Neoliberalismo e Educação

Post on 16-Aug-2015

230 views 0 download

description

csd

Transcript of Neoliberalismo e Educação

Neoliberalismo e educao: manual do usurioPablo GentiliNeste trabalho pretendo abordar criticamente algumas dimenses daconfgurao do discurso neoliberal no campo educacional. Comeareidestacando a importncia terica e poltica de se compreender oneoliberalismo como um comple!o processo de construo hegem"nica. #sto$% como uma estrat$gia de poder &ue se implementa sentidos articulados:porumlado% atra'$sdeumcon(untora)oa'elmenteregulardere*ormasconcretas no plano econ"mico% poltico% (urdico% educacional% etc. e% por ouatra'$sdeumas$riedeestrat$giasculturaisorientadasaimpor no'osdiagnsticos acerca da crise e construir no'os signifcados sociais a partirdos &uais legitimar as re*ormas neoliberais comosendoas +nicas &uepodem,ede'em- ser aplicadas no atual conte!to histrico denossassociedades .entarei mostrar de &ue *orma esta dimenso cultural%caracterstica de toda lgica hegem"nica% *oi sempre reconhecida como umimportante espao de construo poltica por a&ueles intelectuaisconser'adores &ue% em meados deste s$culo% comearam a traar as basestericas e conceituada do neoliberalismo en&uanto alternati'a de poder. /msegundolugar% tentarei apresentar algumas consideraes gerais sobrecomoseconstri aretricaneoliberal nocampoeducacional. Pretendoidentifcarasdimenses&ueunifcamosdiscursosneoliberaisparaal$mdas particularidades locais &ue caracteri)am os di*erentes conte!tosregionais onde tal retrica $ aplicada. 0eu ob(eti'o ser &uestionar a *ormaneoliberalde pensar e pro(etar a poltica educacional. 1inali)o destacandoalgumas das mais e'identes conse&23ncias da pedagogia da e!clusopromo'ida pelos regimes neoliberais em nossas sociedades.45.6 neoliberalismo como construo hegem"nica/!plicaro3!itodoneoliberalismo,$tamb$m% $claro% traarestrat$giasparasuanecessriaderrota- $umatare*acu(acomple!idadederi'adaprprianature)ahegem"nicadessepro(eto. Come*eito% oneoliberalismoe!pressa a dupla dinmica &ue caracteri)a todo processo de construo dehegemonia. Por um lado% trata7se de uma alternati'a de podere!tremamente 'igorosa constituda por uma s$rie de estrat$gias polticas%econ"micas e (urdicas orientadas para encontrar uma sada dominante paraacrisecapitalista&ueseiniciaaofnal dosanos89e&uesemani*estaclaramente(nosanos:9. Por outrolado% elae!pressaesinteti)aumambicioso pro(eto de re*orma ideolgica de nossas sociedades a construoe a di*uso de um no'o senso comum &ue *ornece coer3ncia% sentido e umapretensalegitimidade;spropostasdere*ormaimpulsionadaspeloblocodominante. interseco de ambas as dinmicas permite compreender a *orahegem"nica do neoliberalismo./stes processos ti'eram tamb$m eu impacto especfco na >m$rica Hatina.Com e*eito% alguns pases da regio constituram um 'erdadeiro laboratriodee!perimentaoneoliberal deresultadosaparentementemilagrosos. >>m$rica latina% de *ato% *oi o cenrio trgico do primeiro e!perimentopoltico do neoliberalismo em n'el mundial: a dita dura do general Pinochetiniciada no Chile em 5C:R./ntretanto% a contribuio latino7americano ao neoliberalismo mundial nose esgotou na e!peri3ncia chilena. =urante os anos L9% e no conte!to dasincipientes democracias ps7ditatoriais% o neoliberalismo chegar ao poder%na maioria das naes da regio% pela 'ia do 'oto popular. >lgumase!peri3ncias% inclusi'e% transcenderam as *ronteiras como modelosBe!itososBcapa)esdeiluminar,de*orma&uaseuni'ersal-ocaminhodeuma 'erdadeira e pro*unda re*orma econ"mica% a partir da &ual garantir aestabilidademonetriaepoltica% apartir da&ual garantir umasupostago'ernabilidade democrtica. =urante a segunda metade do s$culo SS% oneoliberalismo dei!ou% assim% de ser apenas uma simples perspecti'aterica produ)ida em