A Cronica de Akakor

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    A CRNICA DE AKAKOR

    KARL BRUGGER

    Prefcio de

    ERICH VON DANIKEN

    Traduo de

    BERTHA MENDES

    LIVRARIA BERTRAND

    Os cientistas no so os nicos que enriquecem ao explorar o desconhecido. Karl Brugger,

    nascido em 1942, depois de completar os seus estudos de histria e sociologia contempornea,foi para a Amrica do Sul como jornalista e obteve informaes acerca de Akakor. Desde 1974que Brugger correspondente das estaes de rdio e televiso da Alemanha Ocidental.Atualmente, considerado um especialista em assuntos que dizem respeito aos ndios.

    Em 1972, Brugger encontrou Tatunca Nara, filho de um chefe ndio, em Manaus, na conflunciado rio Solimes com o rio Negro, isto , no incio do Amazonas. Tatunca Nara chefe dos ndiosUgha Mongulala, Dacca e Haisha.

    Brugger, investigador escrupuloso, ouviu a histria inacreditvel mas verdadeira que o mestiolhe contou. Depois de ter verificado tudo conscienciosamente, decidiu publicar a crnica quetinha registrado no gravador.

    Como estou habituado ao fantstico e sempre preparado para o extraordinrio, no me emocionofacilmente, mas devo confessar que me senti invulgarmente impressionado com A Crnica deAkakor tal como me relatou Brugger. Abre uma dimenso que obriga os cticos a verificar que oinconcebvel muitas vezes possvel.

    Incidentalmente, A Crnica de Akakor foca precisamente o quadro que familiar aosmitologistas de todo o mundo. Os deuses vieram do cu, instruram os primeiros humanos,deixaram atrs de si alguns misteriosos instrumentos e desapareceram novamente no cu. Os

    desastres devastadores descritos por Tatunca Nara podem ser relacionados at ao mnimopormenor com Os Mundos em Coliso, de Immanuel Velikovsky, as suas extraordinriasdescries de uma catstrofe mundial e mesmo as referncias s datas so simplesmenteespantosas. Igualmente, a afirmao de que certas partes da Amrica do Sul so cortadas porpassagens subterrneas no pode chocar nenhum conhecedor do assunto. Num outro livro referi-me ter visto as tais estruturas subterrneas com os meus prprios olhos, A Crnica de Akakor dresposta a muito do que apenas aflorado noutros trabalhos sobre assuntos semelhantes

    INTRODUO

    A Amaznia comea em Santa Maria de Belm, a cento e vinte quilmetros da costa do

    Atlntico. Em 1616, quando duzentos portugueses, sob a chefia de Francisco Castelo Branco,tomaram posse deste territrio em nome de Sua Majestade o Rei de Portugal e Espanha, o seu

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    cronista descreveu-o como uma doce e convidativa zona de terreno com rvores gigantescas.Presentemente, Belm uma grande cidade, com arranha-cus, de trfego intenso e umapopulao de seiscentos e trinta e trs mil habitantes. o ponto de partida da civilizao brancana sua conquista das florestas virgens da Amaznia. Contudo, atravs de quatrocentos anos, acidade tem conseguido preservar traos do seu passado herico e mstico. Palcios de estilo

    colonial dilapidados e edifcios de azulejos com enormes portes de ferro so testemunhas deuma era famosa, quando a descoberta do processo de vulcanizao da borracha elevou Belm aonvel de uma metrpole europia. O mercado de dois andares na rea do porto tambm data destapoca.Aqui quase tudo pode ser comprado: peixe do Amazonas ou do oceano, perfumados frutostropicais; ervas medicinais, razes, bulbos e flores; dentes de crocodilo, que dizem terpropriedades afrodisacas, e rosrios feitos de terracota

    Santa Maria de Belm uma cidade de contrastes.

    No centro, ruas ruidosas de trfego, mas o mundo selvagem da ilha de Maraj, outrora povoadapor uma das populaes altamente civilizadas que tentaram conquistar a Amaznia, fica apenas a

    duas horas de viagem, rio acima, na margem oposta. De acordo com a histria tradicional, osMarajoaras chegaram ilha mais ou menos em 1100, quando a sua civilizao estava no apogeu,mas na altura em que os exploradores europeus chegaram, este povo j tinha desaparecido. Tudoo que ele resta so belas cermicas, figuras estilizadas traduzindo dor, alegria e sonhos. Parecemcontar uma histria, Mas qual?

    At ilha de Maraj, o Amazonas uma confusa rede de canais, afluentes e lagoas. O rioestende-se por uma distncia de seis mil quilmetros: nasce no Peru e atinge os rpidoscolombianos, mudando de nome em cada pas que atravessa de Apurimac a Ucayali eMaraon, e de Maraon a Solimes. Para alm da ilha de Maraj, o Amazonas tem um caudalmaior que qualquer outro rio do mundo.

    Um grande barco a motor, nico meio de transporte na Amaznia, leva trs dias para fazer atravessia de Belm Santarm, a localidade mais prxima. impossvel compreender o granderio sem ter experimentado estes barcos a motor, que incorporam a noo de tempo, vida edistncia na Amaznia. Podem fazer-se cento e cinqenta quilmetros por dia (no por hora) rioabaixo; nestes barcos o tempo passa-se a comer, a beber, a sonhar e a amar.

    Santarm fica situada na margem direita do Amazonas, na embocadura do rio Tapajs. Umapopulao de trezentos e cinqenta mil habitantes atravessa uma poca prspera, pois a cidade terminal da Transamaznica e atrai garimpeiros, contrabandistas e aventureiros. Uma das mais

    antigas civilizaes da Amaznia floresceu aqui, o povo do Tapajs, provavelmente a maiortribo da selva ndia. O historiador Heriarte afirmou que, se fosse necessrio, tinham possibilidadede alinhar cinqenta mil arqueiros para uma batalha. Mesmo considerando este nmero umexagero, sabe-se que os Tapajs foram suficientemente numerosos para fornecer ao mercado deescravos portugueses durante oitenta anos. Esta orgulhosa tribo no nos legou seno espcimesarqueolgicos... e o rio que tem o seu nome.

    Rios, cidades e lendas da Amaznia sucedem-se de Santarm a Manaus. Presume-se que oaventureiro espanhol Francisco Orellana combateu os habitantes da Amaznia na foz do rioNhamund. O lago Iacy, Espelho da Lua, situa-se na margem direita do rio, junto povoaode Faro. De acordo com a lenda, as Amazonas desciam at o lago, vinda das montanhas que o

    rodeavam, quando havia lua cheia, para encontrarem os apaixonados que as esperavam.Mergulhavam em busca de pedras estranhas, que, debaixo de gua, podiam ser amassadas como

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    po, mas que em terra adquiriam dureza. As Amazonas chamavam a estas pedras muiraquit edavam-nas aos seus apaixonados. Os cientistas consideram-nas milagres arqueolgicos: durascomo o diamante, tm formas artificiais, se bem que a evidncia tenha provado que os Tapajsno tinham ferramentas para trabalhar esta espcie de material.

    O verdadeiro rio Amazonas nasce na confluncia do rio Solimes com o rio Negro. De barco,leva-se vinte minutos para chegar a Manaus, que no tem qualquer estrada de comunicao coma costa. Foi aqui que encontrei Tatunca Nara, a 3 de Maro de 1972. M., que comandava ocontingente da selva brasileira em Manaus, tinha sido o encarregado de me proporcionar esteencontro. Foi no Bar Graas a Deus que encontrei pela primeira vez o chefe ndio. Era alto, tinhaum longo cabelo escuro e um rosto delicadamente modelado. Os seus olhos, castanhos, pequenose cheios de suspeita, eram caractersticos dos mestios. Tatunca Nara vestia um desbotadouniforme tropical, que, tal como mais tarde me explicou, lhe fora dado pelos oficiais. O seu largocinto de couro com fivela de prata era impressionante. Os primeiros minutos da nossa conversaforam difceis. Com certa relutncia, Tatunca Nara contou, em mau alemo, as suas impressesda cidade branca, com a sua imensa populao, o trnsito das ruas, os elevados edifcios e o

    insuportvel barulho. S quando venceu a sua reserva e as suas suspeitas iniciais me contou ahistria mais extraordinria que jamais ouvi. Tatunca Nara falou-me da tribo dos UghaMongulala, um povo que h quinze mil anos foi o eleito dos Deuses. Descreveu duas grandescatstrofes que haviam devastado a Terra e referiu-se ao prncipe Lhasa, um filho dos Deuses,que governou no Sul do continente americano, s suas relaes com o Egito, origem dos Incas, chegada dos Brbaros e aliana dos ndios com dois mil soldados alemes. Falou degigantescas cidades de pedra e instalaes subterrneas dos divinos antepassados. E contou-meque todos estes fatos tinham sido registrados num documento chamado A Crnica de Akakor.

    A mais longa parte da sua histria referia-se s lutas dos ndios contra os brancos, contra osespanhis e portugueses plantadores de borracha, colonos, aventureiros e soldados do Peru.Empurraram os Ugha Mongulala, de quem pretendia ser o prncipe, cada vez mais para osAndes, at mesmo nas instalaes subterrneas. Apelava agora para os seus maiores inimigos, osbrancos, pedindo auxlio perante a iminente extino do seu povo. Antes de falar comigo,Tatunca Nara conversara com altas personalidades brasileiras do Servio de Proteo aos ndios,mas sem qualquer xito. Esta, no entanto, era a sua histria. Ia dar crdito ou no? No midocalor do Bar Graas a Deus foi-me revelado um estranho mundo que, se existisse, tornavam reaisas lendas maia e inca.

    O segundo e o terceiro encontro com Tatunca Nara foram no meu quarto de hotel com arcondicionado. Num monlogo que durou horas, s interrompido para mudar a fita no gravador,

    ele contou a histria dos Ugha Mongulala, as Tribos Escolhidas Aliadas, do ano zero at 12.453(de 10.481 a. C. at 1972, de acordo com o calendrio da civilizao branca). Mas o meuentusiasmo inicial tinha desaparecido. A histria parecia-me excessivamente extraordinria: umaoutra lenda da floresta, fruto do calor tropical e do mstico efeito da selva impenetrvel. QuandoTatunca Nara acabou a sua narrativa eu tinha doze gravaes de um fantstico conto de fadas.

    A histria de Tatunca Nara s comeou a parecer plausvel quando, numa outra vez, encontreium amigo, o oficial brasileiro M. Era membro do servio secreto e fazia parte do segundodepartamento. M. conhecia Tatunca Nara j havia quatro anos e confirmou, pelo menos, o fimdas suas aventuras. O chefe indio salvara a vida de doze oficiais brasileiros cujo avio cara naprovncia do Acre e devolveu-os civilizao. As tribos ndias de Yaminau e Kaxinau

    reverenciavam Tatunca Nara como chefe, muito embora no lhes pertencesse. Estes fatos foramdocumentados nos arquivos do servio secreto brasileiro. Decidi investigar ainda mais a histria

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    de Tatunca Nara.

    As minhas buscas no Rio de Janeiro, Braslia, Manaus e Rio Branco tiveram resultadosextraordinrios. A histria de Tatunca Nara est documentada em jornais e comea em 1968,quando um chefe ndio branco mencionado por ter salvo a vida de doze oficiais brasileiros

    obtendo a sua libertao dos ndios Haisha e levando-os para Manaus. Devido ao auxlio queprestou aos oficiais, Tatunca Nara foi recompensado com uma carteira de trabalho e umdocumento de identidade. De acordo com o que dizem as testemunhas, o misterioso chefe ndiofala uma mau alemo, compreende s algumas palavras em portugus, mas fluente em algumaslnguas ndias faladas no alto Amazonas. Poucas semanas depois da sua chegada a Manaus,Tatunca Nara desapareceu subitamente, sem deixar rastro.

