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#78 EDIÇÃO SHUTTERSTOCK OÁSIS UM MERCADO NEGRO E CRUEL TRÁFICO DE ANIMAIS OVERSHOOT DAY Estamos oficialmente em débito com o planeta ESCUDOS PARA A PELE Truques para manter a cútis TRACY CHEVALIER Descobrindo a história por trás da pintura

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Quando disse que alguém deveria ligar para o IBAMA ou para a polícia

florestal, o funcionário do posto fez-me um sinal para ficar calado. Puxando-me para um canto, disse: ‘Não faça esse tipo de comentário

por aqui. Você poderá terminar levando uma bala na cabeça na

primeira curva da estrada

por

luIS pEllEgRInI

Editor

n a coleção de cenas horríveis que testemunhei ao longo da vida, uma tem destaque especial. Foi na Bahia, há uns 15 anos, nas imediações

de Vitória da Conquista, quando percorria de carro a rodovia que me levaria de volta a São Paulo. Parei num posto de gasolina à beira da estrada para tomar um café. Ao lado do posto, uma pilha de quatro enormes engradados superpostos me chamou a atenção. Eram simples armações de ripas de madeira recobertos por uma tela f ina de arame. Dentro deles, havia um espe-táculo de revirar o estômago: muitas centenas, talvez milhares de pequenas aves si lvestres lá estavam amon-toadas. Curiós, galos-da-campina, cardeais, canários--da-terra, periquitos de vários t ipos, papagaios e mais uma porção de outros passarinhos de nome desco-nhecido para mim. A metade jazia morta no piso dos engradados. A outra metade estava ferida, o sangue colado nas plumas, algumas tinham os olhos comidos por seus companheiros de infortúnio. Um horror in-descrit ível.

Fui falar com o gerente do posto, apresentei meu documento de jornalista e pedi explicações. Ele disse que os pássaros estavam ali há três dias, sem comida nem água. Deixados por caçadores furtivos. Quem os encomendara não aparecera para buscá-los...O mais terrível é que ninguém, nem o dono do posto ou qualquer outra pessoa do local, t ivera a compaixão

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e o bom senso de simplesmente abrir as portinholas daqueles gaiolões e deixar sair as avezinhas ainda vivas. Ou, pelo menos, dar-lhes água e algo para comer.Quando disse que alguém deveria l igar para o IBAMA ou para a polícia f lorestal, o funcionário do posto fez--me um sinal para f icar calado. Puxando-me para um canto, disse: “Não faça esse tipo de comentário por aqui. Você poderá terminar levando uma bala na cabeça na primeira curva da estrada”.

É assim. Um retrato da realidade de um certo Brasi l profundo destituído de qualquer consciência ética em relação ao meio ambiente, à natureza e suas criaturas. Sem esquecer que quem faz isso aos animais indefesos provavelmente não sentirá nenhum remorso ao fazer o mesmo com seus semelhantes humanos.

Nossa matéria de capa trata do comércio i legal de animais si lvestres no Brasi l e no mundo. Esse tráf ico é hoje a terceira atividade clandestina que mais mo-vimenta dinheiro, perdendo apenas para o tráf ico de drogas e o de armas.

Faça a sua parte: não compre nenhum tipo de animal si lvestre, e denuncie quem estiver praticando esse comércio sujo. No Brasi l, tráf ico de animais si lvestres é crime inafiançável. A lei existe. Mas, como tantas outras em nosso país, falta colocá-la em prática.

