Post on 16-Aug-2015
TRABALHO 01-
Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set; 14(3):411-8. A interdisciplinaridade como construção do
conhecimento... A INTERDISCIPLINARIDADE COMO CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM
SAÚDE E ENFERMAGEM1 INTERDISCIPLINARITY AS KNOWLEDGE CONSTRUCTION IN HEALTH
CARE AND NURSING LA INTERDISCIPLINARIEDAD COMO LA CONSTRUCCIÓN DEL
CONOCIMIENTO EN LA SALUD Y EN ENFERMERÍA Betina Hörner Schlindwein Meirelles2 ,
Alacoque Lorenzini Erdmann3 1 Texto elaborado a partir da tese de doutorado “Viver Saudável
em Tempos de Aids: a complexidade e a interdisciplinaridade no contexto da prevenção da
infecção pelo HIV”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2003. 2 Enfermeira. Doutora em
Enfermagem. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da UFSC. 3 Enfermeira.
Doutora em Filosofia da Enfermagem. Professora Titular do Departamento de Enfermagem da
UFSC. Pesquisadora e Representante de Área CNPq. Orientadora da Tese. Endereço: Betina
Hörner Schlindwein Meirelles Av. Gov. Irineu Bornhausen, 3188, Apto 801 88025-200 –
Florianópolis, SC. E-mail: betinahsm@ig.com.br RESUMO: Este artigo resulta de uma síntese
sobre a interdisciplinaridade na construção do conhecimento e práticas em
saúde/enfermagem, considerando as múltiplas dimensões que envolvem o processo
saúdedoença e a promoção da saúde das comunidades. O objetivo é propiciar reflexão e
melhor compreensão da realidade dinâmica e complexa, que impõe que se estabeleça
múltiplas interconexões para que as ações se efetivem na promoção da saúde. O pensamento
em saúde ainda é fragmentado, levando a ações de prevenção e controle de doenças pontuais
e enfoque mutilado da realidade vivida pelos sujeitos. O estabelecimento das inter-relações e
integrações disciplinares propiciará uma consciência capaz de enfrentar as complexidades e a
integralidade do processo de viver saudável. A partir dessa compreensão, sugere-se a
construção de um conhecimento contextualizado em saúde/enfermagem, que responda às
necessidades dos sujeitos e facilite a criação de parcerias entre múltiplos atores/sistemas
sociais na abordagem por melhores condições de saúde e vida. ABSTRACT: This article is the
result of a synthesis about interdisciplinarity in constructing knowledge and practices in health
care and Nursing, considering the multiple dimensions which involve the health and illness
processes and health promotion in communities. The objective of this study is to propitiate
better comprehension about the complexity and dynamism of the reality that demands
professionals to establish interrelationships among their actions, aiming for effective health
promotion. The concepts of health are still fragmented, resulting in reducing professionals’
actions toward prevention to controlling illness without considering the individuals’ daily life
context. Whereas, the professional that establishes the interrelationships between disciplines
will be able to face the complexities and wholeness of healthy living process. From this
comprehension, the author suggests knowledge construction based on a health care/Nursing
context that meets individuals’ necessities and facilitates the development of a net partnership
between social actors, seeking better health and life conditions for individuals. RESUMEN: Este
artículo resulta de una síntesis sobre la interdisciplinariedad en la construcción del
conocimiento y prácticas en salud/enfermería, considerando las múltiples dimensiones que
envuelven el proceso salud-enfermedad y la promoción de la salud de las comunidades. El
objetivo es propiciar la reflexión y mejorar la comprensión de la realidad dinámica y compleja,
que impone que se establezcan múltiples interconexiones para hacer efectivo las acciones en
la promoción de la salud. El pensamiento en la salud, todavía, continua fragmentado, llevando
las a acciones de prevención y el control de enfermedades puntuales y a um enfoque mutilado
de la realidad vivida por las personas. El establecimiento de las interrelaciones e integraciones
disciplinares propiciará una conciencia capaz de enfrentar las complejidades y la integridad del
proceso de vivir saludable. A partir de esta comprensión, se sugiere la construcción de un
conocimiento contextualizado en salud-enfermería, que responda a las necesidades de las
personas y facilite la creación de parcerías entre múltiples actores/sistemas sociales en el
abordaje por mejores condiciones de salud y de vida. PALAVRAS-CHAVE: Ação intersetorial.
Promoção da saú- de. Enfermagem. Conhecimento. KEYWORDS: Intersectorial action. Health
promotion. Nursing. Knowledge. PALABRAS CLAVE: Acción intersectorial. Promoción de la
salud. Enfermería. Conocimiento. Artigo original: Reflexão Recebido em: 15 de fevereiro de
2005 Aprovação final: 13 de abril de 2005 - 412 - Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set;
14(3):411-8. Meirelles BHS, Erdmann AL INTRODUÇÃO A dinâmica e as transformações que
vêm ocorrendo na sociedade refletem de maneira significativa no campo da saúde, trazendo
novos desafios aos pesquisadores e profissionais da saúde tanto nos campos epistemológicos
como metodológicos. O setor saúde é chamado a responder a uma pluralidade de
necessidades e especificidades, às mudanças demográficas, às condições sociais, às mudanças
epidemiológicas, centrando-se no ser humano, individual ou coletivo. A saúde coletiva e
pública, como proposta centrada na promoção da qualidade de saúde e vida dos homens, tem
nas práticas interdisciplinares um espaço privilegiado para repensar teorias, inovar seus
conhecimentos e as formas de pensar a saúde, a doença e a prestação de serviços, e se
concretizar como um movimento que aglutine o saber e os sujeitos desse saber. Envolve
pensar a respeito da realidade. Necessita do encontro, de troca entre os diversos setores da
sociedade, entre investigadores na busca das respostas às questões em aberto. Convivemos
com a necessidade de diferentes abordagens para entender a realidade e enfrentar os
problemas que se apresentam, buscando múltiplas teorias para explicá-los. Assim, a saúde
torna-se um processo dinâmico e complexo, cuja compreensão aponta a reflexões
interdisciplinares para uma nova prática em saúde e Enfermagem, como nos propomos a
discutir neste texto. UMA BREVE REFLEXÃO A RESPEITO DO CONCEITO DE
INTERDISCIPLINAIDADE EM SAÚDE E ENFERMAGEM A abordagem interdisciplinar nos leva
como ponto de partida, a uma discussão a respeito do termo interdisciplinaridade, tão
comumente usado em nosso meio. Podemos até dizer que o termo está na “moda” e é
facilmente confundido com o trabalho em equipe ou em grupo, tanto na pesquisa como na
resolução de um problema prático. No caso da saúde, coloca-se que “a busca de ações
integradas na prestação de serviços, ou na associação de docência e serviço, ou a questão da
interface entre o biológico e o social passa pelo campo genericamente denominado de
relações interdisciplinares”,1:98 como resposta à compartimentalização que procura
