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Ensino a Distância

Coordenação

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 José Renato dos Santos PereiraLuiz Felipe Telles

Sabrina Marques Maciel

 SmárioIrodo obra d Émil Drkim....3

Émile Durkheim: vida e obra....................... 3

Objeto da Sociologia de Durkheim............. 4

O Método Funcionalista............................. 5

Ponto Final.................................................8

Indicações Culturais...................................9

 Atividades..................................................9

Irodo Obra d Ma Wbr.........10

Max Weber: Vida e Obra............................10

Objeto da Sociologia de Weber..................11

O Método Compreensivo...........................12

Ponto Final...............................................14

Indicações Culturais.................................15 Atividades.................................................15

Irodo Obra d Karl Mar...........16

Karl Marx: Vida e obra...............................16

O Objeto de Pesquisa de Marx...................17

O Método Materialista Histórico e Dialético.......18

Ponto Final..............................................20

Indicações Culturais.................................21

 Atividades................................................21

BIBLIOGRAFIA.....................................22

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IntRODuçãO à OBRA 

De ÉMILe DuRKheIMFundador da escola sociológica francesa, David Émile

Durkheim foi o responsável pela consolidação da Socio-logia como ciência empírica e como disciplina acadêmi-

ca, sendo o primeiro a ter uma Cátedra desta disciplina. Sua con-tribuição intelectual é uma referência obrigatória aos estudantesde Ciências Sociais porque sua proposta teórica e metodológi-ca, o funcionalismo, vem sendo amplamente utilizada por pes-quisadores contemporâneos, constituindo-se na escola teóricaque predominou entre os sociólogos no século XX. Por isto, neste capítulo apresentamos os principaismarcos da vida e obra deste autor, verificaremos sua definição de Sociologia e sua proposta metodológica.

Émil Drkim: vida obra1a

  David Émile Durkheim nasceu em Epinal, departamento de Voges, região de Lorena na Fran-ça., em 15 de abril de 1858. De família judaica e filhos de Rabino, tornaria-se agnóstico no Liceo

Luis-le-Grad em pleno Quartier Latin, entre a Sorbonne e Collèg de France e Faculté de Droit, localconsiderado o centro do Iluminismo e da cultura francesa. Em 1879, Durkheim entra na École NormaleSupérieur, saindo em 1882 com diploma de Direito na Universidade de Boudeaux, com complementa-ção para docência de Filosofia.. No mesmo ano passa a lecionar Filosofia nos liceus de Sens e Saint-Quentin. Em 1885 solicita uma licença para retornar a Paris para estudar Ciências Sociais e depoistransfere-se para Alemanha onde fica até 1886 cursando Psicologia Social. Neste país Durkheim temaulas com o filósofo Wihelm Dilthey e o sociólogo Georg Simmel, além de tomar contato com a obrado sociólogo Ferdinand Tönnes. Estes intelectuais alemães determinariam o seu interesse pela Socio-logia. Ao regressar a Paris em 1887 é nomeado professor de Pedagogia e Ciência Social na Faculdadede Letras da Universidade de Bordeaux, onde realiza o primeiro curso de Sociologia nas universidadesfrancesas. Sua aula inaugural do curso de Ciências Sociais é um marco neste aspecto, pois realiza um

relato da evolução do pensamento social até a constituição da Sociologia como ciência, apontando osdesafios para sua consolidação. Nesta encontra se a seguinte passagem que indica uma das principaiscaracterísticas de sua Sociologia: “Se a Sociologia existe, ela tem seu método e suas própria leis. Os fa-tos sociais não podem ser verdadeiramente explicados a não ser por outros fatos sociais”2. Neste mesmoano publica na Revue Philosophique os artigos: “Estudos recentes da Ciência Social”; “A ciência posi-tiva da moral na Alemanha” e “A filosofia nas universidades alemãs”. No ambiente tranqüilo de Bou-doux, Durkheim pôde dedicar-se a escrita de sua tese de doutorado defendida em 1893 sob o título “DaDivisão do Trabalho Social”. No mesmo ano publica “Contribuição de Montesquieu na constituição daCiência Social”. Em 1895, edita “As Regras do Método Sociológico”. Escrita inicialmente para escla-recer os procedimentos adotados em sua tese de doutoramento, esta obra estabelece de modo definitivoa Sociologia como ciência empírica com metodologia própria, superando a perspectiva positivista daunidade de métodos entre as ciências sociais e naturais. Em 1896 Durkheim funda L’année Sociologi-que (A Análise Sociológica) editada primeiramente em formato de jornal, converter-se-ia numa revista1 a A seção 2.1 foi baseada em QUINTANERO; BARBOSA; OLIVEIRA, 2001 e CASTRO; DIAS, 2005.

Nison Weisheimer 

“O sociólogo ao penetrar no mundo social precisater a consciência de que

 penetra no desconhecido.”1

 (Émile Durkheim)

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orientadora do pensamento e da pesquisa sociológica na França, reunindo diversos pesquisadores ecolaboradores que deram corpo a primeira geração da escola sociológica francesa. No ano seguinte,ele publica “O Suicídio”, que é considerado uma monografia exemplar do método funcionalista. Em1902, Durkheim é nomeado professor-substituto na cadeira de Pedagogia na Universidade de Sorboneem Paris.Em 1906 é nomeado professor-titular da cadeira de Pedagogia da Faculdade de Letras de

Paris, onde ensina paralelamente Sociologia e Pedagogia. Neste período publica “A determinação dofato moral”. Em 1911 edita “Julgamento da realidade e julgamento de valor”.Em 1913 edita “As formaselementares da vida religiosa”. Nesse mesmo ano a cadeira em que é titular passa a denominar-se ca-deira de Sociologia da Sorbone. No ano de 1914 eclode a Primeira Guerra Mundial. Este conflito levaao recrutamento de vários de seus alunos e colaboradores. Em 1915 Durkheim perde seu único filho,morto no front de Salonique. Este fato agrava a revolta dele contra a guerra que se expressa em doislivros escritos neste ano: “A Alemanha acima de tudo. A mentalidade alemã e a guerra” e “Quem quisa guerra? As origens da guerra segundo documentos diplomáticos”. Com a morte do filho, Durkheimdeixa-se abater, fica com a saúde frágil vindo a falecer em 15 de novembro de 1917. Após sua morteforam publicadas obras importantes. Em 1922 são editadas: “Educação e Sociologia”; “Educação Mo-

ral” e “Sociologia e Filosofia”. Em 1928 surge: “O Socialismo – a definição, seu começo, a doutrinasant-simoniana”. Em 1950 é a vez de: “Lições de Sociologia-física dos costumes e do direito”. Em 1955é publicado “Pragmatismo e Sociologia” e em 1970 “a Ciência Social e a Ação”

Objo da Sociologia d Drkim  Conforme Durkheim escreveu no prefácio da primeira Edição de As Regra do Método Socioló-

gico, “o objetivo de qualquer ciência é fazer descobertas, e toda descoberta desconcerta mais ou menosas opiniões herdadas”3. Isto implica em reconhecer que, em tratando-se da Sociologia, o pesquisador

apesar de estar familiarizado com seu objeto de estudo, porque também é membro da sociedade co-nhece do fenômeno sociológico apenas em sua aparência exterior, ignorando sua verdadeira essência.Em termos durkheimeanos, trata-se de reconhecer que se desconhece as leis gerais que regem seufuncionamento interno. Deste modo, é necessário uma postura de distanciamento do sujeito pesquisa-dor do objeto pesquisado, para apreendê-lo como uma realidade exterior à conhecer e explicar. Mas apropósito, o que é mesmo a sociedade na perspectiva deste autor?

