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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO E STÉTICA:
ARTE E AS PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS
ISABEL THEIS
O AUTORRETRATO COMO MEIO DE EXPRESSÃO PESSOAL
DO ARTISTA
CRICIÚMA, OUTUBRO DE 2011
ISABEL THEIS
O AUTORRETRATO COMO MEIO DE EXPRESSÃO PESSOAL
DO ARTISTA
Monografia apresentada à Diretoria de Pós-graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC, para a obtenção do título de especialista em Educação Estética: Arte e as perspectivas contemporâneas Orientador: Prof. MSc. Édina Regina Baumer
CRICIÚMA, OUTUBRO DE 2011
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Criador, por sua onipresença e pela dádiva de viver cada
dia, e a cada dia descobrir coisas singelas e sublimes. Cousas estas que se
traduzem em experiências estéticas ou não, mas que dão origem ao que podemos
chamar de felicidade. Obrigada!
Agradeço a minha irmã que me incentivou a prosseguir com meus
estudos e principalmente a minha mãe, que além de me motivar, deu-me todo
respaldo e, principalmente, se alegrou por mim.
Agradeço ao meu amor, meu companheiro Adriano Roldão, por me fazer
tão feliz ao embrenhar-me por este percurso. E por compreender as noites de
estudo na biblioteca e os finais de semana roubados pelo curso. É nas horas de
dificuldades que o amor se sobressai.
Meus agradecimentos a minha partner Juliana L. Zuanazzi que lembrou-
se de trazer-me um folder diretamente do Museu Van Gogh, foi-me muito útil, e mais
importante ainda é saber do seu carinho.
Agradeço a inestimável compreensão e colaboração de minha
orientadora, Édina, que acreditou em mim, que me incentivou, que me ajudou, que
me faz querer alçar vôos mais altos, que reacendeu chamas que estavam se
esvaindo. O que mais admiro em você Édina, é que além de ser uma profissional
eficaz, incisiva, com essa sua inata capacidade de descomplicar todos os
emaranhados, você ainda consegue mostrar-se um ser humano ainda mais
surpreendente. Obrigada por toda paciência, carinho e dedicação.
Agradeço a minha amiga, parceira, colega, quase irmã, Morgana. Pela
companhia, pelos diálogos construtivos, pelas idéias arrojadas, pela amizade e pelos
pacotes de pipoca compartilhados após uma exaustiva noite de estudos. (Ah...
aquele cheirinho da pipoca doce da universidade, que sempre nos procura por todos
os blocos, desde a graduação...)
Agradeço aos colegas de Pós Graduação, pelos momentos
compartilhados, risos, angústias, pela troca de experiências pela saudade atenuada
e pela saudade deixada, mais uma vez.
“O espelho caiu da parede. Caiu com ele o
meu rosto. Com o meu rosto a minha sede...
Com a minha sede eu desgosto. O meu
desgosto de olhar, no espelho caído o meu
rosto.”
Cassiano Ricardo
RESUMO
Os objetivos deste estudo são verificar se os artistas, em um movimento de auto-expressão, falam de si mesmos e investigar a relação entre o Autorretrato e a biografia do artista. Para atingir estes objetivos, coletaram-se e organizaram-se imagens de Autorretratos dos artistas: Albrecht Dürer, Rembrandt, Peter Paul Rubens e Vincent Van Gogh. Tendo em conta as questões subjetivas, pessoais e filosóficas que contornam a pesquisa, optou-se pela abordagem qualitativa e para a análise dos dados utilizou-se a semântica entendida como leitura de imagem. O problema da pesquisa interroga: Por meio do Autorretrato o artista fala de si mesmo? O que o artista expressa em suas obras, reflete situações vividas por ele naquele momento? Ou elucida fatos que marcaram sua vida? A fundamentação teórica traz um pouco da história do Autorretrato e considerações sobre: Estética, Experiência Estética e Poiética. A pesquisa revela que os artistas falam de si mesmos por meio de suas obras, quando assim desejam, sendo possível também ocultar emoções por eles vividas naquele momento. Conclui-se que o Autorretrato está ligado intimamente à auto-estima; é um meio de expressão do artista pelo qual ele pode se conhecer, se impor ao mundo e construir uma auto-imagem.
. Palavras-chave: Artista; Autorretrato; Estética.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 07
2 UM POUCO DE HISTÓRIA ................................................................................... 11
3 ESTÉTICA .............................................................................................................. 14
3.1 Experiência Estética ..................................................................................................................... 16 3.2 Poiética ......................................................................................................................................... 19
4 AUTORRETRATOS E RETRATADOS ...................... ............................................ 21
4.1 Albrecht Dürer ............................................................................................................................... 26 4.2 Rembrandt .................................................................................................................................... 30 4.3 Vincent Van Gogh ......................................................................................................................... 35 4.4 Peter Paul Rubens ........................................................................................................................ 40
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................ ....................................................... 47
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 49
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1 INTRODUÇÃO
Auto-retrato Sou eu ou não sou eu? Sou eu ou sou você? Sou eu ou sou ninguém? E ninguém me retrata?
(Carlos Drummond de Andrade)
O presente estudo visa, por meio da pesquisa bibliográfica de cunho
qualitativo, coletar e organizar objetos e imagens de obras de Arte que representem
Autorretratos, bem como perceber fatores intrínsecos das obras que possam estar
atrelados a auto-expressão dos artistas, e as suas relações com o meio ambiente,
sua conotação temporal e histórica. O objeto de pesquisa surge de inquietações da
pesquisadora em relação a aprendizado e auto-estima, auto-imagem e expressão.
O alicerce motivacional desta pesquisa surge das experiências de
Estágio do último ano de graduação em Artes Visuais Licenciatura, em 2007, na
Universidade do Extremo Sul Catarinense. A oportunidade da experiência de
docência, o contato com a comunidade escolar, com a sala de aula e especialmente
as vivências com os alunos, põem em cheque toda a teoria de um curso de
licenciatura. Neste caso, tanto efetivam a validade de conhecimentos apreendidos
durante a vida acadêmica, como podem fazer colidir teoria e prática, emanando
desse contato o nascimento de um novo conhecimento e efetivando a práxis, ou seja
o processo e/ou a habilidade com que uma teoria é convertida em prática e
tornando-se então, parte das experiências vividas.
Nesse contexto surge o problema da pesquisa: Por meio do Autorretrato o
artista fala de si mesmo? O que o artista expressa em suas obras, reflete situações
vividas por ele naquele momento? Ou elucida fatos que marcaram sua vida? Essas
questões norteiam a pesquisa que tem como objetivo investigar no percurso da
história da Arte, a relação entre o Autorretrato e a biografia do artista.
Tendo em conta as questões subjetivas, pessoais e filosóficas que
contornam a pesquisa, optou-se pela pesquisa qualitativa.
Na pesquisa qualitativa, o social é visto como um mundo de significados passível de investigação e a linguagem dos atores sociais e suas práticas as matérias-primas dessa abordagem. É o nível dos significados, motivos aspirações, atitudes, crenças e valores, que se expressa pela linguagem comum e na vida cotidiana, o objeto da abordagem qualitativa. (TEIXEIRA, 2005, p.140)
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De acordo com Teixeira (2005), a pesquisa qualitativa do modo acima
descrito, vem ao encontro desta monografia, pelo interesse investigativo de cunho
social. Neste caso os atores sociais, por ela mencionados, são os artistas, a matéria-
prima da abordagem são as suas produções de Autorretratos, a maneira de
expressão, são as linguagens artísticas.
É salutar salientar que a presente pesquisa tem como principal objeto de
estudo, imagens de obras de Arte. Essas imagens são composições realizadas
pelos artistas, logo todo e qualquer detalhe deve ser considerado, por possivelmente
representar um objeto alegórico, ou seja, representar um pensamento de modo
simbólico.
Em uma visão geral, o processo de análise pode ser descrito como uma dissecação seguida pela articulação, ou a reconstrução da imagem semanticizada, ou “intelecto somado ao objeto” (George & George, 1972: 150). O objetivo é tornar explícitos os conhecimentos culturais necessários para que o leitor compreenda a imagem. (BAUER, GASKELL, 2006, p.325)
A semântica de modo geral é atrelada à escrita e, segundo os autores,
pode falar sobre a leitura de imagens; a semântica se refere à construção e
evolução do significado das palavras, no entanto agora traduz-se na construção de
significados dos objetos narrados pela imagem.
A Arte carrega em si o mistério da pluralidade de olhares, seja por ora o
olhar poiético sobre a construção da obra e a busca da visão do artista naquele
momento, ou pelo significado, traduzido em experiência estética, que vivencia o
espectador e/ou apreciador. No momento dessa experiência, em que carregado de
seus pensamentos, sentimentos, repertório cultural, moral e imagético, ele tem seu
encontro com o objeto artístico. Desse modo o apreciador julgará a imagem,
segundo o repertório que possui, o que não significa que esgotou todas as
possibilidades com aquela obra. Se o apreciador retomá-la posteriormente, poderá
participar de uma nova experiência estética, possivelmente mantendo elos da
experiência anterior ou simplesmente ressignificando a obra com olhar totalmente
inovador.
Teoricamente, o processo de análise nunca se exaure e, por conseguinte, nunca está completo. Isto é, é sempre possível descobrir uma nova maneira de ler uma imagem, ou um novo léxico, ou sistema referente, para aplicar à
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imagem. Para fins práticos, contudo, o analista irá normalmente querer declarar a análise terminada a certa altura. (BAUER, GASKELL, 2006 p.332)
Bauer e Gaskel (2006) são contundentes em suas afirmações e de fato a
linguagem está ininterruptamente se reconstruindo. Nas Artes, isto ocorre
igualmente, a construção de novos léxicos, ou seja, a montagem de dicionários
específicos, a criação de novas palavras e assim novos sistemas de linguagem.
Desse modo uma imagem analisada sob o olhar do senso comum, terá
interpretações, profundidade e linguagem totalmente diferenciada se justaposta a
uma análise feita por um pesquisador em Arte e/ou de imagens, sob o prisma da
Estética e da Semiótica, por exemplo.
