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A CORUJA E O ESPANTALHO

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A CORUJA E O ESPANTALHO

BETHO RAGUSA

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A CORUJA E O ESPANTALHO

Lucinha: Uma menina doce e esperta, que acorda do nada numa plantação de milho e carrega uma mochila cheio de segredos.

Espantalho: Protetor da plantação onde Lucinha aparece, mas a plantação já anda meio destruída por corvos que se fazem de poderosos.

Ester: Coruja sábia que tem as respostas na ponta da língua, e auxiliará Lucinha em seu trabalho escolar.

Corvo Besta e Corvo Leão / Pai e Mãe de Lucinha (na falta de atores, os mesmos que interpretam os corvos podem ser depois os pais de Lucinha)

Informações

Preservação do Meio ambiente. Todo mundo sabe o que fazer e como, o que falta é a ação. Lucinha faz uma viagem estranha a uma plantação de milho judiada onde conhece Espan, um espantalho bondoso e sua amiga Ester, uma coruja sábia. Juntos irão questionar e tentar fazer as pessoas colocarem em prática algumas coisas que se possam fazer para colaborar com a natureza, D. Ester conhece a humanidade e sabe da preguiça e comodismo que essa raça muitas vezes demonstra em relação à preservação.

Cenário

Uma plantação judiada com poucos pés de milho. Uma estaca onde o espantalho está preso.

Cena 1

(Lucinha está dormindo e o Espantalho a acorda).

Espantalho: Oi, menina? Acorde!

Lucinha (se mexe): Me deixa, estou com sono. Escola... Lição...

Espantalho: Mas você não está em escola alguma!? (Lucinha está com uma mochila a seu lado).

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Lucinha (acordando assustada): Aonde estou? Quem está aí (se levanta e olha por todos os lados, o espantalho faz cara de tacho).

Espantalho: Descobri porque os corvos idiotas comem toda a plantação. Eu sou um inútil. Não assusto ninguém.

Lucinha: Não é minha intenção magoá-lo, mas não estou te vendo, apareça!

Espantalho: Olhe para tras, aqui estou parado. E muito bem amarrado. (ela o avista e se surpreende).

Lucinha: Não pode ser. (esfrega os olhos) eu estava dormindo e então de repente acordo numa plantação e com um espantalho falante...

Espantalho: Que não assusta ninguém...

Lucinha: Sem contar que espantalhos não falam... (se aproxima dele).

Espantalho: Eu sempre falei, eu e todos que habitam por aqui.

Lucinha: Conheço histórias horríveis sobre espantalhos... Ainda bem que você está bem amarrado... Como vim parar num lugar mágico?

Espantalho: Não sei, por bom tempo tento cuidar dessa plantação. É meu trabalho.

Lucinha: Embora tenha pouca. Você sabe o nome deste lugar?

Espantalho: Pois bem, essa é a fazenda Custódia! Cada passo vira uma história! Não tentei rimar.

Lucinha: Ainda bem.

Espantalho: Como estou preso, será que a mocinha teria forças para me soltar?

Lucinha: Não sei não. Vocês são estranhos (pode haver comentários sobre como são fabricados), mas vejo que tem tudo, não lhe falta nenhuma parte e sua cabeça não é de abóbora (sussurra) porque se fosse eu sairia correndo.

Espantalho: Ah sim, a lenda de que espantalhos com cabeça de abóbora trazem azar (ri) sou inofensivo. Você devia ter medo de pessoas que jogam lixo nas ruas, poluem os rios. Essas sim são perigosas. Veja se existe alguma sujeirinha, um plástico ou papel jogado por aqui...

Lucinha: O senhor está me saindo um espantalho muito inteligente pra quem é feito de palha e trapos. Realmente de onde vim algumas pessoas tem preguiça de jogar o lixo no lixo.

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Espantalho: Tenho amigos que me contam um pouco sobre tudo. A Dona Ester por exemplo.

Lucinha (deboche): Menos mal, uma senhora que também conversa com um espantalho. Que bom, Não sou a única (...)

Espantalho: Ela é uma coruja!