responder aos problemas de saúde, que geralmente não são disciplinares. Assim, uma
abordagem interdisciplinar, com o olhar da complexidade em saú- de, se caracteriza pela
necessidade de aporte de outros conhecimentos, principalmente das Ciências Humanas e
Sociais à saúde, numa superação do enfoque muitas vezes biomédico, curativista e
fragmentado que se tem adotado na abordagem da problemática. Porém, a questão não é a
simplificação de interligar os conhecimentos, mas deve-se levar em consideração a
intervenção efetiva no campo da realidade social. “O problema assume maior complexidade
na medida em que a disciplinaridade e a interdisciplinaridade necessitam ser vistas em seus
condicionantes histórico-sociais no contexto de uma sociedade em que a especialização e a
proliferação e fragmentação do conhecimento passam a fazer parte de uma sociedade
competitiva e corporativista”.1:98 A nova visão de saúde coletiva e pública, em construção na
América Latina, traz a necessidade de uma sistematização do conceito de saúde, situando suas
potencialidades de constituição de um conhecimento interdisciplinar. Enfim, no sentido de que
este movimento ideológico se articule a novos paradigmas científicos capazes de abordar o
objeto complexo saú- de-doença respeitando sua historicidade e integralidade, reconhecendo
as várias facetas dos fenômenos da vida cotidiana envolvidos neste processo. Neste sentido,
consideramos importante a discussão a respeito destes novos paradigmas, como também a
pertinência do debate entre profissionais e instituições de saúde em busca desta nova prática
sanitá- ria, tal como também propõe a Organização Mundial da Saúde através de suas
Conferências para a promo- ção da saúde dos povos. Novos paradigmas trazem novas formas
de pensamento e de visão de mundo. O pensamento simplificador vigente na saúde
desenvolveu-se, no quadro soberano dos três axiomas da lógica identitária clássica.2 Foi
justamente isso que produziu um pensamento redutor ocultando a solidariedade,
interretroações, sistemas, organizações, emergências, totalidades e suscitou conceitos
unidimensionais, fragmentados e mutilados do real. Foi o que levou a ciência clássica à visão
determinista/atomista de um universo-máquina constituído de bases isoláveis. A idéia de
interdisciplinaridade já vem desde os filósofos gregos com a possibilidade de formar um
homem integral, voltando à discussão nos tempos atuais, na década de 60, com os trabalhos
de Gusdorf, Piaget, Bastide, Jantsch, dentre outros, com a possibilidade de unir os
conhecimentos que vão se fragmentando nos espaços especializados. Porém, somente na -
413 - Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set; 14(3):411-8. A interdisciplinaridade como
construção do conhecimento... década de 70, principalmente com as conclusões de um
encontro sobre interdisciplinaridade organizado pela Organização da Comunidade Européia
para o Desenvolvimento Econômico (OCDE), é que recebe seu maior impulso.3 Na década de
90, a interdisciplinaridade toma outra forma diante do mundo de informação e de crises que
vivemos. Passa a ser vista de uma forma mais complexa, na busca de uma nova epistemologia.
Vivemos a hiperespecialização em todas as áreas do conhecimento, os problemas
fundamentais e os problemas globais são despejados das ciências disciplinares. As mentes
formadas pelas disciplinas perdem suas aptidões naturais tanto para contextualizar os saberes,
tanto como para integrá-los em seus conjuntos naturais.2 O enfraquecimento da percepção do
global conduz ao enfraquecimento da responsabilidade (cada um tende a responsabilizar-se
somente pela sua tarefa especializada) e da solidariedade. A divisão das disciplinas
impossibilita entender o que está tecido junto, ou o complexo, o que precisa ser mudado para
que sejamos capazes de construir concepções e modelos mais aproximados da realidade.
Aponta-se que a justificativa de um projeto de pesquisa interdisciplinar, que ultrapasse os
quadros das diferentes disciplinas científicas, deve ser procurada “na complexidade dos
problemas aos quais somos hoje em dia confrontados, para chegar a um conhecimento
humano, se não em sua integridade, pelo menos numa perspectiva de convergência de nossos
conhecimentos parcelares”.3:62 Pois, de certa forma, os especialistas decompõem o homem
em busca de um conhecimento positivo, um saber verificável, através de métodos científicos
determinados. É enfatizado ainda, que se necessita de uma nova forma de conhecimento do
real e que esta consciência coletiva seria saturada de complexidade, de complexus, ou seja, de
agires e fazeres que rejuntariam tudo aquilo que a disjunção cartesiana fez no plano físico,
metafísico e metapolítico. Qualquer sistema vivo passaria, então, a ser entendido como um
sistema incompleto, indeterminado, irreversível, sempre marcado pela autoorganização que
combina, descombina e recombina a ordem, a desordem e a desorganização.2 Ao discutirmos
os conceitos de interdisciplinaridade, é comum a visão de uma resposta à fragmentação do
saber para a construção de um saber que dê conta da totalidade da realidade, o saber unitá-
rio. Esta unidade está presente na construção de um sistema conceitual resultante da
integração dos sistemas disciplinares, que pode conduzir à introdução de uma nova noção, a
transdisciplinaridade. Ora, aqui temos um ponto bastante significativo para a discussão. O que
é esta unidade? Temos que estar atentos, pois a unidade é metafísica, é redutora, leva da
mesma forma ao fechamento em si mesmo ou “emmesmesamento”. A realidade é dinâmica e
não se fecha em si, não sendo redutível à mensuração. O real está em constante movimento,
em constante rela- ção entre o geral e o específico, o universal e o particular, entre o uno e o
diverso. Apesar de considerar a unidade como não acabada, por conseguinte aceitando a sua
dinamicidade,3 concordamos que existe a necessidade de delimitarmos um objeto para
investigação, mas sem verdades prévias, considerando as múltiplas determinações que o
constitui e a dinamicidade e complexidade da realidade em que se insere. Também não existe
uma metodologia interdisciplinar, pois não podemos ter essa pretensão de prever o
imprevisível diante da dinamicidade da realidade. Enfatiza-se que, ao contrário de Descartes
que partia de um princípio simples de verdade e por isso propunha um discurso do método em
poucas páginas, Morin faz um discurso muito longo “à procura de um método que não se
revela por nenhuma evidência inicial, mas que deve elaborar-se com esfor- ço e risco. A missão
desse método não é fornecer fórmulas programáticas de um pensamento ‘são’, mas convidar a
pensar a si mesmo na complexidade”.4:55 As construções científicas não podem ser pensadas
como tendo a ver com a verdade, segundo o conceito tradicional, metafísico. “Não são cópias
do mundo dado. São reorganizações do mundo congruentes com o sujeito produtor”.5:56 Não
há simplesmente a unidade, mas há unidade na diversidade, universal e particular. Assim,
quando falamos em unidade temos que estar atentos ao sentido que está sendo atribuído.
