1 Literatura Infantil 2011

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A importância do trabalho com a Literatura InfantilL

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LITERATURA INFANTIL UM MUNDO DE IMAGINAO

A CONTRIBUIO DA LITERATURA INFANTIL PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANA

PROFESSORA SANDRA JORGE GINDRIFORMAO EDUCAO INFANTIL 2013

Afinal, o que Literatura Infantil?

A designao infantil faz com que esta modalidade literria seja considerada, "menor" por alguns profissionais. Os educadores que vivenciam de perto a evoluo do maravilhoso ser que a criana sabem que o contato com textos recheados de encantamento faz-nos perceber quo importante e cheia de responsabilidade toda forma de literatura

A palavra literatura intransitiva e, independente do adjetivo que receba, arte e deleite. Sendo assim, o termo infantil associado literatura no significa que ela tenha sido feita necessariamente para crianas. Na verdade, a literatura infantil acaba sendo aquela que corresponde, de alguma forma, aos anseios do leitor e que se identifica com ele.A autntica literatura infantil no deve ser feita essencialmente com inteno pedaggica, didtica ou para incentivar hbito de leitura. O grande segredo trabalhar o imaginrio a fantasia, despertar o sonho. Origens da Literatura InfantilO impulso de contar histrias nasce no homem, no momento em que ele sentiu necessidade de comunicar aos outros alguma experincia sua, que poderia ter significao para todos. No h povo que no se orgulhe de suas histrias, tradies e lendas, pois so a expresso de sua cultura e devem ser preservadas. Concentra-se aqui a ntima relao entre a literatura e a oralidade.

A clula mter da Literatura Infantil, hoje conhecida como "clssica", encontra-se na Novelstica Popular Medieval que tem suas origens na ndia. Descobriu-se que, desde essa poca, a palavra imps-se ao homem como algo mgico, como um poder misterioso, que tanto poderia proteger, como ameaar, construir ou destruir. So tambm de carter mgico ou fantasioso as narrativas conhecidas hoje como literatura primordial. Nela foi descoberto o fundo fabuloso das narrativas orientais, que se forjaram durante sculos a.C., e se difundiram por todo o mundo, atravs da tradio oral.

A Literatura Infantil constitui-se como gnero durante o sculo XVII, poca em que as mudanas na estrutura da sociedade desencadearam repercusses no mbito artstico.O aparecimento da Literatura Infantil tem caractersticas prprias, pois decorre da ascenso da famlia burguesa, do novo "status" concedido infncia na sociedade e da reorganizao da escola. Sua emergncia deveu-se, antes de tudo, sua associao com a Pedagogia, j que as histrias eram elaboradas para se converterem em instrumento dela.

NOVOS OLHARES a partir do sculo XVIII que a criana passa a ser considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e caractersticas prprias, pelo que deveria distanciar-se da vida dos mais velhos e receber uma educao especial, que a preparasse para a vida adulta.

A importncia do Maravilhoso na Literatura InfantilEm seus primrdios, a Literatura foi essencialmente fantstica. Nessa poca era inacessvel humanidade o conhecimento cientfico dos fenmenos da vida natural ou humana, assim sendo o pensamento mgico dominava em lugar da lgica que conhecemos. A essa fase mgica, e j revelando preocupao crtica s relaes humanas ao nvel do social, correspondem as fbulas. Compreende-se, pois, porque essa literatura arcaica acabou se transformando em Literatura Infantil: a natureza mgica de sua matria atrai espontaneamente as crianas

O mosquito e o touro Um Mosquito que estava voando a zunir em volta da cabea de um Touro, depois de um tempo, pousou em seu chifre, e pedindo perdo pelo incmodo que supostamente lhe causava, disse: Mas se, no entanto, meu peso incomoda o senhor, por favor s dizer, e eu irei imediatamente embora. Ao que lhe respondeu o Touro: Oh, nenhum incmodo h para mim, tanto faz voc ir ou ficar, e, para falar a verdade, nem sabia que voc estava em meu chifre. Com freqncia, diante de nossos olhos,nos julgamos importantes, maior do que diante dos olhos do outros.

