1- Psicologia Comunitária, cultura e consciência

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Psicologia Comunitria, cultura e conscincia

Psicologia Comunitria, cultura e conscinciaOs projetos de psicologia social comunitria descritos na literatura em geral focalizam dois processos psicossociais: a conscincia e a cultura.Conscincia enfatizam predominantemente o trabalho de conscientizao, isto , de desvelamento, para o sujeito, dos determinantes de suas condies de vida.Cultura conceito que tem sido importante na descrio das prticas especficas de determinadas populaes e dos significados compartilhados pelos membros do grupo em relao a sua prtica.A problemtica do convvio e do dilogo em grupos de diferentes inseres scio-culturais e com histrias diversas ocupa lugar de destaque entre as preocupaes dos psiclogos que atuam em comunidades.

As publicaes das reas, tanto no Brasil quanto no exterior, divulgam estudos em que analisada a psicossociologia de diferentes grupos caracterizados por similaridades em termos de classe ou lugar social, gnero e etnia, em interao com a sociedade inclusiva.Os conceitos utilizados para descrever estas interaes decorrem das principais teorias utilizadas em psicologia social, destacando-se a contribuio da abordagem cognitiva, da teoria das representaes sociais e do interacionismo simblico.Neste trabalho, examina-se em que medida cada uma das diferentes abordagens ilumina determinados aspectos da interao em grupos multiculturais, e como pode contribuir para informar prticas de psicologia comunitria.As abordagens clssicas: cognio social e socializaoEnfatizam o estudo da conscincia, e exploram o efeito do pensamento e da interpretao dos sujeitos sobre a atividade social. Inspirados no trabalho da Gestalt, estes tericos interessam acreditam que a percepo dos eventos a principal varivel que influencia a conduta do sujeito social.A principal influencia sobre o cognitivismo em psicologia social vem do trabalho de Kurt Lewin a teoria de campo: a maneira como as pessoas representam o mundo o principal determinante de sua ao. O modo como o indivduo constri sua representao do mundo pode variar de acordo com as suas necessidades ou objetivos internos, isto , as construes mentais que influenciam a conduta.Moscovici observa uma volta s concepes dos fenmenos psquicos que atribuem mais importncia s imagens mentais, ao raciocnio e memria ativa.

A psicologia social estaria se voltando novamente para o estudo da conscincia.O estudo das multides, da propaganda e dos processos de influencia social foi feito enfatizando sobretudo os aspectos emocionais, afetivos e inconscientes os fatores irracionais do comportamento dos grupos. Estes estudos fizeram Asch e Lewim a protestar contra essa abordagem das relaes sociais, onde Lewin ento se voltou para os estudos dos pequenos grupos e para a lgica que rege a conduta de seus membros, enquanto Asch procurou substituir a abordagem que busca a explicao da liderana em termos de prestgio ou sugesto pelo estudo da lgica dos processos de influncia social.

Em ambos, a racionalidade humana enfatizada.E para Moscovici, precisamente esta a razo pela qual os processos cognitivos estiveram no centro desta nova psicologia social nos EUA.O foco de ateno das teorias cognitivistas so as atitudes, definidas como estruturas cognitivistas determinadas por conjuntos de valores e por tendncias para a ao organizadas a partir de experincia, em funo das quais se organizam todas as outras manifestaes psquicas (percepes, julgamentos e condutas).

Segundo Moscovici, para Festinger o homem um animal racionalizante, mais que racional: diante de um conflito, o sujeito realinha suas atitudes em funo dos motivos subjetivos e da ao efetiva, e no ao contrrio (em funo da razo).A partir de Festinger, a anlise da percepo social se tornou central para a compreenso dos fenmenos grupais. No entanto, a anlise das relaes de grupo foi sendo progressivamente substituda pela temtica da interao entre pessoas, o que reduziu o mbito da teoria da dissonncia cognitiva, o que foi perdendo o interesse, inclusive o prprio autor.

Mais recentemente os pesquisadores se concentraram no estudo da cognio social: o homem como mquina pensante, o estudo dos mecanismos de processamento das informaes.Essa forma de processamento at a elaborao de uma interpretao se dariam a partir de esquemas, isto , conexes previamente estabelecidas que agem como ponto de ligao entre a memria e a percepo, e que cumpre a funo de selecionar, entre as informaes disponveis, aquelas que so cruciais para a compreenso da situao.Os esquemas se dividem em:

-Esquemas causais: transformam cada elemento de informao em efeito de causa;

