A Crise Do Cinema Brasileiro

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A CRISE DO CINEMA BRASILEIRO

A crise do cinema brasileiro No limiar de um novo sculo de histria do cinema, interessante determo-nos em um caso particular : a retomada do cinema no Brasil, pas que at bem recentemente ocupava um lugar entre os maiores produtores mundiais de cinema. Algumas de suas produes, principalmente as do Cinema Novo nos anos 60, receberam no somente prmios internacionais em numerosos festivais, mas tambm contriburam para a evoluo da linguagem cinematogrfica graas encenao de uma nova esttica. Esse pas viu bruscamente, e de maneira oficial, no ms de maro de 1990, com a chegada do presidente Fernando Collor de Mello, sua produo literalmente suspensa. Efetivamente, quando de sua ascenso ao poder, ele tomou diversas medidas que paralisaram definitivamente as estruturas de produo e distribuio do cinema brasileiro : o Presidente toma posse e fecha a Embrafilme, fecha o Concine (Conselho Nacional do Cinema), fecha a Fundao do Cinema Brasileiro, revoga a Lei Sarney, congela os depsitos bancrios por 18 meses. A produo e a distribuio de filmes ficam paralisadas 2, escreve Jos Carlos Avellar3. Menos peremptrio em sua anlise, Randal Johnson pensa que o cinema brasileiro est, em muitos aspectos, de volta estaca zero. Um retrocesso que encontra eco, mas no foi provocado, pela extino da Embrafilme, do Concine e da Fundao do Cinema Brasileiro, por Fernando Collor de Mello, num de seus primeiros atos como presidente eleito democraticamente no Brasil desde 1960. Dada a crescente profundidade da crise que tem enfrentado o cinema brasileiro desde a dcada passada, o gesto de Collor foi em seus efeitos mais simblico do que real, j que a Embrafilme h bastante tempo havia deixado de ser um rgo eficiente do desenvolvimento da indstria cinematogrfica4 . Na verdade, o nmero de salas havia cado de 3276 em 1975 para menos de 1100 em 1988, enquanto que o nmero de espectadores havia passado de 60 milhes em 1978 para menos de 24 milhes em 19885. Essa crise do cinema brasileiro foi o resultado de um certo nmero de fenmenos convergentes, como a crise econmica nacional depois do perodo do milagre econmico, as conseqncias de uma taxa de inflao continuamente crescente que conduziu dolarizao da produo cinematogrfica, e que fez da freqncia das salas um lazer de luxo para a maior parte da populao, ou ainda a concorrncia da televiso que, contrariamente Europa ou ao Estados Unidos, no suscitou co-produes, nem reservou um espao de difuso para os filmes nacionais. Nesse contexto geral, o governo Collor tomou posse clamando com todas as foras que o neoliberalismo econmico era o caminho da redeno do pas. O falecido ulico paraibano Ipojuca Pontes foi o seu profeta na rea cinematogrfica : No papel do Estado produzir filmes, nem nada6. Ano do centenrio, ano do renascimento? Ora, desde 1994 e com a ltima mudana de presidente, a indstria cinematogrfica brasileira parece arrancar novamente. No que diz respeito distribuio de filmes e freqncia das salas, a operao do plano real (1o de julho de 1994) teve por conseqncia pr fim inflao e permitir a liberao dos capitais dos exploradores da sala, at ento imobilizados nos bancos, para a extenso e a reforma do parque de cinemas7 : no espao de um ano, o Rio de Janeiro, por exemplo, viu abrirem-se 21 novas salas. O nmero de espectadores caracterizou-se por um aumento acentuado. Paralelamente a isso, do ponto de vista da produo, as novas disposies governamentais tomadas para encorajar a retomada da criao cinematogrfica comeam a frutificar. desse modo que, graas nova lei do audiovisual, que permite s pessoas fsicas e jurdicas comprar aes dos filmes no mercado de capitais, graas s vantagens fiscais ligadas lei de reduo dos ganhos, e principalmente graas instaurao, pelo Departamento Audiovisual do Ministrio da Cultura, de uma ajuda produo com os fundos provenientes da Embrafilme, o Brasil assiste a uma retomada de seu cinema nacional. Assim, dos 29 projetos que foram selecionados pela Comisso do Cinema durante o segundo semestre de 1994, no mbito do prmio Resgate do Cinema, quatorze esto em pr-produo, nove em produo e seis em fase de montagem9. nessa moldura geral, e fora do tradicional eixo Rio - So Paulo, que se desenvolveu uma nova linha de