Logo, o vocabulário, os conhecimentos culturais, populares, pessoais,
artísticos e filosóficos se entrecruzam. O ser humano é bombardeado de
informações, recebe e responde a diferentes estímulos, seja por condicionamento ou
por bel prazer, conquanto, é desse modo que constrói sua narrativa. Nela a
construção de signos e símbolos está em constante comutação, o que nos permite
pensar que é impossível dizer que a análise de uma imagem é dada por encerrada.
Indubitavelmente, uma pesquisa dar-se-á por encerrada em algum momento, pelos
motivos mais diversos, o que não significa porém que não poderá ou não deverá ser
retomada.
No processo de validação de conhecimentos, especialmente quando
trata-se de Artes, deve-se ter em vista os processos de fruição1 ou seja de
contemplação das obras, de produção compreendendo também a poiética2 deste
processo, além da relação temporal e histórico-social e pessoal do artista. Sob o
prisma de que a experiência artística pode ter conotação de aura, onde estão
envolvidas no contexto, as situações históricas, sociais e pessoais envoltas na
produção e na apreciação da obra de Arte.
Na experiência artística de modo tão particular e coeso, as questões de
repertório imagético, gosto pessoal, educação familiar e acadêmica, e ainda
permeada pelos sentimentos quando do contato com a obra de Arte, promovem a
experiência estética, um status de aura, que a caracteriza como particular e humana.
1 Ato de usufruir, desfrutar. 2 Processo criativo
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A experiência estética desabrochada pelo contato com a obra de Arte tem
características intrinsecamente humanas, sendo sua síntese realizada por meio de
percepções plásticas, histórico-sociais, sentimentos e bagagem cultural do
apreciador bem como seus valores éticos, estéticos, morais e a interferência de seu
gosto pessoal. Esses fatores constituem uma via de mão dupla, estão contidos na
apreciação estética, pois são também inerentes ao Artista e sua poiésis.
No capítulo dois deste trabalho, falar-se-á do surgimento do Autorretrato
com Canton (2004) e da popularização dos mesmos no Renascimento com Botti
(2005). No capítulo três são tecidas considerações sobre Estética e sua abrangência
com Pareyson (2001) e sobre emoções estéticas com Meira (2007). Este capítulo é
subdividido sendo que na primeira parte Barilli (1992 apud MEIRA, 2007) auxiliará
em uma melhor compreensão sobre experiência estética, enquanto com Joly (1996)
se discorrerá sobre análise de imagens. Na segunda parte desta subdivisão buscar-
se-á compreender Poiética, por meio do pensamento de Passeron (1983, apud
MEIRA, 2007). O capítulo quatro trata de Autorretrato e retratados, discorrendo
sobre Arte com Gombrich (1999), seguindo com a análise de dados que refere-se a
vida e Autorretratos de Albrecht Dürer com Canton (2004) e Vançan (2003). Dando
seqüencia a análise, Canton (2004) embasará aspectos concernentes a vida e obra
de Rembrandt. A seguir o artista enunciado é Vincent Van Gogh, sua vida e obra
são elucidadas através do catálogo de divulgação Van Gogh Museum, com auxílio
de Van Uitert (1980) que salienta suas influencias artísticas e Cabanne (1971) que
auxilia na compreensão de aspectos da personalidade do artista. Finalizando, com
Cabanne (1972) e Gombrich (1999), discorre-se sobre a vida pessoal e artística de
Peter Paul Rubens nos seus Autorretratos.
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2 UM POUCO DE HISTÓRIA
Quem olha um espelho conseguindo ao mesmo tempo a
isenção de si mesmo, quem consegue vê-lo sem se ver, quem entende que a sua profundidade é ele ser vazio, quem caminha
para dentro de seu espaço transparente sem deixar nele o vestígio da própria imagem
— então percebeu seu mistério. (Clarice Lispector)
Desde a Pré-história quando o homem com tintas extraídas da natureza,
barro ou sangue de animais carimbava suas mãos na caverna, desde essa
longínqua época é que o homem busca uma noção de auto-imagem juntamente com
o desejo de deixar registrada sua passagem na história, assim surgem os escritos
hieroglíficos, o nascimento da escrita.
Na verdade o auto-retrato sempre acompanhou o ser humano em seu desejo de deixar uma marca de sua própria imagem, mesmo depois da passagem de sua vida. Essa auto-representação foi tomando formas diferentes no decorrer do tempo... Já na Pré-História, homens e mulheres desenhavam suas identidades com a marca das mãos dentro das cavernas. (CANTON, 2004, p. 05)
O homem é um ser eminentemente social e por ser um animal inteligente
sente necessidade de deixar o seu legado. Especialmente a partir do Renascimento,
o ser humano passa a ser o centro das preocupações da vida e também do
imaginário dos artistas, em detrimento a era medieval substancialmente religiosa.
Além das belíssimas paisagens, das naturezas mortas, o retrato passou a ser um
dos gêneros mais importantes, utilizado para representar as pessoas que podiam
pagar pelos serviços do artista, ou seja, os nobres e burgueses. O retrato era tão
importante, pois, dada a época ainda não existia o advento da fotografia.
Canton, (2004 p. 07), ao referir-se ao período Renascentista
compreendido entre o século XV e XVII, diz que “como a fotografia ainda não existia,
pintores eram contratados para registrar os rostos e corpos de pessoas importantes.
E os artistas começaram a pintar seus próprios rostos”. O artista Giotto di Bondone
segundo Canton (2004), tinha estilo inovador e é considerado modernista, porém
viveu no fim da Idade Média. Como trabalhava por encomenda, Giotto encontrou um
meio de se retratar em um afresco, pintado em 1304 a 1306, chamado Juízo final,
em Pádua, na Itália. Ele se incluiu entre os homens eleitos para o paraíso. Pode-se
perceber nitidamente neste caso, a luta travada pelo homem em busca de sua auto-
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expressão em contraponto com imposições da sociedade para que esse mesmo
homem se anulasse como ser individual para exaltar a religião.
Ao analisarmos tais fatos, percebemos que os artistas que na época
supracitada se valiam especialmente das linguagens da pintura, seja mural, de
afrescos, ou de telas, retábulos ou ainda esculturas. Tiveram papel muito importante
tanto para divulgar, manter e difundir a religião, assim como tiveram importante
participação posteriormente na ressignificação das crenças gradativamente
migrando do Teocentrismo para o Antropocentrismo.
Os motivos que levavam os artistas a se autorretratarem em suas
produções são elucidados por Canton (2004, p. 07):
E os artistas começaram a pintar seus próprios rostos. Isso porque eles também queriam: deixar sua imagem gravada para o futuro; sentir que eram importantes como pessoas humanas e como profissionais; expressar em suas pinturas o que sentiam internamente, suas emoções e pensamentos; usar suas próprias imagens como pretextos para elaborar obras de arte, cuidando das cores, das pinceladas, dos contornos, das texturas.
Conforme esse viés, primeiramente os artistas dão-se conta de que
também são seres humanos importantes e únicos, e que podem e gostariam de
deixar seu legado, ligado à sua imagem, refletindo seu sucesso na posteridade.
Devido à rigidez com que os artistas eram submetidos a trabalhar para atender as
encomendas, eles não podiam nelas expressar seus gostos e também não podiam
tentar inovações, sob o risco de sua encomenda ser cancelada e de serem
rechaçados deixando de receber os pedidos dos quais dependiam para viver.
Os artistas por assim serem sujeitos criativos, perceberam e sentiram
necessidade de transmitir em suas obras o modo como pensavam e como se
sentiam. Ao trabalharem em suas próprias imagens, podiam esmerar-se em
aperfeiçoar sua técnica, introduzir novos conceitos, experimentar novos materiais,
novos estilos, ensaiar mesclas, hibridações, imprimindo os anseios daquele
momento, sem preocupar-se em agradar mais alguém, senão a si mesmos.
O auto-retrato eclode no Renascimento enquanto gênero artístico, com a laicização da pintura e o foco no indivíduo, que se tornou nesse contexto histórico o centro das preocupações sociais. Atuando como uma estratégia primordial de afirmação do sujeito, o auto-retrato comprova ao artista, antes mero artesão, status social enquanto tal, figurando ao lado de pessoas ilustres e importantes que tinham seus retratos pintados. (BOTTI, 2005 p.01)
Botti (2005) reitera os argumentos de Canton (2004). Ambas as citações
ressaltam o processo de auto-valorização do artista, que transita agora para uma
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postura Renascentista antropocêntrica, onde o homem passa a ser o centro do
universo e conseqüentemente, da pintura, em detrimento a era anterior onde
usualmente Deus e a religiosidade imperavam de modo supremo em toda e
qualquer discussão artística ou filosófica.
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3 ESTÉTICA
Quando se pensa na valoração de uma obra de Arte, consciente ou
inconscientemente pode surgir uma relação dialética entre: Estética, Crítica e
poética. A poética e a crítica têm inexoravelmente caráter reflexivo sobre a obra de
arte por tal motivo pensa-se intuitivamente em incluí-las dentro da Estética. Porém
para Pareyson (2001) embora poética e crítica, determinantemente reflexivas,
possam contribuir na valoração das obras de Arte, ainda assim não são Estética,
mas sim, faz parte de seu objeto de estudo, a experiência estética. “A estética é
filosofia, e, relativamente a ela, a arte, com as conexas crítica e poética, são
experiência, isto é, objeto de reflexão” (PAREYSON, 2001, p.10).
Dessa maneira a estética não se preocupa com as qualidades plásticas
da obra em si, mas sim com a teoria e as reações e/ou reflexões envoltas a ela, ou
seja, seu objeto é a experiência estética. Por tratar-se de filosofia da Arte, não cabe
à estética – assim como à Arte – limites definidos; a estética vai mudando seus
paradigmas assim com a Arte vai quebrando tabus e desenvolvendo suas
vanguardas.
