
―vitimizaccedilatildeo Entre as accedilotildees estatildeo votaccedilotildees online difamatoacuterias inclusatildeo de viacutedeos e
imagens vexatoacuterias entre outras
O campo virtual se tornou tambeacutem um meio de accedilotildees criminosas e violaccedilotildees de
direitos neste sentido atualmente jaacute existem Delegacias nuacutecleos e divisotildees policiais de
combate aos crimes de informaacutetica ou crimes ciberneacuteticos em diversos estados do paiacutes No
Rio de Janeiro por exemplo existe a Delegacia de Repressatildeo aos Crimes de Informaacutetica
(DRCI) localizada na Cidade da Poliacutecia na regiatildeo da Zona Norte da cidade e a Delegacia de
Proteccedilatildeo agrave crianccedila Viacutetima (DCAV) O que nos leva a entender que o cyberbullying jaacute pode ser
enquadrado como um crime contra a honra e dignidade por repercutir em danos agrave moral do
indiviacuteduo Natildeo podemos deixar de destacar que em algumas cidades brasileiras existem as
Delegacias de Proteccedilatildeo agrave crianccedila viacutetima de violecircncia Neste sentido cabe destacar o estudo de
Della Flora (2014) ao investigar 191 alunos de quatro turmas de 8ordf seacuterie (atual 9ordm ano)
fundamental e duas turmas de 1ordm ano do ensino meacutedio politeacutecnico e 17 professores constatou
que grande parte de alunos e professores citaram o registro de boletim de ocorrecircncia policial
como uma alternativa de enfrentamento ao cyberbullying por considerarem o ato como crime
em que o autor natildeo deve ficar impune Todavia uma vez que muitos de seus autores satildeo
outras crianccedilas ou adolescentes Segundo o artigo 104 do Estatuto da Crianccedila e adolescente -
ECA (Lei 806090) os menores de dezoito anos satildeo inimputaacuteveis Todavia a partir dos doze
anos de idade podem ser responsabilizados juridicamente caso cometam atos infracional
(conduta descrita no art 103 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente como crime ou
contravenccedilatildeo penal) Ainda assim a questatildeo da responsabilizaccedilatildeo merece atenccedilatildeo cuidadosa
O que nos leva reconhecer a importacircncia de uma normatizaccedilatildeo que advirta e responsabilize os
42
responsaacuteveis pelo cyberbullying natildeo extinguindo o potencial e a necessidade de accedilotildees
preventivas de maior impacto
Com relaccedilatildeo ao manejo prevenccedilatildeo e enfrentamento do bullying e suas apresentaccedilotildees
foram realizadas nos uacuteltimos anos no Brasil algumas estrateacutegias de enfrentamento no campo
juriacutedico algumas delas jaacute mencionadas anteriormente Essas legislaccedilotildees apresentam cunho de
responsabilizaccedilatildeo das escolas em notificar accedilotildees de violecircncia no contexto escolar aleacutem de
atividades de conscientizaccedilatildeo incluindo informaccedilotildees sobre o cyberbullying atraveacutes do
enfrentamento por meio de accedilotildees educativas e capacitaccedilotildees Em contrapartida as escolas por
vezes natildeo se responsabilizam por questotildees que emergem no campo virtual como eacute o caso dos
sites de relacionamentos (Redes Sociais) considerando que estas uacuteltimas estariam aleacutem de
suas responsabilidades interventivas
Refletimos que algumas leis7 implantadas representam respostas a clamores sociais
muito particulares como eacute o caso do Massacre de Realengo jaacute mencionado anteriormente
Principalmente quando evidenciados eou provocados pela miacutedia (com destaque as
reportagens em canais abertos que atingem a grande massa da populaccedilatildeo) aos viacutedeos
inseridos em plataformas como YOUTUBE e Redes Sociais e que satildeo acessados por uma
parcela significativa da populaccedilatildeo Ao mesmo tempo as ferramentas digitais tambeacutem trazem
maior notoriedade para a difusatildeo do cyberbullying entre pares
Segundo apontam os indicadores do SAFERNET entre as principais violaccedilotildees das
quais os internautas solicitaram ajuda no ano de 2015 atraveacutes do Helpline (canal de
atendimento) estaacute o Cyberbullying com 265 (duzentos e sessenta e cinco) denuacutencias sendo
que 178 (cento e setenta e oito) eram do Brasil O estado de Satildeo Paulo liderou o nuacutemero de
registros com 54 (cinquenta e quatro) Entre os atendidos pelo Helpline ao longo do
funcionamento do serviccedilo de denuacutencia de crimes ciberneacuteticos ajuda e orientaccedilotildees estatildeo
crianccedilas adolescentes pais educadores e outros adultos Com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero
presente nas denuacutencias no ano de 2012 por exemplo foi registrado o contato de 27 mulheres
e 10 homens atraveacutes do nuacutemero das conversas via chat disponiacutevel no portal da Organizaccedilatildeo
(Site SAFERNET)
Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees contra o cyberbullying inerentes ao campo da sauacutede natildeo
identificamos registros de accedilotildees voltadas agrave prevenccedilatildeo do cyberbullying as accedilotildees observadas
ateacute o momento estavam estritamente ligadas aos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo e que
7 Observamos que algumas leis nacionais foram promulgadas nos uacuteltimos anos
43
segundo os achados careciam de capacitaccedilatildeo para realizar tais atividades de cunho
informativo vide as legislaccedilotildees municipais e estaduais que tratam sobre conscientizaccedilatildeo
sobre bullying e cyberbullying Seraacute que o tema tem sido tratado pelos profissionais dos
serviccedilos de sauacutede como CAPSI ndash Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Infantil e pelas equipes de
Programas de Sauacutede Escolar (PSE) Pois se presume que a implantaccedilatildeo do Programa Sauacutede
Escolar tenha sido um ganho para as unidades escolares por propor um trabalho integrativo
entre as redes de Educaccedilatildeo e Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede Tendo em vista que o programa tem
como objetivo avaliar as condiccedilotildees de sauacutede dos estudantes aleacutem do desenvolvimento de
atividades de formaccedilatildeo integral dos estudantes mas seu funcionamento nos municiacutepios eacute
bastante limitado por se tratarem de equipes miacutenimas para um universo de escolas e demandas
de alunos
Desse modo refletimos sobre a necessidade de suporte familiar social educacional e
psicoloacutegico agrave medida que o estado emocional desses indiviacuteduos eacute afetado assustadoramente
atraveacutes desse ato de violecircncia
Entendemos que o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta sob
as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para
aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em repercussotildees praacuteticas e reais seja nas
relaccedilotildees sociais ou na individualidade do sujeito (Dahberg e Krug 2007)
O conceito dado por Pierre Bourdieu (2001) para Violecircncia Simboacutelica traz uma
conotaccedilatildeo coerente com o tipo de violecircncia concebido no ambiente virtual
A violecircncia simboacutelica eacute uma espeacutecie de coerccedilatildeo que se institui por intermeacutedio
da adesatildeo que o dominado [viacutetima] natildeo pode deixar de conceder ao
dominante ou seja dominaccedilatildeo quando dispotildee apenas para pensaacute-lo e para
pensar a si mesmo ou melhor para pensar a relaccedilatildeo com ele de instrumentos
repartidos e que fazem surgir essa relaccedilatildeo com o natural partindo do princiacutepio
de ser a forma incorporada da estrutura da relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo [grifo nosso]
(Bourdieu 2001 p206)
Essa violecircncia eacute conduzida por um indiviacuteduo ou por um grupo que controla o poder
simboacutelico sobre os outros produzindo assim crenccedilas no processo de socializaccedilatildeo induzindo
os dominados a enxergarem e avaliarem o mundo sob as perspectivas e padrotildees estabelecidos
pelos dominantes (Souza 2012) Ou seja aquele que sofre de cyberbullying tem sua imagem
depreciada quer seja pelos xingamentos fotos postadas distorcidas disseminaccedilatildeo de
44
difamaccedilatildeo virtual ao ponto que os dominados dessa relaccedilatildeo de poder podem ser convencidos
de que as informaccedilotildees depreciativas divulgadas sobre ele satildeo de fato reais passando assim a
internalizar tais expressotildees Compreendemos que as relaccedilotildees na internet podem exercer um
poder sobre a vida de seus usuaacuterios e esse manejo utilizado de forma depreciativa por parte de
intimidadoreslsquo tem uma representatividade simboacutelica na vida de crianccedilas e adolescentes e de
todo o contexto em que a violecircncia virtual eacute concebida
A imposiccedilatildeo de significaccedilotildees que a ideia de violecircncia simboacutelica traz contribui para
entendermos o quanto as relaccedilotildees virtuais podem ser assimeacutetricas e desiguais Outro ponto
considerado eacute o fato de que os que satildeo atingidos por essas accedilotildees por vezes natildeo conseguem
inicialmente ponderar os xingamentos como depreciativos de modo que naturalizam tal
questatildeo enquadrando-as como brincadeiras como o exemplo dos apelidos (exemplo baleia
rolha de poccedilo) entre outros De certo modo o que ocorre eacute um poder simboacutelico no que
concerne a relaccedilatildeo entre perpetradores e aqueles que sofrem o cyberbullying Mais uma vez
recorremos a Bourdieu (2001) ao afirmar que o poder simboacutelico eacute representado por esse poder
invisiacutevel que eacute exercido somente a partir da permissividade eou conivecircncia daqueles que
natildeo querem saber que lhes estatildeo sujeitados ou mesmo que o exercem
Com base no arcabouccedilo teoacuterico jaacute utilizado observamos que a violecircncia psicoloacutegica
pode se apresentar em diferentes expressotildees como humilhaccedilatildeo o uso de poder xingamento e
insultos (OMS 2002)
A naturalizaccedilatildeo do cyberbullying pode permitir com que ela se torne uma violecircncia
simboacutelica e ao mesmo tempo velada tanto pelo oprimido quanto pelo opressor que durante o
processo de intimidaccedilatildeo virtual detecircm o poder da ofensa jaacute naturalizada e aceita como a
verdade pelo oprimido
45
Artigo 1
2 CYBERBULLYING CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E
IMPLICACcedilOtildeES Agrave SAUacuteDE (submetido em 28122017 e aprovado em 26032018
na revista Ciecircncia e Sauacutede Coletiva)
RESUMO
O estudo buscou realizar a revisatildeo criacutetica de um conjunto de revisotildees bibliograacuteficas no intuito
de conhecer como o cyberbullying eacute compreendido pela comunidade cientiacutefica como o
fenocircmeno vem sendo conceituado como suas dinacircmicas tecircm sido descritas quais
personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede das pessoas intimidadas e
dos perpetradores A literatura mostrou que natildeo haacute um consenso sobre a conceituaccedilatildeo de
cyberbullying contudo haacute argumentos que defendem sua especificidade e diferenciaccedilatildeo em
relaccedilatildeo ao bullying (pode ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo demarcado
fisicamente pode ser disseminado globalmente o tempo de permanecircncias das postagens
ofensivas eacute indeterminado) Quanto agrave questatildeo de gecircnero associada a essa praacutetica observou-se
um vieacutes reducionista do debate indicando diferenccedilas baseadas numa suposta superioridade
tecnoloacutegica dos meninos Os estudos revisados apontam que tanto as viacutetimas quanto os
46
praticantes de cyberbullying vivenciam experiecircncias negativas em sua sauacutede psicoloacutegica e
comportamental podendo ocorrer inclusive evasatildeo escolar isolamento social depressatildeo
ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio Todavia pouco se problematiza sobre a cultura ciber e como esta
estabelece novas socialidades ndash conhecimento e debate cruciais agrave compreensatildeo do fenocircmeno
Palavra-chave Cyberbullying violecircncia redes sociais ciberespaccedilo sauacutede
ABSTRACT
The study sought to perform a critical review of a set of bibliographical reviews in
order to understand how cyberbullying is understood by the scientific community how the
phenomenon has been conceptualized how its dynamics have been described what characters
are identified and what associations are related to health intimidated persons and perpetrators
The literature has shown that there is no consensus on the concept of cyberbullying but there
are arguments that defend its specificity and differentiation in relation to bullying (it can
occur at any moment and without a physically demarcated space it can be disseminated
globally of the offensive posts is undetermined) As for the gender issue associated with this
practice there was a reductionist bias in the debate indicating differences based on a
supposed technological superiority of the boys The reviewed studies show that both victims
and cyberbullying experience negative experiences in their psychological and behavioral
health including school dropout social isolation depression suicidal ideation and suicide
However there is little question about cyber culture and how it establishes new socialities -
knowledge and debate crucial to understanding the phenomenon
Key-words Cyberbullying violence social networks cyberspace health
INTRODUCcedilAtildeO
O cyberbullying eacute uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se configura como um
―problema social constituindo tema e preocupaccedilatildeo de diversos campos disciplinares aleacutem
de ser representado por alguns autores com uma questatildeo de sauacutede puacuteblica (Brochado Jackson
47
e Cassidy 2006 Carpenter E Hubbard 2014 Nixon 2014 Bottino at al 2015 Yang
Grinshteyn 2016 Brochado Soares e Fraga 2016) As distintas configuraccedilotildees do
Cyberbullying podem ser reconhecidas como atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica
contra crianccedilas e adolescentes perpetrados nas ambiecircncias das redes de sociabilidade digital
podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo circunscrito e demarcado fisicamente
Essa forma de agressatildeo eacute perpetrada por meios eletrocircnicos sejam estes mensagens de textos
fotos aacuteudios ou viacutedeos expressos nas redes sociais ou em jogos em rede transmitidas por
telefone celulares tablets ou computadores e cujo teor tem a intencionalidade de causar dano
agrave outra pessoa de modo repetitivo e hostil conforme Ortega et al apud Brochado Soares e
Fraga (2016)
O cyberbullying tem emergecircncia recente e sua conceituaccedilatildeo ainda em construccedilatildeo abriga
consideraacutevel polissemia em suas definiccedilotildees (Garaigordobil 2011 Torres e Vivas 2012 Della
Ciopa Olsquoneil E Craig 2015) Pesquisas apontam que essa diversidade conceitual por vezes
tem direcionado os estudiosos a usar termos diferentes para se referir ao mesmo conceito ou
usar o mesmo termo com diferentes significados (Tokunaga 2010 Notar 2013 Ybarra et el
Apud Lucas-Molina et al 2016)
Nota-se que a violecircncia tambeacutem se manifesta neste novo espaccedilo o ―ciberespaccedilo ou seja
nesse ―lugar de interaccedilatildeo que se daacute no contexto de uma cultura peculiar conhecida como
cultura ―ciber ou cibercultura Vale pontuar que alguns autores questionam se o conceito de
cibercultura ainda seria vaacutelido dado o borramento das fronteiras considerando que as
relaccedilotildees digitais atravessam de forma onipresente o cotidiano (Roger E Saldado 2016)
O termo sociabilidade cunhado por Mafessoli (2006) faz referecircncia aos haacutebitos costumes
e uma espeacutecie de polidez presente na contemporaneidade A socialidade digital produz um
ethos que gera a necessidade de construir uma imagem social positiva O que eacute postado em
rede a maneira como se eacute visto neste ambiente ou ainda as maacutescaras que satildeo construiacutedas
48
sobre si neste espaccedilo valoram essa teatralidade a partir daquilo que se quer ou se permite que
os outros vejam (Mafessoli 2006) Para crianccedilas e adolescentes que estatildeo em
desenvolvimento essa identidade que se constroacutei pode ser significativamente influenciada a
partir dos padrotildees impostos pela rede A necessidade de ―estar conectado sendo sempre
visto por outros vem sendo aprimorada a cada nova atualizaccedilatildeo que os aplicativos de redes
sociais geram criando e forccedilando novas experiecircncias de compartilhamento para os seus
usuaacuterios digitais Bruno (2013) vai refletir sobre a importacircncia do olhar do outro para
constituir a imagem de si uma imagem engendrada na perspectiva de espetaacuteculo que
contribui para a construccedilatildeo de uma autoestima balizada pela popularidade que se tem nas
redes sociais Observa-se a partir da reflexatildeo de Bruno (2013) que os viacutenculos que se
estabelecem natildeo precisam ser necessariamente fortes para influenciarem as redes sociais Por
vezes aqueles que mais curtem e comentam um conteuacutedo digital satildeo pessoas cujas
vinculaccedilotildees sociais constituem ―laccedilos fracos Outra caracteriacutestica eacute a fluidez dessas relaccedilotildees
pois mesmo modo que novas conexotildees satildeo estabelecidas exclusotildees e bloqueio de pessoas
podem ocorrer sem motivos relevantes (2014)
Ao falar sobre a ―realidade social da virtualidade da internet Castells (2015) afirma que
a internet foi apropriada pela praacutetica social em toda a sua diversidade embora ela tenha
efeitos especiacuteficos sobre tais praacuteticas Aborda como as pessoas se comportam no ambiente
virtual como esperam ser vistas pelos outros Os jovens por exemplo estatildeo nesse processo de
descoberta de identidade de desvendar quem de fato eles satildeo ou gostariam de ser
As relaccedilotildees digitais redefinem dinacircmicas sociais contemporacircneas convocando aos
indiviacuteduos estarem sempre conectados atraveacutes das novas tecnologias independente da
geolocalizaccedilatildeo tempo e do quantitativo de pessoas a quem estatildeo vinculados Traccedilo marcante
da sociabilidade digital eacute a hipervisibilidade (2015) uma exposiccedilatildeo constante e voluntaacuteria dos
fatos e atos cotidianos e iacutentimos O privado passa a ser publicizado a partir dos
49
compartilhamentos realizados neste mundo de informaccedilotildees instantacircneas em tempo real
(2012)
Os jovens ―nativos digitais (2013) estatildeo cada vez mais cedo conectados nas redes sociais
digitais atraveacutes das TICsndash Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Segundo a Pesquisa
Nacional de Amostra por Domiciacutelios ndash PNAD (2015) no Brasil aproximadamente 1021
milhotildees de pessoas de 10 anos ou mais de idade tiveram acesso agrave internet no periacuteodo em que a
pesquisa ocorreu Em 2015 ano da pesquisa com relaccedilatildeo aos grupos etaacuterios observou-se que
os adolescentes de 15 a 17 anos bem como os de 18 e 19 anos de idade apresentaram o maior
iacutendice percentual dentre os usuaacuterios da internet (sendo 82 e 829 respectivamente)
Brunnet et al (2013) apontam um estudo americano que descreve que em meacutedia 93 dos
adolescentes entre 12 e 17 anos acessam a internet e dessa populaccedilatildeo 75 possuem seu
proacuteprio celular
O uso da internet em especial de redes de relacionamentos favorece as praacuteticas de
violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de relacionamentos criaccedilatildeo de falsos
perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo o convite ao suiciacutedio por sites clandestinos ou
comunidades (2011)
Assim o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma
disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre
sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidado (Alim 2016)
Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs horas
diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de Cyberbullying (Arsegravene
Raynaud 2014)
Embora associado ao tema do bullying mais consolidado teoricamente o cyberbullying
tem recebido bastante atenccedilatildeo da comunidade cientiacutefica internacional contudo pouco
estudado no Brasil
50
Diante disso o artigo tem como objetivo analisar as conceituaccedilotildees de Cyberbullying
adotadas pela literatura nacional e internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo
enfocando suas ecircnfases e ―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as
associaccedilotildees que delimitam entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes
MEacuteTODOS
Trata-se de revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo criacutetica (critical review) Essa abordagem
metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um tema revelando fraquezas
contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant MJ Booth 2009) A contribuiccedilatildeo de
uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas discrepacircncias ou aacutereas em
que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel (Paregrave et al 2015)O escopo
analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou estatisticamente representativo Esse
tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos selecionados o que eacute considerado o
seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos
meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo (siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso
anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais positivista (anaacutelise de conteuacutedo)
Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo BVS
Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA (Applied
Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017
Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos (all
fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no Medical
Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying
51
(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos
vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo
Visando reduzir e qualificar mais esse acervo optamos por trabalhar apenas os estudos de
revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no tiacutetulo e
―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de qualquer
natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas modalidades
revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica sistemaacutetica
revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo sistemaacuteticas e
revisatildeo narrativa
Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para
acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em 301
estudos Depois da anaacutelise de cada artigo foram identificados 156 artigos em duplicidade que
natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias (MENDLEY)
como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com traduccedilatildeo de texto
para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou francecircs e quando
houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al
Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com recorte temporal de
publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem sendo difundido na
uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo
O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia dos
autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo (tabela 1) Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus
conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes
categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do
cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede
52
RESULTADOS
Observa-se uma produccedilatildeo crescente no periacuteodo analisado (exceto 2016) com
predominacircncia de artigos americanos (27) O baixo nuacutemero de publicaccedilotildees em 2016 pode
refletir o pouco tempo entre a publicaccedilatildeo e a sua disponibilizaccedilatildeo nas bases de indexaccedilatildeo
pois a busca foi feita no iniacutecio de 2017
Com relaccedilatildeo aos campos da Sauacutede e Educaccedilatildeo natildeo houve diferenccedilas significativas
quanto ao nuacutemero de publicaccedilotildees Sauacutede (26) e Educaccedilatildeo (27) muito menos ao tipo de
abordagem produzida sobre o tema As demais publicaccedilotildees foram consideradas como
multidisciplinarinterdisciplinar As revistas com maior representaccedilatildeo neste acervo foram
Aggression and Violent Behavior (10) seguida da Computers in Human Behavior (5) Assim
tratamos o acervo a partir das especificidades entre os estudos e natildeo de suas aacutereas de origem
Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma
PUBLICACcedilOtildeES 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006
NUacuteMERO DE
PUBLICACcedilOtildeES
8 21 12 11 7 6 1 2 1 2 1
NACIONALIDADE
DO ESTUDO
EUA Reino Unido
Austraacutelia Portugual Belgica
Espanha e Greacutecia
EUA Singapura
Greacutecia Itaacutelia Brasil China
Canadaacute Franccedila
Austraacutelia Reino
Unido e Espanha
Franccedila EUA Itaacutelia
Turkia e Reino Unido
EUA Canadaacute e
Brasil
Sueacutecia Alemanha
Suiacuteccedila Reino Unido EUA e
Colocircmbia
EUA Espanha Meacutexico Austraacutelia
EUA Austraacutelia EUA EUA Canadaacute
IDIOMA Inglecircs (7) e
Espanhol (1)
Inglecircs (18)
Portuguecircs (2) e
Francecircs (1)
Francecircs (1)
Inglecircs (10) e
Portuguecircs (1)
Inglecircs (10) e
Portuguecircs (1)
Inglecircs (6) Espanhol
(1)
Inglecircs (2) e
Espanhol (2)
Inglecircs (1)
Inglecircs (2)
Inglecircs (1)
Inglecircs (2)
Inglecircs (1)
53
Conceituaccedilatildeo
O cyberbullying possui muitas conceituaccedilotildees revelando distintas interpretaccedilotildees adotadas
pela comunidade cientiacutefica Parte dos estudos analisados natildeo construiu uma definiccedilatildeo para o
cyberbullying mas toma de empreacutestimo os conceitos de bullying agressatildeo e asseacutedio jaacute
existentes na literatura (Zych Ortega-Ruiz Del Rey 2015 Remond Ker Romo 2015
Carpenter Hubbart 2014 Sabella Patchim Hinduja 2013 Bailey 2013 Bauman 2013
Stewart Fritsch 2011 Hanewald 2009)
Havia no acervo uma polifonia de definiccedilotildees para o cyberbullying sugerindo que a
comunidade cientiacutefica natildeo produziu um consenso sobre o entendimento da natureza e limites
do fenocircmeno Talvez por ―imaturidade ou como reflexo dessa processualidade visto que as
relaccedilotildees digitais satildeo dinacircmicas e influenciadas pelas novas tecnologias constantemente
incorporadas ao universo ciber Todavia tal polissemia gera uma espeacutecie de inconsistecircncia
nos dados das pesquisas e difiacuteculdades de comparaccedilatildeo entre os estudos (Aboujaoude et al
2013)
As traduccedilotildees de definiccedilotildees propostas em inglecircs e apropriadas por estudos de liacutengua latina
podem tambeacutem variar semanticamente e levar a compreensotildees diferenciadas como no
exemplo dos sentidos entre cyberbullying e acosso digital Estudos alematildees usam o termo
ciber-mobbing Tais termos retraduzidos ao portuguecircs produzem ecircnfases diferenciadas No
caso da traduccedilatildeo de acosso se evidencia o caraacuteter de perseguiccedilatildeo sistemaacutetica caracteriacutestica
natildeo necessariamente presente no fenocircmeno do cyberbullying
Aboujaoude et al (2015) identificaram diferentes designaccedilotildees para o cyberbullying como
cyberstalking agressatildeo on-line asseacutedio ciberneacutetico asseacutedio na Internet bullying na Internet e
54
vitimizaccedilatildeo ciberneacutetica ou cybervitimizaccedilatildeo A natureza hostil do ato e a intenccedilatildeo de causar
sofrimento foram considerados pela maioria dos estudiosos como cruciais para a definiccedilatildeo de
cyberbullying
Como avaliam Smith et al(2012) caracterizar o cyberbullying apenas como uma forma
de ―bullying digital tem sido uma tendecircncia e apoacutes analisarem diversos estudos concluem
que existe um debate sobre o uso de uma definiccedilatildeo generalista (bullying) ou a necessidade de
substituiacute-la por outra mais especiacutefica
Considerando o acervo analisado as principais definiccedilotildees adotadas podem ser divididas
em dois blocos as que reconhecem o cyberbullying como uma (nova) forma de bullying
apontando diferenccedilas e similaridades e as que tratam o cyberbullying como um fenocircmeno de
outra natureza diferente do bullying Analisaremos a seguir os argumentos que tratam das
especificidades que aproximariam e distinguiriam o bullying e o cyberbullying
No primeiro bloco de estudos a maioria do acervo reconhece o cyberbullying como o
bullying por meio digital eou uma variaccedilatildeo do bullying
Dentre os autores que percebem o cyberbullying como uma variaccedilatildeo de bullying alguns
defendem a importacircncia de contextualizar a violecircncia digital e sua expressatildeo nos
comportamentos agressivos (Ang 2015 Castro Schreiber Antunes 2015 Wendt Lisboa
2014 Chibarro 2007) A revisatildeo de Allison e Bussey (2016) apresenta o cyberbullying como
―agressatildeo intencional por meio eletrocircnico que ocorre de vaacuterias formas como insultos
ameaccedilas divulgaccedilatildeo de fotos embaraccedilosas e pode ser perpetrado atraveacutes de diversas miacutedias
sem a necessidade da presenccedila fiacutesica dos envolvidos Os autores se basearam em extensa
literatura de bullying e ao comparaacute-lo ao cyberbullying constataram que satildeo diferentes em
muitos aspectos tais como anonimato maior impacto uma maior audiecircncia de espectadores
individualidade na praacutetica de perpetrar ser dispensaacutevel a presenccedila fiacutesica dos envolvidos e a
55
viacutetima ser atingida em qualquer lugar e a qualquer momento (Kowalski et al 2014 Tanrikulu
2014 Thomas Conor Scott 2014) Para alguns o caraacuteter repetitivo natildeo estaria
necessariamente presente no cyberbullying (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Carpenter
Hubbert 2014 Slonje 2012) pois apenas uma postagem depreciativa leva o conteuacutedo a ficar
permanentemente exposto Jaacute a capacidade de anonimato eacute apontada como a principaluacutenica
diferenccedila entre os dois fenocircmenos (Bailey 2013 Zych Ortega-Ruiz e Allison e Bussy 2016)
Algumas revisotildees (Aboujaoude et al 2015 Ang 2015 Antoniadou Kokkinos 2015
Cantone 2015 Berne et al 2012) revelaram que natildeo haacute consenso se a repeticcedilatildeo das accedilotildees e o
desequiliacutebrio de poder seriam dinacircmicas do cyberbullying mas certamente ocorrem nos casos
do bullying O desequiliacutebrio de poder foi associado diversas vezes como suposta incapacidade
de resposta por parte da pessoa alvo do cyberbullying ou ainda por falta de habilidades
tecnoloacutegicas que permitiriam uma melhor resposta no meio digital Para Faucher Cassidy e
Jackson (2015) esse exerciacutecio de poder estaria associado ao quatildeo vulneraacutevel estatildeo os
conteuacutedos privados da pessoa alvo ou ainda por divulgar tais informaccedilotildees sem levar em conta
as consequecircncias de uma exposiccedilatildeo nas redes sociais (Suzuki et al 2012)
Em relaccedilatildeo agraves similaridades grande parte dos estudos aponta o caraacuteter de repeticcedilatildeo o uso
das palavras ferinas o desequiliacutebrio de poder e o dano intencional (Yang Grinshteyn 2016
El Asam Samara 2016 Baldry Farrington Sorrentino 2015 Della Cioppa OlsquoNeil Craig
2015 Chan H C Wong 2015 Cantone 2015 Chisholm 2014 Wingate Minney
Guadagno 2013 Nosworthy Rinaldi 2013 Burnett Yozwiak Omar 2013 Bailey 2013
Von Mareacutees N Pettermann 2012 Garciacutea-Maldonado Joffre-Velaacutezquez Martiacutenez-Salazar
2011 Mason 2008 Chibarro 2007) Thomas et al (2015) afirmam que os ataques de
bullying e de cyberbullying satildeo mais parecidos que diferentes e muitas vezes co-ocorrem
Para Yang e Grinshteyn (2016) o fechamento de uma acepccedilatildeo conceitual natildeo seria
beneacutefico pois uma definiccedilatildeo delimitada e concisa poderia excluir grande quantidade de
56
comportamentos potencialmente nocivos Aleacutem disso uma definiccedilatildeo que inclui elementos
descritivos da praacutetica de cyberbullying especificando certos tipos de dispositivos eletrocircnicos
com o passar do tempo pode se tornar obsoleta apoacutes o lanccedilamento de novas tecnologias
No segundo bloco estatildeo os autores que afirmam que cyberbullying eacute uma nova forma de
agressatildeo que apresenta diferenccedilas significativas em relaccedilatildeo ao bullying todavia muitos deles
natildeo se dedicaram a produzir uma teoria ou definiccedilatildeo especiacutefica (Brochado S Soares S
Fraga 2016 Chan Wong 2015 Chisholm 2014 Baek Bullock 2013 Cassidy Faucher et
al 2014 Jackson 2013)
Considerando a argumentaccedilatildeo sobre a natureza ineacutedita do fenocircmeno aponta-se o papel da
audiecircncia no contexto da perpetraccedilatildeo (Smith 2015 Baek e Bullock 2014) A audiecircncia do
cyberbullying eacute concedida em larga escala pelas plataformas digitais propagando esse
conteuacutedo depreciativo para milhares de pessoas tanto no ato da transmissatildeo da mensagem
viacutedeo ao vivo ou em outro momento aleacutem da possibilidade de baixar o conteuacutedo para acesso
offline Logo a capacidade exponencial de compartilhamento desse conteuacutedo natildeo pode ser
dimensionada pelo perpetrador e mesmo que a intenccedilatildeo de propagaccedilatildeo do conteuacutedo seja para
um grupo menor de pessoas o intimidador passa a natildeo ter mais domiacutenio sobre esse conteuacutedo
Quanto mais vizualizado eou compartilhado a audiecircncia aumenta significativamente
diferente do bullying cuja audiecircncia eacute limitada ao puacuteblico que estava presente no momento
do ataque No caso bullying mesmo que a cada novo ataque o grupo de espectadores cresccedila
natildeo se compara ao nuacutemero de pessoas que teratildeo acesso a um conteuacutedo hostil na internet
Brown Jackson e Cassidy (2006) alertam que o ambiente virtual favorece a desinibiccedilatildeo
mencionando o caso de pessoas que sofrem com o bullying e que utilizam a internet para se
vingar daquele que praticou tal bullying jaacute que a internet lhes oferta a possibilidade de
anonitamato atraveacutes de identidade alternativa (uso de perfis falsos) para assediar Deste modo
57
em alguns casos quem sofre bullying pode ser um perpetrador de cyberbullying contra seu
algoz de bullying face a face principalmente quando essa― revanche natildeo seria possiacutevel
acontecer como entre sujeitos com diferenccedila de padrotildees fiacutesicos
Cabe mencionar que parte dos estudos corrobora acerca de suposta inconsistecircncia nas
definiccedilotildees encontradas na literatura (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Zych Ortega-Ruiz
Del Rey 2015) e que falta consenso entre os estudiosos que investigam o tema seja com
relaccedilatildeo agraves conceituaccedilotildees e termos ou sobre os aspectos de semelhanccedila e diferenccedila entre o
cyberbullying e bullying Conforme esse arcabouccedilo teoacuterico se expande eacute provaacutevel que novas
discordacircncias cientiacuteficas perpassem por esse campo em construccedilatildeo
Descriccedilotildees das dinacircmicas
As dinacircmicas de cyberbullying dependem das accedilotildees e representaccedilotildees de cada pessoa
envolvida nesse ciacuterculo de violecircncia Neste cenaacuterio atuam os perpetradores ndash os que praticam
a violecircncia os acometidos (chamados de viacutetimas) os espectadores (aqueles que assistem e
compartilham o conteuacutedo que viola outrem) os educadores e pais que por vezes satildeo os
uacuteltimos a tomar conhecimento do abuso
Houve diferenccedilas significativas sobre as descriccedilotildees das dinacircmicas do cyberbullying e os
motivos provaacuteveis estariam associados ao periacuteodo em que os estudos foram publicados pois
algumas formas de cyberbullying ainda natildeo eram reconhecidas anteriormente e os tipos de
dispositivos tecnoloacutegicos e as formas de conversaccedilatildeocomunicaccedilatildeo e compartilhamento de
conteuacutedo online disponiacuteveis tambeacutem mudaram rapidamente Haacute algum tempo o e-mail e as
58
mensagens de texto eram as formas mais disseminadas atualmente as interaccedilotildees atraveacutes das
redes sociais ganharam maior espaccedilo entre os jovens (transmissatildeo ao vivo viacutedeos chamadas
compartilhamentos em massa jogos online em grupo etc)
Destacam-se quatro estudos que exemplificam as dinacircmicas de cyberbullying Julia
Wilkins et al (20120 descrevem fundamentados no texto que institui o Programa Anti-
Bullying de Londres sete tipos de cyberbullying e Suzuki et al (2012) tambeacutem identificam as
mesmas modalidades a seguir compiladas 1 Por mensagem de texto - enviada via telefone
celular com a intenccedilatildeo de causar desconforto e ameaccedila 2 Imagemvideo-clipe - quando as
imagens das viacutetimas satildeo enviandas para outras pessoas no intuacuteito de ameaccedilar ou constranger
3 Intimidaccedilatildeo por chamada telefocircnica - por meio de chamadas silenciosas ou por mensagens
abusivas ou quando o celular da viacutetima eacute roubado e usado para perseguir outros culpando o
proprietaacuterio do telefone 4 intimidaccedilatildeo por e-mail quando satildeo enviados conteuacutedos muitas
vezes usando um pseudocircnimo ou o nome de outra pessoa para fazer com que essa pessoa se
pareccedila com o perpetrador (modalidade desatualizada) 5 chat room bullying - respostas
agressivas e intimidadoras em sala de bate papos (tambeacutem mais desatualizada) 6 intimidaccedilatildeo
atraveacutes de mensagens instantacircneas 7 bullying atraveacutes de websites ndash com uso de blogs
difamatoacuterios sites pessoais sites de pesquisa pessoais online e sites de redes sociais (por
exemplo MySpace) aleacutem da criaccedilatildeo de foacuteruns
Entre as dinacircmicas do cyberbullyng destacadas na literatura estariam ―namecalling
(apelidar algueacutem de modo rude) propagaccedilatildeo de rumores ―flamings (discussotildees calorosas
online) ameaccedilas fingir ser outra pessoa online (fakenames) envio de fotos indesejadas ou
mensagens de texto (sexting) postar eou compartilhar imagens e viacutedeos com conteuacutedo
iacutentimo de outra pessoa sem consentimento desta (Carpenter Hubbard 2014) excluir uma
pessoa de um circulo social online de forma intencional (Bailey 2013) Aleacutem das redes
59
sociais o cyberbulling tambeacutem se manifestaria em jogos MMOGs - jogos onlines com
muacuteltiplos jogadores (multiplayers games) um jogador poderoso pode ―trollar (zombar
humilhar) algueacutem roubando itens do jogo como recompensas invadindo a conta formar
gangues e bloquear pessoas em uma rede social fazendo piadas com a imagem de uma pessoa
e controlando remotamente a cacircmeracomputador de uma pessoa sem o consentimento desta
(Chisholm 2014)
A revisatildeo de Kowalski et al (2014) ratifica as formas jaacute mencionadas e reconhece outras
formas de perpetraccedilatildeo entre elas harassament (envio de mensagens repetitivas e com
conteuacutedo ofensivo) bloqueio online solicitar informaccedilatildeo online de conteuacutedo pessoal e
posteriormente compartilhar a terceiros sem consentimento cyber-stalking (usar comunicaccedilatildeo
eletrocircnica para perseguir outra pessoa) e postar informaccedilatildeo inapropriada ou de cunho
depreciativo se passando por outra pessoa
Mehari Farell Le (2014) refletem que os comportamentos agressivos nas relaccedilotildees
sociais na internet tecircm baixo controle social e satildeo menos recriminados se comparados aos
perpetrados nas relaccedilotildees face a face Outro aspecto apontado na revisatildeo de Mehari et al
(2014) eacute a falta ou escassez de indiacutecios verbais que aumentaria a probabilidade de
desentendimentos e interpretaccedilotildees errocircneas Assim o que um jovem pretende como uma
brincadeira interaccedilatildeo amigaacutevel pode rapidamente tornar-se uma interaccedilatildeo mutuamente
agressiva se a outra pessoa interpreta o comentaacuterio como um insulto ou uma ameaccedila A falta
de sugestotildees natildeo verbais tambeacutem pode reduzir a empatia que serve como um controle natural
do comportamento dos adolescentes
Arsene e Raynaud (2014) destacam que o cyberbullying que ocorre por meios visuais
(foto ou viacutedeo) eacute mais prejudicial e mais negativo do que os que envolvem mensagens por
(SMS) e de texto na Internet As consequecircncias seriam mais graves as viacutetimas mais afetadas
60
do que em outras formas de cyberbullying e o risco de sofrimento psicossocial teria maior
potencial Na revisatildeo desses autores (2014) as fotos ou videoclipes tiveram impacto mais
negativo do que no asseacutedio tradicional (interpetrado como bullying)
Os personagens envolvidos
Os principais personagens do cyberbullying satildeo os praticantes e as pessoas escolhidas como
alvo (as denominadas viacutetimas) Poucos estudos como os Allison e Bulsey (2016) e Desmet et
al (2016) analisaram a figura dos espectadores (testemunhas) e seu papel na manutenccedilatildeo do
ciclo de violecircncia e propagaccedilatildeo do cyberbullying Allison e Bulsey (2016) identificaram quais
os fatores que influenciam as respostas das testemunhas aos atos de cyberbullying
Concluiram que os espectadores satildeo importantes no cyberbullying pois eles tem ―o pontecial
de alterar a situaccedilatildeo ao intervir mas a maioria das testemunhas permanece passiva (pg183)
Outro estudo indica que os espectadores seriam capazes de determinar qual o potencial de
extensatildeo que um episoacutedio de cyberbullying pode ter ao compartilhar curtir comentar um ato
de violecircncia nestes moldes Runions Bak (2015)
Haacute divergecircncia na literatura analisada com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que perpassa o
cyberbullying A maioria reduz o debate agrave variaacutevel ―sexo buscando saber se meninos ou
meninas satildeo os maiores viacutetimas ou agressoras ou quais deles sofreriam mais as
consequecircncias do cyberbullying (Bauman 2013 Baldry Farringtone Sorrentino 2015)
Bauman et al (2013) identificaram na literatura casos de pessoas do sexo masculino que ao
mesmo tempo que eram praticantes de cyberbullying e de bullying Para outros estudos
pessoas do sexo feminino estariam mais envolvidas em cyberbullying e os meninos em
situaccedilotildees de bullying8 Isso sem considerar a orientaccedilatildeo sexual desses indiviacuteduos ou sua
8 A literatura apresenta recorrente associaccedilatildeo entre cyberbullying e bullying
61
posiccedilatildeo de gecircnero Bailey (2013) alega haver dissenso sobre os rapazes serem os maiores
causadores de cyberbullying
Por outro lado muitos autores acabam por reforccedilar estereoacutetipos de gecircnero de forma
acriacutetica No estudo Dooley Pyżalski Cross (2009) as garotas teriam maior interesse com a
aparecircncia sauacutede enquanto garotos estariam mais implicados com jogos on-line Tal texto
reproduz uma leitura de gecircnero onde meninas tendem a ter laccedilos de amizades mais intensos
compartilhando conteuacutedos iacutentimos e segredos pessoais principalmente atraveacutes de mensagens
de texto jaacute meninos socializam nas redes sociais em maiores grupos e compartilham menos
detalhes pessoais Chibbaro (2007) destaca estudo que afirma que a maioria (53) das
meninas sofreu cyberbullying de conhecidos como colega da escola seguido de amigo e em
um nuacutemero menor o irmatildeo foi o causador do ato Alim (2016) baseado no site
NoBullyingcom afirma que as meninas satildeo duas vezes mais causadoras de Cyberbullying do
que os meninos porque meninos seriam mais agressivos em termos fiacutesicos enquanto que
meninas tendem a ser mais ―silenciosas quando querem atingir algueacutem por vezes quando
intimidam o fazem em seacuterie Na mesma linha sexista estudos como de Chan e Wong (2015)
alegam que garotos satildeo os maiores perpetradores por serem mais haacutebeis no uso de tecnologias
do que as garotas
Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem houve dissenso A maior incidecircncia estaacute entre os
adolescentes e os casos diminuem na fase universitaacuteria (Antoniadou Kokkinos 2015)
Segundo Suzuky et al (2014) as meninas seriam as maiores acometidas poreacutem entre 15 e 17
anos a incidecircncia eacute muito maior do que entre jovens de 12 e 14 anos Para Hamn et Al (2015)
o fator idade natildeo eacute determinante para ser alvo de Cybebullying
Para Alim (2016) haveria um recorte de condiccedilatildeo social pois os que mais sofreriam
seriam pessoas oriundas dos estratos de baixa renda
62
Da mesma forma natildeo haacute uma concordacircncia na literatura sobre o recorte eacutetnicoracial
Estudantes brancos satildeo considerados maiores perpetradores do que outras categorias eacutetnicas
(Ham et al 2015 Peterson M B Peterson 2014) O estudo de Peterson e Peterson (2014)
foi o uacutenico que objetivou examinar possiacuteveis ligaccedilotildees entre comportamentos de ciberbullying
e grupos eacutetnicos especiacuteficos Essa lacuna parece evidenciar que se desconsidera que a
discriminaccedilatildeo por etniacor da pele pode gerar experiecircncias de cyberbullying Para Peterson e
Peterson (2014) alguns aspectos precisam ser analisados tais como o perfil populacional das
pessoas que utilizam TICs a escassez de estudos que analisam especificamente o quesito
raccedilacor bem como o territoacuterio em que esses estudos estatildeo sendo produzidos e onde esses
dados de amostras estatildeo sendo coletas
Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos
As psicopatologias estatildeo entre as principais implicaccedilotildees agrave sauacutede dos envolvidos nas
praacuteticas de cyberbullying (Reed et al 2016 Foody Samara Calbring 2015 Arsegravene
Raynaud 2014 Pearce 2011)
Os principais agravos listados para os que sofrem foram insocircnia depressatildeo baixo
rendimento escolar ou baixa concentraccedilatildeo (Couvillon Illieva 2011) Jaacute Burnett Yozwiak e
Omar (2013) apresentam estudos que afirmam que pessoas que sofrem Cyberbullying tem
menos horas de sono e menos apetite do que pessoas que sofreram outras formas de violecircncia
Bailey31
ao analisar a Child Behavior Checklist (CBC) inclusa em um dos estudos verificados
indicou que aqueles assediados por conhecidos tambeacutem eram mais propensos a relatar
maiores conflitos com os pais casos de abuso fiacutesico ou sexual vitimizaccedilatildeo interpessoal off-
line e comportamento agressivo aleacutem de outros problemas sociais (pg 2)
63
Aquele que eacute intimidado com cyberbullying teria aproximadamente oito vezes mais
chances de levar uma arma para escola do que outros estudantes que natildeo tiveram essa
experiecircncia (Burnett Yozwiak Omar 2013) Grande parte dos estudos considera ainda que o
cyberbullying estaacute associado agrave depressatildeo uso de drogas ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio estresse
solidatildeo e ansiedade (El Asam Samara 2016 Hinduja S Patchin 2011 Gini G Espelage
2014) com consequecircncias psiquiaacutetricas que afetam a sauacutede mental e o desenvolvimento
escolar (Carpenter Hubbard 2014) principalmente dos adolescentes que satildeo alvo A busca
por experiecircncias de risco ―viacutecio no uso de internet solidatildeo e o suiciacutedio satildeo alguns dos
fatores psicoloacutegicos para ambos os personagens (viacutetimas e agressores) sendo que para os que
praticam os fatores estariam interligados entre si (Alim 2016) Natildeo encontramos subsiacutedios
que fundamente os impactos da sauacutede dos espectadores
DISCUSSAtildeO
A escassez de estudos que refletem sobre a contextualizaccedilatildeo do cyberbullying na
cibercultura (Stylios et al 2016 Roger e Salgado 2016 Castro Schreiber Antunes 2015
Nocentini Zambuto e Menesini 2015) e nos seus modos de socialidade foi o aspecto mais
marcante nesta revisatildeo de revisotildees Como discutir um fenocircmeno sem relacionar ao seu
contexto sociocultural de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo Eacute preciso reconhecer que a juventude que
vivencia o cyberbullying eacute em boa parte ―nativa digital implicando o domiacutenio de
comportamentos e gramaacuteticas proacuteprias aleacutem desse espaccedilo de convivecircncia ser estrateacutegico agraves
afirmaccedilotildees identitaacuteria desse segmento (Brown Jackson E Cassydy 2006 Wendt e Lisboa
2014)
Percebe-se que apesar da redundacircncia conceitual houve um avanccedilo expressivo na
busca por aprofundar as especificidades caracteriacutesticas do Cyberbullying Salienta-se ainda a
64
peculiaridade no cyberbullying da expansatildeo exponencial do puacuteblico de expectadores no que
tange agrave disseminaccedilatildeo do conteuacutedo ofensivo e por tempo indeterminado - elementos que
desafiam o trabalho de promoccedilatildeo de resiliecircncia aos que sofreram tais praacuteticas Uma pessoa
pode ser estigmatizada por um longo periacuteodo agrave medida que esse conteuacutedo natildeo pode ser
apagado facilmente como nos casos de sexting em que o conteuacutedo fica disponiacutevel em
buscadores associados ao nome da pessoa que sofreu a violecircncia Uma vez que o
Cyberbullying pode ocorrer em qualquer tempo e territoacuterio e se dispotildee de mecanismos de
ocultaccedilatildeo de conteuacutedos e torna mais difiacutecil a detecccedilatildeo preacutevia por parte dos adultos e
responsaacutevies
Em relaccedilatildeo aos aspectos de gecircnero destacamos a revisatildeo de Chan e Wong (2015) que
analisou as taxas de prevalecircncia de bullying e cyberbullying a respeito das caracteriacutesticas dos
praticantes e intimidados e em que circunstacircncias a accedilotildees eram descritas na China Taiwan
Hong Kong e Macau Percebemos um discurso sexista9 quando os autores fazem um recorte
de gecircnero em sua anaacutelise e como exemplos mencionam no estudo que em Taiwan um dos
fatos de meninos serem os maiores intimidadores se justificaria por uma maior habilidade no
uso de tecnologias Apesar da questatildeo cultural ser evidente favorece a interpretaccedilotildees de que
as adolescentes do sexo feminino natildeo teriam habilidades com tecnologias se comparada aos
adolescentes do sexo masculino natildeo refletindo sobre o tipo de acesso que as meninas
possuem aos meios tecnoloacutegicos culturais e educacionais em paiacuteses onde o homem eacute
considerado superior Outro registro sexista aparece no estudo de Chisholm (2014) que
defende que meninas tendem a se envolver em agressatildeo indireta social e relacional como no
cyberbullying para excluir pessoas em redes sociais e espalhar rumores A natureza
9 Um discurso sexista declara em seu posicionamento que determinado papel eou estereoacutetipo de gecircnero ou sexo
eacute superior que o outro Pode ser inclusive configurado como preconceito e discriminaccedilatildeo com base nesses
marcadores sociais (sexo ou gecircnero)
65
―competitiva das mulheres foi um aspecto destacado por Wingate (2013) ao corroborar a
ideia que as garotas estariam mais envolvidas com praacuteticas de cyberbullying relacionais
Por fim notamos tambeacutem que eacute consensual o reconhecimento de impactos na sauacutede
psiacutequica e no cotidiano escolar dos intimidados e apenas um pequeno grupo reconhece que
existem impactos entre os intimidadores No contexto da Sauacutede o tema ainda eacute recente e
pouco disseminado anunciando um longo percurso a ser percorrido no sentido de sua
compreensatildeo e de posicionamento do campo Jaacute no contexto da Educaccedilatildeo o tema comeccedilou a
ser discutido anteriormente o que pode ser atribuiacutedo agrave recorrente correlaccedilatildeo com o bullying
que perpassa o cotidiano da escola
Artigo 2
4CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA O CAMPO
DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE LITERATURA (natildeo submetido)
RESUMO
O presente estudo propotildee uma revisatildeo criacutetica de estudos sobre o cyberbullying com recorte
temporal entre os anos de 2006 e 2016 Os objetivos deste estudo foram analisar as propostas
de enfrentamento sugeridas para os setores da sauacutede e educaccedilatildeo (atores implicados e
estrateacutegias sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de
enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno Os resultados foram discutidos com base na anaacutelise
de discurso criacutetica proposta por Norman Fairclough Identificou-se na literatura revisada uma
maioria de accedilotildees baseadas na proposta de monitoramento e controle parental e escolar
discursos que propotildee praacuteticas no intuito de gerar uma mudanccedila no comportamento dos
66
indiviacuteduos envolvidos com o cyberbullying e propostas que expressam forte
intertextualidade manifesta do saber meacutedico
Palavra-chave Cyberbullying violecircncia intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo sauacutede e educaccedilatildeo
ABSTRACT
The present study proposes a critical review of studies on cyberbullying with temporal cut
between 2006 and 2016 The objectives of this study are to analyze the proposed proposals
for sectors of Health and Education (implicated actors and suggested strategies) and analyze
the discourses on prevention accountability coping methods and dynamics of the
phenomenon The results were discussed on the basis of critical discourse analysis proposed
by Norman Fairclough It was identified in the reviewed literature a majority of actions
based on the parental and school monitoring and control proposal discourses that proposes
actions aimed at changing the social behavior of individuals involved with cyberbullying and
proposals that express a strong intertextuality of medical knowledge
Key-words Cyberbullying violence intervention prevention health and education
INTRODUCcedilAtildeO
A virtualizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais trouxe profunda transformaccedilatildeo para a
sociabilidade contemporacircnea permitindo que novos espaccedilos de trocas de informaccedilotildees e que
relaccedilotildees comerciais esteacuteticas e afetivo-sexuais fossem constituiacutedas a partir das tecnologias de
comunicaccedilatildeo digital (Castells 2003) No ciberespaccedilo esse novo espaccedilo de interaccedilatildeo os
viacutenculos sociais se estabelecem atraveacutes da internet ganhando assim nova capilaridade As
redes sociais e outros modelos de conexotildees surgem com uma identidade proacutepria que
legitimam uma cultura peculiar a cibercultura ou cultura digital (Levy 2010) Entretanto
para alguns autores o conceito de cibercultura poderaacute cair em desuso visto que as relaccedilotildees
digitais possuem total interface com o cotidiano dos sujeitos sociais (Roger e Salgado 2016)
Martino (2015) ao tratar das caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais afirma que na
cultura digital os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos estabelecidos
conforme a necessidade de um momento e a seguir desmanchados As relaccedilotildees digitais
permitem a disseminaccedilatildeo imediata e sem fronteiras geograacuteficas de informaccedilotildees e saberes de
apoio aleacutem de permitir trocas diversas (afetivas comerciais intelectuais) de favorecer ao
67
associativismo e possibilitar a organizaccedilatildeo de grupos em torno de vivecircncias comuns agendas
e pautas de atuaccedilatildeo (Lemos 2015) Todavia pode contribuir tambeacutem para que praacuteticas de
violecircncia sejam produzidas e disseminadas no ambiente virtual
O Cyberbullying representa uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se manifesta
atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica entre pares nas ambiecircncias das redes de
socialidade digital que podem ocorrer em qualquer espaccedilo geograacutefico Eacute considerado por
diferentes estudiosos como um problema de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede emocional de
crianccedilas e adolescentes (Brown Jackson e Cassidy 2006 Carpenter e Hubbard 2014 Nixon
2014 Bottiono et al 2015 Yang 2016)
Partimos do entendimento que o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se
apresenta sob as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode
repercutir para aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em consequecircncias praacuteticas e
reais no cotidiano e individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)
O cyberbullying se configura ainda como um tipo de representaccedilatildeo e praacutetica social no
ambiente virtual (traduzido no Brasil como Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica) Tal traduccedilatildeo brasileira
ocorreu a partir da Lei 1318515 (BRASIL 2015) que estabeleceu o Programa Nacional de
combate agraves formas de Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica entre elas a que ocorre na rede mundial de
computadores
O tema cyberbullying vem sendo discutido de forma ampliada pela literatura
internacional ao longo das uacuteltimas deacutecadas (Garaigordobil 2011 Torres e Marcieles 2012
Della Ciopa et al 2015) Embora geralmente associada ao tema Bullying (possuidor de um
arcabouccedilo teoacuterico consolidado) a temaacutetica vem ganhando lentamente espaccedilo na literatura
cientiacutefica brasileira O fenocircmeno do Cyberbullying tem tido destaque nas miacutedias
especialmente em casos cujas repercussotildees satildeo de extrema violecircncia como os assassinatos em
seacuterie eou suiciacutedio Todavia haveria uma desconexatildeo significativa entre o que o puacuteblico
precisa saber e o que eacute realmente conhecido sobre o fenocircmeno cyberbullying (Carpenter e
Hubbard 2014)
Muitos programas e propostas de intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo surgiram nos uacuteltimos anos
mas estudos que analisam o conjunto dessas propostas ainda satildeo escassos Segundo Wendt e
Lisboa (2014) ―se faz urgente e necessaacuteria uma maior compreensatildeo acerca desse fenocircmeno
para que seja possiacutevel o desenho de accedilotildees preventivas e interventivas eficazes (pag42)
68
Este estudo pretende portanto analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela
comunidade cientiacutefica sobre as propostas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo de cyberbullying a
serem aplicadas no campo da Sauacutede e da Educaccedilatildeo
Os objetivos propostos para este trabalho foram analisar as propostas de
enfrentamento sugeridas para os setores da Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores implicados e estrateacutegias
sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo e modos de
enfrentamento Partindo desse recorte analiacutetico tratamos das seguintes questotildees
investigativas Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees
propostos pela literatura sobre cyberbullying Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a
questatildeo da sociabilidade virtual juvenil Qual o papel dos educadores diante de casos de
cyberbullying Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullying O que
fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying
METODOLOGIA
Como meacutetodo investigativo optou-se por uma revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo
criacutetica (critical review) Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a
literatura sobre um tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias
(Grant 2014) Uma revisatildeo criacutetica tem sua relevacircncia por sua capacidade de destacar
problemas discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute
confiaacutevel (Paregrave et al 2015) Assim como as revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem
adotar diferentes meacutetodos de anaacutelise sejam com vieacutes interpertativo como nos casos das
siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica ou ateacute mesmo os de recorte mais
positivista como a anaacutelise de conteuacutedo em sua vertente quantitativa
Foram consultadas sete bases internacionais - Scielo BVS Scopus PubMed
American Psychological Association Eric e Applied Social Sciences Index and Abstracts-
durante o mecircs de fevereiro do ano de 2017
Inicialmente iriacuteamos realizar uma revisatildeo do tipo integrativa todavia durante a busca
inicial aplicamos o termo cyberbullying em todos os campos (all fields) e obtivemos o
resultado de 7785 artigos Durante o levantamento de dados buscamos pelo termo
―cyberbullying atraveacutes do Medical Subject Headings (MeSH) e constatamos apenas a
presenccedila do termo bullying (httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying)
Verificou-se assim que o tema cyberbullying era tratado como subitem ou tema secundaacuterio
69
em estudos sobre o bullying O que pode estar ligado ainda agrave ideacuteia de que bullying e
cyberbullying seriam o mesmo fenocircmeno poreacutem ocorrendo em ambientes diferentes Assim
com a primeira busca usando o descritor cyberbullying em todos os campos surgiram 7785
artigos
No intuito de recortar e permitir maior aprofundamento analiacutetico do acervo optou-se
por trabalhar apenas com estudos de revisatildeo Foram selecionados apenas estudos cujo termo
―cyberbullying estava no tiacutetulo e ―revisatildeo presente em todos os campos Aplicaram-se ainda
criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para acesso livre
acervo cinza dissertaccedilotildees monografias - o que resultou em 301 artigos Posteriormente
foram identificados 156 artigos em duplicidade que natildeo haviam sido contabilizados pelo
gerenciador de referecircncia MENDLEY por limitaccedilatildeo do programa Entre essas duplicidades
natildeo identificadas pelo programa encontraram-se estudos registrados em escrita por caixa alta
eou por traduccedilatildeo de texto para o idioma inglecircs nos casos em que o estudo original era em
outro idioma como espanhol ou francecircs ou quando havia subtraccedilatildeo de algum dos autores
tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al Foi gerado um acervo de 145
artigos e um novo refinamento estabeleceu um recorte temporal visando analisar apenas
publicaccedilotildees datadas dos anos de 2006 ateacute 2016 de modo a apreender como o tema veio sendo
discutido ao longo da uacuteltima deacutecada resultando em 72 artigos de revisatildeo Desse nuacutemero
apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo este o acervo analisado nesta obra
Migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias ZOTERO por ser um programa open
sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em
portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos salvos nos mais distintos
formatos
Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de
praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos
discursos adotados nos estudos analisados Assim analisamos quais accedilotildees estatildeo sendo
propostas partir dos discursos construiacutedos O modelo proposto por Fairclough para a Anaacutelise
do Discurso Criacutetica (ADC) demanda analisar o que o autor denomina de concepccedilatildeo
tridimensional pois propotildee examinar a praacutetica social dos discursos a praacutetica discursiva
presente no estudo e a proacutepria conformaccedilatildeo do texto
A anaacutelise da praacutetica discursiva segundo Fairclough (2001) permite explicar como os
discursos satildeo produzidos distribuiacutedos consumidos e interpretados explorando assim as
70
possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva inclui categorias analiacuteticas como a forccedila
coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos
de fala que o texto realiza (o que o texto evoca) a coerecircncia trata do sentido que o texto
possui (para quem faz sentido qual a loacutegica das marcaccedilotildees e conexotildees) a intertextualidade ―eacute
basicamente a propriedade que tecircm os textos de serem cheios de fragmentos de outros textos
permitindo reconstituir as influecircncias daquele discurso (Fairclough 2001) A categoria
intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta
aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de
textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que Fairclough vai chamar de
interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A
praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto Tratar a dimensatildeo do
discurso como praacutetica social implica reconhecer a produccedilatildeo de efeitos ideoloacutegicos e
hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees
econocircmica cultural e ideoloacutegica Satildeo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo de
identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas de
crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente
Nessa perspectiva todo o discurso possui uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir
uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma
determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir
modos de ver e se portar numa dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de
relaccedilotildees sociais
Nossa anaacutelise focou nas dimensotildees textuais (gramaacutetica e figuras de linguagem) e
categorias da praacutetica discursiva com enfoque na intertextualidade (manifesta e constitutiva)
Buscamos analisar o que os textos tecircm evocado a partir dos conceitos estabelecidos ou
ratificados pela comunidade cientiacutefica cuja escrita exerce um poder que influi na praacutetica
social
CARACTERIZACcedilAtildeO DO ACERVO
Cada texto foi lido integralmente e os temas de interesse do estudo (estrateacutegias de
prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo) foram identificados comparados e
interpretados
71
Como pode ser visto no quadro 1 os EUA foi o paiacutes que mais publicou estudos sobre o tema
e o que possui o maior nuacutemero de revistas cientiacuteficas que abordou o assunto no periacuteodo
analisado O que demonstra um maior investimento na produccedilatildeo cientiacutefica dos EUA e a
relevacircncia do tema para a comunidade cientiacutefica do paiacutes supracitado A Agression and Violent
Behavior foi a revista estadunidense que mais publicou sobre o tema (8) seguida da
Computers in Human Behavior (5) do Reino Unido - ambas revistas classificadas como
intermultiprofissionais A revista Preventing School Failure Alternative Education for
Children and Youth do setor educaccedilatildeo publicou trecircs artigos e do setor sauacutede a revista alematilde
International Journal of Adolescent Medicine and Health teve duas publicaccedilotildees
Quadro 4 ndash Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de
Cyberbullying (2010-2016)
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
1 Canadian Journal of
Educational
Administration and
Policy
1
Educaccedilatildeo
Canadaacute
2 Journal of Child and
Adolescent
Psychiatric Nursing
1 Sauacutede EUA
3 Adolescent Health
Medicine and
Therapeutics Journal
1 Sauacutede Reino Unido
4 World Medical amp
Health Policy
1 Sauacutede EUA
5 International Journal
of Psychology and
1 Sauacutede Espanha
72
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
Psychological
Therapy
6 Psicologiacutea desde el
Caribe
1 Psicologia Colombia
7 Agression and
Violent Behavior
08 Intermultidisciplar EUA
8 Computers in
Human Behavior
5 Intermultidisciplar Reino Unido
9 International Journal
of Adolescent
Medicine and Health
2 Sauacutede Alemanha
10 International Journal
of Cyber Behavior
Psychology and
Learning
1 Intermultidisciplar EUA
11 Neuropsychiatrie de
llsquoEnfance et de
llsquoAdolescence
1 Sauacutede Franccedila
12 Australian
Education
Computing
1 Educaccedilatildeo Austraacutelia
13 Current Issues in
Middle Level
Education (CIMLE)
1 Educaccedilatildeo EUA
14 Journal Theory Into
Practice
1 Educaccedilatildeo EUA
15 Journal of
Adolescent Health
1 Sauacutede EUA
73
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
16 Journal of Research
in Special
Educational Needs
1 Educaccedilatildeo Gratilde Bretanha
17 Temas em
Psicologia
1 Sauacutede Brasil
18 Boletim Academia
Paulista de
Psicologia
1 Sauacutede Brasil
19 Children and Youth
Services Review
1 Intermultidisciplar EUA
20 Psychological
Bulletin
1 Sauacutede EUA
21 International Journal
of Adolescence and
Youth
1 Intermultidisciplar Reino Unido
22 Clinical Practice amp
Epidemiology in
Mental Health
1 Sauacutede Emirados Aacuterabes Unidos
23 Journal of Education
and Training Studies
1 Educaccedilatildeo EUA
24 Social Influence
Journal
1 Intermultidisciplar Reino Unido
25 Journal of
Information Systems
Education
1 Educaccedilatildeo EUA
26 Professional School
Counseling Journal
1 Educaccedilatildeo EUA
27 School Psychology 1 Educaccedilatildeo EUA
74
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
International
28 Emotional and
Behavioural
Difficulties
1 Intermultidisciplar Reino Unido
29 Gifted Education
International
1 Educaccedilatildeo EUA
30 Internet
Interventions
1 Sauacutede EUA
31 Preventing School
Failure Alternative
Education for
Children and Youth
3 Educaccedilatildeo
32 JAMA - Journal of
the American
Medical Association
1 Sauacutede EUA
33 Revista de
Psicologia Cliacutenica
1 Sauacutede EUA
34 School Psychology
International
1 Educaccedilatildeo EUA
35 LEnceacutephale 1 Sauacutede Franccedila
36 Journal of Human
Behavior in the
Social Environment
1 Serviccedilo Social
37 Australian Journal
of Guidance and
Counselling
1 Educaccedilatildeointerdisciplinar Inglaterra
38 Alberta Journal of
Educational
1 Educaccedilatildeo Canadaacute
75
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
Research
39 Nova Science
publishers
1 Educaccedilatildeo EUA
40 Psychiatric
Quarterly
1 Sauacutede EUA
41 Education Diggest 1 Educaccedilatildeo EUA
42 ACM ndash Association
for Computing
Machinery
1 Intermultidisciplar EUA
43 Psychology in the
Schools
1 Educaccedilatildeointerdisciplinar EUA
TOTAL 57
ESTRATEacuteGIAS DE PREVENCcedilAtildeO
Organizamos a apresentaccedilatildeo dos resultados em blocos temaacuteticos identificando seu
setor de origem (Educaccedilatildeo Sauacutede) entendendo que tais propostas possuem uma
especificidade disciplinar e mesmo discursiva Analisamos as possiacuteveis ambiguidades
contradiccedilotildees bem como os tipos de argumentos sobre prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo produzidos
nesses textos Todavia independente da origem boa parte do acervo apresentou evocacccedilotildees
discursivas a accedilotildees ―coletivas e interdisciplinares reconhecendo ser essencial que os
esforccedilos sejam sineacutergicos entre escola famiacutelia e sociedade devendo incluir accedilotildees preventivas
de modo a atuar em situaccedilotildees geneacutericas conduzidas para qualificar as relaccedilotildees sociais
prevenir as agressotildees online e buscando evitar novos episoacutedios de cyberbullying
Para Baek e Bullock (2013) apesar dos muitos estudos sobre cyberbullying haveria
uma lacuna de produccedilotildees que tragam uma perspectiva internacional sobre como o tema vem
76
sendo discutido pelo mundo Entre os estudos analisados pelos autores que abordam sobre
prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo tais programaspropostas podem ser divididas nas categorias leis e
poliacuteticas abordagens educacionais esforccedilos das escolas e papeacuteis dos pais Entretanto nesses
moldes de classificaccedilatildeo identificamos ambiguidades sobre o papel dos pais poliacuteticas de
enfrentamento e no que tange aos modus operandi dos programas mencionados pois ora satildeo
apresentados como propostas punitivas ora apresentam um vieacutes reflexivo numa perspectiva
de cultura de paz ou de copinglsquo
As contribuiccedilotildees associadas agrave Educaccedilatildeo agrave Sauacutede e de origem Interdisciplinar
identificadas nete estudo se caracterizaram por defender estrateacutegias preventivas baseadas 1
no controle e monitoramento das atividades online praticadas pelos jovens 2 no
estreitamento de viacutenculos entre profissionais da rede escolar e alunos e entre pais e jovens
3e na disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo e campanhas sobre cyberbullying bem como na
capacitaccedilatildeo de profissionais pais e alunos sobre o tema Por fim elencamos mais uma
categoria discursiva organizadora do acervo que trata dos fatores que levariam a ecircxitos e
fracassos das propostas de prevenccedilatildeo (4)
Controle e monitoramento
As estrateacutegias de prevenccedilatildeo baseadas na perspectiva de controle e monitoramento
foram as mais comuns As revisotildees de Couvillon e Ilieva (2011) e Smith et al (2012)
sugerem por exemplo limitar o uso de celulares na escola Esse texto como em muitos
outros os nuacutecleos verbais satildeo evidentes em sua perfomatividade proibitiva (implementar
controlesrestringir acessoexcluir miacutedias)
―As escolas podem implementar controles sobre a miacutedia existente
restringindo o acesso agraves aacutereas de Internet em que o ciberbullying
provavelmente ocorreraacute (por exemplo salas de bate-papo miacutedias sociais
sites) e excluir a miacutedia natildeo necessaacuteria para a experiecircncia de aprendizagem
como celular Smith et al 2012 (pg 121)
Considerando que a sociabilidade digital jaacute estaacute engendrada no cotidiano de crianccedilas e
adolescentes alguns estudos revisados por Sabella et al (2013) ponderam que a tecnologia
aleacutem de ser uma ferramenta social e de educaccedilatildeo desligar o computador natildeo interrompe
muitas formas de cyberbullying
77
Foram poucos os tipos de estrateacutegias de prevenccedilatildeo direcionadas para o campo da
Sauacutede ou por ele propostas se comparados agrave diversidade de propostas da Educaccedilatildeo mas
dentre estas destacam-se as propostas relativas ao que os artigos nomearam como controle e
monitoramento das atividades online das crianccedilas e adolescentes Uma revisatildeo do campo da
sauacutede propocircs que psiquiatras ―eduquem os pais de adolescentes viacutetimas de cyberbullying
que ―informem sobre monitoramento e controle do uso de tecnologias (Korenis e Billick
2015) Reconhecemos aiacute a presenccedila de interdiscussividade com o discurso biomeacutedico
sugerindo a influecircncia da autoridade meacutedica sobre os pais mesmo diante de fatos relativos agrave
sociabilidade e de cunho comportamental Confirma-se o campo de exerciacutecio da biomedicina
para aleacutem das fronteiras cliacutenicas incorporando o manejo de questotildees da vida social
Outros estudos tambeacutem apresentaram o discurso do monitoramento e controle como
estrateacutegia ―essencial de prevenccedilatildeo com intertextualidade constituiacuteda de um enunciado que
reforccedila a necessidade de supervisatildeo das praacuteticas juvenis e controle parental (Garcia
Maldonado 2011 Perren et al 2012 Torres e Vivas 2012 Bailey 2013 Brunett et al 2013
Aresene e Raynaud 2014)
No que tange agraves propostas interdisciplinares voltadas para a ―proteccedilatildeo online
estudos sugerem a ―tutoria de atividades ―programas de seguranccedila na internet voltado para
pais professores comunidade escolar e alunos e ainda o desenvolvimento precoce de haacutebitos
relacionados ao ―uso seguro da internet para crianccedilas de modo a garantir a efetiva
―internalizaccedilatildeo desses comportamentos (Hanewald 2009 Wendt e Lisboa 2014 Ang
2015) Tal discurso de proteccedilatildeo eacute portador de ambiguumlidades ora propondo um
―acompanhamento (necessaacuterio para determinadas faixas etaacuterias) o que pressupotildee certa
agecircncia e autonomia dos meninos e meninas em navegar online bem como evoca a ideacuteia de
controle (antiacutetese da autonomia sugerida) como estrateacutegia de prevenccedilatildeo Poreacutem natildeo fica claro
como tais propostas consideram os princiacutepios de liberdade de expressatildeo privacidade e
autonomia das crianccedilas e adolescentes
Nesse sentido a literatura analisada sustenta enunciados que reforccedilam a ideacuteia de que
os pais devem ser informados sobre boas praacuteticas e riscos na internet inclusive os riscos do
cyberbullying aleacutem de ―ter conhecimento dos tipos de tecnologias que satildeo utilizadas pelos
jovens para assim supervisionar ―monitorar no sentido de participaccedilatildeo das atividades online
(Hanewald 2009 Bayley 2013 Burnett et al 2013 Arsene e Raynaud 2014) Outros autores
tentam atenuar o confronto entre autonomiamonitoramentocontrole com expressotildees do tipo
78
―monitoramento no sentido de participaccedilatildeo da navegaccedilatildeo em alguns sites e apresentam uma
coerecircncia textual para que natildeo haja maacute interpretaccedilatildeo por parte dos jovens por acharem que
haveria uma perda de autonomia para navegaccedilatildeo na web Ao mesmo tempo o trecho traz
como forccedila um discurso de direcionamento tanto para as crianccedilas e adolescentes quanto para
os pais sobre um modelo de ajuste das praacuteticas rotineiras para que as formas de
monitoramento sejam naturalizadas e inseridas no cotidiano com a justificativa de prevenir da
violecircncia virtual Tal discurso tem tambeacutem como perspectiva de accedilatildeo a participaccedilatildeo dos pais
no universo online de seus filhos propiciando assim novas possibilidades de interaccedilatildeo
familiar
Wendt e Lisboa (2014) afirmam que os jovens acreditam que os adultos natildeo sabem
lidar com o cyberbullying todavia sugerem que o monitoramento parental visto como ―fator
protetivo pode contribuir para um menor comportamento de risco para os jovens na internet
Outra reflexatildeo apontada nessa literatura eacute que conforme os adolescentes se desenvolvem e
passam a adquirir maior independecircncia em relaccedilatildeo aos pais estes uacuteltimos costumam ajustar as
praacuteticas de supervisatildeo permitindo maior liberdade ao adolescente
Jaacute Sabella et al (2013) assinalam que o controle parental natildeo eacute tarefa faacutecil visto que os
aparelhos eletrocircnicos da atualidade satildeo de uso individual Aleacutem disso os adolescentes teriam
mais expertise no uso de tecnologias do que os adultos (Sabella et al 2013)
Estreitamento de laccedilos
No cenaacuterio das propostas oriundas da Educaccedilatildeo o estreitamento de laccedilos entre
alunos e professores se mostrou como uma alternativa relevante como apontam Couvillon e
Ilieva (2011) que ressaltam a necessidade de se ―avanccedilar de modo a ampliar a relaccedilatildeo de
confianccedila apoio e instruccedilatildeo entre alunos professores e demais funcionaacuterios (pg97)
No que concerne aos laccedilos familiares assinalados como relevantes para as accedilotildees de
prevenccedilatildeo percebe-se que a literatura analisada natildeo sinaliza claramente se reconhece a
existecircncia de rearranjos familiares e novos modelos de famiacutelias de crianccedilas e adolescente que
vivenciam experiecircncias de cyberbullying sejam como perpetradores acometidos eou
expectadores pois as orientaccedilotildees sempre invocam os personagens ―pais desconsiderando
que o cuidado dos filhos ocasionalmente esteja sob responsabilidade de outro adulto ou
tutor
79
Assim algumas revisotildees apontaram que os pais teriam um papel significativo na
prevenccedilatildeo do cyberbulyying quando esses permitem que seus filhos acessem somente a sites
considerados ―apropriados Assim essa permissatildeo demonstraria uma forma de cuidado e
propiciaria um ―ambiente saudaacutevel para que os filhos se sintam seguros de falar sobre alguma
situaccedilatildeo de cyberbullying vivenciada (Smith et al 2012 pg 121) Mas como os pais
poderiam valorar qual o poder ofensivo de redes sociais que satildeo os endereccedilos virtuais mais
utilizados pelos jovens na contemporaneidade Em contraponto um estudo revisado por
Slonje et al (2013) que investigou jovens de 25 paiacuteses constatou que 77 das viacutetimas
contaram o problema para algueacutem 42 contaram para os pais 52 para um amigo 7 para
os professores
Wendt e Lisboa (2014) pontuam que a ecircnfase e atenccedilatildeo devem ser voltadas para a
qualidade da relaccedilatildeo entre pais e filhos tal como agrave coerecircncia entre as praacuteticas parentais
utilizadas e a abertura para o diaacutelogo e negociaccedilatildeo Ressaltam ainda que o tempo gasto na
internet prejudica a qualidade na convivecircncia familiar
Capacitaccedilatildeo sensibilizaccedilatildeo campanhas
No que concerne agrave capacitaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo sobre o problema a literatura
reforccedila que as escolas precisam incluir o tema em suas pautas poliacuteticas escolares de prevenccedilatildeo
e incluindo a conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar capacitando natildeo soacute os
professores que satildeo considerados imigrantes digitiais mas os alunos e demais profissionais da
escola promovendo assim um ambiente no qual o cyberbullying seja socialmente inaceitaacutevel
(Sabella et al 2013 Suzuky et al 2012 Smith et al 2012 Von Mareacutees Peterson 2012
Nosworty e Rinaldi 2013) Na revisatildeo de Sabella et al (2013) vemos a evocaccedilatildeo da ideia-
forccedila de conclamaccedilatildeo para que as escolas ampliem o conhecimento sobre poliacuteticas de bullying
e cyberbullying para ajudar a proteger os alunos e resguardar as escolas de sanccedilotildees legais
aleacutem de contribuir para o fortalecimento de viacutenculos no ambiente escolar e comunicaccedilatildeo
aberta entre os alunos
Ainda sobre tipos de prevenccedilatildeo nas escolas encontramos na literatura a proposta de
―capacitar os professores utilizando material com conteuacutedo objetivo e claro para que estes
tenham condiccedilotildees de entender o que representa o cyberbullying ―identificar casos seja
atraveacutes de manifestaccedilotildees psicopatoloacuteloacutegicas comportamentais ou ausecircncia escolar bem como
para o ―fortalecimendo de accedilotildees ciacutevicas no ambiente escolar que conscientizam de modo a
80
―contribuir para um ambiente harmocircnico e uma relaccedilatildeo de confianccedila entre esses atores
(Couvillon e Illieva 2011)
No campo da Sauacutede estudos apontaram a necessidade de campanhas de
conscientizaccedilatildeo para prevenir o cyberbullying (Mareacutees e Peterson 2012 Chisholm 2014) e
defendem que profissionais de sauacutede que trabalhem ou natildeo nas escolas deveriam ―capacitar
alunos e pais Enfatizam a importacircncia de instruir para o desenvolvimento de habilidades
emocionais de modo a reduzir comportamentos impulsivos agressivos e encorajar crianccedilas e
adolescentes a desenvolverem empatia e controlar a raiva utilizando teacutecnicas de ―auto-gestatildeo
emocional ou resiliecircncia (Von Mareacutees e Peterson 2012 e Suzuky et al 2012) O estudo de
Suzuky et al (2012) considera relevante que pais sejam conscientizados por conselheiros
escolares ou profissioanis de sauacutede sobre os problemas que o cyberbullying pode acarretar
Aresene e Raynaud (2014) destacaram a presenccedila recorrente de campanhas
governamentais a niacutevel nacional na Franccedila especiacuteficamente realizada por profissionais de
Sauacutede Puacuteblica chamando a atenccedilatildeo sobre o protagonismo do Setor nesse paiacutes frente ao tema
se comparados a outros campos como a Educaccedilatildeo
A disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees foi um tipo de prevenccedilatildeo sugerida Algumas
propostas relevantes foram destacadas para o setor Sauacutede Puacuteblica como a criaccedilatildeo de material
informativo com enfoque na prevenccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas escolares que alcance
municiacutepios e estados com base em resultados de pesquisas (Gaacutercia Maldonado et al 2011
Kowalski et al 2014)
Ecircxitos e fracassos
Brown et al (2006) ressaltam que a literatura sugere como estrateacutegia de prevenccedilatildeo
primaacuteria que ―explorem a mentalidade digital como uma tarefa de poliacutetica escolar ou seja
que ―criem sites com uma linguagem digital apropriada para ―falar com os grupos de pares
utilizem desse mecanismo como estrateacutegia para que crianccedilas e adolescentes se relacionem e se
expressem nessa rede social escolar Tal literatura apresentou um discurso constitutivo que
propotildee mudanccedila de comportamento de alunos envolvidos em cyberbullying Quando se
propotildee a falar a linguagem dos nativos digitaislsquo essa estrateacutegia utiliza do convencimento para
propor intencionalmente um novo modelo de relaccedilotildees interpessoais desses jovens
81
Os autores mencionam a importacircncia de considerar as dinacircmicas sociais que
circundam a cibercultura como uma base para que praacuteticas positivas sejam desenvolvidas
Propor programas de acordo com a cultura local de um paiacutes ou regiatildeo foi visto como uma
accedilatildeo coerente ao inveacutes de copiar propostas de accedilatildeo jaacute existentes em outros paiacuteses De acordo
com um estudo grego embora haja uma seacuterie de programas de conscientizaccedilatildeo e material
relacionado a maioria dos programas foi projetada a partir de programas europeus muitas das
vezes ignorando que para aumentar a possibilidade de eficaacutecia de um programa de
intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio sua adaptaccedilatildeo agraves necessidades e cultura do paiacutes (Antoniadou e
kokkinos 2013) Percebe-se neste contexto a denuacutencia sobre uma certa dominaccedilatildeo ideoloacutegica
de modelos que satildeo exportados de paiacuteses ―centrais que desconsidera aspectos importantes
como a especificidade da cultura de determinada regiatildeo a forma como os jovens interagem
nos meios digitais e como vivenciam as praacuteticas de violecircncia nessa acircmbiencia
Um estudo revisado por Slonje (2013) apontou que satildeo razoaacuteveis as taxas de sucesso
dos programas escolares de prevenccedilatildeo ao bullying Os autores acreditam que os programas de
prevenccedilatildeo ao bullying podem ser ampliados sem a necessidade de grandes alteraccedilotildees
incluidno a demanda do cyberbullying Assim seria um componente de uma poliacutetica anti-
bullying em toda a escola com accedilotildees de conscientizaccedilatildeo e atividades nesse aspecto poderiam
ser incluiacutedas no curriacuteculo escolar
Programas com vieacuteses punitivos voltados para que perpetradores ―tirem uma liccedilatildeo
sobre seus atos foram considerados ineficazes por parte da literatura Todavia haacute divergecircncia
no discurso sobre as abordagens punitivas no trato com o cyberbullying Segundo a revisatildeo de
Hanewald (2009) estudos consideraram a responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores e a criaccedilatildeo de
poliacuteticas que tratam sobre a questatildeo da violecircncia digital como fatores positivos que inibiriam
novas accedilotildees de cyberbullying Um estudo do campo da Educaccedilatildeo defende que a
judicializaccedilatildeo dos casos de cyberbullying eacute uma estrateacutegia negativa ―Os distritos escolares
devem considerar cuidadosamente as accedilotildees que as escolas podem realizar sem colocar nossa
juventude no sistema de justiccedila criminal (Bailey 2013 pg 6) Tal referecircncia conclama as
instituiccedilotildees escolares tomarem para si a responsabilidade de atuar de forma preventiva de
modo que natildeo seja necessaacuteria uma intervenccedilatildeo de cunho punitivo no acircmbito judicial com os
jovens envolvidos com o cyberbullying Outros textos trazem a mesma perspectiva
(Aboujaoude et al 2015 Alim 2016 Baek e Bullock 2014 Bailey 2013 Baldry et al 2015
Berne et al2013 Cantone et al 2015 Cassidy Faucher e Jackson 2013)
82
A criaccedilatildeo de leis punitivas dividiu os autores Uns consideram que tais normativas
serviriam de base tanto para prevenccedilatildeo quanto para o enfrentamento aleacutem de servir de
paracircmetro legal para possiacuteveis accedilotildees praacuteticas adotadas pelas escolas diante de tais situaccedilotildees
(Baek e Bullock 2013 Bailey 2013)
Por outro lado os programas de prevenccedilatildeo que propiciem uma cultura de paz foram
considerados como uma alternativa eficiente no enfrentamento ao cyberbullying(Cassidy et al
2012)
Por fim um estudo de Della Cioppa et al (2015) que analisou programas de
prevenccedilatildeo do cyberbullying revelou que a maioria desses programas natildeo transcende a escola
(por exemplo para a famiacutelia a miacutedia) - o que pode explicar porque poucos programas de
prevenccedilatildeo natildeo conseguiram reduzir a vitimizaccedilatildeo dos casos de cyberbullying
ESTRATEacuteGIAS DE ldquoINTERVENCcedilAtildeOrdquo
Verificamos no acervo deste estudo duas linhagens de intervenccedilatildeo propostas diante de
casos jaacute ocorridos a primeira toma o foco das accedilotildees realizadas por instituiccedilotildees e a segunda
voltada para o manejo de cunho individual cujas accedilotildees satildeo alinhadas agrave perspectiva de coping
(modos de lidar)
Respostas institucionais de intervenccedilatildeo
De acordo com a literatura estudada (Mason 2008 Garaigordobil 2011) as propostas
de intervenccedilatildeo devem inicialmente identificar os casos de cyberbullying e sinalizar possiacuteveis
estrateacutegias para evitar que essas praacuteticas de violecircncia se consolidem a partir de accedilotildees
especiacuteficas de intervenccedilatildeo que tenham enfoque individual e nos grupos de agressores Intervir
em situccedilotildees concretas de cyberbullying de sorte que se torne possiacutevel minimizar os impactos
dessa violecircncia sobre os acometidos ofertando apoio psicoteraacutepico e proteccedilatildeo agraves viacutetimas sem
desconsiderar accedilotildees junto ao puacuteblico de espectadores
No primeiro grupo estatildeo aqueles que corroboram a ideia que a proteccedilatildeo dos dados
digitais eacute uma forma de lidar com o cyberbullying Essa proteccedilatildeo de dados tem como objetivo
natildeo permitir que conteuacutedos de cunho pessoal sejam acessados e expostos sem o
consentimento do proprietaacuterio Salientamos o discurso evocado na revisatildeo de Ang (2015)
sobre a praacutetica social do exibinicionismo tatildeo naturalizada nas miacutedias sociais digitais Ang
identificou entre os estudos revisados por ele mecanismos de accedilatildeo pelo qual essa loacutegica
83
narcisista ao extremo poderia contribuir para praacuteticas de cyberbullying contra pessoas que natildeo
se encaixam em determinados padrotildees esteacuteticos O autor reflete ainda que o anonimato na
Internet poderia ―exacerbar o senso desses adolescentes de desrespeitar os outros com a
crenccedila de que a agressatildeo eacute ―razoaacutevel aceitaacutevel e justificaacutevel (pg 38) Os elementos
discursivos desse estudo trazem o modo de representaccedilatildeo dos jovens sobre o mundo e sobre
os outros enfatizando o exibicionismo e natildeo empatia com seus pares
Com relaccedilatildeo agraves implicaccedilotildees para a escola segundo a revisatildeo de Hinduja e Patchin
(2011) a escola e seus administradores teriam obrigaccedilatildeo legal de agir quando ocorre a
violecircncia fora da internet e dentro dela quando esses atores tiverem ciecircncia desses fatos Para
Castro Schneider (2015) a escola teria como funccedilatildeo social a co-responsabilidade nos casos de
cyberbullying devendo a direccedilatildeo acionar os pais os Conselhos Tutelares e outros oacutergatildeos de
proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente aleacutem de aconselhar as viacutetimas (Faucher et al 2015) os
perpetradores (Chibbaro 2015) e ensinar aos alunos qual a maneira mais adequada de
responder a episoacutedios de cyberbullying (Notar et al 2016) Espera-se ainda da escola que
capacite professores a terem uma escuta qualificada e que tenham um espaccedilo sigiloso como
referecircncia de apoio para os alunos para que se sintam seguros em compartilhar sobre situaccedilotildees
de cyberbullying (Wingate et al 2013) A literatura ainda sugeriu que as escolas devam criar
programas que melhorem o clima escolar e que contribuam para o desenvolvimento da
empatia e resoluccedilatildeo de conflitos Percebe-se que haacute uma tendecircncia nos textos em sugerir
modelos de condutas por parte das escolas de modo a criar protocolos de comportamentos
diante de situaccedilotildees de bullyingcyberbullying
Destaca-se neste bloco de informaccedilotildees o papel da escola no acircmbito interventivo a
ideia de que funcionaacuterios escolares terem autonomia de impor restriccedilotildees e disciplina caso
regras escolares sejam violadas pelos alunos (Mason 2008) Tal discurso apresenta uma forccedila
discursiva ao designar uma ordem social em ―impor restriccedilotildees por parte dos profissionais da
educaccedilatildeo
A escola eacute chamada a oferecer capacitaccedilatildeo para pais cujos filhos estejam
envolvidos com cyberbullying de modo que esse treinamento tenha um recorte interventivo
ao buscar trabalhar com o puacuteblico dos estudantes cyberagressores no sentido de instruir esses
uacuteltimos e informar sobre o problema
Outras accedilotildees foram destacadas como propostas de cunho didaacutetico de modo a incluir a
famiacutelia e a comunidade no processo de intervenccedilatildeo (Garaigordobil 2011) e monitorar as
84
atividades online feita pelos alunos (Cassidy et al 2013 Carpenter e Hubbard 2014) Essa
uacuteltima proposta coloca em questatildeo como jaacute discutido anteriormente regras de convivecircncia
que interferem na privacidade dos alunos aleacutem das formas de se relacionar na
contemporaneidade ateacute mesmo da individualidade e autonomia dos jovens de fazerem o uso
de seus pertences tecnoloacutegicos no ambiente escolar
Jaacute a revisatildeo de Wendt e Lisboa (2014) evidencia que a falta de diaacutelogo entre pais e os
jovens precisa ser foco de intervenccedilatildeo por parte de psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede
dado que a vulnerabilidade na comunicaccedilatildeo familiar representa um fator de risco no que tange
aos moldes que a violecircncia apresenta no meio digital Os autores percebem que haacute um
distanciamento cultural por parte de pais e professores Sugerem que programas de
intervenccedilatildeo direcionados pelas escolas poderiam desenvolver grupos de responsaacuteveis com
atividades luacutedicas que envolvam o uso das novas tecnologias de modo a propiciar um
compartilhamento de experiecircncias entre responsaacuteveis professores e os alunos Wendt e
Lisboa ainda recomendam que psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede ofertem suporte
emocional aleacutem de reflexotildees sobre os riscos e os benefiacutecios que as dinacircmicas digitais
oferecem na contemporaneidade Todavia identificamos um estudo que sugere a puniccedilatildeo com
o argumento de reparar o dano pelos maus atos praticados pelos filhos (Faushe et al 2015)
Accedilotildees interdisciplinares foram propostas como manejo de intervenccedilatildeo O estudo de
Gine e Espelage (2014) apesar de natildeo descreverem qual o papel de psiquiatras meacutedicos pais
e professores diante de casos de cyberbullying sugere que a intervenccedilatildeo por parte desses eacute
necessaacuteria para diminuir o risco de angustias que podem repercutir em suiciacutedio Neste caso o
discurso apresenta uma funccedilatildeo de linguagem identitaacuteria ao reconhecer o papel social desses
atores e a necessidade de sua atuaccedilatildeo Reed (2015) destacou a formulaccedilatildeo de programas de
intervenccedilatildeo com base em modelos jaacute existentes como uma estrateacutegia positiva designada para
intervir na depressatildeo de pessoas que vivenciaram o cyberbullying Outro modelo semelhante
visa agrave formaccedilatildeo de ciacuterculos restaurativos e grupos de reflexatildeo voltado para os agressores
mas com monitoramento das accedilotildees de cyberbullying por eles praticadas Tanto no que se
refere aos autores como aos acometidos a perspectiva de mudanccedila de comportamento adveacutem
de tratamento psicoloacutegico sem desconectar a oferta de aconselhamento Experiecircncias como
estas foram consideradas exitosas quando reproduzidas (Suzuky et al 2012 Sabella et al
2013 Slonje et al 2013)
85
Programas de conscientizaccedilatildeo tambeacutem foram considerados como accedilotildees de intervenccedilatildeo
cujos objetivos satildeo o de contribuir para a reduccedilatildeo do estresse imediato e ajudar a prevenir
consequecircncias de longo prazo bem como um mecanismo para denuacutencias anocircnimas aos canais
e oacutergatildeos de proteccedilatildeo (Garaigordobil 2011 Raskauskas e Ruyinh 2015)
Criar instrumentos para avaliar os riscos de um jovem sofrer cyberbullying tambeacutem foi
considerado pelos estudos como um instrumento de intervenccedilatildeo ao passo que permitiria a
criaccedilatildeo de novas estrateacutegias de accedilotildees (Baldry et al 2015) Entendemos que a criaccedilatildeo de
instrumentos para avaliaccedilatildeo traz como implicaccedilatildeo discursiva as maneiras de interpretar o
sentido de haver riscos de sofrer cyberbullying
Por fim um uacuteltimo grupo de propostas de intervenccedilatildeo se refere agrave criaccedilatildeo de leis
coibitivas da praacutetica de cyberbullying No que tange a legislaccedilatildeo a criaccedilatildeo de leis especiacuteficas
para lidar com cyberbullying abre margem para uma argumentaccedilatildeo de que se faz ―necessaacuteria
a criminalizaccedilatildeo do fenocircmeno como condiccedilatildeo efetiva para lidar com ele A anaacutelise dessas
propostas envolve a agurmentaccedilatildeo sobre execuccedilatildeo das leis podendo inclusive resultar em
accedilotildees paliativas aleacutem da presenccedila de um discurso apelativo de judicializaccedilatildeo das relaccedilotildees
sociais em conflito (Yan e Grinshteyn 2016)
Entendemos que as estrateacutegias relacionadas acima correspondem a accedilotildees de cunho
institucional e poliacutetico Natildeo encontramos modelos de intervenccedilatildeo especiacuteficos para o campo da
sauacutede
bdquoCoping‟ ndash o manejo individual
Os modelos de coping apresentados nos estudos analisados reportam a um manejo de
ordem psiacutequica e individual ofertando ainda a possibilidade de acionamento de outros sujeitos
como professores amigos e famiacutelia Natildeo estatildeo relacionados diretamente ao campo Educaccedilatildeo
mas ao manejo que prioriza a sauacutede mental dos indiviacuteduos
Apresentaremos a seguir as propostas de enfrentamento designadas pela literatura
como modelos de intervenccedilatildeo de ordem individual Verificamos que natildeo se trata propriamente
de modelos de intervenccedilatildeo mais sim de estrateacutegias de como lidar com o fenocircmeno Nesse
bloco ressaltam-se os modos de lidar que promovem resiliecircncia sugeridos a partir de
experiecircncias existentes ensinadas e replicadas ou seja sugestotildees de formas de prevenccedilatildeo de
86
novos agravos agrave sauacutede psiacutequica dos envolvidos com o cyberbullying ou ainda formas de
coping que supunham que a partir de determinado comportamento natildeo ocorram novos
episoacutedios do fenocircmeno Estrateacutegias de enfrentamento (coping) satildeo consideradas praacuteticas de
esforccedilos cognitivos e comportamentais para tratar das demandas peculiares e os objetivos
desses modos de lidar satildeo distintos e tomam por base o niacutevel de envolvimento desse sujeito
com a questatildeo do cyberbullying (no caso das viacutetimas) por exemplo o que vai determinar
quais os tipos e niacuteveis de estrateacutegias seraacute adotado para lidar como o cyberbullying (Castilho
2010 Bezzara in Veiga e Caetano 2014)
Como formas de coping satildeo discutidas o confronto a resoluccedilatildeo planejada do
problema a aceitaccedilatildeo o autocontrole a procura de ajuda a reavaliaccedilatildeo positiva da situaccedilatildeo o
distanciamento e fugaevitamento do problema (Serra 1987 Ribeiro e Rodrigues 2004)
O manejo utilizado por vitimados foi pontuado de forma recorrente pelos estudos
analisados Dentre as formas de lidar com o cyberbullying estatildeo informar algueacutem sobre o
ocorrido evitar a pessoa que praticou o cyberbullying revidar a accedilatildeo de alguma maneira
bloquear certas pessoas de contato on-line alterar senhas e nome de usuaacuterio excluir
mensagens anocircnimas sem ler evitar socializar abertamente o nuacutemero de celular rastrear
nuacutemero de IP do agressor e informar aos canais de atendimento de sites de relacionamentos
sobre a ocorrecircncia de atos de cyberbullying trocar nome e nuacutemero de telefone caso se sinta
ameaccedilado (Slonje et al 2013 Nixon 2014) Poreacutem eacute prematuro dizer que tais
comportamentos possam impedir um indiviacuteduo de vivenciar tal experiecircncia muito menos dar
conta da dimensatildeo exponencial que o cyberbullying pode alcanccedilar Entendemos que haveria
um discurso de intencionalidade devido agrave forccedila dos verbos utilizados bloquearlsquo alterarlsquo
rastrearlsquo revidar Ao fazer uso de tais verbos o discurso produz um sentido de proposiccedilatildeo
de construccedilatildeo de praacuteticas ativas que confrontem as accedilotildees de cyberbullying vivenciadas pelos
acometidos
Verifica-se que satildeo muacuteltiplas as formas de copinglsquo sinalizadas pelo acervo analisado
Em meio agraves distintas formas de lidar com o cyberbullying encontram-se atores que estariam
em uma posiccedilatildeo de passividade diante de accedilotildees do cyberbullying os chamados expectadores
Pode-se disser que esse tipo de comportamento tambeacutem representa um modo de lidar
contudo sem um caraacuteter de enfrentamento Neste caso o comportamento dos expectadores
nos chama atenccedilatildeo em meio ao cenaacuterio das propostas de enfrentamentos devido a sua ineacutercia
A falta de intervenccedilatildeo diante de um episoacutedio de cyberbullying por parte dos expectadores se
87
configura com o que Wingate et al (2013) denominam de ―ignoracircncia pluralista que
corresponde a um comportamento grupal onde sujeitos de um determinado grupo ao terem
uma opiniatildeo diferente preferem se calar diante de uma resposta contraacuteria a deste grupo ao
qual pertence O vocabulaacuterio em destaque traz como lexicaccedilatildeo agrave falta de conhecimento dos
espectadores diante dos danos que o cyberbullying pode causar em outrem Wingate et al
(2013) salientam que ocorre uma espeacutecie de ―efeito espectador (O que o grupo vai pensar
caso tenha uma reaccedilatildeo diferente das regras culturais estabelecidas pela comunidade que faz
parte) Por exemplo uma viacutetima de cyberbullying pode ter muitos amigos numa rede social
mas se eles natildeo reagirem cria a impressatildeo de que ignorar o cyberbullying eacute a resposta
normativa (Wingate et al 2013)
Uma das revisotildees (Raskauska e Ruinh 2015) tratou de identificar estrateacutegias para
lidar com o cyberbullying promotoras de reduccedilatildeo imediata do estresse gerado pelo fenocircmeno
ou aquelas que contribuam para diminuiccedilatildeo em longo prazo tais como praacuteticas com enfoque
nas emoccedilotildees e que promovam uma cultura de paz para evitar o confronto estrateacutegias de apoio
social que ofertem suporte que provoquem o amortecimento do impacto negativo do
cyberbullying (falar com um amigo professor ou profissional sobre o assunto) estrateacutegias
focadas na evacuaccedilatildeo que incluem distanciamento do enfrentamento no qual se evita ou se
retira da situaccedilatildeo estressante (como os bloqueios de perfis e exclusotildees) ou accedilotildees que gerem
resiliecircncia e porporcione o bem estar e sauacutede mental (como o natildeo pensar sobre o fato
ocorrido) A procura por apoio social se revelou mais peculiar entre o gecircnero feminino de
acordo com dois estudos revisados por Raskauska e Ruinh (2015)
O estudo de Nixon por exemplo embora revisasse pesquisas sobre eficaacutecias das
estrateacutegias de intervenccedilatildeo verificou que a maioria dessas pesquisas teria examinado
estrateacutegias de reduccedilatildeo de risco ou promoccedilatildeo de comportamentos que superem os riscos como
o suiciacutedio baixo rendimento escolar entre outros Tais estrateacutegias quando adotadas pelos
adolescentes podem mitigar ou reduzir o impacto negativo do cyberbullying (Nixon 2014)
A revisatildeo de Alim (2016) destaca um estudo de Justim Patchim e Sammer Hinduja
com adolescentes americanos de 11 a 18 anos de idade que analisou a probabilidade de um
jovem ser punido por um adulto como um fator para praticar ou natildeo atos de cyberbullying
Tal estudo observou que os adolescentes que pensavam que os adultos poderiam puni-los
eram menos propensos a fazer cyberbullying Alim (2016) ainda elencou as formas como os
adolescenes lidam com o fenocircmeno entre elas (a) responder aos ataques (b) saber em quem
88
confiar (c) ser astuto em relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecnologia (d) respeitar os
outros (e) estar no controle e (f) falar cara a cara (Fisher 2013 apud Alim 2016) Entre as
estrateacutegias relatadas pelos adolescentes consideradas eficazes e que impedem accedilotildees de
cyberbullying incluem accedilotildees tecnoloacutegicas como a exclusatildeo do perfil e o ajuste da
privacidade uso de configuraccedilotildees para evitar o contato Estas seriam moderadamente uacuteteis
para pessoas que sofrem com cyberbullying e outras formas de asseacutedio on-line O bloqueio do
agressor foi uma das respostas mais predominantes relatar o incidente a um consultor on-line
ou denunciar atraveacutes de relatoacuterio on-line tambeacutem foi identificada aleacutem de bloquear o acesso
do perpetrador agraves informaccedilotildees pessoais na linha do tempo de redes sociais Para Alim (2016)
as estrateacutegias dos adolescentes para o enfrentamento mudam com o passar dos anos e que as
soluccedilotildees tecnoloacutegicas e a procura de apoio satildeo eficazes na luta contra o ciberbullying Jaacute a
revisatildeo de de Allison e Busey (2016) ressaltou estudos que apontam que as normas de
comportamentos sociais entre pares podem influenciar a decisatildeo de transeuntes do universo
online participarem de cyberbullying inclusive no que tange ao comportamento dos
expectadores Verifica-se que o texto se apropia de elementos discursivos de forccedila (modos de
accedilatildeo) ―bloquear o agressor ―responder aos ataquese ao mesmo tempo de modos de
representaccedilatildeo desses sujeitos que fazem parte de comunidades sociais ―falar cara a cara
―saber em quem confiar Esse tipo de discurso contribui para moldar e restrigir as normas e
convenccedilotildees entre agressores e acometidos
Cabe destacar que parte das revisotildees que sugerem modos de lidar (coping) com o
cyberbullying propocircs accedilotildees preventivas concomitantemente Aleacutem disso pensar tais
estrateacutegias e reproduzir tais praacuteticas adequando as novas complexidades do fenocircmeno e da
cibercultura se fazem necessaacuterios (Aboujaoude et al 2015) visto que um modelo de
intervenccedilatildeo fechado natildeo daria conta da constante atualizaccedilatildeo tanto das tecnologias que
possibilitariam praacuteticas de cyberbullying como das ambiecircncias relacionais da cibercultura
CONCLUSOtildeES
No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um
assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns
pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das
89
expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o
evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares
Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa
levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia
Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a
cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo
Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o
conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o
contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que
podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying
podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas
atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais
Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio
na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia
psicoloacutegica e que ocorre entre pares
Percebemos que a literatura analisada por muitos momentos demonstrou uma
aproximaccedilatildeo do tema cyberbullying com o bullying tradicional Eacute suficiente considerar o
cyberbullying mais do mesmo neste caso bullying
Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma
personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o
cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de
alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos
produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet
voltar a circular apoacutes tempos depois em que o conteuacutedo foi disparado e o assunto degradante
veio agrave tona
Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos
estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio
(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre
quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas
do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a
atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as
habilidades dos meninos como superiores comparados com as meninas em aspectos
tecnoloacutegicos
90
Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagado deliberadamente em redes
sociais contra grupos eacutetnicos raciais natildeo brancos eacute inquietante natildeo ter identificado na
literatura reflexotildees sobre cyberbullying e gecircnero que transcendam a classificaccedilatildeo binaacuteria
aleacutem de invisibilizar questotildees como o racismo Tambeacutem cabe considerar que natildeo bastaria
nomear situaccedilotildees como cyberbullying sem refletir sobre o tipo de violecircncia praticada com tais
sujeitos Para isso eacute preciso ter ciecircncia do que de fato se configura cyberbullying para que
equiacutevocos interpretativos natildeo ocorram ao passo de classificar qualquer tipo de violecircncia
digital como cyberbullying desconsiderando por exemplo que trata-se de uma violecircncia
entre pares Estudos que apontem prevalecircncia de casos de cyberbullying contra jovens LGBT
grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio mulccedilumanos e
religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos satildeo de grande relevacircncia
Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre
o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis
por proliferar o conteuacutedo difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying
que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um
controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta
Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser
ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os
impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que
diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar
cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica do
cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas
ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os
seus perfis analisando inclusive se aqueles que cometem cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram
algum tipo de violecircncia
Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo
ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou
seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute
viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo anonimato
Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que
haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem
existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas
implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de
91
Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam
adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz
respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais
digitais
Ainda assim a literatura direciona maior responsabilidade no trato da prevenccedilatildeo do
cyberbullying agrave comunidade escolar Teriam as escolas capacidade de capacitar prevenir e
ainda intervir em situaccedilotildees de cyberbullying isoladamente Por outro lado natildeo eacute possiacutevel
admitir que questotildees de cyberbullying na escola sejam classificadas como uma problemaacutetica
de menor impacto para os alunos ou ―brincadeira de adolescente uma demanda que foge da
competecircncia escolar por transcender o seu espaccedilo fiacutesico Pensando nessa suposta
responsabilidade em alguns paiacuteses como no Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe
multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem dar conta de certas demandas por falta de
suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar continuidade a projetos iniciados por falta de
recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio refletir se de fato tais propostas e manejo
seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno complexo e com atravessamentos
peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros setores e atores sociais Partimos do
entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos de cyberbullying necessitam ser
realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes atores
Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados
tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de
revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou
analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento
Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a
necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos
pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos
online jaacute faccedila parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem
refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos ―nativos digitais e restrigir punir ou
controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens pode ter tambeacutem
aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria Quais os
seus limites Quando um profissional eou um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a
privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais
enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do
monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e
92
adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos
e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos
jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que
supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre o uso das novas tecnologias esses
possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua
responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um
aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso
aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de
identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de
monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que
tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a uma banalizaccedilatildeo do monitoramento
de praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da
liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo
familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz
necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado
pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos
Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado
de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos
publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo
foi o nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede
reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a
criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem
com esta demanda de forma coerente
Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do
conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios
novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e
intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento
sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre
avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de
intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)
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CONCLUSOtildeES
No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um
assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns
pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das
expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o
evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares
Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa
levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia
Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a
cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo
Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o
conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o
contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que
podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying
podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas
atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais
Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio
na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia
psicoloacutegica e que ocorre entre pares
Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma
personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o
cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de
alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos
produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet
100
voltar a circular apoacutes tempos depois em que esse conteuacutedo foi disparado e o assunto
degradante veio agrave tona
Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos
estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio
(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre
quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas
do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a
atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as
habilidades dos meninos como superiores se comparados com as meninas em aspectos
tecnoloacutegicos
Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagando deliberadamente em redes
sociais percebeu-se ainda uma ausecircncia de reflexotildees sobre a questatildeo do cyberbullying contra
jovens LGBT grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio
mulccedilumanos e religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos
Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre
o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis
por proliferar o material difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying
que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um
controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta
Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser
ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os
impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que
diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar
cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica de
cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas
ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os
seus perfis analisando inclusive se aqueles que praticam cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram
algum tipo de violecircncia
Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo
ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou
seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute
viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo do anonimato
101
Eacute possiacutevel considerar que o cyberbullying se configura como uma nova forma de
violecircncia sistemaacutetica que se manifesta atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica
entre pares nas ambiecircncias das redes de socialidade digital que podem ocorrer em qualquer
espaccedilo geograacutefico Inclusive sendo considerado por estudiosos como um problema de sauacutede
social e de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede mental de crianccedilas e adolescentes
Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que
haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem
existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas
implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de
Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam
adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz
respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais
digitais
Ainda assim a literatura apontou excessiva responsabilidade da escola no trato da
prevenccedilatildeo do cyberbullying agrave comunidade escolar Entretanto em alguns paiacuteses como no
Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem
dar conta de certas demandas por falta de suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar
continuidade a projetos iniciados por falta de recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio
refletir se de fato tais propostas e manejo seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno
complexo e com atravessamentos peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros
setores e atores sociais Partimos do entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos
de cyberbullying necessitam ser realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes
atores
Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados
tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de
revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou
analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento
Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a
necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos
pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos
online jaacute faccedilam parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem
refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos nativos digitais e restrigir punir ou
controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens podem ter
102
tambeacutem aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria
Quais os seus limites Quando um profissional e um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a
privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais
enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do
monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e
adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos
e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos
jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que
supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre uso das novas tecnologias esses
possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua
responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um
aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso
aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de
identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de
monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que
tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a banalizar o monitoramento de
praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da
liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo
familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz
necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado
pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos
Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado
de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos
publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo
foi nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede
Reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a
criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem
com esta demanda de forma coerente
Identificou-se a necessidade de estudos futuros investigarem as redes sociais como
um territoacuterio de praacutetica e propagaccedilatildeo de atos de cyberbullying Que estudos com esse recorte
aponte quais os papeis dessas plataformas digitais no manejo com o cyberbullying
Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do
conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios
103
novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e
intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento
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9 Cyberbullying I Tiacutetulo
CDD ndash 22ed ndash 3023
Taiza Ramos De Souza Costa Ferreira
CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES Definiccedilotildees associaccedilotildees com
a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Sauacutede Puacuteblica da Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica
Seacutergio Arouca na Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz como
requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em
Sauacutede Puacuteblica Aacuterea de concentraccedilatildeo Violecircncia e Sauacutede
Aprovada em 04052018
Banca Examinadora
Dra Giovanna Marafon
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Dra Simone Gonccedilalves de Assis
Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca - ENSP
Suely Ferreira Deslandes (orientadora)
Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca - ENSP
Rio de Janeiro
2018
Dedico este trabalho a todas as crianccedilas e (os) adolescentes que sofreram ou sofrem com os
impactos do cyberbullying em sua sauacutede psiacutequica que possam encontrar os mecanismos de
apoio necessaacuterios que lhes possibilite enfrentar essa forma de violecircncia tatildeo cruel
Agradecimentos
Agrave Deus por ter me dado a graccedila de conseguir cursar um curso de poacutes-graduaccedilatildeo
Scricto Sensu numa instituiccedilatildeo renomada como a ENSP e poder seguir minha trajetoacuteria
acadecircmica iniciada nesta casa em 2012 com a especializaccedilatildeo em Direitos Humanos e Sauacutede
Agrave minha famiacutelia por todo apoio recebido paciecircncia nos meus dias estressantes
incentivo para que eu natildeo desistisse do meu objetivo Obrigado por terem sonhado comigo
em especial meu esposo Eduardo Brito que acreditou que eu seria capaz antes mesmo de eu
pensar em cursar o mestrado Te amo
Quero tambeacutem registrar minha gratidatildeo pelo privileacutegio de ter Suely Deslandes como
minha orientadora mentora amiga agraves vezes matildee (matildee loira minha diva da vida academia)
por todas as orientaccedilotildees recebidas por ter acreditar em mim pelo incentivo pelas chamadas
para a realidade pelas dicas compreensatildeo paciecircncia (e como vocecirc exerceu esse dom comigo)
diante das minhas dificuldades e limitaccedilotildees diante do trabalho aacuterduo que eacute construir um
trabalho acadecircmico com qualidade Cada sessatildeo ligaccedilatildeo e encontros foram importantes
Jamais vou esquecer todo o suporte que meu deu aprendi e aprendo muito com vocecirc Eacutes uma
inspiraccedilatildeo para mim Muito obrigada
Agrave coordenaccedilatildeo acadecircmica do Programa de Mestrado em Sauacutede Puacuteblica da ENSP todo
corpo docente docentes convidados pela competecircncia e excelecircncia no ensino Agradeccedilo em
especial aos docentes e pesquisadores da minha subaacuterea violecircncia e sauacutede por terem me
oportunizado refletir apreender e conhecer sobre a violecircncia suas especificidades Obrigada
pelos encontros reflexivos provocadores e desafiadores (Maria Ceciacutelia Minayo ndash nossa diva
maior Suely Deslandes Patriacutecia Constantino Joviana Avanci Simone de Assis Kathie
Njaine Ednilsa Ramos Liana Pinto Fatima Cequetto Ana Elisa Miriam Schenker e Liane da
Silveira) Obrigada a todos os colegas da turma MSP2016 tenho orgulho dessa turma
Saudade dos nossos cafeacutes e chaacute de bebecircs
Agrave minha turma da subaacuterea Ethos Guerreiro (Adri Bruno Cynthia Lu Ju Hellen
Rodolfo e Val) pela solidariedade incentivo e empatia ao longo desses dois anos Foram
muitas batalhas conquistas alegrias perdas anguacutestias e tristezas partilhadas natildeo vou me
esquecer do que vivemos juntos virtualmente e presencialmente Temos um Ethos coletivo
que eacute de Guerreiro
Obrigada membros da banca por acreditar no meu trabalho e me possibilitar chegar
ainda mais perto dessa realizaccedilatildeo que eacute me tornar mestre Bibliotecaacuterio Adriano equipe da
secretaria acadecircmica pela prontidatildeo e profissionalismo muito obrigada
Encerra-se um ciclo para que outro se inicie
Como diz um salmo de Davi e nisso me apeguei ―Confie no Senhor Tenha feacute e
coragem Confie em Deus o Senhor (Salmos cp27 v14) Bestrong Gratidatildeo
RESUMO
Este estudo trata o cyberbullying como uma violecircncia psicoloacutegica que ocorre entre pares no
contexto das sociabilidades digitais logo se configura como um problema de sauacutede puacuteblica
que traz impactos agrave sauacutede emocional de crianccedilas e adolescentes que pode desencadear
inclusive em suiciacutedio Analisamos as formas de conceituar os fenocircmenos e suas dinacircmicas
quais os personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede dos perpetradores
e acometidos por essa categoria de violecircncia A seguir analisamos as propostas e enunciados
de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo propostas pelo e para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo (quem
satildeo os atores implicados e quais as estrateacutegias recomendadas) analisar os discursos sobre
prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno
Empreendemos tal estudo a partir de uma revisatildeo criacutetica da literatura tomando como base a
Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) nos moldes propostos por Fairclough sobretudo no que
diz respeito aos discursos e enunciados evocados em sua interdiscursividade (manifesta e
constitutiva) forccedila e praacutetica social Percebeu-se uma necessidade de novos estudos que
contextualizem a questatildeo do cyberbullying na cibercultura e novas possibilidades de interaccedilatildeo
digitais bem como estudos que discutam com maior aprofundamento o papel dos
profissionais de sauacutede no enfrentamento e na prevenccedilatildeo
Palavras-chaves Cyberbullying Sauacutede Educaccedilatildeo violecircncia
ABSTRACT
This study deals with cyberbullying as a psychological violence that occurs between peers in
the context of digital sociabilities and is therefore a public health problem that impacts the
emotional health of children and adolescents which can lead to suicide We analyze the ways
of conceptualizing the phenomena and their dynamics which characters are identified and
which associations point to the health of the perpetrators and affected by this category of
violence Next we analyze the proposals and statements of prevention and intervention
proposed by and for the fields of Health and Education (who are the actors involved and what
strategies are recommended) analyze the discourses on prevention accountability coping
modes and dynamics of the phenomenon We undertake such a study based on a critical
review of literature based on the Analysis of Critical Discourse (ADC) in the ways proposed
by Fairclough especially with regard to the discourses and statements evoked in his
interdiscursividade (manifest and constitutive) strength and social practice There was a need
for new studies that contextualize the issue of cyberbullying in cyberculture and new
possibilities for digital interaction as well as studies that discuss with a deeper understanding
the role of health professionals in coping and prevention
Key-words Cyberbullying Health Education violence
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO13
11 Objetivos13
12 Metodologia 19
2 MARCO TEOacuteRICO24
21 Cibercultura sociabilidade digital e ciberespaccedilo 24
22 Bullying29
23 Cyberbullying35
231 Cyberbullying Violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica35
3 ARTIGO 1 CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES
CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E IMPLICACcedilOtildeES COM
A SAUacuteDE44
Introduccedilatildeo45
Meacutetodos49
Conceituaccedilatildeo51
Descriccedilotildees das dinacircmicas56
Personagens envolvidos58
Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos61
Discussatildeo62
4 ARTIGO 2 CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO
PARA O CAMPO DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE
LITERATURA64
Introduccedilatildeo64
Metodologia66
Caracterizaccedilatildeo do acervo69
Estrateacutegias de prevenccedilatildeo74
Estrateacutegias de intervenccedilatildeo80
5 CONCLUSOtildeES 87
6 REFEREcircNCIAS91
Sumaacuterio de Quadros
Quadro 1 Seleccedilatildeo do acervo22
Quadro 2 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo24
Quadro 3 Vocaacutebulo designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas37
Quadro 4 Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de Cyberbullying
(2010-2016)69
Sumaacuterio de Tabelas
Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma51
Sumaacuterio de figuras
Figuras 1 Modelo Tridimensional de Norman Fairclough23
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Em tempos em que manter-se por muitas horas diaacuterias conectadas agrave internet atraveacutes de
aparelhos eletrocircnicos eacute uma realidade cotidiana de parte da sociedade na contemporaneidade
natildeo eacute de se espantar que a sociabilidade tenha sofrido alteraccedilotildees para novas formas de
interaccedilatildeo mediadas por diferentes miacutedias sociais De tal modo a violecircncia tambeacutem ganhou
novas formas de expressatildeo
A violecircncia e suas mais distintas expressotildees tecircm sido pauta de estudos em diferentes
aacutereas do conhecimento inclusive no campo da Sauacutede
Segundo Assis e Marriel (2010) conceituar violecircncia eacute uma tarefa difiacutecil por se tratar
de um fenocircmeno de muacuteltiplas causalidades
Ainda sobre as violecircncias Wanzinack e Signorelli (2015 p 09) afirmam que elas
atingem de forma natildeo apenas diferente mas sobretudo desigual a distintos sujeitos e grupos
da sociedade Assim sendo as violecircncias se manifestam por meio de diferentes atores e
encontram- se em variados cenaacuterios
Entende-se que existe uma relaccedilatildeo estreita poreacutem natildeo exclusiva entre a Violecircncia e a
Sauacutede conforme apontam Minayo e Souza (1998 p520) ―a violecircncia natildeo eacute objeto restrito e
especiacutefico da sauacutede mas estaacute intrinsecamente ligada a ela Cabe ressaltar que o campo da
Sauacutede possui um papel social de relevacircncia pois dentre suas funccedilotildees estatildeo a elaboraccedilatildeo de
estrateacutegias preventivas a promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede coletiva e individual
O cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se manifesta sob os moldes de
agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para aleacutem da
subjetividade do indiviacuteduo resultando em implicaccedilotildees praacuteticas e reais no cotidiano e
individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)
Um estudo (Silva Silva Saldanha 2011) realizado atraveacutes de um questionaacuterio com
114 crianccedilas e adolescentes portuguesas constatou que o cyberbullying causa efeitos
devastadores na sauacutede mental e fiacutesica Entre as consequecircncias mais frequentes estavam as
crises de choro (714) a ansiedade (571) a dificuldade de concentraccedilatildeo (571) e os
pesadelos (571)
O cenaacuterio para este estudo foi o ambiente virtual visto que a violecircncia tem alcanccedilado
relevante capilaridade neste espaccedilo o que tem gerado amplas consequecircncias Satildeo
14
repercussotildees que perpassam tanto as relaccedilotildees sociais iniciadas fora do ambiente virtual que
podem ou natildeo ser nutridas neste ambiente (como exemplo relaccedilotildees familiares entre colegas
e vizinhos) ou ainda interaccedilotildees sociais mais superficiais (amigos virtuais eou seguidores de
redes sociais que podem ou natildeo ter uma relaccedilatildeo social real com o usuaacuterio nessas redes
sociais) Certas vinculaccedilotildees desenvolvidas neste espaccedilo satildeo conexotildees construiacutedas por meio de
interesses comuns que todavia podem ser rompidas a qualquer momento devido agrave
superficialidade nessas conexotildees
Essas relaccedilotildees sociais que ocorrem no ciberespaccedilo (espaccedilo virtual) e que podem
culminar em atos violecircncia na comunicaccedilatildeo digital se manifestam em meio a uma cultura
digital Cultura esta que alguns estudiosos da aacuterea das ciecircncias da comunicaccedilatildeo e ciecircncias
sociais chamam de cibercultura
Segundo Andreacute Lemos (2015) a cibercultura seria uma confluecircncia entre as formas
sociais praacuteticas humanas e a tecnologia sendo atraveacutes da inclusatildeo da sociabilidade na praacutetica
diaacuteria da tecnologia que ela adquire os seus contornos mais niacutetidos A existecircncia de uma nova
forma de apresentaccedilatildeo da cultura e da proliferaccedilatildeo de uma sociabilidade digital traz consigo
distintas facetas entre elas a violecircncia se faz presente no ciberespaccedilo e nas relaccedilotildees digitais
que ali se estabelecem A nova sociabilidade digital eacute mediada por distintas tecnologias que
facilitam o uso e acesso individual e remoto tais como os smarthphones notebooks e outros
modos de comunicaccedilatildeo que possibilitam o envio e recebimento de mensagens de textos
aacuteudios imagens fotos e viacutedeos Essas muacuteltiplas formas de interaccedilatildeo digital podem ser
utilizadas para depreciar denegrir e expor vexatoriamente eou negativamente agrave imagem de
algueacutem Assim o cyberbullying pode ser concebido e difundido poreacutem agraves vezes seus autores
natildeo satildeo identificados devido agrave possibilidade de anonimato (ainda existente) no ambiente
virtual ou ainda a morosidade na identificaccedilatildeo desses autores Apesar de todos os avanccedilos
tecnoloacutegicos que possibilitam rastreamentos e localizaccedilatildeo de aparelhos eletrocircnicos de
comunicaccedilatildeo
Aleacutem disso uma vez que uma imagem eacute veiculada no ambiente virtual essas
informaccedilotildees poderatildeo estar pra sempre circulando na rede mundial de computadores por meio
das diferentes conexotildees que podem ser realizadas Lemos (2015) considera o ciberespaccedilo
como um ambiente onde ocorre uma significaccedilatildeo sensorial da civilizaccedilatildeo pautada em
informaccedilotildees digitais
15
Jaacute Martino (2015) ao tratar das questotildees caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais
contemporacircneas afirma que os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos
estabelecidos conforme a necessidade de um momento e desmanchados depois Haacute uma
dinacircmica nos contatos sociais feitos atraveacutes da internet partindo da ideia do nuacutemero e dos
tipos de conexotildees que podem ser estabelecidas entre os participantes das redes sociais
presentes no chamado ciberespaccedilo
Eacute inevitaacutevel falar cyberbullying sem mencionar o fenocircmeno bullying por ambos os
fenocircmenos ocorrerem entre pares e pelo fato deste primeiro ser chamado de a versatildeo digital
do bullying dito como tradicional
Jaacute que para alguns o cyberbullying representaria ―uma nova forma de bullying (Neto
2005) O autor cita Bill Belsey professor que teria utilizado pela primeira vez o conceito
trata-se do uso da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (e-mails
telefones celulares mensagens por pagers ou celulares fotos digitais sites
pessoais difamatoacuterios accedilotildees difamatoacuterias online) como recurso para a
adoccedilatildeo de comportamentos deliberados repetidos e hostis de um individuo
ou grupo que pretende causar danos a outro (s)
Sabe-se que os primeiros estudos sobre o bullying satildeo oriundos dos paiacuteses do norte da
Europa dos paiacuteses considerados noacuterdicos na deacutecada de 1970 pelo professor universitaacuterio
Dan Olweus e posteriormente na Sueacutecia com Heinz Leymann Dan Olweus eacute apresentado
como o precursor em realizar pesquisas sistemaacuteticas sobre o tema Em 1989 Olweus e
Roland divulgaram os primeiros diagnoacutesticos de seu estudo sobre o bullying No entanto
estudos de bullying entre estudantes passaram ser mais observados em outros paiacuteses como os
Estados Unidos a partir da deacutecada de 1980 (Olweus 2003)
Segundo Malta et al (2010) o Bullying eacute uma praacutetica antiga Os autores o entendem
como uma ―violecircncia que traz repercussotildees no cotidiano de suas viacutetimas como uma ameaccedila
diaacuteria a integridade fiacutesica psiacutequica e da dignidade humana (pg3069) Os autores enfocam
ainda que o bullying natildeo eacute uma violecircncia demarcada por recortes sociais e econocircmicos e
perpassa por distintas camadas sociais e ―niacuteveis culturais Segundo Cleo Fante (2008 p 86)
o ―bullying eacute uma palavra de origem inglesa adotada em muitos paiacuteses para definir o desejo
consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocaacute-la sob tensatildeo Conforme Shariff
16
(2011) trabalhadores britacircnicos de minas de carvatildeo discorriam sobre colegas de trabalho
como bullies e a partir daiacute iniciou-se uma associaccedilatildeo dos bullies com ―brigotildees ou
―valentotildees Poreacutem somente a partir na deacutecada de 1800 (seacutec XIX) a termologia (bullies)
passou a se referir agrave fraqueza covardia tirania e violecircncia tendo ainda uma associaccedilatildeo a
gangues Deste modo agir como um bully representava tratar de maneira ―autoritaacuteria
intimidadora e apavoradora O que nos leva a entender que haacute provaacutevel relaccedilatildeo etimoloacutegica da
palavra bullying e o prefixo bully como falaremos a seguir
Ainda em Sharrif (2011) a etimologia expotildee muito sobre a problemaacutetica existente em
identificar o bullying ao reconhecer que houve uma transiccedilatildeo do que representaria um
comportamento valentatildeo de modo amplo para um trato de autecircntica hostilidade ao destacar a
comparaccedilatildeo existente entre a evoluccedilatildeo histoacuterica da palavra e do bullying no ambiente escolar
contemporacircneo
Assim o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma
disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre
sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidados (Alim
2016) Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs
horas diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de cyberbullying
(Arsegravene Raynaud 2015) Li et al (2012) trazem destaque sobre os efeitos do cyberbullying
que podem ser tatildeo graves quanto o do bullying presencial As viacutetimas apresentam a
probabilidade de sofrer de depressatildeo sendo que os autores (em geral tambeacutem crianccedilas e
adolescentes) enfrentam esse problema posto que seja uma violecircncia entre pares Em
decorrecircncia disso a violecircncia psicoloacutegica reproduzida no ambiente virtual pode desencadear
consequecircncias graves a sauacutede de suas viacutetimas (Li et al 2012)
Existem autores que consideram a necessidade de compreensatildeo por parte dos
profissionais de que o cyberbullying seria um processo que ocorre em adiccedilatildeo ao bullying
tradicional como um subtipo de bullying com caracteriacutesticas especiacuteficas (Stelko-Pereira e
Williams 2011 in Wendt 2013) Entretanto para Wendt (2013) em muitos casos pode natildeo
haver o bullying [no acircmbito da vida real] mas pode estar ocorrendo a vitimizaccedilatildeo [apenas]
17
online portanto trata-se de processos sobrepostos embora independentes (p83) [grifos
nosso]
Uma pesquisa internacional a TIC KIDS ONLINE (2015) que visa mapear possiacuteveis
riscos oportunidades na internet e aponta dados sobre mediaccedilatildeo parental ao entrevistar
crianccedilas e adolescentes entre 09 e 17 anos revelou que cerca de 20 foram tratados de forma
ofensiva na internet nos uacuteltimos 12 meses Entre os entrevistados 9 receberam mensagens
ofensivas pela internet 4 declarou que outras pessoas postaram mensagens ofensivas na
internet para outras pessoas verem o mesmo percentual de jovens foi excluiacutedo de grupo ou
rede social
Uma pesquisa nacional realizada no segundo semestre de 2009 neste caso
apresentada pela ONG SAFERNET cuja amostra contou com a participaccedilatildeo de 2525 alunos
e 966 educadores das redes puacuteblicas e privadas identificou com relaccedilatildeo a situaccedilotildees de
cyberbullying ―que 33 dos entrevistados jaacute haviam tido algum amigo viacutetima desse tipo de
humilhaccedilatildeo na rede
Tais maus tratos consistem em praacuteticas de difamaccedilatildeo humilhaccedilatildeo
ridicularizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo por meio de ferramentas da internet
Com o atual aumento das facilidades para acesso ao mundo virtual por
parte de crianccedilas e adolescentes esse tipo de agressatildeo se torna cada
vez mais frequente Uma caracteriacutestica importante desse tipo de
agressatildeo eacute que consiste num ―fenocircmeno sem rosto agrave medida que na
internet o agressor pode muitas vezes natildeo se identificar
(httpwwwpromeninoorgbrportals0pesquisabullyingpdf)
Compreende-se que existem situaccedilotildees na vida que podem gerar abalo emocional e
consequentemente paralisam pessoas algumas conseguem superar tais situaccedilotildees e saiacuterem
delas fortalecidas Um dos motivos para que cada indiviacuteduo lide de modo distinto com
problemas semelhantes estaacute relacionado com o conceito de resiliecircncia A resiliecircncia pode ser
caracterizada como a capacidade de superar uma dada situaccedilatildeo de adversidade e sair
fortalecido (Angst 2009) Importante considerar essa capacidade de recuperar-se de lidar de
forma positiva com as pressotildees eou estresse em situaccedilotildees de adversidades Interessante
apontar que o conceito de coping apresenta uma base conceitual semelhante agrave resiliecircncia
todavia natildeo se confunde agrave ela correspondendo a uma capacidade cognitiva comportamental
O coping eacute definido como ―conjunto das estrateacutegias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-
18
se a circunstacircncias adversas ou estressantes (Antoniazzi Bandeira DellacuteAglio 1998 in
Taboada et al 2006) Tais estrateacutegias individuais podem ser utilizadas como manejo
individual diante eou apoacutes situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying
Entende-se que existe um grau de fragilidade quando os jovens satildeo expostos ao uso da
internet seja devido ao uso prolongado das redes sociais e outras formas de navegaccedilatildeo na
web ou ainda o uso da internet sem o monitoramento dos responsaacuteveis bem como o uso de
aparelhos com acesso agrave internet desprotegidos de sistema de seguranccedila de dados e
informaccedilotildees Fatos como esses podem contribuir para o iniacutecio de um ciclo de violecircncia
Embora jaacute existam poliacuteticas de conscientizaccedilatildeo sobre uso adequado da internet
seguranccedila virtual e de responsabilizaccedilatildeo de pessoas que cometem crimes virtuais natildeo
necessariamente faz com que todas as formas de violecircncia virtual sejam identificadas eou
tenham seu ciclo rompido
Partindo desse recorte analiacutetico utilizamos as seguintes questotildees investigativas
- Como a literatura nacional e internacional conceitua o cyberbullying e descreve suas
dinacircmicas
- Qual o papel de gecircnero em tais dinacircmicas
- Quais conexotildees satildeo feitas com a sauacutede de crianccedilas e adolescentes que sofrem e praticam o
cyberbullying
- Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees propostos pela
literatura sobre cyberbullying - Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a questatildeo da
sociabilidade virtual juvenil (Deve haver regulaccedilatildeo Como ocorre Deve ser proibida)
- Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullyin
- O que fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying
Nosso objetivo geral foi analisar como a literatura nacional e internacional aborda o
tema as associaccedilotildees que delimita entre o cyberbullying e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes e
as accedilotildees propostas de intervenccedilatildeoprevenccedilatildeo para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo
19
Nossos objetivos especiacuteficos foram
1 Analisar as conceituaccedilotildees utilizadas para caracterizar o cyberbullying explorando
eventuais diferenccedilas entre os autores nacionais e estrangeiros
2 Analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela comunidade cientiacutefica sobre as
propostas de prevenccedilatildeo do cyberbullying e modos de enfrentamento no campo da
sauacutede e educaccedilatildeo
3 Analisar as representaccedilotildees associadas agrave construccedilatildeo dos sentidos do fenocircmeno (causas
personagens envolvidos e responsabilidades implicadas)
4 Analisar as praacuteticas de cyberbullying (perpetrar sofrer testemunhar) a partir das
dinacircmicas das relaccedilotildees de gecircnero
5 Identificar associaccedilotildees e implicaccedilotildees agrave sauacutede das pessoas intimidadas e dos
perpetradores causados pelos diferentes tipos de cyberbullying
6 Analisar as propostas de enfrentamento sugeridas para Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores
implicados e estrateacutegias sugeridas)
Diante disso apresentaremos como resultado dessa dissertaccedilatildeo dois artigos O primeiro
buscou analisar as conceituaccedilotildees de cyberbullying adotadas pela literatura nacional e
internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo enfocando suas ecircnfases e
―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as associaccedilotildees que delimitam
entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes
No segundo artigo buscamos analisar criticamente as estrateacutegias de enfrentamento do
cyberbullying tanto no campo da Sauacutede quanto no campo da Educaccedilatildeo Elencando quem
seriam os atores implicados e que tipos de estrateacutegias haviam sido apontados pela literatura
investigada com enfoque em analisar criticamente tais discursos
METODOLOGIA
Propomos realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa considerando que este tipo
de estudo se compromete em trabalhar com ―os significados atribuiacutedos pelos sujeitos aos
fatos agraves relaccedilotildees praacuteticas bem como ―as interpretaccedilotildees dessas praacuteticas ao estudar uma
realidade especiacutefica (Minayo e Deslandes 2002)
20
Com relaccedilatildeo ao meacutetodo investigativo inicialmente haviacuteamos optado por utilizar do
meacutetodo de revisatildeo sistemaacutetica integrativa todavia a busca trouxe uma quantidade muito
elevada de trabalhos (7785) considerando o tempo para uma anaacutelise coerente de modo a
cumprir o cronograma proposto assim optamos por fazer uso de revisatildeo de literatura do tipo
―revisatildeo criacutetica (critical review)
Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um
tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant Booth
2009) A contribuiccedilatildeo de uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas
discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel
(Paregrave et al 2015) O escopo analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou
estatisticamente representativo Esse tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos
selecionados o que eacute considerado o seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as
revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo
(siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais
positivista (anaacutelise de conteuacutedo)
Cabe mencionar que preferimos por delimitar temporalmente o escopo da busca das
referecircncias para a revisatildeo literaacuteria sobre o tema proposto (de 2006 a 2016) Tal escolha
temporal se refere agrave disseminaccedilatildeo do acesso agrave internet por aplicativos em aparelhos moacuteveis
bem como a ampla disseminaccedilatildeo do maior site de relacionamento do mundo (FACEBOOK)
por exemplo datados a partir da deacutecada que trataremos a seguir
Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo
BVS Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA
(Applied Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017
Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos
(all fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no
Medical Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying
(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos
vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo
Com o intuito de reduzir e qualificar mais esse acervo optou-se por trabalhar apenas os
estudos de revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no
tiacutetulo e ―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de
21
qualquer natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas
modalidades revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica
sistemaacutetica revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo
sistemaacuteticas e revisatildeo narrativa
Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis
para acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em
301 estudos Depois de analisar cada artigo no MENDLEY foi identificado 156 artigos em
duplicidade que natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias
(MENDLEY) como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com
traduccedilatildeo de texto para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou
francecircs e quando houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor
seguido de et al Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com
recorte temporal de publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem
sendo difundido na uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo
Desse nuacutemero de artigos apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo (conforme
quadro 1) Destacamos ainda que migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias
ZOTERO por ser um programa open sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados
pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos
salvos nos mais distintos formatos
22
Quadro 1 ndash Seleccedilatildeo do acervo
ACERVO (cyberbullying)
7785 estudos (allfields)
301
(apoacutes criteacuterio de exclusatildeo)
141
(apoacutes exclusatildeo das duplicidades)
72
(apoacutes recorte temporal)
57 estudos (prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo )
O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia
dos autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus
conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes
categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do
cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede
No que se refere agrave anaacutelise de dados especialmente no segundo artigo adotamos o
meacutetodo de Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) Considerando que a ADC possui outras
correntes de anaacutelise tomamos como referecircncia a orientaccedilatildeo dada por Norman Fairclough que
propotildee estudos criacuteticos e interdisciplinares sobre a praacutetica discursiva e sua relaccedilatildeo com a
transformaccedilatildeo social e de cultura Para Fairclough (2001) os discursos contribuem
diretamente para a construccedilatildeo dos sistemas de conhecimento e crenccedilas tendo trecircs funccedilotildees e
dimensotildees de sentido que ―coexistem e ―interagem em todo discurso sendo elas identitaacuteria
relacional e ideacional Na funccedilatildeo identitaacuteria estatildeo implicados os modos pelos quais as
23
identidades sociais satildeo constituiacutedas na funccedilatildeo relacional como as relaccedilotildees sociais entre os
atores presentes nos discursos satildeo representadas e ―negociadas na funccedilatildeo ideacional os
modos pelos quais significam o mundo seus processos entidades e relaccedilotildees Essas duas
uacuteltimas satildeo interpretadas (Halliday 1978 In Fairclough 2001) como de caraacuteter ―interpessoal
Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de
praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos
discursos adotados nos estudos analisados Sendo assim se torna caro para noacutes identificarmos
que accedilotildees estatildeo sendo ditas a partir dos discursos construiacutedos nos estudos que seratildeo
analisados sobre o tema proposto Ou seja o que tem sido dito pelos estudos acerca do
cyberbullying Cabe destacar que o modelo proposto por Fairclough para a ADC abarca a
anaacutelise da praacutetica discursiva do texto e da praacutetica social
Conforme descrito na figura seguinte
Figura 1 - Concepccedilatildeo tridimensional do discurso em Fairclough (2001101)
O modelo tridimensional da ADC proposto por Fairclough distingue trecircs dimensotildees
dessa forma de anaacutelise de discurso texto praacutetica discursiva e praacutetica social Ao tratar
dimensatildeo textual o autor traz o entendimento de que todo o texto eacute elaborado de modo que
satildeo repletos de significados e inclusive de ambiguidades No que tange a praacutetica discursiva
segundo Fairclough (2001) permite explicar como os discursos satildeo produzidos distribuiacutedos
consumidos e interpretados reduzindo assim as possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva
propotildee categorias como a forccedila coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz
referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos de fala que o texto realiza [o que o texto evoca] a
coerecircncia trata do sentido que o texto possui [para quem faz sentido qual a loacutegica das
marcaccedilotildees e conexotildees] a intertextualidade ―eacute basicamente a propriedade que tecircm os textos de
PRAacuteTICA SOCIAL
PRAacuteTICA DISCURSIVA
TEXTO
24
serem cheios de fragmentos de outros textos (Fairclough 2001) [grifos nossos] A categoria
intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta
aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de
textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que o Fairclough vai chamar
de interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A
praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto
Ao que se refere ao discurso como praacutetica social em Fairclough (2001) estaria
implicada necessariamente como uma dimensatildeo que produz os efeitos ideoloacutegicos e
hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees
econocircmica cultural e ideoloacutegica Sendo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo
de identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas
de crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente
Neste sentido todo o discurso possuiu uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir
uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma
determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir
mudanccedila social em uma dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de relaccedilotildees
sociais
Destacamos que para realizar o processo de anaacutelise de discurso proposto utilizamos
um roteiro com matrizes de perguntas como Qual a conceituaccedilatildeo para o cyberbullying Quais
as definiccedilotildees e ou descriccedilotildees sobre as dinacircmicas do cyberbullying Como os personagens
envolvidos na praacutetica de cyberbullying satildeo descritos
No que tange a designaccedilatildeo e dinacircmica da anaacutelise submetemos os artigos selecionados
agraves matrizes de perguntas e posteriormente criamos bancos de dados temaacuteticos para as
definiccedilotildees propostas de enfrentamento diferenccedilas de gecircnero conexotildees entre a sauacutede de
crianccedilas e adolescente que sofrem e praticam cyberbullying Os quadros temaacuteticos permitiram
organizaccedilatildeo das informaccedilotildees extraiacutedas e faacutecil acesso ao conteuacutedo no momento da anaacutelise
propriamente dita Para exemplificar segue abaixo o modelo de quadro temaacutetico
25
Quadro 02 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo
Matrizes de perguntas ndash Roteiro para a anaacutelise
Enfim cabe esclarecer que consideramos neste campo reflexivo as accedilotildees praacuteticas
apontadas nos estudos para os setores da Sauacutede e da Educaccedilatildeo incluindo as accedilotildees de cunho
preventivo e promotoras de cultura de paz1
Por fim por se tratar de um estudo de revisatildeo bibliograacutefica a pesquisa natildeo necessitou
ser submetida a um comitecirc de eacutetica em pesquisa com seres humanos
1 A cultura de paz estaacute intrinsecamente relacionada agrave prevenccedilatildeo e agrave resoluccedilatildeo natildeo violenta dos conflitos Eacute uma
cultura baseada em toleracircncia e solidariedade uma cultura que respeita todos os direitos individuais que
assegura e sustenta a liberdade de opiniatildeo e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os () A cultura
de paz procura resolver os problemas por meio do diaacutelogo da negociaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo de forma a tornar a guerra e a violecircncia inviaacuteveis Disponiacutevel em httpunesdocunescoorgimages0018001899189919porpdf
Acessado em 26052018
PERGUNTAS SAUacuteDE EDUCACcedilAtildeO
Como o Cyberbullying eacute
conceituado
Quais as descriccedilotildees das
dinacircmicas
Quais as descriccedilotildees dos
personagens
Quais as associaccedilotildees e
implicaccedilotildees com a sauacutede das
pessoas intimidadas e dos
perpetradores
Como as propostas de
intervenccedilatildeo satildeo apresentadas
(estrateacutegias de accedilatildeo objetivos
personagens envolvidos)
26
1 MARCO TEOacuteRICO
11 CIBERCULTURA SOCIABILIDADE DIGITAL E CIBERESPACcedilO
O surgimento da internet teria sido fruto da ARPANET uma rede de computadores
construiacuteda nos EUA pela Advanced Projects Agency (ARPA) do Departamento de Defesa
americano em 1969 com intuito de mobilizar recursos de pesquisas universitaacuterias para obter
superioridade tecnoloacutegica militar em comparaccedilatildeo a Uniatildeo Sovieacutetica Contudo somente na
deacutecada de 1980 eacute que a tecnologia da rede de computadores passou a ser comercializada ―Por
razotildees histoacutericas e culturais a internet foi deliberadamente projetada como uma tecnologia de
comunicaccedilatildeo livre (Castells 200310)
Desde entatildeo a sociabilidade contemporacircnea passou por significantes transformaccedilotildees
a partir do advento da internet De acordo com Castells (2003) a internet passou a ser a base
tecnoloacutegica para a forma organizacional da era da informaccedilatildeo Sendo assim da internet incide
a capacidade de distribuiccedilatildeo da forccedila informacional por todo o domiacutenio da atividade humana
permitindo pela primeira vez a comunicaccedilatildeo de muitos com muitos num momento
escolhido em escala global
De acordo com o dicionaacuterio Priberam (2016) internetlsquo eacute uma palavra de origem
inglesa que significa
―Rede informaacutetica utilizada para interligar computadores agrave niacutevel
mundial agrave qual pode aceder qualquer tipo de usuaacuterio e
que possibilita o acesso a toda a espeacutecie de informaccedilatildeo (httpswwwpriber
amptDLPOinternet)
Haacute um entendimento de que a internet contribui para as dinacircmicas de mercado
ampliaccedilatildeo e agilidade nas redes de contato acesso a informaccedilatildeo entre outros aspectos
concernentes agraves sociedades poacutes-modernas Atraveacutes dos avanccedilos tecnoloacutegicos na atualidade eacute
possiacutevel o acesso agrave internet por meios eletrocircnicos modernos como smartphones tablets
notebooks e ultrabooks
Cabe salientar que os avanccedilos tecnoloacutegicos bem como todo esse aprimoramento com
relaccedilatildeo agrave experiecircncia de interaccedilatildeo eou de estar conectado permitiu que novos modos de
27
sociabilidade fossem permitidos como as redes sociais Barnes foi apontado como um dos
criacuteticos que defende a ideia de alargamento e natildeo delimitaccedilatildeo do que hoje conhecemos como
redes sociais Ao realizar uma etnografia sobre o iniacutecio de uma estratificaccedilatildeo social numa ilha
norueguesa tal antropoacutelogo desenvolvera uma tese segundo a qual todos seus habitantes
estariam interligados uns aos outros por cadeias de conhecimentos interligados e pouco
extensatildeo mas que natildeo se limitava aos limites da ilha entretanto ligavam seus habitantes a
outros sujeitos fora do seu contexto social e topograacutefico de pertencimento (Barnes A 1954
apud Marteleto 2010)
Jaacute Lemos (2015) ao relatar sobre o ciberespaccedilo declara que este eacute compreendido como
um espaccedilo sem dimensotildees um universo de informaccedilotildees navegaacuteveis de forma instantacircnea e
reversiacutevel Afirma ser uma ―nova dimensatildeo espaccedilo temporal de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo
(p127) Para o autor esse natildeo lugar remete a duas perspectivas 1ordf O lugar onde estamos
quando entramos em um ambiente simulado (ambiente virtual) 2ordf Um conjunto de redes de
computadores interligadas ou natildeo em todo o planeta a internet ―as redes vatildeo se interligar
entre si e permitir a interaccedilatildeo por mundos virtuais () (pg128) Natildeo obstante a cibercultura
representaria um conjunto de aspectos e padrotildees culturais relacionados com a internet e a
comunicaccedilatildeo em redes de computadores (Dicionaacuterio online Priberam 2016) Com a criaccedilatildeo
dessa nova expressatildeo da cultura inserida no ambiente virtual foram estabelecidos novos
paracircmetros de privacidade do sujeito agrave medida que cada vez mais as pessoas estatildeo sendo
observadas por todos em todos os lugares fenocircmeno que alguns autores chamam de
vigilacircncia e visibilidade
Segundo Levy (2010) a Cibercultura em sua essecircncia tem caraacuteter de um universal
poreacutem sem totalidade pois ele seria indeterminado agrave medida que em cada nova transmissatildeo
pode representar um receptor ou emissor de informaccedilotildees de dimensotildees inalcanccedilaacuteveis e
aleatoacuterias Na cibercultura o real e virtual estatildeo a todo tempo em contato ao passo que um
indiviacuteduo pode estar no Brasil conectado online com uma pessoa do Japatildeo ou ainda em
conexatildeo com pessoas em diferentes nacionalidades numa mesma interaccedilatildeo online
Entendemos que esta universalidade eacute alcanccedilada agrave medida que possibilita diferentes e
muacuteltiplas conexotildees entre seres humanos em todo o planeta Deixa de ser total por natildeo
possuirmos o controle das dimensotildees que essas conexotildees podem alcanccedilar pela falta de
28
domiacutenio sobre as informaccedilotildees partilhadas visto que uma vez lanccediladas na rede natildeo se pode
mensurar o potencial de compartilhamentos acessos e quais novas conexotildees podem ser
geradas Nesse aspecto a interconexatildeo generalizada emerge do crescimento da internet como
uma nova forma de universal Para Levy (2010) o universo da cibercultura eacute indefinido se
considerada a gama de conexotildees que podem ser estabelecidas ao passo que o emissor ou
produtor a todo o momento pode estabelecer diferentes conectividades
Nessa sociedade poacutes-moderna os modos de conexotildees atraveacutes das distintas tecnologias
digitais tecircm gerado novas formas do que representa viver em sociedade Entre as
