A dignidade de Chico Xavier -...

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4 CHICO

CARTAS ESCRITAS COM LÁGRIMAS

A dignidade de Chico Xavier

7 MEDIUNIDADE

ISABEL DE ARAGÃO

Chico Xavier sempre amparado pela

Espiritualidade Maior

10 REFLEXÃO

O ENCONTRO

A vida e seus reencontros

12 CIÊNCIA

CIÊNCIAS MÉDICAS ABREM ESPAÇO PARA INCLUSÃO

DA ESPIRITUALIDADE

A Espiritualidade pode ajudar a aliviar o

sofrimento

14 CAPAA NOITE DE SÃO BARTOLOMEU

O incrível relato dos envolvidos na história daFrança

26 ESCLARECIMENTO

MESA BRANCA?Veja que no Espiritismo não existe ritual

27 COM TODAS AS LETRAS

RESISTA À TENTAÇÃO DE “A NÍVEL DE”Importantes dicas da nossa língua portuguesa

SUMÁRIO

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Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”Rua Luís Silvério, 120 – Vila Marieta 13042-010 Campinas/SPCNPJ: 01.990.042/0001-80 Inscr. Estadual: 244.933.991.112

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Centro de Estudos Espíritas

“Nosso Lar” – Depto. Editorial

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O Centro de Estudos Espíritas

“Nosso Lar” responsabiliza-se

doutrinariamente pelos artigos

publicados nesta revista.

[email protected] (19) 3233-5596

CHÁRITAS

Chamo-me Caridade; sigo o caminho principal que conduz a Deus.

Acompanhai-me, pois conheço a meta a que deveis todos visar.

Dei esta manhã o meu giro habitual e, com o coração amargurado, venho

dizer-vos: Oh! meus amigos, que de misérias, que de lágrimas, quanto tendes de

fazer para secá-las todas! Em vão, procurei consolar algumas pobres mães, dizen-

do-lhes ao ouvido: Coragem! Há corações bons que velam por vós; não sereis

abandonadas; paciência! Deus lá está; sois dele amadas, sois suas eleitas. Elas

pareciam ouvir-me e volviam para o meu lado os olhos arregalados de espanto;

eu lhes lia no semblante que seus corpos, tiranos do Espírito, tinham fome e que,

se é certo que minhas palavras lhes serenavam um pouco os corações, não lhes

reconfortavam os estômagos. Repetia-lhes: Coragem! Coragem! Então, uma po-

bre mãe, ainda muito moça, que amamentava uma criancinha, tomou-a nos

braços e a estendeu no espaço vazio, como a pedir-me que protegesse aquele

entezinho que só encontrava, num seio estéril, insuficiente alimentação.

Alhures vi, meus amigos, pobres velhos sem trabalho e, em conseqüência, sem

abrigo, presas de todos os sofrimentos da penúria e, envergonhados de sua misé-

ria, sem ousarem, eles que nunca mendigaram, implorar a piedade dos transeun-

tes. Com o coração túmido de compaixão, eu, que nada tenho, me fiz mendiga

para eles e vou, por toda a parte, estimular a beneficência, inspirar bons pensa-

mentos aos corações generosos e compassivos. Por isso é que aqui venho, meus

amigos, e vos digo: Há por aí desgraçados, em cujas choupanas falta o pão, os

fogões se acham sem lume e os leitos sem cobertas. Não vos digo o que deveis fazer;

deixo aos vossos bons corações a iniciativa. Se eu vos ditasse o proceder, nenhum

mérito vos traria a vossa boa ação. Digo-vos apenas: Sou a caridade e vos estendo

as mãos pelos vossos irmãos que sofrem.

Mas, se peço, também dou e dou muito. Convido-vos para um grande ban-

quete e forneço a árvore onde todos vos saciareis! Vede quanto é bela, como está

carregada de flores e de frutos! Ide, ide, colhei, apanhai todos os frutos dessa

magnificente árvore que se chama a beneficência. No lugar dos ramos que lhe

tirardes, atarei todas as boas ações que praticardes e levarei a árvore a Deus, que

a carregará de novo, porquanto a beneficência é inexaurível. Acompanhai-me,

pois, meus amigos, a fim de que eu vos conte entre os que se arrolam sob a minha

bandeira. Nada temais; eu vos conduzirei pelo caminho da salvação, porque sou

a Caridade.

Cárita, martirizada em Roma. (Lião, 1861.)

O Evangelho Segundo o Espirismo. Cap. XIII item 13.

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FidelidadESPÍRITA | Agosto 2006

CHICO

23-11-1944“(...) O que me dizes, referentemente

à atitude de certos confrades quedescambam para o terreno das provaçõesdeclaradas, é a cópia do que sinto tam-bém. É muito triste vermos companhei-ros, com tantas expressões de cultura evan-gélica, arvorarem-se em lutadores e com-batentes sem educação. Logo que houveo agravo da sentença (caso H. Campos),observando a agressividade de muitos,escrevi mais de cinqüenta cartas priva-

das e confidenciais aos amigos da doutri-na, com responsabilidade na imprensaespiritista, rogando a eles me ajudarem,por amor de Jesus, com o silêncio e a pre-ce e não com defesas precipitadas e, con-fesso-te, que algumas dessas cartas foramescritas com lágrimas por mim, tal a de-sorientação de certos amigos que facil-mente se transformam em provocadorese ironistas, esquecendo os maiscomezinhos deveres cristãos. (...)”

O que mais me impressiona nes-te texto é, sobretudo, a sua atuali-dade.

Chico Xavier escreve-o sob o

guante de sofrimento advindo dasperseguições. Mas não especialmen-te das perseguições que lhe moviamos familiares de Humberto de Cam-pos. Ele não padecia tanto pelo ata-que que vinha de fora, do exterior,mas, sim, pelas agressões de dentrodo nosso próprio meio a irmãos queo não compreendiam.

Tanto ele quanto Wantuil deFreitas estavam entristecidos por

constatarem que muitos compa-nheiros, com expressiva cultura evan-gélica, se transformaram em verda-deiros combatentes até sem educa-ção. Diante de tanta agressividade,diante de tantos confrades que to-maram iniciativa precipitada dedefendê-lo, Chico escreve mais decinqüenta cartas confidenciais aamigos com tarefas na imprensa es-pírita, rogando-lhes em nome deJesus que o ajudem, sim, mas como silêncio e a prece.

Tal é a sua preocupação, quemuitas dessas cartas são “escritas comlágrimas”.

Cartas Escritas com Lágrimas

por Suely Caldas Schubert

algumas cartas foram escritas com

lágrimas, tal a desorientação de amigos

que se transformam em provocadores

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Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE : 0800 770-5990 5ASSINE : (19) 3233-5596 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

CHICO

Imaginemos a serenidade deChico Xavier ante o problema quese agrava e imaginemo-lo a escudar-se na prece e no trabalho, firme nasua fé, seguro no seu testemunho.Imenso é, portanto, o seu sofrimen-to ao verificar que vários companhei-ros, não entendendo o significadodaquela hora e muito menos as suascondições espirituais para superá-lo,se arvoram em seus defensores, agin-do, porém de maneira totalmenteoposta se arvoram em seus defenso-res, agindo, porém de maneira to-talmente oposta à atitude que ele,Chico, assumira. Atitude esta ple-namente coerente com a de Wantuile, vale dizer, de toda a FEB.

Nesse episódio, Chico Xavier sen-te, por extensão, a dor de ver que amensagem do Cristo não havia sidoassimilada por esses irmãos. Que setransformaram, sem o sentirem, emfomentadores da discórdia e em ins-trumentos das trevas.

Que magistral lição ressuma des-sa passagem da vida de Chico Xavier!

Atacado injustamente, nãorevida.

Ofendido, silencia.Caluniado, recolhe-se à oração.Jogado à opinião pública de todo

o país, aguarda serenamente o resul-tado do julgamento dos homens,sabendo de antemão que, qualquerque fosse ele, estaria em paz com asua consciência, na certeza de tercumprido fielmente o seu dever.

Toda a sua defesa é Jesus. É Neleque encontra o exemplo a ser segui-do. É para o Mestre Divino que vol-ve o seu olhar confiante. E enquan-to se abriga nesse Imenso Amor,Chico é surpreendido com a reaçãonada cristã e nada espírita de mui-tos confrades.

Num relance percebe não apenasessa conduta incoerente com osprincípios que dizem esposar, mas,principalmente, a estratégia dos pla-nos inferiores a se armar, sub-repticiamente, infiltrando-se sutil eusando como pretexto a necessida-de de defesa de Chico Xavier.

“Como sabes, meu caroWantuil, nem todas as publicaçõespoderiam ser corretas, no caso es-candaloso, e nem todos os jornalis-tas me procuraram com boas inten-

ções. Mas como sabes também, econforme assevera o nossoEmmanuel, “na tarefa mediúnica,não podemos agradar a todos, masnão devemos desagradar a nin-guém”. Minha situação era muito

delicada e mesmo assim não falta-ram inúmeros confrades que me es-creveram cartas impiedosas e irôni-cas, quando liam reportagens emdesacordo com a verdade dos fatos,como se eu devesse controlar todosos jornais que escreveram sobre oacontecimento. Alguns me pergun-taram acremente se eu não estavaobsediado e se já não havia enlou-quecido. (...) Continuemos, meuamigo, em nossos trabalhos,edificados na consciência tranqüila.”

Cremos que a maioria dos com-

panheiros de nosso movimento se-rão tomados pela mesma perplexi-dade que nos acometeu ao lermosessas cartas e constatarmos que exis-tem irmãos nossos, isto é, pessoasque se dizem espíritas, capazes de,

...aguarda serenamente o resultado do

julgamento dos homens...

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CHICO

com toda tranqüilidade, escreveremuma carta a alguém de maneiraimpiedosa e irônica. E mais: de sedirigirem a Chico Xavier ofenden-do-o, pedindo-lhe contas de seusatos, transformando-se em juízesdescaridosos e frios, como se lhescoubesse esse direito em relação aoutro ser humano.

É triste verificarmos o quantoainda somos pouco cristãos. Nãoassimilamos quase nada dosensinamentos do Cristo. É o casode nos perguntarmos: Onde está oEvangelho em nós? E da DoutrinaEspírita o que aprendemos, assimi-lamos e incorporamos à nossavivência?

A lição do Mestre prossegue eco-ando ao longo dos tempos paraaqueles que têm ouvidos de ouvir:“Atire a primeira pedra aquele queestiver sem pecados.”

Mas, Chico nem sequer mencio-na nomes. Poderia tê-lo feito, poisescreve a um amigo do seu coração.Não acusa, todavia, a ninguém. Nãofaz referências desairosas. Apenasexplica a Wantuil que muitas publi-cações não são corretas e que algunsjornalistas não o procuram comboas intenções. Chico quer queWantuil esteja a par da verdade. In-teressa-lhe que o amigo saiba do queocorre. Não se preocupa em divul-gar a realidade ou esclarecer os de-mais. Permanece, como sempre faz,em sua extraordinária vivência evan-gélica.

