1. INTERACÇÕES ESPONTÂNEAS · 2014. 2. 27. · 033 U: sim (.) alimentação e roupa 034 T: (0.5)...

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1 Curso de Análise das Interações Verbais FCSH 1º semestre 2012 TRECHOS DE TRANSCRIÇÃO DE INTERACÇÕES REALIZADAS EM DIFERENTES MODALIDADES DA INTERACÇÃO: INTERACÇÕES ESPONTÂNEAS, INSTITUCIONALMENTE ENQUADRADAS E MEDIATIZADAS Última actualização: 25 outubro 2012 1. INTERACÇÕES ESPONTÂNEAS TRECHO 1. ‘Brincadeira entre irmãs – decidindo a que brincar’. Duração: 1 minuto e 38 segundos. Extraído de: Corpus ADR-BE Participantes: A: irmã (11 anos) B: irmã (9 anos) 001 A: vamos fazer o quê:? 002 B: (0.4) 003 ºnão seiº 004 A: (0.4) 005 vamos jogar ds? 006 B: (0.3) 007 nã:o: (.) vá: 008 (1.2) 009 e::h 010 (5.4) 011 A: lemos? 012 B: (0.4) 013 não dói-me a cabeça e:h 014 (4.1) 015 A: mmm 016 B: º( 017 (0.4) 018 eh fazemos o quê:? (.) eh vemos a televisão? um filme? 019 A: nã:o 020 B: ah então temos que ( ) 021 A: dói-te a cabeça 022 B: (1.3) 023 eh brincamos aqui então 024 A: (0.8) 025 um jogo (.) 'bora p'ali? 026 B: (0.4) 027 nã'::: 028 (0.4) 029 deixa ver o que é que há lá em cima 030 (0.3) 031 e:h (.) esse (assusta-ti)? 032 A: (0.3) 033 o quê? 034 B: (0.4) 035 esse (assusta-ti)? 036 A: nã:::o 037 B: (0.8) 038 e::h 039 A: eu não gosto desses jogos 040 (0.8) 041 [( )] 042 [não sei (.) tipo um jo]go: (.) não sei (.) um jogo tipo: (.) 043 de aventura (.) tipo: (.) eh 044 (0.8)

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Curso de Análise das Interações Verbais FCSH 1º semestre 2012

TRECHOS DE TRANSCRIÇÃO DE INTERACÇÕES REALIZADAS EM DIFERENTES MODALIDADES DA INTERACÇÃO: INTERACÇÕES ESPONTÂNEAS, INSTITUCIONALMENTE ENQUADRADAS E MEDIATIZADAS

Última actualização: 25 outubro 2012

1. INTERACÇÕES ESPONTÂNEAS

TRECHO 1. ‘Brincadeira entre irmãs – decidindo a que brincar’. Duração: 1 minuto e 38 segundos. Extraído de: Corpus ADR-BE Participantes:

A: irmã (11 anos)

B: irmã (9 anos)

001

A:

vamos fazer o quê:?

002 B: (0.4)

003 ºnão seiº

004 A: (0.4)

005 vamos jogar ds?

006 B: (0.3)

007 nã:o: (.) vá:

008 (1.2)

009 e::h

010 (5.4)

011 A: lemos?

012 B: (0.4)

013 não dói-me a cabeça e:h

014 (4.1)

015 A: mmm

016 B: º( )º

017 (0.4)

018 eh fazemos o quê:? (.) eh vemos a televisão? um filme?

019 A: nã:o

020 B: ah então temos que ( )

021 A: dói-te a cabeça

022 B: (1.3)

023 eh brincamos aqui então

024 A: (0.8)

025 um jogo (.) 'bora p'ali?

026 B: (0.4)

027 nã':::

028 (0.4)

029 deixa ver o que é que há lá em cima

030 (0.3)

031 e:h (.) esse (assusta-ti)?

032 A: (0.3)

033 o quê?

034 B: (0.4)

035 esse (assusta-ti)?

036 A: nã:::o

037 B: (0.8)

038 e::h

039 A: eu não gosto desses jogos

040 (0.8)

041 [( )]

042 [não sei (.) tipo um jo]go: (.) não sei (.) um jogo tipo: (.)

043 de aventura (.) tipo: (.) eh

044 (0.8)

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045 >roubaste alguma coisa tenho que encontrar o quê?<

046 B: n:ão

047 A: (0.6)

048 ha

049 (0.4)

050 cada um (.) à su- à sua casa

051 B: (0.4)

052 n::ão

053 A: eu (nasci) na tua e nós ( ) a nossa casa

054 B: (2.0)

055 A: vá lá:: (.) um jogo de

056 (1.2)

057 de:::

058 (1.4)

059 B: médico?

060 A: (0.5)

061 vá lá (.) ( )

062 (2.7)

063 B: >queres jogar à bola?<

064 A: (1.0)

065 >'tá bem<

066 (1.9)

067 B: temos os sa[patos?]

068 A: [ou o] jogo do médico se quiseres

069 (1.2)

070 B: [di:z?]

071 A: [médico] mas então arrumamos o quarto (.) e depois temos (.)

072 este paciente e isso tudo (.) e temos que (nos ocupar)

073 B: sim

074 te- (.) vamos fazer uma sala de ( )?

