a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

120
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local WESLLEY MOREIRA SARAIVA A ATUAÇÃO DE PROFESSORES PEDAGOGOS COMO EDUCADORES FÍSICOS NO ENSINO FUNDAMENTAL I Belo Horizonte 2015

Transcript of a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

Page 1: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO

Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

WESLLEY MOREIRA SARAIVA

A ATUAÇÃO DE PROFESSORES PEDAGOGOS COMO

EDUCADORES FÍSICOS NO ENSINO FUNDAMENTAL I

Belo Horizonte

2015

Page 2: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

WESLLEY MOREIRA SARAIVA

A ATUAÇÃO DE PROFESSORES PEDAGOGOS COMO

EDUCADORES FÍSICOS NO ENSINO FUNDAMENTAL I

Dissertação apresentada ao Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre. Área de concentração: Inovações Sociais, Educação e Desenvolvimento Local. Linha de pesquisa: Educação e Desenvolvimento Local. Orientadora: Profa Dra Matilde Meire Miranda Cadete.

Belo Horizonte

2015

Page 3: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

Dedico este trabalho :

A Deus principalmente por me dar força nessa batalha; Aos meus queridos pais e esposa por estarem sempre ao meu lado; A Minha eterna mãe da educação Aída Linhares Barbosa por confiar em mim: hoje sou o que sou graças a ela e a Deus. E a minha querida irmã que hoje posso falar irmã, amiga, meu tudo: obrigado Fahanny Moreira Saraiva- esta conquista também é sua. Te amo maninha.

Page 4: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

AGRADECIMENTOS

À Professora Dra Matilde Meire Miranda Cadete, pelo conhecimento transmitido e,

principalmente, pela dedicação incondicional e muita paciência

Às professoras Dra Adilene Gonçalves Quaresma e Dra Alexandra Nascimento,

pelas contribuições no exame de qualificação.

A todos os professores e colegas do curso de Mestrado Profissional em Gestão

Social, Educação e Desenvolvimento Local, pelas conversas, brincadeiras e

trocas de experiências.

Ao meus amigos Ronderson Rodrigues Duarte e minha madrinha Vanda Saraiva

pelo apoio e dedicação, quando precisei .

A todos os meus alunos que muito contribuíram neste projeto, com muita mais

muita força e dedicação quando foram requisitados ...

Às amigas Arlana Campos e Marcia Fonseca pelo apoio.

A UNIPAC Contagem por confiar em meu trabalho e pelo apoio. .

E mais uma vez minha família, em especial Miria Katia, Alda Maria Moreira

Saraiva, Vitalino Saraiva e Fahanny Moreira Saraiva: sem vocês não seria nada.

Page 5: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

RESUMO

A Educação Física é uma disciplina que trabalha o valor inclusivo, social, afetivo, cognitivo e cultural dos alunos. Além disso, também se deve trabalhar a cultura corporal de movimento constituída pelos jogos e brincadeiras, esporte, lutas, ginástica e dança, de forma totalmente inclusiva. As Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBBEN), Lei 9394/96, afirmam que a Educação Física é disciplina do componente curricular obrigatório. Contudo, nessa mesma lei não se encontra determinada qual a formação dos profissionais que podem ministrar aulas de Educação Física em séries do Ensino Fundamental, isto é, se são professores graduados nesse curso ou professores regentes de turma com outra graduação. Dessa forma, o presente trabalho objetivou analisar a atuação de professores pedagogos na condição de educadores físicos no Ensino Fundamental I tendo em vista o desenvolvimento de contribuição técnica com características de inovação social e com as finalidades de contribuir para a melhoria da formação inicial e continuada de pedagogos e o desenvolvimento local. A abordagem metodológica que fundamentou este estudo foi a pesquisa qualitativa, tendo como cenário escolas das redes municipal, estadual e privada, localizadas na região de Contagem e Pampulha. Foram sujeitos cinco professores pedagogos que ministram as aulas de Educação Física, escolhidos por amostragem de conveniência, a partir da sua identificação nas escolas elegidas. No trabalho de campo, os instrumentos de coleta de dados foram a entrevista semiestruturada e a observação sistemática, posteriormente analisadas pela técnica da análise de conteúdo de Bardin. As leituras das entrevistas geraram seis categorias: “de pedagogo a professor de Educação Física”; “sentir-se preparada para dar aula de EF”; “trabalhando o corpo”; “inclusão do aluno”; “formação do pedagogo para ministrar aulas de EF”; e “as escolas oferecem materiais adequados para as aulas de EF”. Apreendeu-se que a Educação Física evoluiu muito desde sua inserção no currículo escolar, em específico do Ensino Fundamental;e que busca a formação integral do aluno nas dimensões afetivas, sociais, cognitivas e inclusivas; trabalha a cultura corporal e o movimento, entre outros; e possibilita a prevenção à criminalidade, o acesso ao esporte, a inserção social, a cidadania e a formação profissional de caráter transformador, o que permite aos alunos o trabalho em cooperação uns com os outros. Apurou-se que os pedagogos não se sentem capacitados para ministrarem as aulas de Educação Física devido às suas especificidades. Como forma de contribuição para a promoção, será ofertado primeiramente aos sujeitos desta pesquisa , podendo depois ir para outras instituições escolares, um curso de capacitação tendo como metodologia de intervenção a oficina. Palavras-chave: Educação Física. Educação. Docente. Desenvolvimento local.

Page 6: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

ABSTRACT

Physical Education is a subject who works inclusive value, social, affectionate, cognitive and cultural of students. Besides, it must to work the cultural body movement made up of games, play, sport , fight, gymnastics and dance , in a fully inclusive way. The guidelines and bases of National Education (LDBBEN) law 9394/96, states that Physical Education is subject of mandatory component curriculum. However, the same law do not determine the training of professionals, who can teach Physical Education Lessons in Grades of elementary school , that is, if they are Teachers Graduated in Physical Education or Regents Teachers of class with another graduation.Thereby, this works objects to analysis the pedagogue teachers actuation in his condition of physical educators at Elementary School and a view of development of technical contribution to social innovation characteristics and with the purposes of contributing to the improvement of initial and continuing training of teachers and local development. The methodology approach that fundamented this study were qualitative research, having like scenario, public state and private schools located in the region of Contagem City and Pampulha Neighborhood. The subjects were six pedagogue teachers who give lessons of physical education, chosen by sample convenience, from its identification in elected schools.In the experimental fields, the instruments of collection of data were semi structured interview and systematic observation , subsequent analysed with technical of analysis of content of Bardin. In the experimental fields, the instruments of collection of data were semi structured interview and systematic observation , subsequent analysed with Bardin's content technical analysis.The Reading material generated by interviews created six categories: “From educator to Physical Education teacher ”; “Filling prepare to teaches lessons of Physical Education”; “Working the body”," "Students Inclusion ”; “Educator's training to teach Physical Education classes” and "Shcool offer of suitable material to tech pe classes". Learns that physical education has evolved considerably since its inclusion in the school curriculum, especially in Elementary School and which seeks the integral formation of the student in the emotional , social, cognitive and inclusive dimensions; Works with corporal culture and movement, among other ones. Enables crime prevention , access to sport , social inclusion , citizenship and professional training, transformer character that allows students to work in cooperation with each other and that educators do not feel qualified to minister the physical education classes especially about its specificities. As a contribution to the promotion it will be in first place offer to the pedagogy teachers include in this research, it may go to other educational institutions, a training course having as intervention methodology in a workshop

Keywors: Physical Educatio. Education. Pedagogues. Local development.

Page 7: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BVS Biblioteca Virtual da Saúde

CNE/ CP Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno

CONFEF Conselho Federal de Educação Física

DCN Diretrizes Curriculares Nacionais

EF Ensino Fundamental

EF Educação Física

EFE Educação Física Escolar

EUA Estados Unidos da América

FIEP Federação Internacional de Educação Física

GSEDL Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

LDB Lei de Diretrizes e Bases

LDBBEN Lei de Diretrizes e Bases Educação Nacional

PCN Parâmetro Curricular Nacional

SciELO Scientific Electronic Library Online

TCLE Termo de Consentimento Livre Esclarecido

Page 8: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

SUMÁRIO1

INTRODUÇÃO.................................................................................................9

1 REVISÃO TEÓRICA SOBRE A ATUAÇÃO DE PROFESSORES PEDAGOGOS

COMO EDUCADORES FÍSICOS.......................................................................16

2 A VISÃO DO PEDAGOGO NA FUNÇÃO DE EDUCADOES FÍSICOS NO

ENSINO FUNDAMENTAL I................................................................................50

3 PRODUTO TÉCNICO: instrumentalizando o pedagogo para aulas de

Educação Física!...........................................................................93

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................105

REFERÊNCIAS ...................................................................................................104

APÊNDICES......................................................................................................108

ANEXO .............................................................................................................113

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortográficas aprovadas pelo Acordo

Ortográfico assinado entre os países que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), em vigor no Brasil desde 2009. E foi formatado de acordo com a ABNT NBR 14724 de 17.04.2011.

Page 9: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

9

INTRODUÇÃO

A Educação Física é um componente curricular da educação básica. A Lei

10.328/2001, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBBEN),

determina que essa disciplina é um componente curricular obrigatório (BRASIL,

1996; 2001). Todavia, essa lei não determina qual a formação dos profissionais

que podem ministrar aulas de Educação Física em séries do Ensino Fundamental

I, isto é, se são professores graduados nesse curso ou professores regentes de

turma com outra graduação.

Esse contexto gera alguns questionamentos:

a) Os regentes de turma possuem formação e/ou capacitação adequadas

para ministrarem a disciplina Educação Física?

b) Os regentes de turma possuem aptidão para trabalhar com as crianças de

forma inclusiva, afetiva, cognitiva e cooperativa?

c) Os regentes de turma conhecem e se preocupam em oferecer atividades

que trabalhem e estimulem o desenvolvimento motor das crianças de

forma correta?

Reafirma-se que a disciplina Educação Física, por se constituir em

componente curricular obrigatório da Educação Básica, implica que todo aluno

que esteja matriculado na escola tem o direito de participar de suas aulas.

De acordo com Pereira, Nista Piccolo e Santos (2009), as crianças de seis

a 10 anos de idade, além de terem necessidades de se movimentar, apresentam

muita predisposição para o movimento. Com isso, os professores que proverem

essas aulas têm que conhecer a importância de sua função, como educador, para

com a vida do aluno.

Conforme o parecer do Conselho Nacional de Educação-Conselho Pleno

(CNE/CP) nº 5, de 13 de dezembro de 2005, das Diretrizes Curriculares Nacionais

para o Curso de Pedagogia:

[...] alguns críticos do curso de Pedagogia e das licenciaturas em geral, entre eles docentes sem ou com pouca experiência em trabalho nos anos iniciais de escolarização, entretanto, responsáveis por disciplinas “fundamentais” destes cursos, entendiam que a prática teria menor valor.

Page 10: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

10

Ponderavam que estudar processos educativos, entender e manejar métodos de ensino, avaliar, elaborar e executar planos e projetos, selecionar conteúdos, avaliar e elaborar materiais didáticos eram ações menores (BRASIL, 2005, p. 4).

Nesse sentido, o curso de Pedagogia deve estimular seus docentes a

terem boa preparação para trabalhar com crianças, uma vez que as aulas de

Educação Física são importantes para toda a vida de um aluno. É do Ensino

Fundamental que o aluno guardará as lembranças positivas e negativas vividas

na sua fase de infância. Essas lembranças (decepções e alegrias) poderão

marcar a vida dos alunos para o resto de suas vidas.

Destaca-se que a Educação Física é muito importante nas séries iniciais,

uma vez que nessa fase da vida a criança começa a trabalhar a ludicidade, o

desenvolvimento motor, a lateralidade, o ato de perder e ganhar e,

principalmente, a cultura corporal de movimento.

Sabe-se, também, que um dos componentes do projeto político do curso

de Graduação em Pedagogia é a Educação Física. De acordo com as Diretrizes

de Bases, o egresso do curso de pedagogia deverá estar apto a:

[...] aplicar modos de ensinar diferentes linguagens, Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia, Artes, Educação Física, de forma interdisciplinar e adequada às diferentes fases do desenvolvimento humano, particularmente de criança (BRASIL, 2005, p. 9, grifo do autor).

Diante dessa conjuntura, ressalta-se a importância da disciplina Educação

Física no curso de graduação em Pedagogia, uma vez que a mesma busca

compreender, cuidar e educar crianças, de forma a contribuir para o seu

desenvolvimento nas dimensões física, psicológica, intelectual, social, entre

outras.

O conhecimento do Projeto Político Pedagógico de cada curso de

graduação em Pedagogia torna-se fundamental, tendo em vista que este pode

variar de instituição para instituição de acordo com a filosofia institucional. Essa

assertiva se faz presente, pois conforme afirmam as Diretrizes Curriculares

Nacionais (DCN) do curso de Pedagogia:

[...] o projeto pedagógico de cada instituição deverá circunscrever áreas ou modalidades de ensino que proporcionem aprofundamento de estudos, sempre a partir da formação comum da docência na Educação Básica e com objetivos próprios do curso de Pedagogia.

Page 11: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

11

Consequentemente, dependendo das necessidades e interesses locais e regionais, neste curso, poderão ser, especialmente, aprofundadas questões que devem estar presentes na formação de todos os educadores, relativas, entre outras, a educação a distância; educação de pessoas com necessidades educacionais especiais; educação de pessoas jovens e adultas, educação étnico-racial; educação indígena; educação nos remanescentes de quilombos; educação do campo; educação hospitalar; educação prisional; educação comunitária ou popular. O aprofundamento em uma dessas áreas ou modalidade de ensino específico será comprovado, para os devidos fins, pelo histórico escolar do egresso, não configurando de forma alguma uma habilitação (BRASIL, 2005, p. 10).

Dessa forma, o curso de Pedagogia deve primar pela capacitação de seus

docentes, a fim de que possam trabalhar efetivamente com as crianças,

imprimindo às aulas de Educação Física a importância que lhes cabe. Ressalta-se

o que dizem as DCNs de Educação Física (BRASIL, 1997a, p. 13):

[...] para boa parte das pessoas que frequentaram a escola, a lembrança das aulas de Educação Física é marcante: para alguns, uma experiência prazerosa, de sucesso, de muitas vitórias; para outros, uma memória amarga, de sensação de incompetência, de falta de jeito, de medo de errar [...].

No que diz respeito à cultura corporal de movimento na Educação Física,

compete-lhe trabalhar as cinco partes principais que sempre irão ajudar o aluno.

São elas: dança, esporte, ginástica, lutas e jogos e brincadeiras. Soma-se, ainda,

o fato de que os professores deverão estar preparados para desenvolver

atividades com seus alunos de forma lúdica e inclusiva.

O PCN de Educação Física exemplifica esses dizeres ao destacar que o

trabalho de Educação Física, nas séries iniciais do Ensino Fundamental, permite

que os alunos tenham, “desde cedo, a oportunidade de desenvolver habilidades

corporais e de participar de atividades culturais, como jogos, esportes, lutas,

ginásticas e danças, com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e

emoções” (BRASIL, 1997b, p. 15).

Portanto, a valorização da cultura é importante. Cada rua, bairro, escola,

cidade, estado, cada país tem uma cultura local de se praticar as atividades

esportivas. O Brasil, por exemplo, é considerado mundialmente o país do futebol,

enquanto nos Estados Unidos da América (EUA) pratica-se mais o basquete e na

Venezuela o basebol. Os alunos, muitas vezes, preferirão praticar as atividades

que fazem parte da cultura em que estão inseridos. Diante dessa situação, mais

Page 12: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

12

um questionamento surge: será que os professores pedagogos saberão aplicar as

modalidades esportivas para que todos participem sem que haja exclusão de

algum aluno?

Na Educação Física e, principalmente, no Ensino Fundamental, o professor

deve trabalhar não visando apenas ao rendimento, permitindo que só o melhor

jogue e vença a competição. Devem-se criar técnicas para que todos, de forma

igualitária, participem das aulas da mesma forma. O intuito não é a parte técnica,

e sim o prazer em participar das aulas, com inclusão também dos alunos com

necessidades especiais, o que convoca para pensar a importância dos

professores como condutores da disciplina. O PCN defende que:

[...] a Educação Física escolar deve dar oportunidades a todos os alunos para que desenvolvam suas potencialidades, de forma democrática e não seletiva, visando ao seu aprimoramento como seres humanos. Nesse sentido, cabe assinalar que os alunos portadores de deficiências físicas não podem ser privados das aulas de Educação Física (BRASIL, 1997a, p. 24).

Ademais, as aulas devem ser dinâmicas, prazerosas, inclusivas, com

misturas de gênero e de estímulos. As professoras regentes de turma do Ensino

Fundamental, por não possuírem os conhecimentos necessários para ministrarem

as aulas, deixam os alunos livres para fazerem o que querem e essa liberdade

pode gerar situações consideradas um erro irreparável.

Sabe-se que as novas tecnologias trouxeram muitos benefícios para a

humanidade. Hoje as crianças preferem ficar horas na internet e no playstation a

fazer uma atividade física como brincar de esconde-esconde, pular corda, jogar

amarelinha, entre outras. A consequência dessa postura é o sedentarismo e uma

função motora comprometida, o que desencadeia a obesidade infantil. Observa-

se que muitas crianças do Ensino Fundamental têm como única atividade física

as propostas nas aulas de Educação Física. Essa realidade assinala a

importância dessa disciplina e a preparação do profissional que irá ministrá-la.

Retornando ao PCN da Educação Física, nele se encontra descrito que o

aluno da Ensino Fundamental I tem que sair sabendo, no final do primeiro ciclo, o

mínimo de atividades possíveis, como:

participar de diferentes atividades corporais, procurando adotar uma atitude cooperativa e solidária, sem discriminar os colegas pelo desempenho ou por razões sociais, físicas, sexuais ou culturais;

Page 13: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

13

conhecer algumas de suas possibilidades e limitações corporais de forma a poder estabelecer algumas metas pessoais (qualitativas e quantitativas);

conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações de cultura corporal presentes no cotidiano;

organizar autonomamente alguns jogos, brincadeiras ou outras atividades corporais simples [...] (BRASIL,1997a, p. 46).

Pode-se, assim, ponderar, após essas observações, que um professor tem

que estar qualificado para ministrar aulas de Educação Física e os docentes do

curso de Pedagogia têm que realizar, minimamente, as técnicas necessárias para

que seus alunos consigam fazer as aulas de Educação Física.

Daí, a seriedade e pertinência de uma aula bem preparada e ministrada.

Não se pode conceber que uma pessoa sem a devida preparação ministre as

aulas de Educação Física, devido à importância dessa disciplina na vida das

pessoas. O ideal é que seja um professor formado em Educação Física para

assumir as aulas e que essa tarefa não seja de responsabilidade dos regentes de

turma, pois, além de comprometer o desenvolvimento dos alunos, sobrecarrega

esse profissional qualificado para atuar como alfabetizador. Ou, então, que o

docente tenha boa técnica de aulas apreendida em sua graduação com a

disciplina de Educação Física.

Como professor do curso de Pedagogia, o autor deste estudo pôde

observar, na prática cotidiana, que as alunas não atribuem a devida importância

aos conteúdos que devem apreender a respeito da Educação Física no Ensino

Fundamental I e sua necessidade para a vida da criança até sua fase adulta.

Mesmo cientes de que poderão assumir a docência dessa disciplina, não creditam

nela o valor que tem. Pode-se inferir que perpetuam o estigma de que a

Educação Física não se encaixa no mesmo patamar que as demais disciplinas.

Por isso, o problema deste estudo é “a atuação como educadores físicos

de professores pedagogos sem o adequado conhecimento de conteúdos

pedagógicos e de técnicas motoras apropriadas ao desenvolvimento físico de

alunos do Ensino Fundamental”. Questiona-se, portanto: como é a atuação dos

professores pedagogos na condição de educadores físicos em relação ao

desenvolvimento de atividades físicas no Ensino Fundamental I?

Agregam-se a essa interrogação alguns aspectos críticos como as

fragilidades dos cursos de Pedagogia no preparo adequado dos professores

Page 14: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

14

pedagogos para trabalharem como educadores físicos no Ensino Fundamental; a

atuação de professores pedagogos, como educadores físicos, sem o apropriado

conhecimento de conteúdos pedagógicos e de técnicas motoras apropriadas ao

desenvolvimento físico de alunos do Ensino Fundamental; falta de oportunidades

aos alunos do Ensino Fundamental para o seu desenvolvimento físico

correspondente; e tempo insuficiente de que dispõe o professor pedagogo para

trabalhar com os alunos do Ensino Fundamental I seu desenvolvimento físico

adequadamente.

Com base nessas circunstâncias, acredita-se que os dizeres dos

pedagogos a respeito de sua condição de professor de EF sejam norteadores de

ações que modifiquem esse cenário em prol de si próprios e, particularmente,

dos alunos.

Assim, o objetivo geral deste trabalho foi analisar a atuação de professores

pedagogos na condição de educadores físicos no Ensino Fundamental I, tendo

em vista o desenvolvimento de contribuição técnica com características de

inovação social e com as finalidades de contribuir para a melhoria da formação

inicial e continuada de pedagogos e o desenvolvimento local.

E como objetivos específicos:

a) Conhecer o que a literatura pedagógica discute acerca da formação de

educadores físicos para o Ensino Fundamental.

b) Conhecer a visão e as atividades de Educação Física realizadas por

professores pedagogos, no Ensino Fundamental.;

c) Desenvolver material pedagógico destinado à formação inicial e continuada

de professores pedagogos para atuarem como educadores físicos no

Ensino Fundamental.

Acredita-se ser fundamental a intercessão pedagógica construída a partir

dos resultados desta pesquisa para a construção de conhecimento sistematizado.

E que a ação didática consinta no encontro e debate de conhecimentos entre

professores e alunos e possibilite a troca de saberes e a compreensão dos

conteúdos teóricos e práticos nas aulas de Educação Física no Ensino

Fundamental.

Page 15: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

15

É relevante também, na medida em se que trata de tema com

especificidade importante para o fortalecimento da linha de pesquisa do Programa

do Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local (GSEDL)

voltada para as questões da educação e do desenvolvimento local, além de

contribuir para o aperfeiçoamento da prática pedagógica de educadores físicos

das crianças no Ensino Fundamental I.

Para o alcance dos objetivos propostos, o presente trabalho foi dividido em

três capítulos, assim organizados: o primeiro abordou o referencial teórico

fundamentado em artigos científicos identificados na Plataforma da Biblioteca

Virtual da Saúde (BVS) e na base de dados da Scientific Electronic Library Online

(SciELO), com os descritores: docente, Educação Física, Educação e

Desenvolvimento local. Foram feitas também outras pesquisas em leis e

programas do Ministério da Educação e livros que versavam sobre o tema

estudado.

O segundo capítulo apresentou a metodologia e a análise dos dados

colhidos na pesquisa de campo por meio de entrevista semiestruturada e

observação sistemática. As entrevistas foram avaliadas segundo a análise de

conteúdo de Bardin (2010).

O capítulo 3 apresenta o produto técnico oriundo da necessidade captada

nas entrevistas dos sujeitos que direcionaram para um curso de capacitação dos

pedagogos docentes de Educação Física.

Page 16: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

16

1 REVISÃO TEÓRICA SOBRE A ATUAÇÃO DE PROFESSORES

PEDAGOGOS COMO EDUCADORES FÍSICOS

Weslley Moreira Saraiva12

Matilde Meire Miranda Cadete23

RESUMO

Este estudo objetivou, a partir da produção científica publicada, analisar as publicações relacionadas à disciplina de Educação Física e seus pressupostos de formação cidadã e a atuação do pedagogo professor de Educação Física. Fundamentou-se na pesquisa bibliográfica narrativa com levantamentos de artigos na base de dados do SciELO e documentos do Ministério da Educação, além de livros. Os descritores utilizados foram: docente, Educação Física, educação e desenvolvimento local. De posse do material identificado, passou-se à sua leitura e à seleção dos que respondiam ao objetivo do estudo. O material bibliográfico revelou que a Educação Física enquadra-se como ferramenta de inserção social, contribuindo para o desenvolvimento integral dos sujeitos, e possibilita-lhes melhores níveis de qualidade de vida, pois os leva a ambientes saudáveis onde interagem entre si, constroem relações afetivas e trocam experiências. Assinalou, ainda, que o pedagogo não recebe, na sua formação acadêmica, base suficiente para assumir a docência da disciplina Educação Física e que se sente despreparado e desmotivado para tal. Considera-se relevante ofertar a esse público um curso de capacitação a fim de habilitá-los para o exercício profissional, em específico na Educação Física.

Palavras-chave: Docente. Educação Física. Educação. Desenvolvimento local.

1 Mestrando do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. 2 Orientadora e Professora Doutora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA.

Page 17: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

17

ABSTRACT

This work treats of a technical product constructed from the demand of five Physical Education educators and characters of Masters degree dissertation entitled: “The educator's performance as Physical educators in Elementary School". This capacitation, through workshops, will be done basing in four modules: the importance of physical activities in the processes of physical development and motor coordination of the students; practice lessons; Physical Education Teachers's proposal; Pedagogy graduate student's proposal and Pedagogue's Proposal. It is expected that this capacitation will provide new knowledge’s from Physical Education areas for these professionals, once this discipline deserves to be recognized for its importance within the school and in the students's life development.

Keywords: Workshops. Physical Education. Education. Local development

Page 18: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

18

1.1 INTRODUÇÃO

A Educação Física (EF), por ser obrigatória na Educação Básica, provê ao

aluno na escola o direito de ter essa disciplina, pois além de ser obrigatória é

muito importante para o desenvolvimento da criança.

Pereira, Nista Piccolo e Santos (2009, p. 343) afirmam que as crianças de

seis a 10 anos de idade, além de terem necessidades de se movimentar,

apresentam grande predisposição ao movimento. Com isso, os professores que

proverem essas aulas têm que conhecer acerca da importância de sua função

como educador, para com a vida do aluno.

A Educação Física é muito importante nas séries iniciais até o fundamental

I, pois nessa fase da vida a criança começa a trabalhar a ludicidade, o

desenvolvimento motor, a lateralidade, o ato de perder e ganhar e,

principalmente, a cultura corporal de movimento, afetividades e cognição.

