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Sobral, ano 4, v.1, n. 7, JUL/DEZ 2015, p. 4-25. ISSN: 2317-2649 1. A CIDADE DE SOBRAL: PERCURSO BIBLIOGRÁFICO THE SOBRAL CITY: course bibliographic RESUMO O presente artigo é fruto de uma pesquisa bibliográfica desenvolvida na procura de restaurar a historiografia sobralense através de um diálogo eclesiástico e historiográfico, que tem como objetivo buscar a compreensão da história local dentro das mudanças sociais. Dentro dessa ótica colocaremos em exposição o papel da família para o crescimento da cidade; ainda veremos como a mulher foi controlada em vários sentidos, como também suas posturas sociais e econômicas que teve uma grande contribuição. A Igreja como Instituição colaborou para um fortalecimento tanto econômico como cultural da cidade. Compete à história desempenhar o caso imparcial sobre o passado com total neutralidade. Palavras-chaves: Cidade, Historiografia, História Local, Sobral ABSTRACT This article is based on a literature developed in seeking to restore the historiography Sobralense through an ecclesiastical and historiographical dialogue, which aims to seek the understanding of local history within social changes . Within this perspective put on display the family's role in the growth of the city ; It remains to be seen how the woman was controlled in many ways , but also their social and economic positions had a great contribution. The Church as an institution contributed to the strengthening both economic and cultural city . It is for the story to play the impartial case about the past with complete neutrality. Keywords: Cidade, Historiografia, História Local, Sobral. JAQUELINE PORTELA DE SOUSA – INTA [email protected] Chrislene Carvalho dos Santos Pereira Cavalcante – Docente INTA/UVA

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1. A CIDADE DE SOBRAL: PERCURSO BIBLIOGRÁFICO

THE SOBRAL CITY: course bibliographic

RESUMO

O presente artigo é fruto de uma pesquisa

bibliográfica desenvolvida na procura de

restaurar a historiografia sobralense através de

um diálogo eclesiástico e historiográfico, que

tem como objetivo buscar a compreensão da

história local dentro das mudanças sociais.

Dentro dessa ótica colocaremos em exposição o

papel da família para o crescimento da cidade;

ainda veremos como a mulher foi controlada

em vários sentidos, como também suas posturas sociais e econômicas que teve uma grande

contribuição. A Igreja como Instituição colaborou para um fortalecimento tanto econômico

como cultural da cidade. Compete à história desempenhar o caso imparcial sobre o passado

com total neutralidade.

Palavras-chaves: Cidade, Historiografia, História Local, Sobral

ABSTRACT

This article is based on a literature developed in seeking to restore the

historiography Sobralense through an ecclesiastical and historiographical dialogue, which

aims to seek the understanding of local history within social changes . Within this

perspective put on display the family's role in the growth of the city ; It remains to be seen

how the woman was controlled in many ways , but also their social and economic positions

had a great contribution. The Church as an institution contributed to the strengthening both

economic and cultural city . It is for the story to play the impartial case about the past with

complete neutrality. Keywords: Cidade, Historiografia, História Local, Sobral.

JAQUELINE PORTELA DE SOUSA –

INTA

[email protected]

Chrislene Carvalho dos Santos Pereira

Cavalcante – Docente INTA/UVA

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INTRODUÇÃO

“É na cidade que se passa da família ampliada à família nuclear, mas os grandes burgueses concebem um governo à imagem de seus clãs familiares. O “bom governo” tende a imitar o modelo do príncipe justo, num espaço mais restrito no qual se podem diversificar as experiências políticas justo, num espaço mais restrito no qual se podem diversificar as experiências politicas, com a exceção da heresia. A cidade respeita a Igreja e com frequência se coloca a seu serviço”.

Jacques Le Goff

Essa pesquisa tem como tema o percurso historiográfico da cidade de Sobral. Esse

tema despertou o meu interesse porque a legislação brasileira, ao valorizar a inclusão da

história local no currículo da Educação Básica, foi possível verificar, durante o Estágio

Curricular, que não se vem praticando essa inclusão. Em virtude dessa ausência de diálogo

com a História Local nas escolas procurarei aqui nesse artigo, dialogar historiograficamente a

escrita de Sobral. Vale ressaltar que essa escrita tem duas grandes fases: uma que é a escrita

clerical e a segunda é acadêmica.

Segundo Malatian “Cabia à História procurar resgatar a verdade objetiva, imparcial e

neutra sobre o passado, utilizando para isso as provas documentais deixadas pelos nossos

antecessores.” Essa será a marca da escrita clerical, numa relação de macro para micro

História. A segunda forma de escrita será abordada na vertente da história como estudo das

experiências humanas num determinado tempo e espaço. É dentro dessa perspectiva que

cabe ao pesquisador, atualmente, analisar como em cada lugar e períodos diferentes certa

realidade social é fundamentada, pensada e analisada, e que se pode gerar uma leitura do

mundo, trazendo do micro para macro história.

É nessa linha de pensamento que devemos proporcionar aos alunos do Ensino

Básico, fazendo-os ter conhecimento dos fatores sociais que contribuíram para sua

historiografia, e ao mesmo tempo, trazendo a transmissão de teorias de ensino-

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aprendizagem que ponderam o aluno participante ativo do processo de uma edificação de

conhecimento, fazendo o mesmo um sujeito crítico e ativo.

A cidade como tema, não é recente, mas passou a ser fomentado com a Escola dos

Annales no Brasil, a partir dos anos 1980. Carpintéro, no seu artigo A cidade como história,

ressalta a reponsabilidade da historiografia brasileira, que durante alguns anos mencionou a

cidade, apenas como campo das modificações políticas e econômicas.

Por outro lado, salientamos a responsabilidade da historiografia brasileira, que nos últimos anos tratou a cidade predominantemente, apenas como palco das transformações políticas e econômicas, ou então, como cenário para os grandes acontecimentos sociais.