075 A: e temos que fazer (.) um SÍtio

076 B: e vamos fazer (.) a ( ) do médico

[…]

2. INTERACÇÕES INSTITUCIONAIS

TRECHO 2.

Atendimento de Acção Social -- abertura

Extraído de: Corpus ACASS (URL: http://www2.fcsh.unl.pt/giid-clunl/clunl/projectos/acass.html)

Participantes:

T: técnica (F)

U: utente (F)

001

T:

ó dona NPF1 (.) antes de nós darmos início ao atendimento

002 eu queria-lhe só fazer uma perguntinha (.) já deve ter

003 reparado que temos aqui um objecto estranho em cima da mesa

004 [(.)] que é um bocadinho intimidador (.) não é?

005 U: [sim ((riso))]

006 T: pronto (.) nós &esta (.) a junta de freguesia de LOCF1

007 está a colaborar num projecto que está a ser feito no concelho

008 todo de LOCC1 (.) e pedem aos técnicos das várias

009 instituições que gravem os atendimentos(.) para perceber (.)

010 &ha (.) de que forma é que o relacionamento que se estabelece

011 entre o técnico e o utente (.) eh (.) influencia ou não o

012 decorrer da intervenção que depois é feita

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013 (1.0)

014 eh (.) os dados são (.) mesmo só para um estudo(.) não vão

015 ser divulgados (..) são absolutamente sigilosos (.) mas

016 logicamente que a pessoa tem direito a não querer (.) que se

017 grave o atendimento (.) portanto se preferir que eu desligue o

018 gravador (.) não há qualquer tipo de problema

019 U: (0.4)

020 T: não?

021 U: sim não (.) não tem problema

022 T: está bem (..) óptimo

023 (0.5)

024 então diga lá dona NPF1 (..) é a primeira vez que vem aqui

025 à junta (.) não é

026 U: sim sim (.) é a primeira vez

027 T: então e o que é que a traz por cá

028 U: (1.1)

029 sim estamos a passar (.) eh (.) alguma dificuldade em casa

030 (.) é por isso que eu vim pedir uma ajuda

031 T: hum uma ajuda como (.) em que aspecto

032 (3.3)

033 U: sim (.) alimentação e roupa

034 T: (0.5)

035 então e diga-me lá (..) mora aqui em LOCF1

036 (0.4)

037 eh (.) diga-me lá o seu nome completo

[…]

TRECHO 3. Entrevista de investigação Sociológica.

Extraído de: Corpus LB.

Participantes:

Entrevistadora / Investigadora (F)

Entrevistado (M)

Então o teu nome é?

NPM1

E quantos anos tens?

22.

22. Então e moras aqui no PIA?

Bem, no PIA não, é um bocado ali mais para baixo [quando diz “no PIA não” no fundo ao que se refere

é que no Bairro Xxx não].

Mas onde?

Aqui ao pé do Bairro Yyy, mais ou menos.

E sempre moraste aqui?

Não, moro aqui já há… 15 anos.

Então vieste para cá pequenino?

Exacto.

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E antes moravas aonde?

Em LOCC1. Num bairro em LOCC1.

Então e há quantos anos é que marchas?

Este é o meu 2º ano.

Sempre aqui no PIA?

Exactamente.

Ok. Então e o que é que te levou a entrar?

É assim, eu antes não era grande fã das marchas… prontos ia ver porque os meus amigos iam ver e

isso… o meu irmão é que já tava nisso há mais tempo e prontos o ano passado ele convidou-me e eu

disse “eh pah não, eu não gosto muito disso” e ele disse “eh pah vais ao ensaio, experimentas e depois

vês como é que é aquilo!”. O A1 também falou comigo e… eh pah… fui, fiz o primeiro ensaio, achei

engraçado aquilo por causa do ambiente e isso pah, a gente é gente conhecida e isso pah e gostei do

ambiente e pah… e depois ainda mais a Avenida e depois o Pavilhão, a emoção, isso tudo… eh pah,

achei engraçado e este ano voltei outra vez.

Hum hum… e tavas a dizer, antes não achavas piada nenhuma…

Não, não, não…

Mas o que é que achavas?

É assim, achava eu isso era… pah… que era uma coisa para pessoas mais velhas e isso… pah… prontos,

porque nunca tinha visto isso, pah, ao pormenor, não é? Depois, pah, quando entrei achei engraçado

os ensaios e isso, também o convívio da malta e isso… pessoal conhecido… achei engraçado e este ano

voltei outra vez.

Então e tu, antes de entrares, vias, por exemplo, as marchas de LOCC1, as marchas de LOCC2…

É assim, as de Lisboa nunca vi mesmo. Via na televisão porque a fazer zapping e isso…

Mas não paravas la?

