Post on 12-Nov-2018
Estilos de Respiração
David Boadella
CENTRO DE PSICOTERAPIA SOMÁTICA EM BIOSSÍNTESE
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• W. Reich desenvolveu a sua vegetoterapia caratero-analitica na
Dinamarca e na Noruega entre 1934 e 1936.
• Os colegas psicanalistas trabalhavam com pacientes,
essencialmente, com análise dos conteúdos das suas comunicações.
• Reich interessou-se por analisar também a forma de comunicação
dos pacientes além do conteúdo, que o levou ao estudo detalhado do
tónus muscular, postura e padrões de respiração e verificou que:
– Todos os pacientes tinham padrão de respiração perturbado.
• Concluiu que :
– Inspiração ou Expiração Reduzida são o mecanismo de repressão
neurótica.
• Em 1934, experimentou um estilo especial de massagem e de
manipulação perante a respiração disfuncional. Resultados: os
pacientes libertavam uma série de emoções reprimidas e seguindo-se
uma respiração mais rítmica.
O sistema nervoso autónomo tem forte influência nos
ritmos respiratórios e no equilíbrio emocional de
uma pessoa.
• Na Alemanha este sistema é chamado de sistema vegetativo e o termo
de Reich ”Vegetoterapia” derivou daí.
• Reich influenciou muitas abordagens de psicoterapia envolvendo o
corpo, como a Gestalt terapia, a Bioenergética e a Terapia Primal.
• Emoções fortes como o choro, a raiva, o medo e o prazer envolvem
aumento de respiração.
• Quando se quer reprimir estas emoções, a redução da respiração
torna-se uma dinâmica central.
• No trabalho Reichiano, o terapeuta procura aprofundar a respiração do
paciente além do limite da repressão. Mas tem que estar sensível aos
ritmos naturais do ciclo respiratório, e aos limiares de ansiedade.
• Segundo Reich, alterar os padrões respiratórios de uma pessoa é
semelhante a uma cirurgia emocional, e só deve ser executado por
experientes no método Reichiano.
Deve estabelecer-se a mudança respiratória por
etapas ou levando o paciente a ser mais expressivo
muscular ou emocionalmente.
• Tensões dos músculos respiratórios
Peitorais, intercostais, músculos do alto peito e costas
• Tensão do diafragma
Ligada à coluna
Podem aplicar-se métodos de mobilização da coluna
Um ritmo respiratório saudável corresponde a um
tronco que se expande na inspiração e reduz na
expiração.
As Variedades de Respiração de Nic Vaal
• Respiração torácica, onde a respiração está principalmente no
peito, e os movimentos abdominais são mantidos no mínimo.
• Respiração abdominal, onde a respiração é diafragmática. Pode
ver-se a parede abdominal subir e descer, mas os movimentos
do peito são mantidos no mínimo.
• Respiração paradoxal, onde o peito e o abdómen se movem,
mas sem sincronização e em ritmos diferentes.
• Flutter-breathing – respiração rápida e superficial como o voar
de uma borboleta. Total falta de ritmo com movimentos
respiratórios irregulares e desiguais.
OS 4 PADRÕES MAIS COMUNS DE DISTÚRBIO
Segundo Reich
1. Respiração Presa por Couraça Muscular
(rígida)
2. Respiração Intestinal (masoquismo)
3. Respiração como “ato de sugar”
4. Respiração do Nascido e do Não Nascido
(esquizo)
1. Respiração Presa por Couraça
Muscular (rígida)
Enrijecimento dos músculos do peito e contração das costelas com
redução da mobilidade do diafragma.
• Músculos intercostais
• Músculos do peito Encouraçamento do Peito
• Músculos dos ombros (deltóides)
• Músculos sobre e entre escápulas
Autocontrolo e contenção/ restrição
Ombros puxados para trás significam “holding back”.
Encouraçamento pescoço e peito “spite” e “Stiff-neckedness”
A expressão é de “imobilidade” ou “nada me pode atingir”
• Reich não distingue os variados estilos de respiração apresentados
por pessoas com diferentes tipos de couraça muscular, e diferentes
tipo de experiência e background.
