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219 Volume 67 outubro 2019 ISSN 0101-6040 Publicação trimestral da Sabesp Distribuição gratuita ARTIGOS TÉCNICOS E REVISÃO DE LITERATURA Saneamento básico e salubridade ambiental em cidades do litoral do estado da Paraíba Análise da relação entre o GRADEX e o Efeito José e sua importância no dimensionamento ótimo de estruturas hidráulicas Contribuição aos processos de tomada de decisão no setor de saneamento com a aplicação da Teoria dos Jogos (TJ) Avaliação da secagem térmica de lodo de esgoto sanitário Proposta de nova configuração de reator anaeróbio híbrido aplicado ao tratamento de esgoto sanitário Otimização da eletrocoagulação aplicada em efluente têxtil Efeitos da eletrocoagulação na modificação das características de lodos ativados: aplicação em biorreatores a membrana Boas práticas para a universalização dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário: estudo de caso no município de Piracicaba – SP Uso benéfico de lodo de estações de tratamento de água e de tratamento de esgoto: estado da arte Avaliação dos parâmetros de calibração do algoritmo genético na detecção de vazamentos em rede de distribuição de água utilizando o método transiente inverso

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219Volume 67

outubro 2019ISSN 0101-6040P u b l i c a ç ã o t r i m e s t r a l d a S a b e s p D i s t r i b u i ç ã o g r a t u i t a

artigos técnicos e revisão de literatura

• Saneamento básico e salubridade ambiental em cidades do litoral do estado da Paraíba

• Análise da relação entre o GRADEX e o Efeito José e sua importância no dimensionamento ótimo de estruturas hidráulicas

• Contribuição aos processos de tomada de decisão no setor de saneamento com a aplicação da Teoria dos Jogos (TJ)

• Avaliação da secagem térmica de lodo de esgoto sanitário

• Proposta de nova configuração de reator anaeróbio híbrido aplicado ao tratamento de esgoto sanitário

• Otimização da eletrocoagulação aplicada em efluente têxtil

• Efeitos da eletrocoagulação na modificação das características de lodos ativados: aplicação em biorreatores a membrana

• Boas práticas para a universalização dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário: estudo de caso no município de Piracicaba – SP

• Uso benéfico de lodo de estações de tratamento de água e de tratamento de esgoto: estado da arte

• Avaliação dos parâmetros de calibração do algoritmo genético na detecção de vazamentos em rede de distribuição de água utilizando o método transiente inverso

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COMERCIALIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO

PROMOÇÃO ESTANDE VIP ESTANDE PLUS APOIO INSTITUCIONAL

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A Revista DAE é classificada pelo QUALI/CAPES e está adicionada/indexada nas seguintes bases:

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A equipe da revista DAE recebeu com imenso pesar a notícia do falecimento do professor Dr. Rubem La

Laina Porto.

Referência na área de gerenciamento de recursos hídricos e drenagem urbana, o ilustre engenheiro e aca-

dêmico da Universidade de São Paulo (USP), autor e colaborador ativo da Revista DAE desde 1975, teve

atuação destacada durante a crise hídrica no biênio 2014/2015. Atuou em pesquisas em hidrologia urbana,

sistema de suporte à decisão em recursos hídricos, planejamento e gerenciamento de recursos hídricos,

entre outros temas ligados à água.

O Professor Rubem La Laina Porto foi o grande mentor e diretor do Labsid (Laboratório de Sistemas de Su-

porte a Decisões – Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica do Departamento de Engenharia Hidráulica e

Ambiental da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), cuja missão é fornecer aos diversos setores

da sociedade instrumentos técnicos e gerenciais para a solução de problemas nos campos de Hidráulica,

Recursos Hídricos, Saneamento e Meio Ambiente.

Seus trabalhos técnicos foram de suma importância para que o Estado de São Paulo contornasse e conse-

guisse superar a escassez de água no período. Na revista DAE, ele publicou diversos artigos, todos disponí-

veis para download em nosso site.

Que suas importantes contribuições para o saneamento e recursos hídricos sejam fonte de inspiração para

as gerações presentes e futuras.

editorial

Engª Cristina Knorich Zuffo

EDITORA-CHEFE

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Missão

A Revista DAE tem por objetivo a publicação de artigos técnicos e científicos originais nas áreas de saneamento e meio ambiente.

Histórico

Iniciou-se com o título Boletim da Repartição de Águas e Esgotos (RAE), em 1936, prosseguindo assim até 1952, com interrupções em 1944 e 1945. Não

circulou em 1953. Passou a denominar-se Boletim do Departamento de Águas e Esgotos (DAE) em 1954 e Revista do Departamento de Águas e Esgotos de 1955

a 1959. De 1959 a 1971, passou a denominar-se Revista D.A.E. e, a partir de 1972, Revista DAE. Houve, ainda, interrupção de 1994 a 2007.

Publicação

Trimestral (janeiro, abril, julho e outubro)

Diretoria de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente – T

Superintendência de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Tecnológica – TX

Rua Costa Carvalho, 300 – Pinheiros – 05429 000

São Paulo – SP – Brasil

Tel (11) 3388 9422 / Fax (11) 3814 5716

Editora-Chefe

MSc Engenheira Cristina Knorich Zuffo

Editora Científica.

MSc Engenheira Iara Regina Soares Chao

Conselho Editorial

Prof. Dr. Pedro Além Sobrinho (Universidade de São Paulo – USP), Prof. Dr. Cleverson Vitório Andreoli (Companhia de Saneamento do Paraná – Sanepar),

Prof. Dr. José Roberto Campos (USP), Prof. Dr. Dib Gebara (Universidade Estadual Paulista – Unesp), Prof. Dr. Eduardo Pacheco Jordão (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Prof. Dr. Rafael Kospchitz Xavier Bastos (Universidade Federal

de Viçosa), Prof. Dr. Wanderley S. Paganini (Faculdade de saúde Pública da USP), Profª. Drª. Emilia Wanda Rutkowiski (Universidade Estadual de Campinas –

Unicamp), Prof. Dr. Marcos Tadeu (USP), Profª. Drª. Dione Mari Morita (Escola Politecnica da USP), Profª. Drª. Angela Di Bernardo Dantas (Universidade de

Ribeirão Preto/UNAERP). Coordenação da Eng. Cristina Knorich Zuffo (Sabesp).

Idiomas

Serão aceitos artigos escritos em português e inglês

Projeto Gráfico, Diagramação e Revisão

Beatriz Martins Gomes 29772393832

Capa

Crédito da imagem: Fotógrafa Engª Nercy Bonato - Ponte Estaiada / Cidade de São Paulo/SP

ISSN 0101-6040

As opiniões e posicionamentos expressos nos artigos são de total responsabilidade de seus autores e não significam necessariamente a opinião

da Revista DAE ou da Sabesp.

Veja a revista eletrônica na internet:

http://www.revistadae.com.br

rev

ista

Nº 219outubro a dezembro 2019

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Capa Crédito da imagem: Fotógrafa Engª Nercy Bonato - Ponte Estaiada / Cidade de São Paulo/SP

nesta edição

Saneamento básico e salubridade ambiental em

cidades do litoral do estado da Paraíba

Basic sanitation and environmental salubrity in cities of

the coast of the state of Paraíba

Análise da relação entre o GRADEX e o Efeito José

e sua importância no dimensionamento ótimo de

estruturas hidráulicas

Analysis of the relationship between GRADEX and Joseph

Effect and its importance in the optimum sizing of

hydraulic structures

Contribuição aos processos de tomada de decisão no

setor de saneamento com a aplicação da Teoria dos

Jogos (TJ)

Contribution to processes of decision making in the

sanitation sector with the application of Game Theory

Avaliação da secagem térmica de lodo de

esgoto sanitário

Evaluation of the thermal drying of sanitary sludge

Proposta de nova configuração de reator anaeróbio

híbrido aplicado ao tratamento de esgoto sanitário

Proposal of a new configuration of hybrid anaerobic

reactor applied to sanitary sewage treatment

artigos técnicos e revisão de literatura

924

41

5573

89103

publicações eventos176

115

177

128159

Otimização da eletrocoagulação aplicada em efluente têxtil Optimization of applied electrocoagulation in textile effluent

Efeitos da eletrocoagulação na modificação das características de lodos ativados: aplicação em biorreatores a membranaEffects of electrocoagulation on activated sludge characteristics modification: application in membrane bioreactors

Boas práticas para a universalização dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário: estudo de caso no município de Piracicaba – SPBest practices for the universalization of water supply and sewage services: a case study in the city of Piracicaba – SP

Uso benéfico de lodo de estações de tratamento de água e de tratamento de esgoto: estado da arteBeneficial use of sludge from water and sewage treatment plants: state of the art

Avaliação dos parâmetros de calibração do algoritmo genético na detecção de vazamentos em rede de distribuição de água utilizando o método transiente inversoEvaluation of calibration parameters of genetic algorithm in the detection of water dispensation network using the inverse transient method

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eventos

Samara Gonçalves Fernandes da Costa* | Carmem Lúcia Moreira Gadelha | Hamilcar José Almeida Filgueira

Saneamento básico e salubridade ambiental em cidades do litoral do estado da ParaíbaBasic sanitation and environmental salubrity in cities of the coast of the state of Paraíba

ResumoA falta de planejamento eficiente no processo de urbanização das cidades resultou em um déficit no setor

de saneamento básico, refletindo em ambientes insalubres e na saúde da população. Uma forma de avaliar

a oferta dessas infraestruturas é com o uso de ferramentas que mensurem a qualidade ambiental como os

índices ambientais, pois dotam os gestores de informações que ajudam na priorização dos serviços. O presen-

te estudo analisou componentes do saneamento básico urbano do litoral sul da Paraíba, compreendendo as

cidades em contato direto com o oceano Atlântico (Cabedelo, Conde, João Pessoa e Pitimbu). A metodologia

empregada foi a utilização do Indicador de Salubridade Ambiental (ISA), calculado a partir de dados obtidos

no Sistema Nacional de Saneamento Básico acerca dos serviços de abastecimento de água, de esgotamento

sanitário e de resíduos sólidos. Conclui-se que a situação de salubridade demonstrada pelo ISA é preocupante

em toda a área de estudo. As cidades apresentaram falhas na prestação do serviço e na qualidade ofertada.

Palavras-chave: Saneamento básico. Indicador de Salubridade Ambiental. Litoral Paraibano.

AbstractThe lack of efficient planning in the cities' urbanization process has resulted in a deficit in the basic sanitation sec-

tor reflecting unhealthy environments and the health of the population. One way to evaluate the supply of these

infrastructures is to use tools that measure environmental quality such as environmental indices, as they pro-

vide the information managers that help in the prioritization of services. The present study analyzed components

of the urban basic sanitation of the southern coast of Paraíba, including cities in direct contact with the Atlantic

Ocean (Cabedelo, Conde, João Pessoa and Pitimbu). The methodology used was the use of the Environmental Sa-

lubrity Indicator (ISA) calculated from data obtained from the National System of Basic Sanitation on water sup-

ply, sewage and solid waste services. It is concluded that the salubrity situation demonstrated by ISA is of concern

throughout the study area. The cities presented deficiencies in the provision of the service and in the offered quality.

Keywords: Basic sanitation. Environmental Salubrity Indicator. Paraiba coast.

Data de entrada: 04/07/2017

Data de aprovação: 10/05/2018

Samara Gonçalves Fernandes da Costa – Engenheira Ambiental. Mestra em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade Federal da Paraíba. Carmem Lúcia Moreira Gadelha – Doutora em Engenharia Civil. Professora titular da Universidade Federal da Paraíba. Hamilcar José Almeida Filgueira – Engenheiro agrícola. Doutor em Recursos Naturais pela UFCG. Professor Associado da Universidade Federal da Paraíba.*Endereço para correspondência: Departamento de Engenharia Civil e Ambiental - Cidade Universitária, João Pessoa, Paraíba, CEP: 58051-900. Telefone: (83) 3216-7200. E-mail: [email protected].

DOI: https://doi.org/10.4322/dae.2019.041

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artigos técnicos

Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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1 INTRODUÇÃOO avanço da urbanização em muitas cidades no

mundo, além de alterar a paisagem, não aconte-

ceu no mesmo ritmo da oferta de infraestrutu-

ras básicas de saneamento para atender a toda a

população, tendo como consequências a inten-

sificação da degradação do meio ambiente, dos

problemas sociais, da saúde pública, podendo-se

destacar: a ocupação de áreas inadequadas e a

favelização; a construção de habitações insalu-

bres; a poluição ambiental e as doenças relacio-

nadas à água de má qualidade.

No que tange aos serviços essenciais para uma

cidade, Pereira et al. (2015) indicam que o abas-

tecimento de água potável, o esgotamento sani-

tário, o processo de manejo de resíduos sólidos

e a drenagem pluvial urbana são indispensáveis,

pois se relacionam diretamente com a saúde

coletiva, a qualidade de vida dos cidadãos e do

ambiente. A carência ou inexistência desses ser-

viços torna o ambiente insalubre.

Devido a sua importância na manutenção das

cidades, o saneamento básico se relaciona di-

retamente com os direitos sociais garantidos

na Constituição Federal de 1988, como moradia

adequada, saúde (melhoria de todos os aspectos

de higiene) e proteção ambiental. No Art. n° 225,

a promoção de um ambiente salubre é condição

primordial, impondo-se ao poder público e à co-

letividade o dever de defendê-lo e preservá-lo

para as gerações presentes e futuras. Porém esse

setor por muito tempo foi esquecido e tratado

com descaso pelo poder público (BRASIL, 1988).

No ano de 2007 foi publicada a Lei de Sanea-

mento Básico nº 11.445 de 2007, marco no setor,

que além de definir suas diretrizes e componen-

tes obriga todos os municípios a formular suas

políticas públicas com vistas à universalização

do acesso ao saneamento básico sendo o Plano

Municipal de Saneamento Básico - PMSB um ins-

trumento norteador. A lei supracitada também

estabelece o desenvolvimento de uma Política

Nacional de Saneamento Básico - PNSB, que pos-

sibilita alcançar níveis crescentes de salubridade

ambiental, proteger e melhorar as condições de

vida. Dessa forma, os municípios brasileiros são

solicitados a assumir competências quanto ao

planejamento, à prestação, à regulação e à fisca-

lização dos serviços para que os princípios da Lei

citada, como a universalização, a integralidade,

a eficiência e a sustentabilidade econômica, ve-

nham proporcionar uma gestão eficiente do se-

tor (PEDROSA, MIRANDA e RIBEIRO, 2016).

Segundo Alagidede e Alagidede (2016), mesmo

tendo grande importância para a saúde pública e

para a qualidade ambiental, a garantia do aces-

so ao saneamento básico ainda não é para todos

e continua a ser um desafio. Segundo dados do

relatório Progress on Drinking Water and Sanita-

tion - 2015 update and MDG assessment (WHO e

UNICEF, 2015), houve uma melhora no setor de

saneamento básico em nível mundial. Entretan-

to, cerca de 2,4 bilhões de pessoas ainda não

possuem acesso ao serviço. Além disso, o estudo

apontou que os níveis mais baixos de cobertura

em saneamento básico concentram-se em paí-

ses menos desenvolvidos.

No Brasil, dados do Sistema Nacional de Infor-

mações sobre Saneamento (SNIS) apontam que

nas últimas décadas do século XX a cobertura

dos serviços de saneamento básico tem tido uma

evolução significativa, principalmente no índi-

ce de atendimento de rede pública de água nas

áreas urbanas, que é de 93,2% (BRASIL, 2016),

mas o cenário é de grande desigualdade e mar-

cado por um déficit de cobertura, principalmen-

te em relação aos componentes de esgotamento

sanitário e de resíduos sólidos. Os dados dispo-

níveis no SNIS apontam ainda que apenas 49,8%

dos brasileiros têm acesso à rede coletora de es-

goto e 41,5% da massa de resíduos sólidos cole-

tados ainda não são destinados adequadamente.

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A precariedade desses serviços atinge com maior

impacto as cidades litorâneas, que concentram

parte da população mundial e abrigam ecossis-

temas costeiros considerados de grande impor-

tância na manutenção do planeta. O litoral do

estado da Paraíba possui um alto potencial tu-

rístico devido a suas belezas naturais ainda bem

preservadas, porém a falta de um planejamento

inicial permitiu o agrupamento desordenado da

população em áreas irregulares e sem estrutu-

ra física, com loteamentos e ocupação de áreas

de elevada susceptibilidade, problemas de dre-

nagem e esgotamento sanitário, além de que o

déficit em saneamento representa um risco im-

portante para a saúde humana e para o alcance

da sustentabilidade ambiental (SCHMITT, MOR-

GENROTH e LARSEN, 2017).

Dada a responsabilidade da gestão dos Estados

e Municípios, é pertinente o uso de ferramentas

que possam mensurar a qualidade ambiental

como, por exemplo, o uso de índices ambientais.

O Indicador de Salubridade Ambiental - ISA, que

já é bem consolidado, avalia o estado de salu-

bridade do meio, além de permitir a obtenção

de dados para planejamento, expansão e priori-

zação dos serviços adequados à realidade local

(MARINHO e NASCIMENTO, 2014), servindo ain-

da para uma avaliação acerca dos serviços de sa-

neamento básico prestados à população.

Diante do exposto, percebe-se a importância

do saneamento básico para a preservação dos

recursos naturais e a manutenção do equilíbrio

dos ecossistemas bem como na promoção de

um ambiente salubre e desenvolvimento urbano

mais sustentável.

O presente estudo buscou analisar o setor de sa-

neamento básico urbano e suas relações com o

estado de salubridade ambiental nas cidades de

Cabedelo, Conde, João Pessoa e Pitimbu, litoral

sul do estado da Paraíba, a partir da adaptação

do Indicador de Salubridade Ambiental por meio

de informações disponíveis no SNIS.

2 MATERIAS E MÉTODOS A área de estudo é composta pelos municípios de

Cabedelo, Conde, João Pessoa e Pitimbu, que es-

tão localizados no litoral sul do estado da Paraíba

(Figura 1).

Figura 1 – Mapa de localização da área de estudo.

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A região em foco é composta de cidades costei-

ras e ricas em belezas naturais, onde as praias

são destaques de atração turística com alto

fluxo de pessoas ao longo do ano, fazendo com

que problemas na infraestrutura de saneamen-

to básico sejam ainda mais evidentes, refletindo

de forma negativa na salubridade ambiental da

região, e tendo consequências na dinâmica dos

ecossistemas. Outro fator importante é que não

existe uma gestão pública que integre esse as-

pecto litorâneo às políticas existentes, ficando o

assunto tratado de forma isolada e sendo foco de

ações pontuais.

Para a pesquisa realizou-se a coleta de dados

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) disponíveis no SNIS, referentes aos muni-

cípios de Cabedelo, Conde, João Pessoa e Pitim-

bu. Posteriormente foi realizada uma pesquisa de

campo com observações diretas, registros foto-

gráficos e conversas com os gestores de serviços

de saneamento ou relacionados a eles de forma

a obter uma maior amplitude e compreensão do

fenômeno estudado.

2.1 Caracterização da área de estudo

As cidades escolhidas, apesar de serem próximas

e contínuas na faixa costeira do Estado, apresen-

tam diferenças em suas características urbanas

e socioeconômicas como observado na Tabela 1.

Tabela 1 – Características da área de estudo.

Município População Total População Urbana

Grau de Urbanização (%) IDHM

Taxa média de crescimento pop.urbana

Cabedelo 65.634 65.625 100 0,748 – alto 3,07

Conde 23.975 16.230 68 0,618 - médio 2,69

João Pessoa 791.438 788.452 100 0,763 – alto 2,06

Pitimbu 18.685 11.397 61 0,570 - baixo 2,03

Fonte: PNUD (2013); IBGE (2015).

Com relação aos aspectos climáticos, segundo

a classificação Köppen, o litoral paraibano é ca-

racterizado por um clima tropical quente e úmi-

do do tipo As’ com chuvas de outono-inverno

nos meses de abril a agosto, e com estação seca

no verão (BARBOSA e FURRIER, 2014). A tempe-

ratura média é de 26°C, a precipitação média é

de 1.800 mm e a umidade relativa do ar gira em

torno de 80%.

A área está localizada numa região que se en-

contra inserida na bacia sedimentar Pernambu-

co-Paraíba, que se distribui ao longo da faixa li-

torânea do Estado da Paraíba com as formações

Beberibe, Gramame e Maria Farinha (BARBOSA

e FURRIER, 2014). Segundo Menezes (2007),

além dessas formações, existem ainda os Depó-

sitos Quaternários que compreendem os man-

gues, os terraços marinhos, os aluviões e sedi-

mentos de praia.

Com relação aos recursos hídricos, as bacias hi-

drográficas inseridas na área de estudo são as

dos rios Gramame, Abiaí e Paraíba, todas com

histórico de conflitos de uso e ocupação que im-

pactam negativamente a região pela degrada-

ção ambiental sofrida devido às extensas áreas

de plantio, elevados índices de assoreamento,

poluição das águas em função das atividades e/

ou lançamentos de efluentes industriais, agríco-

las e residenciais (PARAÍBA, 2000).

A região litorânea do estado da Paraíba pos-

sui uma diversificada e significativa extensão

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de ambientes naturais, como praias, mangues,

remanescentes florestais de mata atlântica, fa-

lésias, recifes de corais, relativamente bem con-

servados (MORAIS, 2009). As cidades estudadas

possuem, juntas, uma extensão de linha de costa

de 74,5 km, conforme Tabela 2.

Tabela 2 – Extensão da linha de costa e praias presentes nos municípios paraibanos

Município Praias Linha de Costa (km)

CabedeloIntermares, Ponta de Campina, Praia do Poço, Camboinha I,

Camboinha II, Camboinha III, Formosa, Areia Dourada, Ponta de Mato e Miramar

13,2

Conde Barra de Gramame, Praia do Amor, Jacumã, Carapibus, Tabatinga, Coqueirinho e Tambaba 17,6

João Pessoa Bessa, Manaíra, Tambaú, Cabo Branco, Seixas, Penha, Jacarapé, Praia do Sol, Praia de Gramame 23,9

Pitimbu Pitimbu, Mariscos, Acaú, Azul, Coqueiros, Pontinha, Bela, Barra do Abiaí, Barra do Graú 19,8

Fonte: adaptado de Cabral da Silva et al. (2008).

Para Morais (2009), são diversos os tipos de im-

pactos negativos que ocorrem nesses ambien-

tes e que são resultantes, na sua maioria, da

ocupação urbana não planejada e da ausência

de um eficiente sistema de saneamento básico

(Figura 2).

Figura 2 – (a) urbanização na falésia da praia de Carapibus, Conde/PB e (b) praia de Cabo Branco com elevado índice de urbanização, município de João Pessoa/PB.

Fonte: Conde (2008) e Autora (05/02/2017).

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artigos técnicos

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2.2 Adaptação do Indicador de Salubridade Ambiental (ISA)

Um dos primeiros órgãos a avaliar a salubridade

de áreas urbanas foi o Conselho Estadual de Sa-

neamento Ambiental (CONESAN), do estado de

São Paulo/SP, que desenvolveu um índice que foi

consolidado como Indicador de Salubridade Am-

biental - ISA, no ano de 1999 (Equação 1).

ISA/CONESAN = 0,25IAB + 0,25 I

ES + 0,25 I

RS + 0,10

ICV

+ 0,10 IRH

+ 0,05 ISE

(1)

Onde:

IAB

- Subindicador de Abastecimento de Água

IES

- Subindicador de Esgotamento Sanitário

IRS

- Subindicador de Resíduos Sólidos

ICV

- Subindicador de Controle de Vetores

IRH

- Subindicador de Recursos Hídricos

ISE

- Subindicador Socioeconômico

Cada subindicador aborda questões específicas

acerca do tópico que está sendo analisado e é

calculado no ISA/CONESAN por meio da média

ponderada das variáveis escolhidas.

Embora desenvolvida para o estado de São

Paulo, a metodologia do ISA proposta pelo CO-

NESAN tem sido utilizada, com adaptações, a

partir da inclusão ou retirada tanto de subin-

dicadores como de variáveis e, também, alte-

rações nas pontuações atribuídas para melhor

ajuste da realidade local. Para valores obtidos

fora das faixas estabelecidas, utilizou-se o mé-

todo de interpolação.

O ISA/CONESAN foi adaptado neste estudo com

o intuito de utilizar os dados públicos disponíveis

no SNIS, referentes ao ano de 2015, das cidades

estudadas com a incorporação do subindicador

de resíduos sólidos do ISA/Goiás desenvolvido

por Aravéchia Júnior (2010), resultando na Equa-

ção (2).

ISA = 0,40IAB + 0,30 I

ES + 0,30 I

RS (2)

Na nova equação, o peso atribuído a cada subin-

dicador foi redistribuído tendo como foco os se-

guintes subindicadores: abastecimento de água

(IAB

), esgotamento sanitário (IES

) e resíduos sólidos

(IRS

), que são componentes do saneamento básico

com influência direta na salubridade do meio. O

componente de drenagem urbana não foi utiliza-

do devido à dificuldade na obtenção de dados.

Com a nova equação foi possível identificar as

áreas com infraestrutura deficiente a partir das

informações acerca do saneamento básico das

cidades estudadas. Na Tabela 3 é possível ob-

servar os subindicadores e as variáveis que com-

põem o ISA adaptado nesse estudo com as suas

respectivas finalidades.

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Tabela 3 – Detalhamento dos subindicadores que compõem o Indicador de Salubridade Ambiental (ISA) adaptado nesse estudo

Subindicador Variável Finalidade Fórmula Pontuação

Abastecimento de Água (I

AB)

IAB

= (ICA

+IQA

+ISP

) / 3

Cobertura da Água (I

CA)

Quantificar a população atendida

por sistemas de água com controle

sanitário

ICA = (PUA/PUT) x 100 (%)

PUA

= População urbana atendida por abastecimento de água pelo prestador do

serviço;P

UT = População urbana total.

direto na fórmula

Qualidade da água (I

QA)

Monitorar a qualidade da água pública distribuída

IQA = K x (NAA/NAR) x 100 (%)

NAA

= somatório do n° amostras de águas consideradas potáveis quanto à colimetria,

cloro residual e turbidez (exclui o que estiver fora do padrão);

NAR = somatório do n° de análises realizadas

pelo prestador; K= análises realizadas dividido pelo

n° mínimo obrigatório exigido na Portaria de Consolidação do Ministério da Saúde

n° 5/2017

IQA = 100% =>100 pontos (Excelente)IQA

= entre 95% e 99,9% => 80 pontos (Ótima)

IQA

= entre 85% e 94,9% => 60 pontos (Boa)

IQA

= entre 70% e 84,9% => 40 pontos (Aceitável)

IQA

= entre 50% e 69,9% => 20 pontos (Insatisfatória)

IQA

< 49,9% => 0 pontos (Imprópria)

Saturação do sistema produtor (I

SP)

Comparar as ofertas e as demandas de

água

ISP = VT / Demanda populacional urbana

VT= volume anual de água tratada em ETA + simples desinfecção (poços) e distribuído

a população

ISP

> 2,0 – 100 pontos1,5 ≤ I

SP ≤ 2,0 - 50 pontos (atenção)

ISP

< 1,5 - 0 pontos (saturado)

Esgotamento Sanitário (

IES)

IES

= (ICE

+ITE

+ISE

) / 3

Cobertura em coleta de esgotos e tanques

sépticos (ICE

)

Quantificar a população atendida por redes de esgoto

e/ou tanques sépticos

ICE = (PUA/PUT) x 100 (%)

PUA

= população urbana atendida por esgotamento sanitário e soluções

individuais;P

UT = população urbana total.

De 5 a 20 mil hab:ICE

< 55% => ICE

= 0 pontos;ICE

> 85% => ICE

= 100 pontos;55% ≤ I

CE ≤ 85% =>interpolação

De 20 a 50 mil hab.:ICE

< 60% => ICE

= 0 pontos;ICE

> 85% => ICE

= 100 pontos60% ≤ I

CE ≤ 85% =>interpolação

De 50 a 100 mil hab.:ICE

< 65% => ICE

= 0 pontos;ICE

> 85% => ICE

= 100 pontos65% ≤ I

CE ≤ 85% =>interpolação

> 500 mil hab.:ICE

< 75% => ICE

= 0 pontos;ICE

> 90% => ICE

= 100 pontos75% ≤ I

CE ≤ 90% =>interpolação

Esgotos tratados e tanques sépticos (I

TE)

Quantificar o esgoto que é encaminhado

para tratamento

ITE = ICE x (VT / VC) (%)

VT = volume de esgoto tratado;VC = volume de esgoto coletado;

ICE

= cobertura em coleta de esgoto e tanques sépticos

De 5 a 20 mil hab.:ITE

< 16,5% => ITE

= 0 pontos;ITE

>63,75% => ITE

= 100 pontos16,5% ≤ I

TE ≤ 63,75%

=>interpolação

De 20 a 50 mil hab.:ITE

< 18% => ITE

= 0 pontos;ITE

> 68% => ITE

= 100 pontos18% ≤ I

TE ≤ 68%=>interpolação

De 50 a 100 mil hab.:ITE

< 26% => ITE

= 0 pontos;ITE

>72,25% => ITE

= 100 pontos26%≤ I

TE ≤ 72,25% =>interpolação

> 500 mil hab.:ITE

< 45% => ITE

= 0 pontos;ITE

> 81% => ITE

= 100 pontos45%≤ ITE ≤ 81% =>interpolação

Saturação do tratamento de

esgotos (ISE)

Comparar a oferta, demanda e programar novas

instalações e ampliações

ISE = (VT/VC) *100%

VT – volume da capacidade de tratamento; VC – Volume coletado de esgoto.

ISE

> 1,0 – 100 pontos0,5 ≤ I

SE ≤ 1,0 - 50 pontos

ISE

< 0,5 - 0 pontos

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Tabela 3 – (continuação) Detalhamento dos subindicadores que compõem o Indicador de Salubridade Ambiental (ISA) adaptado nesse estudo

Subindicador Variável Finalidade Fórmula Pontuação

Resíduos Sólidos (IRS)

IRS

=(ICR

+ IQR

+ ISR

) / 3

Coleta de resíduos (I

CR)

Quantificar a população atendida

por coleta de resíduos

ICR = (PUA/PUT) x 100 (%)

PUA

= população urbana atendida por coleta de resíduos sólidos

PUT

= população urbana total

Até 20 mil hab.:ICR

< 80% => ICR

= 0 pontosICR

> 90% => ICR

= 100 pontos80%≤ I

CR ≤ 90% =>interpolação

De 20 a 100 mil hab.:ICR

< 90% => ICR

= 0 pontos;ICR

> 95% => ICR

= 100 pontos90%≤ I

CR ≤ 95% =>interpolação

> 100 mil hab.:ICR

< 95% => ICR

= 0 pontos;ICR

> 99% => ICR

= 100 pontos95%≤ I

CR ≤ 99% =>interpolação

Tratamento e disposição final de

resíduos sólidos (IQR

)

Monitorar a situação da disposição final

dos resíduos

100 pontos – Formas adequadas (aterro sanitário) 0 pontos – Formas inadequadas (lixão e aterro controlado)

Saturação do tratamento e

disposição final de resíduos sólidos (ISR

)

Indicar a necessidade de novas instalações

n = log{[(CA*t /VL)]+1}/ log(1 + t )

n – Número de anos em que o sistema ficará saturado;

VL – Volume coletado de lixo; CA – Capacidade restante do aterro;

t – taxa de crescimento média da população urbana

Até 50 mil hab. n≥ 2=> ISR = 100 pontos

2 > n > 0 => ISR = interpolaçãon ≤ 0=> ISR = 0 pontos;

De 50 a 200 mil hab.n ≥ 3=> ISR = 100 pontos;3 > n > 0=> interpolação;

n ≤ 0 ISR = 0 pontos;

Maior que 200 mil hab.n≥5 => ISR =100 pontos

0<n<5 => ISR =interpolaçãon≤0 = > ISR = 0 ponto

Com o valor resultante da Equação (2), foi pos-

sível estabelecer qual é o nível de salubridade

em que os ambientes analisados se encontram

e classificá-los de acordo com as faixas de pon-

tuação de 0 (zero) a 100 (cem) estabelecidas pelo

ISA/CONESAN, conforme mostra a Tabela 4.

Tabela 4 - Situação de salubridade por faixa de pontuação do ISA/CONESAN.

Situação de Salubridade Pontuação do ISA (%)

Insalubre 0 – 25,5

Baixa Salubridade 25,51 – 50,5

Média Salubridade 50,51 – 75,5

Salubre 75,51 – 100

Fonte: CONESAN (1999).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES3.1 Subindicador de Abastecimento de Água - IAB

As cidades de João Pessoa e Cabedelo apresen-

taram uma condição satisfatória nesse indi-

cador, tendo em vista que todos os bairros são

atendidos por rede de abastecimento de água

sob administração da CAGEPA, responsável,

também, pela captação, tratamento e distribui-

ção da água. Entretanto, deve-se ressaltar que o

subindicador não leva em conta a qualidade das

infraestruturas disponíveis. Frequentemente há

interrupções no abastecimento, vazamentos e

quebras nas tubulações na rede de distribuição,

principalmente nos bairros mais carentes.

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No Conde e em Pitimbu, a situação é bem precá-

ria. A cobertura do setor ainda não é a realidade

de toda a população urbana. O sistema público

de abastecimento de água é reduzido a algumas

localidades por meio de poços sob a concessão

da CAGEPA, que recebem como tratamento ape-

nas cloração, enquanto outros locais utilizam

água armazenada em cisternas, abastecidas por

caminhões pipa fornecidos pela prefeitura ou

poços instalados pela própria população sem

nenhum tipo de fiscalização ou tratamento (PA-

RAÍBA, 2015), sendo frequentes os problemas

de falta de água, principalmente em períodos

de alta temporada. O cenário indica um grau de

exposição e vulnerabilidade dos moradores com

relação a doenças de veiculação hídrica.

Em relação à qualidade da água ofertada, to-

das as cidades estudadas apresentaram uma si-

tuação ótima (80 pontos), considerando que as

amostras de água analisadas foram considera-

das potáveis, segundo a Portaria de Consolida-

ção n° 5/2017 do Ministério da Saúde. É impor-

tante destacar que as análises realizadas ainda

carecem de um número maior de parâmetros

analisados como, por exemplo, a presença de

metais pesados. Outro ponto é que nas cidades

de Conde e Pitimbu a cobertura é reduzida a ape-

nas uma parcela da população, e as análises se

referem apenas a alguns pontos atendidos, sem

que haja uma maior fiscalização e orientação

quanto ao tratamento realmente necessário.

Quanto à saturação do sistema produtor, as ci-

dades de João Pessoa e Cabedelo apresentaram

sinais de problemas futuros em seus sistemas.

É oportuno lembrar que o sistema de abasteci-

mento de água dessas cidades opera de forma

integrada com Bayeux e o distrito de Várzea Nova

em Santa Rita. Já Conde e Pitimbu configuram

uma situação de saturação no sistema que não

é suficiente para a demanda atual onde só parte

da população tem acesso à água.

É necessário investimento em novos sistemas

produtores e uma série de ações, como melhorias

na gestão dos serviços, estações de tratamento,

reduzir perdas e ampliação do sistema existente.

Outro ponto importante é a criação de medidas

de combate ao desperdício e redução de consu-

mo de água para que seja feito o uso racional.

3.2 Subindicador de Esgotamento Sanitário (IES)

Nesse subindicador, somente João Pessoa e o

bairro de Intermares da cidade de Cabedelo

apresentaram dados disponíveis no SNIS.

O sistema de esgotamento que existe é adminis-

trado pela CAGEPA e carece de uma infraestru-

tura adequada e que atenda a demanda atual.

Existem bairros que ainda não possuem ou têm

sistema parcial de coleta de esgoto. São inúme-

ras as residências ribeirinhas que têm o esgoto

canalizado diretamente para os corpos hídricos

ou para redes de drenagem de águas pluviais

que levam essa poluição até as praias. Em João

Pessoa, são frequentes notícias sobre ligações

clandestinas e despejos de esgoto, inclusive in-

dustriais, nos rios e praias que cruzam a cidade

(Figura 3).

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Figura 3 – Galeria pluvial com ocorrências frequentes de despejo clandestino de esgoto na Praia de Manaíra, João Pessoa.

Foto: autora (05/02/2017).

Algumas estações elevatórias possuem proble-

mas de operação e estruturais como destinação

do material retido na grade, equipamentos an-

tigos e, inclusive, extravasamento do esgoto em

rios e córregos, quando ocorre falta de energia

ou manutenção do sistema. As estações de tra-

tamento existentes necessitam de investimentos

para melhor desempenho de suas condições an-

tes de lançarem o esgoto nos corpos hídricos. No

que se refere à saturação do sistema produtor, os

dados apontaram que todo o volume de esgoto

coletado pelo sistema público é tratado, mas isso

não reflete a realidade já que existem falhas no

sistema de esgotamento sanitário.

A instalação e a ampliação da rede de esgoto são

essenciais para evitar o comprometimento da

qualidade da água dos corpos hídricos receptores

desses esgotos. Deve-se investir nas infraestru-

turas das ETEs e em uma manutenção do sistema

de forma mais frequente. Também deve-se iden-

tificar os lançamentos clandestinos de esgoto nos

corpos hídricos e realizar ações educativas e de

fiscalização para erradicá-las.

3.3 Subindicador de Resíduos Sólidos (IRS)

As cidades de João Pessoa e Cabedelo apresenta-

ram resultados iguais nas variáveis ICR

e IQR

desse

subindicador, tendo em vista que a coleta de re-

síduos é regular e a disposição final em geral é

o Aterro Metropolitano de João Pessoa (ASMJP),

que é administrado pelo Consórcio de Desenvol-

vimento Intermunicipal da Região Metropolita-

na de João Pessoa, formado pelos municípios de

Santa Rita, Bayeux, Conde, Cabedelo e João Pes-

soa, para compartilhamento do aterro que está

localizado no município de João Pessoa (NAS-

CIMENTO e FERNANDES, 2015). O aterro possui

vida útil de 21 anos e está em funcionamento

desde 2003. Entretanto, a variável ISR apresen-

tou pontuação 0 em todas as cidades atendidas

pelo consórcio, o que indica que a capacidade do

aterro já está comprometida.

A cidade de João Pessoa, além de ter elevado

índice de cobertura, tem ações para reaprovei-

tamento de materiais como óleo e resíduos da

construção civil, além de haver campanhas edu-

cativas como Projeto Limpinho 3R; Projeto Cata-

-Treco; Sabão Ecológico; Limpeza de rios; Oficina

de reciclagem e reaproveitamento; entre outros.

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Nas cidades de Cabedelo e do Conde, apesar da

disposição final ser adequada conforme a legisla-

ção, o gerenciamento em si sofre com problemas

como falta de apoio da prefeitura para incentivo

à prática de coleta seletiva, estrutura física ina-

dequada para recolhimento e acondicionamento

dos resíduos sólidos, falta de investimento em

equipamentos. O subindicador não incorpora

essas informações em seu cálculo, fato que pro-

porcionou que as cidades obtivessem pontuação

máxima, podendo assim mascarar possíveis fa-

lhas e carências no componente. Vale salientar

que possuir um destino final adequado para os

resíduos sólidos não exclui a responsabilidade de

implantar e incentivar a coleta seletiva e as as-

sociações de catadores, como consta na Política

Nacional de Resíduos Sólidos Lei nº 12.305 de

2010. Ao contrário, isso deveria servir de incen-

tivo para diminuir o volume de resíduo sólido no

aterro e aumentar sua vida útil.

A cidade de Pitimbu é a que se encontra em si-

tuação mais preocupante, visto que a destinação

final dos seus resíduos continua sendo o lixão,

uma prática proibida por lei e que é agravada

pela presença de catadores que ali moram e dele

retiram sua renda para sobreviver (Figura 4).

Figura 4 - Lixão da cidade de Pitimbu. Foto: autora (23/09/2016).

O acúmulo de resíduos sólidos em diversos pon-

tos das cidades estudadas é comum, inclusive

nas praias, além da prática da queima dos resí-

duos em terrenos baldios e nas ruas (Figura 5).

Essas ações são proibidas pela PNRS.

Figura 5 – (a) acúmulo de resíduos sólidos na Praia Jacumã na cidade do Conde e (b) resíduos sólidos de forma irregular na praia de Pitimbu. Foto: autora (23/09/2016).

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3.4 Análise da Salubridade Ambiental

De forma geral, as cidades apresentaram uma

variação na classificação da faixa de salubrida-

de ambiental, e quanto maior foi a deficiência do

componente de saneamento básico, pior foi a si-

tuação de salubridade ambiental, como pode ser

observado na Tabela 5.

Tabela 5 - Resultado do Indicador de Salubridade Ambiental (ISA) adaptado nesse estudo.

Municípios IAB IES IRS ISA Situação

Cabedelo 76,67 33,33 66,67 60,67 Média Salubridade

Conde 54,00 - 33,33 31,60 Baixa Salubridade

João Pessoa 76,67 64,27 66,67 69,95 Média Salubridade

Pitimbu 38,65 - - 15,46 Insalubre

Os melhores resultados foram verificados em

João Pessoa, que alcançou a situação de média

salubridade. Além de ser mais urbanamente de-

senvolvida, é também o polo econômico do es-

tado da Paraíba e recebe mais investimentos. Os

setores de esgotamento sanitário e resíduos só-

lidos são os mais deficitários e os que merecem

maior atenção do poder público.

A cidade de Cabedelo foi classificada com situa-

ção de média salubridade, mas não menos preo-

cupante. Os resultados demostraram que, apesar

de somente o IES ter um valor considerado muito

baixo, os outros subindicadores apresentam de-

ficiências que afetam a qualidade do setor de sa-

neamento básico da cidade.

A cidade do Conde, considerada em situação

com baixa salubridade, carece de investimentos

em todos os setores, apresentando infraestrutu-

ras precárias e que expõem a população a condi-

ções de vida inadequada e que comprometem a

qualidade do meio ambiente.

Os resultados mais inquietantes foram na ci-

dade de Pitimbu, que obteve a pontuação mais

baixa do ISA, sendo considerada com situação

de insalubridade. Esse fato foi comprovado ao

associar o resultado do subindicador à realida-

de encontrada logo na entrada da sede munici-

pal, pois tem o rio Maceió já comprometido com

lançamentos de esgoto e resíduos domésticos,

que carreiam essa poluição para as praias lo-

cais, afetando a balneabilidade.

A Superintendência de Administração do Meio

Ambiente (SUDEMA) faz, periodicamente, análi-

se de balneabilidade, que consiste em determi-

nar a quantidade de bactérias do grupo Colifor-

me presentes na água para classificar em faixas:

excelente, muito boa, satisfatória e imprópria.

Algumas praias do litoral paraibano aparecem

nessas análises constantemente com suas con-

dições entre satisfatória e imprópria devido à

poluição urbana. Segundo a SUDEMA (2017), na

área de estudo as praias do Jacaré e Miramar, na

cidade de Cabedelo; Acaú - Pontinha e Maceió,

em Pitimbu; e Manaíra, Bessa e Penha, em João

Pessoa são consideradas impróprias aos ba-

nhistas. Normalmente, são trechos localizados

nas áreas mais urbanizadas e próximas de onde

existem desembocaduras de galerias de águas

pluviais ou em contato com cursos de água con-

taminados, como é o caso da Praia de Jacaré. Isso

é um reflexo da problemática no setor de sanea-

mento básico das cidades.

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Com relação aos mecanismos legais, todos os

municípios já possuem seus Planos de Sanea-

mento Básico, mas a efetividade das ações apon-

tadas se depara com a ausência de verba para

destinar ao setor e pôr em prática as propostas

e a meta de universalização. As secretarias res-

ponsáveis informam não possuir arrecadação

suficiente para investir no setor; outro ponto a

ser destacado é a falta de proatividade política

dos gestores, disponibilidade de quadro de fun-

cionários capacitados e integração entre as se-

cretarias municipais.

Outra causa a ser destacada são as questões so-

cioeconômicas que refletiram bem na situação

do saneamento básico. As cidades que apresen-

taram maiores IDHM, João Pessoa e Cabedelo,

são, também, as que contam com maior dispo-

nibilidade de saneamento básico, quando com-

paradas a cidades com IDHM mais baixo, como

Conde e Pitimbu.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho analisou o saneamento bá-

sico nas cidades de Cabedelo, Conde, João Pes-

soa e Pitimbu com o uso do Indicador de Salu-

bridade Ambiental (ISA), calculado a partir de

informações do SNIS acerca da infraestrutura de

saneamento básico.

Os resultados foram coerentes com a realida-

de observada in loco. Foi possível identificar os

problemas enfrentados nas cidades e que estão

em desacordo com a Lei nº 11.445/2007 e a Lei

nº 12.305/2010. Entretanto, foi percebido que

apesar de o indicador ser uma ferramenta apro-

priada para analisar a interferência direta do sa-

neamento básico no estado de salubridade das

cidades, o ISA mascarou algumas variáveis no

que se refere ao serviço prestado, desde a qua-

lidade até o cumprimento da legislação, por isso

o estudo individualizado de cada componente do

saneamento básico foi de extrema importância.

As cidades analisadas apresentaram dificulda-

des na gestão dos serviços de abastecimento de

água, esgotamento sanitário e manejo de resí-

duos sólidos. João Pessoa se encontra em melhor

condição na oferta desses serviços junto à cidade

de Cabedelo, com uma situação de salubridade

mediana e merecendo bastante atenção, visto

que os componentes do saneamento básico pos-

suem problemas, principalmente no que se refere

a esgotamento sanitário, que não abrange toda

a cidade. As demais cidades têm uma carência

maior no setor e não obtiveram boa classificação

na faixa de salubridade. Isso é uma preocupação,

já que reflete prejuízos à saúde humana e à natu-

reza, servindo de alerta para os gestores.

Um problema detectado foi a ausência de co-

municação entre as secretarias relacionadas ao

meio ambiente, recursos hídricos e infraestrutu-

ra. Os recursos municipais também são conside-

rados escassos, e muitos gestores justificam essa

dificuldade para o não cumprimento do que foi

proposto nos Planos de Saneamento e na Política

de Resíduos Sólidos.

É certo que faltam ações mais firmes por par-

te do poder público destacando a promoção da

educação ambiental para que a população se

sensibilize da importância de algumas práticas,

como não fazer ligações clandestinas em redes

de drenagem de águas pluviais; realizar coleta

seletiva doméstica; evitar descarte de resíduos

em margens de rios, entre outras ações nocivas.

Entende-se a partir desse estudo que as cidades

litorâneas precisam ser mais bem estudadas, no

que tange à questão do saneamento com foco

na sustentabilidade e melhorias das condições

de salubridade, visto que são áreas bastante

adensadas, mas de ecossistemas considerados

frágeis. A alteração na dinâmica desses ambien-

tes costeiros pode afetar, inclusive, a economia

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dessas cidades, que têm o turismo como uma das

atividades base.

É preciso fortalecer a gestão municipal, pro-

mover a intersetorialidade entre as secretarias

e incentivar a participação social de modo a se

cobrar do poder público adequadas políticas pú-

blicas e a efetiva execução das ações propostas

nos PMSB.

Nessas cidades com características turísticas, o

interesse em melhorar essas condições ambien-

tais e estruturais deve ser prioridade, devido à

dependência dos seus recursos naturais, que se

mal geridos não trazem benefícios ambientais,

sociais e nem financeiros à comunidade.

5 AGRADECIMENTOSOs autores agradecem à Coordenação de Aper-

feiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)

pela concessão de bolsa de mestrado.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASALAGIDEDE, P.; ALAGIDEDE, A. N. The public health effects of

water and sanitation in selected West African countries. Journal

Public Health, vol. 130, pp. 59-63, 2016.

ARAVÉCHIA JÚNIOR, J. C. Indicador de Salubridade Ambiental

(ISA) para a região Centro-Oeste: Um estudo de caso no Esta-

do de Goiás. Dissertação (Mestrado em Planejamento e Gestão

Ambiental). Universidade Católica de Brasília, Brasília - DF, 2010.

BARBOSA, T. S.; FURRIER, M. Classificação Multitemporal do Uso

e Ocupação do Solo do Município do Conde – PB. Revista Geo-

amazônica, vol.1, n° 2, 2014.

BRASIL. Portaria de Consolidação nº 5, de 28 de setembro de

2017. Consolidação das normas sobre as ações e os serviços de

saúde do Sistema Único de Saúde. Disponível em: http://bvsms.

saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prc0005_03_10_2017.

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___. Constituição (1988). Constituição da República Federativa

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Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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Heitor Berger Campos* | Antonio Carlos Zuffo

Análise da relação entre o GRADEX e o Efeito José e sua importância no dimensionamento ótimo de estruturas hidráulicasAnalysis of the relationship between GRADEX and Joseph Effect and its importance in the optimum sizing of hydraulic structures

DOI: https://doi.org/10.4322/dae.2019.042

Data de entrada: 29/03/2018

Data de aprovação: 11/05/2018

Heitor Berger Campos – Mestrando em Engenharia Civil (área de Concentração em Recursos Hídricos, Energéticos e Ambientais) na Unicamp. Engenheiro Civil - Unicamp.Antônio Carlos Zuffo – Engenheiro Civil - Unicamp. Mestre em Engenharia Civil - EPUSP. Doutor em Engenharia Hidráulica e Saneamento - EESC-USP. Pós-doutor em Engenharia Ambiental pela Universidade de Toronto UofT. Professor Associado da Unicamp. *Endereço para correspondência: Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Departamento de Recursos Hídricos. Avenida Alberto Einstein, 951 – Barão Geraldo – Campinas – São Paulo – SP. CEP: 13083-852 – Caixa postal: 6021. E-mail: [email protected].

ResumoConforme crescem as dimensões e os custos de obras de controle de cheias, deve-se ter cautela ao deter-

minar as vazões de pico, evitando que tais estruturas sejam superdimensionadas, ficando ociosas, ou subdi-

mensionadas, resultando em danos patrimoniais.

Para isso é usual utilizarmos métodos determinísticos baseados em séries históricas de chuva, uma vez que as

de vazões estão limitadas, geralmente, a grandes bacias, e muitas vezes por serem bastante curtas e/ou com

muitas falhas. Contudo, as séries de chuva compreendem ciclos intercalados de longos períodos de baixas

pluviometrias seguidos por longos períodos com pluviosidade maiores em relação à MLP (média de longo

período), fenômeno conhecido como Efeito José.

Desta maneira, o GRADEX se apresenta como ferramenta útil para a detecção desses ciclos, assim como para

otimizar a determinação de vazões de pico e o dimensionamento de obras hidráulicas, pois relaciona fre-

quências de eventos de chuva e vazão em vez de relacionar suas magnitudes.

Palavras-chave: GRADEX. Efeito José. Estruturas hidráulicas. Sistemas de drenagens.

AbstractAs the dimensions and costs of flood control structures increase, the determination of the peak flows should be

done with wariness, in order to prevent such structures from being oversized, becoming idle, or undersized, result-

ing in property damage.

To do this, it is usual to use deterministic methods based on historical data series of rainfall, since the flow data

series are limited, generally to the large basins and often because they are very short and / or have many faults.

However, the rainfall series comprise intercalated cycles of long periods of low rainfall followed by long periods with

higher rainfall relative to MLP (long period mean), a phenomenon known as the Joseph Effect.

In this way, GRADEX (EXtreme GRADient) presents itself as an useful tool to detect these cycles, as well as to optimize

the determination of peak flows and the design of hydraulic structures, as it relates frequencies of rainfall and flow

events rather than relating their magnitudes.

Keywords: GRADEX. Joseph Effect. Hydraulics Structures. Drainage Systems.

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1 INTRODUÇÃOVerifica-se que à medida que grandes centros de

concentração populacional se formam, ocorre o

aumento da impermeabilização das áreas do en-

torno dos corpos hídricos, alterando a dinâmica

de infiltração da bacia, surgindo ou aumentando

as necessidades de controle das águas pluviais

e dos escoamentos superficiais devido à eleva-

ção dos picos dos hidrogramas e aumento das

vazões registradas. Canalizações de córregos,

construções de reservatórios de amortecimento

de cheias e implantação de barramentos para

regularização são alguns exemplos de obras re-

sultantes dessas necessidades.