A literatura fantstica foi a forma privilegiada da Literatura Infantil, desde seus primrdios (sec. VII), at a entrada do Romantismo, quando o maravilhoso dos contos populares definitivamente incorporado ao seu acervo (pelo trabalho dos Irmos Grimm, na Alemanha; de Hans Christian Andersen, na Dinamarca; Garret e Herculano em Portugal; etc.)

Caractersticas dos contosNa tradio oral, as histrias compiladas no eram destinadas ao pblico infantil e sim aos adultos. Foram os irmos Grimm que as dedicaram s crianas por sua temtica mgica e maravilhosa. Fundiram, assim, esses dois universos: o popular e o infantil. O ttulo escolhido para a coletnea j evidencia uma proposta educativa. Alguns temas considerados mais cruis ou imorais foram descartados do manuscrito de 1810.

O primeiro manuscrito da compilao de histrias data de 1810 e apresentava 51 narrativas. Em sua primeira edio, a compilao foi intitulada "Histrias das crianas e do lar" e j contava com mais algumas histrias. A quinquagsima edio, ltima com os autores vivos, j totalizava 181 narrativas. Irmos Grimm: Jacob e Wilhelm (entre 1785 e 1863)O Romantismo trouxe ao mundo um sentido mais humanitrio. Assim, a violncia presente em alguns contos , cede lugar a um humanismo, onde se destaca o sentido do maravilhoso da vida. Perpassam pelas histrias, de forma suave, duas temticas em especial: a solidariedade e o amor ao prximo. A despeito dos aspectos negativos que continuam presentes nessas histrias, o que predomina, sempre so a esperana e a confiana na vida. possvel observar essa diferena, confrontando-se os finais da histria de Chapeuzinho Vermelho em Perrault, que termina com o lobo devorando a menina e a av, e em Grimm, onde o caador abre a barriga do lobo, deixando que as duas fiquem vivas e felizes enquanto o lobo morria com a barriga cheia de pedras que o caador ali colocou.

Era uma vez...

Uma garotinha que tinha que levar po e leite para sua av. Enquanto caminhava alegremente pela floresta, um lobo apareceu e perguntou-lhe onde ia.

casa da vov - respondeu ela prontamente.

O Lobo muito esperto, chegou primeiro casa, matou a vov, colocou seu sangue numa garrafa, fatiou sua carne num prato, comeu e bebeu satisfatoriamente, guardou as sobras na despensa, colocou sua camisola e esperou na cama.Toc. Toc. Toc. Soou a porta.

Entre, minha querida - disse o lobo.Eu trouxe o po e o leite para a senhora, vov - respondeu Chapeuzinho Vermelho.Entre minha querida. E coma algo, tem carne e vinho na despensa - disse o lobo.

A Menina comeu o que lhe foi oferecido, e enquanto comia o gato de sua v a observava aos murmrios e pensava:"Meretriz! Ento, comes a carne e bebes o sangue de tua av com gosto. Ata teu destino ao dela."

Ento o Lobo disse:

Dispa-se e venha para cama comigoO que fao com meu vestido? - questionou Chapeuzinho.Jogue na lareira. No precisar mais disso - respondeu o lobo.

E para cada pea de roupa que a garota retirava, copete, angua, meias, a garota refazia a mesma pergunta, e o lobo respondia:

"Jogue na lareira. No precisar mais disso"

Ento a garota deitou-se ao lado do lobo, e ao sentir o toque do pelo roar em seu corpo disse:

Como a senhora peluda vov exclamou Chapeuzinho para te esquentar, minha neta - respondeu o lobo.Que unhas grandes a senhora tem!So para me coar, minha queridaQue dentes grandes a senhora tem!So para te comer

E ento a devorou.

