5 - História de Portugal Batalha de Aljubarrota

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História de Portugal: a Batalha de Aljubarrota A seguir à crise de 1383 1385, Vasco da Gama narra a Batalha de Aljubarrota ao rei de Melinde. Trata-se de um episódio bélico, no qual se destacam as figuras de Nuno Álvares Pereira, considerado uma das personagens mais corajosas da História de Portugal e de D. João I, mestre de Avis, que combatendo ao lado do exército, incita os soldados portugueses a lutarem contra os inimigos. É importante referir que o exército castelhano era quatro vezes maior que o português e que nesta batalha estava em causa a independência de Portugal. A Batalha de Aljubarrota travou-se no dia 14 de Agosto de 1385, entre portugueses e castelhanos, e está inserida no conjunto de confrontos motivados pela luta da sucessão ao trono português. Esta batalha foi um momento alto e importante na luta com Castela, pois desmoralizou o inimigo e aqueles que o apoiavam, e praticamente assegurou a continuidade da independência nacional.

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Vasco da Gama narra a Batalha de Aljubarrota ao rei de Melinde. Esta Batalha travou-se no dia 14 de Agosto de 1385, entre portugueses e castelhanos, e está inserida no conjunto de confrontos motivados pela luta da sucessão ao trono português.

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História de Portugal: a Batalha de Aljubarrota

A seguir à crise de 1383 – 1385, Vasco da Gama narra a Batalha de

Aljubarrota ao rei de Melinde. Trata-se de um episódio bélico, no qual se destacam as

figuras de Nuno Álvares Pereira, considerado uma das personagens mais corajosas da

História de Portugal e de D. João I, mestre de Avis, que combatendo ao lado do

exército, incita os soldados portugueses a lutarem contra os inimigos. É importante

referir que o exército castelhano era quatro vezes maior que o português e que nesta

batalha estava em causa a independência de Portugal.

A Batalha de Aljubarrota travou-se no dia 14 de Agosto de 1385, entre

portugueses e castelhanos, e está inserida no conjunto de confrontos motivados pela

luta da sucessão ao trono português.

Esta batalha foi um momento alto e importante na luta com Castela, pois

desmoralizou o inimigo e aqueles que o apoiavam, e praticamente assegurou a

continuidade da independência nacional.

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Batalha de Aljubarrota (est. 28 a 45) Tema e divisão em partes: O texto, cujo tema é a descrição da batalha de Aljubarrota, pode dividir-se em três partes lógicas. A primeira parte (28 e 29) constitui uma espécie de introdução, em que o poeta assinala o terrível efeito provocado, na natureza e nas pessoas, pelo espantoso sinal lançado pela trombeta castelhana para o começo da batalha. A segunda parte - desenvolvimento (de 30 a 42) é a descrição propriamente dita da batalha (entrecortada por um comentário emotivo do poeta na estrofe 33), em que se realça a acção de Nuno Álvares (30, 34 e 35), o movimento terrificamente barulhento e confuso da refrega (31), a referência aos irmãos de Nuno Álvares que lutavam do lado dos castelhanos e respectivo comentário do poeta (32 e 33), a acção de D. João I, que, como chefe e rei, a todos entusiasmava não só com palavras, mas também com o exemplo (entre as setas dos inimigos corro e vou primeiro). Finalmente, a terceira e última parte – conclusão (43-45) apresenta-nos a desmoralização e fuga desastrosa dos castelhanos e a vitória eufórica dos portugueses.

Primeira parte – Introdução (est. 28 e 29)

Síntese A trombeta castelhana dá o sinal para a guerra e este ecoa por toda a Península Ibérica, desde o Cabo Finisterra ao Guadiana, desde o Douro ao Alentejo. As mães apertam os filhos contra os peitos. Há rostos sem cor e o terror é grande, muitas vezes maior do que o próprio perigo. Durante o combate as pessoas, com o furor de vencer, esquecem-se do perigo e da possibilidade de ficarem feridas ou mesmo de perderem a própria vida.

1. Assinala com V (verdadeira) ou F (falsa) as seguintes afirmações:

a) Neste episódio, Paulo da Gama relata ao Catual a batalha do Salado. a) Vasco da Gama continua a narrar ao rei de Melinde a História de Portugal. b) A Batalha de Aljubarrota foi travada entre os exércitos português e castelhano. c) Nuno Álvares Pereira comandava a vanguarda portuguesa.

