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1. Introdução

A indústria farmacêutica luta constantemente contra a contaminação para garantir a qualidade de seus produtos. Como auxiliares no controle da contaminação, desinfe-tantes são empregados para desinfecção de equipamentos e áreas. Na escolha do desinfetante ideal, fatores como natureza, número e localização dos microorganismos, con-centração e potência do agente desinfetante, propriedades físico-químicas, substâncias incompatíveis e metodologia para detecção são de fundamental importância para eleger o melhor agente sanitizante.

Em processos menos automatizados a presença de maior número de operadores passa a ser um fator crítico. Soluções degermantes anti-sépticas, junto com soluções alcoólicas podem ser usadas para minimizar a contamina-ção proveniente de higienização inadequada das mãos por parte dos colaboradores.

Neste artigo iremos analisar as propriedades dos prin-cipais agentes desinfetantes e anti-sépticos, focando suas aplicações práticas na indústria farmacêutica.

2. Aspectos gerais

2.1 Natureza, número e localização dos microorganismos

A natureza do microorganismo é um dos principais parâ-metros a avaliar antes da escolha do agente desinfetante. Muitas classes de microorganismos são resistentes, limi-tando o número de ativos disponíveis. De forma genérica a ordem de resistência decrescente é descrita na tabela 1:

Normalmente o número de microorganismo é reduzido após limpeza criteriosa da área / equipamento, que além

da redução do bioburden, elimina outras substâncias que podem interagir e diminuir a atividade do desinfetante.

As áreas e equipamentos devem ser projetados de forma a facilitar a limpeza/desinfecção. Os pontos críticos dos mesmos deverão ser criteriosamente avaliados durante a validação de limpeza/desinfecção.

2.2 Concentração e potência do agente químico / tempo de exposição

Como regra básica, quanto mais concentrado maior a ação do produto e menor o tempo de exposição ao agente. Contudo, como a maioria das substâncias é tóxica em concentrações elevadas, devemos nos basear em estudos científicos para determinar as concentrações e tempos de exposições ideais. A tabela 2 mostra algumas concentrações usuais de desinfetantes.

Desinfecção e Anti-sepsia na Indústria Farmacêutica – Uma Abordagem Prática

artigo técnico

Nesser Cristiano de Paula Oliveira

Nesser Cristiano de Paula OliveiraFarmacêutico de Pesquisa e Desenvolvimento da LM Farma Ind. Com. Ltda.

Contato: [email protected]

Tabela 1

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2.3 Propriedades físico-químicas

Parâmetros como solubilidade, pH, temperatura e incompatibilidades químicas devem ser cuidadosamente avaliadas.

O efeito da solubilidade e do pH pode se manifestar sobre o desinfetante, o microorganismo ou ambos. De forma geral, os desinfetantes são usados em temperatura ambiente, excluindo a temperatura como um fator de controle.

2.4 Metodologia para detecção Do ponto de vista de validação de limpeza/ desinfecção,

preferencialmente devemos optar por substâncias com met-odologias já conhecidas para detectar resíduos do ativo.

3. Regulamentação de Desinfetantes na ANVISA.

Só poderão ser utilizados no ambiente industrial os produ-tos devidamente registrados junto ao órgão regulador. O registro de desinfetantes é regulamentado pela Portaria n° 15, de 23 de setembro de 1988. No pleito de solicita-ção de registro a legislação exige testes (devem ser feitos em laboratórios REBLAS) que comprovem a eficácia dos produtos. Para desinfetantes hospitalares de artigos semi-críticos, por exemplo, deve ser comprovado a eficácia contra

Staphilococcus aureus, Salmonella choleraesuis, Pseudomonas aeruginosa, Tricophyton mentagrophytes, Mycobacterium amegmatis e Mycobacterium bovis.

Além dos testes de comprovação de eficácia é necessário apresentar dados toxicológicos agudos do produto, sendo comum a exigência de testes de irritabilidade dérmica e ocular, bem como testes de biodegradabilidade dos tenso-ativos quando contido na formulação. Na compra do desin-fetante podem ser solicitados ao fabricante estes laudos que atestam a qualidade do produto, servindo como docu-mento base para posterior desenvolvimento da validação de limpeza/ desinfecção.

4. Agentes Desinfetantes

4.1 GlutaraldeídoGlutaraldeído é um poderoso agente biocida com repu-

tação reconhecida para quimioesterilização de equipa-mentos que não podem ser esterilizados por métodos físico-químicos tradicionais. Pode ser utilizado na indústria farmacêutica para desinfecção de equipamentos e sistemas de purificação de água. O uso de glutaraldeído para desin-fecções de área é proibido no Brasil ao contrário de outros países da Europa.

As soluções de glutaraldeído são comercializadas de 2 a 2,4% em pH ácido para garantir a estabilidade do ativo, que se polimeriza rapidamente em meio básico. No momento do uso, a solução deve ser ativada com um agente alcalini-zante/ tamponante para que o pH ótimo para ação do

Tabela 2

Tabela 3

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artigo técnico

produto seja obtido. Soluções ativadas são estáveis de 14 até 28 dias dependendo do ativador utilizado.

O equipamento a ser desinfetado deve primeiramente ser limpo com sustâncias detergentes para eliminar os residuais de proteínas, já que as mesmas formam complexos com a molécula de glutaraldeído, inativando-a.

O espectro de ação do glutaraldeído é amplo, sendo resumidas na tabela 3 algumas características sobre a ativi-dade microbicida desta substância:

Para detecção de residuais de glutaraldeído, Menet et al. (1997) têm definido e validado um método de detecção por HPLC através da derivatização de glutaraldeído usando 2,4 dinitrofenilhidrazina. O método foi validado para detectar concentrações de 1,25 ppm até 0,2 ppm.

4.2 FormaldeídoApesar de ser uma substância altamente tóxica o formal-

deído é ainda bastante usado em processos de desinfecção na indústria farmacêutica. O rodízio entre formaldeído a 3% e ácido peracético 0,3 % constitui opção para realização de desinfecção de sistemas de purificação de água. Para detectar resíduos de formol pode ser usado um kit rápido disponível no mercado. A reação de identificação baseia-se na condensação dos aldeídos com a 4-amina-3-hidrazina-5-mercapto-1,2,3-triazol onde por oxidação com o ar se formam derivados da tetrazina com coloração púrpura. O método tem sensibilidade para detectar de 0 a 100 ppm de formaldeído.

4.3 Peróxido de HidrogênioO peróxido de hidrogênio é um agente fortemente oxi-

dante que através da formação de radicais livres ataca membranas lipídicas, DNA e outros componentes celulares essenciais. Diferentemente do glutaraldeído não requer ati-vação e não possui odor irritante.

Atualmente tem tido o seu uso difundido para indústria alimentícia, estando regulamentado para esta indicação na Resolução n° 211, de 18 de junho de 1999.

É compatível com metais, plásticos e elastômeros e pode ser utilizado em conjunto com o ácido peracético (0,08% /1%).

4.4 Ácido peracéticoO ácido peracétio ou ácido peroxiacético, é um agente

oxidante, e tem mecanismo de ação semelhante ao do peróxido de hidrogênio.

Tem como vantagem o tempo curto necessário para desinfecção quando comparado com outros agentes.

Pelo fato de formar ácido acético, O2 e água como residuais pós-uso não agride o meio-ambiente e tem baixo potencial toxicológico ao contrário de outros desinfetantes.

Um dos seus principais usos na indústria farmacêutica é para desinfecção de sistemas de purificação de água. Os

vasos contendo carvão, resina aniônica e resina de leito misto são bastante suscetíveis a formação de biofilmes, sendo o ácido peracético 0,3 % indicado para controlar e inibir este tipo de contaminação.

Para detectar eventuais resíduos de ácido peracético e derivados de sua volatilização, há disponíveis no mercado kits rápidos de análise, que podem ser validados. Há um kit no mercado, por exemplo, que detecta níveis de 0,5 a 25 ppm de residuais de peróxido.

4.5 Compostos cloradosSão divididos em compostos orgânicos e inorgânicos

liberadores de cloro ativo. O hipoclorito de sódio é a substância mais conhecida e

utilizada desta classe. Possuem utilidade para desinfecção de áreas e equipamentos, tratamento de água provenientes de poços e, em baixas concentrações, desinfecção de ali-mentos no refeitório da empresa.

Para detecção de residuais de cloro o kit rápido detecta níveis de 0 a 3,5 ppm. O método baseia-se na complexação do cloro com a N,N-Dietil-1,4-fenilendiamina (DPD) pro-duzindo um composto colorido que pode ser comparado colorimetricamente com o disco de cores padrões.

5. Regulamentação de anti-sépticos na ANVISA

A ANVISA define através do decreto 79044/77 Produtos de higiene como sendo “os de uso externo, antissép-tico ou não, destinado ao asseio ou à desinfecção corporal, compreendendo os sabonetes, xampus, dentifrícios, enx-aguatórios bucais, antiperspirantes, desodorantes, produtos para barbear e após o barbear estípticos e outros.”

Os produtos anti-sépticos, em sua grande maioria, são controlados pela unidade de Cosméticos da ANVISA seguindo os requisitos da resolução 79 de 28 de agosto de 2000 para fins de registro.

Não há definido no Brasil uma metodologia específica para avaliação da eficácia de anti-sépticos. Testes como diluição de uso, empregados na avaliação de desinfetantes não são indicados para anti-sépticos. Para avaliar a eficácia de sabonetes anti-sépticos o FDA tem como referência o método Tentative final monagrafh for Healthcare antisep-tics drug products ; proposed rule 1994; 59: 31441-52.

6. Agentes anti-sépticos

Para melhor uso dos agentes anti-sépticos é necessário realizar treinamento sobre a correta lavagem das mãos. Um treinamento bem elaborado que conscientize os colab-oradores da importância da lavagem correta das mãos irá prevenir em muito os riscos de contaminação durante o processo. A Associação Paulista de Estudos e Controle de

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Infecção Hospitalar lançou um guia para higiene das mãos em serviços de assistência à saúde.

6.1 Digluconato de Clorexidina A clorexidina é uma biguanida catiônica que possui

largo emprego como anti-séptico para aplicação na pele e mucosa bucal.

A clorexidina possui incompatibilidades com tensoativos aniônicos, íons cloretos, carbonatos e sulfatos. É compatível com tensoativos não iônicos.

Os testes descritos na tabela 4 foram realizados conforme procedimento baseado no British Standard 3286 (1960).

Conforme podemos observar na tabela 4 a clorexidina é um agente ideal para realização de anti-sepsia das mãos antes do início de um processo produtivo. Para facilitar a operação há disponível no mercado escovas já impregnadas com solução de clorexidina 2%. A vantagem é que as esco-vas são especialmente projetadas para otimizar a limpeza mecânica das mãos, dedos, unhas e vãos entre os dedos. Normalmente possuem cerdas de rigidez intermediária e são flexíveis, o que facilita a higienização.

As escovas impregnadas podem ser usadas em áreas de entrada para produção e ante-salas de ambientes controla-dos. Antes da padronização do agente anti-séptico é reco-mendável a realização de um teste de eficácia do mesmo.

Associando ou veiculando a clorexidina em soluções alcoólicas obtêm-se um efeito sinérgico aumentando o poder anti-séptico da clorexidina e diminuindo o tempo para que a ação seja exercida.

6.2 ÁlcooisO uso de soluções e gel alcoólicos é bastante difundido para

controle da contaminação. Pelo fato dos álcoois serem voláteis e não deixar residuais, é o agente de escolha para anti-sepsia no decorrer dos processos. Em procedimentos manuais, onde o operador manipula diretamente o produto, a desinfecção periódica das mãos com álcool, reduz de forma significativa os riscos de contaminação.

O uso de géis deve ser cuidadoso, pois podem ficar residuais de carbômero nas mãos, sendo fonte potencial de contamina-ção cruzada. Alguns géis contêm em sua composição agentes umectantes, o que minimiza o ressecamento das mãos provo-cado pelo álcool.

O uso de hidratantes é recomendável para os usuários de produtos a base de soluções alcoólicas.

6.3 TriclosanO triclosan é um ativo que vem sendo gradativamente sub-

stituído por anti-sépticos mais potentes nos estabelecimen-tos de assistência à saúde. Para indústria farmacêutica não é interessante seu uso como anti-séptico de primeira escolha.

7. Conclusões

Concluímos que uma das formas de controlar a contami-nação na indústria farmacêutica é através do uso correto de desinfetantes e anti-sépticos. Um rodízio entre as substâncias ativas é recomendável para que não se crie cepas resistentes a determinado agente. É desejável que todos processos sejam validados no quesito limpeza e desinfecção, com controles periódicos pelo laboratório de controle de qualidade. u

Bibliografia

[1]. Block, Seymour S., Disinfection, Sterilization, and Preservation, Lippincott Willians & Wilkins, 5° ed., 2001.

[2]. Associação Paulista de Estudos e Controle de Infecção Hospitalar, Guia para Higiene de mãos em serviços de assistência à saúde, 2003

[3]. ANVISA, Portaria n° 15, de 23 de agosto de 1988[4]. ANVISA, Resolução n° 79, de 28 de agosto de 2000[5]. ANVISA, Decreto n° 79044, de 5 de janeiro de 1977[6]. Rutala, Willian A., Disinfection of endoscopes:

Review of new chemical sterilants used for hight level disinfection, Infect Control Hospital Epidemiology 1999; 20: pág 69-76

[7]. Martins, Alzira M. S., Mazzola, Priscila G., Penna, Thereza C. V., Eficácia de desinfetantes, Controle de Contaminação, 2001; Setembro: pág 36-40

[8]. Amaral, Fernando D., Determinação e controle da popul. microbiana presente em ambiente ind. farma., Controle de Contaminação, 2002; Junho: pág. 28-31

[9]. www.Lmfarma.com.br

Tabela 4