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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
ESTUDO DE CLIMA URBANO APLICADO ÀCIDADE DE LONDRINA-PR
Vinicius Moura Mendonça
FCT/UNESP
viniciusmmgeo@hotmail.com
Margarete Cristiane de Costa Trindade Amorim
FCT/UNESP
mccta@fct.unesp.br
INTRODUÇÃO
As transformações no ambiente natural terrestre ocorrem desde que o mesmo
surgiu, gerando neste, características específicas, que vem a compor inúmeros ambientes
intrínsecos e diferenciados, formando diversos tipos de paisagens, às quais tornaram
possível a existência da vida. Porém, com o passar do tempo, a humanidade tem acelerado
ainda mais esse processo, com o objetivo de adaptar o espaço às suas necessidades e aos
seus diferentes estilos de vida.
Essas transformações se intensificaram a partir do momento em que o homem
aprimorou seus conhecimentos, tornando possível, através de novas técnicas, transformar
de modo mais ágil a paisagem. O exemplo mais intenso dessas mudanças são as cidades,
modelo em que ficou mais evidente essa complexa transformação do espaço pela
sociedade.
Porém tal processo ocorreu de forma muito acentuada em todo o mundo,
influenciado por diversos fatores sociais e econômicos, principalmente no último século,
resultando numa situação atual em que a maioria da população do planeta reside em áreas
urbanas1.
Porém, surge associado a esse intenso processo de urbanização, diversos
problemas, tanto de ordem social e econômica, como também ambiental. Tais adversidades
1 No Brasil já chega perto dos 90% a população urbana.
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levam ao questionamento da real eficiência do modelo de urbanização atual, que é
motivado pela prática consumista do modelo econômico capitalista, que geralmente está
associado à especulação imobiliária, a segregação social dentro da cidade, e a falta de um
adequado planejamento socioambiental.
Ao observar os principais problemas que ocorrem nas cidades atualmente,
principalmente os ambientais, tais como a poluição dos recursos hídricos, solos e ar; as
enchentes e alagamentos; as ilhas de calor; a queda da umidade relativa; dentre outros,
motiva-se a pensar em outras medidas urbanísticas, que sejam compatíveis com um modelo
de cidade de maior qualidade ambiental.
Assim, tentando compreender essas derivações, que estão ligadas aos principais
problemas ambientais presentes no ambiente urbano, e tentando contribuir com o
planejamento ambiental adequado, está sendo realizada através de um estudo, a
identificação e análise do clima urbano da cidade de Londrina, dando atenção
principalmente às alterações térmicas e higrométricas produzidas pelo espaço urbano.
Para isso, parte-se da análise de vários autores que estudam o clima urbano,
mas para Londrina, principalmente o estudo de Mendonça (1994), o qual se baseou em
diversos aspectos geoecológicos urbanos e fatores climáticos, para identificar importantes
aspectos do clima urbano da cidade. Neste estudo o autor identificou ilhas de calor de forte
magnitude na cidade, chegando até 10ºC de diferença entre alguns pontos da cidade. Assim,
busca-se nesta , identificar as mudanças que ocorreram nessas últimas décadas no clima
urbano da cidade, decorrente principalmente do amplo crescimento espacial e demográfico.
Londrina está localizada no norte do Paraná, sendo a segunda maior cidade do
estado em população e segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
do ano de 2013, está próxima dos 538 mil habitantes. Deste total, cerca de 98% reside na
área urbana, o que resultou numa cidade com extensa malha urbana, diferentes formas e
estruturas urbanas, e desprovida de um adequado planejamento em algumas áreas, que
certamente influencia para a formação de ambientes climáticos diferenciados.
Neste artigo serão apontados alguns resultados obtidos durante os trabalhos de
campo realizados no outono de 2014, quando foram utilizados registradores
termohigrométricos em pontos fixos e realizadas medidas itinerantes. Por meio dessa coleta
de dados foram constatadas diferenças de temperatura e umidade de magnitude muito
forte quando se comparou a área urbana com seu ambiente rural próximo.
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CLIMA URBANO
Esta pesquisa tem como foco principal o clima produzido e transformado pela
cidade. Assim, serão referenciados alguns autores que tratam da climatologia geográfica e
da climatologia urbana, buscando nessas referências a compreensão dos principais
conceitos que nortearam o estudo.