De suas palavras neste trecho,reponta a frase de Emmanuel: “na

tarefa mediúnica, não podemos agra-dar a todos, mas não devemos desa-gradar a ninguém.” Realmente, compaciência apostolar Chico tem pro-curado seguir este conselho, doan-

“Atire a primeira pedra aquele que

estiver sem pecado”

Fonte:

SCHUBERT, Sueli. Testemunhos de Chico

Xavier. Pág. 32 - 36. Feb. 1998.

do constantemente o melhor de simesmo. As pessoas, entretanto, emsua maior parte, não se contentamcom o que recebem. Querem sem-pre mais. Estão sempre exigindo ecobrando. E especialmente dos mé-diuns.

Bem poucos têm uma noção cer-ta do que seja a tarefa mediúnica.Crêem que o médium tem consigoa fórmula mágica que resolve pro-blemas, afasta dissabores e, sobretu-do, que suas mãos guardam o segre-do do milagre capaz de curar e cica-trizar males e feridas do corpo e daalma.

Chico Xavier dá-nos osparâmetros do que seja a vivênciada mediunidade com Jesus, plenae integral. Ele não é espírita ape-nas quando está no Centro ou cer-cado pela multidão. Ele não émédium somente nos horários res-tritos das reuniões. A sós ou jun-to do povo, no seu lar ou no Cen-tro, ele é sempre o Espírita e omédium que exemplifica o queescreve e fala.

Com a simplicidade que lhe écaracterística, transmite a Wantuila “fórmula milagrosa” para superara tantas dificuldades: “Continue-mos, meu amigo, em nossos traba-lhos, edificados na consciência tran-qüila.” �

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MEDIUNIDADE

por Chico Xavier

Isabel de Aragão

Tinha eu dezessete anos,

em 1927, quando na noi-

te de 8 de julho do refe-

rido ano, em uma reunião de pre-

ces, escutei, através de uma senhora

presente, D. Carmem Penna Perácio,

já falecida, a recomendação de um

amigo espiritual, aconselhando-me

a tomar papel e lápis, a fim de escre-

ver mediunicamente. Eu não pos-

suía conhecimento algum do assun-

to em que estava tratando, mesmo

porque ali comparecia acompanhan-

do uma irmã doente que recorria

aos passes curativos daquele círculo

íntimo, formado por pessoas dignas

e humildes, todas elas de meu co-

nhecimento pessoal. Do ponto de

vista espiritual, apesar de muito jo-

vem, era fervoroso católico que se

confessava e recebia a Sagrada Co-

munhão, desde 1920, aos dez janei-

ros de idade. Ignorando se me acha-

va transgredindo algum preceito da

Igreja, que eu considerava minha

mãe espiritual, tomei o lápis que um

amigo me estendera com algumas

folhas de papel em branco e meu

braço, qual se estivesse desligado do

meu corpo, passou a escrever, sob

os meus olhos cerrados, certa men-

sagem que nos exortava a trabalhar,

em nome de Nosso Senhor Jesus

Cristo. A mensagem era constituí-

da de dezessete páginas e veio assi-

nada por um mensageiro que se de-

clarava “Um amigo espiritual”, que

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MEDIUNIDADE

somente conheceria depois. Nenhu-ma das pessoas presentes se interes-sou em conservar o comunicado,inclusive eu mesmo, pois nenhumde nós, os companheiros que for-mavam o círculo de orações, pode-ria prever que a tarefa de escrevermediunicamente se desdobraria paramim, através de vários decênios.

No dia seguinte, após a missa damanhã, procurei o Padre SebastiãoScarzelli, que era meu confessor eprotetor, e contei-lhe o sucedido,pedindo-lhe que me acompanhassequanto ao que me caberia fazer. Ele

era um padre moço, creio que deorigem italiana. O querido sacerdo-te, que muitas vezes fora o meuapoio nas dificuldades psicológicase mediúnicas, que eu periodicamen-te atravessava, me falou com bonda-de que ele mesmo nunca lera livrosespíritas, mas, se eu me sentia bemno círculo de preces a que compare-cera, seria justo buscar a paz que mefaltava, já que o nome de Jesus pre-sidia aquele grupo de pessoas hones-tas e ainda me afirmou que poderiafreqüentá-lo, mas lembrando a mi-nha devoção à Nossa Senhora, poisele acreditava que Nossa MãeSantíssima intercederia em meu be-nefício em qualquer circunstância.Depois desse entendimento, nãomais vi o Padre Scarzelli, que foraremovido para a cidade de Joinville,no Estado de Santa Catarina, ondefaleceu, há poucos anos, na condi-

ção de monsenhor e onde se podever a obra imensa de benemerênciaem favor da comunidade.

Sem a presença daquele apósto-lo do bem, dediquei-me ao grupoespírita, com a mesma fé, com a qualcomparecia às atividades católicas.

Tudo seguia em ordem, quandona noite de 10 de julho referido, doisdias depois de haver recebido a pri-meira mensagem, quando eu fazia asorações da noite, vi o meu quartopobre se iluminar, de repente. Asparedes refletiam a luz de um prate-ado lilás. Eu estava de joelhos, con-

forme os meus hábitos católicos, edescerrei os olhos, tentando ver oque se passava. Vi, então, perto demim uma senhora de admirável pre-sença, que irradiava a luz que se es-praiava pelo quarto. Tentei levantar-me para demonstrar-lhe respeito ecortesia, mas não consegui perma-necer de pé e dobrei,involuntariamente, os joelhos dian-te dela. A dama iluminada fitou umaimagem de Nossa Senhora do Pilarque eu mantinha em meu quarto e,em seguida, falou em castelhano queeu compreendi, embora sabendoque eu ignorava o idioma, em queela facilmente se expressava:

- Francisco, disse pausadamente,em nome de Nosso Senhor JesusCristo, venho solicitar o seu auxí-lio em favor dos pobres, nossos ir-mãos.

A emoção me possuía a alma

toda, mas pude perguntar-lhe, em-bora as lágrimas que me cobriam orosto:

- Senhora, quem sois?Ela me respondeu:- Você não se lembra agora de

mim, no entanto eu sou Isabel, Isa-bel de Aragão.

Eu não conhecia senhora algumaque tivesse esse nome e estranhei oque ela dizia, entretanto, uma forçainterior me continha e calei qualquercomentário, em torno de minha ig-norância. Mas o diálogo estava ini-ciando e indaguei:

- Senhora, sou pobre e nada te-nho para dar. Que auxílio podereiprestar aos mais pobres do que eumesmo?

Ela disse:- Você nos auxiliará a repartir

pães com os necessitados.Clamei com pesar:- Senhora, quase sempre não te-

nho para mim. Como poderei re-partir pães com os outros?

A dama sorriu e esclareceu:- Chegará o tempo em que você

disporá de recursos. Você vai escre-ver para as nossas gentes peninsula-res e, trabalhando por Jesus, nãopoderá receber vantagens materialalguma pelas páginas que você pro-duzir, mas vamos providenciar paraque os Mensageiros do Bem lhe tra-gam recursos para iniciar a tarefa.Confiemos na bondade do Senhor.

Em seguida a essas palavras queanotei em 1927, a dama se afastoudeixando o meu quarto em plenoescuro. Chorei sob emoção paramim inexplicável até o amanhecerdo dia imediato. Não tinha mais oPadre Scarzelli para consultar e no-tei que os meus novos companhei-ros não poderiam me auxiliar, por-

Vi perto de mim uma senhora de

admirável presença, que irradiava a

luz que se espraiava pelo quarto

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MEDIUNIDADE

Fonte:

BACCELLI, Carlos A. O Evangelho de Chico

Xavier. Pág 91-96. Didier, Votuporanga/SP.

2003.

que eu não sabia o que vinha a ser aexpressão “gentes peninsulares” ou-vidas por mim, quanto a estas duaspalavras, nenhum deles conseguiufornecer qualquer explicação. Sen-tindo-me a sós com a lembrança dainesquecível visão, passei a orar to-das as noites, pedindo à Nossa Se-nhora para que alguém me socorres-se com as informações que eu julga-va precisas. Duas semanas após aocorrência, estando eu nas preces danoite, apareceu-me um senhor ves-tido em roupa branca que, por in-tuição, notei tratar-se de um sacer-dote.

Saudei-o com muito respeito eele me respondeu com bondade,

explicando-se:- Irmão Francisco, fui no século

XIV um dos confessores da RainhaSanta, Isabel de Aragão, que se fezesposa do Rei de Portugal, D. Di-nis. Ela desenvolveu elevadas inicia-tivas de beneficência e instrução nosdois reinos que formam a Penínsu-la, conhecida na Europa, e voltouao mundo espiritual em 4 de julhode 1336. Desde então, ela protegetodas as obras de caridade e educa-ção na Espanha e Portugal. Foi elaque o visitou, há alguns dias, naspreces da noite, e prometeu-lhe as-sistência. Ela me recomenda dizer-lhe que não lhe faltarão recursos paraa distribuição de pães com os neces-

sitados. Meu nome em 1336 eraFernão Mendes. Confiemos em Je-sus e trabalhemos na sementeira dobem.

Eu não tive garganta livre parafalar.

O padre se retirou e, sentindo apremência do que desejava a nobreSenhora, que eu não sabia ter sido,na Terra, tão amada e tão ilustre ra-inha. No primeiro sábado que seseguiu às ocorrências que descrevo,fui com minha irmã Luiza a umaponte muito pobre, até hoje exis-tente e reformada, na cidade dePedro Leopoldo, Minas, onde nas-ci, conduzindo um pequeno cestocom oito pães. Ali estavam refugia-dos alguns indigentes. Parti os pães,a fim de que cada um tivesse umpedaço, e assim foi iniciado o nos-so serviço de assistência que perdu-ra até hoje. Em Pedro Leopoldo,com alguns companheiros, fiz a dis-tribuição de pães, de 1927 a 1958.Em janeiro de 1959, mudei-me paraesta cidade de Uberaba, aqui che-gando no dia 5 de janeiro de 1959.Um grupo de amigos já nos espera-va e promovemos a distribuição depães numa vila da periferiauberabense. Essa distribuição sema-nal, aos sábados, permanece ativa atéhoje. Moramos numa casa vizinhade três núcleos de favelados e a nos-sa distribuição de pães, atualmente,se eleva ao número de um mil equinhentos por semana, divididosentre os necessitados das três favelasa que me referi. �

...apareceu-me um senhor vestido em

roupa branca que, por intuição, notei

tratar-se de um sacerdote

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FidelidadESPÍRITA | Agosto 2006

REFLEXÃO

O Encontro

por Hilério Silva / Chico Xavier

Casara-se havia cinco anos; todavia o

esposo revelara-se libertino

Rosabela preparava-se.

