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- Ricardo Jorge Moreira Teixeira Fatores pessoais e contextuais associados ao desenvolvimento da excelência: Estudo exploratório com atletas nacionais

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Ricardo Jorge Moreira Teixeira

Fatores pessoais e contextuais associados ao desenvolvimento da excelência: Estudo exploratório com atletas nacionais

outubro de 2014

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Ricardo Jorge Moreira Teixeira

Fatores pessoais e contextuais associados ao desenvolvimento da excelência desportiva: Estudo exploratório com atletas nacionais

Dissertação de Mestrado

Mestrado Integrado em Psicologia

Trabalho realizado sob a orientação do

Professor Doutor José Fernando Cruz

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outubro de 2014

Nome: Ricardo Jorge Moreira Teixeira

Endereço eletrónico: [email protected]

Nº cartão de cidadão: 13760914 Validade:26/05/2015

Título dissertação de Mestrado:

Fatores pessoais e contextuais associados ao desenvolvimento da excelência: Jovens Atletas

Orientador:

Professor Doutor José Fernando Cruz

Ano de conclusão: 2014

Designação do Mestrado:

Mestrado Integrado em Psicologia

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO PARCIAL DESTA TESE/TRABALHO, APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.

Universidade do Minho, / /__

Assinatura: ____________________________________________________________

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ÍNDICE

Agradecimentos..........................................................................................................................v

Resumo......................................................................................................................................vi

Abstract.....................................................................................................................................vii

Introdução...................................................................................................................................1

Método........................................................................................................................................5

Participantes............................................................................................................................5

Medidas...................................................................................................................................7

Procedimentos.......................................................................................................................10

Análise de Dados...................................................................................................................11

Resultados.................................................................................................................................11

Discussão e Conclusão..............................................................................................................18

Referências Bibliográficas........................................................................................................21

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Agradecimentos

Gostaria de agradecer ao meu orientador, Professor Doutor José Cruz, por toda a

disponibilidade, feedback e tempo despendido no auxílio da progressão da minha

aprendizagem, assim como a todo o restante grupo de investigação. Deixo também um

agradecimento a todos os clubes e atletas que permitiram a realização desta dissertação.

Agradeço à minha família, por tudo o que fizeram por mim. Em especial aos meus

pais, que ao longo dos cinco anos foram eles que estiveram sempre prontos a ajudar-me a

ultrapassar todos os obstáculos. Claramente sem o seu apoio e suporte nunca conseguiria

realizar o curso. Mantiveram-me sempre no caminho certo e antes de este sucesso me

pertencer, pertence primeiramente a eles. Agradeço-lhes por tudo do fundo do coração e sei

que ao alcançar mais esta etapa na minha vida estou a contribuir para o aumento da sua

felicidade. Sei de todo o esforço que fizeram, fazem e farão pelo meu bem e portanto espero

congratular sempre esse esforço.

Gostaria também de agradecer à minha namorada Débora Monteiro, porque também

sem ela não conseguiria concluir o curso. A ela agradeço-lhe por todo o apoio quer a nível

pessoal quer a nível profissional, pois além de ter de me aguentar a nível pessoal tem ainda de

me auxiliar na realização de tarefas decorrentes do curso. Agradeço-lhe por tudo,

nomeadamente pelos sacrifícios que faz pelo meu bem, que não são poucos. Também em

relação a ela espero continuar a retribuir todo este amor da melhor forma que conseguir.

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Fatores Pessoais e Contextuais Associados ao Desenvolvimento de Excelência: Estudo

Exploratório com Atletas Nacionais

Resumo

O presente estudo procurou explorar a importância de um conjunto de características

pessoais e contextuais que contribuem para o desenvolvimento da excelência atletas. Para

além disso, procurou também contribuir para a validação do “Psychological Characteristics of

Developing Excellence Questionnaire” (MacNamara & Collins, 2011) para a população

portuguesa. Para o efeito, participaram neste estudo 109 atletas dos escalões juvenil/júnior e

sénior, sendo 88 (80.7%) do sexo masculino e 21 (19.3%) do sexo feminino, com idades

compreendidas entre os 14 e os 36 anos (M = 20.77; DP = 4.91). Os participantes pertenciam

a oito clubes nacionais reconhecidos nas respetivas modalidades pela qualidade dos seus

praticantes e que competiam nas divisões principais dos respetivos escalões. Os resultados

apontam um conjunto de variáveis pessoais (e.g., positividade, coping ativo) e contextuais

(e.g., qualidade da relação treinador-atleta) como estando positivamente correlacionadas com

as caraterísticas psicológicas para o desenvolvimento da excelência, ressalvando a

importância que cada um destes fatores assume na compreensão do desenvolvimento e

manutenção de desempenhos de alto nível no desporto.

Palavras-chave: excelência, fatores pessoais, fatores contextuais.

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Personal and contextual factors associated with the development of excellence:

Exploratory study with national Portuguese athletes

Abstract

This study aims to explore the importance of a set of personal and contextual

characteristics that contribute to the development of excellence in young athletes. In addition,

a contribution for the adaptation and validation of the "Psychological Characteristics of

Developing Excellence Questionnaire" (MacNamara & Collins, 2011) in the Portuguese

population was also intended. Toward this end, 109 athletes participated in this study of youth

/ junior and senior levels, 88 (80.7%) were male and 21 (19.3%) were female, aged between

14 and 36 years (M = 20.77, SD = 4.91). Participants were from eight national recognized

clubs in the respective modalities for the quality of its practitioners and competing in major

divisions of the respective groups. The results identify a number of personal variables (eg,

positivity, active coping) and contextual (eg, coach-athlete relationship quality) as being

positively correlated with psychological characteristics to the development of excellence,

underlying the importance that each of these factors assumes understanding the development

and maintenance high level of performance in sport.

Keywords: excellence, personal factors, contextual factors.

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Fatores Pessoais e Contextuais Associados ao Desenvolvimento de Excelência: Estudo

Exploratório com Atletas Nacionais

Ao longo da última década intensificou-se o interesse pelo estudo da excelência em

vários contextos de realização (e.g., desporto e música). Apesar de subsistirem várias

definições, não existe uma definição consensual do conceito de excelência, uma vez que a

investigação tem sido realizada com recurso a uma diversidade de constructos referentes à

temática (e.g., elite, expertise, talento), tendo subjacentes diferentes abordagens teóricas e

metodológicas. No entanto, como refere Matos (2011) esta multiplicidade que tanto

complexifica a definição deste conceito, é a mesma que contribui para a progressão da

compreensão do mesmo. Regra geral, todas as operacionalizações têm subentendida a

conceção de excelência como uma performance eminente e sólida num determinado domínio

(Matos, Cruz, & Almeida, 2011). Salvaguarda-se que dentro de todas as abordagens, “mais do

que conhecer o que fazem os excelentes, importa sobretudo compreender como fazem, ou

como são esses indivíduos” (Araújo, Cruz & Almeida, 2011, p. 256).

