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Plano Nacional de Capacitação em Arranjos Produtivos Locais

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Plano Nacional de Capacitao em Arranjos Produtivos Locais

Plano Nacional de Capacitao em Arranjos Produtivos Locais (PNC/APLs)

Verso Final

Contrato de Prestao de Servios N 22/2012

Convite N 007/2012 Processo N 3754/2012

Contrato firmado entre a Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial ABDI e Savi E Geremia Planejamento, Consultoria & Auditoria LTDA.

Plano Nacional de Capacitao em Arranjos Produtivos Locais (PNC / APLs)

(Verso Final)

Execuo:

SAVI E GEREMIA PLANEJAMENTO, CONSULTORIA & AUDITORIA LTDA.

Equipe Tcnica:

Prof. Dr. Fabio Stallivieri (coordenador tcnico)

Prof. Dr. Ana Lcia Tatsch

Prof. Dr. Jos Eduardo Cassiolato;

Prof. Dr. Marina Szapiro;

Prof. Dr. Jorge Britto

Sumrio

Apresentao

5

1. Referencial Analtico e Metodolgico

6

1.1 Uma Retomada do Debate sobre Aglomeraes Industriais

7

1.2 O Enfoque Analtico e Metodolgico de Arranjos Produtivos Locais

11

1.3 Definio do Objetivo, Diretrizes e Metodologia.

21

2. Tendncias Gerais relativas Capacitao de Agentes Gestores de APLs

24

2.1 Evidncias da Experincia Internacional na Capacitao de Agentes em APLs

24

2.2 Evidncias da Experincia Brasileira na Capacitao de Agentes em APLs

55

3. Identificao e Definio dos Pblicos-Alvo

62

3.1 Definio de Pblicos-Alvo e Competncias a Serem Desenvolvidas

66

3.1.1 Formuladores e executores de poltica

67

3.1.1.1 Competncias a serem desenvolvidas pelos formuladores e executores de poltica

68

3.1.1.2 Metas de Atendimento do pblico-alvo de formuladores e executores de poltica

70

3.1.2 Gestores e multiplicadores locais

71

3.1.2.1 Competncias a serem desenvolvidas pelos gestores e multiplicadores locais

71

3.1.2.2 Metas de atendimento do pblico-alvo de gestores e multiplicadores locais

72

3.1.3 Agentes Produtivos Locais

72

3.1.3.1 Competncias a serem desenvolvidas pelos empreendedores e agentes produtivos locais

73

3.1.3.2 Metas de Atendimento do pblico-alvo de empreendedores e agentes produtivos locais

74

4. Definio dos Mdulos e das Disciplinas

75

4.1 Curso para Formuladores e Executores de Polticas para APLs

75

4.1.1. Definio dos mdulos para os cursos de formuladores e executores de polticas

75

4.1.2 Definio das disciplinas e bibliografia sugerida para os mdulos para os cursos de formuladores e executores de polticas

80

4.1.3 Disposies gerais e mecanismos de avaliao dos cursos de formuladores e executores de polticas

94

4.2 Curso para Gestores e Multiplicadores Locais

97

4.2.1. Definio dos mdulos para os cursos de gestores e multiplicadores locais

97

4.2.2 Definio das disciplinas e bibliografia sugerida para os mdulos do curso de gestores e multiplicadores locais

99

4.2.3 Disposies gerais e mecanismos de avaliao do curso de gestores e multiplicadores locais

108

4.3 Curso para Empreendedores e Agentes Produtivos Locais

110

4.3.1. Definio dos mdulos para o curso de empreendedores e agentes produtivos locais

110

4.3.2 Definio das disciplinas e bibliografia sugerida para o mdulo do curso de empreendedores e agentes produtivos locais

112

4.3.3 Disposies gerais e mecanismos de avaliao do curso de empreendedores e agentes produtivos locais

115

5. Instrumentos de Monitoramento e Avaliao do Plano Nacional de Capacitao em APLs

117

REFERNCIAS

128

Anexos

138

Apresentao

Este documento refere-se verso final do Plano Nacional de Capacitao em Arranjos Produtivos Locais (PNC/APLs). A proposta aqui apresentada foi discutida e validada pelas instituies que integram o Grupo de Capacitao do Grupo de Trabalho Permanente para Arranjos Produtivos Locais (GTP / APLs) do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC).

O PLC/APLs esta estruturado em 5 captulos. O primeiro captulo apresenta o referencial analtico e metodolgico que embasa o plano, bem como os procedimentos metodolgicos adotados e os objetivos do mesmo. O segundo captulo desenvolve uma anlise das principais tendncias referentes implementao de estratgias de capacitao em agentes atuantes em APLs, tanto no mbito das aes Unio Europeia, quanto nas aes implementadas por instituies brasileiras. A identificao dos Pblicos-Alvo, das competncias demandas pelos mesmos, em funo do referencial analtico e metodolgico adotado e as metas de atendimento de cada pblico so apresentadas no captulo trs. O captulo quatro identifica os mdulos que integram cada um dos cursos, para os diferentes pblicos-alvo, bem como as disciplinas destes mdulos e os demais procedimentos pedaggicos. Por fim o ltimo captulo apresenta alguns procedimentos relacionados avaliao do plano Nacional de Capacitao em Arranjos Produtivos locais. 0

1. Referencial Analtico e Metodolgico

A partir da dcada de 80, a busca de um novo marco analtico e metodolgico voltado para o estudo da dinmica competitiva e da dimenso localizada do aprendizado tecnolgico e da inovao resultou no desenvolvimento de mltiplas abordagens e enfoques sobre aglomeraes territoriais de empresas. Tais contribuies lograram demonstrar a importncia de fatores culturais, polticos e institucionais associados dimenso territorial nos padres de aprendizado tecnolgico e de inovao, numa clara contraposio aos argumentos sobre a crescente desterritorializao da economia contempornea induzida pelo fenmeno da globalizao.

No Brasil, a partir do final dos anos 1990, foi concedida ateno especial a estas aglomeraes. A nfase no local levou ao desenvolvimento do termo, amplamente difundido, de Arranjos Produtivos Locais (APLs). O foco analtico em APLs foi desenvolvido como um novo instrumental para entender e orientar o desenvolvimento industrial e tecnolgico. Entende-se a produo e a inovao como processos sistmicos, que resultam da articulao de distintos atores e competncias. Isso explica porque as novas polticas de desenvolvimento produtivo e inovativo visam mobilizar esses elementos, com o objetivo de ampliar a capacidade de gerar, assimilar e usar conhecimentos. Esta terminologia tem sido crescentemente utilizada tanto por grupos de pesquisa, preocupados em entender os processos de desenvolvimento caractersticos do atual estgio do capitalismo, como por diversas agncias de polticas pblicas e privadas encarregadas de promover o desenvolvimento da produo de bens e servios. De fato, no Brasil, as polticas de apoio e desenvolvimento regional tm incorporado de forma crescente o conceito de APLs.

Este captulo busca resgatar os principais conceitos referentes anlise das aglomeraes produtivas, ressaltando a importncia do territrio como fonte de dinamismo e de gerao de novos conhecimentos. Para tanto este captulo est dividido em duas sees. A primeira seo destaca as principais referncias tericas referentes ao conceito de aglomeraes produtivas, resgatando as concepes originais de Marshall e demonstrando a evoluo apresentado no entendimento destas estruturas. Na segunda seo destaca-se o referencial metodolgico e analtico de Arranjos Produtivos Locais, ressaltando os fatores que geram dinamismo nestas estruturas.

1.1 Uma retomada do debate sobre aglomeraes produtivas

O debate sobre aglomeraes industriais remete ao conceito de distrito industrial (DIs) originalmente desenvolvido por Marshall (1988). Marshall destacava que pequenas empresas agrupadas regionalmente e atuando num mesmo setor produtivo podem obter economias de escala antes somente acessveis s grandes empresas. Cor (2002) acrescenta que o conceito de distrito industrial ficou margem de anlise econmica por quase um sculo aps a concepo original de Marshall. Este fato deriva das condies histricas, dadas pelo paradigma fordista para o qual aglomeraes produtivas s podiam representar um papel complementar em relao grande corporao, trabalhando nas linhas de subfornecimento e buscando espaos de produo excludos da lgica das economias de escala.

A passagem de produo em massa para a produo flexvel, somado ao impulso contnuo da cincia e da inovao tecnolgica, alteram constantemente os fatores de vantagens competitivas, favorecendo os sistemas produtivos com caractersticas tcnicas, organizacionais e sociais mais flexveis.

A globalizao das relaes produtivas e dos mercados, cujo resultado um crescimento tanto das presses competitivas, quanto das potencialidades de diviso tcnica e social do trabalho, refora a importncia de um posicionamento vantajoso das aglomeraes produtivas, graas a caractersticas marcantes dos espaos locais, como sua tradio manufatureira, alta qualidade e reputao crescente (COR, 2002).

Cassiolato (2002) destaca que, na anlise de aglomerados produtivos, as vises no so somente diversas, mas tambm conceitualmente difusas, sendo possvel desenvolver diferentes taxonomias. Markussem (1996) salienta quatro tipos de aglomeraes produtivas em sua tipologia: o distrito industrial Marshalliano do tipo italiano, o distrito industrial ancorado pelo Estado, o distrito industrial had and spoke, com uma, ou mais, grande empresa ncora e o distrito industrial plataforma satlite, tendo como uma de suas formas as zonas de processamento de exportaes, por exemplo. J Stoper (1997), destaca na sua taxionomia a ideia de territorializao, em que a proximidade geogrfica desenvolve ativos especficos, gerando spillovers e externalidades positivas.

Assim, o xito destas estruturas decorre no tanto do acesso vantajoso a fatores de produo a baixo custo, como mo-de-obra, insumos e capital barato, mas, sobretudo, de uma organizao social e econmica eficaz. Os habitantes locais devem apresentar caractersticas socioculturais, valores e instituies em simbiose com o processo de desenvolvimento prprio das atividades relacionadas aglomerao produtiva.

As aglomeraes produtivas espacialmente localizadas so uma alternativa para proporcionar um desenvolvimento regional endgeno, reduzindo a dependncia de fatores exgenos. A competitividade destes sistemas depende da capacidade de responder a estmulos externos sem perder a sua prpria identidade. Quando a estrutura interna do sistema local envolvendo padres de especializao produtiva, o acumulo de competncias distintas, a estruturao de instituies reguladoras e consolidao da cultura da sociedade local - entra em sintonia com as transformaes do cenrio econmico global, h uma compatibilizao da estrutura interna do sistema local, com a externa, a global. Esta abordagem acentua tanto os recursos especficos do local, quanto os processos de interao e troca no nvel global. O sucesso competitivo dessas aglomeraes resultado de um processo de acoplamento estrutural com a economia global, facilitado pela integrao verstil e mantendo a identidade do sistema local (COR, 2002).

