Post on 10-Nov-2018
FACULDADE BOA VIAGEM - FBV CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL - MPGE
Marcela Cox dos Santos Silva
UMA ARTICULAÇÃO ENTRE A ESTRUTURA DA REDE DE
SUPORTE E AS IDEIAS COMPARTILHADAS SOBRE
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA REDE LIDERA
Recife
2010
FACULDADE BOA VIAGEM CPPA – CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL
CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A DISSERTAÇÕES Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes, o acesso a dissertação do Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA – da Faculdade Boa Viagem é definido em três graus:
Grau 1: livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e indiretas); Grau 2: com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em conseqüência, restrita a consulta em ambientes de bibliotecas com saída controlada; Grau 3: apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o texto, se confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave ou custódia; A classificação desta dissertação se encontra, abaixo, definida por seu autor. Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, afim de que se preservem as condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área de administração.
Título da Dissertação: “UMA ARTICULAÇÃO ENTRE A ESTRUTURA DA REDE DE SUPORTE E AS IDEIAS COMPARTILHADAS SOBRE RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA REDE LIDERA” Nome do(a) autor(a): Marcela Cox dos Santos Silva Data da Aprovação: 29 de julho de 2010. Classificação conforme especificação acima:
Grau 1
Grau 2
Grau 3 Recife, 29 de julho 2010. __________________________ Assinatura do(a) Autor(a)
X
Marcela Cox dos Santos Silva
UMA ARTICULAÇÃO ENTRE A ESTRUTURA DA REDE DE
SUPORTE E AS IDEIAS COMPARTILHADAS SOBRE
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA REDE LIDERA
Orientadora: Prof.ª Lúcia Maria Barbosa de Oliveira, Ph.D
Co-orientador: Prof. Helder Pontes Régis, Doutor
Dissertação apresentada como requisito complementar para obtenção do grau de Mestre em Gestão Empresarial, do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração (CPPA) da Faculdade Boa Viagem.
Recife
2010
Silva, Marcela Cox dos Santos Uma articulação entre a estrutura da rede de suporte e as idéias compartilhadas sobre responsabilidade social empresarial na Rede Lidera/ Marcela Cox dos Santos Silva . – Recife: O Autor, 2010.
123 folhas : Il ; gráficos : tabela
Dissertação (mestrado) – Faculdade Boa Viagem. Administração, 2010.
Inclui Bibliografia e Apêndices.
1. Capital Social 2. Redes Sociais 3. Responsabilidade Social Empresarial I. Título
CDU 658
S586a FBV
Faculdade Boa Viagem - FBV Centrode Pesquisa e Pós-Graduação em Administração - CPPA
Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE
Uma articulação entre a estrutura da rede de suporte e as idéias compartilhadas sobre responsabilidade social
empresarial na Rede Lidera
Marcela Cox dos Santos Silva
Dissertação submetida ao corpo docente do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da Faculdade Boa Viagem e aprovada em 29 de julho de 2010.
Banca Examinadora: Profª. Lúcia Maria Barbosa de Oliveira.............................................(Orientadora) Prof.. Helder Pontes Régis.................................................................(Co-orientador) Profª. Michelle Helena Kovacs ........................................................(Examinadora Externa) Profª. Sônia Calado Dias..................................................................(Examinadora Interna)
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus pela força e pela coragem que me foram dadas
durante toda essa caminhada.
Em especial, a Diego, sinônimo de amor e cumplicidade.
A minha família, em especial a minha mãe que sempre foi um exemplo de dedicação e
de superação das dificuldades impostas pela vida. Agradeço também às minhas irmãs, pelo
amor, pela atenção, pelo apoio e pela compreensão diante de minhas ausências.
Aos amigos pelo estímulo e apoio, em especial a Carla, Carol, Brunna e Denise.
A minha orientadora Lúcia Barbosa e ao meu co-orientador Helder Régis pela
confiança, pelas palavras sábias e pela disponibilidade em me ajudar.
Às professoras Sônia Calado e Michelle Kovacs pelas preciosas contribuições que
enriqueceram muito o meu trabalho.
Agradeço à FBV pela oportunidade que me foi concedida.
Aos amigos do mestrado, em especial a dois Paulos, o Erlich e o Thiago, pela
confiança, apoio e presença.
Ao Instituto Ação Empresarial pela Cidadania (AEC), em especial a Suzana Leal e a
Saritta, que abriram as portas da Rede Lidera e me permitiram aprofundar os conhecimentos
em torno de redes sociais e da responsabilidade social empresarial.
Ao CESAR – Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, em nome de
Benedito Alberto Macedo, meu gerente, que sempre buscou me incentivar no aprofundamento
dos meus estudos e, consequentemente, qualificação profissional.
Aos gestores empresariais entrevistados pela grande colaboração que prestaram por
meio das palavras e exemplos na atuação social.
Aos companheiros de turma e aos professores da FBV pela convivência e
compartilhamento de conhecimento.
“Todos os homens estão presos em uma rede inevitável de mutualidade, atados em um único tecido de destino. Qualquer coisa que afete um indivíduo diretamente afetará todos os demais indiretamente. Eu nunca poderia ser o que eu deveria ser, até que você seja o que você deveria ser. E você nunca poderá ser o que você deveria ser, até que eu seja o que eu deveria ser”.
Martin Luther King
Resumo
Este trabalho identifica as características de uma rede denominada Lidera, constituída por gestores empresariais interessados no fenômeno da responsabilidade social empresarial (RSE). Buscou-se descrever os aspectos estruturais da rede e analisar os significados compartilhados pelos gestores, com base nos estudos de capital social de Nahapiet e Ghoshal (1998) e no modelo de RSE de Quazi e O’Brien (2000). Esta pesquisa utilizou métodos quantitativos para a análise da estrutura da rede e qualitativos para a análise dos significados compartilhados pelos atores. Foram utilizadas entrevistas em profundidade e cartões geradores de nomes para a coleta de dados. Foi realizada análise de conteúdo a partir das evocações dos respondentes, utilizando-se de unidades de registro temáticas. A análise dos aspectos estruturais foi realizada a partir de medidas sociométricas. Concluiu-se que a rede em questão possui grande potencial de conexão e que os entrevistados possuem uma visão moderna da RSE, além de compartilharem outros significados, os quais representam sentimentos de identidade, de colaboração, de solidariedade e de exemplo, por meio de condutas positivas. Constatou-se também que os laços considerados fortes são capazes de influenciar positivamente os indivíduos para o seu envolvimento com ações de RSE. Palavras-chave: capital social, redes sociais, responsabilidade social empresarial (RSE)
Abstract
This work identifies the characteristics of a network called Lidera, composed of business managers interested in the phenomenon of corporate social responsibility (CSR). This paper sought to describe the structural aspects of the network and analyze the meanings shared by the managers, based on Nahapiet and Ghoshal’s (1998) social capital studies and Quazi and O'Brien’s (2000) CSR model. This research used quantitative methods for the analysis of the structure of the network and qualitative methods for the analysis of the meanings shared by the actors. In-depth interviews and card-generating names were used for data collection. Content analysis was conducted from the evocations of respondents, using thematic record units. The analysis of the structural aspects was conducted based on sociometric measures. It was concluded that the network in question has great potential for connection and that the respondents have a modern view of CSR and also share other meanings, which account for feelings of identity, cooperation, solidarity and example, through positive conducts. It was also found that the ties considered to be strong are capable of positively influencing individuals for their involvement in CSR activities. Keywords: social capital, social networks and corporate social responsibility (CSR)
Lista de Figuras
Figura 1 - Pirâmide de Carroll 24
Figura 2 - Modelo dos três domínios da RSE 28
Figura 3 - Modelo bidimensional de RSE 31
Figura 4 - Processo de implementação da RSE pelos gestores 37
Figura 5 - Perspectiva multidimensional do capital social 44
Figura 6 - Estratégia de pesquisa 54
Figura 7 - Quantidade de integrantes por edição 55
Figura 8 - Sociograma da Rede Lidera 65
Figura 9 - Mapeamento dos papeis sociais 66
Figura 10 - Sociograma da força dos laços 70
Figura 11 - Sociograma da centralidade de grau de entrada 73
Figura 12 - Sociograma da centralidade de grau de saída 75
Figura 13 - Sociograma da centralidade de intermediação 77
Figura 14 - Sociograma da centralidade de proximidade de entrada 79
Figura 15 - Sociograma da centralidade de proximidade de saída 81
Figura 16 - Dinâmica dos módulos do programa Lidera 117
Figura 17 - Estruturação dos módulos do programa Lidera 119
Lista de Quadros
Quadro 1 - Perfil dos entrevistados 55
Quadro 2 - Arcabouço Metodológico 62
Quadro 3 - Atores x Tipos de Centralidade 81
Quadro 4 - Significados compartilhados com relação ao conceito de RSE 83
Quadro 5 - Significados compartilhados que, na visão dos atores, não estão enquadrados no conceito de RSE 83
Quadro 6- Outros significados compartilhados 90
Quadro 7 - Atores com maior centralidade de grau de saída e o que eles compartilham sobre a RSE 94
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 15
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO 15 1.2 PERGUNTA DE PESQUISA 17 1.3 OBJETIVO GERAL 18 1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 18 1.5 JUSTIFICATIVAS 18
1.5.1 JUSTIFICATIVAS TEÓRICAS 18 1.5.2 JUSTIFICATIVAS PRÁTICAS 19
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 21
2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL (RSE) 21 2.1.1 EVOLUÇÃO DO CONCEITO 22
2.1.1.1 MODELO DE CARROLL (1991) 24 2.1.1.2 MODELO DE CARROLL E SCHWARTZ (2003) 25 2.1.1.3 MODELO DE QUAZI E O'BRIEN (2000) 30
2.1.2 A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NO BRASIL 32 2.1.3 PAPEL DO GESTOR EMPRESARIAL NO DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES DE RSE 35
2.2 A PERSPECTIVAS DE REDES SOCIAIS 39 2.2.1 CAPITAL SOCIAL 41
2.2.1.1 DIMENSÃO ESTRUTURAL DO CAPITAL SOCIAL 45 2.2.1.1.1 LAÇOS DA REDE 46 2.2.1.1.2 CONFIGURAÇÕES DA REDE 48
2.2.1.1.2.1 COMPONENTES ESTRUTURAIS PARA ANÁLISE DE REDES SOCIAIS 48 2.2.1.2 DIMENSÃO COGNITIVA DO CAPITAL SOCIAL 50
3 METODOLOGIA 53
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA 53 3.2 SUJEITOS DA PESQUISA 55 3.3 COLETA DE DADOS 56
3.3.1 PROCESSO 56 3.3.2 INSTRUMENTOS 57
3.4 MÉTODOS DE ANÁLISE 58 3.5 LIMITES E LIMITAÇÕES DO ESTUDO 60
3.5.1 LIMITES 60 3.5.2 LIMITAÇÕES 61
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO 63
4.1 A DIMENSÃO ESTRUTURAL DA REDE LIDERA 63 4.1.1 MAPA DA REDE LIDERA 63 4.1.2 COMPONENTES ESTRUTURAIS DA REDE LIDERA 67
4.1.2.1 DENSIDADE 67 4.1.2.2 LAÇOS DA REDE LIDERA 68 4.1.2.3 CENTRALIDADE DOS ATORES NA REDE LIDERA 71
4.2 A DIMENSÃO COGNITIVA DA REDE LIDERA 82 4.2.1 VISÃO MODERNA 83
4.2.1.1 PREOCUPAÇÃO COM OS STAKEHOLDERS 83 4.2.1.2 FATOR DE COMPETITIVIDADE NO MERCADO 84 4.2.1.3 CAPITAL E TALENTO PARA SE ENGAJAR EM PROGRAMAS DE AÇÕES SOCIAIS 85 4.2.1.4 CONTRIBUIÇÃO PARA SOLUCIONAR PLOBLEMAS SOCIAIS COMO FATOR BENÉFICO À EMPRESA 85 4.2.1.5 ÉTICA 86 4.2.1.6 BENÉFICA EM CURTO E LONGO PRAZO 86 4.2.1.7 IMAGEM FAVORÁVEL PARA A EMPRESA 86
4.2.2 VISÃO SOCIOECONÔMICA 87 4.2.2.1 OBSERVÂNCIA DAS LEIS 87 4.2.2.2 PERCEPÇÃO DE QUE SE É PARTE DE UMA SOCIEDADE MAIOR, DEVENDO, POR ISSO, RESPONDER
PELOS ASSUNTOS SOCIAIS 87 4.2.3 VISÃO CLÁSSICA 88
4.2.3.1 GERAR LUCRO PARA A EMPRESA 88 4.2.4 VISÃO FILANTRÓPICA 88
4.2.4.1 PARTICIPAR DE ATIVIDADES DE CARIDADE 89 4.2.5 OUTROS SIGNIFICADOS COMPARTILHADOS 89
4.5 A RELAÇÃO ENTRE AS DIMENSÕES ESTRUTURAL E COGNITIVA 93 4.5.1 ATORES CENTRAIS E CONCEITO DE RSE 93
4.6 DISCUSSÕES 96 4.6.1 DIMENSÃO ESTRUTURAL DA REDE 97 4.6.2 DIMENSÃO COGNITIVA DA REDE 100
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES 103
5.1 CONCLUSÕES 103 5.2 SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS 104 5.3 SUGESTÕES DE AÇÃO 105
REFERÊNCIAS 107 APÊNDICE A: TÓPICO GUIA DA ENTREVISTA 113 APÊNDICE B: CARTÃO GERADOR DE NOMES 114 APÊNDICE C: CARTA DE APRESENTAÇÃO - ENTREVISTA 115 APÊNDICE D: A REDE LIDERA 116 APÊNDICE E: ÍNDICE DE CENTRALIDADE DOS ATORES 120 ANEXO A: CARTA CONVITE E DE APRESENTAÇÃO - AEC 121 ANEXO B: E-MAIL DO AEC - CONVITE PARA PARTICIPAÇÃO NA PESQUISA 122 ANEXO C: CARTA DA FBV SOLICITANDO PERMISSÃO PARA PESQUISA 123
15
1 INTRODUÇÃO
Inicia-se esta dissertação abordando de forma introdutória o fenômeno da
responsabilidade social empresarial (RSE) e o envolvimento de atores-chave, a exemplo dos
gestores empresariais, no desenvolvimento de ações de RSE. Em seguida, introduz-se o tema
das redes sociais como fator importante para a mobilização dos indivíduos, troca de
informação e apoio mútuo para o fortalecimento da RSE. Por fim, apresentam-se a pergunta
de pesquisa, os objetivos e as justificativas deste estudo.
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
O fortalecimento do capitalismo no início do século XX acarretou diversas mudanças
no contexto social e empresarial, sendo algumas delas impulsionadas, também, pelo mercado
globalizado e pela dinâmica das novas tecnologias da informação e comunicação
(RAMPINELLI; GUIMARÃES, 2006). Uma mudança significativa foi a aproximação entre
os povos, os continentes e os mercados. Esta mudança aconteceu de forma dinâmica,
interligando e transformando as economias nacionais, as quais se tornaram parte de uma
grande teia (GOLDSTEIN, 2007).
Esse movimento faz com que a economia cresça, valorizando ainda mais o papel das
organizações no contexto socioeconômico. Ao final do período industrial, tais organizações
assumiam o papel estritamente econômico e tinham o objetivo de gerar lucro, criar empregos,
pagar impostos e cumprir as leis (TENÓRIO, 2007). Era o que pensava um dos ganhadores do
prêmio Nobel de Economia, Milton Friedman, para quem “a única responsabilidade da
empresa era ter um desempenho econômico inquestionável”. Atualmente, as organizações
estão mais abertas ao diálogo e mais preocupadas com as pessoas que nelas impactam ou que
por elas são impactadas. Elas têm pensado além da linha que as divide do mundo externo e
sentem-se responsáveis não só pelos seus acionistas, clientes e funcionários, mas também
pelos seus fornecedores e pelas pessoas que vivem em seu entorno (FISCHER, 2002, p. 218).
16
É nesse novo contexto que surge o fenômeno chamado responsabilidade social
empresarial (RSE). Há diversas interpretações para essa expressão; para uns, responsabilidade
social “representa obrigação legal”, para outros está “associada ao comportamento eticamente
responsável ou a uma contribuição caridosa” da organização, sendo até mesmo definida como
“toda e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da
sociedade” (ASHLEY, 2003, p. 5).
As empresas estão se mostrando cada vez mais interessadas nesse fenômeno. A
segunda edição da pesquisa “Ação Social das Empresas” do IPEA – Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, realizada em 2006, mostrou que a participação empresarial na área
social aumentou de 59% para 69%, comparado ao estudo realizado em 2004. Segundo a
pesquisa, são aproximadamente 600 mil empresas atuando voluntariamente (IPEA, 2010).
A decisão de investir em ações de RSE muitas vezes vem dos gestores empresariais
que possuem o papel de mudar a realidade organizacional interna e externa, de disseminar
ideias e normas e de motivar os demais para que as ações possam resultar em benefícios para
todos os stakeholders (SWANSON, 2007).
Contudo, as empresas não podem agir de forma isolada. Iniciativas sociais envolvem
permanente troca de informações e intercâmbio operacional entre os participantes e são
especialmente atraentes por causa dos potenciais benefícios trazidos para as empresas e para
aqueles que estão ao seu redor (PEARCE; DOH, 2005). Essa dinâmica possibilita a criação de
redes sociais e a valorização da gestão intersetorial, que enfatiza a compreensão e a solução
dos problemas sociais integrados (JUNQUEIRA, 2006).
Uma rede social é o conjunto de relações e ligações sociais entre determinados atores.
Um ator social pode ser uma pessoa ou uma organização que se comunica em uma rede,
desempenhando um papel específico na sociedade (EMIRBAYER; GOODWIN, 1994). O
estudo de redes coloca em evidência a capacidade dos indivíduos organizarem as suas ações
17
em função de socializações e mobilizações, bem como compreender como essas conexões
influenciam no comportamento individual (MARTELETO, 2001, 2004).
Tendo em vista a importância da RSE para o contexto social e empresarial, o
envolvimento do gestor, seja decidindo ou influenciando no desenvolvimento de tais ações e a
relevância da rede social para transferência de informação, mobilização e apoio mútuo para o
fortalecimento da RSE, o presente estudo se propõe a analisar uma rede de gestores
empresariais que atuam para o desenvolvimento socioeconômico do Estado de Pernambuco.
A rede social de gestores empresariais denominada “Lidera” é oriunda de um
programa de mesmo nome, lançado em 2005, pelo Instituto Ação Empresarial pela Cidadania
(AEC)1. Esse programa é um espaço para gestores empresariais refletirem sobre o seu papel
no contexto social, econômico e político “a partir da melhor compreensão sobre sua prática e
de como esta se relaciona com os princípios da sustentabilidade empresarial” (AEC, 2009, p.
14). A primeira edição do programa contou com a participação de 13 gestores empresariais do
Nordeste, sendo, ao final desta, formada a “Rede Lidera”. Em 2009, o programa finalizou a
sua terceira edição e a rede, atualmente, conta com um total de 42 participantes.
Ante o exposto, foi elaborada a pergunta de pesquisa, que se apresenta a seguir,
juntamente com o objetivo geral e os objetivos específicos.
1.2 PERGUNTA DE PESQUISA
Como se apresenta a “Rede Lidera” no que diz respeito à sua estrutura e aos
significados compartilhados de seus membros com relação à RSE?
1 O Instituto Ação Empresarial pela Cidadania (AEC), surgiu em 1999 e foi formalizado como OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) em 2001. Tem a missão de mobilizar e apoiar o empresariado para investir em práticas socialmente responsáveis que contribuam com a equidade social e o desenvolvimento sustentável em PE. Reunindo uma rede local com mais de 70 empresas associadas, o AEC junto com outros 13 núcleos estaduais compõe a Rede Nacional de Ação de Cidadania Empresarial – ACE.
18
1.3 OBJETIVO GERAL
Analisar como se apresenta a “Rede Lidera” no que diz respeito a sua estrutura e aos
significados compartilhados de seus membros com relação à RSE.
1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1) Mapear a rede social formada pelos integrantes da Rede Lidera (dimensão
estrutural);
2) Identificar as características da Rede Lidera no que diz respeito à força dos laços
(forte/fraca) existente entre os indivíduos, aos componentes estruturais gerados pelas
interações mantidas e aos atores críticos pertencentes à rede (dimensão estrutural);
3) Descrever os significados compartilhados pelos membros da Rede Lidera a partir de
suas evocações com relação ao conceito de RSE, seguindo o modelo de Quazi e
O’Brien (2000) (dimensão cognitiva).
1.5 JUSTIFICATIVAS
1.5.1 Justificativa Teórica O conceito de RSE ainda se mostra ambíguo e, por isso, em construção. Como
consequência, a sua interpretação se apresenta de forma variada (CARROLL; SCHWARTZ,
2003; ASHLEY, 2003). Porém, alguns autores propuseram modelos de forma a facilitar a
compreensão desse fenômeno (CARROLL 1979, 1991; QUAZI E O’BRIEN, 2000;
CARROLL; SCHWARTZ, 2003). Dessa forma, a presente pesquisa contribuiu para
identificar os significados da RSE compartilhados por um grupo de gestores empresariais.
Para o campo de redes sociais, o trabalho proposto buscou novos resultados no que diz
respeito à configuração de uma rede social. Hanneman e Riddle (2005) argumentam que a
configuração das conexões entre atores é importante para a compreensão da rede como um
19
todo e também para a compreensão dos papéis dos atores separadamente. A presente pesquisa
baseou-se nos estudos de Nahapiet e Ghoshal (1998) que sugerem ser o capital social dividido
em três dimensões: estrutural, cognitiva e relacional. A presente pesquisa abordou a
interrelação entre a dimensão estrutural e a dimensão cognitiva do capital social, pois esta traz
contribuições sobre as ideias compartilhadas pelos atores centrais da Rede Lidera.
Considerando a dimensão cognitiva do capital social, Nahapiet e Ghoshal (1998)
afirmam que a linguagem influencia o intercâmbio de conhecimento, uma vez que é por meio
dela que as pessoas se relacionam. Na rede em estudo, os significados compartilhados entre os
atores mostram conceitos novos que não estão contemplados no modelo de Quazi e O’Brien
(2000). Isso se deve à abordagem utilizada que identificou a RSE por meio da ótica das redes
sociais.
1.5.2 Justificativa Prática
A importância do estudo de redes sociais advém dos possíveis benefícios gerados nos
contatos estabelecidos entre diversos atores. As redes de relacionamento podem facilitar a
transferência da informação e, com isso, apoiar a operacionalização da organização, por meio
do conhecimento dos atores-chave (interno ou externo à organização), para o cumprimento de
um objetivo.
Essa pesquisa mostra-se relevante a todos os atores envolvidos com ações de RSE,
principalmente aos gestores integrantes de empresas, para que estes vislumbrem pessoas-
chave envolvidas com o desenvolvimento da RSE na região. A pesquisa ajudou na
compreensão de como o intercâmbio de conteúdos e recursos contribuiu para o
desenvolvimento de tais ações.