De acordo com Carpintéro, cresceu o número de produções acadêmicas com o tema

voltado para a cidade, o que nos leva a refletir é que na maioria dessas produções não são de

historiadores, mas de arquitetos, geógrafos e sociólogos, e algum tempo desperta o interesse dos

historiadores:

Nos últimos anos, a produção acadêmica sobre temas relacionados à cidade aumentou de modo significativo, o que faz da tarefa de apresenta – lá e analisa –lá criticamente uma ousadia sem limites. Antes reduto de alguns arquitetos, geógrafos e sociólogos, recebe há já alguns anos a atenção dos historiadores, que com seus colegas de outras áreas, compõem um amplo painel de recortes temáticos e de aproximações teóricas.

A História tem um papel importante, onde escolhe caminho que apresente um

mapeamento das pesquisas, enquanto questões urbanas, e investiga criticamente os

paradigmas e contribuições explicativas da área da história relacionadas aos estudos sobre

cidade.

Procuro reconstruir a historiografia sobralense dentro de um diálogo eclesiástico e

historiográfico, buscando compreender a história local centro das transformações sociais,

assim como o papel da Igreja para o fortalecimento tanto econômico como cultural da

cidade, que é destacado nessa escrita.

Nesse artigo pretendo fazer um diálogo com os autores Sadoc, Frota, Cavalcante,

Silva Junior e Rodrigues, que desenvolveram algumas pesquisas vinculadas à História

Política, História Social e História Cultural, trazendo contribuições para essa área de estudo.

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HISTORIOGRAFIA DA FUNDAÇÃO

A marca da escrita eclesiástica em Sobral é a busca da fundação da cidade dentro de

uma abordagem histórica político-social, dos grandes acontecimentos, das fontes cartoriais,

da teoria da história política positivista.

Padre Sadoc no seu livro, Origem da Cultura Sobralense, afirma-nos que não tem

como comprovar quem foi o primeiro proprietário da Fazenda Caiçara, que é o marco da

fundação de Sobral. Ele cita Frota: “Não nos foi possível averiguar quem foi o primeiro

proprietário da Fazenda Caiçara, mas tudo leva a crer que o seu possuidor pela a doação

feita a Patrimônio da matriz, a houve recebido de outrem.”.

Através desta afirmação do Bispo Dom José, incentiva-nos a pesquisarmos mais para

conhecermos as origens de Sobral.

Na pesquisa de Padre Sadoc, ele relata que, levado pela curiosidade, resolveu

averiguar em alguns documentos algo que comprove a origem da cidade de Sobral com a

ajuda do ponto de partida que deixou Dom José. Esses registros dos documentos originais

demonstram uma possibilidade à fundação. De acordo com Padre Sadoc, a primeira

sesmaria da Ribeira do Acaraú foi concedida no dia 20 de setembro de 1863, para Manoel de

Goés e seus companheiros Fernando Góes, Francisco Pereira Lima, Manuel de Almeida

Arruda, Pe. Amaro Fernandes de Abreu, Estevão de Figueiredo e Simão Goés de Vasconcelos.

Manoel de Góes foi um homem abastado e faleceu em Pernambuco no começo do

século dezoito e era proprietário da capela do Capítulo do Convento de S. Antônio do Recife,

o mesmo juntamente com seus companheiros para conseguir as sesmarias:

Por que não tem na Capitania de Pernambuco terras próprias capazes para a quantidade de gado vacum e cavalar, os vinha comboiando até esta Capitania por distância de duzentas léguas de matos fechados e terras de tapuias bárbaros, com muitos dispêndios de suas idas, e querendo acomodar-se nesta Capitania, deliberaram buscar paragens convenientes, e caminhando desta Força para a parte do Maranhão topa um rio por nome Caracu na distância de quarenta e cinco

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léguas, nas ribeira do qual se podem colher fontes e pastar gados com grande aumento da Fazenda Real desta capitania. (ARAUJO, 2005)

Após a petição, o Capitão-mor Bento de Macedo a deferiu, concedendo assim,

vinte e uma léguas de terras acima do rio. Cada companheiro de Manoel Góes ficou com

sete léguas, sendo que, apenas dois dos sesmeiros demarcaram suas terras e

consequentemente ocuparam. Essa data ficou conhecida com o nome de Datas dos Góes

que atingiu até o Marco, onde se encontra hoje a cidade de Marco, que fica à margem do rio

Acaraú.

Ainda buscando nos documentos, nos termos de batismo, casamento e óbito do

Curato do Acaraú, que esses livros lavram dados desde 1725, Padre Sadoc não encontrou

nada de referência a Francisco Pereira Lima, Manuel de Almeida Arruda e Estevão de

Figueiredo, que diante dessa ausência de dados podemos dizer que não deixaram

descendência na região. Tudo indica que o terreno que hoje está situada a cidade de Sobral,

estava dentro dos limites das sesmarias que foi confirmada em 14 de outubro de 1702, que

sendo concedida pelo Capitão-mor Francisco Gil Ribeiro para dois políticos da Câmara da

recém-criada Vila de Aquiraz, Antonio da Costa Peixoto e Leonardo de Sá. Antonio da Costa

Peixoto era português, chegou ao Ceará no ano de 1676, com residência no Suipé,

aproximadamente de Pecém, que somente em 1694 oficializou sua ocupação de terra com

outra sesmaria que lhe foi concedida.

Araújo (2005) apresenta que o primeiro proprietário das terras onde foi

construída a Fazenda Caiçara, Antonio da Costa Peixoto teve grandes influências social e

política nas primícias da Capitania, sendo que na primeira eleição no Ceará, (Aquiraz), para

Constituição da primeira Câmara, o mesmo foi eleito vereador.

Nesse momento da construção de uma História familiar sobralense, percebemos

nesse trabalho que explana as origens sobralenses, que as riquezas começam através da

ocupação de terras e para permanecer em família os filhos dos proprietários casavam-se

com as filhas de outros sesmeiros, que é o caso do filho de Antonio da Costa; teve dois

filhos: Nicolau da Costa Peixoto e Apolônia da Costa. Nicolau casou com Paula Sá, filha de

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Leonardo de Sá, um dos sesmeiro; os mesmos fixaram residência no baixo Acaraú, atual

cidade de Bela Cruz, onde a mesma fez necessária à igreja, construindo a Capela de Nossa

Senhora da Conceição.