Lucinha: (...) Maluca por aqui! Que ótimo. Bom, cadê a tal coruja?

Espantalho: Já está a caminho. Já que anoitece. Faz frio por aqui. Não pensa em se agasalhar?

Lucinha: Não tenho nada para me vestir...

Espantalho: E essa mochila? (ela procura e encontra a mochila dela).

Lucinha (abrindo): Blusa? Água? Camisa? Calça... Nossa essas coisas não são minhas, como vieram parar aqui? (continua mexendo) óculos... Bolsa... Não estou entendendo nada.

Espantalho: Eu sou um simples espantalho, se você não entende, quem vai entender?

Lucinha (colocando a blusa):Vou ficar aqui ao relento? Minha mãe já estaria gritando pra mim entrar, “cuidado para não pegar friagem” “olha o resfriado, tosse”... e por aí vai...

Espantalho: Bem, se isso for sonho, você não correrá esse risco. Lá vem D. Ester (Lucinha olha pra cima) ela não virá de cima.

Lucinha: O normal é uma coruja aparecer voando.

Espantalho: A casa dela é próxima daqui, ela sempre vem andando.

Lucinha: É meio difícil de aceitar, mas tudo bem. Vou sobreviver com essa diferença. Sou nova.

Ester (entrando, meiga): Temos uma visita Espan...

Espantalho: Seu nome é Lucinha, ela não sabe de onde veio. D Ester, esperamos que a senhora tenha respostas.

Ester: Respostas... Todos querem respostas. Eu poderia ajudar, mas minha visão anda turva. (pega uma caixinha e chacoalha) às vezes tenho a impressão que fomos abandonados neste lugar. Escutem. (tempo) tudo quieto aqui. Somente os grilos da baixada, os sapos da lagoa Mourinha. (mexe na bolsa) Que pena, minha bolsa já está pequena demais pra tanta coisa que guardo

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nela, Lucinha! Já estava tão à vontade com sua presença que quase não a cumprimento. Como vai você?

Lucinha: Vou bem obrigada, deixe-me ver (mexe na mochila) acho que posso ajudá-la. Tenho uma bolsa maior (pega e entrega) veja se dá certo pra senhora. É um presente.

Ester: Quanta gentileza, o normal é uma menina como você ter medo de corujas.

Lucinha: Espan me lembrou que se for sonho meu, posso decidir sobre coisas boas e coisas ruins. Não tenho medo, e tenho mais a lhe dar (pega o óculos) apareceu aqui dentro e com certeza servirá pra senhora. (entrega).

Ester (colocando os óculos): Que maravilha, eu não enxergava direito e agora tudo está claro pra mim, agradecida Lucinha. Mas vamos ao que interessa, a mocinha quer nossa opinião a respeito de como vem sendo tratado o meio ambiente.

Espantalho: Ela quer?

Lucinha: Eu não disse nada, disse?

Ester: Não disse, mas escreveu neste bilhete “Aguardo sua visita na plantação de milho, para tratar de assuntos ambientais” que mocinha inteligente. (ela mostra a Lucinha que pega).

Lucinha: E a letra é minha! (mostra ao Espantalho) incrível aonde a imaginação de uma pessoa pode ir.

Espantalho: Sem dúvida. Mas agora que vocês já se apresentaram, será que a mocinha poderia me soltar? Tudo dói, braço, perna, costas, desse jeito vou parar aonde? No hospício, comendo milho. (Lucinha o encara).

Ester: Ele não tentou rimar. Nê?

Lucinha: Espero que não. (para Espan) Espan, eu lhe solto se fizer frases com rima.

Espantalho: Acham que não sei rimar. Pois bem aceito o desafio.

Lucinha: Comece!

Ester: Vamos ver essa...

Espantalho: Bom, é... Hoje estou feliz, conheci uma garota que não tem nariz! (Lucinha leva o dedo ao nariz) vi as estrelas do céu vestirem véu. O sol de tão brilhante e forte ardia, e acabei perdendo o número da casa de minha tia.

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(Lucinha e Ester se entreolham e caem na risada).

Espantalho: E qual é a graça, posso saber?

Ester: Pelo menos ele provou que sabe rimar.