A presente pesquisa demonstra, ainda, como alguns gestores empresariais encaram o
fenômeno da RSE, pelo que se mostra relevante também para os profissionais que desejam
20
atuar na área e querem entender um pouco mais sobre o tema, bem como para organizações
sociais que desejam estabelecer algum tipo de parceria com empresas privadas.
Como dito anteriormente, há interações entre os integrantes das três turmas do
programa Lidera, porém com mais força entre os integrantes de cada turma, isoladamente. O
estudo da dimensão estrutural do capital social poderá ajudar a Rede Lidera a identificar quem
são os atores que apresentam certos tipos de centralidade, com intuito de permitir, por meio
desses atores, uma maior articulação entre os integrantes e, consequentemente, maior
fortalecimento da rede social em questão. A dimensão cognitiva poderá contribuir para a
análise dos resultados referentes à busca do objetivo da rede, qual seja, fomentar a discussão
em torno do fenômeno da RSE.
O funcionamento de uma rede depende de sua configuração e de como se comportam
os atores. Para Marteleto (2004, p. 43), “o modo como o indivíduo se comporta é determinado
por suas relações passadas ou atuais com as outras pessoas. E a interdependência das funções
humanas sujeita e molda, de forma profunda, o indivíduo”. O entendimento dos atores da
Rede Lidera sobre a força que há nos seus laços favorece a mudança de comportamento,
influenciando positivamente nas intenções de participação em ações de RSE.
No próximo tópico será apresentada a fundamentação teórica da presente pesquisa.
21
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A fundamentação teórica deste trabalho aborda o fenômeno da responsabilidade social
empresarial (RSE) e a formação de redes sociais para a disseminação do conceito de RSE.
2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL (RSE)
As discussões em torno do tema RSE são datadas no início do século XX. Sugere-se a
divisão em dois momentos, baseados na função social das organizações. No primeiro, o
conceito de RSE aparece na era industrial, quando a empresa possui a função meramente
econômica. O segundo momento, no qual a sociedade pós-industrial é caracterizada pelo
desenvolvimento tecnológico e pela superação do setor terciário, a empresa é vista sob nova
perspectiva: além do objetivo econômico, acrescenta-se também a melhoria da qualidade de
vida da sociedade (TENÓRIO, 2006).
A RSE nasceu no contexto em que o papel do homem de negócio era questionado. A
passividade do acionista foi criticada por Berle e Means na obra The modern corporation and
private property, escrita em 1932. Os autores afirmaram que os acionistas abdicavam da
responsabilidade em favor da diretoria da empresa (ASHLEY, 2003).
A publicação do livro Social Responsibilities of the Businessman de Howard R.
Bowen, em 1953, foi o marco da nova era da moderna responsabilidade social corporativa,
antes referenciada apenas como responsabilidade social. Bowen formulou o conceito de
responsabilidade social do homem de negócios, estabelecendo o papel deste perante a
sociedade: a sua responsabilidade era de tomar decisões e estabelecer ações de acordo com os
objetivos e valores da sociedade (CARROLL, 1999).
As discussões sobre RSE expandiram-se durante os anos 1960 e 1970. Davis (1960,
apud CARROLL, 1999) argumentou que a RSE deve ser vista em um contexto gerencial e
que, em longo prazo, ela poderia trazer um ganho econômico para empresa. Os anos 1980
22
foram marcados por menos definições, mais pesquisas empíricas e o surgimento de temas
alternativos. Nestes temas alternativos são incluídos a performance social corporativa (CSP),
a teoria dos stakeholders e a teoria da ética nos negócios. Na década de 1990, a RSE continua
sendo construída e fortalecida nos negócios e na sua relação com a sociedade (CARROLL,
1999).
Nos últimos anos pode-se ressaltar a aproximação do tema com a área de estratégia.
Alguns autores sugerem que a relação entre RSE e performance financeira traz impactos
positivos nos resultados dos negócios e que ela também é usada para reforçar a imagem
corporativa (HUSTED, 2003; PORTER e KRAMER; 2006, FEDATO, 2005; SHARP;
ZAIDMAN, 2010).
O interesse das empresas e do meio acadêmico sobre o tema vem aumentando. O
papel e o poder das corporações no ambiente socioeconômico, os escândalos corporativos, as
reações de ONGs e da sociedade vêm sendo ampliados e mostram que a RSE ganhou
importância (SAUERBRONN; FARIA, 2008).
O tópico a seguir apresentará a evolução do conceito da RSE e alguns modelos que
foram desenvolvidos para apoiar na compreensão sobre o tema.
2.1.1 Evolução do Conceito
Embora muitos tenham tentado definir a RSE ao longo dos anos, para alguns, este
conceito ainda se mostra ambíguo. Por isso, a RSE pode ser considerada um conceito ainda
em construção e, portanto, dá margem a uma série de interpretações. Alguns trazem a ideia de
obrigação legal, outros a veem associada ao comportamento eticamente responsável ou a uma
contribuição caridosa (CARROLL; SCHWARTZ, 2003; ASHLEY, 2003).
O economista Milton Friedman, na década de 1960, argumentou que a
responsabilidade social adequada aos negócios era apenas a de se concentrar na criação de
23
riqueza e deixar que outras instituições resolvessem os problemas sociais. Nos anos de 1970,
Preston e Post formularam o princípio da responsabilidade pública, contrapondo-se ao
pensamento de Friedman. Esse princípio sugeria que empresa deveria lidar com questões
sociais que são afetadas pela sua atividade fim, a exemplo de uma indústria de automóvel, que
pela sua natureza, deveria abordar questões como poluição do ar e segurança do veículo ao
invés de atuar com atividades de apoio filantrópico, como por exemplo, financiar a arte
(GODFREY et al., 2001).
Machado Filho (2006) ratifica que não há um conceito plenamente aceito, havendo
uma confusão com “ações sociais”, limitando-se apenas a atividades filantrópicas. O autor
mostra o conceito da Business for Social Responsibility (BSR) 2: “o termo responsabilidade
social corporativa refere-se a decisões tomadas com base em valores éticos que incorporam as
dimensões legais, o respeito pelas pessoas, comunidades e meio ambiente” (MACHADO
FILHO, 2006, p. 24).
O Instituto Ethos, organização reconhecida e respeitada pelo empresariado brasileiro
mantém uma denominação similar:
“Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais” (INSTITUTO ETHOS3, 2010).
Para uma clara compreensão da evolução do conceito de RSE, é importante abordar os
principais modelos, ainda que só o último demonstrado seja utilizado diretamente na análise
dos resultados.
2 Criado em 1992, a Business for Social Responsibility desenvolve soluções e estratégias de negócios sustentáveis por meio de consultoria, pesquisa e colaboração intersetorial. 3 O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização sem fins lucrativos, caracterizada como organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP). Sua missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável.
24
2.1.1.1 Modelo de Carroll (1991)
Um modelo bastante difundido na academia é o de Carroll (1979, 1991). A elaboração
deste serviu para que a responsabilidade social corporativa fosse aceita pelo homem de
negócios. O modelo contém quatro categorias, formando uma pirâmide. As categorias são:
econômica, legal, ética e filantrópica (discricionária) (CARROLL, 1991).
Figura 1: Pirâmide de Carroll Fonte: Carroll (1991, p. 42) A dimensão econômica envolve o papel da organização na produção de serviços e
mercadorias necessários ao consumidor e que esses possam gerar lucros (CARROLL, 1991).
A dimensão legal aborda as questões de cumprimento da regulamentação e a
expectativa da sociedade, que, apesar de aceitar a busca das empresas pelo lucro, espera
também o cumprimento e respeito às leis estabelecidas (CARROLL, 1991).
A despeito das dimensões econômica e legal abordarem normas éticas sobre justiça e
lealdade, a dimensão ética enfoca as atividades e práticas que são esperadas e proibidas pela
sociedade, apesar de não estarem escritas na lei. A dimensão ética incorpora padrões ou
normas que refletem a preocupação com o que os stakeholders consideram como justo ou leal.
Carroll (1991) afirma ainda que a ética e os valores precedem o estabelecimento da lei, pois a
ética e o valor estão por trás da regulamentação.
Responsabilidade ética
Responsabilidade econômica
Responsabilidade legal
Responsabilidade discricionária
-------------------------------------------
------------------------------------------------
-----------------------------------------------------
--------------------------------------------------------
Ser uma empresa cidadã, com ações filantrópicas
Obedecer à lei
Ser lucrativa
Comportamento ético
25
A sociedade espera que as empresas sejam bons cidadãos corporativos e que estejam
envolvidas com a melhoria da sociedade. Esse é o cerne da dimensão filantrópica, que é
considerada a mais discricionária e voluntária, já que a empresa não será considerada antiética
pela sociedade se não doar, por exemplo, recursos financeiros ou tempo para serviços
humanitários. O autor afirma que a responsabilidade social corporativa inclui ações
filantrópicas, mas não está limitada a isso, e que atualmente é a categoria menos importante
dentre as quatro que compõem a pirâmide (CARROLL, 1991).
Algumas críticas são feitas ao modelo citado anteriormente. Para Machado Filho
(2006), as dimensões propostas por Carroll são extremamente tênues e em muitas situações
sobrepostas. Acrescenta também que os conceitos variam em função do ambiente
institucional. O que é considerado um comportamento ético ou socialmente responsável pode
variar de forma significativa em função do ambiente no qual as empresas estão inseridas e da
composição e relacionamento com os stakeholders.
Uma abordagem alternativa ao conceito de RSE foi proposta por Carroll e Schwartz
(2003). Os autores sobrepuseram os três domínios fundamentais que compõem a RSE (o
econômico, o legal e o ético), resultando em uma estrutura com sete categorias. A revisão do
modelo foi motivada por algumas divergências entre a interpretação dos leitores e o
significado que os autores acreditam ser o correto. Uma delas é a que a pirâmide dá a ideia de
hierarquia entre os componentes e isso pode trazer alguma confusão para a aplicabilidade do
modelo, entretanto a ideia não é priorizar as dimensões. Outro motivo é que as explicações
referentes às dimensões foram pouco exploradas, necessitando, assim, de maiores
esclarecimentos que se encontram no próximo tópico.
2.1.1.2 Modelo de Carroll e Schwartz (2003)
No novo modelo de RSE de Carroll e Schwartz (2003), os componentes econômico,
ético e legal da RSE são mais detalhados e é ratificada a questão de não hierarquização entre
26
eles. Observa-se também que o domínio filantrópico não aparece separadamente, entretanto
faz parte do componente ético e do econômico, dependendo da motivação da empresa para
realização da atividade filantrópica (CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
O domínio econômico aborda as atividades que possuem impactos econômicos
positivos para a empresa direta ou indiretamente. O impacto positivo é baseado em dois
critérios: o de maximização dos lucros e o de maximização do valor das ações. Impactos
positivos diretos podem ser, por exemplo, ações destinadas ao aumento das vendas. Já os
impactos positivos indiretos incluem atividades que melhorem a imagem da empresa ou
aumente a moral do empregado (CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
O domínio legal ou jurídico corresponde às respostas da empresa às expectativas
legais da sociedade na forma da jurisdição. Os autores propõem que a legalidade pode ser
vista por meio de três categorias gerais: cumprimento, evitar ação judicial e antecipação da lei
(CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
A primeira categoria (cumprimento) pode ser dividida em três sub-tipos: cumprimento
passivo, cumprimento restritivo e cumprimento oportunístico. O cumprimento passivo ocorre
quando as condutas adotadas pelas empresas resultam no cumprimento espontâneo da lei, sem
que necessariamente haja essa intenção. O segundo sub-tipo refere-se ao cumprimento
restritivo e ocorre quando a empresa é legalmente compelida a adotar uma postura que, por
outros motivos, não adotaria. O terceiro sub-tipo diz respeito ao cumprimento oportunístico,
no qual a empresa não descumpre a lei, mas se aproveita de lacunas na legislação para
benefício próprio, ou, ainda, escolhe operar em localidades com sistemas legais menos
severos (CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
A segunda categoria do domínio legal é relacionada com as atividades empresariais
motivadas pelo desejo de evitar ações judiciais atuais ou futuras decorrentes de condutas
negligentes (CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
27
A terceira e última categoria consiste na antecipação de mudanças legais. O processo
legislativo é demorado por natureza e as empresas podem desejar se engajar em atividades
que possam resultar em atendimentos imediatos de leis que porventura sejam editadas
(CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
O domínio ético refere-se à responsabilidade ética da empresa sob a ótica das
expectativas da sociedade em geral e dos stakeholders relevantes. Os autores aprimoraram
esse domínio incluindo três padrões: convencional, consequencialista e deontológico
(CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
O padrão convencional será definido pelos padrões ou normas que tenham sido aceitos
pela organização, indústria, profissão ou sociedade, como necessários ao adequado
funcionamento dos negócios. Para minimizar os diferentes pontos de vista e melhorar a
aplicabilidade prática do padrão devem ser considerados códigos formais de conduta ou ética
para estabelecer se a empresa está atuando eticamente, de acordo com o padrão convencional
(CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
O padrão consequencialista considera ética a ação escolhida pela empresa para resultar
no maior benefício ou menor custo para a sociedade quando comparado com todas as outras
alternativas possíveis. O foco está nas consequências que uma determinada ação pode trazer
para a sociedade (CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
O padrão deontológico, em oposição àquele focado em consequências, personifica as
atividades que refletem os deveres e obrigações naturais de cada indivíduo diante de valores
éticos gerais, como, por exemplo, a confiabilidade, a responsabilidade, o cuidado e a
cidadania (CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
Como citado anteriormente, o modelo dos três domínios evidencia a sobreposição dos
componentes ético, legal e econômico, que resultou em sete categorias: a puramente
28
econômica, a puramente legal, a puramente ética, a econômica/ética, a econômica/legal, a
legal/ética e econômica/ética/legal (CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
Puramente econômica
Econômica/Ética
Puramenteética
Legal/Ética
Econômica/Legal/Ética
Puramente legalEconômica/
Legal
Figura 2: Modelo dos três domínios da RSE Fonte: Carroll e Schwartz (2003, p. 509)
A categoria puramente econômica exige que a atividade resulte em um benefício
direto ou indireto, que seja ilegal ou passivamente respeite a lei e seja considerada imoral ou
antiética (CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
As ações empresariais que se enquadram na categoria puramente legal não levam em
consideração aspectos éticos ou benefícios econômicos diretos ou indiretos, mas são tomadas
simplesmente em decorrência do cumprimento da lei (CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
As condutas empresariais puramente éticas não possuem implicações legais nem
econômicas, sendo assumidas com base em pelo menos um padrão (convencional,
deontológica ou consequencialista) (CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
A categoria econômica/ética leva em consideração a máxima segundo a qual “boa
ética são bons negócios”. Basicamente todas as atividades dessa categoria envolverão o
29
cumprimento passivo da lei, pois quase todas as atividades ilegais são consideradas antiéticas
(CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
Quanto à categoria econômica/legal, poucas atividades das quais se ocupam as
empresas podem ser consideradas tanto econômicas e legais, como antiéticas, uma vez que
condutas baseadas em uma preocupação legal tendem a ser éticas também. Uma exceção
acontece quando as empresas buscam lacunas na legislação para obter ganho econômico e
apenas oportunisticamente cumprir a lei (CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
Por outro lado, algumas atividades empresariais não se destinam à obtenção de
benefícios econômicos, mas são exigidas por imperativos legais e éticos. Todavia, da mesma
forma como observado na categoria anterior, a conduta legal/ética adotada pela empresa
dificilmente estará livre de efeitos econômicos, ainda que indiretos (CARROLL;
SCHWARTZ, 2003).
A categoria econômica/legal/ética, por fim, reflete a teoria da administração moral de
Carroll (1987), de acordo com a qual a administração deseja a lucratividade, mas somente
dentro de parâmetros de obediência à lei e de sensibilidade aos padrões éticos. Do ponto de
vista normativo, esse segmento central (econômico/legal/ético) corresponde à categoria em
que as empresas deveriam operar quando possível, uma vez atendidas todas as três categorias
de responsabilidade. Também é recomendada a atuação no segmento econômico/ético, desde
que a empresa esteja cumprindo passivamente a lei (CARROLL; SCHWARTZ, 2003).
Seguindo a tentativa de focar a responsabilidade social da empresa de forma ampliada,
contemplando além da geração do lucro, interesses sociais maiores, Quazi e O’Brien (2000)
desenvolveram um modelo bidimensional da responsabilidade social corporativa. Este modelo
será apresentado a seguir.
30
2.1.1.3 Modelo de Quazi e O’Brien
O modelo de RSE de Quazi e O’Brien foi aplicado junto aos chefes executivos (CEOs)
de indústrias do ramo têxtil e de alimentos, em dois contextos diferentes, Austrália e
Bangladesh. O estudo teve como objetivo testar empiricamente a validade do modelo em
termos de percepção gerencial da RSE e os resultados confirmaram a sua validade.
As duas dimensões que compõem o modelo são a extensão da responsabilidade
corporativa (perspectiva estreita para a mais ampliada) e a abrangência dos resultados dos
compromissos sociais da empresa (perspectiva dirigida do custo para o benefício) (QUAZI;
O’BRIEN, 2000).
O lado positivo do eixo horizontal representa a RSE no sentido clássico, em que a
organização possui a responsabilidade de maximização do lucro a curto prazo. O lado
negativo do eixo horizontal considera a RSE em um contexto mais amplo, na qual a
responsabilidade da empresa vai além da regulamentação, servindo, assim, as expectativas
mais amplas da sociedade, como proteção ambiental, desenvolvimento comunitário, doação
filantrópica, entre outros (QUAZI; O’BRIEN, 2000).
O lado negativo do eixo vertical se preocupa com o custo de curto prazo da ação
social, ou seja, os recursos que a empresa gastará para o exercício da responsabilidade social.
O lado positivo do eixo vertical mostra a ação social como fonte de benefícios de longo prazo
e, por isso, as empresas compensarão os custos de investimentos nessas ações sociais no
longo prazo (QUAZI; O’BRIEN, 2000).
31
Figura 3: Modelo bidimensional de RSE
Fonte: Quazi e O’Brien (2000, p. 36)
Dessa forma, o modelo proposto possui quatro quadrantes, nomeados a seguir
(QUAZI; O’BRIEN, 2000, p. 36):
Visão Clássica: não há disposição para olhar além da maximização do lucro, uma vez
que a RSE é vista como forma de gerar custo líquido para a empresa, sem trazer
qualquer benefício real.
Visão Socioeconômica: este quadrante representa uma visão estreita da
responsabilidade social, mas aceita que adotar algum grau de responsabilidade social
irá levar a um beneficio líquido para a companhia, como por exemplo, o de evitar
regulamentação dispendiosa, construir bom relacionamento com o cliente, bom
relacionamento com o fornecedor ou política de trabalho. Neste contexto, a
responsabilidade social pode ser justificada mesmo se um gestor mantém uma visão
Visão Filantrópica
Visão Moderna
Visão Clássica
Visão
Socioeconômica
Visão Restrita
Custos através da
RSE
Benefícios através da
RSE
Visão Ampliada
32
estreita. O quadrante 1 fica, então, preocupado com a visão socioeconômica, na qual a
empresa pode, simultaneamente, desempenhar a função dual da maximização do lucro
enquanto atende à demanda social.
Visão Moderna: captura uma perspectiva na qual a empresa mantém seu
relacionamento com uma matriz mais ampla da sociedade onde existem benefícios
líquidos surgindo da ação socialmente responsável de curto e longo prazo. Essa é uma
visão moderna da responsabilidade social e inclui a preocupação com os stakeholders.
Visão Filantrópica: este quadrante retrata uma visão mais ampla da responsabilidade
social, na qual a empresa concorda em participar em atividades de caridade mesmo
que isso seja percebido como um custo líquido. Esse ímpeto pode surgir de
sentimentos altruístas ou éticos em fazer alguma coisa boa para a sociedade, o que
pode estar associado com a visão filantrópica.
Ante o exposto, a presente pesquisa buscou descrever os significados compartilhados
pelos membros da Rede Lidera a partir de suas evocações com relação ao conceito de RSE.
Para melhor compreender a questão norteadora referente à RSE e os significados
compartilhados pelos membros da rede, optou-se por apresentá-la ao final do item 2.2.1.2, que
trata da dimensão cognitiva do capital social.
A seguir será feito um panorama da RSE no Brasil. Serão apresentados alguns marcos
históricos e o que está sendo feito hoje no país.
2.1.2 A RSE no Brasil As ações sociais no Brasil acontecem há anos. Existe uma tradição histórica, com
destaques a obras assistenciais privadas, promovidas pelas Santas Casas de Misericórdia,
33
criadas no século XIX. Por anos, o exercício da solidariedade no país foi associado à
filantropia com caráter religioso (MACIEL, 2004).
Alguns autores citam como marco inicial das discussões sobre responsabilidade social
o surgimento, em 1962, da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), a qual
reconhecia e congregava empresas que desempenhavam função social. Os resultados
concretos de ações apenas surgiram após a ditadura militar e início do processo de
redemocratização do país (LIMA, 2005; GOLDSTEIN, 2007).
Para Fisher (2002, p. 219), as discussões em torno da responsabilidade social no Brasil
foram encabeçadas por alguns intelectuais na década de 1970, mas não chegaram a
sensibilizar os empresários e executivos responsáveis pelas decisões estratégicas dos
negócios.
Outro marco importante foi a criação do Prêmio Eco, em 1982, organizado pela
Câmera Americana de Comércio. A campanha de Herbert de Souza, o Betinho, em 1993,
“Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida” também promoveu uma efetiva
aproximação entre as empresas e as ações sociais (GOLDSTEIN, 2007). Além desses eventos,
vários agentes sociais surgiram com interesse em incentivar a atuação social das empresas,
como, por exemplo, alguns movimentos associativos: Instituto Ethos, Grupo de Institutos,
Fundações e Empresas (Gife) e Viva o Rio.
O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social foi fundado em 1998 e tem
como missão servir como intermediador entre empresários e causas sociais, disseminando
boas práticas, organizando eventos e criando ferramentas de gestão. O instituto criou os
“Indicadores Ethos de Responsabilidade Social”, que serviu possivelmente como impulso
para publicação de balanços sociais4, bem como parâmetro para classificação de algumas
4 Conforme Tenório (2006), balanço social é um instrumento de informação da empresa para sociedade, por meio da qual a justificativa para sua existência deve ser explicitada. Em síntese, essa justificativa deve provar que o seu custo-benefício é positivo, porque agrega valor à economia e à sociedade, porque respeita os direitos
34
empresas como sendo socialmente responsáveis pela Revista Exame durante o período de
2003 a 2006. A organização divide seus indicadores em sete temas: valores, transparência e
governança; público interno; meio ambiente; fornecedores; consumidores e clientes;
comunidade; governo e sociedade. A ideia principal é que as organizações se preocupem com
todos os seus stakeholders e, dessa forma, incorporem cada vez mais em sua gestão, conceitos
e compromissos ligados à responsabilidade social corporativa (ETHOS, 2010).