    Em 1969, surgiram grandes lutas entre as tribos de ndios selvagens e os colonos brancos dafronteira do Peru na provncia de Madre de Dios, uma regio miservel e esquecida na encostaoriental dos Andes. A velha histria da Amaznia revivia: a revolta dos oprimidos contra osopressores, seguidos da vitria dos brancos, sempre vitoriosos. O chefe dos ndios, que, de

    acordo com os relatos da imprensa do Peru, era conhecido por Tatunca (grande serpente-dgua), fugiu para territrio brasileiro aps derrota. Com o propsito de evitar a continuaodos ataques, o Governo do Peru pediu ao Brasil a sua extradio, mas as autoridades brasileirasrecusaram-se a cooperar.

    A luta de fronteira da provncia de Madre de Dios acalmou aos poucos durante os anos de 1970 e1971. As tribos ndias selvagens fugiram para as quase inacessveis florestas perto da nascentedo rio Yaku. Aparentemente, Tatunca Nara desaparecera. O Peru fechou a fronteira com o Brasile iniciou a invaso sistemtica da floresta virgem. De acordo com testemunhas oculares, osndios do Peru partilharam da sorte dos seus irmos brasileiros: foram assassinados ou morreramde doenas caractersticas da civilizao branca.

    Em 1972, Tatunca Nara voltou civilizao branca, e na cidade brasileira de Rio Brancorelacionou-se com o bispo catlico Grotti. Juntos pediram alimentos para os ndios do rio Yakunas igrejas da capital do Acre. Desde que a provncia do Acre tinha sido considerada livre dendios nem ao bispo foi concedido qualquer auxlio do Estado. Trs meses mais tarde,monsenhor Grotti morria na queda misteriosa de um avio.

    Mas Tatunca Nara no desistiu. Com o auxlio dos doze oficiais cuja vida salvara, entrou emcontato com servio secreto brasileiro. Apelou tambm para o Servio de Proteo aos ndios doBrasil (a atual FUNAI) e contou a N., secretrio da Embaixada da Alemanha Ocidental em

    Braslia, a histria dos dois mil soldados alemes que desembarcaram no Brasil durante aSegunda Guerra Mundial e que ainda estavam vivos em Akakor, a capital do seu povo. N. noacreditou na histria e recusou o acesso de Tatunca Nara embaixada. A FUNAI s concordouem cooperar depois de muitos pormenores da histria de Tatunca Nara acerca das tribos ndiasda Amaznia serem confirmados, durante o Vero de 1972. O Servio organizou ento umaexpedio para estabelecer contato com os misteriosos Ugha Mongulala e deu instrues aTatunca Nara para fazer os preparativos necessrios. No entanto, estes planos foraminterrompidos devido resistncia das autoridades da provncia do Acre. Devido a instruespessoais do governador Wanderlei Dantas, Tatunca Nara foi preso. Pouco antes da suaextradio para o Peru, os oficiais seus amigos libertaram-no da priso de Rio Branco e tornarama leva-lo para Manaus. E aqui me tornei a encontrar com Tatunca Nara.

    O encontro seguinte teve uma seqncia diferente. Eu tinha verificado a sua histria e

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    comparado a fita gravada com o material dos arquivos e relatrios de historiadorescontemporneos. Alguns pontos podiam ser explicados, mas eu ainda pensava que muita coisaera inteiramente inacreditvel, como por exemplo, as instalaes subterrneas e o desembarquedos dois mil soldados alemes. Mas era improvvel que tudo isto fosse inventado: as datas dooficial M. e as da histria de Tatunca Nara coincidiam.

    No decorrer deste encontro, Tatunca Nara repetiu a histria mais uma vez. Indicou num mapa aaproximada localizao de Akakor, descreveu a rota dos soldados alemes de Marselha at o rioPurus e referiu-se a vrios dos seus chefes. Desenhou vrios smbolos dos deuses quepresumivelmente apareciam na Crnica de Akakor. Voltava constantemente a estes misteriososantepassados cuja memria ficara para sempre intacta no seu povo. Comecei a acreditar numahistria cuja incredibilidade se tornava um desafio. Quando Tatunca Nara sugeriu que oacompanhasse a Akakor, aceitei.

    Tatunca Nara, o fotgrafo brasileiro J. e eu partimos de Manaus a 25 de Setembro de 1972.Pretendamos alcanar a parte superior do rio Purus num barco que alugramos. Levvamos

    tambm uma canoa com motor de popa e utiliza-la-amos para alcanar a regio afluente do rioYaku, na fronteira entre o Brasil e o Peru, e depois continuaramos a p pelas colinas dos Andesat Akakor. O tempo destinado expedio era seis semanas, contando ns, regressar nosprincpios de Novembro.

    O nosso carregamento era constitudo por redes, mosquiteiros, utenslio de cozinha, alimentos, ashabituais roupas para a selva e remdios. Como armas levvamos uma Winchester 44, doisrevlveres, uma espingarda de caa e grandes machados. Levvamos tambm equipamento parafilmar, dois gravadores e mquinas fotogrficas.

    Os primeiros dias foram inteiramente diferentes daquilo que espervamos: no apareceram nemmosquitos, nem cobras-dgua, nem piranhas. O rio Purus era como um lago que no tivessemargens. Avistvamos a selva no horizonte, com os seus mistrios oculto atrs de uma muralhaverde.

    A primeira cidade que alcanamos foi Sena Madureira,ltima povoao antes de se entrar nasinexploradas regies fronteirias entre o Brasil e Peru. Era tpica de toda a Amaznia: estradas deargila suja, cabanas desmanteladas e um cheiro desagradvel de gua estagnada. Oito entre dezhabitantes sofriam de beribri, eram leprosos ou tinham malria. Uma m nutrio crnicadeixara o povo num estado de triste resignao. Rodeadas pela brutalidade da selva e isoladas dacivilizao, as pessoas dependiam sobretudo da aguardente de cana, seu nico meio de escapar a

    uma infeliz realidade. Num bar, dizemos adeus civilizao e encontramos um homem quepresumivelmente conhece a parte superior do rio Purus. procura de ouro, esteve cativo dosndios Haisha, uma tribo semi-civilizada da vizinha regio do rio Yaku. O que ele nos conta desencorajante: fala-nos em rituais canibalescos e setas envenenadas.

    A cinco de Outubro, na cachoeira Inglesa, trocamos o barco pela nossa canoa, e de agora emdiante dependemos de Tatunca Nara. Os mapas mostram muito deficientemente o curso do rio

    Yaku. As tribos ndias que vivem nesta regio no tm qualquer contato com a civilizaobranca. J. e eu tnhamos ambos uma sensao desagradvel: haver na realidade um local

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    chamado Akakor? Podamos confiar em Tatunca Nara? Mas a aventura provava ser mais forteque a nossa ansiedade.

    Doze dias depois de deixarmos Manaus, a paisagem comea a modificar-se. O rio at esse pontoparecia um mar acastanhado, sem praias. Agora navegvamos entre cips, sob rvoresinclinadas. Depois de uma curva do rio encontramos um grupo de prospectores que construramuma fbrica primitiva na margem do rio e peneiravam uma areia grossa. Aceitamos o seu convitepara ali passar a noite e escutamos as suas estranhas histrias de ndios de cabelos pintados deazul encarnado que usavam setas envenenadas...

    A viagem transforma-se em expedio contra as nossas prprias dvidas. Estamos a uns escassosdez dias da nossa suposta meta. A dieta montona, o esforo fsico e o receio do desconhecidoinfluram poderosamente sobre ns. O que em Manaus parecia uma fantstica aventura tornou-seagora num pesadelo, Basicamente, pensvamos que gostaramos de voltar e esquecer tudo acercade Akakor, antes de ser demasiado tarde.

    Ainda no encontramos ndios. As primeiras montanhas dos Andes cobertas de neve surgem nohorizonte: atrs de ns estende-se o verde-mar das terras baixas da Amaznia. Tatunca Naraprepara-se para voltar para seu povo. Numa estranha cerimnia, pinta o corpo: na cara traosvermelhos, e no peito e nas pernas riscas amarelo-escuras. Prende o cabelo atrs com uma tira decouro, que decorada com os estranhos smbolos dos Ugha Mongulala.

    A 13 de Outubro no temos possibilidade de regresso. Depois de uma perigosa passagem sobreas corredeiras, a canoa apanhada por um redemoinho e vira-se. O nosso equipamentofotogrfico, que vinha em caixas, perde-se na densa floresta das margens; metade dos nossosalimentos e remdios perderam-se tambm. Nesta situao desesperadora decidimos desistir daexpedio e voltar para Manaus. Tatunca Nara reage com irritao: est impaciente edesapontado. Na manh seguinte, J. e eu deixamos o nosso ltimo acampamento. Tatunca Nara,com as pinturas de guerra do seu povo, usando s um pano a cobrir-lhe os rins, toma a estradaque o levar sua tribo.

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    Este foi o meu ltimo contato com o chefe dos Ugha Mongulala. Depois do meu regresso ao Riode Janeiro, em Outubro de 1972, tentei esquecer Tatunca Nara, Akakor e os Deuses. S no Verode 1973 a recordao voltou: o Brasil principiara a sistemtica invaso da Amaznia. Doze miltrabalhadores construam duas estradas atravs da ainda no explorada selva, numa distncia de

    sete mil quilmetros. Trinta mil ndios tomaram os bulldozers por antas gigantes e fugiram para aselva. Comeara o ltimo ataque a Amaznia.

    E com isto recordava as velhas lendas, to fascinantes e mticas como antes. Em Abril de 1973, aFUNAI descobriu uma tribo de ndios brancos na parte superior do rio Xingu, que Tatunca Narame mencionara um ano antes. Em Maio, durante trabalhos de reconhecimento no Pico daNeblina, os guardas de fronteira brasileiros estabeleceram contato com ndios que eram

    chefiados por mulheres. Estes tambm tinham sido descritos por Tatunca Nara. E finalmente, emJunho de 1973, vrias tribos ndias foram avistadas na regio do Acre, que antes havia sidoconsiderada livre de ndios.

    Akakor existe realmente? Talvez no seja exatamente da maneira como Tatunca Nara adescreveu, mas a cidade , sem dvida alguma, real. Depois de tornar a ouvir as gravaes deTatunca Nara decidi escrever a sua histria com boas palavras e numa escrita clara, comodizem os ndios. Este livro, A Crnica de Akakor, tem cinco partes. O Livro do Jaguarrelaciona-se com a colonizao da Terra pelos Deuses e vai at o perodo da segunda catstrofemundial. O Livro da guia compreende o tempo entre 6.000 e 11.000 (do seu calendrio) edescreve a chegadas dos Brbaros. O terceiro livro, O Livro da Formiga, fala-nos de lutacontra os colonizadores portugueses e espanhis depois de desembarcarem no Peru e no Brasil.O quarto e ltimo livro, O Livro da Serpente-dgua, descreve a chegada de dois mil soldadosalemes a Akakor e a sua integrao no povo dos Ugha Mongulala; tambm prediz uma terceiragrande catstrofe. Na quinta parte, o Apndice, fiz o sumrio dos resultados das minhaspesquisas nos arquivos brasileiros e alemes.

    A maior parte deste livro, a atual Crnica de Akakor, segue justamente a narrativa de TatuncaNara. Tentei torn-la to literria quanto possvel, mesmo quando os fatos parecem contradizer ahistoriografia tradicional. Fiz o mesmo com os mapas e desenhos baseados nas datas fornecidaspor Tatunca Nara. Os escritos foram feitos por Tatunca Nara em Manaus. Todas as subseesesto precedidas por um curto sumrio da histria tradicional, para dar ao leitor uma base decomparao, mas restringem-se aos acontecimentos mais importantes da histria da Amrica doSul. A tbua cronolgica, no fim do livro, fornece a justaposio do calendrio de Akakor com o

    da histria tradicional. Noutro quadro refiro-me aos nomes provveis dados pela civilizaobranca s vrias tribos referidas no texto.

