1. Juventude Hoje_alguns Paradoxos Do Século XXI

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Juventude hoje: alguns paradoxos do sculo XXI

As idades da vida esto relacionadas com o desenvolvimento biofsico das pessoas. Mas, ao mesmo tempo, as expectativas e os significados atribudos a estas idades so resultados de diferenas culturais e processos histricos.Ao longo da Histria, a noo de Juventude expressa diferentes sentidos. Desta maneira, ao falar de crianas, jovens e idosos estamos sempre falando sobre as diversas maneiras de estabelecer as relaes entre geraes construdas por diferentes culturas e sociedades.O conceito de gerao remete ao momento histrico em que cada indivduo se socializa. Cada gerao incorpora novos cdigos e sentidos ao capital cultural da sociedade em que est inserida. Pertencer a uma ou a outra gerao significa acionar diferentes repertrios e dimenses da memria social.

A condio juvenil refere-se ao modo como uma sociedade constitui e atribui significado a esse momento do ciclo de vida, refere-se a uma dimenso histrico-geracional, ao passo que a situao dos jovens revela o modo como tal condio vivida a partir dos diversos recortes referidos s diferenas sociais classe, gnero, etnia etc. (ABRAMO, 2008).

Nas sociedades capitalistas modernas, as marcas do tempo histrico so determinantes para definir uma gerao. Mas, ao mesmo tempo, as determinaes de classe e os demais mecanismos reprodutores de desigualdades sociais tambm se fazem presentes.Com efeito, nas trajetrias individuais dos jovens de uma mesma gerao, a condio juvenil comum se entrelaa com as diferentes situaes vividas pelos jovens, resultando tanto em pertencimento geracional comum (juventude no singular) quanto na diferenciao social entre os jovens (juventudes no plural).

1. Juventude: insero e desenvolvimento.

Na concepo da sociedade ocidental moderna, a etapa da juventude tem sido associada a um tempo de moratria social, de passagem entre a infncia e o mundo adulto e, assim, de preparao para a insero no mundo do trabalho e para a constituio de nova famlia.A ideia de moratria social tem sido entendida como um crdito de tempo concedido ao indivduo para que ele protele sua entrada na vida adulta, favorecendo suas experincias e experimentaes, formao educacional e aquisio de treinamento, o que pressupe a presena do Estado provedor na garantia de acesso ao sistema educacional pblico. na juventude que os indivduos iniciam e processam suas inseres nas diversas dimenses na idade adulta (na constituio de famlias, no mundo do trabalho e nos espaos de cidadania). Assim sendo, na etapa da juventude se definem possibilidades e impossibilidades de insero na vida produtiva e social, de desenvolvimento de projetos pessoais e sociais.Porm, o perodo juvenil no deve ser pensado como uma mera transio, mas como um perodo de desenvolvimento que tem a mesma importncia que as demais etapas do ciclo vital, que nunca foram chamadas de transitrias (KRAUSKOPF, 2008).Segundo ABAD (2003), dificilmente se pode negar, hoje, que os jovens, inclusive os do meio rural, tenham se convertido numa categoria social interclassista e comum a ambos os sexos, definida por uma condio especfica que demarca interesses e necessidades prprias, desvinculadas da ideia de transio, e suas instituies responsveis. Efetivamente, a juventude passa, mas tambm fica .

2. Dez paradoxos da atual condio juvenil

Nas ltimas dcadas evidenciaram-se obstculos de diversas ordens para que os jovens de diferentes classes sociais possam usufruir as possibilidades da atual condio juvenil. Um dos trabalhos mais citados foi coordenado por Martn Hopenhayn, para a Comisso Econmica para a Amrica Latina (CEPAL) e para a Organizao Ibero-Americana de Juventude (OIJ), denominado La Juventud en Iberoamrica. Tendencias y urgencias, onde se destacam 10 paradoxos/tenses constitutivas da atual condio juvenil, a seguir apresentadas de maneira resumida e adaptada aos dias de hoje:

(1) Mais acesso Educao e menos acesso ao trabalho decente. Os jovens de hoje tm mais educao formal que seus pais, mas vivenciam mais insegurana no mundo do trabalho. Isto porque o progresso tcnico exige mais anos de educao para se ter acesso aos empregos e, ao mesmo tempo, provoca uma desvalorizao educativa (a mesma quantidade de anos de escolaridade valem menos hoje do que no passado). E, tambm, porque a nova organizao produtiva cria maior instabilidade nos empregos e compromete as condies de trabalho descente que envolvem criatividade e direitos.

(2) Muito acesso informao e pouco acesso ao poder. Dado seu maior nvel de escolaridade e de consumo dos meios de comunicao, a juventude tem maior participao nas redes sociais e maior acesso informao do que a gerao de seus pais. Mas, por outro lado, participa pouco de espaos decisrios. Assim, amplia-se o acesso de informaes e redes e seguem restritas as condies de exerccio de cidadania poltica.

(3) Mais expectativas de autonomia e menos opes para materializ-la. Diferentemente de geraes anteriores, que cresceram sob padres tradicionais, os jovens so chamados a interiorizar expectativas de autonomia prprias das sociedades moderna e ps-moderna. Porm, enfrentam obstculos concretos que postergam a realizao desta autonomia: (a) maior dificuldade de ingressar e permanecer no mercado de trabalho; (b) maiores obstculos para ter uma casa, devido a problemas do mercado de solos urbanos e dificuldades de acesso ao crdito. Consequentemente, foram socializados com novos valores e destrezas, mas excludos dos canais para traduzir este aprendizado em vidas autnomas e realizao de projetos prprios.

(4) Maior acesso aos equipamentos de sade. Porm, as questes especficas que afetam a sade e podem causar mortes de jovens no encontram um servio integrado de ateno sade. Como se sabe, na juventude so mais baixas as probabilidades de doenas graves e de morte. Contudo, existe um perfil de mortalidade juvenil que est relacionado a incidentes, agresses fsicas, uso nocivo de drogas, doenas sexualmente transmissveis, gravidez no desejada. Assim, os jovens vivem um contraste entre a expectativa de ter boa sade e os riscos sanitrios, prprios da juventude, para os quais h um vazio de politicas de preveno.

(5) Maior mobilidade e mais possibilidade de circulao, mas afetadas por trajetrias incertas e migraes. A maior mobilidade dos jovens pode ser vista como um trao positivo. Mas, os fatores que impulsionam o deslocamento restries de emprego, salrios, projetos sociais, somados a fatores tradicionais de expulso das zonas rurais colocam esta migrao como um tema de excluso social, o que remete tanto necessidade de intervir sobre os fatores de expulso quanto nas situaes vividas pelos jovens nos lugares de recepo, onde enfrentam dificuldades de integrao social e cultural.

(6) Maior identificao para dentro (entre jovens) e maior impermeabilidade para fora (entre jovens e adultos, no interior das instituies escolares). Os novos padres de consumo cultural da juventude (sobretudo em relao indstria audiovisual) produzem cones e referncias que permitem gerar identidades coletivas e participao em universos simblicos para grande parte deste grupo etrio (identificao para dentro). Tais identidades - ainda que pouco consolidadas, fragmentadas, efmeras e mutantes - fazem da juventude um ator de grande criatividade cultural. Porm, estas identidades juvenis tm dificuldades de se aproximar da cultura da escola e de harmonizar-se com a populao adulta e com as figuras de autoridade (impermeabilidade para fora).

(7) Os jovens parecem ser mais os aptos para responder s mudanas do setor produtivo atual, onde se destaca a centralidade do conhecimento como motor do crescimento, mas tem sido os mais excludos do ingresso no mundo do trabalho. Por um lado, em relao populao adulta, a rapidez das transformaes no mundo da produo reduz o valor de mercado de sua experincia acumulada e pe suas destrezas em permanente risco de se tornar obsoleta. Por outro lado, a juventude passou a ser o segmento da populao cuja dinmica acompanha naturalmente o ritmo dos tempos. No entanto, paradoxalmente, nos dias de hoje, surgem inmeras dificuldades para o ingresso e a permanncia dos jovens no mundo do trabalho.

(8) A juventude ocupa um lugar ambguo entre os receptores de politicas e protagonistas da mudana. H trs ou quatro dcadas, os jovens se definiram como protagonistas na narrativa pica das grandes transformaes sociais. Hoje, a juventude se redefine, na esfera do discurso pblico, como objeto de politicas sociais e sujeito de direitos. Nos discursos externos, que justificam as politicas, os jovens so definidos como carentes, vulnerveis, capital humano, populao a proteger ou racionalizar, a empoderar ou controlar. Entretanto, em contraste com esta viso externa, de maneira mais cotidiana e menos pica, os jovens vm gerando novas sensibilidades e produzindo novas identidades, sobretudo atravs do consumo cultural e da comunicao em geral. Por um lado, a idade os confina a ser receptores de distintas instncias de formao e disciplinamento e, por outro, se difunde na mdia e na escola o mito de uma juventude protagonista de novas formas de relao e interao social. A juventude se v, pois, tensionada entre a dependncia institucional e a expectativa de participao autnoma.