De acordo com o levantamento do IPEA (2010), mencionado na introdução, as
práticas mais comuns no Brasil ainda giram em torno de ações emergenciais, voltadas para
assistência social e alimentação. A pesquisa aponta também um aumento significativo de
empresas que participam de ações sociais para comunidades situadas na região Nordeste. O
resultado da pesquisa realizada em 1999 apontou uma participação de 55%, enquanto que a
realizada em 2006 apontou uma participação de 74%. Já na região Sudeste, o aumento foi de
67% para 71%, apresentando uma elevação de 6%. O destaque ficou para o Estado de Minas
Gerais, onde 81% das empresas fazem doações ou desenvolvem projetos para o combate à
pobreza (IPEA, 2010).
Ao final de fevereiro de 2010, foi aprovada para publicação a norma ISO 26000. O
debate ao redor da construção dessa norma iniciou em 2005 e, devido ao caráter
multistakeholder, demorou a ser aprovada (foram 79% de votos a favor). Os atores envolvidos
no debate são de diversos setores e representantes de todo o mundo. São eles: representantes
de ONGs, de empresas, de governo, de trabalhadores e de consumidores. É esperado que essa
norma seja referência em responsabilidade social, mas ela não possui o caráter de certificação.
A norma foi construída com o objetivo de orientar as organizações sobre os impactos de suas
atividades e sobre seus relacionamentos com a sociedade (ETHOS, 2010).
humanos de seus colaboradores e, ainda, porque desenvolve todo o seu processo operacional sem agredir o meio ambiente.
35
O cenário da RSE no Brasil é promissor. Ao passar dos anos, o Instituto Ethos
aumenta substancialmente seus associados e nos últimos dez anos houve um crescimento
significativo de publicações, seminários e pesquisas acadêmicas sobre o tema (FARIA;
SAUERBRONN, 2008). É esperado um maior comprometimento das empresas, bem como
uma diversificação na sua atuação social, com o objetivo de tornarem-se organizações mais
éticas e sustentáveis.
O próximo tópico abordará o papel do gestor empresarial como importante ator no
desenvolvimento de ações de RSE.
2.1.3 Papel do Gestor Empresarial no Desenvolvimento de Ações de RSE
Existem tantas definições e perspectivas diferentes sobre gerenciamento quanto
estudiosos e pesquisadores interessados sobre o tema. A escolha de uma abordagem única não
é eficaz, principalmente quando se trata de um contexto globalizado em que se requer pessoas
providas de habilidades que atendam às necessidades da organização, quais sejam
compreender os aspectos críticos das mudanças sociais, econômicas e tecnológicas (FIELDS,
2007).
Com a mudança do paradigma do perfil da empresa voltada apenas para o lucro para
uma empresa mais preocupada com a sociedade é exigido que o gestor assuma uma nova
postura diante dessa sociedade e do ambiente em que ele vive. As organizações do século
XXI esperam que os gestores atuem de forma mais ética e requerem deles novas
responsabilidades e competências (BOSTON COLLEGE CENTER, 2010).
À medida em que as questões sociais se integram ao cotidiano da organização, por
questões legais ou pela conscientização, os gestores começam a perceber que essa mudança
de atitude pode gerar valor para os negócios da empresa (OLIVEIRA, 2008). De acordo com
Zadek (2005, p.5), a excelência em responsabilidade corporativa deve estar alinhada com a
estratégia do negócio. O autor cita a Global Leardership Network, uma rede de dez empresas
36
gestores globais, cuja proposição central é fazer com que o máximo de desempenho em
responsabilidade corporativa possa ser entendido como o grau de alinhamento entre boas
práticas, a estratégia e os processos de negócios. Essa rede desenvolveu uma ferramenta que
se destina a avaliar o progresso da organização em busca da excelência em responsabilidade
corporativa.
Ainda segundo Zadek (2005), as empresas que querem ter uma estratégia responsável
de longo prazo, devem questionar suas formas de recompensa. De acordo com publicação
realizada no sítio eletrônico Agenda Sustentável, empresas e governo de todo o mundo tem
investido em ações de sustentabilidade para desenvolver gestores na área socioambiental. O
artigo cita que, em 2009, a empresa National Grid anunciou que basearia parte da
remuneração dos seus executivos no desempenho das metas de redução do gás carbônico.
Contudo, citou também que um recente relatório da Ceres, rede norte-americana formada por
investidores e organizações ambientalistas, mostrou que nenhuma das 63 maiores empresas
das áreas de tecnologia, vestuário, varejo e farmacêuticas do mundo, relacionou diretamente
os ganhos de seus executivos ao desempenho climático (AGENDA SUSTENTÁVEL, 2010).
O resultado do trabalho de um gestor impacta em diferentes públicos. Segundo
Oliveira (2008, p. 6), a “complexidade das relações com diferentes atores aumenta os desafios
da liderança para equilibrar resultados econômicos, sociais e ambientais, na perspectiva de
longo prazo, e para colaborar com a sociedade na construção de uma nova ética planetária”.
Oliveira (2008) desenvolveu um processo implementação da RSE pelos gestores. A
figura 4 mostra todas as fases que um gestor deve seguir para a construção das ações, desde o
planejamento, passando pelas fases de execução e acompanhamento, até o replanejamento,
necessário para que sejam discutidas as lições aprendidas e o aperfeiçoamento do processo.
A primeira fase, a de conscientização, traz a ideia de que, primeiro, é necessário
resgatar o conceito da RSE para dentro da organização e, dessa forma, os gestores se sentirão
37
orientados para dar início às ações. Da segunda à sexta etapas há um forte trabalho dessas
gestores em coletar as informações, identificar quais as partes interessadas nos resultados das
ações de RSE, quais os recursos necessários para implementação das ações, enfim, um árduo
trabalho que envolve negociação e forte articulação entre os gestores e os diversos atores de
dentro e fora da organização.
Após essas etapas, o foco do trabalho está em treinar e desenvolver as habilidades,
conhecimentos e competências necessários ao desenvolvimento das ações, colocá-las em
prática, monitorar, divulgar e aperfeiçoar os resultados das ações e realimentar a consciência
socioeconômica e ambiental da organização.
11. Realimentar asações em outro nível
de consciênciasocioeconômica e
ambiental
1. Conscientização eadoção de conceitos de
RSE para orientar asações das lideranças
2. Leiturasocioeconômica e
ambiental do contexto
das ações de RSE
3. Identificação de recursos
internos e externos emecanismos de
suporte àação de RSE
4. Comunicação ecompartilhamento de
conhecimentos eexperiências entre as
partes interessadas nosresultados de RSE
5. Negociação paraequilibrar os interesses
dos envolvidos eengajá-los nos
processos de RSE
6. Identificação deprojetos/processos
para suportar a açãocoletiva em RSE
7. Treinar/desenvolver/educar os envolvidosreduzindo lacunas de
competências técnicas,humanas e conceituais
8. Monitorar indicadores
socioeconômicos eambientais de
processos eresultados
9. Divulgar/aperfeiçoar e
compartilharos resultados das
ações de RSE
10. Verificar o nível deaderência dos resultados
aos conceitos de RSEadotados por meio de
lições aprendidas
Figura 4: Processo de implementação da RSE pelos gestores Fonte: Oliveira (2008, p. 272)
38
Oliveira (2008) concluiu que:
a) Os fundamentos internos à organização, como alinhamento estratégico,
processo decisório, visão, missão, valores, princípios e códigos de conduta
são determinantes para a ação da liderança. Já os fundamentos externos,
como legislação, não transformam a realidade organizacional, pois essas
ações só se concretizam na liderança baseada em valores éticos, ou seja, a
mudança ocorrerá de dentro pra fora;
b) O processo de implementação da gestão socialmente responsável foi
possível devido à integração entre o próprio processo e os papéis de
liderança identificados nas etapas. Argumenta-se que a rede social é
prerrogativa para o desenvolvimento do processo e isso diferencia a RSE de
outros processos empresariais. Para estabelecer essa rede é necessário o
envolvimento de equipes intergovernamentais, interdepartamentais, entre
outras, que normalmente estão fora dos limites físicos das organizações.
c) Os papéis desempenhados pelos gestores para a implementação do processo
da RSE foram os de educadores, construtores de networking e negociadores.
Sugere-se outra categoria para o papel de liderança, além dos
conhecimentos, habilidades e atitudes, tendo em vista o novo contexto de
competição versus cooperação. Argumenta-se que é imprescindível saber
conectar estas competências internas às de outros stakeholders externos,
ratificando, assim, a importância da rede social para o estabelecimento e
sustentabilidade das ações socialmente responsáveis.
Os gestores empresariais já perceberam que contribuir para o bem-estar da
comunidade em que atuam é fator diferencial entre as empresas que se omitem e as que,
39
positivamente, interferem em seu meio, respeitando tais comunidades e dando o devido valor
aos seus diversos stakeholders (LIMA, 2003).
Tanto nas organizações quanto na sociedade, o gestor desempenha um papel
preponderante na formação e na transformação dos padrões de comportamento social que
denominamos cultura. É de tamanha importância discutir o seu papel, ajudando-o a ampliar a
própria consciência para perceber os impactos e as consequências de sua atuação, assim como
despertando nele o interesse em enxergar as possibilidades de uma contribuição significativa
para um desenvolvimento social saudável (LIDERA, 2007).
Ante o exposto, a presente pesquisa optou por pesquisar uma rede de gestores
empresariais denominada Lidera considerando que tais gestores com suas fortes opiniões
podem ter impactos maiores quando comparadas às de outras pessoas. Tal perfil consegue
expressar e articular suas atitudes e tenta convencer os outros a concordarem com eles. O
papel de um gestor de opinião é fornecer um contexto para a mobilização dos membros mais
passivos da organização e estimular o pensamento e a ação (SHELLEY, 2006).
A seguir serão apresentados os tópicos referentes aos estudos de redes sociais e de
capital social.
2.2 A PERSPECTIVA DE REDES SOCIAIS
As discussões em torno das redes sociais são cada vez mais frequentes no campo
individual e organizacional. Redes sociais na internet, redes sociais no âmbito do trabalho,
redes de amigos e assim por diante. É fácil perceber que de alguma forma as pessoas fazem
parte de redes sociais, já que o ser humano está sempre em contato com outros, seja
pessoalmente ou virtualmente, e que esses contatos podem se tornar laços, os quais podem
apoiar ou não as atividades que se deseja desenvolver.
Similarmente, acontece com as organizações, que, no contexto atual, vivem em intensa
competitividade, em que é necessário haver cooperação entre os atores, visto que as
40
transformações exigidas são tamanhas que extrapolam suas competências internas. Essa
cooperação cria interdependência entre os atores, de forma que o sucesso da organização
passa a depender de como esta se relaciona com os outros atores (MALUF FILHO, 2005).
De acordo com Emirbayer e Goodwin (1994), rede social é o conjunto de relações e
ligações sociais entre determinados atores. Um ator social pode ser uma pessoa ou uma
organização que se comunica em uma rede, desempenhando um papel específico na
sociedade. Segundo Régis et al. (2006, p. 3), “a literatura tem descrito as redes como sendo
composições de indivíduos, grupos ou organizações voltadas para a perpetuação, a
consolidação e o desenvolvimento das atividades dos seus membros”.
O funcionamento da rede depende de sua configuração e de como se comportam os
atores. Granovetter (1973), em seu estudo The strength of weak ties argumenta que os
processos das relações interpessoais constituem a mais produtiva relação entre os níveis micro
e macro das redes de relacionamentos. Diante dessa perspectiva, pode-se argumentar que
muito do que pensam e desenvolvem as pessoas ou as organizações, surge a partir das
relações existentes entre grupos aos quais são associadas (abordagem macro). Por outro lado,
argumenta-se também que a dinâmica desses grupos depende de como os indivíduos
interagem com outros indivíduos (abordagem micro).
As redes sociais podem ser egocêntricas, quando há ênfase na rede de relacionamentos
de um indivíduo, ou redes de grupos, termo utilizado em sentido amplo. As redes também
podem ser denominadas como formais e informais. As consideradas informais podem ser
desenvolvidas dentro de uma organização ou entre organizações (MARINHO-DA-SILVA,
2003).
Krackhardt e Hanson (1993) afirmam que uma rede informal dentro das organizações
pode reduzir o fluxo dos procedimentos formais para que os prazos sejam cumpridos. Já
Marteleto (2001) argumenta que redes sociais ou networks podem unir ideias e recursos em
41
torno de valores e interesses compartilhados. A proposta desse estudo corrobora essa
perspectiva: analisar como se comporta a dimensão estrutural e cognitiva da rede de gestores
empresariais denominada Lidera, de forma a apoiar o desenvolvimento de ações socialmente
responsáveis.
O próximo tópico abordará o capital social e as suas dimensões.
2.2.1 Capital social
Capital social é uma expressão que vem sendo discutida pelo meio acadêmico e
utilizada nas organizações, na política e na economia (KAY; PEARCE, 2003). Para Souza
(2007, p. 8), o estudo de capital social é inerente ao contexto em que “a responsabilidade
social deve ser encarada como um processo que visa o aprimoramento das relações entre os
diversos atores que compõem o cenário social”. O autor argumenta que as pesquisas em torno
do capital social oferecem o entendimento dos meios pelos quais as relações entre os atores
podem ajudar na melhoria da qualidade de vida das pessoas.
De acordo com Kay e Pearce (2003), o capital social é dividido em cinco elementos,
quais sejam: confiança, reciprocidade e mutualidade, redes sociais, normas comuns de
comportamento e senso de compromisso e pertença.
Para os referidos autores, a confiança é um elemento fundamental para que as pessoas
se sintam seguras e confortáveis e, com isso, trabalhem em conjunto. O elemento referente à
reciprocidade e mutualidade significa fazer algo para os outros sem esperar retorno imediato,
bem como trabalhar em regime de vantagem igualitária. O terceiro elemento diz respeito às
redes sociais, as quais possuem o papel de colocar as pessoas e organizações em contato para
que elas se conheçam e trabalhem para transferência de informações. O compartilhamento de
ideias e a construção de uma visão similar sobre o que é ou não aceitável, por sua vez,
correspondem ao elemento concernente às normas comuns de comportamento. Por fim, o
senso de compromisso e pertença consiste na percepção de que compartilhar um compromisso
42
com uma área ou um grupo pode expor um entendimento em comum de questões e levar a um
senso comum de propósito (KAY; PEARCE, 2003).
Para Bourdieu (1986, p. 51), capital social é:
“Um agregado de recursos atuais ou potenciais que estão vinculados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas entre conhecidos e reconhecidos mútuos – ou em outras palavras, de participação no grupo –, as quais proporcionam a cada um dos membros o suporte de um capital de propriedade coletiva que os intitula a um crédito, nos mais variados sentidos da palavra”.
Para este autor, o termo capital social refere-se às oportunidades e às vantagens de
fazer parte de certos grupos ou comunidades.
Bourdieu, citado por Couto (2004), explica que as pessoas têm diferentes quantidades
de capital social dependendo da riqueza real ou potencial, do tamanho das redes às quais estão
vinculados, bem como a quantidade de capital econômico e cultural que os membros dessa
rede possuem. Para o autor, o capital social nunca é independente das outras formas de
capital.
Já Marteleto (2004, p. 44) define capital social “como normas e valores, instituições e
relacionamentos compartilhados que permitam a cooperação dentro ou entre diferentes grupos
sociais”.
Nahapiet e Ghoshal (1998, p. 243), por sua vez, definem que:
“Capital social é a soma dos recursos atuais e potenciais imbricadas, disponibilizados e derivados da rede de relacionamentos possuída por um indivíduo ou uma unidade social. Capital social, assim, abrange tanto a rede quanto os recursos que podem ser mobilizados”.
Os mesmos autores argumentam também que outros recursos são disponibilizados
pelos contatos ou conexões fornecidos pela rede. Eles exemplificam que por meio de laços
fracos, os membros de uma rede podem ter acesso privilegiado a informações e
oportunidades. Em uma rede de gestores de empresas socialmente responsáveis, por exemplo,
podem existir diversas oportunidades para o desenvolvimento de ações de responsabilidade
social empresarial. A troca de informações é benéfica tanto para o desenvolvimento de ações
43
em conjunto, quanto para o conhecimento de lições aprendidas em um projeto social de
sucesso, apoiado ou executado por alguma empresa.
Salientam, porém, que o capital social desenvolvido em um grupo pode limitar a
abertura à informação e aos meios alternativos de desenvolvimento de ações. Marteleto
(2004) corrobora o argumento de que nem toda forma de capital social é positiva, pois existe a
possibilidade de fechamento ou limitação de um determinado grupo, o que poderia causar
exclusão de possíveis membros de uma rede social ou a criação de grupos corruptos e
sistemas autoritários.
Nahapiet e Ghoshal (1998) enfocam três dimensões do capital social: estrutural,
cognitiva e relacional. Eles afirmam que essas dimensões facilitam a criação e o intercâmbio
de conhecimento, podendo, assim, apoiar as organizações no desenvolvimento do capital
social como fonte de vantagem competitiva.
Régis (2005) abordou a teoria do capital social para pesquisar a rede de apoio aos
empresários incubados de base tecnológica. O autor utilizou os estudos de Nahapiet e Ghoshal
(1998), citados anteriormente, que abordam três dimensões do capital social e elaborou o
esquema descritivo para melhor compreender esse estudo. A figura 5 é mostrada a seguir:
44
Figura 5: Perspectiva multidimensional do capital social Fonte: Régis (2005)
A dimensão estrutural descreve a configuração dos vínculos entre pessoas e unidades.
As facetas mais importantes dessa dimensão são a presença ou ausência de laços de redes
entre os atores e a morfologia da rede, descrevendo padrões de vínculos como densidade,
conectividade e hierarquia (NAHAPIET; GHOSHAL, 1998; RÉGIS, 2005).
A dimensão relacional descreve o relacionamento pessoal entre os atores, de acordo
com a história das interações, e foca nas relações particulares que influenciam no
comportamento desses atores, como amizade, respeito e confiança (NAHAPIET; GHOSHAL,
1998; RÉGIS, 2005).
A dimensão cognitiva refere-se aos recursos que fornecem interpretações e sistemas de
sentido compartilhados entre as pessoas, incluindo linguagem, código e narrativa
compartilhada (NAHAPIET; GHOSHAL, 1998; RÉGIS, 2005).
O presente estudo abordou a dimensão estrutural e a cognitiva do capital social
utilizando a metodologia de Régis (2005), que foca no imbricamento de capital social, redes
sociais e cognição. O autor defende que o conceito de capital social é usado para elucidar a
45
grande variedade de fenômenos sociais e afirma que os grandes analistas de capital social
estão principalmente preocupados com a significância dos relacionamentos como fonte de
ação social. A proposição central da teoria do capital social é que as redes de relacionamentos
são um valioso recurso para condução de questões sociais, pois muito desse capital está
imbricado nas redes de relacionamentos e reconhecimento.
A seguir serão apresentadas explanações em torno das duas dimensões anteriormente
mencionadas.
2.2.1.1 Dimensão estrutural do capital social A dimensão estrutural das redes sociais engloba as conexões formadas pelos
relacionamentos existentes. Por meio da análise estrutural, é possível avaliar como as
informações são transmitidas pelas pessoas que estão interligadas e se a hierarquia da
organização influencia na comunicação. É possível compreender também os comportamentos
dos indivíduos por meio da quantidade de contatos que um ator possui, avaliando a força
desse laço e como se pode chegar à informação mais facilmente.
Para Mizruchi (2006, p. 73) “a análise de redes é um tipo de sociologia estrutural que
se baseia numa noção clara dos efeitos das relações sociais sobre o comportamento individual
e grupal”. Essas análises são feitas por intermédio da configuração e da força dos laços entre
os atores que compõem a rede. Por meio dessa análise, é possível verificar o quão flexível é a
rede e como se comporta ou pode se comportar a troca de informações entre os atores (RÉGIS
et al., 2006).
A dimensão estrutural é conceituada como um padrão geral de conexão entre os atores.
As facetas da dimensão estrutural são a ausência ou a presença de laços entre os atores, a
morfologia da rede para descrever o padrão de vínculos em termos de medidas como
densidade, conectividade e hierarquia (RÉGIS, 2005). A seguir serão apresentados os tópicos
46
que tratam dessas duas perspectivas relacionadas à dimensão estrutural da rede social: laços e
configuração da network.
2.2.1.1.1 Laços da rede A análise da rede social é uma ferramenta que pode conectar os níveis micro e macro
da sociologia. Esse é um argumento utilizado por Granovetter (1973, p. 1360) em sua obra
The strength of weak ties. O autor afirma que “o grau de sobreposição das redes de amizade
entre duas pessoas varia em proporção direta com a força da ligação entre um e outro”. Esse é
o cerne do conceito de laços em uma rede: ligação entre os atores de uma determinada
network. Para esse autor, a força dos laços é uma combinação entre a quantidade do tempo, a
intensidade emocional, a intimidade e os serviços recíprocos, havendo intercorrelação entre
eles, caracterizando, assim, um laço.
Kuipers (1999), por sua vez, considera um laço forte pela proximidade de uma relação,
contudo considera também a duração da relação e a frequencia dos seus contatos. A
intensidade das relações, segundo Higgins e Kram (2001), é uma das dimensões da tipologia
da rede social de desenvolvimento. As autoras argumentam que a quantidade e a qualidade da
comunicação, estreitamento emocional e o nível de reciprocidade no desenvolvimento
compõem essa dimensão.
Para Marinho-da-Silva (2003), pode-se fazer a análise de uma rede qualitativamente
por meio da diversidade de ligações, do conteúdo transacionado, do sentido do fluxo, da
frequência e duração das interações.
Utilizando-se da forma qualitativa, as relações entre as pessoas surgem de diferentes
campos de atuação dos quais o indivíduo participa. Essas relações são denominadas de papéis,
que para Boissevain (1974), citado por Marinho-da-Silva (2003, p. 72), “correspondem às
normas e expectativas que se aplicam ao ocupante de uma posição” e esses papéis são
47
importantes para caracterizar uma rede. Cada pessoa assume um papel (mãe, amiga, esposa) e
por meio dele se interliga compartilhando os interesses e objetivos em comum.
Para Marinho-da-Silva (2003), pode existir uma sobreposição da diversidade de papéis
em que um mesmo ator pode, ao mesmo tempo, ser irmão, vizinho ou colega de trabalho.
Essas relações são denominadas de multiplex. As relações baseadas em um único papel são
denominadas de uniplex.
Granovetter (1973) afirma também que a força dos laços entre as pessoas pode levar a
fenômenos como organização política, difusão, mobilidade social e coesão em geral e que os
laços considerados fracos são importantes para a ampliação da rede de relacionamento e,
consequentemente, facilitadores da obtenção de empregos. Já Krackhardt (1992) enfatiza a
importância dos laços fortes como fonte de sustentação para momentos de crise, de mudança e
de incerteza em uma organização. Esse mesmo autor observou que Granovetter (1982)
mostrou a importância dos laços fortes na seguinte sentença: “laços fracos proporcionam às
pessoas acesso a informações e recursos que estão além dos seus círculos sociais; mas laços
fortes motivam muito mais a cooperação e estão muito mais disponíveis” (KRACKHARDT,
1992, p. 218).
