000918687

download 000918687

of 25

description

prova

Transcript of 000918687

  • 1

    Gnero gramatical: anlise de livros didticos

    Geraldine Thomas da Silva (Autora)

    Sabrina Pereira de Abreu1 (Orientadora)

    Resumo: Este trabalho objetiva analisar a maneira como autores de livros didticos abordam as

    propriedades morfossintticas do gnero gramatical. A ideia de se realizar uma pesquisa sobre

    esse tema est centrada no fato de que ainda hoje comum que professores ministrem aulas

    sobre gnero gramatical enfatizando apenas aspectos morfolgicos, sem mostrar aos alunos que a

    informao acerca do gnero gramatical fato, primeiramente, de natureza sinttica. Desta

    forma, decidimos, neste artigo, analisar alguns livros didticos usualmente adotados pelos

    professores de Lngua Portuguesa, a fim de verificar se esses livros descrevem as propriedades

    do gnero gramatical do ponto de vista da morfossintaxe. O referencial terico centra-se em

    vrias publicaes de Camara Jr. Os resultados da anlise evidenciam que os livros didticos

    examinados deixam a desejar em relao sistematizao das informaes necessrias ao

    entendimento da expresso do gnero gramatical. Alm disso, tambm foi constatado que nesses

    livros didticos no feita distino entre gnero gramatical e biolgico, podendo causar

    confuso no ensino do contedo abordado.

    Palavras-chave: gnero gramatical morfossintaxe - livro didtico

    Introduo

    O ensino do gnero gramatical suscita diversas discusses no mbito do ensino da Lngua

    Portuguesa, pois a maioria dos livros didticos e gramticas normativas aborda o gnero como

    uma flexo do nome e relacionam-no diretamente com o gnero biolgico.

    Eis, por exemplo, o que dizem Celso Cunha e Lindley Cintra sobre flexo do gnero em

    sua Nova Gramtica do Portugus Contemporneo:

    Quanto significao: 1.So geralmente masculinos: a) os nomes de homens ou de

    funes por eles exercidas; b) os nomes de animais do sexo masculino [...] 2. So

    1 Professora da 6. Edio do Curso de Especializao em Gramtica e Ensino da Lngua Portuguesa UFRGS.

  • 2

    geralmente femininos: a) os nomes de mulheres ou de funes por elas exercidas; b) os

    nomes de animais do sexo feminino [...] (CUNHA e CINTRA, 1985, p.183)

    Apesar de o assunto j ter sido tema de diversos artigos, no dia 03 de abril de 2012 foi

    sancionada a Lei n.12.605/2012, que determina que as instituies de ensino pblicas e privadas

    expediro diplomas e certificados com a flexo de gnero correspondente ao sexo da pessoa

    diplomada, ao designar a profisso e o grau obtido (grifo nosso), trazendo o assunto

    novamente para a pauta de discusses.

    Essa polmica ocorre porque, na maioria das vezes, as gramticas normativas descrevem

    que a expresso do gnero gramatical ocorre com o acrscimo do morfema /- a/ ao radical para

    determinar palavras de gnero feminino, os casos que no se realizam com o acrscimo desse

    morfema, so tratados separadamente. Assim, por considerar que o gnero gramatical um

    fenmeno estritamente morfolgico, as gramticas em geral no fazem referncia ao fato de que,

    na Lngua Portuguesa, a expresso do gnero gramatical ocorre sistematicamente no acordo entre

    artigos e substantivos, e entre os substantivos e adjetivos, ou seja, na sintaxe. Dessa maneira, o

    gnero gramatical , primeiramente, um mecanismo morfossinttico. No caso de o vocbulo

    formal receber marcao de gnero gramatical, o que ocorre, como veremos neste artigo, a

    marcao concomitante do gnero gramatical com o gnero biolgico. Esse fato, geralmente, no

    explicado nas gramticas tradicionais. Ainda hoje, comum que professores ministrem aulas

    sobre gnero gramatical enfatizando apenas aspectos morfolgicos, sem mostrar aos alunos que a

    informao acerca do gnero gramatical ocorre de forma sistemtica na sintaxe.