Não parava lá para ver. Daqui de LOCC2 ia porque, eh pah, os amigos todos iam e, eh pah, “bora, bora,

toda a gente vai”, também ia mas… nem prestava muita atenção àquilo.

Então ias mais para estar com os amigos?

Exactamente, ia mais pelo convívio. Depois de experimentar achei aquilo espectacular mesmo, uma

grande emoção mesmo…

O que é que achas de espectacular? Mudaste de opinião em relação à marcha em si ou…

Tipo das roupas e isso acho isso uma cena completamente nova. Prontos, eu não ligava muito a isso e

este ano estou mais interessado, estou mais dentro da coisa porque já é o meu segundo ano também,

já ajudo a fazer arcos e isso e as roupas… pronto não ajudo mas já tou mais interessado dentro da

coisa. Pah mesmo das coreografias e isso, já tou mais desperto em relação às coisas…

Mas agora já vês, por exemplo, as marchas de LOCC1?

Já, já, exactamente. Este ano cheguei a casa e vi, este ano vi. Pah comecei a ver aquilo e… prontos já

começou-me a despertar a atenção mais para as marchas e isso…

Olha e trocarias de marcha?

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Pah muito sinceramente acho que não. Pah, porque é assim, prontos aqui é que me abriram as portas

para isso e… eh pah… e, a bem ou a mal, a gente vai ganhando aquela raça mesmo do PIA, ganhando

aquela… pah, prontos, aquele sangue mesmo daqui pah, e a gente luta todos os anos por causa disso e

pah… muito sinceramente acho que não.

Então, quer dizer, se as marchas é uma coisa que antes nem ligavas muito, não consideras que seja

uma parte importante da tua vida?

É assim, sinceramente não é assim uma coisa… mas pronto é mais uma coisa que eu meto na minha

bagagem, pronto uma coisa que eu fiz e gostei de fazer. É daquelas coisas boas que a gente faz na

vida…

Esperas fazer durante muitos anos? Não? Não pensas…

Sim, eu penso que sim, penso que sim. Pah porque… porque é uma parte feliz da vida, que a gente

esquece os problemas e vamos para ali marchar e vamos fazer uma coisa… unidos e, prontos, lutar por

um símbolo e isso…

Qual é o símbolo pelo qual estás a lutar?

Pelo PIA né?

Pelo PIA Centro ou pelo PIA “sítio”?

Pela zona do bairro mesmo. Pela zona do bairro. Porque também é importante porque há pessoas que

vão lá para nos apoiar e nós também fazemos muito por causa deles e porque isto… porque isto, pelo

que isto significa.

Então e porque é que te dá gozo ir representar o bairro?

[…]

3. INTERACÇÕES MEDIATIZADAS

TRECHO 4. Telefonema entre mãe e filha.

Extraído de: corpus C-Oral-Rom (URL: http://speech.inesc.pt/projects/coral/coral_pt.html)

Participantes:

M: mãe

F: filha

001

M:

<estou> //

002 F: <estou> //

003 M: sim / olá filhota //

004 F: olá //

005 M: tudo <bem> //

006 F: <grande> pontaria / estava mesmo mesmo mesmo mesmo a

chegar ao sítio onde o telefone estava quando ele tocou /

até me assustei //

007 M: hhh ah <sim> //

008 F: <hhh>

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009 M: <ah> / então e ontem / como é que foi //

