#232 OÁSIS - brasil247.com · Mas se, neste número, ... No passado, esse peixe fora observado nos...

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AS MAIS BELAS FOTOS DA NOAA MAR AZUL COMIDA CALÓRICA- NEGATIVA Alimentos que fazem emagrecer realmente existem? AEROMOBIL Um sonho de liberdade se transformou num carro voador O RECUO DA MORTE A imortalidade bate à nossa porta #232 EDIÇÃO OÁSIS

Transcript of #232 OÁSIS - brasil247.com · Mas se, neste número, ... No passado, esse peixe fora observado nos...

AS MAIS BELAS FOTOS DA NOAAMAR AZULCOMIDA

CALÓRICA-NEGATIVAAlimentos que fazem emagrecer realmente existem?

AEROMOBILUm sonho de liberdade se transformou num carro voador

O RECUO DA MORTEA imortalidade bate à nossa porta

#232

EDIÇÃO OÁSIS

OÁSIS . EDITORIAL

POR

EDITOR

PELLEGRINILUIS

M ar Azul”, nossa matéria de capa, é sobretudo visual. Produzida, na verdade, para encher os olhos com uma série de fotografias saídas dos arquivos da

NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration – a organização oficial norte-americana que estuda e protege os mares e a atmosfera. Uma galeria de imagens de criaturas marinhas raras, estranhas, divertidas. Uma seleção feita sob medida para mostrar a incrível variedade biológica que nos-sos oceanos são capazes de produzir.

Mas se, neste número, a matéria de capa é para se ver, a conferência “O Recuo da Morte”, proferida pelo cientis-ta francês Laurent Alexandre no TED-Paris, é feita para se pensar num tema absolutamente essencial à vida. Esse tema

GRAÇAS AO PROGRESSO DA CIÊNCIA E À MUDANÇA DOS HÁBITOS DE VIDA, CONSEGUIMOS

FAZER COM QUE A MORTE RECUE MAIS UM POUCO, SE AFASTE AINDA MAIS

OÁSIS . EDITORIAL

POR

EDITOR

PELLEGRINILUIS

é exatamente o final da vida, aquele momento supremo ao qual chamamos morte. Mas nada de comentários macabros saídos de alguma filosofia pessimista. Pelo contrário, as notí-cias são muito boas. Laurent Alexandre não diz que a morte deixou de existir, que agora somos eternos. Mas afirma que graças ao progresso da ciência e à mudança dos hábitos de vida, conseguimos fazer com que a morte recue mais um pouco, se afaste ainda mais. Até o ponto em que já não é uma insensatez acreditar que podemos durar até os 100, os 150, os 200 anos. Basta considerar que nos últimos 50 anos a expectativa de vida em âmbito mundial simplesmente dobrou. Se dobrar de novo – e tudo indica que o fará – nos próximos 50 anos, lá pela metade deste século as pessoas chegarão fácil aos 150 anos! A notícia é boa, para nossos fi-lhos, netos e bisnetos.

Um passo importante nesse prolongamento do nosso tem-po de vida concentra-se na alimentação. Por isso, a terceira matéria deste número fala dos alimentos calóricos-negativos, aqueles que, supostamente, queimam mais calorias para se-rem comidos, digeridos e metabolizados do que a pequena quantidade de calorias que eles mesmos possuem.

Para completar, sempre neste número de Oásis, mais um passo em direção ao futuro com a invenção, na Eslováquia, do AeroMobil: o primeiro carro capaz de transitar numa es-trada e, de repente, abrir um par de asas e alçar voo!

MAR AZULAs mais belas fotos da NOAA

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maioria das pessoas vive o ambiente marinho apenas durante o verão. Mas há também aqueles que o estu-dam, fotografam e protegem durante todos os meses do ano. Eles são os pesquisado-res da NOAA, a Administra-

ção Nacional Oceânica e Atmosférica norte-a-mericana, uma agência federal que se ocupa da observação dos oceanos e da atmosfera terres-tre, bem como das previsões de mudanças que podem influir sobre esses ambientes. Desde

1970, quando foi fundada, a entidade acumu-lou um enorme acervo de fotografias espeta-culares. Esta é uma seleção de algumas dessas fotos.

