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#71 EDIÇÃO SHUTTERSTOCK OÁSIS CUMURUXATIBA A vida sorri na Costa das Baleias QUIXOTIC FUSION Dancando com a luz O LADO OCULTO DA LUA Em vídeo de tirar o fôlego PARA MENINOS DE 12 ANOS BÓSON DE HIGGS

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OásisCumuruxatibaA vida sorri na Costa das Baleias

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PArA mEninos dE 12 Anos

Bóson deHiggs

A partir de agora, quem não souber o que é o bóson de higgs e qual é o seu papel na criação

do universo material ficará totalmente por fora do que está

acontecendo no mundo da ciência

por

luis Pellegrini

Editor

F oi exatamente para descobrir coisas como essa part ícula inf ini tesimal da matéria conhecida como bóson de Higgs que se construiu o grande

col isor de hádrons do Cern (Conselho europeu para a Pesquisa Nuclear), nas proximidades de genebra, Suíça. Com seus 27 qui lômetros de diâmetro, ela é provavelmente a maior máquina jamais construída na face da Terra.

a conf irmação prat icamente certa de que o bóson de Higgs realmente existe, e não é apenas uma especu-lação f ís ico-matemática inteiramente teórica, ocor-reu no dia 4 do corrente mês de julho, durante um encontro que reuniu não apenas toda a equipe do Cern mas também a mídia especial izada além de um grande número de gênios da ciência – sem falar do próprio Peter Higgs, f ís ico britânico que desenvolveu, na década de 1960, a teoria dessa part ícula. ele estava lá, testemunhando a conf irmação de tudo aqui lo que sua genial percepção cient í f ica formatou em l inguagem matemática. Dif íc i l imaginar a emoção que experi-mentou esse grande cient ista naquele momento. ele foi às lágr imas, e não é para menos. Suas descobertas deverão levar brevemente esse ramo da ciência a um verdadeiro salto quântico em termos de novas desco-bertas e desenvolvimentos.

A partir de agora, quem não souber o que é o bóson de higgs e qual é o seu papel na criação

do universo material ficará totalmente por fora do que está

acontecendo no mundo da ciência

por

luis Pellegrini

Editor

muito se tem falado nos últ imos dias sobre a des-coberta do bóson de Higgs. Quase tudo, porém, foi expl icado em l inguagem ainda demasiado cient í f ica e hermética, di f íc i l de ser entendida por quem não é do ramo ou pelo menos não possui a lguma formação em ciência contemporânea. assim, decidimos preparar uma matéria cujo texto fosse o mais fáci l possível. É nosso art igo de capa: “O bóson de Higgs – Para meni-nos de 12 anos”.

além do texto, encontramos dois vídeos que poderão contr ibuir para a melhor compreensão do tema. O primeiro desses vídeos, sobretudo, contem um jeito genial encontrado pelo cient ista nele entrevistado para expl icar o bóson de Higgs e o campo de Higgs através de uma analogia. Conf iram. a part ir de agora, quem não souber o que é essa part ícula e qual é o seu papel na cr iação do mundo materia l f icará totalmente por fora do que está acontecendo no mundo da ciência.

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taO BÓSON

DE HIGGS Para meninos de 12 anos

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mundo da ciência tremeu em suas bases quando na quarta-feira, 4 de julho, porta-vozes do Cern - Cen-

tro Europeu de Pesquisa Nuclear, em Genebra, Suíça, o maior e mais importante acelerador de partículas do mundo - apre-sentaram os resultados preliminares das suas pesquisas sobre o bóson de Higgs. No encontro, que reuniu a imprensa especiali-zada e alguns dos maiores especialistas do

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A recente descoberta do bóson de Higgs deverá revolucionar toda a física nuclear. Neste artigo tentamos explicar em linguagem bem fácil o que é essa partícula, também conhecida como “partícula de Deus”. Os dois vídeos ao final facilitam essa compreensãoImagens: cern

O físico britânico Peter Higgs

http://goo.gl/CcGOa

Particula de Deus ou bóson de Higgs

http://goo.gl/RgsKG

O que éo Bóson de Higgs

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mundo em física das partículas, o diretor-geral do Cern, Rolf Heuer, qualificou de “avanço histórico” a descoberta de uma nova partícula que corres-ponde quase inteiramente às características que, acredita-se, pertencem ao bóson de Higgs. Essa partícula, até então existente apenas na teoria, é a chave para se entender os processos de formação do Universo. Não à toa é chamada de “partícula de Deus”.