010 F: eh o quê //

011 M: o NPMD1 / está chegou / estava em casa //

012 F: eh estava a chegar ao mesmo tempo que eu / <&encontrei> /

013 M: <ah> //

014 F: ai / NPF1 sai daqui / chata // <encontrei-o> /

015 M: <ah> //

016 F: ali no trânsito /

017 M: ah <sim> //

018 F: <aqui> ao subir o Pendão //

019 M: ah / está bem //

020 F: hhh

021 M: então ele foi sair com o irmão foi //

022 F: foi / foi sair com o irmão / depois foi lá para casa dos

pais /

023 M: ah //

024 F: hhh

025 M: está bom // então e diz-me lá / a que &hor hoje vais

trabalhar de tarde / não é //

026 F: vou //

027 M: hum / está bem //

028 F: <porquê> //

029 M: <eh> / hã //

030 F: porque //

031 M: então e quando é que me trazes os papéis da encomenda //

032 F: quais papéis //

033 M: hã //

034 F: quais papéis //

035 M: aqueles papéis da encomenda da &Yv / da Yves Rocher //

036 F: eu não trago papéis nenhuns da encomenda //

037 M: ah não // <então>

038 F: <não> //

039 M: como é que é isso com a dona NPF2 //

040 F: então as pessoas / eh ela diz que terça ou quarta-feira /

que dá o meu número de / eh que dá ou me liga / não sei //

041 M: <ah> //

042 F: <a dar o meu número> de cliente / porque eu para já ainda

não posso fazer as encomendas / porque ela ainda não me

inscreveu //

043 M: ah //

044 F: só terça ou quarta-feira é que eu tenho o número de

cliente / e depois peço as coisas por telefone / as

pessoas dão-me o que querem / o os produtos que querem com

as referências / e eu peço encomendo por telefone //

045 M: <ah // eu pensei que tu>

046 F: <não preencho papel nenhum> //

047 M: trazias o papel / <eh>

048 F: <não> //

049 M: eh / já escrito o pedido //

050 F: não <não> //

051 M: <ah> //

052 F: as pessoas escrevem-me aí numa folhinha qualquer o que

querem / diz que põem lá a referência /

053 M: ah //

054 F: e o nome daquilo que querem / que é para eu ter a certeza

depois para confirmar / <e depois eu é que>

055 M: <hum hum> //

056 F: peço por telefone // posso pedir à NPF2 / mas ela diz que

é mais rápido se for por <telefone que é> /

057 M: <ela só hoje> é segunda-feira que ela lá vai / eh buscar

isso //

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058 F: acho que sim // ela <disse que terça>

059 M: <que ela disse-me a mim> //

060 F: ou quarta que eh /

061 M: que ela me trazia aqui //

062 F: sim / ou que ou te trazia / ou eh o mais certo deve ser

mesmo ela a trazer / porque ela deve trazer já o kit com

as coisas todas //

063 M: <ah> //

064 F: <mas> / mesmo para eu poder depois encomendar / eles

pedem-me o número de cliente / que depois ela é que me vai

&d dizer qual é / porque eu ainda não tenho não estou

<inscrita> //

065 M: <ah> // eu também dei aqui à NPF3+A3 para ela escolher

alguma coisa / também ela vai escolher //

066 F: está bem hhh //

067 M: eh / hhh <para ver segunda> /

068 F: <está bem> //

069 M: por enquanto não tenho aqui nada para / também disse que

ia pedir / mas também não tenho nada ainda aqui <para

pedir> //

070 F: <hum hum> //

071 M: então e tu quando é começas a trabalhar na recepção //

072 F: aonde //

073 M: na recepção // já estás / a <trabalhar> //

074 F: <ah / não> / não / quer dizer / estou nos dias em que não

há nada / por exemplo / hoje há só consultas a NPF4 já

está de manhã e eu estou sozinha de tarde //

075 M: ah //

076 F: amanhã como há tratamentos também / ela vem de tarde

porque eh / por causa daqueles dias todos que ela faltou /

077 M: hum hum //

078 F: agora está a compensá-los //

079 M: ah //

080 F: enquanto ela não mete lá ninguém // e então / vem na venho

trabalhar de tarde só nos dias em que há tratamentos //

081 M: ah //

082 F: nos outros eu fico sozinha e depois / eh foi a semana

passada / é esta semana / e é segunda-feira de &ho de hoje

a oito dias / depois a partir daí já fico sozinha mesmo /

com a mais alguém //

083 M: ah // <ficas a / está bem> /

084 F: <ainda não sei quem é> //

085 M: está bem //

086 F: hhh

087 M: então a que horas é que costumas a sair daí de casa /

agora //

088 F: agora saio assim / por volta de meio-dia e meia / vinte

para a uma / <antes saía>

089 M: <ah> //

090 F: às &on ao meio-dia //

091 M: ah / está bem / está bem / <está bem> //

092 F: <eh vou para> apanhar o camionete das dez para uma / se

for <xx> /

093 M: <ah> //

094 F: espero bem que sim // hhh <deixei lá o meu fato> //

095 M: <então quando é que vocês costumam> receber / é só no fim

do mês / não é / a &t a trinta e um //

096 F: é //

097 M: ah //

098 F: hhh é e às vezes / por acaso este mês telefonei para a

contabilidade e reclamei por &aca / por sorte / recebi

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mesmo no último dia do mês / mas durante dois ou três