Alm destas caractersticas, e numa viso mais abrangente sobre a competitividade tanto de firmas, quanto de pases e regies, nota-se a importncia crescente atribuda consolidao de prticas cooperativas e aos processos de aprendizado por interao vinculada viso sistmica do processo de inovao. Nesta perspectiva, a capacidade de gerao, difuso e utilizao de novos conhecimentos consolida-se como um processo que transcende a esfera da firma individual e passa a depender da contnua interao entre firmas e destas com outras organizaes e instituies que constituem sistemas de inovao em diferentes mbitos (VARGAS, 2002). Em particular, esse modelo interativo de inovao ressalta a relevncia da cooperao entre firmas e demais instituies e, portanto, o papel dos vnculos e redes envolvendo diferentes organizaes.

A aglomerao territorial de empresas tende a facilitar o engajamento destes atores em processos de aprendizado interativo. Neste tipo de ambiente, o conhecimento tende a se tornar incorporado no somente nas qualificaes individuais e nos procedimentos e rotinas das organizaes, como tambm no prprio ambiente local ou nos vnculos de interao entre os diferentes atores e desenhos institucionais. A habilidade das empresas em criar conhecimento vai capacit-las a interagir com os demais atores locais num processo de aprendizado coletivo, no qual conhecimentos que so em parte codificados e em parte tcitos so trocados e utilizados. Neste aspecto, capacitaes localizadas se refletem no conhecimento incorporado em indivduos, empresas e na prpria estrutura institucional presente na aglomeraes produtivas.

No obstante essa percepo sobre a importncia crescente que assumem as prticas cooperativas o aprendizado localizado no mbito de aglomeraes produtivas, verifica-se que existem ainda lacunas considerveis na anlise tanto das formas de mensurao destes processos como do seu impacto efetivo sobre o desempenho inovativo de empresas articuladas em torno destas estruturas. Neste sentido, possvel ressaltar algumas dimenses fundamentais do processo de consolidao de prticas cooperativas e seus desdobramentos em termos do fortalecimento de mecanismos coletivos de aprendizado.

Como ponto de partida para esta discusso, cabe destacar trs suposies bsicas que orientam o esforo de investigao realizado. A primeira delas baseia-se na constatao de que as aglomeraes produtivas constituem um lcus de aglutinao e criao de competncias, por meio de processos coletivos de aprendizado institucionalmente condicionados. A segunda suposio decorre da anterior e pressupe que o mapeamento e avaliao das prticas interativas so fundamentais para a compreenso das caractersticas dos processos de aprendizado em aglomeraes produtivas. A terceira suposio procura instrumentalizar a anterior, ressaltando a articulao existente entre consolidao de prticas cooperativas, aprofundamento do aprendizado por interao e o fortalecimento da competitividade e capacitao dos agentes.

A hiptese que as aglomeraes produtivas so estruturas intrinsecamente heterogneas afeta diretamente a possibilidade dos mesmos operarem como instncia de mediao entre a firma e o ambiente externo, que amplia a capacidade de absoro de conhecimentos potencialmente teis para o reforo da eficincia e da competitividade dos agentes. Nesse sentido, til considerar distino entre fontes internas e externas de conhecimentos apropriados no processo de aprendizado, ressaltada na anlise de Cohen e Levinthal (1989). Nesta anlise, a ampliao do estoque de conhecimentos definida como uma funo dos investimentos em P&D da firma e de fontes externas de conhecimentos, a qual pode ser expressa atravs da seguinte equao:

Z = Mi + Yi (Mj + T), onde:

Z = ampliao do estoque de conhecimentos da firma i;

Mi = investimento da firma em P&D;

Yi = capacidade de absoro do conhecimento externo;

Mj = investimentos de outras firmas em P&D;

= medida de spill-over (0 1);

T = conhecimento externo indstria potencialmente absorvvel pela firma.

Cohen e Levinthal ressaltam que a importncia dos gastos em P&D realizados por uma firma particular refere-se no apenas ao reforo da sua capacidade de absoro de conhecimentos externos, mas tambm possibilidade dela identificar oportunidades tecnolgicas capazes de aumentar sua eficincia e lucratividade[footnoteRef:1]. Dois fatores que afetam a explorao de oportunidades tecnolgicas so incorporados ao modelo. O primeiro deles diz respeito a uma determinada quantidade de conhecimentos externos, que podem se converter em fontes de novas oportunidades. Essa possibilidade se expressa no valor da varivel T, cuja definio suficientemente ampla para abarcar conhecimentos provenientes de laboratrios pblicos, universidades e de fornecedores de insumos e equipamentos. O segundo fator, no captado diretamente na equao e sim na relao que articula a expanso do estoque de conhecimentos da firma ampliao de sua rentabilidade, refere-se maneira como novos conhecimentos afetam o desempenho tecnolgico dos produtos e processos da firma em questo. [1: Algumas observaes relativas aos componentes da equao so ilustrativas. Quanto capacidade de absoro, verifica-se que ela localiza-se no intervalo 0 Y 1, o qual expressa duas situaes-limite: na primeira (Y=1), a firma capaz de absorver todo conhecimento que se encontra disponvel como domnio pblico; na segunda (Y=0), nenhum conhecimento externo absorvido. Esta capacidade de absoro funo no apenas dos investimentos em P&D realizados in-house, mas tambm de uma varivel que expressa a adequao do conhecimento externo s necessidades da firma. Assim, a apropriao do conhecimento externo modulada pelos valores de Y e , que expressam, respectivamente, uma determinada capacidade de absoro (que funo dos prprios gastos em P&D realizados internamente) e a adequao do conhecimento externo s necessidades da firma.]

Com base no modelo de Cohen e Levinthal (1989), possvel tecer alguns comentrios sobre impactos da consolidao de aglomeraes produtivas em termos do aprofundamento de mecanismos de aprendizado. Basicamente, estas aglomeraes redefinem a dicotomia entre fontes internas e externas de conhecimentos, na medida em que conformam uma instncia intermediria de interao entre agentes que possibilita uma formatao desses conhecimentos em funo das exigncias do processo competitivo, atravs da integrao de competncias complementares. Considerando o modelo proposto, trs impactos principais podem ser mencionados. Em primeiro lugar, o estabelecimento de laos sistemticos entre firmas aumenta a capacidade de absoro de cada uma delas para um mesmo montante de esforo inovativo realizado, na medida em que favorece a compatibilizao dos padres cognitivos e dos procedimentos de busca adotados pelos diferentes agentes. Em segundo lugar, o efeito vazamento (spillover) associado s fontes externas de conhecimento tende a ser reforado, devido existncia de canais sistemticos de interligao entre os diversos agentes locais. Em terceiro lugar, o intercmbio sistemtico de informaes entre agentes ao nvel local favorece uma maior coordenao das estratgias implementadas localmente. Em consequncia, os conhecimentos gerados tendem a estar melhor calibrados em relao s necessidades das firmas inseridas em aglomeraes, o que favorece o processo de absoro. Portanto, resumidamente, as referncias destacadas apontam que agentes inseridos em aglomeraes produtivas possuem maiores possibilidades de elevarem suas capacitaes produtivas e inovativas em funo dos diversos fatores destacados.

1.2 O enfoque analtico e metodolgico de Arranjos Produtivos Locais:

Segundo os trabalhos desenvolvidos pela RedeSist[footnoteRef:2], a abordagem metodolgica de Arranjos Produtivos Locais - APLs - destaca o papel central da inovao e do aprendizado interativo, como fatores de competitividade sustentada, e constitui uma alternativa ao foco tradicional de setores econmicos e empresas individuais (LASTRES e CASSILATO, 2003, p.3). Neste sentido, arranjos e sistemas produtivos locais podem ser definidos da seguinte maneira: [2: A Rede de Sistemas Produtivos e Inovativos Locais RedeSist uma rede de pesquisa interdisciplinar, formalizada desde 1997, sediada no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e que conta com a participao de vrias universidades e institutos de pesquisa no Brasil, alm de manter parcerias com outras instituies do exterior (LASTRES e CASSIOLATO, 2003).]

Arranjos produtivos locais so aglomeraes territoriais de agentes econmicos, polticos e sociais - com foco em um conjunto especfico de atividades econmicas - que apresentam vnculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participao e a interao de empresas - que podem ser desde produtores de bens e servios finais at fornecedores de insumos e equipamentos, prestadoras de consultorias e servios, comercializadoras, clientes, entre outros - e suas vrias formas de representao e associao. Incluem tambm diversas outras instituies pblicas e privadas voltadas para: formao e capacitao de recursos humanos, como escolas tcnicas e universidades; pesquisa, desenvolvimento e engenharia; poltica, promoo e financiamento.

Sistemas produtivos e inovativos locais so aqueles arranjos produtivos em que a interdependncia, articulao e vnculos consistentes resultam em interao, cooperao e aprendizagem, possibilitando inovaes de produtos, processos e organizacionais, gerando maior competitividade empresarial e capacitao social (LASTRES, et al. 2002, p.13).

Embora existam vrias abordagens[footnoteRef:3] que tratam destas aglomeraes de forma similar, este trabalho privilegia os conceitos acima descritos[footnoteRef:4]. A ideia de aglomerao espacial est associada competitividade, valorizando a cooperao entre os agentes e a capacidade de gerar inovaes, fator-chave no sucesso de empresas e naes. O aumento da interdependncia entre os atores, como fomento da competitividade local, conduz especializao, num ambiente socioeconmico comum, gerando capacitaes em nvel da firma, que permitem a ela (e aos demais agentes com os quais ela interage) competir num mundo cada vez mais sem fronteiras (VARGAS, 2002). [3: Cadeias produtivas, clusters, distritos industriais, mileu inovativo, polos e parques cientficos e tecnolgicos, entre outras.] [4: Desenvolvidos no escopo dos trabalhos da RedeSist.]

Estas aglomeraes industriais so caracterizadas por fatores relacionados dimenso territorial, diversidade de atividades e atores econmicos, polticos e sociais, existentes no local, aos conhecimentos tcitos que circulam no arranjo, aos processos especficos de inovao e aprendizado interativo, e s formas de governana existentes (LASTRES e CASSIOLATO, 2003). Conforme Cassiolato e Szapiro (2002) e Lastres e Cassiolato (2003), a governana, no caso especfico dos APLs, refere-se aos diferentes modos de coordenao entre os agentes e atividades, que envolvem da produo distribuio de bens e servios, assim como o processo de gerao, disseminao e uso de conhecimentos e de inovaes. Existem diferentes formas de governana e hierarquia nos sistemas e arranjos produtivos. Para Vargas (2002), a dinmica dos arranjos no deve ser desvinculada das formas de governana. A governana permite analisar a influncia de atores locais e externos na coordenao dos sistemas de produo e na trajetria de desenvolvimento da capacitao produtiva e da capacidade inovativa das empresas.