Para além disso, a excelência tem sido entendida como um processo complexo, que

depende da combinação de fatores inatos e ambientais. Desse modo, existem habilidades que

fazem parte de cada um à nascença e outras que vão sendo desenvolvidas e reforçadas ao

longo do desenvolvimento (Mills, Butt, Maynard, & Harwood, 2012). Porém, apesar de

possuírem por vezes capacidades inatas, os indivíduos apenas conseguirão atingir os níveis de

excelência se materializarem as oportunidades, que provêm de uma orientação adequada

(Abbott & Collins, 2002). A questão central não se traduz assim no debate sobre qual dos dois

é o principal, mas sim “what kind of interaction occurs between the two, and how this

influences development” (Mönks & Mason, 2000, p. 141).

Para além do esforço em operacionalizar o conceito, são muitos os autores que tentam

delinear o caminho para a excelência, como Ericsson, Krampe e Tesch-Romer (1993) que

num estudo com músicos ressalvam a necessidade de 10 anos ou 10 mil horas de prática

deliberada, para o alcance de níveis de excelência. Entendendo-se prática deliberada como as

atividades que têm como propósito melhorar os níveis de desempenho (Holt & Dunn, 2004;

Barreiros, Côté, & Fonseca, 2013). O objetivo do desenvolvimento de talento deve ser o de

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identificar e desenvolver as capacidades dos atletas para o desempenho futuro (Abbott &

Collins, 2004). O percurso para a excelência não é uniforme, pelo contrário, cada fase de

desenvolvimento tem as suas próprias características e consequentemente as suas exigências

específicas (MacNamara & Collins, 2011).

Este entendimento é corroborado pelo Modelo de Desenvolvimento da Participação

Desportiva (MDPD; Côté, 1999) onde o desenvolvimento da “excelência” ocorre de acordo

com três fases. A primeira fase corresponde à diversificação, isto é, manifesta-se na prática de

diversos desportos que tem como finalidade extrair satisfação da sua participação, não sendo

necessárias grandes condições para a sua realização. A segunda fase equivale à fase da

especialização, nesta fase os atletas começam a entregar-se exclusivamente a um desporto,

diminuindo presumivelmente o número de desportos praticados precedentemente, e

aumentando o tempo de prática deliberada. Emergindo à última fase denominada fase de

investimento, em que os atletas se aplicam de modo a atingir níveis de excelência no desporto

elegido na fase anterior. Esta fase caracteriza-se por elevado tempo de prática deliberada, com

o intuito de alcançar a elite (Barreiros, Côté, & Fonseca, 2013).

Interessa referir, que em termos de prevalência, de acordo com a teoria “do pouco-

espaço-no-topo” (Gagné, 2007), do conjunto dos indivíduos que ambicionam alcançar a

excelência, apenas 10% conseguem atingir essa mesma meta. Durante esse percurso para a

excelência, as estratégias utilizadas pelos atletas são determinantes para o seu alcance.

Lazarus e Folkman (1984) consideraram estas estratégias, denominadas estratégias de coping,

como um conjunto de esforços cognitivos, comportamentais e afetivos, empregados para lidar

com exigências particulares. Sendo que Lazarus (1991) definiu dois tipos de coping: o coping

focado nas emoções, que se traduz no empenho para ajustar as respostas emocionais, e o

coping focado no problema, que subsiste na tentativa de agir sobre o problema em questão

(Folkman & Moskowitz, 2004; Cruz, 1996). Lazarus (2000) evidencia ainda que a utilização

de coping adequado poderá influenciar os atletas a estarem mais motivados, levando-os a

estarem mais centralizados para atingirem os seus padrões de excelência. Pensgaard e Duda

(2003) num estudo com atletas olímpicos descrevem que o uso de estratégias de coping

eficazes se traduz na vivência de emoções positivas por parte destes. No estudo de van

Yperen (2009) foi reportado que os indivíduos bem-sucedidos recorriam regularmente a

estratégias de coping focadas no problema, em oposição aos malsucedidos.

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No estudo da excelência importa ainda realçar um conjunto de fatores que têm sido

encontrados para o seu desenvolvimento e manutenção, sendo estes de carácter contextual e

pessoal. Mais recentemente, os estudos efetuados têm dado ênfase a uma interação dinâmica

entre diversos fatores sociais, ambientais e psicológicos no caminho para a concretização do

potencial (Ceci, Barnett, & Kanaya, 2003 cit in MacNamara, Holmes, & Collins, 2008).

Especificamente em relação aos fatores contextuais, a literatura tem estudado diversos

fatores como estando associados ao desenvolvimento e manutenção da excelência: relação

treinador-atleta, apoio de outros significativos, qualidade do treino, clima motivacional, entre

outros. Quanto ao apoio recebido pelos atletas, Yperen (2009) menciona que os indivíduos

bem-sucedidos procuram mais frequentemente apoio social (i.e., Taylor (2007) define-o como

experiências onde se é prezado e enaltecido pelos outros), quando se deparam com algum tipo

de contradição no seu caminho. Esse apoio muitas vezes é procurado junto das famílias e do

treinador, dado que estas estimulam o interesse do atleta num determinado desporto,

proporcionando apoio moral e financeiro. Contudo, a preponderância da família tende a

atenuar à medida que os atletas vão crescendo (Bloom, 1985). Relativamente ao clima

motivacional, Seligman, Steen, Park, e Peterson, (2005) sugerem que é importante promover

climas difíceis e sustentáveis, que melhorem o desenvolvimento das habilidades psico-

comportamentais.

De um modo geral, no que se refere às características psicológicas, estas são

reconhecidas como centrais nos desempenhos excecionais, (Durand-Bush & Salmela, 2002;

Gould, Dieffenbach, & Moffett, 2002), particularmente Tkachuck, Toogood e Martín (2003)

numa revisão da literatura, nomearam alguns fatores psicológicos ligados à excelência no

desporto, sendo estes o comprometimento, o estabelecimento de objetivos, a motivação, o

planeamento de treinos e competições, entre outros. A literatura sugere que os atletas bem-

sucedidos contêm características psicológicas, como autoconfiança, habilidade para lidar com

a ansiedade e as adversidades, motivação intrínseca, capacidade de estabelecer objetivos e

capacidade de desatender a distrações (Gould, Dieffenbach, & Moffett, 2002). Assim sendo,

os atletas que conquistam sucesso empregam as capacidades psicológicas de forma a otimizar

a aprendizagem e lutar com os desafios inevitáveis do desenvolvimento (MacNamara &

Collins, 2013).