meses seguidos / andei a receber já no início do mês a

seguir //

099 M: pois / mas isso não / ela &atra ela paga-te através de

cheque ou mete-te na conta o <dinheiro> //

100 F: <não> não / é mete na conta //

101 M: ah / vem logo depositado na conta / <ah> /

102 F: <vem> //

103 M: está bem / está bem //

104 F: só que mesmo assim / eh por azar / &c calhou a ser dois

meses / eh em que o dia um calhava a ser assim tipo /

feriado / ou sábado / ou isso / recebia sempre a três / a

quatro //

105 M: então e o NPMD1 / já distribuiu muitas eh / listas //

106 F: eh já / ele já <diz que>

107 M: <eh> /

108 F: acabaram aquelas que ele tinha lá na / hhh na garagem //

mas agora tenho que levar para lá mais / <acho que ainda

faltam> /

109 M: <então mas ainda faltam> muitas / é //

110 F: acho que é duas mil e quinhentas ou três <mil> //

111 M: <que lhe> faltam / ainda //

112 F: sim //

113 M: tchi // então e o irmão quando é que vai embora //

114 F: é quinta //

115 M: ai já vai esta quinta-feira //

116 F: já //

117 M: ah //

118 F: faz anos na quarta / e vai-se embora na quinta //

119 M: então eles ontem / foram passear / está claro //

120 F: foram / foram ao LOCP1 // <hhh>

121 M: <ai sim> //

122 F: hum //

123 M: ah //

124 F: foram os dois sozinhos //

125 M: mas / eh &n jantaste em tua casa / não foi em casa da tua

sogra //

126 F: não // jantei em minha casa / eh jantei / e quer dizer

&com / pois comi a minha canjinha / o NPMD1 nem comeu nada

/ já devia ter comido lá qualquer coisa // <hhh>

127 M: <hhh>

128 F: <disse-me que não>

129 M: <ah> //

130 F: tinha apetite / e eu / 'pois / está bem' // hhh

131 M: ah // então e a cadela / ele levou-a à rua ou &f / ou

foste tu que a levaste quando chegaste a casa //

132 F: não / foi ele //

133 M: hã //

134 F: assim que eu cheguei estava ele a / eh a levá-la à rua //

135 M: hum <hum> //

136 F: <depois> eu só a levei foi à noite / que ele depois deita-

se ali no sofá a dormir /

137 M: ah //

138 F: já não faz mais nada // hhh

139 M: hhh

140 F: <e eu é que depois>

141 M: <está bom> //

142 F: ando ali / na cozinha / na loiça / na roupa // hhh

143 M: tens que lhe deixar o almoço feito agora a <ele / não é>

//

144 F: <eh agora> / estou / estou a fazer / estou a fazer

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perninhas de frango / coxinhas de frango //

145 M: hum / que bom //

146 F: depois quando ele chegar faz o resto / também é só / eh

como ele faz a comida toda em cru / põe um bocado de

esparguete dentro de água eh eh eh quente / e pronto //

<hhh>

147 M: <hhh> ah / assim <está bem> //

148 F: <e ele faz> o resto / se não depois também perde a piada

muito frio // <ó NPF1> /

149 M: <hum> //

150 F: estás-me a magoar / pá / <chata // esta cadela>

151 M: <está bem / okay> //

152 F: é uma melga // hhh <é assim> //

153 M: <era outra coisa> que eu te queria procurar / mas olha /

não me lembro agora / entretanto não sei o quê <que é> //

154 F: <ah / e> é verdade / eu vou ver se consigo /

155 M: hum //

156 F: cravá-lo / para me emprestar o carro para amanhã / para

ver se ele vai de / de mota para o trabalho //

157 M: hum hum //

158 F: para ver se eu me levanto cedinho e se vou então ter aí

contigo para a gente ir à praça //

159 M: ah / está bem / está bem // okay //

160 F: está bem //

161 M: está bem / está bem / depois a gente depois combina isso

da hora //

162 F: está bem //

163 M: está //

164 F: depois &d depende se ele me empresta amanhã ou não / ou na

quarta / também não sei se há dias melhores na praça &s do

que outros //

165 M: pois // eh pois / <é eu &queri>

166 F: <tu sabes> //

167 M: queria ver se comprava o perfume / aquele era bom / são é

/ aquela / sei que ele que gosta // hhh

168 F: hum hum //

169 M: é um bocadinho caro / mas eh comparado com o preço da /

das lojas /

170 F: ah sim / eu ainda agora estive a ver um / que também é da

Boss / que se &ch em vez de se chamar Boss / chama-se Hugo

/ mas é é da mesma marca / <ele é>

171 M: <hum hum> //

172 F: Hugo Boss / a marca //

173 M: hum hum //

174 F: no LOCC1 / agora na altura da promoção de Natal / e

custava seis contos e tal //

175 M: ai é //

176 F: hum //

177 M: então aquele custou quatro / <estás a ver> /

178 F: <pois> //

179 M: vale a pena // <hhh>

180 F: <hhh> e se calhar é dos grandes / e aquele era dos

pequenos //

181 M: aquele é de grande / três / era &um era de cinco &e era de

trinta / miligramas / parece-me / e e aquele é dos maiores

//

182 F: hum hum //

183 M: era três e quatro contos / três era o mais pequeno / e é

&va e é eh e é spray //

184 F: hum hum // pois //

185 M: é melhor //

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TRECHO 5. Telefonema realizado no âmbito do concurso televisivo ‘Roda dos Milhões’ (SIC, Abril de 1999). Duração: 2 minutos 29 segundos. Extraído de: http://www.youtube.com/watch?v=MndHEupu7VY

Participantes1:

JG: Jorge Gabriel, apresentador do programa (M)

AFL: Armelinda (F)

A: assistência em estúdio

001

AUD:

[((aplaude))]

002 JG: [((dirige-se para o púlpito))]

003 [é este portanto o primeiro numero (0.7) que foi (1.3) que

004 foi sorteado (.) é pois este o primeiro numero que lhe]