A descoberta representa um avanço feno-menal “em nossa compreensão da natureza”, declarou Heuer. “A descoberta de uma partícula consistente com o bóson de Higgs abre caminho para estudos mais detalhados, mas requer maio-

res estatísticas para esquadrinhar as suas proprie-dades. Além disso, é provável que ela jogue uma luz também sobre outros mistérios do universo”, comentou.

Os resultados agora obtidos permitem afirmar ser praticamente um fato que a partícula anun-ciada corresponde à descrita por Peter Higgs na década de 1960, sobre a qual repousa o modelo padrão da física de partículas. “Temos de nos sentir orgulhosos e felizes”, comentou Heuer, para em seguida destacar que “isso é um início” e que “há muito trabalho pela frente” para os integran-tes dos experimentos CMS e Atlas (dois projetos de investigação do Cern que levaram às atuais descobertas) durante os próximos meses.

A importância da descoberta é tal que os res-ponsáveis do Cern decidiram na última terça-feira prolongar o funcionamento do Grande Colisor de Hádrons (LHC) durante mais três meses para recolher uma maior quantidade de dados e poder analisar as propriedades da nova partícula com mais detalhe e precisão. O LHC deveria ser desli-gado no terceiro trimestre deste ano, mas agora

Essa partícula é a chave para se entender os processos de formação do Universo. Não à toa é chamada de “partícula de Deus”

Emocionado, Peter Higgs fala a seus colegas durante encontro no Cern, a 4 de julho

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seguirá pelo menos até o final de 2012 para tentar confirmar com toda certeza a descoberta do bóson de Higgs. Essa partícula permite resolver diversas incertezas científicas sobre a formação do universo e aumenta a compreensão sobre a formação da massa.

O bósOn de HIggsEm 1964, o físico escocês Peter Higgs previu

em artigo publicado na revista científica Physi-cal Review Letters que é uma partícula o que dá massa à matéria. Chamada de bóson de Higgs, em homenagem ao britânico, ela seria a última peça no quebra-cabeça do Modelo Padrão, a teoria que descreve as partículas elementares.

Segundo o Modelo Padrão, os bósons são as partículas que interagem com outras e criam as forças fundamentais - forte e fraca, que atuam no núcleo atômico, e eletromagnética (há ainda a gravidade, para a qual alguns teóricos defendem existir o gráviton, ainda não comprovado). Higgs afirmou que a massa não seria das próprias par-tículas, mas resultado da ação de um bóson que reage mais com umas do que com outras.

Como isso ocorre? Os físicos explicam que as partículas colidem com o bóson de Higgs e ficam mais lentas, o que lhes dá massa - e isso as difere das partículas de pura energia, como o fóton. Al-gumas colidem mais, outras menos, e isso explica a diferença na massa.

Tendo como primeiro objetivo achar o bóson

de Higgs, o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês) construiu o LHC, um dos experimentos científicos mais caros da histó-ria.

O bóson de Higgs é o “rei” das partículas ele-mentares - no sentido que é a partícula cuja exis-tência consente a todas as outras partículas funda-mentais (do próton ao elétron, aos outros bósons) possuir uma massa. Em outras palavras, sem o bóson de HIggs a matéria seria muito diversa de como a conhecemos, e talvez nem sequer existisse.

O bóson de Higgs, em suma, forneceria a explicação de um dos maiores mistérios da fí-sica, ou seja: por que quase todas as partículas possuem uma massa? E por que algumas, como o fóton, a “partícula” da luz, possuem massa igual a zero?

As respostas a todas essas perguntas surgem do assim chamado “Modelo Standard”, desenvol-vido pelos físicos teóricos para explicar o mundo do infinitamente pequeno em modo coerente e completo.