No estudo da relação entre caraterísticas psicológicas e o desenvolvimento da

excelência em contextos desportivos, merece destaque o trabalho desenvolvido por

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Macnamara e Collins (2011) que desenvolveram o “Psychological Characteristics of

Developing Excellence Questionnaire” (PCDEQ), instrumento esse utilizado neste estudo,

procurando-se deste modo dar contributos para a validação do mesmo. Este questionário foi

desenhado para avaliar a “posse” e implementação de várias caraterísticas psicológicas (e.g.,

estabelecimento de metas, uso da visualização mental) no desenvolvimento da excelência

desportiva, permitindo aos atletas receberem feedback e identificarem áreas que necessitem

de ser melhoradas ou mantidas. Para além disso, pode auxiliar na orientação de programas de

treino, através dessa identificação de aspetos a melhorar, incorporando formação no trabalho

desses campos menos desenvolvidos. Ao longo do desenvolvimento dos atletas este

questionário torna-se relevante para os treinadores, na medida em que usufruem de um

instrumento que lhes possibilita monitorizar o desenvolvimento e promover estas

características psicológicas. Destaca-se que o questionário é sensível à variação do

estabelecimento de características psicológicas de desenvolvimento da excelência, ao longo

da progressão dos atletas (MacNamara & Collins, 2011).

O PCDEQ mede seis fatores ou processos psico-comportamentais presentes no

desenvolvimento desportivo. O primeiro fator, “Apoio para o sucesso a longo prazo” está

relacionado com o uso de características psicológicas, como o controlo da distração para

atingir o sucesso a longo prazo. O segundo fator, “Uso da visualização mental durante o

treino e competição”, menciona a relevância da imaginação como uma estratégia que otimiza

a aprendizagem, bem como o desempenho. O terceiro fator, “Coping com as pressões de

rendimento e de desenvolvimento”, caracteriza-se pela necessidade dos atletas lidarem com as

pressões de desenvolvimento e desempenho. O quarto fator, “Capacidade de organização e

envolvimento em treino de qualidade” consiste na importância da prática de qualidade durante

o desenvolvimento dos atletas. O quinto fator, “Avaliação do rendimento e o trabalho nos

pontos fracos”, este fator destaca a necessidade dos jovens atletas avaliarem justamente as

suas performances, bem como progredir nos aspetos menos desenvolvidos. Por fim, o sexto

fator, “Apoio dos outros para competir ao nível do potencial pessoal”, caracteriza-se pelo

estímulo recebido por parte dos outros, de modo a sustentar a progressão do atleta. De

salientar que os fatores um e seis compreendem itens associados com a forma como os outros

significativos promovem e reforçam as características psicológicas do desenvolvimento da

excelência, enquanto os restantes quatro fatores refletem a inserção independente de

características psicológicas do desenvolvimento da excelência (MacNamara & Collins, 2011,

2012).

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No entanto, tendo em conta que a maioria dos estudos realizados sobre o

desenvolvimento da excelência recorreu a designs retrospetivos e de natureza descritiva e

transversal (Gould, Dieffenbach, & Moffett, 2002), torna-se necessária a realização de estudos

com jovens atletas, de modo a conhecer melhor as etapas iniciais e a progressão no

desenvolvimento de talentos (Durand-Bush & Salmela, 2001). Estes estudos são então

essenciais na identificação e posterior amplificação dos fatores associados ao sucesso

(Durand-Bush & Salmela, 2001). Assim, o presente estudo transversal tem como objetivo

principal explorar quais os fatores pessoais e fatores contextuais que contribuem para o

desenvolvimento da excelência nos atletas e analisar o padrão de relações das características

da excelência em desenvolvimento com outros constructos teoricamente relevantes.

Paralelamente, procurou-se verificar a possível existência de diferenças em função do escalão

competitivo. Adicionalmente, atendendo à ausência de dados suficientes de validação do

questionário “Psychological Characteristics of Developing Excellence Questionnaire”

(MacNamara & Collins, 2011) para a população portuguesa, este estudo passa ainda por

contribuir para a adaptação e validação desta medida específica do domínio (contextos

desportivos), junto da população desportiva nacional, deste instrumento específico do

domínio desportivo, aumentando assim o leque de medidas válidas disponíveis para o estudo

do desenvolvimento da excelência desportiva no nosso país.

Método

Participantes

Este estudo recorreu a uma amostra de conveniência, sendo que participaram neste

estudo 109 atletas, 88 (80.7%) do sexo masculino e 21 (19.3%) do sexo feminino, com idades

compreendidas entre os 14 e os 36 anos (M = 20.77; DP = 4.91). Atletas esses que pertencem

a oito clubes nacionais que competiam nas divisões principais dos respetivos escalões. Na

tabela 1 encontram-se descritas as caraterísticas demográficas dos participantes, bem como a

modalidade, escalão e nível competitivo, enquanto na tabela 2 encontram-se as informações

relativas à prática da modalidade.

Tabela 1

Características dos Participantes

Amostra total

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N = 51 %Género Masculino 88 80.7 Feminino 21 19.3Idade 14-18 anos 39 35.8 19-24 anos 48 44.0 25-36 anos 22 20.2Habilitações 6ºano 2 3.9 9ºano 6 11.8 12ºano 29 56.9 Licenciatura 10 19.6 Mestrado 4 7.8Modalidade Voleibol 31 28.4 Basquetebol 12 11.0 Kickboxing 8 7.3 Atletismo 3 2.8 Futebol 21 19.3 Canoagem 20 18.3 Andebol 14 12.8Escalão Competitivo Júnior/Juvenil 38 34.9 Sénior 71 65.1Nível Competitivo Regional 3 4.1 Nacional 53 71.6 Profissional 18 24.3

Tabela 2

Caraterísticas da prática da modalidade

Amostra total

Mínimo Máximo M (DP)Idade de início da prática 4 28 11.86 (3.92)Nº anos de prática federada 1 25 10.03 (5.13)Nº de internalizações 0 100 12.61 (22.05)Nº médio de horas de treino por semana 2 28 11.19 (5.24)

Nº médio de provas oficiais por ano Competições nacionais 0 40 14.92 (14.72) Competições internacionais 0 50 1.67 (7.20)Nº títulos nacionais/internacionais conquistados nos últimos 5 anos 0 6 1.91 (1.94)

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Medidas

Questionário Sociodemográfico (Cruz, 2014). Este questionário teve como objetivo

recolher informação acerca da identificação do participante (idade, género, altura, peso,

estado civil e grau de escolaridade) e informação desportiva (clube, divisão/liga, modalidade,

especialidade, escalão competitivo, nível competitivo, idade de inicio da prática da

modalidade, número de anos da prática federada da modalidade, número médio de horas de

treino por semana, número médio de provas oficias por ano em competições nacionais e

competições internacionais e títulos nacionais e/ou internacionais conquistados).