Espantalho: Posso ser desamarrado agora?

Lucinha: Pode... Você será libertado. D. Ester, me ajude... (Lucinha faz os devidos esforços para libertar Espan e ao conseguir, eles comemoram).

Espantalho: A sensação de liberdade ultrapassa toda linha da imaginação. Quem é capaz de criar essa sensação, está perto de chegar ao paraíso. Se é que já não está nele...

Ester: Aprendeu rápido sobre sensações Espan. Bom, Lucinha vamos começar agora.

Lucinha: Vocês ficam acordados até tarde? Porque é estranho...

Espantalho: Dormindo ou acordado, estou sempre aqui.

Ester: Se você fosse um pouco mais baixinha, poderia convidá-la para dormir em minha casa. Mas (mede a cabeça dela) nem sua cabeça passa pela porta.

Lucinha: Sei, isso porque “somos quase do mesmo tamanho”.

Ester: Eu sou uma coruja e você uma menina. Você imagina o tamanho de minha casa?

Lucinha: Sim e Não. Minha preocupação é que ficar aqui nesse lugar aonde não aparece ninguém a noite...

Espantalho: Pelo menos ficamos lendo, trocando informações valiosas. D. Ester me ensinou muito durante esses anos e agora enxergando melhor poderá me ensinar mais. (Lucinha mexe na mochila e encontra o caderno da escola).

Lucinha: Não acredito que eu trouxe este caderno aqui.

Ester: O que seria?

Lucinha: É o caderno de lição da escola (abre) há um trabalho a ser feito, sobre Meio ambiente “Você e o meio ambiente” o bilhete, o caderno, parece que eu planejei tudo.

Ester: Assustada?

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Lucinha: Surpresa. Bem, meio ambiente é um assunto muito falado ultimamente, a senhora deve ter percebido.

Ester: Sim, nas mais diversas viagens que fiz conheci lugares preservados pelo homem, mas também vi devastação e sofrimento, perdas. E aqueles incêndios causados por balões, quase sempre soltos na época da seca, você já viu o estrago que pode causar um balão no meio de uma floresta na época da seca? Vi animais se mudando e outros sendo mortos, os que sobrevivem carregam a marca deste crime que quase sempre fica impune, ou seja, não são encontrados os culpados.

Lucinha: Entendo D. Ester, espero que isso não afete nossa amizade, afinal sou humana, até que se prove o contrário.

Ester: Acredito que você possa ajudar a despertar as pessoas pra realidade. Senão porque viria tão disposta para este lugar sem saber o que fazer, embora já tenha sido planejado como você mesma desconfia. (Espan começa a cheirar o ar).

Lucinha: O que foi Espan, sente cheiro do que?

Espantalho: Corvos famintos por milho. Posso não ser assustador como devia, mas estou livre agora e sou forte.

Lucinha: Quem te prendeu aí?

Espantalho: O meu criador dizendo “de agora em diante protegerá minha plantação”.

Lucinha (olhando a sua volta) Parece que algo saiu errado...

Espantalho: Mas tudo pode mudar. Eu acredito que coisas boas podem acontecer, você é prova disso em sua estadia aqui olha quantas coisas boas ocorreram! Silêncio! Coachar dos sapos ao longe, ronronar dos gatos mais perto. Cripitar de grilos, sapos ficaram quietos por que? E... corvos se aproximando. (sobe na estaca) vou fingir que estou amarrado. D. Ester, pode proteger Lucinha?

Ester: Claro, você cuida dos corvos desta vez e eu da visita.

Lucinha (para Ester): Eles são perigosos?

Ester: Eles eram, enquanto Espan vivia amarrado, isso é coisa do passado.

Lucinha: Porque a senhora nunca tentou libertá-lo?

Ester: Bom, ele nunca me pediu, pensei que gostasse de ficar lá, parecia feliz e sempre me tratava com respeito e alegria, por trazer informações a ele.

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Lucinha: O conhecimento que a senhora sempre trouxe alimentava a sede dele da liberdade.

Ester: Parece que hoje você matou a sede de vez. Veja, estão vindo, (elas se escondem na coxia, pelo lado esquerdo da platéia).