VIOLA (2008) relaciona os diversos aspectos da

urbanização das bacias e os impactos gerados

no sistema de drenagem urbana e condução de

águas pluviais, conforme Tabela 1. Com base

nessa relação de causa e efeito, verificamos que

a elevação das vazões de pico e dos volumes su-

perficiais é um dos principais impactos.

Tabela 1 – Impactos da urbanização sobre a bacia hidrográfica.

Características Impactos

Impermeabilização

- Aumento das vazões de cheias;- Inibição da recarga natural dos aquíferos;

- Diminuição das vazões de estiagens pela diminuição das recargas dos aquíferos.

Redes de drenagem - Maiores picos a jusante devido à maior fluidez do escoamento à jusante.

Resíduos urbanos

- Degradação da qualidade d'água;- Entupimento de bueiros e galerias;

- Deposição no fundo de canais e rios;- Moléstias de veiculação hídrica causada pela decomposição da matéria

orgânica nos corpos d'água.

Redes de esgoto deficientes- Degradação da qualidade d'água;

- Moléstias de veiculação hídrica pelo contato com vetores de transmissão de doenças.

Desmatamento

- Maiores picos e volumes;- Maior erosão devido ao impacto direto das gotas de chuvas sobre os solos;

- Assoreamento em canais, galerias e rios;- Menor infiltração da água no solo.

Ocupação das várzeas (Áreas sujeitas naturalmente a inundações ampliadas pela

ação antrópica)

- Maiores prejuízos;- Maiores picos de enchentes;

- Maiores efeitos das moléstias de veiculação hídrica;- Maiores custos de utilidade pública;

- Ocupação de áreas que há algumas décadas não inundavam (Efeito José), mas passaram a inundar novamente.

Crescimento populacional e do consumo - Transposição de bacias para trazer água de locais cada vez mais longe;- Maior investimento em infraestrutura.

Fonte: modificado de VIOLA, 2008.

PMSP (2012) afirma que, em geral, todo processo

de urbanização no entorno de um corpo hídrico

apresenta três cenários sequenciais, que podem

ser definidos como:

• Cenário 1: Período pré-ocupação, principalmen-

te das regiões das várzeas dos corpos hídricos;

• Cenário 2: Bacia hidrográfica em processo de

intensa urbanização, com alta impermeabili-

zação da superfície da bacia e áreas de várzea

ocupadas. Uso e ocupação do solo de maneira

intensa e desorganizada. Necessidade de obras

hidráulicas que mitiguem os problemas recor-

rentes dessa ocupação;

• Cenário 3: Implantação de estruturas hidráuli-

cas que controlem a ação da água e mitiguem os

impactos gerados pelas inundações nos períodos

de cheias naturais.

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A Figura 1 ilustra esses cenários. Tendo em vista

que todas as obras hidráulicas têm como fator

principal a determinação de vazões de projeto

como um ponto comum, deve-se tomar cuida-

do redobrado para sua correta determinação. A

determinação de uma vazão de projeto implica

em obras com porte e custos adequados, pois

obras subdimensionadas levarão a perdas patri-

moniais, e obras superdimensionadas resultarão

em estruturas ociosas e gastos desnecessários.

Alguns exemplos recentes de falhas de funciona-

mento devido ao subdimensionamento de estru-

turas hidráulicas são apresentados na Tabela 2.

Figura 1 - Desenvolvimento urbano e seus impactos no sistema de drenagem.

Fonte: PMSP, 2012.

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Tabela 2 – Exemplos recentes de falha de estruturas hidráulicas.

Data Local Falha Danos

26/02/2018 Carrapateira/PB Rompimento de barragem de açude

Perda da estrutura de barramentoProblemas causados pela propagação de onda

de cheia

05/01/2017 São Francisco de Paula/RS Rompimento de açude

Perda da estrutura de barramentoAlagamento de ruas, avenidas e residências

Interdição da Rodovia RS-239

17/02/2002 Campinas/SP Rompimento de três açudes

Perda das estruturas de barramentoTransbordamento do Ribeirão das Cabras

49 moradores da área desabrigadosDeslizamentos de terraDestruição de pontes

Carros arrastados pela enxurradaAlagamento de ruas, avenidas e residências

20/12/2017 Sorocaba/SP Rompimento de açude

Perda da estrutura de barramentoDesabamento de residência

Alagamento de ruas, avenidas e residênciasCarros arrastados pela enxurrada

Interdição da ruas e avenidasInterdição do fornecimento de energia elétrica

Danos ao prédio de uma unidade pré-hospitalar

23/01/2014 São Paulo/SP Transbordamento de piscinão e córrego

Alagamento de ruas, avenidas e residênciasDesabamento de residências

Carros arrastados pela enxurrada

Fontes: Jornal da Paraíba, 2018. Rbs TV / g1, 2017. Diário do Grande ABC, 2002. Z1 Portal, 2017. Folha de São Paulo, 2014.

Para se determinar uma vazão de projeto, prin-

cipalmente vazões de pico, há diversos métodos

possíveis, que podemos dividir em dois grupos

principais: métodos sintéticos e métodos esta-

tísticos. Os métodos sintéticos, em sua maioria,

são métodos desenvolvidos em regiões de clima

temperado, logo são métodos que tentam repre-

sentar condições físicas e climáticas diferentes

das existentes no Brasil. Contudo, pela falta de

métodos próprios para a nossas condições, eles

são largamente utilizados. Os métodos estatís-

ticos, por sua vez, não têm a qualidade de seus

resultados atrelada às características locais da

bacia analisada, mas sim à qualidade das séries

históricas de chuva e vazão existentes.

As séries pluviométricas, por serem mais abun-

dantes que as séries históricas de vazão, são nor-

malmente mais utilizadas para determinar va-

zões de projeto, porém muitas vezes, ao utilizar

dados de épocas diferentes, ocorre a mistura de

informações que representam situações diferen-

tes. O clima não é constante ao longo do tempo,

ele muda, mas essas mudanças só são sentidas

ao longo das décadas. As variações climáticas

deveriam ser consideradas nos projetos hidráuli-

cos. Porém ainda não são consideradas devido à

falta de informações a respeito dessas mudanças

contínuas, sutis e cíclicas de longo período, que

após duas ou três décadas tornam-se significati-

vas. Um exemplo disso é a utilização de uma sé-

rie histórica extensa de dados de chuva, de um

mesmo posto hidrométrico, porém grande o su-

ficiente para registrar dois ou mais períodos com

comportamentos hidrológicos distintos.

O estudo apresentado por MANDELBROT e WAL-

LIS (1968) identificou dois desses comportamen-

tos, um cíclico de longo período e outro abrupto

e descontínuo. Esses pesquisadores batizaram

o comportamento cíclico com o nome de Efeito

José, que faz referência a José do Egito e à histó-

ria bíblica dos sete anos de fartura, seguidos por

mais sete anos de fome. O Efeito José descreve a

“persistência” dos fenômenos climáticos que, no

caso da hidrologia, descreve o comportamento

das precipitações ao longo do tempo. Afirmaram

que locais que possuem um comportamento hi-

drológico (secas ou precipitações abundantes)

tendem a continuar dessa maneira até que se

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inicie um outro ciclo de longo período com com-

portamento inverso.

Um período “longo”, segundo ZUFFO e ZUFFO

(2016), pode ser entendido como um período de

20 até 50 anos. ZUFFO (2015), com base em estu-

dos das precipitações totais anuais do posto plu-

viométrico da Fazenda Santa Elisa, operado pelo

Instituto Agronômico de Campinas (IAC), afirma

que o período entre os anos de 1935 e 1970 foi

um período de baixas alturas pluviométricas em

relação ao período posterior a 1970, como pode

ser visualizado na Figura 2.

Figura 2 - Série histórica dos totais anuais precipitados do posto pluviométrico instalado no IAC, no município de Campinas, coração da bacia do rio Piracicaba, no estado de São Paulo.

Fonte: ZUFFO, 2015.

Dessa maneira, é necessário fazer uso de méto-

dos que consigam detectar a existência desses

períodos cíclicos, para que seja possível realizar a

separação dos mesmos. Assim procedendo, será

possível estimar melhor as vazões de projeto, de

acordo com o período hidrológico cíclico mais

crítico, permitindo que a estrutura hidráulica di-

mensionada suporte o evento mais extremo em

quaisquer situações climáticas com segurança e

economia. Para isso, propõe-se utilizar o Méto-

do GRADEX como ferramenta para determinar a

tendência hidrológica e também para determi-

nar vazões de projeto.

2 OBJETIVOSPropõe-se neste artigo demonstrar a aplicabili-

dade do Método GRADEX como uma ferramenta

de detecção de ciclos hidrológicos com compor-

tamentos geralmente maquiados pela análise

dos valores da série longa que mascarem esses

fenômenos cíclicos, pela atenuação de suas es-

tatísticas como a média e desvio padrão.

Propõe-se ainda mostrar que o Método

GRADEX é um método consistente para a de-

terminação de vazões de pico para projetos de

estruturas hidráulicas.

3 BASES CONCEITUAIS E METODOLOGIA3.1 Método GRADEX

O Método GRADEX foi proposto inicialmente por

GUILLOT e DUBAND (1968) e é um método pro-

babilístico de determinação de vazões máximas

referentes a determinados períodos de retorno,

tendo como principal ponto favorável o fato de

poder ser aplicado às bacias com séries históri-

cas de vazão limitadas. Segundo ZUFFO e LEME

(2005), “o método tem por objetivo a estimativa

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de cheias de altos TR’s a partir das frequências

de chuvas, utilizando para este fim a distribuição

de Gumbel-Chow, relacionando volumes precipi-

tados com volumes escoados”. No Estado de São

Paulo, o DAEE, em seu “Guia Prático para Projetos

de Pequenas Obras Hidráulicas”, cita o Método

GRADEX como a metodologia a ser utilizada no

caso de séries fluviométricas com extensão entre

10 e 25 anos, conforme diagrama apresentado

na Figura 3.

Figura 3 – Diagrama das metodologias adotadas para a estimativa de vazões de enchente.

Fonte: DAEE, 2005.

Observa-se que séries históricas fluviométricas

apresentam de forma mais acurada o compor-

tamento de vazões em uma bacia hidrográfica.

Contudo, são dados mais escassos e geralmente

com extensão curta, fazendo com que as séries

históricas pluviométricas cumpram essa função.

Por sua vez, as séries históricas de chuva devem

possuir extensão muito maior para que possam

ser minimizados possíveis erros oriundos da

transformação chuva-vazão. Alinhada a isso está

uma limitação do Método GRADEX, devido a este

se basear na distribuição estatística de Gumbel,

que, conforme FERNANDES (1990), afirma que

deve-se, sempre que possível, utilizar séries com

no mínimo 30 anos de observações.

Em resumo, o Método GRADEX relaciona a fre-

quência de eventos extremos de precipitação com

a frequência de eventos extremos de vazão. Em

outras palavras, se as séries de dados históricos de

chuvas máximas e de vazões, transformadas em al-

tura de lâmina escoada na bacia, fossem plotadas

no papel probabilístico de Gumbel, a função proba-

bilística exponencial da série de precipitações seria

caracterizada por uma reta com coeficiente angu-

lar “a”, que segundo o Método GRADEX, seria utili-

zado para fazer a extrapolação dos valores da série

de vazões a partir de um período de retorno (TR)

baixo (entre 10 a 20 anos). Com base nos estudos

de ZUFFO (1993) e ZENZEMI et al (2003), pode ser

considerado TR = 10 anos como um ponto razoável

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para se fazer a extrapolação dos valores de vazão. A

Figura 4 ilustra um exemplo da extrapolação feita

pelo Método GRADEX, em que o coeficiente angu-

lar “a” é dado por a = tangente(Ψ). Ao coeficiente

angular “a” se dá o nome de Coeficiente GRADEX

ou simplesmente GRADEX.

Figura 4 – Extrapolação da função de distribuição de extremos do volume escoado, a partir do período de retorno TR = 10 anos, paralela à função de extremos do volume precipitado.

Fonte: Modificado de ZUFFO, 1993.

Originalmente o Método GRADEX foi idealizado

de forma a calcular o coeficiente GRADEX para

cada posto pluviométrico (GRADEX Pontual). A

partir da média dos coeficientes GRADEX (GRA-

DEX Espacial) de uma bacia, proceder-se-ia à ex-

trapolação dos valores de vazão e obter-se-ia a

vazão de projeto correspondente a um determi-

nado TR multiplicando o valor estimado por um

coeficiente de abatimento que, em geral, propu-

nha uma redução do valor médio em 20%, como

sugerido pelo CETEGREF francês.

Para evitar a utilização de um coeficiente de aba-

timento arbitrário, propõe-se seguir a metodolo-

gia apresentada por ZUFFO (1993), que tem por

premissa calcular o coeficiente GRADEX da pre-

cipitação média da bacia em vez da média dos

coeficientes GRADEX pontuais. Ainda seguindo

a metodologia de ZUFFO (1993), a série histó-

rica de precipitações a ser utilizada é calculada

utilizando o Método dos Polígonos de Thiessen

para cada dia das séries históricas de precipita-

ção diária. Após essa fase, procede-se à seleção

das máximas precipitações diárias de cada ano

hidrológico, e ao fazer o ajuste estatístico des-

sa série pelo Método de Gumbel, relacionando

os valores de precipitação com seus períodos de

retorno, é possível obter o coeficiente GRADEX

para a bacia analisada.

ZUFFO (1993) ainda afirma que o Método GRA-

DEX possui forte aplicabilidade principalmente

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em bacias urbanas devido a essas regiões pos-

suírem características que se aproximam das

hipóteses inerentes à sua aplicação, como, por

exemplo, a baixa permeabilidade e homogenei-

dade climática.

3.2 GRADEX e o Efeito José

Como já apresentado, o Efeito José se relaciona à

hidrologia no que diz respeito à manutenção do

comportamento pluvioso por longos períodos de

tempo, de duas a cinco décadas. Desta maneira,

se o coeficiente GRADEX indica de maneira ma-

temática o comportamento de séries históricas

de precipitação, ele também serviria para indi-

car se determinado período deveria apresentar

eventos de maior ou menor magnitude em rela-

ção à sua média. Simplificando, podemos dizer

que ao detectarmos períodos mais secos, como

mostrado na Figura 2, podemos garantir que

os coeficientes GRADEX desses períodos serão

menores do que os da série analisada como um

todo. Já os períodos mais úmidos apresentarão

comportamento inverso, com coeficientes GRA-

DEX maiores do que os da série analisada como

um todo.

ZUFFO e ZUFFO (2016), ao analisarem a série

histórica de precipitações totais anuais do pos-

to pluviométrico presente no IAC, e subdividir a

série em quatro períodos, conforme apresentado

na Figura 5, conseguem demonstrar a existência

desses eventos cíclicos de longo período.

Figura 5 – Precipitações totais anuais para o posto pluviométrico da Fazenda Santa Elisa em Campinas – SP, operado pelo IAC, série subdividida em quatro com suas respectivas tendências.

Fonte: ZUFFO e ZUFFO, 2016.

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Ao fazer tal subdivisão, é possível observar que

cada um dos períodos possui comportamentos

diferentes entre si e diferentes do comporta-

mento praticamente estacionário que foi apre-

sentado na Figura 1. ZUFFO e ZUFFO (2016)

ainda apresentam valores de média e desvio

padrão de cada um dos quatro períodos, apre-

sentado na Tabela 3, demonstrando que nem

essas informações se mantêm constantes ao

longo do tempo.

Tabela 3 - Momentos de primeiras e segundas ordens para os dados de precipitações totais anuais para o Posto Pluviométrico da Fazenda Santa Elisa, em Campinas – SP, operado pelo IAC – unidades em milímetros anuais.

Período 1910-1932 1931-1969 1968-1991 1992-2014

Média (µ) 1395.90 1338.96 1394.49 1377.94

Desvio padrão (σ) 326.57 220.97 297.77 191.30

Número de anos 22 38 23 22

Fonte: ZUFFO e ZUFFO, 2016.

ZUFFO e ZUFFO (2016) afirmam que os períodos

mais úmidos representados pelos anos 1910-

1932 e 1968-1991 apresentam uma elevação

na precipitação média e um expressivo aumen-

to no desvio padrão. Isso significa que, para a

geração de séries sintéticas pelos métodos

estatísticos, o período de análise influenciará

muito nos resultados, sendo que esses métodos

não incorporam a característica de elevação e/

ou recessão cíclica de longos períodos nem a

mudança das estatísticas das séries históricas

(média e desvio padrão).

Desta maneira, o conhecimento da existência

de eventos cíclicos de maior ou menor pluvio-

sidade é algo a ser considerado no dimensio-

namento de estruturas hidráulicas, de maneira

que eventos extremos não fiquem à sombra de

comportamentos amenizados pela mistura des-

ses diferentes períodos, ou que utilizem valores

além dos esperados devido à análise de um

período em que os eventos extremos possuem

magnitudes maiores.

Baseando-se nisso, o coeficiente GRADEX torna-

-se uma ferramenta de indicação de alteração na

tendência existente e, assim, indica que um novo

ciclo, com eventos de maior ou menor magnitu-

de, deve ser considerado.

3.3 Bacias analisadas

Conforme exposto, a metodologia utilizada se-

gue o que foi proposto por ZUFFO (1993), bus-

cando determinar o coeficiente GRADEX de uma

série de precipitações médias nas bacias anali-

sadas. Para determinar as precipitações médias

diárias em cada bacia, utilizaram-se 3 ou 4 pos-

tos pluviométricos, conforme recomendação de

ZUFFO (1993). Contudo, para bacias urbanas e

geralmente de pequeno porte, é possível tomar

apenas 1 posto pluviométrico como representa-

tivo. A Tabela 4 apresenta um resumo das bacias

(nomeadas conforme os postos fluviométricos a

que são relacionadas), os postos pluviométricos

utilizados para montar a série de precipitações

médias diárias máximas anuais dessas bacias e

a quantidade de anos que possuem informações

suficientes (poucas falhas na série de precipita-

ções médias diárias) para que o ano hidrológico

pudesse ser considerado representativo.

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Tabela 4 – Resumo dos postos hidrométricos utilizados em cada uma das bacias analisadas.

Bacia/ fluviômetro Pluviômetros Anos

3E-109 E3-005 E3-047 E3-071 E3-099 63

4F-001 F4-017 F4-018 F4-029 F5-013 65

8C-007 C7-001 C8-008 D8-003 D8-047 60

Para a separação dos períodos a serem analisa-

dos, tomou-se como premissa que o Estado de

São Paulo entre 1936 e 1975 teve comporta-

mento pluviométrico com características de es-

tiagem, e que entre 1976 e 2010 características

de maior pluviosidade, seguindo o que foi apre-

sentado nas Figuras 1 e 5, e que é apresentado

de maneira mais detalhada na Figura 6, em que,

além dos períodos, são apresentadas as suas

tendências e as médias dos períodos aqui de-

finidos como limites para o estudo das bacias

hidrográficas. Além disso, tomou-se o estudo

de BOULOMYTIS et al.(2018), que ao analisar as

séries históricas dos postos pluviométricos E2-

046 e E2-052, ambos em região litorânea com

predomínio de chuvas orográficas, verificou a

existência de dois períodos longos com compor-

tamentos distintos que acabam camuflados ao

se analisar suas séries históricas como um todo.

BOULOMYTIS et al. (2018) afirmam que, apesar

de o período entre 1936 e 1975 ter sido consi-

derado um período seco no Estado de São Paulo,

na região nordeste da faixa litorânea esse com-

portamento se inverte, conforme mostrado nas

Figuras 7 e 8.

Figura 6 – Precipitações totais anuais para o posto pluviométrico da Fazenda Santa Elisa em Campinas – SP, operado pelo IAC, série subdividida em quatro com suas respectivas tendências e com as médias para os períodos anterior a

1936, 1936-1975 e após 1975.

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Figura 7 – Precipitações máximas anuais para o posto E2-046 e as médias para os períodos analisados.

Fonte: Traduzido de BOULOMYTIS et al., 2018.

Figura 8 – Precipitações máximas anuais para o posto E2-052 e as médias para os períodos analisados.

Fonte: Traduzido de BOULOMYTIS et al., 2018.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃOUtilizando os postos pluviométricos apresentados

para cada bacia, conforme apresentado na Tabela 4

seguindo a metodologia apresentada, foram obtidas

as precipitações máximas diárias anuais para as ba-

cias analisadas, como é apresentado na Tabela 5.

Tabela 5 – Resumo dos postos hidrométricos utilizados em cada uma das bacias analisadas.

ANO HIDROLÓGICO PP (mm) ANO HIDROLÓGICO PP (mm)

Início Final 3E-109 4F-001 8C-007 Início Final 3E-109 4F-001 8C-007

01/10/1936 30/09/1937 01/10/1974 30/09/1975 60.4 81.5 67.8

01/10/1937 30/09/1938 01/10/1975 30/09/1976 68.3 125.6 108.8

01/10/1938 30/09/1939 01/10/1976 30/09/1977 73 73.7 85.1

01/10/1939 30/09/1940 66.4 01/10/1977 30/09/1978 78.5 97.8 71.9

01/10/1940 30/09/1941 60.6 01/10/1978 30/09/1979 71.4 82 55.4

01/10/1941 30/09/1942 01/10/1979 30/09/1980 45 88.1 205.9

01/10/1942 30/09/1943 49.6 27.1 01/10/1980 30/09/1981 63.2 77.2 89.2

01/10/1943 30/09/1944 76.3 35.4 01/10/1981 30/09/1982 97.8 78.9 67.2

01/10/1944 30/09/1945 74.2 54.3 01/10/1982 30/09/1983 89.6 94.3 76.4

01/10/1945 30/09/1946 70.6 47.3 01/10/1983 30/09/1984 66.2 75.1 95.4

01/10/1946 30/09/1947 51.4 22.8 01/10/1984 30/09/1985 50.1 43.9 63.1

01/10/1947 30/09/1948 74.4 57.9 01/10/1985 30/09/1986 43.6 71 92.4

01/10/1948 30/09/1949 83.6 37.5 01/10/1986 30/09/1987 176.1 73.9 109.6

01/10/1949 30/09/1950 54.7 01/10/1987 30/09/1988 53.8 138.4 165.3

01/10/1950 30/09/1951 69.5 88.9 01/10/1988 30/09/1989 84.5 80.1 71.9

01/10/1951 30/09/1952 51.4 01/10/1989 30/09/1990 46.9 62.3 63.8

01/10/1952 30/09/1953 53.9 75.9 01/10/1990 30/09/1991 94.3 58 83.4

01/10/1953 30/09/1954 56.1 44.4 148.2 01/10/1991 30/09/1992 93.4 58.6 87

01/10/1954 30/09/1955 48.3 108.5 48.1 01/10/1992 30/09/1993 67 76.2 74.9

01/10/1955 30/09/1956 67.2 62 80.2 01/10/1993 30/09/1994 76.6 70.6 70.6

01/10/1956 30/09/1957 71.6 54.4 69.3 01/10/1994 30/09/1995 55 133.2 52.6

01/10/1957 30/09/1958 47.5 75.9 75.8 01/10/1995 30/09/1996 57.6 74.9 56.4

01/10/1958 30/09/1959 42.4 97.1 57 01/10/1996 30/09/1997 60.4 102.7 83.9

01/10/1959 30/09/1960 46.7 102.5 118.4 01/10/1997 30/09/1998 55.3 94.1 73.2

01/10/1960 30/09/1961 72.2 151 87.3 01/10/1998 30/09/1999 57.2 82.4 81

01/10/1961 30/09/1962 61.8 66.7 55 01/10/1999 30/09/2000 59.1 46.8 123.1

01/10/1962 30/09/1963 72.1 154.8 68.3 01/10/2000 30/09/2001 58.9 99.3 63.5

01/10/1963 30/09/1964 37.9 68.8 69.4 01/10/2001 30/09/2002 81.4 94.2 94.1

01/10/1964 30/09/1965 44.6 100.8 76.9 01/10/2002 30/09/2003 59.7 273.2 82.8

01/10/1965 30/09/1966 36.7 134.7 62.4 01/10/2003 30/09/2004 86.9 54

01/10/1966 30/09/1967 69.1 72.7 119.2 01/10/2004 30/09/2005 193.3 106.2

01/10/1967 30/09/1968 33.8 63.3 96.1 01/10/2005 30/09/2006 67.9 56.4

01/10/1968 30/09/1969 54.2 64.3 62.7 01/10/2006 30/09/2007 56.9 82.7

01/10/1969 30/09/1970 66.9 77.6 69.5 01/10/2007 30/09/2008 82.4 66.1

01/10/1970 30/09/1971 40.3 56 127.6 01/10/2008 30/09/2009 147.3 96.1

01/10/1971 30/09/1972 53.8 81.5 80.8 01/10/2009 30/09/2010 94.3 107

01/10/1972 30/09/1973 47.3 108.7 97.1 01/10/2010 30/09/2011 95.2 55.8

01/10/1973 30/09/1974 53.2 78.6 84.5

Tais séries de precipitações foram analisadas em

três períodos distintos, como já foram apresenta-

dos, sendo que inicialmente foi analisado o perío-

do 1936 – 2010 e, então, separaram-se as séries

nos períodos 1936 – 1975 e 1976 – 2010, recalcu-

lando seus períodos de retorno dentro dos subpe-

ríodos. Os resultados obtidos podem ser verifica-

dos nas Figuras 9 a 11, que representam o período

completo e os dois subperíodos, respectivamente.

Já a Tabela 6 apresenta um resumo dos valores dos

coeficientes GRADEX obtidos, de acordo com a

bacia e o período analisados.

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Figura 9 – Determinação dos coeficientes GRADEX para os postos 3E-109, 4F-001 e 8C-007 para o período 1936-2010.

Figura 10 – Determinação dos coeficientes GRADEX para os postos 3E-109, 4F-001 e 8C-007 para o período 1936-1975.

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Figura 11 – Determinação dos coeficientes GRADEX para os postos 3E-109, 4F-001 e 8C-007 para o período 1976-2010.

Tabela 6 – Resumo dos valores dos coeficientes GRADEX encontrados para as bacias 3E-109, 4F-001 e

8C-007 para os períodos analisados.

Período analisado

Coeficientes gradex

3E-109 4F-001 8C-007

1936-2010 17.12 32.95 23.76

1936-1975 11.30 30.75 22.49

1976-2010 23.68 37.96 27.42

Ao analisar os resultados obtidos, verifica-se

que as bacias analisadas apresentaram valores

de coeficientes GRADEX que concordam com a

proposição inicial, de que períodos mais secos

apresentariam coeficientes menores que os das

séries como um todo, enquanto períodos mais

úmidos apresentariam coeficientes maiores. Tais

variações do coeficiente GRADEX, quando utili-

zadas para fazer a extrapolação das séries flu-

viométricas no papel de Gumbel, levaram a va-

riações consideráveis nos valores das vazões de

pico encontradas.

Tais variações podem ser visualizadas nas Figuras

12 a 14, e são mais acentuadas na bacia do pos-

to fluviométrico 3E-109, em que para um perío-

do de retorno centenário, o período 1936-1975

apresenta uma variação de aproximadamente

30% a menos do que a vazão do período 1936-

2010, enquanto o período 1975-2010 teve uma

variação de aproximadamente 33,5% a mais que

o período completo. Essa variação demonstra a

necessidade de fazer a separação dos períodos

camuflados dentro de uma mesma série de re-

gistros históricos a fim de garantir o correto di-

mensionamento das estruturas hidráulicas.

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Figura 12 – Variação das vazões de pico para a bacia 3E-109 para diversos TR, comparando valores calculados para diversos períodos por meio do GRADEX e pela distribuição de Gumbel.

Figura 13 – Variação das vazões de pico para a bacia 4F-001 para diversos TR, comparando valores calculados para diversos períodos por meio do GRADEX e pela distribuição de Gumbel.

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Figura 14 – Variação das vazões de pico para a bacia 8C-007 para diversos TR, comparando valores calculados para diversos períodos por meio do GRADEX e pela distribuição de Gumbel.

5 CONCLUSÕESApós analisar os resultados obtidos, verifica-se

que o GRADEX pode ser uma ferramenta pode-

rosa na detecção de ciclos de longos períodos

em séries hidrológicas, de alta pluviosidade ou

de estiagem, evidenciando a existência do Efeito

José nas séries históricas de precipitação.

Os resultados ainda favorecem a afirmação de

que o Método GRADEX é uma ferramenta mais

adequada para determinação de vazões de pico

em projetos de estruturas hidráulicas, visto que,

ao permitir que sejam detectados diferentes ci-

clos hidrológicos, também permite identificar

como variam esses ciclos por meio da determi-

nação dos coeficientes GRADEX, que acabam por

ser o parâmetro mais importante no momento

em que se faz a extrapolação da série histórica

de vazões para os períodos de retorno desejados.

Desta forma, pode-se dizer que utilizar o Mé-

todo GRADEX para a detecção de ciclos hidro-

lógicos, combinado com sua determinação de

vazões de projeto, nos leva às vazões mais pró-

ximas da realidade do período em que a estru-

tura hidráulica estará atuando, sendo, portan-

to, uma forma de otimizar o dimensionamento

de estruturas hidráulicas.

6 AGRADECIMENTOSOs autores agradecem ao DAEE pelo fornecimen-

to dos dados hidrométricos de chuva e vazão, e

ao programador Ricardo Del Moro pelo auxílio na

manipulação dos bancos de dados que permitiu

que este estudo pudesse ser realizado de manei-

ra mais rápida.

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Victor de Barros Deantoni* | Alberto Luiz Francato

Contribuição aos processos de tomada de decisão no setor de saneamento com a aplicação da Teoria dos Jogos (TJ)Contribution to processes of decision making in the sanitation sector with the application of Game Theory

DOI: https://doi.org/10.4322/dae.2019.044

Data de entrada: 18/07/2017

Data de aprovação: 22/05/2018

Victor de Barros Deantoni – Engenheiro Civil pela FEC-Unicamp. Mestre em Engenharia Civil pela FEC-Unicamp. Doutorando em Engenharia Civil pela FEC-Unicamp. Professor da Faculdade de Engenharia Civil da PUC Campinas.Alberto Luiz Francato – Engenheiro Civil pela EESC-USP. Mestre em Engenharia Civil pela FEC-Unicamp. Doutor em Engenharia Civil pela FEC-Unicamp. Livre Docente na área de Planejamento Energético e Sistemas Elétricos pela FEC-Unicamp. Professor da FEC-Unicamp.*Endereço para correspondência: Rua Santo Antônio, 35, apto 11. Itatiba - SP. E-mail: [email protected].

ResumoA gestão de recursos hídricos envolve a tomada de decisões, muitas vezes em situações de conflito, seja pela es-

cassez de recursos hídricos, pela qualidade da água ou por questões financeiras. O processo de tomada de de-

cisão é complexo, e uma boa prática é fazer uso de técnicas de pesquisa operacional como suporte ao processo

decisório. Em muitos casos, tal processo assume particularidades de ganhos e perdas, em função das estratégias

adotadas pelas partes envolvidas. Este artigo apresenta a metodologia e aplicação da Teoria dos Jogos (TJ) em um

problema de tomada de decisão sobre investimentos em uma Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), por um

Loteador e por uma Empresa de Saneamento na construção de uma nova ETE. Com a aplicação da TJ foi possível

organizar o processo decisório e a situação de cada jogador, buscando soluções para o jogo. Deste modo foram

analisadas situações em que cada parte toma a decisão em função dos riscos e dos resultados possíveis. A situ-

ação utilizada é exemplificativa e, portanto, como estudo, contempla valores hipotéticos e jogadores fictícios. Palavras-chave: Teoria dos Jogos. Planejamento de Recursos Hídricos. Gerenciamento. Tratamento de Esgoto.

AbstractWater resources management involves decision-making, often in conflict situations, whether due to water scarcity,

water quality or financial issues. The decision-making process is complex, and a good practice is to make use of oper-

ational research techniques to support the decision-making process. In many cases, this process assumes particular-

ities of gains and losses, depending on the strategies adopted by the parties involved. This article presents the meth-

odology and application of Game Theory (GT) in a decision-making problem on investments in an Effluent Treatment

Station (ETS) by a Lotter and a Sanitation Company in the construction of a new ETS. With the application of GT, it was

possible to organize the decision-making process and the strategy of each player, seeking solutions to the game. In

this way, situations were analyzed where each party makes the decision according to the risks and the possible results.

The situation used is exemplary and, therefore as a study, contemplates hypothetical values and fictitious players.

Keywords: Game Theory. Water Resources Planning. Management. Sewage Treatment.

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1 INTRODUÇÃOA Teoria dos Jogos (TJ) é uma técnica matemá-

tica utilizada para avaliar o comportamento de

partes envolvidas (jogadores) em processos de-

cisórios, seja em situações de conflito ou coo-

peração. Pode ser simplificadamente entendida

como a interação entre jogadores que, com base

em um conjunto de estratégias em que cada um

opta, receberão um pagamento (resultado). A so-

lução de um jogo é a consequência das decisões

de cada jogador, que almeja alcançar suas metas

por meio de estratégias e decisões racionais.

A TJ iniciou-se com a publicação de Von Neu-

mann e Morgenstern (1944) com o título tra-

duzido para o português de “Teoria dos Jogos e

Comportamento Econômico”. Ao longo dos anos,

recebeu contribuições e avanços que permitiram

aplicações em diferentes áreas de pesquisa: en-

genharia, economia, administração, biologia e

genética, política, dentre outras.

Os diferentes objetivos (econômicos, sociais e

ambientais) podem ser inseridos e estudados na

modelagem de um problema por meio da TJ. Para

isso é necessário estabelecer funções de cus-

to entre um conjunto de estratégias possíveis e

seus respectivos resultados.

Madani e Hooshyar (2014) destacam que a TJ

é uma alternativa na manipulação de problemas

que permite uma análise complexa de situa-

ções com vários objetivos, quando comparada a

outras técnicas, como a otimização, na qual o

problema é simplificado a uma única função ob-

jetivo, utilizando método de pesos ou uma análi-

se multicritério.

O jogo pode ser dito cooperado ou não coope-

rado, dependendo da relação entre os jogadores,

do acesso à informação e dos objetivos individu-

ais de cada jogador. Em jogos cooperados, a in-

teração entre jogadores pode ser complexa, bem

como a divisão de ganhos. É possível que um jo-

gador adote uma estratégia de pouco ganho in-

dividual, ou mesmo prejuízo, em benefício de um

ganho maior para os membros do grupo em que

participa, chamado de coalizão.

Na análise da TJ, diferentes abordagens são pos-

síveis; destacam-se a busca de estratégias domi-

nantes, equilíbrios de Nash (Nash, 1950 e 1953),

ótimos de Pareto, soluções cooperadas (Har-

sanyi, 1959) dentre outras. Os resultados da TJ

não são necessariamente ótimos. Possivelmente

existe mais de uma solução ou equilíbrio para um

mesmo jogo. Uma das grandes vantagens da TJ é

a inclusão de uma grande quantidade de infor-

mações e variáveis nos problemas, sem a conse-

quência de uma explosão de dimensionalidade,

como pode ocorrer em outros métodos.

A utilização de técnicas matemáticas no pro-

cesso de tomada de decisão é vasta e contem-

pla, entre elas: análise multicritério, otimização,

algoritmos genéticos, métodos de simulação,

métodos gráficos, entre outros. Nesse contex-

to, a TJ pode ser apontada como uma técnica

de apoio à tomada de decisão, seja auxiliar a

outra estratégia, seja combinada, seja ainda de

forma individual.

A TJ vem sendo utilizada no planejamento de

recursos hídricos há mais de 30 anos. Um dos

primeiros estudos que se encontra na literatura

especializada é um estudo de Suzuki e Nakayama

(1976), no qual a TJ foi utilizada de modo coope-

rativo para alocação de recursos hídricos entre

os setores urbano e agrícola.

Madani (2010) apresenta uma extensa revisão

sobre problemas na área de Recursos Hídricos

que foram modelados utilizando a TJ. Neste tra-

balho, o autor dividiu e classificou os artigos em

cinco conjuntos: custo da água, águas subter-

râneas, alocação de custos, qualidade da água

e outros.

Em outro trabalho que combinou a utilização de

métodos de aprendizado por reforço e TJ coope-

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rativa, Madani e Hooshyar (2015) desenvolveram

e aplicaram um modelo para a operação ótima

de múltiplos reservatórios, analisando a forma-

ção de grupos (coalizões) e uma forma de aloca-

ção de recursos para os membros da coalizão em

função dos resultados obtidos.

Muitos problemas na área de recursos hídricos

são ditos dinâmicos. As soluções podem ser alte-

radas ao longo do tempo, muitas vezes em jogos

que se repetem. As estratégias de uma jogada

anterior podem alterar os custos e as estratégias

de jogadas posteriores, sendo necessária uma

análise contínua ao longo do tempo (Wu e Whit-

tington, 2006). Ganji, Khalili e Karamouz (2007)

estudaram jogos dinâmicos estocásticos na ope-

ração de reservatórios de forma cooperada com

informação completa entre os jogadores. Ganji,

Karamouz e Khalili (2007) introduziram a análise

com informações incompletas entre os jogado-

res. Em ambos os estudos, o objetivo foi a divisão

de recursos em um reservatório.

A análise de conflitos no uso da água é um tema

recorrente em trabalhos acadêmicos que utili-

zam a TJ. Becker e Easter (1995) analisaram as

políticas dos desvios da água nos grandes lagos,

considerando como jogadores Estados Unidos

e Canadá, também combinações de diferentes

jogadores (províncias da região). Kilgour e Di-

nar (2001) avaliaram políticas de alocação dos

recursos hídricos entre usuários de um mesmo

corpo hídrico. Os autores utilizaram metodologia

no Rio Ganges e chegaram à conclusão de que

alocações variáveis, em função do tempo e da

hidrologia, apresentam resultados superiores em

relação a alocações fixas, que é o modelo utiliza-

do na região.

Negociações para estabelecer políticas e resul-

tados possíveis no gerenciamento das águas do

mar Cáspio (Arzebaijão, Irã, Cazaquistão, Rússia

e o Turcomenistão) foram analisadas com supor-

te da TJ por Sheikhmohammady e Madani (2008),

que compararam essa metodologia com outras

formas de negociação para os jogadores envolvi-

dos. A TJ também é empregada em dois estudos

de Madani e Dinar (2012a) e (2012b) para a reso-

lução de conflitos de uso de águas subterrâne-

as integrada com agricultura. Em dois trabalhos

complementares Zara, Dinar e Patrone (2006) e

Parrachino, Dinar e Patrone (2006) fornecem re-

visões da aplicação da TJ e suas principais defi-

nições. São analisados modelos cooperativos em

diferentes situações que envolvem recursos na-

turais como pesca, poluição e hidrologia (chuva).

Os autores analisam e apresentam soluções de

acordos internacionais e a forma de divisão dos

recursos entre os jogadores de forma justa.

Situações em que diferentes partes necessitam

tomar uma decisão sobre um mesmo assunto e

que as decisões individuais podem influenciar no

resultado que cada parte poderá alcançar ocor-

rem frequentemente em diversas áreas. Assim,

procedimentos para auxiliar a tomada de decisão

e modelos que permitam avaliação de resultados

são fundamentais para a realização das escolhas.

Neste artigo apresenta-se um problema de to-

mada de decisão no qual será implantado um lo-

teamento em uma cidade hipotética. Na implan-

tação (Etapa 1), dois jogadores atuam: a Empresa

de Saneamento que gerencia a ETE existente da

cidade e o Loteador, proprietário do novo lote-

amento que está avaliando as possibilidades de

alocação dos investimentos. Na continuidade da

interação, após um período (Etapa 2), uma nova

avaliação é feita, referente à tomada de decisão

com o aumento populacional e o consequente

aumento da contribuição de esgoto tanto da ci-

dade como do loteamento.

Em ambas as situações, a TJ pode ser utilizada

para permitir que ambos os jogadores possam

avaliar suas estratégias, interpretar o problema,

estabelecer metas e estimar seus resultados.

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O objetivo principal deste trabalho é, por meio

de uma situação hipotética, avaliar o compor-

tamento de cada jogador frente a um conjunto

de ações possíveis, de modo a chegar no melhor

resultado. Os jogadores considerados são um Lo-

teador e uma Empresa de Saneamento avaliando

a etapa de implantação de um loteamento e sua

ampliação. As estratégias em análise refletem a

decisão sobre os custos de construção e amplia-

ção de uma estação de tratamento de esgoto.

O tratamento de esgotos é uma meta de todos os

municípios brasileiros. É natural que novos em-

preendimentos ou estejam conectados à rede ur-

bana ou possuam uma estação de tratamento de

esgoto de acordo com as diretrizes e restrições

de impacto ao meio ambiente.

No processo de implantação de novos empre-

endimentos, é comum a exigência, por parte da

prefeitura ou dos órgãos de saneamento, da exe-

cução de um conjunto de melhorias que devem

ser realizadas na infraestrutura. Em geral é cha-

mada diretriz de implantação, emitida após reu-

niões entre as partes interessadas para permitir a

viabilização do empreendimento.

2 METODOLOGIAA apresentação clássica do problema consiste

na organização matricial (Figura 1), em que as

decisões de cada jogador são apresentadas na

primeira linha e primeira coluna e os ganhos (ou

perdas) de cada jogador são apresentados nas

células internas.

Figura 01. Representação de um jogo na forma matricial

Em que G1 e G

2 representam o ganho do jogador

1 e do jogador 2, respectivamente, na combina-

ção das estratégias. Também pode ser apresen-

tado na forma ordinal, em que os ganhos são

apresentados pela ordem do maior benefício.

2.1 Definições

Fronteira de Pareto: é a região no espaço das

soluções que limitam a melhor decisão de um

jogador. Para o valor dito ótimo de uma função,

não é possível alterar a solução sem que ao me-

nos um jogador tenha seu resultado prejudica-

do. Na Figura 02 abaixo é possível verificar que

para um problema em que o objetivo é a mini-

mização de duas funções (f1 e f

2), não é possível

diminuir o valor de uma função sem que haja um

aumento na outra função, em qualquer ponto.

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Figura 02. Representação da Fronteira de Pareto

Estratégia dominante: é a estratégia que, inde-

pendentemente da estratégia adotada pelo ou-

tro jogador, apresentará um ganho superior (não

é necessariamente um ótimo de Pareto). Basica-

mente é a estratégia que, independentemente

da decisão do outro jogador, mostra-se superior.

Nem sempre existirá uma estratégia dominante

em um problema. A concepção de estratégia do-

minante implica que, para qualquer ação do ou-

tro jogador, essa será superior, ainda que no caso

anterior isso não seja verdade.

Equilíbrio de Nash: situação na qual os jogado-

res consideram as estratégias dos demais, assu-

mindo que os outros jogadores também buscam

uma solução racional. É obtida avaliando cada

possibilidade de cada jogador. É possível que em

um jogo não exista Equilíbrio de Nash.

Em situações reais, os resultados obtidos pelos

jogadores nem sempre são ótimos para todo o

sistema, pois cada jogador adota sua decisão com

base em informações individuais sobre o jogo e

seus próprios critérios. Um jogador pode não estar

disposto a contribuir para a otimização geral de

custos ou benefícios para todo o sistema.

2.2 Estudo Realizado

Uma cidade hipotética apresenta uma Estação

de Tratamento de Esgoto (ETE) que atende à toda

população. Um novo empreendimento imobiliá-

rio será implantado, cujo porte acarretará um

volume de esgoto superior à capacidade atual da

ETE. Nessa situação, a Empresa de Saneamento

(E.S.) e o Loteador (Lot.) precisam definir suas

estratégias de investimento para chegar a uma

solução adequada. Na Figura 03 é apresentada a

situação atual da cidade, que nesta etapa é cha-

mada de Etapa 1. O objetivo é que a cidade e o

loteamento tenham 100% do esgoto tratado.

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Figura 03. Áreas da cidade na etapa 1

Nessa situação, o Lot. pode arcar com o custo de

expansão da ETE ou, caso discorde, pode construir

uma segunda Estação de Tratamento de Esgoto

exclusiva para o Loteamento (ETEL). A E.S. arcar

com os investimentos na ampliação da ETE ou

pode optar pela estratégia de não investir.

A Figura 4 nos traz a representação gráfica das

decisões e permite observar a evolução do jogo

de maneira mais clara e resumida (FIANI, 2009);

para a etapa 1, apresenta-se a Figura 04.

Figura 04. Árvore de resultados para cada conjunto de estratégias na Etapa1

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A partir das decisões (estratégias) de cada jo-

gador, diferentes resultados em termos de cus-

tos são possíveis para cada um. Tem-se assim

um jogo em que os custos são apresentados de

forma hipotética para a análise. Sendo que seus

valores, e principalmente a ordem (hierarquia)

atribuída, afetam o resultado. Deste modo, o

principal fator utilizado como embasamento da

análise são custos, de modo a refletir uma situ-

ação real.

Quando cada uma das partes paga pelo inves-

timento, o custo é de 5 para cada uma; quando

somente uma delas faz o pagamento, o cus-

to total de 10 é atribuído ao único jogador. Na

situação em que ambas não pagam, o Lot. tem

um custo adicional de 2, referente à construção

da nova ETEL.

Figura 05. Custo para cada jogador na Etapa 1.

Em uma segunda Etapa, anos após a decisão

inicial, as duas partes voltam a ter que negociar.

O loteamento foi ampliado e necessita-se de

um aumento na capacidade de tratamento da

ETE. Houve também uma expansão urbana em

diversos pontos da cidade (Figura 06), e a ETE

também não atende mais à população, neces-

sitando de ampliação independentemente da

expansão do loteamento.

Nessa segunda etapa, os resultados dependem da

estratégia definida durante a Etapa 1, ou o lote-

amento tem uma ETEL, caso em sua implantação

tenha-se decidido pela sua construção, ou o lote-

amento não tem, pois utilizou-se a ETE existente.

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Figura 06. Áreas da cidade na etapa 2

A E.S. e o Lot. têm ambos duas estratégias:

{Paga investimento} e {Não paga investimento}.

Devido à expansão urbana, tanto a contribuição

do Loteamento como a da Cidade foi expandida.

Desse modo, a ETE da E.S. precisa ser amplia-

da. Caso não seja, a E.S. terá um custo adicional

atribuído à multa emitida por órgão ambiental

por não tratar o esgoto.

Devido à especificidade o problema, duas situ-

ações são possíveis: (a) em que na etapa 1 foi

construída a ETEL(Figura 07), ou (b) onde não foi

construída a ETEL na primeira etapa (Figura 09).

Etapa 2 - Situação (a), a ETEL foi construída na Etapa 1.Figura 07. Decisões possíveis na segunda rodada, caso tenha sido construída a ETE

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Resultados possíveis: caso ambos os jogadores

decidam por pagar, o valor total do investimento

na ETE de 12 é rateado entre eles, apresentando

um custo de 6 para cada um. Caso o Lot. mude

a estratégia para não pagar o aumento da ETE,

a E.S. arca com o custo de 50% do investimen-

to, que é o necessário para atender à expansão

da cidade. Nesse caso, o Lot. terá que ampliar a

ETEL com um custo de 4.

Na situação em que a E.S. decide não investir,

o Lot. terá de pagar o valor total da ampliação

da ETE com valor. Porém, caso ambos decidam

por não investir, o Loteador paga o mesmo valor

de 4 para ampliar a ETEL e a Empresa de Sane-

amento, por não atender a cidade em relação

ao tratamento de esgoto, é multada em 8, isso

para que não haja motivação em não atender à

condição de 100% do esgoto tratado. Ressalta-

-se que esses custos são hipotéticos e utilizados

para atribuir uma hierarquia entre os valores in-

vestidos e resultantes.

Figura 08. Matriz de decisões e custos caso tenha sido construída a ETEL

Etapa 2 - Situação (b), a ETEL não foi construída na Etapa 1.Figura 09. Decisões possíveis na segunda rodada, caso não tenha sido construída a ETE

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Os resultados possíveis são: caso ambos os joga-

dores decidam por pagar o investimento, o valor

total do investimento na ETE de 12 é rateado en-

tre eles, apresentando um custo de 6 para cada

um. Caso o Lot. mude a estratégia para não pa-

gar o aumento da ETE, a Empresa de Saneamento

arca com o custo de 50% do investimento, que é

o necessário para atender à expansão da cidade.

Nesse caso, o Loteador terá que construir a ETEL

que tem um custo de 14.

Na situação em que a Empresa de Saneamento

decide não investir e o Loteador sim, este terá

que pagar o valor total da ampliação da ETE com

valor 12 e a Empresa de Saneamento não tem

custo nenhum. Porém, caso ambos decidam por

não investir, o Loteador paga o mesmo valor de

14 para construir a ETEL

e a Empresa de Sanea-

mento; por não atender a cidade em relação ao

tratamento de esgoto é multada em 8, isso para

que não haja motivação no não atendimento.

Figura 10. Matriz de decisões e custos caso tenha sido construída a ETEL

3 RESULTADOS E ANÁLISES COM A TEORIA DOS JOGOSUtilizando a TJ, é possível estabelecer a estraté-

gia dominante, o equilíbrio de Nash e também o

ótimo de Pareto e com isso avaliar as diferentes

situações e suas implicações.

3.1 Etapa 1 – Situação inicial

Analisando os resultados possíveis nessa etapa,

encontra-se uma estratégia dominante para a

Empresa de Saneamento, pois a solução {Não

paga investimento} sempre domina a solução

{Paga investimento}, ou seja, é sempre mais van-

tajosa que a outra solução. Para o Loteador não

existe uma estratégia dominante, pois depen-

dendo da estratégia da Empresa de Saneamento,

a estratégia mais interessante muda. Por exem-

plo, se a Empresa opta por {Paga investimento},

a melhor estratégia para o Loteador seria {Não

paga investimento}; já se a Empresa de Sanea-

mento alterasse sua estratégia para {Não Paga

investimento}, o Loteador teria um maior bene-

fício se optasse por {Paga Investimento}, nesse

caso tendo um custo de 10 contra 12.

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Figura 11. Matriz de decisões com análises, para etapa 1

Utilizando o equilíbrio de Nash, a análise do jogo

apresenta um equilíbrio único, que é a estratégia

em que apenas o Lot. paga pelo investimento. Con-

forme o conceito já apresentado, qualquer outra

solução caso um dos jogadores alterasse sua estra-

tégia poderia implicar em um custo superior.

O jogo apresenta três combinações de estraté-

gias que representam pontos ótimos de Pareto,

onde o jogador não poderia alcançar maior be-

nefício alterando sua estratégia.

É comum encontrar casos em que a solução para

um jogo se deslocou naturalmente para o equilí-

brio de Nash. No caso apresentado, a estratégia

em que apenas o Lot. paga pelos investimentos é

a solução pelas três análises realizadas.

Nem sempre um jogo tenderá para uma única

solução. É comum que o equilíbrio de Nash não

seja um ótimo de Pareto.

A solução da etapa 2 é dependente da etapa 1,

pois em função das estratégias adotadas por

cada jogador, no novo jogo as condições iniciais

podem mudar, e as estratégias dominantes e

equilíbrios também.

3.2 (A) Etapa 2 - Situação futura - (A) caso tenha sido construída a ETEL e (B) caso não tenha sido construída a ETEL

Em um momento seguinte, após um período de

tempo no qual toda a região cresceu, o aumento

na capacidade de tratamento é necessário para o

loteamento e para a cidade.

Na Figura 12, é apresentada a matriz de decisões

para a situação A da Etapa 2, que considera que

na Etapa 1 o Lot. optou por construir a ETEL

e ar-

cou com este custo.