ACetáceos, gaivotas, tartarugas, peixes-boi, polvos e quimeras dos abismos. Flagrantes da vida marinha fotografados pela NOAA, a agência norte-americana que zela pelos oceanos e a atmosfera

POR: EQUIPE OÁSIS

Mergulhador da NOAA rastreia e filma fundal submarino

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1 Gaivotas descansam sobre o focinho de uma baleia jubarte (Megaptera novaeangliae) em um santuário marinho no litoral de Massachusetts.

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2 A inconfundível característica anatômica de um atobá-dos-pés-azuis (Sula nebouxii), um pássaro marinho das ilhas Galápagos.

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3 A mirada fugaz entre uma lontra marinha e um pesquisador da NOAA, antes que este última mergulhe no interior de uma floresta de algas kelp, no Monterey Bay National Marine Sanctuary, na Califórnia.

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4 Um pepino-do-mar, também chamado de holotúria, de corpo transparente e o estômago e intestino bem à mostra.

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5 Um elefante marinho setentrional (Mirounga angustirostris), com sua característica tromba, observa uma lavadeira, pássaro marinho, numa praia do Monterey Bay National Marine Sanctuary , na Califórnia.

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6 Uma arraia pastinaca (família Dasyatidae), um peixe achatado aparentado às demais arraias, fotografado no fundo mari-nho arenoso das Ilhas Cayman, ao entardecer.

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7 Um polvo-dumbo (Opisthoteuthis californiana) na sua característica posição natatória, não observada em nenhum outro polvo.

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8 Uma explosão de vida: a cauda de uma baleia jubarte entre centenas de pássros marinhos. Ao fundo, um navio da NOAA, fotografados ao largo da Ilha Unalaska, no Alasca.

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9 Uma quimera (família Chimaeridae), peixe cartilaginoso abissal aparentado aos tubarões. As barbatanas laterais possuem receptores mecânicos que captam a pressão das ondas e das correntes marinhas. As linhas visíveis sobre a sua cabeça são ampolas de Lorenzini, órgãos sensoriais que detectam os campos eletromagnéticos das presas potenciais.

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10 Conseguem ver o neon? Um peixe neon transparente (no centro da foto) sobre um coral estrelado do Caribe (Montastraea cavernosa).

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11 Um isópodo gigante (gênero Bathynomus), crustáveo de 8 a 15 centímetros de comprimento que vive nos fundais frios e profundos do Atlântico e do Pacífico.

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12 Um grande caranguejo eremita no interior da sua casa, no litoral do Havaí.

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13 Um peixe-pescador (Lophius piscatorius) no fundo oceânico da Indonésia.

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14 Uma iguana marinha (Amblyrhynchus cristatus) das Ilhas Galápagos.

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15 O navio de pesquisas Pisces, da NOAA, no momento em que foi lançado ao mar, em dezembro 2007.

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16 Mamãe lamantino nada junto ao seu no Palm Beach Inlet, na Flórida.

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17 Dois mergulhadores da NOAA lutam para libertar uma foca monge do Havaí (Neomonachus schauinslandi) que ficou enre-dada numa rede de pesca.

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18 Uma bióloga da NOAA junto a um filhote de orca na parte meridional do Mar de Ross, na Antártica. O cetáceo poderia ser ma nova espécie de orca marinha descoberta entre os gelos da região.

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19 Um veterinário da NOAA se prepara para limpar uma tartaruga de Kemp (Lepidochelys kempii) a mais rara das tartarugas marinhas, que ficou presa em meio a uma mancha de petróleo.

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20 Um submergível Delta volta à tona nas águas da Ilha Santa Cruz, Califórnia.

Um peixe-fantasma passeia no AtlânticoUma equipe da NOAA conseguiu filmar uma das criaturas mais raras e misteriosas das profundezas abissais do Atlân-tico. Trata-se de um peixe-fantasma (Harriotta haeckeli), um membro da família dos Rhinochimaeridae. Sabe-se muito pouco a respeito do peixe-fantasma. O vídeo abaixo foi girado por uma sonda submarina durante a exploração de um cânion submerso ao largo da costa oriental dos Esta-dos Unidos.

No passado, esse peixe fora observado nos mares abertos da Nova Zelândia e da Groenlândia, sempre a profundida-des superiores a 2600 metros, uma quota que torna prati-camente impossível qualquer estudo sistemático da espécie.

O exemplar que protagoniza o vídeo tem comprimento de cerca 70 centímetros e possui sobre o dorso uma série de espinhos venenosos que o defendem de eventuais preda-dores. Segundo os especialistas trata-se de uma espécie em risco de extinção, ameaçada como muitas outras pelas ativida-des humanas levadas a cabo em grandes profundidades e pela pesca de arrastão.