Essa partícula permite resolver diversas incertezas científicas sobre a formação do universo e sobre a formação da massa

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Técnicos trabalham no disparador de partículas, o “coração " do Cern

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campOs e bósOnsSegundo tal modelo, associado ao bóson de Hi-

ggs existe o campo de Higgs, um campo de força que permeia todo o universo, do qual o bóson é o “portador” da força. Quase nenhuma partícula pode atravessar o campo de Higgs sem sofrer alguma consequência: o trânsito de uma partícula é, com efeito, “perturbado”, como se ela passasse através de uma rede estendida. Seria exatamen-te essa perturbação (que os físicos chamam de “interação”) a gerar a massa das partículas. Uma exceção à regra é, como dissemos, o fóton, que parece não interagir com o campo de Higgs.

a descOberta dO cernAs características da nova partícula descoberta

no Cern de Genebra, e anunciada há poucos dias, correspondem bastante bem àquelas previstas por via teórica para o bóson de Higgs. Sua massa, em particular, é equivalente a cerca 126 GeV (ou seja, cerca 134 vezes a massa do próton). Mas os físicos das partículas trabalham com objetos realmente imperceptíveis, elusivos, que deixam traços extre-

mamente débeis da sua passagem, e cuja presença com frequência é identificada de modo indireto. Por isso, por exatidão científica, pode-se dizer que a descoberta do bóson de Higgs é segura cerca de 99,99994%. Não é uma certeza absoluta, mas está muito, muito próxima disso. E, mesmo no caso de que o bóson encontrado não fosse exatamente o de Higgs, mas sim um seu “gêmeo” muito similar, se-ria de qualquer forma uma descoberta memorável que abriria o caminho a novos e entusiasmantes filões de pesquisa.

Os experimentos encontraram vestígios da presença desse bóson na região de massa de 125,3 GeV, com uma significância estatística de 5 sigma,

Por exatidão científica, pode-se dizer que a descoberta do bóson de Higgs é segura cerca de 99,99994%

O Cern qualificou como histórica a descoberta de uma nova partícula considerada consistente com o bóson de Higgs

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ou seja, com uma probabilidade muito alta de que se trate realmente da observação de uma partícula e não de um “ruído de fundo”.

Sabemos que essa partícula deve ser um bó-son, o mais pesado bóson até agora encontrado. Mas será mesmo o bóson de HIggs ou alguma coisa de muito similar a ele? Os pesquisadores do Cern, como convém no caso de descobertas de tamanha magnitude, são muito prudentes e

afirmam ainda não saber. De qualquer forma, se novas investigações demonstrarem que a partí-cula recém descoberta não é exatamente o bóson de Higgs, isso em quase nada diminuirá a sua importância, já que o feito abrirá caminho para a descoberta de uma nova família de partículas similares ou de fenômenos completamente diver-sos de tudo que se conhece até agora nessa área da ciência.

“ E no princípio, Deus criou o Céu e a Terra ". A Criação, afresco de Michelangelo

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Cumuruxatiba A vida sorri na Costa das Baleias

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Cumuruxatiba tem mironga, e das boas. Chegar lá é um tanto trabalhoso – são cerca de quatro horas de carro,

223 quilômetros ao sul de Porto Seguro (BA), 32 dos quais de terra batida. Sair de lá, no entanto, é mais difícil ainda. Para alguns, isso revelou-se impossível. Bas-ta ver o número de casados e solteiros, nacionais e estrangeiros, que lá foram, em toda inocência, passar uns dias de férias,

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No sul da Bahia, a Vila de Cumuruxatiba já brilha como atração maior da Costa das Baleias. Mas outras coisas acontecem por ali: vários recém-chegados, sobretudo casais provenientes das cidades grandes, decidiram assumir muitas iniciativas com o objetivo de beneficiar a comunidadepOr LuIs peLLegrInI

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deixaram-se tocar pela varinha mágica dos duen-des do lugar, e não resistiram. Arrumaram malas e cuias e lá se instalaram de modo definitivo.

