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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
UMA REFLEXÃO SOBRE O PAPEL DO ORIENTADOR
EDUCACIONAL FRENTE ÀS DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM
Por: Nídia Eline Mattos Pariz Rodrigues
Orientador
Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho
Niterói
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
UMA REFLEXÃO SOBRE O PAPEL DO ORIENTADOR
EDUCACIONAL FRENTE ÀS DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Orientação
Educacional e Pedagógica.
Por: .Nídia Eline Mattos Pariz Rodrigues
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AGRADECIMENTOS
À Deus pela saúde, força e coragem.
Aos amigos e ao meu querido esposo
pelo apoio e companheirismo.
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DEDICATÓRIA
Aos meus pais que sempre acreditaram e
investiram na minha educação.
5
RESUMO
O crescente número de alunos que apresentam dificuldades de
aprendizagem, tem despertado diferentes teorias que se propõem a explicar
como a criança aprende, mas nem sempre explicam por que alguns alunos
aprendem rapidamente e outros não. (CARVALHO,2007).
As dificuldades de aprendizagem é uma das mais inquietantes
problemáticas no âmbito educacional, e o Orientador Educacional sendo um
profissional que facilita as relações dentro da escola, pode intervir e assegurar
que a relação professor-aluno, seja uma relação de sucesso no processo
ensino aprendizagem.
O processo de aprendizagem é um processo complexo e dinâmico, e é
neste contexto educacional que procuramos explorar as mais variadas formas
de prática da Orientação Educacional, que visa estimular o aluno a ir
desenvolvendo suas potencialidades, na medida em que ele se torne mais
crítico e consciente de seu papel na sociedade. (GRINSPUN,2008)
Palavras chave: Dificuldade de aprendizagem, Orientação Educacional
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METODOLOGIA
Este estudo foi desenvolvido com base em pesquisas bibliográficas com
diversas abordagens sobre o tema proposto, não tendo a intenção de obter
uma conclusão e sim uma reflexão sobre o papel da Orientação educacional
frente às dificuldades de aprendizagem no âmbito escolar, promovendo
intervenções, junto aos professores e toda comunidade escolar, na busca do
sucesso escolar.
Nos detemos mais especificamente nas dificuldades de aprendizagem,
a relação da família neste processo e o papel do Orientador educacional como
mediador do conflito existente nesta caminhada de construção da
aprendizagem.
O estudo apresenta-se acerca do tema de forma clara e objetiva, com
uso de citações de diversos autores, como: Grinspun, Relvas, Olivier, etc,
promovendo uma reflexão ampla sobre o papel do Orientador Educacional
frente às dificuldades de aprendizagem.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - CONCEITO DE APRENDIZAGEM
09
CAPÍTULO II - FAMÍLIA E APRENDIZAGEM 20
CAPÍTULO III – RELETINDO O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL
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CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA 38
WEGRAFIA 42
ÍNDICE 43
FOLHA DE AVALIAÇÃO 44
8
INTRODUÇÃO
Conforme ALMEIDA (2009), o maior problema da educação hoje é
justamente a dificuldade, ou as dificuldades, em relação à leitura e à escrita em
crianças em idade escolar. A leitura e a escrita possibilitam a formação do
sujeito e um dos maiores objetivos da educação é dar a cada um a
possibilidade de ser aquilo que ele puder ser.
Este trabalho pretende analisar as dificuldades de aprendizagem e
promover um espaço de reflexão do papel do Orientador Educacional frente a
estas dificuldades e oportunizar espaços de intervenções para que o aluno
desenvolva suas potencialidades e suas habilidades.
Dividimos estas questões em três capítulos como apresentamos a
seguir:
No Capítulo I- Abordamos o conceito de aprendizagem e como se dá
este processo tão significativo na vida do educando e destacamos algumas
dificuldades de aprendizagem presentes no meio escolar .
No Capítulo II- Destacamos o papel da família no processo de
aprendizagem e o que pode contribuir para minimizar esta trajetória de
construção do sujeito aprendente.
No Capítulo III- Destacamos a importância da trajetória histórica da
Orientação Educacional. Promovemos uma reflexão sobre o papel do
Orientador educacional, frente as dificuldade de aprendizagem e possíveis
intervenções no processo de ensino e aprendizagem.
CAPÍTULO I
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CONCEITO DE APRENDIZAGEM
”Quanto mais penso sobre a prática educativa, reconhecendo a responsabilidade que ela exige de nós, tanto mais me convenço do dever nosso de lutar no sentido de que ela seja realmente respeitada.”
Paulo Freire
Ao tratar do conceito de aprendizagem, podemos perceber que nas
últimas décadas, pesquisas sobre Psicologia e Educação, nos fornecem
algumas idéias de como os alunos aprendem e o que realmente significa
aprendizagem.
As crianças são naturalmente dispostas a aprender desde cedo, com
inclinações positivas para usar as informações obtidas. Sendo assim, muito
dessa aprendizagem é automotivada. Mas não podemos esquecer que outras
pessoas desempenham papéis significativos no desenvolvimento da
aprendizagem da criança. A família, os colegas, os professores, todos ajudam
a guiar esta aprendizagem. Além disso, a televisão, os filmes, os jogos, são
importantes elementos que influenciam a aprendizagem das crianças.
“O ser humano é marcado por essa necessidade essencial de construir a sua compreensão da realidade e a sua forma de atuação nela, porque não nascemos, como animais, com inscrições instintivas que nos preparam para enfrentar a inserção e ação no mundo (...) o bicho homem, na sua dependência extrema ao nascer, inicia então uma trajetória de aprendizagens até a morte.” (GROSSI,1996, p.69)
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Sendo a aprendizagem um processo que ocorre desde o princípio da
vida, fica difícil encontrar uma definição de aprendizagem que abranja tudo que
está envolvido no processo de aprender.
O professor deve levar em consideração que as pessoas são únicas e
organizar situações diversas de ensino/aprendizagem ao ministrar suas aulas,
proporcionando um ambiente adequado e próprio para que o aluno possa
aprender.