Quando disse que alguém deveria ligar para o IBAMA ou para a polícia

florestal, o funcionário do posto fez-me um sinal para ficar calado. Puxando-me para um canto, disse: ‘Não faça esse tipo de comentário

por aqui. Você poderá terminar levando uma bala na cabeça na

primeira curva da estrada

por

luIS pEllEgRInI

Editor

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TRÁFICO DE ANIMAIS Um mercado negro e cruel

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mercado negro de animais na Ásia, na África e em vários países da América, Brasil incluído, é um negó-

cio que prospera com uma intensidade que os governos locais não conseguem deter. Forças policiais fortemente ar-madas vigiam os parques nacionais em diversos países, na tentativa de parar principalmente a matança e o tráfico de tigres. Pouco adianta. Um prato de sopa

de pênis de tigre no mercado negro de Taiwan é vendido por mais de 300 euros (aproximadamente R$ 800,00, ao câmbio oficial). A iguaria é servida em restauran-tes, procurados por gente ávida de seus supostos efeitos explosivos na potência sexual. Os olhos do tigre, que teriam o poder de controlar a epilepsia e curar a malária, rendem 150 euros. Na Coréia, sua paleta chega a valer 1.500 euros.

“Um tigre morto vale um saco de dinheiro”, assegura um dirigente da World Wild Foundation (WWF), o italia-no Massimiliano Rocco. “A pele do tigre é um troféu valioso para os ricos, enquanto o resto é uma farmácia de quatro patas para a medicina tradicional chinesa”, diz. Os dentes curam insônia; a gordura, o reumatismo; os ossos, a artrite, infecção e disenteria; o rabo, doenças da pele; os miolos, a acne... A lista é longa e atende aos males de uma população que vai da China à Índia, do sudeste da Ásia a Hong Kong, da Coréia ao Japão e à Malásia. É mais da metade da população do globo terrestre. No Brasil, as principais vítimas desse comércio infame são os peixinhos de aquário e as aves, principalmente papagaios e periquitos (mas uma enorme quantidade de pássaros silvestres pode ser incluída na lista).

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Sopa de pênis de tigre para restituir a virilidade a 300 euros (cerca de R$ 800,00); olhos de tigre contra a malária a 150 euros; bile de urso contra úlcera; petiscos de carne de hipopótamo e fígado de serpente, fora peles valiosas. Pelo contrabando e com venda na Internet, o homem está colocando em perigo mais de sete mil espécies de animais selvagens na Ásia, na África e nas AméricasRepoRtagem: equipe oásis

http://goo.gl/hHsOu

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Em Taiwan, a polícia apreendeu recentemente 140 quilos de ossos de tigre, embalados em 24 caixas desembarcadas de um navio que chegava de Jacarta, na Indonésia. Na ilha de Sumatra atual-mente restam apenas 500 tigres, que são abatidos à média de 50 por ano. Na Índia, que sempre teve a maior população de tigres do planeta, em um sé-culo, ela diminuiu de 40 mil para 3.700 animais.

“A medicina chinesa é uma das maiores ameaças à sobrevivência de numerosas espécies animais da Ásia. Pelo menos 60% do 1,3 bilhão de chineses que formam hoje a população do país usam a farmacopeia tradicional”, explica Rocco. E os asiáticos não são os únicos consumidores. Na Itália, nove mil produtos fabricados a partir de

plantas e animais protegidos foram confiscados há poucos anos, durante a operação Marco Polo, realizada de Roma a Milão por agentes da polícia florestal.

as “fábRicas” de bileA caça aos animais silvestres para levá-los aos

pratos de restaurantes da Ásia e da Europa ou às prateleiras das farmácias asiáticas não perdoa quase nenhuma espécie, de insetos, como for-migas, a aranhas e borboletas. Alguns se tornam moda, como o veado da montanha, pela galhada, e o rinoceronte indiano, por seu corno. Outros nunca saem de moda e, em vez de mortos, são mantidos em cativeiro para sessões periódicas de extração de hormônios produzidos por suas glândulas.