Sant’Anna Neto (1995) afirma que a construção de uma paisagem largamente
alterada nas cidades tem provocado significativas derivações na baixa atmosfera, ou seja, na
camada limite urbana, que vem comprometendo a sua integridade, gerando assim
especificidades no clima da cidade, através das alterações no balanço de energia.
Assim, para compreender essas derivações, que estão ligadas aos principais
problemas ambientais presentes no ambiente urbano, com o propósito de contribuir com o
planejamento ambiental adequado, focamos no estudo do clima específico da cidade, ou
seja, o clima urbano.
La ciudad constituye la forma más radical de transformación del paisaje natural,
pues su impacto no se limita a cambiar la morfología del terreno, sino que
además modifica las condiciones climáticas y ambientales. Surge, así, un espacio
eminentemente antropizado en el que la actuación del hombre se manifiesta en
una doble vertiente: por un lado, las modificaciones que introduce directa y
conscientemente, que tienen su mejor manifestación en el plano y la morfología
urbanos; de otro, las que se derivan de este mismo espacio construido y las
actividades que en él se desarrollan, cuyas manifestaciones más significativas
son la contaminación y la aparición de un clima especifico de la ciudad. (GARCÍA,
1995, p. 252).
Sobre a importância do estudo do clima urbano, Amorim (2000, p.18) ainda nos
mostra que, a grande maioria das cidades brasileiras cresceu sem levar em consideração o
seu contexto climático. Nessa conjuntura, o relevo, o uso e a ocupação do solo, e os
condicionantes geoambientais e urbanos devem ser estudados pela climatologia, a fim de
que seja possível diagnosticar as alterações presentes na atmosfera urbana, para contribuir
com o planejamento da cidade.
Como observou Lombardo (1985), a percepção sobre o clima da cidade já havia
sido notada desde a época do império romano. Mas foi a partir do século XIX, que tem início
as primeiras análises observacionais, com ênfase na cidade de Londres, devido a influência
do processo de urbanização decorrente da industrialização.
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Porém, Mendonça (1994, p.9), afirma que foi somente no século XX, com o
desenvolvimento de equipamentos para a mensuração dos elementos do clima durante a
Primeira e a Segunda Guerras Mundiais e o consequente progresso da meteorologia e
climatologia, que a elaboração de tais estudos ganhou mais precisão. Até então os estudos
estavam voltados principalmente à diferenciação das características do clima da cidade em
relação ao ambiente rural, sendo que as diferenças no campo térmico se constituíram no
principal aspecto observado e documentado.
A elevação das taxas demográficas e de urbanização mundial nos anos
cinquenta e sessenta, e a consequente demanda de planos para a melhor gestão dos
espaços urbanos oriunda principalmente dos movimentos de cunho ecológico,
aproximaram os estudos de climas urbanos às atividades de planejamento. A elaboração de
tais estudos com fins de planejamento se constituiu numa nova abordagem desta vertente
geográfica de pesquisas, revestindo-a de um caráter mais pragmático. (MENDONÇA, 1994,
p.9)
Internacionalmente, houve um grande impulso nas investigações sobre clima
urbano em escala internacional, com as publicações de Landsberg (1981), Oke (1974, 1978 e
1982), entre outros, os quais trouxeram grandes contribuições para a climatologia urbana,
como, por exemplo, a compreensão da formação de ilhas de calor nos espaços urbanos.
Porém estes estudos foram realizados apenas em cidades de zonas climáticas temperadas.
Assim, se fazia necessário, pelas próprias características do ambiente tropical, estudos que
estivessem voltados para essas áreas.
Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, em 1976, propôs em sua obra “Teoria e
Clima Urbano”, o Sistema Clima Urbano, dividindo o estudo da climatologia urbana em três
canais diferentes de percepção humana (Termodinâmico, Físico-Químico e Hidrometeórico).
Tal obra influenciou e ainda influencia diversos estudos de clima urbano no país, pois traz
uma abordagem metodológica diferenciada no estudo do clima urbano, tendo como base as
variações no balanço de energia dentro do sistema.
Monteiro (1976, p.58), ao se referir à bibliografia internacional sobre o clima
urbano, comenta que "[..] o caráter geral dessa vasta produção é colocado sob perspectiva
meteorológica onde a preocupação fundamental é avaliar o grau de transformação da
atmosfera pela atividade urbana”.
