128 2 B Pascho2007 Revisado Si
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ANÁLISE DAS VARIÁVEIS DE FORÇAS DE PREENSÃO DIGITAL: A
CONTRIBUIÇÃO DA BIOMECÂNICA AO DESIGN ERGONÔMICO
Luis C. Paschoarelli1, Bruno M. Razza1, Franciane da S. Falcão1, Cristina do C. Lucio1
1Laboratório de Ergonomia e Interfaces – Universidade Estadual Paulista –UNESP – Bauru.
Resumo: As preensões digitais são comumente empregadas em atividades ocupacionais, sendo associadas aos diagnósticos de DORT. Assim, vários estudos foram realizados com o objetivo de gerar dados normativos dessas variáveis, encontrando-se apenas uma referência no Brasil. O objetivo do presente estudo foi analisar a influência do gênero, antropometria e dominância na força de preensão digital pulpo-lateral. O gênero determinou diferenças no tamanho e força das mãos, ressaltando a importância do conhecimento das características do público feminino a fim de projetar produtos ergonômicos. Palavras Chave: Preensão Digital, Biomecânica, Design Ergonômico. Abstract: The pinch grips are commonly used in occupational activities and being associated with WMSD diagnostics. Thus, some studies had been led with the objective to generate normative data of these variables and only one reference of these was found in Brazil. The goal of the present study was to analyze the influence of the gender, anthropometry and hand dominance in the key pinch strength. The gender determined differences in the sizes and forces of the hands, stressing the importance of the knowledge of the female’s characteristics in order to ergonomic design product. Keywords: Pinch Grip, Biomechanics, Ergonomic Design.
INTRODUÇÃO
As mãos têm sido retratadas como os mais
complexos e úteis sistemas biomecânicos do corpo
humano, sendo um dos principais veículos de
atividade motora. As formas de preensão e
aplicação de forças interferem diretamente na
realização da maioria das atividades da vida diária
(AVDs), sendo que a magnitude destas forças pode
influir decisivamente nas condições ocupacionais
de trabalhadores que utilizam instrumentos
manuais.
O conhecimento biomecânico tem proposto
que o uso de preensões digitais associadas a
aplicações de forças, encontradas em várias AVDs,
é considerado mais prejudicial que as ações
realizadas em preensões palmares, pois causam
maiores tensões nos tendões e articulações que, ao
estarem associadas à grande carga biomecânica e
longos períodos de tempo, podem gerar DORTs –
Distúrbios Osteo-musculares Relacionados ao
Trabalho. Além disso, estudos que avaliam as
forças de preensão digital pulpo-lateral ainda são
restritos, havendo a necessidade de se explorar
diferentes variáveis que podem influenciar em seus
resultados.
Dentre os estudos biomecânicos que
objetivam levantar dados paramétricos de forças de
preensão digital para a determinação de dados
normativos, destaca-se aquele realizado por
Mathiowetz et al. [1], os quais avaliaram forças de
preensão digital com 628 voluntários de ambos os
gêneros e idades de 20 a 94 anos. Crosby et al. [2]
também investigaram as forças de preensão digital,
junto a 214 sujeitos de ambos os gêneros, e idades
de 16 a 63 anos, com o objetivo de estabelecerem
dados normativos.
No Brasil, Araújo et al. [3] realizaram um
estudo avaliando forças de preensão digital em
uma amostra ampla de indivíduos, também com o
objetivo de estabelecer parâmetros normativos,
possibilitando a interpretação e comparação dos
resultados com outros estudos. Os sujeitos foram
escolhidos aleatoriamente englobando diversas
etnias, atividades ocupacionais, biótipos, faixas
etárias, e outros, na tentativa de se obter uma
amostra bastante variada e representativa da
população brasileira.
Já quanto à análise das preensões digitais e
as influências de variáveis externas, alguns
importantes estudos também foram desenvolvidos.
Imrhan [4] realizou um estudo de avaliação de
forças manuais investigando diversas variáveis,
dentre elas alguns tipos de preensão digital e
posturas desviadas do punho, apontando a
necessidade de se projetar equipamentos e postos
de trabalho priorizando a preensão digital pulpo-
lateral e a postura neutra da mão. Dempsey, Ayoub
[5] e Imrhan, Rahman [6] investigaram os mesmos
tipos de preensão digital sob diferentes aberturas
de preensão, chegando a resultados discordantes.
Young et al. [7] avaliaram a variação da força de
preensão digital em função do tempo, e obtiveram
grandes flutuações com relação a diferentes dias,
mas não entre as medições realizadas entre a
manhã e tarde.
Também foi constatado, com a revisão
destes estudos, que a análise da influência do
gênero na aplicação de forças de preensão digital
pulpo-lateral é bastante discutida. Por outro lado,
as avaliações antropométricas realizadas nestes
estudos não são analisadas, principalmente quando
se trata de sua influencia na aplicação de forças.
O objetivo deste estudo foi realizar uma
avaliação biomecânica de força de preensão digital
pulpo-lateral num grupo de indivíduos
universitários brasileiros, a fim de verificar a
influência da antropometria (manual), da
dominância e do gênero nesta variável. Desta
forma, este estudo procura demonstrar os aspectos
metodológicos e a integração das dimensões físicas
nas ações projetuais e ocupacionais da ergonomia.
MATERIAL E MÉTODOS
Questões Éticas
Todos os participantes assinaram um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
baseado na resolução 196/96 – CNS/MS, e todos
os procedimentos fazem parte de um estudo
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da
Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP),
através do “Oficio 374/2005 – CEP”.
Casuística
Participaram 30 indivíduos (20 do gênero
masculino e 10 do gênero feminino), com idade
média de 19,80 anos (d.p. 1,95 anos), todos
estudantes universitários, sendo 26 destros
(Coeficiente de Lateralidade: média 81,36; d.p.
17,97) e 04 canhotos (Coeficiente de Lateralidade:
média -53,68; d.p. 36,11), de acordo com
Edinburgh Inventory de Oldfield [8]. Nenhum
sintoma grave de distúrbio músculo-esquelético
nos membros superiores (no último ano, anterior
ao experimento) foi relatado pelos sujeitos.
Materiais
Foram utilizados: TCLE; Protocolos de
Identificação e Lateralidade - Edinburgh Inventory
de Oldfield [8]; Balança mecânica Welmy® mod.
R110; Paquímetro de metal MAUb (Polônia);
Dinamômetro de Pinça (Pinch Gauge), mod B&L-
PG60, B&L Engineering (Canadá), considerado o
mais preciso para avaliação de preensão pulpo-
lateral, segundo Mathiowetz et al. [9].
Procedimentos
Todo o estudo foi desenvolvido no
Laboratório de Ergonomia e Interfaces da UNESP
- Bauru (SP). Após a instrução das atividades, os
sujeitos aptos e voluntários a participar do estudo
assinaram o TCLE e preencheram os protocolos de
identificação e lateralidade.
Na seqüência, houve a coleta dos dados
antropométricos (peso, estatura e nove variáveis
dimensionais das mãos esquerda e direita).
A coleta das forças de preensão pulpo-lateral
(Figura 01) deu-se em três medições, sendo
considerado um intervalo mínimo de 3 minutos
entre as mesmas. Neste caso, tomaram-se como
resultados a média das três medições, uma vez que
não foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas entre as mesmas (p > 0,05).
Figura 01 – Procedimentos de Coleta de força de
preensão pulpo-lateral com uso do dinamômetro de
pinça B&L (pinch gauge).
O posicionamento dos indivíduos seguiu as
recomendações da “American Society of Hand
Therapists”, a saber: posição sentada, com o
ombro neutramente rotacionado e abduzido, o
cotovelo flexionado em 90º, e o antebraço e punho
em posição neutra.
O acionamento do dinamômetro deu-se com
o posicionamento em sua parte inferior pela
falange medial do dedo indicador e na parte
superior com a face pulpar do polegar. Todos os
procedimentos foram padronizados, baseados em
Mathiowetz [9].
Os dados foram analisados através de
estatística descritiva. Aplicou-se a Análise da
Variância (ANOVA – p ≤ 0,05) e análise post hoc
de DUNCAN, a fim de comparar as forças, as
variáveis antropométricas e as mãos (direita e
esquerda, dominante e não dominante) entre os
diferentes gêneros.
RESULTADOS
Os resultados gerais (médias e desvio-
padrão) das variáveis antropométricas das mãos
(mm) e das forças de preensão (Kgf), e o valor de
“p” para comparação entre gênero, são
apresentados na Tabela 1.
A análise estatística não apontou diferença
estatisticamente significativa entre as mãos direita
e esquerda, com relação às variáveis
antropométricas e às forças de preensão digital (p >
0,05). Também não houve diferenças
estatisticamente significativas entre as mãos
dominante e não dominante, tanto para destros
quanto para canhotos, com relação à força e à
antropometria.
Já quanto ao gênero, apenas a variável
comprimento do indicador, da mão esquerda, não
apresentou diferença estatisticamente significativa,
enquanto que todas as demais variáveis
apresentaram p ≤ 0,05.
Tabela 1: Resultados gerais (médias e desvio-padrão do peso (Kg); estatura (m); variáveis antropométricas
das mãos (mm); forças de preensão (Kgf) e valor “p” para a comparação entre o gênero.
Homens Mulheres Anova Variáveis
Média D.P. Média D.P. "p" MÃO DIREITA
Comprimento da mão 18,56 0,90 17,3 1,00 0,001 Comprimento palmar 10,58 0,56 9,88 0,56 0,003 Comprimento do polegar 6,84 0,44 6,22 0,56 0,002 Comprimento do indicador 7,19 0,45 6,83 0,43 0,044 Comprimento do médio 7,99 0,42 7,41 0,47 0,002 Comprimento do anular 7,35 0,37 6,86 0,48 0,004 Comprimento do mínimo 6,05 0,39 5,44 0,55 0,001 Largura metacarpal 8,63 0,35 7,87 0,66 0,000 Largura Palmar 10,60 0,59 9,73 0,75 0,001 Força (kgf) 9,40 1,34 6,91 1,53 0,000
MÃO ESQUERDA Comprimento da mão 18,68 0,89 17,29 0,99 0,000 Comprimento palmar 10,69 0,52 9,80 0,55 0,000 Comprimento do polegar 6,91 0,60 6,27 0,69 0,013 Comprimento do indicador 7,21 0,46 6,94 0,46 ns Comprimento do médio 7,99 0,46 7.49 0,48 0,007 Comprimento do anular 7,38 0,37 6,82 0,42 0,000 Comprimento do mínimo 6,04 0,40 5,34 0,47 0,000 Largura metacarpal 8,50 0,41 7,83 0,49 0,000 Largura Palmar 10,66 0,62 9,51 0,56 0,000 Força (kgf) 8,96 1,80 6,57 1,52 0,000
DISCUSSÃO
As forças de preensão digital são
normalmente encontradas em atividades
ocupacionais, o que tem gerado a necessidade de
estudos nas áreas da biomecânica e ergonomia.
Vários desses estudos apresentam diferentes
resultados quanto ao gênero e quanto a dominância
das mãos.
Pela comparação com a literatura disponível
sobre força de preensão digital, pode-se observar
que o presente estudo obteve valores menores que
a maioria das demais avaliações. Os resultados
mais próximos foram os de Imrhan [4] (♂ = 9,8
kgf), Imrhan, Loo [10] (♂ = 9,4 kgf e ♀ = 6,5 kgf)
e Araújo et al. [3] (♂ = 10,1 kgf e ♀ = 7,4 kgf).
Este último apresentou dados da população
brasileira, com materiais (dinamômetro de pinça
B&L) e procedimentos metodológicos similares ao
presente estudo, o que permite estimar que as
semelhanças nos resultados podem indicar uma
consistência nos dados, corroborando para a
formação de parâmetros nacionais de forças de
preensão digital.
Os dados de Imrhan, Rahman [6] (♂ = 14,2
kgf) são notadamente mais altos que outros
estudos. Estes autores, percebendo essa
disparidade, discutiram que esses resultados
poderiam ter sido decorrentes de diferenças
metodológicas na coleta e análise dos dados. Os
resultados do estudo de Crosby et al. [2] também
apresentam valores elevados (♂ = 12,2 kgf e ♀ =
9,0 kgf), entretanto os autores relatam que foram
incluídos na amostra trabalhadores da indústria
pesada, e além disso não foi explicitado qual o
equipamento empregado para a medição de força.
A variável dominância não se mostrou como
um fator de influência nas forças de preensão
digital pulpo-lateral deste estudo, assim como em
outras pesquisas (Ager et al. [11]; Mathiowetz et
al. [1]). Em todos esses estudos foi relatado que as
forças de destros e canhotos foram unidas em um
único conjunto de dados devido ao pequeno
número de indivíduos canhotos.
No que trata aos aspectos antropométricos da
mão humana, Mohammad [12] comparou as
dimensões das mãos entre homens e mulheres,
encontrando diferenças significativas entre os
gêneros, sendo as mãos dos homens maiores. Isto
corrobora com os resultados encontrados neste
estudo. Já quanto à dominância, Mohammad [12]
observou que as mãos dominantes foram
significativamente maiores que as não dominantes,
tanto para destros como para canhotos. Em nosso
estudo esta diferença não foi observada, assim
como no estudo desenvolvido por Paschoarelli et
al. [13]. Isto permite indicar que abordagens com
populações de diferentes origens étnicas podem
proporcionar resultados díspares; e no caso dos
indivíduos analisados, o tamanho das mãos deve
ser considerado no estabelecimento de parâmetros
ergonômicos.
Com relação à influência da antropometria
na força de preensão digital, muitos autores não
encontraram diferenças estatisticamente
significativas (Imrhan [4]; Araújo et al. [3]). A
única referência em que se observou uma relação
entre essas variáveis foi o estudo de Imrhan, Loo
[10], no qual houve uma correlação entre o
comprimento da mão e a força de preensão digital
apenas em crianças.
Quanto à análise da influencia do gênero na
força, observou-se em nosso estudo que o gênero
feminino realizou, em média, 73,42% da força do
gênero masculino. Estes valores foram condizentes
com a literatura, sendo maiores que alguns estudos
e menores que outros. ARAÚJO et al. [3] relata
que as mulheres realizaram 69,02% da força dos
homens; Imrhan, Loo [10] relatam 69,14%;
Mathiowetz et al. [1] relatam 66,53%; Mathiowetz
et al. [14] relatam 76,07%; Crosby et al. [2]
relatam 73,58% e Young et al. [7] relatam 61,97%.
Em nosso estudo, foi constatado que o
gênero influencia de modo significativo as forças
de preensão digital pulpo-lateral. Também foi
constatado que há diferença estatisticamente
significativa das variáveis antropométricas entre os
gêneros, entretanto, não é possível afirmar se estas
variáveis são determinantes na aplicação de forças,
já que a distinção na estrutura muscular entre os
gêneros é considerada por alguns autores (Iida
[15]). Ao analisar a força de preensão digital
pulpo-lateral entre indivíduos do gênero
masculino, não foram observadas diferenças
estatisticamente significativas entre os diferentes
tamanhos de mãos. Quanto ao gênero feminino,
não foi possível realizar a mesma análise, uma vez
que a amostra apresentou-se insuficiente.
Portanto, considerando a ampliação do
público feminino no mercado de trabalho, torna-se
necessário conhecer com maior propriedade as
características particulares deste grupo como, por
exemplo, as forças de preensão digital pulpo-
lateral, a fim de contribuir para o design
ergonômico de instrumentos manuais.
REFERÊNCIAS
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Nemergut L, Pellowski M. Fluctuation in grip and pinch strength among normal subjects. The Journal of Hand Surgery. 1989; 14ª (1): 125-29.
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[14] Mathiowetz V, Wiemer D M, Federman S M.
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