O urso-da-lua (Ursus thibetanus) é um deles. Conhecido por esse nome devido à mancha branca em forma de meia-lua no peito, esse animal é mantido dentro de uma gaiola de ferro onde só cabe seu corpo. Fica lá, prensado, enquanto viver. O bicho é alimentado para que a vesícula biliar

“Na ilha de Sumatra atualmente restam apenas 500 tigres, que são abatidos à média de 50 por ano”

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aumente a produção de bile e, depois de co-mer, é anestesiado, arrastado da jaula e colocado de barriga para cima. Um homem introduz, então, a cânula de uma seringa no local da vesícula, junto ao fígado, e suga a bile que o bicho acumu-lou para processar a digestão.

A medicina chinesa prescreve a bile do urso da lua para uma lista de males que incluem febre, dores, úlcera, hemorragia interna e até câncer. O urso, se escapa da morte a tiros, não sobrevive por muito tempo ao achaque cruel e sistemático de sua bile e às deformações ósseas causadas pela jaula. Muitos morrem de infecção das feridas provocadas pela cânula, com a qual são perfura-dos várias vezes, até que o líquido verde comece a encher a seringa.

Para facilitar o manejo, um cateter permanen-te é introduzido na vesícula, ficando a ponta de

fora, fechada por uma válvula. O pouco espaço que o animal tem dentro da jaula é para impedi-lo de se mexer e arrancar o cateter. O risco de infecção não é menor. “Tudo isso é totalmente legal para o governo chinês, que estimula o desenvolvimento semi-industrial da atividade”, informa Rocco.

O International Fund for Animal Welfare (Ifaw) luta há anos para salvar os ursos-da-lua dos maus tratos e da extinção, mas tudo o que con-seguiu até agora foi reduzir em 24% o número de “fábricas” de bile do urso na China. Não é pouco, mas já será um grande passo se conseguir con-vencer o governo chinês a promover o desenvolvi-mento de produtos sintéticos ou à base de ervas, capazes de substituir a bile do urso da lua. O Ifaw tem pesquisas que indicam o apoio da maioria dos chineses à causa.

A Internet é o meio preferido dos trafican-tes para vender o que roubam da natureza. Um leopardo negro sai por 3.300 euros; um filhote de chimpanzé, 60 mil euros; uma girafa, 15 mil eu-ros; um gorila de 7 anos, oito mil euros - valores apurados pelo Ifaw ao procurar sites do mercado

“O urso, se escapa da morte a tiros, não sobrevive por muito tempo ao achaque cruel e sistemático”

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negro de animais na Internet. A entidade de-tectou quase cem sites que vendiam animais, dos quais 70% eram de espécies protegidas por lei. Em apenas uma semana, encontrou à venda 146 primatas, 5.527 partes de elefante, 526 tartaru-gas, 2.630 objetos feitos com o couro e outras partes de serpentes.

o ataque dos pumasAtualmente, não há lugar no planeta em que os

animais não estejam sob alguma ameaça, seja por desmatamento, seja por assentamentos humanos cada vez mais próximos, construção de represas, estradas e outros. Os animais estão perdendo o seu espaço vital. Um único puma necessita de um território de vários quilômetros quadrados para sobreviver nas matas da Califórnia, nos Esta-dos Unidos. Acuados pelas casas e estradas que invadem seu habitat, os pumas estão atacando a população humana que chega cada vez mais perto deles.

Na África, a falta de espaço já começa a ser um problema em muitas áreas, mas a maior

ameaça do momento é o consumo de carne de animais selvagens. Segundo a Bushmeat Crisis Task Force, organização de cientistas e ambien-talistas dedicados ao estudo e controle do consu-mo de carnes silvestres, de 40% a 80% da carne vendida nos mercados e feiras da África são de espécies de pequenos antílopes, que, por isso, já se encontram em processo de extinção, como os antílopes de Ader e Jentink.