Não se pode conceber unidade sem multiplicidade; só há unidade quando há um referente,
que no caso é a multiplicidade. A unidade é dialética, pois é multiplicidade em movimento. E a
dialética única negaria sua própria identidade, ou seja, a unidade dos contrários. A dialética,
mais que outras metodologias, sabe apontar para o caráter contraditório e ambíguo da
realidade e de si mesma. “Como todas é lógica, ou seja, também representa a intenção de
catar padrões na complexidade, mas dentro da perspectiva essencialmente dinâmica”.6 É
múltipla como todos os produtos também culturais, é essencialmente aberta e evolui sem
direção determinada. - 414 - Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set; 14(3):411-8. Meirelles BHS,
Erdmann AL Devemos conceber uma unidade que garanta e favoreça a diversidade, uma
diversidade inscrita na unidade. A unidade complexa: unidade na diversidade, diversidade na
unidade, unidade produtora de diversidade, diversidade produtora de unidade; é a unidade de
um complexo gerador “[...] que gera diversidade ilimitada”.7:66 A discussão sobre a
interdisciplinaridade entre as ciências articulando os saberes de outras áreas, demonstra que
“pela lógica da produção/construção do saber e por sua autonomia, as ciências não são
fragmentos de um saber unitário e absoluto. Sua gênese não provém daí”.5:63 A existência de
um fragmento pressupõe a existência de um todo que se perdeu no tempo, como se as
ciências tivessem surgido de maneira linear e dependente de saberes anteriores – assim a
autonomia e a produção científica são vistas como fragmentação. Neste sentido, afirma que o
que se perdeu no decorrer do tempo foi aquela “unidade natural” do homem primitivo e sem
história imerso na natureza e dela inteiramente dependente. Mas, afinal, o que pretendemos
com a interdisciplinaridade? O abandono da concepção fragmentária por outra unitária do
saber e do conhecimento? Uma nova verdade científica? Consideramos oportuno discutir a
respeito, começando com o que definimos como verdade. A verdade que acreditamos não se
trata de uma verdade definitivamente adquirida, mas de uma reflexão que cada um de nós
deve realizar a respeito das questões que se colocam em nossa sociedade, com pontos de vista
diversos. Considera-se a verdade não como algo que se impõe como dogma, mas sim, daquela
que é alcançada através do diálogo e da polêmica, pois tal verdade traz em si a força da
dialética. Diante da diversidade da realidade vivida, cabe à interdisciplinaridade possibilitar o
conhecimento claro da interdependência das verdades. A retirada da verdade e da certeza dá
lugar ao imprevisível, ao incerto, deixando as pessoas sem saber o que pensar. Faz-se
necessário resgatar alguma verdade sem recair num mundo verdadeiro. Compreendemos que
a realidade dinâmica e complexa nos coloca que a verdade é flexível a esta dinamicidade do
real, na expectativa de que ordens menos rígidas nos possibilitem conviver com as incertezas
desta realidade. Assim, a verdade se constrói por aproximações sucessivas, abertas, que são
constantemente questionadas para poder apreender a totalidade desta realidade. Mas,
retomando nossa discussão anterior, o que seria então esta unidade que buscamos? Como
vimos, não é a verdade dogmática. O que pretendemos com a interdisciplinaridade é a busca
de integração, de instaurar formas de totalidade em um campo de saber múltiplo, pluralista,
heterogêneo; reconhecendo a complexidade dos fenômenos, dialeticamente, com olhares
diferenciados, resgatando uma unidade que perdemos no decorrer da história. Esta totalidade
só é apreensível através das partes e das relações entre elas. A categoria da totalidade
justifica-se “enquanto o homem não busca apenas uma compreensão particular do real, mas
pretende uma visão que seja capaz de conectar dialeticamente um processo particular com
outros processos e, enfim, coordená-lo com uma síntese explicativa cada vez mais ampla”.8:16
Implica uma complexidade em que cada fenômeno só pode vir a ser compreendido como um
momento definido em relação a si e em relação aos outros fenômenos. A totalidade não é um
todo já feito, determinado e determinante das partes, não é uma harmonia simples, pois não
existe uma totalidade acabada, mas um processo de totalização a partir das relações de
produção e de suas contradições. Uma compreensão dialética da totalidade exige a relação
entre as partes e o todo e as partes entre si. O todo, na verdade, só se cria a si mesmo na
dialética das partes, só pode existir concretamente nas partes e é na relatividade das partes
que o todo se estrutura e caminha.8 Assim, a totalidade é aberta, ligada ao movimento do real
e em constante processo no seu desenvolver. Existem contradições no seio da totalidade que
levam ao reconhecimento do real como histórico. A realidade está em movimento com suas
contradições, o que a conduz à superação de si mesma. A totalidade concreta “não é algo que
tenha uma existência em si. Ela é o processo de criação de sua estrutura porque é vista como
uma produção social do homem”.8:37 O homem, como sujeito histórico-social, pela sua práxis
objetiva produz a realidade e também por ela é produzido. A totalidade “não é totalidade lisa,
com partes tranqüilamente justapostas, estática, mas incompleta, aproximada, imprecisa:
forma um todo porque existe dinâmica comum, mas mostra rachaduras constantes, por onde
sempre pode entrar a antidinâmica da mudança. Não possui apenas a dinâmica circular, que é
sempre a mesma e lhe permitiria recuperar-se eternamente. Ao contrário, a dinâmica é feita
de dinâmicas contrárias, feitas de convergências e divergências”.6:108 Esta apreensão da
totalidade nos exige um pen- - 415 - Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set; 14(3):411-8. A
interdisciplinaridade como construção do conhecimento... samento complexo, capaz de
conceber o que nos une, contextualizando o pensamento no sentido de que todo
acontecimento, informação ou conhecimento seja considerado na relação da inseparabilidade
com seu meio ambiente, seja cultural, social, econômico, político ou natural. “Trata-se de
procurar sempre as relações e inter-retroações entre cada fenômeno e seu contexto, as
relações de reciprocidade todo/partes; como uma modificação local repercute sobre o todo e
como uma modificação do todo repercute sobre as partes. Tratase, ao mesmo tempo, de
reconhecer a unidade dentro da diversidade, o diverso dentro da unidade; de reconhecer, por
exemplo, a unidade humana em meio às diversidades individuais e culturais, as diversidades
individuais e culturais em meio à unidade humana”.9:25 Concluímos então que, quando
pensamos em unidade na interdisciplinaridade, estamos adotando esta visão de totalidade,
considerando o tempo, o espaço e o contexto (social, ético, político, econômico e outros) que
constituem o real, num movimento dialético, complexo, considerando as suas múltiplas
determinações. Estamos abandonando o pensamento que separa o que está ligado, que
unifica o que é múltiplo, que simplifica o que é complexo, percebendo as interações e ligações
entre os fenômenos e, considerando a irredutibilidade e complexidade do ser e viver humano.
