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#77 EDIÇÃO SHUTTERSTOCK OÁSIS CAMINHOS DO AUTO-ENCONTRO NO SÉCULO 21 BUSCA ESPIRITUAL LER A MENTE Um sonho mais próximo A CARAPAÇA DA LAGOSTA Ela cresceu. Vai ter de mudar STEPHEN HAWKING Super respostas sobre o universo

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#77

Edição

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Oásis

Caminhos do auto-EnContro no séCulo 21

BUSCAESPIRITUAL

LER A MENTEum sonho mais próximo

A CARAPAÇA DA LAGOSTAEla cresceu. Vai ter de mudar

STEPHEN HAWKINGsuper respostas sobre o universo

o caminho da busca espiritual nem sempre é isento de riscos

e perigos. estranhos e perigosos personagens podem estar à

espreita atrás de cada curva da estrada, para tirar proveito nas nossas ansiedades existenciais

por

LuIS PELLEGRINI

Editor

A busca espiritual, tema da matéria de capa deste número de Oásis, existe provavelmente desde que uma criatura aparentada aos grandes símios

tomou consciência de si mesma e se tornou aquilo que muito mais tarde seria chamado de homo sapiens. Ou seja, desde os primórdios da era das cavernas, quando aqueles primitivos primatas, nossos ancestrais, passaram a desenhar a si mesmos e a outras criaturas nas paredes e a buscar o sentido da existência das coisas do mundo.Essa busca de sentido é parte indelével da natureza humana, e talvez seja a principal característ ica que nos diferencia dos outros animais. Não nos satisfazemos apenas com o fato de existirmos: queremos também saber por que existimos, de onde viemos, para onde vamos. E queremos, sobretudo, responder à mais im-portante de todas as perguntas: Quem somos nós?O caminho que nos leva a respostas não é, no entan-to, sempre seguro. Estranhos e perigosos personagens podem estar à espreita atrás de cada curva da estrada, para tirar proveito nas nossas ansiedades existenciais. Os falsos gurus, por exemplo. Aqueles que se apresen-tam como donos da verdade, como detentores da cha-ve da nossa realização espiritual, mas que na verdade são apenas charlatões mais ou menos esclarecidos.Uma matéria sobre o tema é sempre úti l, sobretudo nestes tempos em que tantos falsos valores – e falsos l íderes - pairam sobre nossas cabeças. Tentamos aqui lançar algumas poucas luzes sobre a questão. Confiram.

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BUSCAESPIRITUAL O auto-encontro no século 21

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la entrou na minha sala com pisar decidido, sorriso bem aberto, e o jeito de falar de quem já fez vários cursos de

auto-ajuda, de magnetismo pessoal, de controle do poder da mente. Apresentou--se e disse o nome separando cada síla-ba, de modo a deixá-lo indelevelmente impresso na minha memória: “Olá, como vai? Sou Fu-la-na-de-Tal”. Esse foi o pri-meiro sinal. Notei que trazia ao pescoço

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“O século 21 será espiritual, ou simplesmente não será”. A frase foi atribuída ao filósofo André Malraux. Ele desmentiu a autoria, mas nunca contestou o conteúdo da afirmação. Quais são as principais características da busca espiritual nos dias de hoje? Por Luis PeLLegrini

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uma pequena pirâmide de cristal engastada numa moldura de fio de ouro e pendurada numa corren-te fina. O segundo sinal. Quando estendeu-me a mão, lá estava, brilhando no dedo anular, um anel atlante. Terceiro sinal. Convidei-a a sentar, já um tanto apreensivo.

Um pensamento quase perverso invadiu minha mente: “Agora ela vai me contar cada detalhe do encontro de terceiro grau que acaba de ter com um ser extraterrestre tripulante de disco voador”. Mas uma outra voz interna, mais sensata, embora menos divertida , tentou enfriar essas cogitações de mau agouro. A voz disse: “Luis, não seja tão in-tolerante. Você vai ficar um velho cansado. Você sabe que expectativas pessimistas são o melhor meio para se atrair experiências negativas”. Baixei a cabeça para o conselho do diabo sábio que às ve-zes surge dentro de mim, respirei fundo, e encarei o belo rosto à minha frente.