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Assim, Mendonça (1994, p.9), explicita que Monteiro (1976) ao lançar sua
proposta metodológica segundo uma abordagem geográfica do clima urbano, deu um
passo decisivo para a superação do tratamento da relação homem versus natureza
introduzindo a noção de co-participação como relação destes dois fatores na formação do
ambiente atmosférico urbano.
O presente estudo, o qual busca a compreensão do clima urbano de
Londrina-PR, fundamenta-se na proposta de Monteiro (1976), sendo o Canal I, Conforto
Térmico, subsistema termodinâmico, o principal a ser utilizado, uma vez que, segundo o
mesmo autor,
“As componentes termodinâmicas do clima, canal I, não só conduzem ao
referencial básico para a ação do conforto térmico urbano como são, antes de
tudo, a constituição do nível fundamental de resolução climática para onde
convergem e se associam todas as outras componentes”. (MONTEIRO, 2003,
p.44)
Portanto, considera-se de grande importância o estudo da temperatura do ar,
ainda mais em áreas urbanas, pois está diretamente ligado à percepção humana, gerando
na maioria das vezes desconfortos, que afetam a qualidade de vida dos citadinos. Assim, o
estudo surge como base científica concreta para medidas mitigatórias que proporcionem a
melhoria na qualidade de vida urbana.
Como característica cada vez mais marcante das cidades, fatores como a elevada
densidade demográfica, a concentração de áreas construídas, a pavimentação asfáltica do
solo e as áreas industriais podem provocar alterações no clima local, essencialmente nos
valores de temperatura do ar (LOMBARDO, 1985, p.27).
Com esse alto índice de construções e pavimentações (com materiais propícios
para absorver calor), e com a diminuição da vegetação, principalmente nas áreas urbanas, a
radiação solar, que incide sobre a cidade é modificada, as edificações absorvem maior
quantidade de radiação durante o dia e as liberam lentamente reforçando o efeito do
fenômeno da ilha de calor, e os efeitos nocivos, causando desconforto térmico.
Sobre esse assunto, Landsberg (1981) evidencia que,
Urban heat islands (UHI) develop in areas that contain a high percentage of
non-reflective, water-resistant surfaces and a lowpercent age of vegetated and
moisture trapping surfaces. In particular, materials such as stone, concrete, and
asphalt tend to trap heat at the surface. (LANDSBERG, 1981, p.128)
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Oke (1982) o complementa afirmando que, “The UHI effect refers to an increase
in urban air temperatures as compared to surrounding suburban and rural temperatures.”
(OKE, 1982, p.5)
Monteiro (1991, p. 14) nos mostra que a análise climática em cidades médias se
torna mais fácil, e ajuda a responder questões, como a partir de que ponto e grau
hierárquico uma cidade passa a oferecer condições para a criação de um clima urbano.
Por fim, o presente estudo busca ir além do que apenas identificar as diferenças
de temperatura e umidade dentro do espaço urbano, e como tais anormalidades
influenciam na vida da população. Com base em Sant’Anna Neto (2001), e sua proposta da
Geografia do Clima, buscar-se-á identificar e comprovar que a população das classes sociais
mais desprovidas economicamente de Londrina enfrenta de forma desigual os efeitos
adversos do clima.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização desta pesquisa está sendo realizada ampla revisão bibliográfica
sobre os pressupostos teórico-metodológicos, baseando-se principalmente nos trabalhos da
climatologia geográfica, sobretudo os estudos de clima urbano, além da leitura de diversos
autores que abordaram os processos históricos que deram origem à cidade, assim como
seu desenvolvimento, sua urbanização, seu planejamento atual. Também se fez um
levantamento geral dos aspectos físicos da cidade, tais como relevo, solo, declividade,
vegetação, hidrologia, dentre outros, que serviu como base para a escolha dos pontos de
coleta de dados de temperatura e umidade e que serão fundamentais para a análise dos
resultados. Buscou-se compreender os principais sistemas atmosféricos atuantes na região,
para então se ter uma noção geral, que subsidiar as análises dos resultados que foram
levantados em campo.
