2012_LeticiadeOliveira

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Autora: Letícia de Oliveira “Revolução Facebook”: em que medida as redes sociais na internet interferiram na deflagração da chamada Primavera Árabe? Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília Universidade de Brasília Orientadora: Cristina Y. A. Inoue Brasília, 2012.

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Leticia de Oliveira. Revolução Facebook

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Autora: Letcia de Oliveira Revoluo Facebook: em que medida as redes sociais na internet interferiram na deflagrao da chamada Primavera rabe? Monografia apresentada como requisito parcial para a obteno do ttulo de Especialista em Relaes Internacionais pela Universidade de Braslia Universidade de Braslia Orientadora: Cristina Y. A. Inoue Braslia, 2012. Resumo Esteartigobuscaavaliarqualacontribuiodasmdiassociaisna internetnadeflagraodosprotestosrealizadosapartirdedezembrode2010no Mundorabe.Sabe-sequeredesvirtuaisderelacionamentocomooFacebookeo microblog Twitter (alm de canais de vdeo como o You Tube e a galeria de imagens Flickr)permitiramquepessoascomunspudessemdivulgarcomrapidez extraordinriaasprpriasmanifestaes,suascausas,seusobjetivosetambma formacomoestesmovimentoseramreprimidospelasforasdeseguranados regimesautoritrios,permitindoqueusuriosinterconectadospudessemmultiplicar estasinformaesdeformapraticamenteilimitada,chegandoapessoasdetodasas regiesdomundo.Comaquedadedoisditadores,emmenosdeummsde protestos,torna-senecessrioanalisaremquemedidataisferramentascontriburam para o sucesso do levante em pelo menos dois pases da regio: a Tunsia e o Egito. Abstract Thisarticle'sobjectiveistoevaluatewhatcontributioninternetsocial medias have on the triggering of the protests started in december of 2010 in the Arab World. It is well known that social networking services like Facebook or the micro-bloggingtoolTwitter(besidesYouTubevideochannelsandtheimagehosting service, Flickr) allow the regular citizen to spread with extraordinary ease and speed their own manifestations, causes, objectives and also the way these movements were being repressedby the security forces ofauthorityregimes,enabling interconnected userstomultiplytheirinformationinanunlimitedway,possibilitingthenewsto reach different people all over the globe. The fall of two dictators, in less than a year ofprotests,makeaclearstatementontheimportanceofanalyzingwhatisthe contribution these social media tools had on thesuccess of the protesting in at least two countries in that region: Tunisia and Egypt. Sumrio Introduo4 A Primavera rabe um primeiro olhar6 O uso das ferramentas tecnolgicas durante os protestos8 Em que medida as novas ferramentas contriburampara xito das manifestaes11 Concluso26 4 Introduo Em maro de 2011, a populao da Sria aderiu onda de protestos que, desde dezembro do ano anterior, se espalhava pelo Oriente Mdio. Era o stimo pas (DeGracia,2011)aenfrentararevoltadeumapopulaocansadaderegimes autoritrios e que, ento, saa s ruas para clamar por mudanas. Umanoemaisdeoitomilmortesdepois(UnitedNations,2011),o presidenteBasharAl-Assadsegueusandodeforteviolnciacontraseusopositores. At mesmo correspondentes internacionais tornaram-se alvo de ataques.Emfevereiro,ummsantesdoaniversriodeumanodosprotestos,a jornalistaamericanaMarieColvineofotgrafofrancsRmiOchlikforammortos duranteumataqueaocentrodemdiaimprovisadoporreprteres,fotgrafose cinegrafistas em uma casa no subrbio de Homs, um dos locais onde se concentram osataques.Antesdeles,outrosquatroprofissionaismorreramaotentartransmitir paraomundooqueacontecianoterritriodominadoporAl-Assad(Beaumont, 2012). Antenasparaatransmissodeimagensaovivoalvejadasporfranco-atiradores; linhas telefnicas, sinal internet e energia eltrica, cortados. Antes de Al-Assad,governantesdeoutrospasesadotaramestratgiassemelhantes.NaTunsia, onde tudo comeou, a maioria dos contedos online foi bloqueada. O Facebook foi o nicositederelacionamentonainternetnocensuradonoinciodosprotestos.Eo que era apenas uma ferramenta voltada para o entretenimento e o consumo, passou a ser o canal de difuso das manifestaes (Lpez & Garca, 2012:8/19). No tardou para que surgissem anlises entusiasmadas sobre o papel das novas ferramentas de comunicao e das redes sociais na internet para oincentivo democracia em regies dominadas por regimesautoritrios, em especial,no Oriente Mdio.Porm,hosquequestionamseforamestasasverdadeirasrazesparao incio do que veio a ser chamado de Primavera rabe. Emquemedidaasredessociaisnainternetinterferiramnadeflagrao das revoltas no Mundorabe? este o questionamento que vaiguiaradiscusso a 5 seguir.Parabuscarrespond-lo,faremosumarevisonoabrangentedealgunsdos trabalhosquesemultiplicaram,recentemente,empublicaesespecializadasnas reasdeRelaesInternacionais,CinciasSociaiseComunicao.Trata-sedeum esforoparacongregarareadeformaodeorigemdaautora,oJornalismo,aos estudos de Relaes Internacionais.AanliseserconcentradanoscasosdaTunsiaedoEgito,onde,em poucos dias, as populaes conseguiram xito atravs da renncia de seus ditadores. 