    Considerando esse panorama sobre a descrio da expresso do gnero gramatical nas

    gramticas normativas, o presente artigo tem como objetivo verificar como os livros didticos

    abordam o ensino do gnero gramatical. Nossa hiptese a de que os livros didticos, seguindo a

    interpretao das gramticas normativas, enfatizam apenas os aspectos de carter morfolgico

    implicados na manifestao do gnero gramatical, no fazendo relao com a sintaxe. Para testar

    essa hiptese, neste trabalho, sero analisados seis livros didticos em uso nas salas de aula, a

    respeito da forma como abordado o gnero gramatical, assim como os exerccios propostos.

    O trabalho est estruturado da seguinte forma: na primeira seo, ser exposto o

    referencial terico acerca do gnero gramatical; na segunda, sero abordados os procedimentos

    metodolgicos; na terceira, ser feita a anlise dos dados levantados; e, por fim, alguns

    comentrios finais.

  • 3

    1. Referencial Terico

    Gnero, de acordo com o Dicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa (2008, p. 264),

    rubrica GRAMTICA, a categoria que classifica nomes em masculino, feminino e neutro.

    Para o consulente, essa definio de gnero gramatical j apresenta dois desafios: entender o que

    significa a palavra categoria nesse contexto e tentar imaginar qual seria o tipo neutro.

    Em seu Dicionrio de Filologia e Gramtica, Camara Jr. diz que o gnero nas lnguas

    romnicas, ou seja, naquelas, derivadas do latim (entre elas, a Lngua Portuguesa), uma

    categoria gramatical bipartida, ou seja, distribui-se em dois grupos, masculino e feminino.

    Textualmente, afirma que:

    Morficamente, o feminino se indica pela desinncia a em oposio a zero (0) para o masculino; ex.: loba, bela, com supresso morfofonmica da vogal temtica de lobo, belo, respectivamente. [...] Expressa-se o gnero, implcito no semantema do

    substantivo, ento, pela concordncia do artigo ou de um adjetivo de tema em o, onde h a desinncia a para o feminino e zero para o masculino (ex.: o sabi, a tribo; ou, com

    os dois gneros possveis no substantivo, dito ento COMUM DE DOIS o intrprete, a intrprete.) (CAMARA JR., 1964, p. 169)

    At aqui, Camara Jr., assinala que a manifestao de gnero gramatical decorre de uma

    espcie de informao contida no radical dos substantivos, que percebida atravs da

    concordncia em gnero com o determinante ou com o adjetivo que modifica o substantivo.

    Em outro livro, Estrutura da Lngua Portuguesa (2001), Camara Jr. afirma que a flexo

    de gnero exposta de uma maneira incoerente e confusa nas gramticas tradicionais do

    portugus (p. 88). O autor diz que isso ocorre, principalmente, em virtude de uma

    incompreenso semntica, pois comum que se associe gnero gramatical intimamente ao sexo

    dos seres (p. 88). Essa associao, de acordo com o autor, no correta, pois o gnero

    gramatical abrange todos os nomes substantivos, quer sejam animados, quer sejam inanimados,

    ou seja, abrange os nomes substantivos que no tm sexo. Alm disso, Camara Jr. afirma que

    mesmo em substantivos referentes a animais ou pessoas h discrepncia entre gnero e sexo,

    no poucas vezes (p. 88), como, por exemplo, a palavra testemunha, que uma palavra

    feminina, porm pode se referir tanto a homens quanto a mulheres.

    Outro aspecto mencionado pelo autor a forma como o gnero gramatical descrito nas

    gramticas, pois a maioria dos gramticos no apresenta a distino entre flexo de gnero e os

  • 4

    mecanismos que a lngua dispe para indicar o sexo dos seres. O autor ilustra essa situao na

    seguinte passagem:

    comum lermos nas nossas gramticas que mulher o feminino de homem. A

    descrio exata dizer que o substantivo mulher sempre feminino, ao passo que outro

    substantivo, a ele semanticamente relacionado, sempre do gnero masculino. [...] Tal

    interpretao, a nica objetiva e coerentemente certa, se estende aos casos em que um

    sufixo derivacional se restringe a um substantivo em determinado gnero, e outro

    sufixo, ou a ausncia de sufixo, em forma nominal no-derivada. Assim, imperador

    caracteriza, no flexionalmente, pelo sufixo derivacional dor, e imperatriz, analogamente, pelo sufixo derivacional triz. Da mesma sorte galinha um diminutivo de galo, que passa a designar as fmeas em geral da espcie , como perdigo

    um aumentativo limitado aos machos da . Dizer que triz, -inha, ou o so flexes de gnero confundir flexo com derivao. ( CAMARA JR. 2001, p. 88)

    Portanto, importante, para o entendimento do gnero gramatical, saber a diferena entre

    flexo e derivao.