Ao considerarmos estas definições, admitimos a visão de que a realidade é complexa e que
esta complexidade só pode ser abordada numa visão interdisciplinar. O enfoque particular do
real e como um sistema específico de relações do ser humano traz uma visão parcial da
realidade, sem inter-relação do todo com as partes e das partes com o todo, como se o mundo
fosse estático e o viver previsível. Ao abordarmos este aspecto, torna-se relevante discutirmos
a construção do conhecimento diante desta incerteza e imprevisibilidade do real, que nos
mostra que saberes diversos são necessários para conceber este conhecimento. Não se trata
de uma integração dos conhecimentos de forma sintética e harmoniosa. É uma tarefa difícil. O
problema da complexidade nos coloca “da dificuldade de permanecermos no interior de
conceitos claros, distintos, fáceis, para concebermos a ciência, para concebermos o
conhecimento, para concebermos o mundo em que estamos, para nos concebermos a nós na
relação com este mundo, para concebermos a nós na nossa relação com os outros e para nos
concebermos a nós na nossa relação com nós mesmos que é, afinal, a mais difícil de
todas”.2:35 O problema não está em que cada um perca a sua competência, mas em
compreender de que modo estão estruturados outros tipos de pensamento diferentes do
nosso. “Está em que a desenvolva o suficiente para a articular com outras competências que,
ligadas em cadeia, formariam o anel completo e dinâ- mico, o anel do conhecimento do
conhecimento”,2:33 pois há necessidade de saberes diversos para que se conceba o
conhecimento. Pensamos que é necessário ultrapassar, relativizar e englobar num método de
pensamento complexo, dialógico. A dialógica que propomos constitui não uma nova lógica,
mas um modo de utilizar a lógica em virtude de um paradigma da complexidade. Cada
operação fragmentária do pensamento dialógico obedece à lógica clássica, mas não o seu
movimento em conjunto. Cada uma das contradições que surgem na caminhada do
conhecimento deve ser encarada na sua singularidade e problemática própria. É necessário
“agir com”. A contradição incita o pensamento complexo; nos servimos dela para reativar e
complexificar o pensamento. É necessário um pensamento que saiba tratar, interrogar,
eliminar e salvaguardar as contradições. É a tarefa do pensamento complexo. Necessitamos de
“uma cabeça bem-feita”, que significa uma aptidão geral para colocar e tratar os problemas,
bem como princípios organizadores que permitam ligar os saberes e lhes dar sentido, evitando
a acumulação estéril do conhecimento. A organização do conhecimento comporta operações
de ligação (conjunção, inclusão e implicação) e de separação (diferenciação, oposição, seleção
e exclusão).9 O processo é circular, comportando ao mesmo tempo separa- ção e ligação,
como análise e síntese. Morin ressalta que em nossa civilização ligação e síntese continuam
subdesenvolvidas. A forma de organização do pensamento é que gera as fronteiras entre as
disciplinas, por isso o problema é transformar estes princípios. O desenvolvimento da aptidão
para contextualizar e globalizar os saberes torna-se imperativo. O “conhecimento torna-se
pertinente quando é capaz de situar toda a informação em seu contexto, e, se possível, no
conjunto global ao qual se insere”.4:18 Como já citamos anteriormente, trata-se de
reconhecer a unidade dentro do diverso, o diverso dentro da unidade. Neste sentido, podemos
considerar a complexidade como forma de pensamento, como um exercício cognitivo. Um
pensamento que contextualiza, que adota visões complementares, num processo dinâmico de
construção do conhecimento, produto da dialógica entre o certo e o incerto, entre a ordem e a
416 - Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set; 14(3):411-8. Meirelles BHS, Erdmann AL desordem,
entre o simples e o complexo presentes em nossa sociedade. Ao dirigirmos a nossa discussão à
saúde, salienta-se que no setor saúde temos geralmente uma visão disciplinar, corporativa,
unidimensional, numa lógica linear, mecanicista e redutora, que de certa forma não pode
explicar a complexidade do fenômeno saúde/ doença e da realidade.Assim, muitas vezes
assume-se teorias que buscam explicar as ocorrências e os riscos de maneira unicausal, de
maneira linear causa/efeito. É preciso aprender a ultrapassar a causalidade linear.
“Compreender a causalidade mútua inter-relacionada, a causalidade circular (retroativa,
recursiva), as incertezas da causalidade (porque as mesmas causas não produzem sempre os
mesmos efeitos, quando os sistemas que elas afetam têm reações diferentes, e porque causas
diferentes podem provocar os mesmos efeitos)”.9:77 Os indivíduos e as sociedades não
podem produzir conseqüências senão através de causas, e como estas não ocorrem na mesma
escala dos seus efeitos, não é possível partir do pressuposto de que o controle das causas
acarreta o controle das conseqüências. Pelo contrário, a falta de controle sobre as
conseqüências significa que as ações empreendidas como causas têm, não apenas as causas
intencionais (lineares) da ação, mas uma multiplicidade imprevisível (potencialmente infinita)
de conseqüências.10 O controle das causas sendo absoluto, é absolutamente precário. Este
pensamento comum em saúde, leva a prá- ticas voltadas a ações de prevenção e controle de
doenças pontuais e com enfoque mutilado da realidade vivida pelos sujeitos. Desta forma,
chegamos à discrepância entre a capacidade de ação (controle das causas) e a capacidade de
previsão (controle das conseqüências), o que nos convida a um novo conhecimento mais
próximo do real. Ao estabelecermos as inter-relações e os fenômenos multidimensionais,
contextua-lizando o conhecimento, teremos uma consciência capaz de enfrentar as
complexidades, como em nossas práticas, o processo de viver saudável na sua integralidade.
Hoje adotamos o conceito de vulnerabilidade e determinação social no processo
saúde/doença, considerando uma multiplicidade de acontecimentos e de fenômenos, de riscos
e de incertezas, no qual as estratégias cognitivas visam de modo complementar (e antagônico)
simplificar e a complexificar o conhecimento, religando os saberes.2 Nossos acontecimentos
da vida cotidiana devem ser contextualizados e pensados num processo de simplificação e de
complexificação, considerando o provável e o improvável, o histórico, o certo e o incerto, o
singular e o diverso, o acidental, o variável. Destaca-se que é “na procura da simplicidade
elementar que se chega à complexidade fundamental”.11:28 A simplificação seleciona o que é
de interesse do cognoscente, eliminando o que é alheio a sua finalidade, e computa o estável,
o determinado e o certo. A complexificação considera o máximo de dados e informações
concretas, procurando reconhecer e computar o variado, o variável, o ambíguo, o aleatório e o
incerto. Assim, da simplificação à complexificação chegamos ao conhecimento. Tanto a
complexidade em si como o simples em si balançam entre o objetivo de compreender a
complexidade maior possível e a reduzir esta complexidade ao menos complexo possí- vel,
com a tendência ilusória de considerar o simples em si mesmo ou o complexo em si mesmo.11
A INTERDISCIPLINARIDADE E SUA APLICABILIDADE NAS AÇÕES EM SAÚ- DE E ENFERMAGEM
Para fazer face aos pressupostos de promoção da saúde e às ameaças emergentes à saúde, há
necessidade de novas ações e de construção contínua do conhecimento. O desafio para os
próximos anos será ativar o potencial para a promoção da saúde inerente em muitos setores
da sociedade, nas comunidades e nas famílias. A visão habitual disciplinar, corporativa e
unidimensional, que temos adotado em saúde, “tende a deformar nossa visão de mundo, o
que nos leva a isolar os problemas de saúde do seu contexto, simplificando-os para tentar
resolvê-los. Com isso, obtémse uma solução parcial e inadequada, dando a impressão que os
problemas se repetem, quando na verdade, não foram resolvidos”.12:535 Assim, ao tratarmos
mais especificamente da promoção da saúde com enfoque nas ações de Enfermagem, não
podemos nos afastar da noção de interdisciplinaridade e complexidade, já que as ações
envolvem mudanças, como a mudança nas comunidades, nas políticas públicas ou em
comportamentos e hábitos de vida. Uma intervenção que aborda muitas dimensões da vida
