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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – UnC PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL FLAVIA ALBERTINA PACHECO LEDUR A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL FORMAL COMO ELEMENTO RECONHECEDOR DO PATRIMÔNIO CULTURAL EM SÃO MATEUS DO SUL - PR CANOINHAS 2012

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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – UnC PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONA L

FLAVIA ALBERTINA PACHECO LEDUR

A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL FORMAL COMO ELEMENTO RECONHE CEDOR DO PATRIMÔNIO CULTURAL EM SÃO MATEUS DO SUL - PR

CANOINHAS 2012

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FLAVIA ALBERTINA PACHECO LEDUR

A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL FORMAL COMO ELEMENTO RECONHE CEDOR DO PATRIMÔNIO CULTURAL EM SÃO MATEUS DO SUL - PR

Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre no Desenvolvimento Regional ao Colegiado do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado, Campus Canoinhas, UnC/ Campus Universitário de Canoinhas – SC, sob a orientação do Prof. Dr. Armindo José Longhi.

CANOINHAS

2012

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Dedico esta dissertação primeiramente à Deus, aos meus familiares e aos meus amigos, pois, todos foram essenciais nesta caminhada, mesmo nas horas mais difíceis, souberam entender minhas ausências e me fortaleceram, permitindo-me concluir mais esta etapa de minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Meu maior agradecimento é dirigido a minha família, principalmente aos meus

pais, por terem me apoiado nessa etapa da minha vida, ensinando-me,

principalmente, a importância da construção e coerência de meus próprios valores.

Obrigado por depositarem em mim a confiança para todas as horas. Sei que vocês

se orgulham por eu ter atingido uma etapa que nenhum outro de nós tinha atingido

antes. Mas este orgulho que sentem por mim, converto numa obrigação de a cada

dia ser mais digna de representá-los. Minha família soube compreender, essa fase

pela qual eu estava passando. Durante a realização deste trabalho, sempre

tentaram entender minhas dificuldades e minhas ausências. Agradeço-lhes,

carinhosamente, por tudo.

Nathy e Analice, luzes da minha vida, mamãe se esforça por vocês.

Gostaria de agradecer imensamente todo apoio que o Programa de Mestrado

em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado me concedeu,

principalmente a Coordenadora a Prof. Drª. Maria Luiza Milani. Digo à professora e

amiga: você fez toda a diferença na minha vida acadêmica, hoje eu posso dizer que

existe outra pessoa dentro de mim, amadureci muito contigo, obrigado por ter

cruzado meu caminho. Suas ideias permearam meu trabalho, principalmente,

beneficiei-me de seus insights. E digo mais, as viagens para Congressos e as tardes

no Posto Mallon me farão falta.

Quero também estender meus sinceros agradecimentos ao Prof. Dr. Armindo

José Longhi, meu orientador, pela colaboração, paciência e seus conhecimentos

repassados durante todo o desenvolvimento desse trabalho, e principalmente em

acreditar que esse projeto poderia dar certo, além da grande amizade formada.

Quero também agradecer à Prof. Dr. Nadja Lamas, que na banca de

qualificação deu sugestões valiosas que iluminaram o caminho a ser percorrido.

Meus agradecimentos à CAPES pelo apoio financeiro.

E finalmente ao Sistema de Ensino Maria Augusta, instituição em que sou

docente, pela ajuda e compreensão pelas minhas ausências, e principalmente pelo

apoio recebido.

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O ensino primário é imprescindível [...] Não basta ensinar o analfabeto a ler. É preciso dar-lhe contemporaneamente o elemento em que possa exercer a faculdade que adquiriu. Defender o nosso Patrimônio Histórico e Artístico é alfabetização. Mário de Andrade (1922)

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RESUMO

O tema desse estudo é a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do patrimônio cultural em São Mateus do Sul – PR. Recentemente nota-se um progressivo interesse pela preservação do patrimônio cultural, enquanto elemento formador da sua identidade. Porém, os processos de sensibilização e divulgação do patrimônio cultural, devem iniciar desde cedo. A escola é o espaço para acompanhar o desenvolvimento e a formação dos indivíduos. Nesse sentido, surge a importância da educação patrimonial e o papel determinante do educador como propulsor de práticas preservacionistas do patrimônio cultural. As políticas públicas voltadas para a questão da educação patrimonial, que são de responsabilidade do poder público, devem ir além do mérito estético, pois tem a função de estimular e colaborar diretamente para o reconhecimento e a valorização do patrimônio cultural, pilares fundamentais na construção de uma sociedade valorizadora da sua cultura e do seu patrimônio. Mas frequentemente as ações educacionais acerca da valorização do patrimônio cultural representam um exercício penoso. Existem desafios motivados pela necessidade em construir currículos que privilegiem ações centradas na valorização desse patrimônio, que por vezes se apresentam deficientes. O conhecimento do patrimônio cultural é uma atividade permanente e sistemática de ações educacionais, levando indivíduos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural. Porém, notadamente essa questão não procede nas escolas pesquisadas. Investigou-se a aplicabilidade da educação patrimonial formal com a finalidade de promover o processo de reconhecimento e valorização do patrimônio cultural em São Mateus do Sul – PR, constituindo o problema deste estudo. O objetivo da pesquisa foi averiguar as ações desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura para destacar a preservação do Patrimônio Cultural do município de São Mateus do Sul; identificar os processos metodológicos e materiais didáticos utilizados em sala de aula para reconhecer o patrimônio cultural do município; examinar, junto aos educadores, a existência de interrelação entre as disciplinas e a educação patrimonial; analisar a interação do poder público nas três esferas, quanto ao reconhecimento e à valorização do patrimônio cultural do município. Além da pesquisa bibliografia, aplicou-se a pesquisa qualitativa e a pesquisa de campo, desenvolvidas através de entrevistas dirigidas aos educadores das escolas pesquisadas e dirigentes da Secretaria Municipal da Educação e Cultura do município. Foram analisadas as leis federais e municipal voltadas para a valorização do patrimônio cultural e se elas estão inseridas no Plano Político Pedagógico das escolas. Com a análise das entrevistas constatou-se que os educadores não dão a devida importância para a educação patrimonial. As dificuldades nesse processo estão elencadas nas seguintes lacunas: ausência de formação continuada dos docentes e deficiência no conhecimento nas políticas públicas preservacionistas da educação patrimonial. Acredita-se que os resultados dessa investigação poderão subsidiar os educadores e gestores do município na formulação de políticas públicas educacionais continuadas e centradas no patrimônio cultural do município. PALAVRAS-CHAVE: educação patrimonial, patrimônio cultural, cultura, desenvolvimento.

LINHA DE PESQUISA : Desenvolvimento Regional e Políticas Públicas.

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ABSTRACT

The theme of this study is the formal heritage education recognizer as part of the cultural heritage in São Mateus do Sul - PR. Recently one notices a progressive interest in the preservation of cultural heritage, as a formative element of their identity. However, the processes of awareness and dissemination of cultural heritage, should start early. The school is the space to track the development and training of individuals. In this sense, there is the importance of heritage education and the critical role of the educator as propellant practices of cultural heritage preservationists. Public policies aimed at the issue of heritage education, which are the responsibility of the government, should go beyond aesthetic merit, it has the function to stimulate and contribute directly to the recognition and appreciation of cultural heritage, cornerstones in building a society valuing their culture and their heritage. But often educational activities on the value of cultural heritage represent a painful exercise. There are challenges motivated by the need to build curricula that emphasize actions centered on valuing these assets, which sometimes feature disabled. The knowledge of cultural heritage is an ongoing activity and systematic educational activities, leading individuals to an active process of knowledge appropriation and appreciation of their cultural heritage. However, this issue does not proceed especially in schools surveyed. We investigated the applicability of formal heritage education in order to promote the process of recognition and appreciation of cultural heritage in São Mateus do Sul - PR, making the problem of this study. The objective of the research was to examine the actions taken by the Municipal Education and Culture to highlight the preservation of Cultural Heritage in São Mateus do Sul, to identify the methodological processes and materials used in the classroom to recognize the cultural heritage of the city , examine, along with educators, the existence of the interrelationship between disciplines and heritage education; analyze the interaction of government in all three spheres, as the recognition and appreciation of the cultural heritage of the city. Besides the research literature, applied research and qualitative field research, developed through interviews addressed to the schools surveyed educators and leaders of the Municipal Department of Education and Culture of the municipality. We analyzed the federal and municipal laws aimed at the enhancement of cultural heritage, and if they are inserted in the Plan Political Pedagogical schools. With the analysis of the interviews it was found that the teachers do not give enough importance to heritage education. The difficulties in this process are summarized in the following shortcomings: lack of continuing education for teachers and deficiency in knowledge in public policy education preservationists sheet. It is believed that the results of this research may subsidizing educators and managers of the municipality in the formulation of public policies and continuing education focused on cultural heritage of the city. KEYWORDS: heritage education, heritage, culture, development.

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LISTA DE ABREVIATU RAS E SIGLAS

ANSUPAR- Associação dos Municípios dos Sul do Paraná

BRASPOL- Integração Brasil-Polônia

CENPES- Centro de Pesquisa Leopoldo Américo Miguez de Mello

DCN- Diretrizes Curriculares Nacionais

EMATER- Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural

FEB- Força Expedicionária Brasileira

FIEP- Federação das Indústrias do Paraná

GLP- Gás Liquefeito de Petróleo

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional

LDB- Leis de Diretrizes e Bases

MEC- Ministério de Educação e Cultura

PCN- Parâmetros Curriculares

PETROBRAS- Petróleo Brasileiro

PPP- Projeto Político Pedagógico

SANEPAR – Companhia de Saneamento do Paraná

SEMEC- Secretaria Municipal de Educação e Cultura

SIX- Superintendência da Industrialização do Xisto

SPHAN- Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

SR- Superintendência Regional

UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

UPI- Usina Protótipo do Irati

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LISTA DE FIGURAS E MAPA

Figura 1 Mapa de Localização do Município de São Mateus do Sul.............................................................................

59

Figura 2

Vapor Cruzeiro – lançado nas águas do Iguaçu no dia 17 de dezembro de 1882.............................................

62

Figura 3

Casa típica polonesa................................................... 67

Figura 4

Caixa d’água da cidade em forma de cuia.................... 68

Figura 5

Igreja Matriz de São Mateus do Sul.............................

68

Figura 6

Pinheiro na localidade de Nova Tesoura, São Mateus do Sul-Pr...................................................................

69

Figura 7

Mina de xisto em São Mateus do Sul-PR.....................

70

Figura 8

Vapor Pery, símbolo da navegação no rio Iguaçu..........

70

Figura 9

Casa da Memória, Museu do município de São Mateus do Sul – PR...............................................................

72

Figura 10

Monumento em Homenagem ao Centenário da Imigração Polonesa....................................................

72

Figura 11

Igreja Centenária Polonesa da Água Branca, vista externa......................................................................

73

Figura 12

Interior da Igreja Centenária Polonesa da Água Branca

73

Figura 13

Interior da Igreja Centenária Polonesa da Água Branca, Nossa Senhora de Czestochowa.....................

74

Figura 14

Monumento em homenagem aos Expedicionários Sãomateuenses...........................................................

75

Figura 15

Carroça Polonesa situada na localidade de São Miguel da Roseira, em São Mateus do Sul-PR.........................

75

Figura 16

Monumento em homenagens aos poloneses que combateram na Revolução Federalista.........................

76

Figura 17

Praça do Carvalho......................................................

77

Figura 18

Pierogui.....................................................................

78

Figura 19

Grupo Karolinka..........................................................

79

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Divisão dos Grupos de Entrevistados............................ 86

Tabela 2 Subdivisão dos Grupos Entrevistados.......................... 86

Tabela 3 Tempo de Magistério e Docência na Escola Municipal Pedro Effco, Educação Infantil e Ensino Fundamental..

101

Tabela 4

Tempo de Magistério e Docência na Escola Municipal Pedro Dr. Paulo Fortes, Educação Infantil e Ensino Fundamental...............................................................

102

Tabela 5

Tempo de Magistério e Docência na Escola Municipal Odemira Cunha, Educação Infantil e Ensino Fundamental..............................................................

103

Tabela 6

Tempo de Magistério e Docência na Escola Municipal Olívio Wolff do Amaral, Educação Infantil e Ensino Fundamental...............................................................

103

Tabela 7

Tempo de Magistério e Docência no Sistema de Ensino Maria Augusta, Ensino Fundamental e Médio....