caracteriacutesticas da sociabilidade digital estaacute a hipervisibilidade e o tribalismo No que tange a
hipervisibilidade o ciberespaccedilo contribui para a criaccedilatildeo de uma ―realidade aumentada
(Lemos 2015) Que pode ser configurada com a exposiccedilatildeo e maior visibilidade que as vidas e
os corpos passam a ganhar Dados como localizaccedilatildeo fotos e hipertextos expotildeem informaccedilotildees
sobre o indiviacuteduo e todos que possui um viacutenculo virtual seja este viacutenculo ―fraco ou ―forte
O privado passa a ser publicizado a partir dos compartilhamentos realizados neste universo de
informaccedilotildees instantacircneas em tempo real Outra dimensatildeo da sociabilidade digital presente na
cibercultura eacute o que Lemos (2015) chama de tribalismo sendo esta uma ―tendecircncia
comunitaacuteria na rede social complexa do ciberespaccedilo Essa caracteriacutestica de tribalismo
concebe uma ideia de agregaccedilatildeo social empatia pautados no interesse muacutetuo de estar
conectados por ideologias ou alguma outra identificaccedilatildeo Contudo essa socialidade tribal traz
consigo um ethos de compartilhamento baseado no que Maffesoli vai chamar de eacutetica da
esteacutetica (Maffesoli 1987 apud Lemos 2015) Esse termo designa um processo em que a
sociedade eacute mascarada assumindo um ethos a partir daquilo que pretende compartilhar com
os outros um modo de ser partindo do que se quer ostentar
E se analisarmos o crescimento do acesso agrave conexatildeo de internet cada vez mais
pessoas estatildeo navegando na rede e compartilhando de seus interesses abrindo suas vidas
quase que indiscriminadamente
Para ressaltarmos o quanto o acesso agrave internet tem crescido no paiacutes verificamos que
em 2009 segundo o resultado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) feita pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) cerca de 679 milhotildees de brasileiros
teriam conexatildeo com a internet ou seja o nuacutemero de domiciacutelios com acesso agrave internet no
Brasil aumentou em 71 entre 2005 e 2009 (Site UOL) Jaacute os resultados da PNAD 2013
divulgados em 2015 nos mostraram que cerca de 856 milhotildees de brasileiros (acima de 10
anos) o equivalente a 494 da populaccedilatildeo teriam acesso agrave internet incluindo por meio de
29
aparelhos que natildeo fosse notebooks e desktops Dos 312 milhotildees das residecircncias com
acesso agrave internet 977 estatildeo conectados por banda larga Em meacutedia 771 dos
domiciacutelios conectam a internet por banda larga fixa enquanto 435 teriam acesso
agrave banda larga moacutevel (Site EBC)
Em contrapartida apesar dos nuacutemeros expressivos o direito agrave inclusatildeo digital ainda
natildeo corresponde agrave realidade de todos os brasileiros sendo um tema de grande discussatildeo
Todavia jaacute eacute uma realidade em parte do Brasil acessar a internet por WIFI internet agrave raacutedio ou
modems 3G e 4G moacuteveis A partir da instalaccedilatildeo de aplicativos (apps) em aparelhos moacuteveis
que comportam o acesso agrave internet eacute possiacutevel conectar-se a Redes Sociais como Facebook
WHATSAPP INSTAGRAM TWITTER SNAPCHAT entre outras inclusive de forma
―gratuita Obviamente tal gratuidade possui interesses e contrapartidas comerciais Todavia
o que nos chama atenccedilatildeo eacute que essas redes sociais representam um ponto de encontro de
centenas de milhares de jovens ao redor do mundo diariamente com longas duraccedilotildees de
conexotildees (sempre online) e em grande escala sem administraccedilatildeo de tempo eou supervisatildeo de
um adulto responsaacutevel Cada vez mais cedo crianccedilas tecircm acesso agraves redes sociais O que nos
leva a crer que crianccedilas por vezes com apoio de seus responsaacuteveis estariam omitindo ou
adulterando sua idade real para que tenham acesso agraves redes sociais que natildeo permitem o
acesso de crianccedilas menores de 13 anos (como no caso do FACEBOOK)2 Essa espeacutecie de
conivecircncia dos pais que permitem que seus filhos utilizem redes sociais mesmo quando
algumas plataformas digitais natildeo permitem o acesso de crianccedilas Inclusive esse acesso pode
ser considerado como um risco a sauacutede e a seguranccedila das crianccedilas
O estudo de Machold et al (2012) com 474 estudantes Irlandeses de trecircs escolas
secundaacuterias entre 11 e 16 anos de idade para avaliar padrotildees gerais de uso da internet e
identificar potenciais de risco incluindo cyberbullying contato improacuteprio uso excessivo
dependecircncia e invasatildeo de privacidade por outros usuaacuterios detectou que (403) o equivalente agrave
95 dos adolescentes fazem uso de redes sociais Com relaccedilatildeo ao tempo de uso duas horas
ou mais foram gastas nas redes sociais diariamente por (285) o correspondente a 62 sendo
que 450 estudantes cerca de (98) fazem uso sem supervisatildeo
Entretanto os laccedilos de afinidade neste ambiente invisiacutevel onde os perfis e as novas
relaccedilotildees estabelecidas nas redes sociais podem natildeo ser verdadeiros mas simulaccedilotildees Essa
realidade estaacute presente no cotidiano de milhares de pessoas que estatildeo predispostas a manter
2 httpspt-brfacebookcomhelp210644045634222
30
um contato virtual na maioria das vezes pautado na superficialidade agrave medida que esse
ambiente invisiacutevel (considerando suas dimensotildees) traz visibilidade para nossa localizaccedilatildeo e
atividades compartilhadas com os ―amigos virtuais Martino (2015) ao tratas das relaccedilotildees
sociais mantidas na rede considera que ―por seu turno conexotildees satildeo criadas mantidas eou
abandonadas a qualquer instante sem maiores problemas comparadas as ―instituiccedilotildees
sociais como a famiacutelia trabalho ou religiatildeo tendem a ser mais riacutegidas para com seus membros
do que as redes sociais
A internet trouxe um desenvolvimento expressivo para o funcionamento das
sociedades modernas Para Shariff (2011) pela sua natureza os meios eletrocircnicos permitem
que as formas tradicionais do bullying assumam caracteriacutesticas que satildeo especiacuteficas do
ciberespaccedilo
Esse espaccedilo seria representado por um solo natildeo configurado onde os sujeitos se
relacionam de qualquer territoacuterio fiacutesico com pessoas que estejam em um diferente local
como se ambas estivessem frente a frente sem a necessidade de haver um contato fiacutesico ou
real o encontro se daacute em uma nova dimensatildeo o ciberespaccedilo
Concluiacutemos que o ciberespaccedilo eacute um campo natildeo material poreacutem virtual onde a noccedilatildeo
de espaccedilo eacute perdida e o real eacute aumentado possibilitando a comunicaccedilatildeo por meios eletrocircnicos
e a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees em larga escala com muacuteltiplas e distintas pessoas
22 Bullying
A violecircncia admite distintas expressotildees e multicausalidades (Ferreira e Tavares 2012)
Desse modo se faz necessaacuterio abordar a questatildeo do bullying antes de aprofundarmos sobre a
questatildeo central deste trabalho Segundo Fante e Pedra (2008) na maioria dos paiacuteses onde o
fenocircmeno eacute estudado emprega-se o termo em inglecircs (bullying) Entretanto existem
alguns paiacuteses que utilizam outros termos de sua liacutengua sem que se perca o
significado Satildeo usados por exemplo mobbing na Noruega e na Dinamarca [t raduz ido
para o po rtuguecircs co mo bu l lying] mobbning na Sueacutec ia e na F in lacircnd ia
[ t raduz ido para o por tuguecircs como b u l lying] hercegravelement quotidien na Franccedila
[traduzido para o portuguecircs como asseacutedio diaacuterio] prepotenza ou bullismo na I t aacute l ia
[traduzido para o portuguecircs como bullying] ijime no Japatildeo [traduzido para o portuguecircs
31
como arrelia3] Agressionen unter S h uuml le r n na Alemanha (traduzido para o portuguecircs
como agressatildeo entre alunos) a c o s o e a m e n a z a entre escolares ou in t i m i d a c ioacute n na
Espanha [traduzido para o portuguecircs como perseguiccedilatildeo ameaccedila e intimidaccedilatildeo] (pg 34)
[grifos nossos]
Algo que nos chama agrave atenccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave temaacutetica bullying eacute a compreensatildeo que
alguns autores tecircm acerca do significado e ambiguidade entre a questatildeo do bullying e o
Asseacutedio Moral (mobbing4
) cabe destacar que por se tratar de palavras inglesas essa
ambiguidade se apresenta a partir da realizaccedilatildeo de traduccedilatildeo da temaacutetica como no caso da
liacutengua espanhola Como exemplo destacamos ao estudo peruano de Armeno (2011) que ao
tratar do assunto bullying escolar utiliza a palavra acoso (perseguiccedilatildeo) escolar poreacutem ao
serem utilizadas em conjunto (acoso escolar) eacute traduzida para o portuguecircs como bullying
Contudo algumas traduccedilotildees por exemplo traduz ―acoso escolar como asseacutedio moral
quando as palavras estatildeo juntas poreacutem acoso sem escolar tem como significado perseguiccedilatildeo
como mostrado no quadro anterior
Eacute possiacutevel ver neste estudo que satildeo muitas as definiccedilotildees tratadas para este assunto
desde o entendimento sobre o significado ou a magnitude do cyberbullying e sobre o bullying
Em alguns casos tanto cyberbullying como o bullying podem ser confundidos por
dificuldades na clareza de suas definiccedilotildees Contudo Farrington (1993381) define o bullying
como uma ―opressatildeo repetida de caraacuteter fiacutesico ou psiacutequico de uma pessoa com menos poder
por outra com mais poder Neste sentido o mais forte exerce poder sobre o mais fraco seja
esse poder de ordem fiacutesica por meio de agressatildeo ou psicoloacutegica de modo a causar medo e
intimidaccedilatildeo
Dentre vaacuterias definiccedilotildees para o que se entende por bullying Melo (2011) define como
uma agressatildeo fiacutesica psicoloacutegica verbal moral sexual material ou virtual praticada por uma
ou vaacuterias pessoas contra uma mesma viacutetima de forma repetitiva por um periacuteodo prolongado
de tempo sem motivo aparente baseada numa relaccedilatildeo desigual de poder dificultando a
defesa da viacutetima e que deixa sequelas marcas e consequecircncias (pg21) Natildeo podemos deixar
de mencionar que o bullying eacute uma violecircncia entre pares
3 Arrelia traz entre sua significaccedilatildeo 1 Amofinaccedilatildeo [ato de aborrecer] apoquentaccedilatildeo [aborrecimento
aporrinhaccedilatildeo] 2falta de paciecircncia pressa sofreguidatildeo 3contenda rixa desavenccedila 4pressentimento de coisa
maacute mau agouro (Google) wwwgooglecombrsearch Acessado em 27102016
4 Palavra inglesa para asseacutedio moral
32
Armeno (2011) considera a questatildeo do bullying (―acoso escolar) como uma
violecircncia social que pode asssumir forma verbal fiacutesica e por isolamento social da viacutetima
Para o autor os espectadores (outros estudantes) seriam necessaacuterios visto que satildeo
para esses que o perpetrador do bullying ―perseguidor ―mostra seu poder O silecircncio dos
espectadores permite que as accedilotildees sejam sistemaacuteticas Em termos de conteuacutedos eles podem
ser racistas se a origem da questatildeo eacute eacutetnica se eles incluem piadas obcenas de cunho sexual
ou ainda homofoacutebicas se tecircm a ver com a suposta orientaccedilatildeo sexual dos que sofrem a accedilatildeo
Se os meios utilizados satildeo as mensagens por telefones celulares ou computadores considera
como bullying digital o que para o autor pode ser devastador porque a viacutetima natildeo teria um
lugar para fugir das accedilotildees de bullying sofridas na escola visto que na internet a accedilatildeo pode ter
continuidade (Armeno 2011) Diante disso entendemos que o autor compreende o ―bullying
digital como uma extensatildeo do bullying tradicional e que a escola eacute o campo em que tais
accedilotildees satildeo iniciadas e que a presenccedila de espectadores pode potencializar ainda mais as accedilotildees
promovidas pelos perpetradores por encontrarem nestes a ―plateacuteia para realizaccedilatildeo de seus
atos de bullying
Compete resgatar que o iniacutecio da conscientizaccedilatildeo acerca deste grave problema no
acircmbito escolar bem como ressaltar que os primeiros estudos sobre o assunto foram
produzidos pelo Professor Universitaacuterio Dan Olweus na Noruega como jaacute mencionado Em
1993 Olweus publica na Escandinaacutevia o livro ―Bullying at School onde expotildee o bullying
como um fenocircmeno presente no contexto escolar trazendo uma discussatildeo a partir dos
resultados obtidos em seus estudos projetos de investigaccedilatildeo apresentando uma possiacutevel
correlaccedilatildeo de ―caracteriacutesticas que poderiam identificar os perfis de viacutetimas e agressores O
livro apresenta o resultado obtido em sua pesquisa sistemaacutetica realizada na deacutecada de 1980
com 150000 estudantes escandinavos onde descobriu que 15 dos estudantes entre 08 e 16
anos estavam envolvidos com a questatildeo do bullying sendo viacutetimas e agressores com
regularidade e entre esses havia casos de agressores que tambeacutem eram vitimas de Bullying
(Olweus 2003) Como repercussatildeo do estudo de Olweus e Roland ―Bullying at School uma
Campanha Nacional Anti Bullying foi desenvolvida nas escolas norueguesas em 1993 com o
apoio do Governo tendo com resultado a reduccedilatildeo em cerca de 50 nos casos de bullying nas
escolas
Outro ponto relevante eacute com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero entre os personagens do
fenocircmeno bullying Cabe destacar a pesquisa de Da Costa et al (2015) que ao analisar a
prevalecircncia de casos de bullying entre 598 adolescentes brasileiros na faixa etaacuteria de 14 agrave 17
33
anos de aacuterea urbana de Belo Horizonte em 2009 constatou que houve uma prevalecircncia de
264 entre os entrevistados Sendo 280 entre os entrevistados de sexo masculino e 240
entre o puacuteblico do sexo feminino Isso significa que frac14 dos adolescentes que responderam ao
questionario sofreram bullying Entre os meninos esse nuacutemero foi um pouco mais elevado do
que entre as meninas A questatildeo do bullying estaria associada agrave insatisfaccedilatildeo com a vida que
levam dificuldades na relaccedilatildeo com pais envolvimento em brigas com colegas (pares) e
inseguranccedila na regiatildeo onde residem Uma observaccedilatildeo interessante eacute que o estudo de Da Costa
et al (2015) foi realizado no mesmo ano que a primeira Pesquisa Nacional de Sauacutede do
Escolar (PENSE5) 2009 realizada pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e
Ministeacuterio da Sauacutede Poreacutem os resultados foram divergentes com relaccedilatildeo a mesma capital
investigada BH Com relaccedilatildeo agrave PENSE a pesquisa foi realizada em escolas para investigar
fatores de risco e proteccedilatildeo da sauacutede dos escolares jaacute a pesquisa de Da Costa e colaboradores
foi um estudo populacional realizado no domiciacutelio dos entrevistados por meio de inqueacuterito
com amostragem probabiliacutestica em trecircs estaacutegios setores censitaacuterios residecircncia e indiviacuteduos
Os inquiridos responderam questotildees sobre bullying caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
comportamentos de risco agrave sauacutede bem-estar educacional estrutura familiar atividade fiacutesica
marcadores de haacutebitos alimentares e bem-estar subjetivo (percepccedilatildeo corporal satisfaccedilatildeo
pessoal e satisfaccedilatildeo com a vida atual e futura) Outro fator que pode ter influecircncia nos
resultados foi o tamanho da amostra visto que a pesquisa PENSE analisou apenas alunos
matriculados no 8ordf Seacuterie fundamental (atual 9ordm ano) de escolas puacuteblicas e particulares da
cidade de BH enquanto que o estudo de Da Costa a escolaridade dos investigados natildeo foi um
recorte A prevalecircncia de bullying na PENSE 2009 em BH foi de 69 segundo Malta
(2014)
Haacute um entendimento de que os adolescentes do sexo masculino seriam os maiores
praticantes e alvos de bullying conforme aponta resultado da pesquisa PENSE 2012 Nesse
estudo observou-se maior praacutetica de bullying entre os estudantes do sexo masculino (261)
e 160 entre as estudantes do sexo feminino (IBGE 2013)
Com relaccedilatildeo ao enfrentamento a essa problemaacutetica Schutz et al (2012) defendem a
ideia de que a atuaccedilatildeo contra o bullying assim como cyberbullying natildeo pode estar restrita agrave
individualidade das caracteriacutesticas dos sujeitos em questatildeo ou seja autor e alvo ignorando a
5 Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar ndash PENSE eacute um inqueacuterito com alunos de escolas puacuteblicas e particulares
realizado pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que disponibiliza informaccedilotildees para o sistema de informaccedilotildees para o Sistema de Vigilacircncia de Fatores de Riscos e Proteccedilatildeo as Doenccedilas Crocircnicas do Brasil
Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfressv26n32237-9622-ress-26-03-00605pdf Acessado em 26062018
34
teia complexa das relaccedilotildees que implicam a manutenccedilatildeo do fenocircmeno Os autores sugerem
uma anaacutelise sistecircmica da complexidade dos diversos sistemas envolvidos e das relaccedilotildees
estabelecidas entre autor e alvo testemunhas famiacutelia comunidade escolar a cultura na qual
estatildeo inseridos Apontam a necessidade de investigaccedilatildeo que verifique a incidecircncia dos casos e
abrangecircncia do problema incluindo toda a comunidade escolar
Em 2015 o Brasil passou a dispor de uma legislaccedilatildeo Federal que trata da questatildeo A
lei Anti Bullying instituiu o Programa Nacional de Combate agrave Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica
(bullying) Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica eacute a configuraccedilatildeo utilizada no Brasil para classificar o ato
de violecircncia que internacionalmente eacute denominado por Bullying
―No contexto e para os fins desta Lei considera-se intimidaccedilatildeo
sistemaacutetica (Bullying) todo ato de violecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica
intencional e repetitivo que ocorre sem motivaccedilatildeo evidente praticado
por indiviacuteduo ou grupo contra uma ou mais pessoas com o objetivo
de intimidaacute-la ou agredi-la causando dor e anguacutestia agrave viacutetima em uma
relaccedilatildeo de desequiliacutebrio de poder entre as partes envolvidas
(Paraacutegrafo 1ordm da Lei 131852015)
Cabe mencionar que a lei natildeo deixa expliacutecito se inclui a questatildeo do asseacutedio moral no
trabalho visto que ao instituir o programa propotildee accedilotildees no acircmbito escolar com enfoque nos
estudantes
Outra definiccedilatildeo para a questatildeo do bullying bastante coerente adveacutem da lei do Estado
do Rio de Janeiro jaacute mencionada anteriormente que define o bullying como
A praacutetica reiterada e habitual de atos de violecircncia fiacutesica verbal ou
psicoloacutegica de modo intencional exercida por indiviacuteduo ou grupos de
indiviacuteduos contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidar
agredir causar dor ou sofrimento anguacutestia ou humilhaccedilatildeo agrave vitima
inclusive por meio de exclusatildeo social (Paraacutegrafo 1ordm da Lei 64012013
- RJ)
A lei que institui 7 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento a Violecircncia na
escola faz menccedilatildeo ao Massacre de Realengo trageacutedia ocorrida em abril do ano de 2011
35
quando doze crianccedilas entre 13 e 16 anos (dez meninas e dois meninos) foram assassinados a
tiros na Escola Municipal Tasso da Silveira por um ex aluno da unidade escolar que apoacutes ser
atingido por um tiro disparado por um policial militar teria se suicidado (AGEcircNCIA
SENADO 2016) Segundo relatos a motivaccedilatildeo do crime seria incerta poreacutem a nota do
suiciacutedio deixada pelo o autor do massacre e de acordo com o testemunho da irmatilde adotiva o
jovem sofria bullying
Natildeo podemos deixar de mencionar que Campanhas de enfrentamento ao Bullying tecircm
aparecido em pautas de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGs) e Governamentais como
Stop Bullying do Department of Health and Human Services dos Estados Unidos (EUA)
comunidades escolares e universidades como Massachusettes Aggresion Reduction Center
da Brigde State University (EUA) e em diferentes paiacuteses como Portugal Inglaterra Canadaacute
e Noruega Este uacuteltimo foi um dos primeiros paiacuteses a desenvolver campanhas anti bullying
alertando sobre seus impactos na vida e sauacutede dos que sofre essa violecircncia
Por fim cabe discorrer sobre os agravos agrave sauacutede relacionados a sofrer bullying Os
meninos e meninas alvos de bullying estariam propensos a desenvolver episoacutedios de
ansiedade baixo rendimento escolar inseguranccedila na escola sofrer de tensatildeo crescente
estando preacute-dispostos ao maior uso abusivo de drogas e em alguns casos mais graves ao
suiciacutedio (Malta et al 2010) Gera tanto um sofrimento emocional moral quanto fiacutesico
podendo desencadear outros agravos tais como baixa autoestima depressatildeo estresse
doenccedilas psicossomaacuteticas transtornos mentais (Calhau 2008 p88) O bullying natildeo deve ser
considerado como uma simples brincadeira (―zoaccedilatildeo) entre crianccedilas e adolescentes muito
menos ser banalizado ao passo de ser algo rotineiro Pelo contraacuterio esse assunto carece de ser
tratado como uma questatildeo de Sauacutede Puacuteblica que deve ser discutida investigada e enfrentada
por muacuteltiplos setores
A PENSE (Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar) uma pesquisa com escolares
adolescentes de escolas puacuteblicas e privadas realizada pelo IBGE que entre os objetivos visa
aferir dados sobre bullying incluiu na ediccedilatildeo de 2015 uma segunda amostra O que
representou um diferencial com relaccedilatildeo agraves ediccedilotildees anteriores De acordo com a pesquisa
(2015) a primeira amostra foi realizada com 2630835 estudantes frequentando o 9ordm ano do
ensino fundamental de escolas puacuteblicas e privadas do Brasil em Grandes Regiotildees Distrito
Federal Capitais e Estados e a segunda amostra realizada com 13199862 estudantes de 13 a
17 anos de idade frequentando as etapas do 6ordm ao 9ordm Ano (antiga 5ordf a 8ordf seacuteries) do ensino
36
fundamental e alunos do 1ordm ao 3ordm ano do Ensino Meacutedio (antigo 2ordm Grau) de escolas puacuteblicas e
privadas para o conjunto do paiacutes e em grandes capitais no ano de referecircncia da pesquisa
(IBGE 2015) Dentre os entrevistados desta ediccedilatildeo a primeira amostra 74 sofreram
provocaccedilotildees ou foram humilhados sempre ou na maior parte do tempo nos uacuteltimos 30 dias
que antecederam a pesquisa O estudo apontou com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que os
percentuais foram proacuteximos para os estudantes do sexo feminino 72 e sexo masculino
75 Jaacute os estudantes da regiatildeo Sudeste apresentaram o maior percentual 83 estes
afirmaram sofrer humilhaccedilotildees e constrangimentos no acircmbito escolar Outro dado relevante eacute
do Estado de Satildeo Paulo que obteve o maior percentual 90 se comparado ao percentual
obtido pela regiatildeo sudeste e demais regiotildees A aparecircncia do corpo e do rosto foram os
principais motivos da violecircncia psicoloacutegica sofrida pelos escolares Com relaccedilatildeo aos
perpetradores aproximadamente 198 dos escolares brasileiros haviam praticado atos
configurados como bullying (ter esculachado zombado mangado intimidado ou caccediloado)
poreacutem entre os estudantes do sexo masculino este nuacutemero foi mais elevado aproximadamente
242 Interessante que com relaccedilatildeo aos intimidados (aqueles que declararam se sentir
humilhados e provocados com frequecircncia pelos colegas) os nuacutemeros apresentados foram de
74 entre a faixa etaacuteria de 13 a 15 anos e 52 dos estudantes entre 16 e 17 anos (IBGE
2015) Na ediccedilatildeo da PENSE supracitada foi incluiacuteda uma questatildeo especiacutefica para abordar a
questatildeo do bullying natildeo utilizado nas PENSEs 2009 e 2012 Nessas ediccedilotildees ―bullying era
substituiacutedo por verbos como (esculachar zoar mangar caccediloar e intimidar) entretanto
passaram a adotar o termo ―intimidaccedilatildeo em consonacircncia a nomenclatura adotada a partir da
Lei de Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica (Lei Anti bullying e cyberbullying brasileira)
promulgada no ano em que a pesquisa foi realizada (2015) Relevante informar que o estudo
aponta como legiacutetimo o reconhecimento do bullying como uma importante questatildeo de Sauacutede
Puacuteblica bem como a relevacircncia de estrateacutegias intersetoriais de enfrentamento Natildeo houve
uma especificaccedilatildeo para o cyberbullying na pesquisa PENSE 2015 no quadro que analisou a
questatildeo da intimidaccedilatildeo apesar da lei vigente no paiacutes incluir e reconhecer a versatildeo virtual do
bullying Embora tenham mencionado no texto e haverem citado o recorte dado na Lei de
Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica sobre a questatildeo do cyberbullying nos dados
analisados pela pesquisa Natildeo houve ainda um toacutepico especiacutefico que pudesse identificar onde
ocorriam as ―intimaccedilotildees zoaccedilotildees e esculachos subentendendo-se que ocorria na escola
aleacutem disto os meios eletrocircnicos natildeo foram apontados
37
23 CYBERBULLYING
231 Cyberbullying violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica
Entre o grande nuacutemero de pessoas conectadas pela internet novos modos de
interaccedilotildees aparecem a partir da utilizaccedilatildeo de dispositivos eletrocircnicos possibilitando assim a
disseminaccedilatildeo irrestrita de informaccedilotildees em formato ―multimodal onde ―os recursos de miacutedia
integram coacutedigos texto som e imagem (Junior E Rocha 2013 pg206) Com a internet o
potencial de transmissatildeo e receptaccedilatildeo de informaccedilatildeo se tornou mais expansivo em relaccedilatildeo a
outras miacutedias como o caso da TV analoacutegica (atualmente substituiacuteda pela TV digital) (idem)
Permitindo assim que o compartilhamento de informaccedilotildees seja propagado com maior
facilidade inclusive as informaccedilotildees difamatoacuterias
O uso da internet em especial de redes de relacionamentos traz consigo a
probabilidade de disseminaccedilatildeo de violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de
relacionamentos criaccedilatildeo de falsos (―fakes) perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo ao
convite ao suiciacutedio por meio de sites escolares clandestinos No Japatildeo satildeo conhecidos como
―gakko ura saito os sites escolares clandestinos acessados pelo celular Eles geram uma nova
forma de cyberbullying em grupo poreacutem sem a necessidade de identificaccedilatildeo dos chamados
―caluniadores anocircnimos (Hasegawa et al 2007 Shariff 2011) O ijime-jisatsu [suiciacutedio
associado ao ijimi - cullying] eacute uma das consequecircncias desastrosas e culturalmente incidentais
do fenocircmeno no Japatildeo Outro aspecto cultural no Japatildeo do netto-ijime [cyberbullying] eacute a
taxa elevada de suiciacutedio entre os jovens O que nos mostra o quanto o territoacuterio invisiacutevel da
internet pode desencadear no campo presencial consequecircncias agrave sauacutede de seus afetados
Admitindo que vivenciar uma experiecircncia de violecircncia no universo digital pode ser bastante
devastador Conforme afirma Santos et al (2013) a internet se torna um palco de grandes
riscos
Entendemos que o cyberbullying manteacutem muitas das caracteriacutesticas do bullying
poreacutem natildeo constitui meramente uma de suas expressotildees na instacircncia virtual pois possui
algumas caracteriacutesticas proacuteprias como o longo alcance do conteuacutedo depreciativo audiecircncia
de larga escala (testemunhas) por causar impacto nas viacutetimas sem precedentes pela
38
possibilidade de anonimato por parte dos perpetradores Aleacutem disso a ocorrecircncia do
cyberbullying pode se dar a qualquer momento e em qualquer lugar pela
dificuldademorosidade na detecccedilatildeo dos praticantes do cyberbullying ou dos criadores de
perfis falsos constituiacutedos no intuito de depreciar agredir e constranger Ao que se refere agraves
traduccedilotildees para o portuguecircs dos termos adotados para a palavra cyberbullying a traduccedilatildeo
aparece disponiacutevel em vaacuterias liacutenguas conforme Google Tradutor
Quadro 3 Vocaacutebulos designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas
Palavra Liacutenguas Traduccedilatildeo para Portuguecircs
Kiberzapugivanieye Russo Cyberbullying
Cyber-mobbing Alematildeo Cyberbullying
naumltmobbning Sueco Cyberbullying
Cyberintimidation Francecircs Cyberbullying
Cyber bullismo Italiano Cyberbullying
Netto yjime Japonecircs Cyberbullying
Cyberpesten Holandecircs Cyberbullying
El ciberacoso Espanhol Cyberbullying
Seiber-fwlio Galecircs Cyberbullying
Maltretiranje Seacutervio Cyberbullying
Cyberprzemoc Polonecircs Cyberbullying
Fonte da traduccedilatildeo Google Tradutor
O termo cyberbullying teria sido criado pelo educador e pesquisador do Canadaacute Bill
Belsey para identificar o bullying virtual que faz uso das tecnologias digitais e para de modo
39
insistente e repetitivo hostilizar ofender ou ameaccedilar algueacutem (Maldonado 2009 in Melo
2011)
O que tem ocorrido eacute o crescimento de casos de agressotildees virtuais concebidas no
ambiente do ciberespaccedilo A forma de propagaccedilatildeo desse tipo de violecircncia deve ser analisada e
contextualizada O uso da internet pode ter um cunho prejudicial e essa consequente situaccedilatildeo
de exposiccedilatildeo pode tornar os sujeitos vulneraacuteveis ao passo de atingir em maior proporccedilatildeo a
geraccedilatildeo digital (os mais jovens) sendo necessaacuteria a mobilizaccedilatildeo de discussotildees sobre o papel
da escola na mediaccedilatildeo prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo virtual (Wendt 2011 p8)
Estudos tecircm advertido o quanto o cyberbullying tambeacutem pode desencadear agravos
relevantes agrave sauacutede de crianccedilas e adolescentes inclusive apontando um recorte de gecircnero
numa loacutegica binaacuteria desprovida de informaccedilotildees que caracterizem questotildees como a orientaccedilatildeo
sexual dos sujeitos Por exemplo Amemyia et al (2013) e Aranzales et al (2014) acreditam
que a praacutetica do cyberbullying eacute maior entre pessoas do sexo masculino Todavia minorias e
pessoas do sexo feminino satildeo mais propensas a serem atemorizados por estarem mais
vulneraacuteveis a situaccedilotildees de intimidaccedilatildeo Um estudo de meta-anaacutelise feito por Barllet et al
(2014) tendo como hipoacuteteses se cyber-bullying eacute considerado uma forma de bullying
tradicional e agressatildeo pessoas do sexo masculino seriam propensos a serem ―cyber-
valentotildees mais do que as do sexo feminino Inversamente se cyberbullying eacute considerado
relacional agressatildeo indireta as meninas seriam ligeiramente mais propensas a serem
perpetradoras de cyberbullying que os meninos Os autores apresentaram ainda outros
aspectos relevantes ao considerar na avaliaccedilatildeo questotildees como paiacutes continente e ano de
publicaccedilatildeo dos estudos bem como a idade dos atores pesquisados Ainda em Barllet et al
(2014) essas variaacuteveis poderiam influenciar significativamente os resultados de estudos sobre
cyberbullying Um dos fatores destacado tratou sobre as publicaccedilotildees que consideram o
cyberbullying uma forma de bullying tradicional e agressatildeo nesses casos os meninos seriam
mais propensos a serem perpetradores do que as meninas Contudo os resultados de
estimativas desse estudo afirmam que ainda sim os meninos teriam maior predisposiccedilatildeo a ser
―cyber-valentotildees Outro dado relevante eacute que no caso das meninas que relataram sofrer
cyberbullying a faixa etaacuteria estava entorno do iniacutecio adolescecircncia entretanto os meninos que
relataram sofrer cyberbullying apresentavam uma meacutedia de idade maior que as meninas
40
Assim o ambiente virtual eacute um terreno capaz de propiciar atos de violecircncia repetitiva
e ainda onde seus autores dificilmente satildeo descobertos o cyberbullying configura-se como
um tipo de violecircncia capaz de trazer consequecircncias graves as suas viacutetimas Para um usuaacuterio
do ambiente virtual que possui a imagem distorcida a internet pode representar uma
ferramenta de autodestruiccedilatildeo se natildeo utilizada de forma correta ou saudaacutevel Estudos apontam
dados significativos sobre os impactos do cyberbullying em estudantes6
Um fator relevante eacute que grande parte dos estudos ao mencionar sobre as pessoas que
satildeo atingidas pelo cyberbullying se referem a estes uacuteltimos utilizando o substantivo ―viacutetima
para identificar aqueles que sofrem este tipo de violecircncia Contudo acreditamos que o termo
traz a conotaccedilatildeo de passividade sugerindo ainda uma natildeo possibilidade de superaccedilatildeo da
condiccedilatildeo sofrida Eacute bem verdade que estudos apontam sobre as dificuldades das ditas
―viacutetimas em expor o dano sofrido ou pedir ajuda Entretanto outros conseguem ter
resiliecircncia a ponto de solicitar auxilio de familiares profissionais ou ainda autoridades Outro
aspecto relevante eacute que podem existir casos em que o intimidado pelo cyberbullying pode se
tornar um perpetrador ou ter sido um em outra situaccedilatildeo Inclusive pode haver casos em que
uma viacutetima de cyberbullying tenha sido um agressor (no caso do bullying tradicional) ou vice
versa Diante disso utilizaremos outros substantivos para relacionar aqueles que sofrem com
o Cyberbullying como por exemplo intimidados atingidos ou acometidos
Cassidy et al (2009) afirmam que adolescentes acometidos de cyberbullying teriam
uma maior predisposiccedilatildeo ao suiciacutedio do que aqueles que natildeo vivenciaram essas formas de
agressatildeo entre pares Apesar disso muitos dos que sofrem com o cyberbullying se calam
mesmo diante das constantes humilhaccedilotildees e depreciaccedilotildees Acreditamos que este calar por
parte dos intimidados pode representar tanto uma imaturidade acerca de como agir diante de
tal situaccedilatildeo como a falta de esclarecimento acerca dos serviccedilos e profissionais que podem
cuidar e acompanhar os casos de cyberbullying ou ainda uma ausecircncia de mecanismos de
apoio de faacutecil acesso que decircem conta de questotildees como esta Baronceli e Ciucci (2014) ao
6 Patchin e Hinduja (2010) dirigiram um estudo que objetivou apurar quais os impactos do
cyberbullying em jovens envolvendo 1963 alunos do ensino meacutedio oriundos de 30 escolas americanas Atraveacutes
de um instrumental de autodeclaraccedilatildeo estes estudiosos verificaram que tanto os cyberbullies (agressores) como
as viacutetimas apresentaram niacuteveis baixos de autoestima em maior frequecircncia quando comparados aos alunos sem
histoacuteria de vitimizaccedilatildeo online No entanto 231 dos alunos declararam ter sido perpetradores e 188 terem
sido viacutetimas de Cyberbullying Todavia as questotildees de gecircnero representaram diferenccedilas delimitadas
identificadas na ocorrecircncia dos subtipos de vitimizaccedilatildeo virtual entre meninos e meninas
41
investigar 529 preacute-adolescentes com idade inferior a 12 anos e 7 meses comparam
caracteriacutesticas de inteligecircncia emocional e controle negativo das emoccedilotildees relacionados ao
bullying e cyberbullying compreendendo que o bullying tradicional e cyberbullying satildeo duas
formas distintas de fenocircmenos da violecircncia envolvendo diferentes traccedilos de personalidades
Com relaccedilatildeo agraves formas de atuaccedilatildeo diante do cyberbullying segundo Melo (2011)
podemos encontrar a accedilatildeo direta e indireta Sendo a direta agressotildees por e-mail mensagens
instantacircneas natildeo havendo por parte do agressor o intuito de ficar no anonimato Jaacute a forma
indireta eacute vista como mais ―covarde e ―nefasta pois o agressor passa a usar nomes fictiacutecios
ou de terceiros o que pode ampliar a gravidade do problema visto que outras pessoas
(aqueles que assistem e disseminam a informaccedilatildeo) podem contribuir para esse estaacutegio de
―vitimizaccedilatildeo Entre as accedilotildees estatildeo votaccedilotildees online difamatoacuterias inclusatildeo de viacutedeos e
imagens vexatoacuterias entre outras
O campo virtual se tornou tambeacutem um meio de accedilotildees criminosas e violaccedilotildees de
direitos neste sentido atualmente jaacute existem Delegacias nuacutecleos e divisotildees policiais de
combate aos crimes de informaacutetica ou crimes ciberneacuteticos em diversos estados do paiacutes No
Rio de Janeiro por exemplo existe a Delegacia de Repressatildeo aos Crimes de Informaacutetica
(DRCI) localizada na Cidade da Poliacutecia na regiatildeo da Zona Norte da cidade e a Delegacia de
Proteccedilatildeo agrave crianccedila Viacutetima (DCAV) O que nos leva a entender que o cyberbullying jaacute pode ser
enquadrado como um crime contra a honra e dignidade por repercutir em danos agrave moral do
indiviacuteduo Natildeo podemos deixar de destacar que em algumas cidades brasileiras existem as
Delegacias de Proteccedilatildeo agrave crianccedila viacutetima de violecircncia Neste sentido cabe destacar o estudo de
Della Flora (2014) ao investigar 191 alunos de quatro turmas de 8ordf seacuterie (atual 9ordm ano)
fundamental e duas turmas de 1ordm ano do ensino meacutedio politeacutecnico e 17 professores constatou
que grande parte de alunos e professores citaram o registro de boletim de ocorrecircncia policial
como uma alternativa de enfrentamento ao cyberbullying por considerarem o ato como crime
em que o autor natildeo deve ficar impune Todavia uma vez que muitos de seus autores satildeo
outras crianccedilas ou adolescentes Segundo o artigo 104 do Estatuto da Crianccedila e adolescente -
ECA (Lei 806090) os menores de dezoito anos satildeo inimputaacuteveis Todavia a partir dos doze
anos de idade podem ser responsabilizados juridicamente caso cometam atos infracional
(conduta descrita no art 103 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente como crime ou
contravenccedilatildeo penal) Ainda assim a questatildeo da responsabilizaccedilatildeo merece atenccedilatildeo cuidadosa
O que nos leva reconhecer a importacircncia de uma normatizaccedilatildeo que advirta e responsabilize os
42
responsaacuteveis pelo cyberbullying natildeo extinguindo o potencial e a necessidade de accedilotildees
preventivas de maior impacto
Com relaccedilatildeo ao manejo prevenccedilatildeo e enfrentamento do bullying e suas apresentaccedilotildees
foram realizadas nos uacuteltimos anos no Brasil algumas estrateacutegias de enfrentamento no campo
juriacutedico algumas delas jaacute mencionadas anteriormente Essas legislaccedilotildees apresentam cunho de
responsabilizaccedilatildeo das escolas em notificar accedilotildees de violecircncia no contexto escolar aleacutem de
atividades de conscientizaccedilatildeo incluindo informaccedilotildees sobre o cyberbullying atraveacutes do
enfrentamento por meio de accedilotildees educativas e capacitaccedilotildees Em contrapartida as escolas por
vezes natildeo se responsabilizam por questotildees que emergem no campo virtual como eacute o caso dos
sites de relacionamentos (Redes Sociais) considerando que estas uacuteltimas estariam aleacutem de
suas responsabilidades interventivas
Refletimos que algumas leis7 implantadas representam respostas a clamores sociais
muito particulares como eacute o caso do Massacre de Realengo jaacute mencionado anteriormente
Principalmente quando evidenciados eou provocados pela miacutedia (com destaque as
reportagens em canais abertos que atingem a grande massa da populaccedilatildeo) aos viacutedeos
inseridos em plataformas como YOUTUBE e Redes Sociais e que satildeo acessados por uma
parcela significativa da populaccedilatildeo Ao mesmo tempo as ferramentas digitais tambeacutem trazem
maior notoriedade para a difusatildeo do cyberbullying entre pares
Segundo apontam os indicadores do SAFERNET entre as principais violaccedilotildees das
quais os internautas solicitaram ajuda no ano de 2015 atraveacutes do Helpline (canal de
atendimento) estaacute o Cyberbullying com 265 (duzentos e sessenta e cinco) denuacutencias sendo
que 178 (cento e setenta e oito) eram do Brasil O estado de Satildeo Paulo liderou o nuacutemero de
registros com 54 (cinquenta e quatro) Entre os atendidos pelo Helpline ao longo do
funcionamento do serviccedilo de denuacutencia de crimes ciberneacuteticos ajuda e orientaccedilotildees estatildeo
crianccedilas adolescentes pais educadores e outros adultos Com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero
presente nas denuacutencias no ano de 2012 por exemplo foi registrado o contato de 27 mulheres
e 10 homens atraveacutes do nuacutemero das conversas via chat disponiacutevel no portal da Organizaccedilatildeo
(Site SAFERNET)
Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees contra o cyberbullying inerentes ao campo da sauacutede natildeo
identificamos registros de accedilotildees voltadas agrave prevenccedilatildeo do cyberbullying as accedilotildees observadas
ateacute o momento estavam estritamente ligadas aos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo e que
7 Observamos que algumas leis nacionais foram promulgadas nos uacuteltimos anos
43
segundo os achados careciam de capacitaccedilatildeo para realizar tais atividades de cunho
informativo vide as legislaccedilotildees municipais e estaduais que tratam sobre conscientizaccedilatildeo
sobre bullying e cyberbullying Seraacute que o tema tem sido tratado pelos profissionais dos
serviccedilos de sauacutede como CAPSI ndash Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Infantil e pelas equipes de
Programas de Sauacutede Escolar (PSE) Pois se presume que a implantaccedilatildeo do Programa Sauacutede
Escolar tenha sido um ganho para as unidades escolares por propor um trabalho integrativo
entre as redes de Educaccedilatildeo e Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede Tendo em vista que o programa tem
como objetivo avaliar as condiccedilotildees de sauacutede dos estudantes aleacutem do desenvolvimento de
atividades de formaccedilatildeo integral dos estudantes mas seu funcionamento nos municiacutepios eacute
bastante limitado por se tratarem de equipes miacutenimas para um universo de escolas e demandas
de alunos
Desse modo refletimos sobre a necessidade de suporte familiar social educacional e
psicoloacutegico agrave medida que o estado emocional desses indiviacuteduos eacute afetado assustadoramente
atraveacutes desse ato de violecircncia
Entendemos que o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta sob
as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para
aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em repercussotildees praacuteticas e reais seja nas
relaccedilotildees sociais ou na individualidade do sujeito (Dahberg e Krug 2007)
O conceito dado por Pierre Bourdieu (2001) para Violecircncia Simboacutelica traz uma
conotaccedilatildeo coerente com o tipo de violecircncia concebido no ambiente virtual
A violecircncia simboacutelica eacute uma espeacutecie de coerccedilatildeo que se institui por intermeacutedio
da adesatildeo que o dominado [viacutetima] natildeo pode deixar de conceder ao
dominante ou seja dominaccedilatildeo quando dispotildee apenas para pensaacute-lo e para
pensar a si mesmo ou melhor para pensar a relaccedilatildeo com ele de instrumentos
repartidos e que fazem surgir essa relaccedilatildeo com o natural partindo do princiacutepio
de ser a forma incorporada da estrutura da relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo [grifo nosso]
(Bourdieu 2001 p206)
Essa violecircncia eacute conduzida por um indiviacuteduo ou por um grupo que controla o poder
simboacutelico sobre os outros produzindo assim crenccedilas no processo de socializaccedilatildeo induzindo
os dominados a enxergarem e avaliarem o mundo sob as perspectivas e padrotildees estabelecidos
pelos dominantes (Souza 2012) Ou seja aquele que sofre de cyberbullying tem sua imagem
depreciada quer seja pelos xingamentos fotos postadas distorcidas disseminaccedilatildeo de
44
difamaccedilatildeo virtual ao ponto que os dominados dessa relaccedilatildeo de poder podem ser convencidos
de que as informaccedilotildees depreciativas divulgadas sobre ele satildeo de fato reais passando assim a
internalizar tais expressotildees Compreendemos que as relaccedilotildees na internet podem exercer um
poder sobre a vida de seus usuaacuterios e esse manejo utilizado de forma depreciativa por parte de
intimidadoreslsquo tem uma representatividade simboacutelica na vida de crianccedilas e adolescentes e de
todo o contexto em que a violecircncia virtual eacute concebida
A imposiccedilatildeo de significaccedilotildees que a ideia de violecircncia simboacutelica traz contribui para
entendermos o quanto as relaccedilotildees virtuais podem ser assimeacutetricas e desiguais Outro ponto
considerado eacute o fato de que os que satildeo atingidos por essas accedilotildees por vezes natildeo conseguem
inicialmente ponderar os xingamentos como depreciativos de modo que naturalizam tal
questatildeo enquadrando-as como brincadeiras como o exemplo dos apelidos (exemplo baleia
rolha de poccedilo) entre outros De certo modo o que ocorre eacute um poder simboacutelico no que
concerne a relaccedilatildeo entre perpetradores e aqueles que sofrem o cyberbullying Mais uma vez
recorremos a Bourdieu (2001) ao afirmar que o poder simboacutelico eacute representado por esse poder
invisiacutevel que eacute exercido somente a partir da permissividade eou conivecircncia daqueles que
natildeo querem saber que lhes estatildeo sujeitados ou mesmo que o exercem
Com base no arcabouccedilo teoacuterico jaacute utilizado observamos que a violecircncia psicoloacutegica
pode se apresentar em diferentes expressotildees como humilhaccedilatildeo o uso de poder xingamento e
insultos (OMS 2002)
A naturalizaccedilatildeo do cyberbullying pode permitir com que ela se torne uma violecircncia
simboacutelica e ao mesmo tempo velada tanto pelo oprimido quanto pelo opressor que durante o
processo de intimidaccedilatildeo virtual detecircm o poder da ofensa jaacute naturalizada e aceita como a
verdade pelo oprimido
45
Artigo 1
2 CYBERBULLYING CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E
IMPLICACcedilOtildeES Agrave SAUacuteDE (submetido em 28122017 e aprovado em 26032018
na revista Ciecircncia e Sauacutede Coletiva)
RESUMO
O estudo buscou realizar a revisatildeo criacutetica de um conjunto de revisotildees bibliograacuteficas no intuito
de conhecer como o cyberbullying eacute compreendido pela comunidade cientiacutefica como o
fenocircmeno vem sendo conceituado como suas dinacircmicas tecircm sido descritas quais
personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede das pessoas intimidadas e
dos perpetradores A literatura mostrou que natildeo haacute um consenso sobre a conceituaccedilatildeo de
cyberbullying contudo haacute argumentos que defendem sua especificidade e diferenciaccedilatildeo em
relaccedilatildeo ao bullying (pode ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo demarcado
fisicamente pode ser disseminado globalmente o tempo de permanecircncias das postagens
ofensivas eacute indeterminado) Quanto agrave questatildeo de gecircnero associada a essa praacutetica observou-se
um vieacutes reducionista do debate indicando diferenccedilas baseadas numa suposta superioridade
tecnoloacutegica dos meninos Os estudos revisados apontam que tanto as viacutetimas quanto os
46
praticantes de cyberbullying vivenciam experiecircncias negativas em sua sauacutede psicoloacutegica e
comportamental podendo ocorrer inclusive evasatildeo escolar isolamento social depressatildeo
ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio Todavia pouco se problematiza sobre a cultura ciber e como esta
estabelece novas socialidades ndash conhecimento e debate cruciais agrave compreensatildeo do fenocircmeno
Palavra-chave Cyberbullying violecircncia redes sociais ciberespaccedilo sauacutede
ABSTRACT
The study sought to perform a critical review of a set of bibliographical reviews in
order to understand how cyberbullying is understood by the scientific community how the
phenomenon has been conceptualized how its dynamics have been described what characters
are identified and what associations are related to health intimidated persons and perpetrators
The literature has shown that there is no consensus on the concept of cyberbullying but there
are arguments that defend its specificity and differentiation in relation to bullying (it can
occur at any moment and without a physically demarcated space it can be disseminated
globally of the offensive posts is undetermined) As for the gender issue associated with this
practice there was a reductionist bias in the debate indicating differences based on a
supposed technological superiority of the boys The reviewed studies show that both victims
and cyberbullying experience negative experiences in their psychological and behavioral
health including school dropout social isolation depression suicidal ideation and suicide
However there is little question about cyber culture and how it establishes new socialities -
knowledge and debate crucial to understanding the phenomenon
Key-words Cyberbullying violence social networks cyberspace health
INTRODUCcedilAtildeO
O cyberbullying eacute uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se configura como um
―problema social constituindo tema e preocupaccedilatildeo de diversos campos disciplinares aleacutem
de ser representado por alguns autores com uma questatildeo de sauacutede puacuteblica (Brochado Jackson
47
e Cassidy 2006 Carpenter E Hubbard 2014 Nixon 2014 Bottino at al 2015 Yang
Grinshteyn 2016 Brochado Soares e Fraga 2016) As distintas configuraccedilotildees do
Cyberbullying podem ser reconhecidas como atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica
contra crianccedilas e adolescentes perpetrados nas ambiecircncias das redes de sociabilidade digital
podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo circunscrito e demarcado fisicamente
Essa forma de agressatildeo eacute perpetrada por meios eletrocircnicos sejam estes mensagens de textos
fotos aacuteudios ou viacutedeos expressos nas redes sociais ou em jogos em rede transmitidas por
telefone celulares tablets ou computadores e cujo teor tem a intencionalidade de causar dano
agrave outra pessoa de modo repetitivo e hostil conforme Ortega et al apud Brochado Soares e
Fraga (2016)
O cyberbullying tem emergecircncia recente e sua conceituaccedilatildeo ainda em construccedilatildeo abriga
consideraacutevel polissemia em suas definiccedilotildees (Garaigordobil 2011 Torres e Vivas 2012 Della
Ciopa Olsquoneil E Craig 2015) Pesquisas apontam que essa diversidade conceitual por vezes
tem direcionado os estudiosos a usar termos diferentes para se referir ao mesmo conceito ou
usar o mesmo termo com diferentes significados (Tokunaga 2010 Notar 2013 Ybarra et el
Apud Lucas-Molina et al 2016)
Nota-se que a violecircncia tambeacutem se manifesta neste novo espaccedilo o ―ciberespaccedilo ou seja
nesse ―lugar de interaccedilatildeo que se daacute no contexto de uma cultura peculiar conhecida como
cultura ―ciber ou cibercultura Vale pontuar que alguns autores questionam se o conceito de
cibercultura ainda seria vaacutelido dado o borramento das fronteiras considerando que as
relaccedilotildees digitais atravessam de forma onipresente o cotidiano (Roger E Saldado 2016)
O termo sociabilidade cunhado por Mafessoli (2006) faz referecircncia aos haacutebitos costumes
e uma espeacutecie de polidez presente na contemporaneidade A socialidade digital produz um
ethos que gera a necessidade de construir uma imagem social positiva O que eacute postado em
rede a maneira como se eacute visto neste ambiente ou ainda as maacutescaras que satildeo construiacutedas
48
sobre si neste espaccedilo valoram essa teatralidade a partir daquilo que se quer ou se permite que
os outros vejam (Mafessoli 2006) Para crianccedilas e adolescentes que estatildeo em
desenvolvimento essa identidade que se constroacutei pode ser significativamente influenciada a
partir dos padrotildees impostos pela rede A necessidade de ―estar conectado sendo sempre
visto por outros vem sendo aprimorada a cada nova atualizaccedilatildeo que os aplicativos de redes
sociais geram criando e forccedilando novas experiecircncias de compartilhamento para os seus
usuaacuterios digitais Bruno (2013) vai refletir sobre a importacircncia do olhar do outro para
constituir a imagem de si uma imagem engendrada na perspectiva de espetaacuteculo que
contribui para a construccedilatildeo de uma autoestima balizada pela popularidade que se tem nas
redes sociais Observa-se a partir da reflexatildeo de Bruno (2013) que os viacutenculos que se
estabelecem natildeo precisam ser necessariamente fortes para influenciarem as redes sociais Por
vezes aqueles que mais curtem e comentam um conteuacutedo digital satildeo pessoas cujas
vinculaccedilotildees sociais constituem ―laccedilos fracos Outra caracteriacutestica eacute a fluidez dessas relaccedilotildees
pois mesmo modo que novas conexotildees satildeo estabelecidas exclusotildees e bloqueio de pessoas
podem ocorrer sem motivos relevantes (2014)
Ao falar sobre a ―realidade social da virtualidade da internet Castells (2015) afirma que
a internet foi apropriada pela praacutetica social em toda a sua diversidade embora ela tenha
efeitos especiacuteficos sobre tais praacuteticas Aborda como as pessoas se comportam no ambiente
virtual como esperam ser vistas pelos outros Os jovens por exemplo estatildeo nesse processo de
descoberta de identidade de desvendar quem de fato eles satildeo ou gostariam de ser
As relaccedilotildees digitais redefinem dinacircmicas sociais contemporacircneas convocando aos
indiviacuteduos estarem sempre conectados atraveacutes das novas tecnologias independente da
geolocalizaccedilatildeo tempo e do quantitativo de pessoas a quem estatildeo vinculados Traccedilo marcante
da sociabilidade digital eacute a hipervisibilidade (2015) uma exposiccedilatildeo constante e voluntaacuteria dos
fatos e atos cotidianos e iacutentimos O privado passa a ser publicizado a partir dos
49
compartilhamentos realizados neste mundo de informaccedilotildees instantacircneas em tempo real
(2012)
Os jovens ―nativos digitais (2013) estatildeo cada vez mais cedo conectados nas redes sociais
digitais atraveacutes das TICsndash Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Segundo a Pesquisa
Nacional de Amostra por Domiciacutelios ndash PNAD (2015) no Brasil aproximadamente 1021
milhotildees de pessoas de 10 anos ou mais de idade tiveram acesso agrave internet no periacuteodo em que a
pesquisa ocorreu Em 2015 ano da pesquisa com relaccedilatildeo aos grupos etaacuterios observou-se que
os adolescentes de 15 a 17 anos bem como os de 18 e 19 anos de idade apresentaram o maior
iacutendice percentual dentre os usuaacuterios da internet (sendo 82 e 829 respectivamente)
Brunnet et al (2013) apontam um estudo americano que descreve que em meacutedia 93 dos
adolescentes entre 12 e 17 anos acessam a internet e dessa populaccedilatildeo 75 possuem seu
proacuteprio celular
O uso da internet em especial de redes de relacionamentos favorece as praacuteticas de
violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de relacionamentos criaccedilatildeo de falsos
perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo o convite ao suiciacutedio por sites clandestinos ou
comunidades (2011)
Assim o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma
disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre
sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidado (Alim 2016)
Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs horas
diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de Cyberbullying (Arsegravene
Raynaud 2014)
Embora associado ao tema do bullying mais consolidado teoricamente o cyberbullying
tem recebido bastante atenccedilatildeo da comunidade cientiacutefica internacional contudo pouco
estudado no Brasil
50
Diante disso o artigo tem como objetivo analisar as conceituaccedilotildees de Cyberbullying
adotadas pela literatura nacional e internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo
enfocando suas ecircnfases e ―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as
associaccedilotildees que delimitam entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes
MEacuteTODOS
Trata-se de revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo criacutetica (critical review) Essa abordagem
metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um tema revelando fraquezas
contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant MJ Booth 2009) A contribuiccedilatildeo de
uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas discrepacircncias ou aacutereas em
que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel (Paregrave et al 2015)O escopo
analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou estatisticamente representativo Esse
tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos selecionados o que eacute considerado o
seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos
meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo (siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso
anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais positivista (anaacutelise de conteuacutedo)
Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo BVS
Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA (Applied
Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017
Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos (all
fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no Medical
Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying
51
(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos
vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo
Visando reduzir e qualificar mais esse acervo optamos por trabalhar apenas os estudos de
revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no tiacutetulo e
―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de qualquer
natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas modalidades
revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica sistemaacutetica
revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo sistemaacuteticas e
revisatildeo narrativa
Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para
acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em 301
estudos Depois da anaacutelise de cada artigo foram identificados 156 artigos em duplicidade que
natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias (MENDLEY)
como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com traduccedilatildeo de texto
para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou francecircs e quando
houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al
Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com recorte temporal de
publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem sendo difundido na
uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo
O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia dos
autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo (tabela 1) Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus
conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes
categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do
cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede
52
RESULTADOS
Observa-se uma produccedilatildeo crescente no periacuteodo analisado (exceto 2016) com
predominacircncia de artigos americanos (27) O baixo nuacutemero de publicaccedilotildees em 2016 pode
refletir o pouco tempo entre a publicaccedilatildeo e a sua disponibilizaccedilatildeo nas bases de indexaccedilatildeo
pois a busca foi feita no iniacutecio de 2017
Com relaccedilatildeo aos campos da Sauacutede e Educaccedilatildeo natildeo houve diferenccedilas significativas
quanto ao nuacutemero de publicaccedilotildees Sauacutede (26) e Educaccedilatildeo (27) muito menos ao tipo de
abordagem produzida sobre o tema As demais publicaccedilotildees foram consideradas como
multidisciplinarinterdisciplinar As revistas com maior representaccedilatildeo neste acervo foram
Aggression and Violent Behavior (10) seguida da Computers in Human Behavior (5) Assim
tratamos o acervo a partir das especificidades entre os estudos e natildeo de suas aacutereas de origem
Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma
PUBLICACcedilOtildeES 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006
NUacuteMERO DE
PUBLICACcedilOtildeES
8 21 12 11 7 6 1 2 1 2 1
NACIONALIDADE
DO ESTUDO
EUA Reino Unido
Austraacutelia Portugual Belgica
Espanha e Greacutecia
EUA Singapura
Greacutecia Itaacutelia Brasil China
Canadaacute Franccedila
Austraacutelia Reino
Unido e Espanha
Franccedila EUA Itaacutelia
Turkia e Reino Unido
EUA Canadaacute e
Brasil
Sueacutecia Alemanha
Suiacuteccedila Reino Unido EUA e
Colocircmbia
EUA Espanha Meacutexico Austraacutelia
EUA Austraacutelia EUA EUA Canadaacute
IDIOMA Inglecircs (7) e
Espanhol (1)
Inglecircs (18)
Portuguecircs (2) e
Francecircs (1)
Francecircs (1)
Inglecircs (10) e
Portuguecircs (1)
Inglecircs (10) e
Portuguecircs (1)
Inglecircs (6) Espanhol
(1)
Inglecircs (2) e
Espanhol (2)
Inglecircs (1)
Inglecircs (2)
Inglecircs (1)
Inglecircs (2)
Inglecircs (1)
53
Conceituaccedilatildeo
O cyberbullying possui muitas conceituaccedilotildees revelando distintas interpretaccedilotildees adotadas
pela comunidade cientiacutefica Parte dos estudos analisados natildeo construiu uma definiccedilatildeo para o
cyberbullying mas toma de empreacutestimo os conceitos de bullying agressatildeo e asseacutedio jaacute
existentes na literatura (Zych Ortega-Ruiz Del Rey 2015 Remond Ker Romo 2015
Carpenter Hubbart 2014 Sabella Patchim Hinduja 2013 Bailey 2013 Bauman 2013
Stewart Fritsch 2011 Hanewald 2009)
Havia no acervo uma polifonia de definiccedilotildees para o cyberbullying sugerindo que a
comunidade cientiacutefica natildeo produziu um consenso sobre o entendimento da natureza e limites
do fenocircmeno Talvez por ―imaturidade ou como reflexo dessa processualidade visto que as
relaccedilotildees digitais satildeo dinacircmicas e influenciadas pelas novas tecnologias constantemente
incorporadas ao universo ciber Todavia tal polissemia gera uma espeacutecie de inconsistecircncia
nos dados das pesquisas e difiacuteculdades de comparaccedilatildeo entre os estudos (Aboujaoude et al
2013)
As traduccedilotildees de definiccedilotildees propostas em inglecircs e apropriadas por estudos de liacutengua latina
podem tambeacutem variar semanticamente e levar a compreensotildees diferenciadas como no
exemplo dos sentidos entre cyberbullying e acosso digital Estudos alematildees usam o termo
ciber-mobbing Tais termos retraduzidos ao portuguecircs produzem ecircnfases diferenciadas No
caso da traduccedilatildeo de acosso se evidencia o caraacuteter de perseguiccedilatildeo sistemaacutetica caracteriacutestica
natildeo necessariamente presente no fenocircmeno do cyberbullying
Aboujaoude et al (2015) identificaram diferentes designaccedilotildees para o cyberbullying como
cyberstalking agressatildeo on-line asseacutedio ciberneacutetico asseacutedio na Internet bullying na Internet e
54
vitimizaccedilatildeo ciberneacutetica ou cybervitimizaccedilatildeo A natureza hostil do ato e a intenccedilatildeo de causar
sofrimento foram considerados pela maioria dos estudiosos como cruciais para a definiccedilatildeo de
cyberbullying
Como avaliam Smith et al(2012) caracterizar o cyberbullying apenas como uma forma
de ―bullying digital tem sido uma tendecircncia e apoacutes analisarem diversos estudos concluem
que existe um debate sobre o uso de uma definiccedilatildeo generalista (bullying) ou a necessidade de
substituiacute-la por outra mais especiacutefica
Considerando o acervo analisado as principais definiccedilotildees adotadas podem ser divididas
em dois blocos as que reconhecem o cyberbullying como uma (nova) forma de bullying
apontando diferenccedilas e similaridades e as que tratam o cyberbullying como um fenocircmeno de
outra natureza diferente do bullying Analisaremos a seguir os argumentos que tratam das
especificidades que aproximariam e distinguiriam o bullying e o cyberbullying
No primeiro bloco de estudos a maioria do acervo reconhece o cyberbullying como o
bullying por meio digital eou uma variaccedilatildeo do bullying
Dentre os autores que percebem o cyberbullying como uma variaccedilatildeo de bullying alguns
defendem a importacircncia de contextualizar a violecircncia digital e sua expressatildeo nos
comportamentos agressivos (Ang 2015 Castro Schreiber Antunes 2015 Wendt Lisboa
2014 Chibarro 2007) A revisatildeo de Allison e Bussey (2016) apresenta o cyberbullying como
―agressatildeo intencional por meio eletrocircnico que ocorre de vaacuterias formas como insultos
ameaccedilas divulgaccedilatildeo de fotos embaraccedilosas e pode ser perpetrado atraveacutes de diversas miacutedias
sem a necessidade da presenccedila fiacutesica dos envolvidos Os autores se basearam em extensa
literatura de bullying e ao comparaacute-lo ao cyberbullying constataram que satildeo diferentes em
muitos aspectos tais como anonimato maior impacto uma maior audiecircncia de espectadores
individualidade na praacutetica de perpetrar ser dispensaacutevel a presenccedila fiacutesica dos envolvidos e a
55
viacutetima ser atingida em qualquer lugar e a qualquer momento (Kowalski et al 2014 Tanrikulu
2014 Thomas Conor Scott 2014) Para alguns o caraacuteter repetitivo natildeo estaria
necessariamente presente no cyberbullying (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Carpenter
Hubbert 2014 Slonje 2012) pois apenas uma postagem depreciativa leva o conteuacutedo a ficar
permanentemente exposto Jaacute a capacidade de anonimato eacute apontada como a principaluacutenica
diferenccedila entre os dois fenocircmenos (Bailey 2013 Zych Ortega-Ruiz e Allison e Bussy 2016)
Algumas revisotildees (Aboujaoude et al 2015 Ang 2015 Antoniadou Kokkinos 2015
Cantone 2015 Berne et al 2012) revelaram que natildeo haacute consenso se a repeticcedilatildeo das accedilotildees e o
desequiliacutebrio de poder seriam dinacircmicas do cyberbullying mas certamente ocorrem nos casos
do bullying O desequiliacutebrio de poder foi associado diversas vezes como suposta incapacidade
de resposta por parte da pessoa alvo do cyberbullying ou ainda por falta de habilidades
tecnoloacutegicas que permitiriam uma melhor resposta no meio digital Para Faucher Cassidy e
Jackson (2015) esse exerciacutecio de poder estaria associado ao quatildeo vulneraacutevel estatildeo os
conteuacutedos privados da pessoa alvo ou ainda por divulgar tais informaccedilotildees sem levar em conta
as consequecircncias de uma exposiccedilatildeo nas redes sociais (Suzuki et al 2012)
Em relaccedilatildeo agraves similaridades grande parte dos estudos aponta o caraacuteter de repeticcedilatildeo o uso
das palavras ferinas o desequiliacutebrio de poder e o dano intencional (Yang Grinshteyn 2016
El Asam Samara 2016 Baldry Farrington Sorrentino 2015 Della Cioppa OlsquoNeil Craig
2015 Chan H C Wong 2015 Cantone 2015 Chisholm 2014 Wingate Minney
Guadagno 2013 Nosworthy Rinaldi 2013 Burnett Yozwiak Omar 2013 Bailey 2013
Von Mareacutees N Pettermann 2012 Garciacutea-Maldonado Joffre-Velaacutezquez Martiacutenez-Salazar
2011 Mason 2008 Chibarro 2007) Thomas et al (2015) afirmam que os ataques de
bullying e de cyberbullying satildeo mais parecidos que diferentes e muitas vezes co-ocorrem
Para Yang e Grinshteyn (2016) o fechamento de uma acepccedilatildeo conceitual natildeo seria
beneacutefico pois uma definiccedilatildeo delimitada e concisa poderia excluir grande quantidade de
56
comportamentos potencialmente nocivos Aleacutem disso uma definiccedilatildeo que inclui elementos
descritivos da praacutetica de cyberbullying especificando certos tipos de dispositivos eletrocircnicos
com o passar do tempo pode se tornar obsoleta apoacutes o lanccedilamento de novas tecnologias
No segundo bloco estatildeo os autores que afirmam que cyberbullying eacute uma nova forma de
agressatildeo que apresenta diferenccedilas significativas em relaccedilatildeo ao bullying todavia muitos deles
natildeo se dedicaram a produzir uma teoria ou definiccedilatildeo especiacutefica (Brochado S Soares S
Fraga 2016 Chan Wong 2015 Chisholm 2014 Baek Bullock 2013 Cassidy Faucher et
al 2014 Jackson 2013)
Considerando a argumentaccedilatildeo sobre a natureza ineacutedita do fenocircmeno aponta-se o papel da
audiecircncia no contexto da perpetraccedilatildeo (Smith 2015 Baek e Bullock 2014) A audiecircncia do
cyberbullying eacute concedida em larga escala pelas plataformas digitais propagando esse
conteuacutedo depreciativo para milhares de pessoas tanto no ato da transmissatildeo da mensagem
viacutedeo ao vivo ou em outro momento aleacutem da possibilidade de baixar o conteuacutedo para acesso
offline Logo a capacidade exponencial de compartilhamento desse conteuacutedo natildeo pode ser
dimensionada pelo perpetrador e mesmo que a intenccedilatildeo de propagaccedilatildeo do conteuacutedo seja para
um grupo menor de pessoas o intimidador passa a natildeo ter mais domiacutenio sobre esse conteuacutedo
Quanto mais vizualizado eou compartilhado a audiecircncia aumenta significativamente
diferente do bullying cuja audiecircncia eacute limitada ao puacuteblico que estava presente no momento
do ataque No caso bullying mesmo que a cada novo ataque o grupo de espectadores cresccedila
natildeo se compara ao nuacutemero de pessoas que teratildeo acesso a um conteuacutedo hostil na internet
Brown Jackson e Cassidy (2006) alertam que o ambiente virtual favorece a desinibiccedilatildeo
mencionando o caso de pessoas que sofrem com o bullying e que utilizam a internet para se
vingar daquele que praticou tal bullying jaacute que a internet lhes oferta a possibilidade de
anonitamato atraveacutes de identidade alternativa (uso de perfis falsos) para assediar Deste modo
57
em alguns casos quem sofre bullying pode ser um perpetrador de cyberbullying contra seu
algoz de bullying face a face principalmente quando essa― revanche natildeo seria possiacutevel
acontecer como entre sujeitos com diferenccedila de padrotildees fiacutesicos
Cabe mencionar que parte dos estudos corrobora acerca de suposta inconsistecircncia nas
definiccedilotildees encontradas na literatura (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Zych Ortega-Ruiz
Del Rey 2015) e que falta consenso entre os estudiosos que investigam o tema seja com
relaccedilatildeo agraves conceituaccedilotildees e termos ou sobre os aspectos de semelhanccedila e diferenccedila entre o
cyberbullying e bullying Conforme esse arcabouccedilo teoacuterico se expande eacute provaacutevel que novas
discordacircncias cientiacuteficas perpassem por esse campo em construccedilatildeo
Descriccedilotildees das dinacircmicas
As dinacircmicas de cyberbullying dependem das accedilotildees e representaccedilotildees de cada pessoa
envolvida nesse ciacuterculo de violecircncia Neste cenaacuterio atuam os perpetradores ndash os que praticam
a violecircncia os acometidos (chamados de viacutetimas) os espectadores (aqueles que assistem e
compartilham o conteuacutedo que viola outrem) os educadores e pais que por vezes satildeo os
uacuteltimos a tomar conhecimento do abuso
Houve diferenccedilas significativas sobre as descriccedilotildees das dinacircmicas do cyberbullying e os
motivos provaacuteveis estariam associados ao periacuteodo em que os estudos foram publicados pois
algumas formas de cyberbullying ainda natildeo eram reconhecidas anteriormente e os tipos de
dispositivos tecnoloacutegicos e as formas de conversaccedilatildeocomunicaccedilatildeo e compartilhamento de
conteuacutedo online disponiacuteveis tambeacutem mudaram rapidamente Haacute algum tempo o e-mail e as
58
mensagens de texto eram as formas mais disseminadas atualmente as interaccedilotildees atraveacutes das
redes sociais ganharam maior espaccedilo entre os jovens (transmissatildeo ao vivo viacutedeos chamadas
compartilhamentos em massa jogos online em grupo etc)
Destacam-se quatro estudos que exemplificam as dinacircmicas de cyberbullying Julia
Wilkins et al (20120 descrevem fundamentados no texto que institui o Programa Anti-
Bullying de Londres sete tipos de cyberbullying e Suzuki et al (2012) tambeacutem identificam as
mesmas modalidades a seguir compiladas 1 Por mensagem de texto - enviada via telefone
celular com a intenccedilatildeo de causar desconforto e ameaccedila 2 Imagemvideo-clipe - quando as
imagens das viacutetimas satildeo enviandas para outras pessoas no intuacuteito de ameaccedilar ou constranger
3 Intimidaccedilatildeo por chamada telefocircnica - por meio de chamadas silenciosas ou por mensagens
abusivas ou quando o celular da viacutetima eacute roubado e usado para perseguir outros culpando o
proprietaacuterio do telefone 4 intimidaccedilatildeo por e-mail quando satildeo enviados conteuacutedos muitas
vezes usando um pseudocircnimo ou o nome de outra pessoa para fazer com que essa pessoa se
pareccedila com o perpetrador (modalidade desatualizada) 5 chat room bullying - respostas
agressivas e intimidadoras em sala de bate papos (tambeacutem mais desatualizada) 6 intimidaccedilatildeo
atraveacutes de mensagens instantacircneas 7 bullying atraveacutes de websites ndash com uso de blogs
difamatoacuterios sites pessoais sites de pesquisa pessoais online e sites de redes sociais (por
exemplo MySpace) aleacutem da criaccedilatildeo de foacuteruns
Entre as dinacircmicas do cyberbullyng destacadas na literatura estariam ―namecalling
(apelidar algueacutem de modo rude) propagaccedilatildeo de rumores ―flamings (discussotildees calorosas
online) ameaccedilas fingir ser outra pessoa online (fakenames) envio de fotos indesejadas ou
mensagens de texto (sexting) postar eou compartilhar imagens e viacutedeos com conteuacutedo
iacutentimo de outra pessoa sem consentimento desta (Carpenter Hubbard 2014) excluir uma
pessoa de um circulo social online de forma intencional (Bailey 2013) Aleacutem das redes
59
sociais o cyberbulling tambeacutem se manifestaria em jogos MMOGs - jogos onlines com
muacuteltiplos jogadores (multiplayers games) um jogador poderoso pode ―trollar (zombar
humilhar) algueacutem roubando itens do jogo como recompensas invadindo a conta formar
gangues e bloquear pessoas em uma rede social fazendo piadas com a imagem de uma pessoa
e controlando remotamente a cacircmeracomputador de uma pessoa sem o consentimento desta
(Chisholm 2014)
A revisatildeo de Kowalski et al (2014) ratifica as formas jaacute mencionadas e reconhece outras
formas de perpetraccedilatildeo entre elas harassament (envio de mensagens repetitivas e com
conteuacutedo ofensivo) bloqueio online solicitar informaccedilatildeo online de conteuacutedo pessoal e
posteriormente compartilhar a terceiros sem consentimento cyber-stalking (usar comunicaccedilatildeo
eletrocircnica para perseguir outra pessoa) e postar informaccedilatildeo inapropriada ou de cunho
depreciativo se passando por outra pessoa
Mehari Farell Le (2014) refletem que os comportamentos agressivos nas relaccedilotildees
sociais na internet tecircm baixo controle social e satildeo menos recriminados se comparados aos
perpetrados nas relaccedilotildees face a face Outro aspecto apontado na revisatildeo de Mehari et al
(2014) eacute a falta ou escassez de indiacutecios verbais que aumentaria a probabilidade de
desentendimentos e interpretaccedilotildees errocircneas Assim o que um jovem pretende como uma
brincadeira interaccedilatildeo amigaacutevel pode rapidamente tornar-se uma interaccedilatildeo mutuamente
agressiva se a outra pessoa interpreta o comentaacuterio como um insulto ou uma ameaccedila A falta
de sugestotildees natildeo verbais tambeacutem pode reduzir a empatia que serve como um controle natural
do comportamento dos adolescentes
Arsene e Raynaud (2014) destacam que o cyberbullying que ocorre por meios visuais
(foto ou viacutedeo) eacute mais prejudicial e mais negativo do que os que envolvem mensagens por
(SMS) e de texto na Internet As consequecircncias seriam mais graves as viacutetimas mais afetadas
60
do que em outras formas de cyberbullying e o risco de sofrimento psicossocial teria maior
potencial Na revisatildeo desses autores (2014) as fotos ou videoclipes tiveram impacto mais
negativo do que no asseacutedio tradicional (interpetrado como bullying)
Os personagens envolvidos
Os principais personagens do cyberbullying satildeo os praticantes e as pessoas escolhidas como
alvo (as denominadas viacutetimas) Poucos estudos como os Allison e Bulsey (2016) e Desmet et
al (2016) analisaram a figura dos espectadores (testemunhas) e seu papel na manutenccedilatildeo do
ciclo de violecircncia e propagaccedilatildeo do cyberbullying Allison e Bulsey (2016) identificaram quais
os fatores que influenciam as respostas das testemunhas aos atos de cyberbullying
Concluiram que os espectadores satildeo importantes no cyberbullying pois eles tem ―o pontecial
de alterar a situaccedilatildeo ao intervir mas a maioria das testemunhas permanece passiva (pg183)
Outro estudo indica que os espectadores seriam capazes de determinar qual o potencial de
extensatildeo que um episoacutedio de cyberbullying pode ter ao compartilhar curtir comentar um ato
de violecircncia nestes moldes Runions Bak (2015)
Haacute divergecircncia na literatura analisada com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que perpassa o
cyberbullying A maioria reduz o debate agrave variaacutevel ―sexo buscando saber se meninos ou
meninas satildeo os maiores viacutetimas ou agressoras ou quais deles sofreriam mais as
consequecircncias do cyberbullying (Bauman 2013 Baldry Farringtone Sorrentino 2015)
Bauman et al (2013) identificaram na literatura casos de pessoas do sexo masculino que ao
mesmo tempo que eram praticantes de cyberbullying e de bullying Para outros estudos
pessoas do sexo feminino estariam mais envolvidas em cyberbullying e os meninos em
situaccedilotildees de bullying8 Isso sem considerar a orientaccedilatildeo sexual desses indiviacuteduos ou sua
8 A literatura apresenta recorrente associaccedilatildeo entre cyberbullying e bullying
61
posiccedilatildeo de gecircnero Bailey (2013) alega haver dissenso sobre os rapazes serem os maiores
causadores de cyberbullying
Por outro lado muitos autores acabam por reforccedilar estereoacutetipos de gecircnero de forma
acriacutetica No estudo Dooley Pyżalski Cross (2009) as garotas teriam maior interesse com a
aparecircncia sauacutede enquanto garotos estariam mais implicados com jogos on-line Tal texto
reproduz uma leitura de gecircnero onde meninas tendem a ter laccedilos de amizades mais intensos
compartilhando conteuacutedos iacutentimos e segredos pessoais principalmente atraveacutes de mensagens
de texto jaacute meninos socializam nas redes sociais em maiores grupos e compartilham menos
detalhes pessoais Chibbaro (2007) destaca estudo que afirma que a maioria (53) das
meninas sofreu cyberbullying de conhecidos como colega da escola seguido de amigo e em
um nuacutemero menor o irmatildeo foi o causador do ato Alim (2016) baseado no site
NoBullyingcom afirma que as meninas satildeo duas vezes mais causadoras de Cyberbullying do
que os meninos porque meninos seriam mais agressivos em termos fiacutesicos enquanto que
meninas tendem a ser mais ―silenciosas quando querem atingir algueacutem por vezes quando
intimidam o fazem em seacuterie Na mesma linha sexista estudos como de Chan e Wong (2015)
alegam que garotos satildeo os maiores perpetradores por serem mais haacutebeis no uso de tecnologias
do que as garotas
Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem houve dissenso A maior incidecircncia estaacute entre os
adolescentes e os casos diminuem na fase universitaacuteria (Antoniadou Kokkinos 2015)
Segundo Suzuky et al (2014) as meninas seriam as maiores acometidas poreacutem entre 15 e 17
anos a incidecircncia eacute muito maior do que entre jovens de 12 e 14 anos Para Hamn et Al (2015)
o fator idade natildeo eacute determinante para ser alvo de Cybebullying
Para Alim (2016) haveria um recorte de condiccedilatildeo social pois os que mais sofreriam
seriam pessoas oriundas dos estratos de baixa renda
62
Da mesma forma natildeo haacute uma concordacircncia na literatura sobre o recorte eacutetnicoracial
Estudantes brancos satildeo considerados maiores perpetradores do que outras categorias eacutetnicas
(Ham et al 2015 Peterson M B Peterson 2014) O estudo de Peterson e Peterson (2014)
foi o uacutenico que objetivou examinar possiacuteveis ligaccedilotildees entre comportamentos de ciberbullying
e grupos eacutetnicos especiacuteficos Essa lacuna parece evidenciar que se desconsidera que a
discriminaccedilatildeo por etniacor da pele pode gerar experiecircncias de cyberbullying Para Peterson e
Peterson (2014) alguns aspectos precisam ser analisados tais como o perfil populacional das
pessoas que utilizam TICs a escassez de estudos que analisam especificamente o quesito
raccedilacor bem como o territoacuterio em que esses estudos estatildeo sendo produzidos e onde esses
dados de amostras estatildeo sendo coletas
Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos
As psicopatologias estatildeo entre as principais implicaccedilotildees agrave sauacutede dos envolvidos nas
praacuteticas de cyberbullying (Reed et al 2016 Foody Samara Calbring 2015 Arsegravene
Raynaud 2014 Pearce 2011)
Os principais agravos listados para os que sofrem foram insocircnia depressatildeo baixo
rendimento escolar ou baixa concentraccedilatildeo (Couvillon Illieva 2011) Jaacute Burnett Yozwiak e
Omar (2013) apresentam estudos que afirmam que pessoas que sofrem Cyberbullying tem
menos horas de sono e menos apetite do que pessoas que sofreram outras formas de violecircncia
Bailey31
ao analisar a Child Behavior Checklist (CBC) inclusa em um dos estudos verificados
indicou que aqueles assediados por conhecidos tambeacutem eram mais propensos a relatar
maiores conflitos com os pais casos de abuso fiacutesico ou sexual vitimizaccedilatildeo interpessoal off-
line e comportamento agressivo aleacutem de outros problemas sociais (pg 2)
63
Aquele que eacute intimidado com cyberbullying teria aproximadamente oito vezes mais
chances de levar uma arma para escola do que outros estudantes que natildeo tiveram essa
experiecircncia (Burnett Yozwiak Omar 2013) Grande parte dos estudos considera ainda que o
cyberbullying estaacute associado agrave depressatildeo uso de drogas ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio estresse
solidatildeo e ansiedade (El Asam Samara 2016 Hinduja S Patchin 2011 Gini G Espelage
2014) com consequecircncias psiquiaacutetricas que afetam a sauacutede mental e o desenvolvimento
escolar (Carpenter Hubbard 2014) principalmente dos adolescentes que satildeo alvo A busca
por experiecircncias de risco ―viacutecio no uso de internet solidatildeo e o suiciacutedio satildeo alguns dos
fatores psicoloacutegicos para ambos os personagens (viacutetimas e agressores) sendo que para os que
praticam os fatores estariam interligados entre si (Alim 2016) Natildeo encontramos subsiacutedios
que fundamente os impactos da sauacutede dos espectadores
DISCUSSAtildeO
A escassez de estudos que refletem sobre a contextualizaccedilatildeo do cyberbullying na
cibercultura (Stylios et al 2016 Roger e Salgado 2016 Castro Schreiber Antunes 2015
Nocentini Zambuto e Menesini 2015) e nos seus modos de socialidade foi o aspecto mais
marcante nesta revisatildeo de revisotildees Como discutir um fenocircmeno sem relacionar ao seu
contexto sociocultural de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo Eacute preciso reconhecer que a juventude que
vivencia o cyberbullying eacute em boa parte ―nativa digital implicando o domiacutenio de
comportamentos e gramaacuteticas proacuteprias aleacutem desse espaccedilo de convivecircncia ser estrateacutegico agraves
afirmaccedilotildees identitaacuteria desse segmento (Brown Jackson E Cassydy 2006 Wendt e Lisboa
2014)
Percebe-se que apesar da redundacircncia conceitual houve um avanccedilo expressivo na
busca por aprofundar as especificidades caracteriacutesticas do Cyberbullying Salienta-se ainda a
64
peculiaridade no cyberbullying da expansatildeo exponencial do puacuteblico de expectadores no que
tange agrave disseminaccedilatildeo do conteuacutedo ofensivo e por tempo indeterminado - elementos que
desafiam o trabalho de promoccedilatildeo de resiliecircncia aos que sofreram tais praacuteticas Uma pessoa
pode ser estigmatizada por um longo periacuteodo agrave medida que esse conteuacutedo natildeo pode ser
apagado facilmente como nos casos de sexting em que o conteuacutedo fica disponiacutevel em
buscadores associados ao nome da pessoa que sofreu a violecircncia Uma vez que o
Cyberbullying pode ocorrer em qualquer tempo e territoacuterio e se dispotildee de mecanismos de
ocultaccedilatildeo de conteuacutedos e torna mais difiacutecil a detecccedilatildeo preacutevia por parte dos adultos e
responsaacutevies
Em relaccedilatildeo aos aspectos de gecircnero destacamos a revisatildeo de Chan e Wong (2015) que
analisou as taxas de prevalecircncia de bullying e cyberbullying a respeito das caracteriacutesticas dos
praticantes e intimidados e em que circunstacircncias a accedilotildees eram descritas na China Taiwan
Hong Kong e Macau Percebemos um discurso sexista9 quando os autores fazem um recorte
de gecircnero em sua anaacutelise e como exemplos mencionam no estudo que em Taiwan um dos
fatos de meninos serem os maiores intimidadores se justificaria por uma maior habilidade no
uso de tecnologias Apesar da questatildeo cultural ser evidente favorece a interpretaccedilotildees de que
as adolescentes do sexo feminino natildeo teriam habilidades com tecnologias se comparada aos
adolescentes do sexo masculino natildeo refletindo sobre o tipo de acesso que as meninas
possuem aos meios tecnoloacutegicos culturais e educacionais em paiacuteses onde o homem eacute
considerado superior Outro registro sexista aparece no estudo de Chisholm (2014) que
defende que meninas tendem a se envolver em agressatildeo indireta social e relacional como no
cyberbullying para excluir pessoas em redes sociais e espalhar rumores A natureza
9 Um discurso sexista declara em seu posicionamento que determinado papel eou estereoacutetipo de gecircnero ou sexo
eacute superior que o outro Pode ser inclusive configurado como preconceito e discriminaccedilatildeo com base nesses
marcadores sociais (sexo ou gecircnero)
65
―competitiva das mulheres foi um aspecto destacado por Wingate (2013) ao corroborar a
ideia que as garotas estariam mais envolvidas com praacuteticas de cyberbullying relacionais
Por fim notamos tambeacutem que eacute consensual o reconhecimento de impactos na sauacutede
psiacutequica e no cotidiano escolar dos intimidados e apenas um pequeno grupo reconhece que
existem impactos entre os intimidadores No contexto da Sauacutede o tema ainda eacute recente e
pouco disseminado anunciando um longo percurso a ser percorrido no sentido de sua
compreensatildeo e de posicionamento do campo Jaacute no contexto da Educaccedilatildeo o tema comeccedilou a
ser discutido anteriormente o que pode ser atribuiacutedo agrave recorrente correlaccedilatildeo com o bullying
que perpassa o cotidiano da escola
Artigo 2
4CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA O CAMPO
DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE LITERATURA (natildeo submetido)
RESUMO
O presente estudo propotildee uma revisatildeo criacutetica de estudos sobre o cyberbullying com recorte
temporal entre os anos de 2006 e 2016 Os objetivos deste estudo foram analisar as propostas
de enfrentamento sugeridas para os setores da sauacutede e educaccedilatildeo (atores implicados e
estrateacutegias sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de
enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno Os resultados foram discutidos com base na anaacutelise
de discurso criacutetica proposta por Norman Fairclough Identificou-se na literatura revisada uma
maioria de accedilotildees baseadas na proposta de monitoramento e controle parental e escolar
discursos que propotildee praacuteticas no intuito de gerar uma mudanccedila no comportamento dos
66
indiviacuteduos envolvidos com o cyberbullying e propostas que expressam forte
intertextualidade manifesta do saber meacutedico
Palavra-chave Cyberbullying violecircncia intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo sauacutede e educaccedilatildeo
ABSTRACT
The present study proposes a critical review of studies on cyberbullying with temporal cut
between 2006 and 2016 The objectives of this study are to analyze the proposed proposals
for sectors of Health and Education (implicated actors and suggested strategies) and analyze
the discourses on prevention accountability coping methods and dynamics of the
phenomenon The results were discussed on the basis of critical discourse analysis proposed
by Norman Fairclough It was identified in the reviewed literature a majority of actions
based on the parental and school monitoring and control proposal discourses that proposes
actions aimed at changing the social behavior of individuals involved with cyberbullying and
proposals that express a strong intertextuality of medical knowledge
Key-words Cyberbullying violence intervention prevention health and education
INTRODUCcedilAtildeO
A virtualizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais trouxe profunda transformaccedilatildeo para a
sociabilidade contemporacircnea permitindo que novos espaccedilos de trocas de informaccedilotildees e que
relaccedilotildees comerciais esteacuteticas e afetivo-sexuais fossem constituiacutedas a partir das tecnologias de
comunicaccedilatildeo digital (Castells 2003) No ciberespaccedilo esse novo espaccedilo de interaccedilatildeo os
viacutenculos sociais se estabelecem atraveacutes da internet ganhando assim nova capilaridade As
redes sociais e outros modelos de conexotildees surgem com uma identidade proacutepria que
legitimam uma cultura peculiar a cibercultura ou cultura digital (Levy 2010) Entretanto
para alguns autores o conceito de cibercultura poderaacute cair em desuso visto que as relaccedilotildees
digitais possuem total interface com o cotidiano dos sujeitos sociais (Roger e Salgado 2016)
Martino (2015) ao tratar das caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais afirma que na
cultura digital os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos estabelecidos
conforme a necessidade de um momento e a seguir desmanchados As relaccedilotildees digitais
permitem a disseminaccedilatildeo imediata e sem fronteiras geograacuteficas de informaccedilotildees e saberes de
apoio aleacutem de permitir trocas diversas (afetivas comerciais intelectuais) de favorecer ao
67
associativismo e possibilitar a organizaccedilatildeo de grupos em torno de vivecircncias comuns agendas
e pautas de atuaccedilatildeo (Lemos 2015) Todavia pode contribuir tambeacutem para que praacuteticas de
violecircncia sejam produzidas e disseminadas no ambiente virtual
O Cyberbullying representa uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se manifesta
atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica entre pares nas ambiecircncias das redes de
socialidade digital que podem ocorrer em qualquer espaccedilo geograacutefico Eacute considerado por
diferentes estudiosos como um problema de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede emocional de
crianccedilas e adolescentes (Brown Jackson e Cassidy 2006 Carpenter e Hubbard 2014 Nixon
2014 Bottiono et al 2015 Yang 2016)
Partimos do entendimento que o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se
apresenta sob as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode
repercutir para aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em consequecircncias praacuteticas e
reais no cotidiano e individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)
O cyberbullying se configura ainda como um tipo de representaccedilatildeo e praacutetica social no
ambiente virtual (traduzido no Brasil como Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica) Tal traduccedilatildeo brasileira
ocorreu a partir da Lei 1318515 (BRASIL 2015) que estabeleceu o Programa Nacional de
combate agraves formas de Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica entre elas a que ocorre na rede mundial de
computadores
O tema cyberbullying vem sendo discutido de forma ampliada pela literatura
internacional ao longo das uacuteltimas deacutecadas (Garaigordobil 2011 Torres e Marcieles 2012
Della Ciopa et al 2015) Embora geralmente associada ao tema Bullying (possuidor de um
arcabouccedilo teoacuterico consolidado) a temaacutetica vem ganhando lentamente espaccedilo na literatura
cientiacutefica brasileira O fenocircmeno do Cyberbullying tem tido destaque nas miacutedias
especialmente em casos cujas repercussotildees satildeo de extrema violecircncia como os assassinatos em
seacuterie eou suiciacutedio Todavia haveria uma desconexatildeo significativa entre o que o puacuteblico
precisa saber e o que eacute realmente conhecido sobre o fenocircmeno cyberbullying (Carpenter e
Hubbard 2014)
Muitos programas e propostas de intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo surgiram nos uacuteltimos anos
mas estudos que analisam o conjunto dessas propostas ainda satildeo escassos Segundo Wendt e
Lisboa (2014) ―se faz urgente e necessaacuteria uma maior compreensatildeo acerca desse fenocircmeno
para que seja possiacutevel o desenho de accedilotildees preventivas e interventivas eficazes (pag42)
68
Este estudo pretende portanto analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela
comunidade cientiacutefica sobre as propostas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo de cyberbullying a
serem aplicadas no campo da Sauacutede e da Educaccedilatildeo
Os objetivos propostos para este trabalho foram analisar as propostas de
enfrentamento sugeridas para os setores da Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores implicados e estrateacutegias
sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo e modos de
enfrentamento Partindo desse recorte analiacutetico tratamos das seguintes questotildees
investigativas Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees
propostos pela literatura sobre cyberbullying Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a
questatildeo da sociabilidade virtual juvenil Qual o papel dos educadores diante de casos de
cyberbullying Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullying O que
fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying
METODOLOGIA
Como meacutetodo investigativo optou-se por uma revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo
criacutetica (critical review) Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a
literatura sobre um tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias
(Grant 2014) Uma revisatildeo criacutetica tem sua relevacircncia por sua capacidade de destacar
problemas discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute
confiaacutevel (Paregrave et al 2015) Assim como as revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem
adotar diferentes meacutetodos de anaacutelise sejam com vieacutes interpertativo como nos casos das
siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica ou ateacute mesmo os de recorte mais
positivista como a anaacutelise de conteuacutedo em sua vertente quantitativa
Foram consultadas sete bases internacionais - Scielo BVS Scopus PubMed
American Psychological Association Eric e Applied Social Sciences Index and Abstracts-
durante o mecircs de fevereiro do ano de 2017
Inicialmente iriacuteamos realizar uma revisatildeo do tipo integrativa todavia durante a busca
inicial aplicamos o termo cyberbullying em todos os campos (all fields) e obtivemos o
resultado de 7785 artigos Durante o levantamento de dados buscamos pelo termo
―cyberbullying atraveacutes do Medical Subject Headings (MeSH) e constatamos apenas a
presenccedila do termo bullying (httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying)
Verificou-se assim que o tema cyberbullying era tratado como subitem ou tema secundaacuterio
69
em estudos sobre o bullying O que pode estar ligado ainda agrave ideacuteia de que bullying e
cyberbullying seriam o mesmo fenocircmeno poreacutem ocorrendo em ambientes diferentes Assim
com a primeira busca usando o descritor cyberbullying em todos os campos surgiram 7785
artigos
No intuito de recortar e permitir maior aprofundamento analiacutetico do acervo optou-se
por trabalhar apenas com estudos de revisatildeo Foram selecionados apenas estudos cujo termo
―cyberbullying estava no tiacutetulo e ―revisatildeo presente em todos os campos Aplicaram-se ainda
criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para acesso livre
acervo cinza dissertaccedilotildees monografias - o que resultou em 301 artigos Posteriormente
foram identificados 156 artigos em duplicidade que natildeo haviam sido contabilizados pelo
gerenciador de referecircncia MENDLEY por limitaccedilatildeo do programa Entre essas duplicidades
natildeo identificadas pelo programa encontraram-se estudos registrados em escrita por caixa alta
eou por traduccedilatildeo de texto para o idioma inglecircs nos casos em que o estudo original era em
outro idioma como espanhol ou francecircs ou quando havia subtraccedilatildeo de algum dos autores
tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al Foi gerado um acervo de 145
artigos e um novo refinamento estabeleceu um recorte temporal visando analisar apenas
publicaccedilotildees datadas dos anos de 2006 ateacute 2016 de modo a apreender como o tema veio sendo
discutido ao longo da uacuteltima deacutecada resultando em 72 artigos de revisatildeo Desse nuacutemero
apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo este o acervo analisado nesta obra
Migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias ZOTERO por ser um programa open
sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em
portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos salvos nos mais distintos
formatos
Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de
praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos
discursos adotados nos estudos analisados Assim analisamos quais accedilotildees estatildeo sendo
propostas partir dos discursos construiacutedos O modelo proposto por Fairclough para a Anaacutelise
do Discurso Criacutetica (ADC) demanda analisar o que o autor denomina de concepccedilatildeo
tridimensional pois propotildee examinar a praacutetica social dos discursos a praacutetica discursiva
presente no estudo e a proacutepria conformaccedilatildeo do texto
A anaacutelise da praacutetica discursiva segundo Fairclough (2001) permite explicar como os
discursos satildeo produzidos distribuiacutedos consumidos e interpretados explorando assim as
70
possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva inclui categorias analiacuteticas como a forccedila
coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos
de fala que o texto realiza (o que o texto evoca) a coerecircncia trata do sentido que o texto
possui (para quem faz sentido qual a loacutegica das marcaccedilotildees e conexotildees) a intertextualidade ―eacute
basicamente a propriedade que tecircm os textos de serem cheios de fragmentos de outros textos
permitindo reconstituir as influecircncias daquele discurso (Fairclough 2001) A categoria
intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta
aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de
textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que Fairclough vai chamar de
interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A
praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto Tratar a dimensatildeo do
discurso como praacutetica social implica reconhecer a produccedilatildeo de efeitos ideoloacutegicos e
hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees
econocircmica cultural e ideoloacutegica Satildeo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo de
identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas de
crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente
Nessa perspectiva todo o discurso possui uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir
uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma
determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir
modos de ver e se portar numa dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de
relaccedilotildees sociais
Nossa anaacutelise focou nas dimensotildees textuais (gramaacutetica e figuras de linguagem) e
categorias da praacutetica discursiva com enfoque na intertextualidade (manifesta e constitutiva)
Buscamos analisar o que os textos tecircm evocado a partir dos conceitos estabelecidos ou
ratificados pela comunidade cientiacutefica cuja escrita exerce um poder que influi na praacutetica
social
CARACTERIZACcedilAtildeO DO ACERVO
Cada texto foi lido integralmente e os temas de interesse do estudo (estrateacutegias de
prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo) foram identificados comparados e
interpretados
71
Como pode ser visto no quadro 1 os EUA foi o paiacutes que mais publicou estudos sobre o tema
e o que possui o maior nuacutemero de revistas cientiacuteficas que abordou o assunto no periacuteodo
analisado O que demonstra um maior investimento na produccedilatildeo cientiacutefica dos EUA e a
relevacircncia do tema para a comunidade cientiacutefica do paiacutes supracitado A Agression and Violent
Behavior foi a revista estadunidense que mais publicou sobre o tema (8) seguida da
Computers in Human Behavior (5) do Reino Unido - ambas revistas classificadas como
intermultiprofissionais A revista Preventing School Failure Alternative Education for
Children and Youth do setor educaccedilatildeo publicou trecircs artigos e do setor sauacutede a revista alematilde
International Journal of Adolescent Medicine and Health teve duas publicaccedilotildees
Quadro 4 ndash Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de
Cyberbullying (2010-2016)
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
1 Canadian Journal of
Educational
Administration and
Policy
1
Educaccedilatildeo
Canadaacute
2 Journal of Child and
Adolescent
Psychiatric Nursing
1 Sauacutede EUA
3 Adolescent Health
Medicine and
Therapeutics Journal
1 Sauacutede Reino Unido
4 World Medical amp
Health Policy
1 Sauacutede EUA
5 International Journal
of Psychology and
1 Sauacutede Espanha
72
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
Psychological
Therapy
6 Psicologiacutea desde el
Caribe
1 Psicologia Colombia
7 Agression and
Violent Behavior
08 Intermultidisciplar EUA
8 Computers in
Human Behavior
5 Intermultidisciplar Reino Unido
9 International Journal
of Adolescent
Medicine and Health
2 Sauacutede Alemanha
10 International Journal
of Cyber Behavior
Psychology and
Learning
1 Intermultidisciplar EUA
11 Neuropsychiatrie de
llsquoEnfance et de
llsquoAdolescence
1 Sauacutede Franccedila
12 Australian
Education
Computing
1 Educaccedilatildeo Austraacutelia
13 Current Issues in
Middle Level
Education (CIMLE)
1 Educaccedilatildeo EUA
14 Journal Theory Into
Practice
1 Educaccedilatildeo EUA
15 Journal of
Adolescent Health
1 Sauacutede EUA
73
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
16 Journal of Research
in Special
Educational Needs
1 Educaccedilatildeo Gratilde Bretanha
17 Temas em
Psicologia
1 Sauacutede Brasil
18 Boletim Academia
Paulista de
Psicologia
1 Sauacutede Brasil
19 Children and Youth
Services Review
1 Intermultidisciplar EUA
20 Psychological
Bulletin
1 Sauacutede EUA
21 International Journal
of Adolescence and
Youth
1 Intermultidisciplar Reino Unido
22 Clinical Practice amp
Epidemiology in
Mental Health
1 Sauacutede Emirados Aacuterabes Unidos
23 Journal of Education
and Training Studies
1 Educaccedilatildeo EUA
24 Social Influence
Journal
1 Intermultidisciplar Reino Unido
25 Journal of
Information Systems
Education
1 Educaccedilatildeo EUA
26 Professional School
Counseling Journal
1 Educaccedilatildeo EUA
27 School Psychology 1 Educaccedilatildeo EUA
74
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
International
28 Emotional and
Behavioural
Difficulties
1 Intermultidisciplar Reino Unido
29 Gifted Education
International
1 Educaccedilatildeo EUA
30 Internet
Interventions
1 Sauacutede EUA
31 Preventing School
Failure Alternative
Education for
Children and Youth
3 Educaccedilatildeo
32 JAMA - Journal of
the American
Medical Association
1 Sauacutede EUA
33 Revista de
Psicologia Cliacutenica
1 Sauacutede EUA
34 School Psychology
International
1 Educaccedilatildeo EUA
35 LEnceacutephale 1 Sauacutede Franccedila
36 Journal of Human
Behavior in the
Social Environment
1 Serviccedilo Social
37 Australian Journal
of Guidance and
Counselling
1 Educaccedilatildeointerdisciplinar Inglaterra
38 Alberta Journal of
Educational
1 Educaccedilatildeo Canadaacute
75
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
Research
39 Nova Science
publishers
1 Educaccedilatildeo EUA
40 Psychiatric
Quarterly
1 Sauacutede EUA
41 Education Diggest 1 Educaccedilatildeo EUA
42 ACM ndash Association
for Computing
Machinery
1 Intermultidisciplar EUA
43 Psychology in the
Schools
1 Educaccedilatildeointerdisciplinar EUA
TOTAL 57
ESTRATEacuteGIAS DE PREVENCcedilAtildeO
Organizamos a apresentaccedilatildeo dos resultados em blocos temaacuteticos identificando seu
setor de origem (Educaccedilatildeo Sauacutede) entendendo que tais propostas possuem uma
especificidade disciplinar e mesmo discursiva Analisamos as possiacuteveis ambiguidades
contradiccedilotildees bem como os tipos de argumentos sobre prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo produzidos
nesses textos Todavia independente da origem boa parte do acervo apresentou evocacccedilotildees
discursivas a accedilotildees ―coletivas e interdisciplinares reconhecendo ser essencial que os
esforccedilos sejam sineacutergicos entre escola famiacutelia e sociedade devendo incluir accedilotildees preventivas
de modo a atuar em situaccedilotildees geneacutericas conduzidas para qualificar as relaccedilotildees sociais
prevenir as agressotildees online e buscando evitar novos episoacutedios de cyberbullying
Para Baek e Bullock (2013) apesar dos muitos estudos sobre cyberbullying haveria
uma lacuna de produccedilotildees que tragam uma perspectiva internacional sobre como o tema vem
76
sendo discutido pelo mundo Entre os estudos analisados pelos autores que abordam sobre
prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo tais programaspropostas podem ser divididas nas categorias leis e
poliacuteticas abordagens educacionais esforccedilos das escolas e papeacuteis dos pais Entretanto nesses
moldes de classificaccedilatildeo identificamos ambiguidades sobre o papel dos pais poliacuteticas de
enfrentamento e no que tange aos modus operandi dos programas mencionados pois ora satildeo
apresentados como propostas punitivas ora apresentam um vieacutes reflexivo numa perspectiva
de cultura de paz ou de copinglsquo
As contribuiccedilotildees associadas agrave Educaccedilatildeo agrave Sauacutede e de origem Interdisciplinar
identificadas nete estudo se caracterizaram por defender estrateacutegias preventivas baseadas 1
no controle e monitoramento das atividades online praticadas pelos jovens 2 no
estreitamento de viacutenculos entre profissionais da rede escolar e alunos e entre pais e jovens
3e na disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo e campanhas sobre cyberbullying bem como na
capacitaccedilatildeo de profissionais pais e alunos sobre o tema Por fim elencamos mais uma
categoria discursiva organizadora do acervo que trata dos fatores que levariam a ecircxitos e
fracassos das propostas de prevenccedilatildeo (4)
Controle e monitoramento
As estrateacutegias de prevenccedilatildeo baseadas na perspectiva de controle e monitoramento
foram as mais comuns As revisotildees de Couvillon e Ilieva (2011) e Smith et al (2012)
sugerem por exemplo limitar o uso de celulares na escola Esse texto como em muitos
outros os nuacutecleos verbais satildeo evidentes em sua perfomatividade proibitiva (implementar
controlesrestringir acessoexcluir miacutedias)
―As escolas podem implementar controles sobre a miacutedia existente
restringindo o acesso agraves aacutereas de Internet em que o ciberbullying
provavelmente ocorreraacute (por exemplo salas de bate-papo miacutedias sociais
sites) e excluir a miacutedia natildeo necessaacuteria para a experiecircncia de aprendizagem
como celular Smith et al 2012 (pg 121)
Considerando que a sociabilidade digital jaacute estaacute engendrada no cotidiano de crianccedilas e
adolescentes alguns estudos revisados por Sabella et al (2013) ponderam que a tecnologia
aleacutem de ser uma ferramenta social e de educaccedilatildeo desligar o computador natildeo interrompe
muitas formas de cyberbullying
77
Foram poucos os tipos de estrateacutegias de prevenccedilatildeo direcionadas para o campo da
Sauacutede ou por ele propostas se comparados agrave diversidade de propostas da Educaccedilatildeo mas
dentre estas destacam-se as propostas relativas ao que os artigos nomearam como controle e
monitoramento das atividades online das crianccedilas e adolescentes Uma revisatildeo do campo da
sauacutede propocircs que psiquiatras ―eduquem os pais de adolescentes viacutetimas de cyberbullying
que ―informem sobre monitoramento e controle do uso de tecnologias (Korenis e Billick
2015) Reconhecemos aiacute a presenccedila de interdiscussividade com o discurso biomeacutedico
sugerindo a influecircncia da autoridade meacutedica sobre os pais mesmo diante de fatos relativos agrave
sociabilidade e de cunho comportamental Confirma-se o campo de exerciacutecio da biomedicina
para aleacutem das fronteiras cliacutenicas incorporando o manejo de questotildees da vida social
Outros estudos tambeacutem apresentaram o discurso do monitoramento e controle como
estrateacutegia ―essencial de prevenccedilatildeo com intertextualidade constituiacuteda de um enunciado que
reforccedila a necessidade de supervisatildeo das praacuteticas juvenis e controle parental (Garcia
Maldonado 2011 Perren et al 2012 Torres e Vivas 2012 Bailey 2013 Brunett et al 2013
Aresene e Raynaud 2014)
No que tange agraves propostas interdisciplinares voltadas para a ―proteccedilatildeo online
estudos sugerem a ―tutoria de atividades ―programas de seguranccedila na internet voltado para
pais professores comunidade escolar e alunos e ainda o desenvolvimento precoce de haacutebitos
relacionados ao ―uso seguro da internet para crianccedilas de modo a garantir a efetiva
―internalizaccedilatildeo desses comportamentos (Hanewald 2009 Wendt e Lisboa 2014 Ang
2015) Tal discurso de proteccedilatildeo eacute portador de ambiguumlidades ora propondo um
―acompanhamento (necessaacuterio para determinadas faixas etaacuterias) o que pressupotildee certa
agecircncia e autonomia dos meninos e meninas em navegar online bem como evoca a ideacuteia de
controle (antiacutetese da autonomia sugerida) como estrateacutegia de prevenccedilatildeo Poreacutem natildeo fica claro
como tais propostas consideram os princiacutepios de liberdade de expressatildeo privacidade e
autonomia das crianccedilas e adolescentes
Nesse sentido a literatura analisada sustenta enunciados que reforccedilam a ideacuteia de que
os pais devem ser informados sobre boas praacuteticas e riscos na internet inclusive os riscos do
cyberbullying aleacutem de ―ter conhecimento dos tipos de tecnologias que satildeo utilizadas pelos
jovens para assim supervisionar ―monitorar no sentido de participaccedilatildeo das atividades online
(Hanewald 2009 Bayley 2013 Burnett et al 2013 Arsene e Raynaud 2014) Outros autores
tentam atenuar o confronto entre autonomiamonitoramentocontrole com expressotildees do tipo
78
―monitoramento no sentido de participaccedilatildeo da navegaccedilatildeo em alguns sites e apresentam uma
coerecircncia textual para que natildeo haja maacute interpretaccedilatildeo por parte dos jovens por acharem que
haveria uma perda de autonomia para navegaccedilatildeo na web Ao mesmo tempo o trecho traz
como forccedila um discurso de direcionamento tanto para as crianccedilas e adolescentes quanto para
os pais sobre um modelo de ajuste das praacuteticas rotineiras para que as formas de
monitoramento sejam naturalizadas e inseridas no cotidiano com a justificativa de prevenir da
violecircncia virtual Tal discurso tem tambeacutem como perspectiva de accedilatildeo a participaccedilatildeo dos pais
no universo online de seus filhos propiciando assim novas possibilidades de interaccedilatildeo
familiar
Wendt e Lisboa (2014) afirmam que os jovens acreditam que os adultos natildeo sabem
lidar com o cyberbullying todavia sugerem que o monitoramento parental visto como ―fator
protetivo pode contribuir para um menor comportamento de risco para os jovens na internet
Outra reflexatildeo apontada nessa literatura eacute que conforme os adolescentes se desenvolvem e
passam a adquirir maior independecircncia em relaccedilatildeo aos pais estes uacuteltimos costumam ajustar as
praacuteticas de supervisatildeo permitindo maior liberdade ao adolescente
Jaacute Sabella et al (2013) assinalam que o controle parental natildeo eacute tarefa faacutecil visto que os
aparelhos eletrocircnicos da atualidade satildeo de uso individual Aleacutem disso os adolescentes teriam
mais expertise no uso de tecnologias do que os adultos (Sabella et al 2013)
Estreitamento de laccedilos
No cenaacuterio das propostas oriundas da Educaccedilatildeo o estreitamento de laccedilos entre
alunos e professores se mostrou como uma alternativa relevante como apontam Couvillon e
Ilieva (2011) que ressaltam a necessidade de se ―avanccedilar de modo a ampliar a relaccedilatildeo de
confianccedila apoio e instruccedilatildeo entre alunos professores e demais funcionaacuterios (pg97)
No que concerne aos laccedilos familiares assinalados como relevantes para as accedilotildees de
prevenccedilatildeo percebe-se que a literatura analisada natildeo sinaliza claramente se reconhece a
existecircncia de rearranjos familiares e novos modelos de famiacutelias de crianccedilas e adolescente que
vivenciam experiecircncias de cyberbullying sejam como perpetradores acometidos eou
expectadores pois as orientaccedilotildees sempre invocam os personagens ―pais desconsiderando
que o cuidado dos filhos ocasionalmente esteja sob responsabilidade de outro adulto ou
tutor
79
Assim algumas revisotildees apontaram que os pais teriam um papel significativo na
prevenccedilatildeo do cyberbulyying quando esses permitem que seus filhos acessem somente a sites
considerados ―apropriados Assim essa permissatildeo demonstraria uma forma de cuidado e
propiciaria um ―ambiente saudaacutevel para que os filhos se sintam seguros de falar sobre alguma
situaccedilatildeo de cyberbullying vivenciada (Smith et al 2012 pg 121) Mas como os pais
poderiam valorar qual o poder ofensivo de redes sociais que satildeo os endereccedilos virtuais mais
utilizados pelos jovens na contemporaneidade Em contraponto um estudo revisado por
Slonje et al (2013) que investigou jovens de 25 paiacuteses constatou que 77 das viacutetimas
contaram o problema para algueacutem 42 contaram para os pais 52 para um amigo 7 para
os professores
Wendt e Lisboa (2014) pontuam que a ecircnfase e atenccedilatildeo devem ser voltadas para a
qualidade da relaccedilatildeo entre pais e filhos tal como agrave coerecircncia entre as praacuteticas parentais
utilizadas e a abertura para o diaacutelogo e negociaccedilatildeo Ressaltam ainda que o tempo gasto na
internet prejudica a qualidade na convivecircncia familiar
Capacitaccedilatildeo sensibilizaccedilatildeo campanhas
No que concerne agrave capacitaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo sobre o problema a literatura
reforccedila que as escolas precisam incluir o tema em suas pautas poliacuteticas escolares de prevenccedilatildeo
e incluindo a conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar capacitando natildeo soacute os
professores que satildeo considerados imigrantes digitiais mas os alunos e demais profissionais da
escola promovendo assim um ambiente no qual o cyberbullying seja socialmente inaceitaacutevel
(Sabella et al 2013 Suzuky et al 2012 Smith et al 2012 Von Mareacutees Peterson 2012
Nosworty e Rinaldi 2013) Na revisatildeo de Sabella et al (2013) vemos a evocaccedilatildeo da ideia-
forccedila de conclamaccedilatildeo para que as escolas ampliem o conhecimento sobre poliacuteticas de bullying
e cyberbullying para ajudar a proteger os alunos e resguardar as escolas de sanccedilotildees legais
aleacutem de contribuir para o fortalecimento de viacutenculos no ambiente escolar e comunicaccedilatildeo
aberta entre os alunos
Ainda sobre tipos de prevenccedilatildeo nas escolas encontramos na literatura a proposta de
―capacitar os professores utilizando material com conteuacutedo objetivo e claro para que estes
tenham condiccedilotildees de entender o que representa o cyberbullying ―identificar casos seja
atraveacutes de manifestaccedilotildees psicopatoloacuteloacutegicas comportamentais ou ausecircncia escolar bem como
para o ―fortalecimendo de accedilotildees ciacutevicas no ambiente escolar que conscientizam de modo a
80
―contribuir para um ambiente harmocircnico e uma relaccedilatildeo de confianccedila entre esses atores
(Couvillon e Illieva 2011)
No campo da Sauacutede estudos apontaram a necessidade de campanhas de
conscientizaccedilatildeo para prevenir o cyberbullying (Mareacutees e Peterson 2012 Chisholm 2014) e
defendem que profissionais de sauacutede que trabalhem ou natildeo nas escolas deveriam ―capacitar
alunos e pais Enfatizam a importacircncia de instruir para o desenvolvimento de habilidades
emocionais de modo a reduzir comportamentos impulsivos agressivos e encorajar crianccedilas e
adolescentes a desenvolverem empatia e controlar a raiva utilizando teacutecnicas de ―auto-gestatildeo
emocional ou resiliecircncia (Von Mareacutees e Peterson 2012 e Suzuky et al 2012) O estudo de
Suzuky et al (2012) considera relevante que pais sejam conscientizados por conselheiros
escolares ou profissioanis de sauacutede sobre os problemas que o cyberbullying pode acarretar
Aresene e Raynaud (2014) destacaram a presenccedila recorrente de campanhas
governamentais a niacutevel nacional na Franccedila especiacuteficamente realizada por profissionais de
Sauacutede Puacuteblica chamando a atenccedilatildeo sobre o protagonismo do Setor nesse paiacutes frente ao tema
se comparados a outros campos como a Educaccedilatildeo
A disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees foi um tipo de prevenccedilatildeo sugerida Algumas
propostas relevantes foram destacadas para o setor Sauacutede Puacuteblica como a criaccedilatildeo de material
informativo com enfoque na prevenccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas escolares que alcance
municiacutepios e estados com base em resultados de pesquisas (Gaacutercia Maldonado et al 2011
Kowalski et al 2014)
Ecircxitos e fracassos
Brown et al (2006) ressaltam que a literatura sugere como estrateacutegia de prevenccedilatildeo
primaacuteria que ―explorem a mentalidade digital como uma tarefa de poliacutetica escolar ou seja
que ―criem sites com uma linguagem digital apropriada para ―falar com os grupos de pares
utilizem desse mecanismo como estrateacutegia para que crianccedilas e adolescentes se relacionem e se
expressem nessa rede social escolar Tal literatura apresentou um discurso constitutivo que
propotildee mudanccedila de comportamento de alunos envolvidos em cyberbullying Quando se
propotildee a falar a linguagem dos nativos digitaislsquo essa estrateacutegia utiliza do convencimento para
propor intencionalmente um novo modelo de relaccedilotildees interpessoais desses jovens
81
Os autores mencionam a importacircncia de considerar as dinacircmicas sociais que
circundam a cibercultura como uma base para que praacuteticas positivas sejam desenvolvidas
Propor programas de acordo com a cultura local de um paiacutes ou regiatildeo foi visto como uma
accedilatildeo coerente ao inveacutes de copiar propostas de accedilatildeo jaacute existentes em outros paiacuteses De acordo
com um estudo grego embora haja uma seacuterie de programas de conscientizaccedilatildeo e material
relacionado a maioria dos programas foi projetada a partir de programas europeus muitas das
vezes ignorando que para aumentar a possibilidade de eficaacutecia de um programa de
intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio sua adaptaccedilatildeo agraves necessidades e cultura do paiacutes (Antoniadou e
kokkinos 2013) Percebe-se neste contexto a denuacutencia sobre uma certa dominaccedilatildeo ideoloacutegica
de modelos que satildeo exportados de paiacuteses ―centrais que desconsidera aspectos importantes
como a especificidade da cultura de determinada regiatildeo a forma como os jovens interagem
nos meios digitais e como vivenciam as praacuteticas de violecircncia nessa acircmbiencia
Um estudo revisado por Slonje (2013) apontou que satildeo razoaacuteveis as taxas de sucesso
dos programas escolares de prevenccedilatildeo ao bullying Os autores acreditam que os programas de
prevenccedilatildeo ao bullying podem ser ampliados sem a necessidade de grandes alteraccedilotildees
incluidno a demanda do cyberbullying Assim seria um componente de uma poliacutetica anti-
bullying em toda a escola com accedilotildees de conscientizaccedilatildeo e atividades nesse aspecto poderiam
ser incluiacutedas no curriacuteculo escolar
Programas com vieacuteses punitivos voltados para que perpetradores ―tirem uma liccedilatildeo
sobre seus atos foram considerados ineficazes por parte da literatura Todavia haacute divergecircncia
no discurso sobre as abordagens punitivas no trato com o cyberbullying Segundo a revisatildeo de
Hanewald (2009) estudos consideraram a responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores e a criaccedilatildeo de
poliacuteticas que tratam sobre a questatildeo da violecircncia digital como fatores positivos que inibiriam
novas accedilotildees de cyberbullying Um estudo do campo da Educaccedilatildeo defende que a
judicializaccedilatildeo dos casos de cyberbullying eacute uma estrateacutegia negativa ―Os distritos escolares
devem considerar cuidadosamente as accedilotildees que as escolas podem realizar sem colocar nossa
juventude no sistema de justiccedila criminal (Bailey 2013 pg 6) Tal referecircncia conclama as
instituiccedilotildees escolares tomarem para si a responsabilidade de atuar de forma preventiva de
modo que natildeo seja necessaacuteria uma intervenccedilatildeo de cunho punitivo no acircmbito judicial com os
jovens envolvidos com o cyberbullying Outros textos trazem a mesma perspectiva
(Aboujaoude et al 2015 Alim 2016 Baek e Bullock 2014 Bailey 2013 Baldry et al 2015
Berne et al2013 Cantone et al 2015 Cassidy Faucher e Jackson 2013)
82
A criaccedilatildeo de leis punitivas dividiu os autores Uns consideram que tais normativas
serviriam de base tanto para prevenccedilatildeo quanto para o enfrentamento aleacutem de servir de
paracircmetro legal para possiacuteveis accedilotildees praacuteticas adotadas pelas escolas diante de tais situaccedilotildees
(Baek e Bullock 2013 Bailey 2013)
Por outro lado os programas de prevenccedilatildeo que propiciem uma cultura de paz foram
considerados como uma alternativa eficiente no enfrentamento ao cyberbullying(Cassidy et al
2012)
Por fim um estudo de Della Cioppa et al (2015) que analisou programas de
prevenccedilatildeo do cyberbullying revelou que a maioria desses programas natildeo transcende a escola
(por exemplo para a famiacutelia a miacutedia) - o que pode explicar porque poucos programas de
prevenccedilatildeo natildeo conseguiram reduzir a vitimizaccedilatildeo dos casos de cyberbullying
ESTRATEacuteGIAS DE ldquoINTERVENCcedilAtildeOrdquo
Verificamos no acervo deste estudo duas linhagens de intervenccedilatildeo propostas diante de
casos jaacute ocorridos a primeira toma o foco das accedilotildees realizadas por instituiccedilotildees e a segunda
voltada para o manejo de cunho individual cujas accedilotildees satildeo alinhadas agrave perspectiva de coping
(modos de lidar)
Respostas institucionais de intervenccedilatildeo
De acordo com a literatura estudada (Mason 2008 Garaigordobil 2011) as propostas
de intervenccedilatildeo devem inicialmente identificar os casos de cyberbullying e sinalizar possiacuteveis
estrateacutegias para evitar que essas praacuteticas de violecircncia se consolidem a partir de accedilotildees
especiacuteficas de intervenccedilatildeo que tenham enfoque individual e nos grupos de agressores Intervir
em situccedilotildees concretas de cyberbullying de sorte que se torne possiacutevel minimizar os impactos
dessa violecircncia sobre os acometidos ofertando apoio psicoteraacutepico e proteccedilatildeo agraves viacutetimas sem
desconsiderar accedilotildees junto ao puacuteblico de espectadores
No primeiro grupo estatildeo aqueles que corroboram a ideia que a proteccedilatildeo dos dados
digitais eacute uma forma de lidar com o cyberbullying Essa proteccedilatildeo de dados tem como objetivo
natildeo permitir que conteuacutedos de cunho pessoal sejam acessados e expostos sem o
consentimento do proprietaacuterio Salientamos o discurso evocado na revisatildeo de Ang (2015)
sobre a praacutetica social do exibinicionismo tatildeo naturalizada nas miacutedias sociais digitais Ang
identificou entre os estudos revisados por ele mecanismos de accedilatildeo pelo qual essa loacutegica
83
narcisista ao extremo poderia contribuir para praacuteticas de cyberbullying contra pessoas que natildeo
se encaixam em determinados padrotildees esteacuteticos O autor reflete ainda que o anonimato na
Internet poderia ―exacerbar o senso desses adolescentes de desrespeitar os outros com a
crenccedila de que a agressatildeo eacute ―razoaacutevel aceitaacutevel e justificaacutevel (pg 38) Os elementos
discursivos desse estudo trazem o modo de representaccedilatildeo dos jovens sobre o mundo e sobre
os outros enfatizando o exibicionismo e natildeo empatia com seus pares
Com relaccedilatildeo agraves implicaccedilotildees para a escola segundo a revisatildeo de Hinduja e Patchin
(2011) a escola e seus administradores teriam obrigaccedilatildeo legal de agir quando ocorre a
violecircncia fora da internet e dentro dela quando esses atores tiverem ciecircncia desses fatos Para
Castro Schneider (2015) a escola teria como funccedilatildeo social a co-responsabilidade nos casos de
cyberbullying devendo a direccedilatildeo acionar os pais os Conselhos Tutelares e outros oacutergatildeos de
proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente aleacutem de aconselhar as viacutetimas (Faucher et al 2015) os
perpetradores (Chibbaro 2015) e ensinar aos alunos qual a maneira mais adequada de
responder a episoacutedios de cyberbullying (Notar et al 2016) Espera-se ainda da escola que
capacite professores a terem uma escuta qualificada e que tenham um espaccedilo sigiloso como
referecircncia de apoio para os alunos para que se sintam seguros em compartilhar sobre situaccedilotildees
de cyberbullying (Wingate et al 2013) A literatura ainda sugeriu que as escolas devam criar
programas que melhorem o clima escolar e que contribuam para o desenvolvimento da
empatia e resoluccedilatildeo de conflitos Percebe-se que haacute uma tendecircncia nos textos em sugerir
modelos de condutas por parte das escolas de modo a criar protocolos de comportamentos
diante de situaccedilotildees de bullyingcyberbullying
Destaca-se neste bloco de informaccedilotildees o papel da escola no acircmbito interventivo a
ideia de que funcionaacuterios escolares terem autonomia de impor restriccedilotildees e disciplina caso
regras escolares sejam violadas pelos alunos (Mason 2008) Tal discurso apresenta uma forccedila
discursiva ao designar uma ordem social em ―impor restriccedilotildees por parte dos profissionais da
educaccedilatildeo
A escola eacute chamada a oferecer capacitaccedilatildeo para pais cujos filhos estejam
envolvidos com cyberbullying de modo que esse treinamento tenha um recorte interventivo
ao buscar trabalhar com o puacuteblico dos estudantes cyberagressores no sentido de instruir esses
uacuteltimos e informar sobre o problema
Outras accedilotildees foram destacadas como propostas de cunho didaacutetico de modo a incluir a
famiacutelia e a comunidade no processo de intervenccedilatildeo (Garaigordobil 2011) e monitorar as
84
atividades online feita pelos alunos (Cassidy et al 2013 Carpenter e Hubbard 2014) Essa
uacuteltima proposta coloca em questatildeo como jaacute discutido anteriormente regras de convivecircncia
que interferem na privacidade dos alunos aleacutem das formas de se relacionar na
contemporaneidade ateacute mesmo da individualidade e autonomia dos jovens de fazerem o uso
de seus pertences tecnoloacutegicos no ambiente escolar
Jaacute a revisatildeo de Wendt e Lisboa (2014) evidencia que a falta de diaacutelogo entre pais e os
jovens precisa ser foco de intervenccedilatildeo por parte de psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede
dado que a vulnerabilidade na comunicaccedilatildeo familiar representa um fator de risco no que tange
aos moldes que a violecircncia apresenta no meio digital Os autores percebem que haacute um
distanciamento cultural por parte de pais e professores Sugerem que programas de
intervenccedilatildeo direcionados pelas escolas poderiam desenvolver grupos de responsaacuteveis com
atividades luacutedicas que envolvam o uso das novas tecnologias de modo a propiciar um
compartilhamento de experiecircncias entre responsaacuteveis professores e os alunos Wendt e
Lisboa ainda recomendam que psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede ofertem suporte
emocional aleacutem de reflexotildees sobre os riscos e os benefiacutecios que as dinacircmicas digitais
oferecem na contemporaneidade Todavia identificamos um estudo que sugere a puniccedilatildeo com
o argumento de reparar o dano pelos maus atos praticados pelos filhos (Faushe et al 2015)
Accedilotildees interdisciplinares foram propostas como manejo de intervenccedilatildeo O estudo de
Gine e Espelage (2014) apesar de natildeo descreverem qual o papel de psiquiatras meacutedicos pais
e professores diante de casos de cyberbullying sugere que a intervenccedilatildeo por parte desses eacute
necessaacuteria para diminuir o risco de angustias que podem repercutir em suiciacutedio Neste caso o
discurso apresenta uma funccedilatildeo de linguagem identitaacuteria ao reconhecer o papel social desses
atores e a necessidade de sua atuaccedilatildeo Reed (2015) destacou a formulaccedilatildeo de programas de
intervenccedilatildeo com base em modelos jaacute existentes como uma estrateacutegia positiva designada para
intervir na depressatildeo de pessoas que vivenciaram o cyberbullying Outro modelo semelhante
visa agrave formaccedilatildeo de ciacuterculos restaurativos e grupos de reflexatildeo voltado para os agressores
mas com monitoramento das accedilotildees de cyberbullying por eles praticadas Tanto no que se
refere aos autores como aos acometidos a perspectiva de mudanccedila de comportamento adveacutem
de tratamento psicoloacutegico sem desconectar a oferta de aconselhamento Experiecircncias como
estas foram consideradas exitosas quando reproduzidas (Suzuky et al 2012 Sabella et al
2013 Slonje et al 2013)
85
Programas de conscientizaccedilatildeo tambeacutem foram considerados como accedilotildees de intervenccedilatildeo
cujos objetivos satildeo o de contribuir para a reduccedilatildeo do estresse imediato e ajudar a prevenir
consequecircncias de longo prazo bem como um mecanismo para denuacutencias anocircnimas aos canais
e oacutergatildeos de proteccedilatildeo (Garaigordobil 2011 Raskauskas e Ruyinh 2015)
Criar instrumentos para avaliar os riscos de um jovem sofrer cyberbullying tambeacutem foi
considerado pelos estudos como um instrumento de intervenccedilatildeo ao passo que permitiria a
criaccedilatildeo de novas estrateacutegias de accedilotildees (Baldry et al 2015) Entendemos que a criaccedilatildeo de
instrumentos para avaliaccedilatildeo traz como implicaccedilatildeo discursiva as maneiras de interpretar o
sentido de haver riscos de sofrer cyberbullying
Por fim um uacuteltimo grupo de propostas de intervenccedilatildeo se refere agrave criaccedilatildeo de leis
coibitivas da praacutetica de cyberbullying No que tange a legislaccedilatildeo a criaccedilatildeo de leis especiacuteficas
para lidar com cyberbullying abre margem para uma argumentaccedilatildeo de que se faz ―necessaacuteria
a criminalizaccedilatildeo do fenocircmeno como condiccedilatildeo efetiva para lidar com ele A anaacutelise dessas
propostas envolve a agurmentaccedilatildeo sobre execuccedilatildeo das leis podendo inclusive resultar em
accedilotildees paliativas aleacutem da presenccedila de um discurso apelativo de judicializaccedilatildeo das relaccedilotildees
sociais em conflito (Yan e Grinshteyn 2016)
Entendemos que as estrateacutegias relacionadas acima correspondem a accedilotildees de cunho
institucional e poliacutetico Natildeo encontramos modelos de intervenccedilatildeo especiacuteficos para o campo da
sauacutede
bdquoCoping‟ ndash o manejo individual
Os modelos de coping apresentados nos estudos analisados reportam a um manejo de
ordem psiacutequica e individual ofertando ainda a possibilidade de acionamento de outros sujeitos
como professores amigos e famiacutelia Natildeo estatildeo relacionados diretamente ao campo Educaccedilatildeo
mas ao manejo que prioriza a sauacutede mental dos indiviacuteduos
Apresentaremos a seguir as propostas de enfrentamento designadas pela literatura
como modelos de intervenccedilatildeo de ordem individual Verificamos que natildeo se trata propriamente
de modelos de intervenccedilatildeo mais sim de estrateacutegias de como lidar com o fenocircmeno Nesse
bloco ressaltam-se os modos de lidar que promovem resiliecircncia sugeridos a partir de
experiecircncias existentes ensinadas e replicadas ou seja sugestotildees de formas de prevenccedilatildeo de
86
novos agravos agrave sauacutede psiacutequica dos envolvidos com o cyberbullying ou ainda formas de
coping que supunham que a partir de determinado comportamento natildeo ocorram novos
episoacutedios do fenocircmeno Estrateacutegias de enfrentamento (coping) satildeo consideradas praacuteticas de
esforccedilos cognitivos e comportamentais para tratar das demandas peculiares e os objetivos
desses modos de lidar satildeo distintos e tomam por base o niacutevel de envolvimento desse sujeito
com a questatildeo do cyberbullying (no caso das viacutetimas) por exemplo o que vai determinar
quais os tipos e niacuteveis de estrateacutegias seraacute adotado para lidar como o cyberbullying (Castilho
2010 Bezzara in Veiga e Caetano 2014)
Como formas de coping satildeo discutidas o confronto a resoluccedilatildeo planejada do
problema a aceitaccedilatildeo o autocontrole a procura de ajuda a reavaliaccedilatildeo positiva da situaccedilatildeo o
distanciamento e fugaevitamento do problema (Serra 1987 Ribeiro e Rodrigues 2004)
O manejo utilizado por vitimados foi pontuado de forma recorrente pelos estudos
analisados Dentre as formas de lidar com o cyberbullying estatildeo informar algueacutem sobre o
ocorrido evitar a pessoa que praticou o cyberbullying revidar a accedilatildeo de alguma maneira
bloquear certas pessoas de contato on-line alterar senhas e nome de usuaacuterio excluir
mensagens anocircnimas sem ler evitar socializar abertamente o nuacutemero de celular rastrear
nuacutemero de IP do agressor e informar aos canais de atendimento de sites de relacionamentos
sobre a ocorrecircncia de atos de cyberbullying trocar nome e nuacutemero de telefone caso se sinta
ameaccedilado (Slonje et al 2013 Nixon 2014) Poreacutem eacute prematuro dizer que tais
comportamentos possam impedir um indiviacuteduo de vivenciar tal experiecircncia muito menos dar
conta da dimensatildeo exponencial que o cyberbullying pode alcanccedilar Entendemos que haveria
um discurso de intencionalidade devido agrave forccedila dos verbos utilizados bloquearlsquo alterarlsquo
rastrearlsquo revidar Ao fazer uso de tais verbos o discurso produz um sentido de proposiccedilatildeo
de construccedilatildeo de praacuteticas ativas que confrontem as accedilotildees de cyberbullying vivenciadas pelos
acometidos
Verifica-se que satildeo muacuteltiplas as formas de copinglsquo sinalizadas pelo acervo analisado
Em meio agraves distintas formas de lidar com o cyberbullying encontram-se atores que estariam
em uma posiccedilatildeo de passividade diante de accedilotildees do cyberbullying os chamados expectadores
Pode-se disser que esse tipo de comportamento tambeacutem representa um modo de lidar
contudo sem um caraacuteter de enfrentamento Neste caso o comportamento dos expectadores
nos chama atenccedilatildeo em meio ao cenaacuterio das propostas de enfrentamentos devido a sua ineacutercia
A falta de intervenccedilatildeo diante de um episoacutedio de cyberbullying por parte dos expectadores se
87
configura com o que Wingate et al (2013) denominam de ―ignoracircncia pluralista que
corresponde a um comportamento grupal onde sujeitos de um determinado grupo ao terem
uma opiniatildeo diferente preferem se calar diante de uma resposta contraacuteria a deste grupo ao
qual pertence O vocabulaacuterio em destaque traz como lexicaccedilatildeo agrave falta de conhecimento dos
espectadores diante dos danos que o cyberbullying pode causar em outrem Wingate et al
(2013) salientam que ocorre uma espeacutecie de ―efeito espectador (O que o grupo vai pensar
caso tenha uma reaccedilatildeo diferente das regras culturais estabelecidas pela comunidade que faz
parte) Por exemplo uma viacutetima de cyberbullying pode ter muitos amigos numa rede social
mas se eles natildeo reagirem cria a impressatildeo de que ignorar o cyberbullying eacute a resposta
normativa (Wingate et al 2013)
Uma das revisotildees (Raskauska e Ruinh 2015) tratou de identificar estrateacutegias para
lidar com o cyberbullying promotoras de reduccedilatildeo imediata do estresse gerado pelo fenocircmeno
ou aquelas que contribuam para diminuiccedilatildeo em longo prazo tais como praacuteticas com enfoque
nas emoccedilotildees e que promovam uma cultura de paz para evitar o confronto estrateacutegias de apoio
social que ofertem suporte que provoquem o amortecimento do impacto negativo do
cyberbullying (falar com um amigo professor ou profissional sobre o assunto) estrateacutegias
focadas na evacuaccedilatildeo que incluem distanciamento do enfrentamento no qual se evita ou se
retira da situaccedilatildeo estressante (como os bloqueios de perfis e exclusotildees) ou accedilotildees que gerem
resiliecircncia e porporcione o bem estar e sauacutede mental (como o natildeo pensar sobre o fato
ocorrido) A procura por apoio social se revelou mais peculiar entre o gecircnero feminino de
acordo com dois estudos revisados por Raskauska e Ruinh (2015)
O estudo de Nixon por exemplo embora revisasse pesquisas sobre eficaacutecias das
estrateacutegias de intervenccedilatildeo verificou que a maioria dessas pesquisas teria examinado
estrateacutegias de reduccedilatildeo de risco ou promoccedilatildeo de comportamentos que superem os riscos como
o suiciacutedio baixo rendimento escolar entre outros Tais estrateacutegias quando adotadas pelos
adolescentes podem mitigar ou reduzir o impacto negativo do cyberbullying (Nixon 2014)
A revisatildeo de Alim (2016) destaca um estudo de Justim Patchim e Sammer Hinduja
com adolescentes americanos de 11 a 18 anos de idade que analisou a probabilidade de um
jovem ser punido por um adulto como um fator para praticar ou natildeo atos de cyberbullying
Tal estudo observou que os adolescentes que pensavam que os adultos poderiam puni-los
eram menos propensos a fazer cyberbullying Alim (2016) ainda elencou as formas como os
adolescenes lidam com o fenocircmeno entre elas (a) responder aos ataques (b) saber em quem
88
confiar (c) ser astuto em relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecnologia (d) respeitar os
outros (e) estar no controle e (f) falar cara a cara (Fisher 2013 apud Alim 2016) Entre as
estrateacutegias relatadas pelos adolescentes consideradas eficazes e que impedem accedilotildees de
cyberbullying incluem accedilotildees tecnoloacutegicas como a exclusatildeo do perfil e o ajuste da
privacidade uso de configuraccedilotildees para evitar o contato Estas seriam moderadamente uacuteteis
para pessoas que sofrem com cyberbullying e outras formas de asseacutedio on-line O bloqueio do
agressor foi uma das respostas mais predominantes relatar o incidente a um consultor on-line
ou denunciar atraveacutes de relatoacuterio on-line tambeacutem foi identificada aleacutem de bloquear o acesso
do perpetrador agraves informaccedilotildees pessoais na linha do tempo de redes sociais Para Alim (2016)
as estrateacutegias dos adolescentes para o enfrentamento mudam com o passar dos anos e que as
soluccedilotildees tecnoloacutegicas e a procura de apoio satildeo eficazes na luta contra o ciberbullying Jaacute a
revisatildeo de de Allison e Busey (2016) ressaltou estudos que apontam que as normas de
comportamentos sociais entre pares podem influenciar a decisatildeo de transeuntes do universo
online participarem de cyberbullying inclusive no que tange ao comportamento dos
expectadores Verifica-se que o texto se apropia de elementos discursivos de forccedila (modos de
accedilatildeo) ―bloquear o agressor ―responder aos ataquese ao mesmo tempo de modos de
representaccedilatildeo desses sujeitos que fazem parte de comunidades sociais ―falar cara a cara
―saber em quem confiar Esse tipo de discurso contribui para moldar e restrigir as normas e
convenccedilotildees entre agressores e acometidos
Cabe destacar que parte das revisotildees que sugerem modos de lidar (coping) com o
cyberbullying propocircs accedilotildees preventivas concomitantemente Aleacutem disso pensar tais
estrateacutegias e reproduzir tais praacuteticas adequando as novas complexidades do fenocircmeno e da
cibercultura se fazem necessaacuterios (Aboujaoude et al 2015) visto que um modelo de
intervenccedilatildeo fechado natildeo daria conta da constante atualizaccedilatildeo tanto das tecnologias que
possibilitariam praacuteticas de cyberbullying como das ambiecircncias relacionais da cibercultura
CONCLUSOtildeES
No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um
assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns
pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das
89
expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o
evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares
Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa
levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia
Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a
cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo
Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o
conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o
contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que
podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying
podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas
atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais
Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio
na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia
psicoloacutegica e que ocorre entre pares
Percebemos que a literatura analisada por muitos momentos demonstrou uma
aproximaccedilatildeo do tema cyberbullying com o bullying tradicional Eacute suficiente considerar o
cyberbullying mais do mesmo neste caso bullying
Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma
personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o
cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de
alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos
produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet
voltar a circular apoacutes tempos depois em que o conteuacutedo foi disparado e o assunto degradante
veio agrave tona
Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos
estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio
(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre
quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas
do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a
atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as
habilidades dos meninos como superiores comparados com as meninas em aspectos
tecnoloacutegicos
90
Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagado deliberadamente em redes
sociais contra grupos eacutetnicos raciais natildeo brancos eacute inquietante natildeo ter identificado na
literatura reflexotildees sobre cyberbullying e gecircnero que transcendam a classificaccedilatildeo binaacuteria
aleacutem de invisibilizar questotildees como o racismo Tambeacutem cabe considerar que natildeo bastaria
nomear situaccedilotildees como cyberbullying sem refletir sobre o tipo de violecircncia praticada com tais
sujeitos Para isso eacute preciso ter ciecircncia do que de fato se configura cyberbullying para que
equiacutevocos interpretativos natildeo ocorram ao passo de classificar qualquer tipo de violecircncia
digital como cyberbullying desconsiderando por exemplo que trata-se de uma violecircncia
entre pares Estudos que apontem prevalecircncia de casos de cyberbullying contra jovens LGBT
grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio mulccedilumanos e
religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos satildeo de grande relevacircncia
Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre
o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis
por proliferar o conteuacutedo difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying
que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um
controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta
Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser
ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os
impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que
diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar
cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica do
cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas
ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os
seus perfis analisando inclusive se aqueles que cometem cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram
algum tipo de violecircncia
Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo
ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou
seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute
viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo anonimato
Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que
haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem
existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas
implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de
91
Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam
adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz
respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais
digitais
Ainda assim a literatura direciona maior responsabilidade no trato da prevenccedilatildeo do
cyberbullying agrave comunidade escolar Teriam as escolas capacidade de capacitar prevenir e
ainda intervir em situaccedilotildees de cyberbullying isoladamente Por outro lado natildeo eacute possiacutevel
admitir que questotildees de cyberbullying na escola sejam classificadas como uma problemaacutetica
de menor impacto para os alunos ou ―brincadeira de adolescente uma demanda que foge da
competecircncia escolar por transcender o seu espaccedilo fiacutesico Pensando nessa suposta
responsabilidade em alguns paiacuteses como no Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe
multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem dar conta de certas demandas por falta de
suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar continuidade a projetos iniciados por falta de
recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio refletir se de fato tais propostas e manejo
seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno complexo e com atravessamentos
peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros setores e atores sociais Partimos do
entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos de cyberbullying necessitam ser
realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes atores
Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados
tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de
revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou
analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento
Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a
necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos
pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos
online jaacute faccedila parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem
refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos ―nativos digitais e restrigir punir ou
controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens pode ter tambeacutem
aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria Quais os
seus limites Quando um profissional eou um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a
privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais
enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do
monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e
92
adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos
e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos
jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que
supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre o uso das novas tecnologias esses
possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua
responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um
aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso
aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de
identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de
monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que
tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a uma banalizaccedilatildeo do monitoramento
de praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da
liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo
familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz
necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado
pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos
Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado
de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos
publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo
foi o nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede
reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a
criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem
com esta demanda de forma coerente
Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do
conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios
novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e
intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento
sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre
avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de
intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)
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CONCLUSOtildeES
No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um
assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns
pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das
expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o
evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares
Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa
levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia
Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a
cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo
Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o
conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o
contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que
podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying
podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas
atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais
Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio
na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia
psicoloacutegica e que ocorre entre pares
Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma
personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o
cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de
alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos
produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet
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voltar a circular apoacutes tempos depois em que esse conteuacutedo foi disparado e o assunto
degradante veio agrave tona
Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos
estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio
(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre
quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas
do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a
atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as
habilidades dos meninos como superiores se comparados com as meninas em aspectos
tecnoloacutegicos
Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagando deliberadamente em redes
sociais percebeu-se ainda uma ausecircncia de reflexotildees sobre a questatildeo do cyberbullying contra
jovens LGBT grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio
mulccedilumanos e religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos
Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre
o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis
por proliferar o material difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying
que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um
controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta
Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser
ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os
impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que
diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar
cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica de
cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas
ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os
seus perfis analisando inclusive se aqueles que praticam cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram
algum tipo de violecircncia
Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo
ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou
seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute
viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo do anonimato
101
Eacute possiacutevel considerar que o cyberbullying se configura como uma nova forma de
violecircncia sistemaacutetica que se manifesta atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica
entre pares nas ambiecircncias das redes de socialidade digital que podem ocorrer em qualquer
espaccedilo geograacutefico Inclusive sendo considerado por estudiosos como um problema de sauacutede
social e de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede mental de crianccedilas e adolescentes
Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que
haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem
existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas
implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de
Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam
adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz
respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais
digitais
Ainda assim a literatura apontou excessiva responsabilidade da escola no trato da
prevenccedilatildeo do cyberbullying agrave comunidade escolar Entretanto em alguns paiacuteses como no
Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem
dar conta de certas demandas por falta de suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar
continuidade a projetos iniciados por falta de recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio
refletir se de fato tais propostas e manejo seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno
complexo e com atravessamentos peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros
setores e atores sociais Partimos do entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos
de cyberbullying necessitam ser realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes
atores
Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados
tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de
revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou
analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento
Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a
necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos
pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos
online jaacute faccedilam parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem
refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos nativos digitais e restrigir punir ou
controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens podem ter
102
tambeacutem aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria
Quais os seus limites Quando um profissional e um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a
privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais
enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do
monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e
adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos
e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos
jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que
supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre uso das novas tecnologias esses
possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua
responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um
aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso
aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de
identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de
monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que
tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a banalizar o monitoramento de
praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da
liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo
familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz
necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado
pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos
Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado
de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos
publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo
foi nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede
Reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a
criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem
com esta demanda de forma coerente
Identificou-se a necessidade de estudos futuros investigarem as redes sociais como
um territoacuterio de praacutetica e propagaccedilatildeo de atos de cyberbullying Que estudos com esse recorte
aponte quais os papeis dessas plataformas digitais no manejo com o cyberbullying
Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do
conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios
103
novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e
intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento
sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre
avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de
intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)
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CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES Definiccedilotildees associaccedilotildees com
a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo
em Sauacutede Puacuteblica da Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica
Seacutergio Arouca na Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz como
requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em
Sauacutede Puacuteblica Aacuterea de concentraccedilatildeo Violecircncia e Sauacutede
Aprovada em 04052018
Banca Examinadora
Dra Giovanna Marafon
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Dra Simone Gonccedilalves de Assis
Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca - ENSP
Suely Ferreira Deslandes (orientadora)
Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca - ENSP
Rio de Janeiro
2018
Dedico este trabalho a todas as crianccedilas e (os) adolescentes que sofreram ou sofrem com os
impactos do cyberbullying em sua sauacutede psiacutequica que possam encontrar os mecanismos de
apoio necessaacuterios que lhes possibilite enfrentar essa forma de violecircncia tatildeo cruel
Agradecimentos
Agrave Deus por ter me dado a graccedila de conseguir cursar um curso de poacutes-graduaccedilatildeo
Scricto Sensu numa instituiccedilatildeo renomada como a ENSP e poder seguir minha trajetoacuteria
acadecircmica iniciada nesta casa em 2012 com a especializaccedilatildeo em Direitos Humanos e Sauacutede
Agrave minha famiacutelia por todo apoio recebido paciecircncia nos meus dias estressantes
incentivo para que eu natildeo desistisse do meu objetivo Obrigado por terem sonhado comigo
em especial meu esposo Eduardo Brito que acreditou que eu seria capaz antes mesmo de eu
pensar em cursar o mestrado Te amo
Quero tambeacutem registrar minha gratidatildeo pelo privileacutegio de ter Suely Deslandes como
minha orientadora mentora amiga agraves vezes matildee (matildee loira minha diva da vida academia)
por todas as orientaccedilotildees recebidas por ter acreditar em mim pelo incentivo pelas chamadas
para a realidade pelas dicas compreensatildeo paciecircncia (e como vocecirc exerceu esse dom comigo)
diante das minhas dificuldades e limitaccedilotildees diante do trabalho aacuterduo que eacute construir um
trabalho acadecircmico com qualidade Cada sessatildeo ligaccedilatildeo e encontros foram importantes
Jamais vou esquecer todo o suporte que meu deu aprendi e aprendo muito com vocecirc Eacutes uma
inspiraccedilatildeo para mim Muito obrigada
Agrave coordenaccedilatildeo acadecircmica do Programa de Mestrado em Sauacutede Puacuteblica da ENSP todo
corpo docente docentes convidados pela competecircncia e excelecircncia no ensino Agradeccedilo em
especial aos docentes e pesquisadores da minha subaacuterea violecircncia e sauacutede por terem me
oportunizado refletir apreender e conhecer sobre a violecircncia suas especificidades Obrigada
pelos encontros reflexivos provocadores e desafiadores (Maria Ceciacutelia Minayo ndash nossa diva
maior Suely Deslandes Patriacutecia Constantino Joviana Avanci Simone de Assis Kathie
Njaine Ednilsa Ramos Liana Pinto Fatima Cequetto Ana Elisa Miriam Schenker e Liane da
Silveira) Obrigada a todos os colegas da turma MSP2016 tenho orgulho dessa turma
Saudade dos nossos cafeacutes e chaacute de bebecircs
Agrave minha turma da subaacuterea Ethos Guerreiro (Adri Bruno Cynthia Lu Ju Hellen
Rodolfo e Val) pela solidariedade incentivo e empatia ao longo desses dois anos Foram
muitas batalhas conquistas alegrias perdas anguacutestias e tristezas partilhadas natildeo vou me
esquecer do que vivemos juntos virtualmente e presencialmente Temos um Ethos coletivo
que eacute de Guerreiro
Obrigada membros da banca por acreditar no meu trabalho e me possibilitar chegar
ainda mais perto dessa realizaccedilatildeo que eacute me tornar mestre Bibliotecaacuterio Adriano equipe da
secretaria acadecircmica pela prontidatildeo e profissionalismo muito obrigada
Encerra-se um ciclo para que outro se inicie
Como diz um salmo de Davi e nisso me apeguei ―Confie no Senhor Tenha feacute e
coragem Confie em Deus o Senhor (Salmos cp27 v14) Bestrong Gratidatildeo
RESUMO
Este estudo trata o cyberbullying como uma violecircncia psicoloacutegica que ocorre entre pares no
contexto das sociabilidades digitais logo se configura como um problema de sauacutede puacuteblica
que traz impactos agrave sauacutede emocional de crianccedilas e adolescentes que pode desencadear
inclusive em suiciacutedio Analisamos as formas de conceituar os fenocircmenos e suas dinacircmicas
quais os personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede dos perpetradores
e acometidos por essa categoria de violecircncia A seguir analisamos as propostas e enunciados
de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo propostas pelo e para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo (quem
satildeo os atores implicados e quais as estrateacutegias recomendadas) analisar os discursos sobre
prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno
Empreendemos tal estudo a partir de uma revisatildeo criacutetica da literatura tomando como base a
Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) nos moldes propostos por Fairclough sobretudo no que
diz respeito aos discursos e enunciados evocados em sua interdiscursividade (manifesta e
constitutiva) forccedila e praacutetica social Percebeu-se uma necessidade de novos estudos que
contextualizem a questatildeo do cyberbullying na cibercultura e novas possibilidades de interaccedilatildeo
digitais bem como estudos que discutam com maior aprofundamento o papel dos
profissionais de sauacutede no enfrentamento e na prevenccedilatildeo
Palavras-chaves Cyberbullying Sauacutede Educaccedilatildeo violecircncia
ABSTRACT
This study deals with cyberbullying as a psychological violence that occurs between peers in
the context of digital sociabilities and is therefore a public health problem that impacts the
emotional health of children and adolescents which can lead to suicide We analyze the ways
of conceptualizing the phenomena and their dynamics which characters are identified and
which associations point to the health of the perpetrators and affected by this category of