Perrault

Obras dos Irmos Grimm

Contos mais famososA Protegida de Maria;As Aventuras do Irmo Folgazo;Branca de Neve;Cinderela;Joo e Maria;O Alfaiate Valente;O Flautista de Hamelin;O Ganso de Ouro;O Lobo e as Sete Cabras;O Prncipe Sapo;Os Msicos de Bremen;Os Sete Corvos;Os Trs Fios de Ouro de Cabelo do Diabo.Rapunzel;Chapeuzinho Vermelho;A Bela Adormecida;Hansel e Gretel;Rumpelstichen;

Obras de Hans Christian Andersen

O Abeto, O Patinho Feio, A Caixinha de Surpresas, Os Sapatinhos Vermelhos, O Pequeno Cludio e o Grande Cludio, O Soldadinho de Chumbo, A Pequena Sereia, A Roupa Nova do Rei, A Princesa e a Ervilha, A Pequena Vendedora de Fsforos, A Polegarzinha, etc.Obras de Garret e Herculano

Lucrcia1821 O Retrato de Vnus; Cato (representao); Mrope (representao)1822 O Toucador1825 Cames1826 Dona Branca1828 Adozinda1829 Lrica de Joo Mnimo; Da Educao (ensaio), etc.O MARAVILHOSOConsidera-se como Maravilhoso todas as situaes que ocorrem fora do nosso entendimento da dicotomia espao/tempo ou realizada em local vago ou indeterminado na terra. Tais fenmenos no obedecem s leis naturais que regem o planetaO Maravilhoso sempre foi e continua sendo um dos elementos mais importantes na literatura destinada s crianas. Atravs do prazer ou das emoes que as estrias lhes proporcionam, o simbolismo que est implcito nas tramas e personagens vai agir em seu inconsciente, atuando pouco a pouco para ajudar a resolver os conflitos interiores normais nessa fase da vida.

nesse sentido que a Literatura Infantil e, principalmente, os contos de fadas podem ser decisivos para a formao da criana em relao a si mesma e ao mundo sua volta. O maniquesmo que divide as personagens em boas e ms, belas ou feias, poderosas ou fracas, etc. facilita criana a compreenso de certos valores bsicos da conduta humana ou convvio social. Tal dicotomia, se transmitida atravs de uma linguagem simblica, e durante a infncia, no ser prejudicial formao de sua conscincia tica.. O que as crianas encontram nos contos de fadas so, na verdade, categorias de valor que so perenes. O que muda apenas o contedo rotulado de bom ou mau, certo ou errado.As histrias infantis como forma de conscincia de mundo

no encontro com qualquer forma de Literatura que os homens tm a oportunidade de ampliar, transformar ou enriquecer sua prpria experincia de vida. Nesse sentido, a Literatura apresenta-se no s como veculo de manifestao de cultura, mas tambm de ideologiasA Literatura Infantil, por iniciar o homem no mundo literrio, deve ser utilizada como instrumento para a sensibilizao da conscincia, para a expanso da capacidade e interesse de analisar o mundo. Sendo fundamental mostrar que a literatura deve ser encarada, sempre, de modo global e complexo em sua ambigidade e pluralidadeAt bem pouco tempo, a Literatura Infantil era considerada como um gnero secundrio, e vista pelo adulto como algo pueril (nivelada ao brinquedo) ou til (forma de entretenimento). A valorizao da Literatura Infantil, como formadora de conscincia dentro da vida cultural das sociedades, bem recentePara investir na relao entre a interpretao do texto literrio e a realidade, no h melhor sugesto do que obras infantis que abordem questes de nosso tempo e problemas universais, inerentes ao ser humanoHistrias para crianas (faixa etria / reas de interesse / materiais / livros)1 a 2 anos

A criana, nessa faixa etria, prende-se ao movimento, ao tom de voz, e no ao contedo do que contado. Ela presta ateno ao movimento de fantoches e a objetos que conversam com ela. As histrias devem ser rpidas e curtas. O ideal invent-las na hora. Os livros de pano, madeira e plstico, tambm prendem a ateno. Devem ter, somente, uma gravura em cada pgina, mostrando coisas simples e atrativas visualmente. Nesta fase, h uma grande necessidade de pegar a histria, segurar o fantoche, agarrar o livro, etc..