De acordo com Araújo (2005), Apolônia foi a segunda proprietária que herdou as

terras de seu pai na Ribeira do Acaraú, onde hoje é a cidade de Sobral; ela casou com o

Sargento-mor Antônio Marques, natural de Portugal, que residia no Siupé. Do fruto desse

matrimônio, nasceram sete filhos, mas somente três desses residiram para administrar e

ocupar na Ribeira do Acaraú, sendo eles: Antonio da Costa Leitão, João Marques da Costa e

Quitéria Marques de Jesus, que como terceira casou-se com o Capitão Antônio Rodrigues

Magalhães. Por muito tempo o casal morou no Suipé onde nasceu a maioria de seus filhos.

Somente em 1750, mudaram-se para a fazenda Caiçara que doaram terras para a construção

da Capela da Nossa Senhora da Conceição da Ribeira do Acaraú.

Aproximadamente por volta do ano de 1759, Dona Quitéria faleceu, ressaltando que

dois anos anteriores, seu esposo já tinha falecido. Em virtude do falecimento de Quitéria a

Fazenda Caiçara passou a ser herdada pela sua filha caçula Bárbara Maria, sendo a quarta

proprietária, a mesma casou com Antonio José Marinho. Vejamos que até aqui as terras

ainda eram da mesma família. Na pesquisa dirigida pelo Padre Sadoc, não se ressalta se

nesse momento houve crise financeira na família, mas ele afirma que as terras foram

arrendadas a Luís Soares Ferraz Porto, pela quantia de oito mil réis por ano, que logo após

vendeu para José Mendes Machado, que assim passou a ser o quinto proprietário. Através

dessa venda as terras saíram das posses da primeira família.

José Mendes Machado residia na Fazenda Sapo, atual cidade de Santana do

Acaraú, onde casou com Antonia Maria Lopes, com quem teve filhos; o mesmo doou

algumas terras para o dote de casamento de sua filha Inácia Maria, que casou com Francisco

Rodrigues da Cruz. Em 1777, José Mendes morreu e o restante das terras passaram a ser dos

seus três filhos: Antonio José, Vitorino e Matias Mendes Machado, sendo soldado servidor

da guarnição do Forte de Nossa Senhora da Assunção em Fortaleza. Em virtude de morar em

Fortaleza, teve dificuldades em administrar as terras. Ele vendeu a um preto forro Manoel

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de Sousa, sendo assim o sétimo proprietário. Embora sendo um homem de cor, Manoel de

Sousa teve muita influência na Vila de Sobral.

Sobre o tempo de colonização a escrita acadêmica apresenta uma abordagem.

Souza (2006) afirma que a prática devocional pelo Rosário é uma tradição antiga, que teve

início no século XIV que já se encontrava na Espanha. A devoção do Rosário e de Irmandades

por negros começa a se desenvolver com aqueles escravos que tinham contatos com os

ensinamentos Católicos, e assim, fazendo adaptações à suas crenças anteriores.

A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, na cidade de Sobral, essa devoção ao

Rosário da Virgem Maria teria chegado ao Ceará, através dos negros, que chegaram com os

primeiros colonizadores que vinham de Portugal e dos Estados de Pernambuco, Bahia e

Maranhão, lugares onde já existia há bom tempo essa tradição, principalmente entre os

Negros. A irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Sobral teve sua

formação em meados do século XVIII.

Sobre esse tema a historiografia de Sobral recebeu munição da escrita da

dissertação de Rodrigues. O autor apresenta:

A necessidade de construção de um templo vai além de mera devoção, pois como afirma Mott, “A capela, além das fundações religiosas, era ponto de reunião social. Ali se celebravam casamentos, batizados, primeiras comunhões”. Com frequência servia de cemitérios aos membros da família.1

Nesse período histórico a Capela de Nossa Senhora do Rosário dos pretinhos era

de serventia aos homens e famílias de cor, que era administrado por Alferes Eusébio de

Sousa Farias, que com o intuito de garantir o sustento da Capela, o administrante propôs a

compra das terras a Manoel de Sousa Leal. A venda concretizou-se e as terras passaram a

fazer parte do patrimônio da Capela de Nossa Senhora do Rosário.

1 SOUZA, Raimundo Nonato Rodrigues de. Irmandade e Festa Rosário dos Pretos de Sobral-CE (1854-

1884). Edições NUDOC, 2006. P. 146 (Coleção Mundos do Trabalho).

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A marca da fundação histórica aceita o processo de colonização portuguesa e

sua fixação no território e os valores de interação. Sendo assim, a história de ocupação do

território marca um período da produção da escrita da história de Sobral.

A CIDADE DE SOBRAL E SUAS CONQUISTAS

Frota apresenta que a Vila estava se povoando, e cada vez mais havia necessidade

da presença da Medicina. Houve conquistas, profissionais que se destacaram no ramo da

Medicina e Farmácia, como também bons cirurgiões, enfrentando secas e epidemias,

superando e conquistando espaços, tanto político como econômico.

Iniciamos contextualizando como se deram as demarcações das terras da Ribeira do

Acaraú, que hoje é a cidade de Sobral. Mas gostaríamos de enfatizar a cidade de Sobral na

primeira metade do Século XX, com um acontecimento muito importante na sua história,

que foi ser o local no globo terrestre que possibilitou com prova, a relatividade.

Em 1915 o cientista Einstein iniciou a sua Teoria da Relatividade, segundo a qual

era exigida que a luz tivesse peso e sofresse a força da gravitação como qualquer outra

partícula de matéria, e para ser considerada verdadeira ficou sujeita à comprovação

experimental. Para se comprovar a veracidade dessa Teoria foi consultado um mapa na qual

a trajetória da sombra daquele eclipse, no ano de 1919, que iria passar. Ela começaria no

Pacífico próximo a Costa Ocidental do Peru, e passando pelo Nordeste do Brasil (Sobral),

assim atravessando o Atlântico em direção à África, pela a qual atingiria a costa da Libéria e

assim, cruzando a África Central que terminaria no mar próximo da Costa Oriental africana.