Cena 2

(Corvos entram com expressão malvada).

Corvo Besta: Veja se não é o inútil espantalho da fazenda Custódia. “Cada passo vira um compasso”

Corvo Leão: “Cada passo vira uma história”, imbecil, ele não sabe rimar...

Espantalho: Boa noite amigos, podem voltar agora de onde vieram. Vão dar prejuízo em outra plantação,e ao contrário do que dizem, sei rimar.

Besta: Sabe nada, (vai começando a pegar espigas que restam).

Espantalho: Não mexe aí, amigo (Corvo Besta continua roubando, Corvo Leão se aproxima do Besta, pega um saco e o ajuda a pegar espigas, Espantalho sai de mansinho da estaca e se aproxima deles).

Besta: Leão, essa é a fazenda mais fácil de roubar milho.

Leão: Nem roubamos, é como se fosse nossa plantação. Não há ninguém para protegê-la, está abandonada.

Espantalho: Posso segurar o saco pra vocês, pegarem mais milho...

Besta: Ótimo camarada! (Besta se anima e começa a ajudar Leão a pegar milho).

Leão: Quem está segurando o saco, parceiro?

Besta: Você!

Leão: Eu não. (Besta repara ser o Espantalho).

Besta: Ah, é nosso camarada, o Espantalho, ele desceu da estaca...

Espantalho (olhando para a estaca): Desci? Oh, verdade, desci mesmo. Olhem lá. Nada de espantalho. E olha aqui embaixo dois corvos que vão sair da minha plantação. (grita) Fora! (parte pra cima deles, Besta sai correndo).

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Besta: Ele vai nos matar Leão...

Leão: Vai nada (mas vai se afastando) volta lá e pega o saco de milho dele.

Espantalho: Estou esperando (senta) vem corvo Besta...

Besta: Eu não vou.

Leão: Vai apanhar (desce o couro nele) vá pegar as espigas!

Besta: Não vou...

Espantalho: Não adianta, ele não virá. De Besta ele não tem nada. E você que se chama Leão? Tem coragem de vir pegar as espigas de sua plantação? Vai deixar o fracote do espantalho ficar com as espigas? (ninguém se mexe) Saiam! Sumam daqui, de agora em diante estou livre e posso proteger minha plantação! (eles saem derrotados, Ester e Lucinha vem até ele e o abraçam).

Lucinha: Provou ser um Espantalhão...

Ester: E repare que ele nem usou a força, se tornou um espantalho sábio.

Lucinha: Sim, verdade agora nada de se sentir inútil Espan.

Espantalho: Sim, podemos voltar ao assunto do seu trabalho...

Ester: Claro, vou começar dizendo que o mundo prefere esperar que aconteça o pior para poder tomar providencias. (Lucinha anota tudo) Parece que é mais fácil consertar, remediar, restaurar do que preservar, cuidar. Mas não, é necessário uma profunda consciência de que prevenir é melhor do que remediar,e há quem diga: sai até mais barato e a natureza agradece.

Lucinha: A senhora como já disse andou vendo um avanço legal para a preservação do meio ambiente. Eu também percebi isso, hoje em dia com várias catástrofes pelo mundo, escolas, empresas, ong’s, associações, mutirões, grupos, estão lutando a favor da natureza, claro que a todo vapor numa luta incansável, para fazer a humanidade vestir a camisa. Eles reciclam e combatem o desmatamento. A empresa do meu pai é um exemplo, ele investe em reciclagem.

Espantalho: O que são ong’s?

Lucinha: É uma organização formada por pessoas, que tem como missão a resolução de algum problema da sociedade, pode ser econômico, racial, e o nosso caso, ambiental.

Ester: Gosto de crianças inteligentes. Quem não gosta? Isso é interessante, mas a esta altura a humanidade de hoje paga pelos erros de ontem. O que fizerem no presente ficará de herança para o futuro.