Em meio a essa discussão, é importante dar a devida atenção aos tipos de ligações
entre os atores existentes em uma rede social. Em se tratando de uma rede de gestores que
definem e priorizam estratégias voltadas às ações socialmente responsáveis, quanto mais
contatos os líderes tiverem, mais flexíveis e ágeis eles serão para, por exemplo, captar
recursos, estabelecer parcerias com organizações sociais ou comunidades e até mesmo com
outras empresas. Da mesma forma, é importante que os gestores estejam unidos para que em
momentos de crise, consigam sustentar as ações sociais que, porventura, estejam em
andamento nas organizações, não deixando, assim, a ação ser cancelada por falta de recursos
ou por qualquer outro motivo em decorrência de uma crise.
48
2.2.1.1.2 Configurações da rede Os laços de uma rede formam canais importantes para transferência de informação,
mas, segundo Nahapiet e Ghoshal (1998), a configuração da rede está associada à
flexibilidade e à facilidade da troca de informações, já que tais elementos interferem na
acessibilidade e no nível de informações que são trocadas entre os membros da rede.
Como mencionado no item anterior, a network pode ser analisada quantitativamente,
podendo-se determinar a centralidade de um ator e a densidade da rede e, qualitativamente,
valendo-se da diversidade de ligações (MARINHO-DA-SILVA, 2003).
No próximo tópico serão apresentados os componentes estruturais de uma rede social.
2.2.1.1.2.1 Componentes estruturais para análise de redes sociais
A estrutura da rede é analisada de acordo com posicionamento e interação entre os
atores que a compõem. Segundo Régis (2005, p. 58), a forma como os indivíduos estão
ligados também é útil para o entendimento dos comportamentos dos atores. Este autor ainda
afirma que “é possível realizar uma avaliação básica da estrutura de uma network mediante a
análise da densidade e da centralidade da rede”.
Ao analisar a densidade da rede e a centralidade dos atores é possível determinar o
valor estrutural da network para a organização e para os que a compõem. O número de
ligações existentes ou possíveis em uma rede configura a densidade, que é definida como a
soma dos laços existentes, dividida pelo número de laços possíveis.
A densidade da rede fornece insights sobre certos fenômenos, como a velocidade com
que a informação é difundida entre os atores e a extensão de suas restrições (HANNEMAN;
RIDDLE, 2005). Sugere-se que uma rede com percentual baixo indica que o potencial da rede
está sendo pouco explorado (RIBEIRO, 2006).
Freeman (1979) argumenta que muitos autores concordam que a centralidade é um
atributo estrutural importante para as redes sociais. Essa medida mostra o quão acessível um
49
ator está com relação aos demais atores da rede e apresenta a forma como os diversos atores
estão interligados. Por intermédio da centralidade, é possível medir a quantidade de caminhos
de comunicação que passam pelos atores. Se forem apresentados muitos caminhos entre eles,
sugere-se que é pouco provável a monopolização da informação, dos favores e dos serviços
por um ator considerado central para os demais atores pertencentes a uma rede (RÉGIS, 2005;
MARINHO-DA-SILVA, 2003; FREEMAN, 1979).
A centralidade de grau mede o número de ligações pertencentes a um ator, de modo
que a centralidade do grau de entrada (ou indegree) representa o número de citações que um
ator recebe de outros atores, enquanto a centralidade de grau de saída (ou outdegree)
representa o número de citações que um determinado ator faz a outros atores de um grupo. O
indegree sugere o prestígio ou popularidade do ator na rede e o outdegree a expansividade
(MARINHO-DA-SILVA, 2003).
A centralidade de proximidade é considerada pelo número mínimo de passos que o
ator deve seguir para entrar em contato com os demais atores da rede. Um ator considerado
central está mais próximo e interage mais rapidamente com os demais (MARINHO-DA-
SILVA, 2003). Lazega (1998) interpreta a centralidade de proximidade como uma medida da
autonomia e da independência em relação ao controle exercido por outros.
A centralidade de intermediação diz respeito ao papel do ator como intermediador de
outros atores da rede. Os atores dependem de outros para se conectar com os demais atores da
rede: “Quanto mais um ator estiver no meio do caminho e for passagem obrigatória para
outros se juntarem, mais elevada será sua centralidade de intermediação” (MARINHO-DA-
SILVA, 2003, p. 70).
Existem outros conceitos relacionados à configuração da rede. Por meio da ferramenta
UCINET, é possível extrair outras medidas para análise da rede estudada, como cliques, cut-
points e cluster. De acordo com Melo e Régis (2008), os cliques são sub-redes de atores com
50
relações mais estreitas; os cut-points medem as posições dos atores quanto à capacidade de
subtrair blocos de uma rede, caso sejam removidos; e os clusters são uma agregação de nós
em função da semelhança dos seus perfis de laços.
Para o presente trabalho, as medidas analisadas serão a de centralidade de grau, de
intermediação e de proximidade. Essas são medidas utilizadas para avaliar como a rede social
estudada se configura e como os atores nela inseridos se comportam. Nesse sentido, o
presente estudo se propôs a analisar as questões norteadoras a seguir:
1) Como está configurada a rede social formada pelos integrantes da Rede Lidera?
2) Quais as características da Rede Lidera no que diz respeito à força dos laços
(forte/fraca) existente entre os indivíduos, aos componentes estruturais gerados pelas
interações mantidas e aos atores críticos pertencentes à rede?
No próximo tópico será abordada a dimensão cognitiva do capital social.
2.2.1.2 Dimensão cognitiva do capital social
Há alguns anos, as organizações eram vistas apenas considerando o aspecto racional,
no qual emoção e razão eram domínios isolados. Atualmente, o corpo e a mente são vistos
como elementos que se conectam. É a partir dessa visão que as organizações começam a
entender a complexa relação entre indivíduos e organizações e como esta pode influenciar a
geração de conhecimento. “A ciência da cognição revela-se como um painel extremamente
rico e diversificado de esforços voltados para analisar velhas questões sobre os processos que
geram conhecimento e que capacitam a pessoa a lidar com os desafios que o mundo lhes
coloca” (BASTOS, 2009, p. 93).
A dimensão cognitiva do capital social diz respeito aos significados compartilhados
entre os atores que pertencem a um mesmo contexto. Bastos (2002, p. 66) traz o conceito de
cognição organizacional, que é derivado da visão de organização como processos socialmente
51
construídos havendo sempre articulação e interação entre os atores. “Esse campo de estudo
investiga como indivíduos e organizações constroem seus ambientes e como tais processos se
relacionam com importantes produtos organizacionais”.
Por meio da linguagem, códigos e narrativas compartilhadas, o capital intelectual é
criado e sustentado por meio dos relacionamentos existentes em um determinado contexto
social (NAHAPIET; GHOSHAL, 1998). Aceitando esse argumento, Régis (2005) afirma que
as pessoas que fazem parte de uma mesma rede, podem ter ideias comuns que apoiam, por
exemplo, decisões organizacionais.
Esses atores interagem por meio da linguagem e de narrativas compartilhadas.
Nahapiet e Ghoshal (1998) afirmam que a linguagem influencia o intercâmbio de
conhecimento, uma vez que é por meio dela que as pessoas se relacionam, fazem perguntas e
conduzem negócios na sociedade. Eles argumentam também que há influência da linguagem
na percepção, pois ela fornece uma referência para a observação e interpretação do nosso
ambiente. Um terceiro argumento diz que a linguagem compartilhada incrementa a
capacidade de combinação de informação. Os autores também afirmam que as narrativas
compartilhadas permitem a criação e a transferência de novas interpretações dos eventos, de
modo a facilitar a combinação de diferentes formas de conhecimento.
Para Bastos (2009), a linguagem utilizada pelos indivíduos estrutura o mundo e
constroi a realidade. O autor complementa tal pensamento afirmando que essa compreensão
fundamenta a psicologia inclusiva da cultura, em que o dizer e o fazer são unidades
inseparáveis. Essa perspectiva encara a mente e a linguagem como sinônimos de ação.
Uma rede de gestores empresariais que possuem interesse em responsabilidade social
pode apoiar e fomentar o desenvolvimento de ações socialmente responsáveis nas
organizações. A história de vida de cada gestor consolida valores, conhecimentos e
experiências que podem trazer a compreensão da coletividade social, afetando, por exemplo, a
52
tomada de decisão. “Portanto, cognição está imbricada na ação” - esse é o argumento de
Bastos (2009, p. 93) que ratifica a influência que um indivíduo possui sobre outrem em
diversos ambientes e contextos coletivos.
A presente pesquisa aborda a questão do capital social como elemento que busca
beneficiar as pessoas que fazem parte de uma determinada rede social. Nesse sentido, segue a
questão norteadora que referencia essa questão:
3) Quais os significados compartilhados pelos membros da Rede Lidera a partir de
suas evocações com relação ao conceito de RSE, seguindo o modelo de Quazi e
O’Brien (2000)?
A seguir será apresentado o tópico referente à metodologia da pesquisa, incluindo as
estratégias de pesquisa que serão utilizadas, bem como a forma de coleta e de análise dos
dados.
53
3 METODOLOGIA
Este tópico apresentará os procedimentos metodológicos que foram utilizados para
responder a pergunta de pesquisa do presente estudo. Serão apresentados os itens referentes
ao delineamento da pesquisa, quais os sujeitos pesquisados, a coleta de dados adotada e o
método de análise. Por fim, serão apresentados os limites e limitações da pesquisa.
Esta pesquisa trata de uma investigação sobre uma rede social de gestores
empresariais denominada “Lidera”; portanto, busca-se responder a seguinte pergunta de
pesquisa: Como se apresenta a “Rede Lidera” no que diz respeito a sua estrutura e aos
significados compartilhados de seus membros com relação à RSE?
A seguir serão apresentados os tópicos referentes ao delineamento e sujeitos da
pesquisa, o processo e os instrumentos para a coleta de dados, bem como o método de análise
utilizado no presente estudo.
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA
A presente pesquisa caracteriza-se por ter abordagem mista, já que os objetivos da
investigação se apoiam tanto em método quantitativo como qualitativo. Para Richardson
(2008), apesar de existirem diferenças ideológicas sobre a complementaridade das duas
abordagens são identificadas integrações entre elas: no planejamento da pesquisa, para a
melhoria da formulação do problema, para o levantamento de hipóteses e para a determinação
da amostra; na coleta de dados, para o enriquecimento das informações obtidas; e na análise
da informação, para ampliação das relações descobertas entre, por exemplo, técnicas
estatísticas e observações qualitativas.
No presente estudo optou-se pela abordagem mista para que pudesse haver
comparação entre os dados quantitativos e qualitativos. O primeiro caso se trata da análise de
redes sociais e o segundo da análise de conteúdo para captar os significados compartilhados
54
entre os atores da rede. Os assuntos citados serão explorados com mais profundidade nos itens
a seguir.
Comparação dosresultados
QUALITATIVO QUANTITATIVO
Entrevista em profundidade
Análise de conteúdo
Cartão gerador de nomes
Análise de redes sociais
Figura 6: Estratégia de pesquisa Esta pesquisa é também caracterizada como descritiva e exploratória. Descritiva, pois
tem o objetivo de mostrar características de determinada população ou fenômeno, sem a
interferência do pesquisador (VERGARA, 2009). É exploratória por sua natureza de
sondagem, objetivando ter uma visão geral e aproximada do assunto em estudo, de modo a
torná-lo mais claro, construindo questões importantes para a condução da pesquisa (LOPES,
2006).
A estratégia de pesquisa utilizada foi o estudo de caso. Conforme Yin (2005, p. 20), o
estudo de caso “permite uma investigação para se preservar as características holísticas e
significativas dos acontecimentos da vida real” e opta-se por esta estratégia quando “o foco se
encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real”. Utiliza-
se o estudo de caso por ser uma estratégia de pesquisa que contribuiu para o conhecimento
sobre os fenômenos individuais, sociais, organizacionais, políticos e de grupo.
A unidade de análise a ser estudada é a Rede Lidera composta por gestores
empresariais que possuem interesse em RSE. Serão estudadas as relações entre tais gestores
de forma que o caso seja composto pela rede de iterações de desenvolvimento, construídas por
estes.
55
A seguir será apresentado o item referente aos sujeitos que compuseram a presente
pesquisa.
3.2 SUJEITOS DA PESQUISA Este estudo tem como limite para sua aplicação a Rede Lidera (APÊNDICE D). A
rede é formada por 42 gestores empresariais do Nordeste e foi constituída por meio do
programa Lidera desenvolvido em três edições. A primeira contou com a participação de 13
integrantes, a segunda de 15 e a terceira de 14 integrantes. Foi utilizado o critério de
acessibilidade, sendo considerada, então, uma amostra não probabilística, por não ser baseada
em procedimentos estatísticos para a escolha dos sujeitos (VERGARA, 2005, 2009). Desta
forma, apenas os gestores empresariais que atuam em Pernambuco foram selecionados para
serem entrevistados, totalizando em 35 integrantes, dos quais 10 foram entrevistados.
TOTAL 1ª 2ª 3ªIntegrantes em PE 35 11 13 11Integrantes no NE 42 14 15 13
Edições
Figura 7: Quantidade de integrantes por edição
Fonte: dados da pesquisa, 2010
Cada gestor empresarial participante e as pessoas citadas por eles foram tratadas como
um ator social. A fim de preservar a identidade dos envolvidos, cada ator social foi associado
a um número, dos quais os números 8, 18, 22, 24, 30, 42, 44, 47, 54 e 68 presentes no quadro
1 a seguir, correspondem aos atores entrevistados.
Dados da EmpresaPrograma Ator Sexo Cargo Ramo de AtividadeLidera 2 8 M Sócio Diretor Publicidade/propagandaLidera 1 18 M Sócio Diretor UsinaLidera 3 22 F Sócia Diretora Arquitetura e EngenhariaLidera 1 24 M Sócio-advogado Escritório AdvocaciaLidera 1 30 M Sócio e Diretor Pedagógico EducacionalLidera 3 42 F Diretora MKT e RH TransportesLidera 2 44 F Diretora Financeira Mídia ExteriorLidera 2 47 M Diretor RefrigeraçãoLidera 2 54 F Gerente de Produtos ComércioLidera 1 68 F Diretora de Marketing Indústria Farmacêutica
Dados dos Atores
Quadro 1: Perfil dos entrevistados
Fonte: dados da pesquisa, 2010
56
A seguir será apresentado o tópico referente ao processo de coleta de dados e os
instrumentos que foram utilizados para tal fim.
3.3 COLETA DE DADOS Os dados de uma pesquisa podem ser coletados por meio de vários instrumentos,
sendo estes questionários, entrevistas, formulários, observação participante e não participante.
Porém, a coleta de dados não se restringe apenas a esses instrumentos; os dados também
podem ser extraídos, por exemplo, de teses, artigos, jornais e da Internet (VERGARA, 2009).
O tópico a seguir refere-se ao processo e aos instrumentos de coleta de dados utilizado
no presente estudo.
3.3.1 Processo
Optou-se por uma etapa exploratória por meio de entrevista aberta com uma das
coordenadoras do programa Lidera e consequentemente integrante da Rede Lidera. Essa fase
permitiu à pesquisadora esclarecer pontos sobre o funcionamento da rede, o perfil das pessoas
que a compõem, se há interação entre elas e o que levou à sua construção.
Para Boni e Quaresma (2005), as entrevistas abertas atendem, principalmente, às
etapas exploratórias e as perguntas são respondidas dentro de uma conversação informal. A
sua utilização é pertinente quando o pesquisador deseja obter o maior número de informações
possíveis sobre um determinado tema, segundo a visão do entrevistado, e, também, para obter
um maior detalhamento do assunto em questão (MINAYO, 2002).
Para a segunda fase, a pesquisadora enviou cartas de apresentação (ANEXO A) via
correio em nome do AEC, convidando os integrantes da rede a participarem do estudo. Após
o envio das cartas, o AEC reforçou o convite por meio de correio eletrônico, solicitando a
colaboração dos gestores empresariais selecionados para a participação na pesquisa (ANEXO
B). Após o envio da carta e do correio eletrônico, a pesquisadora entrou em contato com
57
selecionados para marcar as entrevistas, que foram realizadas com 10 dos 35 integrantes
atuantes em PE (total de 29%).
Para a coleta dos dados foram realizadas entrevistas em profundidade. Richardson et
col (2008, p. 207) afirmam que por meio da entrevista é possível penetrar na mente, vida e
definição dos indivíduos. Os autores também argumentam que a entrevista em profundidade é
utilizada quando o pesquisador procura saber como e por que algo ocorre e permite que este
obtenha do entrevistado os aspectos que ele considere mais relevantes sobre um determinado
problema. Conforme Bauer e Gaskell (2007, p. 74), a entrevista em profundidade é uma
interação em díade, mas difere de conversas comuns, pois pode acontecer entre pessoas que
não se conheciam anteriormente.
As entrevistas foram realizadas nas empresas em que os gestores empresariais atuam e
em salas reservadas, permitindo, assim, maior conforto para o pesquisado. De acordo com
Bauer e Gaskell (2007), as entrevistas podem ser agendadas para um tempo e um lugar
conveniente para o entrevistado. As entrevistas foram agendadas com antecedência, gravadas
em meio eletrônico e transcritas.
O encerramento da fase de entrevistas se deu pelo critério de saturação. Para Bauer e
Gaskell (2007, p. 71), é nesse momento que o pesquisador percebe que não aparecerão novas
percepções ou surpresas, o que se verificou no presente estudo.
3.3.2 Instrumentos
Foi utilizado um roteiro (APÊNDICE A) para realização das entrevistas com os
gestores empresariais, elaborado com base na fundamentação teórica da presente pesquisa.
Conforme Bauer e Gaskell (2007), esse roteiro pode ser denominado de tópico guia, que
servirá como referencial fácil e confortável para uma discussão, facilitando, assim, a interação
entre pesquisador e pesquisado. Os dados coletados pelas entrevistas foram utilizados para a
análise da dimensão cognitiva do capital social (significados compartilhados pelos atores).
58
Foi utilizado, como suporte ao roteiro, o cartão gerador de nomes (APÊNDICE B)
com o objetivo de obter dos entrevistados informações sobre as pessoas que apoiam/apoiaram
e os influenciam/influenciaram no desenvolvimento de ações de RSE, bem como o papel
social representado pelas mesmas (RÉGIS, 2005). Por meio dessas informações foi possível
identificar os componentes estruturais gerados pelas interações mantidas na rede, bem como
os atores críticos que a compõem.
O cartão citado anteriormente não foi entregue ao entrevistado, sendo preenchido,
então, pela pesquisadora. Isso permitiu que as indicações das pessoas pelos entrevistados não
ficassem limitadas a um número pré-estabelecido.
O próximo tópico apresentará o método utilizado para análise dos dados.
3.4 MÉTODO DE ANÁLISE
Para a análise da primeira e segunda questão norteadora e o desenho da Rede Lidera
(sociograma), foram utilizados os softwares UCINET 6.0 e NetDraw 2.1 (BORGATTI et al.,
2002). Segundo Melo e Régis (2008), essa ferramenta é uma das mais utilizadas
internacionalmente. Scott (1996) afirma que este software é um dos mais indicados para
aqueles que estão iniciando na empreitada dos estudos e análises de redes sociais.
Conforme dito no item anterior, o cartão gerador de nomes (Régis, 2005) deu suporte à
pesquisadora para coletar dos entrevistados informações sobre as pessoas que
apoiam/apoiaram e os influenciam/influenciaram no desenvolvimento de ações de RSE, bem
como o papel social representado pelas mesmas.
Antes de alimentar os softwares, os dados foram colocados em uma planilha em forma
de matriz e os atores da rede foram organizados em ordem alfabética e codificados (de 1 a
68). Os atores entrevistados representam os números 8, 18, 22, 24, 30, 42, 44, 47, 54 e 68.
Após esse passo, os dados foram inseridos no UCINET 6.0 (Borgatti et al., 2002) para que
fosse realizada a análise da rede social. A matriz alimentada por meio do software é do tipo
59
quadrada, ou seja, as linhas e as colunas correspondem ao mesmo grupo de atores. Cada
célula da matriz descreve uma relação entre os atores (HANNEMAN; RIDDLE, 2005).
Os softwares em questão forneceram um retrato da estrutura da rede e os dados
sociométricos com relação às medidas da densidade e tipos de centralidade. Com esses dados
foi possível avaliar os atores considerados mais centrais na rede e quais os tipos de
centralidade presentes na network. Atores caracterizados como centrais se tornam
importantes, uma vez que podem disseminar informação, fazer link ou estimular contato entre
pessoas desconhecidas e até mesmo apoiar as outras pessoas em determinadas atividades. A
densidade da network pôde indicar se o potencial da rede está sendo bem explorado
(RIBEIRO, 2006).
Além dos dados anteriormente, foi possível identificar a presença ou ausência da
força dos laços entre os atores, sendo estes caracterizados como fracos ou fortes. Para
identificar a força dos laços foi utilizado o critério de reciprocidade de citação, ou seja, se o
ator A citou ou ator B e o ator B citou o ator A como sendo uma pessoa que o apoia/apoiou,
influencia/influenciou a desenvolver ações de RSE, esse laço foi caracterizado como forte
(GRANOVETTER, 1973). Também foram utilizadas as evocações dos entrevistados para
identificação e caracterização de um laço forte, com base na duração da relação, frequência
dos contatos e estreitamento emocional dos atores (KUIPERS, 1999, HIGGINS; KRAM,
2001, RÉGIS 2005).
A análise dos dados quantitativos foi apresentada seguida de dados qualitativos,
quando necessário. Foram inseridas unidades de registro (Bardin, 2009) para que os
resultados fossem apresentados de forma complementar (FLICK, 2009).
Para responder a terceira questão norteadora foi adotada a técnica da análise de
conteúdo. Para Bardin (2009, p. 44), análise de conteúdo é:
“Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos
60
ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens”.
A técnica da análise de conteúdo utilizada no presente estudo foi a análise categorial
temática sobre as entrevistas transcritas. De acordo com Bardin (2009, p. 131), a
categorização tem como objetivo organizar e fornecer, de forma resumida, uma apresentação
simplificada dos dados em forma bruta e o tema “é a unidade de significação que se liberta
naturalmente de um texto analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à
leitura”. Os temas foram identificados por meio das entrevistas transcritas. Cada tema
constitui uma unidade de significação (ou de registro) que foram agrupados em categorias por
similaridade temática. A formação das categorias temáticas foi influenciada pela
fundamentação teórica.
As visões de RSE citadas no modelo de Quazi e O’Brien (2000), fundamentado no
item 2.1.1, foi utilizado como suporte para a criação das categorias temáticas a fim de
identificar os significados compartilhados pelos gestores empresariais da Rede Lidera a partir
das suas evocações com relação ao conceito da RSE. Além de ter sido testado e validado,
conforme mencionado no item 2.1.1.3, este modelo foi aplicado em sujeitos que ocupam
função gerencial, como é o caso do presente estudo.