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    As citaes da Crnica de Akakor impressas como suplemento foram ditas por Tatunca Nara,que as sabia de cor. Segundo ele, a crnica atual foi escrita em madeira, em pele e mais tardetambm em pergaminho, e est guardada por sacerdotes no Templo do Sol, a maior herana dosUgha Mongulala. O bispo Grotti foi o nico homem branco a v-la e trouxe com ele vriosexcertos. Depois da sua misteriosa morte, os documentos desapareceram. Tatunca Nara pensaque o bispo os escondeu ou que esto guardados nos arquivos do Vaticano.

    Verifiquei o mais cuidadosamente possvel todas as informaes da Introduo e doApndice no que diz respeito sua veracidade. As citaes dos historiadores contemporneosvm de fontes materiais espanholas e traduzi-as eu prprio. S acrescentei as minhas prpriasconsideraes no Apndice, para auxiliar o leitor a compreende-las melhor. Por esta razo nome baseei nas teorias que dizem respeito a astronautas ou a seres divinos como possveisantecessores da civilizao humana. A nfase deste livro diz respeito histria e civilizaodos Ugha Mongulala, em contraste com a dos Brbaros Brancos.

    Akakor existiu realmente? H uma histria escrita dos Ugha Mongulala? As minhas prpriasdvidas obrigaram-me a dividir este livro em duas partes. Na Crnica de Akakor s inclu osrelatos de Tatunca Nara. O Apndice contem o material que fui buscar nas respectivas origens.A minha contribuio no muita, comparada com a histria de um povo misterioso, com osPrimitivos Mestres, leis divinas, instalaes subterrneas e muitas outras coisas. Esta umahistria que pode ter tido origem numa lenda, mas que, no entanto, pode ser confirmada. E oleitor deve ele prprio decidir se isto um relato inteligentemente inventado, baseado em passosde escritos inadequadamente histricos, ou um pedao de histria verdadeira relatada com boaspalavras e numa escrita clara.

    O LIVRO DO JAGUAR

    Este o jaguar

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    Poderoso seu salto

    E forte as suas patas.

    o senhor das florestas.

    Todos os animais so seus sditos.

    No tolera resistncia.

    Destri o desobediente

    E devora-lhe a carne

    I- O REINO DOS DEUSES

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    600.000 A. C. 10.481 A. C.

    O incio da histria da humanidade uma questo contestada. De acordo com a Bblia, Deuscriou o mundo em seis dias para a sua prpria honra e para a honra da humanidade. Ento elemoldou o homem do p e deu-lhe o sopro da vida. Mas de acordo com o Popol Vuh, o Livro doMaia, o homem s surgiu na quarta criao divina, depois de trs mundos anteriores terem sidodestrudos por medonhas catstrofes. A historiografia tradicional coloca o incio da histria dahumanidade em 600.000 a. C., e os primeiros humanos no conheciam ferramentas nem o uso dofogo. Segue-se, cerca de 80.000 a. C., o homem de Neandertal, que avanara extraordinariamentee conhecia o uso do fogo, tendo desenvolvido ritos funerrios. A Pr-Histria, a primitiva

    histria do homem, comea em 50.000 a. C.; de acordo com achados arqueolgicos, tem sidodividida em Idade da Pedra, do Bronze e do Ferro. Durante a Idade da Pedra, o homem eracaador e pastor; caava o mamute, cavalos selvagens e rangferos. Com a lenta regresso dacamada de gelo, gradualmente foi seguindo os animais que se dirigiam para o norte: a agriculturae os animais domsticos eram-lhe ainda desconhecidos. No entanto, as suas pinturas nas paredesdos abrigos so evidncia de uma arte surpreendentemente sofisticada, baseada nos ritos de caamgico-religiosa. Est assente que cerca de 25.000 a. C. as primeiras tribos da sia Centralatravessaram o estreito de Bering em direo Amrica.

    OS MESTRES ESTRANGEIROS DE SCHWERTA

    A Crnica de Akakor, a histria escrita do meu povo, comea na hora zero, quando os Deusesnos deixaram. Nessa poca, Ina, o primeiro prncipe dos Ugha Mongulala, resolveu que tudo

    quanto acontecesse fosse narrado com boas palavras e numa escrita clara. E assim, A Crnica deAkakor testemunha perante a Histria do mais antigo povo do mundo, desde o incio, a horazero, quando os Primitivos Mestres nos deixaram, at ao momento atual, quando os BrbarosBrancos esto a tentar destruir o nosso povo. Explica o testamento dos Antigos Pais o seu sabere a sua prudncia. E descreve a origem do tempo, quando o meu povo era o nico do continentee o Grande Rio ainda corria de um e de outro lado, quando o pas era ainda plano e suave como olombo de um cordeiro. Tudo isto est escrito na crnica, a histria do meu povo, desde a partidados Deuses, a hora zero, que corresponde ao ano de 10.481 a. C. de acordo com o calendrio dosBrbaros Brancos.

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    Esta a histria. Esta a histria dos Servidores Escolhidos. No incio era o caos. Os homensviviam como animais, sem razo, sem conhecimento, sem leis, e sem trabalhar o solo, sem sevestirem, nem sequer cobrindo a sua nudez. No conheciam nada dos segredos da natureza.Viviam em grupos de dois e trs, como o acaso os juntava, em cavernas ou nas fendas das

    rochas. Caminhavam com os ps e as mos at a chegada dos Deuses. Eles trouxeram a luz.

    No sabemos quando tudo isto aconteceu. Donde vieram esses seres estranhos um tnueconhecimento. Um denso mistrio envolve a origem dos Primitivos Mestres, que nem sequer oconhecimento dos sacerdotes consegue esclarecer. De acordo com a tradio, a poca deve tersido 3.000 anos antes da hora zero (13.481 a. C., segundo o calendrio dos Brbaros Brancos).De repente, navios brilhantes, dourados, apareceram no cu. Enormes lnguas de fogo

    iluminaram a plancie. A terra tremeu e o trovo ecoou sobre as colinas. O homem baixou acabea em sinal de venerao, perante as poderosas e estranhas criaturas que vinham tomar posseda Terra.

    Estes estranhos indivduos disseram que a sua ptria se chamava Schwerta, um mundo muitodistante, na profundeza do universo, onde viviam os seus antepassados e donde eles tinhamvindo com a inteno de espalhar conhecimento pelos outros mundos. Os nossos sacerdotesdizem que era um poderoso imprio constitudo por muitos planetas e com inmeros gros de pna estrada. Tambm dizem que ambos os mundos, o dos Primitivos Mestres e a prpria Terra, seencontravam de seis mil em seis mil anos. Ento os Deuses voltam.

    Com a chegada dos estranhos visitantes ao nosso mundo comeou a Idade do Ouro. Cento eTrinta famlias dos Antigos Pais vieram para a Terra para libertar o homem da escurido. E os

    Deuses reconheceram-nos como seus irmos. Instalaram as tribos errantes; deram-lhes bonsquinhes de todos os comestveis. Trabalharam diligentemente para ensinar ao homem as suasleis, mesmo quando o seu ensino encontrava oposio. Por todo este labor, e por causa de tudoquanto sofreram pela humanidade e por quanto nos trouxeram e nos esclareceram, nsveneramo-los como os iniciadores da nossa luz. E os nossos artistas mais hbeis reproduziramimagens dos Deuses que testemunham atravs de toda a eternidade a sua verdadeira grandeza emaravilhoso poder. E assim a imagem dos Primitivos Mestres ficou descrita at aos nossos dias.

    Aparentemente, esses oriundos de Schwerta no eram diferentes do homem. Tinham uns corpos

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    graciosos e pele branca. O seu rosto nobre era emoldurado por uma cabeleira de um pretoazulado. Uma barba espessa cobria-lhes o lbio superior e o queixo. Tal como os homens, osAntigos Pais eram seres vulnerveis, com carne e sangue. Mas o sinal que os distinguiadecisivamente dos homens era terem seis dedos nas mos e nos ps, caracterstica da sua origemdivina.

    Quem pode aprender a penetrar os atos dos Deuses? Quem pode aprender a compreender os seusfeitos? Seguramente, eram poderosos e incompreensveis para os vulgares mortais. Conheciam ocurso das estrelas e as leis da natureza. Na realidade, eram-lhes familiares as mais altas leis douniverso. Cento e trinta famlias dos Antigos Pais vieram para a Terra e trouxeram a luz.

    AS TRIBOS ESCOLHIDAS

    A memria dos nossos mais antigos antepassados torna-me assombrado e triste. O meu coraopesa-me porque agora estamos ss, abandonados pelos nossos Primitivos Mestres. Devemos-lhea nossa fora e tudo quanto sabemos. Antes de estes estranhos vierem de Schwerta, os homensvagueavam como crianas que perderam o lar, cujos coraes no albergavam amor. Juntavamrazes, bulbos e frutos selvagens; viviam em cavernas e buracos cavados no solo; e tinhamdisputas com os vizinhos por causa das peas caadas. Depois vieram os Deuses e estabeleceramuma nova ordem no mundo. Ensinaram aos homens a cultivar a terra e a criar animais.Ensinaram-lhes a tecer e distriburam lares permanentes s famlias e aos cls. E foi assim que astribos se desenvolveram.

    Este foi o incio da luz, da vida e das tribos. Os Deuses juntaram os homens. Deliberaram,consideraram e fizeram reunies. Depois tomaram decises. E entre o povo escolheram oscriados que deviam viver com eles, servos a quem legaram todo o seu saber.

    Com as famlias escolhidas os Deuses fundaram uma nova tribo, a que deram o nome de Ugha

    Mongulala, que na lngua dos Brbaros Brancos significa Tribos Escolhidas Aliadas. Comopenhor dos seus eternos acordos, ligaram-se aos servos. Portanto, os Ugha Mongulala parecem-

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    se com os seus divinos antepassados mesmo ainda hoje. So altos; o rosto caracterizado pormas salientes, um nariz bem delineado e olhos em forma de amndoa. Tanto os homens comoas mulheres tm um espesso cabelo preto-azulado. A nica diferena eram os cinco dedos dosmortais, tanto nas mos como nos ps. Os Ugha Mongulala so o nico povo de pele branca docontinente.

    Se bem que os Primitivos Mestres guardassem muitos segredos, a histria do meu povo tambmexplica a histria dos Deuses. Os estranhos vindos de Schwerta fundaram um poderoso imprio.Com o seu conhecimento, a sua superior sabedoria e os seus misteriosos utenslios, foi-lhes fcilmodificar a Terra de acordo com as suas prprias idias. Dividiram o pas e construram estradase canais. Semearam plantas at ento desconhecidas pelo homem. Ensinaram aos nossosantepassados que um animal no s presa de caa, mas que tambm pode constituir uma posse

    valiosa e indispensvel contra a fome. Pacientemente, partilharam o conhecimento necessrio, demodo que o homem pudesse entrar na posse dos segredos da natureza.

    Baseados nesta sabedoria, os Ugha Mongulala sobreviveram durante milnios, apesar dashorrveis catstrofes e das terrveis guerras. Como os Servos Escolhidos dos Primitivos Mestres,determinaram a histria da humanidade durante 12.453 anos, tal como foi escrito na Crnica deAkakor:

    A linhagem dos Servos Escolhidos no desapareceu. Os chamados Ugha Mongulalasobreviveram. Muitos dos seus filhos podem ter morrido em guerras devastadoras; medonhascatstrofes deram-se nos seus domnios. Mas a fora dos Servos Escolhidos permaneceu intacta.Eram os senhores. Eram os descendentes dos Deuses.

