A Construção Da Noção de Corpo Pela Criança de Educação Infantil Representadas No Desenho

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A CONSTRUÇÃO DA NOÇÃO DE CORPO PELA CRIANÇA DE EDUCAÇÃO INFANTIL REPRESENTADAS NO DESENHO Jessika Branco Phomeniuk Gouveia Escola Municipal Professor Carlos Zewe Coimbra [email protected] Cleide Vitor Mussini Batista Universidade estadual de Londrina [email protected] RESUMO O objetivo deste trabalho é apresentar como a criança da Educação Infantil representa por meio do desenho a noção que ela tem de seu próprio corpo, bem como, a evolução desta representação. Os desenhos das crianças nos mostram que a noção de corpo, é um conhecimento construído pela criança ao longo das experiências que a mesma tem com seu próprio corpo. Realizamos uma análise dos desenhos produzidos pelas crianças matriculadas nas turmas de Educação Infantil das Escolas Municipais de Londrina, onde buscamos identificar como cada criança representa seu próprio corpo. Tabulamos os resultados desta análise e buscamos identificar como uma proposta pedagógica pode contribuir para a construção desta noção de corpo. Assim, compreendemos que os conhecimentos relacionados a psicomotricidade e o desenho infantil podem muito contribuir para que os professores de Educação Infantil elaborem um proposta pedagógica significativa para a construção da noção de corpo, essencial para a construção de conhecimentos posteriores. Palavras chave: Desenho. Corpo e movimento. Educação Infantil. 1 INTRODUÇÃO Vivemos em uma sociedade, onde o lema “Quanto mais cedo melhor!” tem seduzido muitos pais e professores, inclusive no momento de se decidirem pela introdução dos pequeninos no ensino escolar formal – leitura, escrita e matemática, principalmente. Em face da evidente proliferação desses conceitos, percebemos a importância de se averiguar as consequências deste apressamento cognitivo. Diante da realidade social, buscamos proporcionar nos espaços de Educação Infantil, relação e contato, permitindo uma percepção mais próxima dos desejos de cada um, do grupo e das diferenças. Para isso temos o corpo em movimento. Uma trama de sensações cinestésicas, sensoriais, emocionais e neurológicas organizadas por vias receptivas e expressivas onde a criança integra estes estímulos produzindo marcas que a façam perceber a si e ao outro, na 705

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O objetivo deste trabalho é apresentar como a criança da Educação Infantilrepresenta por meio do desenho a noção que ela tem de seu próprio corpo, bemcomo, a evolução desta representação. Os desenhos das crianças nos mostram quea noção de corpo, é um conhecimento construído pela criança ao longo dasexperiências que a mesma tem com seu próprio corpo. Realizamos uma análise dosdesenhos produzidos pelas crianças matriculadas nas turmas de Educação Infantildas Escolas Municipais de Londrina, onde buscamos identificar como cada criançarepresenta seu próprio corpo. Tabulamos os resultados desta análise e buscamosidentificar como uma proposta pedagógica pode contribuir para a construção destanoção de corpo. Assim, compreendemos que os conhecimentos relacionados apsicomotricidade e o desenho infantil podem muito contribuir para que osprofessores de Educação Infantil elaborem um proposta pedagógica significativapara a construção da noção de corpo, essencial para a construção deconhecimentos posteriores.

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  • A CONSTRUO DA NOO DE CORPO PELA CRIANA DE EDUCAO INFANTIL REPRESENTADAS NO DESENHO

    Jessika Branco Phomeniuk Gouveia

    Escola Municipal Professor Carlos Zewe Coimbra [email protected]

    Cleide Vitor Mussini Batista Universidade estadual de Londrina

    [email protected]

    RESUMO

    O objetivo deste trabalho apresentar como a criana da Educao Infantil representa por meio do desenho a noo que ela tem de seu prprio corpo, bem como, a evoluo desta representao. Os desenhos das crianas nos mostram que a noo de corpo, um conhecimento construdo pela criana ao longo das experincias que a mesma tem com seu prprio corpo. Realizamos uma anlise dos desenhos produzidos pelas crianas matriculadas nas turmas de Educao Infantil das Escolas Municipais de Londrina, onde buscamos identificar como cada criana representa seu prprio corpo. Tabulamos os resultados desta anlise e buscamos identificar como uma proposta pedaggica pode contribuir para a construo desta noo de corpo. Assim, compreendemos que os conhecimentos relacionados a psicomotricidade e o desenho infantil podem muito contribuir para que os professores de Educao Infantil elaborem um proposta pedaggica significativa para a construo da noo de corpo, essencial para a construo de conhecimentos posteriores. Palavras chave: Desenho. Corpo e movimento. Educao Infantil.

    1 INTRODUO

    Vivemos em uma sociedade, onde o lema Quanto mais cedo

    melhor! tem seduzido muitos pais e professores, inclusive no momento de se

    decidirem pela introduo dos pequeninos no ensino escolar formal leitura, escrita

    e matemtica, principalmente. Em face da evidente proliferao desses conceitos,

    percebemos a importncia de se averiguar as consequncias deste apressamento

    cognitivo.

    Diante da realidade social, buscamos proporcionar nos espaos de

    Educao Infantil, relao e contato, permitindo uma percepo mais prxima dos

    desejos de cada um, do grupo e das diferenas. Para isso temos o corpo em

    movimento. Uma trama de sensaes cinestsicas, sensoriais, emocionais e

    neurolgicas organizadas por vias receptivas e expressivas onde a criana integra

    estes estmulos produzindo marcas que a faam perceber a si e ao outro, na

    705

  • relao. Entendemos, ento, que a base do trabalho com as crianas na Educao

    Infantil consiste na estimulao perceptiva e desenvolvimento do esquema corporal.

    A criana organiza aos poucos o seu mundo a partir do seu prprio

    corpo. Por meio da ao, a criana vai descobrindo as suas preferncias e

    adquirindo a conscincia do seu esquema corporal. Para isso necessrio que ela

    vivencie diversas situaes durante o seu desenvolvimento, nunca esquecendo que

    a afetividade a base de todo o processo de desenvolvimento, principalmente o de

    ensino e aprendizagem. Partindo da organizao do EU, a criana pouco a pouco ir

    ampliando o seu espao. Sensao, percepo, cognio e afeto caminham lado a

    lado na trilha do conhecimento humano. O homem um ser social. As relaes da

    criana no grupo so por isso, importantes no s para a aprendizagem social, mas

    fundamental para a tomada de conscincia de sua personalidade. A confrontao

    com os amigos de turma, permite-lhes constatar que um entre outros e que, ao

    mesmo tempo, igual e diferente deles.

    Nesse sentido nosso objetivo averiguar como os professores da

    Educao Infantil, especificamente o EI6, efetiva uma proposta didtica onde as

    crianas percebam as reais potencialidades de seu corpo, dando conta das

    possibilidades e dificuldades do mesmo, dividindo experincias, pedindo ajuda e

    superando todas as questes que possam vir a prejudicar um desenvolvimento

    psicomotor satisfatrio, bem como averiguar de que forma o programa de Formao

    Continuada previsto no projeto maior juntamente com a Rede Municipal de Londrina

    se efetiva na orientao aos professores quanto a importncia de se potencializar

    um espao e um tempo proporcionando as crianas uma melhor aceitao das

    diferenas, uma melhor percepo do seu prprio corpo, o prazer do movimento pela

    brincadeira que pode despertar consequentemente um maior desejo no ato de

    aprender.

    Como isso seria possvel? Precisvamos ento de um instrumento

    de coleta de dados confivel, que pudesse nos apresentar como a criana estaria

    desenvolvendo seu esquema corporal. Surge ento nosso interesse pelo desenho

    infantil, entendido aqui como um sistema de representao simblica, to pertinente

    quanto a fala, a brincadeira ou a escrita.

    Esta pesquisa resultado de dois anos de trabalho, realizado

    durante a graduao de Pedagogia na Universidade Estadual de Londrina e a nossa

    706

  • participao no projeto de extenso, Estimulao das habilidades metalingusticas e

    psicomotoras: uma proposta de preveno pedaggica e psicopedaggica.

    Psicomotricidade: O desenvolvimento psicomotor

    Segundo a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP)1, a

    Psicomotricidade uma cincia que estuda o homem por meio do seu corpo em

    movimento em relao ao seu mundo interno e externo, ou seja, considera os

    processos de maturao motora, psicolgica, afetiva e social por meio das

    experincias cinestsicas vividas pelo sujeito.

    Os estudos da Psicomotricidade so usados, principalmente, na

    Educao Infantil, pois revelam que o desenvolvimento sadio do corpo e de sua

    motricidade est intimamente ligado ao um desenvolvimento sadio da mente.

    A educao psicomotora concerne uma formao de base indispensvel a toda criana que seja normal ou com problemas. Responde a uma dupla finalidade: assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta possibilidades da criana e ajudar sua afetividade a expandir-se e a equilibrar-se atravs do intercmbio com o ambiente humano. (LE BOULCH, 1982, p. 13)

    O prprio Referencial Curricular Nacional para Educao Infantil

    (RCNEI) considera o Movimento como um dos eixos de aprendizagem que deve ser

    trabalhado em todos os anos da Educao Infantil. J no Ensino Fundamental o

    movimento passa a ser trabalhado pela Educao Fsica e assim v-se uma reduo

    significativa de atividades em que as crianas so postas em movimento, dando

    lugar para atividades relacionadas ao raciocnio e pensamento.

    importante lembrar que antes da ampliao do Ensino

    Fundamental, a criana de 5 e 6 anos que hoje est matriculada no 1 ano, ainda

    frequentava a Educao Infantil, onde era-lhe explorado todos os dias os

    movimentos corporais, com atividades que faziam a criana perceber seu prprio

    corpo em um tempo e um espao. Por isso vemos a importncia de se intensificar o

    trabalho com o corpo na Educao Infantil, a fim de prevenir dificuldades de

    aprendizagem oriundas de problemas motores.

    Tambm importante que saibamos como se d o desenvolvimento

    psicomotor da criana para que possamos compreender as necessidades da mesma

    aos 6 anos, quando ingressa no Ensino Fundamental e que impedimentos do seu

    1 Disponvel em:

    707

  • atual desenvolvimento motor podem afetar a aprendizagem, principalmente, da

    leitura e da escrita.

    Segundo Fonseca (2010) o corpo da criana logo nos primeiros

    meses de vida, est sujeito a uma aprendizagem tnica o qual ele chama de

    modulao tnica que exclusivo da espcie,

    (...) cujo jogo dialtico para a coluna vertebral, por exemplo, vai de uma hipotonia axial, que permite e limita a criana s posies deitada e sentada at aos 8 ou 9 meses, para uma hipertonia, que vai assegurar, entre os 14 e os 16 meses, o domnio da postura e da marcha bpede. J por exemplo para as extremidades das mos e dos ps e para os dedos, verifica-se precisamente o inverso, isto , da hipertonia das mos e dos ps nos primeiros dias de vida, a criana abre a mo e o p com os seus respectivos dedos para o mundo exterior, atravs de uma hipotonia. (FONSECA, 2010, p. 151-152)

    As estimulaes corporais devem possibilitar a criana a fortalecer a

    musculatura corporal e trabalhar a preenso das mos, ou seja, desenvolver e

    hipertonia - fora - da coluna e membros e trabalhar a hipotonia - flacidez - dos ps e

    mos.

    Vale ressaltar que a hipertonia do corpo e hipotonia das mos no

    chega no seu estagio final logo que a criana fica em p ou abre as mos, pelo

    contrrio, estes indcios so apenas ponto de partidas para novas evolues do

    tnus muscular. Outras questes esto envolvidas nesta evoluo.

    Muitas crianas chegam ao Ensino Fundamental com um

    desenvolvimento psicomotor extremamente rudimentar, tanto na coordenao

    motora fina ou grossa. Este empobrecimento corporal do movimento se d ao fato

    dos novos hbitos da cultura infantil do sculo XXI. M alimentao, sedentarismo,

    uso excessivo de vdeo games, computadores e televiso, pouco espao para

    brincar, reduo do convvio com outras crianas e ausncia de desafios e

    obstculos que so facilitados a todo instante pelos adultos protetores so fatores

    que contribuem para que nossas crianas no desenvolvam as potencialidades de

    movimento do seu corpo.

    Para isso, os estudos da Psicomotricidade apontam um conceito

    extremamente importante chamado esquema corporal, que diz respeito gnese da

    imagem do corpo que a criana possui de si prpria e as representaes deste

    esquema.

    708

  • Segundo Le Boulch (1982) o esquema corporal que concebemos do

    nosso corpo possui uma dimenso psicolgica e social, relacionada ao afeto que o

    sujeito atribui a seu corpo, podendo modificar-se segundo as suas tendncias

    libidinais.

    A imagem do corpo no est pr-formada, ela , segundo a expresso de Mucchielli, estrutura estruturada. atravs das relaes mtuas do organismo e do meio que a imagem do corpo organiza-se como ncleo central da personalidade. A atividade motora e sensrio-motora, graas a qual o indivduo explora e maneja o meio, essencial na sua evoluo. (LE BOULCH, 1982, p. 15)

    Ou seja, para que o sujeito construa sua imagem corporal

    necessrio que ele perceba este corpo em um tempo e em um espao. No basta

    ver o corpo no espelho, pois o sujeito no concebe o que v, mas o que percebe e o

    que sente. preciso que a criana sinta o seu corpo em movimento, pois s assim

    ela perceber seu esquema corporal.

    H um conflito psquico que a criana enfrenta nos primeiros meses

    e at anos de vida, pois seu corpo vive uma simbiose materna. Durante a vida

    intrauterina a criana um corpo s com sua me. O nascimento um marco forte

    na vida psquica do sujeito, pois fisicamente falando so dois corpos e no um, mas

    psicologicamente, ainda, permanece uma simbiose entre me e beb. O beb no

    se compreende conscientemente como um sujeito fora de sua me, ele acredita que

    sua me, ou extenso dela, como um corpo s.

    At o final do segundo ano de vida espera-se que este conflito j

    esteja superado e a criana principia reconhecer que um sujeito nico diferente de

    sua me. Mas esta superao s possvel devido a qualidade do contato me e

    filho que possibilitaram a criana perceber seu corpo.

    evidente que o corpo material e subjetivo o centro deste conflito. Nossa hiptese de trabalho faz da educao psicomotora um meio pratico de ajudar a criana a dispor de uma imagem do corpo operatrio, a partir da qual poder exercer sua disponibilidade. Esta conquista passa por vrios estgios de equilbrio, que correspondem aos estgios da evoluo psicomotora. (LE BOULCH, 1982, p. 18)

    Fonseca (2009) a partir dos estudos de Ajuriaguerra (1974) resume

    as caractersticas principais dos quatro nveis de evoluo do esquema corporal:

    709

  • Etapa do corpo vivido - Sua atividade mental se desenvolve a partir

    do estagio objetal, feita s por imagens alucinatrias, traduzindo os episdios de sua

    vivncia afetiva. Primeiro a me brinca com o corpo do beb; depois o beb brinca

    com o prprio corpo (mos e ps) e, posteriormente, oferece o seu corpo para o

    Outro brincar para, ento, mais tarde a criana brincar com objetos. Assim, esta

    etapa corresponde fase sensrio-motora de Piaget, iniciando, ento, nos primeiros

    meses de vida, onde o beb ainda no tem noo do "eu", confundindo-se com o

    meio e seus movimentos so atividades motoras que no so pensadas para serem

    executadas.

    Etapa do corpo percebido - Inicia na primeira imagem do corpo

    identificado pela criana como seu prprio eu. Corresponde a organizao do

    esquema corporal. Podendo simbolizar a criana pode retratar uma imagem de seu

    corpo que esta diretamente associada s sensaes tteis e cinestsicas

    vivenciadas pelo seu corpo. Esta etapa corresponde ao perodo pr-operatrio de

    Piaget, comeando por volta dos dois anos quando a criana passa a perceber-se, e

    tem-se o incio da tomada de conscincia do "eu". Diferencia-se do meio,

    organizando o espao levando em conta o seu prprio corpo, comeando assim, a

    construir uma imagem mental dele.

    Etapa do corpo percebido - Nesta etapa a criana busca saber de

    sua prpria origem, ou seja, busca por uma filiao que, juntamente em querer saber

    de sua prpria origem busca querer saber dos por qus das coisas. Tambm,

    comea a perceber seu corpo como diferente do outro (menino tem algo a mais e a

    menina que lhe falta algo). Esta etapa como anterior, corresponde ao perodo pr-

    operatrio de Piaget. Os conceitos espaciais como perto, longe, em cima ou

    embaixo comeam a ser discriminados; as noes temporais relativas durao,

    ordem e sucesso de eventos so compreendidas.

    Etapa do corpo representado - corresponde ao perodo operatrio de

    Piaget, comeando aproximadamente aos sete anos quando a criana j tem noo

    do todo e das partes de seu corpo, assumindo e controlando seus movimentos com

    autonomia e independncia. No final dessa fase, a criana j tem uma imagem de

    corpo operatria, usando-o para efetuar e programar mentalmente aes e

    orientando-se por pontos de referncia que podem ser escolhidos.

    710

  • Etapas do corpo segundo Ajuriaguerra (1974)

    Fonte FONSECA (2009, p.154)

    Como pode-se perceber a estruturao do esquema corporal pela

    criana uma dade psicolgica e motora, assim a psicanlise cada vez mais

    interessada no corpo, parte da hiptese de que, tentando ajudar a criana a resolver

    seus problemas afetivos, os problemas funcionais desaparecem. O sintoma a

    expresso de uma perturbao mais profunda da personalidade, assim a

    reeducao psicomotora passa a ser vista como uma terapia psicomotora (LE

    BOULCH, 1982, p. 21-22), portanto, a psicomotricidade deve estar presente na

    educao, uma vez que os problemas motores so causadores de problemas de

    aprendizagem, principalmente, na aprendizagem relativa a leitura e a escrita, bem

    como da matemtica.

    Segundo Le Boulch (1982) a corrente educativa em psicomotricidade

    vem atender a necessidade de uma educao real do corpo que explore os fatores

    de execuo do sistema muscular em conjunto com o sistema nervoso central que

    d suporte s funes mentais. Para o autor possvel, por meio de uma ao

    educativa, a partir dos movimentos espontneos da criana e das atitudes corporais,

    favorecer a gnese da imagem do corpo, ncleo central da personalidade. (p. 13)

    Dada a importncia que a imagem do corpo possui para a

    aprendizagem da criana e a evoluo satisfatria necessrio analisar os

    instrumentos que oferecem a ns, professores, informaes sobre como a estrutura

    711

  • do esquema corporal est se formando na criana. O desenho um instrumento

    bastante usado no meio educacional para verificar como est o esquema corporal da

    criana. Segundo Fonseca (2010) o desenho do corpo permite avaliar

    dinamicamente a maturidade psicomotora, a micromotricidade, a praxia fina, a

    grafomotricidade, a representao espacial (topolgica, projetiva e euclidiana) e o

    conhecimento que a criana possui a cerca do desenho e do que desenha.

    Para ilustrar como se d a evoluo do esquema corporal segundo

    as vivncias motoras das crianas vejamos como Fonseca (2010) descreve as

    concluses dos estudos de V. Fontes (1950) sobre o surgimento dos rgos e a

    ordem de aparecimento dos mesmos:

    Primeiras representaes - um oval ao qual ela adiciona dois apndices, que

    representam as pernas, em virtude da importncia destes membros como rgos

    essenciais na postura, na locomoo bpede, na explorao do espao e na

    descoberta do mundo exterior.

    Surge a relao cabea-tronco, com predomnio da representao da face,

    onde se destacam por ordem cronolgica, os seguintes elementos faciais: olhos,

    boca, nariz, cabelo e orelha.

    Junta ao desenho do corpo os membros superiores, que podem partir

    indistintamente da cabea ou do tronco.

    Surgem posteriormente as mos, em que se destaca a importncia dada

    essencialmente aos dedos.

    S depois esta primeira fase de evoluo, caracterizada por um conjunto de

    linhas simples, a criana passa a uma representao bilinear, isto , ensaia o seu

    primeiro esboo de volume de corpo.

    Realismos lgico - verifica a introduo de novos elementos como o vesturio

    e outros pormenores sociais.

    Desenho de frente substitudo pelo desenho de perfil, correspondendo a

    primeira orientao lateral do corpo, ilustrando outros nveis mais complexos de

    manipulao e de representao espacial.

    712

  • Estdios do desenho do corpo

    Fonte: FONSECA (2010, p. 156)

    Entendido porm como se d a evoluo do esquema corporal e

    como tal evoluo pode ser percebida nos desenhos infantis, fez-se necessrio

    estudar o desenho como um sistema de representao, j que pensvamos em us-

    lo como instrumento de coleta de dados. Ento buscamos um referencial terico que

    pudesse nos apresentar o conceito de desenho infantil e o significado do mesmo

    enquanto representao simblica da criana.

    3 O DESENHO COMO SISTEMAS DE REPRESENTAO

    Considerando o desenho como sistemas de representao simblica

    necessrio que entendamos como se d a gnese deste sistema na criana e

    como evolue, pois compreender a linguagem da criana necessrio para poder

    ensin-la a se comunicar em um mundo letrado. O desenho pode ser considerado

    uma representao simblica, quando a criana passa a perceber que pode

    representar objetos por meio dele.

    Anterior a aquisio da linguagem escrita, a criana j se comunica

    com o mundo por meio de outras linguagens, como a fala, a brincadeira, os

    movimentos do corpo e o desenho. Mesmo sem saber ler ou escrever a criana

    estabelece relaes com o mundo que a cerca, aprendendo-o e expressando aos

    outros sujeitos sentimentos, ideias e desejos.

    713

  • O ato de simbolizar pode ser observado muito elementarmente logo

    nos primeiros dias de vida, quando o beb chora para expressar um desconforto,

    seja de fome, dor ou manha, tal ao para o beb ainda uma atividade reflexa que

    no foi pensada para ser executada, mas para a me, j uma atividade simblica

    de comunicao do beb, que estabelece relaes do choro com as necessidades

    do mesmo. Ao satisfazer o beb em sua necessidade, a me ensina o beb a se

    comunicar, ela marca o corpo do beb, inscrevendo palavras neste corpo, inserindo-

    o nessa rede simblica. Essa atividade como j disse ainda a mais elementar da

    aquisio do simbolismo pela criana.

    Assim, com o passar do tempo, o beb vai adquirindo novas formas

    de se comunicar, apontando objetos, enraivando-se, rindo, silenciando-se,

    brincando, danando, falando e, tambm, desenhando, comunicando-se da maneira

    como sabe, como pode, como acha conveniente no momento e concomitantemente,

    aprendendo a se comunicar de outras formas.

    No incio do segundo ano de vida com a aprendizagem do andar e

    do sentido do equilbrio, (MREDIEU, 1974, p.25), o corpo do beb rene

    condies motoras satisfatrias para coordenar objetos pela apreenso das mos,

    isso possibilita o ato de desenhar, pois a preciso do gesto est ligada

    possibilidade, para os segmentos do membro que o executam, de encontrar um

    apoio suficientemente firme no resto do corpo (WALLON apud MREDIEU, p. 25).

    Nesta fase, podemos verificar a gnese do desenho infantil, no ainda como uma

    representao simblica, mas como um ato motor de produo de marcas, que

    satisfaz o beb dando-o prazer:

    Ao prazer do gesto associa-se o prazer da inscrio, a satisfao de deixar uma marca, de macular a superfcie. Signos, marcas: tomar posse do universo por meio da inscrio, da ferida simblica imposta ao objeto. (MREDIEU, 1974, p 9)

    Basta ter uma caneta, um giz, ou um lpis nas mos para sair pelo

    espao riscando qualquer superfcie, produzindo marcas. Dentre os locais preferidos

    dos pequenos para produzir suas marcas, podemos citar o sof, as paredes, os

    brinquedos, a mesa e, posteriormente papis como agendas, livros, listas, cadernos

    que pertencem ao cotidiano adulto e j possuam escrita. Essa necessidade do beb

    em rabiscar a produo a escrita do adulto considerada pela maioria das pessoas

    como um ato perverso do beb, em estragar as produes adultas, mas o que pelo

    contrrio, representa para o beb uma forma de valorizar a escrita adulta,

    714

  • A criana frequentemente sente necessidade de macular os desenhos do vizinho e os primeiros rabiscos so quase sempre efetuados sobre livros e folhas aparentemente estimados pelo adulto, possesso simblica do universo adulto to admirado pela criana pequenas. (MREDIEU, 1974, p.9)

    Podemos considerar esta atividade do beb como um ensaio para a

    aquisio do desenho como sistema de representao. Os prprios rabiscos infantis

    seguem uma evoluo at chegar ao nvel da representao. Ao perceber que sua

    atividade motora produziu marcas, a criana volta a desenhar, agora no mais pelo

    prazer do movimento, mas pelo resultado que alcana com a atividade. A criana

    principia elaborar a relao causalidade-efeito e passa a relacionar suas produes

    com objetos o que, consequentemente, leva a criana a pensar antes de desenhar,

    ou seja, desejar desenhar algo e representar o mesmo em suas produes.

    As produes infantis de rabiscao podem ser classificadas

    segundo Marthe Bernson (MREDIEU, 1974) em trs estgios:

    a) Estagio vegetativo motor

    Ainda considerada um atividade motora no simblica, a criana

    desenha apenas pelo prazer do movimento, no apresenta uma intencionalidade de

    desenhar algo. Executados com rapidez, os traos so contnuos, geralmente ovais,

    convexos e alongados, desenhando sem retirar o lpis do papel. (Figura 1)

    715

  • Figura 1 Estgio Vegetativo motor

    R. (5a)

    b) Estgio representativo

    Percebendo que sua atividade produziu marcas a criana passa a

    relacionar o sentido de causalidade-efeito e desenha no mais pelo prazer do

    movimento, mas pelo resultado que atinge com o mesmo. Seu traado passa a ser

    executado em ritmo mais lento, controlando os movimentos, fazendo com que

    apaream formas isoladas, possibilitadas pelo avano de retirar o lpis do papel. Do

    trao contnuo passa para o trao descontnuo. (Figura 2)

    716

  • Figura 2 Estgio representativo

    A. 5 anos

    Neste estgio surge uma tentativa de reproduzir no desenho o

    objeto, constatado pelo comentrio verbal da criana durante a execuo do

    traado. Nesta fase comum entre as crianas a inteno do desenho no coincidir

    com a interpretao da mesma. Ela desenha o que sente vontade de desenhar, mas

    ao observar o resultado pode considerar que seu traado se parea mais com outro

    objeto.

    c) Estgio comunicativo

    Surge o que chamado de escrita fictcia, a criana passa a imitar o

    adulto, imitar sua escrita, com o intuito de se comunicar. (Figura 3)

    717

  • Figura 3 Estgio comunicativo

    J. (5a)

    Entre o estgio representativo e comunicativo que a criana

    percebe que pode representar por meio do desenho. A partir desta fase o desenho

    passa a ser para ela um sistema de representao que deve ser aprendido e,

    paulatinamente dependendo do contato que a criana possui com o ato de

    desenhar, ela vai desenvolvendo seu desenho.

    Luquet (1927) tambm se preocupou em estudar o desenho infantil,

    e estabeleceu quatro nveis de desenvolvimento do desenho. nesta teoria que

    vamos nos embasar para considerar os desenhos das crianas de 5/6 anos.

    a) Realismo fortuito

    a fase inicial do desenho da criana, marcada por dois perodos.

    Inicialmente seu desenho involuntrio, o que usualmente chamado de garatujas.

    A criana reproduz rabiscos em uma superfcie, sem a inteno de simbolizar, pois

    no possui a inteno de desenhar algo e no se refere ao que desenhou. (Figura 4)

    718

  • Figura 4 Realismo fortuito involuntrio

    S. (5a)

    O segundo perodo do realismo fortuito chamado de desenho

    voluntrio, onde observa-se o aparecimento de formas isoladas, h assim uma

    analogia de seus traados com o objeto real, a criana possui uma inteno ao

    desenhar, pois neste perodo ela adquiriu a convico que pode representar por

    meio do desenho tudo que deseja. (Figura 5)

    719

  • Figura 5 Realismo Fortuito voluntrio

    J. (5a)

    Neste perodo os desenhos da criana passam por trs fases,

    primeiro ela inicia o desenho sem ter um objeto em mente e ao final da produo

    nomeia o desenho de acordo com que achar parecido, depois ela tem um objeto em

    mente, pode at verbalizar o que deseja desenhar, inicia o desenho, mas ao finalizar

    interpreta o desenho diferente da inteno inicial e, por fim, a inteno inicial da

    criana de representar coincide com sua interpretao final.

    b) Realismo fracassado

    Esta fase tambm chamada de Incapacidade sinttica traduz nos

    desenhos a incapacidade sinttica do pensamento infantil. Ao desenhar considera

    apenas seu ponto de vista relacionando tudo a si. No integra os objetos em um

    todo coerente, representando partes de um objeto de forma diferenciada.

    As relaes topolgicas do espao so pouco a pouco construdas,

    comeando pela relao de vizinhana que so em geral respeitadas. Distingue um

    objeto do outro, mas no os organiza em um todo coerente. (Figura 6)

    720

  • Figura 6 Realismo Fracassado

    M. (5a)

    Neste perodo a noo de corpo se apresenta sobre duas formas, o

    que Luquet diferencia por girino e badameco. O girino quando a criana desenha

    apenas cabea e membros, traduzindo a forma como ela concebe seu corpo, ou

    seja, a cabea centro de tudo que ela se relaciona, e os membros que a leva para

    os lugares. (Figura 7)

    J o Badameco a noo de corpo traduzida pela incapacidade

    sinttica do pensamento, percebe-se a falta de simetria e forma do mesmo, alm da

    ausncia de roupas. (Figura 8)

    721

  • Figura 7 - Girino

    G. (5a)

    722

  • Figura 8 Badameco

    E. (5a)

    c) Realismo Intelectual

    a fase mais rica do desenho infantil, onde necessariamente a

    criana desenha tudo que sabe do objeto, no da maneira como v, mas da maneira

    que consegue, dependendo do domnio de convenes grficas que possui. Assim

    possvel destacar alguns fenmenos tpicos em desenhos desta etapa:

    1) Descontinuidade: desenha os objetos sem coloc-los na mesma

    linha.

    2) Rebatimento: desenha os dois lados do objeto.

    3) Planificao: desenha as diferentes vises do objeto no mesmo

    alinhamento.

    4) Transparncia: torna invisvel o que encobre objetos. Desenha

    rgos que esto embaixo da pela ou mveis e pessoas dentro da casa.

    5) Mudanas no ponto de vista: mistura vrios ponto de vista em um

    mesmo alinhamento. Desenha a casa vista de frente e o campo de futebol vista de

    cima.

    723

  • Em relao ao corpo observa-se o aparecimento da simetria corporal

    e do aparecimento de roupas e adornos. (Figura 9)

    Figura 9 Realismo Intelectual

    A. (6a)

    Nesta fase, a criana comea colocar legendas para nomear objetos

    e diferente do realismo fracassado ou incapacidade sinttica, considera as partes em

    relao a um todo. Devido a falta de domnio das convenes grficas do desenho a

    criana desenha tudo o que sabe do objeto da maneira como sabe, uma

    verdadeira representao intelectual do objeto.

    (...) para o adulto, o desenho mais prximo aquele que reproduz o que o olho enxerga do objeto, ou seja, aquela representao que capta do objeto a sua aparncia visual em perspectiva; para a criana, o desenho mais semelhante ao objeto aquele que traduz o que ela sabe a respeito: sua construo e interpretao do objeto. (LUQUET apud PILLAR, 1996b, p.49)

    Agora a criana desenha tudo que sabe de um objeto e, neste sentido, seu

    desenho passa a apenas aperfeioar-se nas convenes grficas do desenho,

    buscando desenhar como v. Assim, ela atinge a fase do realismo visual.

    724

  • d) Realismo visual

    A criana passa a representar apenas os elementos visveis do objeto,

    iniciando-se as noes de perspectiva e as relaes projetivas e euclidianas. Seus

    desenhos possuem uma cena e so representados com efeitos especiais que

    indicam movimento. A criana usa o desenho, nesta fase, para comunicar

    sensaes como alegria, tristeza, vivacidade ou fora. As feies humanas possuem

    expressividade e as cenas possuem ao, explorando temas como conflito, violncia

    ou paixo. (Figura 12)

    Figura 12 Realismo Visual

    P. (6a)

    Os estgios de desenvolvimento do desenho propostos por Luquet

    para o professor um poderoso instrumento de coleta de dados sobre a

    aprendizagem das crianas por dois motivos.

    Primeiro porque o desenho um objeto que deve ser conhecido pela

    criana por meio do contato, do ato de desenhar. A habilidade de desenhar se

    725

  • adquire, tanto motora (controle do movimento) quanto intelectual (convenes

    grficas), isto a criana constri conhecimento sobre como desenhar.

    Segundo por que o desenho uma representao do real, traduz a

    forma como a criana pensa no momento, ou seja, uma representao do

    pensamento. Para Piaget, o desenho infantil uma construo grfica que d

    indcios do tipo de estruturao simblica que a criana tem naquele momento.

    (PIAGET e INHEELDER, 1982, p.56)

    Assim, tomamos como instrumento de anlise os desenhos

    produzidos pelas crianas matriculadas na ultima etapa da Educao infantil , ou

    seja, Educao Infantil 6 das escolas municipais de Londrina.

    Consideramos pois que o desenho possui real importncia enquanto

    instrumento de representao cognitiva da criana bem como da prpria noo que

    a mesma possui de seu corpo.

    4 O AUTORRETRATO COMO AVALIAO DIAGNSTICA

    A criana no desenha o que v, mas o que percebe, pois seu

    desenho no uma cpia do real, mas sim, uma interpretao intelectual do que

    sabe sobre o objeto:

    Por isso desenha-se (...): para realizar sem espelho aquilo que o espelho permite. Mas, o mais realstico dos desenhos no exibe todas as caractersticas de duplicao absoluta prprias do espelho. Isso porque o espelho (...) no traduz. Registra aquilo que o atinge da forma como o atinge (...). O crebro interpreta os dados fornecidos pela retina, o espelho no interpreta os objetos. Nessa perspectiva o artista ao desenhar, mesmo buscando representar, duplicar a realidade, ele inevitavelmente a interpreta. (PILLAR, 1996a, p. 41)

    Neste sentido buscamos ento verificar como a criana da ultima

    etapa da Educao Infantil estava representando a percepo que possua do

    prprio corpo.

    Para isso coletamos uma amostragem de 2635 desenhos de

    crianas matriculadas na ltima etapa da Educao Infantil - EI6 das escolas

    municipais de Londrina. Estes desenhos foram produzidos pelas crianas ao incio

    do ano letivo de 2011, sob a proposta de Autorretrato.

    O autorretrato consiste em solicitar a criana que faa um desenho

    de si mesma, do seu corpo. possvel por meio do autorretrato perceber como a

    726

  • criana representa seu prprio corpo e identificar em que nvel do grafismo ela se

    encontra.

    Com base na teoria dos estgios de desenvolvimento do desenho de

    Luquet, e da representao do corpo apontadas pelo mesmo, tabulamos as

    produes infantis e conseguimos os seguintes dados:

    Estgio de desenvolvimento Quantidade de desenhos

    Realismo fortuito involuntrio 5

    Realismo fortuito voluntrio 44

    Incapacidade Sinttica - Girino 519

    Incapacidade Sinttica - Badameco 1850

    Realismo Intelectual 216

    Realismo visual 1

    Total 2635

    Como podemos constatar mais da metade das crianas representam o seu

    corpo como o badameco, isso significa que, j adquiriram o esquema corporal a

    iniciam ento um processo de aprimoramento do desenho.

    As 519 crianas que representam no desenho apenas cabea e membros,

    necessitam de atividades que a faam perceber principalmente a silhueta do corpo,

    a diviso do corpo em cabea, tronco e membros etc.

    J as 49 crianas que ainda se encontram na fase da rabiscao

    demonstram em seus desenhos que ainda no possuem noo corporal de si

    mesmos o que provavelmente possuem dificuldade de lidar com as possibilidades e

    limitaes do corpo. importante que o trabalho de desenvolvimento psicomotor

    seja intensificado com essas crianas, uma vez que podem estar sofrendo ainda

    uma simbiose materna como apontada na etapa do corpo vivido, o que para a idade

    pode provocar, falta de autonomia.

    CONSIDERAES FINAIS

    Se o esquema corporal uma imagem interpretada do nosso corpo, no

    aquilo que ns vemos no espelho, mas aquilo que percebemos, essencialmente na

    viso da psicomotricidade, o desenho autorretrato um instrumento pertinente de

    coleta de dados, pois ele no uma cpia do real e sim uma interpretao

    727

  • intelectual. A criana desenha o que sabe, o que sente, o que percebe, no o que

    v.

    (...) no desenho do corpo, a criana desenha mais o que sente do que o que v. A criana desenha mais o que concebe e integra do seu corpo e o que mais dele conhece. Exatamente porque o desenho, alis, como qualquer outra atividade ou gesto, funo e expresso da sua maturidade psicomotora. (FONSECA, 2010, p.155)

    Assim, devemos considerar que perceber o corpo em um tempo e um

    espao, dominando as sensaes cinestsicas que este corpo pode proporcionar e

    a organizao topolgica do mesmo um pr-requisito para adquirir o aprendizado

    da escrita. Da mesma forma, que o corpo possui uma organizao, uma topologia,

    as letras tambm possuem. Neste sentido, o estgio da Incapacidade sinttica,

    representa uma incapacidade sinttica do pensamento, um obstculo do

    pensamento que deve ser compreendido pelo professor para que este seja

    trabalhado.

    (...) o corpo , em suma, o personagem central e privilegiado sobre o qual ter que recair todo o estudo sobre a criana, uma vez que est implicado em todas as atividades, quer sejam escolares ou no. O corpo a prpria atividade da criana, e a criana, um corpo em atividade. O corpo uma unidade psicossomtica, logo psicomotora, e a ao, um movimento do pensamento, e o movimento, um pensamento em ao. (FONSECA, 2010, p.157)

    Neste sentido, entendemos que as crianas de 6 anos necessitam

    de atividades que auxiliem a ela dar conta das possibilidades do seu corpo,

    fortalecer tnus muscular, trabalhar a coordenao motora fina e global, movimentar-

    se seguindo um ritmo, desenvolver a lateralidade e as noes de tamanho e volume,

    enfim, explorar o movimento e o corpo e suas potencialidades.

    O corpo humano uma mquina microscopicamente desenhada,

    composta por centenas de sistemas que trabalham em sintonia e ritmo uns com os

    outros, um sistema para funcionar precisa do bom funcionamento dos outros

    sistemas que compem o corpo humano. Trata-se de uma trama de relaes,

    mecnicas, fisiolgicas, neurais e psquicas que possibilitam o funcionamento da

    vida, portando, a vida s existe quando h movimento.

    728

  • REFERNCIAS FONSECA, Vitor da. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2010 LE BOULCH, Jean. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento aos seis anos. Trad. Por Ana Guardiola Brizolara. Porto Alegre, Artes mdicas, 1982. MREDIEU, Florence de. O desenho Infantil. Trad. lvaro Lorencini e Sandra M. Nitrini. So Paulo: Cultrix, 1974 PIAGET, Jean; INHELDER, Brbel. A Psicologia da Criana. Trad. Octavio Mendes Cajado. So Paulo. Difel, 1982. 7 ed. PILLAR, Analice Dutra. Desenho e construo de conhecimento na criana. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1996a. ______, Analice Dutra. Desenho & Escrita como sistemas de representao. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1996b. WADSWORTH, B. J. Inteligncia e afetividade da criana na teoria de Piaget. 5 ed. Pioneira, 1997.

    729