“É fato que diversas dificuldades de aprendizagem poderão ser resolvidas ou amenizadas quando os educadores tiverem seus olhares focalizados na promoção do desenvolvimento dos diversos estímulos neurais que se expõem de forma que se compreendam os processos e os princípios das estruturas do cérebro, conhecendo e identificando áreas funcionais, visando estabelecer rotas alternativas para aquisição da aprendizagem.” (RELVAS, 2007, p.34)
Podemos dar inúmeras definições para aprendizagem. Uma delas, de
Oliveira (2001), é a seguinte: “A aprendizagem é parte normal de nossas
vidas, tão óbvia que quase não nos damos conta de sua importância”. Outra,
mais diretamente relacionada com a aprendizagem no trabalho, conforme
Oliveira, diz que:
“A aprendizagem depende de fatores gerais e de fatores específicos. Dentre os fatores gerais incluímos as capacidades orgânicas, inatas e as características gerais do ambiente onde as pessoas aprendem. Os fatores específicos referem-se a condições concretas e estruturadas para promover a aprendizagem - como a educação formal e escolar, por exemplo.”(OLIVEIRA, 2001, p.77).
É importante que se entenda como se dá este processo de aprender.
De acordo com Relvas (2009), “para entender o mecanismo de aprender, é
preciso saber um pouco sobre o funcionamento do sistema nervoso central, o
11
organizador dos nossos comportamentos. Cada tipo de habilidade ou
comportamento pode ser bem relacionado a certas áreas do cérebro em
particular. Assim, há áreas habilitadas a interpretar estímulos que levam à
percepção visual e auditiva, à compreensão e à capacidade lingüística, à
cognição, ao planejamento de ações futuras, inclusive de movimento, e assim
por diante.”
Observa-se que a partir das pesquisas sobre o funcionamento do
cérebro, podemos compreender o processo de aprender, que individualmente
percorre caminhos diferentes. Estudos na área da Neurociência, podem
esclarecer o funcionamento do processo de aprendizagem, acarretando
avanços consistentes e significativos.
“...do processo neuropsicológico da aprendizagem, é necessário lembrar-se de que a evolução do sistema nervoso inicia-se na concepção e termina na idade adulta e que o desenvolvimento psicomotor do indivíduo já é observado na vida intra-uterina, com o aparecimento entre o quarto e o quinto mês de gestação, na etapa bulbo-espinhal, dos primeiros reflexos proprioceptivos do feto (...)” ( SAAD, Tânia, apud Fórum,2006,p. 39)
No contexto da sala de aula observamos claramente quais são os
alunos que apresentam dificuldades de compreensão. É neste momento que
devemos pensar maneiras de desenvolver suas potencialidades e habilidades.
“É preciso enxergar aluno e suas variadas formas de aprender, não como algo
isolado de suas interações, mas, perceber a família e a escola como co-
responsáveis pela ampliação deste mundo em formação.”(PORTELLA,2008)
Conforme Relvas, o educador que tiver em sua classe um ou mais
alunos, apresentando lentidão no processo de aprender estará diante da
desafiadora tarefa de ajudá-los a se adaptarem à escola.
Por conseguinte, fazem-se necessários:
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-utilizar-se de experiências concretas para aprender;
-estímulos e motivação para aprender;
-elogios e recompensa, individual ou em grupo;
-atenção individual.
Para isso, o educador deverá seguir alguns princípios:
-aceitá-lo como é;
-ser paciente;
-apresentar sugestões positivas;
-dar-lhe segurança, deixando-o perceber por palavras e ações que pode
estar confiante;
-procurar descobrir suas aptidões, pois as deficiências já são do seu
conhecimento;
-ele tem mais semelhanças que diferenças com seus companheiros que
aprendem depressa.
Independentemente dos critérios de agrupamento da escola, o
educador deve preparar-se para encontrar sua classe diversificada, ajustando
os trabalhos à classe para permitir o desenvolvimento máximo das aptidões de
cada um.”
É importante compreender o modo como as pessoas aprendem e as
condições necessárias para a aprendizagem, bem como identificar o papel do
professor, nesse processo. As teorias da aprendizagem buscam reconhecer a
dinâmica envolvida nos atos de ensinar e aprender, partindo do
reconhecimento da evolução cognitiva do homem, e tentam explicar a relação
entre o conhecimento pré-existente e o novo conhecimento.(RENATO, web).
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Na tabela abaixo se encontram resumidas as características de
algumas das principais teorias de aprendizagem que vale destacar neste
estudo.(RENATO)
Teorias de aprendizagem Características
Epistemologia Genética de
Piaget
Ponto central: estrutura cognitiva do
sujeito. As estruturas cognitivas mudam
através dos processos de adaptação:
assimilação e acomodação. A assimilação
envolve a interpretação de eventos em
termos de estruturas cognitivas existentes,
enquanto que a acomodação se refere à
mudança da estrutura cognitiva para
compreender o meio.
Teoria Construtivista
de Bruner
O aprendizado é um processo ativo,
baseado em seus conhecimentos prévios
e os que estão sendo estudados. O
aprendiz filtra e transforma a nova
informação, infere hipóteses e toma
decisões. Aprendiz é participante ativo no
processo de aquisição de conhecimento.
Instrução relacionada a contextos e
experiências pessoais.
Teoria sócio-cultural
de Vygotsky
Desenvolvimento cognitivo é limitado a
um determinado potencial para cada
intervalo de idade (ZPD); o indivíduo deve
estar inserido em um grupo social e
aprende o que seu grupo produz; o
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conhecimento surge primeiro no grupo,
para só depois ser interiorizado. A
aprendizagem ocorre no relacionamento
do aluno com o professor e com os
outros.