social pode nos apresentar muitos resultados possíveis. As intervenções de promoção da
saúde visam a melhoria da qualidade de vida e residem através do processo contínuo de
complexidade, diante das suas características de diversidade e heterogeneidade. Necessitamos
de uma ampla visão da base científica que - 417 - Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set;
14(3):411-8. A interdisciplinaridade como construção do conhecimento... considere a
complexidade inerente à promoção da saúde num enfoque multisetorial, compartilhando com
outros saberes, outras disciplinas, outros setores e com a população, com a consciência de que
não há resposta fácil aos complexos fenômenos humanos. Porém, esta “abordagem
totalizadora e respeitosa da complexidade dos fenômenos da vida, saúde, doença, sofrimento
e morte”, que convivemos em nossa prática cotidiana em saúde, necessita “de um tratamento
teórico-metodológico efetivamente transdisciplinar, tomando como base a perspectiva da
complexidade”.13:109 As intervenções de saúde incluem uma mescla complexa de muitas
disciplinas e campos de ação variados, com o enfoque de melhorar a saúde, reorientar os
serviços de assistência e fazer com que as pessoas sejam protagonistas da sua própria saúde,
exigem a compreensão que muitas disciplinas ou bases científicas podem trazer. Ao discutir a
epidemia de Aids como um problema internacional, o Ministério da Saúde enfatiza que as
práticas sociais não pertencem mais a uma comunidade nacional exclusivamente, nem os
indivíduos que as realizam reconhecem apenas uma identidade distintiva e homogênea, como
antes era pensado. “A diversidade opera tanto nas formas diferentes de se perceber a
realidade e, em última instância, de se viver, quanto nas formas desiguais em que as pessoas e
os grupos sociais incorporam novos valores, atitudes e práticas através dos fluxos
interculturais”.14:136 Neste sentido, a noção de território é porosa e susceptível de mediar
com múltiplos cenários, transcendendo sua original visão espacial, hoje insuficiente para a
compreensão dos fenômenos que envolvem fronteiras, ora nos seus termos geopolíticos, ora
na sua dimensão simbólica, ou, ainda, como no tema que nos interessa, na perspectiva das
fronteiras do processo saúde-doença e na promoção da saúde. Talvez tenhamos que
considerar a saúde como produção social, como processo dinâmico e em permanente
transformação, rompendo com a setorialização da realidade. Mendes reforça que este estado
de saúde permite a ruptura com a idéia de um setor saúde, erigindo-a como produto social
resultante de fatos econômicos, políticos, ideológicos e cognitivos. Isto significa “inscrevê-la,
como campo do conhecimento, na ordem da interdisciplinaridade e, como prática social, na
ordem da intersetorialidade”,15:241 o que está coerente com a nova visão de saúde como
qualidade de vida e a nova visão dos sujeitos como protagonistas da sua saúde. REFLEXÕES
FINAIS A interdisciplinaridade e a visão complexa são temas pouco discutidos na área da
saúde, e mais especificamente na Enfermagem, e esta reflexão poderá nos trazer subsídios
para a sua efetivação com a conseqüente melhoria da qualidade das nossas ações visando à
promoção da saúde das comunidades. Interdisciplinaridade em saúde ainda é confundida com
trabalho em equipe, porém, temos clareza que sem construção de conhecimento não há
interdisciplinaridade, apenas justaposição de ações parcelares, que não dão conta de atender
às ameaças emergentes a saúde, de compreender as novidades das biociências, as profundas
transformações da vida cotidiana e das relações de trabalho, que desvelam o cenário
complexo de um novo paradigma do conhecimento. A atuação interdisciplinar nas equipes de
saúde e Enfermagem implica em construção deste conhecimento, como aquisição de
competências, uma prática de inter-relação e interação entre as diversas disciplinas,
articulação dos conhecimentos, num constante ir e vir para resolução dos problemas ou
alcance dos objetivos, e conseqüentemente a ampliação das fronteiras disciplinares. Implica
em reflexão-ação-reflexão. Esse constante construir, desconstruir e reconstruir pode contribuir
para a evolução e inovação da Enfermagem como conhecimento e profissão. O esforço é
essencial no sentido de que se estabeleça uma nova visão frente aos problemas que afetam a
saúde, com enfoque da promoção da saúde em nossa sociedade, apontando para a construção
de novos saberes através da interação entre os campos disciplinares, com sujeitos construindo
com sua experi- ência de vida novos saberes científicos. Mesmo diante das transformações
que temos observado em nossa sociedade, em tempos de mudanças paradigmáticas e
estruturais, os serviços de saúde continuam equivocadamente assumindo a responsabilidade
pela condução do viver saudável em sociedade. Ao superar esta noção de saúde como
atribuição exclusiva do setor saúde, partimos para uma ação intersetorial que destaca a saúde
no contexto das polí- ticas sociais e de participação da população no processo das decisões e
controle das condições de saúde do indivíduo e da coletividade. Vivemos numa sociedade
plural. A diversidade, ou seja, uma justaposição de pessoas, culturas, tradi- ções, diferenças
políticas, históricas, religiosas e de estilos de vida caracterizam a sociedade atual. As distân- -
418 - Texto Contexto Enferm 2005 Jul-Set; 14(3):411-8. Meirelles BHS, Erdmann AL cias foram
encurtadas com o intenso movimento migratório e surgem maiores diferenças entre pessoas
que vivem lado a lado. Esta sociedade é produzida e produtora de sujeitos, profissionais de
saúde ou clientes, que interagem e objetivam melhores condições de saúde e vida. Assim,
temos o desafio da pluralidade em nossa vida e prática profissional. A sociedade é um todo e
devemos pensar este desafio com o esforço de ampliar o nosso entendimento a respeito da
interação das partes rumo à unidade e totalidade nesta diversidade, de forma que os diversos
setores da sociedade percebam-se interdependentes e responsáveis na constru- ção de uma
sociedade mais solidária e saudável. Esta nova visão a interdisciplinaridade e a complexidade
nos trazem. REFERÊNCIAS 1 Nunes ED. A questão da interdisciplinaridade no estudo da saúde
coletiva e o papel das ciências sociais. In: Canesqui AM, organizadora. Dilemas e desafios das
ciências sociais na saúde coletiva. São Paulo-Rio de Janeiro: HucitecAbrasco; 1995. p. 95-115. 2
Morin E. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2001.
3 Japiassu H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago; 1976. 4 Morin E.
Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. São Paulo: Cortez; 2002. 5. Etges
NJ. Ciência, Interdisciplinaridade e Educação. In: Jantsch AP, Bianchetti L. Interdisciplinaridade:
para além da filosofia do sujeito. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 51-84. 6 Demo P. Metodologia do
conhecimento científico. São Paulo: Atlas; 2000. 7 Morin E. O Método 5: a humanidade da
humanidade. Trad. Juremir Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2002. 8 Cury CRJ. Educação
e contradição: elementos metodológicos para uma teoria crítica do fenômeno educativo. 6a.
ed. São Paulo: Cortez; 1995. 9 Morin E. A cabeça bem-feita: repensar e reforma, reformar o
pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand; 2000. 10 Santos BS. A crítica da razão indolente: contra
o desperdício da experiência. 3a. ed. São Paulo: Cortez; 2001. 11 Erdmann AL. Sistema de
cuidados de enfermagem. Pelotas: Universitária/UFPEl; 1996. 12 Koerich MS, Erdmann AL.
Enfermagem e patologia geral: resgate e reconstrução de conhecimentos para uma prática
interdisciplinar. Texto e Contexto. 2003 Out.-Dez; 12 (4): 528-37. 13 Almeida Filho N, Andrade
RFS. Holopatogênese: esboço de uma teoria geral de saúde-doença como base para a
promoção da saúde. In: Czeresnia D, Freitas CM. Promoção da saúde: conceitos, reflexões,
tendencias. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003; p.97-116. 14 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de
Políticas de Saúde. A resposta brasileira ao HIV/Aids: experiências exemplares. Brasília:
Coordenação Nacional de DST/Aids; 1999. 15 Mendes EV. Uma agenda para a saúde. São
Paulo: Hucitec;
TRABALHO 02
Competência dos profissionais da saúde para o trabalho interdisciplinar* SAUPE, R. et al.