104

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 População Urbana e Rural de São Mateus do Sul – PR.. 58

Gráfico 2 Tempo de Carreira do Magistério dos Professores Entrevistados................................................................

104

Gráfico 3 Tempo de Atuação dos Professores Entrevistados........ 105

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................... 15 2

REFERENCIAL TEÓRICO................................ .................................

26

2.1 CULTURA E IDENTIDADE CULTURAL.............................................. 26 2.2 PATRIMÔNIO CULTURAL................................................................. 32 2.3 LEIS DO PATRIMONIO CULTURAL NO BRASIL NAS TRÊS

ESFERAS CONSTITUCIONAIS......................................................... 36

2.3.1 Leis do Patrimônio Cultural no Âmbito Federal .................................. 37 2.3.2 Leis do Patrimônio Cultural no Âmbito Estadual................................ 39 2.3.3 Leis do Patrimônio Cultural no Âmbito Municipal................................ 40 2.4 RELAÇÃO ENTRE CULTURA E DESENVOLVIMENTO.................... 42 2.5 EDUCAÇÃO................................................................................... 44 2.6 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL.......................................................... 45 2.7 TRAJETORIA DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO BRASIL............. 48 2.8 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: A IMPORTÂNCIA DA

INTEDISCIPLINARIDADE NOS CURRICULOS ESCOLARES........... 49

2.8.1 A Transversalidade e a Interdisciplinaridade Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).......................................

51

2.9 AÇÕES QUE PODEM SER CONQUISTADAS NA ESCOLA COM A ATUAÇÃO DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL....................................

55

3

CONTEXTO DA PESQUISA............................... ...............................

57

3.1 ELEMENTOS HISTÓRICOS DE SÃO MATEUS DO SUL................. 57 3.1.1 Origem Histórica de São Mateus do Sul.............................................. 57 3.2 LOCALIZAÇÃO E POPULAÇÃO DE SÃO MATEUS DO SUL........... 58 3.3 ATIVIDADES ECONOMICAS DE SÃO MATEUS DO SUL................. 59 3.3.1 Histórico das Atividades Econômicas de São Mateus do Sul............ 59 3.4 PATRIMONIO CULTURAL DE SÃO MATEUS DO SUL.................... 66 3.5 ESTRUTURA EDUCACIONAL DE SÃO MATEUS DO SUL

ACERCA DO PATRIMÔNIO............................................................... 80

4

APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DOS DADOS.................. ...............

86

4.1 APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS ENTREVISTAS REALIZADAS COM OS EDUCADORES ENVOLVIDOS NA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL DE SÃO MATEUS DO SUL.................

86

4.1.1 Análise da Entrevista com o Secretário de Educação e Cultura......... 87 4.1.2 Análise das Entrevistas Realizadas com os Diretores e

Coordenadores das Escolas Pesquisadas...................................... 90

4.1.3 Análise das Entrevistas Realizadas com os Professores Escolas Pesquisadas.................................................................................

100

5

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... .................................

112

REFERÊNCIAS..................................................................................

119

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APÊNDICES

APENDICE 1 – Entrevista com o Secretário de Educação e Cultura

APÊNDICE 2 – Entrevista com os Diretores e Coordenadores das Escolas Pesquisadas

APENDICE 3 - Análise das Entrevistas Realizadas com os Professores das Escolas Pesquisadas

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1 INTRODUÇÃO

A presente dissertação aborda o tema: a educação patrimonial formal como

elemento reconhecedor do patrimônio cultural em São Mateus do Sul–PR. O

interesse da pesquisadora pelo tema educação patrimonial vem desde o período da

graduação de Licenciatura em História, quando sempre esteve envolvida em

atividades relacionadas à história local, memória e patrimônio cultural.

O propósito dessa pesquisa nasceu de um projeto aplicado em 2010 na

instituição escolar Sistema de Ensino Maria Augusta (SEMA)1, com o título “Minha

Cidade Nosso Patrimônio: Aprendendo a Resgatar o Patrimônio Cultural do

Município de São Mateus do Sul–PR”, através desse projeto, buscou-se demonstrar

a preocupação de compartilhar, de forma acessível e interativa, o desejo de "cuidar”

da cidade por meio da preservação dos bens materiais e imateriais do patrimônio

cultural. No somatório de atividades lúdicas, aulas virtuais e passeios, e finalizando

com uma grande exposição do patrimônio do município, através de documentários,

maquetes, exposição de fotografias, poemas, tudo confeccionado pelos alunos,

dessa toda a Escola se envolveu nas atividades, quando foram motivados a alargar

seus olhares sobre o município, bem como perceber o valor inestimável das práticas

e saberes da cultura.

A partir desse projeto aplicado no SEMA, o tema, educação patrimonial, vem

sendo pertinente nas pesquisas. Nos últimos tempos, tem-se verificado uma

progressiva conscientização da sociedade pela preservação e divulgação do

patrimônio cultural, enquanto elemento aglutinador e fundamental da nossa

identidade como povo. Porém, os processos de sensibilização e divulgação do

patrimônio cultural, que deveria ser divulgado desde cedo na escola, acompanhando

o desenvolvimento e a formação dos indivíduos, não acontece. É nesse sentido que

consideramos fundamental a criação de situações favoráveis, que levem ao

desenvolvimento dos valores culturais nas camadas mais jovens da população. Daí

a importância da educação patrimonial e o papel determinante que a escola pode

desenvolver nessa área, como propulsora de práticas preservacionistas do

patrimônio cultural.

A necessidade de trabalhar o patrimônio cultural nas escolas fortalece a

relação das pessoas com suas heranças culturais, estabelecendo um melhor

1 Instituição que também foi objeto de análise desta dissertação.

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relacionamento destas com estes bens, percebendo sua responsabilidade pela

valorização e preservação do patrimônio, fortalecendo a vivência real com a

cidadania, num processo de inclusão social.

A memória é uma das garantias da nossa identidade cultural, e por esse

motivo, devemos estar centrados em um trabalho permanente voltado para a

educação como reconhecedor do patrimônio cultural. Um dos caminhos que nos

permite a apropriação desses conhecimentos é o processo educacional. Entre os

diversos níveis educacionais, o ensino fundamental e médio são espaços

importantes para preparar os indivíduos para que sejam capazes de valorizar a

história regional. Nesse sentido, a educação possibilita a apreensão das noções de

cidadania e responsabilidade social e, consequentemente, o processo de

constituição da identidade de cada indivíduo, reforçando o sentimento de integrar a

um determinado grupo histórico-social.

Ao se utilizar a educação formal como meio para o reconhecimento do

patrimônio cultural, não pode ser uma tarefa de passagem de informações e

discursos pré-fabricados, mas sim, deve ser um processo de conhecimento, a

identificar o significado atribuído aos elementos por uma determinada cultura,

fazendo correlações, no sentido de entender a linguagem cultural específicas,

utilizadas naquelas manifestações e envolver-se efetivamente com elas, através das

vivências e experimentações.

Para tanto, podemos considerar uma estreita relação entre educação e

cultura nos processos de formação da identidade e do patrimônio cultural, sendo que

a educação poderá ser o mais eficiente caminho para estimular a consciência

cultural do indivíduo, começando pelo reconhecimento e apreciação da cultura local.

A cultura, por sua vez, pode ser considerada como tudo que o homem realiza

através da sua racionalidade, consegue executar. Dessa forma todos os povos e

sociedades possuem sua cultura por mais tradicional e arcaica que seja, pois todos

os conhecimentos adquiridos são passados das gerações passadas para as futuras.

Nesse sentido, a cultura é o somatório de valores, costumes, tradições e

métodos adquiridos em um determinado lugar, exercendo características próprias de

cada grupo. Daí ser a cultura um forte de identificação pessoal e social, um modelo

de comportamento que integra segmentos sociais e gerações, importante para

compreender o mundo, e integrar-se à sociedade.

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Ainda no que se refere à cultura, pode-se afirmar que somada à educação, é

uma das áreas relevantes para um processo do reconhecimento e da valorização do

patrimônio cultural, pois engloba questões de identidade. Por esta razão, as políticas

públicas voltadas para a questão da educação e da cultura vão além do mérito

estético, mas sim, estimulam e colaboram diretamente para o respeito,

reconhecimento e a valorização, pois estas são os pilares extremamente

importantes na construção de uma sociedade valorizadora do seu patrimônio

histórico. Por essa razão, essas ações de políticas públicas são de responsabilidade

do Estado, embora elas não precisem, necessariamente, estar atreladas

exclusivamente a ele. Quando se discute, em sala de aula, a questão da cultura, a

ideia da importância do patrimônio cultural ganha força, pois esse está

intrinsecamente ligado à cultura, e essa ampliação do entendimento de patrimônio e

de cultura no currículo estará em favor do reconhecimento e da inclusão das

relações vividas e significadas pelos alunos, a respeito dos bens culturais de seus

contextos sociais.

Como patrimônio cultural, podemos definir como sendo um conjunto de bens

materiais, naturais ou imóveis que possui significado e importância artística, cultural,

religiosa, documental ou estética em uma sociedade. Esses patrimônios foram

construídos ou produzidos pelas sociedades passadas e presentes, por isso

representam uma importante fonte de pesquisa e preservação cultural, e que estão

intimamente relacionados à identidade e a cultura de uma coletividade. Segundo

Carvalho (2011), em seu significado mais primitivo, a palavra patrimônio, tem sua

origem grega pater, que significa paterno, de tal forma que patrimônio veio a se

relacionar a tudo aquilo que é transmitido de pai para filho, sendo importante para a

compreensão da identidade histórica, também para manter vivos os usos e

costumes populares de uma determinada sociedade.

O reconhecimento do patrimônio cultural, pode ser possível levar à tomada da

consciência dos indivíduos, proporcionando a eles a aquisição de conhecimentos

para a compreensão da história local, regional e nacional e mudar adequando-os à

sua própria história, daí a sua importância.

A principal característica de um patrimônio é que a sua conservação

reconhecida é tomada de interesse público, quer por sua vinculação a fatos

memoráveis da história do lugar e de seu povo, quer por seu excepcional valor

arqueológico, etnográfico, bibliográfico ou artístico. Nesse caso específico, o

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patrimônio refere-se aos bens culturais de valor histórico, o que passou a ser uma

construção social. Monastirsky (2009) aponta que o patrimônio cultural inclui não

apenas as manifestações artísticas, mas também os hábitos, os usos e os costumes,

as crenças, as formas de vida cotidiana da sociedade e a sua memória.

Com efeito, a necessidade de sua conservação é um imperativo para a

preservação da história e do desenvolvimento da sociedade. A formação da

memória é uma via para conservar, preservar e promover novos caminhos para a

construção da história. A memória social, no sentido de conservar o patrimônio

cultural, deve ser construída coletivamente, sem o abandono das singularidades ou

da pluralidade cultural dos lugares, pois conforme Monastirsky (2009) a memória

transcende o indivíduo ao apresentar uma ordem instituída, normativa à cultura local

e às singularidades que a compõem.

A preservação do patrimônio cultural tem importância fundamental para o

desenvolvimento e enriquecimento de um povo e de sua cultura. Ao contrário da

visão que se têm sobre o patrimônio, referindo-se somente a objetos de museus

como coisas velhas e estagnadas, o contato com o patrimônio cultural deve ser

dinâmico e transformador, pois esses registros culturais nos propiciam um momento

de reflexão e crítica, que ajuda a nos localizar no grupo cultural a que pertencemos e

a conhecer outras expressões da cultura. Assim, o patrimônio cultural não é estático,

mas justamente o que nos impulsiona à transformação, à criatividade e ao

enriquecimento cultural, por isso a importância de sua preservação.

A valorização do patrimônio cultural, como já dizia o filósofo Sócrates, da

riqueza não vem a cultura, mas da cultura vem a riqueza. Assim, conforme Furtado

(1974), a cultura de um povo expressa a qualidade de seu desenvolvimento. O

desenvolvimento requer invenção e se constitui em ação cultural. Todas as

inovações são elementos culturais. Todo conhecimento e a base da economia

contemporânea é cultural. Cultura e desenvolvimento são definições e processos

necessariamente interligados e necessariamente compartilhados por todos.