Mesmo os primatas, que na África eram e ainda são milhões, estão perdendo a guerra. Comer car-ne de símios, chimpanzés e gorilas hoje é corri-queiro na maior parte da África central. O

“A entidade detectou quase cem sites que vendiam animais, dos quais 70% eram de espécies protegidas por lei”

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comércio ocorre em vasta escala. Estima--se que nas florestas equatoriais africanas sejam mortos três mil gorilas e quatro mil chimpanzés por ano para consumo de carne. Há 20 anos, a população africana de elefantes era de 1,2 milhão de animais. Hoje, não passa de 500 mil.

Entre 1979 e 1989, Hong Kong importou cerca de quatro mil toneladas de presas de elefantes, o que corresponde a 400 mil animais. Desde 1989, o comércio de presas de elefantes está proibido pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies em Extinção (Cites), mas colares, brincos, pulseiras e estatuetas de marfim ainda são produzidos aos milhares mundo afora. “Isso se deve ao tráfico que provém de países em guerra civil ou com grande instabilidade política, que

dificultam controles e o retorno à legalidade, como na República Centro-Africana, Camarões e Gabão”, denuncia Rocco.

Com a proibição desse comércio, os caçadores descobriram outra grande fonte de renda: o hipo-pótamo. Sua carne é considerada uma iguaria e ele também é um fornecedor de pequenas quan-tidades de marfim. Com isso, a maior população de hipopótamos do mundo, a do Parque Nacional Virunga, no Congo, na África, caiu de 20 mil ani-mais para 1.300.

“A Itália importa por ano cerca de 30 mil animais silvestres, dos quais 25% morrem no transporte. Encontramos de tudo. Há poucos me-ses, apreendemos 60 répteis venenosos dentro da mala de um automóvel que trafegava pela auto-estrada Florença- Pisa”, conta Davi De Laurentis, dirigente da Cites no país.

Iguanas, papagaios, serpentes e rãs tropi-cais também são muito encontrados. No porto de Ancona, a equipe de De Laurentis apreendeu uma caixa de ovos de um abutre raro da Turquia. Estavam dentro de uma incubadora para não es-tragar, e seu provável destino, quando nasces

“A Itália importa por ano cerca de 30 mil animais silvestres, dos quais 25% morrem no transporte”

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sem os filhotinhos, seriam os pratos de luxuo-sos restaurantes especializados em aves raras “al primo canto”.

O comércio ilegal de animais silvestres é a terceira atividade clandestina que mais movi-menta dinheiro sujo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas.

O Brasil é um dos principais alvos dos trafi-cantes devido a sua imensa diversidade de pei-xes, aves, insetos, mamíferos, répteis, anfíbios e outros.

As condições de transporte são péssimas. Muitos animais, talvez a maior parte deles, morrem antes de chegar ao seu destino final.

Filhotes são retirados das matas, atravessam as fronteiras escondidos nas bagagens de contra-bandistas para serem vendidos como mercado-ria.

Todos os anos mais de 38 milhões de ani-mais selvagens são retirados ilegalmente de seu hábitat no país, sendo 40% exportados, segundo relatório da Polícia Federal.

O tráfico interno é praticado por caminhoneiros,

“O comércio ilegal de animais silvestres é a terceira atividade clandestina que mais movimenta dinheiro sujo”

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motoristas de ônibus e viajantes. Já o esquema internacional, envolve grande número de pessoas.

Os animais são capturados ou caçados no Norte, Nordeste e Pantanal, geralmente por pessoas muito pobres, passam por vários intermediários e são vendidos principalmente no eixo Rio-São Paulo ou exportados.

Os animais são traficados para pet shops, cole-cionadores particulares (priorizam espécies raras e ameaçadas de extinção!) e para fins científicos (cobras, sapos, aranhas...).

Com o desmatamento, muitas espécies entraram para a lista de animais ameaçados de extinção, principalmente na Mata Atlântica. Para mais informações, consulte o site da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres , o

MMA, o IBAMA, SOS FAUNA ou a CITIES - Conven-ção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção.