Quem quiser explicar esse grude que Cumu-ru – como a chamam os íntimos – impõe, não terá de investigar muito. Basta caminhar pelas praias do lugar, sem lenço nem documento, junto às ondas que quebram sobre as areias branquís-simas, ou no alto das falésias de arenito que as acompanham, todas elas recobertas de florestas de coqueiros. Se entregar à preguiça mais venial numa das redes que as pousadas à beira mar oferecem. Partir para um outro pecado, a gula, num dos restaurantes especializados em frutos do mar. Visitar logradouros de grande charme histórico, como a barra do Rio Cahy, logo ao lado. Muitos historiadores acreditam que foi bem ali

que Nicolau Coelho, um dos almirantes de Cabral, travou o primeiro contato entre portugueses e índios. Hipótese reforçada por trechos da carta de Pero Vaz de Caminha e pela visão que se tem do Monte Pascoal, quando se está no mar, em frente ao Cahy.

as cOcadas da dOna neusa As atrações não param aí. Tem também os

passeios de barco para ver, de bem perto, e a poucos quilômetros da praia, as baleias jubarte que, de julho a novembro, vão parir e amamen-tar seus filhotes naquelas águas calmas e pouco profundas. Não à toa o litoral de Cumuruxatiba foi batizado de Costa das Baleias. Tem também o nascer e o pôr-do-sol, quando o céu fica vermelho e o mar fica dourado, e que deve ser contemplado de preferência do alto das falésias. Tem as cocadas da dona Neuza, na pracinha central do vilarejo. Ao lado fica a lojinha de artesanato da índia Naiá, pataxó da gema, que apesar de morar na cidade faz questão de se enfeitar com seus adornos tradi-

Foi bem ali que Nicolau Coelho, um dos almirantes de Cabral, travou o primeiro contato entre portugueses e índios

Rua central da aldeia de Cumuru

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O litoral de Cumuru é repleto de falésias e praias de areia branca

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cionais. Tem a escolinha de navegação a vela para as crianças. Tem as lojas/ateliês das duas cera-mistas do lugar, Eliana Begara e Renata Homem. Tem, no amanhecer e no entardecer, a chegada dos pescadores com seus balaios cheios de peixe.

A lista dos encantos de Cumuruxatiba parece não ter fim. Rapidamente se percebe por que tan-ta gente da cidade grande, de São Paulo, do Rio, de Belo Horizonte e Vitória, e até alguns baianos de Salvador, escolheram se estabelecer ali. Mas o que mais chama a atenção é que praticamente todos esses recém-convertidos à cumurumania preferem não viver apenas no desfrute da sombra e da água fresca.

Cada um deles, além de desenvolver uma atividade profissional condizente com as carac-terísticas do lugar, dedica-se a alguma função ou obra voltada à cidadania e à preservação ambien-tal e cultural do lugar. Parecem ter entendido que, sem isso, a segurança desse paraíso reencontrado estará ameaçada. Os 32 quilômetros de estrada de terra batida cedo ou tarde poderão ser recobertos de asfalto, e por ele chegarão as hordas do turismo de massa com seu habitual cortejo de mazelas e destruições.

O principal alvo do interesse desses neocu-muruxatibanos, como não poderia deixar de ser, é a própria comunidade original do lugar. Quase todos os seus membros pertencem a famílias de pescadores, artesãos ou pequeno agricultores que há séculos vivem ali, até há pouco quase sem con-tato com o mundo exterior. Que fazer para pre-pará-los para a chegada da grande civilização de fora, sem que percam a sua encantadora e simples identidade? Despertar neles a consciência do valor do seu próprio patrimônio cultural e histórico foi

Que fazer para prepará-los para a chegada da grande civilização de fora, sem que percam a sua encantadora e simples identidade?

A ceramista Eliana Begara. Ao lado uma de suas peças

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a primeira necessidade enfrentada. Várias inicia-tivas foram tomadas nesse sentido.