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Lucinha: Eu entendo. Ainda é pouco. Eu confesso sabe, as pessoas são meio preguiçosas em relação a isso. Coisas tão simples que podem ser feitas, como fechar a torneira enquanto se escova os dentes. Essa eu já faço. Não fazia D. Ester, mas a mudança começa de nós mesmos. E as mães, lavarem a calçada e o quintal com a água usada de lavadoras e tanquinhos.

Espantalho: Boa idéia.

Lucinha: Bem, essa idéia é antiga. Mas a questão é que poucos colaboram, gastam água a vontade. Conheci uma mulher que quando ia limpar a casa parecia um pato, enchia a casa de água, deixava a borracha lá soltando água aos montes enquanto esfregava e puxava a água de dentro. Um absurdo!

Espantalho: Outra coisa que D. Ester comentou foi sobre o uso de sacolas plásticas que agridem o meio ambiente. Elas demoram séculos para se decompor. É muito tempo não acha?

Espantalho: E claro que quantas dessas sacolas vão parar em rios e até mesmo em vazadouros, impedindo que outros restos de lixo biodegradáveis se decomponham. Ao longo do tempo causam sérios danos.

Ester: Proteção ao meio ambiente começa em casa, vai pra calçada, ganha as ruas e chega nos rios. Sabemos que existe um milhão de projetos, mas falta conscientização da civilização.

Lucinha: Vou falar sobre isso...

Espantalho: D. Ester me contou que já viu gente jogando lixo em rios sendo que a lata de lixo estava ao lado, foi a preguiça que o impediu de jogar lixo no lixo?

Lucinha: Acontece muita coisa desse tipo mesmo. Olha, na minha cidade existe um projeto chamado “Catar”, a prefeitura cede o caminhão e eles seguem uma tabela para passar em todos os bairros da cidade, recolhem latas de alumínio, lâmpadas fluorescentes queimadas, pilhas, baterias de diversos aparelhos, plásticos e outros objetos que podem ser reciclados ou causam maus danos à natureza.

Ester: Isso é interessante.

Lucinha: Ah, detalhe, uma senhora de setenta e três anos faz sua parte e colabora com a natureza, ela separa tudo bonitinho e coloca na frente de sua casa nas datas certinhas e ai se eles não passarem pra pegar, ela liga atrás deles, diz ela, que está fazendo a parte dela para o futuro dos netos.

Ester: Outro exemplo importante, se uma senhora dessa idade tem esse cuidado, você não acha que tem gente nova deixando a desejar nessa questão?

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Lucinha: Ponto negativo pra eles D. Ester, essa senhora faz a parte dela.

Ester: Imagine, pessoas de sete a setenta e três anos, fazendo coisas que esta senhora faz, e economizando água, consegue visualizar? Imagino Lucinha que você tem material para seu trabalho agora.

Lucinha: Foi muito bom conversar com vocês sobre isso. Vou ganhar nota dez, vou mostrar ao meu pai. (guarda o caderno na mochila e pega roupas) acho que sei o que fazer com isso (olha para o Espantalho) aposto que é o seu número.

Espantalho: Vejamos, nossa que roupas bonitas, vivas e coloridas. Impõem mais respeito, vou experimentar, vou até ali (sai).

Ester: Você tira tudo desta mochila com uma precisão assustadora menina. Não gostaria de saber como acontece isso?

Lucinha: Eu fiquei tão feliz em ter ajudado vocês, que nem me importo mais o porquê disto ou aquilo, uma coisa é certa: tinha que ser assim mesmo.

Espantalho (da coxia): Já está quase pronto.

Lucinha: Estamos ansiosas. Peça ajuda a um corvo pra ajudá-lo, ou quem sabe os sapos da lagoa Mourinha...

(Espantalho entra ainda abotoando a camisa)

Espantalho: Vejam.. Estou bem?

Lucinha: Perfeito! Um espantalho livre, forte e bem vestido. Falta um detalhe (tira uma flor artificial da mochila e coloca no bolso do paletó do Espantalho).

Ester: Agora não falta nada.

Espantalho: Falta sim. Duelo de rimas agora. Começando: um pote de giz para deixar uma menina feliz.

Lucinha: Pó de café para me deixar de pé!

Ester: Pé me lembra chulé!

Lucinha: Não tenho chulé, mas o Espan tem cara de mané!