Questionário das Características Psicológicas para Desenvolver a Excelência

(Psychological Characteristics of Developing Excellence Questionnaire) (PCDEQ;

MacNamara & Collins, 2011). Este questionário tem como intuito avaliar a posse e

implementação de caraterísticas psicológicas no desenvolvimento da excelência. É constituído

por 59 itens (tanto negativos, como positivos, de modo a minimizar o viés aquiescente)

usando uma escala tipo likert de 6 pontos (1=não se aplica nada a mim; 6=aplica-se muito a

mim). Mede ainda 6 categorias de características psicocomportamentais que influenciam o

desenvolvimento eficaz no desporto. No presente estudo, foram obtidos os seguintes valores

do Alpha de Chrobach nas seguintes subescalas: “apoio para o sucesso a longo prazo” .95;

“uso da visualização mental durante treino e competição” .88; “coping com pressões de

rendimento e desenvolvimentais” .83; “capacidade de organização e envolvimento em treino

de qualidade” .78; “avaliação do rendimento e trabalho nos pontos fracos” .80; “apoio dos

outros para competir ao nível do potencial pessoal” .87.

Escala Breve de Auto-Controlo (EAC; Tangney, Baumeister, & Boone, 2004).

Recorreu-se à versão preliminar para investigação traduzida e adaptada para o português por

Cruz (2008). Esta escala de autorrelato avalia as diferenças ao nível individual no traço de

autocontrolo. Utilizando uma escala tipo likert de 5 pontos (1=de maneira nenhuma; 5=

mesmo muito) são respondidos 13 itens (e.g., “eu sou bom a resistir tentações”, “as pessoas

diriam que eu tenho uma autodisciplina forte” e “tenho dificuldades em concentrar-me”). O

score total, obtido através da soma dos itens, pode variar entre 13 e 65, sendo que pontuações

mais elevadas indicam uma maior capacidade de autocontrolo. No presente estudo, foi obtido

um coeficiente Alpha de Cronbach de .76.

Escala da Positividade (EP; Caprara, Alessandri, Eisenberg, Kupfer, Steca, Caprara,

Yamaguchi, Fukuzawa, & Abela 2012). Recorreu-se à versão para investigação autorizada,

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traduzida e adaptada por Cruz (2012). Questionário que avalia a orientação positiva dos

indivíduos e que tem como objetivo avaliar o traço disposicional “positividade” e que tem

subjacente a avaliação “partilhada ou combinada” de três construtos teóricos relacionados

(autoestima, satisfação com a vida e otimismo). É composto por oito itens (e.g., “estou

satisfeito com a minha vida”) respondidos através de uma escala tipo likert de 5 pontos

(1=Discordo totalmente; 5=Concordo totalmente), podendo os scores totais (média do

somatório dos itens) variar entre 1 e 5. Os dados psicométricos iniciais (Cruz & Ferreira,

2012) sugerem uma boa validade para a versão portuguesa. Nesta investigação, foi obtido um

coeficiente Alpha de Cronbach de .72.

Inventário Abreviado de Estilos de Coping (Carver, 1997). Consiste num inventário

sucinto de respostas de coping e é uma medida dispocional dos estilos de coping dos

indivíduos em situações de stress. Tem uma versão traduzida e adaptada à língua portuguesa

por Cruz (2003) na sua versão para contextos desportivos, e de seguida validada por Dias,

Cruz, e Fonseca (2012; 2013). É composto por 28 itens distribuídos por 14 subescalas, com

dois itens por escala: aceitação, coping ativo, desligamento comportamental, negação, humor,

planeamento, reavaliação positiva, religião, auto culpabilização, auto distração, uso de

substâncias, uso de apoio emocional, uso de apoio instrumental e ventilação de emoções. Os

itens são respondidos numa escala tipo likert de 4 pontos (1=“nunca utilizo”; 4=“utilizo

muitas vezes”). Os scores em cada subescala são calculados através da soma dos respetivos

itens e variam assim entre 1 (mínimo) a 4 (máximo), em cada subescala. Neste estudo, foi

encontrado um valor de .83 para o coeficiente Alpha de Cronbach.

Escala de Perfeccionismo Durante o Treino e a Competição (EPDTC-VP; Stoeber,

Stoll, Pescheck, & Otto, 2008). Recorreu-se à medida traduzida e adaptada para português

(Cruz, 2008) do “Inventário Multidimensional de Perfeccionismo no Desporto” (Stoeber,

Stoll, Pescheck, & Otto, 2008), incluindo um total de 18 itens que avaliam quatro dimensões:

a luta pela perfeição, reações negativas à imperfeição, pressão percebida do treinador, e

pressão parental percebida. No presente estudo apenas se fez uso de 2 das subescalas,

prescindindo-se das dimensões “pressão parental” e “pressão dos treinadores”. Os itens

são  respondidos numa escala do tipo likert de 6 pontos (1= “Nunca”; 6=“Sempre”). Sendo

que, para cada escala, a scores mais elevados, correspondem a elevados níveis de

perfecionismo na dada dimensão. Neste estudo, para a subescala “luta pela perfeição” foi

conseguido um Alpha de Cronbach de .79, enquanto a subescala “reações negativas à

imperfeição” foi conseguido .85.

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Escala de Satisfação com a Vida (ESV; Diener, Emmons, Larsen & Griffin,

1985). Recorreu-se à versão traduzida e validada, de forma consistente, para a língua

Portuguesa por Neto (1993, 1999). O questionário é constituído por 5 itens (e.g., “as minhas

condições de vida são muito boas”) e é respondido numa escala do tipo likert de 5 pontos

(1=“Discordo muito”; 5=“Concordo muito”). O “score” final é calculado através da média do

somatório dos itens, podendo variar entre um mínimo de 1 (=baixa satisfação) e um máximo

de 5 (=alta satisfação com a vida). Foi obtido neste estudo um Alpha de Cronbach de .78.

Questionário da Relação Treinador-Atleta (CART-Q; Jowett & Ntoumanis, 2004).