2 a 3 anos

Nessa fase, as histrias ainda devem ser rpidas, com pouco texto de um enredo simples e vivo, poucos personagens, aproximando-se, ao mximo, das vivncias da criana. Devem ser contadas com muito ritmo e entonao. Tem grande interesse por histrias de bichinhos, brinquedos e seres da natureza humanizados. Identifica-se, facilmente, com todos eles. Prendem-se a gravuras grandes e com poucos detalhes. Os fantoches continuam sendo o material mais adequado. A msica exerce um grande fascnio sobre ela. A criana acredita que tudo ao seu redor tem vida e vivncia, por isso, a histria transforma-se em algo real, como se estivesse acontecendo mesmo.3 a 6 anosOs livros adequados a essa fase devem propor "vivncias radicadas" no cotidiano familiar da criana e apresentar determinadas caractersticas estilsticas.Predomnio absoluto da imagem, (gravuras, ilustraes, desenhos, etc.), sem texto escrito, ou com textos brevssimos, que podem ser lidos, ou dramatizados pelo adulto, a fim de que a criana perceba a inter-relao existente entre o "mundo real", que a cerca, e o "mundo da palavra", que nomeia o real. a nomeao das coisas que leva a criana a um convvio inteligente, afetivo e profundo com a realidade circundante.

As imagens devem sugerir uma situao que seja significativa para a criana, ou que lhe seja, de alguma forma, atraente.A graa, o humor, um certo clima de expectativa, ou mistrio so fatores essenciais nos livros para o pr-leitor.As crianas, nessa fase, gostam de ouvir a histria vrias vezes. a fase de "conte outra vez".Histrias com dobraduras simples, que a criana possa acompanhar, tambm exercem grande fascnio. Outro recurso a transformao do contador de histrias com roupas e objetos caractersticos. A criana acredita, realmente, que o contador de histrias se transformou no personagem ao colocar uma mscara, chapu, capa, etcPodemos enriquecer a base de experincias da criana, variando o material que lhe oferecido. Materiais como massa de modelar e argila atraem a criana para novas experimentaes. Por exemplo, a histria do "Bonequinho Doce" sugere a confeco de um bonequinho de massa, e a histria da "Galinha Ruiva" pode sugerir amassar e assar um po.Assim como as histrias infantis, os contos de fadas tm um determinado momento para serem introduzidos no desenvolvimento da criana, variando de acordo com o grau de complexidade de cada histria.

Os contos de fadas, tais como: "O Lobo e os Sete Cabritinhos", "Os Trs Porquinhos", "Cachinhos de Ouro", "A Galinha Ruiva" e "O Patinho Feio" apresentam uma estrutura bastante simples e tm poucos personagens, sendo adequados crianas entre 3 e 4 anos. Enquanto, "Chapeuzinho Vermelho", "O Soldadinho de Chumbo" (conto de Andersen), "Pedro e o Lobo", "Joo e Maria", "Mindinha" e o "Pequeno Polegar" so adequados a crianas entre 4 e 6 anos.