• O tipo de padrão defensivo escrito acima é bastante especifico dos
padrões de encouraçamento rígidos, onde a característica mais
evidente é um endurecimento e tensão crónica das grandes capas
musculares do corpo. A respiração dessas pessoas é um respirar
sem sentimentos. A respiração é reduzida pelas tensões e nem
expressa emoções fortes, nem responde facilmente às emoções dos
outros.
• A respiração tem uma regularidade mecânica, a inspiração e
expiração ocorrem de uma forma previsível, a respiração expande e
contrai dentro dos limites fixos impostos pela pressão da caixa
torácica e da parede abdominal.
1. Respiração Presa por Couraça
Muscular (rígida)
• A expansão crónica do tórax cria uma série de problemas aos quais
ficam sujeitas as pessoas com tendência a encouraçamento
muscular do tipo rígido (no sentido de Lowen). Reich menciona a
pressão alta, palpitações e ansiedade e, em estados mais severos
de longa duração, também aumento tamanho do coração.
• Vários tipos de doenças cardíacas resultam diretamente da
expansão crónica ou indiretamente como resultado de síndrome de
ansiedade. Enfisema pulmonar é um resultado diretamente
relacionado com a expansão crónica do tórax.
• Mathias Alexander, mostrou como o militarismo, nos seus métodos
de educação física e postura associados, têm incorporado este tipo
de encouraçamento.
• “Barriga para dentro, peito para trás e peito para fora”
1. Respiração Presa por Couraça
Muscular (rígida)
• Segundo Reich, é uma forma de encouraçamento centrada na
pressão abdominal.
• Queixas comuns: intolerável pressão na barriga, cinta que o
“restringe”, têm um certo ponto que o abdómen é mais sensível,
medo de levar um soco na barriga, sensação de que há algo na
barriga que não pode sair, têm que segurar na barriga.
• A maioria das fantasias de crianças pequenas sobre gravidez e
parto centram-se nas sensações vegetativas dos seus abdómens.
• Como se podem usar os intestinos como forma de suprimir
sentimentos:
– Os intestinos podem ser constritos por pressão abdominal;
– Por contração do esfíncter anal;
– Por engolir os sentimentos e por tensão do diafragma.
2. Respiração Intestinal
Reich discute isto em relação à energética do vomitar:
• Com bloqueio diafragmático e incapacidade para vomitar, ocorrem
náuseas mais ou menos constantes.
• Encouraçamento abdominal »»» desordens do estômago “nervoso”.
• O vómito é um movimento que expressa “expulsão convulsiva do
conteúdo do corpo”.
• É um movimento peristáltico entre estômago e esófago oposto à
sua função normal, e em direção à boca.
• O vómito infantil é acompanhado de diarreia.
• Do ponto vista energético, fortes ondas de excitação partem do
meio do corpo, correm para cima em direção à boca, e para baixo
em direção ao ânus.
• Estas convulsões desaparecem com respiração profunda.
2. Respiração Intestinal
• A criança submetida a sentimentos de vergonha ou culpa pela
expulsão do conteúdo corporal, aprende a engolir o que não gosta,
em vez de os cuspir, e a inibir os movimentos peristálticos do cólon.
• Esta criança desenvolve frequentemente um padrão de respiração
que suporta o seu movimento peristáltico - respiração intestinal.
• Exemplo de Reich: o paciente quando expira, enche o abdómen, e
enquanto o peito relaxa e move-se para baixo.
• Nic Vaal chama-a de respiração paradoxal: “As direções da
movimentação do tórax e no abdómen ocorrem em oposição uma à
outra”.
• Lowen fala também em respiração paradoxal: “… a expansão do
peito é acompanhada por um estreitamento da cavidade abdominal.
Observa-se que o abdómen é sugado e recolhido durante a
inspiração e solto para fora na expiração”.
2. Respiração Intestinal
• Lowen descreve um padrão semelhante num paciente masoquista:
“…quando tentava fazer uma expiração profunda, o peito relaxava,
mas a onda descendente ia acumulando no meio do abdómen…
como alguém que se esforça para defecar. Parecia esforçar-se
para empurrar algo para fora, esforçando-se contra algo que
resistia.”
