6 Edição da Newsletter do Centro Interpretativo do Patrimonio da Afurada

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Afurada | Âncora de Identidades Centro Interpretativo do Património da Afurada 6ª Edição da newsletter do CIPA |Mensal | Abril 2015 Retratos da história 3 Divulgação 4 Património(s) 2 «Recordei com muita Saudade os familiares pescadores.» Testemunho de Manuel Calisto | livro de honra do CIPA, acessível a todos Com uma 6ª Edição dedicada ao estado atual das pescas na Afurada, o CIPA pretende dar a conhecer a realidade da faixa etária mais jovem na faina. Sob pena de tornar o assunto redundante, contamos com a colaboração de jovens locais afetos à pesca de várias formas e com várias intenções futuras. As comunidades que são marcadamente dependentes de uma atividade são constantemente postas à prova, obrigando assim a uma renovação e adaptação constante. É essa adaptabilidade que procuramos conhecer na conversa com Ricardo Oliveira, Nelson Ferreira e Renato Mendes. Encontra também nesta edição uma rubrica sobre o processo cultural afuradense, onde Cátia Oliveira tece algumas considerações sobre o atual estado e continuidade da tradição piscatória na Afurada.

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6ª Edição dedicada ao atual estado da pesca no lugar da Afurada. Não só pretendemos dar a conhecer alguns dos mais jovens intervenientes na faina, mas também refletir sobre o atual estado da cultura piscatória local e desenhar o que poderá ser a continuidade da mesma.

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Afurada | Âncora de IdentidadesCentro Interpretativo do Património da Afurada

6ª Edição da newsletter do CIPA |Mensal | Abril 2015

Retratos da história3

Divulgação4

Património(s)2

«Recordei com muita Saudade os familiares pescadores.»Testemunho de Manuel Calisto | livro de honra do CIPA, acessível a todos

Com uma 6ª Edição dedicada ao estado atual das pescas na Afurada, o CIPA pretende dar a conhecer a realidade da faixa etária mais jovem na faina. Sob pena de tornar o assunto redundante, contamos com a colaboração de jovens locais afetos à pesca de várias formas e com várias intenções futuras. As comunidades que são marcadamente dependentes de uma atividade são constantemente postas à prova, obrigando assim a uma renovação e adaptação constante. É essa adaptabilidade que procuramos conhecer na conversa com Ricardo Oliveira, Nelson Ferreira e Renato Mendes. Encontra também nesta edição uma rubrica sobre o processo cultural afuradense, onde Cátia Oliveira tece algumas considerações sobre o atual estado e continuidade da tradição piscatória na Afurada.

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Co n sc i e n t e s d e s t e c i c lo , o s responsáveis pelo plano Pormenor da Afurada, quando do projeto do Programa Pólis, criaram três espaços de memória evocativos desta comunidade, são eles, o CIPA, o Lavadouro e o Monumento ao Herói pescador. Não negamos que estas transformações poss am v i r a a con t ecer , porém reconhecemos traços inerentes aos habitantes das margens, traços que são passados de geração em geração. A ligação com o rio, a procura pelo espírito livre e o sentir das gentes ribeirinhas sempre irão conduzir ao mar. São prova disso alguns jovens locais que trabalham e se formam para manter a at iv idade dos seus antepassados. Falamos de uma comunidade de raiz piscatória e o desao destes locais e das suas gentes, é saber acompanhar as alterações dos tempos mantendo ancorada a sua essência. Esse também é o papel do CIPA, trabalhar ao lado dos locais, servir de espaço potenciador da comunidade, reconhecer-lhes o seu valor e não apenas servir de recetor/emissor de memórias e identidades. A Afurada está carregada de simbolismos e a linha entre a manutenção e a musealização está muito ténue podendo conduzir a alguma banalização do processo cultural local, portanto é necessário encarar as comunidades piscatórias com a seriedade e respeito que lhes merecem os locais e todos aqueles que se reveem na sua terra e nas suas ra ízes não desvirtuando nem folclorizando o processo. A atividade piscatória na Afurada seguirá o seu caminho e saberá contornar as diculdades enquanto for possível extrair do mar o sustento para a sua família.

CIPA | 2

Património(s)

Preparar alguns comentários sobre este tema não se revelou de facto uma tarefa fácil. Na verdade, este artigo resulta da observação direta no local, bem como de alguns diálogos estabelecidos, estando por esta razão sob interpretação pessoal. O setor piscatório nacional atravessa uma fase de instabilidade. Observação que se tem tornado cliché mas que não poderá tornar-se desculpa para a descrença ou para a falta de empenho e iniciativa que se possa ter para a dinamização e manutenção da mesma. Portugal dispõe de um vasto território marítimo que deverá ser rentabilizado com inteligência com visão económica mas principalmente atendendo à biodiversidade, de forma a manter os stocks de pescado sustentáveis e um ecossistema equilibrado. Os diversos atores que coexistem neste cenário obrigam a um estudo aprofundado do tema. O caso da Afurada, e falamos na sua dimensão cultural, atravessa desaos contemporâneos transversais a outras comunidades. A rápida transformação e variação de hábitos culturais, o abandono potenciado e aliado à situação económica poderão conduzir à elevada redução da população afeta à pesca. Esta situação poderá criar algumas lacunas e espaços vazios preenchidos por forasteiros atraídos pelo pitoresco e pelo bairrismo, o q u e p o d e c o n t r i b u i r pa r a u m a descaracterização do lugar. Durante este percurso vários fragmentos identitários p o d e r ã o c a r p e l o c a m i n h o transformando-se apenas em memória. Tal deverá ser encarado como um processo natural, embora seja da responsabilidade das instituições e dos locais inverter a situação.

Nada se perde, nada se cria - tudo se transforma

Reservamos esta página a algumas considerações cientícas sobre a temáticaque dá o mote à edição.

Lavoisier

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Não se pense que a comunidade piscatória da Afurada já baixou os braços relativamente às diculdades. A classe mais jovem continua a dar resposta à atividade local, seja em terra ou no mar. Entrevistamos 3 trabalhadores entre os18 e 40 anos. Ricardo Oliveira de 21 anos é um dos exemplos de jovens afetos à atividade piscatória. Revela-nos em entrevista que está na pesca porque adora o trabalho ao ar livre e pela sensação de liberdade que encontra. É esta razão que o leva a ver na pesca o seu futuro. 'Ajudo vários barcos, sempre que posso, por ter amigos lá a trabalhar e por gostar mesmo disto, na verdade adorar é pouco.' É este sentimento que o motiva a tirar a cédula de pescador na ForMar em Matosinhos. Contudo, Ricardo é apenas um dos casos de jovens a auxiliar no arranjo das redes e na manutenção das embarcações, situação que pode conferir ao visitar o porto de pesca. 'Se puder ser sempre pescador serei, porque adoro esta vida e não a trocaria por nada. Neste momento as pescas estão complicadas mas há de melhorar'. Assim termina a conversa, deixando uma mensagem de esperança. Em situação semelhante está Nelson Ferreira, tripulante da embarcação 'Mar Eterno' que apesar de ser originária da Afurada encontra-se registada na Figueira da Foz. O facto de ter familiares na pesca não lhe é indiferente, mas é a paixão pela natureza e pelo contacto com a mesma a principal razão por mais de dez anos no mar. É a natureza e a consciencialização para a preservação dos recursos que conduzem a entrevista com Nelson. Quando questionado sobre a atualidade da atividade não hesita em armar '[…]em declive vertiginoso devido à falta de respeito e zelo pelos recursos pesqueiros. O mundo está cego se pensa que o mar é só praia e pesca.'

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Retratos da História

Terminamos esta rubrica com Renato Mendes. Não sendo natural da Afurada, foi o gosto pelos barcos que o conduziu até à comunidade e embora não seja pescador, é no porto de pesca que rentabiliza o seu tempo livre. A atual conjuntura económica e o atual estado da atividade torna a manutenção de pequenas embarcações pouco rentável para os proprietários acabando por carem abandonadas. Renato viu numa embarcação em mau estado a oportunidade de dar asas ao seu projeto. Através do bote tradicional, desenhado e adaptado às águas e correntes locais, surge uma nova embarcação realizada na totalidade em bra de vidro, o 'Roaz'. Todo o processo foi realizado pelo próprio, contando com a colaboração de pescadores locais, conciliando assim o 'saber-fazer' tradicional e o uso de materiais contemporâneos. Um projeto repleto de mais-valias que mantém o desenho tradicional mas confere-lhe mais durabilidade e novas características como leveza, rapidez e baixos custos de manutenção. Uma embarcação leve necessita de um motor de potência média para se mover, logo um motor de menos consumo. Em breve, Roaz estará nas águas do Douro, comprovando a regeneração a vários níveis pelos quais a comunidade tem passado. Apresentamos apenas três casos num universo de dezenas de jovens na mesma situação. Por esta razão acreditamos que a manutenção da comunidade estará assegurada nos próximos anos. Contudo o CIPA pretende continuar a ser parte deste processo abrindo a porta a todos aqueles que pretendam apreender/transmitir as técnicas locais.

Contando com a colaboração de várias pessoas, destinamos este espaço a umaopinião ou trabalho cientico a título pessoal.

’ir e chegar a terra com peixe e com a mesma saúde todos os dias’

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Divulgação

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Tema da próxima edição:Pólis - Prós e Contras

A Onda Marine k-100, uma das que o CIPA dispõe foi doada pelo Sr. Manuel Dias Marques e cumpre as mesmas funções que a anterior mas com a evolução tecnológica que lhe está associada. São estes avanços que tornam este tipo de equipamento em potencial material museológico. D e v i d o a o s c o n s t a n t e s desenvolvimentos tecnológicos, estes materiais rapidamente se tornam obsoletos.

Com uma edição que dá especial destaque à pesca e ao desenvolvimento das mesmas, destacamos duas peças que correspondem a um único objetivo. A sonda de mão e a sonda Onda Marine k-100. A sonda de mão, doada ao CIPA pelo Sr. Adelino Cacheira, era utilizada pelo seu pai, para fazer o reconhecimento da profundidade e a tipologia de fundo do mar. A peça, um peso em ferro preso por uma corda era lançado do barco até encontrar o fundo. Neste peso semi oco era colocada uma massa onde cavam gravadas as texturas que podiam ser arenosas ou rochosas. Baseado no seu conhecimento, o mestre decide se aquele é um local com potencial pesqueiro. Através deste equipamento, era possível identicarem locais para determinados tipos de peixes e rastrear cardumes.

Objeto do mês | Sondas

‘ Janela da Identidade’ | Próxima exposição do CIPA

“Janela da Identidade” r e ú n e u m a s é r i e d e fotograas antigas doadas pela comunidade, em resposta ao desao lançado pelo CIPA, que poster iormente as reposiciona na atualidade. Janela porque é através de uma imagem passada, colocada sobre a paisagem atual que o observador é convidado a redesenhar a Identidade do lugar, das pessoas e das culturas.