005 pode dar um bom premio na lotaria nacional (.) mas (..) os

006 bilhetes as fracções da lotaria podem via telefone também

007 possibilitar-lhe a conquista de cinco mil e duzentos

008 contos (0.9) para tal e para começarmos (..) vai ter de

009 ↑responder

1 Os nomes dos participantes não foram anonimizados por se tratar de um programa televisivo que faz parte do

domínio público

186 F: é // <economiza> mais //

187 M: <e> / pois // portanto aquele era quatro / e o outro era

três / mas eu acho / que mesmo assim não é caro //

188 F: não / não // não é nada caro / <tendo em conta> /

189 M: <eu comprava> / eu comprava o / o perfume para ele e para

o / e para o NPM2 / nós / isso é uma questão meia de

gostos / agora // <isso é um bocado>

190 F: <pois> //

191 M: difícil é de / <é é nos gostos> //

192 F: <mas pode ser> que haja lá mais marcas / e se <houver &t /

das marcas que eu sei que ele> /

193 M: <havia / pois havia / havia / eu aquela> sabia que o teu

pai gostava / por isso é que <comprei aquela / agora> /

194 F: <hum / pois> //

195 M: as outras / eu não não / e também só há lá muitas marcas

que não conheço / hhh e eh pois / não estou dentro do

assunto // <podem ser>

196 F: <pois> //

197 M: boas e eu não <conhecer> //

198 F: <é isso> / é isso / pode ser que até haja lá alguma que eu

saiba que cheira bem / e a gente &q escusa de andar depois

eles todos com o mesmo perfume igual // hhh

199 M: pois // pois / pois é // pronto / filhota / então não te

atrases // <olha / outra coisa que eu te queria>

200 F: <está bem> //

201 M: dizer / esta &c / esta conversa que a gente está a ter

agora / está a ser gravada / estamos aqui a fazer umas

experiências / <aqui> //

202 F: <hum> //

203 M: de maneira que / é só para tu saberes //

204 F: está bem // <hhh>

205 M: <hhh>

206 F: <okay // olha / beijocas / adeus // tchau / adeus> //

207 M: <está // eh beijinho // tchau // adeus> //

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010 AUD: RO:DA DO:S MILHÕ:ES

011 ro(h)da do(h)s mi(h)lhões quando o seu telefone tocar aí

012 em casa (..) depois se jogou na lotaria arrisca-se a levar

013 mais cinco mil contos (.) vamos a primeira chamada? (0.8)

014 a primeira chamada é para (0.6)

015 ((tira a lista telefónica da prateleira))

016 a zona do <algarve> (.)

017 AUD: ((aplausos))

018 JG: ((ergue a lista telefónica, mostrando-a à audiência))

019 ↑lista do algarve 020 ((pousa a lista telefónica))

021 ((abre a lista telefónica))

022 primeira chamada a ser efectuada nesta: noite de segunda-

023 feira (.) mê:s de: abril (1.6) ora vamos lá então para a

024 primeira ligação (1.3) sem a(h)tir(h)ar (2.0) o púlpito ao

025 chão (1.3)

026 ((levanta o auscultador do telefone))

027 cá esta o numero (1.2) vamos então (1.2) [zero oito nove

028 (2.6) três dois: (1.6) um oito (3.4) e os dois últimos já

029 sabe que não] (.) que não (.) que não poderá (.) conhecê-

030 los

031 [((digita os números no telefone))]

032 ((telefone em alta-voz, ouve-se o primeiro toque))

033 A: U:M

034 JG: ºdoisº

035 ((sinaliza o segundo toque de chamada com os dedos

036 indicador e médio da mão esquerda))

037 (1.0)

038 AFL: [tou]

039 A: [o::::h]

040 (0.6)

041 JG: esto:u?

042 (0.2)

043 AFL: tou?

044 (0.8)

045 [quem fa-]

046 JG: [boa no:i]te

047 AFL: quem fala?

048 JG: (0.3)

049 boa noite fala jorge gabriel do programa roda dos milhões

050 A: (0.7)

051 [ah]

052 A: [o:::h]

053 JG: (0.4)

054 ah

055 (1.2)

056 é verdade

057 (0.6)

058 boa noite (.) com quem tenho o prazer de estar a falar?

059 AFL: (1.2)

060 co:m (.) com uma senhora (.)

061 JG: (0.2)

062 com uma [senho]ra

063 AFL: [eu] (.) armelinda felizardo lucas

064 [((gargalhada))]

065 JG: (0.8)

066 não se importa de repetir por favor?

067 AFL: (0.3)

068 armelinda felizardo lucas

069 JG: (0.3)

070 sandra foi o que disse não foi?

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071 AFL: (1.6)

072 hã?

073 JG: (0.4)

074 disse sandra:?