    Camara Jr., em Problemas de Lingustica Descritiva (1997, p. 48), explica que desde

    Varro faz-se uma distino, na descrio gramatical, entre morfemas que criam novas

    palavras, ditos de , e morfemas de , que adaptam cada palavra s condies

    especficas de dado contexto. Conforme Cmara Jr. (1997):

    Palavras no obedecem a uma pauta sistemtica e obrigatria para toda

    uma classe homognea do lxico. Uma derivao pode aparecer para um dado vocbulo

    e faltar para um vocbulo congnere. De cantar, por exemplo, deriva-se cantarolar;

    mas no h derivaes analgicas para falar e gritar. [...] J na h

    obrigatoriedade e sistematizao coerente. Ela imposta pela prpria natureza da frase e

    naturalis no termo de Varro. a natureza da frase que nos faz adotar um substantivo

    no plural ou um verbo na primeira pessoa do pretrito. (CAMARA JR.,1997, p. 48).

    Afinal, o que Camara Jr. defende? Para ele, h apenas um morfema responsvel pela

    flexo de gnero, com pouqussimos alomorfes (outros morfemas que tambm expressam

    gnero, alm do morfema /-a/): o acrscimo, para o feminino, do sufixo flexional a (/a/ tono

    final) com a supresso da vogal temtica quando ela existe no singular: lob(o) + a = loba; autor

    + a = autora( 2001, p. 89)

    Seguem, abaixo, os alomorfes existentes, segundo Camara Jr (2001, p. 90):

    1) O par opositivo av av indica a distino de gnero por uma alternncia voclica da vogal tnica final do morfema lexical // - //;

    2) A formas tericas em /oN/, o mais das vezes com o masculino concreto o, perdem o travamento nasal ao acrescentar a desinncia de feminino a; ex.: bom /bom boa; leo (*/Leon/) leoa;

    3) O sufixo derivacional aumentativo */oN/ (no singular, concretamente o) transfere o travamento nasal posvoclico /N/ para a slaba seguinte como consoante

  • 5

    /n/, antes de acrescentar a desinncia de feminino: valento(*/valeNtoN/) valentona;

    4) Os radicais em /aN/ como tema em o suprimem a vogal do tema, no feminino: rfo rf; irmo irm;

    5) O sufixo derivacional eu (em que o tema em o se revela na vogal assilbica do ditongo) suprime a vogal do tema e, em virtude do hiato ea, desenvolve uma ditonga o e / diante do /a/, o que um fenmeno fonolgico geral em portugus para /e/ tnico em hiato. Ao mesmo tempo, h uma alternncia entre timbre fechado e

    timbre aberto para a vogal tnica, no masculino e no feminino, respectivamente:

    europeu, europeia;

    6) Alternncia anloga, no mbito das vogais mdias posteriores, sucede, quando a forma terica do nome com vogal tnica aberta (mdia de 1 grau), que passa a

    fechada (mdia de 2 grau) no masculino. Da no sufixo derivacional osa (*/z) o masculino oso com /z/ e ainda grossa (*grs/) grosso com /s/ ou ova (*/v/ - ovo). Cria-se ento, como j vimos, uma distino submorfmica // - //, alm da

    oposio derivacional - /a/. (CAMARA JR., 2001, p.90)

    Essa dimenso de formas (alomorfes) aponta para duas interpretaes: a primeira que a

    expresso de gnero mais do aspecto sinttico, segunda, que a expresso de gnero, quando

    morfolgica, igual a gnero biolgico, ou seja, redundante.