A cultura corporal de movimento na Educação Física trabalha a dança, o

esporte, a ginástica, as lutas, os jogos e as brincadeiras. Com isso, os

professores têm que buscar, planejar e executar aulas que motivem seus alunos e

que estas sejam prazerosas e inclusivas para os alunos.

O Parâmetro Curricular Nacional (PCN) de Educação Física exemplifica

esses dizeres ao mostrar que o trabalho de Educação Física, nas séries iniciais

do Ensino Fundamental, permite que os alunos tenham, “desde cedo, a

oportunidade de desenvolver habilidades corporais e de participar de atividades

culturais, como jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças, com finalidades de

lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções” (BRASIL, 1997a, p. 15).

Na Educação Física, e principalmente no Ensino Fundamental, o professor

deve trabalhar não visando apenas ao rendimento, permitindo que só o melhor

jogue e vença a competição. O intuito não é a parte técnica, e sim o prazer em

participar das aulas, com inclusão também dos alunos com necessidades

especiais, o que convoca para pensar a importância dos professores como

condutores da disciplina.

O PCN defende que:

[...] a Educação Física escolar deve dar oportunidades a todos os alunos para que desenvolvam suas potencialidades de forma democrática e não

Page 19: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

19

seletiva, visando seu aprimoramento como seres humanos. Nesse sentido, cabe assinalar que os alunos portadores de deficiências físicas não podem ser privados das aulas de Educação Física (BRASIL, 1997b, p. 24).

Contudo, sabe-se que em diversas escolas, em vez de ser o professor

responsável por ministrar as aulas de Educação Física, o graduado nessa

modalidade é o professor regente de classe que as assume, com formação em

Pedagogia.

O curso de Pedagogia, por conseguinte, deveria, além de capacitar seus

graduandos não apenas nas técnicas, convocá-los para compreenderem e

valorizarem as aulas de EF com crianças, reconhecendo-as como importantes

para toda a vida do aluno.

Ressalta-se que um dos componentes do Projeto Político do Curso de

Graduação em Pedagogia é a Educação Física. E que o egresso deste curso

deverá estar apto a dedicar-se aos diferentes modos de ensinar as disciplinas

reconhecidas como básicas, tais como Língua Portuguesa, Matemática, Ciências,

Educação Física (grifo do autor), “de forma interdisciplinar e adequada às

diferentes fases do desenvolvimento humano, particularmente de criança”

(BRASIL, 2005, p. 9).

Reconhece-se a importância da disciplina Educação Física no curso de

Graduação em Pedagogia, que busca compreender, cuidar e educar crianças de

forma a contribuir para o seu desenvolvimento nas dimensões física, psicológica,

intelectual, social, entre outras.

O que se interroga é se os pedagogos estão sendo capacitados, durante

sua formação acadêmica e em cursos de atualização e aperfeiçoamento, para

assumir a disciplina de Educação Física atendendo aos seus pressupostos de

formação integral do aluno e oferecendo as diversas atividades culturais e

técnicas de acordo com a faixa etária de seu alunado.

Assim, torna-se relevante buscar na literatura científica o que se tem

publicado a respeito da Educação Física como disciplina que integra a formação

integral da criança e a atuação do pedagogo como docente dessa disciplina.

Portanto, este estudo objetivou analisar as publicações relacionadas à

disciplina de Educação Física e seus pressupostos de formação cidadã e a

atuação do pedagogo como professor de Educação Física.

Page 20: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

20

1.2 METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a construção deste referencial teórico baseou-

se na pesquisa bibliográfica narrativa com levantamentos de artigos na Biblioteca

Virtual em Saúde (BVS), nas bases de dados da Scientific Electronic Library

Online (SciELO), com os descritores: docente, Educação Física, Educação e

Desenvolvimento local, bem como em documentos do Ministério da Educação.

Também foram pesquisados livros, dissertações, teses com o intuito de mais

aprofundamento teórico e, portanto, mais apreensão e compreensão do fenômeno

em pauta.

Segundo Gil (2010, p. 50), a pesquisa bibliográfica “é elaborada a partir de

material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e

atualmente com material disponibilizado na Internet”.

Permite o levantamento das pesquisas referentes ao tema estudado e

ainda o aprofundamento teórico que norteia a pesquisa. Gil (2010, p. 50)

acrescenta:

A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato com o que já se produziu e se registrou a respeito do tema de pesquisa. Tais vantagens revelam o compromisso da qualidade da pesquisa.

Assim, buscaram-se autores que dissertaram acerca de Pedagogia,

Educação Física, educação e desenvolvimento local. De posse do material

identificado, passou-se à leitura e seleção daquele material que respondia ao

objetivo deste estudo.

1.3 REFERENCIAL TEÓRICO

O referencial teórico abordou o conceito de Educação Física, a sua história

no decorrer dos séculos, a importância de se trabalhar corretamente a Educação

Física no Ensino Fundamental, a aprendizagem/motora, cultura corporal de

movimento e sua importância, permeados pela atuação do pedagogo e o

desenvolvimento local.

Page 21: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

21

1.3.1 O conceito de Educação Física escolar

Para o senso comum, a Educação Física é vista como um conjunto de

exercícios que tem por objetivo libertar todas as energias do corpo humano,

coordenando-as e disciplinando-as para que o indivíduo possa gozar de melhores

condições de saúde.

A Educação Física é uma atividade humana; manifesta-se no condensado

social por meio de práticas sociais com interesses e enfoques filosóficos,

científicos e pedagógicos diferentes, mostrando a relação entre o homem, o

mundo e a sociedade (MUÑOZ PALAFOX et al., s/d).

Outras conceituações sobre Educação Física são apresentadas por

estudiosos no sentido de abordar a relação complexa entre indivíduo, educação,

movimento e qualidade de vida. De acordo com Oliveira (2006, p. 15), a

Educação Física busca:

Viabilizar ao aluno a aprendizagem referente a conhecimentos específicos sobre o movimento humano que lhe permita, individual e intencionalmente, (1) a utilização de potencialidades para movimentar-se, genérica ou especificamente, de forma habilidosa e, em correspondência, (2) a capacitação para, em relação ao meio em que vive, agir (interagir, adaptar-se, transformar...), na busca de benefícios para a qualidade de vida.

Betti (2005) explicita que, na escola, a Educação Física não só elege e

problematiza temas relacionados à cultura corporal de movimento de acordo com

sua intencionalidade pedagógica, bem como possibilita aos alunos a apropriação

crítica da cultura corporal de movimento, integrando o saber e o sentir

movimentar-se, além do saber sobre esse movimentar-se.

No que se refere às suas atribuições no contexto do ensino e

aprendizagem, Betti e Zuliani (2002, p. 75) argumentam que os papeis múltiplos

da Educação Física ultrapassam os parâmetros curriculares da educação básica.

Afinal, a Educação Física, como componente curricular da educação básica, deve

também inserir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando-o

para que possa, além de produzi-la, transformá-la. Deve, ainda, municiá-lo para

desfrutar de todas as modalidades esportivas, ou seja, do jogo e esporte às

atividades rítmicas e dança, lutas, ginásticas e práticas de aptidão física, em

benefício da qualidade da vida.

Page 22: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

22

O trabalho pedagógico desenvolvido na Educação Física deve estar

voltado para a construção da cidadania dos sujeitos, formando cidadãos críticos e

participativos no meio social em que estão inseridos. Seu objetivo principal é

possibilitar ao aluno a qualificação sócio-histórico-cultural necessária para

promover o desenvolvimento de uma racionalidade crítica, autônoma e

participativa.

Em síntese, a Educação Física é uma atividade dinâmica que contribui na

ampla formação dos sujeitos, em seu aspecto social, bem como no

desenvolvimento de seu lado individual, por meio de dinâmicas lúdicas que

proporcionam equilíbrio entre corpo, mente e espaço. Para Santin (1987), é uma

ciência que desenvolve as habilidades motoras de qualquer sujeito, além de

manter elementos terapêuticos, sejam eles emocionais ou físicos.

A EF é, portanto, importante para o desenvolvimento individual e coletivo

do sujeito, mas parece não receber o devido valor que lhe cabe por algumas

instituições de ensino, uma vez que diversas escolas não lhe conferem a

seriedade e valoração que as outras disciplinas do projeto pedagógico recebem.

Essa assertiva se faz em detrimento da falta de elaboração de um plano de

ensino, cronograma, currículo, planejamento, entre outros itens que vão dar

suporte a essa disciplina durante o ano, com vistas ao preparo adequado dos

professores e alunos. Não se tem um planejamento do conteúdo a ser trabalhado.

Isso acontece com a maioria dos pedagogos, que não tiveram, na sua formação

acadêmica, capacitação suficiente e necessária no concernente à importância

dessa disciplina como as outras demais.

Uma matriz curricular que contemplasse conteúdos teóricos práticos

ajudaria muito sobre os benefícios que a EF proporciona, pois ela daria uma

noção de como se trabalhar as diversas atividades no decorrer dos anos.

Segundo Ferraz e Correia (2012, p. 531):

O sentido etimológico da palavra currículo (termo latino “curriculum”) expressa movimento progressivo, pista de corrida, caminho a ser percorrido. No contexto educacional, a noção de currículo tem abarcado proposições diversas englobando referenciais curriculares propostos pelas redes de ensino, grade curricular com disciplinas e atividades, conjunto de planos de ensino dos professores(as), aquilo que acontece na sala de aula e experiências vividas pelos alunos na escola, entre outros.

Page 23: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

23

As escolas, por meio das DCNs, têm autonomia para preparar as suas

propostas curriculares e muitas delas, pode-se inferir pela prática vivida em

variados estabelecimentos de ensino, deixam a desejar no que diz respeito à

disciplina EF. Às vezes, nem cobram de seus professores o planejamento das

aulas, mesmo cabendo à escola a responsabilidade sobre as competências

ditadas pelas DCNs.

Ferraz e Correia (2012, p. 531) descrevem que:

As DCNs consideram a autonomia das escolas para a elaboração das suas propostas pedagógicas e incentivam essas instituições a organizar seu currículo, selecionando, dentro das áreas de conhecimento, os conteúdos que consideram fundamentais para a formação das competências explicitadas nos documentos (DCNs). Dessa forma, é possível adaptar o conteúdo às demandas regionais, aos aspectos locais relevantes e à população que a escola atende. As DCNs são leis que especificam metas e objetivos que se caracterizam em orientações gerais para as escolas, redes e sistemas de ensino. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica foram publicadas em 2010. Todavia, as diretrizes específicas para cada ciclo foram fixadas, a saber: Educação Infantil em 2009, Ensino Fundamental em 2010 e Ensino Médio em 2011.

São explícitos, portanto, os conteúdos, objetivos, competências, atitudes e

habilidades fundamentais para a formação do cidadão.

1.3.2 Educação Física no Brasil

Braid (2003) expõe que a Educação Física é uma expressão que surgiu no

século XVIII, em textos de filósofos preocupados com a educação. Para eles, a

formação da criança e do jovem passou a ser concebida de modo integral, em

que corpo, mente e espírito são partes essenciais do desenvolvimento pleno da

personalidade. A Educação Física vem somar-se à educação intelectual e à

educação moral. Essa adjetivação da palavra educação demonstra uma visão

ainda fragmentada do homem

O surgimento da Educação Física se deu desde os tempos primitivos,

quando o homem necessitava correr dos animais predadores, pular para pegar

alimentos, carregar pesos, arremessar objetos para caçar, entre outras. Aos

poucos, percebeu que seu preparo físico garantiria melhores condições de vida,

tanto para trabalhar, quanto para interagir e se divertir.

Page 24: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

24

No Brasil Império, verifica-se, em 1851, o surgimento da Lei nº 630, que

incluiu a ginástica nos currículos escolares (BRAID, 2003). Os autores Valente e

Almeida Filho (2006), historiando a Educação Física no Brasil, relatam que entre

os anos 1955 e 1960 ela ganhou novo enfoque em nível nacional, com sua

oficialização vinculada ao esporte e à criação dos Centros de Educação Física.

Outro ganho é a admissão das competições esportivas como substitutas das

“sessões” de Educação Física. Ainda nesse período nasceram os primeiros

cursos de especialização em recreação e o governo federal promoveu a

Campanha Nacional de Educação Física.

Braid (2003), prosseguindo na sua narrativa acerca da história da

Educação Física, afirma que Rui Barbosa, parlamentar e educador que esteve à

frente dos mais diferentes “campos de luta”, preconizava a obrigatoriedade da

Educação Física nas escolas primárias e secundárias praticada quatro vezes por

semana durante 30 minutos.

O século XX iniciou-se com a vida da sociedade brasileira

consideravelmente alterada com a iminência da sedentarização provocada pela

tecnologia emergente, principalmente os meios de transporte. Entretanto, a

Educação Física pouco mudou, pois o caráter utilitário característico do século

passado continuou, na medida em que o seu objetivo na escola seria formar

homens fortes para o bem da pátria. A ênfase tinha caráter político que se dividiu

em três tempos: o Estado Novo, a ditadura militar e a pós-ditadura ou período de

abertura política (BRAID, 2003).

No Brasil constata-se uma época em que teve início a profissionalização

da Educação Física. Figuravam-se as políticas públicas cujo processo, até nos

anos 60, ficou limitado ao desenvolvimento das estruturas organizacionais e

administrativas específicas, tais como: Divisão de Educação Física e o Conselho

Nacional de Desportos.

Com o fim do Estado Novo, iniciou-se uma série de discussões envolvendo

como temática a educação e o interesse acentuado pela Educação Física como

elemento curricular. A partir de debates, surgiu a proposta de um novo enfoque

para essa disciplina, buscando integrá-la como disciplina educativa por excelência

no âmbito da rede pública de ensino. Na época da ditadura militar verificou-se

grande vontade do governo em incentivar a Educação Física e, principalmente, o

Page 25: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

25

esporte. Foi um período de massificação do esporte e de grande divulgação dos

“feitos” dos atletas de alto nível, transformados em “heróis da pátria” (BRAID,

2003, p. 5).

Até a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases (LDB), publicada

em 20 de dezembro de 1961 pelo Presidente João Goulart, houve amplo debate

sobre o sistema de ensino brasileiro. Nessa lei ficou determinada a

obrigatoriedade da Educação Física para as escolas primárias e de ensino médio.

Com isso, o esporte passou a ocupar lugar cada vez maior durante as aulas. O

processo de esportivização da Educação Física Escolar iniciou com a introdução

do Método Desportivo Generalizado, que significou uma contraposição aos

antigos métodos de ginástica tradicional e uma tentativa de incorporar o esporte,

já que era uma instituição bastante independente, adequando-o ao objetivo e

práticas pedagógicas (BRAID, 2003).

Após 1964, a educação, no geral, adotou uma visão tecnicista, cujo ensino

tinha que formar mão de obra qualificada; os cursos técnicos profissionalizantes

se difundiram e a Educação Física tinha caráter instrumental, que era o de

desenvolver atividades práticas voltadas para o desempenho técnico e físico do

aluno (BRAID, 2003). Na década de 70 ainda havia a função para a manutenção

da ordem e do progresso. O governo investiu na Educação Física em função de

diretrizes pautadas no nacionalismo, na integração social e na segurança

nacional, pois visavam a um exército forte saudável e à desmobilização das

forças políticas oposicionistas (DAOLIO, 2004).

As atividades esportivas também eram importantes para a melhoria da

força de trabalho com vista no “milagre econômico brasileiro”. Nesse período, os

laços se firmavam com destaque no futebol, na Copa do Mundo de 1970. No ano

de 1971, a Educação Física Escolar, a partir do Decreto nº 69.450 de 1971,

considerou: “a atividade que por meios, processos e técnicas desenvolve e

aprimora forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais do educando”

(BRASIL, 2001, p 21). A falta de especificidade posta nesse decreto manteve a

ênfase na aptidão física. A partir da 5ª série, a iniciação esportiva tornou-se um

dos eixos fundamentais de ensino na busca de novos talentos para

representarem a pátria em competições internacionais. Essa época, chamada de

“modelo piramidal”, norteou as diretrizes políticas da Educação Física.

Page 26: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

26

Na década de 1970, marcada pela ditadura militar, a Educação Física era

usada, não para fins educativos, mas de propaganda do governo, sendo todos os

ramos e níveis de ensino voltados para os esportes de alto rendimento.

A ditadura foi pródiga em enaltecer a necessidade da prática da Educação

Física em todos os níveis de ensino, sendo, inclusive, nesse período que se

instituiu sua obrigatoriedade no Ensino Superior. Essa obrigatoriedade é

analisada como uma tentativa de ocupação do tempo do estudante universitário,

isolando-o de outros movimentos socialmente importantes para a época.

Ainda fundamentado em Braid (2003), percebe-se que a literatura histórica

evidencia nesse fato um objetivo de atuação do desporto como “analgésico” no

movimento social. Nesse âmbito, as relações entre Educação Física e sociedade

passaram a ser discutidas sob teorias críticas da educação: questionaram-se seu

papel e sua dimensão política. Nos anos 1980, a Educação Física viveu uma crise

existencial à procura de propósitos voltados para a sociedade. No esporte de alto

rendimento, a mudança nas estruturas de poder e os incentivos fiscais deram

origem aos patrocínios e empresas, podendo contratar atletas funcionários,

fazendo surgir uma boa geração de campeões das equipes Atlântica Boa Vista,

Bradesco, Pirelli, entre outras, tal como cita Castellani Filho (2008).

Nos anos 1990, o esporte passou a ser visto como meio de promoção à

saúde acessível a todos e manifestada de três formas: esporte educação, esporte

participação e esporte performance. A Educação Física finalmente regulamentada

é de fato e de direito uma profissão a qual compete mediar e conduzir todo o

processo. Dessa forma, têm-se os passos da profissão, conforme descrevem

Valente e Almeida Filho (2006):

a) 1961-1969 - com a Lei 4.024/61, a Educação Física passou a ser

obrigatória nos cursos primário e médio, com base em conceitos

biopsicossociais;

b) 1970-1981 - consolidou-se a formação do profissional de Educação Física

com a implantação de cursos de licenciatura em diversas universidades

brasileiras;

c) 1981-2002 - houve o favorecimento da consolidação da pós-graduação em

Educação Física, Esportes, Recreação e Lazer no Brasil com o retorno de

Page 27: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

27

mestres e doutores que os cursaram no exterior; surgem, em

consequência, grupos de pesquisa e ocorre a expansão dos cursos de

mestrado e doutorado no território nacional;

d) 2000-2003 - criou-se e implantou-se o Conselho Federal de Educação

Física (CONFEF), que possibilitou a regulamentação da profissão, a

publicação do código de ética dos profissionais registrados no CONFEF e

na resolução que define o campo de intervenção do profissional de

Educação Física no Brasil.

e) Atualmente, merece destacar que a pesquisa adquiriu fluxo contínuo, tanto

em níveis quantitativos quanto qualitativos.

Esse cenário sucintamente apresentado mostra que houve mudanças

efetivas na Educação Física, com ganhos qualitativos e em sintonia com os

avanços na educação brasileira. Houve, em paralelo, mudanças tanto no enfoque,

objetivos e conteúdos quanto nos pressupostos pedagógicos de ensino e

aprendizagem. Ampliou-se a visão para além da dimensão biológica, enfatizando

as dimensões psicológicas, sociais, cognitivas e afetivas, concebendo o aluno

como ser humano integral. Os objetivos educacionais tornaram-se mais amplos,

sob a perspectiva de conteúdos diversificados e não mais apenas em esportes,

em pressupostos pedagógicos mais humanos e ao não adestramento de seres

humanos.

A Educação Física atual busca o desenvolvimento integral do ser humano,

a partir de dimensões pedagógicas, sociológicas e filosóficas. Contudo, segundo

Daolio (2004) e Braid (2003), a Educação Física Escolar tem como objeto de

estudo o desenvolvimento da aptidão física, o que tem contribuído historicamente

para a defesa dos interesses da classe no poder, mantendo a estrutura da

sociedade capitalista.

A última década do século XX caracterizou-se como um período de muita

discussão sobre a Educação Física como práxis e seus desdobramentos na

sociedade como um todo (BRAID, 2003).

Page 28: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

28

1.3.3 A importância da Educação Física Escolar versus profissional

apropriado para ministrar essa disciplina

Apesar de se encontrar no contexto do ensino, muitos ainda não

compreendem a importância da Educação Física escolar. Como matéria de

ensino da escola, está organizada numa estrutura curricular educacional, pois se

trata de um conjunto de conhecimentos advindos dos campos das Ciências

Humanas, Naturais e Exatas utilizados para subsidiar e atualizar atividades em

caráter interdisciplinar:

Alguns professores e alunos acham que a EF não tem valor necessário.

Alguns, inclusive, não têm a devida informação da seriedade da cultura corporal

de movimento e os alunos trazem as suas experiências vividas nas ruas e suas

casas, para dentro da escola e querem praticá-las sem orientações devidas. Com

isso, não veem a disciplina como aprendizagem, tampouco lhe atribuem o valor

que tem para a vida. Afirma-se que cabe ao professor de EF mudar essa visão

míope e deturpada do que é Educação Física, fazendo de suas aulas um

momento de conhecimento pedagógico para o aluno, de acordo com Rodrigues

Júnior e Silva (2008, p. 159):

Os alunos chegam à aula com certo entendimento a respeito dos elementos da cultura corporal; o professor, por meio de sua ação pedagógica, pode provocar confrontos com tais conhecimentos, com o intuito de levar os jovens a identificar e compreender os temas estudados, de maneira sistematizada. Nesse processo didático, a significação é elemento fundamental a ser considerado para uma mediação que vislumbre a revisão de ideias e de valores.

Os profissionais devem, durante os anos da graduação, adquirir

conhecimentos para transmitirem e debaterem com seus alunos da escola infantil

para que, ao saírem do Fundamental I, conheçam e saibam acessar alguns

objetivos de acordo com o PCN, entre os quais se destacam: construir relações

pessoais equilibradas e construtivas com os outros, conhecendo-os e

respeitando-os como seres diferentes e singulares que têm desempenho próprio;

respeitar o outro em todas as situações lúdicas e esportivas; respeitar as diversas

culturas corporais, compreendendo-as como importante recurso para integração

entre os diferentes grupos sociais; adotar hábitos saudáveis, reconhecendo-os

como essenciais para a própria saúde e de recuperação, manutenção e melhoria

da saúde coletiva; valorizar a diversidade de padrões de saúde, beleza e estética

Page 29: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

29

corporal, evitando o consumismo e o preconceito; “reivindicar locais adequados

para promover atividades corporais de lazer, reconhecendo-as como uma

necessidade básica do ser humano e um direito do cidadão” (BRASIL, 1997a, p.

33).

Todavia, a aula de Educação Física não é restrita ao profissional de

Educação Física no Fundamental I. Isso significa dizer que não é obrigatório que

seja um profissional de Educação Física o responsável por ministrar essa aula,

podendo o regente de turma assumi-la. Na cotidianidade das escolas, comumente

o regente é nominado de polivalente, o “faz-de-tudo”. Destaca-se que ele não é

formado para ministrar aulas de Educação Física.

Segundo Pereira, Nista Piccolo e Santos (2009, p. 343.):

[...] a lei não determina quem deve ser o responsável pelas aulas dessa disciplina: se um professor especialista na área de Educação Física ou o próprio professor regente das aulas, denominado professor polivalente, por ficar com as crianças no período integral das aulas e desenvolver as demais disciplinas, ficando essa decisão a cargo dos sistemas de ensino estadual, municipal e privado.

A realidade das escolas infantis e os dizeres de Pereira, Nista Piccolo e

Santos (2009) suscitam questionamentos: será que os professores polivalentes

estão preparados para ministrar as aulas de Educação Física no Ensino

Fundamental? Os cursos de Pedagogia instrumentalizam o pedagogo com vistas

ao desenvolvimento de uma disciplina que requer não apenas conteúdos teóricos,

mas práticos, e que atendam ao crescimento e desenvolvimento da criança? A

disciplina está inserida na matriz curricular do curso de Pedagogia? Os

pedagogos se sentem preparados para o exercício dessa disciplina?

O termo “preparado” não é, especificamente, achar que pode dar conta, ou

melhor, não ter medo de desenvolver as atividades para e com os alunos; é, sim,

saber realizar as atividades de tal forma que permita ao aluno compreender,

aprender e estimular seu desenvolvimento motor, sabendo ganhar e perder,

trabalhar cooperativamente. Esse professor não pode excluir os alunos, mas criar

metodologias para que todos participem, sabendo trabalhar a mistura de gênero e

buscando sempre fazer com que os alunos pratiquem as atividades com prazer e

não somente vencer a todo custo.

Para Pereira, Nista Piccolo e Santos (2009, p. 343):

Page 30: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

30

[...] A questão de “sentir-se preparado” não se refere apenas à autoconfiança do docente em relação às possíveis dificuldades para ministrar um componente curricular que foge às suas habilidades pedagógicas, mas à própria competência para esse exercício, que abarcaria os conhecimentos sobre o desenvolvimento da criança, seus interesses e necessidades, a compreensão da função e importância da Educação Física, não apenas para essas crianças, mas para todo o âmbito escolar, e a mobilização desses conhecimentos em ações pedagógicas durante as aulas.

O professor de Educação Física deve sempre estimular os alunos a

fazerem a prática de diferentes atividades motoras, atividades que os incitem a

andar, correr, saltar, pular, correr, engatinhar, rolar, rebater a bola, lançar a bola,

chutar a bola, “quicar” a bola, andar equilibrando em uma corda, saltar cones,

correr lateralmente entre os cones. Com isso, os alunos ficaram mais preparados

para sua vida no dia-a-dia.

Dessa forma, os professores deverão ministrar suas aulas direcionadas de

forma correta e adequada para cada idade, pois se trata de uma disciplina que

tem as suas sequências básicas de aprendizado, com o compromisso e a

competência de analisar as atividades tanto básicas (andar, correr, saltar, pular)

como as especificas (chute no futebol, cordada no vôlei).