A seguir serão apresentados os limites e as principais limitações do presente estudo.
3.5 LIMITES E LIMITAÇÕES DO ESTUDO
3.5.1 Limites
A presente pesquisa foi realizada dentro dos limites metodológicos de um estudo de
caso. Optou-se por entrevistar gestores empresariais que atuam em Pernambuco, portanto os
participantes da Rede Lidera que residem fora do Estado não foram acessados.
As entrevistas foram direcionadas aos gestores empresariais e não às pessoas citadas
por estes como sendo aquelas que os apoiam/apoiaram e os influenciam/influenciaram no
61
desenvolvimento de ações de RSE. Portanto, as conclusões do estudo tomaram como base a
percepção dos gestores empresariais e não das pessoas citadas por eles.
3.5.2 Limitações
Uma limitação a ser destacada foi a quantidade de entrevistados e, consequentemente,
a quantidade de dados para serem analisados. Apesar de ter sido utilizado o critério de
saturação dos dados, em pesquisas que envolvem análise de redes sociais, a quantidade de
pessoas é importante para a análise estrutural da rede. Porém, houve um grande esforço da
pesquisadora para agendar as visitas. Vários contatos foram realizados por meio de correio
eletrônico e principalmente por contato telefônico. Algumas reuniões foram canceladas já no
local marcado, outras pré-agendadas, porém sem confirmação futura. A pesquisadora contou
também com o apoio do AEC que reforçou o convite por intermédio de correio eletrônico
solicitando a colaboração dos gestores empresariais selecionados para a participação na
pesquisa (ANEXO B).
Outra limitação diz respeito à questão da força dos laços. A princípio foi utilizado o
critério da reciprocidade (GRANOVETTER, 1973), porém, pelo tempo escasso para
entrevistar as pessoas citadas, foram utilizados critérios qualitativos com base na duração da
relação, frequência dos contatos e estreitamento emocional dos atores (KUIPERS, 1999,
HIGGINS; KRAM, 2001, RÉGIS 2005).
A seguir será apresentado o quadro 2 referente ao arcabouço metodológico que contem
o resumo dos métodos utilizados por os objetivos específicos/questões norteadoras, bem como
algumas das referências bibliográficas utilizadas no presente estudo.
Quadro 2: Arcabouço Metodológico
Objetivos Específicos Questões Norteadoras Método de Coleta Método de Análise Referências
1) Mapear a rede social formada pelos integrantes da Rede Lidera (dimensão estrutural);
QN1) Como está configurada a rede social formada pelos integrantes da Rede Lidera?
Cartão Gerador de Nomes
Sociogramas Medidas sociométricas
Granovettar (1973) Freeman (1979) Krackhardt e Hanson (1993) Nahapiet e Ghoshal (1998) Marinho-da-Silva (2003) Régis (2005) Hanneman e Riddle (2005) Ribeiro (2006)
2) Identificar as características da Rede Lidera no que diz respeito à força dos laços (forte/fraco) existente entre os indivíduos, aos componentes estruturais gerados pelas interações mantidas e aos atores críticos pertencentes à rede (dimensão estrutural);
QN2) Quais as características da Rede Lidera no que diz respeito à força dos laços (forte/fraco) existente entre os indivíduos, aos componentes estruturais gerados pelas interações mantidas e aos atores críticos pertencentes à rede?
Cartão Gerador de Nomes
Sociogramas Medidas sociométricas Índices de centralidade
Granovettar (1973) Freeman (1979) Krackhardt e Hanson (1993) Nahapiet e Ghoshal (1998) Marteleto (2001, 2004) Marinho-da-Silva (2003) Hanneman e Riddle (2005) Régis (2005)
3) Descrever os significados compartilhados pelos membros da Rede Lidera a partir de suas evocações com relação ao conceito de RSE, seguindo o modelo de Quazi e O’Brien (2000) (dimensão cognitiva).
QN3) Quais os significados compartilhados pelos membros da Rede Lidera a partir de suas evocações com relação ao conceito de RSE, seguindo o modelo de Quazi e O’Brien (2000)?
Entrevista semi-estruturada
Análise de Conteúdo Unidades de registro temáticas
Carroll (1979) Carroll (1991) Nahapiet e Ghoshal (1998) Quazi e O’Brien (2000) Carroll e Schwartz (2003) Bastos (2009)
63
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste item apresentam-se os dados coletados por meio das entrevistas, que serão
analisados seguindo a ordem dos objetivos específicos e baseando-se na fundamentação
teórica apresentada. Ao final, será apresentada a discussão em torno dos resultados. Em
primeiro lugar, realizar-se-á a análise dos dados da estrutura da rede (objetivos específicos 1 e
2). Em seguida, será feita a análise e formação das categorias temáticas que correspondem aos
significados compartilhados pelos atores (objetivo especifico 3). Posteriormente, será
apresentada a relação entre a dimensão estrutural e a dimensão cognitiva do capital social. Por
último, serão apresentadas as discussões em torno dos achados.
4.1 A DIMENSÃO ESTRUTURAL DA REDE LIDERA
Este item apresenta os resultados da dimensão estrutural da Rede Lidera, formada por
gestores empresariais que atuam em PE. Conforme comentado no item 2.2.1.1, a dimensão
estrutural é conceituada como um padrão geral de conexão entre os atores. As facetas da
dimensão estrutural são a ausência ou a presença de laços entre os atores e a morfologia da
rede para descrever o padrão de vínculos em termos de medidas como densidade e
centralidade (RÉGIS, 2005).
4.1.1 Mapa da Rede Lidera
Este item tem como objetivo responder à seguinte questão norteadora:
1) Como está mapeada a rede social formada pelos integrantes da Rede Lidera?
Para melhor compreensão, os resultados serão apresentados seguidos da representação
gráfica da network (sociograma). Esse sociograma será utilizado como base durante a
apresentação dos dados, com alteração de cores, espessura da linha ou destaque de algum ator
64
ou relação entre estes, conforme seja necessário. Contudo, os atores aparecerão sempre na
mesma posição nos diferentes sociogramas que serão apresentados.
A rede mapeada é composta por 68 atores. Os atores foram organizados em ordem
alfabética e codificados (de 1 a 68), para atender ao compromisso de sigilo firmado entre a
pesquisadora, o AEC e os atores entrevistados. Os pontos (círculos e losangos) representam
os 68 atores e as linhas que conectam os atores representam os 79 laços encontrados. As setas
que estão situadas nas extremidades das linhas indicam os sentidos das relações (A → B,
significa que A citou B).
É importante frisar que o sociograma a seguir (figura 8) não apresenta a Rede Lidera
na sua totalidade, tendo em vista que de todos gestores empresariais mais os organizadores do
programa Lidera, foram entrevistadas 11 pessoas (10 gestores empresariais mais 1
coordenador). Então, o sociograma representa os 10 gestores empresariais entrevistados que
fizeram o programa Lidera e, por isso, fazem parte da Rede Lidera, além das 58 pessoas
citadas pelos mencionados gestores. Dessas 58 pessoas, 9 fazem parte da Rede Lidera, como
participante ou como organizador do programa, mas não foram entrevistadas, à exceção do
ator 66, que faz parte da coordenação e com quem foi realizada a entrevista de característica
exploratória citada no item 3.4.1 da metodologia.
Os 10 gestores empresariais que foram entrevistados estão representados pelos
losangos na cor laranja: 8, 18, 22, 24, 30, 42, 44, 47, 54 e 68. Os 9 atores que fazem parte da
Rede Lidera, como participante ou como organizador do programa, mas não foram
entrevistados (à exceção do ator 66, conforme citado no parágrafo anterior) estão
representados pelos losangos na cor azul: 10, 15, 16, 28, 41, 46, 53, 62 e 66. Os demais atores
que foram citados, não fizeram parte do programa Lidera e não foram entrevistados, estando
representados pelos círculos azuis.
65
Figura 8: sociograma da Rede Lidera Fonte: dados da pesquisa (2010)
O número de laços presentes nessa rede é 79, o que significa que cada entrevistado
citou em média 8 pessoas que o apoia/apoiou, influencia/influenciou a desenvolver ações de
RSE. Foi solicitado ao entrevistado que indicasse o papel social desempenhado pela pessoa
que ele citou. Para Higgins e Kram (2001), quando uma pessoa se torna membro de uma rede,
a proximidade e a continuidade na relação podem fazer com que os indivíduos desenvolvam
papéis específicos dentro daquela rede.
Alguns entrevistados citaram um ator que desempenhava mais de um papel social em
sua vida. Para Marinho-da-Silva (2003, p. 73), isso acontece quando a ligação social entre
duas pessoas é considerada multiplex, ou seja, quando há uma sobreposição de papéis (ex.:
Maria canta na igreja com Ana e são amigas). Observou-se que os papéis sociais
desempenhados foram, em sua maioria, de amigos (27%) e de pessoas da família (27%),
Respondente Não respondente Participante não-respondente Direção do laço
66
enfatizando a importância desse tipo de relacionamento no apoio ou na influência para o
desenvolvimento de ações de RSE.
Amizade; 27%
Família; 27%Parceria; 14%
Profissional; 14%
Irmão (mais que amigo); 6%
Companheiro de partido político; 3%
Exemplo de vida; 3%
Mentor; 3%Político; 1%
Terapeuta; 1%
Figura 9: mapeamento dos papeis sociais
Fonte: dados da pesquisa (2010) Uma característica observável é que a rede mostra-se conectada. Apenas um ator se
apresenta totalmente isolado (ator 18), porém os demais se encontram conectados por pelo
menos um participante da rede (entrevistado e não entrevistado). Isto mostra que há um
potencial de relações a ser explorado pelos integrantes da rede. Conforme citado no item 3.3,
foram entrevistados atores das três edições do programa Lidera. Isso demonstra que atores de
edições diferentes podem ser conectados por um terceiro, como é o caso dos atores 47 e 68,
que podem ser conectados pelo ator 62; os atores 22 e 47 que podem ser conectados pelo ator
15; os atores 30 e 47, que podem ser conectados pelo 53 e assim por diante. Observa-se que
os atores 15, 41, 47, 66 são importantes na medida em que podem fazer a ligação com
diversos outros atores. Uma possível saída de um desses membros da rede poderia deixá-la
desconectada ou dar origem a pequenos grupos isolados.
A seguir serão mostrados os resultados referentes à densidade, à força dos laços entre
os atores e como se apresentam as características de centralidade dos mesmos. Esses itens
esclarecerão com mais detalhes a estrutura social da Rede Lidera.
67
4.1.2 Componentes Estruturais da Rede Lidera
Segundo Régis (2005, p. 58), a forma como os indivíduos estão ligados também é útil
para o entendimento dos comportamentos dos atores. Este autor ainda afirma que “é possível
realizar uma avaliação básica da estrutura de uma network mediante a análise da densidade e
da centralidade da rede”.
Neste item, a análise dos dados também será apresentada seguida de um sociograma, à
exceção do item densidade. Quando necessário, serão apresentadas unidades de registro
(Bardin, 2009) para que, por meio da triangulação, os resultados possam ser aprofundados
apresentados de forma complementar, reduzindo-se as limitações (FLICK, 2009).
Este item tem como objetivo responder à seguinte questão norteadora:
2) Quais as características da Rede Lidera no que diz respeito à força dos laços
existente entre os indivíduos, aos componentes estruturais gerados pelas
interações mantidas e aos atores críticos pertencentes à rede?
4.1.2.1 Densidade
O número de laços é importante para analisar a densidade da rede, que se caracteriza
como sendo a relação entre o número de laços existentes e o número de laços possíveis. A
densidade da rede toda é de 1,73%, ou seja, de todas as possibilidades de relações entre os
atores, 1,73% estão presentes no caso estudado, indicando que não estão sendo utilizados
98,27% das relações possíveis.
Uma possível explicação para esse índice baixo é o fato de os respondentes terem
citado diversos atores que, em sua maioria, não foram entrevistados. Considerando apenas o
grupo de pessoas que participam da rede, ou seja, aqueles que fizeram ou coordenaram o
programa Lidera, mas que não foram necessariamente entrevistados, a densidade aumenta
para 8,5%. Considerando, por sua vez, apenas o grupo dos entrevistados, a densidade resulta
em 8,9% de laços possíveis, ou seja, resultado maior se comparado ao da rede toda. Isso pode
68
ter ocorrido em razão do número de pessoas envolvidas no cálculo, já que, quanto menor for o
número de pessoas envolvidas na rede, maior tende a ser sua densidade, uma vez que as
pessoas poderão ter maior facilidade de conhecer umas às outras.
4.1.2.2 Laços da Rede Lidera
Conforme citado no item 3.5, a identificação da força dos laços foi medida pelo
critério da reciprocidade e foram utilizadas as evocações dos entrevistados para identificação
e caracterização de um laço forte, com base na duração da relação, frequência dos contatos e
estreitamento emocional dos atores (GRANOVETTER, 1973, KUIPERS, 1999, HIGGINS;
KRAM, 2001, RÉGIS 2005). Para Granovetter (1973), quando a densidade de uma rede é
maior, a possibilidade de surgimento de laços fortes é comum, de forma que, se um ator A
possui laços fortes com os atores B e C, é provável que esses dois últimos tenham um laço
entre si. Conforme apresentado no item anterior, a densidade da rede se apresentou baixa.
Pelo critério da reciprocidade, surgiram apenas 2 laços considerados fortes. Estes laços
se apresentam no sociograma a seguir de forma mais espessa e na cor vermelha. A proposição
de Granovetter (1973) é confirmada na medida em que os laços considerados fortes se
apresentam entre os atores 44 e 47 e 44 e 54, de forma que o ator 47 citou o ator 54, havendo
então uma relação entre eles.
Os laços entre os atores 44, 47 e 54 sugerem a possível presença de um clique.
Conforme mencionado no item 2.2.1.1.2.1, os cliques são sub-redes de atores com relações
mais estreitas. Trata-se da relação entre três gestores empresariais que fizeram parte da
mesma edição do programa Lidera, ou seja, houve uma convivência maior entre eles,
confirmando também a proposição de Granovetter (1973) que enfatiza a quantidade de tempo
como um dos critérios para o surgimento de laços fortes. Para o ator 44, a relação entre ele e o
ator 54 é de suporte, troca de idéias e mais afinidade, como mostra a fala a seguir:
69
A gente troca realmente idéias e quando eu tenho alguma dúvida ou tô precisando de alguma coisa ou contatos, eu sei que o [ator 54] tem uma rede de referências muito boa. Então, o [ator 54] é uma pessoa que me dá um certo suporte quando eu preciso, entendeu? Das pessoas que estiveram lá o [ator 54] é uma pessoa que eu tive mais afinidade, que a gente tem um relacionamento mais estreito. Então assim, quando o [ator 54] precisa de alguma coisa, o [ator 54] também me liga e aí eu também viabilizo mais as coisas pra o [ator 54] (ATOR 44).
Para o ator 54, a relação entre ele e o ator 44 é também de suporte e de muita
afinidade, conforme trecho a seguir:
O [ator 44] é assim, por exemplo... sabe aquele encaixe, assim, almas gêmeas? A gente pensa muita coisa igual, a gente tem muita coisa a ver. Como eu disse a o [ator 44], somos almas gêmeas. O [ator 44] é uma pessoa que eu tenho certeza que se eu me juntasse com ele, alguma coisa a gente fazia... (ATOR 54)
Entre os atores 44 e 47, a relação é de incentivo: ...porque o [ator 47] também dá muito incentivo a coisas que a gente tem feito...
(ATOR 44)
Para o ator 47 a relação dele com o 44 é de mais afinidade e proximidade: Como um grupo de algumas pessoas, você tem mais afinidade com um do que com outro, até mesmo pelo que você faz, pela simpatia, pela proximidade... E aí o [ator 44] é uma deles... (ATOR 47)
O ator 47 ainda citou o ator 54 como sendo uma relação de troca de idéias. Tem alguns outros que a gente pode destacar, como o [ator 54] da [empresa x], onde a gente tá trocando sempre idéias... (ATOR 47)
Seguindo o critério da duração da relação, frequência dos contatos e estreitamento
emocional dos atores, surgiram 3 laços considerados fortes. Estes laços se apresentam no
sociograma a seguir (figura 10) de forma mais espessa e na cor verde. Os laços fortes
apareceram entre os atores 24 e 50, entre os atores 41 e 68 e entre os atores 8 e 33.
70
Figura 10: sociograma da força dos laços Fonte: dados da pesquisa (2010)
Para o ator 24, a relação entre ele e o ator 50 se mostra forte pelo incentivo, parceria e
pelo tempo em que estão juntos, como demonstra a citação a seguir:
Eu me casei com uma pessoa que trabalha na área social [ator 50]. Então desde que a gente era namorado, ela [ator 50] começou a trabalhar [na área social]. Namoramos, noivamos, casamos e ela trabalha só com isso. Então é minha esposa e parceira também. Parceira e co-voluntária porque a gente também trabalha como voluntário junto e [ela] me apóia e incentiva muito. (ATOR 24)
Já o ator 68 expressou ter uma relação mais forte com o ator 41 pela parceria que
existe entre eles:
Eu tenho um laço mais fortalecido com [ator 41], que ele hoje tem esse papel de parceiro por conta dessa associação com a [ONG x], àquela que falei que a gente fundou. Ele hoje faz esse papel de prospectar quais são os produtos e exportar pra Holanda, então a gente tem essa função de parceria (ATOR 68).
Laço forte reciprocidade Laço forte duração da relação, frequência dos contatos e estreitamento emocional dos atores
71
O ator 8 expressou que, por meio da sua relação com o ator 33, sofreu influência para
o desenvolvimento de ações de RSE. O ator 33 é mãe do ator 8 e trabalha com ações sociais
há bastante tempo:
O [ator 33] sempre teve um olhar pra ação social muito forte, fundou uma creche há 25 anos atrás, ou pouco mais que isso que até hoje funciona lá em Nova Descoberta. O [ator 33] hoje é superintendente da fundação [y], que é uma ONG ligada ao clube [x], que trabalha com educação de crianças e adolescentes, então o [ator 33] vive isso muito forte na vida dele, sempre viveu, e isso me influencia muito, quer dizer o [ator 33] me influencia muito como exemplo, como uma pessoa que vive a responsabilidade social quase como uma profissão (ATOR 8).
Percebe-se que dos três laços fortes encontrados por meio desse critério, dois deles
estão relacionados com a família (ator 24 ator 50 e ator 8 ator 33), porém todos
possuem um envolvimento com ações de RSE. O ator 68 fez parte do programa Lidera, bem
como o ator 41, ou seja, criou-se um vínculo forte entre eles após a participação no referido
programa e, consequentemente, por meio da Rede Lidera.
O entendimento dos atores da Rede Lidera sobre a força que há nos seus laços
favorece a mudança de comportamento, influenciando também nas intenções de participação
em ações de RSE.
Apesar de terem surgido poucos laços fortes, não se pode deixar de enfatizar a
importância dos laços fracos. De acordo com Granovetter (1973), esse tipo de ligação possui a
função de difundir informação e de ampliar a rede de relacionamento por meio desses
contatos.
A seguir serão apresentadas medidas referentes à centralidade dos atores que
compõem a Rede Lidera.
4.1.2.3 Centralidade dos Atores na Rede Lidera
Os tipos de centralidade medidos na presente pesquisa foram: a centralidade de grau
(de entrada e saída), centralidade de intermediação e centralidade de proximidade (de entrada
72
e saída). Freeman (1979) argumenta que muitos autores concordam que a centralidade é um
atributo estrutural importante para as redes sociais.
Conforme citado no item 2.2.1.1.2.1, a centralidade de grau mede o número de
ligações pertencentes a um ator, de modo que a centralidade do grau de entrada (ou indegree)
representa o número de citações que um ator recebe de outros atores, ou seja, o número de
pessoas pelas quais um determinado ator é procurado, enquanto a centralidade de grau de
saída (ou outdegree) representa o número de citações que um determinado ator faz a outros
atores de um grupo, ou seja, o número de pessoas pelas quais o ator procura. O indegree
sugere receptividade, prestígio ou popularidade do ator na rede e o outdegree a expansividade
(MARINHO-DA-SILVA, 2003).
De acordo com os resultados da Rede Lidera, a centralidade de grau de saída mostra
variação considerada entre os atores da rede. É possível verificar isto por meio dos índices de
centralização da rede, que mostram a heterogeneidade da centralidade dos atores. O índice de
centralização da rede para o grau de saída é 16,41%, demonstrando que a centralidade de
saída entre os atores da rede está distribuída de forma heterogênea. A centralidade de grau de
entrada também mostra uma variação entre os atores da rede. O índice de centralização da
rede para o grau de entrada é 8,8%. Isto significa que a centralidade de entrada entre os atores
da rede está distribuída de forma um pouco menos heterogênea do que a centralidade de grau
de saída. Isto quer dizer que, na rede estudada, existem atores que se destacam mais com
relação à centralidade de grau de saída se comparado à centralidade de grau de entrada.
Os atores que atingiram centralidade de grau de entrada (ou indegree) estão destacados
no sociograma a seguir (figura 11) por um círculo vermelho, sendo o ator 66 aquele que
atingiu a pontuação máxima. Esse ator foi um dos idealizadores do programa Lidera e
também faz parte da coordenação. O ator 41 se apresenta como o segundo no ranking. Este
ator fez o programa Lidera e foi citado pelos demais como um exemplo a ser seguido, tendo
73
em vista a sua atuação como gestor empresarial e seu envolvimento com ações de RSE. Por
último, o ator 24 também se apresenta com essa característica de receptividade, uma vez que,
ao ser questionado sobre a frequência com que ele se envolve com os demais atores da rede,
respondeu:
“Direto. Antes de você chegar, eu falei hoje com três pessoas que já ligavam pra mim há seis anos. Porque o relacionamento se perpetua, né? Com alguns ficou amizade pessoal mesmo. Eu falo com todos, mas sou amigo pessoal, digo quatro a você aqui que eu falo todo dia” (ATOR 24)
Figura 11: sociograma da centralidade de grau de entrada Fonte: dados da pesquisa (2010)
Os atores que atingiram centralidade de grau de saída (ou outdegree) estão destacados
no sociograma a seguir (figura 12) por um círculo vermelho, sendo o ator 18 aquele que
atingiu a pontuação máxima, apesar de ser o único a estar totalmente desconectado da rede.
Isso pode ter acontecido pela origem familiar da empresa. As pessoas que foram citadas por
Atores com maior centralidade de grau de entrada
74
esse ator desempenham o papel social majoritariamente de família (56,3%), o que significa
que a busca pelo apoio para o desenvolvimento de ações de RSE ou a influência que este ator
teve/tem para desenvolver tais ações vem da família. Em seguida, apresentam-se os atores 30,
42, 54 e 68.
Apesar de aparecer como um ator com um grau de centralidade de saída considerável,
o ator 30 se mostra como uma pessoa que não incentivou a integração entre os membros:
Mas individualmente, eu mesmo não procurei promover nada que pudesse aproximar, entendeu? (ATOR 30)
Conforme Higgins e Kram (2001), esse ator pode ser considerado como oportunista,
tendo em vista a sua postura passiva com relação ao cultivo dos relacionamentos.