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Figura 12. Matriz de decisões com análises, para etapa 2-a

A partir das estratégias apresentadas, nota-se

que nessa situação a E.S. não apresenta uma es-

tratégia dominante, pois para cada decisão pos-

sível do Lot. as suas estratégias dominadas são

invertidas. Entretendo o Lot. tem uma solução

dominante, pois independentemente da solução

da Empresa de Saneamento, não pagar pelo in-

vestimento é dominante.

O Equilíbrio de Nash existe nesta etapa, quando o

Lot. decide por não pagar o investimento e a E.S.

o faz, atendendo à população. O ótimo de Pareto

está presente em três diferentes cenários.

Na Figura 13 é apresentada a matriz de decisões

para a situação B da Etapa 2, que considera que

na Etapa 1 não foi construída a ETEL.

Figura 13. Matriz de decisões com análises, para etapa 2-b

Nesse caso é possível observar que o jogo é di-

nâmico, pois em duas etapas diferentes os resul-

tados podem ser analisados, e a etapa 2 é uma

consequência da etapa 1. Fica evidente no exem-

plo proposto que, em função da decisão tomada

na implantação, o resultado influenciará a deci-

são futura.

Ao analisar os dois casos possíveis na segunda

etapa, nota-se que a decisão inicial alterou total-

mente a decisão dos jogadores no segundo mo-

mento. Caso a ETEL fosse construída na etapa 1, o

Lot. estaria sujeito a um custo de 12 na primeira

etapa e possibilidade de um custo de 4 na segun-

da, com valor total de 16. Na situação em que não

foi construída e ele optou por ampliar a ETE, o cus-

to seria 10 na primeira etapa, porém sujeito a um

custo de 6, 12 ou 14 na segunda etapa. A solução

de equilíbrio ou dominante na primeira etapa po-

deria ter como consequência um custo final supe-

rior quando considerado o jogo todo.

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4 CONCLUSÃO Utilizando uma modelagem matemática, com o

suporte da Teoria dos Jogos, é possível analisar

situações reais e escolher estratégias para me-

lhorar os ganhos ou diminuir os custos associa-

dos a um determinado jogador. Permite entender

melhor o problema e assim auxiliar na resolução

dos conflitos.

Utilizando um exemplo da interação entre uma

Empresa de Saneamento e um Loteador, simpli-

ficada por custos hipotéticos, estabeleceu-se um

jogo com duas possibilidades de estratégia para

cada jogador, que basicamente se dividem em

{Pagar pelo investimento} e {Não pagar pelo in-

vestimento}, avaliados em duas etapas distintas:

A Etapa 1 na implantação do Loteamento e a Eta-

pa 2 futura na ampliação do empreendimento.

A partir dos custos utilizados na Etapa 1, fica evi-

denciado que a melhor estratégia é o Lot. optar

por pagar investimento, com um custo máximo

de 10, independentemente da decisão da Em-

presa de Saneamento e sem o risco de um custo

adicional de 2. Na Etapa 2 foram admitidas duas

possibilidades, quando na etapa 1 foi construída

uma ETE para o Loteamento. Nesse caso, a de-

cisão da E.S deve ser pagar, e a do loteador, não

pagar. Se na etapa 1 a opção tiver sido pelo in-

vestimento na ETE existente, a melhor solução

para ambos é Lot. pagar pelo investimento e a

E.S não pagar.

Utilizando-se uma situação hipotética, foi possí-

vel apresentar as definições e os conceitos da TJ

aplicados a um problema de tomada de decisão

no setor de saneamento – aumento de capacida-

de de tratamento. Foi possível avaliar as conse-

quências de cada decisão, com apresentação dos

valores ótimos, dominantes e do equilíbrio de

Nash, permitindo que os jogadores escolhessem

suas estratégias. A análise da TJ permitiu que

cada jogador fizesse a análise das informações,

que nem sempre são modeláveis da maneira tra-

dicional, ou por outros métodos.

No estudo realizado foi possível notar a impor-

tância de utilizar o planejamento contínuo em

um jogo dinâmico, pois a escolha das estratégias

interfere nos resultados futuros. Em situações

nas quais os jogadores têm acesso completo às

informações, é possível racionalizar e definir es-

tratégias com base científica e justificável. Sem-

pre que um tomador de decisão consegue apre-

sentar suas estratégias de forma estruturada,

amplia-se o poder de argumentação e defesa de

sua escolha.

O problema apresentado é de pequena dimen-

são, porém evidencia o potencial de aplicabilida-

de da Teoria dos Jogos no setor de saneamento.

Trata-se de mais uma técnica que pode ser apli-

cada para a melhoria dos processos de gestão,

utilizada em conjunto com outras técnicas de

modo a permitir um maior conhecimento sobre

uma situação para a obtenção de dados e reali-

zação de projeções. Como em todo problema, é

importante destacar que possui limitações e ne-

cessita de insumos que muitas vezes são dados

complexos, dependentes de outras decisões e de

fatores políticos de difícil mensuração.

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Alexandre Almeida Júnior* | Valderi Duarte Leite | Fernando Fernandes Vieira | Aldre Jorge Morais Barros | Ketyla Karla Rodrigues do Nascimento

Avaliação da secagem térmica de lodo de esgoto sanitárioEvaluation of the thermal drying of sanitary sludge

DOI: https://doi.org/10.4322/dae.2019.045

Alexandre Almeida Júnior – Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental pela Universidade Estadual da Paraíba. Graduado em Química Industrial pela Universidade Estadual da Paraíba. Técnico de Laboratório na área sucroalcooleira na Universidade Federal da Paraíba.Valderi Duarte Leite – Doutor em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo. Professor Titular do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Estadual da Paraíba. Fernando Fernandes Vieira – Doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Paraíba. Professor Titular do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Estadual da Paraíba. Aldre Jorge Morais Barros – Doutor em Química Inorgânica pela Universidade Federal da Paraíba. Professor associado da Unidade Acadêmica de Engenharia de Biotecnologia e Bioprocessos do Centro Desenvolvimento Sustentável do Semiárido da Universidade Federal da Campina Grande. Ketyla Karla Rodrigues do Nascimento – Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental pela Universidade Estadual da Paraíba. Graduada em Engenharia Sanitária e Ambiental pela Universidade Estadual da Paraíba. *Endereço para correspondência: Rua Rosa Farias Dantas, Nº 281 Casa 06, CEP: 58415-448. Cruzeiro – Campina Grande, PB – Brasil. Telefone: (83) 98822-0750. E-mail: [email protected].

ResumoO objetivo deste trabalho foi analisar o comportamento da secagem convectiva de lodo de esgo-

to sanitário nos níveis de temperaturas de 60, 70, 80 e 90 °C, e procurar definir modelos matemáticos que

façam a predição do processo de secagem. O lodo de esgoto sanitário foi coletado em reator UASB, e o

processo de secagem realizado em estufa convectiva utilizando-se uma massa de lodo de 500g, para

realização dos ensaios em triplicatas e nos quatro níveis diferentes de temperatura. O percentual de umi-

dade da massa de lodo de esgoto sanitário in natura era de 92,5%. Dentre os modelos matemáticos estuda-

dos, os de Midilli e de Page apresentaram melhores parâmetros estatísticos aplicados, apresentando pos-

sibilidade de aplicação para explicação do processo de secagem térmica de lodo de esgoto sanitário em

escala de bancada. Sugere-se 90ºC como a temperatura com maior capacidade de aplicação neste proces-

so de secagem, haja vista reduzir o tempo de secagem e propiciar relação custo/benefício mais favorável.

Palavras-chave: Lodo de esgoto sanitário. Secagem Térmica. Modelos matemáticos.

AbstractThe objective of this work was to analyze the behavior of convective drying of sanitary sewage sludge at temperatures

of 60, 70, 80 and 90 ° C, and to define mathematics models that do predicton of the drying process. The sanitary

sewage sludge was collected in a UASB reactor and the process of drying was carried out in a convective oven using

a sludge mass of 500 g for triplicates and at four different temperature levels. The percentage of moisture content

of the sewage sludge in natura was 92.5%. Among the mathematical models studied, those of Midilli and Page

presented better statistical parameters applied, presenting possibility of application of the thermal drying process

of sanitary sewage sludge on bench scale. To suggest 90ºC as the temperature with better capacity of aplication in

this process of drying, once that reduces the time of drying and propitiate relation cost / benefit more favourable.

Keywords: Sanitary sewage sludge. Thermal drying. Mathematics models.

Data de entrada: 06/01/2018

Data de aprovação: 22/05/2018

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1 INTRODUÇÃOA composição física e química de lodo de esgo-

to sanitário depende do seu processo de trata-

mento e da fonte geradora, sendo constituída

por uma mistura complexa de material sólido de

origem orgânica e inorgânica, podendo conter

significativas quantidades de substâncias tóxi-

cas, tais como metais pesados, substâncias or-

gânicas e microrganismos patogênicos (JINDA-

ROM et al., 2007).

De maneira geral, lodo de esgoto sanitário con-

tém percentual de sólidos totais variando de 5 a

9% (% p/p), justificando a necessidade de desa-

guamento, haja vista propiciar a redução de cus-

tos de transporte e tratamento (LEITE, INGUNZA

e ANDREOLI, 2006). Dos sólidos contidos, 70 a

80% são matéria orgânica, incluindo óleos e gra-

xas, mas é possível haver presença significativa

de metais pesados e de diversos outros tipos de

compostos químicos. A alta fração de material

orgânico biodegradável, portanto, potencial-

mente putrescível, contida no lodo confere-lhe

a característica de instabilidade biológica (AN-

DREOLI, SPERLING e FERNANDES, 2001).

O principal objetivo do tratamento do lodo de

esgoto é gerar um produto estável e com menor

volume para facilitar seu manuseio e, conse-

quentemente, reduzir os custos nos processos

subsequentes (PEDROZA et al., 2010). Diante

da necessidade de preservação ambiental ao se

destinar corretamente os resíduos resultantes

do tratamento de esgoto, torna-se imperativo

o uso de formas economicamente viáveis e eco-

logicamente seguras para tratamento de lodo.

Neste sentido, destaca-se a secagem térmica,

processo que promove a otimização de rotinas

e minimização de custos operacionais inerentes

ao gerenciamento de lodo. Isso porque promove

simultaneamente a redução do volume e a higie-

nização do material (POSSETTI et al., 2012).

No processo de secagem térmica, é possível e

necessário determinar a velocidade de perda de

umidade em função do tempo de secagem, apli-

cando-se princípios e fundamentos cinéticos da

secagem, os quais podem explicar o comporta-

mento do processo, sendo representado pelas

curvas de secagem e de taxa de secagem (ME-

NEZES et al., 2013). O comportamento da curva

de secagem de um resíduo úmido mediante um

fluxo de ar a uma determinada temperatura é

sempre o mesmo, segundo Foust et al. (1980). Já

a curva da taxa de secagem é obtida derivando-

-se os dados de umidade em função do tempo

de secagem e descrita por modelos matemáticos

(MENEZES et al., 2013).

Vários modelos matemáticos são descritos na li-

teratura para descrever o processo de secagem

térmica. Grande parte desses modelos são ba-

seados na teoria de difusão, e assumem que a

transferência de calor e massa é restrita à cama-

da delgada na superfície das partículas.

Os modelos matemáticos são usados para pre-

dizer o processo de secagem, visando otimizar,

projetar e controlar os sistemas de secagem.

Devido à importância de se entender melhor a

migração de umidade em sólidos, o desenvolvi-

mento de modelos matemáticos para descrever

o processo de secagem tem sido objeto de estu-

do de muitos pesquisadores por várias décadas.

Esses modelos podem ser divididos em: modelos

empíricos e semi-empíricos, modelos difusivos e

modelos baseados na termodinâmica dos pro-

cessos irreversíveis (FARIAS, 2011).

Lewis (1921), por exemplo, sugeriu um modelo

semi-empírico, análogo à Lei de Newton do res-

friamento em sua forma integral. Esse modelo

também é conhecido como “Lei exponencial”,

conforme a Equação 1.

! = #(%&∗() (1)

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Page (1949) propôs uma modificação no modelo

proposto por Lewis (1921), que envolveu a adi-

ção de um termo exponencial na variável tempo,

gerando um novo modelo exponencial mais pre-

ciso para descrever a cinética de secagem, sendo

conhecido como Equação de Page para camada

fina, apresentado pela Equação 2.

u = exp(−Kt*) (2)

Henderson e Pabis (1961), a partir de estudos

com a secagem de sementes de trigo, propuse-

ram um modelo matemático que foi desenvolvi-

do considerando os efeitos de velocidade, tem-

peratura, razão de mistura do ar, tamanho médio

das sementes, e da taxa de redução de volume no

decorrer da secagem. Este modelo encontra-se

representado na equação 3.

! = #%&'(−*+) (3)

No caso de equações empíricas, destaca-se o

modelo de Wang & Singh (1978) e o modelo Lo-

garítmico, sendo descritos pelas Equações 4 e 5,

respectivamente.

! = 1 + %& + '&( (4)

! = #%&' −)* + , (5)

Segundo Dandamrongrak et al. (2002), o mode-

lo de Dois Termos (1974) foi criado na tentativa

de melhorar a precisão dos modelos já existen-

tes, especialmente no período final de secagem.

Este modelo pode ser aplicado a qualquer tipo de

geometria de partícula e condições de contorno,

considerando-se que a difusividade é constante.

O modelo de Dois Termos (1974) encontra-se re-

presentado pela Equação 6.

! = #%&' −)*+ + -%&' −).+ (6)

Midilli et al. (2002) observaram que expressões

semi-empíricas simples podem descrever ade-

quadamente a cinética de secagem quando a

resistência externa para a transferência de calor

e massa é eliminada ou minimizada. Os auto-

res propuseram um modelo semi-empírico para

descrever a secagem em camada delgada, sendo

este modelo comparado com diversos modelos

comumente usados, como: Lewis (1921), Page

(1949), Henderson e Pabis (1961), logarítmico,

entre outros. Os modelos foram ajustados a da-

dos cinéticos de secagem de cogumelo, pólen e

pistache, e o modelo proposto pelos autores ob-

teve um resultado superior aos demais modelos

estudados. O modelo proposto pelos autores é

apresentado pela Equação 7.

! = #%&' −)*+ + -* (7)

O processo de secagem térmica pode ser enten-

dido como a remoção de água e de determinadas

substâncias voláteis de um material seja ele só-

lido ou líquido, pela existência de uma diferença

de gradientes de umidade e de temperatura en-

tre o meio do qual a umidade é removida para o

meio para qual é transferida (LOBATO, 2011). No

processo de secagem térmica ocorre a redução

da umidade do lodo por meio da perda de água

por evaporação e da destruição de microrganis-

mos (ANDREOLI et al., 2006).

Durante a secagem térmica convectiva devem

ocorrer dois processos simultâneos; o primeiro

consiste na evaporação da umidade da parte su-

perficial do lodo, e o segundo consiste na trans-

ferência da umidade do lodo para sua superfície

e sua consequente evaporação pelo primeiro

processo (MUJUMDAR, 2006). Contudo, a trans-

ferência de umidade não é constante até o final

da secagem, e a taxa de secagem pode variar de

acordo com o tipo de lodo e de secador.

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Uma vez que a amostra é colocada em contato

com ar quente durante o processo de secagem

térmica, ocorre uma transferência do calor do

ar ao produto sob o efeito do gradiente de tem-

peratura existente entre eles. Simultaneamente,

a diferença entre as pressões parciais de vapor

d'água existentes entre o ar e a superfície do pro-

duto determinam uma transferência de matéria

(massa) para o ar. Esta última se faz na forma de

vapor de água. Uma parte do calor que chega ao

produto é utilizada para vaporizar a água. A evo-

lução dessas transferências simultâneas de calor

e de massa no decorrer da operação de secagem

faz com que esta seja dividida esquematicamen-

te em três períodos (PARK et al., 2014):

• Período 0: O calor que entra no processo de se-

cagem em excesso acarreta uma elevação da

temperatura do produto, ocorrendo um aumento

de pressão e da velocidade de secagem. Esse fe-

nômeno continua até que a transferência de calor

fique equivalente à transferência de massa. Se a

temperatura do ar for inferior àquela do produto,

esta última diminuirá até atingir o mesmo estado

de equilíbrio. A duração desse período é insigni-

ficante em relação ao período total de secagem;

• Período 1: O período de velocidade (taxa) cons-

tante de secagem. Durante esse período, como

no anterior, a quantidade de água disponível

dentro da amostra é elevada. A água evapora-se

como água livre. A pressão de vapor de água na

superfície é constante e igual à pressão de va-

por de água pura à temperatura do produto. A

temperatura do material submetido a secagem,

por sua vez, é também constante e igual à tem-

peratura de bulbo úmido, característica do fato

de que as transferências de calor e de massa se

compensam. A velocidade de secagem é, por

conseguinte, constante;

• Período 2: O período de velocidade (taxa) de-

crescente de secagem. No momento em que a

água começa a ser inferior na superfície, a velo-

cidade de secagem diminui.

As curvas de secagem variam com a espécie, va-

riedade, condições ambientais, entre outros fato-

res. Nesse sentido, diversos modelos matemáticos

têm sido utilizados para descrever o processo de

secagem (CORRÊA et al., 2007). Os modelos semi-

empíricos se baseiam na analogia com a Lei de

Newton para o resfriamento, aplicada à transfe-

rência de massa, enquanto os modelos empíricos

apresentam uma relação entre o conteúdo médio

de umidade e o tempo de secagem e consideram

como mecanismo principal a difusão baseada na

segunda Lei de Fick (MENEZES et al., 2013).

De acordo com Andreoli, Sperling e Fernandes

(2001), é recomendável o desaguamento dos lodos

entre 15 a 30% de teor de sólidos antes de aplicar

esse processo. Esses autores relatam que o pro-

cesso de secagem térmica deve ser realizado com

fonte de calor de origem externa como biogás, gás

natural, óleo combustível, entre outras, podendo-

-se obter tortas com teores de sólidos de 90-95%.

Aksoy, Kurt e Sanin (2015) realizaram experi-

mentos utilizando a energia solar, fornecendo

calor por meio de painéis fotovoltaicos a um sis-

tema de leito de secagem, onde por meio do calor

fornecido ao lodo conseguiram atingir o teor de

sólidos totais de 70%, apontando a necessidade

de mais fornecimento de energia para obterem

um percentual mais elevado.

Entre os benefícios da utilização da secagem

térmica destacam-se a redução significativa do

peso e volume do lodo, com consequente redu-

ção dos custos de transporte e disposição final

desse material, além da destruição de organis-

mos patogênicos presentes no lodo (FRANÇA

JUNIOR, 2008). A principal desvantagem da se-

cagem térmica são seus elevados custos de in-

vestimento e operacionais, especialmente no

que concerne ao consumo de energia elétrica.

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Neste artigo foi analisado o comportamento da se-

cagem convectiva do lodo de esgoto sanitário em

quatro diferentes temperaturas. Além disso, foi ob-

servado qual dos modelos matemáticos apresen-

tados na literatura melhor representa o comporta-

mento da secagem térmica deste resíduo.

2 MATERIAL E MÉTODOSA pesquisa experimental foi realizada nas de-

pendências físicas da Estação Experimental de

Tratamentos Biológicos de Esgotos Sanitários

(EXTRABES) da Universidade Estadual da Paraíba,

localizada no bairro do Tambor, na cidade de Cam-

pina Grande-PB (latitude: 7° 13’ 50”; longitude:

35° 52’ 52”, a 551 m acima do nível do mar).

O Lodo de Esgoto Sanitário, estudado neste tra-

balho, foi coletado em um reator UASB, o qual

se encontra instalado e monitorado na EXTRA-

BES. Foram coletados 10 litros de lodo de esgo-

to sanitário de uma única vez para a realização

de todos os ensaios experimentais. A secagem

do lodo de esgoto sanitário foi realizada em es-

tufa convectiva (QUIMIS Modelo Q-314M222)

nas seguintes temperaturas: 60, 70, 80 e 90 °C,

com variação de ± 2,5°C. Todos os ensaios foram

realizados com massa de lodo sanitário in natu-

ra de 500g. Pesava-se a bandeja com amostra

em balança digital (MARTE Modelo BL3200H –

precisão: 0,01 g) conforme os intervalos descri-

tos na Tabela 1:

Tabela 1 - Intervalos de pesagem da amostra de lodo de esgoto sanitário.

Tempo de monitoramento (t - min) Intervalo de pesagem(min)

t < 60 A cada 5 min

60< t <120 A cada 10 min

120< t <180 A cada 15 min

t >180 A cada 30 min

Com esses dados coletados, foram construídas

as curvas de secagem e de taxa de secagem. A

primeira foi obtida a partir do gráfico de umidade

adimensional em função do tempo. A umidade

em base seca em cada instante foi obtida a partir

da Equação 8.

! #. % = 'ú)*+, − './0,'./0,

(8)

Em que: X (b.s) é a razão entre a massa de água

presente na amostra (Múmida

– Mseca

) e a massa de

sólido isenta desta umidade (Mseca

), em um deter-

minado tempo. Múmida

é a massa da amostra (lodo

in natura) antes de submetida a secagem na es-

tufa (g) e Mseca

é a massa seca obtida em estufa

(g) após secagem (lodo seco).

Segundo McCabe et al. (1993), para estudar a ope-

ração de secagem, pode-se obter a curva que rela-

ciona a variação adimensional de umidade Xr (que

pode ser calculada pela Equação 9) em função do

tempo, em que X0 é o teor de umidade inicial.

!" =! $. & − !()!+ − !()

(9)

Para a determinação do teor de umidade de equi-

líbrio (Xeq

) utilizou-se a razão entre a massa úmida

(Múmida

) e a massa seca (Mseca

). A Xeq considerada

para o cálculo do teor de umidade do produto (Xr)

foi estimada quando a razão Múmida/Mseca tor-

nava-se constante. Desta forma, para cada con-

dição de secagem a amostra possuía um teor de

umidade de equilíbrio equivalente.

As taxas de secagem foram obtidas a partir do

diferencial ponto a ponto, apresentado pela

Equação 10.

∆"#∆$#

= "#'( − "#$# − $#'( (10)

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No qual: Xi-1

é o conteúdo de umidade em b.s.

(g/g) da medida anterior; Xi, conteúdo de umida-

de em b.s. (g/g) atual; ti, tempo atual (min); e, t

i-1,

tempo da medida anterior (min).

As características químicas do lodo de esgo-

to sanitário foram determinadas de acordo

com as recomendações do Standard Methods

for Examination of the Water and Wastewater

(APHA, 2012), exceto para carbono orgânico

total (COT), adotando-se os métodos indica-

dos na Tabela 2.

Tabela 2: Métodos utilizados para caracterização química do lodo de esgoto sanitário proveniente de reator UASB.

Parâmetros Métodos Utilizados

Umidade (%) Gravimétrico

Sólidos totais (ST) Gravimétrico

Sólidos totais voláteis (STV) Gravimétrico

Carbono Orgânico Total -COT Kiehl (1998)

Nitrogênio total - NTK Método semi-micro Kjeldhal com digestão

Fósforo total -PT Espectrofotométrico com ácido ascórbico e digestão em persulfato de amônio

Objetivando-se verificar se há ou não diferença

significativa dos resultados dos nutrientes (COT,

NTK e fósforo total), quando o lodo de esgoto sa-

nitário foi submetido a secagem nas temperaturas

estudadas, foi realizada a comparação das médias

dos parâmetros por meio do teste de Tukey.

A cinética de secagem convectiva foi caracte-

rizada a partir dos dados do adimensional de

umidade (u) em função do tempo do processo.

Os modelos descritos na Tabela 3 foram uti-

lizados no ajuste aos dados experimentais. Os

mesmos foram escolhidos por serem difusivos e

devido à maioria destes serem propostos para

a modelagem matemática da secagem de pro-

dutos orgânicos, especialmente grãos como mi-

lho, arroz e soja.

Tabela 3 – Modelos matemáticos para avaliação da cinética de secagem do lodo de esgoto sanitário.

Modelo Equação Referências

Henderson e Pabis ! = #%&'(−*+) Henderson e Pabis (1961)

Exponencial Simples ! = #$%(−()) Abe e Afzal (1997)

Page ! = #$%(−()*) Karathanos e Belessiotis (1999)

Exponencial dois termos ! = #%&' −)*+ + -%&' −).+ Ozdemir e Devres (1999)

Logaritmo ! = #%&' −)* + , Yaldiz et al. (2001)

Midilli ! = #%&' −)*+ + -* Midilli et al. (2002)

u – Umidade adimensional;t - tempo de secagem, min; k, ko, k1 - constantes de secagem, e v, A, B, C, D, E, F - coeficientes dos modelos.

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Os parâmetros dos modelos cinéticos e de ge-

neralização foram obtidos por regressão não-li-

near (Gauss-Newton), critério de convergência

de 0,00001, com o auxílio do software Minitab.

Os critérios de escolha do melhor modelo para

os modelos cinéticos foram determinados com

base nos maiores valores do coeficiente de de-

terminação (R2), da análise de variância (Teste F),

e no menor valor da raiz do erro médio (RM), con-

forme apresentado nas Equações 11 e 12.

!" = 1% &'(),+ − &)-'.,+

/0

+12

2/ (11)

!"#!"% = '()'(*

=+,-./)012342

(12)

Onde:

!"# = %&'(),+ − %(-&,+.

/

+01

!"# = %&'(,* − %(#&,,*-

.

*/0

Em que: Xexp,i

é a umidade obtida experimental-

mente, Xpred,i

, a umidade predita pelo modelo,

Xexp,i

é a média dos valores experimentais da umi-

dade adimensional, GLR são os graus de liberdade

da regressão, GLr são os graus de liberdade dos

resíduos e N, o número de experimentos.

Por fim, a partir dos tempos médios de secagem,

em cada temperatura estudada, foi estimado o

custo médio de secagem deste material utilizan-

do-se de estimativas de consumo médio em kwh

da estufa utilizada.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃOA média de umidade inicial em base seca do lodo

de esgoto sanitário foi de 12,15gH2O/g sólidos

secos. A umidade do resíduo, em base úmida, re-

presenta 92,51% de sua massa total.

Na Figura 1 são apresentadas as curvas de se-

cagem obtidas experimentalmente nas tempe-

raturas de 60, 70, 80 e 90ºC. As curvas foram

plotadas utilizando-se os dados da umidade adi-

mensional em função do tempo de secagem. As

curvas apresentam um comportamento típico

da secagem, em que o aumento de temperatu-

ra causa uma diminuição no tempo de secagem.

Observa-se nitidamente que na temperatura de

90ºC obtém-se a condição de equilíbrio de umi-

dade em menor tempo de secagem. Observa-se

que o aumento de 30ºC na temperatura de se-

cagem reduz o tempo médio de secagem para

obtenção da umidade de equilíbrio em cerca de

300 minutos.

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Figura 1 – Curvas de secagem para o lodo de esgoto sanitário nas temperaturas de 60, 70, 80 e 90ºC ±2,5ºC

No início da secagem, as amostras apresentaram

perdas similares na umidade adimensional. Porém,

depois de aproximadamente 240 minutos de seca-

gem, as amostras passaram a apresentar algumas

diferenças no comportamento nas diferentes tem-

peraturas estudadas. Resultados semelhantes foram

obtidos por Scalcon et al. (2015) no estudo da seca-

gem de lodo proveniente de biodigestão anaeróbia.

Figura 2 – Curvas de taxa de secagem para o lodo de esgoto sanitário nas temperaturas de 60, 70, 80 e 90ºC±2,5ºC

Analisando os comportamentos das curvas de

taxa de secagem apresentadas na Figura 2, nota-

-se que as mesmas apresentaram três períodos

bem definidos do processo de secagem. O pe-

ríodo inicial refere-se ao processo de acondicio-

namento do material ao processo de secagem.

Neste período inicial ocorre a evaporação da

umidade superficial presente no lodo de esgoto

sanitário. Essa umidade é mais fácil de ser remo-

vida, e por esse motivo tem-se um período inicial

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de taxa de secagem crescente. Após o período

de acondicionamento e estabilização do lodo às

condições de secagem, nota-se a formação de

um período de taxa constante, onde o material a

ser seco não tem influência direta sobre a taxa de

secagem, e a partir dessa etapa inicia-se a trans-

ferência da umidade presente nos interstícios

dos flocos de lodo para a camada superficial para

posterior evaporação. Por fim, a taxa de secagem

tem a tendência a zero até atingir a umidade de

equilíbrio do lodo de esgoto sanitário.

Notam-se semelhanças entre as quatro etapas

principais de secagem caracterizadas por Deng

et al. (2009) e Vaxelaire et al. (2004) e as curvas

de taxa de secagem obtidas para o lodo de es-

goto sanitário neste trabalho. No entanto, nes-

te trabalho conseguiu-se visualizar apenas uma

etapa decrescente, e não duas conforme relatam

Deng et al. (2009) e Vaxelaire et al. (2004).

De acordo com a Resolução CONAMA 375 de 29

de agosto de 2006 (BRASIL, 2006), para ser con-

siderado estável para fins de utilização agrícola,

o lodo de esgoto deve apresentar relação entre

sólidos voláteis e sólidos totais inferior a 0,70, e

isto foi conseguido para todas as amostras anali-

sadas, inclusive após secagem.

Os dados que estão apresentados na Tabela 4

para as temperaturas de 60, 70, 80 e 90ºC foram

obtidos após obtenção da umidade de equilíbrio.

Os dados obtidos são para apresentar as carac-

terísticas do material que foi submetido a seca-

gem, uma vez que uma variação nessas caracte-

rísticas, principalmente no teor de umidade, em

outros estudos posteriores, pode causar altera-

ções na curva de secagem deste tipo de material.

Tabela 4 – Dados da caracterização química do lodo de esgoto sanitário in natura e após secagem.

Parâmetros Lodo in natura 60ºC 70ºC 80ºC 90ºC

Umidade (%) 92,50 9,21 8,98 9,03 8,88

ST (g.L-1) 75,0 7,90 10,2 9,7 11,2

STV (g.L-1) 27,9 2,98 3,75 3,56 4,12

STF (g.L-1) 47,1 4,92 6,45 6,14 7,08

NTK (g.L-1) 2,63 0,215 0,210 0,213 0,212

COT (g.L-1) 15,5 1,65 2,08 1,98 2,29

COD (g.L-1) 0,246 0,196 0,208 0,193 0,199

PT (g.L-1) 0,594 0,399 0,502 0,346 0,469

C/N 5,89 7,67 9,90 9,30 10,80

C/P 26,18 4,13 4,14 5,72 4,88

Analisando os dados que estão sendo apresenta-

dos na Tabela 4, observa-se que a relação gNTK/

gST apresentou redução após a amostra ter sido

submetida a secagem. No lodo “in natura”, essa

relação foi de 0,035g NTK/gST; já na tempera-

tura de secagem de 90ºC, essa relação foi de

0,019gNTK/gST, ou seja, tem-se uma redução de

45,71%. A relação gCOT/ gST do lodo “in natura”

e após a secagem permaneceu constante no va-

lor de 0,21 gCOT/ gST.

Nas Tabelas 5, 6 e 7 estão sendo apresentados

os dados referentes ao teste de Tukey, o qual foi

realizado para avaliar se entre as temperaturas

estudadas houve diferença significativa nas con-

centrações de COT, NTK e Ptotal.

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Tabela 5 – Teste de Tukey para os dados de COT nas temperaturas de 60, 70, 80 e 90ºC

Temperatura (ºC) N Média Grupo

60 3 1,65 A

70 3 2,08 A

80 3 1,98 A

90 3 2,29 A

Tabela 6 – Teste de Tukey para os dados de NTK nas temperaturas de 60, 70, 80 e 90ºC

Temperatura (ºC) N Média Grupo

60 3 0,214 A

70 3 0,210 A

80 3 0,213 A

90 3 0,212 A

Tabela 7 – Teste de Tukey para os dados de PT nas temperaturas de 60, 70, 80 e 90ºC

Temperatura (ºC) N Média Grupo

60 3 0,399 A

70 3 0,502 A

80 3 0,346 A

90 3 0,469 A

Com base nos resultados obtidos, após subme-

ter os dados de COT, NTK e Fósforo total ao teste

de Tukey, nas Tabelas 5, 6 e 7, observou-se que

não houve diferença significativa no valor de

cada nutriente quando submetida às diferentes

temperaturas estudadas. Constatou-se que não

houve variações significativas nos valores mé-

dios dos nutrientes presentes no lodo de esgoto

sanitário após ser submetido ao processo de se-

cagem térmica.

Nas Figuras 3 a 10 são apresentados os ajustes

dos modelos matemáticos aos dados experimen-

tais obtidos no processo de secagem do lodo de

esgoto sanitário nas temperaturas de 60, 70,

80 e 90ºC.

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Figura 3– Ajustes de modelos matemáticos de Midilli, Page e exponencial simples aos dados de secagem na temperatura de 60ºC

Figura 4 – Ajustes de modelos matemáticos de Henderson e Pabis, logaritmo e exponencial de dois termos aos dados de secagem na temperatura de 60ºC

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Figura 5 – Ajustes de modelos matemáticos de Midilli, Page, exponencial simples aos dados de secagem na temperatura de 70ºC

Figura 6 – Ajustes de modelos matemáticos de Henderson e Pabis, logaritmo e exponencial de dois termos aos dados de secagem na temperatura de 70ºC

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Figura 7 – Ajustes de modelos matemáticos de Midilli, Page, exponencial de dois termos e exponencial simples aos dados de secagem na temperatura de 80ºC

Figura 8 – Ajustes de modelos matemáticos de Henderson e Pabis e logaritmo aos dados de secagem na temperatura de 80ºC

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Figura 9 – Ajustes de modelos matemáticos de Midilli, Page, exponencial simples aos dados de secagem na temperatura de 90ºC

Figura 10 – Ajustes de modelos matemáticos de Henderson e Pabis, logaritmo e exponencial de dois termos aos dados de secagem na temperatura de 90ºC

Com relação aos modelos matemáticos, obser-

va-se nas Figuras 3 a 10 que o modelo de Dois

Termos (1974), Henderson e Pabis (1961) e lo-

garitmo não foram aceitáveis para predição do

processo de secagem do lodo de esgoto sani-

tário, haja vista que os valores preditos pelos

modelos do teor de umidade inicial (X0) foram

maiores do que 1,0.

Scalcon et al. (2015) avaliaram o ajuste dos mo-

delos matemáticos de Henderson e Pabis (1961)

e o modelo logaritmo como preditivos para o

processo de secagem de lodo proveniente de

digestão anaeróbia. No entanto, neste trabalho

ambos os modelos foram considerados inefica-

zes na predição do processo de secagem do lodo

anaeróbio de esgoto sanitário, uma vez que es-

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timam o valor da umidade adimensional inicial

superior a 1,0 (um). Dessa forma, não foram con-

siderados aceitáveis para a predição do processo

de secagem estudado.

Analisando o comportamento dos modelos apre-

sentados nas Figuras 3 a 10, pode-se inferir que

o modelo exponencial simples também não se

ajusta bem aos dados experimentais propostos,

porém foi feito o estudo estatístico para avaliar

se o mesmo é estatisticamente aceitável para

predizer o processo de secagem.

Na Tabela 8 estão sendo apresentados os dados

referentes à análise estatística (R2, teste F e RM) e

os parâmetros obtidos para os modelos matemá-

ticos ajustados ao processo de secagem nas tem-

peraturas de 60, 70, 80 e 90ºC, respectivamente.

Tabela 8 – Dados estatísticos e parâmetros obtidos para os modelos matemáticos ajustados ao processo de secagem térmica do lodo de esgoto sanitário nas temperaturas de 60, 70, 80 e 90ºC

Modelo T(ºC) Parâmetros R² Teste F RM

A K

Henderson e Pabis

60 1,07214 0,00292349 0,977 246,47 0,054

70 1,09233 0,00377869 0,972 203,54 0,063

80 1,10177 0,00475988 0,974 216,82 0,064

90 1,10839 0,00554421 0,975 226,90 0,063

K

Exponencial Simples

60 0,00264212 0,965 222,58 0,066

70 0,00335364 0,958 176,15 0,078

80 0,00418895 0,960 184,20 0,079

90 0,00484402 0,961 189,91 0,079

K v

Page

60 0,000187051 1,4561 0,996 1816,67 0,021

70 0,000155459 1,5467 0,997 1908,06 0,022

80 0,000202841 1,56198 0,997 1852,37 0,023

90 0,000218739 1,59399 0,997 2100,45 0,022

C D K0 K1

Exponencial dois termos

60 7,73206 -6,71842 0,0043341 0,00469551 0,988 262,96 0,039

70 6,22019 -5,20484 0,00686888 0,00794839 0,990 343,91 0,039

80 4,16634 -3,17078 0,00836413 0,00925594 0,900 30,68 0,125

90 7,50994 -6,49812 0,00774253 0,00826495 0,976 124,64 0,062

B K C

Logaritmo

60 1,19239 0,00232866 -0,13474 0,984 294,55 0,044

70 1,20457 0,002997 -0,130128 0,982 259,21 0,051

80 1,18666 0,00389867 -0,10369 0,983 269,18 0,052

90 1,17298 0,00470509 -0,081865 0,982 257,40 0,053

A B K n

Midilli

60 0,970356 -0,000012942 0,0000902679 1,56897 0,998 1669,59 0,016

70 0,967346 -0,000013932 0,0000724688 1,66891 0,998 1829,77 0,017

80 0,965722 -0,000010995 0,0000928283 1,69365 0,998 1546,99 0,019

90 0,964319 -0,000006962 0,0000942944 1,7421 0,998 1699,50 0,019

*RM – Raiz do erro médio

Segundo Barros Neto et al. (1995), a análise es-

tatística do teste F pode ser utilizada para de-

terminar se o modelo é preditivo, ou seja, se ele

pode ser utilizado para fins de predição da va-

riável estudada. Segundo os autores, para que

o modelo proposto seja útil para fins preditivos,

o valor de Fcalculado (Quadrado do erro médio da

regressão/quadrado do erro médio do resíduo)

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deve ser no mínimo quatro a cinco vezes o valor

de Ftabelado

. Avaliando-se dessa forma, obtém-se

que todos os modelos foram preditivos para o

processo de secagem do lodo de esgoto sanitá-

rio seguindo este critério. No entanto, os valo-

res de R2 e RM foram acrescentados na escolha

do melhor modelo para a predição do processo

de secagem.

Constata-se a partir dos dados apresentados na

tabela 8 que os melhores modelos para predição

do processo de secagem do lodo de esgoto sani-

tário de acordo com os critérios estatísticos pré-

-estabelecidos, foram os modelos de Midilli et al.

(2002) e o modelo de Page (1949). Apesar de não

atingirem todos os critérios estatísticos confor-

me estabelecidos, os mesmos foram estatistica-

mente satisfatórios no processo de predição da

secagem do lodo de esgoto sanitário.

Serenotti (2009) e Zhou e Jin (2016) avaliaram

alguns modelos matemáticos para predição do

processo de secagem do lodo de esgoto e entre

os modelos estudados, o modelo de Midilli et al.

(2002) apresentou ajustes estatísticos satisfató-

rios para predição do processo de secagem.

Nota-se a partir dos dados que estão apresen-

tados na Tabela 8 que há tendência de aumento

nas constantes de secagem com o aumento da

temperatura empregada no processo de seca-

gem térmica. O aumento da temperatura gera

também aumento nas constantes exponenciais

“v e n” dos modelos de Page (1949) e Midilli et

al. (2002). Isso era esperado, uma vez que com o

aumento da temperatura reduz-se o tempo ne-

cessário para atingir a umidade de equilíbrio.

Na Tabela 9 estão sendo apresentados os dados

da análise de variância (ANOVA) para os modelos

de Page (1949) e Midilli et al. (2002) considera-

dos preditivos para o processo de secagem do

lodo de esgoto sanitário.

Tabela 9 – Análise de variância para os modelos de Page (1949) e Midilli et al. (2002).

Modelo T(ºC) Fonte de variação GL Soma dos

quadradosMédia

quadrática Fcalculado Ftabelado Teste F R²

Page

60

Regressão 2 5,41202 2,706011 5867,84 3,23 1816,67 0,996

Residual 41 0,01891 0,000461

Total 43 5,37347

70

Regressão 2 6,31996 3,159982 6163,04 3,23 1908,06 0,997

Residual 41 0,02102 0,000513

Total 43 6,30308

80

Regressão 2 6,73779 3,368893 5983,15 3,23 1852,37 0,997

Residual 41 0,02309 0,000563

Total 43 6,73660

90

Regressão 2 6,88743 3,443715 6784,45 3,23 2100,45 0,997

Residual 41 0,02081 0,000508

Total 43 6,85669

Midilli

60

Regressão 4 5,31006 1,327516 4357,63 2,61 1669,59 0,998

Residual 39 0,01188 0,000305

Total 43 5,37347

70

Regressão 4 6,21485 1,553713 4775,71 2,61 1829,77 0,998

Residual 39 0,01269 0,000325

Total 43 6,30308

80

Regressão 4 6,63315 1,658288 4037,64 2,61 1546,99 0,998

Residual 39 0,01602 0,000411

Total 43 6,73660

90

Regressão 4 6,75839 1,689597 4435,68 2,61 1699,50 0,998

Residual 39 0,01486 0,000381

Total 43 6,85669

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Observa-se a partir dos dados na Tabela 9 que

os modelos apresentam valores de Teste F e R²

satisfatórios estatisticamente e por este motivo

foram escolhidos como os modelos que fazem

com maior fidedignidade a predição do processo

de secagem do lodo de esgoto sanitário.

Na Tabela 10 são apresentados os custos estima-

dos da secagem do lodo de esgoto sanitário em

cada temperatura estudada.

Tabela 10 – Estimativa do custo de secagem do lodo de esgoto sanitário para as temperaturas de 60, 70, 80

e 90ºC

Temperatura Custo de secagem para cada 1Kg de lodo a ser seco

60ºC R$ 0,64

70ºC R$ 0,53

80ºC R$ 0,46

90ºC R$ 0,41

A partir dos dados apresentados na Tabela 10

constata-se que com o aumento da temperatu-

ra reduz-se o custo da secagem em virtude de

menor tempo médio de secagem requerido para

obtenção da umidade de equilíbrio. Nota-se que

o aumento de 30ºC na temperatura de secagem

reduz o custo efetivo da secagem em R$ 0,23.

4 CONCLUSÕES O lodo de esgoto sanitário apresentou teor

de umidade inicial (base úmida) elevado de

92,51%, enquadrando-se na classificação de

lodo fluido ou diluído. Esse resultado reforçou

ainda mais a necessidade de um processo de se-

cagem para melhorar sua utilização e também

facilitar seu transporte.

Nesse trabalho foram analisados os diferentes

modelos matemáticos apresentados na litera-

tura para predição do processo de secagem tér-

mica. Dentre os modelos matemáticos apresen-

tados na literatura, os modelos de Midilli et al.

(2002) e o modelo de Page (1949) apresentaram

melhores ajustes estatísticos e representaram

com maior fidedignidade o processo de secagem

do lodo de esgoto sanitário para todas as tempe-

raturas estudadas.

A partir da análise de variância e teste de ajuste

dos modelos, foi observado que os modelos de

Dois Termos (1974), Henderson e Pabis (1961) e

logaritmo não foram aceitáveis para a predição

do processo de secagem do lodo de esgoto sa-

nitário, uma vez que extrapolam o valor da umi-

dade adimensional máxima inicial que seria de

1,0 (um). Portanto, esses modelos não fazem a

representação fenomenológica do processo de

secagem do lodo de esgoto sanitário.

As curvas de secagem observadas neste traba-

lho para as temperaturas de 60, 70, 80 e 90ºC

mostram um comportamento típico da secagem,

na qual o aumento de temperatura de secagem

reduz o tempo médio para atingir a umidade de

equilíbrio. Então, sugere-se a temperatura de

90ºC como a melhor temperatura para a seca-

gem do lodo de esgoto sanitário, uma vez que

reduz o tempo médio de secagem e consequen-

temente reduz-se o custo efetivo da secagem do

material. Além disso, como entre as temperatu-

ras estudadas não houve diferença significativa

na concentração de nutrientes, a mesma apre-

senta-se como a melhor opção em custo/bene-

fício para a secagem deste material.

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Nestor Leonel Muñoz Hoyos* | Jose Carlos Barroso Junior | Felipe Krüger Leal | Eddie Francisco Gómez Barrantes | Luiz Olinto Monteggia

Proposta de nova configuração de reator anaeróbio híbrido aplicado ao tratamento de esgoto sanitárioProposal of a new configuration of hybrid anaerobic reactor applied to sanitary sewage treatment

DOI: https://doi.org/10.4322/dae.2019.046

Data de entrada: 25/08/2017

Data de aprovação: 28/05/2018

Nestor Leonel Muñoz Hoyos – Engenheiro Ambiental pela Universidad del Cauca (Colômbia). Mestre em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutorando em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS). Jose Carlos Barroso Junior – Engenheiro de Produção e Sistemas pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Mestre em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutorando em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS). Felipe Krüger Leal – Engenheiro Civil pela Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutorando em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS). Eddie Francisco Gómez Barrantes – Engenheiro Agrónomo EARTH University (Costa Rica). Mestre em Food, Agricultural and Biological Engineering Ohio State University, OSU, Estados Unidos. Doutor em Food, Agricultural and Biological Engineering. Ohio State University, OSU, Estados Unidos. Business Development, South America na SCS Global Service. Porto Alegre, RS.Luiz Olinto Monteggia – Engenheiro Mecânico pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutor em Engenharia de Meio Ambiente pela Universidade de Newcastle. Professor Titular do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS). *Endereço para correspondência: Av. Bento Gonçalves, 9500, Caixa Postal 15029, Porto Alegre, RS. Telefone: (51) 983397694. E-mail: [email protected].

ResumoEste trabalho apresenta a avaliação do desempenho de uma nova configuração de reator anaeróbio híbrido (RAH)

baseada no emprego de uma câmara de entrada de fluxo descendente seguida de uma câmara de fluxo ascen-

dente. O RAH foi alimentado com esgoto sanitário e operado por um período de 240 dias com vazão afluente de

1,6 m3.h-1. Os resultados obtidos nessa fase experimental foram comparados com os obtidos em um reator UASB

nas mesmas condições de clima e parâmetros operacionais. O reator híbrido apresentou estabilidade no proces-

so de digestão anaeróbia e desempenho operacional eficiente, mostrando-se robusto para suportar choques de

carga hidráulica e orgânica devido à variabilidade do esgoto típico da região sul do Brasil. A análise estatística

dos resultados demostrou que o desempenho operacional dos reatores não apresentou diferença estatística sig-

nificativa para remoção de DQO com valores de 66±15% e 62±17% e SST de 65±19% e 63±20%, para o RAH

e o UASB respectivamente. A concentração de biomassa no RAH (3,7 kgSV.m-3) foi menor quando comparada

ao reator UASB (12,4 kgSV.m-3); entretanto, esse fato não comprometeu a eficiência de remoção de matéria or-

gânica e de sólidos suspensos. Foi também demonstrada a viabilidade do uso da turbidez como parâmetro de

controle operacional para a identificação de perda de lodo, mediante análise da relação SST e turbidez efluente.

Palavras-chave: Reator híbrido. Tratamento anaeróbio. Esgoto sanitário. Turbidez. Sólidos suspensos.

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1 INTRODUÇÃOO processo de digestão anaeróbia é visto como

uma opção viável para o tratamento de esgoto

sanitário devido ao baixo requerimento energé-

tico do processo, baixa produção de excesso de

lodo (biossólidos) e possibilidade do aproveita-

mento do biogás gerado na conversão da maté-

ria orgânica em metano (Elmitwalli et al. 1999).

Uma das configurações mais utilizadas de reator

híbrido anaeróbio de alta taxa para diferentes fins

combina um reator de fluxo ascendente e manta

de lodo (UASB) na parte inferior do tanque e um

filtro anaeróbio (FA) na parte superior, preenchido

com um meio de retenção de biomassa usualmente

sintético (Figura 1). A primeira modificação na es-

trutura convencional de um reator UASB foi desen-

volvida por Maxham e Wakimiya (1980), adicionan-

do-se um meio de percolação fixo na parte superior

do reator de manta de lodo. Busca-se nessa con-

figuração um sistema capaz de acumular uma alta

concentração de biomassa ativa (fixa e em suspen-

são) no reator visando um aumento no desempe-

nho operacional do mesmo, bem como favorecer o

polimento do efluente com a retenção dos sólidos,

aumentando a estabilidade do processo sob condi-

ções de operação transiente (CRAVEIRO, 1994).

AbstractThis work presents the performance evaluation of a new configuration of a hybrid anaerobic reactor (RAH) based on

the use of a downflow inlet chamber followed by an upflow chamber. The RAH was operated for a period of 240 days

with an influent flow rate of 1.6 m3.h-1 of sanitary sewage. The results obtained in this experimental phase were com-

pared with those obtained in a UASB reactor under the same climatic conditions and operational parameters. The op-

erating performance was acceptable, proving to be robust to withstand the organic shock loads due to the variability of

the typical sewage from southern Brazil. The statistical analysis of the results showed that the operational performance

of the reactors did not present significant statistical difference for COD removal with values 66±15% and 62±17% and

65±19% and 63±20% for SST, respectively for the RAH and the UASB. The biomass concentration in the RAH (3.7 kgSV.

m-3) was lower when compared to the UASB reactor (12.4 kgSV. m-3), however, this fact did not compromise the effi-

ciency of organic matter and suspended solids removal. It was also demonstrated the possibility of using turbidity as a

parameter of operational control for the identification of sludge loss, based on the results of the SST to turbidity relation.

Keywords: Hybrid reactor. Anaerobic treatment. Sewage. Turbidity. suspended solids.

Figura 1 - Esquema geral de um reator anaeróbio híbrido.

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A configuração proposta pelos autores citados

acima vem sendo estudada por diferentes pes-

quisadores em escala real e de bancada, visando

o aumento da eficiência do tratamento e a re-

dução de custos operacionais. Segundo Borja et

al. (1998), a combinação de um reator UASB de

biomassa em suspensão e um filtro anaeróbio de

biomassa aderida permite que as vantagens das

duas tecnologias sejam conciliadas com sucesso

em uma unidade mais compacta. Além disso, a

combinação dessas duas tecnologias anaeróbias

potencializa as vantagens e minimiza as des-

vantagens do reator UASB e do filtro anaeróbio

(GUIOT; BERG, 1984).

Os reatores híbridos que combinam biomassa

particulada (flocos) e aderida (biofilmes) são re-

conhecidos e amplamente aplicados devido ao

sucesso nos resultados obtidos das pesquisas

desenvolvidas testando diferentes configura-

ções. Segundo Oktem et al. (2008), a utilização

de reatores híbridos combinando o UASB e o fil-

tro anaeróbio podem ser opção preferencial na

estabilização de diversos efluentes. A aplicação

desse tipo de sistema híbrido apresenta am-

pla variedade de aplicação para depuração de

águas residuárias industriais, como por exem-

plo, produtos farmacêuticos, efluente de pro-

dutos lácteos, matadouros, efluentes gerados

na produção de amido de caracteristicas oleo-

sas e com elevada carga orgânica (TAWFIK; EL-

-KAMAH, 2012).

Passig (2005) testou um reator anaeróbio híbri-

do (UAHB) baseado na concepção de um reator

de manta de lodo tipo UASB de 18,8 m3 de vo-

lume útil adicionando na parte superior material

suporte para o tratamento de esgoto sanitário.

Os reatores foram operados por um período de

200 dias. O sistema piloto atingiu eficiências de

remoção média de matéria orgânica, em termos

de DQO de 85% e em termos de DBO5,20 de 91%.

Oktem et al. (2008) estudaram o desempenho

de um reator híbrido em escala de bancada tipo

UASB combinado com um filtro anaeróbio na

parte superior do tanque, aplicado ao tratamento

de um efluente de uma fábrica de produtos far-

macêuticos com base em síntese química, com

resultados que indicaram que o reator UASB hí-

brido poderia ser uma alternativa adequada para

o tratamento desse tipo de efluente. Na melhor

condição operacional, o reator atingiu eficiência

de remoção de 72% de DQO com tempo de de-

tenção hidráulica de 2 dias e carga orgânica vo-

lumétrica de 8 kgDQO.m-3.d-1.