075 AFL: (0.4)

076 <armelinda>

077 JG: (0.5)

078 vai-me (.) vai (.) vai perdoar-me mas eu não consigo de

079 facto perceber o seu nome (0.4) mas não tem [(.)]não tem

080 grande: (.) não tem eu grande incómodo espero para si

081 AFL: [.hh]

082 JG: (0.5)

083 eh

084 (0.4)

085 porque pode ser que eu ainda lhe consiga dar cinco mil

086 contos se por acaso

087 esta s-

088 AFL: .hh

089 nã não eu não j- (.) eu não jogo

090 A: o::::h

091 JG: (0.9)

092 não joga

093 AFL: não

094 JG: (0.6)

095 não joga (.) [não disse] roda dos milhões

096 AFL: [não]

097 JG: (0.4)

098 pode ser que na próxima oportunidade tenha mais sorte

099 (0.3)

100 uma muito boa noite para si muito obrigado pela sua

101 compreensão

102 A: ((aplausos))

103 (0.7)

104 muito obrigado boa noite

105 AFL: obrigado

106 (0.5)

107 >boa noite<

108 AFL: >boa noite<

109 JG: ((fecha a lista telefónica e arruma-a))

110 eu juro que não percebia

111 (1.1)

112 juro que não percebia o o: (.) o nome desta nossa tele-

[…]

TRECHO 6. Telefonema realizado no início de uma visita domiciliária, antes do início do atendimento (realizado no âmbito dos serviços de Acção Social) que motiva a visita. Extraído de: Corpus ACASS (Análise Conversacional de Atendimentos de Acção Social) Participantes:

TEL: telefonista do serviço de apoio (F)

T: técnica dos serviços de Acção Social (F)

U: utente dos serviços de Acção Social (F)

001

TEL:

boa tarde (.) senhora dona NPF1 (.) fala NPF2+A2 (.)

002 em que posso ajudar?

003 T: (0.7)

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004 boa tarde (.) dona NPF2 (.) eh: (.) estamos só aqui a

005 fazer uma experiência (.) para ver se o aparelho funciona

006 (.) está-me a ouvir bem?

007 TEL: senhora (.) estou a ouví-la bem

008 T: (0.6) sim senhora (.) ok (.) d- vim aqui à casa da dona

009 NPF1 para ver se isto funciona correctamente que já há

010 algum tempo que a senhora não accionava o botão

011 TEL: (0.7)

012 sim senhora (..) mas convém que a senhora depois vá

013 fazendo um testezinho por semana para ver se está tudo bem

014 T: ok (.) muito obrigada (.) boa tarde

015 U: até amanhã

016 T: boa tarde (..) obrigada

017 TEL: boa tarde (.) com licença

018 T: está a funcionar (.) vê?

019 U: olha ( ) é muito simpática

Código de anonimização Descrição e exemplo

NPM Nome próprio masculino (ex.: António)

NPMD Nome próprio masculino – diminutivo (ex.: Tó)

NPF Nome próprio feminino (ex.: Ana)

NPFD Nome próprio feminino – diminutivo (ex.: Aninhas)

NPx+Ax Nome próprio + Apelido (ex.: Afonso Henriques)

A Apelido (ex.: Silva)

Ax+Ax Combinação de Apelidos (ex.: Cavaco Silva)

LOCP Local – ponto (ex.: parque de Monsanto)

LOCEC Local – estabelecimento comercial (ex: supermercado Continente)

LOCM/# Local – morada (número da porta, andar)

LOCA Localidade – aldeia

LOCB Localidade – bairro (ex.: Benfica)

LOCF Localidade – freguesia

LOCV Localidade – vila

LOCC Localidade – cidade (ex.: Lisboa)

LOCD Localidade – distrito (ex.: Lisboa)

LOCR Localidade – região (ex.: Algarve)

#/##/### Número (unidade / dezena / centena / …)

Nota:

As várias transcrições apresentadas diferem entre si relativamente às convenções utilizadas.

Nos casos das transcrições 1,2,5 e 6, a especificidade e natureza do trabalho de transcrição confere a

estes objectos uma natureza intrinsecamente inacabada, constituindo-se o trabalho de transcrição

como cumulativo.

Porquê reflectir acerca da transcrição?

A transcrição é um processo selectivo que reflecte objectivos teóricos e definições.

Nos estudos que focam a performance dos falantes (isto é, a produção e interpretação da linguagem

em contextos de uso) e as práticas onde é usada a fala em interacção, os dados usados são transcrições

de gravações (áudio ou vídeo). Estas transcrições permitem a leitura dos dados mesmo na ausência das

gravações, possibilitando a sua inclusão em textos. Assim, estudos empíricos que visem o

comportamento verbal devem contemplar a existência de um processo de transcrição.

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Os elementos básicos que devem constar de uma transcrição são:

1) METADADOS: data da gravação; duração da gravação; local da gravação; dados dos participantes; identificação do transcritor; outros elementos importantes

@Title: Cusquices @File: 04 @Participants: SAN, Sandra, (woman, B, 3, researcher, caller, Lisbon) ANA, Ana, (woman, B, 3, telephonist, answerer, Lisbon) @Date: 26/11/2001 @Place: Lisbon @Situation: SAN calls her friend ANA, hidden recording, researcher participant @Topic: ANA's job @Source: PT/C-Oral-Rom @Class: informal, telephone, private conversation, man interaction @Length: 09'59'' @Words: 1886 @Acoustic_quality: A @Transcriber: Sandra Antunes @Revisor: Rita Veloso/Marisa Cruz

