03.3 Resenha Barbalho Fuser Cogo

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  • QURUM ACADMICOVol. 8, N 16, julio-diciembre 2011, Pp. 330 - 333

    Universidad del Zulia ISSN 1690-7582

    Alexandre Barbalho, Bruno Fuser

    y Denise Cogo (Coordinadores).

    Questes de Cidadania e

    Comunicao no Brasil

    Quais so as articulaes possveisentre cidadania e comunicao emnossos dias? Como os diversos grupos epopulaes negociam suas visibilidadese reivindicam direitos num tempo de re-configurao das esferas pblicas? Estasparecem ser questes fundamentais que conduzem como fios condutoresos nove artigos reunidos na coletnea Comunicao e cidadania:questes contemporneas organizada por Alexandre Barbalho, DeniseCogo e Bruno Fuser (Fortaleza, Fundao Demcrito Rocha, 2011). Ostextos trazem luz tanto o que tem sido pensado no campo conceitualcomo emprico em estudos realizados por pesquisadores de comuni-cao em vrias partes do Brasil.

    A coletnea iniciada por duas produes conceituais feitas porCeclia Peruzzo e por Raquel Paiva. A primeira estudiosa debate as ree-laboraes no setor de comunicao popular, alternativa e comunitria.A autora faz uma reviso destes processos dos anos 1970 at os anos2000 contextualizando-os nos diversos acontecimentos scio-histri-cos, tais quais a redemocratizao aps a ditadura militar, os refluxos dosmovimentos sociais e a implementao da poltica neoliberal no pas.Tendo como pano de fundo tal contexto Peruzzo conclui que os pro-cessos comunicao no passaram inclumes a essas transformaesfazendo com que a comunicao comunitria, popular-alternativa e ojornalismo alternativo se atualizassem e assumissem diversas e novasfeies: como a incorporao das novas tecnologias e os novos ativis-mos, por exemplo.

  • Semelhante constatao tem Raquel Paiva quando prope o termominoria flutuante para analisar as expresses daquele ativismo socialna contemporaneidade. A autora desenvolve sua argumentao desta-cando o local estratgico da comunicao dentro dos processos de agen-damento e visibilidade das bandeiras que os diversos movimentos so-ciais minoritrios empreendem. Neste contexto a mesma afirma que ascaractersticas efmeras e muitas vezes restritas ao virtual fazem comque muitas das reivindicaes das minorias flutuantes sejam eventospontuais e no-orgnicos, se utilizarmos os termos de Antnio Gramsci.Contudo, mesmo assim, Paiva conclui que essa dimenso de apario,muitas vezes miditica, no deve ser desprezada, pois expressa o carterdiscursivo das disputas em curso.

    No campo emprico os artigos produzidos por Bruno Fuser; Catari-na Oliveira; Mrcia Vidal; Alexandre Nunes e Alexandre Barbalho dis-cutem a utilizao das tecnologias de comunicao como instrumentodas polticas de governo (telecentros, jornais) ou como frum de dis-cusso destas mesmas polticas (site de relacionamentos, sites de bairro).

    Bruno Fuser retoma a questo da implementao da poltica neoli-beral no Brasil e suas conseqncias na anlise do que ele chamou de fa-lcia da incluso digital. Nesta perspectiva de interveno mnima dogoverno nas questes sociais a noo de incluso em sua expresso co-municacional reduzia ao acesso informao atravs dos telecentros(locais pblicos de uso da internet). Tal contexto exclui-se a dimenso deleitura crtica das mdias e da realidade social por ela pautada. Outra con-seqncia que nesta perspectiva praticamente fica impedida a ascensodo cidado comum ao status de protagonista e agente nos processos co-municacionais.

    Se Fuser pesquisou a dimenso de interveno da poltica pblicanos processos de acesso ao mundo virtual, Catarina de Oliveira desen-volveu estudo sobre o surgimento espontneo de um site comunitrio.Este espao virtual congrega as inquietaes e reivindicaes dos mora-dores do Bairro Elery localizado em Fortaleza, capital do Cear, estadodo nordeste brasileiro. Ali a possibilidade de surgimento de uma esferapblica iniciada a partir do momento em que a realidade do citado bai-rro passa a ser discutida pelo ngulo de seus prprios moradores. Outroobjetivo daquele espao virtual o registro dos cotidianos do bairro, suasfestividades e a preservao da memria local contra o esquecimento.

    Reseas bibliogrficas

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  • Caractersticas imprescindveis para a gestao do espao pblico e damemria coletiva.

    J o artigo de Mrcia Vidal antecipa a decadncia e fragilidade dosite de relacionamentos Orkut. Este visto pela autora como um espaode encontros virtuais e fruns de discusso sem qualquer perspectiva dedurabilidade e onde a poltica ali exposta voltil e fluida.

    Outro tipo de experincia poltica aparece no texto de AlexandreNunes e Alexandre Barbalho. a comunicao alternativa agora articu-lada entre governo e sociedade civil atravs da produo de jornais estu-dantis em escolas pblicas estaduais. Segundo os pesquisadores essetipo de publicao acaba por gerar um espao participativo e conflituosono qual se exerce o monitoramento da execuo da poltica de educao.Logo, h a participao efetiva dos alunos na vida escolar e a articulaodestes com outros movimentos de juventudes locais.

    Essa possibilidade tensa, onde a fala do subalterno emerge, tam-bm discutida por Maria Luiza Mendona na sua reflexo sobre a cul-tura dos grupos vulnerabilizados e sua recente apropriao da produoaudiovisual. Assim como os sites comunitrios e os jornais escolares aproduo audiovisual local aparece como espao de expresso no qual seutiliza a mdia para mostrar pontos de vista dos grupos subalternos e seusmodos de vida para alm do estigma e do esteretipo.

    Na publicao em tela a cidadania, a migrao e a juventude sotratadas por Denise Cogo e Deismer Gorczevski como experincias nos jurdicas, mas tambm vividas. Para tanto, as professoras seleciona-ram jovens migrantes que residem na Europa e na America Latina emvistas de compreenderem este fenmeno e sua articulao com o consu-mo miditico. Em ambos cenrios das experincias de deslocamento(Espanha e Brasil) detecta-se o processo de marginalizao do migrante.Os jovens residentes na Espanha relatam a criminalizao das mi-graes contemporneas na qual a mdia tem papel central. J os entre-vistados que vivem no Brasil no se ressentem da criminalizao, mas dainvisibilidade dos mesmos na mdia brasileira. Em ambos os casos as au-toras no perceberam a participao direta dos mesmos em nenhum pro-cesso de gesto e produo miditicas.

    Ainda no contexto dos conflitos e visibilidades contemporneasMohammed Elhaji traz o debate conceitual da comunicao interculturalno apenas como elemento de afirmao identitria das minorias, mas

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  • tambm como estratgias de formao de consensos e de legitimaotanto interna ao grupo minoritrio como externa a ele. Para o autor emuma realidade onde ocorre a progressiva ampliao do espao pblicovirtual estas tticas vo alm da auto-representao do real pelos grupose adentram a arena da disputa de poder quando pautam suas polticas ebandeiras. Assim, as minorias reivindicam transformaes tanto nasposturas de governo como na sociedade civil.

    O livro Comunicao e Cidadania: questes contemporneas um interessante conjunto de interpretaes que, numa unidade surpreen-dente, discute as confluncias e divergncias existentes entre os doiscampos. Torna-se, portanto leitura imprescindvel para aqueles que pre-tendem atuar e refletir sobre tenses e ambigidades que pautam as di-versas mdias alternativas nestas primeiras dcadas do sculo XXI.

    Alexandre Nunes

    Universidade Federal do Cear-Cariri,

    Brasil

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