• Temos então uma forma de respiração transferida do sistema
intestinal para o sistema respiratório, uma forma que seria de
esperar particularmente de pessoas expostas a situações
nauseantes que as façam sentir vontade de vomitar (“o veneno da
paranóia”) ou de pessoas expostas a situações de nojo e de
humilhação anal relativos aos conteúdos abdominais (“o pântano”
do masoquista).
2. Respiração Intestinal
• No caráter oral, Lowen descreve o oposto do peito inflado do caráter
rígido.
• A tensão muscular marcante do rígido parece ausente na parte frontal
do corpo, mas isto ocorre apenas devido à condição desinflada do peito
e do abdómen”: nestes casos, o reflexo de engasgar é bastante fácil de
aliciar.
• Isto pode ser devido a distúrbios à alimentação no período inicial de
vida com tendências persistentes ao vómito. É como se a defesa oral
fosse uma atenuação da sensação de vazio. O peito é geralmente
desinflado e a barriga, quando apalpada, mostra-se vazia.
• Diz Lowen, que podemos reconhecer um tipo especifico de respiração
oral, pelo medo e relutância em expressar voracidade.
• Nestes casos, o gesto de colocar as mãos em concha de cada lado do
pescoço da pessoa constitui um auxilio.
3. A Respiração como Acto de Sugar
(Oral)
• A criança aprende que o que deseja, não traz o que ela precisa.
• Quando isto é transferido para a respiração, a pessoa parece
esfomeada de ar, mas tem receio de respirá-lo em grandes golos, de
o sugar.
• Nestes casos, o gesto de colocar as mãos em concha de cada lado
do pescoço da pessoa constitui um auxilio.
• As atitudes orais de sugar a alimentação dos outros ou de
substitutos proporcionados por várias adições, têm origem na recusa
de deixar a nutrição que vem do ar, invadir rapidamente o
organismo, e da incapacidade de se tornar um viciado em oxigénio.
“Qualquer distúrbio na função do sugar, terá imediata percussão
sobre a função da respiração”.
Lowen
3. A Respiração como Acto de Sugar
(Oral)
• Reich descreve um padrão de respiração muito diferente, usando um
caso de esquizofrenia que ele tratou. Embora pareça relutante em
respirar, as origens e dinâmica são muito diferentes.
• “…na respiração, o problema não era quebrar a couraça do peito. O
problema era como fazê-la expirar e inspirar através da laringe. Ela
começou a lutar fortemente sempre que eu tentava provocar a respiração
total. ….Tive a impressão que a respiração era inibida como um forte
esforço consciente.”
• Uma das funções desta inibição de respiração é suprimir as correntes
vegetativas que se movem no corpo, é a minimização dos movimentos
da respiração.
• A entrada e expulsão do ar é feita de uma maneira quase imperceptível.
A respiração imperceptível é uma negação não do ar, mas do próprio
processo da respiração em si, pré-requisito para a vida fora do útero.
• Quanto mais inativo o aparelho respiratório, mais “dentro do útero.”
4. A Respiração do Nascido e do Não
Nascido
• Lowen descreve um ataque de despersonalização em relação à
respiração de um paciente seu;
• “ …Tinha a sensação estranha de que não tinha controle sobre a minha
respiração. Pensava que se parasse de respirar, não conseguia
começar novamente. Parecia estar fora do meu corpo como se não
fosse meu. Sentia fraqueza e tonturas como se fosse morrer. Então eu,
gritava e desmaiava e as sensações desapareciam vagarosamente.”
• O grito de medo que afastou a sensação de despersonalização e na
realidade o grito do nascimento. De certa forma, este grito traz a pessoa
despersonalizada de volta ao seu corpo.
• O medo de que se pare de respirar provoca uma entrada de ar súbita,
como a 1ª respiração, enquanto que este estado de despersonalização
é identificado com um atitude emocional de não respiração, de estar
não-nascido. (“unborn”).
4. A Respiração do Nascido e do Não
Nascido
• A respiração vigorosa, para uma pessoa esquizóide, pode despertar
sensações de morte por afogamento.
• Entre muitas explicações, esta sensação de afogamento faz-nos pensar
numa possível associação com a existência intra-uterina, onde o feto
flutua num “mar de fluido”.