A chef Dolores Lameirão, por exemplo, veio de Angola e levou a Cumuru todo o seu conhecimento de gastronomia desenvolvido em seu país, e de-pois em Portugal, na França e na Suíça. Foi lá que ela conheceu o suíço Walter Kunzi, com quem se casou, teve dois filhos, e montou em Cumuruxati-ba o restaurante Mama África, um must do lugar. Junto a dois outros casais (os dentistas Ricardo e Andréia Belucio, donos do Café Gelato, e Luiz Fer-nando e Helena), Dolores e Walter dão cursos de culinária e gastronomia para jovens carentes de Cumuru. A bióloga Juliana e sua amiga Lucinha dirigem um grupo de danças típicas. O capoeirista P de Serra montou um grupo de capoeira.

Aldo, Rogério e Giorgio (navegador italia-no que depois de girar o mundo se estabeleceu em Cumuru com a esposa e filhos) criaram uma

escolinha de navegação a vela para as crianças da comunidade. Filhos de turistas podem frequentar as aulas, pagando uma taxa módica para ajudar na manutenção dos barquinhos.

Dona Elizete e seu marido Rui, donos do res-taurante Catamarã, criaram um ateliê-cooperativa para ensinar bordados e artesanatos com tecidos a dezenas de meninas e adolescentes da comuni-dade. Os produtos são vendidos numa pequena butique ao lado do restaurante. Metade do que se arrecada é repartido entre as meninas, a outra me-tade é para a reposição do material. Luiz e Milena, donos da Pousada Rio do Peixe, dedicam-se a um projeto de reforço escolar, para ajudar a passar de ano os alunos que têm dificuldades nos cursos regulares. O médico Francisco Begara, por seu lado, desenvolve um trabalho de aconselhamento sanitário para a comunidade e nas comunidades indígenas pataxó.

Francisco, por sinal, é o único médico de Cumuruxatiba, onde toma conta do dispensário. Nascido no Marrocos, formado em São Paulo, ele

A chef Dolores Lameirão, veio de Angola e levou a Cumuru todo o seu conhecimento de gastronomia desenvolvido em seu país, e depois na Europa

Moradores de Cumuru se reunem regularmente para discutir os

problemas da comunidade

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O barco Libra II leva os visitantes para o passeio à

região aonde vivem as baleias

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e a esposa, a ceramista Eliana Begara estão lá há pouco mais de um ano. “Este lugar é um problema para um médico, pois aqui ninguém fica doente”, conta. “Quando aparece alguém no dispensário é só para tratar de um resfriado ou do hematoma de algum moleque que despencou do coqueiro. O caso mais grave que enfrentei, há uns quatro me-ses, foi o parto de uma índia pataxó de 23 anos. Ela chegou em avançado trabalho de parto, mas logo vi que a criança estava em má posição. Como em Cumuru não tem maternidade nem hospital, achei melhor levá-la às pressas para a cidade de Prado, a uns 50 quilômetros de distância, por estrada de terra. No meio da viagem, talvez devi-do aos solavancos do meu pequeno Fiat, o bebê acertou a posição, e a índia gritou lá do banco de trás: ‘Doutor, ela tá saindo.’ Parei o carro na beira da estrada e fiz o parto ali mesmo. Quando vi a cabeleira escura da menina, exclamei: ‘Ela já nasceu de cocar!’ Quinze minutos depois a índia estava com seu bebê nos braços, enrolado nuns panos que eu levara no carro. Voltamos para o dispensário, em Cumuru, fiz uma higiene geral na

mãe e na filha, e logo depois lá se foi ela, de volta para a aldeia, carregando a criança.”

Durante a temporada, nos finais de semana, os grupos de dança, de percussão, capoeira, e oca-sionalmente um outro grupo composto por índios pataxós, se exibem num espaço especialmente preparado, num ângulo da pracinha central da vila. Nessas ocasiões, arma-se um mercadinho de artesanatos regionais no mesmo local. A entrada é franca.

Em Cumuruxatiba, a visita ao santuário das baleias jubarte é uma aventura à parte. Há milê-nios elas frequentam as calmas e tépidas águas da região, perfeitas para a fase de acasalamento,

Quando vi a cabeleira escura da menina, exclamei: ‘Ela já nasceu de cocar!’