Cassiolato e Szapiro (2002) relacionam duas formas de governana nos arranjos produtivos: formas hierrquicas, em que a autoridade internalizada dentro de grandes organizaes; e as formas de redes, constatando-se um elevado nmero de relaes externas entre um amplo nmero de agentes, sem que nenhum deles seja dominante. Deve-se entender sob que sistemas de coordenao se estabelecem as relaes de carter local entre empresas e instituies.

O grau de territorializao (dimenso territorial) da atividade produtiva local tambm influencia na configurao e dinmica do arranjo, pois se refere aos ativos especficos do local que podem diferenci-lo de outras aglomeraes. Segundo Lastres e Cassiolato (2003, p.4), na abordagem de APLs, a dimenso territorial constitui o recorte especfico de anlise de ao de poltica, definindo o espao onde os processos produtivos, inovativos e cooperativos tm lugar, tais como: municpios ou reas de municpios, conjunto de municpios, microrregies; conjunto de microrregies, entre outros. A proximidade ou concentrao geogrfica leva ao compartilhamento de vises e valores econmicos, sociais e culturais, constituindo-se em fonte de dinamismo local, bem como de diversidade e de vantagens competitivas em relao a outras regies. Na ideia de territorializao, a proximidade geogrfica desenvolve ativos especficos, gerando spillovers[footnoteRef:5] e externalidades positivas. [5: Spillovers relacionam-se com o efeito vazamento, no qual, pela proximidade geogrfica, certos conhecimentos vazam de uma empresa para outra.]

Quanto ao conhecimento, cabe salientar que a soluo de problemas tecnolgicos implica o uso e aplicao de conhecimentos adquiridos. Estes conhecimentos podem ser tanto formais, de fcil codificao e transmisso, quanto informais, que no so facilmente transferidos e so adquiridos atravs de prticas cotidianas. Eles tambm podem ser universais, aplicveis a uma ampla gama de tecnologias, ou especficos, aplicveis a uma tecnologia em particular; de carter pblico, disponvel a todos os agentes, ou privado, apropriado e construdo por agentes individuais. O conhecimento no deve ser visto somente como informao processada, mas tambm como um processo de busca de respostas a problemas identificados pelos agentes, estimulando, pela cumulatividade, o desenvolvimento de novas solues (FRANSMAN, 1994).

Na concepo de Lastres e Cassiolato (2003) nos APLs, verificam-se processos de gerao, compartilhamento e socializao de conhecimentos por parte de empresas, instituies e indivduos, particularmente de conhecimentos tcitos[footnoteRef:6], que esto implcitos e incorporados em indivduos, organizaes e at regies. Este tipo de conhecimento exibe forte especificidade local, decorrente da proximidade geogrfica e / ou de identidades culturais, sociais e empresariais. Isto facilita sua circulao em organizaes ou contextos geogrficos especficos, mas dificulta ou mesmo impede seu acesso por atores externos a tais contextos, tornando-se, portanto, elemento de vantagem competitiva de quem os detm. [6: Aquele tipo de conhecimento que no est codificado.]

Para Dosi (1988), a inovao concerne busca, descoberta, experimentao, desenvolvimento, imitao e adoo de novos produtos, processos e formas de organizao. O autor ainda ressalta que o resultado tcnico da inovao no pode ser conhecido ex-ante, que a atividade inovadora motivada por lucros e envolve a percepo do inexplorado, e que a falta de conhecimento sobre resultados faz com que a inovao tenha fortes elementos de incerteza. A incerteza deriva de problemas tcnico-econmicos, em que a soluo e procedimentos so desconhecidos, assim como pela impossibilidade de traar precisamente as consequncias das aes precedentes.

Na histria econmica, a grande parte das inovaes que abriram novas oportunidades surgiram de avanos na cincia. O processo de busca tem mudado nas ltimas dcadas, aumentando a complexidade da pesquisa bsica e requerendo uma organizao formal da atividade inovativa, em laboratrios de P&D, no interior das prprias organizaes, bem como o desenvolvimento de certas competncias internas firma, que a tornem apta a captar as mudanas tecnolgicas, tanto em produtos, quanto em processos. Dosi (1988) acrescenta que o lcus do processo inovativo a firma. Isto porque, parte das inovaes e melhoramentos so orientados por meio dos processos de fazer e de atividades informais na soluo de problemas enfrentados.

A evoluo da firma no simples, lenta e gradual, tampouco aleatria. Ela evolui num sentido determinado pelas competncias acumuladas e pela natureza de suas atividades especficas. Mudanas so determinadas por oportunidades tecnolgicas defrontadas pelas firmas, mas a histria conta e a firma s aproveitar estas oportunidades se possuir uma base acumulada de conhecimentos adquiridos. Conforme Rosemberg (1994), o conhecimento cientfico e tecnolgico segue um processo histrico (path-dependence) o qual, pela cumulatividade, traz fortes influncias do passado e pode determinar, desta forma, novos caminhos para a mudana. O novo conhecimento no deixa de pertencer a um caminho que veio sendo percorrido no passado.

Rosemberg (1982) diz que a inovao tecnolgica um processo de aprendizagem de fato, com diferentes e distintos tipos de processo de aprendizado na gerao de novas tecnologias. Malerba (1992) faz algumas consideraes sobre o aprendizado: 1) aprendizado um processo custoso e direcionado, que ocorre no interior das firmas no domnio da produo, designer, engenharia, P&D, etc.; 2) o aprendizado ligado a diferentes fontes de conhecimento, tanto internas quanto externas; 3) aprendizado cumulativo e amplia o estoque de conhecimento da firma, s que o tipo de aprendizado afeta o tipo de estoque de conhecimento que as firmas possuem; 4) os estoques de conhecimento especficos da firma geram o maior nmero de inovaes locais e incrementais, inovaes derivadas do desenvolvimento de avanos cumulativos dos estoques j existentes. A aprendizagem por meio das firmas um dos mais significativos processos dinmicos que ocorrem na indstria. Vrias anlises colocam o aprendizado como uma fora de criao de barreiras entrada.

Os processos de aprendizado no so homogneos e mostram uma certa variedade (Malerba, 1992). O learning by doing requer conhecimentos internos e est relacionado atividade produtiva. O learning by using exige conhecimentos internos e externos e relaciona-se ao uso de produtos, insumos, mquinas, resultando em melhoramentos no produto e nos processos. O learning from advances em S&T externo firma e diz respeito a avanos em C&T. O learning from inter-industry spillovers externo firma e tange interao com fontes de conhecimento, tais como clientes, fornecedores de bens de capital e com outras firmas. O learning by searching interno firma e relaciona-se com atividades formais que geram novos conhecimentos. As firmas podem, e devem, inter-relacionar vrias formas de aprendizado.

Malerba (1992) aponta que a raiz da mudana tcnica incremental reside na aprendizagem das firmas. Neste sentido, as firmas seriam organizaes de aprendizado, para a aquisio, acumulao e gerao de conhecimentos. O autor ainda completa que o aprendizado no um bem livre, mas, antes disto, um bem caro, concentrado e multidimensional, e assinala que o aprendizado nas firmas no ocorre do nada, fontes externas de conhecimento desempenham uma grande fora na acumulao de estoque de conhecimento da firma e na gerao de trajetrias. Enfatiza-se, aqui, a crescente importncia das polticas pblicas e do arcabouo institucional, no suporte de P&D e na difuso de tecnologias.

No contexto das firmas, a capacidade de construir novas competncias tornou-se o principal fator para o estabelecimento de vantagens competitivas; a construo e a reconstruo das habilidades organizacionais e tecnolgicas esto relacionadas ao processo de aprendizado; a firma encarada como um repositrio de conhecimento; e a inovao e o conhecimento so os elementos centrais da dinmica e do crescimento de naes, regies e organizaes. O aprendizado tem um papel fundamental para a construo de novas competncias e para a obteno de vantagens competitivas, desenvolvendo habilidades tanto em nvel organizacional quanto individual, e deriva de aes estratgicas coletivas, bem como individuais (CAMPOS, 2002).

De acordo com Lastres e Cassiolato (2003, p.4), nos APLs, o aprendizado interativo[footnoteRef:7] constitui a fonte fundamental para a transmisso de conhecimentos e a ampliao da capacidade produtiva e inovativa das firmas e instituies. A capacidade inovativa possibilita a introduo de novos produtos, processos e formatos organizacionais, sendo essencial para garantir a competitividade dos diferentes atores locais, tanto individual como coletiva. [7: Dentre as diversas formas de aprendizado, o interativo considerado fundamental para a transmisso de conhecimentos particularmente o tcito - sendo, portanto, central dinmica de inovao. Ainda que as empresas permaneam como centros de processos de aprendizado e de inovao, estes so influenciados por contextos mais amplos. A natureza e a intensidade da interao entre diferentes atores refletem as condies do ambiente econmico e tambm social, cultural e institucional. Assim, a anlise da dinmica institucional de arranjos e sistemas produtivos locais constitui-se em elemento crucial para a compreenso do processo de capacitao produtiva e inovativa local (LASTRES e CASSIOLATO, 2003, p.7).]

Sobre a diversidade de atividades e atores econmicos, polticos e sociais, Lastres e Cassiolato (2003, p.4) mencionam que:

Os APLs geralmente envolvem a participao e a interao no apenas de empresas - que podem ser desde produtoras de bens e servios finais at fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de servios, comercializadoras, clientes, entre outros - e suas vrias formas de representao e associaes, como tambm de diversas outras instituies pblicas e privadas voltadas para: formao e capacitao de recursos humanos; pesquisa, desenvolvimento e engenharia; poltica, promoo e financiamento. A incluem-se, portanto, universidades, instituies de pesquisa, empresas de consultoria e de assistncia tcnica, rgos pblicos, organizaes privadas e no governamentais, entre outros.

Segundo Cassiolato (2002) e Lemos (2001), em APLs, identificam-se diferentes tipos de cooperao, incluindo a cooperao produtiva que busca a obteno de economias de escala e escopo e a cooperao inovativa, referente reduo de riscos, custos, tempo, dinamizando o potencial inovativo do arranjo. Cassiolato e Lastres (2003, p.12) destacam que a cooperao, nestes espaos, pode ocorrer mediante:

Intercmbio sistemtico de informaes produtivas, tecnolgicas e mercadolgicas (com clientes, fornecedores, concorrentes e outros);

Interaes de vrios tipos, envolvendo empresas e outras instituies, por meio de programas comuns de treinamento, realizao de eventos / feiras, cursos e seminrios, entre outros;

Integrao de competncias, por meio da realizao de projetos conjuntos, incluindo desde melhoria de produtos e processos at pesquisa e desenvolvimento propriamente dita, entre empresas e destas com outras instituies.