con*rarias intelectuais% a orientar as decisesgo'ernamentais em grande parte do mundo capitalista% o &ue inclui desdeas naes do Primeiro e do .erceiro 0undo at$ algumas das maiscon'ulsionadas sociedades da /uropa 6riental.Cincod$cadasdehistriatericae&uase'inteanosdee!peri3ncianoe!ercciodopoderpermitem7nosidentifcarmaisregularidades&ue% paraal$m das especifcidades locais% contribuem para a defnio da nature)a edocarter dos programas dea(usteneoliberal numsentidoglobal. Naseguinte% nossointeresseseconcentrarnasregularidadesapresentadaspela retrica neoliberal no campo educacional. Desumiremos a seguiralgumasdimensesdiscursi'as&ueconfguramestaretrica% apartirda&ual so elaboradas uma s$rie de diagnsticos e% conse&uentemente% umas$rie de propostas polticas &ue de'em% sob a perspecti'a neoliberal%orientar uma pro*unda re*orma do sistema escolar nas sociedadescontemporneas. Pretendo% desta *orma% contribuir para a necessria tare*adecaracteri)ar a*ormaneoliberal depensar epro(etar aspolticas. >possibilidade de conhecer e reconhecer a discursi'a do neoliberalismoob'iamente no $ sufciente para *reiar a *ora persuasi'a de sua retrica.No entanto pode a(udar7nos a desen'ol'er mais e melhores estrat$gias delutacontraasintensasdinmicasdee!clusosocial promo'idasportaispolticas. Pretendo a&ui contribuir minimamente para esse ob(eti'o.Podemos ns apro!imar de uma compreenso crtica da *orma neoliberal depensar e traar a poltica educacional procurando responder% bre'emente% a&uatro &uestes:5. como entendem os neoliberais a crise educacionalJM. &uem so% de acordo com essa perspecti'a% seus culpadosJR. &ue estrat$gias defnem para sair delaJF. &uem de'e ser consultado para encontrar uma sada para a criseJ/m primeiro lugar $ necessrio destacar &ue na perspecti'a neoliberalossistemaseducacionaisen*rentam% ho(e% umapro*undacrisedeefci3ncia%efccia e produti'idade% mais do &ue uma crise de &uantidade%uni'ersali)ao e e!tenso.Para eles% o processo de e!panso da escola% durante a segunda metade dos$culo% ocorreu de *orma acelerada sem&ue tal crescimento tenhagarantidoumadistribuioefcientedosser'ioso*erecidos. >crisedasinstituies escolares $ produto% segundo este en*o&ue% da e!pansodesordenadaeBanr&uicaB&ueosistemaeducacional 'emso*rendonos+ltimos anos. .rata7se *undamentalmente de uma crise de &ualidadedecorrente da improduti'idade &ue caracteri)a as prticas pedaggicas e agesto administrati'a da grande maioria dos estabelecimentos escolares.Nestesentido% ae!ist3nciademecanismosdee!clusoediscriminaoeducacional resulta de *orma clara e direta% da prpria inefccia da escola eda pro*unda incompet3ncia da&ueles &ue nela trabalham. 6s sistemaseducacionais contemporneos no en*rentam% sob a perspecti'a neoliberal%uma crise de democrati)ao% mas uma crise gerencial. /sta crise promo'e%emdeterminadosconte!tos% certosmecanismosdeBini&2idadeB escolar%tais como a e'aso% a repet3ncia% o anal*abetismo *uncional etc.6ob(eti'opolticodedemocrati)ar aescolaestassimsubordinadoaoreconhecimento de &ue tal tare*a depende% ine!ora'elmente% da reali)aode uma pro*unda re*orma administrati'a do sistema escolar orientada pelanecessidade de introdu)ir mecanismos &ue regulem a efci3ncia% aproduti'idade% a efccia% em suma: a &ualidade dos ser'ios educacionais.=este diagnstico inicial decorre um argumento central na retricaconstruda pelas tecnocracias neoliberais: atualmente% inclusi'e nos pasesmais pobres% no *altamescolas% *altamescolas melhoresK no *altampro*essores%% *altam pro*essores mais &ualifcadosK no *altam recursos parafnanciar as polticas educacionais% ao contrrio% *alta uma melhordistribuiodos recursos e!istentes. crise social se deri'a% *undamentalmente% de &ue os sistemas institucionaisdependentesdaes*erado/stado,dapoltica- noatuamelesmesmoscomo mercados. #sto ocorre% segundo a perspecti'a neoliberal% no campo dasa+de% dapre'id3ncia% daspolticasdeempregoetamb$m% $claro% daeducao.