Segundo o IBAMA, a exploração desordena-da do território brasileiro é uma das principais causas de extinção de espécies. O desmatamento e degradação dos ambientes naturais, o avanço da fronteira agrícola, a caça de subsistência e a caça predatória, a venda de produtos e animais proce-dentes da caça, apanha ou captura ilegais (tráfico) na natureza e a introdução de espécies exóticas em território nacional são fatores que participam de forma efetiva do processo de extinção. Este processo vem crescendo nas últimas duas décadas a medida que a população cresce e os índices de pobreza aumentam.

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OVERSHOOT DAY Estamos oficialmente em débito com o planeta

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m pouco menos de oito meses já consumimos tudo o que a Terra pode nos dar em um ano sem sofrer desgaste

irreversível. Dia 22 de agosto de 2012 foi o “Earth Overshoot Day”, ou o dia em que o nosso consumo de recursos superou a capacidade de o planeta regenerá-los em um ano. Essa é a conclusão da Global Foo-tprint Network, uma organização sem fins lucrativos com sede em Oakland, Califór-

nia (EUA), com ramificações importantes também na Bélgica e na Suíça, que há anos se dedica a calcular a “pegada ecológica global”.

Significa que em oito meses já consu-mimos tudo o que a Terra pode nos dar em um ano, e a partir de 23 de agosto passa-mos a estar em débito com o planeta. Seria como se o seu salário acabasse por volta do dia 20 - e não há cartão de crédito que segure as pontas até o mês seguinte.

Em menos de oito meses acabamos com os estoques de doze, e a partir de agora, até o final do ano, devemos pendurar a conta que provavelmente não será paga nunca. Consumiremos bens naturais que nosso planeta não tem condições de rege-nerar, derrubando florestas que servem para renovar a oxigenação do ar que respi-ramos, pescando peixes que já são escassos em nossos mares e que deveriam ser dei-xados para a reprodução, bombeando água de fontes que não serão repostas.

cRédito exauRidoA Terra coloca constantemente uma

série de recursos naturais para os seus habitantes. A cada ano esse tesouro virtu-almente se renova, para estar disponível também no ano sucessivo: espécies de peixes, recursos hídricos, florestas, terras

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Em menos de oito meses consumimos recursos naturais renováveis suficientes para um ano. Até dezembro, nossa conta estará no vermelho

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cultiváveis. Mas o consumo desmesurado, bem como a deterioração desses bens faz com que, a cada ano, exaurimos o orçamento” colocado à nos-sa disposição pelo nosso planeta muito antes do previsto.

datas fatídicas do passadoNa última década, a cada ano, apareceu mais

cedo o Overshoot Day, o “dia do não-retorno”:

1987 - 19 Dezembro 1990 - 7 Dezembro

1995 - 21 Novembro2000 - 1 Novembro2005 - 20 Outubro2007 - 26 Outubro

2008 - 23 Setembro2009 - 25 Setembro

2010 - 21 Agosto2011 - 27 Setembro

2012 - 22 Agosto

A data do Overshoot Day foi criada em cola-boração com a New Economic Foundation, uma organização britânica independente empenhada na difusão de uma economia mais equânime e atenta ao meio ambiente. O primeiro Overshoot Day (to overshoot significa ir além, passar os limites) foi 19 de dezembro de 1987. Em 1990, ele já havia caído no dia 7 de dezembro; em 2008, no dia 23 de setembro. Como se vê, a data do exauri-mento dos estoques cai cada vez mais cedo. Se no início ela se colocava próxima ao final do ano, nos últimos tempos pende perigosamente para o meio do mesmo.

calcule a sua pegada ambieNtal

Segundo estimativas dessas organizações, para viver com os recursos que atualmente consumimos, teríamos necessidade de um planeta e meio. Se nos

“Exaurimos o orçamento” colocado à nossa disposição pelo nosso planeta muito antes do previsto”

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mantivermos nesse ritmo, em 2050 as Terras necessárias para nos garantir um fornecimento constante seriam duas. Mas só temos uma única Terra... Pensando nisso, essa rede ambientalista criou uma ferramenta que nos permite descobrir qual é a nossa “pegada ambiental” pessoal, e o que podemos fazer para atenuá-la. Calcule a sua selecio-nando “Brasil” neste link multimídia:

O Earth Overshoot Day é calculado confron-tando-se os recursos biológicos terrestres com o consumo que fazemos deles, em base a uma equação bastante simples: (capacidade biológica mundial / consumo ecológico mundial) x 365 = Earth Over-shoot Day.