Vargas (2002) aponta que a articulao das micro e pequenas empresas (MPEs) em arranjos produtivos locais reflete as maiores possibilidades de desenvolvimento deste segmento de empresas. Algumas contribuies recentes neste sentido (CASSIOLATO e LASTRES, 1999; SCHIMITZ, 1995) so de que a aglomerao de MPEs tem uma grande relevncia para os pases em desenvolvimento e consiste num fenmeno que afeta uma ampla gama de pases e setores, e ainda que a participao neste formato de aglomeraes tem auxiliado micro e pequenas empresas a ultrapassarem conhecidas barreiras ao crescimento das firmas, a produzir eficientemente e a comercializar produtos em mercados distantes.

A literatura sobre MPEs evidencia duas formas de insero destas empresas na estrutura produtiva. Micro e pequenas empresas dependentes, que atuam em funes complementares das grandes empresas, executando alguma etapa do processo produtivo. Neste caso, a participao da pequena empresa resultado da fragmentao das grandes unidades em estabelecimentos menores. Elas trabalham sob a gide das grandes, na produo de componentes diretamente utilizados nas grandes linhas de produo, ou comercializados no mercado de reposio. As pequenas empresas independentes no mantm uma ligao com as grandes, operam em setores com baixas barreiras e entrada, cujo desempenho est atrelado demanda. Elas concorrem com as grandes e se tornam competitivas graas a sua grande flexibilidade atuando, tambm, em nichos de mercado (SOUZA, 1995; BOTELHO, 1999).

Alm da compreenso das possibilidades de insero das MPEs, atravs de suas relaes com grandes empresas, cabe frisar que este porte de estabelecimento pode estabelecer inmeras formas de interao com outros agentes econmicos e sociais. Anlises empricas destacam vrias formas de insero das MPEs em estruturas produtivas, nas quais os conceitos de insero dependente e insero independente parecem no serem suficientes para um melhor entendimento destes fenmenos. Uma forma de entender estas diversas formas de relaes estabelecidas pode ser mediante a utilizao do conceito de redes de empresas. Nas estruturas em rede, ressaltam-se as relaes de cooperao horizontal, com explorao das vantagens de aglomerao e de aes coletivas em diversas reas. O conceito de redes resulta da dimenso social das relaes entre empresas e seus possveis desdobramentos sobre a conformao institucional do ambiente econmico e sobre o padro de conduta dos agentes. Estas redes possuem uma autonomia relativa em relao s foras externas, com um certo grau de auto-organizao e com uma capacidade endgena de transformao, resultando do carter dinmico destas configuraes (BRITTO, 1999).

Nas redes, segundo a abordagem evolucionista, as relaes entre firmas esto condicionadas no apenas pela necessidade de coordenao das atividades para a reduo dos custos de transao, mas tambm pela necessidade de coordenao relacionada busca de assimetrias concorrenciais (HIRATUKA, 1997). Neste sentido, o perfil da estrutura em rede define os canais necessrios para o estabelecimento de fluxos de informaes entre os agentes, o que eleva as condies e oportunidades para o acmulo de capacitaes tecnolgicas. Por conseguinte, a cooperao interindustrial, que caracteriza as redes de firmas, possibilita a aglutinao de mltiplas competncias, impulsionando o potencial inovativo. No enfoque evolucionrio, a consolidao de redes de firmas referenciada no apenas proviso de externalidades positivas ou obteno de eficincia esttica, mas tambm a uma eficincia dinmica, materializada no aumento do potencial inovativo dos agentes (BRITTO, 1999).

A montagem de redes de cooperao tecnolgica, integrando vrios agentes, uma alternativa eficaz para a adequao das configuraes organizacionais a um ambiente mutvel e com informaes fragmentadas. A configurao destas estruturas favorece o enfrentamento coordenado de turbulncias ambientais, atravs do processo de elaborao de convergncias, do processo coletivo de tratamento de informaes e de busca de solues e da consolidao, na rede, de um lcus de acumulao de recursos coletivos especficos.

Estas estruturas relacionam-se com a possibilidade de consolidar a apropriao de quase-rendas compostas, com requerimentos de reversibilidade dos recursos mobilizados. A formao de redes de empresas est relacionada a: adaptao a atributos de demanda, por meio da incorporao da compatibilidade entre produtos e componentes; montagem de sistemas de produo flexveis; repartio da irreversibilidade associada a investimentos de maior portes com a adequao das complexidades associadas s trajetrias tecnolgicas; reduo da incerteza mercadolgica; compatibilizao dos esforos tecnolgicos associados a diversos agentes; processo de terceirizao das firmas de maior porte, de atividades especficas; possibilidade de adoo de estratgias defensivas; melhor monitoramento do movimento de mudanas tcnicas; compatibilizao das estruturas organizacionais; e pela superao de restries que impedem a formalizao de contratos (BRITTO, 1999).

Na literatura sobre redes, podemos encontrar vrias tipologias que tentam estabelecer uma classificao destas estruturas. Salientam-se nestas tentativas trs caminhos distintos, sendo que o primeiro relaciona o grau de interdependncia entre os agentes. Uma segunda forma vem no sentido de estabelecer uma classificao a partir da estrutura de coordenao / governana das redes. Uma terceira forma de classificar estas estruturas seria dividi-las de acordo com o tipo de produto gerado em cada rede.

Mazzali e Costa (1997), a partir do grau de interdependncia entre os agentes, relacionam dois tipos de redes, as verticais e as horizontais. As redes verticais envolvem a articulao estreita das atividades de um conjunto de fornecedores e distribuidores, por uma empresa coordenadora, que exerce considervel influncia sobre as aes dos agentes que integram a cadeia produtiva. Estas redes esto fundamentadas na agregao de empresas, com especialidades complementares, que, pela prpria existncia da rede, reforam a especializao de cada participante.

As redes horizontais so configuradas em respostas a dois desafios: o primeiro deles, em funo da necessidade de um rpido reposicionamento, no que toca a um amplo conjunto de competncias; o segundo, em virtude da administrao da incerteza competitiva, iminente do contexto atual em que se d a produo capitalista. Nestas estruturas, as empresas buscam estabelecer alianas com empresas concorrentes, dando origem a um formato de organizao horizontal, em que no centro est a conciliao e centralizao de recursos, para a execuo de determinadas atividades, com a autonomia estratgica dos atores.

Conforme Britto (1999), quanto mais complexa for a configurao interna na rede, maior ser a necessidade de uma coordenao coletiva eficaz dos agentes. Destaca-se que a lgica da coordenao afetada pela hierarquizao interna que caracteriza estas estruturas. Logo, uma tentativa de desenvolver uma taxonomia de redes deve incorporar a dimenso da estrutura de governana. Suzigan (2002) diz que o processo recente da evoluo capitalista reforou o poder econmico de determinadas empresas, impondo relaes hierrquicas aos outros agentes, elevando a importncia das assimetrias e da conformao de relaes fortemente hierarquizadas, sendo que estas formas so as mais comumente encontradas no processo de coordenao de atividade produtiva. A existncia de firmas coordenadoras ou lderes decorre da posse de ativos-chaves especficos (produtivos, comerciais, ...), que lhes permite impor seus interesses aos outros agentes.

Park, apud Britto (1999), na elaborao de sua tipologia redes, alm de considerar a interdependncia que se estabelece entre os agentes, procura incorporar as formas de controle / governana que se estabelece em cada tipo de estrutura. Para o autor, so dois os tipos de controle, as formas de controle bilaterais, em que o controle exercido por uma agncia, composta por membros representantes dos diversos agentes presentes no arranjo e formas de controle trilaterais, em que uma terceira parte exerce o controle.

A partir destas consideraes, destacam-se quatro tipos de estruturas de governana. A primeira, estruturas verticais do tipo bilateral, com a existncia de contratos de longo prazo entre clientes e fornecedores. A segunda, estruturas verticais do tipo trilateral, com redes envolvendo clientes e fornecedores especificamente montadas para viabilizar a instalao de uma nova planta. A terceira, estruturas horizontais do tipo bilateral, como cartis e outros acordos colusivos, consrcios de P&D e joint-venture. E a quarta, estruturas horizontais do tipo trilateral baseadas na imediao de associaes empresariais. Porm, verificam-se tambm estruturas em rede, nas quais o controle exercido por um agente produtivo dominante, que, por possuir ativos-chaves especficos e um maior poder de barganha, direciona as aes dos demais membros da rede. Um exemplo destas estruturas seriam as redes de subcontratao formadas pelas grandes empresas e nas quais os demais componentes so micro e pequenos estabelecimentos.

Britto (1999) salienta alguns problemas instrumentais presentes na transposio destas metodologias para estudos de caso. O primeiro que estas tipologias baseiam-se num quadro esttico no captando a evoluo dinmica das estruturas ao longo do tempo. O segundo consiste no fato de que, mesmo nas redes em que no se verifica uma hierarquizao mais latente, comum que se estabelea uma hierarquia tcnico-produtiva entre as diversas atividades realizadas. O terceiro problema associa-se aos objetivos que norteiam a montagem das configuraes, sendo que a tipologia at aqui apresentada presta muito mais a anlise de redes vinculadas montagem de sistemas tcnico-produtivos integrados do que a redes especificamente montadas para viabilizarem a integrao de competncias complementares. Logo, o tipo de produto gerado na rede tambm deve ser considerado na elaborao de uma tipologia destas estruturas.

O autor anteriormente citado acrescenta que a construo de uma tipologia de redes de cooperao tcnico-produtivas pode ser bem sucedida, se for levada em considerao a diversidade setorial dos arranjos, referentes s caractersticas especficas que refletem o padro de concorrncia das indstrias nas quais eles se encontram e as especificidades das tecnologias, mobilizadas no nvel da rede e da base de conhecimento a elas associadas. Assim, quanto maior a complexidade do ambiente tecnolgico no qual as firmas operam, mais importante ser o acesso a ativos e competncias complementares, sendo que este acesso facilitado pela insero das firmas em estruturas de rede.

Portanto, resumidamente, destaca-se que o foco em APLs representa uma unidade de anlise que vai alm da viso baseada na organizao individual (empresa), setor ou cadeia / complexo produtiva, permitindo o estabelecimento de uma ponte entre o territrio e as atividades econmicas. Para isso, parte-se do princpio que a noo de APLs engloba estas noes e pode ser estendida para uma ampla gama de espaos geogrficos no qual ocorre a produo de algum tipo de bem, tangvel ou intangvel.

1.3 Definio do objetivo, diretrizes e metodologia:

Com base no referencial descrito, o objetivo deste trabalho consiste na elaborao do Plano Nacional de Capacitao em Arranjos Produtivos Locais (PNC/APLs). Este plano ter abrangncia nacional, sendo implementado no perodo de 2012 a 2015. O PNC / APLs voltado ao aperfeioamento da gesto em APLs, garantindo assim o aumento da competitividade e a modernizao de suas aes.