2. Identifica os adjectivos que caracterizam o sinal, sublinhando-os.

―Deu sinal a trombeta Castelhana,

Horrendo, fero, ingente e temeroso;‖ 3. Associa cada um dos adjectivos ao seu significado.

a) horrendo 1. cruel

b) fero 2. enorme

c) ingente 3. pavoroso

d) temeroso 4. medonho

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Repara que, de adjectivo para adjectivo, a intensidade da ideia aumenta. A

este tipo de recurso estilístico damos o nome de gradação.

Gradação

A gradação consiste na apresentação de vários elementos segundo uma

ordem crescente ou decrescente.

4. ―Ouviu-o o monte Artabro, e Guadiana

Atrás tornou as ondas de medroso;

Ouviu-o o Douro e a terra Transtagana;

Correu ao mar o Tejo duvidoso;‖

4.1. Associa cada sujeito à respectiva acção.

a) Monte Artabro 1. correu

b) Guadiana

c) Douro 2. ouviu

d) Transtagana

e) Tejo 3. tornou

4.2. Que tipo de elementos são estes sujeitos?

R.: ___________________________________

4.3. E estas acções, a quem são normalmente atribuídas?

R.: ________________________

De facto, os rios e os montes não ouvem, assim como não são medrosos ou

duvidosos. Estas características são atributos de seres humanos e são aqui usadas

pelo poeta para realçar o efeito do som produzido pela trombeta. A este tipo de

recurso estilístico dá-se o nome de personificação.

Personificação

A personificação é um recurso que consiste na atribuição de características

próprias de pessoas a animais, coisas ou ideias.

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Análise estilística das estrofes 28 e 29:

0 poeta realça logo o tremendo sinal de combate, dado pelos castelhanos, por meio dos adjectivos horrendo, fero, ingente, temeroso, som terríbil. Com o fim de realçar o efeito produzido por esse tremendo som da trombeta castelhana, há a personificação de seres da natureza física (o monte, os rios) que, eles próprios, tremeram frente a esse terrível sinal de guerra. Associada à personificação surge também a hipérbole: o Guadiana atrás tornou as ondas de medroso; correu ao mar o Tejo duvidoso. Como símbolo do medo e terror deste som da guerra aparece a ternura das mães, aos peitos os filhinhos apertando. O efeito deste sinal de guerra é ainda realçado pelos rostos macilentos (quantos rostos ali se vêem sem cor). Para realçar este pavor que precedeu a própria batalha, o poeta afirma, a jeito de conclusão, que nos perigos grandes, o temor é maior muitas vezes que o perigo.

Segunda parte – Desenvolvimento (est. 30 a 42) Síntese A guerra começa. Uns são movidos pela defesa da sua própria terra e outros pelo desejo de vitória. Os inimigos são muito numerosos, mas os portugueses defendem-se com bravura. D. Nuno Álvares Pereira destaca-se na luta. D. Diogo e D. Pedro Pereira, irmãos de Nuno Álvares Pereira, estão a combater contra ele, ―(caso feio e cruel)‖ – no entanto, não tão grave como combater contra o rei e a pátria. No primeiro esquadrão há portugueses que renegaram a pátria e combatem contra seus irmãos. D. João I, sabendo que D. Nuno Álvares corria perigo, acudiu à linha da frente para apoiar os guerreiros com a sua presença e palavras de encorajamento e, com um único tiro, matou muitos adversários. Depois desta situação, os portugueses mais entusiasmados lutam sem recearem perder a vida. Muitos são feridos, muitos morrem, mas a bandeira castelhana é derrubada aos pés da lusitana. Com a queda da bandeira castelhana, a batalha tornou-se ainda mais cruel. Sem forças para combaterem, os castelhanos começam a fugir e o rei de Castela vê-se derrotado e impedido de atingir o seu propósito. Análise estilística da estrofe 31: Na estrofe 31 note-se a expressividade dos adjectivos: espesso ar (a salientar que a própria atmosfera se mostrava de ar carregado), estridentes farpões, pés duros, ardentes cavalos, duras armas; a expressividade dos verbos: tiros voavam, treme a terra; vales soam, espedaçam-se as lanças, tudo atroam, recrescem os inimigos. Há também a inversão da ordem das palavras (hipérbato), ao gosto clássico. Mas o que mais impressiona nesta estrofe é a admirável harmonia imitativa (onomatopaica) que existe entre o seu corpo fónico e o barulho da batalha. Como exemplo, aponte-se a frequência das sibilantes dos três primeiros versos e do 5º, sugerindo o sibilar das setas; as aliterações verificadas sobretudo nos versos 3º e 6º; a frequência dos rr, sobretudo no versos 2º, 4º e 6º, imitando o som ríspido e rude da refrega. Há ainda o ritmo próprio do verso heróico, com os acentos na sexta e décima sílabas, a alternância de ritmos (binário e ternário) e a frequência das oclusivas (p, t, d, b, c), tudo isto sugerindo, sobretudo nos quatro primeiros versos, o tropel dos cavalos. Observe-se, finalmente, o trocadilho nos dois últimos versos pouca e apouca.