6 anos a 6 anos e 11 mesesOs contos de fadas citados na fase anterior ainda exercem fascnio nessa fase. "Branca de Neve e os Sete Anes", "Cinderela", "A Bela Adormecida", "Joo e o P de Feijo", "Pinquio" e "O Gato de Botas" podem ser contadas com poucos detalhesFaixa etriaTextosIlustraesMateriais1 a 2 anosAs histrias devem ser rpidas e curtasUma gravura em cada pgina, mostrando coisas simples e atrativas visualmenteLivros de pano, madeira, e plstico. recomendado o uso de fantoches2 a 3 anosAs histrias devem ser rpidas, com pouco texto de um enredo simples e vivo, poucos personagens, aproximando-se, ao mximo das vivncias da crianaGravuras grandes e com poucos detalhesOs fantoches continuam sendo o material mais adequado. Msica tambm exerce um grande fascnio sobre a criana3 a 6 anosOs livros adequados a essa fase devem propor vivncias radicadas no cotidiano familiar da criana. Predomnio absoluto da imagem, sem texto escrito ou com textos brevssimos.Livros com dobraduras simples. Outro recurso a transformao do contador de histrias com roupas e objetos caractersticos. A criana acredita, realmente, que o contador de histrias se transformou no personagem ao colocar uma mscara.6 ou 7 anos (fase de alfabetizao)Trabalho com figuras de linguagem que explorem o som das palavras. Estruturas frasais mais simples sem longas construes. Ampliao das temticas com personagens inseridas na coletividade, favorecendo a socializao, sobretudo na escola.Ilustrao deve integrar-se ao texto a fim de instigar o interesse pela leitura. Uso de letras ilustradas, palavras com estrutura dimensiva diferenciada e explorando carter pictrico.Excelente momento para inserir poesia, pois brinca com palavras, slabas, sons. Apoio de instrumentos musicais ou outros objetos que produzam sons. Materiais como massinha, tintas, lpis de cor ou cera podem ser usados para ilustrar textos.Estudo das diversas modalidades de textos infantisFbulas (do latim- fari - falar e do grego - Phao - contar algo) Narrativa alegrica de uma situao vivida por animais, que referencia uma situao humana e tem por objetivo transmitir moralidade. A exemplaridade desses textos espelha a moralidade social da poca e o carter pedaggico que encerram. oferecido, ento, um modelo de comportamento maniquesta; em que o "certo" deve ser copiado e o "errado", evitado. A importncia dada moralidade era tanta que os copistas da Idade Mdia escreviam as lies finais das fbulas com letras vermelhas ou douradas para destacar.

A presena dos animais deve-se, sobretudo, ao convvio mais efetivo entre homens e animais naquela poca. O uso constante da natureza e dos animais para a alegorizao da existncia humana aproximam o pblico das "moralidades". Assim apresentam similaridade com a proposta das parbolas bblicas. Algumas associaes entre animais e caractersticas humanas, feitas pelas fbulas, mantiveram-se fixas em vrias histrias e permanecem at os dias de hoje.leo - poder real lobo - dominao do mais forte raposa - astcia e esperteza cordeiro - ingenuidade

A proposta principal da fbula a fuso de dois elementos: o ldico e o pedaggico. As histrias, ao mesmo tempo que distraem o leitor, apresentam as virtudes e os defeitos humanos atravs de animais. Acreditavam que a moral, para ser assimilada, precisava da alegria e distrao contida na histria dos animais que possuem caractersticas humanas. Desta maneira, a aparncia de entretenimento camufla a proposta didtica presente.A fabulao a lio moral apresentada atravs da narrativa. O epitmio constitui o texto que explicita a moral da fbula, sendo o cerne da transmisso dos valores ideolgicos sociaisAcredita-se que esse tipo de texto tenha nascido no sculo XVIII a.C., na Sumria. H registros de fbulas egpsias e hindus, mas atribui-se Grcia a criao efetiva desse gnero narrativo. Nascido no Oriente, vai ser reinventado no Ocidente por Esopo (Sc. V a.C.) e aperfeioado, sculos mais tarde, pelo escravo romano Fedro (Sc. I a.C.) que o enriqueceu estilisticamente. Entretanto, somente no sculo X, comearam a ser conhecidas as fbulas latinas de Fedro.Ao francs Jean La Fontaine (1621/1692) coube o mrito de dar a forma definitiva a uma das espcies literrias mais resistentes ao desgaste dos tempos: a fbula, introduzindo-a definitivamente na literatura ocidental. Embora tenha escrito originalmente para adultos, La Fontaine tem sido leitura obrigatria para crianas de todo mundo.