A elaborao do Plano Nacional de Capacitao em Arranjos Produtivos Locais ocorreu 2 (duas) etapas. A primeira etapa refere-se elaborao da minuta do Plano Nacional de Capacitao em Arranjos Produtivos Locais. Aps a apresentao e discusso desta minuta e incorporao das sugestes e crticas foi elaborada a verso final do PNC / APLs, referente a este documento.

Com base no referencial analtico e metodolgico de Arranjo Produtivos Locais desenvolvido pela RedeSist e descrito na seo anterior, foram implementadas um conjunto de aes que permitiram a elaborao do PNC /APLs. Estas aes podem ser assim detalhadas:

Ao 1 Elaborao do Plano de Trabalho do Estudo: contendo as principais referncias conceituais, que sero utilizadas na anlise, bem como, um detalhamento dos produtos que sero desenvolvidos e da metodologia a ser utilizada.

Ao 2 Reunio de Trabalho I: reunio de trabalho de representantes da equipe de pesquisadores responsvel pelo estudo com membros do Comit Temtico de Capacitao do GTP APL, para apresentao, discusso e adequao do plano de trabalho.

Ao 3 Definio do Pblico Alvo: levantamento de informao secundrias que permitam identificar o pblico alvo potencial do plano de capacitao, destacando as metas de atendimento quantitativas, bem como a delimitao do escopo do plano.

Ao 4 Definio dos Mdulos: aps a definio do pblico alvo, cabe identificar quais mdulos devem ser ministrados em cada curso. Esta ao referte-se a delimitao do conjunto de elementos didticos focando: modalidades de ensino; objetivos especficos de cada mdulo; disciplinas de cada mdulo; mecanismos de avaliao e; potenciais parceiros para o desenvolvimento das atividades.

Ao 5 Reunio de Trabalho II: reunio de trabalho de representantes da equipe de pesquisadores responsvel pelo estudo com membros do Comit Temtico de Capacitao do GTP APL, para apresentao dos resultados preliminares referentes ao desenvolvimento das atividades 3 e 4.

Ao 6 Definio do Tipo de Material Didtico: estudo especfico focando as caractersticas do material didtico a ser desenvolvido para o plano de capacitao. Este material deve estar adequado as caractersticas do pblico alvo e levar em considerao as especificidades de cada modulo.

Ao 7 Definio dos Instrumentos de Avaliao: esta ao est relacionada ao desenvolvimento de instrumentos de acompanhamento e avaliao do plano nacional de capacitao para APLs.

Ao 8 Elaborao da Minuta do Plano Nacional de Capacitao em APLs: agrupando os principais elementos de cada uma das aes descritas anteriormente, ser elaborado uma minuta do PNC em APLs. Esta minuta foi apresentada na forma de um relatrio extensivo detalhando os resultados obtidos em cada uma das aes.

Ao 9 Reunio de Trabalho III: reunio de trabalho da equipe de pesquisadores responsvel pelo estudo com membros do Comit Temtico de Capacitao do GTP APL para validao da minuta do Plano Nacional de Capacitao.

Ao 10 Elaborao da Verso Final do Plano Nacional de Capacitao em Arranjos Produtivos Locais: com base nos resultados da ao 9, foram incorporadas as sugestes referentes a minuta do PNC/APLs e com isso elaborado o relatrio final do estudo.

Portanto, o conjunto de aes destacadas permitiu o desenvolvimento do projeto pedaggico, aqui apresentado, que contemple a diversidade econmica e cultural da estrutura produtiva brasileira. Por outro lado, este programa tambm permite contemplar os diferentes estgios de desenvolvimento econmico e grau de maturidade do conjunto de APLs brasileiros. Estas caractersticas fazem do Plano Nacional de Capacitao, um elemento de extrema relevncia para as aes voltadas aos Arranjos Produtivos Locais, nas mais diversas regies do pas.

2. Tendncias Gerais relativas Capacitao de Agentes Gestores de APLs

Em funo do objetivo deste estudo, qual seja elaborar um plano nacional de capacitao em APLs, torna-se fundamental identificar as principais tendncias em programas de capacitao para estas estruturas. Neste sentido, este captulo refere-se a um extenso levantamento das iniciativas voltadas a capacitao de agentes inseridos em APLs, tanto no Brasil, quanto no exterior. Para facilitar o entendimento a anlise apresentada em duas sees. A primeira seo destaca as principais iniciativas identificadas nos pases da OCDE, apesar do conceito adotado por estes pases no ser idntico ao enfoque metodolgico e analtica de APLs, assume-se que as experincias identificadas podem contribuir para a agenda proposta no estudo. A segunda seo destaca as iniciativas desenvolvidas por instituies nacionais, em termos de formao de capacitao em arranjos produtivos locais.

2.1 Evidncias da Experincia Internacional na Capacitao de Agentes em APLs:

Na delimitao de uma agenda de interveno pblica no apoio a APLs, possvel identificar um conjunto de orientaes mencionadas em publicaes de organismos internacionais que constituem uma espcie de guia para a operacionalizao dessas aes. Apesar dessas proposies terem sido formuladas como princpios gerais para a operacionalizao de clusters policies, estando, portanto, baseadas em um objeto - os clusters industriais - qualitativamente diferente do conceito de APLs, as mesmas podem ser incorporadas, com pequenas qualificaes, na definio de polticas de apoio queles arranjos. Neste sentido, estas orientaes podem ser sistematizadas de forma a se diferenciar trs caractersticas. A primeira delas refere-se necessidade dos objetivos e aes serem definidos de baixo para cima, de modo a se adaptarem aos problemas e necessidades inerentes s realidades locais. Alguns princpios gerais mencionadas em diversos estudos dos organismos citados meso-level, botton-up refletem diretamente esta perspectiva. Uma segunda caracterstica refere-se necessidade das polticas serem, de certo modo, formatadas em funo de especificidades setoriais e locais, o que tambm est implcito em alguns princpios gerais mencionadas por aqueles organismos vinculados noo de polticas tailor-made, decentralized e flexible. Por fim, uma terceira caracterstica diz respeito necessidade daquelas polticas incorporarem uma viso direcionada para o mercado, o que tambm est implcito em alguns princpios orientadores de clusters policies podendo-se mencionar as noes de marked-led, upgrading e high road enquanto princpios gerais a serem incorporados quelas polticas.

Este mdulo procura identificar, luz de experincias internacionais, tendncias relevantes relativas adoo de prticas de gesto orientadas criao de estmulos formao, estruturao e desenvolvimento de arranjos produtivos e os reflexos decorrentes no perfil de qualificaes e competncias dos agentes responsveis pela implementao dessas prticas. Inicialmente, cabe ressaltar que, no mbito internacional, estas prticas referem-se a um conjunto bastante amplo de modelos de articulao associado a nomenclatura variadas redes produtivas, tecnolgicas e de conhecimento, clusters industriais, polos de competitividade, etc. Como pontos de convergncia dessas estruturas, destacam-se algumas caractersticas gerais: i) a presena de uma estrutura densa de articulaes produtivas; ii) a presena de formas governana e de mecanismos de coordenao inter-firmas; iii) a presena de interaes entre as estruturas produtivas e o territrio no qual as mesmas se encontram inseridas; iv) a presena de um determinado padro de insero no mercado, que determina a competitividade dos agentes iv) a presena de fluxos intangveis associados aos processos de aprendizado e construo de competncias produtivas e inovativas, envolvendo diversos tipos de agentes e instituies.

Os diversos tipos de estruturas descritos pela literatura envolvem processos interativos complexos, articulados a sistemas nos quais se destaca a presena de mltiplas relaes verticais e horizontais. Os impactos gerados manifestam-se em diferentes subsistemas e diferentes nveis, com muito deles estando vinculados a aspectos intangveis, difceis de observar e mensurar. O contexto cultural, poltico, social e econmico deve ser considerado tanto na identificao dos estmulos consolidao dessas estruturas, como na anlise da forma como as mesmas operam e na avaliao dos resultados gerados. O carter essencialmente singular dessas estruturas dificulta sobremaneira a caracterizao de modelos ideais capazes de orientar a definio de melhores prticas associadas ao gerenciamento de seus processos internos. Na medida em que tais estruturas so concebidas como comunidades, refora-se a importncia da gerao e disseminao de conhecimentos e os possveis impactos em termos da integrao de qualificaes e competncias retidas por diferentes agentes. Outro desdobramento importante refere-se consolidao de convenes e instituies socialmente construdas que afetam a evoluo e transformao dessas estruturas, atravs de processos de experimentao e aprendizagem.

Considerando estas caractersticas gerais, a discusso sobre tendncias internacionais relativas ao estado da arte das prticas de gesto de aglomeraes produtivas deve ser articulada a diversas concepes sobre os estmulos que conduzem estruturao desses arranjos, aos fatores que condicionam a operao dos mesmos e aos determinantes da sua performance produtiva e inovativa. Uma caracterizao geral dessas prticas, e dos possveis impactos em termos de um perfil ideal para gestores desses arranjos, capaz de orientar a formatao de programas de qualificao, constitui uma tarefa bastante complicada. Em especial, identifica-se uma diferenciao mais geral entre programas e prticas de gerenciamento de redes de cooperao mobilizando diferentes tipos de agentes e programas relacionados operao de cluster policies (utilizando-se uma nomenclatura bastante geral) cujo recorte recai no apoio ao fortalecimento da aglomerao espacial de atividades.

No esforo de sistematizao dessas prticas realizado a seguir optou-se por considerar uma distino entre contribuies provenientes de trs grupos distintos de agentes. O primeiro deles compreende agncias de financiamento e fomento internacionais que tem recorrido utilizao daquelas estruturas como recorte importante para a formatao de programas de apoio e de linhas de fomento. Dentre agncias, destacam-se o Banco Mundial, UNIDO, UNCTAD e BID. O segundo grupo compreende organismos estruturados como redes de instituies que atuam na implementao de programas de apoio consolidao desses arranjos, particularmente no mbito da comunidade europeia (UE), que procuram tambm definir orientaes gerais no sentido da adoo de boas prticas relativas ao gerenciamento daqueles arranjos. Um terceiro grupo refere-se especificamente a empresas de consultoria especializadas com atuao internacional que atuam no apoio a agncias de fomento e redes de instituies responsveis pela operao de cluster policies, em especial atravs da formatao de metodologias de ao e programas de capacitao de gestores responsveis pela implementao daquelas polticas.