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Em poucos textos da nossa literatura o significante terá tanta importância como nesta estrofe 31, para dar visualidade e impressionismo à mensagem. Aqui as palavras valem quase tanto pelo seu corpo fónico (significante) como pelo seu significado, na construção da mensagem. Veja-se como o corpo fónico das palavras sublinha o seu significado nestes dois versos, em que as aliterações e a sucessão de sibilantes se aliam ao encavalgamento, para sugerirem a catadupa estilhaçante de lanças e armas nas sucessivas quedas:

Espedaçam-se as lanças, e as frequentes

Quedas co as duras armas tudo atroam.

Intenção e efeito da estrofe 33: Esta intervenção emocional do poeta, apostrofando célebres traidores da pátria, serve para, a jeito de coro na tragédia, pôr em evidência e comentar o caso feio e cruel de dois irmãos de Nuno Álvares se encontrarem do lado dos castelhanos, lutando contra a sua pátria e contra seu irmão. A descrição da batalha é um episódio essencialmente cavaleiresco, dominado do princípio ao fim pela bravura patriótica de Nuno Álvares. O facto de surgirem dois irmãos, como ele portugueses (esses renegados), lutando contra a pátria e contra o irmão, além de conferir maior dramatismo à descrição pelo que há de chocante em semelhante traição, vem realçar a figura impolutamente patriótica de Nuno Álvares. A descrição da batalha de Aljubarrota é-nos dada pelo poeta sobretudo como um quadro exaltador de Nuno Álvares.

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5. Sublinha os versos da estrofe 30, que se segue, que indicam a causa da guerra. ―Começa-se a travar a incerta guerra;

De ambas partes se move a primeira ala;

Uns leva a defensão da própria terra,

Outros as esperanças de ganhá-la;

Logo o grande Pereira, em quem se encerra

Todo o valor, primeiro se assinala:

Derriba, e encontra, e a terra enfim semeia

Dos que a tanto desejam, sendo alheia.‖

6. Completa as seguintes frases com as palavras que se seguem:

portugueses castelhanos

a) D. João I de Castela comandava o exército dos _______________________;

D. João I encorajava os _________________________.

b) O exército dos ___________________ estava organizado em quatro formações

(vanguarda, retaguarda, ala direita e esquerda). Assim, os _______________________

foram esmagados, porque estavam aglomerados num espaço apertado.

d) Apesar da grande superioridade numérica dos __________________, os

____________________ venceram a batalha de Aljubarrota.

7. Atenta na estrofe 31 e preenche as respectivas caixas com os substantivos e os

verbos presentes nesta estrofe.

―Já pelo espesso ar os estridentes

Farpões, setas e vários tiros voam;

Debaixo dos pés duros dos ardentes

Cavalos treme a terra, os vales soam;

Espedaçam-se as lanças; e as frequentes

Quedas co as duras armas, tudo atroam;

Recrescem os amigos sobre a pouca

Gente do fero Nuno, que os apouca.‖

Substantivos Verbos

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Repara que os substantivos pertencem maioritariamente ao campo lexical da

guerra e que os verbos remetem essencialmente para a ideia de movimento e de

barulho! Nesta estrofe, o poeta quis criar um quadro real, como se estivéssemos, de

facto, a assistir à batalha.

Para reforçar esta ideia, o poeta recorreu também à aliteração, ou seja, à

repetição de determinados sons, nomeadamente do t, que transmitem a ideia de

movimento ritmado – o avançar dos soldados.