Analisando o estado natural do sol no Peru ele estaria muito baixo e só surgiria no

horizonte. Já na África oriental estaria também muito baixo, impossibilitando a

comprovação, nas Ilhas de São Paulo e São Pedro; no meio do Atlântico, o sol estaria a alto,

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mas uma estação na região seria impossível já que são apenas pedras isoladas. Averiguando

as dificuldades dos locais os cientistas do Observatório de Greenwich resolveram enviar duas

expedições: uma para o nordeste do Brasil, na cidade de Sobral, e outra à Ilha do Príncipe,

costa ocidental da África, por motivo que, nesses locais o sol estaria numa altura de 45º e

com uma boa duração, assim favorecendo a comprovação.

O Observatório Nacional do Rio de Janeiro enviou uma comissão científica à cidade

de Sobral, com o dirigente Dr. Henrique Morize. A mesma era composta por oito

participantes: Dr. Domingos Costa, astrônomo; Dr. Lélio Gama, calculador; Dr. Teófilo Lee,

geólogo e químico; Dr. Luís Rodrigues, meteorologista; Dr. Alírio de Matos, astrônomo; Artur

de Almeida, mecânico e Primo Flores, auxiliar.

Assim como Sobral recebeu a comissão brasileira, a cidade também recebeu mais

duas comissões, sendo essas estrangeiras: Americana e Inglesa. A Comissão Americana

instalou seu observatório na Praça do Patrocínio e se hospedou na residência do Dr. José

Sabóia de Albuquerque. A Comissão Inglesa ficou hospedada na residência do Cel. Vicente

Sabóia, que na época, era deputado federal. A comissão brasileira foi também montada na

Praça do Patrocínio que tinha como objetivo central fotografar a coroa solar, testando a

Teoria da Relatividade de Einstein, e para a alegria de Einstein e das Comissões científicas,

no dia 29 de maio de 1919, diante dos resultados, foi comprovada a Teoria da Relatividade

de Einstein no sertão do nordeste brasileiro, especificamente na cidade de Sobral.

A fundação da Diocese de Sobral foi criada em 1915 pelo papa Bento XV, marca

um novo tempo, que teve como primeiro Bispo Dom José Tupinambá da Frota, cita Padre

Sadoc: “Homem dinâmico e empreendedor, seria o mais qualificado do tipo educador do

povo sobralense.”

Após sua posse no ano de 1916, Dom José tinha como um objetivo, colocar o fim

no analfabetismo na cidade com a instalação do Comitê Municipal contra o analfabetismo;

após essa instalação foram inauguradas algumas escolas. Com a inauguração do Seminário

Diocesano, no ano 1925, considerada a primeira grande obra educacional de Dom José,

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transformou o palco da Educação de Sobral. Esse Seminário durou 43 anos, acolhia centenas

de jovens do Estado do Ceará e dos Estados vizinhos, onde teve algumas formações de

Bispos e padres, não na parte da Teologia, mas também formou inúmeras pessoas através

da formação humanística básica que não só permaneceram na cidade de Sobral, mas como

também se espalharam pelo Brasil, exercendo inúmeras atividades profissionais.

A escrita da cidade apresenta a cidade, sempre em evolução onde a pecuária tinha

um grande destaque econômico, e sem falar que suas áreas pastoris favoreciam para o seu

progresso econômico. Já no final do século XIX para o início século XX, tanto o sistema

cultural como o econômico sobe com grande êxito, vivendo a cidade de Sobral o apogeu de

sua história.

Assim, com a inauguração da Estrada de Ferro, Sobral – Porto de Camocim, a cidade

de Sobral passou a ter uma parcela de influência sobre a Região Centro – Norte do Estado do

Ceará, onde também não influenciou somente no Estado Ceará, mas como também em

algumas regiões dos Estados do Piauí e do Maranhão, quando as mesmas passaram a

usufruir dessa estrada de ferro para descarregar seus produtos no Porto de Camocim que

exportava para outras regiões, tanto do Brasil como também internacionais.

Com a implantação da estrada de ferro no final do século XIX, foi um dos principais

fatores físicos que contribuiu para o crescimento da cidade, favorecendo um intercâmbio

econômico e cultural que era via Porto de Camocim ao restante do Brasil, como também a

Europa, fazendo uma ligação com o Velho Mundo.

Silva Junior (2002) nos traz uma apresentação de um número avançado de

deslocamento do campo para a cidade, que se deu de uma forma intensa dentro do período

da década de vinte. Segundo ele, os números de casas comerciais eram de 760, no entanto

os estabelecimentos rurais estavam com o número de 316. Dentro desse momento, Sobral

recebia um número acerbado de pessoas que estavam deixando o campo para morar no

espaço urbano. Em virtude dessas mudanças a cidade deveria se moldar com as

transformações que ocorria nos grandes centros urbanos.

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Percebe-se que através da escrita local (semanário católico) prevalecia, tinha toda

uma preocupação em destacar a cidade em elevado grau do progresso, como destacou Silva

Júnior (2002) ao afirmar que em alguns relatos lidos em Correio da Semana, a cidade

passava por momentos muito difíceis, que aos poucos aqueles discursos que era feito dentro

de uma perspectiva harmoniosa estava sendo desconstruído pelo o dia a dia dos

sobralenses. Em 1919 Sobral atravessou uma grande seca, e em 1920, ainda não tinha se

recuperado. Vimos agora outro discurso, aqui a cidade foi “tomada” por flagelados que

vieram do campo para Sobral em busca de sobrevivência, por causa da seca. O Governo

Federal na época tomou atitudes através de construções de estradas e açudes, com o intuito

de minimizar os sofrimentos daqueles indivíduos, porém usando meios através da política,

para dizer, “fui eu que fiz, então votem em mim para que eu possa continuar fazendo mais

por vocês”.