6 A Primavera rabe um primeiro olhar Emjaneirode2011,omundovoltouosolhosparaoOrienteMdio. Populaessufocadaspordcadasdeopressopassaramatomarasruasdeseus pasesemprotesto.Primeiro,naTunsia,ondeumjovemvendedordehortalias, Mohamed Buazizi, 26 anos, ateou fogo ao prprio corpo em protesto contra o abuso depoderdapolcialocal.Aonegarpagamentodepropinaparaquepudesse comercializarsuamercadorianacidadedeSidiBouzid,Buazizifoicovardemente agredidopelospoliciais.Injustiado,decidiu-sepelaautoimolao.Comoescreveu lexRodrguez,diretor-adjuntodarevistaespanholaVanguardiaDossier especializadaemtemasinternacionais,ojovemvendedordeverduras"prendila llama que acab con su vida, pero tambin la que ha encendido la revuelta rabe de 2011" (2011:3).AugustnDeGracia,chefedoescritriodaAgnciaEfeparaoOriente Mdio, com sede em Cairo, conta que o mundo tomou conhecimento do fato depois que as imagens do protesto que amigos de Buazizi fizeram em frente prefeitura da cidadenodiaseguinteimolaoforamdivulgadasporumblogueironositede relacionamento Facebook. Dos das despus de que fueran difundidas las imgenes en Facebook, Tnez fue testigo de protestas polticas en todo el pas, pero con otras banderas: la corrupcin, el desempleo y la injusticia (2011:170). MohamedBuazizimorreunodia4dejaneiro.Paraevitarnovos protestos,oentopresidente,ZinealAbidineBenAli,decidiubloquearsitesna internet.Mesmoassim,dezdiasdepoisesobumaondademanifestaes generalizadas,BenAliqueestavahmaisde20anosnopoder,foiobrigadoa renunciar. Ahistriadojovemvendedordehortaliaseavitriadapopulao tunisianamotivarammanifestaesemsrietambmnoEgito.Mesesantes,em junho de 2010, um fato semelhante havia chocado a juventude egpcia. Jalid Said, 28 anos,foiespancadoatamortedepoisdedocumentaraesdepoliciaiscorruptos. Said virou heri. Pelas redes sociais, a populao egpcia foi convocadaa protestar. UmdosgruposqueajudaramadetonararevoluoseautointitulavaTodos 7 SomosJalidSaidnumapginadoFacebook(Khalidi,2011:19;Lpez&Garca, 2012:9/19). Nodia25dejaneiro,aexemplodoqueocorrianaTunsia,osegpcios tomaram as ruas do Cairo. Protestavam contra a opresso, a corrupo, a prepotncia dapolcia,apobreza,osaltosnveisdedesempregoecontraosplanosdoditador Hosni Mubarak de passar o poder em suas mos havia aproximadamente 30 anos para seu filho (De Gracia, 2011:168). Trsdiasdepois,osprincipaisprovedoresdeinternete,maistarde,as linhasdetelefonecelularforambloqueadosnopas.Aindaassim,nodia11de fevereiro,MubarakdamesmaformaqueBenAlifoiobrigadoarenunciar.Ea derrota do ditador acabou virando motivo de piada.En Egipto se ha hecho muy popular el chiste de que, si al presidente egipcio Gamal al Naser hay sospechas de que lo mat una dosis de veneno y a su sucesor, Anuar elSadat,unarfagadedisparos,aHosniMubaraklomat(polticamente) Facebook (De Gracia, 2011:167; tambm mencionado por Lpez & Garca, 2012:9-10/19). Teria a brincadeira um fundo de verdade? 8 O uso das ferramentas tecnolgicas durante os protestos

OdiretordoCentrodeOrienteMdiodaLondonSchoolofEconomics, FawazA.Gerges,dizqueosnovosmeiosdecomunicaoeferramentascomo Facebook,TwittereYouTubesetransformaramemarmascontragovernantes tiranos (2011:8). Gerges afirma que a queda de Mubarak proporcionou uma sensao de poder nunca antes experimentada pela populao, j que Mubarak que mantinha umexrcitocom1,5milhodehomenseraosmbolodoautoritarismonaregio (2011:12).Losarabescorrientessesientendotadosdepoder,alfilodeunnuevoamanecer democrtico.Sehansacudidolaapatiapolticaysehanadentradoenun efervescenteespaciopoltico.[...]Hayunnuevolenguajedelapoltica,una sensacinderenaceryumintensoactivismodemasasenelespaciosocialy poltico,ysetratadeunarevolucionqueconstituyeunbuenaugrioparala sociedad civil (Gerges, 2011:9). Rashid Khalidi, pesquisador da Ctedra EdwardSaid de Estudos rabes daUniversidadedeColumbiaemNovaYorkediretordoJournalofPalestine Studies, parece compartilhar dessa viso.[...]el hecho de alzarse contra quienes les negaban la dignidad y los derechos dio a losocupantesdelascallesdeTnez,ElCairoydecenasdeotrasciudadesla sensacindequedirigirsudestino,poseerdignidadynoserlosabyectosy miserables semiesclavos de unos altivos seores que los gobernaban desde palacios y residncias (2011:20). Nessesentido,pareceserpossveltraarumparalelocomachamada revoluodashabilidadesindividuaisdefinidaporJamesRosenau.Navisodeste terico, cada vez mais os indivduos so capazes de perceber as relaes de poder e deautoridadesquaisestosubmetidos,edebuscaroatendimentodesuas demandasdeformamaisconscienteeconsequente.Comoexplicaoprofessordo InstitutodeRelaesInternacionaisdaUniversidadedeBraslia,AntonioJorge Ramalho da Rocha, [...] essaabordagem colocao indivduo no centro das relaes internacionaiscontemporneas,reconhecendo-lheumpodersignificativopara participar do estabelecimento das regras do jogo poltico domstico e internacional (Rocha, 2002:295-296). 9 Rochaesclarece,ainda,queacentralidadedoindivduonasrelaes internacionaispropostaporRosenausedeve,principalmente,pelaprofunda transformao, ainda em curso, nas tecnologias da informao. E, segundo Augustn DeGracia,nasrecentesrevoltasrabes,umainter-relaointensaentreasredes sociaisnainternet,asgrandesredesdetelevisoeasmanifestaespopularespde ser verificada: LasmanifestacionesseconvocabanporFacebook,seseguanporTwitter,se reproducanporcadenascomoAlYazira,lasimgenesdetelevisinvolvana Facebook o se daban a conocer por Twitter y, finalmente, rebotaban en la calle con mayores bros para los manifestantes y hacindoles perder el miedo porque, con el eco, saban que eran muchos (De Gracia, 2011:171). NaTunsia,assimquepercebeuessainter-relao,oregimedeBenAli decidiubloquearoacessospginasdoportaldevdeosYouTube,domicroblog Twitter,doportaldefotosFlickereoutrossitesdainternet.Segundoos pesquisadoresdaUniversidadedeSantiagodeCompostelaMiguelTezLpeze Jos Sixto Garca, a nica rede social que no