Competence of health professionals for interdisciplinary work. Interface - Comunic., Saúde,
Educ., v.9, n.18, p.521-36, set/dez 2005. Interdisciplinarity, as one of the key concepts for the
consolidation of public policies in the area of health, was focused based on the perspective of
the professionals who are faced with the challenge of putting it into practice. Understanding
interdisciplinarity as a competence resulting from a range of knowledge, skills and attitudes, it
was organized in the form of a tree diagram. This diagram was initially submitted for
evaluation by a group of twenty-one judges, and subsequently, by a sample of one hundred
and forty-five health professionals. The results show a consistency between the researcher’s
proposal and the evaluation of the participating subjects, since on a scale of zero to ten, the
final level of performance was over nine. The space provided for statements by the subjects
resulted in the addition of important categories, enriching the study as a whole. KEY WORDS:
interdisciplinarity. competence-based education. human resources in health. A
interdisciplinaridade, como um dos conceitos nucleares para consolidação das políticas
publicas na área da saúde, foi focalizada na perspectiva dos profissionais que estão com o
desafio de concretizá-la na prática. Entendida como uma competência que resulta de um
conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, foi organizada na forma de diagrama
hierárquico. Este foi inicialmente submetido à avaliação por um grupo de vinte e um juizes e
posteriormente a uma amostra de cento e quarenta e cinco profissionais da saúde. Os
resultados evidenciaram aderência entre a proposta dos pesquisadores e a avaliação dos
sujeitos participantes, pois numa escala de zero a dez, o índice de desempenho final ficou
acima de nove. O espaço aberto para depoimentos dos sujeitos resultou em importantes
categorias a serem agregadas, enriquecendo a totalidade estudada. PALAVRAS-CHAVE:
interdisciplinaridade. educação baseada em competências. recursos humanos em saúde. *
Resultado de pesquisa, conforme projeto submetido à FAPESC (antiga FUNCITEC), Edital
003/2003, aprovado e financiado pela FUNCITEC/MINISTÉRIO DA SAÚDE/UNESCO FCTP NO
2186/039. Aprovado pela Comissão de Ética da UNIVALI (no 381/2003); Vinculada ao Programa
de Mestrado Profissionalizante em Saúde e Gestão do Trabalho; ao grupo de pesquisa em
Educação na Saúde e Gestão do Trabalho; à linha de pesquisa Formação de Recursos Humanos
na Saúde. Agradecemos às pessoas que colaboraram: sujeitos da pesquisa; bolsistas; apoio
logístico; colegas e alunos do Curso de Mestrado Profissionalizante em Saúde e Gestão do
Trabalho. As instituições: FAPESC (antiga FUNCITEC); Ministério da Saúde; 17a Regional de
Saúde de Santa Catarina; UNIVALI. 1 Enfermeira, Coordenadora do Projeto; docente, Curso de
Mestrado Profissionalizante em Saúde e Gestão do Trabalho. 2 Médico, pesquisador do
projeto; docente, Curso de Mestrado Profissionalizante em Saúde e Gestão do Trabalho. 3
Enfermeira, pesquisadora do projeto; coordenadora, Curso de Mestrado Profissionalizante em
Saúde e Gestão do Trabalho. 4 Enfermeira, pesquisadora do projeto; docente, Curso de
Mestrado Profissionalizante em Saúde e Gestão do Trabalho. 1 Rua Mediterrâneo, 172, apto
401 Córrego Grande - Florianópolis, SC 88.037-610 Rosita Saupe 1 Luiz Roberto Agea Cutolo2
Águeda Lenita Pereira Wendhausen3 Gladys Amélia Vélez Benito4 Competência dos
profissionais da saúde para o trabalho interdisciplinar* SAUPE, R. et al. Competence of health
professionals for interdisciplinary work. Interface - Comunic., Saúde, Educ., v.9, n.18, p.521-36,
set/dez 2005. Interdisciplinarity, as one of the key concepts for the consolidation of public
policies in the area of health, was focused based on the perspective of the professionals who
are faced with the challenge of putting it into practice. Understanding interdisciplinarity as a
competence resulting from a range of knowledge, skills and attitudes, it was organized in the
form of a tree diagram. This diagram was initially submitted for evaluation by a group of
twenty-one judges, and subsequently, by a sample of one hundred and forty-five health
professionals. The results show a consistency between the researcher’s proposal and the
evaluation of the participating subjects, since on a scale of zero to ten, the final level of
performance was over nine. The space provided for statements by the subjects resulted in the
addition of important categories, enriching the study as a whole. KEY WORDS:
interdisciplinarity. competence-based education. human resources in health. A
interdisciplinaridade, como um dos conceitos nucleares para consolidação das políticas
publicas na área da saúde, foi focalizada na perspectiva dos profissionais que estão com o
desafio de concretizá-la na prática. Entendida como uma competência que resulta de um
conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, foi organizada na forma de diagrama
hierárquico. Este foi inicialmente submetido à avaliação por um grupo de vinte e um juizes e
posteriormente a uma amostra de cento e quarenta e cinco profissionais da saúde. Os
resultados evidenciaram aderência entre a proposta dos pesquisadores e a avaliação dos
sujeitos participantes, pois numa escala de zero a dez, o índice de desempenho final ficou
acima de nove. O espaço aberto para depoimentos dos sujeitos resultou em importantes
categorias a serem agregadas, enriquecendo a totalidade estudada. PALAVRAS-CHAVE:
interdisciplinaridade. educação baseada em competências. recursos humanos em saúde.
Interface - Comunic, Saúde, Educ, v.9, n.18, p.521-36, set/dez 2005 521 SAUPE, R. ET AL. 522
Interface - Comunic, Saúde, Educ, v.9, n.18, p.521-36, set/dez 2005 Introdução A pauta
convergente na área da saúde, na atualidade, mobilizadora de esforços integrados entre
Ministério da Saúde (MS) e Ministério da Educação (ME), diz respeito às políticas públicas que
focalizam a reorientação do modelo assistencial, conforme preconizado pela Reforma
Sanitária. A consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) depende tanto do sucesso de
estratégias como o Programa de Saúde da Família (PSF) e da implementação de processos de
Educação Permanente (EP), de competência do MS, quanto da revitalização dos Projetos
Pedagógicos (PP) dos cursos de graduação, incorporando as premissas da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB), conforme estabelecem as Diretrizes Curriculares (DC),
atribuições da alçada do ME. Para tanto, é urgente que se estabeleça uma nova relação entre
os profissionais de saúde [...] diferentemente do modelo biomédico tradicional, permitindo
maior diversidade das ações e busca permanente do consenso. Tal relação, baseada na
interdisciplinaridade e não mais na multidisciplinaridade [...] requer uma abordagem que
questione as certezas profissionais e estimule a permanente comunicação horizontal entre os
componentes de uma equipe. (Costa Neto, 2000, p.9) Assim, a interdisciplinaridade constitui
um entre os vários temas que necessitam serem desenvolvidos para gerarem contribuição
para a pauta da área da saúde, pois entendemos que o contexto histórico vivido nessa virada
de milênio, caracterizado pela divisão do trabalho intelectual, fragmentação do conhecimento
e pela excessiva predominância das especializações, demanda a retomada do antigo conceito
de interdisciplinaridade que, no longo percurso do século passado, foi sufocado pela
racionalidade da revolução industrial. Na perspectiva contemporânea na qual este estudo se