Ester: Isso está me dando sono, quero minha cama e tomar caldo de cana.

Espantalho: Caldo de cana não carambola, prefiro suco de acerola.

Lucinha: Decida, carambola ou acerola. E te levo de carriola, tocando viola.

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Ester: Tudo isso cansa, minha cama ainda é uma lembrança.

Espantalho: Chega, cansei de rimar, nossa. D. Ester que preguiça é essa? A senhora era a primeira a pregar peça, opa! Rimei.

Lucinha: Eu te entendo Espan, mas o sono vem chegando agora e D. Ester precisa ir embora, já vai amanhecer...

Ester: Enfim Lucinha, antes de eu ir embora vai me prometer que levará nossa conversa pelo mundo afora.

Lucinha: Claro D. Ester, estou ciente. E vou fazer tudo que aprendi ir adiante.

Ester: Bom saber disso. A natureza agradece. Já que o Espan cansou de rimar, engraçado, ele quem dá a idéia do duelo e é o primeiro a cansar.

Espantalho: Bom D. Ester agradeço sua visita nesta noite. Foi muito proveitoso. Espero vê-la em breve.

Lucinha: Foi um prazer conhecê-la D. Ester.

Ester: Até mais (sai).

Lucinha: Bom Espan, se cheguei aqui dormindo, é melhor que eu durma para poder voltar pra casa.

Espantalho: Ótima idéia, aproveite Lucinha e veja se não resta mais nada dentro de sua mochila... Não é?

Lucinha: Verdade (vai até a mochila, e mexe encontrando grãos de milho para plantio num saquinho) veja, acho que isso é para você Espan...

Espantalho: Que maravilha! (abraça ela) eu mesmo plantarei tudo pela manhã, agora então durma. Eu te protejo. O sol está vindo.

(Lucinha se agarra a mochila e dorme, luzes para mudar cenário, é o quarto de Lucinha).

Mãe (entrando): Lucinha, acorde.. Seu pai tem uma surpresa!

Pai (entrando): Filha, que trabalho é aquele na escola, me fez sentir o melhor pai do mundo, a escola divulgou em todos os canais de comunicação.

Lucinha (ainda sonolenta): Meu trabalho, por acaso sobre meio ambiente?

Pai: Claro filhinha. Parece que ainda está dormindo.

Lucinha: Eu perdi o rumo acho.

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Pai: Então encontre ele, porque tenho uma surpresa. Fui conhecer com seu tio uma fazenda que fica há alguns kilômetros daqui, e ele queria que eu entrasse de parceria na compra dela, inclusive. Olha o nome da fazenda: Custódia! (Lucinha se assusta) e mais engraçado ainda: tem um letreiro que diz: “Cada passo vira uma história” não tentaram rimar isso eu espero.

Lucinha: Também espero. (feliz) Por acaso tem uma plantação de milho lá?

Pai: Sim, e um espantalho perfeito, imponente. Você vai ficar com medo dele...

Lucinha: Pai, espantalhos assustam pássaros xeretas, corvos bestas e que se sentem como leão.

Pai: Tem algo estranho por lá também... Um ninho de coruja, num tronco de árvore, perto da plantação, e havia uma bolsa grande pendurada num dos galhos dessa árvore, por um momento me deu a impressão de conhecer aquela bolsa de algum lugar...

Lucinha (lembrando): “ela sempre vem andando”...

Pai: Ela quem?

Lucinha: Nada pai, estou me lembrando de uma história...

Pai: E adivinha a melhor notícia? (Lucinha o encara ansiosa) compramos a fazenda! (Lucinha entra em êxtase ao lado de sua mãe e todos se abraçam, os pais dela saem, ela volta a deitar na cama e então se lembra da mochila, pega e encontra um bilhete de retorno).

Lucinha: Foi tudo real, eu estive lá, (abre o bilhete) “Seja bem vinda a fazenda Custódia, cada passo, brincadeirinha.... estamos aguardando sua visita, assinado: Ester e Espan” (Lucinha, sorri, diminuição de luz).

FIM

Betho Ragusa

[email protected]

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