Gonçalves (2012) estudou o desempenho de um

reator anaeróbio híbrido combinando um UASB

e um filtro anaeróbio aplicado ao tratamento de

águas residuárias da suinocultura. O reator híbri-

do (RAH) foi operado por 250 dias com três cargas

orgânicas volumétricas diferentes: 0,88, 1,38, e

2,62 KgDQO.m-3.d-1 com valores de tempo de de-

tenção hidráulico de 91h, 48h e 24 horas. Os me-

lhores resultados foram obtidos com a aplicação

das duas cargas orgânicas volumétricas maiores,

não apresentando diferenças significativas entre

elas, o que viabiliza o uso dessa tecnologia com

cargas orgânicas elevadas. O desempenho do

reator foi estável e satisfatório para as condições

testadas, com remoção média de DQO total de

42, 72 e 73%, remoção de DBO5,20 de 75 e 78%

para as duas cargas maiores e remoção de sóli-

dos totais 31, 60 e 58%.

Essa pesquisa visou o desenvolvimento e a

avaliação de uma nova configuração de rea-

tor anaeróbio híbrido mediante substituição do

sistema convencional de alimentação do reator

UASB tratando esgoto sanitário (distribuição do

afluente no fundo do tanque) por uma câmara de

fluxo descendente preenchida com meio suporte

fixo, seguida de uma câmara de fluxo ascendente

de manta de lodo (upflow), similar à de um reator

UASB convencional.

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Destaca-se que a substituição do sistema con-

vencional de alimentação do reator UASB (tubos

de escoamento descendente) por câmaras de

escoamento descendente preenchidas com ma-

terial suporte inerte permite simplificar aspectos

construtivos e operacionais como a dificuldade

de execução dos tubos de descida, entupimen-

tos e eventuais zonas mortas na zona de digestão

dos reatores anaeróbios de alta taxa.

2 OBJETIVOAvaliar o desempenho de um reator anaeróbio hí-

brido (RAH) constituído de uma câmara de fluxo

descendente e meio suporte fixo seguida de uma

câmara de manta de lodo de fluxo ascendente

comparativamente a um reator UASB convencio-

nal aplicados ao tratamento de esgoto sanitário.

3 MATERIAL E MÉTODOSForam implantados dois reatores em fibra de vi-

dro de forma cilíndrica com 2,5 m de diâmetro e

4 m de altura e volume útil de 18,3 m3, sendo: um

reator anaeróbio híbrido (RAH) baseado na con-

figuração apresentada na Figura 2 e um reator

UASB convencional, com a função de controle

dos experimentos. Os dois reatores foram ope-

rados em paralelo entre agosto de 2014 a março

de 2015, totalizando 240 dias de monitoramen-

to. Os reatores foram alimentados com esgoto

doméstico previamente gradeado e desarenado

da ETE São João Navegantes, localizada na cida-

de de Porto Alegre/RS.

A Figura 2 apresenta o reator piloto híbrido (RAH)

com as respectivas dimensões e os detalhes de

seus componentes internos e externos.

Figura 2 - Corte vertical do reator anaeróbio híbrido RAH (medidas em metros)

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As dimensões externas das duas configurações

são similares, sendo a característica principal da

nova configuração (RAH) a adoção da câmara

cilíndrica de alimentação operada em fluxo des-

cendente e preenchida com tampas pet e anéis

plásticos tipo Pall de 50 mm de diâmetro, segui-

da por câmara convencional de manta de lodo

de fluxo ascendente. A câmara de alimentação

possui 1,3 m de diâmetro e 3,36 m de altura e re-

cebe o afluente pela parte superior diferente do

reator UASB. Na parte superior da câmara de ali-

mentação foi utilizada campânula com vedação

por selo hídrico para coleta do biogás gerado a

partir da degradação da matéria orgânica pelos

microrganismos anaeróbios aderidos na superfí-

cie do material suporte.

Para a coleta do biogás na câmara de fluxo ascen-

dente e manta de lodo foi implantado um coletor

de biogás fixado na parede externa da câmara

de fluxo ascendente (ver Figura 2) com funções

similares às desempenhadas pelo separador tri-

fásico do reator UASB. Nesse caso, o reator RAH

foi dotado de dois pontos de coleta do biogás:

um na câmara interna de alimentação e outro na

câmara de manta de lodo de fluxo ascendente.

Na Tabela 1 estão sumarizadas as dimensões das

unidades experimentais, e na Tabela 2 apresenta

os parâmetros operacionais dos reatores RAH e

do UASB.

Tabela 1 - Dimensões dos reatores piloto

Parâmetro RAH UASB Unidade

Diâmetro na base 2,50 2,50 m

Área 4,90 4,90 m2

Altura 4,00 4,00 m

Altura útil 3,85 3,85 m

Volume útil 18,9 18,9 m3

Diâmetro câmara de alimentação (Downflow) 1,30 - m

Altura da câmara de alimentação (Downflow) 3,36 - m

Volume câmara de alimentação (Downflow) 4,46 - m3

Volume câmara manta de lodos (Upflow) 14,4 - m3

O leito de percolação foi apoiado em tela de

contenção localizada ao fundo da câmara cen-

tral. Para evitar problemas de obstrução, en-

tupimento e caminhos preferenciais do fluxo

no meio filtrante do RAH, foi projetado um sis-

tema de recirculação interna de lodo, o qual é

operado automaticamente por 15 minutos em

cada hora.

Tabela 2 - Parâmetros operacionais dos reatores piloto

Parâmetro RAH UASB Unidade

Vazão 1,60 1,60 m3.h-1

Tempo de detenção hidráulico (TDH) 11,8 11,8 h

Velocidade ascensional 0,42 0,32 m.h-1

TDH câmara de alimentação (Downflow) 3,00 - h

TDH câmara manta de lodos (Upflow) 9,10 - h

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A avaliação da eficiência de tratamento e a es-

tabilidade do processo anaeróbio dos reatores

RAH e UASB basearam-se no monitoramento do

esgoto sanitário (afluente) e do efluente tratado

mediante análises físicas e químicas monitora-

das uma vez por semana no período de agosto

2014 até março de 2015. Os parâmetros deter-

minados foram a DQO, DBO5,20

, Sólidos Suspen-

sos Totais (SST), Sólidos Suspensos Voláteis (SSV),

temperatura, pH e turbidez, realizadas segundo

metodologias descritas no Standard Methods for

the Examination of Water and Wastewater (FEDE-

RATION, 2005). Outros parâmetros determinados

no afluente e efluente por métodos titulométri-

cos foram a Alcalinidade Total (AT), Alcalinidade

Parcial (AP), Alcalinidade Intermediaria (AI), e

Ácidos Graxos Voláteis (AGVs), conforme meto-

dologia proposta por Jenkins et al. (1983), e Kapp

(1984) para AGVs.

A quantificação da biomassa foi baseada na de-

terminação mensal do valor da concentração

de sólidos totais (ST) e de sólidos totais voláteis

(STV) nos pontos de coleta (vertical) ao longo de

cada reator (RAH e UASB). A amostragem do lodo

permitiu estabelecer o perfil vertical de distribui-

ção da biomassa em função do regime hidráulico

aplicado em cada um dos reatores em estudo,

identificadas pelos símbolos U1 (inferior) a U

6

(superior) para o reator UASB e RAH1 a RAH

6 para

o reator anaeróbio híbrido.

A avaliação da perda de biomassa no efluente lí-

quido dos reatores anaeróbios foi realizada por

campanhas com duração de 24 horas utilizando

amostradores automáticos ISCO 6712. O equi-

pamento foi programado para coletar uma alí-

quota de 300 ml a cada 20 minutos por 24 horas.

As amostras foram armazenadas em 24 frascos

com volume de um litro, sendo cada amostra

composta por três amostras simples obtidas a

cada hora do dia. Após a coleta dos efluentes, as

amostras foram analisadas em termos de turbi-

dez e SST para avaliar a provável relação entre

estes parâmetros. Cabe destacar que a turbidez

é um parâmetro de leitura expedita, comparati-

vamente aos procedimentos analíticos para de-

terminação dos SST.

Foi realizada análise estatística aplicando o tes-

te t Student sobre as concentrações médias dos

diferentes parâmetros monitorados nos efluen-

tes dos reatores piloto, testando a hipótese nula

(H0) de que as médias obtidas em cada ponto de

amostragem poderiam ser consideradas iguais

entre o RAH e o UASB com um nível de signifi-

cância de 5%. A análise estatística dos dados foi

feita com o apoio do software Minitab versão 16.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO A carga orgânica volumétrica (COV) média

aplicada foi de 0,61 kgDQO.m-3.d-1 e a carga

hidráulica volumétrica (CHV) foi ajustada em

2 m3.m-3.d-1 para o reator RAH e o UASB. A tem-

peratura variou no intervalo de 16°C (inverno) e

máxima de 36°C (verão). O valor do TDH foi esta-

belecido em função da recomendação de Lettin-

ga e Hulshoff Pol (1991) para sistemas operados

em temperaturas de 16 - 19°C alimentados com

esgoto doméstico.

A Tabela 3 apresenta as características físicas

e químicas do esgoto bruto e dos respectivos

efluentes dos reatores piloto no período do es-

tudo, sendo observada grande variação temporal

das características do esgoto bruto (valores ele-

vados do desvio padrão), provavelmente devido

à ocorrência de chuvas.

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Tabela 3 - Características do afluente e dos efluentes dos reatores pilotoParâmetros Esgoto Bruto UASB RAH

pH 7,2±0,2 7,1±0,3 7,0±0,3

DQO1 383,5±198,1 112,9±51,5 129,4±57,5

DBO5,201 228,4±85,9 125,0±52,1 120,0±58,1

NTK1 41,7±17,0 36,2±6,7 36,5±5,3

N-NH+4

1 25,7±11,4 32,1±7,5 30,6±6,5

ST1 414,5±117,5 325,4±41,0 324,7±49,2

SV1 193,4±86,0 121,1±52,1 118,2±54,7

SST1 143,7±98,4 41,5±19,7 39,7±14,6

SSV1 100,3±57,1 30,3±9,9 32,2±11,0

AT2 190,3±32,1 229,4±25,3 230,7±28,2

AGV3 40,9±17,5 21,9±13,3 39,2±17,61mg.L-1, 2mgCaCO

3.L-1, 3mgHAc.L-1.

A avaliação da estabilidade do processo anaeró-

bio foi baseada na análise de parâmetros de con-

trole operacional, tais como o pH, alcalinidade e

AGVs. Segundo observado na Figura 3, os reato-

res piloto apresentaram um comportamento es-

tável para o pH, com valores dentro da faixa 6,5 a

8,5 recomendada para operar sistemas anaeró-

bios (SPEECE, 1996).

Outro aspecto importante no caso da estabili-

dade operacional foi o fato da alcalinidade nos

efluentes dos reatores apresentar um valor supe-

rior em comparação com a alcalinidade da entra-

da, contribuindo para a capacidade de tampona-

mento do sistema no interior dos reatores. Esse

aspecto é fundamental para evitar desbalancea-

mentos do processo anaeróbio pela alta produ-

ção e acúmulo de ácidos graxos voláteis. Fazendo

o comparativo dos valores médios de alcalinida-

de dos efluentes da Tabela 3, observa-se que as

duas amostras não apresentaram diferença es-

tatisticamente significativa segundo o resultado

da prova t Student (p = 0,952).

Figura 3 - Parâmetros da avaliação de estabilidade do processo de digestão anaeróbia

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Na Figura 4 está apresentada a distribuição dos

valores da relação AI/AP, segundo Ripley et al.

(1986). Valores acima de 0,3 desta relação indi-

cam possíveis distúrbios no processo de diges-

tão anaeróbia. Segundo a figura, menos de 30%

dos dados dos efluentes apresentaram valores

acima do valor recomendado, o que permite in-

ferir que os sistemas piloto apresentaram con-

dições de equilíbrio operacional ao longo da

fase experimental.

Figura 4 - Distribuição estatística da relação AI/AP nos reatores anaeróbios.

Neste estudo foi dada ênfase na avaliação do

efeito da temperatura sobre o processo anaeró-

bio, a qual foi determinada de forma contínua

por sensores “on line” instalados no afluente e

efluente dos reatores anaeróbios. A temperatura

média no período mais quente (dez/14-mar/15)

foi de 29,4±1,54°C para o reator UASB e de

28,9±1,75°C para o RAH. A eficiência de remo-

ção média de DQO neste período foi de 74% e

73% para o UASB e o RAH respectivamente, sem

diferença estatística significativa entre as mes-

mas (p = 0,812).

No período mais frio do ano (ago/14-set/14),

a temperatura média foi de 19,3±1,56°C e

19,1±1,49°C para o UASB e RAH respectivamen-

te. O desempenho de cada sistema foi significa-

tivamente menor com remoção média de DQO de

42% para o RAH e 54% para o UASB. O teste t de

Student as duas amostras não apresentam dife-

rença estatisticamente significativa (p = 0,077).

O teste Tukey aplicado para cada grupo de amos-

tras dos períodos sazonais corrobora a importân-

cia que tem a temperatura sobre o desempenho

dos reatores anaeróbios. O resultado do teste in-

dica que há diferença estatística significativa no

desempenho dos reatores no período de inverno

e o verão, entretanto não foi detectada diferença

significativa quando comparados os valores de

eficiência de remoção de DQO no caso primavera

e verão (Tabela 4).

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Tabela 4 – Avaliação do efeito sazonal da temperatura sobre a remoção de DQO, baseado no teste de Tukey

Reator Estação N Remoção DQO (%) Agrupação

UASB Verão 12 74±9,8 A

RAH Verão 12 73±9,7 A

UASB Primavera 12 67±10 A B

RAH Primavera 12 63±14 A B

UASB Inverno 7 54±10 B C

RAH Inverno 7 42±11 C

A Figura 5 apresenta o desempenho operacional

dos sistemas anaeróbios nas três estações mo-

nitoradas, a qual indica aumento da eficiência

de remoção da DQO para valores crescentes da

temperatura, o que corrobora outros resultados

apresentados na literatura.

Aiyuk et al. (2004) operou um reator UASB a 33°C

obtendo 60% de remoção máxima de DQO. Flo-

rencio et al. (2001) monitoraram um reator UASB

em escala real da cidade de Recife por um perío-

do de 30 meses a 30°C, no qual a eficiência de re-

moção de DQO situou-se na faixa de 60% a 90%.

Mahmoud et al. (2009) avaliaram o desempenho

de um reator anaeróbio híbrido (AHR) operado

na temperatura ambiente, a qual variou de 14°C

no inverno a 40°C no verão. O reator alcançou

62% de remoção de DQO. Tawfik et al. (2015)

operaram um reator híbrido (AH) de 0,9 m3 de

volume útil com TDH de 6h. O reator foi operado

em condições ambientais locais, com variação da

temperatura entre 19°C (inverno) e 34°C (verão).

Esses autores verificaram que a eficiência de re-

moção de DQO obtida foi de 74%.

Figura 5 - Valores da remoção de DQO (semanal) no inverno, primavera e verão

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Nesta pesquisa, a eficiência de remoção de

DBO5,20

no RAH e UASB foi de 18±11% e 25±17%

no inverno e de 50±18% e 53±21% no verão, res-

pectivamente, não sendo encontrada justificati-

va para esses baixos valores de eficiência.

A eficiência média de remoção de SST e SSV no

RAH foi de 63±20% e 59±21% e de 65±19% e

62±21% no reator UASB. Esses resultados são

comparáveis com os obtidos por Azimi e Zaman-

zadeh (2004); Guimarães et al. (2003); Rizvi et al.

(2015) para efluentes domésticos, sintéticos e

industriais. Aplicando o método comparativo de

Tukey dos valores médios de SST, obtém-se que

os valores médios por estação não apresentaram

diferença estatística significativa (Tabela 5).

Tabela 5 – Avaliação do efeito sazonal da temperatura sobre a remoção de SST, baseado no teste de Tukey

Reator Estação N Remoção SST (%) Agrupação

UASB Verão 12 67±15 A B

RAH Verão 12 65±21 A B

UASB Primavera 12 56±22 A B

RAH Primavera 12 54±20 A B

UASB Inverno 7 73±18 A B

RAH Inverno 7 72±18 A B

Na Figura 6 são apresentados os diagramas de

caixas dos parâmetros DQO, DBO5,20

, SST e SSV.

Os dados foram comparados com a legislação

europeia (Deliberação N° 91/271/EEC) para

efluentes urbanos (COUNCIL OF THE EUROPEAN

COMMUNITIES, 1991), que especifica a eficiência

mínima de remoção e as concentrações de DQO,

DBO5 e SST, e com os padrões mais restritivos da

Resolução (CONSEMA N° 128/2006) que dispõe

sobre a fixação de padrões de lançamento de

efluentes líquidos em águas superficiais no Esta-

do do Rio Grande do Sul (CONSELHO ESTADUAL

DE MEIO AMBIENTE, 2006).

Segundo os diagramas de caixas dos efluentes

dos reatores piloto, eles apresentam desempe-

nho de remoção de matéria orgânica e sólidos

suspensos abaixo do padrão de lançamento da

legislação estadual, exceto quanto à remoção

de DBO5,20

.

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Figura 6 - Distribuição estatística e comparação com padrões de lançamento nacionais e internacionais.

O perfil de biomassa ao longo da altura da câmara de digestão do RAH (Figura 7) apresentou concentração

menor em todos os pontos de coleta de lodo comparativamente ao reator UASB (Figura 8).

Figura 7 - Perfil do Lodo no RAH

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A maior concentração de biomassa no reator

RAH foi detectada na tomada do fundo do tan-

que (RAH0.5

), e as duas tomadas superiores RAH2.5

e RAH3.0

apresentaram os menores valores da

concentração de lodo e menor porcentagem de

biomassa (STV/ST), indicando menor qualidade

do lodo. As tomadas RAH2.0, RAH

1.5 e RAH

1.0 apre-

sentaram uma concentração média de sólidos de

11.000mg.L-1 e STV de 6.400 mg.L-1. A relação STV/

ST ao longo da altura do RAH (Figura 7) foi superior

a 50% para as quatro tomadas inferiores, e para a

superior menor do que 40%, o que indica menor

qualidade do lodo em termos de biomassa na par-

te alta do RAH. A quantidade total de biomassa no

compartimento de digestão foi de 23 kgSTV, resul-

tando em concentração média de 3,68 kgSTV.m-3.

A concentração total do lodo no reator UASB apre-

senta um comportamento decrescente no sentido

do fluxo desde a tomada inferior até o topo da câ-

mara de digestão, com fração dos STV (biomassa)

em cada compartimento superior a 50%. Na Figu-

ra 8, é apresentado o perfil médio de ST, STV e a

relação STV/ST em cada compartimento de amos-

tragem do UASB.

Figura 8 - Perfil do Lodo no UASB

A concentração média de sólidos totais no rea-

tor UASB foi 36.385 mg.L-1 no ponto de amostra-

gem U0.5

e decresceu a 14.462 mg.L-1 no ponto de

amostragem U3.0

, correspondente ao topo da zona

de digestão. Uma particularidade que apresentou

o reator UASB foi que no ponto de amostragem

U2.5

a concentração média de ST de 18.811 mg.L-1

foi maior do que nos pontos de amostragem U2.0

e U1.5

, que tiveram 17.000 mg.L-1 de concentra-

ção média de lodo nos dois pontos, fato que pode

estar relacionado com uma perda alta do lodo no

efluente do reator. A porcentagem média de STV

no reator UASB foi de 57±16%, equivalente a uma

quantidade total de biomassa no compartimento

de digestão de 197,7 kgSTV e a uma concentração

média de biomassa de 12,4 kgSTV.m-3.

Os resultados da análise estatística (Tabela 6)

indicaram que há diferenças estatisticamente

significativas nas concentrações médias nos seis

pontos de amostragem de lodo ao longo da zona

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de digestão nos reatores. Essa diferença poderia

estar relacionada com a câmara de alimentação

do reator híbrido que permite a retenção de só-

lidos no meio suporte fixo, evitando assim um

desenvolvimento mais pronunciado do lodo na

câmara de fluxo ascendente do reator RAH.

Tabela 6 - Distribuição vertical dos valores das concentrações médias de ST e STV nos reatores RAH e UASB.

Parâmetro Altura (m) Reator Média.DP (mg/L) Valor P Diferença da média

entre os reatores

ST

3.0 UASBRAH

14462±1582363±69 P<0,05 Significativo

2.5 UASBRAH

18811±5958406±92 P<0,05 Significativo

2.0 UASBRAH

17077±164210768±1447 P<0,05 Significativo

1.5 UASBRAH

17291±95811037±1520 P<0,05 Significativo

1.0 UASBRAH

19795±161811153±683 P<0,05 Significativo

0.5 UASBRAH

36385±814925003±6142 0,006 Significativo

STV

3.0 UASBRAH

8381±1230137±46 P<0,05 Significativo

2.5 UASBRAH

10637±2983154±79 P<0,05 Significativo

2.0 UASBRAH

9805±10246352±1232 P<0,05 Significativo

1.5 UASBRAH

9946±7656442±1153 P<0,05 Significativo

1.0 UASBRAH

11436±16156346±410 P<0,05 Significativo

0.5 UASBRAH

20233±434513953±3126 0,004 Significativo

Foram realizados dois perfis de monitoramento da

turbidez e SST, com duração de 24 horas, onde foi

observada elevada perda de sólidos no efluente

do reator UASB, em particular no horário das 14h

às 21h, porém de ocorrência aleatória ao longo

do período de monitoramento. Os resultados dos

perfis de monitoramento dos efluentes do reator

RAH e UASB são apresentados nas Figuras 9 e 10.

Figura 9 - Perfil de turbidez e SST no monitoramento de 24h

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O efluente do reator RAH gerou um efluente

mais estável em termos de perda de lodo (SST),

com amplitude de variação dos dados de tur-

bidez e SST menor que o reator UASB. O RAH

apresentou um efluente de melhor qualidade,

com o valor de turbidez inferior a 100 NTU e SST

inferior a 200 mgSST.L-1 (Figura 9) nas duas jor-

nadas de monitoramento.

Figura 10 - Perfil de turbidez e SST no monitoramento de 24h

Por outro lado, o reator UASB apresentou va-

lores similares de turbidez e SST em relação ao

RAH somente após o descarte de lodo. No pri-

meiro monitoramento, o UASB apresentou no

decorrer do dia vários eventos de lavagem do

lodo; o valor máximo registrado nas 24h foi de

532 NTU para a turbidez e de 946 mg.L-1 para

SST. Na segunda campanha, após o descarte de

lodo (29/04/2015), a turbidez e a concentração

de SST foram inferiores aos valores da primeira

jornada, proporcionando um efluente de maior

qualidade relacionado ao descarte do excesso do

lodo, evidenciando a importância da frequência

do descarte do excesso neste tipo de reatores.

A análise de regressão linear entre os resultados

dos SST e da Turbidez no efluente do reator RAH

e o UASB, na primeira jornada, resultou em equa-

ções de ajuste com o R2 acima de 0,8 indicando

correlação satisfatória dos dados em eventos com

alta perda de biomassa no efluente (Figura 11),

sendo factível o uso da turbidez como parâmetro

de controle operacional para avaliar o excesso do

lodo no reator. Caso contrário aconteceu no ajuste

linear dos dados de turbidez e SST depois do des-

carte; ainda sendo um valor baixo (R2<0,3), existe

força de correlação entre os parâmetros medidos

de acordo com os resultados do método de corre-

lação de Pearson, sendo que para o primeiro epi-

sódio as variáveis estão fortemente relacionadas.

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Figura 11 - Regressão linear dos SST e da Turbidez

5 CONCLUSÕES O estudo do reator anaeróbio híbrido (RAH) mos-

trou resultados estáveis de eficiência de remo-

ção da matéria orgânica e de sólidos suspensos,

operado em condições típicas de verão e inverno

do sul do Brasil.

A carga orgânica aplicada oscilou na faixa 0,14 a

1,51 kgDQO.m-3.d-1, em função da ocorrência de

períodos chuvosos.

Foi constatado que a temperatura tem influência

direta sobre o desempenho dos reatores piloto

(RAH e UASB). Os sistemas atingiram eficiências

de remoção superiores a 70% para temperatura

média mensal mínima de 22 °C corresponden-

te ao mês de outubro. Para a temperatura de

18,7 °C (media mês agosto), a eficiência de remo-

ção dos reatores foi significativamente menor com

valores de 54% para o UASB e 42% para o RAH.

No período total do monitoramento (ago/14 -

mar/15), o reator RAH atingiu eficiência de remoção

de DQOtotal

de 60%, DBO5,20

de 47%, SST de 63% e

SSV de 60%, e não apresentou problemas operacio-

nais, como lavagem do lodo nem queda do pH.

Foram observadas diferenças significativas entre

os perfis de sólidos totais e voláteis ao longo da

altura dos reatores anaeróbios piloto, com acú-

mulo de sólidos na zona superior da câmara de

digestão do reator UASB, o que poderia explicar

picos de perda de sólidos no efluente final.

A relação STV/ST do perfil de lodo pode ser utiliza-

da como medida de controle para avaliar a quali-

dade da biomassa ao longo da câmara de digestão.

Foi observada uma relação direta entre a turbidez

e os SST, indicando a validade de monitoramento

do parâmetro turbidez, o qual é de fácil determi-

nação, inclusive para monitoramento “online”.

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Fabíola Tomassoni* | Cristiane Lisboa Giroletti | Beatriz Lima Santos Klienchen Dalari | Maria Eliza Nagel-Hassemer | Maria Ángeles Lobo Recio | Flávio Rubens Lapolli

Otimização da eletrocoagulação aplicada em efluente têxtil Optimization of applied electrocoagulation in textile effluent

DOI: https://doi.org/10.4322/dae.2019.047

Data de entrada: 22/02/2018

Data de aprovação: 29/05/2018

Fabíola Tomassoni – Bolsista (Capes) de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Cristiane Lisboa Giroletti – Bolsista (CNPQ) de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).Beatriz Lima Santos Klienchen Dalari – Bolsista (CAPES) de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Maria Eliza Nagel-Hassemer – Doutora em Engenharia Ambiental. Professora do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, UFSC. Maria Ángeles Lobo Recio – Doutora em Química. Professora do Departamento de Engenharia de Energia. UFSC. Flávio Rubens Lapolli – Doutor em Hidráulica e Saneamento. Professor Titular do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, UFSC. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. *Endereço para correspondência: Rua Lauro Linhares, 1288, Trindade. Florianópolis - SC. E-mail: [email protected].

ResumoA indústria têxtil desempenha papel vital para o desenvolvimento econômico de muitos países. No en-

tanto, a descarga de seus efluentes no meio ambiente causa considerável poluição dos corpos recepto-

res e sérios fatores de risco à saúde. Em geral, o tratamento convencional não degrada totalmente seus

poluentes. Então, novos métodos de tratamento vêm sendo estudados na última década, destacando-

-se a eletrocoagulação. O presente trabalho objetivou avaliar a otimização do processo da eletrocoagu-

lação aplicado em efluente têxtil sintético, a fim de investigar o efeito da intensidade de corrente e do

pH com relação à remoção da cor. Os resultados revelaram o potencial da aplicação do processo com

valores de intensidade de corrente de 33A e pH inicial 3, expondo remoção de cor na ordem de 95%. O

tempo de eletrólise estabelecido em 30 minutos contribuiu para a efetividade do processo no trata-

mento do efluente têxtil sintético e demostrou capacidade para aplicação em efluentes em escala real.

Palavras-chave: Efluente têxtil. Eletrocoagulação. Intensidade de corrente. pH.

AbstractThe textile industry plays a vital role in the economic development of many countries. However, the discharge of

its effluents into the environment causes considerable pollution of the receiving bodies and serious health risk

factors. In general, conventional treatment does not totally degrade its pollutants, so new treatment meth-

ods have been studied in the last decade, especially electrocoagulation. The present work aimed to evaluate

the optimization of the electrocoagulation process applied in synthetic textile effluent in order to investigate

the effect of current intensity and pH in relation to color removal. The results revealed the potential of the ap-

plication of the process with values of current intensity of 33A and initial pH 3, exposing color removal in the

order of 95%. The electrolysis time established in 30 minutes contributed to the effectiveness of the process

in the treatment of the synthetic textile effluent and showed capacity for application in real scale effluents.

Keywords: Textile effluent. Electrocoagulation. Current intensity. pH.

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1 INTRODUÇÃOAs indústrias têxteis constituem fator de gran-

de importância à economia brasileira, ocupando

lugar de destaque na economia nacional. For-

te gerador de empregos e com grande volume

de produção e exportação, o valor da produção

da cadeia têxtil em 2017 foi de cerca de R$ 45

bilhões, sendo o segundo maior gerador do pri-

meiro emprego no país (ABIT, 2015; ABIT, 2018).

No entanto, o setor têxtil é um dos maiores con-

sumidores de água do mundo, o que consequen-

temente gera grandes volumes de efluentes, os

quais, quando não tratados corretamente, po-

dem causar sérios problemas de contaminação

ambiental (AFTAB et al., 2011; MORALI; UZAL;

YETIS, 2016).

O efluente têxtil é caracterizado por ser altamen-

te colorido devido à presença de corantes que

não se fixam nas fibras durante o processo de

tingimento (HU et al., 2016; BILAL et al., 2016).

As características desse efluente são bastante

complexas e variam com o tipo de atividade e

processo industrial. Em geral, cerca de 90% dos

produtos químicos utilizados no beneficiamento

têxtil são eliminados após cumprirem seus obje-

tivos (CERQUEIRA et al., 2009).

Com o elevado consumo de água e o baixo apro-

veitamento dos insumos, a indústria têxtil gera

efluentes com elevada carga orgânica, o que clas-

sifica a atividade como de alto potencial poluidor

do meio ambiente (KARTHIKEYAN et al., 2017).

Sua descarga nos corpos d´água potencializa os

riscos à saúde das pessoas. Os principais incon-

venientes estão associados à entrada de compo-

nentes tóxicos nas cadeias alimentares de animais

e seres humanos, podendo ser carcinogênicos e/

ou mutagênicos (KUMAR et al., 2017).

Tipicamente, as indústrias têxteis tratam seus

efluentes por processos físico-químicos e bio-

lógicos, como lodos ativados. Todavia, tais pro-

cessos apresentam certas limitações e não

são totalmente capazes de degradar algumas

substâncias presente nos efluentes, como, por

exemplo, os corantes. Os corantes apresentam

polímeros altamente estruturados e difíceis de

serem biodegradados. Muitas vezes, grande par-

te de sua composição química é desconhecida

(PASCHOAL; TREMILIOSI-FILHO, 2005; PEREI-

RA et al., 2010; RAJORIYA et al., 2018). Devido a

essas limitações, novas tecnologias e métodos

mais eficientes têm sido buscados para a degra-

dação ou imobilização desses compostos, como

a adsorção, ozonização, processos combinados

de oxidação e membranas. Entretanto, muitos

desses métodos apresentam altos custos, gran-

des produções de lodo e necessidade de regene-

ração (MÁRTÍNEZ-HUITLE; BRILLAS, 2009; COVI-

NICH et al., 2014).

Dentre essas novas tecnologias para o tratamen-

to de efluentes, destaca-se a utilização da ele-

trocoagulação. Atualmente essa técnica é con-

siderada versátil, de fácil operação e sem custos

com reagentes químicos, sendo ambientalmente

benigna (SEIFROTOVÁ et al., 2009; HOLKAR et al.,

2016; SONG et al., 2017). Basicamente, a eletro-

coagulação é produzida por reações de oxidação,

com a dissolução de ferro (Fe) ou alumínio (Al)

anódicos e pela produção de hidróxidos por meio

da hidrólise da água no cátodo, formando hidró-

xidos metálicos gelatinosos que desestabilizam e

agregam as partículas, promovendo a adsorção

dos contaminantes dissolvidos e a sua precipi-

tação, gerando efluente de elevada qualidade

(MELO et al., 2008; SILVA et al., 2015; QI; YOU;

REN, 2017). A técnica é baseada no processo

de oxirredução gerado por uma corrente elétri-

ca contínua, que promove a formação de flocos

e consequentemente a clarificação do efluente

(CHEN, 2004; SEIFROTOVÁ et al., 2009).

Contudo, a eletrocoagulação é um processo

complexo, que envolve fenômenos físicos, quí-

micos e mecanismos que operam simultanea-

mente para remoção dos poluentes. Para libe-

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rar o agente coagulante que ajuda na formação

dos flocos, uma diferença de potencial elétrica é

aplicada nos eletrodos, e essa diferença, depen-

dendo do pH, forma complexos monoméricos e/

ou poliméricos de hidróxidos metálicos, que são

responsáveis pela formação dos flocos (BENSA-

DOK et al., 2007; GOLDER, et al., 2011). Portan-

to, a eficiência do processo da eletrocoagulação

está diretamente relacionada à otimização do

pH e da intensidade de corrente elétrica. Esses

dois parâmetros determinam a efetividade do

processo na remoção de poluentes e seus custos

operacionais (GIORDANO; FILHO, 2000; GARCIA

et al., 2015).

De acordo com Mollah et al., (2001), esses parâ-

metros operacionais são chaves na eletrocoagu-

lação, afetando não só o tempo de resposta do

processo, mas também influenciando fortemen-

te o modo dominante de separação e remoção

de poluentes. O efeito do pH é importante no

processo, pois a máxima eficiência de remoção

de poluentes ocorre em pH ideal para determi-

nado poluente, podendo aumentar ou diminuir

dependendo das características do efluente

(CAÑIZARES et al., 2005; KHANDEGAR; SAROHA,

2013). O mesmo acontece com a intensidade de

corrente, responsável pela quantidade de coagu-

lante, tamanho e crescimento dos flocos no pro-

cesso (HAKIZIMANA et al., 2017).

Devido às limitações de remoção da cor presente

em efluentes têxteis via processos de tratamen-

to convencionais, o processo de eletrocoagula-

ção apresenta-se como uma excelente técnica,

pois, controlando a intensidade de corrente e o

pH, consegue-se gerar o coagulante in situ e na

quantidade mínima que leva à máxima eficiência

de remoção. O presente trabalho objetivou oti-

mizar o processo de eletrocoagulação, conside-

rando como principais parâmetros o pH inicial e

a intensidade de corrente em função da remoção

da cor do efluente.

2 METODOLOGIAOs experimentos foram realizados no Laborató-

rio de Reuso de Águas (LaRA), associado ao La-

boratório Integrado de Meio Ambiente (LIMA),

pertencentes ao Departamento de Engenharia

Sanitária e Ambiental da Universidade Federal

de Santa Catarina (UFSC).

O efluente sintético foi preparado conforme a me-

todologia de Mo et al. (2007), utilizando 25% da

concentração original proposta pelo autor. A Tabe-

la 1 apresenta a composição do efluente sintético.

Tabela 1- Composição do efluente têxtil sintético

Composição Concentração (g/L)

Levafix Brilliant Red 0,020

Remazol Preto B 133% 0,020

NaCl 2,000

Álcool Polivinílico 0,125

Na2SO4 0,188

Os corantes têxteis utilizados para o preparo das

soluções foram o Levafix Brilliant Red e Remazol

Preto B 133% (Figura 1). As concentrações dos

reagentes basearam-se na quantidade média

encontrada em efluente têxtil industrial.

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Figura 1- Estrutura química dos corantes: (a) Levafix Brilliant Red; (b) Remazol Preto B 133%

Os experimentos foram realizados em um reator de

eletrocoagulação de bancada, com volume útil de

1000 mL, constituído por um béquer de vidro como

célula eletroquímica e equipado com dois pares de

eletrodos de placas planas de alumínio (ânodo e

cátodo), no formato retangular, com dimensões de

16 cm x 0,5 cm x 0,2 cm. A intensidade de corrente

contínua aplicada foi controlada por meio da fonte

de alimentação digital ajustável, modelo (PS - 1001),

com variação de corrente de 0-10A e tensão 0-30V.

O conjunto de eletrodos inseridos verticalmente no

reator ficou parcialmente imerso na solução, obten-

do como área efetiva 0,6435 m2 e arranjado dentro

da célula eletrolítica de modo monopolar paralelo.

A representação esquemática do reator da eletro-

coagulação é apresentada na Figura 2.

Figura 2- Representação esquemática do reator da eletrocoagulação monopolar paralelo. 1- Agitador

magnético; 2- Célula eletroquímica; 3- Barra magnética; 4- Eletrodos de Alumínio; 5- Fonte de alimentação.

Para promover a homogeneidade do efluente du-

rante o tempo de eletrólise, o reator recebeu um

sistema de agitação, o qual operou em 200 rpm,

sendo desligado após cessar a aplicação da cor-

rente. A velocidade de rotação para a agitação do

efluente foi selecionada com base nos estudos

de KOBYA et al., 2003; CAN et al., 2006; AOUDJ et

al., 2010. Também devido às amplas faixas de va-

riabilidade de intensidade de corrente (0,6 – 200

A) e pH (2 – 12) encontradas, foram definidos os

níveis máximos e mínimos destes parâmetros, na

procura de seus valores pseudo-ótimos.

2.1 Delineamento Composto Central Rotacional – DCCR

Na otimização do processo de eletrocoagulação

foi utilizada, como ferramenta estatística, a me-

todologia do Delineamento Composto Central Ro-

tacional – DCCR. O DCCR analisou a influência dos

parâmetros operacionais, intensidade de corrente

(x1) e pH inicial (x

2), no processo da eletrocoagula-

ção, fornecendo os valores ótimos dos parâmetros

estudados. Os valores das variáveis foram definidos

com base em estudos encontrados na literatura

(CHANG et al., 2007; CAÑIZARES et al., 2007; MAR-

TÍNEZ-HUITLE; BRILLAS, 2009; SECULA; CRETESCU;

PRETESCU, 2011). Realizaram-se quatro ensaios

principais, somados a quatro repetições no ponto

central e quatro ensaios nos pontos axiais, totali-

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zando-se 12 ensaios, executados em duplicata. Foi

determinado o tempo de eletrólise de 30 minutos

em função da remoção da cor do efluente por meio

de ensaios preliminares que demostraram uma

remoção efetiva da cor, na ordem de 90% neste

intervalo de tempo. Após a aplicação do processo

de eletrocoagulação, as amostras foram mantidas

em repouso por 60 minutos para sedimentação

dos flocos. A matriz do delineamento experimental

está representada na Tabela 2.

Tabela 2- Matriz do DCCR

Ensaios X1 i(A) X2 pH

Pontos Fatoriais

1 1 43 1 3,5

2 1 43 -1 2,5

3 -1 23 1 3,5

4 -1 23 -1 2,5

Pontos Centrais

5 0 33 0 3

6 0 33 0 3

7 0 33 0 3

8 0 33 0 3

Pontos Axiais

9 1,41 53 0 3

10 -1,41 13 0 3

11 0 33 1,41 4

12 0 33 -1,41 2

A análise estatística dos resultados de todos

os ensaios da matriz foi realizada por meio do

programa Statistica® (Statsoft, Inc), que possi-

bilitou a obtenção do modelo matemático qua-

drático relacionando à remoção da cor com as

variáveis testadas: intensidade de corrente e pH.

A representação gráfica do modelo, com auxílio

do gráfico de superfície de resposta, orientou a

determinação da região ótima de operação da

eletrocoagulação.

2.2 Determinação de remoção da cor

A cor real do efluente foi avaliada por espectro-

fotometria por meio da leitura da absorbân-

cia, utilizando espectrofotômetro Hach modelo

DR/5000, no comprimento de onda de maior

absorção do efluente na faixa do visível, 380 a

800 nm. Nas condições experimentais pode-se

aplicar a lei de Lambert-Beer entre a concentra-

ção de corante e a absorbância das soluções. A

remoção da cor (RC%) foi avaliada conforme a

Equação 1.

!" % = "&'() −"&')"&'()+100 Equação 1

Onde CorST

corresponde ao valor da cor no com-

primento de maior absorbância na região visível

no efluente sem tratamento; e CorT corresponde

ao valor da cor no comprimento de maior absor-

bância na região visível no efluente tratado.

A determinação das frequências de vibração dos

grupos funcionais presentes no efluente sinté-

tico contendo os corantes Levafix Brilliant Red

e Remazol Preto B 133%, foi realizada com um

Espectrofotômetro de Infravermelho com Trans-

formada de Fourier (FTIR), marca Shimadzu,

modelo “IR Prestige - 21”. Para essas análises,

utilizaram-se as amostras do efluente sintéti-

co secas em estufa a 60ºC, diluídas em pastilha

de KBR, no intervalo de número de onda de 4000

a 500 cm-1.

O melhor tempo de eletrólise no processo de ele-

trocoagulação foi determinado mediante estudo

cinético, efetuado nas condições de corrente e

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pH determinadas pelo DCCR. Foram realizados

estudos de remoção da cor nos intervalos de

tempo de 0, 2, 4, 6, 8, 10, 15, 20, 25, 30, 40, 50,

60, 70, 80, 90, 100, 110 e 120 minutos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES O efluente sintético utilizado no experimento apre-

sentou pH inicial de 7,0 e condutividade de 5,0 mS.

cm-1, sendo essas características semelhantes às

de um efluente têxtil real tratado biologicamente.

Na Figura 3 são apresentados os espectros de

absorção do efluente sintético e de seus coran-

tes constituintes. Pode-se observar que o espec-

tro do efluente sintético é a soma dos espectros

do corante Levafix Brilliant Red e Remazol Preto B

133%, formando assim um espectro com super-

posição de bandas de absorção.

Figura 3- Espectros de absorção dos corantes, Levafiz Brilliant Red, Remazol Preto B 133% e a solução aquosa da sua mistura.

As absorções nos comprimentos de onda na re-

gião UV correspondem aos grupos azo conju-

gados com anéis de benzeno e naftaleno. Já as

absorções nos comprimentos de onda na região

visível correspondem aos grupos cromóforos

hiperconjugados, responsáveis pela cor dos co-

rantes (SILVERSTEIN, WEBAER, KIEMLE, 2007). A

absorbância máxima na região do visível encon-

trada na varredura foi alcançada em 548 nm, e

esta foi utilizada para leitura da cor do efluente.

Na Figura 4 são apresentadas a características

dos grupos funcionais existentes no efluen-

te, identificando os grupamentos existentes de

acordo com a transmitância realizada pelo Es-

pectrofotômetro de Infravermelho com Trans-

formada de Fourier (FTIR).

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Figura 4- Espectros FTIR do efluente sintético.

As bandas de absorção na região de 1000 cm-1

a 1500 cm-1 correspondem aos grupos sulfôni-

cos (1028 cm-1), às tensões C=C e C=N de grupos

aromáticos (1112 cm-1) e às ligações do tipo azo

(1414 cm-1). A banda larga centrada a 3454 cm-1

corresponde às tensões e N-H de aminas primá-

rias e secundárias unidas aos anéis aromáticos

(SILVERSTEIN; WEBAER; KIEMLE, 2007).

Os corantes do tipo azo são amplamente utili-

zados na indústria têxtil, pois apresentam boa

relação de custo e facilidade de síntese, estando

entre as mais importantes classes de corantes

orgânicos com mais de três mil corantes conhe-

cidos. Por serem instáveis, são comumente mu-

táveis, com potencial cancerígeno e alta solubi-

lidade em água. Esses compostos, livres no meio

aquático, são conhecidos como xenobióticos e

podem propiciar a formação de compostos exó-

genos ao meio, acarretando alterações no siste-

ma, prejudicando a fauna e a flora. Portanto, tor-

na-se essencial um tratamento adequado para

as águas residuais que contenham essa classe de

corantes (HAQUE; SMITH; WONG, 2015).

As respostas obtidas por meio do delineamento

composto central rotacional e suas interações

são apresentadas na Tabela 3.

Tabela 3- Delineamento composto rotacional da eletrocoagulação

EVC VI V D

x1 x2 i (A) pH % RC

1 1 1 43 3,5 72,03 ± 1,71

2 1 -1 43 2,5 75,11 ± 1,52

3 -1 1 23 3,5 70,70 ± 1,67

4 -1 -1 23 2,5 73,96 ± 1,55

5 0 0 33 3 93,81 ± 0,93

6 0 0 33 3 95,67 ± 0,39

7 0 0 33 3 97,38 ± 1,05

8 0 0 33 3 95,14 ± 0,97

9 1,41 0 53 3 83,52 ± 1,26

10 -1,41 0 13 3 64,64 ± 0,95

11 0 1,41 33 4 73,58 ± 2,31

12 0 -1,41 33 2 72,75 ± 1,82

E-Ensaios; VC- Variáveis Codificadas; VI- Variáveis Independentes. VD- Variáveis Dependentes; i – Intensidade de Corrente; RC- Remoção da Cor.

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De acordo com esses dados, as melhores confi-

gurações para remoção da cor ocorreram nos en-

saios 6, 7 e 8, com intensidade de corrente de 33

A e pH inicial 3. A mesma Tabela mostra o menor

desempenho observado nos ensaios 3 e 10, onde

a aplicação da intensidade de corrente foi de 23

e 13 A e pH inicial 3,5 e 3, respectivamente. Can,

Bayramoglu e Kobya (2003) obtiveram uma taxa

de remoção da cor de aproximadamente 97%,

com pH ótimo igual a 3, concluindo que pHs entre

3 e 5 estimulam a formação de hidróxidos, porém

valores de pH abaixo de 3 acabam retardando a

formação dos flocos. O mesmo ocorre com a in-

tensidade de corrente. Valores altos aumentam a

velocidade de dissolução do ânodo, aumentando

o número de flocos e, consequentemente, forne-

cendo maior remoção de poluentes.

Para validar o ajuste do modelo proposto com os

resultados obtidos, realizou-se o teste da análise

de variância (ANOVA) do modelo previsto para a

remoção da cor (%), por meio do gráfico de Pare-

to, ilustrado na Figura 5.

Figura 5- Gráfico de Pareto para remoção da cor no comprimento de onda 548 nm do efluente estudado L- Termos Lineares; Q- Termos Quadráticos; 1Lby

L- Interação entre intensidade de corrente em termos linear e pH em termos linear.

O gráfico de Pareto apresenta a significância dos

resultados, com 95% de confiança, representado

pela linha tracejada vermelha (p = 0,05). A exten-

são horizontal das barras fornece os resultados

dos efeitos das variáveis lineares (L), quadráticas

(Q) e de interação linear entre as variáveis inde-

pendentes. Nota-se, na Figura 5, que os termos

quadráticos das variáveis analisadas, pH inicial e

intensidade de corrente, apresentaram, respec-

tivamente, maior significância estatística, com

sinal do efeito negativo para remoção da cor, ou

seja, à medida que se aumentaram os valores de

pH houve decréscimo na % de remoção da cor

no efluente. Já a variável intensidade de corren-

te, em termos lineares, mostrou-se significativa

para o mesmo intervalo e com sinal do efeito

positivo, indicando aumento na remoção da cor.

A interação entre as variáveis (1L by 2L) e pH (L)

não apontaram significância estatística.

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Estudo realizado por Secula, Cretescu e Petresco,

(2011) na remoção do corante índigo carmim a

partir de solução aquosa por eletrocoagulação,

obteve aumento da descoloração do efluente de

49,2% para 98,9% duplicando a intensidade de

corrente de 5,46 A para 10 A após 3 horas de ele-

trocoagulação. Isso se deve ao fato de que, em

valores mais altos de intensidade de corrente, a

taxa de dissolução anódica aumenta de acordo

com a lei de Faraday e os hidróxidos de alumínio

resultantes produzem mais flocos, aumentan-

do assim o processo de coagulação (GUO et al.,

2006). Entretanto, a aplicação de corrente acima

da intensidade ótima não resulta no aumento na

eficiência de remoção, pois existe uma quanti-

dade suficiente de flocos de hidróxidos metálicos

disponíveis para sedimentação (KHANDEGAR;

SAROHA, 2013).

Com base no gráfico de Pareto, realizou-se no-

vamente o teste ANOVA, mantendo as variáveis

significativas, a fim de averiguar sua significân-

cia na remoção da cor. Os valores podem ser ob-

servados na Tabela 4.

Tabela 4- Teste da análise de variância e coeficiente de regressão do modelo previsto para a redução da cor ao nível de significância de 95% (p<0,05)

Efluente Sint.(λ548nm) SM GL QM F

(Cal.) p-valor

Regressão 1404,55 9 156,06

Resíduos 106,43 1 106,43 0,68 0,43

Total 1514,32 11

Média 95,500 1,9131 49,918 0,0000

i (L) -7,295 2,7055 -2,696 0,0357

i (Q) -21,756 3,0248 -7,192 0,0003

pH(L) 1,291 2,7055 -0,477 0,6499

pH(Q) -22,671 3,0248 -7,494 0,0002

SM- Soma Quadrática; GL- Grau de Liberdade; QM – Quadrados Médios; CR- Coeficiente de Regressão; L- Termos Lineares; Q- Termos Quadráticos; i- Intensidade de Corrente.

Os p-valores das variáveis, intensidade de cor-

rente e pH, mostraram-se significativos ao nível

de 95% de confiança nos termos lineares e qua-

dráticos para intensidade de corrente e apenas

quadráticos para pH. O teste F foi utilizado para

investigar se o modelo proposto indicava evidên-

cia estatística suficiente da relação dependente

entre as variáveis de entrada e a resposta em

% de remoção da cor (SANTOS; ALSINA; SILVA,

2007). O valor do teste F calculado deve ser maior

que o valor do teste F tabelado para que o modelo

seja significativo, ou seja, válido estatisticamen-

te. O valor obtido para Fcal foi de 13,19, e viu-se

que esse valor foi maior que FTab

= (2; 9; 0,05) =

5,71. Isto é, a regressão obtida ajustou os pontos

experimentais de forma satisfatória, validando o

modelo para o intervalo de confiança de 95%.

Considerando apenas os termos significativos, o

modelo de remoção da cor para o comprimento

de onda em que ocorre a maior absorção (548

nm) pode ser escrito de acordo com a Equação 2.

Os valores dos coeficientes foram arredondados

na terceira casa decimal.

%#$%&çã&)$*&+ 548/% =95,500 − 7,2957 − 21,7599: − 22,6717<

Equação 2

De acordo com a Equação 2, verificou-se que as

duas variáveis independentes foram considera-

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das significativas de algum modo, sendo favorá-

vel ou não à remoção da cor. Nota-se que as va-

riáveis intensidade de corrente e pH quadráticas

(Q) se destacam entre as demais variáveis, com

valores de “p” igual a (3.10-4 e 2.10-4), respecti-

vamente, influenciando ambos os parâmetros na

remoção de cor forma inversa (valor negativo do

coeficiente de regressão), ou seja, quanto maior

o seu nível, menor é a eficiência de remoção.

Chang et al. (2007), investigando a descoloração

e a mineralização de uma solução de corante azo

tratado eletrocoagulamente, constataram que

para pHs com valores mais baixos não há neces-

sidade de intensidades de correntes altas, poden-

do atingir valores de descoloração acima de 90%

em corantes desses grupos. Além disso, valores de

intensidade de correntes mais altos apresentam

aumento no consumo de energia e, consequen-

temente, aumento no custo do processo (DANE-

SHVAR; OLADEGARAGOZE; DJAFARZADEH, 2006).

O gráfico de superfície de resposta para a Equa-

ção 2 pode ser observado na Figura 6.

Figura 6- Superfície de resposta e perfil de contorno em relação à remoção da cor no comprimento de onda 548 nm do efluente estudado.

Assim, o modelo determinou que as maiores efi-

ciências na remoção da cor serão observadas

quando a solução for submetida a intensidades

de correntes elétricas e pHs iniciais com valores

próximos ao ponto central, ou seja, intensidades

de corrente próximos a 33A e pH inicial 3.

Um pH inicial baixo retarda a formação de

Al(OH)3 e estimula a formação de espécies hi-

droxipoliméricas que reagem com as moléculas

dos corantes, resultando em sua precipitação

(CAN; BAYRAMOGLU; KOBYA, 2003). De acordo

com Mártínez-Huitle e Brillas (2009), o proces-

so de precipitação dos corantes é responsável

pela alta eficiência da descoloração por meio da

adsorção das espécies poliméricas dos corantes

nos flocos.