A Igreja Católica nesse momento, como sempre, estava ao lado da política

conservadora, colocando um comportamento de reconstrução da sociedade. Para ela a

sociedade estaria precisando de intervenção religiosa, a Igreja estava em condições

favoráveis, na qual se achava sendo detentora da moral e dos bons costumes. Sendo esse o

momento em que a política procurava se sobressair com base em Roma, que organização

doutrinaria em sentido de romanização.

Há três tipos de discurso que irão se contradizer na briga pelo poder político: o

Juiz, como detentor da lei; Bispo Diocesano, como representante do sagrado e Deolindo

Barreto, representando a imprensa local que atuava dentro do pensamento progressista e

não era a favor do clero, afirma Silva Junior (2002). Já no Estado do Ceará em si, estava

passando por transformações. Em 1912, com a queda de Nogueira Accioly, a política no

Ceará estava dividida em democratas e conservadores. A Igreja por vez estava apoiando a

política acciolyna, que era totalmente conservadora, que foi crucial na aproximação do Bispo

e o Juiz, uma inimizade que foi posta durante a década de 1910.

Essa aproximação tinha como objetivo atacar Deolindo Barreto, redator-chefe

do semanário (opositor) A Lucta, que tinha em seus discursos, profundos pensamentos

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contra o clero. Com seus pensamentos democratas contra a política conservadora,

incomodou de tal maneira que o mesmo foi assassinado no ano de 1924, um assassinato que

até nos dias de hoje não foi desvendado.

Como visto, houve batidas políticas entre democratas e conservadores, e a Igreja

como sempre acusadora de que a civilização moderna era na maior parte, causadora das

más condições sociais na qual a cidade se encontrava, e impedia que Sobral fosse

reconhecida nacionalmente como uma cidade modelo, Sobral passava por ponto de vista

disciplinador. Havia um argumento em que a cidade não poderia perder a supremacia.

Defendia-se que Sobral não deveria perder a hegemonia política, cultural e economia construída ao longo da sua história. A Sobral da tradição montada, deveria se unir em torno de uma causa maior, que seria a de perpetuar a idéia da Princesa do Norte.2

Segundo Silva Junior (2002), durante a década de 1920 houve várias tentativas

de socialização dos espaços com o objetivo de remendar a metrópole da região norte. Nesse

período foram fundados vários espaços sociais, assim como: Sobralense Futebol Clube, para

incentivar a diversão e lazer para a sociedade. Em 1922, dar-se início a temporada de

corridas de cavalos do Jóckey Club Sobralense, entre outros. Sempre procurando uma

estrutura para a cidade de Sobral que visava um modo de viver civilizado.

Na época era visível como o padrão de vivência era comparado com o da capital

cearense, e por muitas vezes, as regras que eram ditas na capital, eram copiadas em Sobral.

Tanto a elite política e a Igreja bolassem as regras do tempo e dos lazeres do povo, tendo em

mente que a folga era visto como um desvio a ser acertado, no caso do lazer dentro de um

modo que levasse o que era certo ou não. Com isso, a Igreja passaria a controlar de uma

forma mais decisiva, sendo assim passaria a controlar a cidade de modo não tão visível

aparentemente, unificando suas forças e colocando-se presente na cidade.

2 SILVA JÚNIOR, Agenor Soares e . “A Cidade Disciplinada”: A Igreja Católica e os Trabalhadores Urbanos

em Sobral – Ceará ( 1920- 1925). Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Pernambuco, 2002. pag. 77.

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Araújo (2005) afirma que, com a inauguração da Santa Casa de Misericórdia de

Sobral, que foi uma obra de Dom José Tupinambá da Frota, em 25 de maio de 1925, depois

dessa data a medicina sobralense teve um grande avanço, saindo do campo individual para

ser serviço coletivo e institucional da comunidade. Não podemos negar que essa mudança

trouxe grandes benefícios para a saúde da população sobralense, pois não foi tão fácil.

Envolveu questões financeiras, recursos humanos e técnicos. Essa obra foi fundamental para

eternizar o Bispo Dom José Tupinambá da Forta.

Já na educação, depois de ter passado pelo processo de ensino colonial, Sobral

chega ao ensino superior em passos lentos. Durante a primeira metade do século XX, o

governador Benjamin Barroso nomeia o professor Newton Craveiro para o cargo de Inspetor

Escolar, ainda jovem com profundo conhecimento da Escola Nova, que chega à cidade de

Sobral pelo professor Lourenço Filho, que teve grande influência na educação da cidade.

Com o intuito de renovação dos métodos pedagógicos nas escolas cearenses, o professor

Newton Craveiro lança um livro didático, que teve como tema: João Pergunta. Esse livro teve

muito êxito em todo o Brasil. Em 1923, Sobral tornou-se sede da 3ª Região do Ensino e nesse

ano o educador Newton foi nomeado Delegado do Ensino.

Araújo (2005) ressalta que no ano de 1926, foi registrada a inauguração da Escola

Ernestro Deocleciano, que era destinada aos filhos dos operários da Fábrica de Tecido, que

teve uma grande participação na economia da cidade. Com um bom número de escolas no

ano de 1930, o Governo do Estado do Ceará mantinha um grupo escolar e quem estava à

frente era a professora Olga de Pontes Medeiros. Nesse mesmo ano houve o surgimento do

Externato Dom Bosco, dirigido pelo Padre Gonçalves Eufrásio, que era destinado aos

operários. O Externato alfabetizou vários adultos, tendo como base o modelo de educação

da JOC – movimento operário que nasceu na Bélgica, que tinha se espalhado por todo

mundo.

Por volta do ano de 1933 foi fundada a Liga dos Professores Católicos de Sobral,

que o seu objetivo central era agregar todos os católicos que exerciam o magistério público

ou particular do grau primário ao Ensino Superior.