Nos muitos anos em que fui diretor da revis-ta Planeta, recebi muitas dezenas de visitas do mesmo tipo. Perguntei a ela em que lhe podia ser útil. Ela queria minha opinião sobre alguns

temas de linha esotérica que, nos últimos anos, tinham se tornado o seu assunto preferido. Não os temas em si, mas o modo como ela os abordava, confirmou, para meu desalento, minha primeira intuição. Perguntou-me sobre anjos e a possibi-lidade de se entrar em contato com eles para que resolvessem uma série de problemas; sobre pantá-culos cabalísticos - um tipo de amuleto e talismã protetor na forma de complicados diagramas desenhados; sobre a energia curativa das pirâmi-des e dos cristais. Minhas respostas foram, em geral, evasivas. Embora tenha escrito muito sobre ocultismos, New Age, Era de Aquário e quetais, nem de longe possuo um conhecimento enciclopé-dico que me permita falar, a bel prazer, sobre tudo e qualquer coisa do complexo mundo das coisas

“Perguntou-me sobre anjos e a possibilidade de se entrar em contato com eles para que resolvessem uma série de problemas”

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esotéricas. De qualquer forma, o teor da conver-sa com minha visitante serviu rapidamente para confirmar um diagnóstico que, desde o início, se configurara: achava-me na presença de mais uma legítima representante da legião dos buscadores da varinha de condão. A tribo cada vez mais nu-merosa daqueles que procuram nos préstimos de alguma fada madrinha a solução mágica para os seus próprios problemas, para os problemas dos outros, e os do mundo. Soluções que, de preferên-cia, não dependam de muito esforço pessoal, mas que aconteçam assim, no estalar dos dedos, graças à intervenção de algum objeto de poder, alguma força mágica, alguma entidade benéfica do astral.

Maharishi ou o americano Paul Brunton. Desde que o mundo é mundo, todo autor sério

do pensamento esotérico, todo filósofo espiritu-alista digno desse nome, repete exaustivamente o mesmo ensinamento: todas as respostas vêm de dentro; todas as soluções surgem primeiro no interior da pessoa, para depois serem projetadas no mundo exterior. O que chamamos de abertura espiritual, e que é, em quase total medida, sinô-nimo de crescimento psicológico e de ampliação dos níveis da consciência, é sempre resultado de muito trabalho no sentido do autoconhecimento, da autodisciplina e da autoconfiança. Nada que venha de fora pode fazer por nós aquilo que deve acontecer dentro de nós: a criação de nós mes-mos. Suportes externos - venham êles na forma de tarôs, horóscopos, búzios, rituais mágicos, etc. - podem, no máximo, funcionar como apoios sim-bólicos, como setas que vão indicando o caminho. Mas não podem percorrer o caminho por nós.

Tentei discutir tudo isso com a minha visitan-te. Mas ela abriu a bolsa e retirou lá de dentro um magnífico cristal de quartzo transparente que devia pesar pelo menos meio quilo. Mostrou-me o objeto e perguntou: “Quer dizer que, na sua opinião, o fato de eu andar com esse cristal não ajuda em nada o meu crescimento espiritual e nem traz benefícios para a saúde? Você não acredita no poder dos cristais?”