Nenhuma indicação precisa pode provir do nome “estética”, surgido quando, no Settecento, ao tornar-se a beleza objeto do conhecimento confuso ou sentível, e quando, no início do Ottocento, ao impregnar-se a arte de sentimento, pareceu natural, remeter a teoria do belo a uma doutrina da sensibilidade e a filosofia da arte a uma teoria do sentimento. (PAREYSON, 2001, p. 01)
Por suas extensões limítrofes, beleza, sentimento e arte tecem relações
por dentro da Estética, a dita filosofia da Arte. Porém ambas não formam uma
cadeia fechada de resultados e limites exatos, relacionam-se entre si agregando
diferentes roupagens de acordo com suas hibridações. Ou seja, o sentimento ao
apreciar o belo, pode ser diferente do sentimento ao apreciar a Arte. E essa Arte
pode ser bela, como aos moldes gregos ou pode perseguir o feio, porém não deixa
de ser Arte e não deixa de provocar sentimentos.
No entanto, a Estética permitiu que se construísse um discurso autônomo
acerca da Arte. Nesse discurso estão contemplados tantos os aspectos técnicos
inerentes à produção das obras de arte, mas também as questões sensíveis
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advindas da arte e/ou do ser humano.
Como crítica estética, tentou-se traduzir verbalmente tudo aquilo que se passa na emoção estética, na sensibilidade que se transforma no percurso da criação das obras de arte, principalmente, nos dilemas entre razão e sensibilidade inerentes a situação cultural de onde emergem. (MEIRA, 2007 p. 23)
Nesse ponto, Meira (2007) refere-se ao processo criativo e as emoções,
atreladas a situação sócio-histórica, cultural e até mesmo pessoal em que o artista
está imerso no instante da criação. O que indubitavelmente, ainda que de modo
inconsciente, impregnará sua produção de Arte. Essas emoções recebem até
mesmo um nome específico, são chamadas de “emoções estéticas”, o que reitera a
importância das emoções nos processos artísticos e/ou na fruição deles. Os
círculos de amizade também influenciam a obra de vários artistas, o contato
intelectual com pessoas de diferentes saberes, abre novas perspectivas de
conhecimento, enquanto o modo de agir e sentir de outrem pode alterar a fluência
do artista, seu ritmo e sua atitude, perante o mundo e perante si mesmo e desse
modo também perante a Arte. Especialmente quando essa inspiração é encontrada
em outro artista - em todas as épocas essa troca tem ocorrido - seja porque o ser
humano busca encontrar no outro a extensão de si mesmo, ou porque busca
encontrar a si mesmo e então enxerga-se no outro.
Rosenfield (2009, p. 07), esclarece essas relações de emoções e
sentimentos em diálogo com repertório pessoal do espectador em torno da estética:
O termo e a disciplina “estética”. A palavra “estética” vem do grego aísthesis, que significa sensação, sentimento. Diferentemente da poética, que já parte de gêneros artísticos constituídos, a estética analisa o complexo das sensações e dos sentimentos, investiga sua integração nas atividades físicas e mentais do homem, debruçando-se sobre as produções (artísticas ou não) da sensibilidade, com o fim de determinar suas relações com o conhecimento, a razão e a ética.
Pode-se perceber que a Estética não está interessada apenas no
resultado final, mas inicia seu processo investigativo, buscando situar-se
culturalmente e perceber os acontecimentos, dilemas e lemas, qual a filosofia de
vida do sujeito, o que ele acredita piamente? Sobre o que tem dúvidas, do que tem
medo e quanto há de ceticismo ou quanto há de fé? Qual a proporção? O quanto de
cada elemento acima pode estar contido na expressão do artista, ou ausente dela?
Segundo Meira (2007, p. 24), “a estética tem como consciência e reflexão o universo
que chega a nós pelos sentidos, sentimentos, linguagem afetiva, o que chega pelo
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mundo histórico, pessoal e radical, em termos de vida.” A estética por assim dizer é
filosofia e não ciência, portanto ela estabelece essa relação dialética entre o saber e
o sentir, o conhecer e o intuir. A estética permite que a bagagem individual implique
sobre os julgamentos, de modo integral. Assim sendo, os conhecimentos que
interessam não são apenas os aspectos tangíveis e empíricos, mas também os
subjetivos.
3.1 Experiência Estética
Experiência como o nome menciona, é o que fica após um processo em
que se tem contato com algo, em que se experimenta algo, até então desconhecido,
ou parcialmente conhecido, mas que de algum modo possa conter aspectos que
dialoguem com experiências anteriormente vividas pelo sujeito, que precedam à
essa experiência. A experiência é a síntese, ou seja, a soma e reformulação de
conceitos ou valores. Esse mesmo modo de conceber as experiências de modo
geral, pode ser aplicado às experiências estéticas. Ao pensar-se em experiência
estética diretamente atrelada a Arte e/ou o contato visual e físico com as obras de
Arte, é importante salientar o enaltecimento e a importância dos sentimentos, tanto
na criação de arte, quanto na fruição, a experiência estética em si.
Na concepção de Renato Barilli (1992), uma experiência estética envolve as vivências e as transformações cognitivas que um sujeito elabora a partir destas vivências. Transforma saberes que emergem do corpo, sendo portadora de novidade, intransitividade, opacidade, presentatividade, autotelia (ipseidade), pluriformidade, globalidade, articulação, ritmicidade, e dramaticidade, o que a torna diferente da experiência científica que, embora privilegie a novidade, exige transitividade, linearidade e sicursividade. (MEIRA, 2007, p. 32)
Barilli (1992) apud Meira (2007), estabelece novos léxicos ao externar seu
conceito de experiência estética. Para ele, o sujeito mergulhado em uma experiência
estética, adquire novos saberes intelectuais e sensíveis, os quais permanecerão
como de fato a própria experiência estética. É reforçada também a conotação
singular e/ou individual de uma experiência estética. Quando ela é intransitiva,
significa que não pode ser transmitida a outrem; sua opacidade, não permite que
outro sujeito visualize a experiência estética de outrem, no momento em que ela
está ocorrendo; a presentatividade dialoga entre a presença e o agir, ter uma
experiência em loco e assim internaliza-lá, ou a atitude pode estar justamente em se
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fazer presente.
A autotelia ou ipseidade, trazem o conceito de arte pela arte, ou seja, o
objetivo da obra de arte, é ser arte e não atingir objetivos específicos; é quando a
obra pode falar por si mesma, de maneira plural, sem necessitar ser explícita ou
autodescritiva; a pluriformidade confere a capacidade de adotar várias formas; a
globalidade traz a possibilidade de tocar diversas culturas e localidades, já a
ritmicidade e a dramaticidade são características fortemente ligadas aos sentimentos
e a, praticamente, todas as formas de Arte, seja no teatro, na pintura, na escultura,
na música; a linearidade corresponde a seguir uma linha, não uma linha material,
mas sim uma linha de conceitos, o que entende-se por uma seqüencia coerente,
lógica, por ora talvez até mesmo previsível; no entanto para o termo sicursividade
cunhado por Meira (2007), não pode-se encontrar tradução nesta pesquisa. A
ausência de tradução para tal tanto em dicionários formais, de filosofia e até mesmo
na internet, indica a apropriação da autora sobre um novo termo havendo
necessidade para descoberta, de uma pesquisa etimológica mais aprofundada.
As obras de Arte em sua trama interna são constituídas por elementos
que aludem a sentimentos e evocam a experiência estética, como o ritmo e a
dramaticidade. O ritmo pode ser ditado por linhas, pinceladas, formas e a
dramaticidade também por pinceladas, na escolha das cores e na robustez ou
suavidade do acabamento. Tais características geram impacto visual, mas também
evocam sentimentos e na articulação do conjunto sistematizam uma experiência
estética, segundo os sentimentos, a situação, os saberes empíricos, filosóficos,
imagéticos, morais e culturais de cada sujeito.
La composición artística o pictórica es el médio de que se vale el artista para dar forma a sus sensaciones. Al conocer sus princípios es cuando se tiene consciência de la repetición rítmica de líneas, formas, valores y colores, de lá agrupacion sugestiva de estos elementos formales bajo un orden y dentro de un espacio y del efecto emotivo que ejercen sobre los sentidos aquellos descubrimientos que lá educación facilita, sabiendo ver qué es y como es lo que realmente inspira y desarrolla el poder creador. (BAMZ, 1970, p. 8-9)3
3 A composição artística ou a pintura é o meio que o artista usa para dar forma aos seus sentimentos. Ao conhecer seus princípios é quando ele está ciente da repetição rítmica de linhas, formas, valores e cores, agrupamento sugestivos desses elementos formais em ordem e dentro de um espaço e o impacto emocional que eles têm sobre as descobertas, sentidos que o ensino ministrado, sabendo como ver, o que é, e o que realmente inspira e desenvolve o poder criativo. (Tradução não literal do google tradutor - Adaptações feitas pela autora da monografia. Acesso em: 14 de Outubro de 2011).
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Clive Bell (2000, apud CAMARGO, 2009, p. 05) defende que: “as obras
de arte (e somente elas) geram nos perceptores uma emoção singular (“emoção
estética”) por meio de sua forma significante”. Camargo (2009, p. 05) explica que a
qualidade essencial dessa experiência estaria: “[...] em sua “forma significante”, que
se consistiria numa combinação particular de propriedades formais (sons,
movimentos, cores, linhas, ângulos, perspectivas, harmonia etc.) encontráveis
apenas em obras de arte.”
Desse modo a experiência estética é afetada pelos sentimentos que
perpassaram o artista criador. No entanto o artista pode querer ou não que esses
sentimentos, questões particulares, afetem a produção de sua obra. Para tanto o
artista dispõe de artifícios, técnicas peculiares para provocar determinados
sentimentos, ou ainda disfarçá-los, segundo sua concepção. Recursos como: ritmo
das imagens e/ou pinceladas, cor e luz, podem ser utilizados, para reforçar ou
atenuar o impacto visual, transmitir delicadeza ou rusticidade. A forma de utilizar as
linhas pode indicar organização ou caos. A maneira de organizar linhas e formas em
uma obra de Arte, tanto pela noção humana das leis que regem o universo físico,
podem passar a sensação de instabilidade ou rigidez, casualidade ou metodicidade,
robustez ou delicadeza.
É fato que um artista produz uma obra de arte com uma intencionalidade.
Seja ela qual for, em se tratando dos sentimentos presentes em uma obra de Arte,
há pelo menos duas extremidades distintas envolvidas nessa análise, o criador e o
observador, ou seja, o artista e o espectador ou apreciador da obra produzida.