Não cabia em si de espe-

rança. Visitara o cabelei-

reiro e experimentava, feliz, o vesti-

do novo.

Sozinha no apartamento, relia a

última carta. A última carta de amor

que a buscava, enfim. E a sós, en-

quanto a noite de sábado transbor-

dava de música, recordava, recorda-

va...

Casara-se, havia cinco anos; to-

davia, Tristão, o esposo, revelara-se

libertino. Não conseguia olvidar os

primeiros tempos. A presença dele,

suas palavras e promessas estavam em

seu pensamento como inolvidável

perfume.

Ainda assim, tivera coragem de

romper consigo própria e tentar

outra experiência. Isso porque não

tivera força para o perdoar.

Rememorava a noite em que se

haviam despedido...

Regressava do interior

fluminense, onde fora ter com os

pais, em repouso breve. Entretanto,

inesperada queratite obrigara-lhe a

volta em momento imprevisto. E

não olvidava o quadro que a ferira,

fundo.

Penetrando em casa, surpreende-

ra Tristão embriagado junto de ou-

tra. Ambos agressivos. Inconvenien-

tes. Dilacerada nos melhores sonhos,

protestara, chorando; contudo, o

marido, alterado, atirara-lhe as ma-las na rua. Expulsara-a como se foraum animal corroído de peste.

Acolhera-se à residência de ami-gos e mudara o curso dos própriospassos.

O esposo, talvez mudado, tenta-ra a aproximação, mas debalde.

Ultrajada, negou-se.Alugando pequeno apartamento

em bairro distante, aceitou as fun-ções de datilógrafa quase anônima,em grande companhia comercial. Emergulhara a mente no serviço.

De quando em quando, esse ouaquele Don Juan de esquina lhe dei-tava olhos menos sensatos; todavia,pelo comportamento irrepreensível,não lhes encorajava qualquer pala-vra incorreta.

O tempo correu lentamente.Um, dois, três, quatro anos...Sentia-se, no entanto, intima-

mente desamparada.Ensaiava a aquisição de amizades

novas. Acabava, entretanto, desilu-dida.

Algo faltava.

Às vezes, supunha que faltavaTristão, mas arredava para longe essepensamento.

Surgiu, no entanto, uma noitediferente.

Lia velho número de uma revistasentimental e encontrara aí um con-vite a esmo.

Cavalheiro, anunciando trinta edois anos de idade, desejava estabe-lecer amizade com alguém, por sen-tir-se sozinho.

O curioso anuncio era assinadopor Benjamim Solis e apresentavaexpressivo cunho de seriedade. Apósrefletir, resolveu arriscar. E ofereceu-se, endereçando bela missiva datilo-grafada para a caixa postal indicada.

Dizia chamar-se Rosalinda Maivare informava a posta-restante para aresposta.

Benjamim escreveu, contente,feliz.

Declarava adotar igualmente adatilografia por sistema ideal, até

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REFLEXÃO

Fonte:

XAVIER, Francisco C. A Vida Escreve. Pág.

125 - 130. Rio de Janeiro/RJ.

que pudessem estabelecer um en-contro franco.

E as cartas começaram afetivaspara se tornarem longas e belas, ca-rinhosas e ardentes.

Confidências recíprocas. Autobi-ografias discretas. Flores e lembran-ças pelo correio. Respeitosamente,contou-lhe Benjamim uma longahistória. Era casado. Mas via-se dis-tanciado da esposa, desde muito.Não a acusava. Informava, apenas,que não soubera fazê-la feliz.

Em outras missivas, historiavaestranhos episódios. Relacionavadificuldades do pretérito.

E dizia-se um homem a caminhoda regeneração.

Enviava livros. Livros espíritas,consoladores, que ela manuseavacom imensa emoção. Aqueles apon-tamentos dele inclinavam-na à ale-gria e à esperança. Falavam de renún-cia, entendimento, perdão...

Ela mesma, com dez meses decorrespondência, estava modificada.Mais paciente, mais tolerante.

E pensava: “se conhecesse tudoisso ao tempo de Tristão...”; toda-via, mentalizava Benjamim e expul-sava a imagem do esposo, buscandoanular-lhe o reflexo...

Impossível que Benjamim fossemau... E ainda que houvesse come-tido algo passível de justa reprova-ção, ali estava, naquelas cartas religi-osamente datilografadas, plenamen-te refeito.

Estava presa aos compromissoslegais. Contudo, nada a impedia demanter uma afeição pura e nobre.Incentivo do coração que pudesseauxiliá-la a viver...

Pensando em como prosseguirno romance, revirava nas mãos a úl-tima carta...

Antes, deliberadamente, adiavamsempre, entre si, a remessa de fotos.Benjamim, no entanto, convidava-a, agora, a que se avistassem.

Esperá-la-ia às dez horas em pon-to, do dia seguinte, domingo, à por-ta do velho Jardim Botânico.

Envergaria costumes de linhoalvo e traria gravata escura com pe-queno alfinete em forma de “R”.

Respondera aquiescendo.E informara que trajaria um ves-

tido da mesma cor, mostrando umbroche singelo lembrando os con-tornos da mesma letra.

Enfim, enfim o encontro...

Manhãzinha, Rosabela pôs-se emmarcha.

A princípio, o elétrico e, depois,o lotação.

Não quis, porém, descer, de cho-fre, nas imediações do jardim. Que-ria movimentar-se um tanto. Prepa-rar-se. E chegar às dez em ponto.

Fez sinal e apeou numa rua daGávea. Aí mesmo, mal suportandoa própria emoção, retocou o sem-

blante e realinhou os cabelos, utili-zando pequena bolsa.

E caminhou, coração aos saltos,no rumo certo.

Vários grupos se movimentaramsob o arvoredo à caça de ar puro.

Avançou, trêmula. Olhou o re-

lógio. Dois minutos para as dez.Mais alguns passos e estacou.

O amigo lá estava. Roupa bran-ca e gravata escura. O alfinete emforma de “R” luzia, não obstante mi-núsculo.

Mas, aquele homem... Aquelehomem era Tristão.

O marido, muito pálido, veio aoencontro dela.

Ambos, prestes a cair, abarcaram-se de manso.

Pois é você, Rosa? Eu bem des-confiava... Somente você poderia es-crever-me como fez, tocando-me ocoração... Perdoe-me, agora! Estoutransformado, creia... Sofri demais.Este encontro é a resposta do Mun-do Espiritual às minhas preces cons-tantes! Louvado seja Deus!...

Rosabela nada respondeu.O esposo, no entanto, abraçou-

a mais forte, ao notar que ela repou-sara a cabeça em seus ombros, e,depois de alguns minutos, percebeuque a primorosa lapela surgia agoraensopada de lágrimas. �

Pensando em como prosseguir no

romance, revirava nas mãos a

última carta...

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FidelidadESPÍRITA | Agosto 2006

CIÊNCIA

Uma técnica de intervenção terapêutica para paci-

entes em estágio terminal aponta, com aporte

científico, que a espiritualidade pode ajudar a

aliviar o sofrimento de quem está próximo da morte. O mé-

todo, publicado no final de junho deste ano, no periódico

britâncio The Scientific World Journal, foi o tema da tese de

doutorado “Programa de treinamento para profissionais de

saúde sobre a intervenção terapêutica: Relaxamento, Imagens

Mentais e Espiritualidade (Rime) para re-significar a Dor Espi-

ritual de Pacientes Terminais”, da psicóloga Ana Catarina Ara-

újo Elias, apresentada no final do ano passado, na Unicamp.

O estudo dá força a uma tendência que, embora ainda muito

polêmica, vem ganhando espaço no meio acadêmico na últi-

ma década: a inclusão da espiritualidade nas pesquisas cientí-

ficas da área da saúde.

O crescente interesse da área médica pela espiritualidade

também foi destacado no Seminário Internacional

“Espiritualidade no cuidado com o paciente”, organizado pela

Associação Médico-Espírita (AME) do Brasil, em São Paulo,

em maio de 2005, por Harold G. Koenig, médico da Univer-

sidade de Duke, Estados Unidos. Segundo ele, entre 1908 e

1982 foram publicados apenas 101 artigos médicos sobre

espiritualidade e/ou religiosidade. De 2002 a 2003, este nú-

mero aumentou para mais de mil, e entre 2003 e 2005 surgi-

ram mais 1.798 artigos sobre o tema.

Uma rápida busca no site do Centro Latino-Americano e

do Caribe de Informações em Ciências da Saúde (Bireme), o

maior banco de dados de literatura em saúde da América La-

tina, confirma essa transformação: mais de mil estudos relaci-

onados à espiritualidade estão registrados no banco de dados

desde 1993. Antes disso, nenhum trabalho foi publicado em

língua portuguesa. Cruzando as palavras-chave “spirituality” e

...a espiritualidade pode ajudar a

aliviar o sofrimento de quem

está próximo da morte

Ciências

Médicas abrem

espaço para

inclusão da

Espiritualidade

por Daniela Klebis

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Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE : 0800 770-5990 13ASSINE : (19) 3233-5596 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

CIÊNCIA

Fonte:

Jornal eletrônico Consciência da Universi-

dade Estadual de Campinas / UNICAMP.

“health” (espiritualidade e saúde,em inglês) encontramos apenasvinte trabalhos entre 1966 e 1992,ao passo que entre 1993 e 2006mais de 500 novos estudos forampublicados sobre o tema. Entre osvinte primeiros trabalhos, o maisantigo registrado é de 1984.

Reinaldo Ayer, conselheiro doConselho Regional de Medicinade São Paulo (Cremesp), não acre-dita, no entanto, que esteja haven-do uma mudança de padrões nasciências médicas. “Não tenho avisão de que o ambiente das ciên-cias médicas seja tão cético”. Se-gundo ele, tratar do doente em suaintegralidade sempre foi e sempreserá o paradigma de definição daação do médico. “Na construçãoda relação médico-paciente nãosão somente os aspectos técnicosda medicina que devem ser consi-derados. Há seguramente umenvolvimento de afetividade eempatia que se constituem em coi-sas do espírito”. Atitudes comorespeito ao outro, acolhimento,participação de familiares, confor-to, atenção às necessidades espiri-tuais dos doentes trazem, de acor-do com Ayer, “força” para enfren-tar situações de grande adversida-de como, por exemplo, a morte.

Avaliando o medo e

o sofrimento

Nancy Mineko Koseki,oncologista clínica e coordenado-ra da Unidade de Cuidados Palia-tivos do Centro de Atenção Inten-siva à Saúde da Mulher (Caism),na Unicamp, afirma que embora

reconheça-se que a dor espiritualafeta a dor física, os médicos ain-da centralizam sua atenção no alí-vio da dor do corpo.”O que nósobservamos na área médica é apreocupação com a cura da dorpelos remédios. A sedação do pa-ciente terminal é muito comumnas enfermarias. Acredito que umaintervenção terapêutica como aRime ajudaria a humanizar essecuidado, reduzindo a necessidadedos medicamentos”.