A discussão acerca da cultura aliada ao desenvolvimento se mostra de fato

notável, tendo em vista a importância para a participação na construção da

sociedade contemporânea. De acordo Miranda (2009), duas visões são facilmente

identificáveis na forma de se pensar economia e cultura: uma visão humanista da

cultura, que se opõe às regras de mercado obedecendo às normas de produção e

reprodução cultural, e a visão que somente o mercado pode salvar-nos diante de

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nossos anseios de desenvolvimento cultural. Miranda (2009) discorda dessas duas

visões, afirmando que elas não são totalmente antagônicas, e sim, complementares.

Nesse sentido, podemos definir a cultura como parte integrante do

desenvolvimento, pois é a partir dela que se originam propostas que resgatam a

criação da identidade, envolvendo grupos sociais, sendo a impulsionadora do

desenvolvimento local.

Já as ações de educação acerca do resgate e da valorização do patrimônio

cultural representam um exercício árduo. Desafios motivados pela necessidade em

construir um currículo que privilegie ações centradas na valorização desse

patrimônio se apresentam por vezes deficientes, pois em geral percebe-se ausência

da conscientização da sociedade sobre os bens do patrimônio cultural. Do mesmo

modo, observa-se que as autoridades públicas não se preocupam com a

conservação desse patrimônio, e também não investem na sensibilização da

população para que ela, além de reconhecer um bem material ou imaterial, também

tenha a capacidade de perceber que todo e qualquer patrimônio é dotado de história

e faz parte de sua própria identidade e do processo de formação cultural.

Dessa forma, um processo de ensino-aprendizagem no ensino fundamental e

médio pode preparar a formação dos cidadãos, que sejam capazes de conhecer a

sua própria história, além de estimulá-los à prática saudável da reflexão histórica,

acerca do patrimônio cultural. Esse processo faz parte de uma política cultural que é

construída nos cruzamentos das diferentes demandas sociais que permeiam a

sociedade. Nesse contexto, a cultura é um espaço privilegiado que nos permite, de

forma crítica, trabalhar os contrastes e as diferenças para possibilitar aos sujeitos

desse processo rever-se, e nesses espelhos se entenderem individual e

coletivamente.

O principal objetivo da educação formal é ensejar o esforço em auxiliar os

estudantes na formação do conhecimento histórico, na investigação da realidade,

refletindo a respeito de sua ligação com um passado mais distante, buscando

compreender a historicidade desses aspectos culturais. Por isso, o ensino da

disciplina de história, associado aos conteúdos da educação formal e informal,

voltado para sujeitos históricos deve propiciar um conhecimento mais amplo da

realidade em que vivem.

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O conhecimento do patrimônio cultural é um procedimento permanente e

sistemático de ações educacionais, levando indivíduos a um processo ativo de

conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural.

Constata-se que existem diversas carências na prática educacional, no que

tange os currículos escolares e materiais didáticos. Assim, é necessário que ações

nesse sentido sejam priorizadas em uma sociedade complexa como na qual

estamos inseridos, onde há um constante diálogo entre diferentes culturas e, até

mesmo, o surgimento de uma nova cultura global.

Ainda há um longo caminho a ser percorrido. Nesse caminho, a educação e a

cultura, enquanto políticas sociais devem ser priorizadas, visto que são importantes

para a transformação dos sujeitos em atores de sua própria história e não

telespectadores, parcialmente participantes de uma política de inclusão, na teoria,

mas excludente na prática.

Diante dos elementos problematizadores apontados, irá se investigar como

ocorre a aplicabilidade da Educação Patrimonial Formal com a finalidade de

promover o processo de reconhecimento e valorização do patrimônio cultural em

São Mateus do Sul-PR, constituindo o problema deste estudo.

Nesta perspectiva, a análise do objeto de pesquisa apresentou, como suporte,

as seguintes questões norteadoras:

• Quais são as ações do Estado orientadas para a afirmação das políticas de

proteção do patrimônio cultural em São Mateus do Sul?

• Como o processo de ensino educacional vem destacando a preservação da

memória e do patrimônio cultural em São Mateus do Sul?

• Como tem sido a interação do Estado – esfera município, por meio da

Secretaria de Educação e Cultura, visando ao reconhecimento e à

valorização do patrimônio cultural em São Mateus do Sul?

Portanto, teve como objetivo geral, pesquisar a importância da educação

patrimonial formal orientada, para o reconhecimento e a valorização do Patrimônio

Cultural em São Mateus do Sul-PR.

Partindo-se dessa temática, foram elencados como objetivos específicos:

averiguar quais são as ações desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Educação

e Cultura para destacar a preservação da memória e do Patrimônio Cultural de São

Mateus do Sul–PR; pesquisar, junto com os professores do município, quais são os

processos metodológicos e materiais didáticos utilizados na educação formal como

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elemento formador do patrimônio cultural de São Mateus do Sul–PR; examinar junto

aos professores, se há interrelação das disciplinas para se trabalhar a educação

patrimonial, e analisar a interação do Governo Federal, do Governo do Estado do

Paraná e do Município, quanto ao reconhecimento e à valorização do Patrimônio

Cultural de São Mateus do Sul–PR.

A justificativa do desenvolvimento desta dissertação está pautada na ideia de

que, em tempos atuais, observa-se que a sociedade está mais interessada em

assuntos que desrespeitam a preservação do patrimônio cultural, enquanto

elemento formador da sua identidade. Portanto, os processos de sensibilização

devem começar desde cedo, acompanhando o desenvolvimento e a formação dos

indivíduos. Dessa forma que consideramos fundamental a criação de situações

favoráveis que levem ao desenvolvimento dos valores patrimoniais nas camadas

mais jovens da população, visto que um bem cultural é inseparável do meio onde se

encontra situado e, bem assim, da história da qual é testemunho. Logo, na sua

preservação, é imprescindível relacioná-lo com o seu meio ambiente, com sua área

envoltória, com seu contexto sócio-econômico, recusando-se a encará-lo como

trabalho isolado no espaço.

Assim, a educação, como elemento reconhecedor do patrimônio cultural,

fornece dados que possibilitem a percepção do espaço cultural pela população,

tornando-se um dos subsídios para o desenvolvimento cultural, ao mesmo tempo em

que se constitui numa ação estratégica para contribuir no sentido de valorização das

culturas locais e desenvolvimento da sociedade.

De acordo com Freire (1981), entende-se que a principal atribuição da

educação, em especial da escolarização, é o seu caráter libertador. Para ele,

ensinar seria, fundamentalmente, educar para a liberdade, a “[...] educação para o

homem-sujeito”. Compreendia a educação, não como condicionamento social,

mas voltada para a liberdade e a autonomia. Segundo Read (1986, p.18),

[...] todas as palavras de uso possível para expressarmos o propósito da educação: ensino, instrução, criação, disciplina, aquisição de conhecimento, aprendizagem forçada de maneiras ou moralidade - todas elas se reduzem a dois processos complementares que podemos descrever com propriedade como crescimento individual e iniciação social.

Utilizar a educação e as políticas públicas como ferramentas para disseminar

a memória para gerações posteriores, como meio de preservar o patrimônio cultural

Page 21: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

22

em São Mateus do Sul–PR, é importante para a construção da identidade,

reforçando o sentimento de pertencer a um determinado grupo histórico-social.

Todavia, ainda é carente o campo da educação para o patrimônio de ações

sistemáticas e agressivas do Estado, tal como a cobrança pela elaboração e difusão

de metodologias, normas e diretrizes que ajudassem a organizar esse campo

promissor e incipiente. (CASCO, 2006)

Desse modo, podemos sintetizar alguns problemas que precisam ser

ressaltados como desafiadores à prática efetiva da Educação Patrimonial nas

escolas, podendo considerar o primeiro deles e o mais problemático que seria a falta

de uma política estatal de patrimônio voltada para a educação e uma política de

educação voltada para a preservação do patrimônio e da memória (CASCO, 2006).

Embora a legislação brasileira oriente o fomento de ações de respeito e

reconhecimento da diversidade cultural do país, essas acontecem de maneira

acanhada e isolada.

Atividades de formação de professores sobre a metodologia da Educação

Patrimonial são emergenciais, além do destaque a reflexão de elementos vitais para

a estrutura de ensino no país, como a reorientação do Projeto Político da escola e

do currículo.

As transformações da realidade escolar precisam passar necessariamente por uma mudança de perspectiva, em que conteúdos escolares tradicionais deixem de ser encarados como o 'fim' da Educação. Eles devem ser 'meio' para a construção da cidadania e de uma sociedade mais justa. Esses conteúdos tradicionais só farão sentido para a sociedade se estiverem integrados em um projeto educacional que almeje o estabelecimento de relações interpessoais, sociais e éticas de respeito às outras pessoas, à diversidade e ao meio ambiente. (BUSQUETS, 2000, p. 16).

Segundo Casco (2006), a educação patrimonial precisa ampliar suas

potencialidades na escola, sendo esse o caminho mais seguro para a construção de

respeito e preservação do patrimônio cultural brasileiro.

Outra razão que justifica esta pesquisa é o fato da pesquisadora ser

professora da disciplina de História e ministrar aulas na região. Por isso, pretende

melhorar seu conhecimento teórico para dar retorno à comunidade, bem como

colaborar com a pesquisa acadêmica, abrindo novos estudos e discussões.

Esta pesquisa apresentou relevância teórica no estudo centrado na educação

patrimonial escolar como elemento reconhecedor do patrimônio cultural, com ênfase

em São Mateus do Sul-PR.

Page 22: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

23

Nesta perspectiva, este estudo trata além da parte introdutória, de mais três

blocos.

O primeiro bloco diz respeito ao referencial teórico no qual se apresenta a

contextualização acerca dos temas: cultura, educação e desenvolvimento,

destacando a importância de existir uma interrelação entre esses aspectos, para o

desenvolvimento da educação patrimonial.

O segundo bloco apresenta a contextualização da pesquisa, com a

apresentação do histórico do município de São Mateus do Sul, e seus aspectos

culturais. Também neste bloco, expõe a análise da estrutura educacional do

município acerca do seu patrimônio cultural; em seguida, terceiro bloco, vem a

apresentação, interpretação e as análises das entrevistas realizadas com os

educadores envolvidos na educação patrimonial do município.

Para analisar a educação patrimonial formal na promoção de reconhecimento

e valorização do patrimônio cultural no Município de São Mateus do Sul, além das

pesquisas bibliografias, foi aplicada a pesquisa qualitativa. Naturalmente é essencial

o desenvolvimento de pesquisas onde se utilizará referencial bibliográfico e

documental, isto é, o embasamento teórico, conforme Richardson (1999, p. 68) "[...]

constitui um conjunto de documentos que permitem identificar os textos utilizados no

todo ou em parte para a elaboração do trabalho. Tem por objetivo orientar o leitor

para um aprofundamento do fenômeno estudado."

A pesquisa de campo foi desenvolvida pela utilização das técnicas de

entrevistas. Segundo Richardson (1999, p. 90) “[...] como tentativa de uma

compreensão detalhada dos significados e características situacionais apresentadas

pelos entrevistados [...]”.

As entrevistas foram aplicadas aos professores das escolas municipais,

dirigentes da Secretaria Municipal da Educação e Cultura do município de São

Mateus do Sul. Foram pesquisadas 4 escolas municipais e 1 escola privada, todas

localizadas no perímetro urbano do município de São Mateus do Sul (PR). Para

fazer a escolha das escolas mencionadas a seguir, foram seguidos alguns critérios,

tais como: essas escolas atendem grande parte dos estudantes do município e são

consideradas as maiores em espaço físico e as mais antigas.

A pesquisa de campo seguiu as seguintes etapas:

Primeira Etapa: consistia no planejamento da pesquisa e de todos os

procedimentos para preparar a entrada no trabalho de campo, delimitação do objeto,

Page 23: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

24

desenvolvimento teórico-metodológico, descrição dos instrumentos de

operacionalização do trabalho, assim como elaboração das entrevistas, cronograma

de ação e escolha do espaço da mostra qualitativa no colégio particular e nas

escolas públicas do município, realizando as entrevistas aos professores,

coordenadores, diretores e o dirigente da Secretária Municipal da Educação e

Cultura.

Segunda Etapa: a segunda etapa da pesquisa compreendeu a investigação

das Leis Federais como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n° 9.394/96. A LDB enfatiza, no

seu artigo 26, que a parte diversificada dos currículos dos ensinos fundamental e

médio deve observar as características regionais e locais da sociedade e da cultura,

o que abre espaço para a construção de uma proposta de ensino voltada para a

divulgação do acervo cultural dos estados e municípios.