Video: Rhinochimera: Northeast U.S. Canyons Expedition 2013

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COMIDA CALÓRICA-NEGATIVAAlimentos que fazem emagrecer realmente existem?

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ocê já experimentou a dieta vegana, a Ravenna, a cetogê-nica e mais uma meia dúzia de dietas, mas ainda está à procura de alguma estratégia BBB – boa, bonita e barata – para controlar o peso? Antes

de gastar fortunas com as tais frutas que ema-grecem, anunciadas o tempo todo na Internet, saiba um pouco mais sobre os alimentos calóri-co-negativos.

Você deve ter ouvido falar neles em algum momento. Um alimento calórico-negativo aparentemente queima mais calorias do que as que ele mesmo contem. Por exemplo, será possível que mastigar e digerir algumas folhas de alface americana (Lactuca sativa) consuma mais calorias do que a minúscula quantidade de calorias que esse vegetal contem? Se isso for verdade, por que não fazer uma dieta des-se e de outros alimentos calórico-negativos, deixando de lado todos os outros?

A voz do nutricionista

Infelizmente, esse raciocínio está completa-mente equivocado. “Embora seja lindo pen-sar que hoje podemos comer uma porção de alimentos que contem menos calorias do que as que têm de ser queimadas para digeri-los e absorve-los, essa ideia é boa demais para ser verdade”, diz a médica norte-americana Beth Warren, fundadora da Beth Warren Nu-trition, em Nova York, e autora do best-seller “Living Real Life with Real Food (Vivendo a vida real com a comida real)”.

“Não existe evidência científica de que ali-mentos como o salsão ou aipo, cenouras, to-mates, maçãs e alfaces sejam realmente aqui-lo que se convencionou chamar de ‘alimentos calórico-negativos’, e que queimem mais calo-rias no processo de digestão do que aquelas

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Salsão, pepino, aspargos promovem emagrecimento? Nutricionistas dizem a verdade sobre os alimentos que, acredita-se, queimam mais calorias do que aquelas que contêm

POR: JENNIFER NELSONFONTE: MOTHER NATURE NETWORK

que o próprio alimento contem”. Esses supostos “alimen-tos catabólicos” – ou alimentos que requerem mais energia para serem mastigados, digeridos e absorvidos do que as calorias que eles contêm – não são na realidade alimentos calórico-negativos.

Claro, você pode comer todo o salsão e a salada americana, beber todo o suco de grapefruit que quiser, e assim fazendo poderá até baixar um número no tamanho das suas calças. Mas quando o metabolismo corporal é incrementado após a refeição, a queima de calorias implicada nos processos alimentares é muito pequena. Além disso, nenhum estudo sério conseguiu até agora demonstrar a realidade desse efeito.

“Biologicamente a noção simplesmente não confere”, afir-ma a pediatra e nutricionista Natalie Digate Muth, consul-tora do setor de Healthcare Solutions do American Coun-cil on Exercise.

Por qual razão nossa espécie – e todas as demais espécies vivas – evoluiria para se nutrir de alimentos que nos for-neceriam apenas energia negativa?

Infelizmente, pelas leis da evolução, não somos feitos para sobreviver ingerindo alimentos que, automaticamente, nos fazem perder peso. Se assim fosse, a obesidade não seria hoje encarada como uma perigosa epidemia.

Isso não significa que você não possa perder peso con

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Alface americana Beterraba, cenoura e salsão

sumindo esse tipo de alimentos. Com efeito, listas e mais listas de alimentos pobres em calorias, os assim chamados alimentos catabólicos, estão sendo apresentados na Web como alimentos calórico-negativos. Nutricionistas que recomendam o consumo de toneladas de aipo, aspargos e folhas de alface proclamam resultados sensacionais, a solução final para todos baixarem o peso.

Mas a realidade é outra

Mas vamos examinar as coisas mais de perto. Tomemos o salsão. Ele é quase todo feito de água e de fibras, não é assim? Portanto, você pode pensar que o ato de mastigar e digerir um pé inteiro desse vegetal irá consumir mais calo-rias do que aquelas contidas no pé. Esse efeito térmico do

alimento representa cerca de 10% da energia queimada, já que seu corpo está constantemente ocupado digerindo e absorvendo nutrientes todos os dias a partir dos alimentos que você ingere. No entanto, se uma porção de salsão con-tem 10 calorias e uma caloria (10%) é queimada através da digestão, isso ainda representa 9 calorias a mais. Claro, na prática tratam-se de microcalorias em relação ao esquema comida/comer, mas de qualquer forma tratam-se de calo-rias não-negativas.