fora criadora do cinema no Nordeste. Originalidade do Nordeste De fato, o Nordeste sempre ocupou um lugar especial no universo cultural brasileiro. O historiador Gilberto Freire j havia chamado a ateno para essa originalidade : A verdade que no h regio no Brasil que exceda o Nordeste em riqueza de tradies ilustres e nitidez de carter. Vrios de seus valores regionais tornaram-se nacionais depois de impostos ao outros brasileiros, menos pela superioridade econmica que o acar deu ao Nordeste durante mais de um sculo, que pela seduo moral e pela fascinao esttica dos nossos valores10. Foi assim que o cangao, realidade histrica e geopoltica nordestina, entrou como temtica dominante no cinema a partir dos anos 50 - 60, com os filmes de Paulo Gil Soares, Nelson Pereira dos Santos, Walter Lima Jnior, Ruy Guerra, Glauber Rocha, Lima Barreto, para no lembrar seno os mais importantes. Tradicionalmente, o filme de cangao est classificado em trs categorias : 1) os filmes comerciais de Carlos Coimbra e Aurlio Teixeira ; 2) o novo cangao das fitas de Glauber Rocha ; 3) o cangao da Boca-do-lixo (as pelculas de Oswaldo de Oliveira)11. De modo geral, o cangao foi considerado como a verso tropical do western americano12, e at Glauber Rocha havia reconhecido a influncia acentuada dos western sobre suas prprias produes13. Com a retomada da produo cinematogrfica ao nvel nacional, os anos 1994 - 1995 foram caracterizados pelo recrudescimento das realizaes no Nordeste, a partir de projetos encenando temas tradicionais nordestinos como o cangao ou a seca. absolutamente notvel observar a presena, em grande nmero, de roteiros escritos a partir da histria do cangao : Nos ltimos concursos do governo de verbas para o cinema, dezenas de filmes sobre o cangao foram inscritos ( com ttulos como O cangaceiro e o samurai, e O Carcar (, que comprova a revalorizao deste subgnero exclusivamente brasileiro14. Intensificao do interesse pelo cangao No momento atual, trs filmes tratando dessa temtica esto em fase de produo, os dois primeiros tendo sido selecionados pelo Ministrio da Cultura no mbito do prmio Resgate do Cinema Brasileiro15, beneficiando-se de uma ajuda financeira. Trata-se de um remake do filme de Lima Barreto O Cangaceiro de Carlos Coimbra, considerado como um especialista do gnero16; de Corisco e Dad do cearense Rosemberg Cariry; de Baile perfumado dos pernambucanos Lrio Ferreira e Paulo Caldas17. Embora o produtor Anbal Massani pense que o cangao no renascer como gnero cinematogrfico, foroso constatar que o cangao j desenha sua volta a ferro, fogo e fora criativa, tpica dos repentistas nordestinos18. Diante do sucesso do filme de Lima Barreto, O Cangaceiro (1953), filme brasileiro que detm o recorde de bilheteria internacional (distribudo em 82 pases), Anbal Massani pensava, desde 1990, em um remake. Baseado na esperana de um sucesso comercial renovado, esse projeto vai poder se concretizar graas a um oramento positivo de 2 M de dlares de um lado, e graas ao trabalho do diretor Carlos Coimbra19. A nova verso do Cangaceiro, fiel trama narrativa de Lima Barreto, oferecer entretanto um estudo mais profundo dos problemas sociais e polticos do Nordeste de ento, com situaes inseridas na estria de maneira muito funcional, plenas de ao e emoo, mostrando que os cangaceiros eram bandidos, mas produtos de uma sociedade injusta e corrupta, incentivados por latifundirios e polticos desejosos de dominar os sertes20. Um outro aspecto interessante dessa nova verso ser o tratamento dado aos personagens femininos : A entrada das mulheres no mundo violento do banditismo foi uma verdadeira revoluo feminista. Elas emanciparam-se, romperam as barreiras do autoritarismo machista e impuseram respeito21. Assim, uma das preocupaes anunciadas do diretor seria de firmar ainda mais a histria do heri Galdino numa perspectiva histrica, na linha de anlise de E.J. Hobsbawn, que tinha classificado o cangaceiro na categoria de bandido social, espcie de fora-da-lei vingador e justiceiro22. Uma inteno claramente declarada de ir alm da viso folclrica e primria do filme inicial. No que lhe diz respeito, o diretor Rosemberg Cariry prope com Corisco e Dad, casal de cangaceiros clebres, amigos de Lampio e Maria Bonita, um olhar tambm diferente sobre o cangao. O que guiou o cineasta na escrita