Questionário que avalia as perceções de qualidade de relação entre atletas e treinadores. É

constituída por 11 itens medindo perceções de proximidade, compromisso e

complementaridade na relação treinador-atleta, por exemplo, nos atletas, “eu como o meu

treinador” (proximidade), “sinto-me comprometido com o meu treinador” (compromisso), e

“quando estou a ser treinado pelo meu treinador, estou pronto para fazer o meu melhor'”

(complementaridade). É usada uma escala de likert de sete pontos que vai desde 1 “discordo

totalmente”, até 7 “concordo totalmente”, sendo que os scores mais altos representam

perceções relacionais mais positivos. Neste estudo, foi obtido um coeficiente de fidelidade

(Alpha de Cronbach) de .81 para a subescala “proximidade”, .84 para a subescala

“compromisso” e .80 para a subescala “complementaridade”.

Escala de Avaliação Cognitiva da Competição Desportiva – Perceção de Ameaça

e Perceção de Desafio (EACCD-PA-PD; Lazarus (1991); Lazarus & Folkman, 1984).

Recorreu-se ao instrumento desenvolvido por Cruz (2009) derivado de um instrumento

destinado a avaliar a perceção de ameaça, a Escala de Avaliação Cognitiva da Competição

Desportiva – Perceção de Ameaça (Cruz, 1994, 1996, Dias, Cruz & Fonseca, 2009),

juntamente com uma nova subescala de perceção de desafio, dado o cariz avaliativo da

competição desportiva como desafio (Jones, Meijen, McCarthy, & Shefield, 2009; Lazarus,

1991, 2000). Assim, este instrumento visa medir a avaliação cognitiva primária e inclui um

total de 15 itens distribuídos em duas subescalas: Perceção de Ameaça (PA) e Perceção de

Desafio (PD). Os itens são respondidos numa escala tipo likert de 5 pontos (1=“Não se

aplica”; 5=“Aplica-se muito”). Na presente investigação, para a subescala “perceção de

ameaça” foi obtido um Alpha de Cronbach de .83, enquanto a subescala “perceção de desafio”

obteve .77.

9

Page 18: repositorium.sdum.uminho.ptrepositorium.sdum.uminho.pt/.../1/jc-ricardo-Tese.definitiva-R.docx  · Web viewNa tabela 1 encontram-se descritas as caraterísticas demográficas dos

Inventário da Qualidade do Treino (IQT; Woodman,, Zourbanos, Hardy, Beattie,, &

McQuillan, 2010). Questionário de autorrelato que avalia a qualidade do treino. É constituído

por 13 itens, à quais são respondidos através de uma escala tipo likert de 9 pontos (1=discordo

totalmente; 9=concordo totalmente). composto por três subescalas: a) distratibilidade

(conceptualizado como a propensão para se distrair no treino – 5 itens); b) coping com a

adversidade (conceptualizado como a capacidade para lidar eficazmente quando o treino não

está a correr como planeado – 4 itens); c) qualidade da preparação (conceptualizado a partir

das estratégias e objetivos que são praticados no treino para o uso nas competições posteriores

– 4 itens). Na presente investigação, para a subescala “distratibilidade” foi obtido o valor de

coeficiente Alpha de Cronbach .73, na subescala “lidar com a adversidade” .70 e na subescala

“qualidade da preparação” .74.

Autoavaliação do Rendimento Subjetivo (A-AREND; Cruz, 2008). A medida

subjetiva do rendimento dos atletas foi obtida recorrendo a 6 itens, teórica e empiricamente

formulados, refletindo diferentes critérios e índices usados para avaliação subjectiva e

percebida do desempenho individual (e.g., sucesso na concretização de objetivos,

desempenho comparativamente a épocas anteriores, grau de esforço e energia colocados no

processo de rendimento, qualidade geral do rendimento ao longo da época). Esta medida,

originalmente desenvolvida por Cruz (2008) baseou-se e recorreu a índices similares de

perceção subjectiva de rendimento utilizadas por outros investigadores (e.g., Levy, Nicholls,

& Polman, 2011; Mamassis, &  Dogamis, 2004; Stravou, Jackson, & Zervas, 2007; Stravou,

Jackson, & Zervas, 2007). O nível percebido de cada um dos critérios (itens) é respondido

numa escala tipo likert que varia de 1 (nível mínimo) a 7 (nível máximo). No presente estudo

foi obtido um Alpha de Cronbach de .91, para esta medida de qualidade geral do rendimento,

superior ao obtido num estudo recente com jovens futebolistas (Ribeiro, Cruz, Cruz, Fonseca,

2014).

Procedimentos

Para a passagem dos questionários, todos os treinadores foram contactados através de

intermediários próximos dos mesmos, de modo a garantir a devida autorização. Os

questionários foram preenchidos nas próprias instalações de cada clube, num espaço calmo e

privado, sem a presença dos treinadores na recolha de dados. Foram transmitidos a todos os

10

Page 19: repositorium.sdum.uminho.ptrepositorium.sdum.uminho.pt/.../1/jc-ricardo-Tese.definitiva-R.docx  · Web viewNa tabela 1 encontram-se descritas as caraterísticas demográficas dos

participantes os objetivos do projeto de investigação e informação relativa à confidencialidade

dos dados recolhidos, bem como o anonimato dos dados identificados.

Análise de Dados

Recorreu-se ao software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS; 22ª

Versão) para a análise de dados. Foram calculadas as estatísticas descritivas das variáveis em

estudo, permitindo a descrição dos mínimos, máximos, tendência central e de dispersão do

conjunto de valores obtidos (Howell, 2010). De modo a testar a direção (positiva ou negativa)

e magnitude (entre +1 e -1) das correlações entre as seis caraterísticas/qualidades da

excelência avaliadas pelo QPCDE e as variáveis pessoais, bem como e as variáveis

contextuais, calculou-se o Coeficiente de Correlação de Pearson (Martins, 2011). E com o

objetivo de avaliar possíveis diferenças entre as médias das qualidades/caraterísticas da

excelência nos dois escalões competitivos em comparação, foram realizados Testes t para

Amostras Independentes (Martins, 2011).

Resultados

Na tabela 3 estão presentes as estatísticas descritivas das variáveis em estudo, de modo

a conhecer os scores mínimos, máximos, médias e desvios-padrões. Sendo que a partir da sua

interpretação, pudemos verificar que das 6 caraterísticas/qualidades da excelência, “coping

com pressões de rendimento e desenvolvimentais” foi a menos reportada junto dos atletas.

Para além disso, verifica-se ainda que os estilos de coping mais adaptativos (“aceitação”,

“coping ativo”, “planeamento”, “reavaliação positiva”, “uso de apoio instrumental” e “uso de

apoio emocional) são as mais utilizadas pelos atletas, em oposto aos estilos de coping mais

desadaptativos (“uso de substâncias”, “desinvestimento comportamental” e “negação”) (Dias,

Cruz, & Fonseca, 2012).

