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Simp.TCC/ Sem.IC.2017(12);2329- 2336 2329 PEDAGOGIA A RELAÇÃO DO DESENHO E DO GRAFISMO NO DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL THE RELATIONSHIP OF DRAWING AND GRAPHISM IN THE DEVELOPMENT OF CHILDRENS WRITING IN CHILDRENS EDUCATION IANDEYARA LUCIA PATURI DE SOUZA EDLAMAR CLAUSS Resumo A origem deste presente artigo surgiu a partir da observação do desenvolvimento gráfico de crianças da faixa etária de 4-6 anos de idade no período de 1 ano. A partir dessa observação, foram feitas pesquisas bibliográficas de autores que estudaram, sob diferentes olhares, a questão do desenho infantil, tais como Emília Ferreiro, Ana Teberoski, Victor Lowenfeld, Rosa Iavelberg, Henri Luquet, entre outros. Tais leituras e a própria vivência em sala de aula ajudou a autora a perceber a necessidade de se estudar o processo de construção do desenho e do grafismo e de que forma os dois colaboram na evolução da escrita da criança. O problema de pesquisa referência desse projeto é: Qual a relação entre os desenhos produzidos pela criança e a preparação para a alfabetização escrita? Para responder a essa pergunta, este artigo conta com uma pesquisa exploratória com estudo de campo a fim de analisar a metodologia adotada pelos professores da Educação Infantil, pré-escola, para a produção de desenhos e do grafismo pelo alunado, e a relação que estes docentes estabelecem com a pré-alfabetização. Palavras-chave: Desenho infantil. Alfabetização. Desenvolvimento gráfico. Abstract The origin of this article arose from the observation of the graphic development of children aged 4-6 years old in the 1 year period. From this observation, bibliographical researches were carried out by authors who studied under different perspectives, the issue of children’s drawing, such as Emília Ferreiro, Ana Teberoski, Victor Lowenfeld, Rosa Iavelberg, Henri Luquet, among others. These readings and her own experience in the classroom helped the author to understand the need to study the process of drawing and how the two collaborate in the evolution of the child’s writing. The reference research problem of this project is: What is the relation between the drawings produced by the child and the preparation for written literacy? To answer this question, this article has an exploratory research with field study to analyze the methodology adopted by pre-school teachers for the production of drawings and graphics by the student, and the relashionship that these teachers establish with pre-literacy. Keywords:Child’s drawing. Literacy. Graphic development. INTRODUÇÃO A presença do desenho na rotina da Educação Infantil não é uma novidade, porém, a reflexão do docente acerca deste simples ato é rara em muitas escolas de pré-alfabetização. A maneira como é dada a oportunidade da criança criar e se expressar através dessa atividade precisa ser pensada, organizada e adequada de maneira que o docente respeite o potencial criativo de cada criança. Apesar de o ato de desenhar ser algo natural e mecânico para as crianças, é preciso que os adultos que a cercam compreendam que este é um modo muito significativo e prazeroso de expressão, representação e comunicação desde os primórdios da humanidade, como mostram os desenhos rupestres. A criança fala, sente, e se expressa através dos desenhos. Inicialmente, não é necessário atribuir grandes significados aos seus rabiscos, pois quando a criança se inicia nesse universo, o que a diverte é o descobrimento das propriedades do giz, lápis e tinta. Mas com o passar do tempo, esses rabiscos e desenhos passam a ser feitos intencionalmente, como maneira de comunicar seus pensamentos, desejos e emoções, brincando com a realidade. A partir daí que seus desenhos ganham simbologia e significação, pois a criança utiliza deste método para se comunicar. Daí surge a importância de se estudar o processo de construção do desenho e do grafismo, e de que forma os dois, quando trabalhados equilibradamente, pensando sobre a maneira que a criança age e pensa sobre o mundo, podem colaborar na evolução de sua escrita. Muitos professores da Educação Infantil e, principalmente, dos anos iniciais do Ensino Fundamental, afirmam que não podem perder tempo com desenhos, pois há muito conteúdo a ser desenvolvido em sala de aula, dando mais importância aos conteúdos que à expressão das crianças, conforme observado pela pesquisadora em sala de aula. Porém, o que deveria acontecer é exatamente o contrário, pois ao desenhar, a criança está desenvolvendo suas experiências e visão de mundo, o que tornaria mais fácil, sua aquisição de conteúdos, a partir da correlação. Diante disso, o problema de pesquisa referencia desse artigo é: Qual a relação entre os desenhos produzidos pela criança e a preparação para a alfabetização escrita? É importante que as crianças ultrapassem todas as fases de construção do desenho, pois elas estão intimamente ligadas com o desenvolvimento da escrita. Como observado pela autora em sala de aula, quanto mais às crianças se interessam pelo desenho, mais sua coordenação motora fina se fortalece e a sua escrita automaticamente se desenvolve, pois o movimento e a força aplicada

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PEDAGOGIA A RELAÇÃO DO DESENHO E DO GRAFISMO NO DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

THE RELATIONSHIP OF DRAWING AND

GRAPHISM IN THE DEVELOPMENT OF

CHILDRENS WRITING IN CHILDRENS

EDUCATION

IANDEYARA LUCIA PATURI DE SOUZA EDLAMAR CLAUSS

Resumo A origem deste presente artigo surgiu a partir da observação do desenvolvimento gráfico de crianças da faixa etária de 4-6 anos de idade no período de 1 ano. A partir dessa observação, foram feitas pesquisas bibliográficas de autores que estudaram, sob diferentes olhares, a questão do desenho infantil, tais como Emília Ferreiro, Ana Teberoski, Victor Lowenfeld, Rosa Iavelberg, Henri Luquet, entre outros. Tais leituras e a própria vivência em sala de aula ajudou a autora a perceber a necessidade de se estudar o processo de construção do desenho e do grafismo e de que forma os dois colaboram na evolução da escrita da criança. O problema de pesquisa referência desse projeto é: Qual a relação entre os desenhos produzidos pela criança e a preparação para a alfabetização escrita? Para responder a essa pergunta, este artigo conta com uma pesquisa exploratória com estudo de campo a fim de analisar a metodologia adotada pelos professores da Educação Infantil, pré-escola, para a produção de desenhos e do grafismo pelo alunado, e a relação que estes docentes estabelecem com a pré-alfabetização. Palavras-chave : Desenho infantil. Alfabetização. Desenvolvimento gráfico. Abstract The origin of this article arose from the observation of the graphic development of children aged 4-6 years old in the 1 year period. From this observation, bibliographical researches were carried out by authors who studied under different perspectives, the issue of children’s drawing, such as Emília Ferreiro, Ana Teberoski, Victor Lowenfeld, Rosa Iavelberg, Henri Luquet, among others. These readings and her own experience in the classroom helped the author to understand the need to study the process of drawing and how the two collaborate in the evolution of the child’s writing. The reference research problem of this project is: What is the relation between the drawings produced by the child and the preparation for written literacy? To answer this question, this article has an exploratory research with field study to analyze the methodology adopted by pre-school teachers for the production of drawings and graphics by the student, and the relashionship that these teachers establish with pre-literacy. Keywords: Child’s drawing. Literacy. Graphic development. INTRODUÇÃO A presença do desenho na rotina da Educação Infantil não é uma novidade, porém, a reflexão do docente acerca deste simples ato é rara em muitas escolas de pré-alfabetização. A maneira como é dada a oportunidade da criança criar e se expressar através dessa atividade precisa ser pensada, organizada e adequada de maneira que o docente respeite o potencial criativo de cada criança. Apesar de o ato de desenhar ser algo natural e mecânico para as crianças, é preciso que os adultos que a cercam compreendam que este é um modo muito significativo e prazeroso de expressão, representação e comunicação desde os primórdios da humanidade, como mostram os desenhos rupestres. A criança fala, sente, e se expressa através dos desenhos. Inicialmente, não é necessário atribuir grandes significados aos seus rabiscos, pois quando a criança se inicia nesse universo, o que a diverte é o descobrimento das propriedades do giz, lápis e tinta. Mas com o passar do tempo, esses rabiscos e desenhos passam a ser feitos intencionalmente, como maneira de comunicar seus pensamentos, desejos e emoções, brincando com a realidade. A partir daí que seus desenhos ganham simbologia e significação, pois a criança utiliza deste método para se comunicar.

Daí surge a importância de se estudar o processo de construção do desenho e do grafismo, e de que forma os dois, quando trabalhados equilibradamente, pensando sobre a maneira que a criança age e pensa sobre o mundo, podem colaborar na evolução de sua escrita. Muitos professores da Educação Infantil e, principalmente, dos anos iniciais do Ensino Fundamental, afirmam que não podem perder tempo com desenhos, pois há muito conteúdo a ser desenvolvido em sala de aula, dando mais importância aos conteúdos que à expressão das crianças, conforme observado pela pesquisadora em sala de aula. Porém, o que deveria acontecer é exatamente o contrário, pois ao desenhar, a criança está desenvolvendo suas experiências e visão de mundo, o que tornaria mais fácil, sua aquisição de conteúdos, a partir da correlação. Diante disso, o problema de pesquisa referencia desse artigo é: Qual a relação entre os desenhos produzidos pela criança e a preparação para a alfabetização escrita? É importante que as crianças ultrapassem todas as fases de construção do desenho, pois elas estão intimamente ligadas com o desenvolvimento da escrita. Como observado pela autora em sala de aula, quanto mais às crianças se interessam pelo desenho, mais sua coordenação motora fina se fortalece e a sua escrita automaticamente se desenvolve, pois o movimento e a força aplicada

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no lápis tornam-se cada vez mais fácil para a criança. Ante o exposto, percebe-se que tornasse necessários estudos acerca do desenho e do grafismo, visto que, as crianças têm sido moldadas em sala de aula a não se expressarem devidamente, o que como visto anteriormente, atrapalha seu desenvolvimento cognitivo. Além disso, a valorização dos desenhos e da produção gráfica, principalmente, dos alunos da pré-escola, pelo professor, é de suma importância, pois, pode indicar o processo pelo qual o aluno está percorrendo para alfabetização escrita, se usado o método de Ana Teberoski e Emília Ferrero, chamado “Teoria da Psicogênese”. Se os profissionais da área compreendessem e estudassem esses aspectos, diminuiria consideravelmente a quantidade de alunos com dificuldades de aprendizagem durante o processo de alfabetização. Por esses motivos, é justificável que acompanhemos o desenvolvimento de nossas crianças e os ajudemos a traçar esse caminho de encontro com a alfabetização.Por este motivo, este artigo tem como objetivo analisar a metodologia adotada pelos professores da Educação Infantil, pré-escola, para a produção de desenhos e do grafismo pelo alunado, e a relação que estes docentes estabelecem com a pré-alfabetização. Materiais e métodos Para analisar a metodologia adotada pelos professores da Educação Infantil para a produção de desenho e do grafismo pelo alunado, a autora utilizará um estudo bibliográfico e relato de experiência como método de pesquisa. Foram feitas observações em 01 turma da pré-escola de 01 Instituição de Ensino Privada localizada em Brasília, além da coleta das produções dessas crianças. O total de alunos a serem analisadas as produções foram 06. Este tipo de metodologia será usado neste artigo, pois anteriormente a autora já realizou um trabalho de observação e participação em uma Instituição de Ensino Privada, localizada em Brasília em duas turmas de Educação Infantil IV, também chamada de Jardim I, das quais os alunos possuem de 3 a 5 anos de idade, e foi possível captar as diferentes fases – não todas – do desenho e do grafismo infantil, mesmo que a maioria das crianças possuem a mesma faixa etária. Dito isso, a autora, apesar de compreender as diferentes fases do desenho e do grafismo, percebeu e sentiu dificuldade em relacioná-las em cada uma das obras recebidas, pois não foi possível perceber onde cada fase se inicia ou termina, ficando um pouco de cada fase em suas obras. Com relação à experiência vivida para a realização deste artigo, a autora elaborou uma

atividade da qual as crianças já estavam inseridas em seu contexto, pois a professora já estava trabalhando as emoções em sala de aula durante algum tempo. O objetivo de tal atividade era que a criança mostrasse, através do desenho, coisas das quais elas sentissem medo, e assim feito, a autora coletaria suas obras para uma pequena análise. ANÁLISE TEÓRICA O Desenho e a Criança O desenho existe desde a pré-história, como forma demanifestação estética, histórica, cultural e linguagem específica do ser humano, porém só obteve seu status de arte durante a Idade Média, por conta do que Meredieu (2015) chama de mutação da arte, que ocorreu no final do século XIX. Os artistas contemporâneos se voltaram para as formas de produção consideradas à margem da arte tradicional e passaram a interessar-se pela expressão espontânea e original: artesanato, folclores, às produções dos primitivos e doentes mentais. O interesse pelo desenho infantil veio daí, e data a partir de 1880,e esses estudos diversificaram-se rapidamente, influenciando diversas áreas diferentes, tais como pedagogia, psicologia, sociologia e estética. Segundo Meredieu (2015) no momento atual, os estudos sobre o desenho beneficiaram-se da contribuição de Piaget, que apresenta os mecanismos da expressão infantil, seja ela gráfica, gestual ou musical. Por conta disso, as perspectivas relativas à infância modificaram-se ao longo dos anos: a criança parou de ser vista como um adulto em miniatura, e graças principalmente, à psicologia, hoje é possível decifrar de maneira básica, a mentalidade infantil, e por isso,é possível também, arriscar uma leitura simples a respeito das suas representações gráficas. O Grafismo O grafismo é a maneira particular de escrever ou representar palavras em uma determinada língua; grafia; ortografia; ou simplesmente, o jeito de escrever. Dessa maneira, o grafismo, assim como o desenho, é para acriança a maneira mais significativa de se representar, traduzir e expor o mundo onde vive, combinando a realidade com o mundo imaginário. O real construído e apropriado pela observação e imitação de seus pares ,e o imaginário, aquilo que ela constrói e traduz a partir da absorção da realidade. Durante o processo do desenho, as crianças “experimentam movimentos e materiais oferecidos sem medo, fazendo-os variar por intermédio de suas ações. Trabalham concretamente e esquecem o entorno” (IAVELBERG, 2013, p. 35). Esse esquecimento

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citado por Iavelberg (2013) refere-se às características próprias e determinantes que retratam o desenho: a autonomia, a reflexão, o simbolismo e a concentração. Rabiscar, desenhar e escrever são formas que os homens, ao longo dos anos, construíram para manifestar-se e comunicar-se expressivamente, objetiva e subjetivamente. Todo ser humano exibe seus conflitos e sentimentos de uma maneira particular. Essas expressões podem ser percebidas a partir da leitura dos desenhos e escritas infantis, possibilitando a compreensão do contexto infantil. Por este motivo, do ponto de vista pedagógico, é fundamental que o professor tome conhecimento do processo evolutivo do grafismo, a fim de constatar se o aluno está adequado ou não para seu nível de escolaridade e idade, ou simplesmente a fim de perceber quem é aquele aluno em particular. Luquet (1969) foi um dos primeiros estudiosos sobre o desenho da criança, e procurou compreender o que e como a criança desenha. Sobre isso, Lowenfeld (1977, p. 51) afirma que: “[...] através da compreensão da forma, como o jovem desenha, e dos métodos que usa para retratar seu meio, podemos penetrar em seu comportamento e desenvolver a apreciação dos vários complexos modos como ele cresce e se desenvolve”. A partir do processo e do resultado criativo apresentado nos traçados da criança, é possível compreendermos seu comportamento, desenvolvimento, e peculiaridades. Lowenfeld (1977) traz em seus estudos a importância do papel dos educadores em compreenderem estas fases de desenvolvimento do grafismo infantil e por isso Lowenfeld (1977, p. 53) a respeito das fases do desenvolvimento infantil, afirma que “o conhecimento das mudanças, nos trabalhos que aparecem em vários níveis de desenvolvimento e das relações subjetivas entre a criança e seu meio, é necessário ao entendimento da evolução das atividades criadoras”. A compreensão da evolução do grafismo contribui então para o auxilio à criança durante o processo de alfabetização, uma vez que, a cobrança em cima da criança será proporcional ao seu nível de desenvolvimento. AS FASES DO GRAFISMO Referindo-se às fases do desenvolvimento do grafismo, Lowenfeld (1977) denomina a primeira como Estágio das Garatujas, e ocorre por volta dos dois aos quatro anos de idade..

Figura 1 – Produção infantil – 3 anos de idade

Nessa fase, o que se vê no desenho é basicamente um emaranhado de linhas, traços leves, e círculos, que muitas vezes, se sobrepõem. Esse desenho desordenado de traços chamados de garatujas, e é assim representado porque no início, o prazer da criança com relação ao desenho, é a exploração de suportes e instrumentos. A criança experimenta, por exemplo, desenhar paredes ou o próprio corpo e se interessa pelo efeito de diferentes materiais e as diferentes formas de manipulá-los. Anos depois, é possível verificar cenas complexas, como figuras humanas, por exemplo. A segunda etapa, Estágio Pré-Esquemático, tem início aos quatro anos e estende-se até aproximadamente aos sete anos de idade. Aqui a criança apresenta as primeiras tentativas de representação do real poisdesenvolve a consciência da forma e resolve expô-la, embora, de maneira desordenada e desproporcional.

Figura 2 – Produção Infantil – 4 anos de idade.

O Estágio Esquemático inicia-se por volta dos nove anos e pode ir até os nove anos de idade. [...] é neste período que aparece uma interessante característica dos desenhos infantis: a criança dispõe os objetos que está retratando numa linha reta, em toda a largura da margem inferior da folha de papel. Assim, por exemplo, a casa é seguida de uma árvore, à qual se segue uma flor que fica ao lado da pessoa que poderá ficar antes de um cão, que é a figura final do desenho (LOWENFELD,1977, p. 55).

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Neste estágio criança já desenvolveu o conceito de forma e seus desenhos são representativos, descritivos e organizados.

Figura 4 – Produção Infantil – 6 anos de idade.

O Estágio do Realismo é a quarta e última etapa. Nele ainda existe muita simbologia, apesar de apresentar o real pois a criança tem maior consciência a seu respeito. Se, antes, ela tinha prazer em realizar desenhos livremente, e posteriormente mostrá-los e explicá-los aos outros, nesse estágio, prefere ocultá-los dos adultos, justamente pela consciência que tem desi mesma, gerando uma autocrítica que não existia antes.

Figura 5 – Produção Infantil – 9 anos de idade.

À medida que a criança se desenvolve, os recursos simbólicos vão tornando-se mais complexos para ela, e isso pode ser percebido em seus desenhos, uma vez que ela inicia os traçados com rabiscos e garatujas, e aos poucos substituem-se por figuras e objetos que representam a realidade. A partir dessa perspectiva, Pillotto (2004) afirma que é necessário que se compreenda a criança como um ser pensante, sensível, com vontades próprias e que constrói, através das suas representações, um espaço real e imaginário. A Relação com a Alfabetização – Teoria da Psicogênese Emília Ferreiro e Ana Teberoski (1999) investigaram os processos de aquisição e

elaboração de conhecimento pela criança, ou seja, a forma como a criança aprende. Descobriu-se que a criança tem um papel ativo em seu próprio aprendizado, visto que, antes mesmo de entrarem na escola, a criança desenvolve tentativas de ler e escrever a partir da imitação do mundo que ela observa e percebe ao seu redor. A criança constrói seu conhecimento – daí a palavra “construtivismo”, muito confundido como método, mas defendido por Ferreiro e Teberoski (1999) como uma didática. A partir daí as autoras descobriram a Psicogênese da Língua Escrita: a criança começa a elaborar hipóteses sobre o sistema de escrita. De acordo com a teoria exposta em Psicogênese da Língua Escrita (FERREIRO, TEBEROSKI, 1999), toda criança passa por quatro fases até que esteja alfabetizada, como veremos a seguir: - A primeira fase chama-se Pré-Silábica e configura-se no fato de que acriança não consegue relacionar as letras com os sons da língua falada e caracteriza-se em dois níveis. No primeiro nível, as crianças procuram diferenciar o desenho da escrita, identificando o que é possível ler. No segundo nível, que demora um pouco mais a acontecer, a criança percebe a necessidade de uma quantidade mínima de letras – em torno de três – para que algo esteja escrito. Nessa fase, para escrever, a criança utiliza letras aleatórias, normalmente presentes em seu nome, e sem uma quantidadedefinida, como se pode observar na figura abaixo:

- A segunda fase chama-se Hipótese Silábica – A criança começa a perceber que para cada sílaba oral, ela pode grafar uma letra. Essa etapa assim como a primeira, pode ser dividida em dois níveis: no primeiro, ela representa cada sílaba por uma única letra aleatória, sem relação com o som que ela representa. No segundo, há um avanço e cada sílaba é representada por uma vogal ou consoante que expressa e corresponde ao seu som, vejamos:

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- Na terceira fase – Hipótese Silábico-Alfabética –

a criança trabalha simultaneamente com duas hipóteses: a silábica e a alfabética. Ela mistura a lógica da fase anterior com a identificação de algumas sílabas. Nesse estágio, a criança ainda apresenta erros ortográficos, mas já conseguem entender a lógica do funcionamento do sistema de escrita alfabético.A criança atribui um valor sonoro a cada sílaba das palavras que registra. As crianças relacionam a escrita à fala, como podemos ver a seguir:

- Finalmente, na quarta e ultima fase – Alfabética –, a criança domina, enfim, o valor das letras e sílabas como demonstrado a seguir:

O Teste da Psicogênese deve ser feito individualmente com cada aluno e deve constar de quatro palavras e uma frase. O ditado deve ser iniciado por uma palavra polissílaba, seguido de uma trissílaba, uma dissílaba e, por ultimo, uma monossílaba. E a frase deve conter pelo menos uma das palavras utilizadas no ditado, para a análise da forma como é grafada continua a mesma se houver um contexto diferente. (FERREIRO, TEBEROSKI, 1999) Fica claro, enfim, que a criança constrói conhecimentos dentro do seu contexto de vida, ou seja, através de experiências vivenciadas e com significados. O Papel do Professor da Educação Infantil

O professor que atua na Educação Infantil e principalmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental deve ter uma postura de mediador, posicionando-se entre o ensino e a aprendizagem, não apresentando respostas prontas, mas sim estimulando a busca de respostas, promovendo a reflexão, mostrando os caminhos, e compreendendo as dificuldades dos alunos. Acerca disso, Seber (2010) enfatiza que o papel do professor durante o caminho de construção da escrita da criança deve ser de um intermediário, uma vez que, se o professor se colocar apenas como observador, a criança não conseguirá descobrir sozinha os diversos aspectos da língua escrita. No entanto, o professor não deve forçá-la pensando que sem uma instrução, a criança não conseguirá aprender nada. O professor deve então, posicionar-se como intermediário, ou seja, ele cria situações e condições propícias para que a criança aprenda, estimulando a produção gráfica da criança e atuando como interlocutor, alguém que tentará compreender o que a criança quer expressar graficamente, e a partir daí o professor passa a compartilhar informações sobre a língua escrita na hora certa e da maneira certa. Já Meredieu (2015) acredita que o papel do adulto – professor ou não – adjacente à criança é de que por muito tempo, atribuiu concepções negativas em relação ao desenho, acreditando que a particularidade do desenho infantil possui muitos erros, afirmando inclusive que essas concepções adultas em relação ao desenho são errôneas. Esse modo negativo de apreensão – em que todas as particularidades do desenho são definidas como erros – deve hoje ceder lugar a uma decifração das produções infantis no que elas tem de mais autentico e mais original, originalidade difícil de mostrar na medida em que a imitação do adulto desempenha um papel importante e esta leitura utiliza instrumentos forjados por esse mesmo adulto. Nunca será demais repetir: o meio em que a criança se desenvolve é o universo adulto, e esse universo age sobre ela da mesma maneira que todo contexto social, condicionando-a ou alienando-a (MEREDIEU, 2015, p. 3). Para ela, não existe uma visão verdadeira acerca do desenho, visto que, a visão do adulto não deve representar a medida padrão. Análise de Dados Como forma de analisar e elucidar produções gráficas infantis, foi proposta em uma sala de aula de uma turma de 4 anos de idade de uma escola particular, localizada em Brasília, uma atividade chamada “Tenho medo de...” que foi inserida no “Projeto Emoções”, que as crianças já estavam trabalhando há três semanas.

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Realizada a atividade, foram separadas seis produções de seis crianças diferentes e seus respectivos grafismos – a escrita do nome – a fim de compará-las e identificar em que fase do grafismo e do desenho elas se encontram, com base em Lowenfeld (1977) e Ferreiro, Teberoski (1999). As crianças 1, 2 e 3, tem 4 anos de idade e segundo as fases do desenvolvimento do grafismo, elas encontram-se na fase Pré-esquemática, e ocorre quando acriança apresenta as primeiras tentativas de representação do real pois desenvolve a consciência da forma e resolve expô-la, embora, de maneira desordenada e desproporcional.

Criança 1.

Criança 2.

Criança 3.

Ainda sobre as fases do desenvolvimento do grafismo, as crianças X, Y e Z, também com 4

anos de idade e da mesma turma que as crianças anteriores, também se encontram na fase Pré-Esquemática, segundo Lowenfeld (1977), com a única diferença de que apresentam maior dificuldade e menor autonomia na realização dos desenhos. Nessa fase, a criança apresenta as primeiras tentativas de representação do real pois desenvolve consciência da forma, embora seja desordenada e desproporcional, como a localização do sol, o tamanho do sol com relação ao elefante, a diferença proporcional no tamanho da cobra com relação à grama, ou o tamanho da seringa com relação à menina desenhada.

Criança X.

Ao realizar a atividade, a autora esperava que houvesse muitas diferenças gráficas nos desenhos coletados, no sentido de serem apresentadas, diante dos desenhos, diferentes fases do desenho infantil. Porém, o que foi possível perceber é que a maioria – se não todas – estãovivenciando a mesma fase (Pré Esquemático, como explica Lowenfeld). As diferenças das quais a autora pode perceber foi com relação à realização das atividades. Três crianças (1, 2, e 3) apresentaram total autonomia para a realização da atividade, percebendo sozinha se deveria ou não desenhar o sol, as nuvens ou o chão; além disso, essas crianças não pediram ajuda ou opinião na hora da realização da atividade. As outras três crianças (X, Y e Z) apresentaram uma dependência constante da professora, ou até mesmo da opinião da mesma sobre o seu desenho. Além disso, as três apresentaram dificuldades na forma de segurar o giz e a caneta, elas ainda não apresentam a maturidade de perceber qual dos lados ela sente mais facilidade ou dificuldade para a pegada do giz/caneta, ou seja, as três crianças ainda seguram tais objetos com as duas mãos, e por isso, apresentaram dificuldade na hora da pintura e até mesmo na escrita, pois nenhuma das três conseguem escrever o nome sem a ficha, e ainda assim, apresentam dificuldade na hora do traçado, diferentemente das crianças 1, 2 e 3 que

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escrevem o nome sem a ficha, com letra legível e identificando todas as letras do alfabeto:

Criança 1.

Criança 2.

Criança 3.

Criança Y.

Criança Z.

Essa experiência foi de extrema importância para que a autora percebesse que muito além do que pode ser visto no papel, o professor da Educação Infantil e dos primeiros anos do Ensino Fundamental, devem estar atentos a cada criança e ao que acontece ao redor dela, no dia a dia e nos pequenos detalhes. Dentre esses detalhes, é importante salientar a importância de se trabalhar a coordenação motora da criança e respeitar cada fase do seu desenvolvimento; Forçar uma criança de 3 anos de idade, por exemplo, a escrever o próprio nome, apenas atrapalha o seu desenvolvimento, tanto cognitivo, quanto físico. Cada criança tem o seu momento certo para cada tipo de atividade, e o professor deve estar atento a isso. Além disso, foi possível perceber, que apesar de os professores precisarem ter essa atenção e olhar especial para com cada criança, muitos professores ao realizarem atividades com produções gráficas com os alunos, não possuem o papel de mediador, posicionando-se entre o ensino e a aprendizagem, mas sim, apresentando respostas prontas, forçando as crianças a desenharem e se expressarem graficamente de maneira que seus desenhos pareçam mais “agradáveis aos olhos”, deixando de lado a importância da ideia do Construtivismo, idealizado por Piaget, que procura instigar a curiosidade, levando o aluno a encontrar as respostas a partir de seus próprios conhecimentos e de sua interação com a realidade. (MIRANDA, 2012) Seguindo essa linha de raciocínio, o Construtivismo enfatiza a importância do erro não como um tropeço, mas como um trampolim na rota da aprendizagem. Essa teoria condena a rigidez nos procedimentos de ensino, pois acredita na participação ativa da criança na construção do seu próprio conhecimento (MIRANDA, 2012), algo que não está tão presente nas salas de aula até hoje, como foi possível a autora observar em sua vivência em sala de aula.

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Simp.TCC/ Sem.IC.2017(12);2329- 2336 2336

Considerações Finais Essa pesquisa se propôs, como objetivo geral, analisar a metodologia adotada pelos professores da Educação Infantil, pré-escola, para a produção de desenhos e do grafismo do alunado, e a relação que estes docentes estabelecem com a alfabetização. Ao definir as possíveis relações entre os desenhos produzidos pela criança e a sua preparação para a alfabetização escrita, pode-se perceber que as crianças que possuem maior liberdade de expressão, tanto na escola quanto em casa, possuem maior facilidade para a preparação da alfabetização escrita, visto que, o sistema educacional tem relegado a escrita, dando a ela um lugar de pouco destaque, e por isso, não há tantos estímulos como antes. É importante salientar que o fato de uma criança não escrever bem, não significa necessariamente que ela tenha problema de aprendizagem – disgrafia –. Isso se deve, na verdade, ao fato de ela não ter sido estimulada e que tal habilidade não foi trabalhada, ou foi trabalhada de maneira inadequada. Pode-se perceber que coordenação motora das crianças deve ser trabalhada, primeiramente, pela sua consciência corporal, seus tônus e seus olhos, antes de introduzirem as mãos. A coordenação motora vai muito além do caderno de caligrafia, as crianças precisam correr, movimentar-se. Para escrever, é necessário ter tônus. Porém, o que chamou atenção foi o fato de que nas escolas percorridas para observação, as crianças são forçadas a escreverem, muitas vezes, sem preparação física e psicológica o suficiente para o fazerem. É importante lembrar que as crianças têm fases de desenvolvimento, e para que eles sejam percorridos devidamente, a criança precisa de estímulo e liberdade. Constatou-se, então, a necessidade de divulgação da importância do desenho e do grafismo no desenvolvimento e na aquisição da alfabetização escrita da criança, pois os desconhecimentos geram moldes, que nos faz voltar à concepção pedagógica tradicional, lapidando o aluno, não levando em consideração os conhecimentos prévios do mesmo, e marcada pela relação professor-aluno absolutamente autoritária. Não levar em conta cada traçado da criança e cada habilidade adquirida ao longo do caminho é tapar os olhos para o desenvolvimento. Ante o exposto, percebe-se que tornasse necessário que se estude a importância do desenho e do grafismo, visto que, as crianças têm sido moldadas em sala deaula a não se expressarem como devem. Além disso, a valorização dos desenhos e da produção gráfica, principalmente, dos alunos da pré-escola, pelo professor, é de suma importância, se os profissionais da área compreendessem e

estudassem esses aspectos, diminuiria consideravelmente a quantidade de alunos com dificuldades de aprendizagem durante o processo de alfabetização. Referências 1. FERREIRO, E., TEBEROSKI, A. Psicogênese da Língua Escrita . SãoPaulo, SP: Penso Grupo, 1999. 2.IAVELBERG, Rosa. O desenho cultivado da criança: prática e formação de educadores. Porto Alegre, RS: Zouk, 2013. 3. LOWENFELD, V.; BRITAIN, W. L. Desenvolvimento da Capacidade Criadora. São Paulo: Mestre Jou. 1977. 4. LUQUET, G. H. O Desenho Infantil . Porto: Editora de Minho, 1969. 5. MÈREDIEU, F. O desenho infantil . São Paulo: Cultrix, 2015. 6. MIRANDA, Josete Barbosa; SENRA, Luciana Xavier. Aquisição e desenvolvimento da linguagem : contribuições de Piaget, Vygotsky e Maturana. 2012. 7. PILLOTTO, S. S. D.; SILVA, M. K.; MOGNOL, L. T. Grafismo Infantil : linguagem do desenho. Santa Catarina: UNIVALLE, 2004. 8. SEBER, M. G. A escrita infantil : O caminho da construção. São Paulo: Editora Scipione, 2010. 9. SIMAS, D. L. Riscos e Rabiscos : A contribuição do desenho infantil para a alfabetização. Salvador: UNEB, 2011. 10. MOURA, Julia. Impacto da Pedagogia Moderna : Psicogênese. Disponível em: <http://impactodapedagogiamoderna.blogspot.com.br/2012/03/psicogenese-conhecer-teoria-para-usar.html> Acesso em: 29 nov. 2017.