2012-11-28 C 546 Jornalpessoaselugares45

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  • Directora: Cristina Cavaco www.leader.pt II Srie | N 45 - 2007

    P 12 Um fim-de-semana nas Terras Altas do Homem, Cvado e Ave

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    P 6 e 7 Patrimnio rural em Portugal

    P 4 e 5 Entrevista a Cludio Torres

    ATAHCA

    Alto Cvado

    P 15 inSITU

    Em Destaque

    Patrimnio e desenvolvimento rural

  • pessoas e lugares |N45-007

    aabrir

    O Pessoas e Lugares - Jornal de Animao da Rede Portuguesa LEADER+ tem por objectivos divulgar e promover o LEADER+, assim como reforar uma imagem positiva do mundo rural.

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    A valorizao e preservao do patrimnio rural tem sido um dos aspectos centrais do programa LEADER. Sendo o patrimnio smbolo das identidades, saberes e particularidades, a sua enorme riqueza e diversidade fonte inesgotvel de possibilidades e iniciativas para o desenvolvimento local em meio rural.O patrimnio de um territrio, seja natural, cultural ou histrico, hoje reconhecido como um produto local de forte valor e, por essa razo, a

    Patrimnio e desenvolvimento rural

    sua proteco, que no pode restringir-se aos poderes pblicos, exige o envolvimento activo da sociedade civil, proporcionando o seu uso socialmente adequado e equilibrado.Os projectos que, neste mbito, foram apoiados pelo programa LEADER, incluem o apoio a rotas temticas, a recursos e parques naturais ou ainda gesto do patrimnio cultural e tm contribudo para o fortalecimento de uma imagem de qualidade desse mesmo territrio. Com efeito, o reconhecimento do valor patrimonial das zonas rurais tem originado um maior dinamismo das comunidades locais onde este patrimnio se insere.A gesto e avaliao da riqueza patrimonial de um dado territrio um aspecto ao qual se deve dar ateno especial, na medida em que, a interveno dos Grupos de Aco Local (GAL), sendo local, integrada e em parceria, exige uma aco concertada entre as diferentes entidades, em conformidade com os objectivos, necessidades e expectativas locais em torno das riquezas patrimoniais e culturais.Assim, no esquecendo a importncia da dimenso humana e social na gesto, conservao e promoo do patrimnio rural, enquanto recursos endgenos de um dado territrio, importa sublinhar as mltiplas possibi-lidades e oportunidades que o patrimnio pode ter para a diversificao de actividades e dinamizao do desenvolvimento local.Esta edio do jornal Pessoas e Lugares, sob o tema do Patrimnio e desenvolvimento rural, d especial destaque ao GAL da ATAHCA - Asso-ciao de Desenvolvimento das Terras Altas do Homem, Cvado e Ave. Este tema foi sugerido por esta associao atendendo ao elevado potencial turstico e patrimonial do seu territrio, bem como estratgia de de-senvolvimento rural preconizada, que assenta na valorizao dos recursos naturais e culturais, reinventando um futuro para o mundo rural.

    Rui BatistaChefe de Projecto LEADER+

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    Os espaos rurais esto vinculados a imagens e modos de vida peculiares, confundem-se com sociedades marcadas por arcasmos, indissociveis de economias vulnerveis, merc do xodo e do despovoamento, dependentes de prestaes sociais, de solidariedades e de recursos provenientes de politicas pblicas que os discriminem positivamente. Este retrato, embora cada vez mais desfocado, ainda perdura na memria colectiva devido exaustiva difuso, por diferentes meios, de mensagens que resumiam uma realidade to complexa ao tipicismo de quotidianos deslocados no tempo, a paisagens e produtos de qualidade cuja noto-riedade dependia do seu exotismo. Contribuiu-se, desta forma, para vincar o sentimento de perda e marcar negativamente a auto-estima de pessoas e territrios que, assim, se descobriam estigmatizados e ainda mais prisioneiros das suas prprias fragilidades. A evoluo dos valores e das referncias que serviam de base a tais leituras veio abalar os alicerces daquelas interpretaes, lineares e estereotipadas, ajudou a evidenciar a dissonncia, cada vez mais no-tria, entre tais descries e o fcies econmico e social emergente. Na construo doutros modos de olhar o rural no foi indiferente tais mudanas conceptuais e analticas, inscrevendo-se nesta tendncia a valorao positiva que o patrimnio e a cultura passaram a ter quando aplicados a este universo. O rural adquire, com a viso renovada que comea a projectar, significados menos depreciativos, assume funes e papis que o vo retirando das periferias, geogrficas e mentais, para onde progressivamente foi sendo remetido.A diversidade de contextos (naturais, econmicos e sociais), de recursos disponveis e mobilizveis e a aparente homogeneidade normalmente associada ao mundo rural servem de pano de fundo a processos de desenvolvimento cuja traduo espacial sobrepe novas configuraes territoriais s rgidas interpretaes dicotmicas do pas em litoral-in-terior, norte-sul ou rural-urbano. Acentuando a fragmentao do nosso territrio, as recentes dinmicas verificadas nos padres de povoamento, de especializao produtiva e de ocupao e uso do solo proporcionaram um novo atlas do rural portugus, colocando perante novos desafios e fronteiras um espao que se concebe submerso num arquiplago cada vez mais vasto e profundo.

    Reverter o estado depressivo e enfrentar os problemas reais e simblicos que afectam estes territrios impe que se potenciem os respectivos recursos materiais e intangveis. As aldeias e a arquitectura popular, as paisagens e o patrimnio natural, os produtos e os saberes locais so algumas das referncias que, fazendo uma perene ligao com as telricas razes, moldam as identidades das pessoas e dos lugares. Pelo que representam e pelo relevante papel que podem desempenhar para vencer o isolamento e promover o seu desencravamento fsico e psico-lgico, so activos que importa mobilizar nos respectivos processos de desenvolvimento. Contudo, sem a aposta em iniciativas e actividades complementares gerando algum emprego, tais recursos, por si s, se-ro sempre insuficientes para a plena dinamizao econmica e social destes espaos.

    Rui JacintoCCDRC - Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional do Centro

    Patrimnio rural: importncia e limites de um recurso

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    Prevalece hoje uma viso abrangente do conceito de patrimnio em que, hipoteticamente, todo o objecto susceptvel de patrimonializao. Concorda?

    O patrimnio sempre fez parte daquilo que o patrimnio familiar. Um ba onde se guardam as riquezas da famlia e se passa aos filhos. Este o velho conceito que se mantm. Nos ltimos tempos, realmente, surgiu um novo conceito de patrimnio que faz parte necessariamente do patrimnio familiar mas ao qual se comeou a dar mais uma conotao que lhe d outra carga. E esse peso, cultural, que est cada vez mais a apropriar-se do termo patrimnio, de tal forma que hoje j nem necessrio falar de patrimnio cultural, porque falar de patri-mnio j suficiente. A partir da, podemos falar de patrimnio arquitectnico, gentico, ecolgico, paisagstico e de outros que se vo acrescentando ao termo inicial. Tudo se constitui num bolo cada vez mais consistente que o patrimnio identitrio. Isto , dando um exemplo, no h duas igrejas iguais, mesmo quando so da mesma poca e do mesmo arquitecto. Porque ao longo dos sculos essas igrejas vo sofrendo alteraes, vo-se adaptando... Uma parte ruiu, outra foi acrescentada... E so essas diferenas que do riqueza ao patrimnio. E h ain-da, com muita importncia, o conceito de patrimnio enquanto materializao do simblico. Quando colocamos em cima de uns restos informes um enorme vesturio de histrias e lendas... O mito cresce e apropriado pela comunidade como qualquer coisa de sagrado e simblico que a representa.

    At porque, actualmente, a salvaguarda do patrimnio tem quase sempre subjacente o conceito de interveno, que no se reduz apenas interveno fsica de recuperao ou restauro de um imvel?

    Cada vez mais ligamos a ideia de patrimnio a monumento, a uma coisa fsica, com estrutura. Por isso, estamos cada vez mais, do ponto de vista acadmico, a defender a paisagem entendida como paisagem cultural. A paisagem , por natureza, cultural, porque j foi tocada pelo homem. Pelo menos em Portugal; na Gronelndia talvez no. Por isso, estamos a incluir na paisagem todos os seus elementos, a pequena montanha, a colina, as terras de cultivo... No podemos separar uma casa, igreja ou um castelo da sua envolvente. J passmos a fase do que o monumento e o que no . Estamos agora numa fase em que tudo rentabilizvel. E numa coisa parece que estamos todos de acordo: a forma como podemos salvaguardar o prprio monumento e a sua envolvente tambm depende dessa rentabilizao. E o que vai rentabilizar o monumento o con-sumo, o turismo, a indstria mundial mais importante neste momento. Hoje, j estamos mais ou menos conscientes que qualquer interveno sobre o territrio decisiva. Felizmente, comeamos a ter umas leis que dizem que eu no posso, mesmo sendo o proprietrio, construir em certos lugares, porque h interesses colectivos, maiores... Por isso temos zonas de paisagens excepcional, como as encostas do Douro. Por isso, tambm, se comea j, e cada vez mais, a falar de patrimnio alimentar e gastronmico.

    EntrevistaaCludioTorres

    Qualquer interveno , antes de mais, polticaLogo na primeira viagem a Mrtola, em 1978, redescoberta de um pas perdido, aps 15 anos de exlio, Cludio Torres viu ali um grande projecto de investigao. Licenciado em Histria e Teoria da Arte pela Universidade de Bucareste (1973) e Histria pela Universidade de Lisboa (1976), Cludio Torres no tardou a trocar as salas da Faculdade de Letras, onde leccionou entre 1974 e 1986, pelas escavaes e pelo Campo Arqueolgico de Mrtola a associao especializada na investigao histrica e arqueolgica, que fundou e da qual continua a ser o director. Distinguido com o Prmio Pessoa pelo mrito da sua obra de investigao e promoo cultural no domnio da Arqueologia, em 1991, e o ttulo de Doutor Honoris Causa pela Universidade de vora, em 2001, Cludio Torres foi, de 1996 a 2007, presidente da Comisso Nacional Portuguesa dos Monumentos e Stios (ICOMOS - International Council on Monuments and Sites) e , desde 2006, membro do Conselho Consultivo do IPPAR - Instituto Portugus do Patrimnio Arquitectnico, designado entretanto IGESPAR - Instituto de Gesto do Patrimnio Arquitectnico e Arqueolgico.

    Pode dizer-se, ento, que o patrimnio comea a adquirir visibilidade por via da necessidade?

    Precisamente com a quebra de um elemento importantssimo na histria do patrimnio: a participao da comunidade. At h pouco tempo quem tratava do monumento era a comunidade porque precisava dele para a sua filosofia de vida e lgica cultural. Nos ltimos 30/40 anos, a interveno da comunidade deixou de se fazer, como normal, ficando cada vez mais a responsabilidade no indivduo que empurra as antigas responsabilidades colectivas para uma sociedade, uma empresa ou para o Estado.

    Identidades como as autarquias e associaes passam assim a tomar esse papel que antes estava na comunidade? Foi algo inevitvel?

    o processo civilizacional que tem aspectos negativos e positivos. pena que haja uma tendncia de desresponsabilizao das comunidades na manuteno do patrimnio, mais ainda se o monumento passa do mbito local ao regional ou nacional. No entanto, esta responsabilidade ainda se mantm de certa maneira nalgumas aldeias, por exemplo, na manuteno da igreja, revelando a fora dessa comunidade.

    Uma maior consciencializao do patrimnio enquanto recurso para o desenvolvimento implica novas formas de gesto desses valores, onde a articulao entre diferentes actores assume cada vez maior importncia.

    Estamos a lidar com todo o passado... Hoje, o que chamamos de patrimnio cultural e patrimnio identitrio o patrimnio de sculos de histria, da igreja simples casa de habitao algures na Beira Alta ou no Minho. Hoje se voc quer substituir a escada de granito com degraus altssimos por uma em cimento, mais cmoda, no lhe deixam, e muito bem, achamos, porque estamos a falar de um patrimnio fundamental: o vernacular. Mas, e a parece que estamos todos de acordo, tem de haver um compromisso. Vamos aprendendo ao longo dos anos, que qualquer interveno, e tem de haver interveno at para evitar a destruio, tem sempre de ser reversvel. Isto , quando intervimos, seja numa igreja ou num castelo, temos de admitir que mais tarde aquilo que fizemos possa ser refeito. Do ponto vista arquitectnico isto decisivo. Felizmente, comea-se a fazer qualquer coisa. Aqui, em Mrtola, por exemplo, todas as portas e janelas da vila velha foram fotografadas. A partir da h problemas, porque no podemos obrigar uma pessoa a substituir a velha porta de madeira por uma nova, ou pagamo-lha ou ela pe a porta mais barata que h no mercado, mas estamos agora numa fase de cumplicidade com a cmara: a velha porta pode ser substituda por uma nova (qualquer uma) e quando houver dinheiro, uma outra, igual da fotografia, paga por ela ou ao abrigo de algum projecto, tomar o seu lugar.

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    Felizmente, certas entidades, como as associaes de desenvolvimento local, pegaram nesta questo...

    Principalmente essas associaes. Como se sabe, aps o 25 de Abril houve uma exploso delas, uma melhores que outras, mas o seu papel foi muito impor-tante, porque se deu uma espcie de movimento de libertao, de certa forma tambm alimentado pelo municipalismo. Tudo isso facilitou a identificao de elementos identitrios, do querer ser diferente, porque toda a gente queria ter o seu castelo. Fizeram-se barbaridades, um bocado cimento aqui e ali, porque quem decidia era a comunidade pelos seus representantes que habitualmente no tinham qualquer tipo de preparao. Foi o preo da festa da descentralizao cuja grande vantagem foi chamar a ateno para aquela coisa que estava ali.

    A existncia, a partir de certo momento, de apoios financeiros que embora no sendo directamente dirigidos para a recuperao do patrimnio, como o programa LEADER, marcou uma nova fase?

    H de tudo; coisas pssimas e coisas belssimas. Do meu ponto de vista, esses fundos tiveram a sua funo inicialmente, era fcil e talvez mesmo inevitvel. Qualquer comunidade via imediatamente ali o seu castelo, a sua igreja e fazia a aplicao directa. Da, talvez mais de 80 por cento das verbas tivessem ido para o chamado patrimnio construdo. Agora isso no foi bom porque, do meu ponto de vista, essas verbas deveriam ter sido dirigidas para a parte agrcola, que a mais decisiva e que um dia vamos chorar o que j perdemos. Houve uma fase que talvez fosse difcil ser de outra forma, admito perfeitamente, mas talvez a partir de agora se deva tratar da terra. A terra que nos d de comer e que faz parte de saberes fantsticos que podem no futuro, do meu ponto de vista, requalificar a economia do interior. A grande qualidade do interior rural vai passar com certeza por uma requalificao agrcola, por uma revalorizao do patrimnio alimentar. No vai ser s mas tambm o monumento, o castelo, a runa...

    Poucos so os recursos patrimoniais que por si mesmos so capazes de atrair um elevado nmero de visitantes?

    No suficiente... Imagine uma pousada de luxo no interior... Se na hora das re-feies tem para oferecer o mesmo que qualquer restaurante de Lisboa dura um dia ou dois e acaba tristemente... No h gente, as pessoas j se foram embora. A paisagem uma paisagem habitada, tem gente dentro, isto fundamental. bidos, por exemplo, uma estrutura urbana das mais belas que temos no pas da poca medieval est muito bem mas no tem gente. A populao dali est fora, vive no bidos novo, nos apartamentos. Aquela jia arquitectnica foi esvaziada e portanto artificial... Foi o mais difcil que tivemos aqui em Mr-tola, segurar as pessoas dentro da vila velha. A questo esta: do meu ponto de vista, qualquer interveno de defesa do patrimnio , antes de tudo, uma interveno poltica. Porque para se decidir o que se quer fazer. Se no se quer impor, porque violento, tem de se fazer muito mais para que a popula-o se sinta bem onde est, o que implica, na maioria das vezes, investimentos incomparavelmente maiores. por isso que a interveno no patrimnio to complicada, pensando-se muitas vezes que vale mais ficar quieto. Tem de haver uma modernidade efectiva assumida e inteligente.

    Parece que apenas o turismo susceptvel de trazer novo destino s velhas construes? O que no deixa de ser sintomtico e redutor.

    O turismo cada vez mais visto como a panaceia de todos os males, mas temos de fazer uma anlise sociolgica muito mais complexa para perceber isto: 99 por cento da produo alimentar do interior para fornecimento do Litoral. Temos de perceber que o turismo no s o turismo de sol e praia, com as suas vantagens e inconvenientes, mas que no tem nada a ver com o turismo do interior, o chamado turismo rural, porque a funciona uma outra coisa: as actividades que as pessoas sabem fazer. Por isso ns aqui nos oposemos aos hotis das grandes cadeias nacionais ou internacionais que no trazem nada ao local. Mas, pelo contrrio, se o investimento feito no chamado turismo de habitao, em que so os proprietrios que recebem o turista na sua casa, vai criar-se uma outra dinmica. No se trata de uma simples venda mas o rece-ber um hspede que habitualmente deixa ficar mais do que dinheiro porque geralmente uma pessoa interessante, ou pelo menos mais interessante que aquela que vai para o turismo de sol e praia. Essas pessoas querem, por exemplo, uma verdadeira aorda. So questes como esta, pequeninas, que sofrem um cmbio brutal de qualidade. E isto que comea a ser aprendido em vrios stios. Por isso andamos tambm agora numa certa luta patrimonial, e temos feito alguns encontros interessantes na serra algarvia sobre culinria, coisas fantsticas que s aquelas mulheres sabem fazer e sempre fizeram mas que estava depreciadas.

    Assim, quem define onde e como intervir, j que a comunidade est cada vez mais afastada do processo de deciso? Ou, em ltima instncia, a quem pertence o patrimnio?

    complicado... So fenmenos de ideologia feitos principalmente na escola onde, muitas vezes, a criana ensinada a odiar a aldeia. o saber que no o saber escolar. Isso passa logo por uma modificao estrutural da escola. Agora tenta-se, comea-se a falar, abrir a escola comunidade mas os programas so perfeitamente citadinos, nada tm nada a ver com a realidade onde as escolas esto inseridas. Ns aqui, em Mrtola, fomos obrigados, porque j estamos aqui h 30 anos, a intervir. Crimos, h dois anos, uma escola profissional que funciona h j 15 anos, onde os jovens entram com o 9 ano, escolhem um dos trs cursos (Arqueologia; Tcnicas tradicionais de construo; Turismo cultural) e, no final, saem com o 12 ano e tcnicos em qualquer coisa. Ao princpio foi difcil mas pouco e pouco comeou a haver uma mudana, mais ainda quando comearam a ter trabalho. Praticamente 80 por cento destes jovens fica em-pregado. No o ideal, nunca nem nunca ser, mas de qualquer forma so pequenos passos.

    Foi assim, com pequenos passos, que Mrtola saiu do anonimato?

    Ns estamos aqui h 30 anos e portanto fomos aprendendo. Crimos uma associao [Campo Arqueolgico de Mrtola], logo um ou dois anos depois de c chegarmos e hoje temos oito ncleos museolgicos que tm a sua prpria vida e 15 a 20 mil visitantes por ano, o que uma carga razovel para uma vila com 1500 habitantes. Comemos com a escola profissional e agora demos o salto para o ensino superior. Precisamos de tcnicos super especializados e portanto temos de os formar. Primeiro, comemos por captar gente de fora para ter uma mquina suficientemente oleada, que est aqui a trabalhar nos seus mestrados ou doutoramentos, e neste momento j temos a funcionar um mes-trado em desenvolvimento local que uma mistura de economia com turismo para provar que cultura pode criar desenvolvimento. Para o ano, arranca um mestrado em desenvolvimento regional e, em simultneo, um doutoramento em civilizao islmica, em parceria com as universidades de vora e do Algarve e ainda com uma universidade da Tunsia e outra de Marrocos. At hoje, vivemos s de projectos de investigao da Fundao para a Cincia e a Tecnologia [Mi-nistrio da Cincia, Tecnologia e Ensino Superior], mas agora temos esta rede formativa que nos vai dar autonomia financeira e permitir aguentar o impacto do futuro prximo.

    Entrevista de Paula Matos dos Santos

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    O projecto Patrimnio Rural em Portugal: um contributo para o desen-volvimento sustentado do interior portugus, com incio em 2001, pretende estabelecer uma reflexo operativa sobre a problemtica da preservao do patrimnio rural em zonas votadas ao abandono. Atravs da investigao, promoveu-se o contacto entre a Universidade e as comunidades locais, nomeadamente as autarquias e as populaes envolvidas, procurando-se contribuir para a conservao do patrimnio rural e para gesto de actividades de interesse nacional, integrando-se num mbito mais alargado de promoo do desenvolvimento local. O projecto foi objecto de anlise no mbito da complementaridade entre a investigao cientfica integrada nos Departamentos da Faculdade de Arquitectura da Universidade Tcnica de Lisboa (FA-UTL) e a actividade pedaggica desenvolvida nos 4 e 5 anos e estgios acadmicos das Licenciaturas de Arquitectura, de Arquitectura da Gesto Urbanstica, de Arquitectura do Planeamento Urbano e Territorial e de Arquitectura de Interiores. Permitiu estudar uma realidade diferente daquela a que os alunos habitualmente tm acesso: o contacto com o mundo rural e o abandono do patrimnio, realidade oposta s reas onde geralmente habitam e estudam. Estabeleceu-se colaborao cultural didctico forma-tiva, numa fase inicial mais dirigida aos alunos das licenciaturas e estgio, com Cmaras e Gabinetes Tcnicos de Almeida, Guarda e Sabugal, Junta de Freguesia de Castelo Mendo, Universidade da Beira Interior, Direco Geral dos Edifcios e Monumentos Nacionais, e cooperao com algu-mas entidades estrangeiras como o caso da California Polytechnic and State University em Pomona, Califrnia, com investigadores na rea da antropologia, entre outros. O projecto foi financiado pela FA-UTL, encontrando-se ainda em desenvolvimento.

    Castelo Mendo e Sabugal: exemplos de estudo

    A investigao incidiu no patrimnio construdo em risco, prevendo a preservao e dinamizao de ncleos rurais caracterizados por fraca acessibilidade, despovoamento e abandono de elementos patrimo-niais. Seleccionaram-se dois exemplos de estudo na regio da Beira Interior: Castelo Mendo e Sabugal. Os exemplos seleccionados foram objecto de anlise histrica, arquitectnica, urbana e territorial, tcnico construtiva, social e econmica. Castelo Mendo encontra-se abrangido pelo Programa das Aldeias Histricas (da responsabilidade da CCDRC - Comisso de Coordenao e Desenvolvimento Regional do Centro), permitindo avaliar o processo de reabilitao em curso e oportunidade de aplicao noutros casos. A partir do caso do Sabugal esperou-se en-contrar uma metodologia de interveno especfica para ncleos rurais em processo de abandono e desenvolver estratgias para a reabilitao do patrimnio rural.

    Patrimnio rural em Portugal

    A pesquisa pretende ainda encontrar um terceiro ncleo em risco com um nmero muito reduzido de habitantes. Para tal foram analisadas algu-mas freguesias dos concelhos de Almeida, Guarda e Sabugal, tendo em conta o nmero de habitantes, a sua localizao (prxima da fronteira) e, ainda, a proximidade ou distncia s vias de principal acesso. A regio Centro representa 25% da superfcie de Portugal, apresen-tando uma posio estratgica nas ligaes entre o norte e o sul do territrio do Continente e no acesso Europa. Trata-se de uma regio com fortes desequilbrios de povoamento, onde sua densidade mdia de 72 hab./km2 correspondem densidades inferiores a 40 hab./km2 na maior parte dos concelhos do interior. A regio apresenta um elevado ndice de envelhecimento (28% superior ao nacional) e uma estrutura econmica com grande peso de uma agricultura pobre (produtividade na agricultura de apenas 2/3 da mdia nacional), forte incidncia das si-tuaes de pobreza, concentrando-se na regio Centro 26,9% dos 10% dos agregados familiares mais pobres do pas, baixos nveis de qualificao da populao, com uma taxa de analfabetismo elevada (14.5% na regio e 10.4% no pas), taxas de escolaridade no ensino bsico e secundrio relativamente baixas e elevado abandono final do ensino obrigatrio. Os concelhos onde se integram os ncleos estudados sofreram um decrs-cimo elevado da populao residente entre 1960 e 2001: Almeida e Sabugal de forma mais visvel (-45,81% e -59,12%, respectivamente) e o concelho da Guarda -7,49%. As freguesias de Vilar Formoso, Vale da Coelha, Vale da Mula (todas no concelho de Almeida) e Aldeia da Ribeira (Sabugal) so as que apresentam uma variao mais acentuada na ordem dos 90,26%, 89%, 76,87% e 83,12%, respectivamente.Tendo em considerao os excelentes resultados imediatos do Programa de Recuperao das Aldeias Histricas (1 de Janeiro de 1994 e 31 de Dezembro de 1999), do qual Castelo Mendo foi objecto de interveno infra-estrutural (recuperao de fachadas e de telhados das habitaes, arranjos urbansticos, melhoria das acessibilidades bem como benefi-ciao de monumentos), e assumindo-o como primeira medida funda-mental para a divulgao e salvaguarda do nosso patrimnio rural, muito permanece ainda por concretizar nomeadamente no que respeita s condies de conforto, higiene e salubridade no interior das habitaes. Uma interveno que melhorasse as condies de habitabilidade, aliada a iniciativas que promovessem a explorao das actividades produtivas tradicionais, poderia constituir um avano na direco da revitalizao do tecido econmico, produzindo condies para a criao de circuitos tursticos de qualidade, projectos que poderiam revelar-se eficazes no combate ao estigma da interioridade e ao despovoamento. Castelo Mendo actualmente uma aldeia em perigo, onde no existe retorno de populao mas com enorme potencial para o desenvolvimento do turismo rural.

    Incidindo no patrimnio construdo em risco, a investigao desenvolvida no mbito do projecto Patrimnio Rural em Portugal: um contributo para o desenvolvimento sustentado do interior portugus, apresenta uma proposta de avaliao de qualidade arquitectnica urbana e ambiental para a aldeia histrica de Castelo Mendo e o centro histrico da vila do Sabugal os dois exemplos de estudo seleccionados. O objectivo ajudar e complementar o processo de deciso entre preservar ou substituir edifcios, conjuntos de edifcios, espaos urbanos e ambientais e que destino ou modo de interveno mais indicados nestes lugares.

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    A vila do Sabugal, lugar tipicamente medieval, com um ncleo antigo cir-cunscrito por um anel de muralhas e coroada por um castelo e imponente torre de menagem de cinco quinas apresenta-se como um conjunto de elevado interesse patrimonial, quer pelo castelo e sua situao face paisagem, quer sobretudo pela relao, ainda intacta, entre o castelo, o permetro muralhado e as construes intra-muralhas, a maior parte das quais so ainda originais, apesar das sucessivas descaracterizaes a que este ncleo tem vindo a ser sujeito. O Plano de Salvaguarda e Valorizao da Vila e Centro Histrico do Sabugal tem como objectivo principal a criao de condies de vivncia e usufruto desta rea com a melhoria, valorizao e correcta gesto de todos os elementos que com-pem o centro histrico, de modo a transform-lo num plo dinmico da estrutura urbana e scio econmica da vila e do concelho. Esta vila permitiu ainda estudar o novo patrimnio rural, produto da emigrao e marca de um momento significativo para o desenvolvimento deste e de tantos outros ncleos. Cabe ainda reflectir sobre este patrimnio e estabelecer critrios de salvaguarda de acordo com as recomendaes internacionais.A investigao apresenta uma proposta de avaliao de qualidade arqui-tectnica e urbana e ambiental, com incidncia na aldeia histrica de Castelo Mendo e no centro histrico do Sabugal. O processo consiste em identificar os valores intrnsecos que a rea em causa apresenta e classific-los de forma a permitir uma escolha informal sobre os mtodos de conservao a aplicar. Esta avaliao tem, ento, como objectivo ajudar e complementar o processo de deciso entre preservar ou substituir edi-fcios, conjuntos de edifcios, espaos urbanos e ambientais e que destino ou modo de interveno mais indicados nestas aldeias e vilas. Atravs da metodologia apresentada foi-nos possvel estruturar propostas de actu-ao para os estudos de casos seleccionados na zona da Beira Interior. A metodologia de interveno em zonas histricas a preservar constitui um dos objectivos da investigao proposta pelo projecto de investigao, pelo que consideramos que os resultados propostos inicialmente foram atingidos. A necessidade de continuar a aprofundar as matrias aqui estudadas clara, e nosso intuito continuar a esta tarefa.

    Margarida MoreiraProfessora Associada, Faculdade de Arquitectura da Universidade Tcnica de Lisboa

    Catarina CamarinhasAssistente, Faculdade de Arquitectura da Universidade Tcnica de Lisboa

    Ncleohistricodosabugal:Foto1-Fa/uTL,4anoaPuT,anolectivo001/00;Foto-aMaraL,FranciscoKeildo;LObO,JosHuertas;MaLaTO,JooJos;arquitecturaPopularemPortugal;associaodosarquitectosPortugueses(ed.);edio,Lisboa,1980

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    eMDEsTaquE

    Que definio devemos atribuir ao termo Patrimnio. , sem dvida, um legado de geraes, uma herana individual ou colectiva que tanto pode ser entendida como um legado especfico constitudo por um conjunto de bens que nos foi entregue pelos nossos antepassados, como a entregue aos nossos vindouros. Este sentido de transmisso e ligao entre gera-es o denominador comum para a responsabilidade de todos ns na salvaguarda e proteco do patrimnio. Falar de Patrimnio tambm falar de reconhecimento pblico que faz parte de uma identidade colecti-va e que por assim ser deve ser valorizado e defendido merecedor do reconhecimento da comunidade e das instituies. O patrimnio construdo , sem dvida, o legado mais visvel nos nossos territrios que se depara hoje com novos desafios resultantes sobretudo de conceitos e de escalas de actuao. Os conceitos e as novas escalas de actuao remetem para a prpria paisagem, ou seja para o territrio enquanto patrimnio cultural. Deixou de fazer sentido falar de edifcios isolados mas sim em reas envolventes, alargando o leque a conjuntos e stios que incluem os centros histricos e paisagens culturais como lugares e elementos de interesse de cariz tradicional como exemplos concretos um muro uma eira ou uma simples fonte. Esta mudana de escala do objecto patrimonial , no meu entender, fundamental para o entendimento de aces concertadas territoriais onde as associaes de desenvolvimento local devem ter uma palavra a dizer.A necessidade de defender o patrimnio legado por geraes dos pe-quenos aglomerados rurais de construes despojadas e frgeis de cariz simplista mas extremamente eficaz no que se refere a singularidade, originalidade e genuinidade, como na forma criativa de gerar formas e volumes definindo espaos nicos traz-me sempre memria a ar-quitectura feita pelos no arquitectos (Arquitectura Verncula). um caminho que deve ser dado na salvaguarda e defesa de mo dada com o patrimnio paisagstico.

    Patrimnioesquecido

    O legado de geraes na construo da paisagem

    Existe um reconhecimento crescente pela conservao e proteco deste Patrimnio (Arquitectura Verncula) como parte do patrimnio cultural que tem crescido nos ltimos anos. Mas no podemos proteger sem entender quais so as qualidades que fazem destas construes, despojadas e frgeis, parte do patrimnio cultural. Este legado, um incontornvel contributo para a reconstruo dos nos-sos territrios enquanto recurso estratgico de desenvolvimento local. Deve ser prioritrio na aco e actuao dos Grupos de Aco Local (GAL) do programa LEADER no s enquanto actores de desenvolvi-mento local como tambm na sua transversalidade de actuao para as comunidades rurais do ponto de vista sociocultural, na preservao da memria colectiva na afirmao dos territrios, no delineamento de estratgias regionais e territoriais, na fixao de populaes, na produ-o de riqueza (desde turismo e construo civil), devendo no s por isso mas tambm encarada como um das reas com maior potencial de investimento estratgico do nosso pas.

    Seis fundamentos para o contributo LEADER no seu territrio: Identificar o legado do patrimnio rural existente neste vasto

    territrio nacional procurando sensibilizar sobre estes valores patrimoniais uma memria do nosso tempo em risco;

    Alertar para os perigos da destruio rural, sombra de prticas e de polticas arbitrrias dos diferentes organismos locais e nacionais;

    Divulgar a arquitectura feita por no arquitectos reconhecendo nela como parte de um patrimnio cultural que se exige em con-servar e proteger num passado de memrias despojadas e frgeis em risco;

    Assumir o trabalho desenvolvido no terreno perante uma in-diferena generalizada das pessoas, e a preocupante escalada de interesses adversos e cmplices de uns e de outros, sob pena de todos ns, destruirmos a nossa memria viva;

    Contribuir para a cultura patrimonial, promovendo o reconhecimen-to pblico de intervenes que constituam peas significativas no enriquecimento do nosso patrimnio arquitectnico em risco;

    Estimular a interveno crtica com Arquitectos, Arquelogos, Historiadores, Paisagistas (mas no s com eles) de um passado que procura hoje uma identidade de um territrio, constitudo de memrias diversas, sustentados numa paisagem que se encontra em risco.

    Por tudo isso, entendo que um desafio enquanto actores do mundo rural, seremos ou no dignos da herana patrimonial que nos foi legada. Aquela que em todos os momentos est em construo como factos culturais fundamentais para a nossa vivncia contempornea e como uma mais-valia para a qualidade de vida das nossas comunidades.

    Rui Serrano Arquitecto

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  • N45-007|pessoas e lugares 9

    Alto Cvado

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    TerriTriOs

    Amares, Pvoa de Lanhoso, Terras de Bouro e Vila Verde. Quatro con-celhos que constituem o territrio Alto Cvado, Zona de Interveno (ZI) da ATAHCA - Associao de Desenvolvimento das Terras Altas do Homem, Cvado e Ave. Um total de 128 freguesias integradas no distrito de Braga, ao longo de uma extenso de 717,3 km2, assimetricamente repartidos pelas NUT III Cvado (Amares, Terras de Bouro e Vila Verde) e Ave (Pvoa de Lanhoso).O territrio encontra-se delimitado a norte pelo concelho de Ponte da Barca, a nordeste e este pela Espanha (Galiza), a sudeste pelos concelhos de Vieira do Minho e Fafe, a sul por Guimares e Braga, a sudoeste e oeste por Barcelos, e a nordeste pelo concelho de Ponte de Lima.Ao nvel orogrfico est segmentado em trs sub-zonas distintas: vrzea, meia-encosta e montanha, cujos pontos mais importantes, em termos de altitude, so as serras Amarela (1216m) e Gers (1507m). O territrio ainda atravessado por diversos e importantes cursos de gua, como os rios Homem, Cvado e Ave, alm de um conjunto de outros pequenos rios. Apresenta uma constituio geolgica de origem grantica, beneficiando de clima marcadamente atlntico, fruto da proximidade litoral, que origina um regime pluvioso e inconstante ao longo do ano (1800-2800 ml/m2), com humidade relativa considervel e temperaturas mdias amenas. No captulo das acessibilidades, encontra-se razoavelmente favorecido. Servido a nvel interno por vrias estradas nacionais, o Alto Cvado bene-ficia da proximidade A3, que se situa a 2 km do limite do territrio, e tambm da estao de caminho de ferro, da qual dista 12 km. O aeroporto e porto de mar localizam-se a 60 km, na cidade do Porto.Em termos demogrficos, os 96.078 habitantes que os Censos de 2001 assinalam para o territrio representam um crescimento de cinco por cento

    em relao a 1991 (91.693 habitantes). Valores de crescimento populacional que, mesmo assim, so inferiores aos apresentados pelas NUT da regio: Cvado (10%) e Ave (8%). No captulo das variaes populacionais regista-se uma forte assimetria entre os quatro concelhos. Amares o principal propulsor do crescimento do territrio (10,8%). Pvoa de Lanhoso (5,8%) e Vila Verde (5,7%) seguem a mesma tendncia. No sentido contrrio, o concelho de Terras do Bouro regista uma descida de 11,2 por cento. Na ltima dcada, 43 por cento das 128 freguesias do territrio perderam popu-lao. Destas, 31 (24%) perderam mais de 10 por cento dos seus efectivos. Freguesias que correspondem maioritariamente a zonas mais montanhosas, com populao idosa e onde predomina a actividade agrcola. No sentido inverso, e segundo dados do Instituto Nacional de Estatstica (INE), apenas sete ncleos populacionais (freguesias) excedem os 2000 residentes.Em 1997, o territrio apresentava uma densidade populacional de 134 habitantes por km2, o que corresponde a uma variao de 4 por cento em relao a 1991. Em termos de classes de idades, a ZI da ATAHCA regista um ndice de envelhecimento de 66 por cento. Mais uma vez, Terras de Bouro o concelho mais atingido, registando 103 por cento neste ndice. No plo oposto, Vila Verde o concelho menos atingido (51%).No captulo da educao, de acordo com os Censos de 2001, os quatro concelhos da ZI apresentam uma taxa de analfabetismo com valores superiores aos 7,7 por cento da NUT Ave e os 7,6 por cento do C-vado. O concelho mais atingido por este fenmeno Terras de Bouro, com 15,6 por cento. Seguem-se Vila Verde (11,9%), Pvoa de Lanhoso (11,7%) e Amares (10,8%). O ndice de prevalncia do ensino primrio, que apresenta valores na ordem dos 58 por cento, tambm revelador dos baixos nveis de instruo na ZI.Ao nvel das actividades econmicas, a percentagem de populao activa no territrio de 36 por cento. Valor consideravelmente abaixo das NUT III Cvado (44%) e Ave (48%), ou mesmo da regio Norte (43%). Segundo dados de 1991, o sector primrio emprega 21 por cento da po-pulao empregada da ZI. Valor muito acima dos 10 por cento registados no Cvado ou dos quatro por cento encontrados no Ave. Apesar dos valores elevados, a percentagem de populao empregada na agricultura registou uma acentuada descida de 41 por cento entre 1981 e 1991.

    Homem, Cvado e Ave. Trs bacias hidrogrficas que atravessam diagonalmente um territrio marcado pela gua e orografia inconstante. O Parque Nacional da Peneda-Gers o baluarte do ambiente num territrio onde tambm abunda o patrimnio cultural, histrico e arquitectnico.

  • 10 pessoas e lugares |N45-007

    TerriTriOs

    Zona de Interveno LEADER+

    Tambm o nmero de produtores agrcolas do Alto Cvado desceu 38 por cento entre 1989-99, confirmando a perda de importncia econmica desta actividade na regio. Ao mesmo tempo, a anlise dos produtores agrcolas de acordo com os escales etrios confirma que o escalo domi-nante o dos produtores com 65 ou mais anos (33%) e o menor o dos agricultores mais jovens (

  • N45-007|pessoas e lugares 11

    Jos Antnio da Mota AlvesCoordenador

    Co-autor do Plano de Desenvolvimento Agrrio Regional (PDAR) do Alto Cvado, Jos Antnio da Mota Alves um dos

    fundadores da ATAHCA. Criada a associao, de que scio n-mero um e presidente da direco, continua como vereador da Cmara de Vila Verde at 2002, altura em que passa a dedicar-se inteiramente ATAHCA. Convicto do trabalho desenvolvido pela associao, v o futuro com alguma preocupao. Natural e residente de Pico de Regalados (Vila Verde) considera-se tambm um agricultor, produzindo vinho e quivi.

    Paulo Jorge Cristina PereiraTcnico

    Na ATAHCA desde 1992, Paulo Pereira, licenciado em Engenharia Zootcnica pela UTAD, tem vindo a seguir a evoluo da

    associao, fazendo o acompanhamento de projectos no mbito dos programas LEADER I, LEADER II, LEADER+, Centro Rural e Medida Agris. Ainda que se considere essencialmente um tcnico de terreno, encontra-se, ultimamente, mais envolvido na gesto e controlo financeiro dos mesmos. Quanto ao futuro, no v as coisas muito fceis para dar continuidade ao trabalho no esprito do LEADER. Nascido em Vila Real, adoptou Braga para morada.

    Jos Carlos MartinsTcnico

    Licenciado em Arquitectura (Universida-de Lusada, Porto), Jos Carlos Martins est na ATAHCA desde 2002. Entrou

    para elaborar cinco candidaturas Medida Agris, tendo ficado responsvel pelo acompanhamento de trs dos quatro PI (Planos de Interveno) aprovados. Tcnico de acompanhamento dos projectos do LEADER+ , neste momento, o responsvel pelo levantamento de todo o patrimnio construdo que a associao est a fazer no territrio de interveno e que dar lugar a um guia de boas prticas, enquadrado no Vector 2 do LEADER+. Nascido em Terras de Bouro tem residncia na Maia.

    Susana PachecoTcnica

    Natural de Vila Verde, residente em Bra-ga, licenciada em Relaes Internacionais (Universidade do Minho), Susana Pacheco

    encontra na ATAHCA o seu primeiro emprego, como tcnica do Centro Rural. Passados dois anos, em 2001, assume as funes de coordenadora pedaggica, respondendo pela formao profis-sional da associao. Uma rea com peso crescente na ATAHCA onde a principal preocupao tem sido fazer candidaturas de acordo com as necessidades locais de emprego. Ainda que a integrao profissional no seja fcil, sublinha os resultados evidentes ao nvel da auto-estima.

    Luciano BarrosTcnico

    Luciano Barros, natural de Vila Verde, entra na ATAHCA em 1997 com o curso superior em Relaes Pblicas (Univer-

    sidade Fernando Pessoa - Unidade de Ponte de Lima) como estagirio. Passando a acompanhar os projectos LEADER II, acaba por se ocupar quase em exclusivo dos projectos da rea da cooperao, entre os quais destaca: Clube Biored, Rotas Maria-nas e Eco-Rede de Museus Vivos, no Vector 2 do LEADER+, e Rotas do Linho e do Ouro, no mbito da Iniciativa Equal.

    Ftima MotaTcnica

    Natural de Vila Verde, Ftima Mota chega ATAHCA em Outubro de 1998. Com o curso superior em Gesto Comercial

    e Contabilidade (Universidade Fernando Pessoa - Unidade de Ponte de Lima), encontrou na ATAHCA a possibilidade de exer-cer funes na rea que realmente lhe interessava, assegurando a contabilidade dos projectos e da associao. Ainda que no considere nada muito difcil, sublinha a especificidade de cada um dos programas.

    Estela FernandesTcnica administrativa

    Chegou ATAHCA para fazer um estgio profissional do Centro de Emprego e ficou. J l vo nove anos. Nascida na Ve-

    nezuela regressa a Amares, com 13 anos de idade, completando o ensino secundrio na rea do turismo, via tcnico-profissional. Assegurando as funes administrativas da associao, a cara e a voz da associao e o elo de ligao de toda a equipa. Aca-lentando o sonho de voltar um dia a Caracas, d-se por feliz por ter encontrado um lugar onde se sente muito bem.Textos de Paula Matos dos Santos

    ATAHCAassociaodeDesenvolvimentodasTerrasaltasdoHomem,Cvadoeave

    Equipa Tcnica do GAL

    PDLLEaDEr+

    Valorizar os recursos naturais e culturais

    rgos sociaisAssembleia Geral: Presidente Cmara Municipal de Pvoa de Lanhoso | Vice-presidente Cmara Municipal de Vila Verde | Secretrio CAVIVER - Co-operativa Agrcola de Vila Verde | Direco: Presidente Jos Antnio da Mota Alves | Vice-presidente Cmara Municipal de Amares | Vice-presidente Cmara Municipal de Terras de Bouro | Secretrio Francisco Antnio Pereira Alves | Secretrio adjunto Regio de Turismo do Alto Minho | Tesoureiro Manuel Aguiar Campo | Tesoureiro adjunto Associao de Criadores de Equinos de Raa Garrana | Conselho Fiscal: Presidente Caixa de Crdito Agrcola Mtuo de Vila Verde | Relator AMIBA - Associao do Minho dos Criadores de Bovinos da Raa Barros | Secretrio COPACA - Cooperativa dos Produtores Agrcolas do Concelho de Amares

    AssociadosPblicos Cmara Municipal de Vila Verde Cmara Municipal de Amares Cmara Municipal de Terras de Bouro Cmara Municipal da Pvoa de Lanhoso Regio de Turismo Alto Minho Regio de Turismo Verde Minho Parque Nacional da Peneda-Gers | Privados COPACA - Cooperativa dos Produto-res Agrcolas de Amares COPALA - Cooperativa Agrcola da Pvoa de Lanhoso COATEB - Cooperativa Agrcola de Terras de Bouro Cooperativa Agrcola de Vieira do Minho CAVIVER - Cooperativa Agrcola de Vila Verde Cooperativa Agrcola de Valdozende Caixa de Crdito Agrcola Mtuo de Amares Caixa de Crdito Agrcola Mtuo de Vila Verde e Terras Associao do Minho de Criadores de Bovinos de Raa Barros Associao dos Vitivinicultores de Amares Adega Cooperativa de Vila Verde, Amares, Terras de Bouro e Pvoa de Lanhoso Aliana Artesanal Clube de Caa e Pesca de Vila Verde Centro Social e Paroquial de Covide Associao de Criadores de Equinos de Raa Garrana Clube de Caa e Pesca de Amares Sociedade Vincola Entre Homem e Cvado, Lda Pedras Brancas - Desenvolvimento, Turismo, Artesanato e Servios FIALINHO - Associao dos Produtores de Linho do Entre Douro e Minho Calcednia - Fundao para o Desenvolvimento Rural Associao de Caa Lago Jnior Solar das Bouas - Sociedade Vitivincola, S.A. | Individuais (17)

    Reinventar um futuro para o mundo rural. Para que tal seja possvel, a ATAHCA tem vindo a dotar a Zona de Interveno (conce-lhos de Amares, Pvoa de Lanhoso, Terras de Bouro e Vila Verde) de todos os instru-mentos necessrios e imprescindveis.Quando foi fundada, em 1991, o LEADER I era o nico programa no horizonte. Mas, rapidamente, a associao passou imple-mentao de outros projectos e iniciativas, diversificando o seu leque de actividades,

    considerando no s os objectivos que presidiram sua constituio, mas tambm as necessidades das populaes locais, como refere o presidente da ATAHCA, Jos Antnio da Mota Alves. O LEADER I teve um peso importantssimo. Este programa permitiu comear a preparar o terreno para fazer este tipo de interveno mais alargada. No houve muito tempo para consolidar ideias mas comemos a identificar um conjunto de necessidades e planear uma estratgia que se reflecte no PAL [Plano de Aco Local] do LEADER II e PDL [Plano de Desenvolvimento Local] do LEADER+. Seguindo uma estratgia de continuidade, a ATAHCA hoje em dia reconhecida por actuar em diversas reas. Para alm da gesto dos programas LEADER, a ATAHCA dinamizou o Centro Rural Encostas de Mixes da Serra, no quadro do PPDR (Programa do Potencial de Desenvolvimento Regional), foi a entidade res-ponsvel pela implementao de 11 PI (Planos de Interveno), no mbito da Medida Agris, contribuindo para a valorizao do patrimnio construdo (imveis, azenhas, moinhos, lagares, eiras, espigueiros, palheiros, fojos do lobo, casarotas, relgios de sol, cruzeiros, alminhas, etc.), e melhoria das condies de vida das populaes, e coordena, actualmente, o projecto Rotas do Linho e do Ouro, no mbito da Aco 2 da Iniciativa Equal.Na rea da formao profissional, cujo peso tem vindo a aumentar nos ltimos anos, a associao tem vindo a organizar aces forma-tivas de reciclagem e de aprendizagem no mbito do LEADER (de

    curta durao para dar competncias aos promotores de projectos de turismo), POEFDS Programa Operacional de Emprego, For-mao e Desenvolvimento Social (geriatria, construo civil, etc.), AGRO (agricultura biolgica, viticultura, empresrios agrcolas, operadores de mquinas agrcolas, etc.), PEPS Programa de Emprego e Proteco Social (artesanato) e Centro de Emprego, s quais se juntam ainda os cursos de educao e formao de adultos (Cursos EFA), atravs do Centro de Reconhecimento e Validao de Competncias (CRVCC), designados entretanto Centros Novas Oportunidades, procurando sempre responder s necessidades locais de emprego, numa estreita ligao com as entidades do territrio (potenciais empregadores). Para o presi-dente da ATAHCA, o mais importante so os resultados atingidos ao nvel da empregabilidade, referindo que cerca de 65% dos formandos esto a trabalhar, o que considero muitssimo bom no panorama nacional. Mas tal deve-se tambm, sublinha, forte ligao que mantemos com os formandos em orientao e aconselhamento, que passados quatro ou cinco anos continuam a vir c com alguma regularidade.Na formao profissional, como no resto, tentamos que seja um trabalho de desenvolvimento continuado que tem como meta o desenvolvimento integrado do territrio, razo pela qual a nossa interveno to diversificada, afirma Antnio Jos da Mota Alves revelando alguma preocupao relativamente ao futuro da ATAHCA. Temos um excelente relacionamento com as entidades da regio, existem neste momento algumas ideias, mas preciso criar condies para garantir a continuidade da associao com sustentabilidade para alm dos programas e iniciativas comunitrias.

    aTaHCaR. Condestvel D. Nuno lvares Pereira, 356/3804730-743 Vila VerdeTelefone: 253 321 130 / Fax: 253 323 966E-mail: [email protected] / www.atahca.pt

    Ambiente, patrimnio e sistemas produtivos. O tema do Plano de Desenvolvimento Local (PDL) LEADER+ da ATAHCA, conside-rado agregador das potencialidades e ambies da regio, em articulao com o tema federador do LEADER+ Valorizao dos recursos naturais e culturais, traduz a estratgia do Grupo de Aco Local (GAL) do Alto Cvado, baseada no conceito de de-senvolvimento horizontal e relaes de proximidade, em contacto directo e permanente com a populao local, tentando avaliar as suas necessidades e corresponder aos seus anseios e desejos. Tendo em considerao as potencialidades e os estrangulamentos da regio, o PDL LEADER+ da ATAHCA acolhe um conjunto de objectivos gerais: sensibilizar a populao e os agentes locais a promover a preservao e a valorizao do meio natural, patri-monial, cultural e a qualificao do territrio; contribuir para a reorientao da actividade agrcola, atravs da valorizao dos produtos locais, do saber-fazer tradicional, da conservao da paisagem rural e da diversificao de actividades agro-ambientais; reforar os mecanismos de formao e informao da populao, atravs a melhoria dos servios de apoio e proximidade; mobilizar

    as capacidades empreendedoras e inovadoras, de maneira a que possam surgir novos modelos e sistemas que permitam fortalecer, dinamizar e diversificar o tecido socioeconmico, a participao activa e a organizao os agentes locais; reforar a competitividade, a melhoria da qualidade da oferta, a diversificao e promoo de produtos e de mercados, a qualificao dos recursos humanos, a potenciao das comunicaes e a circulao da informao; promover e estabelecer relaes de proximidade entre as enti-dades pblicas e privadas que se identifiquem com o modelo de desenvolvimento proposto mediante aces de cooperao e intercmbio de experincias. At 31.12.2006, a associao aprovou n o mbito do Vector 1 (Desenvolvimento Rural) 83 projectos na Medida 1 (Investimentos) e 21 na Medida 2 (Aces Imateriais). Considerando as despesas de funcionamento do GAL (Medida 4), o total global de investimento aprovado de 4.059.058,35 euros. No Vector 2 (Cooperao), mesma data, contam-se cinco projectos de cooperao inter-territorial e quatro de cooperao transnacional, num total de investimento aprovado de 306.597,94 euros.

  • 1 pessoas e lugares |N45-007

    para dormir

    para comer

    para visitar

    para levar

    TerriTriOs

    umfim-de-semananasTerras Altas do Homem, Cvado e Ave

    Um percurso Mariano

    Vila Verde uma vila cosmopolita e efervescente. Pode facil-mente ser o centro da sua descoberta de toda a regio e por isso que lhe sugiro que, a partir da, se decida por explorar as Encostas de Mixes da Serra, um prolongamento da Serra Ama-rela, contguo ao Parque Nacional da Peneda-Gers. O percurso indispensvel pela permanente descoberta de uma natureza exuberante, aqui e ali polvilhada por pequenas povoaes ru-rais de uma integridade arquitectnica invulgar e onde poder encontrar locais nicos para permanecer muito para alm de um vulgar fim-de-semana. Percorrer as estradas de montanha rodeado de lameiros, de carvalhos e castanheiros, vislumbrando pachorrentas manadas de garranos e incontveis rebanhos de cabras, uma experincia que julgamos impossvel e que est ali, to prxima e impressionante. No deixarei de lhe sugerir que reserve na agenda a data de Santo Antnio. Os povos da montanha, devotos do Santo, erigiram-lhe um inslito santurio e todos os anos ali levam os seus animais para serem benzidos e livres de perigo. Uma cerimnia impressionante que deve ser vista ao menos uma vez na vida. Mas se no for l no Santo An-tnio no deixe de visitar o santurio. Sente-se num dos muros do largo adro fronteiro e imagine a f, a devoo, o esforo e toda uma cultura dos povos de montanha que ali, mais junto do cu, se irmanam com a natureza e com o sobrenatural.Tome depois o caminho de Brufe e da Barragem de Vilarinho das Furnas, penetrando num mundo mais agreste mas no menos belo do que at aqui. Atravesse a barragem e recorde a memria da povoao que lhe deu o nome e que jaz debaixo das guas, para seguir em direco a Covide e descer, mais tarde at So Bento da Porta Aberta. Mesmo que o motivo que lhe proponho sejam os centros marianos, no lhe faltaro razes para deter a sua marcha. Diria que seria imperdovel no se deter no Museu Etnogrfico de Vilarinho das Furnas, que preserva a memria da antiga povoao e que um repositrio da cultura do Gers.So Bento da Porta Aberta no ser, seguramente, o santurio mais rico em termos arquitectnicos, mas tem o privilgio de ser um dos mais visitados do pas. Durante o Vero, principalmente em meados de Agosto, ali se deslocam de todo o Minho milhares de peregrinos, muitos deles percorrendo os velhos caminhos em longas peregrinaes a p. E um local onde encontrar moti-vos para apreciar a rica gastronomia do Minho ou encontrar os muitos produtos agrcolas e artesanais do local. Tome a seguir o rumo da Senhora da Abadia pelo caminho do Formigueiro onde a tradio diz ter sido encontrada a imagem de S. Bento. A Via Sacra e o Mosteiro da Abadia, com o seu bosque frondoso, so motivo para uma longa demora e o restaurante local referen-

    As gentes do Minho so alegres e crentes. A sua devoo a Maria est patente nas inmeras capelas e santurios que povoam montes e vales. A devoo, a homenagem, a orao, esto sempre ligadas festa, fartura, confraternizao. As romarias no Minho, os espaos de devoo a Maria, so elementos indispensveis para conhecermos a alma minhota. Para contemplarmos a paisagem inebriante de verde, para observarmos o patrimnio construdo de sculos, para percebermos a cultura popular, para apreciarmos a sua riqussima gastronomia e o seu artesanato.

    ciado a nvel nacional pela excelncia da sua gastronomia. No caminho pode relembrar uma quadra popular que reza assim: Perdoai S. Bentinho / Que nos vamos pr Abadia / Para o ano c tornamos / Quando for o vosso dia.Desa depois para Santa Maria do Bouro e no deixe de visitar o antigo convento cisterciense, com a sua rica igreja. Da runa quase completa do mosteiro se fez uma das pousadas mais emblemticas deste pas, merc do trabalho do arquitecto Souto Moura. Merece uma visita para apreciar a forma como se podem criar ambientes modernos em total respeito pela memria e tradio.Regresse a Vila Verde e, s suas portas, visite o imponente San-turio da Senhora do Alvio, outro dos muitos espaos votivos devoo de Maria. Rume depois Pvoa de Lanhoso. entrada, no pode perder uma subida ao castelo, imponente, alcandorado num enorme rochedo grantico. De l se vislumbra uma imensa paisagem, como se sobrevossemos um dos mais caractersticos recantos minhotos. Deixe-se conquistar pelas lendas da fundao da nacionalidade e imagine a vontade frrea de D. Afonso Hen-riques na criao do reino de Portugal, que o levou a encarcerar naquele espao sua me e opositora, D. Teresa. Proponho-lhe que rume depois ao Santurio de Porto dAve, na freguesia de Tade. No posso deixar de lhe sugerir, pelo caminho, que se detenha em Fonte Arcada, para contemplar a belssima igreja romnica, uma pea de grande significado arquitectnico. Recorde ali a origem da revoluo da Maria da Fonte, sublevao popular que procurou lutar no sc. XIX contra a proibio do enterramento dentro das igrejas. E, j que est em terras da filigrana de ouro, no perca a oportunidade de visitar o Museu do Ouro, em Travassos, um espao museo-lgico nico de memria e de revitalizao de uma tradio local, minhota e nacional.O Santurio de Porto dAve uma surpresa para quem o des-cobre. Imitando o Santurio do Bom Jesus do Monte, com o seu escadrio e capelas evocativas da vida de Cristo, recentemente restaurado, revela a sua grande riqueza barroca do sc. XVIII. Respira-se imponncia, aliada exuberncia da agricultura frtil e verdejante do Minho. Pessoalmente, um dos espaos que mais me impressionam neste percurso que vos proponho. Mas reconheo, e digo-o mais uma vez, que em todos os santurios referidos me senti mais perto da natureza e do sobrenatural. Uma natureza e um sobrenatural pujantes de alegria, como s o Minho pode evidenciar.

    Francisco Botelho

    CasasdeCampo*(TEr)Casadaurze, Casadasequeiradurjal; Casadasseisirms AmaresCasadasEirasdeCarreira, CasadaCapeladorebelo Pvoa de LanhosoCasadoantana, CasadoTum, CasadavGlria, CasadoLages, Casadabeatrizeins, CasadoCapito; CasadoGaio; Casadosbernardos; Casadoalexandre, CasadoPostigo, CasaquintadaDomingas, CasadaCalada Terras de BouroCasadaNbrega, CasadaFonte; CasadaCapucha Vila Verde* Informaes e Reservas: ATAHCA Tel. 253 321 130; www.atahca.pt

    restauranteachurrasqueiradeCaldelasAv. Afonso Manuel, Caldelas Amares Tel. 253 361 236 restauranteOVitorS. Joo de Rei Pvoa de Lanhoso Tel. 253 909 100CantinhodoantigamenteLugar de S, Covide Terras de Bouro Tel. 253 353 195 restauranteTorresPonte S. Vicente Vila Verde Tel. 253 361 619restauranteatocadoloboAboim da Nbrega Vila Verde Tel. 253 341 326

    amares: Aldeias de Ramalha, Urjal e Ch Grandeamares: Mosteiros de Rendufe e St Maria de Bouro, Termas de Caldelas, Mosteiro da Abadia, Casa da Tapada, Ponte do Porto, Ponte de RodasPvoadeLanhoso: Castro de Lanhoso, Centro Interpretativo do Carvalho de Calvos, Museu do Ouro; Museu de Arte Sacra, Aldeias de Carreira, Moure e Porto DAvePvoadeLanhoso: Igreja de Fontarcada, Castelo de LanhosoTerrasdebouro: Aldeias de Brufe, Cutelo, Covide e St Isabel do MonteTerrasdebouro: Parque Nacional Peneda-Gers, Geira Romana, Museu de Vilarinho da Furna, Cruzeiro de S. Joo de Campo, Termas do Gers, S. Bento da Porta Aberta, Albufeiras da Caniada e Vilarinho da FurnaVilaVerde: Aldeias de Casais de Vide, Pequenina, Gondomar e St Antnio de Mixes da Serra, Fojo do Lobo, Ecomuseu de Aboim da NbregaVilaVerde: Encostas de Mixes da Serra, santurios do Alvio e do Bom Despacho, Ponte de Prado

    amares: ferro forjado (Amararte)amares: cermica; vinho verde e espumante (Cooperativa Agrcola do Alto Cvado; Casa da Tapada Amares), Laranja de AmaresPvoadeLanhoso: Queijos de cabra (Qt dos Moinhos Novos)PvoadeLanhoso: bordados e tecelagem cestaria; filigrana (Travassos e Sobradelo da Goma), Vinho Verde (Quinta do Minho, Quinta Villa Beatriz)Terrasdebouro: bordados, tecelagem em linho e l, artesanato em madeira, plantas medicinais e mel do Gers (Pedras Brancas Covide); trabalhos em madeira (Antnio Carvalho); plantas medicinais, hortcolas, frutos secos, mel do Gers, compotas, licores e doces tradicionais (Calcednia Covide)Terrasdebouro: produtos biolgicos (Associao dos Produtores Biolgicos de Terras de Bouro Moimenta)VilaVerde: bordados e tecelagem (Aliana Artesanal; Associao Cultural, Recreativa e Musical de Aboim da Nbrega); trabalhos em madeira (Joaquim Marques); trabalhos em vime (Irmos Gama)VilaVerde: cermica pintada mo, produtos biolgi-cos (Associao dos Produtores Biolgicos de Vila Verde)

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  • N45-007|pessoas e lugares 1

    eMDEsTaquE

    O projecto Os Ambientes do Ar, apresentado pela Adices - Associa-o de Desenvolvimento de Iniciativas Culturais, Sociais e Econmicas e promovido pelo municpio de Tondela, e objecto de financiamento pblico no mbito da medida AGRIS, Aco 7 Valorizao do Ambiente e do Patrimnio Rural, subaco 7.1 Recuperao e Valorizao do Patrimnio Natural, da Paisagem e dos Ncleos Populacionais em Meio Rural da Adices, est estruturado em torno de duas componentes: os moinhos e a antiga escola primria. Os primeiros interligados por uma histria so plo de atraco, consubstanciado pelo edifcio escolar, transformados em centro de interpretao plurifuncional.Considerando toda a envolvente natural, cultural, tradicional e turstica que circunda a Serra do Caramulo em geral e a aldeia de Souto Bom em particular, foi elaborado um projecto que quer valorizar os recursos endgenos e estruturar a economia local; qualificar o sistema rural numa perspectiva de desenvolvimento sustentvel; recuperar e preservar as diferentes formas de patrimnio rural e histrico-cultural; criar condies efectivas para a dinamizao turstica da regio; e aproveitar os recursos patrimoniais como factores de desenvolvimento local.No que respeita s intervenes realizadas em torno dos moinhos, aps avaliao do estado de degradao, pretende-se requalificar oito dos 13 moinhos existentes. Nalguns edifcios quer manter-se a funcionalidade inicial ligada moagem dos cereais, enquanto que outros sero transfor-mados em pequenos ncleos de interpretao com reas to diversas como o sistema solar, os tipos de energia, a reciclagem, etc. O espao exterior envolvente ser intervencionado de forma a facilitar o acesso aos moinhos em segurana.

    Os moinhos de gua

    Os moinhos de gua surgem como forma de rentabilizar uma das maiores riquezas naturais da zona de interveno da Adices, a gua. Apesar de nenhum dos muitos cursos de gua da regio ser navegvel, o Homem sempre recorreu a este meio para uso domstico, recolha de alimento e sustento da actividade agrcola. Ainda hoje frequente encontrarmos algumas construes humanas, tais como levadas (desvios dos cursos de gua com vista irrigao dos campos) e moinhos de gua, que em muitos casos se encontram em avanado estado de degradao.Os engenhos so construes antigas com uma morfologia arquitectnica prpria e caracterstica da actividade a que se destinavam, neste caso a moagem de cereais. Na sua construo recorria-se sobretudo a matrias--primas locais, como o granito e a madeira, e a tecnologias tradicionais. Na regio estas construes tradicionais rurais correspondem, geral-mente, ao grupo de moinhos denominado de roda horizontal. So do tipo moinho pequeno, de um s rodzio, de planta rectangular, sem vos, a no ser a porta de acesso, sendo o telhado, daqueles que por acaso, ainda o conservam, com uma ou duas guas. O material composto por pedras granticas e madeira, material abundante na regio, com cubos compostos por sistemas de anis, que chegam a ter altura mxima de 0,70m e alcanar um comprimento de 4m.

    Moinhos de gua de Souto Bom

    O declnio da actividade agrcola na regio e o aparecimento de tcnicas de produo inovadoras e tecnologias modernas levaram progressiva perda de importncia destas construes e ao desinteresse dos proprie-trios pela sua manuteno.

    Aldeia de Souto Bom a razo de uma escolha

    Souto Bom uma pequena aldeia situada na freguesia de Caparrosa, concelho de Tondela, no alto da Serra do Caramulo. O casario antigo organiza-se em ncleos de ruas estreitas calcetadas de pedra e de que-lhas, descendo para as hortas e os campos de milho. Ainda possvel encontrar canastros (designao local para o espigueiro) que guardam o milho, eiras que se limpam para a seca do feijo e para a malha dos cereais, bem como pessoas com vontade de reviver e recuperar as tradies mais antigas. A escolha de Souto Bom para a implementao de um projecto sus-tentvel fundamenta-se na existncia de uma cadeia de 13 moinhos hidrulicos, de roda horizontal, localizados na encosta da Ribeira da Pena, um afluente do Rio Dinha. Estes engenhos permitem afirmar que estamos perante um conjunto de equipamentos rurais susceptveis de serem restaurados proporcionando a revitalizao da aldeia de Souto Bom. Este elemento diferenciador permitiu pensar na utilizao da pai-sagem cultural dos moinhos da Ribeira da Pena, como um recurso para o desenvolvimento local, mediante a sua transformao num centro de educao e investigao patrimonial, sustentado na recuperao, valo-rizao e promoo dos recursos patrimoniais presentes: os moinhos, a natureza e as pessoas.Neste sentido, considerando tratar-se de uma regio onde ainda possvel encontrar locais pouco alterados pela presena humana, urge orientar o desenvolvimento de forma a potenciar a componente da na-tureza, do ambiente natural existente e da ruralidade que a caracteriza. Assim, pretende-se aproveitar os recursos culturais associados tradio agrcola da regio, votados ao abandono, e potenciar esse eixo como um vector estratgico para a atraco e fixao de visitantes e criao de uma imagem de marca e identidade regional do territrio.

    Adices

    Adi

    ces

  • 14 pessoas e lugares |N45-007

    eMDEsTaquE

    A Cova da Beira concelhos de Belmonte, Covilh e Fundo uma regio rica em patrimnio construdo e edificado, possuindo casas senho-riais, capelas, igrejas, pontes, Fontanrios, castelos e outros motivos de interesse, que constituem um verdadeiro patrimnio histrico-cultural, religioso e turstico.Sabendo que parte da nossa cultura se encontra expressa nas edificaes do passado, consideramos fundamental preservar essa identidade atravs da requalificao dos elementos particulares e pblicos que constituem o patrimnio.O simblico contributo do programa LEADER traduz bem a importncia fundamental de aces desta natureza. No mbito deste Programa, a Rude - Associao de Desenvolvimento Rural tem co-financiado vrios projectos, cujo objectivo estratgico o de conservar e recuperar o patrimnio construdo, designadamente, a recuperao de fachadas de traa tradicional de edifcios particulares, patrimnio histrico e religio-so, e outro de valor arquitectnico local, num estado de esprito e de actuao que se materializam no mbito das estratgias definidas.Ao longo das trs fases do programa LEADER temos concedido uma especial ateno ao Patrimnio construdo, contribuindo para uma estratgia de desenvolvimento integrado e sustentvel, renovao e desenvolvimento das zonas rurais.Os projectos destacados, executados no mbito do LEADER+, cons-tituram um estmulo e formas importantes de reforo da identidade colectiva e tambm um factor de fixao das populaes conseguido atravs da melhoria do espao habitvel e que testemunham a riqueza histrica e arquitectnica local. Mas podamos ter escolhido intervenes mais antigas, porque desde 1991 que a Rude tem o seu nome associa-do recuperao, valorizao e preservao do patrimnio edificado, cujo objectivo o de reconstituir a memria viva e a identidade que a arquitectura local confere a este territrio.

    Cova da Beira, um patrimnio a conhecer

    Tortosendo (Covilh)Recuperao e valorizao das capelas de Nossa Senhora dos Remdios, de So Jos Operrio e do Calvrio, marcos da cultura scio-cultural da freguesia. Atravs do LEADER foi possvel conservar e preservar o patrimnio religioso edificado, e promover turisticamente a localidade e alguns dos seus templos religiosos.

    Torna-se necessrio e urgente continuar o esforo de preservar e va-lorizar o patrimnio existente e descobrir novos potenciais e vestgios histricos, como por exemplo runas arqueolgicas. Estamos conscientes que ainda existe bastante trabalho por realizar nesta regio do Pas, o que constitui um desafio permanente e constante na procura de uma maior valorizao da paisagem rural e de incentivos comunitrios.

    Celeste ValenteRude

    FundoRecuperao do edifcio dos antigos Paos do Concelho de Alpedrinha, cujo objectivo foi dotar o imvel de solues funcionais adaptadas s necessidades actuais desta vila localizada na encosta sul da Serra da Gardunha, nomeadamente a reactivao da funo de cariz cultural j desempenhada em tempos. O espao possui ainda as condies neces-srias para a colocao de contedos informativos e promocionais sobre Alpedrinha e zona envolvente.

    BelmonteRecuperao de um edifcio localizado numa das artrias principais desta Vila Histrica, onde foram instaladas pequenas oficinas de artesanato e onde os artesos criam, restauram, e concertam, em presena, vrias peas artesanais. Foi um bom projecto porque se conseguiu, associar o patrimnio arquitectnico ao patrimnio cultural, contribuindo para a valorizao da riqueza artesanal da regio.

    Foto

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  • N45-007|pessoas e lugares 15

    Com o objectivo de criar um sistema local de informao turstica capaz de responder necessria proximidade aos visitantes que se deslocam em pequenos grupos e para os quais no sempre possvel disponibilizar um guia turstico e dispor dos diversos espaos de visita abertos e acessveis, a TAGUS - Associao para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Interior em parceria com a PT - Portugal Telecom desenvolveram uma identidade comum que se estrutura, organiza e promove em torno da marca e conceito inSITU, com o objectivo de procurar responder a este desafio.Para tal estruturou-se um conjunto de novos projectos de revitalizao do mundo rural promovidos pela TAGUS em parceria com os trs mu-nicpios, que conta com o suporte financeiro da Iniciativa Comunitria para o Desenvolvimento Rural, LEADER+, destinados ao territrio do Ribatejo Interior nos Concelhos de Abrantes, Constncia e Sardoal.Com esta marca global e a necessidade de tratamento individualizado a cada percurso concelhio no territrio, surge o projecto de criao dos circuitos especficos para cada centro histrico, individualizado nos contedos, mas tambm nos equipamentos que lhe so inerentes, cabendo TAGUS o papel de com a marca inSITU lhe conferir um carcter unificador capaz de valorizar sinergias e potenciar o efeito de comunicao, essencial no sector turstico.

    insiTu

    Sentir a histria,envolver a tradio

    nesse sentido que surge o inSITU, uma marca global de informao turstica de proximidade e apoio ao visitante, suportado na utilizao de novas tecnologias da informao.Os centros histricos de Abrantes, Constncia e Sardoal, tornar-se-o autnticos museus ao ar livre, sempre disponveis no contacto com o visitante que ter a oportunidade de conhecer e sentir os monumentos, espaos e acontecimentos da cultura local, apresentados por descries, imagens e recreaes de ambientes sonoros.

    A marca

    A necessidade de criar um elemento identitrio territorial comum aos concelhos envolvidos, um nome que funcione como sntese do projecto e de fcil leitura e percepo nas suas mltiplas aplicaes so as premissas para a marca inSITU.inSITU procura ser a afirmao da sua marca enquanto aplicao com uma identidade prpria. O objectivo do logo-marca duplo. Por um lado, a imagem de inSITU deve ser uma imagem global que identifique o conceito de Informao Turstica e que permita aos visitantes reco-nhecer imediatamente, qualquer mensagem proveniente da mesma. Por outro, deve existir uma comunicao interterritorial, tendo para o efeito sido criados trs circuitos adequados a cada um dos concelhos e que funcionam em real complementaridade. Cada um dos concelhos deve entend-la como uma imagem identificativa unitria, como um empenho comum, uma filosofia partilhada. A cor dos equipamentos instalados em cada um dos centros histricos identifica o circuito: o amarelo tendo a sua expresso na harmonia do aglomerado urbano do Sardoal; o azul no encontro dos rios de Constncia e o verde elemento unitrio de Abrantes, um dos maiores concelhos do Ribatejo. O elemento cinza utilizado metaforicamente na vertente tecnolgica, a plataforma onde assenta este projecto.

    Maisinformaes:www.portalinsitu.com

    As personagens

    Os verdadeiros guias da regio, procuram representar uma particularidade de cada concelho visitado. Para alm de orientar o visitante, despertam o interesse para detalhes peculiares existentes na regio visitada que, muitas vezes, passam despercebidos aos olhos de quem a visita e at mesmo de

    quem nela habita. O Palhinhas inspirado no tradicional doce de Abrantes repre-senta a histria e o papel que a cidade desde sempre assumiu

    na regio com os seus conventos e importantes portos fluviais.

    A Tgide, musa inspiradora de Cames nos Lu-sadas, a personagem que, tal como ao poeta, acompanha em Constncia os seus visitantes na confluncia de sensaes.

    Smbolo de religiosidade e arte, o Mestre Gil, representa, para alm das pinturas no retbulo qui-nhentista do Mestre do Sardoal, a boa disposio das gentes e o sentido viver das muitas igrejas e capelas

    que na Pscoa se assumem como telas da expresso artstica popular.

    Os meios de interaco

    inSITU TVComposto por onze painis IPTV instalados em locais de interesse pblico e dois quiosques multimdia de exterior. Permitem a difuso e a interaco com a aplicao multimdia que contm todo o esplio audiovisual em diferentes lnguas.

    inSITU PORTALDisponvel na Internet permite o relacionamento contnuo com o visitante ao mesmo tempo que divulga o projecto a nvel nacional e internacional.

    inSITU TOURAtravs de dispositivos multimdia pessoais e interactivos disponveis nos postos de turismo de cada concelho torna-se possvel realizar uma visita guiada aos centros histricos apoiada em vdeos, imagens e sons, geo-refenciados por GPS.

    BluetoothDisponveis em formato GIF, animado ou vdeo 3GP, os contedos so oferecidos a quem disponha de um terminal mvel com capacidade de bluetooth activa e que circule prximo do inSITU TV.

  • 1 pessoas e lugares |N45-007

    O Monte na linha da frente do turismo de aldeia

    O projecto Rede Europeia de Turismo de Aldeia tem por finalidade a promoo de uma marca de oferta turstica de qualidade em meio rural. Deu os seus primeiros pas-sos com a criao e licenciamento das duas primeiras unidades de turismo de aldeia em Portugal: o turismo de aldeia de So Gregrio, em Borba, e o turismo de aldeia do Telheiro, em Reguengos de Monsaraz. A dinamizao deste conceito constitua um dos objectivos principais do projecto local

    de interveno do Grupo de Aco Local (GAL) Monte no programa LEADER+, que apoiou a criao daquelas duas unidades.A Rede baseia-se no conceito de autenticidade. A marca Genuineland est disponvel num portal, em portugus e ingls, e permite o acesso a um conjunto de informaes sobre as aldeias que integram o projecto. Acedendo a uma aldeia, fica a conhecer um pouco da histria da localidade, distncias, acessos, alojamentos, restaurantes, lojas e uma srie de contactos teis.No mbito do Plano de Desenvolvimento Local (PDL) do LEADER+, o GAL Monte tem apoiado a criao de condies nalgumas aldeias alentejanas para a promoo de uma oferta integrada de qualidade com destaque para a instalao de sinaltica para o desenvolvimento dos percursos do imaginrio feitos em torno do patrimnio megaltico (Monsaraz) e cultural (vora Monte).O Monte reconhece a importncia do desenvolvimento de uma oferta de turismo de qualidade na regio, e por isso defende na sua estratgia de interveno para o prximo programa LEADER a promoo do designado percursos do imaginrio, produto de uma marca de turismo de qualidade.

    Marta AlterCoordenadora do GAL Monte

    eMDEsTaquE

    O projecto de criao da Rede Europeia de Turismo de Aldeia, coorde-nado pela Regio de Turismo de vora e no qual participam 14 aldeias do Alentejo, foi galardoado com o Prmio Ulysses 2007 na Categoria de Inovao, reconhecimento este atribudo pela Organizao Mundial do Turismo e que pela primeira vez premeia uma entidade portuguesa.A nomeao para o prmio Ulysses feita por entidades, organizaes e empresrios externos ao projecto. A atribuio desta distino pre-cedida de um intensivo processo de anlise levado a cabo pelo Comit do Prmio Ulysses da United Nations World Tourism Organization em que avaliado o valor dos projectos por entidades externas aos mesmos, bem como os seus objectivos, resultados e acima de tudo o seu carc-ter inovador e relevante para o sector do turismo. O prmio Ulysses representa para a parceria o reconhecimento de trabalho desenvolvido ao longo destes anos mas acima de tudo um desafio para um futuro.A Rede Europeia de Turismo de Aldeia assume-se como um projecto de desenvolvimento turstico sustentvel assente na promoo de uma oferta turstica de qualidade em meio rural. Este projecto contou com o apoio do programa comunitrio Interreg III C Sul entre Julho de 2003 e Setembro de 2006.As actividades levadas a cabo no mbito deste projecto visam o desen-volvimento do conceito de Turismo de Aldeia e de Turismo do Imaginrio como componente de animao turstica das regies envolvidas. Este conjunto de actividades proporcionaram o desenvolvimento de Planos de Aldeia, de um Documento Orientador para Seleco de Aldeias, de um Plano Estratgico da Rede, aces de promoo e animao turstica, edio de materiais promocionais e aces de formao profissional.

    Rede Europeia de Turismo de Aldeia premiada

    Uma componente importante deste projecto passa ento pela definio e desenvolvimento de um conjunto de actividades de animao ligadas ao Turismo do Imaginrio, ou seja, s tradies de cada comunidade, sua identidade, aos seus monumentos, com o recurso aos monumen-tos megalticos, s lendas sobre bruxaria, s tradies celtas e lendas da Transilvnia, etc, no fundo todo o patrimnio de cultura tradicional que permite diferenciar estas aldeias, esta Rede, de outras aldeias, de outras redes. A cada regio corresponde assim um tema forte sobre o qual so desenvolvidas aces de animao. Por regio temos o Megalistismo para o Alentejo, a Bruxaria para Trentino, o Shamanismo para a Lapnia finlandesa, a rvore da Vida para Lomza, e as Lendas da Montanha para Arad. Utilizando o Plano Estratgico da Rede como base de orientao a parceria est a preparar a terceira fase deste projecto. A criao das organizaes regionais que daro continuidade Rede assume-se como a tarefa primordial, tendo j sido possvel criar a Associao do Alentejo e de Trentino.

    Apolnia RodriguesRegio de Turismo de vora

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  • N45-007|pessoas e lugares 17

    aCTiViDaDEsDarEDE

    Depois do merecido descanso estival, a Loja Portugal Rural prepara-se para uma rentre em grande, cheia de novidades e actividades. Ao longo do prximo trimestre esto agendadas exposies, campanhas de divul-gao e provas. As comidas, servidas habitualmente na Taberna, vo ser ainda mais diversificadas, de acordo com o gosto dos convidados, que, ao longo de trs meses, animaro a iniciativa Tachos e Panelas. Enlogos, chefes de cozinha, entre eles Gabriel Fialho, do eborense Fialho, amigos e conhecidos aceitaram a proposta de cozinhar e dar a conhecer os seus dotes gastronmicos a todos os que visitarem o espa-o Portugal Rural. A ideia trocar experincias e sabores e divulgar os segredos de chefes de cozinha profissionais e amadores.Durante este perodo, sero tambm organizadas trs exposies. Na primeira, a artes Rita Matias, de Leiria, expor os seus santos bem-dis-postos ao longo de duas semanas (de 27 de Setembro a 11 de Outubro). Uma oportunidade para trocar impresses com a barrista sobre a original linguagem das suas peas. De 19 de Outubro a 2 de Novembro, Tiago Cabea e Magda Ventura levaro at Campo de Ourique um pouco da Oficina da Terra, centro de manufactura dos trabalhos desta dupla de artesos, vrias vezes distinguida com prmios e menes honrosas. Para Novembro, est igualmente programada uma exposio, desta feita, de utenslios de cozinha antigos ou em vias de extino: colheres de pau, tachos de trs ps, peas de barro, vidros, lates, madeiras e achados raros avivaro as memrias dos mais velhos e despertaro curiosidades dos mais novos. A no perder...Mas as novidades no se ficam por aqui. Em simultneo com estas exposies, a Loja Portugal Rural organiza a Campanha Alentejo Rural, dedicada ao po e aos produtos tradicionais agro-alimentares alentejanos. A iniciativa incluir provas e decorrer durante o ms de Outubro. Em Novembro (de 7 a 13), ser a vez dos azeites do Ribatejo Interior serem divulgados com provas de degustao e explicaes a todos quantos quiserem conhecer mais sobre esta iguaria mediterrnica.Para festejar a rentre com todos os clientes e amigos, a Loja Portugal Rural reserva-se o direito de servir cocktails em todas as iniciativas programadas.

    LojaPortugalruralR. Saraiva de Carvalho, n. 115 Campo de Ourique 1250-242 LisboaTel. 21 395 88 89 Fax 21 395 3878 E-mail: [email protected]: das 10h s 20h

    Rentre entre tachos e panelas

    Barro com sorrisos

    A expresso santos bem-dispostos, com que Rita Matias abre o seu site, no podia ser mais bem escolhida, j que as peas desta artes de Leiria (anjos, santos, fadas, cristos, prespios, entre outros) so, de facto, muito coloridas e alegres. De sorriso sempre rasgado, no h figura por si moldada e pintada que no cative primeira, tal a simpatia que as suas criaes transmitem. Rita Matias criou, como ela prpria diz, uma nova linguagem para a arte sacra.As peas so em barro vermelho moldado em roda e modulao manual e so pintadas mo. A artes comeou a sua actividade profissional em 2002, foi seleccionada para a final do Concurso Artesanato, organizado pelo Instituto do Emprego e Formao Profissional e participou em vrias feiras internacionais, nomeadamente em Paris e Milo, e nacionais. Rita Matias licenciada em Design Industrial pelo IADE, alm de ter ingres-sado na Associao de Joalharia de Autor, no Porto, no curso de Joalharia, formao que prosseguiu na Contacto Directo, em Lisboa. Fez tambm formao na Cermica Adelino, em Mafra. As peas da artes podem ser adquiridas na Loja Portugal Rural e atravs do site www.ritamatias.com.

    Uma dupla de sucesso

    Tiago Cabea frequentou o curso de Artes Plsticas da Universidade de vora. Mas os segredos da arte do barro aprendeu-os com os mestres Or-lando Guimares e Antnio Velho, da Olaria Guimares/Velho, em S. Pedro do Corval, Reguengos de Monsaraz. Actualmente, esculpe e molda todas as peas da Oficina da Terra, atelier criado em 1998 com Magda Ventura, que pinta e finaliza todas as peas da dupla. A Oficina da Terra ganhou vrios prmios e menes honrosas, nomea-damente, o primeiro prmio de Artesanato Contemporneo FIA 2002, uma meno honrosa na Nacional Bienal de Artesanato Contemporneo 2003/2005 e o primeiro prmio nacional de Artesanato Contemporneo 2001/2003. Os trabalhos dos dois artesos podem ser apreciados e com-prados, entre outros, na Loja Portugal Rural, em Lisboa, e na Oficina da Terra, que fica numa das zonas mais nobres da cidade de vora: o Largo do Municpio, local de festa, actividade, cultura e movimento permanentes.

    Ao sabor do Alentejo

    Para abrir o apetite, uma breve amostra dos pitus servidos numa das mais conhecidas casas eborenses: ovos de codorniz com paio, perdiz Convento da Cartuxa e encharcada de Mouro. Fundado por Manuel Fialho, em 1948, com a colaborao dos filhos Amor, Gabriel e Manuel, o restaurante Fialho comeou por ser uma tasca, mas foi crescendo sempre ao sabor de receitas tradicionais do Alentejo. No incio dos anos 50, j servia petiscos e alguns pratos de comida tradi-cional alentejana, de confeco simples. Na dcada de 60 converteu-se em Casa de Pasto, servindo numa base mensal alguns comensais, funcionrios pblicos e administrativos deslocados em vora, sendo dessa fase o frango caseiro de churrasco, ao tempo, famoso.Na dcada de 70, alargou a qualidade da oferta atravs da recolha de pratos tradicionais da regio, alguns praticamente desaparecidos como a Favada Real de Caa, servida pelo rei D. Carlos aos seus convidados depois das ca-adas, a Sopa de Beldroegas, as Migas Gata, a Poejada de Bacalhau, e outros manjares alentejanos. O trabalho feito em prol da defesa e conservao da cozinha regional alentejana mantm-se at hoje. Entre muitos outros prmios, Gabriel Fialho, actualmente responsvel pela cozinha do restaurante, recebeu do rei de Espanha trs medalhas de prata como distino por trs pratos confeccionados num jantar em que participaram todos os pases da Unio Europeia. A Academia Portuguesa de Gastronomia conferiu-lhe, por esta razo, o diploma de Melhor Chefe de Cozinha, em 1992.

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  • 18 pessoas e lugares |N45-007

    aCTiViDaDEsDarEDE

    A 6 Comisso Nacional de Acompanhamento (CNA) do programa LEADER+, que teve lugar na Chamusca, na Misericrdia de So Francis-co, no passado dia 28 de Junho, fica marcada pela apresentao pblica de Carlos So Simo de Carvalho como novo director-geral da Direco Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR).Com os trabalhos assentes em sete pontos de discusso Aprovao da Acta da 5 Reunio da CNA, Ponto de situao da execuo do Programa, Ponto de situao das aces de controlo de 1 nvel, Plano de Activida-des da Rede para 2007, Apresentao e aprovao do Relatrio de 2006, Reserva de eficincia, Critrios de atribuio, e Pedido de aprovao de candidaturas , a reunio decorreu conforme programada.Depois da aprovao da acta da 5 Reunio do CNA e do Relatrio 2006, ambos por unanimidade, foi o ponto seis, relativo Reserva de eficincia, critrios de atribuio que motivou uma reflexo mais apro-fundada por parte de alguns responsveis de organizaes gestoras do programa LEADER+. Perante esta temtica da reserva de eficincia, Rui Batista, chefe de projecto LEADER+, esclareceu que o objectivo da elaborao de critrios de avaliao dos projectos apresentados que vamos privilegiar aqueles que executam e que melhor executam. Outro critrio de avaliao que no tenha disponibilidade financeira na medida 1.2, porque ser dada prioridade aos projectos criadores de emprego e carcter inovador. Contudo, foi deixada em aberto a possibilidade dos membros da CNA se pronunciarem sobre a proposta apresentada, ficando a deciso remetida para data posterior.Apontado ao futuro mas ainda com razes no presente, foi apresentado o Plano de Actividades da Rede para 2007 sendo o seu objectivo prioritrio dar continuidade s actividades regulares da Rede Portuguesa LEADER+, nomeadamente o jornal Pessoas e Lugares, os cadernos temticos Pessoas e Lugares, bem como a actualizao do site.Entre os novos projectos, o horizonte de actividades para o segundo semestre deste ano engloba a concepo e acompanhamento de novos produtos, assim como a constituio de um grupo de acompanhamento

    6 Comisso Nacional de Acompanhamento

    do trabalho para operacionalizao das actividades, constitudo por tc-nicos da Rede Portuguesa LEADER+ e da Federao Minha Terra. A partir de Setembro est prevista a realizao da conferncia: O novo Paradigma Rural, a edio de um DVD sobre o Repertrio LEADER+ (em ingls e portugus), a criao dos mdulos interactivos Projectos, Pessoas e Organizaes para o Desenvolvimento Local dos Territrios Rurais (que sero ex-postas numa base de dados online permanentemente actualizvel). Num trabalho desenvolvido em conjunto com a LeaderOeste pre-tende-se ainda editar as publicaes LEADER, que contaram com o apoio deste programa. Mais tarde, est tambm prevista uma aco de intercm-bio entre o Brasil e Portugal, desenvolvida em parceria com a Dueceira, em articulao com o Projecto Cooperar em Portugus.No final do ano, ter lugar a Conferncia da Comisso Europeia / Ponto de Contacto sobre LEADER+, para preparar e operacionalizar a partici-pao portuguesa, em articulao como a Comisso Europeia / Ponto de Contacto. As actividades prosseguem com a realizao dos estudos de caso do LEADER. O chefe de projecto LEADER+, Rui Batista, destacou ainda que o seminrio final de encerramento do LEADER+ vai-se realizar em Portugal. Uma iniciativa que, segundo Carlos Simo de Carvalho, uma extraordinria oportunidade de deixarmos uma herana.

    Joo Limo

    Em tempos de Presidncia Portuguesa do Conselho da Unio Europeia, as associaes de desenvolvimento local do Entre Douro e Minho e Bei-ra-Douro subiram ao Par