    Outro fator relevante para a compreenso do gnero gramatical o uso do artigo

    (mecanismo morfossinttico). Camara Jr. cita que isso era uma situao vigente j no latim.

    um mecanismo preciso e ntido em lnguas que, como o grego e o portugus, tm a

    partcula chamada , sempre implicitamente possvel de se antepor a um

    nome substantivo. Assim, o artigo, que, como partcula pronominal adjetivo tem uma

    funo significativa bem definida [...] tem a mais a funo de marcar, explcita ou

    implicitamente, o gnero dos nomes substantivos.

    (CAMARA JR., 2001, p. 91)

    A partir da importncia da presena do artigo em conformidade com o gnero do

    substantivo, o autor sugere que as gramticas escolares optem por descrever o gnero dos

    substantivos na base da forma masculina ou feminina do artigo, que eles implicitamente

    exigem. (CAMARA JR., 2001, p. 91), ou seja, argumenta a favor da ideia de que a informao

    gramatical de gnero, no portugus brasileiro, de natureza sinttica.

    O autor, ento, valendo-se do fato de que a manifestao do gnero gramatical regular

    se observarmos as relaes que se estabelecem entre o artigo e o substantivo, e entre o

    substantivo e o adjetivo, apresenta trs situaes que sistematizam, de maneira uniforme, a

    manifestao do gnero gramatical na Lngua Portuguesa, conforme se observa no quadro a

    seguir.

  • 6

    SITUAO CARACTERSTICA EXEMPLOS

    Nomes substantivos de gnero

    nico

    O nico gnero do

    substantivo, inerente a seu

    radical, manifesta-se no

    artigo, sem marca morfolgica

    expressa no corpo do

    vocbulo formal

    (a) rosa, (a) flor, (a) tribo, (a)

    juriti, (o) planeta, (o) amor,

    (o) livro, (o) colibri.

    Nomes de dois gneros sem

    flexo

    O gnero do substantivo pode

    ser masculino ou feminino e,

    invariavelmente, manifesta-se

    no artigo, sem marca

    morfolgica expressa no

    corpo do vocbulo formal

    (o,a) artista, (o,a) intrprete,

    (o,a) mrtir.

    Nomes substantivos de dois

    gneros, com uma flexo

    redundante;

    O gnero do substantivo pode

    ser masculino ou feminino e

    manifesta-se tanto no corpo

    do vocbulo formal quanto no

    artigo que o antecede.

    1) lobo, (a) loba; (o)

    mestre, (a) mestra; (o) autor,

    (a) autora.

    Quadro 1 Proposta de Camara Jr. para a descrio do gnero gramatical

    Por entendermos que a proposta de Cmara Jr. adequada para a compreenso das

    propriedades que caracterizam o gnero gramatical, e, portanto, adequada para o ensino deste

    contedo nas aulas de Lngua Portuguesa, adotaremos a tripartio proposta pelo autor para

    analisar os livros didticos, isto , avaliaremos como um livro didtico recomendvel aquele que

    descrever o gnero gramatical a partir de suas propriedades morfossintticas.

    Para tanto, na prxima seo, apresentaremos os procedimentos metodolgicos adotados

    para seleo dos livros didticos que sero analisados e os critrios que usaremos para a anlise

    dos dados, j explicitados nesta seo.

  • 7

    2. Metodologia

    Esta seo objetiva apresentar brevemente os procedimentos adotados para a seleo dos livros

    didticos e a organizao dos dados. Tambm aqui sintetizaremos os critrios que conduziro as anlises.

    2.1. Corpus da pesquisa:

    A seleo dos livros didticos a serem analisados pautou-se em dois critrios. O primeiro

    diz respeito ao momento em que os alunos iniciam suas reflexes acerca da expresso do gnero

    na Lngua Portuguesa. Esse contedo geralmente abordado na 5 srie do ensino fundamental,

    mas retomado ao longo da srie seguinte, tendo em vista o estudo da anlise sinttica do

    perodo simples. Assim, foram selecionados livros didticos utilizados na 5 srie (6 ano). Ainda

    atendendo ao critrio do momento de aprendizagem, optamos por selecionar livros didticos

    do 1 e do 2 anos do Ensino Mdio, tendo em vista que nesses anos tambm so constantemente

    retomados os contedos vistos ao longo do Ensino Fundamental. No selecionamos livros do 3

    ano do Ensino Mdio porque esses geralmente so redigidos com vistas preparao dos alunos

    para o concurso vestibular.