Único médico da cidade, Francisco Begara ( à direita ) também se ocupa de atividades sociais

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parto e amamentação desses cetáceos gigantes. “Elas não vêm aqui para comer, e sim para se reproduzir”, explica a bióloga Juliana, quando a bordo do barco Libra nos dirigimos para a área onde as baleias e seus filhotes se concentram. “O restaurante delas é nas águas frias da Antártica, cheias de camarões krill e de cardumes de sardi-nhas e outros pequenos peixes, para onde elas vão a partir do final de novembro. Aqui é só para na-morar e acasalar e para cuidar dos bebês até que eles estejam fortes o suficiente para acompanhar as mães nessas longas viagens.”

Na zona onde as jubarte se concentram o show é contínuo e o piloto do barco mal sabe para onde se dirigir: há baleias navegando à

direita e à esquerda. Para saber onde elas estão, basta prestar atenção na superfície do mar e, de repente, shshsshshs! Lá está o jato d’água que elas emitem ao respirar na superfície, e que denunciam suas posições. Jato localizador que, por sinal, per-mitia aos baleeiros matarem milhares de jubartes todos os anos, quase levando-as à extinção. Quan-do o barco se aproxima, algumas, mais tímidas, mergulham e fazem aparecer a cauda manchada de branco. Outras não estão nem aí. Acostuma-das à presença das embarcações carregadas de pessoas, elas parecem saber que tudo que que-remos delas são algumas fotografias. E existem inclusive as exibidas, que não só não fogem como dão performances na forma de saltos (os machos quando tentam impressionar alguma fêmea), ou mantêm por vários minuto o rabo fora d’água, batendo na superfície (as fêmeas, quando querem enxotar os pretendentes).

O passeio às baleias dura umas quatro horas, com água e frutas a bordo. Os mais sujeitos a náuse-as devem tomar algum remédio antienjôo uma hora

Existem inclusive as baleias exibidas, que não só não fogem como dão performances na forma de saltos

Baleias jubarte vivem nas águas de Cumuru de julho a novembro para a reporução

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As praias fora de Cumuru são quase vazias e cheias de recantos idílicos como da foto

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antes de embarcar. Uma tempestade estomacal é a forma mais fácil de se estragar o passeio.

A Vila de Cumuruxatiba, pertencente ao mu-nicípio de Prado, no sul da Bahia, inclui o núcleo urbano e arredores. Tem cerca de cinco mil habi-tantes, aproximadamente 70 pousadas e outros tantos restaurantes, quase sempre especializados em peixes, camarões, lulas, polvos e lagostas. Para os padrões das cidades turísticas, os preços são bastante razoáveis.

As praias são muitas, todas bonitas, com destaque para a Japara Grande e a Japara Mirim, a de Imbassaúba e da Barra do Cahy. Elas nunca estão muito cheias.

Além do passeio de barco para ver as baleias

(que acontece apenas entre julho e novembro), várias outras excursões podem ser feitas por mar. Pode-se ir até a Ponta do Corumbau e Caraíva, com parada na aldeia pataxó de Barra Velha, cujo acesso é possível somente por meio de barco.

As opções de hospedagem são ótimas. A Pousa-da Rio do Peixe é considerada a melhor, oferecen-do tudo que um hotel de primeira tem. Mas várias outras nada deixam a desejar, entre elas a Pousa-da É, a Uai Brasil, a das Cores, todas elas situadas na praia. Há também as pousadas Axé e a Clara, destaques no centro urbano.

Piscina e restaurante da Pousada Rio do Peixe,

em frenet à praia de mesmo nome

Mais informação:

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QUIXOTIC FUSION Dançando com a luz

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Concebido pelos perfor-máticos norte-americanos Anthony Magliano e Mica Thomas, atuais diretores

artísticos da companhia, Quixotic Fusion é um grupo de artistas de várias disciplinas, incluindo acrobacias, dança, moda, cine-ma, música, multimídia e efeitos visuais. Considerado um dos conjuntos mais cria-tivos da cena americana no momento, os quixotescos vão além dos limites de qual-

quer arte específica, desafiando concep-ções e percepções tradicionais e criando uma experiência sensorial total, diferente de tudo que já foi feito antes no mundo das artes cênicas.