insere, a interdisciplinaridade contempla: o reconhecimento da complexidade crescente do
objeto das ciências da saúde e a conseqüente exigência interna de um olhar plural; a
possibilidade de trabalho conjunto, que respeita as bases disciplinares específicas, mas busca
soluções compartilhadas para os problemas das pessoas e das instituições; o investimento
como estratégia para a concretização da integralidade das ações de saúde. A partir destas
constatações decidimos incluir a interdisciplinaridade como um dos temas que foram
estudados num projeto sobre competências para a consolidação do SUS/PSF. O objetivo foi
mapear, a partir de documentos oficiais, literatura e opinião de peritos, um conjunto de
saberes teóricos, práticos, pessoais e interpessoais, necessários ao trabalho interdisciplinar em
saúde e submetê-los a apreciação de profissionais da área, incorporando também suas
contribuições, sob a forma de depoimentos, à compreensão do conceito em suas várias
dimensões. Referencial teórico A base de sustentação teórica deste estudo partiu dos
elementos comuns que devem ser desenvolvidos em todos os cursos de graduação,
destacando a competência para “trabalhar em conjunto com outros profissionais da área
COMPETÊNCIA DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE... Interface - Comunic, Saúde, Educ, v.9, n.18,
p.521-36, set/dez 2005 523 de saúde”, ou seja, de modo interdisciplinar (Almeida &
Maranhão, 2003). Interdisciplinaridade tem sido objeto constante de discussão quando se
aborda as ciências da saúde. Embora a palavra tenha recebido tratamento sistemático, pouco
se tem categorizado o que se pretende dizer sobre ela. Japiassú (1976) levantou a
possibilidade desse neologismo tomar sentidos amplos e diversificados, com conseqüentes
entendimentos e usos. Acreditamos que a polissemia que a interdisciplinaridade desperta
pode ser entendida, pelo menos parcialmente, na medida em que seu significado se recorta ao
interior do objeto específico que se pretende investigar ou enfrentar. Por exemplo, num
sentido amplo poderíamos qualificar a Bioquímica como um produto de uma relação
interdisciplinar entre a Biologia e a Química, originando uma nova disciplina. Outro poderia
indicar que Educação em Saúde é uma área do conhecimento articulada interdisciplinarmente
entre os pressupostos da Saúde Coletiva e a Educação Construtivista. Estes exemplos já
tendem a dimensionar o problema das multifaces da categoria. Embora reconheçamos como
legítimos, a partir de seus planos de incisão, os dois exemplos apresentados como
possibilidades interdisciplinares, ocupar-nosemos com uma categorização um pouco mais
pragmática no âmbito de práticas que envolvam os diferentes profissionais da área da saúde e
suas conseqüências para o cotidiano das Unidades Básicas de Saúde; portanto chamaremos de
interdisciplinaridade a relação articulada entre as diferentes profissões da saúde. Usando das
categorias epistemológicas de Fleck (1986) pretendemos qualificar as profissões como sendo
diferentes Coletivos de Pensamento fundamentadas, cada qual, em seu Estilo de Pensamento,
ou seja, num olhar estilizado que permeia um conjunto de regras para a abordagem e
resolução de um problema, baseados numa formação específica e diferenciada com marco
conceitual identificado. O que queremos dizer é que o médico, o enfermeiro, o odontólogo, o
psicólogo ou qualquer outro profissional da saúde compõem distintos Coletivos de
Pensamento e, conseqüentemente, constróem fatos novos diante de problemas comuns. Mas,
o que é interdisciplinaridade? Qual a diferença entre as terminologias, muitas vezes
confundidas, como interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, multidisciplinaridade,
pluridisciplinaridade? Achamos importante uma aproximação com estes conceitos, já que são
usados muitas vezes como sinônimos ou com sentidos plurais. Longe de encerrar o significado
com uma definição fechada, optamos pelas aproximações de Japiassú (1976) modificadas. A
multidisciplinaridade indica uma execução de disciplinas desprovidas de objetivos comuns sem
que ocorra qualquer aproximação ou cooperação. Na pluridisciplinaridade haveria um núcleo
comum, já aparecendo uma relação, com certo grau de colaboração, mas sem uma ordenação;
haveria um toque, um tangenciamento entre as disciplinas. Estas duas terminologias são
freqüentemente colocadas como sinônimos, o que necessariamente não se constituiria um
erro. Rosenfield apud Perini et al. (2001) chama de multidisciplinar o que Japiassú (1976)
chama de pluridisciplinar, ou seja, quando um problema comum é tratado de forma seqüencial
ou paralela por disciplinas específicas. Ainda Rosenfield apud Perini et al. (2001) caracteriza a
interdisciplinaridade como a possibilidade do trabalho conjunto na busca SAUPE, R. ET AL. 524
Interface - Comunic, Saúde, Educ, v.9, n.18, p.521-36, set/dez 2005 de soluções, respeitando-
se as bases disciplinares específicas. Concluindo, referese à transdisciplinaridade como
trabalho coletivo que compartilha “estruturas conceituais, construindo juntos, teorias,
conceitos e abordagens para tratar problemas comuns” (Rosenfield apud Perini et al., 2001,
p.103). Neste caso a disciplina em si perde seu sentido e não há limites precisos nas
identidades disciplinares. Numa relação pluridisciplinar um paciente com respirador bucal
poderá primariamente ser atendido pelo médico de família. Uma vez diagnosticado poderá ser
encaminhado ao otorrinolaringologista que, uma vez verificadas as condições do palato do
paciente, o encaminha ao ordodontista e ao fonoaudiólogo. Como vemos, cada qual realiza
seu trabalho separadamente, sem cooperação direta. Numa perspectiva interdisciplinar a
abordagem do problema seria vista conjuntamente, bem como a busca de soluções criativas
para resolvê-lo. Mas, o que é necessário para que a interdisciplinaridade se torne uma forma
natural e solidária de trabalho, que ultrapasse as arrogâncias pessoais, a necessidade de
exercer poder sobre os outros e a tradição de centralizar os profissionais, deslocando para a
periferia do processo o sujeito que sofre por adoecimento, por falta de conhecimento ou
energia para se cuidar, logo necessitando de atenção, assistência, informação? Esta foi a
questão original deste estudo e para respondê-la, encontramos no Relatório Unesco, da
Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI (Delors, 1998), a base para propor
um conjunto de saberes, conforme propõe o referido documento. Metodologia A metodologia
selecionada para conduzir a coleta e análise dos dados tem sua origem na University of North
Carolina, proposta no início da década de setenta, introduzida no Brasil em meados da mesma
década (Spínola & Pereira, 1976) e utilizada na avaliação de alguns programas (Saupe, 1979;
Spínola & Pereira, 1977). Inclui as seguintes etapas: elaboração do “Diagrama de Árvore”;
consulta a “experts”, denominado “Método do Júri”; verificação da concordância entre os
juizes; construção e aplicação de instrumento(s) a uma população/amostra que tem interesse
em relação ao tema; avaliação do desempenho. Este processo resulta em uma avaliação
quantitativa que valida uma proposta teórica por um grupo de juizes, sendo submetida
também a uma população mais ampla de interessados na temática, incorporando suas
contribuições conceituais expressas em depoimentos. Na apresentação dos resultados
seguiremos esta mesma seqüência, detalhando os aspectos metodológicos, favorecendo sua
compreensão. Os dados qualitativos foram analisados seguindo-se o seguinte percurso:
inicialmente os depoimentos, sob a forma de comentários, explicações, sugestões, foram