    Outro critrio que adotamos para a escolha dos livros didticos foi o de reconhecimento

    por rgo competente, ou seja, os livros didticos deveriam ter o selo do Ministrio da Educao,

    isto , deveriam ter sido aprovados pelo MEC. O ltimo critrio adotado para a seleo dos

    livros didticos foi o de atualidade, ou seja, os livros a serem selecionados deveriam ter sido

    lanados nos ltimos sete anos. Este critrio foi adotado porque se sabe que hoje os autores de

    livro didticos, em sua maioria, so profissionais formados em Letras, ou seja, que estudaram

    teorias lingusticas contemporneas. Nesse sentido, a nossa expectativa ao adotar esse critrio a

    de que o entendimento de que o gnero gramatical pode ser explicado aos alunos atravs de

    mecanismos morfossintticos fosse de conhecimento dos autores.

    Seguindo a aplicao dos critrios listados acima, selecionamos seis livros didticos, os

    quais constituem o corpus da presente pesquisa.

    Os livros selecionados foram os seguintes:

    Descobrindo a Gramtica 6 ano do Ensino Fundamental, Editora: FTD, Autores:

    Cludia Molinari Reda, Gildete Valrio, Gilio Giacomozzi, 2010;

  • 8

    Lngua Portuguesa Ponto de Encontro 6 ano do Ensino Fundamental, Editora: FTD,

    Autores: Marco Antonio Hailer, Maria Izabel Massoni, Solange Aranha, 2009;

    Projeto Radix 6 ano do Ensino Fundamental, Editora: Scipione, Autores: Ernani Terra

    e Floriana Toscano Cavallete, 2009;

    Coleo Novas palavras 1 srie do Ensino Mdio, Editora: FTD, Autores: Emlia

    Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite, Severino Antnio, 2005;

    Linguagem em movimento 2 ano do Ensino Mdio, Editora: FTD, Carlos Cortez

    Minchillo, Izeti Fragata Torralvo, 2008.

    Portugus Ensino Mdio, Volume 2, Editora Scipione, Autor: Jos de Nicola, 2005;

    Sendo representados, a partir de agora, respectivamente, pela seguinte codificao: L1,

    L2, L3, L4, L5 e L6, sendo L1, L2 e L3 do Ensino Fundamental e L4, L5 e L6 do Ensino Mdio.

    2.2. Critrios analticos:

    Para verificar como o gnero gramatical apresentado pelos autores dos livros didticos,

    partimos de duas perspectivas. A primeira restringe-se descrio pura e simples do que est

    registrado em cada livro acerca do assunto; a segunda est baseada na busca de algum indcio de

    que os autores se basearam nos critrios morfossintticos apresentados por Camara Jr. para

    descrever a expresso do gnero gramatical na Lngua Portuguesa, se as obras seguem a viso

    estruturalista de Camara Jr. (consideraes sobre as manifestaes sintticas, abonaes e

    exemplos) e se os tipos de manifestao do gnero gramatical contemplam as trs categorias

    apresentadas anteriormente:

    Nomes substantivos em gnero nico;

    Nomes de dois gneros sem flexo;

    Nomes substantivos de dois gneros, com uma flexo redundante.

    A anlise, portanto, seguir esses dois parmetros para aferir como os autores tratam das

    questes relativas manifestao morfolgica e sinttica do gnero gramatical. Nesse sentido,

    tambm verificaremos nos livros didticos se os autores, ao descreverem as formas como o

    gnero gramatical pode se apresentar, listam as situaes de alomorfias. Em caso afirmativo,

    vamos observar se o fazem a partir da caracterizao de uma excepcionalidade ou se o fazem

    para distinguir entre gnero gramatical e gnero biolgico.

  • 9

    3. Anlise de Dados

    Primeiramente, vamos observar, no quadro abaixo, os aspectos mencionados na seo

    anterior.