sofreu censura naqueles primeiros dias de protestos foi o Facebook. Estoprovocqueunaredsocialenfocadaalocioylasrelacionessocialesse convirtieraenunaredsubversivaydeprotesta,loqueavivanmslos contenidos,alintroduciralosactivistassocialesenespaciosdecomunicacin habitadosporsegmentospoblacionalesalejadosdelaluchapoltica(Lpez& Garca, 2012:8/19). LpezeGarca(2012)ressaltamcomoumavantagemaformagile simplescomoainformaosejaelaformalouinformalcirculaatravsdos usurios das redes sociais, ao contrrio da rigidez e hierarquia impostas pelo sistema decomunicaodasmdiastradicionais.Essavantagempossibilitariaqueas minoriasemovimentosalternativostivessemmaiorfacilidadenadifusodesuas demandasdifusoesta,emtese,ilimitada,jqueestesestointerconectadoscom milharesdeusurios.Almdisso,aparticipaodosusuriosestariasetornando cada vez mais permanente, devido evoluo dos telefones celulares, que permitem acessointernete,consequentemente,sredessociaisvirtuais,ondequerqueo usurioseencontreoqueresultarianosurgimentodeumnovoespaopblico, virtual: Estaconvergenciaseprolongaatravsdelaportabilidadcasiilimitadaquese trasladaalasesferaspersonalesdebidoalaconsolidacindelasredessociales 10 virtualescomonuevoescenariodeinteractuacinsocialenlqueyapodra considerarsecomolacreacindeunnuevo(cber)espaciopblico(Lpez& Garca, 2012:2/19). YvesGonzalez-Quijano,pesquisadordoInstitutFranaisduProche-Orient,emDamasco,parececoncordarcomessaviso,destacandoapopularizao destas novas tecnologias e desta nova forma de relacionamento entre a juventude dos pases rabes. Habituada a las tcnicas digitales, esta [la juventud rabe] se ha acostumbrado a navegarenlasredes,buscarallrespuestasasuspreguntasyestablecer intercambiosconotrosinternautasparaencontrarunasolucinasusproblemas. Enciertaforma,internet,atravsdesusmltiplesaplicaciones,yanoessoloun lugar donde esta juventud puede encontrar informacin, eventualmente poltica; es en realidad mucho ms que eso, es de hecho el lugar de la poltica, aquel donde amenudo,afaltadealternativa,deposibilidadesmsmaterialesdeintercambio, seconstruyeapesardetodounespaciopblicoalternativo(Gonzalez-Quijano, 2011:118). Aindaassim,seriapossvelafirmarqueestasferramentasforam responsveis pelos movimentos registrados desde o ltimo ano nos pases rabes? 11 Emquemedidaasnovasferramentascontriburamparaxitodas manifestaes NoartigoDemocracyinCyberspace:WhatInformationTecnologyCan and Cannot Do, publicado pela revista Foreign Affairs, Ian Bremmer lembra que os ex-presidentesnorte-americanosRonaldReagan,BillClinton,eGeorgeW.Bush argumentavam que a sobrevivncia de Estados autoritrios dependeria da habilidade deseusgovernantesemcontrolarofluxodeinformaodentroeatravsdesuas fronteiras.Bremmer recorda, ainda, oargumentode queos avanos da tecnologia comostelefonescelulares,mensagensdetexto,ainternet,asredessociaisiriam derrubar as barreiras entre pessoas e naes. Inthisview,thespreadofthefreedomvirusmakesitharderandcostlierfor autocratstoisolatetheirpeoplefromtherestoftheworldandgivesordinary citizenstoolstobuildalternativesourcesofpower.Thedemocratizationof communications, the theory goes, will bring about the democratization of the world (Bremmer, 2010:86). NoOrienteMdio,osgovernosautoritriostentaramlevarareceita risca. Na Tunsia, como j mencionado, o acesso internet foi interrompido logo nos primeirosdiasdeprotestoumatentativadogovernodeBenAlideevitarnovas manifestaes. No Egito, no s a internet, mas tambm as linhas de telefone celular foram desligadas. Neste segundo caso, o histrico de represso anterior ao incio do levante.AutoresdeblogscomoAbdelKareemNabilSolimanforampresosanos antes,acusadosdeinsultaroIslededifamaropresidenteHosniMubarakuma evidnciadequeasautoridadesjconsideravamperigosasestasferramentasde mobilizao (Lpez & Garca, 2012:10/19). NaSria,ondeosprotestoscontinuamsobarepressobrutaldasforas deseguranaligadasaBasharAl-Assad,atentativadeimpediradivulgaodos protestos ainda mais violenta. Uma semana antes do ataque que resultou na morte de uma jornalista americana e de um fotgrafo francs, em fevereiro deste ano, parte do prdio que funcionava como centro de mdia para a imprensa estrangeira j havia sidodestruda,quandoumaequipedaemissoraCNNtevesuasantenaspara transmisso de imagens ao vivo derrubadas por franco-atiradores (Beaumont, 2012). 12 Indeed, the best practical reason to think that social media can help bring political change is that both dissidents and governments think they can. All over the world, activists believe in the utility of these tools and take steps to use them accordingly. And the governments they contend with think social media tools are powerful, too, andarewillingtoharass,arrest,exile,orkillusersinresponse(Shirky,2011:7-8/9). ComoafirmouoautordeThePoliticalPowerofSocialMedia: Technology,thePublicSphere,andPoliticalChangeartigopublicado recentemente pela revista Foreign Affairs , Clay Shirky, em todo o mundo, ativistas tmusadoferramentascomoasmdiassociaisembuscademudanas.Osjovens rabes no foram os pioneiros. Este papel coube ao Movimento Zapatista, no Mxico, considerado, j na dcadade90,oprimeiromovimentodeguerrilhainformacional,porsuaestratgia decomunicao(Castells,2001:103).Formadoporndiosecamponeseseapoiado por intelectuais, o grupo lutava pelo direito terra e pela garantia da atividade rural, principalfontederendadasfamliasqueviviamnaflorestadeLacandon,na fronteiracomaGuatemala.Depoisdevinteanosinstabilidadeedeseguidas expulsesdoslocaisondeviviameplantavam,trsmilmanifestantesarmados assumiramocontroledasprincipaiscidadesprximasdafloresta,natentativade seremouvidoserespeitadospelogoverno.Aaosedeunodia1dejaneirode 1994,quandoentrouemvigoroAcordoNorte-AmericanodeLivreComrcio (Nafta),compromissoque,noMxico,resultounaderrubadadasbarreirasde importaodemilhoedasmedidasprotecionistasaospreosdocafdecisoque afetaria diretamente as j prejudicadas comunidades indgena e camponesa,j que a produodemilhoecaferaumadasbasesdaeconomialocal.Combinada ocupaocombatidapeloExrcitoMexicano,ogruposevaleudadistribuio massificadadee-mailsparadivulgarosmotivoseobjetivosdoprotesto.Dozedias depois, pressionado pela opinio pblica no s do pas, mas tambm internacional , o ento presidente Carlos Salinas de Gortari, anunciou um cessar-fogo unilateral e nomeou um representante para negociar com os manifestantes. AutilizaoamplamentedifundidadaInternetpermitiuaoszapatistas disseminareminformaesesuacausaatodoomundodeformapraticamente instantnea,eestabeleceremumarededegruposdeapoioqueajudaramacriar um movimento internacional de opinio pblica que praticamente impossibilitou o governomexicanodefazerusodarepressoemlargaescala(Castells, 2001:105).13 Outroexemplodousodasnovasferramentasdecomunicaopara promovermudanaspolticas,anteriorPrimaverarabe,sedeunasFilipinas,em janeirode2001,quandooentopresidenteJosephEstradaenfrentavaumprocesso deimpeachment.Duranteojulgamento,noCongressoNacional,parlamentares favorveis ao presidentevotaram de forma a desconsiderar evidncias fundamentais contraEstrada.Emmenosdeduashoras,milharesdefilipinos,indignadoscoma possibilidadedeumpresidentecorruptoescapardacassao,tomaramumadas principais avenidas da capital, Manila. Mensagens de texto repassadas entre telefones celularesajudaramaconvocaroprotesto.AsmensagensdiziamGo2EDSA [EpifaniodelosSantosAvenue].Wearblk(Shirky,2011:1/9).Amultidofoi crescendoe,trsdiasdepois,Estradaestavaforadopoder.Foiaprimeiravezque uma mdia social ajudou a derrubar um presidente, segundo Clay Shirky: Thepublic'sabilitytocoordinatesuchamassiveandrapidresponse--closeto sevenmilliontextmessagesweresentthatweek--soalarmedthecountry's legislatorsthattheyreversedcourseandallowedtheevidencetobepresented. Estrada's fate was sealed; by January 20, he was gone. The event marked the first timethatsocialmediahadhelpedforceoutanationalleader.Estradahimself blamed "the text-messaging generation" for his downfall. (Shirky, 2011:1/9) Bremmer (2010) recorda, ainda, de outros casos de mobilizao pelo uso detelefonescelularesederedessociaisnainternet.Em2004,naseleies presidenciaisnaUcrnia,asmensagensdetextotambmforamutilizadaspara organizarachamadaRevoluoLaranja.Apoiadoresdocandidatodaoposio, ViktorYushchenko,foramsruasreclamardoresultadodavotao,considerada fraudulentaerepletadeirregularidades.Osprotestosresultaramnaconvocaode umsegundoturno,deondeYushchenkosaiuvencedor.NoLbano,ativistas convocados por e-mail e tambm pelas mensagens de texto via telefone celular foram sruasexigiraretiradadastropassriasquehquase30anosocupavamopas. Bremmer lembra que, um ms depois, a Sria foi obrigada a atender reivindicao por conta das presses internacionais. No Ir, em 2009, a populao tambm recorreu a ferramentas tecnolgicas para contestar o resultado das eleies presidenciais, que deramvitriaaMahmoudArmadinejad.Osmanifestantesreclamavamdefraudes, comvotosaocandidatoopositor,MirHosseinMousavi,desconsiderados.O MovimentoVerde,comoficouconhecido,terminou,porm,comumaforte represso aos manifestantes (Shirky, 2011:2/9).14 Nospasesrabes,opensamentodequeasredessociaisnainternet tiverampapelfundamentalnarealizaodosprotestosganhouforaapsos governosdaTunsiaedoEgitocortaremoacessodapopulaointernet.Na Tunsia,inclusive,muitoantesqueBenAlipudesseimaginaradeflagraodeum levante,ousodoFacebookeraatmesmoincentivadopelogoverno,umatentativa de distrair a populao, afastando-a do debate poltico:En este ltimo pas [Tnez] en particular, las autoridades, preocupadas por excluir delaredtodoesbozodedebatepoltico,favorecieronsudifusinantesdedarse cuenta,demasiadotardeyaparaprohibirlo,dequepodasertambinunpotente instrumentodesocializacinpolticaSeraunerrorconsiderablereducirel dominiodelasredessocialesaloqueimaginMarkZuckerberg(Gonzalez-Quijano, 2011:114). EmentrevistaparaarevistaCinciaeCultura,daSociedadeBrasileira para o Progresso da Cincia, o socilogo Sergio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), lembrou que o Twitter teve um papel importante quando as autoridades egpcias decidiram cortar o acesso rede. Quando a maioria dos provedores de acesso internet foi desconectada no Egito, o Twitterdivulgouumnmerodetelefoneemqueaspessoaspoderiamgravar depoimentosqueeramremetidosparaaredesocialepoderiamserouvidospelos seguidores do @speak2tweet (Evangelista, 2011:19). Destaforma,gruposantesmarginalizadosganharamvozeatmesmo pasesdoOcidenteviram-seobrigadosareavaliarsuaposturadiantedarepresso dispensada pelo Egito aos manifestantes.Larepercusindelosacontecimientoscreceylosciudadanosseconvierten tambin en productores de informacin y noticias. Los nuevos espacios sociales 2.0 ayudanafacilitarladifusindeinformacinyalmismotiempoayudanalos activistas a estimular la conciencia social (Lpez & Garca, 2012:16-17/19). Noentanto,paraumaanlisemaisadequadadarelaodopoderdas mdiassociaisempromoverademocratizao,seriaprudenteavaliarasreais dimenses do alcance de tais ferramentas, que, supostamente, despertam o temor de governantes autoritrios no Oriente Mdio. Umapesquisadivulgadaem2011peloCenterforInternationalMedia Assistance,vinculadoaoTheNationalEndowmentforDemocracy,comsedeem Whashington,apontouqueasredessociaissuperaramosmeiostradicionaisde informaonospasesrabes.Sozinho,oFacebookteriamaisde17milhesde 15 usurios, nmero superior aos 14 milhes de jornais vendidos na regio. No caso do Egito,revelaoestudo,50%dapopulaobuscamseinformarpelainternet,parcela superioraos34%queconsomemainformaoexclusivamentedosjornais.Ainda segundo a pesquisa, o nmero de usurios da internet nos pases rabes deve chegar a 100 milhes at 2015 (Lpez & Garca, 2012:10/19). A penetrao da telefonia mvel nos pasesrabes tambm pode ser um indicadorparaajudaradimensionaraparticipaodestetipodeferramentana organizaoeconvocaodosprotestosqueresultaramnaquedaderegimes autoritrios.NoEgitooalcancedostelefonescelulares,comservioderede3Ge acessibilidadeaservioscomoanavegaonainternetchegaa68%dapopulao. NaTunsia,opercentualdealcancedaredemvelde63%(Lpez&Garca, 2012:11/19). Si el ordenador se lleva en el bolsillo, con l van tambin todos sitios web, incluidos aquellos que permiten la participacin de los usuarios y el debate en red, destacam os pesquisadores da Universidade de Santiago de Compostela. 16 Fonte:GrupodeAsesoresrabe,disponibleenJibtel.com(Lpez&Garca, 2012:11/19). Porm,aatualrealidadeevidenciaqueoacessodapopulaorabe internet ainda desigual. Na Tunsia, o primeiro pas a conseguir xito na derrubada doregimeautoritrioaquedadeBenAlilevoumenosdeummsparaocorrer apenas27%dapopulaotmacessorede.NoEgito,ondearennciadeHosni Mubarak se deu, tambm, em tempo recorde,a proporo ainda mais reduzida: s 16%sousuriosdainternet.OsdadosforamdivulgadospelarevistaVanguardia Dossier, com base no levantamento de 2008 do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). PAS POPULAO INTERNET ANALFABETOS Bahrein1,170 mi51,9%9,2% Arbia Saudita25,316 mi31,5%14,5% Tunsia10,270 mi27,1%22% Sria21,765 mi17,3%16,4% Egito84,875 mi16,6%33,5% Yemen22,860 mi 1,6%39,1% Lbia6,420 mi 5,1%11,6% No obstante a penetrao desigual da internet nas comunidades afetadas pelaondademanifestaes,aproporodeusuriosdoFacebooknestespases aindamenor.Se,naTunsia,20,8%dapopulaomantmumperfilnestesitede relacionamento,noEgito,osusuriosdoFacebookcorrespondemaapenas7%da populao (Rivera, 2011:120).Apesar de os nmeros no favorecerem, primeira vista, a tese de que as redes sociais teriam contribudo para os protestos e a consequente queda de ditadores 17 quehdcadasocupavamopoder,taisdadosevidenciamumacensuraferrenha, iniciada muito antes do incio destes ltimos levantes. YvesGonzalez-Quijanoressaltaque,aolongodosltimos10anos,a repressopolicialtemampliadosuareadeatuaonomundorabe.Aprimeira estratgia,nosanosiniciais,foidificultaraomximooacessoavriossitesda internet. Depois, a aofoi contra os blogs e seus autores. E, mais recentemente, se concentrou tambm sobre as redes sociais ora proibindo o acesso, ora recorrendo a estas mesmas ferramentas como forma de monitorar as atividades dos militantes das revoltas.OautordoartigoLasrevueltasrabesentiemposdetransicindigital: Mitosyrealidadeschamaaatenoparaofatodeque,emboraastcnicasde rastreamento de informaes e represso evoluam rapidamente, h sempre um atraso emrelaosferramentasinovadorasusadaspelosmilitantesparadifundirsuas ideias.Se puede considerar as que la cada de los regmenes tunecino y egipcio correspondeaunaespeciedeventanadeoportunidadatravsdela cuallaprotesta,mediantelanovedaddesusformasdemovilizacin, pudo llevarse a cabo. Sin embargo, y de manera mucho ms decisiva, los recientesdesarrollossonfundamentalmenteconsecuenciadel crecimiento de una verdadera cultura de la red, llamada a extenderse cadavezmsenelsenodelajuventudrabe.(Gonzalez-Quijano, 2011:117-118) Ocrescimentodonmerodeusuriosdainternetnaregioseriauma evidncia desta nova cultura. A quantidade de pessoas conectadas cresceu vinte e trs vezes em um perodo de dez anos: saltou de 2,5 milhes, em 2000, para os atuais 60 milhes.Gonzalez-Quijanodestacaqueboapartedestesusuriosformadapor jovens, uma parcela numerosa da populao hoje, segundo o pesquisador, a mdia de idade na regio de 21 anos; na Europa essa mdia de 37,7 anos. Son los nios del baby boom rabe de los aos 80 quienes, llegados a la edadadulta,engrosanhoylosbatallonesdelarevueltarabe[...].En estesentido,noeserradoafirmarquelaredderedes,consus modalidadesdeexpresinespecialmenteflexiblesyfuertemente liberadas del formalismo lingstico de las generaciones anteriores, se convirti sin duda en el lugar donde se elabora el espritu de la poca, inclusoensudimensincontestataria...Eldinamismodelawebrabe daabundantetestimoniodeello,entantosehavuelto,atravsdesus redes, sus sitios y sus foros de discusin, el principal laboratorio de una 18 jovencreacinqueinventaunamodernidadhbridaydesacomplejada. (Gonzalez-Quijano, 2011:120)Seosnmeroscolocamemdvidaopoderdasredessociaisnainternet narealizaodosprotestosquevieramaserchamadosdePrimaverarabe,nose podedescartaraanlisedopapeldasgrandesredesdetelevisonapropagaodo queeradivulgadopelosusuriosdoFacebook,TwittereYouTube.AugustnDe Gracia,responsvelpelaAgnciaEfenoOrienteMdio,relataqueasredesde televisoAlJazeeraeaconcorrenteAlArabiamostravamimagensdosprotestose antecipavampartedainformaonoTwitter,antesmesmoqueestesdados chegassemaosprpriossitesdasemissoras.Eapartirdaeramdisseminadaspara todos os usurios do microblog, provocando uma reao em cadeia: An ms, la interrelacin fue tal que en plena plaza Tahrir, el epicentro delarebelinegipcia,fueroninstaladasdospantallasgigantesde televisinparaseguirlosacontecimientos,yafueranlosdiscursos oficialesenlaltimaetapadelrgimendeMubarakolasmismas reaccionesquehabaenlaplazaTahrir.Esdecir,losmanifestantesde Tahrir eran a la vez protagonistas y espectadores (De Gracia, 2011:172). AcoberturadaAlJazeerafoiconsideradaumaameaapelogoverno egpcio,quedecidiufechartodososescritriosdaemissoranopas.Amedidafoi vistacomodesesperada,jqueaemissorapossuidezenasdemilhesde telespectadores regulares em todo o mundo. Jornalistas passaram a ser perseguidos e detidos pela polcia no apenas nas ruas, mas tambm nas sacadas com vista para a praa Tahir, centro das mobilizaes (De Gracia, 2011:172). Aindaassim,arededetevconseguiutransmitirimagensaovivopara todo o mundo direto do Cairo, alm de manter contato com jornalistas locais.Conunpblicoquereneporloregularvariasdecenasdemillonesde televidentes,lamsclebredelascadenasrabesofreciuna contribucin mucho ms decisiva a las rebeliones populares rabes que la de las redes sociales en internet. Estas, en el mejor de los casos, solo renenaalgunoscentenaresdemillaresdeusuarios,engeneral reclutados en categoras sociales ms bien favorecidas y en teora menos sensibles que el resto de la poblacin a los llamados al cambio poltico. (Gonzalez-Quijano, 2011:119) Masqualseriaomotivo,ento,parasedartantodestaqueaossitesde relacionamento na internet na realizao dos protestos? 19 Quase todos os autores consultados parecem concordar que, de fato, estas ferramentas contriburam para a organizao e convocao das manifestaes. Mas o destaque, s vezes exagerado, se deve maisa uma questo da cultura Ocidental, em especial cultura norte-americana. OpresidentedaEurasiaGroup,umadasprincipaisempresas internacionaisdeconsultoriaemriscopoltico,IanBremmer,lembraqueos americanos sempre acreditaram no poder das inovaes tecnolgicas como forma de promoverapazegerarodesenvolvimentoseriaumadasrazespelasquaisesta viso otimista sobre a inter-relao das ferramentas de comunicao, a informao e a democracia to presente nos Estados Unidos.Americans believe that the millions of people around the world who use theInternet,anAmericaninvention,willeventuallyadoptAmerican politicalbeliefs,muchlikemanyofthosewhowearAmericanjeans, watchAmericanmovies,anddancetoAmericanmusichave(Bremmer, 2010:87) OuvidopelarevistaCinciaeCultura,daSociedadeBrasileiraparao ProgressodaCincia,osocilogoLuizCarlosPintoconcordacomaanliseinicial deIanBremmersobreootimismodecertosanalistasaoavaliaropapelde ferramentascomoostelefonescelulareseasredessociaisnainternetnasrevoltas rabes. Nossatradiotenderaatribuiraessasduasredessociaisuma importnciacapitalnaquedadeMubarak,emsintoniacomumadasperspectivas atravsdasquaisoOcidenteinterpretaarelaoentreoshomensesuas tecnologias. Nessa perspectiva, prometeica, as tcnicas e as tecnologias so artfices dedesenvolvimento,dailuminao,daliberdade,daautonomia.(Evangelista, 2011:19) Bremmer lembra, ainda, que muitos destes otimistas usam como exemplo pessoasquemantmblogsnaChina,naRssiaetambmnospasesrabes algumasvezescomtextosescritosemlnguainglesaparadefenderopapelda internet na promoo dademocracia, do pluralismo e dos Direitos Humanos. Maso autordoartigoDemocracyinCyberspaceenfatizaquecentenasdemilharesde pessoasquemantmestetipodepginanainternetnoprprioidiomadeorigem 20 segundoele,somaisde75milhessnaChina,muitasvezesestomais preocupadascomtemasdaculturapopdoquecomfilosofiaoupoderpolticopara promovermudanas,comoaquedaderegimesautoritrios.Inotherwords,the toolsofmoderncommunicationssatisfyaswide arangeofambitionsandappetites as their twentieth-century ancestors did, and many of these ambitions and appetites do not have anything to do with democracy (Bremmer, 2010:87). Almdisso,emmuitospasescomoocasodoOrienteMdioe tambmdaChinahumaforterestrioecontroleporpartedogovernosobreo acesso da populao a determinados endereos na internet. Na Sria, por exemplo, o regime de Bashar Al-Assad preocupa-se em limitar ao mximo as conexes, a ponto deficaremtolentasquetorna-seimpossvelparaosusuriosvisualizaroumesmo publicar imagens. O governo chegou a bloquear por completo o acesso da populao rede,maspoucotempodepois,acabouvoltandoatrs.Gozalez-Quijanodestaca queestanofoiumamedidavoltadaampliaodasliberdadesindividuais,mas exatamenteocontrrio.Serviuparaqueumexrcitoeletrnico,favorvelao regime, fosse mobilizado para defender a posio do governo. Coincidiendoconlasprimerasmanifestaciones,estadecisinnopuede interpretarsecomosealdeunsbitointersdelpodersirioporla satisfaccindelos internautassino,porelcontrario,comolamarcade unaestrategiadestinadaacontrolarmejorelconflictoofreciendoun espaciodeexpresinenredesestrechamentevigiladas(Gonzalez-Quijano, 2011:116). Bremmer complementa esta ideia: Citizensarenottheonlyonesactiveincyberspace.Thestateisonline, too, promoting its own ideas and limiting what an average user can see anddo.Innovationsincommunicationstechnologyprovidepeoplewith newsourcesofinformationandnewopportunitiestoshareideas,but theyalsoempowergovernmentstomanipulatetheconversationandto monitor what people are saying. (Bremmer, 2010:89) Para este especialista, regimes autoritrios esto tentando se assegurar de que o crescimento no livre fluxo de pensamentos e informaes no ambiente virtual abastea a economia sem ameaar o poder poltico de seus representantes.Bremmer relataque,emjunhode2010,aChinadivulgouumdocumentocomosdireitose responsabilidades dos usurios de internet no pas. O documento garantiria liberdade 21 de discurso na rede e o direito de participar, de ser ouvido e de fiscalizar as aes do governo, de acordo com as leis. Ao mesmo tempo, as novas regras determinam que, emterritriochins,ainternetestsobajurisdiodasoberaniachinesa.Uma ressalva que, segundoBremmer,legitima o firewall chins, um sistema complexo defiltrosquedesviamoubloqueiamoacessoadeterminadossites,paramanteros usurios somente nas pginas aprovadas pelo governo (Bremmer, 2010:89). Mas as tticas de controle da rede no terminam a. Assim como na Sria, um exrcito de usurios estaria sendo recompensado com pagamento em dinheiro para defender as posies do governo chins na web. TheaverageChineseWebsurfercannotbesurethateveryideaor opinionheencountersincyberspacegenuinelyreflectstheviewsofits author. The government has created the 50 Cent Party, an army of online commentatorsthatitpaysforeachblogentryormessage-boardpost promoting the Chinese Communist Partys line on sensitive subjects. This is a simple, inexpensive way for governments to disseminate and disguise official views. Authoritarian states do not use technology simply to block thefreeflowofunwellcomeideas.Theyalsouseittopromoteideasof their own (Bremmer, 2010:89). O socilogo Srgio Amadeu, da Universidade Federal do ABC, resume a avaliaodeanalistasmenossuscetveisconcepodequeasredessociaisforam promotoras das mudanas no Oriente Mdio. Asredesderelacionamentoonlineforamutilizadasindiscutivelmente paraarticularerepercutirosprotestos,maselesnoforamassementes darevolta.Estasorigensestonodesgasteprofundodoautoritarismo pr-americanonoEgitorepresentadopelogovernodeMubarak.[...] Todavia,asredespermitiramquearevoltaocorridanaTunsiagerasse umrpidoefeitonoEgito,garantiramaarticulaodosprimeiros protestoseforamimportantesparasensibilizaraopiniopblica mundial. (Evangelista, 2011:18-19) YvesGonzalez-Quijano,pesquisadordoInstitutFranaisduProche-Orient, em Damasco, parece concordar com esta anlise. E ressalta, mais uma vez, o papeldoindivduonautilizaodasferramentasdeinternetquepermitiram rapidamentedisseminarosmotivos,objetivoseconsequnciasdosprotestos.Na anlisedestepesquisador,asnovastecnologiasnopromovem,automaticamente,a democratizao. 22 Porelcontrario,esnecesarioirmsalldelasmerascifrasy estadsticasparaatenderalacapacidaddelosprotagonistaspara integrarlosrecursosdelasnuevastcnicas,queinclusoreformulanen funcindesuspropiasnecesidades(porejemplo,haciendodeunared socialestudiantilcomoFacebookunaherramientademovilizacin poltica,otransformandounserviciodemicromensajeradeltipode Twitterenunarmadeluchaurbana).[...]Porsupuesto,lasnuevas tecnologasdelainformacinydelacomunicacinnohaceno,en todocaso,nohacenellassolaslasrevoluciones(Gonzalez-Quijano, 2011:120-121)Bremmer demonstra concordar com o argumento acima e vai ainda mais alm.Oespecialistadefendeque,seasnovastecnologiasajudaramapromoveras mobilizaes,foiporquejhaviaumsentimentoderevoltaeumademandapor mudanas.The Internet makes it easier for users with political interests to find and engagewithotherswhobelievewhattheybelieve,butthereislittle reliable evidence that it also opens their minds to ideas and information thatchallengetheirworldviews.Themediumfuelsmanypassionsconsumerism and conspiracy theories, resentment and fanaticismbut it promotescallsfordemocracyonlywherethereisalreadyademandfor democracy.Iftechnologyhashelpedcitizenspressureauthoritarian governmentsinseveralcountries,itisnotbecausethetechnology created a demand for change. That demand must come from public anger at authoritarianism itself. (Bremmer, 2010:88-89) A revolta, no caso rabe, remonta dcadas anteriores. Alguns analistas apontamaorigemdosproblemasaoinciodosanos70,quandotemincioo surgimento dos estadosbaseados na economia do petrleo.A injeo extraordinria derecursosdeixouapopulaoesperanosa.Porm,muitospasesnosouberam diversificaraeconomia,neminvestirpartedosrecursosnoatendimentodas necessidadesbsicasdeseushabitantes.Asobrevivnciadosregimesautoritrios, nestecontexto,sedeveu,portanto,aosinvestimentosadvindosdaexploraodo petrleo que possibilitaram a manuteno do Estado, do exrcito e da polcia e de um sistema sempre presente de forte represso para controlar qualquer iniciativa que questionasse a legitimidade destas autoridades (De Gracia, 2011:169). Por isso que analistasmais atentos ao queesteve por trs dos levantes avaliam que os protestos, quando efetivos, so o resultado de um longo processo. O 23 socilogo Carlos Pinto faz questo de ressaltar quem foram os verdadeiros atores da revoluo no Mundo rabe. A revoluo no Egito foi apropriada pela ideia de que ela a revoluo dasredessociais,enodeseupovo!Essaperspectivadespolitizao debate;peemsuspensoahistoricidadedarevoltapopularnoEgito; escondeosartficesqueconquistaramsualegitimidadecomotalna vivncia cotidiana, ou seja, o povo. (Evangelista, 2011:19) por este fundo histrico de descontentamento, indignao, pelo cansao dapopulaocomosdesmandosdoditadorecomascondiesinsatisfatriasde vida, que a revolta no arrefeceu com obloqueio ao acesso da populao internet, noEgito.AmalSharif,integrantedeumdosprincipaismovimentosresponsveis pela deflagrao dos protestos, disse a uma jornalista que, quando decidiu desligar a redeedecretartoquederecolheratmesmoaosempresrios,HosniMubarak, estava, na verdade, incentivando a revolta.Al principio ramos menos, pero ahora sin Internet y con el toque de queda tan pronto, la gente no trabaja y puede salir a la calleaprotestar.SihubieraInternet,lagentesequedaraencasamirando Facebook y Twitter (De Gracia, 2011:171). Quando j no havia mais redes de telefonia mvel, nem internete suas redessociaisemfuncionamento,osegpciospassaramabuscarinformaespelos meios tradicionais, recorrendo a maneiras simples de alertar a populaopara o que estavaocorrendoeatrairnovosmanifestantes.Lasconvocatoriassedifundanpor lasmezquitas,sevoceabanporlosdistintosbarriosdeElCairoyalagenteque asomaba por la ventana o la terraza se las invitaba a participar en la marcha (De Gracia, 2011:171).Contudo, existe, ainda, um outro argumento que refora a importncia de ferramentascomooFacebookeoTwitternarealizaodasmanifestaes.Para sustent-lo,ClayShirkyrecorreaoestudodesenvolvidoporElihuKatzePaul Lazarsfeldapsaseleiespresidenciaisde1948nosEstadosUnidos.Estes socilogos descobriram que a comunicao de massa, sozinha, no capaz de mudar opensamentodaspessoas.Existeumsegundopasso,depoisdatransmissode opiniespormeiodosveculosdecomunicao:estasopiniesprecisamser repercutidas entre amigos, familiares, colegas de trabalho. E neste segundo estgio queseformamasopiniespolticas.Aliberdadepoltica,ento,dependedeuma 24 sociedade informada e conectada o suficiente para discutir sobre os fatos atuais. Para Shirky,ainternete,maisespecificamente,asredessociais,podemcontribuirneste segundoestgio.[]theInternetspreadsnotjustmediaconsumptionbutmedia production as well -- it allows people to privately and publicly articulate and debate a welter of conflicting views (Shirky, 2011:4-5/9). JavierDeRiveraconcorda,aodizerquenoh dvidadequeosnovos meios de comunicao permitem uma multilateral e ampla difuso da informao. E ressaltaquegraasaestastecnologiasqueexistemmilharesdecmeraspara registrararealidade,comumespaodigitalinfinitoparamostrarestasimagense para falar a respeito delas. O pesquisador, porm, afirma que a interao dos usurios nasredessociaisvirtuaisnoimplicanofuncionamentomaisdemocrticonemem uma conscincia social mais ampla da sociedade. E critica a insistncia da mdia em reforaroprotagonismodasredessociais,especialmentedoFacebook,no surgimentodemovimentossociaisengajadosnatransformaopolticadesuas realidades.Lainsistenciamediticaenelprotagonismodelasredessociales(en concretoFacebook)seasemejamsaumaoperacindepublicidad corporativaqueaunretratofiabledelarealidadsocialdeaquellos pases. De hecho, semejante enfoque meditico produce un ocultamiento delosverdaderosdesencadenantesylosverdaderosactoresdelas revueltas en los pases rabes. (Rivera, 2011:123) Esta parece ser a avaliao mais equilibrada a respeito da relao do uso da internet e dasredes sociais, seja por meio docomputador ou do telefone celular, na Primavera rabe: a de que estas ferramentas serviram mais como um suporte para organizar os protestos, divulgar seus objetivos, arregimentar participantes e divulgar os acontecimentos para sensibilizar a opinio pblica mundial.Porsupuesto,hacerdelasredessocialeselalfayomegadelasluchas polticas,hablandoporejemploderevolucinFacebook,equivalea confundir los medios y los fines y, sobre todo, a atribuirle a lo que no es msqueunsoportedecomunicacinpoderesquenoposee,aun considerandoquelaexpresinnotienesinounvalormetafricoyque buscamsbienindicarlaexistenciadeunclimageneral,inclusode ciertamovilizacinpopular,posiblegraciasalosnuevosmediosde comunicacin (Gonzalez-Quijano, 2011:118-119). 25 AspalavrasdeMarkZuckerberg(emmaiode2011),ocriadordo Facebook, s reforam a tese de que no houve uma Revoluo Facebook:OFacebooknofoinecessrio,nemsuficiente,paraquequaisquer destes eventos tenham ocorrido. Vdeodisponvelem. 26 Concluso Como vimos, ferramentas tecnolgicas como as redes de relacionamento na internet tiveram, sim, papel de destaque ao longo dos conflitos que resultaram na Primaverarabe.Porm,noforamoFacebook,oTwitter,oYouTube,nemas mensagens de texto repassadas entre telefones celulares que provocaram os protestos.Aorigemdarevoltaemergiudeumdescontentamentohistricodas populaesrabescomafaltadeemprego,osbaixosnveisdedesenvolvimentoe, principalmente com a corrupo no governo, as injustias e a represso. Seasredessociaisderamvozaquemantesnoeraouvido,fazendoas imagensdosprotestoseosdepoimentosdosmanifestanteschegaremsgrandes redes de comunicao e, por consequncia, ao mundo, foi, na verdade, a persistncia dosmanifestantesque,mesmocomaausnciadeinternetoudelinhastelefnicas, permitiu que milhares de pessoas fossem s ruas clamar por seus direitos. RevoluoFacebook,porassimdizer,tornou-seumtermomais metafrico do que literal, para descrever os meios utilizados pelos ativistas para fazer chegar ao maior nmero de pessoas os objetivos e as causas de sua revolta.REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BEAUMONT,Peter.Atiremnosjornalistas,aliosriadaPrimaverarabe. Folha.comIlustrssima.28/02/2012.Disponvelem . Acesso em 23/03/2012. BREMMER,Ian. Democracy in Cyberspace: WhatInformation Tecnology Can and Cannot Do. Foreign Affairs. November / December 2011, Volume 89, n. 6, 86-92. CASTELLS,Manuel.Opoderdaidentidade-Aeradainformao:economia, sociedade e cultura. 1996, Volume 2. So Paulo: Editora Paz e Terra, 2001, 530 p. DE GRACIA, Augustn. Las rebeliones rabes sientan bases histricas por el uso de latecnologa.CICCuadernosdeInformacinyComunicacin,vol.16,oct.2011. Disponvelem. Acesso em 26/01/2012. EVANGELISTA,Rafael.Ferramentasdainternetsemostramimportantesna organizaodemanifestaespolticas.Cienc.Cult.[online].2011,v.63,n.2,18-20.Disponvelem. 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