No que se refere especificamente atuao de agncias de financiamento e fomento internacionais, identificam-se perfis distintos de atuao, tanto em termo do foco dos programas como em termos das metodologias de ao. No caso do Banco Mundial, a concepo dominante de que a consolidao de arranjos produtivos (ou clusters industriais, na denominao utilizada) constitui um elemento importante de fortalecimento da competitividade empresarial, utilizando-se como justificativa a viso esquemtica dos estudos de Michael Porter. No estudo Clusters for Competitiveness - A Practical Guide & Policy Implications for Developing Cluster Initiatives (2009), estabelece-se uma diferenciao entre quatro estgios a serem percorridos na operacionalizao de iniciativas de apoio consolidao desses arranjos (ver Figura 2.1 e Box A.1 no Anexo): 1) mapeamento do arranjo e a busca de um engajamento inicial de agentes; 2) a elaborao de um diagnstico e a formulao de estratgia de atuao, com base em ferramentas de apoio tradicionais; 3) implementao de uma estratgia visando a montagem de uma base institucional adequada; 4) a busca de uma garantia em termos da sustentabilidade do projeto, atravs da implementao de procedimentos sistemticos de monitoramento e avaliao.

Figura 2.1 Enfoque para Desenvolvimento de Iniciativas de Apoio a Clusters

Fonte: Clusters for Competitiveness - A Practical Guide & Policy Implications for Developing Cluster Initiatives (2009), World Bank, disponvel em: http://siteresources.worldbank.org/INTRANETTRADE/Resources/cluster_initiative_pub_web_ver.pdf

Dentre as ferramentas de apoio mencionadas, em relao s quais se supe que haveria um processo de capacitao dos gestores dos arranjos, destacam-se ferramentas tradicionais, como a anlise SWOT, em relao qual um conjunto de questes gerais so identificadas, conforme ilustrado pela Figura A.1 em anexo.

No mbito da OCDE, tambm se identificam estudos que procuram sistematizar procedimentos de apoio consolidao de clusters industriais, conforme detalhado nos estudos Competitive Regional Clusters - National Policy Approaches (2007) e Cluster, Innovation and Entrepreneurship(2009). Nestes estudos, so desenvolvidos estudos de caso comparativos entre pases, nos quais aquelas estrutura so articuladas ao conceito de sistemas regionais de inovao, cuja dinamizao estaria articulada a um novo enfoque e mobilizao de instrumentos e de gestores que buscam integrar os campos das Polticas de Desenvolvimento Regional, C&T e Industrial (ver Quadro 2.1). No tocante formatao de polticas de apoio consolidao desses arranjos identificam-se, com base na integrao das trs dimenses mencionadas, as seguintes linhas de ao (ver Quadro 2.2): 1) a organizao de servios produtivos; 2) a realizao de investimentos orientados; 3) o fortalecimento de redes e articulaes entre agentes e instituies; 4) o desenvolvimento de recursos humanos especializados. Em termos dos instrumentos de apoio, identifica-se uma diferenciao entre instrumentos vinculados especificamente ao estmulo ao engajamento de atores, proviso de servios coletivos e articulaes empresariais e dinamizao de atividades de P&D de natureza cooperativa (ver Quadro A.1 em anexo). Apesar dos estudos da OCDE no avanarem no detalhamento dos perfis de competncia dos gestores responsveis pela operacionalizao dessas polticas, a sinalizao das linhas de ao a serem mobilizadas fornece indicaes importantes nessa direo.

Quadro 2.1 Dimenses de Polticas e Programas com foco em clusters:

Fonte: Clusters for Competitiveness - A Practical Guide & Policy Implications for Developing Cluster Initiatives (2009), World Bank, disponvel em: http://siteresources.worldbank.org/INTRANETTRADE/Resources/cluster_initiative_pub_web_ver.pdf

Quadro 2.2 Linhas de Ao associadas Apoio a Clusters

Fonte: Competitive Regional Clusters - National Policy Approaches (2007), OCDE, p.121, disponvel em: http://www.unescap.org/tid/artnet/mtg/gmscb_regionalclusters.pdf

Uma terceira agncia internacional com atuao importante na formatao de polticas de apoio consolidao de arranjos produtivos ou de formas relativamente anlogas o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), cuja atuao encontra-se fortemente direcionada para pases em desenvolvimento. A principal caracterstica da linha de atuao dessa agncia refere-se ao seu carter pragmtico, envolvendo a mobilizao de programas com diferentes origens diferentes focos, muitos dos quais associados a uma experincia pr-existente em termos de modelos de articulao. Estes programas buscam responder a diferentes objetivos de polticas pblicas, procurando definir "espaos" de articulao entre as esferas pblica e privada mais ou menos institucionalizados, para negociar, elaborar e implementar projetos com benefcios compartilhados e expressivo potencial de gerao de externalidades. Na implementao desses programas, destaca-se a o papel do setor pblico na liderana do processo em termos de capacidade de liderana, na mobilizao de ferramentas e na proviso de pelo menos uma parte do financiamento. A implementao de programas e instrumentos seria guiada pela demanda de empresas e regies, com o setor pblico definindo um "menu" de opes em termos de linhas de ao e o setor privado selecionando-as e pondo-as em movimento. Destaca-se tambm o papel de intermedirios institucionais entre governos e agentes privados que muitas vezes ajudam a superar a "apatia" dos agentes e a corrigir lacunas de informao. Cabe mencionar tambm, como aspectos adicionais relevantes, a mobilizao de organizaes de pesquisa e universidades no sentido de oferecer novos servios relevantes para o setor produtivo, mobilizando infraestruturas e conhecimentos anteriormente inexplorados, assim como a promoo da formao tcnica de profissionais capacitados operacionalizao dos programas selecionados.

A experincia do BID no apoio a estes programas aponta tambm para algumas lies importantes em termos do gerenciamento dos mesmos. O gerenciamento de projetos complexos requer a criao de estruturas de governana adequadas, com capacidade para tomar decises e coordenar aes coletivas, atravs da mobilizao de novas instncias de articulao entre as esferas pblica e privada. A Figura 2.2 ilustra a estrutura institucional de operao de projetos preconizada pelo BID, destacando-se o papel de comits de articulao pblico-privado para a definio das necessidades dos atores locais e da mobilizao de agncias pblicas executoras com capacidade de direcionar recursos para a proviso de servios adequados quelas necessidades. Neste sentido, boa parte das recomendaes do BID refere-se necessidade dos programas implementados contarem com a prioridade dos governos, vinculando-se elaborao de uma viso conjunta bem definida para o curto, mdio e longo prazo, o que muitas vezes pode requereria o apoio de consultores especializados, capazes de estimular processo de aprendizado e melhoramento contnuos. Alm da preocupao com a estrutura de governana dos programas, as orientaes do BID referem-se mobilizao de esforos de avaliao do impacto desses programas sobre a produtividade das empresas que constituem o seu pblico-alvo, atravs da utilizao de um conjunto adequado de ferramentas. Estas avaliaes compreenderiam a utilizao de ferramentas economtricas para avaliar os impactos sobre o desempenho das empresas objeto das aes e outros grupos de controle atravs da utilizao de tcnicas de Propensity Score Matching (PSM). Destaca-se tambm a anlise da estrutura de vnculos (ou das redes sociais) entre os agentes e sua influncia sobre o desempenho das empresas e sobre a possibilidade de agrupamento das mesmas segundo atributos comuns. Por fim, destaca-se a importncia da realizao de estudos de caso comparativos para explorar os efeitos das mudanas e os impactos das polticas implementadas.

Figura 2.2 - Estrutura institucional de operao de projetos de apoio a clusters pelo BID

Fonte: Pietrobelli, P. Competitiveness and Innovation: Strengthening Clusters and Vale Chain in LAC Better institutions for productive development and innovation, apresentao no 7th Latin America Cluster Conference (CLAC), Monterey, Mexico, 3a may, 2012 , disponvel em : http://www.clac2012.org/ppts/BID.pdf

Outro tipo de viso relativa operacionalizao das polticas de apoio a arranjos produtivos e formas similares desenvolvido pela UNIDO em trabalhos como Industrial Clusters and Poverty Reduction: Towards a methodology for poverty and social impact assessment of cluster development initiatives (2004) e Cluster development for pro-poor growth: the UNIDO approach (2010). Na perspectiva desses trabalhos, a estruturao desses arranjos vinculada diretamente a iniciativas direcionadas reduo da pobreza em pases com menor nvel de desenvolvimento. Em particular, busca-se discutir as possibilidades de desenvolvimento de arranjos com potencial de reduo da pobreza, a partir da disponibilizao de um mix particular de servios produtivos e da estruturao de modelos de governana que possibilitem eliminar entraves institucionais ao aprofundamento de estratgias de desenvolvimento prioritariamente direcionadas para aquele objetivo. Define-se, desse modo, uma agenda de interveno baseada em um conjunto de questes que deveriam nortear a operacionalizao de iniciativas consolidao daqueles arranjos: 1) Em que tipos de clusters os impactos em termos de reduo da pobreza manifestam-se de forma mais significativa? 2) Como os impactos em termo da reduo da pobreza manifestam-se dentro de cada tipo de cluster? 3) Quais os tipos de empresas e tipos de trabalhadores so mais afetados por estas iniciativas? 4) Quais as evidncias disponveis sobre a efetiva capacidade de diversos tipos arranjos atenderem as metas de reduo da pobreza? 5) Quais seriam as metodologias mais apropriadas para avaliar o impacto em termos de reduo da pobreza associados a diferentes iniciativas de desenvolvimento de clusters?

A partir dessa perspectiva, prope-se uma estratgia abrangente de atuao, calcada na melhoria das condies do "capital social" ao nvel local e na montagem de "estruturas de governana sustentveis" nos arranjos assistidos. Ressalta-se, nesse sentido, um princpio de "no-substituio" em termos dos papis desempenhados pelos setores pblico e privado, reforando-se o papel "catalisador" das polticas em termos da sua capacidade de alavancar recursos financeiros e produtivos na escala local. As aes implementadas deveriam buscar integrar diferentes ferramentas, metodologias e habilidades disponveis ao nvel local, atuando no sentido da montagem e desenvolvimento de instituies locais,e do fortalecimento das habilidades e competncias de associaes empresariais, servios de consultorias e dos agentes formuladores e gestores das polticas. Define-se, assim, uma metodologia de melhoria contnua das articulaes empresariais no mbito desses arranjos, que vem sendo aplicada desde meados da dcada de 1990 em diversos mercados emergentes e os pases menos desenvolvidos. Essa metodologia se adapta s caractersticas dos diferentes contextos locais (pas, setor, tamanho da empresa, etc.), proporcionando um processo contnuo de aprendizagem, a partir do compartilhamento de conhecimentos e das solues polticas inovadoras de fragmentao, tanto ao nvel Norte-Sul como Sul-Sul. Em linhas gerais, identificam-se trs grandes reas prioritrias na implementao dessas aes relacionadas reduo da pobreza, construo de capacidades para incremento de negcios ao nvel local e adequao das condies ambientais e de suprimento de energia que se articulariam a um conjunto de programas temticos com potencial de dinamizao do desenvolvimento local, conforme ilustrado pela Figura 2.3.

Figura 2.3 reas prioritrias e programas temticos mobilizados na implementao de polticas de apoio a clusters industriais na viso da UNIDO

Fonte: Patacconi, Gerardo UNIDO cluster development approach: A win-win solution for SMEs, sustainable competitiveness and market access, apresentao no encontro Inspiring Clusters in the Beginning of the New Decade, 30. -31. March 2011, Tallinn, Estonia, disponvel em: http://www.tci-network.org/activities/conference_tallinn

Ampliando o foco da anlise das experincias internacionais, possvel destacar tambm o papel orientador na formatao das polticas de apoio consolidao e fortalecimento de arranjos produtivos e formas similares desempenhado por redes de instituies que procuram repartir informaes sobre as caractersticas, as formas de operao e as boas prticas relativas ao gerenciamento das polticas de apoio queles arranjos. Como exemplo, possvel mencionar aes da CLOE (Clusters Linked Over Europe) estruturada como uma Rede Europeia de Intercmbios de Experincias, em Gesto, Adequao e Promoo de Clusters Industriais. Por meio da publicao Cluster Management Guide Guidelines for the Development and Management of Cluster Initiatives (2006), esta rede prope uma metodologia de abordagem das aes de apoio a estes arranjos. Essa metodologia se desdobra em quatro etapas de desenvolvimento das iniciativas de apoio envolvendo a uma anlise prvia da sua factibilidade, a definio das caractersticas das estruturas de apoio, da estrutura de financiamento e o processo de lanamento da iniciativa e em cinco campos de gerenciamento das aes de apoio envolvendo atividades de informao-comunicao, treinamento-qualificao, cooperao, marketing e internacionalizao (ver Box A.2 em anexo). A Figura 2.4 apresenta um fluxograma das etapas e aes a serem percorridas na viabilizao dessas iniciativas, enquanto a Figura 2.5 apresenta um detalhamento das cinco campos de gerenciamento dessas aes.

Figura 2.4 Fluxograma de etapas das iniciativas de apoio a clusters

Fonte: CLOE: Clusters linked over Europe Cluster Management Guide Guidelines for the Development and Management of Cluster Initiatives (2006), p. 9, disponvel em : http://www.interreg4c.eu/2_Cluster_Management_Guide_CLOE.pdf

Figura 2.5 Caractersticas dos campos de gerenciamento das aes de apoio a clusters

Fonte: CLOE: Clusters linked over Europe Cluster Management Guide Guidelines for the Development and Management of Cluster Initiatives (2006), p. 10, disponvel em : http://www.interreg4c.eu/2_Cluster_Management_Guide_CLOE.pdf

Em particular, observa-se no mbito da Unio Europeia a proliferao de iniciativas de apoio formao de arranjos produtivos (clusters industriais) estruturadas como em redes interinstitucionais que procuram avanar no detalhamento de boas prticas relacionadas ao gerenciamento das aes de apoio a estes arranjos. Funcionando como um tipo de benchmarking, a adequao a estas prticas constituiria uma espcie de chancela que facilitaria a captao de fundos atravs de programas comunitrios. Estas redes funcionariam tambm como ncleos de sistematizao de informaes e de realizao de estudos e levantamentos comparativos sobre as caractersticas dos diversos arranjos distribudos pelo territrio europeu. A Figura 2.6 identifica as principais iniciativas estruturadas com esse intuito no mbito da UE, podendo-se distinguir aquelas mais vinculada ao levantamento sistemtico de informaes, como o European Cluster Observatory e outras mais vinculadas normalizao de boas prticas no tocante ao gerenciamento do apoio a estes arranjos, como a ECEI European Cluster Excellence Initiative.

Figura 2.6 Iniciativas de suporte a clusters industriais

Fonte: http://www.europe-innova.eu/web/guest/cluster-cooperation/overview

Uma das atividades da ECEI compreende a identificao de indicadores de qualidade no tocante s prticas de gerenciamento de clusters industriais, o que deveria orienta a formatao de programas de treinamento adequados s necessidades dos gestores desses clusters. Procura, assim, definir um determinado padro de qualidade para as prticas de gerenciamento desses arranjos, a ser complementada por enquetes entre gestores visando indicar as habilidades necessrias para alcanar melhores resultados. Alm disso, prov materiais e metodologia de ensino autoexplicativas para formar gestores de cluster e ajud-los a alcanar um nvel de excelncia no gerenciamento de suas atividades. Neste sentido, destacam-se as orientaes gerais apresentadas no estudo European Cluster Excellence BASELINE - Minimum Requirements for Cluster Organisations (2011), relacionadas a cinco dimenses bsicas apresentadas no Box 2.1: i) conformao da estrutura do arranjo em termos de seus membros participantes; ii) composio e qualificao da estrutura de governana subjacente; iii) gerenciamento dos financiamento das aes de apoio; iv) aspectos relacionadas implementao de estratgias de ao; v) prticas de avaliao do reconhecimento das aes, nos mbitos interno e externo aos clusters apoiados. Adicionalmente, busca tambm promover um intercmbio de conhecimentos e experincias entre estes gestores atravs do European Club of Clusters Managers, fornecendo tambm acesso ECCP European Cluster Collaboration Platform, que oferece informaes on-line e suporte de rede para organizaes de responsveis pelo gerenciamento desses arranjos.

Box 2.1 Dimenses a serem consideradas na avaliao da qualidade das prticas de gerenciamento de clusters.

Fonte: Hagenauer, Simone; Kergel, Helmut; Strzebecher Daniel; European Cluster Excellence BASELINE - Minimum Requirements for Cluster Organisations, Document for Publication, European Cluster Excellence Initiative (ECEI), - Nov 17, 2011, disponvel em:

http://www.cluster-excellence.eu/fileadmin/_cluster-excellence/grafiken/20111128_European_Cluster_Excellence_BASELINE_web.pdf

Como exemplo de aes baseadas nessas orientaes gerais possvel mencionar a elaborao de estratgias nacionais de desenvolvimento de clusters industriais em pases europeus menos desenvolvidos. O estudo-piloto elaborado para a definio desse tipo de estratgia no caso da Bulgria (2006) ressalta a importncia de se adaptar o tipo de assistncia, os critrios de seleo dos arranjos, os objetivos bsicos das aes e os critrios para o seu monitoramento em funo do estgio de desenvolvimento dos arranjos, conforme ilustrado pelo Quadro A.2 em anexo. Ademais, neste estudo piloto so detalhadas tambm diferentes aes vinculadas ao gerenciamento das iniciativas de apoio, vinculadas a nove dimenses distintas, apresentadas no Quadro 2.3: 1) a caracterizao das particularidades das economias regionais e do seu potencial em termos da formao de arranjos; 2) aes vinculadas ao engajamento de atores locais; 3) aes para organizao e proviso de servios de apoio; 4) aes para a formao de uma fora de trabalho qualificada; 5) aes de estmulo inovao e ao empreendedorismo; 6) aes de marketing da regio; 7) aes para alocao de recursos e investimentos; 8) aes de desenvolvimento contnuo; 9) aes direcionadas coleta de informaes.

Quadro 2.3 Aes vinculadas ao gerenciamento das iniciativas de apoio \ formao de clusters industriais

A.

ACTIONS FOR UNDERSTANDING & BENCHMARKING REGIONAL ECONOMIES

A1

Identify clusters

A2

Model & map schematic relationships

A3

Benchmark against competitors

A4

Assess training needs to achieve Actions B to I

B

ACTIONS FOR ENGAGEMENT

B1

Recognise (or where an unmet need exists create) cluster entity

B2

Formalise communications channels (within cluster)

B3

Foster inter-firm collaboration

B4

Agree early leader in SME and Government/NGO bodies

B5

Develop Annual Action Plan

C

ACTIONS FOR ORGANISING AND DELIVERING SERVICES

C1

Perform Services Need Analysis

C2

Organise & disseminate information within cluster

C3

Establish one-stop cluster office

C4

Form cross-institution cluster amongst stakeholders

C5

Form Cluster Working Groups (dominated by SMEs)

C6

Facilitate external connections (by e-mail, newsletters, contacts etc)

D

ACTIONS FOR BUILDING A SPECIALISED WORKFORCE

D1

Initiate Skills Survey

D2

Perform Company TNAs within cluster

D3

Use cluster as basis for joint learning projects

D4

Form partnerships between educational institutions and clusters

D5

Establish cluster skill centres

D6

Support regional skills alliances

D7

Create inter-regional cluster alliances

D8

Implementation, certification of training

D9

Annual or bi-annual evaluation of training

E

ACTIONS FOR STIMULATING INNOVATION & ENTREPRENEURSHIP

E1

Engage appropriate universities in innovation schemes

E2

Invest in innovation and business start-ups

E3

Support cluster based incubators

E4

Encourage entrepreneurs networks

E5

Develop innovation networks (via hub and regionally)

E6

Establish cluster-based hubs as Technology Transfer Centres

E7

Organise periodic institutions/SMEs consultation

E8

Bi-annual survey of EU funding opportunities

F

ACTIONS FOR MARKETING & BRANDING A REGION

F1

Develop Marketing Branding Strategy

F2

Assess current positioning of cluster and materials/ communications plan

F3

Promote clusters as regional brand

F4

Introduce strict guidelines for use and exploitation of regional brand

F5

Form Export Networks

F6

Target inward investment to match Regional Branding Strategy

G

ACTIONS FOR ALLOCATING RESOURCES & INVESTMENTS

G1

Assess funding needs and priorities

G2

Fund critical cluster activities (from Annual Action Plan)

G3

Set aside funds specifically for multi-firm projects only

G4

Invest in cluster R&D

G5

Set up assessment filter for projectsG6

G6

Set up periodic sub-group to develop new projects and follow-on projects

H

ACTIONS FOR PROGRESSIVE DEVELOPMENT

H1

Map systemic relationships

H2

Conduct International Competitor Analysis

H3

Introduce/achieve regional agreement on cluster mini-hubs (one stop centres)

H4

Reassess Cluster Development Training Needs

H5

Capacity build cluster and mini-hub for more successful project development

I

ACTIONS FOR INFORMATION COLLECTION

I1

Set up database with basic impact measures

I2

Collect company data annually from cluster members

I3

Collect impact statistics from cluster projects

I4

Collect value-chain analysis information and competitiveness evaluation information to feed into Cluster action planning process

Fonte: Phare - The Programme of Community aid to the countries of Central and Eastern Europe. Introduction of Cluster Approach and Establishment of a Pilot Cluster Model, National Strategy For Cluster Development, National Clusters Strategy: Bulgaria, July 2006