=e certa *orma% a crise $ produto da di*uso ,e!cessi'a% aos olhos de certosneoliberais atentos- da noo de cidadania. Para eles% o conceito decidadaniaem&uesebaseiaaconcepouni'ersal euni'ersali)antedosdireitos humanos ,polticos% sociais% econ"micos% culturais etc.- tem geradoumcon(unto de *alsas promessas &ue orientaramaes coleti'as eindi'iduais caracteri)adas pela improduti'idade e pela *alta dereconhecimento social no 'alor indi'idual da competio.Come*eito% como (tentei demonstrar emoutros trabalhos% agrandeoperao estrat$gica do neoliberalismo consiste em trans*erir a educaodaes*eradapolticaparaaes*eradomercado&uestionandoassimseucarterdedireitoeredu)indo7aasuacondiodepropriedade. Tneste&uadro &ue se reconceituali)a a noo de cidadania% atra'$s de umare'alori)ao da ao do indi'duo en&uanto proprietrio% en&uantoindi'duo &ue luta para con&uistar ,comprar- propriedades7mercadoriasdi'ersa ndole% sendo a educao uma delas. 6 modelo de homemneoliberal $ o cidado pri'ati)ado o entrepreneur% o consumidor.M. 6s culpadosmbos passam a ser considerados 'ari'eis dependentes de um con(untodeopesindi'iduaisatra'$sdas&uaisaspessoas(ogamdiaadiaseudestino% como num(ogo de baccarat. lgica competiti'a promo'ida por um sistema de pr3mios e castigos combase emtais crit$rios meritocrticos cria as condies culturais &ue*acilitam uma pro*unda mudana institucional 'oltada para a Confguraode um 'erdadeiro mercado educacional. mcdonaldi)ao da escola6s processos de mcdonaldi)ao t3m sido destacados por alguns autorespara re*erir7se ; trans*er3ncia dos princpios &ue regulama lgica de*uncionamento dos *ast *oods a espaos institucionais cada 'e) mais amplosna 'ida social do capitalismo contemporneo. > mcdonaldi)ao da escola%processo &ue se concreti)a em di*erentes e articulados planos ,alguns maisgerais e outros mais especfcos-% constituiuma met*ora apropriada paracaracteri)ar as *ormas dominantes de reestruturao educacional propostaspelas administraes neoliberais.Na o*ensi'a antidemocrtica e e!cludente promo'ida pelo ambiciosoprograma de re*ormas estruturais impulsionado pelo neoliberalismo% asinstituieseducacionaistendemaser pensadasereestruturadassobomodelo de certos padres produti'istas e empresariais.W temos en*ati)ado &ue os neoliberais defnem um con(unto de estrat$giasdirigidas a trans*erir a educao da es*era dos direitos sociais ; es*era domercado. >aus3nciadeum'erdadeiromercadoeducacional ,isto$% aaus3ncia de mecanismos de regulao mercantil &ue confgurem as basesde um mercado escolar- e!plica a crise de produti'idade da escola. Para osneoliberais% o reconhecimento desse *ato permite orientar urna sadaestrat$gica mediante a &ual $ poss'el con&uistar% sem B*alsas promessasB%uma educao de &ualidade e 'inculada ;s necessidades do mundomoderno: as instituies escolares de'em *uncionar como empresasprodutoras de ser'ios educacionais. > inter*er3ncia estatal no pode&uestionar odireitodeli'reescolha&ueosconsumidoresdeeducaode'em reali)ar no mercado escolar. >penas um conglomerado deinstituies corri essas caractersticas pode obter n'eis de efci3nciabaseados na competio e no m$rito indi'idual. 