Para Durkheim a sociedade não é a simples soma dos indivíduos que a compõe, mas algodistinto deles, sendo considerada um sistema formado por sua associação, constituindo uma realidadeespecífica com características próprias. Ou seja, a sociedade é um fenômeno “sui-generis”.4 Destaformam, ele argumenta a favor da superioridade do social sobre o individual, visto que a sociedade se

impõe como uma realidade exterior à consciência individual, ao mesmo tempo em que “a sociedadenão pode se constituir senão na medida em que penetre as consciências e que as molde à sua imageme semelhança”5. Sendo assim, a sociedade, que “ultrapassa o indivíduo no tempo e no espaço estáem condições de impor maneiras de agir e de pensar que consagrou com sua autoridade” 6 e para qualcontribuíram sucessivas gerações. Para este autor a sociedade é uma forma maior que o individuo e seimpõe a ele determinando seu comportamento. 7

A consciência coletiva impõe-se ao individuo por sua força exterior, por conseqüência a so-ciedade e formada pelo conjunto de fatos sociais que exercem uma influencia coercitiva sobre as cons-ciências individuais. Ou seja, o conceito de consciência coletiva se articula a outro mais amplo o de fato social. Ambos aperecem como processos instituídos de fora para dentro dos indivíduos. Os fatossociais são, por sua vez, formados pela consciência coletiva que são as idéias, opiniões, crenças e valo-res compartilhados e que traduzem a maneira que a sociedade vê a si mesma e ao mundo que a rodeia8.Esta perspectiva de sociedade conduz Durkheim a colocar no centro de sua problemática sociológica a

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noção de instituição. “Podes-se, com efeito, sem desvirtuar o sentido deste termo, chamar instituiçãoa todos os modos de conduta instituídos pela coletividade; a sociologia pode então ser definida como aciência das instituições, da gênese e do seu funcionamento”9. Deste modo, percebemos que o objeto deestudo da Sociologia são os fatos socais. Podemos, portanto, definir a Sociologia de Durkheim como oestudo dos fatos sociais. Antes de procurarmos saber qual é o método que convêm ao estudo dos fatos

sociais é preciso saber o que eles são: “É fato social toda a maneira de fazer, fixa ou não, suscetível deexercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, ou ainda, que é geral no conjunto de uma sociedadetendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas manifestações individuais”10.

Onde se lê “maneira de fazer” refere-se a maneiras de agir, de pensar e de sentir nas quais incluem-se as representações coletivas. Sendo assim, todo fato social possui três características definidoras: 1)são exteriores à consciência individual; 2) exercem uma coerção sobre o indivíduo; 3) são ao mesmotempo gerais numa dada sociedade e independentes das expressões individuais. Estas são as carate-risticas determinantes do objeto sociológico de Durkheim, o que implicar em reconhecer que, paraalém do indivíduo, existem coisas que possuem uma naturesa sociológica e são, portanto, os temas deinteresse do sociólogo.

O Méodo FcioalisaDurkheim ao buscar conhecer os fatos sociais como exteriores ao indivíduo desenvolveu um

método próprio para o estudo científico dos fenômenos da vida social. Para tanto ele produziu simul-taneamente rupturas com o senso comum e com as categorias científicas instituídas pelas CiênciasNaturais e pela Psicologia para estabelecer a Sociologia como ciência autônoma. Para tanto, Durkheimpropunha que o sociólogo se colocasse num estado de espírito semelhante ao dos cientistas que desen-volvem pesquisas em áreas ainda inexploradas em suas ciências, que desbravam novas fronteiras do

conhecimento, ou seja, o sociólogo deveria estar preparado para penetrar no desconhecido11. Agindoassim, ele desenvolveu um método estritamente sociológico, capaz de demonstrar as relações causais(de causa e efeito) e a função dos fenômenos sociais com vistas a descobrir as leis gerais e próprias deseu funcionamento. Por explicar as funções desempenhadas pelos fatos sociais seu método é definidocomo funcionalismo. A palavra função para referir-se ao método foi usada por Durkheim por exprimira relação entre um fato social com um fim social e corresponde a analogia entre a sociedade e um corpovivo feita por este autor. Este método foi descrito em “As Regras do Método Sociológico”, texto quese tornou leitura obrigatória para os cientistas sociais. Nesta obra ele estabelece cinco regras para ossociólogos estudarem os fatos sociais.

Regras Relativas a Observação dos Fatos Sociais“A primeira regra e a mais fundamental de todos é considerar os fatos sociais como coisas” 12.

Isto implica em reconhecer os fatos sociais como objetos exteriores aos indivíduos e empiricamentesituados, o que permite a Durkheim diferenciar a natureza da Sociologia em relação à Psicologia. Noprefácio a segunda edição de “As Regras do Método Sociológico” ele mesmo explica o que entendepelo termo:

É coisa todo objeto de conhecimento que não é naturalmente compenetrável pela inteligência,tudo aquilo de que não podemos ter uma noção adequada por simples procedimento de análise

mental, tudo o que o espírito só consegue compreender na condição de se extroverter por meiode observações e de exteriorizações, passando progressivamente dos caracteres mais acessíveisaos menos visíveis e mais profundos13

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Neste sentido o termo coisa se opõe à idéia, marcando a necessidade do sociólogo romper comsuas próprias pré-noções. Isto nos leva aos complementos desta primeira regra que Durkheim apresen-tou através de três corolários.

Primeiro Corolário: “é preciso afastar sistematicamente todas as pré-noções” (DURKHEIM,

1973, p. 396). Esta é a base de todo o método científico desde Descartes, que postulou a proposta de dú-vida metódica como fundamento do conhecimento científico. Trata-se da postura crítica que o cientistadeve ter frente as aparência do fenômeno e suas explicação prévia, como vimos no capítulo anterior. Oque torna este procedimento um tanto mais difícil na Sociologia é o fato do sociólogo se deparar comobjetos do qual faz parte e suas emoções e disposições frente a estes tendem a dificultar o conhecimen-to verdadeiro sobre os mesmos. Por isto devemos exercer um estado de permanente vigilância frente àsnoções previas evitando cair nas armadilhas do senso comum e de noções vulgares, buscando nos ateraos fatos tal como se apresentam.14

Segundo Corolário: “nunca tomar como objeto de pesquisa senão um grupo de fenômenos pre-

viamente definidos por certos caracteres exteriores que lhe são comuns, compreendendo na mesma

 pesquisa todos aqueles que correspondem a mesma definição”. (DURKHEIM, 1973, p. 406) Destemodo, a primeira tarefa do sociólogo é definir aquilo que irá tratar para que todos saibam, inclusiveele próprio, aquilo que esta sendo investigado. Deste modo recomenda-se agrupar os fenômenos pri-meiramente por sua aparência exterior, para depois desvendar suas diferenças e semelhanças em grausmais profundos. Procedendo desta forma o sociólogo produzirá um conjunto de classificações que nãodependem dele e nem derivam de sua vontade, mas da própria natureza das coisas.15 

Terceiro Corolário: “quando o sociólogo empreender a exploração de uma ordem qualquer de

 fatos sociais, deve-se esforçar por considerá-los naquele aspecto em que se apresentam isolados de

suas manifestações individuai”s. (DURKHEIM, 1973, p. 411). Desta maneira o sociólogo terá tantomais sucesso em conhecer as causas e as funções de um fato social quanto mais este estiver objetiva-mente definido e for representado livre dos fatos individuais através dos quais se manifesta. Sendo

assim, pode-se abordar os fenômenos propriamente sociológicos pelos aspectos que mais facilmente semanifestam a investigação científica e só depois, realizando-se aproximações sucessivas, apoderar-sedo que estas manifestações encobrem.