001 ANA: oi // <hhh>

002 SAN: <olá / então / está boa> //

003 ANA: estou / e a menina //

004 SAN: também // então estavas a falar com quem afinal //

005 ANA: estava a falar com a minha sogra //

006 SAN: ah / okay // eu pensei que não estivesse ninguém em casa / e então liguei /

007 para a tua mãe //

008 ANA: ah foi //

009 SAN: e ela / porque pensei que tivesses lá ido jantar //

010 ANA: ah não // mas já tinhas tentado ligar para cá //

011 SAN: eh / tinha // tinha tentado / como não atendeu / liguei para ela / pensei

012 que estivesses em Sacavém //

A realização de uma transcrição deve ter em conta:

Os fenómenos a evidenciar;

O compromisso entre o detalhe e a legibilidade

2) TRANSCRIÇÃO (estabelecendo e seguindo convenções)

3) IDENTIFICAÇÃO DOS PARTICIPANTES (evidenciando a alternância de vez)

4) NUMERAÇÃO DAS LINHAS (de forma a facilitar a referência a turnos específicos)

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Convenções de transcrição – exemplo:

Símbolo Fenómeno Exemplo

. Entoação descendente

? Entoação ascendente

, Entoação continua

: / :: / ::: Prolongamento do som (diferentes durações)

Som mais agudo

Som mais grave

- Corte abrupto fal-

sublinhado Ênfase fala

maiUSculas Volume mais alto FAla

ºgrauº Volume mais baixo fala ºmais baixoº

fala Fala acelerada fala >mais depressa<

fala Fala desacelerada fala <mais devagar>

[ ]

[ ] Falas sobrepostas

(.) Micro-pausa (igual ou inferior a dois décimos de segundo)

(2.5) Pausa (em segundos e décimos de segundos)

eh Pausa cheia

mm Sinal de retorno do ouvinte

.h / .hh / .hhh Inspiração (diferentes durações)

h / hh / hhh Expiração (diferentes durações)

th Estalar de língua

…=

=… Turnos contíguos (ausência de pausa interturnos)

= Ausência de uma micropausa intraturno (entre duas palavras)

( ) Segmento inaudível não transcrito

(entre parênteses simples) Segmento pouco audível de transcrição duvidosa fala

(separado por/barra) Transcrições alternativas de um segmento pouco audível

((entre parênteses duplos)) Descrição de uma actividade não verbal ((escreve))

extraído de: Jefferson, G. (2004) Glossary of transcript symbols with an introduction. Em G. H. Lerner, ed. Conversation Analysis.

Studies from the first generation. Amsterdam: John Benjamins, pp. 13-31.

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Uma mesma interacção pode ser transcrita de diferentes formas, consoante as convenções de

transcrição adoptadas e com os fenómenos evidenciados. Exemplos:

Transcrição realizada por Harvey Sacks Transcrição realizada por Gail Jefferson

Ao contrário do que ocorre em interacções telefónicas, a interacção face-a-face reveste-se de uma

importante dimensão multimodal, na qual se articulam a produção e interpretação de linguagem e

entoação expressiva, de gestos e a postura, olhares e expressões faciais. Assim, na análise de

interacções, a importância conferida à descrição de aspectos extralinguísticos (proxémicos, gestuais e

mímico-posturais) pode motivar a escolha por uma transcrição que contemple estes fenómenos.

Mais exemplos de tipos de transcrição: transcrição de interacções multimodais

Elinor Ochs (1979) Charles Goodwin

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No exemplo abaixo apresentado, Charles Goodwin (2000:1494) integra a transcrição de elementos

linguísticos e gestuais e a transcrição detalhada de elementos prosódicos, de forma a dar conta das

especificidades da interacção analisada. A escolha do analista sobre detalhar a representação dos dados

desta forma está relacionada com a análise da relevância destes elementos para a interacção –

relevância demonstrada pelos próprios participantes.

Bibliografia:

Goodwin, C. 2000 "Action and Embodiment Within Situated Human Interaction." Journal of

Pragmatics 32: 1489-522.

Hepburn, A. & Bolden, G. B. (2012) The conversation analytic approach to transcription. In J. Sidnell & T.

Stivers (eds.) The Handbook of Conversation Analysis. West Sussex: Wiley-Blackwell.

Jefferson, G. (2004) Glossary of transcript symbols with an introduction. Em G. H. Lerner, ed. Conversation

Analysis. Studies from the first generation. Amsterdam: John Benjamins. 13-31.

Mondada, L. (2008) La transcription dans la perspective de la linguistique interactionelle. In M. Bilger

(coord.) Donées orales. Les enjeux de la transcription. Cahiers de L’Université de Perpignan, nº 37. 78-110.

Ochs, E. (1979) Transcription as theory. in Developmental pragmatics, ed. by E. Ochs & B. Schieffelin. New

york: Academic Press. 43-72.

Psathas, G. & Anderson, T. (1990) The 'practices' of transcription in conversation analysis. Semiotica, 78:

75-99.