Porém, se persistirmos em nos proibir de interpretar uma obra sob o pretexto de que se não tem certeza de que aquilo que compreendemos corresponde às intenções do autor, é melhor parar de ler ou contemplar qualquer imagem de imediato. Ninguém tem a menor idéia do que o autor quis dizer; o próprio autor não domina toda a significação da imagem que produz. Tampouco ele é o outro, viveu na mesma época ou no mesmo país, ou tem as mesmas expectativas. (JOLY, 1996, p.44)
No entanto, ao analisar-se uma imagem sob o prisma da emoção estética,
não é possível determinar que de fato que o artista consiga gerar no espectador,
ainda que com o uso de técnicas, a percepção ou as emoções estéticas que gostaria
de sinalizar, pois há elementos inerentes a experiência estética, segundo Barilli apud
Meira (2007) tais como presentativade e pluriformidade que não permitem um
tratamento como ciência exata. Dessa maneira, a experiência estética é única para
19
cada indivíduo e depende tanto dos signos em comum entre o transmissor e o
receptor da mensagem, como também da vivência individual e das emoções e
situação sócio-histórica em que está imerso o sujeito quando ocorre essa
experiência estética. Na Arte, há essa licença poética da pluriformidade justamente
por outro elemento elucidado pelo autor, a autotelia, a Arte é Arte, simplesmente por
ser Arte e não por exercer uma função, e é por esta regra de não ter regras, que
Arte não permite padronizações em sua concepção geral. É também por conta de
todos estes fatores que a experiência estética é pluriforme, ou seja, ela assume
várias formas de acordo com cada situação, dos sujeitos envolvidos nessa
experiência.
3.2 Poiética
Poiética é um termo relativamente novo e não dificilmente é confundido
com poética. Poética, segundo o dicionário Houaiss (2008), entre outras definições
é o estudo ou tratado sobre a poesia ou a estética. A poiética não é muito diferente,
pode englobar poesia e estética, mas o que a diferencia é que trata do processo de
criação em andamento, é o estudo de todos os elementos que norteiam o processo
de criação. Passeron (1997 apud MEIRA, 2007, p. 43) apresenta a Poiética como:
[...] uma filosofia da criação, onde a obra, assim como as ações que resultam numa obra, evento ou estado de arte, não são considerados um objeto, mas um quase-sujeito, justamente por implicação com a subjetividade situada das ações, uma vez que o criador é depositário simbólico de realizações histórico-críticas.
A apropriação do termo poéitica é encontrada em meio aos escritos de
arte e filosofia e trata de pensar não apenas nos aspectos formais da obra de Arte,
mas sim da relação do artista com sua obra, do diálogo dessa obra com o público e
principalmente das motivações e conceitos de que o artista estava imbuído no exato
ato da criação. Os artistas não somente se preocupam com conceitos e fórmulas de
beleza, muitas obras tem teor de crítica social ou refletem ruídos das emoções
internas do artista, por conta de situações familiares, de relações interpessoais
políticas envoltas ao criador, afetando seu modo de pensar, agir, sentir e produzir
arte.
20
A contemporaneidade desse conceito está refletida quando fala-se em
evento, estado de arte. Esses termos não se aplicariam aos cânones de uma tela
renascentista ou barroca, por exemplo, mas podem ser aplicados a roupagens de
Arte mais atuais como uma instalação, site-especific4 ou ainda à arte performática.
A poiética permeia os processos, sejam eles de elaboração da obra de
Arte ou de constituição do artista como ser crítico-reflexivo, mediante o mundo e
perante sua produção. A poiética é mediadora desse diálogo que ocorre entre artista
e espectador por meio da obra de Arte, onde questões sociais, econômicas,
históricas e estéticas, geram emoção estética e/ou conhecimento sensível.
A poiética se caracteriza por um objeto único, ou matriz, em dar existência a um tipo de trabalho de transformação, em que sujeito e obra criam relações de diálogo, compromisso e responsabilidade pessoal e social. O campo da antropologia histórica contém o espaço de construtividade em que a poética se produz. A arte é conduta apresentadora que instaura uma obra como presença para outro. (PASSERON, 1997, apud MEIRA, 2007)
Passeron (1997, apud Meira, 2007) delega a poética, uma função social
eminente, como poder de transformação nos sujeitos e subseqüentemente,
transformação social. Dessa maneira pode entender-se que as obras de Arte
constituídas com foco em questões pessoais e sociais, carregadas de signos e
emoções, transmitam essa mensagem ao espectador por meio da experiência
estética, sendo a obra mediadora de um diálogo social por meio de sua poiética.
4 Obra de Arte pensada para um local específico previamente definido.
21
4 AUTORRETRATOS E RETRATADOS
Os espelhos são usados para ver o rosto; a arte para ver a alma. (George Bernard Shaw)
Um artista pode fazer muitas coisas, dentre elas, produzir arte. O que não
significa que tudo que um artista produz é Arte, ou ainda que tudo que é belo é Arte.
Haja vista que muito do que há no dia-a-dia contém Arte, porém pode não ser um
objeto de arte. No entanto há que se ter em conta que a palavra Arte tem diferentes
conotações e segundo o dicionário Houaiss (2008, p. 65) ela pode ser:
1 habilidade humana de pôr em prática uma idéia pelo domínio da matéria 2 o uso dessa habilidade nos campos do pensamento e do conhecimento humano e/ou da experiência prática 3 perfeição técnica na elaboração; requinte 4 o conjunto de técnicas características de um ofício ou profissão 5 o próprio ofício 6 capacidade especial, aptidão, jeito, dom 7 ardil, artimanha, astúcia 8 travessura, traquinagem 9 produção de obras, formas ou objetos com ideal de beleza e harmonia ou para expressão da subjetividade humana 10 conjunto dessas obras, pertencente a determinada época, corrente, espaço geográfico ou cultural {a. moderna} a. plásticas conjunto de artes que inclui o desenho, a pintura, a escultura, a gravura e a arquitetura.
O item nove menciona a expressão da subjetividade humana. Enquanto a
expressividade de uma obra de arte a torna incisiva, a subjetividade humana a torna
Arte. Um dos fatores que diferencia Arte de artesanato é justamente a possibilidade
do artista expressar-se subjetivamente em sua obra.
Para Gombrich (1999) em meio a essas verdades fragmentadas não há
nada que possa de fato ser chamado de arte, para ele existem apenas artistas.
Nada existe realmente a que se possa dar o nome de Arte. Existem somente artistas. Outrora, eram homens que apanhavam um punhado de terra colorida e com ela modelavam toscamente as formas de um bisão na parede de uma caverna; hoje alguns compram suas tintas e desenham cartazes para tapumes; eles faziam e fazem muitas outras coisas. Não prejudica ninguém dar o nome de arte a todas essas atividades, desde que se conserve em mente que tal palavra pode significar coisas muito diversas, em tempos e lugares diferentes, e que Arte com A maiúsculo não existe. Na verdade, Arte com A maiúsculo, passou a ser algo como um bicho-papão, um fetiche. (GOMBRICH, 1999, p. 15)
Ao mesmo passo que o autor diz que não existe Arte com A maiúsculo,
admite que exista, mas que transformou-se o modo de vê-la e com tantas outras
coisas chamadas de ‘Arte’, a Arte da tal chamada obra prima, Arte com A maiúsculo,
assusta, amedronta, transformou-se em um objeto raro de poderes sobrenaturais
para Gombrich (1999).
22
Atualmente é possível criar-se uma pintura digital, apenas com o
computador e o artista, que agora também é chamado de autor. A Arte criou uma
relação interativa com o público, muitas obras de Arte produzidas aos dias atuais,
utilizam-se da rede mundial de computadores (internet) como meio de exposição,
nas bienais de Arte o pesado aparato tecnológico deixa dúvidas sobre o que é real e
o que é ‘cibernético’.
O objetivo da História da Arte compreenderia operações tais como de montagem, de desmontagem e de remontagem. Este objeto não é fixo, mas convoca uma interação de passado e presente no quadro da cultura para a modelagem de uma realidade fragmentada. Interagindo no ambiente do ciberespaço, característico do indefinido caos, a busca de uma pesquisa metodologicamente disciplinada na cibercultura é coerente, por parte do pesquisador, enquanto relacionado ao seu background histórico atual e seu inground existencial da cultura digital da pós modernidade. A questão maior reside na interação ou espelhamento da História da Arte no ambiente do ciberespaço/cibercultura5. (MEDEIROS, 2004, p. 77)
Assim, com a Arte tão díspar, tanto em sua produção artística como em
suas multifacetadas interpretações, torna-se compreensível a dificuldade de
Gombrich (1999) em definir Arte como obra prima, considerando a fecunda e
diferenciada produção artística ao longo dos tempos.
Gombrich (1999, p. 15) diz que muitas pessoas gostam de ver na arte o
que gostariam de ver na realidade e são gratas aos artistas por essa mágica
possibilidade. O que pode ser um atrativo para a arte, em certos casos pode se
tornar um entrave e gerar repulsa. Ele vai mais longe e faz uma relação entre
retratos que os pintores Peter Paul Rubens e Albrecht Dürer, respectivamente,
pintaram de seus familiares.
5 Cibercultura vem da cibernética, teoria da comunicação que trata das relações de comunicação e do controle do feedback (resposta). São sistemas de troca de informações entre homens e máquinas. (http://www.slideshare.net/) acesso em 03 de Outubro de 2011
23
FIGURA 01 - Retrato de seu filho Nicholas – Pieter Paul Rubens FONTE: Gombrich (1999, p. 16)
Rubens retrata seu rechonchudo garoto e segundo Gombrich (1999, p.17)
ele estaria orgulhoso da beleza do menino, desenhando-o com devoção e amor.
24
FIGURA 02 - Retrato de sua mãe – Albrecht Dürer FONTE: Gombrich (1999, p. 17)
Na figura 02 Dürer faz um belo estudo sobre a velhice, retrata sua mãe
com candura, porém sem ocultar-lhe as marcas de expressão, gravadas pelo tempo,
ao que pode-se perceber, o artista buscou a verdade da cena contemplativa, sem
procurar maquilar, ocultar possíveis defeitos ou criar uma imagem idealizada.
O Autorretrato do artista é como uma autobiografia de um escritor, pois o
objeto de estudo é ele mesmo, o artista, o autor e sobre isso Canton (2004, p. 05)
nos diz que “auto-retrato é uma forma de registro em que o modelo é o próprio
artista. O retratado é quem se retrata”.
É no Autorretrato que o artista se retrata e se expressa de maneira mais
pessoal, tentando traduzir na obra, suas características físicas e emocionais.
Também exprime sua forma de utilizar às cores, a intensidade de suas pinceladas, a
técnica escolhida e a sua maneira de perceber e criar, volumes e texturas. É como
se fosse uma narração do seu modo de enxergar os predicados da arte e da
natureza.
O Autorretrato é como se fosse um espelho da alma e das qualidades
25
técnicas do artista. Nele ele transpassa sua visão de si mesmo, da arte e da
natureza em uma única obra.
Na feitura dos retratos e Autorretratos, habitualmente o foco principal é o
rosto, geralmente acompanhado de meio-busto. A pintura do rosto tem sido
privilegiada ao longo dos tempos e dependendo da proposta estética, das maneiras
mais variadas, alguns perseguindo uma arte realista que se aproxime ao máximo
das qualidades da fotografia. Outros impondo seu estilo nas obras, paletas de cores
diferenciadas, deformando as figuras, geometrizando-as, tirando o contorno definido
ou reforçando-o, introduzindo na composição da obra, lugares específicos, objetos
pessoais e particulares. Em alguns casos os traços característicos de personalidade
e/ou os sentimentos são retratados de maneira exacerbada como nas obras
expressionistas, que como o nome diz dão ênfase às expressões. Há casos em que
há uma veia cômica onde alguma característica física é exagerada ou simplesmente
deformada ou remodelada em formatos inorgânicos, como pode ser o caso das
charges ou caricaturas. Essa deformação, porém de forma geometrizada, também
pode acontecer no Cubismo.
A caricatura consiste no exagero proposital das características marcantes do indivíduo ou personagem retratado, e pode vir a ser um elemento visual constituinte das charges, o que é bastante freqüente, pois como a charge está ligada aos acontecimentos políticos, aparecem em seu quadro caricaturas de presidentes, ministros e outras personalidades do mundo político nacional e até internacional. (TOZATTI, 2005, p. 10)
É importante salientar que o Autorretrato é uma representação que o
artista faz de si mesmo, independente do suporte, ou seja, pode ser uma pintura de
um quadro a óleo, uma pintura aquarela onde o suporte é o papel, assim como
também uma escultura em barro, pedra ou outro suporte que o artista escolher. As
expressões que o artista dará a si mesmo em sua obra podem refletir o estado
emocional real do artista, ou podem constituir um personagem idealizado, ou com
expressões fisionômicas ou corporais exageradas, que caracterizam a caricatura no
desenho cômico, mas também regulam os conceitos da Arte Expressionista.
A produção de Autorretratos explode na Renascença Italiana, um período
muito importante para a Arte onde surgiram vários grandes artistas como Leonardo
Da Vinci, Botticelli, Michelangelo e Rafael Sânzio. Período marcado pela valorização
da cultura onde foram feitas belas obras arquitetônicas, artísticas e literárias.
26
O fato que consumou essa intensa produção de Artes nesse período foi o
mecenato, onde nobres e burgueses bancavam financeiramente os artistas para que
estes pudessem produzir os retratos da nobre burguesia. Além da nobreza também
podiam consumir Arte, os novos abastados e os comerciantes. Tendo os artistas
condições para produzir arte – já que viviam desse trabalho – desejaram também
produzir seus Autorretratos. Segundo Canton (2004, p. 06), “o auto-retrato tornou-se
realmente popular na época do Renascimento, que vai aproximadamente do século
XV ao XVII”. Aos dias atuais e no século XX quase todos os artistas, renomados ou
não, já tentaram produzir seu Autorretrato.
Neste caso estamos apresentando retratos, para enfatizar o nível de
realismo trazido por eles e consequentemente a reação do espectador perante
essas diferentes realidades. Para este estudo enfocaremos nos Autorretratos,
apresentando obras de Dürer, Peter Paul Rubens, Rembrandt e Van Gogh.
4.1 Albrecht Dürer:
Para Gombrich (1999, p. 17), na figura 02 Dürer fez um honesto estudo
da velhice desgastada por preocupações o que pode gerar uma repulsa, fazer
desviar o olhar da obra. É preciso uma luta pessoal por parte do perceptor para
superar entraves que possam ocorrer a sua livre fruição de uma obra, acabando por
rejeitar ou menosprezar o valor artístico dela.
Albrecht Dürer é um artista que merece ser estudado porque além de
suas inestimáveis contribuições para a pintura aquarela, ele é um dos primeiros
Renascentistas a se interessarem em realizar uma série de Autorretratos. De acordo
com Canton (2004, p. 09) Dürer começou essa busca intrínseca cedo: “Ele se
encantou com a sua própria imagem quando tinha apenas 13 anos e assim
desenhou seu primeiro auto-retrato em 1484.” Percebe-se a linha tênue entre o
desejo de auto-afirmação humana e o desejo de revelar o divino.
Dürer acreditava que quando um artista chegava a ser um verdadeiro
mestre, ele tornava-se um grande criador, a semelhança de um Deus criador, divino
ou semelhante a Jesus, o que o motivou, em 1500, pintar um Autorretrato nesses
moldes.
Em 1500 pintou seu Auto-retrato com casaco de peles, em que, de barbas, e cabelos longos, se parecia com Jesus Cristo. Isso porque Dürer
27
acreditava que um artista, quando chegava a ser um verdadeiro mestre, tinha tanta importância quanto à de Deus ou à de Jesus. (CANTON, 2004, p. 09)
FIGURA 03 – Auto-retrato com peles - Albrecht Dürer FONTE: http://www.masterworksfineart.com/
O recurso do claro-escuro, utilizado na obra, dá ainda mais imponência à
figura que se sobressai em primeiro plano e o clímax da obra é complementado pela
mão direita em destaque, que assim como na famosa Monalisa de Michellangelo
concede ao quadro um ar de serenidade e nesse caso, um clima característico do
sacro.
28
FIGURA 04 – Auto-retrato com paisagem - Albrecht Dürer FONTE: Vançan (2003, p. 19)
Nesse Autorretrato Dürer apresenta-se em frente a uma janela, onde
pode-se observar uma paisagem; a larga espessura do parapeito da janela induz a
pensar que a construção fora feita de pedras e que uma pedra de mármore a
reveste, concordando com ar de nobreza do ambiente. É salutar observar a
presteza, o domínio técnico do artista, os vários tons com que trabalha a pele,
representando muito bem luz e sombra com serenidade, sem tornar-se dramático.
Dürer com suas longas e crespas madeixas veste-se com roupa toda trabalhada
combinando com uma espécie de boina que usa. Nessa imagem parece mais
humanizado, porém transmite um ar de soberba, como uma realeza posando em
seu ilustre castelo. Sendo ele pintor, não tratava-se de um rei em seu castelo, porém
remete às personalidades com que um artista renomado, de sucesso devia ter
contato, considerando os padrões da época – 1498 a 1500. No entanto o que mais
condiz com a aura de realeza é justamente a postura de Dürer, sua postura de semi-
perfil, um olhar discreto e bastante contido, compondo com as mãos elegantemente
vestidas de luvas e suavemente cruzadas que complementam a pose cerimoniosa,
29
lembrando a pintura de figuras sacras como santos. Remete também à docilidade
verossímil com a Monalisa de Da Vinci.
A edição Espanhola de manuais Parramón, dirigida por Jordi Vigué e
produzida por Rafael Mafil Mata (1996, p. 06) menciona a importância da obra desse
artista.
[...]Dürer (1471-1528) pintou em sua carreira uma grande quantidade de obras. Hoje constam mais de mil desenhos, duzentas e cinqüenta xilogravuras, cem gravações em cobre, e cento e oitenta e oito quadros, dos quais oitenta e seis são aquarelas, realizadas com esmero e técnica insuperável.
Dürer não pintou uma série muito extensa de Autorretratos, mas fora um
artista muito versátil de inegável contribuição às Artes. Em seus Autorretratos há
pouca expressividade no rosto, o artista parece querer evitar falar de si mesmo em
sua obra, parece salientar uma divindade, na realidade retratar-se como se fosse
uma divindade, como é no caso da obra retrato com peles em que Dürer simula ser
Jesus Cristo. Nos Autorretratos apresenta olhar estático, porém penetrante. No
entanto esses detalhes não parecem falar propriamente de Dürer, mas sim da
alegoria que ele compõe em seus personagens. Na figura Retrato com paisagem
(1498) Dürer parece mais humanizado, porém transmite um ar prepotente, como
uma realeza posando em seu ilustre castelo.
Nesse ano de 1498, já havia alcançado uma posição social elevada, em pleno êxito da fama e do dinheiro. Segundo seus biógrafos, considerou a necessidade de fazer um auto-retrato que refletisse sua posição como senhor das artes. Penteou-se e vestiu-se com as melhores roupas e se pintou com seu estilo de pintor desenhista, valorizando os contornos, exagerando no acabamento, demonstrando que sabia muito sobre a representação e que era capaz de copiar a vida real, focando cada detalhe exatamente. (VANÇAN, 2003, p. 18)
Os demais elementos na obra, como detalhes na arquitetura, vestimentas,
e até mesmo a técnica de pintura, utilizando-se do claro-escuro para dar volume e
destaque aos elementos, podem remontar o período da construção da obra, e
refletem o desejo de Dürer, elucidado por seus biógrafos, de usufruir de sua
condição de artista renomado e de sua boa situação financeira dando-se ao luxo de
poder também ter um retrato seu como possuíam os nobres na Renascença. Esses
mesmos elementos refletem a auto-estima do artista, transparecendo riqueza,
nobreza e ar de realização, como um homem maduro, seguro de si, cônscio de sua
posição social. A imagem parece refletir os ambientes por ele freqüentados.