Gestaltismo
Enfatiza a percepção ao invés da
resposta. A resposta é considerada como
o sinal de que a aprendizagem ocorreu e
não como parte integral do processo. Não
enfatiza a seqüência estímulo-resposta,
mas o contexto ou campo no qual o
estímulo ocorre e o insight tem origem,
quando a relação entre estímulo e o
campo é percebida pelo aprendiz.
Teoria da Inclusão
(D. Ausubel)
O fator mais importante de aprendizagem
é o que o aluno já sabe. Para ocorrer a
aprendizagem, conceitos relevantes e
inclusivos devem estar claros e
disponíveis na estrutura cognitiva do
indivíduo. A aprendizagem ocorre quando
uma nova informação ancora-se em
conceitos ou proposições relevantes
preexistentes.
Aprendizado experimental
( C. Rogers)
Deve-se buscar sempre o aprendizado
experimental, pois as pessoas aprendem
melhor aquilo que é necessário. O
interesse e a motivação são essenciais
para o aprendizado bem sucedido.
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Enfatiza a importância do aspecto
interacional do aprendizado. O professor e
o aluno aparecem como os co-
responsáveis pela aprendizagem.
Inteligências múltiplas
( Gardner)
No processo de ensino, deve-se procurar
identificar as inteligências mais marcantes
em cada aprendiz e tentar explorá-las para
atingir o objeto final, que é o aprendizado
de determinado conteúdo
1.1- Dificuldades de aprendizagem
É crescente o número de crianças que não tem um ritmo de
aprendizagem proporcional às suas capacidades. Estas crianças têm
dificuldades de adaptação à escola e de manter vivo o desejo e o prazer de
aprender.
Cada pessoa desenvolve um estilo próprio de aprender, isto é, de
buscar, receber e transformar informações em conhecimentos que poderão (ou
não) ser utilizado em ocasiões apropriadas. (PORTELLA, 2008, p.102)
Em idade escolar a capacidade de aprendizagem é uma das primeiras
a ficar afetada e a criança vai construindo a imagem que faz de si com base
no que vê e no que ouve dos adultos que a rodeiam, ficando com sua auto-
estima comprometida.
Descobrir e estimular as potencialidades do aluno, é um bom caminho
para o enriquecimento do processo da aprendizagem, criando atividades que
estejam adaptadas a individualidade do aluno, partindo do que ele já sabe, de
suas potencialidades e não de suas dificuldades.
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“ Com respeito à aprendizagem deve-se considerar cada fase do desenvolvimento neuropsicomotor como se fosse única e não passagem para a seguinte, ou seja, aprender é como subir uma escada- só se chega ao terceiro degrau depois de dominar o primeiro e o segundo.” ( SAAD, Tânia, apud Fórum, 2006,p.42)
Conforme Relvas, a presença de uma dificuldade não implica
necessariamente ao transtorno, que se traduz por um conjunto de sinais
sintomatológicos que provocam uma série de perturbações no aprender da
criança, interferindo no processo de aquisição e manutenção de informações
de uma forma acentuada.
As dificuldades de aprendizagem podem ser causadas por problemas
passageiros, como, por exemplo, um conteúdo escolar, que nem sempre
oferece à criança condições adequadas para o sucesso. Nessa categoria,
incluem-se as dificuldades que a criança pode apresentar em algum momento
da vida, como a separação dos pais ou perda de alguém, trazendo então
problemas psicológicos/comportamental, falta de motivação e baixa auto-
estima. As dificuldades de aprendizagem podem ser secundárias para outros
quadros avaliados, tais como: alterações das funções sensoriais, doenças
crônicas, transtornos psiquiátricos, deficiência mental e doenças neurológicas.
As doenças neurológicas mais freqüentes que causam dificuldades de
aprendizagem são a paralisia cerebral e o transtorno de déficit de atenção/
hiperatividade.(RELVAS, 2008, p. 52 e 53)
Segundo Olivier,(2008) as dificuldades de aprendizagem são várias,
mas vamos apresentar as mais comuns.
1- Disgrafia: Desordem de integração visual-motora (não há
coordenação entre os dois)
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É a dificuldade ou ausência na aquisição da escrita. O indivíduo fala,
lê, mas não consegue transmitir informações visuais ao sistema motor.
Resumindo: lê, mas não escreve, além de, possivelmente, ter graves
problemas motores de equilíbrio.
Na maioria dos casos está ligado a distúrbios neurológicos. E
necessita de tratamento e de acompanhamento neurológico e
psicopedagógico, em conjunto. Apresenta-se com algumas características, são
elas: Fala e lê, mas não encontra padrões motores para a escrita de letras,
números e palavras; não possui senso de direção, falta-lhe equilíbrio; pode
soletrar oralmente, mas não consegue expressar idéias, por meio de símbolos
visuais , pois não consegue escrever.
2- Disortografia: Dificuldades na expressão da linguagem escrita,
revelada por fraseologia incorretamente construída e/ou por palavras escritas
de forma errada, associada geralmente a atrasos na compreensão e/ou na
expressão da linguagem escrita.
Tem sido definida erroneamente como letra feia ou letra de médico. A
disortografia, mais complexa, necessita de exames e de testes específicos
para detectar a causa e os melhores tratamentos.
3- Desordem de déficit de atenção (DDA): Não deve ser confundida
com Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade, pois este deve ser
tratado pela psiquiatria. O DDA, geralmente não tem ligação com disfunções
neurológicas e caracteriza-se por baixo desempenho escolar, deficiência ou
ausência de memória ou ainda, tendo um aprendizado satisfatório, o indivíduo
pode ser disperso, desatendo, e meio alienado ou alternando hiperatividade
com alienação.
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4- Limitrofia: Anomalia do sistema nervoso causado por anoxia
perinatal ou síndrome não identificada. Caracteriza-se por dificuldades de
concentração, falta de equilíbrio e/ou coordenação motora, problemas de
articulação para a fala e dificuldades na aquisição de leitura.
5- Dislalia: Má pronuncia das palavras, omitindo ou acrescentando
fonemas, trocando um fonema por outro ou distorcendo-os, ou ainda trocando
sílabas. Os sintomas consistem em omissão, substituição, acréscimo ou
deformação dos fonemas.
Pode ser causada por hereditariedade, imitação ou alterações
emocionais. Até os quatro anos, os erros na linguagem são considerados
normais. Depois dessa fase, se a criança continuar falando errado, precisará
passar por exames específicos para detectar as causas e os possíveis
tratamentos.
A criança com dificuldades de aprendizagem tem uma linha desigual
em seu desenvolvimento. Podemos observar de modo geral que os problemas
estão mais localizados nos campos da conduta e aprendizagem, dos seguintes
tipos: atividade motora, atenção, área matemática, área verbal, emoções,
memória; percepção e sociabilidade.
Morales(1999,p.53), destaca que nós professores, seremos eficazes
na medida em que levarmos em conta essas necessidades do aluno. Essas
não podem reduzir-se a necessidade de ser aprovado na matéria; é algo mais
profundamente humano.
Não basta saber quais são as dificuldades de aprendizagem e como
elas se processam, se não mudamos a relação professor-aluno e as
intervenções necessárias para cada dificuldade.
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“Os alunos devem sentir-se livres para errar e aprender com seus erros. O sentir-se livres se traduz aqui por ausência de medo, de angústia... Aprender com os próprios erros é importante para o crescimento pessoal, seja emocional, social ou cognitivo” (MORALES, 1999, p.56)
Professores podem ser os mais importantes no processo de
identificação e descoberta desses problemas, porém não possuem formação
específica para fazer diagnósticos, que devem ser feitos por médicos,
psicólogos e psicopedagogos. O papel do professor se restringe em observar o
aluno e auxiliar o seu processo de aprendizagem, tornando as aulas mais
motivadas e dinâmicas, não rotulando o aluno, mas dando-lhe a oportunidade
de descobrir as suas potencialidades.( BARROS, Jussara, Brasil Escola)
CAPÍTULO II
FAMÍLIA E APRENDIZAGEM
“A identidade do sujeito é um produto das relações com os outros. Neste sentido todo indivíduo está povoado de outros grupos interno na sua história” (GROSSI ,1992, p.60)
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A família tem um papel importantíssimo no desenvolvimento do sujeito,
principalmente no que diz respeito à afetividade, condição necessária ao
crescimento integral da criança.
A família deve identificar o mais precocemente possível o
comportamento da criança e estar atento a um conjunto de sinais, alguns deles
já abordados anteriormente, que tem importância relevante na identificação
das dificuldades de aprendizagem. Devem observar se a criança apresenta
problemas quanto a organização, coordenação motora; linguagem falada ou
escrita; atenção e concentração; memória e seu comportamento social, tudo
isso levando-se em conta a faixa etária que se encontra.
A vida familiar é uma das primeiras experiências significativas de vida
do indivíduo. “Portanto, o vínculo entre ensinante (pais) e aprendente (filho) é ,
fundamental para a aprendizagem, dentro de um espaço onde haja confiança,
respeito e estima.”( PORTELLA, 2008, p.83)
Bianchini (2001) registra a possibilidade de ampliar a inter-relação e a
interação entre a família, a escola e filho/aluno, na ação educativa. Acredita
que o fortalecimento da união desses dois grupos culturais ajudará a promoção
da aprendizagem dos filhos/alunos. (BIANCHINI,2001,apud PORTELLA, 2008,
p.92)
Novas configurações familiares estão surgindo, e devem ser vistas,
observadas e consideradas por nós profissionais, para que possamos dar
andamento aos nossos atendimentos, considerando sempre o todo. E sendo
assim, é por isso que estamos falando em família, pois um paciente nunca
chega só a nossos consultórios, com ele, chegam, também, a sua história e a
história de sua família.” (PORTELLA, 2008)
21
“ Esse desejo de aprender e conhecer é permeado pela curiosidade epistemológica, (...) apresentam dificuldades de aprendizagem que contam na sua história familiar com crenças e segredos que obstacularizam o livre acesso ao saber pelo fato de serem mantenedores do sintoma.(PORTELLA,2008,p.8)
A família compreende a importância da aprendizagem escolar, mas,
muitas vezes se sentem limitados em relação a educação de seus filhos.
“É preciso conhecer os pais, onde e como vivem e identificar os saberes que vêm de casa, mas a escola não pode abdicar do seu papel: o trabalho formal e sistemático com o conhecimento. “Pais não são professores. O conteúdo escolar é uma tarefa docente”, enfatiza Ana Polônia. ( NOVA ESCOLA, setembro,2009, p. 104)
O sujeito começa a existir muito antes do seu nascimento biológico,
começa a existir no inconsciente de seus pais, e em especial de sua mãe. Os
pais não podendo ajudar os filhos, involuntariamente contribuem para a não
aprendizagem, mas na verdade, precisam de orientação e apoio, através da
equipe da escola, com o acompanhamento e os devidos encaminhamentos.
Para Claudino Piletti, em seu livro Didática Geral :
“ A família por exemplo, é o primeiro elemento social que influi na educação. Sem a família a criança não tem condições de subsistir. Tal necessidade não é apenas de sobrevivência física, mas também psicológica, intelectual, moral e espiritual. A família, no entanto, encontra uma série de problemas, na sua missão de educar. A falta de preparo de muitos pais para exercer integralmente essa função é o principal problema.”(1989,p.17)
Cada um de nós desempenha na vida uma enorme variedade de
papéis que dependem de nossas relações dentro do sistema familiar,
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desencadeando sucesso ou insucesso em nossas ações. “Minuchim (1990)
afirma que o homem não é um ser isolado e sim um membro ativo e reativo de
grupos sociais” (GROSSI,1992,apud PORTELLA,2008)
A família deve exercer grande influência nas ações praticadas pelas
crianças, pois entendemos que é de sua responsabilidade construir valores e
limites. Ocorre que vemos famílias cuja realidade familiar é sem preparo, não
encarando suas funções com a responsabilidade necessária.