Podem-se citar algumas fbulas imortalizadas por La Fontaine: "O lobo e o cordeiro", "A raposa e o esquilo", "Animais enfermos da peste", "A corte do leo", "O leo e o rato", "O pastor e o rei", "O leo, o lobo e a raposa", "A cigarra e a formiga", "O leo doente e a raposa", "A corte e o leo", "Os funerais da leoa", "A leiteira e o pote de leite".O brasileiro Monteiro Lobato dedica um volume de sua produo literria para crianas s fbulas, muitas delas adaptadas de Fontaine. Dessa coletnea, destacam-se os seguintes textos: "A cigarra e a formiga", "A coruja e a guia", "O lobo e o cordeiro", "A galinha dos ovos de ouro" e "A raposa e as uvas".Contos de FadasQuem l "Cinderela" no imagina que h registros de que essa histria j era contada na China, durante o sculo IX d. C.. E, assim como tantas outras, tem-se perpetuado h milnios, atravessando toda a fora e a perenidade do folclore dos povos, sobretudo, atravs da tradio oral.Pode-se dizer que os contos de fadas, na verso literria, atualizam ou reinterpretam, em suas variantes questes universais, como os conflitos do poder e a formao dos valores, misturando realidade e fantasia, no clima do "Era uma vez...".

Por lidarem com contedos da sabedoria popular, com contedos essenciais da condio humana, que esses contos de fadas so importantes, perpetuando-se at hoje. Neles encontramos o amor, os medos, as dificuldades de ser criana, as carncias (materiais e afetivas), as auto-descobertas, as perdas, as buscas, a solido e o encontro.Os contos de fadas caracterizam-se pela presena do elemento "fada". Etimologicamente, a palavra fada vem do latim fatum (destino, fatalidade, orculo).

Tornaram-se conhecidas como seres fantsticos ou imaginrios, de grande beleza, que se apresentavam sob forma de mulher. Dotadas de virtudes e poderes sobrenaturais, interferem na vida dos homens, para auxili-los em situaes-limite, quando j nenhuma soluo natural seria possvel.Podem, ainda, encarnar o Mal e apresentarem-se como o avesso da imagem anterior, isto , como bruxas. Vulgarmente, se diz que fada e bruxa so formas simblicas da eterna dualidade da mulher, ou da condio feminina.O enredo bsico dos contos de fadas expressa os obstculos, ou provas, que precisam ser vencidas, como um verdadeiro ritual inicitico, para que o heri alcance sua auto-realizao existencial, seja pelo encontro de seu verdadeiro "eu", seja pelo encontro da princesa, que encarna o ideal a ser alcanado.

Estrutura bsica dos contos de fadas Incio - nele aparece o heri (ou herona) e sua dificuldade ou restrio. Problemas vinculados realidade, como estados de carncia, penria, conflitos, etc., que desequilibram a tranqilidade inicial; Ruptura - quando o heri se desliga de sua vida concreta, sai da proteo e mergulha no completo desconhecido; Confronto e superao de obstculos e perigos - busca de solues no plano da fantasia com a introduo de elementos imaginrios; Restaurao - incio do processo de descobrir o novo, possibilidades, potencialidades e polaridades opostas; Desfecho - volta realidade. Unio dos opostos, germinao, florescimento, colheita e transcendnciaLendas (do latim legenda/legen - ler)