11

Page 20: repositorium.sdum.uminho.ptrepositorium.sdum.uminho.pt/.../1/jc-ricardo-Tese.definitiva-R.docx  · Web viewNa tabela 1 encontram-se descritas as caraterísticas demográficas dos

Tabela 3

Estatística descritiva das variáveis em estudo

Variáveis em estudo Mínimo Máximo M DP

Apoio para sucesso a longo prazo 1.88 6.00 4.56 .90Uso da visualização mental durante o treino e a competição

2.00 6.00 4.58 .73

Coping com pressões de rendimento e desenvolvimentais

2.09 6.00 4.47 .78

Capacidade para organizar e envolvimento em treino de qualidade

3.29 6.00 4.67 .66

Avaliação do rendimento e trabalho dos “pontos fracos”

3.00 6.00 4.98 .71

Apoio de outros para competir ao nível do potencial pessoal

2.00 6.00 4.80 .82

Autocontrolo 29.00 62.00 48.50 7.08

Positividade 2.88 5.00 3.98 .48

Luta pela perfeição 2.40 6.00 4.58 .85

Reações negativas à imperfeição 1.60 6.00 3.68 1.13

Perceção de ameaça 1.80 3.80 2.89 .63

Perceção de desafio 1.40 5.00 4.23 .62

Distratibilidade 1.00 8.00 3.90 1.48Lidar com adversidade 3.50 7.25 5.92 .80Qualidade da preparação 2.50 8.75 6.27 1.36

Proximidade 3.00 7.00 5.81 1.04Compromisso 2.67 7.00 5.94 1.09Complementaridade 3.25 7.00 6.17 .00

Autoavaliação do rendimento subjetivo 14.00 42.00 29.20 5.92

Aceitação 1.50 4.00 3.19 .72Coping ativo 2.00 4.00 3.36 .60Desinvestimento comportamental 1.00 4.00 1.70 .81Negação 1.00 4.00 1.94 .79Humor 1.50 4.00 2.80 .73Planeamento 2.00 4.00 3.29 .54Reavaliação positiva 1.50 4.00 3.19 .66Religião 1.00 4.00 2.10 1.00Auto-culpabilização 1.00 4.00 2.70 .81Auto-distração 1.00 4.00 2.93 .72Uso de substâncias 1.00 4.00 1.34 .73Uso de apoio emocional 1.00 4.00 3.09 .65Uso de apoio instrumental 1.00 4.00 3.18 .67

12

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Ventilação de emoções 1.00 4.00 2.90 .74

Numa primeira análise da tabela 4 pode-se concluir que as características psicológicas

do desenvolvimento da excelência se correlacionam significativamente com os fatores

contextuais em estudo, à exceção do “Coping com pressões de rendimento e

desenvolvimentais”, que não se correlaciona com nenhum desses fatores, excetuando a

distratibilidade. Para além das características psicológicas se correlacionarem positivamente

entre si, é de notar que também os fatores contextuais se correlacionam entre eles. De

salientar ainda que a característica “Capacidade para organizar e envolvimento em treino de

qualidade” é a única que se correlaciona significativamente com todos os fatores contextuais,

sendo que com o fator “distratibilidade” se correlaciona negativamente.

13

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Tabela 4

Correlações entre as variáveis da excelência e as variáveis contextuais em estudo

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

1. Apoio para sucesso a longo prazo - .79*** .06 .65*** .52*** .87*** -.07 .25 .51*** .85*** .78*** .61***

2. Uso da visualização mental durante o

treino e a competição - .12 .76*** .67*** .80*** -.22 .53*** .72*** .69*** .66*** .55***

3. Coping com pressões de rendimento

e desenvolvimentais - .21* .15 .22* -.33* .23 .13 .07 .04 .17

4. Capacidade para organizar e

envolvimento em treino de qualidade - .76*** .68*** -.44** .54*** .70*** .57*** .63*** .60***

5. Avaliação do rendimento e trabalho

dos “pontos fracos” - .55*** -.23 .42** .65*** .43* .56*** .57***

6. Apoio de outros para competir ao

nível do potencial pessoal - -.10 .29* .53*** .74*** .70*** .52***

Variáveis contextuais:

7. Distratibilidade- -.31* -.36** -.15 -.26 -.35**

8. Lidar com adversidade- .66*** -.02 .37** .47***

9. Qualidade da preparação

- .60* .53*** .46***

10. Proximidade- .80*** .68***

11. Compromisso- .74***

12. Complementaridade-

Nota. N = 109

13

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*p < .05. **p < .01. ***p < .001.Tabela 5

Correlações entre as variáveis da excelência e as variáveis pessoais em estudo

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 271. Apoio para sucesso

a longo prazo - .79*** .06 .65*

**.52***

.87*** .02 .30*

* .22 -.01 .31 .45** .26 .40*

* -.23 -.03 -.23 .04 .35* -.01 -.09 .22 -.10 .22 .29 .08 .48***

2. Uso da visualização

mental durante o treino

e a competição- .12 .76*

**.67***

.80*** .15 .47*

** .31* .05 -.23 .71*** .37* .49*

* -.19 .19 -.21 .29 41** .11 .06 .33* -.06 .26 .34* .14 .51*

**

3. Coping com

pressões de rendimento

e desenvolvimentais- .21* .15 .22* .66*

**.27*

* .14 -.38** -.54 .13 .04 .13 -.43

**-.41** -.07 .16 .26 -.11 -.13 -.22 -.42

** -.25 .00 -.14 .16

4. Capacidade para

organizar e

envolvimento em

treino de qualidade

- .76***

.68***

.34**

.51***

.41** .15 -.12 .65*

** .27 .58*** -.12 .20 -.07 .38* .29 .02 -.00 .53*

** -.14 .11 .33* .49**

.60***

5. Avaliação do

rendimento e trabalho

dos “pontos fracos”- .55*

**.26*

*.31*

*.45*** .28* -.22 .38*

* .40* .53*** -.26 .26 -.11 .28 .37* .07 .10 .47*

* -.14 .23 .38* .33* .46***

6. Apoio de outros para

competir ao nível do

potencial pessoal

Variáveis pessoais:

- .15 .38*** .24 -.01 -.29 .59*

** .23 .56***

-.35* -.12 -.20 .08 .39* .04 -.11 .21 -.19 .18 .48*

* .08 .38**

7. Autocontrolo - .20 .21 -.14

-.43 .28 .22 .27 -.4

4**-.41**

-.22 .30 .24 -.0

8 .43 -.11

-.37* .00 .13 -.0

6 .13

8. Positividade - -.10 -.27*

-.46

.56*** .19 .88 .02 .02 .00 -.0

6 .12 .23 -.21

-.20 .04 .07 .17 -.0

3 .10

9. Luta pela perfeição - .57*** .38 .41 .18 .14 -.2

4-.02

-.00 .22 .09 -.1

4.43**

-.24 .10 .11 .11 .31

* .29

10. Reações negativas

à imperfeição - .35 .16 .06 .09 .01 .16 -.04 .10 -.1

6-.03

.51*** .51 .10 .10 .14 .41

**-.02

14

Page 24: repositorium.sdum.uminho.ptrepositorium.sdum.uminho.pt/.../1/jc-ricardo-Tese.definitiva-R.docx  · Web viewNa tabela 1 encontram-se descritas as caraterísticas demográficas dos

11. Perceção de

ameaça - .39 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

12. Perceção de desafio - 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

13. Aceitação - .48**

-.11 .14 .28 .38

**.57*** .05 .41

** .14 .01 .51***

.42** .14 .27

14. Coping ativo - -.43** .17 .06 .44

**.64***

-.06 .15 .18 -.1

9 .28 .59*** .16 .33

*15. Desinvestimento

comportamental - .46**

.35*

-.31

-.29 .19 .01 .09 .79

***-.14

-.24 .16 .04

16. Negação - .35* .01 .02 .38

* .21 .57***

.51*** .09 .06 .28 -.0

117. Humor - .03 .25 .27 .29 .20 .20 .03 .04 .27 -.0

218. Planeamento - .30 .00 .29 .19 -.3

0 .24 .25 .25 .34*

19. Reavaliação

positiva - .23 .11 -.02

-.16

.44**

.50***

-.05 .14

20. Religião - .01 .16 .31 .16 .19 -.16

-.27

21. Autoculpabilização - .29 .08 .26 .16 .43**

-.08

22. Autodistração - .1 .10 .11 .60*** .00

23. Uso de substâncias - -.05

-.19 .08 -.1

724. Uso de apoio

emocional - .66*** .13 -.1

4

25. Uso de apoio

instrumental - .20 .23

26. Ventilação de

emoções - .05

27. Autoavaliação

rendimento subjetivo -

Nota. N = 109*p < .05. **p < .01. ***p < .001.

15

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Após a análise das correlações das características psicológicas do desenvolvimento da

excelência com os fatores contextuais, na transição para a análise com os fatores pessoais

denota-se visivelmente um menor número de correlações entre os fatores pessoais e as

características psicológicas. Para além disso, ao contrário dos fatores contextuais, os fatores

pessoais também possuem um número consideravelmente menor de correlações entre si.

Numa análise mais pormenorizada é possível detetar que a característica psicológica

“Avaliação do rendimento e trabalho dos pontos fracos” é a que constitui um maior número

de correlações com os fatores pessoais (ver tabela 5).

A tabela 6 apresenta as diferenças entre os escalões competitivos relativamente às

caraterísticas/qualidades da excelência. Os resultados do Testes t para Amostras

Independentes apontam diferenças significativas entre o escalão competitivo júnior/juvenil e o

sénior ao nível de três caraterísticas da excelência: a) apoio para sucesso a longo prazo, t

(101) = -3.40, p = .001, sendo que os juniores/juvenis relatam maior apoio; b) uso da

visualização mental durante o treino e a competição, t (101) = -2.88, p = .005, sendo que os

séniores relatam menor uso da visualização mental; c) capacidade para organizar e

envolvimento em treino de qualidade, t (103) = -2.02, p = .046, assim como os

juniores/juvenis relatam uma maior capacidade e envolvimento em treino de qualidade.

Tabela 6

Diferenças no grupo júnior/juvenil vs sénior ao nível das 6 caraterísticas/qualidades da

excelência

Júnior/Juvenil

(n = 38)

M (DP)

Sénior

(n = 71)

M (DP)

t

Apoio para sucesso a longo prazo 4.95 (.83) 4.35 (.87) -3.40**

Uso da visualização mental durante o treino e a 4.86 (.73) 4.44 (.71) -2.88**

16

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competição

Coping com pressões de rendimento e

desenvolvimentais4.23 (.89) 4.57 (.70) 1.80+

Capacidade para organizar e envolvimento em treino

de qualidade4.85 (.70) 4.58 (.63) -2.02*

Avaliação do rendimento e trabalho dos “pontos

fracos”5.08 (.73) 4.92 (.70) -1.11

Apoio de outros para competir ao nível do potencial

pessoal5.01 (.76) 4.69 (.83) -1.96+

Nota. +p < .10. * p < .05. ** p < .01.

De modo a comprovar a pesquisa efetuada nesta investigação, no gráfico 1 são

apresentados os valores médios comparativos dos estudos de MacNamara & Collins (2013) e

Castro (2013) com os do presente estudo.

Gráfico 1

Valores médios comparativos entre os três estudos

Apoio para suce

sso a lo

ngo prazo

Uso da vi

sualiz

ação m

ental durante o tr

eino e a competiçã

o

Coping com pressõ

es de re

ndimento e dese

nvolvi

mentais

Capacidade para organiza

r e envo

lvimento em tr

eino de qualidade

Avalia

ção do re

ndimento e tr

abalho dos “pontos f

racos”

Apoio de outros p

ara competir a

o nível d

o potencial p

essoal

0

1

2

3

4

5

6

MacNamara & Collins (2013) Castro (2013) Presente estudo

17

Page 27: repositorium.sdum.uminho.ptrepositorium.sdum.uminho.pt/.../1/jc-ricardo-Tese.definitiva-R.docx  · Web viewNa tabela 1 encontram-se descritas as caraterísticas demográficas dos

A partir da leitura do gráfico, é possível reter que os scores médios das 6

caraterísticas/qualidades da excelência foram semelhantes para os três estudos, com exceção

do fator “coping com pressões de rendimento e desenvolvimentais” presente no estudo de

Castro (2013). Esta diferença justifica-se na medida em que este autor codifica este fator

através de uma visão de défice, quando no presente estudo o respetivo fator é conotado

através de uma visão de competência. Os dados do presente estudo revelam uma semelhança

na amostra vivente nesta investigação, quando comparada aos outros dois estudos.

Discussão e Conclusão

Dado que a maioria dos estudos realizados acerca do desenvolvimento da excelência

recorre ao uso de relatos retrospetivos, este estudo representa uma oportunidade de explorar

junto de jovens atletas, quais os fatores pessoais e contextuais que estão associados ao

desenvolvimento da excelência e analisar padrão de relações das características da excelência

em desenvolvimento com outros constructos teoricamente relevantes. Para além disso,

verificou a possível existência de diferenças em função do escalão competitivo. Por fim, dada

a ausência de dados suficientes de validação do questionário “Psychological Characteristics of

Developing Excellence Questionnaire” (MacNamara & Collins, 2011) para a população

portuguesa, este estudo passou ainda por contribuir para a adaptação e validação desta medida

específica do domínio (contextos desportivos).