A família precisa compreender que ela é muito importante no processo
de ensino aprendizagem, devendo participar da vida escolar dos filhos. Ela é a
base para que o filho participe deste processo educativo, facilitando seu
desenvolvimento e vencendo suas dificuldades.
Segundo Vygotsky, o primeiro contato da criança com novas
atividades, habilidades ou informações deve ter a participação de um adulto” (
Vygotsky, apud NOVA ESCOLA-Edição especial,nº 19, p.93)
Até o século XVIII, a separação de tarefas entre escola e família era
clara: a primeira cuidava daquilo que a época se chamava “instrução”, que na
prática era a transmissão de conteúdos, e a segunda se dedicava à
“educação” o que significava o ensinamento de valores, hábitos e atitudes.”
(NOVA ESCOLA, Agosto/Setembro 2009 p.31)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394/96 em seu artigo 1º,
estabelece que a educação abrange todos os processos formativos
(família, trabalho, movimentos sociais, organizações da sociedade,
manifestações culturais). Já no artigo 2°, estabelece que a educação é dever
da família e do Estado; deve ser baseada nos princípios de liberdade e nos
ideais de solidariedade; e deve proporcionar uma preparação plena para a
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cidadania e o trabalho. O artigo 12, estabelece os deveres da escola; o 13, os
deveres do professor, e o 14, a gestão democrática da escola.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, lei 8.069, de 13/07/1990,
também trata do assunto, nos artigos 53 a 58 (direitos a educação; deveres do
Estado; deveres dos pais; atuação do Conselho Tutelar; política de inclusão;
contexto sociocultural).
“ Durante anos, a escola e a família foram as duas instituições responsáveis pela educação e formação de novas gerações. Hoje isso não é possível. A família está passando por grandes transformações e, muitas vezes, delegam sua função educativa tradicional a outros agentes como a televisão ou a própria escola...” (PORTELLA,2008,p.91)
Conforme os Indicadores da Qualidade na Educação, 2006, p.7,
podemos destacar aqui exemplos de como os pais podem exercer sua
responsabilidade de auxiliar seus filhos:
-Estabelecer o mesmo horário todos os dias para que a criança possa
fazer os seus deveres.
-Sempre perguntar a criança se há tarefas de casa para serem
executadas;
-Estar pronto a ajudar é importante, mesmo que seja para dizer “isso
eu não sei também, mas vamos ver se a professora ou alguém pode ajudar”;
-Ajudar, mas nunca fazer a tarefa de casa;
-Olhar sempre os cadernos junto com a criança;
-Valorizar a produção dos filhos, elogiar o capricho, a organização e a
criatividade.
-ler para e com as crianças;
-prestar atenção (mesmo!) quando os filhos mostram algo que fizeram
-ler com as crianças os textos que fazem parte do dia-a-dia da família
(bulas de remédio, pedaços de jornal, receitas de culinária,etc);
24
-ler livros infantis em casa estimula o interesse. Livros são caros, mas
de vez em quando se compra um presentinho. Esse presente pode ser
também um livro infantil;
-levar os filhos na biblioteca pública.
“Também a escola participa e produz narrativas sobre necessidades da família, apontando e expressando dificuldades encontradas pela criança ao longo de seus ciclos de vida e ajudando ou não na superação de seus problemas, no enfretamento das relações entre perdas e dificuldades de aprendizagem.”(PORTELLA,2008,p.103)
A família tem se manifestado em relação a dificuldade de leitura e
escrita de seus filhos por dizer não entender, visto a criança passar grande
parte de sua vida dentro da instituição “Escola”, e esta não corresponder à
expectativa, criando assim um quadro de ansiedade e insatisfação.
Em determinadas famílias a criança é impedida a pensar, escolher,
negar, questionar e isto reflete negativamente na aprendizagem do sujeito em
suas pesquisas escolares, na interpretação de textos, na elaboração de
redações, e até mesmo em decisões a serem tomadas em
grupos.(SAMPAIO,2009, p.70)
Pouco ou nada adianta responsabilizar os pais que às vezes, possuem
pouco esclarecimento sobre a importância da aprendizagem da leitura e da
escrita. No entanto, a maioria das famílias compreende a importância da
aprendizagem escolar e querem dar aos filhos oportunidades que eles não
tiveram.
O papel do orientador com relação à família não é apontar desajustes
ou procurar os pais apenas para tecer longas reclamações sobre o
comportamento do filho e, sim procurar caminhos, junto com a família, para
que o espaço escolar seja favorável ao aluno. Não cabe ao orientador a tarefa
25
de diagnosticar problemas e/ou dificuldades emocionais ou psicológicas e,
sim, que volte seu trabalho para os aspectos saudáveis dos alunos.
(Educação em Revista,2008,p.111)
“É importante ressaltar que o termo diagnosticar é somente utilizado para área médica, não sendo correto usar em Educação.” (RELVAS,2009,p.52)
CAPÍTULO III
REFLETINDO O PAPEL DO ORIENTADOR
EDUCACIONAL
“(...) o Orientador é antes de tudo um educador...”
(SAVIANI,1980,p.193)
O papel do Orientador Educacional ao longo de sua trajetória tem tido
diferentes significados. Aquele que muitas vezes era visto como o que
resolveria todos os problemas da escola; que conhecia todos os alunos
problemas, agora veste uma nova roupagem, voltando-se à construção do
cidadão além dos espaços educativos, efetivando sua prática na realidade
26
brasileira. Assis (1994) apresenta a importância do papel da Orientação
Educacional como co-responsável pela aprendizagem dos alunos (Educação
em Revista, 2008 ,p.106)
O que se pode observar na prática é que o educando ocupava posição
secundária no processo educacional. O sucesso era produto da eficiência do
professor, enquanto o fracasso ocorria por conta da falta de aplicação do
aluno. Todo crédito no ensino era aberto ao professor e todo débito, ao
educando. (NÉRICI, 1974, apud PORTO ,2009,p.47). Somente no início do
século XX, é que a vida social do educando começou a ser olhada como um
aspecto importante para o sucesso do processo educativo. Desde então
passou a ter-se um olhar também diferenciado para o professor, sendo
percebido como um ser falível. O aluno passa a ser visto como aquele que
tem diferenças individuais e que pode apresentar carências e dificuldades,
necessitando de compreensão e orientação.(PORTO, 2009, p.47 e 48)
O Orientador Educacional exerce o papel de mediador e articulador de
diferentes campos do conhecimento, buscando ajudar a Instituição através da
interdisciplinaridade, numa perspectiva de colaboração na construção dos
valores e identificando a questão ética como necessárias ao desenvolvimento
do indivíduo. (GRISPUN, 2008,p.14)
Grispun (2008,p.93-95) destaca ainda que “o Orientador Educacional
(OE) assume muitos papéis diante das perspectivas da nova escola: papel
integrador, mediador e principalmente um papel de interdisciplinaridade entre o
saber e o fazer, entre o ter e o ser, entre o querer e o poder.” Este profissional
tem muitas contribuições no ambiente escolar:
o “A OE ajuda mas não impõe, propõe, provoca, instiga;
o A OE apóia as iniciativas de mudança, confia no grupo, pesquisa a
própria prática;
27
o A OE dá voz aos alunos através de sua linguagem e de suas
expressões; cria espaços para que esta voz seja ouvida e
entendida;[grifo do autor]
o A OE estabelece um bom relacionamento com os demais
protagonistas da escola; discute a questão de vínculos; promove a
reflexão com e dos alunos;
o A OE organiza reuniões que podem ser momentos de: partilha de
dúvidas, angústias; troca de experiências; descobertas;
sistematização da própria prática; estudos e pesquisa; discussão
de temas da atualidade; revisão de normas/critérios;
organização de eventos; participação em fóruns internos e
externos; discussão de temáticas da escola; organização de
atividades complementares ao projeto pedagógico; criação de
alternativas para vencer obstáculos / dificuldades etc .” [grifo
nosso]
As raízes da Orientação Educacional encontram-se na Orientação
Profissional praticada nos Estados Unidos por volta de 1930, momento que
havia a necessidade de orientar os jovens para o mercado de trabalho.
“O tempo da escola se insere no tempo do tempo da vida. Não podemos separá-los, mas podemos perceber os seus significados de forma diferente. Mas o sujeito da história será sempre o mesmo. Ajudar a compreendê-lo é tarefa da escola”. (GRISPUN,2008,p. 69)
O trabalho da Orientação Profissional que era realizado com testes
psicológicos de inteligência, personalidade e de interesses, sendo estes ainda
realizados por empresas, passa a ser solicitado nas escolas, com a finalidade
de orientar os educandos, isto significa que a finalidade que ele cumpre
através de sua ação é uma finalidade educativa.
“Quero um mundo em que meus filhos cresçam, como pessoas que aceitam e se respeitam, aceitando e
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respeitando outros em um estado de convivência em que os outros aceitam e respeitam a partir do aceitar-se e respeitar a si mesmos.”(MATURANA, apud PORTO,2009, p.19)
O papel do Orientador Educacional deve ser o de mediador entre o
aluno e as situações de caráter didático-pedagógico e as situações sócio
culturais e este têm recebido várias denominações e exercido várias funções
(Educação em Revista, 2008, p.103)
Segundo Iavelberg, a Orientação Educacional tem um compromisso de
auxiliar a escola em sua função socializadora, criando ou reformulando ações
pedagógico-educacionais e favorecendo a articulação de valores que resultem
em atitudes éticas no âmbito do convívio social.
O Orientador Educacional antes tido como responsável por encaminhar
os estudantes considerados “problema” a psicólogos, hoje tem uma nova
função, pois trabalha para intermediar os conflitos escolares e ajudar os
professores a lidar com alunos com dificuldades. (IAVELBERG, Nova
Escola,março 2009)
A História da Educação Nacional foi construída por todos nós, na
medida em que educação, trabalho e cidadania, foram conceitos
compreendidos de forma integral, e que não existem uma sem as outras,
cabendo a cada um de nós uma parcela de responsabilidade.
(PORTO,2009,p.19 e 20)
A história percorrida pela profissionalização do Orientador Educacional
foi longa e ainda permanece em constante luta pelo seu espaço como
profissional participante e mediador neste espaço de construção de
aprendizagem chamado “ESCOLA” .
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“Na instituição escolar, o orientador é um dos profissionais da equipe de gestão. Ele trabalha diretamente com os alunos, ajudando-os em seu desenvolvimento pessoal; em parceria com os professores, para compreender o comportamento dos estudantes e agir de maneira adequada em relação a eles; com a escola, na organização e realização da proposta pedagógica; e com a comunidade, orientando, ouvindo e dialogando com pais e responsáveis.” (NOVA ESCOLA, edição 160, março,2003)
As leis educacionais brasileiras nº 4024/61 e nº 5692/71, tornam
obrigatória a orientação educacional nas escolas. Esta última declara no art.
10, que: será instituída obrigatoriamente as Orientações Educacionais,
incluindo aconselhamento vocacional em cooperação com os professores, a
família e a comunidade”. Com isso, pretendia-se preparar trabalhadores para
atender os interesses e as necessidades empresariais, justificando o
desenvolvimento econômico.
A Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional, LDBEN nº 9394/96
não faz referência específica à Orientação Educacional, é apenas mencionada
em vários artigos, principalmente no art. 39, segundo o qual “a educação
profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência
e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a
vida produtiva.”
“O papel do orientador educacional na dimensão contextualizada diz respeito, basicamente, ao estudo da realidade do aluno, trazendo-a para dentro da escola, no sentido da melhor promoção do seu desenvolvimento...” (GRINSPUN, 2008,p.29)
Conforme Grispun, a Orientação Educacional passou por diversos
períodos históricos, que devemos destacar:
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O Período implementador- de 1920 a 1941
A Orientação aparece timidamente no cenário brasileiro educacional,
dando ênfase aos trabalhos de seleção e escolha profissional.
Período institucional- de 1942 a 1960
Aqui começa toda a exigência legal da Orientação nas escolas, ficando
este período subdividido em funcional e instrumental. Há o esforço do
Ministério da Educação e Cultura para dinamizar os cursos que cuidavam da
formação dos orientadores educacionais.
Período transformador- de 1961 a 1970
Surge a Lei nº 4024/61, caracterizando a Orientação Educacional
como educativa, e até a profissionalização dos que atuam nesta área, através
da Lei nº 5540/48.
Período disciplinador - de 1971 a 1980
Neste período a Orientação Educaional estava sujeita à
obrigatoriedade da Lei 5692/71, onde estava determinado o aconselhamento
vocacional. Os Orientadores começam a questionar a sua prática pedagógica,
buscando encontrar o seu real papel. O decreto nº 72846/73, que regulamenta
a lei que trata do exercício profissional da Orientação Educacional.
Período questionador - década de 1980
A partir de 1980, os pressupostos teóricos começam a ser repensados
e rediscutidos. O Orientador começa a participar das questões curriculares,
como objetivos, procedimentos, critérios de avaliação, demonstrando sua
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preocupação com os alunos e o processo de aprendizagem. (Educação em
Revista, 2008, p.5)
Período Orientador- a partir de 1990
A Orientação Educacional volta-se para a formação da identidade do
cidadão, comprometido com seu tempo e sua gente, sendo trabalhada a
subjetividade e a intersubjetividade, obtidas através do diálogo.
Grispun (1994) diz que o período “orientador”, a partir da década de 90
foi cheio de incertezas e questionamentos. Não se sabia se a nova LDB traria
ou não menções ao Orientador Educacional em seu texto. (GRISPUN, apud
Educação em Revista,2008,p.107)
A Orientação Educacional atualmente tem uma dimensão mais
pedagógica, atuando como resgatadores de uma ação mais efetiva e de
qualidade para todos. São parceiros inseparáveis na prática docente, atuando
na construção do currículo, onde todos estão comprometidos com o processo
e os resultados.
É nessa perspectiva que o Orientador juntamente com os professores
delinearão um currículo que atenda a todos. Quando falamos em “todos”,
estamos falando também daqueles que tem dificuldade de aprendizagem, que
necessitam tanto quanto os outros, de uma educação mais justa, mais
solidária e democrática. Assim Orientador Educacional juntamente com a
escola cumprirá seus objetivos e finalidades na formação do cidadão.
“Outro dado significativo para o papel do Orientador Educacional é compreender onde os problemas, conflitos, razões, emoções surgem na escola (...)”(, 2008, p.84)
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Segundo Catarina Iavelberg, um dos principais papéis do Orientador
Educacional é fazer uma escuta atenta das relações interpessoais construídas
no cotidiano, ajudando a revelar o currículo oculto que se produz e reproduz
nos diversos ambiente de aprendizagem. A atuação dele porém, se
potencializa quando está integrada ao trabalho da equipe pedagógica. (Nova
Escola Gestão Escolar ,nº 3, 2009,p. 54)
3.1- Orientação educacional - Possíveis intervenções
“...O Orientador Educacional é percebido e percebe-se como um profissional que tem como função precípua, atuar com os educandos.” (PORTO,2009,p.53)
A aprendizagem deve ser vista como um processo complexo e global,
no qual a teoria e prática não se dissociam, no qual caminham juntos o
conhecimento da realidade e a intervenção nela”. (Salto pra o Futuro, 2000) .
O número de crianças que manifestam dificuldades de aprendizagem durante
a vida escolar tem sido crescente, preocupando os diversos profissionais
envolvidos com esta atividade exclusiva do ser humano. Com o advento da
globalização, as nações passaram a ser valorizadas, entre outros aspectos,
pela capacidade de aprender ou captar informações. Somos o que
aprendemos e valemos pela nossa possibilidade de adaptação de utilização
da informação obtida. ( Saad, Tânia , apud FORUM, 2006,p. 39)
A sala de aula é um espaço de construção cotidiana, onde os
professores e alunos interagem, mediados pelo conhecimento. É um espaço
desafiador e instigante, de resistência e negociação, a sala de aula é
reveladora dos nossos conflitos, dos nossos erros e acertos e da dificuldade
que temos diante da não-aprendizagem.
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A escola encontra-se dominada pela questão da crise educacional.
Importa agora considerar o modo como tem vindo a ser resolvidas as tensões
internas da crise educativa.(GARCIA, 2001,p.23).Quando surgem dificuldades
de aprendizagem em um primeiro momento, a escola raramente assume
algum tipo de responsabilidade. Em geral, não considera a possibilidade de
uma inadequação no currículo, no sistema de avaliação, na metodologia, falha
no vínculo entre professor e aluno, ou uma falha na comunicação entre os
membros da escola. (SAMPAIO, 2009,p. 61)
No entanto para atingir eficácia do processo educativo deve-se
promover o desenvolvimento deste professor, orientá-lo e assisti-lo na
promoção de um ambiente escolar e processo educativo significativo. Sendo
assim, a Orientação Educacional e toda sua equipe têm a função de
coordenar e orientar todos os esforços no sentido de que a escola, como um
todo,produza os melhores resultados possíveis no sentido de atendimento às
necessidades dos educandos e promoção do seu desenvolvimento
integral.(LÜCK, 1982)
Ao Orientador não cabe somente apontar os conflitos, mas ajudar os
alunos, na escola, na construção do conhecimento, favorecendo seu
desenvolvimento no nível social e individual. A atuação deste profissional
pode ajudar no bom andamento da escola, quando ele observa e analisa os
contextos no espaço escolar, buscando sempre contato com alunos, pais,
professores; todos os envolvidos neste processo, inserindo-se na participação
e realização do que propõe o projeto político e pedagógico da escola.