Ainda para análise de documentos, verificou-se a questão da Memória do

Patrimônio Cultural que está contemplada na lei orgânica nº 09/08, no artigo 158 do

Município de São Mateus do Sul, e se essa lei está inserida no Plano Político

Pedagógico das Instituições Escolares que fazem parte da pesquisa, assim

analisando a aplicabilidade das mesmas, através da observação participante em

fontes escritas, análise documental das referidas Instituições de Ensino. Esta

observação ocorreu a partir de um planejamento sistemático que incluiu definir data,

agendar com Secretaria de Educação e Cultura e as Instituições Escolares.

Terceira Etapa (pesquisa): nesse momento, utilizou-se de instrumentos de

observação, construção das entrevistas destinada à Secretaria de Educação e

Cultura e às Instituições Escolares do Município de São Mateus do Sul para realizar

o estudo.

A entrevista pode ser conceituada como uma técnica de investigação

composta por um conjunto de questões que são submetidas a pessoas com o

propósito de “[...] obter informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos,

valores, interesses, expectativas, temores, comportamento presente ou passado”

(GIL, 2009, p.121). Consiste em traduzir objetivos da pesquisa em questões

específicas, cujas respostas irão proporcionar os dados requeridos para descrever

as características da população pesquisada ou testar as hipóteses que foram

construídas durante o planejamento da pesquisa.

Page 24: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

25

Para os entrevistados, utilizou-se a entrevista semiestruturada para investigar

as aplicações das ações do município em relação à educação patrimonial. Segundo

Nigel Fielding, citado por Richardson (1999, p. 96):

O pesquisador participa para obter informações detalhadas, não para ser mais um membro ao grupo. O pesquisador deve manter certo distanciamento para poder obter informações e interpretá-las. Mas existe um problema mais importante e não enfatizado na leitura especializada, o fato de “não se aproximar o suficiente”, e se faça um relatório superficial que aparentemente proporcione plausibilidade a uma análise à qual o pesquisador está obviamente comprometido.

Pelas entrevistas, foram analisadas as contribuições que as Instituições

Escolares, por meio dos seus Planos Políticos Pedagógicos em apoio à Secretaria

Municipal de Educação e Cultura do município de São Mateus do Sul, têm dado à

educação patrimonial com elemento reconhecedor do patrimônio cultural no

município de São Mateus do Sul–PR.

A quarta etapa consistiu na análise e interpretação dos dados, ou seja,

compilação dos dados coletados, concluindo com a quinta etapa, no fechamento dos

resultados e a conclusão da dissertação, que constituiu na análise final das

entrevistas, dos resultados e da conclusão do trabalho, a partir da compilação de

todos os dados.

No terceiro bloco desta pesquisa, vêm as considerações e possíveis

recomendações para futuras investigações.

Page 25: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

26

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 CULTURA E IDENTIDADE CULTURAL

Definir o que é cultura não é uma tarefa simples. A cultura evoca interesses

multidisciplinares, sendo estudada em áreas como sociologia, antropologia, história,

entre outras. Em cada uma dessas áreas, é trabalhada a partir de distintos enfoques

e usos.

Iniciamos esta discussão teórica reconhecendo que não existe um conceito

definido de cultura para que estudiosos cheguem a um acordo sobre a concepção

da palavra. A partir de então, nosso objetivo não será o de apresentar uma única

definição para o termo cultura. O propósito do trabalho é de apenas realizar uma

discussão e apresentar algumas definições sobre os diversos significados que a

palavra “cultura” pode apresentar.

De acordo com Eagleton (2005), a palavra cultura vem da raiz semântica

colore, que originou o termo em latim cultura, de significados diversos como habitar,

cultivar, proteger, honrar com veneração. Até o século XVI, o termo era geralmente

utilizado para se referir a uma ação e a processos, no sentido de ter “cuidado com

algo”, seja com os animais ou com o crescimento da colheita, e também para

designar o estado de algo que fora cultivado, como uma parcela de terra cultivada.

A partir do final do século XIX, o termo ganha destaque um sentido mais

figurado de cultura e, numa metáfora ao cuidado para o desenvolvimento agrícola, a

palavra passa a designar também o esforço despendido para o desenvolvimento das

faculdades humanas. Em consequência, as obras artísticas e as práticas que

sustentam este desenvolvimento passam a representar a própria cultura.

No pensamento iluminista francês, a cultura caracteriza o estado do espírito

cultivado pela instrução. De acordo com Cuche, (2002, p.21), “[...] a cultura é a

soma dos saberes acumulados e transmitidos pela humanidade, considerada como

totalidade, ao longo de sua história”. No vocabulário francês da época, a palavra

também estava associada às ideias de progresso, de evolução, de educação e de

razão.

Segundo Coelho (2008), a visão da cultura como sendo tudo e o todo é uma

proposta do Iluminismo do século XVIII, para o qual cultura era a soma dos saberes

acumulados e transmitidos. Nessa linha de argumentação, o antropólogo britânico

Page 26: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

27

Edward Burnett Tylor (1832- 1917), citado por Coelho (2008), propôs em 1871, em

seu livro Primitive Culture, a primeira definição do conceito etnológico de cultura, ao

dizer que cultura, no sentido etnológico mais amplo do termo, é esse todo complexo

que compreende o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, o direito, os costumes

e outras capacidades ou atitudes adquiridas pelo homem, enquanto membro da

sociedade. Em outras palavras, portanto, cultura é tudo que deriva da ação humana.

Citando ainda Coelho (2008), a cultura de um lugar não deveria ser vista

como a soma de tudo, mas apenas do específico daquele lugar: não o universal,

mas o particular; “[...] cultura não era o todo de todos, mas o relativo a um grupo,

com a implicação de que cada cultura revestia-se de um atributo a ela relativo.”

(2008, p.22). Cada cultura tem um valor próprio a ser reconhecido, um estilo

específico que se manifesta na língua, nas crenças, nos costumes, na arte e que

veicula um espírito próprio (a identidade), cabendo aos pesquisadores estudarem

essas culturas, e, mais do que verificar em que consiste uma dada cultura,

apreender o elo que une um indivíduo a uma cultura.

Dessa forma, o símbolo das criações humanas quer mostradas sob a forma

tangível, quer expressas em usos, costumes, ideias e ideais, sendo, portanto, a

soma do conhecimento humano; também é um sistema de atitudes, de juízo de

valores, de modos de pensar, sentir e agir. Sob o aspecto heterogêneo, a cultura é,

ao mesmo tempo, material e espiritual. Em outras palavras, é o modo de vida de

uma sociedade.

Por Sodré (1981), a cultura é entendida pelo nível de desenvolvimento

alcançado pela sociedade na instrução, na ciência, na literatura, na arte, na filosofia,

na moral, e as instituições correspondentes. Ainda, para Sodré (1981, p. 104),

cultura é:

[...] um fenômeno social que representa o nível alcançado pela sociedade em determinada etapa histórica: progresso, técnica, experiência de produção e de trabalho, instrução, educação, ciência, literatura, arte e instituições que lhes correspondem. Em um sentido mais restrito, compreende-se, sob o termo de cultura, o conjunto de formas de vida espiritual da sociedade, que nascem e se desenvolvem à base do modo de produção dos bens materiais historicamente determinados.

Portanto, cultura é tudo aquilo que é criado pelo esforço e pela inteligência

humana, sendo um sistema de costumes, de juízo de valores, de modos de pensar,

sentir e agir, sendo caracterizado como o modo de vivência de uma sociedade. É o

resultado das transformações humanas, a soma do conhecimento humano.

Page 27: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

28

O homem somente sobrevive inserido dentro de um grupo. No entanto, para

compreender a sua cultura, necessita estudá-lo a partir do seu grupo social, aquele

ao qual está inserido e onde desenvolve suas atividades. Isto, sem contar que, para

melhor compreender uma cultura, precisa-se também ir às suas origens; por isso,

recuperar-se as trajetórias dos grupos sociais que se sucederam.

No mundo globalizado em que se vive, a questão cultural dá o direito à

diferença. Logo, é o universo da escolha, da produção e dos valores, que decorrem

da ação social através de mecanismos de identificação. A questão cultura é o que

nos torna singulares; o patrimônio, enquanto expressão cultural, é que vai edificar os

costumes, a política, os interesses econômicos e as características do lugar, como

explica Leff (2000, p. 123):

A cultura, entendida como as formas de organização simbólica do gênero humano remete a um conjunto de valores, formações ideológicas e sistemas de significação, que orientam o desenvolvimento técnico e as práticas produtivas, e que definem os diversos estilos de vida das populações humanas no processo de assimilação e transformação da natureza.

Através da cultura, elemento de identidade de um povo e de um local, se

introduz a ideologia e os significados desta, como afirma Leff, (2000, p. 123) “[...] o

desenvolvimento local, de acordo com os processos enunciativos, respeitando a

alteridade, a partir das diferenças existentes na sociedade”.

Logo, a cultura é definida como um sistema de significados compartilhados

pelos membros de uma coletividade, que os utilizam em suas interações e relações,

sendo assim, o patrimônio arquitetônico de um lugar demonstra os traços culturais

da comunidade, onde se encontra inserido.

Dentro do enfoque pesquisado, patrimônio cultural, e analisando vários

autores, podemos conceituar cultura como sendo é uma expressão da construção

humana, é construída pelo diálogo entre as pessoas no dia a dia. Nessa interação

social, são construídos gradativamente símbolos e significados que têm sentido a

esses indivíduos e são compartilhados entre eles. A construção de uma cultura está

repleta de elementos e significados que vão identificar esse povo como pertencente

a uma determinada comunidade ou região, diferenciando-os de outras comunidades,

surge assim, a identidade cultural.

O entendimento da definição de cultura auxiliará a compreensão das raízes

culturais. Quando se refere às raízes culturais, essa está intimamente ligada a sua

Page 28: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

29

procedência, ou seja, à forma como foi construída a cultura de um povo, o que

determina que alguns elementos ou algumas manifestações culturais sejam

considerados tipicamente desse povo.

Entende-se por cultura a construção a partir das ações e inter-relações

sociais. As pessoas integradas a uma sociedade interagem umas com as outras,

trocando ideias e conhecimentos. Dessa interação, deriva a cultura desse povo, que

foi construída ao longo dos tempos. Juntos constroem uma história de vida, em que

os hábitos, costumes, manifestações, expressões, sentimentos estão inseridos,

identificando cada componente dessa sociedade e determinando o seu modo de

viver. Desse modo, que consideramos de fundamental importância a criação de

situações favoráveis que levem ao desenvolvimento dos valores culturais na

educação formal, daí a importância de valorizar a “[...] pluralidade do patrimônio

sociocultural brasileiro [...]”, (BRASIL 1997, p. 9), como propulsora das práticas

preservacionistas da cultura local.

A identidade cultural é constituída por vários elementos; entre os quais, o

cultural, o econômico, o político e o religioso. Conforme Hall (1999) uma identidade

cultural enfatiza aspectos relacionados à nossa pertença, à culturas étnicas,

religiosas, regionais e/ou nacionais.

Ao se analisar esta afirmação, este autor focaliza particularmente as

identidades culturais que referenciam às culturas nacionais. Para ele, a nação é

além de uma entidade política – o Estado –, é um sistema de representação cultural.

Noutros termos, a nação é composta de representações e símbolos que

fundamentam a constituição de uma dada identidade nacional. De acordo com Hall

(1999), as culturas nacionais produzem sentidos com os quais podemos nos

identificar e constroem, assim, suas identidades.

Esses sentidos estão contidos em estórias, memórias e imagens que servem

de referências, de nexos para a constituição de uma identidade da nação.

Entretanto, segundo Hall (1999), vivemos atualmente numa “crise de identidade” que

é decorrente do amplo processo de mudanças ocorridas nas sociedades modernas.

Tais mudanças se caracterizam pelo deslocamento das estruturas e processos

centrais dessas sociedades, abalando os antigos quadros de referência que

proporcionavam aos indivíduos uma estabilidade no mundo social.

A modernidade propicia a fragmentação da identidade. Conforme Hall (1999),

as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade

Page 29: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

30

não mais fornecem “sólidas localizações” para os indivíduos, que os alia a uma

cultura.

A formação de identidades, de acordo com Lima ett all, compõe a cultura de

um determinado grupo de pessoas, porque “[...] baseia-se em elementos discursivos

fornecidos pela história, geografia, biologia, memória coletiva, por instituições,

relações de poder, interesses, relatos e mitos, entre outros aspectos [...]” ( LIMA ett

all, 2008, p. 371).