Mas, advertem os pesquisadores, trata-se de uma estimativa indicativa e pode ser que a data

oscile alguns dias para mais ou para menos. O que importa, no entanto, é o que está acontecendo, e não quando está acontecendo.

Segundo o site italiano Il Cambiamento, isso significa que em oito meses já consumimos tudo o que a Terra pode nos dar em um ano, e a partir de 23 de agosto passamos a estar em débito com o planeta.

A informação alarmante é que, segundo a GFN, o “Overshoot Day” tende a chegar cada vez mais cedo. Em 1987, a organização calculou o dia 19 de dezembro; em 2002, o dia foi fixado em outubro; e em 2012, já gastamos tudo o que poderíamos gastar antes do fim de agosto. Essa, porém, é uma média entre países, e há quem tenha um peso mui-to maior nesse índice: em 2012, os EUA alcança-ram seu limite de consumo no dia 28 de março, e o Brasil, em 06 de julho. De acordo com a organi-zação, a nossa demanda anual de recursos reno-váveis seria de um planeta e meio, e estaremos consumindo dois planetas bem antes de 2050.

A primeira vez que o consumo global superou os limites do planeta foi em meados dos anos 1970,

“Se nos mantivermos nesse ritmo, em 2050 as Terras necessárias para nos garantir um fornecimento constante seriam duas”

Imagem via Global Footprint Network

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e para Il Cambiamento, não se trata de escas-sez, mas de ritmo: nosso ciclo de consumo é bem mais veloz do que o ciclo de renovação da Terra. O aquecimento global, a perda de biodiversidade e o desmatamento são efeitos de um crescimento econômico que não respeita o ritmo de regeneração

dos recursos terrestres. A solução é nada menos do que uma revolução na economia e nas prioridades de governos e sociedade, acredita Mathis Wacker-nagel, presidente da GFN: “Uma recuperação a longo prazo somente será possível se reduzirmos sistematicamente a nossa demanda de recursos.”

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rio e calor intensos são, ambos, inimigos da nossa pele, sobretudo a do rosto. Mas não são os únicos fato-

res capazes de por à prova o frescor e a beleza da cútis. Também os raios ultra-violeta, particularmente os que incidem sobre nós quando estamos em grandes altitudes, podem fazer estragos. A jovem tibetana da foto sabe muito bem disso. Ela vive a cerca de 3 mil metros, nas

imediações da cordilheira do Himalaia, e lá a incidência da radiação solar é parti-cularmente importante. Para se defender do ar frio e dos raios solares ela aplicou no rosto um cosmético especial, cha-mado “tocha”, feito a base de gordura animal e estratos de raízes.

Com base numa pesquisa feita pela Brown University, de Providence, Rhode Island, nossa pele contem fotoreceptores semelhantes aos que se encontram na retina, capazes de individuar a presença de raios ultravioleta e de organizar ra-pidamente um sistema de defesa para se proteger dos seus efeitos. A pele humana fica bronzeada e produz melanina, um pigmento natural que defende o DNA da pele dos danos provocados pela radiação ultravioleta. Estudando os melanócitos – as células responsáveis pela produção da melanina – esses pesquisadores des-cobriram que as células também produ-zem rodopsina, um pigmento sensível à luz e presente na retina. Em presença de raios ultravioleta, a rodopsina estimu-la um bronzeamento imediato – porém suave – que defende o DNA da pele de eventuais consequências desagradáveis. Inibindo os genes que produzem rodop-sina nos melanócitos, inibe-se também a resposta rápida da pele à agressão das

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Na Ásia, ainda mais que no Ocidente, muitas mulheres procuram manter a pele do rosto sedosa, delicada e branca

imageNs: divulgação

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radiações.Se no Tibete as mulheres protegem a

cútis com cremes gordurosos, na África elas fazem o mesmo passando sobre o rosto e os cabelos uma camada fina de argila.