(9) Os jovens vivem maior expanso do consumo simblico e grande restrio do consumo material. Com mais acesso educao formal, aos meios de comunicao, ao mundo virtual e aos cones de publicidade, se expande o consumo simblico dos jovens. Mas, ao mesmo tempo, se estanca o consumo material, abrindo-se fossos entre expectativas e conquistas. Desta maneira, os jovens - com dificuldades de se inserir no mercado laboral, que exige mais formao, e por falta de redes de promoo - ficam expostos a uma ampla oferta de propostas de consumo. A democratizao da imagem convive com a concentrao de renda.

(10) Os jovens vivem com expectativas de autodeterminao e protagonismo mas experimentam situaes de precariedade e de desmobilizao. Pelo lado positivo, aumenta a autodeterminao juvenil, enquanto indivduos que relativizam fontes exgenas de autoridade, sobretudo parentais e polticas, projetando maior individualizao de suas expectativas e trajetrias vitais. Ou seja, hoje, aumentam espaos de liberdade, que antes eram privativos dos emancipados, como, por exemplo, as relaes sexuais. Alm disso, os mercados do maior ateno aos jovens, posto que so um segmento especfico e forte de consumo. Pelo lado negativo, os jovens no constituem um sujeito especfico de direitos e esto estigmatizados como potenciais ameaas para a ordem social.

Nota final

Quais so os principais condicionamentos histricos e quais as condies sociais que alimentam estes dez paradoxos vivenciados pela juventude de hoje? Desde os anos 1980, determinantes econmicos e sociais afetaram particularmente a condio juvenil contempornea. O aprofundamento dos processos de globalizao dos mercados e da nova diviso internacional do trabalho, certamente, afetaram os adultos. Entretanto, eles atingem particularmente os jovens, porque justamente neste momento do ciclo de vida que se constroem identidades e se desenham estratgias de autonomia e emancipao.Habitantes de um mundo em constante transformao, os jovens de hoje vivenciam problemas e incertezas de seu tempo. Na juventude evidenciam-se as desigualdades econmicas, disparidades regionais, dicotomias entre campo e cidade, assim como preconceitos e discriminaes (de gnero, raa-etnia, orientao sexual, religio, etc.), que distanciam os jovens de classes e grupos sociais distintos. Entretanto, por outro lado, na medida em que pertencer a uma mesma gerao significa viver a juventude em um mesmo contexto histrico, os jovens de hoje compartilham smbolos e sentidos que produzem aproximaes inditas, facultadas pelas novas tecnologias de informao e comunicao (TICs).No sculo XXI, a desterritorializao dos processos produtivos, a flexibilizao das relaes de trabalho e a diluio de mecanismos de ascenso social resultam em dificuldades crescentes da emancipao dos jovens e, por consequncia, provocam uma dessincronia dos eventos que marcam a passagem para a vida adulta. Em um momento de transio entre velhos e novos padres de passagem para a vida adulta, as trajetrias juvenis se fazem em sequncias mltiplas e no lineares de eventos tais como: entrada e sada na escola; inicio da vida sexual, casamento, nascimento de filhos, etc... Ou seja, no atual momento histrico, a juventude, com sua diversidade, no pode ser vista apenas como momento de passagem. Em diferentes ritmos e intensidades, tais fenmenos aproximam jovens das economias centrais e perifricas. Pode-se dizer que nunca houve tanta conexo globalizada e, ao mesmo tempo, nunca foram to agudos e profundos os sentimentos de desconexo.Em resumo, levando em conta os dez paradoxos aqui apresentados e considerando tambm este conjunto de determinaes histricas e sociais, podemos dizer que - na atualidade - o perodo de vida conhecido como juventude est relacionado : (i) a obteno da condio adulta como uma meta; (ii) a emancipao e a autonomia como trajetria; (iii) a construo de uma identidade prpria como questo central; (iv) as relaes entre geraes como um marco bsico para atingir tais propsitos; e (v) as relaes entre jovens para modelar identidades, ou seja, interao entre pares como parte do processo de socializao (UNESCO, 2004).Estes cinco elementos devem estar presentes nos Programas e Aes que reconhecem a juventude como uma fase singular da vida, que pressupem o reconhecimento de seus direitos e deveres especficos. A partir desta perspectiva, o jovem visto como um cidado e, assim sendo, sua trajetria pessoal, sua vida escolar, sua preparao para o trabalho, suas relaes com os adultos, com seus pares e seu engajamento social devem ser entendidos como exerccios da cidadania.

Obs:-Desmistificao da juventude com apenas um processo ou uma passagem;-Juventudes (dependendo do contexto); -Trajetria pessoal =entrada na escola=mundo de trabalho=relaes com os adultos;-Os desafios do jovem: preconceito de raa, diferena de classes;-As paradoxos do jovem no cenrio atual;-Principais decises da vida; -Jovem como um cidado;