    O IMPRIO DE PEDRA

    A Crnica de Akakor, a histria escrita do povo dos Ugha Mongulala. S comea depois da

    partida dos Primitivos Mestres, no ano zero. Nesta altura, Ina, o primeiro prncipe dos UghaMongulala, ordenou que todos os acontecimentos fossem registrados com boas palavras e numa

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    escrita clara, e com a devida venerao pelos Primitivos Mestres. Mas a histria dos ServosEscolhidos remonta a mais tarde, Idade do Ouro, quando os Antigos Pais ainda governavam oImprio. Desta poca muito poucos testemunhos se tm conservado. Os Deuses devem terestabelecido um poderoso imprio, onde a todas as tribos foram distribudas tarefas. Os UghaMongulala atingiram o seu mais elevado grau. Era povo de grande sabedoria, o que o tornava

    superior a todos os outros. No ano zero, os Deuses legaram as suas cidades e templos s TribosEscolhidas. Duraram doze mil anos.

    Poucos Brbaros Brancos tm visto estes monumentos ou a cidade de Akakor, capital do meupovo. Alguns soldados espanhis capturados pelos Ugha Mongulala conseguiram fugir servindo-se de passagens subterrneas. Aventureiros e colonos brancos que descobriram a nossa capitaltm sido presos pelo meu povo.

    Akakor, capital do domnio, foi construda h catorze mil anos pelos nossos antepassados,guiados pelos Primitivos Mestres. O nome tambm foi dado por eles: Aka significa fortaleza eKor significa dois. Akakor a segunda fortaleza. Os nossos sacerdotes tambm falam naprimeira fortaleza, Akanis. Erguia-se num estreito istmo na regio que hoje o Mxico, no localem que os dois oceanos se encontram. Akahim, a terceira fortaleza, s mencionada na crnicaanterior ao ano 7.315. A sua historia est intimamente ligada de Akakor.

    A nossa capital ergue-se num vale, nas montanhas, entre dois pases: Peru e Brasil. Estprotegida em trs lados por rochas escarpadas. Para leste, uma plancie que desce gradualmentealcana a selva de cips da grande regio da floresta. Toda a cidade rodeada por uma altamuralha de pedra com treze entradas. Estas so to estreitas que s do entrada a uma pessoa decada vez. A plancie a leste guardada por vigias de pedra onde guerreiros escolhidos esto

    sempre vigilantes, por causa dos inimigos.

    Akakor traada em retngulos. Duas ruas principais cruzadas dividem a cidade em quatropartes, correspondendo aos quatro pontos universais dos nossos Deuses. O Grande Templo doSol e um portal de pedra cortado de um s bloco erguem-se numa vasta praa, ao centro. Otemplo est voltado a leste, para o sol-nascente, e decorado com imagens dos nossos PrimitivosMestres. As criaturas divinas usam um basto encimado pela cabea de um jaguar. A figura est

    coroada por um toucado de ornamentos animais. Os trajes so enfeitados com desenhossemelhantes. Uma escrita estranha, que s pode ser interpretada pelos nossos sacerdotes, fala da

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    fundao da cidade. Todas as cidades de pedra que foram construdas pelos nossos PrimitivosMestres tm um portal semelhante.

    O mais impressionante edifcio de Akakor o Grande Templo do Sol. As suas paredes exterioresno tm enfeites e so feitas com pedras engenhosamente cortadas. O telhado do Templo aberto de modo que os raios do sol-nascente podem alcanar um espelho dourado que data dapoca dos Primitivos Mestres e est montado na frente. Figuras de pedra de tamanho naturalerguem-se de ambos os lados da entrada do templo. As paredes interiores esto cobertas derelevos. Numa grande arca de pedra embutida na parede fronteira do templo esto escritas as leisdos nossos Primitivos Mestres.

    Contguas ao Grande Templo do Sol, erguem-se s instalaes dos sacerdotes e dos seus criados,o palcio do prncipe e os aposentos dos guerreiros. Estes edifcios tm forma retangular e sofeitos de blocos de pedra esculpidos. Os telhados so de uma espessa camada de relva assente emestacas de bambu.

    Na poca do reino dos nossos Primitivos Mestres, outras vinte e seis cidades de pedra rodeavamAkakor, e so todas mencionadas na crnica. As maiores eram Humbaya e Patite, na regio ondehoje se estende a Bolvia, Emim, na parte baixa do Grande Rio, e Cadira, nas montanhas da atualVenezuela. Mas todas elas foram completamente destrudas na primeira Grande Catstrofe, trezeanos aps a partidas dos Deuses.

    Alm destas poderosas cidades, os Antigos Pais, tambm ergueram trs complexos sagrados:Salazere, na parte superior do Grande Rio, Tiahuanaco, no Grande Lago e Manoa, no elevadoplanalto do sul. Estas eram as residncias terrenas dos Primitivos Mestres e terreno proibido paraos Ugha Mongulala. No centro, elevava-se uma gigantesca pirmide, e uma vasta escadariaerguia-se at a plataforma, onde os Deuses celebravam cerimnias que hoje nos sodesconhecidas. O edifcio principal era rodeado por pirmides menores interligadas por colunas,e mais adiante, em colinas criadas artificialmente, erguiam-se outros edifcios, decorados complacas brilhantes. luz do sol-nascente, contam os sacerdotes, as cidades dos Deuses pareciamestar em chamas. Irradiavam uma luz misteriosa que brilhava nas montanhas cobertas de neve.

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    Dos recintos do templo sagrado, s vi Salazere com os meus prprios olhos. Fica a uma distnciade oito dias de viagem da cidade que os Brbaros Brancos chamam Manaus, num afluente doGrande Rio. Os seus palcios e templos ficaram completamente cobertos pela selva de cips. S

    o topo da grande pirmide ainda se ergue acima da floresta, coberto por uma densa mata dearbustos e rvores. Mesmo os iniciados tm dificuldade em chegar ao local onde moravam osDeuses.O territrio da Tribo que Vive nas rvores est rodeado por profundos pntanos. Depoisdo primeiro contato desta tribo com os Brbaros Brancos, ela retirou-se para as florestasinacessveis que rodeiam Salazere. Ali, as pessoas vivem nas rvores como macacos, matandoquem ouse invadir a sua comunidade. S consegui alcanar os arredores do templo por esta triboser, h milhares de anos, aliada dos Ugha Mongulala, e ainda hoje respeitam os sinais secretos dereconhecimento. Estes sinais esto gravados numa pedra na parte superior da plataforma dapirmide. Embora possamos copi-los, perdemos toda a compreenso do seu significado. Ocercado do templo tambm se mantm um mistrio para o meu povo. Os edifcios sotestemunho de um elevado conhecimento, incompreensvel para os humanos Para os Deuses, as

    pirmides eram no s moradias, mas tambm smbolos de vida e de morte. Eram sinais do Sol,da luz e da Vida. Os Primitivos Mestres ensinaram-nos que h um lugar entre a vida e a morte,entre a vida e o nada, que est sujeito a um tempo diferente. Para eles, a pirmide era o elo com asegunda vida.

    AS MORADIAS SUBTERRNEAS

    Grande era o conhecimento dos Primitivos Mestres e grande era a sua sabedoria. A sua visoalcanou as colinas, plancies, florestas, mares e vales. Eram seres milagrosos. Conheciam ofuturo. A verdade fora-lhes revelada. Perspicazes, eram capazes de grandes decises. ErgueramAkanis, Akakor e Akahim. Na verdade, os seus trabalhos eram poderosos, como o eram osmtodos que usavam para os criar: a maneira como determinaram os quatro cantos do universo eos seus quatro lados. Os senhores do cosmo, seres do cu e da terra, criaram quatro cantos e

    quatro lados do universo.

    Akakor agora est em runas. A grande entrada de pedra est destruda. Cips crescem noGrande Templo do Sol. Por minha ordem, e de acordo com o Supremo Conselho e os sacerdotes,os guerreiros Ugha Mongulala destruram a nossa capital h trs anos. A cidade teria trado anossa presena perante os Brbaros Brancos e, assim, ns abandonamos Akakor. O meu povofugiu para os abrigos subterrneos. A ltima ddiva dos Deuses. Temos treze cidades,

    profundamente ocultas nas montanhas que se chamam Andes. O seu plano corresponde constelao de Schwerta, a ptria dos Antigos Pais. A Baixa Akakor fica no centro. A cidade fica

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    assentada numa caverna gigantesca feita pelo homem. As casas, ordenadas em crculo econtornadas por uma muralha decorativa, tm no centro o Grande Templo do Sol. Tal como naparte superior de Akakor, a cidade est dividida por duas ruas em cruz, que correspondem aosquatro cantos e aos quatro lados do universo. Todas as estradas lhes so paralelas. O maioredifcio o Grande Templo do Sol, com torres que sobem alm dos edifcios onde esto

    instalados os sacerdotes e os seus criados, do palcio do prncipe, das instalaes dos guerreirose das mais modestas casas do povo. No interior do templo h doze entradas para os tneis queligam a Baixa Akakor com outras cidades subterrneas. Tm paredes inclinadas e um teto liso.Os tneis so suficientemente largos para comportar cinco homens lado a lado. Qualquer dasoutras cidades fica a grande distncia de Akakor

    Doze das cidades Akakor, Budo, Kish, Boda, Gudi, Tanum, Sanga, Rino, Kos, Amam, Tata e

    Sikon so iluminadas artificialmente. A luz altera-se de acordo com o brilho do Sol. S Mu, adcima terceira e a menor das cidades, tem altas colunas, que atingem a superfcie. Um enormeespelho de prata espalha a luz do Sol sobre toda a cidade. Todas as cidades subterrneas socruzadas por canais que trazem gua das montanhas. Pequenos afluentes fornecem edifciosindividuais e casas. As entradas na superfcie esto cuidadosamente disfaradas. Em caso deemergncia, os subterrneos podem ser desligados do mundo exterior por grandes rochas mveisque servem de portes.

    Nada sabemos da construo da Baixa Akakor. A sua histria perdeu-se na escurido do maisremoto passado. Mesmo os soldados alemes que viveram com o meu povo no conseguiramesclarecer este mistrio. Durante anos mediram os subterrneos dos Deuses, exploraram osistema de tneis e procuraram o sistema de respiro, mas sem terem o mnimo xito. Os nossosPrimitivos Mestres construram as habitaes subterrneas de acordo com os seus prpriosplanos e leis, que nos so desconhecidos.

    Daqui governavam o seu vasto imprio, um imprio de 362.000.000 de indivduos, tal como seafirma na Crnica de Akakor:

    E os Deuses governaram Akakor. Governaram sobre os homens e sobre a Terra. Tinham naviosmais rpidos que o vo das aves, navios que atingiam os pontos a que se destinavam sem velasnem remos, tanto de dia como de noite. Tinham pedras mgicas por onde viam a distncia, demodo que podiam ver cidades, rios, colinas, e lagos. Tudo quanto acontecia na Terra e no Cu serefletiam nessas pedras. Mas as habitaes subterrneas eram as mais maravilhosas. E os Deusesderam-nas aos seus Servos Escolhidos como ltima ddiva. Para os Primitivos Mestres so do

    mesmo sangue e tm o mesmo pai.

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    Durante milhares de anos, as habitaes subterrneas protegeram os Ugha Mongulala dos seus

    inimigos e suportaram duas catstrofes. Os ataques das tribos selvagens no tinham xito contraos seus portes. No interior, os ltimos homens da minha raa esperam a vinda dos BrbarosBrancos, que avanam pelo Grande Rio, num nmero infinito, tal como formigas. Os nossossacerdotes profetizaram que em ltima anlise descobriro Akakor e que nela encontraro a suaprpria imagem. Ento o circulo fechar-se-.

    II - A HORA ZERO

    10.481 A. C. 10.468 A. C.

    O velho pico hindu Mahabharata conta como os Deuses e os Tits lutaram para ter o domnio daTerra. De acordo com Plato, o lendrio imprio da Atlntida atingiu o seu ponto mais elevadoneste perodo. O cientista germano-boliviano Posnansky acredita na existncia de um enormeimprio na regio da cidade boliviana, agora em runas, de Tiahuanaco. Segundo a opinio dealguns historiadores e etnlogos, as principais divises raciais do Homo sapiens da ltima pocaglacial desenvolveram-se cerca de 13.000 a. C.: Mongis na sia, Negros na frica eCaucasianos na Europa. As principais fixaes no continente europeu encontram-se nas regiescosteiras. As descobertas arqueolgicas de Altamira e da Amaznia confirmam pela primeira veza existncia de humanos no continente sul-americano.

    A PARTIDA DOS PRIMITIVOS MESTRES

    A histria do meu povo, registrada na Crnica de Akakor, aproxima-se do seu fim. Os sacerdotesafirmam que dentro em pouco se passar o tempo; pouco mais temos que alguns meses. Ento o

    destino dos Ugha Mongulala ser cumprido. E quando vejo o desespero e a misria do meu povono posso deixar de acreditar nestas profecias. Os Brbaros Brancos esto penetrando cada vez

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    mais no nosso territrio. Vieram do leste e do oeste como um fogo assoprado por um forte ventoe espalharam um manto de escurido sobre o pas, para o poderem dominar. Mas se os BrbarosBrancos pensassem, chegariam concluso de que no podemos apoderar-nos do que no nospertence. Ento compreenderiam que os Deuses nos deram uma grande manso para apartilharmos e a gozarmos. Mas os Brbaros Brancos querem ter tudo s para si. Os seus

    coraes so duros, no se comovem, mesmo quando realizam as mais terrveis aes. Assim,ns, os ndios, temos de nos afastar, e ter esperana de que os nossos Primitivos Mestres possamum dia voltar, tal como est escrito , com boas palavras e numa escrita clara:

    No dia em que os Deuses abandonaram a Terra chamaram Ina. Deixaram a sua herana ao servode maior confiana: Ina, vamo-nos embora para os nossos lares. Ensinamos-te sabedoria edemos-te bons conselhos. Voltamos para junto dos que so iguais a ns. Vamos para casa. O

    nosso trabalho est feito. Os nossos dias de viver aqui, acabados. Conserva-nos na tua memria eno nos esqueas. Porque somos irmos do mesmo sangue e temos o mesmo pai. Voltaremosquando estiverdes ameaados. Mas agora fique com as Tribos Escolhidas. Levem-nas para asmoradias subterrneas, para as proteger da catstrofe que se aproxima. Estas foram as suaspalavras. Isso foi o que eles disseram quando se despediram. E Ina viu como os navios oslevavam para o cu, com fogo e troves. Desapareceram por cima das montanhas de Akakor, es Ina os viu partir. Mas os Deuses deixaram atrs de si um rastro de sabedoria e bom senso.Eram considerados e venerados como se fossem sagrados. Eram um sinal dos Antigos Pais. E Inareuniu os mais velhos do seu povo num Conselho e disseram-lhes quais tinham sido as ltimasinstrues dos Deuses. E ordenou uma nova contagem do tempo para comemorar a partida dosPrimitivos Mestres. Esta a histria escrita dos Servos Escolhidos, A Crnica de Akakor.

    Na hora zero (10.481 a. C., segundo o calendrio dos Brbaros Brancos) os Deuses deixaram aTerra. Deram o sinal de um novo captulo na histria do meu povo. Mas nessa poca nem sequerIna, seu mais leal servo e primeiro prncipe dos Ugha Mongulala, previa os terrveisacontecimentos que se sucederiam. O Povo Escolhido estava angustiado com a partida dosPrimitivos Mestres e atormentado pelo desalento e pela angstia.

    S a imagem dos Deuses ficou nos coraes dos Servos Escolhidos. Com olhos ardentes,perscrutavam o cu, mas os navios dourados no voltavam. Os cus mantinham-se vazios nema mnima brisa, nem qualquer som. O cu conservava-se desabitado.

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    A LINGUAGEM DOS DEUSES

    Na lngua dos Brbaros Brancos, Ugha significa aliado, partidrio; Mongu significaescolhido, exaltado, e Lala significa tribos. Os Ugha Mongulala so as Tribos EscolhidasAliadas. Uma nova era iniciou-se para eles depois da partida dos Primitivos Mestres. Os Deusessuperiores j no governam o seu imprio, cujos limites ficavam a muitas luas de distncia. OsUgha Mongulala governavam entre dois oceanos, ao longo do Grande Rio, at as baixas colinasdo norte, e mais alm, na extenso das plancies do sul. Os 2.000.000 que compreendem asTribos Escolhidas governaram um imprio de 362.000.000 de pessoas, desde que os PrimitivosMestres dominaram as outras tribos no decorrer dos sculos. Os Ugha Mongulala governaramvinte e seis cidades, muitas fortificaes poderosas e as habitaes subterrneas dos Deuses. Strs complexos de templos Salazere, Manoa e Tiahuanaco ficavam de fora da sua jurisdio,

    por explcitas instrues dos Antigos Pais. Ina, o primeiro prncipe dos Ugha Mongulala, tinha aseu cargo enormes tarefas.

    Conheo poucos pormenores acerca do perodo que se seguiu partida dos Primitivos Mestres.A primeira Grande Catstrofe estende-se como um vu sobre os acontecimentos dos primeirostreze anos da histria do meu povo. De acordo com os sacerdotes, Ina governou o maior imprioque jamais existiu. Este era chefiado pelos Ugha Mongulala, que faziam com que as suas leisfossem obedecidas. Os seus guerreiros protegiam as fronteiras dos ataques das tribos selvagens.362.000.000 de aliados prestavam-lhes vassalagem, mas depois da primeira Grande Catstroferevoltaram-se contra as leis dos Ugha Mongulala. Rejeitaram os legados dos Deuses e dentro empouco esqueciam a sua lngua e a sua escrita. Degeneraram.

    O quchua, como os Brbaros Brancos chamam nossa lngua, consta de simples e boas

    palavras, que so suficientes para descrever todos os mistrios da natureza. Nem sequer os Incasconhecem a escrita dos Deuses. H mil e quatrocentos smbolos, que tm diferentes significados,segundo a sua seqncia. Os sinais mais importantes traduzem a vida e a morte, representadaspelo po e pela gua. Todos os incios da crnica comeam e acabam com estes smbolos.Depois da chegada dos soldados alemes, em 1942, de acordo com o calendrio dos BrbarosBrancos, os sacerdotes comearam a registrar os acontecimentos tambm na escrita das TribosAliadas. Lngua, servio da comunidade, venerao pelas pessoas idosas e respeito pelo prncipeso as coisas mais importantes documentadas anteriormente a primeira Grande Catstrofe. Soevidncia de fato, nos dez mil anos da sua histria, o meu povo ter s uma finalidade: preservar olegado dos Primitivos Mestres.

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    SINAIS OMINOSOS NO CU

    Houve estranhos sinais no cu. A penumbra cobriu a face da Terra. O Sol ainda brilhava, mashavia uma nvoa cinzenta, grande e intensa, que comeava a esconder a luz do dia. Estranhossinais viam-se no cu. As estrelas eram como tristes pedras. Uma neblina venenosa cobria ascolinas. Um fogo malcheiroso pendurava-se nas rvores. Um Sol vermelho. Um caminhocruzado sobrepunha-se. Negro, vermelho, todos os quatro cantos do mundo estavam vermelhos.

    A primeira Grande Catstrofe alterou a vida do meu povo e a face do mundo. Ningum podeimaginar o que aconteceu naquela poca, treze anos depois da partida dos Primitivos Mestres. Acatstrofe foi enorme, e a nossa crnica relata-a com terror:

    Os Servos Escolhidos ficaram temerosos e aterrorizados. J no viam o Sol, a Lua ou as estrelas.A confuso e a escurido reinavam por toda parte. Estranhas imagens passavam sobre as suascabeas. Do cu caia resina, e ao entardecer os homens desesperavam em busca de comida.Matavam os seus prprios irmos. Esqueceram o testamento dos Deuses. Comeara a era dosangue.

    O que aconteceu nesta poca, quando os Deuses nos deixaram? Quem foi o responsvel que fez

    regredir o meu povo ao abatimento durante seis mil anos? Uma vez mais, os nossos sacerdotespodem interpretar os acontecimentos devastadores. Dizem que no perodo antes da hora zeroexistiu tambm outra nao de deuses que eram hostis aos nossos Primitivos Mestres. De acordocom as imagens do Grande Templo do Sol de Akakor, as estranhas criaturas pareciam-se comhumanos. Tinham muito cabelo e uma pele avermelhada. Tal como os homens, tinham cincodedos nas mos e nos ps. Mas dos ombros saiam-lhes cabeas de serpentes, tigres, falces eoutros animais. Os nossos sacerdotes dizem que estes deuses tambm governaram um enormeimprio. Tambm possuam o conhecimento que os tornava superiores aos homens e iguais aosPrimitivos Mestres. As duas raas de deuses que esto representadas nas imagens do GrandeTemplo do Sol de Akakor comearam a guerrear-se. Queimaram o mundo com calor solar, ecada um tentou tirar ao outro o seu poderio. Iniciou-se uma tremenda guerra entre os planetas e

    esta guerra levou o meu povo perdio. No entanto, pela primeira vez, a providncia dosDeuses salvou os Ugha Mongulala . Recordando as ltimas palavras dos nossos Primeiros

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    Mestres, que anunciavam a catstrofe, Ina comandou a retirada para as moradias subterrneas.

    Reuniram-se os mais velhos do povo. Obedeceram s ordens de Ina. Como poderemos nosproteger? Os sinais esto cheios de ameaas, diziam eles. Vamos seguir as ordens dos Deusese albergar-nos nos abrigos subterrneos. As nossas idias no sero suficientes para toda umanao? Nenhum de ns deve faltar. Foi assim que eles falaram. Foi assim que eles decidiram. Ea multido reuniu-se. Atravessaram as guas. Desceram as ravinas e cruzaram-nas. Chegaram aofim, onde as quatro estradas se cruzam, na moradia dos Primitivos Mestres, protegidos nointerior das montanhas.

    Isto uma histria contada pela Crnica de Akakor. E assim se cumpriu a ordem de Ina. Comconfiana na promessa dos Primitivos Mestres, o povo de Ugha Mongulala mudou-se para aBaixa Akakor, para se proteger da iminente catstrofe. Aqui ficaram eles at a Terra se aquietar,tal como uma ave se esconde atrs de uma rocha quando a tempestade se aproxima. Os UghaMongulala estavam salvos da catstrofe porque haviam confiado nos Antigos Pais.

    A PRIMEIRA GRANDE CATSTROFE

    O ano 13 (10.468 a. C., segundo o calendrio dos Brbaros Brancos) um ano fatdico nahistria do meu povo. Depois de se terem refugiado nos subterrneos, a Terra foi atingida pelamaior catstrofe de que h memria. Excedeu mesmo a segunda Grande Catstrofe, seis mil anos

    mais tarde, quando as guas do Grande Rio inundaram a regio. A primeira Grande Catstrofedestruiu o imprio dos nossos Primitivos Mestres e matou milhares de pessoas.

    Isto o relato de como os homens morreram. O que aconteceu Terra? Quem a fez tremer?Quem fez danar as estrelas? Quem fez as guas brotarem das rochas? Numerosos eram osflagelos que atingiam os homem. Estava sujeito a vrias calamidades. Estava terrivelmente frio eum vento gelado soprava sobre a Terra. Estava excessivamente quente e a prpria respirao das

    pessoas queimava-as. Homens e animais fugiam em pnico. Desesperados, corriam de um ladopara o outro. Tentavam trepar nas rvores, mas as rvores repeliam-nos. Tentavam alcanar as

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    cavernas. Contudo, estas abatim-se e sepultavam-nos. O cho tornava-se teto, e o tetodesaparecia nas profundidades. O som e a fria dos Deuses no se acalmavam. At os abrigossubterrneos comearam a tremer.