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A Liga deveria se empenhar para “intensificar entre os seus membros a fé e a prática do catolicismo, praticar um apostolado católico social junto as pessoas sobre as quais possam os seus membros direta ou indiretamente exercer influência, promover o estudo das questões pedagógicas procurando orientá-los pelas boas regras da doutrina cristã e defender, quando preciso, o magistério e o ensino.3

A Liga dos Professores foi a primeira Associação de Classe fundada na cidade, que

tinha no centro de suas ações, reduzir a introdução de alguns métodos pedagógicos da

Escola Nova. Já no ano de 1934, chega com mais um avanço na educação da cidade de

Sobral. Nesse ano foram inaugurados o Ginásio Sobralense e o Ginásio Santana, ambos eram

destinados à educação secundária da juventude, tanto masculina como feminina, aqui sendo

os primeiros estabelecimentos de ensino secundários que conseguiram se “comparar” em

questão de estrutura com o Colégio Pedro II do Rio de Janeiro. Ressaltamos que, o Ginásio

sobralense teve como seu primeiro Diretor Pe. José Aloísio Pinto que foi uma figura muito

importante na educação sobralense. Já o Ginásio Santana foi entregue a Congregação das

Filhas de Santana, sendo a primeira Diretora, Sorana Tecla d’Urso.

Fundado em 1942 o Educacional São José, que foi iniciativa da professora

Honorina Passos e que somente depois passou a ser Ginásio São José, tinha havido a troca

da direção para a Professora Dinorá Tomás Ramos. Com a intenção e dedicação à educação

primária dos pobres, surge em 1943, o Patronato Maria Imaculada que tinha como

metodologia de ensino, São Vicente de Paulo.

O nosso objetivo nessa pesquisa é dar ênfase na primeira metade do século XX,

para entendermos como era a sociedade sobralense nessa época. Através dos avanços nas

conquistas sobralenses, entenderemos como passavam as pessoas que viviam na cidade e

que com as aquisições realizadas através do Bispo Dom José as pessoas teriam grandes

afeições por ele.

3 ARAÚJO, Francisco Sadoc de, Origem da Cultura Sobralense, Edições UVA, Sobral- CE, 2005, pag. 178.

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A cidade nesse momento estava passando por transformações, tanto no âmbito

educacional como cultural, deparando-se com modificações nos comportamentos familiares,

que socialmente iam se transformando. A Educação revolucionária que Dom José

Tupinambá trouxe para a cidade teve um ponto crucial para os sobralenses, antes só tinha

uma educação “atrasada” e agora se depara nesse momento com um desenvolvimento

educacional.

Quando tratamos do desenvolvimento educacional sobralense não podemos

deixar para traz o surgimento do Ensino Superior na cidade de Sobral, embora sendo criado

somente na segunda metade do século XX, gostaríamos de destacá-lo como uma obra

importantíssima que aqui Dom José teve conhecimento. Assim como na Educação Básica

sobralense o Bispo teve suas influências na história do Ensino Superior.

Visto que Sobral e cidades vizinhas já tinham inúmeras escolas secundárias, havia

uma necessidade de bons professores habilitados para dirigi-las. Nesse período, terminando

o ensino secundário, aquele que quisesse dar continuidade a seus estudos no Ensino

Superior teria que ir para a Capital do Ceará, Fortaleza, englobando a necessidade de

professores habilitados e a distância para uma formação no Ensino Superior.

Em 1960 nascia a ideia da criação da primeira escola superior em Sobral, partindo

da iniciativa da Diocese de Sobral e com as orientações do professor Martins Filho que era

Reitor da Universidade Federal do Ceará. Logo após, tiveram que tomar providências em

pedido de autorização que é enviado ao Conselho Nacional de Educação “Pelo o Decreto

49.878 de 11 de janeiro de 1961, assinado pelo Presidente da República Dr. Juscelino

Kubitschek é autorizado a funcionar a Faculdade de Filosofia Dom José, tendo os cursos de

Letras e História.”

Com o Monsenhor José Gerardo Ferreira Gomes, como diretor, sua aula inaugura

no dia 19 de março de 1961. Após sete anos foi criada a Fundação Universidade Vale do

Acaraú – UVA que foi estabelecida pelo Decreto Municipal n° 214 do dia 23 de outubro de

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1968, através do Prefeito Jerônimo de Medeiros Prado. De lá para cá a Universidade

Estadual Vale do Acaraú é reconhecida em todo o Brasil.

Não podemos negar que a cidade de Sobral teve grandes avanços em vários

ramos, e que a Igreja Católica também teve o seu papel na pessoa de Dom José. É notável

como tudo girava em torno da Igreja, que sempre estava envolvida em várias questões,

começando na Educação secundária até as atitudes comportamentais dos seus fieis.

O PAPEL DA IGREJA CATÓLICA DENTRO DAS FAMÍLIAS SOBRALENSES

Silva Junior (2002) mostra-nos na sua dissertação de mestrado, algumas colocações

sobre como era a família cristã sobralense na primeira metade do século XX, nos anos 1920 a

1925. Mostra-nos ainda, um artigo que tem como título Monstruoso Drama de Sangue que

foi narrado no semanário católico da cidade de Sobral. Este artigo faz ressalva ao drama de

uma família que habitava em um bairro periférico em Sobral.

A família representada por Maria do Carmo, Francisco Porphirio e os seus dois filhos.

Certo dia, Maria do Carmo foi até a Delegacia regional fazer uma queixa de que seu marido

não estava correspondendo com o dever de um dono de casa; o mesmo, além de está

desempregado vivia embriagado e incentivava os filhos a roubar, enquanto Maria do Carmo

trabalhava muito para alimentar seus filhos, e até mesmo o Porphirio, seu esposo, em suas

vendas de tabuleiro. Cansada de viver uma vida com condições difíceis ela resolve ir até a

delegacia. O delegado chama o Senhor Francisco Porphirio para dar bons conselhos; o

mesmo sai da delegacia com bastante raiva de sua esposa, por tê-lo denunciado, e ao chegar

em casa com um punhal mata sua companheira, que estava grávida, com quatro

punhaladas, que morre de imediato.