6s 0c=onald4s constituemumbome!emplodeorgani)aoproduti'acomtaisatributose% nessesentido% representam um bom modelo organi)acional para a moderni)aoescolar. Xe(amos algumas das poss'eis coincid3ncias entre ambas ases*eras. /m primeiro lugar% os *ast *oods% e as escolas t3m um ponto bsicoem comum. >mbos e!istem para dar conta de duas necessidades*undamentais nas sociedades modernas: comer e ser sociali)adoescolarmente. /mbora a primeira se(a uma necessidade to antiga &uanto aprpria ?umanidade e a segunda nem tanto% no e!istiria% aparentemente%nenhumaoriginalidadenas*unes&ueatualmentesocumpridastantopelos 0c=onald4s &uanto pelas escolas. /ntretanto% a&ui% como na produodetodamercadoria% oimportanteno$apenas acoisaprodu)ida, ohamb+rguer ou o conhecimento ofcial-% mas a *orma histrica &ue ad&uire aproduodessesprocessos% &uersetratedaind+striadacomidarpida%&uer se trate da ind+stria escolar. #sto $% o &ue unifca os 0c=onalds e autopia educacional dos homens de negcios $ &ue% em ambos% a mercadoriao*erecidade'eserprodu)idade*ormarpidaedeacordocomcertaserigorosasnormasdecontroledaefci3nciaedaproduti'idade. 6modelo0c=onald4s temdemonstrado% graas ;uni'ersali)aodohamb+rguer%umaenormecapacidadepara ter sucessonomercadodaalimentaoBrpidaB ,se $ &ue o termo BalimentaoB pode ser aplicado nesse caso-. >escola% pelo contrrio% no &ue se re*ere a suas *unes educacionais% notem sido to bem sucedida% se a'aliada sob a tica empresarial de*endidapelos neoliberais. 6s princpios &ue regulama prtica cotidiana dos0c=onald4s% emtodas as cidades do planeta% bem&ue poderiamseraplicados ;s instituies escolares &uepretendempercorrer atrilhadae!cel3ncia: B&ualidade% ser'io% limpe)a e preoB. > rigor na perspecti'a doshomens de negcios% esses princpios de'em regular toda prtica produti'amoderna. 6 prprio *undador dessa cadeia de restaurantes% Da@ Oroc% temdito% sem*alsamod$stia: Bsemeti'essemdadoumti(olocada'e)&uerepetiessas pala'ras% creio &ue teria podido construir uma ponte sobre o6ceano>tlnticoB ,Peter YUaterman% 5CLF: 5:9-. >escola% pensadaepro(etada como uma instituio prestadora de ser'ios% de'e adotar essesprincpios de demonstrada efccia para obter certa liderana em &ual&uermercado./sse aspecto de carter geral se 'incula a outra coincid3ncia ,ou melhor% aoutralio-&ueos0c=onald4so*erecem;sinstituieseducacionais. =e*ormabastantesimples% podemosdi)er &ueos*ast *oodssurgirampararesponder a uma demanda da sociedade moderna ps7industrial: as pessoascorrem muitoK esto% em grande parte do dia% *ora de casaK e t3m poucotempo para comer. /ntre os *ast *oods realmente e!istentes% o 0c=onald4sad&uiriulideranamundial% apro'eitando7seda&uilo&uenaterminologiaempresarial se denomina B'antagens comparati'asB. Gma grandecapacidade administrati'a permitiu &ue essa empresa con&uistasse uniimportantenichonomercadodacomidarpida. >lgumasdascorrentesdominantes entreas perspecti'as acad3micas dos homens denegciosen*ati)am &ue a capacidade competiti'a de uma empresa ,e inclusi'e deumanao- sedefneporseudinamismoePe!ibilidade paradescobrireocupardeterminadossegmentos,ounichos-&ueseabrem;competioempresarial. >ssim% os mercados e!pressamtend3ncias enecessidadesheterog3neas. Deconhecer tal di'ersidade *a) parte da habilidadeempresarial da&ueles&uecondu)emasgrandescorporaesconseguemsobre'i'er ; intensa competio inter7empresarial. 6 &ue $ tudo isso tem a'er com a educaoJ > resposta $ simples: se o sistema escolar tem &ue seconfgurar como mercado educacional% as escolas de'em defnir estrat$giascompetiti'as para atuar emtais mercados% con&uistando nichos &uerespondam de *orma especfca ; di'ersidade e!istente nas demandas deconsumo por educao. 0cdonaldi)ar% a escola supe pens7la como urnainstituio Pe!'el &ue de'e reagir aos estmulos ,os sinais- emitidos por ummercado educacional altamente competiti'o./ntretanto% algu$m% pro'a'elmenteintrigado% poderiaperguntar &ual $ara)o&uee!plica&ueomercadoeducacional de'asernecessariamentecompetiti'o. 6sneoliberaisrespondemaessa&uestotamb$mde*ormasimples: assim como as pessoas precisam comer hamb+rgueres por&ue otrabalho ,e% claro% a mdia- o e!ige% tamb$m precisam educar7se por&ue oconhecimentosetrans*ormounacha'edeacesso;no'a educao escolar de'e garantir as *unes de classifcao ehierar&ui)ao dos postulantes aos *uturos empregos ,ou aos empregos do*uturo-. Para os neoliberais% nisso reside a B*uno social da escolaB. possibilidade de construo de um mercadoescolar competiti'o depende% entre outros *atores% da di*uso de rigorososcrit$rios decompetiointerna&ueregulemas prticas eas relaescotidianas da escola. >lgo similar ocorre nos 0c=onald4s.=e *ato% os sistemas de controle e promoo de pessoal no 0c=onald4s soconhecidos ,e em muitas ocasies tomados como modelos- pelo uso efca)de umsistema de incenti'os &ue promo'e uma dura e implac'elcompetiointernaentreos trabalhadores bemcomoadi*usodeumsistemadepr3miosecastigosdirigidosamoti'aroBpertencimentoBeaadeso incondicional ; empresa. /sses mecanismos esto sendo cada 'e)mais di*undidos nos mbitos escolares at$ mesmo &uando as normas(urdicas 'igentes no o permitem-. Vuem mais produ) mais ganha. / s $poss'el saber &uemmais produ) &uandosea'aliamrigorosamenteosatores en'ol'idos no processo pedaggico,se(am pro*essores% alunos%*uncionrios etc.-. 6s pr3mios ; produti'idade so% tal como no 0c=onald4s%tanto meramente simblicos,&uadro de honra% empregado do m3s-% &uantomateriais,aumento salarial% pr3mios em esp$cie% promoo de categoria-. >educao de'e ser pensada como umgrande campeonato. Nela% ostriun*adores sabem &ue o primeiro desafo $ assumirem7se comoganhadores. B.u pertences ; e&uipe dos campeesZB% costuma repetirorgulhoso Da@ Oroe em suas habituais arengas ; sua tropa de despachantesde hamb+rgueres e batatas *ritas baratas. /sprito de luta% de auto7superao% deconfanano'alordom$rito% certe)adesaber&ue&uemestaonossoladosatrapalhanossocaminhoaosucesso. Nadamaisapreciado na escola do &ue o ttulo de 0estre do >no. Nada mais cobiadono 0c=onald4s do &ue o pr3mio >ll >merican ?amburguer70aAer.>pedagogiadaVualidade.otal seinscre'enessa*ormaparticular decompreender os processos educacionais% no sendo mais do &ue umatentati'a de trans*erir para a es*era escolar os m$todos e as estrat$gias decontrole de &ualidade prprios do campo produti'o.6 processo de mcdonaldi)ao da escola tamb$m tem seu e*eito no campodocurrculo e na *ormao depro*essores.Vuem se a'enturar aestudarcommais detalhes os *ast *oods,tare*a &ue constituiria uma grandecontribuioparacompreender melhor nossasescolas- poderencontrarumasurpreendentesimilitudeentreosmecanismosdeplane(amentodoscardpios nesse tipo de negcio e as estrat$gias neo7tecnicistas de re*ormacurricular. 6 carter assumido pelo plane(amento dos currculos nacionais%noconte!todare*ormaeducacional promo'idapelosregimesneoliberaispoderia muito bem ser entendido como um processo de macdonaldi)aodo conhecimento escolar.>o mesmo tempo% no conte!to desses processos de moderni)aoconser'adora% as p polticas de *ormao de docentes 'o se confgurandocomo pacotes *echados de treinamento ,defnidos sempre por e&uipes det$cnicos% e!perts eat$consultores deempresasZ- plane(ados de*ormacentrali)ada% semparticipaodos grupos depro*essores en'ol'idosnoprocesso de *ormao% e apresentando uma alta trans*eribilidade ,ou se(a%comgrande potencial para seremaplicados emdi*erentes conte!tosgeogrfcos e comdi*erentespopulaes-Tessa%precisamente%umadascaractersticas &ue t3m *acilitado a e!panso internacional de uma empresacomo o 0c=onald4s. /sse tipo de ernpresa tem tido um papel *undamentalno desen'ol'imento da&uilo &ue poderamos chamar a&ui Bpedagogia *ast*oodB: sistemasdetreinamentorpidocomgrandepoderdisciplinadorealtamente centrali)ados em seu plane(amento e aplicao. > ?amburguerGni'ersit@de0c=onald4semChicagoesuacompetidora% a?ar'arddospreparadores de batatas *ritas% a Qurger Oing Gni'ersit@% na perspecti'a doshomens de negcios% constituem in'e('eis modelos de instituieseducacionaisdeno'otipo. >ssim% inclusi'e% aparecemtiosmanuais&ueestimulam o 3!ito empresarial% en*ati)ando o no'o 'alor e a centralidade doconhecimentonasociedadedo*uturo. 1ormarumpro*essornocostumaser considerada uma tare*a mais comple!a do &ue a de treinar umpreparador de ?amburguer.Por+ltimo% amcdonaldi)aodocampoeducacional see!pressaatra'$sdas cada 'e) mais *re&2entes *ormas de terceiri)ao ,pedaggica e no7pedaggica- &ue tendem a caracteri)ar o trabalho escolar nos programas dere*orma propostos ,e impostos- pelo neoliberalismo. Xe(amos. Gma lo(a do0c=onald4s ,suponhamos% em 0oscou- $ sempre um espao de integraode di'ersos trabalhos parciais reali)ados em outras unidades produti'as. =ecerta *orma% o Qig 0ac $ a sntese Bdial$tica de uma s$rie de contribuiesterceiri)adas: por um lado% e!iste &uem produ) a carne% &uem *abrica opo% &uem*orneceoAetchupe% por outro% &uemculti'aospepinos. 60c=onald4s da Praa Xermelha simplesmente articula coma mesmaefci3ncia e limpe)a &ue o 0c=onald4s da Vuinta >'enida, em No'a [orA-esses insumos% os &uais% todos (untos% do origem a esse grande in'ento dacultura americana &ue so duas pe&uenas bolas achatadas de carne modacu(o suporte so dois pedaos de po. 6 Qig 0ac s pode ser compreendido%a partir da perspecti'a de um e!pert na ind+stria de hamb+rgueres% como oresultado de uma criati'a planifcao centrali)ada e uma no menoscriati'adescentrali)aodas*unese!igidasparaaelaboraodeumproduto cu(os insumos so *ornecidos por um n+mero 'ari'el deprodutores. >aplicaodeumas$riedergidoscontrolesde&ualidade,tamb$m centrali)ados- garante uma alta produti'idade% al$m da reduodos custos de produo e% em conse&2encia% um aumento da rentabilidadeobtidapor esses restaurantes. /ssaracionalidadeseaplicatamb$maocampo educacional . > lgica do lucro e da efci3ncia penetra asadministraes neoliberais. T nesse conte!to &ue a terceiri)ao do trabalhoeducacional constitui uma *orma de mcdonaldi)ar a prpria escola.>lgu$m de esprito certamente apocalptico poderia di)er% com ra)o% &ue amcdonaldi)ao da escola no se aplica a umdos atributos &ue temcaracteri)ado o notrio crescimento dos *ast *oods nesta segunda metadedo s$culo S: sua progressi'a uni'ersali)ao. >nalisando as condiesatuaisdodesen'ol'imentocapitalista% poderamossuspeitar% come*eito%&ue os 0c=onald4s t3m melhor *uturo o &ue a escola p+blica.Pro'a'elmente% as 'antagens comparati'as dos *ast *oods permitiro &ue%emmuitos de nossos pases% os hamb+rgueres e as batatas *ritas sedemocrati)em mais rapidamente do &ue o conhecimento. /ntretanto% este $um problema de carter especulati'o &ue e!cede nossas possibilidades derePe!oJ ao menos por en&uanto.6processodemcdonaldi)aodaescolade'eserconsideradode*ormaBrelacionalB. No se trata de um *ato isolado e arbitrrio. Pelo contrrio % eles pode ser e!plicado no conte!to do pro*undo processo de reestruturaopoltica% econ"mica% (urdicaetamb$m% $claro% educacional &ueestocorrendo no capitalismo de fmde s$culo. > crise do *ordismo e aconfgurao de umno'o regime de acumulao ps7*ordista permiteentender . o carter e a nature)a das re*ormas impulsionadas pelos regimesneoliberais na es*era escolar. Na economia7rnundo capitalista se articulamno'os mapasinstitucionais cu(ageografa do bene*cio produ) e reprodu)no'as e 'elhas *ormas de e!cluso e desintegrao social.> escola no $ alheia a esses processosK sua prpria estrutura e*uncionalidade $ colocada em&uestionamento por tais dinmicas. 6processomcdonaldi)aoe!pressaessamudanainstitucional dirigidaacon*ormar as bases de uma escola to@oti)ada% uma escola de altodesempenho% a administrada pelos no'os lderes gerenciais% os &uaisplane(am*ormasdeaprendi)agemdeno'ashabilidadese!igidasporumlocal detrabalhoreestrurado% *ormas&uese(amBconcretasB% BprticasBB%ligadas ; 'ida reale organi)adas atra'$s de e&uipes de trabalho ,Ue!ler75CCN: 58M-.=e &ual&uer *orma% $ importante destacar &ue essa no'a racionalidade doaparato escolar se constri sobre a&ueles princpios &ue regula'am a escolata@lorista. .rata7se de um processo de reestruturao educacional onde searticulam no'as e 'elhas dinmicas organi)acionais% onde se defnem no'ase 'elhas lgicas produti'istas atra'$s das &uais a re*orma escolar se redu) auma s$rie de crit$rios empresariais de carter alienante e e!cludente. F. 6s sabiches.endo chegado a este ponto% procuraremos responder ; nossa +ltimapergunta: &uem% na perspecti'a neoliberal% de'e ser consultado para podersuperar a atual crise educacionalJ Poderamos *ormular nossa pergunta de*orma negati'a: &uem no de'e ser consultadoJ > resposta $% em princpio%simples: os prprios culpados pela crise ,especialmente% $ claro% ossindicatos e a&ueles BperdedoresB &ue so*rem as conse&23ncias doin*ort+nio e a desgraa econ"mica por terem desconfado do es*oro e daperse'erana meritocrtica &uepermitemtriun*ar na 'ida% ou se(a: asgrandes maiorias-. =e*ender e promo'er a&uele 'elho e Bimproduti'oBmodelo de /stado de Qem7/star parece tamb$m no ser um bom caminhopara superar a crise.Vuem% ento% de'e ser consultadoJ Vuem pode nos a(udar a sair da criseJ6b'iamente% os e!itosos: os homens de negcios. 6 raciocnio neoliberal $%neste aspecto% transparente: se os empresrios souberam triun*ar na 'ida,isto $% se souberam desen'ol'er7se com 3!ito no mercado- e o &ue est*altando em nossas escolas $ (ustamente Bconcorr3nciaB% &uem melhor do&ue eles para dar7nos as BdicasB necessrias para triun*arJ 6sistemaeducacional de'e con'erter7se ele mesmo em um mercado.... de'em entoser consultados a&ueles &ue melhor entendem do mercado para a(udar7nosasair daimproduti'idadeedainefci3ncia&uecaracteri)amasprticasescolares e &ue regula a lgica cotidiana das instituies educacionais emtodososn'eis. Tnesseconte!to&uede'eser compreendidaaatitudemendicante e cnica dos go'ernantes &ue solicitamaos empresriosBhumanistasB a adoo de uma escola. ssim% sair da crise pressupe consultar osespecialistaset$cnicoscompetentes&uedispemdosaberinstrumentalnecessrio para le'ar a cabo as citadas propostas de re*orma: peritos emcurrculo% em*ormao de pro*essores ; distncia% especialistas emtomadasdedecisescomescassosrecursos% sabichesre*ormadoresdo/stado% intelectuais competentes em reduo do gasto p+blico% doutores emefci3ncia e produti'idade% etc. >lgu$m candidamente poderia perguntar7sedeondetirar tantagente. >respostaasemelhante&uestopodeserencontrada nos corredores dos 0inist$rios de educao de &ual&uergo'erno neoliberal: so os organismos internacionais ,especialmente oQanco 0undial- os &ue *ornecem todo tipo de especialistas nestas mat$rias.Para trabalhar nestes organismos% &ue no so precisamente debenefc3ncia e a(uda m+tua% basta *a)er pro(etos &ue se retro7alimentem asi mesmos e% de pre*er3ncia% ter sido de es&uerda na puberdadeprofssional.###. Concluso6 aumento da pobre)a e da e!cluso condu)em; con*ormao desociedades estruturalmente di'ididas nas &uais% necessariamente% o acesso;sinstituieseducacionaisde&ualidadeeaperman3ncianasmesmastende a trans*ormar7se em um pri'il$gio do &ual go)am apenas as minorias.>discriminao educacional articula7se desta *orma comos pro*undosmecanismos de discriminao de classe% de raa e g3nero historicamentee!istentes em nossas sociedades. .ais processos caracteri)am a dinmicasocial assumidapelocapitalismocontemporneo% apesardosmesmosseconcreti)aremcomalgumas di*erenas regionais e'identes noconte!tomais amplo do sistema mundial. =e *ato% o capitalismo a'anado tamb$mtem so*rido a intensifcao deste tipo de tend3ncias no seio de sociedadesaparentemente imunes ao aumento da pobre)a% da mis$ria e da e!cluso.=ois processos decorrentes das polticas neoliberais produ)em tamb$m umimpacto direto na es*era das polticas educacionais: a difculdade ,ou% emalguns casos% a impossibilidade- de manter e!pandir mecanismosdemocrticos de go'ernabilidade% e o aumento acelerado da 'iol3ncia.social% poltica e econ"mica contra os setores populares urbanos e ruraisPor outro lado% e ao mesmo tempo% a crescente di*uso de intensas relaesde Corrupo 7 sendo a corrupo poltica apenas uma das e!presses maiselo&2entes deste processo 7 tende a criar as bases materiais e culturais umtecido social marcado pelo indi'idualismo e pela aus3ncia de mecanismosdesolidariedadecoleti'a. 6dar\inismosocial intensifcaoprocessode*ragmentao e de di'iso estrutural produ)ido no interior das sociedadesneoliberais. > corrupo como problema &ue ultrapassa o mbito da moralparticular daselitespolticaseecon"micas% isto$% comolgicacultural%constitui um *ator caracterstico deste processo de desagregao edesintegrao social. .allgica culturalpenetra capilarmente em todas asinstituies principalmente nas educacionais% as &uais tendem a Con'erter7se em promotoras e di*usoras desta no'a *orma de indi'idualismoe!acerbado./msuma% os go'ernos neoliberais dei!aram,eestodei!ando- nossospases muito mais pobres% mais e!cludentes% mais desiguais. #ncrementaram,e esto incrementando- a discriminao social% racial e se!ual%reprodu)indo os pri'il$gios das minorias. /!acerbaram ,e estoe!acerbando- o indi'idualismo e a competio sel'agem% &uebrando assimos laos de solidariedade coleti'a e intensifcando um processoantidemocrticodeseleoBnaturalBondeosBmelhoresBB triun*ameospiores perdem. /% em nossas sociedades duali)adas% os BmelhoresB acabamsendosempreaselites&uemonopoli)amopoder poltico% econ"micoecultural% e os BpioresB% as grandes maiorias submetidas a um aumento brutaldas condies depobre)aeauma'iol3nciarepressi'a&ueneganoapenas os direitos sociais% mas% principalmente% o mais elementar direito ;'ida.>respostaneoliberal $simplistaeenganadora: prometemaismercado&uando% na realidade% $ na prpria confgurao do mercado &ue seencontram as ra)es da e!cluso e da desigualdade. T nesse mercado &ue ae!cluso e a desigualdade se reprodu)em e se ampliam. 6 neoliberalismonada nos di) acerca de como atuar contra as causas estruturais da pobre)aKao contrrio% atua intensifcando7as.6desafodeumalutae*eti'acontraaspolticasneoliberais$enormeecomple!o. > es&uerda no de'e ser arrastada ,ou arrasada- pelopragmatismo con*ormista e acomodado segundo o &ual o a(uste neoliberal$% ho(e% a +nica opo poss'el para a crise. Para os &ue atuamos no campoeducacional% a &uesto $ simples e inilud'el: logo aps o dil+'io neoliberalasnossasescolasseromuitopioresdo&ue(soagora. Nosetrataapenas de um problema de &ualidade pedaggica ,embora tamb$m o se(a-%sero piores por&ue sero mais e!cludentes.6sneoliberaisestotendoumgrande3!itoemimpor seusargumentoscomo 'erdades &ue se deri'amda nature)a dos *atos. =esarticular aaparentemente in&uestion'el nacionalidade natural do discurso neoliberalConstitui apenas um dos desafos &ue temos pela *rente. No entanto% trata7se de um desafo do &ual depende a possibilidade de se construir uma no'ahegemonia &ue d3 sustentao material e cultural a uma sociedadeplenamente democrtica e igualitria.Pessimismo da intelig3ncia% otimismo da 'ontade. Nunca a sentenagramscianate'etanta'ig3ncia. Nossopessimismodaintelig3nciade'epermitir7nos considerar criticamenteamagnitudedao*ensi'aneoliberalcontra a educao das maiorias. Nosso otimismo da 'ontade de'e manter7nosati'osnalutacontraumsistemadee!clusosocial &ue&uebraasbases de sustentao democrtica do%. direito ; educao como pr$7re&uisito bsico para a con&uista da cidadania% uma cidadania plena &ue spode ser concreti)ada numa sociedade radicalmente igualitria.,.e!to tirado do li'ro B/scola .B% .oma) .adeu da