    A primeira referncia da forma do continente antes da primeira Grande Catstrofe reporta-se partida dos Primitivos Mestres. Depois desse tempo, diferia consideravelmente da sua formaatual. Era muito mais fria e a chuva caa regularmente. Os perodos de seca e de chuva eram maisdistintos uns dos outros. Ainda no havia grandes florestas. O Grande Rio era menor e desaguavaem ambos os oceanos. Os afluentes ligavam-no ao lago gigante, onde os Deuses erigiram otemplo de Tiahuanaco, na costa sul.

    A primeira Grande Catstrofe remodelou a face da Terra. O curso dos rios foi alterado e a alturadas montanhas e a fora do Sol modificaram-se. Os continentes ficaram inundados. As guas dogrande Lago voltaram ao oceano. O Grande Rio foi cortado por uma nova montanha e agoracorre apressadamente para leste. Enormes florestas surgiram nas suas margens. Um calor midoespalhou-se pelas regies orientais do imprio. A oeste, onde se ergueram montanhasgigantescas, as pessoas gelavam no tremendo frio das altitudes. A Grande Catstrofe causaratremendas devastaes, tal como fora predito pelos Primitivos Mestres.

    E a mesma coisa acontecer na futura catstrofe, que os nossos sacerdotes calcularam de acordocom a rota das estrelas. Porque a histria da humanidade cumpre-se segundo rotaspreestabelecidas: tudo se repete, tudo volta num ciclo que dura seis mil anos. Os nossosPrimitivos Mestres ensinaram-nos esta lei. Passaram-se seis mil anos desde a ltima GrandeCatstrofe e seis mil anos se passaram desde que os nossos Primitivos Mestres nos deixaram pelasegunda vez. Mais uma vez apareceram nos cus sinais ominosos. Os animais fogem em pnico.

    Surgem guerras. As leis so desrespeitadas. Enquanto os Brbaros Brancos, por pura arrogncia,destroem o elo entre a natureza e o homem, aproxima-se o cumprimento do destinado. Elessabem-no e esperam com resignao. Porque acreditam no legado dos seus Primitivos Mestres.Com a imagem dos Deuses no corao, seguem-lhes as pegadas. Seguem os que so do mesmosangue e tem o mesmo pai.

    III- A ERA DA ESCURIDO

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    10.468 A. C. 3.166 A. C.

    O cientista germano-boliviano Posnansky calcula que Tiahuanaco foi destruda cerca de 10.000a. C. Os gelogos referem-se s extraordinrias modificaes de clima que podem ter sidocausadas pela deslocao do eixo da Terra. A poca Neoltica, que comeou por volta de 5.000a. C., viu importantes inovaes culturais, acrescentadas por transformaes econmicas delongo alcance: a transio para a agricultura e para os sistemas econmicos produtivos. Ohomem neoltico cultivava cereais selvagens e criava carneiros, cabras e porcos. Instalaram-segrandes famlias em aldeias e mais tarde em cidades fortificadas. Entre 8.000 e 6.000 a. C.,

    Jeric foi considerada como estgio preliminar das altas civilizaes urbanas, embora osegiptlogos suspeitem de uma cultura mais antiga no vale do Nilo. Descobertas arqueolgicasem Eridu e Uruk referem-se aos primeiros edifcios sagrados. Encontraram-se as primitivasplacas de argila. Palavras e sinais fonticos substituram a primitiva escrita pictrica. Em todas ascivilizaes se observa um considervel cuidado com os mortos. Vrios dilvios e catastrficaserupes vulcnicas, provavelmente cerca de 3.000 a. C., so descritos na Bblia como o GrandeDilvio. A Amrica do Sul continua a ser colonizada por vagas de imigrantes vindos da sia.

    O COLAPSO DO IMPRIO

    Verdadeiramente, os Brbaros Brancos so um povo poderoso. Governam o cu e a terra e so aomesmo tempo ave, verme e cavalo. Pensam que esto vendo a luz, mas, no entanto, vivem naescurido e no mal. E o pior que negam o seu prprio Deus e lutam eles prprios serem deuses

    e para nos fazer acreditar que governam o mundo. Mas os Deuses so ainda maiores e maispoderosos que todos os Brbaros Brancos juntos. Ainda so eles que decidem quem, entre ns,deve morrer e quando. Tranqilidade, sol, gua e fogo servem-nos primeiro. Porque os Deusesno permitem que descubram os seus segredos. Os nossos sacerdotes dizem que faro um

    julgamento que libertar os Brbaros Brancos do fardo dos seus erros. Cair uma chuva contnuaque, lavando, tirar toda a escurido dos seus coraes. As guas subiro cada vez mais e lavaroa maldade e a ambio do poder e da riqueza. Tal como acontecera j h mil anos, tudo isto foiregistrado na crnica com boas palavras e numa escrita clara:

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    Trs luas passaram e trs vezes trs luas. Ento as guas dividiram-se. A Terra acalmou de novo.As correntes seguiram diferentes cursos. Perderam-se por entre as colinas. Altas montanhas seergueram em direo ao Sol. A Terra modificou-se quando os Servos Escolhidos deixaram asmoradias subterrneas, e grande foi a sua mgoa. Ergueram o rosto para o cu. Os seus olhosprocuraram as plancies, os rios e os lagos. A verdade era terrvel; a destruio medonha. E Ina

    reuniu o Conselho dos Velhos. As Tribos Escolhidas juntaram ddivas: jias, mel das abelhas eincenso. E sacrificaram-nos para fazer com que os Deuses voltassem Terra. Mas o cumanteve-se vazio. A era do jaguar comeara: poca de sangue quando tudo foi destrudo. Assimfoi separado o elo entre os Primitivos Mestres e os seus servos. E principiou uma nova vida.

    Os anos de sangue, o perodo entre o ano 13 e o ano 7315, a mais escura poca na histria domeu povo. A Crnica de Akakor no se refere a estes acontecimentos. Durante milhares de anos

    no h registros de qualquer espcie. A transmisso oral tambm pobre e entremeada comescuras profecias.

    Foi uma poca medonha. O selvagem jaguar veio e devorou carne humana. Esmigalhou os ossosdos Servos Escolhidos. Arrancou as cabeas dos seus servos. A escurido envolveu a Terra.

    Depois da primeira Grande Catstrofe, o imprio ficou numa situao desesperadora. Asmoradias subterrneas agentaram os terrveis desmoronamentos e nenhuma das treze cidadesfoi destruda, mas muitas das vias que ligavam os limites do imprio ficaram bloqueadas. A suamisteriosa luz extinguira-se como uma vela assoprada pelo vento. As vinte e seis cidades foramdestrudas por uma tremenda inundao. Os recintos dos templos sagrados de Salazere,Tiahuanaco e Manoa ficaram em runas, destrudos pela terrvel fria dos Deuses. As patrulhasenviadas trouxeram a notcia de que muito pouco das Tribos Aliadas haviam sobrevivido

    catstrofe. Obrigados pela fome, abandonaram as suas velhas instalaes e penetraram noterritrio dos Ugha Mongulala, trazendo atrs de si a morte e a perdio. Desespero, desnimo emisria espalharam-se por todo o imprio. Travaram-se renhidos combates nas ltimas regiesfrteis. O domnio das Tribos Escolhidas chegara ao fim.

    Este foi o incio do inglrio fim do imprio. Os homens haviam perdido a razo. Andavam noscampos com as mos pelo cho. Tremiam de medo e terror. Estavam abatidos. Tinham o esprito

    confuso. Atacavam-se uns aos outros como animais. Matavam o seu vizinho e comiam-lhe acarne. Na verdade, foram pocas horrveis.

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    O terrvel perodo entre a primeira e a segunda Grande Catstrofe, de 10.468 a.C. a 3.166 a. C.,segundo o calendrio dos Brbaros Brancos, trouxe o meu povo at a beira da extino. Tribosdegeneradas que haviam sido aliadas dos Ugha Mongulala antes da primeira Grande Catstrofefundaram os seus prprios imprios. Derrotaram os exrcitos dos Ugha Mongulala e fizeram-nosrecuar at as portas de Akakor no nosso ano de 4.130.

    As tribos dos Degenerados formaram uma aliana. Disseram: Como podemos ns tratar com os

    nossos primitivos chefes? Na verdade, eles ainda so poderosos. De modo que se reuniram emconselho. Faamos uma emboscada e matemo-los. No somos mais numerosos? No somosmais que suficientes para os vencer? E todas a tribos se armaram. Juntaram-se em grandenmero. A massa dos seus guerreiros estendeu-se mais longe do que os olhos podiam alcanar.Queriam tomar Akakor de assalto. Marcharam em formao para matar o prncipe Uma. Mas osServos Escolhidos tinham-se preparado Mantiveram-se no cume da montanha. O nome damontanha era Akai. Todas as Tribos Escolhidas se haviam reunido junto de Uma quando osDegenerados se aproximaram. Vinham gritando, com arcos e setas. Cantavam canes de guerra.Berravam e assobiavam metendo os dedos na boca. E assim precipitavam-se contra Akakor.

    Neste ponto A Crnica de Akakor imprecisa. Os nossos sacerdotes contam que os UghaMongulala perderam a batalha e Uma morreu. Os sobreviventes retiraram para as suas habitaessubterrneas. A derrota na montanha de Akai representa o ponto mais baixo da infelicidade domeu povo. Tal como os Brbaros Brancos, que negam os Deuses e se consideram para alm dasleis, os Ugha Mongulala arrastaram-se cada vez mais na humilhao. Confundidos com esteincompreensvel acontecimento, comearam a adorar rvores e rochas, at mesmo a sacrificaranimais e seres humanos. Cometeram ento o mais vergonhoso crime dos dez mil anos da

    histria do meu povo.

    E eis como aconteceu. Quando Uma foi morto na batalha contra as Tribos Degeneradas, ogrande-sacerdote recusou que o seu filho Hanan entrasse nos secretos recintos dos Deuses e semo respeito devido aos Antigos Pais, comeou a governar o povo como considerou melhor.Estvamos no ponto mximo da era do sangue, poca em que era chefe o selvagem jaguar.

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    Porque sofreu o meu povo estes crimes? Porque que os mais velhos toleraram a m conduta dogrande-sacerdote? S h uma explicao. Depois da partida dos Deuses, s certas pessoas tinhamconscincia da sabedoria dos Primitivos Mestres. Os sacerdotes j no transmitiam os seus

    conhecimentos. Ensinavam a histria dos Antigos Pais s aos de grande confiana. O seu podertornava-se maior medida que desaparecia o seu sagrado legado. Dentro em pouco s eles sesentiam responsveis pelos acontecimentos da terra e do cu. Durante milhares de anos, ossacerdotes governaram onipotentes os Ugha Mongulala. Isto o que contam os nossosantepassados. E deve ser verdade, porque s a verdade se mantm atravs do tempo na memriado homem.

    A SEGUNDA GRANDE CATSTROFE

    Terrvel a histria. Terrvel a verdade. Os Servos Escolhidos ainda viviam nas habitaes dosDeuses seis, mil anos. O sagrado legado havia sido esquecido. A sua escrita tornara-se ilegvel.Os seus servos tinham trado o combinado com os Deuses. Viviam para alm de todas asfronteiras como animais da floresta Andavam com as mos e os ps no cho. Cometiam-secrimes luz do dia. E os Deuses sentiam-se com estas atitudes. Os seus coraes enchiam-se detristeza devido maldade do homem. E disseram: Castigaremos o povo. Arranc-lo-emos daterra - homens e gado, vermes e pssaros do cu porque desprezaram o nosso legado. E osDeuses comearam a destruir o povo. Enviaram uma poderosa estrela, cuja cauda vermelhacobria todo o cu. E enviaram fogo mais vivo que um milhar de sis. O grande julgamentocomeou. Durante treze luas caiu chuva. As guas do oceano subiram. Os rios corriam savessas. O Grande Rio transformou-se num imenso lago. E o povo foi destrudo. Todosmorreram afogados no terrvel dilvio

    Os Ugha Mongulala sobreviveram segunda Grande Catstrofe da histria da humanidade.Protegidos nas habitaes subterrneas dos seus Primitivos Mestres, observando a destruio daTerra com temor. Enquanto os Servos Escolhidos sabiam que estavam inocentes da primeiraGrande Catstrofe, agora se acusavam como responsveis pelo segundo terrvel acontecimento.Surgiram lutas e querelas. Rompeu uma guerra civil na Baixa Akakor, que levaria o meu povo extino se no tivesse acontecido o que desde h muito era previsto pelos sacerdotes. Quando anecessidade era premente, os Primitivos Mestres voltaram.

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    E o seu regresso abre um novo captulo na histria dos Ugha Mongulala, o segundo livro daCrnica de Akakor. O primeiro livro acaba com os feitos de Madus, um corajoso guerreiro dosUgha Mongulala, que, mesmo nos momentos mais difceis, no perdera a f no legado dosDeuses, tal como se escreve na crnica.

    Madus atreveu-se a seguir a estrada que leva superfcie da Terra. Sem recear nem tempestadesnem gua, ele continua o seu caminho. Olha com tristeza o pas devastado. No via nem pessoasnem plantas s animais e aves assustadas que voavam sobre o infinito lenol de gua, at quecansadas caam. Isto viu Madus. E ficava ao mesmo tempo triste e irritado. Arrancou tocos dervores do solo inundado. Juntou madeira flutuante. Construiu uma jangada para auxiliar osanimais. Arranjou um casal de cada dois jaguares, duas serpentes, duas antas e dois falces. E as

    guas que subiam elevavam mais a jangada para as montanhas, no cume do monte Akai, amontanha de destino das Tribos Escolhidas. Aqui, Madus deixou os animais irem para a terra eos pssaros voarem. E quando, depois de treze luas, as guas baixaram e o sol desfez as nuvens,voltou para Akakor e narrou o fim da terrvel era do sangue.

    O LIVRO DA GUIA

    Esta a guia.Poderosas so as suas asasE poderosas as suas garras.Os seus olhosOlham imperiosamente sobre a Terra.Est acima do homem.

    No pode serNem vencida nem morta.Durante treze dias ergue-se no cu,E durante treze diasVoa ao encontro do sol-nascente. verdadeiramente sublime.

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    I O REGRESSO DOS DEUSES

    3.166 A. C. 2.981 A. C.

    O calendrio maia comea em 3.113 a. C. e termina em 24 de Dezembro de 2.011 d. C. Ahistoriografia tradicional coloca o incio dos acontecimentos histricos cerca de 3.000 a. C. Operodo que vai at s migraes germnicas (375 d. C .) antiguidade, comeando com oaparecimento de altas civilizaes nos osis do Baixo Nilo e entre o Eufrates e o Tigre, onde o

    homem se desenvolve na existncia histrica. Os pontos altos da histria oriental so marcadospor grandes imprios que governavam empregando a fora agressiva dos monarcas. A vidaespiritual limitava-se religio organizada. O Oriente o bero da escrita, do servio civil e deuma tecnologia espantosamente eficiente. Entretanto, o homem da Europa e da sia conserva-seno nvel neoltico. Sugerem-se datas diferentes para o incio das civilizaes americanas. Oexplorador ingls Niven assegura que os primeiros estabelecimentos urbanos dos antepassadosastecas foram fundados cerca de 3.500 a. C.Na opinio do arquelogo peruano Daniel Ruiz, amisteriosa cidade em runas de Machu Picchu, nos Andes, foi fundada antes da catstrofeuniversal que na Bblia descrita como o Dilvio. A historiografia tradicional rejeita ambas asdatas.

    LHASA, O EXALTADO FILHO DOS DEUSES

    A Crnica de Akakor, a histria escrita do meu povo desde a hora zero at o ano 12.453, onosso maior tesouro. Contm toda a sabedoria dos Ugha Mongulala, escrita na velha lngua dosnossos Antigos Pais, Registra o legado dos Primitivos Mestres, que moldaram a vida do meupovo durante mais de dez mil anos. Contm os segredos das Tribos Escolhidas e tambm corrigea histria dos Brbaros Brancos. Porque A Crnica de Akakor descreve o erguer e o declnio deum povo escolhido pelos Deuses at ao fim do mundo, quando, depois de uma terceira catstrofe,for destrudo o povo. Assim est escrito, assim foi registrado, com boas palavras e numa escritaclara.

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    A penumbra ainda envolve a face da Terra. O Sol e a Lua estavam velados. Ento as navesapareceram no cu, poderosas e douradas. Grande foi a alegria dos Servos Escolhidos. OsPrimitivos Mestres estavam de volta. Desceram Terra com rostos brilhantes. E o PovoEscolhido trouxe as suas ddivas: penas das grandes aves da floresta, mel das abelhas, incenso efrutos. Os Servos Escolhidos colocaram estas ddivas aos ps dos Deuses e danaram com o

    rosto voltado para leste, para o sol-nascente. Danavam com lgrimas de alegria nos olhos,porque os Primitivos Mestres tinham voltado. E os animais regozijavam-se tambm. Todos,desde o mais humilde, se ergueram nos vales e olharam espantados para os Antigos Pais. Masno restava muita gente. Os Deuses haviam morto a maioria como castigo da sua maneira deproceder. Poucos estavam ainda vivos para saudar os Primitivos Mestres com todo o respeito.

    No ano de 7.315 (3.166 a. C.) os Deuses, que to ansiosamente tinham sido esperados pelo meu

    povo, voltaram Terra. Os Primitivos Mestres das Tribos Escolhidas voltaram a Akakor eretomaram o poder. Mas s alguns navios alcanaram a nossa capital e os Deuses ficaram com osUgha Mongulala s durante trs meses. Depois, novamente abandonaram a terra. S os irmosLhasa e Samon no voltaram para a ptria dos Antigos Pais. Lhasa instalou-se em Akakor;Samon dirigiu-se para leste e fundou o seu prprio imprio.

    Lhasa, o Exaltado Filho dos Deuses, tomou o poder de um imprio devastado. Dos 362.000.000que tinham vivido na Era do Ouro, s 20.000.000 sobreviveram segunda Grande Catstrofe.Povoados e cidades estavam em runas. Hordas de tribos degeneradas cruzavam as fronteiras. Aguerra alastrava por todo o pas. O legado dos Deuses fora esquecido. Lhasa reconstruiu o velhoimprio. Como proteo contra as tribos inimigas que avanavam, mandou construir grandesfortalezas. Por sua ordem, os Ugha Mongulala ergueram altas muralhas ao longo do Grande Rioe fortificaram-nas com largas paliadas de madeira. Aos guerreiros escolhidos foi dada a tarefade guardar a nova fronteira e avisar Akakor da aproximao das tribos inimigas. No sul do paschamado Bolvia, Lhasa ergueu as bases de Mano, Samoa e Kin. Eram constitudas por trezeedifcios rodeados de muralhas segundo os moldes dos complexos templos dos nossos AntigosPais. Uma pirmide com uma escadaria na frente, um telhado inclinado e duas salas abobadadas,

    uma no interior, outra no exterior, dominavam a rea circundante. Lhasa instalou as TribosAliadas na vizinhana das trs fortalezas. Estava sob o comando do prncipe de Akakor e sujeitas obedincia de guerra.

    Por milhares de anos, havia uma nao que confinava com a fronteira oeste do imprio e com aqual os Ugha Mongulala sempre mantiveram uma especial amizade. Esta nao, os Incas,conheciam a lngua e a escrita dos Primitivos Mestres. Os seus sacerdotes tambm sabiam do

    legado dos Deuses, No fim da segunda Grande Catstrofe, esta tribo mudou-se para asmontanhas do Peru e fundou o seu prprio imprio. Lhasa, preocupado com a segurana de

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    Akakor, mandou edificar uma fortaleza na fronteira oeste e deu ordens para a edificao deMachu Picchu, uma nova cidade de templos num grande vale dos Andes.

    O suor perlava as testa dos carregadores. As montanhas estavam tintas de vermelho com o seusangue. Assim, chamaram montanha a montanha do Sangue. Mas Lhasa no lhes deu alvio.A nao dos Servos Escolhidos penitenciou-se da traio dos seus antepassados. E assim sepassavam os dias. O Sol nascia e punha-se. Vinham as chuvas e o frio. Os lamentos dos ServosEscolhidos ressoavam no ar. Com prantos entoavam cnticos aos seus sofrimentos.

    A edificao da cidade sagrada de Machu Picchu um dos grandes acontecimentos da histriado meu povo. Os pormenores da sua construo esto ocultos por muitos segredos eternamenteescondidos na alcantilada montanha da Lua, que protege Machu Picchu. De acordo com ashistrias dos sacerdotes, os trabalhadores cortavam as pedras das rochas para as casas dosguerreiros e para as habitaes dos padres e seus criados. Um exrcito de operrios transportavablocos de granito dos vales distantes das encostas ocidentais dos Andes para o palcio de Lhasa.E os sacerdotes tambm contam que duas geraes no foram suficientes para completar a cidadee que os lamentos dos Ugha Mongulala se tornavam mais insistentes medida que o tempopassava. As Tribos Escolhidas comearam a revoltar-se e a amaldioar os Antigos Pais. Pareciaestar iminente uma revolta contra Lhasa, o Exaltado Filho dos Deuses. Ento ouviu-se umestrondo no cu e o dia transformou-se em escurido. O desespero dos Deuses explodiu com oribombar do trovo e terrveis relmpagos. E, enquanto caa uma chuva pesada, os chefes dosdescontentes eram transformados em pedra pedras vivas com pernas. Lhasa ordenou quefossem levados para as montanhas e metidos nas paredes das escadas de Machu Picchu. Foi destamaneira que os rebeldes foram castigados. Levaram a cidade santa sobre os seus ombros, presoseternamente dentro das suas pedras.

    Machu Picchu uma cidade santa. Os seus templos so dedicados ao Sol , Lua, Terra, ao mare aos animais. Aps quatro geraes terem completado a cidade, Lhasa mudou-se daqui e levouo imprio a um perodo de florescimento e prestgio.

    Sob o governo de Lhasa o nmero de guerreiros aumentou. Sentiam-se fortes. No tinhampreocupaes nem de pas nem de famlia. S tinham interesse pelas armas. Protegidos pelos

    Deuses, verificavam as posies dos inimigos. Saam com as instrues de Lhasa, porque oExaltado Filho dos Deuses era realmente um grande prncipe. No podia nem ser derrotado nem

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    morto. Lhasa era um dos deuses. Durante treze dias subiu ao cu. Durante treze dias caminhoupara encontrar o sol-nascente. Durante treze dias tomou a forma de um pssaro e foi realmenteum pssaro. Durante treze dias transformou-se em guia. Estava verdadeiramente exaltado.Todos se curvavam perante o seu aspecto. A sua fora alcanou os limites do Cu e as fronteirasda Terra. E as tribos inclinaram-se perante o divino mestre.

    Lhasa foi o decisivo inovador do imprio dos Ugha Mongulala. Durante os trezentos anos do seugoverno instituiu as bases de um poderoso imprio. Depois voltou para junto dos Deuses. Reuniuos mais velhos do seu povo e os sacerdotes e ditaram-lhes leis. Ordenou que o povo vivesse deacordo com legado dos Deuses e que obedecesse s suas ordens. Ento Lhasa voltou-se para lestee curvou-se perante o solnascente. Antes de os seus raios atingirem a cidade santa subiu montanha da Lua, que se ergue sobre Machu Picchu, no seu disco voador e para sempre se

    separou dos humanos. Isto o que os sacerdotes contam acerca da misteriosa partida do ExaltadoFilho dos Deuses. Lhasa, o nico prncipe das Tribos Escolhidas que veio das estrelas.

    SAMON E O IMPRIO DO LESTE

    Lhasa esteve muitas vezes ausente com o seu disco voador. Visitou o seu irmo Samon. Vooupara o grande Imprio do Leste. E levou consigo um estranho barco que podia passar sobre agua e sobre as montanhas.

    A Crnica de Akakor no diz muito acerca do imprio de Samon, o irmo de Lhasa, que desceu Terra com os Deuses no ano de 7.315. De acordo com a histria escrita do meu povo, instalou-senum grande rio para alm do oceano do Leste. Escolheu tribos nmades e ensinou-lhes os seusconhecimentos e sabedoria. Sob a sua chefia, cultivaram campos e edificaram poderosas cidadesde pedra. Um forte imprio, que era a imagem de Akakor, desenvolveu-se e foi-se construindo deacordo com o legado dos Deuses, que tambm determinaram as vidas dos Ugha Mongulala.

    Lhasa, o prncipe de Akakor, visitava regularmente o irmo no seu imprio e ficava como ele nasmagnficas cidades da margem do Grande Rio. Para fortalecer o elo entre as duas naes,

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    ordenou a construo de Ofir, uma poderosa cidade fluvial na embocadura do Grande Rio, noano de 7.425 (3.056 a. C.). Durante quase mil anos, navios do imprio de Samon deixavam aquias suas valiosas cargas. Em troca de ouro e prata trouxeram pergaminhos com escritos na lnguados nossos Antigos Pais e trouxeram madeiras raras, os mais belos tecidos e pedras verdes, que omeu povo desconhecia. Dentro em pouco Ofir tornou-se uma das mais ricas cidades do imprio e

    alvo das selvagens tribos do Leste. Precipitaram se contra a cidade em ataques repetidos,assaltaram barcos nos portos e interromperam as comunicaes com o interior. Quando oimprio se desintegrou, mil anos depois da partida de Lhasa, conseguiram conquistar Ofir, depoisde uma grande campanha. Saquearam a cidade e incendiaram-na. Os Ugha Mongulala cederamas provncias banhadas pelo oceano a leste e retiraram-se para o interior do pas. E foramcortadas as ligaes com o imprio de Samon.

    O meu povo recorda o imprio de Samon e as ddivas a Lhasa os pergaminhos escritos e aspedras verdes. Os nossos sacerdotes preservam-nos no complexo subterrneo do templo deAkakor, onde esto guardados o disco voador e a estranha nave, que pode passar sobre asmontanhas e gua. O disco voador tem a cor brilhante do ouro e feito de um metaldesconhecido. Tem a forma de um cilindro de argila e a altura e a largura de dois homens umsobre o outro. No disco h espao para duas pessoas. No tem nem velas nem remos. Mas osnossos sacerdotes dizem que Lhasa podia voar mais depressa com ele do que a guia mais forte epodia atravessar as nuvens to ligeiro como uma folha levada pelo vento. A estranha nave tambm misteriosa. Sete longas pernas transportam um grande vaso chapeado de prata. Trspernas dirigem-se para a frente, trs para a retaguarda. Assemelham-se a hastes de bambu e somveis; terminam em rodas to grandes como a vitria-rgia.

    Estes so os ltimos vestgios do glorioso imprio de Lhasa e Samon. Desde ento muita guacorreu sob as pontes. O primitivamente poderoso imprio, cento e trinta famlias dos Deuses quevieram para a Terra, falhou e os homens vivem sem esperana. Mas os Deuses voltaro, Voltaropara auxiliar os seus irmos, os Ugha Mongulala, que so do mesmo sangue e provm do mesmopai, tal como est escrito na crnica:

    Isto o que Lhasa predisse. E assim acontecer. Novos elos de sangue desenvolver-se-o entreos imprios de Lhasa e Samon. A aliana entre os seus povos ser renovada e os seusdescendentes encontrar-se-o de novo. Ento os Primitivos Mestres voltaro.

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    AKAHIM, A TERCEIRA FORTALEZA

    Conhecemos Akahim, a terceira fortaleza. Desde o tempo de Lhasa. Esta cidade de pedra fica nasmontanhas, na fronteira norte entre os pases chamados Venezuela e Brasil. No sabemos quemconstruiu Akahim e s temos uma idia vaga de quando a cidade foi erigida. S referida nacrnica depois do regresso dos Primitivos Mestres, no ano 7.315. Desde ento, Akakor e Akahimforam ligadas em ntima amizade.

    (parei aqui)

    Eu prprio visitei vrias vezes a nao irm das Tribos Escolhidas. Assemelha-se a Akakor,tendo o seu portal de pedra, o Templo do Sol e os edifcios para os prncipes e os sacerdotes. Ocaminho para a cidade marcado por pedra cortada na forma de um dedo estendido. A entradaatual est oculta por uma grande catarata. As guas precipitam-se numa profundidade detrezentos metros. Posso revelar estes segredos porque h quatrocentos anos que Akahim jaz emrunas. Depois das terrveis guerras contra os Brbaros Brancos, o povo de Akahim destruiucasas e templos que ficavam superfcie e retirou-se para as moradias subterrneas. Essashabitaes so desenhadas como a constelaes dos Deuses e tm comunicao entre si por meiode tneis de forma trapezide. Presentemente s quatro edifcios so ainda habitados; os noverestantes esto vazios. A primitivamente to poderosa Akahim alberga hoje somente cinco milalmas.

    Akahim e Akakor esto ligadas por um corredor subterrneo e um enorme mecanismo deespelho. O tnel comea no Grande Templo do Sol de Akakor, continua sob o leito do GrandeRio e termina no corao de Akahim. O mecanismo de espelho vai de Akai, junto dos Andes, atas montanhas de Roraima, tal como lhes chamam os Brbaros Brancos. Consta de espelhos deprata da altura de um homem montados em grandes andaimes de bronze. Todos os meses os

    sacerdotes transmitem os acontecimentos mais importantes na secreta linguagem dos sinais.Deste modo, a nao irm de Akahim soube pela primeira vez da chegada dos Brbaros Brancosao pas chamado Peru.

    A segunda e a terceira fortaleza so os ltimos restos do outrora poderoso campo dos nossosPrimitivos Mestres. Foram testemunhas de um elevado conhecimento, de uma extraordinriasabedoria e dos segredos dos Deuses, que legaram aos Ugha Mongulala com a finalidade de

    preservar a herana, tal como est escrito na crnica, com boas palavras e numa escrita clara:

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    Esta a nossa mais elevada lei. Conservareis o nosso legado. Conserv-lo-eis onde quer que

    fordes, onde quer que puderdes construir as vossas cabanas, onde quer que encontrardes um novolar. No fareis de acordo com a vossa vontade, mas seguireis a vontade dos Deuses. Ouvireis assuas palavras com reverncia e gratido. Porque grande e infinito o seu saber.

    II O IMPRIO DE LHASA

    2.982 A. C. 2.470 A. C.

    O cultivo dos vales do Nilo, do Eufrates e do Tigre, iniciaram o desenvolvimento das maisvelhas civilizaes do Oriente. Cerca de 3.000 a. C., o velho Reino, fundado pelo rei Menes,estabeleceu-se no Egito. Tinha uma administrao central e um servio de estado civiladmiravelmente estruturado. O Fara e a Grande Casa tm absoluto poder para governar comodivina reencarnao. A sua mais importante ao oficial a construo de um gigantesco tmulode pedra, a pirmide. As esttuas e os relevos mgicos das cmaras funerrias so evidnciatanto do alto nvel do material como da cultura espiritual. A bem desenvolvida escritahieroglfica, aperfeioada pelos sacerdotes, descreve a glria do imprio. Cerca de 2.500 a. C., osSumrios avanaram na Babilnia. Em 2.350, o rei semita Sargon fundou o primeiro grandeimprio conhecido na Histria. As nicas datas sobre o desenvolvimento histrico no continenteamericano so fornecidas pelo historiador espanhol Fernando Montesinos, que situa o incio dadinastia dos Reis do Sol incas no terceiro milnio a. C.

    A NOVA ORDEM

    Durante muito tempo no havia mais que terra e montanhas. Isto foi o que os Deuses nosensinaram. Esta a lei da natureza. O meu povo tambm est sujeito a esta lei. suficientemente

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    forte para confiar na mais elevada lei do mundo. Mas que sentido tem para ns a vida se nocombatermos? Que sentido haver se os Brbaros Brancos nos quiserem eliminar? Roubaram-nos as nossas terras e perseguiram homens e animais. O gado selvagem desaparece depressa. Hs alguns jaguares, que ainda h poucos anos eram muito abundantes. Uma vez extintos, teremosde morrer de fome. Seremos obrigados a render-nos aos Brbaros Brancos. Mas nem sequer isso

    os satisfar. Querem que vivamos segundo os seus costumes e leis. No entanto, somos homenslivres, pertencemos ao Sol e Luz. No desejam encher o nosso corao com falsas esperanas.No queremos ser como os Brbaros Brancos, que podem ser felizes e alegres mesmo quando osseus irmos esto infelizes e tristes. Portanto, no temos outra alternativa seno pegar na SetaDourada, lutar e morrer tal como Lhasa nos ensinou, Lhasa o Exaltado Filho dos Deuses, queveio para fundar um novo imprio e proteger os Ugha Mongulala da destruio.

    Lhasa deixou atrs de si poder e glria. Havia decises e governo. Filhos nasceram. Muitascoisas aconteceram. E o Povo Escolhido tornou-se mais famoso quando reconstruiu Akakor comcimento e cal. Mas os Servos Escolhidos no trabalhavam. No construam nem fortalezas nemhabitaes. Deixavam isso s Tribos Escravas. No tinham necessidade de pedir, de ordenar oude usar violncia. Todos obedeciam com prazer aos novos senhores. O imprio expandia-se. Opoder dos Servos Escolhidos era grande. As suas leis eram vlidas nos quatro cantos do imprio.

    Lhasa restaurou a fama dos Ugha Mongulala. Os limites eram tranqilos e seguros. As tribosinimigas haviam sido derrotadas. As Tribos Aliadas estavam sujeitas ao servio militar, tal comoo Exaltado Filho dos Deuses tinha ordenado. Mas Lhasa no s restabeleceu o exterior poder doimprio; tambm renovou a ordem interior do reino, Lhasa dividiu os Ugha Mongulala emgrupos e classes e pela primeira vez se assentou a herana dos Deuses em leis escritas. Durantemilhares de anos estes governaram a vida do meu povo. S se completaram depois da chegada dedois mil soldados alemes, muitos sculos mais tarde.

    Temos de dividir as nossas tarefas. Assim falou e resolveu Lhasa. E assim se renovaram asfileiras e se distinguiram as classes. O prncipe, o grande-sacerdote e os mais velhos do povo todos os ttulos e dignitrios foram de novo designados. Esta foi a origem de todas as categoriase classes. Esta foi a nova ordem do Exaltado Filho dos Deuses, que determinou a vida dos UghaMongulala.

    De acordo com a lei escrita de Lhasa, o prncipe o chefe dos Ugha Mongulala. o mais

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    elevado servo dos Deuses, descendente dos Primitivos Mestres e governador das TribosEscolhidas. O povo chama-lhe o Exaltado porque o escolheram para administrar o imprio. Nofoi eleito. O ofcio de prncipe hereditrio e passa de pai para filho, a quem atribudo o legadodos Deuses, concedido pelos sacerdotes desde a idade de onze anos em diante. Instruram-no nahistria das Tribos Escolhidas e prepararam-no para a sua futura tarefa com exerccios fsicos e

    espirituais.

    Depois da morte do prncipe, o seu filho primognito chamado perante os mais velhos. Deveprovar-lhes que est destinado a ser o mais alto servo dos Primitivos Mestres. Depois de terpassado o exame, o grande-sacerdote manda-o para a secreta regio das moradias subterrneas.Aqui deve ficar durante treze dias e conversar com os Deuses. Se estes pensarem que ele mereceherdar o seu legado, os mais velhos oferecer-lhe-o as novas regras de governo do povo. Se os

    Deuses o rejeitarem e ele no voltar depois de treze dias das regies subterrneas, os sacerdotesdeterminam, com o auxlio das estrelas, o correto herdei