Na perspectiva da diversidade, a diferença e a identidade tendem a serem neutralizadas, cristalizadas, essencializadas. São tomadas como dados ou fatos da vida social diante dos quais se devem tomar posições. Em geral a posição socialmente aceita e recomendada é de respeito e tolerância para com a diversidade e a diferença. Mas será que as questões da identidade e da diferença se esgotam nessa posição liberal? (SILVA, 2000, p. 73).

Já Cuche (1999), nos chama atenção quando afirma que a noção de cultura é

diferenciada da noção de identidade cultural. A cultura pode existir sem uma

estrutura de identidade. Ou seja, ela depende, em maior parte, de um processo

inconsciente.

Ainda Cuche (1999) afirma que já nascemos em determinada cultura, que

nos é imposta por via natural, e a identidade cultural nos vincula aos nossos anseios

existenciais, onde a prática do conhecimento e da vida determina nossa estrutura

identitária. Dessa forma, então, segundo Cuche (1999), entendemos que a

identidade, antes de mais nada, serve para que nos localizemos como individuo, e

localizemos pessoas ou grupos simbólicos ao nosso padrão. Mas devemos apontar

a afirmativa do autor, onde diz que a identidade cultural é de inclusão e exclusão. Da

mesma forma que ela atrai, ela segrega. Nessa concepção, a perspectiva que se

tem é que a identidade cultural se apresenta como uma modalidade categórica da

distinção entre as práticas culturais, que se baseia, nada mais, que nas diferenças

culturais." Em uma abordagem culturalista “[...] o indivíduo é levado a interiorizar os

modelos culturais que lhe são impostos, até o ponto de se identificar com seu grupo

de origem" ( CUCHE, 1999, p. 179).

Nos primórdios, já se defendia que a identidade etnocultural como sendo

fundamental a vinculação de um determinado grupo é a primeira e a mais importante

de todas as ligações da sociedade. O autor cita que para os objetivistas,

determinado grupo só pode reivindicar sua autenticidade na construção de sua

identidade cultural, se esse for dotado de língua e cultura própria, e fenótipo próprio.

Page 30: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

31

Dessa forma, a construção da identidade se faz no interior de contextos

sociais que determinam a posição dos agentes, e por isso mesmo orientam suas

representações e suas escolhas. Assim, a identidade cultural se constrói e se

reconstrói de forma constante no interior de trocas sociais, sendo que um indivíduo

que faz parte de mais de uma cultura, constrói sua própria identidade fabricando

uma síntese inédita a partir desse novo olhar. Isso resulta numa mestiçagem

cultural, já que se adicionam mais uma concepção de determinada identidade, e não

a substitui.

Segundo o antropólogo Cuche (1999), cultura e identidade são dois conceitos

que estão muito imbricados. O autor expõe que é preciso levar em conta a cultura

quando falamos em identidades, mas que é preciso separar um e outro, pois

segundo o autor, identidade cultural é uma modalidade de caracterização da

distinção nós/eles, baseada na diferença cultural. Existem várias concepções de

identidade cultural como a determinista e essencialista (objetivista), também a

subjetivista: a relacional, e a situacional que ultrapassam a dicotomia

objetivismo/subjetivismo. As concepções objetivistas de identidades culturais são

divididas em duas teorias, agenética/biológica para qual a identidade é vista como

uma condição imanente do individuo,definindo-o de maneira estável e definitiva.

As características e qualidades psicológicas são vistas como herança

biológica. E a teoria culturalista, a qual define identidade cultural pela socialização,

pela interiorização de modelos culturais que são impostos pelos grupos de origem e

recebidos de forma definitiva pelos indivíduos, com a língua, a cultura, a religião, o

território, a personalidade. Já a concepção subjetiva define a identidade como sendo

um sentimento de vinculação a uma coletividade imaginária (em maior ou menor

grau). O que define a identidade são as representações que os indivíduos fazem da

realidade social e de suas divisões (escolha arbitrária). Ou seja, as identidades

culturais são variáveis e efêmeras. Já a concepção relacional e situacional de

identidade cultural, que ultrapassa a dicotomia objetivismo e subjetivismo, tem como

um dos principais teóricos Frederik Barth que conceitua identidade como sendo uma

construção que se elabora em uma relação que opõe um grupo aos outros grupos

com os quais está em contato. Ou seja, a construção da identidade se faz no interior

de contextos sociais que determinam a posição dos agentes e orientam suas

representações e escolhas. A identidade é dotada de eficácia social e produz efeitos

sociais reais.

Page 31: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

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Por conseguinte, a identidade não é definitiva nem estática. Ela se constrói e

se reconstrói constantemente no interior das trocas sociais e ela existe sempre em

relação a outra. A identificação acompanha a diferenciação. De acordo com Cuche

(1999), uma mesma cultura pode ser instrumentalizada de modo diferente nas

diversas estratégias de identificação, como o patrimônio histórico-cultural.

No debate elencando “identidade cultural”, a ideia e o conceito de patrimônio

cultural têm constituído um espaço em comum. A associação imediata que pode, e

deve ser feita entre estes dois conceitos é, na realidade, evidente. Relacionando-se

com o valor patrimonial, o conceito de identidade tem constituído um tema central no

debate sobre a preservação dos edifícios e sítios bem como, sobre todo e qualquer

objeto classificado como patrimônio cultural.

Tomando as palavras de Rivière (1989), importante museologista francês,

afirma que o patrimônio cultural assume-se como um espelho da identidade cultural.

Um espelho que reflete a história, o passado, a cultura, as tradições e as memórias

de um determinado povo. Um espelho em cujo reflexo as populações reencontram a

sua ancestralidade, onde se revêem e reencontram. Nesse sentido, o patrimônio

cultural é uma expressão material da identidade dos povos.

Portanto identidade e patrimônio são dois conceitos que se interligam dando

lugar, nessa sua correlação, a duas ordens de questões. O patrimônio como

expressão da identidade e o problema da salvaguarda do patrimônio como forma

possível de questionar ou, eventualmente, pôr em perigo, a identidade por ele

expressa.

2.2 PATRIMONIO CULTURAL

A cultura é dinâmica, está sempre em transformação, e a partir dela

entendem-se as transformações que ocorrem, por exemplo, no patrimônio

arquitetônico de uma cidade no decorrer dos séculos, onde a cada instante vai se

refletindo o pensamento, os valores da comunidade de um determinado local.

Pellegrini (1997, p. 90-91) expõe que “[...] atualmente, o significado de

patrimônio cultural é muito amplo, incluindo outros produtos do sentir, do pensar e

do agir humano – o que no conjunto se poderia definir como o meio ambiente

artificial”. A ideia de patrimônio cultural tradicionalmente se refere à herança

composta por um complexo de bens históricos. Daí o termo, ainda hoje, referir-se à

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herança familiar. De acordo com Moraes (2005), o uso do termo como herança

social aparece na França pós-Revolucionária, quando o Estado decide proteger as

antiguidades nacionais às quais era atribuído significado para a história da nação.

De acordo com Teixeira (2004), o conjunto de bens entendidos como herança do

povo de uma nação foram, então, designados como patrimônio histórico. Importante

observar que em sua acepção original, incluía não apenas os bens imóveis, mas

também os bens móveis, tais como acervos de museus e documentos textuais.

De acordo com Silva, (2010), especialistas vêm continuamente substituindo o

conceito patrimônio histórico pela expressão patrimônio cultural. Essa noção, por

sua vez, é mais ampla, abarcando não só a herança histórica, mas também a

ecológica de uma região.

Assim, em última instância, podemos definir patrimônio cultural como

complexos de monumentos, conjuntos arquitetônicos, sítios históricos e parques

nacionais de determinado país ou região que possui valor histórico e artístico e

compõe um determinado entorno ambiental de valor patrimonial.

A definição atual de patrimônio cultural se originou no documento elaborado

pela Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural,

realizada em 1972, promovida pela Organização das Nações Unidas para a

Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Esse documento detalhou patrimônio

cultural como sendo monumentos, ou seja, as obras arquitetônicas, de esculturas ou

de pinturas monumentais, assim como elementos estruturais de caráter arqueológico

que tenham valor universal do ponto de vista da História, da Arte e das Ciências.

Durante essa Convenção, os países membros assinaram um documento se

comprometendo a proteger os locais designados como patrimônio da humanidade.

Apesar de essa obrigação ser financeiramente custosa, de acordo com Silva (2010),

muitos dos países membros não possuem recursos para custear as demandas

dessa Convenção. Das 192 nações participantes da convenção, 174 já ratificaram o

acordo, inclusive o Brasil assina o acordo, pelo do Decreto nº 80.978, de 12 de

dezembro de 1977. O motivo desse interesse político é o econômico, no sentido de

gerar prestígio internacional e incentivando o turismo.

As definições para o patrimônio cultural tendem a se tornar mais abrangentes,

sobretudo a partir da década de 1980. Esta nova perspectiva ganha um aliado de

peso na direção do Instituto do Patrimônio, Histórico, Artístico Nacional (IPHAN):

Aloísio Magalhães, que produz um profundo redimensionamento do debate em

Page 33: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

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relação às políticas culturais de preservação. Durante seu comando, o IPHAN

consolida um novo olhar a respeito do patrimônio cultural. É baseado nesse olhar

que se almeja ajustar as ações deste projeto, valorizando a cultura regional, estando

abertos para incorporar novos tipos de patrimônio que possam ser reconhecidos.

É interessante ressaltar que patrimônio cultural não se restringe à produção

material humana, mas envolve também a produção emocional e intelectual, tudo o

que permita o homem conhecer a si mesmo e ao mundo que o rodeia pode ser

chamado de bem cultural.

A crescente importância do patrimônio cultural na sociedade tem levado à

produção da literatura sobre o tema, inclusive no Brasil. Em tempos recentes, o

conceito de patrimônio cultural vem sendo valorizado, adquirindo novas dimensões e

conotações. Choay (1984) identificou, especialmente a partir da década de 1960,

uma intensificação da prática patrimonial. Esta intensificação culminou com um

alargamento da noção de patrimônio cultural, que passaria a ser subdividido em

duas categorias: o patrimônio material, voltado para os testemunhos físicos do

passado; e o patrimônio imaterial, voltado para os testemunhos do passado cuja

importância não estaria na dimensão física – para os saberes, tradições orais,

modos de fazer e ritos. Fonseca (2003, p. 66) destaca as diferenças entre o

patrimônio material e imaterial:

Talvez o melhor exemplo para ilustrar a especificidade do que se esta entendendo por patrimônio imaterial [...] seja a arte dos repentistas. Embora a presença física dos cantadores e de seus instrumentos seja imprescindível para a realização do repente, é a capacidade de os atores utilizarem de improviso, as técnicas de composição dos versos [...] que produz a cada “performance”, um repente diferente. Nesse caso, estamos no domínio absoluto do aqui e agora, tampouco sem possibilidade, a não ser por meio de algum registro audiovisual, de perpetuar esse momento.

Esses bens materiais e imateriais que formam o patrimônio cultural são,

portanto, os modos específicos de criar e fazer, como as descobertas e as criações

da ciência, nas artes e na tecnologia, as construções, incluindo bens imóveis e bens

móveis como obras de arte ou artesanato; as criações imateriais como a literatura, a

música e a dança; as expressões e os modos de viver, como a linguagem e os

costumes; os locais dotados de expressivo valor para a história, a arqueologia, a

paleontologia e a ciência em geral, assim como as paisagens e as áreas de proteção

ecológica da fauna e da flora. Pessoa reforça o sentido da importância do patrimônio

cultural, afirmando que este é um:

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Instrumento na construção da nacionalidade nas sociedades modernas, o patrimônio histórico e artístico [...] é o documento de identidade da nação brasileira. A subsistência dele é que comprova, melhor que qualquer outra coisa, nosso direito de propriedade sobre o território que habitamos. Ele é testemunho dos processos de ocupação do Brasil, das técnicas construtivas do passado, dos modos de vida e dos episódios fundamentais da nossa história, mas principalmente tem qualidades plásticas que interessam ao olhar contemporâneo. (Pessoa, 2000, p. 42).