Já o ator 42 demonstra sua expansividade por meio das diversas relações mantidas,
seja com o público interno da empresa que lidera, seja em razão do seu relacionamento com o
sindicato ou seu envolvimento como conselheira em uma ONG, que incentiva a prática de
ações de RSE. O ator 54 demonstra expansividade pelas parcerias que faz com ONGs para
apoio e desenvolvimento de ações sociais, bem como pela procura de pessoas na própria
empresa para viabilizar ações e para fazer com que as pessoas da empresa participem e se
integrem em ações desenvolvidas internamente. O ator 68, por sua vez, demonstra capacidade
de procurar outras pessoas para colocar em prática novas idéias com relação a ações sociais e,
assim, ampliar a Rede Lidera:
Foi aí que a gente foi conquistando e chamando outras pessoas que participaram dos outros programas [lidera]. E ai hoje essa rede é bem mais ampliada (ATOR 68).
75
Figura 12: sociograma da centralidade de grau de saída Fonte: dados da pesquisa (2010)
A centralidade de intermediação diz respeito ao papel do ator como intermediador de
outros atores da rede, ou seja, refere-se a sua capacidade de conectar o maior número possível
de atores que não estariam conectados a não ser por um intermediário. “Quanto mais um ator
estiver no meio do caminho e for passagem obrigatória para outros se juntarem, mais elevada
será sua centralidade de intermediação” (MARINHO-DA-SILVA, 2003, p. 70).
Os atores que atingiram centralidade de intermediação estão destacados no sociograma
a seguir por um círculo vermelho, sendo o ator 24 aquele que atingiu a pontuação máxima.
Em seguida aparecem os atores 44, 47, 54.
A característica do ator 24 como um ator com centralidade de grau de entrada
corrobora de certa forma com o seu potencial de intermediação, que pode ser decorrente de
Atores com maior centralidade de grau de saída
76
sua característica de receptividade. Todos os quatro atores são gestores empresariais e
percebe-se que têm consciência do seu poder como incentivador para o desenvolvimento de
ações. Esse papel de incentivar as outras pessoas requer do gestor a característica de fazer a
ponte entre as pessoas para que as ações possam acontecer. De acordo com Ribeiro (2006,
p.48), esse tipo de centralidade “se refere ao controle de um ator sobre as possibilidades de
interação entre outros dois atores. Quanto mais um ator for trajeto necessário para o encontro
de outros, maior será seu grau de centralidade de intermediação”. Isso fica claro na fala a
seguir:
O gestor, ele tem um papel muito importante que é o de influenciar, é o de poder estar interagindo nas pessoas, é de estar podendo convencer, de estar podendo estimular. Então a questão da liderança é um ponto, eu acho que muito forte. É o que vai catar tudo. Porque às vezes você chama uma pessoa que ele tem boas idéias, mas a pessoa não tem como influenciar pessoas, não tem como trazer parceiros (ATOR 44).
Conforme comentado no item 4.1.1.2, a relação entre os atores 44, 47, 54 sugere um
possível clique (sub-grupo). Isso os torna ainda mais fortes, levando em consideração o grau
de intermediação apresentado.
77
Figura 13: sociograma da centralidade de intermediação Fonte: dados da pesquisa (2010)
A centralidade de proximidade é uma medida na qual se consegue avaliar o grau de
proximidade de cada ator da rede com relação aos demais atores. Um ator considerado central
está mais próximo e interage mais rapidamente com os demais (MARINHO-DA-SILVA,
2003). Lazega (1998) interpreta a centralidade de proximidade como uma medida da
autonomia e da independência em relação ao controle exercido por outros. A centralidade de
proximidade de entrada mostra o quanto um ator está suscetível a ser encontrado pelos outros
atores da rede. A centralidade de proximidade de saída diz respeito à capacidade de cada ator
alcançar todos os outros atores da rede.
Atores com maior centralidade de intermediação
78
De acordo com os resultados, a centralidade de proximidade de saída mostra variação
considerada entre os atores da rede. É possível verificar isto por meio dos índices de
centralização da rede, que mostram a heterogeneidade da centralidade dos atores. O índice de
centralização da rede para a proximidade de saída é 33,54%, demonstrando que a centralidade
de saída entre os atores da rede está distribuída de forma heterogênea. A centralidade de
proximidade de entrada também mostra uma variação entre os atores da rede. O índice de
centralização da rede para a proximidade de entrada é 18,28%. Isto significa que a
centralidade de entrada entre os atores da rede está distribuída de forma um pouco menos
heterogênea do que a centralidade de proximidade de saída. Isso quer dizer que, na rede
estudada, existem atores que se destacam mais com relação à centralidade de proximidade de
saída se comparada à centralidade de proximidade de entrada. O resultado foi semelhante se
comparado à centralidade de grau, apresentada anteriormente.
Os atores que atingiram centralidade de proximidade de entrada estão destacados no
sociograma a seguir por um círculo vermelho, sendo o ator 66 aquele que atingiu a pontuação
máxima. Em seguida aparecem os atores 24, 33 e 41.
O ator 66 aparece novamente, ratificando assim o seu prestígio na rede. Como citado
anteriormente, ele é um dos coordenadores do programa Lidera. O ator 24 aparece pela
terceira vez. Ele demonstrou um grau de receptividade, de intermediação e agora, se mostra
um ator mais suscetível de ser encontrado pelos outros atores da rede. A fala transcrita na
análise de centralidade de grau de entrada ratifica essa característica. Ele é um gestor que
utiliza suas competências profissionais para ajudar em ações de responsabilidade social.
No meu caso, pelo fato de eu ser administrador de empresas e advogado, os meus espaços de influência, eu teria que influenciar, eu teria que iluminar onde eu estava e não sair do meu lugar, sair do meu papel pra ir buscar uma iniciativa fora de onde eu já atuo (ATOR 30).
O ator 33 aparece pela primeira vez. Ele não fez o programa Lidera e não foi
entrevistado, mas atua em ações sociais há 25 anos, sendo, atualmente, superintendente de
79
uma fundação que trabalha com educação de crianças e adolescentes. O ator em questão é,
também, mãe dos atores 8 e 24, ambos gestores empresariais entrevistados. Esses dois atores a
citaram como uma pessoa que os apóia e influencia a desenvolver ações de RSE.
Então o [ator 33] vive isso muito forte na vida dele, sempre viveu, e isso me influencia muito, quer dizer o [ator 33] me influencia muito como exemplo, como uma pessoa que vive a responsabilidade social quase como uma profissão, então eu acho que seria minha maior influência (ATOR 8).
O ator 41 já havia aparecido com a característica de ser um ator receptivo. Ele fez o
programa Lidera, mas não foi entrevistado. Os atores 8, 44, 47 e 68 o citaram como sendo um
exemplo pelas ações que desenvolve.
O [ator 41] tem um trabalho excelente, tem uma experiência muito boa nessa área social (ATOR 47).
Figura 14: sociograma da centralidade de proximidade de entrada Fonte: dados da pesquisa (2010)
Atores com maior centralidade de proximidade de entrada
80
Os atores que atingiram centralidade de proximidade de saída estão destacados no
sociograma a seguir (figura 15) por um círculo vermelho, sendo os atores 30, 47 e 68 aqueles
que atingiram a pontuação máxima. Em seguida aparecem os atores 44 e 54.
Esse foi o resultado que apresentou o maior número de atores com a característica de
centralidade considerável. Dos 10 atores entrevistados, 6 atingiram centralidade de
proximidade de saída com destaque, ou seja, são pessoas que se apresentam com maior
facilidade de alcançar os demais membros da rede. Isso demonstra novamente que a rede tem
um potencial de conexão e que os atores se mostram autônomos e independentes, com
facilidade de circular na rede sem barreiras ou restrições.
Apesar disso, alguns atores acreditam que é necessário ter uma pessoa que ocupe o
papel de coordenação da rede para que as pessoas não fiquem soltas e que haja interações
mais frequentes para que o potencial da rede seja mais explorado:
Eu tenho certeza que é um grupo que tá mobilizado. A gente se ama, a gente se abraça, todo mundo e é fácil de mobilizar. Agora, é preciso que isso esteja em algum canto. É danado mesmo dizer isso, admitir isso, mas teria que ser uma iniciativa formal e não partindo de um, entendeu? (ATOR 42)
81
Figura 15: sociograma da centralidade de proximidade de saída Fonte: dados da pesquisa (2010)
O quadro 3 a seguir resume as relações existentes entre os atores e os resultados dos
tipos de centralidade analisados anteriormente.
Quadro 3: Atores x Tipos de Centralidade
Tipo de Centralidade/Atores 18 24 30 33 41 42 44 47 54 66 68
Centralidade de Grau de Entrada x x xCentralidade de Grau de Saída x x x x xCentralidade de Intermediação x x x x
Centralidade de Proximidade de Saída x x x x xCentralidade de Proximidade de Entrada x x x x
Fonte: dados da pesquisa (2010)
A seguir serão apresentados os resultados referentes à dimensão cognitiva do capital
social.
Atores com maior centralidade de proximidade de saída
82
4.2 A DIMENSÃO COGNITIVA DA REDE LIDERA Este item tem o objetivo de responder à seguinte questão norteadora:
3) Quais os significados compartilhados pelos membros da Rede Lidera a partir
de suas evocações com relação ao conceito de RSE, seguindo o modelo de
Quazi e O’Brien (2000)?
Conforme comentado no item 3.5, foi utilizado o critério de categorização temática
sobre as entrevistas transcritas. Para a organização dos temas e das categorias temáticas, foi
utilizado como suporte o modelo de RSE de Quazi e O’Brien (2000), conforme mencionado
no item 2.1.1.3. O modelo proposto por esses autores considera a RSE dividida em quatro
visões: clássica, sócio-econômica, a moderna e a filantrópica. Com isso, pretendeu-se
descrever os significados compartilhados pelos atores a partir de suas evocações com relação
do conceito de RSE.
Foram identificados 11 temas que foram consolidados em 4 categorias. Os quadros 4 e
5 a seguir ilustram os temas e as categorias temáticas formadas. O primeiro quadro representa
a visão de RSE por cada ator, baseado nas suas evocações. O segundo mostra os temas que,
na visão dos atores, não estão enquadrados no conceito de RSE. Além das categorias
referentes à RSE, foram identificados outros significados compartilhados pelos integrantes da
rede que serão apresentados no item 4.2.5.
83
Quadro 4: significados compartilhados com relação ao conceito de RSE
8 18 22 24 30 42 44 47 54 68Preocupação com os stakeholders X X X X X X XFator de competitividade no mercado X XCapital e talento para se engajar em programas de ação social
X X
Contribuição para solucionar problemas sociais como fator benéfico à empresa
X
Ética XBenéfica a curto e longo prazo XImagem favorável para a empresa X XObservância das leis XPercepção de que se é parte de uma sociedade maior, devendo, por isso, responder pelos assuntos sociais
X
Conceito de RSE
Temas Categoria Temática
Visão Moderna
Visão Socioeconômica
Ator
Fonte: dados da pesquisa (2010)
Quadro 5: significados compartilhados que, na visão dos atores, não estão enquadrados no conceito de RSE
8 18 22 24 30 42 44 47 54 68Gerar lucro para a empresa Visão Clássica X XParticipar de atividades de caridade Visão Filantróíca X X X X
Conceito de RSE
Temas Ator
Categoria Temática
Fonte: dados da pesquisa (2010)
A seguir é exposta a descrição detalhada de cada categoria temática e dos temas
correspondentes.
4.2.1 Visão Moderna
Os temas apresentados nesse item dizem respeito à visão moderna da RSE. São
apontadas unidades de registro (BARDIN, 2009) em que os entrevistados expressam seus
pensamentos a respeito da RSE e de cada tema que compõe essa categoria temática.
4.2.1.1 Preocupação com os stakeholders
Os depoimentos dos atores demonstram que a preocupação com os stakeholders é
assunto importante dentro do contexto em que estes atuam. Os comentários remetem ao
cuidado com o público interno, cliente, fornecedor e com a sociedade de forma geral.
84
Porque a responsabilidade social ela é pautada em cima de todos os públicos. É a forma como a empresa conduz o seu negócio relacionado com todos os públicos dela. Eu gosto muito, eu não abro da história da responsabilidade social porque esmiúça muito né?! Como é que tá minha relação com o empregado? Como é que tá a minha relação com a sociedade? Como é que tá a relação com a comunidade? Com o cliente? Com o fornecedor? (ATOR 42)
...outra coisa é você ter uma empresa realmente voltada pra responsabilidade social, pra todo produto que ela oferecer, realmente está ali, ter o foco, ter a identidade da responsabilidade com o universo, com o meio ambiente, com as pessoas, com a segurança do trabalho. Tá entendendo? Enfim, isso a empresa com responsabilidade social, ela é uma empresa que não só vê o bem dela, vamos dizer assim, vê o universo e tudo o que tá a seu redor, né? (ATOR 22)
A atuação junto ao público interno foi citada nas falas de diversos atores.
Eu vejo assim uma grande ação de responsabilidade social da empresa seria por exemplo, dar uma atenção diferenciada aos filhos dos funcionários, promovendo melhorias no ensino, promovendo qualificação, porque é o que o público que tá assim, mais diretamente, mais afetado por você e você às vezes faz fora e não faz pra gente que... a gente sabe que, a gente como todas as empresas, né? Quantas necessidades, quantas demandas os filhos dos funcionários têm que a gente poderia atender (ATOR 54). Então assim eu vejo a RSE como sendo a postura da empresa, é a postura dos colaboradores, é a postura da empresa que envolve todos os stakeholders, não só a comunidade que tá aqui do lado, mas também os nossos colaboradores (ATOR 68). Você administrar a empresa sempre com responsabilidade com seus colaboradores, colocando eles sempre também como a prioridade, né? Também vendo esses como realmente colaboradores, e não só usar esse nome só porque tá na moda, né? Porque antigamente era “empregado”, né? Mas vê-los realmente co-participantes da empresa, né? (ATOR 22)
Estas falas representam a preocupação em primeiro plano com os que estão atuando
diretamente na empresa.
4.2.1.2 Fator de competitividade no mercado
A RSE como sendo fator de competitividade no mercado foi apresentada pelo ator 42,
o qual mostrou que as ações e a atitude da empresa com relação à RSE podem ser revertidas
em benefícios para ela mesma, melhorando a produtividade e os resultados, tornando-a, então
mais competitiva.
É responsabilidade social é a forma de gerir alguma coisa, porque eu acho que responsabilidade social no final da história dá lucro, entendeu? Porque você faz bem feito, melhora resultado, produtividade e meio ambiente (ATOR 42).
85
Apesar disso, há quem acredite que o preço ainda é fator diferencial no momento da
escolha do produto.
Eu tava na loja de Salvador um dia desses e chegou uma gringa, querendo comprar caneca de porcelana, decorada (...) Só tinha importada, as miseráveis das chinesas, entendeu? Aí quando ela olhava: China, China, China... (...) Ela passou uma hora me dando uma regulagem. “Não compro produto nem da China, nem do Vietnã, nem da Tailândia”, nem de não sei onde, nem de não sei onde, “nem da Índia, porque usam mão de obra escrava, usam trabalho infantil, não tem insalubridade nas empresas”... (...) O europeu já tá preparado pra isso porque tem um nível de consciência muito grande. (...) O pessoal nacional mesmo bota um selo ‘indústria nacional’, produto feito por brasileiro, aqui e acolá vai ter um consumidor que vai priorizar isso, mas a grande maioria é preço (ATOR 54).
Sendo assim, o preço se apresenta como o grande fator de competitividade no
mercado.
4.2.1.3 Capital e talento para se engajar em programas de ações sociais
O fato de a empresa se envolver não apenas com recursos financeiros, mas também
trabalhando com o seu capital humano como fonte de talento para desenvolver ações de RSE
foi enfatizada.
...muitas vezes você vê que você pode se engajar em outras, digamos, em outras áreas, que não só requer dinheiro, mas que depois você pode dar um pouco da sua disponibilidade, de conhecimento, do seu tempo... quer dizer, não é só dinheiro, entendeu? (ATOR 44)
Eu acho que uma ação é assim: qualquer coisa em que você invista seu tempo e seu recurso pra você melhorar... (ATOR 54)
Os trechos apresentam a preocupação que os gestores possuem em desenvolver ações
utilizando-se também de tempo e conhecimento, mesmo havendo limitações financeiras.
4.2.1.4 Contribuição para solucionar problemas sociais como fator benéfico à
empresa
A RSE se apresenta como investimento, à luz da responsabilidade do próprio
empresário.
Eu vejo que minha responsabilidade como empresário, como empresa é cuidar do social também. Tá certo? Agora isso é fácil? Não é fácil. Isso custa? Custa. Custa, mas é um investimento, eu vejo como investimento e não como uma despesa, porque a médio e longo prazo tem um retorno (ATOR 47).
86
A partir dessa concepção, a empresa se envolve em ações que podem trazer, no futuro,
benefícios para a empresa. Nesse caso, a ação não se caracteriza notoriamente como sendo
pontual, se distanciando assim da visão filantrópica da RSE.
4.2.1.5 Ética
A RSE aparece como sendo ética.
Desde que a empresa tenha essa noção de que ela é parte de um todo e que ela tem influência sobre esse todo e que ela deve interagir com esse todo e deve contribuir para minimizar as desigualdades... Não só porque tá dentro da empresa, mas toda a questão ética, a questão da solidariedade, a questão de convivência, etc (ATOR 30).
Nesse caso ela não se limita a ações, mas se mostra como um conceito macro, global,
que envolve os valores, comportamento e interação com os outros.
4.2.1.6 Benéfica em curto e longo prazo
A RSE como sendo uma atitude que pode trazer benefícios à empresa em longo prazo
também foi citada.
Penso em RSE dentro do foco de sustentabilidade e não dentro do foco de iniciativa, que hoje é, amanhã acaba, mas dentro do foco de sustentabilidade. É uma ação que primeiro de tudo fosse sustentável, que não fosse uma ação de ímpeto, uma ação planejada que promovesse o desenvolvimento da região de forma holística (ATOR 24).
A palavra que aparece é a sustentabilidade. Ações de RSE sendo sustentáveis e de
longo prazo. Nesse caso também se distancia da ação pontual, trazida pela visão filantrópica.
4.2.1.7 Imagem favorável para a empresa
A questão da imagem dentro da RSE foi colocada no sentido de influenciar os
concorrentes a também adotar práticas socialmente responsáveis, mais do que utilizar as
práticas como meio de publicidade e propaganda. A divulgação das ações foi colocada com o
objetivo de encorajar os concorrentes para que eles também desenvolvam tais ações e, assim,
resultar em benefícios para todos.
87
Então eu vejo assim, a questão de você dar visibilidade é uma questão muito mais assim, de você dar o exemplo. E as outras empresas menores fazerem também porque se todo mundo contribuir um pouquinho, a gente acaba melhorando alguma coisa, né? (ATOR 54)
A divulgação de ações de RSE foi criticada no momento em que ela se mostra
incoerente quando veiculada em paralelo a práticas empresariais que prejudicam a sociedade.
Nesse caso, a propaganda é simplesmente uma questão de marketing, mas que na realidade
não tem conteúdo e não se mostra verdadeira.
Fica complicado eu ter uma prática altamente nociva e por outro lado, eu fazer um projeto com a comunidade aqui do lado, então não tem muito fim, tem muita ação de marketing, né? Muita ação de marketing... Nada contra, mas que não é saudável, você capitalizar as coisas... a empresa vive de imagem... Tem que fazer de forma verdadeira (ATOR 18).
A seguir serão apresentadas as análises com relação à categoria temática intitulada
visão socioeconômica da RSE.
4.2.2 Visão Socioeconômica
As evocações da grande maioria dos atores entrevistados ficaram localizadas na
categoria temática “visão moderna”, porém alguns deles citaram temas que também se
encaixam na visão socioeconômica. Dessa forma, percebe-se que o processo de construção do
conceito de RSE, para alguns atores, ainda está em fase de amadurecimento.
4.2.2.1 Observância das leis
A visão socioeconômica retrata uma postura restrita da RSE.
Que eu acho que hoje você, na hora em que você tem uma empresa por ex. que não sonega imposto isso é uma ação social, entendeu? Na hora que você tem uma empresa onde você é justo com todos os seus colaboradores no pagamento de todas as responsabilidades, todos os encargos, no tratamento com cada um, na formação profissional de cada um, tudo isso pra mim hoje em dia, eu vejo que tudo isso também é ação social (ATOR 8).
O fato de uma empresa entender que é socialmente responsável em razão da mera
observância das leis, demonstra uma postura reativa diante da sociedade.
88
4.2.2.2 Percepção de que se é parte de uma sociedade maior, devendo, por
isso, responder pelos assuntos sociais
A visão socioeconômica da RSE, apesar de ser classificada como uma visão restrita,
aceita adotar algum grau de responsabilidade social que levará benefício líquido para a
empresa, como por exemplo, construir bons relacionamentos com clientes, comunidade e
público interno.
Se eu não me preocupar com o entorno da minha empresa, o que é que acontece, onde é que eu posso melhorar, se eu não melhorar, aquilo pode trazer consequências ou causas negativas pra empresa (ATOR 47).
A empresa pode desempenhar a dupla função de maximização de lucro enquanto
atende à demanda social.
4.2.3 Visão Clássica
Alguns atores citaram exemplos de como não se deve interpretar a RSE atualmente,
distanciando-se, então, da visão clássica da RSE. São apresentadas críticas às visões mais
antigas ou do que se pensava ser a RSE.
4.2.3.1 Gerar lucro para a empresa
A interpretação de que a empresa só existia para gerar lucros é abandonada, mostrando
que esta possui responsabilidades outras.
A noção de responsabilidade social, que, para mim, são as ações que visam o desenvolvimento da atividade econômica, não só com o fim único e exclusivo do lucro, mas com uma perspectiva... uma perspectiva diferente, mais localizada, de sustentabilidade, de atividade sustentável, certo? (ATOR 18)
É você saber que não só é isso, né? Que não é só o lucro que faz a sua empresa, né? Ao contrário. Tem outros valores que são bem maiores que o lucro (ATOR 22).
Nos depoimentos mostrados anteriormente, apresenta-se a noção da importância do
negócio ser sustentável e existir não apenas com o único objetivo de gerar riquezas.
89
4.2.4 Visão Filantrópica
A visão filantrópica, apesar de se apresentar como a visão ampliada da RSE, é vista
como algo pontual, sem profundidade. É considerada como uma visão ampliada, pois deve ser
adotada pelos indivíduos em razão de sentimentos altruístas em relação à sociedade, mesmo
que isto represente custos.
4.2.4.1 Participar de atividades de caridade
Na minha cabeça antes ação social basicamente era ajudar os carentes, de alguma forma; seja doando computador, seja doando roupa, seja pagando um curso, seja enfim, qualquer coisa; dando comida. E a minha visão ampliou depois do Lidera (ATOR 8). É um entendimento que a gente às vezes tem sem saber e aprofunda com determinadas leituras que faz. Mas precisamente o foco da responsabilidade social empresarial e talvez apartando um pouco de aspectos de filantropia, de assistencialismo, tá? Então você pode balizar melhor a atuação da empresa nesse aspecto (ATOR 18). Olhe, veja bem, geralmente quando você fala de responsabilidade social, você sempre acha que essa questão de você dar um suporte para as pessoas menos favorecidas, às vezes você pensa que é você ajudar uma instituição, você ajudar uma creche, às vezes só envolve a questão do dinheiro, e muitas vezes você vê que você pode se engajar em outras, digamos, em outras áreas, que não só requer dinheiro, mas que depois você pode dar um pouco da sua disponibilidade, de conhecimento, do seu tempo... quer dizer, não é só dinheiro, entendeu? (ATOR 44) Então, assim, eu passei a entender que a questão de responsabilidade social, muito mais do que assistencialismo ou de qualquer outra coisa, é uma postura (ATOR 68).
Contudo, alguns atores demonstraram que, na visão deles, RSE não se limita a ações
assistenciais, como doações pontuais para os mais carentes.
4.2.5 Outros significados compartilhados
Utilizando-se do modelo proposto por Quazi e O’Brien (2000), foi possível categorizar
os significados compartilhados pelos atores em torno da RSE, conforme apresentado no item
anterior, além de outros significados que não estão contemplados no referido modelo.
90
O quadro 6 a seguir resume os outros significados que são compartilhados pelos
integrantes da Rede Lidera:
Quadro 6: Outros significados compartilhados
8 18 22 24 30 42 44 47 54 68Comungam as mesmas idéias Identidade X X X XApoio X X XCompartilhamento de informações X X XAtravés do exemplo X X XInspiram o ator X XSolidariedade XCarinho X XCompromisso XAmor X
Conduta Positiva
Sentimento
OUTROS SIGNIFICADOS COMPARTILHADOS
Temas Categoria TemáticaAtor
Colaboração
Fonte: dados da pesquisa (2010)
Dentre os outros significados compartilhados foi possível identificar o sentimento de
identidade e de colaboração entre o grupo ou entre alguns atores, conforme mostrado nas
citações a seguir:
Tem [uma identidade Lidera] e a questão de relacionamento é muito forte. Muito forte (ATOR 24). O grupo todo se reune e troca idéias, é uma conquista que alguém teve e compartilha. Claro que esse grupo fica um pouco mais reduzido porque você não tem a mesma aproximação com todo mundo, mas assim você gerou alguns links o junto aquela coisa simples mas que sempre vai tá sendo fortalecido (ATOR 68). Então, assim, eu acho que a rede, eu penso assim, a rede tá preparada, no sentido de que todas essas pessoas comungam das mesmas ideias, dos mesmos valores, que não é fácil nesse meio. Pra você pescar gente, desse meio, que tenha essa visão não é muito fácil, não é muito comum, entendeu? Aí eu vejo assim que a rede tá pronta nesse sentido (ATOR 54). Se eu sofrer a necessidade de alguém do Lidera, eu posso entrar em contato com eles, posso por telefone ou por e-mail, porque se eles tiverem condições de colaborar, eles vão colaborar, então a rede não deixa de existir porque é um laço, é contato que a gente fez, embora a gente não esteja se encontrando muito pra aproximar cada vez mais, mas o vínculo existe e a consideração existe. Acho que qualquer um que precisar de qualquer um do grupo pra alguma coisa, acho que todo ele vai dar apoio (ATOR 30). Então, a gente dá pra conversar, porque por exemplo quando eu encontro uma pessoa do Lidera, eu digo: “ah, esse cara é do Lidera esse cara entende. Fala comigo, vai me entender, consegue me entender, me ajudar, né?”. É uma identidade. O Lidera é uma identidade. O que é mais importante é a gente contar com a rede. A gente sabe que conta com a rede (ATOR 42). E, mas assim, ela [ator 44] é uma pessoa que eu tenho certeza que se eu me juntasse com ela, alguma coisa a gente fazia. Entendeu? Porque a gente pensa muita coisa igual, a gente tem muita coisa a ver, muita coisa a ver. Como eu disse a ela, somos almas gêmeas (ATOR 54).
91
Eu acho que o papel do Lidera, da Rede Lidera, ele é um papel de agregador, de convergência e de fortalecimento daquela consciência pra não deixar você se apagar (ATOR 47).
Para Nahapiet e Ghoshal (1998), a identificação com o grupo ou coletividade aumenta
a preocupação com os processos e resultados coletivos, incrementando as oportunidades de
intercâmbio. Essa identificação pode aumentar também a frequência atual de cooperação. Por
outro lado, quando os grupos possuem identidades distintas, pode haver barreiras significantes
para o compartilhamento de informações, para o aprendizado e para a criação de
conhecimento.
Com relação à rede em estudo, identificou-se, por meio das evocações dos
entrevistados, que existe o compartilhamento de informações entre eles, o que pode ratificar
esse sentimento de colaboração e identidade:
O [ator 28] foi do Lidera comigo e é meu amigo, hoje é cliente também. Ele é um cara que, sem nem ele saber eu acho, com as atitudes, ele é um cara que a gente troca muito sobre isso. Sobre responsabilidade social. Ele é professor disso também. (ATOR 24) O [ator 62] é amiga e a gente troca idéias em termos de ação, pois como ela faz parte de uma empresa familiar, a gente troca muita idéia sobre essa questão também, do trabalho dentro da empresa, da questão social da empresa. A gente criou uma identidade. (ATOR 68). O [ator 59], o [ator 11] e o [ator 24] são pessoas com quem eu troquei idéias, assim, meio que uma troca de emails, compartilhando algumas coisas e tal (ATOR 68). O [ator 66], como é que se diz, ela foi meio que minha mentora na entrada do estudo mais profundo na parte dessa responsabilidade social, eu não conhecia a antes do Lidera e ela se tornou minha amiga que é hoje, a gente tem contato sempre e ela tem esse papel de mentoria (ATOR 68). O [ator 54] a gente troca realmente idéias e quando eu tenho alguma dúvida ou tô precisando de alguma coisa ou contatos, eu sei que ela tem uma rede de referências muito boa. Então, ela é uma pessoa que me dá um certo suporte quando eu preciso, entendeu? (ATOR 44)
Percebe-se, também, que alguns atores foram influenciados a desenvolver ações de
RSE por meio do apoio ou das influências de membros que não participaram necessariamente
do programa Lidera. Expressaram que o contato com alguns desses atores causou sentimentos
como o de solidariedade, de carinho, de compromisso que, por sua vez, motivou o ator a
92
desenvolver ações de RSE. Pessoas que são exemplos, que possuem uma conduta positiva e
que inspiram os demais também foram identificadas como fontes de influência para o
envolvimento com ações de RSE.
O [ator 41] é um cara que eu admiro muito e que de certa forma me influenciou muito durante o lidera. Ele já era [meu amigo] antes e ficou mais ainda depois (ATOR 8). O [ator 48] tem quatro anos de idade e me apóia pela exigência dele, né? É, então, pela, posso dizer assim, me apoia, mas o compromisso, assim, de exemplo, de valores, tudo, então isso, vamos dizer, se você perguntasse assim o que seria adicionado e fortalece já o que existe, às vezes eu acho que um filho fortalece sempre o que tá colocado dentro de você, o que tá posto, né? Então, eu acho que você sempre vai procurar melhorar (ATOR 18). Os exemplos que eu lembrei, assim, são familiares, tem o [ator 20] e o [ator 51]... Sempre tiveram, realmente, uma preocupação. Porque eles, assim, nunca tinham atrasado um dia de salário. Mas não deixou de atrasar um dia de salário porque tinha dinheiro, até porque as dificuldades foram muito grandes, em alguns períodos, mas porque você sacrificava vários aspectos, mas você sempre priorizava não sacrificar aquele (ATOR 18). Outra coisa que influenciou muito na minha vida foi o partido que eu faço parte, que é o Partido Comunista do Brasil e aí se você perguntar, tem várias pessoas lá dentro, que me fizeram rever a questão da solidariedade, da compaixão, tá entendendo? Da igualdade social... Então isso pra mim teve uma influencia enorme, me influenciam até hoje (ATOR 22).
O [ator 7] eu o vejo pouco, ele mora em Fortaleza, mas eu falo relativamente com ele, e ele é uma pessoa que me inspira. A forma como ele atua me inspira. Ele é profissional social, foi diretor de uma ONG, hoje é diretor da [ONG y], que é uma ONG que tem aqui. Ele é amigo, mas é um cara que me inspira, ele realmente me inspira (ATOR 24). São pessoas [participantes do programa lidera] que a gente tem, naturalmente, um carinho muito grande até hoje, entendeu? A gente vê que são pessoas que tem uma sensibilidade boa (ATOR 30).
Tudo isso, quer dizer, eu vou na raiz da empresa e vejo que ele [o pai] fazia com muito amor. A base de tudo que move responsabilidade social é amor, é fazer com amor, né? Assim, com gosto, com prazer, com alegria. [Meu irmão] é o presidente da empresa, que fica com muita resistência e a resistência dele que me instiga. [Minha irmã] é quem me acalma (ATOR 42). Eu adoro o [ator 44], adoro de paixão. E sei que o [ator 44], gosta de mim também porque a gente se afinou demais (ATOR 54). O [ator 66], eu acho que é uma pessoa assim, que, embora eu não conviva muito, mas eu admiro muito... E eu sinto, assim, muita sinceridade. Eu sinto nela sinceridade. Não é coisa pra inglês ver não. Eu acho que o que ela faz é de verdade. Ela não... E eu sempre assim, sempre que eu tô com ela, eu consigo assim, me direcionar para alguma coisa, eu acho assim, a postura dela muito boa, as atitudes dela muito boas, eu acho que de certa maneira, embora eu acho que ela nem saiba disso (ATOR 54).
93
A seguir será mostrada a relação entre as dimensões estrutural, no que diz respeito à
centralidade de grau de saída, e a cognitiva, considerando a visão de RSE dos atores que
apresentaram este tipo de centralidade.
4.5 A RELAÇÃO ENTRE AS DIMENSÕES ESTRUTURAL E COGNITIVA
4.5.1 Atores Centrais e Conceito de RSE
A análise a seguir compara os dados quantitativos e qualitativos. Conforme
apresentado no item 3.4, para a análise dos dados qualitativos foram utilizadas as entrevistas
em profundidade e para os dados quantitativos, as informações contidas no cartão gerador de
nomes. O primeiro deu suporte à dimensão cognitiva e o segundo, à dimensão estrutural da
rede em questão.
Por meio da análise e dos resultados da dimensão estrutural, foi possível identificar os
atores que desempenham papeis centrais na rede estudada, conforme demonstrado no quadro
3. A análise a seguir está direcionada sobre os atores que obtiveram maior grau de
centralidade de saída (outdegree), pois são aqueles mais capazes de desenvolver e expandir
relacionamentos com outros atores. São atores capazes de fazer com que os outros tenham
consciência da sua visão e, por isso, influenciam os demais integrantes da rede. A centralidade
de grau de entrada (indegree) também se mostra importante, mas não foi possível fazer a
mesma relação, uma vez que uma parte dos atores que demonstraram ter esse tipo de
centralidade foram citados pelos respondentes, mas não participaram da pesquisa.
O quadro 7 a seguir mostra a relação entre os atores com maior centralidade de grau de
saída (outdegree) e o que eles compartilham na Rede Lidera a respeito da RSE.
94
Quadro 7: Atores com maior centralidade de grau de saída e o que eles compartilham sobre a RSE
Preocupação com os stakeholders X X X X XFator de competitividade no mercado X XCapital e talento para se engajar em programas de ação social
X
Contribuição para solucionar problemas sociais como fator benéfico à empresaÉtica XBenéfica a curto e longo prazoImagem favorável para a empresa X X
Visão Moderna
Atores com Centralidade de Grau de SaídaConceito de RSE
54 68Temas Categoria Temática 18 30 42
Fonte: dados da pesquisa (2010)
Os dados mostram que todos os atores que obtiveram o grau de centralidade de saída
(outdegree) se preocupam com seus stakeholders, ou seja, com aqueles que de alguma forma
podem ser afetados, direta ou indiretamente, pelas suas decisões e atuações.
O ator 18, apesar de estar desconectado da rede, demonstra a sua expansão na medida
em que procura pessoas da própria empresa para apoiá-lo no desenvolvimento de ações de
RSE. Ele demonstrou também buscar apoio nas relações familiares, tendo essas relações o
influenciado para o desenvolvimento de ações. Ele atua em uma empresa familiar que existe
há mais de 100 anos. A entrevista demonstrou a influência que esse ator recebeu dos seus
avós, principalmente o avô, que sempre se preocupou com os funcionários e com os que
moram em torno da organização. Esse ator demonstrou preocupação no que diz respeito ao
desenvolvimento de ações de RSE apenas para fins de divulgação. Para ele, é mais importante
que a ação de RSE seja verdadeira, do que ser fruto de uma ação para propaganda.
O ator 30, apesar de ter aparecido como um ator expansivo, expressou a sua
passividade com relação à movimentação da rede. Ele foi o ator que mais citou outros
integrantes da Rede Lidera como pessoas que o apoiam/apoiaram e o
influenciam/influenciaram a desenvolver ações de RSE. Para o ator 30, o papel social destas
pessoas é mais que amigo. Isso demonstra que ele considera estas relações importantes. Este
ator relatou que a Rede Lidera influenciou sua consciência com relação à RSE:
95
O Lidera foi um grande pontapé inicial... foi o grande marco, foi... Vai estar sempre mudando, a gente vai amadurecendo cada vez mais, vai crescendo, vai sensibilizando, vai agindo e uma coisa vai tomando a outra... Mas eu diria que hoje eu tenho uma responsabilidade muito melhor do que eu tinha antes, certo? Mas se for perguntar daqui a uma semana, eu vou ter mais do que eu tenho hoje. Então eu digo nesse sentido; porque a gente tem que tá se aperfeiçoando sempre. O Lidera deu essa noção mais aprofundada. A gente participou não só do programa, como teve outros encontros também nesse sentido. E a gente veio trabalhando... (ATOR 30)
O ator 42 acredita que o fato de uma empresa ter uma atuação socialmente responsável
gera lucro, pois as ações de RSE melhoram o resultado e a produtividade da empresa, sendo a
RSE um fator de competitividade no mercado. É por meio da sua capacidade de expandir e
desenvolver relacionamentos que esse ator consegue incentivar os seus funcionários a se
engajarem nas ações de RSE desenvolvidas na empresa em que atua, bem como se relacionar
com o sindicato para que essa relação traga melhorias para seus colaboradores. Esse ator
também demonstra seu engajamento e, com isso, a sua expansividade, no momento em que
foi conselheiro, durante nove anos, de uma ONG que incentiva a prática da responsabilidade
social no meio empresarial. Dessa forma, ele pôde influenciar outras pessoas a exercerem a
prática da RSE e trocar conhecimento sobre o assunto dentro e fora da empresa em que atua.
Este ator credita que a Rede Lidera, por meio das interações entre seus membros, contribui
para o fortalecimento da visão sobre RSE: “Contribui sempre. Essas interações são
provocações”.
Já o ator 54 entende que a RSE pode ser um fator de competitividade, mas acredita
também que o preço dos produtos ainda é um fator diferencial no processo de escolha do
consumidor. Mesmo assim, por acreditar que o desenvolvimento de ações de RSE é
importante, o ator 54 desenvolve ações na empresa tanto para o público interno, como para o
público externo. Busca relações com algumas ONGs para que estas possam desenvolver seus
projetos e influencia os seus colaboradores para que eles possam apoiar e viabilizar as ações
de RSE internamente. Este ator também acredita que, por meio da Rede Lidera, a sua visão de
RSE sofre influências e que também, por meio da Rede, são compartilhadas as ações
96
desenvolvidas por cada um: “Influenciam assim, porque a gente se comunica, fica sabendo o
que um fez, o que um participou...”.
O ator 68 demonstra forte preocupação em desenvolver primeiramente ações de RSE
com o seu público interno para depois focar no público externo. Essa preocupação reflete o
cuidado com um dos seus stakeholders, mas ele não descarta a preocupação com os demais,
apenas tem priorizado as ações internas para posteriormente rever e fortalecer as ações
externas. Conforme mencionado, este ator demonstra a capacidade de procurar outras pessoas
para colocar em prática novas idéias com relação a ações sociais. Procura mobilizar o seu
público interno para que as ações de RSE sejam compartilhadas e também troca idéias com os
integrantes da Rede Lidera antes de desenvolver uma ação. Acredita que dessa forma o
trabalho pode ser desenvolvido coletivamente.
Levando em consideração esses dados, pode-se dizer que os atores que possuem o
grau de centralidade de saída compartilham uma visão moderna da RSE, tomando como base
o modelo proposto por Quazi e O’Brien (2000). Com isso, esses atores podem, por meio da
capacidade de expansão, transmitir e disseminar essa visão e influenciar os outros atores da
rede para que estes possam compreender a RSE e desenvolver ações que de fato façam a
diferença dentro de suas organizações.
A seguir serão apresentadas as discussões em torno dos achados.
4.6 DISCUSSÕES
Esse tópico apresentará as discussões do trabalho seguindo a ordem dos resultados
encontrados. Primeiramente serão apresentadas as discussões em torno da dimensão estrutural
e, em seguida, serão apresentadas as discussões referentes à dimensão cognitiva da rede em
análise.
97
4.6.1 Dimensão Estrutural da Rede
Com relação à densidade da rede social em análise, os resultados mostram que os
índices foram baixos, considerando a rede como um todo, o grupo de pessoas que participam
da rede e o grupo de entrevistados. Esses resultados corroboram os achados de Marinho-da-
Silva (2003), Régis (2005) e Ribeiro (2006), os quais sugerem que um percentual baixo indica
que a rede está sendo pouco explorada. O fato de os respondentes terem citado diversos atores
que, em sua maioria, não foram entrevistados, pode ser uma possível explicação para o baixo
índice apresentado.
Para Marinho-da-Silva (2003, p. 58), a densidade é uma medida “potencial de fluxo de
informação, não é uma medida real do fluxo de informação”. Apesar da densidade baixa, o
aparecimento de apenas um possível clique ou sub-grupo, indica um potencial real de
aproveitamento e disseminação das informações transacionadas na rede, o que também
corrobora os achados de Ribeiro (2006). Por meio das evocações de três atores entrevistados,
foi possível identificar que existe o compartilhamento de informações deles com outros atores
da rede, mas essa troca pode ainda ser explorada, devido ao seu potencial.
Com relação à força dos laços, foram utilizados dois critérios, conforme citado no item
3.5. O primeiro critério utilizado foi o da reciprocidade. A proposição de Granovetter (1973),
segundo a qual, se um ator A possui laços fortes com os atores B e C, é provável que esses
dois últimos tenham um laço entre si, foi confirmada, na medida em que os laços
considerados fortes se apresentam entre os atores 44 e 47 e 44 e 54, sendo certo que o ator 47
citou o ator 54, havendo então uma relação entre eles.
Por meio do segundo critério utilizado, qual seja, duração da relação, frequência dos
contatos e estreitamento emocional dos atores, verificou-se três laços fortes. Por meio das
evocações dos atores, foi possível perceber que esses laços influenciaram o comportamento
desses atores para o envolvimento com ações de RSE. Esse resultado corrobora o argumento
98
de Marteleto (2004) em que as redes proporcionam conexão entre sujeitos sociais e essas
conexões podem influenciar o comportamento individual, de modo que esse comportamento
pode ser fruto da estrutura à qual ele pertence. Bastos (2009) ratifica esse argumento
mostrando que um indivíduo possui influência sobre outrem em diversos ambientes e
contextos coletivos.
No que diz respeito aos tipos de centralidade, os resultados mostraram que grande
parte dos atores entrevistados possuem algum tipo de centralidade, à exceção dos atores 8 e
22. Os demais possuem alguma característica que, se bem utilizada, poderá trazer benefícios à
rede em questão. Freeman (1979) argumenta que muitos autores concordam que a
centralidade é um atributo estrutural importante para as redes sociais.
Os atores 24, 41 e 66 sugerem receptividade e são aqueles mais procurados e que, por
isso, podem contribuir significativamente apoiando os demais. Os dados qualitativos
demonstraram que o ator 24 possui grande experiência com legislação focada no terceiro setor
e os atores 41 e 66 possuem grande experiência com RSE, sendo este último citado até como
mentor de dois outros atores na rede. De acordo com Marinho-da-Silva (2003), os atores que
de destacam por possuírem a centralidade de grau de entrada sugerem prestígio e
popularidade na rede.
Os atores 18, 30, 42, 54 e 68 são os atores considerados com alto potencial de
expansão da rede, ou seja, são os que se destacaram pela centralidade de grau de saída. Nos
achados de Régis (2005), os atores que apresentaram maior outdegree, foram aqueles que
mais buscaram apoio da rede. Na presente pesquisa, o ator 18 foi o que apareceu com o maior
grau nesse tipo de centralidade, apesar de estar desconectado da rede. Ele citou várias pessoas
que trabalham próximas a ele, principalmente familiares, já que atua em uma empresa dessa
natureza. O ator 30 foi o segundo ator que mais citou pessoas que fizeram o programa Lidera,
mostrando que essas são pessoas que de alguma forma o apoiaram para o desenvolvimento de
99
ações de RSE. Os demais atores buscam apoio, não só com os integrantes da Rede Lidera,
mas também com familiares e amigos. Então esse apoio pode ter sido de ordem técnica, mas
também de ordem emocional.
Os atores 24, 44, 47 e 54 demonstraram ser centrais com relação ao seu potencial de
intermediação. Para Ribeiro (2006, p.48), esse tipo de centralidade se refere ao “controle de
um ator sobre as possibilidades de interação entre outros dois atores”. Os dados qualitativos
demonstram que os atores 24 e 44 compartilham informações e com isso eles podem manter o
potencial de fluxo de informação por meio da quantidade de ligações indiretas pertencentes a
eles (LAGO JUNIOR, 2005). O ator 47 foi o único entrevistado que só citou pessoas que
fizeram o programa Lidera. Isso indica o forte controle que possui sobre as possibilidades de
interação entre os demais. A relação entre os atores 44, 47, 54 sugere um possível clique (sub-
grupo). Isso pode ter aparecido em decorrência de parcerias estabelecidas entre os atores 44 e
47 e 44 e 54. Esse fato pode demonstrar também um problema, já que a relação nos cliques se
apresenta forte e fechada em relação ao ambiente externo (RÉGIS, 2005).
Os atores 30, 44, 47, 54 e 68 demonstram uma capacidade de alcançar os demais
atores da rede por meio da centralidade de proximidade de saída. Esse foi o resultado que
apresentou o maior número de atores com a característica de centralidade. Esse resultado
demonstra novamente que a rede tem um potencial de conexão e que os atores se mostram
autônomos e independentes, com facilidade de circular na rede sem barreiras ou restrições
(QUIROGA, 2003, RÉGIS, 2005).