A Rime é uma técnica de rela-xamento e visualização de imagensmentais que tem como objetivo re-significar a dor espiritual, promo-vendo maior qualidade de vida noprocesso de morrer. O paciente éinduzido a visualizar seres espiri-tuais bondosos e acolhedores, pai-sagens celestiais, lugares bonitos eaconchegantes. Todos esses ele-mentos da espiritualidade tiveramcomo base os relatos dos pacien-tes que passaram por uma “Expe-riência de Quase Morte” e volta-ram a viver normalmente. “Paci-entes terminais sabem intuitiva-mente que estão morrendo e pre-cisam expressar sua dor e seremcompreendidos, por esta razão oideal seria não dizer ao doente queele está morrendo e sim, procurarouvi-lo”, ressalta Ana CatarinaElias.

A técnica começou a ser desen-volvida em 1998, quando a psicó-

loga, ao realizar um trabalho comcrianças e adolescentes com cân-cer em fase terminal, percebeu umsofrimento psicológico e espiritu-al relevante. “Denominei este so-frimento de ‘Dor Simbólica deMorte’, representado pela ‘DorPsíquica’ (medo do sofrimento ehumor depressivo manifestado porangústias, tristezas e culpas) e pela‘Dor Espiritual’ (medo da morte,medo do pós-morte, idéias e con-cepções negativas em relação ao

sentido da vida e à espiritualidadee culpas diante de Deus)”, expli-ca. Em sua tese de doutorado, apesquisadora operacionalizou otreinamento da Rime para profis-sionais de saúde.

O método, no entanto, apre-senta limitações. De acordo coma pesquisadora, ele só pode seraplicado por profissionais queacreditam na vida espiritual pós-morte e pacientes que também te-nham esta crença: “pacientes quenão acreditam na vida pós-mortedevem ser atendidos pelos méto-dos convencionais”. �

Pacientes terminais sabem

intuitivamente que estão morrendo

e precisam expressar sua dor

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A Noite de São Bartolomeutristes recordações

Se a Revolução Francesa, em1789, não pôde evitar excessos e exa-geros, dada à sua estruturação de mas-sa, com fatores heterogêneos e psico-logicamente múltiplos, a existência decontinuadas injustiças sobre a coleti-vidade, alimentando revoltaincontrolável, por outro lado,objetivou levantar a bandeira da “Li-berdade, Igualdade, Fraternidade”.

Evidentemente, a caudal1 políti-ca desembocou na aristocracianapoleônica; todavia, os frutos daRevolução ficaram substancia-lizando a vida, e melhorando, pau-latinamente, em toda parte, o com-portamento das Nações, tendendo-as, mais ou menos tempo, ao Direi-to.

A Noite de São Bartolomeu,não; foi movimento baixo, estúpi-do, cego, fanático, imediatista, emque em nome de Deus e à sombradEle, se cometeram as maisinomináveis barbaridades, desenca-deando causas que se prolongaramem séculos de provações para Espí-ritos que, na calada da noite, joga-

por Newton Boechat

ram com o destino de milhares deprotestantes huguenotes, aprisio-nando-os, primeiramente, numa ci-lada, usando como isca de atraçãoo casamento de Henrique de Navarra(protestante) com Margarida deValois (católica, filha de Catarina deMédicis, a Rainha-mãe, que deter-minava energicamente sobre seu fi-lho, o frágil Carlos IX).

A corte Francesa não se confor-mava com a hegemonia espanhola,que se plasmava cada vez mais, evi-denciando-se no Vaticano, e promo-vendo-se por toda a Europa. De hámuito, discreta coletividade de no-bres e conselheiros de Catarina e elamesma elaboravam plano sinistropara eliminar do solo francês o quechamavam “a peste”. Avolumou-sea corrente evangélica não somenteem Paris, mas na França toda, alen-tada pela figura austera e firme doAlmirante Gaspar de Colligny, queera conselheiro e amigo de CarlosIX.

Antes de entrarmos nas implica-ções histórico-mediúnicas de tene-

brosa noite, em rápidas pinceladas,pintemos o movimento huguenote.

Esta palavra parece ser de inten-ção pejorativa. Os protestantes fran-ceses adotaram as idéias de Calvino.A origem da palavra huguenote é obs-cura. Estudiosos do assunto su-põem-na derivada do vocábulo“hugon”, que designava, em Turena,as pessoas noctívagas, visto que osprotestantes costumavam reunir-seà noite. Outros alegam que o nomese originou da pronúncia defeituo-sa da palavra alemã “eidegnosse”, quesignifica “confederados”. Outrosafirmam que deriva do fato de osprimeiros protestantes citados sereunirem em cavernas subterrâneas,próximas da porta Hugon, nos arre-dores de Tours.

O primeiro templo huguenotefoi erguido em Strasbourg (1538),que, àquela época, não pertencia àFrança. Os freqüentadores eram in-divíduos fugidos da França pormotivos de perseguição religiosa. Omovimento propagou-se rapidamen-te; em 1559, foi realizado em Paris

Observemos, em estudo interessante, a existência de um espinhohistórico, espetado na carne da França: a chamada Noite de SãoBartolomeu, ocorrida na madrugada de 24 de agosto de 1572.

1 Caudal sm+f 1 torrente, corrente. 2 Fig. enxurrada fig, batelada, mundo. Ex: Um caudal de súplicas e lamentações.

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Agosto 2006 | FidelidadESPÍRITA

um concílio de chefes, cujo fatoalarmou os católicos franceses, queresolveram contê-los.

A poderosa família dos de Guisechefiava os católicos, enquanto oshuguenotes se deixavam liderar peloPríncipe de Conde e o AlmiranteGaspar de Coligny. Lançaram ummanifesto em Orléans, em 1562, emque hipotecavam sua lealdade ao rei,e justificando terem sido compeli-dos a pegar em armas em defesa daliberdade religiosa. Os huguenotesforam derrotados em Jarnac em1569, e Conde foi morto com umtiro de arcabuz na testa. Com o seudesaparecimento, surgiu novo che-fe entre os protestantes: Henrique,Príncipe de Navarra. Em 1570,Coligny e Henrique de Navarra avan-çavam sobre Paris. Henrique ascen-deu ao trono de Navarra em 1572.Concertou-se seu casamento comMargarida de Valois, irmã do Rei daFrança, Carlos IX, objetivando-seselar a paz entre católicos e oshuguenotes. Para comemorar o acon-tecimento e a recém assinatura dopacto de paz, os chefes huguenotese milhares de seus seguidores uni-ram-se em Paris, alguns dias antes davéspera de São Bartolomeu.

Na antevéspera, ocorrera umatentado contra a vida de Gaspar deColigny, desfechado por Maurevel,que lhe disparou a arma. Uma balafraturou-lhe o indicador da mão di-reita, e outra alojou-se no seu ante-braço esquerdo.

O malogrado assassinato fora ins-tigado por Catarina de Médicis, mãedo Rei, que temia a vingança doshuguenotes. Tanto ela como outrosmembros da Santa Liga obtiveramo consentimento do Rei para amonstruosa matança de 24 de agos-

to. Os partidários do rei, incitadospor Catarina e chefiados pelo Du-que de Guise, caçaram e matarampraticamente todos os huguenotesque havia dentro dos muros de Pa-ris. Coligny foi morto, e Henriquede Navarra escapou por ter passadoa noite no palácio real.Desencadeada a violência, foi impos-sível dominar a população, e, nassemanas seguintes, milhares de pro-testantes foram mortos em toda aFrança.

Em 1859, Henrique III, da Fran-ça, nomeou seu sucessor a Henriquede Navarra, que foi coroado com onome de Henrique IV. Este se con-verteu ao Catolicismo, em 1593.Em 1598, assinou o Edito deNantes, que assegurava a liberdadede culto aos protestantes. HenriqueIV foi assasinado, em 1610, por umfanático, Ravaillac, e novamente es-tourou a guerra entre a Liga e os

huguenotes. Tropas do Cardeal deRichellieu, primeiro ministro deLuís XIII, sitiaram os huguenotes nopovoado de La Rochelle. A fortale-za caiu, e, com isso, foi destruído opoder político dos huguenotes(1628). Estes não foram, entretan-to, privados da liberdade de prati-car o culto, até 1685, quando LuísXIV revogou o Edito de Nantes.Então, a maioria dos huguenotesemigrou. Cerca de 400 mil se esta-beleceram na Inglaterra e na Prússia.

Outros iniciaram novas coloniza-ções na América do Norte. Algunsemigraram para o Sul da África.Vários permaneceram na França,onde, vez por outra, sofreram perse-guições. Em 1787 o Rei Luís XVIconcedeu-lhe certos direitos. Em1790, depois da Revolução France-sa, foi promulgado um decreto querestituía aos huguenotes todos osdireitos e todas as propriedades quehaviam perdido com a revogação doEdito de Nantes.

A presença dos primeiroshuguenotes no Brasil data de 1555,com a invasão francesa, chefiada porVillegaignon (séc. XVI).

À luz do reencarnacionismo, quea Doutrina Espírita sistematiza para omundo, mostrando-lhe a lógica atra-vés das leis de mérito e demérito, con-forme bem ou mal usado o livre-arbí-trio, pelo Espírito, caminheiro da evo-lução, podemos apreciar, agora, por

gentileza de D. Izabel Bittencourt deSouza, distinta companheira de lidesdoutrinárias no Rio de Janeiro, umafaceta histórico-espiritual, vinda aonosso conhecimento através da fecun-da mediunidade de Chico Xavier, aquem há muito tempo cognomi-namos de “antena psíquica”, devidoà quantidade de obras do Alto quenos ofertou e oferta, bem como àscentenas, talvez milhares, de identifi-cações de Espíritos em diferentes es-tados evolutivos.

Aquele que está de posse da sabedoria

tem de isolar do corpo a alma, para ver

com os olhos do Espírito

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FidelidadESPÍRITA | Agosto 2006

Os leitores que ainda não leramnosso primeiro livro Ide e Pregai...poderão disso cientificar-se, no ca-pítulo correspondente ao medianei-ro da cidade de Pedro Leopoldo,quando inúmeros casos de registro

de entidades desencarnadas, acompa-nhadas, muitas vezes, de pessoas quevisitavam o médium, foram contados.