transcritos e organizados por categoria profissional; em seguida, para uma primeira
aproximação com este conteúdo sistematizado, foi realizada a leitura exaustiva e flutuante das
respostas transcritas, no sentido de apurarmos uma possível classificação. Apesar de
entendermos que a decupagem das competências em habilidades, atitudes e conhecimentos
têm-se tornado difícil em função de suas intrínsecas racionalidades, optamos, para manter a
COMPETÊNCIA DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE... Interface - Comunic, Saúde, Educ, v.9, n.18,
p.521-36, set/dez 2005 525 lógica da descrição da primeira fase da pesquisa, pela divisão em
três grandes blocos de categorias. Num segundo momento, passamos à fase de categorização,
propriamente dita, assinalando palavras e expressões que poderiam dar significados no
desdobramento das competências. O terceiro momento foi caracterizado pela análise
inferencial das categorias classificadas. Como poderá ser observado algumas categorias
poderiam ser consideradas híbridas, podendo transitar, de acordo com seu potencial, como
atitude, habilidade e conhecimento, o que vai ao encontro de nossa percepção de que estes
elementos se engendram (Bodgan & Biklen, 1994; Minayo, 1992; Triniños, 1987; Lüdke &
André, 1986). Registramos ainda que o projeto seguiu todas as tramitações necessárias a sua
aprovação ética, resultando no Parecer 381/2003, da Comissão de Ética da UNIVALI. A
dimensão ética cumpriu todos os cuidados, incluindo a assinatura de termo de consentimento
pós-informado. Resultados Participaram desta pesquisa, como avaliadores, um grupo de
peritos e uma amostra de profissionais de saúde, conforme apresentado na tabela 1. O
número de juizes consultado foi definido pelos pesquisadores. Quanto aos demais
profissionais, trabalhamos com a perspectiva de atingir a totalidade da população que,
localizados no período destinado à coleta de dados, informados sobre o projeto, livremente
consentissem em participar. A população estimada incluía 133 docentes, sendo: 21
enfermeiros; 67 médicos; e 45 dentistas. Quanto aos trabalhadores do PSF, verificamos que
estavam atuando no território de abrangência da pesquisa (17a Regional de Saúde de Santa
Catarina): 66 médicos, igual número de enfermeiros e 12 dentistas, totalizando 144
profissionais. O percentual da amostra de docentes que aceitou participar do estudo foi de
42% e de profissionais do PSF foi de 62%, resultando num total de 52% de representatividade
do universo em estudo. Conforme a tabela 1, o grupo mais representativo entre os docentes
foi dos odontólogos e nas equipes de PSF os enfermeiros merecem destaque. Tabela 1 -
Distribuição dos profissionais que participaram do estudo Enfermeiras Dentistas Médicos
Farmacêutico Fonoaudiólogo Fisioterapeuta Psicólogo TOTAL Profissão Juízes Docentes PSF
TOTAL 07 06 04 01 01 01 01 21 12 29 15 - - - - 56 51 11 27 - - - - 89 70 46 46 01 01 01 01 166 O
Diagrama de Árvore (DIAGRAMA 1) segue o modelo original da metodologia e representa a
decomposição da competência para interdisciplinaridade, em suas dimensões de
conhecimentos, habilidades e atitudes. As fontes para definição desta matriz incluíram a
experiência dos pesquisadores envolvidos, documentos legais que normalizam o campo de
conhecimento e a literatura. Esta etapa pode ser considerada como a contextualização do
fenômeno, capturando as várias perspectivas de perceber a realidade, no caso da
interdisciplinaridade como competência necessária ao trabalho em saúde da família. Esta
matriz foi submetida à avaliação por um grupo de 21 (vinte e um) juizes convidados, que
atribuíram pesos a cada componente (usaremos como sinônimo: variável ou atributo)
conforme importância relativa, em comparação com as demais em seu nível. A importância
traduziu-se por um peso na escala de 1 – importância muito baixa, a 5 – importância muito
alta. Na seqüência foi verificada a concordância entre os juizes. Esta concordância é
considerada natural quando o componente receber o mesmo peso de todos os juizes. No caso
deste estudo, esta concordância não aconteceu com nenhuma das variáveis. Assim, conforme
orienta a metodologia, foi definida a mediana entre os pesos. Todavia, no processo de análise
e para refinar as diferenças de avaliação entre os componentes, calculamos também a média.
Estes dados estão inseridos no diagrama 1 e mostram a avaliação altamente positiva recebida
pela proposta, já que nenhuma variável ficou com mediana inferior a 4 ou média menor que
3,66. A distribuição de todos os pesos atribuídos pelos juizes, conforme os atributos de cada
dimensão da competência para interdisciplinaridade, está apresentada na tabela 2.
Completado o Diagrama de Árvore (Diagrama 1) com todos os seus componentes
discriminados e pesos atribuídos, passamos à construção do(s) instrumento(s), focalizando os
componentes de último nível apresentados no diagrama. A escala para avaliação foi ajustada a
valores entre 0 – avaliação totalmente negativa e 10 – avaliação totalmente positiva. Foram
incluídas ainda questões abertas, possibilitando expressões individuais dos informantes,
evidenciando aspectos comuns ou singulares de suas percepções. Este instrumento foi
aplicado individualmente aos 145 participantes (enfermeiras, médicos e dentistas), sendo 56
docentes e 89 profissionais do PSF. Para avaliação do desempenho de cada componente,
foram aplicadas as seguintes equações: a) para medida das atividades de último nível: (VeL0x
Nr0)+(VeL1xNr1)+.......... Até incluir todos os valores da escala Nr0+Nr1+Nr2+...... (que deve
corresponder ao número TOTAL de respondentes Sendo: VeL0 = Valor 0 da escala LIKERT na
questão 1, e assim sucessivamente; e Nr0 = Número de respostas 0 na questão 1, e assim
sucessivamente. O resultado é um Índice de Desempenho da questão, correspondente a um
valor ente 0 e 10 b) para medida dos componentes dos demais níveis: D = ∑Da Wa ∑ Wa Ou
seja, o desempenho de cada componente é igual à somatória dos índices resultantes da
avaliação das atividades de último nível e multiplicados pelo seu peso; este resultado é
dividido pela somatória dos pesos. Na tabela 2 apresentamos a distribuição dos valores de 0-
10 em números absolutos, antes da aplicação das equações, o que já fornece visibilidade
positiva recebida pela proposta. Ou seja, das 1740 ocorrências registradas pelos entrevistados,
encontramos tendência de aumento da freqüência do numero de respostas conforme o valor
vai ficando mais positivo, atingindo o percentual de 88,70 quando somamos as respostas
concentradas nos números 8, 9 e 10. Tabela 2 – Distribuição dos valores de 0 a 10 atribuídos
pelos 145 entrevistados Na seqüência do estudo foram aplicadas as equações. Os valores
obtidos em cada componente foram convertidos para uma Escala de Medida do Desempenho
(figura 2), sendo considerada ‘região de fracasso’ a situada entre 0 (zero) e 4 (quatro),
indicando a extrema fragilidade dos componentes que ficaram neste patamar; entre 4,1
(quatro e um) e 7 (sete) encontra-se a ‘região de indefinição’ que atribui à variável um
desempenho intermediário; o sucesso é alcançado quando a variável atingir um patamar
acima de 7,1 (sete e um), evidenciando o pleno alcance do objetivo relativo à mesma. Estes
resultados também foram inseridos no Diagrama de Árvore (Diagrama 1) completando o ciclo
quantitativo da avaliação. Ou seja, cada componente ou variável avaliada teve sua
representação incluindo sua descrição, o peso correspondente à mediana e a média conforme
avaliação dos 21 juizes e uma medida de seu desempenho, resultado da aplicação das
link
http://www.scielosp.org/pdf/icse/v9n18/a05v9n18.pdf