Outro fator importante é o tempo de eletrólise, e

este está diretamente relacionado aos parâme-

tros operacionais utilizados no processo (MÁRTÍ-

NEZ-HUITLE; BRILLAS, 2009).

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3.1 Determinação do tempo ótimo de eletrocoagulação

Na Figura 7 é apresentada a remoção da cor,

estabelecendo 548 nm como comprimento de

onda para leitura, utilizando os valores ótimos

encontrados no DCCR (intensidade de corrente

33A e pH 3), avaliada durante os tempos deter-

minados para a eletrólise.

Figura 7- Determinação da remoção da cor ao longo do período da nas condições ótimas determinadas pelo DCCR.

Observa-se pela Figura 7 que houve um decai-

mento da absorção da cor nos primeiros 30 minu-

tos, apresentando remoção acima de 97% da cor,

confirmando que o tempo utilizado no DCCR foi o

tempo ideal para a eletrólise. Após os 30 minutos,

observa-se que houve um acréscimo na absor-

ção da cor, reduzindo a porcentagem de remoção

após esse período. Esse aumento ocorre porque,

durante a passagem da corrente elétrica, uma

quantidade de massa do eletrodo é dissolvida na

solução eletrolítica, formando o agente coagulan-

te; após determinado tempo, ocorre na superfície

do eletrodo a formação de um filme fino de óxido,

fazendo com que o eletrodo não sofra corrosão

facilmente, comprometendo o processo pela per-

da de eficiência em decorrência do aumento da

resistividade do eletrodo (MOLLAH et al., 2004).

De acordo com Mártínez-Huitle e Brillas (2009),

o tempo de eletrólise dependerá principalmen-

te dos parâmetros operacionais estabelecidos

e das características do efluente a ser tratado.

Neste estudo, o tempo ideal de eletrólise para

tratamento de efluentes têxteis contendo coran-

tes do tipo azo foi de 30 minutos.

Em relação ao valor final do pH encontrado na

solução, não houve necessidade de correção das

amostras. Pois, ao final do processo, o efluente

apresentou pH entre 7 e 8. Isso acontece porque

durante a eletrocoagulação ocorre aumento do

pH quando seu valor inicial é menor do que 6, e

redução quando maior que 8, sendo comporta-

mento típico da eletrocoagulação com eletrodos

de alumínio (GILI, 2015).

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4 CONCLUSÃO A eletrocoagulação é um processo eficiente

para a descoloração de efluentes têxteis. O pH

inicial da solução, intensidade de corrente e o

tempo de eletrólise são variáveis importantes

que afetam a eficiência de descoloração. Des-

ta maneira, devem ser levados em consideração

na definição dos parâmetros ótimos operacio-

nais do processo.

A efetividade do processo de eletrocoagulação

para remoção de cor em efluente têxtil é com-

provada pelos bons índices de remoção deste

parâmetro. As melhores condições operacionais

com intensidade de corrente de 33 A, pH inicial

3 e tempo de eletrólise de 30 minutos, promo-

veram remoção da cor em até 97,3%. Além dis-

so, a ausência da necessidade de correção do

pH das amostras eletrocoaguladas constitui-se

como fator positivo do processo.

O DCCR se mostrou uma ferramenta simples e

prática para planejar os experimentos e pos-

sibilitou a avaliação do efeito das variáveis in-

dependentes (intensidade de corrente e pH) e

suas interações, na remoção da cor do efluente.

Além disso, também proporcionou o desenvol-

vimento do modelo matemático que poderá ser

útil para a realização de previsões, quanto à re-

moção de cor, do efluente têxtil, no intervalo de

valores das variáveis independentes estudadas.

Os resultados obtidos apontam o processo de

eletrocoagulação como promissor no trata-

mento de efluentes da indústria têxtil. Eviden-

ciando que a aplicação da eletrocoagulação é

apta ao tratamento de efluentes com corantes

tipos azo, comprovando ter grande potencial

em promover a remoção da cor. Desse modo, a

eletrocoagulação pode contribuir para o trata-

mento do efluente industrial sem causar agres-

são ou destruição do meio ambiente.

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André Aguiar Battistelli* | Tiago José Belli | Rayra Emanuelly da Costa | Naiara Mottim Justino | Maria Ángeles Lobo-Recio | Flávio Rubens Lapolli

Efeitos da eletrocoagulação na modificação das características de lodos ativados: aplicação em biorreatores a membranaEffects of electrocoagulation on activated sludge characteristics modification: application in membrane bioreactors

DOI: https://doi.org/10.4322/dae.2019.048

Data de entrada: 11/05/2017

Data de aprovação: 04/06/2018

André Aguiar Battistelli – Graduado em Engenharia Ambiental. Doutor em Engenharia Ambiental. Professor do Departamento de Meio Ambiente da Universidade Estadual de Maringá - PR.Tiago José Belli – Graduado em Engenharia Ambiental. Mestre em Engenharia Ambiental. Doutor em Engenharia Ambiental. Professor Adjunto do departamento de Engenharia Sanitária da Universidade do Estado de Santa Catarina. Rayra Emanuelly da Costa – Graduada em Engenharia Ambiental. Mestre em Engenharia Urbana. Doutora em Engenharia Ambiental.Naiara Mottim Justino – Graduada em Engenharia Ambiental. Mestre em Engenharia Ambiental. Doutoranda em Engenharia Ambiental na Universidade Federal de Santa Catarina.Maria Ángeles Lobo-Recio – Doutora em Química. Professora Adjunta do departamento de Engenharia de Energia da Universidade Federal de Santa Catarina.Flávio Rubens Lapolli – Doutor em Hidráulica e Saneamento. Professor Titular do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina.*Endereço para correspondência: Campus Universitário UFSC - Trindade - Dep. Engenharia Sanitária e Ambiental – Laboratório de Reúso de Águas (LaRA) - 3º andar - Florianópolis - SC. CEP: 88040-490. Telefone: (48) 3721-7750. E-mail: [email protected].

ResumoO presente trabalho buscou avaliar a aplicação do processo de eletrocoagulação na remoção de fósforo e no

aumento da filtrabilidade do licor misto de reatores aeróbios com vistas à aplicação em biorreatores a membra-

na (BRM). Um planejamento fatorial 22 foi elaborado para a realização dos experimentos, nos quais foram ava-

liadas a aplicação de diferentes densidades de corrente (4,0, 7,0 e 10,0 A.m-2) e modos de exposição em minutos

(6 ligado/6 desligado; 6 ligado/12 desligado; 6 ligado/18 desligado). Adicionalmente, foram realizados ensaios

de respirometria a fim de avaliar os possíveis efeitos à atividade da biomassa. Foi verificado um aumento da

filtrabilidade do licor misto e da remoção de P-PO4-3 e produtos microbianos solúveis (PMS) na maioria das con-

dições testadas. Não foram observados efeitos expressivos à atividade da biomassa sob a condição otimizada.

Palavras-chave: Eletrocoagulação. Remoção de Fósforo. Produtos microbianos solúveis. Biorreator a membra-

na. Lodos ativados.

AbstractThe present study aimed to evaluate the electrocoagulation process application to phosphorus removal and to

increase the filterability of the aerobic reactors mixed liquor for the application in membrane bioreactors (MBR).

A factorial design 22 was developed for the experiments, where the application of different current densities

(4.0, 7.0 and 10.0 A.m-2) and exposure modes in minutes (6 ON / 6 OFF; 6 ON / 12 OFF, 6 ON / 18 OFF). In addi-

tion, respirometric tests were performed to evaluate the possible effects on the biomass activity. There was an

increase in the mixed liquor filterability and the removal of P-PO4-3 and soluble microbial products (SMP) under

most conditions tested. No significant effects were observed on the biomass activity under optimized conditions.

Keywords: Electrocoagulation. Phosphorus Removal. Soluble microbial products. Membrane bioreactor. Activated Sludge.

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1 INTRODUÇÃO E OBJETIVOA tecnologia de biorreatores a membrana pode

ser entendida como a combinação do processo

de lodos ativados convencionais, com o proces-

so físico de separação por membranas (JUDD e

JUDD, 2011). Dentre as principais vantagens dos

BRM em relação aos processos convencionais de

tratamento, além da alta qualidade do efluente

produzido, podem ser destacadas a menor pro-

dução de lodo e o menor espaço requerido para

realizar o tratamento (METCALF e EDDY, 2003;

KOOTENAEI e AMINIRAD, 2014). Devido a essas

vantagens, os BRM são considerados atualmente

uma tecnologia promissora para o tratamento de

efluentes sanitários (DOHARE e TRIVEDI, 2014).

Entretanto, um dos principais obstáculos para

difundir globalmente a utilização dos BRM é a

colmatação das membranas (DREWS, 2010; LIN

et al., 2014). A colmatação pode ser entendida

como a acumulação de substâncias sobre a su-

perfície e/ou dentro dos poros da membrana, o

que pode provocar a redução de sua produtivida-

de e o aumento da frequência de limpezas físicas

e químicas (MANNINA e COSENZA, 2013). Nesse

contexto, os produtos microbianos solúveis (PMS)

desempenham um papel importante, uma vez que

possuem relação direta com a colmatação devido

a sua capacidade de formação de agregados mi-

crobianos na forma de biofilme sobre a superfície

da membrana (WANG et al., 2012).

Dentre as alternativas utilizadas para a redução

da colmatação das membranas, a modificação

das características do licor misto, de modo a au-

mentar sua filtrabilidade, tem sido bastante em-

pregada (MISHIMA e NAKAJIMA, 2009; JI et al.,

2010; WANG et al., 2014). Nesse viés, o processo

eletrocoagulação vem ganhando destaque nos

últimos anos frente aos processos de coagulação

tradicionais, principalmente em função da sim-

plicidade operacional dos sistemas, da menor

produção de lodo e da elevada capacidade de

aglomeração de poluentes sem a necessidade de

inserção de produtos químicos (MOLLAH, 2004;

SAHU et al., 2014).

Nos casos em que ânodos de alumínio são em-

pregados nesse processo, ocorre a liberação de

Al+3 para o meio, o que caracteriza a geração do

agente coagulante in situ (MORENO-CASILLAS et

al., 2007). Tal agente possui, ainda, a capacidade

de promover a precipitação e posterior remoção

do fósforo, que dificilmente é suprimido nos pro-

cessos convencionais de tratamento e é conhe-

cidamente o elemento limitante no fenômeno de

eutrofização (SHALABY et al., 2014).

A associação da eletrocoagulação à tecnolo-

gia de BRM é vista, ainda, como uma alternativa

bastante recente no setor de saneamento. Dessa

forma, poucos são os trabalhos que avaliaram o

desempenho dessa nova tecnologia na remoção

de fósforo e na minimização da colmatação das

membranas, especialmente com vistas à otimi-

zação do processo (AKAMATSU et al., 2010; HA-

SAN et al., 2012; IBEID, ELEKTOROWICZ e OLES-

ZKIEWICZ, 2013a; TAFTI et al., 2015; ZHANG et

al., 2015), o que remete à necessidade de novos

estudos nessa temática.

Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi oti-

mizar as condições operacionais para a aplicação

do processo de eletrocoagulação na remoção de

fósforo e melhoria da filtrabilidade do licor mis-

to, além de avaliar os possíveis efeitos adversos

do processo à atividade da biomassa.

2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Unidade Experimental

A unidade experimental utilizada no trabalho,

composta por cinco eletrobiorreatores em escala

de bancada, é apresentada na Figura 1.

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Figura 1 – Representação esquemática da unidade experimental em escala de bancada

C0: eletrobiorreator controle; C1: circuito 1, C2: circuito 2; P: painel de comandos elétricos

Cada eletrobiorreator possuía 1,0 L de volume to-

tal e era equipado com eletrodos com dimensões

de 5,5 x 14,0 cm, espaçados entre si por 5,0 cm. O

ânodo foi construído em placas planas de alumí-

nio com perfuração de 46% da superfície; já o cá-

todo consistiu em uma tela fina de aço inoxidável.

O provimento de oxigênio aos micro-organismos,

bem como a manutenção do regime de mistura

completa nos reatores, foi realizado por meio de

difusores de ar instalados em sua base.

A densidade de corrente aplicada foi controla-

da por meio de uma fonte de alimentação digi-

tal ajustável de corrente contínua (PS A305D),

com variação de tensão de 0-30 V e de corrente

de 0-5 A. O modo de exposição foi regulado por

temporizadores digitais acoplados a um painel

de comandos elétricos instalado entre a fonte de

alimentação e os eletrodos. O sistema era com-

posto por dois circuitos independentes (C1 e C2),

com dois eletrobiorreatores ligados em cada,

o que permitiu a operação simultânea de duas

condições operacionais distintas. O quinto bior-

reator (C0) possuía as mesmas configurações dos

demais, porém não era ligado ao sistema elétri-

co, de modo a permitir a operação sem aplicação

de corrente para fins de comparação.

2.2 Procedimento Experimental

O licor misto utilizado nos ensaios foi coleta-

do junto ao tanque de aeração da estação de

tratamento de esgotos (ETE) Insular da cidade

de Florianópolis – SC, do tipo lodos ativados de

aeração prolongada, pertencente à Companhia

Catarinense de Águas e Esgotos (CASAN). Após a

coleta, o licor misto em questão foi submetido à

sedimentação e retirada do sobrenadante visan-

do padronizar a concentração de sólidos para um

valor próximo das condições consideradas nor-

mais para operação de BRM. A concentração de

PO4

-3 inicial foi ajustada em 7,0 mg.L-1, por meio

da adição de fosfato de potássio monobásico

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(KH2PO4, PA, 99%, Aldrich). Tais procedimen-

tos de padronização foram realizados para cada

nova coleta de licor misto a serem utilizados du-

rante uma nova sequência de ensaios.

Uma vez padronizado, o licor misto era acondi-

cionado nos reatores (800 mL) e submetido aos

ensaios de eletrocoagulação, nos quais se busca-

va melhorar as condições de filtrabilidade do li-

cor misto e também promover a remoção de fós-

foro. Para o primeiro caso, foram considerados

dois parâmetros importantes nesse processo:

concentração de produtos microbianos solúveis

e índice de incrustação do licor misto (MFI, do

inglês: mixed liquor fouling index) (DREWS, 2010).

Dessa forma, o desempenho da eletrocoagula-

ção foi avaliado quanto à remoção de PMS, va-

riação do MFI e remoção de fósforo.

Na Tabela 1 são apresentados os valores médios

de sólidos suspensos totais (SST), MFI, PMS e fós-

foro das amostras de licor misto padronizadas.

Tabela 1 – Valores médios de SST, MFI, PMS e fósforo das amostras de licor misto padronizadas.

SST (mg.L-1) MFI (s.mL-1) PMS (mg.L-1) Fósforo (mg.L-1)

4770 ± 355 0,25 ± 0,12 13,5 ± 2,20 7,07 ± 0,05

SST: sólidos suspensos totais; MFI: membrane fouling index; PMS: produ-tos microbianos solúveis.

A fim de avaliar o efeito das variáveis (densidade

de corrente e modo de exposição) simultanea-

mente, bem como a correlação entre tais variá-

veis, foi realizado um planejamento fatorial 22

com ponto central em triplicata. A organização

de um planejamento fatorial consiste em sele-

cionar as variáveis e determinar os níveis (valores

assumidos pelas variáveis) durante os experi-

mentos. A utilização do planejamento fatorial é

interessante neste caso, pois permite determinar

a condição operacional otimizada do processo

com um número mínimo de experimentos.

Os valores dos níveis para as variáveis foram ado-

tados com base no estudo prévio de Ibeid, Elekto-

rowicz e Oleszkiewicz (2013a). Assim, os experi-

mentos foram realizados mediante três densidades

de corrente (4,0, 7,0 e 10,0 A.m-2) e três modos

de exposição diferentes, em minutos (6 ligado/6

desligado; 6 ligado/12 desligado e 6 ligado/18

desligado). Cada condição foi avaliada em dupli-

cata durante 70 h. Um biorreator sem aplicação

de corrente elétrica foi operado simultaneamente

para fins de comparação (IBEID, ELEKTOROWICZ e

OLESZKIEWICZ, 2013a). Na Tabela 2 é apresentado

o planejamento fatorial, bem como a distribuição

dos ensaios com as respectivas condições utiliza-

das para cada densidade de corrente. No presente

estudo, adotou-se a simbologia de níveis máximos

(+) e níveis mínimos (-), além do ponto central (0).

Tabela 2 – Planejamento fatorial 22 elaborado para a determinação das melhores condições operacionais elétricas do sistema

Variáveis Nível (-) Nível (0) Nível (+)

A. Densidade de corrente (A.m-2) 4,0 7,0 10,0

B. Modo de exposição (Min) 6 ligado / 18 desligado 6 ligado / 12 desligado 6 ligado / 6 desligado

ExperimentoVariáveis

A B A x B

1 - - +

2 + - -

3 - + -

4 + + +

5 0 0 0

6 0 0 0

7 0 0 0

A x B: Efeito combinado entre as duas variáveis

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Para a interpretação dos resultados obtidos em

todos os reatores simultaneamente, foi utilizado

o conceito de função de desejabilidade (DERRIN-

GER e SUICH, 1980). Nesse procedimento é en-

contrado um valor di (desejabilidade) para cada

resposta, o qual é calculado padronizando-se to-

das as respostas de determinado parâmetro para

valores entre 0 e 1. Em seguida, é realizado o cál-

culo da média geométrica dos valores de di obti-

dos para cada condição operacional, que resulta

na desejabilidade combinada (D). Os valores de D

representam a eficiência global de cada condição

operacional, e, portanto, permitem a otimização

por meio de técnicas de análise multivariada.

De acordo com os resultados obtidos nos ensaios

de eletrocoagulação, foi selecionada a condição

operacional que apresentou os melhores resul-

tados no que diz respeito a remoção de PMS,

melhora do MFI e remoção de fósforo. Poste-

riormente, a estratégia escolhida foi replicada,

submetendo a biomassa, ao final desse ensaio

de eletrocoagulação, a testes de respirometria,

segundo o procedimento descrito no item Mé-

todos Analíticos com o objetivo de se verificar se

a corrente elétrica impactaria negativamente a

atividade microbiológica bacteriana.

2.3 Métodos Analíticos

A concentração de ortofosfato solúvel (P-PO4-3)

foi quantificada de acordo com o método do áci-

do molibdovanadofósforico (APHA, 2005). Para

realização do procedimento, as amostras foram

previamente filtradas em membrana de acetato

celulose com tamanho de poro de 0,45 µm.

Os produtos microbianos solúveis (PMS) foram

quantificados sob a forma de proteínas e polis-

sacarídeos. As proteínas foram quantificadas de

acordo com o método descrito por Lowry et al.

(1951); já para determinação dos polissacarídeos

foi aplicado o método descrito por Dubois et al.

(1956). A leitura da absorbância foi realizada em

espectrofotômetro HACH, modelo DR3900, sob

os comprimentos de onda de 760 e 490 nm, para

proteínas e polissacarídeos, respectivamente.

O Índice de Incrustação do Licor Misto (MFI - Mo-

dified Fouling Index), utilizado nos processos de

filtração por membranas para representar o po-

tencial de incrustação que determinado fluido

possui, foi realizado de acordo com a metodolo-

gia descrita por Schippers e Verdouw (1980).

As atividades autotrófica e heterotrófica da bio-

massa foram monitoradas por meio de testes res-

pirométricos (IVERSEN et al., 2009). Para esse fim,

1,0 L de licor misto foi coletado dos eletrobiorrea-

tores e mantido sob aeração constante por 24h.

Posteriormente, a aeração foi desligada, o licor

misto foi mantido sob agitação de 130 rpm e a taxa

de consumo de oxigênio endógena (TCOendógena) foi

mensurada. Em seguida, substratos específicos

foram adicionados para avaliar a taxa de consumo

de oxigênio das bactérias nitrificantes (TCONH4

)

(NH4Cl, PA, 99,5%, Biotec) e a taxa de consumo de

oxigênio das bactérias heterotróficas (TCOheterotrófica

)

(CH3COONa, PA, 99,5%, Neon). Os dados referen-

tes à concentração de oxigênio dissolvido (OD)

eram coletados a cada 5 segundos utilizando uma

sonda YSI ProODO. O cálculo da TCO era realizado

a partir do decaimento da concentração de OD na

ordem de 1,0 mg.L-1.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO3.1 Avaliação da remoção de fósforo e da melhoria das condições de filtrabilidade do licor misto

Na Tabela 3 são apresentados os resultados re-

ferentes à porcentagem de remoção de fósforo

e PMS, e a porcentagem de melhoria do MFI do

licor misto para cada ensaio do planejamento fa-

torial proposto.

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Tabela 3 - Remoção de fósforo e PMS, e a porcentagem de melhoria do MFI do licor misto para cada ensaio do planejamento fatorial proposto

EnsaioModo de

Exposição(Min)

Densidade de corrente(A.m-2)

% AumentoMFI

% Remoção

PMS Fósforo

1 6 lig /18 des 4,0 6,43 -69,39 89,91

2 6 lig/18 des 10,0 54,72 17,73 98,90

3 6 lig/ 6 des 4,0 62,00 -12,47 98,06

4 6 lig / 6 des 10,0 85,16 32,89 99,95

5 6 lig / 12 des 7,0 54,94 34,54 99,76

6 6 lig / 12 des 7,0 52,08 39,15 98,89

7 6 lig / 12 des 7,0 52,68 30,57 98,73

É possível verificar que a remoção de fósforo

foi elevada em todas as condições testadas. Tal

comportamento já era esperado, uma vez que o

alumínio dissociado durante o processo de ele-

trocoagulação pode reagir com o fosfato solúvel

presente no meio e formar complexos insolúveis,

conforme descrito na Equação 2 (MOLLAH, 2004).

Al+3 + PO4-3 AlPO4 (insolúvel) Equação 2

Lacasa (2011) também observou que pequenas

variações na densidade de corrente não resul-

tam em grandes melhorias na capacidade de

remoção de fósforo, uma vez que a dosagem de

alumínio para o meio líquido não é substancial-

mente alterada. Kim et al. (2010), ao utilizar uma

unidade de eletrocoagulação com eletrodos de

alumínio, seguida de um biorreator a membra-

na para o tratamento de efluentes domésticos,

também obtiveram remoção de fósforo próxima

a 90%. De acordo com esses autores, os compos-

tos formados possuem ampla área superficial, e,

portanto, podem ser facilmente removidos por

processos de separação de fases, tal como a fil-

tração em membranas.

Os PMS por sua vez, são produtos excretados

pela biomassa e considerados um dos principais

compostos relacionados à colmatação das mem-

branas (LIN et al., 2014). No presente estudo, é

possível verificar que a remoção de PMS obser-

vada foi satisfatória e semelhante nos ensaios

com densidades de corrente de 7,0 e 10,0 A.m-2

(Tabela 3).

Já nos ensaios em que a corrente de 4,0 A.m-2 foi

empregada, observou-se eficiência negativa, ou

seja, ocorreu o aumento da concentração após

a aplicação da corrente elétrica. Tal fato pode

estar relacionado à incapacidade do sistema de

remover o PMS adicional produzido ao longo do

ensaio, em função da baixa densidade de corren-

te aplicada. Borea, Naddeo e Belgiorno (2016)

avaliaram a aplicação de gradientes de voltagem

de 1 V/cm e 3 V/cm em um BRM e também ob-

servaram um aumento na concentração de PMS,

mensurado sob a forma de polissacarídeos, no

reator submetido à menor voltagem testada. De

acordo com estes autores, a baixa carga negati-

va dos polissacarídeos, e a consequente menor

interação com os compostos de alumínio posi-

tivamente carregados, pode estar relacionada à

menor capacidade de remoção observada.

De acordo com Jarusutthirak e Amy (2006), quan-

to maior a concentração de PMS, menor a capa-

cidade de filtração. Tal constatação também foi

observada por Wang et al. (2012) que, operan-

do dois BRM em paralelo com concentrações de

PMS variáveis, observaram que a filtrabilidade do

licor misto era prejudicada onde a concentração

de PMS era maior.

No presente estudo, é possível verificar que a

filtrabilidade do licor misto foi substancialmen-

te melhorada na maioria dos ensaios (Tabela

3). O aumento mais significativo foi observado

no ensaio 4, onde a condição operacional em-

pregada foi com maior densidade de corrente e

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menor intervalo de tempo desligado. Cabe des-

tacar que, sob tal condição, a concentração de

PMS também foi bastante reduzida. Hasan et al.

(2012), em estudo comparativo entre um BRM e

um BRM associado com o processo de eletrocoa-

gulação, também observaram comportamento

semelhante. Esses autores apontaram a elevada

concentração de PMS no licor misto do BRM con-

vencional como um dos principais fatores res-

ponsáveis pela colmatação.

Ibeid, Elektorowicz e Oleszkiewicz (2013b), apli-

cando densidades de corrente entre 15 e 35

A.m-2 e modos de exposição intermitentes, ob-

servaram uma melhoria na filtrabilidade do licor

misto de até 4,8 vezes. Tais autores afirmam que

a aplicação de correntes acima de 15 A.m-2 são

mais eficientes para o aumento da filtrabilidade

do licor misto, em função da maior capacidade

de desaguamento dos flocos sob essa condição.

Esses resultados podem explicar, em parte, o

aumento menos expressivo da filtrabilidade do

licor misto observado no presente estudo, uma

vez que a maior densidade de corrente avaliada

foi de 10 A.m-2.

3.2 Otimização das condições operacionais

Na Tabela 4 é apresentada a desejabilidade com-

binada (D) para cada condição testada, de acor-

do com o planejamento fatorial 22 previamente

realizado. A desejabilidade foi calculada com

base nos resultados apresentados na Tabela 3.

Tabela 4 - Planejamento fatorial 22 elaborado para realização dos ensaios, apresentando como resposta a desejabilidade combinada

VariávelNível

- 0 +

A. Densidade de Corrente (A.m-2) 4,0 7,0 10,0

B. Modo de Exposição (Minutos) 6 ligado / 18 desligado

6 ligado / 12 desligado 6 ligado / 6 desligado

ExperimentoVariáveis

DesejabilidadeA B A x B

1 - - + 0,01

2 + - - 0,76

3 - + - 0,67

4 + + + 0,98

5 0 0 0 0,85

6 0 0 0 0,80

7 0 0 0 0,78

É possível verificar que a maior desejabilidade foi

obtida no Ensaio 4, no qual as duas variáveis foram

testadas no nível superior (densidade de corrente

de 10,0 A.m-2 e modo de exposição de 6 ligado /

6 desligado), sugerindo que, sob essa condição,

o licor misto apresentaria maior filtrabilidade e a

remoção de fósforo seria maximizada. Entretanto,

para melhor visualização dos resultados, é apre-

sentada na Figura 2 a superfície de resposta em

função da desejabilidade combinada (D).

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Figura 2 - Superfície de resposta em função da desejabilidade combinada (D)

É possível constatar que as melhores condições

operacionais são obtidas com os níveis superiores

(+1) das duas variáveis, ou seja, com densidade de

corrente de 10,0 A.m-2 e modo de exposição de 6

min ligado / 6 min desligado. Contudo, cabe des-

tacar que o ponto de máximo de rendimento não

está contido na superfície de resposta obtida, o

que indica que um aumento nos níveis das duas

variáveis possivelmente aumentaria a eficiência

global do processo. Porém tal condição não pode

ser avaliada, uma vez que a densidade de corrente

e o modo de exposição são limitados em função

do possível efeito adverso que a exposição à cor-

rente pode exercer à biomassa.

Ao realizar um planejamento fatorial é importan-

te identificar ainda a influência que o aumento de

cada variável apresenta sobre a resposta, assim

como determinar a interação entre elas. Para esse

fim, é apresentada na Figura 3 a influência dos

efeitos principais e de suas interações por meio

do diagrama de Pareto, para um intervalo de con-

fiança de 95% (p ≤ 0,05).

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Figura 3 - Diagrama de Pareto dos efeitos padronizados para a desejabilidade combinada

A.m-2: densidade de corrente; M.E: modo de exposição; 1x2: efeito combinado

Observa-se que, apesar de a superfície de res-

posta indicar melhores rendimentos com as duas

variáveis no nível superior (Tabela 4), o único

efeito significativo no processo é o da densidade

de corrente aplicada. Ou seja, o efeito do modo

de exposição e a interação entre as variáveis

possuem pouca influência na capacidade de re-

moção de fósforo e no aumento da filtrabilidade

do licor misto.

Em função disso, buscando-se um modo de ope-

ração eficiente aliado à economia de energia,

optou-se por determinar a condição operacional

com a densidade de corrente no nível superior

(10,0 A.m-2) e o modo de exposição no nível infe-

rior (6 min ligado / 18 min desligado) como a ideal.

A condição escolhida é bastante interessante do

ponto de vista de redução do consumo energéti-

co, uma vez que diversos estudos anteriormente

realizados empregaram densidades de corren-

te superiores a 10,0 A.m-2 e modos de exposição

com menor tempo desligado (HASAN et al., 2012;

IBEID, ELEKTOROWICZ e OLESZKIEWICZ, 2013b;

HUA et al., 2015; TAGHIPOUR et al., 2016). Cabe

destacar ainda que, sob tal condição, em função

do maior tempo de intervalo sem aplicação de

corrente elétrica, os possiveis efeitos negativos a

atividade da biomassa, caso houver, serão menos

expressivos (ZEYOUDI et al., 2015).

3.3 Efeitos da aplicação da corrente elétrica na biomassa

Na Figura 4 é apresentada a TCONH4 e TCO

Heterotrófica

antes e após a aplicação da corrente elétrica, sob

as condições operacionais identificadas como

ótimas na etapa anterior.

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artigos técnicos

Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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Figura 4 - TCONH4

e TCOHeterotrófica da biomassa antes (controle) e após (eletrocoagulada) a aplicação da corrente elétrica

Verifica-se que não ocorreu variação expressiva

na TCOHeterotrófica

após o processo de eletrocoagu-

lação. Já com relação à TCONH4

foi observado um

ligeiro aumento da atividade após a aplicação da

corrente elétrica. Apesar de o aumento verifica-

do ter sido pouco expressivo, acredita-se que tal

comportamento pode estar relacionado ao fenô-

meno de eletroestimulação, o qual ocorre devido

à melhoria na capacidade de transporte de elé-

trons nas células dos micro-organismos quando

estes são submetidos à aplicação de uma cor-

rente elétrica de baixa tensão (THRASH e COATS,

2008; ZEYOUDI et al., 2015). Dessa forma, acre-

dita-se que a aplicação da corrente elétrica de

10,0 A.m-2 sob modo de exposição intermitente

de 6 min ligado / 18 min desligado pode ser rea-

lizada em BRM a fim de melhorar a filtrabilidade

do licor misto e aumentar a remoção de fósforo

do sistema, sem causar efeitos adversos à ativi-

dade da biomassa.

Wei et al. (2011), em estudo sobre a influência da

aplicação de correntes elétricas na biomassa de

um BRM, também observaram comportamento

semelhante. Segundo esses autores, a atividade

da biomassa é pouco afetada com a aplicação de

densidades de corrente de até 12,3 A.m-2. Liu et

al. (2012), em estudo comparativo entre um BRM

convencional e um BRM com aplicação de um gra-

diente de tensão variando entre 0,2 e 0,4 V, tam-

bém verificaram elevada melhora na filtrabilidade

no licor misto submetido ao processo de eletro-

coagulação, e não observaram efeitos negativos à

atividade da biomassa.

4 CONCLUSÃOA filtrabilidade do licor misto foi substancial-

mente melhorada após a aplicação da corren-

te elétrica em todos os ensaios. A remoção de

P-PO4

-3 e PMS também foi satisfatória na maioria

das condições testadas. Entretanto, nos ensaios

com a aplicação da menor densidade de corrente

ocorreu um aumento na concentração de PMS.

A partir do planejamento fatorial e dos estudos

estatísticos realizados, a condição operacional

com densidade de corrente de 10 A.m-2 e modo

de exposição de 6 min ligada / 18 min desliga-

da foi considerada a ideal para aplicação do

processo, de modo a garantir elevada eficiência

e reduzir o consumo de energia. Cabe destacar

que, sob tal condição, a atividade heterotrófica

da biomassa não foi expressivamente afetada e a

atividade autotrófica foi levemente maximizada

após a aplicação da corrente elétrica, como de-

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artigos técnicos

Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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monstram os ensaios de respirometria. Levando-

-se em consideração esses aspectos, conclui-se

que o processo de tratamento proposto pode

maximizar a remoção de fósforo e aumentar

consideravelmente a filtrabilidade do licor misto,

apresentando, portanto, elevada potencialidade

de aplicação a fim de melhorar a eficiência e a

estabilidade de BRM aplicados ao tratamento de

efluentes sanitários.

5 AGRADECIMENTOSÀ Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior (Capes) e ao Conselho Nacio-

nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq), pelo suporte financeiro.

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artigos técnicos

Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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Maria Paula Cardoso Yoshii* | Tiago Balieiro Cetrulo | Tadeu Fabrício Malheiros

Boas práticas para a universalização dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário: estudo de caso no município de Piracicaba – SPBest practices for the universalization of water supply and sewage services: a case study in the city of Piracicaba – SP

DOI: https://doi.org/10.4322/dae.2019.049

Data de entrada: 09/03/2017

Data de aprovação: 04/06/2018

Maria Paula Cardoso Yoshii – Tecnóloga em Gestão Ambiental.Doutoranda em Ciências da Engenharia Ambiental na Escola de Engenharia de São Carlos. Tiago Balieiro Cetrulo – Engenheiro Agrônomo. Doutorando em Ciências da Engenharia Ambiental na Escola de Engenharia de São Carlos – EESC/USP.Tadeu Fabrício Malheiros – Engenheiro Civil/Ambiental. Pós-Doutor em Saúde Pública naEscola de Engenharia de São Carlos – EESC/USP.*Endereço para correspondência: Av. Trabalhador São-carlense, 400 – Pq. Arnold Schimidt. CEP 13566-590 - São Carlos – SP – Brasil. E-mail: [email protected].

ResumoPara alcance progressivo da universalização, é imprescindível que os atores responsáveis pelos serviços

de abastecimento de água e esgotamento sanitário (SAA&ES) em aglomerados subnormais tomem ações

de forma conjunta e articulada. O presente trabalho apresenta um estudo de caso para identificar essas

práticas no município de Piracicaba, SP. No município existem muitos aglomerados subnormais, porém o

acesso aos SAA&ES está próximo a 100%. Das práticas reveladas, destaca-se a vontade política por parte

do governo municipal, principalmente pelo fato de não ser obrigatória a regularização fundiária para aces-

so aos SAA&ES. Porém outras práticas também foram identificadas como essenciais, como a atuação da

Agência Reguladora, as práticas de governança para provimento dos SAA&ES em aglomerados subnormais

e o monitoramento da situação por departamento especializado. Os resultados apresentam práticas que

podem ser adotadas ou adaptadas por outros municípios que convivem com os aglomerados subnormais.

Palavras-chave: Saneamento. Vulnerabilidade social. Desenvolvimento sustentável.

AbstractIn order to achieve universalization progressively, it is imperative that the actors responsible for water sup-

ply and sewage services (WS&SW) in subnormal slum take joint and articulated actions. The present work

presents a case study in the city of Piracicaba, SP, in which there are many subnormal slum, but WS&SW are

close to 100%. Of the revealed practices, the political will is emphasized by the municipal government, main-

ly due to the fact that land regularization for access to WS&SW is not mandatory. However, other practices

have also been identified as essential, such as the Regulatory Agency's performance, governance practices for

WS&SW in subnormal clusters, and monitoring of the situation by a specialized department. The results pres-

ent practices that could be adopted or adapted by other municipalities that coexist with the subnormal slum.

Keywords: Sanitation. Social vulnerability. Sustainable development.

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artigos técnicos

Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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1 INTRODUÇÃOOs instrumentos formais e as políticas que sus-

tentam o parcelamento, ocupação do solo e

práticas urbanísticas para o acesso à moradia

atendem somente parte das necessidades reais.

Dessa forma, são geradas soluções habitacionais

de baixa qualidade e escasso grau de integração

com a infraestrutura urbana básica. Esses aspec-

tos, atrelados aos níveis de desemprego no país,

direcionam a população a ocupar terras ociosas,

geralmente em áreas de risco, gerando assenta-

mentos insalubres e sem qualquer infraestrutura

urbana (GROSTEIN, 2001; BARBOSA et al, 2014).

Dados do Censo de 2010 (IBGE, 2010) mostram que

o número de brasileiros vivendo em aglomerados

subnormais1 passou de 6,5 milhões no ano 2000

para 11,4 milhões em 2010. Um dos problemas no

Brasil é que o déficit nos Serviços de Abastecimento

de Água e Esgotamento Sanitário (SAA&ES) apre-

senta-se com maior evidência nas áreas periféricas

dos centros urbanos e nas zonas rurais, onde se con-

centra a população mais pobre (GALVÃO JUNIOR;

PAGANINI, 2009; HELLER, 2012). Dessa forma, a fal-

ta de acesso ao saneamento em aglomerados sub-

normais é recorrente, sendo que a insuficiência de

acesso indica um dos primeiros sinais da vulnerabi-

lidade dessas populações (GUIMARÃES et al., 2015).

O atendimento insuficiente de SAA&ES em aglo-

merados subnormais pode ser atribuído ao difícil

acesso, à situação econômica social da popula-

ção, à condição irregular das áreas, às restrições

ambientais (KAYAGA et al, 2003; KAYAGA & FRAN-

CEYS, 2007) e à falta de mecanismos legais que

permitam às prestadoras atenderem essas áreas

(SMITH, 2004; KYESSI, 2005; SCHWARTZ, 2008;

FRANCEYS & GERLACH, 2011).

Para superar esses obstáculos, é primeiramente

importante identificá-los adequadamente, para

que posteriormente todos os atores envolvidos

na provisão desses serviços desenvolvam pro-

gramas, projetos e ações específicas de forma

conjunta e articulada. Essas práticas devem inte-

grar as dimensões sociais, ambientais, econômi-

cas e técnicas, buscando eficiência, efetividade,

eficácia e transparência (WARTCHOW, 2009).

Na literatura especializada sobre a prestação de

SAA&ES para aglomerados subnormais, foi pos-

sível identificar que as práticas dos atores en-

volvidos são agrupadas em cinco dimensões (ver

Figura 1): Capacidade, Colaboração, Ferramentas,

Sustentabilidade e Provisão dos serviços (RALDA,

2010; BARBOSA, 2010; MURUNGI, 2011; NDLO-

VU, 2011; TEMÓTEO, 2012).

1 Segundo definição do IBGE, aglomerados subnormais são classificados como “um conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habita-cionais (barracos, casas) carentes, em sua maioria de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa”.

Figura 1: Dimensões das boas práticas visando o atendimento dos SAA&ES em aglomerados subnormais, suas interações e atores responsáveis.

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artigos técnicos

Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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Para esses autores, as práticas da dimensão ‘Ca-

pacidade’ são de responsabilidade do governo e

das operadoras. O governo necessita apresentar

iniciativa política e apoiar os atores diretamen-

te relacionados à prestação desses serviços. Es-

sas características se dão por meio da adoção de

objetivos específicos para o fim, elaboração de

planos e alocação de recursos financeiros e hu-

manos. Numa perspectiva do governo mais local,

essas práticas estão ligadas à elaboração e aplica-

ção de legislação e políticas, além da implantação

de sistemas de monitoramento dos resultados. A

práticas relacionadas à ‘Capacidade’ das opera-

doras de saneamento estão atreladas à adoção de

estratégias para a promoção desses serviços em

áreas pobres, considerando a alocação de recur-

sos humanos, tecnológicos e financeiros (RALDA,

2010; BARBOSA, 2010; TEMOTEO, 2012).

Das práticas de ‘Colaboração’, dois aspectos

principais são incluídos: a participação do usuá-

rio, fazendo com que o processo de provisão seja

rápido e adequado para atender aquela determi-

nada área, e a colaboração entre agências, que

permite trocas de experiências, diálogos e co-

nhecimentos (TEMOTEO, 2012; NDLOVU, 2011).

No que diz respeito às práticas da dimensão ‘Ferra-

mentas’, identificam-se três conjuntos de práticas.

Um relacionado ao mapeamento geográfico dos

aglomerados, contando com informações corretas

para o diagnóstico e análise da situação da área.

Outro ligado aos instrumentos financeiros volta-

dos para a provisão dos SAA&ES em áreas pobres,

mais especificamente a aplicação de tarifas sociais

e menores taxas de conexão. E o último relacionado

às tecnologias desenvolvidas ou adaptadas exclusi-

vamente para o atendimento das necessidades das

populações em aglomerados subnormais (RALDA,

2010; BARBOSA, 2010; MURUNGI, 2011; NDLOVU,

2011; TEMÓTEO, 2012).

Ao abordar as práticas de sustentabilidade, os

autores apresentam como essenciais: a cons-

cientização das pessoas em termos de melhores

práticas de higiene; o desenvolvimento de ativi-

dades econômicas relacionadas à água; a gestão

dos sistemas de AA&ES no enfrentamento de

catástrofes, como secas e inundações; e a adap-

tação dos serviços às mudanças climáticas (RAL-

DA, 2010; TEMÓTEO, 2012).

A dimensão ‘Provisão de serviços’ trata de dois

conjuntos de práticas. O Primeiro aborda a quali-

dade dos SAA&ES, considerando que os serviços

de abastecimento de água potável devem abran-

ger as necessidades básicas de consumo, higiene,

limpeza e até mesmo uma atividade econômica,

como produção agrícola. Esse serviço ainda deve

ser prestado de forma contínua e sem interrup-

ções. O segundo conjunto está relacionado à co-

bertura de atendimento nos aglomerados, sendo

que o aumento da quantidade de pessoas aten-

didas pelos serviços traz benefícios à saúde des-

sas pessoas, reduzindo a transmissão de doenças

causadas pelas ausências desses serviços (RAL-

DA, 2010; BARBOSA, 2010; TEMOTEO, 2012).

Portanto, a literatura sobre o assunto já identi-

ficou várias práticas que auxiliam os governos e

as operadoras a fornecer os SAA&ES aos aglo-

merados subnormais. Dessa forma, é importante

que sejam realizados estudos de casos nos mu-

nicípios que possuem aglomerados subnormais

visando identificar as práticas que atualmente

são utilizadas, tanto visando identificar poten-

cias práticas a serem implantadas como para

explicitar os mecanismos e processos ligados às

práticas já implantadas.

2 OBJETIVO O presente trabalho tem como objetivo realizar um

estudo de caso no município de Piracicaba - SP para

apresentar as práticas que promovem a provisão dos

serviços de abastecimento de água e esgotamento

sanitário em seus aglomerados subnormais.

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Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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3 MÉTODO 3.1 Descrição do local

O município de Piracicaba pertence à Bacia Hi-

drográfica dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí,

no Estado de São Paulo. Destaca-se pela quanti-

dade de aglomerados subnormais presentes, 25

no total (IBGE, 2010). Segundo o Índice Paulista

de Vulnerabilidade Social (IPVS), 21,2% da popu-

lação de Piracicaba vivia em estado de vulnera-

bilidade social (IPVS, 2010).

Figura 2: Mapa do município de Piracicaba destacando os aglomerados subnormais em 2010. Elaborado pelos autores.

Com uma população de 391.449 habitantes (IBGE,

2015), o município de Piracicaba, no ano de 2013,

obteve um PIB per capita de R$ 52.619,75, ocu-

pando o 52º lugar na classificação geral do Estado

de São Paulo e um IDH-m de 0,785 (IBGE, 2010,

2015). Em relação ao saneamento, os serviços de

abastecimento de água e esgotamento sanitário

atendiam a 99% da população (SNIS, 2015).

Segundo o Plano Diretor Municipal de Piracicaba

de 2013, o município conta com um total de 42

áreas em situação de ocupação irregular, sendo

essas áreas, na maioria dos casos, áreas de pre-

servação permanente (APP), áreas verdes e áreas

institucionais. Dados do relatório da Empresa

Municipal de Desenvolvimento Habitacional de

Piracicaba (EMDHAP) mostram que, em 2015, um

total de 4.136 famílias faziam parte desses aglo-

merados e foram atendidas por meio de reurba-

nização de áreas, que promoveram o acesso aos

serviços públicos, sendo um deles os serviços de

saneamento (EMDHAP, 2015, pág. 73).

3.2 Procedimentos metodológicos

Uma vez que as práticas que promovem o acesso

aos SAA&ES nos aglomerados subnormais po-

dem ser derivadas de diversos atores de um mu-

nicípio, para o levantamento e seleção dos ato-

res utilizou-se a metodologia IEAc (Método de

Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva),

que é uma ferramenta importante de auxílio na

tomada de decisão utilizada na área de gestão,

principalmente empresarial, visando apoiar o

processo decisório organizacional, identificando

ameaças ou oportunidades (JANISSEK-MUNIZ et.

al, 2005; FERREIRA et. al, 2013).

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O início da aplicação do método se deu com a

fase da escolha do Domínio de aplicação, ou seja,

a identificação do problema e a definição dos

atores e temas que foram focos de atenção na

análise (Alvos). Para seleção dos atores relevan-

tes, criou-se uma matriz Ator x Tema, que auxi-

liou o mapeamento de informações que deram

suporte às interpretações pertinentes ao objeti-

vo da pesquisa.

Para o preenchimento da matriz, primeiramente

foi delimitado o tema chave da pesquisa: acesso

aos serviços de água e esgoto em aglomerados

subnormais. Dentro do tema, subtemas foram

delimitados: abastecimento de água, esgota-

mento sanitário, habitação e aglomerados sub-

normais. Para o levantamento dos atores munici-

pais, o site da Prefeitura Municipal de Piracicaba

foi consultado. Feito isso, a matriz foi preenchi-

da, seguindo as orientações do método IEAc.

A aplicação do método possibilitou diversos ar-

ranjos entre atores e o tema. Entretanto, apenas

os atores que apresentaram atividades direta-

mente ligadas ao tema foram selecionados, to-

talizando sete. Após a seleção, contatos telefôni-

cos foram realizados. Nesses contatos, o objetivo

da pesquisa foi apresentado e, ao final do conta-

to, questionado se o ator tinha alguma ativida-

de ligada ao tema. Dos sete atores previamente

levantados, apenas a Secretaria Municipal de

Obras não foi selecionada para dar continuidade

à coleta de dados.

Os atores selecionados para a pesquisa foram: a

Secretaria de Desenvolvimento Social (SEMDES),

representada pela diretora e suas assistentes so-

ciais; a Empresa Municipal de Desenvolvimento

Habitacional de Piracicaba (EMDHAP), represen-

tada pela diretora e gerentes; o Instituto de Pes-

quisas e Planejamento de Piracicaba (IPPLAP),

representada pelo gerente de monitoramento;

o Serviço Municipal de Água e Esgoto de Piraci-

caba (SEMAE), representado pelos diretores de

abastecimento de água e esgotamento sanitário

e assistentes sociais; a Empresa Águas do Miran-

te, representada pelo responsável pelos serviços

de esgotamento sanitário; a Agência Reguladora

PCJ (ARES PCJ), representada pelo gerente res-

ponsável da região; e lideranças comunitárias

dos aglomerados subnormais.

Com base nas dimensões das práticas, expos-

tas na seção de introdução, foi realizada uma

adaptação à realidade brasileira, visando a que

as dimensões fossem específicas ao acesso aos

SAA&ES, em uma perspectiva da promoção gra-

dual da universalização. Para essa adaptação

foram utilizados os trabalhos IWA (2004), Ralda

(2010), Barbosa (2010), Murigi (2011), Ndlovu

(2011), Temoteo (2012), Rasera (2014), Calderón

(2014), Oduro-Kwarteng et al. (2015); IBNET

(2014) e Muringi & Blokland (2016).

Dessa forma, as dimensões com seu conjunto de

práticas adaptados para realidade brasileira es-

tão destacadas no Quadro 1 e explicadas no tex-

to que segue.

Quadro 1: Dimensões e conjunto de práticas para promoção da universalização

Dimensões Conjunto de práticas

Capacidade

Planejamento e Capacidade

Políticas Governamentais

Incentivos e Suporte Governamental

ColaboraçãoEnvolvimento e Participação Social

Colaboração interagência

Provisão dos serviçosPlanejamento

Inovação e Aprendizado

Ferramentas Monitoramento

Algumas adaptações foram realizadas na di-

mensão ‘Capacidade’. Para o caso brasileiro, ela

é compartilhada pelo governo local, operadora

e reguladora. Também foi necessário dividi-las

em três conjuntos de práticas: a) Planejamento

e capacidade: conjunto de práticas que dizem

respeito aos instrumentos que os três atores uti-

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lizam nas fases de planejamento e execução de

longo, médio e curto prazos para a provisão dos

SAA&ES em áreas pobres; b) Políticas governa-

mentais: práticas relacionadas às legislações,

políticas, planos, programas e objetivos elabo-

rados e aplicados na provisão dos SAA&ES; c)

Incentivos e Suporte Governamental: incentivos

financeiros ou de pessoal capacitado, na provi-

são dos SAA&ES em áreas de pobreza.

Na dimensão ‘Colaboração’, não houve mudan-

ças significativas. Somente foi inserida a nomen-

clatura Envolvimento e Participação Social para

representar os aspectos de governança, relacio-

nada à maior presença da população interessada

nas decisões com o governo e a operadora. A co-

laboração interagências demonstra a capacida-

de dos atores operarem em redes de cooperação.

As alterações na dimensão ‘Provisão dos servi-

ços’ levaram a uma divisão entre dois conjuntos

de práticas: a) Planejamento: da operadora e

reguladora para promover novas ligações e re-

des, reforma das redes existentes e expansão em

aglomerados subnormais; e b) Inovação e Apren-

dizado: novas tecnologias desenvolvidas ou pro-

cessos que foram adaptados para a provisão dos

SAA&ES para aglomerados subnormais e como

estes podem ser disseminados.

Na dimensão ‘Ferramenta’, as alterações neces-

sárias levaram a se criar somente um conjunto de

práticas relacionado ao monitoramento do pro-

blema nos municípios, abrangendo localização

das áreas, os perfis socioeconômicos e a situação

fundiária das áreas.

Utilizando essas dimensões e seus conjuntos de

práticas, foi formulado um questionário para

identificar quais práticas, os atores relacionados

aos SAA&ES, adotam para o município de Piraci-

caba. Esses questionários foram aplicados, em sua

maioria, em reuniões presenciais, totalizando 11

visitas ao município, além de telefonemas e troca

de e-mails. Foram realizados contatos somente

com as lideranças dos aglomerados Algodoal e

Bananal, porém os dados referentes às práticas de

colaboração foram complementados pelos CRAS

responsáveis pelos demais aglomerados.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO4.1 Práticas da Agência Reguladora

A Agência incentiva todos os municípios pelos

quais é responsável a instituir, por meio de leis

municipais, as denominadas tarifas sociais. A

questão da pobreza na definição das tarifas é um

compromisso assumido pelas agências regula-

doras, pela Lei 11.445/07, para que haja a mo-

dicidade nas tarifas públicas de água e esgoto,

porém sem comprometer a sustentabilidade e a

qualidade dos serviços prestados à população e

ao meio ambiente. Salienta-se que a Reguladora

ainda não utiliza incentivos para universalização

em sua metodologia para Reajuste e Revisão de

Tarifas, o que poderia ser uma estratégia interes-

sante para o fim (ARESPCJ, 2016).