Dessa forma, ao investigar o patrimônio cultural de uma determinada região,

este deve, num primeiro momento, estar diretamente ligado à identidade do grupo, o

qual representa. Nessa temática, ressaltamos o patrimônio cultural como inerente à

memória coletiva, que garante a identidade do povo, assegurando a reprodução

social agindo na construção cultural e na formação de uma imagem regional,

reforçando a identidade individual e coletiva, ao mesmo tempo em que representa e

tenta integrar a ideologia do povo. O conceito de patrimônio nos remete ao conceito

de memória quando se trata da preservação do mesmo. Como afirma Macedo

(1999, p. 17). “A destruição da memória afeta não apenas o passado, como também

o futuro. Para mim, a memória é a forma mais alta da Imaginação Humana, não

apenas a capacidade automática de recordar. Se a memória se dissolve, o homem

se dissolve.”

A partir da memória também são determinadas as relações entre os

indivíduos, em que são feitas as opções do que deve ser preservado do patrimônio

cultural, definindo os elementos representativos de uma comunidade. O patrimônio

arquitetônico, que também faz parte do legado cultural, é a forma edificada da

identidade de um povo. Le Goff (1996, p. 476-477) contempla esta definição, ao

dizer que:

A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia. [...] A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens.

Dessa maneira, a memória relembra o passado para revelar presente e

garantir a identidade. Em sua dimensão coletiva, estão gravados nos bens culturais:

dos monumentos aos depoimentos das pessoas, através de lembranças, fotografias,

vídeos, livros, objetos e demais registros, que buscam tornar memoráveis os

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acontecimentos de uma localidade. O empenho em se conservar o patrimônio

cultural está relacionado a vários fatores, tais como: o político, econômico e social.

Para Barreto (2000), determinar o que deve ser preservado é uma decisão

político-ideológica. Essa decisão deve refletir os valores e as opiniões da

comunidade, envolvendo os elementos que devem ser tidos como representativos

de uma determinada sociedade.

A esfera política necessita manter diálogo constante com a comunidade, para

que, juntos, possam decidir o que deve ser preservado ou não dos bens culturais da

cidade. Canclini (1998) argumenta que os bens culturais de uma nação devem ser

preservados e restaurados. De acordo com Canclini (1998, p. 160):

Esse conjunto de bens e práticas tradicionais que nos identificam como nação ou como povo é apreciado como um dom, algo que recebemos do passado com tal prestígio simbólico que não cabe discuti-lo. As únicas operações possíveis – preservá-lo, restaurá-lo, difundi-lo – são a base mais secreta da simulação social que nos mantém juntos. [...] A perenidade desses bens leva a imaginar que seu valor é inquestionável e torna-os fontes do consenso coletivo, para além das divisões entre classes, etnias e grupos que cindem a sociedade e diferenciam os modos de apropriar-se do patrimônio.

Para tanto, destacam-se as políticas públicas e o processo educacional, no

sentido de ultrapassar o conhecimento restrito sobre patrimônio cultural. Devem-se

transformar aqueles recortes do passado para o conhecimento crítico da História,

sempre se preocupando em estabelecer formas de trabalhar a relação cidadania e

educação patrimonial, pois não há como valorizar o passado sem a tomada da

consciência político-social, assim como não há tomada de consciência pelos

cidadãos sem o conhecimento da história da sociedade.

2.3 LEIS DO PATRIMÔNIO CULTURAL NO BRASIL NAS TRÊS ESFERAS CONSTITUCIONAIS

Nas reflexões sobre patrimônio cultural registra-se o conflito de

tendências político-ideológicas sobre o papel do Estado, o interesse público e

os direitos da sociedade e do cidadão, porque trata da socialização cultural

desses bens. Portanto, a preservação ocorre por meio de dispositivos

constitucionais de proteção ao patrimônio cultural, estabelecidos em leis

previstas no âmbito nacional, estadual e municipal.

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No Brasil, a Constituição Federal de 1988 estabelece que o poder

público, com a cooperação da comunidade, deve promover e proteger o seu

patrimônio cultural. Abaixo estão elencadas as leis que protegem o patrimônio

cultural no âmbito federal, estadual e municipal.

2.3.1 Leis do Patrimônio Cultural no Âmbito Federal

O primeiro órgão, voltado para a preservação do patrimônio no Brasil, foi

criado em 1933, como uma entidade vinculada ao Museu Histórico Nacional. Era

a Inspetoria de Monumentos Nacionais (IPM), instituída pelo Decreto n° 24.735,

de 14 de julho de 1934, como uma entidade vinculada ao Museu Histórico Nacional,

e tinha como principais finalidades impedir que objetos antigos, referentes à história

nacional fossem retirados do país em virtude do comércio de antiguidades, e que as

edificações monumentais fossem destruídas por conta das reformas urbanas, a

pretexto de modernização das cidades.

A Lei n.º 378 cria em 13 de janeiro de 1937, pelo Ministério da Educação, o

Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), sob a direção de

Rodrigo Melo Franco de Andrade, que contou com vários colaboradores, intelectuais

e artistas, entre os quais, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drumond de

Andrade (BRASÍLIA, 1998, p. 9).

Na década de 1970, com a criação da Fundação Nacional Pró-Memória, o

comando passa para Aloísio Magalhães, adquirindo novo dinamismo, com base em

uma concepção mais ampla dos bens culturais. Esse período caracterizou-se por

reformulações do SPHAN sobre sua ação patrimonial, introduzindo-se na formulação

e na prática da política cultural, as noções de memória, civilização material e bem

cultural, onde se criou o Instituto Brasileiro do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional (IPHAN), vinculado ao Ministério da Cultura vigente até os dias atuais. O

IPHAN tem como função, fiscalizar, proteger, identificar, restaurar, preservar e

desenvolver projetos de revitalização dos bens patrimoniais nacionais, além de

administrar bibliotecas, arquivos e museus. Sendo responsável pela proteção

desses valores, concentra-se na supervisão dos cuidados com esse acervo,

trabalhando de forma normatizadora, com o intuito de difundir e educar a

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coletividade para zelar pelo seu patrimônio, através da educação patrimonial.

(BRASÍLIA, 1998, p. 13)

A legitimação, no que se refere ao tombamento e conservação do patrimônio

histórico, encontra amparo legal na Constituição de 1988, em vários de seus

trechos, como o Art. 216, que define o patrimônio cultural e delega, em seus

parágrafos, as responsabilidades do poder público e da comunidade com a proteção

deste patrimônio.

Artigo 216 - Constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I. as formas de expressão; II. os modos de criar, fazer e viver; III. as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV. as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V. os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. § 1°. O Poder Público, com a colaboração da comunid ade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. § 2°. Cabem à administração pública, na forma da le i, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem. § 3°. A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais. § 4°. Os danos e ameaças ao patrimônio cultural ser ão punidos, na forma da lei. § 5°. Ficam tombados todos os documentos e os sítio s detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos. (www.iphan.gov.br)

A Constituição de 1988 trouxe alguns avanços no que se refere à preservação

do patrimônio nacional. É o que expõe Mariani (1992, p. 2):

A Constituição salienta que são objeto de proteção do Governo brasileiro bens pertencentes a todos os segmentos sociais, sejam representativos das elites, sejam das camadas populares, sejam de grupos ou etnias como os imigrantes, a cultura indígena ou negra. Importa é que façam parte de nossa história e ajudem a identificar o que é o Brasil.

Entende-se, dessa forma, que a legislação fornece amparo legal para

proteção do patrimônio cultural, mas as administrações públicas regionais é que

deverão zelar pela sua conservação através da criação de órgãos de fiscalização.

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2.3.2 Leis do Patrimônio Cultural no Âmbito Estadual

Em se tratando de Estado, a atuação do IPHAN no Paraná se dá através da

10ª SR Superintendência Regional (SR) em Curitiba. De acordo com o decreto-lei

Federal n.º 99.602 de 13 de outubro de 1990, as Superintendências Regionais

devem:

I - executar, por intermédio das prefeituras, ou diretamente, o controle e a fiscalização dos conjuntos e núcleos tombados; II - elaborar e propor o tombamento de bens culturais; III - exercer a fiscalização e a liberação de bens culturais; IV - determinar o embargo de ações que contrariam a legislação em vigor: V - executar diretamente a identificação, o cadastramento, o controle e a fiscalização do patrimônio arqueológico em sua área de atuação; VI - contribuir para a formação da política de preservação do patrimônio cultural, propor normas e procedimentos e desenvolver metodologias, refletindo a pluralidade e diversidade cultural brasileira. (www.iphan.gov.br)

Em suas ações, no Estado do Paraná, o IPHAN desenvolveu projetos de

tombamento de bens, como por exemplo: o Museu Casa Lacerda, na Lapa, o Teatro

São João, também na Lapa; a Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, na Ilha do

Mel; e o antigo Colégio Jesuíta, em Paranaguá. Mantém ainda um arquivo para

pesquisa com 1.540 livros nas áreas de história do Paraná, arquitetura, urbanismo,

patrimônio cultural, documentos, recortes e cartazes. Realizam também seminários,

exposições, atividades educativo-culturais em parceria com escolas, além de

publicações, importantes resgates históricos que merecem ser registrados.

A 10ª Superintendência Regional Paranaense, dessa forma, tem contribuído

efetivamente para o esclarecimento acerca da importância da preservação, no

Estado. O Estado do Paraná está amparado legalmente na Lei n.º 1.211, de 16 de

setembro de 1953 que dispõe sobre o Patrimônio Histórico Artístico e Natural do

Estado do Paraná, que o define, em seu art. 1º como:

O conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no Estado e cuja conservação seja de interesse público, que por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Paraná, que por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico, assim como os monumentos naturais, os sítios e paisagens que importa conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana. (BRASIL. Decreto-lei n.º 1211)

Administra seu patrimônio por meio da Secretaria de Estado da Cultura

(SEEC), que conta com o Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico e

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com a Coordenadoria do Patrimônio Cultural, regulamentados pelo Decreto n.º

6.528/90, que segue:

Do Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico Art. 11 - Ao Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico, órgão consultivo e normativo da política referente ao patrimônio histórico e artístico, instituído pela Lei n.º 112, de 15 de outubro de 1948, compete a colaboração na formulação, no acompanhamento e na execução dos projetos desenvolvidos pela Secretaria nesta área; Art. 12 - O Conselho será presidido pelo Secretário de Estado da Cultura e constituído por mais 10 (dez) membros efetivos e 10 (dez) suplentes, indicados pelo titular da Pasta entre as pessoas domiciliadas no Paraná e de notório reconhecimento na área do patrimônio natural, histórico e artístico, e nomeado pelo Governador do Estado. Da Coordenadoria do Patrimônio Cultural: Art. 25 - À Coordenadoria do Patrimônio Cultural compete: I - o apoio e a orientação técnica em assuntos relativos ao patrimônio histórico, ecológico e artístico; II - a promoção das medidas necessárias para o tombamento, a recuperação, a restauração, a conservação e a preservação de bens históricos, artísticos e arquitetônicos, sítios arqueológicos e áreas de interesse ecológico ou paisagístico; III - a promoção das medidas necessárias para a restauração de bens imóveis; IV - a organização de eventos de interesse da unidade; V - o assessoramento às administrações municipais para a orientação de atos legais e administrativos, visando à preservação e à conservação da memória regional e local; VI - o desempenho de outras atividades correlatas.

É através desses órgãos, preocupados com a preservação do patrimônio, que

os municípios paranaenses têm mantido referenciais de sua cultura.

2.3.3 Leis do Patrimônio Cultural no Âmbito Municipal

A Constituição de 1988 dispõe sobre os municípios: Art. 30º - Compete aos

Municípios: IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local,

observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. Cabe-lhes a

execução e a proteção dos bens culturais, como afirma Castro (1991 p. 20-21):

[...] os municípios, não obstante continuem a ter competência executiva para a proteção de seus bens culturais, perderam a autonomia legislativa ampla que lhes era atribuída pelas Constituições anteriores, já que terão que observar as normas gerais para a proteção, de âmbito federal, bem como as normas estaduais sobre o assunto; resta-lhes, portanto, observadas as normas referidas, suplantar a legislação no que lhes for especificamente local.

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Dessa forma, aos municípios cabe a observação contínua do patrimônio,

através de coordenadorias, conselhos ou qualquer outra instituição que possa servir

de ponte entre a administração pública, que subsidia as ações técnicas para

restaurações e conservação do patrimônio, e a comunidade, que identifica e fiscaliza

sua proteção.