A elaboração da carta de temperatura de superfície, por meio das imagens do
satélite Landsat 7 e 8, se revela um excelente instrumento para auxiliar na análise das
características térmicas dos diferentes ambientes urbanos, e assim pode ajudar a definir os
melhores locais para o levantamento em campo e contribuir com a caracterização do clima
urbano.O tratamento da imagem consiste em transformar os valores digitais da mesma
para temperatura em graus Celsius (°C) no programa IDRISI Selva 17.0®2, com a utilização de
parâmetros fixos de conversão (diversos cálculos) de níveis de cinza da imagem (NC) para
2 Idrisi é marca registrada da Clark University.
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radiância, depois para temperatura Kelvin e finalmente para graus Celsius (°C) obtidos no
site3 da NASA. Finalizada essa conversão, com as temperaturas da imagem em graus Celsius
(°C), e com a base do arruamento da cidade já sobreposta, foi utilizado o Corel Draw X6®4
para importar essa imagem e tratá-las esteticamente.
Para a caracterização do uso e da ocupação do solo urbano da cidade foi
elaborada uma carta através do uso do Software de SIG5 livre – QGIS®6. Nesta carta
buscou-se classificar as diferentes áreas de Londrina conforme sua densidade de vegetação
arbórea, densidade de edificações e tipo de material dos telhados.
Por meio desta carta, da imagem do canal termal, e dos outros mapas que
caracterizam a cidade de Londrina, tais como hipsometria, declividade, orientação das
vertentes, etc., foram selecionadas diferentes unidades de cobertura da superfície urbana,
com o intuito de identificar diferentes padrões de uso do solo, e assim, foi definido os
pontos principais para se realizar a coleta de dados, tanto dos pontos fixos (registradores
automáticos de temperatura e umidade), como dos móveis (transectos móveis).
Para o uso dos pontos fixos, se utilizou como parâmetro os procedimentos
utilizados por Lombardo (1985), Amorim (2000) e Mendonça (1994). Foram definidos 18
pontos fixos, na área urbana e rural, sendo que em cada ponto, foi instalado dentro de um
abrigo meteorológico, um sensor de registro automático ThermaData™ HTD
Humidity-Temperature Logger (aferido) (Figura 1). O levantamento de dados nos pontos
fixos ocorreu entre 23/03/2014 e 09/06/2014, registrando-se de hora em hora a temperatura
e umidade.
3 Disponível em: https://landsat.usgs.gov/Landsat8_Using_Product.php - Disponível em 30/01/2014
4 CorelDRAW X6 é marca registrada da Corel Corporation.
5 Sistema de Informações Geográficas.
6 O Quantum GIS (QGIS) é um Sistema de Informação Geográfica (SIG) amigável, um Software Livre licenciado sob a“GNU General Public License”. QGIS é um projeto oficial da Open Source Geospatial Foundation (OSGeo).
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Figura 1 – Abrigo Meteorológico e sensor utilizado.
Já os transectos móveis foram realizados com base nos procedimentos
executados por Amorim (2005, p. 69), utilizando-se de veículos automotivos, com sensores
digitais, presos em hastes de 1,5 m de comprimento, acopladas na lateral do veículo, onde
se percorreu por diferentes locais anteriormente determinados da cidade para representar
sua totalidade. Assim, os percursos se iniciaram na área rural circunvizinha, passando por
vários pontos intraurbanos representativos do entorno, até finalmente chegar ao extremo
oposto da cidade. Tal levantamento foi realizado em episódio de estabilidade atmosférica,
nos quais as condições sinóticas foram de baixa velocidade do vento (calmaria) e sem
precipitação, favoráveis à formação de ilhas de calor.
Foram realizadas medidas itinerantes no período noturno em dois dias (25 e 26
de abril de 2014), utilizando-se de três veículos, em três rotas diferentes com o mesmo tipo
de sensor de temperatura e umidade. No dia 25 as medidas tiveram início às 21 horas até às
22 horas, e no segundo dia se iniciou às 20 horas até às 21 horas.
A coleta de dados com veículos requer que o tempo gasto entre a medida do
ponto inicial e no ponto final do itinerário não ultrapasse uma hora, com velocidade que
deve variar entre 30 e 40 Km/h. (AMORIM, 2005, p.123).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Serão apresentados a seguir alguns dos resultados obtidos buscando-se abordar
todas as etapas realizadas até o momento.
Londrina é um município fundado em 10 de dezembro de 1934, localizado na
porção centro-norte do estado do Paraná (Região Sul do Brasil), o qual se distancia cerca de
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390 quilômetros por rodovia até a capital estadual Curitiba, e 1083 quilômetros da capital
nacional Brasília.