Além disso, a Agência monitora a qualidade de

todos os sistemas de abastecimento de água e de

esgotamento sanitário públicos prestados pelas

concessionárias, autarquias ou departamentos

das diversas prefeituras associadas, indistinta-

mente de qual seja o setor ou bairro a que per-

tença, garantindo a qualidade dos serviços. Esse

monitoramento e fiscalização são realizados por

meio de relatórios mensais, semestrais e anuais,

além das vistorias programadas ou não. Enten-

de-se que somente a tarifa social não é suficien-

te para garantir a universalização dos SAA&ES,

porém é uma prática que facilita o acesso (VAR-

GAS e DE LIMA, 2004). Da Motta (2006) defen-

de ainda que, ao fornecer tarifa social aos mais

pobres, o retorno financeiro auxilia na expansão

de redes de cobertura, manutenção e melhora-

mentos. Por fim, Andrade e Lobão (1996), em um

de seus casos de estudo, demonstraram que ao

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conceder o subsídio houve um acréscimo no nível

de bem-estar social dos usuários de baixa renda.

A Agência Reguladora não imputa penalidades

ou sanções pelo não cumprimento de metas para

universalização2. Em muitos casos, recomenda a

realização de adequações das metas, acompa-

nhando também o desenvolver do espaço urba-

no, suas ocupações e o plano diretor do municí-

pio. Essa prática de monitoramento da qualidade

dos serviços de água e esgoto não é exclusiva

para as áreas com a presença de aglomerados

subnormais, mas é uma ação realizada que vem

trazendo retorno.

4.2 Práticas do Serviço Municipal de Água e Esgoto de Piracicaba – SEMAE

A autarquia é responsável pelos serviços de água

do município. O serviço de esgotamento sani-

tário foi concedido a uma terceira empresa pri-

vada por meio de uma parceria público privada

(PPP). Atualmente, atende a 99,8% da população

do município com uma rede de 2.980,12 km de

extensão, sendo 1.619,26 km de redes de água e

1.359,86 km de redes de esgoto.

Das práticas de ‘Planejamento e capacidade’,

apenas a prática de capacidade de diálogo com

os aglomerados é realizada pela operadora por

meio do departamento de assistência social, mas

deve ser ressaltado que todo contato entre a

operadora e a população dos aglomerados é rea-

lizada, na maioria das vezes, por meio da SEM-

DES; as outras práticas não foram identificadas.

A prática de monitoramento é exclusivamente

realizada pelo IPPLAP, um braço do governo mu-

nicipal, responsável por todo o monitoramento

espacial e territorial do município, que, periodi-

camente, atualiza suas bases de dados e repassa

aos demais setores do município. Por parte da

operadora SEMAE, nenhum desses monitora-

mentos é realizado. No que tange à necessidade

da regularização fundiária da área para a cone-

xão à rede de água, a operadora SEMAE exige

em casos de novos loteamentos a regularização,

mas ao se tratar de aglomerados subnormais,

primeiro são levados os serviços de água e esgo-

to e, posteriormente, a área é regularizada. Essa

é uma prática exclusiva da EMDHAP, responsá-

vel pelas habitações sociais do município, que

primeiramente urbaniza as áreas levando água,

esgoto, energia elétrica e asfalto e, após a urba-

nização, entra com o processo de regularização

da área. É uma prática diferenciada do municí-

pio de Piracicaba, uma vez que a necessidade da

regularização fundiária da área para a conexão à

rede de água e esgoto é normalmente uma exi-

gência, que impede a atuação de prestadores

em áreas invadidas de outros municípios (GUI-

MARÃES, 2015).

Dos incentivos da operadora, nenhum deles é ex-

clusivamente voltado para os aglomerados. Toda

a população pode pedir descontos ou facilidades

em taxas de ligações, bem como consentimento

da tarifa social; nesse último caso, uma pesquisa

socioeconômica é realiza e, caso o proponente

atenda aos requisitos, a tarifa lhe é concedida.

Práticas de ‘Incentivos e tecnologias’ não são

aplicadas pela operadora SEMAE.

A partir da identificação das práticas utilizadas

pela operadora, fica evidenciado o cumprimen-

to de alguns dos fatores de sucesso trazidos por

Ralda (2010) para a provisão dos SAA&ES em

aglomerados subnormais. São eles: Participação,

2 Conforme a lei 11.445/07, cabe à reguladora editar as normas relativas às dimensões técnica, econômica e social de prestação dos serviços, que abrangerão, pelo menos, os seguintes aspectos: I - padrões e indicadores de qualidade da prestação dos serviços; (...) III - as metas pro-gressivas de expansão e de qualidade dos serviços e os respectivos prazos; (...) VII - avaliação da eficiência e eficácia dos serviços prestados; (...) IX - subsídios tarifários e não tarifários; X - padrões de atendimento ao público e mecanismos de participação e informação, entre outros.

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envolvimento e apropriação por meio do diálo-

go com a população; Mecanismos financeiros na

oferta da tarifa social e Governança nas ações de

regularização e expansão dos serviços.

4.3 Práticas da Empresa Águas do Mirante, operadora de esgotamento sanitário

A empresa Águas do Mirante deu início a suas

atividades no município no ano de 2012, após a

assinatura do contrato de parceria público pri-

vada. Por ser diretamente subordinada à SEMAE,

não possui nenhuma das práticas assinaladas

no questionário. No contrato de prestação de

serviços não existe exigência de que a área seja

regularizada para ser atendida pelo serviço de

esgoto, bem como não existem facilidades para

novas conexões de rede, tarifa social ou diálogo

com a população.

4.4 Práticas do Governo municipal

São três órgãos do governo municipal que estão

relacionado aos SAA&ES em aglomerados sub-

normais. A EMDHAP tem como objetivo possibi-

litar o acesso à moradia digna para a população

de baixa renda por meio da diminuição do custo

da habitação popular por meio de construção

de casas, viabilização de infraestrutura de lotes

urbanizados, regularização fundiária e progra-

mas habitacionais. A SEMDES executa a Política

Nacional de Assistência Social – PNAS por meio

do desenvolvimento de programas nacionais

e estaduais, bem como de vários projetos em

parceria com entidades sociais do município. A

SEMDES conta com sete Centros de Referência

de Assistência Social (CRAS), distribuídos em lo-

cais estratégicos do município. Esses centros re-

cebem os moradores das comunidades e orien-

tam desde seu cadastramento até a inclusão em

programa de auxílios sociais e oferecem serviços.

O último órgão é o IPPLAP, responsável pelo mo-

nitoramento espacial e territorial do município.

Da dimensão ‘Políticas governamentais’, so-

mente a prática de alocação de recursos hu-

manos para a provisão dos serviços de água e

esgoto para os aglomerados é realizada pelos

atores. Os atores não possuem concretamente

planos, metas, objetivos e orçamentos destina-

dos aos SAA&ES específicos para aglomerados

subnormais. Porém, quando o município é con-

templado com programas de habitações sociais

federais e ou estaduais, existe um planejamento

para alocação do recurso. Importante salientar

que todos os processos de urbanizações nos

aglomerados foram realizados com recursos fe-

derais e estaduais. Chama atenção que o Plano

Municipal de Saneamento Básico (PMSB) escon-

de o problema da universalização, uma vez que

na elaboração dos objetivos e metas somente

são consideradas as áreas regularizadas, que

apresentam 100% de cobertura.

Nessa dimensão ainda se destaca a participação

de todas as partes interessadas na elaboração de

metas do saneamento, o fato de ter uma empre-

sa empenhada somente no tema, facilita a dis-

cussão da problemática, elaboração de projetos

para reurbanização e resolução das situações.

Para o sucesso dessa prática, existe a integra-

ção entre os demais órgãos do governo, como

o IPPLAP, que ao realizar seus monitoramentos

e estudos das áreas repassam as informações à

EMDHAP e à SEMDES por meio das assistências

sociais e diálogo com a população. Todos esses

atores trabalham de forma sinérgica para alcan-

çar a universalização do saneamento básico no

município. A integração com as empresas ope-

radoras dos SAA&ES só é realizada no momento

das obras de reurbanizações.

Dos ‘Incentivos governamentais’, existem pro-

gramas de subsídios para habitações sociais, nos

editais referentes a esse subsídio é admitido um

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percentual de até 15% para famílias provenien-

tes de assentamento irregular, de famílias desa-

brigadas por motivos de risco ou outros motivos

justificados em projetos de regularização fun-

diária (EMDHAP, 2015). Outro subsídio é o paga-

mento de faturas dos SAA&ES em atraso: quan-

do existe a necessidade, o morador que está com

sua conta de água e esgoto atrasada recorre ao

fundo da prefeitura, por meio do SEMDES. Os dé-

bitos são quitados, evitando assim a suspensão

dos serviços por falta de pagamento, podendo

ser utilizado uma única vez.

Após a urbanização da área, a EMDHAP entra

com o processo de regularização fundiária. Ao

contrário dos demais municípios, a EMDHAP se-

gue o caminho inverso: primeiro é urbanizado

e posteriormente é regularizado. Essa prática

vem se mostrando eficiente no município, uma

vez que a população é atendida pelos serviços

de água, esgoto, calçamento e energia elétrica,

dando dignidade a essa população e diminuindo

os casos de ligações clandestinas.

Tanto o SEMDES e os CRAS como a EMDHAP con-

tam com um grupo de assistentes sociais que au-

xiliam os moradores dessas áreas, seja no preen-

chimento do cadastro único, auxílio na resolução

de conflitos familiares ou no acompanhamento

de crianças e jovens em idade escolar. Oferece

também assessoria às áreas que pretendem for-

mar representações comunitárias para auxiliar

no diálogo com o governo. Dessa forma, conclui-

-se que o SEMDES e a EMDHAP trabalham em

conjunto na prática de fortalecimento de repre-

sentações comunitárias para auxiliar no diálogo

com o governo. A população é o usuário final res-

ponsável pela estimulação da melhoria contínua

da prestação dos serviços.

Subsídios para as operadoras de água e esgoto e

investimentos em pesquisas e tecnologias não são

práticas utilizadas pelos atores governamentais.

O IPPLAP responde exclusivamente pelas prá-

ticas de monitoramento governamental. Das

práticas levantadas no questionário, todas são

aplicadas pelo ator, tendo o município uma base

de dados sólida e atualizada periodicamente,

em torno de uma vez por mês ou mais, quando

há necessidade.

Por fim, vale ressaltar a atuação da Procuradoria

Geral do município. Desde o ano de 1993, quan-

do foi protocolada a Ação Civil Pública Ambien-

tal, que pedia o atendimento em 100% dos ser-

viços de água e esgoto para população, busca

um diálogo, principalmente, junto aos prefeitos

das respectivas gestões e negociações para o

seu cumprimento. Durante esses 24 anos de

negociações, o pedido feito na ação vem sendo

atendido e ajustado conforme as necessidades.

Parte das práticas adotadas pelo governo mu-

nicipal são frutos do diálogo e acordos entre a

Procuradoria e o Governo. Esse acompanha-

mento gerou melhorias ao município, além das

que já eram reclamadas na Ação Civil Pública,

como a construção de novas estações de trata-

mento de água e de esgoto e um monitoramen-

to rígido da qualidade dos serviços prestados a

toda população.

4.5 Práticas das Lideranças comunitárias dos aglomerados subnormais

Por parte da população, representada pelas lide-

ranças comunitárias, apenas a prática de forma-

ção e fortalecimento foi identificada. Mesmo com

mecanismos e incentivos por parte de órgãos do

governo municipal, a adesão por parte de todos

os aglomerados subnormais ainda é baixa. Cabe

salientar que, mesmo com as lideranças, existe

uma necessidade de consolidação do diálogo,

de forma que haja uma maior participação nas

discussões de planejamento, programas e obje-

tivos, aproximando esses instrumentos da reali-

dade e necessidades dessa população.

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As lideranças entrevistadas levantaram a comu-

nicação e a participação dos demais moradores

como um dos maiores problemas, uma vez que

nem todos são conscientes das necessidades de

uma organização consolidada com diálogo aber-

to. Os moradores somente buscam as lideranças

quando existe um problema específico consigo

ou seu domicílio.

Por parte dessas organizações, não foram neces-

sárias pressões ao governo para a urbanização e

regularização das áreas, uma vez que isso já es-

tava sendo discutido pela EMDHAP. Todos os ser-

viços levados pela urbanização são devidamente

utilizados, a população se comprometeu com a

utilização adequada dos serviços, havendo casos

de denúncias quando qualquer serviço é utili-

zado clandestinamente. Segundo os relatos, a

urbanização trouxe aos moradores dignidade e

sentimento de pertencimento, o que os faz pre-

servar seu local de moradia.

4.6 Arranjo institucional

Abordando o arranjo institucional adotado pelo

município, a cada ator é atribuída uma respon-

sabilidade para a provisão dos serviços de água e

esgoto para a população, de forma que cada um

responda por sua área de atuação e especialida-

de. Tomando como exemplo a EMDHAP, que é a

empresa do município responsável por promover

a habitação digna para a população em aglome-

rados subnormais, após receber a demanda da

própria população e, em alguns casos da SEM-

DES, cabe a ela a estruturação de projetos de ur-

banização, viabilizar o melhor local de execução

das obras com o auxílio do IPPLAP, a busca por

recursos financeiros. Após a captação dos recur-

sos, o projeto é repassado para o SEMAE e para

empresa Águas do Mirante, que executam a obra

em conjunto. A Figura 3 apresenta um esquema

dessa integração das responsabilidades de cada

ator na execução das práticas.

Mesmo com a identificação e os resultados das

práticas empregadas pelos atores, esperava-se

uma maior integração no desempenho dos pa-

péis. É visível que cada órgão executa bem seu

trabalho em prol de um objetivo em comum – a

provisão dos serviços de saneamento para os

aglomerados subnormais –, mas fica evidente,

também, que essas interações poderiam ser me-

lhor fortalecidas, de forma que todos os atores

trabalhem juntos, desde o planejamento, a busca

de recursos, a implementação dos planos e pro-

jetos e até mesmo em ações de prevenção para

a não ocupação de áreas sem estrutura urbana

básica. Exemplo da necessidade de uma maior

integração entre os atores é a elaboração do Pla-

no Municipal de Saneamento Básico, elaborado

e publicado em junho de 2010 pelo SEMAE, onde

são apresentadas apenas metas para a melhoria

dos serviços já prestados, não prevendo novas

instalações para as áreas com aglomerados sub-

normais. Outro exemplo é o contrato de parce-

ria público-privada entre o SEMAE e a Empresa

Águas do Mirante, em que não constam cláusu-

las sobre universalização e atendimento à popu-

lação dos aglomerados subnormais.

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Figura 3: Interação entre os atores e práticas para o atendimento dos SAA&ES em aglomerados subnormais no município de Piracicaba.

5 CONCLUSÕES Entre os atores levantados, o governo municipal

é o que apresenta maior utilização de práticas

que promovem o acesso aos SAA&ES em aglo-

merados subnormais. O governo busca articular

seus órgãos e os demais atores, destacando-se

a vontade política para buscar financiamentos

para a urbanização dos aglomerados subnormais

e a regularização dessas áreas. A estrutura go-

vernamental permite que os atores não depen-

dam de outros setores da prefeitura, facilitando

o processo de análise das áreas, bem como a ela-

boração de projetos para busca de financiamen-

to dos mesmos.

Em relação à operadora, destacam-se a neces-

sidade de uma maior vontade política interna

e um papel mais consolidado na provisão dos

SAA&ES em aglomerados subnormais. É neces-

sário que esses fatores sejam inseridos em seu

planejamento e que programas e projetos sejam

estabelecidos para alcance da universalização

dos serviços.

A reguladora exerce um papel importante ao exi-

gir a existência da tarifa social e ao fiscalizar e

monitorar os SAA&ES, inclusive para áreas com

aglomerados subnormais do município.

Os resultados mostraram que não existe neces-

sidade de adotar todas as práticas para acesso

dos SAA&ES nos aglomerados subnormais, mas

que a vontade política e a instrumentalização

dela são essenciais para vencimento do proble-

ma e alcance progressivo da universalização do

saneamento. É importante registrar que a área

de estudo, mesmo com um grande número de

aglomerados, no contexto da Bacia em que se

encontra, dispõe de certos privilégios econômi-

cos e financeiros. A aplicação das práticas ma-

peadas fora facilitada devido a essas vantagens.

É possível que outros municípios, em um proces-

so de aprendizado, adotem essas práticas, mas

deve-se respeitar todo o contexto em que o mes-

mo se insere, bem como a disponibilidade de in-

vestimentos, pessoal capacitado, as integrações

dos atores e arranjos políticos. Nesse sentido,

recomenda-se que outros estudos de caso sejam

realizados para que os aprendizados possam ser

compartilhados e o processo de aprendizado fa-

voreça a universalização dos SAA&ES no Brasil.

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Por fim, os autores sugerem futuros estudos ob-

jetivando a identificação das práticas utilizadas

pelos atores dos municípios, não somente da

Bacia ou do Estado, mas do Brasil. E, que a partir

desses novos dados, novas práticas sejam iden-

tificadas, as práticas existentes sejam aprimo-

radas e que um protocolo ou manual de práticas

que promovem a provisão dos serviços de abas-

tecimento de água e esgotamento sanitário para

aglomerados subnormais seja criado e difundido

pelo país, levando não somente esses serviços,

mas todos os serviços de infraestrutura urbana

básica e dignidade para essa população.

6 AGRADECIMENTOSOs autores agradecem à Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pro-

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artigos técnicos

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artigos técnicos

Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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Rodrigo Custodio Urban | Ricardo de Lima Isaac | Dione Mari Morita

Uso benéfico de lodo de estações de tratamento de água e de tratamento de esgoto: estado da arteBeneficial use of sludge from water and sewage treatment plants: state of the art

DOI: https://doi.org/10.4322/dae.2019.050

Data de entrada: 30/05/2017

Data de aprovação: 04/06/2018

Rodrigo Custodio Urban – Engenheiro Ambiental e Mestre em Engenharia Civil e Ambiental pela Unesp. Doutor em Engenharia Civil pela Unicamp. Professor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de Ciências Exatas, Ambientais e de Tecnologia, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sistemas de Infraestrutura Urbana. Ricardo de Lima Isaac – Engenheiro Civil pela Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp. Mestre em Engenharia Hidráulica e Sanitária pela Escola Politécnica da USP. Doutor em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos da USP. Livre-docente em Engenharia Civil pela Unicamp. Professor Associado do Departamento de Saneamento e Ambiente da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp.Dione Mari Morita – Engenheira Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie. Doutora em Engenharia Hidráulica e Sanitária pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Livre-docente em Engenharia Ambiental pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Professora Associada do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.*Endereço para correspondência: Rua Professor Doutor Euryclides de Jesus Zerbini, 1516, Prédio H12. Pq. Rural Fazenda Santa Cândida, Campinas - SP / CEP: 13087-571. E-mail: [email protected].

ResumoEspecialistas atualmente concordam que a abordagem tradicional de gerenciamento de resíduos sólidos com foco

no final da etapa do processo produtivo (abordagem linear) não é suficiente num cenário com restrição cada vez maior

de recursos naturais e financeiros. Assim, as novas estações de tratamento de água (ETAs) e de esgoto (ETEs) devem

ser projetadas levando em consideração a prioridade na gestão e no gerenciamento dos resíduos sólidos, preconi-

zada pela política brasileira, da Europa, do Japão e da China: a não geração, a redução, a reutilização, a reciclagem, o

tratamento dos lodos e a disposição final apenas dos rejeitos. Para as ETAs e ETEs existentes, usos benéficos devem

ser priorizados sobre as formas de transferência ou de disposição final. Neste artigo, diversos usos de lodos de ETAs

e ETEs são apresentados e discutidos em relação ao seu potencial de aplicação. Conclui-se que a maioria das pes-

quisas é realizada em escala de laboratório e não se avalia a viabilidade ambiental. Nos países em desenvolvimento,

ainda é incipiente o uso de lodos, o que não acontece nos desenvolvidos, que tornaram o uso benéfico uma realida-

de há mais de uma década. É importante destacar também que não basta verificar a viabilidade técnica e ambiental

do uso pretendido para que ele seja aplicado em escala real, pois os problemas logísticos, a relação custo-benefí-

cio e o atendimento aos interesses e restrições de cada ator envolvido no processo influenciam significativamente.

Palavras-chave: Resíduos de tratamento de água. Resíduos de tratamento de esgoto. Reúso de lodo. Resíduos

sólidos. Gerenciamento integrado de resíduos.

AbstractExperts currently agree that the traditional approach to solid waste management focused on the end of the productive

process step (linear approach) is not good enough in a scenario of high scarcity of natural and financial resources. Thus,

new water and sewage treatment plants (WTP and STP) should be designed taking into account priority regarding solid

revisão de literatura

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128 Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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1 INTRODUÇÃOA captação, o tratamento e a distribuição de água,

assim como a coleta, o afastamento e o tratamen-

to de esgoto, são essenciais para a promoção da

saúde da população e para minimizar o impacto do

descarte de águas residuárias em corpos hídricos.

Entretanto, como qualquer processo industrial, os

sistemas de saneamento têm como subprodutos

diversos tipos de resíduos. O resíduo mais impor-

tante gerado nessas instalações é o lodo, resulta-

do dos processos físico-químicos e biológicos do

tratamento, e que, justamente por isso, apresenta

grande variabilidade (BABATUNDE e ZHAO, 2007).

O lodo de estações de tratamento de água (ETAs) é

um resíduo proveniente das operações físico-quí-

micas do tratamento, principalmente dos decan-

tadores, que contêm minerais, material húmico e

os produtos químicos usados como coagulantes

– sais metálicos – ou auxiliares de coagulação –

polímeros (OWEN, 2002). Entretanto, a proporção

desses componentes, ou mesmo a presença de

outros compostos, varia conforme a qualidade da

água bruta, que não é constante ao longo do ano,

ou mesmo ao longo do dia (AHMAD et al., 2016).

O lodo de ETE, gerado nos processos biológicos

e físico-químicos de tratamento do esgoto para

correta degradação da matéria orgânica e remo-

ção de nutrientes, micro-organismos patogênicos

e toxicidade apresenta, por conseguinte, caracte-

rísticas diversas daquele resultante da coagulação

química anteriormente citada. A princípio domés-

tico, o esgoto pode ter em sua composição uma

série de contaminantes complexos dessa fonte

(fármacos, hormônios, etc), além de outros pro-

venientes de descartes de efluentes não domés-

ticos na rede, ilegais, não controlados ou mesmo

permitidos por legislação (DELATORRE JUNIOR e

MORITA, 2007). De composição bastante diversa,

o lodo de esgoto é composto por grande propor-

ção de matéria orgânica, nutrientes, organismos

patogênicos e possivelmente metais e compostos

orgânicos tóxicos e de interesse emergente, além

de minerais (VON SPERLING e GONÇALVES, 2007).

É nítida a tendência de aumento da demanda

por água potável diante de uma realidade de

crescimento populacional e maior acesso ao sa-

neamento. Em compensação, os cursos d’água

se encontram em um processo de degradação

histórico, exigindo diferenciadas técnicas para

o seu tratamento. Diante desse cenário, existe

a tendência de crescimento dos processos de

tratamento de água e de esgoto e, com isso, o

aumento da geração e a piora da qualidade dos

lodos de ETAs e ETEs.

Apesar do grande teor de umidade, os lodos são

considerados resíduos sólidos. Dessa forma, o

seu descarte em corpos d’água ou no sistema

público de esgoto não é apropriado, pois devem-

waste management, as recommended by Brazilian, European, Japanese and Chinese policies: non-generation, reduction,

reuse, recycling, treatment of sludge and, lastly, disposal. For existing WTP and STP, beneficial uses should prevail over

final disposal. In this paper, several uses of sludge from WTP and STP are presented and discussed in relation to their appli-

cation potential. Most of research works found in literature have been carried out on laboratory scale and environmental

viability has not been evaluated. In developing countries, the use of sludge is still incipient, unlike developed countries,

which have actually made sludge beneficial use for more than a decade. Noteworthy that just analyzing technical and

environmental feasibility in order to full scale sludge application it is not itself enough. Logistic issues, cost-benefit rela-

tion and attendance to interests and restrictions from stakeholders must significantly influence beneficial use of sludge.

Keywords: Waterworks residuals. Wastewater residuals. Sludge beneficial uses. Solid waste. Integrated waste management.

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129Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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-se respeitar as legislações relativas aos resíduos

sólidos (ACHON et al., 2013) e a lei de Crimes

Ambientais (BRASIL, 1998). A prática mais co-

mum no Brasil – a de lançamento do lodo dos

decantadores das ETAs no sistema público de

esgoto – só deve ser autorizada em casos excep-

cionais, especialmente em áreas densamente

urbanizadas, em que as ETAs são antigas e não

há espaço para construir o sistema de tratamen-

to de lodo no local. Mesmo nesse caso, torna-se

fundamental a implantação de um sistema para

remoção de lodo de forma contínua e controlada.

Se isso não for feito, pode-se ter o afogamento

do coletor de esgoto no caso de manobra exage-

rada da válvula de descarga dos decantadores da

ETA, além de sobrecarga e problemas operacio-

nais na ETE, devido à operação em batelada. Se

o objetivo for o aproveitamento da infraestru-

tura de tratamento de lodo da ETE, a alternati-

va mais racional seria um lodo-duto, pois senão

estar-se-ia concentrando as impurezas no lodo

da ETA, diluindo com o esgoto sanitário e depois

concentrando no lodo da ETE. Da mesma forma,

o reciclo direto da água de lavagem dos filtros,

sem nenhum pré-tratamento, não é recomenda-

do quando a água bruta contém metais pesados,

compostos orgânicos tóxicos (pesticidas, fárma-

cos, etc) ou protozoários oportunistas (WALSH et

al., 2008). Além disso, há restrições para tal re-

ciclo quando se faz uso de polímeros orgânicos

sintéticos à base de poliacrilamida no processo

de tratamento de água. A concentração de acri-

lamida na água de abastecimento público deve

ser menor do que 0,5 μg∙L-1 (BRASIL, 2011) sen-

do, pois, necessário, fazer o controle desse mo-

nômero. Wilczak et al. (2003), por sua vez, obser-

varam que o polímero catiônico cloreto de dialil

dimetilamônio, presente no reciclo da água de

lavagem dos filtros, reagiu com a cloramina usa-

da na desinfecção da água, produzindo n-nitro-

sodimetilamina, um potencial cancerígeno.

O descarte de lodo de ETA no sistema público de

esgoto transfere o problema para a ETE e pode

causar dificuldades – se o objetivo for a geração

de energia –, pois reduz o poder calorífico e pro-

duz alterações na qualidade do lodo da ETE.

Outra forma tradicional de destinação dos lodos

é o aterro sanitário. Entretanto, os lodos apre-

sentam alta plasticidade, baixa resistência ao

cisalhamento, baixa permeabilidade à água e

são extremamente compressíveis e tixotrópicos.

Desta forma, se eles não forem desaguados ade-

quadamente antes de serem dispostos no aterro,

causarão problemas estruturais ao mesmo. Teo-

res de 25 a 30% de sólidos e tensão de cisalha-

mento superior a 25 kPa têm sido recomendados

para essa disposição (O’KELLY, 2016). Poucos são

os sistemas de desaguamento que atendem a es-

sas recomendações. Além disso, a Lei no. 12.305

(BRASIL, 2010a), regulamentada pelo Decreto

7304 (BRASIL, 2010b), que estabeleceu a Política

Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), busca res-

tringir o envio de resíduos para aterros sanitários,

indicando que a ordem de prioridade na gestão é:

a não geração; a redução; a reutilização; a recicla-

gem; o tratamento e, por último, a disposição final

ambientalmente adequada dos rejeitos. Mundial-

mente, também existe a tendência do máximo

aproveitamento dos resíduos, devido às restritas

áreas para sua disposição, além do possível im-

pacto destes aterros nas mudanças climáticas

(BHADA-TATA e HOORNWEG, 2016).

Com base nessa realidade, estudos que buscam

alternativas para o uso benéfico dos lodos de ETAs

e ETEs foram e continuam sendo realizados no

mundo. Entretanto, a aplicação em escala real nos

países subdesenvolvidos e em desenvolvimento é

ainda muito incipiente. Uma das causas é o desco-

nhecimento do meio técnico e gerencial do esta-

do da arte sobre o assunto, sendo este o objeto do

presente trabalho.

revisão de literatura

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130 Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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2 USOS BENÉFICOS DE LODOS DE ETAO lodo de ETA, devido ao seu caráter mineral (HI-

DALGO et al., 2017), parcialmente composto por

argilominerais (LING et al., 2017), já teve sua apli-

cação estudada, com maior ou menor sucesso no

setor ceramista (MONTEIRO et al., 2008; SILVA e

FUNGARO, 2011; TARTARI et al., 2011; CORNWELL

e ROTH, 2011; KIZINIEVIC et al., 2013; SILVA et al,

2015); em obras geotécnicas (RAGHU et al., 1987;

SOCKANATHAN, 1991; WANG et al., 1992; FADA-

NELLI e WIECHETECK, 2010; BASHAR et al., 2016);

na fabricação de blocos de concreto para vedação

(CHÁVEZ-PORRAS et al., 2008); na fabricação de

cimento Portland (HOPPEN et al., 2006; KYNCL,

2008; DAHHOU et al., 2018); na aplicação em

áreas degradadas (TEIXEIRA e MELO, 2007; MO-

REIRA et al., 2009); como condicionador de solo na

silvicultura - eucaliptos (CORNWELL et al., 2000),

como cocondicionador (LAI e LIU, 2004; YANG et

al., 2006; BABATUNDE e ZHAO, 2007) e na agri-

cultura (VERLICCHI e MASOTTI, 2001; BOTERO et

al., 2009). O lodo de ETA pode ter efeito benéfico

em sistemas de esgoto no controle de H2S (AW-

WARF, 2007) e na remoção de fósforo (GEORGAN-

TAS e GRIGOROPOULOU, 2005; MORTULA e GAG-

NON, 2007; BABATUNDE e ZHAO, 2010; CHAO et

al, 2011; GIBBONS e GAGNON, 2011; ZHAO et al.,

2011). A recuperação de coagulantes também é

um uso tecnicamente viável (KYNCL, 2008; SILVA

e DANIEL, 2010; DASSANAYAKE et al., 2015), mas

não há relato sobre experiências em escala real de

longo prazo.

2.1 Uso no setor ceramista

A matéria-prima utilizada na fabricação de cerâ-

mica vermelha (argilas) e os resíduos originados

nos decantadores de ETAs têm composição mi-

neralógica semelhante (MONTEIRO et al., 2008;

TARTARI et al., 2011; VICTORIA, 2012). A princípio,

o lodo férrico apresenta-se mais adequado para

esse uso, devido ao conteúdo de ferro e matéria

orgânica (BABATUDE e ZHAO, 2007). Entretanto,

estudos com lodo de alumínio indicaram também

sua viabilidade na substituição de parte da argila

em materiais cerâmicos (HEGAZY et al., 2011; HE-

GAZY et al., 2012a, 2012b; SILVA et al, 2015).

Algumas considerações devem ser feitas sobre a

substituição da argila pelo lodo de ETA. Devido à

grande variabilidade de qualidade dos lodos (Ta-

bela 1) e das argilas existentes, estudos devem ser

realizados para cada caso, verificando a compa-

tibilidade entre os materiais e o processo de fa-

bricação envolvido (MORITA et al., 2002). As re-

lações mássicas lodo/argila devem ficar entre 5%

e 12,5%, para que não ocorram alterações signi-

ficativas nas propriedades mecânicas das peças

cerâmicas produzidas (MORITA et al., 2002; MON-

TEIRO et al., 2008; TARTARI et al., 2011; VICTORIA,

2012). O lodo também pode ser incorporado na

cerâmica vermelha em uma mistura com outros

resíduos, como sílica, cinzas de casca de arroz e

sedimentos, variando a sua quantidade (HUANG

et al., 2001; HEGAZY et al., 2011; HEGAZY et al.,

2012a, 2012b).

Tabela 1. Características gerais de lodos de ETA e características de lodos usados com sucesso na produção de blocos cerâmicos e agregados (% massa seca)

Atributo Lodo de alumínio Lodo férrico Lodo de cal LA em blocos cerâmicos

Alumínio 29,7 ± 13,3 10,0 ± 4,8 0,5 ± 0,8 23,3 ± 9,5

Ferro 10,2 ± 12 26,0 ± 15,5 3,3 ± 5,8 9,8 ± 5,5

Cálcio 2,9 ± 1,7 8,32 ± 9,5 33,1 ± 21,1 1,8 ± 2,6

Magnésio 0,89 ± 0,8 1.6 2,2 ± 1,04 0,5 ± 0,3

SiO2

33,4 ± 26,2 Sd 54,57 33,0 ± 9,6

TiO2

Sd Sd Sd 1,3 ± 0,8

K2O Sd Sd Sd 0,5 ± 0,3

Notas: sd: sem dados; LA: Lodo de Alumínio. Dados de lodo de alumínio, férrico e de cal compilados por Babatunde e Zhao (2007). Dados de lodo de alumínio em

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131Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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Teores de umidade no lodo de ETA acima de 80%

podem ser prejudiciais, obstruindo passagens,

aderindo nas paredes dos equipamentos do pro-

cesso produtivo ou não permitindo a conforma-

ção do bloco (MORITA et al., 2002). Quanto mais

próximas forem as composições granulométrica

e mineralógica do lodo e as da argila, melhores

serão os resultados. A presença de carvão ativa-

do em pó ou antracito pode causar expansão e

consequentes rachaduras nos blocos. Lodos com

hidróxido de ferro dão coloração avermelhada ao

bloco, desejada pelos consumidores (CORNWELL

et al., 2000; ANDRADE, 2005).

A aplicação em escala real e a quantificação dos

impactos ambientais, devido à substituição par-

cial da argila pelo lodo na fabricação de artefatos

de cerâmica vermelha, são restritas. No Brasil, o

trabalho de Andrade (2005) apresentou uma pro-

posta de metodologia para avaliação desses im-

pactos e quantificou os mesmos. Nesse trabalho,

concluiu-se que:

• as emissões de CO, SO2 e CO

2 no forno da cerâ-

mica foram mais estáveis quando se substituiu

7% (massa/massa) de argila pelo lodo de ETA;

• aumento do consumo de cavaco no forno quan-

do se utilizou o lodo;

• a disposição do lodo da ETA Cubatão diretamen-

te sobre o solo, no pátio da indústria, antes de sua

utilização no processo produtivo, não alterou, sig-

nificativamente, a qualidade do solo e nem cau-

sou risco à saúde do operador;

• não houve emissões de cloreto durante a queima

e a emissão de carbono orgânico total variou entre

3,4 e 8,5 mg/Nm3 (corrigidas para 10% de oxigê-

nio), inferior ao exigido pelas normas europeias ;

• o bloco pós-secagem, no teste com lodo, apre-

sentou teor de cloretos inferior a 0,001%, não

sendo, portanto, necessário o aumento da tempe-

ratura no forno para evitar a formação de dioxinas

e furanos;

• o teor de COT nas cinzas provenientes da queima

do bloco com lodo foi igual a 2,1 ± 0,1% e atendeu

ao estipulado pela diretiva europeia para copro-

cessamento de resíduos;

• os fatores de emissão de CO, CO2, SO

2, SO

3 e

material particulado, obtidos dos resultados dos

testes de queima realizados com e sem lodo, fo-

ram semelhantes;

• após a aplicação de modelo matemático de dis-

persão de poluentes, observou-se que caso todos

os fornos da fábrica estivessem funcionando ao

mesmo tempo, as emissões dos poluentes não afe-

tariam a qualidade do ar fora dos limites da fábrica;

• as taxas de emissão de metais presentes no ma-

terial particulado nos testes com lodo foram, em

sua maioria, na mesma de ordem de grandeza que

àquelas obtidas nos ensaios sem lodo.

• realizando análises de risco, devido à disposi-

ção do bloco pós consumo em lixões ou em usi-

nas de reciclagem de entulhos, concluiu-se que a

ingestão da água subterrânea contaminada e de

fragmentos dos blocos por crianças; a inalação de

fragmentos dos blocos em usinas de reciclagem

de entulho por adultos e o contato dérmico (ba-

nho com água contaminada e manuseio dos blo-

cos) não se caracterizaram como vias importantes

de contaminação.

É importante salientar que o sucesso da aplicação

do lodo em peças cerâmicas não depende apenas

das características físico-químicas dos resíduos,

coagulantes e outros produtos químicos utiliza-

dos no processo de tratamento, mas também da

proximidade entre a indústria cerâmica e a esta-

ção de tratamento de água, da aceitação do lodo

pelo fabricante de blocos cerâmicos, e dos custos

de transporte e armazenamento desse material

(PRADICELLI e MELCHIADES, 1997).

A produção de cerâmica branca com lodo de ETA

também foi estudada no Reino Unido, mas a utili-

zação de um material com composição tão variável

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132 Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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dificulta o atendimento às restritas especificações

de qualidade desse material (SIMPSON et al., 2002).

2.1.1 Fabricação de cimento e materiais relacionados

Podem-se apontar algumas vantagens dessa apli-

cação: i) normalmente, o lodo de ETA não é perigo-

so; ii) tem alta concentração de sólidos; iii) a com-

posição química pode ser semelhante aos materiais

utilizados na fabricação de cimento; iv) lodos de

alumínio podem formar hidratos de cálcio e de alu-

mínio, que têm potencial para prevenir a corrosão

de estruturas de aço devido ao cloro; v) não há efei-

tos prejudiciais sobre a resistência em longo prazo.

Pode-se apontar as seguintes desvantagens: i) o

teor de matéria orgânica no produto final (no caso

de queima incompleta no processo) pode afetar as

propriedades mecânicas; ii) o risco de geração de

hidrogênio; iii) expansão de alumínio; iv) elevado

teor de água; v) risco de corrosão em fornos de ci-

mento e a produção de óxidos de ferro provenien-

tes de lodo férrico pode produzir uma cor indesejá-

vel ao produto final (PAN et al., 2004; BABATUNDE

e ZHAO, 2007). Dahhou et al. (2018) obtiveram re-

sultados superiores de resistência à flexão e com-

pressão de argamassas de cimento produzido com

lodo de ETA como matéria-prima.

O lodo de ETA também pode substituir o cimento

na produção de pavimento intertravado de con-

creto (paver) para uso externo. Testes realizados na

Jordânia com lodo férrico foram satisfatórios para

uma relação mássica lodo-cimento de até 40%. To-

das as peças produzidas foram consideradas não-

vítreas e a absorção de água esteve em torno de

10% (ALQAM, 2011). Outra aplicação bem-sucedi-

da foi a do lodo da ETA Mirassol-SP como agregado

miúdo em concretos para calçadas, numa relação

mássica lodo: areia de até 20% (COSTA, 2011).

A produção de agregado leve também é possível.

Huang e Wang (2013) avaliaram dez amostras de

lodo de alumínio de uma ETA em Taiwan e todas se

mostraram adequadas para a fabricação de agre-

gados leves. A incorporação de lodo de ETA como

agregado fino na produção de blocos foi estudada

na Tailândia por Kaosol (2010), que apontou sua

viabilidade para uma proporção de 10 a 20%, em

massa. Novamente, um problema encontrado foi

a variabilidade das características do lodo, o que

torna necessária a análise de cada material.

2.2 Uso de lodo de ETA em processos de recuperação de coagulante

Uma fração significativa do custo operacional da

ETA é a aquisição dos coagulantes (BABATUNDE e

ZHAO, 2007) e, por isso, a importância na recupe-

ração dos mesmos.

Historicamente, as pesquisas sobre tecnologias

de recuperação de coagulantes iniciaram-se em

1903 por meio de processos de acidificação (JE-

WELL, 1903 apud KEELEY et al., 2014). Diferentes

métodos foram estudados para a recuperação

de alumínio (PETRUZZELLI et al., 1998) e de ferro

(VAEZI e BATEBI, 2001; KEELEY et al., 2016a). Mé-

todos para o reúso e recuperação de coagulantes,

suas potencialidade e fragilidades são mostrados

na Tabela 2. O uso do lodo como fonte de coagu-

lante em tratamento de águas residuárias pode

ser feito por meio de métodos mais simples de re-

cuperação (por exemplo, a acidificação).

Deve-se considerar os gastos com transporte e

com o próprio processo, para que os custos não

excedam os benefícios econômicos (MIYANOSHI-

TA et al., 2009). No Japão, a recuperação de alumí-

nio antes de 1972 era praticada em, pelo menos,

15 estações, até perder a força, devido à preocu-

pação com possíveis impurezas no produto final

(OGILVIE, 1997). Keeley et al. (2016b) fizeram uma

análise de custos para demonstrar a viabilidade

da recuperação de coagulantes para uso na re-

moção de fósforo de águas residuárias. Os auto-

res chegaram a um limite de 240 km de distância

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de transporte para que a recuperação fosse eco-

nomicamente viável. O trabalho de Keeley et al.

(2016b) foi elaborado para a realidade da Euro-

pa e deve ser validado às realidades regionais, no

caso da aplicação em outros locais.

Os estudos realizados apontam a viabilidade téc-

nica e econômica da recuperação (RUSSEL e PECK,

1998; PARSONS e JEFFERSON, 2006). Entretanto,

existem dificuldades operacionais e com a variabi-

lidade da qualidade dos lodos. Outro fato que deve

ser considerado, principalmente no Brasil, é que a

regeneração dos coagulantes não é a atividade fim

das ETA e, portanto, sua permanência ao longo do

tempo pode ser influenciada pela política das con-

cessionárias, especialmente se forem públicas.

2.3 Uso de lodo de ETA como adsorvente para poluentes

O desenvolvimento de adsorventes a partir de

subprodutos de diferentes processos produtivos

vem sendo considerada uma alternativa, pois é

uma forma de minimizar resíduos e economizar

insumos (BABATUNDE e ZHAO, 2007).

Entre os poluentes passíveis de remoção a partir

do lodo de ETA, citam-se o chumbo (CHU, 1999),

o cobre (WU et al., 2004) e o flúor (SUJANA et al.,

1998), íons contaminantes (HUA et al., 2018),

compostos orgânicos voláteis (SANCHIS et al.,

2019) além de corantes de efluentes têxteis (CHU,

2001). O fósforo merece destaque entre os com-

postos, pois seu excesso pode promover a eutro-

fização nos corpos d’água receptores (CHAO et al,

2011; BABATUNDE e ZHAO, 2010).

A remoção de fósforo a partir do lodo de alumínio

pode ocorrer de algumas maneiras: i) lodo de ETA

na forma líquida para cocondicionamento e de-

saguamento de lodo de digestores anaeróbios de

sistemas de lodos ativados com remoção biológi-

ca de fósforo (DASLARBF) (YANG et al., 2007); ii)

utilização de lodo desaguado de ETA em leito fixo

para a imobilização de fósforo dos sobrenadantes

mais o efluente do desaguamento dos DASLARBF

(YANG et al., 2009).

Tabela 2. Métodos de recuperação de coagulantes de lodos de ETA e pontos favoráveis e contrários à sua aplicação. Adaptado de Piotto (1995); Babatunde e Zhao (2007) e Keeley et al. (2014)

Abordagem de recuperação Potencialidades Fragilidades

Reús

o qu

ímic

o

Solu

biliz

ação

Solubilização ácida simples Método simples, baixo custo e bom entendimento da técnica

Não-seletiva, possibilidade de solubilização de metais pesados e compostos orgânicos tóxicos,

eficiência depende do mecanismo de coagulação utilizado na ETA. Necessidade de armazenamento e manipulação de ácidos fortes. Produção de lodo

com pH igual a 2,0 a 3,0

Solubilização alcalina simples Método simples, rejeita metais pesados Custo alto, específico para alumínio, baixa eficácia na recuperação

Tecn

olog

ias

de s

epar

ação

e re

cupe

raçã

o de

coa

gula

ntes

Sepa

raçã

o po

r m

embr

ana Ultrafiltração Relativamente seletivo, baixo custo e bom

entendimento da tecnologiaPermeabilidade de compostos orgânicos

considerável e incrustação

Processo de recuperação de alumínio (ReAl)

Capacidade de recuperar alumínio muito puro e concentrado

Abordagem multiestágio, elevando custos e complexidade

Sepa

raçã

o ba

sead

a em

car

ga Troca iônica líquida Permite que altas concentrações sejam atingidas na etapa de extração, bem restritivo

Risco de extravasamento de solvente tóxico, complexidade do processo

Resinas de troca catiônica Altos rendimentos e pureza Regeneração é ineficiente e custosa, problemas no scale-up

Resinas de troca aniônica Potencial de reduzir os níveis de contaminantes orgânicos em outros processos

Desempenho inadequado se usado individualmente

Teoria do equilíbrio de membranas de Donnan

Forte desempenho em termos de pureza e concentração

Cinética lenta, requer grande área de membrana ou tempo de contato.

Eletrodiálise Pode ser capaz de acelerar a cinética lenta de outros processos de membrana de troca iônica

Propenso a enfrentar problemas com incrustação, escala e alta demanda de energia

Uso para tratamento de águas residuárias

Não necessita dos mesmos critérios de qualidade do uso de coagulantes recuperados na produção de água potável e gera benefícios no tratamento

Falha em resolver o problema de demanda de coagulante em ETA. O transporte de coagulante recuperado entre os locais é

dependente da proximidade

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Segundo Babatunde e Zhao (2010), a aplicação

prática da adsorção de fósforo com lodo de alumí-

nio pode incluir: i) remoção de fósforo em sistema

de tratamento de águas residuárias; ii) redução do

escoamento superficial de água contendo fósfo-

ro em áreas agrícolas; iii) construção de barrei-

ra reativa para tratamento de água subterrânea

contaminada; iv) implantação de filtros de lodo

para remoção de fósforo em ETEs já existentes.

Deve-se salientar que essa remoção depende do

tempo de permanência do lodo no decantador da

ETA; da espécie química de fósforo presente na

água residuária (orgânico, H2PO

4-, HPO

42-, PO

43-);

da presença ou não de polímero no lodo; do pH e

do tempo de contato (CHAO et al., 2011).

2.4 Uso de lodo de ETA no solo

A melhoria estrutural do solo, visando reduzir a

erosão, é um uso com boas perspectivas de apli-

cação em escala real do lodo de ETAs, pois ele tem

a capacidade de agregar as partículas de solo. Essa

aplicação ocorre em diversos países, tais como os

Estados Unidos (EPA, 2011), a Inglaterra (THA-

MES WATER, 2007) e a Austrália (SYDNEY WATER,

2007). Entretanto, alguns estudos, relatados a se-

guir, apontam alguns problemas nessa aplicação,

o que indica que, como os outros usos, depende

de avaliação da composição do lodo e identifica-

ção de vantagens técnicas e econômicas.

Três fatores foram apontados por Babatunde e

Zhao (2007) como cruciais para o sucesso das apli-

cações de lodos de ETAs no solo: i) a taxa ótima de

aplicação com o mínimo de impactos; ii) as carac-

terísticas do lodo; iii) a intenção exata da aplicação.

Dez amostras de lodos de ETA sul-africanas fo-

ram avaliadas para aplicação no solo (TITSHALL e

HUGHES, 2005). Os autores do estudo concluíram

que esse uso era viável, mas que deveriam ser toma-

dos os seguintes cuidados: i) manter o pH em níveis

que não provoquem liberação excessiva de metais

pesados do solo (principalmente aqueles ligados

aos carbonato); ii) utilizar coagulantes com poucas

impurezas; iii) verificar as características do solo e as

finalidades do terreno onde será disposto o lodo.

Haraldsen et al. (2014) – na Noruega – utilizaram

lodo de ETA misturado com lodo de ETE e com-

posto orgânico em parques e jardins públicos,

para melhorar a qualidade de solos superficiais

de gramados urbanos, tendo resultados positivos

na adoção de proporção volumétrica de 0,1 m³ de

cada componente por m³ de solo.

Walsh et al. (2008) apontaram os seguintes pontos

negativos da disposição de lodo de ETA no solo: i)

custos de transporte e aplicação; ii) potencial do

lodo de alumínio se ligar ao fósforo e reduzir os

nutrientes do solo; iii) estigma negativo da aplica-

ção de resíduos no solo em diversas comunidades;

iv) competição com outros resíduos sólidos (bios-

sólidos, composto, etc.).

O uso do lodo para controle de carga difusa de nu-

trientes em áreas agrícolas também foi ressaltado

por Codling et al. (2000) e Elizabeth et al. (2003),

entretanto, Novak e Watts (2004) apontaram al-

guns limitantes para essa prática: i) desafio logís-

tico do transporte de grandes quantidades de lodo;

ii) preocupações sobre a estabilidade e longevida-

de da imobilização de fósforo, especialmente com

a variação de pH. Além disso, as características lo-

cais também devem ser levadas em conta. No Bra-

sil, existe uma grande necessidade de uso de ferti-

lizantes fosfatados, pois os solos de várias regiões

têm grande capacidade de fixação de fósforo, sen-

do, desta forma, desnecessário o uso de um fixador

deste elemento (ANDREOLI et al., 2014).

Dayton e Basta (2001) propuseram-se a investigar

a possibilidade de usar lodo de dezessete ETAs de

Oklahoma (Estados Unidos) como substitutos de

solo. Eles realizaram esta investigação por meio

da realização de análises/ensaios físico-quími-

cos e bioensaios normalmente utilizados para

caracterizar solos. Da comparação dos resultados

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obtidos com os recomendados pela literatura, os

autores concluíram que os lodos das ETAs não po-

deriam ser utilizados como substitutos de solos,

devido às menores densidades aparentes; quan-

tidades de água disponível para as plantas e teo-

res de fósforo. Outro problema era o maior teor de

nitrogênio amoniacal, que impedia que ocorresse

a nitrificação total, resultando num acúmulo de

nitrito, sendo este tóxico para as plantas.

2.5 Uso de lodo de ETA em obras de terra

Pesquisadores ligados à área de geotecnia têm

realizado estudos com lodos de ETAs e ETEs desde

a década de 1990. Tais estudos tiveram por obje-

tivos: i) obter parâmetros de projeto para aterros

exclusivos; ii) verificar o comportamento geotéc-

nico de lodos em aterros sanitários; iii) avaliar seu

uso em obras de terra.

Com relação aos dois primeiros objetivos, uma ex-

celente revisão foi feita por O’Kelly (2016), e esses

itens não serão discutidos por não serem focos do

presente artigo. Quanto ao uso benéfico, a maioria

dos pesquisadores apenas determina as caracte-

rísticas geotécnicas dos lodos ou de misturas com

outros materiais – solos, sedimentos, zeólitas, cin-

zas, resíduos sólidos domiciliares, etc – e avalia se

elas são adequadas para os usos pretendidos.

Raghu et al. (1987); Caniani et al. (2013); Bashar

et al. (2016); Montalvan (2016); Gonçalves et al.,

(2017) obtiveram resultados positivos para o uso

em cobertura e revestimento de aterros sanitá-

rios. Já Aziz et al. (2016) encontraram resultados

negativos. Quanto ao uso em diques, Wang et al.

(1992) concluíram que a mistura de lodo de alu-

mínio, com teor de sólidos de aproximadamente

12%, com hidróxido de cálcio, cinza e solo, numa

razão mássica 1:0,6 (m/m), melhorou a trabalha-

bilidade, a compactação, a compressibilidade e a

resistência ao cisalhamento, mas esta não foi sufi-

ciente para o uso como material de construção de

diques. Ao contrário de Balkaya (2015), que indica

o uso de lodo de ETA, sozinho ou misturado com

zeólitas, para a construção de diques, wetlands,

unidades de confinamento de sedimentos con-

taminados, sub-base de estradas e camada de

cobertura e de revestimento de aterro sanitário.

Babatunde e Zhao (2007) também citam o uso de

lodo de ETA incorporado em mistura betuminosa

em obras de pavimentação, como material esta-

bilizado na sub-base de rodovia.

Os estudos que pretendem avaliar a aplicação em

obras de terra a partir do lodo de apenas uma ETA,

em escala de laboratório, têm uma aplicação limi-

tada e local. O comportamento geotécnico do lodo

da ETA não depende apenas das características

físico-químicas da fração sólida, mas também da

fração líquida presente nos poros (BASIM, 1999).