    Marcao sinttica sistemtica

    Descrio do

    gnero

    gramatical

    Gnero

    gramatical x

    gnero

    biolgico

    Nomes de

    gnero nico

    Nomes de dois

    gneros, sem

    flexo

    Nomes de dois

    gneros, com

    flexo

    redundante

    L1 Sim No Sim Sim No

    L2 No No No Sim No

    L3 Sim No Sim Sim Sim

    L4 Sim Sim Sim No Sim

    L5 No No No Sim Sim

    L6 Sim Sim Sim Sim Sim

    Quadro 2 Aspectos considerados na descrio do gnero gramatical

    Como se v no quadro acima, no h um tratamento uniforme das questes relacionadas

    expresso do gnero gramatical nos livros didticos examinados. Nesse sentido, apenas L6

    apresentou todas as informaes relevantes para uma adequada descrio do gnero gramatical.

    Os demais deixaram algum aspecto a desejar.

    Os resultados listados no quadro acima confirmam a afirmao de Camara Jr. sobre o fato

    de que no se diferencia gnero gramatical de gnero biolgico, o que pode justificar os

    problemas que os alunos enfrentam para compreender esse fenmeno gramatical.

    A seguir, vamos analisar comparativamente os resultados obtidos nas respectivas sries a

    que os livros se destinam.

  • 10

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    Descrio do

    gnerogramatical

    Gnero

    gramatical xgnero biolgico

    Manifestaes

    sintticas -Nomes

    substantivos em

    gnero nico;

    Manifestaes

    sintticas -Nomes de dois

    gneros sem

    flexo

    Manifestaes

    sintticas -Nomes

    substantivos de

    dois gneros,

    com uma flexo

    redundante

    Ensino Fundamental

    EnsinoMdio

    Grfico 1: Grfico comparativo entre Ensino Fundamental e Ensino Mdio.

    Como se observa no grfico, os livros didticos do Ensino Mdio foram os que mais se

    destacaram em relao aos aspectos observados. Em relao distino entre gnero gramatical

    e gnero biolgico, foram apenas os livros da 1. srie e da 2. srie do Ensino Mdio que

    trataram explicitamente dessa distino. Tambm chama a ateno o fato de que esses mesmos

    livros registraram que a expresso do gnero na Lngua Portuguesa pode apresentar de formas

    redundantes.

    L1 faz a descrio do gnero de acordo com critrios morfolgicos, ou seja, apenas

    apresenta os substantivos e classifica-os em feminino e masculino. Tambm no apresenta

    distino alguma entre o gnero gramatical e biolgico. Em relao s manifestaes sintticas,

    apresenta apenas os nomes substantivos de gnero nico e os nomes substantivos de dois gneros

    sem flexo, no tratando dos substantivos de dois gneros com uma flexo redundante.

    L2 tambm no distingue entre gnero gramatical e gnero biolgico. Nesse livro, so

    fornecidos aos aprendizes exerccios que acabam por fortalecer a ideia de que o gnero

  • 11

    gramatical se d a partir do biolgico. Quanto s manifestaes sintticas, apresentado somente

    um exemplo de substantivos de dois gneros sem flexo, no abordando nenhuma das outras

    categorias.

    L3, apresenta a descrio do gnero a partir de substantivos soltos (aspecto morfolgico)

    e no faz distino entre gnero gramatical e biolgico. J quanto s manifestaes sintticas, as

    trs categorias so corretamente explicadas e ilustradas com exemplos pertinentes. Por essa

    razo, entre os livros didticos do Ensino Fundamental aqui analisados, este livro , sem dvida,

    o que mais se aproxima de uma apresentao adequada do gnero gramatical.

    No L4, o primeiro dos trs livros do Ensino Mdio analisados, as explicaes fornecidas

    pelos autores so bem superficiais. Nesse livro, a descrio do gnero gramatical feita a partir

    dos substantivos, sem nenhuma referncia ao papel que o artigo ou o adjetivo exercem para a

    expresso do gnero. Poucos so os exemplos de manifestao sinttica de gnero gramatical

    apresentados pelos autores (apenas i) nomes de dois gneros e ii) nomes de dois gneros, com

    uma flexo redundante). Alm disso, no h uma descrio adequada do que os autores

    entendem por gnero nem distino entre gnero gramatical e biolgico.