Regras Relativas à Distinção entre o Normal e o

Patológico

Conforme estabeleceu Durkheim, qualquer fenômeno sociológico pode apresentar formas distin-

tas segundo os casos empiricamente dados. Estes fenômenos podem ser de dois tipos: os normais eos patológicos. Portanto é preciso uma regra metodológica que estabeleça com precisão a distinçãoentre um e outro tipo. A este respeito ele diz que alguns destes fenômenos são gerais a toda espécie,mesmo que não se encontrando em todos os indivíduos aperecem na maior parte deles, enquanto ou-tros, ao contrário, são excepcionais, além de surgir em apenas entre uma minoria, apresentam duraçãoinconstante.16 Em função disto: “Chamaremos normais aos fatos que apresentam as formas mais geraise daremos aos outros a designação de mórbidos ou patológicos”17. Deste modo nosso autor formula astrês seguintes regras:

1º - Um fato é normal para um tipo social determinado, considerado numa fase determinada dedesenvolvimento, quando se produz na média das sociedades desta espécie, consideradas

numa fase correspondente de desenvolvimento.2º - Os resultados do método precedente podem verificar-se mostrando que a generalidade do

fenômeno esta ligada às condições gerais da vida coletiva do tipo social considerado.

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3º - Esta verificação é necessária quando este fato diz respeito a uma espécie social que aindanão cumpriu sua evolução integral.18

Com base nesta distinção Durkheim afirma ser possível ao conhecimento sociológico atuar peran-te a sociedade tal como um médico atua junto a seus pacientes, buscando prevenir o desenvolvimento

de patologias sociais, ou uma vez que elas são identificadas procurar “curá-las”, estabelecendo suassoluções.

Regras Relativas à Constituição dos Tipos Sociais

Para Durkheim a Sociologia deveria não apenas conhecer de modo objetivo a realidade social,mas orientar o comportamento humano em sociedade. Para alcançar estes objetivos o sociólogo precisasaber reconhecer o que é típico em uma dada sociedade. A distinção entre o que é normal e patológicoimplica necessariamente na constituição de espécies sociais. Deste modo, o trabalho de investigação

deve começar pela distinção das espécies de sociedades entre si segundo sua composição. Este procedi-mento permite-nos classificar os diferences grupos entre sociedades simples e sociedades complexas.A primeira apresentaria uma maior uniformidade interna, enquanto a segunda seria uma sociedade commaior diferenciação interna.19 Este princípio de classificação é enunciado do seguinte modo:

Começar-se-á por classificar as sociedades segundo o grau de composição que apre-sentam, tomando como base a sociedade perfeitamente simples ou de segmentoúnico; no interior destas classes proceder-se-á à distinção das diferentes variedadesconforme se produz ou não uma coalescência completa de segmentos iniciais.20

Assim Durkheim neutralizava a perspectiva temporal oferecida pela simples seqüência

histórica e passava a manipular, interpretativamente, fatos referentes a “tipos médios”, fatos esses

sociologicamente signicativos para todas as sociedades. Sua base é o entendimento de que as

sociedades não passam de combinações diferentes de uma única e mesma sociedade. 21 Nesse sentido,

a escala de combinações possíveis é nita e em conseqüência a maior parte dentre elas deve pelo

menos se repetir. Tomando-se o que é predominante nesta repetição se obtém um tipo médio em cada

sociedade. Deste modo, a tipologia social do método funcionalista é sempre a de tipo médio, que é a

média objetivamente vericada na totalidade dos casos de um mesmo fenômeno.

Regras Relativas a Explicação dos Fatos Sociais

  Conforme Durkheim, “quando nos lançamos na explicação de um fenômeno social temos deinvestigar separadamente a causa eficiente que o produz e a função que ele desempenha”22 . Isto permi-tirá determinar se existe correspondência entre o fato estudado e as necessidades do organismo social, sem nos preocuparmos e são intencioais ou não. Por isto, é preciso distinguir os processos que sãocausa dos que são função. Causa corresponde ao que determina a existência do fato sócia. Por função

entrende-se as conseqüências do fato social ou o papel que este desempenha numa dada organização

social. . As duas séries de questões devem ser separadas uma da outra e em geral deve-se começar apesquisa pela primeira delas. Corresponde a um procedimento lógico, iniciar a análise das causas, an-tes de analisar seus efeitos, pois, uma vez resolvida a primeira questão a segunda será facilitada..Comsito o autor quer enfatizar que “a origem primeira de qualquer processo social de uma certa importância

deve ser procurada na constituição do meio o social”. 23 Neste caso a regra metodológica consiste emobservar que “a causa determinante de um fato social deve ser procurada nos fatos sociais antecedentese não nos estados da consciência individual”24, sendo esta complementada pela idéia de que “a fun-

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ção de um fato social deve sempre ser procurada na relação que ele mantém com qualquer fim socialinterno”25; o qual é constituído por coisas e pessoas.

Regras relativas à Administração da ProvaAo tratar da construção dos tipos sociais o sociólogo deve recorrer necessariamente a compara-

ção. O método comparativo é o único meio objetivo que permite a prova em Sociologia, porque seumétodo de variações concomitante é capaz de substituir o procedimento de experimentação utilizadopelas Ciências Naturais para demonstrar a validade da prova nas Ciências Sociais. Por meio da com-paração que torna-se possível demonstrar que “a um efeito corresponde sempre uma mesma causa”26.Desta forma, “só se pode explicar um fato social de uma certa complexidade se acompanharmos o seudesenvolvimento integral através de todas as espécies sociais”27. Logo a comparação é o método porexcelência da Sociologia.

Poo FialA concepção sociológica expressa por Durkheim em “As Regras do Método Sociológico” é de

que existem nos fenômenos sociais uma ordem própria, sujeita a determinações do tipo causa-efeito,construindo, portanto, uma ordem causal. Com isto ele procurou demonstrar que o estudo científico dasociedade exigiria uma postura investigativa típica dos métodos hipotético-indutivos, que partem dosobjetos para construção do conhecimento. Coerente com este primado este autor propôs tratar os fatossociais como coisas, ou seja, geral, exterior ao individuo e independente se manifestações individuais,

para serem e passíveis de explicação científica. Seu legado intelectual serve de antídoto à tentação re-corrente de explicar os fenômenos sociais de forma normativa, descrevendo os fatos como gostaríamosque fossem e não como eles realmente são.

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Idicaõs ClraisDURKHEIM Émile. As Regras do Método Sociológico. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes,2007.

MUCCHIELLI, Laurent. O nascimento da Sociologia na universidade francesa (1880-1914). Re-

vista Brasileira de História, São Paulo, v. 21, n. 41, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882001000200003>. Acesso em: 29 abr. 2008.

 Aividads1) Quais são as características do fato social?

2) Por que é importante para o sociólogo afastar-se sistematicamente de suas pré-noções?

3) Qual é diferença entre um fato social normal e um fato social patológico?

1 DURKHEIM, 1973, p. 379.2 DURKHEIM, 2005, p. 51.3 DURKHEIM , 1973, p.3754 DURKHEIM, 1973.5 DURKHEIM, 2005 (a), p. 66.6 DURKHEIM, 2005 (a), p. 67.7 DURKHEIM, 1989.8 DURKHEIM, 1973.

9 DURKHEIM, 1973, p. 384.10 DURKHEIM, 1973, p. 395.11 DURKHEIM, 1973.12 DURKHEIM, 1973, p. 396.13 DURKHEIM, 1973, p. 378.14 DURKHEIM, 1973.15 DURKHEIM, 1973.16 DURKHEIM, 1973.17 DURKHEIM, 1973, p. 416.18 DURKHEIM, 1973, p. 420.19 DURKHEIM, 1973.20 DURKHEIM, 1973, p.432.21 DURKHEIM, 1973.22 DURKHEIM, 1973, p. 437.23 DURKHEIM, 1973. p.439

24 DURKHEIM, 1973, p.444.25 DURKHEIM, 1973, p.445-446.26 DURKHEIM, 1973, p.454.27 DURKHEIM, 1973, p.458.

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De MAx WeBeRACiências Sociais tem em Max Weber uma de suas maiores referên-

cias. Fundador da abordagem compreensiva na Sociologia, nota-bilizou-se por ser um intelectual rigoroso e de grande erudição.

Weber introduziu definitivamente a dimensão subjetiva nos estudos dasCiências Sociais. Com o propósito de aproximar o aluno de seu trabalho,neste capítulo apresentamos os principais momentos de sua vida e obra, discutiremos sua concepção de

sociedade, seu objeto de estudo e definição de Sociologia, assim como sua contribuição metodológica.

Ma Wbr: Vida Obra2

Maximiliam Karl Emil Weber nasceu em 21 de abril de 1864, na cidade de Erfurt, região daTuríngia na Alemanha. Primogênito de oito filhos era membro de uma família abastada. Seu pai eraadvogado e político destacado do Partido Nacional-Liberal. Sua mãe, uma senhora culta e liberal deconfissão protestante, era uma exemplar huasfrau e exerceu grande influencia intelectual sobre o jovemMax Weber. Aliás, ainda em sua adolescência Weber conviveu com importantes intelectuais alemães

amigos de seu pai e que freqüentavam sua casa em Berlim, entre os quais o filósofo Wilhelm Dilthey,o historiador Friedrich Kapp e o economista Juliam Shmidt.

Em 1882, aos 17 anos foi para Heidellberg cursar Direito, freqüentando aulas de História, Econo-mia e Filosofia. Aos 19 anos transfere-se a Estrasburgo para prestar serviço militar, onde permaneceupor um ano. Após este período retomou os estudos universitários concluindo o curso de Direito em1885. Ao final da vida reconheceu que foi neste período que se interessou particularmente pela obra dedois teóricos que o influenciariam, de um lado Karl Marx e de outro Friedrich Nietzche. Em 1889 de-fendeu sua tese de doutorado sobre a história das empresas comerciais medievais. No ano seguinte co-meça uma investigação de campo sobre as condições de trabalho dos camponeses na margem orientaldo Rio Elba. Em 1891 defende uma segunda tese intitulada “História Agrária Romana: sua significação

para o direito público e privado”

1

“História Agrária Romana: sua significação para o direito público eprivado” Nesta obra Weber identifica em Roma os germes do capitalismo moderno. No mesmo anoele inicia sua carreira como professor universitário em Berlim. Em 1893 Max Weber, então com 29anos, casa-se com sua prima Marianne Schnitger de 21 anos. Em 1894 transfere-se para Universidadede Fribourg como professor na cátedra de Economia Política e publica “As tendências na evolução dasituação dos trabalhadores rurais na Alemanha Oriental” Em 1895 profere a aula inaugural nesta uni-versidade denominada “O Estado Nacional e a Economia Política” que era uma profissão de fé na Re-alpolitik. Em 1896 transfere-se novamente de universidade passando a ser catedrático na Universidadede Heidelberg, ano em que publica “As causas sociais da decadência da civilização antiga”. Em 1897, jáé um intelectual destacado e que prestava diversos serviços ao Estado alemão, quando é acometido poruma enfermidade psíquica que o afasta do trabalho por cerca de três anos tendo que ser internado em

certos períodos em casas psiquiátricas, visto que a doença lhe impedira de ler, escrever, falar, caminharou dormir sem sofrimento agudo, conforme relatou o próprio Weber. Reabilitado voltou à atividade

1 Optamos por não escrever os títulos originais em alemão para tornar este volume mais conciso.

Nilson Weisheimer 

“Exagerar é minha profissão”1

 (Max Weber)

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acadêmica em 1903 quando funda juntamente com Werner Sombart a revista Archiv für Sozialwissen-

chalf und Sozialpolitik (Arquivo de Ciências Sociais e Política Social). Em 1904 o casal Weber viajaaos Estados Unidos da América onde este autor ministra uma série de palestras nas universidadesnorte-americanas e recolhe informações para sua pesquisa sobre os efeitos da ética protestante sobreo desenvolvimento do capitalismo. Neste mesmo ano publica a primeira parte de “A Ética Protestante

e o Espírito do Capitalismo”. Em 1905 interessa-se pelos problemas do Império Russo que resultamnos artigos “A Situação da Democracia Burguesa na Rússia” e “A transição da Rússia para uma De-mocracia de Fachada”. Neste mesmo ano publica a segunda parte de “A Ética Protestante”. Nos anosseguintes viajaria novamente ao Estados Unidos em 1906 aproveitando para pesquisar sobre as seitasprotestantes como os anabatistas e suas relações com práticas capitalistas. Em 1908 escreve uma sériede artigos sobre Psicologia Social e industrialização Alemã a partir de pesquisa de campo realizada nafábrica de linho de seu avô na Vesfália, e participa ativamente da fundação da Associação Alemã deSociologia. No ano de 1909 começa a redigir sua principal obra “Economia e Sociedade”, trabalho esteque só concluiria em 1914, e no mesmo ano publica “As Relações de Produção na Agricultura do Mun-do Antigo” Já em 1912 sofre novamente de enfermidade, mas prossegue trabalhando. Em 1913 publica

“Ensaio sobre algumas categorias da Sociologia Compreensiva”. Em 1915 é a vez de “A ética econômi-ca das religiões universais”. Durante a Primeira Guerra Mundial assume seu posto de oficial de reservado Exército Alemão, sendo responsável por administrar nove hospitais na área de Heidelberg. Em 1918Weber faz uma série de conferencias que resultaram em dois artigos “A Política como Vocação” e “ACiência como Vocação”, e publica um texto metodológico: “Ensaio sobre a Neutralidade Axiológicanas Ciências Sociais e Econômicas” e ministra em Viena um curso de verão sob o título “Uma críticapositiva da concepção materialista da história”. Em 1919, cedendo aos convite de alunos, ministra umcurso em Munique que foi publicado em 1923 sob o título de “História Econômica Geral”. Em 1920Max Weber morre em Munique aos 56 anos de idade. Em 1922 é publicada “Economia e Sociedade”com prefácio de Marianne Weber.

Objo da Sociologia d Wbr Para Weber a sociedade moderna era resultado de um longo processo de racionalização, da secu-

larização da experiência humana e da burocratização das estruturas sociais e dos comportamentos daspessoas como traços específicos da civilização ocidental. Sua preocupação central foi definir as basesintelectuais que permitiram o surgimento do capitalismo como ápice deste desenvolvimento históricoe social do ocidente. Deste modo, ele argumenta que o que propiciou a emergência do capitalismoteria sido a empresa racional, sua forma racionalizada de contabilidade e o Direito racional e todas asformas de racionalização da vida que vieram com a ética racional. Para este autor dois fenômenos estão

ligados à modernidade: o desencantamento do mundo, que é a perda do significado místico da vida, ea perda da liberdade, que corresponde ao domínio burocrático da vida.3 Conforme suas palavras: “Odestino de nossos tempos é caracterizado pela racionalização e intelectualização e, acima de tudo pelodesencantamento do mundo”4.

Em consonância com este diagnóstico sua concepção de ciência enfatiza que esta é uma pro-fissão especializada no conhecimento e no reconhecimento de relações que pressupõe a validação dasregras da lógica e da metodologia que constituem os fundamentos gerais da orientação de mundo docientista. Deste modo, ele combateu o positivismo ao propor às Ciências Sociais um método distintodas Ciências Naturais, mas, compartilha com o positivismo do princípio da neutralidade do cientista.Ao descrever a política e a ciência como duas vocações distintas argumentava que: “A tarefa do pro-

fessor é servir aos alunos com seu conhecimento e experiência e não impor-lhes sua opiniões políticaspessoais”5. Ou seja, para ele o cientista deveria trabalhar com um extremo rigor e imparcialidade,desenvolvendo uma postura permanente de neutralidade axiológica. Nesse sentido, propôs que a So-

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ciologia deveria se pronunciar sobre fatos concretos da realidade social através do desenvolvimentode pesquisas objetivas e empiricamente fundamentadas, sem, entretanto prescrever os fins últimos deorientação da sociedade.

O ponto de partida e unidade de análise da sociologia weberiana é o individuo. Ao contrário

de Durkheim que enfatiza a estrutura social, Max Weber desenvolve uma Sociologia interpretativa queconsidera o individuo e sua ação como unidade básica para a explicação dos fenômenos sociais. Istoporque a sociedade humana difere-se da natureza, uma vez que os homens são portadores de condutassignificativas, isto é, atribuem sentidos a suas ações. Com isto, ele afirmou que Sociologia deveria darconta destes aspectos dinâmicos típicos dos processos permanentemente vivos da experiência humanae procurar compreender o seu sentido a partir dos próprios indivíduos. O próprio Weber define demodo bastante preciso sua definição de Sociologia, ação e ação social no início da obra Economia eSociedade.

Sociologia (no sentido aqui entendido desta palavra empregada com tanto significa-dos diversos) significa: uma ciência que pretende compreender interpretativamentea ação social e assim explicá-la causalmente em seu curso e em seus efeitos. Por“ação” entende-se neste caso, um comportamento humano (tanto faz tratar-se deum fazer externo ou interno, de omitir ou permitir) sempre que na medida em queo agente ou os agentes o relacionem a um sentido subjetivo. Ação “social”, por suavez significa uma ação que quanto a seu sentido visado pelo agente ou os agentes,se refere ao comportamento de outros, orientando-se por este em seu curso.6

Deste modo, ele estabeleceu as bases para uma Sociologia interpretativa ou compreensiva cujo ob- jeto é a ação social, buscando estabelecer os procedimentos metodológicos para explicá-la casualmenteem seu desenvolvimento e efeitos.

O Méodo ComprsivoO método da Sociologia compreensiva desenvolvida por Max Weber busca a compreensão dos

sentidos atribuídos pelo agente ou agentes que executam a ação, quando estes, levando em considera-ção a ação dos outros, realizam a ação social. Assim, além de ação social, um outro conceito aparececomo central nesta proposta metodológica: o de sentido. Weber estabelece sua definição.

“Sentido” é o sentido subjetivo visado: a) na realidade 1) num caso historicamentedado, por um agente, ou 2) em média e aproximadamente, numa quantidade dada decasos, pelos agentes, ou b) num tipo puro conceitualmente, construído pelo agenteou pelos agentes concebidos como típicos. Não se trata de modo algum de um sen-tido objetivamente “correto” ou de um sentido “verdadeiro” obtido por indagaçãometafísica. Nisto reside a diferença entre as ciências empíricas da ação, A Sociolo-gia e a História, e todas as ciências dogmáticas, a Jurisprudência, a Lógica a Ética ea Estética, que pretendem investigar seus objetos o sentido “correto”e “válido”.7

Onde se lê “tipo puro conceitualmente” entende-se tipo ideal. Este é o instrumento metodoló-gico e conceitual básico para o desenvolvimento da analise sociológica weberiana. Ou seja, para queo sociólogo possa captar o sentido da ação ele necessita de um instrumento tanto conceitual quanto

metodológico que é o tipo ideal. O termo ideal aqui não se refere a uma noção de valor em sentido nor-mativo, mas, a uma abstração analítica de sentido lógico, que se opõe à noção de sentido objetivo dascoisas como em Durkheim. Tratam-se de conceitos gerais que permitem proceder à análise da realidade

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concreta por contraste desta com as categorias típica ideais, verificando-se o quanto estão próximas oudistantes.

Busca-se com este instrumento captar a tipicidade ou a homogeneidade dos fenômenos sociais,tendo como finalidade conferir um tratamento que permita uma explicação causal. Portanto, os tipos

ideais são estabelecidos de modo artificial pelo pesquisador, que tende a exagerar certos aspectos deum fenômeno e excluir outros até obter um tipo puro que não se encontra na realidade objetiva dascoisas, mas, que permitirá sua analise e comparação.

Conforme propôs Weber, obtém-se um tipo ideal mediante a acentuação e ordenamento unilate-ral de um ou vários pontos de vista e mediante o encadeamento de grande quantidade de fenômenosisoladamente dados, difusos e discretos que pode haver em maior ou menor número ou mesmo faltarpor completo, a fim de formar um quadro homogêneo do pensamento8. O tipo ideal em sua purezaconceitual não é um reflexo do real, trata-se de um recurso heurístico, ou seja, um construto comfinalidades explicativas da realidade. A validade do tipo ideal radica no saber histórico e na sua cons-trução racional, que são competências do pesquisador. A construção de tipos ideais visa compreenderas conexões de sentido, servindo aos propósitos de elaboração e testes de hipóteses. Assim, é possívelmedir o afastamento da ação típica ideal da realidade empírica, desvendando os elementos irracionaise emocionais existentes numa ação social.9. Conforme o autor:

Para a consideração científica que se ocupa com a construção de tipos, todas asconexões de sentido irracionais do comportamento efetivamente condicionadas eque influem sobre a ação são investigadas e expostas, de maneira mais clara, como“desvios” de um curso construído dessa ação, no qual ela é orientada de maneirapuramente racional pelo seu fim.10

O racionalismo de sua proposta não deve ser entendido como um “preconceito racionalista daSociologia, mas apenas como recurso metodológico”11. Com efeito, as possibilidades e os limites da

aplicação do tipo ideal advêm da racionalidade, unilateralidade e caráter utópico intrínseco a este ins-trumento metodológico. Seu principal propósito, é testar hipóteses, coma já mencionamos. ConformeWeber, suas hipóteses de pesquisa tinham origens em conceitos, que são saberes prévios do pesquisa-dor, caracterizando seu método como hipotético-dedutivo.

Por sua proposta ser fortemente embasado em processos subjetivos, o único caminho para o pes-quisador é afirmar o máximo rigor conceitual de seu método. Deste modo, o tipo ideal não poderá sernunca o ponto de partida da pesquisa, mas, ao contrário é seu ponto final. O que permite classificar arealidade para explicar-lhe as causa evitando-se falsas analogias.

Para Weber não existe unidade causal, ou seja, um fenômeno não apresenta uma única causa umavez que a compreensão é sempre aproximativa da realidade. As causalidades de um fenômeno podem

ser equacionadas de maneira probabilística a fim de compreendermos quais aspectos confluíram parao desenvolvimento de um de um fenômeno social, evitando-se reducionismos de explicações determi-nistas e monocausais.

Este último aspecto nos conduz aos elementos finais a serem destacados na apresentação do mé-todo da Sociologia compressiva de Weber: o que ele entende por compreensão e como se pode falarde “leis gerais” em Sociologia. Conforme o autor o termo compreensão apresenta-se com duas dimen-sões:

a compreensão1. atual dos sentidos prendidos de uma ação. (o que equivale a um estado deter-minado de entendimento sobre as coisas);

a2. compreensão explicativa (quando se refere a todas as conexões de sentido compreensíveise equivale e explicação do curso de uma ação).

Em todos estes casos o termo “compreensão” significa:

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Apreensão interpretativa do sentido ou da conexão de sentido; a) efetivamente visa-do no caso individual (na consideração histórica), ou b) visando em média a aproxi-madamente (na consideração sociológica em massa), ou c) o sentido ou conexão desentido a ser construído cientificamente (como “tipo ideal”) para o tipo puro (tipoideal) de um fenômeno freqüente.12 

Weber retoma aqui a distinção presente na filosofia alemã desde Kant que estabelece a distinçãoentre objetos das Ciências Naturais e das Sociais e que em Dilthey assumiria a forma da diferença entreexplicação (típica das Ciências Naturais) de compreensão (típica da Ciências Sociais). Neste caso, acompreensão dos sentidos subjetivos ou das conexões de sentido seria o objetivo particular da Socio-logia.

Derivado desta proposta de Sociologia e do papel da compreensão para definição de seu objetoe alcance intelectual, Weber se distanciaria da proposta de descoberta de leis gerais em Sociologia.Segundo ele, as “leis”, como se costuma chamar muita das proposições da Sociologia, são na verdadedeterminadas probabilidades típicas confirmadas pela observação, que em dadas e determinadas situa-

ções de fato, transcorrem da forma esperada. Estes seriam os casos em que certas ações sociais, que sãocompreensíveis por seus motivos típicos e pelo sentido típico indicado pelos sujeitos da ação, ocorremde modo como era esperado.13 

Poo FialA sociologia de Max Weber tem como objeto de estudo a ação social. Para garantir a objeti-

vidade do conhecimento sociológico ele vai argumentar a favor de uma prática científica fundada na

neutralidade axiologia e no rigor na aplicação dos conceitos. Seus procedimentos metodológicos inau-guram a Sociologia compreensiva. Este nome deve-se ao fato de que sua proposta visa a compreensãodos sentidos subjetivos atribuídos pelos sujeitos que executam a ação. Disto emerge o par conceitualação social e sentido como centrais a sua construção teórica e metodológica. Esta tem como instru-mento principal o tipo ideal que é um recurso de análise bastante útil para testar hipóteses que visamà compreensão dos fenômenos sociais. Por compreensão Weber entende a captação do sentido ouconexão de sentidos atribuídos pelos sujeitos da ação, o que permite a identificação de probabilidadestípicas da ação social.

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Idicaõs Clrais

WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 2004.

 Aividads1) O que é ação social em Max Weber?

2) Como obtém-se um tipo ideal?

3) Como Max Weber posiciona-se em relação a idéia de “leis gerais” em Sociologia?

1 WEBER, 2004, p. 15.

2 MILLS; GERTH, 1979; CASTRO;

DIAS, 2005, QUINTANERO ; BARBOSA:

OLIVEIRA, 1995).

3 WEBER, 1979; 2004a; 2004b.

4 WEBER, 1979, p.182.

5 WEBER, 1979, p.173.

6 WEBER, 2004a, p. 3.

7 WEBER, 2004a, p. 4.

8 WEBER, 2004. a,

9 WEBER, 2004. a.

10 WEBER, 2004, p.5. a.

11 WEBER, 2004, p. 5. a.12 WEBER, 2004, p. 6. a.

13 WEBER, 2004. a.

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IntRODuçãO à OBRA 

De KARL MARx Omais polêmico clássico da sociologia, Karl Marx,

é fundador do socialismo cientifico que se funda-menta no materialismo histórico e dialético. Ele foi

um autor de estilo literário próprio, cujo trabalho contémprofundo rigor intelectual e científico e foi produzido nocurso de uma intensa luta política revolucionária. Comoresultado legou uma vigorosa crítica ao modo de produ-

ção capitalista, demonstrando a essência de seu funcionamento baseado na exploração da força detrabalho humana. Sua contribuição teórica apesar de combatida, no fundamental vem revelando-sepertinente à explicação das relações sociais contemporâneas. Seu impacto na constituição das Ci-ências Sociais é tão grande que a Sociologia pode ser dividida em duas; uma a favor e outra con-tra Marx2, sendo impossível passar indiferente à obra deste autor. Neste capitulo, apresentaremos osprincipais aspectos de sua vida e obra, verificaremos seu objeto de estudo e proposta metodológica.

Karl Mar: Vida obra3

Karl Heinrich Marx, nasceu em 5 de maio de 1818 na cidade de Tréves, província Renana da Prús-sia (Alemanha). De família de origem judaica e de classe média baixa, seu pai era advogado e sua mãeprofessora de piano. Em 1935 entra para o curso de Direito na Universidade de Bonn, onde conheceo filósofo materialista Ludwig Feurbach. Em 1936, transfere-se para universidade de Berlin onde es-tudou Direito, Filosofia e História até 1941. Neste período se insere no grupo de jovens hegelianos deesquerda que compreendia entre outros o jovem professor Bruno Bauer e freqüenta as atividades do Doktor Club. Em 1841 conclui sua tese de doutorado em Filosofia sobre a “Diferença da Filosofia naNatureza em Demócrito e Epicuro”. No mesmo ano retorna a Bonn onde tenta ingressar na carreirauniversitária, mas o ambiente havia se tornado hostil aos hegelianos porque o governo conservadorhavia retirado a cadeira de Feurbach e impedido Bauer de realizar conferências na Universidade. Nes-

ta época os liberais radicais da Renánia fundam em Colônia um jornal de oposição chamado Gazeta Renana. Marx transfere-se para esta cidade e torna-se o redator chefe desta publicação, escrevendoartigos contra a censura do governo. O jornal passa a ser sistematicamente censurado, sofre atentadospromovidos pela polícia até fechar completamente em março de 1943. Neste mesmo ano Marx escreve“Questão Judaica”; “Introdução á contribuição à critica da filosofia do direito de Hegel”; e “Manus-critos Economicos e Filosóficos” onde articula a dialética de Hegel e o materialismo de Feurbach,introduzindo na filosofia do segundo um elemento ativo ao afirmar que “não basta á filosofia explicar omundo é precioso transformá-lo”4. No mesmo ano casa-se com Jenny Von Westphalen. Desempregadoe perseguido pelas autoridades locais, Marx e sua esposa transferem-se para Paris onde o movimentooperário estava efervescente. Estabelece-se nesta cidade em 1844, onde escreve os “Anais Franco-Alemães”. Em setembro deste ano conhece Friedrich Engels, filho de um rico industrial alemão. Eles

tornam-se grandes amigos e colaboradores permanentes. Neste ano, escrevem juntos: “A sagrada Fa-mília”, dedicada a combater os antigos companheiros hegelianos, os irmão Bauer que acreditavam nopapel revolucionário da burguesia liberal, enquanto Marx e Engels apontam os operários como a classe

Nilson Weisheimer 

“Toda ciência seria supérflua

se a aparência e a essência das

coisas fossem as mesmas.”1

 

(Karl Marx)

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revolucionária. Em 1945 Marx é expulso da França por participar das lutas operárias, estabelecendo-sena Bélgica , onde escreve as “Teses sobre Feurbach” e em parceria com Engels “A ideologia Alemã”.Em 1847, como crítica ao texto de Proudhon chamado “A Filosofia da Miséria” lança “A miséria daFilosofia”, marcado a distinção entre o “socialismo científico” e a “utopia anarquista”. Neste períodoMarx e Engels já participam ativamente do movimento operário europeu, contribuindo para organi-

zação da Liga dos Comunistas que reunia diversas organizações operarias locais oriunda da Liga dosJustos e Sociedade de Educação Operária com ramificações em Londres, Paris, Bruxelas e Amsterdã.Estes delegaram a Marx e Engels a redação do seu manifesto em 1947 sendo publicado em fevereirode 1848 “O Manifesto do Partido Comunista”. Em 1948 Marx passa pela França e volta à Prússia ondeassume a redação da “Nova Gazeta Renana” que é fechada pelo governo no mesmo ano. Em 1949 chegaa Londres, onde instala-se definitivamente. Ali redige “Trabalho assalariado e capital”. Em 1951 ele es-creve “As lutas de classe na França”. Em 1851 trabalha como colaborador para o  New York Tribuneum,

um importante jornal abolicionista norte americano, atuando no jornalismo para sobreviver até 1856.Em 1852 escreve “O 18 de Brumário de Luis Bonaparte”. Em 1957 retoma seus estudos de economiae inicia o projeto de sua grande obra “O Capital”, redigindo “Fundamento das critica da economia

política”. Em 1859 escreve “Contribuição á crítica da economia política”. Em 1964 Marx e Engels atu-am ativamente para a fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores (I Internacional). Em1865 publica “Salário, Preço e Lucro”. Em 1867 edita “O Capital, Livro I”. Nos anos seguintes Marxtrava intensa luta ideologica contra os anarquistas na Internacional, derrotando politicamente MikhailBakunim no Congresso de 1869. Em 1871 publica “A guerra civil na França”. Em 1875 participa daFundação do Partido Social-Democrata Alemão, ano em que edita “Critica do Programa de Gotha”.Em 1882 escreve “Notas marginais sobre Wagner”, sua última obra. A vida de ativista revolucionário eemigrado condenou Marx e sua família a condições de vida extremamente penosas, que somente eramamenizadas pelo auxílio financeiro recebido de Engels. Mesmo assim, devido a situação de misériaem que se encontrava, Marx sofreu com a morte da maior parte de seus filhos ainda crianças. Com asaúde fragilizada por estas condições de extrema pobresa material, Marx morre em 1883 em Londres.

Suas três filhas sobreviventes casaram com lideranças do movimento operário. Após sua morte tevesuas obras publicadas por Engels em 1885: “O Capital, Livro II”, e em 1895: “O capital, Livro III”. Em1905 Karl Kautski publica “História da Teoria da Mais-Valia” e “O Capital, Livro IV”. Com a vitóriados comunistas na Revolução Russa de 1917, a Universidade de Moscou passou a reunir o acervo obrase manuscritos de Marx organizados por Engels e outros marxistas, permitindo a publicação sua vastaobra em diversas línguas.

O Objo d Psqisa d Mar Em seu percurso intelectual Marx integrou criticamente as contribuições da Filosofia clássica

alemã, do Socialismo utópico francês e da Economia Política inglesa. Na articulação destas três fontesproduziu um método de análise e interpretação da sociedade de sua época. Sua contribuição a CiênciasSociais, a partir destas vertentes, resulta no materialismo dialético e no materialismo histórico, elemen-tos principais e conjugados de caráter teórico - prático de análise do capitalismo5.

Sua concepção de sociedade enfatiza as relações sociais de produção e de troca entre os homense que constituem a infra-estrutura da sociedade. Elas são a base objetiva a partir da qual os homensproduzem suas representações, idéias e justificativas, que são consideradas reflexos, mais ou menos in-vertidos, desta realidade. A superestrutura da sociedade é produto da ação humana e está em constantetransformação, motivada pelas contradições, antagonismos e conflitos, produzindo sucessivas e cada

vez mais superiores formações sociais. É neste sentido que “a história de todas as sociedades até hojeé a história da luta de classes”6. Assim a humanidade passou pela comuna primitiva, pelo escravismo,pelo feudalismo até chegar ao capitalismo, que é, em essência, um modo de produção onde tudo se tor-

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na mercadoria e que, diferente dos modos anteriores, produz mais-valia como meio para a acumulaçãode capital7.

A concepção de ciência de Marx vai fundar-se nesta perspectiva materialista, histórica e dialética,afirmando que o pensamento não é a gênese do real, nem o real é a gênese do pensamento, mas afirma-

rá que o real sempre antecipa ao teórico e que a teoria é um produto real. Deste modo, o conhecimentocientífico do real começa com a produção crítica das determinações da própria ciência, portanto, aonível teórico que se realiza simultaneamente, ao nível das categorias sociais. Assim ele combate apostura do positivismo que apregoa a imparcialidade do cientista, afastando-se tanto da posição deDurkheim, quanto da assumida por Weber, que defende a neutralidade axiológica. Para Marx isto é im-possível porque a própria produção do conhecimento encontra-se determinado socialmente. A ciência,particularmente, é o conhecimento do que está oculto e suas descobertas realizam uma ação criadorade novas realidades sociais. Logo a ciência se manifesta como atividade crítica – prática que transformaa natureza, o homem, a relação do homem com a natureza e a relações humanas, ou seja, transforma omundo, constituindo-se, portanto, como práxis revolucionária8.

Este abordagem dialética que torna visível às relações entre condições objetivas e subjetivas, entreestruturas e processos de ação e ao mesmo tempo constitui e transforma o objeto, é complementada poruma perspectiva humanista que percebe “a essência humana não como uma abstração inerente ao in-divíduo tomado isoladamente. Em sua realidade, ela é um conjunto das relações sociais”9. Deste modoseu objeto de estudo recai sobre as relações sociais.

Como vimos Marx não tinha uma preocupação estritamente sociológica, produziu uma crítica àEconomia Política que se tornou posteriormente uma abordagem sociológica. Neste sentido, tomamoso objeto de estudo presente em “O Capital” que consiste nas relações sociais de produção e troca cor-

respondentes num determinado estágio de desenvolvimento social. Ou seja, a produção dos indivíduos

vivendo em sociedade, que implica na divisão social do trabalho e a luta de classes resultante desta10.

O Méodo Marialisahisórico Dialéico

O método de Marx é o materialismo histórico e dialético. É materialista porque parte de uma  premissa materialista que é a existência humana que já se encontrava desenvolvida em “A IdeologiaAlemã” quando seus autores afirmaram que: “ Não é a consciência que determina a vida, mas a vida

que determina a consciência”11

. Logo, esta perspectiva não tem origens em abstrações ou dogmas, aocontrário parte de premissas reais “São os indivíduos reais suas ações e suas condições materiais de

vida, tanto aquelas que encontram quanto as que por sua própria ação se engendram. Essa premissas

 podem comprovar-se, por vias puramente empíricas”12. Seu sentido histórico reside no fato de que oshomens vivem em um determinado contexto social que corresponde a um certo estágio de desenvolvi-mento de suas forças produtivas. Além disto os seres humanos atribuem sentido às suas práticas sociais,de tal modo que o contexto histórico é formado por estas condições matérias e pelos sentidos atribuídosa este contexto, ambas as dimamções, matérias e simbólicas, encontram-se em constante movimento.Neste sentido, seu método é também dialético porque enfatiza o processo de permanente transformaçãoda realidade que é percebida como resultado direto das contradições internas da sociedade.

Conforme Marx, para que o pensamento possa se apropriar da realidade concreta, que é perce-

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bida como uma totalidade complexa (o que pressupõe o predomínio multifacético e determinante dotodo sobre as partes), é necessário proceder por meio de aproximações sucessivas, se orientado porum “fio condutor”1b. a fim de reconstruir a realidade como categoria do pensamento. Segundo esteautor:

O concreto é concreto porque é síntese de múltiplas determinações, portanto, uni-dade do diverso. É por isto que ele surge no pensamento como processo de síntese,não como ponto de partida, ainda que seja o verdadeiro ponto de partida e, emconseqüência, igualmente o ponto de partida da percepção imediata e da represen-tação.13 

Neste caso, como ilustramos na Figura 06, o método consiste na passagem do concreto imediatoao abstrato e do abstrato ao concreto pensado. O concreto imediato corresponde a uma realidade com-plexa, ou seja, unidade do diverso. O abstrato corresponde a percepções mais simples da realidadeimediata através de sucessivas reflexões que conduz das categorias mais simples às mais complexas.O concreto pensado corresponde ao retorno das categorias mais complexas às mais simples que assu-

mem a forma de categorias de análise. Esta é a maneira do proceder do pensamento para se apropriarda realidade concreta, a fim de reproduzí-la como categoria do pensamento, ou seja, como concretopensado14. Vale lembrar que isto se faz necessário devido à própria natureza da realidade concreta queé fruto de múltiplas determinações.

Figura 06 - Passagem do concreto imediato ao concreto pensado.

  Os fenômenos sociais formam a realidade “concreta” que o sociólogo procuracompreender e explicar. Estes constituem uma realidade complexa (unidade do diverso), ou seja,

existem várias causas atuando na determinação destes fenômenos. Utilizando-se o método dialético o sociólogo será levado a reconhecer nestes fenômenos o seu movimento interno de gênese etransformação. Neste caso, o movimento do pensamento é o ref lexo do movimento real transportadoe transposto no cérebro do pesquisador. O movimento é intrínseco ao real e resulta de sua contradiçãointerna (tese, antítese e síntese). Ou seja, a dialética consiste no reconhecimento da unidade e lutaentre os contrários.

O cientista social deve ter presente que toda a dialética, quer se trate do movimento real ou dométodo de análise, visa simultaneamente aos conjuntos e aos seus elementos constitutivos, o todo e aspartes. Enquanto movimento real a dialética é o caminho tomado pelas sociedades humanas em seupercurso histórico. Como método é, antes de tudo, um caminho para o conhecimento adequado às reali-dades sociais e históricas. O que nos leva a uma terceira proposição: a dialética é uma relação dinâmica

1b. O termo o condutor em analogia ao método é uma referência à deusa Ariadne, que orientou seu amado Teseu, condenado ao labirin-to de Cnossos, a seguir o o de seu véu para conduzir-se para fora do labirinto. Este o condutor que orienta o trabalho de pesquisa deMarx é o método materialista histórico e dialético.

Concreto Pensado 

Categoria de análise

Abstrato

Refexão várias etapas

Concreto imediato

unidade do diverso

Fonte: WEISHEIMER, 2006.

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entre o objeto do conhecimento científico e o método empregado para conhecê-lo.15

Levando em consideração estas características, é possível apontar cinco procedimentos operató-rios do método dialético em Sociologia:

a1. complementariedade dialética;

entre os diferentes eixos de investigação, como aspectos complementares do fenôme-a.no social analisado;

entre os métodos quantitativos e qualitativos,b.

entre estruturas sociais e ações sociais;c.

a2. implicação dialética mútua que se manifesta nas complexas relações entre dimensão dacoerção social e e da ação social, evitando-se sua separação artificial e reconhecendo o papelmediador das instituições que resultam das relações sociais e como elementos da realidadesocial são essencialmente dialéticos porque estão submetidos ao contínuo movimento de pro-dução, reprodução e decomposição;

a3. ambigüidade dialética presente nestes processos, uma vez que toda a realidade humana trazcontida em sí a marca da ambigüidade

a4.  polarização dialética que consiste em identificar os elementos em processo de polarizaçãoe antinomia, que não se estabelecem apriori, mas sim através do exame das relações sociaiscomo as que se estabelecem entre dominadores e dominados (relações de dominação), entretrabalhadores e capitalistas (relações de produção), entre pais e filhos (relações geracionais)e entre homens e mulheres (relações gênero);

a5. reciprocidade de perspectivas permite identificar como, apesar das diferenciações, as rela-ções sociais permanencem em estado de aparente equilíbrio permitindo diferentes graus de

coesão e troca, como as verificadas na divisão social, sexual e etária do trabalho e no acessoaos seus resultados, sem chegar a converterem-se em antinomias e ambiguidades.

Outro aspecto importante do método de Marx é que a compreensão da realidade mais complexapermite explicar as categorias mais simples. Conforme ilustra a expressão: a anatomia do homem é achave para a anatomia do macaco16. Neste caso, ao estudar o modo de produção capitalista ele podemostrar sua diferença em relação as anteriores e identificar a gênese do desenvolvimento do capitalis-mo mostrando o que esta formação social tem de singular em relação às outras. O que é justamente ocontrário do procedimento defendido por Durkheim. No caso de Marx é a econômica capitalista quenos permite o entendimento das economias antigas. Uma vez que as categorias mais simples surgemantes das categorias mais complexas, as categorias complexas incorporam as mais simples e lhes acres-centam algo a mais. “Neste sentido, as leis do pensamento abstrato que se eleva do mais simples aocomplexo, correspondem ao processo histórico real”17.

Em conseqüência deste último aspecto, Marx vai fazer referência ao método de exposição dascategorias de análise de “O Capital”. Segundo ele seria errado classificar as categorias de análise darealidade pela ordem em que foram historicamente determinadas. Ao contrário, a sua exposição deveser determinada pelas relações teóricas que existem entre eles na análise da sociedade moderna. O queé, precisamente, contrário ao que parece ser sua ordem natural ou ao que corresponde à sua ordemde sucessão no decurso da evolução histórica. Ou seja, a exposição das categorias de análise segue aordem teórica necessária para explicar a essência do objeto de estudo, que para Marx foi a sociedadecapitalista moderna.

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Poo FialNeste capitulo conhecemos um pouco mais da vida e obra de Karl Marx e sua proposta me-

todológica, o materialismo dialético. Vimos que seu objeto de estudo foram às relações sociais deprodução e sua base material, que formam a própria condição de existência humana e que estão emconstante processo de transformação. Vale a pena lembrar que para o materialismo são as condiçõesde vida dos homens que determinam sua consciência, e não a consciência que determina sua vida,visto que, os seres humanos estabelecem relações entre si independente de sua vontade ou consciênciasobre o que as determina. Por sua vez, o procedimento dialético visa captar o movimento permanentede gênese e transformação das relações sociais. A partir de sua caracterização estabelecemos cincoprocedimentos operatórios em Sociologia que são: a) a complementariedade dialética; b) a implicaçãodialética mútua; c) a ambigüidade dialética; d) a polarização dialética; e) reciprocidade de perspectivas.Em resumo, aprendemos com Marx que para conhecer é preciso considerar: 1) as condições sociais daprodução do conhecimento; 2) que conhecimento trasforma a realidade; 3) que o real antecede a teoria;

4) que a teoria é realidade material; 5) o procedimento de passagem do concreto imediato ao abstratoe do abstrato ao concreto pensado; 6) que a dialética reconhece a unidade e luta dos contrários comofator de transformação social; 7) que a dialéitica se manifesta na realidade e no pensamento; 8) que ascategorias mais complexas permitem o entendimento das mais simples; 9) que a ordem de exposiçãodas categorias deve ser teorica e não necessáriamente a ordem de seu surgimento.

Idicaõs ClraisMARX, Kral, ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo. Martin Claret, 2004.

 Aividads1) Qual foi objeto de estudo de Marx?

2) Como o pensamento pode ser apropriar da realidade concreta?

3) Porque para Marx a realidade mais complexa permite o entendimento da mais simples?

1 MARX, 1979, p. 11.2 BOTTOMORE, 1987.3 RIAZANOV, 1984; CASTRO; DIAS, 2005.4 MARX, 1968(b), p. 136.5 IANNI, 1979.6 MARX; ENGELS, 2007, p.45.7 MARX, 1985.8 MARX, 1968 (a).9 MARX, 1968 (b), p. 135.10 MARX, 1985.11 MARX; ENGELS, In CASTRO; DIAS, (Orgs), 2005, p.171.12 MARX, In CASTRO; DIAS, (Orgs), 2005, p.169.13 MARX, In CASTRO; DIAS, (Orgs), 2005, 166.14 MARX, In CASTRO; DIAS, (Orgs), 2005.15 GURVITCH, 1987.16 MARX, In CASTRO; DIAS, (Orgs), 2005.17 MARX, 1985, p. 411.

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