“Se alguém tem sucesso em perder peso ao seguir uma dieta abundante em alimentos calórico-negativos, isso ocorre tipicamente porque o conjunto final dos alimentos que ele consome não são caloricamente densos”, prosse-gue Beth Warren.

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Salsão, também chamado de aipo Melancia

Deixando claro tudo isso, é preciso dizer que esses alimen-tos baixo-calóricos constituem um ótimo aporte numa die-ta saudável. Obviamente, ninguém pode sobreviver à base de uma dieta exclusiva de salsão, cenoura e folhas de alfa-ce, e você certamente não está pensando em cometer esse erro, mas você pode e deve incluir alimentos baixo-calóri-cos num projeto saudável de alimentação que certamente irá ajudar nos seus esforços para perder peso ou para man-ter o seu bom peso atual.

Experimente esses alimentos baixo-calóricos como parte da sua dieta saudável:

Alcachofras (60 calorias, 6 gramas de fibra)Mirtilos (50 mirtilos contêm apenas 40 calorias)Nabo chinês - Bok choy, Brassica rapa chinensis (1/2 xíca-ra possui apenas 10 calorias)Cenoura (1 grande tem 30 calorias, 2 gramas de fibra)Pepino (1/2 pepino tem 20 calorias)Clara de ovo (1 grande contem 20 calorias, 4 gramas de proteína)Toranja ou grapefruit (40 calorias em uma fruta de tama-nho médio)Espinafre (2 xícaras têm apenas 14 calorias)Tomate (1 tomate médio tem 25 calorias)Melancia (1 xícara tem cerca de 40 calorias)

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Toranja ou grapefruit

Pepino

AEROMOBILUm sonho de liberdade se transformou num carro voador

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Juraj Vaculik esquerda), cocriador e sócio do AeroMobil, com Stefan Klein, autor do

conceito e do design do aparelho

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o final da década de 80, em Bratislava, capital da Eslová-quia, ainda sob domínio so-viético, Stefan Klein e Juraj Vaculik iam muitas vezes à margem esquerda do Danú-bio contemplar com inveja a

Áustria, o Ocidente, a liberdade. Estudante de arte dramática, Juraj se refugiava no teatro do absurdo. Stefan, estudante de design, sonhava com soluções mais concretas.

“Pensávamos se poderíamos um dia atraves-sar o rio e ir para o outro lado. Consideramos diferentes soluções. Uma nasceu na imagina-ção de Stefan: por quenão um carro voador?”, relembra Juraj, hoje com 48 anos.

Dez anos depois, caiu o Muro de Berlim e o Danúbio deixou de parecer tão largo, mas isso não fez que Stefan deixasse de trabalhar no seu carro voador. Vinte e cinco anos depois, essa ideia pode revolucionar o transporte in-dividual.

“Em 1989 completei meus estudos, no mesmo momento em que meu país se tornava livre”, conta Stefan, hoje com 55 anos. “Acreditei que um carro voadorseria a forma ideal de voar para Ocidente. O primeiro modelo era literalmente um filho da revolução.”

Numa zona rural da Eslováquia, num peque-no aeródromo, com uma pista esburacada e um velho hangar em ruínas, os dois homens e uma pequena equipe de entusiastas transfor-maram um sonho de liberdade num produto que entusiasma as indústrias automobilística e aeronáutica.

A sua invenção é das que encontramos em sonhos, nos filmes de ficção científica

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Concebido na Eslováquia, o AeroMobil é uma viatura que se transforma em avião em poucos instantes. Os protótipos estão prontos e são funcionais. Sua comercialização começará dentro em breve

POR: EQUIPE OÁSIS

ou nos desejos de modernidade das elites: o automóvel vo-ador de Blade Runner para os milionários de Davos...

Produção dentro de dois anos

O AeroMobil é a primeira viatura voadora completamente transformável. Na estrada é uma versão futurista de roads-ter (carro de dois lugares, sem teto fixo e com janelas re-tráteis); no céu um avião privado. Se tudo acontecer como previsto, poderá chegar às garagens dos consumidores daqui a dois anos.

