A Analise Do Discurso

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ANÁLISE DO DISCURSO NA TIRINHA DE CALVIN. Rita de Cássia S. de Oliveira¹ RESUMO - Este estudo propõe-se a analisa alguns funcionamentos discursivos na tirinha de Calvin, baseados nos princípios da Análise do Discurso. Calvin é um personagem criado por um Norte Americano chamado Bill Watterson no ano de 1985 e os temas das tirinhas é religião, política e etc, isso visto pelo mundo de imaginação da criança. A tirinha escolhida traz um discurso baseado no contexto cristão e a AD é a ferramenta que mostrará os motivos que faz o garoto utilizar-se do discurso cristão para satisfazer sua vontade. Palavras-chave: Análise do Discurso; Tirinha de Calvin; Discurso cristão. Introdução Nosso corpus nosso corpus de trabalho compõe-se de uma tirinha do personagem Calvin que discorre sobre o tema religião. Dessa forma, o nosso objeto de análise, trabalhará neste tema, pois observamos que o discurso religioso está muito presente na vida de todos. Alguns fundamentos da Analise do Discurso é que sustentará análise da tirinha, se embasado principalmente em Eni Orlandi . O foco da pesquisa é mostra como o discurso da religião se apresenta ao garoto Calvin. Organizou-se o texto em três partes: a primeira refere- se à uma breve abordagem dos conceitos da AD; a segunda refere- ¹Discente do curso de Letras da Universidade Federal do Pará, Campus de Marabá, da turma letras 2008.

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ANÁLISE DO DISCURSO NA TIRINHA DE CALVIN.

Rita de Cássia S. de Oliveira¹

RESUMO - Este estudo propõe-se a analisa alguns funcionamentos discursivos na tirinha de Calvin, baseados nos princípios da Análise do Discurso. Calvin é um personagem criado por um Norte Americano chamado Bill Watterson no ano de 1985 e os temas das tirinhas é religião, política e etc, isso visto pelo mundo de imaginação da criança. A tirinha escolhida traz um discurso baseado no contexto cristão e a AD é a ferramenta que mostrará os motivos que faz o garoto utilizar-se do discurso cristão para satisfazer sua vontade.

Palavras-chave: Análise do Discurso; Tirinha de Calvin; Discurso cristão.

Introdução

Nosso corpus nosso corpus de trabalho compõe-se de uma tirinha do personagem Calvin que discorre sobre o tema religião. Dessa forma, o nosso objeto de análise, trabalhará neste tema, pois observamos que o discurso religioso está muito presente na vida de todos.

Alguns fundamentos da Analise do Discurso é que sustentará análise da tirinha, se embasado principalmente em Eni Orlandi .

O foco da pesquisa é mostra como o discurso da religião se apresenta ao garoto Calvin.

Organizou-se o texto em três partes: a primeira refere-se à uma breve abordagem dos conceitos da AD; a segunda refere-se à descrição do personagem Calvin e, finalmente, a terceira fala na descrição e análise de dados.

Alguns conceitos de Análise do Discurso

A Análise do Discurso, abreviadamente AD, é a disciplina que, como o próprio nome denuncia, visa estudar o discurso. Ela tem seu inicio nos anos 60, sobre a luz de três disciplinas: a Lingüística, o Marxismo e a Psicanálise, como informa Orlandi (2007), a AD irá fornecer uma ampliação dos estudos da linguagem, irá mostrar um estudo que passa além das fronteiras da gramática e da própria língua e seus signos.

¹Discente do curso de Letras da Universidade Federal do Pará, Campus de Marabá, da turma letras 2008.

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A análise do discurso, como seu próprio nome indica, não trata da língua, não trata da gramática, embora todas essas coisas lhe interessam. Ela trata do discurso. E a palavra discurso, etimologicamente, tem em si a idéia de curso, de percurso, de correr por, de movimento. O discurso é assim a palavra em movimento, prática de linguagem: como estudo do discurso observa-se o homem falando. (ORLANDI, 2007, p. 15).

A Analise do Discurso, assim, é o lugar de observar a língua em movimento, em interação com elementos exteriores. Neste contexto, a exterioridade refere-se às condições de produção do discurso: o falante, o ouvinte, o contexto da enunciação assim como o contexto sócio-histórico. Com AD, o discurso não é trabalhado como mero transmissor de informações, mas um elemento provocador de efeito de sentido entre locutores, pois leva em consideração o homem, sua historia e sua pratica social. Ao levar em conta os aspectos mencionados, a Análise do Discurso evidencia a interação da língua e a ideologia, mostrando que a língua não é mais algo fechado em si ou ideologicamente neutra, é sim, um local de movimento, de interação com outros elementos. Com a AD, tem-se o propósito de mostrar que a interação entre falantes caminha para além da intenção de informar um ao outro, ruma para uma relação de sentido estabelecida entre eles, relação esta, que leva em consideração o contexto social e histórico. É nessa proposta de sentidos trocados, que atua a AD.

E suma, a Análise do Discurso visa a compreensão de como um objeto simbólico produz sentidos, como ele está investido de significância para os sujeitos. Essa compreensão, por sua vez, implica em explicitar como um texto organiza os gestos de interpretação que relacionam o sujeito e sentido. Produzem-se assim, novas práticas de leitura. (ORLANDI, 2007, p. 26).

Observa-se que ao trabalhar com efeito de sentido, trabalha-se com sujeitos, sujeitos são constituídos de ideologias. Logo a AD terá como foco, também, a ideologia. Nesse quadro, tem-se outro elemento importante para a AD, o conceito de formação de discursiva.

A noção de formação discursiva, ainda que polêmica, é básica na Análise do Discurso, pois, permite compreender o processo de produção dos sentidos, a sua relação com a ideologia e também dá ao analista a possibilidade de estabelecer regularidades no funcionamento do discurso. (ORLANDI, 2007,.p. 43)

Assim, a formação discursiva é determinada pelas ideologias dos sujeitos, isto irá ajudar perceber os vários sentidos colocados nas palavras. As palavras mudam de sentido segundo as posições daqueles que as empregam, retira o sentido das posições ideológicas dos sujeitos que as usam (ORLANDI, 2007). Podemos

¹Discente do curso de Letras da Universidade Federal do Pará, Campus de Marabá, da turma letras 2008.

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considerar o sujeito como ser capaz de interferir no processo sócio-histórico, através de sua formação discursiva, que vem permeada e construída por interdiscursos.

O verbete “interdiscurso” é apresentado como um sentido restritivo ( conjunto de discurso do mesmo campo que mantêm relações de delimitações recíproca uns com os outros) e com sentido amplo (conjunto de unidade discursivas como as quais um discurso entra em relação explícita ou implícita). (POSSENTI, , PG. 154)

O interdiscurso trabalha com vários discursos, por isso sua relação com a formação discursiva, e como mostrada por Orlandi, a formação discursiva ajuda compreender os efeitos de sentido que liga-se a ideologia. Podemos observar assim que, o interdiscurso trabalha com o pré-costruído.

Sustentados nesse entendimento, de materialização da ideologia no discurso do sujeito, que passa pelo o sócio-histórico, a AD trabalha com mecanismos chaves como a formação discursiva, efeito de sentido e interdiscurso. Pretendemos iniciar a abordagem acerca do discurso que acompanham o autor Bill, nos escritos na suas tirinhas baseado nesses conceitos da AD.

Um pouco de Calvin.

Segundo o site folha UOL, Calvin e Haroldo foi uma tira escrita e desenhada pelo autor de tira de jornal, o Norte Americano Bill Watterson. As histórias, apresentando um menino (Calvin) Calvin é uma criança de seis anos repleta de energia e imaginação, usa tal imaginação para contestar a idéias comuns do dia-a-dia, sempre muito esperto, Calvim procura contestar situações e reverte-la a seu favor. As tirinhas de Calvin começaram a ser distribuídas para publicação em jornais em 18 de novembro de 1985 e foram produzidas até dezembro de 1995, quando o artista anunciou sua aposentadoria da série.

O nome do garoto foi inspirado no teólogo Calvino (1509-1564), um dos responsáveis pelas reformas na Igreja Católica. Já o do tigre, chamado de "Hobbes" na versão original, deriva do filósofo e cientista político Thomas Hobbes (1588-1679), autor de Leviatã. Umas das marcas famosa de Calvin é sua amizade com tigre de pelúcia que ganha vida é compartilha dos momentos de diversão e debatem o jeito de ser dos humanos, enquanto expõem particularidades do mundo. Os dois formam uma das mais famosas duplas dos quadrinhos

Análise

A partir dos conceitos da Análise do Discurso estudados até o presente momento, e o contexto do personagem Calvin, segue a análise de uma das tirinhas desta personagem: ¹Discente do curso de Letras da Universidade Federal do Pará, Campus de Marabá, da turma letras 2008.

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Como mencionado anteriormente, Calvin questiona muitos temas no mundo. O personagem, no primeiro quadrinho, constituído do seu jeito esperto de contestador, Calvin reflete sobre o fato de que se ele fosse quem desse as ordens no mundo, o mundo não ficaria sem ver grama entre outubro e maio, logo, para ele, há alguém com esse poder que não é ele. Percebe-se que na primeira fala do personagem, há um pré-dito, em algum momento, que alguém é responsável pelo fenômeno que cobre a gramas entre outubro e maio. Isto fica subentendido no

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discurso do personagem “Se eu desse as ordens, nós veríamos a grama entre outubro e maio”.

Nos quadrinhos seguintes, tem-se uma seqüência de Calvin pedido, implorando por neve a um ser, esse pedido não é atendido, é quando ele termina, no ultimo quadrinho ameaçando virar ateu. Nesse momento, Calvin, trabalha com idéia de que o ser responsável pela neve pode mudar a situação, como por um milagre, se ele pedir com bastante vontade, pois é bastante poderoso.

Essa hipótese de um ser superior e poderoso que tem o poder de interferir no mundo, mais especificamente, na rotina climática, nos remete ao contexto ou ao “pré-contruído” (espaço atravessado pela formação discursiva) do discurso cristão, desde o surgimento da igreja.

Conhecemos a igreja cristã, como aquela que é uma das chamadas grandes religiões. Segundo o site vivo, tem aproximadamente 1,9 bilhão de seguidores em todo o mundo, incluindo católicos, ortodoxos e protestantes e, assim foi sendo um paralelo de nossa cultura. Até os dias atuais existem muitos seguidores fiéis desta igreja cristã, a população brasileira é majoritariamente cristã (87%). Comentamos os dados no Brasil, pois este é o local no qual as tirinhas de Calvin circulam, e para entendermos o que a AD nos propõe na análise desta tirinha, devemos entender o motivo pelo qual o discurso dos personagens é referente a “crer em alguém que faça mudanças milagrosas”. Desse modo, afirmamos que o discurso cristão é muito presente na sociedade brasileira, mesmo muitos afirmando que não freqüentam as igrejas cristãs. Nesse sentido, observamos a presença do conceito de interdiscurso, pois, segundo Orlandi ( 2007, pg. 43) “ o interdiscurso disponibiliza dizeres, determinado, pelo já dito, aquilo que constitui uma formação discursiva”, assim sendo, sem ao menos perceber, o sujeito reproduz um discurso que tomou pra si inconscientemente.

Nesse sentido, o termo “milagre” é utilizado comumente pelos cristãos e, sem que percebamos, tais conceitos de “milagre ficam registrados no nosso inconsciente.

No ultimo quadrinho, podemos observar que o personagem fica revoltado por não ter seu desejo atendido e ameaça virar ateu. Baseado nisto, nos faz refletir sobre outro conceito relacionado à crenças, referente a ser ateu. Pois ao que parece, ser ateu, é ser contrario a idéia de crer no milagre, na existência de um Deus que tem poderes para interferir no mundo.

Uma criança, no caso de Calvin, na faixa de seis anos, sonhador e que não consegue compreender as contradições do mundo, tão logo não compreenderá a profundidade de deixar ou não de ser um cristão, não vê que esses conceitos de ateu e cristão irão além do seu desejo de diversão, mesmo assim, o menino joga com esse dois discursos enraizados no seu ser.

¹Discente do curso de Letras da Universidade Federal do Pará, Campus de Marabá, da turma letras 2008.

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Com isto, entra a oposição entre cristão e ateu. Há os que crêem que existe um Deus que cuida de nós. Dessa maneira, constatamos que há uma forte presença de uma Formação Discursiva referente ao conceito de Deus, determinante no discurso do sujeito que, neste caso, refere-se ao conceito cristão, muito presente em nossa sociedade. E há, também permeando o garoto, a idéias de ateísmo, que é quem não crê na existência de um ser superior, tal como concebem as religiões teológicas, ou seja, no que se chama de "deus", criatura criadora do universo, e no caso da tirinha, responsável pela neve.

Nos primeiros quadrinhos, Calvin trabalha em cima do discurso cristão que existe um Deus milagroso que dar as ordens no mundo e atende os desejos de seus seguidores, logo, nesses primeiros quadrinhos, ele apela para um Deus Cristão, podemos nota isso devido gestos que simbolizam uma reza, uma oração, mostrando seu ligamento com a ideologia cristã. No geral, as tirinhas mostram o menino conversando com Deus, somente no ultimo quadrinho percebe-se que o garoto também é constituído do discurso do ateísmo. Calvin para parece compreender que ser cristão é bom e ser ateu é mau, talvez por isso, ele ameace Deus dizendo que será ateu.

Tal associação entre ser cristão é o certo e ser ateu é o errado, pode ser visto como uma a amostra dos discursos inconsciente do menino, Calvin procura uma solução pra a falta de neve recorrendo a idéia cristã de Deus, e expressa sua insatisfação com recorrendo a mesma idéia Deus, porém utilizando-se do discurso do ateísmo, isso é evidente ao lermos a tirinha, mas implicitamente ele estar mostrando que concebe como certo ser cristão e errado ser ateu, pois ele fecha a comunicação com Deus de forma rebelde, ameaçando virar ateu.

É devido as imagens que percebemos como cada discurso é concebido por Calvin, pois, no ultimo quadrinho, só percebemos a ameaça de ser ateu como algo rebelde devido os gestos apresentados por Calvin, que nos remetem ao tom de voz que personagem usa para dizer que será ateu. É com as imagens que percebemos gestos de imploração que liga o menino ao sentido que ele acredita em Deus. Pra compreendermos o sentido da tirinha, temos que evidenciar que o leitor compartilha do mesmo conhecimento de Calvin sobre ser cristão. O efeito de humor é basicamente centrada na idéia que leitor conheça a formação discursiva de Calvin, leitor compartilha do conhecimento de Deus e ateísmo, do contrario, o leitor não seria capaz de ver sentido na tirinha.

Considerações

Fundamentado nos conceitos de Análise do Discurso no ponto em que ela fala sobre Formação Discursiva, sujeito, efeito de sentido, interdiscurso e ideologia, foi viável fazer uma análise de um texto e perceber que a presença do discurso religioso cristão ainda determinas muito as ideologia do sujeito brasileiro. Mesmo ¹Discente do curso de Letras da Universidade Federal do Pará, Campus de Marabá, da turma letras 2008.

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que, atualmente, percebemos que muitos indivíduos digam que não são credos na doutrina cristã, mas os principais ideais dessa doutrina ainda é uma forte marca ideológica que constitui o sujeito e que marcará, também, o seu discurso. Esse fato é destacado, pois o conceito de um Deus milagroso apresentado nas tirinhas é conhecido por todos. A tirinha evidência também, o discurso do ateísmo, o garoto, embora não siga essa idéia, ele é permeado pela concepção da que há pessoas que não acredita no Deus. Mas a marca da tirinha que mostra o sujeito a sujeitado ao discurso ideológico sem que ele nem perceba, é o sentido que o garoto recebe os conceitos cristão e ateu, na sociedade é comum vermos a associação de cristão como algo e bom e ateu como algo ruim. A tirinha revela os conceitos dominantes no mundo, no caso, é bom ser cristão.

Referências.

ORLANDI, Eni P. Análise do discurso: princípios e procedimentos. 7. ed. Campinas: Pontes, 2007

POSSENTI, Sirio. Questões para analistas do discurso. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2009

CALVIN E HAROLDO, Historia. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha. Acesso em 01de abril de 2013.

Breve historia do cristianismo. Disponível em: WWW.vivos.com.br. Acesso em 29 de março de 2013.

¹Discente do curso de Letras da Universidade Federal do Pará, Campus de Marabá, da turma letras 2008.