Nas primeiras idades do mundo, os seres humanos no escreviam, mas conservavam suas lembranas na tradio oral. Onde a memria falhava, entrava a imaginao para suprir-lhe a falta. Assim, esse tipo de texto constitui o resumo do assombro e do temor dos seres humanos diante do mundo e uma explicao necessria das coisas da vidalenda uma narrativa baseada na tradio oral e de carter maravilhoso, cujo argumento tirado da tradio de um dado lugar. Sendo assim, relata os acontecimentos numa mistura entre referenciais histricos e imaginrios. Um sistema de lendas que tratem de um mesmo tema central constituem um mito (mais abrangente geograficamente e sem fixao no tempo e no espao).A respeito das lendas, registra o folclorista brasileiro Cmara Cascudo no livro Literatura Oral no Brasil Iguais em vrias partes do mundo, semelhantes h dezenas de sculos, diferem em pormenores, e essa diferenciao caracteriza, sinalando o tpico, imobilizando-a num ponto certo da terra. Sem que o documento histrico garanta veracidade, o povo ressuscita o passado, indicando as passagens, mostrando, como referncias indiscutveis para a verificao racionalista, os lugares onde o fato ocorreu.

CASCUDO, 1978 , p. 51

A lenda tem carter annimo e, geralmente, est marcada por um profundo sentimento de fatalidade. Tal sentimento importante, porque fixa a presena do Destino, aquilo contra o que no se pode lutar e demonstra o pensamento humano dominado pela fora do desconhecido.O folclore brasileiro rico em lendas regionais. Destacam-se entre as lendas brasileiras os seguintes ttulos: "Boitat", "Boto cor-de-rosa", "Caipora ou Curupira", "Iara", "Lobisomem", "Mula-sem-cabea", "Negrinho do Pastoreio", "Saci Perer" e "Vitria Rgia".

Nas primeiras idades do mundo, os homens no escreviam. Conservavam suas lembranas na tradio oral. Onde a memria falhava, entrava a imaginao para supri-la e a imaginao era o que povoava de seres o seu mundo.Todas as formas expressivas nasceram, certamente, a partir do momento em que o homem sentiu necessidade de procurar uma explicao qualquer para os fatos que aconteciam a seu redor: os sucessos de sua luta contra a natureza, os animais e as inclemncias do meio ambiente, uma espcie de exorcismo para espantar os espritos do mal e trazer para sua vida os atos dos espritos do bem.A lenda, em especial as mitolgicas, constitui o resumo do assombro e do temor do homem diante do mundo e uma explicao necessria das coisas. A lenda, assim, no mais do que o pensamento infantil da humanidade, em sua primeira etapa, refletindo o drama humano ante o outro, em que atuam os astros e meteoros, foras desencadeadas e ocultas.A lenda uma forma de narrativa antiqssima, cujo argumento tirado da tradio. Relato de acontecimentos, onde o maravilhoso e o imaginrio superam o histrico e o verdadeiro.

Geralmente, a lenda est marcada por um profundo sentimento de fatalidade. Este sentimento importante, porque fixa a presena do Destino, aquilo contra o que no se pode lutar e demonstra, irrecusavelmente, o pensamento do homem dominado pela fora do desconhecido.De origem muitas vezes annima, a lenda transmitida e conservada pela tradio oral.

Poesia

O gnero potico tem uma configurao distinta dos demais gneros literrios. Sua brevidade, aliada ao potencial simblico apresentado, transforma a poesia em uma atraente e ldica forma de contato com o texto literrio.H poetas que quase brincam com as palavras, de modo a cativar as crianas que ouvem, ou lem esse tipo de texto. Lidam com toda uma ludicidade verbal, sonora e musical, no jeito como vo juntando as palavras e acabam por tornar a leitura algo muito divertido.

Como recursos para despertar o interesse do pequeno leitor, os autores utilizam-se de rimas bem simples e que usem palavras do cotidiano infantil; um ritmo que apresente certa musicalidade ao texto; repetio, para fixao da idias, e melhor compreenso dentre outros.Pode-se refletir, acerca da receptividade das crianas poesia, lendo as consideraes de Jesualdo:(...) a criana tem uma alma potica. E essencialmente criadora. Assim, as palavras do poeta, as que procuraram chegar at ela pelos caminhos mais naturais, mesmo sendo os mais profundos em sua sntese, no importa, nunca sero melhor recebidas em lugar algum do que em sua alma, por ser mais nova, mais virgem (...)