Francisco Porphirio vendo que tinha matado sua mulher e seu filho embrionário fugiu

com o punhal nas mãos. Os soldados começam a perseguição e o mesmo vendo que estava

sendo perseguido atira pedras nos soldados. Como louco, dar sacada de punhal pelo ar. Os

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soldados se aproximam cada vez mais dele; ele vendo isso pula o muro da casa do cidadão

José Custódio de Azevedo.

A polícia pula no muro e encontra Francisco Porphirio trancado dentro do banheiro

estendido no chão lavado de sangue e sem sentido. Visto que estava sem saída, tenta se

matar com facadas no pescoço, afetando somente a garganta e ficando sem sentido devida a

perda de sangue e a perturbação mental que se encontrava. Foi levado para o hospital e

feito curativos pelos médicos, logo após o assassino foi levado para a detenção onde ficou

aguardando o final do inquérito para o julgamento.

Diante desse relato vimos que nem todas as famílias sobralenses seguiam o padrão

que era definido pela Igreja Católica. De acordo com esse fato, é visível compreender que

existiam outros perfis de família em Sobral.

A Igreja Católica mostra uma representação de uma família cristã com uma divisão

hierárquica que é correspondente a uma família patriarcal, e que não teria que haver nem

questionamento. Para o catolicismo a mulher cristã é a guardiã da família, sendo ela a base

para uma preparação de uma sociedade que estava sofrendo grandes modificações em

virtude da modernização, e para o homem, a Igreja o via dentro de um papel provedor, ou

seja, o centro do lar e a autoridade máxima.

Dentro desse mesmo período, com a entrada da modernidade na cidade,

apareceram vários utensílios para que a mulher sobralense pudesse acompanhar as

inovações que estavam frequentemente mudando, e como Sobral estava no processo de

adaptação do novo, surgiu o discurso sobre essas mudanças, incluindo beleza, saúde e moda

dentro do universo das mulheres sobralenses.

O campo da escrita acadêmica traz a problematização para a história. Dessa

forma, a cidade passa a ser analisada como espaço de combate dos comportamentos

femininos. Sobre o modelo imposto do comportamento feminino pela modernização, era

visto como algo profano na ótica da Igreja, onde a mulher deveria ser comparada com a

Virgem Maria, que sempre estava voltada para a atenção do lar. Para a Igreja quando a

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mulher entrava em contato com essas mudanças mundanas ela estaria totalmente

corrompida com o pecado, e a beleza que a Igreja estava a favor era da beleza natural.

Conforme afirma Cavalcante (2013) “A mulher que estivesse seguindo a ‘moda mundana’,

segundo anunciava o Correio da Semana, estaria infringindo a moral cristã. No entanto,

bastaria que tomasse a decisão de mudar esse quadro, voltando a ser rainha do lar.”

A Igreja tenta controlar esses avanços que iam contra os seus princípios,

colocando-a de fora e possibilitando sua exclusão no poder. Dessa maneira, sua atitude foi

condenar a mulher a controlar o seu próprio corpo, assim como na saúde, moda e no sexo. A

mulher foi controlada em vários sentidos, como também nas posturas sociais e econômicas.

Visto que era avaliada com muito critério, algumas exceções pela a Igreja, e as condições de

modernidade dentro da saúde e da moda. Contudo, a mulher deveria manter o seu papel de

protetora do lar, voltando sua atenção somente para a família e que jamais deveria atentar-

se para a valorização de seu corpo, quebrando ali todas as virtudes de uma verdadeira

mulher cristã.

O clero tenta colocar um perfil familiar que corresponde com os princípios bíblicos, e

nesse caso, a família seria uma instituição responsável em representar a moral cristã.

Caberia a mulher o dever de se impor, vista como uma figura frágil e mediadora tanto do lar

como também da família em si, como afirma Silva Júnior (2002), “A mulher vivia no limite do

sagrado e do profano, cabendo ao homem cuidar para que esta não se desviasse do

caminho”.

Analisando a família de Maria do Carmo no relato citado no início, percebe-se que

essa família coloca-se totalmente fora do perfil familiar determinado pela Igreja Católica. De

acordo com Silva Junior (2002), o casal estaria fora desse padrão, devido ambos terem se

unidos no matrimônio civil, no qual automaticamente ia contra o padrão familiar instituído

pela Igreja.

Visto que nesse período a cidade de Sobral estava passando por transformações

nos campos da economia e social, claro também, dentro das famílias por causa da chegada

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da modernidade, essa modernidade foi atacada pela Igreja, que tinha o objetivo de abrir um

leque de padrões familiares e que estava se deparando com a moda, comportamento, novas

religiões que estavam chegando através da facilidade da comunicação e também a questão

do divórcio. Vendo que a modernidade estaria assolando tanto a Igreja como também a

família, a Igreja “ataca” essas inovações com seus discursos.

Era totalmente inaceitável pensar na possibilidade de haver separação de um casal,

pois a Igreja era contra em se tratar desse assunto. E se tratando do assunto de divórcio,

começaram muitos discursos, entre o clero e a ciência, buscando encontrar argumentos

aprofundados para garantir as satisfações.

Na ótica da Igreja a família era a primeira instituição perfeita da sociedade, sendo a

segunda o Estado e por último a Igreja.

Apesar de convergirem na pregação da moral familiar, conservadores católicos e cientificistas polemizavam sobre o papel social da mulher, assim, Combari, na sua ética do trabalho, ao abordar a família como a matriz da organização familiar, afirma ser ela uma instituição que passa por uma profunda universalização ética originária das classes médias e das elites urbanas, propagando, desta forma, uma ideologia do familismo dentro de um cenário intelectual brasileiro entre o final do século XIX e o inicio do século XX.

Para Silva Junior (2002), o princípio do perfil familiar definido pelo semanário

católico sobralense vem com harmonia, e a divisão de tarefas entre o marido e a esposa,

constituindo uma instituição, a família, na qual formam uma unificação das doutrinas cristãs

catalisando as mudanças sociais.