-Esquemas de acontecimento: descrevem uma sequncia de acontecimentos dos quais participamos que mobilizam a memria de situaes passadas semelhantes e indicam o curso apropriado de ao na situao presente.Para que se forme uma atitude, necessrio que o sujeito seja socializado em um ambiente que lhe fornea informaes, sobre como deve ver e se comportar em relao s minorias. Assim ao mesmo tempo em que atitudes se desenvolvem, a identidade em relao ao seu prprio grupo se fortalece, ou seja, o sentimento do ns por oposio ao eles. A abordagem cognitivista se combina a pressupostos da teoria dos papis.Falta nesta teoria uma melhor caracterizao do modo pelo qual estas percepes e representaes individualmente construdas se tornam sociais, regendo no s a conduta de um indivduo, mas de grupos sociais inteiros.Abordagem scio-interacionistaO conhecimento se constri na interao social.Vygotski: o conhecimento seria social antes de ser individual, e os artefatos criados pela atividade humana, bem como a linguagem, seriam os principais mediadores no processo de internalizao da cultura.Para os scios-interacionistas os seres humanos vivem em um ambiente em constante transformao, pois os artefatos culturais e a linguagem so transformados pela prpria atividade dos grupos humanos em interao. O ambiente humano constantemente criado e recriado pela atividade cultural.Se o conhecimento se constri na interao, e se esta interao mediado por smbolos e artefatos produzidos culturalmente, duas consequncias se impem aos psiclogos: conhecer a cultura local e contribuir para a construo de novos significados atravs da interao. Por isso a importncia do dilogo para a interao em grupos.Assim, a abordagem scio-interacionista, ao superar o individualismo da abordagem cognitivista clssica, coloca em novas bases a questo da interao social, por consider-la constitutiva da conscincia. Essa viso tem consequncias importantes para a elaborao de estratgias dialgicas de desenvolvimento da conscincia, como o caso dos programas comunitrios.

Representaes sociaisBusca superar as limitaes da abordagem cognitivista, seja clssica ou contempornea, por abordar no apenas a construo das representaes no indivduo, mas a maneira como estas representaes se tornam hegemnicas em uma dada formao social. A nfase o estudo do aspecto social, isto , interindividual, da representao. A questo da construo da representao deixa de ser individual, para se tornar uma funo simblica do grupo social em seu conjunto.O conceito de representao social:Moscovici (1961): procurar descrever representaes coletivas enquanto construes simblicas historicamente determinadas, socialmente compartilhadas e comunicadas atravs de redes institucionais especficas, que ao mesmo tempo modelam as aes dos grupos no interior da formao social considerada, e so por elas modeladas.O que determina a ao dos indivduos no , portanto, apenas a sua prpria representao do real, mas a representao que, atravs de uma complexa rede de relaes sociais, eles compartilham com os demais membros do grupo do qual fazem parte.Dois aspectos merecem destaque na teoria das representaes sociais, por sua contribuio ao estudo da interao:- A idia de que as representaes que os sujeitos constroem, compartilham e comunicam entre si so frutos de histrias j construdas, e como tal so transmitidas.- A lembrana oportuna de que as prticas presentes vo progressivamente contribuir para introduzir novos elementos nas representaes, e em ltima instncia para transform-las.Chega-se a concepo na qual no so apenas as representaes sociais que orientam a conduta humana, mas esta mesma conduta que contribui para construir as representaes.

18A interpretao da cultura como empreendimento intersubjetivoO campo de estudo delimitado pela psicologia social, principalmente se aplicado ao estudo e interveno em comunidades, constitudo, em ltima anlise, pela anlise da cultura.O conceito de cultura:Conjunto de significados compartilhados que orientam a conduta dos indivduos. Estes significados, se por um lado apresentam as caractersticas de homogeneidade e a durao, tendo em vista suas origens na tradio e na histria do grupo, so tambm questionados pelo movimento de construo de novas prticas, que por sua vez, na interao, produzem novos significados.

A psicologia social trabalha com conceitos que permitem trabalhar as relaes culturais em situao de dilogo, contribuindo para desenvolver a capacidade de anlise das situaes e para a construo de novas interpretaes.A psicologia social tambm se constitui em uma interpretao da cultura.A anlise da cultura requer uma espcie de dupla viso, que se movimenta do narrador ao protagonista da ao. A partir deste movimento que o conhecimento se tornaria possvel, e o movimento cultural passvel de ser apreendido.E assim se movimenta o estudo psicossociolgico dos grupos multiculturais: de uma abordagem centrada no indivduo passamos histria do grupo social como fonte das representaes que os indivduos se fazem uns dos outros, para chegar a uma abordagem em que a prpria anlise das representaes se torna um empreendimento intersubjetivo. Nesta ltima abordagem, a interpretao da ao dos sujeitos imersos na cultura a resultante de um processo de reflexo no qual a anlise focaliza precisamente os diferentes pontos de vista envolvidos na definio da situao. Para a psicologia social estas contribuies so relevantes na medida que apontam para os aspectos cruciais do processo de conscientizao: - a cultura: como contribuio intersubjetiva de significados; e- o dilogo: como contexto para a problematizao e reconstruo cultural.Elaborar um texto sobre as diferentes abordagens das interaes grupais. E as contribuies para a prtica da psicologia comunitria.-Abordagem cognitiva- Teoria das representaes sociais- Interacionismo simblico