É preciso ter um professor qualificado que saiba não apenas mandar os

alunos fazerem por fazer, e sim que saibam o valor e a importância com que cada

atividade vai influenciar a vida do aluno e suas funções para seu desenvolvimento

motor e também o processo psicomotor, afetivo, cognitivo do mesmo.

O professor se torna uma pessoa influente e significativa para a vida de

seus alunos por meio de suas experiências adquiridas durante o seu viver

cotidiano e de suas técnicas profissionais que se aprimoram no decorrer dos

anos. Assim, ele pode trabalhar o conhecimento com os seus alunos,

possibilitando-lhes ser um ser mais crítico e autônomo, pois os alunos baseiam-se

muito nas experiências dos seus professores, o que é confirmado por Amorim

Filho, Ramos (2010, p. 225).

Assim, o educador em sua atuação na escola não é neutro em sua relação com os alunos. Deste modo, seja em um diálogo, em uma instrução ou em uma crítica, ele articula em sua maneira de agir os costumes, as crenças nas quais ele acredita os valores que seus pais, na sua infância, lhe transmitiram (e que foram por eles reelaborados), além dos conceitos que foram apropriados por meio de suas relações sociais ao longo dos anos.

Page 31: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

31

1.3.4 A concepção de aprendizagem/desenvolvimento motor e sua relação

com a Educação Física

O processo de aprender envolve situações afetivas, sociais e biológicas,

que devem ser conhecidas pelo ensinante para que possa encontrar subsídios

nas teorias pedagógicas ou nos processos práticos para atingir o objetivo que é

levar à criança a apropriação do conhecimento com liberdade de pensamento

(BOLOGNESE, 2006).

Para Drouet (2002), a aprendizagem é um processo contínuo, gradual, em

que cada indivíduo tem seu ritmo, seja ele mais lento ou mais rápido, desde o seu

nascimento até o último dia de sua vida. E esse desenvolvimento depende da

herança genética de cada indivíduo, da maturação do seu sistema nervoso e de

seu esforço, interesse e envolvimento. Na medida em que vai se desenvolvendo,

está-se construindo e reconstruindo a aprendizagem diante das experiências

vividas, organizando novos esquemas ou ainda reorganizando conhecimentos já

existentes, num processo de estruturação cumulativa. Isto é, vão-se construindo

conhecimentos a partir dos já existentes, acrescentando ou subtraindo

informações a essa aprendizagem, criando novas estruturas de pensamento ou

esquemas.

Wadsworth (2003, p. 25) complementa esses conceitos ao dizer que “os

esquemas mudam continuamente, estes são nada menos que estruturas mentais

cognitivas pelas quais os indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam o

meio”. Quando a criança nasce, os esquemas são de natureza reflexa; na medida

em que se desenvolve, os esquemas tornam-se mais sensórios, mais numerosos,

tornando-se mais complexos e estando em constante processo de construção e

reconstrução. Esse processo chama-se assimilação e acomodação. Tais

esquemas refletem o nível de compreensão e conhecimento de mundo.

O desenvolvimento do aluno depende sempre das repetições dos

movimentos, pois a partir dos movimentos feitos de forma contínua, ele adquire

mais habilidade para determinados movimentos. Com isso, no decorrer da sua

infância vai aprendendo a andar, saltar, pular, correr, arremessar, pois quanto

maior for a repetição, maior será sua habilidade, mas requer longo tempo para

que essas práticas fiquem perfeitas.

Page 32: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

32

Silveira et al. (2013, p. 149) explicitam que:

A aprendizagem do movimento é, portanto, um processo complexo que requer longo tempo e quantidade de prática. Mas é exatamente por esse motivo que a possibilidade de sua efetiva implementação no contexto da educação escolarizada é colocada “em xeque”: como promover a melhoria da qualidade do movimento durante as aulas de Educação Física quando se considera a realidade do sistema de ensino quanto a dias e horas de aulas semanais, número de alunos por classe, espaços e materiais didáticos disponíveis?

Para que o aluno consiga adquirir, de forma mais rápida, determinado

movimento, ele precisa sempre estar repetindo o mesmo movimento várias vezes,

pois por meio da automação ele conseguirá fazer os movimentos de forma

perfeita. Nesse sentido, pode-se falar que a repetição de movimento ajuda os

alunos a executarem suas habilidades com mais desenvoltura. Por exemplo, um

aluno que vai aprender a jogar basquete, no início ele começa a “quicar” a bola,

olhando para ela; no decorrer dos dias já executa esse movimento sem olhar para

a bola, quer seja andando quer seja até mesmo correndo.

De acordo com o PCN (BRASIL, 1997a, p. 27)

Quanto mais uma criança tiver a oportunidade de saltar, girar ou dançar, mais esses movimentos tendem a ser realizados de forma automática. Menos atenção é necessária no controle de sua execução e essa demanda atencional pode dirigir-se para o aperfeiçoamento desses mesmos movimentos e no enfrentamento de outros desafios.

Essas afirmações relativas à repetição pura e automática dos movimentos

com vistas à sua realização é condição sine qua non para que sejam exercidos

corretamente. Para tal, os alunos devem ser estimulados desde a sua infância

para a execução dessas tarefas de forma correta, em que será de extrema

importância a qualificação ou preparação adequada de seu professor. Nota-se

que o estímulo ao desenvolvimento das atividades tem que ser feito de tal

maneira que o aluno sinta desejo de aprender e de exercitar-se nas aulas de

Educação Física.

A repetição dos movimentos não beneficia os alunos somente na escola, e

sim no seu dia-a-dia, pois os mesmos adquirirão habilidades que serão de

extrema importância para o decorrer de suas vidas, o que leva a inferir que a

escola e as aulas de Educação Física Escolar (EFE) contribuem para tal. De

Page 33: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

33

acordo com Silveira et al. (2013), a obtenção desse conhecimento na escola

autorizaria o aluno a transferi-lo para outras situações de prática fora da escola,

com melhoria de seu desempenho e qualidade do movimento.

1.3.5 A Educação Física Escolar segundo os Parâmetros Curriculares

Nacionais e a importância de um profissional qualificado

Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental rezam

que a EFE pode sistematizar situações de ensino e aprendizagem que garantam

aos alunos o acesso a conhecimentos práticos e conceituais. Para isso, é

necessário mudar a ênfase na aptidão física e no rendimento padronizado que

caracterizava a EF para uma concepção mais abrangente, que contemple todas

as dimensões envolvidas em cada prática corporal (BRASIL, 1997a).

Nessa perspectiva, é fundamental também que se faça clara distinção

entre os objetivos da EFE e os objetivos do esporte, da dança, da ginástica e da

luta profissionais, pois, embora seja uma referência, o profissionalismo não pode

ser a meta almejada pela escola. A EFE deve dar oportunidades a todos os

alunos para que desenvolvam suas potencialidades, de forma democrática e não

seletiva, visando ao seu aprimoramento como seres humanos (BRASIL, 1997b).

Segundo o Ministério da Educação (BRASIL, 1997a), fica estabelecido que

os alunos com deficiências físicas não podem ser privados das aulas de EF, uma

vez que, independentemente de qual seja o conteúdo escolhido, os processos de

ensino e aprendizagem devem considerar as características dos alunos em todas

as suas dimensões (cognitiva, corporal, afetiva, ética, estética, de relação

interpessoal e inserção social). Desse modo, é tarefa da EFE, portanto, garantir o

acesso dos alunos às práticas da cultura corporal, contribuir para a construção de

um estilo pessoal de exercê-las e oferecer instrumentos para que sejam capazes

de apreciá-las criticamente.

Destaca-se ser muito importante que o professor consiga trabalhar a

cultura corporal de movimento, pois a EF não se baseia apenas em futebol, vôlei,

basquete e handebol; deve-se trabalhar toda cultura corporal de movimento

(dança, jogos e brincadeiras, lutas, ginástica e esporte). Ao se trabalhar a dança,

há desenvolvimento de atividades rítmicas e expressivas; ao se trabalhar a luta,

está-se trabalhando e ajudando o aluno a ter equilíbrio de seu corpo e mente; por

Page 34: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

34

meio da ginástica, busca-se alcançar a flexibilidade para o aluno, no decorrer de

sua vida; o trabalho com jogos deve incluir tanto os alunos que possuem boa

técnica quanto aqueles que não a possuem. Por fim, no esporte, procura-se

passar as regras de forma correta para os alunos em aulas teóricas e aplicar as

atividades de forma lúdica, tendo em vista que por diversas vezes as regras do

esporte devem ser alteradas para se conseguir a inclusão dos alunos que,

porventura, não estejam acompanhando a turma.

Para mais esclarecimentos, o QUADRO 1 traz a diferenciação entre jogos

e esporte.

QUADRO 1 – Diferenças existentes entre esporte e jogos

ESPORTE X JOGOS

ESPORTE JOGOS

TEMPO Cronometrado / pontuado Vivenciados

REGRA Universais Construídas

ESPAÇO Uniformes Adaptados

MATÉRIAS Específicos Variados

NÚMERO DE PARTICIPANTES Imposição Modifica com a necessidade

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, o trabalho de Educação

Física nas séries iniciais do Ensino Fundamental é importante, pois possibilita aos

alunos terem, desde cedo, a oportunidade de desenvolver habilidades corporais e

de participar de atividades culturais, como: jogos, esportes, lutas, ginásticas e

danças, com a finalidade de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções

(BRASIL, 1997a).

1.3.6 Os benefícios da educação Física no Ensino Fundamental e a cultura

corporal de movimento

Para que as instituições de ensino possam zelar pela qualidade de suas

aulas, num primeiro momento necessitam realmente acreditar que a EFE deve ter

o mesmo grau de importância das demais disciplinas que compõem o ensino.

Nesse âmbito, os educadores, em geral, devem compreender a real contribuição

da EF para a formação dos jovens. Num segundo momento, contratar

profissionais que, além de se enquadrarem na proposta pedagógica da escola,

privilegiem uma educação física cujo movimento humano seja um meio de

crescimento e, não um fim em si mesmo (BETTI; ZULIANI, 2002).

Page 35: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

35

Para que a Educação Física contribua para a melhoria da nossa

sociedade, algumas ações devem ser privilegiadas:

a) Promover os seus beneficiários com o desenvolvimento de habilidades

motoras, atitudes, valores e conhecimentos, procurando levá-los a uma

participação ativa e voluntária em atividades físicas e esportivas ao longo

de suas vidas;

b) ser ministrada numa ambiência de alegria, em que as práticas corporais e

esportivas sejam prazerosas;

c) propiciar vivências e experiência de solidariedade, cooperação e

superação;

d) valorizar práticas esportivas, danças e jogos nos conteúdos dos seus

programas, inclusive as atividades que representam a tradição e a

pluralidade do patrimônio cultural do país e das suas regiões;

e) ser meio de desenvolvimento da cidadania nos beneficiários e de respeito

ao meio ambiente (BETTI; ZULIANI, 2002).

Outro aspecto relevante, de acordo com o Ministério da Educação

(BRASIL, 1997a), é a concepção de cultura corporal, que amplia a contribuição da

EFE para o pleno exercício da cidadania, na medida em que, tomando seus

conteúdos e as capacidades que se propõe a desenvolver como produtos

socioculturais, afirma como direito de todos o acesso a eles. Além disso, adota

uma perspectiva metodológica de ensino e aprendizagem que busca o

desenvolvimento da autonomia, a cooperação, a participação social e a afirmação

de valores e princípios democráticos.

Deixa-se claro que a EFE tem uma forma ampla de se trabalhar por meio

da cultura corporal de movimento. Com isso, os regentes de turma não precisam

ficar apenas nas aulas de futebol e queimada, tendo em vista que a cultura

corporal abrange vários setores da EFE, como os jogos, esportes, ginástica, luta e

dança, fazendo com que os alunos tenham extensa área de conhecimento sobre

esses conteúdos.

Mas, para tal, é indispensável que os professores de EF tenham

conhecimento de cada uma dessas dimensões para ensinar e possibilitar que

Page 36: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

36

seus alunos aprendam, de fato, acerca da importância de cada cultura de

movimento para sua vida .

Silveira et al. (2013, p. 149) citam que:

A compreensão de que a educação física escolar (EFE) tem por finalidade disseminar conhecimentos historicamente produzidos e sistematizados relativos à cultura de movimento, ou seja, o jogo, o esporte, a dança, a ginástica e o exercício, tem estado presente em muitas abordagens propostas ao longo das últimas décadas no nosso país.

O trabalho de EF abre espaço para que se aprofundem discussões

importantes sobre aspectos éticos e sociais. A EF permite que se vivenciem

diferentes práticas corporais advindas das mais diversas manifestações culturais

e se enxergue como essa variada combinação de influências está presente na

vida cotidiana.

As danças, esportes, lutas, jogos e ginásticas compõem um vasto

patrimônio cultural que deve ser valorizado, conhecido e desfrutado. Além disso,

esse conhecimento contribui para a adoção de uma postura não preconceituosa e

discriminatória diante das manifestações e expressões dos diferentes grupos

étnicos e sociais e das pessoas que dele fazem parte (BETTI; ZULIANI, 2002).

A prática da EF na escola poderá favorecer a autonomia dos alunos para

monitorar as próprias atividades, regulando o esforço, traçando metas,

conhecendo as potencialidades e limitações e sabendo distinguir situações de

trabalho corporal que podem ser prejudiciais.

Presume-se, portanto, que no âmbito da EF, os conhecimentos construídos

devem possibilitar a análise crítica dos valores sociais, tais como: a) os padrões

de beleza e saúde, que se tornaram dominantes na sociedade, seu papel como

instrumento de exclusão e discriminação social e a atuação dos meios de

comunicação em produzi-los, transmiti-los e impô-los; b) uma discussão sobre a

ética do esporte profissional, sobre a discriminação sexual e racial que existe

nele. Esses, entre outras coisas, podem favorecer a consideração da estética do

ponto de vista do bem-estar, as posturas não consumistas, não preconceituosas,

não discriminatórias e a consciência dos valores coerentes com a ética

democrática (BETTI; ZULIANI, 2002)

Page 37: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

37

1.3.7 A questão da formação cidadã pela Educação Física Escolar

De acordo com Betti e Zuliani (2002), a EFE, em conjunto com uma

concepção educacional, vê a formação da criança e do jovem como uma

educação integral, ou seja, o desenvolvimento da personalidade do aluno como

ser crítico e conhecedor das mais diversas formas de comunicação.

Para Galvão (2002), o professor deve dialogar constantemente com a

bagagem que os alunos já possuem, relacionando-a a seus conhecimentos e

ampliando-a, devendo direcioná-la para o meio sociocultural em que os alunos

vivem. Pois é o professor o elemento de ligação entre a escola, a sociedade e o

aluno.

Nessa perspectiva, para a formação social do aluno, não basta que este

trabalhe as habilidades físicas e táticas, mas que aprenda a se organizar

socialmente para praticar os esportes coletivos, compreender as regras, aprender

a respeitar seus adversários e seus companheiros, não os vendo como inimigos,

e sim como integrantes participativos e essenciais para que se possa realizar a

competição.

Nesse sentido, a EF deve levar seus alunos a:

a) Descobrir motivos e sentidos nas práticas corporais;

b) favorecer o desenvolvimento de atitudes positivas para com elas;

c) levar à aprendizagem de comportamentos adequados à sua prática;

d) conduzir ao conhecimento, à compreensão e análise de seu intelecto e dos

dados científicos e filosóficos relacionados à cultura de movimento;

e) dirigir sua vontade e sua emoção para a prática e a apreciação do corpo

em movimento.

Concordando com Betti e Zuliani (2002), afirma-se que a EF precisa ser

sistematizada e organizada para desenvolver uma aprendizagem significativa e

que esteja de acordo com a necessidade dos alunos. Segundo o PCN (BRASIL,

2001), a grade curricular da EF tem os seguintes referenciais como objetivos a

serem trabalhados no Ensino Fundamental:

Page 38: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

38

a) Compreender a cidadania como participação social e política, exercendo

seu direito e respeitando o do outro;

b) adotar postura crítica e transformadora nas diferentes situações sociais;

c) conhecer e valorizar a pluralidade sociocultural do país em que vive, sem

algum tipo de discriminação, seja ela social, cultural, de crença, sexo ou

outras características individuais ou coletivas;

d) desenvolver o conhecimento e o sentimento de confiança em suas

capacidades afetivas, físicas, cognitivas, éticas, estética, de inter-relação

pessoal e de inserção social para buscar conhecimento e exercer sua

cidadania;

e) conhecer e cuidar do próprio corpo;

f) utilizar diferentes formas de linguagem para se comunicar e se expressar.

g) saber ler e interpretar as diferentes fontes de informação.

h) questionar a realidade, a capacidade crítica para formular e resolver os

problemas.

Esses objetivos serão alcançados se se levar em consideração alguns

elementos estruturais como os espaços nas escolas para as aulas de EFE. Pode-

se afirmar que muitas escolas, em sua maioria da rede publica, não têm materiais

e até mesmo local específico para a prática das aulas, o que prejudica,

principalmente, o aluno e até mesmo a comunidade Questiona-se: como um

professor poderá ministrar as atividades para que o aluno adquira habilidades

motoras, sociais e outras se sequer tem espaço adequado e material apropriado

para tal?

Essa reflexão entra em acordo com que o Go (2013) descreve sobre a

precária infraestrutura, principalmente das escolas públicas localizadas na

periferia de diversas cidades e nas zonas rurais.

Em relação ao material didático para a prática de uma boa aula, após

estudo com professores de EF, Tani (2013) expressa que a falta de material

didático se encontra entre as principais dificuldades assinaladas pela maioria dos

professores de EF.

Esse contexto torna-se ainda mais perverso quando se tem o profissional

pedagogo ministrando aula de EF. Reconhece-se sua competência para outros

Page 39: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

39

conteúdos, mas fica a interrogação se sua formação o habilita para assumir a aula

de EF com vistas à formação do aluno, pois se sabe que sua formação não o

certifica para se tornar um profissional qualificado para atender aos objetivos da

PCN da EF e ainda lhe faltam espaço adequado e materiais condizentes para as

aulas.

As escolas deveriam dar toda estrutura ao aluno para que ele se torne uma

ser critico e consiga viver em plena harmonia com a sociedade, uma vez que se

torna uma pessoa autônoma no decorrer de sua formação e a EF ajuda bastante

nesse aspecto .

A escola é uma instituição criada, basicamente, para um fim específico: o de desenvolver uma parte muito importante da educação no sentido “lato”, que é a disseminação do conhecimento sistematizado e acumulado historicamente; conhecimento esse imprescindível para a formação de um cidadão crítico, autônomo e participativo (TANI, 2013, p, 509).

1.3.8 Como trabalhar a Educação Física no Ensino Fundamental com vistas

ao desenvolvimento local

Retornando à história da EF no Brasil, sabe-se que os primeiros

professores foram médicos, militares e/ou pedagogos. Inicialmente, o corpo era

visto restritamente biológico e seus objetivos eram aprimorar a raça pura

(eugenia), atribuir conceitos morais, disciplinares, criar hábitos de higiene,

preparar os homens para a guerra e trabalho, preparar as mulheres para o

trabalho doméstico e para a procriação. Nesse período, cabia aos médicos a

formação dos professores de EF (VAGO, 2002).

Conforme narra Vago (2002), com a difusão do esporte no mundo após a

Segunda Grande Guerra Mundial, o foco da Educação Física no Brasil muda.

Assim, o aprimoramento racial deixa de ser o interesse maior e a formação do

atleta passa a ser o novo objeto de desejo. Em paralelo, os governos realizaram

investimentos significativos no âmbito das Ciências do Esporte, fato que

contribuiu para a esportivização da EF brasileira. Com isso, as escolas seriam a

base da pirâmide esportiva no Brasil e deveriam elevar o nível da aptidão física da

população.

Situada institucionalmente, a EF é uma prática política ausente de qualquer

tipo de neutralidade científica e ideológica. A todo o momento reflete,

Page 40: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

40

conscientemente ou não, visões que simbolicamente foram criadas e estruturadas

para sustentar determinado modelo de sociedade. Contudo, tais visões, por sua

vez, favoreceram a presença das várias práticas existentes na realidade. Pode-se

citar como exemplo o caso de professores que, por inúmeros fatores, se limitam

diariamente a entregar a bola aos alunos e esperar o final da aula; ou aqueles que

concorrem com sua performance técnica para garantir um emprego em

academias porque ministram aulas de ginástica aeróbica (VAGO, 2002).

A EF é parte importante do currículo moderno da educação geral,

principalmente por contribuir na formação do desenvolvimento humano.

Compreende atividades físicas e todos os tipos de esportes destinados à melhoria

da postura, desenvolvimento físico e contribuição para uma boa saúde e o bem-

estar geral das pessoas. Também proporciona lazer e divertimento. Os currículos

de EF podem cobrir grande variedade de atividades: dança, natação, ginástica,

acampamento e dezenas de esportes como: arco-e-flecha, tênis, voleibol, futebol,

basquetebol, atletismo e outros (VAGO, 2002).

Segundo o Manifesto Mundial de Educação Física, conforme descrito no

artigo 6 da Federação Internacional de Educação Física (FIEP, 2000, p. 53.):

A Educação Física, pelas suas possibilidades de desenvolver a dimensão psicomotora das pessoas, principalmente nas crianças e adolescentes, conjuntamente com os domínios cognitivos e sociais, deve ser disciplina obrigatória nas escolas primárias e secundárias, devendo fazer parte de um currículo longitudinal.

Essa afirmação mostra que se os alunos fizerem todas as práticas

adequadamente relacionadas à psicomotricidade e trabalharem bem o processo

cognitivo, afetivo social, sob orientação de um profissional apto a ministrá-las, a

disciplina EF da Educação Infantil ao Ensino Fundamental I é fator coadjuvante

que os beneficiará ao longo de sua vida.

Uma das metas da EF, no momento atual, é promover a autonomia dos

grupos e, no jogo, valorizar o universo da cultura lúdica. A cooperação, a inclusão

social, a participação de todos, a criatividade e a diversidade cultural,

aprendizagem e lazer, prazer e qualidade de vida são temas que estão sendo

discutidos Nas novas abordagens da EF. Sabe-se, porém, que nossa cultura

educacional está em um momento de ebulição teórica, com diversas propostas.

Page 41: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

41

Contudo, o que realmente importa é que o professor esteja aberto às mudanças e

que tenha a coragem de vivenciá-las juntamente com seus alunos (VAGO, 2002).

Ressalta-se que as aulas de EF na escola são consideradas de muita

importância para todos os segmentos e sua importância foi atribuída ao fato de a

mesma promover o desenvolvimento integral do aluno, a socialização, a vida

saudável, espírito de equipe, distração, relaxamento e prática de esportes.

Falkenbach (2002) entende o esporte como um meio prático e eficiente de

contribuir na educação das crianças e dos jovens. A ideia de jogar com e não

contra se desenvolve nas aulas de EF e permite entender os colegas que

participam como verdadeiros "colegas". Não é necessário o espírito de guerra que

Santin (1995) assinala existir nas atividades esportivas competitivas e de

rendimento, com vistas a que sejam envolventes e cheias de emoção. Nessa

perspectiva, os jogos, com um sentido recreativo e cooperativo, são os que mais

se adaptam ao espaço físico e às finalidades educacionais (FALKENBACH,

2002).

No entendimento de Falkenbach (2002), nas aulas de EF o que os alunos

preferem é o esporte, com grande importância para o jogo; pois é por ele e por

meio dele que a criança constrói a sua personalidade, internaliza e edifica os

conceitos de certo e errado, melhor e pior, ganhar e perder, entre as demais

regras que fazem parte do contexto sociocultural.

Dando continuidade ao seu pensamento, Falkenbach (2002) também

reconhece o esporte como um meio prático e eficiente de contribuir na educação

das crianças e dos jovens. Pode-se afirmar essa condição a partir da simples

evidência de que a via corporal é uma via de aprendizagem e registros de

vivências. São especificamente essas vivências concretas que auxiliam as

crianças na estruturação da forma de ser "pessoa". No entanto, essa forma de ser

só poderá evidenciar-se em um ambiente que se caracterizar menos por seus

aspectos de rendimento, desempenho, competitividade, habilidades em

fundamentos e vitórias e mais pelos aspectos sociabilizadores, afetivos,

relacionais e humanizadores.

Nas escolas, os professores precisam analisar como trabalhar o esporte

em si, pois este busca sempre o rendimento e o desempenho do atleta, e dentro

da escola não se deve dar essa conotação, permitindo que só os melhores alunos

Page 42: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

42

participem das aulas. O esporte de rendimento, no espaço escolar, é algo que

não pode acontecer no horário de aula, e sim em horário após aulas, quando

deve acontecer a formação de atletas.

De acordo com Tani (2013), as atividades curriculares desportivas

intencionam construir relações interpessoais e da cidadania. Devem acontecer em

horários diferentes daqueles das aulas curriculares de EF, devendo os alunos ser

divididos por categoria, modalidade e gênero.

É papel das escolas trabalhar o esporte de tal forma que ele se torne uma

atividade lúdica como o jogo em que se trabalha a cooperação, inclusão, mistura

de gênero e visa sempre ao bem-estar do outro, e não trazendo embutida a ideia

de apenas vencer a todo custo. Isso porque o esporte, na sua maioria, visa muito

ao rendimento e nessa linha de pensar exclui os alunos não hábeis de uma boa

técnica esportiva, em que só os melhores jogam e ficam de fora aqueles que

muitas das vezes querem jogar, mas não podem ou têm vergonha devido à sua

técnica não ser apropriada (Tani, 2013).

Nada obstante, as boas aprendizagens são aquelas que permitem ampla

possibilidade de agregar novas aprendizagens, ampliando uma capacidade inicial.

A ação de praticar esportes, brincar e participar das aulas com grupos mistos

significa uma mudança de comportamento. A prática no grupo consente aos

participantes perceberem-se como uma unidade que é composta pelas

diferenças, bem como aprenderem na troca que estabelecem. A escola é o lugar

de desenvolver a EF, que provoca as trocas e as aprendizagens entre as

pessoas. A EF é responsável pelo aprendizado das relações entre as pessoas, o

que se dá via corporal (FALKENBACH, 2002).

Por isso, esses critérios são comumente usados na EF para a atribuição do

conceito. Todavia, isso torna a avaliação pouco transparente ao aluno, à

comunidade escolar e ao próprio professor, se este não efetuar uma reflexão

crítica sobre os processos de mediação, já referidos, que ocorrem na avaliação.

Ser capaz dessa reflexão é talvez mais importante do que dominar instrumentos

técnicos de medida sofisticados, porém, no mais das vezes, irrealizáveis na

prática.

E, ainda, certa formalidade pode ser agregada a esses critérios mediante a

utilização de fichas de observação ou anotações assistemáticas. Uma nova

Page 43: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

43

concepção de EF, baseada no conceito de cultura corporal de movimento, exige,

contudo, melhoria de qualidade dos procedimentos de avaliação. Isso inclui a

avaliação da dimensão cognitiva, pouco considerada até aqui pela EF, e uma

explicitação e diferenciação dos aspectos a serem considerados para a atribuição

de conceitos aos alunos e dos que serão úteis para a autoavaliação do professor

e do próprio ensino.

Assim, na atribuição de conceitos aos alunos, recomenda-se, de acordo

com Betti e Zuliani (2002, p. 79):

• A avaliação deve ser contínua, compreendendo as fases que se convencionou denominar diagnóstica ou inicial, formativa e somativa;

• a avaliação deve englobar os domínios cognitivo, afetivo ou emocional, social e motor;

• a avaliação deve referir-se às habilidades motoras básicas, ao jogo, esporte, dança, ginásticas e práticas de aptidão física;

• a avaliação deve referir-se à qualidade dos movimentos apresentados pelo aluno e aos conhecimentos a ele relacionados;

• a avaliação deve referir-se aos conhecimentos científicos relacionados à prática das atividades corporais de movimento.

• a avaliação deve levar em conta os objetivos específicos propostos pelo programa de ensino.

• a avaliação deve operacionalizar-se na aferição da capacidade do aluno expressar-se, pela linguagem escrita e falada, sobre a sistematização dos conhecimentos relativos à cultura corporal de movimento, e da sua capacidade de movimentar-se nas formas elaboradas por essa cultura.

O principal objetivo da EF é desenvolver as potencialidades de cada um,

mas nunca de forma seletiva, e sim incluindo todos os alunos nas atividades e

incentivando-os à prática das mesmas. Os alunos devem acreditar que a aula tem

a mesma importância que as outras disciplinas e são cheias de conhecimentos,

que poderão trazer muitos benefícios se inseridos no seu cotidiano.

As aulas devem ser dinâmicas, criativas e interessantes para que o aluno

se sinta motivado a participar. O campo é amplo e o professor precisa ser

comprometido com o seu fazer, ser responsável, ter seriedade e criatividade, uma

vez que o trabalho bem feito estimula tanto o aluno quanto o professor na

realização da atividade proposta e pode-se incluir, também, a comunidade

escolar.

Nesse sentido, comporta trazer os dizeres de Caramelo e Correia (2001, p.

88):

Page 44: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

44

O reconhecimento da comunidade como um "recurso" pertinente para assegurar o êxito de uma ação educativa ocupada na qualificação dos indivíduos é, por vezes, apresentado como uma distinção dos projetos de desenvolvimento local em educação. Ora, num contexto onde a globalização do mercado contribui para a desagregação das comunidades, o desenvolvimento local tem de se pensar também na sua contribuição para a recriação das comunidades, ou seja, para o estabelecimento de redes de relações densas que são qualificantes tanto dos indivíduos como das comunidades.

A educação em torno do desenvolvimento local está diretamente

relacionada às pessoas que têm voz ativa, autoestima e ideias que possibilitem

mudar a sua comunidade, a sua região. Com isso, as pessoas precisam ter

autonomia e capacidade para se unirem, construírem redes inter-relacionais e de

trocas contínuas, buscando sempre a melhoria da escola e, consequentemente,

de todos que compõem a comunidade escolar, tanto individual quanto

coletivamente.

Para Dowbor (2006, p. 1):

[...] ser donos da nossa própria transformação econômica e social, de que o desenvolvimento não se espera, mas se faz, constitui uma das mudanças mais profundas que está ocorrendo no país. Tira-nos da atitude de espectadores críticos de um governo sempre insuficiente ou do pessimismo passivo. Devolve ao cidadão a compreensão de que pode tomar o seu destino em suas mãos, conquanto haja uma dinâmica social local que facilite o processo, gerando sinergia entre diversos esforços.

Uma das possibilidades, neste momento delineada, é o que se pode fazer

em relação ao desenvolvimento local e à educação na EF: abrir as escolas nos

finais de semanas para benefício da população, para que, por meio de diálogos e

debates, possam ser solucionados possíveis problemas que acontecem ou

aconteceram na escola, no bairro e/ou na região e também usando a área

poliesportiva para prática de jogos e recreação das crianças e da própria

população. Acredita-se que, dessa forma, a população criará vínculos com sua

escola e se constituirá em sujeitos participantes ativos dela.

Para Dowbor (2006, p. 14), em termos bem práticos, a sugestão é que um

conselho municipal de educação organize essas atividades em quatro linhas:

Montar um núcleo de apoio e desenvolvimento da iniciativa de inserção da realidade local nas atividades escolares;

Page 45: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

45

organizar parcerias com os diversos atores locais passíveis de contribuir com o processo;

organizar ou desenvolver o conhecimento da realidade local, aproveitando a contribuição dos atores sociais do local e da região;

organizar a inserção deste conhecimento no currículo e diversas atividades da escola e da comunidade.

Percebe-se que a comunidade é peça fundamental para o desenvolvimento

local e sua inserção na escola poderá contribuir, sobremaneira, para a educação

de forma geral e a disciplina de EF, conferindo-lhe o valor que possui e os

benefícios que traz para o ser humano nas dimensões biológicas, sociais,

culturais e de lazer.

Registra-se, mais uma vez, que nos finais de semana a escola, abrindo

para a comunidade, contribuirá não apenas para as pessoas se movimentarem e

fazerem práticas esportivas, mas se sentirem pertencentes à comunidade escolar.

Com isso, se sentirão corresponsáveis para o crescimento da escola, dos filhos e

de si próprios.

1.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os textos analisados e que compõem o referencial teórico assinalam a

trajetória histórica da evolução da disciplina EF no ensino brasileiro. Mostram que

as aulas de EF se constituem em um processo social importante para a

socialização dos indivíduos, agregando valores e potencializando a cultura local e

o desenvolvimento do mesmo. Além disso, possibilitam a construção de relações

sociais que estimulem a formação e o exercício da cidadania em um espaço de

convivência social, em que se propõem à construção de conhecimentos, tornando

possíveis altos níveis de participação social dos alunos. Isso se deu com a

evolução da EF, que sofreu influências médicas e militares que intervinham no

funcionamento e no desenvolvimento do corpo para as necessidades da função.

Hoje se deve trabalhar com grande ênfase a cultura corporal de movimento

que se processa por meio de danças, esporte, jogos, lutas e ginástica de uma

forma totalmente lúdica e inclusiva para os alunos, porque a EF não é uma

disciplina ligada apenas ao brincar - ela é importante para o desenvolvimento

integral do aluno.

Page 46: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

46

Essa evolução permitiu pensar a importância que têm os profissionais de

EF na vida do aluno e conscientizar-se do poder de socialização das atividades

lúdicas e inclusivas. Destaca-se que a atuação deve ser respaldada pelo princípio

da responsabilidade social, cuja prática inclusiva é reconhecida como canal de

socialização e de inclusão social.

O professor graduado em EF oferece as adequadas técnicas que vão

ajudar no desenvolvimento da dimensão psicomotora concomitantemente com os

domínios cognitivos, afetivos e sociais. As atividades lúdicas e inclusivas

contribuem no processo inicial de mudança significativa na vida dos alunos. É

uma aula inclusiva, o que afirma sua relevância, considerando-se seus objetivos

de prevenção à criminalidade, acesso ao esporte, circulação dos jovens, inserção

social, cidadania e formação profissional de caráter transformador, que permite

aos alunos o trabalho em cooperação um com o outro e não um contra o outro.

A realidade atual mostra que, ao terem que ministrar as aulas de EF do

ensino infantil até o ensino Fundamental I, os pedagogos precisam se apropriar

de conceitos imprescindíveis para a aproximação teórica e prática na vida

cotidiana de docência. E diante das diversas dificuldades encontradas quanto ao

conhecimento teórico e prático, a desmotivação para as aulas se impõe, gerando

insatisfação e perda para ambos: pedagogos e alunos. Essa situação deixa cada

vez mais longe as possibilidades de adaptação em diversas situações e risco para

o aluno e também para o professor que não detém a técnica correta. Isso alerta

todos para a necessidade de refletir sobre a qual profissional compete dar aulas

de EF. Caso não seja possível ser o professor graduado em EF, que ao menos as

instituições educativas ofereçam estruturas e oportunidades aos pedagogos, com

aulas que lhes deem base para ministrarem essas aulas, mesmo reconhecendo

que deveriam ser da competência do professor formado em Educação Física.

Page 47: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

47

REFERÊNCIAS

AMORIM FILHO, M.L.; RAMOS, G.N.S. Trajetória de vida e construção dos saberes de professoras de educação física. Revista Brasileira Educação Física do Esporte (Impr.) [online], v. 24, n. 2, p. 223-238, 2010. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2010. BETTI, M. Educação Física como prática cientifica e prática pedagógica: reflexão à luz da filosofia da ciência. Revista Brasileira Educação Física do Esporte. v. 19, n. 3, p. 188, 2005. BETTI, M.; ZULIANI, L.R. Educação Física escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. i, n. 1, p. 73-81, 2002. BOLOGNESE, F.A. A construção do conhecimento lógico-matemático: aspectos afetivos e cognitivos. 2006. Disponível em: http://www.psicopedagogia. com.br/new1_artigo.asp?entrid=845#.uz9meqhduxc. Acesso em: 1o de fev. 2013. BRAID, L.M.C. Educação Física na escola: uma proposta de renovação. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, v. 16, n. 1-2, p. 54-58, 2003. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CP 5, 13.12.2005. Brasília, 2005. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/SEF, 1997a. BRASIL. Educação Física: Concepção e importância social. In: BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. 2. ed., Rio de Janeiro: DP&A, 1997b. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. 3. ed., Brasília: Ministério da Educação, A Secretaria, 2001. CARAMELO, J.; CORREIA, J.A. Educação e desenvolvimento local: linhas gerais para um programa de reflexão. Aprender, n. 24, p. 88-89, 2001. CASTELLANI FILHO, L. Educação Física no Brasil: a História que não se conta. 15. ed., Campinas-SP: Papirus, 2008. DAOLIO, J. Educação Física e o conceito de cultura. Campinas, SP: Autores Associados, 2004. DOWBOR, L. Educação e desenvolvimento local: editora 3, abril 2006.

Page 48: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

48

DROUET, R.C.R. Aprendizagem: conceitos básicos. In: DROUET, R.C.R., Distúrbio da aprendizagem. 4. ed., São Paulo-SP: Ática, 2002. FALKENBACH, A.P. A Educação Física na escola: uma experiência como professor. Lajeado, UNIVATES, 2002. FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA. FIEP. Manifesto Mundial da Educação Física. Foz do Iguaçu: FIEP, 2000. FERRAZ, O.L.; CORREIA, W.R. Teorias curriculares, perspectivas teóricas em Educação Física Escolar e implicações para a formação docente. Revista Brasileira Educação Física do Esporte [online], v. 26, n. 3, p. 531-540, 2012. GALVÃO, Z. Educação física escolar: a prática do bom professor. Revista Mackenzie, São Paulo, v. l, n. l, p. 65-72, 2002. GIL, A.C. Métodos e técnicas em pesquisa social. 6 ed., São Paulo: Atlas, 2010. Tani, Go. O ensino de habilidades motoras esportivas na escola e o esporte de alto rendimento: discurso, realidade e possibilidades. Revista Bras Educ Fís Esporte, São Paulo, v.27, n.3, p. 507-518, 2013. MUÑOZ PALAFOX, G.H. et al. Educação Física escolar: conceito e fundamentos filosófico-pedagógicos para o PCTP/EF. Universidade Federal de Uberlândia. Núcleo de Estudos em Planejamento e Metodologias do Ensino da Cultura Corporal - Nepecc/UFU, s/d (digitalizado), s.d. OLIVEIRA, M.G. Da Educação Física à cinesiologia humana. Movimentar-se, ano 3, n. 2, 2006. PEREIRA, R.S.; NISTA PICCOLO, V.L.; SANTOS, S.A.P. A Educação Física nas séries da fase inicial do ensino fundamental: olhar do professor polivalente. R. da Educação Física/UEM. v. 20, n. 3, P. p. 343-352, 2009. RODRIGUES JÚNIOR, J.C.; SILVA, C.L. A significação nas aulas de Educação Física: encontro e confronto dos diferentes "subúrbios" de conhecimento. Pro-Posições [online], v. 19, n. 1, p. 159-172, 2008. SANTIN, S. Educação Física, ética, estética, saúde. Porto Alegre: EST, 1995. SANTIN, S. Educação Física, uma abordagem filosófica da corporeidade. Ijuí: Unijuí, 1987. SILVEIRA, S.R. et al. Aquisição da habilidade motora rebater na Educação Física escolar: um estudo das dicas de aprendizagem como conteúdo de ensino. Rev Bras Educ Fís Esporte [online], v. 27, n. 1, p. 149-157, 2013.

Page 49: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

49

VAGO, T.M. Cultura escolar, cultivo de corpos: educação physica e gymnastica como práticas constitutivas de corpos de crianças no ensino público primário de Belo Horizonte (1906-1920). Bragança Paulista-SP: Universidade São Francisco, v. l, p. 340, 2002. VALENTE, E.F.; ALMEIDA FILHO, J.M. História da Educação Física, esporte, dança e lazer. In: DACOSTA, L. (org.). Atlas do esporte no Brasil. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006. WADSWORTH, B.J. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget.

5. ed., São Paulo: Pioneira Thomsom Learning, 2003

Page 50: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

50

2 A VISÃO DO PEDAGOGO NA FUNÇÃO DE EDUCADOES

FÍSICOS NO ENSINO FUNDAMENTAL I

Weslley Moreira Saraiva14

Matilde Meire Miranda Cadete25

RESUMO Este estudo objetivou analisar a visão que os pedagogos docentes de Educação Física têm a respeito de sua atuação como docente dessa disciplina. A opção metodológica pela pesquisa qualitativa integrou cinco pedagogos de três escolas da rede pública e privada de Contagem e Belo Horizonte. Em campo, os dados foram coletados por meio da entrevista semiestruturada e da observação sistemática, posteriormente analisadas com base em Bardin. Dos depoimentos emergiram seis categorias: “de pedagogo a professor de Educação Física”; “sentir-se preparada para dar aula de EF”; “trabalhando o corpo”; inclusão do aluno”; “formação do pedagogo para ministrar aulas de EF” e “as escolas oferecem materiais adequados para as aulas de EF”. A observação sistemática revelou que há um descompasso entre o que é previsto para o desenvolvimento correto de uma aula de Educação Física e sua concretização. A falta de capacitação teórica e prática deixou os sujeitos desmotivados, insatisfeitos e sem a execução de atividades que atendam às dimensões afetivas, sociais, cognitivas e à cultura corporal dos alunos. É imperativo que as escolas ofereçam cursos que apoiem e capacitem seus docentes. Palavras-chave: Educação Física. Educação. Pedagogos.

1 Mestrando do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. 1

Mestrando do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. 2 Orientadora e Professora Doutora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA.

Page 51: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

51

ABSTRACT

This study aimed to analyze Physical Education's pedagogues and teacher view

about their performance as teachers of this subject.The methodological option of

qualitative research gained five educators from three schools of Belo Horizonte

and Contagem public and private education network. In the fieldwork, data were

collected through semi-structured interview and systematic observation, then,

analyzed based on Bardin. Six categories emerged from the testimonials: “From

educator to Physical Education teacher”, “Feeling prepared to teach PE classes”,

“Body working”, “Educators training to teach pe classes", "Students inclusion” and

"Shcool offer of suitable material to tech pe classes". Systematic observation

showed that there is a difference between what is predicted to the correct PE

classes's development and its concretization. The lack of theoretical and practical

capacitation left the subjects unmotivated, unsatisfied and without the execution of

activities that attend the affective, social, cognitive dimensions and to the student's

body culture . It's imperative the school's offer of courses that support and

empower their teachers.

Keywords: Physical Educatio. Education. Pedagogues.

Page 52: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

52

2.1 INTRODUÇÃO

A experiência de atuar como professor de Educação Física em cursos de

graduação em Pedagogia mostrou-se uma experiência rica do ponto de vista de

busca constante de aprimoramento intelectual e afetivo e, contraditoriamente,

preocupante na medida em que revelou um cenário desafiante e desafiador para

futuros pedagogos que podem assumir a docência de Educação Física nas

escolas infantis.

Essa preocupação incide no fato de que o número de aulas disponíveis nos

cursos de graduação não é suficiente para o preparo de pedagogos em relação

ao conhecimento de funções essenciais da Educação Física, da cultura do corpo

e, principalmente, por não realizarem aulas práticas associadas ao conteúdo

estudado. Assim, não é lhes favorecido possuir técnicas necessárias e,

possivelmente, mantém-se arraigada a visão que se construiu a respeito das

aulas de EF: brincar, correr e jogar sem vinculação com elementos teóricos

básicos que os sustentam. Essa situação ocasiona para os alunos a falta de

atividades adequadas que irão ajudá-los ao longo de suas vidas.

Dessa forma, pelo perfil exigido para ser professor de Educação Física, o

desejável é que os próprios educadores físicos ministrem as aulas ou, não

havendo condições para que sejam eles, que os pedagogos tenham melhor

formação na graduação e que procurem sempre se atualizar para melhoria de

suas aulas. Considera-se que o desconhecimento seja um problema a ser

analisado e solucionado com vistas a contribuir de forma significativa para a

obtenção de melhores resultados para os alunos nas aulas.

O curso de Pedagogia deve estimular seus alunos a terem boa preparação

para trabalhar com crianças, uma vez que as aulas de Educação Física são

importantes para integrar os alunos e têm finalidade de lazer, de expressão de

sentimentos, melhoria das condições e de qualidade de vida, socialização e

cognição. É do Ensino Fundamental que o aluno guardará as lembranças

positivas e negativas vividas na sua fase de infância. Essas lembranças poderão

marcar suas vidas positiva ou negativamente.

Destaca-se que a Educação Física é muito importante nas séries iniciais,

uma vez que nessa fase da vida a criança começa a trabalhar a ludicidade, o

Page 53: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

53

desenvolvimento motor, a lateralidade, o ato de perder e ganhar e,

principalmente, a cultura corporal de movimento.

Portanto, o conhecimento dos profissionais de Educação Física é

importante para o desenvolvimento dos alunos, pois os professores conhecem as

técnicas necessárias para estimular os alunos nas atividades de andar, correr,

saltar, pular, girar, engatinhar, “quicar” a bolar, arremessar e receber. E os

educadores físicos têm sempre boa interação com os alunos, fator determinante

para que ocorram transformações significativas em suas vidas.

Sabe-se, também, que um dos componentes do Projeto Político do Curso

de Graduação em Pedagogia é a Educação Física. De acordo com as Diretrizes

de Bases (BRASIL, 2005), o egresso do curso de Pedagogia deverá estar apto a

ensinar diferentes linguagens, incluindo a Educação Física, ofertada às

diferentes fases do desenvolvimento humano.

A EF é, portanto, importante para o desenvolvimento individual e coletivo

do sujeito, mas parece não receber o devido valor que lhe cabe por algumas

instituições de ensino, uma vez que diversas escolas não lhe conferem a

seriedade e valoração que as outras disciplinas do projeto pedagógico recebem.

A Educação Física é um componente curricular da educação básica e a Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBBEN) estabelece que essa

disciplina é um componente curricular obrigatório (BRASIL, 1996; 2001a).

Contudo, esta lei não determina qual a formação dos profissionais que podem

prover aulas de Educação Física em séries do Ensino Fundamental I, isto é, se

são professores graduados no curso de Educação Física ou professores regentes

de turma com outra graduação.

A partir dessa exposição questiona-se: os regentes de turma possuem

formação e/ou capacitação adequadas para ministrarem a disciplina de Educação

Física? Os regentes de turma conhecem e se preocupam em oferecer atividades

que trabalhem e estimulem o desenvolvimento motor das crianças de forma

correta? Qual a visão que possuem em relação à atuação em aulas de Educação

Física?

Com isso, este estudo objetivou analisar a visão que os pedagogos

docentes de Educação Física têm a respeito de sua atuação como docente dessa

disciplina.

Page 54: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

54

2.2 REVISÃO TEÓRICA

Este capítulo inicia-se com os dizeres do Parecer do Conselho Nacional de

Educação-Conselho Pleno (CNE/CP), das Diretrizes Curriculares Nacionais para

o Curso de Pedagogia:

[...] alguns críticos do curso de Pedagogia e das licenciaturas em geral, entre eles docentes sem ou com pouca experiência em trabalho nos anos iniciais de escolarização, entretanto, responsáveis por disciplinas “fundamentais” destes cursos, entendiam que a prática teria menor valor. Ponderavam que estudar processos educativos, entender e manejar métodos de ensino, avaliar, elaborar e executar planos e projetos, selecionar conteúdos, avaliar e elaborar materiais didáticos eram ações menores (BRASIL, 2005, p. 4).

Como pensar e entender a prática como de menor valor? O intelectual se

faz apenas pela teorização? A teoria não alimenta a prática, e vice-versa? Manter

essa concepção ultrapassada de que o pensar é mais importante do que fazer

não cabe nos tempos atuais. O conhecimento é dinâmico e se torna antiquado em

tempo recorde. Como educadores, não se concebe a ideia de que ainda se tem

na academia “professores pensadores” que mantêm essa visão.

Nesse sentido, o curso de Pedagogia deve estimular seus docentes à

compreensão do processo que articula teoria e prática, pensar e fazer,

preparando-os para trabalhar com crianças, em todas as disciplinas, entendendo-

as como de igual valor.

É do Ensino Fundamental que o aluno guardará as lembranças positivas e

negativas vividas na sua fase de infância. Essas lembranças (decepções e

alegrias) poderão marcar a vida dos alunos, pois se eles sentirem medo de uma

bola após tomarem uma bolada, se forem humilhados pelos colegas ao errarem

uma atividade, se não conseguirem fazer um exercício e o professor não

estimulá-los a fazerem, adquirirão trauma daquela atividade. Isso tudo será muito

bem assessorado se a escola no curso de graduação tiver um Projeto Político

Pedagógico.

O conhecimento do Projeto Político Pedagógico de cada curso de

graduação em Pedagogia torna-se fundamental, tendo em vista que este pode

variar de instituição para instituição de acordo com a filosofia institucional. Essa

alegação é descrita nas DCNs do curso de Pedagogia:

Page 55: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

55

[...] o projeto pedagógico de cada instituição deverá circunscrever áreas ou modalidades de ensino que proporcionem aprofundamento de estudos, sempre a partir da formação comum da docência na Educação Básica e com objetivos próprios do curso de Pedagogia. Consequentemente, dependendo das necessidades e interesses locais e regionais, neste curso poderão ser, especialmente, aprofundadas questões que devem estar presentes na formação de todos os educadores [...] (BRASIL, 2005, p. 10).

Essas diretrizes estão postas no documento, mas se concretizam no

cotidiano escolar?

Pereira, Nista Piccolo e Santos (2009, p. 343) afirmam que as crianças de

seis a 10 anos de idade têm necessidades e muita predisposição a se

movimentarem. Com isso, os professores que proverem essas aulas têm que

conhecer acerca da importância de sua função como educador para com a vida

do aluno.

O professor tem que saber estimular seus alunos em cada exercício

próprio para sua idade. Com isso, os mesmos irão aumentando suas capacidades

autônomas. O curso de Pedagogia tem que dar boa estrutura a seus discentes,

para quando chegar a hora de ministrar essa disciplina - EF -, terem ao menos

uma noção.

Dessa forma, o curso de Pedagogia deve primar pela capacitação de seus

docentes a fim de que possam trabalhar efetivamente com as crianças,

imprimindo às aulas de Educação Física a importância que lhes cabe. Cabe trazer

à tona o que dizem as DCNs de Educação Física (BRASIL, 1997a, p. 13):

[...] para boa parte das pessoas que frequentaram a escola, a lembrança das aulas de Educação Física é marcante: para alguns, uma experiência prazerosa, de sucesso, de muitas vitórias; para outros, uma memória amarga, de sensação de incompetência, de falta de jeito, de medo de errar [...].

Diante dessa conjuntura, ressalta-se a importância da disciplina Educação

Física no curso de graduação em Pedagogia, uma vez que a mesma busca

compreender, cuidar e educar crianças de forma a contribuir para o seu

desenvolvimento nas dimensões física, psicológica, intelectual, social, entre

outras.

Page 56: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

56

Muitos professores não sabem o valor de se trabalhar a cultura corporal de

movimento com os alunos, só querem deixá-los livres sem comando ou mesmo

entregarem uma bola ou joguinhos e sentarem na quadra.

No que diz respeito à cultura corporal de movimento na Educação Física,

compete-lhe trabalhar as cinco partes principais que irão ajudar o aluno em sua

vida. São elas: dança, esporte, ginástica, lutas e jogos e brincadeiras. Soma-se,

ainda, o fato de que os professores deverão estar preparados para

desenvolverem atividades com seus alunos de forma lúdica e inclusiva.

Os PCNs de Educação Física exemplificam esses dizeres ao ressaltar que

o trabalho de Educação Física, nas séries iniciais do Ensino Fundamental,

permite que os alunos tenham, “desde cedo, a oportunidade de desenvolver

habilidades corporais e de participar de atividades culturais, como jogos, esportes,

lutas, ginásticas e danças, com finalidades de lazer, expressão de sentimentos,

afetos e emoções” (BRASIL, 1997a, p. 15).

Deixa-se claro que a Educação Física Escolar (EFE) tem uma forma ampla

de se trabalhar por meio da cultura corporal de movimento. Com isso, os regentes

de turma não precisam ficar apenas nas aulas de futebol e queimada, tendo em

vista que a cultura corporal abrange vários setores da EFE, como os jogos,

esportes, ginástica, luta e dança, fazendo com que os alunos tenham extensa

área de conhecimento sobre esses conteúdos.

Desse modo, é tarefa da EFE, portanto, garantir o acesso dos alunos às

práticas da cultura corporal, contribuir para a construção de um estilo pessoal de

exercê-las e oferecer instrumentos para que sejam capazes de apreciá-las

criticamente.

Hoje as nossas crianças não brincam mais como antigamente, pois alguns

anos atrás era possível vê-las nas ruas até tarde brincando a de pegador,

queimada, rouba-bandeira, amarelinha, elástico e hoje, infelizmente, não se

observa isso.

Sabe-se que as novas tecnologias trouxeram muitos benefícios para a

humanidade. Hoje em dia as crianças preferem ficar horas na internet e no

playstation a fazer uma atividade física, como brincar de esconde-esconde, pular

corda, jogar amarelinha, entre outras. As consequências dessa postura são o

sedentarismo e uma função motora comprometida, o que desencadeia a

Page 57: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

57

obesidade infantil. Observa-se que muitas crianças do Ensino Fundamental têm

como única atividade física as propostas nas aulas de Educação Física. Essa

realidade assinala para a importância dessa disciplina e a preparação do

profissional que irá ministrá-la.

Retornando ao PCN da Educação Física, nele se encontra descrito que o

aluno do Ensino Fundamental I tem que sair sabendo, no final do primeiro ciclo, o

mínimo de atividades possíveis, como: compartilhar de distintas atividades

corporais, com “atitude cooperativa e solidária, sem discriminar os colegas pelo

desempenho ou por razões sociais, físicas, sexuais ou culturais e conhecer e

valorizar as diferentes manifestações de cultura corporal presentes no cotidiano”

(BRASIL, 1997a, p. 46).

Os pedagogos sentem-se capacitados para aulas de EF que atendam às

atividades citadas nas PCNs da EF? Pode-se, assim, ponderar, após essas

observações, que um professor tem que estar qualificado para ministrar aulas de

Educação Física e os docentes do curso de Pedagogia têm que realizar,

minimamente, as técnicas necessárias para que seus alunos consigam fazer as

aulas de Educação Física assessorados de forma correta.

Moreira (2012, p. 78) entende que a Educação Física trabalhada, seja

como disciplina curricular, seja como área de conhecimento, deve:

[...] para além do trabalho específico com a cultura corporal de movimento, trabalhar, primeiramente, no sentido da formação humana, e formar a criança como sujeito social e histórico que está em constante desenvolvimento, construindo seus valores, crenças e concepções.

Para o senso comum, a Educação Física é vista como um conjunto de

exercícios que tem por objetivo libertar todas as energias do corpo humano,

coordenando-as e disciplinando-as para que o indivíduo possa gozar de melhores

condições de saúde.

A EF é, portanto, importante para o desenvolvimento individual e coletivo

do sujeito, mas parece não receber o devido valor que lhe cabe por algumas

instituições de ensino, uma vez que diversas escolas não lhe conferem a

seriedade e valoração que as outras disciplinas do projeto pedagógico recebem.

Alguns professores e alunos acham que a EF não tem a devida informação

da seriedade da cultura corporal de movimento e os alunos trazem as suas

Page 58: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

58

experiências vividas nas ruas e suas casas para dentro da escola e querem

praticá-las sem orientações devidas. Com isso, não veem a disciplina como

aprendizagem, tampouco lhe atribuem o valor que tem para a vida. Afirma-se que

cabe ao professor de EF mudar essa visão míope e deturpada do que é

Educação Física, fazendo de suas aulas um momento de conhecimento

pedagógico para o aluno.

De acordo com Rodrigues Júnior e Silva (2008, p. 159):

Os alunos chegam à aula com certo entendimento a respeito dos elementos da cultura corporal; o professor, por meio de sua ação pedagógica, pode provocar confrontos com tais conhecimentos, com o intuito de levar os jovens a identificar e compreender os temas estudados, de maneira sistematizada. Nesse processo didático, a significação é elemento fundamental a ser considerado para uma mediação que vislumbre a revisão de ideias e de valores.

O professor de Educação Física deve sempre estimular os alunos a

fazerem a prática de diferentes atividades motoras, que os incitem a andar, correr,

saltar, pular, correr, engatinhar, rolar, rebater, lançar, chutar e “quicar” a bola,

andar equilibrando em uma corda, saltar cones, correr lateralmente entre os

cones, adquirindo, dessa forma, mais preparação para o seu dia-a-dia.

As atividades motoras têm que ser muito bem trabalhadas pelos

professores, para agregar na vida das crianças as habilidades básicas têm que

estar no planejamento diário dos professores e direcionando as atividades.

Dessa forma, os professores deverão ministrar suas aulas direcionadas de

forma correta e adequada para cada idade, pois se trata de uma disciplina que

tem as suas sequências básicas de aprendizado, com o compromisso e a

competência de analisar as atividades tanto básicas (andar, correr, saltar, pular)

como as específicas (chute no futebol, cordada no vôlei).

Andrade Filho (2011), discorrendo acerca da Educação Física infantil, diz

que sua prática educativa ainda é e está muito associada à ideia de “lazerizar” os

esportes, cabendo, assim, aos adultos legitimá-las como ações relevantes,

inerentes aos jogos e brincadeiras, para que não haja comprometimento do

desenvolvimento e da socialização da criança, entendida como sujeito histórico e

ator social.

Nas aulas, os professores precisam incluir todos os alunos nas suas aulas,

sempre criando uma técnica para aqueles alunos com mais dificuldade, sendo

Page 59: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

59

eles não providos de boa técnica ou com alguma deficiência física. Segundo o

Ministério da Educação (BRASIL, 1997b), fica estabelecido que os alunos com

deficiências físicas não podem ser privados das aulas de Educação Física, uma

vez que, independentemente de qual seja o conteúdo escolhido, os processos de

ensino e aprendizagem devem considerar as características dos alunos em todas

as suas dimensões (cognitiva, corporal, afetiva, ética, estética, de relação

interpessoal e inserção social).

Mas, para tal, é indispensável que os professores de Educação Física

tenham conhecimento de cada uma dessas dimensões, para ensinar e possibilitar

que seus alunos aprendam, de fato, acerca da importância de cada cultura de

movimento para sua vida.

Ressalta-se, também, que a automação dos movimentos (repetição) é

muito importante para os alunos, pois ela não beneficia os alunos somente na

escola, e sim no seu dia-a-dia, pois os mesmos adquirirão habilidades que serão

de extrema importância no decorrer de suas vidas, o que leva a inferir que a

escola e as aulas de EFE contribuem para tal. De acordo com Silveira et al.

(2013), a obtenção desse conhecimento na escola autorizaria o aluno a transferi-

lo para outras situações de prática fora da escola, com melhoria de seu

desempenho e qualidade do movimento, no ato de andar, correr saltar, girar, pular

entre outras habilidades.

Silveira et al. (2013, p. 149) ainda citam que:

A compreensão de que a Educação Física Escolar (EFE) tem por finalidade disseminar conhecimentos historicamente produzidos e sistematizados relativos à cultura de movimento, ou seja, o jogo, o esporte, a dança, a ginástica e o exercício, tem estado presente em muitas abordagens propostas ao longo das últimas décadas no nosso país.

As danças, esportes, lutas, jogos e ginásticas compõem um vasto

patrimônio cultural que deve ser valorizado, conhecido e desfrutado. Além disso,

esse conhecimento contribui para a adoção de uma postura não preconceituosa e

discriminatória diante das manifestações e expressões dos diferentes grupos

étnicos e sociais e das pessoas que dele fazem parte (BETTI; ZULIANI, 2002).

Para Galvão (2002), o professor deve dialogar constantemente com a

bagagem que os alunos já possuem, relacionando-a aos seus conhecimentos e

Page 60: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

60

ampliando-a, devendo direcioná-la para o meio sociocultural em que os alunos

vivem. Pois é o professor o elemento de ligação entre a escola, a sociedade e o

aluno.

Muitas escolas nem mesmo possuem materiais adequados para as aulas e

Tani (2013) expressa que a falta de material didático se encontra entre as

principais dificuldades assinaladas pela maioria dos professores de EF.

Esse contexto torna-se ainda mais perverso quando se tem o profissional

pedagogo ministrando aula de EF. Reconhece-se sua competência para outros

conteúdos, mas fica a interrogação se sua formação o habilita para assumir a aula

de EF com vistas à formação do aluno. Sabe-se que sua formação não o certifica

para se tornar um profissional qualificado para atender aos objetivos da PCN da

EF e ainda lhe faltam espaço adequado e materiais condizentes para as aulas.

Assim, na atribuição de conceitos aos alunos, recomenda-se, de acordo

com Betti e Zuliani (2002, p. 79):

• A avaliação deve ser contínua, compreendendo as fases que se convencionou denominar diagnóstica ou inicial, formativa e somativa;

• a avaliação deve englobar os domínios cognitivo, afetivo ou emocional, social e motor;

• a avaliação deve referir-se às habilidades motoras básicas, ao jogo, esporte, dança, ginásticas e práticas de aptidão física;

• a avaliação deve referir-se à qualidade dos movimentos apresentados pelo aluno e aos conhecimentos a ele relacionados;

• a avaliação deve referir-se aos conhecimentos científicos relacionados à prática das atividades corporais de movimento;

• a avaliação deve levar em conta os objetivos específicos propostos pelo programa de ensino.

• a avaliação deve operacionalizar-se na aferição da capacidade do aluno expressar-se, pela linguagem escrita e falada, sobre a sistematização dos conhecimentos relativos à cultura corporal de movimento e da sua capacidade de movimentar-se nas formas elaboradas por essa cultura.

O principal objetivo da Educação Física é desenvolver as potencialidades

de cada um, mas nunca de forma seletiva, e sim incluindo todos os alunos nas

atividades e incentivando-os na prática das mesmas. Os alunos devem acreditar

que a aula tem a mesma importância que as outras disciplinas e são ricas em

conhecimentos, que poderão trazer muitos benefícios se inseridos no seu

cotidiano.

É indispensável que os professores - pedagogos ou educadores físicos - se

unam com vistas a que as comunidades acadêmica, escolar, de pais e alunos

Page 61: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

61

entendam a importância de se construir e compartilhar de uma educação que dê

voz ativa às pessoas, elevando sua autoestima, e se acreditem corresponsáveis

para operar mudanças necessárias e essenciais à comunidade e sua região.

Lembrando Dowbor (2006), somos donos das mudanças que queremos

fazer e podemos tomar em nossas mãos o destino que almejamos para nós e

para nossa comunidade se os integrarmos sinergicamente.

Percebe-se que a comunidade é peça fundamental para o desenvolvimento

local e sua inserção na escola poderá contribuir, sobremaneira, com a educação

de forma geral e a disciplina de Educação Física, conferindo-lhe o valor que

possui e os benefícios que traz para o ser humano nas dimensões biológicas,

sociais, culturais e de lazer.

2.3 METODOLOGIA

Para o delineamento desta pesquisa, optou-se pelos estudos exploratório e

descritivo a partir de uma abordagem qualitativa, tendo em vista que ambos

possibilitam compreender a realidade vivenciada pelos sujeitos participantes,

mostrando-se, portanto, em consonância com o objetivo proposto (MINAYO,

2010).

No tocante à pesquisa exploratória, ela tem como intuito proporcionar mais

familiaridade com o fenômeno estudado, com vistas a torná-lo mais explícito. E

neste estudo tem a finalidade de conhecer a visão das pedagogas regentes que

ministram aulas de Educação Física no ensino infantil. Para tal, além de

levantamento bibliográfico, podem-se fazer entrevistas com pessoas experientes

buscando-se aprofundar o conhecimento (GIL, 2010).

Para Minayo (2010), a abordagem qualitativa não se preocupa em

quantificar, mas busca compreender e explicitar a complexidade da dinâmica das

relações humanas, uma vez que somente os participantes dessa dinâmica são

capazes de conferir significados às suas experiências. Dessa forma, pode-se

afirmar que os sujeitos anunciam valores, crenças, atitudes, conflitos e

representações acerca do que está sendo investigado.

O cenário da pesquisa foi constituído por três escolas do Ensino

Fundamental: uma estadual, uma municipal e uma particular. Todas se localizam

Page 62: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

62

na região de Contagem e da Pampulha. Entre os critérios de eleição dessas

escolas tem-se uma representante de cada segmento, isto é, público e privado.

Como docente de curso superior, percebeu-se que alunas pedagogas são

docentes de Educação Física nessas escolas, além de terem sido docentes em

uma delas. Foram sujeitos cinco pedagogas, professoras de Educação Física.

Uma das escolas tinha apenas uma pedagoga como docente, o que justifica o

número de cinco. Não foram procuradas outras escolas para a coleta de mais

dados, uma vez que as informações se tornaram repetitivas já na quinta

entrevista.

Lembrando Minayo (2010), a amostra não é numérica, baseia-se na

complexidade do objeto em pauta. Com isso, o número de sujeitos não é definido

em um primeiro instante, mas quando os discursos tornarem-se repetitivos e

invariantes.

A coleta de dados se deu por meio da entrevista semiestruturada com

perguntas norteadoras do tema, conforme roteiro de entrevista apresentado

(APÊNDICE A) e pela observação sistemática (APÊNDICE B).

Cada entrevista foi confirmada com antecedência e de acordo com o local

definido pelo sujeito. Após explicação das questões éticas relativas ao sigilo,

confidencialidade e à liberdade de poder se retirar da pesquisa a qualquer

momento, cada pedagoga assinou o Termo de Consentimento Livre Esclarecido

(TCLE) (APÊNDICE C).

Os depoimentos dos cinco sujeitos foram analisados a partir da técnica da

análise de conteúdo proposta por Bardin (2010). Destaca-se que o projeto, antes

do início da realização das entrevistas e da observação sistemática, foi aprovado

pelo Comitê de Ética do Centro Universitário UNA, sob a CAAE, nº

31825614.2.0000.5098.

Por meio da observação foram registrados os passos de três aulas de EF

ministradas por pedagogas, abrangendo do início ao final da aula, para se ter

noção de como essas aulas se desenvolvem.

Os nomes dos sujeitos foram representados pela letra E(n), sendo que E

significa entrevista e (n) o número que expressa a ordem de inclusão dos sujeitos

na pesquisa, conforme o principio ético de confidencialidade, mantendo-se a

identidade das entrevistas em sigilo.

Page 63: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

63

2.4 ANÁLISE DOS DADOS

2.4.1 Analisando as entrevistas

Na busca de respostas e apreensão do significado de ser o pedagogo o

professor de Educação Física, na perspectiva do pedagogo, as questões contidas

nas entrevistas possibilitaram formular, mesmo de que maneira tímida, as

relações entre ensino e conhecimento, entre teoria e prática.

Apropriando-se dos dizeres de Scarazzatto (2013, p 41), no processo de

assimilação e elaboração do conhecimento a aula é entendida “como um

processo de circulação de significados e de produção de sentidos, que se indicia

nas interlocuções que são nela produzidas”.

Portanto, a interlocução tecida com os sujeitos desta pesquisa mostrou-se

como uma estratégia positiva a fim de se registrar suas concepções acerca das

aulas de Educação Física ministradas por eles e o sentido que se lhes atribuem.

Na primeira categoria, “de pedagogo a professor de Educação Física”,

pode-se apreender que nem todos os pedagogos se sentem confortáveis e

capacitados para assumir essa disciplina. Dos discursos dos sujeitos percebe-se

que a maioria se sente desmotivada e alguns explicitam que não possuem

conhecimento adequado para fazer da aula um momento de aprendizagem e de

formação do alunado.

Sabe-se que as instituições escolares têm, por meio das DCNs, autonomia

no planejamento de suas matrizes curriculares, cabendo-lhes, portanto, a escolha

de quem é o “graduado responsável” pela disciplina de EF. Sabe-se, também, que

cabe ao professor o planejamento de seu plano de aula em consonância com a

concepção filosófica de currículo. Contudo, a história e a prática vivida no

cotidiano das escolas mostram que nem sempre esses planos são discutidos e

vistos pela comunidade escolar, mesmo competindo a ela o cumprimento das

competências ditadas pelas DCNs.

Nesse sentido, Ferraz e Corrêa (2012) expõem que as DCNs respeitam a

autonomia das escolas no que diz respeito às suas propostas pedagógicas e

estimulam-nas a organizar seu currículo tendo como premissa a formação das

competências explicitadas nos documentos (DCNs). Estes são leis que

Page 64: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

64

particularizam metas e objetivos nas orientações gerais para as escolas, redes e

sistemas de ensino.

Desse contexto de propostas pedagógicas e matriz curricular, com base

em documentos oficiais do Ministério da Educação, as escolas, cenários deste

estudo, elegeram pessoas graduadas em Pedagogia para assumirem a disciplina

de EF, conforme afirmado anteriormente.

Antes de apresentar a primeira categoria, a de análise, é oportuno lembrar-

o que Moreira (2012) relata a respeito da importância da educação infantil na vida

das crianças para o seu desenvolvimento pleno, o que evoca dizer de sua

formação cognitiva, afetiva, social e motora. Prossegue afirmando que a

Educação Física é indispensável para o desenvolvimento e aprimoramento das

capacidades motoras das crianças, uma vez que, orientadas, elas elas têm

contato com um conjunto de movimentos, o que as auxilia na construção da sua

identidade e autonomia.

O que dizem os pedagogos professores de Educação Física? Neste

estudo, por não terem formação nesse curso, os pedagogos não se motivam em

buscar conhecimentos e capacitação para tal e fazem do horário das aulas um

local de lazer sem as devidas atividades, não só importantes para a formação do

aluno, bem como de acordo com sua faixa etária.

Os relatos dos sujeitos mostram coexistir visões positivas e negativas a

propósito de “ser responsável pela EF”:

Significa que esta disciplina tem um papel importante tanto quanto as outras no processo de desenvolvimento do alunos e desta forma ela se torna indispensável até mesmo para compreensão das demais disciplinas (P2). Para mim é muito impertinente dar este tipo de aula, não tenho as habilidades necessárias para dar essa aula e sempre deixo os meninos à vontade ou dou corda para meninas e a bola para meninos (P3). Dar aula de EF é [...] não tenho muitas dificuldades porque os alunos gostam do que passamos para eles correrem, pularem, saltar eles gostam, pois saem da rotina da quadra (P4). Significa, basicamente, fazer com que os alunos saiam do espaço da sala de aula e exercitem o corpo com atividades físicas e brincadeiras (P5).

A leitura das falas dos professores P2, P3, P4 e P5 demonstram o

reconhecimento da importância da disciplina na formação dos alunos e ao mesmo

Page 65: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

65

tempo elegem-na como saída de dentro da sala de aula para espaços livres onde

possam correr, pular, brincar, entre outras.

Contudo, não é essa a concepção que sustenta uma aula de EF. O

Ministério da Educação, por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais

(BRASIL, 1997b), aborda a importância da Educação Física nos anos iniciais do

Ensino Fundamental, tendo em vista que oportuniza aos alunos, desde cedo, o

desenvolvimento de habilidades corporais e a participação em atividades

culturais, como: jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças. Essas atividades têm

ainda a finalidade de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções.

Betti e Zuliani (2002) atestam que as instituições de ensino devem se

comprometer com a qualidade das suas aulas, acreditar que a EFE tem o mesmo

grau de importância das demais disciplinas e compreender sua real contribuição

para a formação dos jovens.

Para Pereira, Nista Piccolo e Santos (2009, p. 345):

[...] conhecimento que o professor transmite deve ir além do simples fazer, pois precisa favorecer ao aluno o (re)conhecimento do seu corpo e do corpo do outro a partir de situações diversificadas, com materiais diferentes, em tempos e momentos distintos.

Instaura-se aqui um questionamento: esses professores planejam suas

aulas? Se sim, baseadas em conhecimentos da cultura corporal, movimento, faixa

etária, necessidades singularizadas dos alunos, da inclusão de todos nas

atividades propostas? Qual a preocupação com a formação cognitiva, social,

afetiva e motora das crianças? Têm dimensão do seu papel nesse processo?

A fala de P1 convida à reflexão do “que fazer” nas aulas de Educação

Física:

Significa uma situação muito constrangedora, porque além de dar nossas aulas normais, agora da Educação Física, é muito ruim, odeio, mas odeio mesmo, as crianças querem correr, gritar acham que é um local de bagunça e eu odeio bagunça (P1).

Os saberes apropriados de acordo com a graduação e adquiridos ao longo

do tempo marcam o início de novas reflexões e o professor se torna o organizador

e facilitador de aprendizagem e se volta, ainda, para os saberes que ele agrega,

possui e constrói ao longo de sua ação profissional (AMORIM FILHO; RAMOS

Page 66: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

66

2010).

Reconhece-se que os pedagogos têm formação ampliada, teórica, prática

e experiências cotidianas relativas ao processo ensino-aprendizagem. Sabe-se

que a teoria é fundamental em todo e qualquer processo de trabalho. Entretanto,

acredita-se que a formação do pedagogo não o capacita de forma semelhante ao

que acontece com o profissional formado em Educação Física para as aulas de

Educação Física.

Amorim Filho e Ramos (2010, p. 226) explanam que “não pretendemos, de

modo algum, desprezar a teoria. Simplesmente almejamos destacar que a prática

pedagógica é repleta de incertezas e situações problemáticas que não

apresentam soluções pré-resolvidas”.

Um dado preocupante, também, é que a partir da Lei 10.328/2001 não há

determinação de quem deve assumir as aulas de EF, ficando a cargo da escola a

especificação de quem será o responsável por elas (BRASIL, 2001b). Essa

indeterminação legal provoca certo constrangimento e, em algumas escolas, fica-

se num jogo de “empurra e empurra” para quem vai ministrar essas aulas: o

pedagogo que não gosta ou os professores de Educação Física que deveriam,

por direito, ministrar essas aulas?

Pereira, Nista Piccolo e Santos (2009, p. 344) afirmam que:

A partir da Lei 10.328/2001 o artigo 26 da LDBEN foi alterado, determinando que a Educação Física não mais seria apenas um componente curricular da Educação Básica, mas sim, um componente curricular obrigatório (BRASIL, 1996; 2001). Entretanto, a lei não determina quem deve ser o responsável pelas aulas dessa disciplina: se um professor especialista na área de Educação Física ou o próprio professor regente das aulas, denominado professor polivalente, por ficar com as crianças no período integral das aulas e desenvolver as demais disciplinas, ficando essa decisão a cargo dos sistemas de ensino estadual, municipal e privado.

Se compete aos sistemas de ensino a decisão de delegar a aula de

Educação Física ao “professor polivalente”, compete-lhes capacitar, monitorar e

avaliar como se processam essas aulas, tendo em vista que os pedagogos não

recebem formação no seu curso de graduação que os instrumentalize para o uso,

por exemplo, de técnicas corretas nas atividades propostas.

Vale lembrar o que trazem Pereira, Nista Piccolo e Santos (2009) nesse

sentido ao questionarem sobre o preparo dos professores polivalentes para

Page 67: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

67

assumirem aulas de Educação Física, já que o curso em nível superior realizado

possivelmente não os tenha capacitado com conhecimento das especificidades

dessa área. O “sentir-se preparado” para esses autores não é relativo à

autoconfiança para resolução de dificuldades, mas se funda na competência

demandada para esse exercício, o que inclui, entre outras, a compreensão da

função e importância da Educação Física na vida da criança e no âmbito escolar

bem como a capacidade de mobilizar conhecimentos em ações pedagógicas

durante as aulas.

Assim, na segunda categoria trabalha-se o sentir-se preparada para

ministrar aulas de Educação Física.

2.4.2 Sentir-se preparada para dar aula de Educação Física

As unidades de registro que compõem essa categoria mostram o que é

para os pedagogos darem essa aula: falta de motivação, preparo e ânimo para

pesquisarem o que se trabalhar e a importância desse trabalho para a vida do

aluno.

Os pedagogos salientam que não gostam de ministrar a aula de EF, por se

sentirem inseguros e despreparados para o exercício efetivo dessa disciplina. Não

sabem e não gostam nem mesmo se consideram embasados para darem as

aulas, pois os cursos de Pedagogia frequentemente não preparam seus alunos ou

nem mesmo possuem essa disciplina na sua matriz curricular, de acordo com os

sujeitos:

Não, porque nunca gostei de Secretaria da Educação Fundamental. e não tenho nem noção do que fazer (P1). Não, porque na minha formação não me deu um embasamento teórico necessário para ministrar esta disciplina (P2). De forma alguma, pois não tenho as devidas técnicas para fazer as atividades que serão importantes para os alunos e tenho muito medo de passar alguma atividade e não ser apropriada para o aluno (P3). Não, porque não sei as ordens das atividades que poderão ajudar os alunos [...] dou sempre o básico (P4). Não, pois no curso de Pedagogia não tivemos uma preparação específica para atuar nesta função. Acredito que o profissional formado em Educação Física seja fundamental para ministrar as atividades físicas e motoras com as crianças (P5).

Page 68: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

68

Confirmando esses dizeres, Tani (2001, p. 111) enfatiza que:

Certamente, discussões sobre a Educação Física na educação infantil que não contemplem uma análise séria das questões relacionadas com a identidade e estrutura da área de conhecimento da Educação Física terão a sua eficácia comprometida, da mesma forma como aconteceu no Ensino Fundamental e Médio.

Também nesse sentido, Scarazzatto (2013) expõe que a prática de uma

Educação Física que busca trabalhar a cultura corporal de movimento deve ser de

responsabilidade do professor de Educação Física. Além do mais, deve-se

considerar a criança como sujeito de direitos, capaz, inclusive, de pensar a prática

não para a criança, mas com a criança.

Dessa forma, a falta de um pedagogo capacitado poderá prejudicar a

eficácia das aulas e, em decorrência disso, pode-se prejudicar a vida do ser

humano.

Tani (2001, p. 111) afirma que:

[...] a comunicação professor-aluno, a preparação de recursos humanos para atuar nessa área, o comportamento e liderança de professores e dirigentes e as pesquisas tecnológicas sobre material didático, instrumentos, espaços e equipamentos. Nesses últimos anos, apesar de a proposição de diferentes abordagens ter dado início a uma nova fase da Educação Física Escolar, com amplas possibilidades de desenvolver pesquisas, há de se reconhecer que poucos avanços foram observados no que se refere à proposição de novas linhas e temas de investigação. Estudos empíricos para testar as proposições das diferentes abordagens apresentadas ainda esperam ansiosamente pela sua realização.

Entende-se que a Educação Física, além de trabalhar a cultura corporal,

deve investir na formação humana integral, elegendo e reconhecendo a criança

como sujeito social e histórico, em crescimento e desenvolvimento, construindo

valores, crenças e concepções.

A terceira categoria contempla a análise das falas referentes ao trabalho

com o corpo.

2.4.3 Trabalhando o corpo

Esta categoria se constitui em duas subcategorias: cultura corporal e

desenvolvimento motor.

Page 69: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

69

Betti (2005), ao expor seu pensar a respeito da EF na escola, menciona

que ela não só seleciona e problematiza temas relacionados à cultura corporal de

movimento, mas cria condições para que os alunos assimilem criticamente a

cultura corporal de movimento, unificando o saber e o sentir movimentar-se e indo

além, isto é, saber movimentar-se.

2.4.3.1 Cultura corporal

Apreende-se, a partir dos discursos dos sujeitos, que o trabalho com o

corpo e a cultura corporal de movimento não é bem explorado pelas professoras,

podendo-se inferir que lhes falta conhecimento da cultura corporal de movimento,

que tem como ferramentas de trabalho a dança, o esporte, os jogos, as lutas e a

ginástica.

A cultura corporal de movimento deve ser ministrada de forma lúdica, com

a intencionalidade de conquistar os alunos para que realizem as atividades

propostas com prazer e conhecimento da importância de cada movimento. As

unidades de registro encontradas nas entrevistas de P1 a P5 revelam que muitas

professoras desconhecem a noção da importância da cultura corporal para a vida

do aluno:

Não sei o que é isso? (após explicação). Depois do que me explicou só dou jogos e brincadeiras e jogos de tabuleiros, corda para meninas, e futebol para meninos (P1). Fazendo um bom plano de aula com objetivos e finalidades bem estabelecidas, ou seja, adaptar conteúdos à individualidade de cada aluno e à fase de desenvolvimento em que se encontram (P2). O que significa isso? Expliquei o que era, aí a mesma disse, só trabalho as brincadeiras e a dança, mas não sabia que tinha este nome (P3). Dou futebol livre para meninos, o vôlei nunca dou porque eles não sabem ainda, jogos esse sim sempre dou alguma coisa como queimada, rouba-bandeira, dança só para as meninas e lutas não dou (P4). Fazemos alguns exercícios e brincadeiras exercitando as crianças (P5).

Esse desconhecimento expresso pelos pedagogos se contradiz com os

dizeres de Silveira et al. (2013, p. 149):

Page 70: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

70

A compreensão de que a Educação Física Escolar (EFE) tem por finalidade disseminar conhecimentos historicamente produzidos e sistematizados relativos à cultura de movimento, ou seja, o jogo, o esporte, a dança, a ginástica e o exercício, tem estado presente em muitas abordagens propostas ao longo das últimas décadas no nosso país.

As danças, esportes, lutas, jogos e ginásticas compõem um vasto

patrimônio cultural que deve ser valorizado, conhecido e desfrutado. Além disso,

esse conhecimento contribui para a adoção de uma postura não preconceituosa e

discriminatória diante das manifestações e expressões dos diferentes grupos

étnicos e sociais e das pessoas que dele fazem parte (BETTI; ZULIANI, 2002).

Em relação ao corpo, são de fundamental importância para o aluno a

movimentação e o estímulo do mesmo, o que não foi observado nas entrevistas

de P1 a P5. Com esses movimentos as crianças irão se beneficiar no decorrer de

sua vida e com isso conseguirão fazer os movimentos de forma autônoma, devido

à reprodução dos mesmos, tais como: andar, correr, saltar, girar, entre outros, é

de extrema validade para os alunos.

De acordo com os PCNs (BRASIL, 1997a, p. 27):

Quanto mais uma criança tiver a oportunidade de saltar, girar ou dançar, mais esses movimentos tendem a ser realizados de forma automática. Menos atenção é necessária no controle de sua execução e essa demanda atencional pode dirigir-se para o aperfeiçoamento desses mesmos movimentos e no enfrentamento de outros desafios.

A Educação Física, na educação infantil, especifica uma forma particular

de ser abordada nesse âmbito de ensino e elege como objeto de ação educativa

o estudo do movimento corporal humano no contexto da educação infantil e como

modo de mobilizar as experiências de movimento corporal cotidiano, entendidas

como parte do ofício de criança (MARQUES, 2012).

2.4.3.2 Desenvolvimento motor

Esta subcategoria assinala o quanto a EF é fundamental para a vida da

criança, pois é por meio dela que se aprende e desenvolve corretamente o ato de

correr, saltar, pular, girar, entre outros, e que acompanha a vida da criança até

sua adultez.

Page 71: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

71

Bracht (2003) argumenta que a socialização, desenvolvimento motor e

formação integral são justificativas possíveis para a EF escolar. Que alegações

fundadas na psicomotricidade e no desenvolvimento motor já não se constituem

em auxiliares à aprendizagem em sala de aula, mas têm um sentido próprio de

descobrir as diferentes formas de brincar, com o intuito de exercitar a expressão,

a criação, as relações espaço-tempo, importantes para a percepção e o preparo

da criança.

As unidades de registro mostram a visão dos sujeitos relativa ao

desenvolvimento motor:

O desenvolvimento motor é trabalhado durante algumas brincadeiras como andar sobre uma corda, jogar a bola em uma caixa, correr com uma perna só, entre outras brincadeiras (P5). Não trabalho o desenvolvimento diretamente, através das minhas atividades que o aluno vai trabalhando, agora se está certo ou errado eu não sei (P1). Deve ser trabalhado de uma forma que respeite as várias etapas de aquisição de habilidades motoras ao longo da vida criança e, assim, consiga alcançar os objetivos propostos, ou seja, o docente ao elaborar as suas aulas deve procurar não atropelar este processo, que pode acarretar problemas futuramente (P2). Às vezes coloco uma corda e solicito para que os alunos andem em cima da corda e peço para saltar os cones e dou muita corrida para eles (P3). Não trabalho porque não sei como trabalhar (P4).

Essas falas apresentam claras contradições: ou se trabalha o

desenvolvimento motor ou o faz de forma superficial ou não o trabalha. O como

trabalhar com a corda, a bola, correr numa perna só, saltar cones são atividades

que, se planejadas e objetivadas para o alcance da formação integral dos alunos

e aquisição de habilidades, são bem-vindas. Não é correr por correr, saltar por

saltar. Existe uma intenção e objetivos próprios para cada atividade e em

consonância com o desenvolvimento da criança.

Além do aspecto motor, deve-se trabalhar todo o processo do aluno: o

cognitivo, afetivo, corporal e social. Conforme citado nos PCNs (BRASIL, 1997a,

p. 27):

Page 72: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

72

Embora numa aula de Educação Física os aspectos corporais sejam mais evidentes, mais facilmente observáveis e a aprendizagem esteja vinculada à experiência prática, o aluno precisa ser considerado como um todo no qual aspectos cognitivos, afetivos e corporais estão inter-relacionados em todas as situações.

Existem algumas práticas que se deve focar mais nas atividades, que é o

ato de pular, saltar, girar, bater, rebater, entre outros, que será de extrema

validade para o aluno. Nesse contexto, mais uma vez vale ressaltar o que os

PCNs (BRASIL, 1997a, p. 47) mencionam:

No plano especificamente motor, os conteúdos devem abordar a maior diversidade possível de possibilidades, ou seja, correr, saltar, arremessar, receber, equilibrar objetos, equilibrar-se, desequilibrar-se, pendurar-se, arrastar, rolar, escalar, quicar bolas, bater e rebater com diversas partes do corpo e com objetos, nas mais diferentes situações.

É importante trabalhar todo movimento de forma adequada, pois cada

movimento tem suas especificações e a repetição dos movimentos é muito

importante para o aluno, é a chamada automação, com ela as crianças vão

adquirindo sua performance.

Rodrigues et al. (2013) procederam a um estudo com o objetivo de conferir

os resultados de diferentes contextos de aulas de Educação Física ministradas

com professor da área, comparado com o desenvolvimento das crianças que

tiveram atividade com uma professora polivalente. Comprovaram-se diferenças

claras no desenvolvimento das habilidades motoras grossas, com desempenho

superior de crianças que tiveram aulas com os professores formados em

Educação Física.

2.4.4 Inclusão do aluno

A inclusão do aluno, em toda e qualquer atividade escolar, é importante e

considera o outro como cidadão. É imprescindível que as escolas promovam o

acesso, a permanência e o sucesso para todos os alunos, independentemente de

terem ou não necessidades educacionais especiais. Os professores devem criar

alternativas para que todos participem, sem discriminação e negação das

diferenças, com vistas ao respeito às diferenças e aos limites de cada um, e

Page 73: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

73

aprendam a conviver de forma sociável. Isso pode ser percebido nas seguintes

falas:

Acredito que inclusão esta voltada para todos os alunos. Desta forma, o docente deve elaborar a sua aula, respeitando as dificuldades e buscando fazer intervenções que irão incluir a todos (P2). Procuro trabalhar com todos os alunos de maneira a inseri-los em todas as atividades ministradas, sejam elas atividades físicas ou pedagógicas (P5).

Essas falas remetem ao que as diretrizes curriculares determinam, ou seja,

cabe ao professor criar condições que sejam inclusivas e atitudes éticas,

humanas e responsáveis.

De acordo com o PCN (BRASIL,1997a, p. 30):

A atitude dos alunos diante dessas diferenças é algo que se construirá na convivência e dependerá muito da atitude que o professor adotar. É possível integrar essa criança ao grupo, respeitando suas limitações, e ao mesmo tempo dar oportunidade para que desenvolva suas potencialidades.

O professor deve trabalhar com estratégias que permitam a inclusão de

toda a turma, bem como identificar atividades vividas fora da escola, que cada

aluno traz, construindo, quando possível, junto com eles atividades agregadoras,

prazerosas e que atendam aos objetivos da aula. Ao buscar a inclusão de todos,

as práticas devem alcançar todos os alunos, cujo maior intuito é a participação.

À escola compete trabalhar com o repertório cultural local, sem deixar de

fora outras experiências que os alunos não teriam fora da escola. A

heterogeneidade de experiências deve ser levada em conta “pelo professor

quando organiza atividades, toma decisões sobre encaminhamentos individuais e

coletivos e avalia procurando ajustar sua prática às reais necessidades de

aprendizagem dos alunos” (BRASIL, 1997a, p. 45).

Os dizeres dos sujeitos deste estudo revelam, na sua maioria, que realizam

atividades livres em suas aulas, à escolha e ao gosto dos alunos, das quais

participam aqueles que querem. Percebe-se a inexistência de qualquer estímulo

por parte do professor para que o aluno tenha o interesse em compartilhar das

atividades que lhes são propostas. Isso pode ser confirmado conforme as

unidades de registro a seguir:

Page 74: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

74

Participa quem quiser, não obrigo ninguém a participar, porque eu não gostava quando meu professor obrigava e eu não vou fazer o mesmo (P1). Sempre participa quem quer, na maioria das vezes todos brincam e as meninas que não querem, ficam sentadas vendo as atividades (P3). Trabalho com todos os alunos, aqueles que não gostam da atividade fazem outras, mas procuro deixar e estimular para fazerem algo (P4).

Acredita-se que essa falta de estímulo dos professores seja consequência

da falta de experiência, que pode gerar desmotivação para a realização dessas

atividades, e da preocupação em cumprir o programado. Infere-se, ainda, que a

aula de Educação Física é mera “brincadeira” ou “ocupação de tempo”, sem o

devido conhecimento dos benefícios que ela traz aos alunos. Portanto, tornam-se

necessários procedimentos para motivar e estimular os alunos que não querem

frequentar as aulas. Por que não o querem? Há motivos para tal quando é próprio

da criança o movimentar-se?

2.4.4.1 Procedimentos para quem não quer fazer aula

Todos os alunos devem ser incitados à participação ativa nas aulas de

Educação Física, salvo em casos de doenças e/ou por alguns problemas do dia-

a-dia. Os professores devem criar alternativas que estimulem seus alunos à

prática de atividades com prazer e cientes do que o exercício realizado lhes

proporciona. Devem intervir para que os alunos participem das aulas, assim,

criando métodos para sua inclusão. Nesse sentido, P2 diz que: “Procurar elaborar

as aulas juntos com os alunos e, desta forma, eles irão ficar mais motivados a

participar e irá facilitar todo este processo” (P2).

Em consonância com esses dizeres, os PCNs (BRASIL, 1997a, p. 45)

recomendam:

[...] Mesmo sendo o professor quem faz as propostas e conduz o processo de ensino e aprendizagem, ele deve elaborar sua intervenção de modo que os alunos tenham escolhas a fazer, decisões a tomar, problemas a resolver, assim os alunos podem tornar-se cada vez mais independentes e responsáveis.

Além de buscarem uma formação que possibilite ao aluno tornar-se

autônomo, independente e criativo, ciente de suas escolhas e responsáveis, o

Page 75: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

75

professor deve elaborar aulas que trabalhem variadas atividades, para que os

alunos se sintam convocados a praticar as aulas com prazer, com curiosidade

pelo novo e saiam da mesmice. Contudo, as unidades de registro referem não ser

dessa forma o que acontece nas aulas:

Os alunos ficam sentados fazendo o que desejam, mas a maioria sempre tem o interesse de alguma coisa (P1). Deixo eles sentados do lado de fora (P3). Pergunto o motivo e deixo eles sentados escutando música no celular então (P4).

Chama à atenção a fala de P5 ao se referir chamar o aluno que não quer

participar da EF, isoladamente. Chama-o não para explicar as razões da

importância de sua participação, mas se vale de argumento coercivo ao lhe

mostrar que a aula é avaliativa.

Sempre incentivo os alunos a participarem das atividades físicas. Quando eles se recusam a participar das aulas eu chamo este aluno separadamente e explico que a atividade física também é avaliada e pontuada como participação (P5).

Não é correto os alunos ficarem sentados ou até mesmo escutando música

nas aulas, uma vez tratar-se de uma disciplina tão importante quanto as outras.

Percebe-se desvalorização da aula como se fosse isenta de conteúdos, de

normas, de técnicas e de práticas positivas e potencializadoras do

desenvolvimento humano. Pelas unidades de registro pode-se intuir que o

professor pedagogo, em alguns casos, nada faz e deixa que os alunos fiquem

“livres” nas aulas.

Segundo Ferraz e Correa (2012, p. 531):

A função do professor de Educação Física Escolar pode ser definida pela elaboração, implantação e avaliação de programas que tematizam, do ponto de vista didático-pedagógico, jogos, esportes, lutas, ginásticas, danças, exercícios físicos, entre outros; com a intenção de influenciar a formação dos alunos para a participação democrática na vida em sociedade.

Acredita-se que para as pedagogas seria muito relevante um pouco mais

de motivação e interesse em entender o interesse e a necessidade dos alunos,

Page 76: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

76

não considerando somente como um momento livre, mas como um momento de

aquisição de diversas habilidades motoras.

2.4.4.2 Atividades meninos versus meninas

Não se concebe pensar em separação por gênero nas atividades

realizadas nas aulas de Educação Física. Afinal, é de extrema importância para a

vida da criança e da sociedade a quebra de preconceitos relativos ao homem e à

mulher, em o homem pode e mulher não pode, e vice-versa. A unidade de registro

a seguir corrobora essa visão:

Deve ser trabalhada de uma forma que as crianças consigam se desenvolver sem haver exclusão ou preconceito, mas respeitando sempre as especificidades de cada criança (P2). Fala-se muito da diferença entre meninos e meninas e muitas vezes estas diferenças são única e exclusivamente denominadas pela sociedade, e isso é refletido nas aulas. Sempre brincam separados, meninas de um lado e meninos de outro (P1). Todos brincam de uma forma igual, mas sempre os meninos querem ficar na quadra para jogar o futebol e as meninas ficam fora para pular corda ou dança (P3). Sempre faço uma divisão: os meninos brincam de bola e as meninas de corda ou com os bambolês, juntos somente quanto tem pegador ou queimada ou corridas de equipe contra equipes (P4). Meninos e meninas costumam fazer as mesmas atividades, com exceção do futebol. Enquanto os meninos jogam futebol, as meninas fazem outra atividade (P5).

Pautando-se mais uma vez nas DCNs, tem-se que ter cuidado especial no

que diz respeito às diferenças entre as competências de meninos e meninas,

tendo em vista que essas “são determinadas social e culturalmente e decorrem de

preconceitos e comportamentos estereotipados” (BRASIL,1997a, p. 59).

Nas atividades práticas, costuma-se dizer que os meninos são melhores

que as meninas. São mais hábeis nas atividades com bola; atividades de correr,

saltar, pular; e as meninas não fazem isso direito. As aulas devem ser entre

meninos e meninas juntos e não separados, quando será trabalhado o respeito às

diferenças, inclusive de gênero.

As atividades realizadas de forma separada é o erro a ser corrigido pelo

pedagogo que ministra essas atividades, pois ele tem que promover atividades

que busquem a participação de todos juntos. Dessa forma, irá proporcionar a

Page 77: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

77

inclusão dos alunos em suas aulas e, consequentemente, obter melhor

desenvolvimento motor dos mesmos.

2.4.5 Formação do pedagogo para ministrar aulas de Educação Física

Sabe-se, também, que um dos componentes do Projeto Político

Pedagógico do curso de Graduação em Pedagogia é a Educação Física. De

acordo com as Diretrizes de Bases, o egresso do curso de Pedagogia deverá

estar apto a:

[...] aplicar modos de ensinar diferentes linguagens, Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia, Artes, Educação Física, de forma interdisciplinar e adequada às diferentes fases do desenvolvimento humano, particularmente de criança (BRASIL, 2005, p. 9, grifo do autor).

Infere-se, pelo presenciado nos cotidianos das escolas, que muitos

professores não tiveram, de forma consistente e sistematizada, na sua graduação

conteúdos teóricos práticos acerca das aulas de Educação Física. Hoje, o

pedagogo que ministra aula de Educação Física no Ensino fundamental I convive

com a falta de qualificação e conhecimentos, o que os impossibilita de planejar,

executar e avaliar essas aulas. O conhecimento pertinente à EF não faz parte do

conteúdo do curso de Pedagogia de muitas instituições. As unidades de registro,

a seguir, sobre o preparo recebido na graduação, asseguram que os pedagogos

não estão preparados.

Não me recordo (P1). Não me recordo bem, sei que tinha brincadeiras falavam dessa cultura, mas nada muito especifico (P3). Não lembro de nada especifico (P4). Não me recordo (P6).

O conhecimento do Projeto Político Pedagógico de cada curso de

Graduação em Pedagogia torna-se fundamental, tendo em vista que pode variar

de instituição para instituição de acordo com a filosofia institucional. Essa

assertiva se faz presente uma vez que, conforme afirmam as DCNs do curso de

Pedagogia:

Page 78: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

78

[...] o projeto pedagógico de cada instituição deverá circunscrever áreas ou modalidades de ensino que proporcionem aprofundamento de estudos, sempre a partir da formação comum da docência na Educação Básica e com objetivos próprios do curso de Pedagogia. Consequentemente, dependendo das necessidades e interesses locais e regionais, neste curso poderão ser, especialmente aprofundadas questões que devem estar presentes na formação de todos os educadores [...] (BRASIL, 2005, p. 10).

É oportuno lembrar que não existe, formalmente, uma lei que delegue

exclusividade ao professor de Educação Física à aula dessa disciplina. Pode

tanto ser ele ou não ou até um regente de turma. A Educação Física é um

componente curricular da educação básica. A Lei 10.328/2001, da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBBEN), determina que essa

disciplina é um componente curricular obrigatório (BRASIL, 1996; 2001b).

Todavia, essa lei não determina qual a formação dos profissionais que podem

ministrar aulas de Educação Física em séries do Ensino Fundamental I, isto é, se

são professores graduados no curso de Educação Física ou professores regentes

de turma com outra graduação.

2.4.5.1 Aulas de EF na graduação de Pedagogia

As aulas Educação Física devem ser mais práticas, para que os alunos do

curso de Pedagogia adquiram, além do conhecimento teórico, conhecimento

prático, que auxiliará no desenvolvimento de suas aulas. Isso possibilitará um

trabalho de forma apropriada da disciplina de Educação Física. Percebe-se que o

conteúdo trabalhado na graduação foi insuficiente para que pedagogos sejam

capazes de ministrar aulas de Educação Física, ou seja, não se sentem

capacitados. Os fragmentos de discurso legitimam essa visão:

Aulas simples, com muitas leituras de artigos e livros de prática que é bom mesmo nada (P1). Apesar de pouco tempo achei bem interessante, pois desmitificou muitas inverdades sobre o que eu sabia sobre esta disciplina (P2). Péssimas [...] não aprendi nada (P3). Ele dava muito texto e pouca prática [...] como fazer ou aprender a EF sem a prática? (P4).

Page 79: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

79

Eu achei as aulas muito teóricas, sim devemos ter teorias, mas a Educação Física é mais prática, precisamos ver e aprender o que acontece com a mão na obra, matérias eram mais de leitura e falava pouco sobre práticas (P5). Foram aulas básicas com alguns jogos e algumas brincadeiras, o que não nos qualifica como educadores físicos (P6).

Os cursos de Pedagogia devem trabalhar com seus docentes a fim de que

assumam integralmente as aulas que lhes competem. Se assim o fizerem, terão

professores formadores de multiplicadores de formação integral das crianças

cidadãs e as aulas transcorrerão com sabedoria, prazer, ludicidade e, ao mesmo

tempo, limites formadores de sujeitos ativos e conscientes de seus deveres e

direitos.

É no Ensino Fundamental que o aluno vivenciará diversas experiências

cognitivas, motoras e lúdicas e, consequentemente, guardará as lembranças

positivas e negativas vividas na sua fase de infância. Essas lembranças, tanto

ligadas às decepções quanto às alegrias, poderão marcar a vida desses alunos,

além de lhes proporcionar experiências cognitivas e motoras essenciais. Logo,

principalmente essa cultura corporal de movimento deveria fazer parte do plano

de curso dos docentes da graduação do curso de Pedagogia, tendo em vista a

transmissão de um conhecimento necessário para que pedagogos se tornem

capazes de prover aulas mais criativas e que estimulem seus alunos à prática.

Os PCNs de Educação Física exemplificam ao sugerir que o trabalho de

Educação Física, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, permite que os alunos

tenham, “desde cedo, a oportunidade de desenvolver habilidades corporais e de

participar de atividades culturais como jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças,

com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções” (BRASIL,

1997a, p. 15).

2.4.5.2 O que seria necessário na graduação para ajudar o pedagogo a

ministrar aulas de Educação Física

Primeiramente, é imperativo qualidade dos conteúdos programáticos, para

que os docentes responsáveis por essa disciplina na graduação sejam

Page 80: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

80

mediadores de seus conteúdos. Que não apenas “pincelem” o conteúdo, como

alerta P2, e que haja associação da teoria com a prática, para que ao pedir ao

aluno que dê cambalhotas ele não tenha “medo”, de acordo com P3. O

conhecimento liberta e libera para aulas práticas voltadas para o desenvolvimento

do aluno, estimulando-o a andar, correr, saltar, pular, girar, entre outras atividades

importantes. Percebe-se que faltam mais conteúdo e carga horária, pois quando

isso existe, é considerado insuficiente. Isso é descrito nas unidades de registro a

seguir:

O que falta ao meu ver é uma preparação adequada para os alunos nesta disciplina, vejo alguns erros importantes como carga horária pouca, falta de material, falta de prática, falta de estágios na área de Educação Física, eu queria dar uma aula orientada por um professor, falta tudo (P1). Precisa de mais conteúdo. Penso que dois semestre é muito pouco para aprender tantas teoria e o que o professor acaba só pincelando sobre alguns conteúdos (P2). Falta mais aulas, eu só tive um semestre e não tem como conseguir aprender as coisas a não ser que procure e pesquise, mas mesmo assim dá medo, pois como vou mandar um aluno dar cambalhotas? Uma vez um se machucou comigo, aí depois fui ver que tem todo um preparo (P3). Técnicas próprias do que fazer para cada idade e o que desenvolver com seus alunos, como vou dar futebol, vôlei, basquete, brincadeiras, lutas, atividades que vai estimular o desenvolvimento do aluno (P4). Falta um maior número de aulas, atividades práticas conosco e também com crianças com orientação do professor, matérias, espaços, para fazer as aulas (P5). Falta uma preparação mais assídua. Na formação acadêmica não aprendemos a trabalhar a corporeidade dos alunos. O foco maior é na parte pedagógica e educacional, já o ensino de atividades físicas e motoras ficam em segundo plano. Não nos sentimos preparadas para atuar como professores de Educação Física (P5).

Esses depoimentos são consoantes ao que Silveira et al. (2013) citam

quanto ao que se deve conhecer como professor de Educação Física: a

aprendizagem do movimento é uma tecnologia complexa e que demanda tempo e

prática. Os autores levantam a reflexão: como causar a melhoria da qualidade do

movimento quando o sistema de ensino não leva em conta os dias e horas de

aulas semanais, o quantitativo de alunos/sala de aula e materiais didáticos

disponíveis?

Page 81: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

81

Os PCNs determinam que:

A prática da Educação Física na escola poderá favorecer a autonomia dos alunos para monitorar as próprias atividades, regulando o esforço, traçando metas, conhecendo as potencialidades e limitações e sabendo distinguir situações de trabalho corporal que podem ser prejudiciais (BRASIL, 1997a, p. 35).

Os docentes da graduação do curso de Pedagogia deveriam preparar seus

alunos sobre a importância das atividades físicas e repassar esse conhecimento

para seus alunos.

O termo “preparado” não é, especificamente, achar que pode dar conta, ou

melhor, não ter medo de desenvolver as atividades para e com os alunos. É

saber realizar as atividades de tal forma que permita ao aluno compreender,

aprender e estimular o seu desenvolvimento motor, sabendo ganhar e perder,

trabalhar cooperativamente. Esse professor não pode excluir os alunos, mas criar

metodologias para que todos participem, buscando sempre fazer com que os

alunos pratiquem as atividades com prazer e não somente vencer a todo custo,

isto é, deve-se ter um trabalho pautado em valores éticos.

Para Pereira, Nista Piccolo e Santos (2009, p. 343):

[...] A questão de “sentir-se preparado” não se refere apenas à autoconfiança do docente em relação às possíveis dificuldades para ministrar um componente curricular que foge às suas habilidades pedagógicas, mas à própria competência para esse exercício, que abarcaria os conhecimentos sobre o desenvolvimento da criança, seus interesses e necessidades, a compreensão da função e importância da Educação Física, não apenas para essas crianças, mas para todo o âmbito escolar, e a mobilização desses conhecimentos em ações pedagógicas durante as aulas.

Portanto, espera-se um “preparo” prático, em que os pedagogos tenham a

oportunidade de vivenciar e discutir experiências práticas e possam de forma

pedagógica solucionar eventuais problemas, bem como tornar suas aulas mais

atrativas para seus alunos.

2.4.5.3 Como o pedagogo prepara as aulas de Educação Física

Os pedagogos devem planejar as aulas de EF de forma adequada que

beneficie os alunos. E devem, durante os anos de graduação, adquirir

Page 82: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

82

conhecimentos para transmitirem e debaterem com seus alunos da escola infantil,

para que ao saírem do Ensino Fundamental I eles conheçam e saibam acessar

alguns objetivos de acordo com os PCNs, entre os quais se destacam: construir

relações pessoais equilibradas e construtivas com os outros, conhecendo-os e

respeitando-os como seres diferentes e singulares que têm desempenho próprio;

respeitar o outro em todas as situações lúdicas e esportivas; respeitar as diversas

culturas corporais, compreendendo-as como importante recurso para integração

entre os diferentes grupos sociais; adotar hábitos saudáveis, reconhecendo-os

como essenciais para a própria saúde e recuperação, manutenção e melhoria da

saúde coletiva; valorizar a diversidade de padrões de saúde, beleza e estética

corporal, evitando o consumismo e o preconceito; e “reivindicar locais adequados

para promover atividades corporais de lazer, reconhecendo-as como uma

necessidade básica do ser humano e um direito do cidadão” (BRASIL, 1997a, p.

33).

Os professores não podem deixar as atividades livres, pois dessa forma

não trabalharão a cultura corporal de movimento que é a dança, esporte, jogo,

luta e ginástica, conforme os PCNs propõem:

A Educação Física permite que se vivenciem diferentes práticas corporais advindas das mais diversas manifestações culturais e se enxergue como essa variada combinação de influências está presente na vida cotidiana. As danças, esportes, lutas, jogos e ginásticas compõem um vasto patrimônio cultural que deve ser valorizado, conhecido e desfrutado. Além disso, esse conhecimento contribui para a adoção de uma postura não preconceituosa e discriminatória diante das manifestações e expressões dos diferentes grupos étnicos e sociais das pessoas que dele fazem parte (BRASIL,1997a, p. 46).

Assim, as atividades realizadas durante as aulas devem proporcionar aos

alunos diversos níveis de aprendizagem, do motor ao cognitivo. As unidades de

registro afirmam que não existe um “preparo” para essas aulas de Educação

Física:

Não preparo, depende do dia, clima, tempo e ânimo, decido no dia mesmo o tipo de aula que irei dar (P1). Não preparo, dou no dia o que vem na minha cabeça (P2). Uso o material que tenho, e não tenho nada preparado (P3). Eu olho o tempo os alunos que estão no dia em sala, o local que poderei fazer as aulas e dou o que me vem na cabeça (P4).

Page 83: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

83

Não há um planejamento das aulas de Educação Física. Procuramos apenas alternar as brincadeiras e atividades. Preparamos as aulas de maneira a evitar que as atividades fiquem repetitivas. Na época do calor fazemos atividades mais calmas e na época do frio, atividades que exercitam mais os alunos (P5). Que nossa Pedagogia tinha que mudar de nome e sim se chamar faz de tudo, onde lá se viu eu dar aula de Educação Física (P1).

Analisando as respostas de P1 a P5, constata-se que os alunos vão para a

aula sem o preparo do professor, consequentemente, torna-se uma aula sem

atrativo e objetivos definidos.

2.4.5.4 Os alunos ficam prejudicados por não terem professores graduados

em Educação Física.

A literatura tem mostrado, em vários artigos e livros, que há prejuízos para

os alunos quando não têm professores graduados em Educação Física. Um dos

fatores citados é que os pedagogos não detêm as técnicas adequadas e é

insuficiente o conhecimento acerca da função do movimento para ministrar a

disciplina. De acordo com Pereira, Nista Piccolo e Santos (2009, p. 343):

[...] as crianças de seis a 10 anos de idade, além de terem necessidades de se movimentar, apresentam muita predisposição para o movimento. Com isso, os professores que proverem essas aulas têm que conhecer acerca da importância de sua função, enquanto educador, para com a vida do aluno.

A Educação Física é muito importante nos anos inicias do Ensino

Fundamental I, pois é nessa fase da vida que as crianças começam a trabalhar a

ludicidade, o desenvolvimento motor, a lateralidade, o ato de perder e ganhar e,

principalmente, a cultura corporal de movimento.

Retornando aos PCNs da Educação Física, neles se encontra descrito que

o aluno do Ensino Fundamental I tem que sair sabendo, no final do primeiro ciclo,

o mínimo de atividades possíveis, como:

• Participar de diferentes atividades corporais, procurando adotar uma atitude cooperativa e solidária, sem discriminar os colegas pelo desempenho ou por razões sociais, físicas, sexuais ou culturais;

Page 84: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

84

• conhecer algumas de suas possibilidades e limitações corporais de forma a poder estabelecer algumas metas pessoais (qualitativas e quantitativas);

• conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações de cultura corporal presentes no cotidiano;

• organizar autonomamente alguns jogos, brincadeiras ou outras atividades corporais simples [...] (BRASIL,1997a, p. 46).

Destacando as falas de P1 a P5, pode-se entender que o aluno fica

inteiramente prejudicado, pois os pedagogos se reconhecem despreparados para

as aulas de Educação Física, conforme claramente expresso nas unidades de

registro a seguir, e elegem como detentor responsável e capaz para essas aulas

o graduado em Educação Física.

Com toda certeza meus alunos ficam prejudicados, eu não acho que não trabalho com eles de forma adequada, isso não por não querer, e sim por falta de prática mesmo, e já tenho que estudar para outras matérias, não vou ficar preocupando com Educação Física também (P1). Com certeza ficam prejudicados, pois um profissional específico está mais preparado para ministrar suas aulas do que um pedagogo (P2). Sem sombra de dúvidas, eu não sei o que dar, não tenho uma sequência certa, minhas aulas são mais recreação e livres (P3). Sim, com toda certeza o professor de Educação Física é bem mais qualificado do que eu, ele tem já suas técnicas para que o aluno se desenvolva socialmente, intelectualmente, no seu desenvolvimento motor e psicológico (P4). Sim, com certeza. Um profissional formado em Educação Física é uma pessoa qualificada que estudou os movimentos do corpo humano e dedicou seus estudos para esta área. Nós, enquanto pedagogos, não tivemos a mesma formação, portanto, não temos a mesma habilidade e qualificação. Acredito que os maiores prejudicados nessa situação são os alunos (P5).

Alguns fatores se realçam diante dos empecilhos listados pelos

pedagogos: falta de qualidade das aulas que são dadas na graduação, a falta de

momentos práticos para auxiliar no planejamento e implementação das aulas e,

por fim, falta de materiais adequados.

2.4.6 As escolas oferecem materiais adequados para as aulas de EF

Os materiais oferecidos pelas escolas devem no mínimo ajudar o aluno no

seu desenvolvimento motor e cognitivo, principalmente no ato de correr, saltar,

Page 85: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

85

pular, girar e no manuseio com a bola. Os materiais como a corda, o bambolê, os

cones, entre outros, ajudam muito no preparo das aulas e no decorrer do tempo

os alunos vão adquirindo mais prática em determinadas tarefas e manuseios,

principalmente com a bola.

De acordo com os PCNs (BRASIL,1997a, p. 46):

Nas aulas de Educação Física, as crianças estão muito expostas: nos jogos, brincadeiras, desafios corporais, entre outros, umas veem o desempenho das outras e já são capazes de fazer algumas avaliações sobre isso. Não leva muito tempo para que descubram quem são aqueles que têm mais familiaridade com o manuseio de uma bola, quem é que corre mais ou é mais lento e quem tem mais dificuldade em acertar um arremesso, por exemplo. Por isso, é fundamental que se tome cuidado com as discriminações e estigmatizações que possam ocorrer. Se, no início de sua escolaridade, a criança é tachada de incompetente por ter algum tipo de dificuldade, é improvável que supere suas limitações, que busque novos desafios e se torne mais competente. Nesse sentido, é função do professor dar oportunidade para que os alunos tenham uma variedade de atividades em que diferentes competências sejam exercidas e as diferenças individuais sejam valorizadas e respeitadas.

Felizmente, percebe-se que os materiais oferecidos pelas escolas são

adequados e suficientes para o desenvolvimento de uma aula com qualidade. As

falas a seguir confirmam essa assertiva:

São bons... temos as coisas que eu acho básicas para brincar com os alunos, em relação a isso não posso reclamar (P1). Temos as coisas básicas, como bola, corda, cones (P2). Os materiais são os básicos, bolas, corda, cones, alguns joguinhos e um radinho (P3). Eles me dão bolas, bambolês, colchonetes, cones, corda, joguinhos (P4). As condições são normais, em nível de escola temos bola, jogos, pula-pula, bambolê e um pequeno espaço (P5). As condições dos materiais oferecidos pela escola são boas, assim como os recursos pedagógicos. Temos bolas, cordas e vários brinquedos pedagógicos (P5). Sim. Gostaria de ressaltar a importância da atuação do profissional formado em Educação Física na educação infantil. É uma fase em que os alunos precisam exercitar e desenvolver-se fisicamente. Enquanto pedagogos, por mais que nos esforcemos para fazer o nosso melhor, não temos a mesma qualificação que uma pessoa que dedicou seus estudos à formação física. A atividade física nesta fase da vida dos alunos é tão importante quanto os conhecimentos pedagógicos. O ideal

Page 86: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

86

seria que toda escola, seja ela pública ou particular, tivesse um educador físico para ministrar as aulas de Educação Física e preparar melhor os alunos (P6).

De acordo com as unidades de registro, as escolas disponibilizam

materiais, mas para obtenção de melhor desenvolvimento dos alunos seria

imprescindível que fossem utilizados por um professor qualificado para tal

disciplina.

2.4.7 Das observações

Após autorização dos docentes, foram agendadas as observações de

aulas de Educação Física nas três escolas: municipal, estadual e particular. De

posse do instrumento de observação, buscou-se ficar em uma distância que

possibilitasse a visão integral do desenrolar da aula e a escuta dos diálogos

instituídos com os alunos sem, contudo, mudar qualquer dinâmica programada.

As aulas tiveram início de formas diferentes. Apenas uma docente

discorreu sobre o exercício, mas não expôs sua finalidade e não realizou

alongamento. Apenas uma docente observou se todos os alunos estão

participando da atividade planejada. Tanto meninos quanto meninas participaram

dos exercícios, que foram adequados para a idade. Com isso, os alunos ficaram

atentos e interessados. Houve interação entre professora e alunos e todos

tomaram água após as atividades.

Nas outras duas aulas não houve preocupação com a inclusão de todos os

alunos e se queriam fazer os exercícios programados. Alguns ficaram no canto do

pátio e outros realizaram outras brincadeiras. Ou seja, foi permitido

silenciosamente que alunos fiquem soltos durante a aula. Nessas duas aulas não

se fez explicação do porquê da atividade realizada, nem do alongamento. Todos

foram levados para a sala de aula, alguns correndo.

Diante da observação sistemática, percebeu-se que em todos os períodos

das aulas de Educação Física os professores deixaram de executar

procedimentos que determinam o desenvolvimento das aulas adequadamente. No

início das aulas não explicaram corretamente as atividades para os alunos, não

expuseram os objetivos propostos, além de deixar os alunos soltos, isto é, sem

direcionamento.

No decorrer da aula, os alunos que não se interessam pelas atividades

Page 87: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

87

propostas continuaram sem fazer as atividades ou permaneceram fazendo o que

queriam sem intervenção dos professores. Além dessa falta de controle dos

alunos, não se preocuparam com a hidratação dos que estavam realizando as

atividades, pois não houve paradas para que eles pudessem beber água.

Observou-se, ainda, que os professores não promoveram a inclusão e,

muito menos, souberam trabalhar corretamente conforme a idade, com destaque

para um professor.

No término das aulas, o relaxamento é etapa importante para a volta à

calma dos alunos, e não pode ser eliminada, pois lhes possibilita ficarem mais

tranquilos para prosseguirem com as atividades em sala de aula. Os alunos

necessitam hidratar-se antes de retornarem à sala. Também é imprescindível que

seja dito aos alunos os benefícios da aula que foi dada.

Após as aulas, os alunos saíram correndo para a sala, demostrando mais

uma vez a falta de controle das professoras.

Durante toda a observação, o referencial teórico e a prática de ensino,

como graduado em Educação Física e professor dessa disciplina, vinham à

mente. Ficar à distância sem nada poder fazer foi um momento crucial de

aprendizagem: intervir no momento certo. Naquele instante, era um aluno de

mestrado realizando uma observação sistemática de pesquisa.

Entre as várias lições e teorias que se fizeram presentes, vale relembrar os

dizeres do PCN (BRASIL,1997a) quando mencionam que quanto mais a criança

puder saltar, correr, girar, dançar, mais ela adquire habilidade. Mas, para tal, ela

precisa receber instruções para a execução correta e aperfeiçoamento dos

movimentos.

Já Betti e Zuliani (2002) afirmam que a Educação Física precisa ser

sistematizada e organizada para que obtenha aprendizagem significativa e atenda

às necessidades dos alunos. Infelizmente, pode-se afirmar que nada disso

ocorreu nas aulas de Educação Física sob responsabilidade das pedagogas.

As observações também remeteram ao que Go (2013) narra acerca do

conhecimento, que é imprescindível para a formação cidadã e crítica do aluno,

apoiado por Oliveira (2006): os conhecimentos específicos sobre o movimento

humano permitem o uso de potencialidades para movimentar-se de forma

habilidosa, cujo benefício é a melhoria da qualidade de vida.

Page 88: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

88

Assim, infere-se que as aulas observadas não atingiram os objetivos da

Educação Física, que ao longo dos anos, vem, a partir de estudos e pesquisas,

aprimorando sua prática sob a égide da teoria e intensa busca da qualificação de

seus professores.

2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise das entrevistas revelou o que a literatura vem acusando: a falta

de conhecimento e de experiência dos professores pedagogos gera sentimento

de insatisfação, de despreparo e de insegurança em ministrar as aulas de

Educação Física. É evidente que eles não se sentem confortáveis com essa

função, com a alegação, pode-se dizer ética e compromissada, de que não

receberam capacitação devida para tal. Em decorrência dessa situação, as aulas

se tornam sem criatividade, desmotivantes, sem programação e, portanto, não

conseguem alcançar o que se busca com elas, isto é, as dimensões sociais,

cognitivas, afetivas, integrativas e de desenvolvimento integral dos alunos. Assim,

não realizam as atividades que são necessárias para o desenvolvimento de suas

capacidades e potencialidades.

Reafirma-se que as unidades de registro dos depoimentos de cinco

professores reforçam que não ministram as atividades de forma adequada para

as faixas etárias; não propõem novas atividades diante das adversidades

encontradas no decorrer das aulas; não incluem todos os alunos, entre outros.

Isso também é confirmado pelas três observações feitas.

Das observações fica a imagem de uma aula sem “vida”, sem atendimento

às expectativas dos alunos, mesmo sabendo que a Educação Física Infantil tem

papel relevante para o desenvolvimento coordenativo, motor, cognitivo e social

dos alunos.

Deixar os alunos realizarem brincadeiras, sem qualquer intervenção ou

orientação, torna-se a alternativa mais cômoda para os professores pedagogos.

Destaca-se que algumas dessas atividades com um mínimo de orientação e

intervenção proporcionarão vários resultados relevantes, a partir das quais

poderão ser trabalhadas a tomada de decisão, a criatividade e a ludicidade. As

brincadeiras não devem ser totalmente livres. Portanto, é sempre importante a

Page 89: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

89

intervenção do professor em diversos momentos da aula, pois ele é considerado

referência da turma e os alunos esperam que essa intervenção aconteça.

Percebe-se que os professores pedagogos, conforme eles mesmos

referiram e se comprovou, não estão aptos para assumirem aulas de Educação

Física, pois não receberam e não possuem o conhecimento específico para que

possam trabalhar a cultura corporal de movimento. Realça-se que as aulas de

Educação Física, principalmente nessa faixa etária, vão além de atividades

lúdicas sem orientação.

Para que esses professores possam ministrar as aulas de Educação

Física, seria necessária uma reformulação na matriz curricular dos cursos de

Pedagogia, uma vez que, atualmente, os pedagogos não possuem embasamento

teórico e/ou prático para tal atividade. Adquirir esse conhecimento técnico e/ou

prático poderia estimular esses professores e, consequentemente, elevar o

desenvolvimento dos seus alunos quando se alcançam os objetivos propostos

pelas Diretrizes DCNs da Educação Física.

Page 90: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

90

REFERÊNCIAS AMORIM FILHO, M.L.; RAMOS, G.N.S. Trajetória de vida e construção dos saberes de professoras de educação física. Revista Brasileira Educação Física do Esporte (Impr.) [online], v. 24, n. 2, p. 223-238, 2010. ANDRADE FILHO, N.F. Experiências de movimento corporal de crianças no cotidiano da educação infantil: educação, conhecimento, linguagem e arte. 2011. 254 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2011. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2010. BETTI. M. Educação Física como prática cientifica e prática pedagógica: reflexão à luz da filosofia da ciência. Revista Brasileira Educação Física do Esporte, v. 19, n. 3, p. 188, 2005. BETTI, M.; ZULIANI, L.R. Educação Física escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. I, n. 1, p. 73-81, 2002. BRACHT, V. Sociologia crítica do esporte: uma introdução. Ijuí: Unijuí, 2003. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CP 5, 13.12.2005. Brasília, 2005. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/SEF, 1997a. BRASIL. Educação Física: concepção e importância social. In: BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. 2. ed., Rio de Janeiro: DP&A, 1997b. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: Ministério da Educação. 3. ed., A Secretaria, 2001a. BRASIL. Lei nº 10.328, de 12 de dezembro de 2001. Introduz a palavra "obrigatório" após a expressão "curricular", constante do § 3o do art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 12 dez. 2001b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10328.htm>. Acesso em: 16 fev. 2015. BRASIL. Lei nº 9.394/1996, de 20 de dezembro de 1996. Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. DOWBOR, L. Educação e desenvolvimento local. 03 abril 2006.

Page 91: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

91

FERRAZ, O.L.; CORREIA, W.R. Teorias curriculares, perspectivas teóricas em Educação Física Escolar e implicações para a formação docente. Revista Brasileira Educação Física do Esporte [online], v. 26, n. 3, p. 531-540, 2012. GALVÃO, Z. Educação Física escolar: a prática do bom professor. Revista Mackenzie, São Paulo, v. l, n. l, p. 65-72, 2002. GIL, A.C. Métodos e técnicas em pesquisa social. 6 ed., São Paulo: Atlas, 2010. GO, T. O ensino de habilidades motoras esportivas na escola e o esporte de alto rendimento: discurso, realidade e possibilidades. Revista Brasileira Educação Física do Esporte, São Paulo v.27, n.3, p. 507-518, 2013. GO, T. Educação Física na educação infantil: pesquisa e produção do conhecimento. Rev Paul Educ Fís, São Paulo, supl. 4, p. 110-15, 2001. MARQUES, R. Construção identitária e processos relacionais de uma professora de Educação Física em uma instituição de educação infantil. 2012. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo (CEFD/Ufes), Vitória, 2012. MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12. ed., São Paulo: HUCITEC, 2010. MOREIRA, P.S.S. Referenciais prescritos para educação infantil: diálogos com o professor de Educação Física. 176 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física). Programa de Pós-Graduação em Educação Física do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo, 2012. OLIVEIRA, M.G. Da Educação Física à cinesiologia humana. Movimentar-se, ano 3, n. 2, 2006. PEREIRA, R.S.; NISTA PICCOLO, V.L.; SANTOS, S.A.P. A Educação Física nas séries da fase inicial do Ensino fundamental: olhar do professor polivalente. R. da Educação Física/UEM. v. 20, n. 3, P. p. 343-352, 2009. RODRIGUES, D. et al. Desenvolvimento motor e crescimento somático de crianças com diferentes contextos no ensino infantil. Motriz, v. 19, n. 3, Suplemento, p. S49-S56, 2013. RODRIGUES JÚNIOR, J.C.; SILVA, C.L. A significação nas aulas de Educação Física: encontro e confronto dos diferentes "subúrbios" de conhecimento. Pro-Posições [online], v. 19, n. 1, p. 159-172, 2008. SCARAZZATTO, J. Educação Física e cultura corporal: sentidos em circulação e elaboração nas aulas de Prática de Ensino. 154 f. Dissertação (Mestrado em

Page 92: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

92

Educação) - Faculdade de Educação. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2013. SILVEIRA, S.R. et al. Aquisição da habilidade motora rebater na Educação Física escolar: um estudo das dicas de aprendizagem como conteúdo de ensino. Revista Brasileira Educação Física do Esporte [online], v. 27, n.1, p. 149-157, 2013.

Page 93: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

93

3 PRODUTO TÉCNICO: instrumentalizando o pedagogo para

aulas de Educação Física!

Weslley Moreira Saraiva6

Matilde Meire Miranda Cadete7

RESUMO Trata-se este trabalho de um produto técnico construído a partir da demanda surgida dos cinco pedagogos professores de Educação Física e sujeitos da dissertação de mestrado intitulada: A atuação de professores pedagogos como educadores físicos no Ensino Fundamental I. Objetiva capacitar docentes pedagogos com vistas a auxiliá-los no exercício docente de aulas de Educação Física para alunos do ensino Fundamental. Essa capacitação, por meio de oficinas, será realizada com base em quatro módulos: importância das atividades físicas no processo de desenvolvimento físico e motor dos alunos; aula prática: proposta do professor de Educação Física; proposta dos graduandos do curso de Pedagogia; e proposta para pedagogos habilitados. Espera-se que essa capacitação agregue novos conhecimentos da área da Educação Física para esses profissionais, uma vez que essa disciplina merece ser reconhecida em sua importância dentro da escola e no desenvolvimento e na vida dos alunos. . Palavras-chave: Oficinas. Educação Física. Educação.

1 Mestrando do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA.

2 Orientadora e Professora Doutora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA.

Page 94: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

94

ABSTRACT

It is this work of a technical product built from the demand arising from the five teachers PE teachers and subject of the dissertation entitled: The role of teachers and educators in elementary school physical educators I. It aims to empower educators teachers with views assist them in teaching practice of physical education classes for students of elementary education. This training, through workshops, will be based on four modules: the importance of physical activity in the physical development process and students engine; practical class: proposal of a physical education teacher; proposal of the Faculty of Education of graduate students; and a proposal for qualified teachers. It is expected that this training adds new knowledge in the area of physical education for these professionals, since this subject deserves to be recognized for its importance within the school and in the development and life of students. Keywords: Workshops. Physical Education. Education.

Page 95: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

95

3.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo, descreve-se uma proposta de trabalho a ser concretizada

com pedagogas professoras de Educação Física (EF), podendo, a posteriori, ser

ampliada para graduados e graduandos em Pedagogia que buscam

aprimoramento de sua prática docente. Essa necessidade surgiu, portanto, dos

dados da pesquisa realizada, que abalizaram ser de suma importância buscar

capacitação no desenvolvimento das aulas práticas, uma vez que os conteúdos

ligados à cultura corporal de movimento, ao desenvolvimento motor, à

socialização, à inclusão e à ludicidade são de domínio do profissional de

Educação Física.

Junta-se ao desejo expresso pelos sujeitos o testemunho do próprio

pesquisador, pois como graduado em Educação Física e docente do curso de

Pedagogia, detectou-se que as graduandas em Pedagogia e que já ministram

aulas de EF, antes de obterem conhecimento prévio, apesar de insuficiente, não

tinham a mínima noção do que e do como fazer nas referidas aulas.

Percebe-se, assim, a necessidade de transpor essa lacuna na formação

acadêmica dos pedagogos, com vistas a uma aula de EF que cumpra seus

objetivos de fato, conforme rezam as Diretrizes Curriculares Nacionais. É preciso

trabalhar conjuntamente com as instituições de ensino superior para que seus

graduandos obtenham o conhecimento pertinente ao perfil do profissional que se

pretende formar: mediador de formação integral de alunos cidadãos, íntegros,

éticos e críticos.

Os pedagogos atuais e ativos devem sustentar o desenvolvimento de suas

aulas de Educação Física corretamente em beneficio dos alunos, que certamente

obterão resultados mais abrangentes e efetivos em suas aulas de Educação

Física.

Espera-se que o conteúdo teórico e prático trabalhado nas oficinas de

capacitação seja norteador de planejamento e materialização das aulas de EF.

Nas oficinas serão realizadas diversas atividades para que os pedagogos

possibilitem aos seus alunos vivenciar momentos de socialização, integração

social, além de propiciar melhores níveis de qualidade de vida, desenvolvimentos,

habilidades básicas, cultura corporal e afetividade.

Page 96: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

96

A metodologia eleita para se realizar a capacitação foi a oficina.

As oficinas são consideradas uma estratégia metodológica de ensino,

capazes de auxiliar os pedagogos na resolução de dúvidas, expectativas e novas

aprendizagens. Seus resultados poderão transformar o processo de ensino-

aprendizagem das aulas de Educação Física em momentos de aprendizagem de

experiências práticas motoras, afetivas, cognitivas e sociais.

Conforme Afonso (2010a), oficina é um trabalho estruturado com grupos,

com foco comum, em determinado quadro social.

O professor que vai executar a oficina tem que fazer um trabalho dinâmico

e bem flexível, porque trabalhar com professores habilitados ou graduandos não é

uma coisa muito fácil, muitas vezes, realizar as mudanças no desenvolvimento do

trabalho é um fator extremamente relevante para o desenvolvimento de uma boa

aula de EF.

Portanto, neste capítulo apresenta-se o produto técnico, cujo objetivo é

capacitar os profissionais pedagogos com vistas à realização de aulas de EF de

forma mais efetiva.

3.2 CONHECENDO O PRODUTO TÉCNICO

Aprender, por meio de oficinas, é ativar o diálogo, realizar trocas, sentir-se

inserido e participante ativo nas discussões, nos acertos, nos confrontos e na

assimilação de conteúdos. É refletir acerca dos conhecimentos que devem ser

apreendidos ou mudados ou enriquecidos com novo olhar e nova direção.

Afonso (2010a, p. 9) conceitua oficina como:

[...] um trabalho estruturado com grupos, independentemente do número de encontros, sendo focalizado em torno de uma questão central que o grupo se propõe a elaborar, em um contexto social. A elaboração que se busca na oficina não se restringe a uma reflexão racional, mas envolve os sujeitos de maneira integral, formas de pensar, sentir e agir.

Dessa forma, as oficinas podem ser utilizadas em diferentes contextos que,

nessa conjuntura, contemplarão professores habilitados em Pedagogia e que são

docentes de EF.

Nessa capacitação, é imperativo que aconteçam trocas dialógicas que

permitam aos professores pensar e construir novas experiências sobre as aulas e

Page 97: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

97

a possibilidade de contribuir para que as mesmas sejam criativas e motivantes.

Afirma-se o potencial das oficinas ao propor um espaço de trocas de

experiências, discussão em grupo em relação ao planejado e intuído pelo grupo

(SPINK; MENEGON; MEDRADO, 2014). Visam-se, portanto, a novos pontos de

vistas, construtivos, para a transformação das aulas de EF.

As oficinas educativas têm como estratégias formar sujeitos com

pensamentos críticos, por meio de um modelo participativo (MOREIRA;

GONÇALVES, 2014). Esses autores mencionam que:

Trata-se de um método de intervenção que possui uma dimensão terapêutica, incentivando os sujeitos a terem espaço para a fala e a escuta, podendo expressar seus sentimentos, possuindo um caráter pedagógico de troca de informações em que os participantes aprendem e ensinam uns aos outros (MOREIRA; GONÇALVES, 2014, p. 724).

Para Duarte (2011, p. 115), “a aprendizagem nas oficinas torna-se um

processo dinâmico ao possibilitar mudanças em toda a estrutura e dinâmica do

grupo”. A autora também diz que, a partir de novas formas de sentir e pensar, as

oficinas proporcionam novas reflexões e ampliam os horizontes, sempre pautadas

em uma transformação contínua e, com isso, o pedagogo conseguirá aumentar

seu conhecimento teórico prático que sustenta suas aulas.

Para Afonso (2010b, p. 49-50), a comunicação e os processos

intersubjetivos na oficina ocorrem porque “existe uma relação entre o campo

grupal e social e porque no processo de comunicação do grupo há um constante

trabalho que inter-relaciona linguagem e identidade”.

É preciso identificar o que impede a comunicação. Pois, como salienta

Afonso (2010a, p. 51):

A comunicação só se realiza através da interação, o que implica em buscar determinações de contexto, papéis e expectativas sobre as subjetividades dos participantes e suas relações, para que possam refletir sobre as censuras impostas à sua comunicação.

No desenvolvimento das oficinas as técnicas utilizadas devem ser

escolhidas conforme as necessidades do grupo e após a avaliação do

profissional. Entende-se que a técnica “favorece a sensibilização, a expressão e a

comunicação, a reorganização das narrativas no campo grupal, a possibilidade de

Page 98: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

98

sistematização e comparação dos pontos de vistas, o trabalho com conflitos e

diferenças” (AFONSO, 2010a, p. 56). Essas técnicas devem sofrer adaptações de

acordo com o grupo, uma vez que lhe compete ampliar o conhecimento do grupo

e possibilitar novas interações.

É importante que “a análise da demanda esteja articulada com a análise da

produção dessa demanda” (ROCHA; DEUSDARÁ, 2010, p. 61). A demanda deste

grupo de capacitação é relacionada à aprendizagem de aulas de EF para alunos

do Ensino Fundamental.

Segundo Afonso (2010b, p. 35-36), o coordenador deve sempre recusar a

postura de detentor do saber, assumindo postura de dinamizador e facilitador do

processo grupal. E deve “ser sensível a esta dinâmica, mas restrito quanto à

interpretação, para não levantar conflitos de forma indiscriminada na estrutura

defensiva dos participantes e do grupo”. Diante disso, o educador físico deve ser

cauteloso, pois é muito complicado ministrar aulas ou repassar seu conteúdo para

aquele profissional já habilitado e, em muitos casos, para os graduandos. Deve

estar atento, pois serão questionados e indagados se aquela é a melhor forma de

ministrar as aulas.

3.3 DESCRIÇÃO DETALHADA DO PRODUTO TÉCNICO

Propõe-se uma capacitação: “Instrumentalizando o pedagogo para aulas

de Educação Física!” A capacitação, por meio de oficinas, será dividida em quatro

módulos, com aulas teóricas e práticas. Fazem-se necessárias aulas práticas de

50 minutos, nas escolas parceiras e locais onde se coletaram os dados da

pesquisa, para que haja aulas práticas com os alunos das escolas.

O módulo 1 apresenta: a) a importância da EF no Ensino fundamental I e

alguns conceitos fundamentais e habilidades básicas, que constituem o ato de

andar, correr, saltar, pular, girar, “quicar”, rolar e arremessar, para o

desenvolvimento da criança; b) como trabalhar a cultura corporal de movimento,

que são a dança, o esporte, os jogos, as lutas e a ginástica; c) a inclusão de todos

os alunos nas aulas, atividades de acordo com a faixa etária e a participação de

todos eles; d) e também esclarece a importância da EF para a vida, conforme

esquema da FIG. 1:

Page 99: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

99

FIGURA 1 - Módulo 1

INSTRUMENTALIZANDO O PEDAGOGO PARA AULAS DE EDUCAÇÃO

FÍSICA!

“O desenvolvimento e a importância das aulas de Educação Física”

Educação Física no Ensino Fundamental I Módulo 1

EMENTA

Importância da Educação Física no Ensino fundamental I e alguns conceitos

fundamentais. Pontos relevantes a serem observados e discutidos com os alunos

no decorrer das aulas.

OBJETIVOS

Apresentar e discutir a importância da Educação Física no Ensino

Fundamental I e alguns conceitos importantes.

Apresentar e discutir alguns conceitos importantes.

CONTEÚDO

A importância da Educação Física no Ensino Fundamental I

O que é desenvolvimento motor?

O que é um cultural corporal de movimento?

Inclusão

Mistura de gênero

METODOLOGIA

Discussões dialógicas, problematizadas e participativas.

RECURSOS DIDÁTICOS / MATERIAIS NECESSÁRIOS

Datashow, filmes, revista, jornal e internet.

O módulo 2 objetiva detalhar o processo das aulas, em que o professor irá

ministrar uma aula prática, tendo como alunos os próprios pedagogos, que

participarão e executarão as solicitações. Todas as etapas serão esclarecidas,

Page 100: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

100

evidenciando e elucidando a sua construção. Ressaltam-se os pontos relevantes

a serem observados em cada uma das etapas da aula.

FIGURA 2 – Módulo 2

Aula Prática - Proposta do Professor de Educação Física* Módulo 2

EMENTA

Elucidação das etapas para a construção das aulas de Educação Física. Os

pontos relevantes a serem observados em cada período da aula. Como se realiza

uma aula?

OBJETIVOS

Apresentar as atividades a serem realizadas na prática.

Esclarecer suas etapas e apresentar os pontos relevantes que devem

ser observados em cada período da aula.

Realizar uma aula inclusiva e participativa.

Trabalhar a cultura corporal de movimento .

CONTEÚDO

Alongamento

Circuito motor

Jogos

Tomar água

Relaxamento

METODOLOGIA

Discussões dialógicas e realização de aula prática.

RECURSOS DIDÁTICOS / MATERIAIS NECESSÁRIOS

Bolas, cones, bambolê, corda e colchonete.

* Proposta de atividade no ANEXO XX.

No módulo 3 é distribuída a turma em quatro grupos, em que cada grupo

irá ministrar uma aula, proposta por eles, para crianças da escola da região. Será

Page 101: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

101

realizada discussão para apresentação da aula, além da proposição de novas

ações e qualificação para os pedagogos, a partir da prática, que potencializem o

desenvolvimento do seu conhecimento.

FIGURA 3 – Módulo 3

Aula Prática - Proposta dos Graduandos do curso de

Pedagogia Módulo 3

EMENTA

Aula monitorada pelos grupos de alunos.

OBJETIVOS

Mostrar na prática como se ministra uma aula de Educação Física.

Analisar como é dar uma aula.

Compreender a importância dos movimentos.

CONTEÚDO

Desenvolvimento motor

A cultura corporal

Esportes

Circuitos

Dança

Jogos

Lutas

METODOLOGIA

Oficina prática monitorada pelos grupos de alunos.

RECURSOS DIDÁTICOS / MATERIAIS NECESSÁRIOS

Bolas, cones, bambolê, corda e colchonete.

E, para finalizar, o módulo 4, que será desenvolvido para pedagogos

Page 102: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

102

habilitados por meio de oficinas, de acordo com as Secretarias de Educação

Municipais. Serão aulas teóricas e práticas com conhecimentos relevantes para

os pedagogos. O módulo terá duração de cinco horas, para assegurar a

assimilação e disseminação de uma noção básica para que os professores

consigam realizar aulas criativas e eficientes com os alunos das escolas.

FIGURA 4 – Módulo 4

Aula Prática - Proposta para Pedagogos Habilitados Módulo 4

EMENTA

Aula monitorada para professores graduados em Pedagogia.

OBJETIVOS

Mostrar na prática como se ministra uma aula de Educação Física.

Analisar como é dar uma aula.

Compreender a importância dos movimentos.

CONTEÚDO

Desenvolvimento motor

A cultura corporal

Esportes

Circuitos

Dança

Jogos

Lutas

METODOLOGIA

Oficinas prática monitorada pelo professor de Educação Física para os

pedagogos habilitados.

RECURSOS DIDÁTICOS / MATERIAIS NECESSÁRIOS

Bolas, cones, bambolê, corda e colchonete.

As declarações estarão anexas no final do trabalho.

Page 103: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

103

3.4 CONSIDERAÇOES FINAIS

O que se procura, por meio dessa capacitação, é que os profissionais de

Pedagogia se sintam mais confiantes e com propriedade para assumirem o

desenvolvimento das aulas de EF, mesmo acreditando que essa aula deveria ser

da competência do profissional formado em EF.

Espera-se que a partir desses encontros os pedagogos alcancem

resultados mais efetivos e propiciem que os alunos, ao sair do Ensino

Fundamental I, sintam-se cidadãos de direitos e deveres, acreditem-se como

sujeitos ativos e autônomos para o alcance e realização de sonhos e tenham,

portanto, uma formação integral.

Diante da necessidade de um conhecimento teórico e prático sobre

oficinas, a proposta de intervenção apresentada poderá subsidiar os profissionais

de Pedagogia para o desenvolvimento do trabalho de forma complementar à sua

formação. Que vejam e sintam que essa capacitação lhes municiará com

relevantes contribuições que irão potencializar o número de ações eficientes e

eficazes as aulas de EF.

Registra-se que apenas uma capacitação não é suficiente para dar conta

de aprendizagens, que devem ser contínuas, constantes e inovadoras. A

aprendizagem é diária, pois o conhecimento e novas alternativas, inclusive de

movimentos, se fazem presentes e requerem retroalimentação em todas as

dimensões da vida.

Os pedagogos têm grande responsabilidade em suas mãos, pois as

crianças estão em pleno desenvolvimento e, nessa fase, elas precisam ser muito

estimuladas, o que vai acarretar benefício para suas vidas.

Page 104: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

104

REFERÊNCIAS AFONSO, Maria Lúcia M. (org). Oficinas em dinâmica de grupo: um método de intervenção psicossocial. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010a. AFONSO, Maria Lúcia M. O diálogo com a intervenção psicossocial. In: AFONSO, M.L.M. Produto 2: revisão bibliográfica sobre metodologias de trabalho social com famílias e análise do “estado da arte” do emprego das mesmas. Trabalho apresentado ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a partir do Termo de Referência 132028 do PNUD. Brasília: PNUD, p. 93-116, 2010b. DUARTE, Karinne Regis. Oficinas em dinâmica de grupo com mulheres vítimas de violência doméstica: contribuições metodológicas aos estudos sobre violência de gênero. Revista OPSIS, v. 11, n. 1, p. 111-124, 2011. MOREIRA, Aline Carlezzo; GONÇALVES, Claudia Giglio de Oliveira. A eficiência de oficinas em ações educativas na saúde auditiva realizadas com trabalhadores expostos ao ruído. Revista CEFAC [online], v. 16, n. 3, p. 723-731, 2014. ROCHA, Décio; DEUSDARÁ, Bruno. Contribuições da análise institucional para uma abordagem das práticas linguageiras: a noção de implicação na pesquisa de campo. Cadernos de Letras da UFF - Dossiê: Letras, linguística e suas interfaces, v. 40, p. 47-73, 2010. SPINK, Mary Jane; MENEGON, Vera Mincoff; MEDRADO, Benedito. Oficinas como estratégia de pesquisa: articulações teórico-metodológicas e aplicações ético-políticas. Psicologia e Sociedade [online], v. 26, n. 1, p. 32-43, 2014.

Page 105: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

105

4 CONSIDERSAÇÕES FINAIS

Os textos analisados e que compõem o referencial teórico assinalam a

trajetória histórica da evolução da disciplina de EF no ensino brasileiro. A EF se

constitui em um processo social importante para a socialização dos indivíduos,

agregando valores e potencializando a cultura local e o desenvolvimento do

mesmo. Isso aconteceu de acordo com a evolução da EF no decorrer dos anos,

que no início sofria grandes influências médicas e militares que intervinham no

funcionamento do corpo, com o intuito de formar homens fortes para prática da

guerra.

Nos dias atuais deve-se trabalhar com grande ênfase a inclusão e a cultura

corporal de movimento tais como: danças, esporte, jogos, lutas e ginástica de

forma totalmente lúdica e inclusiva para os alunos. Não é concebível um educador

deixar um aluno fora de qualquer atividade (a não ser que haja empecilho de

saúde para tal) ou deixar que a classe o elimine das atividades propostas.

Os professores devem sempre tentar fazer uma aula de acordo com a

turma e a faixa etária da mesma, porque a EF não é uma disciplina ligada apenas

ao brincar - ela é importante para o desenvolvimento integral do aluno.

Destaca-se que a atuação do professor de EF deve ser respaldada pelo

princípio da responsabilidade social, cuja prática inclusiva é reconhecida como

canal de socialização e de inclusão social. Como profissional formado em EF,

afirmo que quem deve ministrar as aulas de EF é o professor graduado em EF e

não um pedagogo com as devidas competências para outras disciplinas. Afinal, o

professor graduado em EF oferece as adequadas técnicas que ajudarão no

desenvolvimento do aluno na dimensão psicomotora concomitantemente com os

domínios cognitivos, afetivos e sociais. As atividades lúdicas e inclusivas

contribuem no processo inicial de mudança significativa na vida dos alunos.

Na atual situação de hoje, muitos pedagogos ministram as aulas de EF. E a

realidade mostra que, para isso, do ensino infantil até o ensino Fundamental I, os

pedagogos precisam se aperfeiçoar de técnicas que só um profissional graduado

da área conhece. E muitas das vezes a carga horária no curso de Pedagogia da

disciplina EF é bem baixa, quando existe.

Page 106: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

106

E diante das diversas dificuldades encontradas pelos pedagogos quanto ao

conhecimento teórico e prático, sua devida desmotivação para dar aula desse

conteúdo gera a insatisfação dos pedagogos e perda essencial de atividades que

poderão agregar valores na vida dos alunos. Essa situação de o pedagogo

assumir aulas de EF pode acarretar situações de risco para os alunos e também

para o professor, que não detém a técnica correta. Isso remete e convoca a todos

para a necessidade de pensar, refletir acerca de qual profissional compete dar

aulas de EF. Caso não seja possível ser um professor graduado em EF, que ao

menos as instituições educativas ofereçam estruturas e oportunidades aos

pedagogos, bem como os capacite sempre para tal.

A análise das entrevistas revelou o que a literatura tem mostrando: a falta

de conhecimento e de experiência dos professores pedagogos gera sentimento

de insatisfação, de despreparo e de insegurança em ministrar as aulas de

Educação Física. Tornou-se evidente que desconhecem o como planejar, o como

realizar as aulas práticas e qual os objetivos de cada aula.

Das observações fica a imagem de uma aula sem “vida”, sem atendimento

às expectativas dos alunos, mesmo sabendo que a Educação Física Infantil tem

papel relevante para o desenvolvimento coordenativo, motor, cognitivo e social

dos alunos.

Tanto as entrevistas quanto as observações mostraram que várias aulas

são feitas de forma “livre”, o que se pode dizer que ocorre o “rola-bola”, uma vez

ser mais fácil para o professor deixar passar o tempo das aulas. Essa livre aula é

prejudicial para o professor que se sente “perdendo o tempo” e para os alunos

que não terão aulas direcionadas para o seu desenvolvimento. Destaca-se, ainda,

que algumas das atividades com um mínimo de orientação e intervenção

proporcionarão vários resultados relevantes, em que poderão ser trabalhadas a

tomada de decisão, a criatividade e a ludicidade.

Os professores pedagogos, conforme relatado por eles e após serem

observados, não estão aptos para assumirem aulas de EF, pois não receberam e

não possuem o conhecimento específico para que possam trabalhar a cultura

corporal de movimento e as atividades propícias a cada faixa etária.

Para que esses professores possam ministrar as aulas de EF seria

necessária uma reformulação na matriz curricular dos cursos de Pedagogia, uma

Page 107: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

107

vez que, atualmente, os pedagogos não possuem embasamento teórico e/ou

prático para tal atividade. Adquirir esse conhecimento técnico e/ou prático poderia

estimular esses professores e, consequentemente, elevar o desenvolvimento dos

seus alunos quando se alcançam os objetivos propostos pelas DCNs da

Educação Física.

Assim, é relevante a capacitação dos pedagogos para que se sintam mais

preparados para as aulas de EF. Que eles se vejam e se sintam municiados com

as contribuições que poderão potencializar o número de ações eficientes e

eficazes com as aulas de EF.

Ressalta-se que apenas os conhecimentos advindos da pesquisa realizada

e que deu origem a esse produto técnico não são conclusivos. Tornam-se

necessárias outras pesquisas, tanto na abordagem qualitativa e/ou quantitativa,

para que o fenômeno “pedagogo professor de Educação Física” seja mais

estudado, mais compreendido e resulte em transformações benéficas para a

formação do aluno cidadão.

Page 108: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

108

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA

A ATUAÇÃO DE PROFESSORES PEDAGOGOS COMO

EDUCADORES FÍSICOS NO ENSINO FUNDAMENTAL I.

Nome: Idade:

Tipo de escola :

Turma : Nº de alunos:

Instituição onde graduou:

Ano de conclusão da graduação ou período que está cursando:

Tempo de atuação dando aula de educação física.

1- O que significa, para você, dar aula de Educação Física?

2- Você se acha preparada para ministrar a disciplina Educação Física? Por que?

3- Como você trabalha a cultura corporal de movimento com os seus alunos?

4- E como trabalha o desenvolvimento motor?

5- A inclusão de alunos em suas aulas como é trabalhada?

6- Em relação ao gênero como é trabalhada?

7- Qual seu procedimento para aqueles alunos que não querem fazer suas aulas?

8- Quais os conteúdos você estudou na sua formação?

9- Você acha que seus alunos ficam prejudicados por não terem um professor

especifico da área, isto é, formado em E.F para o decorrer da vida dos alunos?

10- Como prepara suas aulas??

11- Quais dificuldades você tem para preparar as aulas?

Page 109: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

109

12- O que falta às aulas de E.F no curso de Pedagogia com vistas à melhor formação

do pedagogo para dar aula no ensino fundamental I?

13- O que você achou das aulas dos professores de E.F que você teve no curso de

Pedagogia?

14- Qual sua opinião sobre as condições oferecidas pelas instituições formadoras

durantes as aulas de E.F no curso de Pedagogia.

15- Quais são as condições materiais e recursos pedagógicos oferecidos pela escola

na qual você trabalha para o desenvolvimento das aulas de E.F no E.F.I?

16- Gostaria de acrescentar mais alguma coisa?

Page 110: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

110

Centro Universitário UNA

APÊNDICE B - OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA

ANALISE DE DADOS DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

MINISTRADA POR PEDAGOGAS.

AULAS Tipo de exercícios

(modalidade esportiva, jogos, desenvolvimento motor,etc)

O que deveria fazer

.

Fez correta-

mente

Não fez Observa

ções

Inicio da

Aula

*Busca alunos na sala;

*Explica atividade do

dia e seu beneficio;

*Faz alongamento.

Durante

a Aula

*Observa se todos são incluídos; *Mistura de gênero; *Tomam água; * Aulas para idade adequada. * Alunos atentos ; *Alunos interessados nos exercícios * Interação aluno/professor

Termino

da aula

*Tomam água; *Fala dos benefícios da aula do dia; * Relaxamento; * Avaliação da aula com aluno.

Após a

aula.

Leva alunos até sala

de forma organizada;

Page 111: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

111

APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

A ATUAÇÃO DE PROFESSORES PEDAGOGOS COMO EDUCADORES FÍSICOS

N0 ENSINO FUNDAMENTAL I.

Nome do Pesquisador: Weslley Moreira Saraiva Nome da Orientadora: Dra. Matilde Meire Miranda Cadete

Esclarecimentos sobre a pesquisa:

1. Natureza da Pesquisa: Você (nome do entrevistado) está convidado(a) a

participar desta pesquisa que tem como finalidade analisar são as aulas de

educação Física ministrada por uma pedagoga.

2. Participantes da Pesquisa: Profissionais de pedagogia, sejam eles com

formação completa ou incompleta no curso de graduação de pedagogia, que

atuam ministrando as aulas de educação física.

3. Envolvimento na pesquisa: ao participar deste estudo, você permitirá que o

pesquisador colete dados que ofereçam subsídios para fundamentar a pesquisa.

Você tem liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar

participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para o Sr.(a).

Sempre que quiser pedir mais informações sobre a pesquisa, pode fazê-lo por

meio do telefone do pesquisador do projeto e, se necessário, pelo telefone do

Comitê de Ética em Pesquisa ou da orientadora do projeto.

4. Sobre as entrevistas: você responderá a algumas perguntas e não existe

certo ou errado nas suas respostas, uma vez que nos importa é sua visão em

relação às aulas de educação física ministrada por você.

5. Sobre a observação: você, caso seja selecionado e o permita, também poderá

ter uma aula de educação física observada. Apenas registraremos o que vai ser

realizado e como os alunos se comportam durante a aula.

6. Riscos e desconfortos: a participação nesta pesquisa não traz complicações

legais. Pode haver certo constrangimento/ desconforto diante de alguma

pergunta. Nesse caso, é de sua livre escolha responder ou não a pergunta

podendo inclusive cancelar sua participação na pesquisa no decorrer da

entrevista.

Page 112: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

112

7. Confidencialidade: seu nome será mantido em segredo e todas as

informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. Somente ao

pesquisador e a orientadora terão conhecimento dos dados.

8. Forma de Acompanhamento e Assistência: caso você queira nos procurar

ou tornar dúvidas após participar desta pesquisa, colocamo-nos a sua inteira

disposição. Pode também nos telefonar caso queira saber em que momento se

encontra nosso trabalho.

9. Benefícios: ao participar desta pesquisa você não terá nenhum benefício

direto. Entretanto, esperamos que este estudo possa trazer contribuições

importantes para a construção de conhecimentos acadêmicos a respeito da

temática em questão, e sirvam para subsidiar as práticas de educacionais

relacionadas à Educação Física no Ensino Fundamental.

10. Pagamento: você não terá nenhum tipo de despesa para participar desta

pesquisa, bem como nada será pago por sua participação.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para

participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem.

Obs.: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito.

Page 113: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

113

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, (nome do profissional) de

forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento para participar da

pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a

realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo.

___________________________________________

Assinatura do Participante da Pesquisa

___________________________________________

Nome do Participante da Pesquisa

____________________________________________

Assinatura do Pesquisador

Pesquisador: Weslley Moreira Saraiva; Rua Roque Barreto da Trindade, 144 -

Apto 404, blobo b3 – Belo Horizonte/MG – Telefone: (31) 88853450 / (31) 3785-

3450

Orientadora: Matilde Meire Miranda Cadete Telefone: (31) 99728033 (31)

34099687

Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Guajajaras, 175, 4ºandar – Belo

Horizonte/MG – Telefone: (31) 3508-9110 – Contato: [email protected]

Page 114: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

114

Page 115: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

115

Page 116: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

116

Page 117: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

117

Page 118: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

118

Page 119: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

119

Page 120: a atuação de professores pedagogos como educadores físicos no ...

120