Os atores 24, 33, 41 e 66 se mostram as pessoas mais suscetíveis de serem
encontrados pelos demais atores da rede (centralidade de proximidade de entrada). São atores
que podem agregar bastante, devido ao conhecimento de cada um deles em suas respectivas
áreas, bem como o tempo de experiência que possuem atuando com RSE.
100
Os resultados sugerem que os integrantes da Rede Lidera podem utilizar o seu
potencial se adequando à característica apresentada por cada um deles. Dessa forma, a
mobilização e dinamização da rede para a disseminação da RSE pode acontecer de forma
mais estruturada e mais eficaz, já que cada integrante da rede terá um papel específico e
utilizar-se-á do seu potencial expansivo, de intermediação ou de sua popularidade para apoiar
o desenvolvimento de ações de RSE (MARTELETO, 2001).
A seguir serão apresentadas as discussões em torno da dimensão cognitiva da rede em
análise.
4.6.2 Dimensão Cognitiva da Rede
Os resultados referentes aos significados compartilhados pelos atores entrevistados da
rede em análise demonstraram que, além do conceito da RSE, estão presentes outros conceitos
que são compartilhados por eles.
Levando em consideração o conceito da RSE, verificou-se que os atores entrevistados
distanciam-se da RSE como sinônimo de geração de lucros para a empresa, ao contrário do
que pensava o economista Milton Friedman, para quem “a única responsabilidade da empresa
era ter um desempenho econômico inquestionável” (FISCHER, 2002). Além disso, eles se
distanciaram também do conceito de RSE como sinônimo de caridade ou como uma atividade
pontual ou simplesmente filantropia. Dessa forma, os achados corroboram os argumentos de
Carroll (1991). Esse autor considera ser a dimensão filantrópica a menos importante, dentro
do seu modelo de RSE e que a responsabilidade social corporativa não está limitada a isso.
Apenas um ator considera a RSE como sendo sinônimo de atender às leis. É o que
Quazi e O’Brien (2000) chamou de visão socioeconômica da RSE. No modelo de RSE
proposto por Carroll e Schwartz (2003), a categoria do domínio legal está relacionada com as
atividades empresariais motivadas pelo desejo de evitar ações judiciais atuais ou futuras,
101
decorrentes de condutas negligentes. Atender às leis demonstra uma postura passiva da
organização.
Os gestores empresariais que compõem a rede em análise demonstram que se sentem
responsáveis pelas suas atitudes e as conseqüências que elas podem trazer para a sociedade
por meio de suas decisões. Eles se mostraram preocupados com os seus stakeholders e com as
consequências que atividades de suas empresas podem trazer para estes, especialmente com o
público interno, sempre colocando-o como prioridade. Além disso, mostraram que ser
socialmente responsável é também ser ético, adotando a RSE como um conceito macro, que
envolve além dos valores, a preocupação com comportamento na interação com os outros,
corroborando, dessa forma, os argumentos de Carroll (1979, 1991).
Alguns atores mostraram que a RSE pode ser um fator de competitividade no
mercado, podendo até trazer lucro para a organização, mas que o preço ainda é o fator
diferencial para a escolha de um produto pelo consumidor. Além disso, contribuir para a
solução dos problemas sociais pode trazer benefícios para empresa à medida que é encarada
como um investimento e não como um custo.
Todas essas preocupações envolvem o que Quazi e O’Brien (2000) chamaram de
visão moderna da RSE. Grande parte dos gestores, principalmente aqueles que possuem a
centralidade de grau de saída, mostrou uma visão moderna da RSE, aproximando-se da RSE
como estratégia (HUSTED, 2003; PORTER e KRAMER; 2006), porém com uma
preocupação em não se utilizar da RSE apenas como uma ferramenta de marketing, mas como
um compromisso por ser empresário e saber que a sua atividade interfere e modifica o
contexto social do qual faz parte.
Conforme dito anteriormente, além do conceito de RSE, outros significados são
compartilhados pelos atores que compõem a rede em estudo. Significados estes que foram
interpretados como um sentimento de identidade com o grupo ou com um dos componentes
102
do grupo ou um sentimento de colaboração por meio do apoio e do compartilhamento de
informações, ou ainda como uma conduta positiva que influencia os atores ou serve como
exemplo para que eles se envolvam com ações de RSE, além do sentimento de solidariedade,
de carinho e de compromisso com os que fazem parte dessa rede.
Esse resultado corrobora os argumentos de Nahapiet e Ghoshal (1998), em que a
identificação com o grupo ou coletividade aumenta a preocupação com os processos e
resultados coletivos, incrementando as oportunidades de intercâmbio. Os resultados também
vão ao encontro de Bastos (2009, p. 94) para quem “a ação humana constitui uma unidade que
integra práticas, significados pessoais e culturais a elas associados e, certamente,
componentes emocionais e afetivos. O sentir, o pensar e o agir interligam-se em complexas
redes que geram ‘atos’ e são resultantes de uma história singular em um contexto que também
é singular, naquilo que é percebido, interpretado e construído pelo próprio sujeito”.
A seguir serão apresentadas as conclusões do estudo, bem como as sugestões para
pesquisas futura.
103
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES
Esse item apresentará as conclusões do estudo e as sugestões para realização de
pesquisas e ações futuras.
5.1 CONCLUSÕES
A presente pesquisa teve como objetivo analisar como se apresenta a rede social
Lidera, construída por gestores empresariais interessados no fenômeno da RSE, no que se
refere aos aspectos estruturais e aos significados compartilhados com relação à
responsabilidade social empresarial. Os objetivos específicos foram:
1) Mapear a rede social formada pelos integrantes da Rede Lidera (dimensão
estrutural);
2) Identificar as características da Rede Lidera no que diz respeito à força dos laços
(forte/fraca) existente entre os indivíduos, aos componentes estruturais gerados pelas
interações mantidas e aos atores críticos pertencentes à rede (dimensão estrutural);
3) Descrever os significados compartilhados pelos membros da Rede Lidera a partir de
suas evocações com relação ao conceito de RSE, seguindo o modelo de Quazi e
O’Brien (2000) (dimensão cognitiva).
Como conclusão do primeiro objetivo específico, qual seja, mapear a rede social
formada pelos integrantes da Rede Lidera, os resultados indicam que a rede em questão tem
um grande potencial de conexão a ser explorado, principalmente por apresentar apenas um
possível sub-grupo, e que grande parte dos entrevistados demonstram a capacidade de
alcançar os demais atores da rede, sugerindo assim, autonomia e independência, com
facilidade de circular na rede sem barreiras ou restrições.
104
A partir do segundo objetivo específico, conclui-se que, o poder que os laços fortes
possuem na rede estudada é capaz de influenciar positivamente na intenção de
comportamento dos atores para se envolverem com ações de RSE. Krackhardt (1992) enfatiza
a importância dos laços fortes como fonte de sustentação para momentos de crise, de mudança
e de incerteza e Bastos (2009) argumenta que os indivíduos podem exercer influência sobre
outrem em diversos ambientes e contextos coletivos.
Os integrantes da Rede Lidera podem utilizar o seu potencial se adequando à
característica apresentada por cada um deles. Dessa forma, a mobilização e dinamização da
rede para a disseminação da RSE pode acontecer de forma mais estruturada e mais eficaz, já
que cada integrante da rede poderá ter um papel específico e utilizar-se do seu potencial
expansivo, de intermediação ou de sua popularidade para apoiar o desenvolvimento de ações
de RSE (MARTELETO, 2001). Nesse aspecto, o ator 54 se mostra um ator-chave, pois
apresentou três tipos de centralidade, bem como foi o que mais evocou temas sobre a RSE.
Para as análises e conclusões do terceiro objetivo específico, utilizou-se como apoio o
modelo de RSE de Quazi e O’Brien (2000) e foi possível perceber que os atores da rede em
questão compartilham, além de significados sobre o conceito da RSE, também significados
que representam o sentimento de identidade, de colaboração, de solidariedade e de exemplo,
por meio de condutas positivas.
Os gestores empresariais que compõem a rede mostraram uma visão moderna da RSE,
assumindo o compromisso de serem empresários cientes de que a sua atividade interfere e
modifica um contexto social do qual fazem parte.
A seguir serão apresentadas as sugestões para futuras pesquisas, bem como algumas
sugestões de ação.
105
5.2 SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS
A presente pesquisa abordou um estudo de caso. Dessa forma, os resultados não
permitem generalização, porém revelam que pesquisas futuras poderão colaborar ainda mais
com o estudo de redes sociais e RSE. As sugestões a seguir são propostas para o
aprofundamento dos estudos:
- Realizar um estudo abordando a dimensão relacional do capital social (NAHAPIET;
GHOSHAL, 1998; RÉGIS, 2005). Por meio do estudo dessa dimensão, poderão ser avaliadas,
por exemplo, as relações de confiança e a identificação das normas sociais presentes em uma
determinada rede social;
- Verificar as fontes de suporte social (WILLS; SHINAR, 2000), presentes em uma
rede social, que apoiam os indivíduos a desenvolver ações de RSE;
- Analisar de que forma uma rede social influencia a atitude dos indivíduos com perfil
de liderança para o desenvolvimento de ações de RSE (BRECKLER; HOPKINS, 1984,
AJZEN, 2001, SHELLEY, 2006). Para Bastos (2002), “a cognição social resgata
cientificamente, tópicos como, os processos de atribuição, a formação de impressões, os
estereótipos, as atitudes, os protótipos, os schemas e os scripts”;
- Realizar um estudo para analisar possíveis relações de mentoria (HIGGINS; KRAM,
2001) entre pessoas que se envolvem com ações de RSE e de que forma essas relações
influenciam o desenvolvimento de tais ações.
A seguir serão apresentadas algumas sugestões de ação.
5.3 SUGESTÕES DE AÇÃO
As sugestões de ação a seguir terão o intuito de ampliar as discussões sobre a RSE
entre os gestores empresariais e como, na prática, as redes sociais podem apoiar essas
discussões.
106
A primeira sugestão é voltada para que a Rede Lidera possa explorar seu potencial de
conexão. A rede poderia se organizar, utilizando-se, por exemplo, dos atores que possuem
capacidade expansiva e de intermediação entre os demais atores. Essa organização pode
permitir uma maior articulação entre os integrantes e com isso, fortalecer a rede social em
questão. Tal organização pode acontecer por meio de uma coordenação, mas que seja flexível
para não sobrecarregar pessoas em específico. O ideal é que a responsabilidade seja
compartilhada com todos.
Marteleto (2001) afirma que redes sociais ou networks podem unir idéias e recursos
em torno de valores e interesses compartilhados, razão pela qual se sugere que os integrantes
seja divididos de acordo com os interesses em comum, para que eles possam discutir e
desenvolver possíveis ações de RSE, baseados em pretensões individuais, mas que se tornarão
coletivas no momento em que esses interesses em comum forem compartilhados.
Para o desenvolvimento de capital social é necessário investimento na construção e
manutenção dos relacionamentos (RÉGIS, 2005). Para isso, é sugerido que reuniões sejam
agendadas com bastante antecedência, já que a rede é formada por gestores empresariais que
possuem pouca disponibilidade de tempo. O contato pessoal é importante para estreitar os
laços que, como sugerido nas conclusões, podem ter um papel positivo no envolvimento com
questões sociais.
Para ampliar e facilitar a troca de informações sugere-se que a rede se utilize de
alguma ferramenta de redes sociais disponível gratuitamente na Internet, que normalmente
são fáceis de administrar e estão ao alcance de todos. Isso não substitui os encontros pessoais,
mas intensifica o compartilhamento de dados.
107
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APÊNDICE A
TÓPICO GUIA - ENTREVISTA
Abertura
1. Apresentação do pesquisador; 2. Agradecimento pela concessão da entrevista; 3. Garantia de anonimato; 4. Promessa de entregar os resultados da pesquisa; 5. Pedido de permissão para gravar. Qual a sua visão de RSE? O que é RSE pra você? Que ações são consideradas socialmente responsáveis pra você? Como você percebe, hoje, qual o seu papel como gestor para o desenvolvimento de ações de RSE? O que levou você a se envolver com ações de RSE? Vamos fazer um retrato da sua rede de relacionamento? Quem são/foram as pessoas que contribuem ou contribuíram com você para o desenvolvimento de ações de responsabilidade social empresarial? O que ela(s) é (são) sua? Amigo(a)? Professor(a)? Colega de trabalho? Parente? ...
115
APÊNDICE C
CARTA DE APRESENTAÇÃO UTILIZADA NO MOMENTO DA ENTREVISTA
Prezado(a) respondente,
Venho nesta carta pedir a sua colaboração em uma pesquisa sobre Redes de Relacionamentos e Responsabilidade Social Empresarial. Esta pesquisa está
sendo desenvolvida como requisito para a conclusão do Mestrado Profissional em
Gestão Empresarial do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da
Faculdade Boa Viagem (CPPA-FBV) sob orientação da Prof.ª Lúcia Barbosa, com o
objetivo de compreender a influência da rede social na atitude e realização de ações
socialmente responsáveis.
Desde já, agradeço por disponibilizar um pouco do seu tempo para responder à
pesquisa. As informações fornecidas serão tratadas com sigilo e conhecidas apenas
pelos pesquisadores. Ninguém mais terá acesso a estas informações. Quando
houver a divulgação dos resultados, os nomes não serão revelados em hipótese
alguma. Os nomes citados serão codificados de maneira a preservar a
confidencialidade dos dados.
Você receberá um sumário com os resultados e conclusões da pesquisa. A
apresentação dos resultados, perante uma banca examinadora, será um evento
público e você está convidado a comparecer. Você será avisado sobre a data e o
local assim que a apresentação for marcada.
Agradeço a atenção,
Marcela Cox dos Santos Silva
marcelaupe@hotmail.com
(81) 9114-921
Faculdade Boa Viagem Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração Mestrado Profissional em Gestão Empresarial
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APÊNDICE D A REDE LIDERA
A rede Lidera é fruto do primeiro grupo de participantes do programa Lidera,
desenvolvido pela Fundação Kellogg5 e o Instituto Ação Empresarial pela Cidadania (AEC).
Assim, para entender um pouco mais da Rede Lidera faz-se necessário apresentar o programa
Lidera: os seus objetivos, como foi elaborado, qual a metodologia utilizada, quais os critérios
para participação, dentre outros detalhes.
Com o propósito de unir o indivíduo, o mundo social e o empresarial,
simultaneamente, o programa Lidera surgiu para desenvolver as desenvolver as capacidades
sociais dos atores que fazem parte do empresariado brasileiro e que se interessam pelo
desenvolvimento de ações de responsabilidade social empresarial. Esse programa é focado no
desenvolvimento pessoal e no autoconhecimento, pois os seus idealizadores acreditam que as
mudanças pessoais levam às mudanças sociais, apesar de acreditarem também que, sozinhos,
pouco podem fazer. Por isso, a pretensão também é sensibilizar e provocar os participantes
para que eles possam potencializar suas redes de articulação e compartilhar as ideias e os
frutos da sua experiência com responsabilidade social (LIDERA, 2007).
O primeiro programa aconteceu em 2005 e finalizou em agosto de 2006. Nessa
primeira edição houve a participação de 13 integrantes, que, ao final, formou a Rede Lidera.
A segunda edição do programa contou com a participação de 15 empresários do Nordeste,
sendo que dessa vez houve a participação da Fundação Avina,6 que permitiu a realização e a
integração dos participantes da primeira e segunda edições. A terceira edição do programa
iniciou em março de 2009 e contou com a participação de mais 14 gestores empresariais. As
5 A Fundação Kellogg foi fundada em 1930 com a missão de buscar uma melhoria na qualidade de vida das pessoas (KELLOGG, 2010). 6 A Fundação Avina foi fundada em 1994 com a missão de contribuir para o desenvolvimento sustentável da América Latina fomentando a construção de vínculos de confiança e aliança entre líderes sociais e empresariais (AVINA, 2010).
117
três edições do programa Lidera resultaram em uma rede composta por 42 gestores. A quarta
edição está prevista para início de 2011.
Além da Fundação Kellogg e do AEC, o programa Lidera conta com a parceria do
Instituto Fonte, que possui experiência em processos de desenvolvimento de entidades e
lideranças sociais, e da Adigo Consultores, empresa reconhecida pela atuação com indivíduos,
grupos e organizações empresariais. O programa conta também com o apoio do Instituto
C&A7 e da TGI Consultoria8.
Os seguintes critérios são utilizados para a seleção dos candidatos: ser empresário de
qualquer porte que atue no Nordeste, ter trajetória de liderança, ter interesse na questão social,
ter idade acima de 25 anos.
O programa é formado por cinco módulos. A dinâmica de cada módulo é pautada em
três dimensões de aprendizado: a cognitiva (o pensar), a emocional (o sentir) e a volitiva (o
querer). Os idealizadores do programa acreditam que o sentir é a ponte entre as duas outras
dimensões, por entenderem que a percepção é o primeiro passo para a transformação. Sendo
assim, realizam atividades que estimulem o lado artístico do participante para o
desenvolvimento das habilidades sensoriais. Após esse estímulo, dedicam-se ao âmbito do
“pensar”, em que são colocados conteúdos provocativos para serem debatidos e
compartilhados em plenárias. Ao final, os participantes são questionados quanto à sua
percepção com relação ao que foi aprendido ou discutido durante o dia. Dessa forma,
estimula-se a parte do querer.
7 O Instituto C&A foi fundado em 1991 com o objetivo de promover e qualificar o processo de educação de crianças e adolescentes no Brasil (INSTITUTO C&A, 2010) 8 A TGI Consultoria foi fundada em 1989, com um objetivo em comum: desenvolver sistemas modernos e eficientes de gestão para empresas que querem e/ou precisam se desenvolver (TGI, 2010).
118
Figura 16: Dinâmica dos módulos do programa Lidera Fonte: Lidera, 2007
Cada módulo é composto por três dias e são realizados em lugares diferentes, fora do
Recife. O primeiro módulo leva o participante a realizar a busca do auto-desenvolvimento:
qual o seu compromisso comigo mesmo? O que estou construindo? Qual o meu papel nesse
contexto?
O segundo módulo se dedica à visão integrada do ser humano, da organização e da
sociedade como instâncias de um mesmo organismo social e que se influenciam mutuamente.
O foco é entender o papel do gestor e suas responsabilidades no que tange ao
desenvolvimento dos indivíduos, das organizações e da sociedade.
No terceiro módulo há o contato dos participantes com a realidade. Eles são levados
para uma comunidade pobre no meio urbano ou rural. Os grupos ficam em casas diferentes
para que eles experimentem realidades diferentes. Esse módulo tem o objetivo de fazer com
que os gestores se descubram humanamente implicados com o que vivenciam. É o módulo
que deverá servir como impulsor para os dois módulos seguintes.
O quarto módulo é considerado como sendo o da prática, das soluções e das
possibilidades. É esperado que os participantes saiam com ações estruturadas que direcionem
suas atitudes de liderança para a transformação social das realidades em que vivem, tanto em
suas organizações como no contexto social que as envolve.
O quinto e último módulo é bastante focado no indivíduo, o qual se questiona acerca
do plano pessoal de cada um e onde se insere a atuação social nesse plano.
119
Figura 17: Estruturação dos módulos do programa Lidera Fonte: Lidera, 2007
Atualmente, os integrantes da Rede Lidera se encontram de forma não programada,
para discutir questões sociais e possibilidades de futuras parcerias para o desenvolvimento de
ações de responsabilidade social. Essas interações acontecem entre os integrantes das três
turmas do programa Lidera, porém mais fortemente entre os integrantes de cada turma,
individualmente. Por isso, a organização do Lidera está passando por um momento de
reflexão para estudar a forma mais efetiva de comunicação, interação e articulação entre todos
os participantes do programa Lidera, para que, em breve, haja um maior fortalecimento da
Rede Lidera.
Como dito anteriormente, foi do programa Lidera que surgiu a Rede Lidera. A cada
nova edição do programa, ou independentemente dele, novos gestores empresariais poderão
fazer parte dessa rede social. Esta, que é formada por gestores empresariais com a visão das
causas sociais, pode fazer algo diferente para a sociedade. A partir do engajamento de
empresários e das experiências das empresas em ações socialmente responsáveis, um novo
desenho da realidade poderá ser feito e novas soluções poderão ser apontadas para construção
de uma sociedade mais justa.
120
APÊNDICE E
ÍNDICE DE CENTRALIDADE DOS ATORES
ATOR RESPONDENTE PARTICIPANTEGRAU DE ENTRADA
RECEPTIVIDADEGRAU DE SAÍDAEXPANSIVIDADE INTERMEDIAÇÃO PROXIMIDADE DE ENTRADA PROXIMIDADE DE SAÍDA
1 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.0002 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.0003 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.0004 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.0005 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.0006 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.0007 0 0 1.000 0.000 0.000 2.500 0.0008 1 1 0.000 4.000 0.000 0.000 7.0009 0 0 1.000 0.000 0.000 2.500 0.00010 0 1 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00011 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00012 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00013 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00014 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00015 0 1 2.000 0.000 0.000 2.833 0.00016 0 1 1.000 0.000 0.000 2.000 0.00017 0 0 1.000 0.000 0.000 1.833 0.00018 1 1 0.000 12.000 0.000 0.000 12.00019 0 0 1.000 0.000 0.000 2.000 0.00020 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00021 0 0 1.000 0.000 0.000 2.500 0.00022 1 1 0.000 6.000 0.000 0.000 6.00023 0 0 1.000 0.000 0.000 2.000 0.00024 1 1 3.000 8.000 20.000 3.000 8.00025 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00026 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00027 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00028 0 1 1.000 0.000 0.000 2.500 0.00029 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00030 1 1 0.000 9.000 0.000 0.000 12.50031 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00032 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00033 0 0 2.000 0.000 0.000 3.000 0.00034 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00035 0 0 1.000 0.000 0.000 2.000 0.00036 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00037 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00038 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00039 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00040 0 0 1.000 0.000 0.000 2.000 0.00041 0 1 4.000 0.000 0.000 4.500 0.00042 1 1 0.000 9.000 0.000 0.000 9.00043 0 0 1.000 0.000 0.000 2.000 0.00044 1 1 2.000 5.000 10.000 2.000 11.00045 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00046 0 1 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00047 1 1 1.000 8.000 8.500 1.500 12.50048 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00049 0 0 1.000 0.000 0.000 2.000 0.00050 0 0 1.000 0.000 0.000 2.500 0.00051 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00052 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00053 0 1 2.000 0.000 0.000 2.833 0.00054 1 1 2.000 9.000 14.500 2.000 12.33355 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00056 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00057 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00058 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00059 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00060 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00061 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00062 0 1 2.000 0.000 0.000 2.833 0.00063 0 0 1.000 0.000 0.000 1.000 0.00064 0 0 1.000 0.000 0.000 2.500 0.00065 0 0 1.000 0.000 0.000 2.000 0.00066 0 1 7.000 0.000 0.000 7.500 0.00067 0 0 1.000 0.000 0.000 2.000 0.00068 1 1 0.000 9.000 0.000 0.000 12.500