• Sabe-se agora que o feto faz movimentos respiratórios dentro do útero,
a partir do sétimo mês. Embora não sejam movimentos significativos, se
um espasmo uterino cortasse o fluxo de sangue oxigenado para a
placenta durante um tempo significativo, julga-se que estes movimentos
experimentais poderiam tornar-se em tentativas reais de respirar.
• Nesta situação, a sensação de afogamento resultaria no fluxo de fluido
amniótico para dentro da garganta do feto.
• Isto é pura especulação, mas é uma possibilidade que não deve ser
descartada.
4. A Respiração do Nascido e do Não
Nascido
• Outro exemplo dado por Lowen;
• A situação na qual a pessoa imobiliza a respiração durante a fase da
inspiração, este tipo de respiração esquizofrénica tem um sinal
emocional;
• “Se insuflarmos o peito e encolhermos o abdómen, vamos ouvir um
ofego quando entra ar nos pulmões. Não é difícil reconhecer isto
como uma expressão do medo. O esquizofrénico respira como se
estivesse num estado de terror.”
• Se este fôlego, uma vez inspirado, é expirado imperceptivelmente,
então a expressão do medo é congelada e retorna para dentro.
• O esquizofrénico respira como um homem que se finge de morto
num campo de batalha, que não pode mostrar que respira, para não
levar um tiro.
4. A Respiração do Nascido e do Não
Nascido
• A respiração pelo menos prova que ele está vivo e fora do útero,
mas é uma respiração ansiosa e que mostra pânico, que apenas
está a conseguir sobreviver.
• Ansiedade significa constrição e a respiração histérica é uma
respiração constrita no qual o processo respiratório luta por se
afirmar.
• “Imaginemos como quando se está amedrontado, ou na expectativa
de um grande perigo, a pessoa sustém a respiração e mantém essa
atitude. Como não pode continuar a fazer isso, logo terá que expirar
de novo. Mas a expiração será incompleta e pouco profunda.
• Qual é a função desta atitude de “ respiração superficial”?
• É quase comparável com a da respiração no afogamento, quando a
própria inspiração conduz à morte.
4. A Respiração do Nascido e do Não
Nascido
• Reich descreve como as crianças aprendem a lutar contra estados de
ansiedade, restringindo a sua respiração e suprimindo os sentimentos
de ansiedade. Se são bem sucedidas, o padrão resultante do afeto e da
postura, conduz ao bloqueio torácico.
• O padrão do corpo histérico enfrenta o “stress” expressando alguns dos
sintomas de ansiedade, aprendendo a manipular o ambiente através
destes.
• O padrão de respiração aproxima-se do descrito por Nic Vaal como
“respiração tremulante” e conduz a uma sensação de estar sem fôlego.
• Este tipo de sensação é descrita no exemplo da conversa de Freud com
uma paciente sua, Katerina, onde se mostra também a transição entre
padrões de respiração histérica e esquizóide.
• Quando Katerina se sente sufocar e não pode respirar, a pressão na
cabeça aumenta.
4. A Respiração do Nascido e do Não
Nascido
• Reich descreve: Se a atitude de antecipação ansiosa for mantida por
algum tempo, aparece uma pressão na cabeça. Esta pressão, segundo
Reich, não lhe foi possível eliminar até descobrir as atitudes de
antecipação ansiosa na musculatura do peito.
• Este tipo de sensação é descrita no exemplo da conversa de Freud com
uma paciente sua, Katerina, onde se mostra também a transição entre
padrões de respiração histérica e esquizóide.
• Quando Katerina se sente sufocar e não pode respirar, a pressão na
cabeça aumenta.
• A tendência histérica, no entanto é abreagir (“abreact”) um pouco do
pânico, escapar da sensação de sufocamento para a respiração
tremulante (“flutter breathing”) “flirtando” com a ideia de morrer mas
mostrando sempre uma vivacidade vigorosa.
• O histérico respira da forma hesitante e cheia de pânico do bebé que
passou por uma luta difícil ao nascer.
4. A Respiração do Nascido e do Não
Nascido
• Não se está a sugerir que se possam classificar
rigidamente os estilos de respiração e remetê-los
mecanicamente a padrões de caráter específicos.
• Estilos de respiração misturam-se e mesmo os
extremos polares podem existir na mesma pessoa
quando elas ultrapassam a margem de “stress”, sob
condições flutuantes de ansiedade e tensão.
Por fim….