Segundo Vigostky, o desenvolvimento do ser humano em determinado grupo cultural ocorre primeiro no nível social e depois no individual (apud GRISPUN,2008,p.152)
Os alunos com dificuldades de aprendizagem possuem um ritmo
diferenciado, com um raciocínio lógico matemático lento, dificuldade na leitura
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e escrita, pouco entrosamento com os colegas, demonstrando às vezes
comportamentos agressivos, falta de interesse e concentração nas atividades
propostas pelo docente, dificuldade em aceitar regras, limites e em memorizar
seqüências e fatos.
A aprendizagem não é um processo individual, ou seja, não depende
só do esforço de quem aprende, mas sim de um processo coletivo. Sendo
assim, não podemos relacionar o problema simplesmente ao aluno.
“ O processo educativo será significativo quanto maior for a qualidade do relacionamento entre professor e aluno. O conhecimento, as habilidades e as atitudes do professor em relação ao aluno, alvo de sua motivação, tornam o processo educativo eficaz” (LÜCK, apud PORTO, p.52)
Algumas dificuldades de aprendizagem podem estar relacionadas a
causas pedagógicas, ou seja, quando técnicas, métodos e ações educacionais
não estão condizentes com o potencial das crianças, e este quadro vai se
acumulando e a criança fica sem conhecimentos de base, pois a seqüência de
didática já se perdeu. (ALMEIDA, 2009, p.11)
O Orientador educacional juntamente com o professor, deve refletir
sobre a estrutura curricular que está sendo oferecida e a compatibilidade deste
com as estruturas cognitivas, afetivas e sociais do aluno.
“O papel do professor constitui-se, basicamente, em ajudar o educando a aprender em todos os aspectos, isto é, na aquisição e desenvolvimento de conhecimentos, habilidades, hábitos, atitudes, valores, ideais ou qualquer tipo de aprendizagem ainda não desenvolvida e julgada importante e necessária para o educando tanto pessoal como socialmente”. (REEDER,1943, apud LÜCK, 1982, p.13)
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O Orientador pode através de reuniões com os alunos, fazer
discussões em grupo, elaborando jornal escolar ou jornal mural. Criação de
grupos interessados em música, poesia, política, etc. Todo este trabalho deve
estar integrado aos professores, que estarão em sua prática de sala de aula,
oportunizando espaços de construção do conhecimento, dando condições
necessárias para o aluno buscar, discutir, pensar, refletir, problematizar,
vencendo suas dificuldades.
O Orientador competente é aquele que sabe qual é seu papel na
efetivação do projeto político pedagógico da escola. “É entre os profissionais
da escola um dos que deve estar mais atento e mais capacitado a reconhecer
e a proporcionar momentos que facilitem o sentir, o pensar e o fazer
conscientes, a fim de que possam ser, simultaneamente, sentir-se, pensar-se e
fazer-se.”(PORTO, p.65)
Conforme Grinspun (1998) citado por PORTO (2009,p.73),“é
necessário que o Orientador seja capaz de:
§ Discutir com a equipe e na equipe, o currículo e o processo de
ensino-aprendizagem frente à realidade sócio-econômica da
clientela;
§ Analisar com a equipe as contradições da escola e as diferentes
relações que exerçam influências na aprendizagem;
§ Contribuir efetivamente para a melhoria do ensino e das
condições de aprendizagem na escola;
§ Estruturar o seu trabalho a partir da análise e da crítica da
realidade social, política e econômica do país;
§ Fundamentar cientificamente sua ação, buscando novas teorias
a partir de sua prática.” [grifo nosso]
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Garcia, ressalta que o orientador competente é o profissional que se
apresenta como sendo o responsável pela ponte escola-família-comunidade
sendo o facilitador dessas relações.
CONCLUSÃO
A orientação educacional em toda sua trajetória histórica demonstrou
que o educando e sua formação integral, era uma das razões do desempenho
de sua função.
Múltiplas são as razões por que se faz necessária a Orientação
Educacional hoje em todas as nossas escolas, ela deve estar integrada aos
planejamentos pedagógicos da escola, promovendo reais possibilidades de
mudanças, através de reuniões semanais com o objetivo de mapear as
dificuldades e problemas, e propor soluções. Incluir e trabalhar a história e
culturas diversas através de atividades que os próprios alunos vivenciem e
discutam, trazendo um enfrentamento das desigualdades e um bom convívio
social. As atividades devem propor convivência humana, com vistas ao
respeito a diversidade que em todo lugar existe, levando ao mútuo
enriquecimento.
Não é tarefa fácil, expressar o conceito de dificuldades de
aprendizagem, mas conceituar o papel da Orientação educacional neste
processo fica melhor compreendido quando o vemos, como aquele que em
parceria com escola- família-comunidade realiza planos adequados ajustando
o aluno ao meio escolar e a vida social. Grispun, enfatiza que “a Orientação
educacional está cada vez mais comprometida com educação, no sentido de
favorecer, promover, os meios necessários para que se efetive uma educação
de qualidade, em todos os níveis e modalidades de ensino (...) seu trabalho é
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estimular o aluno a ir desenvolvendo suas potencialidades, na medida em que
ele se torne mais crítico e consciente de seu papel na sociedade”
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42
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I 9
Conceito de Aprendizagem
1.1 – Dificuldades de aprendizagem 15
CAPÍTULO II 20
Família e aprendizagem
CAPÍTULO III 26
Refletindo o papel do Orientador Educacional
3.1- Dificuldade de aprendizagem- Possíveis intervenções 33
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA 38
WEBGRAFIA 42
43
ÍNDICE 43
44
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
Título da Monografia: UMA REFLEXÃO SOBRE O PAPEL DO
ORIENTADOR FRENTE AS DIFICULADES DE APRENDIZAGEM
Autor: NIDIA ELINE MATTOS PARIZ RODRIGUES
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: