2013_DaviRabeloVianaLeite
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i
UNIVERSIDADE DE BRASLIA
FACULDADE DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELTRICA
MEDIDORES ELETRNICOS: ANLISE DE VIABILIDADE
ECONMICA NO CONTEXTO DAS REDES
INTELIGENTES
DAVI RABELO VIANA LEITE
ORIENTADOR: MARCO AURLIO GONALVES DE OLIVEIRA
DISSERTAO DE MESTRADO EM ENGENHARIA ELTRICA
PUBLICAO: PPGENE.DM - 518/2013
BRASLIA/DF: Maro 2013
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ii
UNIVERSIDADE DE BRASLIA
FACULDADE DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELTRICA
MEDIDORES ELETRNICOS: UMA ANLISE DA VIABILIDADE
ECONMICA NO CONTEXTO DAS REDES INTELIGENTES
DAVI RABELO VIANA LEITE
DISSERTAO DE MESTRADO SUBMETIDA AO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELTRICA DA FACULDADE
DE TECNOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE BRASLIA, COMO
PARTE DOS REQUISITOS NECESSRIOS PARA A OBTENO DO
GRAU DE MESTRE
APROVADA POR:
___________________________________________________
Prof. Marco Aurlio Gonalves de Oliveira (ENE/UnB)
(Orientador)
___________________________________________________
Prof. Ivan Marques de Toledo Camargo (ENE/UnB)
(Examinador Interno)
___________________________________________________
Carlos Alberto Calixto Mattar (ANEEL)
(Examinador Externo)
Braslia, 1 de maro de 2013.
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iii
FICHA CATALOGRFICA
LEITE, DAVI RABELO VIANA
Medidores Eletrnicos: Anlise De Viabilidade Econmica No Contexto Das Redes
Inteligentes [Distrito Federal] 2013.
xi, 81p., 210 x 297 mm (ENE/FT/UnB, Mestre, Dissertao de Mestrado Universidade de
Braslia. Faculdade de Tecnologia.
Departamento de Engenharia Eltrica
1.Redes inteligentes 2.Medio eletrnica
3.Tarifao horria 4.Regulao
I. ENE/FT/UnB II. Ttulo (srie)
REFERNCIA BIBLIOGRFICA
LEITE, Davi R. V. (2013). Medidores Eletrnicos: Anlise De Viabilidade Econmica No
Contexto Das Redes Inteligentes. Dissertao de Mestrado em Engenharia Eltrica,
Publicao PPGENE.DM-518/2013, Departamento de Engenharia Eltrica, Universidade
de Braslia, Braslia, DF, 81p.
CESSO DE DIREITOS
AUTOR: Davi Rabelo Viana Leite.
TTULO: Medidores Eletrnicos: Anlise De Viabilidade Econmica No Contexto Das
Redes Inteligentes.
GRAU: Mestre ANO: 2013
concedida Universidade de Braslia permisso para reproduzir cpias desta dissertao
de mestrado e para emprestar ou vender tais cpias somente para propsitos acadmicos e
cientficos. O autor reserva outros direitos de publicao e nenhuma parte dessa dissertao
de mestrado pode ser reproduzida sem autorizao por escrito do autor.
____________________________
Davi Rabelo Viana Leite
Campus Universitrio Darcy Ribeiro
70910-900 Braslia DF Brasil.
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iv
AGRADECIMENTOS
Agradeo a Deus pela sade que me permite estudar e trabalhar.
minha esposa Rachel Alcntara pela compreenso durante minha ausncia, pelo amor e
carinho de todos os momentos.
Aos meus pais Selma e Viana pelos valiosos ensinamentos de toda a vida.
Aos amigos da SRD pelas sugestes e apoio sem o qual este trabalho no seria possvel.
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v
RESUMO
Medidores Eletrnicos: Anlise De Viabilidade Econmica No Contexto Das Redes
Inteligentes
Autor: Davi Rabelo Viana Leite
Orientador: Marco Aurlio Gonalves de Oliveira
Programa de Ps-graduao em Engenharia Eltrica
Braslia, maro de 2013
Para a implantao de redes inteligentes deve haver, primeiramente, a substituio dos
medidores atualmente instalados por equipamentos dotados de funcionalidades adicionais.
No Brasil, esse passo inicial foi dado em decorrncia da aplicao de tarifao horria
(chamada de tarifa branca) para consumidores em baixa tenso.
No entanto, apesar de ser estratgico para a disseminao das redes inteligentes no pas, h
dvidas sobre a viabilidade econmica de substituir medidores. Nesse sentido, este
trabalho avalia se o primeiro passo para implantao de redes inteligentes no Brasil a troca de medidores vivel.
Para isso, consideram-se trs cenrios: substituir os medidores de todos os usurios em
baixa tenso, trocar apenas dos que optarem pela nova modalidade tarifria ou no ofertar
a tarifa branca. Para cada cenrio, calculado o quanto a demanda deve ser diminuda para
que a troca de medidores seja minimamente vivel. Posteriormente, feita uma avaliao
se a reduo calculada possvel de ser alcanada.
Considerando que o Brasil um pas grande e diverso, escolheu-se 10 distribuidoras (CEB,
Celesc, Celpa, Celtins, Coelce, Copel, Elektro, Eletropaulo, EMG e Sulgipe) e, com base
nos clculos realizados, eleito o melhor cenrio para cada uma delas. Baseado no
resultado individual de cada empresa, escolhido o melhor cenrio para o pas.
Para os clculos, so reunidas diversas informaes acerca das distribuidoras escolhidas e
so realizadas estimativas. Como essas estimativas so expectativas de valores futuros, ao
final do trabalho realiza-se uma anlise de sensibilidade.
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vi
ABSTRACT
Electronic Meters: Economic Feasibility In The Context Of The Smart Grids
Author: Davi Rabelo Viana Leite
Supervisor: Marco Aurlio Gonalves de Oliveira
Programa de Ps-graduao em Engenharia Eltrica
Braslia, March of 2013
To deploy smart grids, firstly it is necessary to change the electricity meters currently
installed for ones with additional features. In Brazil, this first step was given due the
application of time of use tariffs (named white tariff) on low voltage consumers.
However, despite being strategic to roll out smart grid on the country, there are doubts
about the economic viability of this exchange of meters. Thus, this study evaluates if the
first step to roll out smart grids in Brazil the exchange of meters is feasible.
In this sense, three scenarios are considered: replace all meters on low voltage level,
change only the meters of who opt for the TOU tariff, or do not offer the white tariff. For
each scenario, it is calculated how much the demand should be reduced to pay the
exchange of the meters. Subsequently, an assessment is made whether the calculated
reduction can be achieved.
Considering that Brazil is a large and diverse country, 10 utilities were selected (CEB,
Celesc, Celpa, Celtins, Coelce, Copel, Elektro, Eletropaulo, EMG and Sulgipe) and, based
on the appraisal carried, the best scenario is chosen for each company. Based on the
outcome of each individual utility, the best scenario is chosen for the whole country.
For this appraisal, much information about the utilities was collected and held various
estimates. As these estimates are expectations of future values, in the end of the study a
sensitive analysis is carried out to inform how accurate these estimates should be.
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vii
SUMRIO
1 INTRODUO ........................................................................................................... 1
2 REVISO BIBLIOGRFICA ................................................................................... 3
2.1 CONSIDERAES INICIAIS .............................................................................. 3
2.2 REDES INTELIGENTES ....................................................................................... 3
2.2.1 Conceito ........................................................................................................... 3
2.2.2 Redes Inteligentes no mundo ........................................................................... 5
2.2.3 Redes Inteligentes no Brasil ............................................................................ 8
2.3 TARIFAO HORRIA .................................................................................... 12
2.4 TARIFA BRANCA .............................................................................................. 15
2.5 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................... 17
3 MATERIAL E MTODOS ...................................................................................... 18
3.1 CONSIDERAES INICIAIS ............................................................................ 18
3.2 METODOLOGIA DE CLCULO ....................................................................... 21
3.3 DISTRIBUIDORAS ESCOLHIDAS ................................................................... 25
3.4 CENRIOS DE ESTUDO ................................................................................... 28
3.5 ESTIMAO DAS VARIVEIS ........................................................................ 31
3.5.1 Custo de instalao do medidor ..................................................................... 32
3.5.2 Custo adicional da atividade de leitura .......................................................... 36
3.5.3 Benefcio da reduo de consumo aps a instalao do medidor.................. 38
3.5.4 Custo da Expanso do Sistema ...................................................................... 41
3.6 REDUO ACEITVEL DA DEMANDA DE PONTA ................................... 47
4 RESULTADOS E DISCUSSO .............................................................................. 51
4.1 CONSIDERAES INICIAIS ............................................................................ 51
4.2 DEMANDA A SER REDUZIDA EM CADA DISTRIBUIDORA ..................... 51
4.3 O MELHOR CENRIO EM CADA DISTRIBUIDORA ................................... 53
4.4 O MELHOR CENRIO PARA O BRASIL ........................................................ 54
4.5 ANLISE DE SENSIBILIDADE ........................................................................ 58
4.5.1 Quantidade de consumidores dispostos a aderir tarifa branca .................... 60
4.5.2 Custo do medidor .......................................................................................... 61
4.5.3 Custo adicional de leitura .............................................................................. 61
4.5.4 Reduo de consumo ..................................................................................... 62
4.5.5 Taxa de desconto ........................................................................................... 62
4.6 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................... 62
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viii
5 CONCLUSES E RECOMENDAES ............................................................... 64
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................ 67
APNDICE A CURVAS DE CARGA: ........................................................................ 73
APNDICE B FLUXOS DE CARGA: ......................................................................... 77
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ix
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 Quantidade de consumidores nas distribuidoras escolhidas (2011). ............. 28 Tabela 3.2 Percentual estimado de adeso tarifa branca ............................................... 30 Tabela 3.3 Preo de compra de medidores eletrnicos em licitaes pblicas. ............... 33 Tabela 3.4 Valor presente do gasto com instalao de medidores. .................................. 35 Tabela 3.5 Valor presente do gasto adicional com leitura. ............................................... 38 Tabela 3.6 Consumo anual mdio dos consumidores submetidos tarifa branca. .......... 39 Tabela 3.7 Custo mdio de compra da energia para as distribuidoras. ............................ 40 Tabela 3.8 Valor presente do benefcio associado reduo de consumo. ...................... 41 Tabela 3.9 Custo Mdio da Coelce. (Aneel, 2012l) ......................................................... 44 Tabela 3.10 Custo Mdio da CEB .................................................................................... 45 Tabela 3.11 Custo Mdio da Celpa. ................................................................................. 45 Tabela 3.12 Custo Mdio da Copel. .................................................................................. 45 Tabela 3.13 Custo Mdio da Eletropaulo. ........................................................................ 45 Tabela 3.14 Custo Mdio da Celesc ................................................................................. 45 Tabela 3.15 Custo Mdio da Celtins ................................................................................ 45 Tabela 3.16 Custo Mdio da Elektro. ............................................................................... 45 Tabela 3.17 Custo Mdio EMG ........................................................................................ 45 Tabela 3.18 Custo Mdio Sulgipe .................................................................................... 46 Tabela 3.19 Custo de expanso da baixa tenso. .............................................................. 46 Tabela 3.20 Resultados observados/estimados em estudos de aplicao de tarifa horria. ............................................................................................................................................. 47
Tabela 3.21 Percentual aceitvel de reduo de demanda de ponta. ................................ 48 Tabela 4.1 Demanda que deve ser reduzida para viabilizar os cenrios. ......................... 51 Tabela 4.2 Percentual de reduo aceitvel nas distribuidoras estudadas. ....................... 53 Tabela 4.3 Escolha do melhor cenrio para cada distribuidora ........................................ 54 Tabela 4.4 Comparao entre os cenrios nas distribuidoras estudadas. ......................... 55 Tabela 4.5 Comparao entre os cenrios para o Brasil. .................................................. 56 Tabela 4.6 Anlise de sensibilidade ................................................................................. 60
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x
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 Mapa com as implantaes de rede inteligente no mundo. (Google, 2012) ..... 7 Figura 2.2 Comparao entre a modalidade tarifria convencional e a tarifa branca. (Aneel, 2011a) ..................................................................................................................... 16 Figura 3.1 Sistema de distribuio hipottico. ................................................................. 22 Figura 3.2 Comparao da evoluo da carga com e sem a tarifa branca para o sistema hipottico. ............................................................................................................................ 23 Figura 3.3 Comparao da expanso anual com e sem a tarifa branca para o sistema hipottico. ............................................................................................................................ 23 Figura 3.4 Fluxo de caixa para instalao de medidores (Coelce). .................................. 35 Figura 3.5 Fluxo de caixa para o gasto adicional com leitura (Coelce). .......................... 37 Figura 3.6 Fluxo de caixa associado reduo de consumo (Coelce). ............................ 41 Figura 3.7 Fluxo de potncia na Coelce durante a carga mxima. (Reviso Tarifria/TUSD 2011 - Estrutura Vertical Coelce, 2010) ................................................... 43 Figura 3.8 Fluxo de potncia exigido de 1 MW adicional na baixa tenso da Coelce. .... 44 Figura 3.9 Curva de carga dos subgrupos B1, B2 e B3 da Coelce. (Reviso Tarifria/TUSD 2011 - Estrutura Vertical Coelce, 2010) ................................................... 50 Figura 3.10 Curva de carga dos subgrupos B1, B2 e B3 da Elektro. (Reviso Tarifria 2011 - Estrutura Vertical - Elektro, 2011) ........................................................................... 50
Figura 4.1 Fluxo de caixa que viabiliza o Cenrio Integral da Coelce. ............................ 52 Figura 4.2 Fluxo de caixa que viabiliza o Cenrio Optantes da Coelce. .......................... 52 Figura A.1 Curva de carga da CEB. ................................................................................. 73 Figura A.2 Curva de carga da Celesc. .............................................................................. 73 Figura A.3 Curva de carga da Celpa................................................................................. 74 Figura A.4 Curva de carga da Celtins............................................................................... 74 Figura A.5 Curva de carga da Copel. ............................................................................... 75 Figura A.6 Curva de carga da Eletropaulo ....................................................................... 75 Figura A.7 Curva de carga da EMG. ................................................................................ 76 Figura A.8 Curva de carga da Sulgipe .............................................................................. 76 Figura B.1 Fluxo de carga da CEB. .................................................................................. 77 Figura B.2 Fluxo de carga da Celesc. ............................................................................... 77 Figura B.3 Fluxo de carga da Celpa. ................................................................................ 78 Figura B.4 Fluxo de carga da Celtins. .............................................................................. 78 Figura B.5 Fluxo de carga da Coelce. .............................................................................. 79 Figura B.6 Fluxo de carga da Copel. ................................................................................ 79 Figura B.7 Fluxo de carga da Elektro. .............................................................................. 80 Figura B.8 Fluxo de carga da Eletropaulo. ....................................................................... 80 Figura B.9 Fluxo de carga da EMG. ................................................................................. 81 Figura B.10 Fluxo de carga da Sulgipe. ........................................................................... 81
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xi
LISTA DE ABREVIAES
A1 - Nvel de tenso at 230 kV
A2 - Nvel de tenso 88 kV
A3 - Nvel de tenso 69 kV
A3a - Nvel de tenso de 25 a 44 kV
A4 - Nvel de tenso at 15 kV
ABRADEE - Associao Brasileira de Distribuidoras de Energia Eltrica
AMPLA - Ampla Energia e Servios S.A.
ANEEL - Agncia Nacional de Energia Eltrica
B1 - Classe de consumo Residencial do nvel Baixa Tenso
B1 No Baixa Renda - Classe B1 excluindo a subclasse Baixa Renda
B2 - Classe de consumo Rural do nvel Baixa Tenso
B3 - Classe de consumo Demais Classes do nvel Baixa Tenso
BT - Nvel de tenso Baixa Tenso, at 1 kV
CEB - Companhia Energtica de Braslia
Celesc - Centrais Eltricas de Santa Catarina
Celpa - Centrais Eltricas do Par
Celtins - Companhia de Energia Eltrica do estado do Tocantins
Cemat - Centrais Eltricas Matogrossenses S.A.
Cemig - Cemig Distribuio S.A.
Coelce - Companhia de Eletricidade do Estado do Cear
consumidores-tipo - Usurios de um mesmo subgrupo tarifrio com a mesma
tipologia de curva de carga
Copel - Companhia Paranaense de Energia
CPFL - Companhia Paulista de Fora e Luz
Elektro - Elektro Eletricidade e Servios S.A.
Eletropaulo - AES Eletropaulo
EMG - Energisa Minas Gerais
Enersul - Empresa Energtica de Mato Grosso do Sul S.A.
INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia
IPCA - ndice de Preos ao Consumidor Amplo
MME - Ministrio de Minas e Energia
PPH - Pesquisa de Posses e Hbitos
Sulgipe - Companhia Sul Sergipana de Eletricidade
VP(Consumo) - Valor Presente associado reduo do consumo
VP(Inst. medidor) - Valor Presente do gasto referente instalao de medidores
VP(Leitura) - Valor Presente associado ao custo adicional da leitura de
medidores
WACC - Weighted Average Cost of Capital Custo Mdio Ponderado do Capital
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1
1 INTRODUO
Embora a informtica tenha se tornada corriqueira em carros, prdios e telefones, ainda
no a nos sistemas de distribuio de energia eltrica. Apesar de os sistemas de
automao existirem a muito tempo, somente nos ltimos anos se passou a discutir
necessidade de captar e processar informaes em tempo real e de automatizar a tomada de
deciso na distribuio de eletricidade.
No se trata de um atraso ou uma defasagem do setor eltrico, mas essa aparente demora se
d pelo fato de os sistemas de distribuio funcionarem muito bem no mundo analgico.
No entanto, a popularizao de certas tecnologias (gerao distribuda e carros eltricos,
por exemplo) aliada aos novos anseios da sociedade (um mundo mais sustentvel e sem
desperdcios e uma tarifa mais mdica) trazem desafios que exigem a revoluo dos
sistemas de energia eltrica. O resultado que, em poucas dcadas, a rede no poder ser
operada da mesma forma que se faz atualmente.
Essa mudana no acontecer em um futuro distante, mas j realidade e vem ocorrendo.
Em breve, ser evidente e se tornar rotina. A nova rede que est surgindo chamada de
rede inteligente (ou smart grid, em ingls) pela capacidade de processar dados em tempo
real e ajudar os operadores a tomar decises. Como toda mudana tecnolgica em
andamento, a disseminao dessas redes inteligentes requer grandes investimentos,
levantando discusses sobre a sua viabilidade econmica e a melhor forma de implant-la.
Em todo o mundo, h diversas iniciativas de estudo e disseminao de redes inteligentes.
Muitos pases j consideram o assunto estratgico e os governos nacionais vm atuando de
forma a dirimir os obstculos para sua completa implantao.
No Brasil, as iniciativas prticas ainda so tmidas, limitando-se a diversos projetos pilotos.
No obstante, o arcabouo regulatrio vem sendo preparado para receber a nova tecnologia
no sistema de distribuio. Uma das alteraes regulatrias recentes trata da possibilidade
de o consumidor em baixa tenso optar pela tarifao horria. A mudana o primeiro
passo para a disseminao das redes inteligentes no Brasil, no pela aplicao da tarifa
horria em si, mas por implicar na modernizao dos sistemas de medio e exigir
profundas mudanas no tratamento de informaes provenientes das unidades
consumidoras.
-
2
Nesse sentido, este trabalho procura avaliar se a troca de medidores motivada pela
aplicao da tarifao horria vivel. Mais que analisar se a tarifa branca se paga, busca-
se avaliar se a substituio de medidores vivel como um primeiro passo do objetivo
estratgico de disseminar as redes inteligentes.
Para faz-lo, foram eleitas 10 distribuidoras para avaliar que alteraes nos hbitos de
consumo seriam necessrias para viabilizar a troca de parte ou de todos os medidores. Com
base no melhor cenrio para cada empresa, escolhido o melhor para todo o pas:
substituir todos os medidores, trocar apenas dos que solicitarem a tarifa branca, ou no
ofertar a tarifao horria.
-
3
2 REVISO BIBLIOGRFICA
2.1 CONSIDERAES INICIAIS
Antes de adentrar em estimativas e clculos de custos e benefcios advindos com a troca de
medidores, preciso entender como essa substituio est relacionada com as redes
inteligentes, cuja conceituao bastante ampla e, de certo modo, abstrata. No intuito de
desmistificar o que uma rede eltrica inteligente, o presente Captulo rene definies de
diversos autores, assim como resume as principais experincias de implantao da
tecnologia no mundo e no Brasil.
Ao dar um entendimento mais concreto sobre redes inteligentes, destacando os seus
possveis benefcios, este trabalho foca na aplicao de tarifao horria para consumidores
em baixa tenso. Nessa linha, realiza uma descrio de como benfico induzir os usurios
a utilizar a rede de forma mais racional. Por fim, descreve a recm criada tarifa branca a
ser aplicada em consumidores de baixa tenso no Brasil.
2.2 REDES INTELIGENTES
2.2.1 Conceito
A expresso smart grid foi utilizada pela primeira vez em 2005, por um artigo publicado
na revista IEEE P&E Magazine por Massoud Amin e Bruce F. Wollenberg. (Ministrio de
Minas e Energia, 2012) Conceitualmente, o governo americano define que a smart grid
no uma coisa, mas uma viso a ser alcanada, na qual as redes eltricas devem ser
construdas de forma a, alm de suprir o usurio com eletricidade, abordar diversas outras
perspectivas (social, ambiental, poltica, econmica, etc.). De forma mais concreta,
descreve as redes inteligentes como aquelas que permitem participao mais ativa dos
consumidores no mercado de eletricidade, acomodam sistemas de gerao e
armazenamento distribudos, permitem a prestao de novos servios, melhoram a
qualidade, aperfeioam a gesto dos ativos, permitem a recuperao automtica da rede
(self-healing, ou autocura), e, ainda, so mais resistentes a ataques cibernticos ou a
desastres naturais. (US Department of Energy, 2009)
A principal lio dessa definio a de que uma rede passa a ser inteligente quando
constituda de modo a melhorar a prestao dos servios de eletricidade com foco na
soluo de demandas sociais, polticas, econmicas, extrapolando o prprio setor eltrico.
-
4
Portanto, as redes inteligentes reafirmam a importncia dos servios de eletricidade para a
sociedade. Obviamente, no necessrio que as caractersticas listadas pelo governo
americano estejam concomitantemente reunidas para se classificar uma rede como
inteligente.
Qualquer sistema torna-se inteligente atravs do sensoriamento, comunicao, aplicao de
inteligncia artificial e do controle com base nos dados obtidos, ajustando-se
continuamente. Em um sistema eltrico, isso permite inmeras funes que aperfeioam o
uso dos recursos de gerao, armazenamento, transmisso e distribuio de energia
eltrica, aumentam a confiabilidade e o gerenciamento dos ativos, alm de mitigar
impactos ambientais e reduzir custos operacionais. (Gellings, 2009)
Convm ressaltar que no se trata de mera automao das redes de eletricidade ou da
simples substituio de medidores por equipamentos com diversas funcionalidades. mais
do que isso, pois, caso contrrio, informaes importantes, tais como a verificao da
qualidade da energia e a localizao de falhas em tempo real, no chegariam aos sistemas
de operao, e, consequentemente, nenhuma ao adicional poderia ser tomada. Ou seja,
deve haver uma coordenao sistmica para concentrar e coordenar funcionalidades
pulverizadas em diferentes reas e sistemas da distribuidora, de modo a potencializar os
benefcios e alcanar uma rede verdadeiramente inteligente. (Toledo, Gouva, & Riella,
2012)
Em um relatrio holands, as smart grids so definidas como uma infraestrutura em que a
energia eltrica gerada e distribuda de forma mais eficiente, segura e sustentvel. O
conceito integra solues de telecomunicaes, tecnologias e prticas inovadoras, alm de
produtos e servios de toda a cadeia de suprimentos desde a gerao, transmisso,
distribuio, at os equipamentos domsticos que utilizam energia eltrica. (Gerwen,
Koenis, Schrijne, & Widdershoven, 2010)
Outra definio interessante foi dada em um estudo encomendado pelo governo da
Hungria, que conceitua rede inteligente como aquela capaz de integrar de modo eficiente
os hbitos e aes de todos os usurios do sistema eltrico para aliar eficincia energtica,
sustentabilidade, baixo nvel de perdas e segurana. O documento complementa afirmando
que a implantao das smart grids no deve considerar apenas aspectos referentes
tecnologia, mercado, regulao e padronizao, mas deve estar aliado tambm s polticas
governamentais. (Hungarian Energy Office, 2010)
-
5
Para outro autor, o termo smart grid referencia-se ao sistema de distribuio o qual permite
que informaes fluam a partir do medidor em dois sentidos: tanto para a distribuidora
quanto para os eletrodomsticos e o termostato dentro das residncias. O aumento nas
informaes acessveis aos operadores da rede viabiliza a melhora no planejamento e na
operao durante os horrios de ponta. O autor avalia que so necessrias mudanas no
arcabouo regulatrio e evoluo tecnolgica para que o uso das redes inteligentes seja
ilimitado. (Abel, 2008)
Como possvel depreender das definies acima, a conceituao da tecnologia no
objetiva. Essa ampla conceituao decorre da evoluo e da popularizao do tema em
diversos pases, fazendo surgir diferentes vises sobre a tecnologia. Logo, no h viso
certa ou errada, e a rede dada como inteligente se suprir necessidades especficas. Como
as demandas variam se um pas para o outro, o conceito das smart grids tambm difere.
No Brasil, o Grupo de Trabalho do Ministrio de Minas e Energia foi criado com a
finalidade de estudar o tema no Brasil. Esse grupo define que cinco funcionalidades devem
estar presentes para se caracterize uma rede como inteligente: mensurar grandezas;
transmitir os dados medidos (telecomunicaes); processar as informaes recebidas
(informtica); tomar decises de forma automtica, ou ajudar o operador na tomada de
decises (informtica); e atuar de forma remota na rede (telecomunicaes). (Ministrio de
Minas e Energia, 2012)
Nesse sentido, basicamente, as redes inteligentes pressupem implantao prvia de
medidores mais modernos e incorporao de tecnologias de informtica e solues de
telecomunicaes s tradicionais redes de distribuio de energia eltrica.
2.2.2 Redes Inteligentes no mundo
2.2.2.1 Estados Unidos
Ao redor do mundo, diversas iniciativas ressaltam a importncia das redes inteligentes.
Nos Estados Unidos, um livro temtico do Department of Energy DoE, voltado para
conscientizao dos consumidores, ressalta que as smart grids ajudaro a levar o consumo
de energia eltrica ao sculo 21, utilizando megabytes para suprir megawatts de forma mais
eficiente, confivel e acessvel. (US Department of Energy, 2010)
No pas, apesar de a regulao da eletricidade ser de competncia estadual, o governo
federal entendeu que a implantao de redes inteligentes estratgica e lanou em 2009
-
6
um pacote de US$ 3,4 bilhes para modernizar a rede eltrica do pas. Os recursos fazem
parte do programa de recuperao econmica do pas e tem o intuito de melhorar a
confiabilidade do fornecimento e gerar dezenas de milhares de empregos. (Jornal da
Energia, 2009)
Segundo anlise do Electric Power Research, a previso que o programa reduza o
consumo dos EUA em at 4% at o ano de 2030, representando uma economia de US$
20,4 bilhes para empresas e consumidores. (Jornal da Energia, 2009)
A implantao de redes inteligentes nos Estados Unidos faz-se necessria pelo fato do
sistema eltrico no estar preparado para as novas formas de consumo. Alm do desafio de
interligar o sistema de transmisso do pas, a instalao de grandes plantas de gerao a
partir de fontes renovveis principalmente solar e elica , os blecautes e o
envelhecimento dos ativos exigem expanso do sistema de transmisso e uso de novas
tecnologias. (Gellings, 2009)
Alm da iniciativa federal, alguns estados americanos vm se destacando na implantao
de redes inteligentes, em especial o Texas e a Califrnia.
2.2.2.2 Europa
A Europa onde a implantao de redes inteligentes encontra-se mais avanada. Desde
2005, o uso da tecnologia est previsto em algumas Diretivas Europeias emitidas pelo
Parlamento Europeu, com fora de legislao supranacional.
De um modo geral, os pases europeus apresentam um alto nvel de consumo energtico.
Tendo em vista a dependncia de importao de recursos energticos em especial
petrleo e gs natural , os apelos por sustentabilidade ambiental e a averso social s
usinas nucleares, os governos vm considerando formas de reduzir o consumo energtico
no continente.
No entanto, o alto custo da mo de obra impe que os consumidores de energia eltrica
sejam lidos poucas vezes ao longo do ano, dificultando a implantao de programas de
eficincia energtica. Para contornar o problema, em 2006, a Diretiva Europeia EU-
2006/32/CE estabeleceu que os medidores devem refletir o consumo real de energia
eltrica e dar informaes sobre o perodo real de utilizao. (Lamin, 2009)
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7
Nesse cenrio, as redes inteligentes vm sendo utilizadas como ferramenta para alcanar as
metas do Plano 20-20-20 europeu. O pacote, aprovado no final de 2008, prope
ambiciosas metas no campo climtico e energtico at 2020: reduo de 20% da emisso
dos gases de efeito estufa, em relao aos nveis de 1990; aumento para 20% da
participao de fontes renovveis na matriz energtica; e aumento em 20% da eficincia
energtica. (Parlamento Europeu, 2011)
Com base nestes marcos, alm da liberalizao do mercado para baixa tenso, diversos
pases j iniciaram a implantao e esto em estado avanado na implantao, com
destaque para a Itlia, que j implantou mais de 30 milhes de medidores inteligentes.
2.2.2.3 Austrlia
Na Austrlia, foi formado um Grupo de Trabalho ministerial para estudar o assunto. Em
um de seus documentos, o grupo limitou-se a definir a medio inteligente (base das smart
grids) como o uso de medidores capazes de medir o uso da eletricidade em pequenos
espaos de tempo, permitindo o controle e leitura das faturas remotamente. O referido
grupo cita que a tecnologia reduz custos de prestao do servio de distribuio de energia
eltrica, melhora o fator de uso das redes e melhora o desempenho da rede. (NERA, 2008)
2.2.2.4 Outros locais no mundo
Na Internet possvel acompanhar a transformao das redes em todo o mundo. O Google
disponibiliza um mapa mostrando as iniciativas de uso de inteligncia em redes de energia
eltrica, gua e gs.
Figura 2.1 Mapa com as implantaes de rede inteligente no mundo. (Google, 2012)
-
8
Na figura, cada smbolo vermelho indica uma implantao de redes inteligentes no setor
eltrico, enquanto que os azuis representam as iniciativas no setor de distribuio de gua e
os verdes so os de gs. Clicando nos smbolos possvel obter informaes de aplicaes
de medio e rede inteligente em lugares improvveis, tais como Paquisto, Ir, Azerbajo,
Sria (gua), Trinidad e Tobago, Dominica e Jamaica.
2.2.3 Redes Inteligentes no Brasil
No Brasil, o uso da tecnologia ainda incipiente. Apesar de uma pesquisa promovida pela
ANEEL revelar que 8% dos medidores j eram eletrnicos em 2008, os mesmos no eram
dotados de inteligncia adicional. A nova tecnologia est sendo utilizada apenas porque o
custo do equipamento eletrnico tornou-se inferior ao do eletromecnico. (Leite,
Albuquerque, Lamin, & Camargo, 2011) Assim, est havendo uma migrao tecnolgica
na rede eltrica no Brasil, sem que isso represente uma rede mais inteligente.
Com exceo de alguns projetos experimentais e a aplicao em larga escala como
combate ao furto de energia no Rio de Janeiro, detalhados a seguir, pode-se afirmar que a
implantao de redes e medio inteligente ainda est em fase de estudos.
2.2.3.1 Aplicao da AMPLA no combate ao furto e a reao da sociedade
A Ampla Energia e Servios S.A. (Ampla) a distribuidora de energia eltrica responsvel
pela prestao do servio em 66 municpios do estado do Rio de Janeiro. Em 2010, seus
2,32 milhes de consumidores (90% residencial) consumiram 8,2 TWh de energia eltrica
(sendo 67% em baixa tenso), gerando uma receita superior a R$ 2,6 bilhes.
Devido a fatores histricos, condies sociais e urbanizao da rea de concesso, a
empresa enfrenta srios problemas relacionados inadimplncia e, em um nvel mais
grave, o furto de energia eltrica. A dimenso do problema to grande que a ANEEL
reconheceu, na formao da tarifa da distribuidora em 2009, que a energia perdida por
critrios no tcnicos equivalia a 27,13% do mercado em baixa tenso. (Aneel, 2009a)
Em outras palavras, a distribuidora precisa comprar quatro kWh para que trs cheguem a
seus consumidores. Obviamente, o custo do kWh perdido rateado por todos os usurios
da rea de concesso.
Para combater o problema, a distribuidora investiu na blindagem da rede e na implantao
de um sistema avanado de medio nas regies mais problemticas. O sistema consiste
em concentrar vrios medidores no alto do poste (Sistema de Medio Centralizada), com
-
9
leitura remota em tempo real, balano energtico e capacidade de interromper e
restabelecer remotamente. Em setembro de 2008 havia mais de 300 mil unidades
consumidoras com o sistema implantado. (Ampla, 2008a)
O sistema, comercialmente chamado de Ampla Chip, foi um dos responsveis pela reduo
de 20% do furto de energia na rea de concesso da empresa. Apesar dos prmios e do
destaque internacional, a adoo da medio inteligente pela Ampla tambm rendeu vrios
problemas empresa.
A falta de informao sociedade acerca da nova tecnologia gerou inmeras manifestaes
contrrias implantao do novo modelo de medidor. Os consumidores reclamaram de
aumentos de 300% das faturas de energia em funo da instalao do novo medidor. Por
sua vez, a empresa alegava que o aumento era decorrente da regularizao do sistema de
medio destes usurios.
Em 2007 foi instaurada uma Comisso Parlamentar de Inqurito (CPI) na Assembleia
Legislativa do Rio de Janeiro para investigar as denncias, cujo pice ocorreu quando da
constatao pelo INMETRO1 que, em determinadas condies, o sistema de medio
utilizado pela Ampla poderia apresentar erros superiores ao limite regulamentar. Em
inspeo em 1.305 aparelhos, constatou-se o problema em medidores polifsicos. (G1,
2009)
Apesar de a reduo de perdas ser desejvel, por resultar em reduo tarifria e eficincia
energtica, a falta de informaes provocou repdio da sociedade tecnologia.
Atualmente, aps as correes metrolgicas e disseminao dos efeitos benficos do
sistema, a empresa d continuidade implantao da medio inteligente com foco no
combate s perdas no tcnicas.
Apesar dos erros, o Ampla Chip um caso de sucesso. A revista Exame, da editora Abril,
classificou a iniciativa como uma das dez maiores inovaes brasileiras da ltima
dcada. (Exame, 2008)
Estima-se que a distribuidora passou a faturar cerca de 300 GWh a mais por ano em
decorrncia da implantao da tecnologia. Alm de elevar a arrecadao da empresa, isso
resultou em reduo dos nveis tarifrios uma vez que os consumidores honestos deixam
1 Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia.
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10
de ratear o custo deste consumo no faturado, estimado em R$ 30 milhes por ano.2
(Ampla, 2008a)
2.2.3.2 Programa Smart Grid Light
A Light a detentora da concesso do servio de distribuio de energia eltrica em 31
municpios do estado do Rio de Janeiro, inclusive a capital, e responsvel por atender 4
milhes de clientes.
Entendendo que a distribuidora tem um importante papel na definio dos rumos da
tecnologia (padronizao e opes de implementao), a empresa lanou o Programa
Smart Grid Light para dar subsdios prticos na implantao de redes inteligentes no
Brasil, em complemento aos estudos tericos desenvolvidos pela ANEEL e MME na
formao de polticas pblicas. Atualmente, ou em um futuro prximo, a empresa lida com
desafios que exigem o uso de dispositivos mais modernos e automatizados, alm de uma
sinergia dentro da prpria distribuidora. Os principais desafios so: furto de energia,
inadimplncia, gerao distribuda, aumento da demanda por eletricidade e conscientizao
da sociedade acerca de eficincia energtica. (Toledo, Gouva, & Jnior, 2012)
Entretanto, no foram somente os problemas que motivaram a Light a elaborar o programa.
A empresa cita alguns objetivos estratgicos importantes: melhoria do relacionamento com
o cliente; incluso tecnolgica, social, financeira e econmica de seus consumidores;
realizao dos Jogos Olmpicos de 2016 no Rio de Janeiro; promover a sinergia de
programas contra as perdas, inadimplncia, modernizao e automao das redes;
expectativa de formas alternativas de consumo, tais como o carro eltrico; reduo de
gases do efeito estufa; potenciais parcerias com os poderes pblico e privado; dentre
outros. (Toledo, Gouva, & Jnior, 2012)
O programa foi iniciado em 2010, com durao prevista para 3 anos, e dividido em 5
subprojetos: desenvolvimento de uma plataforma de redes eltricas inteligentes, integrando
medio e automao; desenvolvimento de sistemas de gesto de redes subterrneas;
gesto de redes areas; controle da demanda pelo lado do consumo; e o desenvolvimento
de um sistema inteligente de gesto de fontes renovveis, armazenamento distribudo e
veculos eltricos. (Toledo, Gouva, & Jnior, 2012)
2 Considerado que a empresa compra 1 MWh a R$ 100,00.
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11
At o momento, o programa j desenvolveu equipamentos de comunicao voltados aos
servios de distribuio e medidores inteligentes que permitem a gesto do consumo e
maior interao com o consumidor com diversas funcionalidades. Alm disso, foram
criados canais diferenciados de interao com o consumidor e esto previstos, ainda, o
desenvolvimento de diversos softwares de gesto, de eletrodomsticos inteligentes, a
instalao de um laboratrio e centro de demonstrao, a criao de centros de recarga de
veculos eltricos, dentre outros produtos inovadores. (Toledo, Gouva, & Jnior, 2012)
Em breve, a empresa pretende instalar os produtos desenvolvidos no mbito do projeto em
sua rea de concesso. Aps essa etapa, promete divulgar resultados preliminares.
2.2.3.3 Estudos da ANEEL
Em 2008 foi realizado o Seminrio Internacional de Medio Eletrnica pela ANEEL.
No evento, discutiu-se acerca da regulao, impacto tarifrio, funcionalidades e
experincias de implantao de medio inteligente. (Aneel, 2008b)
No ano seguinte foi publicada a Consulta Pblica n 15/2009, a qual traz um levantamento
do parque de medio nacional e incentiva discusses sobre a tecnologia, tais como
possveis custos e benefcios, funcionalidades, projetos-pilotos e formas de implantao no
Brasil. (Aneel, 2009b)
Segundo a ANEEL, dados enviados pelas distribuidoras corroborariam que est em curso
um processo irreversvel de migrao da tecnologia de medio. Os medidores
convencionais (eletromecnicos) estavam deixando de ser utilizados e fabricados, enquanto
que o uso de equipamentos eletrnicos era cada vez mais comum. poca, cerca de 8%
dos medidores j eram eletrnicos, mas no dotados de funcionalidades adicionais.
Na viso do regulador, a evoluo no est trazendo os benefcios que deveria. Sem os
incentivos corretos, as distribuidoras vm utilizando equipamentos eletrnicos apenas pelo
custo inferior, sem dot-lo de outras funcionalidades que poderiam ser bastante teis
sociedade. Em vista disso, a Agncia estuda intervir no sentido de aproveitar esta mudana
para estender os benefcios.
No final de 2010, a ANEEL instaurou a Audincia Pblica n 43/2010, que seria uma
primeira etapa da regulamentao do uso de medio inteligente no Brasil. Nessa
oportunidade seriam definidas as funcionalidades do medidor inteligente e, posteriormente,
seria discutida a forma de implantao destes. (Aneel, 2010a)
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12
Entretanto, para esta segunda etapa, faz-se necessrio um profundo estudo de impactos
tarifrios, alm de uma anlise de custos e benefcios. Neste trabalho, prope-se uma forma
de superar as dificuldades desta ltima, conforme detalhado adiante.
2.3 TARIFAO HORRIA
Para garantir o pleno desenvolvimento de uma nao essencial que haja uma
infraestrutura robusta que garanta o crescimento econmico. O grande desafio no Brasil
nos ltimos anos foi evitar que a falta de infraestrutura para servios bsicos (transporte,
eletricidade, comunicao, etc.) impedisse o crescimento. prefervel manter uma
infraestrutura cara, que utilizada em sua capacidade mxima poucas vezes no ano, do que
deixar um servio essencial faltar sociedade.
No setor eltrico, o sistema deve ser dimensionado para atender demanda mxima, ainda
que essa ocorra uma nica vez no ano e o sistema fique ocioso durante a maior parte do
tempo. Logo, quanto mais usurios utilizarem o sistema eltrico durante o perodo de
demanda mxima, maior deve ser a infraestrutura, e, consequentemente, mais caro ser
prestar o servio.
Ocorre que o setor eltrico registra alta concentrao de consumo durante poucas horas do
dia. Como o uso de eletricidade um ato quase inconsciente normalmente associado
satisfao de necessidades bsicas, atividade econmica ou ao conforto os
consumidores, de forma involuntria, acabam provocando a expanso do sistema eltrico.
Com efeito, durante a maior parte do tempo, os ativos e o capital investido ficam ociosos.
Essa ineficincia acarreta aumento do custo mdio de prestao do servio, e
consequentemente, das tarifas de eletricidade. (Aneel, 2010b)
O consumidor que aumenta o consumo nos perodos de maior carregamento tende a ser
aquele que imputa expanso da cadeia gerao-transmisso-distribuio. O nus imputado
ao sistema por este suportado pelos demais, mesmo que no tenham feito uso de energia
nos horrios de ponta. Cria-se, portanto, um subsdio cruzado em que o consumo fora da
ponta financia aquele que feito durante o horrio de pico. (Houthakker, 1951)
O estabelecimento de uma tarifa que represente o custo horrio de prestao do servio
contribui para reduo desse subsdio cruzado. O aumento do custo da energia durante o
horrio de uso mais intenso do sistema eltrico promove uma alocao tima dos recursos,
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13
aumentando a eficincia econmica do setor eltrico atravs da reduo do consumo neste
horrio. (Apolinrio, et al., 2008)
Mas a elasticidade demanda-preo da energia eltrica baixa, uma vez que se trata de um
bem essencial sem substituto direto, e a resposta do usurio a sinais tarifrios est
relacionada classe social e atividade que desempenha. Na classe residencial,
notadamente nos lares em que a fatura de energia tem peso considervel no oramento
domstico, pode-se obervar reduo do uso de chuveiros eltricos e de iluminao quando
as tarifas esto mais elevadas. (Guardia, 2007)
Os efeitos da aplicao de tarifas horrias vo alm da resposta imediata ao preo. Assim
que a modalidade tarifria horria aplicada, alguns usurios tero capacidade de reduzir
ou reagendar o consumo em resposta aos preos. No longo prazo, o custo mdio da energia
afetar o nvel de consumo total. Em outras palavras, a aplicao de tarifas horrias resulta
imediatamente em um melhor comportamento dos consumidores e em uma reduo do
consumo total no longo prazo. (Kirschen, Strbac, Cumperayot, & Mendes, 2000)
A relao entre o aumento das tarifas e a reduo do consumo (elasticidade) j foi estudada
por diversos autores. consenso que a relao existe, mas estabelec-la uma tarefa
complexa em funo das inmeras variveis que envolvem o consumo de eletricidade.
Diversos estudos, empricos e tericos, tentam estabelecer uma correlao segura entre a
variao dos preos e o nvel de consumo. Durante uma mudana regulatria que afetou o
estabelecimento dos preos ao consumidor final em San Diego (Estados Unidos),
consumidores residenciais reduziram em at 13% o seu consumo em funo de uma rpida
e inesperada elevao da tarifa. (Reiss & White, 2008)
Um trabalho no mbito do programa de Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL,
organizado pela ABRADEE3, compila diversas pesquisas que avaliam empiricamente o
efeito do sinal horrio da tarifa sobre o comportamento da carga. No estudo, so mostrados
ndices de elasticidade consumo em relao ao preo de -0,06 a -0,89. (Santos, Leme, &
Galvo, 2011) Isso demonstra que o fator elasticidade existe, mas seu valor depende de
cada situao especfica.
Mas, apesar desse benefcio, dois grandes obstculos se pem quando se aplicam as tarifas
horrias. Alm da necessidade de aprimorar o sistema de medio utilizado nos
consumidores, o que pode custar at US$ 40 bilhes para os Estados Unidos, h o nus
3 Associao Brasileira de Distribuidores de Energia Eltrica
-
14
poltico da deciso. Os consumidores com bom fator de carga teriam reduo das faturas,
enquanto que os demais provavelmente pagariam mais pelo uso de eletricidade.
Certamente, estes ltimos seriam reativos nova tarifao. (Faruqui & Sergici, 2010)
Assim, apesar de ser complicado estabelecer uma correlao exata, observa-se claramente
que o usurio mdio de energia eltrica responde variao do custo da energia. Portanto,
a iniciativa de encarecer o custo da eletricidade nos horrios de pico (ou oferecer descontos
nos demais horrios) uma ferramenta eficaz para eficientizar o uso dos ativos de energia
eltrica. Em contrapartida, as resistncias naturais da sociedade a mudanas na forma de
faturar o consumo e o alto custo de troca de medidores constituem-se bices a tal medida.
A preocupao de alocar o consumo de modo mais racional e aproveitar ao mximo a
infraestrutura existente no novidade no Brasil. J em 1985 essa diretiva orientou a ento
nova estrutura das tarifas de energia eltrica. As modalidades tarifrias verde (para o grupo
A) e amarela (grupo B) seriam aplicadas com o interesse de melhorar a conformao da
curva de carga do sistema para otimizar o aproveitamento de sua capacidade e diminuir os
custos relativos a investimentos. (DNAEE, 1985)
A tarifa amarela poderia reduzir o valor da fatura paga pelos consumidores se esses
responderem aos preos diferenciados alterando os hbitos de consumo. Em longo prazo, a
reduo de investimentos causada pela modalidade horria acabaria sendo refletida nos
processos de estabelecimento das tarifas, gerando modicidade tarifria. (Lamin, 2009)
A tarifa amarela nunca foi implantada, mas, cerca de 25 anos depois, a mesma inteno
levou publicao da tarifa branca pela Agncia Nacional de Energia Eltrica (ANEEL).
Nos documentos que embasaram a criao dessa modalidade tarifria em 2012, o regulador
afirma que a tarifao horria consiste em estabelecer preos que se aproximam
estatisticamente dos custos de prover determinado servio, de acordo com o perodo de
consumo. Sua aplicao no tem o objetivo de reduzir o consumo, mas de aproximar o
preo ao custo de atendimento, induzindo o deslocamento do consumo das horas de maior
carregamento das redes para as que esto subutilizadas. Assim, a aplicao da tarifa branca
reduziria o custo mdio para o consumidor e o aumento da eficincia no uso das redes de
distribuio de energia eltrica, resultando na reduo de investimentos em expanso e
gerando ganhos individuais e coletivos. (Aneel, 2010b)
Nota-se, portanto, que o regulador no visa penalizar o consumidor que faz uso da energia
durante o horrio de pico, tampouco deseja reduzir o nvel de consumo do pas. A
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15
regulamentao da tarifa branca ir beneficiar o consumidor que utilize energia fora do
horrio de pico, favorecendo tambm a racionalidade no uso do sistema. A consequncia
seria a reduo de investimentos em expanso e a modicidade tarifria. (Camargo, Lamin,
Rabelo, & Albuquerque, 2011)
A diminuio da necessidade de expandir o sistema, acima destacada, refere-se
possibilidade de atender o crescimento vegetativo da carga com a capacidade da rede que
ficou ociosa aps a aplicao da tarifa branca.
Alm desse efeito, a aplicao de tarifao horria traz diversos outros benefcios.
Questes de eficincia energtica e a diminuio de investimentos so resultados de
destaque, mas no so os nicos. Alm desses, h outros ganhos, tais como a melhoria da
segurana do sistema eltrico, ganhos ambientais e at mesmo benefcios relacionados
equidade social. (Lamin, 2009) Adicionalmente, as tarifas horrias tm potencial para
melhorar a confiabilidade do sistema eltrico, o fator de potncia e o nvel de tenso de
fornecimento. (Lafferty, et al., 2001)
2.4 TARIFA BRANCA
Em 22 de novembro de 2011, a ANEEL criou uma nova modalidade tarifria para
consumidores conectados na baixa tenso: a tarifa branca. Trata-se de uma tarifa monmia
cuja cobrana baseia-se apenas na quantidade de energia consumida com trs postos
tarifrios: ponta, intermedirio e fora ponta. A nova modalidade direcionada a todos os
consumidores do grupo B, exceto os de baixa renda e iluminao pblica. A adeso tarifa
branca opcional para o consumidor, e sua efetiva aplicao depende ainda da adequao
dos medidores e das regras comerciais, ainda no definidas. (Aneel, 2011a)
A comparao entre a modalidade convencional e a tarifa branca pode ser visualizada na
figura abaixo:
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16
Figura 2.2 Comparao entre a modalidade tarifria convencional e a tarifa branca. (Aneel, 2011a)
Segundo a ANEEL, a tarifa branca visa estimular o consumo nos horrios em que a
prestao do servio mais barata. Com efeito, diminui-se a necessidade de expandir a
rede e os investimentos da distribuidora, o que se reverte em tarifas mais mdicas
sociedade. (Aneel, 2011b)
A reduo da necessidade de investimentos ocorre apenas se a demanda for reduzida,
todavia, tal reduo indireta. A aplicao de tarifas mais caras no horrio de ponta est
diretamente relacionada com a diminuio do consumo nesse perodo, mas indiretamente
com a reduo da demanda. A tarifa branca promover tarifas de consumo (kWh) mais
caras na ponta, mas no de demanda (kW). Com efeito, o incentivo para que o usurio
reduza o seu consumo eltrico, o que pode ocorrer sem que haja a reduo de demanda.
Por exemplo, com a tarifa de energia mais cara, o consumidor incentivado a tomar um
banho quente mais rpido, utilizando o mnimo de energia. Nesse caso, a demanda desse
usurio continuar a mesma: o chuveiro eltrico continuar sendo utilizado, s que por
menos tempo.
Mas, se todos os usurios esto incentivados a utilizar energia por menos tempo, diminui a
probabilidade de ocorrer consumo simultneo. Logo, o incentivo por meio de tarifas de
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17
consumo mais caras diminui o uso de eletricidade simultneo entre as unidades
consumidoras, reduzindo a demanda total enxergada pelo sistema.
Em outras palavras, se todos tomam banho mais rapidamente, a coincidncia de uso do
chuveiro eltrico diminui significativamente, de modo que a demanda total de todas as
unidades consumidoras reduzida.
Assim, ainda que de modo indireto, a aplicao de tarifas mais caras na ponta capaz de
reduzir a demanda nesse perodo. Isso foi observado nos projetos experimentais de
aplicao de tarifas horrias em baixa tenso no Brasil.
2.5 CONSIDERAES FINAIS
As experincias de implantao de redes inteligentes demonstram que esse conceito varia
de um lugar para o outro, de acordo com as necessidades de cada sociedade. Na Europa e
Estados Unidos, uma rede considerada inteligente se propiciar a reduo das emisses de
gases do efeito estufa e reduzir custos operacionais. J no Brasil, o conceito vem sendo
desenvolvido no sentido de reduzir perdas no tcnicas, aumentar a confiabilidade da rede
e assegurar o crescimento da carga. Portanto, uma rede que inteligente na realidade
europeia pode no s-la na brasileira, e vice-versa.
Com o foco de garantir o crescimento da carga com robustez e modicidade tarifria0, as
redes inteligentes viabilizam a implantao da tarifa horria para consumidores de baixa
tenso: a tarifa branca. Mas preciso, inicialmente, promover a modernizao dos
equipamentos de medio atualmente instalados, um ato cuja viabilidade econmica
estudada ao longo deste trabalho.
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3 MATERIAL E MTODOS
3.1 CONSIDERAES INICIAIS
A tarifa branca, recentemente aprovada pela ANEEL, objetiva promover uma alterao dos
hbitos de consumo dos usurios conectados em baixa tenso e obter uma reduo na
necessidade de investimentos na expanso do setor eltrico nacional. Apesar de j estar
definida a forma de clculo dessa modalidade tarifria, os medidores atualmente instalados
no so capazes de distinguir o consumo em postos horrios. Assim, h necessidade de
substitu-los para a efetiva aplicao da nova modalidade tarifria.
Ou seja, essa deciso de implantar a tarifa branca revela a estratgia da agncia reguladora
em promover uma massiva troca de medidores. Mais que a mera modernizao do parque
de medio no Brasil, isso representa um importante passo na direo de implantar redes
eltricas inteligentes no pas. Os medidores eletrnicos propiciam no somente a melhor
preciso dos valores apurados, mas o processamento, armazenamento e transmisso de
informaes, ajudando a distribuidora a operar a rede eltrica de forma mais confivel e o
consumidor a fazer uso da eletricidade com mais eficincia. A introduo da eletrnica nos
sistemas de medio revoluciona a relao entre o usurio e o setor eltrico. (Moreira,
Lamin, & Leite, 2012)
Assim, a modernizao dos medidores est relacionada disseminao das smart grids.
Com esse foco, pode-se afirmar que a ANEEL deu um importante primeiro passo nesse
sentido quando estabeleceu a tarifa horria para usurios conectados em baixa tenso. A
Agncia explicitou essa inteno ao propor uma minuta de norma que estabelece o modelo
de medidor a ser utilizado em unidades consumidoras faturadas atravs da tarifa branca. Na
oportunidade, a rea tcnica revela a inteno de promover o uso de redes eltricas
inteligentes no Brasil, em estratgia que passa pela obrigatoriedade do uso de medidores
mais modernos. (Aneel, 2012a)
A ANEEL vem estudando o tema desde 2008, e j emitiu diversos regulamentos com o
intuito de permitir (ou promover) a disseminao das redes inteligentes, por exemplo: uso
de Power Line Communications PLC (Resoluo Normativa n 375/2009); implantao
compulsria de sistemas geoprocessados (Mdulos 2 e 6 dos Procedimentos de
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19
Distribuio PRODIST); regras para instalao de micro e minigeradores distribudos
(Resoluo Normativa n 482/2012).
vlido ressaltar que o uso de tarifas horrias apenas um dos inmeros benefcios
trazidos pelas redes inteligentes. As funcionalidades adicionais que podem ser
implementadas com medidores dotados de relgio interno propiciam mitigar alguns
problemas do setor eltrico nacional, notadamente a questo do furto de eletricidade e a
qualidade do servio prestado, alm da reduo da demanda de ponta e melhoria da
eficincia operacional das distribuidoras. (Leite, Albuquerque, Lamin, & Camargo, 2011)
No obstante, este trabalho foca apenas na implantao da tarifa branca em si. A restrio
intenta analisar se a substituio de medidores viabiliza-se por si prpria, ou seja, pela
alterao dos hbitos de consumo.
Se, por um lado, os benefcios so muitos, os custos tambm so. A troca de medidores
exige a compra de novos equipamento e mo de obra de substituio. Depois de instalados,
os medidores tm vida til estimada menor e o custo de leitura maior.
Em suma, h diversos custos e benefcios associados implantao da tarifa branca.
Encarando-a como um projeto de eficincia energtica o que efetivamente verdadeiro
, possvel aferir a sua viabilidade econmica. Com esse foco, fatalmente ser necessrio
lidar com parmetros de difcil quantificao.
Um bom exemplo a estimao da economia advinda com a mudana dos hbitos de
consumo aps a aplicao de tarifas horrias. fato que os usurios alteraro o modo de
consumir eletricidade, mas estabelecer o quanto mudar bastante complexo. H diversos
trabalhos que estudam a elasticidade da energia eltrica e, dependendo de qual estudo fosse
utilizado, obter-se-ia um resultado diferente. Com efeito, utilizando os mesmos parmetros,
e se alterando apenas o estudo em que se embasa o fator elasticidade, possvel comprovar
a viabilidade ou a inviabilidade econmica da troca de medidores em prol da aplicao da
tarifa branca. Da, o estudo estaria eivado de grande fragilidade.
Ou seja, fazer uma mera comparao entre custos e benefcios da implantao da tarifa
branca no aconselhvel em funo do carter incerto das variveis envolvidas.
Para contornar esse problema, prope-se utilizar a metodologia sugerida na Circular A4 da
Casa Branca, dos Estados Unidos. Nesse documento, o governo americano d diretrizes
para avaliar os impactos sociais, ambientais, custos e benefcios, por exemplo das
-
20
normas emanadas pelo poder executivo. De acordo com as orientaes da Circular, quando
houver parmetros de difcil estimativa, deve-se calcular o quo grande deve ser essa
varivel para que a relao custo/benefcio seja favorvel ou fazer uma anlise qualitativa.
(White House, 2003)
Nessa linha, inicialmente calculado o quo grande deve ser a mudana de hbito do
consumidor para que os benefcios advindos da tarifa branca paguem a substituio dos
medidores. Posteriormente, feita uma anlise qualitativa para avaliar se essa mudana
possvel de ser alcanada.
Assim, encontra-se o quanto o usurio submetido tarifa branca deve reduzir a sua
demanda no horrio de pico para que o benefcio associado reduo de investimentos
pague o custo da troca do medidor. Evidentemente, os benefcios de uma modernizao do
medidor vo muito alm da mera aplicao da tarifa branca, j que se constituem um
importante passo para a disseminao das redes inteligentes. No entanto, todos os outros
benefcios relacionados a esse fato sero desprezados nesse estudo, que se atm a avaliar a
economicidade da tarifa branca por si prpria.
O estudo feito individualmente em cada distribuidora, escolhidas em funo da
disponibilidade de dados atualizados e da localizao geogrfica. Para cada uma delas,
encontrado um montante que deve ser diminudo da demanda de pico, o qual evita
investimentos em expanso, que, por sua vez, paga a troca dos medidores. Avaliando se
possvel alcanar tal reduo de demanda de pico, possvel concluir se a aplicao de
tarifa branca economicamente vivel para cada distribuidora.
Como esperado, o resultado no unnime para todas as distribuidoras. Enquanto em umas
a troca facilmente compensada pela reduo da demanda de ponta, em outras a
necessidade de mudana de hbitos de consumo pode ser to radical que nunca se realize,
e, consequentemente, o projeto nunca se pague. Logo, para alguns preciso implantar a
tarifa branca, ao mesmo tempo em que para outros, tal ato traz prejuzos.
Como a ANEEL um ente federal, suas normas valem tanto para as empresas cuja troca de
medidores benfica quanto para as em que a implantao dos medidores ser prejudicial.
Assim, se ps um dilema ao regulador: implantar a tarifa branca e impor prejuzo a alguns
ou no implant-la e impedir o usufruto de seus benefcios por outros. A Agncia parece j
ter enfrentado esse dilema, optando por utilizar a tarifa horria.
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21
Por fim, realizada uma anlise de sensibilidade para verificar se os parmetros estimados
tm influncia no resultado final.
3.2 METODOLOGIA DE CLCULO
O estudo visa encontrar o ponto em que a relao custo/benefcio seja minimamente vivel,
ou seja, o breakeven point que iguala o valor presente dos custos ao dos benefcios:
(3.1)
Neste trabalho, consideram-se como os custos de implantar a tarifa branca: compra e
instalao do medidor com capacidade de distinguir o consumo em postos horrios; e custo
de leitura mensal. J como benefcios: reduo da demanda de pico; e reduo do consumo
total da unidade consumidora. Reconhece-se que h diversos outros benefcios uns
monetizveis e outros qualitativos , mas, para efeitos desta dissertao, apenas esses
citados so levados em considerao. Substituindo esses custos e benefcios na equao
anterior, obtm-se:
(3.2)
Como se deseja o valor que o benefcio relacionado reduo de demanda deve assumir,
isola-se esse termo esquerda:
(3.3)
A partir da equao (3.3), encontra-se o mnimo valor monetrio que o benefcio da
reduo de demanda deve assumir para que a troca de medidores seja viabilizada. Resta
agora encontrar o quanto isso representa em termos de diminuio da demanda de pico.
Para explicar, da forma mais didtica possvel, como se transforma o valor monetrio
encontrado pela equao (3.3) em reduo de demanda ou seja, reais (R$) em quilowatts
(kW) , pode-se utilizar um sistema eltrico hipottico composto por apenas trs unidades
consumidoras atendidas por um circuito radial. Esses usurios apresentam uma carga
individual de 10 kW durante o horrio de pico no Ano 0. Assume-se tambm que a rede
opera em sua capacidade mxima, e qualquer aumento de carga ensejar a sua expanso,
conforme ilustrao a seguir:
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22
Figura 3.1 Sistema de distribuio hipottico.
Supondo agora que cada unidade consumidora aumente a sua demanda de pico em 2 kW a
cada ano, a carga mxima por cada uma no Ano 1 ser de 12 kW, de modo que a
distribuidora deve expandir a rede para que a mesma possa atender os 36 kW demandados
pelos trs usurios. Nos anos posteriores, a demanda total passar para 42 kW, 48 kW e
assim sucessivamente. Desse modo, a distribuidora deve aumentar a capacidade de
transmisso de potncia desse sistema em 6 kW a cada ano.
Para evitar que isso ocorra, o regulador decide submeter os usurios (um por ano) tarifa
branca, e, em resposta, esse consumidor faturado na nova modalidade reduza a sua
demanda de pico em 1 kW. Nessa nova situao, no Ano 1, a demanda do Consumidor 1
passaria de 10 kW para 11 kW aumentaria 2 kW (crescimento vegetativo) e diminuiria 1
kW. J os demais, no submetidos ainda nova modalidade tarifria, teriam o aumento
normal de sua carga, passando de 10 kW para 12 kW. No total, a carga do sistema
aumentaria para 35 kW no Ano 1.
Nesse Ano 1, se no houvesse a tarifa branca, a distribuidora deveria ter aumentado a
capacidade do sistema em 6 kW, ao passo em que, na nova situao, deve acrescentar
apenas 5 kW. Logo, a aplicao da tarifa branca evitou 1 kW de expanso do sistema no
Ano 1.
No ano seguinte, a demanda dos consumidores 1, 2 e 3 seria, respectivamente, 13 kW, 13
kW e 14 kW. Assim, no Ano 2, a exemplo do que ocorreu no Ano 1, a demanda sistmica
aumentou em 5 kW ao invs de 6 kW , e tambm se evitou expandir a rede em 1 kW.
Analogamente, no Ano 3 ocorreria o mesmo.
A partir do Ano 4, quando no ocorreriam mais adeses tarifa branca, a demanda voltaria
a crescer 6 kW, de modo que no se sentiriam mais os benefcios da aplicao da nova
modalidade tarifria. O grfico a seguir compara a evoluo da demanda com a aplicao
da tarifa branca:
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23
Figura 3.2 Comparao da evoluo da carga com e sem a tarifa branca para o sistema hipottico.
Abaixo, h a comparao entre o que deveria se expandir sem a tarifa horria (6kW/ano) e
o que se observou nesse caso hipottico: uma expanso menor ao longo da migrao dos
usurios.
Figura 3.3 Comparao da expanso anual com e sem a tarifa branca para o sistema hipottico.
Isso demonstra que o sistema observa uma menor expanso ao longo da migrao dos
consumidores para a tarifa branca. Logo, o benefcio de se aplicar modalidades tarifrias
horrias est relacionado ao investimento que se deixa de fazer. Por esse motivo, pode-se
monetiz-lo pelo custo da expanso evitada.
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24
No caso hipottico, evitou-se a expanso de 3 kW. Se o custo de expanso do sistema fosse
R$ 100,00 por kW, o ganho com a aplicao da tarifa branca seria R$ 300,00. Entretanto,
esse benefcio no apareceu uma nica vez, mas como uma srie de trs ganhos anuais de
R$ 100,00.
A partir da, pode-se concluir que o ganho total da aplicao de tarifa horria
representado por uma srie de ganhos anuais, relacionados com o custo que se deixa de ter
devido expanso evitada. Cada ganho anual pode ser representado por:
(3.4)
O termo Demanda(i) economia com a expanso evitada no ano i devido a reduo da
demanda de pico observada nesse mesmo ano. O parmetro VP(Demanda) da equao
(3.3) o valor presente dessas economias anuais:
(3.5)
Substituindo o termo mostrado na equao (3.4) na frmula anterior, obtm-se:
(3.6)
Como os termos do numerador so invariveis em relao ao somatrio, a equao (3.6)
pode ser rescrita da seguinte forma:
(3.7)
Para efeitos desse estudo, a taxa de desconto ser o WACC (Weighted Average Cost of
Capital Custo Mdio Ponderado do Capital) estabelecido pela ANEEL no terceiro ciclo
de revises tarifrias: 7,50% ao ano. Esse percentual a taxa de remunerao sobre a base
de ativos lquida (descontada a depreciao) qual o investidor faz jus. Assim, o termo
Taxa em (3.7) 7,5%.
J o termo n representa a quantidade de anos que o benefcio relacionado diminuio
de demanda ocorreria. Conforme explanado no caso hipottico, esse tempo coincidente
com o perodo de instalao dos novos medidores. esperado que a demanda do sistema
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25
sofra pequenos decrscimos (ou aumentos menores) ao longo dos anos em que os
medidores forem sendo instalados.
Para efeitos desse trabalho, considera-se que a migrao para a tarifa branca ocorrer ao
longo de 10 anos. Isso bastante razovel pela limitao logstica da troca de medidores.
Mesmo que todos os usurios manifestem inteno em migrar para a nova modalidade
tarifria, apenas uma quantidade limitada teria seus medidores substitudos anualmente.
Assim, a troca de medidores constitui-se um gargalo aplicao da tarifa branca.
Para refletir isso neste trabalho, considerado que a migrao para a tarifa branca ocorrer
ao longo de dez anos, ou seja, nesse perodo a distribuidora ir trocar os medidores para
que os usurios possam efetuar a migrao. A cada ano, um dcimo dos usurios teriam
seus medidores substitudos, alterariam seus hbitos e diminuiriam sua demanda. Logo, o
benefcio dura dez anos, e o termo n da equao (3.7) 10.
Isolando o somatrio da equao (3.7) e considerado Taxa igual a 7,5% e n igual a 10:
(3.8)
Substituindo essa constante na equao (3.7):
(3.9)
Por fim, substituindo o valor dado pela equao (3.9) na frmula (3.3):
(3.10)
Resta, portanto, estimar os termos direita da equao (3.10) para obter quantos quilowatts
devem ser reduzidos a cada ano, durante 10 anos. Como esses valores variam em cada
distribuidora, o clculo ser feito individualmente para cada uma delas.
3.3 DISTRIBUIDORAS ESCOLHIDAS
O Brasil um pas grande e marcado por diferenas regionais, inclusive quanto forma de
uso da eletricidade. Nas regies mais frias (Sul e Sudeste), h uma tendncia de uso de
chuveiros eltricos durante os horrios de pico, e relativamente pouco ar-condicionado ao
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26
longo do dia. Por outro lado, nas regies mais quentes como a Norte e o Nordeste, h um
alto uso de ar-condicionado durante o dia e de pouco chuveiro eltrico na ponta.
O resultado dessa diferena de comportamento que a curva de carga das distribuidoras da
Regio Sul tende a ser pior do que as da Norte, sendo que os usurios daquelas tm mais
capacidade de alterar os hbitos de consumo em resposta a incentivos tarifrios. Isso pode
ter implicao direta nos resultados de viabilidade econmica da aplicao da tarifa branca
e, portanto, o critrio geogrfico deve ser considerado na escolha das distribuidoras.
Tambm preciso levar em considerao a capacidade de se obter informaes na escolha
das empresas. Os parmetros necessrios s estimativas dependem dos custos operacionais
das empresas, os quais so estabelecidos ou estimados pela ANEEL no processo de reviso
tarifria ordinria.
No segundo ciclo de revises, iniciado em 2007, a ANEEL calculou custos operacionais de
referncia para cada uma das 64 concessionrias existentes na poca4, considerando as
especificidades de cada empresa. Assim, para cada atividade leitura mensal e instalao
do medidor, por exemplo eram estimados valores considerados eficientes.
J no terceiro ciclo, iniciado com atraso em 2012, os custos operacionais de referncia
so estabelecidos comparando distribuidoras semelhantes. Assim, a Agncia mudou a
metodologia e deixou de calcular os valores de cada atividade, passando a confrontar os
custos das empresas.
Para alguns parmetros estimados neste trabalho (custo da leitura mensal e de instalao do
medidor) so utilizados dados do segundo ciclo de revises atualizados pelos ndices de
inflao, uma vez que os mesmos no foram estimados pela ANEEL no terceiro ciclo. J
para outras variveis (custo de expanso e da energia eltrica comprada), possvel utilizar
os dados do ltimo ciclo. Esses foram divulgados pela ANEEL quando a empresa sofreu a
terceira reviso.
Assim, premissa que as distribuidoras escolhidas j tenham dados de seu terceiro ciclo de
revises tarifrias divulgados. Considerando esse princpio e a distribuio geogrfica das
distribuidoras brasileiras, escolheram-se as seguintes distribuidoras para aplicao da
metodologia aqui demonstrada, com informaes retiradas dos sites das empresas na
Internet:
4 Posteriormente a Amazonas Energia foi incorporada pela Manaus Energia.
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27
Companhia Energtica de Braslia CEB: atende ao Distrito Federal e controlada
pelo Governo do Distrito Federal.
Centrais Eltricas de Santa Catarina Celesc: empresa estatal detentora da
concesso para explorar a distribuio de energia eltrica no estado de Santa Catarina.
Centrais Eltricas do Par Celpa: responsvel pela distribuio de energia eltrica
no estado do Par, equivalente a 15% do territrio nacional. Solicitou recuperao judicial
em 28 de fevereiro de 2012.
Companhia de Energia Eltrica do estado do Tocantins Celtins: distribuidora de
energia eltrica do estado do Tocantins, onde atende 227 mil km. Encontra-se sob
interveno administrativa desde 31 de agosto de 2012.
Companhia de Eletricidade do Estado do Cear Coelce: atende o Cear, com
aproximadamente 149 mil km.
Companhia Paranaense de Energia Copel: concessionria estatal responsvel pelo
servio de distribuio no estado do Paran.
Elektro: atende 223 cidades do estado de So Paulo e 5 municpios no estado de Mato
Grosso do Sul, em mais de 120 mil km. Uma caracterstica importante da Elektro que a
distribuidora no tem a rea de concesso contgua.
Eletropaulo: Atende 6,3 milhes de clientes (2011) na regio metropolitana de So
Paulo. a maior distribuidora de energia eltrica da Amrica Latina, em termos de
consumo e faturamento.
Energisa Minas Gerais EMG: atende 66 municpios de Minas Gerais.
Companhia Sul Sergipana de Eletricidade Sulgipe: empresa que presta o servio de
distribuio em 12 municpios de Sergipe e em 2 cidades na Bahia, em 5,76 mil km.
A quantidade de unidades consumidoras dos subgrupos B1, B2 e B3 (que esto sujeitos
aplicao da tarifa branca) no final de 2011 est mostrada a seguir.
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Tabela 3.1 Quantidade de consumidores nas distribuidoras escolhidas (2011). 5
B1 Residencial
Baixa Renda
B1 Residencial
No Baixa
Renda
B2 Rural B3 Demais
Classes
Qntd. % Qntd. % Qntd. % Qntd. %
CEB 26.183 3% 736.216 84% 9.442 1% 106.216 12%
Celesc 215.031 8% 1.802.359 70% 228.897 9% 331.654 12%
Celpa 238.100 13% 1.312.732 72% 122.746 7% 158.410 9%
Celtins 79.353 17% 284.464 60% 65.196 14% 42.262 9%
Coelce 1.122.859 38% 1.237.154 42% 395.434 13% 198.460 7%
Copel 378.461 9% 2.781.096 70% 367.843 9% 438.758 11%
Elektro 156.174 7% 1.762.879 78% 126.842 6% 197.655 9%
Eletropaulo 261.190 4% 5.660.008 90% 752 < 1% 374.292 6%
EMG 81.135 21% 207.299 53% 63.701 16% 40.920 10%
Sulgipe 30.976 25% 80.920 65% 2.909 2% 10.059 8%
Os usurios classificados em baixa renda no podem ser faturados na modalidade tarifria
branca. Apesar disso, optou-se por mostrar a quantidade desses consumidores na tabela
acima para evidenciar a sua representatividade no universo da distribuidora.
3.4 CENRIOS DE ESTUDO
O estudo aqui tratado procura calcular a reduo de demanda necessria para viabilizar a
troca de medidores e, posteriormente, avaliar se a mesma factvel. No entanto, existem
diversos fatores que influenciam o resultado final: quantidade de usurios submetidos
nova tarifa, disponibilidade desses em alterar os seus hbitos de consumo, efetividade das
campanhas de conscientizao acerca da tarifa branca, etc.
Das vrias situaes que podem ocorrer, pelo menos uma est sob o controle do regulador:
a quantidade de usurios contemplados com o novo equipamento de medio. A ANEEL,
quando regulamentou os medidores da tarifa branca, deparou-se com a possibilidade de
implant-los em todos os usurios da baixa tenso ou apenas naqueles que optassem pela
nova modalidade tarifria.
A agncia reguladora optou pela segunda opo quando publicou a Resoluo Normativa
n 502/2012, embora tenha declarado em diversas oportunidades que a substituio integral
5 Informaes retiradas da intranet da ANEEL.
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dos medidores por equipamentos com funcionalidades adicionais benfica, inexorvel e
imprescindvel disseminao das redes eltricas inteligentes no pas. Segundo justificado
na Nota Tcnica n 98/2012-SRD/ANEEL, tal deciso ocorreu por prudncia quanto
modicidade tarifria e, dependendo do comportamento do mercado nos prximos anos
(queda no preo do medidor, adeso tarifa branca, criao de subsdios econmicos,
polticas governamentais especficas, e etc.), ainda se pode determinar o aumento da
abrangncia de uso de sistemas de medio mais inteligentes. (Aneel, 2012a)
Destarte, apesar de entender que a troca integral de medidores necessria, a Agncia
decidiu por determinar um primeiro passo tmido vista de alguns e correto para outros
com receito de impactos tarifrios indesejados.
Neste trabalho, consideram-se inicialmente os seguintes cenrios: o adotado pelo
regulador, de troca dos medidores apenas nos consumidores que optarem pela tarifa
branca; e a substituio integral dos equipamentos. Para cada um desses, calculada uma
reduo de demanda de pico que o viabilize e se avalia a factibilidade da mesma. Em
ambos os cenrios, considerado que o medidor instalado tem uma vida til de 15 anos.
Por isso, adota-se esse tempo como o horizonte de estudo. Por se tratar de uma anlise
relacionada implantao de uma tecnologia, deve-se evitar horizontes demasiadamente
longos de estudo, pelo fato de a tecnologia evoluir muito rapidamente e tornar impossvel
prever o novo comportamento da sociedade com essa evoluo.
Pode ocorrer de nenhum dos dois cenrios ser vivel, isto , ambos podem exigir uma
reduo de demanda to grande que os consumidores no sejam capazes de alterar os seus
hbitos de consumo de forma to drstica. Nesse caso, o melhor seria no adotar a tarifa
branca e manter o faturamento convencional, sem trocar os medidores.
Assim consideram-se trs cenrios: substituio integral dos medidores (doravante
Cenrio Integral); substituio apenas daqueles que optarem pela nova modalidade
tarifria (Cenrio Optantes); e sem troca de medidores, mantendo o faturamento
convencional sem postos tarifrios (Cenrio Sem Troca).
Para os dois primeiros cenrios, ser calculada a reduo de demanda que os viabiliza,
elegendo-se como o melhor aquele que exigir uma mudana de hbitos factvel. Se ambos
forem irrealizveis, o terceiro ser eleito o melhor.
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30
Os cenrios em que h troca diferem entre si, basicamente, pela quantidade de
consumidores contemplados com um medidor que, no mnimo, capaz de diferenciar o
consumo em postos horrios. Muito embora os custos sejam proporcionais quantidade de
equipamentos instalados na rede da distribuidora, os benefcios no so. Neste trabalho
assumido que, mesmo que se instale o medidor capaz de aplicar a tarifa branca em todos os
usurios, apenas uma quantidade limitada de consumidores est disposta a mudar os
hbitos de consumo e optar pela nova modalidade. Ou seja, a instalao dos novos
medidores em usurios que no aderiro tarifa branca traria custos sem nenhum benefcio
adicional no curto prazo. Ressalte-se que, apesar de assumido que a troca integral no trar
benefcios com a tarifa branca, h os ganhos associados disseminao de redes
inteligentes.
A quantidade de usurios que adeririam tarifa branca pode ser estimada com base na
Pesquisa de Posses e Hbitos (PPH) promovida antes de cada reviso tarifria e
disponibilizada nos processos administrativos da terceira reviso tarifria de cada empresa.
Nessa pesquisa, questionado se os consumidores estariam dispostos a alterar os hbitos
de consumo caso fosse dado um desconto de 10% ou 20% no perodo fora de ponta. Aqui
se considera que aderiro tarifa branca os usurios que responderam Com certeza
alteraria ou Alteraria para um desconto maior. O percentual de adeses em cada
subgrupo das distribuidoras estudadas mostrado a seguir:
Tabela 3.2 Percentual estimado de adeso tarifa branca
B1 Residencial
No Baixa
Renda
B2 Rural B3 Demais
Classes
CEB 6 - - -
Celesc 44% 31% 24%
Celpa 46% 16% 24%
Celtins 90% 53% 35%
Coelce 34% 21% 29%
Copel 31% 43% 11%
Elektro 39% 33% 27%
Eletropaulo 52% 53% 33%
6 Na PPH da CEB no consta o percentual de consumidores que se declararam dispostos a mudar seus hbitos
de consumo. Por isso, adotou-se a mdia de cada subgrupo das demais distribuidoras: 44% para o B1; 31%
para o B2 e 24% para o B3.
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31
EMG 17% 26% 23%
Sulgipe 56% 33% 40%
Considera-se que apenas a quantidade de usurios da tabela acima mudar seus hbitos
aps a instalao dos medidores.
A ANEEL no pode determinar a troca de medidores em uma empresa e em outra no, sob
risco de quebra do princpio da isonomia. A anlise deste trabalho tambm aborda esse
aspecto. Com base na escolha do melhor cenrio para cada uma das empresas, sugerido
um que o regulador poderia adotar uniformemente em todo o pas, de modo a maximizar o
bem-estar social sem prejudicar demasiadamente nenhuma empresa.
muito importante frisar que, com isso, no se deseja analisar ou justificar a conduta da
ANEEL na regulamentao da tarifa branca. Em estudos acadmicos, se dispe de uma
liberdade inexistente ao regulador: decidir por essa ou aquela alternativa sem por em risco
um dos setores mais estratgicos do pas e sem afetar interesses econmicos. Almeja-se
apenas dar uma contribuio para os estudos de implantao de redes eltricas inteligentes
no Brasil, ousando indicar possveis caminhos a serem seguidos futuramente.
Destaca-se, tambm, que todo o estudo respaldado na premissa de mudana de hbitos de
consumo dos usurios submetidos tarifa branca. Apesar do esforo para justificar a tarifa
branca e da realizao dos investimentos em equipamentos de medio e treinamento de
mo de obra especializada, se o usurio no deixar de consumir eletricidade no horrio de
pico, tudo ter sido em vo. Pe-se, portanto, um fator de risco a todo o projeto de
implantao da tarifa branca.
Esse aspecto est relacionado elasticidade do consumo em relao ao preo da energia
eltrica, mas a literatura no convergente quanto a essa relao. H autores que afirmam
haver pouca reduo de consumo com o aumento do preo, enquanto que outros asseveram
o oposto. Em suma, no obstante a realizao de pilotos no Brasil e da farta literatura sobre
o assunto, nunca se implantou tarifas horrias de forma efetiva no pas e, por isso, qualquer
previso de mudana de hbitos no mais do que uma mera suposio.
3.5 ESTIMAO DAS VARIVEIS
Para cada uma das distribuidoras escolhidas, as variveis da equao (3.10) so calculadas
para se obter a demanda a ser reduzida pelos usurios que optarem pela modalidade
tarifria branca. A seguir, demonstrada a forma como cada parmetro foi estabelecido.
-
32
3.5.1 Custo de instalao do medidor
O medidor comumente instalado nas unidades consumidoras em baixa tenso incapaz de
diferenciar o consumo em postos tarifrios. Logo, para faturar o usurio na modalidade
tarifria branca, a distribuidora deve substituir os equipamentos atuais. Assim, alm do
custo da compra de um novo medidor, tambm haver o dispndio com mo de obra para
instal-lo, de modo que a varivel relacionada instalao do medidor tem duas
componentes: compra de um novo medidor; e custos de substituio (mo de obra e
materiais menores).