violence Next we analyze the proposals and statements of prevention and intervention
proposed by and for the fields of Health and Education (who are the actors involved and what
strategies are recommended) analyze the discourses on prevention accountability coping
modes and dynamics of the phenomenon We undertake such a study based on a critical
review of literature based on the Analysis of Critical Discourse (ADC) in the ways proposed
by Fairclough especially with regard to the discourses and statements evoked in his
interdiscursividade (manifest and constitutive) strength and social practice There was a need
for new studies that contextualize the issue of cyberbullying in cyberculture and new
possibilities for digital interaction as well as studies that discuss with a deeper understanding
the role of health professionals in coping and prevention
Key-words Cyberbullying Health Education violence
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO13
11 Objetivos13
12 Metodologia 19
2 MARCO TEOacuteRICO24
21 Cibercultura sociabilidade digital e ciberespaccedilo 24
22 Bullying29
23 Cyberbullying35
231 Cyberbullying Violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica35
3 ARTIGO 1 CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES
CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E IMPLICACcedilOtildeES COM
A SAUacuteDE44
Introduccedilatildeo45
Meacutetodos49
Conceituaccedilatildeo51
Descriccedilotildees das dinacircmicas56
Personagens envolvidos58
Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos61
Discussatildeo62
4 ARTIGO 2 CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO
PARA O CAMPO DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE
LITERATURA64
Introduccedilatildeo64
Metodologia66
Caracterizaccedilatildeo do acervo69
Estrateacutegias de prevenccedilatildeo74
Estrateacutegias de intervenccedilatildeo80
5 CONCLUSOtildeES 87
6 REFEREcircNCIAS91
Sumaacuterio de Quadros
Quadro 1 Seleccedilatildeo do acervo22
Quadro 2 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo24
Quadro 3 Vocaacutebulo designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas37
Quadro 4 Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de Cyberbullying
(2010-2016)69
Sumaacuterio de Tabelas
Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma51
Sumaacuterio de figuras
Figuras 1 Modelo Tridimensional de Norman Fairclough23
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Em tempos em que manter-se por muitas horas diaacuterias conectadas agrave internet atraveacutes de
aparelhos eletrocircnicos eacute uma realidade cotidiana de parte da sociedade na contemporaneidade
natildeo eacute de se espantar que a sociabilidade tenha sofrido alteraccedilotildees para novas formas de
interaccedilatildeo mediadas por diferentes miacutedias sociais De tal modo a violecircncia tambeacutem ganhou
novas formas de expressatildeo
A violecircncia e suas mais distintas expressotildees tecircm sido pauta de estudos em diferentes
aacutereas do conhecimento inclusive no campo da Sauacutede
Segundo Assis e Marriel (2010) conceituar violecircncia eacute uma tarefa difiacutecil por se tratar
de um fenocircmeno de muacuteltiplas causalidades
Ainda sobre as violecircncias Wanzinack e Signorelli (2015 p 09) afirmam que elas
atingem de forma natildeo apenas diferente mas sobretudo desigual a distintos sujeitos e grupos
da sociedade Assim sendo as violecircncias se manifestam por meio de diferentes atores e
encontram- se em variados cenaacuterios
Entende-se que existe uma relaccedilatildeo estreita poreacutem natildeo exclusiva entre a Violecircncia e a
Sauacutede conforme apontam Minayo e Souza (1998 p520) ―a violecircncia natildeo eacute objeto restrito e
especiacutefico da sauacutede mas estaacute intrinsecamente ligada a ela Cabe ressaltar que o campo da
Sauacutede possui um papel social de relevacircncia pois dentre suas funccedilotildees estatildeo a elaboraccedilatildeo de
estrateacutegias preventivas a promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede coletiva e individual
O cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se manifesta sob os moldes de
agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para aleacutem da
subjetividade do indiviacuteduo resultando em implicaccedilotildees praacuteticas e reais no cotidiano e
individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)
Um estudo (Silva Silva Saldanha 2011) realizado atraveacutes de um questionaacuterio com
114 crianccedilas e adolescentes portuguesas constatou que o cyberbullying causa efeitos
devastadores na sauacutede mental e fiacutesica Entre as consequecircncias mais frequentes estavam as
crises de choro (714) a ansiedade (571) a dificuldade de concentraccedilatildeo (571) e os
pesadelos (571)
O cenaacuterio para este estudo foi o ambiente virtual visto que a violecircncia tem alcanccedilado
relevante capilaridade neste espaccedilo o que tem gerado amplas consequecircncias Satildeo
14
repercussotildees que perpassam tanto as relaccedilotildees sociais iniciadas fora do ambiente virtual que
podem ou natildeo ser nutridas neste ambiente (como exemplo relaccedilotildees familiares entre colegas
e vizinhos) ou ainda interaccedilotildees sociais mais superficiais (amigos virtuais eou seguidores de
redes sociais que podem ou natildeo ter uma relaccedilatildeo social real com o usuaacuterio nessas redes
sociais) Certas vinculaccedilotildees desenvolvidas neste espaccedilo satildeo conexotildees construiacutedas por meio de
interesses comuns que todavia podem ser rompidas a qualquer momento devido agrave
superficialidade nessas conexotildees
Essas relaccedilotildees sociais que ocorrem no ciberespaccedilo (espaccedilo virtual) e que podem
culminar em atos violecircncia na comunicaccedilatildeo digital se manifestam em meio a uma cultura
digital Cultura esta que alguns estudiosos da aacuterea das ciecircncias da comunicaccedilatildeo e ciecircncias
sociais chamam de cibercultura
Segundo Andreacute Lemos (2015) a cibercultura seria uma confluecircncia entre as formas
sociais praacuteticas humanas e a tecnologia sendo atraveacutes da inclusatildeo da sociabilidade na praacutetica
diaacuteria da tecnologia que ela adquire os seus contornos mais niacutetidos A existecircncia de uma nova
forma de apresentaccedilatildeo da cultura e da proliferaccedilatildeo de uma sociabilidade digital traz consigo
distintas facetas entre elas a violecircncia se faz presente no ciberespaccedilo e nas relaccedilotildees digitais
que ali se estabelecem A nova sociabilidade digital eacute mediada por distintas tecnologias que
facilitam o uso e acesso individual e remoto tais como os smarthphones notebooks e outros
modos de comunicaccedilatildeo que possibilitam o envio e recebimento de mensagens de textos
aacuteudios imagens fotos e viacutedeos Essas muacuteltiplas formas de interaccedilatildeo digital podem ser
utilizadas para depreciar denegrir e expor vexatoriamente eou negativamente agrave imagem de
algueacutem Assim o cyberbullying pode ser concebido e difundido poreacutem agraves vezes seus autores
natildeo satildeo identificados devido agrave possibilidade de anonimato (ainda existente) no ambiente
virtual ou ainda a morosidade na identificaccedilatildeo desses autores Apesar de todos os avanccedilos
tecnoloacutegicos que possibilitam rastreamentos e localizaccedilatildeo de aparelhos eletrocircnicos de
comunicaccedilatildeo
Aleacutem disso uma vez que uma imagem eacute veiculada no ambiente virtual essas
informaccedilotildees poderatildeo estar pra sempre circulando na rede mundial de computadores por meio
das diferentes conexotildees que podem ser realizadas Lemos (2015) considera o ciberespaccedilo
como um ambiente onde ocorre uma significaccedilatildeo sensorial da civilizaccedilatildeo pautada em
informaccedilotildees digitais
15
Jaacute Martino (2015) ao tratar das questotildees caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais
contemporacircneas afirma que os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos
estabelecidos conforme a necessidade de um momento e desmanchados depois Haacute uma
dinacircmica nos contatos sociais feitos atraveacutes da internet partindo da ideia do nuacutemero e dos
tipos de conexotildees que podem ser estabelecidas entre os participantes das redes sociais
presentes no chamado ciberespaccedilo
Eacute inevitaacutevel falar cyberbullying sem mencionar o fenocircmeno bullying por ambos os
fenocircmenos ocorrerem entre pares e pelo fato deste primeiro ser chamado de a versatildeo digital
do bullying dito como tradicional
Jaacute que para alguns o cyberbullying representaria ―uma nova forma de bullying (Neto
2005) O autor cita Bill Belsey professor que teria utilizado pela primeira vez o conceito
trata-se do uso da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (e-mails
telefones celulares mensagens por pagers ou celulares fotos digitais sites
pessoais difamatoacuterios accedilotildees difamatoacuterias online) como recurso para a
adoccedilatildeo de comportamentos deliberados repetidos e hostis de um individuo
ou grupo que pretende causar danos a outro (s)
Sabe-se que os primeiros estudos sobre o bullying satildeo oriundos dos paiacuteses do norte da
Europa dos paiacuteses considerados noacuterdicos na deacutecada de 1970 pelo professor universitaacuterio
Dan Olweus e posteriormente na Sueacutecia com Heinz Leymann Dan Olweus eacute apresentado
como o precursor em realizar pesquisas sistemaacuteticas sobre o tema Em 1989 Olweus e
Roland divulgaram os primeiros diagnoacutesticos de seu estudo sobre o bullying No entanto
estudos de bullying entre estudantes passaram ser mais observados em outros paiacuteses como os
Estados Unidos a partir da deacutecada de 1980 (Olweus 2003)
Segundo Malta et al (2010) o Bullying eacute uma praacutetica antiga Os autores o entendem
como uma ―violecircncia que traz repercussotildees no cotidiano de suas viacutetimas como uma ameaccedila
diaacuteria a integridade fiacutesica psiacutequica e da dignidade humana (pg3069) Os autores enfocam
ainda que o bullying natildeo eacute uma violecircncia demarcada por recortes sociais e econocircmicos e
perpassa por distintas camadas sociais e ―niacuteveis culturais Segundo Cleo Fante (2008 p 86)
o ―bullying eacute uma palavra de origem inglesa adotada em muitos paiacuteses para definir o desejo
consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocaacute-la sob tensatildeo Conforme Shariff
16
(2011) trabalhadores britacircnicos de minas de carvatildeo discorriam sobre colegas de trabalho
como bullies e a partir daiacute iniciou-se uma associaccedilatildeo dos bullies com ―brigotildees ou
―valentotildees Poreacutem somente a partir na deacutecada de 1800 (seacutec XIX) a termologia (bullies)
passou a se referir agrave fraqueza covardia tirania e violecircncia tendo ainda uma associaccedilatildeo a
gangues Deste modo agir como um bully representava tratar de maneira ―autoritaacuteria
intimidadora e apavoradora O que nos leva a entender que haacute provaacutevel relaccedilatildeo etimoloacutegica da
palavra bullying e o prefixo bully como falaremos a seguir
Ainda em Sharrif (2011) a etimologia expotildee muito sobre a problemaacutetica existente em
identificar o bullying ao reconhecer que houve uma transiccedilatildeo do que representaria um
comportamento valentatildeo de modo amplo para um trato de autecircntica hostilidade ao destacar a
comparaccedilatildeo existente entre a evoluccedilatildeo histoacuterica da palavra e do bullying no ambiente escolar
contemporacircneo
Assim o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma
disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre
sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidados (Alim
2016) Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs
horas diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de cyberbullying
(Arsegravene Raynaud 2015) Li et al (2012) trazem destaque sobre os efeitos do cyberbullying
que podem ser tatildeo graves quanto o do bullying presencial As viacutetimas apresentam a
probabilidade de sofrer de depressatildeo sendo que os autores (em geral tambeacutem crianccedilas e
adolescentes) enfrentam esse problema posto que seja uma violecircncia entre pares Em
decorrecircncia disso a violecircncia psicoloacutegica reproduzida no ambiente virtual pode desencadear
consequecircncias graves a sauacutede de suas viacutetimas (Li et al 2012)
Existem autores que consideram a necessidade de compreensatildeo por parte dos
profissionais de que o cyberbullying seria um processo que ocorre em adiccedilatildeo ao bullying
tradicional como um subtipo de bullying com caracteriacutesticas especiacuteficas (Stelko-Pereira e
Williams 2011 in Wendt 2013) Entretanto para Wendt (2013) em muitos casos pode natildeo
haver o bullying [no acircmbito da vida real] mas pode estar ocorrendo a vitimizaccedilatildeo [apenas]
17
online portanto trata-se de processos sobrepostos embora independentes (p83) [grifos
nosso]
Uma pesquisa internacional a TIC KIDS ONLINE (2015) que visa mapear possiacuteveis
riscos oportunidades na internet e aponta dados sobre mediaccedilatildeo parental ao entrevistar
crianccedilas e adolescentes entre 09 e 17 anos revelou que cerca de 20 foram tratados de forma
ofensiva na internet nos uacuteltimos 12 meses Entre os entrevistados 9 receberam mensagens
ofensivas pela internet 4 declarou que outras pessoas postaram mensagens ofensivas na
internet para outras pessoas verem o mesmo percentual de jovens foi excluiacutedo de grupo ou
rede social
Uma pesquisa nacional realizada no segundo semestre de 2009 neste caso
apresentada pela ONG SAFERNET cuja amostra contou com a participaccedilatildeo de 2525 alunos
e 966 educadores das redes puacuteblicas e privadas identificou com relaccedilatildeo a situaccedilotildees de
cyberbullying ―que 33 dos entrevistados jaacute haviam tido algum amigo viacutetima desse tipo de
humilhaccedilatildeo na rede
Tais maus tratos consistem em praacuteticas de difamaccedilatildeo humilhaccedilatildeo
ridicularizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo por meio de ferramentas da internet
Com o atual aumento das facilidades para acesso ao mundo virtual por
parte de crianccedilas e adolescentes esse tipo de agressatildeo se torna cada
vez mais frequente Uma caracteriacutestica importante desse tipo de
agressatildeo eacute que consiste num ―fenocircmeno sem rosto agrave medida que na
internet o agressor pode muitas vezes natildeo se identificar
(httpwwwpromeninoorgbrportals0pesquisabullyingpdf)
Compreende-se que existem situaccedilotildees na vida que podem gerar abalo emocional e
consequentemente paralisam pessoas algumas conseguem superar tais situaccedilotildees e saiacuterem
delas fortalecidas Um dos motivos para que cada indiviacuteduo lide de modo distinto com
problemas semelhantes estaacute relacionado com o conceito de resiliecircncia A resiliecircncia pode ser
caracterizada como a capacidade de superar uma dada situaccedilatildeo de adversidade e sair
fortalecido (Angst 2009) Importante considerar essa capacidade de recuperar-se de lidar de
forma positiva com as pressotildees eou estresse em situaccedilotildees de adversidades Interessante
apontar que o conceito de coping apresenta uma base conceitual semelhante agrave resiliecircncia
todavia natildeo se confunde agrave ela correspondendo a uma capacidade cognitiva comportamental
O coping eacute definido como ―conjunto das estrateacutegias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-
18
se a circunstacircncias adversas ou estressantes (Antoniazzi Bandeira DellacuteAglio 1998 in
Taboada et al 2006) Tais estrateacutegias individuais podem ser utilizadas como manejo
individual diante eou apoacutes situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying
Entende-se que existe um grau de fragilidade quando os jovens satildeo expostos ao uso da
internet seja devido ao uso prolongado das redes sociais e outras formas de navegaccedilatildeo na
web ou ainda o uso da internet sem o monitoramento dos responsaacuteveis bem como o uso de
aparelhos com acesso agrave internet desprotegidos de sistema de seguranccedila de dados e
informaccedilotildees Fatos como esses podem contribuir para o iniacutecio de um ciclo de violecircncia
Embora jaacute existam poliacuteticas de conscientizaccedilatildeo sobre uso adequado da internet
seguranccedila virtual e de responsabilizaccedilatildeo de pessoas que cometem crimes virtuais natildeo
necessariamente faz com que todas as formas de violecircncia virtual sejam identificadas eou
tenham seu ciclo rompido
Partindo desse recorte analiacutetico utilizamos as seguintes questotildees investigativas
- Como a literatura nacional e internacional conceitua o cyberbullying e descreve suas
dinacircmicas
- Qual o papel de gecircnero em tais dinacircmicas
- Quais conexotildees satildeo feitas com a sauacutede de crianccedilas e adolescentes que sofrem e praticam o
cyberbullying
- Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees propostos pela
literatura sobre cyberbullying - Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a questatildeo da
sociabilidade virtual juvenil (Deve haver regulaccedilatildeo Como ocorre Deve ser proibida)
- Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullyin
- O que fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying
Nosso objetivo geral foi analisar como a literatura nacional e internacional aborda o
tema as associaccedilotildees que delimita entre o cyberbullying e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes e
as accedilotildees propostas de intervenccedilatildeoprevenccedilatildeo para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo
19
Nossos objetivos especiacuteficos foram
1 Analisar as conceituaccedilotildees utilizadas para caracterizar o cyberbullying explorando
eventuais diferenccedilas entre os autores nacionais e estrangeiros
2 Analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela comunidade cientiacutefica sobre as
propostas de prevenccedilatildeo do cyberbullying e modos de enfrentamento no campo da
sauacutede e educaccedilatildeo
3 Analisar as representaccedilotildees associadas agrave construccedilatildeo dos sentidos do fenocircmeno (causas
personagens envolvidos e responsabilidades implicadas)
4 Analisar as praacuteticas de cyberbullying (perpetrar sofrer testemunhar) a partir das
dinacircmicas das relaccedilotildees de gecircnero
5 Identificar associaccedilotildees e implicaccedilotildees agrave sauacutede das pessoas intimidadas e dos
perpetradores causados pelos diferentes tipos de cyberbullying
6 Analisar as propostas de enfrentamento sugeridas para Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores
implicados e estrateacutegias sugeridas)
Diante disso apresentaremos como resultado dessa dissertaccedilatildeo dois artigos O primeiro
buscou analisar as conceituaccedilotildees de cyberbullying adotadas pela literatura nacional e
internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo enfocando suas ecircnfases e
―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as associaccedilotildees que delimitam
entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes
No segundo artigo buscamos analisar criticamente as estrateacutegias de enfrentamento do
cyberbullying tanto no campo da Sauacutede quanto no campo da Educaccedilatildeo Elencando quem
seriam os atores implicados e que tipos de estrateacutegias haviam sido apontados pela literatura
investigada com enfoque em analisar criticamente tais discursos
METODOLOGIA
Propomos realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa considerando que este tipo
de estudo se compromete em trabalhar com ―os significados atribuiacutedos pelos sujeitos aos
fatos agraves relaccedilotildees praacuteticas bem como ―as interpretaccedilotildees dessas praacuteticas ao estudar uma
realidade especiacutefica (Minayo e Deslandes 2002)
20
Com relaccedilatildeo ao meacutetodo investigativo inicialmente haviacuteamos optado por utilizar do
meacutetodo de revisatildeo sistemaacutetica integrativa todavia a busca trouxe uma quantidade muito
elevada de trabalhos (7785) considerando o tempo para uma anaacutelise coerente de modo a
cumprir o cronograma proposto assim optamos por fazer uso de revisatildeo de literatura do tipo
―revisatildeo criacutetica (critical review)
Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um
tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant Booth
2009) A contribuiccedilatildeo de uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas
discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel
(Paregrave et al 2015) O escopo analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou
estatisticamente representativo Esse tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos
selecionados o que eacute considerado o seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as
revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo
(siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais
positivista (anaacutelise de conteuacutedo)
Cabe mencionar que preferimos por delimitar temporalmente o escopo da busca das
referecircncias para a revisatildeo literaacuteria sobre o tema proposto (de 2006 a 2016) Tal escolha
temporal se refere agrave disseminaccedilatildeo do acesso agrave internet por aplicativos em aparelhos moacuteveis
bem como a ampla disseminaccedilatildeo do maior site de relacionamento do mundo (FACEBOOK)
por exemplo datados a partir da deacutecada que trataremos a seguir
Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo
BVS Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA
(Applied Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017
Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos
(all fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no
Medical Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying
(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos
vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo
Com o intuito de reduzir e qualificar mais esse acervo optou-se por trabalhar apenas os
estudos de revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no
tiacutetulo e ―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de
21
qualquer natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas
modalidades revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica
sistemaacutetica revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo
sistemaacuteticas e revisatildeo narrativa
Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis
para acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em
301 estudos Depois de analisar cada artigo no MENDLEY foi identificado 156 artigos em
duplicidade que natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias
(MENDLEY) como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com
traduccedilatildeo de texto para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou
francecircs e quando houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor
seguido de et al Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com
recorte temporal de publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem
sendo difundido na uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo
Desse nuacutemero de artigos apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo (conforme
quadro 1) Destacamos ainda que migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias
ZOTERO por ser um programa open sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados
pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos
salvos nos mais distintos formatos
22
Quadro 1 ndash Seleccedilatildeo do acervo
ACERVO (cyberbullying)
7785 estudos (allfields)
301
(apoacutes criteacuterio de exclusatildeo)
141
(apoacutes exclusatildeo das duplicidades)
72
(apoacutes recorte temporal)
57 estudos (prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo )
O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia
dos autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus
conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes
categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do
cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede
No que se refere agrave anaacutelise de dados especialmente no segundo artigo adotamos o
meacutetodo de Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) Considerando que a ADC possui outras
correntes de anaacutelise tomamos como referecircncia a orientaccedilatildeo dada por Norman Fairclough que
propotildee estudos criacuteticos e interdisciplinares sobre a praacutetica discursiva e sua relaccedilatildeo com a
transformaccedilatildeo social e de cultura Para Fairclough (2001) os discursos contribuem
diretamente para a construccedilatildeo dos sistemas de conhecimento e crenccedilas tendo trecircs funccedilotildees e
dimensotildees de sentido que ―coexistem e ―interagem em todo discurso sendo elas identitaacuteria
relacional e ideacional Na funccedilatildeo identitaacuteria estatildeo implicados os modos pelos quais as
23
identidades sociais satildeo constituiacutedas na funccedilatildeo relacional como as relaccedilotildees sociais entre os
atores presentes nos discursos satildeo representadas e ―negociadas na funccedilatildeo ideacional os
modos pelos quais significam o mundo seus processos entidades e relaccedilotildees Essas duas
uacuteltimas satildeo interpretadas (Halliday 1978 In Fairclough 2001) como de caraacuteter ―interpessoal
Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de
praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos
discursos adotados nos estudos analisados Sendo assim se torna caro para noacutes identificarmos
que accedilotildees estatildeo sendo ditas a partir dos discursos construiacutedos nos estudos que seratildeo
analisados sobre o tema proposto Ou seja o que tem sido dito pelos estudos acerca do
cyberbullying Cabe destacar que o modelo proposto por Fairclough para a ADC abarca a
anaacutelise da praacutetica discursiva do texto e da praacutetica social
Conforme descrito na figura seguinte
Figura 1 - Concepccedilatildeo tridimensional do discurso em Fairclough (2001101)
O modelo tridimensional da ADC proposto por Fairclough distingue trecircs dimensotildees
dessa forma de anaacutelise de discurso texto praacutetica discursiva e praacutetica social Ao tratar
dimensatildeo textual o autor traz o entendimento de que todo o texto eacute elaborado de modo que
satildeo repletos de significados e inclusive de ambiguidades No que tange a praacutetica discursiva
segundo Fairclough (2001) permite explicar como os discursos satildeo produzidos distribuiacutedos
consumidos e interpretados reduzindo assim as possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva
propotildee categorias como a forccedila coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz
referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos de fala que o texto realiza [o que o texto evoca] a
coerecircncia trata do sentido que o texto possui [para quem faz sentido qual a loacutegica das
marcaccedilotildees e conexotildees] a intertextualidade ―eacute basicamente a propriedade que tecircm os textos de
PRAacuteTICA SOCIAL
PRAacuteTICA DISCURSIVA
TEXTO
24
serem cheios de fragmentos de outros textos (Fairclough 2001) [grifos nossos] A categoria
intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta
aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de
textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que o Fairclough vai chamar
de interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A
praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto
Ao que se refere ao discurso como praacutetica social em Fairclough (2001) estaria
implicada necessariamente como uma dimensatildeo que produz os efeitos ideoloacutegicos e
hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees
econocircmica cultural e ideoloacutegica Sendo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo
de identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas
de crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente
Neste sentido todo o discurso possuiu uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir
uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma
determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir
mudanccedila social em uma dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de relaccedilotildees
sociais
Destacamos que para realizar o processo de anaacutelise de discurso proposto utilizamos
um roteiro com matrizes de perguntas como Qual a conceituaccedilatildeo para o cyberbullying Quais
as definiccedilotildees e ou descriccedilotildees sobre as dinacircmicas do cyberbullying Como os personagens
envolvidos na praacutetica de cyberbullying satildeo descritos
No que tange a designaccedilatildeo e dinacircmica da anaacutelise submetemos os artigos selecionados
agraves matrizes de perguntas e posteriormente criamos bancos de dados temaacuteticos para as
definiccedilotildees propostas de enfrentamento diferenccedilas de gecircnero conexotildees entre a sauacutede de
crianccedilas e adolescente que sofrem e praticam cyberbullying Os quadros temaacuteticos permitiram
organizaccedilatildeo das informaccedilotildees extraiacutedas e faacutecil acesso ao conteuacutedo no momento da anaacutelise
propriamente dita Para exemplificar segue abaixo o modelo de quadro temaacutetico
25
Quadro 02 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo
Matrizes de perguntas ndash Roteiro para a anaacutelise
Enfim cabe esclarecer que consideramos neste campo reflexivo as accedilotildees praacuteticas
apontadas nos estudos para os setores da Sauacutede e da Educaccedilatildeo incluindo as accedilotildees de cunho
preventivo e promotoras de cultura de paz1
Por fim por se tratar de um estudo de revisatildeo bibliograacutefica a pesquisa natildeo necessitou
ser submetida a um comitecirc de eacutetica em pesquisa com seres humanos
1 A cultura de paz estaacute intrinsecamente relacionada agrave prevenccedilatildeo e agrave resoluccedilatildeo natildeo violenta dos conflitos Eacute uma
cultura baseada em toleracircncia e solidariedade uma cultura que respeita todos os direitos individuais que
assegura e sustenta a liberdade de opiniatildeo e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os () A cultura
de paz procura resolver os problemas por meio do diaacutelogo da negociaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo de forma a tornar a guerra e a violecircncia inviaacuteveis Disponiacutevel em httpunesdocunescoorgimages0018001899189919porpdf
Acessado em 26052018
PERGUNTAS SAUacuteDE EDUCACcedilAtildeO
Como o Cyberbullying eacute
conceituado
Quais as descriccedilotildees das
dinacircmicas
Quais as descriccedilotildees dos
personagens
Quais as associaccedilotildees e
implicaccedilotildees com a sauacutede das
pessoas intimidadas e dos
perpetradores
Como as propostas de
intervenccedilatildeo satildeo apresentadas
(estrateacutegias de accedilatildeo objetivos
personagens envolvidos)
26
1 MARCO TEOacuteRICO
11 CIBERCULTURA SOCIABILIDADE DIGITAL E CIBERESPACcedilO
O surgimento da internet teria sido fruto da ARPANET uma rede de computadores
construiacuteda nos EUA pela Advanced Projects Agency (ARPA) do Departamento de Defesa
americano em 1969 com intuito de mobilizar recursos de pesquisas universitaacuterias para obter
superioridade tecnoloacutegica militar em comparaccedilatildeo a Uniatildeo Sovieacutetica Contudo somente na
deacutecada de 1980 eacute que a tecnologia da rede de computadores passou a ser comercializada ―Por
razotildees histoacutericas e culturais a internet foi deliberadamente projetada como uma tecnologia de
comunicaccedilatildeo livre (Castells 200310)
Desde entatildeo a sociabilidade contemporacircnea passou por significantes transformaccedilotildees
a partir do advento da internet De acordo com Castells (2003) a internet passou a ser a base
tecnoloacutegica para a forma organizacional da era da informaccedilatildeo Sendo assim da internet incide
a capacidade de distribuiccedilatildeo da forccedila informacional por todo o domiacutenio da atividade humana
permitindo pela primeira vez a comunicaccedilatildeo de muitos com muitos num momento
escolhido em escala global
De acordo com o dicionaacuterio Priberam (2016) internetlsquo eacute uma palavra de origem
inglesa que significa
―Rede informaacutetica utilizada para interligar computadores agrave niacutevel
mundial agrave qual pode aceder qualquer tipo de usuaacuterio e
que possibilita o acesso a toda a espeacutecie de informaccedilatildeo (httpswwwpriber
amptDLPOinternet)
Haacute um entendimento de que a internet contribui para as dinacircmicas de mercado
ampliaccedilatildeo e agilidade nas redes de contato acesso a informaccedilatildeo entre outros aspectos
concernentes agraves sociedades poacutes-modernas Atraveacutes dos avanccedilos tecnoloacutegicos na atualidade eacute
possiacutevel o acesso agrave internet por meios eletrocircnicos modernos como smartphones tablets
notebooks e ultrabooks
Cabe salientar que os avanccedilos tecnoloacutegicos bem como todo esse aprimoramento com
relaccedilatildeo agrave experiecircncia de interaccedilatildeo eou de estar conectado permitiu que novos modos de
27
sociabilidade fossem permitidos como as redes sociais Barnes foi apontado como um dos
criacuteticos que defende a ideia de alargamento e natildeo delimitaccedilatildeo do que hoje conhecemos como
redes sociais Ao realizar uma etnografia sobre o iniacutecio de uma estratificaccedilatildeo social numa ilha
norueguesa tal antropoacutelogo desenvolvera uma tese segundo a qual todos seus habitantes
estariam interligados uns aos outros por cadeias de conhecimentos interligados e pouco
extensatildeo mas que natildeo se limitava aos limites da ilha entretanto ligavam seus habitantes a
outros sujeitos fora do seu contexto social e topograacutefico de pertencimento (Barnes A 1954
apud Marteleto 2010)
Jaacute Lemos (2015) ao relatar sobre o ciberespaccedilo declara que este eacute compreendido como
um espaccedilo sem dimensotildees um universo de informaccedilotildees navegaacuteveis de forma instantacircnea e
reversiacutevel Afirma ser uma ―nova dimensatildeo espaccedilo temporal de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo
(p127) Para o autor esse natildeo lugar remete a duas perspectivas 1ordf O lugar onde estamos
quando entramos em um ambiente simulado (ambiente virtual) 2ordf Um conjunto de redes de
computadores interligadas ou natildeo em todo o planeta a internet ―as redes vatildeo se interligar
entre si e permitir a interaccedilatildeo por mundos virtuais () (pg128) Natildeo obstante a cibercultura
representaria um conjunto de aspectos e padrotildees culturais relacionados com a internet e a
comunicaccedilatildeo em redes de computadores (Dicionaacuterio online Priberam 2016) Com a criaccedilatildeo
dessa nova expressatildeo da cultura inserida no ambiente virtual foram estabelecidos novos
paracircmetros de privacidade do sujeito agrave medida que cada vez mais as pessoas estatildeo sendo
observadas por todos em todos os lugares fenocircmeno que alguns autores chamam de
vigilacircncia e visibilidade
Segundo Levy (2010) a Cibercultura em sua essecircncia tem caraacuteter de um universal
poreacutem sem totalidade pois ele seria indeterminado agrave medida que em cada nova transmissatildeo
pode representar um receptor ou emissor de informaccedilotildees de dimensotildees inalcanccedilaacuteveis e
aleatoacuterias Na cibercultura o real e virtual estatildeo a todo tempo em contato ao passo que um
indiviacuteduo pode estar no Brasil conectado online com uma pessoa do Japatildeo ou ainda em
conexatildeo com pessoas em diferentes nacionalidades numa mesma interaccedilatildeo online
Entendemos que esta universalidade eacute alcanccedilada agrave medida que possibilita diferentes e
muacuteltiplas conexotildees entre seres humanos em todo o planeta Deixa de ser total por natildeo
possuirmos o controle das dimensotildees que essas conexotildees podem alcanccedilar pela falta de
28
domiacutenio sobre as informaccedilotildees partilhadas visto que uma vez lanccediladas na rede natildeo se pode
mensurar o potencial de compartilhamentos acessos e quais novas conexotildees podem ser
geradas Nesse aspecto a interconexatildeo generalizada emerge do crescimento da internet como
uma nova forma de universal Para Levy (2010) o universo da cibercultura eacute indefinido se
considerada a gama de conexotildees que podem ser estabelecidas ao passo que o emissor ou
produtor a todo o momento pode estabelecer diferentes conectividades
Nessa sociedade poacutes-moderna os modos de conexotildees atraveacutes das distintas tecnologias
digitais tecircm gerado novas formas do que representa viver em sociedade Entre as
caracteriacutesticas da sociabilidade digital estaacute a hipervisibilidade e o tribalismo No que tange a
hipervisibilidade o ciberespaccedilo contribui para a criaccedilatildeo de uma ―realidade aumentada
(Lemos 2015) Que pode ser configurada com a exposiccedilatildeo e maior visibilidade que as vidas e
os corpos passam a ganhar Dados como localizaccedilatildeo fotos e hipertextos expotildeem informaccedilotildees
sobre o indiviacuteduo e todos que possui um viacutenculo virtual seja este viacutenculo ―fraco ou ―forte
O privado passa a ser publicizado a partir dos compartilhamentos realizados neste universo de
informaccedilotildees instantacircneas em tempo real Outra dimensatildeo da sociabilidade digital presente na
cibercultura eacute o que Lemos (2015) chama de tribalismo sendo esta uma ―tendecircncia
comunitaacuteria na rede social complexa do ciberespaccedilo Essa caracteriacutestica de tribalismo
concebe uma ideia de agregaccedilatildeo social empatia pautados no interesse muacutetuo de estar
conectados por ideologias ou alguma outra identificaccedilatildeo Contudo essa socialidade tribal traz
consigo um ethos de compartilhamento baseado no que Maffesoli vai chamar de eacutetica da
esteacutetica (Maffesoli 1987 apud Lemos 2015) Esse termo designa um processo em que a
sociedade eacute mascarada assumindo um ethos a partir daquilo que pretende compartilhar com
os outros um modo de ser partindo do que se quer ostentar
E se analisarmos o crescimento do acesso agrave conexatildeo de internet cada vez mais
pessoas estatildeo navegando na rede e compartilhando de seus interesses abrindo suas vidas
quase que indiscriminadamente
Para ressaltarmos o quanto o acesso agrave internet tem crescido no paiacutes verificamos que
em 2009 segundo o resultado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) feita pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) cerca de 679 milhotildees de brasileiros
teriam conexatildeo com a internet ou seja o nuacutemero de domiciacutelios com acesso agrave internet no
Brasil aumentou em 71 entre 2005 e 2009 (Site UOL) Jaacute os resultados da PNAD 2013
divulgados em 2015 nos mostraram que cerca de 856 milhotildees de brasileiros (acima de 10
anos) o equivalente a 494 da populaccedilatildeo teriam acesso agrave internet incluindo por meio de
29
aparelhos que natildeo fosse notebooks e desktops Dos 312 milhotildees das residecircncias com
acesso agrave internet 977 estatildeo conectados por banda larga Em meacutedia 771 dos
domiciacutelios conectam a internet por banda larga fixa enquanto 435 teriam acesso
agrave banda larga moacutevel (Site EBC)
Em contrapartida apesar dos nuacutemeros expressivos o direito agrave inclusatildeo digital ainda
natildeo corresponde agrave realidade de todos os brasileiros sendo um tema de grande discussatildeo
Todavia jaacute eacute uma realidade em parte do Brasil acessar a internet por WIFI internet agrave raacutedio ou
modems 3G e 4G moacuteveis A partir da instalaccedilatildeo de aplicativos (apps) em aparelhos moacuteveis
que comportam o acesso agrave internet eacute possiacutevel conectar-se a Redes Sociais como Facebook
WHATSAPP INSTAGRAM TWITTER SNAPCHAT entre outras inclusive de forma
―gratuita Obviamente tal gratuidade possui interesses e contrapartidas comerciais Todavia
o que nos chama atenccedilatildeo eacute que essas redes sociais representam um ponto de encontro de
centenas de milhares de jovens ao redor do mundo diariamente com longas duraccedilotildees de
conexotildees (sempre online) e em grande escala sem administraccedilatildeo de tempo eou supervisatildeo de
um adulto responsaacutevel Cada vez mais cedo crianccedilas tecircm acesso agraves redes sociais O que nos
leva a crer que crianccedilas por vezes com apoio de seus responsaacuteveis estariam omitindo ou
adulterando sua idade real para que tenham acesso agraves redes sociais que natildeo permitem o
acesso de crianccedilas menores de 13 anos (como no caso do FACEBOOK)2 Essa espeacutecie de
conivecircncia dos pais que permitem que seus filhos utilizem redes sociais mesmo quando
algumas plataformas digitais natildeo permitem o acesso de crianccedilas Inclusive esse acesso pode
ser considerado como um risco a sauacutede e a seguranccedila das crianccedilas
O estudo de Machold et al (2012) com 474 estudantes Irlandeses de trecircs escolas
secundaacuterias entre 11 e 16 anos de idade para avaliar padrotildees gerais de uso da internet e
identificar potenciais de risco incluindo cyberbullying contato improacuteprio uso excessivo
dependecircncia e invasatildeo de privacidade por outros usuaacuterios detectou que (403) o equivalente agrave
95 dos adolescentes fazem uso de redes sociais Com relaccedilatildeo ao tempo de uso duas horas
ou mais foram gastas nas redes sociais diariamente por (285) o correspondente a 62 sendo
que 450 estudantes cerca de (98) fazem uso sem supervisatildeo
Entretanto os laccedilos de afinidade neste ambiente invisiacutevel onde os perfis e as novas
relaccedilotildees estabelecidas nas redes sociais podem natildeo ser verdadeiros mas simulaccedilotildees Essa
realidade estaacute presente no cotidiano de milhares de pessoas que estatildeo predispostas a manter
2 httpspt-brfacebookcomhelp210644045634222
30
um contato virtual na maioria das vezes pautado na superficialidade agrave medida que esse
ambiente invisiacutevel (considerando suas dimensotildees) traz visibilidade para nossa localizaccedilatildeo e
atividades compartilhadas com os ―amigos virtuais Martino (2015) ao tratas das relaccedilotildees
sociais mantidas na rede considera que ―por seu turno conexotildees satildeo criadas mantidas eou
abandonadas a qualquer instante sem maiores problemas comparadas as ―instituiccedilotildees
sociais como a famiacutelia trabalho ou religiatildeo tendem a ser mais riacutegidas para com seus membros
do que as redes sociais
A internet trouxe um desenvolvimento expressivo para o funcionamento das
sociedades modernas Para Shariff (2011) pela sua natureza os meios eletrocircnicos permitem
que as formas tradicionais do bullying assumam caracteriacutesticas que satildeo especiacuteficas do
ciberespaccedilo
Esse espaccedilo seria representado por um solo natildeo configurado onde os sujeitos se
relacionam de qualquer territoacuterio fiacutesico com pessoas que estejam em um diferente local
como se ambas estivessem frente a frente sem a necessidade de haver um contato fiacutesico ou
real o encontro se daacute em uma nova dimensatildeo o ciberespaccedilo
Concluiacutemos que o ciberespaccedilo eacute um campo natildeo material poreacutem virtual onde a noccedilatildeo
de espaccedilo eacute perdida e o real eacute aumentado possibilitando a comunicaccedilatildeo por meios eletrocircnicos
e a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees em larga escala com muacuteltiplas e distintas pessoas
22 Bullying
A violecircncia admite distintas expressotildees e multicausalidades (Ferreira e Tavares 2012)
Desse modo se faz necessaacuterio abordar a questatildeo do bullying antes de aprofundarmos sobre a
questatildeo central deste trabalho Segundo Fante e Pedra (2008) na maioria dos paiacuteses onde o
fenocircmeno eacute estudado emprega-se o termo em inglecircs (bullying) Entretanto existem
alguns paiacuteses que utilizam outros termos de sua liacutengua sem que se perca o
significado Satildeo usados por exemplo mobbing na Noruega e na Dinamarca [t raduz ido
para o po rtuguecircs co mo bu l lying] mobbning na Sueacutec ia e na F in lacircnd ia
[ t raduz ido para o por tuguecircs como b u l lying] hercegravelement quotidien na Franccedila
[traduzido para o portuguecircs como asseacutedio diaacuterio] prepotenza ou bullismo na I t aacute l ia
[traduzido para o portuguecircs como bullying] ijime no Japatildeo [traduzido para o portuguecircs
31
como arrelia3] Agressionen unter S h uuml le r n na Alemanha (traduzido para o portuguecircs
como agressatildeo entre alunos) a c o s o e a m e n a z a entre escolares ou in t i m i d a c ioacute n na
Espanha [traduzido para o portuguecircs como perseguiccedilatildeo ameaccedila e intimidaccedilatildeo] (pg 34)
[grifos nossos]
Algo que nos chama agrave atenccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave temaacutetica bullying eacute a compreensatildeo que
alguns autores tecircm acerca do significado e ambiguidade entre a questatildeo do bullying e o
Asseacutedio Moral (mobbing4
) cabe destacar que por se tratar de palavras inglesas essa
ambiguidade se apresenta a partir da realizaccedilatildeo de traduccedilatildeo da temaacutetica como no caso da
liacutengua espanhola Como exemplo destacamos ao estudo peruano de Armeno (2011) que ao
tratar do assunto bullying escolar utiliza a palavra acoso (perseguiccedilatildeo) escolar poreacutem ao
serem utilizadas em conjunto (acoso escolar) eacute traduzida para o portuguecircs como bullying
Contudo algumas traduccedilotildees por exemplo traduz ―acoso escolar como asseacutedio moral
quando as palavras estatildeo juntas poreacutem acoso sem escolar tem como significado perseguiccedilatildeo
como mostrado no quadro anterior
Eacute possiacutevel ver neste estudo que satildeo muitas as definiccedilotildees tratadas para este assunto
desde o entendimento sobre o significado ou a magnitude do cyberbullying e sobre o bullying
Em alguns casos tanto cyberbullying como o bullying podem ser confundidos por
dificuldades na clareza de suas definiccedilotildees Contudo Farrington (1993381) define o bullying
como uma ―opressatildeo repetida de caraacuteter fiacutesico ou psiacutequico de uma pessoa com menos poder
por outra com mais poder Neste sentido o mais forte exerce poder sobre o mais fraco seja
esse poder de ordem fiacutesica por meio de agressatildeo ou psicoloacutegica de modo a causar medo e
intimidaccedilatildeo
Dentre vaacuterias definiccedilotildees para o que se entende por bullying Melo (2011) define como
uma agressatildeo fiacutesica psicoloacutegica verbal moral sexual material ou virtual praticada por uma
ou vaacuterias pessoas contra uma mesma viacutetima de forma repetitiva por um periacuteodo prolongado
de tempo sem motivo aparente baseada numa relaccedilatildeo desigual de poder dificultando a
defesa da viacutetima e que deixa sequelas marcas e consequecircncias (pg21) Natildeo podemos deixar
de mencionar que o bullying eacute uma violecircncia entre pares
3 Arrelia traz entre sua significaccedilatildeo 1 Amofinaccedilatildeo [ato de aborrecer] apoquentaccedilatildeo [aborrecimento
aporrinhaccedilatildeo] 2falta de paciecircncia pressa sofreguidatildeo 3contenda rixa desavenccedila 4pressentimento de coisa
maacute mau agouro (Google) wwwgooglecombrsearch Acessado em 27102016
4 Palavra inglesa para asseacutedio moral
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Armeno (2011) considera a questatildeo do bullying (―acoso escolar) como uma
violecircncia social que pode asssumir forma verbal fiacutesica e por isolamento social da viacutetima
Para o autor os espectadores (outros estudantes) seriam necessaacuterios visto que satildeo
para esses que o perpetrador do bullying ―perseguidor ―mostra seu poder O silecircncio dos
espectadores permite que as accedilotildees sejam sistemaacuteticas Em termos de conteuacutedos eles podem
ser racistas se a origem da questatildeo eacute eacutetnica se eles incluem piadas obcenas de cunho sexual
ou ainda homofoacutebicas se tecircm a ver com a suposta orientaccedilatildeo sexual dos que sofrem a accedilatildeo
Se os meios utilizados satildeo as mensagens por telefones celulares ou computadores considera
como bullying digital o que para o autor pode ser devastador porque a viacutetima natildeo teria um
lugar para fugir das accedilotildees de bullying sofridas na escola visto que na internet a accedilatildeo pode ter
continuidade (Armeno 2011) Diante disso entendemos que o autor compreende o ―bullying
digital como uma extensatildeo do bullying tradicional e que a escola eacute o campo em que tais
accedilotildees satildeo iniciadas e que a presenccedila de espectadores pode potencializar ainda mais as accedilotildees
promovidas pelos perpetradores por encontrarem nestes a ―plateacuteia para realizaccedilatildeo de seus
atos de bullying
Compete resgatar que o iniacutecio da conscientizaccedilatildeo acerca deste grave problema no
acircmbito escolar bem como ressaltar que os primeiros estudos sobre o assunto foram
produzidos pelo Professor Universitaacuterio Dan Olweus na Noruega como jaacute mencionado Em
1993 Olweus publica na Escandinaacutevia o livro ―Bullying at School onde expotildee o bullying
como um fenocircmeno presente no contexto escolar trazendo uma discussatildeo a partir dos
resultados obtidos em seus estudos projetos de investigaccedilatildeo apresentando uma possiacutevel
correlaccedilatildeo de ―caracteriacutesticas que poderiam identificar os perfis de viacutetimas e agressores O
livro apresenta o resultado obtido em sua pesquisa sistemaacutetica realizada na deacutecada de 1980
com 150000 estudantes escandinavos onde descobriu que 15 dos estudantes entre 08 e 16
anos estavam envolvidos com a questatildeo do bullying sendo viacutetimas e agressores com
regularidade e entre esses havia casos de agressores que tambeacutem eram vitimas de Bullying
(Olweus 2003) Como repercussatildeo do estudo de Olweus e Roland ―Bullying at School uma
Campanha Nacional Anti Bullying foi desenvolvida nas escolas norueguesas em 1993 com o
apoio do Governo tendo com resultado a reduccedilatildeo em cerca de 50 nos casos de bullying nas
escolas
Outro ponto relevante eacute com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero entre os personagens do
fenocircmeno bullying Cabe destacar a pesquisa de Da Costa et al (2015) que ao analisar a
prevalecircncia de casos de bullying entre 598 adolescentes brasileiros na faixa etaacuteria de 14 agrave 17
33
anos de aacuterea urbana de Belo Horizonte em 2009 constatou que houve uma prevalecircncia de
264 entre os entrevistados Sendo 280 entre os entrevistados de sexo masculino e 240
entre o puacuteblico do sexo feminino Isso significa que frac14 dos adolescentes que responderam ao
questionario sofreram bullying Entre os meninos esse nuacutemero foi um pouco mais elevado do
que entre as meninas A questatildeo do bullying estaria associada agrave insatisfaccedilatildeo com a vida que
levam dificuldades na relaccedilatildeo com pais envolvimento em brigas com colegas (pares) e
inseguranccedila na regiatildeo onde residem Uma observaccedilatildeo interessante eacute que o estudo de Da Costa
et al (2015) foi realizado no mesmo ano que a primeira Pesquisa Nacional de Sauacutede do
Escolar (PENSE5) 2009 realizada pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e
Ministeacuterio da Sauacutede Poreacutem os resultados foram divergentes com relaccedilatildeo a mesma capital
investigada BH Com relaccedilatildeo agrave PENSE a pesquisa foi realizada em escolas para investigar
fatores de risco e proteccedilatildeo da sauacutede dos escolares jaacute a pesquisa de Da Costa e colaboradores
foi um estudo populacional realizado no domiciacutelio dos entrevistados por meio de inqueacuterito
com amostragem probabiliacutestica em trecircs estaacutegios setores censitaacuterios residecircncia e indiviacuteduos
Os inquiridos responderam questotildees sobre bullying caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
comportamentos de risco agrave sauacutede bem-estar educacional estrutura familiar atividade fiacutesica
marcadores de haacutebitos alimentares e bem-estar subjetivo (percepccedilatildeo corporal satisfaccedilatildeo
pessoal e satisfaccedilatildeo com a vida atual e futura) Outro fator que pode ter influecircncia nos
resultados foi o tamanho da amostra visto que a pesquisa PENSE analisou apenas alunos
matriculados no 8ordf Seacuterie fundamental (atual 9ordm ano) de escolas puacuteblicas e particulares da
cidade de BH enquanto que o estudo de Da Costa a escolaridade dos investigados natildeo foi um
recorte A prevalecircncia de bullying na PENSE 2009 em BH foi de 69 segundo Malta
(2014)
Haacute um entendimento de que os adolescentes do sexo masculino seriam os maiores
praticantes e alvos de bullying conforme aponta resultado da pesquisa PENSE 2012 Nesse
estudo observou-se maior praacutetica de bullying entre os estudantes do sexo masculino (261)
e 160 entre as estudantes do sexo feminino (IBGE 2013)
Com relaccedilatildeo ao enfrentamento a essa problemaacutetica Schutz et al (2012) defendem a
ideia de que a atuaccedilatildeo contra o bullying assim como cyberbullying natildeo pode estar restrita agrave
individualidade das caracteriacutesticas dos sujeitos em questatildeo ou seja autor e alvo ignorando a
5 Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar ndash PENSE eacute um inqueacuterito com alunos de escolas puacuteblicas e particulares
realizado pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que disponibiliza informaccedilotildees para o sistema de informaccedilotildees para o Sistema de Vigilacircncia de Fatores de Riscos e Proteccedilatildeo as Doenccedilas Crocircnicas do Brasil
Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfressv26n32237-9622-ress-26-03-00605pdf Acessado em 26062018
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teia complexa das relaccedilotildees que implicam a manutenccedilatildeo do fenocircmeno Os autores sugerem
uma anaacutelise sistecircmica da complexidade dos diversos sistemas envolvidos e das relaccedilotildees
estabelecidas entre autor e alvo testemunhas famiacutelia comunidade escolar a cultura na qual
estatildeo inseridos Apontam a necessidade de investigaccedilatildeo que verifique a incidecircncia dos casos e
abrangecircncia do problema incluindo toda a comunidade escolar
Em 2015 o Brasil passou a dispor de uma legislaccedilatildeo Federal que trata da questatildeo A
lei Anti Bullying instituiu o Programa Nacional de Combate agrave Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica
(bullying) Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica eacute a configuraccedilatildeo utilizada no Brasil para classificar o ato
de violecircncia que internacionalmente eacute denominado por Bullying
―No contexto e para os fins desta Lei considera-se intimidaccedilatildeo
sistemaacutetica (Bullying) todo ato de violecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica
intencional e repetitivo que ocorre sem motivaccedilatildeo evidente praticado
por indiviacuteduo ou grupo contra uma ou mais pessoas com o objetivo
de intimidaacute-la ou agredi-la causando dor e anguacutestia agrave viacutetima em uma
relaccedilatildeo de desequiliacutebrio de poder entre as partes envolvidas
(Paraacutegrafo 1ordm da Lei 131852015)
Cabe mencionar que a lei natildeo deixa expliacutecito se inclui a questatildeo do asseacutedio moral no
trabalho visto que ao instituir o programa propotildee accedilotildees no acircmbito escolar com enfoque nos
estudantes
Outra definiccedilatildeo para a questatildeo do bullying bastante coerente adveacutem da lei do Estado
do Rio de Janeiro jaacute mencionada anteriormente que define o bullying como
A praacutetica reiterada e habitual de atos de violecircncia fiacutesica verbal ou
psicoloacutegica de modo intencional exercida por indiviacuteduo ou grupos de
indiviacuteduos contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidar
agredir causar dor ou sofrimento anguacutestia ou humilhaccedilatildeo agrave vitima
inclusive por meio de exclusatildeo social (Paraacutegrafo 1ordm da Lei 64012013
- RJ)
A lei que institui 7 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento a Violecircncia na
escola faz menccedilatildeo ao Massacre de Realengo trageacutedia ocorrida em abril do ano de 2011
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quando doze crianccedilas entre 13 e 16 anos (dez meninas e dois meninos) foram assassinados a
tiros na Escola Municipal Tasso da Silveira por um ex aluno da unidade escolar que apoacutes ser
atingido por um tiro disparado por um policial militar teria se suicidado (AGEcircNCIA
SENADO 2016) Segundo relatos a motivaccedilatildeo do crime seria incerta poreacutem a nota do
suiciacutedio deixada pelo o autor do massacre e de acordo com o testemunho da irmatilde adotiva o
jovem sofria bullying
Natildeo podemos deixar de mencionar que Campanhas de enfrentamento ao Bullying tecircm
aparecido em pautas de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGs) e Governamentais como
Stop Bullying do Department of Health and Human Services dos Estados Unidos (EUA)
comunidades escolares e universidades como Massachusettes Aggresion Reduction Center
da Brigde State University (EUA) e em diferentes paiacuteses como Portugal Inglaterra Canadaacute
e Noruega Este uacuteltimo foi um dos primeiros paiacuteses a desenvolver campanhas anti bullying
alertando sobre seus impactos na vida e sauacutede dos que sofre essa violecircncia
Por fim cabe discorrer sobre os agravos agrave sauacutede relacionados a sofrer bullying Os
meninos e meninas alvos de bullying estariam propensos a desenvolver episoacutedios de
ansiedade baixo rendimento escolar inseguranccedila na escola sofrer de tensatildeo crescente
estando preacute-dispostos ao maior uso abusivo de drogas e em alguns casos mais graves ao
suiciacutedio (Malta et al 2010) Gera tanto um sofrimento emocional moral quanto fiacutesico
podendo desencadear outros agravos tais como baixa autoestima depressatildeo estresse
doenccedilas psicossomaacuteticas transtornos mentais (Calhau 2008 p88) O bullying natildeo deve ser
considerado como uma simples brincadeira (―zoaccedilatildeo) entre crianccedilas e adolescentes muito
menos ser banalizado ao passo de ser algo rotineiro Pelo contraacuterio esse assunto carece de ser
tratado como uma questatildeo de Sauacutede Puacuteblica que deve ser discutida investigada e enfrentada
por muacuteltiplos setores
A PENSE (Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar) uma pesquisa com escolares
adolescentes de escolas puacuteblicas e privadas realizada pelo IBGE que entre os objetivos visa
aferir dados sobre bullying incluiu na ediccedilatildeo de 2015 uma segunda amostra O que
representou um diferencial com relaccedilatildeo agraves ediccedilotildees anteriores De acordo com a pesquisa
(2015) a primeira amostra foi realizada com 2630835 estudantes frequentando o 9ordm ano do
ensino fundamental de escolas puacuteblicas e privadas do Brasil em Grandes Regiotildees Distrito
Federal Capitais e Estados e a segunda amostra realizada com 13199862 estudantes de 13 a
17 anos de idade frequentando as etapas do 6ordm ao 9ordm Ano (antiga 5ordf a 8ordf seacuteries) do ensino
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fundamental e alunos do 1ordm ao 3ordm ano do Ensino Meacutedio (antigo 2ordm Grau) de escolas puacuteblicas e
privadas para o conjunto do paiacutes e em grandes capitais no ano de referecircncia da pesquisa
(IBGE 2015) Dentre os entrevistados desta ediccedilatildeo a primeira amostra 74 sofreram
provocaccedilotildees ou foram humilhados sempre ou na maior parte do tempo nos uacuteltimos 30 dias
que antecederam a pesquisa O estudo apontou com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que os
percentuais foram proacuteximos para os estudantes do sexo feminino 72 e sexo masculino
75 Jaacute os estudantes da regiatildeo Sudeste apresentaram o maior percentual 83 estes
afirmaram sofrer humilhaccedilotildees e constrangimentos no acircmbito escolar Outro dado relevante eacute
do Estado de Satildeo Paulo que obteve o maior percentual 90 se comparado ao percentual
obtido pela regiatildeo sudeste e demais regiotildees A aparecircncia do corpo e do rosto foram os
principais motivos da violecircncia psicoloacutegica sofrida pelos escolares Com relaccedilatildeo aos
perpetradores aproximadamente 198 dos escolares brasileiros haviam praticado atos
configurados como bullying (ter esculachado zombado mangado intimidado ou caccediloado)
poreacutem entre os estudantes do sexo masculino este nuacutemero foi mais elevado aproximadamente
242 Interessante que com relaccedilatildeo aos intimidados (aqueles que declararam se sentir
humilhados e provocados com frequecircncia pelos colegas) os nuacutemeros apresentados foram de
74 entre a faixa etaacuteria de 13 a 15 anos e 52 dos estudantes entre 16 e 17 anos (IBGE
2015) Na ediccedilatildeo da PENSE supracitada foi incluiacuteda uma questatildeo especiacutefica para abordar a
questatildeo do bullying natildeo utilizado nas PENSEs 2009 e 2012 Nessas ediccedilotildees ―bullying era
substituiacutedo por verbos como (esculachar zoar mangar caccediloar e intimidar) entretanto
passaram a adotar o termo ―intimidaccedilatildeo em consonacircncia a nomenclatura adotada a partir da
Lei de Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica (Lei Anti bullying e cyberbullying brasileira)
promulgada no ano em que a pesquisa foi realizada (2015) Relevante informar que o estudo
aponta como legiacutetimo o reconhecimento do bullying como uma importante questatildeo de Sauacutede
Puacuteblica bem como a relevacircncia de estrateacutegias intersetoriais de enfrentamento Natildeo houve
uma especificaccedilatildeo para o cyberbullying na pesquisa PENSE 2015 no quadro que analisou a
questatildeo da intimidaccedilatildeo apesar da lei vigente no paiacutes incluir e reconhecer a versatildeo virtual do
bullying Embora tenham mencionado no texto e haverem citado o recorte dado na Lei de
Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica sobre a questatildeo do cyberbullying nos dados
analisados pela pesquisa Natildeo houve ainda um toacutepico especiacutefico que pudesse identificar onde
ocorriam as ―intimaccedilotildees zoaccedilotildees e esculachos subentendendo-se que ocorria na escola
aleacutem disto os meios eletrocircnicos natildeo foram apontados
37
23 CYBERBULLYING
231 Cyberbullying violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica
Entre o grande nuacutemero de pessoas conectadas pela internet novos modos de
interaccedilotildees aparecem a partir da utilizaccedilatildeo de dispositivos eletrocircnicos possibilitando assim a
disseminaccedilatildeo irrestrita de informaccedilotildees em formato ―multimodal onde ―os recursos de miacutedia
integram coacutedigos texto som e imagem (Junior E Rocha 2013 pg206) Com a internet o
potencial de transmissatildeo e receptaccedilatildeo de informaccedilatildeo se tornou mais expansivo em relaccedilatildeo a
outras miacutedias como o caso da TV analoacutegica (atualmente substituiacuteda pela TV digital) (idem)
Permitindo assim que o compartilhamento de informaccedilotildees seja propagado com maior
facilidade inclusive as informaccedilotildees difamatoacuterias
O uso da internet em especial de redes de relacionamentos traz consigo a
probabilidade de disseminaccedilatildeo de violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de
relacionamentos criaccedilatildeo de falsos (―fakes) perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo ao
convite ao suiciacutedio por meio de sites escolares clandestinos No Japatildeo satildeo conhecidos como
―gakko ura saito os sites escolares clandestinos acessados pelo celular Eles geram uma nova
forma de cyberbullying em grupo poreacutem sem a necessidade de identificaccedilatildeo dos chamados
―caluniadores anocircnimos (Hasegawa et al 2007 Shariff 2011) O ijime-jisatsu [suiciacutedio
associado ao ijimi - cullying] eacute uma das consequecircncias desastrosas e culturalmente incidentais
do fenocircmeno no Japatildeo Outro aspecto cultural no Japatildeo do netto-ijime [cyberbullying] eacute a
taxa elevada de suiciacutedio entre os jovens O que nos mostra o quanto o territoacuterio invisiacutevel da
internet pode desencadear no campo presencial consequecircncias agrave sauacutede de seus afetados
Admitindo que vivenciar uma experiecircncia de violecircncia no universo digital pode ser bastante
devastador Conforme afirma Santos et al (2013) a internet se torna um palco de grandes
riscos
Entendemos que o cyberbullying manteacutem muitas das caracteriacutesticas do bullying
poreacutem natildeo constitui meramente uma de suas expressotildees na instacircncia virtual pois possui
algumas caracteriacutesticas proacuteprias como o longo alcance do conteuacutedo depreciativo audiecircncia
de larga escala (testemunhas) por causar impacto nas viacutetimas sem precedentes pela
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possibilidade de anonimato por parte dos perpetradores Aleacutem disso a ocorrecircncia do
cyberbullying pode se dar a qualquer momento e em qualquer lugar pela
dificuldademorosidade na detecccedilatildeo dos praticantes do cyberbullying ou dos criadores de
perfis falsos constituiacutedos no intuito de depreciar agredir e constranger Ao que se refere agraves
traduccedilotildees para o portuguecircs dos termos adotados para a palavra cyberbullying a traduccedilatildeo
aparece disponiacutevel em vaacuterias liacutenguas conforme Google Tradutor
Quadro 3 Vocaacutebulos designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas
Palavra Liacutenguas Traduccedilatildeo para Portuguecircs
Kiberzapugivanieye Russo Cyberbullying
Cyber-mobbing Alematildeo Cyberbullying
naumltmobbning Sueco Cyberbullying
Cyberintimidation Francecircs Cyberbullying
Cyber bullismo Italiano Cyberbullying
Netto yjime Japonecircs Cyberbullying
Cyberpesten Holandecircs Cyberbullying
El ciberacoso Espanhol Cyberbullying
Seiber-fwlio Galecircs Cyberbullying
Maltretiranje Seacutervio Cyberbullying
Cyberprzemoc Polonecircs Cyberbullying
Fonte da traduccedilatildeo Google Tradutor
O termo cyberbullying teria sido criado pelo educador e pesquisador do Canadaacute Bill
Belsey para identificar o bullying virtual que faz uso das tecnologias digitais e para de modo
39
insistente e repetitivo hostilizar ofender ou ameaccedilar algueacutem (Maldonado 2009 in Melo
2011)
O que tem ocorrido eacute o crescimento de casos de agressotildees virtuais concebidas no
ambiente do ciberespaccedilo A forma de propagaccedilatildeo desse tipo de violecircncia deve ser analisada e
contextualizada O uso da internet pode ter um cunho prejudicial e essa consequente situaccedilatildeo
de exposiccedilatildeo pode tornar os sujeitos vulneraacuteveis ao passo de atingir em maior proporccedilatildeo a
geraccedilatildeo digital (os mais jovens) sendo necessaacuteria a mobilizaccedilatildeo de discussotildees sobre o papel
da escola na mediaccedilatildeo prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo virtual (Wendt 2011 p8)
Estudos tecircm advertido o quanto o cyberbullying tambeacutem pode desencadear agravos
relevantes agrave sauacutede de crianccedilas e adolescentes inclusive apontando um recorte de gecircnero
numa loacutegica binaacuteria desprovida de informaccedilotildees que caracterizem questotildees como a orientaccedilatildeo
sexual dos sujeitos Por exemplo Amemyia et al (2013) e Aranzales et al (2014) acreditam
que a praacutetica do cyberbullying eacute maior entre pessoas do sexo masculino Todavia minorias e
pessoas do sexo feminino satildeo mais propensas a serem atemorizados por estarem mais
vulneraacuteveis a situaccedilotildees de intimidaccedilatildeo Um estudo de meta-anaacutelise feito por Barllet et al
(2014) tendo como hipoacuteteses se cyber-bullying eacute considerado uma forma de bullying
tradicional e agressatildeo pessoas do sexo masculino seriam propensos a serem ―cyber-
valentotildees mais do que as do sexo feminino Inversamente se cyberbullying eacute considerado
relacional agressatildeo indireta as meninas seriam ligeiramente mais propensas a serem
perpetradoras de cyberbullying que os meninos Os autores apresentaram ainda outros
aspectos relevantes ao considerar na avaliaccedilatildeo questotildees como paiacutes continente e ano de
publicaccedilatildeo dos estudos bem como a idade dos atores pesquisados Ainda em Barllet et al
(2014) essas variaacuteveis poderiam influenciar significativamente os resultados de estudos sobre
cyberbullying Um dos fatores destacado tratou sobre as publicaccedilotildees que consideram o
cyberbullying uma forma de bullying tradicional e agressatildeo nesses casos os meninos seriam
mais propensos a serem perpetradores do que as meninas Contudo os resultados de
estimativas desse estudo afirmam que ainda sim os meninos teriam maior predisposiccedilatildeo a ser
―cyber-valentotildees Outro dado relevante eacute que no caso das meninas que relataram sofrer
cyberbullying a faixa etaacuteria estava entorno do iniacutecio adolescecircncia entretanto os meninos que
relataram sofrer cyberbullying apresentavam uma meacutedia de idade maior que as meninas
40
Assim o ambiente virtual eacute um terreno capaz de propiciar atos de violecircncia repetitiva
e ainda onde seus autores dificilmente satildeo descobertos o cyberbullying configura-se como
um tipo de violecircncia capaz de trazer consequecircncias graves as suas viacutetimas Para um usuaacuterio
do ambiente virtual que possui a imagem distorcida a internet pode representar uma
ferramenta de autodestruiccedilatildeo se natildeo utilizada de forma correta ou saudaacutevel Estudos apontam
dados significativos sobre os impactos do cyberbullying em estudantes6
Um fator relevante eacute que grande parte dos estudos ao mencionar sobre as pessoas que
satildeo atingidas pelo cyberbullying se referem a estes uacuteltimos utilizando o substantivo ―viacutetima
para identificar aqueles que sofrem este tipo de violecircncia Contudo acreditamos que o termo
traz a conotaccedilatildeo de passividade sugerindo ainda uma natildeo possibilidade de superaccedilatildeo da
condiccedilatildeo sofrida Eacute bem verdade que estudos apontam sobre as dificuldades das ditas
―viacutetimas em expor o dano sofrido ou pedir ajuda Entretanto outros conseguem ter
resiliecircncia a ponto de solicitar auxilio de familiares profissionais ou ainda autoridades Outro
aspecto relevante eacute que podem existir casos em que o intimidado pelo cyberbullying pode se
tornar um perpetrador ou ter sido um em outra situaccedilatildeo Inclusive pode haver casos em que
uma viacutetima de cyberbullying tenha sido um agressor (no caso do bullying tradicional) ou vice
versa Diante disso utilizaremos outros substantivos para relacionar aqueles que sofrem com
o Cyberbullying como por exemplo intimidados atingidos ou acometidos
Cassidy et al (2009) afirmam que adolescentes acometidos de cyberbullying teriam
uma maior predisposiccedilatildeo ao suiciacutedio do que aqueles que natildeo vivenciaram essas formas de
agressatildeo entre pares Apesar disso muitos dos que sofrem com o cyberbullying se calam
mesmo diante das constantes humilhaccedilotildees e depreciaccedilotildees Acreditamos que este calar por
parte dos intimidados pode representar tanto uma imaturidade acerca de como agir diante de
tal situaccedilatildeo como a falta de esclarecimento acerca dos serviccedilos e profissionais que podem
cuidar e acompanhar os casos de cyberbullying ou ainda uma ausecircncia de mecanismos de
apoio de faacutecil acesso que decircem conta de questotildees como esta Baronceli e Ciucci (2014) ao
6 Patchin e Hinduja (2010) dirigiram um estudo que objetivou apurar quais os impactos do
cyberbullying em jovens envolvendo 1963 alunos do ensino meacutedio oriundos de 30 escolas americanas Atraveacutes
de um instrumental de autodeclaraccedilatildeo estes estudiosos verificaram que tanto os cyberbullies (agressores) como
as viacutetimas apresentaram niacuteveis baixos de autoestima em maior frequecircncia quando comparados aos alunos sem
histoacuteria de vitimizaccedilatildeo online No entanto 231 dos alunos declararam ter sido perpetradores e 188 terem
sido viacutetimas de Cyberbullying Todavia as questotildees de gecircnero representaram diferenccedilas delimitadas
identificadas na ocorrecircncia dos subtipos de vitimizaccedilatildeo virtual entre meninos e meninas
41
investigar 529 preacute-adolescentes com idade inferior a 12 anos e 7 meses comparam
caracteriacutesticas de inteligecircncia emocional e controle negativo das emoccedilotildees relacionados ao
bullying e cyberbullying compreendendo que o bullying tradicional e cyberbullying satildeo duas
formas distintas de fenocircmenos da violecircncia envolvendo diferentes traccedilos de personalidades
Com relaccedilatildeo agraves formas de atuaccedilatildeo diante do cyberbullying segundo Melo (2011)
podemos encontrar a accedilatildeo direta e indireta Sendo a direta agressotildees por e-mail mensagens
instantacircneas natildeo havendo por parte do agressor o intuito de ficar no anonimato Jaacute a forma
indireta eacute vista como mais ―covarde e ―nefasta pois o agressor passa a usar nomes fictiacutecios
ou de terceiros o que pode ampliar a gravidade do problema visto que outras pessoas
(aqueles que assistem e disseminam a informaccedilatildeo) podem contribuir para esse estaacutegio de
―vitimizaccedilatildeo Entre as accedilotildees estatildeo votaccedilotildees online difamatoacuterias inclusatildeo de viacutedeos e
imagens vexatoacuterias entre outras
O campo virtual se tornou tambeacutem um meio de accedilotildees criminosas e violaccedilotildees de
direitos neste sentido atualmente jaacute existem Delegacias nuacutecleos e divisotildees policiais de
combate aos crimes de informaacutetica ou crimes ciberneacuteticos em diversos estados do paiacutes No
Rio de Janeiro por exemplo existe a Delegacia de Repressatildeo aos Crimes de Informaacutetica
(DRCI) localizada na Cidade da Poliacutecia na regiatildeo da Zona Norte da cidade e a Delegacia de
Proteccedilatildeo agrave crianccedila Viacutetima (DCAV) O que nos leva a entender que o cyberbullying jaacute pode ser
enquadrado como um crime contra a honra e dignidade por repercutir em danos agrave moral do
indiviacuteduo Natildeo podemos deixar de destacar que em algumas cidades brasileiras existem as
Delegacias de Proteccedilatildeo agrave crianccedila viacutetima de violecircncia Neste sentido cabe destacar o estudo de
Della Flora (2014) ao investigar 191 alunos de quatro turmas de 8ordf seacuterie (atual 9ordm ano)
fundamental e duas turmas de 1ordm ano do ensino meacutedio politeacutecnico e 17 professores constatou
que grande parte de alunos e professores citaram o registro de boletim de ocorrecircncia policial
como uma alternativa de enfrentamento ao cyberbullying por considerarem o ato como crime
em que o autor natildeo deve ficar impune Todavia uma vez que muitos de seus autores satildeo
outras crianccedilas ou adolescentes Segundo o artigo 104 do Estatuto da Crianccedila e adolescente -
ECA (Lei 806090) os menores de dezoito anos satildeo inimputaacuteveis Todavia a partir dos doze
anos de idade podem ser responsabilizados juridicamente caso cometam atos infracional
(conduta descrita no art 103 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente como crime ou
contravenccedilatildeo penal) Ainda assim a questatildeo da responsabilizaccedilatildeo merece atenccedilatildeo cuidadosa
O que nos leva reconhecer a importacircncia de uma normatizaccedilatildeo que advirta e responsabilize os
42
responsaacuteveis pelo cyberbullying natildeo extinguindo o potencial e a necessidade de accedilotildees
preventivas de maior impacto
Com relaccedilatildeo ao manejo prevenccedilatildeo e enfrentamento do bullying e suas apresentaccedilotildees
foram realizadas nos uacuteltimos anos no Brasil algumas estrateacutegias de enfrentamento no campo
juriacutedico algumas delas jaacute mencionadas anteriormente Essas legislaccedilotildees apresentam cunho de
responsabilizaccedilatildeo das escolas em notificar accedilotildees de violecircncia no contexto escolar aleacutem de
atividades de conscientizaccedilatildeo incluindo informaccedilotildees sobre o cyberbullying atraveacutes do
enfrentamento por meio de accedilotildees educativas e capacitaccedilotildees Em contrapartida as escolas por
vezes natildeo se responsabilizam por questotildees que emergem no campo virtual como eacute o caso dos
sites de relacionamentos (Redes Sociais) considerando que estas uacuteltimas estariam aleacutem de
suas responsabilidades interventivas
Refletimos que algumas leis7 implantadas representam respostas a clamores sociais
muito particulares como eacute o caso do Massacre de Realengo jaacute mencionado anteriormente
Principalmente quando evidenciados eou provocados pela miacutedia (com destaque as
reportagens em canais abertos que atingem a grande massa da populaccedilatildeo) aos viacutedeos
inseridos em plataformas como YOUTUBE e Redes Sociais e que satildeo acessados por uma
parcela significativa da populaccedilatildeo Ao mesmo tempo as ferramentas digitais tambeacutem trazem
maior notoriedade para a difusatildeo do cyberbullying entre pares
Segundo apontam os indicadores do SAFERNET entre as principais violaccedilotildees das
quais os internautas solicitaram ajuda no ano de 2015 atraveacutes do Helpline (canal de
atendimento) estaacute o Cyberbullying com 265 (duzentos e sessenta e cinco) denuacutencias sendo
que 178 (cento e setenta e oito) eram do Brasil O estado de Satildeo Paulo liderou o nuacutemero de
registros com 54 (cinquenta e quatro) Entre os atendidos pelo Helpline ao longo do
funcionamento do serviccedilo de denuacutencia de crimes ciberneacuteticos ajuda e orientaccedilotildees estatildeo
crianccedilas adolescentes pais educadores e outros adultos Com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero
presente nas denuacutencias no ano de 2012 por exemplo foi registrado o contato de 27 mulheres
e 10 homens atraveacutes do nuacutemero das conversas via chat disponiacutevel no portal da Organizaccedilatildeo
(Site SAFERNET)
Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees contra o cyberbullying inerentes ao campo da sauacutede natildeo
identificamos registros de accedilotildees voltadas agrave prevenccedilatildeo do cyberbullying as accedilotildees observadas
ateacute o momento estavam estritamente ligadas aos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo e que
7 Observamos que algumas leis nacionais foram promulgadas nos uacuteltimos anos
43
segundo os achados careciam de capacitaccedilatildeo para realizar tais atividades de cunho
informativo vide as legislaccedilotildees municipais e estaduais que tratam sobre conscientizaccedilatildeo
sobre bullying e cyberbullying Seraacute que o tema tem sido tratado pelos profissionais dos
serviccedilos de sauacutede como CAPSI ndash Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Infantil e pelas equipes de
Programas de Sauacutede Escolar (PSE) Pois se presume que a implantaccedilatildeo do Programa Sauacutede
Escolar tenha sido um ganho para as unidades escolares por propor um trabalho integrativo
entre as redes de Educaccedilatildeo e Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede Tendo em vista que o programa tem
como objetivo avaliar as condiccedilotildees de sauacutede dos estudantes aleacutem do desenvolvimento de
atividades de formaccedilatildeo integral dos estudantes mas seu funcionamento nos municiacutepios eacute
bastante limitado por se tratarem de equipes miacutenimas para um universo de escolas e demandas
de alunos
Desse modo refletimos sobre a necessidade de suporte familiar social educacional e
psicoloacutegico agrave medida que o estado emocional desses indiviacuteduos eacute afetado assustadoramente
atraveacutes desse ato de violecircncia
Entendemos que o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta sob
as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para
aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em repercussotildees praacuteticas e reais seja nas
relaccedilotildees sociais ou na individualidade do sujeito (Dahberg e Krug 2007)
O conceito dado por Pierre Bourdieu (2001) para Violecircncia Simboacutelica traz uma
conotaccedilatildeo coerente com o tipo de violecircncia concebido no ambiente virtual
A violecircncia simboacutelica eacute uma espeacutecie de coerccedilatildeo que se institui por intermeacutedio
da adesatildeo que o dominado [viacutetima] natildeo pode deixar de conceder ao
dominante ou seja dominaccedilatildeo quando dispotildee apenas para pensaacute-lo e para
pensar a si mesmo ou melhor para pensar a relaccedilatildeo com ele de instrumentos
repartidos e que fazem surgir essa relaccedilatildeo com o natural partindo do princiacutepio
de ser a forma incorporada da estrutura da relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo [grifo nosso]
(Bourdieu 2001 p206)
Essa violecircncia eacute conduzida por um indiviacuteduo ou por um grupo que controla o poder
simboacutelico sobre os outros produzindo assim crenccedilas no processo de socializaccedilatildeo induzindo
os dominados a enxergarem e avaliarem o mundo sob as perspectivas e padrotildees estabelecidos
pelos dominantes (Souza 2012) Ou seja aquele que sofre de cyberbullying tem sua imagem
depreciada quer seja pelos xingamentos fotos postadas distorcidas disseminaccedilatildeo de
44
difamaccedilatildeo virtual ao ponto que os dominados dessa relaccedilatildeo de poder podem ser convencidos
de que as informaccedilotildees depreciativas divulgadas sobre ele satildeo de fato reais passando assim a
internalizar tais expressotildees Compreendemos que as relaccedilotildees na internet podem exercer um
poder sobre a vida de seus usuaacuterios e esse manejo utilizado de forma depreciativa por parte de
intimidadoreslsquo tem uma representatividade simboacutelica na vida de crianccedilas e adolescentes e de
todo o contexto em que a violecircncia virtual eacute concebida
A imposiccedilatildeo de significaccedilotildees que a ideia de violecircncia simboacutelica traz contribui para
entendermos o quanto as relaccedilotildees virtuais podem ser assimeacutetricas e desiguais Outro ponto
considerado eacute o fato de que os que satildeo atingidos por essas accedilotildees por vezes natildeo conseguem
inicialmente ponderar os xingamentos como depreciativos de modo que naturalizam tal
questatildeo enquadrando-as como brincadeiras como o exemplo dos apelidos (exemplo baleia
rolha de poccedilo) entre outros De certo modo o que ocorre eacute um poder simboacutelico no que
concerne a relaccedilatildeo entre perpetradores e aqueles que sofrem o cyberbullying Mais uma vez
recorremos a Bourdieu (2001) ao afirmar que o poder simboacutelico eacute representado por esse poder
invisiacutevel que eacute exercido somente a partir da permissividade eou conivecircncia daqueles que
natildeo querem saber que lhes estatildeo sujeitados ou mesmo que o exercem
Com base no arcabouccedilo teoacuterico jaacute utilizado observamos que a violecircncia psicoloacutegica
pode se apresentar em diferentes expressotildees como humilhaccedilatildeo o uso de poder xingamento e
insultos (OMS 2002)
A naturalizaccedilatildeo do cyberbullying pode permitir com que ela se torne uma violecircncia
simboacutelica e ao mesmo tempo velada tanto pelo oprimido quanto pelo opressor que durante o
processo de intimidaccedilatildeo virtual detecircm o poder da ofensa jaacute naturalizada e aceita como a
verdade pelo oprimido
45
Artigo 1
2 CYBERBULLYING CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E
IMPLICACcedilOtildeES Agrave SAUacuteDE (submetido em 28122017 e aprovado em 26032018
na revista Ciecircncia e Sauacutede Coletiva)
RESUMO
O estudo buscou realizar a revisatildeo criacutetica de um conjunto de revisotildees bibliograacuteficas no intuito
de conhecer como o cyberbullying eacute compreendido pela comunidade cientiacutefica como o
fenocircmeno vem sendo conceituado como suas dinacircmicas tecircm sido descritas quais
personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede das pessoas intimidadas e
dos perpetradores A literatura mostrou que natildeo haacute um consenso sobre a conceituaccedilatildeo de
cyberbullying contudo haacute argumentos que defendem sua especificidade e diferenciaccedilatildeo em
relaccedilatildeo ao bullying (pode ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo demarcado
fisicamente pode ser disseminado globalmente o tempo de permanecircncias das postagens
ofensivas eacute indeterminado) Quanto agrave questatildeo de gecircnero associada a essa praacutetica observou-se
um vieacutes reducionista do debate indicando diferenccedilas baseadas numa suposta superioridade
tecnoloacutegica dos meninos Os estudos revisados apontam que tanto as viacutetimas quanto os
46
praticantes de cyberbullying vivenciam experiecircncias negativas em sua sauacutede psicoloacutegica e
comportamental podendo ocorrer inclusive evasatildeo escolar isolamento social depressatildeo
ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio Todavia pouco se problematiza sobre a cultura ciber e como esta
estabelece novas socialidades ndash conhecimento e debate cruciais agrave compreensatildeo do fenocircmeno
Palavra-chave Cyberbullying violecircncia redes sociais ciberespaccedilo sauacutede
ABSTRACT
The study sought to perform a critical review of a set of bibliographical reviews in
order to understand how cyberbullying is understood by the scientific community how the
phenomenon has been conceptualized how its dynamics have been described what characters
are identified and what associations are related to health intimidated persons and perpetrators
The literature has shown that there is no consensus on the concept of cyberbullying but there
are arguments that defend its specificity and differentiation in relation to bullying (it can
occur at any moment and without a physically demarcated space it can be disseminated
globally of the offensive posts is undetermined) As for the gender issue associated with this
practice there was a reductionist bias in the debate indicating differences based on a
supposed technological superiority of the boys The reviewed studies show that both victims
and cyberbullying experience negative experiences in their psychological and behavioral
health including school dropout social isolation depression suicidal ideation and suicide
However there is little question about cyber culture and how it establishes new socialities -
knowledge and debate crucial to understanding the phenomenon
Key-words Cyberbullying violence social networks cyberspace health
INTRODUCcedilAtildeO
O cyberbullying eacute uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se configura como um
―problema social constituindo tema e preocupaccedilatildeo de diversos campos disciplinares aleacutem
de ser representado por alguns autores com uma questatildeo de sauacutede puacuteblica (Brochado Jackson
47
e Cassidy 2006 Carpenter E Hubbard 2014 Nixon 2014 Bottino at al 2015 Yang
Grinshteyn 2016 Brochado Soares e Fraga 2016) As distintas configuraccedilotildees do
Cyberbullying podem ser reconhecidas como atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica
contra crianccedilas e adolescentes perpetrados nas ambiecircncias das redes de sociabilidade digital
podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo circunscrito e demarcado fisicamente
Essa forma de agressatildeo eacute perpetrada por meios eletrocircnicos sejam estes mensagens de textos
fotos aacuteudios ou viacutedeos expressos nas redes sociais ou em jogos em rede transmitidas por
telefone celulares tablets ou computadores e cujo teor tem a intencionalidade de causar dano
agrave outra pessoa de modo repetitivo e hostil conforme Ortega et al apud Brochado Soares e
Fraga (2016)
O cyberbullying tem emergecircncia recente e sua conceituaccedilatildeo ainda em construccedilatildeo abriga
consideraacutevel polissemia em suas definiccedilotildees (Garaigordobil 2011 Torres e Vivas 2012 Della
Ciopa Olsquoneil E Craig 2015) Pesquisas apontam que essa diversidade conceitual por vezes
tem direcionado os estudiosos a usar termos diferentes para se referir ao mesmo conceito ou
usar o mesmo termo com diferentes significados (Tokunaga 2010 Notar 2013 Ybarra et el
Apud Lucas-Molina et al 2016)
Nota-se que a violecircncia tambeacutem se manifesta neste novo espaccedilo o ―ciberespaccedilo ou seja
nesse ―lugar de interaccedilatildeo que se daacute no contexto de uma cultura peculiar conhecida como
cultura ―ciber ou cibercultura Vale pontuar que alguns autores questionam se o conceito de
cibercultura ainda seria vaacutelido dado o borramento das fronteiras considerando que as
relaccedilotildees digitais atravessam de forma onipresente o cotidiano (Roger E Saldado 2016)
O termo sociabilidade cunhado por Mafessoli (2006) faz referecircncia aos haacutebitos costumes
e uma espeacutecie de polidez presente na contemporaneidade A socialidade digital produz um
ethos que gera a necessidade de construir uma imagem social positiva O que eacute postado em
rede a maneira como se eacute visto neste ambiente ou ainda as maacutescaras que satildeo construiacutedas
48
sobre si neste espaccedilo valoram essa teatralidade a partir daquilo que se quer ou se permite que
os outros vejam (Mafessoli 2006) Para crianccedilas e adolescentes que estatildeo em
desenvolvimento essa identidade que se constroacutei pode ser significativamente influenciada a
partir dos padrotildees impostos pela rede A necessidade de ―estar conectado sendo sempre
visto por outros vem sendo aprimorada a cada nova atualizaccedilatildeo que os aplicativos de redes
sociais geram criando e forccedilando novas experiecircncias de compartilhamento para os seus
usuaacuterios digitais Bruno (2013) vai refletir sobre a importacircncia do olhar do outro para
constituir a imagem de si uma imagem engendrada na perspectiva de espetaacuteculo que
contribui para a construccedilatildeo de uma autoestima balizada pela popularidade que se tem nas
redes sociais Observa-se a partir da reflexatildeo de Bruno (2013) que os viacutenculos que se
estabelecem natildeo precisam ser necessariamente fortes para influenciarem as redes sociais Por
vezes aqueles que mais curtem e comentam um conteuacutedo digital satildeo pessoas cujas
vinculaccedilotildees sociais constituem ―laccedilos fracos Outra caracteriacutestica eacute a fluidez dessas relaccedilotildees
pois mesmo modo que novas conexotildees satildeo estabelecidas exclusotildees e bloqueio de pessoas
podem ocorrer sem motivos relevantes (2014)
Ao falar sobre a ―realidade social da virtualidade da internet Castells (2015) afirma que
a internet foi apropriada pela praacutetica social em toda a sua diversidade embora ela tenha
efeitos especiacuteficos sobre tais praacuteticas Aborda como as pessoas se comportam no ambiente
virtual como esperam ser vistas pelos outros Os jovens por exemplo estatildeo nesse processo de
descoberta de identidade de desvendar quem de fato eles satildeo ou gostariam de ser
As relaccedilotildees digitais redefinem dinacircmicas sociais contemporacircneas convocando aos
indiviacuteduos estarem sempre conectados atraveacutes das novas tecnologias independente da
geolocalizaccedilatildeo tempo e do quantitativo de pessoas a quem estatildeo vinculados Traccedilo marcante
da sociabilidade digital eacute a hipervisibilidade (2015) uma exposiccedilatildeo constante e voluntaacuteria dos
fatos e atos cotidianos e iacutentimos O privado passa a ser publicizado a partir dos
49
compartilhamentos realizados neste mundo de informaccedilotildees instantacircneas em tempo real
(2012)
Os jovens ―nativos digitais (2013) estatildeo cada vez mais cedo conectados nas redes sociais
digitais atraveacutes das TICsndash Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Segundo a Pesquisa
Nacional de Amostra por Domiciacutelios ndash PNAD (2015) no Brasil aproximadamente 1021
milhotildees de pessoas de 10 anos ou mais de idade tiveram acesso agrave internet no periacuteodo em que a
pesquisa ocorreu Em 2015 ano da pesquisa com relaccedilatildeo aos grupos etaacuterios observou-se que
os adolescentes de 15 a 17 anos bem como os de 18 e 19 anos de idade apresentaram o maior
iacutendice percentual dentre os usuaacuterios da internet (sendo 82 e 829 respectivamente)
Brunnet et al (2013) apontam um estudo americano que descreve que em meacutedia 93 dos
adolescentes entre 12 e 17 anos acessam a internet e dessa populaccedilatildeo 75 possuem seu
proacuteprio celular
O uso da internet em especial de redes de relacionamentos favorece as praacuteticas de
violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de relacionamentos criaccedilatildeo de falsos
perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo o convite ao suiciacutedio por sites clandestinos ou
comunidades (2011)
Assim o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma
disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre
sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidado (Alim 2016)
Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs horas
diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de Cyberbullying (Arsegravene
Raynaud 2014)
Embora associado ao tema do bullying mais consolidado teoricamente o cyberbullying
tem recebido bastante atenccedilatildeo da comunidade cientiacutefica internacional contudo pouco
estudado no Brasil
50
Diante disso o artigo tem como objetivo analisar as conceituaccedilotildees de Cyberbullying
adotadas pela literatura nacional e internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo
enfocando suas ecircnfases e ―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as
associaccedilotildees que delimitam entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes
MEacuteTODOS
Trata-se de revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo criacutetica (critical review) Essa abordagem
metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um tema revelando fraquezas
contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant MJ Booth 2009) A contribuiccedilatildeo de
uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas discrepacircncias ou aacutereas em
que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel (Paregrave et al 2015)O escopo
analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou estatisticamente representativo Esse
tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos selecionados o que eacute considerado o
seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos
meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo (siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso
anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais positivista (anaacutelise de conteuacutedo)
Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo BVS
Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA (Applied
Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017
Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos (all
fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no Medical
Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying
51
(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos
vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo
Visando reduzir e qualificar mais esse acervo optamos por trabalhar apenas os estudos de
revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no tiacutetulo e
―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de qualquer
natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas modalidades
revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica sistemaacutetica
revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo sistemaacuteticas e
revisatildeo narrativa
Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para
acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em 301
estudos Depois da anaacutelise de cada artigo foram identificados 156 artigos em duplicidade que
natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias (MENDLEY)
como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com traduccedilatildeo de texto
para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou francecircs e quando
houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al
Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com recorte temporal de
publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem sendo difundido na
uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo
O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia dos
autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo (tabela 1) Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus
conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes
categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do
cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede
52
RESULTADOS
Observa-se uma produccedilatildeo crescente no periacuteodo analisado (exceto 2016) com
predominacircncia de artigos americanos (27) O baixo nuacutemero de publicaccedilotildees em 2016 pode
refletir o pouco tempo entre a publicaccedilatildeo e a sua disponibilizaccedilatildeo nas bases de indexaccedilatildeo
pois a busca foi feita no iniacutecio de 2017
Com relaccedilatildeo aos campos da Sauacutede e Educaccedilatildeo natildeo houve diferenccedilas significativas
quanto ao nuacutemero de publicaccedilotildees Sauacutede (26) e Educaccedilatildeo (27) muito menos ao tipo de
abordagem produzida sobre o tema As demais publicaccedilotildees foram consideradas como
multidisciplinarinterdisciplinar As revistas com maior representaccedilatildeo neste acervo foram
Aggression and Violent Behavior (10) seguida da Computers in Human Behavior (5) Assim
tratamos o acervo a partir das especificidades entre os estudos e natildeo de suas aacutereas de origem
Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma
PUBLICACcedilOtildeES 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006
NUacuteMERO DE
PUBLICACcedilOtildeES
8 21 12 11 7 6 1 2 1 2 1
NACIONALIDADE
DO ESTUDO
EUA Reino Unido
Austraacutelia Portugual Belgica
Espanha e Greacutecia
EUA Singapura
Greacutecia Itaacutelia Brasil China
Canadaacute Franccedila
Austraacutelia Reino
Unido e Espanha
Franccedila EUA Itaacutelia
Turkia e Reino Unido
EUA Canadaacute e
Brasil
Sueacutecia Alemanha
Suiacuteccedila Reino Unido EUA e
Colocircmbia
EUA Espanha Meacutexico Austraacutelia
EUA Austraacutelia EUA EUA Canadaacute
IDIOMA Inglecircs (7) e
Espanhol (1)
Inglecircs (18)
Portuguecircs (2) e
Francecircs (1)
Francecircs (1)
Inglecircs (10) e
Portuguecircs (1)
Inglecircs (10) e
Portuguecircs (1)
Inglecircs (6) Espanhol
(1)
Inglecircs (2) e
Espanhol (2)
Inglecircs (1)
Inglecircs (2)
Inglecircs (1)
Inglecircs (2)
Inglecircs (1)
53
Conceituaccedilatildeo
O cyberbullying possui muitas conceituaccedilotildees revelando distintas interpretaccedilotildees adotadas
pela comunidade cientiacutefica Parte dos estudos analisados natildeo construiu uma definiccedilatildeo para o
cyberbullying mas toma de empreacutestimo os conceitos de bullying agressatildeo e asseacutedio jaacute
existentes na literatura (Zych Ortega-Ruiz Del Rey 2015 Remond Ker Romo 2015
Carpenter Hubbart 2014 Sabella Patchim Hinduja 2013 Bailey 2013 Bauman 2013
Stewart Fritsch 2011 Hanewald 2009)
Havia no acervo uma polifonia de definiccedilotildees para o cyberbullying sugerindo que a
comunidade cientiacutefica natildeo produziu um consenso sobre o entendimento da natureza e limites
do fenocircmeno Talvez por ―imaturidade ou como reflexo dessa processualidade visto que as
relaccedilotildees digitais satildeo dinacircmicas e influenciadas pelas novas tecnologias constantemente
incorporadas ao universo ciber Todavia tal polissemia gera uma espeacutecie de inconsistecircncia
nos dados das pesquisas e difiacuteculdades de comparaccedilatildeo entre os estudos (Aboujaoude et al
2013)
As traduccedilotildees de definiccedilotildees propostas em inglecircs e apropriadas por estudos de liacutengua latina
podem tambeacutem variar semanticamente e levar a compreensotildees diferenciadas como no
exemplo dos sentidos entre cyberbullying e acosso digital Estudos alematildees usam o termo
ciber-mobbing Tais termos retraduzidos ao portuguecircs produzem ecircnfases diferenciadas No
caso da traduccedilatildeo de acosso se evidencia o caraacuteter de perseguiccedilatildeo sistemaacutetica caracteriacutestica
natildeo necessariamente presente no fenocircmeno do cyberbullying
Aboujaoude et al (2015) identificaram diferentes designaccedilotildees para o cyberbullying como
cyberstalking agressatildeo on-line asseacutedio ciberneacutetico asseacutedio na Internet bullying na Internet e
54
vitimizaccedilatildeo ciberneacutetica ou cybervitimizaccedilatildeo A natureza hostil do ato e a intenccedilatildeo de causar
sofrimento foram considerados pela maioria dos estudiosos como cruciais para a definiccedilatildeo de
cyberbullying
Como avaliam Smith et al(2012) caracterizar o cyberbullying apenas como uma forma
de ―bullying digital tem sido uma tendecircncia e apoacutes analisarem diversos estudos concluem
que existe um debate sobre o uso de uma definiccedilatildeo generalista (bullying) ou a necessidade de
substituiacute-la por outra mais especiacutefica
Considerando o acervo analisado as principais definiccedilotildees adotadas podem ser divididas
em dois blocos as que reconhecem o cyberbullying como uma (nova) forma de bullying
apontando diferenccedilas e similaridades e as que tratam o cyberbullying como um fenocircmeno de
outra natureza diferente do bullying Analisaremos a seguir os argumentos que tratam das
especificidades que aproximariam e distinguiriam o bullying e o cyberbullying
No primeiro bloco de estudos a maioria do acervo reconhece o cyberbullying como o
bullying por meio digital eou uma variaccedilatildeo do bullying
Dentre os autores que percebem o cyberbullying como uma variaccedilatildeo de bullying alguns
defendem a importacircncia de contextualizar a violecircncia digital e sua expressatildeo nos
comportamentos agressivos (Ang 2015 Castro Schreiber Antunes 2015 Wendt Lisboa
2014 Chibarro 2007) A revisatildeo de Allison e Bussey (2016) apresenta o cyberbullying como
―agressatildeo intencional por meio eletrocircnico que ocorre de vaacuterias formas como insultos
ameaccedilas divulgaccedilatildeo de fotos embaraccedilosas e pode ser perpetrado atraveacutes de diversas miacutedias
sem a necessidade da presenccedila fiacutesica dos envolvidos Os autores se basearam em extensa
literatura de bullying e ao comparaacute-lo ao cyberbullying constataram que satildeo diferentes em
muitos aspectos tais como anonimato maior impacto uma maior audiecircncia de espectadores
individualidade na praacutetica de perpetrar ser dispensaacutevel a presenccedila fiacutesica dos envolvidos e a
55
viacutetima ser atingida em qualquer lugar e a qualquer momento (Kowalski et al 2014 Tanrikulu
2014 Thomas Conor Scott 2014) Para alguns o caraacuteter repetitivo natildeo estaria
necessariamente presente no cyberbullying (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Carpenter
Hubbert 2014 Slonje 2012) pois apenas uma postagem depreciativa leva o conteuacutedo a ficar
permanentemente exposto Jaacute a capacidade de anonimato eacute apontada como a principaluacutenica
diferenccedila entre os dois fenocircmenos (Bailey 2013 Zych Ortega-Ruiz e Allison e Bussy 2016)
Algumas revisotildees (Aboujaoude et al 2015 Ang 2015 Antoniadou Kokkinos 2015
Cantone 2015 Berne et al 2012) revelaram que natildeo haacute consenso se a repeticcedilatildeo das accedilotildees e o
desequiliacutebrio de poder seriam dinacircmicas do cyberbullying mas certamente ocorrem nos casos
do bullying O desequiliacutebrio de poder foi associado diversas vezes como suposta incapacidade
de resposta por parte da pessoa alvo do cyberbullying ou ainda por falta de habilidades
tecnoloacutegicas que permitiriam uma melhor resposta no meio digital Para Faucher Cassidy e
Jackson (2015) esse exerciacutecio de poder estaria associado ao quatildeo vulneraacutevel estatildeo os
conteuacutedos privados da pessoa alvo ou ainda por divulgar tais informaccedilotildees sem levar em conta
as consequecircncias de uma exposiccedilatildeo nas redes sociais (Suzuki et al 2012)
Em relaccedilatildeo agraves similaridades grande parte dos estudos aponta o caraacuteter de repeticcedilatildeo o uso
das palavras ferinas o desequiliacutebrio de poder e o dano intencional (Yang Grinshteyn 2016
El Asam Samara 2016 Baldry Farrington Sorrentino 2015 Della Cioppa OlsquoNeil Craig
2015 Chan H C Wong 2015 Cantone 2015 Chisholm 2014 Wingate Minney
Guadagno 2013 Nosworthy Rinaldi 2013 Burnett Yozwiak Omar 2013 Bailey 2013
Von Mareacutees N Pettermann 2012 Garciacutea-Maldonado Joffre-Velaacutezquez Martiacutenez-Salazar
2011 Mason 2008 Chibarro 2007) Thomas et al (2015) afirmam que os ataques de
bullying e de cyberbullying satildeo mais parecidos que diferentes e muitas vezes co-ocorrem
Para Yang e Grinshteyn (2016) o fechamento de uma acepccedilatildeo conceitual natildeo seria
beneacutefico pois uma definiccedilatildeo delimitada e concisa poderia excluir grande quantidade de
56
comportamentos potencialmente nocivos Aleacutem disso uma definiccedilatildeo que inclui elementos
descritivos da praacutetica de cyberbullying especificando certos tipos de dispositivos eletrocircnicos
com o passar do tempo pode se tornar obsoleta apoacutes o lanccedilamento de novas tecnologias
No segundo bloco estatildeo os autores que afirmam que cyberbullying eacute uma nova forma de
agressatildeo que apresenta diferenccedilas significativas em relaccedilatildeo ao bullying todavia muitos deles
natildeo se dedicaram a produzir uma teoria ou definiccedilatildeo especiacutefica (Brochado S Soares S
Fraga 2016 Chan Wong 2015 Chisholm 2014 Baek Bullock 2013 Cassidy Faucher et
al 2014 Jackson 2013)
Considerando a argumentaccedilatildeo sobre a natureza ineacutedita do fenocircmeno aponta-se o papel da
audiecircncia no contexto da perpetraccedilatildeo (Smith 2015 Baek e Bullock 2014) A audiecircncia do
cyberbullying eacute concedida em larga escala pelas plataformas digitais propagando esse
conteuacutedo depreciativo para milhares de pessoas tanto no ato da transmissatildeo da mensagem
viacutedeo ao vivo ou em outro momento aleacutem da possibilidade de baixar o conteuacutedo para acesso
offline Logo a capacidade exponencial de compartilhamento desse conteuacutedo natildeo pode ser
dimensionada pelo perpetrador e mesmo que a intenccedilatildeo de propagaccedilatildeo do conteuacutedo seja para
um grupo menor de pessoas o intimidador passa a natildeo ter mais domiacutenio sobre esse conteuacutedo
Quanto mais vizualizado eou compartilhado a audiecircncia aumenta significativamente
diferente do bullying cuja audiecircncia eacute limitada ao puacuteblico que estava presente no momento
do ataque No caso bullying mesmo que a cada novo ataque o grupo de espectadores cresccedila
natildeo se compara ao nuacutemero de pessoas que teratildeo acesso a um conteuacutedo hostil na internet
Brown Jackson e Cassidy (2006) alertam que o ambiente virtual favorece a desinibiccedilatildeo
mencionando o caso de pessoas que sofrem com o bullying e que utilizam a internet para se
vingar daquele que praticou tal bullying jaacute que a internet lhes oferta a possibilidade de
anonitamato atraveacutes de identidade alternativa (uso de perfis falsos) para assediar Deste modo
57
em alguns casos quem sofre bullying pode ser um perpetrador de cyberbullying contra seu
algoz de bullying face a face principalmente quando essa― revanche natildeo seria possiacutevel
acontecer como entre sujeitos com diferenccedila de padrotildees fiacutesicos
Cabe mencionar que parte dos estudos corrobora acerca de suposta inconsistecircncia nas
definiccedilotildees encontradas na literatura (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Zych Ortega-Ruiz
Del Rey 2015) e que falta consenso entre os estudiosos que investigam o tema seja com
relaccedilatildeo agraves conceituaccedilotildees e termos ou sobre os aspectos de semelhanccedila e diferenccedila entre o
cyberbullying e bullying Conforme esse arcabouccedilo teoacuterico se expande eacute provaacutevel que novas
discordacircncias cientiacuteficas perpassem por esse campo em construccedilatildeo
Descriccedilotildees das dinacircmicas
As dinacircmicas de cyberbullying dependem das accedilotildees e representaccedilotildees de cada pessoa
envolvida nesse ciacuterculo de violecircncia Neste cenaacuterio atuam os perpetradores ndash os que praticam
a violecircncia os acometidos (chamados de viacutetimas) os espectadores (aqueles que assistem e
compartilham o conteuacutedo que viola outrem) os educadores e pais que por vezes satildeo os
uacuteltimos a tomar conhecimento do abuso
Houve diferenccedilas significativas sobre as descriccedilotildees das dinacircmicas do cyberbullying e os
motivos provaacuteveis estariam associados ao periacuteodo em que os estudos foram publicados pois
algumas formas de cyberbullying ainda natildeo eram reconhecidas anteriormente e os tipos de
dispositivos tecnoloacutegicos e as formas de conversaccedilatildeocomunicaccedilatildeo e compartilhamento de
conteuacutedo online disponiacuteveis tambeacutem mudaram rapidamente Haacute algum tempo o e-mail e as
58
mensagens de texto eram as formas mais disseminadas atualmente as interaccedilotildees atraveacutes das
redes sociais ganharam maior espaccedilo entre os jovens (transmissatildeo ao vivo viacutedeos chamadas
compartilhamentos em massa jogos online em grupo etc)
Destacam-se quatro estudos que exemplificam as dinacircmicas de cyberbullying Julia
Wilkins et al (20120 descrevem fundamentados no texto que institui o Programa Anti-
Bullying de Londres sete tipos de cyberbullying e Suzuki et al (2012) tambeacutem identificam as
mesmas modalidades a seguir compiladas 1 Por mensagem de texto - enviada via telefone
celular com a intenccedilatildeo de causar desconforto e ameaccedila 2 Imagemvideo-clipe - quando as
imagens das viacutetimas satildeo enviandas para outras pessoas no intuacuteito de ameaccedilar ou constranger
3 Intimidaccedilatildeo por chamada telefocircnica - por meio de chamadas silenciosas ou por mensagens
abusivas ou quando o celular da viacutetima eacute roubado e usado para perseguir outros culpando o
proprietaacuterio do telefone 4 intimidaccedilatildeo por e-mail quando satildeo enviados conteuacutedos muitas
vezes usando um pseudocircnimo ou o nome de outra pessoa para fazer com que essa pessoa se
pareccedila com o perpetrador (modalidade desatualizada) 5 chat room bullying - respostas
agressivas e intimidadoras em sala de bate papos (tambeacutem mais desatualizada) 6 intimidaccedilatildeo
atraveacutes de mensagens instantacircneas 7 bullying atraveacutes de websites ndash com uso de blogs
difamatoacuterios sites pessoais sites de pesquisa pessoais online e sites de redes sociais (por
exemplo MySpace) aleacutem da criaccedilatildeo de foacuteruns
Entre as dinacircmicas do cyberbullyng destacadas na literatura estariam ―namecalling
(apelidar algueacutem de modo rude) propagaccedilatildeo de rumores ―flamings (discussotildees calorosas
online) ameaccedilas fingir ser outra pessoa online (fakenames) envio de fotos indesejadas ou
mensagens de texto (sexting) postar eou compartilhar imagens e viacutedeos com conteuacutedo
iacutentimo de outra pessoa sem consentimento desta (Carpenter Hubbard 2014) excluir uma
pessoa de um circulo social online de forma intencional (Bailey 2013) Aleacutem das redes
59
sociais o cyberbulling tambeacutem se manifestaria em jogos MMOGs - jogos onlines com
muacuteltiplos jogadores (multiplayers games) um jogador poderoso pode ―trollar (zombar
humilhar) algueacutem roubando itens do jogo como recompensas invadindo a conta formar
gangues e bloquear pessoas em uma rede social fazendo piadas com a imagem de uma pessoa
e controlando remotamente a cacircmeracomputador de uma pessoa sem o consentimento desta
(Chisholm 2014)
A revisatildeo de Kowalski et al (2014) ratifica as formas jaacute mencionadas e reconhece outras
formas de perpetraccedilatildeo entre elas harassament (envio de mensagens repetitivas e com
conteuacutedo ofensivo) bloqueio online solicitar informaccedilatildeo online de conteuacutedo pessoal e
posteriormente compartilhar a terceiros sem consentimento cyber-stalking (usar comunicaccedilatildeo
eletrocircnica para perseguir outra pessoa) e postar informaccedilatildeo inapropriada ou de cunho
depreciativo se passando por outra pessoa
Mehari Farell Le (2014) refletem que os comportamentos agressivos nas relaccedilotildees
sociais na internet tecircm baixo controle social e satildeo menos recriminados se comparados aos
perpetrados nas relaccedilotildees face a face Outro aspecto apontado na revisatildeo de Mehari et al
(2014) eacute a falta ou escassez de indiacutecios verbais que aumentaria a probabilidade de
desentendimentos e interpretaccedilotildees errocircneas Assim o que um jovem pretende como uma
brincadeira interaccedilatildeo amigaacutevel pode rapidamente tornar-se uma interaccedilatildeo mutuamente
agressiva se a outra pessoa interpreta o comentaacuterio como um insulto ou uma ameaccedila A falta
de sugestotildees natildeo verbais tambeacutem pode reduzir a empatia que serve como um controle natural
do comportamento dos adolescentes
Arsene e Raynaud (2014) destacam que o cyberbullying que ocorre por meios visuais
(foto ou viacutedeo) eacute mais prejudicial e mais negativo do que os que envolvem mensagens por
(SMS) e de texto na Internet As consequecircncias seriam mais graves as viacutetimas mais afetadas
60
do que em outras formas de cyberbullying e o risco de sofrimento psicossocial teria maior
potencial Na revisatildeo desses autores (2014) as fotos ou videoclipes tiveram impacto mais
negativo do que no asseacutedio tradicional (interpetrado como bullying)
Os personagens envolvidos
Os principais personagens do cyberbullying satildeo os praticantes e as pessoas escolhidas como
alvo (as denominadas viacutetimas) Poucos estudos como os Allison e Bulsey (2016) e Desmet et
al (2016) analisaram a figura dos espectadores (testemunhas) e seu papel na manutenccedilatildeo do
ciclo de violecircncia e propagaccedilatildeo do cyberbullying Allison e Bulsey (2016) identificaram quais
os fatores que influenciam as respostas das testemunhas aos atos de cyberbullying
Concluiram que os espectadores satildeo importantes no cyberbullying pois eles tem ―o pontecial
de alterar a situaccedilatildeo ao intervir mas a maioria das testemunhas permanece passiva (pg183)
Outro estudo indica que os espectadores seriam capazes de determinar qual o potencial de
extensatildeo que um episoacutedio de cyberbullying pode ter ao compartilhar curtir comentar um ato
de violecircncia nestes moldes Runions Bak (2015)
Haacute divergecircncia na literatura analisada com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que perpassa o
cyberbullying A maioria reduz o debate agrave variaacutevel ―sexo buscando saber se meninos ou
meninas satildeo os maiores viacutetimas ou agressoras ou quais deles sofreriam mais as
consequecircncias do cyberbullying (Bauman 2013 Baldry Farringtone Sorrentino 2015)
Bauman et al (2013) identificaram na literatura casos de pessoas do sexo masculino que ao
mesmo tempo que eram praticantes de cyberbullying e de bullying Para outros estudos
pessoas do sexo feminino estariam mais envolvidas em cyberbullying e os meninos em
situaccedilotildees de bullying8 Isso sem considerar a orientaccedilatildeo sexual desses indiviacuteduos ou sua
8 A literatura apresenta recorrente associaccedilatildeo entre cyberbullying e bullying
61
posiccedilatildeo de gecircnero Bailey (2013) alega haver dissenso sobre os rapazes serem os maiores
causadores de cyberbullying
Por outro lado muitos autores acabam por reforccedilar estereoacutetipos de gecircnero de forma
acriacutetica No estudo Dooley Pyżalski Cross (2009) as garotas teriam maior interesse com a
aparecircncia sauacutede enquanto garotos estariam mais implicados com jogos on-line Tal texto
reproduz uma leitura de gecircnero onde meninas tendem a ter laccedilos de amizades mais intensos
compartilhando conteuacutedos iacutentimos e segredos pessoais principalmente atraveacutes de mensagens
de texto jaacute meninos socializam nas redes sociais em maiores grupos e compartilham menos
detalhes pessoais Chibbaro (2007) destaca estudo que afirma que a maioria (53) das
meninas sofreu cyberbullying de conhecidos como colega da escola seguido de amigo e em
um nuacutemero menor o irmatildeo foi o causador do ato Alim (2016) baseado no site
NoBullyingcom afirma que as meninas satildeo duas vezes mais causadoras de Cyberbullying do
que os meninos porque meninos seriam mais agressivos em termos fiacutesicos enquanto que
meninas tendem a ser mais ―silenciosas quando querem atingir algueacutem por vezes quando
intimidam o fazem em seacuterie Na mesma linha sexista estudos como de Chan e Wong (2015)
alegam que garotos satildeo os maiores perpetradores por serem mais haacutebeis no uso de tecnologias
do que as garotas
Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem houve dissenso A maior incidecircncia estaacute entre os
adolescentes e os casos diminuem na fase universitaacuteria (Antoniadou Kokkinos 2015)
Segundo Suzuky et al (2014) as meninas seriam as maiores acometidas poreacutem entre 15 e 17
anos a incidecircncia eacute muito maior do que entre jovens de 12 e 14 anos Para Hamn et Al (2015)
o fator idade natildeo eacute determinante para ser alvo de Cybebullying
Para Alim (2016) haveria um recorte de condiccedilatildeo social pois os que mais sofreriam
seriam pessoas oriundas dos estratos de baixa renda
62
Da mesma forma natildeo haacute uma concordacircncia na literatura sobre o recorte eacutetnicoracial
Estudantes brancos satildeo considerados maiores perpetradores do que outras categorias eacutetnicas
(Ham et al 2015 Peterson M B Peterson 2014) O estudo de Peterson e Peterson (2014)
foi o uacutenico que objetivou examinar possiacuteveis ligaccedilotildees entre comportamentos de ciberbullying
e grupos eacutetnicos especiacuteficos Essa lacuna parece evidenciar que se desconsidera que a
discriminaccedilatildeo por etniacor da pele pode gerar experiecircncias de cyberbullying Para Peterson e
Peterson (2014) alguns aspectos precisam ser analisados tais como o perfil populacional das
pessoas que utilizam TICs a escassez de estudos que analisam especificamente o quesito
raccedilacor bem como o territoacuterio em que esses estudos estatildeo sendo produzidos e onde esses
dados de amostras estatildeo sendo coletas
Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos
As psicopatologias estatildeo entre as principais implicaccedilotildees agrave sauacutede dos envolvidos nas
praacuteticas de cyberbullying (Reed et al 2016 Foody Samara Calbring 2015 Arsegravene
Raynaud 2014 Pearce 2011)
Os principais agravos listados para os que sofrem foram insocircnia depressatildeo baixo
rendimento escolar ou baixa concentraccedilatildeo (Couvillon Illieva 2011) Jaacute Burnett Yozwiak e
Omar (2013) apresentam estudos que afirmam que pessoas que sofrem Cyberbullying tem
menos horas de sono e menos apetite do que pessoas que sofreram outras formas de violecircncia
Bailey31
ao analisar a Child Behavior Checklist (CBC) inclusa em um dos estudos verificados
indicou que aqueles assediados por conhecidos tambeacutem eram mais propensos a relatar
maiores conflitos com os pais casos de abuso fiacutesico ou sexual vitimizaccedilatildeo interpessoal off-
line e comportamento agressivo aleacutem de outros problemas sociais (pg 2)
63
Aquele que eacute intimidado com cyberbullying teria aproximadamente oito vezes mais
chances de levar uma arma para escola do que outros estudantes que natildeo tiveram essa
experiecircncia (Burnett Yozwiak Omar 2013) Grande parte dos estudos considera ainda que o
cyberbullying estaacute associado agrave depressatildeo uso de drogas ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio estresse
solidatildeo e ansiedade (El Asam Samara 2016 Hinduja S Patchin 2011 Gini G Espelage
2014) com consequecircncias psiquiaacutetricas que afetam a sauacutede mental e o desenvolvimento
escolar (Carpenter Hubbard 2014) principalmente dos adolescentes que satildeo alvo A busca
por experiecircncias de risco ―viacutecio no uso de internet solidatildeo e o suiciacutedio satildeo alguns dos
fatores psicoloacutegicos para ambos os personagens (viacutetimas e agressores) sendo que para os que
praticam os fatores estariam interligados entre si (Alim 2016) Natildeo encontramos subsiacutedios
que fundamente os impactos da sauacutede dos espectadores
DISCUSSAtildeO
A escassez de estudos que refletem sobre a contextualizaccedilatildeo do cyberbullying na
cibercultura (Stylios et al 2016 Roger e Salgado 2016 Castro Schreiber Antunes 2015
Nocentini Zambuto e Menesini 2015) e nos seus modos de socialidade foi o aspecto mais
marcante nesta revisatildeo de revisotildees Como discutir um fenocircmeno sem relacionar ao seu
contexto sociocultural de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo Eacute preciso reconhecer que a juventude que
vivencia o cyberbullying eacute em boa parte ―nativa digital implicando o domiacutenio de
comportamentos e gramaacuteticas proacuteprias aleacutem desse espaccedilo de convivecircncia ser estrateacutegico agraves
afirmaccedilotildees identitaacuteria desse segmento (Brown Jackson E Cassydy 2006 Wendt e Lisboa
2014)
Percebe-se que apesar da redundacircncia conceitual houve um avanccedilo expressivo na
busca por aprofundar as especificidades caracteriacutesticas do Cyberbullying Salienta-se ainda a
64
peculiaridade no cyberbullying da expansatildeo exponencial do puacuteblico de expectadores no que
tange agrave disseminaccedilatildeo do conteuacutedo ofensivo e por tempo indeterminado - elementos que
desafiam o trabalho de promoccedilatildeo de resiliecircncia aos que sofreram tais praacuteticas Uma pessoa
pode ser estigmatizada por um longo periacuteodo agrave medida que esse conteuacutedo natildeo pode ser
apagado facilmente como nos casos de sexting em que o conteuacutedo fica disponiacutevel em
buscadores associados ao nome da pessoa que sofreu a violecircncia Uma vez que o
Cyberbullying pode ocorrer em qualquer tempo e territoacuterio e se dispotildee de mecanismos de
ocultaccedilatildeo de conteuacutedos e torna mais difiacutecil a detecccedilatildeo preacutevia por parte dos adultos e
responsaacutevies
Em relaccedilatildeo aos aspectos de gecircnero destacamos a revisatildeo de Chan e Wong (2015) que
analisou as taxas de prevalecircncia de bullying e cyberbullying a respeito das caracteriacutesticas dos
praticantes e intimidados e em que circunstacircncias a accedilotildees eram descritas na China Taiwan
Hong Kong e Macau Percebemos um discurso sexista9 quando os autores fazem um recorte
de gecircnero em sua anaacutelise e como exemplos mencionam no estudo que em Taiwan um dos
fatos de meninos serem os maiores intimidadores se justificaria por uma maior habilidade no
uso de tecnologias Apesar da questatildeo cultural ser evidente favorece a interpretaccedilotildees de que
as adolescentes do sexo feminino natildeo teriam habilidades com tecnologias se comparada aos
adolescentes do sexo masculino natildeo refletindo sobre o tipo de acesso que as meninas
possuem aos meios tecnoloacutegicos culturais e educacionais em paiacuteses onde o homem eacute
considerado superior Outro registro sexista aparece no estudo de Chisholm (2014) que
defende que meninas tendem a se envolver em agressatildeo indireta social e relacional como no
cyberbullying para excluir pessoas em redes sociais e espalhar rumores A natureza
9 Um discurso sexista declara em seu posicionamento que determinado papel eou estereoacutetipo de gecircnero ou sexo
eacute superior que o outro Pode ser inclusive configurado como preconceito e discriminaccedilatildeo com base nesses
marcadores sociais (sexo ou gecircnero)
65
―competitiva das mulheres foi um aspecto destacado por Wingate (2013) ao corroborar a
ideia que as garotas estariam mais envolvidas com praacuteticas de cyberbullying relacionais
Por fim notamos tambeacutem que eacute consensual o reconhecimento de impactos na sauacutede
psiacutequica e no cotidiano escolar dos intimidados e apenas um pequeno grupo reconhece que
existem impactos entre os intimidadores No contexto da Sauacutede o tema ainda eacute recente e
pouco disseminado anunciando um longo percurso a ser percorrido no sentido de sua
compreensatildeo e de posicionamento do campo Jaacute no contexto da Educaccedilatildeo o tema comeccedilou a
ser discutido anteriormente o que pode ser atribuiacutedo agrave recorrente correlaccedilatildeo com o bullying
que perpassa o cotidiano da escola
Artigo 2
4CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA O CAMPO
DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE LITERATURA (natildeo submetido)
RESUMO
O presente estudo propotildee uma revisatildeo criacutetica de estudos sobre o cyberbullying com recorte
temporal entre os anos de 2006 e 2016 Os objetivos deste estudo foram analisar as propostas
de enfrentamento sugeridas para os setores da sauacutede e educaccedilatildeo (atores implicados e
estrateacutegias sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de
enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno Os resultados foram discutidos com base na anaacutelise
de discurso criacutetica proposta por Norman Fairclough Identificou-se na literatura revisada uma
maioria de accedilotildees baseadas na proposta de monitoramento e controle parental e escolar
discursos que propotildee praacuteticas no intuito de gerar uma mudanccedila no comportamento dos
66
indiviacuteduos envolvidos com o cyberbullying e propostas que expressam forte
intertextualidade manifesta do saber meacutedico
Palavra-chave Cyberbullying violecircncia intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo sauacutede e educaccedilatildeo
ABSTRACT
The present study proposes a critical review of studies on cyberbullying with temporal cut
between 2006 and 2016 The objectives of this study are to analyze the proposed proposals
for sectors of Health and Education (implicated actors and suggested strategies) and analyze
the discourses on prevention accountability coping methods and dynamics of the
phenomenon The results were discussed on the basis of critical discourse analysis proposed
by Norman Fairclough It was identified in the reviewed literature a majority of actions
based on the parental and school monitoring and control proposal discourses that proposes
actions aimed at changing the social behavior of individuals involved with cyberbullying and
proposals that express a strong intertextuality of medical knowledge
Key-words Cyberbullying violence intervention prevention health and education
INTRODUCcedilAtildeO
A virtualizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais trouxe profunda transformaccedilatildeo para a
sociabilidade contemporacircnea permitindo que novos espaccedilos de trocas de informaccedilotildees e que
relaccedilotildees comerciais esteacuteticas e afetivo-sexuais fossem constituiacutedas a partir das tecnologias de
comunicaccedilatildeo digital (Castells 2003) No ciberespaccedilo esse novo espaccedilo de interaccedilatildeo os
viacutenculos sociais se estabelecem atraveacutes da internet ganhando assim nova capilaridade As
redes sociais e outros modelos de conexotildees surgem com uma identidade proacutepria que
legitimam uma cultura peculiar a cibercultura ou cultura digital (Levy 2010) Entretanto
para alguns autores o conceito de cibercultura poderaacute cair em desuso visto que as relaccedilotildees
digitais possuem total interface com o cotidiano dos sujeitos sociais (Roger e Salgado 2016)
Martino (2015) ao tratar das caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais afirma que na
cultura digital os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos estabelecidos
conforme a necessidade de um momento e a seguir desmanchados As relaccedilotildees digitais
permitem a disseminaccedilatildeo imediata e sem fronteiras geograacuteficas de informaccedilotildees e saberes de
apoio aleacutem de permitir trocas diversas (afetivas comerciais intelectuais) de favorecer ao
67
associativismo e possibilitar a organizaccedilatildeo de grupos em torno de vivecircncias comuns agendas
e pautas de atuaccedilatildeo (Lemos 2015) Todavia pode contribuir tambeacutem para que praacuteticas de
violecircncia sejam produzidas e disseminadas no ambiente virtual
O Cyberbullying representa uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se manifesta
atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica entre pares nas ambiecircncias das redes de
socialidade digital que podem ocorrer em qualquer espaccedilo geograacutefico Eacute considerado por
diferentes estudiosos como um problema de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede emocional de
crianccedilas e adolescentes (Brown Jackson e Cassidy 2006 Carpenter e Hubbard 2014 Nixon
2014 Bottiono et al 2015 Yang 2016)
Partimos do entendimento que o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se
apresenta sob as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode
repercutir para aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em consequecircncias praacuteticas e
reais no cotidiano e individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)
O cyberbullying se configura ainda como um tipo de representaccedilatildeo e praacutetica social no
ambiente virtual (traduzido no Brasil como Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica) Tal traduccedilatildeo brasileira
ocorreu a partir da Lei 1318515 (BRASIL 2015) que estabeleceu o Programa Nacional de
combate agraves formas de Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica entre elas a que ocorre na rede mundial de
computadores
O tema cyberbullying vem sendo discutido de forma ampliada pela literatura
internacional ao longo das uacuteltimas deacutecadas (Garaigordobil 2011 Torres e Marcieles 2012
Della Ciopa et al 2015) Embora geralmente associada ao tema Bullying (possuidor de um
arcabouccedilo teoacuterico consolidado) a temaacutetica vem ganhando lentamente espaccedilo na literatura
cientiacutefica brasileira O fenocircmeno do Cyberbullying tem tido destaque nas miacutedias
especialmente em casos cujas repercussotildees satildeo de extrema violecircncia como os assassinatos em
seacuterie eou suiciacutedio Todavia haveria uma desconexatildeo significativa entre o que o puacuteblico
precisa saber e o que eacute realmente conhecido sobre o fenocircmeno cyberbullying (Carpenter e
Hubbard 2014)
Muitos programas e propostas de intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo surgiram nos uacuteltimos anos
mas estudos que analisam o conjunto dessas propostas ainda satildeo escassos Segundo Wendt e
Lisboa (2014) ―se faz urgente e necessaacuteria uma maior compreensatildeo acerca desse fenocircmeno
para que seja possiacutevel o desenho de accedilotildees preventivas e interventivas eficazes (pag42)
68
Este estudo pretende portanto analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela
comunidade cientiacutefica sobre as propostas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo de cyberbullying a
serem aplicadas no campo da Sauacutede e da Educaccedilatildeo
Os objetivos propostos para este trabalho foram analisar as propostas de
enfrentamento sugeridas para os setores da Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores implicados e estrateacutegias
sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo e modos de
enfrentamento Partindo desse recorte analiacutetico tratamos das seguintes questotildees
investigativas Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees
propostos pela literatura sobre cyberbullying Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a
questatildeo da sociabilidade virtual juvenil Qual o papel dos educadores diante de casos de
cyberbullying Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullying O que
fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying
METODOLOGIA
Como meacutetodo investigativo optou-se por uma revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo
criacutetica (critical review) Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a
literatura sobre um tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias
(Grant 2014) Uma revisatildeo criacutetica tem sua relevacircncia por sua capacidade de destacar
problemas discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute
confiaacutevel (Paregrave et al 2015) Assim como as revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem
adotar diferentes meacutetodos de anaacutelise sejam com vieacutes interpertativo como nos casos das
siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica ou ateacute mesmo os de recorte mais
positivista como a anaacutelise de conteuacutedo em sua vertente quantitativa
Foram consultadas sete bases internacionais - Scielo BVS Scopus PubMed
American Psychological Association Eric e Applied Social Sciences Index and Abstracts-
durante o mecircs de fevereiro do ano de 2017
Inicialmente iriacuteamos realizar uma revisatildeo do tipo integrativa todavia durante a busca
inicial aplicamos o termo cyberbullying em todos os campos (all fields) e obtivemos o
resultado de 7785 artigos Durante o levantamento de dados buscamos pelo termo
―cyberbullying atraveacutes do Medical Subject Headings (MeSH) e constatamos apenas a
presenccedila do termo bullying (httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying)
Verificou-se assim que o tema cyberbullying era tratado como subitem ou tema secundaacuterio
69
em estudos sobre o bullying O que pode estar ligado ainda agrave ideacuteia de que bullying e
cyberbullying seriam o mesmo fenocircmeno poreacutem ocorrendo em ambientes diferentes Assim
com a primeira busca usando o descritor cyberbullying em todos os campos surgiram 7785
artigos
No intuito de recortar e permitir maior aprofundamento analiacutetico do acervo optou-se
por trabalhar apenas com estudos de revisatildeo Foram selecionados apenas estudos cujo termo
―cyberbullying estava no tiacutetulo e ―revisatildeo presente em todos os campos Aplicaram-se ainda
criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para acesso livre
acervo cinza dissertaccedilotildees monografias - o que resultou em 301 artigos Posteriormente
foram identificados 156 artigos em duplicidade que natildeo haviam sido contabilizados pelo
gerenciador de referecircncia MENDLEY por limitaccedilatildeo do programa Entre essas duplicidades
natildeo identificadas pelo programa encontraram-se estudos registrados em escrita por caixa alta
eou por traduccedilatildeo de texto para o idioma inglecircs nos casos em que o estudo original era em
outro idioma como espanhol ou francecircs ou quando havia subtraccedilatildeo de algum dos autores
tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al Foi gerado um acervo de 145
artigos e um novo refinamento estabeleceu um recorte temporal visando analisar apenas
publicaccedilotildees datadas dos anos de 2006 ateacute 2016 de modo a apreender como o tema veio sendo
discutido ao longo da uacuteltima deacutecada resultando em 72 artigos de revisatildeo Desse nuacutemero
apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo este o acervo analisado nesta obra
Migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias ZOTERO por ser um programa open
sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em
portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos salvos nos mais distintos
formatos
Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de
praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos
discursos adotados nos estudos analisados Assim analisamos quais accedilotildees estatildeo sendo
propostas partir dos discursos construiacutedos O modelo proposto por Fairclough para a Anaacutelise
do Discurso Criacutetica (ADC) demanda analisar o que o autor denomina de concepccedilatildeo
tridimensional pois propotildee examinar a praacutetica social dos discursos a praacutetica discursiva
presente no estudo e a proacutepria conformaccedilatildeo do texto
A anaacutelise da praacutetica discursiva segundo Fairclough (2001) permite explicar como os
discursos satildeo produzidos distribuiacutedos consumidos e interpretados explorando assim as
70
possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva inclui categorias analiacuteticas como a forccedila
coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos
de fala que o texto realiza (o que o texto evoca) a coerecircncia trata do sentido que o texto
possui (para quem faz sentido qual a loacutegica das marcaccedilotildees e conexotildees) a intertextualidade ―eacute
basicamente a propriedade que tecircm os textos de serem cheios de fragmentos de outros textos
permitindo reconstituir as influecircncias daquele discurso (Fairclough 2001) A categoria
intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta
aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de
textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que Fairclough vai chamar de
interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A
praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto Tratar a dimensatildeo do
discurso como praacutetica social implica reconhecer a produccedilatildeo de efeitos ideoloacutegicos e
hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees
econocircmica cultural e ideoloacutegica Satildeo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo de
identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas de
crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente
Nessa perspectiva todo o discurso possui uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir
uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma
determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir
modos de ver e se portar numa dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de
relaccedilotildees sociais
Nossa anaacutelise focou nas dimensotildees textuais (gramaacutetica e figuras de linguagem) e
categorias da praacutetica discursiva com enfoque na intertextualidade (manifesta e constitutiva)
Buscamos analisar o que os textos tecircm evocado a partir dos conceitos estabelecidos ou
ratificados pela comunidade cientiacutefica cuja escrita exerce um poder que influi na praacutetica
social
CARACTERIZACcedilAtildeO DO ACERVO
Cada texto foi lido integralmente e os temas de interesse do estudo (estrateacutegias de
prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo) foram identificados comparados e
interpretados
71
Como pode ser visto no quadro 1 os EUA foi o paiacutes que mais publicou estudos sobre o tema
e o que possui o maior nuacutemero de revistas cientiacuteficas que abordou o assunto no periacuteodo
analisado O que demonstra um maior investimento na produccedilatildeo cientiacutefica dos EUA e a
relevacircncia do tema para a comunidade cientiacutefica do paiacutes supracitado A Agression and Violent
Behavior foi a revista estadunidense que mais publicou sobre o tema (8) seguida da
Computers in Human Behavior (5) do Reino Unido - ambas revistas classificadas como
intermultiprofissionais A revista Preventing School Failure Alternative Education for
Children and Youth do setor educaccedilatildeo publicou trecircs artigos e do setor sauacutede a revista alematilde
International Journal of Adolescent Medicine and Health teve duas publicaccedilotildees
Quadro 4 ndash Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de
Cyberbullying (2010-2016)
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
1 Canadian Journal of
Educational
Administration and
Policy
1
Educaccedilatildeo
Canadaacute
2 Journal of Child and
Adolescent
Psychiatric Nursing
1 Sauacutede EUA
3 Adolescent Health
Medicine and
Therapeutics Journal
1 Sauacutede Reino Unido
4 World Medical amp
Health Policy
1 Sauacutede EUA
5 International Journal
of Psychology and
1 Sauacutede Espanha
72
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
Psychological
Therapy
6 Psicologiacutea desde el
Caribe
1 Psicologia Colombia
7 Agression and
Violent Behavior
08 Intermultidisciplar EUA
8 Computers in
Human Behavior
5 Intermultidisciplar Reino Unido
9 International Journal
of Adolescent
Medicine and Health
2 Sauacutede Alemanha
10 International Journal
of Cyber Behavior
Psychology and
Learning
1 Intermultidisciplar EUA
11 Neuropsychiatrie de
llsquoEnfance et de
llsquoAdolescence
1 Sauacutede Franccedila
12 Australian
Education
Computing
1 Educaccedilatildeo Austraacutelia
13 Current Issues in
Middle Level
Education (CIMLE)
1 Educaccedilatildeo EUA
14 Journal Theory Into
Practice
1 Educaccedilatildeo EUA
15 Journal of
Adolescent Health
1 Sauacutede EUA
73
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
16 Journal of Research
in Special
Educational Needs
1 Educaccedilatildeo Gratilde Bretanha
17 Temas em
Psicologia
1 Sauacutede Brasil
18 Boletim Academia
Paulista de
Psicologia
1 Sauacutede Brasil
19 Children and Youth
Services Review
1 Intermultidisciplar EUA
20 Psychological
Bulletin
1 Sauacutede EUA
21 International Journal
of Adolescence and
Youth
1 Intermultidisciplar Reino Unido
22 Clinical Practice amp
Epidemiology in
Mental Health
1 Sauacutede Emirados Aacuterabes Unidos
23 Journal of Education
and Training Studies
1 Educaccedilatildeo EUA
24 Social Influence
Journal
1 Intermultidisciplar Reino Unido
25 Journal of
Information Systems
Education
1 Educaccedilatildeo EUA
26 Professional School
Counseling Journal
1 Educaccedilatildeo EUA
27 School Psychology 1 Educaccedilatildeo EUA
74
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
International
28 Emotional and
Behavioural
Difficulties
1 Intermultidisciplar Reino Unido
29 Gifted Education
International
1 Educaccedilatildeo EUA
30 Internet
Interventions
1 Sauacutede EUA
31 Preventing School
Failure Alternative
Education for
Children and Youth
3 Educaccedilatildeo
32 JAMA - Journal of
the American
Medical Association
1 Sauacutede EUA
33 Revista de
Psicologia Cliacutenica
1 Sauacutede EUA
34 School Psychology
International
1 Educaccedilatildeo EUA
35 LEnceacutephale 1 Sauacutede Franccedila
36 Journal of Human
Behavior in the
Social Environment
1 Serviccedilo Social
37 Australian Journal
of Guidance and
Counselling
1 Educaccedilatildeointerdisciplinar Inglaterra
38 Alberta Journal of
Educational
1 Educaccedilatildeo Canadaacute
75
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
Research
39 Nova Science
publishers
1 Educaccedilatildeo EUA
40 Psychiatric
Quarterly
1 Sauacutede EUA
41 Education Diggest 1 Educaccedilatildeo EUA
42 ACM ndash Association
for Computing
Machinery
1 Intermultidisciplar EUA
43 Psychology in the
Schools
1 Educaccedilatildeointerdisciplinar EUA
TOTAL 57
ESTRATEacuteGIAS DE PREVENCcedilAtildeO
Organizamos a apresentaccedilatildeo dos resultados em blocos temaacuteticos identificando seu
setor de origem (Educaccedilatildeo Sauacutede) entendendo que tais propostas possuem uma
especificidade disciplinar e mesmo discursiva Analisamos as possiacuteveis ambiguidades
contradiccedilotildees bem como os tipos de argumentos sobre prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo produzidos
nesses textos Todavia independente da origem boa parte do acervo apresentou evocacccedilotildees
discursivas a accedilotildees ―coletivas e interdisciplinares reconhecendo ser essencial que os
esforccedilos sejam sineacutergicos entre escola famiacutelia e sociedade devendo incluir accedilotildees preventivas
de modo a atuar em situaccedilotildees geneacutericas conduzidas para qualificar as relaccedilotildees sociais
prevenir as agressotildees online e buscando evitar novos episoacutedios de cyberbullying
Para Baek e Bullock (2013) apesar dos muitos estudos sobre cyberbullying haveria
uma lacuna de produccedilotildees que tragam uma perspectiva internacional sobre como o tema vem
76
sendo discutido pelo mundo Entre os estudos analisados pelos autores que abordam sobre
prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo tais programaspropostas podem ser divididas nas categorias leis e
poliacuteticas abordagens educacionais esforccedilos das escolas e papeacuteis dos pais Entretanto nesses
moldes de classificaccedilatildeo identificamos ambiguidades sobre o papel dos pais poliacuteticas de
enfrentamento e no que tange aos modus operandi dos programas mencionados pois ora satildeo
apresentados como propostas punitivas ora apresentam um vieacutes reflexivo numa perspectiva
de cultura de paz ou de copinglsquo
As contribuiccedilotildees associadas agrave Educaccedilatildeo agrave Sauacutede e de origem Interdisciplinar
identificadas nete estudo se caracterizaram por defender estrateacutegias preventivas baseadas 1
no controle e monitoramento das atividades online praticadas pelos jovens 2 no
estreitamento de viacutenculos entre profissionais da rede escolar e alunos e entre pais e jovens
3e na disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo e campanhas sobre cyberbullying bem como na
capacitaccedilatildeo de profissionais pais e alunos sobre o tema Por fim elencamos mais uma
categoria discursiva organizadora do acervo que trata dos fatores que levariam a ecircxitos e
fracassos das propostas de prevenccedilatildeo (4)
Controle e monitoramento
As estrateacutegias de prevenccedilatildeo baseadas na perspectiva de controle e monitoramento
foram as mais comuns As revisotildees de Couvillon e Ilieva (2011) e Smith et al (2012)
sugerem por exemplo limitar o uso de celulares na escola Esse texto como em muitos
outros os nuacutecleos verbais satildeo evidentes em sua perfomatividade proibitiva (implementar
controlesrestringir acessoexcluir miacutedias)
―As escolas podem implementar controles sobre a miacutedia existente
restringindo o acesso agraves aacutereas de Internet em que o ciberbullying
provavelmente ocorreraacute (por exemplo salas de bate-papo miacutedias sociais
sites) e excluir a miacutedia natildeo necessaacuteria para a experiecircncia de aprendizagem
como celular Smith et al 2012 (pg 121)
Considerando que a sociabilidade digital jaacute estaacute engendrada no cotidiano de crianccedilas e
adolescentes alguns estudos revisados por Sabella et al (2013) ponderam que a tecnologia
aleacutem de ser uma ferramenta social e de educaccedilatildeo desligar o computador natildeo interrompe
muitas formas de cyberbullying
77
Foram poucos os tipos de estrateacutegias de prevenccedilatildeo direcionadas para o campo da
Sauacutede ou por ele propostas se comparados agrave diversidade de propostas da Educaccedilatildeo mas
dentre estas destacam-se as propostas relativas ao que os artigos nomearam como controle e
monitoramento das atividades online das crianccedilas e adolescentes Uma revisatildeo do campo da
sauacutede propocircs que psiquiatras ―eduquem os pais de adolescentes viacutetimas de cyberbullying
que ―informem sobre monitoramento e controle do uso de tecnologias (Korenis e Billick
2015) Reconhecemos aiacute a presenccedila de interdiscussividade com o discurso biomeacutedico
sugerindo a influecircncia da autoridade meacutedica sobre os pais mesmo diante de fatos relativos agrave
sociabilidade e de cunho comportamental Confirma-se o campo de exerciacutecio da biomedicina
para aleacutem das fronteiras cliacutenicas incorporando o manejo de questotildees da vida social
Outros estudos tambeacutem apresentaram o discurso do monitoramento e controle como
estrateacutegia ―essencial de prevenccedilatildeo com intertextualidade constituiacuteda de um enunciado que
reforccedila a necessidade de supervisatildeo das praacuteticas juvenis e controle parental (Garcia
Maldonado 2011 Perren et al 2012 Torres e Vivas 2012 Bailey 2013 Brunett et al 2013
Aresene e Raynaud 2014)
No que tange agraves propostas interdisciplinares voltadas para a ―proteccedilatildeo online
estudos sugerem a ―tutoria de atividades ―programas de seguranccedila na internet voltado para
pais professores comunidade escolar e alunos e ainda o desenvolvimento precoce de haacutebitos
relacionados ao ―uso seguro da internet para crianccedilas de modo a garantir a efetiva
―internalizaccedilatildeo desses comportamentos (Hanewald 2009 Wendt e Lisboa 2014 Ang
2015) Tal discurso de proteccedilatildeo eacute portador de ambiguumlidades ora propondo um
―acompanhamento (necessaacuterio para determinadas faixas etaacuterias) o que pressupotildee certa
agecircncia e autonomia dos meninos e meninas em navegar online bem como evoca a ideacuteia de
controle (antiacutetese da autonomia sugerida) como estrateacutegia de prevenccedilatildeo Poreacutem natildeo fica claro
como tais propostas consideram os princiacutepios de liberdade de expressatildeo privacidade e
autonomia das crianccedilas e adolescentes
Nesse sentido a literatura analisada sustenta enunciados que reforccedilam a ideacuteia de que
os pais devem ser informados sobre boas praacuteticas e riscos na internet inclusive os riscos do
cyberbullying aleacutem de ―ter conhecimento dos tipos de tecnologias que satildeo utilizadas pelos
jovens para assim supervisionar ―monitorar no sentido de participaccedilatildeo das atividades online
(Hanewald 2009 Bayley 2013 Burnett et al 2013 Arsene e Raynaud 2014) Outros autores
tentam atenuar o confronto entre autonomiamonitoramentocontrole com expressotildees do tipo
78
―monitoramento no sentido de participaccedilatildeo da navegaccedilatildeo em alguns sites e apresentam uma
coerecircncia textual para que natildeo haja maacute interpretaccedilatildeo por parte dos jovens por acharem que
haveria uma perda de autonomia para navegaccedilatildeo na web Ao mesmo tempo o trecho traz
como forccedila um discurso de direcionamento tanto para as crianccedilas e adolescentes quanto para
os pais sobre um modelo de ajuste das praacuteticas rotineiras para que as formas de
monitoramento sejam naturalizadas e inseridas no cotidiano com a justificativa de prevenir da
violecircncia virtual Tal discurso tem tambeacutem como perspectiva de accedilatildeo a participaccedilatildeo dos pais
no universo online de seus filhos propiciando assim novas possibilidades de interaccedilatildeo
familiar
Wendt e Lisboa (2014) afirmam que os jovens acreditam que os adultos natildeo sabem
lidar com o cyberbullying todavia sugerem que o monitoramento parental visto como ―fator
protetivo pode contribuir para um menor comportamento de risco para os jovens na internet
Outra reflexatildeo apontada nessa literatura eacute que conforme os adolescentes se desenvolvem e
passam a adquirir maior independecircncia em relaccedilatildeo aos pais estes uacuteltimos costumam ajustar as
praacuteticas de supervisatildeo permitindo maior liberdade ao adolescente
Jaacute Sabella et al (2013) assinalam que o controle parental natildeo eacute tarefa faacutecil visto que os
aparelhos eletrocircnicos da atualidade satildeo de uso individual Aleacutem disso os adolescentes teriam
mais expertise no uso de tecnologias do que os adultos (Sabella et al 2013)
Estreitamento de laccedilos
No cenaacuterio das propostas oriundas da Educaccedilatildeo o estreitamento de laccedilos entre
alunos e professores se mostrou como uma alternativa relevante como apontam Couvillon e
Ilieva (2011) que ressaltam a necessidade de se ―avanccedilar de modo a ampliar a relaccedilatildeo de
confianccedila apoio e instruccedilatildeo entre alunos professores e demais funcionaacuterios (pg97)
No que concerne aos laccedilos familiares assinalados como relevantes para as accedilotildees de
prevenccedilatildeo percebe-se que a literatura analisada natildeo sinaliza claramente se reconhece a
existecircncia de rearranjos familiares e novos modelos de famiacutelias de crianccedilas e adolescente que
vivenciam experiecircncias de cyberbullying sejam como perpetradores acometidos eou
expectadores pois as orientaccedilotildees sempre invocam os personagens ―pais desconsiderando
que o cuidado dos filhos ocasionalmente esteja sob responsabilidade de outro adulto ou
tutor
79
Assim algumas revisotildees apontaram que os pais teriam um papel significativo na
prevenccedilatildeo do cyberbulyying quando esses permitem que seus filhos acessem somente a sites
considerados ―apropriados Assim essa permissatildeo demonstraria uma forma de cuidado e
propiciaria um ―ambiente saudaacutevel para que os filhos se sintam seguros de falar sobre alguma
situaccedilatildeo de cyberbullying vivenciada (Smith et al 2012 pg 121) Mas como os pais
poderiam valorar qual o poder ofensivo de redes sociais que satildeo os endereccedilos virtuais mais
utilizados pelos jovens na contemporaneidade Em contraponto um estudo revisado por
Slonje et al (2013) que investigou jovens de 25 paiacuteses constatou que 77 das viacutetimas
contaram o problema para algueacutem 42 contaram para os pais 52 para um amigo 7 para
os professores
Wendt e Lisboa (2014) pontuam que a ecircnfase e atenccedilatildeo devem ser voltadas para a
qualidade da relaccedilatildeo entre pais e filhos tal como agrave coerecircncia entre as praacuteticas parentais
utilizadas e a abertura para o diaacutelogo e negociaccedilatildeo Ressaltam ainda que o tempo gasto na
internet prejudica a qualidade na convivecircncia familiar
Capacitaccedilatildeo sensibilizaccedilatildeo campanhas
No que concerne agrave capacitaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo sobre o problema a literatura
reforccedila que as escolas precisam incluir o tema em suas pautas poliacuteticas escolares de prevenccedilatildeo
e incluindo a conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar capacitando natildeo soacute os
professores que satildeo considerados imigrantes digitiais mas os alunos e demais profissionais da
escola promovendo assim um ambiente no qual o cyberbullying seja socialmente inaceitaacutevel
(Sabella et al 2013 Suzuky et al 2012 Smith et al 2012 Von Mareacutees Peterson 2012
Nosworty e Rinaldi 2013) Na revisatildeo de Sabella et al (2013) vemos a evocaccedilatildeo da ideia-
forccedila de conclamaccedilatildeo para que as escolas ampliem o conhecimento sobre poliacuteticas de bullying
e cyberbullying para ajudar a proteger os alunos e resguardar as escolas de sanccedilotildees legais
aleacutem de contribuir para o fortalecimento de viacutenculos no ambiente escolar e comunicaccedilatildeo
aberta entre os alunos
Ainda sobre tipos de prevenccedilatildeo nas escolas encontramos na literatura a proposta de
―capacitar os professores utilizando material com conteuacutedo objetivo e claro para que estes
tenham condiccedilotildees de entender o que representa o cyberbullying ―identificar casos seja
atraveacutes de manifestaccedilotildees psicopatoloacuteloacutegicas comportamentais ou ausecircncia escolar bem como
para o ―fortalecimendo de accedilotildees ciacutevicas no ambiente escolar que conscientizam de modo a
80
―contribuir para um ambiente harmocircnico e uma relaccedilatildeo de confianccedila entre esses atores
(Couvillon e Illieva 2011)
No campo da Sauacutede estudos apontaram a necessidade de campanhas de
conscientizaccedilatildeo para prevenir o cyberbullying (Mareacutees e Peterson 2012 Chisholm 2014) e
defendem que profissionais de sauacutede que trabalhem ou natildeo nas escolas deveriam ―capacitar
alunos e pais Enfatizam a importacircncia de instruir para o desenvolvimento de habilidades
emocionais de modo a reduzir comportamentos impulsivos agressivos e encorajar crianccedilas e
adolescentes a desenvolverem empatia e controlar a raiva utilizando teacutecnicas de ―auto-gestatildeo
emocional ou resiliecircncia (Von Mareacutees e Peterson 2012 e Suzuky et al 2012) O estudo de
Suzuky et al (2012) considera relevante que pais sejam conscientizados por conselheiros
escolares ou profissioanis de sauacutede sobre os problemas que o cyberbullying pode acarretar
Aresene e Raynaud (2014) destacaram a presenccedila recorrente de campanhas
governamentais a niacutevel nacional na Franccedila especiacuteficamente realizada por profissionais de
Sauacutede Puacuteblica chamando a atenccedilatildeo sobre o protagonismo do Setor nesse paiacutes frente ao tema
se comparados a outros campos como a Educaccedilatildeo
A disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees foi um tipo de prevenccedilatildeo sugerida Algumas
propostas relevantes foram destacadas para o setor Sauacutede Puacuteblica como a criaccedilatildeo de material
informativo com enfoque na prevenccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas escolares que alcance
municiacutepios e estados com base em resultados de pesquisas (Gaacutercia Maldonado et al 2011
Kowalski et al 2014)
Ecircxitos e fracassos
Brown et al (2006) ressaltam que a literatura sugere como estrateacutegia de prevenccedilatildeo
primaacuteria que ―explorem a mentalidade digital como uma tarefa de poliacutetica escolar ou seja
que ―criem sites com uma linguagem digital apropriada para ―falar com os grupos de pares
utilizem desse mecanismo como estrateacutegia para que crianccedilas e adolescentes se relacionem e se
expressem nessa rede social escolar Tal literatura apresentou um discurso constitutivo que
propotildee mudanccedila de comportamento de alunos envolvidos em cyberbullying Quando se
propotildee a falar a linguagem dos nativos digitaislsquo essa estrateacutegia utiliza do convencimento para
propor intencionalmente um novo modelo de relaccedilotildees interpessoais desses jovens
81
Os autores mencionam a importacircncia de considerar as dinacircmicas sociais que
circundam a cibercultura como uma base para que praacuteticas positivas sejam desenvolvidas
Propor programas de acordo com a cultura local de um paiacutes ou regiatildeo foi visto como uma
accedilatildeo coerente ao inveacutes de copiar propostas de accedilatildeo jaacute existentes em outros paiacuteses De acordo
com um estudo grego embora haja uma seacuterie de programas de conscientizaccedilatildeo e material
relacionado a maioria dos programas foi projetada a partir de programas europeus muitas das
vezes ignorando que para aumentar a possibilidade de eficaacutecia de um programa de
intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio sua adaptaccedilatildeo agraves necessidades e cultura do paiacutes (Antoniadou e
kokkinos 2013) Percebe-se neste contexto a denuacutencia sobre uma certa dominaccedilatildeo ideoloacutegica
de modelos que satildeo exportados de paiacuteses ―centrais que desconsidera aspectos importantes
como a especificidade da cultura de determinada regiatildeo a forma como os jovens interagem
nos meios digitais e como vivenciam as praacuteticas de violecircncia nessa acircmbiencia
Um estudo revisado por Slonje (2013) apontou que satildeo razoaacuteveis as taxas de sucesso
dos programas escolares de prevenccedilatildeo ao bullying Os autores acreditam que os programas de
prevenccedilatildeo ao bullying podem ser ampliados sem a necessidade de grandes alteraccedilotildees
incluidno a demanda do cyberbullying Assim seria um componente de uma poliacutetica anti-
bullying em toda a escola com accedilotildees de conscientizaccedilatildeo e atividades nesse aspecto poderiam
ser incluiacutedas no curriacuteculo escolar
Programas com vieacuteses punitivos voltados para que perpetradores ―tirem uma liccedilatildeo
sobre seus atos foram considerados ineficazes por parte da literatura Todavia haacute divergecircncia
no discurso sobre as abordagens punitivas no trato com o cyberbullying Segundo a revisatildeo de
Hanewald (2009) estudos consideraram a responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores e a criaccedilatildeo de
poliacuteticas que tratam sobre a questatildeo da violecircncia digital como fatores positivos que inibiriam
novas accedilotildees de cyberbullying Um estudo do campo da Educaccedilatildeo defende que a
judicializaccedilatildeo dos casos de cyberbullying eacute uma estrateacutegia negativa ―Os distritos escolares
devem considerar cuidadosamente as accedilotildees que as escolas podem realizar sem colocar nossa
juventude no sistema de justiccedila criminal (Bailey 2013 pg 6) Tal referecircncia conclama as
instituiccedilotildees escolares tomarem para si a responsabilidade de atuar de forma preventiva de
modo que natildeo seja necessaacuteria uma intervenccedilatildeo de cunho punitivo no acircmbito judicial com os
jovens envolvidos com o cyberbullying Outros textos trazem a mesma perspectiva
(Aboujaoude et al 2015 Alim 2016 Baek e Bullock 2014 Bailey 2013 Baldry et al 2015
Berne et al2013 Cantone et al 2015 Cassidy Faucher e Jackson 2013)
82
A criaccedilatildeo de leis punitivas dividiu os autores Uns consideram que tais normativas
serviriam de base tanto para prevenccedilatildeo quanto para o enfrentamento aleacutem de servir de
paracircmetro legal para possiacuteveis accedilotildees praacuteticas adotadas pelas escolas diante de tais situaccedilotildees
(Baek e Bullock 2013 Bailey 2013)
Por outro lado os programas de prevenccedilatildeo que propiciem uma cultura de paz foram
considerados como uma alternativa eficiente no enfrentamento ao cyberbullying(Cassidy et al
2012)
Por fim um estudo de Della Cioppa et al (2015) que analisou programas de
prevenccedilatildeo do cyberbullying revelou que a maioria desses programas natildeo transcende a escola
(por exemplo para a famiacutelia a miacutedia) - o que pode explicar porque poucos programas de
prevenccedilatildeo natildeo conseguiram reduzir a vitimizaccedilatildeo dos casos de cyberbullying
ESTRATEacuteGIAS DE ldquoINTERVENCcedilAtildeOrdquo
Verificamos no acervo deste estudo duas linhagens de intervenccedilatildeo propostas diante de
casos jaacute ocorridos a primeira toma o foco das accedilotildees realizadas por instituiccedilotildees e a segunda
voltada para o manejo de cunho individual cujas accedilotildees satildeo alinhadas agrave perspectiva de coping
(modos de lidar)
Respostas institucionais de intervenccedilatildeo
De acordo com a literatura estudada (Mason 2008 Garaigordobil 2011) as propostas
de intervenccedilatildeo devem inicialmente identificar os casos de cyberbullying e sinalizar possiacuteveis
estrateacutegias para evitar que essas praacuteticas de violecircncia se consolidem a partir de accedilotildees
especiacuteficas de intervenccedilatildeo que tenham enfoque individual e nos grupos de agressores Intervir
em situccedilotildees concretas de cyberbullying de sorte que se torne possiacutevel minimizar os impactos
dessa violecircncia sobre os acometidos ofertando apoio psicoteraacutepico e proteccedilatildeo agraves viacutetimas sem
desconsiderar accedilotildees junto ao puacuteblico de espectadores
No primeiro grupo estatildeo aqueles que corroboram a ideia que a proteccedilatildeo dos dados
digitais eacute uma forma de lidar com o cyberbullying Essa proteccedilatildeo de dados tem como objetivo
natildeo permitir que conteuacutedos de cunho pessoal sejam acessados e expostos sem o
consentimento do proprietaacuterio Salientamos o discurso evocado na revisatildeo de Ang (2015)
sobre a praacutetica social do exibinicionismo tatildeo naturalizada nas miacutedias sociais digitais Ang
identificou entre os estudos revisados por ele mecanismos de accedilatildeo pelo qual essa loacutegica
83
narcisista ao extremo poderia contribuir para praacuteticas de cyberbullying contra pessoas que natildeo
se encaixam em determinados padrotildees esteacuteticos O autor reflete ainda que o anonimato na
Internet poderia ―exacerbar o senso desses adolescentes de desrespeitar os outros com a
crenccedila de que a agressatildeo eacute ―razoaacutevel aceitaacutevel e justificaacutevel (pg 38) Os elementos
discursivos desse estudo trazem o modo de representaccedilatildeo dos jovens sobre o mundo e sobre
os outros enfatizando o exibicionismo e natildeo empatia com seus pares
Com relaccedilatildeo agraves implicaccedilotildees para a escola segundo a revisatildeo de Hinduja e Patchin
(2011) a escola e seus administradores teriam obrigaccedilatildeo legal de agir quando ocorre a
violecircncia fora da internet e dentro dela quando esses atores tiverem ciecircncia desses fatos Para
Castro Schneider (2015) a escola teria como funccedilatildeo social a co-responsabilidade nos casos de
cyberbullying devendo a direccedilatildeo acionar os pais os Conselhos Tutelares e outros oacutergatildeos de
proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente aleacutem de aconselhar as viacutetimas (Faucher et al 2015) os
perpetradores (Chibbaro 2015) e ensinar aos alunos qual a maneira mais adequada de
responder a episoacutedios de cyberbullying (Notar et al 2016) Espera-se ainda da escola que
capacite professores a terem uma escuta qualificada e que tenham um espaccedilo sigiloso como
referecircncia de apoio para os alunos para que se sintam seguros em compartilhar sobre situaccedilotildees
de cyberbullying (Wingate et al 2013) A literatura ainda sugeriu que as escolas devam criar
programas que melhorem o clima escolar e que contribuam para o desenvolvimento da
empatia e resoluccedilatildeo de conflitos Percebe-se que haacute uma tendecircncia nos textos em sugerir
modelos de condutas por parte das escolas de modo a criar protocolos de comportamentos
diante de situaccedilotildees de bullyingcyberbullying
Destaca-se neste bloco de informaccedilotildees o papel da escola no acircmbito interventivo a
ideia de que funcionaacuterios escolares terem autonomia de impor restriccedilotildees e disciplina caso
regras escolares sejam violadas pelos alunos (Mason 2008) Tal discurso apresenta uma forccedila
discursiva ao designar uma ordem social em ―impor restriccedilotildees por parte dos profissionais da
educaccedilatildeo
A escola eacute chamada a oferecer capacitaccedilatildeo para pais cujos filhos estejam
envolvidos com cyberbullying de modo que esse treinamento tenha um recorte interventivo
ao buscar trabalhar com o puacuteblico dos estudantes cyberagressores no sentido de instruir esses
uacuteltimos e informar sobre o problema
Outras accedilotildees foram destacadas como propostas de cunho didaacutetico de modo a incluir a
famiacutelia e a comunidade no processo de intervenccedilatildeo (Garaigordobil 2011) e monitorar as
84
atividades online feita pelos alunos (Cassidy et al 2013 Carpenter e Hubbard 2014) Essa
uacuteltima proposta coloca em questatildeo como jaacute discutido anteriormente regras de convivecircncia
que interferem na privacidade dos alunos aleacutem das formas de se relacionar na
contemporaneidade ateacute mesmo da individualidade e autonomia dos jovens de fazerem o uso