Alm das redes colaborativas estabelecidas entre instituies responsveis pela gesto de iniciativas de apoio a arranjos produtivos, possvel identificar tambm aes implementadas por instituies de carter pblico e semi-pblico que tambm procuram atuar no sentido da definio de boas prticas de gesto direcionadas naquela direo. O International Organisation for Knowledge Economy and Enterprise Development (IKED) uma instituio independente especializada na discusso de aspectos associados consolidao de uma economia baseada no conhecimento que tambm aborda o apoio formao de arranjos produtivos atravs de uma publicao de referncia intitulada The Cluster Policies Whitebook (2003). Nesta publicao, so identificadas quatro dimenses bsicas do processo de clusterizao, associadas criao de capital social e confiana, ao desenvolvimento de vnculos estratgicos, definio de uma estratgia geral de atuao e implementao de aes concretas (ver Box A.3 em anexo e Figura 2.7). Alm disso, essa publicao discute as aes e competncias a serem mobilizadas, as circunstncias especficas a serem consideradas na implementao de aes e os procedimentos gerais de avaliao dessas aes (ver Box A.3 em anexo). Adicionalmente, o estudo procura tambm sistematizar um conjunto de aes direcionadas atuao sobre duas dimenses bsicas: o incremento de processos internos associados dinmica de operao desses arranjos (cluster dynamics) e a melhoria das condies ambientais e de infraestrutura a partir das quais se estruturam esses arranjos (cluster environment), conforme ilustrado pelo Quadro A.2 em anexo. A primeira dimenso refere-se, fundamentalmente, incorporao de novas tecnologias e aos impactos decorrentes sobre o crescimento dos agentes, bem como ao estabelecimento de mltiplos tipos de vnculos, proviso de servios coletivos e consolidao de um grau de articulao interna que confira, luz da percepo do mercado, uma vantagem competitiva diferencial para os participantes do arranjo. J a segunda dimenso refere-se, basicamente, a uma atuao sobre condies locais em termos de dotao de fatores, condies de infraestrutura e base institucional local que proporcionam os estmulos ambientais necessrios dinamizao dos arranjos.

Figura 2.7 Etapas do processo de formatao de polticas de apoio formao de clusters

Fonte: Andersson, Thomas; Serger, Sylvia Schwaag; Srvik, Jens; Hansson, Emily Wise The Cluster Policies Whitebook, International Organisation for Knowledge Economy and Enterprise Development (IKED), p.76, 2004 Disponvel em: http://nercrd.psu.edu/sfic/cluster%20policies%20whitebook.pdf

Outra iniciativa importante aquela desenvolvia pela Global Cluster Initiative Survey (GCIS), um projeto que desenvolve uma anlise sistemtica de iniciativas de apoio a formao de arranjos produtivos, que conta com o suporte da Swedish Agency for Innovation Systems (VINNOVA). Os resultados desse esforo de sistematizao so apresentados em duas publicaes importantes: The Cluster Initiative Greenbook (2003) e Clusters: Balancing Evolutionary and Constructive Forces (2008). Nestes estudos, procura-se, a partir do levantamento de aes implementadas por iniciativas de apoio formao de arranjos distribudos por todo o mundo, definir uma metodologia geral ao intitulada Cluster Initiative Performance Model (CIPM), na qual so identificados objetivos comuns dessas iniciativas (apresentados na Figura 2.8), que poderiam ser associados a seis dimenses bsicas apresentadas na Figura 2.9: 1) Pesquisa e Networking; 2) Aes Polticas de Mobilizao; 3) Aes para Expanso do Cluster; 4) Educao e Treinamento; 5) Cooperao Comercial; 6) Inovao e Tecnologia. No estudo de 2008 procura-se tambm avanar na direo da identificao de um perfil de competncias para os gestores das iniciativas de apoio formao desses arranjos, sendo destacados os seguintes aspectos: i) a capacidade de estimular processos de mudana; ii) a criao de um ambiente aberto indutor do aprofundamento da aprendizagem; iii) a possibilidade de se cruzar fronteiras, a partir de uma elevada capacidade de comunicao; iv) a capacidade de se manter relacionamentos colaborativos no interior do arranjo e com o exterior; v) a atuao como agente motivador, indutor de capacitaes e formador de talentos; vi) a capacidade pra adaptao velocidade dos negcios; vii) a capacidade de gerenciar um amplo portflio de iniciativas.

Figura 2.8 Iniciativas de apoio formao de clusters

Fonte: Slvell, rjan; Lindqvist, Gran; Ketels, Christian. The Cluster Initiative Greenbook, p. 10, 2003. Disponvel em: http://www.europe-innova.eu/c/document_library/get_file?folderId=148900&name=DLFE-6119.pdf

Figura 2.9 Dimenses Bsicas das Polticas de Apoio Formao de Clusters

Fonte: Slvell, rjan; Lindqvist, Gran; Ketels, Christian. The Cluster Initiative Greenbook, p. 36, 2003. Disponvel em: http://www.europe-innova.eu/c/document_library/get_file?folderId=148900&name=DLFE-6119.pdf

Algumas anlises elaboradas por organismos de carter pblico ou semi-pblico caminham na mesma direo. O estudo The Cluster Benchmarking Project: Pilot Project Report - Benchmarking clusters in the knowledge based economy (2007) elaborado pelo Nordic Innovation Centre desenvolve um modelo de anlise baseado num conjunto de instrumentos e indicadores sistematizados na Figura 2.10. No relatrio Benchmarking as a Tool for Cluster Analysis Cluster Excellence Makes the Difference (2012), desenvolvido pela European Secretariat for Cluster Analysis (ESCA) sediada em Berlim, apresentada uma metodologia para a aferio de qualidade das prticas de gerenciamento de clusters, a qual procura incorporar evidncias coletadas desde 2007 junto a mais de 250 organizaes que atuam nessa direo. O estudo Perfect Cluster Policy and Cluster Program (2012) elaborado para a NGPExcellence (Cluster Excelence in the Nordic Countries, Germany and Poland) tambm prope uma sistematizao das principais categorias de servios prestados por organizaes de gerenciamento de clusters, conforme ilustrado pela Figura 2.11. Neste estudo desenvolve-se tambm uma sistematizao das dimenses a serem operacionalizadas e dos indicadores a serem utilizados nesse processo de gerenciamento, ilustrada pelo Quadro A.7 em anexo.

Figura 2.10 Instrumentos e indicadores para gerenciamento do apoio a clusters

Fonte: Andersen, Torsten; Bjerre, Markus; Hansson, Emily Wise. The Cluster Benchmarking Project: Pilot Project Report - Benchmarking clusters in the knowledge based economy, Nordic Innovation Centre, p. 27, Oslo, 2007. Disponvel em: http://www.nordicinnovation.org/Global/_Publications/Reports/2007/The%20cluster%20benchmarking%20project%20-%20Benchmarking%20clusters%20in%20the%20knowledge%20based%20economy.pdf

Figura 2.11 Servios oferecidos por organizaes de gerenciamento de clusters

Fonte: Christensen, Thomas A.; Lmmer-Gamp, Thomas; Kcker, Gerd Meier zu. Perfect Cluster Policy and Cluster Program - The Cluster League Some Food for Thought, Discussion paper, Berlin/Copenhagen, NPGExcellence Cluster Excellence in the Nordic Countries, Germany and Poland. p. 30. April 11th, 2012. Disponvel em: http://www.regx.dk/fileadmin/user_upload/Perfect_Cluster_Program_final_120411.pdf

Alguns trabalhos recentes realizados por empresas internacionais de consultoria tambm sinalizam na direo de prticas importantes no gerenciamento de arranjos produtivos, as quais teriam importantes desdobramentos sobre um perfil ideal de competncias a ser considerando na formao dos gestores dessas iniciativas. No estudo Uncovering excellence in cluster management (2011), a Pricewaterhouse & Coopers procura avanar na direo da caracterizao de um sistema adaptativo orientado mensurao da performance e ao gerenciamento dessas atividades. Assume-se que a implementao de sistemas de medio de desempenho representa uma ferramenta importante para permitir a sobrevivncia de clusters industriais em ambientes altamente competitivos. Neste contexto, os sistemas de medio de desempenho devem ser adaptados aos interesses dos diferentes grupos de agentes envolvidos no processo (por exemplo, indstria, academia, governo, investidores) e aos diferentes estgios do ciclo de vida desses clusters (incorporando uma diferenciao entre arranjos emergentes, em desenvolvimento, maduros e de classe mundial), ressaltando-se a importncia de se experimentar e testar vrias abordagens ao longo desse processo. Para viabilizar esse tipo de avaliao, os principais desafios gerenciais estariam associados necessidade de superar resistncias decorrentes de diferenas culturais e necessidade de se mudar mentalidades em funo da adaptao do arranjo aos estmulos ambientais. Para viabilizar esta mudana, seria importante a criao de um ambiente colaborativo, que minimizasse conflitos de interesses entre as partes interessadas, permitindo a realizao de adaptaes positivas face a contextos marcados por instabilidades financeiras, por mudanas no ambiente regulatrio, pelo acirramento da concorrncia externa e pela ocorrncia de rpidas mudanas tecnolgicas. Esse ambiente permite tambm legitimar internamente as aes, o que se mostra importante num contexto marcado por crescentes presses no sentido da necessidade dos gestores justificarem os investimentos pblicos e privados direcionados para o desenvolvimento de tais arranjos.

No gerenciamento de iniciativas de apoio a clusters industriais, assume-se que um sistema eficaz de mensurao da performance dessas aes deveria contemplar seis dimenses sistematizadas na Figura 2.12: 1) Responsabilizao (accountability) dos gestores em termos do uso de recursos; 2) Garantia de recursos (funding); 3) Aprendizado e Desenvolvimento, visando o ajustamento das aes em funo dos resultados obtidos; 4) Planejamento de atividades futuras; 5) Motivao (inspiring) dos agentes participantes dos arranjos, no intuito de estimular solues criativas e inovadoras; 6) Promoo externa das atividades do arranjo. Por outro lado, seria importante a montagem de um sistema de indicadores (ilustrados pela Figura A.2 em anexo) capazes de serem adaptados aos diferentes focos dos esforos de gerenciamento em cada uma das etapas evolutivas dos arranjos (organizao, emergncia, emergentes, desenvolvimento, maturidade e classe mundial), conforme ilustrado pela Figura 2.13.

Figura 2.12 Princpios Gerais de Sistema de Mensurao da Performance em Clusters Industriais

Fonte: Dervojeda, Kristina. Competitiveness and Cluster Performance Measurement Systems- Survival of the Adaptive. 14th TCI Annual Global Conference, Pricewaterhouse & Coopers , Auckland, New Zealand, p. 4, 30 November 2011. Disponvel em: http://www.tci2011.com/portals/147/files/03%20Kristina%20Dervojeda.pdf

Figura