Já na obra Dicionário da Alma,lançado pelo Grupo Espírita “Fabi-ano”, do Méier/RJ, em 1964, pre-

faciando-a, o saudoso e querido Pro-fessor Ismael Gomes Braga, tecendoconsiderações em torno de D. Es-meralda Campos Bittencourt (mãeda senhora que nos enseja este estu-do, assim escrevia:

A seguir os leitores terão a opor-tunidade de saborear uma das maisextraordinárias e edificantes mensa-gens recebidas pela mediunidademissionária de Chico Xavier. Apre-ciarão a roda-viva da lei da reencar-nação, trazendo ao presente, na ta-

refa de maternidade dolorosa esacrificial de D. EsmeraldaBittencourt, a outrora Duquesa deNemours, conselheira e amiga daRainha-mãe Catarina de Médicis.

Foi a referida Mensagem recebi-da em 09/05/1953, em reunião do

Centro Espírita “Luiz Gonzaga”, dePedro Leopoldo, e inédita nos ar-raiais espíritas.

Assim, o amoroso e ínclito Espí-rito Emmanuel dirige-se àquela que,hoje, redimida, se encontra no Mun-do Maior:

“Esmeralda Campos Bittencourt, cujas mãos carinhosas prepararam este volume, é um coração de mãe, santificado pelador, que assistiu à desencarnação violenta de filhos e filhas em plena juventude, brilhantes de conhecimentos científicos e devirtudes morais, em conseqüência de atos praticados no século XVI, mais precisamente na triste Noitada de São Bartolomeu(23 para 24 de agosto de 1572) e dias seguintes, quando a França foi banhada pelo sangue dos protestantes, homens,mulheres e crianças de todas as idades.

Um grupo de Espíritos ligados à Corte de Carlos IX, da França, ficou comprometido naqueles tristes acontecimentos eveio reparar no Brasil, no século XX, aquele passado, sofrendo morte violenta, por acidentes, em plena juventude radiosa.

Felizmente, tudo correu sem novos crimes, sem ódios, produzindo apenas muita dor. Nossa irmã foi mãe amorosíssima dealguns desses Espíritos, hoje já adiantadíssimos em moral e saber, que se quitaram sem revolta com a lei do “carma”.

Por mercê de Deus, conhecia ela muito bem o Espiritismo, foi suficientemente esclarecida dos acontecimentos e suportoucom heroísmo esses tremendos golpes ao seu extremoso coração materno.

Seu passamento foi sereno, em avançada idade2. Na madrugada de sua desencarnação, apareceu-nos ela em sonho muitonítido, rejuvenescida, alegre, felicíssima, e nos disse com entusiasmo:

Terminei a escola; vou aposentar-me; esta é minha última aula!Despertamos encantado com a visão e logo pela manhã recebemos telefonema comunicando-nos seu passamento.D. Esmeralda Bittencourt, em quem meditamos em perfume de saudade, era muito amiga de Francisco Cândido Xavier.

Várias vezes visitou-o em Pedro Leopoldo, a fim de beber da fonte da água viva que ali jorrava.Prossegue o Prof. Ismael:Em mais de trezentos anos de evolução, aqueles Espíritos progrediram muito, tanto em moral como em inteligência; não

são mais os fanáticos religiosos do tempo de Catarina de Médicis e dos Guise, mas compreenderam que estavam em dívidacom a Lei e precisavam de quitar-se para poderem galgar novas posições.

Haviam interrompido violentamente a vida de jovens e precisavam de passar pela mesma experiência, mas não queriamque ninguém fosse culpado de sua morte violenta; por isso pediriam para morrer de acidentes, quando jovens, bondosos eamados por todos. Foram atendidos: pagaram sua dívida sem deixar culpados no mundo, para sofrerem conseqüências”.

2 Aos 75 de idade, em 39/10/1963, no Rio de Janeiro

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Agosto 2006 | FidelidadESPÍRITA

“Minha amiga, minha irmã:Muita paz.Com o temporal, a natureza purifica a atmosfera.Com o orvalho, o céu alimenta a natureza.Também como a chuva de lágrimas o Senhor regenera nossas almas, e como o rocio da oração conseguimos

amenizar a secura do caminho que nos reconduz ao Pai Celestial.Inclinemo-nos à frente dos Divinos Desígnios!Nossa marcha redentora para Deus, quando subimos pela escarpa do reajuste, desdobra-se entre espinheiros e

vertigens da ascensão.Escolheste o sublime roteiro das Mães! Mãe pelo sacrifício de todos os sonhos e pela renúncia a toda felicidade

menos construtiva no mundo!Começaste sofrendo no berço e, embora esperando a materialização do castelo de ventura arquitetado na menini-

ce, conheceste a bênção do matrimônio, nele buscando a coroa da maternidade dolorosa e santificante... Acolhestenos braços velhos tesouros que velaste na eternidade, sob as flores de tuas melhores esperanças... Nos braços, acalentas-te esses companheiros do grande caminho, nutrindo-os na fonte de teu amor... Afigurava-se-te o mundo, enquantopodias detê-los de encontro ao coração sensível e generoso, um templo em que as tuas dores se glorificaram naconfiança e no otimismo, na expectação e na fé viva, à frente do futuro. Entretanto, se havias sido igualmente chamadaà educação dos filhos alheios, eras, para os felizes rebentos de tua ternura, não apenas Mãe pela carne, mas, também aamiga constante e a instrutora ideal...

É por isso que, hoje, a concha de teu devotamento parece esvaziar-se, torturada aos golpes da aflição... É por essemotivo que, agora, por mais fulgure a luz solar, conclamando-te à alegria, sentes o coração sepultado nas sombras dopeito, à maneira de nau desmantelada pela tormenta, a mergulhar-se sob a pesada corrente do mar revolto...

Somos, porém, uma família de muitos laços afetivos e não nos perderemos uns dos outros.Prometemos fidelidade ao Amigo Eterno, que jamais nos desamparou, e, nas horas difíceis, entrelaçamos as própri-

as mãos para o justo soerguimento... Aqueles que nos seguem, de longe e de perto, chaves celestes de nossos destinos,não nos relegarão à fúria da tempestade. Seguem-nos com o carinho das afeiçoes indestrutíveis, que o tempo somenteconsegue fortalecer e reavivar.

Teu espírito atormentado não cairá...Em companhia de Jesus, muitas vezes, conhecemos realmente a solidão; contudo, jamais o abandono.O amor inextinguível por abençoado farol em nossa viagem brilha sobre os rochedos, indicando-nos o rumo certo.Continua içando o estandarte de tua confiança em Deus, além de todos os percalços e tentações.Achamo-nos, efetivamente, na batalha... Batalha fora de nós e dentro de nós. Combate que assume aspectos

diferentes, cada dia, pela dor e pelas provações com que somos defrontados... Mas, na vanguarda vitoriosa, temos oMestre da Cruz que nos espera com o galardão da paz, obtida ao preço de lágrimas e suor, e na retaguarda possuímosbenfeitores abnegados que nos suprem com todos os recursos necessários para que não venhamos a perecer.

Armados pela graça divina, prossigamos em luta...É possível que, embaixo, nos reinos inferiores de nossas velhas dívidas, vejamos nossos apetrechos terrestres redu-

zidos a frangalhos; é possível que não nos caiba, perante os homens ávidos de conquistas efêmeras, senão o terrívelquinhão da amargura; entretanto, é sobre as ruínas fumegantes do passado que construiremos nosso luminoso futuro.

Não importa que o coração de carne padeça na forja da renovação; não faz diferença o agravo da tortura moral naTerra, desde que nosso espírito levantado para Jesus nEle espere a própria sublimação em novo dia...

Reanima-te!Não nos faltará a Divina Misericórdia.Tudo na vida é propriedade do Todo-Poderoso... De nós mesmos, apenas dispomos da própria alma que nos

compete aprimorar para a Vida Eterna. Edifiquemos em nós o santuário de compreensão e humildade, aperfeiçoa-mento e amor em que a Vontade dEle exteriorizar-se-á, onde estivermos, a favor de nosso próprio engrandecimento...

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FidelidadESPÍRITA | Agosto 2006

Quanto às angústias de agora, re-cordemos, de algum modo, a noitede 21 de agosto de 1572, na intimi-dade do Louvre.

Não obstante as festividades docasamento do Príncipe de Navarracom a irmã de Carlos IX, o grandepalácio guarda consigo uma sala escu-ra e triste.

É o grande recinto em que a Rai-nha-mãe congrega os amigos diletos...

Catarina de Medicis está indecisa...Paris está repleta de protestantes

para as núpcias reais.A repressão contra Coligny deve

espressar-se agora ou nunca...Temendo as hesitações do filho,

a soberana oculta-lhe a reunião leva-da a efeito, em surdina.

A corte deve decidir-se.Um espetáculo disciplinar em

Paris é o único lance capaz de erguera França à altura da Espanha, nadefesa papal.

As vitórias do Duque D´Alva, ainfluência de Felipe, dão motivo àscochichadas conversações.

Se os Países Baixos fossem defi-nitivamente submetidos, o prestígioespanhol ofuscaria o mundo francês.

E a atuação do Almirante here-ge, transformado em conselheiroúnico e sumamente respeitado pelorei, fornece alimento às mais estra-nhas sugestões do delito coletivo

que jaz apenas esboçado...A Duquesa de Nemours, porém,

ergue a voz, tanto quanto possível,e recomenda que a morte é a únicasolução para os sofrimentos moraisda corte humilhada. Coligny devedesaparecer. O conselheiro detesta-do é um entrave à exaltação da fé, eum inimigo da França.

Catarina comovida, agradece. Eo Duque de Guise aproxima-se, es-tendendo-lhe as mãos. Alguém, con-tudo, um padre do Louvre, pedecomplacência... E os martírios dopovo? E a rebelião que, inevitável,se alastraria? O assassínio de Colignyseria a guerra civil, cruel e sanguino-lenta... Há mães aflitas, desventura-das... A comunidade está exausta.Só a paz conseguiria restaurar a se-gurança de todos, e a tranqüilidadenasceria exclusivamente de recípro-cas concessões. Guise, porém, retru-ca, desapiedado. A Duquesa de

Nomours tem razão. Só a morte po-deria liquidar o enigma daquela horade provação e incerteza. Alguémconsidera:

- E meus filhos?E a devotada amiga da soberana

confessa, com franqueza:- Dar nossos filhos a semelhante

empresa é privilégio que devemosdisputar!

E a reunião passou, até que o rei,

frágil e doente, foi convocado pelaenergia materna ao anoitecer de doisdias depois. Acompanhado de al-guns poucos amigos, quando o Al-mirante já havia sido assaltado pe-los tiros de Maurevel, intimou o fi-lho a render-se. A matança doshuguenotes devia processar-se deinesperado. Carlos treme irresoluto.O coração real está dividido entre oamor da progenitora e as atençõesdo favorito. O soberano enfermiçoreage e chora... Mas, quandoCatarina cai em pranto convulsivo,implorando-lhe organize a chacina,em nome da França, o jovem infelizbrada, semi-louco:

- Sim, concordo, mas então ma-tem todos, matem todos!