Quanto ao primeiro objetivo proposto, constatamos que as características psicológicas

presentes no questionário da excelência apresentam um maior número de correlações

significativas com as variáveis contextuais em estudo, quando comparadas com as correlações

referentes às variáveis pessoais. Especificamente em relação aos fatores contextuais,

verificou-se que as caraterísticas psicológicas para o desenvolvimento da excelência estão

correlacionadas de forma significativa com vários fatores contextuais. Quanto à variável

contextual distratibilidade, verificou-se que quanto menor a propensão dos atletas para se

distrair no treino, maior a capacidade para organizar e envolver-se num treino de qualidade,

caraterística essa presente no desenvolvimento da excelência. Resultado esse que está de

acordo com Gould et al., (2002), onde indicam que os atletas de elite possuem a capacidade

de bloquear as distrações. Relativamente à qualidade da preparação, qualidade essa

conceptualizada a partir das estratégias e objetivos que são praticados no treino para o uso nas

18

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competições posteriores, esta foi correlacionada com várias caraterísticas psicológicas,

destacando-se o uso da visualização mental durante o treino e competição. Sendo que

MacNamara, Button & Collins já em 2010 identificaram a visualização mental como uma das

caraterísticas psicológicas para desenvolver a excelência. Quanto aos fatores compromisso e

lidar com a adversidade, verificaram-se correlações positivas e estatisticamente significativas

com várias caraterísticas psicológicas no desenvolvimento do talento, confirmando os

resultados obtidos por Ericsson (1993), Howe (1999) e Gould et al., (2002) em que destacam

que para o alcance do sucesso é necessário compromisso, determinação e a capacidade de

perseverança face às dificuldades.

Já em relação aos fatores pessoais, verificou-se que as caraterísticas psicológicas para

o desenvolvimento da excelência estão correlacionadas de forma significativa com diversos

fatores pessoais. De todos os fatores pessoais, destaca-se a variável positividade, dado que se

correlaciona de forma positiva e estatisticamente significativa com as seis caraterísticas

psicológicas para o desenvolvimento do talento. Estes resultados estão de acordo com Gould e

colaboradores (2002), em que indicam que elevados níveis de confiança, discurso interno e

uma elava orientação para o positivismo são variáveis centrais para a caraterização dos atletas

excecionais. Para além da positividade, dentro dos fatores pessoais, destaca-se ainda a

variável coping ativo como estando correlacionada positivamente com várias caraterísticas

psicológicas presentes na excelência. Os resultados vão assim ao encontro daquilo que era

esperado, pois tal como indicou van Yperen (2009), os indivíduos bem-sucedidos recorrem

ativamente a estratégias de coping focadas no problema, em oposição aos malsucedidos.

Quanto ao segundo objetivo, verificar possíveis diferenças entre os escalões

competitivos relativamente às caraterísticas/qualidades da excelência, os resultados apontaram

diferenças significativas entre o escalão competitivo júnior/juvenil e o sénior ao nível de três

caraterísticas da excelência: apoio para sucesso a longo prazo (maior apoio nos juniores), uso

da visualização mental durante o treino e a competição (seniores usam menos) e capacidade

para organizar e envolvimento em treino de qualidade (maior nos juniores). Estas diferenças

entre juniores e seniores poderão ser explicadas através do maior apoio recebido pelos atletas

mais novos, nomeadamente apoio parental, ou poderá ser explicado pelo treino, uma vez que

recebe esse maior apoio o que poderá ter influência no atleta.

Relativamente ao terceiro objetivo deste estudo, contribuir para a adaptação e

validação do questionário “Psychological Characteristics of Developing Excellence

19

Page 29: repositorium.sdum.uminho.ptrepositorium.sdum.uminho.pt/.../1/jc-ricardo-Tese.definitiva-R.docx  · Web viewNa tabela 1 encontram-se descritas as caraterísticas demográficas dos

Questionnaire” (MacNamara & Collins, 2011), através da comparação dos scores obtidos em

cada um dos seis fatores com os obtidos nos estudos de MacNamara & Collins (2013) e

Castro (2013), pudemos constatar a semelhança entre os três estudos.

O presente estudo não está isento de limitações. A primeira limitação refere-se ao

tamanho da amostra, uma vez que esta poderá ter impacto na generalização dos resultados.

Para além disso, uma vez que estamos perante uma amostra tão heterogénea, tal não nos

permite avaliar diferenças quer ao nível do género, uma vez que o sexo masculino é

constituído por um número de participantes consideravelmente maior, quer ao nível do tipo de

modalidade, visto que existem várias modalidades com grandes quantidades de atletas, e

outras modalidades com um número reduzido dos mesmos.

Por fim, tal como o próprio estudo tenta conhecer melhor as etapas iniciais do

desenvolvimento de talentos, trabalhando com jovens atletas, é recomendado que

investigações futuras também procedam do mesmo modo, permitindo assim identificar e

trabalhar nos fatores associados ao sucesso, numa idade precoce do desenvolvimento. Por

outro lado, poderá tornar-se interessante realizar um estudo com um número maior e mais

equilibrado de participantes de diferentes géneros e tipos de modalidade, de forma a perceber

quais as diferenças entre estes.

Na prática, este estudo permite avaliar a implementação de caraterísticas psicológicas

durante o desenvolvimento dos atletas, ajudando a perceber que as características psicológicas

alteram de importância ao longo da progressão dos atletas. Por sua vez, a contribuição para a

validação do questionário em questão, permite que aos atletas receberem feedback, de modo a

melhorar pontos menos fortes. Pode ainda colaborar na orientação de programas de treino,

tornando-se relevante para os treinadores.

Em termos de conclusão, os resultados apontam um conjunto de variáveis pessoais e

contextuais como estando positivamente correlacionadas com as caraterísticas psicológicas

para o desenvolvimento da excelência, ressalvando a importância que cada um destes fatores

assume na compreensão do desenvolvimento e manutenção de desempenhos de alto nível no

desporto. Restritamente, a ideia de que o caminho para a elite passa exclusivamente pelas

qualidades físicas dos atletas é plenamente errónea, destacando-se variáveis psicológicas,

pessoais e contextuais com mais poder.

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Page 30: repositorium.sdum.uminho.ptrepositorium.sdum.uminho.pt/.../1/jc-ricardo-Tese.definitiva-R.docx  · Web viewNa tabela 1 encontram-se descritas as caraterísticas demográficas dos

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