Importante ressaltar, uma vez mais, que as carac-

terísticas dos lodos das ETAs variam muito com: a

qualidade da água bruta; os reagentes utilizados

(cal para o abrandamento, sais de ferro, de alumí-

nio e polímeros para remoção da cor e turbidez,

oxidantes para remoção de carbono orgânico, car-

vão ativado para remoção do odor, etc); os tipos de

operações e processos unitários existentes na ETA;

o tempo de permanência e o tipo de remoção de

lodo dos decantadores. Essa variabilidade limita a

representatividade de amostras de pequeno tama-

nho e não permite a extrapolação ou aplicação di-

reta na escala real, sendo necessários estudos mais

amplos e acurados de scale-up. Uma grande limita-

ção destes estudos é que nenhum avaliou o impac-

to do uso na saúde pública ou no meio ambiente.

2.6 Outros possíveis usos de lodos de ETAs

O lodo de ETA também pode ser utilizado como

componente do substrato de wetlands construí-

das, para adsorver vários poluentes, entre eles o

fósforo (YANG et al., 2006; ZHAO e ZHAO, 2009;

BABATUNDE et al., 2010; WU et al., 2011; YANG et

al., 2011; ZHAO et al., 2011; HU et al., 2012).

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O uso de lodo de ETA diretamente como coagulante

também é reportado na literatura. Um estudo reali-

zado na Índia (NAIR e AHAMMED, 2015), em esca-

la de bancada, avaliou o uso de lodo de cloreto de

polialumínio (PAC) com PAC para pós-tratamento

de um efluente de reator anaeróbio de fluxo ascen-

dente com manto de lodo, e conseguiu resultados

iguais ou superiores ao uso de apenas PAC. Entre-

tanto, o experimento não foi realizado em escala

real, para avaliação da sua aplicabilidade.

3 USOS BENÉFICOS DE LODOS DE ETESDiferentemente dos lodos das ETA, os resíduos

provenientes do tratamento de esgoto apre-

sentam maior quantidade de matéria orgânica

e maior possibilidade de conter organismos pa-

togênicos, poluentes orgânicos tóxicos e metais

pesados (GONÇALVES, 1999; SILVA et al., 2014).

Todas as aplicações possíveis desse material têm

de ser avaliadas com muito cuidado, para que não

haja risco ambiental e sanitário.

As características físico-químicas dos lodos de-

pendem da composição das águas residuárias e

dos processos que compõem o tratamento, tanto

da fase líquida como da fase sólida. Sabe-se que

essas características podem variar anualmente,

sazonalmente ou até mesmo diariamente, em

consequência das variações nas características do

esgoto sanitário. Essas variações são mais acen-

tuadas em sistemas que recebem descargas de

efluentes não domésticos – industriais, comerciais

e de serviços (TCHOBANOGLOUS et al., 2003). No

Brasil, esse é um grande problema. A legislação é

baseada em um princípio da década de 1960, no

qual se incentivava o tratamento conjunto das

águas residuárias industriais e comerciais com o

esgoto doméstico, pelas seguintes razões: i) para

a comunidade, resultaria em uma economia de

escala, obtida em grandes centrais de tratamen-

to; ii) para as indústrias, resultaria na liberação de

áreas e serviços estranhos às suas atividades-fim

e na superação da inviabilidade física da constru-

ção de instalações de tratamento; iii) para o órgão

ambiental, minimizaria as diversas dificuldades

encontradas na fiscalização de inúmeras fontes,

que descarregavam suas águas residuárias em

rios e córregos; iv) para a concessionária de ser-

viços de água e esgoto, proporcionaria melhores

condições para atingir a viabilização econômico-

-financeira do sistema projetado (MORITA, 2010).

Destarte, muitas legislações de estados brasi-

leiros, tais como a do Estado de São Paulo (SÃO

PAULO, 1980), estabelecem a obrigatoriedade do

lançamento de efluentes de qualquer fonte polui-

dora em rede pública, mediante o atendimento a

padrões de emissão. Entretanto, tais padrões fo-

ram estabelecidos levando-se em consideração

apenas a integridade física do sistema de coleta,

transporte e tratamento de esgoto e a toxicida-

de no sistema biológico de tratamento. Mas, há

anos, sabe-se que os principais mecanismos de

remoção dos poluentes perigosos nos sistemas de

tratamento biológico de esgoto são: i) a volatili-

zação; ii) a biodegradação e iii) a adsorção na bio-

massa (PETRASECK et al, 1983; EPA, 1986; BLAN-

CHARD et al., 2001; KELLER et al., 2003; HAWARI

e MULLIGAN, 2006; BERGQVIST et al., 2006; DAI

et al., 2007). A adsorção dos poluentes perigosos

no lodo tem restringido sua disposição e uso be-

néfico. Deve-se ressaltar que tanto o sistema de

coleta e transporte como a ETE são patrimônios

públicos, e não é justo a população pagar pelo tra-

tamento e disposição de um lodo perigoso ou, ain-

da, pela disposição de um lodo em aterro sanitário

quando é possível reusá-lo ou reciclá-lo. Por essas

razões, vários países implementaram leis, políti-

cas e programas de recebimento de efluentes não

domésticos no sistema público de esgoto, o que

não aconteceu no Brasil. Há mais de 20 anos, a

agência ambiental norte-americana mostrou que

é mais vantajoso economicamente aplicar os con-

ceitos de prevenção à poluição às indústrias, cujas

águas residuárias são responsáveis por problemas

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no sistema público de esgoto, do que implantar

modificações na ETE para reduzir a toxicidade do

efluente final ou para permitir um uso benéfico ao

lodo (EPA, 1993).

Devido à composição do lodo, com quantidades

proporcionalmente altas de matéria orgânica e de

nutrientes, a aplicação agrícola do material é indi-

cada. Alguns fatores que podem limitar a utilização

benéfica do lodo da ETE na agricultura, ou mesmo

direcionar seu uso, são mostrados na Tabela 3.

Apesar da forma mais comum mundialmente de

uso benéfico do lodo de ETE ser a reciclagem agrí-

cola, desconsiderando as formas de disposição

final (aterro sanitário) e formas de tratamento

como a incineração, outras são relatadas na li-

teratura: recuperação de áreas degradadas; ma-

téria-prima de composto orgânico; aplicação em

telhados verdes; controle de erosão; utilização em

solo de silvicultura; uso em fornos de cimento;

fabricação de materiais de construção; pavimen-

tação; cobertura diária e final de aterro sanitário

(BEECHER, 2008; CHEN e KUO, 2016). Chen et al.

(2018) também apontam potencial técnico e eco-

nômico para o uso como matéria-prima na produ-

ção de biodiesel.

Tabela 3. Limitantes e indutores da utilização de lodo de ETE na agricultura. Adaptado de Mota e von Sperling (2009) e Fernandes et al. (2014).

Critério Fator Limitantes ou indutores

Qua

lidad

e do

esg

oto

Grau de contaminação

Origem doméstica Sem restrições ao uso benéfico do lodo.

Águas residuárias industriais Restrição ao uso agrícola ou necessidade de tratamento para melhoria da qualidade.

Tecn

olog

ia d

e tr

atam

ento

do

esgo

to Decantação primária Existente Produção de lodo nesta etapa com alto teor de matéria orgânica, e emissão de odores.

Precipitação química (se existente)

Pré-precipitação Aumenta a produção de lodo primário e amplia capacidade de tratamento biológico. Lodo instável e de difícil desaguamento.

Pós-precipitação Reduz a carga orgânica do final do efluente, precipita o fósforo. Lodo instável e de difícil desaguamento.

Tratamento biológicoProcessos aeróbios Maior quantidade de lodo biológico gerada, maior nível de

remoção de nutrientes.

Processos anaeróbios Menor quantidade de lodo gerado. Não provocam consideráveis remoções de nutrientes.

Tratamento terciárioRemoção biológica Lodo rico em nutrientes (nitrogênio e/ou fósforo).

Remoção físico-química Lodo composto de fosfatos de alumínio e de ferro, pouco solúveis em água e difíceis de serem usados pelas plantas.

Proc

essa

men

to d

o lo

do

Desaguamento do lodo

Alternativas mecânicas Vantagem com volumes de lodo que permitam o uso contínuo do equipamento.

Leitos de secagem Volumes de lodo menores ou descontínuos.

Estabilização Importante para reciclagem agrícola. Importância moderada para outros usos.

Condicionamento Avaliação dependendo das condições locais.

DesaguamentoImportante para minimizar custos de transporte e armazenamento.

Influencia no comportamento mecânico do lodo. Áreas de agricultura próximas podem preferir lodo líquido.

Higienização Essencial para usos com contato humano ou ambiental. Torna o lodo sanitariamente seguro.

Flexibilidade de tecnologia Todas as etapas possíveis Importante para permitir vários tipos de valorização e destino final.

Custos

Instalação Itens como área necessária, equipamentos, obras civis e instalações elétricas.

Operação Obras civis de reparo e ampliação, manutenção de equipamentos, energia, matérias-primas, mão de obra e controle de qualidade do lodo.

Transporte Proximidade e necessidade de teor de sólidos do lodo da destinação final.

Estocagem Área necessária, impermeabilização, maquinário.

Destinação Monitoramento do destino, necessidade de pagamento ou possibilidade de cobrança para o destino do lodo.

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138 Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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3.1 Uso de lodo de ETE no solo e na agricultura

O lodo de ETE pode ser chamado de biossólido,

ou seja, é a matéria orgânica sólida recupera-

da no processo de tratamento de esgoto (BEE-

CHER, 2008).

A aplicação de lodo de ETE na agricultura, em di-

versos locais do mundo, ocorre há algumas dé-

cadas. Nos EUA, com a proibição do lançamento

nos corpos d’água, a disposição do lodo de ETE no

solo passou a ser encorajada nos anos 1970 (LU

et al., 2012). Na Europa, regulamentações foram

elaboradas durante a década de 1980 (MATTHE-

WS, 2008). No Brasil, os Estados do Paraná e de

São Paulo regulamentaram o uso do biossólido na

agricultura durante a década de 1990, o que ocor-

reu a nível federal apenas em 2006 (ANDREOLI

et al., 2008). Atualmente, a taxa de utilização de

biossólidos no solo supera 50% em países/regiões

como o Reino Unido, Austrália, África do Sul, Índia,

Alemanha e EUA (SHARMA et al., 2017).

A aplicação de lodo de ETE na agricultura traz

uma série de benefícios, entre os quais podem-

-se citar: i) ciclagem de nutrientes; ii) a fixação

de carbono no solo e consequente contribuição

contra o efeito estufa antropogênico; iii) con-

trole da erosão pela contribuição na agregação

das partículas (ANDREOLI et al., 2014); iv) como

condicionador de solo, melhorando característi-

cas, como a densidade aparente, a porosidade, a

umidade, a capacidade de troca catiônica, a ae-

ração, a drenagem e a biodiversidade (LU et al.,

2012; SHARMA et al., 2017).

Para a reciclagem agrícola, o lodo de ETE tem

de respeitar alguns limites, buscando a segu-

rança sanitária do uso desse material. Na Tabela

4, pode-se observar os limites estabelecidos de

poluentes em alguns países. É importante acres-

centar que, na Europa, a diretiva é usada como

princípio básico, sendo que cada país adota me-

didas mais restritivas a partir dela (BEECHER,

2008). Na África do Sul, existem três classes de

biossólido na legislação (SNYMAN, 2008), sendo

aqui apresentados os mais restritivos.

Tabela 4. Limites legais para o uso de biossólidos na agricultura em alguns países. Adaptado de Beecher (2008), He (2008), Matthews (2008), Snyman (2008) e Hespanhol (2014)

VariávelBrasil EUA União Europeia China* África do Sul

Conama 375/2006 U.S.EPA 40 Part 503 Diretiva de 1986 N.S.: GB 4284-84 wastewater guidelines

Arsênio (mg/kg BS) 41 75 - 75/75 < 40

Bário (mg/kg BS) 1300 - - 150/150 -

Cádmio (mg/kg BS) 39 85 20-40 20/5 40

Cromo (mg/kg BS) 1000 3000 - 1000/600 1200

Cobre (mg/kg BS) 1500 4300 1000-1750 1500/800 1500

Chumbo(mg/kg BS) 300 840 750-1200 1000/300 300

Mercúrio (mg/kg BS) 17 57 16-25 15/5 15

Molibdênio (mg/kg BS) 50 75 - - -

Níquel (mg/kg BS) 420 420 300-400 200/100 420

Selênio (mg/kg BS) 100 100 - - -

Zinco (mg/kg BS) 2800 7500 2500-4000 3000/2000 2800

Col. Term. (NMP/gMS) < 1000 < 1000 - - < 1000

Helmintos (Ovos/gST) <0,25 - - - <0,25

Vírus (UFP/gST) < 0,25 < 1,0 - N.D. -

Legenda: mg/kg BS: miligrama por kilograma em base seca; NMP/gMS: número mais provável por miligrama de matéria seca; Ovos/gMS: número de ovos por grama de sólidos totais; UFP/gST: unidade formadora de placa por grama de sólidos totais;Col. Term.: coliformes termotolerantes; N.D.: não detectado; N.S.: National Standard;* A China apresenta valores regulatórios diferentes para solos com pH>6,5/pH<6,5

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139Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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Algumas normas incluem também limites para

compostos orgânicos e outros micro-organismos

patogênicos. Outros aspectos importantes são a

taxa de aplicação e critérios para monitoramento

(SANTOS, 2014). Preocupações com a proliferação

de vetores e emissão de odores também são dis-

cutidas e soluções são propostas pelas normas (LU

et al., 2012).

Segundo Hespanhol (2014), as normas de aplica-

ção do biossólido no solo podem ser baseadas: i)

na prevenção do acúmulo de poluentes no solo e

ii) na maximização da capacidade do solo em as-

similar e atenuar o efeito dos poluentes. O autor

afirmou que o segundo critério é o mais adequa-

do, por identificar rotas de exposição, permitindo

a aplicação do biossólido em países sem recursos

financeiros para disposição do lodo de ETE.

Patógenos podem ser encontrados no esgo-

to devido à contaminação de fezes humanas ou

animais. Os coliformes termotolerantes são indi-

cadores amplamente utilizados; entretanto, a ina-

tivação de agentes patogênicos depende da sua

natureza, ou seja, a ausência de um indicador não

necessariamente indicará a ausência do patógeno

no biossólido (SIDHU e TOZE, 2009). Existem rela-

tos de presença de diversas espécies de vírus, bac-

térias, fungos, protozoários e helmintos em lodo

de esgoto de diversos países (FIJALKOWSKI et al.,

2017), que não são necessariamente patogênicos,

sendo alguns comumente presentes em solos.

Alguns patógenos com comportamento diferen-

ciado são considerados “de interesse emergente”

– especialmente vírus (HARRINGTON, 2001), e a

informação sobre eles ainda é incipiente. Outros

organismos de preocupação crescente, apesar de

já serem identificados há algum tempo, são os

protozoários (como Giardia spp. e Cryptosporidium

spp.) e helmintos. Os métodos de detecção são re-

lativamente complexos e, por esta razão, outros

indicadores correlacionados com a presença des-

ses organismos estão sendo pesquisados (SIDHU e

TOZE, 2009; FIJALKOWSKI et al., 2017).

Os compostos orgânicos “de interesse emergen-

te” também são uma crescente preocupação de

contaminação. Essenciais na sociedade moderna,

são produzidos milhões desses compostos para os

mais diversos fins. Apesar de a maioria deles no

biossólido não ser considerada de risco para a saú-

de humana, alguns compostos têm evidência de

efeitos adversos no ambiente ou como disrupto-

res endócrinos (CLARKE e SMITH, 2011; FIJALKO-

WSKI et al., 2017). Deve-se ressaltar que essa con-

clusão foi obtida de estudos realizados em países

onde se tem um controle rigoroso do lançamento

dos efluentes não domésticos no sistema público

de esgoto, o que não acontece no Brasil. Pode ser

que os teores encontrados em algumas ETEs bra-

sileiras não permitam chegar à mesma conclusão.

Na Tabela 5 são mostrados alguns dos compos-

tos orgânicos extensivamente estudados e com

evidências de ecotoxicidade, persistência no solo

ou biacumulação em receptores ecológicos. Os

compostos foram identificados pelas siglas em

língua inglesa, auxiliando futuras pesquisas em

bases de dados internacionais. Todos os possíveis

efeitos descritos na Tabela 5 são controversos; as

pesquisas são iniciais, e ainda não se tem certe-

za dos impactos de pequenas concentrações em

longo prazo.

A atual preocupação da comunidade científica in-

ternacional concentra-se no efeito de fragmentos

de plásticos menores do que 1 mm, denominados

microplásticos, presentes nos biossólidos (TALVI-

TIE et al., 2017), que podem causar danos ao ecos-

sistema terrestre (CHAE e AN, 2018).

O controle de odores é uma preocupação com os

biossólidos, apesar de não fazer parte da maioria

das normas nacionais. O principal problema em

relação a esse aspecto é a difícil aceitação pública

de um material que tem odor desagradável. A le-

gislação de alguns locais dos EUA proíbe o uso de

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140 Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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biossólidos devido ao seu odor. Os efeitos poten-

ciais dos odores à saúde e qualidade de vida das

comunidades submetidas ainda precisam ser mais

estudados. Por isso, a eliminação ou mitigação

desses incômodos é um dos grandes desafios para

a aceitação do uso de biossólidos (LU et al., 2012).

A falta de estabilidade da matéria orgânica (me-

dida pelo excesso de sólidos voláteis), além da li-

beração de odores, pode atrair vetores (insetos e

pequenos mamíferos). O controle desses vetores

também é essencial para a aceitação do produto

e a segurança sanitária daqueles que têm contato

com o mesmo (ANDREOLI et al., 2014).

Tabela 5. Compostos orgânicos possivelmente encontrados em lodo de ETE. Adaptado de Clarke e Smith (2011)

Composto Descrição Efeitos possíveis

Fármacos1 Compostos usados em medicina humana e veterinária. Aumento de resistência de bactérias do solo.

Benzotiazóis2 Agentes de vulcanização da borracha. Grau de toxicidade aquática, fungicida herbicida e algicida.

Bisfenol A3 Plastificante usado como monômero na fabricação de policarbonato e resinas plásticas. Disruptor endócrino.

OT2 Usado na fabricação de PVC, fungicidas, bactericidas, inseticidas, catalisadores industriais e conservantes de madeira. Toxicidade aquática.

PBDE3 Usado na fabricação de resinas e plásticos (PVC), adesivos e alguns cosméticos. Disruptor endócrino.

PCA2 Retardador de chama usado em plásticos, têxteis, circuitos eletrônicos e outros.

Disruptor endócrino, problemas no desenvolvimento neurológico e câncer.

PCN2 Aditivos para lubrificantes e tintas, retardador de chama, plastificantes. Câncer.

PDMS2 Fluidos dielétricos, aditivos de óleo, compostos de galvonoplastia, conservantes de madeira, lubrificantes, corantes. Toxicidade.

PAE2 Produtos resistentes ao calor, óleo, manchas, gordura e água. Disruptor endócrino.

QAC4 Surfactantes catiônicos (amaciantes de roupas, condicionadores de cabelo, desinfetantes, biocidas e outros aditivos).

Baixa toxicidade aquática, possível resistência bacteriana.

Esteróides1 Anticoncepcionais. Alterações hormonais.

Almis. Sint.4 Fragrâncias em detergentes, cosméticos, xampu, perfume e alimentos. Toxicidade.

TCS e TCC4Agentes antimicrobianos usados em produtos de cuidado pessoal (xampus, sabonetes, desodorantes, cosméticos,

enxaguatórios bucais, loções e cremes para pele).

Atividade antibiótica e antifúngica, inibição de crescimento de algas, disruptor endócrino.

Legenda: OT: Organoestânicos; PBDE: Éteres difenil-polibromados; PCA: Alcanos policlorados; PCN: Naftalenos policlorados; PDMS: Polidimetilsiloxano; PAE: Ésteres de ácidos ftalatos; QAC: Composto quaternário de amônio; Almic. Sint.: Almíscares sintéticos; TCS: Triclosan; TCC Triclocarban. Fonte da contaminação: 1Dejetos humanos e animais; 2Efluentes industriais; 3Efluentes industriais e lixiviação do produto final; 4Esgoto doméstico

A estabilização do lodo de ETE pode ocorrer por

diversos processos, entre eles, pode-se citar a es-

tabilização em leito de secagem; vermicomposta-

gem; digestão anaeróbia e posterior recuperação

energética do biogás (CIÉSLIK et al., 2015). A se-

leção do método de estabilização é baseada nas

características de cada local.

Considerando ou não os patógenos de interesse

emergente, o biossólido já estabilizado que ain-

da apresenta algum tipo de contaminação deve

ser submetido a processos de higienização. Esses

processos podem ser relativamente simples, como

a caleação ou a compostagem, ou mais comple-

xos, como a secagem térmica ou a irradiação beta

ou gama. O processo de higienização deve fazer

parte do gerenciamento da destinação do lodo

de ETE. Por exemplo, a adição de cal pode dar ao

biossólido a característica de corretivo agrícola

em solos tropicais (ANDREOLI et al., 2014; FER-

NANDES et al., 2014).

Conforme Andreoli et al. (2014), outros pontos

importantes a serem observados na aplicação de

biossólidos no solo agrícola são: i) distâncias se-

guras da aplicação em relação a cursos d’água,

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141Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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lagos, poços, áreas de mananciais, áreas residen-

ciais e de frequentação pública; ii) aptidão dos

solos para recebimento do biossólido; iii) culturas

recomendadas para o uso do biossólido iv) con-

trole da taxa de aplicação; v) armazenamento e

transporte adequado; vi) operação dos sistemas;

vii) distância dos locais de aplicação; viii) mercado

receptor; ix) sustentabilidade econômica; x) es-

tabilização da matéria orgânica para controle de

odores e proliferação de vetores.

Estudos de médio e longo prazo da aplicação de

biossólidos em solo já foram realizados em diver-

sos locais.

Em 2015, foi publicada uma análise crítica sobre fár-

macos e produtos de higiene pessoal no lodo bruto e

tratado de ETEs, e o risco ambiental associado à sua

aplicação no solo (VERLICCHI e ZAMBELLO, 2015).

Os pesquisadores concluíram que esse risco é alto

para os antibióticos sulfametoxazol, eritromicina,

roxitromicina, azitromicina e ofloxacina; para os

hormônios estrona, estradiol e etinil estradiol, para

os analgésicos e anti-inflamatórios acetominofeno,

ibuprofeno, naproxeno e ácido acetil salicílico e para

o betabloqueador propranolol, mesmo estando em

teores de ng∙g-1 no lodo.

No Reino Unido, Mossa et al. (2017) estudaram a

biodiversidade em um solo que foi usado para dis-

posição de lodo de ETEs por mais de cem anos. Ta-

xas de aplicação de lodo menores do que 10 t∙ha-

1 (base seca) contribuíram para o aumento da

biodiversidade, enquanto que em taxas superio-

res a essa houve queda na diversidade e tamanho

das populações dos organismos do solo. Mossa et

al. (2017) verificaram que as bactérias eram mais

resistentes a essa exposição do que os fungos. Os

principais impactos foram causados pelos teores

de metais existentes no lodo aplicado.

Em um estudo na França (MOHAMED et al., 2018),

foram avaliados os efeitos da aplicação de bios-

sólidos em áreas de reflorestamento (coníferas).

O biossólido foi aplicado três vezes (0,4 t∙ha-1 –

base seca) ao longo de três anos, e os resultados

obtidos foram comparados com locais que não o

receberam. Os autores atribuíram a falta de efei-

tos positivos ou adversos sobre as diversas variá-

veis estudadas (diâmetro e crescimento do caule,

comunidades florísticas na vegetação arbustiva,

transferências de metais-traço) à baixa dose de

lodo aplicada.

No Brasil, especificamente na cidade de Jagua-

riúna-SP, uma equipe da Embrapa (BORBA et al.,

2018) estudou as características de um oxisolo

de uma área experimental que recebeu seis apli-

cações de lodo de ETE ao longo de 5 anos e onde

foi cultivado milho. O total de lodo aplicado foi

de 238 t∙ha-1. Amostras de solo foram retiradas

de 0 a 5 metros de profundidade nos 4 anos sub-

sequentes à última aplicação de lodo e uma co-

leta foi realizada após 10 anos desta. Os autores

concluíram que, apesar de o lodo de esgoto não

causar alterações nos macroelementos ou na mi-

neralogia do solo, a sua aplicação causou efeitos

nos elementos traço, no complexo de troca do

solo e na capacidade eletroquímica. O lodo cau-

sou acidificação até a profundidade de 3 metros

em 3 anos de aplicação, e após esse período a aci-

dificação ocorreu nas camadas mais profundas do

solo. Os autores observaram que o lodo contribuiu

para o acréscimo da força iônica e da habilidade

do solo de adsorver íons e, por esta razão, o efeito

da lixiviação não chegou a maiores profundida-

des em períodos próximos à aplicação. Entretan-

to, com o tempo, essa capacidade se perdeu e a

lixiviação e consequente acidificação alcançaram

maiores profundidades.

Os problemas da aplicação do lodo de ETE no solo

ou na agricultura ensejaram e têm ensejado estu-

dos para solucioná-los. Uma pesquisa conduzida

em escala de bancada na Austrália (ROBERTS et

al., 2017) avaliou um processo de pirólise lenta

com amostras de lodo provenientes de dois dife-

rentes tratamentos para a remoção de fósforo: i)

processo físico-químico com sais de alumínio e

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142 Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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ii) processo biológico. Os autores relataram que o

subproduto sólido da pirólise (“biocarvão”) reteve

mais de 90% do fósforo presente no lodo e au-

mentou a fração lábil deste elemento. Além disso,

nos dois casos, houve considerável redução nas

frações lábeis de metais.

Outro estudo – escala de bancada – realizado com

amostra de lodo de ETE da Áustria (FRISTÁK et al.,

2018) e pirólise lenta obteve resultados seme-

lhantes, com um produto sólido final com fósfo-

ro concentrado e redução nas concentrações de

hidrocarbonetos aromáticos polinucleares. Além

disso, os autores aplicaram o biocarvão em solos

com deficiência de fósforo e contaminados, e re-

lataram o incremento das fração lábil de fósforo e

a redução da mobilidade do Cd, do Cr, do Cu, do Ni,

do Pb e do Zn.

Algumas importantes informações sobre a utili-

zação da pirólise para a produção de subprodutos

fosfatados devem ser destacadas: as proprieda-

des agronômicas de subprodutos da pirólise de-

pendem de um rígido controle, pois parâmetros

como a temperatura, tempo de residência e taxa

de aquecimento podem influenciar substan-

cialmente nas características finais do produto

(AGRAFIOTI et al., 2013). Ambos os estudos (RO-

BERTS et al., 2017; FRISTÁK et al., 2018) destaca-

dos utilizaram baixas temperaturas (430 – 550ºC)

e secagem prévia.

Uma pesquisa sul-coreana (LEE et al., 2018) com-

parou a recuperação de fósforo do lodo de ETE,

por meio da lixiviação com diferentes reagentes

(HCl e H2SO

4 e NaOH) e subsequente reação com

os seguintes compostos de cálcio: metassilicato

(CaO3Si), hidróxido (Ca(OH)

2) e cloreto (CaCl

2). Os

autores concluíram que a melhor combinação era

ácido sulfúrico e metassilicato de cálcio e conse-

guiram fosfato de cálcio com 43,1% de fósforo lá-

bil, usando 50 mL de solução lixiviante de H2SO

4

0,1 M por g de lodo seco e 20 g de CaO3Si por litro

de solução lixiviante. Na mesma linha, um estudo

realizado em Hong Kong (FANG et al., 2018) tra-

tou as cinzas de lodo de ETE com ácidos inorgâni-

cos, orgânicos e agentes quelantes, para remoção

conjunta de traços de metais. O melhor resultado

foi obtido com a extração com ácido sulfúrico.

3.2 Uso de lodo de ETE em materiais de construção

Diante das dificuldades mencionadas, dentre

outras, para a aplicação do lodo de ETE no solo,

alguns estudos apontam como alternativa a pos-

sibilidade de utilizá-lo como matéria-prima em

processos industriais (CHAKRABORTY et al., 2017).

Vários pesquisadores têm analisado a viabilidade

técnica da substituição de matérias primas por

lodo ou a incorporação de lodos em processos

produtivos, mas não verificam a viabilidade am-

biental, limitando-se à realização de ensaios de

lixiviação e solubilização do lodo e do produto no

qual ele foi incorporado. Além disso, muitas vezes,

não levam em consideração que o lodo e os pro-

dutos produzidos com ele serão manuseados por

operadores e consumidores, sendo essencial que

eles tenham garantida sua segurança e saúde.

A utilização do lodo de ETE como matéria-prima

de materiais de construção em escala real já ocor-

re no Japão e na Coreia do Sul, apesar de não ser a

principal forma de utilização nestes países (SHAR-

MA et al., 2017).

Um estudo realizado no Reino Unido (HAMOOD

et al., 2017) avaliou, em escala de bancada, a

aplicação de lodo de ETE bruto como substituto

de água em argamassas. Os autores concluíram

que a substituição era possível, apesar de reduzir

a resistência à compressão, mas sem ficar abaixo

dos limites estabelecidos pelas normas Britânicas.

Os pesquisadores enfatizaram a importância de

higienizar o lodo (nesse caso foi realizada a cala-

gem), pois ocorrerá o contato deste com os operá-

rios na produção da argamassa e dos pedreiros e

consumidores com a argamassa já pronta.

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143Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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Diversos estudos mostraram que as cinzas de lo-

dos de ETEs têm em sua composição SiO2 (sílica)

e Al2O

3 (alumina), proporcionando-lhes modestas

características pozolânicas1. Portanto, podem ser

utilizadas em conjunto com o cimento Portland

(CHEN e POON, 2017; HE et al., 2017; KAPPEL et al.,

2017). Além das cinzas, outros materiais pozolâni-

cos podem ser incorporados para que as caracte-

rísticas finais dos produtos sejam melhores (CHEN

e POON, 2017). Diante disso, estudos realizados

em escala laboratorial, em Hong Kong e na Coreia

do Sul, obtiveram bons resultados de resistência de

argamassas de cimento com adição de cinzas vo-

lantes (CHEN e POON, 2017) e resíduos de minerais

pozolânicos (CHAKRABORTY et al., 2017).

Em Hong Kong, Chen et al. (2018) substituíram 20%

da massa de cimento e 50% da de agregados por

cinza de lodo de ETE e cacos de vidro reciclado, res-

pectivamente, na fabricação de blocos de concreto

intertravados. Os blocos apresentaram resistên-

cia à compressão superior ou igual a 30 MPa com

tempo de pega de 28 dias. Na Dinamarca, Kappel

et al. (2017) verificaram que a substituição de 20%

do cimento por cinzas de lodo de ETE ricas em ferro

não alterou significativamente a resistência à com-

pressão e trabalhabilidade das argamassas.

Uma pesquisa realizada no Marrocos (NAAMANE

et al., 2016) mostrou que:

• O formato irregular das partículas de cinzas de

lodo de ETE influenciaram negativamente no

tempo de pega e na resistência à compressão das

argamassas;

• A temperatura de calcinação influenciou nas ca-

racterísticas das cinzas, sendo que valores acima

de 700ºC produziram cinzas de melhor qualidade;

• A substituição parcial de cimento Portland por

cinzas aumenta a finura, a demanda de água e o

tempo de pega das argamassas;

• As argamassas com cinzas precisaram de mais

tempo para alcançar as resistências à compres-

são requeridas (~90 dias contra 28 dias da arga-

massa comum).

Outra forma de utilização do lodo de ETE é na pro-

dução de agregados leves. Para a produção desses

agregados é necessário desidratar o lodo de ETE,

homogeneizá-lo, passá-lo por uma briquetadeira

extrusora, formando pequenos pedaços cilíndri-

cos, que serão levados ao forno de pré-aqueci-

mento (entre 200ºC e 800ºC) e depois a um forno

de sinterização (entre 1100ºC e 1400ºC) (GONZÁ-

LEZ-CORROCHANO et al., 2016; LAU et al., 2017;

LIU et al., 2017a). O procedimento é semelhante

ao realizado na produção de agregados leves com

lodo de ETA (HUANG e WANG, 2013).

A produção de agregados leves foi estudada em

escala laboratorial, com a utilização de lodo de

ETE em conjunto com: (a) lodo de lavagem de

agregados de mina de pedregulhos na Espanha

(GONZÁLEZ-CORROCHANO et al., 2016); (b) cinza

de óleo combustível de palma e silicato de sódio

na Malásia (LAU et al., 2017) e (c) sedimento flu-

vial na China (LIU et al., 2017a). Os estudos cita-

dos demonstraram a possibilidade de mistura de

diferentes resíduos para a produção de agregados

e concluíram que tal mistura facilitou que fossem

alcançadas as características necessárias aos pro-

dutos finais. Os autores também indicaram que a

temperatura e o tempo de queima influenciaram

nas características de resistência à compressão,

densidade, absorção de água e determinaram

as possíveis aplicações do material (GONZÁLEZ-

-CORROCHANO et al., 2016; LAU et al., 2017).

1 Materiais pozolânicos são materiais que contém silício ou silício e alumínio – naturais ou artificiais – que endurecem na presença de água, quando estão em contato com hidróxido de cálcio ou materiais que contenham hidróxido de cálcio – cimento Portland, por exemplo (MALHO-TRA e MEHTA, 1996; HEWLETT, 2004).

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144 Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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O uso de lodo de ETE na fabricação de produtos

cerâmicos é controverso. Testes de lixiviação e to-

xicidade em blocos cerâmicos com adição de lodo

de ETE espanholas não apresentaram restrições

ao seu uso (CUSIDÓ e CREMADES, 2012). Estrutu-

ralmente, a proporção mássica entre lodo e argi-

las é importante. A incorporação de até 20%, em

massa, não induziu alterações nas características

funcionais dos blocos cerâmicos. No entanto, em

relações acima de 20%, as características mecâ-

nicas do tijolo foram afetadas (LIEW et al., 2004a).

A perda ao fogo foi prejudicada pelo teor de maté-

ria orgânica do material (LIEW et al., 2004b). Pisos

cerâmicos produzidos no Egito com incorporação

máxima de 7% de lodo atenderam às normas ISO

(AMIN et al., 2017).

3.3 Uso de lodo para produção de energia

Uma prática que vem crescendo mundialmente é

o uso de lodo de ETE para produção de energia. Ela

ocorre substancialmente no Reino Unido, no Japão

e na Europa (SHARMA et al., 2017).

A energia pode ser produzida do biogás oriunda da

digestão anaeróbia do lodo (biometanização) ou

por processos termais de tratamento – incinera-

ção, coincineração, pirólise e gaseificação (CIÉSLIK

et al., 2015; KACPRZAK et al., 2017; SAMOLADA e

ZABANIOTOU, 2014; PANEPINTO et al., 2016).

A ETE Franca, operada pela Sabesp, que possui um

sistema de lodos ativados com digestão anaeró-

bia de lodo, está desenvolvendo um projeto para

beneficiamento do biogás, em parceria com o

instituto alemão Fraunhofer. Está prevista a pro-

dução de 1.700 Nm3/dia de biometano (97% de

metano), que será usado na frota de veículos da

empresa (SANEAS, 2017). Entretanto, segundo

McCarty et al. (2011), um sistema de lodos ati-

vados convencional com digestão anaeróbia do

lodo consome 0,6 kWh/m3 de esgoto tratado e

25 a 50% pode ser fornecida pelo biogás. Por essa

razão, ele propõe um sistema de tratamento com-

posto de um decantador primário, seguido de um

reator anaeróbio de membrana com leito de car-

vão ativado granular fluidizado, que evita a perda

de sólidos e mantém um tempo de detenção celu-

lar alto. Uma unidade de arraste com ar remove o

metano dissolvido do processo anaeróbio. Os lo-

dos primário e do reator são encaminhados a um

digestor anaeróbio convencional. O biogás produ-

zido na digestão do lodo, no reator anaeróbio e na

unidade de arraste com ar passa por um sistema

de cogeração, produzindo energia e calor, sendo

este último aproveitado para o aquecimento do

digestor. Com essa configuração, segundo o au-

tor, obtém-se o dobro da energia do que a gerada

no sistema de lodos ativados convencional com

digestão anaeróbia do lodo. A energia excedente

pode ser comercializada.

Rosa (2013) fez uma avaliação do potencial ener-

gético do biogás e do excedente de lodo da ETE

Laboreaux, localizada na cidade de Itapira (MG).

Ela possui oito reatores anaeróbios de fluxo ascen-

dente com manto de lodo (RAFAs), seguidos de dois

filtros biológicos percoladores. O efluente dos fil-

tros vai para decantadores secundários. O biogás

dos RAFAs é queimado e o lodo dos decantado-

res secundários volta para os RAFAs. O excedente

de lodo é desaguado em filtro prensa de placas e

encaminhado para aterro sanitário. Rosa concluiu,

por meio de balanços de massa e de energia, que

o biogás e o lodo gerado nos RAFAs poderiam su-

prir: i) 22,2% do consumo da ETE se o biogás fosse

usado para a combustão e geração de calor para

secagem térmica do lodo e o excedente para ge-

ração de energia elétrica em motor de combustão

interna (MCI) e ii) 57,6%, se o biogás fosse utilizado

para geração de eletricidade no MCI e o calor dos

gases de exaustão do motor fosse aproveitado para

a secagem térmica do lodo.

Vários pesquisadores também têm proposto pro-

cessos de pré-tratamento do lodo para melhorar

a fase de hidrólise na biodigestão e, consequen-

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temente, aumentar a produção de metano. Tais

processos visam o rompimento dos flocos e a lise

celular. São classificados em mecânicos (ultras-

som, micro-ondas, desintegração eletrocinética,

homogeneização a alta pressão), térmicos (hidró-

lise térmica), químicos (acidulação ou alcaliniza-

ção, ozonização, oxidação com reagente de Fen-

ton, oxidação com persulfato ativado com Fe(II))

e biológicos (combinação da digestão mesofílica

com a termofíllica e células de eletrólise microbia-

na). Excelentes revisões foram realizadas por Cano

et al. (2015) e Zhen et al. (2017).

A codigestão de lodos de ETEs com a fração orgâ-

nica putrescível dos resíduos sólidos domiciliares

tem sido estudada desde a década de 1970 (FEF-

FER e LIEBMAN, 1976; POGGI-VARALDO e OLESZ-

KIEWICZ, 1992; NIELFA et al., 2015; MORERO et al.,

2017). Digestores em escala real estão implantados

na Itália, Alemanha, Austrália, Japão e Estados Uni-

dos da América (NGHIEM et al., 2017). Muitas ETEs

têm usado a capacidade ociosa de seus digestores

para tratar a fração orgânica dos resíduos sólidos

domiciliares. A codigestão possui as seguintes van-

tagens: redução da toxicidade; melhoria no balan-

ço C:N; maior velocidade do processo de hidrólise;

maior produção de biogás; período de retorno do

investimento relativamente curto, maior estabilida-

de do processo (SOSNOWSKI et al., 2003; MATA-AL-

VAREZ et al., 2011; NGHIEM et al., 2017). Segundo

Nghiem et al. (2017), os principais limitantes para o

avanço da codigestão no mundo são: i) necessidade

de uma boa separação da fração orgânica dos resí-

duos sólidos domiciliares; ii) falta de opções viáveis

para utilização do biogás iii) impacto da codigestão

na qualidade do biossólido e do biogás; iv) falta de

políticas públicas de incentivo à codigestão; v) falta

de experiência em projeto e operação e vi) incerteza

regulatória quanto à taxação.

Os processos termais, normalmente, precisam de

um pré-tratamento, tais como a secagem (evapo-

ração da água resultante – densificação) (CIÉSLIK

et al., 2015).

A incineração é uma opção de tratamento de lodos

de ETEs que vem crescendo no mundo, especial-

mente para grandes cidades, pois reduz substan-

cialmente o volume (até 90%) e a massa (até 70%)

do resíduo, elimina os organismos patogênicos e

compostos voláteis e tem a possibilidade de recu-

peração energética (NAAMANE et al., 2016; CHA-

KRABORTY et al., 2017; CHEN et al., 2018). A inci-

neração do lodo de ETE envolve a combustão em

leito fluidizado, em temperaturas normalmente

superiores a 850ºC (CHAKRABORTY et al., 2017).

Entretanto também pode-se utilizar o processo de

calcinação, com bons resultados para temperatu-

ras entre 700 e 800ºC (NAAMANE et al., 2016).

Apesar da grande redução mássica e volumétrica,

no processo de queima do lodo de ETE são gera-

dos resíduos – as cinzas – que são normalmente

enviadas para aterros sanitários, como, por exem-

plo, em Hong Kong (CHEN et al., 2018), ou reutili-

zadas, como mencionado anteriormente. Deve-se

também ter equipamentos para o controle das

emissões atmosféricas, sistema de tratamento de

águas residuárias e um monitoramento sistemá-

tico de todo o sistema. Além disso, o incinerador

deve ser bem operado e os resíduos dos equipa-

mentos de controle das emissões gasosas, reuti-

lizados ou reciclados. Em último caso, devem ser

dispostos adequadamente.

A incineração não é necessariamente acompa-

nhada de um processo de recuperação energética;

no entanto, sem essa recuperação, dificilmente

se viabiliza economicamente o investimento. Ela

ocorre mediante a conversão da energia armaze-

nada no lodo em calor, que pode ser utilizada para

a movimentação de uma turbina a vapor e gera-

ção de eletricidade (SYED-HASSAN et al., 2017). A

coincineração com outros combustíveis pode ser

uma alternativa quando o lodo de ETE apresenta

um baixo poder calorífico. Deve-se sempre avaliar

atentamente a operação para verificar se a gera-

ção de calor ou energia elétrica da coincineração é

economicamente viável (CIÉSLIK et al., 2015).

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146 Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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A pirólise é a decomposição térmica da matéria

orgânica em moderadas e altas temperaturas

(300-700ºC), na ausência de oxigênio (SYED-

-HASSAN et al., 2017). A pirólise pode ser consi-

derada um processo endotérmico, gerando sub-

produtos, tais como o gás de pirólise, o óleo de

pirólise e o carvão. Destes, pode-se considerar o

carvão como aquele de menor poder calorífico,

mas todos podem ser utilizados como combus-

tíveis (SAMOLADA e ZABANIOTOU, 2014). Estu-

dos realizados nos EUA avançam na utilização do

carvão como catalisador do próprio processo de

pirólise, para a produção de óleos e gases de me-

lhor qualidade (LIU et al., 2017b). Mas, por ser um

processo altamente endotérmico, requer subs-

tanciais quantidades de energia, algumas vezes

comprometendo a sustentabilidade da sua ope-

ração (SYED-HASSAN et al., 2017).

A gaseificação é a transformação termoquímica

do material orgânico para uma mistura gasosa –

gás-síntese – com alto poder energético (H2, CO,

CO2 e hidrocarbonetos leves). O processo é rea-

lizado em altas temperaturas (acima de 800ºC)

em um ambiente com deficiência de oxigênio

(SYED-HASSAN et al., 2017). A queima do gás

síntese tem potencial para geração de energia.

A ETE Barueri da Sabesp iniciou a operação de

uma unidade piloto de gaseificação por tochas

de plasma térmico, com capacidade de proces-

samento diário de 15 toneladas de lodo desa-

guado com teor de sólidos de 25%. A energia do

gás-síntese será utilizada para abastecimento

da própria ETE e o resíduo do processo, que é ví-

treo e inerte, será utilizado como agregado para

a construção civil (SANEAS, 2017). Um estudo

realizado nos EUA em escala real concluiu que

o gás-síntese apresentou alta qualidade e, teo-

ricamente, tem potencial energético maior do

que a energia gasta para a sua produção, indi-

cando que o processo pode ser autossustentado

(GIKAS, 2017).

Tratamentos térmicos alternativos também são

estudados. Na China, Leng et al. (2018) usaram

lodo de ETE misturado à biomassa lignocelulósica

para a produção de um bióleo, por meio de pro-

cesso de coliquefação termoquímica – que ocorre

sob temperaturas reduzidas (250-400ºC) e altas

pressões (5-20MPa), com a utilização de água ou

outros solventes orgânicos. O solvente utilizado

no estudo foi o etanol e os autores concluíram que

os resultados da liquefação conjunta produziu um

bióleo de melhor qualidade do que a utilização de

apenas um resíduo. Entretanto, deve-se salien-

tar que essa aplicação foi estudada em escala de

bancada e ainda precisa de estudos de viabilidade

técnica, financeira e ambiental para aplicação em

escala real.

Os processos térmicos também devem de ser

avaliados com cautela. A umidade do lodo de ETE

é um grande limitante da sua operação. A gasei-

ficação parece ter uma vantagem em relação aos

outros, mas mesmo nesse processo é necessário

lodo com teor de sólidos acima de 70%. O teor

de inertes no lodo (p. ex. lodo de ETA) também

é muito importante, uma vez que uma alta por-

centagem destes irá diminuir o poder calorífico

dos resíduos e formará as cinzas, que terão de ser

removidas e descartadas depois da combustão

(WILLIAMS, 2005).

A seleção da melhor estratégia de tratamento tér-

mico depende de avaliação de ciclo de vida, pos-

sibilidade de utilização dos subprodutos, gastos

econômicos e energéticos com armazenamento,

transporte e controle de poluentes atmosféricos

(SYED-HASSAN et al., 2017).

3.4 Outras possíveis aplicações de lodo de ETE

Uma forma alternativa potencial de uso do lodo

de ETE é como adsorvente. A forma mais indica-

da de produzir esse material com alta área super-

ficial é a ativação química, usando hidróxidos al-

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calinos metálicos. O lodo de ETE pode ser usado

como adsorvente de corantes e metais (SMITH et

al., 2009).

É possível adicionar o lodo de ETE ao solo usado

como base de rodovias (DAS e SWAMY, 2014). A

aplicação pode ser de até 10% em massa. Para

melhorar os desempenhos mecânico e econô-

mico, pode ser realizada uma estabilização com

aditivos (cimento, cal e emulsão asfáltica), para

incrementar as propriedades do lodo e satisfazer

as condições mínimas exigidas (LUCENA et al.,

2014). Não existem relatos de aplicação em longo

prazo de lodo de ETE em solos de rodovias. Deve-

-se atentar para a possibilidade de contato dos

trabalhadores com o material e garantir a sua se-

gurança com etapas prévias de tratamento.

Aziz et al. (2016) compararam as características

geotécnicas de sedimentos de uma barragem, de

lodo de uma ETE e de lodo de uma ETA da Malásia,

sozinhos ou misturados, com as da areia, do silte e

de um latossolo local, para avaliar a possibilidade

de usá-los na cobertura de aterros sanitários. Eles

concluíram, comparando os coeficientes de per-

meabilidade e os valores de coesão e de ângulo de

atrito, que o melhor material era o lodo de ETE, se-

guido dos sedimentos e, por último, o lodo da ETA.

Também é possível recuperar metais de terras ra-

ras por incineração de lodo de ETE com plasma. O

processo de recuperação se utiliza de técnicas de

oxidação ou redução do material, para a separa-

ção dos elementos de interesse – como Ag, Te, Tl,

Bi, Sb, In, Ga, Sn, Ge e Pb. Esses elementos – im-

portantes em muitos processos industriais – não

são abundantes na crosta terrestre, mas muitas

vezes são encontrados no lodo de esgoto. Esse

método tem potencial de crescimento – principal-

mente considerando a possível escassez futura de

recursos naturais (CIÉSLIK et al., 2015).

4 ASPECTOS GERENCIAIS DO USO DE LODOS DE ETAS E ETESApesar de haver diversas opções para a seleção

técnica da destinação dos lodos gerados nas em-

presas de saneamento, é importante ressaltar que

diferentes setores da sociedade têm interesses e

opiniões em relação ao gerenciamento destes lo-

dos, que devem ser levados em consideração. Na

Tabela 6 são apontadas as ações e interesses de

cada ator (Stakeholder) integrante da gestão de

lodo. A atuação constante de todos os setores da

sociedade é essencial para que o gerenciamento

dos resíduos de saneamento seja bem-sucedido.

Independentemente da utilização a ser dada para

o lodo de ETA ou ETE e da participação da socieda-

de, os problemas não são restritos às dificuldades

técnicas de adequação à legislação, uniformida-

de de características ou tecnologia inadequada.

Problemas de ordem logística, como o armaze-

namento e o transporte, devem ser considerados

antes da tomada de decisão.

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148 Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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Tabela 6. Partes interessadas na gestão de lodos de ETA e ETE, suas participações e interesses.

Âmbito Stakeholder Ações Interesse

Governo Federal, Estadual e Municipal

Órgãos de Meio Ambiente

Regulamento dos procedimentos gerenciais dos lodos de ETA e ETE; emissão de licenças ambientais e registros para centrais de

tratamento, fiscalização. Incentivos fiscais

Opinião pública; bem-estar social e ambiental

Empresa pública ou mista

Companhia de Saneamento

Operação, gerência técnica, setor comercial, responsabilidade socioambiental, operação de aterro próprio

Redução de custos; cumprimento da legislação, responsabilidade

social e ambiental

Empresas privadas

Prestadores de serviços Implantação e operação de UGR ou UGL (unidade de gestão de resíduos ou de lodo)

Redução de custos cumprimento da legislação, responsabilidade

social e ambiental

Receptores Usos benéficos, geração de empregos, obtenção de lucro, diminuição de custos, marketing ambiental Lucro/redução de custos

Serviços de coleta e transporte

Estabelecer rotas dos veículos, rotinas de trabalho, horários, logística do transporte Lucro

População Comunidade localTarifa de tratamento de água e esgoto, geração de empregos em atividades de aproveitamento de lodo, melhorias de sistema de

saneamentoBem-estar social e ambiental

Organizações Civis ONG, OSCIP e movimentos sociais

Fiscalização civil de empresas, projetos e participação em programas sociais e ambientais advindos da utilização benéfica do lodo Bem-estar social e ambiental

Ciência e Tecnologia Universidade e Institutos de Pesquisa

Desenvolvimento tecnológico de alternativas de tratamento e reaproveitamento do lodo. Auxílio na tomada de decisão dos processos Bem-estar social e ambiental

Várias técnicas e procedimentos se propõem a fa-

cilitar o gerenciamento dos resíduos sólidos em

geral, e podem ser aplicadas ao caso específico

de lodos de ETAs e ETEs. Pode-se citar a análise de

custo-benefício e modelos de previsão, simulação

e otimização. Esses sistemas podem ter diversas

plataformas de análise, como os de gerencia-

mento de informações e suporte à decisão, além

de usar ferramentas específicas para avaliação

como: desenvolvimento de cenários; análise de

fluxo de material; avaliação de ciclo de vida; aná-

lise de risco; avaliação de impactos ambientais;

avaliação socioeconômica e avaliação de susten-

tabilidade (CHANG et al., 2011).

5 CONSIDERAÇÕES FINAISA maioria dos usos benéficos de lodos de ETAs e

de ETEs apresentados anteriormente mostrou-

-se viável; entretanto, a escolha da opção para a

destinação reflete características locais, culturais,

históricas, geográficas, legais, políticas e econô-

micas. A flexibilidade de uso vai variar de local

para local (FYTILI e ZABANIOTOU, 2008).

É importante que, para ETAs e ETEs novas, a con-

cepção leve em consideração o destino do lodo.

Deve ser buscada a recuperação de energia e re-

cursos, no contexto de uma economia circular

(GHERGHEL et al., 2019). Destarte, deve ser feito

um estudo de demanda do lodo no local antes da

definição das unidades de tratamento de lodo,

que hoje, normalmente, são projetadas visando

apenas a máxima remoção de umidade. Deve-se

levar em consideração, também, a possibilidade

de tratamento conjunto com outros resíduos só-

lidos gerados na região, de forma a viabilizar eco-

nomicamente o uso benéfico. A garantia da qua-

lidade dos produtos químicos utilizados e da água

bruta nas ETAs, assim como o desenvolvimento

de programas de recebimento de efluentes não

domésticos no sistema público de esgoto, são pri-

mordiais para garantir a qualidade dos lodos para

os usuários.

Essencial para um adequado gerenciamento dos

resíduos gerados em operações de saneamento, a

quantificação do lodo é um problema recorrente

em Estações de Tratamento brasileiras. Balanços

de massa devem ser feitos regularmente nas ETAs

e ETEs, para mostrar as variações das quantida-

des geradas ao longo do tempo, por pelo menos

um ano hidrológico (KATAYAMA et al., 2015). Um

banco de dados atualizado sobre a qualidade e

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quantidade de lodo gerado em estações de tra-

tamento é essencial para a busca das opções de

aplicação sustentável do material e, consequen-

temente, para a decisão do uso benéfico (AHMAD

et al., 2016).

Partindo-se do princípio da gestão de lodo, algu-

mas hipóteses relacionadas podem ser expostas,

para subsidiar uma discussão mais profunda de

causa e consequência do uso benéfico dos lodos:

• Uso de uma visão sistêmica da gestão dos resí-

duos sólidos, que considera as variáveis ambien-

tal, social, cultural, econômica, tecnológica e de

saúde pública (de acordo com a PNRS);

• Sujeição do setor de Saneamento – ao menos

quanto ao gerenciamento de resíduos – à eco-

nomia de livre mercado e, consequentemente, à

determinação dos preços pela lei da oferta e da

procura;

• Destinação final ambientalmente adequada dos

resíduos dos serviços de saneamento (lodos de

ETA e de ETE), considerados materiais a serem

utilizados em outros processos e produtos e que,

desse modo, disputam o mercado com matérias-

-primas convencionais, dentro da visão moderna

da economia circular (BRITISH STANDARDS INSTI-

TUTION, 2017);

• A destinação final ambientalmente adequada

dos lodos implica no atendimento a critérios de

qualidade exigidos pelo mercado e obtidos pelo

aprimoramento dos insumos, processos e opera-

ções unitárias empregados nos sistemas de sa-

neamento, com benefícios socioambientais;

• O desempenho das ETAs e ETEs tenderá a au-

mentar paulatinamente até um ponto máximo de

ecoeficiência (menor consumo de energia e mate-

riais versus maior qualidade do lodo gerado), para

redução do custo de destinação final ou inserção

no mercado, com ganho socioambiental na área

de abrangência comercial.

Em todos os pontos discutidos, o tratamento e

disposição de lodo deve ser considerado como

parte integral dos sistemas de tratamento de

água e esgoto (FYTILI e ZABANIOTOU, 2008).

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Data de entrada: 17/04/2018

Data de aprovação: 04/06/2018

Amanda Sousa Sampaio – Graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestre em Engenharia Civil (Recursos Hídricos) pela Universidade Federal do Ceará (UFC). John Kenedy de Araújo – Graduação em Engenharia Civil pela Universidade de Fortaleza (1988). Mestre em Engenharia Civil (Recursos Hídricos) pela Universidade Federal do Ceará. Doutor em Engenharia Hidráulica e Saneamento pela Universidade de São Paulo. Professor associado da Universidade Federal do Ceará. *Endereço para correspondência: Rua 112, 283. Bairro Parque Dois Irmãos. CEP: 60744-510. Fortaleza -CE. Telefone: (85) 99786-7525. E-mail: [email protected].

ResumoA água é um recurso natural fundamental para a manutenção de todas as formas de vida, e a sua distribui-

ção deve ser promovida com qualidade e sem desperdícios. A ideia de aperfeiçoar os sistemas de distribui-

ção de água e simular redes reais por meio de modelos computacionais vem sendo explorada cada vez mais

por pesquisadores. O Modelo Transiente Inverso (MTI), otimizado pelo Algoritmo Genético (AG), foi aplicado

neste trabalho em uma rede de distribuição sintética para identificar e quantificar vazamentos. Ao mes-

mo tempo foram avaliados os efeitos da variação dos operadores do AG (tamanho da população; núme-

ro de gerações; taxa de elitismo e taxa de ocorrência de mutação) na precisão das soluções encontradas.

O desempenho do modelo MTI-AG foi testado e constatou-se sua eficácia na identificação e quantifica-

ção de vazamentos. Entretanto, seu tempo de processamento pode ser um elemento limitador de seu uso.

Palavras-chave: Análise Transiente Inversa. Algoritmo Genético. Vazamentos. Elitismo.

AbstractWater is a fundamental natural resource for the maintenance of all forms of life, and its distribution must be pro-

moted with quality and without waste. The idea of improving water distribution systems has arisen from some re-

searchers and it allows for the simulation of real networks through computational models capable of studying their

behavior in different situations. Inverse Transient Analysis (ITA) optimized by a Genetic Algorithm (GA) was applied

to a synthetic distribution network to identify and quantify leaks. At the same time, the effects of variation of the

GA operators (population size, number of generations, elitism rate and mutation rate) were evaluated as to the ac-

curacy of the solutions found. The performance of the ITA-GA model was tested and its effectiveness in the identi-

fication and quantification of leaks was verified. However, its processing time can be a limiting element of its use.

Keywords: Inverse Transient Analysis. Genetic Algorithm. Leaks Detection. Elitism.

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1 INTRODUÇÃOA água é um recurso vital, e seu armazenamento

e distribuição vêm sendo desenvolvidos desde a

pré-história, quando grupos humanos criaram ma-

neiras simples de recolher águas das chuvas, rios e

lagos. Na idade antiga surgiram as primeiras cida-

des, o que causou um aumento na demanda desse

precioso recurso. Foi a partir desse momento que

projetos de engenharia para condução e armaze-

namento de água começaram a ser desenvolvidos.

A análise de sistemas de distribuição de água é

um problema de grande interesse de pesquisa-

dores e de profissionais de engenharia. De acor-

do com Araújo (2003), nos últimos trinta anos o

assunto vem sendo investigado com maior preci-

são por conta do aumento populacional e do ad-

vento das questões ambientais. A análise desses

sistemas visa desenvolver tecnologias capazes

de oferecer um serviço mais eficiente ao consu-

midor e eliminar desperdícios.

O monitoramento de redes hidráulicas pelos ór-

gãos responsáveis aprimorou-se bastante. Diver-

sas técnicas foram desenvolvidas no sentido de

otimizar a distribuição de água buscando mini-

mizar danos e vazamentos na rede. Ainda assim,

segundo dados do Ministério das Cidades (SNSA,

2016), a média brasileira de perdas de água na

distribuição situa-se no patamar dos 37%, in-

cluindo perdas reais e aparentes. Nesse cenário,

projetos de redução de vazamentos tornam-se

prioritários para autoridades e pesquisadores.

Existem diversos modelos hidráulicos para cál-

culos de vazões, diâmetros e caracterização da

estrutura física dos sistemas de abastecimento.

A tentativa de tornar conhecidos esses parâme-

tros é chamada de calibração, objetivando re-

produzir a performance da rede em uma mode-

lagem computacional. Segundo Gambale (2000),

os modelos de calibração auxiliam na determina-

ção dos coeficientes de rugosidades das redes ou

das demandas nos nós.

O processo de calibração pode ser desenvolvi-

do em escoamento permanente e transiente. Os

transientes em redes hidráulicas ocorrem quando

há variação da pressão e vazão provocada por um

distúrbio, tal como abertura e fechamento de uma

válvula. Os transientes oferecem melhor oportu-

nidade para realizar a calibração de redes por re-

quererem menor número de locais de observação

do que no caso de escoamento permanente, pro-

duzindo grande quantidade de informações em

um curto período de tempo. O Método Transiente

Inverso (MTI) determina fatores de atrito, rugosi-

dades, localização de vazamentos, quantificação

das demandas e outros parâmetros. A análise é

feita por meio da minimização dos desvios entre

as cargas hidráulicas medidas e calculadas.

Para resolver problemas que envolvem dados tran-

sientes, novas técnicas de otimização vêm sendo

exploradas, entre elas a otimização genética, que

vem desempenhando um papel fundamental na

análise de sistemas de distribuição de água e co-

laborando com o processo de calibração. A técni-

ca do Algoritmo Genético (AG) vem se destacando

como ferramenta para encontrar a melhor solução

na busca dos parâmetros desconhecidos.

Procedimentos para a detecção de vazamentos

por meio da calibração de modelos de sistemas

de distribuição de água no regime não perma-

nente vêm sendo propostas por diversos autores,

como Liggett e Chen (1994), Vítkovský, Simpson

e Lambert (2000, 2002), Kapelan, Savic e Walters

(2002, 2003, 2004), Covas (2003), Covas et al.

(2004) e Soares (2007).

Araújo e Chaudhry (2003), Vasconcelos, Costa e

Araújo (2015), Santos e Silva (2013) e Sampaio

(2018) utilizaram um Método Transiente Inver-

so associado ao Algoritmo Genético (MTI-AG),

com objetivo de aprimorar a calibração de parâ-

metros de uma rede sintética de distribuição de

água. Os trabalhos apontam o MTI-AG como um

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procedimento promissor na avaliação do estado

das redes de distribuição de água.

A metodologia proposta neste trabalho apre-

senta o artifício de calibração baseada em dados

observados no regime transiente e na técnica de

otimização de Algoritmo Genético, para identi-

ficar e quantificar vazamentos (tratados como

uma demanda adicional em um nó da rede) por

meio do método MTI-AG, utilizando um modelo

proposto por Araújo (2003) fundamentado no

Método das Características (MOC).

Nesse processo será avaliado o desempenho da

técnica do AG e a influência de seus parâmetros

a fim de alcançar maior precisão da solução en-

contrada. Serão avaliados os efeitos da variação

dos seguintes operadores do Algoritmo Genéti-

co: Tamanho da População (NC); Número de Ge-

rações (NG); Taxa de Elitismo (TE) e Taxa de ocor-

rência de Mutação (TM).

2 OBJETIVOSO objetivo geral desse trabalho é avaliar o de-

sempenho dos operadores genéticos computa-

cionais do Algoritmo Genético aplicado na ca-

libração e localização de vazamentos em redes

hidráulicas de distribuição de água por meio do

Método Transiente Inverso (MTI), que consiste na

minimização dos desvios entre as cargas hidráu-

licas transientes observadas e calculadas.

De maneira específica, os objetivos desse traba-

lho são:

• Avaliar a influência de diferentes tamanhos da

população de soluções no desempenho do mo-

delo MTI-AG;

• Analisar a influência de diferentes números de

gerações até a escolha da melhor solução;

• Avaliar a influência de diferentes taxas de elitis-

mo no desempenho do modelo MTI-AG;

• Analisar a influência de diferentes taxas de

ocorrência de mutação de geração para geração;

• Avaliar a influência de diferentes taxas de cru-

zamento do material genético.

3 O MÉTODO TRANSIENTE INVERSO Durante a operação de sistemas de abastecimen-

to de água, são necessárias diversas manobras

em válvulas, bombas, reservatórios e canaliza-

ções. Em muitos casos, essas manobras causam

alterações no regime de escoamento da água nos

condutos. Essas variações podem gerar fenôme-

nos conhecidos como transientes hidráulicos, que

podem trazer consequências desastrosas, como o

rompimento ou colapso de tubulações.

O escoamento transiente pode ser expresso ma-

tematicamente por duas equações diferenciais

parciais não lineares: a equação da continuidade

(Equação 1) e a equação do movimento (Equação

2). Essas duas equações diferenciais permitem cal-

cular os valores da vazão Q e da carga hidráulica H

ao longo da tubulação e do tempo. As equações po-

dem ser resolvidas usando o Método das Caracte-

rísticas (MOC). Chaudhry (1987) e Wylie e Streeter

(1978) são algumas das referências que fornecem

as deduções destas equações e ilustram o uso delas

em simulações com fluxo em redes hidráulicas.

!"!# +

%&'(

!)!* = 0 (1)

!"!# + %&

!'!( +

)" "2+& = 0 (2)

Onde: H = carga piezométrica; Q = vazão volu-

métrica; A = área da seção transversal do tubo;

a = celeridade da onda de pressão; D = diâmetro

interno da tubulação; f = fator de atrito de Darcy-

-Weisbach; g = aceleração da gravidade; x = dis-

tância ao longo do tubo e t = tempo.

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Entende-se o Método Transiente Inverso (MTI)

como um método de calibração do tipo implíci-

to que lança mão de dados disponíveis de carga

hidráulica transiente para a identificação de pa-

râmetros físicos da rede a ser calibrada ou ain-

da para a detecção de vazamentos e demandas

nos nós, de forma a obter um ótimo ajuste en-

tre os valores observados e calculados das refe-

ridas cargas através de técnicas de otimização.

(ARAÚJO, 2003)

De acordo com Liggett e Chen (1994), a análise

inversa usando medidas do regime transiente

permite, simultaneamente, a calibração do siste-

ma e a identificação de vazamentos. Além disso,

com o uso de dados transientes, o monitoramen-

to da rede torna-se mais adequado. As ondas

transientes podem se deslocar com velocidades

muito altas; essas ondas se refletem nas junções,

válvulas e contornos do sistema. A coleta de in-

formações pela propagação da onda transiente

é a razão principal pela qual o MTI oferece maior

potencial em comparação às técnicas de calibra-

ção em estado permanente.

4 CONCLUSÃO4.1 Generalidades

Os Algoritmos Genéticos (AG’s) são métodos de

otimização e busca que usam técnicas de pro-

gramação evolucionária baseados na teoria da

evolução dos seres vivos e seleção natural do na-

turalista britânico Charles Darwin em 1859.

Com o princípio da seleção natural e a sobrevi-

vência do mais apto reproduzida sinteticamente

na ideia de seleção do algoritmo genético, junta-

mente com métodos probabilísticos para imple-

mentação, pode-se gerar populações cada vez

aprimoradas. No caso das aplicações em enge-

nharia, essa ferramenta é empregada na procura

da melhor solução de um dado problema.

Do et al. (2016) apresentaram um processo de ca-

libração de fatores multiplicadores de demanda

usando o AG com elitismo. O método conseguiu

ter uma boa estimativa dos dados monitorados

para diferentes demandas nodais, e os resulta-

dos mostraram alta sensibilidade à localização.

O funcionamento básico de um AG típico de sele-

ção com elitismo obedece aos seguintes passos:

1º passo: geração de população inicial aleató-

ria de NC indivíduos (a1, a

2, ..., α

NC), conjunto de

cromossomos, na qual cada um representa uma

possível solução do problema;

2º passo: a partir de uma função objetivo, a po-

pulação é avaliada e cada cromossomo recebe

uma nota, que representa sua aptidão, !(#$), e

mede o seu grau de sucesso;

3º passo: faz-se o ordenamento decrescente da

aptidão,

4º passo: os indivíduos considerados menos ap-

tos são descartados, e os mais aptos são sele-

cionados para transmitir suas características e

gerar uma nova população, de maneira a formar

uma população de pe x NC indivíduos. Estabele-

ce-se, assim, uma taxa de elitismo (pe);

5º passo: aplicam-se os operadores genéticos de

cruzamento e mutação nos membros selecionados

gerando descendentes para a próxima geração;

6º passo: avaliação da nova população, verifi-

cando-se a aptidão de cada novo cromossomo;

7º passo: procuram-se soluções ótimas até o cri-

tério de parada (limite máximo de gerações ou

quando a taxa de aptidão for estabelecida atra-

vés da função objetivo).

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4.2 Operadores e parâmetros do AG

•Número de Cromossomos

O parâmetro Número de Cromossomos (NC)

deve ser definido com cautela. Uma grande po-

pulação definida nos parâmetros do código leva

a um tempo de processamento muito longo.

Entretanto, se o tamanho da população for pe-

queno não haverá variedade genética suficiente

para garantir êxito na busca pela melhor solução.

Linden (2008) sugere que uma tentativa inicial

razoável para o número de indivíduos dentro de

sua população é dada por 40 vezes o número de

características em seu cromossomo.

• Número de Gerações

O parâmetro Número de Gerações (NG) é o cri-

tério de parada dos loops executados pelo algo-

ritmo. A cada iteração, há um refinamento nos

resultados de forma a se garantir progressiva-

mente melhores resultados. Entretanto, quanto

maior o número de gerações, maior será o tem-

po de processamento e nem sempre a melhoria

relativa dos resultados compensa esse tempo

perdido. Para cada tipo de problema é preciso

avaliar e testar qual valor para o número de gera-

ções atinge um resultado satisfatório no menor

tempo possível.

•Taxa de Cruzamento

O operador genético taxa de cruzamento, tam-

bém chamado de crossover, permite a criação de

uma nova geração e representa a transmissão de

características, garantindo que os cromossomos

filhos herdem características de seus cromos-

somos pais, mas que ainda assim sejam ligeira-

mente diferentes. Assim, o crossover é essencial

na garantia de que o algoritmo não se torne uma

busca aleatória. Ele é considerado o principal

mecanismo de busca dos AG’s para explorar re-

giões desconhecidas do espaço de busca. Quan-

to maior for esse operador, mais rapidamente

estruturas com boas aptidões poderão ser intro-

duzidas na população, mas da mesma maneira

tais indivíduos de boa qualidade podem ser mais

rapidamente descartados. Já com um baixo valor,

o algoritmo tende a se tornar aleatório e pode fi-

car muito lento.

• Taxa de Mutação

Após a operação de cruzamento, o operador de

mutação é aplicado, com uma probabilidade,

em cada cromossomo filho gerado. A mutação

consiste em injetar novos cromossomos na po-

pulação e permitir que o Algoritmo Genético

busque soluções fora dos limites definidos pela

população inicial, garantindo uma diversidade

genética no decorrer das gerações. Por outro

lado, destrói-se informação contida no cromos-

somo. Uma taxa de mutação baixa demais im-

plicará em uma convergência genética; já uma

taxa de mutação excessivamente alta pode levar

o algoritmo a um estado de aleatoriedade no es-

tabelecimento de suas próximas gerações. Logo,

deve ser utilizada uma probabilidade de mutação

pequena, mas suficiente para assegurar a diver-

sidade. De acordo com Linden (2008), os valores

usualmente adotados para essa taxa variam en-

tre 0,5% e 1% seguindo uma tendência de bons

resultados obtidos por trabalhos na área.

• Taxa de Elitismo

Para garantir que o algoritmo tenha seu desem-

penho melhorado a cada geração criada, o ope-

rador de elitismo deve ser inserido no código.

Esse operador seleciona uma porcentagem dos

melhores indivíduos de sua geração, escolhidos

de acordo com os valores da função objetivo, e os

leva para a geração seguinte. Dessa maneira, na

pior das hipóteses, o melhor indivíduo da gera-

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ção seguinte será sempre melhor ou igual ao da

geração anterior. Esse parâmetro é uma varian-

te artificial da seleção natural de Darwin, onde

a função objetivo funciona como mediador que

decide se o cromossomo deve ser descartado ou

selecionado para a próxima geração.

4.3 A Função Objetivo

O AG necessita de uma função objetivo para o

cálculo e avaliação da aptidão (nota) de cada in-

divíduo. Cada indivíduo consiste de: bits (no caso

de representação binária) e número real (repre-

sentação real) que definem as características de

uma solução particular. A aptidão de cada cro-

mossomo representa o ajuste entre as cargas

transientes medidas e calculadas por meio da

soma das diferenças absolutas. Assim, a aptidão

pode ser escrita como:

(3)

Onde: NM = número total de pontos; NL = número

de locais de medida na rede; ! = − $%,'( − $%,')*+

%,-

*.

',- = carga calcu-

lada; ! = − $%,'( − $%,')*+

%,-

*.

',- = carga medida; i = 1, 2, ..., NM; e j = 1,

2, ..., NL.

A calibração do parâmetro vazamento é baseada

na minimização da soma dos desvios absolutos.

Dessa forma, pode-se definir a função objetivo

como o negativo da soma dos desvios absolutos,

demonstrando que durante a identificação do

parâmetro vazamento a otimização compreende

maximizar a função objetivo.

5 CALIBRAÇÃO VIA MTI-AGA problemática é analisada para uma rede sin-

tética de distribuição de água, na qual se conhe-

cem as características físicas do sistema, vazões

e demandas estabelecidas. Pretende-se calibrar

os parâmetros que representam a identificação

do nó que contém o vazamento e a quantificação

da perda.

É necessário conhecer as condições de vazões e

cargas no regime permanente. Para tal estima-se,

inicialmente, um conjunto de parâmetros obje-

tos da calibração para a aplicação de um modelo

hidráulico permanente a fim de se conhecer as

condições iniciais. Depois, as cargas hidráuli-

cas transientes da rede hidráulica são geradas

e calcula-se a Função Objetivo. Aplicam-se os

parâmetros do algoritmo genético: seleção, cru-

zamento e mutação. O critério de parada das

simulações e comparações é o número máximo

de gerações pré-estabelecido. Ressalta-se que

no método inverso os parâmetros são conside-

rados desconhecidos, sendo objeto de busca no

problema de calibração. Só posteriormente à ca-

libração, os parâmetros reais serão comparados

com os estimados. Na Figura 1 abaixo é possível

visualizar o procedimento do modelo MTI-AG.

Para trabalhar os dados, foram empregados três

programas principais para a aplicação do méto-

do MTI-AG, desenvolvidos por Araújo (2003). O

primeiro programa reproduz os cálculos hidráu-

licos das condições permanentes, quantificando

as cargas nos nós e as vazões nos trechos. O se-

gundo programa refere-se ao modelo hidráulico

para o cálculo das cargas hidráulicas transientes

por meio do Método das Características. O ter-

ceiro programa foi construído para o procedi-

mento de otimização via Algoritmo Genético em

! = − $%,'( − $%,')*+

%,-

*.

',-

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busca da identificação do nó que contém o vaza-

mento e da quantificação da perda.

Os parâmetros do AG serão variados no código

do terceiro programa na realização de cada tes-

te. Os parâmetros a serem alterados são: Taxa de

Cruzamento (TC), Tamanho da População (NC),

Taxa de Mutação (TM), Número de Gerações (NG)

e Taxa de Elitismo (TE). Com essas variações nos

mecanismos do AG, busca-se otimizar o progra-

ma afim de se minimizar erros absolutos entre

resultados observados e simulados.

Figura 1 – Fluxograma do procedimento de calibração via MTI-AG.

Onde: k = Número da geração; FOkótima

= Função Objetivo ótima da geração k; NG = número total de gera-

ções; MOC = Método das Características; FOkótima

= Função Objetivo ótima de todo o procedimento.

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5.1 Quantificação de Vazamentos

Neste trabalho, assume-se que os vazamentos

ocorrem nos nós, tornando-se simplesmente

demandas adicionais do sistema de distribuição

de água. Fisicamente, um vazamento funciona

como um orifício descarregando livremente na

atmosfera. Desprezando a energia cinética no

interior do tubo, o vazamento, Qv, pode ser cal-

culado pela equação do orifício, válida para orifí-

cios em tubos rígidos:

!" = $%&' 2) *' − ,' (4)

Onde: Cd

= coeficiente de descarga, Av = área do

orifício, Hv = carga hidráulica no nó do vazamen-

to e zv = cota do nó do vazamento.

Brunone e Ferrante (2004) comentam que os va-

zamentos influenciam em três aspectos na forma

da onda de pressão. O primeiro deles acontece

quando a onda de pressão atinge o ponto do va-

zamento. A reflexão produzida pode ser analisa-

da por meio da observação da variação da pres-

são em determinada seção do tubo. O segundo

efeito é a distorção nos picos de pressão depois

do pico inicial, e o terceiro efeito, e último, é a

redução na amplitude da variação de pressão de-

pois que o pico de pressão inicial tenha ocorrido.

Portanto, a presença de um vazamento pode ser

detectada por meio da análise do primeiro sinal

de pressão em determinado ponto do sistema,

comparando-se as variações de pressão do con-

duto intacto e do mesmo conduto na presença

de vazamento. Assim, quanto maior e mais rápi-

da a mudança no estado do escoamento do sis-

tema, mais abruptos serão os efeitos da onda de

pressão e melhor será a detecção do vazamento.

5.2 Medida de Eficiência da Calibração

Para avaliar o grau de acerto na localização e mag-

nitude de vazamento referente aos nós que con-

têm vazamento real, o Índice de Acerto (IA) pode

ser escrito de acordo com a equação a seguir.

!" % = 1 − '()*+,- − '()+./01,23'()*+,-

4100 (5)

Onde: !" % = 1 − '()*+,- − '()+./01,23'()*+,-

4100 = vazamento no nó i, em l/s e i = nú-

mero do nó que contém vazamento real.

5.3 Aplicação do Modelo

Uma rede simples sintética de distribuição de

água contendo cinco tubos, um reservatório de

carga constante e cinco nós (Figura 2) foi utiliza-

da para ilustrar o procedimento.

Supondo a inexistência de vazamentos e condi-

ções permanentes de escoamento, foram atribuí-

das a todos os cinco tubos da rede em questão as

seguintes especificações: espessura da parede do

tubo, e’ = 10mm, coeficiente de Poisson, n = 0,25,

módulo de elasticidade do material do tubo, E =

120 GPa, módulo de elasticidade da água, K = 2,19

GPa, e massa específica da água, r = 999 kg/m³,

rugosidade dos tubos, ε = 0,3mm, fator de atrito,

f = 0,3, Cota topográfica de 0,00m para todos os

nós. As condições iniciais (regime permanente)

foram obtidas a partir de condições transientes

usando o Método das Características.

A Tabela 1 apresenta as condições de estado per-

manente da rede. A última coluna descreve o tipo

de nó. Demanda positiva indica fluxo de entra-

da na rede, enquanto demanda negativa indica

fluxo de saída. Os números entre colchetes e pa-

rênteses referem-se aos nós e tubos, respectiva-

mente. A Tabela 2 apresenta as características

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físicas e as vazões iniciais. Os parâmetros dos tu-

bos incluem o comprimento L, o diâmetro D, ve-

locidades. Os nós estão na mesma cota topográ-

fica (elevação igual a zero), e o nível da água do

reservatório de nível fixo está na cota de 75,0 m.

Para todos os testes, foi definido tempo de dura-

ção do transiente de 20 segundos. Na rede sinté-

tica, o nó escolhido para apresentar o vazamen-

to é o [2], com uma vazão de 16,5 L/s e seu CdA

v

correspondente é de 0,000429m². O objetivo do

AG é encontrar o valor do CdA

v, que é o parâme-

tro desconhecido a ser calibrado. A combinação

de valores dos parâmetros do AG que encontrar

o valor mais próximo do real será a selecionada.

Figura 2 - Rede exemplo.

Tabela 1 – Dados do estado permanente para os nós da rede.

Nó H (m) Q (m3/s) Descrição do Nó

[1] 75,00 0,1000 Reservatório de carga constante

[2] 74,53 -0,0400 Demanda Constante

[3] 24,14 -0,0200 Demanda Constante

[4] 24,13 -0,0300 Demanda Constante

[5] 24,13 -0,0100 Demanda Constante

Tabela 2 – Características físicas dos tubos e vazões iniciais.

Tubo Qinicial (m3/s) L (m) D (m) vel. (m/s)

(1) 0,100 300 0,400 0,796

(2) 0,027 305 0,100 3,484

(3) 0,007 215 0,300 0,104

(4) 0,033 215 0,100 4,156

(5) 0,003 215 0,250 0,054

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5.4 Manobra da Válvula

O nó 5 contém uma válvula reguladora, cuja ma-

nobra provoca o transiente na rede. Para se obter

os dados transientes, uma manobra de fecha-

mento de válvula foi simulada, representada pela

Figura 3 abaixo. De acordo com Araújo (2003),

a caracterização da manobra de uma válvula é

feita pela divisão entre o coeficiente de abertu-

ra (ou de fechamento) relativo, conhecido como

Tau, pelo tempo.

Figura 3 - Manobras executadas.

5.5 Configuração Geral do Algoritmo Genético

Como forma de se obter melhores soluções ao

aplicar o código para identificação de vazamen-

tos em redes de distribuição, alguns parâmetros

do Algoritmo Genético serão variados, e outros

serão mantidos. A Tabela 3 abaixo apresenta a

relação de configurações escolhidas. Foram rea-

lizadas seis aplicações do método MTI-AG, ca-

racterizadas a seguir. Em cada uma foi variado

um operador do AG e mantidos fixos os demais

operadores de acordo com uma configuração

padrão inicial escolhida (Tabela 4).

• Aplicação 1: parâmetro Elitismo, variando de

0% a 100%, em intervalos de 10%, totalizando

11 casos;

• Aplicação 2: parâmetro Mutação, variando de 0%

a 2%, em intervalos de 0,25%, totalizando 9 casos;

• Aplicação 3, 4: parâmetro Número de Gerações

e Tamanho da População, variando de 10 a 100,

em intervalos de 10, totalizando 20 casos;

• Aplicação 5: parâmetro Taxa de Cruzamento,

variando de 10% a 100%, em intervalos de 10%,

totalizando 10 casos;

• Aplicação 6: teste com os melhores parâme-

tros escolhidos em cada umas das seis aplica-

ções anteriores.

Tabela 3 - Configuração utilizada no AG.

Representação dos parâmetros Binária

Tamanho da população Variado

Tipo de cruzamento Aritmético

Probabilidade de cruzamento Variada

Tipo de mutação Uniforme

Taxa de ocorrência de mutação Variada

Taxa de elitismo Variada

Número de gerações: Variado

Tabela 4 - Configuração padrão inicial.

Taxa de Elitismo 0%

Taxa de Mutação 0,5%

Taxa de Cruzamento 100%

Número de Gerações 20

Tamanho da População 20

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6 RESULTADOS E DISCUSSÃO 6.1 Aplicação 1: Taxa de Elitismo

Ao variar o elitismo entre 0% a 100%, podemos

observar (Figura 4) que inicialmente há um au-

mento na eficiência do algoritmo, e que a partir

de 50% ele tem sua precisão reduzida gradati-

vamente. Essa redução se deve ao fato de que ao

utilizar uma alta taxa de elitismo novas gerações

estão sendo compostas em sua maioria por indiví-

duos de gerações anteriores, dando uma pequena

margem para a evolução atuar. É possível ver que

o índice de acerto foi o maior quando utilizado um

valor de 30% para o elitismo. Portanto, esse valor

será selecionado. Nota-se também na Tabela 5

que o tempo de processamento não é afetado de

maneira significativa ao se variar esse operador.

Figura 4 - Variação da Taxa de Elitismo e IA(%) correspondente.

Tabela 5 - Efeitos da variação da taxa de elitismo no IA(%) e no tempo de processamento.

Taxa de Elitismo (%)

QV(real) (L/s)

QV(estimado) (L/s) CDAV(real) CDAV(estimado) IA (%) Tempo de

Processamento (min)

0 16,5 15,41 0,000429 0,000403 93,4 8,90

10 16,5 17,9 0,000429 0,000468 91,5 9,04

20 16,5 17,3 0,000429 0,000452 95,4 9,08

30 16,5 16,4 0,000429 0,000429 99,4 9,00

40 16,5 18,1 0,000429 0,000473 90,5 9,04

50 16,5 17,2 0,000429 0,000450 95,7 9,06

60 16,5 15,3 0,000429 0,000400 92,9 9,18

70 16,5 14,3 0,000429 0,000374 86,8 9,24

80 16,5 14,7 0,000429 0,000384 88,9 9,18

90 16,5 19,0 0,000429 0,000497 84,9 8,97

100 16,5 21,5 0,000429 0,000562 70,0 8,92

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6.2 Aplicação 2: Taxa de Mutação

A mutação é o elemento que traz diversidade

para as gerações, fazendo com que elas não se-

jam tão dependentes da população inicial e que

melhores resultados sejam alcançados. Apesar

disso, quando muito alta, pode tornar as novas

gerações demasiadamente aleatórias. A biblio-

grafia indica que a taxa de mutação obtém seus

melhores resultados quando entre 0,5% e 1,5%;

neste trabalho, ela foi variada entre 0% e 2%, e o

resultado pode ser visto na Figura 5 e Tabela 6 a

seguir. Com um valor de 2% de taxa de mutação,

podemos observar uma queda muito acentuada

na eficiência do código, assim como previsto na

literatura. Percebe-se na Figura 5 que o maior IA

ocorreu para TM = 1%. Por esse motivo, esse va-

lor será o selecionado. Pode-se observar também

que o tempo de processamento não sofreu alte-

rações relevantes.

Figura 5 - Variação da Taxa de Mutação e IA(%) correspondente.

Tabela 6 - Efeitos da variação da taxa de mutação no IA(%) e no tempo de processamento.

Taxa de Mutação (%)

QV(real) (L/s)

QV(estimado) (L/s) CDAV(real) CDAV(estimado) IA (%) Tempo de

Processamento (min)

0 16,5 15,4 0,000429 0,000403 93,3 8,94

0,25 16,5 14,5 0,000429 0,000378 87,7 9,07

0,5 16,5 17,5 0,000429 0,000458 93,8 8,93

0,75 16,5 15,2 0,000429 0,000398 92,2 8,95

1,00 16,5 16,7 0,000429 0,000438 98,5 8,95

1,25 16,5 17,0 0,000429 0,000444 97,1 8,96

1,50 16,5 15,7 0,000429 0,000411 95,2 9,03

1,75 16,5 15,4 0,000429 0,000403 93,3 9,48

2,0 16,5 19,8 0,000429 0,000516 80,3 8,93

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6.3 Aplicação 3: Número de Gerações

O número de gerações é o critério de parada do

algoritmo. Pela teoria da evolução, quanto maior

for esse número, melhores serão seus indivíduos

e, nesse caso, melhores serão as soluções. Esse

fenômeno foi observado nos testes realizados

(Figura 6), entretanto o fator tempo de processa-

mento também aumentou consideravelmente. A

rede aqui estudada é composta de apenas 5 nós,

e ainda assim, ao colocar o algoritmo para rodar

por 90 ou 100 gerações, o tempo de processa-

mento foi maior que 40 minutos (Tabela 7). Para

uma rede real de distribuição de água, esse valor

aumentaria demasiadamente e seria inviável uti-

lizar-se do algoritmo genético para identificação

dos vazamentos.

O critério de parada de 50 gerações obteve um re-

sultado consideravelmente bom em aproximada-

mente a metade do tempo, e por essa razão será

selecionado. Para redes maiores, os valores de 30

e 40 gerações também podem ser utilizados caso

necessite-se de resultados mais rápidos.

Figura 6 - Variação do número de gerações e IA(%) correspondente.

Tabela 7 - Efeitos da variação do número de gerações no IA(%) e no tempo de processamento.

Número de gerações

QV(real) (L/s)

QV(estimado) (L/s) CDAV(real) CDAV(estimado) IA (%) Tempo de

Processamento (min)

10 16,5 13,7 0,000429 0,000359 83,3 4,48

20 16,5 14,1 0,000429 0,000368 85,4 8,95

30 16,5 17,8 0,000429 0,000466 91,9 13,22

40 16,5 15,5 0,000429 0,000406 94,0 18,94

50 16,5 17,1 0,000429 0,000446 96,6 23,75

60 16,5 17,2 0,000429 0,000450 95,7 27,07

70 16,5 16,3 0,000429 0,000426 98,7 31,13

80 16,5 16,4 0,000429 0,000430 99,6 36,40

90 16,5 17,1 0,000429 0,000446 96,6 40,16

100 16,5 17,3 0,000429 0,000451 95,4 44,70

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6.4 Aplicação 4: Tamanho da População

Assim como no parâmetro de número de gerações,

o tamanho da população também afeta fortemen-

te o tempo de processamento, como pode-se ob-

servar na Tabela 8, sendo este um fator a ser incluí-

do na escolha do valor ideal a ser adotado. Quanto

maior a população, maior a chance de um ou mais

de seus indivíduos serem aptos e transmitirem seus

genes para gerações seguintes. Isso pode ser visua-

lizado nos testes efetuados (Figura 7).

Como deve-se ter em mente que o modelo pode-

rá ser utilizado posteriormente em redes de larga

escala, recomenda-se que um valor intermediário

de tamanho de população seja escolhido. E já que

o número de gerações escolhido foi relativamente

alto (50 gerações), o valor aqui escolhido será de

40 indivíduos em cada população, com 91,2% de

índice de acertos e um tempo de processamento

de 17,95 minutos.

Figura 7 - Variação do tamanho da população e IA(%) correspondente.

Tabela 8 - Efeitos da variação do tamanho da população no IA(%) e no tempo de processamento.

Tamanho da população

QV(real) (L/s)

QV(estimado) (L/s) CDAV(real) CDAV(estimado)

Índice de acerto (%)

Tempo de Processamento (min)

10 16,5 14,4 0,000429 0,000376 87,1 4,46

20 16,5 15,2 0,000429 0,000399 92,4 8,94

30 16,5 18,6 0,000429 0,000485 87,5 13,34

40 16,5 15,0 0,000429 0,000394 91,2 17,95

50 16,5 17,7 0,000429 0,000462 92,9 22,52

60 16,5 15,9 0,000429 0,000448 96,1 27,16

70 16,5 16,5 0,000429 0,000430 99,7 31,40

80 16,5 16,1 0,000429 0,000421 97,5 36,05

90 16,5 16,8 0,000429 0,000440 98,0 40,39

100 16,5 16,6 0,000429 0,000434 99,4 48,65

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6.5 Aplicação 5: Taxa de Cruzamento

Sabe-se que quanto maior a probabilidade de

crossover, mais rapidamente novas estruturas

serão introduzidas na população devido à recom-

binação genética. Entretanto, caso essa taxa seja

alta demais, é possível que estruturas de boa qua-

lidade sejam descartadas rapidamente também.

Quando uma baixa taxa de cruzamento é utiliza-

da, o algoritmo pode demorar demasiadamente a

encontrar uma solução satisfatória, pois a busca

tende a se tornar aleatória.

Ao rodar os testes, não foi possível identificar o

comportamento previsto pela literatura. Na Fi-

gura 8 pode-se observar bons resultados com

valores de 10 e 20%, que são considerados bai-

xas taxas de crossover e também bons resultados

com 50, 60 e 70%. Já o tempo de processamento

permaneceu similar em todos os testes, como se

observa na Tabela 9.

Linden (2008) afirma que existe na literatura uma

tendência de se usar valores complementares en-

tre taxa de cruzamento e elitismo (crossover %

= 100% - elitismo%). De forma a garantir a não

aleatoriedade do algoritmo, os valores foram de

10% e 20%. O valor de 70% (100% - 30%) para

o parâmetro de taxa de mutação foi selecionado

para prosseguimento do teste final com os me-

lhores parâmetros.

Figura 8 - Variação do taxa de cruzamento e IA(%) correspondente.

Tabela 9 - Efeitos da variação da Taxa de Cruzamento no IA(%) e no tempo de processamento.

Taxa de cruzamento (%)

QV(real) (L/s)

QV(estimado) (L/s) CDAV(real) CDAV(estimado)

Índice de acerto (%)

Tempo de Processamento (min)

10 16,5 16,40 0,000429 0,000429 99,4 8,93

20 16,5 16,43 0,000429 0,000430 99,6 8,94

30 16,5 16,68 0,000429 0,000436 98,9 8,97

40 16,5 15,97 0,000429 0,000418 96,8 8,97

50 16,5 16,80 0,000429 0,000439 98,2 8,91

60 16,5 16,63 0,000429 0,000435 99,2 9,11

70 16,5 16,38 0,000429 0,000428 99,3 9,38

80 16,5 15,86 0,000429 0,000415 96,1 8,95

90 16,5 17,49 0,000429 0,000457 94 8,61

100 16,5 15,79 0,000429 0,000450 95,7 8,91

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6.6 Aplicação 6: Teste com os melhores parâmetros

Após fazer uma análise das variações dos índices

de acerto conforme cada parâmetro era altera-

do, os melhores resultados foram selecionados

para compor uma composição supostamente

ideal. Os valores selecionados encontram-se na

Tabela 10 abaixo. Ao rodar o programa com tal

configuração, o índice de acerto obtido foi de

99,9%. O CdA

v real definido era de 0,000429m² e

o CdA

v encontrado foi de 0,000428m². Apesar da

ótima precisão, o programa levou 46,8 minutos

para chegar a esse resultado em uma pequena

rede com 5 nós.

Tabela 10 - Melhores parâmetros encontrados.

Taxa de Elitismo 30%

Taxa de Mutação 1%

Número de Gerações 50

Tamanho das Populações 40

Taxa de Cruzamento 70%

7 CONCLUSÕES O Algoritmo Genético neste trabalho apresentou

grande potencial para mitigar o problema da ine-

xistência de mecanismos eficientes de monitora-

mento de sistemas hidráulicos. Ele vem se desta-

cando nos últimos anos ao ser aplicado em diversos

problemas na área de Engenharia Hidráulica. No

presente trabalho, seu desempenho foi testado e

constatou-se sua eficácia na identificação e quan-

tificação de vazamentos em redes de distribuição

de água. Entretanto, seu tempo de processamento

pode ser um elemento limitador de seu uso.

Ao aumentar o tamanho da população, um au-

mento na precisão do algoritmo pode ser veri-

ficado, mas seu tempo de processamento cres-

ce proporcionalmente de forma linear. Mesmo

sabendo que valores maiores proporcionariam

maior precisão, o tamanho de população igual a

40 foi selecionado, já que apresentou um resulta-

do satisfatório no teste final com baixo tempo de

processamento. O mesmo ocorre com o número

de gerações quanto ao tempo de processamento

e precisão, o valor de 50 gerações foi seleciona-

do, mas de acordo com os dados apresentados

nos resultados, um valor de 30 já traria resulta-

dos suficientemente bons. Os outros parâmetros

(taxa de mutação, elitismo e cruzamento) não

demonstraram variações significantes no tempo

de resposta. A taxa de mutação de 1% apresen-

tou a melhor solução.

A taxa de elitismo garante que indivíduos con-

siderados extremamente aptos de uma geração

permaneçam existentes na geração seguinte. Foi

identificado um aumento padrão na precisão à

medida em que se crescia o elitismo até um certo

ponto (50%), quando então os valores começam

a decair, uma vez que as gerações vão se tor-

nando demasiadamente similares e há perda na

variabilidade. O valor de 30% demonstrou ser a

melhor opção.

Paralelamente ao elitismo e de forma inversa, a

taxa de cruzamento garante a variabilidade dos

indivíduos, trazendo novas combinações nas ge-

rações seguintes. Entretanto, valores muito altos

poderiam descartar bons indivíduos de gerações

anteriores. Existe na literatura uma tendência de

se usar na taxa de cruzamento um valor de 100%

menos taxa de elitismo; portanto, apesar de seu

comportamento ter sido um tanto quanto casual,

o valor de 70% foi selecionado.

Pode-se concluir que a definição da configu-

ração geral do AG, na qual se atribuem valores

para os parâmetros de calibração do método, é

uma etapa importante e deve ser analisada com

cuidado antes de iniciar as simulações, pois cada

parâmetro exerce influência na eficiência dos re-

sultados. Foi possível identificar quais os valores

mais adequados para cada operador na calibra-

ção de vazamentos em redes hidráulicas e chegar

na melhor configuração para o caso analisado.

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ficação do Fator de Atrito em Rede de Distribuição de Água por

meio do Método do Transiente Inverso - Algoritmo Genético

(MTI-AG) e Fórmula de Swamee. Revista Brasileira de Recursos

Hídricos, v. 20, n. 4, p. 980 – 990, 2015.

VÍTKOVSKÝ, J. P.; SIMPSON, A. R.; LAMBERT, M. F. (2000). Leak

Detection and Calibration Using Transients and Genetic Algori-

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VÍTKOVSKÝ, J. P.; SIMPSON, A. R.; LAMBERT, M. F. Minimization

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WYLIE, E. B.; STREETER, V. L. Fluid transients. New York: McGra-

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artigos técnicos

Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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Caracterização, Tratamento e Gerenciamento de Subprodutos de Correntes de Esgotos Segregadas e Não Segregadas em Empreendimentos HabitacionaisProf. André Bezerra dos Santos (coordenador)

O livro digital (gratuito) e impresso “Caracterização, Tratamento e Gerenciamento de Subprodutos de Correntes de Es-gotos Segregadas e Não Segregadas em Empreendimentos Habitacionais” foi coordenado pelo Prof. André Bezerra dos Santos, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará. Ele foi um dos pro-dutos da Rede Nacional de Tratamento de Esgotos Descentralizados (RENTED), projeto de pesquisa e desenvolvimento realizado entre 2012 e 2018 e financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) a partir de recursos oriundos do Edital Chamadas Públicas MCT/Finep/Ação Transversal Saneamento Ambiental e Habitação 06/2010. Participaram da rede as seguintes ICTs: UFC, UFMG, UFSM, UFSC, UEPB, UFBA, USP, UFAL, UnB, UFPE, UFPA, UFMS e UFES.

O livro resulta da intenção dos integrantes da RENTED de apresentar não somente alguns dos resultados alcançados nas pesquisas, mas, principalmente, gerar uma publicação técnica no formato de um manual prático com foco em sistemas descentralizados de tratamento de esgotos, que possa ser utilizada nas aulas das disciplinas dos cursos de graduação e pós-graduação, assim como por empresas de consultoria, companhias de saneamento, prefeituras, órgãos governamentais, profissionais do saneamento e engenharia sanitária e ambiental, entre outros.

Buscaram-se incluir assuntos e tópicos consolidados e outros recentemente incorporados ao campo da engenharia sanitária e ambiental, como os aspectos quantitativos e qualitativos das correntes segregadas e não segregadas de esgotos, a detecção dos contaminantes de preocupação emergente (CEC), o lodo granular aeróbio (LGA) e os siste-mas microaeróbios na área de tratamento de esgotos. Incluíram-se, ainda, algumas ferramentas de sustentabilida-de, como a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) e a Avaliação Quantitativa de Risco Microbiológico (AQRM). Buscou-se, também, contemplar os avanços em sistemas mais consolidados de tratamento de esgotos como reatores UASB, FBP, lodo ativado, biorreatores com membranas, os wetlands construídos, dentre outros.

Mais informações: https://www.researchgate.net/publication/334614902_LIVRO_DIGITAL_07_DE_JUNHO_DE_2019

Abastecimento de águaHeber Pimentel Gomes

Este livro possui um enfoque acadêmico e prático, com o intuito de atender a estudantes e profissionais da área de saneamento nos ensinamentos de técnicas atualizadas de projetos de sistemas urbanos de abastecimento de água.

O livro, com 464 páginas, é composto de doze capítulos: concepção de projetos de sistemas de abastecimento de água; água requerida pelos sistemas de abastecimento; hidráulica dos condutos forçados em adutoras e redes; es-tações de bombeamento; dimensionamento de adutoras e instalações de recalque; dimensionamento de redes de abastecimento de água; modelagem hidráulica de sistemas de abastecimento de água – o programa EPANET; dimen-sionamento e reabilitação de redes mediante modelagem hidráulica – o método LENHSNET; reservatórios de regula-rização e distribuição; controle de perdas de água; eficiência energética e análise econômica de projetos.

Os métodos apresentados no livro são acompanhados de exemplos práticos detalhados, com o intuito de propor-cionar ao leitor a oportunidade de familiarizar-se melhor com suas metodologias. Todos os exemplos e os progra-mas apresentados de dimensionamento econômico e simulação de redes e elevatórias estão disponíveis na internet (http://www.lenhs.ct.ufpb.br).

O autor é professor do departamento de engenharia civil e ambiental da Universidade Federal da Paraíba - UFPB, es-pecialista em gestão de recursos hídricos pela USP/São Carlos, especialista em engenharia de irrigação pelo CEDEX/Espanha e doutor em hidráulica pela Universidade Politécnica de Madri. É autor de sete livros, das versões brasileiras dos programas EPANET e SWMM e de inúmeros trabalhos científicos publicados no Brasil e no exterior. É, atualmente, coordenador do laboratório de eficiência hidráulica e energética em saneamento – LENHS -, da UFPB, e consultor de instituições nacionais e internacionais.

O livro está disponível para venda pela Livraria da ABES nacional e no LENHS da UFPB.

Mais informações: http://www.lenhs.ct.ufpb.br

publicações

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176 Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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Mês Dias Evento LocalO

utub

ro

1 a 3Sustainable City 2019: 13th International Conference on Urban Regeneration and Sustainability

Local: Valença, EspanhaMais informações: www.iccrom.org/classifieds/classified-event/sustainable-city-2019-13th-international-conference-urban-regeneration

1 a 511th IWA EE YWP Conference: Water for All, Water for Nature, Reliable Water Supply, Wastewater, Treatment and Reuse

Local: Praga, República TchecaMais informações: http://iwa-ywp.eu/

2 a 3 I Simpósio de Ciência e Tecnologia Ambiental

Local: UFABC, Santo AndréMais informações: http://propg.ufabc.edu.br/cta/2019/06/17/i-simposio-de-ciencia-e-tecnologia-ambiental/

2 a 4 Wetland Construction: Principles, Planning and Design

Local: Nova Jersey, Estados UnidosMais informações: www.awwa.org/Events-Education/Events-Calendar/ctl/ViewEvent/mid/6794/OccuranceId/231

7 a 10 7th IWA Specialist Conference on Natural Organic Matter in Water

Local: Tóquio, JapãoMais informações: https://iwa-network.org/events/the-7th-iwa-specialist-conference-on-natural-organic-matter-in-water/

14 a 16 8th IWA Odour and VOC/Air Emissions Conference

Local: Hangzhou, ChinaMais informações: iwaodours2019.csp.escience.cn

20 a 23 Water Infrastructure Conference & Exposition

Local: St. Louis, Estados UnidosMais informações: www.awwa.org/Events-Education/Events-Calendar/ctl/ViewEvent/mid/6794/OccuranceId/86

20 a 24 11th Micropol & Ecohazard Conference 2019

Local: Seul, Coreia do SulMais Informações: www.micropol2019.org

27 a 3119th IWA International Conference on Diffuse Pollution & Eutrophication

Local: Jeju, Coreia do SulMais informações: www.iwadipcon2019.org

31 de outubro a 02 de novembro

8th IWA-ASPIRE Conference & Exhibition 2019

Local: Hong Kong, ChinaMais informações: www.iwaaspire2019.org

Nov

embr

o

10 a 14 International Water Conference Local: Orlando, Estados UnidosMais informações: https://eswp.com/water/overview/

18 a 20XXXI Congresso Centro-Americano de Engenharia Sanitária e Ambiental

Local: Cidade do Panamá, PanamáMais informações: http://www.aidisnet.org/event/xxxi-congreso-centroamericano-de-ingenieria-sanitaria-y-ambiental-xx-congreso-nacional-de-ingenieria-sanitaria-y-ambiental-ii-foro-de-aidis-joven/

24 a 28 XXIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos

Local: Foz do Iguaçu, ParanáMais informações: https://eventos.abrh.org.br/xxiiisbrh/

25 a 282019 Innovation Conference on Sustainable Wastewater Treatment and Resource Recovery

Local: Shangai, ChinaMais informações: www.nrr2019.com

eventos

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177Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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Mês Dias Evento Local

Dez

embr

o

1 a 516th International Specialised Conferences on Small Water and Wastewater Systems

Local: Murdoch, AustráliaMais informações: www.swws2019.com/

1 a 5 Water and Development Congress & Exhibition

Local: Colombo, Sri Lanka Mais informações: www.waterdevelopmentcongress.org/

1 a 44th International Conference on Desalination Using Membrane Technology

Local: Perth, AustráliaMais informações: www.elsevier.com/events/conferences/desalination-using-membrane

2 a 3 VIII Seminário sobre Tecnologias Limpas

Local: Porto Alegre - RSMais informações: http://abes-dn.org.br/?event=abes-rs-viii-seminario-sobre-tecnologias-limpas-dias-2-e-3-de-dezembro-porto-alegre-rs

3 a 5 North American Water Loss Conference & Exposition

Local: Nashville, Estados UnidosMais informações: www.awwa.org/Events-Education/Events-Calendar/ctl/ViewEvent/mid/6794/OccuranceId/89

Janeiro 2020 29 a 31

16th International Conference on Environmental, Cultural, Economic & Social Sustainability

Local: Santiago, ChileMais informações: https://onsustainability.com/2020-conference

eventos

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178 Revista DAE | núm. 219 | vol. 67 | outubro a dezembro de 2019

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