Mais ou menos com as mesmas dimensões de um Bentley

de cinco portas, o AeroMobil tem dois lugares, duas asas que se recolhem atrás do lugar do condutor e uma hélice mon-tada na traseira que se encaixa entre suas asas dobradas durante a condução em estrada.

Numa tarde de fevereiro, na pista de Nitra, 100 quilômetros a leste de Bratis-lava, fez-se o primeiro teste público. O carro saiu quase sem ruído do hangar, parou e desdobrou as asas. Rodou algu-mas centenas de metros, fez meia-volta para tomar a direção do vento e levan-tou voo. Menos de três minutos entre a saída do hangar e a decolagem.

“James Bond!”, exclamou Juraj, en-quanto Stefan - chefe de projeto, coproprietário e único piloto do aparelho – acenou para a pequena multidão que se juntara.

Stefan Klein tem a aviação no sangue. O avô e o pai voa-ram. Um dos seus primos foi piloto da Royal Air Force bri-tânica. Tirou o brevê na força aérea checa e todos os anos pega um L4O Meta Sokol (fabricado na ex-Checoslováquia em 1959) para levar a família de férias na Croácia.

Roda, voa e convence

Ele e Juraj não são os únicos a sonhar com carros voado-res. O projeto Terrafugia nascido no Massachusetts Insti

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A hélice fica na parte traseira do aparelho

tute of Technology, nos Estados Unidos, deu origem a uma empresa que tentou comercializar um produto semelhante antes da empresa eslovaca.

Tal como o AeroMobil, o protótipo do Terrafugia voou e demonstrou as suas aptidões na estrada. Mas enquanto o seu conceito era o de um avião de asas retráteis, capaz de percorrer pequenas distâncias terrestres, o AeroMobil anda tão bem como um carro e voa como um avião.

Como não tem cabine pressurizada nem reservas de oxigê-nio, o teto de voo está limitado a 3 mil metros. Em contra-partida, tem piloto automático e paraquedas.

O AeroMobil orgulha-se de ter a primeira coluna de dire-ção do mundo acoplada, simultaneamente, a um volante e a uma manche, o que significa que se pode passar da condução em estrada ao voo sem mudar de comandos. Por outro lado, congratula-se Stefan, as quatro rodas ajudam a resolver os problemas de aterrissagem.

Num certo sentido, Stefan Klein e Juraj Vaculik são velhos colegas de universidade, hoje bem instalados na vida, que nunca abdicaram dos sonhos de juventude. Os dois pri-meiros protótipos foram fabricados à mão, nas salas do castelo de Nitra, cidadela do século 11 onde Stefan vive e ganhou a reputação de inventor e aviador louco.

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Na estrada, rodando fácil como um carro comum No ar, como um pequeno avião privado normal

Sonhos a parte, na sede da empresa, em Bratislava, o obje-tivo é ganhar dinheiro.Foi Juraj Vaculik quem financiou o arranque, aplicando no projeto 300 mil euros do dinheiro que acumulou graças à sua carreira de especialista em marketing. Ele agora pro-cura mais dez milhões de euros para passar (talvez já nos primeiros meses de 2016) à fase de produção e comerciali-zação.

Investidores privados e públicos batem-lhe à porta, bem como inúmeras empresas de capital de risco, assegura Ju-raj Vaculik. Mas ele se recusa a citar os nomes por causa

dos acordos de confidencialidade. Os dois homens recebe-ram, no início de 2015, uma tentadora oferta por parte de um industrial, que rejeitaram.

Recusaram igualmente vender a empresa a milionários emproados. “Poderíamos ganhar dinheiro fácil, é verdade. Há muita gente rica que gostaria de ter estebrinquedo, explica Stefan. Mas nós queremos dinheiro inteligente.”

Este dinheiro virá provavelmente de um industrial de re-nome ou de um parceiro sólido do setor das tecnologias, deixam entender os dois cofundadores.

O seu objetivo é envolver pessoas com experiência, de forma a fazer avançar as coisas e evoluir para projetos de investigação e desenvolvimento mais complexos.

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No interior da cabine, o painel de comandos do AeroMobil

O aeroMobil com as asas fechadas

“A empresa tem de dar provas, profissionalizar-se e adotar uma estrutura capaz de gerir esta nova tecnologia e a res-petiva produção”, explica Stefan Klein. Para tanto já con-trataram um antigo quadro da McLaren (construtora da Fórmula l) e estão trabalhando com as autoridades britâni-cas e a Comissão Europeia para assegurar a conformidade da sua máquina aos regulamentos terrestres e aéreos.“Teremos que passar simultaneamente por tudo aquilo que a Ford e a Boeing tiveram que passar”, ele diz, sorrindo.

O número de trabalhadores deverá chegar a 60 daqui a um ano e aos 200 quando a produção atingir a capacidade máxima.

O objetivo de Stefan e Juraj é um raio de ação de 1 mil quilômetros, a uma velocidade de cruzeiro de 200 km/h, sendo o peso total inferior a 650 quilos, incluindo os pas-sageiros. A equipe prevê fabricar 250 unidades por ano.

Localização privilegiada

Pretendem seduzir uma clientela ao estilo da Ferrari ou da McLaren. O preço ascenderá “a algumas centenas de mi-lhares de euros”, afirma Juraj Vaculik, ou seja, um décimo do de um helicóptero particular.

A empresa espera em seguida evoluir para um mercado intermediário e seguir os passos da Tesla, a construtora

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O AeroMobil no ar, voando sobre a cidade

Juraj Vaculik e Stefan Klein posam ao lado da sua invenção

californiana de viaturas elétricas que começou com um ro-adster top-of-the-line e agora trabalha na concepção de um veículo para o grande público.

Quanto a uma eventual mudança para o Silicon Valley, nos Estados Unidos (onde está a sede da Tesla) ela é tentadora, mas Juraj assegura que a Eslováquia é olocal ideal para se estar. O pais é o primeiro produtor mun-dial de carros por habitante, tem baixos custos de produ-ção e, como sublinham Klein e Juraj Vaculik, tem apenas cinco construtores privados de aviões.

“Todos os nossos principais fornecedores estão num raio de quilômetros. Se fôssemos para Silicon Valey teríamos

acesso a muitas tecnolo-gias, mas os custos seriam muito superiores”, resume Juraj.

“Algumas pessoas têm di-ficuldade em imaginar que um carro voador possa serparte integrante do nosso dia a dia”, continua Juraj Vaculik, que está tirando licença de piloto, de olho no primeiro AeroMobil que sairá da linha de mon-tagem.

“Veja os celulares, ele acrescenta sorrindo. No início, muitos analistas achavam que seria um produto de utilização limitada e que nunca seria produzido em massa...”

Vídeo: AeroMobil

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O Aeromobil com as asas abertas

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TEN

DÊN

CIA

O RECUO DA MORTEA imortalidade bate à nossa porta

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ono de uma mente curiosa e inquieta, Laurent Ale-xandre não limitou seus estudos à medicina, espe-cializando-se na área da urologia. É também for-mado em ciências gerais, em genética e informática.

Hiperativo, pioneiro da Internet, maratonis-ta, é o fundador do site Doctissimo.fr. Autor em 2011 de um ensaio intitulado “A morte da

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Cirurgião e urologista francês, Laurent Alexandre fala aqui das incríveis mudanças que estão acontecendo e as que irão acontecer na vida humana graças aos progressos da ciência e da biotecnologia. Para ele, o sonho da imortalidade está cada vez mais perto de se tornar realidade

VÍDEO: TEDX PARIS

Bill Gates fala no TED

morte”, ele se mostra cada vez mais in-teressado na revolução tecnológica que acontece em nossos dias, e nos efeitos que ela produzirá para a pessoa e a sociedade humanas.

Esta palestra, pronunciada no TED Paris, é a primeira da organização a superar a casa de um milhão de visitantes no site oficial do TEDx.

O cientista francês Laurent Alexandre

Vídeo: O recuo da morte

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Tradução integral da palestra de Laurent Alexandre no TEDx Paris

Bom dia. Hoje eu falarei do último tabu: nossa morte. Quando morremos?Veem? É a evolução da nossa esperança de vida há 250 anos. Ela já triplicou. Passou de 25 anos, em 1750, para mais de 80 anos. Atu-almente, nossa esperança de vida aumenta três meses a cada ano. Isto significa que quando ficamos um ano mais velho nos aproxi-mamos apenas nove meses de nossa morte!Até onde poderá ir este recuo da morte? É um titulo individual, para o nosso futuro pessoal, e a título coletivo, uma questão absolu-tamente essencial.

Há quatro cenários: a flecha verde, é o cenário dos pessimistas, os que acreditam em certos ecologistas. É um decréscimo da esperan-ça de vida, devido à poluição, aos OGM (organismos geneticamente

modificados), ao aquecimento climático.

Temos um segundo cenário, a flecha branca, é uma parada da tecnologia, que terá chegado a um ponto máximo, que terá atingido um limite. O cenário azul, é um cenário de avanço lento de nossa esperança de vida que chega a até 120-130 anos.

E depois há um quarto cenário, a flecha vermelha. É um ce-nário de explosão tecnológica, com um aumento muito rápi-do de nossa esperança de vida a partir do século 21.O ser vivo é extraordinariamente complexo. Nossas células, nossos tecidos, nossos órgãos, são extraordinariamente com-plexos. Não faz muito tempo, analisar, compreender e mani-pular nosso funcionamento biológico era considerada uma tarefa irrealizável.

Mas, hoje em dia, a realidade tecnológica está mudando. Aquilo a que chamamos tecnologia NBIC nos permitirá lutar contra a morte, o envelhecimento e as doenças, graças à me-dicina preventiva que tem um poder que era inimaginável há algumas décadas.

As tecnologias NBIC: N é para nanotecnologia, são tecnolo-gias que permitem agir em bilionésimo de um metro. B, as biotecnologias; I, a informática; C, as tecnologias cognitivas, quer dizer, as ciências do cérebro, das quais se fala tanto, e a inteligência artificial.

Graças às tecnologias NBIC, a ficção científica do passado será a medicina-realidade. Poderemos reparar nossos ór-gãos em escalas cada vez menores. Modelar, modificar nosso DNA, reparar nossas células, criar órgãos artificiais inteiros,

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Tradução integral da palestra de Laurent Alexandre no TEDx Paris

fazer implantes eletrônicos, desenvolver a cirurgia robótica,ser curado pelos nanomotores, graças a nanosensores e a nanoim-plantes.

No cerne de nossos tecidos, no interior de nossas células. E natu-ralmente, um ponto essencial, graças à modelagem. A modelagem, quer dizer, a análise e a decodificação do ser vivo graças a computa-dores poderosos.

A lei de Moore é a base dessa revolução tecnológica. Gordon Moo-re foi o fundador, o co-fundador da Intel, os microprocessadores, e desde os anos 60 ele previu que a potência dos computadores do-braria a cada 18 meses. Isto nunca foi desmentido. Um único chip, como aquele que veem, e que cabe na palma da mão,realiza um trilhão de operações por segundo. Os maiores servidores de computador efetuam 15 trilhões de operações por segundo.O patamar de trilhões de operações por segundo será alcançado em 2018. É o que chamamos de hexaflop. Essas potências computacio-nais absolutamente colossais tornam possível o que era inimaginá-vel há algumas décadas: compreender e modelar o ser vivo.Convém notar que cada um de nós possui um trilhão de células, que são pequenas fábricas com maquinário biológico do tamanho de poucos nanômetros,A revolução das nanotecnologias possibilita atuar justamente na-quela escala de um bilionésimo de metro. Seremos capazes de de-codificar e reparar nosso DNA, regenerar nossas células e tecidos, aumentar nossas capacidades, poderemos reprogramar nossos órgãos.E depois, o professor Lledo nos falou bastante sobre isto, começa-mos a interfaciar nossas células com componentes eletrônicos, in-clusive com os nossos neurônios.

Por que esta revolução tecnológica não lhes é familiar? Nós não a

vimos chegar?

Por duas razões: a primeira, é que ainda estamos numa fase subterrânea: houve poucos resultados visíveis para o grande público do que foi produzido nos laboratórios.

Durante uns 20 anos aprendemos a decifrar o ser vivo, espe-cialmente o nosso genoma, desenvolvemos progressivamen-te os tijolos principais que permitem reparar, manipular o ser vivo, mas a fase de democratização destas tecnologias e de suas ferramentas.

A democratização do reparo do ser vivo deverá acontecer a partir de 2015, e é a razão pela qual não estão familiarizados com estes avanços.

A segunda razão, é que os próprios cientistas não antecipa-ram nada. O grande Jacques Monod, o fundador da biologia

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Quadro da expectativa de vida

Tradução integral da palestra de Laurent Alexandre no TEDx Paris

molecular moderna, escreveu em 1970 – é um Prêmio Nobel muito respeitado entre os biólogos – “O tamanho do DNA sem dúvida, nos impede para sempre de modificar o genoma, i.e., os cromosso-mos.”