Dentro do cenário familiar em que se encontrava Maria do Carmo e o Francisco

Porphirio, estavam distantes de se encaixar dentro do perfil familiar patriarcal e positivista.

Nesse caso Porphirio deveria ser a autoridade maior e provedora dentro família, no entanto

ele se encontrava desempregado, talvez devido às condições que não eram favoráveis a ele.

Enquanto Maria do Carmo estava lutando para conseguir a separação, na visão da Igreja

naquele momento, isso era totalmente um pecado, sendo ela obrigada a conviver com o

marido, mantendo um matrimônio forjado e cuidar dos filhos. Essas eram as únicas opções

na qual ela se encontrava.

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Silva Junior (2002) afirma-nos que a percussão sobre divórcio e família teve grandes

discutições durante a década de vinte dentro do semanário católico. Nesse período, em

algumas edições do jornal Correio da Semana, vêm nos trazer as más influências dos Nortes

Americanos no Brasil, que discutiam o estilo de vida americano e a religião que predominava

mais nos Estados Unidos, o protestantismo, que para a Igreja Católica não levava a sério a

importância do matrimônio. Quando tratamos em questão, o casamento entre os

americanos, sentíamos a ausência da santificação da cerimônia, tornando o casamento em si

algo banal. Mostra-nos que se analisarmos esse motivo iremos compreender a causa pela a

qual o divórcio era totalmente liberado entre os americanos, a razão de que havia a falta da

religião Católica Apostólica Romana dentro daquela região.

A cidade de Sobral nesse momento estava enfrentando uma realidade social muito

difícil, e a Igreja Católica não queria enxergar esse fato. Durante muito tempo e ainda hoje,

podemos afirmar que o matrimônio para a Igreja era e é algo sagrado, onde tem a presença

da trindade santa: pai, filho e espírito santo e uma instituição familiar para ligar a família

sagrada.

Porém, Sobral não tinha um padrão familiar como a igreja queria que fosse.

Existiam vários tipos de famílias que passavam por conflitos, fome; por muitas vezes a

mulher teria que se submeter ao marido para desobedecer a Igreja, e acabando ser

assassinada pelo seu conjugue, exemplo da família citada anteriormente. Era uma luta de

poderes, buscando um modelo de cidade que a harmonia prevalecia, mas esquecia de que

ali envolvia vidas, envolvia também a luta pela sobrevivência.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A importância dessa pesquisa é fazer com que muitos leitores, tanto da área

acadêmica como educação básica, tenham um contato com a historiografia da cidade de

Sobral. Como foi citado no início desse artigo é notável que hoje nas salas de aula do ensino

básico note-se a carência da História Local. O objetivo desse artigo é acender a chama de

interesse para trabalhar a História da cidade de Sobral, olhando não só para o lado de uma

História Positivista, mas também com um olhar crítico, ajudando ao leitor/estudante

compreender que há diversas fases que uma cidade passa para chegar ao seu auge.

Mas a cidade também tem suas tenebrosas profundezas [...] em nome de um ideal religioso, a crítica da cidade avoluma-se, desde São Martinho até alguns franciscanos do século XIV [...] o orgulho urbano é feito da imbricação entre a cidade real e a cidade imaginada, sonhada por seus habitantes e por aqueles que a trazem à Luz, detentores de poder e artistas.

Resgatar a História de uma cidade dentro de dois ângulos diferentes, como

eclesiástico e historiográfico, traz-nos uma compreensão completa de como foi construída a

cultura da cidade. Nessa pesquisa encontramos detalhes sobre a História da cidade de Sobral

que não é mencionada no cotidiano escolar local.

Destacamos alguns Historiadores, Cavalcante, Silva Junior, Rodrigues, que nos

relatam em seus trabalhos, uma narrativa compreensiva do que foi a cidade de Sobral em

certo período.

Quando se trata de Sobral, o que vem em nossa mente é a presença da Igreja.

Percebe-se que durante muito tempo essa instituição religiosa se fez presente no cotidiano

dos sobralenses. Não podemos negar que a Igreja tentou controlar os avanços da sociedade

que batia de frente com os seus ensinamentos e lhe propulsionava exclusão tanto do poder

político como também o social. Por outro lado ela teve também um papel importante que

contribuiu para o desenvolvimento de várias áreas: educação, saúde, lazer, entre outros.

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Dentro dessa pesquisa vimos como a Igreja tentou modificar de várias maneiras

o comportamento feminino, visto que a mulher era olhada como “objeto” que deveria se

adequar dentro dos padrões religiosos. A Igreja com receio de perder o poder condena a

mulher a controlar o seu próprio corpo, assim como na saúde, moda, e no sexo.

Vimos que a mulher foi questionada em vários aspectos no âmbito social como

também econômico que contribui por muitas vezes, causar a “exclusão social”. Para a Igreja

todas as condições que traziam a mulher a se adaptar dentro do mundo da modernidade

eram avaliadas com muito critério. Entretanto o objetivo da Igreja era que a mulher,

auxiliadora do homem, tinha o dever de sustentar a tarefa de Dona do Lar, não podendo

jamais voltar o seu olhar para as vaidades que a modernidade oferecia.

Como estamos tratando de cidade, assim como todas grandes cidades foi se

baseando em outra cidade; com Sobral não foi diferente. Na década de 20 do século XX era

ver como o modelo de vivência a ser comparado com o da cidade de Fortaleza, a capital

Cearense, na maioria das vezes algo que era dito como ordem, moda, lazer na cidade de

Fortaleza, logo a cidade de Sobral estava se apropriando do modelo.

A cidade de Sobral sempre foi vista como uma cidade evolucionada, onde a

pecuária tinha um grande destaque econômico, e sem falar que suas áreas pastoris

favoreciam para o seu progresso econômico. Já no final do século XIX para o início do século

XX, tanto o sistema cultural como o econômico sobe com grande êxito, vivendo a cidade de

Sobral o apogeu de história.

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