30
4.2 Rembrandt
Em se tratando de Autorretratos é Rembrandt que merece destaque
especial por sua preciosa série de Autorretratos, que alcança a marca de quase cem
obras. E o que torna suas obras tão preciosas para a presente pesquisa é a
possibilidade de analisá-las de maneira justaposta e cronológica, seguindo a idéia
de que “ele deixou imagens para o mundo, desde a de um jovem de 23 anos até a
de um senhor rechonchudo, de cabelos brancos e pele marcada, em seus últimos
dias de vida” (CANTON, 2004, p. 10).
FIGURA 05 – Auto-retrato - Rembrandt FONTE: http://www.pollsb.com/
Percorrendo essa série de Autorretratos, podemos perceber que, além
das diferentes idades do artista, Rembrandt retrata também as mais diversas
situações, expressões e sentimentos.
31
FIGURA 06 – Zelfportret, leunend op een balustrade - Rembrandt
FONTE: http://www.rembrandthuis.nl/
No Autorretrato acima, apoiado em corrimão, Rembrandt demonstra uma
expressão diferente, do retrato anterior, onde tinha 23 anos. Nessa obra ele
aparenta ser mais velho e tem expressão mais sisuda, sua pose de fronte para o
expectador e com o braço apoiado sobre a grade tem provável influência de seus
estudos sobre dois mestres italianos Rafael e Ticiano (www.rembrandthuis.nl).
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FIGURA 07 – Zelfportret met Saskia - Rembrandt FONTE: http://www.rembrandthuis.nl/
Nessa gravura de 1636, Auto-retrato com Saskia, Rembrandt ainda
aparenta a jovialidade, semelhante ao Autorretrato com 23 anos, mas dessa vez
conta com a presença de uma figura feminina, que alude à uma companheira, e
apesar da feição jovial, nesse Autorretrato apresenta uma postura mais séria, em
vez de um biquinho e olhar de espanto como na figura 04.
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FIGURA 08 – Zelfportret met gefronst voorhoofd - Rembrandt
FONTE: http://www.rembrandthuis.nl/
Nesse Autorretrato Rembrandt, sem um chapéu como normalmente
aparece na maioria de seus Autorretratos, deixa aparecer as onduladas madeixas
despenteadas. Intitula a obra Autorretrato com uma carranca. Pode-se perceber o
forte franzir da testa. A imagem está exposta na casa de Rembrandt, que agora é
um espaço para exposição de suas obras, no entanto o próprio site oficial dessa
exposição questiona a veracidade da procedência da obra, pois Rembrandt era
também um grande mestre e suspeita-se que alguns de seus Autorretratos
pudessem ter sido feitos por alguns de seus discípulos que tinham grande habilidade
como copistas - como por exemplo, Heym Dulllart – e apropriados por Rembrandt,
que as assinava como suas criações. E suspeita-se ainda que ele não o fizesse
despretensiosamente (www.rembrandthuis.nl).
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FIGURA 09 – Zelfportret ten voeten uitca - Rembrandt FONTE: http://www.rembrandthuis.nl/
Nesse Autorretrato há uma maior dificuldade em reconhecer Rembrandt:
o pé direito aparece riscado duas vezes, aparentando que se tentou remover a tinta,
mas sem sucesso; pode-se pensar também nele como uma figura da nobreza,
alguém poderoso, em vez de um pintor.
Rembrandt em sua série de Autorretratos parece exprimir uma série de
expressões fisionômicas, ora soa comicamente fazendo biquinhos como na figura
05, ora posa para seu Autorretrato escorado em corrimão na figura 06, com boina e
ar de pintor de respeito. Pode-se presumir que, nesses Autorretratos, o artista
expressa emoções ou situações cotidianas vivenciadas por ele naquele momento.
Seus auto-retratos representam uma espécie de diário, no qual seu caráter é revelado. Ele encontra em seu próprio rosto um tema móvel e dócil, pleno de emoção e sobre o qual exercia tal domínio que podia alterar, deformar e abstrair como quisesse. (VANÇAN, 2003, p.22)
A ausência de pintura de fundo e outros elementos que complementem a
composição dos Autorretratos 05 e 08 fazem com que a atenção fique focada no
artista não evidenciando o local onde possa ter feito esses Autorretratos. Mesmo na
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figura 06, Autorretrato apoiado em corrimão, não é possível definir o que haveria por
trás daquela escadaria. A figura que possui mais informações é no Autorretrato com
Sasquia. Rembrandt parece gostar de brincar com sua fisionomia, como que
expressando vários personagens, que indiquem diferentes estados de ânimo.
4.3 Vincent Van Gogh
Vincent Van Gogh - o ‘Holandês’ como era conhecido – vem marcando a
história das Artes Visuais pela expressividade de suas obras, pelo modo de utilizar a
cor amarela de maneira poeticamente bucólica. Crises existenciais, solidão e
perturbações mentais, marcam sua trajetória de vida e arte.
A existência mais dramática da pintura começa a 30 de Março de 1853, em Groot-Zundert, no Brabante holandês, próximo da fronteira belga, uma aldeia de três mil habitantes, no meio de uma paisagem melancólica, de charnecas e turfeiras, entrecortadas de pequenos bosques, sob um céu baixo. Aí nasceu Vincent Van Gogh. (CABANNE, 1971, p 09)
Van Gogh iniciou tardiamente sua carreira de artista, começando a pintar
aos 27 anos. Sua carreira foi curta, com apenas dez anos de pintura e ainda assim
sua produção foi muito intensa. Pintava compulsivamente, produziu várias obras
com a temática de girassóis, paisagens com ciprestes e também vários
Autorretratos.
His evolution from an inept but impassioned novice into a truly original máster was remarkably rapid: all the works which you willl see here were produced in the space of Just tem years. In that time Van Gogh made well over 800 paintings, more than 1000 drawings, as well as sketches and water-colours. (VANG GOGH MUSEUM, Catálogo de divulgação) 6
Sua produção faz vistas. Pintar fora uma decisão de Van Gogh, e
esmerou-se neste intento, sempre auxiliado pelo irmão e mecenas Theo.
He made studies of plaster figures and drawings after a live model for a few months at the Studio of the academic French artist Fernand Cormon. It was there that he met kindred spirits among the young artists, including Paul Signac, and Henri de Toulouse-Lautrec. In the two years he stayed in Paris Van Gogh painted no less than 27 self-portraits. He often could not afford models so he used his own face to experiment with colour and painting techniques. Influenced by Neo-impressionist painting, he covered his
6 Sua evolução a partir de um novato inapto, mas apaixonado, em um verdadeiro mestre foi notavelmente rápido: todas as obras que você irá ver aqui foram produzidos no espaço de apenas dez anos. Nesse tempo Van Gogh fez mais de 800 pinturas, mais de 1000 desenhos, bem como esboços e aquarelas. (Tradução não literal do google tradutor - Adaptações feitas pela autora da monografia. Acesso em: 02 de Setembro de 2011).
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canvases with small dots and lines in light, brilliant contours. (VANG GOGH MUSEUM, Catálogo de divulgação) 7
Van Gogh era um artista pesquisador, procurava manter contato com
outros artistas e experimentar novas técnicas de pintura. Não é gratuita a textura
que consegue em suas telas; usando pinceladas emplastadas, criou traços
marcantes e que identificam o estilo Van Gogh de pintar.
FIGURA 10 – Self-portrait with pipe and straw hat - Vincent Van Gogh FONTE: http://www.vangoghmuseum.nl/
Nesse Autorretrato com cachimbo e chapéu de palha de 1887, Van Gogh
pinta a óleo sobre papelão, demonstrando a economia de materiais. Refletem-se
nessa obra as tendências Neo-impressionistas, cores claras, pontos e linhas de luz
7 Fez estudos de figuras em gesso e desenhos, depois, de modelo vivo por alguns meses no estúdio da artista acadêmica francêsa Fernand Cormon. Foi lá que ele encontrou afinidade com jovens artistas, incluindo Paul Signac e Henri de Toulouse-Lautrec. Nos dois anos ele ficou em Paris Van Gogh pintou nada menos que 27 Autorretratos. Muitas vezes ele não podia pagar modelos assim ele usou seu próprio rosto para experimentar com cores e técnicas de pintura. Influenciado pela pintura neo-impressionista, ele cobriu suas telas com pequenos pontos e linhas de luz, os contornos brilhantes.
37
por toda a imagem. As linhas são bem soltas, quase não tocando umas nas outras,
apesar das cores claras e luminosas, a obra fora pintada em frio inverno parisiense
(www.vangoghmuseum.nl). Pode-se perceber uma postura do artista, um tanto
reclusa, com a coluna levemente arqueada para frente, os olhos caídos e o próprio
charuto relaxado, que denotam uma expressão bem cansada.
FIGURA 11 – Auto-retrato - Vincent Van Gogh FONTE: http://www.vangoghmuseum.nl/ Nesse Autorretrato de pequenas proporções apenas 19x14, pintado
também em 1887, o pintor, que retratava seus olhos verdes, com a cor verde,
trabalha agora com uma gama de tons de cinza. A postura para o retrato é
impecável, está distintamente vestido com seu terno e até mesmo o seu contumaz
chapéu é muito elegante combinando com o tecido, estilo e gama de cores da roupa.
A imagem reflete a elegância francesa. Na parte do superior do fundo azul, trabalha
com um tom mais escuro nas extremidades e tons mais claros ao centro,
valorizando a figura em primeiro plano e dando bom acabamento. Pressupõe-se que
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esse quadro seria uma espécie de cartão de visitas, utilizado por Van Gogh para
‘vender sua imagem’ atraindo clientes. (www.vangoghmuseum.nl)
FIGURA 12 – Self Portrait With Bandaged Ear - Vincent Van Gogh FONTE: http://www.1st-art-gallery.com/
A obra acima é incisiva e reveladora no que tange a vida pessoal e
também suas influências artísticas. Ele aparenta estar próximo a uma janela ou
porta, em frente a uma parede na qual está pendurada uma pintura de temática
oriental. Esse tipo de pintura é presença constante nas obras do artista e revela sua
paixão pelas estampas japonesas, assim como pela caligrafia. Contanto não indica
que o pintor possa estar no Japão, mas a partir de sua biografia pode-se deduzir que
represente sua estada na França, onde se apaixonara pela Arte Oriental.
Vincent também continuava a pintar retratos. “Desejo fazer figuras, figuras e mais figuras”, escreveu ele a Theo. Vem desse período Mulher Lendo Romance e Lá Mousmé (título que, embora geralmente não traduzido, significa “a jovem Japonesa”). Muitas vezes era difícil para Vincent conseguir modelos, que custavam caro. Seu amigo Joseph Roulin, carteiro em Arles, veio em seu auxílio e posou (Retrato de Joseph Roulin), assim como outros membros da família Roulin: Seu irmão Armand (Retrato de Armand Roulin) e a própria Madame Roulin, Augustine, que aparece em La Berceuse (Canção de ninar”). (COLEÇÃO, 1997, p. 03)
39
O próprio Van Gogh revela em uma de suas famosas cartas a seu irmão
Theo o seu desejo por pintar ‘Figuras’8. Com a recorrente falta de modelos sentida
por Van Gogh, umas das figuras que pintou em várias telas fora a de si mesmo.
Nessa época pintou 27 Autorretratos9 em apenas dois anos. Embora a feitura de
Autorretratos fosse utilizada pelo artista para o estudo de cores e texturas, ainda
assim, não haveria necessidade de Van Gogh retratar-se com a orelha cortada,
afinal ele era senhor de suas telas e poderia pintar o que quisesse e como quisesse
segundo a sua habilidade, inclusive omitindo esse lamentável acontecimento em sua
vida: o dia em que, em contraposição a visão artística de seu amigo e colega o
artista Paul Gauguin, Van Gogh é acometido por uma de suas primeiras e terríveis
turbulências mentais que marcaram sua vida.
Depois disso, Van Gogh iniciou sua série de Girassóis. Quando começou a trabalhar com essas flores, ele passou a explorar obsessivamente o amarelo em todos os seus aspectos. Nesse período, Gauguin veio juntar-se a ele. Por ironia, foi a chegada de seu amigo mais caro, e a quem considerava um mestre, que provocou sua primeira crise de nervos e ameaçou sua estabilidade mental. Os dois artistas viviam juntos. No intenso contato cotidiano, Van Gogh começou a perceber como eram diferentes os princípios e modos de cada um deles ver a pintura. Demonstra isto o estilo que Van Gogh usou para reinterpretar Lês alyscamps, inspirado pelo amigo. Pouco tempo depois, quando Gauguin pintou um retrato dele, Van Gogh recusou-se a aceitá-lo. Não queria reconhecer-se no quadro em que Gauguin o representava como um homem pintando girassóis com certo ar de loucura. Após violenta discussão, que prontamente levou Gauguin de volta a Paris, Van Gogh decepou uma orelha a navalha. Ele documentou o evento em seu célebre Auto-retrato com orelha Enfaixada. (COLEÇÃO, 1997, p. 03)
Na obra também é revelado outro aspecto que tange a vida artística do
pintor.
En realidad, hacía mucho tiempo que la meta auténtica de Vincent era París. En la capital francesa podría habitar en la casa de Theo, dibujar modelos en el taller de Cormon (figs. 55 y 56) y estudiar arte antiguo en los museos. Vincent quiere prosseguir su formación, pero siguiendo el método y camino empleados por el pintor Breitner. Este pintor trabajaba en 1884 en el taller de Cormon y se encontro con Theo Van Gogh, quien informo de todo
8 [...]“Desejo fazer figuras, figuras e mais figuras”, escreveu ele a Theo. (COLEÇÃO, 1997, p. 03) 9 Nesse período de dois anos em Paris, pintou nada menos que 27 Autorretratos, por conta da influência de seus colegas de atelier Paul Signac e Toulouse Lautrec, entregou-se também as influências Neo-impressionistas. (VANG GOGH MUSEUM, Catálogo de divulgação) (Tradução não literal do google tradutor - Adaptações feitas pela autora da monografia. Acesso em: 02 de Setembro de 2011).
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ello a su hermano en uma de las cartas que le escribió. Fuera de las academias apenas si existían possibilidades para adquirir una buena formación, y, naturalmente, Vincent, a pesar de sus personales ideas, tiene que seguir el camino tradicional. Enorme es La admiración que siente por viejos maestros, en cambio, la obra de los impressionistas le dice muy poco al principio. Mas em 1887 cambia rápidamente su opinión cuando conoce un número considerable tanto de impressionistas como de puntillistas, y también pintores que trabajan en un estilo mucho más llano, al que Vincent da el nombre de “japonês”. (UITERT, 1980, p. 25)10
Nas suas obras, assim como no Autorretrato com orelha enfaixada, ao
observar-se como Van Gogh cria noções de planos e profundidade, pode notar-se
que suas imagens são planas, em vez de usar perspectiva para gerar volumes e
profundidade, ele opta por cores.
Pode-se perceber que as obras de Vincent Van Gogh, narram sua vida,
de maneira autêntica. Revelam inúmeras nuances de cores, reiterando seu interesse
por estudá-las de maneira exaustiva. Na obra Autorretrato com orelha enfaixada
revela ao mesmo tempo, a paixão e influência das figuras e estilo japonês em suas
obras, um fato que marcou definitivamente sua história, e o decepamento de sua
orelha. Com essa afirmação “Não preciso sair da rotina para exprimir tristeza e o
extremo da solidão” (COLEÇÃO, 1997, p. 03) Van Gogh revela-se como um homem
que busca encarar a verdade de frente. Ao observar, na figura 12, seu olhar direto,
profundo, em consonância com a expressão austera do rosto, refletindo um fato real
em sua vida e aludindo a sentimentos enternecedores pode concluir-se Van Gogh
busca materializar em sua obra, situações vividas por ele, lugares onde passou e
emoções concernentes à cena retratada.
4.4 Peter Paul Rubens
Rubens nascera em Siegen, Westphalia e fora criado em meio a
10 Na verdade, há muito tempo que o objetivo real de Vincent foi Paris. Na capital francesa poderia morar na casa do Theo, desenhar modelos no atelier Cormon (Figs. 55 e 56) e estudar a arte antiga em museus. Vincent quer prosseguir a sua formação, mas seguindo o método e rota usada pelo pintor Breitner. Este pintor estava trabalhando em 1884 no atelier Cormon e encontrou Theo Van Gogh, que relatou tudo isso ao seu irmão em uma das cartas que ele escreveu. Fora das escolas quase não existia possibilidade de adquirir uma boa educação, e, claro, Vincent, apesar de suas idéias pessoais, deve seguir o caminho tradicional. Grande é a admiração por velhos mestres, no entanto, as obras do impressionismo lhe dizem muito pouco no início. Mas sua opinião em 1887 muda rapidamente quando ele encontra um número significativo de impressionistas tanto como de pontilhistas e também pintores que trabalham em um estilo muito mais plano, ao que Vincent dá o nome de "Japonês". (Tradução não literal do google tradutor - Adaptações feitas pela autora da monografia. Acesso em: 02 de Setembro de 2011).
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costumes católicos; de berço também sempre tivera contato com a política e a vida
das cortes. Ser católico e ainda sofrer em meio a uma perseguição dos protestantes,
por certo influenciara a obra de Rubens. Outro fator a ser considerado era a ligação
da nobreza, com a igreja católica e a riqueza que ela dispunha.
Segundo Cabanne (1972), Rubens era um artista que não tinha medo de
revelar suas técnicas, pintava aos olhos de todos e até mesmo as crianças
prestigiavam sua celebridade freqüentando a sua casa. Se por um lado não frustrava
as suas obras aos olhares de todos, a mesma transparência não ocorria ao que
tangia sua personalidade.
Este homem das cortes, cuja actividade de quase meio século se desenrolou à dimensão da Europa do seu tempo. Guarda o seu mistério, muito jovem, compôs a sua própria máscara e fechou-se numa personagem que permanecerá impenetrável até o fim. Nem os lutos, nem os reveses políticos, nem a doença, abalará essa imagem. Rubens raramente revela o seu ser íntimo. As suas cartas, comparadas com as de Delacroix ou de Van Gogh, são de um tom convencional, uniforme e frio, do princípio ao fim de sua vida. (CABANNE, 1972, p. 07)
Como um homem criado em meio à realeza, o artista fora muito bem
educado, o que implicará sobre seu modo diplomático e formal de portar-se. Essa
postura pode ser observada em suas obras. Ele pode dispor de boas condições
financeiras e excelente educação formal e humanística.
In Antwerp, Rubens received a humanist education, studying Latin and classical literature. By fourteen he began his artistic apprenticeship with Tobias Verhaeght. Subsequently, he studied under two of the city's leading painters of the time, the late mannerists Adam van Noort and Otto van Veen. Much of his earliest training involved copying earlier artists' works, such as woodcuts by Hans Holbein the Younger and Marcantonio Raimondi's engravings after Raphael. Rubens completed his education in 1598, at which time he entered the Guild of St. Luke as an independent master. (http://www.peterpaulrubens.org/)12
Diferentemente de Van Gogh que iniciou sua carreira artística com 27
anos, Rubens é precoce na atividade artística. Além de sua elevada formação
literária, iniciou seus estudos em Arte com a tenra idade de 14 anos e se dedicou ao 12 Em Antuérpia, Rubens recebeu uma educação humanista, estudando literatura latina e clássica. Por quatorze anos, ele começou a sua aprendizagem artística com Tobias Verhaeght. Posteriormente, ele estudou com dois dos principais pintores da cidade da época, os maneiristas Adam van Noort e Otto van Veen. Muito de seu começo de carreira esteve envolvido em treinamentos copiando obras de artistas anteriores », como xilogravuras por Hans Holbein, o Jovem e gravuras Marcantonio Raimondi, depois de Rafael. Rubens completou a sua formação em 1598, momento em que ele entrou na Guilda de São Lucas como mestre independente.(Tradução não literal do google tradutor - Adaptações feitas pela autora da monografia. Acesso em: 02 de Setembro de 2011).
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aprendizado das Artes como ofício. Em seus primeiros estudos interessava-lhe
aprender a técnica dominada pelos grandes mestres, para posteriormente ser
reconhecido também como um notável mestre das Artes. Para tanto fazia cópia das
obras de outros artistas já consagrados, nada menos do que Rafael Sânzio por
exemplo.
Rubens, nas obras analisadas, mostra uma postura sóbria, imponente e
fria, parece estar posando para uma foto ou no caso da época, para um retrato. Em
seus Autorretratos ele não aparece em momentos de distração do dia-a-dia, como
se fosse flagrado ao acaso. Deste modo também não observam-se muitas variações
em sua expressão.
FIGURA 13 – Self-portrait with Isabella Brant – Peter Paul Rubens FONTE: http://www.peterpaulrubens.org/
Na imagem Autorretrato com Isabella Brant, Rubens apresenta-se jovem
e o casal do retrato elegantemente vestido, posa para o retrato. Rubens parece
relaxado, com as pernas cruzadas, sentado levemente reclinado sobre o que parece
ser um pedestal de pedra, servindo-lhe de banco. Rubens parece estar muito a
vontade em uma posição de relaxamento, estende a mão sobre a sua perna para
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sustentar delicadamente a mão de Isabella. Isabella veste um lindo, longo e
pomposo vestido, com um tom de vermelho bordô e também com lindo tom lazulli,
cores que por muito tempo simbolizaram poder e status social. O dourado nos
detalhes do vestido, as jóias deslumbrantes e a gola do vestido armadamente
frondosa, não deixa dúvidas de que se trata de uma mulher de posses. Igualmente
Rubens veste longa capa, uma espécie de colete ostentando laboriosa gola em tons
de cinza. Enquanto estende a mão direita para a dama, a mão esquerda fica em
fronte a uma também elegante espada.
FIGURA 14 – Self-portrait – Peter Paul Rubens FONTE: http://www.peterpaulrubens.org/
Nesse Autorretrato Rubens se mostra mais maduro do que no anterior,
Apresenta olhar sério, tenaz, imponente, mas não arrogante. Portando uma espada,
elegante capa, e usando uma gola vistosa e ondulada, há novamente a
representação como na imagem anterior. Rubens parece colocar a mão em frente à
espada para destacá-la na composição impondo respeito com tal postura. O que é
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curioso é que novamente a mão que encontra-se sustentando a espada é a mão
esquerda. Já na mão direita, ele calça uma luva que aparenta ser de couro, em um
tom de marrom escuro, que em contraste com a mão esquerda sem luva, portanto
de tonalidade mais clara, dá ainda mais destaque à espada.
FIGURA 15 – Self-portrait in a Circle of Friends from Mantua – Peter Paul Rubens FONTE: http://www.peterpaulrubens.org/
Na figura acima o artista intitula a obra Autorretrato em meio a um circulo
de amigos de Mântua. Como pode perceber-se a elegância dos senhores, inclusive
do artista, a imagem remete a homens de prestígio como era Rubens. Rubens
chegou a estabelecer residência em Mântua, instalado na Corte do Duque Vincenzo
I Gonzaga.
In 1600, Rubens traveled to Italy. He stopped first in Venice, where he saw13 paintings by Titian, Veronese, and Tintoretto, before settling in Mantua at the court of duke Vincenzo I of Gonzaga. The coloring and compositions of Veronese and Tintoretto had an immediate effect on Rubens's painting, and his later, mature style was profoundly influenced by Titian. With financial support from the duke, Rubens traveled to Rome by way of Florence in 1601. (http://www.peterpaulrubens.org/)
13 Em 1600, Rubens viajou para a Itália. Ele parou primeiro em Veneza, onde viu as pinturas de Ticiano, Veronese, Tintoretto e, antes de se estabelecer em Mântuana corte do duque Vincenzo I Gonzaga. A coloração e as composições de Veronese e Tintoretto teve um efeito imediato sobre a pintura de Rubens, e seu estilo, mais tarde amadurecera profundamente influenciado por Ticiano. Com o apoio financeiro do duque, Rubens viajou a Roma por meio de Florença, em 1601. (Tradução não literal do google tradutor - Adaptações feitas pela autora da monografia. Acesso em: 02 de Setembro 2011).
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Rubens, um homem cônscio de seu prestígio, dá destaque de si mesmo
na imagem, através da luz. Com grande domínio técnico, conseguia dar vida às
obras e apenas com algumas pinceladas concedia luz e vida à suas pinturas.
Destaca-se na composição não apenas pela luz incidida sobre ele, mas
diferencia sua vestimenta das demais figuras da obra acima. Embora todos estejam
elegantemente vestidos, Rubens veste um casaco que aparenta ser de um cetim cor
de chumbo, tipo de tecido que apresenta um brilho especial em relação à maioria
dos tecidos utilizados para fazer os trajes sociais masculinos habituais para a época,
como aparentam ser as vestimentas negras dos demais componentes da obra. Ao
observar-se a imagem pode-se perceber um facho de luz que ilumina verticalmente,
incidindo de cima para baixo apenas em Rubens, o que o destaca na composição
atraindo instintivamente o olhar do espectador para si.
Em seus Autorretratos Peter Paul Rubens apresenta-se sempre com
garbo e seriedade. Vestido muito elegantemente, e também às figuras que
recorrentemente estão presentes em seus Autorretratos, pode revelar sua posição
privilegiada, seu prestígio como artista e especialmente a diplomacia. Esses
aspectos presentes nas suas obras, estão também presentes em sua vida, como
pode-se observar através de sua biografia. Rubens está sempre entre as cortes em
meio a nobres, seus clientes e amigos, já que trata-se de um diplomata.
[...] Quando viajava de corte em corte como hóspede de honra, era freqüentemente encarregado de delicadas missões políticas e diplomáticas, destacando-se entre elas a de conseguir uma reconciliação entre a Inglaterra e a Espanha no interesse do que hoje chamaríamos de bloco “reacionário”. Nesse meio-tempo, mantinha-se em contato com os humanistas contemporâneos, e sustentou longa correspondência em latim erudito sobre questões de arqueologia e arte. Seu auto-retrato com a espada de gentil-homem [...] mostra que ele tinha perfeita consciência de sua destacada posição. Contudo nada existe de pomposo ou fútil na expressão astuta de seus olhos. Ele continuou sendo um verdadeiro artista. (GOMBRICH, 1999, p. 400)
Rubens pintando seu Autorretrato com sua esposa Isabella Brant e seus
amigos de Mântua, revela um aspecto de sua vida, sua intensa vida social. Como
conseqüência as obras também revelam situações vividas por ele, à companhia de
sua esposa, sua passagem por Mântua, o circulo de amigos lá constituído, e a
espada que elegantemente descansa sob seu resguardo faz menção a seu grau de
cavalheiro concedido pelo Rei Carlos I, da Inglaterra evidenciando seu importante
papel na política e como diplomata. Seus Autorretratos fazem jus a sua atribuição de
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homem das cortes, no entanto não revelam emoções internas do artista, o mostram
sob uma postura austera, como já mencionado, que parece tratar-se de uma postura
introspectiva suprimindo as emoções internas.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho coletei e organizei imagens de obras de Arte, com a
temática Autorretratos, para compor um breve cenário de produções artísticas que
representam seus próprios criadores.
A leitura que fazemos de seus Autorretratos em conjunto com os dados
biográficos que temos, nos fazem elaborar conceitos a respeito do artista e sua
produção. Neste sentido os questionamentos desta pesquisa foram: Por meio do
Autorretrato o artista fala de si mesmo? O que o artista expressa em suas obras,
reflete situações vividas por ele naquele momento? Ou elucida fatos que marcaram
sua vida?
A análise levou em conta questões subjetivas incidindo em experiências
estéticas propiciados por cada imagem a partir de uma sobreposição de dados
obtidos. Para fundamentar esta análise, foi necessário investigar o processo de
criação do Autorretrato, as considerações sobre estética e poiética, antes de
apresentar os Autorretratos selecionados.
Os artistas presentes neste estudo são: Albert Dürer, Rembrandt, Vincent
Van Gogh e Peter Paul Rubens, que viveram em épocas anteriores à atual e
produziram suas obras em consonância com o contexto social e artístico em que
estavam inseridos.
Pude concluir que o fato de um artista embrenhar-se na produção de um
Autorretrato, já significa uma necessidade de mostrar-se ao mundo, deixar seu
registro e legado artístico, que ele percebe-se diferente do outro, único! No entanto
ao mesmo tempo sente-se com igual direito dos nobres que encomendavam-lhe
retratos, podendo ter assim o seu próprio retrato. Esse desejo é unânime nos
artistas analisados.
Um dos motivos que me induziu a pesquisar Autorretratos é um olhar que
tenho relacionando a produção de Arte e auto-estima. Essa relação é algo que move
e me intriga sempre, então pensei em Autorretratos, pois que obra poderá versar
melhor a respeito da auto-imagem que o artista projeta de si mesmo. Concluo que
fora uma escolha acertada, pois de maneira mais passional como no caso de Van
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Gogh e Rembrandt, ou mais racional, como para Dürer e Rubens, todos os artistas
falaram de si mesmos por meio de seus Autorretratos.
Pude perceber que assim como na vida, os traços de personalidade são
transpostos para a obra. No entanto os artistas falam de si mesmos quando assim o
desejam e podem também ocultar emoções ou fatos por ele vividos naquele
momento.
Concluo que o Autorretrato é um meio de expressão do artista pelo qual
ele pode se conhecer, se impor ao mundo e construir uma auto-imagem. Além disso,
podemos beber e nos impregnar de tudo que o artista coloca em sua obra. Com ela
pode comunicar a verdade, ou pode construir uma alegoria, pode ser tragicamente
realista ou construir uma realidade idealizada. Quanto mais íntimos estivermos da
biografia do artista, quanto mais de perto o conhecermos, melhor poderemos
compreender os signos que codificam sua obra.
Ao final destas páginas percebo o desejo de adentrar o espaço de um
estudo sobre a produção artística contemporânea em seu termo conceitual,
contemplando em concomitância o olhar da semiótica. Ou ainda experienciar a
análise a partir de contatos pessoais diretamente com o artista, usufruindo da
possibilidade de construir um diálogo mais próximo, em contraponto a imparcialidade
do texto científico que constitui um estudo biográfico.
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