Seis anos mais tarde, em 1976, começaram as primeiras manipula-ções genéticas.

Mais recentemente, em 1990, 12 anos atrás, o consenso mundial entre os geneticistas era o de que jamais poderíamos sequenciar, analisar a totalidade de nosso DNA, a totalidade de nossos cromos-somos. Os mais pessimistas julgavam que seriam necessários de 3 a 5 séculos.

Na verdade, este programa terminou em 2003.

Hoje, as coisas estão mudando. A revolução NBIC emerge das sombras, e chegam as primeiras conquistas visíveis para o grande público: o sequenciamento do DNA.

Um geneticista, em sua vida inteira, sequenciava alguns mi-lhares dos três bilhões de bases químicas do DNA. Hoje, um sequenciador como aquele, em 4 horas sequencia um ge-noma inteiro. São dezenas de bilhões de pares de bases do DNA!

Em 13 anos, o custo do sequenciamento do DNA passou de 3 bilhões de dólares - e naquela época tinha sido realizado apenas por uma única pessoa - para mil dólares, e em breve baixará para cem dólares. Os custos caíram em 50% a cada 5 meses; foram divididos por 3 milhões em novembro.Trata-se realmente de um tsunami tecnológico: todos nós seremos sequenciados.

Isto permitirá desenvolver uma medicina personalizada, guiada pelas nossas características genéticas o que é especial-mente importante em oncologia, visto que, infelizmente, um em cada quatro de nós terá câncer.

Estas tendências não foram previstas. Pegaram de surpresa os próprios especialistas. Se eu dissesse no ano 2000, que po-deríamos ter, como eu o tenho, neste pendrive todo o nosso genoma, seria considerado um utopista. Como um autor de ficção científica. Talvez desacreditado pela comunidade cien-tífica, entretanto é uma realidade.

As ondas de inovações tecnológicas agora vão se acelerar.

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Na lista de países em termos de IDH - Índice de Desenvolvimento HUmano, o Brasil ocupa o 24o lugar

Tradução integral da palestra de Laurent Alexandre no TEDx Paris

Três grandes ondas estão vindo: primeiro, a revolução da eletrônica médica; depois dos implantes cocleares, nos anos 90, para tratar de crianças surdas, os implantes no cérebro para tratar da doença de Parkinson, para tratar os distúrbios obsessivos, e os distúrbios ali-mentares graves. No momento a depressão e, a título experimental, o Alzheimer, estão vindo. Estão sendo desenvolvidos: as primeiras retinas artificiais para tratar os cegos; o primeiro coração artificial que deverá ser implantado no próximo ano. A robótica cirúrgica se desenvolve, e podemos pensar que em 2030, os cirurgiões serão especialistas em biomecânica e em informática e não tocarão mais nos pacientes.

Ainda mais espetacular: a bioengenharia, ao nível do DNA mani-pulando o DNA para reprogramar nossas células, ao nível celular, a regeneração dos tecidos por células-tronco – Fabrice fala disso sempre, e ao nível dos tecidos, a engenharia tissular, que visa fa-bricar órgãos inteiros. E dentro de alguns meses, o primeiro órgão criado totalmente de modo artificial (uma laringe)será implantado em um paciente que nunca teve laringe. Enfim, a nanomedicina está chegando.

O primeiro congresso internacional de nanomedicina, ou seja, a medicina na escala de bilionésimo de um metro, realizou-se em 2012. E começamos a ter implantes de tamanhos cada vez menores que gradativamente poderão agir no interior de nossas células e tecidos.

Eis as três ondas de inovações das quais poderão se beneficiar por volta de 2020.Poderemos surfar de uma onda tecnológica para a próxima.Com a tecnologia que sai dos laboratórios e da qual vocês vão se beneficiar em 2020, podemos ter várias décadas a mais gozando de boa saúde.

Por volta de 2050, vamos nos beneficiar de outras ondas tecnológicas, talvez ainda mais espetaculares que aquelas que hoje saem dos laboratórios.

E com isto poderemos ganhar mais uma década. De salto em salto, é possível que nos beneficiemos de uma expectativa de vida que atualmente nem mesmo podemos imaginar.E você, pensa como certos especialistas que o homem será imortal a curto prazo?

Minha convicção pessoal é que alguns de vocês aqui presen-tes viverão mil anos.Eu lhes agradeço.

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