    L5 apresenta uma descrio consistente das propriedades do gnero gramatical:

    menciona a importncia do artigo e do adjetivo para a determinao do gnero e ainda cita a

    diferena do gnero gramatical e biolgico, mostrando exemplos. Quanto s manifestaes

    sintticas, apenas no apresenta informaes relativas aos nomes de dois gneros sem flexo; os

    demais casos aparecem e so explicados a partir de exemplos.

    Por fim, L6 mostrou-se, a partir da anlise, o livro didtico de Ensino Mdio mais eficaz,

    abordando todas as categorias, com exemplos pertinentes e exerccios.

    Quanto comparao entre os livros didticos de Ensino Fundamental e Ensino Mdio,

    pode-se perceber que os livros didticos do Ensino Mdio so mais completos quanto aos

    critrios considerados na anlise.

    Os dados aqui apresentados parecem indicar que o ensino do gnero gramatical

    abordado pelos autores dos livros didticos pesquisados de forma desorganizada, ou seja, sem

    um critrio norteador comum. A maioria no distingue entre gnero gramatical e biolgico e,

    ainda, apresenta os aspectos morfolgicos como determinantes para a caracterizao do gnero

    gramatical.

  • 12

    Consideraes finais

    Neste trabalho, objetivamos analisar como os livros didticos apresentam aos leitores

    potenciais, os alunos de Lngua Portuguesa, as propriedades morfolgicas e sintticas do gnero

    gramatical. Para tanto, na seo 1, apresentamos o referencial terico, baseado exclusivamente

    nos estudos de Camara Jr., que prope um caminho seguro para o reconhecimento do gnero

    gramatical inerente aos substantivos.; na seo 2, mostramos brevemente a metodologia adotada

    para a seleo do corpus de pesquisa, para a organizao dos dados, bem como os critrios

    analticos que serviram de ponto de apoio para as nossas observaes; na seo 3, por fim,

    comentamos os resultados encontrados. Esses resultados confirmaram a afirmao de Camara Jr.

    acerca dos problemas que o ensino do gnero gramatical ainda hoje enfrenta.

    A pesquisa aqui relatada apenas o comeo de uma pesquisa que deve ser ampliada para

    que se possa ter um panorama mais completo da situao. Assim, para que se tenha a

    confirmao de que os livros didticos no tratam de forma satisfatria as propriedades

    morfolgicas e sintticas da expresso do gnero gramatical na Lngua Portuguesa, preciso que

    o corpus seja ampliado.

    Referncias

    AMARAL, Emlia et al. Coleo Novas Palavras. 2 edio. So Paulo: Editora: FTD, 2005.

    CAMARA JR., J. M. Dicionrio de filologia e gramtica. 2 ed. Rio de Janeiro: Ozon, 1964.

    --------- Estrutura da Lngua Portuguesa. 34 ed. Petrpolis: Editora Vozes, 2001.

    --------- Problemas de Lingustica Descritiva. 16 ed. Petrpolis: Editora Vozes Limitada, 1997.

    CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramtica do Portugus Contemporneo. 2 ed. Rio

    de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1985.

  • 13

    FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Aurlio: Dicionrio da Lngua Portuguesa. Edio

    especial. Curitiba: Ed. Positivo, 2008.

    HAILER, Marco Antonio; MASSONI, Maria Izabel; ARANHA, Solange. Lngua Portuguesa:

    Ponto de Encontro. So Paulo: Editora: FTD, 2009.

    Lei 12.605/2012

    Disponvel em: Acesso em: 19 jul. 2012.

    MINCHILLO, Carlos Cortez; TORRALVO, Izeti Fragata. Linguagem em movimento: literatura,

    gramtica, redao: ensino mdio, volume 2. So Paulo: Editora FTD, 2008.

    NICOLA, Jos De. Portugus volume 2. So Paulo: Editora Scipione, 2005.

    REDA, Cludia Molinari; VALRIO, Gildete; GIACOMOZZI, Gilio. Descobrindo a

    Gramtica. So Paulo: Editora FTD, 2010.

    TERRA, Ernani; CAVALLETE, Floriana Toscano. Projeto Radix. 2 edio. So Paulo: Editora

    Scipione, 2009

  • 14

    Anexos:

  • 15

  • 16

  • 17

  • 18

  • 19

  • 20

  • 21

  • 22

  • 23

  • 24

  • 25