Pensei com cuidado na resposta. Sabe-se lá qual expectativa utópica ela poderia estar proje-

“Todas as respostas vêm de dentro; todas as soluções surgem primeiro no interior da pessoa”

O número dos legionários da varinha de condão é tão grande, que fico a pensar quem realmente lê toda a farta literatura do gênero atualmente dispo-nível nas livrarias. Quem realmente presta atenção nos ensinamentos dos assim chamados grandes mestres das religiães, como Gautama Buda; da psi-cologia, como Carl Jung; dos gurus verdadeiros das filosofias espiritualistas, como o indiano Ramana

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tando naquele cristal? E disse, em tom de profes-sor de ciências exatas: “Pelo que sei, a estrutura cristalina do quartzo tem a propriedade de mobili-zar certos campos de energia. A física estuda isso. Se essa propriedade do cristal influi ou não sobre o campo energético das pessoas, é coisa que só a ciência pode verificar. Agora, acreditar num cris-tal? Como vou acreditar num pedaço de pedra?”

Nossa conversa, a partir daí, infelizmente aze-dou. Minha interlocutora era uma daquelas que não admitem contestação às suas conviccões. Eu sou um daqueles que desconfiam de toda crença

que não tenha passado pelo crivo da minha vivên-cia pessoal. E mesmo assim, mais de uma vez, per-cebi depois que as conclusões que tirara de minha vivência estavam equivocadas, e tive de mudar minha convicção. Por isso o diálogo entre nós ficou difícil. Logo depois ela foi embora, levando consigo todos os seus objetos de poder, inclusive o cristal de meio quilo.

Mas esse encontro foi para mim objeto de mui-ta reflexão, que acabou se resumindo na pergunta: Por que, ainda hoje, há tantas pessoas que procu-ram soluções mágicas para os seus problemas?

A primeira ideia que me ocorre tem a ver com a grave crise de civilização que vivemos nos dias de hoje. Uma crise global, de características e dimen-sões que não têm precedentes em toda a história da humanidade. Em todas as áreas do conheci-mento humano, seja ele de tipo científico, filosó-fico, religioso ou artístico, os valores estabeleci-dos são questionados, as certezas são postas em dúvida. Aquilo que ontem era tido como verdade indiscutível, hoje está sendo reexaminado, e ama-nhã já poderá ser descartado como coisa superada

“Por que, ainda hoje, há tantas pessoas que procuram soluções mágicas para os seus problemas?”

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e sem valor. E vice-versa. A tais períodos, onde quase tudo é incerto, os

especialistas chamam de “crise histórica”. Para os astrólogos, trata-se da crise da passagem da Era de Peixes para a Era de Aquário. Isso significa que um ciclo cósmico da vida da humanidade está se encerrando, e que, ao mesmo tempo, um outro ciclo, inteiramente novo, está nascendo. Como em toda situação onde morte e renascimento estão presentes, há também muita angústia e insegu-rança para a maioria das pessoas. E não existe estado psicológico mais propício à busca da solu-çäo mágica do que o da angústia e insegurança.

Mas, como ensinam os sábios chineses, crise é sinônimo de oportunidade de transformação. É nesses momentos históricos críticos em que as escalas tradicionais de valores envelhecem e per-dem substância que costuma aflorar nas pessoas uma grande inquietude existencial e espiritual. E é exatamente a energia coletiva dessa inquietude o combustível que alimentará o processo de cria-ção de uma nova civilizaçäo. Da mesma forma, como bem sabem os psicoterapeutas, para que haja uma real transformação na estrutura psico-lógica da pessoa é preciso, antes, que a estrutura envelhecida entre em crise. As leis que regem o funcionamento do indivíduo humano são as mes-mas leis que regem o funcionamento da sociedade humana, do planeta e do próprio cosmos.

Essa situação geral de crise-oportunidade de transformação atualmente em curso já provocou

e que iria, segundo a astrologia, dos tempos de Cristo até os nossos dias. Em Peixes, a maioria das pessoas aceitava passivamente as explicações que as diversas igrejas forneciam em relação ao mundo e a vida espiritual. Mesmo as colocações dogmáticas mais absurdas tinham de ser engo-lidas sem discussão. Nada era questionado e, no que tocava à religião, as pessoas se comporta-vam de modo infantil, como crianças que, ainda incapazes de discernir por conta própria, aceitam tudo que os pais lhes proporcionam, desde ali-mentação e vestuário, até educação e normas de comportamento.

Agora que, sempre segundo a astrologia, come-çamos a entrar em Aquário, a tendência em maté-

“Para que haja uma real transformação na estrutura psicológica da pessoa é preciso, antes, que a estrutura envelhecida entre em crise”

várias alterações no comportamento individual e coletivo. Na área da religião e da espirituali-dade, por exemplo, a tendência crescente que se observa é a de um comportamento muito diferen-te daquele praticado até há pouco, nos séculos que se convencionou chamar de “Era de Peixes”,

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ria de religião é muito diferente. Hoje, aconselha--se cada vez mais as pessoas a buscar dentro de si aquelas respostas, e a não mais esperar que elas venham de fora, já digeridas e preparadas para serem engolidas.

Como fazer esse mergulho interior em busca de respostas e, principalmente, em busca de si mes-mo? De início é preciso entender uma coisa com a qual a religião e a ciência moderna concordam inteiramente: o ser humano é uma síntese de todo o universo. Ele é um microcosmo que abriga em si todas as leis e todas as propriedades, todas as possibilidades e todo o mistério do macrocosmo. Além disso, é um microcosmo dotado de um certo grau de consciência. E, no fundo da consciência individual, existe uma voz que nos fala, quando nos dispomos a ouvi-la. Essa voz é capaz de res-ponder a todas as perguntas, não dando todas as respostas de uma vez, mas sim fornecendo-as uma a uma, à medida que delas tenhamos necessidade. Essa voz é aquilo que todos os sábios, de todos os tempos, conheciam pelo nome de “Deus interior”, e que os modernos psicólogos, cada vez mais pró-ximos dos sábios da antiguidade, chamam agora

de “eu superior”, o self da psicologia de Carl Jung. Estabelecer um diálogo inteligente com o

próprio self é objetivo fundamental de todas as religiões e psicologias verdadeiras. Muitas técni-cas foram criadas, ao longo dos milênios, e pelas diferentes civilizações, para ajudar as pessoas a chegar lá. Uma delas, por exemplo, é a meditação, que não significa, como muita gente acredita, ficar refletindo longamente sobre um tema ou outro. Meditar significa serenar a mente, quase sempre

“De início é preciso entender uma coisa: o ser humano é uma síntese de todo o universo”

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uma infatigável tagarela, acalmar as emoções e relaxar os músculos, para que a pessoa possa se recolher no interior de si mesma, no centro da sua mente e do seu coração, onde habita o eu supe-rior.

Há inúmeras modalidades de meditação, agru-padas em duas grandes categorias: a das meditaçöes estáticas e a das dinâmicas. No primeiro caso estão

resultado, porém as técnicas não são passivas e sim ativas. Envolve movimentos, exercícios corporais, respirações. As artes marciais (judô, caratê, kung--fu, tai chi chuan etc.) são consideradas técnicas de meditação dinâmica. As danças rituais do candom-blé e da umbanda constituem outro exemplo dessa modalidade de meditação. E, a rigor, também a dança - quando o bailarino se entrega inteiramente aos movimentos que nascem dentro de si e consegue exprimir esses movimentos com o próprio corpo -, e a música - quando o instrumentista ou o cantor sentem que entre eles e o som musical não há mais diferença -, são meditações dinâmicas. Se prosse-guirmos nessa linha, chegaremos à conclusão de que toda e qualquer atividade humana, desempenhada não de modo frio, automático e robotizado, mas sim com toda a nossa consciência e todo o nosso sen-timento, são, afinal, formas de meditação que nos levam ao self. Ir à cozinha e exercitar o talento de preparar com amor um prato delicioso pode ser, por exemplo, uma excelente meditação dinâmica.