No caso de São Mateus do Sul, a lei que protege o patrimônio cultural do

município está elencada no Art. 158, da Lei Orgânica Municipal (1990, p. 55):

Os bens materiais e imateriais referentes às características da cultura no Paraná constituem patrimônio comum que deverá ser preservado através do Município com a cooperação da comunidade, também o Município deverá dar atenção especial às suas instituições culturais, especialmente no que diz respeito a Biblioteca e Artes.

As possibilidades de proteção ao patrimônio definem-se pelos interesses do

Estado e dos setores privados, mas é necessária a participação ativa dos

movimentos sociais nessa tarefa, criando órgãos, associações, instituições e

conselhos que vão agir diretamente com as competências políticas, exercendo uma

pressão em relação à preservação dos bens culturais patrimoniais.

Ações estaduais, municipais, acadêmicas e cidadãs devem surgir para que

chame a atenção em relação ao problema enfatizado por Fernandes (1997, p. 128):

No Brasil, onde a máxima de ser um país sem memória, constitui uma ideia já cristalizada, essas iniciativas devem ser louvadas e apoiadas, [...] a partir de meados dos anos 70 e por toda a década de 80, assistimos à emergência dos movimentos sociais populares, protagonizados pela mobilização de trabalhadores, mulheres, negros, índios, homossexuais etc., que até hoje, reivindicam para si o alcance e o exercício dos direitos de cidadania e a participação política no processo decisório nacional. Esses movimentos colocam na ordem do dia o interesse pelo resgate de sua memória, como instrumento de luta e afirmação de sua identidade étnica e cultural.

Nesse sentido, quando se considera o patrimônio cultural como alicerce para

o desenvolvimento da cidadania, deve-se reconhecer o direito à memória histórica e

a necessidade de contribuir para a preservação dos bens culturais existentes no

país. Considera-se finalmente que a preservação do patrimônio cultural deve ser

uma prática social que acrescenta novos bens, valores e processos culturais à

experiência da comunidade envolvida, com apoio das esferas: federal, estadual e

municipal.

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Portanto, o patrimônio resultante da preservação deve legitimar para as

sociedades sua história, fortalecer seus valores, signos, identidades, crenças e seu

bem-estar, pois frequentemente a ação preservacionista é associada à mobilização

por melhor qualidade de vida.

A melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento nos municípios

dependem em parte do conhecimento e valorização da cultura que nos cerca. Tão

importante quanto preservar, é desenvolver o sentimento de pertencimento e

respeito pelos lugares, que fazem parte do cotidiano.

2.4 A RELAÇÃO ENTRE CULTURA E DESENVOLVIMENTO

Nos últimos anos, a questão cultural vem ganhando destaque no Brasil, isto

porque avistamos cultura em toda a trama social. A cultura humana é tudo que

resulta da ação humana, de suas interferências sobre o mundo; é tudo que torna

visível o pensamento do homem sobre si mesmo e sobre o ambiente que o cerca.

Segundo Miguez (2009, p. 25), “[...] a questão da cultura se encontra na

agenda contemporânea, na academia”. A cultura ultrapassou os limites das ciências

sociais e apresenta-se, crescentemente, como elemento de muitas outras

disciplinas, nas agendas nacionais, aparecem com força à questão das políticas

culturais, nos foros internacionais, e mobilizando ações dos governos. Tornou-se um

recurso para promover a inclusão social, para requalificar centros urbanos, para

estimular o crescimento econômico e para ativar políticas que se ocupam do

desenvolvimento. Ainda Miguez (2009) indaga: “Mas o que quer, e o que pode

significar a relação entre cultura e desenvolvimento?”

Essa relação implica que o desenvolvimento cultural deve ser entendido como

desenvolvimento da dimensão simbólica em geral e das artes em particular, a

ampliação do acesso pleno aos bens e serviços culturais e a sua completa

universalização para todos os brasileiros, junto ao fortalecimento da economia da

cultura, os quais são partes indissociáveis desse processo.

Certamente que as enormes possibilidades econômicas que procedem da

cultura não podem ser esquecidas pelas políticas de desenvolvimento. Mesmo que o

potencial de geração de riquezas e de empregos representado pela cultura não

possa ser compreendido e operacionalizado por políticas dedicadas ao

desenvolvimento sem que se tenha como referência uma visão da cultura, enquanto

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dimensão constitutiva da vida social, uma usina geradora de riquezas simbólicas.

Não se pode buscar o desenvolvimento tendo como eixo principal o crescimento

econômico, assentado no estímulo às atividades produtivas ligadas à cultura.

Além disso, a cultura desempenha um papel importante para o

desenvolvimento que não se restringe apenas à dimensão econômica, pois é capaz

de construir ou reconstruir identidades, elevar a autoestima individual e coletiva,

adicionar valor ao patrimônio existencial humano.

De acordo com Thompson (1995, p. 165), “[...] o estudo dos fenômenos

culturais pode ser pensado como o estudo sócio-histórico constituído de um campo

de significados.” Em sua análise, este autor coloca que a cultura não se relaciona

somente aos fenômenos culturais, mas também com questões sócio-históricas.

Miranda (2009, p. 181) relaciona o desenvolvimento à cultura, ao pensamento de

Furtado, o qual definia cultura como:

[...] parte integrante do desenvolvimento, tanto que apontava a necessidade de um esforço de manutenção da diversidade cultural para evitar sucumbir à pressão cultural e ideológica subjacente à produção, aos produtos e aos interesses do mercado.

A cultura de um povo expressa a qualidade de seu desenvolvimento, afirma

Furtado (1974). Todas as inovações são elementos culturais. Cultura e

desenvolvimento são conceitos e processos necessariamente interligados e

necessariamente compartilhados por todos.

Portanto, o patrimônio cultural pode ser considerado o resultado coletivo do

processo de invenção cultural inscrito no curso do desenvolvimento da sociedade,

que inclui também os hábitos, os costumes, as formas de vida cotidiana da

sociedade e a sua memória. Dessa forma, a necessidade de sua conservação é um

indispensável para a preservação da história e do desenvolvimento da sociedade. A

memória social deve ser construída coletivamente, sem o abandono das

singularidades e ou da pluralidade cultural dos lugares. Recorrendo a Celso Furtado,

Miranda (2009, p. 182) conceitua desenvolvimento como:

Quando a capacidade criativa do homem se volta para a descoberta de sua potencialidade, ele se empenha em enriquecer o universo que gerou e suas coletividades, produz o que chamamos de desenvolvimento. Eis o que podemos fazer com a nossa economia das culturas.

Por conseguinte, parte-se da perspectiva de que a dimensão e o

entendimento de cultura estão cada vez mais vinculados ao desenvolvimento, visto

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44

que a cultura, antes conjugada apenas como a organização política administrativa,

mais tarde passou a ser relacionada com o interior do ser humano e passou a

compreender, também, um povo, nação ou território. Posteriormente, o conceito se

enriqueceu tornando-se uma representação transversal relacionada com o

desenvolvimento.

Entretanto, acentua Miranda (2009, p. 87) que o “[...] discernimento sobre

identidade cultural vem se transformando ao longo do processo civilizatório”. Isto

ocorre porque a essência do desenvolvimento de uma sociedade em determinado

local emana do conjunto de identidades formadoras da cultura de um povo e que

fazem parte de seu patrimônio cultural.

Portanto, tomando como parâmetro o processo de evolução social da

atualidade, não se pode fazer diferença entre desenvolvimento econômico, cultural e

tecnológico, já que uma das principais dificuldades da sociedade contemporânea é

considerar todos os aspectos que envolvem o desenvolvimento, visto que a cultura

importa para o desenvolvimento. Para Faria (2001, p. 43), “[...] é dela que emanam

propostas que resgatam a criação da identidade, envolvendo grupos sociais,

mapeando a cultura e buscando raízes dentro do território.”

Nesse sentido, podemos considerar, também, que a cultura aliada à

educação, podem ser propulsoras do desenvolvimento local, pois colaboram na

qualidade de vida e está inserida no valor simbólico do patrimônio cultural da

sociedade.

2.5 EDUCAÇÃO

A educação tem um papel importante no processo de humanização do

homem e de transformação social. Dessa forma, a evolução da educação está

intrinsecamente ligada à evolução e à cultura da sociedade. Gadotti (1999) coloca

que a prática da educação é anterior ao pensamento pedagógico. Este que surge

com a reflexão sobre a prática, pela necessidade de sistematizá-la e organizá-la em

função de determinados fins e objetivos.

Como proposta educativa, citamos Freire (2007) que propõe uma educação

libertadora e problematizadora do conhecimento, que proporcione a emancipação

dos educandos ao mesmo tempo em que promova a autonomia e a consciência

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45

crítica dos mesmos. Pois, como alerta Freire (2007), ninguém se educa sozinho, os

homens se educam em comunhão.

No âmbito da educação escolar, entende-se que, desde quando a

sociedade é percebida como um grupo organizado, na qual construiu certa

identidade e história, vem conseguindo identificar formas de agir coletivo na busca

de desenvolver em crianças e jovens habilidades e conhecimentos que facilitem a

convivência em grupo. Esses processos de formação social nos mais variados

tempos e espaços constituem uma prática universalmente conhecida como

educação. De acordo com Brandão (2000), assim não se têm problemas em

compreender o caráter da prática social da educação, porém a identidade da

educação como campo de produção de conhecimento sistematizado merece receber

maior atenção, investimento e ser melhor investigada e desenvolvida, como é o caso

da educação patrimonial, onde o patrimônio, em sua materialidade, é explorado

enquanto recurso educativo.

2.6 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

Um dos principais objetivos da Educação brasileira prevista pela Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei 9394 de 20 de Dezembro de

1996, é o preparo para o exercício da cidadania.

Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. (BRASIL, 1996).

Mas essa prática somente se consolidará se dentro do ambiente escolar

houver atividades voltadas para esse fim, práticas que levem os alunos a

desenvolverem noções de ética e práticas de cidadania. A escola nesse momento

tem um papel de responsabilidade social, sendo que a educação se faz necessária,

enquanto instrumento de alfabetização cultural, que capacita o indivíduo à leitura e

compreensão da sociedade e cultura em que está inserido.

Todavia, o conhecimento e a assimilação pela comunidade escolar são

fatores indispensáveis ao processo de preservação do patrimônio cultural de um

determinado local. Essa forma de valorização e de troca possibilita a geração e

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produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de enriquecimento

individual, coletivo e institucional, sendo um instrumento de afirmação da cidadania.

Para Jeudy (1990, p. 2), “[...] o patrimônio não se restringe ao monumento, ele busca

um novo caminho que é o das memórias coletivas.” Entretanto, existe uma

importância do patrimônio como um conceito intrinsecamente educativo, pois sua

contribuição surge por permitir uma relação entre o coletivo e a escola, afetando

diretamente o processo de ensino-aprendizagem. Por esse caminho, é possível

entender a importância de se levar tal discussão para a esfera escolar, pois

valorização do patrimônio cultural em sua complexidade e amplitude pode ser um

elemento enriquecedor do processo de ensino aprendizagem.

De acordo com Moraes (2005), a educação patrimonial, tradução do heritage

education – expressão inglesa surge no Brasil em meio a importantes discussões da

necessidade de se aprofundar o conhecimento e a preservação do patrimônio

cultural. Foi em 1983 que se iniciam efetivamente as ações de educação patrimonial

por ocasião do 1º Seminário sobre o “Uso Educacional de Museus e Monumentos”,

no Museu Imperial de Petrópolis-RJ. O princípio básico da educação patrimonial,

segundo Horta et all (1999, p. 6):

Trata-se de um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento individual e coletivo. A partir da experiência e do contato direto com as evidências e manifestações da cultura, em todos os seus múltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho de Educação Patrimonial busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto desses bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural.

Desse modo, a educação patrimonial possibilita interpretar os bens culturais,

tornando-os um elemento importante de promoção e vivência da cidadania. Em

função disso, gera a responsabilidade na busca, de valorizar e preservar o

patrimônio cultural.

A educação formal, enquanto elemento reconhecedor do patrimônio cultural,

tem o papel de desenvolver práticas pedagógicas voltadas para o reconhecimento

dos bens patrimoniais e de sua valorização ativa e consciente, promovendo atitudes

que levem em conta um melhor relacionamento dos cidadãos com o patrimônio que

faz parte de sua vida, assim exercitando a prática da cidadania participativa e a

construção do conhecimento atrelado aos verdadeiros interesses populares.