8. Atenta no seguinte verso:

“De Ceita está o fortíssimo leão” (est. 34).

8.1. Como já vimos noutras aulas, as palavras vão evoluindo com o passar do

tempo. A palavra leão é um exemplo disso. Identifica os fenómenos fonéticos

presentes na passagem do latim para o português:

leonem > leone > leon > leão

1. _________________

2. _________________

3. _________________

9. “Com mortes, gritos, sangue e cutiladas;” (est. 42) 9.1. Associa para cada nome o tipo de sensação que é sugerida:

cutiladas tácteis gustativas gritos visuais auditivas sangue olfactivas

9.2. Identifica o recurso estilístico presente no verso transcrito em 9. R.: ____________________

Neste verso, o poeta apresenta seguidos, vários elementos do cenário de guerra, para dar mais ênfase ao momento violento e terrível que é descrito. A este recurso de estilo dá-se o nome de enumeração.

Enumeração

Figura de estilo que consiste na apresentação sucessiva de vários elementos de um conjunto. O primeiro ou o último elemento pode sintetizar o conjunto.

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Terceira parte – Conclusão (est. 43 a 45) Síntese Os castelhanos fogem vencidos e encobrem a dor das mortes, a mágoa, a desonra, maldizendo e blasfemando de quem inventou a guerra ou atribuindo a culpa à sede de poder e à cobiça. D. João I passa alguns dias no campo de batalha para comemorar e agradecer a Deus a vitória com ofertas e romarias, mas D. Nuno Álvares Pereira, que só quer ser recordado pelos feitos bélicos, desloca-se para o Alentejo.

D. João I

10. “Seguem-no os que ficaram, e o temor

Lhe dá, não pés, mas asas à fugida.”

(est. 43) D. Nuno Álvares Pereira

10.1. De facto, os castelhanos, aquando da perda da guerra, ficaram com tanto medo e

fugiram com tal rapidez que parecia que tinham asas e não pés, como se voassem. Que figura de estilo está patente nestes versos? R.: ____________________

Relembra: A metáfora é um recurso estilístico que consiste numa comparação, numa associação de elementos em virtude da sua semelhança sem o uso do elemento específico de comparação – “como”, “equivalente”, “parecido”, “semelhante”.

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11. Associa as figuras de estilo aos versos correspondentes. Hipérbole ―Com força tira; e, deste único tiro,

Muitos lançaram o último suspiro.‖ (est. 38)

Metonímia ―— Ó fortes companheiros, ó subidos

Cavaleiros,‖ (est 37)

Apóstrofe ―Com ofertas depois, e romarias,

As graças deu a quem lhe deu vitória.‖ (est. 45)

Aliteração ―Que as costas dê, mas antes na espessura

Das lanças se arremessa, que recrescem.‖ (est. 35)

12. O tempo verbal predominantemente utilizado na descrição da batalha é o

presente.

12.1. Sublinha os verbos presentes na estrofe 37 que justificam esta afirmação.

―Corre raivosa, e freme, e com bramidos

Os montes Sete Irmãos atroa e abala:

Tal Joane, com outros escolhidos

Dos seus, correndo acode à primeira ala:

—―Ó fortes companheiros, ó subidos

Cavaleiros, a quem nenhum se iguala,

Defendei vossas terras, que a esperança

Da liberdade está na vossa lança.‖

13. Associa às respectivas palavras os fenómenos fonéticos que sofreram.

a) Apócope canes > cães

b) Nasalação amore > amor

c) Síncope dat > dá

d) Aférese Joane > João

Mosteiro da Batalha

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Mosteiro da Batalha

Em cumprimento de um voto e para comemoração da vitória da batalha de Aljubarrota,

1385, o rei D. João I, mandou edificar um mosteiro com a sua igreja sob a invocação de

Nossa Senhora da Vitória, que todos conhecem como o Mosteiro da Batalha.

A construção do edifício teve início em fins do séc. XIV adoptando estilos gótico e

manuelino.

Ao visitante interessa observar, as naves, a capela octogonal com o túmulo de D. João I,

os claustros, a sala do capítulo, célebre pelo arrojo da abóbada e as capelas imperfeitas

(assim designadas por nunca terem sido terminadas, não chegando a receber cobertura).

Campo de São Jorge

Bom trabalho!

Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos