12 GERAL Alberto Abrahão Levy, o homenageado do Festival ...Alberto Levy acompanhou a trajetória...

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GERAL 12 Sexta-feira, 7 de novembro de 2014 “Obstáculos são aquelas coisas assustadoras que você vê, quando desvia os olhos de suas metas” - dizia o pai do automobilismo, Henry Ford. Sim, a vida nos apresenta, constantemente, obstáculos. Não há como escapar disso. Sempre existirá uma luta para você se entregar, uma barreira a vencer, um desafio a acei- tar, um momento para pensar e decidir... Somos humanos e temos nossa existência dividida em ciclos. Entre um período e outro, surge uma calmaria, algo transitório. Quando então achamos que a vida está calma, pacata, surgem os obstáculos... Necessariamente teremos que tomar várias decisões du- rante a nossa jornada, em razão das circunstancias criadas ou das circunstâncias que nós mesmos criamos. Os obstá- culos surgem então, e servem para testar nossa capacidade de crescimento, de superação. Se não existissem os obstáculos, não teríamos desafios e se não tivéssemos desafios, teríamos então pouca moti- vação, e sem motivação estaríamos fadados a ficar inertes, sem vontades e sem paixões... Até a mais nobre de todas as paixões, perto de se trans- formar em um amor com sentimentos profundos, nos trará, em algum determinado momento, um desafio, uma escolha, uma pergunta... Não enfrentar os desafios, não superar os obstáculos, não lutar por algo que seja necessário para você, acabará lhe trazendo a derrota, a dor e a frustração... Enfrentar e não vencer é nobre. Desistir antes de tentar não... A vida nos derrubará várias vezes e o diferencial estará naqueles que terão a coragem de levantar mais e mais ve- zes, sem ter o medo de cair de novo. Aprendemos com nossos erros e quem não erra, não tem experiência suficiente para ensinar. A teoria da vida é linda para quem a lê em uma histó- ria em quadrinhos ou em poemas e versos cantarolados ao som de uma cachoeira de água pura e cristalina... Já a prática da vida, a vida vivida, é composta por acor- des que desconhecemos e que compõem uma música, que aprendemos a dançar durante um baile que chamamos, exa- tamente, de vida... Na única vez que estive em Buenos Aires vi várias faixas estendidas na Praça de Maio em um movimento denomina- do Mães da Praça de Maio. Durante o período da Ditadura Militar algumas famílias contrárias ao regime tiveram seus filhos retirados de sua guarda e entregues para adoção. Até hoje as mães se reúnem na praça para relembrar este trá- gico momento vivido. Elas ainda buscam notícias de seus filhos.. A faixa mais marcante, para mim, dizia: “A única luta que se perde, é aquela que se abandona e não está em nossas mentes”. Portanto, nunca desista dos seus sonhos, mesmo que entre o dia de hoje e a realização deles, existam obstáculos... Pois os obstáculos foram feitos para serem vencidos. Boa sorte! Obstáculos... TRÊS PASSOS - Filho de um francês e uma marroquina, Alberto Abrahão Levy (foto acima) nasceu em Porto Alegre, no dia 23 de janeiro de 1902. Tinha apenas uma irmã: Sueli. Casou-se com Amália Langner, de Santo Augusto, com quem teve três filhos: Adalberto (Chico) – já fale- cido, Roberto e Gilberto (Nenê). Salomão, seu pai, era comerciante. Vendia produtos oriundos da Europa. Alberto estudou em Porto Alegre, no Colégio Júlio de Castilhos, onde se formou no Científico. Poucos meses antes do iní- cio da I Guerra Mundial, Nenê – como era chamado pela família, foi a Paris, cidade onde residia sua irmã que estudava canto lírico. Na capital francesa deveria cursar Medicina, mas, em função da guerra, re- gressou a Porto Alegre. Passado algum tempo, Levy retorna a Paris, época em que os Irmãos Lumière lançavam a primeira sessão falada de Ci- nema. Acompanhado da mãe e irmã, ele assistiu aos filmes dos Lumière e se en- cantou com a magia da sétima arte. Por volta de 1930, um negociante de Santo Ângelo, cliente da casa comercial da família Levy, provocou o pai de Alber- to para que expandisse seus negócios na região de Palmeira das Missões, região de bastantes pinheirais e serrarias abando- nadas. Os Levy assumiram uma olaria na localidade de Braguinha (hoje município de Braga). Nessa época, Julinho Bertin tinha um cinema em Três Passos que funcionava no prédio onde atualmente está instalada a Imobiliária Reimann & Seghetto. As quedas de energia eram frequentes e atrapalhavam as sessões cinematográficas. Um dia, Ju- linho confidenciou essas dificuldades para seu amigo Plínio Baggio que não podia passar alguns de seus filmes por falta de luz. Baggio na hora lembrou-se dos dois geradores que Levy possuía em Braga e sem uso. Julinho propôs, então, que Levy se associasse ao cinema, cedendo os dois geradores. Proposta aceita. Por volta de 1950, Aberto Levy assumiu a parte de seu sócio, tornando-se o único proprietário do cinema. A família transfe- riu-se para Três Passos. Mais tarde, o dono do imóvel onde o cinema estava funcionando, Aparício Villa Real, pediu o prédio novamente para insta- lar o cartório próximo da rodoviária. Para viabilizar um novo local para o ci- nema, o cunhado de Levy, Zeca, sugeriu que este se associasse a uma olaria, po- dendo produzir tijolos, o que facilitaria na nova construção. Foi o que fizeram. Nesse entremeio, compraram o terreno onde hoje está o Cine Globo. No final de 1954, quando a obra já esta- va perto de seu final, um vendaval acabou derrubando a estrutura de paredes. Iniciou- -se a reconstrução. As cadeiras do novo cinema foram adquiridas do Cinema Cisne, de Santo Ângelo. Um técnico, que residia em San- to Ângelo e prestava assistência para toda a região noroeste, foi o responsável pela montagem do projetor.Basílio Bourscheid foi o primeiro operador. A inauguração do Cine Globo foi no final de 1954. Foi um acontecimento, um fato histórico para o município e região. Um dos primeiros filmes exibidos foi o musical “Cantando na Chuva”. Alberto Levy acompanhou a trajetória do Cine Globo até o último dia de sua vida. Morreu, aos 96 anos, em junho de 1998, quando estava sendo reproduzido o filme Titanic, recorde de público e de exibições da história do cinema de Três Passos. A 1ª Feicap (1968) foi filmada pela Leopold Som, narrada por Cid Moreira. A primeira ideia da produtora era filmar a Fenasoja, em Santa Rosa. Após Roberto Levy fechar negociação com Very Klaus, presidente da feira, este acabou não cumprindo com o negócio. Mas, como a equipe da produtora es- tava a postos na região, a família Levy fez a proposta de filmagem para o prefeito de Três Passos, Egon Júlio Goelzer, que topou a ideia, surgindo aí a filmagem da 1ª Feicap. Nas décadas de 50, 60 e 70, o filme de domingo, passava na segunda-feira. Terça-feira, um filme. Quarta-feira, dois filmes. Quinta-feira, um filme. Sexta-feira, dois filmes. Sábado, dois filmes. Domin- go, de dois a três filmes. Média de 14 a 15 filmes por semana. Os filmes ficavam em exibição no má- ximo dois dias. Um dos poucos filmes que ficaram várias semanas foi Noviça Rebelde, com mais de um mês e meio. Dr. Jivago, duas ou três semanas de reprodução. Nas décadas de 60 e 70, eram ne- cessários pelo menos cinco operadores para reprodução do filme. Um cuidava da película, que era muito delicada. Ou- tro cuidava do carvão. Outro posicionava a película no projetor, outro ficava des- virando e um quinto ficava de prontidão para qualquer emergência Alberto Abrahão Levy, o homenageado do Festival de Cinema Roberto Levy, atual administrador do Cine Globo, mantém a tradição familiar

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  • GERAL12 Sexta-feira, 7 de novembro de 2014

    “Obstáculos são aquelas coisas assustadoras que você vê, quando desvia os olhos de suas metas” - dizia o pai do automobilismo, Henry Ford.

    Sim, a vida nos apresenta, constantemente, obstáculos. Não há como escapar disso. Sempre existirá uma luta para você se entregar, uma barreira a vencer, um desafio a acei-tar, um momento para pensar e decidir...

    Somos humanos e temos nossa existência dividida em ciclos. Entre um período e outro, surge uma calmaria, algo transitório. Quando então achamos que a vida está calma, pacata, surgem os obstáculos...

    Necessariamente teremos que tomar várias decisões du-rante a nossa jornada, em razão das circunstancias criadas ou das circunstâncias que nós mesmos criamos. Os obstá-culos surgem então, e servem para testar nossa capacidade de crescimento, de superação.

    Se não existissem os obstáculos, não teríamos desafios e se não tivéssemos desafios, teríamos então pouca moti-vação, e sem motivação estaríamos fadados a ficar inertes, sem vontades e sem paixões...

    Até a mais nobre de todas as paixões, perto de se trans-formar em um amor com sentimentos profundos, nos trará, em algum determinado momento, um desafio, uma escolha, uma pergunta...

    Não enfrentar os desafios, não superar os obstáculos, não lutar por algo que seja necessário para você, acabará lhe trazendo a derrota, a dor e a frustração...

    Enfrentar e não vencer é nobre. Desistir antes de tentar não...

    A vida nos derrubará várias vezes e o diferencial estará naqueles que terão a coragem de levantar mais e mais ve-zes, sem ter o medo de cair de novo.

    Aprendemos com nossos erros e quem não erra, não tem experiência suficiente para ensinar.

    A teoria da vida é linda para quem a lê em uma histó-ria em quadrinhos ou em poemas e versos cantarolados ao som de uma cachoeira de água pura e cristalina...

    Já a prática da vida, a vida vivida, é composta por acor-des que desconhecemos e que compõem uma música, que aprendemos a dançar durante um baile que chamamos, exa-tamente, de vida...

    Na única vez que estive em Buenos Aires vi várias faixas estendidas na Praça de Maio em um movimento denomina-do Mães da Praça de Maio. Durante o período da Ditadura Militar algumas famílias contrárias ao regime tiveram seus filhos retirados de sua guarda e entregues para adoção. Até hoje as mães se reúnem na praça para relembrar este trá-gico momento vivido. Elas ainda buscam notícias de seus filhos..

    A faixa mais marcante, para mim, dizia: “A única luta que se perde, é aquela que se abandona e não está em nossas mentes”.

    Portanto, nunca desista dos seus sonhos, mesmo que entre o dia de hoje e a realização deles, existam obstáculos...

    Pois os obstáculos foram feitos para serem vencidos.Boa sorte!

    Obstáculos...

    TRÊS PASSOS - Filho de um francês e uma marroquina, Alberto Abrahão Levy (foto acima) nasceu em Porto Alegre, no dia 23 de janeiro de 1902. Tinha apenas uma irmã: Sueli. Casou-se com Amália Langner, de Santo Augusto, com quem teve três filhos: Adalberto (Chico) – já fale-cido, Roberto e Gilberto (Nenê).

    Salomão, seu pai, era comerciante. Vendia produtos oriundos da Europa.

    Alberto estudou em Porto Alegre, no Colégio Júlio de Castilhos, onde se formou no Científico. Poucos meses antes do iní-cio da I Guerra Mundial, Nenê – como era chamado pela família, foi a Paris, cidade onde residia sua irmã que estudava canto lírico. Na capital francesa deveria cursar Medicina, mas, em função da guerra, re-gressou a Porto Alegre.

    Passado algum tempo, Levy retorna a Paris, época em que os Irmãos Lumière lançavam a primeira sessão falada de Ci-nema. Acompanhado da mãe e irmã, ele assistiu aos filmes dos Lumière e se en-cantou com a magia da sétima arte.

    Por volta de 1930, um negociante de Santo Ângelo, cliente da casa comercial da família Levy, provocou o pai de Alber-to para que expandisse seus negócios na região de Palmeira das Missões, região de bastantes pinheirais e serrarias abando-nadas. Os Levy assumiram uma olaria na localidade de Braguinha (hoje município de Braga).

    Nessa época, Julinho Bertin tinha um cinema em Três Passos que funcionava no prédio onde atualmente está instalada a Imobiliária Reimann & Seghetto. As quedas de energia eram frequentes e atrapalhavam

    as sessões cinematográficas. Um dia, Ju-linho confidenciou essas dificuldades para seu amigo Plínio Baggio que não podia passar alguns de seus filmes por falta de luz. Baggio na hora lembrou-se dos dois geradores que Levy possuía em Braga e sem uso. Julinho propôs, então, que Levy se associasse ao cinema, cedendo os dois geradores. Proposta aceita.

    Por volta de 1950, Aberto Levy assumiu a parte de seu sócio, tornando-se o único proprietário do cinema. A família transfe-riu-se para Três Passos.

    Mais tarde, o dono do imóvel onde o cinema estava funcionando, Aparício Villa Real, pediu o prédio novamente para insta-lar o cartório próximo da rodoviária.

    Para viabilizar um novo local para o ci-nema, o cunhado de Levy, Zeca, sugeriu que este se associasse a uma olaria, po-dendo produzir tijolos, o que facilitaria na nova construção. Foi o que fizeram. Nesse entremeio, compraram o terreno onde hoje está o Cine Globo.

    No final de 1954, quando a obra já esta-va perto de seu final, um vendaval acabou derrubando a estrutura de paredes. Iniciou--se a reconstrução.

    As cadeiras do novo cinema foram adquiridas do Cinema Cisne, de Santo Ângelo. Um técnico, que residia em San-to Ângelo e prestava assistência para toda a região noroeste, foi o responsável pela montagem do projetor.Basílio Bourscheid foi o primeiro operador.

    A inauguração do Cine Globo foi no final de 1954. Foi um acontecimento, um fato histórico para o município e região. Um dos primeiros filmes exibidos foi o musical “Cantando na Chuva”.

    Alberto Levy acompanhou a trajetória

    do Cine Globo até o último dia de sua vida. Morreu, aos 96 anos, em junho de 1998, quando estava sendo reproduzido o filme Titanic, recorde de público e de exibições da história do cinema de Três Passos.

    A 1ª Feicap (1968) foi filmada pela Leopold Som, narrada por Cid Moreira. A primeira ideia da produtora era filmar a Fenasoja, em Santa Rosa. Após Roberto Levy fechar negociação com Very Klaus, presidente da feira, este acabou não cumprindo com o negócio.

    Mas, como a equipe da produtora es-tava a postos na região, a família Levy fez a proposta de filmagem para o prefeito de Três Passos, Egon Júlio Goelzer, que topou a ideia, surgindo aí a filmagem da 1ª Feicap.

    Nas décadas de 50, 60 e 70, o filme de domingo, passava na segunda-feira. Terça-feira, um filme. Quarta-feira, dois filmes. Quinta-feira, um filme. Sexta-feira, dois filmes. Sábado, dois filmes. Domin-go, de dois a três filmes. Média de 14 a 15 filmes por semana.

    Os filmes ficavam em exibição no má-ximo dois dias.

    Um dos poucos filmes que ficaram várias semanas foi Noviça Rebelde, com mais de um mês e meio.

    Dr. Jivago, duas ou três semanas de reprodução.

    Nas décadas de 60 e 70, eram ne-cessários pelo menos cinco operadores para reprodução do filme. Um cuidava da película, que era muito delicada. Ou-tro cuidava do carvão. Outro posicionava a película no projetor, outro ficava des-virando e um quinto ficava de prontidão para qualquer emergência

    Alberto Abrahão Levy,o homenageado do Festival de Cinema

    Roberto Levy, atual administrador do Cine Globo, mantém a tradição familiar