de seu roteiro foi, primeiramente, o testemunho direto recolhido em 1989 junto a Sergia da Silva Chagas, a viva de Cristino Gomes da Silva Cleto, mais conhecidos sob os nomes de Dad e Corisco. Fiquei impressionado com a fora e determinao dela, espcie de encarnao da bravura e da doura nordestina. Uso a viso e a experincia de Dad para mostrar a morte do cangao23. O que explica o parti-pris deliberado da presena das mulheres no filme, mostrando as mudanas de modo de vida que elas suscitaram no cangao, assim como a considerao de uma nova dimenso, a paixo amorosa suscitada num meio at ento representado como viril, violento e misgino. A idia desse filme registrar, atravs do simbolismo, a fora, a determinao e at mesmo o herosmo da mulher sertaneja. Trata-se de uma histria de amor e dio que comea com o rapto de uma menina aos doze anos no cenrio do Nordeste latifundirio, autoritrio e cruel das dcadas de 20 e 30. Dou ao filme um tratamento em moldes de tragdia grega, onde Corisco tenta firmar o seu amor lutando como se ele fosse um instrumento da justia divina, mas condenado24. Essa valorizao das mulheres no cangao como parceiras verdadeiras, tomando parte ativa nas decises (ver-se- no filme tanto a influncia de Maria Bonita como a de Dad), um dado que acaba de ser analisado e comentado pelo socilogo Daniel Soares Lins : A entrada de Maria abre o caminho para outras mulheres e traz aos cangaceiros o corpo do desejo que faltava a essa sociedade de homens. Sertaneja, ela conhece a condio das camponesas prisioneiras do sofrimento e da solido, escravas de senhores perversos, diante de pais impotentes. Abrindo o cangao s mulheres, ela abre tambm as portas da priso vivida como uma fatalidade, numa monotonia existencial em que a misria provoca a morte lenta de um corpo-invlucro e de uma alma, simulacro da vida que no pode mais25. Alis, o filme evoca igualmente, homenagem discreta aos cem anos de cinema, o encontro do grupo com o fotgrafo srio-libans Benjamin Abrao, que o heri principal do filme Baile perfumado, rodado em Recife. Os diretores Paulo Caldas e Lrio Ferreira, por sua vez, decidiram abordar o tema do cangao sob um aspecto original : eles retraam a histria de Benjamin Abrao, que teria podido, graas a uma carta de recomendao do Padre Ccero do Juazeiro, no somente aproximar-se do clebre bando de Lampio, mas tambm fotograf-lo. Em 1936, depois de ter estabelecido os elos de confiana com os cangaceiros e seu chefe, Benjamin Abrao consegue at film-los, em 35mm, na sua vida cotidiana. Constituiu assim os nicos arquivos documentrios que existem sobre a vida dos cangaceiros nos anos trinta. A nica cpia do filme foi censurada pelo governo de Getlio Vargas, o filme desapareceu e a histria foi esquecida. Quase sessenta anos mais tarde, os realizadores encontraram o documentrio original de Benjamin, filmado com uma cmara Ica-Issa alem, intacto, no arquivo do empresrio Thomas Farkas, dono da Fotptica27. esse documentrio que vai servir de trama para o roteiro de seu filme, uma espcie de odissia de Benjamin Abrao no serto28. Os dois realizadores desejam igualmente mostrar um aspecto, at ento pouco conhecido da vida do cangao, e, em especial, o que eles chamam de seu aburguesamento : Lampio era um coronel sem terra e, como coronel, era apaixonado pelos objetos de consumo dos coronis da poca. Lampio gostava de um bom whisky escocs, tomava banho de perfume francs, seu cachorro era de raa e outras coisas como o costume de ouvir jazz, ir ao cinema, ler os jornais da poca, revistas. Esse aburguesamento do cangao um pano de fundo para o filme. da que vem o baile perfumado, que eram os bailes promovidos por Lampio, com forr, muita bebida, sanfona e perfume para todos os convidados29. Uma vez mais, a preocupao dos realizadores de reconstituir o mais fidedignamente possvel o modo de vida dos ltimos cangaceiros, cujo fim coincide com a chegada no serto ( com o desenvolvimento das estradas ( do progresso, do telgrafo e das metralhadoras, meios modernos que permitiram ao governo ser mais eficaz em seu combate contra o cangao, considerado como um mal endmico.Como vai o cinema? Com a consolidao do cinema brasileiro nos ltimos anos e toda a discusso que tem acontecido em torno da regulamentao do Audiovisual, a Revista Sinopse relanada e promete esquentar o debate

Com ambiente repleto de cineastas e crticos diretores da retomada como Alain Fresnot, de Desmundo (2002) e Joel Pizzini, de 500 Almas (ainda no lanado em circuito) trocavam idias com a cineasta e produtora do filme De Passagem (Ricardo Elias, 2003), Assuno Hernandes, e com a atriz de O bandido da luz vermelha (Rogrio Sganzerla, 1968), Helena Ignez, que foi casada com Glauber Rocha, s para citar alguns , e uma discusso que gerou muitas rplicas e se estendeu at o incio da madrugada (porque foi interrompida). Esse foi o cenrio do debate que aconteceu no relanamento da Revista Sinopse, acompanhado do lanamento de uma coletnea de Glauber Rocha (veja matria a baixo).

Este mesmo ambiente dinmico de discusso refletido dentro das pginas da revista que, criada a partir de abril de 1999, fez uma pausa e volta agora em sua 10a edio. Publicada pelo Departamento de Cinema, Rdio e TV da Escola de Comunicaes e Artes (ECA) da USP, pelo Cinusp Paulo Emlio e pela FICs (Fbrica de Idias Cinemticas), Sinopse retorna com novo projeto grfico e periodicidade semestral, mas mantm a mesma linha editorial. A revista procura fazer um balano esttico do cinema brasileiro atravs de uma srie de artigos e, ao mesmo tempo, dar sua opinio e interferir nos debates que esto em pauta no meio cinematogrfico em geral, na grande imprensa ou nos encontros entre os cineastas, diz Ismail Xavier, professor da ECA/USP e presidente do Conselho Editorial da publicao, que mediou o debate.

Tanto no caloroso lanamento quanto nas pginas da revista, a retomada do cinema brasileiro nos ltimos 10 anos assunto principal. A Ancinav (Agncia Nacional do Cinema e do Audiovisual), a produo independente, as influncias e exigncias do mercado, a construo de uma cinematografia nacional forte (desejo que vem desde o incio do sculo 20), a discusso acerca dos filmes que tratam de questes sociopolticas ou de temas estticos; tudo objeto de opinies e crticas no que se tornou um verdadeiro encontro entre cineastas. E tambm so pauta para Sinopse, como comentou Ismail Xavier. A jornalista e crtica de cinema, Maria do Rosrio Caetano, presente no evento, fez questo de frisar a importncia da USP na reflexo do cinema brasileiro: um trabalho que vem de Paulo Emlio e que passa por Antonio Candido, por Ismail Xavier, por Jean-Claude Bernardet e chega ao grupo da revista Sinopse, que hoje, historicamente, est ocupando espao dentro da mquina do Estado para discutir, para pensar numa poltica cinematogrfica do Pas.Contedo

A revista dividida em diversas sees. Na 1a Fila, Ismail Xavier assina um artigo onde analisa e compara diversos filmes brasileiros atuais. Coloca Orfeu (Cac Diegues, 1999) e Cidade de Deus (Fernando Meirelles e Katia Lund, 2002) na mesma posio, pois ambos mostram a arte como fuga violncia do ambiente onde vivem: nos dois casos, a favela. Buscap e Orfeu, assim como o personagem Pacu de Abril Despedaado (Walter Salles, 2001) que morre no lugar do irmo mais velho quebrando assim a cadeia das vinganas , so chamados por Ismail como os humanizadores do inevitvel, expresso que d nome ao seu artigo. As tentativas de humanizao tambm acontecem em filmes que tratam da temtica da instituio falida, como o presdio, que aparece em Carandiru (Hector Babenco, 2003) em direo ao melodrama, ou em O prisioneiro da grade de ferro (Paulo Sacramento, 2003) que insere as filmagens no cotidiano dos presos.

A seo Via Brasil traz o roteirista e pesquisador Newton Cannito e o jornalista Slvio Crespo falando sobre o programa bem-sucedido DocTV (Programa de Fomento Produo e Difuso do Documentrio Brasileiro), uma poltica que viabilizou a produo regional de documentrios e sua exibio nacional atravs de emissoras pblicas do pas. Levando em considerao este tipo de poltica, que ainda engatinha no Brasil, e a regulamentao que existe nos pases mais desenvolvidos para fomentar as produes menores, o pesquisador Alex Patez Galvo discute a quase inexistente presena das produes independentes dentro da programao das emissoras de TV brasileiras. Estas, apesar de serem concesses pblicas, limitam a programao a produes prprias. Galvo tambm reflete sobre a posio omissa da sociedade (que muitas vezes nem sabe do direito das produes independentes) e as possibilidades futuras de regulamentao, principalmente atravs da Ancinav.

Alis, a Ancinav tratada no editorial da revista com uma posio clara de apoio ao projeto apresentado em agosto deste ano pelo Ministrio da Cultura. O editorial fala da polarizao entre produtores independentes e as grandes empresas do cinema. Segundo a revista, as grandes empresas alegam interveno estatal na rea de audiovisual, e conseqente ameaa liberdade de expresso, pois na verdade so contra as medidas que visam a dividir os incentivos democraticamente entre as produes nacionais e no s dirig-los a poucos eleitos. E h muito mais, como o Dossi, com vrios pontos de vista da relao entre cinema e violncia ou a seo Olho Crtico sobre Lavoura arcaica, Separaes e Houve uma vez dois veres, alm de um ensaio sobre o documentrio sociolgico. Sinopse no uma revista acadmica no sentido pleno da palavra, ela uma revista a ser colocada em circulao para todo cinfilo e todo cidado interessado no debate cinematogrfico atual. A funo da Sinopse tem sido esta e este nmero 10 reafirma esta posio.

A Revista Sinopse (107 pginas, R$ 10,00) pode ser encontrada em livrarias e bancas especial izadas da capital. Para outras cidades, entrar em contato com: assinaturas@revis tasinopse.org.br / (11) 3105-0695. Para conhecer mais acesse www.revistasinopse. org.br.

Revivendo o Cinema Novo Como a temporada estrangeira prometia ser extensa resolveu devolver o apartamento alugado. Essa operao implicava dar um destino aos seus arquivos, extensa papelada que fora acumulando ao longo dos anos. Glauber Rocha tinha acabado de lanar o filme A idade da Terra (seu ltimo longa), em 1980, e partia para o Festival de Veneza, para o qual fora convidado a participar. Do apartamento a ser esvaziado, os manuscritos, correspondncia, entrevistas, poemas inditos, projetos de filme contavam parte da vida do cineasta que at hoje lembrado pela mudana radical que gerou, junto com os colegas, no cinema nacional das dcadas de 60 e 70. Todo este material acabou reunido no livro Revoluo do Cinema Novo, publicado em 1981, quando Glauber ainda estava vivo. Ele viria a morrer dali a trs meses.

Vinte e trs anos depois, a Editora CosacNaify relana o mesmo livro, Revoluo do Cinema Novo (520 pgs., R$ 69,00), incluindo novos textos e muitas fotos. Entre eles, um prefcio indito escrito pelo prprio Glauber, um texto de Cac Diegues escrito na poca do cinema novo e um prefcio de Ismail Xavier que consegue retratar o contexto da renovao e a angstia que comeava a assolar Glauber, sempre em busca da criao de uma cinematografia forte. Ao lado dos artigos e entrevistas do arquivo pessoal, a trajetria do cinema novo, as crticas que o cineasta faz aos colegas e as confisses sobre as figuras da vida cultural da poca. Esse o segundo livro da coleo Glauberiana que ainda ter mais trs volumes, um deles, O sculo do cinema, previsto para o primeiro semestre de 2005.