Figura 2 – Escalas de estudo de Londrina-PR
Fonte: AMORIM, 2011.
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Atualmente a economia do município se baseia principalmente no setor de
serviços, seguido da educação e saúde. Pelo papel de capital regional que exerce, também é
importante no setor agroindustrial e agropecuário (principalmente pela produção de soja).
Quanto à importância da cidade, tanto na economia, quanto para a região, Tavares (2001)
diz que,
Em suma, a cidade de Londrina, além de concentrar as atividades tecnológicas,
humanas, científicas e informacionais, está localizada geograficamente em uma posição
estratégica, apresentando-se como nó de redes e fluxos, sejam materiais e imateriais.
Dotada de uma rede viária densa, a qual interliga não somente o norte do Paraná à capital
do Estado e ao porto de Paranaguá, mas também é ponto de interconexão dos fluxos que se
originam, sobretudo, nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul à região Sul do Brasil e
aos países do Mercosul. O comércio varejista, atacadista e seu setor de serviços (tanto
públicos como privados) são referências extra-regionais, reforçando a centralidade desta
capital regional. Estes fatores associados conferem-lhes a posição de terceira maior cidade
do sul do país1. (TAVARES, 2001, p.214)
Está localizada no Terceiro Planalto Paranaense ou Planalto de Apucarana, na
porção centro-norte do estado do Paraná, região Sul do Brasil, que pertence à Mesorregião
Geográfica Norte Central Paranaense, e compõe a microrregião de Londrina com mais cinco
municípios. A área urbana se localiza na porção norte do município, sobre o espigão,
possuindo em média 600 metros de altitude em relação ao nível médio dos mares (variando
entre 430-620 metros), e dista cerca de 380 quilômetros em linha reta até o oceano atlântico
(o que reforça o efeito de continentalidade).
Por estar localizado sob o Trópico de Capricórnio, o município de Londrina
encontra-se situado em uma zona de transição climática, entre o domínio tropical, mais
quente e de estação chuvosa mais sazonalizada e o domínio subtropical, de temperaturas
médias mais amenas e períodos mais regulares de chuvas, configurando-se, por esse
aspecto, de importância científica.
Essa região, portanto, é influenciada tanto por ação de sistemas atmosféricos
tropicais como o Sistema Tropical Atlântico (STa), originado pela ação do Anticiclone do
Atlântico e, periodicamente, pelo Sistema Tropical Continental (STc), originado, por sua vez,
pela área de baixas pressões do centro sul-americano, denominada de Depressão do Chaco,
assim como por ação de sistemas atmosféricos polares, como o Sistema Polar Atlântico
(SPa), que possui sua origem através da ação do Anticiclone Polar. A área também é invadida
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nas épocas mais quentes pelo Sistema Equatorial Continental (SEc), que é formado, por sua
vez, pela ação dos doldrums, que correspondem às áreas de baixa pressão da região
equatorial (NIMER, 1979). (Figura 3)
Para se definir os pontos para a instalação dos miniabrigos com os sensores e
definição dos percursos para se obter as medidas de temperatura e umidade, partiu-se da
ideia de que havia diferentes ambientes na cidade, que influenciam na alteração da
dinâmica climática habitual. Assim, primeiramente foi elaborado um mapa de uso e
ocupação do solo, com base em trabalhos de campo e do software Google Earth®,
buscando-se diferenciar áreas de acordo com sua densidade de edificações, material
construtivo e vegetação. (Figura 4)
Figura 3 – Atuação dos principais sistemas atmosféricos sobre a região de Londrina
Fonte: BOIN, 2000, p.199.
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Figura 4 – Mapa de uso e ocupação do solo do perímetro urbano de Londrina
Para auxiliar na escolha dos pontos fixos, também se utilizou da imagem de
temperatura da superfície de Londrina. Tal imagem foi feita a partir do tratamento e
conversão em graus Celsius (ºC) da imagem termal do Landsat 8 do dia 28/01/2014 (Figura
5). Através desta, foi possível identificar quais são as zonas da cidade onde apresentam
maior e menor temperatura da superfície (solo, telhado, etc.), e a partir disso, podia-se
escolher pontos representativos para o trabalho de campo.
Além disso, foram utilizadas outras informações para a definição dos pontos
escolhidos. Entres estas estão, por exemplo, a hipsometria, relevo, exposição da vertente,
tipos de uso do solo. Tais informações serviram para que todos os pontos fossem
representativos do entorno, e também para poder fazer a análise dos dados
posteriormente.
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Figura 5 – Temperatura da superfície de Londrina
Fonte: Landsat 8 – Banda 11 (TIRS) – Disponível em http://earthexplorer.usgs.gov/ - acesso em 28/01/2014.
A partir dos referidos mapas foram definidos e escolhidos 18 pontos fixos
(Figura 5), com o objetivo de representarem as diversas paisagens existentes dentro da área
urbana de Londrina e seu entorno. Os equipamentos foram instalados entre os dias 20 e 22
de março de 2014, e retirados entre os dias 10 e 11 de junho de 2014. Destes 18 pontos, 14
ficaram dentro da malha urbana (quintais de residências), 3 na área rural (EMBRAPA SOJA,
IAPAR e chácara), e 1 em situação intermediária (quintal de residência no limite do bairro).
Foi instalado um abrigo meteorológico em cada ponto, provido de um sensor
registrador de temperatura e umidade, coletando de hora em hora, durante 77 dias (entre
23/03/2014 e 09/06/2014).
A localização dos pontos fixos e os percursos realizados nos transectos podem
ser observados na Figura 6.
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Figura 6 – Localização dos pontos fixos e rota dos transectos móveis utilizado no estudo
Os resultados parciais desta pesquisa mostraram que em dias de calmaria,
foram registradas grandes diferenças na temperatura e umidade nos pontos da cidade. As
ilhas de calor chegaram a 10ºC de magnitude (atingindo a máxima de 14,4ºC). Ainda serão
investigadas as causas principais de tais magnitudes, pois estas ocorreram no período da
manhã e podem ter na exposição das vertentes o fator principal de tal diferença.
Nos dados registrados no período noturno, em vários episódios ocorreram
diferenças entre 8ºC e 9ºC. No total dos horários registrados, mais de 20% estiveram acima
dos 6ºC de diferença, o que demonstra a existência de uma ilha de calor em Londrina.
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A magnitude das ilhas de calor e de frescor adotada nesta pesquisa baseia-se em
García (1995), que considera: - fraca magnitude (entre 0 °C e 2 °C); - média magnitude (entre
2 °C e 4 °C); - forte magnitude (4 °C e 6 °C) e muito forte magnitude (acima de 6 °C).
O ponto rural número 13 apresentou, na maioria das vezes, a menor
temperatura. Tal local representar um ambiente sem urbanização, pois trata-se de uma
moradia rural típica da região (chácara), que possui apenas o cultivo de suínos e frutas.
As maiores temperaturas foram registradas nos pontos 2, 4, 8, 11, 15 e 18.
Tratam-se de áreas densamente edificadas, sendo o ponto 4 representativo da área central
(verticalizada) e os pontos 2, 8 e 18 de conjuntos habitacionais. O ponto 15, próximo à área
rural, embora com baixa densidade de construções, é circundado por solo exposto. Ou seja,
os locais de maior densidade de construção e de vegetação mais escassa apresentaram as
maiores temperaturas.
Quanto à umidade relativa do ar, se observou diferenças acima dos 30% durante
a manhã. Porém, há maior frequência de diferença no grupo dos 20% (incluindo o período
noturno).
Nos transectos móveis realizados em dois dias foram registradas ilhas de calor
de muito forte e forte magnitudes, pois atingiram diferenças de 6,4ºC no dia 25 e 5,9ºC no
dia 26. No primeiro dia de transectos as maiores temperaturas foram registradas próximas
ao centro da cidade (perto do ponto fixo 4, com temperatura em 22,6ºC) e as menores
próximas aos condomínios de alto padrão na zona sudoeste da cidade (16,2ºC). No segundo
dia de medidas itinerantes as menores temperaturas ocorreram nos mesmos locais do
primeiro dia (zona sudoeste com 16,4ºC) e as maiores numa das principais avenidas centrais
(Avenida Juscelino Kubitschek, com 22,3ºC).
Portanto, através dos dois procedimentos, diagnosticou-se ilhas de calor que
serão melhor analisadas e explicadas as suas causas para que se possa apontar possíveis
medidas mitigatórias e contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população
londrinense.
CONSIDERAÇÕES
A presente pesquisa identificou a permanência de anomalias térmicas
apresentadas por Mendonça (1994). Os dados registrados em 2014 serão melhor analisados
considerando-se as características do uso e da ocupação e do relevo a fim de se
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compreender as características do urbano, resultantes do intenso processo de produção do
espaço.
Para isso, se faz necessário um enfoque considerando-se as características
socioambientais, tomando-se como princípio as diferenças existentes no espaço urbano e
como essas agem na potencialização, ou na amenização dos efeitos adversos da dinâmica
climática. Logo, “[...] esta relação clima–sociedade não mais se dá na dimensão do homem
enquanto raça ou indivíduo, mas sim no contexto do homem como ser social e inserido
numa sociedade de classes” (SANT’ANNA NETO, 2001, p.59).
O modo de produção capitalista territorializa distintas formas de uso e ocupação
do espaço, definidas por uma lógica que não atende aos critérios técnicos do
desenvolvimento (ou sociedades) sustentáveis. Assim, o efeito dos tipos de tempo sobre um
espaço construído de maneira desigual gera problemas de origem climática também
desiguais. (SANT’ANNA NETO, 2001, p. 58)
Portanto, além de considerar neste estudo que a cidade de Londrina possui uma
extensa malha urbana, com diferentes tipos de uso e ocupação do solo, que contribuem
para a formação de um clima urbano com diversas características, como já demonstrado
por Mendonça (1994), justifica-se que há ainda a necessidade de novos estudos para saber
se essas grandes diferenças térmicas encontradas pelo autor, ainda estão presentes na
cidade, e quais medidas foram, ou estão sendo tomadas para sua melhoria.
REFERÊNCIAS
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ESTUDO DE CLIMA URBANO APLICADO À CIDADE DE LONDRINA-PR
EIXO 4 – Problemas socioambientais no espaço urbano e regional
RESUMO
O intenso processo de urbanização brasileira foi decorrente principalmente das diversas
alterações que ocorreram nas relações de trabalho no campo e na cidade, sobretudo a partir da
década de 1960. O rápido crescimento das cidades provocou modificações no meio natural, e
consequentemente, os problemas ambientais foram agravados, afetando diretamente a qualidade
de vida da população. O clima é um dos componentes do ambiente que também está sujeito a
estas mudanças. Tais alterações estão relacionadas diretamente com o modo de produção do
espaço urbano e seu decorrente uso e ocupação do solo. Sabendo que qualquer alteração no
ambiente natural já traria mudanças para a dinâmica climática habitual, há então a necessidade de
um planejamento urbano adequado às condições naturais, o qual poderia minimizar os
desconfortos gerados aos citadinos pelos efeitos do clima urbano. Portanto, tal estudo busca
investigar o clima urbano de Londrina-PR, principalmente, no que se refere ao seu campo térmico
(Canal I: conforto térmico, subsistema termodinâmico, do Sistema Clima Urbano proposto por
Monteiro, 1976) e relacionar tal análise às peculiaridades da cidade, ou seja, sua forma e estrutura,
resultantes do processo de produção do espaço urbano. Tal análise está acontecendo das
seguintes formas: levantamento de dados térmicos e higrométricos através de sensores
automáticos em diferentes pontos na área urbana e no rural próximo; levantamento de dados
térmicos e higrométricos através de transectos móveis; e por último, a produção e análise de
imagens termais da superfície através de imagens do Landsat 7 e 8. Posteriormente ao
levantamento de dados, pretende-se relacioná-lo com o levantamento do uso e ocupação do solo
urbano londrinense, e com diversos outros fatores que interferem no clima, como, por exemplo, as
características do relevo. Atualmente o estudo encontra-se na finalização do levantamento dos
dados, e início das análises dos mesmos, o que possibilita a apresentação de alguns resultados.
Deste modo, observa-se que o estudo do clima urbano de Londrina possui grande importância
para a melhoria da qualidade de vida na cidade, pois além desta ser a segunda maior em
população do Estado do Paraná, com cerca de 540 mil habitantes segundo a última estimativa do
IBGE, possui ainda uma grande malha urbana, dotada de diferentes tipos de uso do solo, que
contribuem para a formação de um típico Clima Urbano, o qual vem a apresentar diferenças
térmicas e higrométricas, que certamente geram desconforto para sua população.
Palavras-chave: clima urbano; Londrina; ilhas de calor.
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