7 Edição da Newsletter do Centro Interpretativo da Afurada

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Afurada | Âncora de Identidades Centro Interpretativo do Património da Afurada 7ª Edição da newsletter do CIPA |Mensal | Maio 2015 Retratos da história 3 Divulgação 4 Património(s) 2 «Me ha encantado este pequeno museo, testemunio del duro trabajo en el mar porque com sus objetos, imagenes y audiciones, sabe rendir el merecido homenaje a las mujeres y hombres de la pesca de Afurada .» Testemunho de Marta | Canárias, Espanha | livro de honra do CIPA, acessível a todos Chegada a 6ªEdição desta que é a publicação mensal do CIPA, o Programa Pólis afigurou-se tema pertinente para desenvolver. Com várias vozes contra ou a favor destas transformações tão profundas no urbanismo e na urbanidade desta comunidade, procuramos nas páginas seguintes tecer algumas considerações, aos olhos de quem vive diariamente nesta nova realidade. Dotada de novos espaços, novas cores e mesmo novas formas, terá a Afurada adaptando-se a este novo espírito, aberto aos Rabelos, aqueles que não são afuradenses? É este o principal tema a desenvolver na rúbrica Património(s). Aferir de que forma o Plano Pormenor, pensou nos habitantes locais, nas suas rotinas e nas suas vontades. O que estará para vir? Que novos desafios e oportunidades surgem? São perguntas que dificilmente terão uma única resposta. Ao contrário de outras, que Eduardo Matos, antigo Presidente de Junta de Freguesia, esclarece por ter acompanhado as reuniões que se realizaram com os técnicos para a realização deste plano. Aceite o convite para visitar o CIPA e a exposição temporária “Janela de Identidades”. Plano Pormenor | Atelier 15 Arq.

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Edição dedicada às transformações do Programa Polis na comunidade piscatória da Afurada.

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Afurada | Âncora de IdentidadesCentro Interpretativo do Património da Afurada

7ª Edição da newsletter do CIPA |Mensal | Maio 2015

Retratos da história3

Divulgação4

Património(s)2

«Me ha encantado este pequeno museo, testemunio del duro trabajo en el mar porque com sus objetos, imagenes y audiciones, sabe rendir el merecido homenaje a las mujeres y hombres de la pesca de Afurada .»

Testemunho de Marta | Canárias, Espanha | livro de honra do CIPA, acessível a todos

Chegada a 6ªEdição desta que é a publicação mensal do CIPA, o Programa Pólis afigurou-se tema pertinente para desenvolver. Com várias vozes contra ou a favor destas transformações tão profundas no urbanismo e na urbanidade desta comunidade, procuramos nas páginas seguintes tecer algumas considerações, aos olhos de quem vive diariamente nesta nova realidade. Dotada de novos espaços, novas cores e mesmo novas formas, terá a Afurada adaptando-se a este novo espírito, aberto aos Rabelos, aqueles que não são afuradenses?É este o principal tema a desenvolver na rúbrica Património(s). Aferir de que forma o Plano Pormenor, pensou nos habitantes locais, nas suas rotinas e nas suas vontades. O que estará para vir? Que novos desafios e oportunidades surgem? São perguntas que dificilmente terão uma única resposta. Ao contrário de outras, que Eduardo Matos, antigo Presidente de Junta de Freguesia, esclarece por ter acompanhado as reuniões que se realizaram com os técnicos para a realização deste plano.Aceite o convite para visitar o CIPA e a exposição temporária “Janela de Identidades”.

Plano Pormenor | Atelier 15 Arq.

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O núcleo urbano, caracteriza-se por ser um dos pontos mais sensíveis da intervenção, por ser um dos espaços onde a maioria da população passa grande parte do seu tempo, logo será necessário uma aceitação por parte dos habitantes. No interior da Afurada de Baixo, a zona de habitação da comunidade piscatória, sofreu um arranjo ao nível dos arruamentos, sendo que este foi o principal destaque das intervenções. A zona habitacional da Afurada que durante longos anos se caracterizava pelas vias de circulação preenchidas de resíduos, de material ligado à atividade piscatória e de sobejos de peixe, sem iluminação pública, sem sistema de saneamento, adquire com o programa Pólis uma reorganização do transito, por forma a tornar racional a circulação automóvel, valorizando o passeio, criando espaço para a estadia dos habitantes. Este é um aspeto fulcral visto que a maior parte do setor feminino divide o seu tempo entre a rua e o lavadouro. Houve também a preocupação de criar um arruamento apenas pedonal, diferenciado de todos os outros pelos materiais. Esta rua estaria vedada ao trânsito o que efetivamente não acontece. Ainda em relação aos arruamentos, existiu uma preocupação com a possibilidade de ocorrerem cheias, dada a proximidade com o rio e a previsível ocorrência das mesmas. Todos os arruamentos foram orientados no sentido de inclinar o caimento das águas para a zona central, de maneira a que a soleira das habitações casse salvaguardada da entrada de águas. O pós Programa Pólis, conferiu a este núcleo um espaço, no nosso entender agradável, amplo, confortável, não só sicamente mas também ao olhar, apercebemo-nos que há uma regularidade de matérias, tanto nas texturas como nas cores. É um espaço que permite ser pontuado por equipamentos (fogareiros, mesas, bancos, estendais) para que as pessoas possam conduzir as suas vivências para a rua, como sempre o zeram.

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Património(s)

Quando pensamos esta rúbrica, de imediato surgiu a necessidade de focalizar o assunto de maneira a que a análise não fosse demasiado supercial. Optamos por dar especial foco ao núcleo habitacional, aquele que entendemos como indispensável na caracterização da comunidade. Os espaços urbanos de uma povoação estão assentes em tradições históricas, mas acima de tudo é importante consciencializar de que os espaços têm uma identidade que está intrínseca a quem os habita. São as pessoas, as suas vivências e a sua cultura que moldam os lugares, logo deverão ser pensados para que a socialização aconteçam de forma natural. Em muitos dos casos, a malha urbana não é entendida desta forma. Ou porque se parte para um projeto de requalicação convictos de que anteriormente não houve um correto planeamento das linhas orientadoras da população, ou porque outros interessas quer económicos ou políticos se levantam. Se é certo que na primeira ocupação a Afurada não teve um planeamento prévio. No fundo, o assentamento inicial resulta de um desenvolvimento relativamente acelerado da atividade piscatória, que atraiu vários pescadores de outros pontos do país, trazendo consigo saberes construtivos anteriormente aplicados em outras zonas como o caso de Aveiro, Murtosa e Espinho. Após uma atenta leitura da memória descritiva, apercebemo-nos da intenção de requalicação do núcleo piscatório de forma a garantir a sua integridade, tanto do ponto de vista do património edicado, como e acima de tudo, do ponto de vista da sua integridade cultural e vivencial que podendo ser preservada, não deve ser pervertida. Foi também prevista a ampliação da plataforma do Porto de Pesca onde se localizarão as infraestruturas terrestres de apoio, como o lavadouro, os novos armazéns de aprestos, e o edifício para a lota. Outra das mais importantes valências do Plano diz respeito à criação do centro Cívico da Afurada que, além de congregar os mais importantes ed i f íc ios i nst i tuc iona i s , estabelecerá o remate poente do aglomerado, neste momento bastante difuso. Este Centro Cívico, que deverá ser objeto de atenção especial, será, assim, uma espécie de grande síntese prática e simbólica da vida da Afurada, contendo escola e mercado, instituições cívicas, cidadãs e religiosas, espaço para a feira ou para a festa, olhando para a faina do rio e para as embarcações. Algo que até a data não se encontra efetivado, continuando sem esta harmoniosa distribuição de funções.

Heranças da contemporaneidade

Reservamos esta página a algumas considerações cientícas sobre a temáticaque dá o mote à edição.

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A entrevista a Eduardo Matos surge pela proximidade que este teve com os trabalhos desenvolv idos pelo programa Pól is , nomeadamente com o gabinete responsável pelo Plano Pormenor, Atelier 15 Arquitectura. Na qualidade de Presidente de Junta, desempenhou o importante papel de mediador entre técnicos e população, promovendo reuniões conjuntas para debate de soluções. A entrevista desenrola-se através desta ideia “A Afurada vive dois mundos que se relacionam. Este desenvolvimento que se fez, que é normal e a outra parte que continua intacta, que é a maneira de ser, de estar desta gente. Esta maneira que é tão pitoresca e que continuará a ser a mesma.”Quando a conversa avança para questões especícas do Programa, o ex-autarca procura claricar a oportunidade que tal signicou para a comunidade local. “ Quando se fala, ou quando se falou neste Programa, representou para a Afurada uma oportunidade de construir infraestruturas que não existiam, tanto a nível urbanístico como melhorar as questões de salubridade. Mas apesar de bem-intencionado tem os seus erros. Embora hoje tenhamos uma Afurada mais agradável, tanto para quem nos visita como para quem cá vive.” Ao longo da entrevista foram colocadas várias questões, nomeadamente no que diz respeito aos aprestos colocados no porto de pesca. Nesta abordagem critica em relação à herança do Programa Pólis, olhamos estes locais de trabalho como um dos pontos menos positivos devido ao avançado estado de degradação. “Foi um projeto discutido entre a Junta, pescadores e gabinetes, onde todos deram ideias mas estávamos longe de imaginar que passados 6 anos estivessem neste estado. Lembro-me que a dada altura os técnicos preocuparam-se com a manutenção do interior, com a possibilidade dos pescadores e todos os materiais associados fossem acelerando o processo de degradação, mas o que se verica é

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Retratos da História

que o interior encontra-se em ótimas condições, ironicamente.” Relativamente ao miolo, ao núcleo habitacional, a conversa centrou-se na preocupação que existiu em respeitar os moradores. “O projeto pensou nisso, vasta ver a conguração das ruas. Há uma marginal que foi feita toda de novo, que é por ai que passam a maioria das pessoas, e depois há o interior. Aqui notamos uma característica que é: as pessoas gostam de andar na rua, convivem na rua e para isso, em alguns lugares os passeios quase duplicaram. Aqui os arquitectos, o Arq. Alexandre Alves da Costa pensou nas pessoas o que é de louvar. Posteriormente surgiram outras questões que talvez o plano pudesse ter acautelado. A Camara viu-se obrigada a colocar os inibidores de estacionamento mas grande parte disto deve-se à falta de civismo de algumas pessoas.” Percorrendo caminhos da comunidade a entrevista chegou à ao Largo do Herói Pescador. “Instalação de caracter escultórico, no antigo Largo de venda de pescado, evocativa da vida dos pescadores constituída por um convés em tabuado de pinho, integrado num alinhamento de bancos e um conjunto de varas exíveis em madeira, ferro e aço inox, oscilando ao vento lembrando mastros de embarcações” nas palavras de Virgílio Moutinho, Atelier responsável pela obra. Eduardo esclarece o porquê da polemica da obra. “Falhamos quando não chegamos às pessoas. As pessoas não entenderam a peça e neste tipo de intervenção isso não pode acontecer. Depois surgiram outras complicações ao nível dos materiais, o soalho em pinho revelou-se perigoso com a humidade e teve de se colocar granito. “ Depois da experiência que vivenciou, culmina a entrevista com a ideia de que “quando se tem a oportunidade de mudar o quotidiano das pessoas para melhor, não se deve hesitar, de modo a que daqui a 50 anos as pessoas possam valorizar essa herança”.

Contando com a colaboração de várias pessoas, destinamos este espaço a umaopinião ou trabalho cientico a título pessoal.

Eduardo Matos | O papel de Mediador no Programa Pólis

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Divulgação

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Tema da próxima edição:Festas de S. Pedro da Afurada

Desta feita não centramos a nossa escolha num simples objeto. Pelo facto de termos falado tantas vezes em comunidade, na sua identidade e no seu quotidiano optamos por dar destaque a alguns trabalhos realizados por pescadores e habitantes locais. Desta feita barcos em miniatura. Uma atividade que é transversal a vários pontos do país, da qual o CIPA possui vários exemplares. Se alguns exemplares pertencem à expos ição permanente, existem outros que são entregues ao CIPA a título de empréstimo de forma a cada um se sentir pertença deste espaço. De vários formatos e carregados de simbolismos muito próprios, estas pequenas embarcações trazem consigo não só a mais-valia estética mas também o objeto que invoca uma realidade passada. A vida dos pescadores não é só no mar, existem muitos momentos de espera, em que para passar o tempo, um pedaço de madeira que veio à costa e uma navalha servem para modelar os barcos e os artefactos que vivem na memória do pescador.

Objeto do mês | barcos em miniatura

Janela da Identidades | 1 de junho a 30 de agosto Esta mostra fotográca pretende em primeira instância, honrar o compromisso feito com a comunidade local e enaltecer todos aqueles que ao longo de 9 meses colaboraram e acreditaram neste projeto. Mais do que uma exposição, a recolha e posterior musealização destas imagens enquadra-se na candidatura das festividades ao Inventário Nacional de Património Cultural, no domínio das práticas sociais, rituais e eventos festivos. Coincidindo cronologicamente com as Festas de S. Pedro da Afurada, a exposição Janela de Identidades convida o visitante a debruçar-se sobre os aspetos de continuidade e rutura que a festividade tem enfrentado ao longo dos anos.