Por outro lado, para mostrar que a moderna psi-cologia busca, no fundo, o mesmo objeto da verda-deira religião, basta ressaltar que todas as modernas escolas de psicoterapia (psicanálise, psicologia ana-lítica, psicologia transpessoal etc.) também são, no fundo, técnicas para conduzir o indivíduo na senda do autoconhecimento que leva ao contato com o seu eu superior.

Mas, para que isso aconteça, é preciso em primeiro lugar que nos libertemos da massa de

“Qualquer atividade humana, desempenhada não de modo frio, mas sim com toda a nossa consciência e todo o nosso sentimento, é, afinal, uma forma de meditação”

aquelas técnicas que empregam posturas clássi-cas e tradicionais. O meditador costuma se sentar numa cadeira ou simplesmente no chão, de pernas cruzadas. Através de um relaxamento passivo, ele tranquiliza seu corpo, suas emoções e sua men-te e vai, pouco a pouco, mergulhando dentro de si. Corta os canais de comunicação com o mundo exterior (visão, audição, olfato, tato, paladar), e abre os canais que dão acesso aos sentidos interio-res. Nas meditações dinâmicas obtem-se o mesmo

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condicionamentos artificiais que quase sempre nos impede de saber quem realmente somos. Todos nós somos vítimas de um grande número de condicionamentos que nos são impostos desde que nascemos e ao longo de toda a vida. São con-dicionamentos educacionais, familiares, sociais, culturais, religiosos que pouco a pouco vão nos moldando e, ao mesmo tempo, funcionando como uma camisa de força que nos impede de respirar a vida com toda a capacidade de que dispomos. Des-bastar essa floresta dos condicionamentos, para que possamos ver, compreender e aceitar a nossa pessoa real, é condição sem a qual não é possível o tão ambicionado contato com o eu superior.

E é preciso, como segunda condição funda-mental, abdicar dessa tendência infantil de buscar respostas e soluções fora de nós mesmos. Nosso centro de gravidade deve permanecer sempre den-tro de nós. Não deve ser projetado para fora, pois isso fatalmente nos coloca em situação de desequi-líbrio. É exatamente isso que a sabedoria popular quer dizer quando alerta: “Fulano está fora de si”.

O moderno conceito aquariano de trabalho psi-cológico-espiritual diz claramente que nada fora de nós poderá fazer o trabalho que toca a nós. Não há cristal, nem gnomo, nem pirâmide, nem pantá-culo que possa efetivamente nos ajudar. A não ser, para falar como poeta capenga, o cristal claro dos nossos sentimentos, o gnomo dos nossos instintos, a pirâmide da nossa mente, o pantáculo da nossa sensibilidade intuitiva. E nenhum espírito encar-nado ou desencarnado, nenhum anjo ou orixá po-

“Todos nós somos vítimas de um grande número de condicionamentos que nos são impostos desde que nascemos”

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derá fazê-lo por nós. Mesmo o melhor dos gurus, o mais sério, honesto e competente, não poderá ser mais do que o parteiro do nosso renascimento. Um guia amigo que, com sua experiência, poderá facilitar nossa caminhada. Mas que nunca poderá trilhar a estrada pessoal, única e irrepetível, que foi desenhada para cada um de nós.

Isso é realmente tudo que, depois de anos de investigação, de tantos erros e alguns acertos, eu

poderia de coração dizer à Fu-la-na-de-Tal. Se ela quisesse ouvir. Dizer que, à medida em que assumi-mos, com liberdade e com responsabilidade, a auto-ria de nós mesmos, passamos a ouvir, cada vez com maior clareza, a voz do nosso eu superior. É essa voz, e não outra, que nos ajudará a responder a mais importante de todas as perguntas: Quem sou eu? E que, finalmente, nos fará talvez um dia entender que somos apenas aquilo que fizemos de nós.

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LER A MENTE Um sonho mais próximo

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er a mente passou a ser uma habilidade mais próxima do mundo real depois de um estudo do University College

de Londres (UCL). A pesquisa, conduzida pelos professores Eleanor Maguire e De-mis Hassabis, indica que é possível “ler” as memórias de uma pessoa simplesmente examinando sua atividade cerebral. De acordo com os cientistas, nossas memó-rias são gravadas em padrões regulares,

uma descoberta que contraria o atual pensamento científico.

Eleanor e Hassabis já haviam investi-gado o papel do hipocampo, uma pequena área do cérebro considerada essencial para a navegação, a recordação de memórias e a imaginação de eventos futuros. Num estudo realizado alguns anos atrás, ela examinou os cérebros de motoristas de táxi londrinos, os quais passam anos aprenden-do o complexo mapa de ruas da capital bri-tânica, conhecido como “The Knowledge”. Eleanor mostrou que, no cérebro desses motoristas, uma área na parte de trás do hipocampo estava aumentada, o que pare-cia indicá-la como a região envolvida no aprendizado da localização e da direção.

O novo estudo confirma que os pa-drões relacionados à memória espacial estão situados na mesma área, sugerindo que a parte de trás do hipocampo tem um papel chave na representação de ambientes espaciais. Nele, os cientistas conseguiram mostrar como essa área cerebral traz as memórias à tona. Isso é possível com a participação fundamental de neurônios específicos do hipocampo, denominados “células de localização” (place cells). De acordo com Eleanor e Hassabis, quando nos movemos, as células de localização são ativadas para nos dizer onde estamos.

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Pesquisadores britânicos mostram que é possível “ver” as memórias de uma pessoa com a ajuda de um exame de ressonância magnética funcional

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A equipe de pesquisadores utilizou um apa-relho de ressonância magnética funcional (fMRI, na sigla em inglês), que mede as mudanças no fluxo sanguíneo dentro do cérebro, para examinar a atividade das células de localização enquanto voluntários se movimentavam num ambiente de realidade virtual. As informações obtidas foram então analisadas por um algoritmo informático desenvolvido por Hassabis.

“Perguntamos se conseguiríamos ver padrões interessantes na atividade neural que nos pudessem contar o que os participantes estavam pensando, ou, nesse caso, onde eles estavam”, disse Eleanor. “Sur-preendentemente, apenas por ver as informações do cérebro podíamos prever, de forma exata, onde eles estavam no ambiente de realidade virtual. Em outras palavras, podíamos ‘ler’ suas memórias espaciais.”

Estudos anteriores realizados com ratos não davam pistas a respeito da existência de uma

estrutura na qual as memórias fossem gravadas. É por isso que a pesquisa de Eleanor e Hassabis surpreendeu. Ela disse: “Os aparelhos de fMRI nos permitiram ver a imagem mais ampla de o que está acontecendo nos cérebros das pessoas. Ao ob-servarmos a atividade de dezenas de milhares de neurônios, pudemos ver que deve haver uma es-trutura funcional – um padrão – para a maneira segundo a qual essas memórias são codificadas. De outra forma, simplesmente não seria possível realizar nossa experiência.”

A cientista avalia que essa pesquisa abre um leque de possibilidades a respeito de como as memórias reais são codificadas através dos neurô-nios, permitindo ir além das memórias espaciais e examinar lembranças mais ricas do passado ou visualizações do futuro. “Compreender como nós, humanos, recordamos nossas memórias é essen-cial para nos ajudar a aprender como a informação é processada no hipocampo e como nossas memó-rias são erodidas por doenças como o Alzheimer”, observa Hassabis. “É também um pequeno passo rumo à ideia de leitura da mente, porque simples-mente por observar a atividade

“Perguntamos se conseguiríamos ver padrões interessantes na atividade neural”

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neural podemos dizer o que alguém está pen-sando.” Ele avalia que se passariam pelo menos dez anos antes de se chegar a uma tecnologia com a qual se conseguisse ler os pensamentos de alguém numa sessão simples, mesmo contra a vontade da pessoa examinada.

Eleanor também vislumbra um longo cami-nho científico até que seja possível “ver” dentro da cabeça de alguém. “Podemos descansar tran-quilos em termos de leitura da mente. Embora tecnicamente nesse estudo pudéssemos predizer a memória espacial de alguém a partir de sua

atividade cerebral, não houve nada intrusivo a respeito do que fizemos. Não é que pudemos pôr alguém em um aparelho de ressonância magné-tica e de repente lemos seus pensamentos. É um processo que ainda está num estágio bastante preliminar. Está provavelmente bem distante de ter implicações sociais, éticas e provavelmente forenses.” De qualquer forma, uma brecha na cai-xa de Pandora da leitura da mente já foi aberta – tanto é que Hassabis considera que já seria útil começar a discutir as implicações éticas dessa possibilidade.

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A CARAPAÇA DA LAGOSTA Ela cresceu. Vai ter de mudar

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lagosta vive tranquilamente no fundo do mar, protegida pela sua carapaça dura e re-sistente. Mas, dentro da cara-

paça, a lagosta continua a crescer. Ao final de um ano, sua casa fica pequena e ela tem de enfrentar um grande dilema: ou perma-nece dentro da carapaça e morre sufocada ou arrisca sair de lá, abandonando-a, até que seu organismo crie uma nova carapaça de proteção, de tamanho maior, que lhe

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A natureza é a melhor mestra de sabedoria que podemos encontrar. Basta observar os processos naturais e aprender com eles. A simples troca anual da carapaça da lagosta é lição de valor inestimávelTexTo de Luis PeLLegrini

servirá de couraça por mais um ano.Vagando no mar, sem a carapaça, a la-

gosta fica vulnerável aos muitos predadores que se alimentam dela. Mesmo assim, ela sempre prefere sair. Dentro da carapaça, que se transformou em prisão, ela não tem nenhuma chance. Fora, sim. Também nós, muitas vezes, ao longo da vida, ficamos prisioneiros de várias carapaças: os hábitos repetitivos, os condicionamentos alienan-tes, as situações às quais nos acomodamos mas que, exauridas e desgastadas, nada

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apertada carapaça por uma nova. Mesmo sabendo que, por algum tempo, estaremos desprotegidos ao enfrentar uma nova situação. Largar o velho e abraçar o novo é, muitas vezes, a única possi-bilidade de sobreviver por mais um ano. Até que cresçamos ainda mais e, novamente, tenhamos de mudar de carapaça.

mais têm para nos oferecer. E acabamos, por falta de coragem de mudar, nos acostumando ao tédio de uma vida monótona que, fatalmente, como a velha carapaça da lagosta, acabará por nos sufocar.

Façamos como a lagosta: troquemos a velha e

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STEPHEN HAWKING Super respostas sobre o universo

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ir Stephen William Hawking, nascido em Oxford em 8 de janeiro de 1942, é um físico teórico e cosmólogo britâni-

co e um dos mais consagrados cientistas da atualidade. Doutor em cosmologia, foi professor de matemática na Universidade de Cambridge (posto que foi ocupado por Isaac Newton). É professor emérito daquela universidade.

Atualmente, Hawking encontra-se inca-

pacitado em razão de uma esclerose lateral amiotrófica (ELA), que o impede de manter suas atividades científicas. Sua condição se agravou ao longo dos anos, e ele está quase que completamente paralisado. Sua mente, no entanto, mantem-se cada vez mais viva e atuante. Ele utiliza complexo equipamento de informática para se comunicar.

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Como o universo começou? Como a vida surgiu? A vida só existe na Terra? Um dos maiores físicos teóricos contemporâneos responde estas e outras questões neste vídeo sensacional produzido pelo TED – Ideas Worth SpreadingVídeo: Ted – ideas WorTh sPreading

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Stephen hawking faz grandes perguntas sobre o universo