E afasta-se, correndo...A rainha não se deixa intimidar na

previsão de quaisquer conseqüências.Reunida a Nemours, a Guise, a

Anjou e outros afetos particulares,mobiliza as providências imediatas.

Autoridades são chamadas à pressa...E quando os sinos de Saint-

Germain-l´Auxerrois começam abadalar, sinistramente, às três horasda madrugada, na noite quente, gru-pos de cavaleiros e guardas, osten-tando a cruz branca nos chapéus ealvas faixas nos braços, erguendo osprotestantes mal despertos, começa-ram a matança inesquecível.

O duque de Guise dirigiu-se empessoa à residência de Coligny, se-guido de amigos fiéis.

Um deles, caráter duvidoso, denome Besme3 foi enviado ao interi-or doméstico, liquidando o almiran-te, que se despediu, dignamente, damissão que desempenhava... Guise,

3 Besme, alemão, criado de François de Guise. Conta-se que foi o primeiro a abordar Coligny. “Sois o almirante? “Sou”, repondeu,“e deverias respeitar a minha idade e minha debilidade, moço, porque não haverá de nenhum modo, vida mais curta”. O criadoatravessou-lhe o peito, golpeando-lhe a cabeça respeitável, e outros caíram sobre ele. (Nota do Autor).

Quando os sinos de Saint-Germain-

l Auxerrois começam a badalar, cavaleiros

começaram a matança inesquecível

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Agosto 2006 | FidelidadESPÍRITA

Os príncipes

protestantes foram

constrangidos a

modificar as

diretrizes políticas

contudo, cá fora, exigiu que o cadá-ver fosse lançado à via pública quese lhe decepasse a cabeça.

Os despojos do condutor popu-lar foram projetados à rua e, logoapós, com o duque à frente, a expe-dição punitiva atravessou o limiar

da casa e Guerchy, Téligny,Montaumur e Rouvray, além demuitos afeiçoados, foram mortos...

As aventuras do morticínio, noentanto, não foram paralisadas aí...

As portas da cidade foram cerra-das, e as águas do Sena, ruborizadasde sangue, receberam fugitivos ouferidos que tentavam o escape. Car-ros repletos foram precipitados daspontes fustigando-se os animais es-pavoridos nas trevas que precedemo renascimento do Sol...

No dia seguinte, a Corte de CarlosIX estava efetivamente vitoriosa.

Os príncipes protestantes foramconstrangidos a modificar as diretri-zes políticas em que evoluíam paraa renovação religiosa, e Catarina deMédicis, embora sob o luto que lheenegreceu a alma, conseguiu equipa-rar seu governo ao prestígio daEspanha inquisitorial...

Em verdade, porém, o dia 24 deagosto de 1572 não era de triunfo,mas de queda e compromissos mo-rais para muitos corações que, emtroca de flagelação e sofrimento, selucificam, agora, para as alegrias doInfinito Amanhã... (...)

Lancemos mais luz no fato histórico revertido aos dias que corrempela mediunidade.

A mensagem, como vimos é de 09/05/1953.Em 24 de agosto de 1965 (12 anos depois), Chico Xavier, emociona-

do, escreve a D. Izabel Bittencourt de Souza (D. Bibi, na intimidade),carta de Paris, contando o seguinte:

“(...) Hoje, escrevo a você com a emoção que você pode imaginar,pois, alguns poucos dias antes da partida do nosso Antonio4, Dona Esme-ralda e eu nos achávamos em reunião íntima em nossa casa, junto à casade Luiza5, quando finalizadas as nossas preces e encerrada a reunião,comentamos as lutas que haviam ficado no mundo, depois da persegui-ção aos nossos irmãos das igrejas evangélicas na França de Catarina deMédicis... Dona Esmeralda e eu comentávamos os vários aspectos dasprovações a que me referi, quando ela solicitou que eu perguntasse aAgar6, então presente, se eu, Chico, estava também no círculo de provaspor motivo de perseguição aludida, ao que ela respondeu:

- Sim, mamãe, de algum modo, embora indiretamente...Dona esmeralda, então, indagou em voz alta:- Minha filha, quando terminarão essas provas?Agar respondeu, com palavras de que não me lembro, afirmando

que, quando ela, D. Esmeralda e eu nos encontrássemos de novo, num24 de agosto, em uma oração no Palácio do Louvre, isso seria o sinal deque as nossas provações (naturalmente, pelo menos quanto a mim, quereconheço ser uma alma infinitamente devedora perante as Leis de Deus,somente as provações que se referem à perseguição de São Bartolomeu)estariam terminadas. Agar sorriu e despediu-se. Dona Esmeralda e euencerrávamos a conversação com bom humor e alegria, e concordamosem que, com certeza, isso se verificaria quando nós ambos, ela e eu,estivéssimos no Mundo Espiritual. Passou o tempo, e a palestra, comotantas, ficou aparentemente esquecida. Pois hoje, Bibi, eu que nunca ima-ginei poder vir a Paris e demorar-me aqui, entre nossos irmãos francesesestive no Louvre (hoje, grande museu) e, em prece rápida, pude verDona Esmeralda com Dona Izabel Cintra e outras afeições. Ela estava defisionomia tranqüila e feliz e, com lágrimas que não chegaram a descerdos olhos, apenas me disse: “Chico, meu filho, Deus te abençoe”. Omovimento no Louvre é muito grande e a visão como a prece foramligeiras. Mas, você pode avaliar a minha emoção escrevendo a você, ago-ra à noite, no hotel, como não podia deixar de fazê-lo, pois você é ocoração capaz de compreender a beleza do acontecido”.

Esta a interessante carta remetida da Rue Bonaparte, 49 – Paris.

4 Filho também desencarnado por acidente.5 Irmã do médium psicógrafo.6 Quando em vida filha de dona Esmeralda.

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FidelidadESPÍRITA | Agosto 2006

La Saint-Barthélemy

François Dubois, um artista protestante, retratou os acontecimentos ocorridos nos arre-

dores do Louvre com grande realismo. Dubois escapou por pouco do morticínio e foi para a

Suíça, onde pintou um famoso quadro que permanece no Museu da cidade de Lausanne, à

beira do lago Léman, até hoje. La Saint-Barthélemy, é uma denúncia da Noite de São Bartolomeu,

pintada em óleo sobre madeira, com cerca de 1 metro de altura por 1,5 metros de compri-

mento. As reconstituições posteriores dos acontecimentos confirmaram a veracidade do que

é mostrado por Dubois.

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Agosto 2006 | FidelidadESPÍRITA

Voltando ao passado, quandoocorreu o desastre que vitimou,aqui no Rio, D. AparecidaBittencourt, D. Esmeralda rece-beu carinhosa mensagem deChico Xavier, datada de 17-1-1951,cheia de conforto e portadora devida e paz:

“Minha bondosa amiga:Deus nos proteja.Não sei como começar esta car-

ta, em face do lutuoso aconteci-mento de ontem. Tenho o meucoração infinitamente dolorido e,por mais que me esforce, a pala-vra não traduz o que minhalmadeseja dizer. Tenho procurado, devários modos, estabelecer algumaligação telefônica, de modo a ou-vir-lhe a voz, mas, debalde...

A Cia. Telefônica dá sempreum atraso de muitas horas, impe-dindo-me a comunicação com aquerida amiga. Não esmorecerei.Continuarei tentando, até poder-mos estabelecer algum intercâm-bio.

Esperando que o meu pobretelegrama lhe tenha chegado àsmãos, continuo rogando a Jesuslhe fortaleça o dilacerado coraçãode Mãe, ao lado do nosso devota-do Sr. Quito, a quem desejo igual-mente muita fortaleza, na horadifícil que vamos atravessando.Na sexta-feira última, quando tivea alegria de abraçar pessoalmenteo nosso Antonio, no instante denossas preces, vi Agar com o Dr.Bezerra de Menezes. Ela não quisescrever, apesar de haver pedido aele endereçar ao seu carinhosocoração algumas palavras, alegan-do que só escreveria se pudesse

Olhe o edifício de três andares que aparece à direitano quadro. Da janela do meio pende um corpo inerte. Éo almirante Coligny, que está sendo defenestrado peloscatólicos. Agora olhe para baixo. Bem em frente domesmo prédio há um homem caído, sem cabeça e semmãos , rodeado por outros três em pé. O corpo mutila-do é de Coligny. O homem do meio , entre os que ro-deiam Coligny, é o duque de Guise, chefe do partidocatólico e responsável direto pela eliminação do almi-rante. Agora percorra o resto do corpo de Coligny. Vocêverá um homem agachado perto dele . É um soldadocortando os testículos do defunto. Um pouco à direitaestá um nobre protestante chamado Caumont, pedindode joelhos clemência a dois católicos. Caumont foi mor-to. Seu filho de 13 anos, o futuro duque de La Force, emcompensação, depois de golpeado foi dado como mor-to, mas respirava ao chegar aonde seria enterrado e aca-bou se salvando.

Vamos nos transportar para o fundo do quadro. Naentrada do Palácio do Louvre, há um grupo de soldadosbloqueando a entrada. O objetivo era impedir que os pro-testantes alojados no palácio fugissem.

Um pouco à frente, a Rainha-mãe Catarina de Medicis,vestida em preto, como era seu hábito, observa um mon-te de corpos nus já sem vida. Desde um pavimento supe-rior do palácio, na janela superior esquerda, o rei CarlosIX dispara com um arcabuz sobre os protestantes quetentam fugir para o outro lado do rio Sena.

Repare que no primeiríssimo plano, perto de umacriança morta, o artista deixou registrado, provavel-mente com o objetivo de que ninguém jamais esque-cesse, o ano da tragédia. Escreveu, em vermelho imi-tando sangue, l´an 1572 (o ano de 1572).

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FidelidadESPÍRITA | Agosto 2006

escrever muito, de acordo com odesejo de seu coração, tomando oDr. Bezerra de a dianteira e endere-çando ao Antonio uma pequenapágina.

Agora sei que nosso abnegadomissionário estava junto de Agarpara receber mais um coração subli-me que parte...

Dolorosas foram as circunstânci-as em que a sua ternura de Mãe queviu partir; entretanto, minha ami-ga, nós sabemos que a justiça doCéu nunca surge sem misericórdia.Confiemos na Infinita Bondade.Temos a eternidade à nossa frente, ea nossa fé representa uma luz a gui-ar-nos. Aquela Mãe Sublime quechorou aos pés da cruz virá consolá-la... Ela sabe onde se ocultam as lá-grimas dos corações como o seu, quetudo tem dado ao bem de todos,

no verdadeiro sacrifício, recebendoda Terra os espinhos e as aflições emtroca. Ao Anjo Tutelar da Humani-dade envio minhas preces, em nos-so favor. Que ela nos abençoe.”

Na carta de 26-1-1951, após ossaudares de conforto, escrevia omédium:

Não mais tive notícias diretas deAgar, isto é, a presença dela, desde anoite de 19, em que tive o confortode ouvir a sua voz (dela, Esmeralda)ao telefone. Ela (Agar) compareceuà cabina e declarou-me que desejavaaproveitar a hora para dirigir-lhe al-gumas palavras. Não me cabia mo-dificar o programa dela, e entreguei-me. Do que ela conversou com abondosa amiga, não tenho a menoridéia. Lembro-me apenas de que meachava em conversação com Bibiquando a nossa consoladora men-sageira me envolveu num abraço fra-ternal e nada mais percebi, a não serquando me achei escutando a suavoz. Voltei a casa, depois do telefo-nema, sob forte impressão, sentin-do-me, porém, contente por haverservido de veículo à palavra de quemnos é tão querida e, na ligeira ora-ção com que faço proceder o sono,vi-a distintamente ao meu lado. Per-guntei-lhe, então, sobre a Dra.Aparecida (9), e ela me disse que oacontecimento se filiava ao passadoe que era uma página escura a seconverter em claridade. Afirmouque fora informada, há muito tem-po, de semelhante prova, que nãofoi possível ser modificada e, namanhã do dia 16, dirigiu-se em com-panhia do Dr. Bezerra para juntodela, encorajando-a e fortalecendo-

Catarina de Medicis (1519-1589)

Uma vida dedicada a manter o trono

em poder da família Valois.

Carlos IX (1550-1574)

Um soberano fraco para os objetivos

da mãe: morreu jovem.

Duque de Guise (1550-1588)

O chefe católico acabou sendo

assassinado por ordem de Henrique

III, o último Valois.

O rei dos católicos

Felipe II (1527-1598), da Espanha,

comandou a reação católica na

Europa.

A rainha dos protestantes

Elizabeth I (1533-1603), da

Inglaterra, comandava a maior

potência não-católica.

O pivô do crime

O almirante Gaspard de Coligny era

proveniente da poderosa linhagem

Montmorency-Châtillon, um dos clãs

mais influentes da França. Na

segunda metade do século XVI, os

Châtillon, liderados por Coligny,

aderiram ao protestantismo e

fizeram uma aliança com os

Bourbons. Coligny se transformou no

chefe militar do partido huguenote.

O duque de Guise acreditava que o

almirante havia mandado matar seu

pai. Depois da paz de Saint-German

(1570), Coligny foi incorporado ao

conselho do Rei. A partir desse

posto, e exercendo, ao que consta,

grande influência sobre Carlos IX,

Coligny começou a organizar a

invasão de Flandres. Para evitar a

invasão, Catarina de Médici decide

matá-lo, dando início à Noite de São

Bartolomeu.

CRONOLOGIA

Elevemos nossospensamentos ao

Alto para auxiliaraquela que, tãojovem, tanto fezpela caridade,recebendo a

chamada divina,em serviço,

quandojustamente sepreparava ao

trabalho do bem...

(9) Desencarnada por acidente, no Rio de Janeiro.

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a espiritualmente, e tentando quan-do lhe era possível pela oração, paraauxiliar a todos, guardando, ainda,a esperança para auxiliar a todos,guardando, ainda, a esperança deque o acontecimento fosse desvia-do, mas, igualmente em lágrimas,viu a irmãzinha tombar sob a prova-ção que se tornara inevitável e infle-xível. Havia ou há alguma árvore nolocal do acontecimento doloroso?Assim pergunto, porque Agar medisse que ela, Dr. Bezerra e outrosamigos permaneceram ao lado deuma árvore, de onde puderam pres-tar socorro à abnegada irmã quepartiu, com a urgência precisa, afir-mando que a desencarnação foi ime-diata, mas que a retirada espiritualsó foi realizada em seguida de algu-mas horas. Disse-me que o choquefoi tão grande que ela não registrou

os fenômenos de angústia e do so-frimento, sendo imediatamenteanestesiada por recursos espirituais,com o Dr. Bezerra de Menezes ope-rando na direção. Acrescentou quea irmã achava-se recolhida em orga-nização da esfera próxima, para tra-tamento, mas, ainda incapaz de co-ordenar idéias sobre o ocorrido,mantendo-se numa situação dealheamento de tudo. Pedi a ela queeu desejava ver Dindinha (10), e,com a assistência de Emmanuel, sen-

ti-me em desdobramento, seguindoa ambos, como se eu estivesse cor-rendo sem fazer esforço. Chegamosa um lugar arborizado com grandebeleza, e penetramos em edifícioenorme, cheio de movimento, massilencioso. Agar abriu uma porta eentramos. Num leito muito amploe muito branco estava uma jovemprostrada. Alguma cousa me pungiuo coração e nada pude falar. Fixei-a,em pranto, e só me lembro que afisionomia muito delicada asseme-lhava-se bastante à do Antonio. Lem-brei-me da senhora, do Dr. MenaBarreto, do Sr. Quito e de todos nósque tanta dor experimentamos como fato inesperado, e minhas lágrimasse desataram e, com isso, notei queEmmanuel me arrebatou do aposen-to. Então, de volta, porque eu in-dagava sobre a causa de tamanho

sofrimento, o nosso benfeitor espi-ritual, que se mostrava muito sere-no, disse-me, paternal:

- Queres, então, saber?Abracei-me a ele, como se eu fos-

se uma criança, e declarei que sim.Ele pousou as mãos de leve na

minha cabeça, como se me magne-tizasse, e exclamou:

- Observa alguma cousa.Senti como se uma força diferen-

te me impulsionasse para cima,como um estalido que não posso

Senti como se uma força diferente me

impulsionasse para cima, como um

estalido que não posso descrever

(10) Como era carinhosamente chamada a Dr. Maria AparecidaBittencourt Mena Barreto.

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FidelidadESPÍRITA | Agosto 2006

descrever, e vi-me numa cidade enor-me (11), de ruas sombrias, em estra-nha noite. Vozes em algazarra me che-garam aos ouvidos. Eu estava tam-bém naquela cena em outro corpoe, com horror, observava um povodesvairado a matar, com ruído e gar-galhadas, os próprios irmãos. Incên-dios aqui e ali mostravam quadrosterríveis que as badaladas dos sinosno ar tornavam mais impressionan-tes (12). De chofre, retomei uma lem-brança que estava dentro de mim eque até então me parecia perdida.Lembrei-me e corri também para osacontecimentos. Era a Noite de SãoBartolomeu, em Paris, em 1572...

Os gritos “Massacrez! Massacrez!O rei deseja! O rei deseja!Massacrez!” me enchiam os ouvidos,e eu, em desespero, recordei alguémque talvez já estivesse nas sombrasda morte e bati às portas de umacasa nobre, rogando socorro, reco-nhecendo aí muitas pessoas do nos-so meio que se acham encarnadas.Não consegui o socorro almejado epus-me a correr sem destino, mas aperturbação era enorme. As casasparticulares eram invadidas por tur-mas de pessoas truculentas, e mu-lheres e crianças eram trazidas paramorrer em praça pública. Muitosmeninos eram atirados às águas dorio, depois de passarem na pontados sabres de homens embriagados.Muitas vítimas eram levadas às cor-rentes do Sena, ainda vivas, para, ali,encontrarem a morte. Por mais deuma vez, vi homens e mulheres, em

O Príncipe de Nicolau Maquiavel foi

dedicado ao pai de Catarina, Lorenzo de

Médici. A fama de que Maquiavel seria um

diabólico conselheiro de tiranos formou-se a

partir da identificação entre as ações de

Catarina - como a traição da Noite de São

Bartolomeu - e os pensamentos do teórico

florentino. Certa ou errada, a imagem que se

tem de Maquiavel não foi a única

conseqüência intelectual das guerras de

religião na França.

O filósofo Michel de Montaigne (1533-

1592), hoje em dia cada vez mais apreciado,

fez, como resultado de uma reflexão sobre

sua época, afirmações importantes sobre a

tolerância e a liberdade de consciência nos

seus famosos Ensaios.

Ettiene de La Boétie (1530-1563), amigo de

Montaigne, entregou-lhe um manuscrito que

depois iria também se tornar famoso: o

Discurso da servidão voluntária. Com base

no pensamento antiautoritário de La Boétie,

os huguenotes desenvolveram idéias que

justificavam o direito à revolução.

Para que a luta entre as facções não

degenerasse sempre em guerra civil, Jean

Bodin (1530-1596) desenvolveu nos seis

livros da República, a idéia de soberania.

Apenas um Estado soberano, onde as leis

fossem acatadas por todos, poderia

assegurar a convivência pacífica entre os

partidos.(11) Paris, século XVI.(12) Regressão da memória,

provocada magneticamente porEmmanuel. �

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Depois de longa luta comigo mesmo, não

mais suportei a situação e senti que a

consciência de mim mesmo me faltava

grupos, atirando feridos à pata doscavalos, os quais eram horrivelmen-te mutilados sob os carros que pas-savam, de quando em quando, emdisparada. Depois de longa luta co-migo mesmo, não mais suportei asituação e senti que a consciência demim mesmo me faltava... Foi quan-do tornei a mim, sob o olhar calmode Emmanuel que me disse:

- Aí se encontram as nascentes daamargura de hoje. Bendigamos a dorque refaz o equilíbrio e reconstróio destino.

Depois de entreter com ele umapalestra longa, retornei à vida habitu-al e, apesar de ver que esta carta estáinconveniente e longa demais, julgueimelhor relatar-lhe tudo, enquanto oassunto de minha experiência aindaestá vivo na minha imaginação...”

E para finalizar este depoimentofeito por alguém, dotado de sensi-bilidade mediúnica, assistido por tãoaugusta entidade, leiamos trechos dacarta que D. Esmeralda Bittencourtrecebeu, datada de 7-2-1951:

“(...) Realmente, a visão da noitede 19 de janeiro último me sensibi-lizou muito. Eu me achava na con-dição de uma pessoa de quinze anose me lembro de haver corrido à resi-dência de amigos do meu círculofamiliar, e recordo-me que entrei poruma residência senhorial a dentro ea encontrei (13) visivelmente preo-cupada. Lancei-me em seus braços,rogando socorro para alguém, masa bondosa amiga, ao lado de pessoasmuito importantes, afetuosamentedisse: “Pobre criança! É muito tarde!”

Tentei forçá-la a dar-me maioratenção, mas, não consegui, porquehavia muita gente ao seu lado. Re-parei que a bondosa amiga enviavaa uma casa, que era alguma de suaresidência, em companhia de umapessoa de sua confiança, um homemalto, com um chapéu largo, onde sedestacava uma cruz branca, que nãopude observar muito bem, porquechorava muito, e de quem me afas-tei, fugindo pela via pública. Sei queo nome “Nemours” foi pronuncia-do várias vezes, como designando asua residência. Para falar francamen-te, recordei que a estimada amiga me

pareceu amiga íntima da RainhaCatarina de Médicis e, como elatambém, de origem italiana, despo-sando um alto dignitário da Cortefrancesa de então...”

“Ainda não tornei a ver Agar, maso Doutor Bezerra de Menezes expli-cou-me que ela tentou materializar-seaos olhos do Dr. Mena Barreto, noPronto-socorro (14), mas não conse-guiu senão solicitar-lhe a atenção paraa forma ectoplásmica, indefinida, comque ele se surpreendeu.”

Com a permissão do Alto, o fatoaqui descrito com as minudênciaspossíveis dá-nos uma idéia do que

foi a “Noite de São Bartolomeu” eseu cortejo de horrores.

No plano das formas, vitoriou-sea Corte de Carlos IX, mas, no planoespiritual, todos os responsáveis pelomassacre dantesco desciam à densida-de espiritual, encontrando, nasucessividade dos séculos, expiações eprovações inenarráveis, na urdiduradas circunstâncias humanas, sem fa-lar no sofrimento superlativamentegrande nas esferas invisíveis.

Mas, no dizer de Castro Alves,em “Parnaso de Além-Túmulo”,psicografado por Chico Xavier, nopoema “Marchemos!” �

(14) Tal fato se deu aqui, no Rio. rita sistematiza para o mundo, mos-trando-lhe a la de 1555, com a invas na Inglaterra e na Pra a liberdade deculto aos protesta

(13) O “encontrei” refere-se a D. Esmeralda, reencarnada como Duque-sa de Nemours.

“É a dor queatravés dos anos,Dos algozes, dos

tiranos,Anjos puríssimos

faz,Transmutando os

Neros rudesEm arautos de

virtudes,Em mensageiros

de paz.”

Fonte:

Jornal eletrônico Consciência da Universi-

dade Estadual de Campinas / UNICAMP.

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FidelidadESPÍRITA | Agosto 2006

ESCLARECIMENTO

Mesa Branca?

por Orson Peter Carrara

O Espiritismo dispensa quaisquer

objetos materiais, gestos ou rituais

Ela pode ser de madeira, de

plástico ou até mesmo de

concreto. Pode ser azul,

marrom, branca ou a cor que o lei-

tor imaginar, grande ou pequena,

leve ou pesada, mas o fato é que ne-

nhuma influência exerce sobre a

prática espírita. A mesa é móvel

doméstico ou empresarial, de mui-

ta comodidade, que facilita as mais

variadas tarefas, das simples às com-

plexas, de uso particular ou coleti-

vo, mas nada tem a ver com a Dou-

trina Espírita.

A cor, tamanho, peso ou materi-al de que é feita, pouco importa paraa prática espírita. Inclusive a própriamesa pode ser dispensada, sem qual-quer prejuízo para as atividades,

exceto para a questão de comodida-de humana.

É claro que a usamos em nossosgrupos, por mera questão de como-didade. Agora, a expressão queintitula o presente artigo é fruto daignorância popular, ou se quisermosamenizar a frase, ela advêm da faltade conhecimento do que seja o Es-piritismo.

O Espiritismo dispensa quais-quer objetos materiais, gestos ourituais. Móveis, roupas especiais,velas, sinais, posturas e mesmo quais-quer expressões de cores - inclusivea cor de suposta mesa que esteja sen-do usada ou cores de lâmpadas, cor-tinas e paredes - são absolutamentedesnecessários, inúteis mesmo dire-mos. Tudo porque a prática espíri-ta está exclusivamente baseada naquestão da sintonia mental e dos

sentimentos que norteiam os quedela participam. E isto determina aqualidade de tais práticas.

Óbvio que nos referimos aqui àprática das reuniões mediúnicas,classificadas por quem desconheceo Espiritismo, como de mesa bran-ca. Mas a prática espírita está tam-bém nos estudos, na caridade mate-rial e espiritual prestada aos necessi-tados, nas atividades de divulgação -em suas diversas modalidades -, mastambém no intercâmbio com os es-píritos (que nada mais são que cria-turas humanas que já deixaram ocorpo de carne pelo fenômeno bio-lógico da morte), onde o uso ou nãode uma mesa é questão secundária.

Portanto, ao ouvirmos a expres-são mesa branca, já estamos cientes:quem a usa está totalmentedesconectado da realidade da práti-ca espírita. Se for algum grupo quea usa para auto-classificar-se, encon-tra-se equivocado. Se a qualificaçãosurgir por terceiros, quem a emite éque desconhece o que está dizendo.

E como reconhecer, então, umgrupo sério e identificado com aDoutrina Espírita?

É fácil: basta observar três crité-rios: bom senso, lógica e fraternidadeentre seus membros. �

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Fonte:

MARTINS, Eduardo. Com Todas as Letras.

Pág. 138. Editora Moderna. São Paulo/SP,

1999.

COM TODAS AS LETRAS

Resista à tentação de

“a nível de”por Eduardo Martins

Além de modismos (termos comunsem determinadas épocas), a nível e a nível

de não existem no idioma, do ponto devista formal. Por isso, você não vai encon-trar nenhuma dessas expressões nos dicio-nários. Alguém pode perguntar se a línguanão admite inovações? Admite, desde quesejam corretas e se justifiquem. Nada dis-so ocorre com a nível ou a nível de: paracomeçar, a não se combina com nível.

Note: ninguém diria “a plano” federal

ou “a termos” de idéias. E essas palavras,nos exemplos, são empregadas no mesmosentido em que se recorre a a nível. Nomínimo, quem insistir em usar essas ex-pressões terá de substituir o a por em, no,

na ou até ao. Assim: Em nível federal (enunca “a nível” federal), no nível das idéias, aentidade foi levada ao nível primeiro-mundista,etc. Mas mesmo essas opções podem sersubstituídas.

Por isso, se puder, mantenha a locuçãolonge do seu vocabulário. Na quase totali-dade dos casos, ela é perfeitamentesubstituível, está demais no texto ou nãofaz falta.

Veja alguns exemplos: Decisão “a nível da” direto-ria da escola (decisão da diretoria da escola). / Deci-são “a nível da” prefeitura (decisão municipal). / Reu-nião “a nível” internacional (reunião internacional). /Decisão”a nível” nacional (reunião no plano nacional,em termos nacionais). / Nessa época o Brasil crescia “anível de “ 7% a 8% ao ano (crescia de 7% a 8%).

O pior no caso é que o uso indiscriminado eabusivo de a nível de leva a situações absolutamen-te injustificáveis do ponto de vista da linguagem,como se pode ver nestes exemplos reais: O clube fezcontratações “a nível de” futuro (para o futuro). / Aproposta pelo jogador é “a nível de” 5 milhões de dólares (éde cerca de). / “A nível de” jornalista, prefere assuntosmais leves (como jornalista). / O jogador tinha um pro-blema “a nível de” joelho (no joelho, apenas).

Ou há casos em que o texto teria de ser alteradopor inteiro, uma vez que não haveria como substi-tuir a locução apenas: É preciso fazer alterações na equi-pe, principalmente “a nível de” criatividade. / Cada pro-fissional deve procurar integrar-se ao outro, “a nível de”conhecimento mútuo.

Você já reparou no número de vezes que as pessoas entrevistadas no rádio e natelevisão dizem a nível ou a nível de? Isso acontece porque muita gentefreqüentemente precisa de determinados curingas lingüísticos, palavras ou

fórmulas que sirvam para qualquer situação.

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Tu, porém“Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina.”

Paulo (Tito, 2:1.)

Chico Xavier - Emmanuel

Vinha de Luz

Desde que não permaneçais em temporária inibição do ver-bo, serás assediado a falar em todas as situações.

Convocar-te-ão a palavra os que desejam ser bons e osdeliberadamente maus, os cegos das estradas sombrias e os cami-nhoneiros das sendas tortuosas.

Corações perturbados pretenderão arrancar-te expressõesperturbadoras.

Caluniadores induzir-te-ão a caluniar.Mentirosos levar-te-ão a mentir.Levianos tentarão conduzir-te à leviandade.Ironistas buscarão localizar-te a alma no falso terreno do sar-

casmo.Compreende-se que procedam assim, porquanto são ignoran-

tes, distraídos da iluminação espiritual. Cegos desditosos sem osaberem, vão de queda em queda, desastre em desastre, criando adesventura de si mesmos.

Tu, porém, que conheces o que eles desconhecem, que culti-vas na mente valores espirituais que ainda não cultivam, tomacuidado em usar o verbo, como convém ao Espírito do Cristoque nos rege os destinos. É muito fácil falar aos que nos interpe-lam, de maneira a satisfazê-los, e não é difícil replicar-lhes comoconvém aos nossos interesses e conveniências particulares; toda-via, dirigimo-nos aos outros, com a prudência amorosa e com atolerância educativa, como convém à sã doutrina do Mestre, étarefa complexa e enobrecedora, que requisita a ciência do bemno coração e o entendimento evangélico nos raciocínios.

Que os ignorantes e os cegos da alma falem desordenadamente,pois não sabem, nem vêem... Tu, porém, acautela-te nas criaçõesverbais, como quem não se esquece das contas naturais a seremacertadas no dia próximo.

Desde que não permaneçais em temporária inibição do ver-bo, serás assediado a falar em todas as situações.

Convocar-te-ão a palavra os que desejam ser bons e osdeliberadamente maus, os cegos das estradas sombrias e os cami-nhoneiros das sendas tortuosas.

Corações perturbados pretenderão arrancar-te expressõesperturbadoras.

Caluniadores induzir-te-ão a caluniar.Mentirosos levar-te-ão a mentir.Levianos tentarão conduzir-te à leviandade.Ironistas buscarão localizar-te a alma no falso terreno do sar-

casmo.Compreende-se que procedam assim, porquanto são ignoran-

tes, distraídos da iluminação espiritual. Cegos desditosos sem osaberem, vão de queda em queda, desastre em desastre, criando adesventura de si mesmos.

Tu, porém, que conheces o que eles desconhecem, que culti-vas na mente valores espirituais que ainda não cultivam, tomacuidado em usar o verbo, como convém ao Espírito do Cristoque nos rege os destinos. É muito fácil falar aos que nos interpe-lam, de maneira a satisfazê-los, e não é difícil replicar-lhes comoconvém aos nossos interesses e conveniências particulares; toda-via, dirigimo-nos aos outros, com a prudência amorosa e com atolerância educativa, como convém à sã doutrina do Mestre, étarefa complexa e enobrecedora, que requisita a ciência do bemno coração e o entendimento evangélico nos raciocínios.

Que os ignorantes e os cegos da alma falem desordenadamente,pois não sabem, nem vêem... Tu, porém, acautela-te nas criaçõesverbais, como quem não se esquece das contas naturais a seremacertadas no dia próximo.