Mas há quem proteja a pele do rosto por razões outras. Como as chinesas da sequência de imagens que mostramos a seguir.

Estamos acostumados às toucas para proteger os cabelos, usadas também na praia, e sobretudo nas piscinas. Mas essas máscaras integrais que as mulheres chinesas vistas nas fotos a seguir usam quando vão à praia não são coisas que se vêm todos os dias. Do que se trata? Nas praias de Qingdao, na província chinesa de Shandong, onde foram feitas essas fotografias, tais acessórios são discutidos como itens normais da moda...

REUTERS/Aly Song

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2 Pálidas e aristocráticas

Inventadas por uma engenhosa mulher dessa localidade há cerca de sete anos, essas máscaras de náilon servem para proteger a pele do rosto e manter intacta a cor branca da pele, para que a mesma não seja “corrompida”pelo bronzeamento. A pele imaculada, na China, como em outros países asiáticos, é sinônimo de prestígio social. Um rosto feminino não marcado pelo Sol faz supor, com efeito, que sua dona se mantém distante dos trabalhos manuais e agrícolas que exigem permanência prolongada ao ar livre e, portanto, pele bronzeada

REUTERS/Aly Song

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REUTERS/Aly Song

3 Ideal para esconder os defeitos

“Uma pele branca esconde três defeitos”, diz um ditado popular asiático: velhice, pobreza, doença. Defeitos também escondidos por essa máscara que deixa livres apenas os olhos, o nariz e a boca! A busca de uma epiderme branca como a neve existe desde a antiguidade quando, na China, as mulheres aplicavam pó de pérolas sobre a pele e, no Japão, uma pasta à base de bióxido de zinco e titânio para parecerem mais brancas e luminosas

REUTERS/Aly Song

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4 Bem cobertas entre as ondas

A máscara colorida não é o único acessório utilizado para uma mulher permanecer pálida: na cidade, as mulheres usam sofisticadas sombrinhas, lenços e chalés, e luvas protetores para mãos e braços. Dentre os muitos cremes para o rosto, os que embranquecem a cútis estão entre os mais procurados – embora, no passado, nesses produtos tenham sido encontrado traços de mercúrio e outras substâncias potencialmente cancerígenas

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5 Opiniões divergentes

Apesar da sua eficácia, as máscaras não são bem vistas por todos os banhistas. Alguns a consideram uma providência bastante extrema, e as autoridades chinesas já pensam em ordenar às lojas de Qingdao para que interrompam as vendas. Oficialmente, para controles ligados à qualidade dos tecidos utilizados para a sua confecção, mas, talvez, também pela semelhança com as máscaras que bandidos usam para assaltar bancos...

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TRACY CHEVALIER Descobrindo a história por trás da pintura

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uando Tracy Chevalier olha para pinturas ela imagina as histórias que existem por trás delas: como o pintor

conheceu sua modelo? O que explicaria esse olhar nos olhos dela? Por que esse homem... está ruborizado? Neste vídeo ela compartilha três histórias inspiradas em retratos, incluindo o romance que a levou a escrever o best-seller “Moça com brinco de pérola”.

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Cada quadro pintado pode esconder uma história fascinante. Saiba qual é a do quadro “Moca com brinco de pérola”, de Vermeer,vídeo: ted – ideas WoRth spReadiNg

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TRACY CHEVALIER Descobrindo a história por trás da pintura