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Quixotic Fusion (Fusão Quixotesca) é um grupo de artistas que combinam acrobacias aéreas, dança, teatro, filme, música e efeitos visuais. Assista-os executar três peças de dança arrebatadora no palco do TED-Ideas Worth Spreading, em 2012VídeO: ted-Ideas WOrtH spreadIng

http://goo.gl/JafxG

quixOtic FusiOn:dançando com a luz

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oO LADO OCULTO DA LUA Em vídeo de tirar o fôlego

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Na ilustração, o Lunar Reconaissence Orbiter sobrevoa a face oculta da Lua. Ao fundo apareçe a Terra

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lado oculto da Lua (também chamado de lado negro ou lado escuro do nosso saté-lite) é o hemisfério lunar

que não pode ser visto da Terra devido ao fato de a translação e rotação lunares possuírem o mesmo tempo de duração. É a chamada órbita síncrona. Contudo, sabe--se que toda a superfície da Lua recebe iluminação do Sol, em períodos distintos, sendo que seu chamado lado escuro recebe

luz durante a fase da lua nova. A Lua fica totalmente escura apenas em períodos de eclipse total lunar, quando a sombra da Terra impede que os raios solares ilumi-nem o satélite. Claro, a Lua na verdade é toda escura, uma vez que não tem luz própria. Toda face iluminada se deve à luz solar. O lado escuro é, na verdade, um lado não visível da Lua, quando a observamos a partir da superfície terrestre.

O hemisfério oculto da Lua foi fotogra-fado pela primeira vez pela sonda espa-cial soviética Luna 3 em 1959, e primei-ramente observado por olhos humanos durante a missão Apollo 8 na órbita da Lua em 1968. O hemisfério possui diversas crateras, resultado de vários impactos na sua superfície.

O Lunar Reconnaissance Orbiter (Or-bitador de Reconhecimento Lunar, LRO) é uma espaçonave robótica lançada pela Nasa, que atualmente está orbitando a Lua. O lançamento não tripulado do Lunar Precursor Robotic Program (Programa de Precursores Robóticos Lunares) ocorri-do em 18 de junho de 2009, é a primeira missão dos Estados Unidos para a Lua em mais de dez anos. O LRO é a primeira mis-são do programa Vision for Space Explora-tion (Visão para Exploração Espacial) dos Estados Unidos. Para cumprir com sucesso

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O Lunar Reconnaissance Orbiter, espaçonave robótica lançada pela Nasa, que atualmente está orbitando a Lua, não para de mandar imagens extraordinárias do nosso satélite. Confira no vídeo

Imagens e VIdeO: nasa

http://goo.gl/9Z1JA

O laDO OcultO Da lua

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os objetivos do “The Vision”, incluindo a exploração humana da Lua, o LRO vai orbitar nosso satélite, pesquisar os seus recursos, e identificar possíveis locais de pouso para uma próxima nova expedição tripulada. A sonda será capaz de forne-cer um mapa 3D da superfície lunar e já forneceu algumas das primeiras imagens de alguns equipamentos do projeto Apollo deixados na Lua. O foguete Atlas V usado para lançar o LRO também carregou o Lunar Crater Observation and Sensing Satellite (Satélite de observação e sensore-amento de crateras lunares - LCROSS), que é projetado para detectar a presença de água quando o estágio superior do veículo de lançamento atingir uma cratera lunar. Juntos, o LCROSS e o LRO formam a van-guarda do returno à Lua do Lunar Precur-sor Robotic Program da Nasa. As primeiras imagens feitas pela LRO foram publicadas em 2 de julho de 2009.

O Lunar Reconnaissance Orbiter, da Nasa, forneceu novas imagens da Lua que revelam dados antes completamente des-conhecidos da sua superfície.

A face oculta da Lua ( na foto ) permaceu invisível para nós até o advento da tecnologia espacial