de seus pertences tecnoloacutegicos no ambiente escolar
Jaacute a revisatildeo de Wendt e Lisboa (2014) evidencia que a falta de diaacutelogo entre pais e os
jovens precisa ser foco de intervenccedilatildeo por parte de psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede
dado que a vulnerabilidade na comunicaccedilatildeo familiar representa um fator de risco no que tange
aos moldes que a violecircncia apresenta no meio digital Os autores percebem que haacute um
distanciamento cultural por parte de pais e professores Sugerem que programas de
intervenccedilatildeo direcionados pelas escolas poderiam desenvolver grupos de responsaacuteveis com
atividades luacutedicas que envolvam o uso das novas tecnologias de modo a propiciar um
compartilhamento de experiecircncias entre responsaacuteveis professores e os alunos Wendt e
Lisboa ainda recomendam que psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede ofertem suporte
emocional aleacutem de reflexotildees sobre os riscos e os benefiacutecios que as dinacircmicas digitais
oferecem na contemporaneidade Todavia identificamos um estudo que sugere a puniccedilatildeo com
o argumento de reparar o dano pelos maus atos praticados pelos filhos (Faushe et al 2015)
Accedilotildees interdisciplinares foram propostas como manejo de intervenccedilatildeo O estudo de
Gine e Espelage (2014) apesar de natildeo descreverem qual o papel de psiquiatras meacutedicos pais
e professores diante de casos de cyberbullying sugere que a intervenccedilatildeo por parte desses eacute
necessaacuteria para diminuir o risco de angustias que podem repercutir em suiciacutedio Neste caso o
discurso apresenta uma funccedilatildeo de linguagem identitaacuteria ao reconhecer o papel social desses
atores e a necessidade de sua atuaccedilatildeo Reed (2015) destacou a formulaccedilatildeo de programas de
intervenccedilatildeo com base em modelos jaacute existentes como uma estrateacutegia positiva designada para
intervir na depressatildeo de pessoas que vivenciaram o cyberbullying Outro modelo semelhante
visa agrave formaccedilatildeo de ciacuterculos restaurativos e grupos de reflexatildeo voltado para os agressores
mas com monitoramento das accedilotildees de cyberbullying por eles praticadas Tanto no que se
refere aos autores como aos acometidos a perspectiva de mudanccedila de comportamento adveacutem
de tratamento psicoloacutegico sem desconectar a oferta de aconselhamento Experiecircncias como
estas foram consideradas exitosas quando reproduzidas (Suzuky et al 2012 Sabella et al
2013 Slonje et al 2013)
85
Programas de conscientizaccedilatildeo tambeacutem foram considerados como accedilotildees de intervenccedilatildeo
cujos objetivos satildeo o de contribuir para a reduccedilatildeo do estresse imediato e ajudar a prevenir
consequecircncias de longo prazo bem como um mecanismo para denuacutencias anocircnimas aos canais
e oacutergatildeos de proteccedilatildeo (Garaigordobil 2011 Raskauskas e Ruyinh 2015)
Criar instrumentos para avaliar os riscos de um jovem sofrer cyberbullying tambeacutem foi
considerado pelos estudos como um instrumento de intervenccedilatildeo ao passo que permitiria a
criaccedilatildeo de novas estrateacutegias de accedilotildees (Baldry et al 2015) Entendemos que a criaccedilatildeo de
instrumentos para avaliaccedilatildeo traz como implicaccedilatildeo discursiva as maneiras de interpretar o
sentido de haver riscos de sofrer cyberbullying
Por fim um uacuteltimo grupo de propostas de intervenccedilatildeo se refere agrave criaccedilatildeo de leis
coibitivas da praacutetica de cyberbullying No que tange a legislaccedilatildeo a criaccedilatildeo de leis especiacuteficas
para lidar com cyberbullying abre margem para uma argumentaccedilatildeo de que se faz ―necessaacuteria
a criminalizaccedilatildeo do fenocircmeno como condiccedilatildeo efetiva para lidar com ele A anaacutelise dessas
propostas envolve a agurmentaccedilatildeo sobre execuccedilatildeo das leis podendo inclusive resultar em
accedilotildees paliativas aleacutem da presenccedila de um discurso apelativo de judicializaccedilatildeo das relaccedilotildees
sociais em conflito (Yan e Grinshteyn 2016)
Entendemos que as estrateacutegias relacionadas acima correspondem a accedilotildees de cunho
institucional e poliacutetico Natildeo encontramos modelos de intervenccedilatildeo especiacuteficos para o campo da
sauacutede
bdquoCoping‟ ndash o manejo individual
Os modelos de coping apresentados nos estudos analisados reportam a um manejo de
ordem psiacutequica e individual ofertando ainda a possibilidade de acionamento de outros sujeitos
como professores amigos e famiacutelia Natildeo estatildeo relacionados diretamente ao campo Educaccedilatildeo
mas ao manejo que prioriza a sauacutede mental dos indiviacuteduos
Apresentaremos a seguir as propostas de enfrentamento designadas pela literatura
como modelos de intervenccedilatildeo de ordem individual Verificamos que natildeo se trata propriamente
de modelos de intervenccedilatildeo mais sim de estrateacutegias de como lidar com o fenocircmeno Nesse
bloco ressaltam-se os modos de lidar que promovem resiliecircncia sugeridos a partir de
experiecircncias existentes ensinadas e replicadas ou seja sugestotildees de formas de prevenccedilatildeo de
86
novos agravos agrave sauacutede psiacutequica dos envolvidos com o cyberbullying ou ainda formas de
coping que supunham que a partir de determinado comportamento natildeo ocorram novos
episoacutedios do fenocircmeno Estrateacutegias de enfrentamento (coping) satildeo consideradas praacuteticas de
esforccedilos cognitivos e comportamentais para tratar das demandas peculiares e os objetivos
desses modos de lidar satildeo distintos e tomam por base o niacutevel de envolvimento desse sujeito
com a questatildeo do cyberbullying (no caso das viacutetimas) por exemplo o que vai determinar
quais os tipos e niacuteveis de estrateacutegias seraacute adotado para lidar como o cyberbullying (Castilho
2010 Bezzara in Veiga e Caetano 2014)
Como formas de coping satildeo discutidas o confronto a resoluccedilatildeo planejada do
problema a aceitaccedilatildeo o autocontrole a procura de ajuda a reavaliaccedilatildeo positiva da situaccedilatildeo o
distanciamento e fugaevitamento do problema (Serra 1987 Ribeiro e Rodrigues 2004)
O manejo utilizado por vitimados foi pontuado de forma recorrente pelos estudos
analisados Dentre as formas de lidar com o cyberbullying estatildeo informar algueacutem sobre o
ocorrido evitar a pessoa que praticou o cyberbullying revidar a accedilatildeo de alguma maneira
bloquear certas pessoas de contato on-line alterar senhas e nome de usuaacuterio excluir
mensagens anocircnimas sem ler evitar socializar abertamente o nuacutemero de celular rastrear
nuacutemero de IP do agressor e informar aos canais de atendimento de sites de relacionamentos
sobre a ocorrecircncia de atos de cyberbullying trocar nome e nuacutemero de telefone caso se sinta
ameaccedilado (Slonje et al 2013 Nixon 2014) Poreacutem eacute prematuro dizer que tais
comportamentos possam impedir um indiviacuteduo de vivenciar tal experiecircncia muito menos dar
conta da dimensatildeo exponencial que o cyberbullying pode alcanccedilar Entendemos que haveria
um discurso de intencionalidade devido agrave forccedila dos verbos utilizados bloquearlsquo alterarlsquo
rastrearlsquo revidar Ao fazer uso de tais verbos o discurso produz um sentido de proposiccedilatildeo
de construccedilatildeo de praacuteticas ativas que confrontem as accedilotildees de cyberbullying vivenciadas pelos
acometidos
Verifica-se que satildeo muacuteltiplas as formas de copinglsquo sinalizadas pelo acervo analisado
Em meio agraves distintas formas de lidar com o cyberbullying encontram-se atores que estariam
em uma posiccedilatildeo de passividade diante de accedilotildees do cyberbullying os chamados expectadores
Pode-se disser que esse tipo de comportamento tambeacutem representa um modo de lidar
contudo sem um caraacuteter de enfrentamento Neste caso o comportamento dos expectadores
nos chama atenccedilatildeo em meio ao cenaacuterio das propostas de enfrentamentos devido a sua ineacutercia
A falta de intervenccedilatildeo diante de um episoacutedio de cyberbullying por parte dos expectadores se
87
configura com o que Wingate et al (2013) denominam de ―ignoracircncia pluralista que
corresponde a um comportamento grupal onde sujeitos de um determinado grupo ao terem
uma opiniatildeo diferente preferem se calar diante de uma resposta contraacuteria a deste grupo ao
qual pertence O vocabulaacuterio em destaque traz como lexicaccedilatildeo agrave falta de conhecimento dos
espectadores diante dos danos que o cyberbullying pode causar em outrem Wingate et al
(2013) salientam que ocorre uma espeacutecie de ―efeito espectador (O que o grupo vai pensar
caso tenha uma reaccedilatildeo diferente das regras culturais estabelecidas pela comunidade que faz
parte) Por exemplo uma viacutetima de cyberbullying pode ter muitos amigos numa rede social
mas se eles natildeo reagirem cria a impressatildeo de que ignorar o cyberbullying eacute a resposta
normativa (Wingate et al 2013)
Uma das revisotildees (Raskauska e Ruinh 2015) tratou de identificar estrateacutegias para
lidar com o cyberbullying promotoras de reduccedilatildeo imediata do estresse gerado pelo fenocircmeno
ou aquelas que contribuam para diminuiccedilatildeo em longo prazo tais como praacuteticas com enfoque
nas emoccedilotildees e que promovam uma cultura de paz para evitar o confronto estrateacutegias de apoio
social que ofertem suporte que provoquem o amortecimento do impacto negativo do
cyberbullying (falar com um amigo professor ou profissional sobre o assunto) estrateacutegias
focadas na evacuaccedilatildeo que incluem distanciamento do enfrentamento no qual se evita ou se
retira da situaccedilatildeo estressante (como os bloqueios de perfis e exclusotildees) ou accedilotildees que gerem
resiliecircncia e porporcione o bem estar e sauacutede mental (como o natildeo pensar sobre o fato
ocorrido) A procura por apoio social se revelou mais peculiar entre o gecircnero feminino de
acordo com dois estudos revisados por Raskauska e Ruinh (2015)
O estudo de Nixon por exemplo embora revisasse pesquisas sobre eficaacutecias das
estrateacutegias de intervenccedilatildeo verificou que a maioria dessas pesquisas teria examinado
estrateacutegias de reduccedilatildeo de risco ou promoccedilatildeo de comportamentos que superem os riscos como
o suiciacutedio baixo rendimento escolar entre outros Tais estrateacutegias quando adotadas pelos
adolescentes podem mitigar ou reduzir o impacto negativo do cyberbullying (Nixon 2014)
A revisatildeo de Alim (2016) destaca um estudo de Justim Patchim e Sammer Hinduja
com adolescentes americanos de 11 a 18 anos de idade que analisou a probabilidade de um
jovem ser punido por um adulto como um fator para praticar ou natildeo atos de cyberbullying
Tal estudo observou que os adolescentes que pensavam que os adultos poderiam puni-los
eram menos propensos a fazer cyberbullying Alim (2016) ainda elencou as formas como os
adolescenes lidam com o fenocircmeno entre elas (a) responder aos ataques (b) saber em quem
88
confiar (c) ser astuto em relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecnologia (d) respeitar os
outros (e) estar no controle e (f) falar cara a cara (Fisher 2013 apud Alim 2016) Entre as
estrateacutegias relatadas pelos adolescentes consideradas eficazes e que impedem accedilotildees de
cyberbullying incluem accedilotildees tecnoloacutegicas como a exclusatildeo do perfil e o ajuste da
privacidade uso de configuraccedilotildees para evitar o contato Estas seriam moderadamente uacuteteis
para pessoas que sofrem com cyberbullying e outras formas de asseacutedio on-line O bloqueio do
agressor foi uma das respostas mais predominantes relatar o incidente a um consultor on-line
ou denunciar atraveacutes de relatoacuterio on-line tambeacutem foi identificada aleacutem de bloquear o acesso
do perpetrador agraves informaccedilotildees pessoais na linha do tempo de redes sociais Para Alim (2016)
as estrateacutegias dos adolescentes para o enfrentamento mudam com o passar dos anos e que as
soluccedilotildees tecnoloacutegicas e a procura de apoio satildeo eficazes na luta contra o ciberbullying Jaacute a
revisatildeo de de Allison e Busey (2016) ressaltou estudos que apontam que as normas de
comportamentos sociais entre pares podem influenciar a decisatildeo de transeuntes do universo
online participarem de cyberbullying inclusive no que tange ao comportamento dos
expectadores Verifica-se que o texto se apropia de elementos discursivos de forccedila (modos de
accedilatildeo) ―bloquear o agressor ―responder aos ataquese ao mesmo tempo de modos de
representaccedilatildeo desses sujeitos que fazem parte de comunidades sociais ―falar cara a cara
―saber em quem confiar Esse tipo de discurso contribui para moldar e restrigir as normas e
convenccedilotildees entre agressores e acometidos
Cabe destacar que parte das revisotildees que sugerem modos de lidar (coping) com o
cyberbullying propocircs accedilotildees preventivas concomitantemente Aleacutem disso pensar tais
estrateacutegias e reproduzir tais praacuteticas adequando as novas complexidades do fenocircmeno e da
cibercultura se fazem necessaacuterios (Aboujaoude et al 2015) visto que um modelo de
intervenccedilatildeo fechado natildeo daria conta da constante atualizaccedilatildeo tanto das tecnologias que
possibilitariam praacuteticas de cyberbullying como das ambiecircncias relacionais da cibercultura
CONCLUSOtildeES
No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um
assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns
pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das
89
expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o
evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares
Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa
levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia
Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a
cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo
Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o
conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o
contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que
podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying
podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas
atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais
Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio
na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia
psicoloacutegica e que ocorre entre pares
Percebemos que a literatura analisada por muitos momentos demonstrou uma
aproximaccedilatildeo do tema cyberbullying com o bullying tradicional Eacute suficiente considerar o
cyberbullying mais do mesmo neste caso bullying
Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma
personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o
cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de
alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos
produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet
voltar a circular apoacutes tempos depois em que o conteuacutedo foi disparado e o assunto degradante
veio agrave tona
Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos
estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio
(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre
quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas
do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a
atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as
habilidades dos meninos como superiores comparados com as meninas em aspectos
tecnoloacutegicos
90
Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagado deliberadamente em redes
sociais contra grupos eacutetnicos raciais natildeo brancos eacute inquietante natildeo ter identificado na
literatura reflexotildees sobre cyberbullying e gecircnero que transcendam a classificaccedilatildeo binaacuteria
aleacutem de invisibilizar questotildees como o racismo Tambeacutem cabe considerar que natildeo bastaria
nomear situaccedilotildees como cyberbullying sem refletir sobre o tipo de violecircncia praticada com tais
sujeitos Para isso eacute preciso ter ciecircncia do que de fato se configura cyberbullying para que
equiacutevocos interpretativos natildeo ocorram ao passo de classificar qualquer tipo de violecircncia
digital como cyberbullying desconsiderando por exemplo que trata-se de uma violecircncia
entre pares Estudos que apontem prevalecircncia de casos de cyberbullying contra jovens LGBT
grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio mulccedilumanos e
religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos satildeo de grande relevacircncia
Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre
o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis
por proliferar o conteuacutedo difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying
que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um
controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta
Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser
ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os
impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que
diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar
cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica do
cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas
ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os
seus perfis analisando inclusive se aqueles que cometem cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram
algum tipo de violecircncia
Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo
ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou
seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute
viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo anonimato
Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que
haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem
existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas
implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de
91
Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam
adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz
respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais
digitais
Ainda assim a literatura direciona maior responsabilidade no trato da prevenccedilatildeo do
cyberbullying agrave comunidade escolar Teriam as escolas capacidade de capacitar prevenir e
ainda intervir em situaccedilotildees de cyberbullying isoladamente Por outro lado natildeo eacute possiacutevel
admitir que questotildees de cyberbullying na escola sejam classificadas como uma problemaacutetica
de menor impacto para os alunos ou ―brincadeira de adolescente uma demanda que foge da
competecircncia escolar por transcender o seu espaccedilo fiacutesico Pensando nessa suposta
responsabilidade em alguns paiacuteses como no Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe
multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem dar conta de certas demandas por falta de
suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar continuidade a projetos iniciados por falta de
recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio refletir se de fato tais propostas e manejo
seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno complexo e com atravessamentos
peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros setores e atores sociais Partimos do
entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos de cyberbullying necessitam ser
realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes atores
Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados
tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de
revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou
analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento
Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a
necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos
pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos
online jaacute faccedila parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem
refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos ―nativos digitais e restrigir punir ou
controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens pode ter tambeacutem
aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria Quais os
seus limites Quando um profissional eou um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a
privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais
enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do
monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e
92
adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos
e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos
jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que
supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre o uso das novas tecnologias esses
possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua
responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um
aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso
aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de
identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de
monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que
tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a uma banalizaccedilatildeo do monitoramento
de praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da
liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo
familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz
necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado
pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos
Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado
de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos
publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo
foi o nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede
reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a
criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem
com esta demanda de forma coerente
Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do
conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios
novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e
intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento
sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre
avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de
intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)
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CONCLUSOtildeES
No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um
assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns
pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das
expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o
evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares
Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa
levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia
Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a
cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo
Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o
conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o
contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que
podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying
podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas
atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais
Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio
na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia
psicoloacutegica e que ocorre entre pares
Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma
personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o
cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de
alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos
produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet
100
voltar a circular apoacutes tempos depois em que esse conteuacutedo foi disparado e o assunto
degradante veio agrave tona
Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos
estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio
(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre
quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas
do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a
atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as
habilidades dos meninos como superiores se comparados com as meninas em aspectos
tecnoloacutegicos
Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagando deliberadamente em redes
sociais percebeu-se ainda uma ausecircncia de reflexotildees sobre a questatildeo do cyberbullying contra
jovens LGBT grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio
mulccedilumanos e religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos
Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre
o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis
por proliferar o material difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying
que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um
controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta
Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser
ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os
impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que
diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar
cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica de
cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas
ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os
seus perfis analisando inclusive se aqueles que praticam cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram
algum tipo de violecircncia
Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo
ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou
seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute
viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo do anonimato
101
Eacute possiacutevel considerar que o cyberbullying se configura como uma nova forma de
violecircncia sistemaacutetica que se manifesta atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica
entre pares nas ambiecircncias das redes de socialidade digital que podem ocorrer em qualquer
espaccedilo geograacutefico Inclusive sendo considerado por estudiosos como um problema de sauacutede
social e de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede mental de crianccedilas e adolescentes
Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que
haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem
existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas
implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de
Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam
adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz
respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais
digitais
Ainda assim a literatura apontou excessiva responsabilidade da escola no trato da
prevenccedilatildeo do cyberbullying agrave comunidade escolar Entretanto em alguns paiacuteses como no
Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem
dar conta de certas demandas por falta de suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar
continuidade a projetos iniciados por falta de recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio
refletir se de fato tais propostas e manejo seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno
complexo e com atravessamentos peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros
setores e atores sociais Partimos do entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos
de cyberbullying necessitam ser realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes
atores
Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados
tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de
revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou
analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento
Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a
necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos
pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos
online jaacute faccedilam parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem
refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos nativos digitais e restrigir punir ou
controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens podem ter
102
tambeacutem aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria
Quais os seus limites Quando um profissional e um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a
privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais
enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do
monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e
adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos
e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos
jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que
supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre uso das novas tecnologias esses
possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua
responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um
aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso
aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de
identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de
monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que
tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a banalizar o monitoramento de
praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da
liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo
familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz
necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado
pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos
Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado
de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos
publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo
foi nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede
Reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a
criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem
com esta demanda de forma coerente
Identificou-se a necessidade de estudos futuros investigarem as redes sociais como
um territoacuterio de praacutetica e propagaccedilatildeo de atos de cyberbullying Que estudos com esse recorte
aponte quais os papeis dessas plataformas digitais no manejo com o cyberbullying
Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do
conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios
103
novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e
intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento
sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre
avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de
intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)
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Dedico este trabalho a todas as crianccedilas e (os) adolescentes que sofreram ou sofrem com os
impactos do cyberbullying em sua sauacutede psiacutequica que possam encontrar os mecanismos de
apoio necessaacuterios que lhes possibilite enfrentar essa forma de violecircncia tatildeo cruel
Agradecimentos
Agrave Deus por ter me dado a graccedila de conseguir cursar um curso de poacutes-graduaccedilatildeo
Scricto Sensu numa instituiccedilatildeo renomada como a ENSP e poder seguir minha trajetoacuteria
acadecircmica iniciada nesta casa em 2012 com a especializaccedilatildeo em Direitos Humanos e Sauacutede
Agrave minha famiacutelia por todo apoio recebido paciecircncia nos meus dias estressantes
incentivo para que eu natildeo desistisse do meu objetivo Obrigado por terem sonhado comigo
em especial meu esposo Eduardo Brito que acreditou que eu seria capaz antes mesmo de eu
pensar em cursar o mestrado Te amo
Quero tambeacutem registrar minha gratidatildeo pelo privileacutegio de ter Suely Deslandes como
minha orientadora mentora amiga agraves vezes matildee (matildee loira minha diva da vida academia)
por todas as orientaccedilotildees recebidas por ter acreditar em mim pelo incentivo pelas chamadas
para a realidade pelas dicas compreensatildeo paciecircncia (e como vocecirc exerceu esse dom comigo)
diante das minhas dificuldades e limitaccedilotildees diante do trabalho aacuterduo que eacute construir um
trabalho acadecircmico com qualidade Cada sessatildeo ligaccedilatildeo e encontros foram importantes
Jamais vou esquecer todo o suporte que meu deu aprendi e aprendo muito com vocecirc Eacutes uma
inspiraccedilatildeo para mim Muito obrigada
Agrave coordenaccedilatildeo acadecircmica do Programa de Mestrado em Sauacutede Puacuteblica da ENSP todo
corpo docente docentes convidados pela competecircncia e excelecircncia no ensino Agradeccedilo em
especial aos docentes e pesquisadores da minha subaacuterea violecircncia e sauacutede por terem me
oportunizado refletir apreender e conhecer sobre a violecircncia suas especificidades Obrigada
pelos encontros reflexivos provocadores e desafiadores (Maria Ceciacutelia Minayo ndash nossa diva
maior Suely Deslandes Patriacutecia Constantino Joviana Avanci Simone de Assis Kathie
Njaine Ednilsa Ramos Liana Pinto Fatima Cequetto Ana Elisa Miriam Schenker e Liane da
Silveira) Obrigada a todos os colegas da turma MSP2016 tenho orgulho dessa turma
Saudade dos nossos cafeacutes e chaacute de bebecircs
Agrave minha turma da subaacuterea Ethos Guerreiro (Adri Bruno Cynthia Lu Ju Hellen
Rodolfo e Val) pela solidariedade incentivo e empatia ao longo desses dois anos Foram
muitas batalhas conquistas alegrias perdas anguacutestias e tristezas partilhadas natildeo vou me
esquecer do que vivemos juntos virtualmente e presencialmente Temos um Ethos coletivo
que eacute de Guerreiro
Obrigada membros da banca por acreditar no meu trabalho e me possibilitar chegar
ainda mais perto dessa realizaccedilatildeo que eacute me tornar mestre Bibliotecaacuterio Adriano equipe da
secretaria acadecircmica pela prontidatildeo e profissionalismo muito obrigada
Encerra-se um ciclo para que outro se inicie
Como diz um salmo de Davi e nisso me apeguei ―Confie no Senhor Tenha feacute e
coragem Confie em Deus o Senhor (Salmos cp27 v14) Bestrong Gratidatildeo
RESUMO
Este estudo trata o cyberbullying como uma violecircncia psicoloacutegica que ocorre entre pares no
contexto das sociabilidades digitais logo se configura como um problema de sauacutede puacuteblica
que traz impactos agrave sauacutede emocional de crianccedilas e adolescentes que pode desencadear
inclusive em suiciacutedio Analisamos as formas de conceituar os fenocircmenos e suas dinacircmicas
quais os personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede dos perpetradores
e acometidos por essa categoria de violecircncia A seguir analisamos as propostas e enunciados
de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo propostas pelo e para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo (quem
satildeo os atores implicados e quais as estrateacutegias recomendadas) analisar os discursos sobre
prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno
Empreendemos tal estudo a partir de uma revisatildeo criacutetica da literatura tomando como base a
Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) nos moldes propostos por Fairclough sobretudo no que
diz respeito aos discursos e enunciados evocados em sua interdiscursividade (manifesta e
constitutiva) forccedila e praacutetica social Percebeu-se uma necessidade de novos estudos que
contextualizem a questatildeo do cyberbullying na cibercultura e novas possibilidades de interaccedilatildeo
digitais bem como estudos que discutam com maior aprofundamento o papel dos
profissionais de sauacutede no enfrentamento e na prevenccedilatildeo
Palavras-chaves Cyberbullying Sauacutede Educaccedilatildeo violecircncia
ABSTRACT
This study deals with cyberbullying as a psychological violence that occurs between peers in
the context of digital sociabilities and is therefore a public health problem that impacts the
emotional health of children and adolescents which can lead to suicide We analyze the ways
of conceptualizing the phenomena and their dynamics which characters are identified and
which associations point to the health of the perpetrators and affected by this category of
violence Next we analyze the proposals and statements of prevention and intervention
proposed by and for the fields of Health and Education (who are the actors involved and what
strategies are recommended) analyze the discourses on prevention accountability coping
modes and dynamics of the phenomenon We undertake such a study based on a critical
review of literature based on the Analysis of Critical Discourse (ADC) in the ways proposed
by Fairclough especially with regard to the discourses and statements evoked in his
interdiscursividade (manifest and constitutive) strength and social practice There was a need
for new studies that contextualize the issue of cyberbullying in cyberculture and new
possibilities for digital interaction as well as studies that discuss with a deeper understanding
the role of health professionals in coping and prevention
Key-words Cyberbullying Health Education violence
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO13
11 Objetivos13
12 Metodologia 19
2 MARCO TEOacuteRICO24
21 Cibercultura sociabilidade digital e ciberespaccedilo 24
22 Bullying29
23 Cyberbullying35
231 Cyberbullying Violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica35
3 ARTIGO 1 CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES
CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E IMPLICACcedilOtildeES COM
A SAUacuteDE44
Introduccedilatildeo45
Meacutetodos49
Conceituaccedilatildeo51
Descriccedilotildees das dinacircmicas56
Personagens envolvidos58
Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos61
Discussatildeo62
4 ARTIGO 2 CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO
PARA O CAMPO DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE
LITERATURA64
Introduccedilatildeo64
Metodologia66
Caracterizaccedilatildeo do acervo69
Estrateacutegias de prevenccedilatildeo74
Estrateacutegias de intervenccedilatildeo80
5 CONCLUSOtildeES 87
6 REFEREcircNCIAS91
Sumaacuterio de Quadros
Quadro 1 Seleccedilatildeo do acervo22
Quadro 2 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo24
Quadro 3 Vocaacutebulo designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas37
Quadro 4 Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de Cyberbullying
(2010-2016)69
Sumaacuterio de Tabelas
Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma51
Sumaacuterio de figuras
Figuras 1 Modelo Tridimensional de Norman Fairclough23
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Em tempos em que manter-se por muitas horas diaacuterias conectadas agrave internet atraveacutes de
aparelhos eletrocircnicos eacute uma realidade cotidiana de parte da sociedade na contemporaneidade
natildeo eacute de se espantar que a sociabilidade tenha sofrido alteraccedilotildees para novas formas de
interaccedilatildeo mediadas por diferentes miacutedias sociais De tal modo a violecircncia tambeacutem ganhou
novas formas de expressatildeo
A violecircncia e suas mais distintas expressotildees tecircm sido pauta de estudos em diferentes
aacutereas do conhecimento inclusive no campo da Sauacutede
Segundo Assis e Marriel (2010) conceituar violecircncia eacute uma tarefa difiacutecil por se tratar
de um fenocircmeno de muacuteltiplas causalidades
Ainda sobre as violecircncias Wanzinack e Signorelli (2015 p 09) afirmam que elas
atingem de forma natildeo apenas diferente mas sobretudo desigual a distintos sujeitos e grupos
da sociedade Assim sendo as violecircncias se manifestam por meio de diferentes atores e
encontram- se em variados cenaacuterios
Entende-se que existe uma relaccedilatildeo estreita poreacutem natildeo exclusiva entre a Violecircncia e a
Sauacutede conforme apontam Minayo e Souza (1998 p520) ―a violecircncia natildeo eacute objeto restrito e
especiacutefico da sauacutede mas estaacute intrinsecamente ligada a ela Cabe ressaltar que o campo da
Sauacutede possui um papel social de relevacircncia pois dentre suas funccedilotildees estatildeo a elaboraccedilatildeo de
estrateacutegias preventivas a promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede coletiva e individual
O cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se manifesta sob os moldes de
agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para aleacutem da
subjetividade do indiviacuteduo resultando em implicaccedilotildees praacuteticas e reais no cotidiano e
individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)
Um estudo (Silva Silva Saldanha 2011) realizado atraveacutes de um questionaacuterio com
114 crianccedilas e adolescentes portuguesas constatou que o cyberbullying causa efeitos
devastadores na sauacutede mental e fiacutesica Entre as consequecircncias mais frequentes estavam as
crises de choro (714) a ansiedade (571) a dificuldade de concentraccedilatildeo (571) e os
pesadelos (571)
O cenaacuterio para este estudo foi o ambiente virtual visto que a violecircncia tem alcanccedilado
relevante capilaridade neste espaccedilo o que tem gerado amplas consequecircncias Satildeo
14
repercussotildees que perpassam tanto as relaccedilotildees sociais iniciadas fora do ambiente virtual que
podem ou natildeo ser nutridas neste ambiente (como exemplo relaccedilotildees familiares entre colegas
e vizinhos) ou ainda interaccedilotildees sociais mais superficiais (amigos virtuais eou seguidores de
redes sociais que podem ou natildeo ter uma relaccedilatildeo social real com o usuaacuterio nessas redes
sociais) Certas vinculaccedilotildees desenvolvidas neste espaccedilo satildeo conexotildees construiacutedas por meio de
interesses comuns que todavia podem ser rompidas a qualquer momento devido agrave
superficialidade nessas conexotildees
Essas relaccedilotildees sociais que ocorrem no ciberespaccedilo (espaccedilo virtual) e que podem
culminar em atos violecircncia na comunicaccedilatildeo digital se manifestam em meio a uma cultura
digital Cultura esta que alguns estudiosos da aacuterea das ciecircncias da comunicaccedilatildeo e ciecircncias
sociais chamam de cibercultura
Segundo Andreacute Lemos (2015) a cibercultura seria uma confluecircncia entre as formas
sociais praacuteticas humanas e a tecnologia sendo atraveacutes da inclusatildeo da sociabilidade na praacutetica
diaacuteria da tecnologia que ela adquire os seus contornos mais niacutetidos A existecircncia de uma nova
forma de apresentaccedilatildeo da cultura e da proliferaccedilatildeo de uma sociabilidade digital traz consigo
distintas facetas entre elas a violecircncia se faz presente no ciberespaccedilo e nas relaccedilotildees digitais
que ali se estabelecem A nova sociabilidade digital eacute mediada por distintas tecnologias que
facilitam o uso e acesso individual e remoto tais como os smarthphones notebooks e outros
modos de comunicaccedilatildeo que possibilitam o envio e recebimento de mensagens de textos
aacuteudios imagens fotos e viacutedeos Essas muacuteltiplas formas de interaccedilatildeo digital podem ser
utilizadas para depreciar denegrir e expor vexatoriamente eou negativamente agrave imagem de
algueacutem Assim o cyberbullying pode ser concebido e difundido poreacutem agraves vezes seus autores
natildeo satildeo identificados devido agrave possibilidade de anonimato (ainda existente) no ambiente
virtual ou ainda a morosidade na identificaccedilatildeo desses autores Apesar de todos os avanccedilos
tecnoloacutegicos que possibilitam rastreamentos e localizaccedilatildeo de aparelhos eletrocircnicos de
comunicaccedilatildeo
Aleacutem disso uma vez que uma imagem eacute veiculada no ambiente virtual essas
informaccedilotildees poderatildeo estar pra sempre circulando na rede mundial de computadores por meio
das diferentes conexotildees que podem ser realizadas Lemos (2015) considera o ciberespaccedilo
como um ambiente onde ocorre uma significaccedilatildeo sensorial da civilizaccedilatildeo pautada em
informaccedilotildees digitais
15
Jaacute Martino (2015) ao tratar das questotildees caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais
contemporacircneas afirma que os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos
estabelecidos conforme a necessidade de um momento e desmanchados depois Haacute uma
dinacircmica nos contatos sociais feitos atraveacutes da internet partindo da ideia do nuacutemero e dos
tipos de conexotildees que podem ser estabelecidas entre os participantes das redes sociais
presentes no chamado ciberespaccedilo
Eacute inevitaacutevel falar cyberbullying sem mencionar o fenocircmeno bullying por ambos os
fenocircmenos ocorrerem entre pares e pelo fato deste primeiro ser chamado de a versatildeo digital
do bullying dito como tradicional
Jaacute que para alguns o cyberbullying representaria ―uma nova forma de bullying (Neto
2005) O autor cita Bill Belsey professor que teria utilizado pela primeira vez o conceito
trata-se do uso da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (e-mails
telefones celulares mensagens por pagers ou celulares fotos digitais sites
pessoais difamatoacuterios accedilotildees difamatoacuterias online) como recurso para a
adoccedilatildeo de comportamentos deliberados repetidos e hostis de um individuo
ou grupo que pretende causar danos a outro (s)
Sabe-se que os primeiros estudos sobre o bullying satildeo oriundos dos paiacuteses do norte da
Europa dos paiacuteses considerados noacuterdicos na deacutecada de 1970 pelo professor universitaacuterio
Dan Olweus e posteriormente na Sueacutecia com Heinz Leymann Dan Olweus eacute apresentado
como o precursor em realizar pesquisas sistemaacuteticas sobre o tema Em 1989 Olweus e
Roland divulgaram os primeiros diagnoacutesticos de seu estudo sobre o bullying No entanto
estudos de bullying entre estudantes passaram ser mais observados em outros paiacuteses como os
Estados Unidos a partir da deacutecada de 1980 (Olweus 2003)
Segundo Malta et al (2010) o Bullying eacute uma praacutetica antiga Os autores o entendem
como uma ―violecircncia que traz repercussotildees no cotidiano de suas viacutetimas como uma ameaccedila
diaacuteria a integridade fiacutesica psiacutequica e da dignidade humana (pg3069) Os autores enfocam
ainda que o bullying natildeo eacute uma violecircncia demarcada por recortes sociais e econocircmicos e
perpassa por distintas camadas sociais e ―niacuteveis culturais Segundo Cleo Fante (2008 p 86)
o ―bullying eacute uma palavra de origem inglesa adotada em muitos paiacuteses para definir o desejo
consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocaacute-la sob tensatildeo Conforme Shariff
16
(2011) trabalhadores britacircnicos de minas de carvatildeo discorriam sobre colegas de trabalho
como bullies e a partir daiacute iniciou-se uma associaccedilatildeo dos bullies com ―brigotildees ou
―valentotildees Poreacutem somente a partir na deacutecada de 1800 (seacutec XIX) a termologia (bullies)
passou a se referir agrave fraqueza covardia tirania e violecircncia tendo ainda uma associaccedilatildeo a
gangues Deste modo agir como um bully representava tratar de maneira ―autoritaacuteria
intimidadora e apavoradora O que nos leva a entender que haacute provaacutevel relaccedilatildeo etimoloacutegica da
palavra bullying e o prefixo bully como falaremos a seguir
Ainda em Sharrif (2011) a etimologia expotildee muito sobre a problemaacutetica existente em
identificar o bullying ao reconhecer que houve uma transiccedilatildeo do que representaria um
comportamento valentatildeo de modo amplo para um trato de autecircntica hostilidade ao destacar a
comparaccedilatildeo existente entre a evoluccedilatildeo histoacuterica da palavra e do bullying no ambiente escolar
contemporacircneo
Assim o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma
disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre
sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidados (Alim
2016) Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs
horas diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de cyberbullying
(Arsegravene Raynaud 2015) Li et al (2012) trazem destaque sobre os efeitos do cyberbullying
que podem ser tatildeo graves quanto o do bullying presencial As viacutetimas apresentam a
probabilidade de sofrer de depressatildeo sendo que os autores (em geral tambeacutem crianccedilas e
adolescentes) enfrentam esse problema posto que seja uma violecircncia entre pares Em
decorrecircncia disso a violecircncia psicoloacutegica reproduzida no ambiente virtual pode desencadear
consequecircncias graves a sauacutede de suas viacutetimas (Li et al 2012)
Existem autores que consideram a necessidade de compreensatildeo por parte dos
profissionais de que o cyberbullying seria um processo que ocorre em adiccedilatildeo ao bullying
tradicional como um subtipo de bullying com caracteriacutesticas especiacuteficas (Stelko-Pereira e
Williams 2011 in Wendt 2013) Entretanto para Wendt (2013) em muitos casos pode natildeo
haver o bullying [no acircmbito da vida real] mas pode estar ocorrendo a vitimizaccedilatildeo [apenas]
17
online portanto trata-se de processos sobrepostos embora independentes (p83) [grifos
nosso]
Uma pesquisa internacional a TIC KIDS ONLINE (2015) que visa mapear possiacuteveis
riscos oportunidades na internet e aponta dados sobre mediaccedilatildeo parental ao entrevistar
crianccedilas e adolescentes entre 09 e 17 anos revelou que cerca de 20 foram tratados de forma
ofensiva na internet nos uacuteltimos 12 meses Entre os entrevistados 9 receberam mensagens
ofensivas pela internet 4 declarou que outras pessoas postaram mensagens ofensivas na
internet para outras pessoas verem o mesmo percentual de jovens foi excluiacutedo de grupo ou
rede social
Uma pesquisa nacional realizada no segundo semestre de 2009 neste caso
apresentada pela ONG SAFERNET cuja amostra contou com a participaccedilatildeo de 2525 alunos
e 966 educadores das redes puacuteblicas e privadas identificou com relaccedilatildeo a situaccedilotildees de
cyberbullying ―que 33 dos entrevistados jaacute haviam tido algum amigo viacutetima desse tipo de
humilhaccedilatildeo na rede
Tais maus tratos consistem em praacuteticas de difamaccedilatildeo humilhaccedilatildeo
ridicularizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo por meio de ferramentas da internet
Com o atual aumento das facilidades para acesso ao mundo virtual por
parte de crianccedilas e adolescentes esse tipo de agressatildeo se torna cada
vez mais frequente Uma caracteriacutestica importante desse tipo de
agressatildeo eacute que consiste num ―fenocircmeno sem rosto agrave medida que na
internet o agressor pode muitas vezes natildeo se identificar
(httpwwwpromeninoorgbrportals0pesquisabullyingpdf)
Compreende-se que existem situaccedilotildees na vida que podem gerar abalo emocional e
consequentemente paralisam pessoas algumas conseguem superar tais situaccedilotildees e saiacuterem
delas fortalecidas Um dos motivos para que cada indiviacuteduo lide de modo distinto com
problemas semelhantes estaacute relacionado com o conceito de resiliecircncia A resiliecircncia pode ser
caracterizada como a capacidade de superar uma dada situaccedilatildeo de adversidade e sair
fortalecido (Angst 2009) Importante considerar essa capacidade de recuperar-se de lidar de
forma positiva com as pressotildees eou estresse em situaccedilotildees de adversidades Interessante
apontar que o conceito de coping apresenta uma base conceitual semelhante agrave resiliecircncia
todavia natildeo se confunde agrave ela correspondendo a uma capacidade cognitiva comportamental
O coping eacute definido como ―conjunto das estrateacutegias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-
18
se a circunstacircncias adversas ou estressantes (Antoniazzi Bandeira DellacuteAglio 1998 in
Taboada et al 2006) Tais estrateacutegias individuais podem ser utilizadas como manejo
individual diante eou apoacutes situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying
Entende-se que existe um grau de fragilidade quando os jovens satildeo expostos ao uso da
internet seja devido ao uso prolongado das redes sociais e outras formas de navegaccedilatildeo na
web ou ainda o uso da internet sem o monitoramento dos responsaacuteveis bem como o uso de
aparelhos com acesso agrave internet desprotegidos de sistema de seguranccedila de dados e
informaccedilotildees Fatos como esses podem contribuir para o iniacutecio de um ciclo de violecircncia
Embora jaacute existam poliacuteticas de conscientizaccedilatildeo sobre uso adequado da internet
seguranccedila virtual e de responsabilizaccedilatildeo de pessoas que cometem crimes virtuais natildeo
necessariamente faz com que todas as formas de violecircncia virtual sejam identificadas eou
tenham seu ciclo rompido
Partindo desse recorte analiacutetico utilizamos as seguintes questotildees investigativas
- Como a literatura nacional e internacional conceitua o cyberbullying e descreve suas
dinacircmicas
- Qual o papel de gecircnero em tais dinacircmicas
- Quais conexotildees satildeo feitas com a sauacutede de crianccedilas e adolescentes que sofrem e praticam o
cyberbullying
- Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees propostos pela
literatura sobre cyberbullying - Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a questatildeo da
sociabilidade virtual juvenil (Deve haver regulaccedilatildeo Como ocorre Deve ser proibida)
- Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullyin
- O que fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying
Nosso objetivo geral foi analisar como a literatura nacional e internacional aborda o
tema as associaccedilotildees que delimita entre o cyberbullying e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes e
as accedilotildees propostas de intervenccedilatildeoprevenccedilatildeo para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo
19
Nossos objetivos especiacuteficos foram
1 Analisar as conceituaccedilotildees utilizadas para caracterizar o cyberbullying explorando
eventuais diferenccedilas entre os autores nacionais e estrangeiros
2 Analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela comunidade cientiacutefica sobre as
propostas de prevenccedilatildeo do cyberbullying e modos de enfrentamento no campo da
sauacutede e educaccedilatildeo
3 Analisar as representaccedilotildees associadas agrave construccedilatildeo dos sentidos do fenocircmeno (causas
personagens envolvidos e responsabilidades implicadas)
4 Analisar as praacuteticas de cyberbullying (perpetrar sofrer testemunhar) a partir das
dinacircmicas das relaccedilotildees de gecircnero
5 Identificar associaccedilotildees e implicaccedilotildees agrave sauacutede das pessoas intimidadas e dos
perpetradores causados pelos diferentes tipos de cyberbullying
6 Analisar as propostas de enfrentamento sugeridas para Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores
implicados e estrateacutegias sugeridas)
Diante disso apresentaremos como resultado dessa dissertaccedilatildeo dois artigos O primeiro
buscou analisar as conceituaccedilotildees de cyberbullying adotadas pela literatura nacional e
internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo enfocando suas ecircnfases e
―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as associaccedilotildees que delimitam
entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes
No segundo artigo buscamos analisar criticamente as estrateacutegias de enfrentamento do
cyberbullying tanto no campo da Sauacutede quanto no campo da Educaccedilatildeo Elencando quem
seriam os atores implicados e que tipos de estrateacutegias haviam sido apontados pela literatura
investigada com enfoque em analisar criticamente tais discursos
METODOLOGIA
Propomos realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa considerando que este tipo
de estudo se compromete em trabalhar com ―os significados atribuiacutedos pelos sujeitos aos
fatos agraves relaccedilotildees praacuteticas bem como ―as interpretaccedilotildees dessas praacuteticas ao estudar uma
realidade especiacutefica (Minayo e Deslandes 2002)
20
Com relaccedilatildeo ao meacutetodo investigativo inicialmente haviacuteamos optado por utilizar do
meacutetodo de revisatildeo sistemaacutetica integrativa todavia a busca trouxe uma quantidade muito
elevada de trabalhos (7785) considerando o tempo para uma anaacutelise coerente de modo a
cumprir o cronograma proposto assim optamos por fazer uso de revisatildeo de literatura do tipo
―revisatildeo criacutetica (critical review)
Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um
tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant Booth
2009) A contribuiccedilatildeo de uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas
discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel
(Paregrave et al 2015) O escopo analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou
estatisticamente representativo Esse tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos
selecionados o que eacute considerado o seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as
revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo
(siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais
positivista (anaacutelise de conteuacutedo)
Cabe mencionar que preferimos por delimitar temporalmente o escopo da busca das
referecircncias para a revisatildeo literaacuteria sobre o tema proposto (de 2006 a 2016) Tal escolha
temporal se refere agrave disseminaccedilatildeo do acesso agrave internet por aplicativos em aparelhos moacuteveis
bem como a ampla disseminaccedilatildeo do maior site de relacionamento do mundo (FACEBOOK)
por exemplo datados a partir da deacutecada que trataremos a seguir
Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo
BVS Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA
(Applied Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017
Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos
(all fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no
Medical Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying
(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos
vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo
Com o intuito de reduzir e qualificar mais esse acervo optou-se por trabalhar apenas os
estudos de revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no
tiacutetulo e ―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de
21
qualquer natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas
modalidades revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica
sistemaacutetica revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo
sistemaacuteticas e revisatildeo narrativa
Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis
para acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em
301 estudos Depois de analisar cada artigo no MENDLEY foi identificado 156 artigos em
duplicidade que natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias
(MENDLEY) como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com
traduccedilatildeo de texto para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou
francecircs e quando houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor
seguido de et al Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com
recorte temporal de publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem
sendo difundido na uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo
Desse nuacutemero de artigos apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo (conforme
quadro 1) Destacamos ainda que migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias
ZOTERO por ser um programa open sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados
pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos
salvos nos mais distintos formatos
22
Quadro 1 ndash Seleccedilatildeo do acervo
ACERVO (cyberbullying)
7785 estudos (allfields)
301
(apoacutes criteacuterio de exclusatildeo)
141
(apoacutes exclusatildeo das duplicidades)
72
(apoacutes recorte temporal)
57 estudos (prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo )
O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia
dos autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus
conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes
categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do
cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede
No que se refere agrave anaacutelise de dados especialmente no segundo artigo adotamos o
meacutetodo de Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) Considerando que a ADC possui outras
correntes de anaacutelise tomamos como referecircncia a orientaccedilatildeo dada por Norman Fairclough que
propotildee estudos criacuteticos e interdisciplinares sobre a praacutetica discursiva e sua relaccedilatildeo com a
transformaccedilatildeo social e de cultura Para Fairclough (2001) os discursos contribuem
diretamente para a construccedilatildeo dos sistemas de conhecimento e crenccedilas tendo trecircs funccedilotildees e
dimensotildees de sentido que ―coexistem e ―interagem em todo discurso sendo elas identitaacuteria
relacional e ideacional Na funccedilatildeo identitaacuteria estatildeo implicados os modos pelos quais as
23
identidades sociais satildeo constituiacutedas na funccedilatildeo relacional como as relaccedilotildees sociais entre os
atores presentes nos discursos satildeo representadas e ―negociadas na funccedilatildeo ideacional os
modos pelos quais significam o mundo seus processos entidades e relaccedilotildees Essas duas
uacuteltimas satildeo interpretadas (Halliday 1978 In Fairclough 2001) como de caraacuteter ―interpessoal
Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de
praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos
discursos adotados nos estudos analisados Sendo assim se torna caro para noacutes identificarmos
que accedilotildees estatildeo sendo ditas a partir dos discursos construiacutedos nos estudos que seratildeo
analisados sobre o tema proposto Ou seja o que tem sido dito pelos estudos acerca do
cyberbullying Cabe destacar que o modelo proposto por Fairclough para a ADC abarca a
anaacutelise da praacutetica discursiva do texto e da praacutetica social
Conforme descrito na figura seguinte
Figura 1 - Concepccedilatildeo tridimensional do discurso em Fairclough (2001101)
O modelo tridimensional da ADC proposto por Fairclough distingue trecircs dimensotildees
dessa forma de anaacutelise de discurso texto praacutetica discursiva e praacutetica social Ao tratar
dimensatildeo textual o autor traz o entendimento de que todo o texto eacute elaborado de modo que
satildeo repletos de significados e inclusive de ambiguidades No que tange a praacutetica discursiva
segundo Fairclough (2001) permite explicar como os discursos satildeo produzidos distribuiacutedos
consumidos e interpretados reduzindo assim as possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva
propotildee categorias como a forccedila coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz
referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos de fala que o texto realiza [o que o texto evoca] a
coerecircncia trata do sentido que o texto possui [para quem faz sentido qual a loacutegica das
marcaccedilotildees e conexotildees] a intertextualidade ―eacute basicamente a propriedade que tecircm os textos de
PRAacuteTICA SOCIAL
PRAacuteTICA DISCURSIVA
TEXTO
24
serem cheios de fragmentos de outros textos (Fairclough 2001) [grifos nossos] A categoria
intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta
aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de
textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que o Fairclough vai chamar
de interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A
praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto
Ao que se refere ao discurso como praacutetica social em Fairclough (2001) estaria
implicada necessariamente como uma dimensatildeo que produz os efeitos ideoloacutegicos e
hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees
econocircmica cultural e ideoloacutegica Sendo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo
de identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas
de crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente
Neste sentido todo o discurso possuiu uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir
uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma
determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir
mudanccedila social em uma dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de relaccedilotildees
sociais
Destacamos que para realizar o processo de anaacutelise de discurso proposto utilizamos
um roteiro com matrizes de perguntas como Qual a conceituaccedilatildeo para o cyberbullying Quais
as definiccedilotildees e ou descriccedilotildees sobre as dinacircmicas do cyberbullying Como os personagens
envolvidos na praacutetica de cyberbullying satildeo descritos
No que tange a designaccedilatildeo e dinacircmica da anaacutelise submetemos os artigos selecionados
agraves matrizes de perguntas e posteriormente criamos bancos de dados temaacuteticos para as
definiccedilotildees propostas de enfrentamento diferenccedilas de gecircnero conexotildees entre a sauacutede de
crianccedilas e adolescente que sofrem e praticam cyberbullying Os quadros temaacuteticos permitiram
organizaccedilatildeo das informaccedilotildees extraiacutedas e faacutecil acesso ao conteuacutedo no momento da anaacutelise
propriamente dita Para exemplificar segue abaixo o modelo de quadro temaacutetico
25
Quadro 02 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo
Matrizes de perguntas ndash Roteiro para a anaacutelise
Enfim cabe esclarecer que consideramos neste campo reflexivo as accedilotildees praacuteticas
apontadas nos estudos para os setores da Sauacutede e da Educaccedilatildeo incluindo as accedilotildees de cunho
preventivo e promotoras de cultura de paz1
Por fim por se tratar de um estudo de revisatildeo bibliograacutefica a pesquisa natildeo necessitou
ser submetida a um comitecirc de eacutetica em pesquisa com seres humanos
1 A cultura de paz estaacute intrinsecamente relacionada agrave prevenccedilatildeo e agrave resoluccedilatildeo natildeo violenta dos conflitos Eacute uma
cultura baseada em toleracircncia e solidariedade uma cultura que respeita todos os direitos individuais que
assegura e sustenta a liberdade de opiniatildeo e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os () A cultura
de paz procura resolver os problemas por meio do diaacutelogo da negociaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo de forma a tornar a guerra e a violecircncia inviaacuteveis Disponiacutevel em httpunesdocunescoorgimages0018001899189919porpdf
Acessado em 26052018
PERGUNTAS SAUacuteDE EDUCACcedilAtildeO
Como o Cyberbullying eacute
conceituado
Quais as descriccedilotildees das
dinacircmicas
Quais as descriccedilotildees dos
personagens
Quais as associaccedilotildees e
implicaccedilotildees com a sauacutede das
pessoas intimidadas e dos
perpetradores
Como as propostas de
intervenccedilatildeo satildeo apresentadas
(estrateacutegias de accedilatildeo objetivos
personagens envolvidos)
26
1 MARCO TEOacuteRICO
11 CIBERCULTURA SOCIABILIDADE DIGITAL E CIBERESPACcedilO
O surgimento da internet teria sido fruto da ARPANET uma rede de computadores
construiacuteda nos EUA pela Advanced Projects Agency (ARPA) do Departamento de Defesa
americano em 1969 com intuito de mobilizar recursos de pesquisas universitaacuterias para obter
superioridade tecnoloacutegica militar em comparaccedilatildeo a Uniatildeo Sovieacutetica Contudo somente na
deacutecada de 1980 eacute que a tecnologia da rede de computadores passou a ser comercializada ―Por
razotildees histoacutericas e culturais a internet foi deliberadamente projetada como uma tecnologia de
comunicaccedilatildeo livre (Castells 200310)
Desde entatildeo a sociabilidade contemporacircnea passou por significantes transformaccedilotildees
a partir do advento da internet De acordo com Castells (2003) a internet passou a ser a base
tecnoloacutegica para a forma organizacional da era da informaccedilatildeo Sendo assim da internet incide
a capacidade de distribuiccedilatildeo da forccedila informacional por todo o domiacutenio da atividade humana
permitindo pela primeira vez a comunicaccedilatildeo de muitos com muitos num momento
escolhido em escala global
De acordo com o dicionaacuterio Priberam (2016) internetlsquo eacute uma palavra de origem
inglesa que significa
―Rede informaacutetica utilizada para interligar computadores agrave niacutevel
mundial agrave qual pode aceder qualquer tipo de usuaacuterio e
que possibilita o acesso a toda a espeacutecie de informaccedilatildeo (httpswwwpriber
amptDLPOinternet)
Haacute um entendimento de que a internet contribui para as dinacircmicas de mercado
ampliaccedilatildeo e agilidade nas redes de contato acesso a informaccedilatildeo entre outros aspectos
concernentes agraves sociedades poacutes-modernas Atraveacutes dos avanccedilos tecnoloacutegicos na atualidade eacute
possiacutevel o acesso agrave internet por meios eletrocircnicos modernos como smartphones tablets
notebooks e ultrabooks
Cabe salientar que os avanccedilos tecnoloacutegicos bem como todo esse aprimoramento com
relaccedilatildeo agrave experiecircncia de interaccedilatildeo eou de estar conectado permitiu que novos modos de
27
sociabilidade fossem permitidos como as redes sociais Barnes foi apontado como um dos
criacuteticos que defende a ideia de alargamento e natildeo delimitaccedilatildeo do que hoje conhecemos como
redes sociais Ao realizar uma etnografia sobre o iniacutecio de uma estratificaccedilatildeo social numa ilha
norueguesa tal antropoacutelogo desenvolvera uma tese segundo a qual todos seus habitantes
estariam interligados uns aos outros por cadeias de conhecimentos interligados e pouco
extensatildeo mas que natildeo se limitava aos limites da ilha entretanto ligavam seus habitantes a
outros sujeitos fora do seu contexto social e topograacutefico de pertencimento (Barnes A 1954
apud Marteleto 2010)
Jaacute Lemos (2015) ao relatar sobre o ciberespaccedilo declara que este eacute compreendido como
um espaccedilo sem dimensotildees um universo de informaccedilotildees navegaacuteveis de forma instantacircnea e
reversiacutevel Afirma ser uma ―nova dimensatildeo espaccedilo temporal de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo
(p127) Para o autor esse natildeo lugar remete a duas perspectivas 1ordf O lugar onde estamos
quando entramos em um ambiente simulado (ambiente virtual) 2ordf Um conjunto de redes de
computadores interligadas ou natildeo em todo o planeta a internet ―as redes vatildeo se interligar
entre si e permitir a interaccedilatildeo por mundos virtuais () (pg128) Natildeo obstante a cibercultura
representaria um conjunto de aspectos e padrotildees culturais relacionados com a internet e a
comunicaccedilatildeo em redes de computadores (Dicionaacuterio online Priberam 2016) Com a criaccedilatildeo
dessa nova expressatildeo da cultura inserida no ambiente virtual foram estabelecidos novos
paracircmetros de privacidade do sujeito agrave medida que cada vez mais as pessoas estatildeo sendo
observadas por todos em todos os lugares fenocircmeno que alguns autores chamam de
vigilacircncia e visibilidade
Segundo Levy (2010) a Cibercultura em sua essecircncia tem caraacuteter de um universal
poreacutem sem totalidade pois ele seria indeterminado agrave medida que em cada nova transmissatildeo
pode representar um receptor ou emissor de informaccedilotildees de dimensotildees inalcanccedilaacuteveis e
aleatoacuterias Na cibercultura o real e virtual estatildeo a todo tempo em contato ao passo que um
indiviacuteduo pode estar no Brasil conectado online com uma pessoa do Japatildeo ou ainda em
conexatildeo com pessoas em diferentes nacionalidades numa mesma interaccedilatildeo online
Entendemos que esta universalidade eacute alcanccedilada agrave medida que possibilita diferentes e
muacuteltiplas conexotildees entre seres humanos em todo o planeta Deixa de ser total por natildeo
possuirmos o controle das dimensotildees que essas conexotildees podem alcanccedilar pela falta de
28
domiacutenio sobre as informaccedilotildees partilhadas visto que uma vez lanccediladas na rede natildeo se pode
mensurar o potencial de compartilhamentos acessos e quais novas conexotildees podem ser
geradas Nesse aspecto a interconexatildeo generalizada emerge do crescimento da internet como
uma nova forma de universal Para Levy (2010) o universo da cibercultura eacute indefinido se
considerada a gama de conexotildees que podem ser estabelecidas ao passo que o emissor ou
produtor a todo o momento pode estabelecer diferentes conectividades
Nessa sociedade poacutes-moderna os modos de conexotildees atraveacutes das distintas tecnologias
digitais tecircm gerado novas formas do que representa viver em sociedade Entre as
caracteriacutesticas da sociabilidade digital estaacute a hipervisibilidade e o tribalismo No que tange a
hipervisibilidade o ciberespaccedilo contribui para a criaccedilatildeo de uma ―realidade aumentada
(Lemos 2015) Que pode ser configurada com a exposiccedilatildeo e maior visibilidade que as vidas e
os corpos passam a ganhar Dados como localizaccedilatildeo fotos e hipertextos expotildeem informaccedilotildees
sobre o indiviacuteduo e todos que possui um viacutenculo virtual seja este viacutenculo ―fraco ou ―forte
O privado passa a ser publicizado a partir dos compartilhamentos realizados neste universo de
informaccedilotildees instantacircneas em tempo real Outra dimensatildeo da sociabilidade digital presente na
cibercultura eacute o que Lemos (2015) chama de tribalismo sendo esta uma ―tendecircncia
comunitaacuteria na rede social complexa do ciberespaccedilo Essa caracteriacutestica de tribalismo
concebe uma ideia de agregaccedilatildeo social empatia pautados no interesse muacutetuo de estar
conectados por ideologias ou alguma outra identificaccedilatildeo Contudo essa socialidade tribal traz
consigo um ethos de compartilhamento baseado no que Maffesoli vai chamar de eacutetica da
esteacutetica (Maffesoli 1987 apud Lemos 2015) Esse termo designa um processo em que a
sociedade eacute mascarada assumindo um ethos a partir daquilo que pretende compartilhar com
os outros um modo de ser partindo do que se quer ostentar
E se analisarmos o crescimento do acesso agrave conexatildeo de internet cada vez mais
pessoas estatildeo navegando na rede e compartilhando de seus interesses abrindo suas vidas
quase que indiscriminadamente
Para ressaltarmos o quanto o acesso agrave internet tem crescido no paiacutes verificamos que
em 2009 segundo o resultado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) feita pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) cerca de 679 milhotildees de brasileiros
teriam conexatildeo com a internet ou seja o nuacutemero de domiciacutelios com acesso agrave internet no
Brasil aumentou em 71 entre 2005 e 2009 (Site UOL) Jaacute os resultados da PNAD 2013
divulgados em 2015 nos mostraram que cerca de 856 milhotildees de brasileiros (acima de 10
anos) o equivalente a 494 da populaccedilatildeo teriam acesso agrave internet incluindo por meio de
29
aparelhos que natildeo fosse notebooks e desktops Dos 312 milhotildees das residecircncias com
acesso agrave internet 977 estatildeo conectados por banda larga Em meacutedia 771 dos
domiciacutelios conectam a internet por banda larga fixa enquanto 435 teriam acesso
agrave banda larga moacutevel (Site EBC)
Em contrapartida apesar dos nuacutemeros expressivos o direito agrave inclusatildeo digital ainda
natildeo corresponde agrave realidade de todos os brasileiros sendo um tema de grande discussatildeo
Todavia jaacute eacute uma realidade em parte do Brasil acessar a internet por WIFI internet agrave raacutedio ou
modems 3G e 4G moacuteveis A partir da instalaccedilatildeo de aplicativos (apps) em aparelhos moacuteveis
que comportam o acesso agrave internet eacute possiacutevel conectar-se a Redes Sociais como Facebook
WHATSAPP INSTAGRAM TWITTER SNAPCHAT entre outras inclusive de forma
―gratuita Obviamente tal gratuidade possui interesses e contrapartidas comerciais Todavia
o que nos chama atenccedilatildeo eacute que essas redes sociais representam um ponto de encontro de
centenas de milhares de jovens ao redor do mundo diariamente com longas duraccedilotildees de
conexotildees (sempre online) e em grande escala sem administraccedilatildeo de tempo eou supervisatildeo de
um adulto responsaacutevel Cada vez mais cedo crianccedilas tecircm acesso agraves redes sociais O que nos
leva a crer que crianccedilas por vezes com apoio de seus responsaacuteveis estariam omitindo ou
adulterando sua idade real para que tenham acesso agraves redes sociais que natildeo permitem o
acesso de crianccedilas menores de 13 anos (como no caso do FACEBOOK)2 Essa espeacutecie de
conivecircncia dos pais que permitem que seus filhos utilizem redes sociais mesmo quando
algumas plataformas digitais natildeo permitem o acesso de crianccedilas Inclusive esse acesso pode
ser considerado como um risco a sauacutede e a seguranccedila das crianccedilas
O estudo de Machold et al (2012) com 474 estudantes Irlandeses de trecircs escolas
secundaacuterias entre 11 e 16 anos de idade para avaliar padrotildees gerais de uso da internet e
identificar potenciais de risco incluindo cyberbullying contato improacuteprio uso excessivo
dependecircncia e invasatildeo de privacidade por outros usuaacuterios detectou que (403) o equivalente agrave
95 dos adolescentes fazem uso de redes sociais Com relaccedilatildeo ao tempo de uso duas horas
ou mais foram gastas nas redes sociais diariamente por (285) o correspondente a 62 sendo
que 450 estudantes cerca de (98) fazem uso sem supervisatildeo
Entretanto os laccedilos de afinidade neste ambiente invisiacutevel onde os perfis e as novas
relaccedilotildees estabelecidas nas redes sociais podem natildeo ser verdadeiros mas simulaccedilotildees Essa
realidade estaacute presente no cotidiano de milhares de pessoas que estatildeo predispostas a manter
2 httpspt-brfacebookcomhelp210644045634222
30
um contato virtual na maioria das vezes pautado na superficialidade agrave medida que esse
ambiente invisiacutevel (considerando suas dimensotildees) traz visibilidade para nossa localizaccedilatildeo e
atividades compartilhadas com os ―amigos virtuais Martino (2015) ao tratas das relaccedilotildees
sociais mantidas na rede considera que ―por seu turno conexotildees satildeo criadas mantidas eou
abandonadas a qualquer instante sem maiores problemas comparadas as ―instituiccedilotildees
sociais como a famiacutelia trabalho ou religiatildeo tendem a ser mais riacutegidas para com seus membros
do que as redes sociais
A internet trouxe um desenvolvimento expressivo para o funcionamento das
sociedades modernas Para Shariff (2011) pela sua natureza os meios eletrocircnicos permitem
que as formas tradicionais do bullying assumam caracteriacutesticas que satildeo especiacuteficas do
ciberespaccedilo
Esse espaccedilo seria representado por um solo natildeo configurado onde os sujeitos se
relacionam de qualquer territoacuterio fiacutesico com pessoas que estejam em um diferente local
como se ambas estivessem frente a frente sem a necessidade de haver um contato fiacutesico ou
real o encontro se daacute em uma nova dimensatildeo o ciberespaccedilo
Concluiacutemos que o ciberespaccedilo eacute um campo natildeo material poreacutem virtual onde a noccedilatildeo
de espaccedilo eacute perdida e o real eacute aumentado possibilitando a comunicaccedilatildeo por meios eletrocircnicos
e a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees em larga escala com muacuteltiplas e distintas pessoas
22 Bullying
A violecircncia admite distintas expressotildees e multicausalidades (Ferreira e Tavares 2012)
Desse modo se faz necessaacuterio abordar a questatildeo do bullying antes de aprofundarmos sobre a
questatildeo central deste trabalho Segundo Fante e Pedra (2008) na maioria dos paiacuteses onde o
fenocircmeno eacute estudado emprega-se o termo em inglecircs (bullying) Entretanto existem
alguns paiacuteses que utilizam outros termos de sua liacutengua sem que se perca o
significado Satildeo usados por exemplo mobbing na Noruega e na Dinamarca [t raduz ido
para o po rtuguecircs co mo bu l lying] mobbning na Sueacutec ia e na F in lacircnd ia
[ t raduz ido para o por tuguecircs como b u l lying] hercegravelement quotidien na Franccedila
[traduzido para o portuguecircs como asseacutedio diaacuterio] prepotenza ou bullismo na I t aacute l ia
[traduzido para o portuguecircs como bullying] ijime no Japatildeo [traduzido para o portuguecircs
31
como arrelia3] Agressionen unter S h uuml le r n na Alemanha (traduzido para o portuguecircs
como agressatildeo entre alunos) a c o s o e a m e n a z a entre escolares ou in t i m i d a c ioacute n na
Espanha [traduzido para o portuguecircs como perseguiccedilatildeo ameaccedila e intimidaccedilatildeo] (pg 34)
[grifos nossos]
Algo que nos chama agrave atenccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave temaacutetica bullying eacute a compreensatildeo que
alguns autores tecircm acerca do significado e ambiguidade entre a questatildeo do bullying e o
Asseacutedio Moral (mobbing4
) cabe destacar que por se tratar de palavras inglesas essa
ambiguidade se apresenta a partir da realizaccedilatildeo de traduccedilatildeo da temaacutetica como no caso da
liacutengua espanhola Como exemplo destacamos ao estudo peruano de Armeno (2011) que ao
tratar do assunto bullying escolar utiliza a palavra acoso (perseguiccedilatildeo) escolar poreacutem ao
serem utilizadas em conjunto (acoso escolar) eacute traduzida para o portuguecircs como bullying
Contudo algumas traduccedilotildees por exemplo traduz ―acoso escolar como asseacutedio moral
quando as palavras estatildeo juntas poreacutem acoso sem escolar tem como significado perseguiccedilatildeo
como mostrado no quadro anterior
Eacute possiacutevel ver neste estudo que satildeo muitas as definiccedilotildees tratadas para este assunto
desde o entendimento sobre o significado ou a magnitude do cyberbullying e sobre o bullying
Em alguns casos tanto cyberbullying como o bullying podem ser confundidos por
dificuldades na clareza de suas definiccedilotildees Contudo Farrington (1993381) define o bullying
como uma ―opressatildeo repetida de caraacuteter fiacutesico ou psiacutequico de uma pessoa com menos poder
por outra com mais poder Neste sentido o mais forte exerce poder sobre o mais fraco seja
esse poder de ordem fiacutesica por meio de agressatildeo ou psicoloacutegica de modo a causar medo e
intimidaccedilatildeo
Dentre vaacuterias definiccedilotildees para o que se entende por bullying Melo (2011) define como
uma agressatildeo fiacutesica psicoloacutegica verbal moral sexual material ou virtual praticada por uma
ou vaacuterias pessoas contra uma mesma viacutetima de forma repetitiva por um periacuteodo prolongado
de tempo sem motivo aparente baseada numa relaccedilatildeo desigual de poder dificultando a
defesa da viacutetima e que deixa sequelas marcas e consequecircncias (pg21) Natildeo podemos deixar
de mencionar que o bullying eacute uma violecircncia entre pares
3 Arrelia traz entre sua significaccedilatildeo 1 Amofinaccedilatildeo [ato de aborrecer] apoquentaccedilatildeo [aborrecimento
aporrinhaccedilatildeo] 2falta de paciecircncia pressa sofreguidatildeo 3contenda rixa desavenccedila 4pressentimento de coisa
maacute mau agouro (Google) wwwgooglecombrsearch Acessado em 27102016
4 Palavra inglesa para asseacutedio moral
32
Armeno (2011) considera a questatildeo do bullying (―acoso escolar) como uma
violecircncia social que pode asssumir forma verbal fiacutesica e por isolamento social da viacutetima
Para o autor os espectadores (outros estudantes) seriam necessaacuterios visto que satildeo
para esses que o perpetrador do bullying ―perseguidor ―mostra seu poder O silecircncio dos
espectadores permite que as accedilotildees sejam sistemaacuteticas Em termos de conteuacutedos eles podem
ser racistas se a origem da questatildeo eacute eacutetnica se eles incluem piadas obcenas de cunho sexual
ou ainda homofoacutebicas se tecircm a ver com a suposta orientaccedilatildeo sexual dos que sofrem a accedilatildeo
Se os meios utilizados satildeo as mensagens por telefones celulares ou computadores considera
como bullying digital o que para o autor pode ser devastador porque a viacutetima natildeo teria um
lugar para fugir das accedilotildees de bullying sofridas na escola visto que na internet a accedilatildeo pode ter
continuidade (Armeno 2011) Diante disso entendemos que o autor compreende o ―bullying
digital como uma extensatildeo do bullying tradicional e que a escola eacute o campo em que tais
accedilotildees satildeo iniciadas e que a presenccedila de espectadores pode potencializar ainda mais as accedilotildees
promovidas pelos perpetradores por encontrarem nestes a ―plateacuteia para realizaccedilatildeo de seus
atos de bullying
Compete resgatar que o iniacutecio da conscientizaccedilatildeo acerca deste grave problema no
acircmbito escolar bem como ressaltar que os primeiros estudos sobre o assunto foram
produzidos pelo Professor Universitaacuterio Dan Olweus na Noruega como jaacute mencionado Em
1993 Olweus publica na Escandinaacutevia o livro ―Bullying at School onde expotildee o bullying
como um fenocircmeno presente no contexto escolar trazendo uma discussatildeo a partir dos
resultados obtidos em seus estudos projetos de investigaccedilatildeo apresentando uma possiacutevel
correlaccedilatildeo de ―caracteriacutesticas que poderiam identificar os perfis de viacutetimas e agressores O
livro apresenta o resultado obtido em sua pesquisa sistemaacutetica realizada na deacutecada de 1980
com 150000 estudantes escandinavos onde descobriu que 15 dos estudantes entre 08 e 16
anos estavam envolvidos com a questatildeo do bullying sendo viacutetimas e agressores com
regularidade e entre esses havia casos de agressores que tambeacutem eram vitimas de Bullying
(Olweus 2003) Como repercussatildeo do estudo de Olweus e Roland ―Bullying at School uma
Campanha Nacional Anti Bullying foi desenvolvida nas escolas norueguesas em 1993 com o
apoio do Governo tendo com resultado a reduccedilatildeo em cerca de 50 nos casos de bullying nas
escolas
Outro ponto relevante eacute com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero entre os personagens do
fenocircmeno bullying Cabe destacar a pesquisa de Da Costa et al (2015) que ao analisar a
prevalecircncia de casos de bullying entre 598 adolescentes brasileiros na faixa etaacuteria de 14 agrave 17
33
anos de aacuterea urbana de Belo Horizonte em 2009 constatou que houve uma prevalecircncia de
264 entre os entrevistados Sendo 280 entre os entrevistados de sexo masculino e 240
entre o puacuteblico do sexo feminino Isso significa que frac14 dos adolescentes que responderam ao
questionario sofreram bullying Entre os meninos esse nuacutemero foi um pouco mais elevado do
que entre as meninas A questatildeo do bullying estaria associada agrave insatisfaccedilatildeo com a vida que
levam dificuldades na relaccedilatildeo com pais envolvimento em brigas com colegas (pares) e
inseguranccedila na regiatildeo onde residem Uma observaccedilatildeo interessante eacute que o estudo de Da Costa
et al (2015) foi realizado no mesmo ano que a primeira Pesquisa Nacional de Sauacutede do
Escolar (PENSE5) 2009 realizada pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e
Ministeacuterio da Sauacutede Poreacutem os resultados foram divergentes com relaccedilatildeo a mesma capital
investigada BH Com relaccedilatildeo agrave PENSE a pesquisa foi realizada em escolas para investigar
fatores de risco e proteccedilatildeo da sauacutede dos escolares jaacute a pesquisa de Da Costa e colaboradores
foi um estudo populacional realizado no domiciacutelio dos entrevistados por meio de inqueacuterito
com amostragem probabiliacutestica em trecircs estaacutegios setores censitaacuterios residecircncia e indiviacuteduos
Os inquiridos responderam questotildees sobre bullying caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
comportamentos de risco agrave sauacutede bem-estar educacional estrutura familiar atividade fiacutesica
marcadores de haacutebitos alimentares e bem-estar subjetivo (percepccedilatildeo corporal satisfaccedilatildeo
pessoal e satisfaccedilatildeo com a vida atual e futura) Outro fator que pode ter influecircncia nos
resultados foi o tamanho da amostra visto que a pesquisa PENSE analisou apenas alunos
matriculados no 8ordf Seacuterie fundamental (atual 9ordm ano) de escolas puacuteblicas e particulares da
cidade de BH enquanto que o estudo de Da Costa a escolaridade dos investigados natildeo foi um
recorte A prevalecircncia de bullying na PENSE 2009 em BH foi de 69 segundo Malta
(2014)
Haacute um entendimento de que os adolescentes do sexo masculino seriam os maiores
praticantes e alvos de bullying conforme aponta resultado da pesquisa PENSE 2012 Nesse
estudo observou-se maior praacutetica de bullying entre os estudantes do sexo masculino (261)
e 160 entre as estudantes do sexo feminino (IBGE 2013)
Com relaccedilatildeo ao enfrentamento a essa problemaacutetica Schutz et al (2012) defendem a
ideia de que a atuaccedilatildeo contra o bullying assim como cyberbullying natildeo pode estar restrita agrave
individualidade das caracteriacutesticas dos sujeitos em questatildeo ou seja autor e alvo ignorando a
5 Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar ndash PENSE eacute um inqueacuterito com alunos de escolas puacuteblicas e particulares
realizado pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que disponibiliza informaccedilotildees para o sistema de informaccedilotildees para o Sistema de Vigilacircncia de Fatores de Riscos e Proteccedilatildeo as Doenccedilas Crocircnicas do Brasil
Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfressv26n32237-9622-ress-26-03-00605pdf Acessado em 26062018
34
teia complexa das relaccedilotildees que implicam a manutenccedilatildeo do fenocircmeno Os autores sugerem
uma anaacutelise sistecircmica da complexidade dos diversos sistemas envolvidos e das relaccedilotildees
estabelecidas entre autor e alvo testemunhas famiacutelia comunidade escolar a cultura na qual
estatildeo inseridos Apontam a necessidade de investigaccedilatildeo que verifique a incidecircncia dos casos e
abrangecircncia do problema incluindo toda a comunidade escolar
Em 2015 o Brasil passou a dispor de uma legislaccedilatildeo Federal que trata da questatildeo A
lei Anti Bullying instituiu o Programa Nacional de Combate agrave Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica
(bullying) Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica eacute a configuraccedilatildeo utilizada no Brasil para classificar o ato
de violecircncia que internacionalmente eacute denominado por Bullying
―No contexto e para os fins desta Lei considera-se intimidaccedilatildeo
sistemaacutetica (Bullying) todo ato de violecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica
intencional e repetitivo que ocorre sem motivaccedilatildeo evidente praticado
por indiviacuteduo ou grupo contra uma ou mais pessoas com o objetivo
de intimidaacute-la ou agredi-la causando dor e anguacutestia agrave viacutetima em uma
relaccedilatildeo de desequiliacutebrio de poder entre as partes envolvidas
(Paraacutegrafo 1ordm da Lei 131852015)
Cabe mencionar que a lei natildeo deixa expliacutecito se inclui a questatildeo do asseacutedio moral no
trabalho visto que ao instituir o programa propotildee accedilotildees no acircmbito escolar com enfoque nos
estudantes
Outra definiccedilatildeo para a questatildeo do bullying bastante coerente adveacutem da lei do Estado
do Rio de Janeiro jaacute mencionada anteriormente que define o bullying como
A praacutetica reiterada e habitual de atos de violecircncia fiacutesica verbal ou
psicoloacutegica de modo intencional exercida por indiviacuteduo ou grupos de
indiviacuteduos contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidar
agredir causar dor ou sofrimento anguacutestia ou humilhaccedilatildeo agrave vitima
inclusive por meio de exclusatildeo social (Paraacutegrafo 1ordm da Lei 64012013
- RJ)
A lei que institui 7 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento a Violecircncia na
escola faz menccedilatildeo ao Massacre de Realengo trageacutedia ocorrida em abril do ano de 2011
35
quando doze crianccedilas entre 13 e 16 anos (dez meninas e dois meninos) foram assassinados a
tiros na Escola Municipal Tasso da Silveira por um ex aluno da unidade escolar que apoacutes ser
atingido por um tiro disparado por um policial militar teria se suicidado (AGEcircNCIA
SENADO 2016) Segundo relatos a motivaccedilatildeo do crime seria incerta poreacutem a nota do
suiciacutedio deixada pelo o autor do massacre e de acordo com o testemunho da irmatilde adotiva o
jovem sofria bullying
Natildeo podemos deixar de mencionar que Campanhas de enfrentamento ao Bullying tecircm
aparecido em pautas de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGs) e Governamentais como
Stop Bullying do Department of Health and Human Services dos Estados Unidos (EUA)
comunidades escolares e universidades como Massachusettes Aggresion Reduction Center
da Brigde State University (EUA) e em diferentes paiacuteses como Portugal Inglaterra Canadaacute
e Noruega Este uacuteltimo foi um dos primeiros paiacuteses a desenvolver campanhas anti bullying
alertando sobre seus impactos na vida e sauacutede dos que sofre essa violecircncia
Por fim cabe discorrer sobre os agravos agrave sauacutede relacionados a sofrer bullying Os
meninos e meninas alvos de bullying estariam propensos a desenvolver episoacutedios de
ansiedade baixo rendimento escolar inseguranccedila na escola sofrer de tensatildeo crescente
estando preacute-dispostos ao maior uso abusivo de drogas e em alguns casos mais graves ao
suiciacutedio (Malta et al 2010) Gera tanto um sofrimento emocional moral quanto fiacutesico
podendo desencadear outros agravos tais como baixa autoestima depressatildeo estresse
doenccedilas psicossomaacuteticas transtornos mentais (Calhau 2008 p88) O bullying natildeo deve ser
considerado como uma simples brincadeira (―zoaccedilatildeo) entre crianccedilas e adolescentes muito
menos ser banalizado ao passo de ser algo rotineiro Pelo contraacuterio esse assunto carece de ser
tratado como uma questatildeo de Sauacutede Puacuteblica que deve ser discutida investigada e enfrentada
por muacuteltiplos setores
A PENSE (Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar) uma pesquisa com escolares
adolescentes de escolas puacuteblicas e privadas realizada pelo IBGE que entre os objetivos visa
aferir dados sobre bullying incluiu na ediccedilatildeo de 2015 uma segunda amostra O que
representou um diferencial com relaccedilatildeo agraves ediccedilotildees anteriores De acordo com a pesquisa
(2015) a primeira amostra foi realizada com 2630835 estudantes frequentando o 9ordm ano do
ensino fundamental de escolas puacuteblicas e privadas do Brasil em Grandes Regiotildees Distrito
Federal Capitais e Estados e a segunda amostra realizada com 13199862 estudantes de 13 a
17 anos de idade frequentando as etapas do 6ordm ao 9ordm Ano (antiga 5ordf a 8ordf seacuteries) do ensino
36
fundamental e alunos do 1ordm ao 3ordm ano do Ensino Meacutedio (antigo 2ordm Grau) de escolas puacuteblicas e
privadas para o conjunto do paiacutes e em grandes capitais no ano de referecircncia da pesquisa
(IBGE 2015) Dentre os entrevistados desta ediccedilatildeo a primeira amostra 74 sofreram
provocaccedilotildees ou foram humilhados sempre ou na maior parte do tempo nos uacuteltimos 30 dias
que antecederam a pesquisa O estudo apontou com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que os
percentuais foram proacuteximos para os estudantes do sexo feminino 72 e sexo masculino
75 Jaacute os estudantes da regiatildeo Sudeste apresentaram o maior percentual 83 estes
afirmaram sofrer humilhaccedilotildees e constrangimentos no acircmbito escolar Outro dado relevante eacute
do Estado de Satildeo Paulo que obteve o maior percentual 90 se comparado ao percentual
obtido pela regiatildeo sudeste e demais regiotildees A aparecircncia do corpo e do rosto foram os
principais motivos da violecircncia psicoloacutegica sofrida pelos escolares Com relaccedilatildeo aos
perpetradores aproximadamente 198 dos escolares brasileiros haviam praticado atos
configurados como bullying (ter esculachado zombado mangado intimidado ou caccediloado)
poreacutem entre os estudantes do sexo masculino este nuacutemero foi mais elevado aproximadamente
242 Interessante que com relaccedilatildeo aos intimidados (aqueles que declararam se sentir
humilhados e provocados com frequecircncia pelos colegas) os nuacutemeros apresentados foram de
74 entre a faixa etaacuteria de 13 a 15 anos e 52 dos estudantes entre 16 e 17 anos (IBGE
2015) Na ediccedilatildeo da PENSE supracitada foi incluiacuteda uma questatildeo especiacutefica para abordar a
questatildeo do bullying natildeo utilizado nas PENSEs 2009 e 2012 Nessas ediccedilotildees ―bullying era
substituiacutedo por verbos como (esculachar zoar mangar caccediloar e intimidar) entretanto
passaram a adotar o termo ―intimidaccedilatildeo em consonacircncia a nomenclatura adotada a partir da
Lei de Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica (Lei Anti bullying e cyberbullying brasileira)
promulgada no ano em que a pesquisa foi realizada (2015) Relevante informar que o estudo
aponta como legiacutetimo o reconhecimento do bullying como uma importante questatildeo de Sauacutede
Puacuteblica bem como a relevacircncia de estrateacutegias intersetoriais de enfrentamento Natildeo houve
uma especificaccedilatildeo para o cyberbullying na pesquisa PENSE 2015 no quadro que analisou a
questatildeo da intimidaccedilatildeo apesar da lei vigente no paiacutes incluir e reconhecer a versatildeo virtual do
bullying Embora tenham mencionado no texto e haverem citado o recorte dado na Lei de
Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica sobre a questatildeo do cyberbullying nos dados
analisados pela pesquisa Natildeo houve ainda um toacutepico especiacutefico que pudesse identificar onde
ocorriam as ―intimaccedilotildees zoaccedilotildees e esculachos subentendendo-se que ocorria na escola
aleacutem disto os meios eletrocircnicos natildeo foram apontados
37
23 CYBERBULLYING
231 Cyberbullying violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica
Entre o grande nuacutemero de pessoas conectadas pela internet novos modos de
interaccedilotildees aparecem a partir da utilizaccedilatildeo de dispositivos eletrocircnicos possibilitando assim a
disseminaccedilatildeo irrestrita de informaccedilotildees em formato ―multimodal onde ―os recursos de miacutedia
integram coacutedigos texto som e imagem (Junior E Rocha 2013 pg206) Com a internet o
potencial de transmissatildeo e receptaccedilatildeo de informaccedilatildeo se tornou mais expansivo em relaccedilatildeo a
outras miacutedias como o caso da TV analoacutegica (atualmente substituiacuteda pela TV digital) (idem)
Permitindo assim que o compartilhamento de informaccedilotildees seja propagado com maior
facilidade inclusive as informaccedilotildees difamatoacuterias
O uso da internet em especial de redes de relacionamentos traz consigo a
probabilidade de disseminaccedilatildeo de violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de
relacionamentos criaccedilatildeo de falsos (―fakes) perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo ao
convite ao suiciacutedio por meio de sites escolares clandestinos No Japatildeo satildeo conhecidos como
―gakko ura saito os sites escolares clandestinos acessados pelo celular Eles geram uma nova
forma de cyberbullying em grupo poreacutem sem a necessidade de identificaccedilatildeo dos chamados
―caluniadores anocircnimos (Hasegawa et al 2007 Shariff 2011) O ijime-jisatsu [suiciacutedio
associado ao ijimi - cullying] eacute uma das consequecircncias desastrosas e culturalmente incidentais
do fenocircmeno no Japatildeo Outro aspecto cultural no Japatildeo do netto-ijime [cyberbullying] eacute a
taxa elevada de suiciacutedio entre os jovens O que nos mostra o quanto o territoacuterio invisiacutevel da
internet pode desencadear no campo presencial consequecircncias agrave sauacutede de seus afetados
Admitindo que vivenciar uma experiecircncia de violecircncia no universo digital pode ser bastante
devastador Conforme afirma Santos et al (2013) a internet se torna um palco de grandes
riscos
Entendemos que o cyberbullying manteacutem muitas das caracteriacutesticas do bullying
poreacutem natildeo constitui meramente uma de suas expressotildees na instacircncia virtual pois possui
algumas caracteriacutesticas proacuteprias como o longo alcance do conteuacutedo depreciativo audiecircncia
de larga escala (testemunhas) por causar impacto nas viacutetimas sem precedentes pela
38
possibilidade de anonimato por parte dos perpetradores Aleacutem disso a ocorrecircncia do
cyberbullying pode se dar a qualquer momento e em qualquer lugar pela
dificuldademorosidade na detecccedilatildeo dos praticantes do cyberbullying ou dos criadores de
perfis falsos constituiacutedos no intuito de depreciar agredir e constranger Ao que se refere agraves
traduccedilotildees para o portuguecircs dos termos adotados para a palavra cyberbullying a traduccedilatildeo
aparece disponiacutevel em vaacuterias liacutenguas conforme Google Tradutor
Quadro 3 Vocaacutebulos designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas
Palavra Liacutenguas Traduccedilatildeo para Portuguecircs
Kiberzapugivanieye Russo Cyberbullying
Cyber-mobbing Alematildeo Cyberbullying
naumltmobbning Sueco Cyberbullying
Cyberintimidation Francecircs Cyberbullying
Cyber bullismo Italiano Cyberbullying
Netto yjime Japonecircs Cyberbullying
Cyberpesten Holandecircs Cyberbullying
El ciberacoso Espanhol Cyberbullying
Seiber-fwlio Galecircs Cyberbullying
Maltretiranje Seacutervio Cyberbullying
Cyberprzemoc Polonecircs Cyberbullying
Fonte da traduccedilatildeo Google Tradutor
O termo cyberbullying teria sido criado pelo educador e pesquisador do Canadaacute Bill
Belsey para identificar o bullying virtual que faz uso das tecnologias digitais e para de modo
39
insistente e repetitivo hostilizar ofender ou ameaccedilar algueacutem (Maldonado 2009 in Melo
2011)
O que tem ocorrido eacute o crescimento de casos de agressotildees virtuais concebidas no
ambiente do ciberespaccedilo A forma de propagaccedilatildeo desse tipo de violecircncia deve ser analisada e
contextualizada O uso da internet pode ter um cunho prejudicial e essa consequente situaccedilatildeo
de exposiccedilatildeo pode tornar os sujeitos vulneraacuteveis ao passo de atingir em maior proporccedilatildeo a
geraccedilatildeo digital (os mais jovens) sendo necessaacuteria a mobilizaccedilatildeo de discussotildees sobre o papel
da escola na mediaccedilatildeo prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo virtual (Wendt 2011 p8)
Estudos tecircm advertido o quanto o cyberbullying tambeacutem pode desencadear agravos
relevantes agrave sauacutede de crianccedilas e adolescentes inclusive apontando um recorte de gecircnero
numa loacutegica binaacuteria desprovida de informaccedilotildees que caracterizem questotildees como a orientaccedilatildeo
sexual dos sujeitos Por exemplo Amemyia et al (2013) e Aranzales et al (2014) acreditam
que a praacutetica do cyberbullying eacute maior entre pessoas do sexo masculino Todavia minorias e
pessoas do sexo feminino satildeo mais propensas a serem atemorizados por estarem mais
vulneraacuteveis a situaccedilotildees de intimidaccedilatildeo Um estudo de meta-anaacutelise feito por Barllet et al
(2014) tendo como hipoacuteteses se cyber-bullying eacute considerado uma forma de bullying
tradicional e agressatildeo pessoas do sexo masculino seriam propensos a serem ―cyber-
valentotildees mais do que as do sexo feminino Inversamente se cyberbullying eacute considerado
relacional agressatildeo indireta as meninas seriam ligeiramente mais propensas a serem
perpetradoras de cyberbullying que os meninos Os autores apresentaram ainda outros
aspectos relevantes ao considerar na avaliaccedilatildeo questotildees como paiacutes continente e ano de
publicaccedilatildeo dos estudos bem como a idade dos atores pesquisados Ainda em Barllet et al
(2014) essas variaacuteveis poderiam influenciar significativamente os resultados de estudos sobre
cyberbullying Um dos fatores destacado tratou sobre as publicaccedilotildees que consideram o
cyberbullying uma forma de bullying tradicional e agressatildeo nesses casos os meninos seriam
mais propensos a serem perpetradores do que as meninas Contudo os resultados de
estimativas desse estudo afirmam que ainda sim os meninos teriam maior predisposiccedilatildeo a ser
―cyber-valentotildees Outro dado relevante eacute que no caso das meninas que relataram sofrer
cyberbullying a faixa etaacuteria estava entorno do iniacutecio adolescecircncia entretanto os meninos que
relataram sofrer cyberbullying apresentavam uma meacutedia de idade maior que as meninas
40
Assim o ambiente virtual eacute um terreno capaz de propiciar atos de violecircncia repetitiva
e ainda onde seus autores dificilmente satildeo descobertos o cyberbullying configura-se como
um tipo de violecircncia capaz de trazer consequecircncias graves as suas viacutetimas Para um usuaacuterio
do ambiente virtual que possui a imagem distorcida a internet pode representar uma
ferramenta de autodestruiccedilatildeo se natildeo utilizada de forma correta ou saudaacutevel Estudos apontam
dados significativos sobre os impactos do cyberbullying em estudantes6
Um fator relevante eacute que grande parte dos estudos ao mencionar sobre as pessoas que
satildeo atingidas pelo cyberbullying se referem a estes uacuteltimos utilizando o substantivo ―viacutetima
para identificar aqueles que sofrem este tipo de violecircncia Contudo acreditamos que o termo
traz a conotaccedilatildeo de passividade sugerindo ainda uma natildeo possibilidade de superaccedilatildeo da
condiccedilatildeo sofrida Eacute bem verdade que estudos apontam sobre as dificuldades das ditas
―viacutetimas em expor o dano sofrido ou pedir ajuda Entretanto outros conseguem ter
resiliecircncia a ponto de solicitar auxilio de familiares profissionais ou ainda autoridades Outro
aspecto relevante eacute que podem existir casos em que o intimidado pelo cyberbullying pode se
tornar um perpetrador ou ter sido um em outra situaccedilatildeo Inclusive pode haver casos em que
uma viacutetima de cyberbullying tenha sido um agressor (no caso do bullying tradicional) ou vice
versa Diante disso utilizaremos outros substantivos para relacionar aqueles que sofrem com
o Cyberbullying como por exemplo intimidados atingidos ou acometidos
Cassidy et al (2009) afirmam que adolescentes acometidos de cyberbullying teriam
uma maior predisposiccedilatildeo ao suiciacutedio do que aqueles que natildeo vivenciaram essas formas de
agressatildeo entre pares Apesar disso muitos dos que sofrem com o cyberbullying se calam
mesmo diante das constantes humilhaccedilotildees e depreciaccedilotildees Acreditamos que este calar por
parte dos intimidados pode representar tanto uma imaturidade acerca de como agir diante de
tal situaccedilatildeo como a falta de esclarecimento acerca dos serviccedilos e profissionais que podem
cuidar e acompanhar os casos de cyberbullying ou ainda uma ausecircncia de mecanismos de
apoio de faacutecil acesso que decircem conta de questotildees como esta Baronceli e Ciucci (2014) ao
6 Patchin e Hinduja (2010) dirigiram um estudo que objetivou apurar quais os impactos do
cyberbullying em jovens envolvendo 1963 alunos do ensino meacutedio oriundos de 30 escolas americanas Atraveacutes
de um instrumental de autodeclaraccedilatildeo estes estudiosos verificaram que tanto os cyberbullies (agressores) como
as viacutetimas apresentaram niacuteveis baixos de autoestima em maior frequecircncia quando comparados aos alunos sem
histoacuteria de vitimizaccedilatildeo online No entanto 231 dos alunos declararam ter sido perpetradores e 188 terem
sido viacutetimas de Cyberbullying Todavia as questotildees de gecircnero representaram diferenccedilas delimitadas
identificadas na ocorrecircncia dos subtipos de vitimizaccedilatildeo virtual entre meninos e meninas
41
investigar 529 preacute-adolescentes com idade inferior a 12 anos e 7 meses comparam
caracteriacutesticas de inteligecircncia emocional e controle negativo das emoccedilotildees relacionados ao
bullying e cyberbullying compreendendo que o bullying tradicional e cyberbullying satildeo duas
formas distintas de fenocircmenos da violecircncia envolvendo diferentes traccedilos de personalidades
Com relaccedilatildeo agraves formas de atuaccedilatildeo diante do cyberbullying segundo Melo (2011)
podemos encontrar a accedilatildeo direta e indireta Sendo a direta agressotildees por e-mail mensagens
instantacircneas natildeo havendo por parte do agressor o intuito de ficar no anonimato Jaacute a forma
indireta eacute vista como mais ―covarde e ―nefasta pois o agressor passa a usar nomes fictiacutecios
ou de terceiros o que pode ampliar a gravidade do problema visto que outras pessoas
(aqueles que assistem e disseminam a informaccedilatildeo) podem contribuir para esse estaacutegio de
―vitimizaccedilatildeo Entre as accedilotildees estatildeo votaccedilotildees online difamatoacuterias inclusatildeo de viacutedeos e
imagens vexatoacuterias entre outras
O campo virtual se tornou tambeacutem um meio de accedilotildees criminosas e violaccedilotildees de
direitos neste sentido atualmente jaacute existem Delegacias nuacutecleos e divisotildees policiais de
combate aos crimes de informaacutetica ou crimes ciberneacuteticos em diversos estados do paiacutes No
Rio de Janeiro por exemplo existe a Delegacia de Repressatildeo aos Crimes de Informaacutetica
(DRCI) localizada na Cidade da Poliacutecia na regiatildeo da Zona Norte da cidade e a Delegacia de
Proteccedilatildeo agrave crianccedila Viacutetima (DCAV) O que nos leva a entender que o cyberbullying jaacute pode ser
enquadrado como um crime contra a honra e dignidade por repercutir em danos agrave moral do
indiviacuteduo Natildeo podemos deixar de destacar que em algumas cidades brasileiras existem as
Delegacias de Proteccedilatildeo agrave crianccedila viacutetima de violecircncia Neste sentido cabe destacar o estudo de
Della Flora (2014) ao investigar 191 alunos de quatro turmas de 8ordf seacuterie (atual 9ordm ano)
fundamental e duas turmas de 1ordm ano do ensino meacutedio politeacutecnico e 17 professores constatou
que grande parte de alunos e professores citaram o registro de boletim de ocorrecircncia policial
como uma alternativa de enfrentamento ao cyberbullying por considerarem o ato como crime
em que o autor natildeo deve ficar impune Todavia uma vez que muitos de seus autores satildeo
outras crianccedilas ou adolescentes Segundo o artigo 104 do Estatuto da Crianccedila e adolescente -
ECA (Lei 806090) os menores de dezoito anos satildeo inimputaacuteveis Todavia a partir dos doze
anos de idade podem ser responsabilizados juridicamente caso cometam atos infracional
(conduta descrita no art 103 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente como crime ou
contravenccedilatildeo penal) Ainda assim a questatildeo da responsabilizaccedilatildeo merece atenccedilatildeo cuidadosa
O que nos leva reconhecer a importacircncia de uma normatizaccedilatildeo que advirta e responsabilize os
42
responsaacuteveis pelo cyberbullying natildeo extinguindo o potencial e a necessidade de accedilotildees
preventivas de maior impacto
Com relaccedilatildeo ao manejo prevenccedilatildeo e enfrentamento do bullying e suas apresentaccedilotildees
foram realizadas nos uacuteltimos anos no Brasil algumas estrateacutegias de enfrentamento no campo
juriacutedico algumas delas jaacute mencionadas anteriormente Essas legislaccedilotildees apresentam cunho de
responsabilizaccedilatildeo das escolas em notificar accedilotildees de violecircncia no contexto escolar aleacutem de
atividades de conscientizaccedilatildeo incluindo informaccedilotildees sobre o cyberbullying atraveacutes do
enfrentamento por meio de accedilotildees educativas e capacitaccedilotildees Em contrapartida as escolas por
vezes natildeo se responsabilizam por questotildees que emergem no campo virtual como eacute o caso dos
sites de relacionamentos (Redes Sociais) considerando que estas uacuteltimas estariam aleacutem de
suas responsabilidades interventivas
Refletimos que algumas leis7 implantadas representam respostas a clamores sociais
muito particulares como eacute o caso do Massacre de Realengo jaacute mencionado anteriormente
Principalmente quando evidenciados eou provocados pela miacutedia (com destaque as
reportagens em canais abertos que atingem a grande massa da populaccedilatildeo) aos viacutedeos
inseridos em plataformas como YOUTUBE e Redes Sociais e que satildeo acessados por uma
parcela significativa da populaccedilatildeo Ao mesmo tempo as ferramentas digitais tambeacutem trazem
maior notoriedade para a difusatildeo do cyberbullying entre pares
Segundo apontam os indicadores do SAFERNET entre as principais violaccedilotildees das
quais os internautas solicitaram ajuda no ano de 2015 atraveacutes do Helpline (canal de
atendimento) estaacute o Cyberbullying com 265 (duzentos e sessenta e cinco) denuacutencias sendo
que 178 (cento e setenta e oito) eram do Brasil O estado de Satildeo Paulo liderou o nuacutemero de
registros com 54 (cinquenta e quatro) Entre os atendidos pelo Helpline ao longo do
funcionamento do serviccedilo de denuacutencia de crimes ciberneacuteticos ajuda e orientaccedilotildees estatildeo
crianccedilas adolescentes pais educadores e outros adultos Com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero
presente nas denuacutencias no ano de 2012 por exemplo foi registrado o contato de 27 mulheres
e 10 homens atraveacutes do nuacutemero das conversas via chat disponiacutevel no portal da Organizaccedilatildeo
(Site SAFERNET)
Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees contra o cyberbullying inerentes ao campo da sauacutede natildeo
identificamos registros de accedilotildees voltadas agrave prevenccedilatildeo do cyberbullying as accedilotildees observadas
ateacute o momento estavam estritamente ligadas aos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo e que
7 Observamos que algumas leis nacionais foram promulgadas nos uacuteltimos anos
43
segundo os achados careciam de capacitaccedilatildeo para realizar tais atividades de cunho
informativo vide as legislaccedilotildees municipais e estaduais que tratam sobre conscientizaccedilatildeo
sobre bullying e cyberbullying Seraacute que o tema tem sido tratado pelos profissionais dos
serviccedilos de sauacutede como CAPSI ndash Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Infantil e pelas equipes de
Programas de Sauacutede Escolar (PSE) Pois se presume que a implantaccedilatildeo do Programa Sauacutede
Escolar tenha sido um ganho para as unidades escolares por propor um trabalho integrativo
entre as redes de Educaccedilatildeo e Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede Tendo em vista que o programa tem
como objetivo avaliar as condiccedilotildees de sauacutede dos estudantes aleacutem do desenvolvimento de
atividades de formaccedilatildeo integral dos estudantes mas seu funcionamento nos municiacutepios eacute
bastante limitado por se tratarem de equipes miacutenimas para um universo de escolas e demandas
de alunos
Desse modo refletimos sobre a necessidade de suporte familiar social educacional e
psicoloacutegico agrave medida que o estado emocional desses indiviacuteduos eacute afetado assustadoramente
atraveacutes desse ato de violecircncia
Entendemos que o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta sob
as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para
aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em repercussotildees praacuteticas e reais seja nas
relaccedilotildees sociais ou na individualidade do sujeito (Dahberg e Krug 2007)
O conceito dado por Pierre Bourdieu (2001) para Violecircncia Simboacutelica traz uma
conotaccedilatildeo coerente com o tipo de violecircncia concebido no ambiente virtual
A violecircncia simboacutelica eacute uma espeacutecie de coerccedilatildeo que se institui por intermeacutedio
da adesatildeo que o dominado [viacutetima] natildeo pode deixar de conceder ao
dominante ou seja dominaccedilatildeo quando dispotildee apenas para pensaacute-lo e para
pensar a si mesmo ou melhor para pensar a relaccedilatildeo com ele de instrumentos
repartidos e que fazem surgir essa relaccedilatildeo com o natural partindo do princiacutepio
de ser a forma incorporada da estrutura da relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo [grifo nosso]
(Bourdieu 2001 p206)
Essa violecircncia eacute conduzida por um indiviacuteduo ou por um grupo que controla o poder
simboacutelico sobre os outros produzindo assim crenccedilas no processo de socializaccedilatildeo induzindo
os dominados a enxergarem e avaliarem o mundo sob as perspectivas e padrotildees estabelecidos
pelos dominantes (Souza 2012) Ou seja aquele que sofre de cyberbullying tem sua imagem
depreciada quer seja pelos xingamentos fotos postadas distorcidas disseminaccedilatildeo de
44
difamaccedilatildeo virtual ao ponto que os dominados dessa relaccedilatildeo de poder podem ser convencidos
de que as informaccedilotildees depreciativas divulgadas sobre ele satildeo de fato reais passando assim a
internalizar tais expressotildees Compreendemos que as relaccedilotildees na internet podem exercer um
poder sobre a vida de seus usuaacuterios e esse manejo utilizado de forma depreciativa por parte de
intimidadoreslsquo tem uma representatividade simboacutelica na vida de crianccedilas e adolescentes e de
todo o contexto em que a violecircncia virtual eacute concebida
A imposiccedilatildeo de significaccedilotildees que a ideia de violecircncia simboacutelica traz contribui para
entendermos o quanto as relaccedilotildees virtuais podem ser assimeacutetricas e desiguais Outro ponto
considerado eacute o fato de que os que satildeo atingidos por essas accedilotildees por vezes natildeo conseguem
inicialmente ponderar os xingamentos como depreciativos de modo que naturalizam tal
questatildeo enquadrando-as como brincadeiras como o exemplo dos apelidos (exemplo baleia
rolha de poccedilo) entre outros De certo modo o que ocorre eacute um poder simboacutelico no que
concerne a relaccedilatildeo entre perpetradores e aqueles que sofrem o cyberbullying Mais uma vez
recorremos a Bourdieu (2001) ao afirmar que o poder simboacutelico eacute representado por esse poder
invisiacutevel que eacute exercido somente a partir da permissividade eou conivecircncia daqueles que
natildeo querem saber que lhes estatildeo sujeitados ou mesmo que o exercem
Com base no arcabouccedilo teoacuterico jaacute utilizado observamos que a violecircncia psicoloacutegica
pode se apresentar em diferentes expressotildees como humilhaccedilatildeo o uso de poder xingamento e
insultos (OMS 2002)
A naturalizaccedilatildeo do cyberbullying pode permitir com que ela se torne uma violecircncia
simboacutelica e ao mesmo tempo velada tanto pelo oprimido quanto pelo opressor que durante o
processo de intimidaccedilatildeo virtual detecircm o poder da ofensa jaacute naturalizada e aceita como a
verdade pelo oprimido
45
Artigo 1
2 CYBERBULLYING CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E
IMPLICACcedilOtildeES Agrave SAUacuteDE (submetido em 28122017 e aprovado em 26032018
na revista Ciecircncia e Sauacutede Coletiva)
RESUMO
O estudo buscou realizar a revisatildeo criacutetica de um conjunto de revisotildees bibliograacuteficas no intuito
de conhecer como o cyberbullying eacute compreendido pela comunidade cientiacutefica como o
fenocircmeno vem sendo conceituado como suas dinacircmicas tecircm sido descritas quais
personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede das pessoas intimidadas e
dos perpetradores A literatura mostrou que natildeo haacute um consenso sobre a conceituaccedilatildeo de
cyberbullying contudo haacute argumentos que defendem sua especificidade e diferenciaccedilatildeo em
relaccedilatildeo ao bullying (pode ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo demarcado
fisicamente pode ser disseminado globalmente o tempo de permanecircncias das postagens
ofensivas eacute indeterminado) Quanto agrave questatildeo de gecircnero associada a essa praacutetica observou-se
um vieacutes reducionista do debate indicando diferenccedilas baseadas numa suposta superioridade
tecnoloacutegica dos meninos Os estudos revisados apontam que tanto as viacutetimas quanto os
46
praticantes de cyberbullying vivenciam experiecircncias negativas em sua sauacutede psicoloacutegica e
comportamental podendo ocorrer inclusive evasatildeo escolar isolamento social depressatildeo
ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio Todavia pouco se problematiza sobre a cultura ciber e como esta
estabelece novas socialidades ndash conhecimento e debate cruciais agrave compreensatildeo do fenocircmeno
Palavra-chave Cyberbullying violecircncia redes sociais ciberespaccedilo sauacutede
ABSTRACT
The study sought to perform a critical review of a set of bibliographical reviews in
order to understand how cyberbullying is understood by the scientific community how the
phenomenon has been conceptualized how its dynamics have been described what characters
are identified and what associations are related to health intimidated persons and perpetrators
The literature has shown that there is no consensus on the concept of cyberbullying but there
are arguments that defend its specificity and differentiation in relation to bullying (it can
occur at any moment and without a physically demarcated space it can be disseminated
globally of the offensive posts is undetermined) As for the gender issue associated with this
practice there was a reductionist bias in the debate indicating differences based on a
supposed technological superiority of the boys The reviewed studies show that both victims
and cyberbullying experience negative experiences in their psychological and behavioral
health including school dropout social isolation depression suicidal ideation and suicide
However there is little question about cyber culture and how it establishes new socialities -
knowledge and debate crucial to understanding the phenomenon
Key-words Cyberbullying violence social networks cyberspace health
INTRODUCcedilAtildeO
O cyberbullying eacute uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se configura como um
―problema social constituindo tema e preocupaccedilatildeo de diversos campos disciplinares aleacutem
de ser representado por alguns autores com uma questatildeo de sauacutede puacuteblica (Brochado Jackson
47
e Cassidy 2006 Carpenter E Hubbard 2014 Nixon 2014 Bottino at al 2015 Yang
Grinshteyn 2016 Brochado Soares e Fraga 2016) As distintas configuraccedilotildees do
Cyberbullying podem ser reconhecidas como atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica
contra crianccedilas e adolescentes perpetrados nas ambiecircncias das redes de sociabilidade digital
podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo circunscrito e demarcado fisicamente
Essa forma de agressatildeo eacute perpetrada por meios eletrocircnicos sejam estes mensagens de textos
fotos aacuteudios ou viacutedeos expressos nas redes sociais ou em jogos em rede transmitidas por
telefone celulares tablets ou computadores e cujo teor tem a intencionalidade de causar dano
agrave outra pessoa de modo repetitivo e hostil conforme Ortega et al apud Brochado Soares e
Fraga (2016)
O cyberbullying tem emergecircncia recente e sua conceituaccedilatildeo ainda em construccedilatildeo abriga
consideraacutevel polissemia em suas definiccedilotildees (Garaigordobil 2011 Torres e Vivas 2012 Della
Ciopa Olsquoneil E Craig 2015) Pesquisas apontam que essa diversidade conceitual por vezes
tem direcionado os estudiosos a usar termos diferentes para se referir ao mesmo conceito ou
usar o mesmo termo com diferentes significados (Tokunaga 2010 Notar 2013 Ybarra et el
Apud Lucas-Molina et al 2016)
Nota-se que a violecircncia tambeacutem se manifesta neste novo espaccedilo o ―ciberespaccedilo ou seja
nesse ―lugar de interaccedilatildeo que se daacute no contexto de uma cultura peculiar conhecida como
cultura ―ciber ou cibercultura Vale pontuar que alguns autores questionam se o conceito de
cibercultura ainda seria vaacutelido dado o borramento das fronteiras considerando que as
relaccedilotildees digitais atravessam de forma onipresente o cotidiano (Roger E Saldado 2016)
O termo sociabilidade cunhado por Mafessoli (2006) faz referecircncia aos haacutebitos costumes
e uma espeacutecie de polidez presente na contemporaneidade A socialidade digital produz um
ethos que gera a necessidade de construir uma imagem social positiva O que eacute postado em
rede a maneira como se eacute visto neste ambiente ou ainda as maacutescaras que satildeo construiacutedas
48
sobre si neste espaccedilo valoram essa teatralidade a partir daquilo que se quer ou se permite que
os outros vejam (Mafessoli 2006) Para crianccedilas e adolescentes que estatildeo em
desenvolvimento essa identidade que se constroacutei pode ser significativamente influenciada a
partir dos padrotildees impostos pela rede A necessidade de ―estar conectado sendo sempre
visto por outros vem sendo aprimorada a cada nova atualizaccedilatildeo que os aplicativos de redes
sociais geram criando e forccedilando novas experiecircncias de compartilhamento para os seus
usuaacuterios digitais Bruno (2013) vai refletir sobre a importacircncia do olhar do outro para
constituir a imagem de si uma imagem engendrada na perspectiva de espetaacuteculo que
contribui para a construccedilatildeo de uma autoestima balizada pela popularidade que se tem nas
redes sociais Observa-se a partir da reflexatildeo de Bruno (2013) que os viacutenculos que se
estabelecem natildeo precisam ser necessariamente fortes para influenciarem as redes sociais Por
vezes aqueles que mais curtem e comentam um conteuacutedo digital satildeo pessoas cujas
vinculaccedilotildees sociais constituem ―laccedilos fracos Outra caracteriacutestica eacute a fluidez dessas relaccedilotildees
pois mesmo modo que novas conexotildees satildeo estabelecidas exclusotildees e bloqueio de pessoas
podem ocorrer sem motivos relevantes (2014)
Ao falar sobre a ―realidade social da virtualidade da internet Castells (2015) afirma que
a internet foi apropriada pela praacutetica social em toda a sua diversidade embora ela tenha
efeitos especiacuteficos sobre tais praacuteticas Aborda como as pessoas se comportam no ambiente
virtual como esperam ser vistas pelos outros Os jovens por exemplo estatildeo nesse processo de
descoberta de identidade de desvendar quem de fato eles satildeo ou gostariam de ser
As relaccedilotildees digitais redefinem dinacircmicas sociais contemporacircneas convocando aos
indiviacuteduos estarem sempre conectados atraveacutes das novas tecnologias independente da
geolocalizaccedilatildeo tempo e do quantitativo de pessoas a quem estatildeo vinculados Traccedilo marcante
da sociabilidade digital eacute a hipervisibilidade (2015) uma exposiccedilatildeo constante e voluntaacuteria dos
fatos e atos cotidianos e iacutentimos O privado passa a ser publicizado a partir dos
49
compartilhamentos realizados neste mundo de informaccedilotildees instantacircneas em tempo real
(2012)
Os jovens ―nativos digitais (2013) estatildeo cada vez mais cedo conectados nas redes sociais
digitais atraveacutes das TICsndash Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Segundo a Pesquisa
Nacional de Amostra por Domiciacutelios ndash PNAD (2015) no Brasil aproximadamente 1021
milhotildees de pessoas de 10 anos ou mais de idade tiveram acesso agrave internet no periacuteodo em que a
pesquisa ocorreu Em 2015 ano da pesquisa com relaccedilatildeo aos grupos etaacuterios observou-se que
os adolescentes de 15 a 17 anos bem como os de 18 e 19 anos de idade apresentaram o maior
iacutendice percentual dentre os usuaacuterios da internet (sendo 82 e 829 respectivamente)
Brunnet et al (2013) apontam um estudo americano que descreve que em meacutedia 93 dos
adolescentes entre 12 e 17 anos acessam a internet e dessa populaccedilatildeo 75 possuem seu
proacuteprio celular
O uso da internet em especial de redes de relacionamentos favorece as praacuteticas de
violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de relacionamentos criaccedilatildeo de falsos
perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo o convite ao suiciacutedio por sites clandestinos ou
comunidades (2011)
Assim o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma
disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre
sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidado (Alim 2016)
Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs horas
diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de Cyberbullying (Arsegravene
Raynaud 2014)
Embora associado ao tema do bullying mais consolidado teoricamente o cyberbullying
tem recebido bastante atenccedilatildeo da comunidade cientiacutefica internacional contudo pouco
estudado no Brasil
50
Diante disso o artigo tem como objetivo analisar as conceituaccedilotildees de Cyberbullying
adotadas pela literatura nacional e internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo
enfocando suas ecircnfases e ―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as
associaccedilotildees que delimitam entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes
MEacuteTODOS
Trata-se de revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo criacutetica (critical review) Essa abordagem
metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um tema revelando fraquezas
contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant MJ Booth 2009) A contribuiccedilatildeo de
uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas discrepacircncias ou aacutereas em
que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel (Paregrave et al 2015)O escopo
analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou estatisticamente representativo Esse
tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos selecionados o que eacute considerado o
seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos
meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo (siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso
anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais positivista (anaacutelise de conteuacutedo)
Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo BVS
Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA (Applied
Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017
Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos (all
fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no Medical
Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying
51
(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos
vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo
Visando reduzir e qualificar mais esse acervo optamos por trabalhar apenas os estudos de
revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no tiacutetulo e
―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de qualquer
natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas modalidades
revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica sistemaacutetica
revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo sistemaacuteticas e
revisatildeo narrativa
Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para
acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em 301
estudos Depois da anaacutelise de cada artigo foram identificados 156 artigos em duplicidade que
natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias (MENDLEY)
como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com traduccedilatildeo de texto
para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou francecircs e quando
houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al
Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com recorte temporal de
publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem sendo difundido na
uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo
O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia dos
autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo (tabela 1) Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus
conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes
categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do
cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede
52
RESULTADOS
Observa-se uma produccedilatildeo crescente no periacuteodo analisado (exceto 2016) com
predominacircncia de artigos americanos (27) O baixo nuacutemero de publicaccedilotildees em 2016 pode
refletir o pouco tempo entre a publicaccedilatildeo e a sua disponibilizaccedilatildeo nas bases de indexaccedilatildeo
pois a busca foi feita no iniacutecio de 2017
Com relaccedilatildeo aos campos da Sauacutede e Educaccedilatildeo natildeo houve diferenccedilas significativas
quanto ao nuacutemero de publicaccedilotildees Sauacutede (26) e Educaccedilatildeo (27) muito menos ao tipo de
abordagem produzida sobre o tema As demais publicaccedilotildees foram consideradas como
multidisciplinarinterdisciplinar As revistas com maior representaccedilatildeo neste acervo foram
Aggression and Violent Behavior (10) seguida da Computers in Human Behavior (5) Assim
tratamos o acervo a partir das especificidades entre os estudos e natildeo de suas aacutereas de origem
Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma
PUBLICACcedilOtildeES 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006
NUacuteMERO DE
PUBLICACcedilOtildeES
8 21 12 11 7 6 1 2 1 2 1
NACIONALIDADE
DO ESTUDO
EUA Reino Unido
Austraacutelia Portugual Belgica
Espanha e Greacutecia
EUA Singapura
Greacutecia Itaacutelia Brasil China
Canadaacute Franccedila
Austraacutelia Reino
Unido e Espanha
Franccedila EUA Itaacutelia
Turkia e Reino Unido
EUA Canadaacute e
Brasil
Sueacutecia Alemanha
Suiacuteccedila Reino Unido EUA e
Colocircmbia
EUA Espanha Meacutexico Austraacutelia
EUA Austraacutelia EUA EUA Canadaacute
IDIOMA Inglecircs (7) e
Espanhol (1)
Inglecircs (18)
Portuguecircs (2) e
Francecircs (1)
Francecircs (1)
Inglecircs (10) e
Portuguecircs (1)
Inglecircs (10) e
Portuguecircs (1)
Inglecircs (6) Espanhol
(1)
Inglecircs (2) e
Espanhol (2)
Inglecircs (1)
Inglecircs (2)
Inglecircs (1)
Inglecircs (2)
Inglecircs (1)
53
Conceituaccedilatildeo
O cyberbullying possui muitas conceituaccedilotildees revelando distintas interpretaccedilotildees adotadas
pela comunidade cientiacutefica Parte dos estudos analisados natildeo construiu uma definiccedilatildeo para o
cyberbullying mas toma de empreacutestimo os conceitos de bullying agressatildeo e asseacutedio jaacute
existentes na literatura (Zych Ortega-Ruiz Del Rey 2015 Remond Ker Romo 2015
Carpenter Hubbart 2014 Sabella Patchim Hinduja 2013 Bailey 2013 Bauman 2013
Stewart Fritsch 2011 Hanewald 2009)
Havia no acervo uma polifonia de definiccedilotildees para o cyberbullying sugerindo que a
comunidade cientiacutefica natildeo produziu um consenso sobre o entendimento da natureza e limites
do fenocircmeno Talvez por ―imaturidade ou como reflexo dessa processualidade visto que as
relaccedilotildees digitais satildeo dinacircmicas e influenciadas pelas novas tecnologias constantemente
incorporadas ao universo ciber Todavia tal polissemia gera uma espeacutecie de inconsistecircncia
nos dados das pesquisas e difiacuteculdades de comparaccedilatildeo entre os estudos (Aboujaoude et al
2013)
As traduccedilotildees de definiccedilotildees propostas em inglecircs e apropriadas por estudos de liacutengua latina
podem tambeacutem variar semanticamente e levar a compreensotildees diferenciadas como no
exemplo dos sentidos entre cyberbullying e acosso digital Estudos alematildees usam o termo
ciber-mobbing Tais termos retraduzidos ao portuguecircs produzem ecircnfases diferenciadas No
caso da traduccedilatildeo de acosso se evidencia o caraacuteter de perseguiccedilatildeo sistemaacutetica caracteriacutestica
natildeo necessariamente presente no fenocircmeno do cyberbullying
Aboujaoude et al (2015) identificaram diferentes designaccedilotildees para o cyberbullying como
cyberstalking agressatildeo on-line asseacutedio ciberneacutetico asseacutedio na Internet bullying na Internet e
54
vitimizaccedilatildeo ciberneacutetica ou cybervitimizaccedilatildeo A natureza hostil do ato e a intenccedilatildeo de causar
sofrimento foram considerados pela maioria dos estudiosos como cruciais para a definiccedilatildeo de
cyberbullying
Como avaliam Smith et al(2012) caracterizar o cyberbullying apenas como uma forma
de ―bullying digital tem sido uma tendecircncia e apoacutes analisarem diversos estudos concluem
que existe um debate sobre o uso de uma definiccedilatildeo generalista (bullying) ou a necessidade de
substituiacute-la por outra mais especiacutefica
Considerando o acervo analisado as principais definiccedilotildees adotadas podem ser divididas
em dois blocos as que reconhecem o cyberbullying como uma (nova) forma de bullying
apontando diferenccedilas e similaridades e as que tratam o cyberbullying como um fenocircmeno de
outra natureza diferente do bullying Analisaremos a seguir os argumentos que tratam das
especificidades que aproximariam e distinguiriam o bullying e o cyberbullying
No primeiro bloco de estudos a maioria do acervo reconhece o cyberbullying como o
bullying por meio digital eou uma variaccedilatildeo do bullying
Dentre os autores que percebem o cyberbullying como uma variaccedilatildeo de bullying alguns
defendem a importacircncia de contextualizar a violecircncia digital e sua expressatildeo nos
comportamentos agressivos (Ang 2015 Castro Schreiber Antunes 2015 Wendt Lisboa
2014 Chibarro 2007) A revisatildeo de Allison e Bussey (2016) apresenta o cyberbullying como
―agressatildeo intencional por meio eletrocircnico que ocorre de vaacuterias formas como insultos
ameaccedilas divulgaccedilatildeo de fotos embaraccedilosas e pode ser perpetrado atraveacutes de diversas miacutedias
sem a necessidade da presenccedila fiacutesica dos envolvidos Os autores se basearam em extensa
literatura de bullying e ao comparaacute-lo ao cyberbullying constataram que satildeo diferentes em
muitos aspectos tais como anonimato maior impacto uma maior audiecircncia de espectadores
individualidade na praacutetica de perpetrar ser dispensaacutevel a presenccedila fiacutesica dos envolvidos e a
55
viacutetima ser atingida em qualquer lugar e a qualquer momento (Kowalski et al 2014 Tanrikulu
2014 Thomas Conor Scott 2014) Para alguns o caraacuteter repetitivo natildeo estaria
necessariamente presente no cyberbullying (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Carpenter
Hubbert 2014 Slonje 2012) pois apenas uma postagem depreciativa leva o conteuacutedo a ficar
permanentemente exposto Jaacute a capacidade de anonimato eacute apontada como a principaluacutenica
diferenccedila entre os dois fenocircmenos (Bailey 2013 Zych Ortega-Ruiz e Allison e Bussy 2016)
Algumas revisotildees (Aboujaoude et al 2015 Ang 2015 Antoniadou Kokkinos 2015
Cantone 2015 Berne et al 2012) revelaram que natildeo haacute consenso se a repeticcedilatildeo das accedilotildees e o
desequiliacutebrio de poder seriam dinacircmicas do cyberbullying mas certamente ocorrem nos casos
do bullying O desequiliacutebrio de poder foi associado diversas vezes como suposta incapacidade
de resposta por parte da pessoa alvo do cyberbullying ou ainda por falta de habilidades
tecnoloacutegicas que permitiriam uma melhor resposta no meio digital Para Faucher Cassidy e
Jackson (2015) esse exerciacutecio de poder estaria associado ao quatildeo vulneraacutevel estatildeo os
conteuacutedos privados da pessoa alvo ou ainda por divulgar tais informaccedilotildees sem levar em conta
as consequecircncias de uma exposiccedilatildeo nas redes sociais (Suzuki et al 2012)
Em relaccedilatildeo agraves similaridades grande parte dos estudos aponta o caraacuteter de repeticcedilatildeo o uso
das palavras ferinas o desequiliacutebrio de poder e o dano intencional (Yang Grinshteyn 2016
El Asam Samara 2016 Baldry Farrington Sorrentino 2015 Della Cioppa OlsquoNeil Craig
2015 Chan H C Wong 2015 Cantone 2015 Chisholm 2014 Wingate Minney
Guadagno 2013 Nosworthy Rinaldi 2013 Burnett Yozwiak Omar 2013 Bailey 2013
Von Mareacutees N Pettermann 2012 Garciacutea-Maldonado Joffre-Velaacutezquez Martiacutenez-Salazar
2011 Mason 2008 Chibarro 2007) Thomas et al (2015) afirmam que os ataques de
bullying e de cyberbullying satildeo mais parecidos que diferentes e muitas vezes co-ocorrem
Para Yang e Grinshteyn (2016) o fechamento de uma acepccedilatildeo conceitual natildeo seria
beneacutefico pois uma definiccedilatildeo delimitada e concisa poderia excluir grande quantidade de
56
comportamentos potencialmente nocivos Aleacutem disso uma definiccedilatildeo que inclui elementos
descritivos da praacutetica de cyberbullying especificando certos tipos de dispositivos eletrocircnicos
com o passar do tempo pode se tornar obsoleta apoacutes o lanccedilamento de novas tecnologias
No segundo bloco estatildeo os autores que afirmam que cyberbullying eacute uma nova forma de
agressatildeo que apresenta diferenccedilas significativas em relaccedilatildeo ao bullying todavia muitos deles
natildeo se dedicaram a produzir uma teoria ou definiccedilatildeo especiacutefica (Brochado S Soares S
Fraga 2016 Chan Wong 2015 Chisholm 2014 Baek Bullock 2013 Cassidy Faucher et
al 2014 Jackson 2013)
Considerando a argumentaccedilatildeo sobre a natureza ineacutedita do fenocircmeno aponta-se o papel da
audiecircncia no contexto da perpetraccedilatildeo (Smith 2015 Baek e Bullock 2014) A audiecircncia do
cyberbullying eacute concedida em larga escala pelas plataformas digitais propagando esse
conteuacutedo depreciativo para milhares de pessoas tanto no ato da transmissatildeo da mensagem
viacutedeo ao vivo ou em outro momento aleacutem da possibilidade de baixar o conteuacutedo para acesso
offline Logo a capacidade exponencial de compartilhamento desse conteuacutedo natildeo pode ser
dimensionada pelo perpetrador e mesmo que a intenccedilatildeo de propagaccedilatildeo do conteuacutedo seja para
um grupo menor de pessoas o intimidador passa a natildeo ter mais domiacutenio sobre esse conteuacutedo
Quanto mais vizualizado eou compartilhado a audiecircncia aumenta significativamente
diferente do bullying cuja audiecircncia eacute limitada ao puacuteblico que estava presente no momento
do ataque No caso bullying mesmo que a cada novo ataque o grupo de espectadores cresccedila
natildeo se compara ao nuacutemero de pessoas que teratildeo acesso a um conteuacutedo hostil na internet
Brown Jackson e Cassidy (2006) alertam que o ambiente virtual favorece a desinibiccedilatildeo
mencionando o caso de pessoas que sofrem com o bullying e que utilizam a internet para se
vingar daquele que praticou tal bullying jaacute que a internet lhes oferta a possibilidade de
anonitamato atraveacutes de identidade alternativa (uso de perfis falsos) para assediar Deste modo
57
em alguns casos quem sofre bullying pode ser um perpetrador de cyberbullying contra seu
algoz de bullying face a face principalmente quando essa― revanche natildeo seria possiacutevel
acontecer como entre sujeitos com diferenccedila de padrotildees fiacutesicos
Cabe mencionar que parte dos estudos corrobora acerca de suposta inconsistecircncia nas
definiccedilotildees encontradas na literatura (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Zych Ortega-Ruiz
Del Rey 2015) e que falta consenso entre os estudiosos que investigam o tema seja com
relaccedilatildeo agraves conceituaccedilotildees e termos ou sobre os aspectos de semelhanccedila e diferenccedila entre o
cyberbullying e bullying Conforme esse arcabouccedilo teoacuterico se expande eacute provaacutevel que novas
discordacircncias cientiacuteficas perpassem por esse campo em construccedilatildeo
Descriccedilotildees das dinacircmicas
As dinacircmicas de cyberbullying dependem das accedilotildees e representaccedilotildees de cada pessoa
envolvida nesse ciacuterculo de violecircncia Neste cenaacuterio atuam os perpetradores ndash os que praticam
a violecircncia os acometidos (chamados de viacutetimas) os espectadores (aqueles que assistem e
compartilham o conteuacutedo que viola outrem) os educadores e pais que por vezes satildeo os
uacuteltimos a tomar conhecimento do abuso
Houve diferenccedilas significativas sobre as descriccedilotildees das dinacircmicas do cyberbullying e os
motivos provaacuteveis estariam associados ao periacuteodo em que os estudos foram publicados pois
algumas formas de cyberbullying ainda natildeo eram reconhecidas anteriormente e os tipos de
dispositivos tecnoloacutegicos e as formas de conversaccedilatildeocomunicaccedilatildeo e compartilhamento de
conteuacutedo online disponiacuteveis tambeacutem mudaram rapidamente Haacute algum tempo o e-mail e as
58
mensagens de texto eram as formas mais disseminadas atualmente as interaccedilotildees atraveacutes das
redes sociais ganharam maior espaccedilo entre os jovens (transmissatildeo ao vivo viacutedeos chamadas
compartilhamentos em massa jogos online em grupo etc)
Destacam-se quatro estudos que exemplificam as dinacircmicas de cyberbullying Julia
Wilkins et al (20120 descrevem fundamentados no texto que institui o Programa Anti-
Bullying de Londres sete tipos de cyberbullying e Suzuki et al (2012) tambeacutem identificam as
mesmas modalidades a seguir compiladas 1 Por mensagem de texto - enviada via telefone
celular com a intenccedilatildeo de causar desconforto e ameaccedila 2 Imagemvideo-clipe - quando as
imagens das viacutetimas satildeo enviandas para outras pessoas no intuacuteito de ameaccedilar ou constranger
3 Intimidaccedilatildeo por chamada telefocircnica - por meio de chamadas silenciosas ou por mensagens
abusivas ou quando o celular da viacutetima eacute roubado e usado para perseguir outros culpando o
proprietaacuterio do telefone 4 intimidaccedilatildeo por e-mail quando satildeo enviados conteuacutedos muitas
vezes usando um pseudocircnimo ou o nome de outra pessoa para fazer com que essa pessoa se
pareccedila com o perpetrador (modalidade desatualizada) 5 chat room bullying - respostas
agressivas e intimidadoras em sala de bate papos (tambeacutem mais desatualizada) 6 intimidaccedilatildeo
atraveacutes de mensagens instantacircneas 7 bullying atraveacutes de websites ndash com uso de blogs
difamatoacuterios sites pessoais sites de pesquisa pessoais online e sites de redes sociais (por
exemplo MySpace) aleacutem da criaccedilatildeo de foacuteruns
Entre as dinacircmicas do cyberbullyng destacadas na literatura estariam ―namecalling
(apelidar algueacutem de modo rude) propagaccedilatildeo de rumores ―flamings (discussotildees calorosas
online) ameaccedilas fingir ser outra pessoa online (fakenames) envio de fotos indesejadas ou
mensagens de texto (sexting) postar eou compartilhar imagens e viacutedeos com conteuacutedo
iacutentimo de outra pessoa sem consentimento desta (Carpenter Hubbard 2014) excluir uma
pessoa de um circulo social online de forma intencional (Bailey 2013) Aleacutem das redes
59
sociais o cyberbulling tambeacutem se manifestaria em jogos MMOGs - jogos onlines com
muacuteltiplos jogadores (multiplayers games) um jogador poderoso pode ―trollar (zombar
humilhar) algueacutem roubando itens do jogo como recompensas invadindo a conta formar
gangues e bloquear pessoas em uma rede social fazendo piadas com a imagem de uma pessoa
e controlando remotamente a cacircmeracomputador de uma pessoa sem o consentimento desta
(Chisholm 2014)
A revisatildeo de Kowalski et al (2014) ratifica as formas jaacute mencionadas e reconhece outras
formas de perpetraccedilatildeo entre elas harassament (envio de mensagens repetitivas e com
conteuacutedo ofensivo) bloqueio online solicitar informaccedilatildeo online de conteuacutedo pessoal e
posteriormente compartilhar a terceiros sem consentimento cyber-stalking (usar comunicaccedilatildeo
eletrocircnica para perseguir outra pessoa) e postar informaccedilatildeo inapropriada ou de cunho
depreciativo se passando por outra pessoa
Mehari Farell Le (2014) refletem que os comportamentos agressivos nas relaccedilotildees
sociais na internet tecircm baixo controle social e satildeo menos recriminados se comparados aos
perpetrados nas relaccedilotildees face a face Outro aspecto apontado na revisatildeo de Mehari et al
(2014) eacute a falta ou escassez de indiacutecios verbais que aumentaria a probabilidade de
desentendimentos e interpretaccedilotildees errocircneas Assim o que um jovem pretende como uma
brincadeira interaccedilatildeo amigaacutevel pode rapidamente tornar-se uma interaccedilatildeo mutuamente
agressiva se a outra pessoa interpreta o comentaacuterio como um insulto ou uma ameaccedila A falta
de sugestotildees natildeo verbais tambeacutem pode reduzir a empatia que serve como um controle natural
do comportamento dos adolescentes
Arsene e Raynaud (2014) destacam que o cyberbullying que ocorre por meios visuais
(foto ou viacutedeo) eacute mais prejudicial e mais negativo do que os que envolvem mensagens por
(SMS) e de texto na Internet As consequecircncias seriam mais graves as viacutetimas mais afetadas
60
do que em outras formas de cyberbullying e o risco de sofrimento psicossocial teria maior
potencial Na revisatildeo desses autores (2014) as fotos ou videoclipes tiveram impacto mais
negativo do que no asseacutedio tradicional (interpetrado como bullying)
Os personagens envolvidos
Os principais personagens do cyberbullying satildeo os praticantes e as pessoas escolhidas como
alvo (as denominadas viacutetimas) Poucos estudos como os Allison e Bulsey (2016) e Desmet et
al (2016) analisaram a figura dos espectadores (testemunhas) e seu papel na manutenccedilatildeo do
ciclo de violecircncia e propagaccedilatildeo do cyberbullying Allison e Bulsey (2016) identificaram quais
os fatores que influenciam as respostas das testemunhas aos atos de cyberbullying
Concluiram que os espectadores satildeo importantes no cyberbullying pois eles tem ―o pontecial
de alterar a situaccedilatildeo ao intervir mas a maioria das testemunhas permanece passiva (pg183)
Outro estudo indica que os espectadores seriam capazes de determinar qual o potencial de
extensatildeo que um episoacutedio de cyberbullying pode ter ao compartilhar curtir comentar um ato
de violecircncia nestes moldes Runions Bak (2015)
Haacute divergecircncia na literatura analisada com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que perpassa o
cyberbullying A maioria reduz o debate agrave variaacutevel ―sexo buscando saber se meninos ou
meninas satildeo os maiores viacutetimas ou agressoras ou quais deles sofreriam mais as
consequecircncias do cyberbullying (Bauman 2013 Baldry Farringtone Sorrentino 2015)
Bauman et al (2013) identificaram na literatura casos de pessoas do sexo masculino que ao
mesmo tempo que eram praticantes de cyberbullying e de bullying Para outros estudos
pessoas do sexo feminino estariam mais envolvidas em cyberbullying e os meninos em
situaccedilotildees de bullying8 Isso sem considerar a orientaccedilatildeo sexual desses indiviacuteduos ou sua
8 A literatura apresenta recorrente associaccedilatildeo entre cyberbullying e bullying
61
posiccedilatildeo de gecircnero Bailey (2013) alega haver dissenso sobre os rapazes serem os maiores
causadores de cyberbullying
Por outro lado muitos autores acabam por reforccedilar estereoacutetipos de gecircnero de forma
acriacutetica No estudo Dooley Pyżalski Cross (2009) as garotas teriam maior interesse com a
aparecircncia sauacutede enquanto garotos estariam mais implicados com jogos on-line Tal texto
reproduz uma leitura de gecircnero onde meninas tendem a ter laccedilos de amizades mais intensos
compartilhando conteuacutedos iacutentimos e segredos pessoais principalmente atraveacutes de mensagens
de texto jaacute meninos socializam nas redes sociais em maiores grupos e compartilham menos
detalhes pessoais Chibbaro (2007) destaca estudo que afirma que a maioria (53) das
meninas sofreu cyberbullying de conhecidos como colega da escola seguido de amigo e em
um nuacutemero menor o irmatildeo foi o causador do ato Alim (2016) baseado no site
NoBullyingcom afirma que as meninas satildeo duas vezes mais causadoras de Cyberbullying do
que os meninos porque meninos seriam mais agressivos em termos fiacutesicos enquanto que
meninas tendem a ser mais ―silenciosas quando querem atingir algueacutem por vezes quando
intimidam o fazem em seacuterie Na mesma linha sexista estudos como de Chan e Wong (2015)
alegam que garotos satildeo os maiores perpetradores por serem mais haacutebeis no uso de tecnologias
do que as garotas
Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem houve dissenso A maior incidecircncia estaacute entre os
adolescentes e os casos diminuem na fase universitaacuteria (Antoniadou Kokkinos 2015)
Segundo Suzuky et al (2014) as meninas seriam as maiores acometidas poreacutem entre 15 e 17
anos a incidecircncia eacute muito maior do que entre jovens de 12 e 14 anos Para Hamn et Al (2015)
o fator idade natildeo eacute determinante para ser alvo de Cybebullying
Para Alim (2016) haveria um recorte de condiccedilatildeo social pois os que mais sofreriam
seriam pessoas oriundas dos estratos de baixa renda
62
Da mesma forma natildeo haacute uma concordacircncia na literatura sobre o recorte eacutetnicoracial
Estudantes brancos satildeo considerados maiores perpetradores do que outras categorias eacutetnicas
(Ham et al 2015 Peterson M B Peterson 2014) O estudo de Peterson e Peterson (2014)
foi o uacutenico que objetivou examinar possiacuteveis ligaccedilotildees entre comportamentos de ciberbullying
e grupos eacutetnicos especiacuteficos Essa lacuna parece evidenciar que se desconsidera que a
discriminaccedilatildeo por etniacor da pele pode gerar experiecircncias de cyberbullying Para Peterson e
Peterson (2014) alguns aspectos precisam ser analisados tais como o perfil populacional das
pessoas que utilizam TICs a escassez de estudos que analisam especificamente o quesito
raccedilacor bem como o territoacuterio em que esses estudos estatildeo sendo produzidos e onde esses
dados de amostras estatildeo sendo coletas
Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos
As psicopatologias estatildeo entre as principais implicaccedilotildees agrave sauacutede dos envolvidos nas
praacuteticas de cyberbullying (Reed et al 2016 Foody Samara Calbring 2015 Arsegravene
Raynaud 2014 Pearce 2011)
Os principais agravos listados para os que sofrem foram insocircnia depressatildeo baixo
rendimento escolar ou baixa concentraccedilatildeo (Couvillon Illieva 2011) Jaacute Burnett Yozwiak e
Omar (2013) apresentam estudos que afirmam que pessoas que sofrem Cyberbullying tem
menos horas de sono e menos apetite do que pessoas que sofreram outras formas de violecircncia
Bailey31
ao analisar a Child Behavior Checklist (CBC) inclusa em um dos estudos verificados
indicou que aqueles assediados por conhecidos tambeacutem eram mais propensos a relatar
maiores conflitos com os pais casos de abuso fiacutesico ou sexual vitimizaccedilatildeo interpessoal off-
line e comportamento agressivo aleacutem de outros problemas sociais (pg 2)
63
Aquele que eacute intimidado com cyberbullying teria aproximadamente oito vezes mais
chances de levar uma arma para escola do que outros estudantes que natildeo tiveram essa
experiecircncia (Burnett Yozwiak Omar 2013) Grande parte dos estudos considera ainda que o
cyberbullying estaacute associado agrave depressatildeo uso de drogas ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio estresse
solidatildeo e ansiedade (El Asam Samara 2016 Hinduja S Patchin 2011 Gini G Espelage
2014) com consequecircncias psiquiaacutetricas que afetam a sauacutede mental e o desenvolvimento
escolar (Carpenter Hubbard 2014) principalmente dos adolescentes que satildeo alvo A busca
por experiecircncias de risco ―viacutecio no uso de internet solidatildeo e o suiciacutedio satildeo alguns dos
fatores psicoloacutegicos para ambos os personagens (viacutetimas e agressores) sendo que para os que
praticam os fatores estariam interligados entre si (Alim 2016) Natildeo encontramos subsiacutedios
que fundamente os impactos da sauacutede dos espectadores
DISCUSSAtildeO
A escassez de estudos que refletem sobre a contextualizaccedilatildeo do cyberbullying na
cibercultura (Stylios et al 2016 Roger e Salgado 2016 Castro Schreiber Antunes 2015
Nocentini Zambuto e Menesini 2015) e nos seus modos de socialidade foi o aspecto mais
marcante nesta revisatildeo de revisotildees Como discutir um fenocircmeno sem relacionar ao seu
contexto sociocultural de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo Eacute preciso reconhecer que a juventude que
vivencia o cyberbullying eacute em boa parte ―nativa digital implicando o domiacutenio de
comportamentos e gramaacuteticas proacuteprias aleacutem desse espaccedilo de convivecircncia ser estrateacutegico agraves
afirmaccedilotildees identitaacuteria desse segmento (Brown Jackson E Cassydy 2006 Wendt e Lisboa
2014)
Percebe-se que apesar da redundacircncia conceitual houve um avanccedilo expressivo na
busca por aprofundar as especificidades caracteriacutesticas do Cyberbullying Salienta-se ainda a
64
peculiaridade no cyberbullying da expansatildeo exponencial do puacuteblico de expectadores no que
tange agrave disseminaccedilatildeo do conteuacutedo ofensivo e por tempo indeterminado - elementos que
desafiam o trabalho de promoccedilatildeo de resiliecircncia aos que sofreram tais praacuteticas Uma pessoa
pode ser estigmatizada por um longo periacuteodo agrave medida que esse conteuacutedo natildeo pode ser
apagado facilmente como nos casos de sexting em que o conteuacutedo fica disponiacutevel em
buscadores associados ao nome da pessoa que sofreu a violecircncia Uma vez que o
Cyberbullying pode ocorrer em qualquer tempo e territoacuterio e se dispotildee de mecanismos de
ocultaccedilatildeo de conteuacutedos e torna mais difiacutecil a detecccedilatildeo preacutevia por parte dos adultos e
responsaacutevies
Em relaccedilatildeo aos aspectos de gecircnero destacamos a revisatildeo de Chan e Wong (2015) que
analisou as taxas de prevalecircncia de bullying e cyberbullying a respeito das caracteriacutesticas dos
praticantes e intimidados e em que circunstacircncias a accedilotildees eram descritas na China Taiwan
Hong Kong e Macau Percebemos um discurso sexista9 quando os autores fazem um recorte
de gecircnero em sua anaacutelise e como exemplos mencionam no estudo que em Taiwan um dos
fatos de meninos serem os maiores intimidadores se justificaria por uma maior habilidade no
uso de tecnologias Apesar da questatildeo cultural ser evidente favorece a interpretaccedilotildees de que
as adolescentes do sexo feminino natildeo teriam habilidades com tecnologias se comparada aos
adolescentes do sexo masculino natildeo refletindo sobre o tipo de acesso que as meninas
possuem aos meios tecnoloacutegicos culturais e educacionais em paiacuteses onde o homem eacute
considerado superior Outro registro sexista aparece no estudo de Chisholm (2014) que
defende que meninas tendem a se envolver em agressatildeo indireta social e relacional como no
cyberbullying para excluir pessoas em redes sociais e espalhar rumores A natureza
9 Um discurso sexista declara em seu posicionamento que determinado papel eou estereoacutetipo de gecircnero ou sexo
eacute superior que o outro Pode ser inclusive configurado como preconceito e discriminaccedilatildeo com base nesses
marcadores sociais (sexo ou gecircnero)
65
―competitiva das mulheres foi um aspecto destacado por Wingate (2013) ao corroborar a
ideia que as garotas estariam mais envolvidas com praacuteticas de cyberbullying relacionais
Por fim notamos tambeacutem que eacute consensual o reconhecimento de impactos na sauacutede
psiacutequica e no cotidiano escolar dos intimidados e apenas um pequeno grupo reconhece que
existem impactos entre os intimidadores No contexto da Sauacutede o tema ainda eacute recente e
pouco disseminado anunciando um longo percurso a ser percorrido no sentido de sua
compreensatildeo e de posicionamento do campo Jaacute no contexto da Educaccedilatildeo o tema comeccedilou a
ser discutido anteriormente o que pode ser atribuiacutedo agrave recorrente correlaccedilatildeo com o bullying
que perpassa o cotidiano da escola
Artigo 2
4CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA O CAMPO
DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE LITERATURA (natildeo submetido)
RESUMO
O presente estudo propotildee uma revisatildeo criacutetica de estudos sobre o cyberbullying com recorte
temporal entre os anos de 2006 e 2016 Os objetivos deste estudo foram analisar as propostas
de enfrentamento sugeridas para os setores da sauacutede e educaccedilatildeo (atores implicados e
estrateacutegias sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de
enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno Os resultados foram discutidos com base na anaacutelise
de discurso criacutetica proposta por Norman Fairclough Identificou-se na literatura revisada uma
maioria de accedilotildees baseadas na proposta de monitoramento e controle parental e escolar
discursos que propotildee praacuteticas no intuito de gerar uma mudanccedila no comportamento dos
66
indiviacuteduos envolvidos com o cyberbullying e propostas que expressam forte
intertextualidade manifesta do saber meacutedico
Palavra-chave Cyberbullying violecircncia intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo sauacutede e educaccedilatildeo
ABSTRACT
The present study proposes a critical review of studies on cyberbullying with temporal cut
between 2006 and 2016 The objectives of this study are to analyze the proposed proposals
for sectors of Health and Education (implicated actors and suggested strategies) and analyze
the discourses on prevention accountability coping methods and dynamics of the
phenomenon The results were discussed on the basis of critical discourse analysis proposed
by Norman Fairclough It was identified in the reviewed literature a majority of actions
based on the parental and school monitoring and control proposal discourses that proposes
actions aimed at changing the social behavior of individuals involved with cyberbullying and
proposals that express a strong intertextuality of medical knowledge
Key-words Cyberbullying violence intervention prevention health and education
INTRODUCcedilAtildeO
A virtualizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais trouxe profunda transformaccedilatildeo para a
sociabilidade contemporacircnea permitindo que novos espaccedilos de trocas de informaccedilotildees e que
relaccedilotildees comerciais esteacuteticas e afetivo-sexuais fossem constituiacutedas a partir das tecnologias de
comunicaccedilatildeo digital (Castells 2003) No ciberespaccedilo esse novo espaccedilo de interaccedilatildeo os
viacutenculos sociais se estabelecem atraveacutes da internet ganhando assim nova capilaridade As
redes sociais e outros modelos de conexotildees surgem com uma identidade proacutepria que
legitimam uma cultura peculiar a cibercultura ou cultura digital (Levy 2010) Entretanto
para alguns autores o conceito de cibercultura poderaacute cair em desuso visto que as relaccedilotildees
digitais possuem total interface com o cotidiano dos sujeitos sociais (Roger e Salgado 2016)
Martino (2015) ao tratar das caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais afirma que na
cultura digital os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos estabelecidos
conforme a necessidade de um momento e a seguir desmanchados As relaccedilotildees digitais
permitem a disseminaccedilatildeo imediata e sem fronteiras geograacuteficas de informaccedilotildees e saberes de
apoio aleacutem de permitir trocas diversas (afetivas comerciais intelectuais) de favorecer ao
67
associativismo e possibilitar a organizaccedilatildeo de grupos em torno de vivecircncias comuns agendas
e pautas de atuaccedilatildeo (Lemos 2015) Todavia pode contribuir tambeacutem para que praacuteticas de
violecircncia sejam produzidas e disseminadas no ambiente virtual
O Cyberbullying representa uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se manifesta
atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica entre pares nas ambiecircncias das redes de
socialidade digital que podem ocorrer em qualquer espaccedilo geograacutefico Eacute considerado por
diferentes estudiosos como um problema de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede emocional de
crianccedilas e adolescentes (Brown Jackson e Cassidy 2006 Carpenter e Hubbard 2014 Nixon
2014 Bottiono et al 2015 Yang 2016)
Partimos do entendimento que o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se
apresenta sob as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode
repercutir para aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em consequecircncias praacuteticas e
reais no cotidiano e individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)
O cyberbullying se configura ainda como um tipo de representaccedilatildeo e praacutetica social no
ambiente virtual (traduzido no Brasil como Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica) Tal traduccedilatildeo brasileira
ocorreu a partir da Lei 1318515 (BRASIL 2015) que estabeleceu o Programa Nacional de
combate agraves formas de Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica entre elas a que ocorre na rede mundial de
computadores
O tema cyberbullying vem sendo discutido de forma ampliada pela literatura
internacional ao longo das uacuteltimas deacutecadas (Garaigordobil 2011 Torres e Marcieles 2012
Della Ciopa et al 2015) Embora geralmente associada ao tema Bullying (possuidor de um
arcabouccedilo teoacuterico consolidado) a temaacutetica vem ganhando lentamente espaccedilo na literatura
cientiacutefica brasileira O fenocircmeno do Cyberbullying tem tido destaque nas miacutedias
especialmente em casos cujas repercussotildees satildeo de extrema violecircncia como os assassinatos em
seacuterie eou suiciacutedio Todavia haveria uma desconexatildeo significativa entre o que o puacuteblico
precisa saber e o que eacute realmente conhecido sobre o fenocircmeno cyberbullying (Carpenter e
Hubbard 2014)
Muitos programas e propostas de intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo surgiram nos uacuteltimos anos
mas estudos que analisam o conjunto dessas propostas ainda satildeo escassos Segundo Wendt e
Lisboa (2014) ―se faz urgente e necessaacuteria uma maior compreensatildeo acerca desse fenocircmeno
para que seja possiacutevel o desenho de accedilotildees preventivas e interventivas eficazes (pag42)
68
Este estudo pretende portanto analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela
comunidade cientiacutefica sobre as propostas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo de cyberbullying a
serem aplicadas no campo da Sauacutede e da Educaccedilatildeo
Os objetivos propostos para este trabalho foram analisar as propostas de
enfrentamento sugeridas para os setores da Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores implicados e estrateacutegias
sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo e modos de
enfrentamento Partindo desse recorte analiacutetico tratamos das seguintes questotildees
investigativas Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees
propostos pela literatura sobre cyberbullying Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a
questatildeo da sociabilidade virtual juvenil Qual o papel dos educadores diante de casos de
cyberbullying Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullying O que
fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying
METODOLOGIA
Como meacutetodo investigativo optou-se por uma revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo
criacutetica (critical review) Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a
literatura sobre um tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias
(Grant 2014) Uma revisatildeo criacutetica tem sua relevacircncia por sua capacidade de destacar
problemas discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute
confiaacutevel (Paregrave et al 2015) Assim como as revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem
adotar diferentes meacutetodos de anaacutelise sejam com vieacutes interpertativo como nos casos das
siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica ou ateacute mesmo os de recorte mais
positivista como a anaacutelise de conteuacutedo em sua vertente quantitativa
Foram consultadas sete bases internacionais - Scielo BVS Scopus PubMed
American Psychological Association Eric e Applied Social Sciences Index and Abstracts-
durante o mecircs de fevereiro do ano de 2017
Inicialmente iriacuteamos realizar uma revisatildeo do tipo integrativa todavia durante a busca
inicial aplicamos o termo cyberbullying em todos os campos (all fields) e obtivemos o
resultado de 7785 artigos Durante o levantamento de dados buscamos pelo termo
―cyberbullying atraveacutes do Medical Subject Headings (MeSH) e constatamos apenas a
presenccedila do termo bullying (httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying)
Verificou-se assim que o tema cyberbullying era tratado como subitem ou tema secundaacuterio
69
em estudos sobre o bullying O que pode estar ligado ainda agrave ideacuteia de que bullying e
cyberbullying seriam o mesmo fenocircmeno poreacutem ocorrendo em ambientes diferentes Assim
com a primeira busca usando o descritor cyberbullying em todos os campos surgiram 7785
artigos
No intuito de recortar e permitir maior aprofundamento analiacutetico do acervo optou-se
por trabalhar apenas com estudos de revisatildeo Foram selecionados apenas estudos cujo termo
―cyberbullying estava no tiacutetulo e ―revisatildeo presente em todos os campos Aplicaram-se ainda
criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para acesso livre
acervo cinza dissertaccedilotildees monografias - o que resultou em 301 artigos Posteriormente
foram identificados 156 artigos em duplicidade que natildeo haviam sido contabilizados pelo
gerenciador de referecircncia MENDLEY por limitaccedilatildeo do programa Entre essas duplicidades
natildeo identificadas pelo programa encontraram-se estudos registrados em escrita por caixa alta
eou por traduccedilatildeo de texto para o idioma inglecircs nos casos em que o estudo original era em
outro idioma como espanhol ou francecircs ou quando havia subtraccedilatildeo de algum dos autores
tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al Foi gerado um acervo de 145
artigos e um novo refinamento estabeleceu um recorte temporal visando analisar apenas
publicaccedilotildees datadas dos anos de 2006 ateacute 2016 de modo a apreender como o tema veio sendo
discutido ao longo da uacuteltima deacutecada resultando em 72 artigos de revisatildeo Desse nuacutemero
apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo este o acervo analisado nesta obra
Migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias ZOTERO por ser um programa open
sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em
portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos salvos nos mais distintos
formatos
Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de
praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos
discursos adotados nos estudos analisados Assim analisamos quais accedilotildees estatildeo sendo
propostas partir dos discursos construiacutedos O modelo proposto por Fairclough para a Anaacutelise
do Discurso Criacutetica (ADC) demanda analisar o que o autor denomina de concepccedilatildeo
tridimensional pois propotildee examinar a praacutetica social dos discursos a praacutetica discursiva
presente no estudo e a proacutepria conformaccedilatildeo do texto
A anaacutelise da praacutetica discursiva segundo Fairclough (2001) permite explicar como os
discursos satildeo produzidos distribuiacutedos consumidos e interpretados explorando assim as
70
possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva inclui categorias analiacuteticas como a forccedila
coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos
de fala que o texto realiza (o que o texto evoca) a coerecircncia trata do sentido que o texto
possui (para quem faz sentido qual a loacutegica das marcaccedilotildees e conexotildees) a intertextualidade ―eacute
basicamente a propriedade que tecircm os textos de serem cheios de fragmentos de outros textos
permitindo reconstituir as influecircncias daquele discurso (Fairclough 2001) A categoria
intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta
aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de
textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que Fairclough vai chamar de
interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A
praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto Tratar a dimensatildeo do
discurso como praacutetica social implica reconhecer a produccedilatildeo de efeitos ideoloacutegicos e
hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees
econocircmica cultural e ideoloacutegica Satildeo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo de
identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas de
crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente
Nessa perspectiva todo o discurso possui uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir
uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma
determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir
modos de ver e se portar numa dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de
relaccedilotildees sociais
Nossa anaacutelise focou nas dimensotildees textuais (gramaacutetica e figuras de linguagem) e
categorias da praacutetica discursiva com enfoque na intertextualidade (manifesta e constitutiva)
Buscamos analisar o que os textos tecircm evocado a partir dos conceitos estabelecidos ou
ratificados pela comunidade cientiacutefica cuja escrita exerce um poder que influi na praacutetica
social
CARACTERIZACcedilAtildeO DO ACERVO
Cada texto foi lido integralmente e os temas de interesse do estudo (estrateacutegias de
prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo) foram identificados comparados e
interpretados
71
Como pode ser visto no quadro 1 os EUA foi o paiacutes que mais publicou estudos sobre o tema
e o que possui o maior nuacutemero de revistas cientiacuteficas que abordou o assunto no periacuteodo
analisado O que demonstra um maior investimento na produccedilatildeo cientiacutefica dos EUA e a
relevacircncia do tema para a comunidade cientiacutefica do paiacutes supracitado A Agression and Violent
Behavior foi a revista estadunidense que mais publicou sobre o tema (8) seguida da
Computers in Human Behavior (5) do Reino Unido - ambas revistas classificadas como
intermultiprofissionais A revista Preventing School Failure Alternative Education for
Children and Youth do setor educaccedilatildeo publicou trecircs artigos e do setor sauacutede a revista alematilde
International Journal of Adolescent Medicine and Health teve duas publicaccedilotildees
Quadro 4 ndash Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de
Cyberbullying (2010-2016)
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
1 Canadian Journal of
Educational
Administration and
Policy
1
Educaccedilatildeo
Canadaacute
2 Journal of Child and
Adolescent
Psychiatric Nursing
1 Sauacutede EUA
3 Adolescent Health
Medicine and
Therapeutics Journal
1 Sauacutede Reino Unido
4 World Medical amp
Health Policy
1 Sauacutede EUA
5 International Journal
of Psychology and
1 Sauacutede Espanha
72
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
Psychological
Therapy
6 Psicologiacutea desde el
Caribe
1 Psicologia Colombia
7 Agression and
Violent Behavior
08 Intermultidisciplar EUA
8 Computers in
Human Behavior
5 Intermultidisciplar Reino Unido
9 International Journal
of Adolescent
Medicine and Health
2 Sauacutede Alemanha
10 International Journal
of Cyber Behavior
Psychology and
Learning
1 Intermultidisciplar EUA
11 Neuropsychiatrie de
llsquoEnfance et de
llsquoAdolescence
1 Sauacutede Franccedila
12 Australian
Education
Computing
1 Educaccedilatildeo Austraacutelia
13 Current Issues in
Middle Level
Education (CIMLE)
1 Educaccedilatildeo EUA
14 Journal Theory Into
Practice
1 Educaccedilatildeo EUA
15 Journal of
Adolescent Health
1 Sauacutede EUA
73
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
16 Journal of Research
in Special
Educational Needs
1 Educaccedilatildeo Gratilde Bretanha
17 Temas em
Psicologia
1 Sauacutede Brasil
18 Boletim Academia
Paulista de
Psicologia
1 Sauacutede Brasil
19 Children and Youth
Services Review
1 Intermultidisciplar EUA
20 Psychological
Bulletin
1 Sauacutede EUA
21 International Journal
of Adolescence and
Youth
1 Intermultidisciplar Reino Unido
22 Clinical Practice amp
Epidemiology in
Mental Health
1 Sauacutede Emirados Aacuterabes Unidos
23 Journal of Education
and Training Studies
1 Educaccedilatildeo EUA
24 Social Influence
Journal
1 Intermultidisciplar Reino Unido
25 Journal of
Information Systems
Education
1 Educaccedilatildeo EUA
26 Professional School
Counseling Journal
1 Educaccedilatildeo EUA
27 School Psychology 1 Educaccedilatildeo EUA
74
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
International
28 Emotional and
Behavioural
Difficulties
1 Intermultidisciplar Reino Unido
29 Gifted Education
International
1 Educaccedilatildeo EUA
30 Internet
Interventions
1 Sauacutede EUA
31 Preventing School
Failure Alternative
Education for
Children and Youth
3 Educaccedilatildeo
32 JAMA - Journal of
the American
Medical Association
1 Sauacutede EUA
33 Revista de
Psicologia Cliacutenica
1 Sauacutede EUA
34 School Psychology
International
1 Educaccedilatildeo EUA
35 LEnceacutephale 1 Sauacutede Franccedila
36 Journal of Human
Behavior in the
Social Environment
1 Serviccedilo Social
37 Australian Journal
of Guidance and
Counselling
1 Educaccedilatildeointerdisciplinar Inglaterra
38 Alberta Journal of
Educational
1 Educaccedilatildeo Canadaacute
75
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
Research
39 Nova Science
publishers
1 Educaccedilatildeo EUA
40 Psychiatric
Quarterly
1 Sauacutede EUA
41 Education Diggest 1 Educaccedilatildeo EUA
42 ACM ndash Association
for Computing
Machinery
1 Intermultidisciplar EUA
43 Psychology in the
Schools
1 Educaccedilatildeointerdisciplinar EUA
TOTAL 57
ESTRATEacuteGIAS DE PREVENCcedilAtildeO
Organizamos a apresentaccedilatildeo dos resultados em blocos temaacuteticos identificando seu
setor de origem (Educaccedilatildeo Sauacutede) entendendo que tais propostas possuem uma
especificidade disciplinar e mesmo discursiva Analisamos as possiacuteveis ambiguidades
contradiccedilotildees bem como os tipos de argumentos sobre prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo produzidos
nesses textos Todavia independente da origem boa parte do acervo apresentou evocacccedilotildees
discursivas a accedilotildees ―coletivas e interdisciplinares reconhecendo ser essencial que os
esforccedilos sejam sineacutergicos entre escola famiacutelia e sociedade devendo incluir accedilotildees preventivas
de modo a atuar em situaccedilotildees geneacutericas conduzidas para qualificar as relaccedilotildees sociais
prevenir as agressotildees online e buscando evitar novos episoacutedios de cyberbullying
Para Baek e Bullock (2013) apesar dos muitos estudos sobre cyberbullying haveria
uma lacuna de produccedilotildees que tragam uma perspectiva internacional sobre como o tema vem
76
sendo discutido pelo mundo Entre os estudos analisados pelos autores que abordam sobre
prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo tais programaspropostas podem ser divididas nas categorias leis e
poliacuteticas abordagens educacionais esforccedilos das escolas e papeacuteis dos pais Entretanto nesses
moldes de classificaccedilatildeo identificamos ambiguidades sobre o papel dos pais poliacuteticas de
enfrentamento e no que tange aos modus operandi dos programas mencionados pois ora satildeo
apresentados como propostas punitivas ora apresentam um vieacutes reflexivo numa perspectiva
de cultura de paz ou de copinglsquo
As contribuiccedilotildees associadas agrave Educaccedilatildeo agrave Sauacutede e de origem Interdisciplinar
identificadas nete estudo se caracterizaram por defender estrateacutegias preventivas baseadas 1
no controle e monitoramento das atividades online praticadas pelos jovens 2 no
estreitamento de viacutenculos entre profissionais da rede escolar e alunos e entre pais e jovens
3e na disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo e campanhas sobre cyberbullying bem como na
capacitaccedilatildeo de profissionais pais e alunos sobre o tema Por fim elencamos mais uma
categoria discursiva organizadora do acervo que trata dos fatores que levariam a ecircxitos e
fracassos das propostas de prevenccedilatildeo (4)
Controle e monitoramento
As estrateacutegias de prevenccedilatildeo baseadas na perspectiva de controle e monitoramento
foram as mais comuns As revisotildees de Couvillon e Ilieva (2011) e Smith et al (2012)
sugerem por exemplo limitar o uso de celulares na escola Esse texto como em muitos
outros os nuacutecleos verbais satildeo evidentes em sua perfomatividade proibitiva (implementar
controlesrestringir acessoexcluir miacutedias)
―As escolas podem implementar controles sobre a miacutedia existente
restringindo o acesso agraves aacutereas de Internet em que o ciberbullying
provavelmente ocorreraacute (por exemplo salas de bate-papo miacutedias sociais
sites) e excluir a miacutedia natildeo necessaacuteria para a experiecircncia de aprendizagem
como celular Smith et al 2012 (pg 121)
Considerando que a sociabilidade digital jaacute estaacute engendrada no cotidiano de crianccedilas e
adolescentes alguns estudos revisados por Sabella et al (2013) ponderam que a tecnologia
aleacutem de ser uma ferramenta social e de educaccedilatildeo desligar o computador natildeo interrompe
muitas formas de cyberbullying
77
Foram poucos os tipos de estrateacutegias de prevenccedilatildeo direcionadas para o campo da
Sauacutede ou por ele propostas se comparados agrave diversidade de propostas da Educaccedilatildeo mas
dentre estas destacam-se as propostas relativas ao que os artigos nomearam como controle e
monitoramento das atividades online das crianccedilas e adolescentes Uma revisatildeo do campo da
sauacutede propocircs que psiquiatras ―eduquem os pais de adolescentes viacutetimas de cyberbullying
que ―informem sobre monitoramento e controle do uso de tecnologias (Korenis e Billick
2015) Reconhecemos aiacute a presenccedila de interdiscussividade com o discurso biomeacutedico
sugerindo a influecircncia da autoridade meacutedica sobre os pais mesmo diante de fatos relativos agrave
sociabilidade e de cunho comportamental Confirma-se o campo de exerciacutecio da biomedicina
para aleacutem das fronteiras cliacutenicas incorporando o manejo de questotildees da vida social
Outros estudos tambeacutem apresentaram o discurso do monitoramento e controle como
estrateacutegia ―essencial de prevenccedilatildeo com intertextualidade constituiacuteda de um enunciado que
reforccedila a necessidade de supervisatildeo das praacuteticas juvenis e controle parental (Garcia
Maldonado 2011 Perren et al 2012 Torres e Vivas 2012 Bailey 2013 Brunett et al 2013
Aresene e Raynaud 2014)
No que tange agraves propostas interdisciplinares voltadas para a ―proteccedilatildeo online
estudos sugerem a ―tutoria de atividades ―programas de seguranccedila na internet voltado para
pais professores comunidade escolar e alunos e ainda o desenvolvimento precoce de haacutebitos
relacionados ao ―uso seguro da internet para crianccedilas de modo a garantir a efetiva
―internalizaccedilatildeo desses comportamentos (Hanewald 2009 Wendt e Lisboa 2014 Ang
2015) Tal discurso de proteccedilatildeo eacute portador de ambiguumlidades ora propondo um
―acompanhamento (necessaacuterio para determinadas faixas etaacuterias) o que pressupotildee certa
agecircncia e autonomia dos meninos e meninas em navegar online bem como evoca a ideacuteia de
controle (antiacutetese da autonomia sugerida) como estrateacutegia de prevenccedilatildeo Poreacutem natildeo fica claro
como tais propostas consideram os princiacutepios de liberdade de expressatildeo privacidade e
autonomia das crianccedilas e adolescentes
Nesse sentido a literatura analisada sustenta enunciados que reforccedilam a ideacuteia de que
os pais devem ser informados sobre boas praacuteticas e riscos na internet inclusive os riscos do
cyberbullying aleacutem de ―ter conhecimento dos tipos de tecnologias que satildeo utilizadas pelos
jovens para assim supervisionar ―monitorar no sentido de participaccedilatildeo das atividades online
(Hanewald 2009 Bayley 2013 Burnett et al 2013 Arsene e Raynaud 2014) Outros autores
tentam atenuar o confronto entre autonomiamonitoramentocontrole com expressotildees do tipo
78
―monitoramento no sentido de participaccedilatildeo da navegaccedilatildeo em alguns sites e apresentam uma
coerecircncia textual para que natildeo haja maacute interpretaccedilatildeo por parte dos jovens por acharem que
haveria uma perda de autonomia para navegaccedilatildeo na web Ao mesmo tempo o trecho traz
como forccedila um discurso de direcionamento tanto para as crianccedilas e adolescentes quanto para
os pais sobre um modelo de ajuste das praacuteticas rotineiras para que as formas de
monitoramento sejam naturalizadas e inseridas no cotidiano com a justificativa de prevenir da
violecircncia virtual Tal discurso tem tambeacutem como perspectiva de accedilatildeo a participaccedilatildeo dos pais
no universo online de seus filhos propiciando assim novas possibilidades de interaccedilatildeo
familiar
Wendt e Lisboa (2014) afirmam que os jovens acreditam que os adultos natildeo sabem
lidar com o cyberbullying todavia sugerem que o monitoramento parental visto como ―fator
protetivo pode contribuir para um menor comportamento de risco para os jovens na internet
Outra reflexatildeo apontada nessa literatura eacute que conforme os adolescentes se desenvolvem e
passam a adquirir maior independecircncia em relaccedilatildeo aos pais estes uacuteltimos costumam ajustar as
praacuteticas de supervisatildeo permitindo maior liberdade ao adolescente
Jaacute Sabella et al (2013) assinalam que o controle parental natildeo eacute tarefa faacutecil visto que os
aparelhos eletrocircnicos da atualidade satildeo de uso individual Aleacutem disso os adolescentes teriam
mais expertise no uso de tecnologias do que os adultos (Sabella et al 2013)
Estreitamento de laccedilos
No cenaacuterio das propostas oriundas da Educaccedilatildeo o estreitamento de laccedilos entre
alunos e professores se mostrou como uma alternativa relevante como apontam Couvillon e
Ilieva (2011) que ressaltam a necessidade de se ―avanccedilar de modo a ampliar a relaccedilatildeo de
confianccedila apoio e instruccedilatildeo entre alunos professores e demais funcionaacuterios (pg97)
No que concerne aos laccedilos familiares assinalados como relevantes para as accedilotildees de
prevenccedilatildeo percebe-se que a literatura analisada natildeo sinaliza claramente se reconhece a
existecircncia de rearranjos familiares e novos modelos de famiacutelias de crianccedilas e adolescente que
vivenciam experiecircncias de cyberbullying sejam como perpetradores acometidos eou
expectadores pois as orientaccedilotildees sempre invocam os personagens ―pais desconsiderando
que o cuidado dos filhos ocasionalmente esteja sob responsabilidade de outro adulto ou
tutor
79
Assim algumas revisotildees apontaram que os pais teriam um papel significativo na
prevenccedilatildeo do cyberbulyying quando esses permitem que seus filhos acessem somente a sites
considerados ―apropriados Assim essa permissatildeo demonstraria uma forma de cuidado e
propiciaria um ―ambiente saudaacutevel para que os filhos se sintam seguros de falar sobre alguma
situaccedilatildeo de cyberbullying vivenciada (Smith et al 2012 pg 121) Mas como os pais
poderiam valorar qual o poder ofensivo de redes sociais que satildeo os endereccedilos virtuais mais
utilizados pelos jovens na contemporaneidade Em contraponto um estudo revisado por
Slonje et al (2013) que investigou jovens de 25 paiacuteses constatou que 77 das viacutetimas
contaram o problema para algueacutem 42 contaram para os pais 52 para um amigo 7 para
os professores
Wendt e Lisboa (2014) pontuam que a ecircnfase e atenccedilatildeo devem ser voltadas para a
qualidade da relaccedilatildeo entre pais e filhos tal como agrave coerecircncia entre as praacuteticas parentais
utilizadas e a abertura para o diaacutelogo e negociaccedilatildeo Ressaltam ainda que o tempo gasto na
internet prejudica a qualidade na convivecircncia familiar
Capacitaccedilatildeo sensibilizaccedilatildeo campanhas
No que concerne agrave capacitaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo sobre o problema a literatura
reforccedila que as escolas precisam incluir o tema em suas pautas poliacuteticas escolares de prevenccedilatildeo
e incluindo a conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar capacitando natildeo soacute os
professores que satildeo considerados imigrantes digitiais mas os alunos e demais profissionais da
escola promovendo assim um ambiente no qual o cyberbullying seja socialmente inaceitaacutevel
(Sabella et al 2013 Suzuky et al 2012 Smith et al 2012 Von Mareacutees Peterson 2012
Nosworty e Rinaldi 2013) Na revisatildeo de Sabella et al (2013) vemos a evocaccedilatildeo da ideia-
forccedila de conclamaccedilatildeo para que as escolas ampliem o conhecimento sobre poliacuteticas de bullying
e cyberbullying para ajudar a proteger os alunos e resguardar as escolas de sanccedilotildees legais
aleacutem de contribuir para o fortalecimento de viacutenculos no ambiente escolar e comunicaccedilatildeo
aberta entre os alunos
Ainda sobre tipos de prevenccedilatildeo nas escolas encontramos na literatura a proposta de
―capacitar os professores utilizando material com conteuacutedo objetivo e claro para que estes
tenham condiccedilotildees de entender o que representa o cyberbullying ―identificar casos seja
atraveacutes de manifestaccedilotildees psicopatoloacuteloacutegicas comportamentais ou ausecircncia escolar bem como
para o ―fortalecimendo de accedilotildees ciacutevicas no ambiente escolar que conscientizam de modo a
80
―contribuir para um ambiente harmocircnico e uma relaccedilatildeo de confianccedila entre esses atores
(Couvillon e Illieva 2011)
No campo da Sauacutede estudos apontaram a necessidade de campanhas de
conscientizaccedilatildeo para prevenir o cyberbullying (Mareacutees e Peterson 2012 Chisholm 2014) e
defendem que profissionais de sauacutede que trabalhem ou natildeo nas escolas deveriam ―capacitar
alunos e pais Enfatizam a importacircncia de instruir para o desenvolvimento de habilidades
emocionais de modo a reduzir comportamentos impulsivos agressivos e encorajar crianccedilas e
adolescentes a desenvolverem empatia e controlar a raiva utilizando teacutecnicas de ―auto-gestatildeo
emocional ou resiliecircncia (Von Mareacutees e Peterson 2012 e Suzuky et al 2012) O estudo de
Suzuky et al (2012) considera relevante que pais sejam conscientizados por conselheiros
escolares ou profissioanis de sauacutede sobre os problemas que o cyberbullying pode acarretar
Aresene e Raynaud (2014) destacaram a presenccedila recorrente de campanhas
governamentais a niacutevel nacional na Franccedila especiacuteficamente realizada por profissionais de
Sauacutede Puacuteblica chamando a atenccedilatildeo sobre o protagonismo do Setor nesse paiacutes frente ao tema
se comparados a outros campos como a Educaccedilatildeo
A disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees foi um tipo de prevenccedilatildeo sugerida Algumas
propostas relevantes foram destacadas para o setor Sauacutede Puacuteblica como a criaccedilatildeo de material
informativo com enfoque na prevenccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas escolares que alcance
municiacutepios e estados com base em resultados de pesquisas (Gaacutercia Maldonado et al 2011
Kowalski et al 2014)
Ecircxitos e fracassos
Brown et al (2006) ressaltam que a literatura sugere como estrateacutegia de prevenccedilatildeo
primaacuteria que ―explorem a mentalidade digital como uma tarefa de poliacutetica escolar ou seja
que ―criem sites com uma linguagem digital apropriada para ―falar com os grupos de pares
utilizem desse mecanismo como estrateacutegia para que crianccedilas e adolescentes se relacionem e se
expressem nessa rede social escolar Tal literatura apresentou um discurso constitutivo que
propotildee mudanccedila de comportamento de alunos envolvidos em cyberbullying Quando se
propotildee a falar a linguagem dos nativos digitaislsquo essa estrateacutegia utiliza do convencimento para
propor intencionalmente um novo modelo de relaccedilotildees interpessoais desses jovens
81
Os autores mencionam a importacircncia de considerar as dinacircmicas sociais que
circundam a cibercultura como uma base para que praacuteticas positivas sejam desenvolvidas
Propor programas de acordo com a cultura local de um paiacutes ou regiatildeo foi visto como uma
accedilatildeo coerente ao inveacutes de copiar propostas de accedilatildeo jaacute existentes em outros paiacuteses De acordo
com um estudo grego embora haja uma seacuterie de programas de conscientizaccedilatildeo e material
relacionado a maioria dos programas foi projetada a partir de programas europeus muitas das
vezes ignorando que para aumentar a possibilidade de eficaacutecia de um programa de
intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio sua adaptaccedilatildeo agraves necessidades e cultura do paiacutes (Antoniadou e
kokkinos 2013) Percebe-se neste contexto a denuacutencia sobre uma certa dominaccedilatildeo ideoloacutegica
de modelos que satildeo exportados de paiacuteses ―centrais que desconsidera aspectos importantes
como a especificidade da cultura de determinada regiatildeo a forma como os jovens interagem
nos meios digitais e como vivenciam as praacuteticas de violecircncia nessa acircmbiencia
Um estudo revisado por Slonje (2013) apontou que satildeo razoaacuteveis as taxas de sucesso
dos programas escolares de prevenccedilatildeo ao bullying Os autores acreditam que os programas de
prevenccedilatildeo ao bullying podem ser ampliados sem a necessidade de grandes alteraccedilotildees
incluidno a demanda do cyberbullying Assim seria um componente de uma poliacutetica anti-
bullying em toda a escola com accedilotildees de conscientizaccedilatildeo e atividades nesse aspecto poderiam
ser incluiacutedas no curriacuteculo escolar
Programas com vieacuteses punitivos voltados para que perpetradores ―tirem uma liccedilatildeo
sobre seus atos foram considerados ineficazes por parte da literatura Todavia haacute divergecircncia
no discurso sobre as abordagens punitivas no trato com o cyberbullying Segundo a revisatildeo de
Hanewald (2009) estudos consideraram a responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores e a criaccedilatildeo de
poliacuteticas que tratam sobre a questatildeo da violecircncia digital como fatores positivos que inibiriam
novas accedilotildees de cyberbullying Um estudo do campo da Educaccedilatildeo defende que a
judicializaccedilatildeo dos casos de cyberbullying eacute uma estrateacutegia negativa ―Os distritos escolares
devem considerar cuidadosamente as accedilotildees que as escolas podem realizar sem colocar nossa
juventude no sistema de justiccedila criminal (Bailey 2013 pg 6) Tal referecircncia conclama as
instituiccedilotildees escolares tomarem para si a responsabilidade de atuar de forma preventiva de
modo que natildeo seja necessaacuteria uma intervenccedilatildeo de cunho punitivo no acircmbito judicial com os
jovens envolvidos com o cyberbullying Outros textos trazem a mesma perspectiva
(Aboujaoude et al 2015 Alim 2016 Baek e Bullock 2014 Bailey 2013 Baldry et al 2015
Berne et al2013 Cantone et al 2015 Cassidy Faucher e Jackson 2013)
82
A criaccedilatildeo de leis punitivas dividiu os autores Uns consideram que tais normativas
serviriam de base tanto para prevenccedilatildeo quanto para o enfrentamento aleacutem de servir de
paracircmetro legal para possiacuteveis accedilotildees praacuteticas adotadas pelas escolas diante de tais situaccedilotildees
(Baek e Bullock 2013 Bailey 2013)
Por outro lado os programas de prevenccedilatildeo que propiciem uma cultura de paz foram
considerados como uma alternativa eficiente no enfrentamento ao cyberbullying(Cassidy et al
2012)
Por fim um estudo de Della Cioppa et al (2015) que analisou programas de
prevenccedilatildeo do cyberbullying revelou que a maioria desses programas natildeo transcende a escola
(por exemplo para a famiacutelia a miacutedia) - o que pode explicar porque poucos programas de
prevenccedilatildeo natildeo conseguiram reduzir a vitimizaccedilatildeo dos casos de cyberbullying
ESTRATEacuteGIAS DE ldquoINTERVENCcedilAtildeOrdquo
Verificamos no acervo deste estudo duas linhagens de intervenccedilatildeo propostas diante de
casos jaacute ocorridos a primeira toma o foco das accedilotildees realizadas por instituiccedilotildees e a segunda
voltada para o manejo de cunho individual cujas accedilotildees satildeo alinhadas agrave perspectiva de coping
(modos de lidar)
Respostas institucionais de intervenccedilatildeo
De acordo com a literatura estudada (Mason 2008 Garaigordobil 2011) as propostas
de intervenccedilatildeo devem inicialmente identificar os casos de cyberbullying e sinalizar possiacuteveis
estrateacutegias para evitar que essas praacuteticas de violecircncia se consolidem a partir de accedilotildees
especiacuteficas de intervenccedilatildeo que tenham enfoque individual e nos grupos de agressores Intervir
em situccedilotildees concretas de cyberbullying de sorte que se torne possiacutevel minimizar os impactos
dessa violecircncia sobre os acometidos ofertando apoio psicoteraacutepico e proteccedilatildeo agraves viacutetimas sem
desconsiderar accedilotildees junto ao puacuteblico de espectadores
No primeiro grupo estatildeo aqueles que corroboram a ideia que a proteccedilatildeo dos dados
digitais eacute uma forma de lidar com o cyberbullying Essa proteccedilatildeo de dados tem como objetivo
natildeo permitir que conteuacutedos de cunho pessoal sejam acessados e expostos sem o
consentimento do proprietaacuterio Salientamos o discurso evocado na revisatildeo de Ang (2015)
sobre a praacutetica social do exibinicionismo tatildeo naturalizada nas miacutedias sociais digitais Ang
identificou entre os estudos revisados por ele mecanismos de accedilatildeo pelo qual essa loacutegica
83
narcisista ao extremo poderia contribuir para praacuteticas de cyberbullying contra pessoas que natildeo
se encaixam em determinados padrotildees esteacuteticos O autor reflete ainda que o anonimato na
Internet poderia ―exacerbar o senso desses adolescentes de desrespeitar os outros com a
crenccedila de que a agressatildeo eacute ―razoaacutevel aceitaacutevel e justificaacutevel (pg 38) Os elementos
discursivos desse estudo trazem o modo de representaccedilatildeo dos jovens sobre o mundo e sobre
os outros enfatizando o exibicionismo e natildeo empatia com seus pares
Com relaccedilatildeo agraves implicaccedilotildees para a escola segundo a revisatildeo de Hinduja e Patchin
(2011) a escola e seus administradores teriam obrigaccedilatildeo legal de agir quando ocorre a
violecircncia fora da internet e dentro dela quando esses atores tiverem ciecircncia desses fatos Para
Castro Schneider (2015) a escola teria como funccedilatildeo social a co-responsabilidade nos casos de
cyberbullying devendo a direccedilatildeo acionar os pais os Conselhos Tutelares e outros oacutergatildeos de
proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente aleacutem de aconselhar as viacutetimas (Faucher et al 2015) os
perpetradores (Chibbaro 2015) e ensinar aos alunos qual a maneira mais adequada de
responder a episoacutedios de cyberbullying (Notar et al 2016) Espera-se ainda da escola que
capacite professores a terem uma escuta qualificada e que tenham um espaccedilo sigiloso como
referecircncia de apoio para os alunos para que se sintam seguros em compartilhar sobre situaccedilotildees
de cyberbullying (Wingate et al 2013) A literatura ainda sugeriu que as escolas devam criar
programas que melhorem o clima escolar e que contribuam para o desenvolvimento da
empatia e resoluccedilatildeo de conflitos Percebe-se que haacute uma tendecircncia nos textos em sugerir
modelos de condutas por parte das escolas de modo a criar protocolos de comportamentos
diante de situaccedilotildees de bullyingcyberbullying
Destaca-se neste bloco de informaccedilotildees o papel da escola no acircmbito interventivo a
ideia de que funcionaacuterios escolares terem autonomia de impor restriccedilotildees e disciplina caso
regras escolares sejam violadas pelos alunos (Mason 2008) Tal discurso apresenta uma forccedila
discursiva ao designar uma ordem social em ―impor restriccedilotildees por parte dos profissionais da
educaccedilatildeo
A escola eacute chamada a oferecer capacitaccedilatildeo para pais cujos filhos estejam
envolvidos com cyberbullying de modo que esse treinamento tenha um recorte interventivo
ao buscar trabalhar com o puacuteblico dos estudantes cyberagressores no sentido de instruir esses
uacuteltimos e informar sobre o problema
Outras accedilotildees foram destacadas como propostas de cunho didaacutetico de modo a incluir a
famiacutelia e a comunidade no processo de intervenccedilatildeo (Garaigordobil 2011) e monitorar as
84
atividades online feita pelos alunos (Cassidy et al 2013 Carpenter e Hubbard 2014) Essa
uacuteltima proposta coloca em questatildeo como jaacute discutido anteriormente regras de convivecircncia
que interferem na privacidade dos alunos aleacutem das formas de se relacionar na
contemporaneidade ateacute mesmo da individualidade e autonomia dos jovens de fazerem o uso
de seus pertences tecnoloacutegicos no ambiente escolar
Jaacute a revisatildeo de Wendt e Lisboa (2014) evidencia que a falta de diaacutelogo entre pais e os
jovens precisa ser foco de intervenccedilatildeo por parte de psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede
dado que a vulnerabilidade na comunicaccedilatildeo familiar representa um fator de risco no que tange
aos moldes que a violecircncia apresenta no meio digital Os autores percebem que haacute um
distanciamento cultural por parte de pais e professores Sugerem que programas de
intervenccedilatildeo direcionados pelas escolas poderiam desenvolver grupos de responsaacuteveis com
atividades luacutedicas que envolvam o uso das novas tecnologias de modo a propiciar um
compartilhamento de experiecircncias entre responsaacuteveis professores e os alunos Wendt e
Lisboa ainda recomendam que psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede ofertem suporte
emocional aleacutem de reflexotildees sobre os riscos e os benefiacutecios que as dinacircmicas digitais
oferecem na contemporaneidade Todavia identificamos um estudo que sugere a puniccedilatildeo com
o argumento de reparar o dano pelos maus atos praticados pelos filhos (Faushe et al 2015)
Accedilotildees interdisciplinares foram propostas como manejo de intervenccedilatildeo O estudo de
Gine e Espelage (2014) apesar de natildeo descreverem qual o papel de psiquiatras meacutedicos pais
e professores diante de casos de cyberbullying sugere que a intervenccedilatildeo por parte desses eacute
necessaacuteria para diminuir o risco de angustias que podem repercutir em suiciacutedio Neste caso o
discurso apresenta uma funccedilatildeo de linguagem identitaacuteria ao reconhecer o papel social desses
atores e a necessidade de sua atuaccedilatildeo Reed (2015) destacou a formulaccedilatildeo de programas de
intervenccedilatildeo com base em modelos jaacute existentes como uma estrateacutegia positiva designada para
intervir na depressatildeo de pessoas que vivenciaram o cyberbullying Outro modelo semelhante
visa agrave formaccedilatildeo de ciacuterculos restaurativos e grupos de reflexatildeo voltado para os agressores
mas com monitoramento das accedilotildees de cyberbullying por eles praticadas Tanto no que se
refere aos autores como aos acometidos a perspectiva de mudanccedila de comportamento adveacutem
de tratamento psicoloacutegico sem desconectar a oferta de aconselhamento Experiecircncias como
estas foram consideradas exitosas quando reproduzidas (Suzuky et al 2012 Sabella et al
2013 Slonje et al 2013)
85
Programas de conscientizaccedilatildeo tambeacutem foram considerados como accedilotildees de intervenccedilatildeo
cujos objetivos satildeo o de contribuir para a reduccedilatildeo do estresse imediato e ajudar a prevenir
consequecircncias de longo prazo bem como um mecanismo para denuacutencias anocircnimas aos canais
e oacutergatildeos de proteccedilatildeo (Garaigordobil 2011 Raskauskas e Ruyinh 2015)
Criar instrumentos para avaliar os riscos de um jovem sofrer cyberbullying tambeacutem foi
considerado pelos estudos como um instrumento de intervenccedilatildeo ao passo que permitiria a
criaccedilatildeo de novas estrateacutegias de accedilotildees (Baldry et al 2015) Entendemos que a criaccedilatildeo de
instrumentos para avaliaccedilatildeo traz como implicaccedilatildeo discursiva as maneiras de interpretar o
sentido de haver riscos de sofrer cyberbullying
Por fim um uacuteltimo grupo de propostas de intervenccedilatildeo se refere agrave criaccedilatildeo de leis
coibitivas da praacutetica de cyberbullying No que tange a legislaccedilatildeo a criaccedilatildeo de leis especiacuteficas
para lidar com cyberbullying abre margem para uma argumentaccedilatildeo de que se faz ―necessaacuteria
a criminalizaccedilatildeo do fenocircmeno como condiccedilatildeo efetiva para lidar com ele A anaacutelise dessas
propostas envolve a agurmentaccedilatildeo sobre execuccedilatildeo das leis podendo inclusive resultar em
accedilotildees paliativas aleacutem da presenccedila de um discurso apelativo de judicializaccedilatildeo das relaccedilotildees
sociais em conflito (Yan e Grinshteyn 2016)
Entendemos que as estrateacutegias relacionadas acima correspondem a accedilotildees de cunho
institucional e poliacutetico Natildeo encontramos modelos de intervenccedilatildeo especiacuteficos para o campo da
sauacutede
bdquoCoping‟ ndash o manejo individual
Os modelos de coping apresentados nos estudos analisados reportam a um manejo de
ordem psiacutequica e individual ofertando ainda a possibilidade de acionamento de outros sujeitos
como professores amigos e famiacutelia Natildeo estatildeo relacionados diretamente ao campo Educaccedilatildeo
mas ao manejo que prioriza a sauacutede mental dos indiviacuteduos
Apresentaremos a seguir as propostas de enfrentamento designadas pela literatura
como modelos de intervenccedilatildeo de ordem individual Verificamos que natildeo se trata propriamente
de modelos de intervenccedilatildeo mais sim de estrateacutegias de como lidar com o fenocircmeno Nesse
bloco ressaltam-se os modos de lidar que promovem resiliecircncia sugeridos a partir de
experiecircncias existentes ensinadas e replicadas ou seja sugestotildees de formas de prevenccedilatildeo de
86
novos agravos agrave sauacutede psiacutequica dos envolvidos com o cyberbullying ou ainda formas de
coping que supunham que a partir de determinado comportamento natildeo ocorram novos
episoacutedios do fenocircmeno Estrateacutegias de enfrentamento (coping) satildeo consideradas praacuteticas de
esforccedilos cognitivos e comportamentais para tratar das demandas peculiares e os objetivos
desses modos de lidar satildeo distintos e tomam por base o niacutevel de envolvimento desse sujeito
com a questatildeo do cyberbullying (no caso das viacutetimas) por exemplo o que vai determinar
quais os tipos e niacuteveis de estrateacutegias seraacute adotado para lidar como o cyberbullying (Castilho
2010 Bezzara in Veiga e Caetano 2014)
Como formas de coping satildeo discutidas o confronto a resoluccedilatildeo planejada do
problema a aceitaccedilatildeo o autocontrole a procura de ajuda a reavaliaccedilatildeo positiva da situaccedilatildeo o
distanciamento e fugaevitamento do problema (Serra 1987 Ribeiro e Rodrigues 2004)
O manejo utilizado por vitimados foi pontuado de forma recorrente pelos estudos
analisados Dentre as formas de lidar com o cyberbullying estatildeo informar algueacutem sobre o
ocorrido evitar a pessoa que praticou o cyberbullying revidar a accedilatildeo de alguma maneira
bloquear certas pessoas de contato on-line alterar senhas e nome de usuaacuterio excluir
mensagens anocircnimas sem ler evitar socializar abertamente o nuacutemero de celular rastrear
nuacutemero de IP do agressor e informar aos canais de atendimento de sites de relacionamentos
sobre a ocorrecircncia de atos de cyberbullying trocar nome e nuacutemero de telefone caso se sinta
ameaccedilado (Slonje et al 2013 Nixon 2014) Poreacutem eacute prematuro dizer que tais
comportamentos possam impedir um indiviacuteduo de vivenciar tal experiecircncia muito menos dar
conta da dimensatildeo exponencial que o cyberbullying pode alcanccedilar Entendemos que haveria
um discurso de intencionalidade devido agrave forccedila dos verbos utilizados bloquearlsquo alterarlsquo
rastrearlsquo revidar Ao fazer uso de tais verbos o discurso produz um sentido de proposiccedilatildeo
de construccedilatildeo de praacuteticas ativas que confrontem as accedilotildees de cyberbullying vivenciadas pelos
acometidos
Verifica-se que satildeo muacuteltiplas as formas de copinglsquo sinalizadas pelo acervo analisado
Em meio agraves distintas formas de lidar com o cyberbullying encontram-se atores que estariam
em uma posiccedilatildeo de passividade diante de accedilotildees do cyberbullying os chamados expectadores
Pode-se disser que esse tipo de comportamento tambeacutem representa um modo de lidar
contudo sem um caraacuteter de enfrentamento Neste caso o comportamento dos expectadores
nos chama atenccedilatildeo em meio ao cenaacuterio das propostas de enfrentamentos devido a sua ineacutercia
A falta de intervenccedilatildeo diante de um episoacutedio de cyberbullying por parte dos expectadores se
87
configura com o que Wingate et al (2013) denominam de ―ignoracircncia pluralista que
corresponde a um comportamento grupal onde sujeitos de um determinado grupo ao terem
uma opiniatildeo diferente preferem se calar diante de uma resposta contraacuteria a deste grupo ao
qual pertence O vocabulaacuterio em destaque traz como lexicaccedilatildeo agrave falta de conhecimento dos
espectadores diante dos danos que o cyberbullying pode causar em outrem Wingate et al
(2013) salientam que ocorre uma espeacutecie de ―efeito espectador (O que o grupo vai pensar
caso tenha uma reaccedilatildeo diferente das regras culturais estabelecidas pela comunidade que faz
parte) Por exemplo uma viacutetima de cyberbullying pode ter muitos amigos numa rede social
mas se eles natildeo reagirem cria a impressatildeo de que ignorar o cyberbullying eacute a resposta
normativa (Wingate et al 2013)
Uma das revisotildees (Raskauska e Ruinh 2015) tratou de identificar estrateacutegias para
lidar com o cyberbullying promotoras de reduccedilatildeo imediata do estresse gerado pelo fenocircmeno
ou aquelas que contribuam para diminuiccedilatildeo em longo prazo tais como praacuteticas com enfoque
nas emoccedilotildees e que promovam uma cultura de paz para evitar o confronto estrateacutegias de apoio
social que ofertem suporte que provoquem o amortecimento do impacto negativo do
cyberbullying (falar com um amigo professor ou profissional sobre o assunto) estrateacutegias
focadas na evacuaccedilatildeo que incluem distanciamento do enfrentamento no qual se evita ou se
retira da situaccedilatildeo estressante (como os bloqueios de perfis e exclusotildees) ou accedilotildees que gerem
resiliecircncia e porporcione o bem estar e sauacutede mental (como o natildeo pensar sobre o fato
ocorrido) A procura por apoio social se revelou mais peculiar entre o gecircnero feminino de
acordo com dois estudos revisados por Raskauska e Ruinh (2015)
O estudo de Nixon por exemplo embora revisasse pesquisas sobre eficaacutecias das
estrateacutegias de intervenccedilatildeo verificou que a maioria dessas pesquisas teria examinado
estrateacutegias de reduccedilatildeo de risco ou promoccedilatildeo de comportamentos que superem os riscos como
o suiciacutedio baixo rendimento escolar entre outros Tais estrateacutegias quando adotadas pelos
adolescentes podem mitigar ou reduzir o impacto negativo do cyberbullying (Nixon 2014)
A revisatildeo de Alim (2016) destaca um estudo de Justim Patchim e Sammer Hinduja
com adolescentes americanos de 11 a 18 anos de idade que analisou a probabilidade de um
jovem ser punido por um adulto como um fator para praticar ou natildeo atos de cyberbullying
Tal estudo observou que os adolescentes que pensavam que os adultos poderiam puni-los
eram menos propensos a fazer cyberbullying Alim (2016) ainda elencou as formas como os
adolescenes lidam com o fenocircmeno entre elas (a) responder aos ataques (b) saber em quem
88
confiar (c) ser astuto em relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecnologia (d) respeitar os
outros (e) estar no controle e (f) falar cara a cara (Fisher 2013 apud Alim 2016) Entre as
estrateacutegias relatadas pelos adolescentes consideradas eficazes e que impedem accedilotildees de
cyberbullying incluem accedilotildees tecnoloacutegicas como a exclusatildeo do perfil e o ajuste da
privacidade uso de configuraccedilotildees para evitar o contato Estas seriam moderadamente uacuteteis
para pessoas que sofrem com cyberbullying e outras formas de asseacutedio on-line O bloqueio do
agressor foi uma das respostas mais predominantes relatar o incidente a um consultor on-line
ou denunciar atraveacutes de relatoacuterio on-line tambeacutem foi identificada aleacutem de bloquear o acesso
do perpetrador agraves informaccedilotildees pessoais na linha do tempo de redes sociais Para Alim (2016)
as estrateacutegias dos adolescentes para o enfrentamento mudam com o passar dos anos e que as
soluccedilotildees tecnoloacutegicas e a procura de apoio satildeo eficazes na luta contra o ciberbullying Jaacute a
revisatildeo de de Allison e Busey (2016) ressaltou estudos que apontam que as normas de
comportamentos sociais entre pares podem influenciar a decisatildeo de transeuntes do universo
online participarem de cyberbullying inclusive no que tange ao comportamento dos
expectadores Verifica-se que o texto se apropia de elementos discursivos de forccedila (modos de
accedilatildeo) ―bloquear o agressor ―responder aos ataquese ao mesmo tempo de modos de
representaccedilatildeo desses sujeitos que fazem parte de comunidades sociais ―falar cara a cara
―saber em quem confiar Esse tipo de discurso contribui para moldar e restrigir as normas e
convenccedilotildees entre agressores e acometidos
Cabe destacar que parte das revisotildees que sugerem modos de lidar (coping) com o
cyberbullying propocircs accedilotildees preventivas concomitantemente Aleacutem disso pensar tais
estrateacutegias e reproduzir tais praacuteticas adequando as novas complexidades do fenocircmeno e da
cibercultura se fazem necessaacuterios (Aboujaoude et al 2015) visto que um modelo de
intervenccedilatildeo fechado natildeo daria conta da constante atualizaccedilatildeo tanto das tecnologias que
possibilitariam praacuteticas de cyberbullying como das ambiecircncias relacionais da cibercultura
CONCLUSOtildeES
No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um
assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns
pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das
89
expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o
evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares
Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa
levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia
Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a
cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo
Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o
conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o
contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que
podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying
podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas
atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais
Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio
na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia
psicoloacutegica e que ocorre entre pares
Percebemos que a literatura analisada por muitos momentos demonstrou uma
aproximaccedilatildeo do tema cyberbullying com o bullying tradicional Eacute suficiente considerar o
cyberbullying mais do mesmo neste caso bullying
Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma
personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o
cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de
alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos
produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet
voltar a circular apoacutes tempos depois em que o conteuacutedo foi disparado e o assunto degradante
veio agrave tona
Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos
estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio
(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre
quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas
do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a
atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as
habilidades dos meninos como superiores comparados com as meninas em aspectos
tecnoloacutegicos
90
Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagado deliberadamente em redes
sociais contra grupos eacutetnicos raciais natildeo brancos eacute inquietante natildeo ter identificado na
literatura reflexotildees sobre cyberbullying e gecircnero que transcendam a classificaccedilatildeo binaacuteria
aleacutem de invisibilizar questotildees como o racismo Tambeacutem cabe considerar que natildeo bastaria
nomear situaccedilotildees como cyberbullying sem refletir sobre o tipo de violecircncia praticada com tais
sujeitos Para isso eacute preciso ter ciecircncia do que de fato se configura cyberbullying para que
equiacutevocos interpretativos natildeo ocorram ao passo de classificar qualquer tipo de violecircncia
digital como cyberbullying desconsiderando por exemplo que trata-se de uma violecircncia
entre pares Estudos que apontem prevalecircncia de casos de cyberbullying contra jovens LGBT
grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio mulccedilumanos e
religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos satildeo de grande relevacircncia
Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre
o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis
por proliferar o conteuacutedo difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying
que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um
controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta
Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser
ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os
impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que
diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar
cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica do
cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas
ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os
seus perfis analisando inclusive se aqueles que cometem cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram
algum tipo de violecircncia
Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo
ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou
seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute
viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo anonimato
Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que
haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem
existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas
implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de
91
Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam
adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz
respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais
digitais
Ainda assim a literatura direciona maior responsabilidade no trato da prevenccedilatildeo do
cyberbullying agrave comunidade escolar Teriam as escolas capacidade de capacitar prevenir e
ainda intervir em situaccedilotildees de cyberbullying isoladamente Por outro lado natildeo eacute possiacutevel
admitir que questotildees de cyberbullying na escola sejam classificadas como uma problemaacutetica
de menor impacto para os alunos ou ―brincadeira de adolescente uma demanda que foge da
competecircncia escolar por transcender o seu espaccedilo fiacutesico Pensando nessa suposta
responsabilidade em alguns paiacuteses como no Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe
multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem dar conta de certas demandas por falta de
suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar continuidade a projetos iniciados por falta de
recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio refletir se de fato tais propostas e manejo
seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno complexo e com atravessamentos
peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros setores e atores sociais Partimos do
entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos de cyberbullying necessitam ser
realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes atores
Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados
tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de
revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou
analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento
Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a
necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos
pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos
online jaacute faccedila parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem
refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos ―nativos digitais e restrigir punir ou
controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens pode ter tambeacutem
aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria Quais os
seus limites Quando um profissional eou um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a
privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais
enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do
monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e
92
adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos
e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos
jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que
supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre o uso das novas tecnologias esses
possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua
responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um
aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso
aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de
identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de
monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que
tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a uma banalizaccedilatildeo do monitoramento
de praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da
liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo
familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz
necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado
pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos
Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado
de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos
publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo
foi o nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede
reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a
criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem
com esta demanda de forma coerente
Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do
conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios
novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e
intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento
sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre
avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de
intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)
REFEREcircNCIAS
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estudo de adaptaccedilatildeo do brief cope Psicologia sauacutede amp doenccedilas 2004 5 (1) 3-15
CONCLUSOtildeES
No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um
assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns
pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das
expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o
evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares
Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa
levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia
Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a
cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo
Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o
conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o
contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que
podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying
podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas
atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais
Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio
na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia
psicoloacutegica e que ocorre entre pares
Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma
personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o
cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de
alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos
produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet
100
voltar a circular apoacutes tempos depois em que esse conteuacutedo foi disparado e o assunto
degradante veio agrave tona
Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos
estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio
(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre
quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas
do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a
atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as
habilidades dos meninos como superiores se comparados com as meninas em aspectos
tecnoloacutegicos
Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagando deliberadamente em redes
sociais percebeu-se ainda uma ausecircncia de reflexotildees sobre a questatildeo do cyberbullying contra
jovens LGBT grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio
mulccedilumanos e religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos
Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre
o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis
por proliferar o material difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying
que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um
controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta
Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser
ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os
impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que
diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar
cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica de
cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas
ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os
seus perfis analisando inclusive se aqueles que praticam cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram
algum tipo de violecircncia
Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo
ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou
seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute
viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo do anonimato
101
Eacute possiacutevel considerar que o cyberbullying se configura como uma nova forma de
violecircncia sistemaacutetica que se manifesta atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica
entre pares nas ambiecircncias das redes de socialidade digital que podem ocorrer em qualquer
espaccedilo geograacutefico Inclusive sendo considerado por estudiosos como um problema de sauacutede
social e de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede mental de crianccedilas e adolescentes
Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que
haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem
existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas
implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de
Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam
adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz
respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais
digitais
Ainda assim a literatura apontou excessiva responsabilidade da escola no trato da
prevenccedilatildeo do cyberbullying agrave comunidade escolar Entretanto em alguns paiacuteses como no
Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem
dar conta de certas demandas por falta de suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar
continuidade a projetos iniciados por falta de recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio
refletir se de fato tais propostas e manejo seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno
complexo e com atravessamentos peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros
setores e atores sociais Partimos do entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos
de cyberbullying necessitam ser realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes
atores
Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados
tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de
revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou
analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento
Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a
necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos
pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos
online jaacute faccedilam parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem
refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos nativos digitais e restrigir punir ou
controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens podem ter
102
tambeacutem aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria
Quais os seus limites Quando um profissional e um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a
privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais
enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do
monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e
adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos
e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos
jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que
supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre uso das novas tecnologias esses
possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua
responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um
aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso
aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de
identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de
monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que
tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a banalizar o monitoramento de
praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da
liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo
familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz
necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado
pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos
Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado
de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos
publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo
foi nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede
Reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a
criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem
com esta demanda de forma coerente
Identificou-se a necessidade de estudos futuros investigarem as redes sociais como
um territoacuterio de praacutetica e propagaccedilatildeo de atos de cyberbullying Que estudos com esse recorte
aponte quais os papeis dessas plataformas digitais no manejo com o cyberbullying
Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do
conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios
103
novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e
intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento
sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre
avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de
intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)
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Agradecimentos
Agrave Deus por ter me dado a graccedila de conseguir cursar um curso de poacutes-graduaccedilatildeo
Scricto Sensu numa instituiccedilatildeo renomada como a ENSP e poder seguir minha trajetoacuteria
acadecircmica iniciada nesta casa em 2012 com a especializaccedilatildeo em Direitos Humanos e Sauacutede
Agrave minha famiacutelia por todo apoio recebido paciecircncia nos meus dias estressantes
incentivo para que eu natildeo desistisse do meu objetivo Obrigado por terem sonhado comigo
em especial meu esposo Eduardo Brito que acreditou que eu seria capaz antes mesmo de eu
pensar em cursar o mestrado Te amo
Quero tambeacutem registrar minha gratidatildeo pelo privileacutegio de ter Suely Deslandes como
minha orientadora mentora amiga agraves vezes matildee (matildee loira minha diva da vida academia)
por todas as orientaccedilotildees recebidas por ter acreditar em mim pelo incentivo pelas chamadas
para a realidade pelas dicas compreensatildeo paciecircncia (e como vocecirc exerceu esse dom comigo)
diante das minhas dificuldades e limitaccedilotildees diante do trabalho aacuterduo que eacute construir um
trabalho acadecircmico com qualidade Cada sessatildeo ligaccedilatildeo e encontros foram importantes
Jamais vou esquecer todo o suporte que meu deu aprendi e aprendo muito com vocecirc Eacutes uma
inspiraccedilatildeo para mim Muito obrigada
Agrave coordenaccedilatildeo acadecircmica do Programa de Mestrado em Sauacutede Puacuteblica da ENSP todo
corpo docente docentes convidados pela competecircncia e excelecircncia no ensino Agradeccedilo em
especial aos docentes e pesquisadores da minha subaacuterea violecircncia e sauacutede por terem me
oportunizado refletir apreender e conhecer sobre a violecircncia suas especificidades Obrigada
pelos encontros reflexivos provocadores e desafiadores (Maria Ceciacutelia Minayo ndash nossa diva
maior Suely Deslandes Patriacutecia Constantino Joviana Avanci Simone de Assis Kathie
Njaine Ednilsa Ramos Liana Pinto Fatima Cequetto Ana Elisa Miriam Schenker e Liane da
Silveira) Obrigada a todos os colegas da turma MSP2016 tenho orgulho dessa turma
Saudade dos nossos cafeacutes e chaacute de bebecircs
Agrave minha turma da subaacuterea Ethos Guerreiro (Adri Bruno Cynthia Lu Ju Hellen
Rodolfo e Val) pela solidariedade incentivo e empatia ao longo desses dois anos Foram
muitas batalhas conquistas alegrias perdas anguacutestias e tristezas partilhadas natildeo vou me
esquecer do que vivemos juntos virtualmente e presencialmente Temos um Ethos coletivo
que eacute de Guerreiro
Obrigada membros da banca por acreditar no meu trabalho e me possibilitar chegar
ainda mais perto dessa realizaccedilatildeo que eacute me tornar mestre Bibliotecaacuterio Adriano equipe da
secretaria acadecircmica pela prontidatildeo e profissionalismo muito obrigada
Encerra-se um ciclo para que outro se inicie
Como diz um salmo de Davi e nisso me apeguei ―Confie no Senhor Tenha feacute e
coragem Confie em Deus o Senhor (Salmos cp27 v14) Bestrong Gratidatildeo
RESUMO
Este estudo trata o cyberbullying como uma violecircncia psicoloacutegica que ocorre entre pares no
contexto das sociabilidades digitais logo se configura como um problema de sauacutede puacuteblica
que traz impactos agrave sauacutede emocional de crianccedilas e adolescentes que pode desencadear
inclusive em suiciacutedio Analisamos as formas de conceituar os fenocircmenos e suas dinacircmicas
quais os personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede dos perpetradores
e acometidos por essa categoria de violecircncia A seguir analisamos as propostas e enunciados
de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo propostas pelo e para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo (quem
satildeo os atores implicados e quais as estrateacutegias recomendadas) analisar os discursos sobre
prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno
Empreendemos tal estudo a partir de uma revisatildeo criacutetica da literatura tomando como base a
Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) nos moldes propostos por Fairclough sobretudo no que
diz respeito aos discursos e enunciados evocados em sua interdiscursividade (manifesta e
constitutiva) forccedila e praacutetica social Percebeu-se uma necessidade de novos estudos que
contextualizem a questatildeo do cyberbullying na cibercultura e novas possibilidades de interaccedilatildeo
digitais bem como estudos que discutam com maior aprofundamento o papel dos
profissionais de sauacutede no enfrentamento e na prevenccedilatildeo
Palavras-chaves Cyberbullying Sauacutede Educaccedilatildeo violecircncia
ABSTRACT
This study deals with cyberbullying as a psychological violence that occurs between peers in
the context of digital sociabilities and is therefore a public health problem that impacts the
emotional health of children and adolescents which can lead to suicide We analyze the ways
of conceptualizing the phenomena and their dynamics which characters are identified and
which associations point to the health of the perpetrators and affected by this category of
violence Next we analyze the proposals and statements of prevention and intervention
proposed by and for the fields of Health and Education (who are the actors involved and what
strategies are recommended) analyze the discourses on prevention accountability coping
modes and dynamics of the phenomenon We undertake such a study based on a critical
review of literature based on the Analysis of Critical Discourse (ADC) in the ways proposed
by Fairclough especially with regard to the discourses and statements evoked in his
interdiscursividade (manifest and constitutive) strength and social practice There was a need
for new studies that contextualize the issue of cyberbullying in cyberculture and new
possibilities for digital interaction as well as studies that discuss with a deeper understanding
the role of health professionals in coping and prevention
Key-words Cyberbullying Health Education violence
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO13
11 Objetivos13
12 Metodologia 19
2 MARCO TEOacuteRICO24
21 Cibercultura sociabilidade digital e ciberespaccedilo 24
22 Bullying29
23 Cyberbullying35
231 Cyberbullying Violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica35
3 ARTIGO 1 CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES
CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E IMPLICACcedilOtildeES COM
A SAUacuteDE44
Introduccedilatildeo45
Meacutetodos49
Conceituaccedilatildeo51
Descriccedilotildees das dinacircmicas56
Personagens envolvidos58
Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos61
Discussatildeo62
4 ARTIGO 2 CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO
PARA O CAMPO DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE
LITERATURA64
Introduccedilatildeo64
Metodologia66
Caracterizaccedilatildeo do acervo69
Estrateacutegias de prevenccedilatildeo74
Estrateacutegias de intervenccedilatildeo80
5 CONCLUSOtildeES 87
6 REFEREcircNCIAS91
Sumaacuterio de Quadros
Quadro 1 Seleccedilatildeo do acervo22
Quadro 2 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo24
Quadro 3 Vocaacutebulo designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas37
Quadro 4 Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de Cyberbullying
(2010-2016)69
Sumaacuterio de Tabelas
Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma51
Sumaacuterio de figuras
Figuras 1 Modelo Tridimensional de Norman Fairclough23
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Em tempos em que manter-se por muitas horas diaacuterias conectadas agrave internet atraveacutes de
aparelhos eletrocircnicos eacute uma realidade cotidiana de parte da sociedade na contemporaneidade
natildeo eacute de se espantar que a sociabilidade tenha sofrido alteraccedilotildees para novas formas de
interaccedilatildeo mediadas por diferentes miacutedias sociais De tal modo a violecircncia tambeacutem ganhou
novas formas de expressatildeo
A violecircncia e suas mais distintas expressotildees tecircm sido pauta de estudos em diferentes
aacutereas do conhecimento inclusive no campo da Sauacutede
Segundo Assis e Marriel (2010) conceituar violecircncia eacute uma tarefa difiacutecil por se tratar
de um fenocircmeno de muacuteltiplas causalidades
Ainda sobre as violecircncias Wanzinack e Signorelli (2015 p 09) afirmam que elas
atingem de forma natildeo apenas diferente mas sobretudo desigual a distintos sujeitos e grupos
da sociedade Assim sendo as violecircncias se manifestam por meio de diferentes atores e
encontram- se em variados cenaacuterios
Entende-se que existe uma relaccedilatildeo estreita poreacutem natildeo exclusiva entre a Violecircncia e a
Sauacutede conforme apontam Minayo e Souza (1998 p520) ―a violecircncia natildeo eacute objeto restrito e
especiacutefico da sauacutede mas estaacute intrinsecamente ligada a ela Cabe ressaltar que o campo da
Sauacutede possui um papel social de relevacircncia pois dentre suas funccedilotildees estatildeo a elaboraccedilatildeo de
estrateacutegias preventivas a promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede coletiva e individual
O cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se manifesta sob os moldes de
agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para aleacutem da
subjetividade do indiviacuteduo resultando em implicaccedilotildees praacuteticas e reais no cotidiano e
individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)
Um estudo (Silva Silva Saldanha 2011) realizado atraveacutes de um questionaacuterio com
114 crianccedilas e adolescentes portuguesas constatou que o cyberbullying causa efeitos
devastadores na sauacutede mental e fiacutesica Entre as consequecircncias mais frequentes estavam as
crises de choro (714) a ansiedade (571) a dificuldade de concentraccedilatildeo (571) e os
pesadelos (571)
O cenaacuterio para este estudo foi o ambiente virtual visto que a violecircncia tem alcanccedilado
relevante capilaridade neste espaccedilo o que tem gerado amplas consequecircncias Satildeo
14
repercussotildees que perpassam tanto as relaccedilotildees sociais iniciadas fora do ambiente virtual que
podem ou natildeo ser nutridas neste ambiente (como exemplo relaccedilotildees familiares entre colegas
e vizinhos) ou ainda interaccedilotildees sociais mais superficiais (amigos virtuais eou seguidores de
redes sociais que podem ou natildeo ter uma relaccedilatildeo social real com o usuaacuterio nessas redes
sociais) Certas vinculaccedilotildees desenvolvidas neste espaccedilo satildeo conexotildees construiacutedas por meio de
interesses comuns que todavia podem ser rompidas a qualquer momento devido agrave
superficialidade nessas conexotildees
Essas relaccedilotildees sociais que ocorrem no ciberespaccedilo (espaccedilo virtual) e que podem
culminar em atos violecircncia na comunicaccedilatildeo digital se manifestam em meio a uma cultura
digital Cultura esta que alguns estudiosos da aacuterea das ciecircncias da comunicaccedilatildeo e ciecircncias
sociais chamam de cibercultura
Segundo Andreacute Lemos (2015) a cibercultura seria uma confluecircncia entre as formas
sociais praacuteticas humanas e a tecnologia sendo atraveacutes da inclusatildeo da sociabilidade na praacutetica
diaacuteria da tecnologia que ela adquire os seus contornos mais niacutetidos A existecircncia de uma nova
forma de apresentaccedilatildeo da cultura e da proliferaccedilatildeo de uma sociabilidade digital traz consigo
distintas facetas entre elas a violecircncia se faz presente no ciberespaccedilo e nas relaccedilotildees digitais
que ali se estabelecem A nova sociabilidade digital eacute mediada por distintas tecnologias que
facilitam o uso e acesso individual e remoto tais como os smarthphones notebooks e outros
modos de comunicaccedilatildeo que possibilitam o envio e recebimento de mensagens de textos
aacuteudios imagens fotos e viacutedeos Essas muacuteltiplas formas de interaccedilatildeo digital podem ser
utilizadas para depreciar denegrir e expor vexatoriamente eou negativamente agrave imagem de
algueacutem Assim o cyberbullying pode ser concebido e difundido poreacutem agraves vezes seus autores
natildeo satildeo identificados devido agrave possibilidade de anonimato (ainda existente) no ambiente
virtual ou ainda a morosidade na identificaccedilatildeo desses autores Apesar de todos os avanccedilos
tecnoloacutegicos que possibilitam rastreamentos e localizaccedilatildeo de aparelhos eletrocircnicos de
comunicaccedilatildeo
Aleacutem disso uma vez que uma imagem eacute veiculada no ambiente virtual essas
informaccedilotildees poderatildeo estar pra sempre circulando na rede mundial de computadores por meio
das diferentes conexotildees que podem ser realizadas Lemos (2015) considera o ciberespaccedilo
como um ambiente onde ocorre uma significaccedilatildeo sensorial da civilizaccedilatildeo pautada em
informaccedilotildees digitais
15
Jaacute Martino (2015) ao tratar das questotildees caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais
contemporacircneas afirma que os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos
estabelecidos conforme a necessidade de um momento e desmanchados depois Haacute uma
dinacircmica nos contatos sociais feitos atraveacutes da internet partindo da ideia do nuacutemero e dos
tipos de conexotildees que podem ser estabelecidas entre os participantes das redes sociais
presentes no chamado ciberespaccedilo
Eacute inevitaacutevel falar cyberbullying sem mencionar o fenocircmeno bullying por ambos os
fenocircmenos ocorrerem entre pares e pelo fato deste primeiro ser chamado de a versatildeo digital
do bullying dito como tradicional
Jaacute que para alguns o cyberbullying representaria ―uma nova forma de bullying (Neto
2005) O autor cita Bill Belsey professor que teria utilizado pela primeira vez o conceito
trata-se do uso da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (e-mails
telefones celulares mensagens por pagers ou celulares fotos digitais sites
pessoais difamatoacuterios accedilotildees difamatoacuterias online) como recurso para a
adoccedilatildeo de comportamentos deliberados repetidos e hostis de um individuo
ou grupo que pretende causar danos a outro (s)
Sabe-se que os primeiros estudos sobre o bullying satildeo oriundos dos paiacuteses do norte da
Europa dos paiacuteses considerados noacuterdicos na deacutecada de 1970 pelo professor universitaacuterio
Dan Olweus e posteriormente na Sueacutecia com Heinz Leymann Dan Olweus eacute apresentado
como o precursor em realizar pesquisas sistemaacuteticas sobre o tema Em 1989 Olweus e
Roland divulgaram os primeiros diagnoacutesticos de seu estudo sobre o bullying No entanto
estudos de bullying entre estudantes passaram ser mais observados em outros paiacuteses como os
Estados Unidos a partir da deacutecada de 1980 (Olweus 2003)
Segundo Malta et al (2010) o Bullying eacute uma praacutetica antiga Os autores o entendem
como uma ―violecircncia que traz repercussotildees no cotidiano de suas viacutetimas como uma ameaccedila
diaacuteria a integridade fiacutesica psiacutequica e da dignidade humana (pg3069) Os autores enfocam
ainda que o bullying natildeo eacute uma violecircncia demarcada por recortes sociais e econocircmicos e
perpassa por distintas camadas sociais e ―niacuteveis culturais Segundo Cleo Fante (2008 p 86)
o ―bullying eacute uma palavra de origem inglesa adotada em muitos paiacuteses para definir o desejo
consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocaacute-la sob tensatildeo Conforme Shariff
16
(2011) trabalhadores britacircnicos de minas de carvatildeo discorriam sobre colegas de trabalho
como bullies e a partir daiacute iniciou-se uma associaccedilatildeo dos bullies com ―brigotildees ou
―valentotildees Poreacutem somente a partir na deacutecada de 1800 (seacutec XIX) a termologia (bullies)
passou a se referir agrave fraqueza covardia tirania e violecircncia tendo ainda uma associaccedilatildeo a
gangues Deste modo agir como um bully representava tratar de maneira ―autoritaacuteria
intimidadora e apavoradora O que nos leva a entender que haacute provaacutevel relaccedilatildeo etimoloacutegica da
palavra bullying e o prefixo bully como falaremos a seguir
Ainda em Sharrif (2011) a etimologia expotildee muito sobre a problemaacutetica existente em
identificar o bullying ao reconhecer que houve uma transiccedilatildeo do que representaria um
comportamento valentatildeo de modo amplo para um trato de autecircntica hostilidade ao destacar a
comparaccedilatildeo existente entre a evoluccedilatildeo histoacuterica da palavra e do bullying no ambiente escolar
contemporacircneo
Assim o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma
disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre
sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidados (Alim
2016) Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs
horas diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de cyberbullying
(Arsegravene Raynaud 2015) Li et al (2012) trazem destaque sobre os efeitos do cyberbullying
que podem ser tatildeo graves quanto o do bullying presencial As viacutetimas apresentam a
probabilidade de sofrer de depressatildeo sendo que os autores (em geral tambeacutem crianccedilas e
adolescentes) enfrentam esse problema posto que seja uma violecircncia entre pares Em
decorrecircncia disso a violecircncia psicoloacutegica reproduzida no ambiente virtual pode desencadear
consequecircncias graves a sauacutede de suas viacutetimas (Li et al 2012)
Existem autores que consideram a necessidade de compreensatildeo por parte dos
profissionais de que o cyberbullying seria um processo que ocorre em adiccedilatildeo ao bullying
tradicional como um subtipo de bullying com caracteriacutesticas especiacuteficas (Stelko-Pereira e
Williams 2011 in Wendt 2013) Entretanto para Wendt (2013) em muitos casos pode natildeo
haver o bullying [no acircmbito da vida real] mas pode estar ocorrendo a vitimizaccedilatildeo [apenas]
17
online portanto trata-se de processos sobrepostos embora independentes (p83) [grifos
nosso]
Uma pesquisa internacional a TIC KIDS ONLINE (2015) que visa mapear possiacuteveis
riscos oportunidades na internet e aponta dados sobre mediaccedilatildeo parental ao entrevistar
crianccedilas e adolescentes entre 09 e 17 anos revelou que cerca de 20 foram tratados de forma
ofensiva na internet nos uacuteltimos 12 meses Entre os entrevistados 9 receberam mensagens
ofensivas pela internet 4 declarou que outras pessoas postaram mensagens ofensivas na
internet para outras pessoas verem o mesmo percentual de jovens foi excluiacutedo de grupo ou
rede social
Uma pesquisa nacional realizada no segundo semestre de 2009 neste caso
apresentada pela ONG SAFERNET cuja amostra contou com a participaccedilatildeo de 2525 alunos
e 966 educadores das redes puacuteblicas e privadas identificou com relaccedilatildeo a situaccedilotildees de
cyberbullying ―que 33 dos entrevistados jaacute haviam tido algum amigo viacutetima desse tipo de
humilhaccedilatildeo na rede
Tais maus tratos consistem em praacuteticas de difamaccedilatildeo humilhaccedilatildeo
ridicularizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo por meio de ferramentas da internet
Com o atual aumento das facilidades para acesso ao mundo virtual por
parte de crianccedilas e adolescentes esse tipo de agressatildeo se torna cada
vez mais frequente Uma caracteriacutestica importante desse tipo de
agressatildeo eacute que consiste num ―fenocircmeno sem rosto agrave medida que na
internet o agressor pode muitas vezes natildeo se identificar
(httpwwwpromeninoorgbrportals0pesquisabullyingpdf)
Compreende-se que existem situaccedilotildees na vida que podem gerar abalo emocional e
consequentemente paralisam pessoas algumas conseguem superar tais situaccedilotildees e saiacuterem
delas fortalecidas Um dos motivos para que cada indiviacuteduo lide de modo distinto com
problemas semelhantes estaacute relacionado com o conceito de resiliecircncia A resiliecircncia pode ser
caracterizada como a capacidade de superar uma dada situaccedilatildeo de adversidade e sair
fortalecido (Angst 2009) Importante considerar essa capacidade de recuperar-se de lidar de
forma positiva com as pressotildees eou estresse em situaccedilotildees de adversidades Interessante
apontar que o conceito de coping apresenta uma base conceitual semelhante agrave resiliecircncia
todavia natildeo se confunde agrave ela correspondendo a uma capacidade cognitiva comportamental
O coping eacute definido como ―conjunto das estrateacutegias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-
18
se a circunstacircncias adversas ou estressantes (Antoniazzi Bandeira DellacuteAglio 1998 in
Taboada et al 2006) Tais estrateacutegias individuais podem ser utilizadas como manejo
individual diante eou apoacutes situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying
Entende-se que existe um grau de fragilidade quando os jovens satildeo expostos ao uso da
internet seja devido ao uso prolongado das redes sociais e outras formas de navegaccedilatildeo na
web ou ainda o uso da internet sem o monitoramento dos responsaacuteveis bem como o uso de
aparelhos com acesso agrave internet desprotegidos de sistema de seguranccedila de dados e
informaccedilotildees Fatos como esses podem contribuir para o iniacutecio de um ciclo de violecircncia
Embora jaacute existam poliacuteticas de conscientizaccedilatildeo sobre uso adequado da internet
seguranccedila virtual e de responsabilizaccedilatildeo de pessoas que cometem crimes virtuais natildeo
necessariamente faz com que todas as formas de violecircncia virtual sejam identificadas eou
tenham seu ciclo rompido
Partindo desse recorte analiacutetico utilizamos as seguintes questotildees investigativas
- Como a literatura nacional e internacional conceitua o cyberbullying e descreve suas
dinacircmicas
- Qual o papel de gecircnero em tais dinacircmicas
- Quais conexotildees satildeo feitas com a sauacutede de crianccedilas e adolescentes que sofrem e praticam o
cyberbullying
- Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees propostos pela
literatura sobre cyberbullying - Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a questatildeo da
sociabilidade virtual juvenil (Deve haver regulaccedilatildeo Como ocorre Deve ser proibida)
- Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullyin
- O que fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying
Nosso objetivo geral foi analisar como a literatura nacional e internacional aborda o
tema as associaccedilotildees que delimita entre o cyberbullying e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes e
as accedilotildees propostas de intervenccedilatildeoprevenccedilatildeo para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo
19
Nossos objetivos especiacuteficos foram
1 Analisar as conceituaccedilotildees utilizadas para caracterizar o cyberbullying explorando
eventuais diferenccedilas entre os autores nacionais e estrangeiros
2 Analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela comunidade cientiacutefica sobre as
propostas de prevenccedilatildeo do cyberbullying e modos de enfrentamento no campo da
sauacutede e educaccedilatildeo
3 Analisar as representaccedilotildees associadas agrave construccedilatildeo dos sentidos do fenocircmeno (causas
personagens envolvidos e responsabilidades implicadas)
4 Analisar as praacuteticas de cyberbullying (perpetrar sofrer testemunhar) a partir das
dinacircmicas das relaccedilotildees de gecircnero
5 Identificar associaccedilotildees e implicaccedilotildees agrave sauacutede das pessoas intimidadas e dos
perpetradores causados pelos diferentes tipos de cyberbullying
6 Analisar as propostas de enfrentamento sugeridas para Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores
implicados e estrateacutegias sugeridas)
Diante disso apresentaremos como resultado dessa dissertaccedilatildeo dois artigos O primeiro
buscou analisar as conceituaccedilotildees de cyberbullying adotadas pela literatura nacional e
internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo enfocando suas ecircnfases e
―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as associaccedilotildees que delimitam
entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes
No segundo artigo buscamos analisar criticamente as estrateacutegias de enfrentamento do
cyberbullying tanto no campo da Sauacutede quanto no campo da Educaccedilatildeo Elencando quem
seriam os atores implicados e que tipos de estrateacutegias haviam sido apontados pela literatura
investigada com enfoque em analisar criticamente tais discursos
METODOLOGIA
Propomos realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa considerando que este tipo
de estudo se compromete em trabalhar com ―os significados atribuiacutedos pelos sujeitos aos
fatos agraves relaccedilotildees praacuteticas bem como ―as interpretaccedilotildees dessas praacuteticas ao estudar uma
realidade especiacutefica (Minayo e Deslandes 2002)
20
Com relaccedilatildeo ao meacutetodo investigativo inicialmente haviacuteamos optado por utilizar do
meacutetodo de revisatildeo sistemaacutetica integrativa todavia a busca trouxe uma quantidade muito
elevada de trabalhos (7785) considerando o tempo para uma anaacutelise coerente de modo a
cumprir o cronograma proposto assim optamos por fazer uso de revisatildeo de literatura do tipo
―revisatildeo criacutetica (critical review)
Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um
tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant Booth
2009) A contribuiccedilatildeo de uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas
discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel
(Paregrave et al 2015) O escopo analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou
estatisticamente representativo Esse tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos
selecionados o que eacute considerado o seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as
revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo
(siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais
positivista (anaacutelise de conteuacutedo)
Cabe mencionar que preferimos por delimitar temporalmente o escopo da busca das
referecircncias para a revisatildeo literaacuteria sobre o tema proposto (de 2006 a 2016) Tal escolha
temporal se refere agrave disseminaccedilatildeo do acesso agrave internet por aplicativos em aparelhos moacuteveis
bem como a ampla disseminaccedilatildeo do maior site de relacionamento do mundo (FACEBOOK)
por exemplo datados a partir da deacutecada que trataremos a seguir
Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo
BVS Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA
(Applied Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017
Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos
(all fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no
Medical Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying
(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos
vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo
Com o intuito de reduzir e qualificar mais esse acervo optou-se por trabalhar apenas os
estudos de revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no
tiacutetulo e ―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de
21
qualquer natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas
modalidades revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica
sistemaacutetica revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo
sistemaacuteticas e revisatildeo narrativa
Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis
para acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em
301 estudos Depois de analisar cada artigo no MENDLEY foi identificado 156 artigos em
duplicidade que natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias
(MENDLEY) como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com
traduccedilatildeo de texto para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou
francecircs e quando houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor
seguido de et al Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com
recorte temporal de publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem
sendo difundido na uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo
Desse nuacutemero de artigos apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo (conforme
quadro 1) Destacamos ainda que migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias
ZOTERO por ser um programa open sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados
pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos
salvos nos mais distintos formatos
22
Quadro 1 ndash Seleccedilatildeo do acervo
ACERVO (cyberbullying)
7785 estudos (allfields)
301
(apoacutes criteacuterio de exclusatildeo)
141
(apoacutes exclusatildeo das duplicidades)
72
(apoacutes recorte temporal)
57 estudos (prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo )
O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia
dos autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus
conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes
categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do
cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede
No que se refere agrave anaacutelise de dados especialmente no segundo artigo adotamos o
meacutetodo de Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) Considerando que a ADC possui outras
correntes de anaacutelise tomamos como referecircncia a orientaccedilatildeo dada por Norman Fairclough que
propotildee estudos criacuteticos e interdisciplinares sobre a praacutetica discursiva e sua relaccedilatildeo com a
transformaccedilatildeo social e de cultura Para Fairclough (2001) os discursos contribuem
diretamente para a construccedilatildeo dos sistemas de conhecimento e crenccedilas tendo trecircs funccedilotildees e
dimensotildees de sentido que ―coexistem e ―interagem em todo discurso sendo elas identitaacuteria
relacional e ideacional Na funccedilatildeo identitaacuteria estatildeo implicados os modos pelos quais as
23
identidades sociais satildeo constituiacutedas na funccedilatildeo relacional como as relaccedilotildees sociais entre os
atores presentes nos discursos satildeo representadas e ―negociadas na funccedilatildeo ideacional os
modos pelos quais significam o mundo seus processos entidades e relaccedilotildees Essas duas
uacuteltimas satildeo interpretadas (Halliday 1978 In Fairclough 2001) como de caraacuteter ―interpessoal
Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de
praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos
discursos adotados nos estudos analisados Sendo assim se torna caro para noacutes identificarmos
que accedilotildees estatildeo sendo ditas a partir dos discursos construiacutedos nos estudos que seratildeo
analisados sobre o tema proposto Ou seja o que tem sido dito pelos estudos acerca do
cyberbullying Cabe destacar que o modelo proposto por Fairclough para a ADC abarca a
anaacutelise da praacutetica discursiva do texto e da praacutetica social
Conforme descrito na figura seguinte
Figura 1 - Concepccedilatildeo tridimensional do discurso em Fairclough (2001101)
O modelo tridimensional da ADC proposto por Fairclough distingue trecircs dimensotildees
dessa forma de anaacutelise de discurso texto praacutetica discursiva e praacutetica social Ao tratar
dimensatildeo textual o autor traz o entendimento de que todo o texto eacute elaborado de modo que
satildeo repletos de significados e inclusive de ambiguidades No que tange a praacutetica discursiva
segundo Fairclough (2001) permite explicar como os discursos satildeo produzidos distribuiacutedos
consumidos e interpretados reduzindo assim as possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva
propotildee categorias como a forccedila coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz
referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos de fala que o texto realiza [o que o texto evoca] a
coerecircncia trata do sentido que o texto possui [para quem faz sentido qual a loacutegica das
marcaccedilotildees e conexotildees] a intertextualidade ―eacute basicamente a propriedade que tecircm os textos de
PRAacuteTICA SOCIAL
PRAacuteTICA DISCURSIVA
TEXTO
24
serem cheios de fragmentos de outros textos (Fairclough 2001) [grifos nossos] A categoria
intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta
aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de
textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que o Fairclough vai chamar
de interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A
praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto
Ao que se refere ao discurso como praacutetica social em Fairclough (2001) estaria
implicada necessariamente como uma dimensatildeo que produz os efeitos ideoloacutegicos e
hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees
econocircmica cultural e ideoloacutegica Sendo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo
de identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas
de crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente
Neste sentido todo o discurso possuiu uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir
uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma
determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir
mudanccedila social em uma dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de relaccedilotildees
sociais
Destacamos que para realizar o processo de anaacutelise de discurso proposto utilizamos
um roteiro com matrizes de perguntas como Qual a conceituaccedilatildeo para o cyberbullying Quais
as definiccedilotildees e ou descriccedilotildees sobre as dinacircmicas do cyberbullying Como os personagens
envolvidos na praacutetica de cyberbullying satildeo descritos
No que tange a designaccedilatildeo e dinacircmica da anaacutelise submetemos os artigos selecionados
agraves matrizes de perguntas e posteriormente criamos bancos de dados temaacuteticos para as
definiccedilotildees propostas de enfrentamento diferenccedilas de gecircnero conexotildees entre a sauacutede de
crianccedilas e adolescente que sofrem e praticam cyberbullying Os quadros temaacuteticos permitiram
organizaccedilatildeo das informaccedilotildees extraiacutedas e faacutecil acesso ao conteuacutedo no momento da anaacutelise
propriamente dita Para exemplificar segue abaixo o modelo de quadro temaacutetico
25
Quadro 02 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo
Matrizes de perguntas ndash Roteiro para a anaacutelise
Enfim cabe esclarecer que consideramos neste campo reflexivo as accedilotildees praacuteticas
apontadas nos estudos para os setores da Sauacutede e da Educaccedilatildeo incluindo as accedilotildees de cunho
preventivo e promotoras de cultura de paz1
Por fim por se tratar de um estudo de revisatildeo bibliograacutefica a pesquisa natildeo necessitou
ser submetida a um comitecirc de eacutetica em pesquisa com seres humanos
1 A cultura de paz estaacute intrinsecamente relacionada agrave prevenccedilatildeo e agrave resoluccedilatildeo natildeo violenta dos conflitos Eacute uma
cultura baseada em toleracircncia e solidariedade uma cultura que respeita todos os direitos individuais que
assegura e sustenta a liberdade de opiniatildeo e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os () A cultura
de paz procura resolver os problemas por meio do diaacutelogo da negociaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo de forma a tornar a guerra e a violecircncia inviaacuteveis Disponiacutevel em httpunesdocunescoorgimages0018001899189919porpdf
Acessado em 26052018
PERGUNTAS SAUacuteDE EDUCACcedilAtildeO
Como o Cyberbullying eacute
conceituado
Quais as descriccedilotildees das
dinacircmicas
Quais as descriccedilotildees dos
personagens
Quais as associaccedilotildees e
implicaccedilotildees com a sauacutede das
pessoas intimidadas e dos
perpetradores
Como as propostas de
intervenccedilatildeo satildeo apresentadas
(estrateacutegias de accedilatildeo objetivos
personagens envolvidos)
26
1 MARCO TEOacuteRICO
11 CIBERCULTURA SOCIABILIDADE DIGITAL E CIBERESPACcedilO
O surgimento da internet teria sido fruto da ARPANET uma rede de computadores
construiacuteda nos EUA pela Advanced Projects Agency (ARPA) do Departamento de Defesa
americano em 1969 com intuito de mobilizar recursos de pesquisas universitaacuterias para obter
superioridade tecnoloacutegica militar em comparaccedilatildeo a Uniatildeo Sovieacutetica Contudo somente na
deacutecada de 1980 eacute que a tecnologia da rede de computadores passou a ser comercializada ―Por
razotildees histoacutericas e culturais a internet foi deliberadamente projetada como uma tecnologia de
comunicaccedilatildeo livre (Castells 200310)
Desde entatildeo a sociabilidade contemporacircnea passou por significantes transformaccedilotildees
a partir do advento da internet De acordo com Castells (2003) a internet passou a ser a base
tecnoloacutegica para a forma organizacional da era da informaccedilatildeo Sendo assim da internet incide
a capacidade de distribuiccedilatildeo da forccedila informacional por todo o domiacutenio da atividade humana
permitindo pela primeira vez a comunicaccedilatildeo de muitos com muitos num momento
escolhido em escala global
De acordo com o dicionaacuterio Priberam (2016) internetlsquo eacute uma palavra de origem
inglesa que significa
―Rede informaacutetica utilizada para interligar computadores agrave niacutevel
mundial agrave qual pode aceder qualquer tipo de usuaacuterio e
que possibilita o acesso a toda a espeacutecie de informaccedilatildeo (httpswwwpriber
amptDLPOinternet)
Haacute um entendimento de que a internet contribui para as dinacircmicas de mercado
ampliaccedilatildeo e agilidade nas redes de contato acesso a informaccedilatildeo entre outros aspectos
concernentes agraves sociedades poacutes-modernas Atraveacutes dos avanccedilos tecnoloacutegicos na atualidade eacute
possiacutevel o acesso agrave internet por meios eletrocircnicos modernos como smartphones tablets
notebooks e ultrabooks
Cabe salientar que os avanccedilos tecnoloacutegicos bem como todo esse aprimoramento com
relaccedilatildeo agrave experiecircncia de interaccedilatildeo eou de estar conectado permitiu que novos modos de
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sociabilidade fossem permitidos como as redes sociais Barnes foi apontado como um dos
criacuteticos que defende a ideia de alargamento e natildeo delimitaccedilatildeo do que hoje conhecemos como
redes sociais Ao realizar uma etnografia sobre o iniacutecio de uma estratificaccedilatildeo social numa ilha
norueguesa tal antropoacutelogo desenvolvera uma tese segundo a qual todos seus habitantes
estariam interligados uns aos outros por cadeias de conhecimentos interligados e pouco
extensatildeo mas que natildeo se limitava aos limites da ilha entretanto ligavam seus habitantes a
outros sujeitos fora do seu contexto social e topograacutefico de pertencimento (Barnes A 1954
apud Marteleto 2010)
Jaacute Lemos (2015) ao relatar sobre o ciberespaccedilo declara que este eacute compreendido como
um espaccedilo sem dimensotildees um universo de informaccedilotildees navegaacuteveis de forma instantacircnea e
reversiacutevel Afirma ser uma ―nova dimensatildeo espaccedilo temporal de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo
(p127) Para o autor esse natildeo lugar remete a duas perspectivas 1ordf O lugar onde estamos
quando entramos em um ambiente simulado (ambiente virtual) 2ordf Um conjunto de redes de
computadores interligadas ou natildeo em todo o planeta a internet ―as redes vatildeo se interligar
entre si e permitir a interaccedilatildeo por mundos virtuais () (pg128) Natildeo obstante a cibercultura
representaria um conjunto de aspectos e padrotildees culturais relacionados com a internet e a
comunicaccedilatildeo em redes de computadores (Dicionaacuterio online Priberam 2016) Com a criaccedilatildeo
dessa nova expressatildeo da cultura inserida no ambiente virtual foram estabelecidos novos
paracircmetros de privacidade do sujeito agrave medida que cada vez mais as pessoas estatildeo sendo
observadas por todos em todos os lugares fenocircmeno que alguns autores chamam de
vigilacircncia e visibilidade
Segundo Levy (2010) a Cibercultura em sua essecircncia tem caraacuteter de um universal
poreacutem sem totalidade pois ele seria indeterminado agrave medida que em cada nova transmissatildeo
pode representar um receptor ou emissor de informaccedilotildees de dimensotildees inalcanccedilaacuteveis e
aleatoacuterias Na cibercultura o real e virtual estatildeo a todo tempo em contato ao passo que um
indiviacuteduo pode estar no Brasil conectado online com uma pessoa do Japatildeo ou ainda em
conexatildeo com pessoas em diferentes nacionalidades numa mesma interaccedilatildeo online
Entendemos que esta universalidade eacute alcanccedilada agrave medida que possibilita diferentes e
muacuteltiplas conexotildees entre seres humanos em todo o planeta Deixa de ser total por natildeo
possuirmos o controle das dimensotildees que essas conexotildees podem alcanccedilar pela falta de
28
domiacutenio sobre as informaccedilotildees partilhadas visto que uma vez lanccediladas na rede natildeo se pode
mensurar o potencial de compartilhamentos acessos e quais novas conexotildees podem ser
geradas Nesse aspecto a interconexatildeo generalizada emerge do crescimento da internet como
uma nova forma de universal Para Levy (2010) o universo da cibercultura eacute indefinido se
considerada a gama de conexotildees que podem ser estabelecidas ao passo que o emissor ou
produtor a todo o momento pode estabelecer diferentes conectividades
Nessa sociedade poacutes-moderna os modos de conexotildees atraveacutes das distintas tecnologias
digitais tecircm gerado novas formas do que representa viver em sociedade Entre as
caracteriacutesticas da sociabilidade digital estaacute a hipervisibilidade e o tribalismo No que tange a
hipervisibilidade o ciberespaccedilo contribui para a criaccedilatildeo de uma ―realidade aumentada
(Lemos 2015) Que pode ser configurada com a exposiccedilatildeo e maior visibilidade que as vidas e
os corpos passam a ganhar Dados como localizaccedilatildeo fotos e hipertextos expotildeem informaccedilotildees
sobre o indiviacuteduo e todos que possui um viacutenculo virtual seja este viacutenculo ―fraco ou ―forte
O privado passa a ser publicizado a partir dos compartilhamentos realizados neste universo de
informaccedilotildees instantacircneas em tempo real Outra dimensatildeo da sociabilidade digital presente na
cibercultura eacute o que Lemos (2015) chama de tribalismo sendo esta uma ―tendecircncia
comunitaacuteria na rede social complexa do ciberespaccedilo Essa caracteriacutestica de tribalismo
concebe uma ideia de agregaccedilatildeo social empatia pautados no interesse muacutetuo de estar
conectados por ideologias ou alguma outra identificaccedilatildeo Contudo essa socialidade tribal traz
consigo um ethos de compartilhamento baseado no que Maffesoli vai chamar de eacutetica da
esteacutetica (Maffesoli 1987 apud Lemos 2015) Esse termo designa um processo em que a
sociedade eacute mascarada assumindo um ethos a partir daquilo que pretende compartilhar com
os outros um modo de ser partindo do que se quer ostentar
E se analisarmos o crescimento do acesso agrave conexatildeo de internet cada vez mais
pessoas estatildeo navegando na rede e compartilhando de seus interesses abrindo suas vidas
quase que indiscriminadamente
Para ressaltarmos o quanto o acesso agrave internet tem crescido no paiacutes verificamos que
em 2009 segundo o resultado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) feita pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) cerca de 679 milhotildees de brasileiros
teriam conexatildeo com a internet ou seja o nuacutemero de domiciacutelios com acesso agrave internet no
Brasil aumentou em 71 entre 2005 e 2009 (Site UOL) Jaacute os resultados da PNAD 2013
divulgados em 2015 nos mostraram que cerca de 856 milhotildees de brasileiros (acima de 10
anos) o equivalente a 494 da populaccedilatildeo teriam acesso agrave internet incluindo por meio de
29
aparelhos que natildeo fosse notebooks e desktops Dos 312 milhotildees das residecircncias com
acesso agrave internet 977 estatildeo conectados por banda larga Em meacutedia 771 dos
domiciacutelios conectam a internet por banda larga fixa enquanto 435 teriam acesso
agrave banda larga moacutevel (Site EBC)
Em contrapartida apesar dos nuacutemeros expressivos o direito agrave inclusatildeo digital ainda
natildeo corresponde agrave realidade de todos os brasileiros sendo um tema de grande discussatildeo
Todavia jaacute eacute uma realidade em parte do Brasil acessar a internet por WIFI internet agrave raacutedio ou
modems 3G e 4G moacuteveis A partir da instalaccedilatildeo de aplicativos (apps) em aparelhos moacuteveis
que comportam o acesso agrave internet eacute possiacutevel conectar-se a Redes Sociais como Facebook
WHATSAPP INSTAGRAM TWITTER SNAPCHAT entre outras inclusive de forma
―gratuita Obviamente tal gratuidade possui interesses e contrapartidas comerciais Todavia
o que nos chama atenccedilatildeo eacute que essas redes sociais representam um ponto de encontro de
centenas de milhares de jovens ao redor do mundo diariamente com longas duraccedilotildees de
conexotildees (sempre online) e em grande escala sem administraccedilatildeo de tempo eou supervisatildeo de
um adulto responsaacutevel Cada vez mais cedo crianccedilas tecircm acesso agraves redes sociais O que nos
leva a crer que crianccedilas por vezes com apoio de seus responsaacuteveis estariam omitindo ou
adulterando sua idade real para que tenham acesso agraves redes sociais que natildeo permitem o
acesso de crianccedilas menores de 13 anos (como no caso do FACEBOOK)2 Essa espeacutecie de
conivecircncia dos pais que permitem que seus filhos utilizem redes sociais mesmo quando
algumas plataformas digitais natildeo permitem o acesso de crianccedilas Inclusive esse acesso pode
ser considerado como um risco a sauacutede e a seguranccedila das crianccedilas
O estudo de Machold et al (2012) com 474 estudantes Irlandeses de trecircs escolas
secundaacuterias entre 11 e 16 anos de idade para avaliar padrotildees gerais de uso da internet e
identificar potenciais de risco incluindo cyberbullying contato improacuteprio uso excessivo
dependecircncia e invasatildeo de privacidade por outros usuaacuterios detectou que (403) o equivalente agrave
95 dos adolescentes fazem uso de redes sociais Com relaccedilatildeo ao tempo de uso duas horas
ou mais foram gastas nas redes sociais diariamente por (285) o correspondente a 62 sendo
que 450 estudantes cerca de (98) fazem uso sem supervisatildeo
Entretanto os laccedilos de afinidade neste ambiente invisiacutevel onde os perfis e as novas
relaccedilotildees estabelecidas nas redes sociais podem natildeo ser verdadeiros mas simulaccedilotildees Essa
realidade estaacute presente no cotidiano de milhares de pessoas que estatildeo predispostas a manter
2 httpspt-brfacebookcomhelp210644045634222
30
um contato virtual na maioria das vezes pautado na superficialidade agrave medida que esse
ambiente invisiacutevel (considerando suas dimensotildees) traz visibilidade para nossa localizaccedilatildeo e
atividades compartilhadas com os ―amigos virtuais Martino (2015) ao tratas das relaccedilotildees
sociais mantidas na rede considera que ―por seu turno conexotildees satildeo criadas mantidas eou
abandonadas a qualquer instante sem maiores problemas comparadas as ―instituiccedilotildees
sociais como a famiacutelia trabalho ou religiatildeo tendem a ser mais riacutegidas para com seus membros
do que as redes sociais
A internet trouxe um desenvolvimento expressivo para o funcionamento das
sociedades modernas Para Shariff (2011) pela sua natureza os meios eletrocircnicos permitem
que as formas tradicionais do bullying assumam caracteriacutesticas que satildeo especiacuteficas do
ciberespaccedilo
Esse espaccedilo seria representado por um solo natildeo configurado onde os sujeitos se
relacionam de qualquer territoacuterio fiacutesico com pessoas que estejam em um diferente local
como se ambas estivessem frente a frente sem a necessidade de haver um contato fiacutesico ou
real o encontro se daacute em uma nova dimensatildeo o ciberespaccedilo
Concluiacutemos que o ciberespaccedilo eacute um campo natildeo material poreacutem virtual onde a noccedilatildeo
de espaccedilo eacute perdida e o real eacute aumentado possibilitando a comunicaccedilatildeo por meios eletrocircnicos
e a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees em larga escala com muacuteltiplas e distintas pessoas
22 Bullying
A violecircncia admite distintas expressotildees e multicausalidades (Ferreira e Tavares 2012)
Desse modo se faz necessaacuterio abordar a questatildeo do bullying antes de aprofundarmos sobre a
questatildeo central deste trabalho Segundo Fante e Pedra (2008) na maioria dos paiacuteses onde o
fenocircmeno eacute estudado emprega-se o termo em inglecircs (bullying) Entretanto existem
alguns paiacuteses que utilizam outros termos de sua liacutengua sem que se perca o
significado Satildeo usados por exemplo mobbing na Noruega e na Dinamarca [t raduz ido
para o po rtuguecircs co mo bu l lying] mobbning na Sueacutec ia e na F in lacircnd ia
[ t raduz ido para o por tuguecircs como b u l lying] hercegravelement quotidien na Franccedila
[traduzido para o portuguecircs como asseacutedio diaacuterio] prepotenza ou bullismo na I t aacute l ia
[traduzido para o portuguecircs como bullying] ijime no Japatildeo [traduzido para o portuguecircs
31
como arrelia3] Agressionen unter S h uuml le r n na Alemanha (traduzido para o portuguecircs
como agressatildeo entre alunos) a c o s o e a m e n a z a entre escolares ou in t i m i d a c ioacute n na
Espanha [traduzido para o portuguecircs como perseguiccedilatildeo ameaccedila e intimidaccedilatildeo] (pg 34)
[grifos nossos]
Algo que nos chama agrave atenccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave temaacutetica bullying eacute a compreensatildeo que
alguns autores tecircm acerca do significado e ambiguidade entre a questatildeo do bullying e o
Asseacutedio Moral (mobbing4
) cabe destacar que por se tratar de palavras inglesas essa
ambiguidade se apresenta a partir da realizaccedilatildeo de traduccedilatildeo da temaacutetica como no caso da
liacutengua espanhola Como exemplo destacamos ao estudo peruano de Armeno (2011) que ao
tratar do assunto bullying escolar utiliza a palavra acoso (perseguiccedilatildeo) escolar poreacutem ao
serem utilizadas em conjunto (acoso escolar) eacute traduzida para o portuguecircs como bullying
Contudo algumas traduccedilotildees por exemplo traduz ―acoso escolar como asseacutedio moral
quando as palavras estatildeo juntas poreacutem acoso sem escolar tem como significado perseguiccedilatildeo
como mostrado no quadro anterior
Eacute possiacutevel ver neste estudo que satildeo muitas as definiccedilotildees tratadas para este assunto
desde o entendimento sobre o significado ou a magnitude do cyberbullying e sobre o bullying
Em alguns casos tanto cyberbullying como o bullying podem ser confundidos por
dificuldades na clareza de suas definiccedilotildees Contudo Farrington (1993381) define o bullying
como uma ―opressatildeo repetida de caraacuteter fiacutesico ou psiacutequico de uma pessoa com menos poder
por outra com mais poder Neste sentido o mais forte exerce poder sobre o mais fraco seja
esse poder de ordem fiacutesica por meio de agressatildeo ou psicoloacutegica de modo a causar medo e
intimidaccedilatildeo
Dentre vaacuterias definiccedilotildees para o que se entende por bullying Melo (2011) define como
uma agressatildeo fiacutesica psicoloacutegica verbal moral sexual material ou virtual praticada por uma
ou vaacuterias pessoas contra uma mesma viacutetima de forma repetitiva por um periacuteodo prolongado
de tempo sem motivo aparente baseada numa relaccedilatildeo desigual de poder dificultando a
defesa da viacutetima e que deixa sequelas marcas e consequecircncias (pg21) Natildeo podemos deixar
de mencionar que o bullying eacute uma violecircncia entre pares
3 Arrelia traz entre sua significaccedilatildeo 1 Amofinaccedilatildeo [ato de aborrecer] apoquentaccedilatildeo [aborrecimento
aporrinhaccedilatildeo] 2falta de paciecircncia pressa sofreguidatildeo 3contenda rixa desavenccedila 4pressentimento de coisa
maacute mau agouro (Google) wwwgooglecombrsearch Acessado em 27102016
4 Palavra inglesa para asseacutedio moral
32
Armeno (2011) considera a questatildeo do bullying (―acoso escolar) como uma
violecircncia social que pode asssumir forma verbal fiacutesica e por isolamento social da viacutetima
Para o autor os espectadores (outros estudantes) seriam necessaacuterios visto que satildeo
para esses que o perpetrador do bullying ―perseguidor ―mostra seu poder O silecircncio dos
espectadores permite que as accedilotildees sejam sistemaacuteticas Em termos de conteuacutedos eles podem
ser racistas se a origem da questatildeo eacute eacutetnica se eles incluem piadas obcenas de cunho sexual
ou ainda homofoacutebicas se tecircm a ver com a suposta orientaccedilatildeo sexual dos que sofrem a accedilatildeo
Se os meios utilizados satildeo as mensagens por telefones celulares ou computadores considera
como bullying digital o que para o autor pode ser devastador porque a viacutetima natildeo teria um
lugar para fugir das accedilotildees de bullying sofridas na escola visto que na internet a accedilatildeo pode ter
continuidade (Armeno 2011) Diante disso entendemos que o autor compreende o ―bullying
digital como uma extensatildeo do bullying tradicional e que a escola eacute o campo em que tais
accedilotildees satildeo iniciadas e que a presenccedila de espectadores pode potencializar ainda mais as accedilotildees
promovidas pelos perpetradores por encontrarem nestes a ―plateacuteia para realizaccedilatildeo de seus
atos de bullying
Compete resgatar que o iniacutecio da conscientizaccedilatildeo acerca deste grave problema no
acircmbito escolar bem como ressaltar que os primeiros estudos sobre o assunto foram
produzidos pelo Professor Universitaacuterio Dan Olweus na Noruega como jaacute mencionado Em
1993 Olweus publica na Escandinaacutevia o livro ―Bullying at School onde expotildee o bullying
como um fenocircmeno presente no contexto escolar trazendo uma discussatildeo a partir dos
resultados obtidos em seus estudos projetos de investigaccedilatildeo apresentando uma possiacutevel
correlaccedilatildeo de ―caracteriacutesticas que poderiam identificar os perfis de viacutetimas e agressores O
livro apresenta o resultado obtido em sua pesquisa sistemaacutetica realizada na deacutecada de 1980
com 150000 estudantes escandinavos onde descobriu que 15 dos estudantes entre 08 e 16
anos estavam envolvidos com a questatildeo do bullying sendo viacutetimas e agressores com
regularidade e entre esses havia casos de agressores que tambeacutem eram vitimas de Bullying
(Olweus 2003) Como repercussatildeo do estudo de Olweus e Roland ―Bullying at School uma
Campanha Nacional Anti Bullying foi desenvolvida nas escolas norueguesas em 1993 com o
apoio do Governo tendo com resultado a reduccedilatildeo em cerca de 50 nos casos de bullying nas
escolas
Outro ponto relevante eacute com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero entre os personagens do
fenocircmeno bullying Cabe destacar a pesquisa de Da Costa et al (2015) que ao analisar a
prevalecircncia de casos de bullying entre 598 adolescentes brasileiros na faixa etaacuteria de 14 agrave 17
33
anos de aacuterea urbana de Belo Horizonte em 2009 constatou que houve uma prevalecircncia de
264 entre os entrevistados Sendo 280 entre os entrevistados de sexo masculino e 240
entre o puacuteblico do sexo feminino Isso significa que frac14 dos adolescentes que responderam ao
questionario sofreram bullying Entre os meninos esse nuacutemero foi um pouco mais elevado do
que entre as meninas A questatildeo do bullying estaria associada agrave insatisfaccedilatildeo com a vida que
levam dificuldades na relaccedilatildeo com pais envolvimento em brigas com colegas (pares) e
inseguranccedila na regiatildeo onde residem Uma observaccedilatildeo interessante eacute que o estudo de Da Costa
et al (2015) foi realizado no mesmo ano que a primeira Pesquisa Nacional de Sauacutede do
Escolar (PENSE5) 2009 realizada pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e
Ministeacuterio da Sauacutede Poreacutem os resultados foram divergentes com relaccedilatildeo a mesma capital
investigada BH Com relaccedilatildeo agrave PENSE a pesquisa foi realizada em escolas para investigar
fatores de risco e proteccedilatildeo da sauacutede dos escolares jaacute a pesquisa de Da Costa e colaboradores
foi um estudo populacional realizado no domiciacutelio dos entrevistados por meio de inqueacuterito
com amostragem probabiliacutestica em trecircs estaacutegios setores censitaacuterios residecircncia e indiviacuteduos
Os inquiridos responderam questotildees sobre bullying caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
comportamentos de risco agrave sauacutede bem-estar educacional estrutura familiar atividade fiacutesica
marcadores de haacutebitos alimentares e bem-estar subjetivo (percepccedilatildeo corporal satisfaccedilatildeo
pessoal e satisfaccedilatildeo com a vida atual e futura) Outro fator que pode ter influecircncia nos
resultados foi o tamanho da amostra visto que a pesquisa PENSE analisou apenas alunos
matriculados no 8ordf Seacuterie fundamental (atual 9ordm ano) de escolas puacuteblicas e particulares da
cidade de BH enquanto que o estudo de Da Costa a escolaridade dos investigados natildeo foi um
recorte A prevalecircncia de bullying na PENSE 2009 em BH foi de 69 segundo Malta
(2014)
Haacute um entendimento de que os adolescentes do sexo masculino seriam os maiores
praticantes e alvos de bullying conforme aponta resultado da pesquisa PENSE 2012 Nesse
estudo observou-se maior praacutetica de bullying entre os estudantes do sexo masculino (261)
e 160 entre as estudantes do sexo feminino (IBGE 2013)
Com relaccedilatildeo ao enfrentamento a essa problemaacutetica Schutz et al (2012) defendem a
ideia de que a atuaccedilatildeo contra o bullying assim como cyberbullying natildeo pode estar restrita agrave
individualidade das caracteriacutesticas dos sujeitos em questatildeo ou seja autor e alvo ignorando a
5 Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar ndash PENSE eacute um inqueacuterito com alunos de escolas puacuteblicas e particulares
realizado pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que disponibiliza informaccedilotildees para o sistema de informaccedilotildees para o Sistema de Vigilacircncia de Fatores de Riscos e Proteccedilatildeo as Doenccedilas Crocircnicas do Brasil
Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfressv26n32237-9622-ress-26-03-00605pdf Acessado em 26062018
34
teia complexa das relaccedilotildees que implicam a manutenccedilatildeo do fenocircmeno Os autores sugerem
uma anaacutelise sistecircmica da complexidade dos diversos sistemas envolvidos e das relaccedilotildees
estabelecidas entre autor e alvo testemunhas famiacutelia comunidade escolar a cultura na qual
estatildeo inseridos Apontam a necessidade de investigaccedilatildeo que verifique a incidecircncia dos casos e
abrangecircncia do problema incluindo toda a comunidade escolar
Em 2015 o Brasil passou a dispor de uma legislaccedilatildeo Federal que trata da questatildeo A
lei Anti Bullying instituiu o Programa Nacional de Combate agrave Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica
(bullying) Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica eacute a configuraccedilatildeo utilizada no Brasil para classificar o ato
de violecircncia que internacionalmente eacute denominado por Bullying
―No contexto e para os fins desta Lei considera-se intimidaccedilatildeo
sistemaacutetica (Bullying) todo ato de violecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica
intencional e repetitivo que ocorre sem motivaccedilatildeo evidente praticado
por indiviacuteduo ou grupo contra uma ou mais pessoas com o objetivo
de intimidaacute-la ou agredi-la causando dor e anguacutestia agrave viacutetima em uma
relaccedilatildeo de desequiliacutebrio de poder entre as partes envolvidas
(Paraacutegrafo 1ordm da Lei 131852015)
Cabe mencionar que a lei natildeo deixa expliacutecito se inclui a questatildeo do asseacutedio moral no
trabalho visto que ao instituir o programa propotildee accedilotildees no acircmbito escolar com enfoque nos
estudantes
Outra definiccedilatildeo para a questatildeo do bullying bastante coerente adveacutem da lei do Estado
do Rio de Janeiro jaacute mencionada anteriormente que define o bullying como
A praacutetica reiterada e habitual de atos de violecircncia fiacutesica verbal ou
psicoloacutegica de modo intencional exercida por indiviacuteduo ou grupos de
indiviacuteduos contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidar
agredir causar dor ou sofrimento anguacutestia ou humilhaccedilatildeo agrave vitima
inclusive por meio de exclusatildeo social (Paraacutegrafo 1ordm da Lei 64012013
- RJ)
A lei que institui 7 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento a Violecircncia na
escola faz menccedilatildeo ao Massacre de Realengo trageacutedia ocorrida em abril do ano de 2011
35
quando doze crianccedilas entre 13 e 16 anos (dez meninas e dois meninos) foram assassinados a
tiros na Escola Municipal Tasso da Silveira por um ex aluno da unidade escolar que apoacutes ser
atingido por um tiro disparado por um policial militar teria se suicidado (AGEcircNCIA
SENADO 2016) Segundo relatos a motivaccedilatildeo do crime seria incerta poreacutem a nota do
suiciacutedio deixada pelo o autor do massacre e de acordo com o testemunho da irmatilde adotiva o
jovem sofria bullying
Natildeo podemos deixar de mencionar que Campanhas de enfrentamento ao Bullying tecircm
aparecido em pautas de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGs) e Governamentais como
Stop Bullying do Department of Health and Human Services dos Estados Unidos (EUA)
comunidades escolares e universidades como Massachusettes Aggresion Reduction Center
da Brigde State University (EUA) e em diferentes paiacuteses como Portugal Inglaterra Canadaacute
e Noruega Este uacuteltimo foi um dos primeiros paiacuteses a desenvolver campanhas anti bullying
alertando sobre seus impactos na vida e sauacutede dos que sofre essa violecircncia
Por fim cabe discorrer sobre os agravos agrave sauacutede relacionados a sofrer bullying Os
meninos e meninas alvos de bullying estariam propensos a desenvolver episoacutedios de
ansiedade baixo rendimento escolar inseguranccedila na escola sofrer de tensatildeo crescente
estando preacute-dispostos ao maior uso abusivo de drogas e em alguns casos mais graves ao
suiciacutedio (Malta et al 2010) Gera tanto um sofrimento emocional moral quanto fiacutesico
podendo desencadear outros agravos tais como baixa autoestima depressatildeo estresse
doenccedilas psicossomaacuteticas transtornos mentais (Calhau 2008 p88) O bullying natildeo deve ser
considerado como uma simples brincadeira (―zoaccedilatildeo) entre crianccedilas e adolescentes muito
menos ser banalizado ao passo de ser algo rotineiro Pelo contraacuterio esse assunto carece de ser
tratado como uma questatildeo de Sauacutede Puacuteblica que deve ser discutida investigada e enfrentada
por muacuteltiplos setores
A PENSE (Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar) uma pesquisa com escolares
adolescentes de escolas puacuteblicas e privadas realizada pelo IBGE que entre os objetivos visa
aferir dados sobre bullying incluiu na ediccedilatildeo de 2015 uma segunda amostra O que
representou um diferencial com relaccedilatildeo agraves ediccedilotildees anteriores De acordo com a pesquisa
(2015) a primeira amostra foi realizada com 2630835 estudantes frequentando o 9ordm ano do
ensino fundamental de escolas puacuteblicas e privadas do Brasil em Grandes Regiotildees Distrito
Federal Capitais e Estados e a segunda amostra realizada com 13199862 estudantes de 13 a
17 anos de idade frequentando as etapas do 6ordm ao 9ordm Ano (antiga 5ordf a 8ordf seacuteries) do ensino
36
fundamental e alunos do 1ordm ao 3ordm ano do Ensino Meacutedio (antigo 2ordm Grau) de escolas puacuteblicas e
privadas para o conjunto do paiacutes e em grandes capitais no ano de referecircncia da pesquisa
(IBGE 2015) Dentre os entrevistados desta ediccedilatildeo a primeira amostra 74 sofreram
provocaccedilotildees ou foram humilhados sempre ou na maior parte do tempo nos uacuteltimos 30 dias
que antecederam a pesquisa O estudo apontou com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que os
percentuais foram proacuteximos para os estudantes do sexo feminino 72 e sexo masculino
75 Jaacute os estudantes da regiatildeo Sudeste apresentaram o maior percentual 83 estes
afirmaram sofrer humilhaccedilotildees e constrangimentos no acircmbito escolar Outro dado relevante eacute
do Estado de Satildeo Paulo que obteve o maior percentual 90 se comparado ao percentual
obtido pela regiatildeo sudeste e demais regiotildees A aparecircncia do corpo e do rosto foram os
principais motivos da violecircncia psicoloacutegica sofrida pelos escolares Com relaccedilatildeo aos
perpetradores aproximadamente 198 dos escolares brasileiros haviam praticado atos
configurados como bullying (ter esculachado zombado mangado intimidado ou caccediloado)
poreacutem entre os estudantes do sexo masculino este nuacutemero foi mais elevado aproximadamente
242 Interessante que com relaccedilatildeo aos intimidados (aqueles que declararam se sentir
humilhados e provocados com frequecircncia pelos colegas) os nuacutemeros apresentados foram de
74 entre a faixa etaacuteria de 13 a 15 anos e 52 dos estudantes entre 16 e 17 anos (IBGE
2015) Na ediccedilatildeo da PENSE supracitada foi incluiacuteda uma questatildeo especiacutefica para abordar a
questatildeo do bullying natildeo utilizado nas PENSEs 2009 e 2012 Nessas ediccedilotildees ―bullying era
substituiacutedo por verbos como (esculachar zoar mangar caccediloar e intimidar) entretanto
passaram a adotar o termo ―intimidaccedilatildeo em consonacircncia a nomenclatura adotada a partir da
Lei de Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica (Lei Anti bullying e cyberbullying brasileira)
promulgada no ano em que a pesquisa foi realizada (2015) Relevante informar que o estudo
aponta como legiacutetimo o reconhecimento do bullying como uma importante questatildeo de Sauacutede
Puacuteblica bem como a relevacircncia de estrateacutegias intersetoriais de enfrentamento Natildeo houve
uma especificaccedilatildeo para o cyberbullying na pesquisa PENSE 2015 no quadro que analisou a
questatildeo da intimidaccedilatildeo apesar da lei vigente no paiacutes incluir e reconhecer a versatildeo virtual do
bullying Embora tenham mencionado no texto e haverem citado o recorte dado na Lei de
Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica sobre a questatildeo do cyberbullying nos dados
analisados pela pesquisa Natildeo houve ainda um toacutepico especiacutefico que pudesse identificar onde
ocorriam as ―intimaccedilotildees zoaccedilotildees e esculachos subentendendo-se que ocorria na escola
aleacutem disto os meios eletrocircnicos natildeo foram apontados
37
23 CYBERBULLYING
231 Cyberbullying violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica
Entre o grande nuacutemero de pessoas conectadas pela internet novos modos de
interaccedilotildees aparecem a partir da utilizaccedilatildeo de dispositivos eletrocircnicos possibilitando assim a
disseminaccedilatildeo irrestrita de informaccedilotildees em formato ―multimodal onde ―os recursos de miacutedia
integram coacutedigos texto som e imagem (Junior E Rocha 2013 pg206) Com a internet o
potencial de transmissatildeo e receptaccedilatildeo de informaccedilatildeo se tornou mais expansivo em relaccedilatildeo a
outras miacutedias como o caso da TV analoacutegica (atualmente substituiacuteda pela TV digital) (idem)
Permitindo assim que o compartilhamento de informaccedilotildees seja propagado com maior
facilidade inclusive as informaccedilotildees difamatoacuterias
O uso da internet em especial de redes de relacionamentos traz consigo a
probabilidade de disseminaccedilatildeo de violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de
relacionamentos criaccedilatildeo de falsos (―fakes) perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo ao
convite ao suiciacutedio por meio de sites escolares clandestinos No Japatildeo satildeo conhecidos como
―gakko ura saito os sites escolares clandestinos acessados pelo celular Eles geram uma nova
forma de cyberbullying em grupo poreacutem sem a necessidade de identificaccedilatildeo dos chamados
―caluniadores anocircnimos (Hasegawa et al 2007 Shariff 2011) O ijime-jisatsu [suiciacutedio
associado ao ijimi - cullying] eacute uma das consequecircncias desastrosas e culturalmente incidentais
do fenocircmeno no Japatildeo Outro aspecto cultural no Japatildeo do netto-ijime [cyberbullying] eacute a
taxa elevada de suiciacutedio entre os jovens O que nos mostra o quanto o territoacuterio invisiacutevel da
internet pode desencadear no campo presencial consequecircncias agrave sauacutede de seus afetados
Admitindo que vivenciar uma experiecircncia de violecircncia no universo digital pode ser bastante
devastador Conforme afirma Santos et al (2013) a internet se torna um palco de grandes
riscos
Entendemos que o cyberbullying manteacutem muitas das caracteriacutesticas do bullying
poreacutem natildeo constitui meramente uma de suas expressotildees na instacircncia virtual pois possui
algumas caracteriacutesticas proacuteprias como o longo alcance do conteuacutedo depreciativo audiecircncia
de larga escala (testemunhas) por causar impacto nas viacutetimas sem precedentes pela
38
possibilidade de anonimato por parte dos perpetradores Aleacutem disso a ocorrecircncia do
cyberbullying pode se dar a qualquer momento e em qualquer lugar pela
dificuldademorosidade na detecccedilatildeo dos praticantes do cyberbullying ou dos criadores de
perfis falsos constituiacutedos no intuito de depreciar agredir e constranger Ao que se refere agraves
traduccedilotildees para o portuguecircs dos termos adotados para a palavra cyberbullying a traduccedilatildeo
aparece disponiacutevel em vaacuterias liacutenguas conforme Google Tradutor
Quadro 3 Vocaacutebulos designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas
Palavra Liacutenguas Traduccedilatildeo para Portuguecircs
Kiberzapugivanieye Russo Cyberbullying
Cyber-mobbing Alematildeo Cyberbullying
naumltmobbning Sueco Cyberbullying
Cyberintimidation Francecircs Cyberbullying
Cyber bullismo Italiano Cyberbullying
Netto yjime Japonecircs Cyberbullying
Cyberpesten Holandecircs Cyberbullying
El ciberacoso Espanhol Cyberbullying
Seiber-fwlio Galecircs Cyberbullying
Maltretiranje Seacutervio Cyberbullying
Cyberprzemoc Polonecircs Cyberbullying
Fonte da traduccedilatildeo Google Tradutor
O termo cyberbullying teria sido criado pelo educador e pesquisador do Canadaacute Bill
Belsey para identificar o bullying virtual que faz uso das tecnologias digitais e para de modo
39
insistente e repetitivo hostilizar ofender ou ameaccedilar algueacutem (Maldonado 2009 in Melo
2011)
O que tem ocorrido eacute o crescimento de casos de agressotildees virtuais concebidas no
ambiente do ciberespaccedilo A forma de propagaccedilatildeo desse tipo de violecircncia deve ser analisada e
contextualizada O uso da internet pode ter um cunho prejudicial e essa consequente situaccedilatildeo
de exposiccedilatildeo pode tornar os sujeitos vulneraacuteveis ao passo de atingir em maior proporccedilatildeo a
geraccedilatildeo digital (os mais jovens) sendo necessaacuteria a mobilizaccedilatildeo de discussotildees sobre o papel
da escola na mediaccedilatildeo prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo virtual (Wendt 2011 p8)
Estudos tecircm advertido o quanto o cyberbullying tambeacutem pode desencadear agravos
relevantes agrave sauacutede de crianccedilas e adolescentes inclusive apontando um recorte de gecircnero
numa loacutegica binaacuteria desprovida de informaccedilotildees que caracterizem questotildees como a orientaccedilatildeo
sexual dos sujeitos Por exemplo Amemyia et al (2013) e Aranzales et al (2014) acreditam
que a praacutetica do cyberbullying eacute maior entre pessoas do sexo masculino Todavia minorias e
pessoas do sexo feminino satildeo mais propensas a serem atemorizados por estarem mais
vulneraacuteveis a situaccedilotildees de intimidaccedilatildeo Um estudo de meta-anaacutelise feito por Barllet et al
(2014) tendo como hipoacuteteses se cyber-bullying eacute considerado uma forma de bullying
tradicional e agressatildeo pessoas do sexo masculino seriam propensos a serem ―cyber-
valentotildees mais do que as do sexo feminino Inversamente se cyberbullying eacute considerado
relacional agressatildeo indireta as meninas seriam ligeiramente mais propensas a serem
perpetradoras de cyberbullying que os meninos Os autores apresentaram ainda outros
aspectos relevantes ao considerar na avaliaccedilatildeo questotildees como paiacutes continente e ano de
publicaccedilatildeo dos estudos bem como a idade dos atores pesquisados Ainda em Barllet et al
(2014) essas variaacuteveis poderiam influenciar significativamente os resultados de estudos sobre
cyberbullying Um dos fatores destacado tratou sobre as publicaccedilotildees que consideram o
cyberbullying uma forma de bullying tradicional e agressatildeo nesses casos os meninos seriam
mais propensos a serem perpetradores do que as meninas Contudo os resultados de
estimativas desse estudo afirmam que ainda sim os meninos teriam maior predisposiccedilatildeo a ser
―cyber-valentotildees Outro dado relevante eacute que no caso das meninas que relataram sofrer
cyberbullying a faixa etaacuteria estava entorno do iniacutecio adolescecircncia entretanto os meninos que
relataram sofrer cyberbullying apresentavam uma meacutedia de idade maior que as meninas
40
Assim o ambiente virtual eacute um terreno capaz de propiciar atos de violecircncia repetitiva
e ainda onde seus autores dificilmente satildeo descobertos o cyberbullying configura-se como
um tipo de violecircncia capaz de trazer consequecircncias graves as suas viacutetimas Para um usuaacuterio
do ambiente virtual que possui a imagem distorcida a internet pode representar uma
ferramenta de autodestruiccedilatildeo se natildeo utilizada de forma correta ou saudaacutevel Estudos apontam
dados significativos sobre os impactos do cyberbullying em estudantes6
Um fator relevante eacute que grande parte dos estudos ao mencionar sobre as pessoas que
satildeo atingidas pelo cyberbullying se referem a estes uacuteltimos utilizando o substantivo ―viacutetima
para identificar aqueles que sofrem este tipo de violecircncia Contudo acreditamos que o termo
traz a conotaccedilatildeo de passividade sugerindo ainda uma natildeo possibilidade de superaccedilatildeo da
condiccedilatildeo sofrida Eacute bem verdade que estudos apontam sobre as dificuldades das ditas
―viacutetimas em expor o dano sofrido ou pedir ajuda Entretanto outros conseguem ter
resiliecircncia a ponto de solicitar auxilio de familiares profissionais ou ainda autoridades Outro
aspecto relevante eacute que podem existir casos em que o intimidado pelo cyberbullying pode se
tornar um perpetrador ou ter sido um em outra situaccedilatildeo Inclusive pode haver casos em que
uma viacutetima de cyberbullying tenha sido um agressor (no caso do bullying tradicional) ou vice
versa Diante disso utilizaremos outros substantivos para relacionar aqueles que sofrem com
o Cyberbullying como por exemplo intimidados atingidos ou acometidos
Cassidy et al (2009) afirmam que adolescentes acometidos de cyberbullying teriam
uma maior predisposiccedilatildeo ao suiciacutedio do que aqueles que natildeo vivenciaram essas formas de
agressatildeo entre pares Apesar disso muitos dos que sofrem com o cyberbullying se calam
mesmo diante das constantes humilhaccedilotildees e depreciaccedilotildees Acreditamos que este calar por
parte dos intimidados pode representar tanto uma imaturidade acerca de como agir diante de
tal situaccedilatildeo como a falta de esclarecimento acerca dos serviccedilos e profissionais que podem
cuidar e acompanhar os casos de cyberbullying ou ainda uma ausecircncia de mecanismos de
apoio de faacutecil acesso que decircem conta de questotildees como esta Baronceli e Ciucci (2014) ao
6 Patchin e Hinduja (2010) dirigiram um estudo que objetivou apurar quais os impactos do
cyberbullying em jovens envolvendo 1963 alunos do ensino meacutedio oriundos de 30 escolas americanas Atraveacutes
de um instrumental de autodeclaraccedilatildeo estes estudiosos verificaram que tanto os cyberbullies (agressores) como
as viacutetimas apresentaram niacuteveis baixos de autoestima em maior frequecircncia quando comparados aos alunos sem
histoacuteria de vitimizaccedilatildeo online No entanto 231 dos alunos declararam ter sido perpetradores e 188 terem
sido viacutetimas de Cyberbullying Todavia as questotildees de gecircnero representaram diferenccedilas delimitadas
identificadas na ocorrecircncia dos subtipos de vitimizaccedilatildeo virtual entre meninos e meninas
41
investigar 529 preacute-adolescentes com idade inferior a 12 anos e 7 meses comparam
caracteriacutesticas de inteligecircncia emocional e controle negativo das emoccedilotildees relacionados ao
bullying e cyberbullying compreendendo que o bullying tradicional e cyberbullying satildeo duas
formas distintas de fenocircmenos da violecircncia envolvendo diferentes traccedilos de personalidades
Com relaccedilatildeo agraves formas de atuaccedilatildeo diante do cyberbullying segundo Melo (2011)
podemos encontrar a accedilatildeo direta e indireta Sendo a direta agressotildees por e-mail mensagens
instantacircneas natildeo havendo por parte do agressor o intuito de ficar no anonimato Jaacute a forma
indireta eacute vista como mais ―covarde e ―nefasta pois o agressor passa a usar nomes fictiacutecios
ou de terceiros o que pode ampliar a gravidade do problema visto que outras pessoas
(aqueles que assistem e disseminam a informaccedilatildeo) podem contribuir para esse estaacutegio de
―vitimizaccedilatildeo Entre as accedilotildees estatildeo votaccedilotildees online difamatoacuterias inclusatildeo de viacutedeos e
imagens vexatoacuterias entre outras
O campo virtual se tornou tambeacutem um meio de accedilotildees criminosas e violaccedilotildees de
direitos neste sentido atualmente jaacute existem Delegacias nuacutecleos e divisotildees policiais de
combate aos crimes de informaacutetica ou crimes ciberneacuteticos em diversos estados do paiacutes No
Rio de Janeiro por exemplo existe a Delegacia de Repressatildeo aos Crimes de Informaacutetica
(DRCI) localizada na Cidade da Poliacutecia na regiatildeo da Zona Norte da cidade e a Delegacia de
Proteccedilatildeo agrave crianccedila Viacutetima (DCAV) O que nos leva a entender que o cyberbullying jaacute pode ser
enquadrado como um crime contra a honra e dignidade por repercutir em danos agrave moral do
indiviacuteduo Natildeo podemos deixar de destacar que em algumas cidades brasileiras existem as
Delegacias de Proteccedilatildeo agrave crianccedila viacutetima de violecircncia Neste sentido cabe destacar o estudo de
Della Flora (2014) ao investigar 191 alunos de quatro turmas de 8ordf seacuterie (atual 9ordm ano)
fundamental e duas turmas de 1ordm ano do ensino meacutedio politeacutecnico e 17 professores constatou
que grande parte de alunos e professores citaram o registro de boletim de ocorrecircncia policial
como uma alternativa de enfrentamento ao cyberbullying por considerarem o ato como crime
em que o autor natildeo deve ficar impune Todavia uma vez que muitos de seus autores satildeo
outras crianccedilas ou adolescentes Segundo o artigo 104 do Estatuto da Crianccedila e adolescente -
ECA (Lei 806090) os menores de dezoito anos satildeo inimputaacuteveis Todavia a partir dos doze
anos de idade podem ser responsabilizados juridicamente caso cometam atos infracional
(conduta descrita no art 103 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente como crime ou
contravenccedilatildeo penal) Ainda assim a questatildeo da responsabilizaccedilatildeo merece atenccedilatildeo cuidadosa
O que nos leva reconhecer a importacircncia de uma normatizaccedilatildeo que advirta e responsabilize os
42
responsaacuteveis pelo cyberbullying natildeo extinguindo o potencial e a necessidade de accedilotildees
preventivas de maior impacto
Com relaccedilatildeo ao manejo prevenccedilatildeo e enfrentamento do bullying e suas apresentaccedilotildees
foram realizadas nos uacuteltimos anos no Brasil algumas estrateacutegias de enfrentamento no campo
juriacutedico algumas delas jaacute mencionadas anteriormente Essas legislaccedilotildees apresentam cunho de
responsabilizaccedilatildeo das escolas em notificar accedilotildees de violecircncia no contexto escolar aleacutem de
atividades de conscientizaccedilatildeo incluindo informaccedilotildees sobre o cyberbullying atraveacutes do
enfrentamento por meio de accedilotildees educativas e capacitaccedilotildees Em contrapartida as escolas por
vezes natildeo se responsabilizam por questotildees que emergem no campo virtual como eacute o caso dos
sites de relacionamentos (Redes Sociais) considerando que estas uacuteltimas estariam aleacutem de
suas responsabilidades interventivas
Refletimos que algumas leis7 implantadas representam respostas a clamores sociais
muito particulares como eacute o caso do Massacre de Realengo jaacute mencionado anteriormente
Principalmente quando evidenciados eou provocados pela miacutedia (com destaque as
reportagens em canais abertos que atingem a grande massa da populaccedilatildeo) aos viacutedeos
inseridos em plataformas como YOUTUBE e Redes Sociais e que satildeo acessados por uma
parcela significativa da populaccedilatildeo Ao mesmo tempo as ferramentas digitais tambeacutem trazem
maior notoriedade para a difusatildeo do cyberbullying entre pares
Segundo apontam os indicadores do SAFERNET entre as principais violaccedilotildees das
quais os internautas solicitaram ajuda no ano de 2015 atraveacutes do Helpline (canal de
atendimento) estaacute o Cyberbullying com 265 (duzentos e sessenta e cinco) denuacutencias sendo
que 178 (cento e setenta e oito) eram do Brasil O estado de Satildeo Paulo liderou o nuacutemero de
registros com 54 (cinquenta e quatro) Entre os atendidos pelo Helpline ao longo do
funcionamento do serviccedilo de denuacutencia de crimes ciberneacuteticos ajuda e orientaccedilotildees estatildeo
crianccedilas adolescentes pais educadores e outros adultos Com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero
presente nas denuacutencias no ano de 2012 por exemplo foi registrado o contato de 27 mulheres
e 10 homens atraveacutes do nuacutemero das conversas via chat disponiacutevel no portal da Organizaccedilatildeo
(Site SAFERNET)
Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees contra o cyberbullying inerentes ao campo da sauacutede natildeo
identificamos registros de accedilotildees voltadas agrave prevenccedilatildeo do cyberbullying as accedilotildees observadas
ateacute o momento estavam estritamente ligadas aos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo e que
7 Observamos que algumas leis nacionais foram promulgadas nos uacuteltimos anos
43
segundo os achados careciam de capacitaccedilatildeo para realizar tais atividades de cunho
informativo vide as legislaccedilotildees municipais e estaduais que tratam sobre conscientizaccedilatildeo
sobre bullying e cyberbullying Seraacute que o tema tem sido tratado pelos profissionais dos
serviccedilos de sauacutede como CAPSI ndash Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Infantil e pelas equipes de
Programas de Sauacutede Escolar (PSE) Pois se presume que a implantaccedilatildeo do Programa Sauacutede
Escolar tenha sido um ganho para as unidades escolares por propor um trabalho integrativo
entre as redes de Educaccedilatildeo e Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede Tendo em vista que o programa tem
como objetivo avaliar as condiccedilotildees de sauacutede dos estudantes aleacutem do desenvolvimento de
atividades de formaccedilatildeo integral dos estudantes mas seu funcionamento nos municiacutepios eacute
bastante limitado por se tratarem de equipes miacutenimas para um universo de escolas e demandas
de alunos
Desse modo refletimos sobre a necessidade de suporte familiar social educacional e
psicoloacutegico agrave medida que o estado emocional desses indiviacuteduos eacute afetado assustadoramente
atraveacutes desse ato de violecircncia
Entendemos que o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta sob
as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para
aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em repercussotildees praacuteticas e reais seja nas
relaccedilotildees sociais ou na individualidade do sujeito (Dahberg e Krug 2007)
O conceito dado por Pierre Bourdieu (2001) para Violecircncia Simboacutelica traz uma
conotaccedilatildeo coerente com o tipo de violecircncia concebido no ambiente virtual
A violecircncia simboacutelica eacute uma espeacutecie de coerccedilatildeo que se institui por intermeacutedio
da adesatildeo que o dominado [viacutetima] natildeo pode deixar de conceder ao
dominante ou seja dominaccedilatildeo quando dispotildee apenas para pensaacute-lo e para
pensar a si mesmo ou melhor para pensar a relaccedilatildeo com ele de instrumentos
repartidos e que fazem surgir essa relaccedilatildeo com o natural partindo do princiacutepio
de ser a forma incorporada da estrutura da relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo [grifo nosso]
(Bourdieu 2001 p206)
Essa violecircncia eacute conduzida por um indiviacuteduo ou por um grupo que controla o poder
simboacutelico sobre os outros produzindo assim crenccedilas no processo de socializaccedilatildeo induzindo
os dominados a enxergarem e avaliarem o mundo sob as perspectivas e padrotildees estabelecidos
pelos dominantes (Souza 2012) Ou seja aquele que sofre de cyberbullying tem sua imagem
depreciada quer seja pelos xingamentos fotos postadas distorcidas disseminaccedilatildeo de
44
difamaccedilatildeo virtual ao ponto que os dominados dessa relaccedilatildeo de poder podem ser convencidos
de que as informaccedilotildees depreciativas divulgadas sobre ele satildeo de fato reais passando assim a
internalizar tais expressotildees Compreendemos que as relaccedilotildees na internet podem exercer um
poder sobre a vida de seus usuaacuterios e esse manejo utilizado de forma depreciativa por parte de
intimidadoreslsquo tem uma representatividade simboacutelica na vida de crianccedilas e adolescentes e de
todo o contexto em que a violecircncia virtual eacute concebida
A imposiccedilatildeo de significaccedilotildees que a ideia de violecircncia simboacutelica traz contribui para
entendermos o quanto as relaccedilotildees virtuais podem ser assimeacutetricas e desiguais Outro ponto
considerado eacute o fato de que os que satildeo atingidos por essas accedilotildees por vezes natildeo conseguem
inicialmente ponderar os xingamentos como depreciativos de modo que naturalizam tal
questatildeo enquadrando-as como brincadeiras como o exemplo dos apelidos (exemplo baleia
rolha de poccedilo) entre outros De certo modo o que ocorre eacute um poder simboacutelico no que
concerne a relaccedilatildeo entre perpetradores e aqueles que sofrem o cyberbullying Mais uma vez
recorremos a Bourdieu (2001) ao afirmar que o poder simboacutelico eacute representado por esse poder
invisiacutevel que eacute exercido somente a partir da permissividade eou conivecircncia daqueles que
natildeo querem saber que lhes estatildeo sujeitados ou mesmo que o exercem
Com base no arcabouccedilo teoacuterico jaacute utilizado observamos que a violecircncia psicoloacutegica
pode se apresentar em diferentes expressotildees como humilhaccedilatildeo o uso de poder xingamento e
insultos (OMS 2002)
A naturalizaccedilatildeo do cyberbullying pode permitir com que ela se torne uma violecircncia
simboacutelica e ao mesmo tempo velada tanto pelo oprimido quanto pelo opressor que durante o
processo de intimidaccedilatildeo virtual detecircm o poder da ofensa jaacute naturalizada e aceita como a
verdade pelo oprimido
45
Artigo 1
2 CYBERBULLYING CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E
IMPLICACcedilOtildeES Agrave SAUacuteDE (submetido em 28122017 e aprovado em 26032018
na revista Ciecircncia e Sauacutede Coletiva)
RESUMO
O estudo buscou realizar a revisatildeo criacutetica de um conjunto de revisotildees bibliograacuteficas no intuito
de conhecer como o cyberbullying eacute compreendido pela comunidade cientiacutefica como o
fenocircmeno vem sendo conceituado como suas dinacircmicas tecircm sido descritas quais
personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede das pessoas intimidadas e
dos perpetradores A literatura mostrou que natildeo haacute um consenso sobre a conceituaccedilatildeo de
cyberbullying contudo haacute argumentos que defendem sua especificidade e diferenciaccedilatildeo em
relaccedilatildeo ao bullying (pode ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo demarcado
fisicamente pode ser disseminado globalmente o tempo de permanecircncias das postagens
ofensivas eacute indeterminado) Quanto agrave questatildeo de gecircnero associada a essa praacutetica observou-se
um vieacutes reducionista do debate indicando diferenccedilas baseadas numa suposta superioridade
tecnoloacutegica dos meninos Os estudos revisados apontam que tanto as viacutetimas quanto os
46
praticantes de cyberbullying vivenciam experiecircncias negativas em sua sauacutede psicoloacutegica e
comportamental podendo ocorrer inclusive evasatildeo escolar isolamento social depressatildeo
ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio Todavia pouco se problematiza sobre a cultura ciber e como esta
estabelece novas socialidades ndash conhecimento e debate cruciais agrave compreensatildeo do fenocircmeno
Palavra-chave Cyberbullying violecircncia redes sociais ciberespaccedilo sauacutede
ABSTRACT
The study sought to perform a critical review of a set of bibliographical reviews in
order to understand how cyberbullying is understood by the scientific community how the
phenomenon has been conceptualized how its dynamics have been described what characters
are identified and what associations are related to health intimidated persons and perpetrators
The literature has shown that there is no consensus on the concept of cyberbullying but there
are arguments that defend its specificity and differentiation in relation to bullying (it can
occur at any moment and without a physically demarcated space it can be disseminated
globally of the offensive posts is undetermined) As for the gender issue associated with this
practice there was a reductionist bias in the debate indicating differences based on a
supposed technological superiority of the boys The reviewed studies show that both victims
and cyberbullying experience negative experiences in their psychological and behavioral
health including school dropout social isolation depression suicidal ideation and suicide
However there is little question about cyber culture and how it establishes new socialities -
knowledge and debate crucial to understanding the phenomenon
Key-words Cyberbullying violence social networks cyberspace health
INTRODUCcedilAtildeO
O cyberbullying eacute uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se configura como um
―problema social constituindo tema e preocupaccedilatildeo de diversos campos disciplinares aleacutem
de ser representado por alguns autores com uma questatildeo de sauacutede puacuteblica (Brochado Jackson
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e Cassidy 2006 Carpenter E Hubbard 2014 Nixon 2014 Bottino at al 2015 Yang
Grinshteyn 2016 Brochado Soares e Fraga 2016) As distintas configuraccedilotildees do
Cyberbullying podem ser reconhecidas como atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica
contra crianccedilas e adolescentes perpetrados nas ambiecircncias das redes de sociabilidade digital
podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo circunscrito e demarcado fisicamente
Essa forma de agressatildeo eacute perpetrada por meios eletrocircnicos sejam estes mensagens de textos
fotos aacuteudios ou viacutedeos expressos nas redes sociais ou em jogos em rede transmitidas por
telefone celulares tablets ou computadores e cujo teor tem a intencionalidade de causar dano
agrave outra pessoa de modo repetitivo e hostil conforme Ortega et al apud Brochado Soares e
Fraga (2016)
O cyberbullying tem emergecircncia recente e sua conceituaccedilatildeo ainda em construccedilatildeo abriga
consideraacutevel polissemia em suas definiccedilotildees (Garaigordobil 2011 Torres e Vivas 2012 Della
Ciopa Olsquoneil E Craig 2015) Pesquisas apontam que essa diversidade conceitual por vezes
tem direcionado os estudiosos a usar termos diferentes para se referir ao mesmo conceito ou
usar o mesmo termo com diferentes significados (Tokunaga 2010 Notar 2013 Ybarra et el
Apud Lucas-Molina et al 2016)
Nota-se que a violecircncia tambeacutem se manifesta neste novo espaccedilo o ―ciberespaccedilo ou seja
nesse ―lugar de interaccedilatildeo que se daacute no contexto de uma cultura peculiar conhecida como
cultura ―ciber ou cibercultura Vale pontuar que alguns autores questionam se o conceito de
cibercultura ainda seria vaacutelido dado o borramento das fronteiras considerando que as
relaccedilotildees digitais atravessam de forma onipresente o cotidiano (Roger E Saldado 2016)
O termo sociabilidade cunhado por Mafessoli (2006) faz referecircncia aos haacutebitos costumes
e uma espeacutecie de polidez presente na contemporaneidade A socialidade digital produz um
ethos que gera a necessidade de construir uma imagem social positiva O que eacute postado em
rede a maneira como se eacute visto neste ambiente ou ainda as maacutescaras que satildeo construiacutedas
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sobre si neste espaccedilo valoram essa teatralidade a partir daquilo que se quer ou se permite que
os outros vejam (Mafessoli 2006) Para crianccedilas e adolescentes que estatildeo em
desenvolvimento essa identidade que se constroacutei pode ser significativamente influenciada a
partir dos padrotildees impostos pela rede A necessidade de ―estar conectado sendo sempre
visto por outros vem sendo aprimorada a cada nova atualizaccedilatildeo que os aplicativos de redes
sociais geram criando e forccedilando novas experiecircncias de compartilhamento para os seus
usuaacuterios digitais Bruno (2013) vai refletir sobre a importacircncia do olhar do outro para
constituir a imagem de si uma imagem engendrada na perspectiva de espetaacuteculo que
contribui para a construccedilatildeo de uma autoestima balizada pela popularidade que se tem nas
redes sociais Observa-se a partir da reflexatildeo de Bruno (2013) que os viacutenculos que se
estabelecem natildeo precisam ser necessariamente fortes para influenciarem as redes sociais Por
vezes aqueles que mais curtem e comentam um conteuacutedo digital satildeo pessoas cujas
vinculaccedilotildees sociais constituem ―laccedilos fracos Outra caracteriacutestica eacute a fluidez dessas relaccedilotildees
pois mesmo modo que novas conexotildees satildeo estabelecidas exclusotildees e bloqueio de pessoas
podem ocorrer sem motivos relevantes (2014)
Ao falar sobre a ―realidade social da virtualidade da internet Castells (2015) afirma que
a internet foi apropriada pela praacutetica social em toda a sua diversidade embora ela tenha
efeitos especiacuteficos sobre tais praacuteticas Aborda como as pessoas se comportam no ambiente
virtual como esperam ser vistas pelos outros Os jovens por exemplo estatildeo nesse processo de
descoberta de identidade de desvendar quem de fato eles satildeo ou gostariam de ser
As relaccedilotildees digitais redefinem dinacircmicas sociais contemporacircneas convocando aos
indiviacuteduos estarem sempre conectados atraveacutes das novas tecnologias independente da
geolocalizaccedilatildeo tempo e do quantitativo de pessoas a quem estatildeo vinculados Traccedilo marcante
da sociabilidade digital eacute a hipervisibilidade (2015) uma exposiccedilatildeo constante e voluntaacuteria dos
fatos e atos cotidianos e iacutentimos O privado passa a ser publicizado a partir dos
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compartilhamentos realizados neste mundo de informaccedilotildees instantacircneas em tempo real
(2012)
Os jovens ―nativos digitais (2013) estatildeo cada vez mais cedo conectados nas redes sociais
digitais atraveacutes das TICsndash Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Segundo a Pesquisa
Nacional de Amostra por Domiciacutelios ndash PNAD (2015) no Brasil aproximadamente 1021
milhotildees de pessoas de 10 anos ou mais de idade tiveram acesso agrave internet no periacuteodo em que a
pesquisa ocorreu Em 2015 ano da pesquisa com relaccedilatildeo aos grupos etaacuterios observou-se que
os adolescentes de 15 a 17 anos bem como os de 18 e 19 anos de idade apresentaram o maior
iacutendice percentual dentre os usuaacuterios da internet (sendo 82 e 829 respectivamente)
Brunnet et al (2013) apontam um estudo americano que descreve que em meacutedia 93 dos
adolescentes entre 12 e 17 anos acessam a internet e dessa populaccedilatildeo 75 possuem seu
proacuteprio celular
O uso da internet em especial de redes de relacionamentos favorece as praacuteticas de
violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de relacionamentos criaccedilatildeo de falsos
perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo o convite ao suiciacutedio por sites clandestinos ou
comunidades (2011)
Assim o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma
disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre
sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidado (Alim 2016)
Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs horas
diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de Cyberbullying (Arsegravene
Raynaud 2014)
Embora associado ao tema do bullying mais consolidado teoricamente o cyberbullying
tem recebido bastante atenccedilatildeo da comunidade cientiacutefica internacional contudo pouco
estudado no Brasil
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Diante disso o artigo tem como objetivo analisar as conceituaccedilotildees de Cyberbullying
adotadas pela literatura nacional e internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo
enfocando suas ecircnfases e ―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as
associaccedilotildees que delimitam entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes
MEacuteTODOS
Trata-se de revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo criacutetica (critical review) Essa abordagem
metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um tema revelando fraquezas
contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant MJ Booth 2009) A contribuiccedilatildeo de
uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas discrepacircncias ou aacutereas em
que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel (Paregrave et al 2015)O escopo
analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou estatisticamente representativo Esse
tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos selecionados o que eacute considerado o
seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos
meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo (siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso
anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais positivista (anaacutelise de conteuacutedo)
Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo BVS
Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA (Applied
Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017
Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos (all
fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no Medical
Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying
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(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos
vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo
Visando reduzir e qualificar mais esse acervo optamos por trabalhar apenas os estudos de
revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no tiacutetulo e
―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de qualquer
natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas modalidades
revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica sistemaacutetica
revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo sistemaacuteticas e
revisatildeo narrativa
Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para
acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em 301
estudos Depois da anaacutelise de cada artigo foram identificados 156 artigos em duplicidade que
natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias (MENDLEY)
como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com traduccedilatildeo de texto
para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou francecircs e quando
houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al
Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com recorte temporal de
publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem sendo difundido na
uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo
O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia dos
autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo (tabela 1) Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus
conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes
categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do
cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede
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RESULTADOS
Observa-se uma produccedilatildeo crescente no periacuteodo analisado (exceto 2016) com
predominacircncia de artigos americanos (27) O baixo nuacutemero de publicaccedilotildees em 2016 pode
refletir o pouco tempo entre a publicaccedilatildeo e a sua disponibilizaccedilatildeo nas bases de indexaccedilatildeo
pois a busca foi feita no iniacutecio de 2017
Com relaccedilatildeo aos campos da Sauacutede e Educaccedilatildeo natildeo houve diferenccedilas significativas
quanto ao nuacutemero de publicaccedilotildees Sauacutede (26) e Educaccedilatildeo (27) muito menos ao tipo de
abordagem produzida sobre o tema As demais publicaccedilotildees foram consideradas como
multidisciplinarinterdisciplinar As revistas com maior representaccedilatildeo neste acervo foram
Aggression and Violent Behavior (10) seguida da Computers in Human Behavior (5) Assim
tratamos o acervo a partir das especificidades entre os estudos e natildeo de suas aacutereas de origem
Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma
PUBLICACcedilOtildeES 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006
NUacuteMERO DE
PUBLICACcedilOtildeES
8 21 12 11 7 6 1 2 1 2 1
NACIONALIDADE
DO ESTUDO
EUA Reino Unido
Austraacutelia Portugual Belgica
Espanha e Greacutecia
EUA Singapura
Greacutecia Itaacutelia Brasil China
Canadaacute Franccedila
Austraacutelia Reino
Unido e Espanha
Franccedila EUA Itaacutelia
Turkia e Reino Unido
EUA Canadaacute e
Brasil
Sueacutecia Alemanha
Suiacuteccedila Reino Unido EUA e
Colocircmbia
EUA Espanha Meacutexico Austraacutelia
EUA Austraacutelia EUA EUA Canadaacute
IDIOMA Inglecircs (7) e
Espanhol (1)
Inglecircs (18)
Portuguecircs (2) e
Francecircs (1)
Francecircs (1)
Inglecircs (10) e
Portuguecircs (1)
Inglecircs (10) e
Portuguecircs (1)
Inglecircs (6) Espanhol
(1)
Inglecircs (2) e
Espanhol (2)
Inglecircs (1)
Inglecircs (2)
Inglecircs (1)
Inglecircs (2)
Inglecircs (1)
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Conceituaccedilatildeo
O cyberbullying possui muitas conceituaccedilotildees revelando distintas interpretaccedilotildees adotadas
pela comunidade cientiacutefica Parte dos estudos analisados natildeo construiu uma definiccedilatildeo para o
cyberbullying mas toma de empreacutestimo os conceitos de bullying agressatildeo e asseacutedio jaacute
existentes na literatura (Zych Ortega-Ruiz Del Rey 2015 Remond Ker Romo 2015
Carpenter Hubbart 2014 Sabella Patchim Hinduja 2013 Bailey 2013 Bauman 2013
Stewart Fritsch 2011 Hanewald 2009)
Havia no acervo uma polifonia de definiccedilotildees para o cyberbullying sugerindo que a
comunidade cientiacutefica natildeo produziu um consenso sobre o entendimento da natureza e limites
do fenocircmeno Talvez por ―imaturidade ou como reflexo dessa processualidade visto que as
relaccedilotildees digitais satildeo dinacircmicas e influenciadas pelas novas tecnologias constantemente
incorporadas ao universo ciber Todavia tal polissemia gera uma espeacutecie de inconsistecircncia
nos dados das pesquisas e difiacuteculdades de comparaccedilatildeo entre os estudos (Aboujaoude et al
2013)
As traduccedilotildees de definiccedilotildees propostas em inglecircs e apropriadas por estudos de liacutengua latina
podem tambeacutem variar semanticamente e levar a compreensotildees diferenciadas como no
exemplo dos sentidos entre cyberbullying e acosso digital Estudos alematildees usam o termo
ciber-mobbing Tais termos retraduzidos ao portuguecircs produzem ecircnfases diferenciadas No
caso da traduccedilatildeo de acosso se evidencia o caraacuteter de perseguiccedilatildeo sistemaacutetica caracteriacutestica
natildeo necessariamente presente no fenocircmeno do cyberbullying
Aboujaoude et al (2015) identificaram diferentes designaccedilotildees para o cyberbullying como
cyberstalking agressatildeo on-line asseacutedio ciberneacutetico asseacutedio na Internet bullying na Internet e
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vitimizaccedilatildeo ciberneacutetica ou cybervitimizaccedilatildeo A natureza hostil do ato e a intenccedilatildeo de causar
sofrimento foram considerados pela maioria dos estudiosos como cruciais para a definiccedilatildeo de
cyberbullying
Como avaliam Smith et al(2012) caracterizar o cyberbullying apenas como uma forma
de ―bullying digital tem sido uma tendecircncia e apoacutes analisarem diversos estudos concluem
que existe um debate sobre o uso de uma definiccedilatildeo generalista (bullying) ou a necessidade de
substituiacute-la por outra mais especiacutefica
Considerando o acervo analisado as principais definiccedilotildees adotadas podem ser divididas
em dois blocos as que reconhecem o cyberbullying como uma (nova) forma de bullying
apontando diferenccedilas e similaridades e as que tratam o cyberbullying como um fenocircmeno de
outra natureza diferente do bullying Analisaremos a seguir os argumentos que tratam das
especificidades que aproximariam e distinguiriam o bullying e o cyberbullying
No primeiro bloco de estudos a maioria do acervo reconhece o cyberbullying como o
bullying por meio digital eou uma variaccedilatildeo do bullying
Dentre os autores que percebem o cyberbullying como uma variaccedilatildeo de bullying alguns
defendem a importacircncia de contextualizar a violecircncia digital e sua expressatildeo nos
comportamentos agressivos (Ang 2015 Castro Schreiber Antunes 2015 Wendt Lisboa
2014 Chibarro 2007) A revisatildeo de Allison e Bussey (2016) apresenta o cyberbullying como
―agressatildeo intencional por meio eletrocircnico que ocorre de vaacuterias formas como insultos
ameaccedilas divulgaccedilatildeo de fotos embaraccedilosas e pode ser perpetrado atraveacutes de diversas miacutedias
sem a necessidade da presenccedila fiacutesica dos envolvidos Os autores se basearam em extensa
literatura de bullying e ao comparaacute-lo ao cyberbullying constataram que satildeo diferentes em
muitos aspectos tais como anonimato maior impacto uma maior audiecircncia de espectadores
individualidade na praacutetica de perpetrar ser dispensaacutevel a presenccedila fiacutesica dos envolvidos e a
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viacutetima ser atingida em qualquer lugar e a qualquer momento (Kowalski et al 2014 Tanrikulu
2014 Thomas Conor Scott 2014) Para alguns o caraacuteter repetitivo natildeo estaria
necessariamente presente no cyberbullying (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Carpenter
Hubbert 2014 Slonje 2012) pois apenas uma postagem depreciativa leva o conteuacutedo a ficar
permanentemente exposto Jaacute a capacidade de anonimato eacute apontada como a principaluacutenica
diferenccedila entre os dois fenocircmenos (Bailey 2013 Zych Ortega-Ruiz e Allison e Bussy 2016)
Algumas revisotildees (Aboujaoude et al 2015 Ang 2015 Antoniadou Kokkinos 2015
Cantone 2015 Berne et al 2012) revelaram que natildeo haacute consenso se a repeticcedilatildeo das accedilotildees e o
desequiliacutebrio de poder seriam dinacircmicas do cyberbullying mas certamente ocorrem nos casos
do bullying O desequiliacutebrio de poder foi associado diversas vezes como suposta incapacidade
de resposta por parte da pessoa alvo do cyberbullying ou ainda por falta de habilidades
tecnoloacutegicas que permitiriam uma melhor resposta no meio digital Para Faucher Cassidy e
Jackson (2015) esse exerciacutecio de poder estaria associado ao quatildeo vulneraacutevel estatildeo os
conteuacutedos privados da pessoa alvo ou ainda por divulgar tais informaccedilotildees sem levar em conta
as consequecircncias de uma exposiccedilatildeo nas redes sociais (Suzuki et al 2012)
Em relaccedilatildeo agraves similaridades grande parte dos estudos aponta o caraacuteter de repeticcedilatildeo o uso
das palavras ferinas o desequiliacutebrio de poder e o dano intencional (Yang Grinshteyn 2016
El Asam Samara 2016 Baldry Farrington Sorrentino 2015 Della Cioppa OlsquoNeil Craig
2015 Chan H C Wong 2015 Cantone 2015 Chisholm 2014 Wingate Minney
Guadagno 2013 Nosworthy Rinaldi 2013 Burnett Yozwiak Omar 2013 Bailey 2013
Von Mareacutees N Pettermann 2012 Garciacutea-Maldonado Joffre-Velaacutezquez Martiacutenez-Salazar
2011 Mason 2008 Chibarro 2007) Thomas et al (2015) afirmam que os ataques de
bullying e de cyberbullying satildeo mais parecidos que diferentes e muitas vezes co-ocorrem
Para Yang e Grinshteyn (2016) o fechamento de uma acepccedilatildeo conceitual natildeo seria
beneacutefico pois uma definiccedilatildeo delimitada e concisa poderia excluir grande quantidade de
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comportamentos potencialmente nocivos Aleacutem disso uma definiccedilatildeo que inclui elementos
descritivos da praacutetica de cyberbullying especificando certos tipos de dispositivos eletrocircnicos
com o passar do tempo pode se tornar obsoleta apoacutes o lanccedilamento de novas tecnologias
No segundo bloco estatildeo os autores que afirmam que cyberbullying eacute uma nova forma de
agressatildeo que apresenta diferenccedilas significativas em relaccedilatildeo ao bullying todavia muitos deles
natildeo se dedicaram a produzir uma teoria ou definiccedilatildeo especiacutefica (Brochado S Soares S
Fraga 2016 Chan Wong 2015 Chisholm 2014 Baek Bullock 2013 Cassidy Faucher et
al 2014 Jackson 2013)
Considerando a argumentaccedilatildeo sobre a natureza ineacutedita do fenocircmeno aponta-se o papel da
audiecircncia no contexto da perpetraccedilatildeo (Smith 2015 Baek e Bullock 2014) A audiecircncia do
cyberbullying eacute concedida em larga escala pelas plataformas digitais propagando esse
conteuacutedo depreciativo para milhares de pessoas tanto no ato da transmissatildeo da mensagem
viacutedeo ao vivo ou em outro momento aleacutem da possibilidade de baixar o conteuacutedo para acesso
offline Logo a capacidade exponencial de compartilhamento desse conteuacutedo natildeo pode ser
dimensionada pelo perpetrador e mesmo que a intenccedilatildeo de propagaccedilatildeo do conteuacutedo seja para
um grupo menor de pessoas o intimidador passa a natildeo ter mais domiacutenio sobre esse conteuacutedo
Quanto mais vizualizado eou compartilhado a audiecircncia aumenta significativamente
diferente do bullying cuja audiecircncia eacute limitada ao puacuteblico que estava presente no momento
do ataque No caso bullying mesmo que a cada novo ataque o grupo de espectadores cresccedila
natildeo se compara ao nuacutemero de pessoas que teratildeo acesso a um conteuacutedo hostil na internet
Brown Jackson e Cassidy (2006) alertam que o ambiente virtual favorece a desinibiccedilatildeo
mencionando o caso de pessoas que sofrem com o bullying e que utilizam a internet para se
vingar daquele que praticou tal bullying jaacute que a internet lhes oferta a possibilidade de
anonitamato atraveacutes de identidade alternativa (uso de perfis falsos) para assediar Deste modo
57
em alguns casos quem sofre bullying pode ser um perpetrador de cyberbullying contra seu
algoz de bullying face a face principalmente quando essa― revanche natildeo seria possiacutevel
acontecer como entre sujeitos com diferenccedila de padrotildees fiacutesicos
Cabe mencionar que parte dos estudos corrobora acerca de suposta inconsistecircncia nas
definiccedilotildees encontradas na literatura (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Zych Ortega-Ruiz
Del Rey 2015) e que falta consenso entre os estudiosos que investigam o tema seja com
relaccedilatildeo agraves conceituaccedilotildees e termos ou sobre os aspectos de semelhanccedila e diferenccedila entre o
cyberbullying e bullying Conforme esse arcabouccedilo teoacuterico se expande eacute provaacutevel que novas
discordacircncias cientiacuteficas perpassem por esse campo em construccedilatildeo
Descriccedilotildees das dinacircmicas
As dinacircmicas de cyberbullying dependem das accedilotildees e representaccedilotildees de cada pessoa
envolvida nesse ciacuterculo de violecircncia Neste cenaacuterio atuam os perpetradores ndash os que praticam
a violecircncia os acometidos (chamados de viacutetimas) os espectadores (aqueles que assistem e
compartilham o conteuacutedo que viola outrem) os educadores e pais que por vezes satildeo os
uacuteltimos a tomar conhecimento do abuso
Houve diferenccedilas significativas sobre as descriccedilotildees das dinacircmicas do cyberbullying e os
motivos provaacuteveis estariam associados ao periacuteodo em que os estudos foram publicados pois
algumas formas de cyberbullying ainda natildeo eram reconhecidas anteriormente e os tipos de
dispositivos tecnoloacutegicos e as formas de conversaccedilatildeocomunicaccedilatildeo e compartilhamento de
conteuacutedo online disponiacuteveis tambeacutem mudaram rapidamente Haacute algum tempo o e-mail e as
58
mensagens de texto eram as formas mais disseminadas atualmente as interaccedilotildees atraveacutes das
redes sociais ganharam maior espaccedilo entre os jovens (transmissatildeo ao vivo viacutedeos chamadas
compartilhamentos em massa jogos online em grupo etc)
Destacam-se quatro estudos que exemplificam as dinacircmicas de cyberbullying Julia
Wilkins et al (20120 descrevem fundamentados no texto que institui o Programa Anti-
Bullying de Londres sete tipos de cyberbullying e Suzuki et al (2012) tambeacutem identificam as
mesmas modalidades a seguir compiladas 1 Por mensagem de texto - enviada via telefone
celular com a intenccedilatildeo de causar desconforto e ameaccedila 2 Imagemvideo-clipe - quando as
imagens das viacutetimas satildeo enviandas para outras pessoas no intuacuteito de ameaccedilar ou constranger
3 Intimidaccedilatildeo por chamada telefocircnica - por meio de chamadas silenciosas ou por mensagens
abusivas ou quando o celular da viacutetima eacute roubado e usado para perseguir outros culpando o
proprietaacuterio do telefone 4 intimidaccedilatildeo por e-mail quando satildeo enviados conteuacutedos muitas
vezes usando um pseudocircnimo ou o nome de outra pessoa para fazer com que essa pessoa se
pareccedila com o perpetrador (modalidade desatualizada) 5 chat room bullying - respostas
agressivas e intimidadoras em sala de bate papos (tambeacutem mais desatualizada) 6 intimidaccedilatildeo
atraveacutes de mensagens instantacircneas 7 bullying atraveacutes de websites ndash com uso de blogs
difamatoacuterios sites pessoais sites de pesquisa pessoais online e sites de redes sociais (por
exemplo MySpace) aleacutem da criaccedilatildeo de foacuteruns
Entre as dinacircmicas do cyberbullyng destacadas na literatura estariam ―namecalling
(apelidar algueacutem de modo rude) propagaccedilatildeo de rumores ―flamings (discussotildees calorosas
online) ameaccedilas fingir ser outra pessoa online (fakenames) envio de fotos indesejadas ou
mensagens de texto (sexting) postar eou compartilhar imagens e viacutedeos com conteuacutedo
iacutentimo de outra pessoa sem consentimento desta (Carpenter Hubbard 2014) excluir uma
pessoa de um circulo social online de forma intencional (Bailey 2013) Aleacutem das redes
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sociais o cyberbulling tambeacutem se manifestaria em jogos MMOGs - jogos onlines com
muacuteltiplos jogadores (multiplayers games) um jogador poderoso pode ―trollar (zombar
humilhar) algueacutem roubando itens do jogo como recompensas invadindo a conta formar
gangues e bloquear pessoas em uma rede social fazendo piadas com a imagem de uma pessoa
e controlando remotamente a cacircmeracomputador de uma pessoa sem o consentimento desta
(Chisholm 2014)
A revisatildeo de Kowalski et al (2014) ratifica as formas jaacute mencionadas e reconhece outras
formas de perpetraccedilatildeo entre elas harassament (envio de mensagens repetitivas e com
conteuacutedo ofensivo) bloqueio online solicitar informaccedilatildeo online de conteuacutedo pessoal e
posteriormente compartilhar a terceiros sem consentimento cyber-stalking (usar comunicaccedilatildeo
eletrocircnica para perseguir outra pessoa) e postar informaccedilatildeo inapropriada ou de cunho
depreciativo se passando por outra pessoa
Mehari Farell Le (2014) refletem que os comportamentos agressivos nas relaccedilotildees
sociais na internet tecircm baixo controle social e satildeo menos recriminados se comparados aos
perpetrados nas relaccedilotildees face a face Outro aspecto apontado na revisatildeo de Mehari et al
(2014) eacute a falta ou escassez de indiacutecios verbais que aumentaria a probabilidade de
desentendimentos e interpretaccedilotildees errocircneas Assim o que um jovem pretende como uma
brincadeira interaccedilatildeo amigaacutevel pode rapidamente tornar-se uma interaccedilatildeo mutuamente
agressiva se a outra pessoa interpreta o comentaacuterio como um insulto ou uma ameaccedila A falta
de sugestotildees natildeo verbais tambeacutem pode reduzir a empatia que serve como um controle natural
do comportamento dos adolescentes
Arsene e Raynaud (2014) destacam que o cyberbullying que ocorre por meios visuais
(foto ou viacutedeo) eacute mais prejudicial e mais negativo do que os que envolvem mensagens por
(SMS) e de texto na Internet As consequecircncias seriam mais graves as viacutetimas mais afetadas
60
do que em outras formas de cyberbullying e o risco de sofrimento psicossocial teria maior
potencial Na revisatildeo desses autores (2014) as fotos ou videoclipes tiveram impacto mais
negativo do que no asseacutedio tradicional (interpetrado como bullying)
Os personagens envolvidos
Os principais personagens do cyberbullying satildeo os praticantes e as pessoas escolhidas como
alvo (as denominadas viacutetimas) Poucos estudos como os Allison e Bulsey (2016) e Desmet et
al (2016) analisaram a figura dos espectadores (testemunhas) e seu papel na manutenccedilatildeo do
ciclo de violecircncia e propagaccedilatildeo do cyberbullying Allison e Bulsey (2016) identificaram quais
os fatores que influenciam as respostas das testemunhas aos atos de cyberbullying
Concluiram que os espectadores satildeo importantes no cyberbullying pois eles tem ―o pontecial
de alterar a situaccedilatildeo ao intervir mas a maioria das testemunhas permanece passiva (pg183)
Outro estudo indica que os espectadores seriam capazes de determinar qual o potencial de
extensatildeo que um episoacutedio de cyberbullying pode ter ao compartilhar curtir comentar um ato
de violecircncia nestes moldes Runions Bak (2015)
Haacute divergecircncia na literatura analisada com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que perpassa o
cyberbullying A maioria reduz o debate agrave variaacutevel ―sexo buscando saber se meninos ou
meninas satildeo os maiores viacutetimas ou agressoras ou quais deles sofreriam mais as
consequecircncias do cyberbullying (Bauman 2013 Baldry Farringtone Sorrentino 2015)
Bauman et al (2013) identificaram na literatura casos de pessoas do sexo masculino que ao
mesmo tempo que eram praticantes de cyberbullying e de bullying Para outros estudos
pessoas do sexo feminino estariam mais envolvidas em cyberbullying e os meninos em
situaccedilotildees de bullying8 Isso sem considerar a orientaccedilatildeo sexual desses indiviacuteduos ou sua
8 A literatura apresenta recorrente associaccedilatildeo entre cyberbullying e bullying
61
posiccedilatildeo de gecircnero Bailey (2013) alega haver dissenso sobre os rapazes serem os maiores
causadores de cyberbullying
Por outro lado muitos autores acabam por reforccedilar estereoacutetipos de gecircnero de forma
acriacutetica No estudo Dooley Pyżalski Cross (2009) as garotas teriam maior interesse com a
aparecircncia sauacutede enquanto garotos estariam mais implicados com jogos on-line Tal texto
reproduz uma leitura de gecircnero onde meninas tendem a ter laccedilos de amizades mais intensos
compartilhando conteuacutedos iacutentimos e segredos pessoais principalmente atraveacutes de mensagens
de texto jaacute meninos socializam nas redes sociais em maiores grupos e compartilham menos
detalhes pessoais Chibbaro (2007) destaca estudo que afirma que a maioria (53) das
meninas sofreu cyberbullying de conhecidos como colega da escola seguido de amigo e em
um nuacutemero menor o irmatildeo foi o causador do ato Alim (2016) baseado no site
NoBullyingcom afirma que as meninas satildeo duas vezes mais causadoras de Cyberbullying do
que os meninos porque meninos seriam mais agressivos em termos fiacutesicos enquanto que
meninas tendem a ser mais ―silenciosas quando querem atingir algueacutem por vezes quando
intimidam o fazem em seacuterie Na mesma linha sexista estudos como de Chan e Wong (2015)
alegam que garotos satildeo os maiores perpetradores por serem mais haacutebeis no uso de tecnologias
do que as garotas
Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem houve dissenso A maior incidecircncia estaacute entre os
adolescentes e os casos diminuem na fase universitaacuteria (Antoniadou Kokkinos 2015)
Segundo Suzuky et al (2014) as meninas seriam as maiores acometidas poreacutem entre 15 e 17
anos a incidecircncia eacute muito maior do que entre jovens de 12 e 14 anos Para Hamn et Al (2015)
o fator idade natildeo eacute determinante para ser alvo de Cybebullying
Para Alim (2016) haveria um recorte de condiccedilatildeo social pois os que mais sofreriam
seriam pessoas oriundas dos estratos de baixa renda
62
Da mesma forma natildeo haacute uma concordacircncia na literatura sobre o recorte eacutetnicoracial
Estudantes brancos satildeo considerados maiores perpetradores do que outras categorias eacutetnicas
(Ham et al 2015 Peterson M B Peterson 2014) O estudo de Peterson e Peterson (2014)
foi o uacutenico que objetivou examinar possiacuteveis ligaccedilotildees entre comportamentos de ciberbullying
e grupos eacutetnicos especiacuteficos Essa lacuna parece evidenciar que se desconsidera que a
discriminaccedilatildeo por etniacor da pele pode gerar experiecircncias de cyberbullying Para Peterson e
Peterson (2014) alguns aspectos precisam ser analisados tais como o perfil populacional das
pessoas que utilizam TICs a escassez de estudos que analisam especificamente o quesito
raccedilacor bem como o territoacuterio em que esses estudos estatildeo sendo produzidos e onde esses
dados de amostras estatildeo sendo coletas
Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos
As psicopatologias estatildeo entre as principais implicaccedilotildees agrave sauacutede dos envolvidos nas
praacuteticas de cyberbullying (Reed et al 2016 Foody Samara Calbring 2015 Arsegravene
Raynaud 2014 Pearce 2011)
Os principais agravos listados para os que sofrem foram insocircnia depressatildeo baixo
rendimento escolar ou baixa concentraccedilatildeo (Couvillon Illieva 2011) Jaacute Burnett Yozwiak e
Omar (2013) apresentam estudos que afirmam que pessoas que sofrem Cyberbullying tem
menos horas de sono e menos apetite do que pessoas que sofreram outras formas de violecircncia
Bailey31
ao analisar a Child Behavior Checklist (CBC) inclusa em um dos estudos verificados
indicou que aqueles assediados por conhecidos tambeacutem eram mais propensos a relatar
maiores conflitos com os pais casos de abuso fiacutesico ou sexual vitimizaccedilatildeo interpessoal off-
line e comportamento agressivo aleacutem de outros problemas sociais (pg 2)
63
Aquele que eacute intimidado com cyberbullying teria aproximadamente oito vezes mais
chances de levar uma arma para escola do que outros estudantes que natildeo tiveram essa
experiecircncia (Burnett Yozwiak Omar 2013) Grande parte dos estudos considera ainda que o
cyberbullying estaacute associado agrave depressatildeo uso de drogas ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio estresse
solidatildeo e ansiedade (El Asam Samara 2016 Hinduja S Patchin 2011 Gini G Espelage
2014) com consequecircncias psiquiaacutetricas que afetam a sauacutede mental e o desenvolvimento
escolar (Carpenter Hubbard 2014) principalmente dos adolescentes que satildeo alvo A busca
por experiecircncias de risco ―viacutecio no uso de internet solidatildeo e o suiciacutedio satildeo alguns dos
fatores psicoloacutegicos para ambos os personagens (viacutetimas e agressores) sendo que para os que
praticam os fatores estariam interligados entre si (Alim 2016) Natildeo encontramos subsiacutedios
que fundamente os impactos da sauacutede dos espectadores
DISCUSSAtildeO
A escassez de estudos que refletem sobre a contextualizaccedilatildeo do cyberbullying na
cibercultura (Stylios et al 2016 Roger e Salgado 2016 Castro Schreiber Antunes 2015
Nocentini Zambuto e Menesini 2015) e nos seus modos de socialidade foi o aspecto mais
marcante nesta revisatildeo de revisotildees Como discutir um fenocircmeno sem relacionar ao seu
contexto sociocultural de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo Eacute preciso reconhecer que a juventude que
vivencia o cyberbullying eacute em boa parte ―nativa digital implicando o domiacutenio de
comportamentos e gramaacuteticas proacuteprias aleacutem desse espaccedilo de convivecircncia ser estrateacutegico agraves
afirmaccedilotildees identitaacuteria desse segmento (Brown Jackson E Cassydy 2006 Wendt e Lisboa
2014)
Percebe-se que apesar da redundacircncia conceitual houve um avanccedilo expressivo na
busca por aprofundar as especificidades caracteriacutesticas do Cyberbullying Salienta-se ainda a
64
peculiaridade no cyberbullying da expansatildeo exponencial do puacuteblico de expectadores no que
tange agrave disseminaccedilatildeo do conteuacutedo ofensivo e por tempo indeterminado - elementos que
desafiam o trabalho de promoccedilatildeo de resiliecircncia aos que sofreram tais praacuteticas Uma pessoa
pode ser estigmatizada por um longo periacuteodo agrave medida que esse conteuacutedo natildeo pode ser
apagado facilmente como nos casos de sexting em que o conteuacutedo fica disponiacutevel em
buscadores associados ao nome da pessoa que sofreu a violecircncia Uma vez que o
Cyberbullying pode ocorrer em qualquer tempo e territoacuterio e se dispotildee de mecanismos de
ocultaccedilatildeo de conteuacutedos e torna mais difiacutecil a detecccedilatildeo preacutevia por parte dos adultos e
responsaacutevies
Em relaccedilatildeo aos aspectos de gecircnero destacamos a revisatildeo de Chan e Wong (2015) que
analisou as taxas de prevalecircncia de bullying e cyberbullying a respeito das caracteriacutesticas dos
praticantes e intimidados e em que circunstacircncias a accedilotildees eram descritas na China Taiwan
Hong Kong e Macau Percebemos um discurso sexista9 quando os autores fazem um recorte
de gecircnero em sua anaacutelise e como exemplos mencionam no estudo que em Taiwan um dos
fatos de meninos serem os maiores intimidadores se justificaria por uma maior habilidade no
uso de tecnologias Apesar da questatildeo cultural ser evidente favorece a interpretaccedilotildees de que
as adolescentes do sexo feminino natildeo teriam habilidades com tecnologias se comparada aos
adolescentes do sexo masculino natildeo refletindo sobre o tipo de acesso que as meninas
possuem aos meios tecnoloacutegicos culturais e educacionais em paiacuteses onde o homem eacute
considerado superior Outro registro sexista aparece no estudo de Chisholm (2014) que
defende que meninas tendem a se envolver em agressatildeo indireta social e relacional como no
cyberbullying para excluir pessoas em redes sociais e espalhar rumores A natureza
9 Um discurso sexista declara em seu posicionamento que determinado papel eou estereoacutetipo de gecircnero ou sexo
eacute superior que o outro Pode ser inclusive configurado como preconceito e discriminaccedilatildeo com base nesses
marcadores sociais (sexo ou gecircnero)
65
―competitiva das mulheres foi um aspecto destacado por Wingate (2013) ao corroborar a
ideia que as garotas estariam mais envolvidas com praacuteticas de cyberbullying relacionais
Por fim notamos tambeacutem que eacute consensual o reconhecimento de impactos na sauacutede
psiacutequica e no cotidiano escolar dos intimidados e apenas um pequeno grupo reconhece que
existem impactos entre os intimidadores No contexto da Sauacutede o tema ainda eacute recente e
pouco disseminado anunciando um longo percurso a ser percorrido no sentido de sua
compreensatildeo e de posicionamento do campo Jaacute no contexto da Educaccedilatildeo o tema comeccedilou a
ser discutido anteriormente o que pode ser atribuiacutedo agrave recorrente correlaccedilatildeo com o bullying
que perpassa o cotidiano da escola
Artigo 2
4CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA O CAMPO
DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE LITERATURA (natildeo submetido)
RESUMO
O presente estudo propotildee uma revisatildeo criacutetica de estudos sobre o cyberbullying com recorte
temporal entre os anos de 2006 e 2016 Os objetivos deste estudo foram analisar as propostas
de enfrentamento sugeridas para os setores da sauacutede e educaccedilatildeo (atores implicados e
estrateacutegias sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de
enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno Os resultados foram discutidos com base na anaacutelise
de discurso criacutetica proposta por Norman Fairclough Identificou-se na literatura revisada uma
maioria de accedilotildees baseadas na proposta de monitoramento e controle parental e escolar
discursos que propotildee praacuteticas no intuito de gerar uma mudanccedila no comportamento dos
66
indiviacuteduos envolvidos com o cyberbullying e propostas que expressam forte
intertextualidade manifesta do saber meacutedico
Palavra-chave Cyberbullying violecircncia intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo sauacutede e educaccedilatildeo
ABSTRACT
The present study proposes a critical review of studies on cyberbullying with temporal cut
between 2006 and 2016 The objectives of this study are to analyze the proposed proposals
for sectors of Health and Education (implicated actors and suggested strategies) and analyze
the discourses on prevention accountability coping methods and dynamics of the
phenomenon The results were discussed on the basis of critical discourse analysis proposed
by Norman Fairclough It was identified in the reviewed literature a majority of actions
based on the parental and school monitoring and control proposal discourses that proposes
actions aimed at changing the social behavior of individuals involved with cyberbullying and
proposals that express a strong intertextuality of medical knowledge
Key-words Cyberbullying violence intervention prevention health and education
INTRODUCcedilAtildeO
A virtualizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais trouxe profunda transformaccedilatildeo para a
sociabilidade contemporacircnea permitindo que novos espaccedilos de trocas de informaccedilotildees e que
relaccedilotildees comerciais esteacuteticas e afetivo-sexuais fossem constituiacutedas a partir das tecnologias de
comunicaccedilatildeo digital (Castells 2003) No ciberespaccedilo esse novo espaccedilo de interaccedilatildeo os
viacutenculos sociais se estabelecem atraveacutes da internet ganhando assim nova capilaridade As
redes sociais e outros modelos de conexotildees surgem com uma identidade proacutepria que
legitimam uma cultura peculiar a cibercultura ou cultura digital (Levy 2010) Entretanto
para alguns autores o conceito de cibercultura poderaacute cair em desuso visto que as relaccedilotildees
digitais possuem total interface com o cotidiano dos sujeitos sociais (Roger e Salgado 2016)
Martino (2015) ao tratar das caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais afirma que na
cultura digital os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos estabelecidos
conforme a necessidade de um momento e a seguir desmanchados As relaccedilotildees digitais
permitem a disseminaccedilatildeo imediata e sem fronteiras geograacuteficas de informaccedilotildees e saberes de
apoio aleacutem de permitir trocas diversas (afetivas comerciais intelectuais) de favorecer ao
67
associativismo e possibilitar a organizaccedilatildeo de grupos em torno de vivecircncias comuns agendas
e pautas de atuaccedilatildeo (Lemos 2015) Todavia pode contribuir tambeacutem para que praacuteticas de
violecircncia sejam produzidas e disseminadas no ambiente virtual
O Cyberbullying representa uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se manifesta
atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica entre pares nas ambiecircncias das redes de
socialidade digital que podem ocorrer em qualquer espaccedilo geograacutefico Eacute considerado por
diferentes estudiosos como um problema de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede emocional de
crianccedilas e adolescentes (Brown Jackson e Cassidy 2006 Carpenter e Hubbard 2014 Nixon
2014 Bottiono et al 2015 Yang 2016)
Partimos do entendimento que o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se
apresenta sob as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode
repercutir para aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em consequecircncias praacuteticas e
reais no cotidiano e individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)
O cyberbullying se configura ainda como um tipo de representaccedilatildeo e praacutetica social no
ambiente virtual (traduzido no Brasil como Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica) Tal traduccedilatildeo brasileira
ocorreu a partir da Lei 1318515 (BRASIL 2015) que estabeleceu o Programa Nacional de
combate agraves formas de Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica entre elas a que ocorre na rede mundial de
computadores
O tema cyberbullying vem sendo discutido de forma ampliada pela literatura
internacional ao longo das uacuteltimas deacutecadas (Garaigordobil 2011 Torres e Marcieles 2012
Della Ciopa et al 2015) Embora geralmente associada ao tema Bullying (possuidor de um
arcabouccedilo teoacuterico consolidado) a temaacutetica vem ganhando lentamente espaccedilo na literatura
cientiacutefica brasileira O fenocircmeno do Cyberbullying tem tido destaque nas miacutedias
especialmente em casos cujas repercussotildees satildeo de extrema violecircncia como os assassinatos em
seacuterie eou suiciacutedio Todavia haveria uma desconexatildeo significativa entre o que o puacuteblico
precisa saber e o que eacute realmente conhecido sobre o fenocircmeno cyberbullying (Carpenter e
Hubbard 2014)
Muitos programas e propostas de intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo surgiram nos uacuteltimos anos
mas estudos que analisam o conjunto dessas propostas ainda satildeo escassos Segundo Wendt e
Lisboa (2014) ―se faz urgente e necessaacuteria uma maior compreensatildeo acerca desse fenocircmeno
para que seja possiacutevel o desenho de accedilotildees preventivas e interventivas eficazes (pag42)
68
Este estudo pretende portanto analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela
comunidade cientiacutefica sobre as propostas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo de cyberbullying a
serem aplicadas no campo da Sauacutede e da Educaccedilatildeo
Os objetivos propostos para este trabalho foram analisar as propostas de
enfrentamento sugeridas para os setores da Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores implicados e estrateacutegias
sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo e modos de
enfrentamento Partindo desse recorte analiacutetico tratamos das seguintes questotildees
investigativas Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees
propostos pela literatura sobre cyberbullying Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a
questatildeo da sociabilidade virtual juvenil Qual o papel dos educadores diante de casos de
cyberbullying Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullying O que
fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying
METODOLOGIA
Como meacutetodo investigativo optou-se por uma revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo
criacutetica (critical review) Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a
literatura sobre um tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias
(Grant 2014) Uma revisatildeo criacutetica tem sua relevacircncia por sua capacidade de destacar
problemas discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute
confiaacutevel (Paregrave et al 2015) Assim como as revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem
adotar diferentes meacutetodos de anaacutelise sejam com vieacutes interpertativo como nos casos das
siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica ou ateacute mesmo os de recorte mais
positivista como a anaacutelise de conteuacutedo em sua vertente quantitativa
Foram consultadas sete bases internacionais - Scielo BVS Scopus PubMed
American Psychological Association Eric e Applied Social Sciences Index and Abstracts-
durante o mecircs de fevereiro do ano de 2017
Inicialmente iriacuteamos realizar uma revisatildeo do tipo integrativa todavia durante a busca
inicial aplicamos o termo cyberbullying em todos os campos (all fields) e obtivemos o
resultado de 7785 artigos Durante o levantamento de dados buscamos pelo termo
―cyberbullying atraveacutes do Medical Subject Headings (MeSH) e constatamos apenas a
presenccedila do termo bullying (httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying)
Verificou-se assim que o tema cyberbullying era tratado como subitem ou tema secundaacuterio
69
em estudos sobre o bullying O que pode estar ligado ainda agrave ideacuteia de que bullying e
cyberbullying seriam o mesmo fenocircmeno poreacutem ocorrendo em ambientes diferentes Assim
com a primeira busca usando o descritor cyberbullying em todos os campos surgiram 7785
artigos
No intuito de recortar e permitir maior aprofundamento analiacutetico do acervo optou-se
por trabalhar apenas com estudos de revisatildeo Foram selecionados apenas estudos cujo termo
―cyberbullying estava no tiacutetulo e ―revisatildeo presente em todos os campos Aplicaram-se ainda
criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para acesso livre
acervo cinza dissertaccedilotildees monografias - o que resultou em 301 artigos Posteriormente
foram identificados 156 artigos em duplicidade que natildeo haviam sido contabilizados pelo
gerenciador de referecircncia MENDLEY por limitaccedilatildeo do programa Entre essas duplicidades
natildeo identificadas pelo programa encontraram-se estudos registrados em escrita por caixa alta
eou por traduccedilatildeo de texto para o idioma inglecircs nos casos em que o estudo original era em
outro idioma como espanhol ou francecircs ou quando havia subtraccedilatildeo de algum dos autores
tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al Foi gerado um acervo de 145
artigos e um novo refinamento estabeleceu um recorte temporal visando analisar apenas
publicaccedilotildees datadas dos anos de 2006 ateacute 2016 de modo a apreender como o tema veio sendo
discutido ao longo da uacuteltima deacutecada resultando em 72 artigos de revisatildeo Desse nuacutemero
apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo este o acervo analisado nesta obra
Migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias ZOTERO por ser um programa open
sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em
portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos salvos nos mais distintos
formatos
Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de
praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos
discursos adotados nos estudos analisados Assim analisamos quais accedilotildees estatildeo sendo
propostas partir dos discursos construiacutedos O modelo proposto por Fairclough para a Anaacutelise
do Discurso Criacutetica (ADC) demanda analisar o que o autor denomina de concepccedilatildeo
tridimensional pois propotildee examinar a praacutetica social dos discursos a praacutetica discursiva
presente no estudo e a proacutepria conformaccedilatildeo do texto
A anaacutelise da praacutetica discursiva segundo Fairclough (2001) permite explicar como os
discursos satildeo produzidos distribuiacutedos consumidos e interpretados explorando assim as
70
possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva inclui categorias analiacuteticas como a forccedila
coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos
de fala que o texto realiza (o que o texto evoca) a coerecircncia trata do sentido que o texto
possui (para quem faz sentido qual a loacutegica das marcaccedilotildees e conexotildees) a intertextualidade ―eacute
basicamente a propriedade que tecircm os textos de serem cheios de fragmentos de outros textos
permitindo reconstituir as influecircncias daquele discurso (Fairclough 2001) A categoria
intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta
aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de
textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que Fairclough vai chamar de
interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A
praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto Tratar a dimensatildeo do
discurso como praacutetica social implica reconhecer a produccedilatildeo de efeitos ideoloacutegicos e
hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees
econocircmica cultural e ideoloacutegica Satildeo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo de
identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas de
crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente
Nessa perspectiva todo o discurso possui uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir
uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma
determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir
modos de ver e se portar numa dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de
relaccedilotildees sociais
Nossa anaacutelise focou nas dimensotildees textuais (gramaacutetica e figuras de linguagem) e
categorias da praacutetica discursiva com enfoque na intertextualidade (manifesta e constitutiva)
Buscamos analisar o que os textos tecircm evocado a partir dos conceitos estabelecidos ou
ratificados pela comunidade cientiacutefica cuja escrita exerce um poder que influi na praacutetica
social
CARACTERIZACcedilAtildeO DO ACERVO
Cada texto foi lido integralmente e os temas de interesse do estudo (estrateacutegias de
prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo) foram identificados comparados e
interpretados
71
Como pode ser visto no quadro 1 os EUA foi o paiacutes que mais publicou estudos sobre o tema
e o que possui o maior nuacutemero de revistas cientiacuteficas que abordou o assunto no periacuteodo
analisado O que demonstra um maior investimento na produccedilatildeo cientiacutefica dos EUA e a
relevacircncia do tema para a comunidade cientiacutefica do paiacutes supracitado A Agression and Violent
Behavior foi a revista estadunidense que mais publicou sobre o tema (8) seguida da
Computers in Human Behavior (5) do Reino Unido - ambas revistas classificadas como
intermultiprofissionais A revista Preventing School Failure Alternative Education for
Children and Youth do setor educaccedilatildeo publicou trecircs artigos e do setor sauacutede a revista alematilde
International Journal of Adolescent Medicine and Health teve duas publicaccedilotildees
Quadro 4 ndash Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de
Cyberbullying (2010-2016)
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
1 Canadian Journal of
Educational
Administration and
Policy
1
Educaccedilatildeo
Canadaacute
2 Journal of Child and
Adolescent
Psychiatric Nursing
1 Sauacutede EUA
3 Adolescent Health
Medicine and
Therapeutics Journal
1 Sauacutede Reino Unido
4 World Medical amp
Health Policy
1 Sauacutede EUA
5 International Journal
of Psychology and
1 Sauacutede Espanha
72
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
Psychological
Therapy
6 Psicologiacutea desde el
Caribe
1 Psicologia Colombia
7 Agression and
Violent Behavior
08 Intermultidisciplar EUA
8 Computers in
Human Behavior
5 Intermultidisciplar Reino Unido
9 International Journal
of Adolescent
Medicine and Health
2 Sauacutede Alemanha
10 International Journal
of Cyber Behavior
Psychology and
Learning
1 Intermultidisciplar EUA
11 Neuropsychiatrie de
llsquoEnfance et de
llsquoAdolescence
1 Sauacutede Franccedila
12 Australian
Education
Computing
1 Educaccedilatildeo Austraacutelia
13 Current Issues in
Middle Level
Education (CIMLE)
1 Educaccedilatildeo EUA
14 Journal Theory Into
Practice
1 Educaccedilatildeo EUA
15 Journal of
Adolescent Health
1 Sauacutede EUA
73
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
16 Journal of Research
in Special
Educational Needs
1 Educaccedilatildeo Gratilde Bretanha
17 Temas em
Psicologia
1 Sauacutede Brasil
18 Boletim Academia
Paulista de
Psicologia
1 Sauacutede Brasil
19 Children and Youth
Services Review
1 Intermultidisciplar EUA
20 Psychological
Bulletin
1 Sauacutede EUA
21 International Journal
of Adolescence and
Youth
1 Intermultidisciplar Reino Unido
22 Clinical Practice amp
Epidemiology in
Mental Health
1 Sauacutede Emirados Aacuterabes Unidos
23 Journal of Education
and Training Studies
1 Educaccedilatildeo EUA
24 Social Influence
Journal
1 Intermultidisciplar Reino Unido
25 Journal of
Information Systems
Education
1 Educaccedilatildeo EUA
26 Professional School
Counseling Journal
1 Educaccedilatildeo EUA
27 School Psychology 1 Educaccedilatildeo EUA
74
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
International
28 Emotional and
Behavioural
Difficulties
1 Intermultidisciplar Reino Unido
29 Gifted Education
International
1 Educaccedilatildeo EUA
30 Internet
Interventions
1 Sauacutede EUA
31 Preventing School
Failure Alternative
Education for
Children and Youth
3 Educaccedilatildeo
32 JAMA - Journal of
the American
Medical Association
1 Sauacutede EUA
33 Revista de
Psicologia Cliacutenica
1 Sauacutede EUA
34 School Psychology
International
1 Educaccedilatildeo EUA
35 LEnceacutephale 1 Sauacutede Franccedila
36 Journal of Human
Behavior in the
Social Environment
1 Serviccedilo Social
37 Australian Journal
of Guidance and
Counselling
1 Educaccedilatildeointerdisciplinar Inglaterra
38 Alberta Journal of
Educational
1 Educaccedilatildeo Canadaacute
75
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
Research
39 Nova Science
publishers
1 Educaccedilatildeo EUA
40 Psychiatric
Quarterly
1 Sauacutede EUA
41 Education Diggest 1 Educaccedilatildeo EUA
42 ACM ndash Association
for Computing
Machinery
1 Intermultidisciplar EUA
43 Psychology in the
Schools
1 Educaccedilatildeointerdisciplinar EUA
TOTAL 57
ESTRATEacuteGIAS DE PREVENCcedilAtildeO
Organizamos a apresentaccedilatildeo dos resultados em blocos temaacuteticos identificando seu
setor de origem (Educaccedilatildeo Sauacutede) entendendo que tais propostas possuem uma
especificidade disciplinar e mesmo discursiva Analisamos as possiacuteveis ambiguidades
contradiccedilotildees bem como os tipos de argumentos sobre prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo produzidos
nesses textos Todavia independente da origem boa parte do acervo apresentou evocacccedilotildees
discursivas a accedilotildees ―coletivas e interdisciplinares reconhecendo ser essencial que os
esforccedilos sejam sineacutergicos entre escola famiacutelia e sociedade devendo incluir accedilotildees preventivas
de modo a atuar em situaccedilotildees geneacutericas conduzidas para qualificar as relaccedilotildees sociais
prevenir as agressotildees online e buscando evitar novos episoacutedios de cyberbullying
Para Baek e Bullock (2013) apesar dos muitos estudos sobre cyberbullying haveria
uma lacuna de produccedilotildees que tragam uma perspectiva internacional sobre como o tema vem
76
sendo discutido pelo mundo Entre os estudos analisados pelos autores que abordam sobre
prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo tais programaspropostas podem ser divididas nas categorias leis e
poliacuteticas abordagens educacionais esforccedilos das escolas e papeacuteis dos pais Entretanto nesses
moldes de classificaccedilatildeo identificamos ambiguidades sobre o papel dos pais poliacuteticas de
enfrentamento e no que tange aos modus operandi dos programas mencionados pois ora satildeo
apresentados como propostas punitivas ora apresentam um vieacutes reflexivo numa perspectiva
de cultura de paz ou de copinglsquo
As contribuiccedilotildees associadas agrave Educaccedilatildeo agrave Sauacutede e de origem Interdisciplinar
identificadas nete estudo se caracterizaram por defender estrateacutegias preventivas baseadas 1
no controle e monitoramento das atividades online praticadas pelos jovens 2 no
estreitamento de viacutenculos entre profissionais da rede escolar e alunos e entre pais e jovens
3e na disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo e campanhas sobre cyberbullying bem como na
capacitaccedilatildeo de profissionais pais e alunos sobre o tema Por fim elencamos mais uma
categoria discursiva organizadora do acervo que trata dos fatores que levariam a ecircxitos e
fracassos das propostas de prevenccedilatildeo (4)
Controle e monitoramento
As estrateacutegias de prevenccedilatildeo baseadas na perspectiva de controle e monitoramento
foram as mais comuns As revisotildees de Couvillon e Ilieva (2011) e Smith et al (2012)
sugerem por exemplo limitar o uso de celulares na escola Esse texto como em muitos
outros os nuacutecleos verbais satildeo evidentes em sua perfomatividade proibitiva (implementar
controlesrestringir acessoexcluir miacutedias)
―As escolas podem implementar controles sobre a miacutedia existente
restringindo o acesso agraves aacutereas de Internet em que o ciberbullying
provavelmente ocorreraacute (por exemplo salas de bate-papo miacutedias sociais
sites) e excluir a miacutedia natildeo necessaacuteria para a experiecircncia de aprendizagem
como celular Smith et al 2012 (pg 121)
Considerando que a sociabilidade digital jaacute estaacute engendrada no cotidiano de crianccedilas e
adolescentes alguns estudos revisados por Sabella et al (2013) ponderam que a tecnologia
aleacutem de ser uma ferramenta social e de educaccedilatildeo desligar o computador natildeo interrompe
muitas formas de cyberbullying
77
Foram poucos os tipos de estrateacutegias de prevenccedilatildeo direcionadas para o campo da
Sauacutede ou por ele propostas se comparados agrave diversidade de propostas da Educaccedilatildeo mas
dentre estas destacam-se as propostas relativas ao que os artigos nomearam como controle e
monitoramento das atividades online das crianccedilas e adolescentes Uma revisatildeo do campo da
sauacutede propocircs que psiquiatras ―eduquem os pais de adolescentes viacutetimas de cyberbullying
que ―informem sobre monitoramento e controle do uso de tecnologias (Korenis e Billick
2015) Reconhecemos aiacute a presenccedila de interdiscussividade com o discurso biomeacutedico
sugerindo a influecircncia da autoridade meacutedica sobre os pais mesmo diante de fatos relativos agrave
sociabilidade e de cunho comportamental Confirma-se o campo de exerciacutecio da biomedicina
para aleacutem das fronteiras cliacutenicas incorporando o manejo de questotildees da vida social
Outros estudos tambeacutem apresentaram o discurso do monitoramento e controle como
estrateacutegia ―essencial de prevenccedilatildeo com intertextualidade constituiacuteda de um enunciado que
reforccedila a necessidade de supervisatildeo das praacuteticas juvenis e controle parental (Garcia
Maldonado 2011 Perren et al 2012 Torres e Vivas 2012 Bailey 2013 Brunett et al 2013
Aresene e Raynaud 2014)
No que tange agraves propostas interdisciplinares voltadas para a ―proteccedilatildeo online
estudos sugerem a ―tutoria de atividades ―programas de seguranccedila na internet voltado para
pais professores comunidade escolar e alunos e ainda o desenvolvimento precoce de haacutebitos
relacionados ao ―uso seguro da internet para crianccedilas de modo a garantir a efetiva
―internalizaccedilatildeo desses comportamentos (Hanewald 2009 Wendt e Lisboa 2014 Ang
2015) Tal discurso de proteccedilatildeo eacute portador de ambiguumlidades ora propondo um
―acompanhamento (necessaacuterio para determinadas faixas etaacuterias) o que pressupotildee certa
agecircncia e autonomia dos meninos e meninas em navegar online bem como evoca a ideacuteia de
controle (antiacutetese da autonomia sugerida) como estrateacutegia de prevenccedilatildeo Poreacutem natildeo fica claro
como tais propostas consideram os princiacutepios de liberdade de expressatildeo privacidade e
autonomia das crianccedilas e adolescentes
Nesse sentido a literatura analisada sustenta enunciados que reforccedilam a ideacuteia de que
os pais devem ser informados sobre boas praacuteticas e riscos na internet inclusive os riscos do
cyberbullying aleacutem de ―ter conhecimento dos tipos de tecnologias que satildeo utilizadas pelos
jovens para assim supervisionar ―monitorar no sentido de participaccedilatildeo das atividades online
(Hanewald 2009 Bayley 2013 Burnett et al 2013 Arsene e Raynaud 2014) Outros autores
tentam atenuar o confronto entre autonomiamonitoramentocontrole com expressotildees do tipo
78
―monitoramento no sentido de participaccedilatildeo da navegaccedilatildeo em alguns sites e apresentam uma
coerecircncia textual para que natildeo haja maacute interpretaccedilatildeo por parte dos jovens por acharem que
haveria uma perda de autonomia para navegaccedilatildeo na web Ao mesmo tempo o trecho traz
como forccedila um discurso de direcionamento tanto para as crianccedilas e adolescentes quanto para
os pais sobre um modelo de ajuste das praacuteticas rotineiras para que as formas de
monitoramento sejam naturalizadas e inseridas no cotidiano com a justificativa de prevenir da
violecircncia virtual Tal discurso tem tambeacutem como perspectiva de accedilatildeo a participaccedilatildeo dos pais
no universo online de seus filhos propiciando assim novas possibilidades de interaccedilatildeo
familiar
Wendt e Lisboa (2014) afirmam que os jovens acreditam que os adultos natildeo sabem
lidar com o cyberbullying todavia sugerem que o monitoramento parental visto como ―fator
protetivo pode contribuir para um menor comportamento de risco para os jovens na internet
Outra reflexatildeo apontada nessa literatura eacute que conforme os adolescentes se desenvolvem e
passam a adquirir maior independecircncia em relaccedilatildeo aos pais estes uacuteltimos costumam ajustar as
praacuteticas de supervisatildeo permitindo maior liberdade ao adolescente
Jaacute Sabella et al (2013) assinalam que o controle parental natildeo eacute tarefa faacutecil visto que os
aparelhos eletrocircnicos da atualidade satildeo de uso individual Aleacutem disso os adolescentes teriam
mais expertise no uso de tecnologias do que os adultos (Sabella et al 2013)
Estreitamento de laccedilos
No cenaacuterio das propostas oriundas da Educaccedilatildeo o estreitamento de laccedilos entre
alunos e professores se mostrou como uma alternativa relevante como apontam Couvillon e
Ilieva (2011) que ressaltam a necessidade de se ―avanccedilar de modo a ampliar a relaccedilatildeo de
confianccedila apoio e instruccedilatildeo entre alunos professores e demais funcionaacuterios (pg97)
No que concerne aos laccedilos familiares assinalados como relevantes para as accedilotildees de
prevenccedilatildeo percebe-se que a literatura analisada natildeo sinaliza claramente se reconhece a
existecircncia de rearranjos familiares e novos modelos de famiacutelias de crianccedilas e adolescente que
vivenciam experiecircncias de cyberbullying sejam como perpetradores acometidos eou
expectadores pois as orientaccedilotildees sempre invocam os personagens ―pais desconsiderando
que o cuidado dos filhos ocasionalmente esteja sob responsabilidade de outro adulto ou
tutor
79
Assim algumas revisotildees apontaram que os pais teriam um papel significativo na
prevenccedilatildeo do cyberbulyying quando esses permitem que seus filhos acessem somente a sites
considerados ―apropriados Assim essa permissatildeo demonstraria uma forma de cuidado e
propiciaria um ―ambiente saudaacutevel para que os filhos se sintam seguros de falar sobre alguma
situaccedilatildeo de cyberbullying vivenciada (Smith et al 2012 pg 121) Mas como os pais
poderiam valorar qual o poder ofensivo de redes sociais que satildeo os endereccedilos virtuais mais
utilizados pelos jovens na contemporaneidade Em contraponto um estudo revisado por
Slonje et al (2013) que investigou jovens de 25 paiacuteses constatou que 77 das viacutetimas
contaram o problema para algueacutem 42 contaram para os pais 52 para um amigo 7 para
os professores
Wendt e Lisboa (2014) pontuam que a ecircnfase e atenccedilatildeo devem ser voltadas para a
qualidade da relaccedilatildeo entre pais e filhos tal como agrave coerecircncia entre as praacuteticas parentais
utilizadas e a abertura para o diaacutelogo e negociaccedilatildeo Ressaltam ainda que o tempo gasto na
internet prejudica a qualidade na convivecircncia familiar
Capacitaccedilatildeo sensibilizaccedilatildeo campanhas
No que concerne agrave capacitaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo sobre o problema a literatura
reforccedila que as escolas precisam incluir o tema em suas pautas poliacuteticas escolares de prevenccedilatildeo
e incluindo a conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar capacitando natildeo soacute os
professores que satildeo considerados imigrantes digitiais mas os alunos e demais profissionais da
escola promovendo assim um ambiente no qual o cyberbullying seja socialmente inaceitaacutevel
(Sabella et al 2013 Suzuky et al 2012 Smith et al 2012 Von Mareacutees Peterson 2012
Nosworty e Rinaldi 2013) Na revisatildeo de Sabella et al (2013) vemos a evocaccedilatildeo da ideia-
forccedila de conclamaccedilatildeo para que as escolas ampliem o conhecimento sobre poliacuteticas de bullying
e cyberbullying para ajudar a proteger os alunos e resguardar as escolas de sanccedilotildees legais
aleacutem de contribuir para o fortalecimento de viacutenculos no ambiente escolar e comunicaccedilatildeo
aberta entre os alunos
Ainda sobre tipos de prevenccedilatildeo nas escolas encontramos na literatura a proposta de
―capacitar os professores utilizando material com conteuacutedo objetivo e claro para que estes
tenham condiccedilotildees de entender o que representa o cyberbullying ―identificar casos seja
atraveacutes de manifestaccedilotildees psicopatoloacuteloacutegicas comportamentais ou ausecircncia escolar bem como
para o ―fortalecimendo de accedilotildees ciacutevicas no ambiente escolar que conscientizam de modo a
80
―contribuir para um ambiente harmocircnico e uma relaccedilatildeo de confianccedila entre esses atores
(Couvillon e Illieva 2011)
No campo da Sauacutede estudos apontaram a necessidade de campanhas de
conscientizaccedilatildeo para prevenir o cyberbullying (Mareacutees e Peterson 2012 Chisholm 2014) e
defendem que profissionais de sauacutede que trabalhem ou natildeo nas escolas deveriam ―capacitar
alunos e pais Enfatizam a importacircncia de instruir para o desenvolvimento de habilidades
emocionais de modo a reduzir comportamentos impulsivos agressivos e encorajar crianccedilas e
adolescentes a desenvolverem empatia e controlar a raiva utilizando teacutecnicas de ―auto-gestatildeo
emocional ou resiliecircncia (Von Mareacutees e Peterson 2012 e Suzuky et al 2012) O estudo de
Suzuky et al (2012) considera relevante que pais sejam conscientizados por conselheiros
escolares ou profissioanis de sauacutede sobre os problemas que o cyberbullying pode acarretar
Aresene e Raynaud (2014) destacaram a presenccedila recorrente de campanhas
governamentais a niacutevel nacional na Franccedila especiacuteficamente realizada por profissionais de
Sauacutede Puacuteblica chamando a atenccedilatildeo sobre o protagonismo do Setor nesse paiacutes frente ao tema
se comparados a outros campos como a Educaccedilatildeo
A disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees foi um tipo de prevenccedilatildeo sugerida Algumas
propostas relevantes foram destacadas para o setor Sauacutede Puacuteblica como a criaccedilatildeo de material
informativo com enfoque na prevenccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas escolares que alcance
municiacutepios e estados com base em resultados de pesquisas (Gaacutercia Maldonado et al 2011
Kowalski et al 2014)
Ecircxitos e fracassos
Brown et al (2006) ressaltam que a literatura sugere como estrateacutegia de prevenccedilatildeo
primaacuteria que ―explorem a mentalidade digital como uma tarefa de poliacutetica escolar ou seja
que ―criem sites com uma linguagem digital apropriada para ―falar com os grupos de pares
utilizem desse mecanismo como estrateacutegia para que crianccedilas e adolescentes se relacionem e se
expressem nessa rede social escolar Tal literatura apresentou um discurso constitutivo que
propotildee mudanccedila de comportamento de alunos envolvidos em cyberbullying Quando se
propotildee a falar a linguagem dos nativos digitaislsquo essa estrateacutegia utiliza do convencimento para
propor intencionalmente um novo modelo de relaccedilotildees interpessoais desses jovens
81
Os autores mencionam a importacircncia de considerar as dinacircmicas sociais que
circundam a cibercultura como uma base para que praacuteticas positivas sejam desenvolvidas
Propor programas de acordo com a cultura local de um paiacutes ou regiatildeo foi visto como uma
accedilatildeo coerente ao inveacutes de copiar propostas de accedilatildeo jaacute existentes em outros paiacuteses De acordo
com um estudo grego embora haja uma seacuterie de programas de conscientizaccedilatildeo e material
relacionado a maioria dos programas foi projetada a partir de programas europeus muitas das
vezes ignorando que para aumentar a possibilidade de eficaacutecia de um programa de
intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio sua adaptaccedilatildeo agraves necessidades e cultura do paiacutes (Antoniadou e
kokkinos 2013) Percebe-se neste contexto a denuacutencia sobre uma certa dominaccedilatildeo ideoloacutegica
de modelos que satildeo exportados de paiacuteses ―centrais que desconsidera aspectos importantes
como a especificidade da cultura de determinada regiatildeo a forma como os jovens interagem
nos meios digitais e como vivenciam as praacuteticas de violecircncia nessa acircmbiencia
Um estudo revisado por Slonje (2013) apontou que satildeo razoaacuteveis as taxas de sucesso
dos programas escolares de prevenccedilatildeo ao bullying Os autores acreditam que os programas de
prevenccedilatildeo ao bullying podem ser ampliados sem a necessidade de grandes alteraccedilotildees
incluidno a demanda do cyberbullying Assim seria um componente de uma poliacutetica anti-
bullying em toda a escola com accedilotildees de conscientizaccedilatildeo e atividades nesse aspecto poderiam
ser incluiacutedas no curriacuteculo escolar
Programas com vieacuteses punitivos voltados para que perpetradores ―tirem uma liccedilatildeo
sobre seus atos foram considerados ineficazes por parte da literatura Todavia haacute divergecircncia
no discurso sobre as abordagens punitivas no trato com o cyberbullying Segundo a revisatildeo de
Hanewald (2009) estudos consideraram a responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores e a criaccedilatildeo de
poliacuteticas que tratam sobre a questatildeo da violecircncia digital como fatores positivos que inibiriam
novas accedilotildees de cyberbullying Um estudo do campo da Educaccedilatildeo defende que a
judicializaccedilatildeo dos casos de cyberbullying eacute uma estrateacutegia negativa ―Os distritos escolares
devem considerar cuidadosamente as accedilotildees que as escolas podem realizar sem colocar nossa
juventude no sistema de justiccedila criminal (Bailey 2013 pg 6) Tal referecircncia conclama as
instituiccedilotildees escolares tomarem para si a responsabilidade de atuar de forma preventiva de
modo que natildeo seja necessaacuteria uma intervenccedilatildeo de cunho punitivo no acircmbito judicial com os
jovens envolvidos com o cyberbullying Outros textos trazem a mesma perspectiva
(Aboujaoude et al 2015 Alim 2016 Baek e Bullock 2014 Bailey 2013 Baldry et al 2015
Berne et al2013 Cantone et al 2015 Cassidy Faucher e Jackson 2013)
82
A criaccedilatildeo de leis punitivas dividiu os autores Uns consideram que tais normativas
serviriam de base tanto para prevenccedilatildeo quanto para o enfrentamento aleacutem de servir de
paracircmetro legal para possiacuteveis accedilotildees praacuteticas adotadas pelas escolas diante de tais situaccedilotildees
(Baek e Bullock 2013 Bailey 2013)
Por outro lado os programas de prevenccedilatildeo que propiciem uma cultura de paz foram
considerados como uma alternativa eficiente no enfrentamento ao cyberbullying(Cassidy et al
2012)
Por fim um estudo de Della Cioppa et al (2015) que analisou programas de
prevenccedilatildeo do cyberbullying revelou que a maioria desses programas natildeo transcende a escola
(por exemplo para a famiacutelia a miacutedia) - o que pode explicar porque poucos programas de
prevenccedilatildeo natildeo conseguiram reduzir a vitimizaccedilatildeo dos casos de cyberbullying
ESTRATEacuteGIAS DE ldquoINTERVENCcedilAtildeOrdquo
Verificamos no acervo deste estudo duas linhagens de intervenccedilatildeo propostas diante de
casos jaacute ocorridos a primeira toma o foco das accedilotildees realizadas por instituiccedilotildees e a segunda
voltada para o manejo de cunho individual cujas accedilotildees satildeo alinhadas agrave perspectiva de coping
(modos de lidar)
Respostas institucionais de intervenccedilatildeo
De acordo com a literatura estudada (Mason 2008 Garaigordobil 2011) as propostas
de intervenccedilatildeo devem inicialmente identificar os casos de cyberbullying e sinalizar possiacuteveis
estrateacutegias para evitar que essas praacuteticas de violecircncia se consolidem a partir de accedilotildees
especiacuteficas de intervenccedilatildeo que tenham enfoque individual e nos grupos de agressores Intervir
em situccedilotildees concretas de cyberbullying de sorte que se torne possiacutevel minimizar os impactos
dessa violecircncia sobre os acometidos ofertando apoio psicoteraacutepico e proteccedilatildeo agraves viacutetimas sem
desconsiderar accedilotildees junto ao puacuteblico de espectadores
No primeiro grupo estatildeo aqueles que corroboram a ideia que a proteccedilatildeo dos dados
digitais eacute uma forma de lidar com o cyberbullying Essa proteccedilatildeo de dados tem como objetivo
natildeo permitir que conteuacutedos de cunho pessoal sejam acessados e expostos sem o
consentimento do proprietaacuterio Salientamos o discurso evocado na revisatildeo de Ang (2015)
sobre a praacutetica social do exibinicionismo tatildeo naturalizada nas miacutedias sociais digitais Ang
identificou entre os estudos revisados por ele mecanismos de accedilatildeo pelo qual essa loacutegica
83
narcisista ao extremo poderia contribuir para praacuteticas de cyberbullying contra pessoas que natildeo
se encaixam em determinados padrotildees esteacuteticos O autor reflete ainda que o anonimato na
Internet poderia ―exacerbar o senso desses adolescentes de desrespeitar os outros com a
crenccedila de que a agressatildeo eacute ―razoaacutevel aceitaacutevel e justificaacutevel (pg 38) Os elementos
discursivos desse estudo trazem o modo de representaccedilatildeo dos jovens sobre o mundo e sobre
os outros enfatizando o exibicionismo e natildeo empatia com seus pares
Com relaccedilatildeo agraves implicaccedilotildees para a escola segundo a revisatildeo de Hinduja e Patchin
(2011) a escola e seus administradores teriam obrigaccedilatildeo legal de agir quando ocorre a
violecircncia fora da internet e dentro dela quando esses atores tiverem ciecircncia desses fatos Para
Castro Schneider (2015) a escola teria como funccedilatildeo social a co-responsabilidade nos casos de
cyberbullying devendo a direccedilatildeo acionar os pais os Conselhos Tutelares e outros oacutergatildeos de
proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente aleacutem de aconselhar as viacutetimas (Faucher et al 2015) os
perpetradores (Chibbaro 2015) e ensinar aos alunos qual a maneira mais adequada de
responder a episoacutedios de cyberbullying (Notar et al 2016) Espera-se ainda da escola que
capacite professores a terem uma escuta qualificada e que tenham um espaccedilo sigiloso como
referecircncia de apoio para os alunos para que se sintam seguros em compartilhar sobre situaccedilotildees
de cyberbullying (Wingate et al 2013) A literatura ainda sugeriu que as escolas devam criar
programas que melhorem o clima escolar e que contribuam para o desenvolvimento da
empatia e resoluccedilatildeo de conflitos Percebe-se que haacute uma tendecircncia nos textos em sugerir
modelos de condutas por parte das escolas de modo a criar protocolos de comportamentos
diante de situaccedilotildees de bullyingcyberbullying
Destaca-se neste bloco de informaccedilotildees o papel da escola no acircmbito interventivo a
ideia de que funcionaacuterios escolares terem autonomia de impor restriccedilotildees e disciplina caso
regras escolares sejam violadas pelos alunos (Mason 2008) Tal discurso apresenta uma forccedila
discursiva ao designar uma ordem social em ―impor restriccedilotildees por parte dos profissionais da
educaccedilatildeo
A escola eacute chamada a oferecer capacitaccedilatildeo para pais cujos filhos estejam
envolvidos com cyberbullying de modo que esse treinamento tenha um recorte interventivo
ao buscar trabalhar com o puacuteblico dos estudantes cyberagressores no sentido de instruir esses
uacuteltimos e informar sobre o problema
Outras accedilotildees foram destacadas como propostas de cunho didaacutetico de modo a incluir a
famiacutelia e a comunidade no processo de intervenccedilatildeo (Garaigordobil 2011) e monitorar as
84
atividades online feita pelos alunos (Cassidy et al 2013 Carpenter e Hubbard 2014) Essa
uacuteltima proposta coloca em questatildeo como jaacute discutido anteriormente regras de convivecircncia
que interferem na privacidade dos alunos aleacutem das formas de se relacionar na
contemporaneidade ateacute mesmo da individualidade e autonomia dos jovens de fazerem o uso
de seus pertences tecnoloacutegicos no ambiente escolar
Jaacute a revisatildeo de Wendt e Lisboa (2014) evidencia que a falta de diaacutelogo entre pais e os
jovens precisa ser foco de intervenccedilatildeo por parte de psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede
dado que a vulnerabilidade na comunicaccedilatildeo familiar representa um fator de risco no que tange
aos moldes que a violecircncia apresenta no meio digital Os autores percebem que haacute um
distanciamento cultural por parte de pais e professores Sugerem que programas de
intervenccedilatildeo direcionados pelas escolas poderiam desenvolver grupos de responsaacuteveis com
atividades luacutedicas que envolvam o uso das novas tecnologias de modo a propiciar um
compartilhamento de experiecircncias entre responsaacuteveis professores e os alunos Wendt e
Lisboa ainda recomendam que psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede ofertem suporte
emocional aleacutem de reflexotildees sobre os riscos e os benefiacutecios que as dinacircmicas digitais
oferecem na contemporaneidade Todavia identificamos um estudo que sugere a puniccedilatildeo com
o argumento de reparar o dano pelos maus atos praticados pelos filhos (Faushe et al 2015)
Accedilotildees interdisciplinares foram propostas como manejo de intervenccedilatildeo O estudo de
Gine e Espelage (2014) apesar de natildeo descreverem qual o papel de psiquiatras meacutedicos pais
e professores diante de casos de cyberbullying sugere que a intervenccedilatildeo por parte desses eacute
necessaacuteria para diminuir o risco de angustias que podem repercutir em suiciacutedio Neste caso o
discurso apresenta uma funccedilatildeo de linguagem identitaacuteria ao reconhecer o papel social desses
atores e a necessidade de sua atuaccedilatildeo Reed (2015) destacou a formulaccedilatildeo de programas de
intervenccedilatildeo com base em modelos jaacute existentes como uma estrateacutegia positiva designada para
intervir na depressatildeo de pessoas que vivenciaram o cyberbullying Outro modelo semelhante
visa agrave formaccedilatildeo de ciacuterculos restaurativos e grupos de reflexatildeo voltado para os agressores
mas com monitoramento das accedilotildees de cyberbullying por eles praticadas Tanto no que se
refere aos autores como aos acometidos a perspectiva de mudanccedila de comportamento adveacutem
de tratamento psicoloacutegico sem desconectar a oferta de aconselhamento Experiecircncias como
estas foram consideradas exitosas quando reproduzidas (Suzuky et al 2012 Sabella et al
2013 Slonje et al 2013)
85
Programas de conscientizaccedilatildeo tambeacutem foram considerados como accedilotildees de intervenccedilatildeo
cujos objetivos satildeo o de contribuir para a reduccedilatildeo do estresse imediato e ajudar a prevenir
consequecircncias de longo prazo bem como um mecanismo para denuacutencias anocircnimas aos canais
e oacutergatildeos de proteccedilatildeo (Garaigordobil 2011 Raskauskas e Ruyinh 2015)
Criar instrumentos para avaliar os riscos de um jovem sofrer cyberbullying tambeacutem foi
considerado pelos estudos como um instrumento de intervenccedilatildeo ao passo que permitiria a
criaccedilatildeo de novas estrateacutegias de accedilotildees (Baldry et al 2015) Entendemos que a criaccedilatildeo de
instrumentos para avaliaccedilatildeo traz como implicaccedilatildeo discursiva as maneiras de interpretar o
sentido de haver riscos de sofrer cyberbullying
Por fim um uacuteltimo grupo de propostas de intervenccedilatildeo se refere agrave criaccedilatildeo de leis
coibitivas da praacutetica de cyberbullying No que tange a legislaccedilatildeo a criaccedilatildeo de leis especiacuteficas
para lidar com cyberbullying abre margem para uma argumentaccedilatildeo de que se faz ―necessaacuteria
a criminalizaccedilatildeo do fenocircmeno como condiccedilatildeo efetiva para lidar com ele A anaacutelise dessas
propostas envolve a agurmentaccedilatildeo sobre execuccedilatildeo das leis podendo inclusive resultar em
accedilotildees paliativas aleacutem da presenccedila de um discurso apelativo de judicializaccedilatildeo das relaccedilotildees
sociais em conflito (Yan e Grinshteyn 2016)
Entendemos que as estrateacutegias relacionadas acima correspondem a accedilotildees de cunho
institucional e poliacutetico Natildeo encontramos modelos de intervenccedilatildeo especiacuteficos para o campo da
sauacutede
bdquoCoping‟ ndash o manejo individual
Os modelos de coping apresentados nos estudos analisados reportam a um manejo de
ordem psiacutequica e individual ofertando ainda a possibilidade de acionamento de outros sujeitos
como professores amigos e famiacutelia Natildeo estatildeo relacionados diretamente ao campo Educaccedilatildeo
mas ao manejo que prioriza a sauacutede mental dos indiviacuteduos
Apresentaremos a seguir as propostas de enfrentamento designadas pela literatura
como modelos de intervenccedilatildeo de ordem individual Verificamos que natildeo se trata propriamente
de modelos de intervenccedilatildeo mais sim de estrateacutegias de como lidar com o fenocircmeno Nesse
bloco ressaltam-se os modos de lidar que promovem resiliecircncia sugeridos a partir de
experiecircncias existentes ensinadas e replicadas ou seja sugestotildees de formas de prevenccedilatildeo de
86
novos agravos agrave sauacutede psiacutequica dos envolvidos com o cyberbullying ou ainda formas de
coping que supunham que a partir de determinado comportamento natildeo ocorram novos
episoacutedios do fenocircmeno Estrateacutegias de enfrentamento (coping) satildeo consideradas praacuteticas de
esforccedilos cognitivos e comportamentais para tratar das demandas peculiares e os objetivos
desses modos de lidar satildeo distintos e tomam por base o niacutevel de envolvimento desse sujeito
com a questatildeo do cyberbullying (no caso das viacutetimas) por exemplo o que vai determinar
quais os tipos e niacuteveis de estrateacutegias seraacute adotado para lidar como o cyberbullying (Castilho
2010 Bezzara in Veiga e Caetano 2014)
Como formas de coping satildeo discutidas o confronto a resoluccedilatildeo planejada do
problema a aceitaccedilatildeo o autocontrole a procura de ajuda a reavaliaccedilatildeo positiva da situaccedilatildeo o
distanciamento e fugaevitamento do problema (Serra 1987 Ribeiro e Rodrigues 2004)
O manejo utilizado por vitimados foi pontuado de forma recorrente pelos estudos
analisados Dentre as formas de lidar com o cyberbullying estatildeo informar algueacutem sobre o
ocorrido evitar a pessoa que praticou o cyberbullying revidar a accedilatildeo de alguma maneira
bloquear certas pessoas de contato on-line alterar senhas e nome de usuaacuterio excluir
mensagens anocircnimas sem ler evitar socializar abertamente o nuacutemero de celular rastrear
nuacutemero de IP do agressor e informar aos canais de atendimento de sites de relacionamentos
sobre a ocorrecircncia de atos de cyberbullying trocar nome e nuacutemero de telefone caso se sinta
ameaccedilado (Slonje et al 2013 Nixon 2014) Poreacutem eacute prematuro dizer que tais
comportamentos possam impedir um indiviacuteduo de vivenciar tal experiecircncia muito menos dar
conta da dimensatildeo exponencial que o cyberbullying pode alcanccedilar Entendemos que haveria
um discurso de intencionalidade devido agrave forccedila dos verbos utilizados bloquearlsquo alterarlsquo
rastrearlsquo revidar Ao fazer uso de tais verbos o discurso produz um sentido de proposiccedilatildeo
de construccedilatildeo de praacuteticas ativas que confrontem as accedilotildees de cyberbullying vivenciadas pelos
acometidos
Verifica-se que satildeo muacuteltiplas as formas de copinglsquo sinalizadas pelo acervo analisado
Em meio agraves distintas formas de lidar com o cyberbullying encontram-se atores que estariam
em uma posiccedilatildeo de passividade diante de accedilotildees do cyberbullying os chamados expectadores
Pode-se disser que esse tipo de comportamento tambeacutem representa um modo de lidar
contudo sem um caraacuteter de enfrentamento Neste caso o comportamento dos expectadores
nos chama atenccedilatildeo em meio ao cenaacuterio das propostas de enfrentamentos devido a sua ineacutercia
A falta de intervenccedilatildeo diante de um episoacutedio de cyberbullying por parte dos expectadores se
87
configura com o que Wingate et al (2013) denominam de ―ignoracircncia pluralista que
corresponde a um comportamento grupal onde sujeitos de um determinado grupo ao terem
uma opiniatildeo diferente preferem se calar diante de uma resposta contraacuteria a deste grupo ao
qual pertence O vocabulaacuterio em destaque traz como lexicaccedilatildeo agrave falta de conhecimento dos
espectadores diante dos danos que o cyberbullying pode causar em outrem Wingate et al
(2013) salientam que ocorre uma espeacutecie de ―efeito espectador (O que o grupo vai pensar
caso tenha uma reaccedilatildeo diferente das regras culturais estabelecidas pela comunidade que faz
parte) Por exemplo uma viacutetima de cyberbullying pode ter muitos amigos numa rede social
mas se eles natildeo reagirem cria a impressatildeo de que ignorar o cyberbullying eacute a resposta
normativa (Wingate et al 2013)
Uma das revisotildees (Raskauska e Ruinh 2015) tratou de identificar estrateacutegias para
lidar com o cyberbullying promotoras de reduccedilatildeo imediata do estresse gerado pelo fenocircmeno
ou aquelas que contribuam para diminuiccedilatildeo em longo prazo tais como praacuteticas com enfoque
nas emoccedilotildees e que promovam uma cultura de paz para evitar o confronto estrateacutegias de apoio
social que ofertem suporte que provoquem o amortecimento do impacto negativo do
cyberbullying (falar com um amigo professor ou profissional sobre o assunto) estrateacutegias
focadas na evacuaccedilatildeo que incluem distanciamento do enfrentamento no qual se evita ou se
retira da situaccedilatildeo estressante (como os bloqueios de perfis e exclusotildees) ou accedilotildees que gerem
resiliecircncia e porporcione o bem estar e sauacutede mental (como o natildeo pensar sobre o fato
ocorrido) A procura por apoio social se revelou mais peculiar entre o gecircnero feminino de
acordo com dois estudos revisados por Raskauska e Ruinh (2015)
O estudo de Nixon por exemplo embora revisasse pesquisas sobre eficaacutecias das
estrateacutegias de intervenccedilatildeo verificou que a maioria dessas pesquisas teria examinado
estrateacutegias de reduccedilatildeo de risco ou promoccedilatildeo de comportamentos que superem os riscos como
o suiciacutedio baixo rendimento escolar entre outros Tais estrateacutegias quando adotadas pelos
adolescentes podem mitigar ou reduzir o impacto negativo do cyberbullying (Nixon 2014)
A revisatildeo de Alim (2016) destaca um estudo de Justim Patchim e Sammer Hinduja
com adolescentes americanos de 11 a 18 anos de idade que analisou a probabilidade de um
jovem ser punido por um adulto como um fator para praticar ou natildeo atos de cyberbullying
Tal estudo observou que os adolescentes que pensavam que os adultos poderiam puni-los
eram menos propensos a fazer cyberbullying Alim (2016) ainda elencou as formas como os
adolescenes lidam com o fenocircmeno entre elas (a) responder aos ataques (b) saber em quem
88
confiar (c) ser astuto em relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecnologia (d) respeitar os
outros (e) estar no controle e (f) falar cara a cara (Fisher 2013 apud Alim 2016) Entre as
estrateacutegias relatadas pelos adolescentes consideradas eficazes e que impedem accedilotildees de
cyberbullying incluem accedilotildees tecnoloacutegicas como a exclusatildeo do perfil e o ajuste da
privacidade uso de configuraccedilotildees para evitar o contato Estas seriam moderadamente uacuteteis
para pessoas que sofrem com cyberbullying e outras formas de asseacutedio on-line O bloqueio do
agressor foi uma das respostas mais predominantes relatar o incidente a um consultor on-line
ou denunciar atraveacutes de relatoacuterio on-line tambeacutem foi identificada aleacutem de bloquear o acesso
do perpetrador agraves informaccedilotildees pessoais na linha do tempo de redes sociais Para Alim (2016)
as estrateacutegias dos adolescentes para o enfrentamento mudam com o passar dos anos e que as
soluccedilotildees tecnoloacutegicas e a procura de apoio satildeo eficazes na luta contra o ciberbullying Jaacute a
revisatildeo de de Allison e Busey (2016) ressaltou estudos que apontam que as normas de
comportamentos sociais entre pares podem influenciar a decisatildeo de transeuntes do universo
online participarem de cyberbullying inclusive no que tange ao comportamento dos
expectadores Verifica-se que o texto se apropia de elementos discursivos de forccedila (modos de
accedilatildeo) ―bloquear o agressor ―responder aos ataquese ao mesmo tempo de modos de
representaccedilatildeo desses sujeitos que fazem parte de comunidades sociais ―falar cara a cara
―saber em quem confiar Esse tipo de discurso contribui para moldar e restrigir as normas e
convenccedilotildees entre agressores e acometidos
Cabe destacar que parte das revisotildees que sugerem modos de lidar (coping) com o
cyberbullying propocircs accedilotildees preventivas concomitantemente Aleacutem disso pensar tais
estrateacutegias e reproduzir tais praacuteticas adequando as novas complexidades do fenocircmeno e da
cibercultura se fazem necessaacuterios (Aboujaoude et al 2015) visto que um modelo de
intervenccedilatildeo fechado natildeo daria conta da constante atualizaccedilatildeo tanto das tecnologias que
possibilitariam praacuteticas de cyberbullying como das ambiecircncias relacionais da cibercultura
CONCLUSOtildeES
No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um
assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns
pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das
89
expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o
evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares
Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa
levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia
Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a
cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo
Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o
conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o
contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que
podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying
podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas
atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais
Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio
na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia
psicoloacutegica e que ocorre entre pares
Percebemos que a literatura analisada por muitos momentos demonstrou uma
aproximaccedilatildeo do tema cyberbullying com o bullying tradicional Eacute suficiente considerar o
cyberbullying mais do mesmo neste caso bullying
Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma
personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o
cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de
alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos
produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet
voltar a circular apoacutes tempos depois em que o conteuacutedo foi disparado e o assunto degradante
veio agrave tona
Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos
estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio
(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre
quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas
do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a
atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as
habilidades dos meninos como superiores comparados com as meninas em aspectos
tecnoloacutegicos
90
Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagado deliberadamente em redes
sociais contra grupos eacutetnicos raciais natildeo brancos eacute inquietante natildeo ter identificado na
literatura reflexotildees sobre cyberbullying e gecircnero que transcendam a classificaccedilatildeo binaacuteria
aleacutem de invisibilizar questotildees como o racismo Tambeacutem cabe considerar que natildeo bastaria
nomear situaccedilotildees como cyberbullying sem refletir sobre o tipo de violecircncia praticada com tais
sujeitos Para isso eacute preciso ter ciecircncia do que de fato se configura cyberbullying para que
equiacutevocos interpretativos natildeo ocorram ao passo de classificar qualquer tipo de violecircncia
digital como cyberbullying desconsiderando por exemplo que trata-se de uma violecircncia
entre pares Estudos que apontem prevalecircncia de casos de cyberbullying contra jovens LGBT
grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio mulccedilumanos e
religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos satildeo de grande relevacircncia
Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre
o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis
por proliferar o conteuacutedo difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying
que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um
controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta
Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser
ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os
impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que
diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar
cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica do
cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas
ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os
seus perfis analisando inclusive se aqueles que cometem cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram
algum tipo de violecircncia
Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo
ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou
seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute
viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo anonimato
Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que
haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem
existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas
implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de
91
Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam
adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz
respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais
digitais
Ainda assim a literatura direciona maior responsabilidade no trato da prevenccedilatildeo do
cyberbullying agrave comunidade escolar Teriam as escolas capacidade de capacitar prevenir e
ainda intervir em situaccedilotildees de cyberbullying isoladamente Por outro lado natildeo eacute possiacutevel
admitir que questotildees de cyberbullying na escola sejam classificadas como uma problemaacutetica
de menor impacto para os alunos ou ―brincadeira de adolescente uma demanda que foge da
competecircncia escolar por transcender o seu espaccedilo fiacutesico Pensando nessa suposta
responsabilidade em alguns paiacuteses como no Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe
multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem dar conta de certas demandas por falta de
suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar continuidade a projetos iniciados por falta de
recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio refletir se de fato tais propostas e manejo
seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno complexo e com atravessamentos
peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros setores e atores sociais Partimos do
entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos de cyberbullying necessitam ser
realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes atores
Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados
tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de
revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou
analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento
Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a
necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos
pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos
online jaacute faccedila parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem
refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos ―nativos digitais e restrigir punir ou
controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens pode ter tambeacutem
aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria Quais os
seus limites Quando um profissional eou um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a
privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais
enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do
monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e
92
adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos
e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos
jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que
supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre o uso das novas tecnologias esses
possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua
responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um
aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso
aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de
identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de
monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que
tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a uma banalizaccedilatildeo do monitoramento
de praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da
liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo
familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz
necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado
pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos
Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado
de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos
publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo
foi o nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede
reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a
criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem
com esta demanda de forma coerente
Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do
conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios
novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e
intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento
sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre
avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de
intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)
REFEREcircNCIAS
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CONCLUSOtildeES
No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um
assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns
pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das
expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o
evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares
Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa
levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia
Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a
cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo
Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o
conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o
contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que
podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying
podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas
atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais
Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio
na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia
psicoloacutegica e que ocorre entre pares
Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma
personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o
cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de
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produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet
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voltar a circular apoacutes tempos depois em que esse conteuacutedo foi disparado e o assunto
degradante veio agrave tona
Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos
estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio
(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre
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do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a
atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as
habilidades dos meninos como superiores se comparados com as meninas em aspectos
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Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagando deliberadamente em redes
sociais percebeu-se ainda uma ausecircncia de reflexotildees sobre a questatildeo do cyberbullying contra
jovens LGBT grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio
mulccedilumanos e religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos
Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre
o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis
por proliferar o material difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying
que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um
controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta
Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser
ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os
impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que
diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar
cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica de
cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas
ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os
seus perfis analisando inclusive se aqueles que praticam cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram
algum tipo de violecircncia
Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo
ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou
seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute
viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo do anonimato
101
Eacute possiacutevel considerar que o cyberbullying se configura como uma nova forma de
violecircncia sistemaacutetica que se manifesta atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica
entre pares nas ambiecircncias das redes de socialidade digital que podem ocorrer em qualquer
espaccedilo geograacutefico Inclusive sendo considerado por estudiosos como um problema de sauacutede
social e de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede mental de crianccedilas e adolescentes
Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que
haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem
existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas
implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de
Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam
adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz
respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais
digitais
Ainda assim a literatura apontou excessiva responsabilidade da escola no trato da
prevenccedilatildeo do cyberbullying agrave comunidade escolar Entretanto em alguns paiacuteses como no
Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem
dar conta de certas demandas por falta de suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar
continuidade a projetos iniciados por falta de recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio
refletir se de fato tais propostas e manejo seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno
complexo e com atravessamentos peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros
setores e atores sociais Partimos do entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos
de cyberbullying necessitam ser realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes
atores
Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados
tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de
revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou
analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento
Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a
necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos
pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos
online jaacute faccedilam parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem
refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos nativos digitais e restrigir punir ou
controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens podem ter
102
tambeacutem aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria
Quais os seus limites Quando um profissional e um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a
privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais
enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do
monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e
adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos
e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos
jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que
supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre uso das novas tecnologias esses
possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua
responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um
aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso
aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de
identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de
monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que
tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a banalizar o monitoramento de
praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da
liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo
familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz
necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado
pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos
Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado
de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos
publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo
foi nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede
Reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a
criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem
com esta demanda de forma coerente
Identificou-se a necessidade de estudos futuros investigarem as redes sociais como
um territoacuterio de praacutetica e propagaccedilatildeo de atos de cyberbullying Que estudos com esse recorte
aponte quais os papeis dessas plataformas digitais no manejo com o cyberbullying
Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do
conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios
103
novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e
intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento
sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre
avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de
intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)
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RESUMO
Este estudo trata o cyberbullying como uma violecircncia psicoloacutegica que ocorre entre pares no
contexto das sociabilidades digitais logo se configura como um problema de sauacutede puacuteblica
que traz impactos agrave sauacutede emocional de crianccedilas e adolescentes que pode desencadear
inclusive em suiciacutedio Analisamos as formas de conceituar os fenocircmenos e suas dinacircmicas
quais os personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede dos perpetradores
e acometidos por essa categoria de violecircncia A seguir analisamos as propostas e enunciados
de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo propostas pelo e para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo (quem
satildeo os atores implicados e quais as estrateacutegias recomendadas) analisar os discursos sobre
prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno
Empreendemos tal estudo a partir de uma revisatildeo criacutetica da literatura tomando como base a
Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) nos moldes propostos por Fairclough sobretudo no que
diz respeito aos discursos e enunciados evocados em sua interdiscursividade (manifesta e
constitutiva) forccedila e praacutetica social Percebeu-se uma necessidade de novos estudos que
contextualizem a questatildeo do cyberbullying na cibercultura e novas possibilidades de interaccedilatildeo
digitais bem como estudos que discutam com maior aprofundamento o papel dos
profissionais de sauacutede no enfrentamento e na prevenccedilatildeo
Palavras-chaves Cyberbullying Sauacutede Educaccedilatildeo violecircncia
ABSTRACT
This study deals with cyberbullying as a psychological violence that occurs between peers in
the context of digital sociabilities and is therefore a public health problem that impacts the
emotional health of children and adolescents which can lead to suicide We analyze the ways
of conceptualizing the phenomena and their dynamics which characters are identified and
which associations point to the health of the perpetrators and affected by this category of
violence Next we analyze the proposals and statements of prevention and intervention
proposed by and for the fields of Health and Education (who are the actors involved and what
strategies are recommended) analyze the discourses on prevention accountability coping
modes and dynamics of the phenomenon We undertake such a study based on a critical
review of literature based on the Analysis of Critical Discourse (ADC) in the ways proposed
by Fairclough especially with regard to the discourses and statements evoked in his
interdiscursividade (manifest and constitutive) strength and social practice There was a need
for new studies that contextualize the issue of cyberbullying in cyberculture and new
possibilities for digital interaction as well as studies that discuss with a deeper understanding
the role of health professionals in coping and prevention
Key-words Cyberbullying Health Education violence
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO13
11 Objetivos13
12 Metodologia 19
2 MARCO TEOacuteRICO24
21 Cibercultura sociabilidade digital e ciberespaccedilo 24
22 Bullying29
23 Cyberbullying35
231 Cyberbullying Violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica35
3 ARTIGO 1 CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES
CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E IMPLICACcedilOtildeES COM
A SAUacuteDE44
Introduccedilatildeo45
Meacutetodos49
Conceituaccedilatildeo51
Descriccedilotildees das dinacircmicas56
Personagens envolvidos58
Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos61
Discussatildeo62
4 ARTIGO 2 CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO
PARA O CAMPO DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE
LITERATURA64
Introduccedilatildeo64
Metodologia66
Caracterizaccedilatildeo do acervo69
Estrateacutegias de prevenccedilatildeo74
Estrateacutegias de intervenccedilatildeo80
5 CONCLUSOtildeES 87
6 REFEREcircNCIAS91
Sumaacuterio de Quadros
Quadro 1 Seleccedilatildeo do acervo22
Quadro 2 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo24
Quadro 3 Vocaacutebulo designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas37
Quadro 4 Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de Cyberbullying
(2010-2016)69
Sumaacuterio de Tabelas
Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma51
Sumaacuterio de figuras
Figuras 1 Modelo Tridimensional de Norman Fairclough23
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Em tempos em que manter-se por muitas horas diaacuterias conectadas agrave internet atraveacutes de
aparelhos eletrocircnicos eacute uma realidade cotidiana de parte da sociedade na contemporaneidade
natildeo eacute de se espantar que a sociabilidade tenha sofrido alteraccedilotildees para novas formas de
interaccedilatildeo mediadas por diferentes miacutedias sociais De tal modo a violecircncia tambeacutem ganhou
novas formas de expressatildeo
A violecircncia e suas mais distintas expressotildees tecircm sido pauta de estudos em diferentes
aacutereas do conhecimento inclusive no campo da Sauacutede
Segundo Assis e Marriel (2010) conceituar violecircncia eacute uma tarefa difiacutecil por se tratar
de um fenocircmeno de muacuteltiplas causalidades
Ainda sobre as violecircncias Wanzinack e Signorelli (2015 p 09) afirmam que elas
atingem de forma natildeo apenas diferente mas sobretudo desigual a distintos sujeitos e grupos
da sociedade Assim sendo as violecircncias se manifestam por meio de diferentes atores e
encontram- se em variados cenaacuterios
Entende-se que existe uma relaccedilatildeo estreita poreacutem natildeo exclusiva entre a Violecircncia e a
Sauacutede conforme apontam Minayo e Souza (1998 p520) ―a violecircncia natildeo eacute objeto restrito e
especiacutefico da sauacutede mas estaacute intrinsecamente ligada a ela Cabe ressaltar que o campo da
Sauacutede possui um papel social de relevacircncia pois dentre suas funccedilotildees estatildeo a elaboraccedilatildeo de
estrateacutegias preventivas a promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede coletiva e individual
O cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se manifesta sob os moldes de
agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para aleacutem da
subjetividade do indiviacuteduo resultando em implicaccedilotildees praacuteticas e reais no cotidiano e
individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)
Um estudo (Silva Silva Saldanha 2011) realizado atraveacutes de um questionaacuterio com
114 crianccedilas e adolescentes portuguesas constatou que o cyberbullying causa efeitos
devastadores na sauacutede mental e fiacutesica Entre as consequecircncias mais frequentes estavam as
crises de choro (714) a ansiedade (571) a dificuldade de concentraccedilatildeo (571) e os
pesadelos (571)
O cenaacuterio para este estudo foi o ambiente virtual visto que a violecircncia tem alcanccedilado
relevante capilaridade neste espaccedilo o que tem gerado amplas consequecircncias Satildeo
14
repercussotildees que perpassam tanto as relaccedilotildees sociais iniciadas fora do ambiente virtual que
podem ou natildeo ser nutridas neste ambiente (como exemplo relaccedilotildees familiares entre colegas
e vizinhos) ou ainda interaccedilotildees sociais mais superficiais (amigos virtuais eou seguidores de
redes sociais que podem ou natildeo ter uma relaccedilatildeo social real com o usuaacuterio nessas redes
sociais) Certas vinculaccedilotildees desenvolvidas neste espaccedilo satildeo conexotildees construiacutedas por meio de
interesses comuns que todavia podem ser rompidas a qualquer momento devido agrave
superficialidade nessas conexotildees
Essas relaccedilotildees sociais que ocorrem no ciberespaccedilo (espaccedilo virtual) e que podem
culminar em atos violecircncia na comunicaccedilatildeo digital se manifestam em meio a uma cultura
digital Cultura esta que alguns estudiosos da aacuterea das ciecircncias da comunicaccedilatildeo e ciecircncias
sociais chamam de cibercultura
Segundo Andreacute Lemos (2015) a cibercultura seria uma confluecircncia entre as formas
sociais praacuteticas humanas e a tecnologia sendo atraveacutes da inclusatildeo da sociabilidade na praacutetica
diaacuteria da tecnologia que ela adquire os seus contornos mais niacutetidos A existecircncia de uma nova
forma de apresentaccedilatildeo da cultura e da proliferaccedilatildeo de uma sociabilidade digital traz consigo
distintas facetas entre elas a violecircncia se faz presente no ciberespaccedilo e nas relaccedilotildees digitais
que ali se estabelecem A nova sociabilidade digital eacute mediada por distintas tecnologias que
facilitam o uso e acesso individual e remoto tais como os smarthphones notebooks e outros
modos de comunicaccedilatildeo que possibilitam o envio e recebimento de mensagens de textos
aacuteudios imagens fotos e viacutedeos Essas muacuteltiplas formas de interaccedilatildeo digital podem ser
utilizadas para depreciar denegrir e expor vexatoriamente eou negativamente agrave imagem de
algueacutem Assim o cyberbullying pode ser concebido e difundido poreacutem agraves vezes seus autores
natildeo satildeo identificados devido agrave possibilidade de anonimato (ainda existente) no ambiente
virtual ou ainda a morosidade na identificaccedilatildeo desses autores Apesar de todos os avanccedilos
tecnoloacutegicos que possibilitam rastreamentos e localizaccedilatildeo de aparelhos eletrocircnicos de
comunicaccedilatildeo
Aleacutem disso uma vez que uma imagem eacute veiculada no ambiente virtual essas
informaccedilotildees poderatildeo estar pra sempre circulando na rede mundial de computadores por meio
das diferentes conexotildees que podem ser realizadas Lemos (2015) considera o ciberespaccedilo
como um ambiente onde ocorre uma significaccedilatildeo sensorial da civilizaccedilatildeo pautada em
informaccedilotildees digitais
15
Jaacute Martino (2015) ao tratar das questotildees caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais
contemporacircneas afirma que os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos
estabelecidos conforme a necessidade de um momento e desmanchados depois Haacute uma
dinacircmica nos contatos sociais feitos atraveacutes da internet partindo da ideia do nuacutemero e dos
tipos de conexotildees que podem ser estabelecidas entre os participantes das redes sociais
presentes no chamado ciberespaccedilo
Eacute inevitaacutevel falar cyberbullying sem mencionar o fenocircmeno bullying por ambos os
fenocircmenos ocorrerem entre pares e pelo fato deste primeiro ser chamado de a versatildeo digital
do bullying dito como tradicional
Jaacute que para alguns o cyberbullying representaria ―uma nova forma de bullying (Neto
2005) O autor cita Bill Belsey professor que teria utilizado pela primeira vez o conceito
trata-se do uso da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (e-mails
telefones celulares mensagens por pagers ou celulares fotos digitais sites
pessoais difamatoacuterios accedilotildees difamatoacuterias online) como recurso para a
adoccedilatildeo de comportamentos deliberados repetidos e hostis de um individuo
ou grupo que pretende causar danos a outro (s)
Sabe-se que os primeiros estudos sobre o bullying satildeo oriundos dos paiacuteses do norte da
Europa dos paiacuteses considerados noacuterdicos na deacutecada de 1970 pelo professor universitaacuterio
Dan Olweus e posteriormente na Sueacutecia com Heinz Leymann Dan Olweus eacute apresentado
como o precursor em realizar pesquisas sistemaacuteticas sobre o tema Em 1989 Olweus e
Roland divulgaram os primeiros diagnoacutesticos de seu estudo sobre o bullying No entanto
estudos de bullying entre estudantes passaram ser mais observados em outros paiacuteses como os
Estados Unidos a partir da deacutecada de 1980 (Olweus 2003)
Segundo Malta et al (2010) o Bullying eacute uma praacutetica antiga Os autores o entendem
como uma ―violecircncia que traz repercussotildees no cotidiano de suas viacutetimas como uma ameaccedila
diaacuteria a integridade fiacutesica psiacutequica e da dignidade humana (pg3069) Os autores enfocam
ainda que o bullying natildeo eacute uma violecircncia demarcada por recortes sociais e econocircmicos e
perpassa por distintas camadas sociais e ―niacuteveis culturais Segundo Cleo Fante (2008 p 86)
o ―bullying eacute uma palavra de origem inglesa adotada em muitos paiacuteses para definir o desejo
consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocaacute-la sob tensatildeo Conforme Shariff
16
(2011) trabalhadores britacircnicos de minas de carvatildeo discorriam sobre colegas de trabalho
como bullies e a partir daiacute iniciou-se uma associaccedilatildeo dos bullies com ―brigotildees ou
―valentotildees Poreacutem somente a partir na deacutecada de 1800 (seacutec XIX) a termologia (bullies)
passou a se referir agrave fraqueza covardia tirania e violecircncia tendo ainda uma associaccedilatildeo a
gangues Deste modo agir como um bully representava tratar de maneira ―autoritaacuteria
intimidadora e apavoradora O que nos leva a entender que haacute provaacutevel relaccedilatildeo etimoloacutegica da
palavra bullying e o prefixo bully como falaremos a seguir
Ainda em Sharrif (2011) a etimologia expotildee muito sobre a problemaacutetica existente em
identificar o bullying ao reconhecer que houve uma transiccedilatildeo do que representaria um
comportamento valentatildeo de modo amplo para um trato de autecircntica hostilidade ao destacar a
comparaccedilatildeo existente entre a evoluccedilatildeo histoacuterica da palavra e do bullying no ambiente escolar
contemporacircneo
Assim o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma
disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre
sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidados (Alim
2016) Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs
horas diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de cyberbullying
(Arsegravene Raynaud 2015) Li et al (2012) trazem destaque sobre os efeitos do cyberbullying
que podem ser tatildeo graves quanto o do bullying presencial As viacutetimas apresentam a
probabilidade de sofrer de depressatildeo sendo que os autores (em geral tambeacutem crianccedilas e
adolescentes) enfrentam esse problema posto que seja uma violecircncia entre pares Em
decorrecircncia disso a violecircncia psicoloacutegica reproduzida no ambiente virtual pode desencadear
consequecircncias graves a sauacutede de suas viacutetimas (Li et al 2012)
Existem autores que consideram a necessidade de compreensatildeo por parte dos
profissionais de que o cyberbullying seria um processo que ocorre em adiccedilatildeo ao bullying
tradicional como um subtipo de bullying com caracteriacutesticas especiacuteficas (Stelko-Pereira e
Williams 2011 in Wendt 2013) Entretanto para Wendt (2013) em muitos casos pode natildeo
haver o bullying [no acircmbito da vida real] mas pode estar ocorrendo a vitimizaccedilatildeo [apenas]
17
online portanto trata-se de processos sobrepostos embora independentes (p83) [grifos
nosso]
Uma pesquisa internacional a TIC KIDS ONLINE (2015) que visa mapear possiacuteveis
riscos oportunidades na internet e aponta dados sobre mediaccedilatildeo parental ao entrevistar
crianccedilas e adolescentes entre 09 e 17 anos revelou que cerca de 20 foram tratados de forma
ofensiva na internet nos uacuteltimos 12 meses Entre os entrevistados 9 receberam mensagens
ofensivas pela internet 4 declarou que outras pessoas postaram mensagens ofensivas na
internet para outras pessoas verem o mesmo percentual de jovens foi excluiacutedo de grupo ou
rede social
Uma pesquisa nacional realizada no segundo semestre de 2009 neste caso
apresentada pela ONG SAFERNET cuja amostra contou com a participaccedilatildeo de 2525 alunos
e 966 educadores das redes puacuteblicas e privadas identificou com relaccedilatildeo a situaccedilotildees de
cyberbullying ―que 33 dos entrevistados jaacute haviam tido algum amigo viacutetima desse tipo de
humilhaccedilatildeo na rede
Tais maus tratos consistem em praacuteticas de difamaccedilatildeo humilhaccedilatildeo
ridicularizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo por meio de ferramentas da internet
Com o atual aumento das facilidades para acesso ao mundo virtual por
parte de crianccedilas e adolescentes esse tipo de agressatildeo se torna cada
vez mais frequente Uma caracteriacutestica importante desse tipo de
agressatildeo eacute que consiste num ―fenocircmeno sem rosto agrave medida que na
internet o agressor pode muitas vezes natildeo se identificar
(httpwwwpromeninoorgbrportals0pesquisabullyingpdf)
Compreende-se que existem situaccedilotildees na vida que podem gerar abalo emocional e
consequentemente paralisam pessoas algumas conseguem superar tais situaccedilotildees e saiacuterem
delas fortalecidas Um dos motivos para que cada indiviacuteduo lide de modo distinto com
problemas semelhantes estaacute relacionado com o conceito de resiliecircncia A resiliecircncia pode ser
caracterizada como a capacidade de superar uma dada situaccedilatildeo de adversidade e sair
fortalecido (Angst 2009) Importante considerar essa capacidade de recuperar-se de lidar de
forma positiva com as pressotildees eou estresse em situaccedilotildees de adversidades Interessante
apontar que o conceito de coping apresenta uma base conceitual semelhante agrave resiliecircncia
todavia natildeo se confunde agrave ela correspondendo a uma capacidade cognitiva comportamental
O coping eacute definido como ―conjunto das estrateacutegias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-
18
se a circunstacircncias adversas ou estressantes (Antoniazzi Bandeira DellacuteAglio 1998 in
Taboada et al 2006) Tais estrateacutegias individuais podem ser utilizadas como manejo
individual diante eou apoacutes situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying
Entende-se que existe um grau de fragilidade quando os jovens satildeo expostos ao uso da
internet seja devido ao uso prolongado das redes sociais e outras formas de navegaccedilatildeo na
web ou ainda o uso da internet sem o monitoramento dos responsaacuteveis bem como o uso de
aparelhos com acesso agrave internet desprotegidos de sistema de seguranccedila de dados e
informaccedilotildees Fatos como esses podem contribuir para o iniacutecio de um ciclo de violecircncia
Embora jaacute existam poliacuteticas de conscientizaccedilatildeo sobre uso adequado da internet
seguranccedila virtual e de responsabilizaccedilatildeo de pessoas que cometem crimes virtuais natildeo
necessariamente faz com que todas as formas de violecircncia virtual sejam identificadas eou
tenham seu ciclo rompido
Partindo desse recorte analiacutetico utilizamos as seguintes questotildees investigativas
- Como a literatura nacional e internacional conceitua o cyberbullying e descreve suas
dinacircmicas
- Qual o papel de gecircnero em tais dinacircmicas
- Quais conexotildees satildeo feitas com a sauacutede de crianccedilas e adolescentes que sofrem e praticam o
cyberbullying
- Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees propostos pela
literatura sobre cyberbullying - Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a questatildeo da
sociabilidade virtual juvenil (Deve haver regulaccedilatildeo Como ocorre Deve ser proibida)
- Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullyin
- O que fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying
Nosso objetivo geral foi analisar como a literatura nacional e internacional aborda o
tema as associaccedilotildees que delimita entre o cyberbullying e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes e
as accedilotildees propostas de intervenccedilatildeoprevenccedilatildeo para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo
19
Nossos objetivos especiacuteficos foram
1 Analisar as conceituaccedilotildees utilizadas para caracterizar o cyberbullying explorando
eventuais diferenccedilas entre os autores nacionais e estrangeiros
2 Analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela comunidade cientiacutefica sobre as
propostas de prevenccedilatildeo do cyberbullying e modos de enfrentamento no campo da
sauacutede e educaccedilatildeo
3 Analisar as representaccedilotildees associadas agrave construccedilatildeo dos sentidos do fenocircmeno (causas
personagens envolvidos e responsabilidades implicadas)
4 Analisar as praacuteticas de cyberbullying (perpetrar sofrer testemunhar) a partir das
dinacircmicas das relaccedilotildees de gecircnero
5 Identificar associaccedilotildees e implicaccedilotildees agrave sauacutede das pessoas intimidadas e dos
perpetradores causados pelos diferentes tipos de cyberbullying
6 Analisar as propostas de enfrentamento sugeridas para Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores
implicados e estrateacutegias sugeridas)
Diante disso apresentaremos como resultado dessa dissertaccedilatildeo dois artigos O primeiro
buscou analisar as conceituaccedilotildees de cyberbullying adotadas pela literatura nacional e
internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo enfocando suas ecircnfases e
―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as associaccedilotildees que delimitam
entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes
No segundo artigo buscamos analisar criticamente as estrateacutegias de enfrentamento do
cyberbullying tanto no campo da Sauacutede quanto no campo da Educaccedilatildeo Elencando quem
seriam os atores implicados e que tipos de estrateacutegias haviam sido apontados pela literatura
investigada com enfoque em analisar criticamente tais discursos
METODOLOGIA
Propomos realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa considerando que este tipo
de estudo se compromete em trabalhar com ―os significados atribuiacutedos pelos sujeitos aos
fatos agraves relaccedilotildees praacuteticas bem como ―as interpretaccedilotildees dessas praacuteticas ao estudar uma
realidade especiacutefica (Minayo e Deslandes 2002)
20
Com relaccedilatildeo ao meacutetodo investigativo inicialmente haviacuteamos optado por utilizar do
meacutetodo de revisatildeo sistemaacutetica integrativa todavia a busca trouxe uma quantidade muito
elevada de trabalhos (7785) considerando o tempo para uma anaacutelise coerente de modo a
cumprir o cronograma proposto assim optamos por fazer uso de revisatildeo de literatura do tipo
―revisatildeo criacutetica (critical review)
Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um
tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant Booth
2009) A contribuiccedilatildeo de uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas
discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel
(Paregrave et al 2015) O escopo analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou
estatisticamente representativo Esse tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos
selecionados o que eacute considerado o seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as
revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo
(siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais
positivista (anaacutelise de conteuacutedo)
Cabe mencionar que preferimos por delimitar temporalmente o escopo da busca das
referecircncias para a revisatildeo literaacuteria sobre o tema proposto (de 2006 a 2016) Tal escolha
temporal se refere agrave disseminaccedilatildeo do acesso agrave internet por aplicativos em aparelhos moacuteveis
bem como a ampla disseminaccedilatildeo do maior site de relacionamento do mundo (FACEBOOK)
por exemplo datados a partir da deacutecada que trataremos a seguir
Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo
BVS Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA
(Applied Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017
Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos
(all fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no
Medical Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying
(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos
vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo
Com o intuito de reduzir e qualificar mais esse acervo optou-se por trabalhar apenas os
estudos de revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no
tiacutetulo e ―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de
21
qualquer natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas
modalidades revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica
sistemaacutetica revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo
sistemaacuteticas e revisatildeo narrativa
Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis
para acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em
301 estudos Depois de analisar cada artigo no MENDLEY foi identificado 156 artigos em
duplicidade que natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias
(MENDLEY) como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com
traduccedilatildeo de texto para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou
francecircs e quando houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor
seguido de et al Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com
recorte temporal de publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem
sendo difundido na uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo
Desse nuacutemero de artigos apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo (conforme
quadro 1) Destacamos ainda que migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias
ZOTERO por ser um programa open sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados
pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos
salvos nos mais distintos formatos
22
Quadro 1 ndash Seleccedilatildeo do acervo
ACERVO (cyberbullying)
7785 estudos (allfields)
301
(apoacutes criteacuterio de exclusatildeo)
141
(apoacutes exclusatildeo das duplicidades)
72
(apoacutes recorte temporal)
57 estudos (prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo )
O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia
dos autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus
conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes
categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do
cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede
No que se refere agrave anaacutelise de dados especialmente no segundo artigo adotamos o
meacutetodo de Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) Considerando que a ADC possui outras
correntes de anaacutelise tomamos como referecircncia a orientaccedilatildeo dada por Norman Fairclough que
propotildee estudos criacuteticos e interdisciplinares sobre a praacutetica discursiva e sua relaccedilatildeo com a
transformaccedilatildeo social e de cultura Para Fairclough (2001) os discursos contribuem
diretamente para a construccedilatildeo dos sistemas de conhecimento e crenccedilas tendo trecircs funccedilotildees e
dimensotildees de sentido que ―coexistem e ―interagem em todo discurso sendo elas identitaacuteria
relacional e ideacional Na funccedilatildeo identitaacuteria estatildeo implicados os modos pelos quais as
23
identidades sociais satildeo constituiacutedas na funccedilatildeo relacional como as relaccedilotildees sociais entre os
atores presentes nos discursos satildeo representadas e ―negociadas na funccedilatildeo ideacional os
modos pelos quais significam o mundo seus processos entidades e relaccedilotildees Essas duas
uacuteltimas satildeo interpretadas (Halliday 1978 In Fairclough 2001) como de caraacuteter ―interpessoal
Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de
praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos
discursos adotados nos estudos analisados Sendo assim se torna caro para noacutes identificarmos
que accedilotildees estatildeo sendo ditas a partir dos discursos construiacutedos nos estudos que seratildeo
analisados sobre o tema proposto Ou seja o que tem sido dito pelos estudos acerca do
cyberbullying Cabe destacar que o modelo proposto por Fairclough para a ADC abarca a
anaacutelise da praacutetica discursiva do texto e da praacutetica social
Conforme descrito na figura seguinte
Figura 1 - Concepccedilatildeo tridimensional do discurso em Fairclough (2001101)
O modelo tridimensional da ADC proposto por Fairclough distingue trecircs dimensotildees
dessa forma de anaacutelise de discurso texto praacutetica discursiva e praacutetica social Ao tratar
dimensatildeo textual o autor traz o entendimento de que todo o texto eacute elaborado de modo que
satildeo repletos de significados e inclusive de ambiguidades No que tange a praacutetica discursiva
segundo Fairclough (2001) permite explicar como os discursos satildeo produzidos distribuiacutedos
consumidos e interpretados reduzindo assim as possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva
propotildee categorias como a forccedila coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz
referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos de fala que o texto realiza [o que o texto evoca] a
coerecircncia trata do sentido que o texto possui [para quem faz sentido qual a loacutegica das
marcaccedilotildees e conexotildees] a intertextualidade ―eacute basicamente a propriedade que tecircm os textos de
PRAacuteTICA SOCIAL
PRAacuteTICA DISCURSIVA
TEXTO
24
serem cheios de fragmentos de outros textos (Fairclough 2001) [grifos nossos] A categoria
intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta
aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de
textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que o Fairclough vai chamar
de interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A
praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto
Ao que se refere ao discurso como praacutetica social em Fairclough (2001) estaria
implicada necessariamente como uma dimensatildeo que produz os efeitos ideoloacutegicos e
hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees
econocircmica cultural e ideoloacutegica Sendo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo
de identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas
de crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente
Neste sentido todo o discurso possuiu uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir
uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma
determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir
mudanccedila social em uma dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de relaccedilotildees
sociais
Destacamos que para realizar o processo de anaacutelise de discurso proposto utilizamos
um roteiro com matrizes de perguntas como Qual a conceituaccedilatildeo para o cyberbullying Quais
as definiccedilotildees e ou descriccedilotildees sobre as dinacircmicas do cyberbullying Como os personagens
envolvidos na praacutetica de cyberbullying satildeo descritos
No que tange a designaccedilatildeo e dinacircmica da anaacutelise submetemos os artigos selecionados
agraves matrizes de perguntas e posteriormente criamos bancos de dados temaacuteticos para as
definiccedilotildees propostas de enfrentamento diferenccedilas de gecircnero conexotildees entre a sauacutede de
crianccedilas e adolescente que sofrem e praticam cyberbullying Os quadros temaacuteticos permitiram
organizaccedilatildeo das informaccedilotildees extraiacutedas e faacutecil acesso ao conteuacutedo no momento da anaacutelise
propriamente dita Para exemplificar segue abaixo o modelo de quadro temaacutetico
25
Quadro 02 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo
Matrizes de perguntas ndash Roteiro para a anaacutelise
Enfim cabe esclarecer que consideramos neste campo reflexivo as accedilotildees praacuteticas
apontadas nos estudos para os setores da Sauacutede e da Educaccedilatildeo incluindo as accedilotildees de cunho
preventivo e promotoras de cultura de paz1
Por fim por se tratar de um estudo de revisatildeo bibliograacutefica a pesquisa natildeo necessitou
ser submetida a um comitecirc de eacutetica em pesquisa com seres humanos
1 A cultura de paz estaacute intrinsecamente relacionada agrave prevenccedilatildeo e agrave resoluccedilatildeo natildeo violenta dos conflitos Eacute uma
cultura baseada em toleracircncia e solidariedade uma cultura que respeita todos os direitos individuais que
assegura e sustenta a liberdade de opiniatildeo e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os () A cultura
de paz procura resolver os problemas por meio do diaacutelogo da negociaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo de forma a tornar a guerra e a violecircncia inviaacuteveis Disponiacutevel em httpunesdocunescoorgimages0018001899189919porpdf
Acessado em 26052018
PERGUNTAS SAUacuteDE EDUCACcedilAtildeO
Como o Cyberbullying eacute
conceituado
Quais as descriccedilotildees das
dinacircmicas
Quais as descriccedilotildees dos
personagens
Quais as associaccedilotildees e
implicaccedilotildees com a sauacutede das
pessoas intimidadas e dos
perpetradores
Como as propostas de
intervenccedilatildeo satildeo apresentadas
(estrateacutegias de accedilatildeo objetivos
personagens envolvidos)
26
1 MARCO TEOacuteRICO
11 CIBERCULTURA SOCIABILIDADE DIGITAL E CIBERESPACcedilO
O surgimento da internet teria sido fruto da ARPANET uma rede de computadores
construiacuteda nos EUA pela Advanced Projects Agency (ARPA) do Departamento de Defesa
americano em 1969 com intuito de mobilizar recursos de pesquisas universitaacuterias para obter
superioridade tecnoloacutegica militar em comparaccedilatildeo a Uniatildeo Sovieacutetica Contudo somente na
deacutecada de 1980 eacute que a tecnologia da rede de computadores passou a ser comercializada ―Por
razotildees histoacutericas e culturais a internet foi deliberadamente projetada como uma tecnologia de
comunicaccedilatildeo livre (Castells 200310)
Desde entatildeo a sociabilidade contemporacircnea passou por significantes transformaccedilotildees
a partir do advento da internet De acordo com Castells (2003) a internet passou a ser a base
tecnoloacutegica para a forma organizacional da era da informaccedilatildeo Sendo assim da internet incide
a capacidade de distribuiccedilatildeo da forccedila informacional por todo o domiacutenio da atividade humana
permitindo pela primeira vez a comunicaccedilatildeo de muitos com muitos num momento
escolhido em escala global
De acordo com o dicionaacuterio Priberam (2016) internetlsquo eacute uma palavra de origem
inglesa que significa
―Rede informaacutetica utilizada para interligar computadores agrave niacutevel
mundial agrave qual pode aceder qualquer tipo de usuaacuterio e
que possibilita o acesso a toda a espeacutecie de informaccedilatildeo (httpswwwpriber
amptDLPOinternet)
Haacute um entendimento de que a internet contribui para as dinacircmicas de mercado
ampliaccedilatildeo e agilidade nas redes de contato acesso a informaccedilatildeo entre outros aspectos
concernentes agraves sociedades poacutes-modernas Atraveacutes dos avanccedilos tecnoloacutegicos na atualidade eacute
possiacutevel o acesso agrave internet por meios eletrocircnicos modernos como smartphones tablets
notebooks e ultrabooks
Cabe salientar que os avanccedilos tecnoloacutegicos bem como todo esse aprimoramento com
relaccedilatildeo agrave experiecircncia de interaccedilatildeo eou de estar conectado permitiu que novos modos de
27
sociabilidade fossem permitidos como as redes sociais Barnes foi apontado como um dos
criacuteticos que defende a ideia de alargamento e natildeo delimitaccedilatildeo do que hoje conhecemos como
redes sociais Ao realizar uma etnografia sobre o iniacutecio de uma estratificaccedilatildeo social numa ilha
norueguesa tal antropoacutelogo desenvolvera uma tese segundo a qual todos seus habitantes
estariam interligados uns aos outros por cadeias de conhecimentos interligados e pouco
extensatildeo mas que natildeo se limitava aos limites da ilha entretanto ligavam seus habitantes a
outros sujeitos fora do seu contexto social e topograacutefico de pertencimento (Barnes A 1954
apud Marteleto 2010)
Jaacute Lemos (2015) ao relatar sobre o ciberespaccedilo declara que este eacute compreendido como
um espaccedilo sem dimensotildees um universo de informaccedilotildees navegaacuteveis de forma instantacircnea e
reversiacutevel Afirma ser uma ―nova dimensatildeo espaccedilo temporal de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo
(p127) Para o autor esse natildeo lugar remete a duas perspectivas 1ordf O lugar onde estamos
quando entramos em um ambiente simulado (ambiente virtual) 2ordf Um conjunto de redes de
computadores interligadas ou natildeo em todo o planeta a internet ―as redes vatildeo se interligar
entre si e permitir a interaccedilatildeo por mundos virtuais () (pg128) Natildeo obstante a cibercultura
representaria um conjunto de aspectos e padrotildees culturais relacionados com a internet e a
comunicaccedilatildeo em redes de computadores (Dicionaacuterio online Priberam 2016) Com a criaccedilatildeo
dessa nova expressatildeo da cultura inserida no ambiente virtual foram estabelecidos novos
paracircmetros de privacidade do sujeito agrave medida que cada vez mais as pessoas estatildeo sendo
observadas por todos em todos os lugares fenocircmeno que alguns autores chamam de
vigilacircncia e visibilidade
Segundo Levy (2010) a Cibercultura em sua essecircncia tem caraacuteter de um universal
poreacutem sem totalidade pois ele seria indeterminado agrave medida que em cada nova transmissatildeo
pode representar um receptor ou emissor de informaccedilotildees de dimensotildees inalcanccedilaacuteveis e
aleatoacuterias Na cibercultura o real e virtual estatildeo a todo tempo em contato ao passo que um
indiviacuteduo pode estar no Brasil conectado online com uma pessoa do Japatildeo ou ainda em
conexatildeo com pessoas em diferentes nacionalidades numa mesma interaccedilatildeo online
Entendemos que esta universalidade eacute alcanccedilada agrave medida que possibilita diferentes e
muacuteltiplas conexotildees entre seres humanos em todo o planeta Deixa de ser total por natildeo
possuirmos o controle das dimensotildees que essas conexotildees podem alcanccedilar pela falta de
28
domiacutenio sobre as informaccedilotildees partilhadas visto que uma vez lanccediladas na rede natildeo se pode
mensurar o potencial de compartilhamentos acessos e quais novas conexotildees podem ser
geradas Nesse aspecto a interconexatildeo generalizada emerge do crescimento da internet como
uma nova forma de universal Para Levy (2010) o universo da cibercultura eacute indefinido se
considerada a gama de conexotildees que podem ser estabelecidas ao passo que o emissor ou
produtor a todo o momento pode estabelecer diferentes conectividades
Nessa sociedade poacutes-moderna os modos de conexotildees atraveacutes das distintas tecnologias
digitais tecircm gerado novas formas do que representa viver em sociedade Entre as
caracteriacutesticas da sociabilidade digital estaacute a hipervisibilidade e o tribalismo No que tange a
hipervisibilidade o ciberespaccedilo contribui para a criaccedilatildeo de uma ―realidade aumentada
(Lemos 2015) Que pode ser configurada com a exposiccedilatildeo e maior visibilidade que as vidas e
os corpos passam a ganhar Dados como localizaccedilatildeo fotos e hipertextos expotildeem informaccedilotildees
sobre o indiviacuteduo e todos que possui um viacutenculo virtual seja este viacutenculo ―fraco ou ―forte
O privado passa a ser publicizado a partir dos compartilhamentos realizados neste universo de
informaccedilotildees instantacircneas em tempo real Outra dimensatildeo da sociabilidade digital presente na
cibercultura eacute o que Lemos (2015) chama de tribalismo sendo esta uma ―tendecircncia
comunitaacuteria na rede social complexa do ciberespaccedilo Essa caracteriacutestica de tribalismo
concebe uma ideia de agregaccedilatildeo social empatia pautados no interesse muacutetuo de estar
conectados por ideologias ou alguma outra identificaccedilatildeo Contudo essa socialidade tribal traz
consigo um ethos de compartilhamento baseado no que Maffesoli vai chamar de eacutetica da
esteacutetica (Maffesoli 1987 apud Lemos 2015) Esse termo designa um processo em que a
sociedade eacute mascarada assumindo um ethos a partir daquilo que pretende compartilhar com
os outros um modo de ser partindo do que se quer ostentar
E se analisarmos o crescimento do acesso agrave conexatildeo de internet cada vez mais
pessoas estatildeo navegando na rede e compartilhando de seus interesses abrindo suas vidas
quase que indiscriminadamente
Para ressaltarmos o quanto o acesso agrave internet tem crescido no paiacutes verificamos que
em 2009 segundo o resultado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) feita pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) cerca de 679 milhotildees de brasileiros
teriam conexatildeo com a internet ou seja o nuacutemero de domiciacutelios com acesso agrave internet no
Brasil aumentou em 71 entre 2005 e 2009 (Site UOL) Jaacute os resultados da PNAD 2013
divulgados em 2015 nos mostraram que cerca de 856 milhotildees de brasileiros (acima de 10
anos) o equivalente a 494 da populaccedilatildeo teriam acesso agrave internet incluindo por meio de
29
aparelhos que natildeo fosse notebooks e desktops Dos 312 milhotildees das residecircncias com
acesso agrave internet 977 estatildeo conectados por banda larga Em meacutedia 771 dos
domiciacutelios conectam a internet por banda larga fixa enquanto 435 teriam acesso
agrave banda larga moacutevel (Site EBC)
Em contrapartida apesar dos nuacutemeros expressivos o direito agrave inclusatildeo digital ainda
natildeo corresponde agrave realidade de todos os brasileiros sendo um tema de grande discussatildeo
Todavia jaacute eacute uma realidade em parte do Brasil acessar a internet por WIFI internet agrave raacutedio ou
modems 3G e 4G moacuteveis A partir da instalaccedilatildeo de aplicativos (apps) em aparelhos moacuteveis
que comportam o acesso agrave internet eacute possiacutevel conectar-se a Redes Sociais como Facebook
WHATSAPP INSTAGRAM TWITTER SNAPCHAT entre outras inclusive de forma
―gratuita Obviamente tal gratuidade possui interesses e contrapartidas comerciais Todavia
o que nos chama atenccedilatildeo eacute que essas redes sociais representam um ponto de encontro de
centenas de milhares de jovens ao redor do mundo diariamente com longas duraccedilotildees de
conexotildees (sempre online) e em grande escala sem administraccedilatildeo de tempo eou supervisatildeo de
um adulto responsaacutevel Cada vez mais cedo crianccedilas tecircm acesso agraves redes sociais O que nos
leva a crer que crianccedilas por vezes com apoio de seus responsaacuteveis estariam omitindo ou
adulterando sua idade real para que tenham acesso agraves redes sociais que natildeo permitem o
acesso de crianccedilas menores de 13 anos (como no caso do FACEBOOK)2 Essa espeacutecie de
conivecircncia dos pais que permitem que seus filhos utilizem redes sociais mesmo quando
algumas plataformas digitais natildeo permitem o acesso de crianccedilas Inclusive esse acesso pode
ser considerado como um risco a sauacutede e a seguranccedila das crianccedilas
O estudo de Machold et al (2012) com 474 estudantes Irlandeses de trecircs escolas
secundaacuterias entre 11 e 16 anos de idade para avaliar padrotildees gerais de uso da internet e
identificar potenciais de risco incluindo cyberbullying contato improacuteprio uso excessivo
dependecircncia e invasatildeo de privacidade por outros usuaacuterios detectou que (403) o equivalente agrave
95 dos adolescentes fazem uso de redes sociais Com relaccedilatildeo ao tempo de uso duas horas
ou mais foram gastas nas redes sociais diariamente por (285) o correspondente a 62 sendo
que 450 estudantes cerca de (98) fazem uso sem supervisatildeo
Entretanto os laccedilos de afinidade neste ambiente invisiacutevel onde os perfis e as novas
relaccedilotildees estabelecidas nas redes sociais podem natildeo ser verdadeiros mas simulaccedilotildees Essa
realidade estaacute presente no cotidiano de milhares de pessoas que estatildeo predispostas a manter
2 httpspt-brfacebookcomhelp210644045634222
30
um contato virtual na maioria das vezes pautado na superficialidade agrave medida que esse
ambiente invisiacutevel (considerando suas dimensotildees) traz visibilidade para nossa localizaccedilatildeo e
atividades compartilhadas com os ―amigos virtuais Martino (2015) ao tratas das relaccedilotildees
sociais mantidas na rede considera que ―por seu turno conexotildees satildeo criadas mantidas eou
abandonadas a qualquer instante sem maiores problemas comparadas as ―instituiccedilotildees
sociais como a famiacutelia trabalho ou religiatildeo tendem a ser mais riacutegidas para com seus membros
do que as redes sociais
A internet trouxe um desenvolvimento expressivo para o funcionamento das
sociedades modernas Para Shariff (2011) pela sua natureza os meios eletrocircnicos permitem
que as formas tradicionais do bullying assumam caracteriacutesticas que satildeo especiacuteficas do
ciberespaccedilo
Esse espaccedilo seria representado por um solo natildeo configurado onde os sujeitos se
relacionam de qualquer territoacuterio fiacutesico com pessoas que estejam em um diferente local
como se ambas estivessem frente a frente sem a necessidade de haver um contato fiacutesico ou
real o encontro se daacute em uma nova dimensatildeo o ciberespaccedilo
Concluiacutemos que o ciberespaccedilo eacute um campo natildeo material poreacutem virtual onde a noccedilatildeo
de espaccedilo eacute perdida e o real eacute aumentado possibilitando a comunicaccedilatildeo por meios eletrocircnicos
e a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees em larga escala com muacuteltiplas e distintas pessoas
22 Bullying
A violecircncia admite distintas expressotildees e multicausalidades (Ferreira e Tavares 2012)
Desse modo se faz necessaacuterio abordar a questatildeo do bullying antes de aprofundarmos sobre a
questatildeo central deste trabalho Segundo Fante e Pedra (2008) na maioria dos paiacuteses onde o
fenocircmeno eacute estudado emprega-se o termo em inglecircs (bullying) Entretanto existem
alguns paiacuteses que utilizam outros termos de sua liacutengua sem que se perca o
significado Satildeo usados por exemplo mobbing na Noruega e na Dinamarca [t raduz ido
para o po rtuguecircs co mo bu l lying] mobbning na Sueacutec ia e na F in lacircnd ia
[ t raduz ido para o por tuguecircs como b u l lying] hercegravelement quotidien na Franccedila
[traduzido para o portuguecircs como asseacutedio diaacuterio] prepotenza ou bullismo na I t aacute l ia
[traduzido para o portuguecircs como bullying] ijime no Japatildeo [traduzido para o portuguecircs
31
como arrelia3] Agressionen unter S h uuml le r n na Alemanha (traduzido para o portuguecircs
como agressatildeo entre alunos) a c o s o e a m e n a z a entre escolares ou in t i m i d a c ioacute n na
Espanha [traduzido para o portuguecircs como perseguiccedilatildeo ameaccedila e intimidaccedilatildeo] (pg 34)
[grifos nossos]
Algo que nos chama agrave atenccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave temaacutetica bullying eacute a compreensatildeo que
alguns autores tecircm acerca do significado e ambiguidade entre a questatildeo do bullying e o
Asseacutedio Moral (mobbing4
) cabe destacar que por se tratar de palavras inglesas essa
ambiguidade se apresenta a partir da realizaccedilatildeo de traduccedilatildeo da temaacutetica como no caso da
liacutengua espanhola Como exemplo destacamos ao estudo peruano de Armeno (2011) que ao
tratar do assunto bullying escolar utiliza a palavra acoso (perseguiccedilatildeo) escolar poreacutem ao
serem utilizadas em conjunto (acoso escolar) eacute traduzida para o portuguecircs como bullying
Contudo algumas traduccedilotildees por exemplo traduz ―acoso escolar como asseacutedio moral
quando as palavras estatildeo juntas poreacutem acoso sem escolar tem como significado perseguiccedilatildeo
como mostrado no quadro anterior
Eacute possiacutevel ver neste estudo que satildeo muitas as definiccedilotildees tratadas para este assunto
desde o entendimento sobre o significado ou a magnitude do cyberbullying e sobre o bullying
Em alguns casos tanto cyberbullying como o bullying podem ser confundidos por
dificuldades na clareza de suas definiccedilotildees Contudo Farrington (1993381) define o bullying
como uma ―opressatildeo repetida de caraacuteter fiacutesico ou psiacutequico de uma pessoa com menos poder
por outra com mais poder Neste sentido o mais forte exerce poder sobre o mais fraco seja
esse poder de ordem fiacutesica por meio de agressatildeo ou psicoloacutegica de modo a causar medo e
intimidaccedilatildeo
Dentre vaacuterias definiccedilotildees para o que se entende por bullying Melo (2011) define como
uma agressatildeo fiacutesica psicoloacutegica verbal moral sexual material ou virtual praticada por uma
ou vaacuterias pessoas contra uma mesma viacutetima de forma repetitiva por um periacuteodo prolongado
de tempo sem motivo aparente baseada numa relaccedilatildeo desigual de poder dificultando a
defesa da viacutetima e que deixa sequelas marcas e consequecircncias (pg21) Natildeo podemos deixar
de mencionar que o bullying eacute uma violecircncia entre pares
3 Arrelia traz entre sua significaccedilatildeo 1 Amofinaccedilatildeo [ato de aborrecer] apoquentaccedilatildeo [aborrecimento
aporrinhaccedilatildeo] 2falta de paciecircncia pressa sofreguidatildeo 3contenda rixa desavenccedila 4pressentimento de coisa
maacute mau agouro (Google) wwwgooglecombrsearch Acessado em 27102016
4 Palavra inglesa para asseacutedio moral
32
Armeno (2011) considera a questatildeo do bullying (―acoso escolar) como uma
violecircncia social que pode asssumir forma verbal fiacutesica e por isolamento social da viacutetima
Para o autor os espectadores (outros estudantes) seriam necessaacuterios visto que satildeo
para esses que o perpetrador do bullying ―perseguidor ―mostra seu poder O silecircncio dos
espectadores permite que as accedilotildees sejam sistemaacuteticas Em termos de conteuacutedos eles podem
ser racistas se a origem da questatildeo eacute eacutetnica se eles incluem piadas obcenas de cunho sexual
ou ainda homofoacutebicas se tecircm a ver com a suposta orientaccedilatildeo sexual dos que sofrem a accedilatildeo
Se os meios utilizados satildeo as mensagens por telefones celulares ou computadores considera
como bullying digital o que para o autor pode ser devastador porque a viacutetima natildeo teria um
lugar para fugir das accedilotildees de bullying sofridas na escola visto que na internet a accedilatildeo pode ter
continuidade (Armeno 2011) Diante disso entendemos que o autor compreende o ―bullying
digital como uma extensatildeo do bullying tradicional e que a escola eacute o campo em que tais
accedilotildees satildeo iniciadas e que a presenccedila de espectadores pode potencializar ainda mais as accedilotildees
promovidas pelos perpetradores por encontrarem nestes a ―plateacuteia para realizaccedilatildeo de seus
atos de bullying
Compete resgatar que o iniacutecio da conscientizaccedilatildeo acerca deste grave problema no
acircmbito escolar bem como ressaltar que os primeiros estudos sobre o assunto foram
produzidos pelo Professor Universitaacuterio Dan Olweus na Noruega como jaacute mencionado Em
1993 Olweus publica na Escandinaacutevia o livro ―Bullying at School onde expotildee o bullying
como um fenocircmeno presente no contexto escolar trazendo uma discussatildeo a partir dos
resultados obtidos em seus estudos projetos de investigaccedilatildeo apresentando uma possiacutevel
correlaccedilatildeo de ―caracteriacutesticas que poderiam identificar os perfis de viacutetimas e agressores O
livro apresenta o resultado obtido em sua pesquisa sistemaacutetica realizada na deacutecada de 1980
com 150000 estudantes escandinavos onde descobriu que 15 dos estudantes entre 08 e 16
anos estavam envolvidos com a questatildeo do bullying sendo viacutetimas e agressores com
regularidade e entre esses havia casos de agressores que tambeacutem eram vitimas de Bullying
(Olweus 2003) Como repercussatildeo do estudo de Olweus e Roland ―Bullying at School uma
Campanha Nacional Anti Bullying foi desenvolvida nas escolas norueguesas em 1993 com o
apoio do Governo tendo com resultado a reduccedilatildeo em cerca de 50 nos casos de bullying nas
escolas
Outro ponto relevante eacute com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero entre os personagens do
fenocircmeno bullying Cabe destacar a pesquisa de Da Costa et al (2015) que ao analisar a
prevalecircncia de casos de bullying entre 598 adolescentes brasileiros na faixa etaacuteria de 14 agrave 17
33
anos de aacuterea urbana de Belo Horizonte em 2009 constatou que houve uma prevalecircncia de
264 entre os entrevistados Sendo 280 entre os entrevistados de sexo masculino e 240
entre o puacuteblico do sexo feminino Isso significa que frac14 dos adolescentes que responderam ao
questionario sofreram bullying Entre os meninos esse nuacutemero foi um pouco mais elevado do
que entre as meninas A questatildeo do bullying estaria associada agrave insatisfaccedilatildeo com a vida que
levam dificuldades na relaccedilatildeo com pais envolvimento em brigas com colegas (pares) e
inseguranccedila na regiatildeo onde residem Uma observaccedilatildeo interessante eacute que o estudo de Da Costa
et al (2015) foi realizado no mesmo ano que a primeira Pesquisa Nacional de Sauacutede do
Escolar (PENSE5) 2009 realizada pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e
Ministeacuterio da Sauacutede Poreacutem os resultados foram divergentes com relaccedilatildeo a mesma capital
investigada BH Com relaccedilatildeo agrave PENSE a pesquisa foi realizada em escolas para investigar
fatores de risco e proteccedilatildeo da sauacutede dos escolares jaacute a pesquisa de Da Costa e colaboradores
foi um estudo populacional realizado no domiciacutelio dos entrevistados por meio de inqueacuterito
com amostragem probabiliacutestica em trecircs estaacutegios setores censitaacuterios residecircncia e indiviacuteduos
Os inquiridos responderam questotildees sobre bullying caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
comportamentos de risco agrave sauacutede bem-estar educacional estrutura familiar atividade fiacutesica
marcadores de haacutebitos alimentares e bem-estar subjetivo (percepccedilatildeo corporal satisfaccedilatildeo
pessoal e satisfaccedilatildeo com a vida atual e futura) Outro fator que pode ter influecircncia nos
resultados foi o tamanho da amostra visto que a pesquisa PENSE analisou apenas alunos
matriculados no 8ordf Seacuterie fundamental (atual 9ordm ano) de escolas puacuteblicas e particulares da
cidade de BH enquanto que o estudo de Da Costa a escolaridade dos investigados natildeo foi um
recorte A prevalecircncia de bullying na PENSE 2009 em BH foi de 69 segundo Malta
(2014)
Haacute um entendimento de que os adolescentes do sexo masculino seriam os maiores
praticantes e alvos de bullying conforme aponta resultado da pesquisa PENSE 2012 Nesse
estudo observou-se maior praacutetica de bullying entre os estudantes do sexo masculino (261)
e 160 entre as estudantes do sexo feminino (IBGE 2013)
Com relaccedilatildeo ao enfrentamento a essa problemaacutetica Schutz et al (2012) defendem a
ideia de que a atuaccedilatildeo contra o bullying assim como cyberbullying natildeo pode estar restrita agrave
individualidade das caracteriacutesticas dos sujeitos em questatildeo ou seja autor e alvo ignorando a
5 Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar ndash PENSE eacute um inqueacuterito com alunos de escolas puacuteblicas e particulares
realizado pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que disponibiliza informaccedilotildees para o sistema de informaccedilotildees para o Sistema de Vigilacircncia de Fatores de Riscos e Proteccedilatildeo as Doenccedilas Crocircnicas do Brasil
Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfressv26n32237-9622-ress-26-03-00605pdf Acessado em 26062018
34
teia complexa das relaccedilotildees que implicam a manutenccedilatildeo do fenocircmeno Os autores sugerem
uma anaacutelise sistecircmica da complexidade dos diversos sistemas envolvidos e das relaccedilotildees
estabelecidas entre autor e alvo testemunhas famiacutelia comunidade escolar a cultura na qual
estatildeo inseridos Apontam a necessidade de investigaccedilatildeo que verifique a incidecircncia dos casos e
abrangecircncia do problema incluindo toda a comunidade escolar
Em 2015 o Brasil passou a dispor de uma legislaccedilatildeo Federal que trata da questatildeo A
lei Anti Bullying instituiu o Programa Nacional de Combate agrave Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica
(bullying) Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica eacute a configuraccedilatildeo utilizada no Brasil para classificar o ato
de violecircncia que internacionalmente eacute denominado por Bullying
―No contexto e para os fins desta Lei considera-se intimidaccedilatildeo
sistemaacutetica (Bullying) todo ato de violecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica
intencional e repetitivo que ocorre sem motivaccedilatildeo evidente praticado
por indiviacuteduo ou grupo contra uma ou mais pessoas com o objetivo
de intimidaacute-la ou agredi-la causando dor e anguacutestia agrave viacutetima em uma
relaccedilatildeo de desequiliacutebrio de poder entre as partes envolvidas
(Paraacutegrafo 1ordm da Lei 131852015)
Cabe mencionar que a lei natildeo deixa expliacutecito se inclui a questatildeo do asseacutedio moral no
trabalho visto que ao instituir o programa propotildee accedilotildees no acircmbito escolar com enfoque nos
estudantes
Outra definiccedilatildeo para a questatildeo do bullying bastante coerente adveacutem da lei do Estado
do Rio de Janeiro jaacute mencionada anteriormente que define o bullying como
A praacutetica reiterada e habitual de atos de violecircncia fiacutesica verbal ou
psicoloacutegica de modo intencional exercida por indiviacuteduo ou grupos de
indiviacuteduos contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidar
agredir causar dor ou sofrimento anguacutestia ou humilhaccedilatildeo agrave vitima
inclusive por meio de exclusatildeo social (Paraacutegrafo 1ordm da Lei 64012013
- RJ)
A lei que institui 7 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento a Violecircncia na
escola faz menccedilatildeo ao Massacre de Realengo trageacutedia ocorrida em abril do ano de 2011
35
quando doze crianccedilas entre 13 e 16 anos (dez meninas e dois meninos) foram assassinados a
tiros na Escola Municipal Tasso da Silveira por um ex aluno da unidade escolar que apoacutes ser
atingido por um tiro disparado por um policial militar teria se suicidado (AGEcircNCIA
SENADO 2016) Segundo relatos a motivaccedilatildeo do crime seria incerta poreacutem a nota do
suiciacutedio deixada pelo o autor do massacre e de acordo com o testemunho da irmatilde adotiva o
jovem sofria bullying
Natildeo podemos deixar de mencionar que Campanhas de enfrentamento ao Bullying tecircm
aparecido em pautas de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGs) e Governamentais como
Stop Bullying do Department of Health and Human Services dos Estados Unidos (EUA)
comunidades escolares e universidades como Massachusettes Aggresion Reduction Center
da Brigde State University (EUA) e em diferentes paiacuteses como Portugal Inglaterra Canadaacute
e Noruega Este uacuteltimo foi um dos primeiros paiacuteses a desenvolver campanhas anti bullying
alertando sobre seus impactos na vida e sauacutede dos que sofre essa violecircncia
Por fim cabe discorrer sobre os agravos agrave sauacutede relacionados a sofrer bullying Os
meninos e meninas alvos de bullying estariam propensos a desenvolver episoacutedios de
ansiedade baixo rendimento escolar inseguranccedila na escola sofrer de tensatildeo crescente
estando preacute-dispostos ao maior uso abusivo de drogas e em alguns casos mais graves ao
suiciacutedio (Malta et al 2010) Gera tanto um sofrimento emocional moral quanto fiacutesico
podendo desencadear outros agravos tais como baixa autoestima depressatildeo estresse
doenccedilas psicossomaacuteticas transtornos mentais (Calhau 2008 p88) O bullying natildeo deve ser
considerado como uma simples brincadeira (―zoaccedilatildeo) entre crianccedilas e adolescentes muito
menos ser banalizado ao passo de ser algo rotineiro Pelo contraacuterio esse assunto carece de ser
tratado como uma questatildeo de Sauacutede Puacuteblica que deve ser discutida investigada e enfrentada
por muacuteltiplos setores
A PENSE (Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar) uma pesquisa com escolares
adolescentes de escolas puacuteblicas e privadas realizada pelo IBGE que entre os objetivos visa
aferir dados sobre bullying incluiu na ediccedilatildeo de 2015 uma segunda amostra O que
representou um diferencial com relaccedilatildeo agraves ediccedilotildees anteriores De acordo com a pesquisa
(2015) a primeira amostra foi realizada com 2630835 estudantes frequentando o 9ordm ano do
ensino fundamental de escolas puacuteblicas e privadas do Brasil em Grandes Regiotildees Distrito
Federal Capitais e Estados e a segunda amostra realizada com 13199862 estudantes de 13 a
17 anos de idade frequentando as etapas do 6ordm ao 9ordm Ano (antiga 5ordf a 8ordf seacuteries) do ensino
36
fundamental e alunos do 1ordm ao 3ordm ano do Ensino Meacutedio (antigo 2ordm Grau) de escolas puacuteblicas e
privadas para o conjunto do paiacutes e em grandes capitais no ano de referecircncia da pesquisa
(IBGE 2015) Dentre os entrevistados desta ediccedilatildeo a primeira amostra 74 sofreram
provocaccedilotildees ou foram humilhados sempre ou na maior parte do tempo nos uacuteltimos 30 dias
que antecederam a pesquisa O estudo apontou com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que os
percentuais foram proacuteximos para os estudantes do sexo feminino 72 e sexo masculino
75 Jaacute os estudantes da regiatildeo Sudeste apresentaram o maior percentual 83 estes
afirmaram sofrer humilhaccedilotildees e constrangimentos no acircmbito escolar Outro dado relevante eacute
do Estado de Satildeo Paulo que obteve o maior percentual 90 se comparado ao percentual
obtido pela regiatildeo sudeste e demais regiotildees A aparecircncia do corpo e do rosto foram os
principais motivos da violecircncia psicoloacutegica sofrida pelos escolares Com relaccedilatildeo aos
perpetradores aproximadamente 198 dos escolares brasileiros haviam praticado atos
configurados como bullying (ter esculachado zombado mangado intimidado ou caccediloado)
poreacutem entre os estudantes do sexo masculino este nuacutemero foi mais elevado aproximadamente
242 Interessante que com relaccedilatildeo aos intimidados (aqueles que declararam se sentir
humilhados e provocados com frequecircncia pelos colegas) os nuacutemeros apresentados foram de
74 entre a faixa etaacuteria de 13 a 15 anos e 52 dos estudantes entre 16 e 17 anos (IBGE
2015) Na ediccedilatildeo da PENSE supracitada foi incluiacuteda uma questatildeo especiacutefica para abordar a
questatildeo do bullying natildeo utilizado nas PENSEs 2009 e 2012 Nessas ediccedilotildees ―bullying era
substituiacutedo por verbos como (esculachar zoar mangar caccediloar e intimidar) entretanto
passaram a adotar o termo ―intimidaccedilatildeo em consonacircncia a nomenclatura adotada a partir da
Lei de Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica (Lei Anti bullying e cyberbullying brasileira)
promulgada no ano em que a pesquisa foi realizada (2015) Relevante informar que o estudo
aponta como legiacutetimo o reconhecimento do bullying como uma importante questatildeo de Sauacutede
Puacuteblica bem como a relevacircncia de estrateacutegias intersetoriais de enfrentamento Natildeo houve
uma especificaccedilatildeo para o cyberbullying na pesquisa PENSE 2015 no quadro que analisou a
questatildeo da intimidaccedilatildeo apesar da lei vigente no paiacutes incluir e reconhecer a versatildeo virtual do
bullying Embora tenham mencionado no texto e haverem citado o recorte dado na Lei de
Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica sobre a questatildeo do cyberbullying nos dados
analisados pela pesquisa Natildeo houve ainda um toacutepico especiacutefico que pudesse identificar onde
ocorriam as ―intimaccedilotildees zoaccedilotildees e esculachos subentendendo-se que ocorria na escola
aleacutem disto os meios eletrocircnicos natildeo foram apontados
37
23 CYBERBULLYING
231 Cyberbullying violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica
Entre o grande nuacutemero de pessoas conectadas pela internet novos modos de
interaccedilotildees aparecem a partir da utilizaccedilatildeo de dispositivos eletrocircnicos possibilitando assim a
disseminaccedilatildeo irrestrita de informaccedilotildees em formato ―multimodal onde ―os recursos de miacutedia
integram coacutedigos texto som e imagem (Junior E Rocha 2013 pg206) Com a internet o
potencial de transmissatildeo e receptaccedilatildeo de informaccedilatildeo se tornou mais expansivo em relaccedilatildeo a
outras miacutedias como o caso da TV analoacutegica (atualmente substituiacuteda pela TV digital) (idem)
Permitindo assim que o compartilhamento de informaccedilotildees seja propagado com maior
facilidade inclusive as informaccedilotildees difamatoacuterias
O uso da internet em especial de redes de relacionamentos traz consigo a
probabilidade de disseminaccedilatildeo de violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de
relacionamentos criaccedilatildeo de falsos (―fakes) perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo ao
convite ao suiciacutedio por meio de sites escolares clandestinos No Japatildeo satildeo conhecidos como
―gakko ura saito os sites escolares clandestinos acessados pelo celular Eles geram uma nova
forma de cyberbullying em grupo poreacutem sem a necessidade de identificaccedilatildeo dos chamados
―caluniadores anocircnimos (Hasegawa et al 2007 Shariff 2011) O ijime-jisatsu [suiciacutedio
associado ao ijimi - cullying] eacute uma das consequecircncias desastrosas e culturalmente incidentais
do fenocircmeno no Japatildeo Outro aspecto cultural no Japatildeo do netto-ijime [cyberbullying] eacute a
taxa elevada de suiciacutedio entre os jovens O que nos mostra o quanto o territoacuterio invisiacutevel da
internet pode desencadear no campo presencial consequecircncias agrave sauacutede de seus afetados
Admitindo que vivenciar uma experiecircncia de violecircncia no universo digital pode ser bastante
devastador Conforme afirma Santos et al (2013) a internet se torna um palco de grandes
riscos
Entendemos que o cyberbullying manteacutem muitas das caracteriacutesticas do bullying
poreacutem natildeo constitui meramente uma de suas expressotildees na instacircncia virtual pois possui
algumas caracteriacutesticas proacuteprias como o longo alcance do conteuacutedo depreciativo audiecircncia
de larga escala (testemunhas) por causar impacto nas viacutetimas sem precedentes pela
38
possibilidade de anonimato por parte dos perpetradores Aleacutem disso a ocorrecircncia do
cyberbullying pode se dar a qualquer momento e em qualquer lugar pela
dificuldademorosidade na detecccedilatildeo dos praticantes do cyberbullying ou dos criadores de
perfis falsos constituiacutedos no intuito de depreciar agredir e constranger Ao que se refere agraves
traduccedilotildees para o portuguecircs dos termos adotados para a palavra cyberbullying a traduccedilatildeo
aparece disponiacutevel em vaacuterias liacutenguas conforme Google Tradutor
Quadro 3 Vocaacutebulos designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas
Palavra Liacutenguas Traduccedilatildeo para Portuguecircs
Kiberzapugivanieye Russo Cyberbullying
Cyber-mobbing Alematildeo Cyberbullying
naumltmobbning Sueco Cyberbullying
Cyberintimidation Francecircs Cyberbullying
Cyber bullismo Italiano Cyberbullying
Netto yjime Japonecircs Cyberbullying
Cyberpesten Holandecircs Cyberbullying
El ciberacoso Espanhol Cyberbullying
Seiber-fwlio Galecircs Cyberbullying
Maltretiranje Seacutervio Cyberbullying
Cyberprzemoc Polonecircs Cyberbullying
Fonte da traduccedilatildeo Google Tradutor
O termo cyberbullying teria sido criado pelo educador e pesquisador do Canadaacute Bill
Belsey para identificar o bullying virtual que faz uso das tecnologias digitais e para de modo
39
insistente e repetitivo hostilizar ofender ou ameaccedilar algueacutem (Maldonado 2009 in Melo
2011)
O que tem ocorrido eacute o crescimento de casos de agressotildees virtuais concebidas no
ambiente do ciberespaccedilo A forma de propagaccedilatildeo desse tipo de violecircncia deve ser analisada e
contextualizada O uso da internet pode ter um cunho prejudicial e essa consequente situaccedilatildeo
de exposiccedilatildeo pode tornar os sujeitos vulneraacuteveis ao passo de atingir em maior proporccedilatildeo a
geraccedilatildeo digital (os mais jovens) sendo necessaacuteria a mobilizaccedilatildeo de discussotildees sobre o papel
da escola na mediaccedilatildeo prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo virtual (Wendt 2011 p8)
Estudos tecircm advertido o quanto o cyberbullying tambeacutem pode desencadear agravos
relevantes agrave sauacutede de crianccedilas e adolescentes inclusive apontando um recorte de gecircnero
numa loacutegica binaacuteria desprovida de informaccedilotildees que caracterizem questotildees como a orientaccedilatildeo
sexual dos sujeitos Por exemplo Amemyia et al (2013) e Aranzales et al (2014) acreditam
que a praacutetica do cyberbullying eacute maior entre pessoas do sexo masculino Todavia minorias e
pessoas do sexo feminino satildeo mais propensas a serem atemorizados por estarem mais
vulneraacuteveis a situaccedilotildees de intimidaccedilatildeo Um estudo de meta-anaacutelise feito por Barllet et al
(2014) tendo como hipoacuteteses se cyber-bullying eacute considerado uma forma de bullying
tradicional e agressatildeo pessoas do sexo masculino seriam propensos a serem ―cyber-
valentotildees mais do que as do sexo feminino Inversamente se cyberbullying eacute considerado
relacional agressatildeo indireta as meninas seriam ligeiramente mais propensas a serem
perpetradoras de cyberbullying que os meninos Os autores apresentaram ainda outros
aspectos relevantes ao considerar na avaliaccedilatildeo questotildees como paiacutes continente e ano de
publicaccedilatildeo dos estudos bem como a idade dos atores pesquisados Ainda em Barllet et al
(2014) essas variaacuteveis poderiam influenciar significativamente os resultados de estudos sobre
cyberbullying Um dos fatores destacado tratou sobre as publicaccedilotildees que consideram o
cyberbullying uma forma de bullying tradicional e agressatildeo nesses casos os meninos seriam
mais propensos a serem perpetradores do que as meninas Contudo os resultados de
estimativas desse estudo afirmam que ainda sim os meninos teriam maior predisposiccedilatildeo a ser
―cyber-valentotildees Outro dado relevante eacute que no caso das meninas que relataram sofrer
cyberbullying a faixa etaacuteria estava entorno do iniacutecio adolescecircncia entretanto os meninos que
relataram sofrer cyberbullying apresentavam uma meacutedia de idade maior que as meninas
40
Assim o ambiente virtual eacute um terreno capaz de propiciar atos de violecircncia repetitiva
e ainda onde seus autores dificilmente satildeo descobertos o cyberbullying configura-se como
um tipo de violecircncia capaz de trazer consequecircncias graves as suas viacutetimas Para um usuaacuterio
do ambiente virtual que possui a imagem distorcida a internet pode representar uma
ferramenta de autodestruiccedilatildeo se natildeo utilizada de forma correta ou saudaacutevel Estudos apontam
dados significativos sobre os impactos do cyberbullying em estudantes6
Um fator relevante eacute que grande parte dos estudos ao mencionar sobre as pessoas que
satildeo atingidas pelo cyberbullying se referem a estes uacuteltimos utilizando o substantivo ―viacutetima
para identificar aqueles que sofrem este tipo de violecircncia Contudo acreditamos que o termo
traz a conotaccedilatildeo de passividade sugerindo ainda uma natildeo possibilidade de superaccedilatildeo da
condiccedilatildeo sofrida Eacute bem verdade que estudos apontam sobre as dificuldades das ditas
―viacutetimas em expor o dano sofrido ou pedir ajuda Entretanto outros conseguem ter
resiliecircncia a ponto de solicitar auxilio de familiares profissionais ou ainda autoridades Outro
aspecto relevante eacute que podem existir casos em que o intimidado pelo cyberbullying pode se
tornar um perpetrador ou ter sido um em outra situaccedilatildeo Inclusive pode haver casos em que
uma viacutetima de cyberbullying tenha sido um agressor (no caso do bullying tradicional) ou vice
versa Diante disso utilizaremos outros substantivos para relacionar aqueles que sofrem com
o Cyberbullying como por exemplo intimidados atingidos ou acometidos
Cassidy et al (2009) afirmam que adolescentes acometidos de cyberbullying teriam
uma maior predisposiccedilatildeo ao suiciacutedio do que aqueles que natildeo vivenciaram essas formas de
agressatildeo entre pares Apesar disso muitos dos que sofrem com o cyberbullying se calam
mesmo diante das constantes humilhaccedilotildees e depreciaccedilotildees Acreditamos que este calar por
parte dos intimidados pode representar tanto uma imaturidade acerca de como agir diante de
tal situaccedilatildeo como a falta de esclarecimento acerca dos serviccedilos e profissionais que podem
cuidar e acompanhar os casos de cyberbullying ou ainda uma ausecircncia de mecanismos de
apoio de faacutecil acesso que decircem conta de questotildees como esta Baronceli e Ciucci (2014) ao
6 Patchin e Hinduja (2010) dirigiram um estudo que objetivou apurar quais os impactos do
cyberbullying em jovens envolvendo 1963 alunos do ensino meacutedio oriundos de 30 escolas americanas Atraveacutes
de um instrumental de autodeclaraccedilatildeo estes estudiosos verificaram que tanto os cyberbullies (agressores) como
as viacutetimas apresentaram niacuteveis baixos de autoestima em maior frequecircncia quando comparados aos alunos sem
histoacuteria de vitimizaccedilatildeo online No entanto 231 dos alunos declararam ter sido perpetradores e 188 terem
sido viacutetimas de Cyberbullying Todavia as questotildees de gecircnero representaram diferenccedilas delimitadas
identificadas na ocorrecircncia dos subtipos de vitimizaccedilatildeo virtual entre meninos e meninas
41
investigar 529 preacute-adolescentes com idade inferior a 12 anos e 7 meses comparam
caracteriacutesticas de inteligecircncia emocional e controle negativo das emoccedilotildees relacionados ao
bullying e cyberbullying compreendendo que o bullying tradicional e cyberbullying satildeo duas
formas distintas de fenocircmenos da violecircncia envolvendo diferentes traccedilos de personalidades
Com relaccedilatildeo agraves formas de atuaccedilatildeo diante do cyberbullying segundo Melo (2011)
podemos encontrar a accedilatildeo direta e indireta Sendo a direta agressotildees por e-mail mensagens
instantacircneas natildeo havendo por parte do agressor o intuito de ficar no anonimato Jaacute a forma
indireta eacute vista como mais ―covarde e ―nefasta pois o agressor passa a usar nomes fictiacutecios
ou de terceiros o que pode ampliar a gravidade do problema visto que outras pessoas
(aqueles que assistem e disseminam a informaccedilatildeo) podem contribuir para esse estaacutegio de
―vitimizaccedilatildeo Entre as accedilotildees estatildeo votaccedilotildees online difamatoacuterias inclusatildeo de viacutedeos e
imagens vexatoacuterias entre outras
O campo virtual se tornou tambeacutem um meio de accedilotildees criminosas e violaccedilotildees de
direitos neste sentido atualmente jaacute existem Delegacias nuacutecleos e divisotildees policiais de
combate aos crimes de informaacutetica ou crimes ciberneacuteticos em diversos estados do paiacutes No
Rio de Janeiro por exemplo existe a Delegacia de Repressatildeo aos Crimes de Informaacutetica
(DRCI) localizada na Cidade da Poliacutecia na regiatildeo da Zona Norte da cidade e a Delegacia de
Proteccedilatildeo agrave crianccedila Viacutetima (DCAV) O que nos leva a entender que o cyberbullying jaacute pode ser
enquadrado como um crime contra a honra e dignidade por repercutir em danos agrave moral do
indiviacuteduo Natildeo podemos deixar de destacar que em algumas cidades brasileiras existem as
Delegacias de Proteccedilatildeo agrave crianccedila viacutetima de violecircncia Neste sentido cabe destacar o estudo de
Della Flora (2014) ao investigar 191 alunos de quatro turmas de 8ordf seacuterie (atual 9ordm ano)
fundamental e duas turmas de 1ordm ano do ensino meacutedio politeacutecnico e 17 professores constatou
que grande parte de alunos e professores citaram o registro de boletim de ocorrecircncia policial
como uma alternativa de enfrentamento ao cyberbullying por considerarem o ato como crime
em que o autor natildeo deve ficar impune Todavia uma vez que muitos de seus autores satildeo
outras crianccedilas ou adolescentes Segundo o artigo 104 do Estatuto da Crianccedila e adolescente -
ECA (Lei 806090) os menores de dezoito anos satildeo inimputaacuteveis Todavia a partir dos doze
anos de idade podem ser responsabilizados juridicamente caso cometam atos infracional
(conduta descrita no art 103 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente como crime ou
contravenccedilatildeo penal) Ainda assim a questatildeo da responsabilizaccedilatildeo merece atenccedilatildeo cuidadosa
O que nos leva reconhecer a importacircncia de uma normatizaccedilatildeo que advirta e responsabilize os
42
responsaacuteveis pelo cyberbullying natildeo extinguindo o potencial e a necessidade de accedilotildees
preventivas de maior impacto
Com relaccedilatildeo ao manejo prevenccedilatildeo e enfrentamento do bullying e suas apresentaccedilotildees
foram realizadas nos uacuteltimos anos no Brasil algumas estrateacutegias de enfrentamento no campo
juriacutedico algumas delas jaacute mencionadas anteriormente Essas legislaccedilotildees apresentam cunho de
responsabilizaccedilatildeo das escolas em notificar accedilotildees de violecircncia no contexto escolar aleacutem de
atividades de conscientizaccedilatildeo incluindo informaccedilotildees sobre o cyberbullying atraveacutes do
enfrentamento por meio de accedilotildees educativas e capacitaccedilotildees Em contrapartida as escolas por
vezes natildeo se responsabilizam por questotildees que emergem no campo virtual como eacute o caso dos
sites de relacionamentos (Redes Sociais) considerando que estas uacuteltimas estariam aleacutem de
suas responsabilidades interventivas
Refletimos que algumas leis7 implantadas representam respostas a clamores sociais
muito particulares como eacute o caso do Massacre de Realengo jaacute mencionado anteriormente
Principalmente quando evidenciados eou provocados pela miacutedia (com destaque as
reportagens em canais abertos que atingem a grande massa da populaccedilatildeo) aos viacutedeos
inseridos em plataformas como YOUTUBE e Redes Sociais e que satildeo acessados por uma
parcela significativa da populaccedilatildeo Ao mesmo tempo as ferramentas digitais tambeacutem trazem
maior notoriedade para a difusatildeo do cyberbullying entre pares
Segundo apontam os indicadores do SAFERNET entre as principais violaccedilotildees das
quais os internautas solicitaram ajuda no ano de 2015 atraveacutes do Helpline (canal de
atendimento) estaacute o Cyberbullying com 265 (duzentos e sessenta e cinco) denuacutencias sendo
que 178 (cento e setenta e oito) eram do Brasil O estado de Satildeo Paulo liderou o nuacutemero de
registros com 54 (cinquenta e quatro) Entre os atendidos pelo Helpline ao longo do
funcionamento do serviccedilo de denuacutencia de crimes ciberneacuteticos ajuda e orientaccedilotildees estatildeo
crianccedilas adolescentes pais educadores e outros adultos Com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero
presente nas denuacutencias no ano de 2012 por exemplo foi registrado o contato de 27 mulheres
e 10 homens atraveacutes do nuacutemero das conversas via chat disponiacutevel no portal da Organizaccedilatildeo
(Site SAFERNET)
Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees contra o cyberbullying inerentes ao campo da sauacutede natildeo
identificamos registros de accedilotildees voltadas agrave prevenccedilatildeo do cyberbullying as accedilotildees observadas
ateacute o momento estavam estritamente ligadas aos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo e que
7 Observamos que algumas leis nacionais foram promulgadas nos uacuteltimos anos
43
segundo os achados careciam de capacitaccedilatildeo para realizar tais atividades de cunho
informativo vide as legislaccedilotildees municipais e estaduais que tratam sobre conscientizaccedilatildeo
sobre bullying e cyberbullying Seraacute que o tema tem sido tratado pelos profissionais dos
serviccedilos de sauacutede como CAPSI ndash Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Infantil e pelas equipes de
Programas de Sauacutede Escolar (PSE) Pois se presume que a implantaccedilatildeo do Programa Sauacutede
Escolar tenha sido um ganho para as unidades escolares por propor um trabalho integrativo
entre as redes de Educaccedilatildeo e Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede Tendo em vista que o programa tem
como objetivo avaliar as condiccedilotildees de sauacutede dos estudantes aleacutem do desenvolvimento de
atividades de formaccedilatildeo integral dos estudantes mas seu funcionamento nos municiacutepios eacute
bastante limitado por se tratarem de equipes miacutenimas para um universo de escolas e demandas
de alunos
Desse modo refletimos sobre a necessidade de suporte familiar social educacional e
psicoloacutegico agrave medida que o estado emocional desses indiviacuteduos eacute afetado assustadoramente
atraveacutes desse ato de violecircncia
Entendemos que o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta sob
as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para
aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em repercussotildees praacuteticas e reais seja nas
relaccedilotildees sociais ou na individualidade do sujeito (Dahberg e Krug 2007)
O conceito dado por Pierre Bourdieu (2001) para Violecircncia Simboacutelica traz uma
conotaccedilatildeo coerente com o tipo de violecircncia concebido no ambiente virtual
A violecircncia simboacutelica eacute uma espeacutecie de coerccedilatildeo que se institui por intermeacutedio
da adesatildeo que o dominado [viacutetima] natildeo pode deixar de conceder ao
dominante ou seja dominaccedilatildeo quando dispotildee apenas para pensaacute-lo e para
pensar a si mesmo ou melhor para pensar a relaccedilatildeo com ele de instrumentos
repartidos e que fazem surgir essa relaccedilatildeo com o natural partindo do princiacutepio
de ser a forma incorporada da estrutura da relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo [grifo nosso]
(Bourdieu 2001 p206)
Essa violecircncia eacute conduzida por um indiviacuteduo ou por um grupo que controla o poder
simboacutelico sobre os outros produzindo assim crenccedilas no processo de socializaccedilatildeo induzindo
os dominados a enxergarem e avaliarem o mundo sob as perspectivas e padrotildees estabelecidos
pelos dominantes (Souza 2012) Ou seja aquele que sofre de cyberbullying tem sua imagem
depreciada quer seja pelos xingamentos fotos postadas distorcidas disseminaccedilatildeo de
44
difamaccedilatildeo virtual ao ponto que os dominados dessa relaccedilatildeo de poder podem ser convencidos
de que as informaccedilotildees depreciativas divulgadas sobre ele satildeo de fato reais passando assim a
internalizar tais expressotildees Compreendemos que as relaccedilotildees na internet podem exercer um
poder sobre a vida de seus usuaacuterios e esse manejo utilizado de forma depreciativa por parte de
intimidadoreslsquo tem uma representatividade simboacutelica na vida de crianccedilas e adolescentes e de
todo o contexto em que a violecircncia virtual eacute concebida
A imposiccedilatildeo de significaccedilotildees que a ideia de violecircncia simboacutelica traz contribui para
entendermos o quanto as relaccedilotildees virtuais podem ser assimeacutetricas e desiguais Outro ponto
considerado eacute o fato de que os que satildeo atingidos por essas accedilotildees por vezes natildeo conseguem
inicialmente ponderar os xingamentos como depreciativos de modo que naturalizam tal
questatildeo enquadrando-as como brincadeiras como o exemplo dos apelidos (exemplo baleia
rolha de poccedilo) entre outros De certo modo o que ocorre eacute um poder simboacutelico no que
concerne a relaccedilatildeo entre perpetradores e aqueles que sofrem o cyberbullying Mais uma vez
recorremos a Bourdieu (2001) ao afirmar que o poder simboacutelico eacute representado por esse poder
invisiacutevel que eacute exercido somente a partir da permissividade eou conivecircncia daqueles que
natildeo querem saber que lhes estatildeo sujeitados ou mesmo que o exercem
Com base no arcabouccedilo teoacuterico jaacute utilizado observamos que a violecircncia psicoloacutegica
pode se apresentar em diferentes expressotildees como humilhaccedilatildeo o uso de poder xingamento e
insultos (OMS 2002)
A naturalizaccedilatildeo do cyberbullying pode permitir com que ela se torne uma violecircncia
simboacutelica e ao mesmo tempo velada tanto pelo oprimido quanto pelo opressor que durante o
processo de intimidaccedilatildeo virtual detecircm o poder da ofensa jaacute naturalizada e aceita como a
verdade pelo oprimido
45
Artigo 1
2 CYBERBULLYING CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E
IMPLICACcedilOtildeES Agrave SAUacuteDE (submetido em 28122017 e aprovado em 26032018
na revista Ciecircncia e Sauacutede Coletiva)
RESUMO
O estudo buscou realizar a revisatildeo criacutetica de um conjunto de revisotildees bibliograacuteficas no intuito
de conhecer como o cyberbullying eacute compreendido pela comunidade cientiacutefica como o
fenocircmeno vem sendo conceituado como suas dinacircmicas tecircm sido descritas quais
personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede das pessoas intimidadas e
dos perpetradores A literatura mostrou que natildeo haacute um consenso sobre a conceituaccedilatildeo de
cyberbullying contudo haacute argumentos que defendem sua especificidade e diferenciaccedilatildeo em
relaccedilatildeo ao bullying (pode ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo demarcado
fisicamente pode ser disseminado globalmente o tempo de permanecircncias das postagens
ofensivas eacute indeterminado) Quanto agrave questatildeo de gecircnero associada a essa praacutetica observou-se
um vieacutes reducionista do debate indicando diferenccedilas baseadas numa suposta superioridade
tecnoloacutegica dos meninos Os estudos revisados apontam que tanto as viacutetimas quanto os
46
praticantes de cyberbullying vivenciam experiecircncias negativas em sua sauacutede psicoloacutegica e
comportamental podendo ocorrer inclusive evasatildeo escolar isolamento social depressatildeo
ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio Todavia pouco se problematiza sobre a cultura ciber e como esta
estabelece novas socialidades ndash conhecimento e debate cruciais agrave compreensatildeo do fenocircmeno
Palavra-chave Cyberbullying violecircncia redes sociais ciberespaccedilo sauacutede
ABSTRACT
The study sought to perform a critical review of a set of bibliographical reviews in
order to understand how cyberbullying is understood by the scientific community how the
phenomenon has been conceptualized how its dynamics have been described what characters
are identified and what associations are related to health intimidated persons and perpetrators
The literature has shown that there is no consensus on the concept of cyberbullying but there
are arguments that defend its specificity and differentiation in relation to bullying (it can
occur at any moment and without a physically demarcated space it can be disseminated
globally of the offensive posts is undetermined) As for the gender issue associated with this
practice there was a reductionist bias in the debate indicating differences based on a
supposed technological superiority of the boys The reviewed studies show that both victims
and cyberbullying experience negative experiences in their psychological and behavioral
health including school dropout social isolation depression suicidal ideation and suicide
However there is little question about cyber culture and how it establishes new socialities -
knowledge and debate crucial to understanding the phenomenon
Key-words Cyberbullying violence social networks cyberspace health
INTRODUCcedilAtildeO
O cyberbullying eacute uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se configura como um
―problema social constituindo tema e preocupaccedilatildeo de diversos campos disciplinares aleacutem
de ser representado por alguns autores com uma questatildeo de sauacutede puacuteblica (Brochado Jackson
47
e Cassidy 2006 Carpenter E Hubbard 2014 Nixon 2014 Bottino at al 2015 Yang
Grinshteyn 2016 Brochado Soares e Fraga 2016) As distintas configuraccedilotildees do
Cyberbullying podem ser reconhecidas como atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica
contra crianccedilas e adolescentes perpetrados nas ambiecircncias das redes de sociabilidade digital
podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo circunscrito e demarcado fisicamente
Essa forma de agressatildeo eacute perpetrada por meios eletrocircnicos sejam estes mensagens de textos
fotos aacuteudios ou viacutedeos expressos nas redes sociais ou em jogos em rede transmitidas por
telefone celulares tablets ou computadores e cujo teor tem a intencionalidade de causar dano
agrave outra pessoa de modo repetitivo e hostil conforme Ortega et al apud Brochado Soares e
Fraga (2016)
O cyberbullying tem emergecircncia recente e sua conceituaccedilatildeo ainda em construccedilatildeo abriga
consideraacutevel polissemia em suas definiccedilotildees (Garaigordobil 2011 Torres e Vivas 2012 Della
Ciopa Olsquoneil E Craig 2015) Pesquisas apontam que essa diversidade conceitual por vezes
tem direcionado os estudiosos a usar termos diferentes para se referir ao mesmo conceito ou
usar o mesmo termo com diferentes significados (Tokunaga 2010 Notar 2013 Ybarra et el
Apud Lucas-Molina et al 2016)
Nota-se que a violecircncia tambeacutem se manifesta neste novo espaccedilo o ―ciberespaccedilo ou seja
nesse ―lugar de interaccedilatildeo que se daacute no contexto de uma cultura peculiar conhecida como
cultura ―ciber ou cibercultura Vale pontuar que alguns autores questionam se o conceito de
cibercultura ainda seria vaacutelido dado o borramento das fronteiras considerando que as
relaccedilotildees digitais atravessam de forma onipresente o cotidiano (Roger E Saldado 2016)
O termo sociabilidade cunhado por Mafessoli (2006) faz referecircncia aos haacutebitos costumes
e uma espeacutecie de polidez presente na contemporaneidade A socialidade digital produz um
ethos que gera a necessidade de construir uma imagem social positiva O que eacute postado em
rede a maneira como se eacute visto neste ambiente ou ainda as maacutescaras que satildeo construiacutedas
48
sobre si neste espaccedilo valoram essa teatralidade a partir daquilo que se quer ou se permite que
os outros vejam (Mafessoli 2006) Para crianccedilas e adolescentes que estatildeo em
desenvolvimento essa identidade que se constroacutei pode ser significativamente influenciada a
partir dos padrotildees impostos pela rede A necessidade de ―estar conectado sendo sempre
visto por outros vem sendo aprimorada a cada nova atualizaccedilatildeo que os aplicativos de redes
sociais geram criando e forccedilando novas experiecircncias de compartilhamento para os seus
usuaacuterios digitais Bruno (2013) vai refletir sobre a importacircncia do olhar do outro para
constituir a imagem de si uma imagem engendrada na perspectiva de espetaacuteculo que
contribui para a construccedilatildeo de uma autoestima balizada pela popularidade que se tem nas
redes sociais Observa-se a partir da reflexatildeo de Bruno (2013) que os viacutenculos que se
estabelecem natildeo precisam ser necessariamente fortes para influenciarem as redes sociais Por
vezes aqueles que mais curtem e comentam um conteuacutedo digital satildeo pessoas cujas
vinculaccedilotildees sociais constituem ―laccedilos fracos Outra caracteriacutestica eacute a fluidez dessas relaccedilotildees
pois mesmo modo que novas conexotildees satildeo estabelecidas exclusotildees e bloqueio de pessoas
podem ocorrer sem motivos relevantes (2014)
Ao falar sobre a ―realidade social da virtualidade da internet Castells (2015) afirma que
a internet foi apropriada pela praacutetica social em toda a sua diversidade embora ela tenha
efeitos especiacuteficos sobre tais praacuteticas Aborda como as pessoas se comportam no ambiente
virtual como esperam ser vistas pelos outros Os jovens por exemplo estatildeo nesse processo de
descoberta de identidade de desvendar quem de fato eles satildeo ou gostariam de ser
As relaccedilotildees digitais redefinem dinacircmicas sociais contemporacircneas convocando aos
indiviacuteduos estarem sempre conectados atraveacutes das novas tecnologias independente da
geolocalizaccedilatildeo tempo e do quantitativo de pessoas a quem estatildeo vinculados Traccedilo marcante
da sociabilidade digital eacute a hipervisibilidade (2015) uma exposiccedilatildeo constante e voluntaacuteria dos
fatos e atos cotidianos e iacutentimos O privado passa a ser publicizado a partir dos
49
compartilhamentos realizados neste mundo de informaccedilotildees instantacircneas em tempo real
(2012)
Os jovens ―nativos digitais (2013) estatildeo cada vez mais cedo conectados nas redes sociais
digitais atraveacutes das TICsndash Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Segundo a Pesquisa
Nacional de Amostra por Domiciacutelios ndash PNAD (2015) no Brasil aproximadamente 1021
milhotildees de pessoas de 10 anos ou mais de idade tiveram acesso agrave internet no periacuteodo em que a
pesquisa ocorreu Em 2015 ano da pesquisa com relaccedilatildeo aos grupos etaacuterios observou-se que
os adolescentes de 15 a 17 anos bem como os de 18 e 19 anos de idade apresentaram o maior
iacutendice percentual dentre os usuaacuterios da internet (sendo 82 e 829 respectivamente)
Brunnet et al (2013) apontam um estudo americano que descreve que em meacutedia 93 dos
adolescentes entre 12 e 17 anos acessam a internet e dessa populaccedilatildeo 75 possuem seu
proacuteprio celular
O uso da internet em especial de redes de relacionamentos favorece as praacuteticas de
violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de relacionamentos criaccedilatildeo de falsos
perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo o convite ao suiciacutedio por sites clandestinos ou
comunidades (2011)
Assim o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma
disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre
sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidado (Alim 2016)
Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs horas
diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de Cyberbullying (Arsegravene
Raynaud 2014)
Embora associado ao tema do bullying mais consolidado teoricamente o cyberbullying
tem recebido bastante atenccedilatildeo da comunidade cientiacutefica internacional contudo pouco
estudado no Brasil
50
Diante disso o artigo tem como objetivo analisar as conceituaccedilotildees de Cyberbullying
adotadas pela literatura nacional e internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo
enfocando suas ecircnfases e ―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as
associaccedilotildees que delimitam entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes
MEacuteTODOS
Trata-se de revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo criacutetica (critical review) Essa abordagem
metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um tema revelando fraquezas
contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant MJ Booth 2009) A contribuiccedilatildeo de
uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas discrepacircncias ou aacutereas em
que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel (Paregrave et al 2015)O escopo
analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou estatisticamente representativo Esse
tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos selecionados o que eacute considerado o
seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos
meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo (siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso
anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais positivista (anaacutelise de conteuacutedo)
Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo BVS
Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA (Applied
Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017
Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos (all
fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no Medical
Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying
51
(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos
vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo
Visando reduzir e qualificar mais esse acervo optamos por trabalhar apenas os estudos de
revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no tiacutetulo e
―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de qualquer
natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas modalidades
revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica sistemaacutetica
revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo sistemaacuteticas e
revisatildeo narrativa
Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para
acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em 301
estudos Depois da anaacutelise de cada artigo foram identificados 156 artigos em duplicidade que
natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias (MENDLEY)
como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com traduccedilatildeo de texto
para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou francecircs e quando
houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al
Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com recorte temporal de
publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem sendo difundido na
uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo
O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia dos
autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo (tabela 1) Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus
conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes
categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do
cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede
52
RESULTADOS
Observa-se uma produccedilatildeo crescente no periacuteodo analisado (exceto 2016) com
predominacircncia de artigos americanos (27) O baixo nuacutemero de publicaccedilotildees em 2016 pode
refletir o pouco tempo entre a publicaccedilatildeo e a sua disponibilizaccedilatildeo nas bases de indexaccedilatildeo
pois a busca foi feita no iniacutecio de 2017
Com relaccedilatildeo aos campos da Sauacutede e Educaccedilatildeo natildeo houve diferenccedilas significativas
quanto ao nuacutemero de publicaccedilotildees Sauacutede (26) e Educaccedilatildeo (27) muito menos ao tipo de
abordagem produzida sobre o tema As demais publicaccedilotildees foram consideradas como
multidisciplinarinterdisciplinar As revistas com maior representaccedilatildeo neste acervo foram
Aggression and Violent Behavior (10) seguida da Computers in Human Behavior (5) Assim
tratamos o acervo a partir das especificidades entre os estudos e natildeo de suas aacutereas de origem
Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma
PUBLICACcedilOtildeES 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006
NUacuteMERO DE
PUBLICACcedilOtildeES
8 21 12 11 7 6 1 2 1 2 1
NACIONALIDADE
DO ESTUDO
EUA Reino Unido
Austraacutelia Portugual Belgica
Espanha e Greacutecia
EUA Singapura
Greacutecia Itaacutelia Brasil China
Canadaacute Franccedila
Austraacutelia Reino
Unido e Espanha
Franccedila EUA Itaacutelia
Turkia e Reino Unido
EUA Canadaacute e
Brasil
Sueacutecia Alemanha
Suiacuteccedila Reino Unido EUA e
Colocircmbia
EUA Espanha Meacutexico Austraacutelia
EUA Austraacutelia EUA EUA Canadaacute
IDIOMA Inglecircs (7) e
Espanhol (1)
Inglecircs (18)
Portuguecircs (2) e
Francecircs (1)
Francecircs (1)
Inglecircs (10) e
Portuguecircs (1)
Inglecircs (10) e
Portuguecircs (1)
Inglecircs (6) Espanhol
(1)
Inglecircs (2) e
Espanhol (2)
Inglecircs (1)
Inglecircs (2)
Inglecircs (1)
Inglecircs (2)
Inglecircs (1)
53
Conceituaccedilatildeo
O cyberbullying possui muitas conceituaccedilotildees revelando distintas interpretaccedilotildees adotadas
pela comunidade cientiacutefica Parte dos estudos analisados natildeo construiu uma definiccedilatildeo para o
cyberbullying mas toma de empreacutestimo os conceitos de bullying agressatildeo e asseacutedio jaacute
existentes na literatura (Zych Ortega-Ruiz Del Rey 2015 Remond Ker Romo 2015
Carpenter Hubbart 2014 Sabella Patchim Hinduja 2013 Bailey 2013 Bauman 2013
Stewart Fritsch 2011 Hanewald 2009)
Havia no acervo uma polifonia de definiccedilotildees para o cyberbullying sugerindo que a
comunidade cientiacutefica natildeo produziu um consenso sobre o entendimento da natureza e limites
do fenocircmeno Talvez por ―imaturidade ou como reflexo dessa processualidade visto que as
relaccedilotildees digitais satildeo dinacircmicas e influenciadas pelas novas tecnologias constantemente
incorporadas ao universo ciber Todavia tal polissemia gera uma espeacutecie de inconsistecircncia
nos dados das pesquisas e difiacuteculdades de comparaccedilatildeo entre os estudos (Aboujaoude et al
2013)
As traduccedilotildees de definiccedilotildees propostas em inglecircs e apropriadas por estudos de liacutengua latina
podem tambeacutem variar semanticamente e levar a compreensotildees diferenciadas como no
exemplo dos sentidos entre cyberbullying e acosso digital Estudos alematildees usam o termo
ciber-mobbing Tais termos retraduzidos ao portuguecircs produzem ecircnfases diferenciadas No
caso da traduccedilatildeo de acosso se evidencia o caraacuteter de perseguiccedilatildeo sistemaacutetica caracteriacutestica
natildeo necessariamente presente no fenocircmeno do cyberbullying
Aboujaoude et al (2015) identificaram diferentes designaccedilotildees para o cyberbullying como
cyberstalking agressatildeo on-line asseacutedio ciberneacutetico asseacutedio na Internet bullying na Internet e
54
vitimizaccedilatildeo ciberneacutetica ou cybervitimizaccedilatildeo A natureza hostil do ato e a intenccedilatildeo de causar
sofrimento foram considerados pela maioria dos estudiosos como cruciais para a definiccedilatildeo de
cyberbullying
Como avaliam Smith et al(2012) caracterizar o cyberbullying apenas como uma forma
de ―bullying digital tem sido uma tendecircncia e apoacutes analisarem diversos estudos concluem
que existe um debate sobre o uso de uma definiccedilatildeo generalista (bullying) ou a necessidade de
substituiacute-la por outra mais especiacutefica
Considerando o acervo analisado as principais definiccedilotildees adotadas podem ser divididas
em dois blocos as que reconhecem o cyberbullying como uma (nova) forma de bullying
apontando diferenccedilas e similaridades e as que tratam o cyberbullying como um fenocircmeno de
outra natureza diferente do bullying Analisaremos a seguir os argumentos que tratam das
especificidades que aproximariam e distinguiriam o bullying e o cyberbullying
No primeiro bloco de estudos a maioria do acervo reconhece o cyberbullying como o
bullying por meio digital eou uma variaccedilatildeo do bullying
Dentre os autores que percebem o cyberbullying como uma variaccedilatildeo de bullying alguns
defendem a importacircncia de contextualizar a violecircncia digital e sua expressatildeo nos
comportamentos agressivos (Ang 2015 Castro Schreiber Antunes 2015 Wendt Lisboa
2014 Chibarro 2007) A revisatildeo de Allison e Bussey (2016) apresenta o cyberbullying como
―agressatildeo intencional por meio eletrocircnico que ocorre de vaacuterias formas como insultos
ameaccedilas divulgaccedilatildeo de fotos embaraccedilosas e pode ser perpetrado atraveacutes de diversas miacutedias
sem a necessidade da presenccedila fiacutesica dos envolvidos Os autores se basearam em extensa
literatura de bullying e ao comparaacute-lo ao cyberbullying constataram que satildeo diferentes em
muitos aspectos tais como anonimato maior impacto uma maior audiecircncia de espectadores
individualidade na praacutetica de perpetrar ser dispensaacutevel a presenccedila fiacutesica dos envolvidos e a
55
viacutetima ser atingida em qualquer lugar e a qualquer momento (Kowalski et al 2014 Tanrikulu
2014 Thomas Conor Scott 2014) Para alguns o caraacuteter repetitivo natildeo estaria
necessariamente presente no cyberbullying (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Carpenter
Hubbert 2014 Slonje 2012) pois apenas uma postagem depreciativa leva o conteuacutedo a ficar
permanentemente exposto Jaacute a capacidade de anonimato eacute apontada como a principaluacutenica
diferenccedila entre os dois fenocircmenos (Bailey 2013 Zych Ortega-Ruiz e Allison e Bussy 2016)
Algumas revisotildees (Aboujaoude et al 2015 Ang 2015 Antoniadou Kokkinos 2015
Cantone 2015 Berne et al 2012) revelaram que natildeo haacute consenso se a repeticcedilatildeo das accedilotildees e o
desequiliacutebrio de poder seriam dinacircmicas do cyberbullying mas certamente ocorrem nos casos
do bullying O desequiliacutebrio de poder foi associado diversas vezes como suposta incapacidade
de resposta por parte da pessoa alvo do cyberbullying ou ainda por falta de habilidades
tecnoloacutegicas que permitiriam uma melhor resposta no meio digital Para Faucher Cassidy e
Jackson (2015) esse exerciacutecio de poder estaria associado ao quatildeo vulneraacutevel estatildeo os
conteuacutedos privados da pessoa alvo ou ainda por divulgar tais informaccedilotildees sem levar em conta
as consequecircncias de uma exposiccedilatildeo nas redes sociais (Suzuki et al 2012)
Em relaccedilatildeo agraves similaridades grande parte dos estudos aponta o caraacuteter de repeticcedilatildeo o uso
das palavras ferinas o desequiliacutebrio de poder e o dano intencional (Yang Grinshteyn 2016
El Asam Samara 2016 Baldry Farrington Sorrentino 2015 Della Cioppa OlsquoNeil Craig
2015 Chan H C Wong 2015 Cantone 2015 Chisholm 2014 Wingate Minney
Guadagno 2013 Nosworthy Rinaldi 2013 Burnett Yozwiak Omar 2013 Bailey 2013
Von Mareacutees N Pettermann 2012 Garciacutea-Maldonado Joffre-Velaacutezquez Martiacutenez-Salazar
2011 Mason 2008 Chibarro 2007) Thomas et al (2015) afirmam que os ataques de
bullying e de cyberbullying satildeo mais parecidos que diferentes e muitas vezes co-ocorrem
Para Yang e Grinshteyn (2016) o fechamento de uma acepccedilatildeo conceitual natildeo seria
beneacutefico pois uma definiccedilatildeo delimitada e concisa poderia excluir grande quantidade de
56
comportamentos potencialmente nocivos Aleacutem disso uma definiccedilatildeo que inclui elementos
descritivos da praacutetica de cyberbullying especificando certos tipos de dispositivos eletrocircnicos
com o passar do tempo pode se tornar obsoleta apoacutes o lanccedilamento de novas tecnologias
No segundo bloco estatildeo os autores que afirmam que cyberbullying eacute uma nova forma de
agressatildeo que apresenta diferenccedilas significativas em relaccedilatildeo ao bullying todavia muitos deles
natildeo se dedicaram a produzir uma teoria ou definiccedilatildeo especiacutefica (Brochado S Soares S
Fraga 2016 Chan Wong 2015 Chisholm 2014 Baek Bullock 2013 Cassidy Faucher et
al 2014 Jackson 2013)
Considerando a argumentaccedilatildeo sobre a natureza ineacutedita do fenocircmeno aponta-se o papel da
audiecircncia no contexto da perpetraccedilatildeo (Smith 2015 Baek e Bullock 2014) A audiecircncia do
cyberbullying eacute concedida em larga escala pelas plataformas digitais propagando esse
conteuacutedo depreciativo para milhares de pessoas tanto no ato da transmissatildeo da mensagem
viacutedeo ao vivo ou em outro momento aleacutem da possibilidade de baixar o conteuacutedo para acesso
offline Logo a capacidade exponencial de compartilhamento desse conteuacutedo natildeo pode ser
dimensionada pelo perpetrador e mesmo que a intenccedilatildeo de propagaccedilatildeo do conteuacutedo seja para
um grupo menor de pessoas o intimidador passa a natildeo ter mais domiacutenio sobre esse conteuacutedo
Quanto mais vizualizado eou compartilhado a audiecircncia aumenta significativamente
diferente do bullying cuja audiecircncia eacute limitada ao puacuteblico que estava presente no momento
do ataque No caso bullying mesmo que a cada novo ataque o grupo de espectadores cresccedila
natildeo se compara ao nuacutemero de pessoas que teratildeo acesso a um conteuacutedo hostil na internet
Brown Jackson e Cassidy (2006) alertam que o ambiente virtual favorece a desinibiccedilatildeo
mencionando o caso de pessoas que sofrem com o bullying e que utilizam a internet para se
vingar daquele que praticou tal bullying jaacute que a internet lhes oferta a possibilidade de
anonitamato atraveacutes de identidade alternativa (uso de perfis falsos) para assediar Deste modo
57
em alguns casos quem sofre bullying pode ser um perpetrador de cyberbullying contra seu
algoz de bullying face a face principalmente quando essa― revanche natildeo seria possiacutevel
acontecer como entre sujeitos com diferenccedila de padrotildees fiacutesicos
Cabe mencionar que parte dos estudos corrobora acerca de suposta inconsistecircncia nas
definiccedilotildees encontradas na literatura (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Zych Ortega-Ruiz
Del Rey 2015) e que falta consenso entre os estudiosos que investigam o tema seja com
relaccedilatildeo agraves conceituaccedilotildees e termos ou sobre os aspectos de semelhanccedila e diferenccedila entre o
cyberbullying e bullying Conforme esse arcabouccedilo teoacuterico se expande eacute provaacutevel que novas
discordacircncias cientiacuteficas perpassem por esse campo em construccedilatildeo
Descriccedilotildees das dinacircmicas
As dinacircmicas de cyberbullying dependem das accedilotildees e representaccedilotildees de cada pessoa
envolvida nesse ciacuterculo de violecircncia Neste cenaacuterio atuam os perpetradores ndash os que praticam
a violecircncia os acometidos (chamados de viacutetimas) os espectadores (aqueles que assistem e
compartilham o conteuacutedo que viola outrem) os educadores e pais que por vezes satildeo os
uacuteltimos a tomar conhecimento do abuso
Houve diferenccedilas significativas sobre as descriccedilotildees das dinacircmicas do cyberbullying e os
motivos provaacuteveis estariam associados ao periacuteodo em que os estudos foram publicados pois
algumas formas de cyberbullying ainda natildeo eram reconhecidas anteriormente e os tipos de
dispositivos tecnoloacutegicos e as formas de conversaccedilatildeocomunicaccedilatildeo e compartilhamento de
conteuacutedo online disponiacuteveis tambeacutem mudaram rapidamente Haacute algum tempo o e-mail e as
58
mensagens de texto eram as formas mais disseminadas atualmente as interaccedilotildees atraveacutes das
redes sociais ganharam maior espaccedilo entre os jovens (transmissatildeo ao vivo viacutedeos chamadas
compartilhamentos em massa jogos online em grupo etc)
Destacam-se quatro estudos que exemplificam as dinacircmicas de cyberbullying Julia
Wilkins et al (20120 descrevem fundamentados no texto que institui o Programa Anti-
Bullying de Londres sete tipos de cyberbullying e Suzuki et al (2012) tambeacutem identificam as
mesmas modalidades a seguir compiladas 1 Por mensagem de texto - enviada via telefone
celular com a intenccedilatildeo de causar desconforto e ameaccedila 2 Imagemvideo-clipe - quando as
imagens das viacutetimas satildeo enviandas para outras pessoas no intuacuteito de ameaccedilar ou constranger
3 Intimidaccedilatildeo por chamada telefocircnica - por meio de chamadas silenciosas ou por mensagens
abusivas ou quando o celular da viacutetima eacute roubado e usado para perseguir outros culpando o
proprietaacuterio do telefone 4 intimidaccedilatildeo por e-mail quando satildeo enviados conteuacutedos muitas
vezes usando um pseudocircnimo ou o nome de outra pessoa para fazer com que essa pessoa se
pareccedila com o perpetrador (modalidade desatualizada) 5 chat room bullying - respostas
agressivas e intimidadoras em sala de bate papos (tambeacutem mais desatualizada) 6 intimidaccedilatildeo
atraveacutes de mensagens instantacircneas 7 bullying atraveacutes de websites ndash com uso de blogs
difamatoacuterios sites pessoais sites de pesquisa pessoais online e sites de redes sociais (por
exemplo MySpace) aleacutem da criaccedilatildeo de foacuteruns
Entre as dinacircmicas do cyberbullyng destacadas na literatura estariam ―namecalling
(apelidar algueacutem de modo rude) propagaccedilatildeo de rumores ―flamings (discussotildees calorosas
online) ameaccedilas fingir ser outra pessoa online (fakenames) envio de fotos indesejadas ou
mensagens de texto (sexting) postar eou compartilhar imagens e viacutedeos com conteuacutedo
iacutentimo de outra pessoa sem consentimento desta (Carpenter Hubbard 2014) excluir uma
pessoa de um circulo social online de forma intencional (Bailey 2013) Aleacutem das redes
59
sociais o cyberbulling tambeacutem se manifestaria em jogos MMOGs - jogos onlines com
muacuteltiplos jogadores (multiplayers games) um jogador poderoso pode ―trollar (zombar
humilhar) algueacutem roubando itens do jogo como recompensas invadindo a conta formar
gangues e bloquear pessoas em uma rede social fazendo piadas com a imagem de uma pessoa
e controlando remotamente a cacircmeracomputador de uma pessoa sem o consentimento desta
(Chisholm 2014)
A revisatildeo de Kowalski et al (2014) ratifica as formas jaacute mencionadas e reconhece outras
formas de perpetraccedilatildeo entre elas harassament (envio de mensagens repetitivas e com
conteuacutedo ofensivo) bloqueio online solicitar informaccedilatildeo online de conteuacutedo pessoal e
posteriormente compartilhar a terceiros sem consentimento cyber-stalking (usar comunicaccedilatildeo
eletrocircnica para perseguir outra pessoa) e postar informaccedilatildeo inapropriada ou de cunho
depreciativo se passando por outra pessoa
Mehari Farell Le (2014) refletem que os comportamentos agressivos nas relaccedilotildees
sociais na internet tecircm baixo controle social e satildeo menos recriminados se comparados aos
perpetrados nas relaccedilotildees face a face Outro aspecto apontado na revisatildeo de Mehari et al
(2014) eacute a falta ou escassez de indiacutecios verbais que aumentaria a probabilidade de
desentendimentos e interpretaccedilotildees errocircneas Assim o que um jovem pretende como uma
brincadeira interaccedilatildeo amigaacutevel pode rapidamente tornar-se uma interaccedilatildeo mutuamente
agressiva se a outra pessoa interpreta o comentaacuterio como um insulto ou uma ameaccedila A falta
de sugestotildees natildeo verbais tambeacutem pode reduzir a empatia que serve como um controle natural
do comportamento dos adolescentes
Arsene e Raynaud (2014) destacam que o cyberbullying que ocorre por meios visuais
(foto ou viacutedeo) eacute mais prejudicial e mais negativo do que os que envolvem mensagens por
(SMS) e de texto na Internet As consequecircncias seriam mais graves as viacutetimas mais afetadas
60
do que em outras formas de cyberbullying e o risco de sofrimento psicossocial teria maior
potencial Na revisatildeo desses autores (2014) as fotos ou videoclipes tiveram impacto mais
negativo do que no asseacutedio tradicional (interpetrado como bullying)
Os personagens envolvidos
Os principais personagens do cyberbullying satildeo os praticantes e as pessoas escolhidas como
alvo (as denominadas viacutetimas) Poucos estudos como os Allison e Bulsey (2016) e Desmet et
al (2016) analisaram a figura dos espectadores (testemunhas) e seu papel na manutenccedilatildeo do
ciclo de violecircncia e propagaccedilatildeo do cyberbullying Allison e Bulsey (2016) identificaram quais
os fatores que influenciam as respostas das testemunhas aos atos de cyberbullying
Concluiram que os espectadores satildeo importantes no cyberbullying pois eles tem ―o pontecial
de alterar a situaccedilatildeo ao intervir mas a maioria das testemunhas permanece passiva (pg183)
Outro estudo indica que os espectadores seriam capazes de determinar qual o potencial de
extensatildeo que um episoacutedio de cyberbullying pode ter ao compartilhar curtir comentar um ato
de violecircncia nestes moldes Runions Bak (2015)
Haacute divergecircncia na literatura analisada com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que perpassa o
cyberbullying A maioria reduz o debate agrave variaacutevel ―sexo buscando saber se meninos ou
meninas satildeo os maiores viacutetimas ou agressoras ou quais deles sofreriam mais as
consequecircncias do cyberbullying (Bauman 2013 Baldry Farringtone Sorrentino 2015)
Bauman et al (2013) identificaram na literatura casos de pessoas do sexo masculino que ao
mesmo tempo que eram praticantes de cyberbullying e de bullying Para outros estudos
pessoas do sexo feminino estariam mais envolvidas em cyberbullying e os meninos em
situaccedilotildees de bullying8 Isso sem considerar a orientaccedilatildeo sexual desses indiviacuteduos ou sua
8 A literatura apresenta recorrente associaccedilatildeo entre cyberbullying e bullying
61
posiccedilatildeo de gecircnero Bailey (2013) alega haver dissenso sobre os rapazes serem os maiores
causadores de cyberbullying
Por outro lado muitos autores acabam por reforccedilar estereoacutetipos de gecircnero de forma
acriacutetica No estudo Dooley Pyżalski Cross (2009) as garotas teriam maior interesse com a
aparecircncia sauacutede enquanto garotos estariam mais implicados com jogos on-line Tal texto
reproduz uma leitura de gecircnero onde meninas tendem a ter laccedilos de amizades mais intensos
compartilhando conteuacutedos iacutentimos e segredos pessoais principalmente atraveacutes de mensagens
de texto jaacute meninos socializam nas redes sociais em maiores grupos e compartilham menos
detalhes pessoais Chibbaro (2007) destaca estudo que afirma que a maioria (53) das
meninas sofreu cyberbullying de conhecidos como colega da escola seguido de amigo e em
um nuacutemero menor o irmatildeo foi o causador do ato Alim (2016) baseado no site
NoBullyingcom afirma que as meninas satildeo duas vezes mais causadoras de Cyberbullying do
que os meninos porque meninos seriam mais agressivos em termos fiacutesicos enquanto que
meninas tendem a ser mais ―silenciosas quando querem atingir algueacutem por vezes quando
intimidam o fazem em seacuterie Na mesma linha sexista estudos como de Chan e Wong (2015)
alegam que garotos satildeo os maiores perpetradores por serem mais haacutebeis no uso de tecnologias
do que as garotas
Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem houve dissenso A maior incidecircncia estaacute entre os
adolescentes e os casos diminuem na fase universitaacuteria (Antoniadou Kokkinos 2015)
Segundo Suzuky et al (2014) as meninas seriam as maiores acometidas poreacutem entre 15 e 17
anos a incidecircncia eacute muito maior do que entre jovens de 12 e 14 anos Para Hamn et Al (2015)
o fator idade natildeo eacute determinante para ser alvo de Cybebullying
Para Alim (2016) haveria um recorte de condiccedilatildeo social pois os que mais sofreriam
seriam pessoas oriundas dos estratos de baixa renda
62
Da mesma forma natildeo haacute uma concordacircncia na literatura sobre o recorte eacutetnicoracial
Estudantes brancos satildeo considerados maiores perpetradores do que outras categorias eacutetnicas
(Ham et al 2015 Peterson M B Peterson 2014) O estudo de Peterson e Peterson (2014)
foi o uacutenico que objetivou examinar possiacuteveis ligaccedilotildees entre comportamentos de ciberbullying
e grupos eacutetnicos especiacuteficos Essa lacuna parece evidenciar que se desconsidera que a
discriminaccedilatildeo por etniacor da pele pode gerar experiecircncias de cyberbullying Para Peterson e
Peterson (2014) alguns aspectos precisam ser analisados tais como o perfil populacional das
pessoas que utilizam TICs a escassez de estudos que analisam especificamente o quesito
raccedilacor bem como o territoacuterio em que esses estudos estatildeo sendo produzidos e onde esses
dados de amostras estatildeo sendo coletas
Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos
As psicopatologias estatildeo entre as principais implicaccedilotildees agrave sauacutede dos envolvidos nas
praacuteticas de cyberbullying (Reed et al 2016 Foody Samara Calbring 2015 Arsegravene
Raynaud 2014 Pearce 2011)
Os principais agravos listados para os que sofrem foram insocircnia depressatildeo baixo
rendimento escolar ou baixa concentraccedilatildeo (Couvillon Illieva 2011) Jaacute Burnett Yozwiak e
Omar (2013) apresentam estudos que afirmam que pessoas que sofrem Cyberbullying tem
menos horas de sono e menos apetite do que pessoas que sofreram outras formas de violecircncia
Bailey31
ao analisar a Child Behavior Checklist (CBC) inclusa em um dos estudos verificados
indicou que aqueles assediados por conhecidos tambeacutem eram mais propensos a relatar
maiores conflitos com os pais casos de abuso fiacutesico ou sexual vitimizaccedilatildeo interpessoal off-
line e comportamento agressivo aleacutem de outros problemas sociais (pg 2)
63
Aquele que eacute intimidado com cyberbullying teria aproximadamente oito vezes mais
chances de levar uma arma para escola do que outros estudantes que natildeo tiveram essa
experiecircncia (Burnett Yozwiak Omar 2013) Grande parte dos estudos considera ainda que o
cyberbullying estaacute associado agrave depressatildeo uso de drogas ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio estresse
solidatildeo e ansiedade (El Asam Samara 2016 Hinduja S Patchin 2011 Gini G Espelage
2014) com consequecircncias psiquiaacutetricas que afetam a sauacutede mental e o desenvolvimento
escolar (Carpenter Hubbard 2014) principalmente dos adolescentes que satildeo alvo A busca
por experiecircncias de risco ―viacutecio no uso de internet solidatildeo e o suiciacutedio satildeo alguns dos
fatores psicoloacutegicos para ambos os personagens (viacutetimas e agressores) sendo que para os que
praticam os fatores estariam interligados entre si (Alim 2016) Natildeo encontramos subsiacutedios
que fundamente os impactos da sauacutede dos espectadores
DISCUSSAtildeO
A escassez de estudos que refletem sobre a contextualizaccedilatildeo do cyberbullying na
cibercultura (Stylios et al 2016 Roger e Salgado 2016 Castro Schreiber Antunes 2015
Nocentini Zambuto e Menesini 2015) e nos seus modos de socialidade foi o aspecto mais
marcante nesta revisatildeo de revisotildees Como discutir um fenocircmeno sem relacionar ao seu
contexto sociocultural de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo Eacute preciso reconhecer que a juventude que
vivencia o cyberbullying eacute em boa parte ―nativa digital implicando o domiacutenio de
comportamentos e gramaacuteticas proacuteprias aleacutem desse espaccedilo de convivecircncia ser estrateacutegico agraves
afirmaccedilotildees identitaacuteria desse segmento (Brown Jackson E Cassydy 2006 Wendt e Lisboa
2014)
Percebe-se que apesar da redundacircncia conceitual houve um avanccedilo expressivo na
busca por aprofundar as especificidades caracteriacutesticas do Cyberbullying Salienta-se ainda a
64
peculiaridade no cyberbullying da expansatildeo exponencial do puacuteblico de expectadores no que
tange agrave disseminaccedilatildeo do conteuacutedo ofensivo e por tempo indeterminado - elementos que
desafiam o trabalho de promoccedilatildeo de resiliecircncia aos que sofreram tais praacuteticas Uma pessoa
pode ser estigmatizada por um longo periacuteodo agrave medida que esse conteuacutedo natildeo pode ser
apagado facilmente como nos casos de sexting em que o conteuacutedo fica disponiacutevel em
buscadores associados ao nome da pessoa que sofreu a violecircncia Uma vez que o
Cyberbullying pode ocorrer em qualquer tempo e territoacuterio e se dispotildee de mecanismos de
ocultaccedilatildeo de conteuacutedos e torna mais difiacutecil a detecccedilatildeo preacutevia por parte dos adultos e
responsaacutevies
Em relaccedilatildeo aos aspectos de gecircnero destacamos a revisatildeo de Chan e Wong (2015) que
analisou as taxas de prevalecircncia de bullying e cyberbullying a respeito das caracteriacutesticas dos
praticantes e intimidados e em que circunstacircncias a accedilotildees eram descritas na China Taiwan
Hong Kong e Macau Percebemos um discurso sexista9 quando os autores fazem um recorte
de gecircnero em sua anaacutelise e como exemplos mencionam no estudo que em Taiwan um dos
fatos de meninos serem os maiores intimidadores se justificaria por uma maior habilidade no
uso de tecnologias Apesar da questatildeo cultural ser evidente favorece a interpretaccedilotildees de que
as adolescentes do sexo feminino natildeo teriam habilidades com tecnologias se comparada aos
adolescentes do sexo masculino natildeo refletindo sobre o tipo de acesso que as meninas
possuem aos meios tecnoloacutegicos culturais e educacionais em paiacuteses onde o homem eacute
considerado superior Outro registro sexista aparece no estudo de Chisholm (2014) que
defende que meninas tendem a se envolver em agressatildeo indireta social e relacional como no
cyberbullying para excluir pessoas em redes sociais e espalhar rumores A natureza
9 Um discurso sexista declara em seu posicionamento que determinado papel eou estereoacutetipo de gecircnero ou sexo
eacute superior que o outro Pode ser inclusive configurado como preconceito e discriminaccedilatildeo com base nesses
marcadores sociais (sexo ou gecircnero)
65
―competitiva das mulheres foi um aspecto destacado por Wingate (2013) ao corroborar a
ideia que as garotas estariam mais envolvidas com praacuteticas de cyberbullying relacionais
Por fim notamos tambeacutem que eacute consensual o reconhecimento de impactos na sauacutede
psiacutequica e no cotidiano escolar dos intimidados e apenas um pequeno grupo reconhece que
existem impactos entre os intimidadores No contexto da Sauacutede o tema ainda eacute recente e
pouco disseminado anunciando um longo percurso a ser percorrido no sentido de sua
compreensatildeo e de posicionamento do campo Jaacute no contexto da Educaccedilatildeo o tema comeccedilou a
ser discutido anteriormente o que pode ser atribuiacutedo agrave recorrente correlaccedilatildeo com o bullying
que perpassa o cotidiano da escola
Artigo 2
4CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA O CAMPO
DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE LITERATURA (natildeo submetido)
RESUMO
O presente estudo propotildee uma revisatildeo criacutetica de estudos sobre o cyberbullying com recorte
temporal entre os anos de 2006 e 2016 Os objetivos deste estudo foram analisar as propostas
de enfrentamento sugeridas para os setores da sauacutede e educaccedilatildeo (atores implicados e
estrateacutegias sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de
enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno Os resultados foram discutidos com base na anaacutelise
de discurso criacutetica proposta por Norman Fairclough Identificou-se na literatura revisada uma
maioria de accedilotildees baseadas na proposta de monitoramento e controle parental e escolar
discursos que propotildee praacuteticas no intuito de gerar uma mudanccedila no comportamento dos
66
indiviacuteduos envolvidos com o cyberbullying e propostas que expressam forte
intertextualidade manifesta do saber meacutedico
Palavra-chave Cyberbullying violecircncia intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo sauacutede e educaccedilatildeo
ABSTRACT
The present study proposes a critical review of studies on cyberbullying with temporal cut
between 2006 and 2016 The objectives of this study are to analyze the proposed proposals
for sectors of Health and Education (implicated actors and suggested strategies) and analyze
the discourses on prevention accountability coping methods and dynamics of the
phenomenon The results were discussed on the basis of critical discourse analysis proposed
by Norman Fairclough It was identified in the reviewed literature a majority of actions
based on the parental and school monitoring and control proposal discourses that proposes
actions aimed at changing the social behavior of individuals involved with cyberbullying and
proposals that express a strong intertextuality of medical knowledge
Key-words Cyberbullying violence intervention prevention health and education
INTRODUCcedilAtildeO
A virtualizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais trouxe profunda transformaccedilatildeo para a
sociabilidade contemporacircnea permitindo que novos espaccedilos de trocas de informaccedilotildees e que
relaccedilotildees comerciais esteacuteticas e afetivo-sexuais fossem constituiacutedas a partir das tecnologias de
comunicaccedilatildeo digital (Castells 2003) No ciberespaccedilo esse novo espaccedilo de interaccedilatildeo os
viacutenculos sociais se estabelecem atraveacutes da internet ganhando assim nova capilaridade As
redes sociais e outros modelos de conexotildees surgem com uma identidade proacutepria que
legitimam uma cultura peculiar a cibercultura ou cultura digital (Levy 2010) Entretanto
para alguns autores o conceito de cibercultura poderaacute cair em desuso visto que as relaccedilotildees
digitais possuem total interface com o cotidiano dos sujeitos sociais (Roger e Salgado 2016)
Martino (2015) ao tratar das caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais afirma que na
cultura digital os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos estabelecidos
conforme a necessidade de um momento e a seguir desmanchados As relaccedilotildees digitais
permitem a disseminaccedilatildeo imediata e sem fronteiras geograacuteficas de informaccedilotildees e saberes de
apoio aleacutem de permitir trocas diversas (afetivas comerciais intelectuais) de favorecer ao
67
associativismo e possibilitar a organizaccedilatildeo de grupos em torno de vivecircncias comuns agendas
e pautas de atuaccedilatildeo (Lemos 2015) Todavia pode contribuir tambeacutem para que praacuteticas de
violecircncia sejam produzidas e disseminadas no ambiente virtual
O Cyberbullying representa uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se manifesta
atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica entre pares nas ambiecircncias das redes de
socialidade digital que podem ocorrer em qualquer espaccedilo geograacutefico Eacute considerado por
diferentes estudiosos como um problema de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede emocional de
crianccedilas e adolescentes (Brown Jackson e Cassidy 2006 Carpenter e Hubbard 2014 Nixon
2014 Bottiono et al 2015 Yang 2016)
Partimos do entendimento que o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se
apresenta sob as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode
repercutir para aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em consequecircncias praacuteticas e
reais no cotidiano e individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)
O cyberbullying se configura ainda como um tipo de representaccedilatildeo e praacutetica social no
ambiente virtual (traduzido no Brasil como Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica) Tal traduccedilatildeo brasileira
ocorreu a partir da Lei 1318515 (BRASIL 2015) que estabeleceu o Programa Nacional de
combate agraves formas de Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica entre elas a que ocorre na rede mundial de
computadores
O tema cyberbullying vem sendo discutido de forma ampliada pela literatura
internacional ao longo das uacuteltimas deacutecadas (Garaigordobil 2011 Torres e Marcieles 2012
Della Ciopa et al 2015) Embora geralmente associada ao tema Bullying (possuidor de um
arcabouccedilo teoacuterico consolidado) a temaacutetica vem ganhando lentamente espaccedilo na literatura
cientiacutefica brasileira O fenocircmeno do Cyberbullying tem tido destaque nas miacutedias
especialmente em casos cujas repercussotildees satildeo de extrema violecircncia como os assassinatos em
seacuterie eou suiciacutedio Todavia haveria uma desconexatildeo significativa entre o que o puacuteblico
precisa saber e o que eacute realmente conhecido sobre o fenocircmeno cyberbullying (Carpenter e
Hubbard 2014)
Muitos programas e propostas de intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo surgiram nos uacuteltimos anos
mas estudos que analisam o conjunto dessas propostas ainda satildeo escassos Segundo Wendt e
Lisboa (2014) ―se faz urgente e necessaacuteria uma maior compreensatildeo acerca desse fenocircmeno
para que seja possiacutevel o desenho de accedilotildees preventivas e interventivas eficazes (pag42)
68
Este estudo pretende portanto analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela
comunidade cientiacutefica sobre as propostas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo de cyberbullying a
serem aplicadas no campo da Sauacutede e da Educaccedilatildeo
Os objetivos propostos para este trabalho foram analisar as propostas de
enfrentamento sugeridas para os setores da Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores implicados e estrateacutegias
sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo e modos de
enfrentamento Partindo desse recorte analiacutetico tratamos das seguintes questotildees
investigativas Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees
propostos pela literatura sobre cyberbullying Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a
questatildeo da sociabilidade virtual juvenil Qual o papel dos educadores diante de casos de
cyberbullying Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullying O que
fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying
METODOLOGIA
Como meacutetodo investigativo optou-se por uma revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo
criacutetica (critical review) Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a
literatura sobre um tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias
(Grant 2014) Uma revisatildeo criacutetica tem sua relevacircncia por sua capacidade de destacar
problemas discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute
confiaacutevel (Paregrave et al 2015) Assim como as revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem
adotar diferentes meacutetodos de anaacutelise sejam com vieacutes interpertativo como nos casos das
siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica ou ateacute mesmo os de recorte mais
positivista como a anaacutelise de conteuacutedo em sua vertente quantitativa
Foram consultadas sete bases internacionais - Scielo BVS Scopus PubMed
American Psychological Association Eric e Applied Social Sciences Index and Abstracts-
durante o mecircs de fevereiro do ano de 2017
Inicialmente iriacuteamos realizar uma revisatildeo do tipo integrativa todavia durante a busca
inicial aplicamos o termo cyberbullying em todos os campos (all fields) e obtivemos o
resultado de 7785 artigos Durante o levantamento de dados buscamos pelo termo
―cyberbullying atraveacutes do Medical Subject Headings (MeSH) e constatamos apenas a
presenccedila do termo bullying (httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying)
Verificou-se assim que o tema cyberbullying era tratado como subitem ou tema secundaacuterio
69
em estudos sobre o bullying O que pode estar ligado ainda agrave ideacuteia de que bullying e
cyberbullying seriam o mesmo fenocircmeno poreacutem ocorrendo em ambientes diferentes Assim
com a primeira busca usando o descritor cyberbullying em todos os campos surgiram 7785
artigos
No intuito de recortar e permitir maior aprofundamento analiacutetico do acervo optou-se
por trabalhar apenas com estudos de revisatildeo Foram selecionados apenas estudos cujo termo
―cyberbullying estava no tiacutetulo e ―revisatildeo presente em todos os campos Aplicaram-se ainda
criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para acesso livre
acervo cinza dissertaccedilotildees monografias - o que resultou em 301 artigos Posteriormente
foram identificados 156 artigos em duplicidade que natildeo haviam sido contabilizados pelo
gerenciador de referecircncia MENDLEY por limitaccedilatildeo do programa Entre essas duplicidades
natildeo identificadas pelo programa encontraram-se estudos registrados em escrita por caixa alta
eou por traduccedilatildeo de texto para o idioma inglecircs nos casos em que o estudo original era em
outro idioma como espanhol ou francecircs ou quando havia subtraccedilatildeo de algum dos autores
tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al Foi gerado um acervo de 145
artigos e um novo refinamento estabeleceu um recorte temporal visando analisar apenas
publicaccedilotildees datadas dos anos de 2006 ateacute 2016 de modo a apreender como o tema veio sendo
discutido ao longo da uacuteltima deacutecada resultando em 72 artigos de revisatildeo Desse nuacutemero
apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo este o acervo analisado nesta obra
Migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias ZOTERO por ser um programa open
sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em
portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos salvos nos mais distintos
formatos
Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de
praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos
discursos adotados nos estudos analisados Assim analisamos quais accedilotildees estatildeo sendo
propostas partir dos discursos construiacutedos O modelo proposto por Fairclough para a Anaacutelise
do Discurso Criacutetica (ADC) demanda analisar o que o autor denomina de concepccedilatildeo
tridimensional pois propotildee examinar a praacutetica social dos discursos a praacutetica discursiva
presente no estudo e a proacutepria conformaccedilatildeo do texto
A anaacutelise da praacutetica discursiva segundo Fairclough (2001) permite explicar como os
discursos satildeo produzidos distribuiacutedos consumidos e interpretados explorando assim as
70
possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva inclui categorias analiacuteticas como a forccedila
coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos
de fala que o texto realiza (o que o texto evoca) a coerecircncia trata do sentido que o texto
possui (para quem faz sentido qual a loacutegica das marcaccedilotildees e conexotildees) a intertextualidade ―eacute
basicamente a propriedade que tecircm os textos de serem cheios de fragmentos de outros textos
permitindo reconstituir as influecircncias daquele discurso (Fairclough 2001) A categoria
intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta
aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de
textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que Fairclough vai chamar de
interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A
praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto Tratar a dimensatildeo do
discurso como praacutetica social implica reconhecer a produccedilatildeo de efeitos ideoloacutegicos e
hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees
econocircmica cultural e ideoloacutegica Satildeo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo de
identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas de
crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente
Nessa perspectiva todo o discurso possui uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir
uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma
determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir
modos de ver e se portar numa dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de
relaccedilotildees sociais
Nossa anaacutelise focou nas dimensotildees textuais (gramaacutetica e figuras de linguagem) e
categorias da praacutetica discursiva com enfoque na intertextualidade (manifesta e constitutiva)
Buscamos analisar o que os textos tecircm evocado a partir dos conceitos estabelecidos ou
ratificados pela comunidade cientiacutefica cuja escrita exerce um poder que influi na praacutetica
social
CARACTERIZACcedilAtildeO DO ACERVO
Cada texto foi lido integralmente e os temas de interesse do estudo (estrateacutegias de
prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo) foram identificados comparados e
interpretados
71
Como pode ser visto no quadro 1 os EUA foi o paiacutes que mais publicou estudos sobre o tema
e o que possui o maior nuacutemero de revistas cientiacuteficas que abordou o assunto no periacuteodo
analisado O que demonstra um maior investimento na produccedilatildeo cientiacutefica dos EUA e a
relevacircncia do tema para a comunidade cientiacutefica do paiacutes supracitado A Agression and Violent
Behavior foi a revista estadunidense que mais publicou sobre o tema (8) seguida da
Computers in Human Behavior (5) do Reino Unido - ambas revistas classificadas como
intermultiprofissionais A revista Preventing School Failure Alternative Education for
Children and Youth do setor educaccedilatildeo publicou trecircs artigos e do setor sauacutede a revista alematilde
International Journal of Adolescent Medicine and Health teve duas publicaccedilotildees
Quadro 4 ndash Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de
Cyberbullying (2010-2016)
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
1 Canadian Journal of
Educational
Administration and
Policy
1
Educaccedilatildeo
Canadaacute
2 Journal of Child and
Adolescent
Psychiatric Nursing
1 Sauacutede EUA
3 Adolescent Health
Medicine and
Therapeutics Journal
1 Sauacutede Reino Unido
4 World Medical amp
Health Policy
1 Sauacutede EUA
5 International Journal
of Psychology and
1 Sauacutede Espanha
72
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
Psychological
Therapy
6 Psicologiacutea desde el
Caribe
1 Psicologia Colombia
7 Agression and
Violent Behavior
08 Intermultidisciplar EUA
8 Computers in
Human Behavior
5 Intermultidisciplar Reino Unido
9 International Journal
of Adolescent
Medicine and Health
2 Sauacutede Alemanha
10 International Journal
of Cyber Behavior
Psychology and
Learning
1 Intermultidisciplar EUA
11 Neuropsychiatrie de
llsquoEnfance et de
llsquoAdolescence
1 Sauacutede Franccedila
12 Australian
Education
Computing
1 Educaccedilatildeo Austraacutelia
13 Current Issues in
Middle Level
Education (CIMLE)
1 Educaccedilatildeo EUA
14 Journal Theory Into
Practice
1 Educaccedilatildeo EUA
15 Journal of
Adolescent Health
1 Sauacutede EUA
73
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
16 Journal of Research
in Special
Educational Needs
1 Educaccedilatildeo Gratilde Bretanha
17 Temas em
Psicologia
1 Sauacutede Brasil
18 Boletim Academia
Paulista de
Psicologia
1 Sauacutede Brasil
19 Children and Youth
Services Review
1 Intermultidisciplar EUA
20 Psychological
Bulletin
1 Sauacutede EUA
21 International Journal
of Adolescence and
Youth
1 Intermultidisciplar Reino Unido
22 Clinical Practice amp
Epidemiology in
Mental Health
1 Sauacutede Emirados Aacuterabes Unidos
23 Journal of Education
and Training Studies
1 Educaccedilatildeo EUA
24 Social Influence
Journal
1 Intermultidisciplar Reino Unido
25 Journal of
Information Systems
Education
1 Educaccedilatildeo EUA
26 Professional School
Counseling Journal
1 Educaccedilatildeo EUA
27 School Psychology 1 Educaccedilatildeo EUA
74
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
International
28 Emotional and
Behavioural
Difficulties
1 Intermultidisciplar Reino Unido
29 Gifted Education
International
1 Educaccedilatildeo EUA
30 Internet
Interventions
1 Sauacutede EUA
31 Preventing School
Failure Alternative
Education for
Children and Youth
3 Educaccedilatildeo
32 JAMA - Journal of
the American
Medical Association
1 Sauacutede EUA
33 Revista de
Psicologia Cliacutenica
1 Sauacutede EUA
34 School Psychology
International
1 Educaccedilatildeo EUA
35 LEnceacutephale 1 Sauacutede Franccedila
36 Journal of Human
Behavior in the
Social Environment
1 Serviccedilo Social
37 Australian Journal
of Guidance and
Counselling
1 Educaccedilatildeointerdisciplinar Inglaterra
38 Alberta Journal of
Educational
1 Educaccedilatildeo Canadaacute
75
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
Research
39 Nova Science
publishers
1 Educaccedilatildeo EUA
40 Psychiatric
Quarterly
1 Sauacutede EUA
41 Education Diggest 1 Educaccedilatildeo EUA
42 ACM ndash Association
for Computing
Machinery
1 Intermultidisciplar EUA
43 Psychology in the
Schools
1 Educaccedilatildeointerdisciplinar EUA
TOTAL 57
ESTRATEacuteGIAS DE PREVENCcedilAtildeO
Organizamos a apresentaccedilatildeo dos resultados em blocos temaacuteticos identificando seu
setor de origem (Educaccedilatildeo Sauacutede) entendendo que tais propostas possuem uma
especificidade disciplinar e mesmo discursiva Analisamos as possiacuteveis ambiguidades
contradiccedilotildees bem como os tipos de argumentos sobre prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo produzidos
nesses textos Todavia independente da origem boa parte do acervo apresentou evocacccedilotildees
discursivas a accedilotildees ―coletivas e interdisciplinares reconhecendo ser essencial que os
esforccedilos sejam sineacutergicos entre escola famiacutelia e sociedade devendo incluir accedilotildees preventivas
de modo a atuar em situaccedilotildees geneacutericas conduzidas para qualificar as relaccedilotildees sociais
prevenir as agressotildees online e buscando evitar novos episoacutedios de cyberbullying
Para Baek e Bullock (2013) apesar dos muitos estudos sobre cyberbullying haveria
uma lacuna de produccedilotildees que tragam uma perspectiva internacional sobre como o tema vem
76
sendo discutido pelo mundo Entre os estudos analisados pelos autores que abordam sobre
prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo tais programaspropostas podem ser divididas nas categorias leis e
poliacuteticas abordagens educacionais esforccedilos das escolas e papeacuteis dos pais Entretanto nesses
moldes de classificaccedilatildeo identificamos ambiguidades sobre o papel dos pais poliacuteticas de
enfrentamento e no que tange aos modus operandi dos programas mencionados pois ora satildeo
apresentados como propostas punitivas ora apresentam um vieacutes reflexivo numa perspectiva
de cultura de paz ou de copinglsquo
As contribuiccedilotildees associadas agrave Educaccedilatildeo agrave Sauacutede e de origem Interdisciplinar
identificadas nete estudo se caracterizaram por defender estrateacutegias preventivas baseadas 1
no controle e monitoramento das atividades online praticadas pelos jovens 2 no
estreitamento de viacutenculos entre profissionais da rede escolar e alunos e entre pais e jovens
3e na disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo e campanhas sobre cyberbullying bem como na
capacitaccedilatildeo de profissionais pais e alunos sobre o tema Por fim elencamos mais uma
categoria discursiva organizadora do acervo que trata dos fatores que levariam a ecircxitos e
fracassos das propostas de prevenccedilatildeo (4)
Controle e monitoramento
As estrateacutegias de prevenccedilatildeo baseadas na perspectiva de controle e monitoramento
foram as mais comuns As revisotildees de Couvillon e Ilieva (2011) e Smith et al (2012)
sugerem por exemplo limitar o uso de celulares na escola Esse texto como em muitos
outros os nuacutecleos verbais satildeo evidentes em sua perfomatividade proibitiva (implementar
controlesrestringir acessoexcluir miacutedias)
―As escolas podem implementar controles sobre a miacutedia existente
restringindo o acesso agraves aacutereas de Internet em que o ciberbullying
provavelmente ocorreraacute (por exemplo salas de bate-papo miacutedias sociais
sites) e excluir a miacutedia natildeo necessaacuteria para a experiecircncia de aprendizagem
como celular Smith et al 2012 (pg 121)
Considerando que a sociabilidade digital jaacute estaacute engendrada no cotidiano de crianccedilas e
adolescentes alguns estudos revisados por Sabella et al (2013) ponderam que a tecnologia
aleacutem de ser uma ferramenta social e de educaccedilatildeo desligar o computador natildeo interrompe
muitas formas de cyberbullying
77
Foram poucos os tipos de estrateacutegias de prevenccedilatildeo direcionadas para o campo da
Sauacutede ou por ele propostas se comparados agrave diversidade de propostas da Educaccedilatildeo mas
dentre estas destacam-se as propostas relativas ao que os artigos nomearam como controle e
monitoramento das atividades online das crianccedilas e adolescentes Uma revisatildeo do campo da
sauacutede propocircs que psiquiatras ―eduquem os pais de adolescentes viacutetimas de cyberbullying
que ―informem sobre monitoramento e controle do uso de tecnologias (Korenis e Billick
2015) Reconhecemos aiacute a presenccedila de interdiscussividade com o discurso biomeacutedico
sugerindo a influecircncia da autoridade meacutedica sobre os pais mesmo diante de fatos relativos agrave
sociabilidade e de cunho comportamental Confirma-se o campo de exerciacutecio da biomedicina
para aleacutem das fronteiras cliacutenicas incorporando o manejo de questotildees da vida social
Outros estudos tambeacutem apresentaram o discurso do monitoramento e controle como
estrateacutegia ―essencial de prevenccedilatildeo com intertextualidade constituiacuteda de um enunciado que
reforccedila a necessidade de supervisatildeo das praacuteticas juvenis e controle parental (Garcia
Maldonado 2011 Perren et al 2012 Torres e Vivas 2012 Bailey 2013 Brunett et al 2013
Aresene e Raynaud 2014)
No que tange agraves propostas interdisciplinares voltadas para a ―proteccedilatildeo online
estudos sugerem a ―tutoria de atividades ―programas de seguranccedila na internet voltado para
pais professores comunidade escolar e alunos e ainda o desenvolvimento precoce de haacutebitos
relacionados ao ―uso seguro da internet para crianccedilas de modo a garantir a efetiva
―internalizaccedilatildeo desses comportamentos (Hanewald 2009 Wendt e Lisboa 2014 Ang
2015) Tal discurso de proteccedilatildeo eacute portador de ambiguumlidades ora propondo um
―acompanhamento (necessaacuterio para determinadas faixas etaacuterias) o que pressupotildee certa
agecircncia e autonomia dos meninos e meninas em navegar online bem como evoca a ideacuteia de
controle (antiacutetese da autonomia sugerida) como estrateacutegia de prevenccedilatildeo Poreacutem natildeo fica claro
como tais propostas consideram os princiacutepios de liberdade de expressatildeo privacidade e
autonomia das crianccedilas e adolescentes
Nesse sentido a literatura analisada sustenta enunciados que reforccedilam a ideacuteia de que
os pais devem ser informados sobre boas praacuteticas e riscos na internet inclusive os riscos do
cyberbullying aleacutem de ―ter conhecimento dos tipos de tecnologias que satildeo utilizadas pelos
jovens para assim supervisionar ―monitorar no sentido de participaccedilatildeo das atividades online
(Hanewald 2009 Bayley 2013 Burnett et al 2013 Arsene e Raynaud 2014) Outros autores
tentam atenuar o confronto entre autonomiamonitoramentocontrole com expressotildees do tipo
78
―monitoramento no sentido de participaccedilatildeo da navegaccedilatildeo em alguns sites e apresentam uma
coerecircncia textual para que natildeo haja maacute interpretaccedilatildeo por parte dos jovens por acharem que
haveria uma perda de autonomia para navegaccedilatildeo na web Ao mesmo tempo o trecho traz
como forccedila um discurso de direcionamento tanto para as crianccedilas e adolescentes quanto para
os pais sobre um modelo de ajuste das praacuteticas rotineiras para que as formas de
monitoramento sejam naturalizadas e inseridas no cotidiano com a justificativa de prevenir da
violecircncia virtual Tal discurso tem tambeacutem como perspectiva de accedilatildeo a participaccedilatildeo dos pais
no universo online de seus filhos propiciando assim novas possibilidades de interaccedilatildeo
familiar
Wendt e Lisboa (2014) afirmam que os jovens acreditam que os adultos natildeo sabem
lidar com o cyberbullying todavia sugerem que o monitoramento parental visto como ―fator
protetivo pode contribuir para um menor comportamento de risco para os jovens na internet
Outra reflexatildeo apontada nessa literatura eacute que conforme os adolescentes se desenvolvem e
passam a adquirir maior independecircncia em relaccedilatildeo aos pais estes uacuteltimos costumam ajustar as
praacuteticas de supervisatildeo permitindo maior liberdade ao adolescente
Jaacute Sabella et al (2013) assinalam que o controle parental natildeo eacute tarefa faacutecil visto que os
aparelhos eletrocircnicos da atualidade satildeo de uso individual Aleacutem disso os adolescentes teriam
mais expertise no uso de tecnologias do que os adultos (Sabella et al 2013)
Estreitamento de laccedilos
No cenaacuterio das propostas oriundas da Educaccedilatildeo o estreitamento de laccedilos entre
alunos e professores se mostrou como uma alternativa relevante como apontam Couvillon e
Ilieva (2011) que ressaltam a necessidade de se ―avanccedilar de modo a ampliar a relaccedilatildeo de
confianccedila apoio e instruccedilatildeo entre alunos professores e demais funcionaacuterios (pg97)
No que concerne aos laccedilos familiares assinalados como relevantes para as accedilotildees de
prevenccedilatildeo percebe-se que a literatura analisada natildeo sinaliza claramente se reconhece a
existecircncia de rearranjos familiares e novos modelos de famiacutelias de crianccedilas e adolescente que
vivenciam experiecircncias de cyberbullying sejam como perpetradores acometidos eou
expectadores pois as orientaccedilotildees sempre invocam os personagens ―pais desconsiderando
que o cuidado dos filhos ocasionalmente esteja sob responsabilidade de outro adulto ou
tutor
79
Assim algumas revisotildees apontaram que os pais teriam um papel significativo na
prevenccedilatildeo do cyberbulyying quando esses permitem que seus filhos acessem somente a sites
considerados ―apropriados Assim essa permissatildeo demonstraria uma forma de cuidado e
propiciaria um ―ambiente saudaacutevel para que os filhos se sintam seguros de falar sobre alguma
situaccedilatildeo de cyberbullying vivenciada (Smith et al 2012 pg 121) Mas como os pais
poderiam valorar qual o poder ofensivo de redes sociais que satildeo os endereccedilos virtuais mais
utilizados pelos jovens na contemporaneidade Em contraponto um estudo revisado por
Slonje et al (2013) que investigou jovens de 25 paiacuteses constatou que 77 das viacutetimas
contaram o problema para algueacutem 42 contaram para os pais 52 para um amigo 7 para
os professores
Wendt e Lisboa (2014) pontuam que a ecircnfase e atenccedilatildeo devem ser voltadas para a
qualidade da relaccedilatildeo entre pais e filhos tal como agrave coerecircncia entre as praacuteticas parentais
utilizadas e a abertura para o diaacutelogo e negociaccedilatildeo Ressaltam ainda que o tempo gasto na
internet prejudica a qualidade na convivecircncia familiar
Capacitaccedilatildeo sensibilizaccedilatildeo campanhas
No que concerne agrave capacitaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo sobre o problema a literatura
reforccedila que as escolas precisam incluir o tema em suas pautas poliacuteticas escolares de prevenccedilatildeo
e incluindo a conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar capacitando natildeo soacute os
professores que satildeo considerados imigrantes digitiais mas os alunos e demais profissionais da
escola promovendo assim um ambiente no qual o cyberbullying seja socialmente inaceitaacutevel
(Sabella et al 2013 Suzuky et al 2012 Smith et al 2012 Von Mareacutees Peterson 2012
Nosworty e Rinaldi 2013) Na revisatildeo de Sabella et al (2013) vemos a evocaccedilatildeo da ideia-
forccedila de conclamaccedilatildeo para que as escolas ampliem o conhecimento sobre poliacuteticas de bullying
e cyberbullying para ajudar a proteger os alunos e resguardar as escolas de sanccedilotildees legais
aleacutem de contribuir para o fortalecimento de viacutenculos no ambiente escolar e comunicaccedilatildeo
aberta entre os alunos
Ainda sobre tipos de prevenccedilatildeo nas escolas encontramos na literatura a proposta de
―capacitar os professores utilizando material com conteuacutedo objetivo e claro para que estes
tenham condiccedilotildees de entender o que representa o cyberbullying ―identificar casos seja
atraveacutes de manifestaccedilotildees psicopatoloacuteloacutegicas comportamentais ou ausecircncia escolar bem como
para o ―fortalecimendo de accedilotildees ciacutevicas no ambiente escolar que conscientizam de modo a
80
―contribuir para um ambiente harmocircnico e uma relaccedilatildeo de confianccedila entre esses atores
(Couvillon e Illieva 2011)
No campo da Sauacutede estudos apontaram a necessidade de campanhas de
conscientizaccedilatildeo para prevenir o cyberbullying (Mareacutees e Peterson 2012 Chisholm 2014) e
defendem que profissionais de sauacutede que trabalhem ou natildeo nas escolas deveriam ―capacitar
alunos e pais Enfatizam a importacircncia de instruir para o desenvolvimento de habilidades
emocionais de modo a reduzir comportamentos impulsivos agressivos e encorajar crianccedilas e
adolescentes a desenvolverem empatia e controlar a raiva utilizando teacutecnicas de ―auto-gestatildeo
emocional ou resiliecircncia (Von Mareacutees e Peterson 2012 e Suzuky et al 2012) O estudo de
Suzuky et al (2012) considera relevante que pais sejam conscientizados por conselheiros
escolares ou profissioanis de sauacutede sobre os problemas que o cyberbullying pode acarretar
Aresene e Raynaud (2014) destacaram a presenccedila recorrente de campanhas
governamentais a niacutevel nacional na Franccedila especiacuteficamente realizada por profissionais de
Sauacutede Puacuteblica chamando a atenccedilatildeo sobre o protagonismo do Setor nesse paiacutes frente ao tema
se comparados a outros campos como a Educaccedilatildeo
A disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees foi um tipo de prevenccedilatildeo sugerida Algumas
propostas relevantes foram destacadas para o setor Sauacutede Puacuteblica como a criaccedilatildeo de material
informativo com enfoque na prevenccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas escolares que alcance
municiacutepios e estados com base em resultados de pesquisas (Gaacutercia Maldonado et al 2011
Kowalski et al 2014)
Ecircxitos e fracassos
Brown et al (2006) ressaltam que a literatura sugere como estrateacutegia de prevenccedilatildeo
primaacuteria que ―explorem a mentalidade digital como uma tarefa de poliacutetica escolar ou seja
que ―criem sites com uma linguagem digital apropriada para ―falar com os grupos de pares
utilizem desse mecanismo como estrateacutegia para que crianccedilas e adolescentes se relacionem e se
expressem nessa rede social escolar Tal literatura apresentou um discurso constitutivo que
propotildee mudanccedila de comportamento de alunos envolvidos em cyberbullying Quando se
propotildee a falar a linguagem dos nativos digitaislsquo essa estrateacutegia utiliza do convencimento para
propor intencionalmente um novo modelo de relaccedilotildees interpessoais desses jovens
81
Os autores mencionam a importacircncia de considerar as dinacircmicas sociais que
circundam a cibercultura como uma base para que praacuteticas positivas sejam desenvolvidas
Propor programas de acordo com a cultura local de um paiacutes ou regiatildeo foi visto como uma
accedilatildeo coerente ao inveacutes de copiar propostas de accedilatildeo jaacute existentes em outros paiacuteses De acordo
com um estudo grego embora haja uma seacuterie de programas de conscientizaccedilatildeo e material
relacionado a maioria dos programas foi projetada a partir de programas europeus muitas das
vezes ignorando que para aumentar a possibilidade de eficaacutecia de um programa de
intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio sua adaptaccedilatildeo agraves necessidades e cultura do paiacutes (Antoniadou e
kokkinos 2013) Percebe-se neste contexto a denuacutencia sobre uma certa dominaccedilatildeo ideoloacutegica
de modelos que satildeo exportados de paiacuteses ―centrais que desconsidera aspectos importantes
como a especificidade da cultura de determinada regiatildeo a forma como os jovens interagem
nos meios digitais e como vivenciam as praacuteticas de violecircncia nessa acircmbiencia
Um estudo revisado por Slonje (2013) apontou que satildeo razoaacuteveis as taxas de sucesso
dos programas escolares de prevenccedilatildeo ao bullying Os autores acreditam que os programas de
prevenccedilatildeo ao bullying podem ser ampliados sem a necessidade de grandes alteraccedilotildees
incluidno a demanda do cyberbullying Assim seria um componente de uma poliacutetica anti-
bullying em toda a escola com accedilotildees de conscientizaccedilatildeo e atividades nesse aspecto poderiam
ser incluiacutedas no curriacuteculo escolar
Programas com vieacuteses punitivos voltados para que perpetradores ―tirem uma liccedilatildeo
sobre seus atos foram considerados ineficazes por parte da literatura Todavia haacute divergecircncia
no discurso sobre as abordagens punitivas no trato com o cyberbullying Segundo a revisatildeo de
Hanewald (2009) estudos consideraram a responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores e a criaccedilatildeo de
poliacuteticas que tratam sobre a questatildeo da violecircncia digital como fatores positivos que inibiriam
novas accedilotildees de cyberbullying Um estudo do campo da Educaccedilatildeo defende que a
judicializaccedilatildeo dos casos de cyberbullying eacute uma estrateacutegia negativa ―Os distritos escolares
devem considerar cuidadosamente as accedilotildees que as escolas podem realizar sem colocar nossa
juventude no sistema de justiccedila criminal (Bailey 2013 pg 6) Tal referecircncia conclama as
instituiccedilotildees escolares tomarem para si a responsabilidade de atuar de forma preventiva de
modo que natildeo seja necessaacuteria uma intervenccedilatildeo de cunho punitivo no acircmbito judicial com os
jovens envolvidos com o cyberbullying Outros textos trazem a mesma perspectiva
(Aboujaoude et al 2015 Alim 2016 Baek e Bullock 2014 Bailey 2013 Baldry et al 2015
Berne et al2013 Cantone et al 2015 Cassidy Faucher e Jackson 2013)
82
A criaccedilatildeo de leis punitivas dividiu os autores Uns consideram que tais normativas
serviriam de base tanto para prevenccedilatildeo quanto para o enfrentamento aleacutem de servir de
paracircmetro legal para possiacuteveis accedilotildees praacuteticas adotadas pelas escolas diante de tais situaccedilotildees
(Baek e Bullock 2013 Bailey 2013)
Por outro lado os programas de prevenccedilatildeo que propiciem uma cultura de paz foram
considerados como uma alternativa eficiente no enfrentamento ao cyberbullying(Cassidy et al
2012)
Por fim um estudo de Della Cioppa et al (2015) que analisou programas de
prevenccedilatildeo do cyberbullying revelou que a maioria desses programas natildeo transcende a escola
(por exemplo para a famiacutelia a miacutedia) - o que pode explicar porque poucos programas de
prevenccedilatildeo natildeo conseguiram reduzir a vitimizaccedilatildeo dos casos de cyberbullying
ESTRATEacuteGIAS DE ldquoINTERVENCcedilAtildeOrdquo
Verificamos no acervo deste estudo duas linhagens de intervenccedilatildeo propostas diante de
casos jaacute ocorridos a primeira toma o foco das accedilotildees realizadas por instituiccedilotildees e a segunda
voltada para o manejo de cunho individual cujas accedilotildees satildeo alinhadas agrave perspectiva de coping
(modos de lidar)
Respostas institucionais de intervenccedilatildeo
De acordo com a literatura estudada (Mason 2008 Garaigordobil 2011) as propostas
de intervenccedilatildeo devem inicialmente identificar os casos de cyberbullying e sinalizar possiacuteveis
estrateacutegias para evitar que essas praacuteticas de violecircncia se consolidem a partir de accedilotildees
especiacuteficas de intervenccedilatildeo que tenham enfoque individual e nos grupos de agressores Intervir
em situccedilotildees concretas de cyberbullying de sorte que se torne possiacutevel minimizar os impactos
dessa violecircncia sobre os acometidos ofertando apoio psicoteraacutepico e proteccedilatildeo agraves viacutetimas sem
desconsiderar accedilotildees junto ao puacuteblico de espectadores
No primeiro grupo estatildeo aqueles que corroboram a ideia que a proteccedilatildeo dos dados
digitais eacute uma forma de lidar com o cyberbullying Essa proteccedilatildeo de dados tem como objetivo
natildeo permitir que conteuacutedos de cunho pessoal sejam acessados e expostos sem o
consentimento do proprietaacuterio Salientamos o discurso evocado na revisatildeo de Ang (2015)
sobre a praacutetica social do exibinicionismo tatildeo naturalizada nas miacutedias sociais digitais Ang
identificou entre os estudos revisados por ele mecanismos de accedilatildeo pelo qual essa loacutegica
83
narcisista ao extremo poderia contribuir para praacuteticas de cyberbullying contra pessoas que natildeo
se encaixam em determinados padrotildees esteacuteticos O autor reflete ainda que o anonimato na
Internet poderia ―exacerbar o senso desses adolescentes de desrespeitar os outros com a
crenccedila de que a agressatildeo eacute ―razoaacutevel aceitaacutevel e justificaacutevel (pg 38) Os elementos
discursivos desse estudo trazem o modo de representaccedilatildeo dos jovens sobre o mundo e sobre
os outros enfatizando o exibicionismo e natildeo empatia com seus pares
Com relaccedilatildeo agraves implicaccedilotildees para a escola segundo a revisatildeo de Hinduja e Patchin
(2011) a escola e seus administradores teriam obrigaccedilatildeo legal de agir quando ocorre a
violecircncia fora da internet e dentro dela quando esses atores tiverem ciecircncia desses fatos Para
Castro Schneider (2015) a escola teria como funccedilatildeo social a co-responsabilidade nos casos de
cyberbullying devendo a direccedilatildeo acionar os pais os Conselhos Tutelares e outros oacutergatildeos de
proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente aleacutem de aconselhar as viacutetimas (Faucher et al 2015) os
perpetradores (Chibbaro 2015) e ensinar aos alunos qual a maneira mais adequada de
responder a episoacutedios de cyberbullying (Notar et al 2016) Espera-se ainda da escola que
capacite professores a terem uma escuta qualificada e que tenham um espaccedilo sigiloso como
referecircncia de apoio para os alunos para que se sintam seguros em compartilhar sobre situaccedilotildees
de cyberbullying (Wingate et al 2013) A literatura ainda sugeriu que as escolas devam criar
programas que melhorem o clima escolar e que contribuam para o desenvolvimento da
empatia e resoluccedilatildeo de conflitos Percebe-se que haacute uma tendecircncia nos textos em sugerir
modelos de condutas por parte das escolas de modo a criar protocolos de comportamentos
diante de situaccedilotildees de bullyingcyberbullying
Destaca-se neste bloco de informaccedilotildees o papel da escola no acircmbito interventivo a
ideia de que funcionaacuterios escolares terem autonomia de impor restriccedilotildees e disciplina caso
regras escolares sejam violadas pelos alunos (Mason 2008) Tal discurso apresenta uma forccedila
discursiva ao designar uma ordem social em ―impor restriccedilotildees por parte dos profissionais da
educaccedilatildeo
A escola eacute chamada a oferecer capacitaccedilatildeo para pais cujos filhos estejam
envolvidos com cyberbullying de modo que esse treinamento tenha um recorte interventivo
ao buscar trabalhar com o puacuteblico dos estudantes cyberagressores no sentido de instruir esses
uacuteltimos e informar sobre o problema
Outras accedilotildees foram destacadas como propostas de cunho didaacutetico de modo a incluir a
famiacutelia e a comunidade no processo de intervenccedilatildeo (Garaigordobil 2011) e monitorar as
84
atividades online feita pelos alunos (Cassidy et al 2013 Carpenter e Hubbard 2014) Essa
uacuteltima proposta coloca em questatildeo como jaacute discutido anteriormente regras de convivecircncia
que interferem na privacidade dos alunos aleacutem das formas de se relacionar na
contemporaneidade ateacute mesmo da individualidade e autonomia dos jovens de fazerem o uso
de seus pertences tecnoloacutegicos no ambiente escolar
Jaacute a revisatildeo de Wendt e Lisboa (2014) evidencia que a falta de diaacutelogo entre pais e os
jovens precisa ser foco de intervenccedilatildeo por parte de psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede
dado que a vulnerabilidade na comunicaccedilatildeo familiar representa um fator de risco no que tange
aos moldes que a violecircncia apresenta no meio digital Os autores percebem que haacute um
distanciamento cultural por parte de pais e professores Sugerem que programas de
intervenccedilatildeo direcionados pelas escolas poderiam desenvolver grupos de responsaacuteveis com
atividades luacutedicas que envolvam o uso das novas tecnologias de modo a propiciar um
compartilhamento de experiecircncias entre responsaacuteveis professores e os alunos Wendt e
Lisboa ainda recomendam que psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede ofertem suporte
emocional aleacutem de reflexotildees sobre os riscos e os benefiacutecios que as dinacircmicas digitais
oferecem na contemporaneidade Todavia identificamos um estudo que sugere a puniccedilatildeo com
o argumento de reparar o dano pelos maus atos praticados pelos filhos (Faushe et al 2015)
Accedilotildees interdisciplinares foram propostas como manejo de intervenccedilatildeo O estudo de
Gine e Espelage (2014) apesar de natildeo descreverem qual o papel de psiquiatras meacutedicos pais
e professores diante de casos de cyberbullying sugere que a intervenccedilatildeo por parte desses eacute
necessaacuteria para diminuir o risco de angustias que podem repercutir em suiciacutedio Neste caso o
discurso apresenta uma funccedilatildeo de linguagem identitaacuteria ao reconhecer o papel social desses
atores e a necessidade de sua atuaccedilatildeo Reed (2015) destacou a formulaccedilatildeo de programas de
intervenccedilatildeo com base em modelos jaacute existentes como uma estrateacutegia positiva designada para
intervir na depressatildeo de pessoas que vivenciaram o cyberbullying Outro modelo semelhante
visa agrave formaccedilatildeo de ciacuterculos restaurativos e grupos de reflexatildeo voltado para os agressores
mas com monitoramento das accedilotildees de cyberbullying por eles praticadas Tanto no que se
refere aos autores como aos acometidos a perspectiva de mudanccedila de comportamento adveacutem
de tratamento psicoloacutegico sem desconectar a oferta de aconselhamento Experiecircncias como
estas foram consideradas exitosas quando reproduzidas (Suzuky et al 2012 Sabella et al
2013 Slonje et al 2013)
85
Programas de conscientizaccedilatildeo tambeacutem foram considerados como accedilotildees de intervenccedilatildeo
cujos objetivos satildeo o de contribuir para a reduccedilatildeo do estresse imediato e ajudar a prevenir
consequecircncias de longo prazo bem como um mecanismo para denuacutencias anocircnimas aos canais
e oacutergatildeos de proteccedilatildeo (Garaigordobil 2011 Raskauskas e Ruyinh 2015)
Criar instrumentos para avaliar os riscos de um jovem sofrer cyberbullying tambeacutem foi
considerado pelos estudos como um instrumento de intervenccedilatildeo ao passo que permitiria a
criaccedilatildeo de novas estrateacutegias de accedilotildees (Baldry et al 2015) Entendemos que a criaccedilatildeo de
instrumentos para avaliaccedilatildeo traz como implicaccedilatildeo discursiva as maneiras de interpretar o
sentido de haver riscos de sofrer cyberbullying
Por fim um uacuteltimo grupo de propostas de intervenccedilatildeo se refere agrave criaccedilatildeo de leis
coibitivas da praacutetica de cyberbullying No que tange a legislaccedilatildeo a criaccedilatildeo de leis especiacuteficas
para lidar com cyberbullying abre margem para uma argumentaccedilatildeo de que se faz ―necessaacuteria
a criminalizaccedilatildeo do fenocircmeno como condiccedilatildeo efetiva para lidar com ele A anaacutelise dessas
propostas envolve a agurmentaccedilatildeo sobre execuccedilatildeo das leis podendo inclusive resultar em
accedilotildees paliativas aleacutem da presenccedila de um discurso apelativo de judicializaccedilatildeo das relaccedilotildees
sociais em conflito (Yan e Grinshteyn 2016)
Entendemos que as estrateacutegias relacionadas acima correspondem a accedilotildees de cunho
institucional e poliacutetico Natildeo encontramos modelos de intervenccedilatildeo especiacuteficos para o campo da
sauacutede
bdquoCoping‟ ndash o manejo individual
Os modelos de coping apresentados nos estudos analisados reportam a um manejo de
ordem psiacutequica e individual ofertando ainda a possibilidade de acionamento de outros sujeitos
como professores amigos e famiacutelia Natildeo estatildeo relacionados diretamente ao campo Educaccedilatildeo
mas ao manejo que prioriza a sauacutede mental dos indiviacuteduos
Apresentaremos a seguir as propostas de enfrentamento designadas pela literatura
como modelos de intervenccedilatildeo de ordem individual Verificamos que natildeo se trata propriamente
de modelos de intervenccedilatildeo mais sim de estrateacutegias de como lidar com o fenocircmeno Nesse
bloco ressaltam-se os modos de lidar que promovem resiliecircncia sugeridos a partir de
experiecircncias existentes ensinadas e replicadas ou seja sugestotildees de formas de prevenccedilatildeo de
86
novos agravos agrave sauacutede psiacutequica dos envolvidos com o cyberbullying ou ainda formas de
coping que supunham que a partir de determinado comportamento natildeo ocorram novos
episoacutedios do fenocircmeno Estrateacutegias de enfrentamento (coping) satildeo consideradas praacuteticas de
esforccedilos cognitivos e comportamentais para tratar das demandas peculiares e os objetivos
desses modos de lidar satildeo distintos e tomam por base o niacutevel de envolvimento desse sujeito
com a questatildeo do cyberbullying (no caso das viacutetimas) por exemplo o que vai determinar
quais os tipos e niacuteveis de estrateacutegias seraacute adotado para lidar como o cyberbullying (Castilho
2010 Bezzara in Veiga e Caetano 2014)
Como formas de coping satildeo discutidas o confronto a resoluccedilatildeo planejada do
problema a aceitaccedilatildeo o autocontrole a procura de ajuda a reavaliaccedilatildeo positiva da situaccedilatildeo o
distanciamento e fugaevitamento do problema (Serra 1987 Ribeiro e Rodrigues 2004)
O manejo utilizado por vitimados foi pontuado de forma recorrente pelos estudos
analisados Dentre as formas de lidar com o cyberbullying estatildeo informar algueacutem sobre o
ocorrido evitar a pessoa que praticou o cyberbullying revidar a accedilatildeo de alguma maneira
bloquear certas pessoas de contato on-line alterar senhas e nome de usuaacuterio excluir
mensagens anocircnimas sem ler evitar socializar abertamente o nuacutemero de celular rastrear
nuacutemero de IP do agressor e informar aos canais de atendimento de sites de relacionamentos
sobre a ocorrecircncia de atos de cyberbullying trocar nome e nuacutemero de telefone caso se sinta
ameaccedilado (Slonje et al 2013 Nixon 2014) Poreacutem eacute prematuro dizer que tais
comportamentos possam impedir um indiviacuteduo de vivenciar tal experiecircncia muito menos dar
conta da dimensatildeo exponencial que o cyberbullying pode alcanccedilar Entendemos que haveria
um discurso de intencionalidade devido agrave forccedila dos verbos utilizados bloquearlsquo alterarlsquo
rastrearlsquo revidar Ao fazer uso de tais verbos o discurso produz um sentido de proposiccedilatildeo
de construccedilatildeo de praacuteticas ativas que confrontem as accedilotildees de cyberbullying vivenciadas pelos
acometidos
Verifica-se que satildeo muacuteltiplas as formas de copinglsquo sinalizadas pelo acervo analisado
Em meio agraves distintas formas de lidar com o cyberbullying encontram-se atores que estariam
em uma posiccedilatildeo de passividade diante de accedilotildees do cyberbullying os chamados expectadores
Pode-se disser que esse tipo de comportamento tambeacutem representa um modo de lidar
contudo sem um caraacuteter de enfrentamento Neste caso o comportamento dos expectadores
nos chama atenccedilatildeo em meio ao cenaacuterio das propostas de enfrentamentos devido a sua ineacutercia
A falta de intervenccedilatildeo diante de um episoacutedio de cyberbullying por parte dos expectadores se
87
configura com o que Wingate et al (2013) denominam de ―ignoracircncia pluralista que
corresponde a um comportamento grupal onde sujeitos de um determinado grupo ao terem
uma opiniatildeo diferente preferem se calar diante de uma resposta contraacuteria a deste grupo ao
qual pertence O vocabulaacuterio em destaque traz como lexicaccedilatildeo agrave falta de conhecimento dos
espectadores diante dos danos que o cyberbullying pode causar em outrem Wingate et al
(2013) salientam que ocorre uma espeacutecie de ―efeito espectador (O que o grupo vai pensar
caso tenha uma reaccedilatildeo diferente das regras culturais estabelecidas pela comunidade que faz
parte) Por exemplo uma viacutetima de cyberbullying pode ter muitos amigos numa rede social
mas se eles natildeo reagirem cria a impressatildeo de que ignorar o cyberbullying eacute a resposta
normativa (Wingate et al 2013)
Uma das revisotildees (Raskauska e Ruinh 2015) tratou de identificar estrateacutegias para
lidar com o cyberbullying promotoras de reduccedilatildeo imediata do estresse gerado pelo fenocircmeno
ou aquelas que contribuam para diminuiccedilatildeo em longo prazo tais como praacuteticas com enfoque
nas emoccedilotildees e que promovam uma cultura de paz para evitar o confronto estrateacutegias de apoio
social que ofertem suporte que provoquem o amortecimento do impacto negativo do
cyberbullying (falar com um amigo professor ou profissional sobre o assunto) estrateacutegias
focadas na evacuaccedilatildeo que incluem distanciamento do enfrentamento no qual se evita ou se
retira da situaccedilatildeo estressante (como os bloqueios de perfis e exclusotildees) ou accedilotildees que gerem
resiliecircncia e porporcione o bem estar e sauacutede mental (como o natildeo pensar sobre o fato
ocorrido) A procura por apoio social se revelou mais peculiar entre o gecircnero feminino de
acordo com dois estudos revisados por Raskauska e Ruinh (2015)
O estudo de Nixon por exemplo embora revisasse pesquisas sobre eficaacutecias das
estrateacutegias de intervenccedilatildeo verificou que a maioria dessas pesquisas teria examinado
estrateacutegias de reduccedilatildeo de risco ou promoccedilatildeo de comportamentos que superem os riscos como
o suiciacutedio baixo rendimento escolar entre outros Tais estrateacutegias quando adotadas pelos
adolescentes podem mitigar ou reduzir o impacto negativo do cyberbullying (Nixon 2014)
A revisatildeo de Alim (2016) destaca um estudo de Justim Patchim e Sammer Hinduja
com adolescentes americanos de 11 a 18 anos de idade que analisou a probabilidade de um
jovem ser punido por um adulto como um fator para praticar ou natildeo atos de cyberbullying
Tal estudo observou que os adolescentes que pensavam que os adultos poderiam puni-los
eram menos propensos a fazer cyberbullying Alim (2016) ainda elencou as formas como os
adolescenes lidam com o fenocircmeno entre elas (a) responder aos ataques (b) saber em quem
88
confiar (c) ser astuto em relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecnologia (d) respeitar os
outros (e) estar no controle e (f) falar cara a cara (Fisher 2013 apud Alim 2016) Entre as
estrateacutegias relatadas pelos adolescentes consideradas eficazes e que impedem accedilotildees de
cyberbullying incluem accedilotildees tecnoloacutegicas como a exclusatildeo do perfil e o ajuste da
privacidade uso de configuraccedilotildees para evitar o contato Estas seriam moderadamente uacuteteis
para pessoas que sofrem com cyberbullying e outras formas de asseacutedio on-line O bloqueio do
agressor foi uma das respostas mais predominantes relatar o incidente a um consultor on-line
ou denunciar atraveacutes de relatoacuterio on-line tambeacutem foi identificada aleacutem de bloquear o acesso
do perpetrador agraves informaccedilotildees pessoais na linha do tempo de redes sociais Para Alim (2016)
as estrateacutegias dos adolescentes para o enfrentamento mudam com o passar dos anos e que as
soluccedilotildees tecnoloacutegicas e a procura de apoio satildeo eficazes na luta contra o ciberbullying Jaacute a
revisatildeo de de Allison e Busey (2016) ressaltou estudos que apontam que as normas de
comportamentos sociais entre pares podem influenciar a decisatildeo de transeuntes do universo
online participarem de cyberbullying inclusive no que tange ao comportamento dos
expectadores Verifica-se que o texto se apropia de elementos discursivos de forccedila (modos de
accedilatildeo) ―bloquear o agressor ―responder aos ataquese ao mesmo tempo de modos de
representaccedilatildeo desses sujeitos que fazem parte de comunidades sociais ―falar cara a cara
―saber em quem confiar Esse tipo de discurso contribui para moldar e restrigir as normas e
convenccedilotildees entre agressores e acometidos
Cabe destacar que parte das revisotildees que sugerem modos de lidar (coping) com o
cyberbullying propocircs accedilotildees preventivas concomitantemente Aleacutem disso pensar tais
estrateacutegias e reproduzir tais praacuteticas adequando as novas complexidades do fenocircmeno e da
cibercultura se fazem necessaacuterios (Aboujaoude et al 2015) visto que um modelo de
intervenccedilatildeo fechado natildeo daria conta da constante atualizaccedilatildeo tanto das tecnologias que
possibilitariam praacuteticas de cyberbullying como das ambiecircncias relacionais da cibercultura
CONCLUSOtildeES
No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um
assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns
pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das
89
expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o
evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares
Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa
levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia
Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a
cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo
Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o
conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o
contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que
podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying
podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas
atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais
Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio
na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia
psicoloacutegica e que ocorre entre pares
Percebemos que a literatura analisada por muitos momentos demonstrou uma
aproximaccedilatildeo do tema cyberbullying com o bullying tradicional Eacute suficiente considerar o
cyberbullying mais do mesmo neste caso bullying
Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma
personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o
cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de
alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos
produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet
voltar a circular apoacutes tempos depois em que o conteuacutedo foi disparado e o assunto degradante
veio agrave tona
Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos
estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio
(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre
quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas
do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a
atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as
habilidades dos meninos como superiores comparados com as meninas em aspectos
tecnoloacutegicos
90
Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagado deliberadamente em redes
sociais contra grupos eacutetnicos raciais natildeo brancos eacute inquietante natildeo ter identificado na
literatura reflexotildees sobre cyberbullying e gecircnero que transcendam a classificaccedilatildeo binaacuteria
aleacutem de invisibilizar questotildees como o racismo Tambeacutem cabe considerar que natildeo bastaria
nomear situaccedilotildees como cyberbullying sem refletir sobre o tipo de violecircncia praticada com tais
sujeitos Para isso eacute preciso ter ciecircncia do que de fato se configura cyberbullying para que
equiacutevocos interpretativos natildeo ocorram ao passo de classificar qualquer tipo de violecircncia
digital como cyberbullying desconsiderando por exemplo que trata-se de uma violecircncia
entre pares Estudos que apontem prevalecircncia de casos de cyberbullying contra jovens LGBT
grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio mulccedilumanos e
religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos satildeo de grande relevacircncia
Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre
o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis
por proliferar o conteuacutedo difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying
que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um
controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta
Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser
ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os
impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que
diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar
cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica do
cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas
ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os
seus perfis analisando inclusive se aqueles que cometem cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram
algum tipo de violecircncia
Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo
ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou
seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute
viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo anonimato
Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que
haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem
existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas
implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de
91
Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam
adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz
respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais
digitais
Ainda assim a literatura direciona maior responsabilidade no trato da prevenccedilatildeo do
cyberbullying agrave comunidade escolar Teriam as escolas capacidade de capacitar prevenir e
ainda intervir em situaccedilotildees de cyberbullying isoladamente Por outro lado natildeo eacute possiacutevel
admitir que questotildees de cyberbullying na escola sejam classificadas como uma problemaacutetica
de menor impacto para os alunos ou ―brincadeira de adolescente uma demanda que foge da
competecircncia escolar por transcender o seu espaccedilo fiacutesico Pensando nessa suposta
responsabilidade em alguns paiacuteses como no Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe
multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem dar conta de certas demandas por falta de
suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar continuidade a projetos iniciados por falta de
recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio refletir se de fato tais propostas e manejo
seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno complexo e com atravessamentos
peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros setores e atores sociais Partimos do
entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos de cyberbullying necessitam ser
realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes atores
Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados
tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de
revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou
analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento
Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a
necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos
pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos
online jaacute faccedila parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem
refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos ―nativos digitais e restrigir punir ou
controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens pode ter tambeacutem
aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria Quais os
seus limites Quando um profissional eou um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a
privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais
enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do
monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e
92
adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos
e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos
jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que
supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre o uso das novas tecnologias esses
possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua
responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um
aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso
aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de
identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de
monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que
tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a uma banalizaccedilatildeo do monitoramento
de praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da
liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo
familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz
necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado
pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos
Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado
de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos
publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo
foi o nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede
reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a
criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem
com esta demanda de forma coerente
Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do
conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios
novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e
intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento
sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre
avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de
intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)
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CONCLUSOtildeES
No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um
assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns
pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das
expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o
evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares
Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa
levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia
Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a
cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo
Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o
conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o
contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que
podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying
podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas
atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais
Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio
na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia
psicoloacutegica e que ocorre entre pares
Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma
personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o
cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de
alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos
produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet
100
voltar a circular apoacutes tempos depois em que esse conteuacutedo foi disparado e o assunto
degradante veio agrave tona
Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos
estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio
(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre
quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas
do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a
atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as
habilidades dos meninos como superiores se comparados com as meninas em aspectos
tecnoloacutegicos
Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagando deliberadamente em redes
sociais percebeu-se ainda uma ausecircncia de reflexotildees sobre a questatildeo do cyberbullying contra
jovens LGBT grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio
mulccedilumanos e religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos
Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre
o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis
por proliferar o material difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying
que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um
controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta
Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser
ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os
impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que
diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar
cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica de
cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas
ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os
seus perfis analisando inclusive se aqueles que praticam cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram
algum tipo de violecircncia
Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo
ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou
seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute
viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo do anonimato
101
Eacute possiacutevel considerar que o cyberbullying se configura como uma nova forma de
violecircncia sistemaacutetica que se manifesta atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica
entre pares nas ambiecircncias das redes de socialidade digital que podem ocorrer em qualquer
espaccedilo geograacutefico Inclusive sendo considerado por estudiosos como um problema de sauacutede
social e de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede mental de crianccedilas e adolescentes
Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que
haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem
existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas
implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de
Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam
adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz
respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais
digitais
Ainda assim a literatura apontou excessiva responsabilidade da escola no trato da
prevenccedilatildeo do cyberbullying agrave comunidade escolar Entretanto em alguns paiacuteses como no
Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem
dar conta de certas demandas por falta de suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar
continuidade a projetos iniciados por falta de recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio
refletir se de fato tais propostas e manejo seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno
complexo e com atravessamentos peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros
setores e atores sociais Partimos do entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos
de cyberbullying necessitam ser realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes
atores
Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados
tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de
revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou
analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento
Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a
necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos
pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos
online jaacute faccedilam parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem
refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos nativos digitais e restrigir punir ou
controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens podem ter
102
tambeacutem aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria
Quais os seus limites Quando um profissional e um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a
privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais
enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do
monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e
adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos
e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos
jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que
supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre uso das novas tecnologias esses
possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua
responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um
aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso
aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de
identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de
monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que
tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a banalizar o monitoramento de
praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da
liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo
familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz
necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado
pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos
Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado
de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos
publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo
foi nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede
Reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a
criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem
com esta demanda de forma coerente
Identificou-se a necessidade de estudos futuros investigarem as redes sociais como
um territoacuterio de praacutetica e propagaccedilatildeo de atos de cyberbullying Que estudos com esse recorte
aponte quais os papeis dessas plataformas digitais no manejo com o cyberbullying
Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do
conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios
103
novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e
intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento
sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre
avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de
intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)
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ABSTRACT
This study deals with cyberbullying as a psychological violence that occurs between peers in
the context of digital sociabilities and is therefore a public health problem that impacts the
emotional health of children and adolescents which can lead to suicide We analyze the ways
of conceptualizing the phenomena and their dynamics which characters are identified and
which associations point to the health of the perpetrators and affected by this category of
violence Next we analyze the proposals and statements of prevention and intervention
proposed by and for the fields of Health and Education (who are the actors involved and what
strategies are recommended) analyze the discourses on prevention accountability coping
modes and dynamics of the phenomenon We undertake such a study based on a critical
review of literature based on the Analysis of Critical Discourse (ADC) in the ways proposed
by Fairclough especially with regard to the discourses and statements evoked in his
interdiscursividade (manifest and constitutive) strength and social practice There was a need
for new studies that contextualize the issue of cyberbullying in cyberculture and new
possibilities for digital interaction as well as studies that discuss with a deeper understanding
the role of health professionals in coping and prevention
Key-words Cyberbullying Health Education violence
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO13
11 Objetivos13
12 Metodologia 19
2 MARCO TEOacuteRICO24
21 Cibercultura sociabilidade digital e ciberespaccedilo 24
22 Bullying29
23 Cyberbullying35
231 Cyberbullying Violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica35
3 ARTIGO 1 CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES
CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E IMPLICACcedilOtildeES COM
A SAUacuteDE44
Introduccedilatildeo45
Meacutetodos49
Conceituaccedilatildeo51
Descriccedilotildees das dinacircmicas56
Personagens envolvidos58
Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos61
Discussatildeo62
4 ARTIGO 2 CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO
PARA O CAMPO DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE
LITERATURA64
Introduccedilatildeo64
Metodologia66
Caracterizaccedilatildeo do acervo69
Estrateacutegias de prevenccedilatildeo74
Estrateacutegias de intervenccedilatildeo80
5 CONCLUSOtildeES 87
6 REFEREcircNCIAS91
Sumaacuterio de Quadros
Quadro 1 Seleccedilatildeo do acervo22
Quadro 2 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo24
Quadro 3 Vocaacutebulo designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas37
Quadro 4 Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de Cyberbullying
(2010-2016)69
Sumaacuterio de Tabelas
Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma51
Sumaacuterio de figuras
Figuras 1 Modelo Tridimensional de Norman Fairclough23
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Em tempos em que manter-se por muitas horas diaacuterias conectadas agrave internet atraveacutes de
aparelhos eletrocircnicos eacute uma realidade cotidiana de parte da sociedade na contemporaneidade
natildeo eacute de se espantar que a sociabilidade tenha sofrido alteraccedilotildees para novas formas de
interaccedilatildeo mediadas por diferentes miacutedias sociais De tal modo a violecircncia tambeacutem ganhou
novas formas de expressatildeo
A violecircncia e suas mais distintas expressotildees tecircm sido pauta de estudos em diferentes
aacutereas do conhecimento inclusive no campo da Sauacutede
Segundo Assis e Marriel (2010) conceituar violecircncia eacute uma tarefa difiacutecil por se tratar
de um fenocircmeno de muacuteltiplas causalidades
Ainda sobre as violecircncias Wanzinack e Signorelli (2015 p 09) afirmam que elas
atingem de forma natildeo apenas diferente mas sobretudo desigual a distintos sujeitos e grupos
da sociedade Assim sendo as violecircncias se manifestam por meio de diferentes atores e
encontram- se em variados cenaacuterios
Entende-se que existe uma relaccedilatildeo estreita poreacutem natildeo exclusiva entre a Violecircncia e a
Sauacutede conforme apontam Minayo e Souza (1998 p520) ―a violecircncia natildeo eacute objeto restrito e
especiacutefico da sauacutede mas estaacute intrinsecamente ligada a ela Cabe ressaltar que o campo da
Sauacutede possui um papel social de relevacircncia pois dentre suas funccedilotildees estatildeo a elaboraccedilatildeo de
estrateacutegias preventivas a promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede coletiva e individual
O cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se manifesta sob os moldes de
agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para aleacutem da
subjetividade do indiviacuteduo resultando em implicaccedilotildees praacuteticas e reais no cotidiano e
individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)
Um estudo (Silva Silva Saldanha 2011) realizado atraveacutes de um questionaacuterio com
114 crianccedilas e adolescentes portuguesas constatou que o cyberbullying causa efeitos
devastadores na sauacutede mental e fiacutesica Entre as consequecircncias mais frequentes estavam as
crises de choro (714) a ansiedade (571) a dificuldade de concentraccedilatildeo (571) e os
pesadelos (571)
O cenaacuterio para este estudo foi o ambiente virtual visto que a violecircncia tem alcanccedilado
relevante capilaridade neste espaccedilo o que tem gerado amplas consequecircncias Satildeo
14
repercussotildees que perpassam tanto as relaccedilotildees sociais iniciadas fora do ambiente virtual que
podem ou natildeo ser nutridas neste ambiente (como exemplo relaccedilotildees familiares entre colegas
e vizinhos) ou ainda interaccedilotildees sociais mais superficiais (amigos virtuais eou seguidores de
redes sociais que podem ou natildeo ter uma relaccedilatildeo social real com o usuaacuterio nessas redes
sociais) Certas vinculaccedilotildees desenvolvidas neste espaccedilo satildeo conexotildees construiacutedas por meio de
interesses comuns que todavia podem ser rompidas a qualquer momento devido agrave
superficialidade nessas conexotildees
Essas relaccedilotildees sociais que ocorrem no ciberespaccedilo (espaccedilo virtual) e que podem
culminar em atos violecircncia na comunicaccedilatildeo digital se manifestam em meio a uma cultura
digital Cultura esta que alguns estudiosos da aacuterea das ciecircncias da comunicaccedilatildeo e ciecircncias
sociais chamam de cibercultura
Segundo Andreacute Lemos (2015) a cibercultura seria uma confluecircncia entre as formas
sociais praacuteticas humanas e a tecnologia sendo atraveacutes da inclusatildeo da sociabilidade na praacutetica
diaacuteria da tecnologia que ela adquire os seus contornos mais niacutetidos A existecircncia de uma nova
forma de apresentaccedilatildeo da cultura e da proliferaccedilatildeo de uma sociabilidade digital traz consigo
distintas facetas entre elas a violecircncia se faz presente no ciberespaccedilo e nas relaccedilotildees digitais
que ali se estabelecem A nova sociabilidade digital eacute mediada por distintas tecnologias que
facilitam o uso e acesso individual e remoto tais como os smarthphones notebooks e outros
modos de comunicaccedilatildeo que possibilitam o envio e recebimento de mensagens de textos
aacuteudios imagens fotos e viacutedeos Essas muacuteltiplas formas de interaccedilatildeo digital podem ser
utilizadas para depreciar denegrir e expor vexatoriamente eou negativamente agrave imagem de
algueacutem Assim o cyberbullying pode ser concebido e difundido poreacutem agraves vezes seus autores
natildeo satildeo identificados devido agrave possibilidade de anonimato (ainda existente) no ambiente
virtual ou ainda a morosidade na identificaccedilatildeo desses autores Apesar de todos os avanccedilos
tecnoloacutegicos que possibilitam rastreamentos e localizaccedilatildeo de aparelhos eletrocircnicos de
comunicaccedilatildeo
Aleacutem disso uma vez que uma imagem eacute veiculada no ambiente virtual essas
informaccedilotildees poderatildeo estar pra sempre circulando na rede mundial de computadores por meio
das diferentes conexotildees que podem ser realizadas Lemos (2015) considera o ciberespaccedilo
como um ambiente onde ocorre uma significaccedilatildeo sensorial da civilizaccedilatildeo pautada em
informaccedilotildees digitais
15
Jaacute Martino (2015) ao tratar das questotildees caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais
contemporacircneas afirma que os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos
estabelecidos conforme a necessidade de um momento e desmanchados depois Haacute uma
dinacircmica nos contatos sociais feitos atraveacutes da internet partindo da ideia do nuacutemero e dos
tipos de conexotildees que podem ser estabelecidas entre os participantes das redes sociais
presentes no chamado ciberespaccedilo
Eacute inevitaacutevel falar cyberbullying sem mencionar o fenocircmeno bullying por ambos os
fenocircmenos ocorrerem entre pares e pelo fato deste primeiro ser chamado de a versatildeo digital
do bullying dito como tradicional
Jaacute que para alguns o cyberbullying representaria ―uma nova forma de bullying (Neto
2005) O autor cita Bill Belsey professor que teria utilizado pela primeira vez o conceito
trata-se do uso da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (e-mails
telefones celulares mensagens por pagers ou celulares fotos digitais sites
pessoais difamatoacuterios accedilotildees difamatoacuterias online) como recurso para a
adoccedilatildeo de comportamentos deliberados repetidos e hostis de um individuo
ou grupo que pretende causar danos a outro (s)
Sabe-se que os primeiros estudos sobre o bullying satildeo oriundos dos paiacuteses do norte da
Europa dos paiacuteses considerados noacuterdicos na deacutecada de 1970 pelo professor universitaacuterio
Dan Olweus e posteriormente na Sueacutecia com Heinz Leymann Dan Olweus eacute apresentado
como o precursor em realizar pesquisas sistemaacuteticas sobre o tema Em 1989 Olweus e
Roland divulgaram os primeiros diagnoacutesticos de seu estudo sobre o bullying No entanto
estudos de bullying entre estudantes passaram ser mais observados em outros paiacuteses como os
Estados Unidos a partir da deacutecada de 1980 (Olweus 2003)
Segundo Malta et al (2010) o Bullying eacute uma praacutetica antiga Os autores o entendem
como uma ―violecircncia que traz repercussotildees no cotidiano de suas viacutetimas como uma ameaccedila
diaacuteria a integridade fiacutesica psiacutequica e da dignidade humana (pg3069) Os autores enfocam
ainda que o bullying natildeo eacute uma violecircncia demarcada por recortes sociais e econocircmicos e
perpassa por distintas camadas sociais e ―niacuteveis culturais Segundo Cleo Fante (2008 p 86)
o ―bullying eacute uma palavra de origem inglesa adotada em muitos paiacuteses para definir o desejo
consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocaacute-la sob tensatildeo Conforme Shariff
16
(2011) trabalhadores britacircnicos de minas de carvatildeo discorriam sobre colegas de trabalho
como bullies e a partir daiacute iniciou-se uma associaccedilatildeo dos bullies com ―brigotildees ou
―valentotildees Poreacutem somente a partir na deacutecada de 1800 (seacutec XIX) a termologia (bullies)
passou a se referir agrave fraqueza covardia tirania e violecircncia tendo ainda uma associaccedilatildeo a
gangues Deste modo agir como um bully representava tratar de maneira ―autoritaacuteria
intimidadora e apavoradora O que nos leva a entender que haacute provaacutevel relaccedilatildeo etimoloacutegica da
palavra bullying e o prefixo bully como falaremos a seguir
Ainda em Sharrif (2011) a etimologia expotildee muito sobre a problemaacutetica existente em
identificar o bullying ao reconhecer que houve uma transiccedilatildeo do que representaria um
comportamento valentatildeo de modo amplo para um trato de autecircntica hostilidade ao destacar a
comparaccedilatildeo existente entre a evoluccedilatildeo histoacuterica da palavra e do bullying no ambiente escolar
contemporacircneo
Assim o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma
disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre
sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidados (Alim
2016) Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs
horas diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de cyberbullying
(Arsegravene Raynaud 2015) Li et al (2012) trazem destaque sobre os efeitos do cyberbullying
que podem ser tatildeo graves quanto o do bullying presencial As viacutetimas apresentam a
probabilidade de sofrer de depressatildeo sendo que os autores (em geral tambeacutem crianccedilas e
adolescentes) enfrentam esse problema posto que seja uma violecircncia entre pares Em
decorrecircncia disso a violecircncia psicoloacutegica reproduzida no ambiente virtual pode desencadear
consequecircncias graves a sauacutede de suas viacutetimas (Li et al 2012)
Existem autores que consideram a necessidade de compreensatildeo por parte dos
profissionais de que o cyberbullying seria um processo que ocorre em adiccedilatildeo ao bullying
tradicional como um subtipo de bullying com caracteriacutesticas especiacuteficas (Stelko-Pereira e
Williams 2011 in Wendt 2013) Entretanto para Wendt (2013) em muitos casos pode natildeo
haver o bullying [no acircmbito da vida real] mas pode estar ocorrendo a vitimizaccedilatildeo [apenas]
17
online portanto trata-se de processos sobrepostos embora independentes (p83) [grifos
nosso]
Uma pesquisa internacional a TIC KIDS ONLINE (2015) que visa mapear possiacuteveis
riscos oportunidades na internet e aponta dados sobre mediaccedilatildeo parental ao entrevistar
crianccedilas e adolescentes entre 09 e 17 anos revelou que cerca de 20 foram tratados de forma
ofensiva na internet nos uacuteltimos 12 meses Entre os entrevistados 9 receberam mensagens
ofensivas pela internet 4 declarou que outras pessoas postaram mensagens ofensivas na
internet para outras pessoas verem o mesmo percentual de jovens foi excluiacutedo de grupo ou
rede social
Uma pesquisa nacional realizada no segundo semestre de 2009 neste caso
apresentada pela ONG SAFERNET cuja amostra contou com a participaccedilatildeo de 2525 alunos
e 966 educadores das redes puacuteblicas e privadas identificou com relaccedilatildeo a situaccedilotildees de
cyberbullying ―que 33 dos entrevistados jaacute haviam tido algum amigo viacutetima desse tipo de
humilhaccedilatildeo na rede
Tais maus tratos consistem em praacuteticas de difamaccedilatildeo humilhaccedilatildeo
ridicularizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo por meio de ferramentas da internet
Com o atual aumento das facilidades para acesso ao mundo virtual por
parte de crianccedilas e adolescentes esse tipo de agressatildeo se torna cada
vez mais frequente Uma caracteriacutestica importante desse tipo de
agressatildeo eacute que consiste num ―fenocircmeno sem rosto agrave medida que na
internet o agressor pode muitas vezes natildeo se identificar
(httpwwwpromeninoorgbrportals0pesquisabullyingpdf)
Compreende-se que existem situaccedilotildees na vida que podem gerar abalo emocional e
consequentemente paralisam pessoas algumas conseguem superar tais situaccedilotildees e saiacuterem
delas fortalecidas Um dos motivos para que cada indiviacuteduo lide de modo distinto com
problemas semelhantes estaacute relacionado com o conceito de resiliecircncia A resiliecircncia pode ser
caracterizada como a capacidade de superar uma dada situaccedilatildeo de adversidade e sair
fortalecido (Angst 2009) Importante considerar essa capacidade de recuperar-se de lidar de
forma positiva com as pressotildees eou estresse em situaccedilotildees de adversidades Interessante
apontar que o conceito de coping apresenta uma base conceitual semelhante agrave resiliecircncia
todavia natildeo se confunde agrave ela correspondendo a uma capacidade cognitiva comportamental
O coping eacute definido como ―conjunto das estrateacutegias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-
18
se a circunstacircncias adversas ou estressantes (Antoniazzi Bandeira DellacuteAglio 1998 in
Taboada et al 2006) Tais estrateacutegias individuais podem ser utilizadas como manejo
individual diante eou apoacutes situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying
Entende-se que existe um grau de fragilidade quando os jovens satildeo expostos ao uso da
internet seja devido ao uso prolongado das redes sociais e outras formas de navegaccedilatildeo na
web ou ainda o uso da internet sem o monitoramento dos responsaacuteveis bem como o uso de
aparelhos com acesso agrave internet desprotegidos de sistema de seguranccedila de dados e
informaccedilotildees Fatos como esses podem contribuir para o iniacutecio de um ciclo de violecircncia
Embora jaacute existam poliacuteticas de conscientizaccedilatildeo sobre uso adequado da internet
seguranccedila virtual e de responsabilizaccedilatildeo de pessoas que cometem crimes virtuais natildeo
necessariamente faz com que todas as formas de violecircncia virtual sejam identificadas eou
tenham seu ciclo rompido
Partindo desse recorte analiacutetico utilizamos as seguintes questotildees investigativas
- Como a literatura nacional e internacional conceitua o cyberbullying e descreve suas
dinacircmicas
- Qual o papel de gecircnero em tais dinacircmicas
- Quais conexotildees satildeo feitas com a sauacutede de crianccedilas e adolescentes que sofrem e praticam o
cyberbullying
- Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees propostos pela
literatura sobre cyberbullying - Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a questatildeo da
sociabilidade virtual juvenil (Deve haver regulaccedilatildeo Como ocorre Deve ser proibida)
- Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullyin
- O que fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying
Nosso objetivo geral foi analisar como a literatura nacional e internacional aborda o
tema as associaccedilotildees que delimita entre o cyberbullying e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes e
as accedilotildees propostas de intervenccedilatildeoprevenccedilatildeo para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo
19
Nossos objetivos especiacuteficos foram
1 Analisar as conceituaccedilotildees utilizadas para caracterizar o cyberbullying explorando
eventuais diferenccedilas entre os autores nacionais e estrangeiros
2 Analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela comunidade cientiacutefica sobre as
propostas de prevenccedilatildeo do cyberbullying e modos de enfrentamento no campo da
sauacutede e educaccedilatildeo
3 Analisar as representaccedilotildees associadas agrave construccedilatildeo dos sentidos do fenocircmeno (causas
personagens envolvidos e responsabilidades implicadas)
4 Analisar as praacuteticas de cyberbullying (perpetrar sofrer testemunhar) a partir das
dinacircmicas das relaccedilotildees de gecircnero
5 Identificar associaccedilotildees e implicaccedilotildees agrave sauacutede das pessoas intimidadas e dos
perpetradores causados pelos diferentes tipos de cyberbullying
6 Analisar as propostas de enfrentamento sugeridas para Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores
implicados e estrateacutegias sugeridas)
Diante disso apresentaremos como resultado dessa dissertaccedilatildeo dois artigos O primeiro
buscou analisar as conceituaccedilotildees de cyberbullying adotadas pela literatura nacional e
internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo enfocando suas ecircnfases e
―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as associaccedilotildees que delimitam
entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes
No segundo artigo buscamos analisar criticamente as estrateacutegias de enfrentamento do
cyberbullying tanto no campo da Sauacutede quanto no campo da Educaccedilatildeo Elencando quem
seriam os atores implicados e que tipos de estrateacutegias haviam sido apontados pela literatura
investigada com enfoque em analisar criticamente tais discursos
METODOLOGIA
Propomos realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa considerando que este tipo
de estudo se compromete em trabalhar com ―os significados atribuiacutedos pelos sujeitos aos
fatos agraves relaccedilotildees praacuteticas bem como ―as interpretaccedilotildees dessas praacuteticas ao estudar uma
realidade especiacutefica (Minayo e Deslandes 2002)
20
Com relaccedilatildeo ao meacutetodo investigativo inicialmente haviacuteamos optado por utilizar do
meacutetodo de revisatildeo sistemaacutetica integrativa todavia a busca trouxe uma quantidade muito
elevada de trabalhos (7785) considerando o tempo para uma anaacutelise coerente de modo a
cumprir o cronograma proposto assim optamos por fazer uso de revisatildeo de literatura do tipo
―revisatildeo criacutetica (critical review)
Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um
tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant Booth
2009) A contribuiccedilatildeo de uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas
discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel
(Paregrave et al 2015) O escopo analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou
estatisticamente representativo Esse tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos
selecionados o que eacute considerado o seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as
revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo
(siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais
positivista (anaacutelise de conteuacutedo)
Cabe mencionar que preferimos por delimitar temporalmente o escopo da busca das
referecircncias para a revisatildeo literaacuteria sobre o tema proposto (de 2006 a 2016) Tal escolha
temporal se refere agrave disseminaccedilatildeo do acesso agrave internet por aplicativos em aparelhos moacuteveis
bem como a ampla disseminaccedilatildeo do maior site de relacionamento do mundo (FACEBOOK)
por exemplo datados a partir da deacutecada que trataremos a seguir
Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo
BVS Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA
(Applied Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017
Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos
(all fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no
Medical Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying
(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos
vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo
Com o intuito de reduzir e qualificar mais esse acervo optou-se por trabalhar apenas os
estudos de revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no
tiacutetulo e ―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de
21
qualquer natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas
modalidades revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica
sistemaacutetica revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo
sistemaacuteticas e revisatildeo narrativa
Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis
para acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em
301 estudos Depois de analisar cada artigo no MENDLEY foi identificado 156 artigos em
duplicidade que natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias
(MENDLEY) como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com
traduccedilatildeo de texto para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou
francecircs e quando houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor
seguido de et al Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com
recorte temporal de publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem
sendo difundido na uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo
Desse nuacutemero de artigos apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo (conforme
quadro 1) Destacamos ainda que migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias
ZOTERO por ser um programa open sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados
pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos
salvos nos mais distintos formatos
22
Quadro 1 ndash Seleccedilatildeo do acervo
ACERVO (cyberbullying)
7785 estudos (allfields)
301
(apoacutes criteacuterio de exclusatildeo)
141
(apoacutes exclusatildeo das duplicidades)
72
(apoacutes recorte temporal)
57 estudos (prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo )
O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia
dos autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus
conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes
categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do
cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede
No que se refere agrave anaacutelise de dados especialmente no segundo artigo adotamos o
meacutetodo de Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) Considerando que a ADC possui outras
correntes de anaacutelise tomamos como referecircncia a orientaccedilatildeo dada por Norman Fairclough que
propotildee estudos criacuteticos e interdisciplinares sobre a praacutetica discursiva e sua relaccedilatildeo com a
transformaccedilatildeo social e de cultura Para Fairclough (2001) os discursos contribuem
diretamente para a construccedilatildeo dos sistemas de conhecimento e crenccedilas tendo trecircs funccedilotildees e
dimensotildees de sentido que ―coexistem e ―interagem em todo discurso sendo elas identitaacuteria
relacional e ideacional Na funccedilatildeo identitaacuteria estatildeo implicados os modos pelos quais as
23
identidades sociais satildeo constituiacutedas na funccedilatildeo relacional como as relaccedilotildees sociais entre os
atores presentes nos discursos satildeo representadas e ―negociadas na funccedilatildeo ideacional os
modos pelos quais significam o mundo seus processos entidades e relaccedilotildees Essas duas
uacuteltimas satildeo interpretadas (Halliday 1978 In Fairclough 2001) como de caraacuteter ―interpessoal
Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de
praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos
discursos adotados nos estudos analisados Sendo assim se torna caro para noacutes identificarmos
que accedilotildees estatildeo sendo ditas a partir dos discursos construiacutedos nos estudos que seratildeo
analisados sobre o tema proposto Ou seja o que tem sido dito pelos estudos acerca do
cyberbullying Cabe destacar que o modelo proposto por Fairclough para a ADC abarca a
anaacutelise da praacutetica discursiva do texto e da praacutetica social
Conforme descrito na figura seguinte
Figura 1 - Concepccedilatildeo tridimensional do discurso em Fairclough (2001101)
O modelo tridimensional da ADC proposto por Fairclough distingue trecircs dimensotildees
dessa forma de anaacutelise de discurso texto praacutetica discursiva e praacutetica social Ao tratar
dimensatildeo textual o autor traz o entendimento de que todo o texto eacute elaborado de modo que
satildeo repletos de significados e inclusive de ambiguidades No que tange a praacutetica discursiva
segundo Fairclough (2001) permite explicar como os discursos satildeo produzidos distribuiacutedos
consumidos e interpretados reduzindo assim as possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva
propotildee categorias como a forccedila coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz
referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos de fala que o texto realiza [o que o texto evoca] a
coerecircncia trata do sentido que o texto possui [para quem faz sentido qual a loacutegica das
marcaccedilotildees e conexotildees] a intertextualidade ―eacute basicamente a propriedade que tecircm os textos de
PRAacuteTICA SOCIAL
PRAacuteTICA DISCURSIVA
TEXTO
24
serem cheios de fragmentos de outros textos (Fairclough 2001) [grifos nossos] A categoria
intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta
aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de
textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que o Fairclough vai chamar
de interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A
praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto
Ao que se refere ao discurso como praacutetica social em Fairclough (2001) estaria
implicada necessariamente como uma dimensatildeo que produz os efeitos ideoloacutegicos e
hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees
econocircmica cultural e ideoloacutegica Sendo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo
de identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas
de crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente
Neste sentido todo o discurso possuiu uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir
uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma
determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir
mudanccedila social em uma dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de relaccedilotildees
sociais
Destacamos que para realizar o processo de anaacutelise de discurso proposto utilizamos
um roteiro com matrizes de perguntas como Qual a conceituaccedilatildeo para o cyberbullying Quais
as definiccedilotildees e ou descriccedilotildees sobre as dinacircmicas do cyberbullying Como os personagens
envolvidos na praacutetica de cyberbullying satildeo descritos
No que tange a designaccedilatildeo e dinacircmica da anaacutelise submetemos os artigos selecionados
agraves matrizes de perguntas e posteriormente criamos bancos de dados temaacuteticos para as
definiccedilotildees propostas de enfrentamento diferenccedilas de gecircnero conexotildees entre a sauacutede de
crianccedilas e adolescente que sofrem e praticam cyberbullying Os quadros temaacuteticos permitiram
organizaccedilatildeo das informaccedilotildees extraiacutedas e faacutecil acesso ao conteuacutedo no momento da anaacutelise
propriamente dita Para exemplificar segue abaixo o modelo de quadro temaacutetico
25
Quadro 02 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo
Matrizes de perguntas ndash Roteiro para a anaacutelise
Enfim cabe esclarecer que consideramos neste campo reflexivo as accedilotildees praacuteticas
apontadas nos estudos para os setores da Sauacutede e da Educaccedilatildeo incluindo as accedilotildees de cunho
preventivo e promotoras de cultura de paz1
Por fim por se tratar de um estudo de revisatildeo bibliograacutefica a pesquisa natildeo necessitou
ser submetida a um comitecirc de eacutetica em pesquisa com seres humanos
1 A cultura de paz estaacute intrinsecamente relacionada agrave prevenccedilatildeo e agrave resoluccedilatildeo natildeo violenta dos conflitos Eacute uma
cultura baseada em toleracircncia e solidariedade uma cultura que respeita todos os direitos individuais que
assegura e sustenta a liberdade de opiniatildeo e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os () A cultura
de paz procura resolver os problemas por meio do diaacutelogo da negociaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo de forma a tornar a guerra e a violecircncia inviaacuteveis Disponiacutevel em httpunesdocunescoorgimages0018001899189919porpdf
Acessado em 26052018
PERGUNTAS SAUacuteDE EDUCACcedilAtildeO
Como o Cyberbullying eacute
conceituado
Quais as descriccedilotildees das
dinacircmicas
Quais as descriccedilotildees dos
personagens
Quais as associaccedilotildees e
implicaccedilotildees com a sauacutede das
pessoas intimidadas e dos
perpetradores
Como as propostas de
intervenccedilatildeo satildeo apresentadas
(estrateacutegias de accedilatildeo objetivos
personagens envolvidos)
26
1 MARCO TEOacuteRICO
11 CIBERCULTURA SOCIABILIDADE DIGITAL E CIBERESPACcedilO
O surgimento da internet teria sido fruto da ARPANET uma rede de computadores
construiacuteda nos EUA pela Advanced Projects Agency (ARPA) do Departamento de Defesa
americano em 1969 com intuito de mobilizar recursos de pesquisas universitaacuterias para obter
superioridade tecnoloacutegica militar em comparaccedilatildeo a Uniatildeo Sovieacutetica Contudo somente na
deacutecada de 1980 eacute que a tecnologia da rede de computadores passou a ser comercializada ―Por
razotildees histoacutericas e culturais a internet foi deliberadamente projetada como uma tecnologia de
comunicaccedilatildeo livre (Castells 200310)
Desde entatildeo a sociabilidade contemporacircnea passou por significantes transformaccedilotildees
a partir do advento da internet De acordo com Castells (2003) a internet passou a ser a base
tecnoloacutegica para a forma organizacional da era da informaccedilatildeo Sendo assim da internet incide
a capacidade de distribuiccedilatildeo da forccedila informacional por todo o domiacutenio da atividade humana
permitindo pela primeira vez a comunicaccedilatildeo de muitos com muitos num momento
escolhido em escala global
De acordo com o dicionaacuterio Priberam (2016) internetlsquo eacute uma palavra de origem
inglesa que significa
―Rede informaacutetica utilizada para interligar computadores agrave niacutevel
mundial agrave qual pode aceder qualquer tipo de usuaacuterio e
que possibilita o acesso a toda a espeacutecie de informaccedilatildeo (httpswwwpriber
amptDLPOinternet)
Haacute um entendimento de que a internet contribui para as dinacircmicas de mercado
ampliaccedilatildeo e agilidade nas redes de contato acesso a informaccedilatildeo entre outros aspectos
concernentes agraves sociedades poacutes-modernas Atraveacutes dos avanccedilos tecnoloacutegicos na atualidade eacute
possiacutevel o acesso agrave internet por meios eletrocircnicos modernos como smartphones tablets
notebooks e ultrabooks
Cabe salientar que os avanccedilos tecnoloacutegicos bem como todo esse aprimoramento com
relaccedilatildeo agrave experiecircncia de interaccedilatildeo eou de estar conectado permitiu que novos modos de
27
sociabilidade fossem permitidos como as redes sociais Barnes foi apontado como um dos
criacuteticos que defende a ideia de alargamento e natildeo delimitaccedilatildeo do que hoje conhecemos como
redes sociais Ao realizar uma etnografia sobre o iniacutecio de uma estratificaccedilatildeo social numa ilha
norueguesa tal antropoacutelogo desenvolvera uma tese segundo a qual todos seus habitantes
estariam interligados uns aos outros por cadeias de conhecimentos interligados e pouco
extensatildeo mas que natildeo se limitava aos limites da ilha entretanto ligavam seus habitantes a
outros sujeitos fora do seu contexto social e topograacutefico de pertencimento (Barnes A 1954
apud Marteleto 2010)
Jaacute Lemos (2015) ao relatar sobre o ciberespaccedilo declara que este eacute compreendido como
um espaccedilo sem dimensotildees um universo de informaccedilotildees navegaacuteveis de forma instantacircnea e
reversiacutevel Afirma ser uma ―nova dimensatildeo espaccedilo temporal de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo
(p127) Para o autor esse natildeo lugar remete a duas perspectivas 1ordf O lugar onde estamos
quando entramos em um ambiente simulado (ambiente virtual) 2ordf Um conjunto de redes de
computadores interligadas ou natildeo em todo o planeta a internet ―as redes vatildeo se interligar
entre si e permitir a interaccedilatildeo por mundos virtuais () (pg128) Natildeo obstante a cibercultura
representaria um conjunto de aspectos e padrotildees culturais relacionados com a internet e a
comunicaccedilatildeo em redes de computadores (Dicionaacuterio online Priberam 2016) Com a criaccedilatildeo
dessa nova expressatildeo da cultura inserida no ambiente virtual foram estabelecidos novos
paracircmetros de privacidade do sujeito agrave medida que cada vez mais as pessoas estatildeo sendo
observadas por todos em todos os lugares fenocircmeno que alguns autores chamam de
vigilacircncia e visibilidade
Segundo Levy (2010) a Cibercultura em sua essecircncia tem caraacuteter de um universal
poreacutem sem totalidade pois ele seria indeterminado agrave medida que em cada nova transmissatildeo
pode representar um receptor ou emissor de informaccedilotildees de dimensotildees inalcanccedilaacuteveis e
aleatoacuterias Na cibercultura o real e virtual estatildeo a todo tempo em contato ao passo que um
indiviacuteduo pode estar no Brasil conectado online com uma pessoa do Japatildeo ou ainda em
conexatildeo com pessoas em diferentes nacionalidades numa mesma interaccedilatildeo online
Entendemos que esta universalidade eacute alcanccedilada agrave medida que possibilita diferentes e
muacuteltiplas conexotildees entre seres humanos em todo o planeta Deixa de ser total por natildeo
possuirmos o controle das dimensotildees que essas conexotildees podem alcanccedilar pela falta de
28
domiacutenio sobre as informaccedilotildees partilhadas visto que uma vez lanccediladas na rede natildeo se pode
mensurar o potencial de compartilhamentos acessos e quais novas conexotildees podem ser
geradas Nesse aspecto a interconexatildeo generalizada emerge do crescimento da internet como
uma nova forma de universal Para Levy (2010) o universo da cibercultura eacute indefinido se
considerada a gama de conexotildees que podem ser estabelecidas ao passo que o emissor ou
produtor a todo o momento pode estabelecer diferentes conectividades
Nessa sociedade poacutes-moderna os modos de conexotildees atraveacutes das distintas tecnologias
digitais tecircm gerado novas formas do que representa viver em sociedade Entre as
caracteriacutesticas da sociabilidade digital estaacute a hipervisibilidade e o tribalismo No que tange a
hipervisibilidade o ciberespaccedilo contribui para a criaccedilatildeo de uma ―realidade aumentada
(Lemos 2015) Que pode ser configurada com a exposiccedilatildeo e maior visibilidade que as vidas e
os corpos passam a ganhar Dados como localizaccedilatildeo fotos e hipertextos expotildeem informaccedilotildees
sobre o indiviacuteduo e todos que possui um viacutenculo virtual seja este viacutenculo ―fraco ou ―forte
O privado passa a ser publicizado a partir dos compartilhamentos realizados neste universo de
informaccedilotildees instantacircneas em tempo real Outra dimensatildeo da sociabilidade digital presente na
cibercultura eacute o que Lemos (2015) chama de tribalismo sendo esta uma ―tendecircncia
comunitaacuteria na rede social complexa do ciberespaccedilo Essa caracteriacutestica de tribalismo
concebe uma ideia de agregaccedilatildeo social empatia pautados no interesse muacutetuo de estar
conectados por ideologias ou alguma outra identificaccedilatildeo Contudo essa socialidade tribal traz
consigo um ethos de compartilhamento baseado no que Maffesoli vai chamar de eacutetica da
esteacutetica (Maffesoli 1987 apud Lemos 2015) Esse termo designa um processo em que a
sociedade eacute mascarada assumindo um ethos a partir daquilo que pretende compartilhar com
os outros um modo de ser partindo do que se quer ostentar
E se analisarmos o crescimento do acesso agrave conexatildeo de internet cada vez mais
pessoas estatildeo navegando na rede e compartilhando de seus interesses abrindo suas vidas
quase que indiscriminadamente
Para ressaltarmos o quanto o acesso agrave internet tem crescido no paiacutes verificamos que
em 2009 segundo o resultado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) feita pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) cerca de 679 milhotildees de brasileiros
teriam conexatildeo com a internet ou seja o nuacutemero de domiciacutelios com acesso agrave internet no
Brasil aumentou em 71 entre 2005 e 2009 (Site UOL) Jaacute os resultados da PNAD 2013
divulgados em 2015 nos mostraram que cerca de 856 milhotildees de brasileiros (acima de 10
anos) o equivalente a 494 da populaccedilatildeo teriam acesso agrave internet incluindo por meio de
29
aparelhos que natildeo fosse notebooks e desktops Dos 312 milhotildees das residecircncias com
acesso agrave internet 977 estatildeo conectados por banda larga Em meacutedia 771 dos
domiciacutelios conectam a internet por banda larga fixa enquanto 435 teriam acesso
agrave banda larga moacutevel (Site EBC)
Em contrapartida apesar dos nuacutemeros expressivos o direito agrave inclusatildeo digital ainda
natildeo corresponde agrave realidade de todos os brasileiros sendo um tema de grande discussatildeo
Todavia jaacute eacute uma realidade em parte do Brasil acessar a internet por WIFI internet agrave raacutedio ou
modems 3G e 4G moacuteveis A partir da instalaccedilatildeo de aplicativos (apps) em aparelhos moacuteveis
que comportam o acesso agrave internet eacute possiacutevel conectar-se a Redes Sociais como Facebook
WHATSAPP INSTAGRAM TWITTER SNAPCHAT entre outras inclusive de forma
―gratuita Obviamente tal gratuidade possui interesses e contrapartidas comerciais Todavia
o que nos chama atenccedilatildeo eacute que essas redes sociais representam um ponto de encontro de
centenas de milhares de jovens ao redor do mundo diariamente com longas duraccedilotildees de
conexotildees (sempre online) e em grande escala sem administraccedilatildeo de tempo eou supervisatildeo de
um adulto responsaacutevel Cada vez mais cedo crianccedilas tecircm acesso agraves redes sociais O que nos
leva a crer que crianccedilas por vezes com apoio de seus responsaacuteveis estariam omitindo ou
adulterando sua idade real para que tenham acesso agraves redes sociais que natildeo permitem o
acesso de crianccedilas menores de 13 anos (como no caso do FACEBOOK)2 Essa espeacutecie de
conivecircncia dos pais que permitem que seus filhos utilizem redes sociais mesmo quando
algumas plataformas digitais natildeo permitem o acesso de crianccedilas Inclusive esse acesso pode
ser considerado como um risco a sauacutede e a seguranccedila das crianccedilas
O estudo de Machold et al (2012) com 474 estudantes Irlandeses de trecircs escolas
secundaacuterias entre 11 e 16 anos de idade para avaliar padrotildees gerais de uso da internet e
identificar potenciais de risco incluindo cyberbullying contato improacuteprio uso excessivo
dependecircncia e invasatildeo de privacidade por outros usuaacuterios detectou que (403) o equivalente agrave
95 dos adolescentes fazem uso de redes sociais Com relaccedilatildeo ao tempo de uso duas horas
ou mais foram gastas nas redes sociais diariamente por (285) o correspondente a 62 sendo
que 450 estudantes cerca de (98) fazem uso sem supervisatildeo
Entretanto os laccedilos de afinidade neste ambiente invisiacutevel onde os perfis e as novas
relaccedilotildees estabelecidas nas redes sociais podem natildeo ser verdadeiros mas simulaccedilotildees Essa
realidade estaacute presente no cotidiano de milhares de pessoas que estatildeo predispostas a manter
2 httpspt-brfacebookcomhelp210644045634222
30
um contato virtual na maioria das vezes pautado na superficialidade agrave medida que esse
ambiente invisiacutevel (considerando suas dimensotildees) traz visibilidade para nossa localizaccedilatildeo e
atividades compartilhadas com os ―amigos virtuais Martino (2015) ao tratas das relaccedilotildees
sociais mantidas na rede considera que ―por seu turno conexotildees satildeo criadas mantidas eou
abandonadas a qualquer instante sem maiores problemas comparadas as ―instituiccedilotildees
sociais como a famiacutelia trabalho ou religiatildeo tendem a ser mais riacutegidas para com seus membros
do que as redes sociais
A internet trouxe um desenvolvimento expressivo para o funcionamento das
sociedades modernas Para Shariff (2011) pela sua natureza os meios eletrocircnicos permitem
que as formas tradicionais do bullying assumam caracteriacutesticas que satildeo especiacuteficas do
ciberespaccedilo
Esse espaccedilo seria representado por um solo natildeo configurado onde os sujeitos se
relacionam de qualquer territoacuterio fiacutesico com pessoas que estejam em um diferente local
como se ambas estivessem frente a frente sem a necessidade de haver um contato fiacutesico ou
real o encontro se daacute em uma nova dimensatildeo o ciberespaccedilo
Concluiacutemos que o ciberespaccedilo eacute um campo natildeo material poreacutem virtual onde a noccedilatildeo
de espaccedilo eacute perdida e o real eacute aumentado possibilitando a comunicaccedilatildeo por meios eletrocircnicos
e a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees em larga escala com muacuteltiplas e distintas pessoas
22 Bullying
A violecircncia admite distintas expressotildees e multicausalidades (Ferreira e Tavares 2012)
Desse modo se faz necessaacuterio abordar a questatildeo do bullying antes de aprofundarmos sobre a
questatildeo central deste trabalho Segundo Fante e Pedra (2008) na maioria dos paiacuteses onde o
fenocircmeno eacute estudado emprega-se o termo em inglecircs (bullying) Entretanto existem
alguns paiacuteses que utilizam outros termos de sua liacutengua sem que se perca o
significado Satildeo usados por exemplo mobbing na Noruega e na Dinamarca [t raduz ido
para o po rtuguecircs co mo bu l lying] mobbning na Sueacutec ia e na F in lacircnd ia
[ t raduz ido para o por tuguecircs como b u l lying] hercegravelement quotidien na Franccedila
[traduzido para o portuguecircs como asseacutedio diaacuterio] prepotenza ou bullismo na I t aacute l ia
[traduzido para o portuguecircs como bullying] ijime no Japatildeo [traduzido para o portuguecircs
31
como arrelia3] Agressionen unter S h uuml le r n na Alemanha (traduzido para o portuguecircs
como agressatildeo entre alunos) a c o s o e a m e n a z a entre escolares ou in t i m i d a c ioacute n na
Espanha [traduzido para o portuguecircs como perseguiccedilatildeo ameaccedila e intimidaccedilatildeo] (pg 34)
[grifos nossos]
Algo que nos chama agrave atenccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave temaacutetica bullying eacute a compreensatildeo que
alguns autores tecircm acerca do significado e ambiguidade entre a questatildeo do bullying e o
Asseacutedio Moral (mobbing4
) cabe destacar que por se tratar de palavras inglesas essa
ambiguidade se apresenta a partir da realizaccedilatildeo de traduccedilatildeo da temaacutetica como no caso da
liacutengua espanhola Como exemplo destacamos ao estudo peruano de Armeno (2011) que ao
tratar do assunto bullying escolar utiliza a palavra acoso (perseguiccedilatildeo) escolar poreacutem ao
serem utilizadas em conjunto (acoso escolar) eacute traduzida para o portuguecircs como bullying
Contudo algumas traduccedilotildees por exemplo traduz ―acoso escolar como asseacutedio moral
quando as palavras estatildeo juntas poreacutem acoso sem escolar tem como significado perseguiccedilatildeo
como mostrado no quadro anterior
Eacute possiacutevel ver neste estudo que satildeo muitas as definiccedilotildees tratadas para este assunto
desde o entendimento sobre o significado ou a magnitude do cyberbullying e sobre o bullying
Em alguns casos tanto cyberbullying como o bullying podem ser confundidos por
dificuldades na clareza de suas definiccedilotildees Contudo Farrington (1993381) define o bullying
como uma ―opressatildeo repetida de caraacuteter fiacutesico ou psiacutequico de uma pessoa com menos poder
por outra com mais poder Neste sentido o mais forte exerce poder sobre o mais fraco seja
esse poder de ordem fiacutesica por meio de agressatildeo ou psicoloacutegica de modo a causar medo e
intimidaccedilatildeo
Dentre vaacuterias definiccedilotildees para o que se entende por bullying Melo (2011) define como
uma agressatildeo fiacutesica psicoloacutegica verbal moral sexual material ou virtual praticada por uma
ou vaacuterias pessoas contra uma mesma viacutetima de forma repetitiva por um periacuteodo prolongado
de tempo sem motivo aparente baseada numa relaccedilatildeo desigual de poder dificultando a
defesa da viacutetima e que deixa sequelas marcas e consequecircncias (pg21) Natildeo podemos deixar
de mencionar que o bullying eacute uma violecircncia entre pares
3 Arrelia traz entre sua significaccedilatildeo 1 Amofinaccedilatildeo [ato de aborrecer] apoquentaccedilatildeo [aborrecimento
aporrinhaccedilatildeo] 2falta de paciecircncia pressa sofreguidatildeo 3contenda rixa desavenccedila 4pressentimento de coisa
maacute mau agouro (Google) wwwgooglecombrsearch Acessado em 27102016
4 Palavra inglesa para asseacutedio moral
32
Armeno (2011) considera a questatildeo do bullying (―acoso escolar) como uma
violecircncia social que pode asssumir forma verbal fiacutesica e por isolamento social da viacutetima
Para o autor os espectadores (outros estudantes) seriam necessaacuterios visto que satildeo
para esses que o perpetrador do bullying ―perseguidor ―mostra seu poder O silecircncio dos
espectadores permite que as accedilotildees sejam sistemaacuteticas Em termos de conteuacutedos eles podem
ser racistas se a origem da questatildeo eacute eacutetnica se eles incluem piadas obcenas de cunho sexual
ou ainda homofoacutebicas se tecircm a ver com a suposta orientaccedilatildeo sexual dos que sofrem a accedilatildeo
Se os meios utilizados satildeo as mensagens por telefones celulares ou computadores considera
como bullying digital o que para o autor pode ser devastador porque a viacutetima natildeo teria um
lugar para fugir das accedilotildees de bullying sofridas na escola visto que na internet a accedilatildeo pode ter
continuidade (Armeno 2011) Diante disso entendemos que o autor compreende o ―bullying
digital como uma extensatildeo do bullying tradicional e que a escola eacute o campo em que tais
accedilotildees satildeo iniciadas e que a presenccedila de espectadores pode potencializar ainda mais as accedilotildees
promovidas pelos perpetradores por encontrarem nestes a ―plateacuteia para realizaccedilatildeo de seus
atos de bullying
Compete resgatar que o iniacutecio da conscientizaccedilatildeo acerca deste grave problema no
acircmbito escolar bem como ressaltar que os primeiros estudos sobre o assunto foram
produzidos pelo Professor Universitaacuterio Dan Olweus na Noruega como jaacute mencionado Em
1993 Olweus publica na Escandinaacutevia o livro ―Bullying at School onde expotildee o bullying
como um fenocircmeno presente no contexto escolar trazendo uma discussatildeo a partir dos
resultados obtidos em seus estudos projetos de investigaccedilatildeo apresentando uma possiacutevel
correlaccedilatildeo de ―caracteriacutesticas que poderiam identificar os perfis de viacutetimas e agressores O
livro apresenta o resultado obtido em sua pesquisa sistemaacutetica realizada na deacutecada de 1980
com 150000 estudantes escandinavos onde descobriu que 15 dos estudantes entre 08 e 16
anos estavam envolvidos com a questatildeo do bullying sendo viacutetimas e agressores com
regularidade e entre esses havia casos de agressores que tambeacutem eram vitimas de Bullying
(Olweus 2003) Como repercussatildeo do estudo de Olweus e Roland ―Bullying at School uma
Campanha Nacional Anti Bullying foi desenvolvida nas escolas norueguesas em 1993 com o
apoio do Governo tendo com resultado a reduccedilatildeo em cerca de 50 nos casos de bullying nas
escolas
Outro ponto relevante eacute com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero entre os personagens do
fenocircmeno bullying Cabe destacar a pesquisa de Da Costa et al (2015) que ao analisar a
prevalecircncia de casos de bullying entre 598 adolescentes brasileiros na faixa etaacuteria de 14 agrave 17
33
anos de aacuterea urbana de Belo Horizonte em 2009 constatou que houve uma prevalecircncia de
264 entre os entrevistados Sendo 280 entre os entrevistados de sexo masculino e 240
entre o puacuteblico do sexo feminino Isso significa que frac14 dos adolescentes que responderam ao
questionario sofreram bullying Entre os meninos esse nuacutemero foi um pouco mais elevado do
que entre as meninas A questatildeo do bullying estaria associada agrave insatisfaccedilatildeo com a vida que
levam dificuldades na relaccedilatildeo com pais envolvimento em brigas com colegas (pares) e
inseguranccedila na regiatildeo onde residem Uma observaccedilatildeo interessante eacute que o estudo de Da Costa
et al (2015) foi realizado no mesmo ano que a primeira Pesquisa Nacional de Sauacutede do
Escolar (PENSE5) 2009 realizada pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e
Ministeacuterio da Sauacutede Poreacutem os resultados foram divergentes com relaccedilatildeo a mesma capital
investigada BH Com relaccedilatildeo agrave PENSE a pesquisa foi realizada em escolas para investigar
fatores de risco e proteccedilatildeo da sauacutede dos escolares jaacute a pesquisa de Da Costa e colaboradores
foi um estudo populacional realizado no domiciacutelio dos entrevistados por meio de inqueacuterito
com amostragem probabiliacutestica em trecircs estaacutegios setores censitaacuterios residecircncia e indiviacuteduos
Os inquiridos responderam questotildees sobre bullying caracteriacutesticas sociodemograacuteficas
comportamentos de risco agrave sauacutede bem-estar educacional estrutura familiar atividade fiacutesica
marcadores de haacutebitos alimentares e bem-estar subjetivo (percepccedilatildeo corporal satisfaccedilatildeo
pessoal e satisfaccedilatildeo com a vida atual e futura) Outro fator que pode ter influecircncia nos
resultados foi o tamanho da amostra visto que a pesquisa PENSE analisou apenas alunos
matriculados no 8ordf Seacuterie fundamental (atual 9ordm ano) de escolas puacuteblicas e particulares da
cidade de BH enquanto que o estudo de Da Costa a escolaridade dos investigados natildeo foi um
recorte A prevalecircncia de bullying na PENSE 2009 em BH foi de 69 segundo Malta
(2014)
Haacute um entendimento de que os adolescentes do sexo masculino seriam os maiores
praticantes e alvos de bullying conforme aponta resultado da pesquisa PENSE 2012 Nesse
estudo observou-se maior praacutetica de bullying entre os estudantes do sexo masculino (261)
e 160 entre as estudantes do sexo feminino (IBGE 2013)
Com relaccedilatildeo ao enfrentamento a essa problemaacutetica Schutz et al (2012) defendem a
ideia de que a atuaccedilatildeo contra o bullying assim como cyberbullying natildeo pode estar restrita agrave
individualidade das caracteriacutesticas dos sujeitos em questatildeo ou seja autor e alvo ignorando a
5 Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar ndash PENSE eacute um inqueacuterito com alunos de escolas puacuteblicas e particulares
realizado pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que disponibiliza informaccedilotildees para o sistema de informaccedilotildees para o Sistema de Vigilacircncia de Fatores de Riscos e Proteccedilatildeo as Doenccedilas Crocircnicas do Brasil
Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfressv26n32237-9622-ress-26-03-00605pdf Acessado em 26062018
34
teia complexa das relaccedilotildees que implicam a manutenccedilatildeo do fenocircmeno Os autores sugerem
uma anaacutelise sistecircmica da complexidade dos diversos sistemas envolvidos e das relaccedilotildees
estabelecidas entre autor e alvo testemunhas famiacutelia comunidade escolar a cultura na qual
estatildeo inseridos Apontam a necessidade de investigaccedilatildeo que verifique a incidecircncia dos casos e
abrangecircncia do problema incluindo toda a comunidade escolar
Em 2015 o Brasil passou a dispor de uma legislaccedilatildeo Federal que trata da questatildeo A
lei Anti Bullying instituiu o Programa Nacional de Combate agrave Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica
(bullying) Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica eacute a configuraccedilatildeo utilizada no Brasil para classificar o ato
de violecircncia que internacionalmente eacute denominado por Bullying
―No contexto e para os fins desta Lei considera-se intimidaccedilatildeo
sistemaacutetica (Bullying) todo ato de violecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica
intencional e repetitivo que ocorre sem motivaccedilatildeo evidente praticado
por indiviacuteduo ou grupo contra uma ou mais pessoas com o objetivo
de intimidaacute-la ou agredi-la causando dor e anguacutestia agrave viacutetima em uma
relaccedilatildeo de desequiliacutebrio de poder entre as partes envolvidas
(Paraacutegrafo 1ordm da Lei 131852015)
Cabe mencionar que a lei natildeo deixa expliacutecito se inclui a questatildeo do asseacutedio moral no
trabalho visto que ao instituir o programa propotildee accedilotildees no acircmbito escolar com enfoque nos
estudantes
Outra definiccedilatildeo para a questatildeo do bullying bastante coerente adveacutem da lei do Estado
do Rio de Janeiro jaacute mencionada anteriormente que define o bullying como
A praacutetica reiterada e habitual de atos de violecircncia fiacutesica verbal ou
psicoloacutegica de modo intencional exercida por indiviacuteduo ou grupos de
indiviacuteduos contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidar
agredir causar dor ou sofrimento anguacutestia ou humilhaccedilatildeo agrave vitima
inclusive por meio de exclusatildeo social (Paraacutegrafo 1ordm da Lei 64012013
- RJ)
A lei que institui 7 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento a Violecircncia na
escola faz menccedilatildeo ao Massacre de Realengo trageacutedia ocorrida em abril do ano de 2011
35
quando doze crianccedilas entre 13 e 16 anos (dez meninas e dois meninos) foram assassinados a
tiros na Escola Municipal Tasso da Silveira por um ex aluno da unidade escolar que apoacutes ser
atingido por um tiro disparado por um policial militar teria se suicidado (AGEcircNCIA
SENADO 2016) Segundo relatos a motivaccedilatildeo do crime seria incerta poreacutem a nota do
suiciacutedio deixada pelo o autor do massacre e de acordo com o testemunho da irmatilde adotiva o
jovem sofria bullying
Natildeo podemos deixar de mencionar que Campanhas de enfrentamento ao Bullying tecircm
aparecido em pautas de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGs) e Governamentais como
Stop Bullying do Department of Health and Human Services dos Estados Unidos (EUA)
comunidades escolares e universidades como Massachusettes Aggresion Reduction Center
da Brigde State University (EUA) e em diferentes paiacuteses como Portugal Inglaterra Canadaacute
e Noruega Este uacuteltimo foi um dos primeiros paiacuteses a desenvolver campanhas anti bullying
alertando sobre seus impactos na vida e sauacutede dos que sofre essa violecircncia
Por fim cabe discorrer sobre os agravos agrave sauacutede relacionados a sofrer bullying Os
meninos e meninas alvos de bullying estariam propensos a desenvolver episoacutedios de
ansiedade baixo rendimento escolar inseguranccedila na escola sofrer de tensatildeo crescente
estando preacute-dispostos ao maior uso abusivo de drogas e em alguns casos mais graves ao
suiciacutedio (Malta et al 2010) Gera tanto um sofrimento emocional moral quanto fiacutesico
podendo desencadear outros agravos tais como baixa autoestima depressatildeo estresse
doenccedilas psicossomaacuteticas transtornos mentais (Calhau 2008 p88) O bullying natildeo deve ser
considerado como uma simples brincadeira (―zoaccedilatildeo) entre crianccedilas e adolescentes muito
menos ser banalizado ao passo de ser algo rotineiro Pelo contraacuterio esse assunto carece de ser
tratado como uma questatildeo de Sauacutede Puacuteblica que deve ser discutida investigada e enfrentada
por muacuteltiplos setores
A PENSE (Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar) uma pesquisa com escolares
adolescentes de escolas puacuteblicas e privadas realizada pelo IBGE que entre os objetivos visa
aferir dados sobre bullying incluiu na ediccedilatildeo de 2015 uma segunda amostra O que
representou um diferencial com relaccedilatildeo agraves ediccedilotildees anteriores De acordo com a pesquisa
(2015) a primeira amostra foi realizada com 2630835 estudantes frequentando o 9ordm ano do
ensino fundamental de escolas puacuteblicas e privadas do Brasil em Grandes Regiotildees Distrito
Federal Capitais e Estados e a segunda amostra realizada com 13199862 estudantes de 13 a
17 anos de idade frequentando as etapas do 6ordm ao 9ordm Ano (antiga 5ordf a 8ordf seacuteries) do ensino
36
fundamental e alunos do 1ordm ao 3ordm ano do Ensino Meacutedio (antigo 2ordm Grau) de escolas puacuteblicas e
privadas para o conjunto do paiacutes e em grandes capitais no ano de referecircncia da pesquisa
(IBGE 2015) Dentre os entrevistados desta ediccedilatildeo a primeira amostra 74 sofreram
provocaccedilotildees ou foram humilhados sempre ou na maior parte do tempo nos uacuteltimos 30 dias
que antecederam a pesquisa O estudo apontou com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que os
percentuais foram proacuteximos para os estudantes do sexo feminino 72 e sexo masculino
75 Jaacute os estudantes da regiatildeo Sudeste apresentaram o maior percentual 83 estes
afirmaram sofrer humilhaccedilotildees e constrangimentos no acircmbito escolar Outro dado relevante eacute
do Estado de Satildeo Paulo que obteve o maior percentual 90 se comparado ao percentual
obtido pela regiatildeo sudeste e demais regiotildees A aparecircncia do corpo e do rosto foram os
principais motivos da violecircncia psicoloacutegica sofrida pelos escolares Com relaccedilatildeo aos
perpetradores aproximadamente 198 dos escolares brasileiros haviam praticado atos
configurados como bullying (ter esculachado zombado mangado intimidado ou caccediloado)
poreacutem entre os estudantes do sexo masculino este nuacutemero foi mais elevado aproximadamente
242 Interessante que com relaccedilatildeo aos intimidados (aqueles que declararam se sentir
humilhados e provocados com frequecircncia pelos colegas) os nuacutemeros apresentados foram de
74 entre a faixa etaacuteria de 13 a 15 anos e 52 dos estudantes entre 16 e 17 anos (IBGE
2015) Na ediccedilatildeo da PENSE supracitada foi incluiacuteda uma questatildeo especiacutefica para abordar a
questatildeo do bullying natildeo utilizado nas PENSEs 2009 e 2012 Nessas ediccedilotildees ―bullying era
substituiacutedo por verbos como (esculachar zoar mangar caccediloar e intimidar) entretanto
passaram a adotar o termo ―intimidaccedilatildeo em consonacircncia a nomenclatura adotada a partir da
Lei de Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica (Lei Anti bullying e cyberbullying brasileira)
promulgada no ano em que a pesquisa foi realizada (2015) Relevante informar que o estudo
aponta como legiacutetimo o reconhecimento do bullying como uma importante questatildeo de Sauacutede
Puacuteblica bem como a relevacircncia de estrateacutegias intersetoriais de enfrentamento Natildeo houve
uma especificaccedilatildeo para o cyberbullying na pesquisa PENSE 2015 no quadro que analisou a
questatildeo da intimidaccedilatildeo apesar da lei vigente no paiacutes incluir e reconhecer a versatildeo virtual do
bullying Embora tenham mencionado no texto e haverem citado o recorte dado na Lei de
Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica sobre a questatildeo do cyberbullying nos dados
analisados pela pesquisa Natildeo houve ainda um toacutepico especiacutefico que pudesse identificar onde
ocorriam as ―intimaccedilotildees zoaccedilotildees e esculachos subentendendo-se que ocorria na escola
aleacutem disto os meios eletrocircnicos natildeo foram apontados
37
23 CYBERBULLYING
231 Cyberbullying violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica
Entre o grande nuacutemero de pessoas conectadas pela internet novos modos de
interaccedilotildees aparecem a partir da utilizaccedilatildeo de dispositivos eletrocircnicos possibilitando assim a
disseminaccedilatildeo irrestrita de informaccedilotildees em formato ―multimodal onde ―os recursos de miacutedia
integram coacutedigos texto som e imagem (Junior E Rocha 2013 pg206) Com a internet o
potencial de transmissatildeo e receptaccedilatildeo de informaccedilatildeo se tornou mais expansivo em relaccedilatildeo a
outras miacutedias como o caso da TV analoacutegica (atualmente substituiacuteda pela TV digital) (idem)
Permitindo assim que o compartilhamento de informaccedilotildees seja propagado com maior
facilidade inclusive as informaccedilotildees difamatoacuterias
O uso da internet em especial de redes de relacionamentos traz consigo a
probabilidade de disseminaccedilatildeo de violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de
relacionamentos criaccedilatildeo de falsos (―fakes) perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo ao
convite ao suiciacutedio por meio de sites escolares clandestinos No Japatildeo satildeo conhecidos como
―gakko ura saito os sites escolares clandestinos acessados pelo celular Eles geram uma nova
forma de cyberbullying em grupo poreacutem sem a necessidade de identificaccedilatildeo dos chamados
―caluniadores anocircnimos (Hasegawa et al 2007 Shariff 2011) O ijime-jisatsu [suiciacutedio
associado ao ijimi - cullying] eacute uma das consequecircncias desastrosas e culturalmente incidentais
do fenocircmeno no Japatildeo Outro aspecto cultural no Japatildeo do netto-ijime [cyberbullying] eacute a
taxa elevada de suiciacutedio entre os jovens O que nos mostra o quanto o territoacuterio invisiacutevel da
internet pode desencadear no campo presencial consequecircncias agrave sauacutede de seus afetados
Admitindo que vivenciar uma experiecircncia de violecircncia no universo digital pode ser bastante
devastador Conforme afirma Santos et al (2013) a internet se torna um palco de grandes
riscos
Entendemos que o cyberbullying manteacutem muitas das caracteriacutesticas do bullying
poreacutem natildeo constitui meramente uma de suas expressotildees na instacircncia virtual pois possui
algumas caracteriacutesticas proacuteprias como o longo alcance do conteuacutedo depreciativo audiecircncia
de larga escala (testemunhas) por causar impacto nas viacutetimas sem precedentes pela
38
possibilidade de anonimato por parte dos perpetradores Aleacutem disso a ocorrecircncia do
cyberbullying pode se dar a qualquer momento e em qualquer lugar pela
dificuldademorosidade na detecccedilatildeo dos praticantes do cyberbullying ou dos criadores de
perfis falsos constituiacutedos no intuito de depreciar agredir e constranger Ao que se refere agraves
traduccedilotildees para o portuguecircs dos termos adotados para a palavra cyberbullying a traduccedilatildeo
aparece disponiacutevel em vaacuterias liacutenguas conforme Google Tradutor
Quadro 3 Vocaacutebulos designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas
Palavra Liacutenguas Traduccedilatildeo para Portuguecircs
Kiberzapugivanieye Russo Cyberbullying
Cyber-mobbing Alematildeo Cyberbullying
naumltmobbning Sueco Cyberbullying
Cyberintimidation Francecircs Cyberbullying
Cyber bullismo Italiano Cyberbullying
Netto yjime Japonecircs Cyberbullying
Cyberpesten Holandecircs Cyberbullying
El ciberacoso Espanhol Cyberbullying
Seiber-fwlio Galecircs Cyberbullying
Maltretiranje Seacutervio Cyberbullying
Cyberprzemoc Polonecircs Cyberbullying
Fonte da traduccedilatildeo Google Tradutor
O termo cyberbullying teria sido criado pelo educador e pesquisador do Canadaacute Bill
Belsey para identificar o bullying virtual que faz uso das tecnologias digitais e para de modo
39
insistente e repetitivo hostilizar ofender ou ameaccedilar algueacutem (Maldonado 2009 in Melo
2011)
O que tem ocorrido eacute o crescimento de casos de agressotildees virtuais concebidas no
ambiente do ciberespaccedilo A forma de propagaccedilatildeo desse tipo de violecircncia deve ser analisada e
contextualizada O uso da internet pode ter um cunho prejudicial e essa consequente situaccedilatildeo
de exposiccedilatildeo pode tornar os sujeitos vulneraacuteveis ao passo de atingir em maior proporccedilatildeo a
geraccedilatildeo digital (os mais jovens) sendo necessaacuteria a mobilizaccedilatildeo de discussotildees sobre o papel
da escola na mediaccedilatildeo prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo virtual (Wendt 2011 p8)
Estudos tecircm advertido o quanto o cyberbullying tambeacutem pode desencadear agravos
relevantes agrave sauacutede de crianccedilas e adolescentes inclusive apontando um recorte de gecircnero
numa loacutegica binaacuteria desprovida de informaccedilotildees que caracterizem questotildees como a orientaccedilatildeo
sexual dos sujeitos Por exemplo Amemyia et al (2013) e Aranzales et al (2014) acreditam
que a praacutetica do cyberbullying eacute maior entre pessoas do sexo masculino Todavia minorias e
pessoas do sexo feminino satildeo mais propensas a serem atemorizados por estarem mais
vulneraacuteveis a situaccedilotildees de intimidaccedilatildeo Um estudo de meta-anaacutelise feito por Barllet et al
(2014) tendo como hipoacuteteses se cyber-bullying eacute considerado uma forma de bullying
tradicional e agressatildeo pessoas do sexo masculino seriam propensos a serem ―cyber-
valentotildees mais do que as do sexo feminino Inversamente se cyberbullying eacute considerado
relacional agressatildeo indireta as meninas seriam ligeiramente mais propensas a serem
perpetradoras de cyberbullying que os meninos Os autores apresentaram ainda outros
aspectos relevantes ao considerar na avaliaccedilatildeo questotildees como paiacutes continente e ano de
publicaccedilatildeo dos estudos bem como a idade dos atores pesquisados Ainda em Barllet et al
(2014) essas variaacuteveis poderiam influenciar significativamente os resultados de estudos sobre
cyberbullying Um dos fatores destacado tratou sobre as publicaccedilotildees que consideram o
cyberbullying uma forma de bullying tradicional e agressatildeo nesses casos os meninos seriam
mais propensos a serem perpetradores do que as meninas Contudo os resultados de
estimativas desse estudo afirmam que ainda sim os meninos teriam maior predisposiccedilatildeo a ser
―cyber-valentotildees Outro dado relevante eacute que no caso das meninas que relataram sofrer
cyberbullying a faixa etaacuteria estava entorno do iniacutecio adolescecircncia entretanto os meninos que
relataram sofrer cyberbullying apresentavam uma meacutedia de idade maior que as meninas
40
Assim o ambiente virtual eacute um terreno capaz de propiciar atos de violecircncia repetitiva
e ainda onde seus autores dificilmente satildeo descobertos o cyberbullying configura-se como
um tipo de violecircncia capaz de trazer consequecircncias graves as suas viacutetimas Para um usuaacuterio
do ambiente virtual que possui a imagem distorcida a internet pode representar uma
ferramenta de autodestruiccedilatildeo se natildeo utilizada de forma correta ou saudaacutevel Estudos apontam
dados significativos sobre os impactos do cyberbullying em estudantes6
Um fator relevante eacute que grande parte dos estudos ao mencionar sobre as pessoas que
satildeo atingidas pelo cyberbullying se referem a estes uacuteltimos utilizando o substantivo ―viacutetima
para identificar aqueles que sofrem este tipo de violecircncia Contudo acreditamos que o termo
traz a conotaccedilatildeo de passividade sugerindo ainda uma natildeo possibilidade de superaccedilatildeo da
condiccedilatildeo sofrida Eacute bem verdade que estudos apontam sobre as dificuldades das ditas
―viacutetimas em expor o dano sofrido ou pedir ajuda Entretanto outros conseguem ter
resiliecircncia a ponto de solicitar auxilio de familiares profissionais ou ainda autoridades Outro
aspecto relevante eacute que podem existir casos em que o intimidado pelo cyberbullying pode se
tornar um perpetrador ou ter sido um em outra situaccedilatildeo Inclusive pode haver casos em que
uma viacutetima de cyberbullying tenha sido um agressor (no caso do bullying tradicional) ou vice
versa Diante disso utilizaremos outros substantivos para relacionar aqueles que sofrem com
o Cyberbullying como por exemplo intimidados atingidos ou acometidos
Cassidy et al (2009) afirmam que adolescentes acometidos de cyberbullying teriam
uma maior predisposiccedilatildeo ao suiciacutedio do que aqueles que natildeo vivenciaram essas formas de
agressatildeo entre pares Apesar disso muitos dos que sofrem com o cyberbullying se calam
mesmo diante das constantes humilhaccedilotildees e depreciaccedilotildees Acreditamos que este calar por
parte dos intimidados pode representar tanto uma imaturidade acerca de como agir diante de
tal situaccedilatildeo como a falta de esclarecimento acerca dos serviccedilos e profissionais que podem
cuidar e acompanhar os casos de cyberbullying ou ainda uma ausecircncia de mecanismos de
apoio de faacutecil acesso que decircem conta de questotildees como esta Baronceli e Ciucci (2014) ao
6 Patchin e Hinduja (2010) dirigiram um estudo que objetivou apurar quais os impactos do
cyberbullying em jovens envolvendo 1963 alunos do ensino meacutedio oriundos de 30 escolas americanas Atraveacutes
de um instrumental de autodeclaraccedilatildeo estes estudiosos verificaram que tanto os cyberbullies (agressores) como
as viacutetimas apresentaram niacuteveis baixos de autoestima em maior frequecircncia quando comparados aos alunos sem
histoacuteria de vitimizaccedilatildeo online No entanto 231 dos alunos declararam ter sido perpetradores e 188 terem
sido viacutetimas de Cyberbullying Todavia as questotildees de gecircnero representaram diferenccedilas delimitadas
identificadas na ocorrecircncia dos subtipos de vitimizaccedilatildeo virtual entre meninos e meninas
41
investigar 529 preacute-adolescentes com idade inferior a 12 anos e 7 meses comparam
caracteriacutesticas de inteligecircncia emocional e controle negativo das emoccedilotildees relacionados ao
bullying e cyberbullying compreendendo que o bullying tradicional e cyberbullying satildeo duas
formas distintas de fenocircmenos da violecircncia envolvendo diferentes traccedilos de personalidades
Com relaccedilatildeo agraves formas de atuaccedilatildeo diante do cyberbullying segundo Melo (2011)
podemos encontrar a accedilatildeo direta e indireta Sendo a direta agressotildees por e-mail mensagens
instantacircneas natildeo havendo por parte do agressor o intuito de ficar no anonimato Jaacute a forma
indireta eacute vista como mais ―covarde e ―nefasta pois o agressor passa a usar nomes fictiacutecios
ou de terceiros o que pode ampliar a gravidade do problema visto que outras pessoas
(aqueles que assistem e disseminam a informaccedilatildeo) podem contribuir para esse estaacutegio de
―vitimizaccedilatildeo Entre as accedilotildees estatildeo votaccedilotildees online difamatoacuterias inclusatildeo de viacutedeos e
imagens vexatoacuterias entre outras
O campo virtual se tornou tambeacutem um meio de accedilotildees criminosas e violaccedilotildees de
direitos neste sentido atualmente jaacute existem Delegacias nuacutecleos e divisotildees policiais de
combate aos crimes de informaacutetica ou crimes ciberneacuteticos em diversos estados do paiacutes No
Rio de Janeiro por exemplo existe a Delegacia de Repressatildeo aos Crimes de Informaacutetica
(DRCI) localizada na Cidade da Poliacutecia na regiatildeo da Zona Norte da cidade e a Delegacia de
Proteccedilatildeo agrave crianccedila Viacutetima (DCAV) O que nos leva a entender que o cyberbullying jaacute pode ser
enquadrado como um crime contra a honra e dignidade por repercutir em danos agrave moral do
indiviacuteduo Natildeo podemos deixar de destacar que em algumas cidades brasileiras existem as
Delegacias de Proteccedilatildeo agrave crianccedila viacutetima de violecircncia Neste sentido cabe destacar o estudo de
Della Flora (2014) ao investigar 191 alunos de quatro turmas de 8ordf seacuterie (atual 9ordm ano)
fundamental e duas turmas de 1ordm ano do ensino meacutedio politeacutecnico e 17 professores constatou
que grande parte de alunos e professores citaram o registro de boletim de ocorrecircncia policial
como uma alternativa de enfrentamento ao cyberbullying por considerarem o ato como crime
em que o autor natildeo deve ficar impune Todavia uma vez que muitos de seus autores satildeo
outras crianccedilas ou adolescentes Segundo o artigo 104 do Estatuto da Crianccedila e adolescente -
ECA (Lei 806090) os menores de dezoito anos satildeo inimputaacuteveis Todavia a partir dos doze
anos de idade podem ser responsabilizados juridicamente caso cometam atos infracional
(conduta descrita no art 103 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente como crime ou
contravenccedilatildeo penal) Ainda assim a questatildeo da responsabilizaccedilatildeo merece atenccedilatildeo cuidadosa
O que nos leva reconhecer a importacircncia de uma normatizaccedilatildeo que advirta e responsabilize os
42
responsaacuteveis pelo cyberbullying natildeo extinguindo o potencial e a necessidade de accedilotildees
preventivas de maior impacto
Com relaccedilatildeo ao manejo prevenccedilatildeo e enfrentamento do bullying e suas apresentaccedilotildees
foram realizadas nos uacuteltimos anos no Brasil algumas estrateacutegias de enfrentamento no campo
juriacutedico algumas delas jaacute mencionadas anteriormente Essas legislaccedilotildees apresentam cunho de
responsabilizaccedilatildeo das escolas em notificar accedilotildees de violecircncia no contexto escolar aleacutem de
atividades de conscientizaccedilatildeo incluindo informaccedilotildees sobre o cyberbullying atraveacutes do
enfrentamento por meio de accedilotildees educativas e capacitaccedilotildees Em contrapartida as escolas por
vezes natildeo se responsabilizam por questotildees que emergem no campo virtual como eacute o caso dos
sites de relacionamentos (Redes Sociais) considerando que estas uacuteltimas estariam aleacutem de
suas responsabilidades interventivas
Refletimos que algumas leis7 implantadas representam respostas a clamores sociais
muito particulares como eacute o caso do Massacre de Realengo jaacute mencionado anteriormente
Principalmente quando evidenciados eou provocados pela miacutedia (com destaque as
reportagens em canais abertos que atingem a grande massa da populaccedilatildeo) aos viacutedeos
inseridos em plataformas como YOUTUBE e Redes Sociais e que satildeo acessados por uma
parcela significativa da populaccedilatildeo Ao mesmo tempo as ferramentas digitais tambeacutem trazem
maior notoriedade para a difusatildeo do cyberbullying entre pares
Segundo apontam os indicadores do SAFERNET entre as principais violaccedilotildees das
quais os internautas solicitaram ajuda no ano de 2015 atraveacutes do Helpline (canal de
atendimento) estaacute o Cyberbullying com 265 (duzentos e sessenta e cinco) denuacutencias sendo
que 178 (cento e setenta e oito) eram do Brasil O estado de Satildeo Paulo liderou o nuacutemero de
registros com 54 (cinquenta e quatro) Entre os atendidos pelo Helpline ao longo do
funcionamento do serviccedilo de denuacutencia de crimes ciberneacuteticos ajuda e orientaccedilotildees estatildeo
crianccedilas adolescentes pais educadores e outros adultos Com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero
presente nas denuacutencias no ano de 2012 por exemplo foi registrado o contato de 27 mulheres
e 10 homens atraveacutes do nuacutemero das conversas via chat disponiacutevel no portal da Organizaccedilatildeo
(Site SAFERNET)
Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees contra o cyberbullying inerentes ao campo da sauacutede natildeo
identificamos registros de accedilotildees voltadas agrave prevenccedilatildeo do cyberbullying as accedilotildees observadas
ateacute o momento estavam estritamente ligadas aos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo e que
7 Observamos que algumas leis nacionais foram promulgadas nos uacuteltimos anos
43
segundo os achados careciam de capacitaccedilatildeo para realizar tais atividades de cunho
informativo vide as legislaccedilotildees municipais e estaduais que tratam sobre conscientizaccedilatildeo
sobre bullying e cyberbullying Seraacute que o tema tem sido tratado pelos profissionais dos
serviccedilos de sauacutede como CAPSI ndash Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Infantil e pelas equipes de
Programas de Sauacutede Escolar (PSE) Pois se presume que a implantaccedilatildeo do Programa Sauacutede
Escolar tenha sido um ganho para as unidades escolares por propor um trabalho integrativo
entre as redes de Educaccedilatildeo e Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede Tendo em vista que o programa tem
como objetivo avaliar as condiccedilotildees de sauacutede dos estudantes aleacutem do desenvolvimento de
atividades de formaccedilatildeo integral dos estudantes mas seu funcionamento nos municiacutepios eacute
bastante limitado por se tratarem de equipes miacutenimas para um universo de escolas e demandas
de alunos
Desse modo refletimos sobre a necessidade de suporte familiar social educacional e
psicoloacutegico agrave medida que o estado emocional desses indiviacuteduos eacute afetado assustadoramente
atraveacutes desse ato de violecircncia
Entendemos que o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta sob
as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para
aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em repercussotildees praacuteticas e reais seja nas
relaccedilotildees sociais ou na individualidade do sujeito (Dahberg e Krug 2007)
O conceito dado por Pierre Bourdieu (2001) para Violecircncia Simboacutelica traz uma
conotaccedilatildeo coerente com o tipo de violecircncia concebido no ambiente virtual
A violecircncia simboacutelica eacute uma espeacutecie de coerccedilatildeo que se institui por intermeacutedio
da adesatildeo que o dominado [viacutetima] natildeo pode deixar de conceder ao
dominante ou seja dominaccedilatildeo quando dispotildee apenas para pensaacute-lo e para
pensar a si mesmo ou melhor para pensar a relaccedilatildeo com ele de instrumentos
repartidos e que fazem surgir essa relaccedilatildeo com o natural partindo do princiacutepio
de ser a forma incorporada da estrutura da relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo [grifo nosso]
(Bourdieu 2001 p206)
Essa violecircncia eacute conduzida por um indiviacuteduo ou por um grupo que controla o poder
simboacutelico sobre os outros produzindo assim crenccedilas no processo de socializaccedilatildeo induzindo
os dominados a enxergarem e avaliarem o mundo sob as perspectivas e padrotildees estabelecidos
pelos dominantes (Souza 2012) Ou seja aquele que sofre de cyberbullying tem sua imagem
depreciada quer seja pelos xingamentos fotos postadas distorcidas disseminaccedilatildeo de
44
difamaccedilatildeo virtual ao ponto que os dominados dessa relaccedilatildeo de poder podem ser convencidos
de que as informaccedilotildees depreciativas divulgadas sobre ele satildeo de fato reais passando assim a
internalizar tais expressotildees Compreendemos que as relaccedilotildees na internet podem exercer um
poder sobre a vida de seus usuaacuterios e esse manejo utilizado de forma depreciativa por parte de
intimidadoreslsquo tem uma representatividade simboacutelica na vida de crianccedilas e adolescentes e de
todo o contexto em que a violecircncia virtual eacute concebida
A imposiccedilatildeo de significaccedilotildees que a ideia de violecircncia simboacutelica traz contribui para
entendermos o quanto as relaccedilotildees virtuais podem ser assimeacutetricas e desiguais Outro ponto
considerado eacute o fato de que os que satildeo atingidos por essas accedilotildees por vezes natildeo conseguem
inicialmente ponderar os xingamentos como depreciativos de modo que naturalizam tal
questatildeo enquadrando-as como brincadeiras como o exemplo dos apelidos (exemplo baleia
rolha de poccedilo) entre outros De certo modo o que ocorre eacute um poder simboacutelico no que
concerne a relaccedilatildeo entre perpetradores e aqueles que sofrem o cyberbullying Mais uma vez
recorremos a Bourdieu (2001) ao afirmar que o poder simboacutelico eacute representado por esse poder
invisiacutevel que eacute exercido somente a partir da permissividade eou conivecircncia daqueles que
natildeo querem saber que lhes estatildeo sujeitados ou mesmo que o exercem
Com base no arcabouccedilo teoacuterico jaacute utilizado observamos que a violecircncia psicoloacutegica
pode se apresentar em diferentes expressotildees como humilhaccedilatildeo o uso de poder xingamento e
insultos (OMS 2002)
A naturalizaccedilatildeo do cyberbullying pode permitir com que ela se torne uma violecircncia
simboacutelica e ao mesmo tempo velada tanto pelo oprimido quanto pelo opressor que durante o
processo de intimidaccedilatildeo virtual detecircm o poder da ofensa jaacute naturalizada e aceita como a
verdade pelo oprimido
45
Artigo 1
2 CYBERBULLYING CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E
IMPLICACcedilOtildeES Agrave SAUacuteDE (submetido em 28122017 e aprovado em 26032018
na revista Ciecircncia e Sauacutede Coletiva)
RESUMO
O estudo buscou realizar a revisatildeo criacutetica de um conjunto de revisotildees bibliograacuteficas no intuito
de conhecer como o cyberbullying eacute compreendido pela comunidade cientiacutefica como o
fenocircmeno vem sendo conceituado como suas dinacircmicas tecircm sido descritas quais
personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede das pessoas intimidadas e
dos perpetradores A literatura mostrou que natildeo haacute um consenso sobre a conceituaccedilatildeo de
cyberbullying contudo haacute argumentos que defendem sua especificidade e diferenciaccedilatildeo em
relaccedilatildeo ao bullying (pode ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo demarcado
fisicamente pode ser disseminado globalmente o tempo de permanecircncias das postagens
ofensivas eacute indeterminado) Quanto agrave questatildeo de gecircnero associada a essa praacutetica observou-se
um vieacutes reducionista do debate indicando diferenccedilas baseadas numa suposta superioridade
tecnoloacutegica dos meninos Os estudos revisados apontam que tanto as viacutetimas quanto os
46
praticantes de cyberbullying vivenciam experiecircncias negativas em sua sauacutede psicoloacutegica e
comportamental podendo ocorrer inclusive evasatildeo escolar isolamento social depressatildeo
ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio Todavia pouco se problematiza sobre a cultura ciber e como esta
estabelece novas socialidades ndash conhecimento e debate cruciais agrave compreensatildeo do fenocircmeno
Palavra-chave Cyberbullying violecircncia redes sociais ciberespaccedilo sauacutede
ABSTRACT
The study sought to perform a critical review of a set of bibliographical reviews in
order to understand how cyberbullying is understood by the scientific community how the
phenomenon has been conceptualized how its dynamics have been described what characters
are identified and what associations are related to health intimidated persons and perpetrators
The literature has shown that there is no consensus on the concept of cyberbullying but there
are arguments that defend its specificity and differentiation in relation to bullying (it can
occur at any moment and without a physically demarcated space it can be disseminated
globally of the offensive posts is undetermined) As for the gender issue associated with this
practice there was a reductionist bias in the debate indicating differences based on a
supposed technological superiority of the boys The reviewed studies show that both victims
and cyberbullying experience negative experiences in their psychological and behavioral
health including school dropout social isolation depression suicidal ideation and suicide
However there is little question about cyber culture and how it establishes new socialities -
knowledge and debate crucial to understanding the phenomenon
Key-words Cyberbullying violence social networks cyberspace health
INTRODUCcedilAtildeO
O cyberbullying eacute uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se configura como um
―problema social constituindo tema e preocupaccedilatildeo de diversos campos disciplinares aleacutem
de ser representado por alguns autores com uma questatildeo de sauacutede puacuteblica (Brochado Jackson
47
e Cassidy 2006 Carpenter E Hubbard 2014 Nixon 2014 Bottino at al 2015 Yang
Grinshteyn 2016 Brochado Soares e Fraga 2016) As distintas configuraccedilotildees do
Cyberbullying podem ser reconhecidas como atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica
contra crianccedilas e adolescentes perpetrados nas ambiecircncias das redes de sociabilidade digital
podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo circunscrito e demarcado fisicamente
Essa forma de agressatildeo eacute perpetrada por meios eletrocircnicos sejam estes mensagens de textos
fotos aacuteudios ou viacutedeos expressos nas redes sociais ou em jogos em rede transmitidas por
telefone celulares tablets ou computadores e cujo teor tem a intencionalidade de causar dano
agrave outra pessoa de modo repetitivo e hostil conforme Ortega et al apud Brochado Soares e
Fraga (2016)
O cyberbullying tem emergecircncia recente e sua conceituaccedilatildeo ainda em construccedilatildeo abriga
consideraacutevel polissemia em suas definiccedilotildees (Garaigordobil 2011 Torres e Vivas 2012 Della
Ciopa Olsquoneil E Craig 2015) Pesquisas apontam que essa diversidade conceitual por vezes
tem direcionado os estudiosos a usar termos diferentes para se referir ao mesmo conceito ou
usar o mesmo termo com diferentes significados (Tokunaga 2010 Notar 2013 Ybarra et el
Apud Lucas-Molina et al 2016)
Nota-se que a violecircncia tambeacutem se manifesta neste novo espaccedilo o ―ciberespaccedilo ou seja
nesse ―lugar de interaccedilatildeo que se daacute no contexto de uma cultura peculiar conhecida como
cultura ―ciber ou cibercultura Vale pontuar que alguns autores questionam se o conceito de
cibercultura ainda seria vaacutelido dado o borramento das fronteiras considerando que as
relaccedilotildees digitais atravessam de forma onipresente o cotidiano (Roger E Saldado 2016)
O termo sociabilidade cunhado por Mafessoli (2006) faz referecircncia aos haacutebitos costumes
e uma espeacutecie de polidez presente na contemporaneidade A socialidade digital produz um
ethos que gera a necessidade de construir uma imagem social positiva O que eacute postado em
rede a maneira como se eacute visto neste ambiente ou ainda as maacutescaras que satildeo construiacutedas
48
sobre si neste espaccedilo valoram essa teatralidade a partir daquilo que se quer ou se permite que
os outros vejam (Mafessoli 2006) Para crianccedilas e adolescentes que estatildeo em
desenvolvimento essa identidade que se constroacutei pode ser significativamente influenciada a
partir dos padrotildees impostos pela rede A necessidade de ―estar conectado sendo sempre
visto por outros vem sendo aprimorada a cada nova atualizaccedilatildeo que os aplicativos de redes
sociais geram criando e forccedilando novas experiecircncias de compartilhamento para os seus
usuaacuterios digitais Bruno (2013) vai refletir sobre a importacircncia do olhar do outro para
constituir a imagem de si uma imagem engendrada na perspectiva de espetaacuteculo que
contribui para a construccedilatildeo de uma autoestima balizada pela popularidade que se tem nas
redes sociais Observa-se a partir da reflexatildeo de Bruno (2013) que os viacutenculos que se
estabelecem natildeo precisam ser necessariamente fortes para influenciarem as redes sociais Por
vezes aqueles que mais curtem e comentam um conteuacutedo digital satildeo pessoas cujas
vinculaccedilotildees sociais constituem ―laccedilos fracos Outra caracteriacutestica eacute a fluidez dessas relaccedilotildees
pois mesmo modo que novas conexotildees satildeo estabelecidas exclusotildees e bloqueio de pessoas
podem ocorrer sem motivos relevantes (2014)
Ao falar sobre a ―realidade social da virtualidade da internet Castells (2015) afirma que
a internet foi apropriada pela praacutetica social em toda a sua diversidade embora ela tenha
efeitos especiacuteficos sobre tais praacuteticas Aborda como as pessoas se comportam no ambiente
virtual como esperam ser vistas pelos outros Os jovens por exemplo estatildeo nesse processo de
descoberta de identidade de desvendar quem de fato eles satildeo ou gostariam de ser
As relaccedilotildees digitais redefinem dinacircmicas sociais contemporacircneas convocando aos
indiviacuteduos estarem sempre conectados atraveacutes das novas tecnologias independente da
geolocalizaccedilatildeo tempo e do quantitativo de pessoas a quem estatildeo vinculados Traccedilo marcante
da sociabilidade digital eacute a hipervisibilidade (2015) uma exposiccedilatildeo constante e voluntaacuteria dos
fatos e atos cotidianos e iacutentimos O privado passa a ser publicizado a partir dos
49
compartilhamentos realizados neste mundo de informaccedilotildees instantacircneas em tempo real
(2012)
Os jovens ―nativos digitais (2013) estatildeo cada vez mais cedo conectados nas redes sociais
digitais atraveacutes das TICsndash Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Segundo a Pesquisa
Nacional de Amostra por Domiciacutelios ndash PNAD (2015) no Brasil aproximadamente 1021
milhotildees de pessoas de 10 anos ou mais de idade tiveram acesso agrave internet no periacuteodo em que a
pesquisa ocorreu Em 2015 ano da pesquisa com relaccedilatildeo aos grupos etaacuterios observou-se que
os adolescentes de 15 a 17 anos bem como os de 18 e 19 anos de idade apresentaram o maior
iacutendice percentual dentre os usuaacuterios da internet (sendo 82 e 829 respectivamente)
Brunnet et al (2013) apontam um estudo americano que descreve que em meacutedia 93 dos
adolescentes entre 12 e 17 anos acessam a internet e dessa populaccedilatildeo 75 possuem seu
proacuteprio celular
O uso da internet em especial de redes de relacionamentos favorece as praacuteticas de
violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de relacionamentos criaccedilatildeo de falsos
perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo o convite ao suiciacutedio por sites clandestinos ou
comunidades (2011)
Assim o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma
disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre
sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidado (Alim 2016)
Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs horas
diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de Cyberbullying (Arsegravene
Raynaud 2014)
Embora associado ao tema do bullying mais consolidado teoricamente o cyberbullying
tem recebido bastante atenccedilatildeo da comunidade cientiacutefica internacional contudo pouco
estudado no Brasil
50
Diante disso o artigo tem como objetivo analisar as conceituaccedilotildees de Cyberbullying
adotadas pela literatura nacional e internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo
enfocando suas ecircnfases e ―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as
associaccedilotildees que delimitam entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes
MEacuteTODOS
Trata-se de revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo criacutetica (critical review) Essa abordagem
metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um tema revelando fraquezas
contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant MJ Booth 2009) A contribuiccedilatildeo de
uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas discrepacircncias ou aacutereas em
que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel (Paregrave et al 2015)O escopo
analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou estatisticamente representativo Esse
tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos selecionados o que eacute considerado o
seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos
meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo (siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso
anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais positivista (anaacutelise de conteuacutedo)
Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo BVS
Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA (Applied
Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017
Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos (all
fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no Medical
Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying
51
(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos
vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo
Visando reduzir e qualificar mais esse acervo optamos por trabalhar apenas os estudos de
revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no tiacutetulo e
―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de qualquer
natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas modalidades
revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica sistemaacutetica
revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo sistemaacuteticas e
revisatildeo narrativa
Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para
acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em 301
estudos Depois da anaacutelise de cada artigo foram identificados 156 artigos em duplicidade que
natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias (MENDLEY)
como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com traduccedilatildeo de texto
para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou francecircs e quando
houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al
Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com recorte temporal de
publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem sendo difundido na
uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo
O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia dos
autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo (tabela 1) Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus
conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes
categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do
cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede
52
RESULTADOS
Observa-se uma produccedilatildeo crescente no periacuteodo analisado (exceto 2016) com
predominacircncia de artigos americanos (27) O baixo nuacutemero de publicaccedilotildees em 2016 pode
refletir o pouco tempo entre a publicaccedilatildeo e a sua disponibilizaccedilatildeo nas bases de indexaccedilatildeo
pois a busca foi feita no iniacutecio de 2017
Com relaccedilatildeo aos campos da Sauacutede e Educaccedilatildeo natildeo houve diferenccedilas significativas
quanto ao nuacutemero de publicaccedilotildees Sauacutede (26) e Educaccedilatildeo (27) muito menos ao tipo de
abordagem produzida sobre o tema As demais publicaccedilotildees foram consideradas como
multidisciplinarinterdisciplinar As revistas com maior representaccedilatildeo neste acervo foram
Aggression and Violent Behavior (10) seguida da Computers in Human Behavior (5) Assim
tratamos o acervo a partir das especificidades entre os estudos e natildeo de suas aacutereas de origem
Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma
PUBLICACcedilOtildeES 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006
NUacuteMERO DE
PUBLICACcedilOtildeES
8 21 12 11 7 6 1 2 1 2 1
NACIONALIDADE
DO ESTUDO
EUA Reino Unido
Austraacutelia Portugual Belgica
Espanha e Greacutecia
EUA Singapura
Greacutecia Itaacutelia Brasil China
Canadaacute Franccedila
Austraacutelia Reino
Unido e Espanha
Franccedila EUA Itaacutelia
Turkia e Reino Unido
EUA Canadaacute e
Brasil
Sueacutecia Alemanha
Suiacuteccedila Reino Unido EUA e
Colocircmbia
EUA Espanha Meacutexico Austraacutelia
EUA Austraacutelia EUA EUA Canadaacute
IDIOMA Inglecircs (7) e
Espanhol (1)
Inglecircs (18)
Portuguecircs (2) e
Francecircs (1)
Francecircs (1)
Inglecircs (10) e
Portuguecircs (1)
Inglecircs (10) e
Portuguecircs (1)
Inglecircs (6) Espanhol
(1)
Inglecircs (2) e
Espanhol (2)
Inglecircs (1)
Inglecircs (2)
Inglecircs (1)
Inglecircs (2)
Inglecircs (1)
53
Conceituaccedilatildeo
O cyberbullying possui muitas conceituaccedilotildees revelando distintas interpretaccedilotildees adotadas
pela comunidade cientiacutefica Parte dos estudos analisados natildeo construiu uma definiccedilatildeo para o
cyberbullying mas toma de empreacutestimo os conceitos de bullying agressatildeo e asseacutedio jaacute
existentes na literatura (Zych Ortega-Ruiz Del Rey 2015 Remond Ker Romo 2015
Carpenter Hubbart 2014 Sabella Patchim Hinduja 2013 Bailey 2013 Bauman 2013
Stewart Fritsch 2011 Hanewald 2009)
Havia no acervo uma polifonia de definiccedilotildees para o cyberbullying sugerindo que a
comunidade cientiacutefica natildeo produziu um consenso sobre o entendimento da natureza e limites
do fenocircmeno Talvez por ―imaturidade ou como reflexo dessa processualidade visto que as
relaccedilotildees digitais satildeo dinacircmicas e influenciadas pelas novas tecnologias constantemente
incorporadas ao universo ciber Todavia tal polissemia gera uma espeacutecie de inconsistecircncia
nos dados das pesquisas e difiacuteculdades de comparaccedilatildeo entre os estudos (Aboujaoude et al
2013)
As traduccedilotildees de definiccedilotildees propostas em inglecircs e apropriadas por estudos de liacutengua latina
podem tambeacutem variar semanticamente e levar a compreensotildees diferenciadas como no
exemplo dos sentidos entre cyberbullying e acosso digital Estudos alematildees usam o termo
ciber-mobbing Tais termos retraduzidos ao portuguecircs produzem ecircnfases diferenciadas No
caso da traduccedilatildeo de acosso se evidencia o caraacuteter de perseguiccedilatildeo sistemaacutetica caracteriacutestica
natildeo necessariamente presente no fenocircmeno do cyberbullying
Aboujaoude et al (2015) identificaram diferentes designaccedilotildees para o cyberbullying como
cyberstalking agressatildeo on-line asseacutedio ciberneacutetico asseacutedio na Internet bullying na Internet e
54
vitimizaccedilatildeo ciberneacutetica ou cybervitimizaccedilatildeo A natureza hostil do ato e a intenccedilatildeo de causar
sofrimento foram considerados pela maioria dos estudiosos como cruciais para a definiccedilatildeo de
cyberbullying
Como avaliam Smith et al(2012) caracterizar o cyberbullying apenas como uma forma
de ―bullying digital tem sido uma tendecircncia e apoacutes analisarem diversos estudos concluem
que existe um debate sobre o uso de uma definiccedilatildeo generalista (bullying) ou a necessidade de
substituiacute-la por outra mais especiacutefica
Considerando o acervo analisado as principais definiccedilotildees adotadas podem ser divididas
em dois blocos as que reconhecem o cyberbullying como uma (nova) forma de bullying
apontando diferenccedilas e similaridades e as que tratam o cyberbullying como um fenocircmeno de
outra natureza diferente do bullying Analisaremos a seguir os argumentos que tratam das
especificidades que aproximariam e distinguiriam o bullying e o cyberbullying
No primeiro bloco de estudos a maioria do acervo reconhece o cyberbullying como o
bullying por meio digital eou uma variaccedilatildeo do bullying
Dentre os autores que percebem o cyberbullying como uma variaccedilatildeo de bullying alguns
defendem a importacircncia de contextualizar a violecircncia digital e sua expressatildeo nos
comportamentos agressivos (Ang 2015 Castro Schreiber Antunes 2015 Wendt Lisboa
2014 Chibarro 2007) A revisatildeo de Allison e Bussey (2016) apresenta o cyberbullying como
―agressatildeo intencional por meio eletrocircnico que ocorre de vaacuterias formas como insultos
ameaccedilas divulgaccedilatildeo de fotos embaraccedilosas e pode ser perpetrado atraveacutes de diversas miacutedias
sem a necessidade da presenccedila fiacutesica dos envolvidos Os autores se basearam em extensa
literatura de bullying e ao comparaacute-lo ao cyberbullying constataram que satildeo diferentes em
muitos aspectos tais como anonimato maior impacto uma maior audiecircncia de espectadores
individualidade na praacutetica de perpetrar ser dispensaacutevel a presenccedila fiacutesica dos envolvidos e a
55
viacutetima ser atingida em qualquer lugar e a qualquer momento (Kowalski et al 2014 Tanrikulu
2014 Thomas Conor Scott 2014) Para alguns o caraacuteter repetitivo natildeo estaria
necessariamente presente no cyberbullying (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Carpenter
Hubbert 2014 Slonje 2012) pois apenas uma postagem depreciativa leva o conteuacutedo a ficar
permanentemente exposto Jaacute a capacidade de anonimato eacute apontada como a principaluacutenica
diferenccedila entre os dois fenocircmenos (Bailey 2013 Zych Ortega-Ruiz e Allison e Bussy 2016)
Algumas revisotildees (Aboujaoude et al 2015 Ang 2015 Antoniadou Kokkinos 2015
Cantone 2015 Berne et al 2012) revelaram que natildeo haacute consenso se a repeticcedilatildeo das accedilotildees e o
desequiliacutebrio de poder seriam dinacircmicas do cyberbullying mas certamente ocorrem nos casos
do bullying O desequiliacutebrio de poder foi associado diversas vezes como suposta incapacidade
de resposta por parte da pessoa alvo do cyberbullying ou ainda por falta de habilidades
tecnoloacutegicas que permitiriam uma melhor resposta no meio digital Para Faucher Cassidy e
Jackson (2015) esse exerciacutecio de poder estaria associado ao quatildeo vulneraacutevel estatildeo os
conteuacutedos privados da pessoa alvo ou ainda por divulgar tais informaccedilotildees sem levar em conta
as consequecircncias de uma exposiccedilatildeo nas redes sociais (Suzuki et al 2012)
Em relaccedilatildeo agraves similaridades grande parte dos estudos aponta o caraacuteter de repeticcedilatildeo o uso
das palavras ferinas o desequiliacutebrio de poder e o dano intencional (Yang Grinshteyn 2016
El Asam Samara 2016 Baldry Farrington Sorrentino 2015 Della Cioppa OlsquoNeil Craig
2015 Chan H C Wong 2015 Cantone 2015 Chisholm 2014 Wingate Minney
Guadagno 2013 Nosworthy Rinaldi 2013 Burnett Yozwiak Omar 2013 Bailey 2013
Von Mareacutees N Pettermann 2012 Garciacutea-Maldonado Joffre-Velaacutezquez Martiacutenez-Salazar
2011 Mason 2008 Chibarro 2007) Thomas et al (2015) afirmam que os ataques de
bullying e de cyberbullying satildeo mais parecidos que diferentes e muitas vezes co-ocorrem
Para Yang e Grinshteyn (2016) o fechamento de uma acepccedilatildeo conceitual natildeo seria
beneacutefico pois uma definiccedilatildeo delimitada e concisa poderia excluir grande quantidade de
56
comportamentos potencialmente nocivos Aleacutem disso uma definiccedilatildeo que inclui elementos
descritivos da praacutetica de cyberbullying especificando certos tipos de dispositivos eletrocircnicos
com o passar do tempo pode se tornar obsoleta apoacutes o lanccedilamento de novas tecnologias
No segundo bloco estatildeo os autores que afirmam que cyberbullying eacute uma nova forma de
agressatildeo que apresenta diferenccedilas significativas em relaccedilatildeo ao bullying todavia muitos deles
natildeo se dedicaram a produzir uma teoria ou definiccedilatildeo especiacutefica (Brochado S Soares S
Fraga 2016 Chan Wong 2015 Chisholm 2014 Baek Bullock 2013 Cassidy Faucher et
al 2014 Jackson 2013)
Considerando a argumentaccedilatildeo sobre a natureza ineacutedita do fenocircmeno aponta-se o papel da
audiecircncia no contexto da perpetraccedilatildeo (Smith 2015 Baek e Bullock 2014) A audiecircncia do
cyberbullying eacute concedida em larga escala pelas plataformas digitais propagando esse
conteuacutedo depreciativo para milhares de pessoas tanto no ato da transmissatildeo da mensagem
viacutedeo ao vivo ou em outro momento aleacutem da possibilidade de baixar o conteuacutedo para acesso
offline Logo a capacidade exponencial de compartilhamento desse conteuacutedo natildeo pode ser
dimensionada pelo perpetrador e mesmo que a intenccedilatildeo de propagaccedilatildeo do conteuacutedo seja para
um grupo menor de pessoas o intimidador passa a natildeo ter mais domiacutenio sobre esse conteuacutedo
Quanto mais vizualizado eou compartilhado a audiecircncia aumenta significativamente
diferente do bullying cuja audiecircncia eacute limitada ao puacuteblico que estava presente no momento
do ataque No caso bullying mesmo que a cada novo ataque o grupo de espectadores cresccedila
natildeo se compara ao nuacutemero de pessoas que teratildeo acesso a um conteuacutedo hostil na internet
Brown Jackson e Cassidy (2006) alertam que o ambiente virtual favorece a desinibiccedilatildeo
mencionando o caso de pessoas que sofrem com o bullying e que utilizam a internet para se
vingar daquele que praticou tal bullying jaacute que a internet lhes oferta a possibilidade de
anonitamato atraveacutes de identidade alternativa (uso de perfis falsos) para assediar Deste modo
57
em alguns casos quem sofre bullying pode ser um perpetrador de cyberbullying contra seu
algoz de bullying face a face principalmente quando essa― revanche natildeo seria possiacutevel
acontecer como entre sujeitos com diferenccedila de padrotildees fiacutesicos
Cabe mencionar que parte dos estudos corrobora acerca de suposta inconsistecircncia nas
definiccedilotildees encontradas na literatura (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Zych Ortega-Ruiz
Del Rey 2015) e que falta consenso entre os estudiosos que investigam o tema seja com
relaccedilatildeo agraves conceituaccedilotildees e termos ou sobre os aspectos de semelhanccedila e diferenccedila entre o
cyberbullying e bullying Conforme esse arcabouccedilo teoacuterico se expande eacute provaacutevel que novas
discordacircncias cientiacuteficas perpassem por esse campo em construccedilatildeo
Descriccedilotildees das dinacircmicas
As dinacircmicas de cyberbullying dependem das accedilotildees e representaccedilotildees de cada pessoa
envolvida nesse ciacuterculo de violecircncia Neste cenaacuterio atuam os perpetradores ndash os que praticam
a violecircncia os acometidos (chamados de viacutetimas) os espectadores (aqueles que assistem e
compartilham o conteuacutedo que viola outrem) os educadores e pais que por vezes satildeo os
uacuteltimos a tomar conhecimento do abuso
Houve diferenccedilas significativas sobre as descriccedilotildees das dinacircmicas do cyberbullying e os
motivos provaacuteveis estariam associados ao periacuteodo em que os estudos foram publicados pois
algumas formas de cyberbullying ainda natildeo eram reconhecidas anteriormente e os tipos de
dispositivos tecnoloacutegicos e as formas de conversaccedilatildeocomunicaccedilatildeo e compartilhamento de
conteuacutedo online disponiacuteveis tambeacutem mudaram rapidamente Haacute algum tempo o e-mail e as
58
mensagens de texto eram as formas mais disseminadas atualmente as interaccedilotildees atraveacutes das
redes sociais ganharam maior espaccedilo entre os jovens (transmissatildeo ao vivo viacutedeos chamadas
compartilhamentos em massa jogos online em grupo etc)
Destacam-se quatro estudos que exemplificam as dinacircmicas de cyberbullying Julia
Wilkins et al (20120 descrevem fundamentados no texto que institui o Programa Anti-
Bullying de Londres sete tipos de cyberbullying e Suzuki et al (2012) tambeacutem identificam as
mesmas modalidades a seguir compiladas 1 Por mensagem de texto - enviada via telefone
celular com a intenccedilatildeo de causar desconforto e ameaccedila 2 Imagemvideo-clipe - quando as
imagens das viacutetimas satildeo enviandas para outras pessoas no intuacuteito de ameaccedilar ou constranger
3 Intimidaccedilatildeo por chamada telefocircnica - por meio de chamadas silenciosas ou por mensagens
abusivas ou quando o celular da viacutetima eacute roubado e usado para perseguir outros culpando o
proprietaacuterio do telefone 4 intimidaccedilatildeo por e-mail quando satildeo enviados conteuacutedos muitas
vezes usando um pseudocircnimo ou o nome de outra pessoa para fazer com que essa pessoa se
pareccedila com o perpetrador (modalidade desatualizada) 5 chat room bullying - respostas
agressivas e intimidadoras em sala de bate papos (tambeacutem mais desatualizada) 6 intimidaccedilatildeo
atraveacutes de mensagens instantacircneas 7 bullying atraveacutes de websites ndash com uso de blogs
difamatoacuterios sites pessoais sites de pesquisa pessoais online e sites de redes sociais (por
exemplo MySpace) aleacutem da criaccedilatildeo de foacuteruns
Entre as dinacircmicas do cyberbullyng destacadas na literatura estariam ―namecalling
(apelidar algueacutem de modo rude) propagaccedilatildeo de rumores ―flamings (discussotildees calorosas
online) ameaccedilas fingir ser outra pessoa online (fakenames) envio de fotos indesejadas ou
mensagens de texto (sexting) postar eou compartilhar imagens e viacutedeos com conteuacutedo
iacutentimo de outra pessoa sem consentimento desta (Carpenter Hubbard 2014) excluir uma
pessoa de um circulo social online de forma intencional (Bailey 2013) Aleacutem das redes
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sociais o cyberbulling tambeacutem se manifestaria em jogos MMOGs - jogos onlines com
muacuteltiplos jogadores (multiplayers games) um jogador poderoso pode ―trollar (zombar
humilhar) algueacutem roubando itens do jogo como recompensas invadindo a conta formar
gangues e bloquear pessoas em uma rede social fazendo piadas com a imagem de uma pessoa
e controlando remotamente a cacircmeracomputador de uma pessoa sem o consentimento desta
(Chisholm 2014)
A revisatildeo de Kowalski et al (2014) ratifica as formas jaacute mencionadas e reconhece outras
formas de perpetraccedilatildeo entre elas harassament (envio de mensagens repetitivas e com
conteuacutedo ofensivo) bloqueio online solicitar informaccedilatildeo online de conteuacutedo pessoal e
posteriormente compartilhar a terceiros sem consentimento cyber-stalking (usar comunicaccedilatildeo
eletrocircnica para perseguir outra pessoa) e postar informaccedilatildeo inapropriada ou de cunho
depreciativo se passando por outra pessoa
Mehari Farell Le (2014) refletem que os comportamentos agressivos nas relaccedilotildees
sociais na internet tecircm baixo controle social e satildeo menos recriminados se comparados aos
perpetrados nas relaccedilotildees face a face Outro aspecto apontado na revisatildeo de Mehari et al
(2014) eacute a falta ou escassez de indiacutecios verbais que aumentaria a probabilidade de
desentendimentos e interpretaccedilotildees errocircneas Assim o que um jovem pretende como uma
brincadeira interaccedilatildeo amigaacutevel pode rapidamente tornar-se uma interaccedilatildeo mutuamente
agressiva se a outra pessoa interpreta o comentaacuterio como um insulto ou uma ameaccedila A falta
de sugestotildees natildeo verbais tambeacutem pode reduzir a empatia que serve como um controle natural
do comportamento dos adolescentes
Arsene e Raynaud (2014) destacam que o cyberbullying que ocorre por meios visuais
(foto ou viacutedeo) eacute mais prejudicial e mais negativo do que os que envolvem mensagens por
(SMS) e de texto na Internet As consequecircncias seriam mais graves as viacutetimas mais afetadas
60
do que em outras formas de cyberbullying e o risco de sofrimento psicossocial teria maior
potencial Na revisatildeo desses autores (2014) as fotos ou videoclipes tiveram impacto mais
negativo do que no asseacutedio tradicional (interpetrado como bullying)
Os personagens envolvidos
Os principais personagens do cyberbullying satildeo os praticantes e as pessoas escolhidas como
alvo (as denominadas viacutetimas) Poucos estudos como os Allison e Bulsey (2016) e Desmet et
al (2016) analisaram a figura dos espectadores (testemunhas) e seu papel na manutenccedilatildeo do
ciclo de violecircncia e propagaccedilatildeo do cyberbullying Allison e Bulsey (2016) identificaram quais
os fatores que influenciam as respostas das testemunhas aos atos de cyberbullying
Concluiram que os espectadores satildeo importantes no cyberbullying pois eles tem ―o pontecial
de alterar a situaccedilatildeo ao intervir mas a maioria das testemunhas permanece passiva (pg183)
Outro estudo indica que os espectadores seriam capazes de determinar qual o potencial de
extensatildeo que um episoacutedio de cyberbullying pode ter ao compartilhar curtir comentar um ato
de violecircncia nestes moldes Runions Bak (2015)
Haacute divergecircncia na literatura analisada com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que perpassa o
cyberbullying A maioria reduz o debate agrave variaacutevel ―sexo buscando saber se meninos ou
meninas satildeo os maiores viacutetimas ou agressoras ou quais deles sofreriam mais as
consequecircncias do cyberbullying (Bauman 2013 Baldry Farringtone Sorrentino 2015)
Bauman et al (2013) identificaram na literatura casos de pessoas do sexo masculino que ao
mesmo tempo que eram praticantes de cyberbullying e de bullying Para outros estudos
pessoas do sexo feminino estariam mais envolvidas em cyberbullying e os meninos em
situaccedilotildees de bullying8 Isso sem considerar a orientaccedilatildeo sexual desses indiviacuteduos ou sua
8 A literatura apresenta recorrente associaccedilatildeo entre cyberbullying e bullying
61
posiccedilatildeo de gecircnero Bailey (2013) alega haver dissenso sobre os rapazes serem os maiores
causadores de cyberbullying
Por outro lado muitos autores acabam por reforccedilar estereoacutetipos de gecircnero de forma
acriacutetica No estudo Dooley Pyżalski Cross (2009) as garotas teriam maior interesse com a
aparecircncia sauacutede enquanto garotos estariam mais implicados com jogos on-line Tal texto
reproduz uma leitura de gecircnero onde meninas tendem a ter laccedilos de amizades mais intensos
compartilhando conteuacutedos iacutentimos e segredos pessoais principalmente atraveacutes de mensagens
de texto jaacute meninos socializam nas redes sociais em maiores grupos e compartilham menos
detalhes pessoais Chibbaro (2007) destaca estudo que afirma que a maioria (53) das
meninas sofreu cyberbullying de conhecidos como colega da escola seguido de amigo e em
um nuacutemero menor o irmatildeo foi o causador do ato Alim (2016) baseado no site
NoBullyingcom afirma que as meninas satildeo duas vezes mais causadoras de Cyberbullying do
que os meninos porque meninos seriam mais agressivos em termos fiacutesicos enquanto que
meninas tendem a ser mais ―silenciosas quando querem atingir algueacutem por vezes quando
intimidam o fazem em seacuterie Na mesma linha sexista estudos como de Chan e Wong (2015)
alegam que garotos satildeo os maiores perpetradores por serem mais haacutebeis no uso de tecnologias
do que as garotas
Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem houve dissenso A maior incidecircncia estaacute entre os
adolescentes e os casos diminuem na fase universitaacuteria (Antoniadou Kokkinos 2015)
Segundo Suzuky et al (2014) as meninas seriam as maiores acometidas poreacutem entre 15 e 17
anos a incidecircncia eacute muito maior do que entre jovens de 12 e 14 anos Para Hamn et Al (2015)
o fator idade natildeo eacute determinante para ser alvo de Cybebullying
Para Alim (2016) haveria um recorte de condiccedilatildeo social pois os que mais sofreriam
seriam pessoas oriundas dos estratos de baixa renda
62
Da mesma forma natildeo haacute uma concordacircncia na literatura sobre o recorte eacutetnicoracial
Estudantes brancos satildeo considerados maiores perpetradores do que outras categorias eacutetnicas
(Ham et al 2015 Peterson M B Peterson 2014) O estudo de Peterson e Peterson (2014)
foi o uacutenico que objetivou examinar possiacuteveis ligaccedilotildees entre comportamentos de ciberbullying
e grupos eacutetnicos especiacuteficos Essa lacuna parece evidenciar que se desconsidera que a
discriminaccedilatildeo por etniacor da pele pode gerar experiecircncias de cyberbullying Para Peterson e
Peterson (2014) alguns aspectos precisam ser analisados tais como o perfil populacional das
pessoas que utilizam TICs a escassez de estudos que analisam especificamente o quesito
raccedilacor bem como o territoacuterio em que esses estudos estatildeo sendo produzidos e onde esses
dados de amostras estatildeo sendo coletas
Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos
As psicopatologias estatildeo entre as principais implicaccedilotildees agrave sauacutede dos envolvidos nas
praacuteticas de cyberbullying (Reed et al 2016 Foody Samara Calbring 2015 Arsegravene
Raynaud 2014 Pearce 2011)
Os principais agravos listados para os que sofrem foram insocircnia depressatildeo baixo
rendimento escolar ou baixa concentraccedilatildeo (Couvillon Illieva 2011) Jaacute Burnett Yozwiak e
Omar (2013) apresentam estudos que afirmam que pessoas que sofrem Cyberbullying tem
menos horas de sono e menos apetite do que pessoas que sofreram outras formas de violecircncia
Bailey31
ao analisar a Child Behavior Checklist (CBC) inclusa em um dos estudos verificados
indicou que aqueles assediados por conhecidos tambeacutem eram mais propensos a relatar
maiores conflitos com os pais casos de abuso fiacutesico ou sexual vitimizaccedilatildeo interpessoal off-
line e comportamento agressivo aleacutem de outros problemas sociais (pg 2)
63
Aquele que eacute intimidado com cyberbullying teria aproximadamente oito vezes mais
chances de levar uma arma para escola do que outros estudantes que natildeo tiveram essa
experiecircncia (Burnett Yozwiak Omar 2013) Grande parte dos estudos considera ainda que o
cyberbullying estaacute associado agrave depressatildeo uso de drogas ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio estresse
solidatildeo e ansiedade (El Asam Samara 2016 Hinduja S Patchin 2011 Gini G Espelage
2014) com consequecircncias psiquiaacutetricas que afetam a sauacutede mental e o desenvolvimento
escolar (Carpenter Hubbard 2014) principalmente dos adolescentes que satildeo alvo A busca
por experiecircncias de risco ―viacutecio no uso de internet solidatildeo e o suiciacutedio satildeo alguns dos
fatores psicoloacutegicos para ambos os personagens (viacutetimas e agressores) sendo que para os que
praticam os fatores estariam interligados entre si (Alim 2016) Natildeo encontramos subsiacutedios
que fundamente os impactos da sauacutede dos espectadores
DISCUSSAtildeO
A escassez de estudos que refletem sobre a contextualizaccedilatildeo do cyberbullying na
cibercultura (Stylios et al 2016 Roger e Salgado 2016 Castro Schreiber Antunes 2015
Nocentini Zambuto e Menesini 2015) e nos seus modos de socialidade foi o aspecto mais
marcante nesta revisatildeo de revisotildees Como discutir um fenocircmeno sem relacionar ao seu
contexto sociocultural de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo Eacute preciso reconhecer que a juventude que
vivencia o cyberbullying eacute em boa parte ―nativa digital implicando o domiacutenio de
comportamentos e gramaacuteticas proacuteprias aleacutem desse espaccedilo de convivecircncia ser estrateacutegico agraves
afirmaccedilotildees identitaacuteria desse segmento (Brown Jackson E Cassydy 2006 Wendt e Lisboa
2014)
Percebe-se que apesar da redundacircncia conceitual houve um avanccedilo expressivo na
busca por aprofundar as especificidades caracteriacutesticas do Cyberbullying Salienta-se ainda a
64
peculiaridade no cyberbullying da expansatildeo exponencial do puacuteblico de expectadores no que
tange agrave disseminaccedilatildeo do conteuacutedo ofensivo e por tempo indeterminado - elementos que
desafiam o trabalho de promoccedilatildeo de resiliecircncia aos que sofreram tais praacuteticas Uma pessoa
pode ser estigmatizada por um longo periacuteodo agrave medida que esse conteuacutedo natildeo pode ser
apagado facilmente como nos casos de sexting em que o conteuacutedo fica disponiacutevel em
buscadores associados ao nome da pessoa que sofreu a violecircncia Uma vez que o
Cyberbullying pode ocorrer em qualquer tempo e territoacuterio e se dispotildee de mecanismos de
ocultaccedilatildeo de conteuacutedos e torna mais difiacutecil a detecccedilatildeo preacutevia por parte dos adultos e
responsaacutevies
Em relaccedilatildeo aos aspectos de gecircnero destacamos a revisatildeo de Chan e Wong (2015) que
analisou as taxas de prevalecircncia de bullying e cyberbullying a respeito das caracteriacutesticas dos
praticantes e intimidados e em que circunstacircncias a accedilotildees eram descritas na China Taiwan
Hong Kong e Macau Percebemos um discurso sexista9 quando os autores fazem um recorte
de gecircnero em sua anaacutelise e como exemplos mencionam no estudo que em Taiwan um dos
fatos de meninos serem os maiores intimidadores se justificaria por uma maior habilidade no
uso de tecnologias Apesar da questatildeo cultural ser evidente favorece a interpretaccedilotildees de que
as adolescentes do sexo feminino natildeo teriam habilidades com tecnologias se comparada aos
adolescentes do sexo masculino natildeo refletindo sobre o tipo de acesso que as meninas
possuem aos meios tecnoloacutegicos culturais e educacionais em paiacuteses onde o homem eacute
considerado superior Outro registro sexista aparece no estudo de Chisholm (2014) que
defende que meninas tendem a se envolver em agressatildeo indireta social e relacional como no
cyberbullying para excluir pessoas em redes sociais e espalhar rumores A natureza
9 Um discurso sexista declara em seu posicionamento que determinado papel eou estereoacutetipo de gecircnero ou sexo
eacute superior que o outro Pode ser inclusive configurado como preconceito e discriminaccedilatildeo com base nesses
marcadores sociais (sexo ou gecircnero)
65
―competitiva das mulheres foi um aspecto destacado por Wingate (2013) ao corroborar a
ideia que as garotas estariam mais envolvidas com praacuteticas de cyberbullying relacionais
Por fim notamos tambeacutem que eacute consensual o reconhecimento de impactos na sauacutede
psiacutequica e no cotidiano escolar dos intimidados e apenas um pequeno grupo reconhece que
existem impactos entre os intimidadores No contexto da Sauacutede o tema ainda eacute recente e
pouco disseminado anunciando um longo percurso a ser percorrido no sentido de sua
compreensatildeo e de posicionamento do campo Jaacute no contexto da Educaccedilatildeo o tema comeccedilou a
ser discutido anteriormente o que pode ser atribuiacutedo agrave recorrente correlaccedilatildeo com o bullying
que perpassa o cotidiano da escola
Artigo 2
4CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA O CAMPO
DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE LITERATURA (natildeo submetido)
RESUMO
O presente estudo propotildee uma revisatildeo criacutetica de estudos sobre o cyberbullying com recorte
temporal entre os anos de 2006 e 2016 Os objetivos deste estudo foram analisar as propostas
de enfrentamento sugeridas para os setores da sauacutede e educaccedilatildeo (atores implicados e
estrateacutegias sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de
enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno Os resultados foram discutidos com base na anaacutelise
de discurso criacutetica proposta por Norman Fairclough Identificou-se na literatura revisada uma
maioria de accedilotildees baseadas na proposta de monitoramento e controle parental e escolar
discursos que propotildee praacuteticas no intuito de gerar uma mudanccedila no comportamento dos
66
indiviacuteduos envolvidos com o cyberbullying e propostas que expressam forte
intertextualidade manifesta do saber meacutedico
Palavra-chave Cyberbullying violecircncia intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo sauacutede e educaccedilatildeo
ABSTRACT
The present study proposes a critical review of studies on cyberbullying with temporal cut
between 2006 and 2016 The objectives of this study are to analyze the proposed proposals
for sectors of Health and Education (implicated actors and suggested strategies) and analyze
the discourses on prevention accountability coping methods and dynamics of the
phenomenon The results were discussed on the basis of critical discourse analysis proposed
by Norman Fairclough It was identified in the reviewed literature a majority of actions
based on the parental and school monitoring and control proposal discourses that proposes
actions aimed at changing the social behavior of individuals involved with cyberbullying and
proposals that express a strong intertextuality of medical knowledge
Key-words Cyberbullying violence intervention prevention health and education
INTRODUCcedilAtildeO
A virtualizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais trouxe profunda transformaccedilatildeo para a
sociabilidade contemporacircnea permitindo que novos espaccedilos de trocas de informaccedilotildees e que
relaccedilotildees comerciais esteacuteticas e afetivo-sexuais fossem constituiacutedas a partir das tecnologias de
comunicaccedilatildeo digital (Castells 2003) No ciberespaccedilo esse novo espaccedilo de interaccedilatildeo os
viacutenculos sociais se estabelecem atraveacutes da internet ganhando assim nova capilaridade As
redes sociais e outros modelos de conexotildees surgem com uma identidade proacutepria que
legitimam uma cultura peculiar a cibercultura ou cultura digital (Levy 2010) Entretanto
para alguns autores o conceito de cibercultura poderaacute cair em desuso visto que as relaccedilotildees
digitais possuem total interface com o cotidiano dos sujeitos sociais (Roger e Salgado 2016)
Martino (2015) ao tratar das caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais afirma que na
cultura digital os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos estabelecidos
conforme a necessidade de um momento e a seguir desmanchados As relaccedilotildees digitais
permitem a disseminaccedilatildeo imediata e sem fronteiras geograacuteficas de informaccedilotildees e saberes de
apoio aleacutem de permitir trocas diversas (afetivas comerciais intelectuais) de favorecer ao
67
associativismo e possibilitar a organizaccedilatildeo de grupos em torno de vivecircncias comuns agendas
e pautas de atuaccedilatildeo (Lemos 2015) Todavia pode contribuir tambeacutem para que praacuteticas de
violecircncia sejam produzidas e disseminadas no ambiente virtual
O Cyberbullying representa uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se manifesta
atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica entre pares nas ambiecircncias das redes de
socialidade digital que podem ocorrer em qualquer espaccedilo geograacutefico Eacute considerado por
diferentes estudiosos como um problema de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede emocional de
crianccedilas e adolescentes (Brown Jackson e Cassidy 2006 Carpenter e Hubbard 2014 Nixon
2014 Bottiono et al 2015 Yang 2016)
Partimos do entendimento que o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se
apresenta sob as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode
repercutir para aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em consequecircncias praacuteticas e
reais no cotidiano e individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)
O cyberbullying se configura ainda como um tipo de representaccedilatildeo e praacutetica social no
ambiente virtual (traduzido no Brasil como Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica) Tal traduccedilatildeo brasileira
ocorreu a partir da Lei 1318515 (BRASIL 2015) que estabeleceu o Programa Nacional de
combate agraves formas de Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica entre elas a que ocorre na rede mundial de
computadores
O tema cyberbullying vem sendo discutido de forma ampliada pela literatura
internacional ao longo das uacuteltimas deacutecadas (Garaigordobil 2011 Torres e Marcieles 2012
Della Ciopa et al 2015) Embora geralmente associada ao tema Bullying (possuidor de um
arcabouccedilo teoacuterico consolidado) a temaacutetica vem ganhando lentamente espaccedilo na literatura
cientiacutefica brasileira O fenocircmeno do Cyberbullying tem tido destaque nas miacutedias
especialmente em casos cujas repercussotildees satildeo de extrema violecircncia como os assassinatos em
seacuterie eou suiciacutedio Todavia haveria uma desconexatildeo significativa entre o que o puacuteblico
precisa saber e o que eacute realmente conhecido sobre o fenocircmeno cyberbullying (Carpenter e
Hubbard 2014)
Muitos programas e propostas de intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo surgiram nos uacuteltimos anos
mas estudos que analisam o conjunto dessas propostas ainda satildeo escassos Segundo Wendt e
Lisboa (2014) ―se faz urgente e necessaacuteria uma maior compreensatildeo acerca desse fenocircmeno
para que seja possiacutevel o desenho de accedilotildees preventivas e interventivas eficazes (pag42)
68
Este estudo pretende portanto analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela
comunidade cientiacutefica sobre as propostas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo de cyberbullying a
serem aplicadas no campo da Sauacutede e da Educaccedilatildeo
Os objetivos propostos para este trabalho foram analisar as propostas de
enfrentamento sugeridas para os setores da Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores implicados e estrateacutegias
sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo e modos de
enfrentamento Partindo desse recorte analiacutetico tratamos das seguintes questotildees
investigativas Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees
propostos pela literatura sobre cyberbullying Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a
questatildeo da sociabilidade virtual juvenil Qual o papel dos educadores diante de casos de
cyberbullying Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullying O que
fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying
METODOLOGIA
Como meacutetodo investigativo optou-se por uma revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo
criacutetica (critical review) Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a
literatura sobre um tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias
(Grant 2014) Uma revisatildeo criacutetica tem sua relevacircncia por sua capacidade de destacar
problemas discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute
confiaacutevel (Paregrave et al 2015) Assim como as revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem
adotar diferentes meacutetodos de anaacutelise sejam com vieacutes interpertativo como nos casos das
siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica ou ateacute mesmo os de recorte mais
positivista como a anaacutelise de conteuacutedo em sua vertente quantitativa
Foram consultadas sete bases internacionais - Scielo BVS Scopus PubMed
American Psychological Association Eric e Applied Social Sciences Index and Abstracts-
durante o mecircs de fevereiro do ano de 2017
Inicialmente iriacuteamos realizar uma revisatildeo do tipo integrativa todavia durante a busca
inicial aplicamos o termo cyberbullying em todos os campos (all fields) e obtivemos o
resultado de 7785 artigos Durante o levantamento de dados buscamos pelo termo
―cyberbullying atraveacutes do Medical Subject Headings (MeSH) e constatamos apenas a
presenccedila do termo bullying (httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying)
Verificou-se assim que o tema cyberbullying era tratado como subitem ou tema secundaacuterio
69
em estudos sobre o bullying O que pode estar ligado ainda agrave ideacuteia de que bullying e
cyberbullying seriam o mesmo fenocircmeno poreacutem ocorrendo em ambientes diferentes Assim
com a primeira busca usando o descritor cyberbullying em todos os campos surgiram 7785
artigos
No intuito de recortar e permitir maior aprofundamento analiacutetico do acervo optou-se
por trabalhar apenas com estudos de revisatildeo Foram selecionados apenas estudos cujo termo
―cyberbullying estava no tiacutetulo e ―revisatildeo presente em todos os campos Aplicaram-se ainda
criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para acesso livre
acervo cinza dissertaccedilotildees monografias - o que resultou em 301 artigos Posteriormente
foram identificados 156 artigos em duplicidade que natildeo haviam sido contabilizados pelo
gerenciador de referecircncia MENDLEY por limitaccedilatildeo do programa Entre essas duplicidades
natildeo identificadas pelo programa encontraram-se estudos registrados em escrita por caixa alta
eou por traduccedilatildeo de texto para o idioma inglecircs nos casos em que o estudo original era em
outro idioma como espanhol ou francecircs ou quando havia subtraccedilatildeo de algum dos autores
tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al Foi gerado um acervo de 145
artigos e um novo refinamento estabeleceu um recorte temporal visando analisar apenas
publicaccedilotildees datadas dos anos de 2006 ateacute 2016 de modo a apreender como o tema veio sendo
discutido ao longo da uacuteltima deacutecada resultando em 72 artigos de revisatildeo Desse nuacutemero
apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo este o acervo analisado nesta obra
Migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias ZOTERO por ser um programa open
sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em
portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos salvos nos mais distintos
formatos
Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de
praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos
discursos adotados nos estudos analisados Assim analisamos quais accedilotildees estatildeo sendo
propostas partir dos discursos construiacutedos O modelo proposto por Fairclough para a Anaacutelise
do Discurso Criacutetica (ADC) demanda analisar o que o autor denomina de concepccedilatildeo
tridimensional pois propotildee examinar a praacutetica social dos discursos a praacutetica discursiva
presente no estudo e a proacutepria conformaccedilatildeo do texto
A anaacutelise da praacutetica discursiva segundo Fairclough (2001) permite explicar como os
discursos satildeo produzidos distribuiacutedos consumidos e interpretados explorando assim as
70
possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva inclui categorias analiacuteticas como a forccedila
coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos
de fala que o texto realiza (o que o texto evoca) a coerecircncia trata do sentido que o texto
possui (para quem faz sentido qual a loacutegica das marcaccedilotildees e conexotildees) a intertextualidade ―eacute
basicamente a propriedade que tecircm os textos de serem cheios de fragmentos de outros textos
permitindo reconstituir as influecircncias daquele discurso (Fairclough 2001) A categoria
intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta
aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de
textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que Fairclough vai chamar de
interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A
praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto Tratar a dimensatildeo do
discurso como praacutetica social implica reconhecer a produccedilatildeo de efeitos ideoloacutegicos e
hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees
econocircmica cultural e ideoloacutegica Satildeo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo de
identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas de
crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente
Nessa perspectiva todo o discurso possui uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir
uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma
determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir
modos de ver e se portar numa dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de
relaccedilotildees sociais
Nossa anaacutelise focou nas dimensotildees textuais (gramaacutetica e figuras de linguagem) e
categorias da praacutetica discursiva com enfoque na intertextualidade (manifesta e constitutiva)
Buscamos analisar o que os textos tecircm evocado a partir dos conceitos estabelecidos ou
ratificados pela comunidade cientiacutefica cuja escrita exerce um poder que influi na praacutetica
social
CARACTERIZACcedilAtildeO DO ACERVO
Cada texto foi lido integralmente e os temas de interesse do estudo (estrateacutegias de
prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo) foram identificados comparados e
interpretados
71
Como pode ser visto no quadro 1 os EUA foi o paiacutes que mais publicou estudos sobre o tema
e o que possui o maior nuacutemero de revistas cientiacuteficas que abordou o assunto no periacuteodo
analisado O que demonstra um maior investimento na produccedilatildeo cientiacutefica dos EUA e a
relevacircncia do tema para a comunidade cientiacutefica do paiacutes supracitado A Agression and Violent
Behavior foi a revista estadunidense que mais publicou sobre o tema (8) seguida da
Computers in Human Behavior (5) do Reino Unido - ambas revistas classificadas como
intermultiprofissionais A revista Preventing School Failure Alternative Education for
Children and Youth do setor educaccedilatildeo publicou trecircs artigos e do setor sauacutede a revista alematilde
International Journal of Adolescent Medicine and Health teve duas publicaccedilotildees
Quadro 4 ndash Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de
Cyberbullying (2010-2016)
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
1 Canadian Journal of
Educational
Administration and
Policy
1
Educaccedilatildeo
Canadaacute
2 Journal of Child and
Adolescent
Psychiatric Nursing
1 Sauacutede EUA
3 Adolescent Health
Medicine and
Therapeutics Journal
1 Sauacutede Reino Unido
4 World Medical amp
Health Policy
1 Sauacutede EUA
5 International Journal
of Psychology and
1 Sauacutede Espanha
72
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
Psychological
Therapy
6 Psicologiacutea desde el
Caribe
1 Psicologia Colombia
7 Agression and
Violent Behavior
08 Intermultidisciplar EUA
8 Computers in
Human Behavior
5 Intermultidisciplar Reino Unido
9 International Journal
of Adolescent
Medicine and Health
2 Sauacutede Alemanha
10 International Journal
of Cyber Behavior
Psychology and
Learning
1 Intermultidisciplar EUA
11 Neuropsychiatrie de
llsquoEnfance et de
llsquoAdolescence
1 Sauacutede Franccedila
12 Australian
Education
Computing
1 Educaccedilatildeo Austraacutelia
13 Current Issues in
Middle Level
Education (CIMLE)
1 Educaccedilatildeo EUA
14 Journal Theory Into
Practice
1 Educaccedilatildeo EUA
15 Journal of
Adolescent Health
1 Sauacutede EUA
73
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
16 Journal of Research
in Special
Educational Needs
1 Educaccedilatildeo Gratilde Bretanha
17 Temas em
Psicologia
1 Sauacutede Brasil
18 Boletim Academia
Paulista de
Psicologia
1 Sauacutede Brasil
19 Children and Youth
Services Review
1 Intermultidisciplar EUA
20 Psychological
Bulletin
1 Sauacutede EUA
21 International Journal
of Adolescence and
Youth
1 Intermultidisciplar Reino Unido
22 Clinical Practice amp
Epidemiology in
Mental Health
1 Sauacutede Emirados Aacuterabes Unidos
23 Journal of Education
and Training Studies
1 Educaccedilatildeo EUA
24 Social Influence
Journal
1 Intermultidisciplar Reino Unido
25 Journal of
Information Systems
Education
1 Educaccedilatildeo EUA
26 Professional School
Counseling Journal
1 Educaccedilatildeo EUA
27 School Psychology 1 Educaccedilatildeo EUA
74
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
International
28 Emotional and
Behavioural
Difficulties
1 Intermultidisciplar Reino Unido
29 Gifted Education
International
1 Educaccedilatildeo EUA
30 Internet
Interventions
1 Sauacutede EUA
31 Preventing School
Failure Alternative
Education for
Children and Youth
3 Educaccedilatildeo
32 JAMA - Journal of
the American
Medical Association
1 Sauacutede EUA
33 Revista de
Psicologia Cliacutenica
1 Sauacutede EUA
34 School Psychology
International
1 Educaccedilatildeo EUA
35 LEnceacutephale 1 Sauacutede Franccedila
36 Journal of Human
Behavior in the
Social Environment
1 Serviccedilo Social
37 Australian Journal
of Guidance and
Counselling
1 Educaccedilatildeointerdisciplinar Inglaterra
38 Alberta Journal of
Educational
1 Educaccedilatildeo Canadaacute
75
TIacuteTULOS DAS
REVISTAS
NUacuteMERO
DE
ARTIGOS
DO
ACERVO
CATEGORIA DAS
REVISTAS
NACIONALIDADE
DA REVISTA
Research
39 Nova Science
publishers
1 Educaccedilatildeo EUA
40 Psychiatric
Quarterly
1 Sauacutede EUA
41 Education Diggest 1 Educaccedilatildeo EUA
42 ACM ndash Association
for Computing
Machinery
1 Intermultidisciplar EUA
43 Psychology in the
Schools
1 Educaccedilatildeointerdisciplinar EUA
TOTAL 57
ESTRATEacuteGIAS DE PREVENCcedilAtildeO
Organizamos a apresentaccedilatildeo dos resultados em blocos temaacuteticos identificando seu
setor de origem (Educaccedilatildeo Sauacutede) entendendo que tais propostas possuem uma
especificidade disciplinar e mesmo discursiva Analisamos as possiacuteveis ambiguidades
contradiccedilotildees bem como os tipos de argumentos sobre prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo produzidos
nesses textos Todavia independente da origem boa parte do acervo apresentou evocacccedilotildees
discursivas a accedilotildees ―coletivas e interdisciplinares reconhecendo ser essencial que os
esforccedilos sejam sineacutergicos entre escola famiacutelia e sociedade devendo incluir accedilotildees preventivas
de modo a atuar em situaccedilotildees geneacutericas conduzidas para qualificar as relaccedilotildees sociais
prevenir as agressotildees online e buscando evitar novos episoacutedios de cyberbullying
Para Baek e Bullock (2013) apesar dos muitos estudos sobre cyberbullying haveria
uma lacuna de produccedilotildees que tragam uma perspectiva internacional sobre como o tema vem
76
sendo discutido pelo mundo Entre os estudos analisados pelos autores que abordam sobre
prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo tais programaspropostas podem ser divididas nas categorias leis e
poliacuteticas abordagens educacionais esforccedilos das escolas e papeacuteis dos pais Entretanto nesses
moldes de classificaccedilatildeo identificamos ambiguidades sobre o papel dos pais poliacuteticas de
enfrentamento e no que tange aos modus operandi dos programas mencionados pois ora satildeo
apresentados como propostas punitivas ora apresentam um vieacutes reflexivo numa perspectiva
de cultura de paz ou de copinglsquo
As contribuiccedilotildees associadas agrave Educaccedilatildeo agrave Sauacutede e de origem Interdisciplinar
identificadas nete estudo se caracterizaram por defender estrateacutegias preventivas baseadas 1
no controle e monitoramento das atividades online praticadas pelos jovens 2 no
estreitamento de viacutenculos entre profissionais da rede escolar e alunos e entre pais e jovens
3e na disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo e campanhas sobre cyberbullying bem como na
capacitaccedilatildeo de profissionais pais e alunos sobre o tema Por fim elencamos mais uma
categoria discursiva organizadora do acervo que trata dos fatores que levariam a ecircxitos e
fracassos das propostas de prevenccedilatildeo (4)
Controle e monitoramento
As estrateacutegias de prevenccedilatildeo baseadas na perspectiva de controle e monitoramento
foram as mais comuns As revisotildees de Couvillon e Ilieva (2011) e Smith et al (2012)
sugerem por exemplo limitar o uso de celulares na escola Esse texto como em muitos
outros os nuacutecleos verbais satildeo evidentes em sua perfomatividade proibitiva (implementar
controlesrestringir acessoexcluir miacutedias)
―As escolas podem implementar controles sobre a miacutedia existente
restringindo o acesso agraves aacutereas de Internet em que o ciberbullying
provavelmente ocorreraacute (por exemplo salas de bate-papo miacutedias sociais
sites) e excluir a miacutedia natildeo necessaacuteria para a experiecircncia de aprendizagem
como celular Smith et al 2012 (pg 121)
Considerando que a sociabilidade digital jaacute estaacute engendrada no cotidiano de crianccedilas e
adolescentes alguns estudos revisados por Sabella et al (2013) ponderam que a tecnologia
aleacutem de ser uma ferramenta social e de educaccedilatildeo desligar o computador natildeo interrompe
muitas formas de cyberbullying
77
Foram poucos os tipos de estrateacutegias de prevenccedilatildeo direcionadas para o campo da
Sauacutede ou por ele propostas se comparados agrave diversidade de propostas da Educaccedilatildeo mas
dentre estas destacam-se as propostas relativas ao que os artigos nomearam como controle e
monitoramento das atividades online das crianccedilas e adolescentes Uma revisatildeo do campo da
sauacutede propocircs que psiquiatras ―eduquem os pais de adolescentes viacutetimas de cyberbullying
que ―informem sobre monitoramento e controle do uso de tecnologias (Korenis e Billick
2015) Reconhecemos aiacute a presenccedila de interdiscussividade com o discurso biomeacutedico
sugerindo a influecircncia da autoridade meacutedica sobre os pais mesmo diante de fatos relativos agrave
sociabilidade e de cunho comportamental Confirma-se o campo de exerciacutecio da biomedicina
para aleacutem das fronteiras cliacutenicas incorporando o manejo de questotildees da vida social
Outros estudos tambeacutem apresentaram o discurso do monitoramento e controle como
estrateacutegia ―essencial de prevenccedilatildeo com intertextualidade constituiacuteda de um enunciado que
reforccedila a necessidade de supervisatildeo das praacuteticas juvenis e controle parental (Garcia
Maldonado 2011 Perren et al 2012 Torres e Vivas 2012 Bailey 2013 Brunett et al 2013
Aresene e Raynaud 2014)
No que tange agraves propostas interdisciplinares voltadas para a ―proteccedilatildeo online
estudos sugerem a ―tutoria de atividades ―programas de seguranccedila na internet voltado para
pais professores comunidade escolar e alunos e ainda o desenvolvimento precoce de haacutebitos
relacionados ao ―uso seguro da internet para crianccedilas de modo a garantir a efetiva
―internalizaccedilatildeo desses comportamentos (Hanewald 2009 Wendt e Lisboa 2014 Ang
2015) Tal discurso de proteccedilatildeo eacute portador de ambiguumlidades ora propondo um
―acompanhamento (necessaacuterio para determinadas faixas etaacuterias) o que pressupotildee certa
agecircncia e autonomia dos meninos e meninas em navegar online bem como evoca a ideacuteia de
controle (antiacutetese da autonomia sugerida) como estrateacutegia de prevenccedilatildeo Poreacutem natildeo fica claro
como tais propostas consideram os princiacutepios de liberdade de expressatildeo privacidade e
autonomia das crianccedilas e adolescentes
Nesse sentido a literatura analisada sustenta enunciados que reforccedilam a ideacuteia de que
os pais devem ser informados sobre boas praacuteticas e riscos na internet inclusive os riscos do
cyberbullying aleacutem de ―ter conhecimento dos tipos de tecnologias que satildeo utilizadas pelos
jovens para assim supervisionar ―monitorar no sentido de participaccedilatildeo das atividades online
(Hanewald 2009 Bayley 2013 Burnett et al 2013 Arsene e Raynaud 2014) Outros autores
tentam atenuar o confronto entre autonomiamonitoramentocontrole com expressotildees do tipo
78
―monitoramento no sentido de participaccedilatildeo da navegaccedilatildeo em alguns sites e apresentam uma
coerecircncia textual para que natildeo haja maacute interpretaccedilatildeo por parte dos jovens por acharem que
haveria uma perda de autonomia para navegaccedilatildeo na web Ao mesmo tempo o trecho traz
como forccedila um discurso de direcionamento tanto para as crianccedilas e adolescentes quanto para
os pais sobre um modelo de ajuste das praacuteticas rotineiras para que as formas de
monitoramento sejam naturalizadas e inseridas no cotidiano com a justificativa de prevenir da
violecircncia virtual Tal discurso tem tambeacutem como perspectiva de accedilatildeo a participaccedilatildeo dos pais
no universo online de seus filhos propiciando assim novas possibilidades de interaccedilatildeo
familiar
Wendt e Lisboa (2014) afirmam que os jovens acreditam que os adultos natildeo sabem
lidar com o cyberbullying todavia sugerem que o monitoramento parental visto como ―fator
protetivo pode contribuir para um menor comportamento de risco para os jovens na internet
Outra reflexatildeo apontada nessa literatura eacute que conforme os adolescentes se desenvolvem e
passam a adquirir maior independecircncia em relaccedilatildeo aos pais estes uacuteltimos costumam ajustar as
praacuteticas de supervisatildeo permitindo maior liberdade ao adolescente
Jaacute Sabella et al (2013) assinalam que o controle parental natildeo eacute tarefa faacutecil visto que os
aparelhos eletrocircnicos da atualidade satildeo de uso individual Aleacutem disso os adolescentes teriam
mais expertise no uso de tecnologias do que os adultos (Sabella et al 2013)
Estreitamento de laccedilos
No cenaacuterio das propostas oriundas da Educaccedilatildeo o estreitamento de laccedilos entre
alunos e professores se mostrou como uma alternativa relevante como apontam Couvillon e
Ilieva (2011) que ressaltam a necessidade de se ―avanccedilar de modo a ampliar a relaccedilatildeo de
confianccedila apoio e instruccedilatildeo entre alunos professores e demais funcionaacuterios (pg97)
No que concerne aos laccedilos familiares assinalados como relevantes para as accedilotildees de
prevenccedilatildeo percebe-se que a literatura analisada natildeo sinaliza claramente se reconhece a
existecircncia de rearranjos familiares e novos modelos de famiacutelias de crianccedilas e adolescente que
vivenciam experiecircncias de cyberbullying sejam como perpetradores acometidos eou
expectadores pois as orientaccedilotildees sempre invocam os personagens ―pais desconsiderando
que o cuidado dos filhos ocasionalmente esteja sob responsabilidade de outro adulto ou
tutor
79
Assim algumas revisotildees apontaram que os pais teriam um papel significativo na
prevenccedilatildeo do cyberbulyying quando esses permitem que seus filhos acessem somente a sites
considerados ―apropriados Assim essa permissatildeo demonstraria uma forma de cuidado e
propiciaria um ―ambiente saudaacutevel para que os filhos se sintam seguros de falar sobre alguma
situaccedilatildeo de cyberbullying vivenciada (Smith et al 2012 pg 121) Mas como os pais
poderiam valorar qual o poder ofensivo de redes sociais que satildeo os endereccedilos virtuais mais
utilizados pelos jovens na contemporaneidade Em contraponto um estudo revisado por
Slonje et al (2013) que investigou jovens de 25 paiacuteses constatou que 77 das viacutetimas
contaram o problema para algueacutem 42 contaram para os pais 52 para um amigo 7 para
os professores
Wendt e Lisboa (2014) pontuam que a ecircnfase e atenccedilatildeo devem ser voltadas para a
qualidade da relaccedilatildeo entre pais e filhos tal como agrave coerecircncia entre as praacuteticas parentais
utilizadas e a abertura para o diaacutelogo e negociaccedilatildeo Ressaltam ainda que o tempo gasto na
internet prejudica a qualidade na convivecircncia familiar
Capacitaccedilatildeo sensibilizaccedilatildeo campanhas
No que concerne agrave capacitaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo sobre o problema a literatura
reforccedila que as escolas precisam incluir o tema em suas pautas poliacuteticas escolares de prevenccedilatildeo
e incluindo a conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar capacitando natildeo soacute os
professores que satildeo considerados imigrantes digitiais mas os alunos e demais profissionais da
escola promovendo assim um ambiente no qual o cyberbullying seja socialmente inaceitaacutevel
(Sabella et al 2013 Suzuky et al 2012 Smith et al 2012 Von Mareacutees Peterson 2012
Nosworty e Rinaldi 2013) Na revisatildeo de Sabella et al (2013) vemos a evocaccedilatildeo da ideia-
forccedila de conclamaccedilatildeo para que as escolas ampliem o conhecimento sobre poliacuteticas de bullying
e cyberbullying para ajudar a proteger os alunos e resguardar as escolas de sanccedilotildees legais
aleacutem de contribuir para o fortalecimento de viacutenculos no ambiente escolar e comunicaccedilatildeo
aberta entre os alunos
Ainda sobre tipos de prevenccedilatildeo nas escolas encontramos na literatura a proposta de
―capacitar os professores utilizando material com conteuacutedo objetivo e claro para que estes
tenham condiccedilotildees de entender o que representa o cyberbullying ―identificar casos seja
atraveacutes de manifestaccedilotildees psicopatoloacuteloacutegicas comportamentais ou ausecircncia escolar bem como
para o ―fortalecimendo de accedilotildees ciacutevicas no ambiente escolar que conscientizam de modo a
80
―contribuir para um ambiente harmocircnico e uma relaccedilatildeo de confianccedila entre esses atores
(Couvillon e Illieva 2011)
No campo da Sauacutede estudos apontaram a necessidade de campanhas de
conscientizaccedilatildeo para prevenir o cyberbullying (Mareacutees e Peterson 2012 Chisholm 2014) e
defendem que profissionais de sauacutede que trabalhem ou natildeo nas escolas deveriam ―capacitar
alunos e pais Enfatizam a importacircncia de instruir para o desenvolvimento de habilidades
emocionais de modo a reduzir comportamentos impulsivos agressivos e encorajar crianccedilas e
adolescentes a desenvolverem empatia e controlar a raiva utilizando teacutecnicas de ―auto-gestatildeo
emocional ou resiliecircncia (Von Mareacutees e Peterson 2012 e Suzuky et al 2012) O estudo de
Suzuky et al (2012) considera relevante que pais sejam conscientizados por conselheiros
escolares ou profissioanis de sauacutede sobre os problemas que o cyberbullying pode acarretar
Aresene e Raynaud (2014) destacaram a presenccedila recorrente de campanhas
governamentais a niacutevel nacional na Franccedila especiacuteficamente realizada por profissionais de
Sauacutede Puacuteblica chamando a atenccedilatildeo sobre o protagonismo do Setor nesse paiacutes frente ao tema
se comparados a outros campos como a Educaccedilatildeo
A disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees foi um tipo de prevenccedilatildeo sugerida Algumas
propostas relevantes foram destacadas para o setor Sauacutede Puacuteblica como a criaccedilatildeo de material
informativo com enfoque na prevenccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas escolares que alcance
municiacutepios e estados com base em resultados de pesquisas (Gaacutercia Maldonado et al 2011
Kowalski et al 2014)
Ecircxitos e fracassos
Brown et al (2006) ressaltam que a literatura sugere como estrateacutegia de prevenccedilatildeo
primaacuteria que ―explorem a mentalidade digital como uma tarefa de poliacutetica escolar ou seja
que ―criem sites com uma linguagem digital apropriada para ―falar com os grupos de pares
utilizem desse mecanismo como estrateacutegia para que crianccedilas e adolescentes se relacionem e se
expressem nessa rede social escolar Tal literatura apresentou um discurso constitutivo que
propotildee mudanccedila de comportamento de alunos envolvidos em cyberbullying Quando se
propotildee a falar a linguagem dos nativos digitaislsquo essa estrateacutegia utiliza do convencimento para
propor intencionalmente um novo modelo de relaccedilotildees interpessoais desses jovens
81
Os autores mencionam a importacircncia de considerar as dinacircmicas sociais que
circundam a cibercultura como uma base para que praacuteticas positivas sejam desenvolvidas
Propor programas de acordo com a cultura local de um paiacutes ou regiatildeo foi visto como uma
accedilatildeo coerente ao inveacutes de copiar propostas de accedilatildeo jaacute existentes em outros paiacuteses De acordo
com um estudo grego embora haja uma seacuterie de programas de conscientizaccedilatildeo e material
relacionado a maioria dos programas foi projetada a partir de programas europeus muitas das
vezes ignorando que para aumentar a possibilidade de eficaacutecia de um programa de
intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio sua adaptaccedilatildeo agraves necessidades e cultura do paiacutes (Antoniadou e
kokkinos 2013) Percebe-se neste contexto a denuacutencia sobre uma certa dominaccedilatildeo ideoloacutegica
de modelos que satildeo exportados de paiacuteses ―centrais que desconsidera aspectos importantes
como a especificidade da cultura de determinada regiatildeo a forma como os jovens interagem
nos meios digitais e como vivenciam as praacuteticas de violecircncia nessa acircmbiencia
Um estudo revisado por Slonje (2013) apontou que satildeo razoaacuteveis as taxas de sucesso
dos programas escolares de prevenccedilatildeo ao bullying Os autores acreditam que os programas de
prevenccedilatildeo ao bullying podem ser ampliados sem a necessidade de grandes alteraccedilotildees
incluidno a demanda do cyberbullying Assim seria um componente de uma poliacutetica anti-
bullying em toda a escola com accedilotildees de conscientizaccedilatildeo e atividades nesse aspecto poderiam
ser incluiacutedas no curriacuteculo escolar
Programas com vieacuteses punitivos voltados para que perpetradores ―tirem uma liccedilatildeo
sobre seus atos foram considerados ineficazes por parte da literatura Todavia haacute divergecircncia
no discurso sobre as abordagens punitivas no trato com o cyberbullying Segundo a revisatildeo de
Hanewald (2009) estudos consideraram a responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores e a criaccedilatildeo de
poliacuteticas que tratam sobre a questatildeo da violecircncia digital como fatores positivos que inibiriam
novas accedilotildees de cyberbullying Um estudo do campo da Educaccedilatildeo defende que a
judicializaccedilatildeo dos casos de cyberbullying eacute uma estrateacutegia negativa ―Os distritos escolares
devem considerar cuidadosamente as accedilotildees que as escolas podem realizar sem colocar nossa
juventude no sistema de justiccedila criminal (Bailey 2013 pg 6) Tal referecircncia conclama as
instituiccedilotildees escolares tomarem para si a responsabilidade de atuar de forma preventiva de
modo que natildeo seja necessaacuteria uma intervenccedilatildeo de cunho punitivo no acircmbito judicial com os
jovens envolvidos com o cyberbullying Outros textos trazem a mesma perspectiva
(Aboujaoude et al 2015 Alim 2016 Baek e Bullock 2014 Bailey 2013 Baldry et al 2015
Berne et al2013 Cantone et al 2015 Cassidy Faucher e Jackson 2013)
82
A criaccedilatildeo de leis punitivas dividiu os autores Uns consideram que tais normativas
serviriam de base tanto para prevenccedilatildeo quanto para o enfrentamento aleacutem de servir de
paracircmetro legal para possiacuteveis accedilotildees praacuteticas adotadas pelas escolas diante de tais situaccedilotildees
(Baek e Bullock 2013 Bailey 2013)
Por outro lado os programas de prevenccedilatildeo que propiciem uma cultura de paz foram
considerados como uma alternativa eficiente no enfrentamento ao cyberbullying(Cassidy et al
2012)
Por fim um estudo de Della Cioppa et al (2015) que analisou programas de
prevenccedilatildeo do cyberbullying revelou que a maioria desses programas natildeo transcende a escola
(por exemplo para a famiacutelia a miacutedia) - o que pode explicar porque poucos programas de
prevenccedilatildeo natildeo conseguiram reduzir a vitimizaccedilatildeo dos casos de cyberbullying
ESTRATEacuteGIAS DE ldquoINTERVENCcedilAtildeOrdquo
Verificamos no acervo deste estudo duas linhagens de intervenccedilatildeo propostas diante de
casos jaacute ocorridos a primeira toma o foco das accedilotildees realizadas por instituiccedilotildees e a segunda
voltada para o manejo de cunho individual cujas accedilotildees satildeo alinhadas agrave perspectiva de coping
(modos de lidar)
Respostas institucionais de intervenccedilatildeo
De acordo com a literatura estudada (Mason 2008 Garaigordobil 2011) as propostas
de intervenccedilatildeo devem inicialmente identificar os casos de cyberbullying e sinalizar possiacuteveis
estrateacutegias para evitar que essas praacuteticas de violecircncia se consolidem a partir de accedilotildees
especiacuteficas de intervenccedilatildeo que tenham enfoque individual e nos grupos de agressores Intervir
em situccedilotildees concretas de cyberbullying de sorte que se torne possiacutevel minimizar os impactos
dessa violecircncia sobre os acometidos ofertando apoio psicoteraacutepico e proteccedilatildeo agraves viacutetimas sem
desconsiderar accedilotildees junto ao puacuteblico de espectadores
No primeiro grupo estatildeo aqueles que corroboram a ideia que a proteccedilatildeo dos dados
digitais eacute uma forma de lidar com o cyberbullying Essa proteccedilatildeo de dados tem como objetivo
natildeo permitir que conteuacutedos de cunho pessoal sejam acessados e expostos sem o
consentimento do proprietaacuterio Salientamos o discurso evocado na revisatildeo de Ang (2015)
sobre a praacutetica social do exibinicionismo tatildeo naturalizada nas miacutedias sociais digitais Ang
identificou entre os estudos revisados por ele mecanismos de accedilatildeo pelo qual essa loacutegica
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narcisista ao extremo poderia contribuir para praacuteticas de cyberbullying contra pessoas que natildeo
se encaixam em determinados padrotildees esteacuteticos O autor reflete ainda que o anonimato na
Internet poderia ―exacerbar o senso desses adolescentes de desrespeitar os outros com a
crenccedila de que a agressatildeo eacute ―razoaacutevel aceitaacutevel e justificaacutevel (pg 38) Os elementos
discursivos desse estudo trazem o modo de representaccedilatildeo dos jovens sobre o mundo e sobre
os outros enfatizando o exibicionismo e natildeo empatia com seus pares
Com relaccedilatildeo agraves implicaccedilotildees para a escola segundo a revisatildeo de Hinduja e Patchin
(2011) a escola e seus administradores teriam obrigaccedilatildeo legal de agir quando ocorre a
violecircncia fora da internet e dentro dela quando esses atores tiverem ciecircncia desses fatos Para
Castro Schneider (2015) a escola teria como funccedilatildeo social a co-responsabilidade nos casos de
cyberbullying devendo a direccedilatildeo acionar os pais os Conselhos Tutelares e outros oacutergatildeos de
proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente aleacutem de aconselhar as viacutetimas (Faucher et al 2015) os
perpetradores (Chibbaro 2015) e ensinar aos alunos qual a maneira mais adequada de
responder a episoacutedios de cyberbullying (Notar et al 2016) Espera-se ainda da escola que
capacite professores a terem uma escuta qualificada e que tenham um espaccedilo sigiloso como
referecircncia de apoio para os alunos para que se sintam seguros em compartilhar sobre situaccedilotildees
de cyberbullying (Wingate et al 2013) A literatura ainda sugeriu que as escolas devam criar
programas que melhorem o clima escolar e que contribuam para o desenvolvimento da
empatia e resoluccedilatildeo de conflitos Percebe-se que haacute uma tendecircncia nos textos em sugerir
modelos de condutas por parte das escolas de modo a criar protocolos de comportamentos
diante de situaccedilotildees de bullyingcyberbullying
Destaca-se neste bloco de informaccedilotildees o papel da escola no acircmbito interventivo a
ideia de que funcionaacuterios escolares terem autonomia de impor restriccedilotildees e disciplina caso
regras escolares sejam violadas pelos alunos (Mason 2008) Tal discurso apresenta uma forccedila
discursiva ao designar uma ordem social em ―impor restriccedilotildees por parte dos profissionais da
educaccedilatildeo
A escola eacute chamada a oferecer capacitaccedilatildeo para pais cujos filhos estejam
envolvidos com cyberbullying de modo que esse treinamento tenha um recorte interventivo
ao buscar trabalhar com o puacuteblico dos estudantes cyberagressores no sentido de instruir esses
uacuteltimos e informar sobre o problema
Outras accedilotildees foram destacadas como propostas de cunho didaacutetico de modo a incluir a
famiacutelia e a comunidade no processo de intervenccedilatildeo (Garaigordobil 2011) e monitorar as
84
atividades online feita pelos alunos (Cassidy et al 2013 Carpenter e Hubbard 2014) Essa
uacuteltima proposta coloca em questatildeo como jaacute discutido anteriormente regras de convivecircncia
que interferem na privacidade dos alunos aleacutem das formas de se relacionar na
contemporaneidade ateacute mesmo da individualidade e autonomia dos jovens de fazerem o uso
de seus pertences tecnoloacutegicos no ambiente escolar
Jaacute a revisatildeo de Wendt e Lisboa (2014) evidencia que a falta de diaacutelogo entre pais e os
jovens precisa ser foco de intervenccedilatildeo por parte de psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede
dado que a vulnerabilidade na comunicaccedilatildeo familiar representa um fator de risco no que tange
aos moldes que a violecircncia apresenta no meio digital Os autores percebem que haacute um
distanciamento cultural por parte de pais e professores Sugerem que programas de
intervenccedilatildeo direcionados pelas escolas poderiam desenvolver grupos de responsaacuteveis com
atividades luacutedicas que envolvam o uso das novas tecnologias de modo a propiciar um
compartilhamento de experiecircncias entre responsaacuteveis professores e os alunos Wendt e
Lisboa ainda recomendam que psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede ofertem suporte
emocional aleacutem de reflexotildees sobre os riscos e os benefiacutecios que as dinacircmicas digitais
oferecem na contemporaneidade Todavia identificamos um estudo que sugere a puniccedilatildeo com
o argumento de reparar o dano pelos maus atos praticados pelos filhos (Faushe et al 2015)
Accedilotildees interdisciplinares foram propostas como manejo de intervenccedilatildeo O estudo de
Gine e Espelage (2014) apesar de natildeo descreverem qual o papel de psiquiatras meacutedicos pais
e professores diante de casos de cyberbullying sugere que a intervenccedilatildeo por parte desses eacute
necessaacuteria para diminuir o risco de angustias que podem repercutir em suiciacutedio Neste caso o
discurso apresenta uma funccedilatildeo de linguagem identitaacuteria ao reconhecer o papel social desses
atores e a necessidade de sua atuaccedilatildeo Reed (2015) destacou a formulaccedilatildeo de programas de
intervenccedilatildeo com base em modelos jaacute existentes como uma estrateacutegia positiva designada para
intervir na depressatildeo de pessoas que vivenciaram o cyberbullying Outro modelo semelhante
visa agrave formaccedilatildeo de ciacuterculos restaurativos e grupos de reflexatildeo voltado para os agressores
mas com monitoramento das accedilotildees de cyberbullying por eles praticadas Tanto no que se
refere aos autores como aos acometidos a perspectiva de mudanccedila de comportamento adveacutem
de tratamento psicoloacutegico sem desconectar a oferta de aconselhamento Experiecircncias como
estas foram consideradas exitosas quando reproduzidas (Suzuky et al 2012 Sabella et al
2013 Slonje et al 2013)
85
Programas de conscientizaccedilatildeo tambeacutem foram considerados como accedilotildees de intervenccedilatildeo
cujos objetivos satildeo o de contribuir para a reduccedilatildeo do estresse imediato e ajudar a prevenir
consequecircncias de longo prazo bem como um mecanismo para denuacutencias anocircnimas aos canais
e oacutergatildeos de proteccedilatildeo (Garaigordobil 2011 Raskauskas e Ruyinh 2015)
Criar instrumentos para avaliar os riscos de um jovem sofrer cyberbullying tambeacutem foi
considerado pelos estudos como um instrumento de intervenccedilatildeo ao passo que permitiria a
criaccedilatildeo de novas estrateacutegias de accedilotildees (Baldry et al 2015) Entendemos que a criaccedilatildeo de
instrumentos para avaliaccedilatildeo traz como implicaccedilatildeo discursiva as maneiras de interpretar o
sentido de haver riscos de sofrer cyberbullying
Por fim um uacuteltimo grupo de propostas de intervenccedilatildeo se refere agrave criaccedilatildeo de leis
coibitivas da praacutetica de cyberbullying No que tange a legislaccedilatildeo a criaccedilatildeo de leis especiacuteficas
para lidar com cyberbullying abre margem para uma argumentaccedilatildeo de que se faz ―necessaacuteria
a criminalizaccedilatildeo do fenocircmeno como condiccedilatildeo efetiva para lidar com ele A anaacutelise dessas
propostas envolve a agurmentaccedilatildeo sobre execuccedilatildeo das leis podendo inclusive resultar em
accedilotildees paliativas aleacutem da presenccedila de um discurso apelativo de judicializaccedilatildeo das relaccedilotildees
sociais em conflito (Yan e Grinshteyn 2016)
Entendemos que as estrateacutegias relacionadas acima correspondem a accedilotildees de cunho
institucional e poliacutetico Natildeo encontramos modelos de intervenccedilatildeo especiacuteficos para o campo da
sauacutede
bdquoCoping‟ ndash o manejo individual
Os modelos de coping apresentados nos estudos analisados reportam a um manejo de
ordem psiacutequica e individual ofertando ainda a possibilidade de acionamento de outros sujeitos
como professores amigos e famiacutelia Natildeo estatildeo relacionados diretamente ao campo Educaccedilatildeo
mas ao manejo que prioriza a sauacutede mental dos indiviacuteduos
Apresentaremos a seguir as propostas de enfrentamento designadas pela literatura
como modelos de intervenccedilatildeo de ordem individual Verificamos que natildeo se trata propriamente
de modelos de intervenccedilatildeo mais sim de estrateacutegias de como lidar com o fenocircmeno Nesse
bloco ressaltam-se os modos de lidar que promovem resiliecircncia sugeridos a partir de
experiecircncias existentes ensinadas e replicadas ou seja sugestotildees de formas de prevenccedilatildeo de
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novos agravos agrave sauacutede psiacutequica dos envolvidos com o cyberbullying ou ainda formas de
coping que supunham que a partir de determinado comportamento natildeo ocorram novos
episoacutedios do fenocircmeno Estrateacutegias de enfrentamento (coping) satildeo consideradas praacuteticas de
esforccedilos cognitivos e comportamentais para tratar das demandas peculiares e os objetivos
desses modos de lidar satildeo distintos e tomam por base o niacutevel de envolvimento desse sujeito
com a questatildeo do cyberbullying (no caso das viacutetimas) por exemplo o que vai determinar
quais os tipos e niacuteveis de estrateacutegias seraacute adotado para lidar como o cyberbullying (Castilho
2010 Bezzara in Veiga e Caetano 2014)
Como formas de coping satildeo discutidas o confronto a resoluccedilatildeo planejada do
problema a aceitaccedilatildeo o autocontrole a procura de ajuda a reavaliaccedilatildeo positiva da situaccedilatildeo o
distanciamento e fugaevitamento do problema (Serra 1987 Ribeiro e Rodrigues 2004)
O manejo utilizado por vitimados foi pontuado de forma recorrente pelos estudos
analisados Dentre as formas de lidar com o cyberbullying estatildeo informar algueacutem sobre o
ocorrido evitar a pessoa que praticou o cyberbullying revidar a accedilatildeo de alguma maneira
bloquear certas pessoas de contato on-line alterar senhas e nome de usuaacuterio excluir
mensagens anocircnimas sem ler evitar socializar abertamente o nuacutemero de celular rastrear
nuacutemero de IP do agressor e informar aos canais de atendimento de sites de relacionamentos
sobre a ocorrecircncia de atos de cyberbullying trocar nome e nuacutemero de telefone caso se sinta
ameaccedilado (Slonje et al 2013 Nixon 2014) Poreacutem eacute prematuro dizer que tais
comportamentos possam impedir um indiviacuteduo de vivenciar tal experiecircncia muito menos dar
conta da dimensatildeo exponencial que o cyberbullying pode alcanccedilar Entendemos que haveria
um discurso de intencionalidade devido agrave forccedila dos verbos utilizados bloquearlsquo alterarlsquo
rastrearlsquo revidar Ao fazer uso de tais verbos o discurso produz um sentido de proposiccedilatildeo
de construccedilatildeo de praacuteticas ativas que confrontem as accedilotildees de cyberbullying vivenciadas pelos
acometidos
Verifica-se que satildeo muacuteltiplas as formas de copinglsquo sinalizadas pelo acervo analisado
Em meio agraves distintas formas de lidar com o cyberbullying encontram-se atores que estariam
em uma posiccedilatildeo de passividade diante de accedilotildees do cyberbullying os chamados expectadores
Pode-se disser que esse tipo de comportamento tambeacutem representa um modo de lidar
contudo sem um caraacuteter de enfrentamento Neste caso o comportamento dos expectadores
nos chama atenccedilatildeo em meio ao cenaacuterio das propostas de enfrentamentos devido a sua ineacutercia
A falta de intervenccedilatildeo diante de um episoacutedio de cyberbullying por parte dos expectadores se
87
configura com o que Wingate et al (2013) denominam de ―ignoracircncia pluralista que
corresponde a um comportamento grupal onde sujeitos de um determinado grupo ao terem
uma opiniatildeo diferente preferem se calar diante de uma resposta contraacuteria a deste grupo ao
qual pertence O vocabulaacuterio em destaque traz como lexicaccedilatildeo agrave falta de conhecimento dos
espectadores diante dos danos que o cyberbullying pode causar em outrem Wingate et al
(2013) salientam que ocorre uma espeacutecie de ―efeito espectador (O que o grupo vai pensar
caso tenha uma reaccedilatildeo diferente das regras culturais estabelecidas pela comunidade que faz
parte) Por exemplo uma viacutetima de cyberbullying pode ter muitos amigos numa rede social
mas se eles natildeo reagirem cria a impressatildeo de que ignorar o cyberbullying eacute a resposta
normativa (Wingate et al 2013)
Uma das revisotildees (Raskauska e Ruinh 2015) tratou de identificar estrateacutegias para
lidar com o cyberbullying promotoras de reduccedilatildeo imediata do estresse gerado pelo fenocircmeno
ou aquelas que contribuam para diminuiccedilatildeo em longo prazo tais como praacuteticas com enfoque
nas emoccedilotildees e que promovam uma cultura de paz para evitar o confronto estrateacutegias de apoio
social que ofertem suporte que provoquem o amortecimento do impacto negativo do
cyberbullying (falar com um amigo professor ou profissional sobre o assunto) estrateacutegias
focadas na evacuaccedilatildeo que incluem distanciamento do enfrentamento no qual se evita ou se
retira da situaccedilatildeo estressante (como os bloqueios de perfis e exclusotildees) ou accedilotildees que gerem
resiliecircncia e porporcione o bem estar e sauacutede mental (como o natildeo pensar sobre o fato
ocorrido) A procura por apoio social se revelou mais peculiar entre o gecircnero feminino de
acordo com dois estudos revisados por Raskauska e Ruinh (2015)
O estudo de Nixon por exemplo embora revisasse pesquisas sobre eficaacutecias das
estrateacutegias de intervenccedilatildeo verificou que a maioria dessas pesquisas teria examinado
estrateacutegias de reduccedilatildeo de risco ou promoccedilatildeo de comportamentos que superem os riscos como
o suiciacutedio baixo rendimento escolar entre outros Tais estrateacutegias quando adotadas pelos
adolescentes podem mitigar ou reduzir o impacto negativo do cyberbullying (Nixon 2014)
A revisatildeo de Alim (2016) destaca um estudo de Justim Patchim e Sammer Hinduja
com adolescentes americanos de 11 a 18 anos de idade que analisou a probabilidade de um
jovem ser punido por um adulto como um fator para praticar ou natildeo atos de cyberbullying
Tal estudo observou que os adolescentes que pensavam que os adultos poderiam puni-los
eram menos propensos a fazer cyberbullying Alim (2016) ainda elencou as formas como os
adolescenes lidam com o fenocircmeno entre elas (a) responder aos ataques (b) saber em quem
88
confiar (c) ser astuto em relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecnologia (d) respeitar os
outros (e) estar no controle e (f) falar cara a cara (Fisher 2013 apud Alim 2016) Entre as
estrateacutegias relatadas pelos adolescentes consideradas eficazes e que impedem accedilotildees de
cyberbullying incluem accedilotildees tecnoloacutegicas como a exclusatildeo do perfil e o ajuste da
privacidade uso de configuraccedilotildees para evitar o contato Estas seriam moderadamente uacuteteis
para pessoas que sofrem com cyberbullying e outras formas de asseacutedio on-line O bloqueio do
agressor foi uma das respostas mais predominantes relatar o incidente a um consultor on-line
ou denunciar atraveacutes de relatoacuterio on-line tambeacutem foi identificada aleacutem de bloquear o acesso
do perpetrador agraves informaccedilotildees pessoais na linha do tempo de redes sociais Para Alim (2016)
as estrateacutegias dos adolescentes para o enfrentamento mudam com o passar dos anos e que as
soluccedilotildees tecnoloacutegicas e a procura de apoio satildeo eficazes na luta contra o ciberbullying Jaacute a
revisatildeo de de Allison e Busey (2016) ressaltou estudos que apontam que as normas de
comportamentos sociais entre pares podem influenciar a decisatildeo de transeuntes do universo
online participarem de cyberbullying inclusive no que tange ao comportamento dos
expectadores Verifica-se que o texto se apropia de elementos discursivos de forccedila (modos de
accedilatildeo) ―bloquear o agressor ―responder aos ataquese ao mesmo tempo de modos de
representaccedilatildeo desses sujeitos que fazem parte de comunidades sociais ―falar cara a cara
―saber em quem confiar Esse tipo de discurso contribui para moldar e restrigir as normas e
convenccedilotildees entre agressores e acometidos
Cabe destacar que parte das revisotildees que sugerem modos de lidar (coping) com o
cyberbullying propocircs accedilotildees preventivas concomitantemente Aleacutem disso pensar tais
estrateacutegias e reproduzir tais praacuteticas adequando as novas complexidades do fenocircmeno e da
cibercultura se fazem necessaacuterios (Aboujaoude et al 2015) visto que um modelo de
intervenccedilatildeo fechado natildeo daria conta da constante atualizaccedilatildeo tanto das tecnologias que
possibilitariam praacuteticas de cyberbullying como das ambiecircncias relacionais da cibercultura
CONCLUSOtildeES
No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um
assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns
pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das
89
expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o
evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares
Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa
levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia
Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a
cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo
Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o
conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o
contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que
podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying
podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas
atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais
Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio
na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia
psicoloacutegica e que ocorre entre pares
Percebemos que a literatura analisada por muitos momentos demonstrou uma
aproximaccedilatildeo do tema cyberbullying com o bullying tradicional Eacute suficiente considerar o
cyberbullying mais do mesmo neste caso bullying
Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma
personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o
cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de
alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos
produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet
voltar a circular apoacutes tempos depois em que o conteuacutedo foi disparado e o assunto degradante
veio agrave tona
Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos
estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio
(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre
quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas
do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a
atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as
habilidades dos meninos como superiores comparados com as meninas em aspectos
tecnoloacutegicos
90
Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagado deliberadamente em redes
sociais contra grupos eacutetnicos raciais natildeo brancos eacute inquietante natildeo ter identificado na
literatura reflexotildees sobre cyberbullying e gecircnero que transcendam a classificaccedilatildeo binaacuteria
aleacutem de invisibilizar questotildees como o racismo Tambeacutem cabe considerar que natildeo bastaria
nomear situaccedilotildees como cyberbullying sem refletir sobre o tipo de violecircncia praticada com tais
sujeitos Para isso eacute preciso ter ciecircncia do que de fato se configura cyberbullying para que
equiacutevocos interpretativos natildeo ocorram ao passo de classificar qualquer tipo de violecircncia
digital como cyberbullying desconsiderando por exemplo que trata-se de uma violecircncia
entre pares Estudos que apontem prevalecircncia de casos de cyberbullying contra jovens LGBT
grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio mulccedilumanos e
religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos satildeo de grande relevacircncia
Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre
o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis
por proliferar o conteuacutedo difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying
que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um
controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta
Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser
ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os
impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que
diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar
cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica do
cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas
ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os
seus perfis analisando inclusive se aqueles que cometem cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram
algum tipo de violecircncia
Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo
ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou
seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute
viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo anonimato
Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que
haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem
existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas
implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de
91
Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam
adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz
respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais
digitais
Ainda assim a literatura direciona maior responsabilidade no trato da prevenccedilatildeo do
cyberbullying agrave comunidade escolar Teriam as escolas capacidade de capacitar prevenir e
ainda intervir em situaccedilotildees de cyberbullying isoladamente Por outro lado natildeo eacute possiacutevel
admitir que questotildees de cyberbullying na escola sejam classificadas como uma problemaacutetica
de menor impacto para os alunos ou ―brincadeira de adolescente uma demanda que foge da
competecircncia escolar por transcender o seu espaccedilo fiacutesico Pensando nessa suposta
responsabilidade em alguns paiacuteses como no Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe
multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem dar conta de certas demandas por falta de
suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar continuidade a projetos iniciados por falta de
recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio refletir se de fato tais propostas e manejo
seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno complexo e com atravessamentos
peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros setores e atores sociais Partimos do
entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos de cyberbullying necessitam ser
realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes atores
Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados
tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de
revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou
analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento
Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a
necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos
pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos
online jaacute faccedila parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem
refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos ―nativos digitais e restrigir punir ou
controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens pode ter tambeacutem
aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria Quais os
seus limites Quando um profissional eou um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a
privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais
enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do
monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e
92
adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos
e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos
jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que
supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre o uso das novas tecnologias esses
possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua
responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um
aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso
aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de
identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de
monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que
tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a uma banalizaccedilatildeo do monitoramento
de praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da
liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo
familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz
necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado
pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos
Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado
de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos
publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo
foi o nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede
reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a
criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem
com esta demanda de forma coerente
Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do
conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios
novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e
intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento
sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre
avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de
intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)
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CONCLUSOtildeES
No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um
assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns
pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das
expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o
evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares
Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa
levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia
Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a
cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo
Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o
conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o
contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que
podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying
podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas
atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais
Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio
na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia
psicoloacutegica e que ocorre entre pares
Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma
personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o
cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de
alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos
produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet
100
voltar a circular apoacutes tempos depois em que esse conteuacutedo foi disparado e o assunto
degradante veio agrave tona
Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos
estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio
(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre
quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas
do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a
atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as
habilidades dos meninos como superiores se comparados com as meninas em aspectos
tecnoloacutegicos
Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagando deliberadamente em redes
sociais percebeu-se ainda uma ausecircncia de reflexotildees sobre a questatildeo do cyberbullying contra
jovens LGBT grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio
mulccedilumanos e religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos
Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre
o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis
por proliferar o material difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying
que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um
controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta
Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser
ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os
impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que
diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar
cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica de
cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas
ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os
seus perfis analisando inclusive se aqueles que praticam cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram
algum tipo de violecircncia
Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo
ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou
seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute
viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo do anonimato
101
Eacute possiacutevel considerar que o cyberbullying se configura como uma nova forma de
violecircncia sistemaacutetica que se manifesta atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica
entre pares nas ambiecircncias das redes de socialidade digital que podem ocorrer em qualquer
espaccedilo geograacutefico Inclusive sendo considerado por estudiosos como um problema de sauacutede
social e de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede mental de crianccedilas e adolescentes
Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que
haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem
existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas
implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de
Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam
adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz
respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais
digitais
Ainda assim a literatura apontou excessiva responsabilidade da escola no trato da
prevenccedilatildeo do cyberbullying agrave comunidade escolar Entretanto em alguns paiacuteses como no
Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem
dar conta de certas demandas por falta de suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar
continuidade a projetos iniciados por falta de recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio
refletir se de fato tais propostas e manejo seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno
complexo e com atravessamentos peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros
setores e atores sociais Partimos do entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos
de cyberbullying necessitam ser realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes
atores
Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados
tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de
revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou
analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento
Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a
necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos
pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos
online jaacute faccedilam parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem
refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos nativos digitais e restrigir punir ou
controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens podem ter
102
tambeacutem aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria
Quais os seus limites Quando um profissional e um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a
privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais
enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do
monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e
adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos
e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos
jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que
supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre uso das novas tecnologias esses
possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua
responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um
aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso
aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de
identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de
monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que
tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a banalizar o monitoramento de
praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da
liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo
familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz
necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado
pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos
Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado
de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos
publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo
foi nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede
Reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a
criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem
com esta demanda de forma coerente
Identificou-se a necessidade de estudos futuros investigarem as redes sociais como
um territoacuterio de praacutetica e propagaccedilatildeo de atos de cyberbullying Que estudos com esse recorte
aponte quais os papeis dessas plataformas digitais no manejo com o cyberbullying
Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do
conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios
103
novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e
intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento
sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre
avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de
intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)
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