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47

É comum se referir ao patrimônio cultural como o que é encontrado apenas

nos museus. Desmistificar essa ideia seria a proposta da educação, que levaria os

alunos a descobrirem a importância de valorizarem esse patrimônio, redescobrindo

os marcos culturais e tomar conhecimento de sua história, bem como a necessidade

de uma política pública de conservação do patrimônio, também fazem parte do

exercício.

A educação patrimonial é uma prática educativa utilizada para a apropriação

dos bens culturais que compõe o patrimônio cultural, contudo mostra que uma

sociedade organizada é a maior geradora de ações educativas no que tange à

importância e à valorização do patrimônio cultural de uma região.

As ações envolvendo o patrimônio cultural de uma região, desenvolvidas em

sala de aula, são instigantes, pois existem desafios principalmente na necessidade

em construir um currículo que privilegie as ações centradas na sua valorização. É

evidente que a importância da valorização do patrimônio, entendida como todos os

bens de natureza material e imaterial portadores da identidade dos diferentes grupos

sociais, é um importante instrumento educacional ao exercício da cidadania.

Segundo Casco (2006, p. 2):

Elaborar projetos educativos voltados para a disseminação de valores culturais, formas e mecanismos de resgate, preservação e salvaguarda, assim como para a recriação e transmissão desse patrimônio às gerações futuras é, sobretudo, um projeto de formação de cidadãos livres, autônomos e sabedores de seus direitos e deveres.

Apesar de existir o reconhecimento da importância e de valorização do

patrimônio histórico cultural, atividades educativas nas escolas voltadas para esse

fim, estudos acadêmicos e livros didáticos que problematizem essa temática, ainda

são poucos. Segundo Soares (2008, p. 8) “[...] muito há o que se fazer em termos de

educação para o patrimônio”.

Dessa forma, podemos considerar que a cultura e a educação deveriam ser

vinculadas naquilo que segundo Itaqui (2000), chama de políticas de

desenvolvimento, organizador e articulador das instâncias do fazer comunitário,

processo no qual a educação não está acima ou abaixo, mas no centro sinérgico

das relações estruturantes de uma sociedade irmanada no respeito e defesa da

vida.

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48

2.7 TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO BRASIL

Na década de 1920, período que marca o surgimento do Movimento

Modernista no Brasil, já se falava da necessidade da preservação do nosso

passado. O poeta Mário de Andrade, em seus discursos, afirmava o valor do nosso

patrimônio histórico como forma de construir uma identidade nacional, baseando-se

na pluralidade das nossas raízes étnicas. Somente a partir do conhecimento da

cultura e toda a sua grandeza, daria condições de inserir o Brasil no rol das nações

desenvolvidas, mas, para isso, o trabalho deveria iniciar das bases, ou seja, através

do processo educacional. O poeta Mário de Andrade (1922, s/p) dizia:

O ensino primário é imprescindível [...] Não basta ensinar o analfabeto a ler. É preciso dar-lhe contemporaneamente o elemento em que possa exercer a faculdade que adquiriu. Defender o nosso Patrimônio Histórico e Artístico é alfabetização.

De acordo com Horta (1999, p. 6), a educação tem o papel de norteadora,

criando “[...] um instrumento de alfabetização cultural, que possibilita ao indivíduo

fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo

sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido”.

Em termos metodológicos, a educação patrimonial se utiliza dos lugares e

suportes da memória, como museus, monumentos históricos ou arquivos, para

auxiliar no processo educativo, a fim de desenvolver a sensibilidade e a consciência

do aluno e do cidadão para a importância da preservação desses bens culturais.

A educação patrimonial nada mais é do que uma proposta interdisciplinar de

ensino, voltada para questões pertinentes ao patrimônio cultural, a fim de propiciar

informações acerca do acervo cultural, de forma a habilitá-los a despertar, no

educando e na sociedade, o senso de preservação e da valorização da memória

histórica.

A metodologia da educação patrimonial foi introduzida no Brasil pela

museóloga Horta em 1983, por ocasião do 1º Seminário sobre o “Uso Educacional

de Museus e Monumentos”, organizado pelo Museu Imperial, em Petrópolis, no Rio

de Janeiro (HORTA et al, 1999, p. 6):

Concebida como proposta de desenvolvimento de ações educacionais voltadas para o uso e apropriação dos bens culturais que compõem o Patrimônio Cultura Local, esta metodologia teve seu berço na Inglaterra, sob a denominação Heritage Education. [...] Sendo a premissa básica das ações de Educação Patrimonial o uso do bem cultural como fonte primária da aprendizagem, espera-se com este contato o conhecimento crítico e a

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49

apropriação consciente pela comunidade do seu patrimônio para a preservação sustentável destes bens e fortalecimento de sentimentos como identidade e cidadania.

A partir daí, várias atividades foram criadas, com o objetivo de obter materiais

para aperfeiçoar o conhecimento acerca dessa temática. Somente a partir da

promulgação da constituição brasileira de 1988, é que as ações educacionais

voltadas para o uso e a apropriação dos bens culturais integrantes do nosso

patrimônio cultural receberam estímulos. (BASTOS, 2002).

A regulamentação dos sistemas educativos no Brasil é resultante da criação

de uma nova LDB em 1996 e da adoção dos Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCN), a partir de 1997, que atenderam transformações processadas na sociedade

(BITTENCOURT, 1992).

Os PCNs2 para o Ensino Fundamental, elaborados pelo Ministério da

Educação e Cultura (MEC), apresentam uma inovação, ao consentir a necessária

interdisciplinaridade na educação básica, mediante a introdução dos chamados

“temas transversais”, que deverão perpassar as diferentes disciplinas escolares. Um

desses temas transversais, a pluralidade cultural, possibilita à escola o estudo do

patrimônio histórico e a consequente adoção de projetos de educação patrimonial.

2.8 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: A IMPORTÂNCIA DA INTERDISCIPLINARIDADE NOS CURRÍCULOS ESCOLARES

De acordo com os PCNs, a educação patrimonial é uma proposta

interdisciplinar de ensino voltada para temas pertencentes ao patrimônio cultural. De

acordo com Oriá (2005, p. 56):

Compreende desde a inclusão, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, de temáticas ou de conteúdos programáticos que versem sobre o conhecimento e a conservação do patrimônio histórico, até a realização de cursos de aperfeiçoamento e extensão para os educadores e a comunidade em geral, a fim de lhes propiciar informações acerca do acervo cultural, de forma a habilitá-los a despertar, nos educandos e na sociedade, o senso de preservação da memória histórica e o consequente interesse pelo tema.

Trabalhar o patrimônio cultural nas escolas, por meio de outras

áreas/disciplinas, dificilmente é percebido pelos docentes das demais disciplinas do

2 O Paraná substituiu os Parâmetros Curriculares pelas Diretrizes Curriculares Estaduais, desde o ano de 2006.

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50

currículo escolar (HORTA, 2005). Também dificuldades aparecem quando os

docentes precisam pensar interdisciplinarmente, porque toda a sua aprendizagem

realizou-se dentro de um currículo compartimentado. Os docentes não se sentem

aptos a desenvolver projetos temáticos, que pressupõem intenso trabalho coletivo e

podem implicar a perda da predominância de tarefas e avaliações individualizadas

(OLIVEIRA, et al, 2003).

Além disso, os currículos escolares são habitualmente sobrecarregados com

disciplinas que competem entre si por limitação do tempo em sala de aula e pelas

normas oficiais estabelecidas. Os objetos patrimoniais são recursos educacionais

importantes, pois permitem a ultrapassagem dos limites de cada área/disciplina, e o

aprendizado de habilidades e temas que serão importantes para a vida dos alunos.

Desta forma, podem ser usados como motivadores para qualquer área do currículo

ou para reunir áreas aparentemente distantes no processo ensino/aprendizagem

(HORTA, 2005).

No entanto, retoma-se o entendimento de que currículo é o conjunto de

valores e práticas que proporcionam a produção e a socialização de significados no

espaço social e que contribuem, intensamente, para a construção de identidades

sociais e culturais dos estudantes. E reitera-se que deve difundir os valores

fundamentais do interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos, do respeito

ao bem comum e a ordem democrática, bem como considerar as condições de

escolaridade dos estudantes em cada estabelecimento, a orientação para o trabalho,

a promoção de práticas educativas formais e não-formais.

Na organização do currículo, a abordagem interdisciplinar requer a atenção

criteriosa da instituição escolar, porque revelam a visão de mundo que orienta as

praticas pedagógicas dos educadores e organizam o trabalho do estudante.

Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN, 2010, p. 23), perpassam

todos os aspectos da organização escolar, “[...] desde o planejamento do trabalho

pedagógico, a gestão administrativo-acadêmica, até a organização do tempo e do

espaço físico e a seleção, disposição e utilização dos equipamentos e mobiliário da

instituição”, ou seja, todo o conjunto das atividades que se realizam no espaço

escolar, em seus diferentes âmbitos.

Nicolescu (2000), afirma que a interdisciplinaridade pressupõe a transferência

de métodos de uma disciplina para outra. Pela abordagem interdisciplinar ocorre a

transversalidade do conhecimento constitutivo de diferentes disciplinas, por meio da

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51

ação didático-pedagógica mediada pela pedagogia dos projetos temáticos. Estes

facilitam a organização coletiva e cooperativa do trabalho pedagógico. Segundo as

DCNs (2010):

Art. 24 A necessária integração dos conhecimentos escolares no currículo favorece a sua contextualização e aproxima o processo educativo das experiências dos alunos. § 1º A oportunidade de conhecer e analisar experiências assentadas em diversas concepções de currículo integrado e interdisciplinar oferecerá aos docentes subsídios para desenvolver propostas pedagógicas que avancem na direção de um trabalho colaborativo, capaz de superar a fragmentação dos componentes curriculares. § 2º Constituem exemplos de possibilidades de integração do currículo, entre outros, as propostas curriculares ordenadas em torno de grandes eixos articuladores, projetos interdisciplinares com base em temas geradores formulados a partir de questões da comunidade e articulados aos componentes curriculares e às áreas de conhecimento, currículos em rede, propostas ordenadas em torno de conceitos-chave ou conceitos nucleares que permitam trabalhar as questões cognitivas e as questões culturais numa perspectiva transversal, e projetos de trabalho com diversas acepções. (BRASIL, 2010, p. 7).

A interdisciplinaridade é, portanto, entendida aqui como abordagem teórico-

metodológica em que a ênfase incide sobre o trabalho de integração das diferentes

áreas do conhecimento, “[...] um real trabalho de cooperação e troca, aberto ao

diálogo e ao planejamento” (NOGUEIRA, 2001, p. 27). Essa orientação deve ser

enriquecida, por meio de proposta temática trabalhada transversalmente, e se

expressa por meio de uma atitude que pressupõe planejamento sistemático e

integrado.

2.8.1 A Transversalidade e a Interdisciplinaridade, segundo os PCNs

De acordo com Moraes (2005, p. 7), “[...] a transversalidade mantém uma

relação com a interdisciplinaridade bastante difundida pela Pedagogia”. São modos

de se trabalhar o conhecimento, buscando uma reintegração de aspectos que

ficaram isolados uns dos outros pelo tratamento disciplinar. “Com isso, busca-se

conseguir uma visão mais ampla e adequada da realidade, que tantas vezes

aparece fragmentada pelos meios de que dispomos para conhecê-la e não porque o

seja em si mesma” (GARCIA, 2002). Segundo os PCNs (1997), interdisciplinaridade

e transversalidade são:

A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes campos de conhecimento produzido por uma abordagem que não leva em conta a inter-relação e a influência entre eles – questiona a visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre qual a escola, tal como é conhecida,

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historicamente se constitui. Refere-se, portanto, a uma relação entre disciplinas. A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender na realidade e da realidade de conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real (aprender na realidade e da realidade). [...] Dessa forma, os PCNs sugerem alguns “temas transversais” que correspondem a questões importantes, urgentes e presentes sob várias formas na vida cotidiana: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo e Pluralidade Cultural. (BRASIL, 1997, p. 40).

Na prática pedagógica esta relação é necessária, pois os temas transversais

promovem um entendimento abrangente dos diferentes objetos de conhecimento,

bem como perceber a implicação do sujeito de conhecimento na sua produção,

superando a dicotomia entre ambos. Por essa mesma via, a transversalidade abre o

espaço para a inclusão de saberes extraescolares, possibilitando a referência a

sistemas de significado construídos na realidade dos alunos. Segundo Figueiredo

(2002, p. 52):

Acreditamos que alguns assuntos são transversais às diversas disciplinas e o debate em torno do patrimônio histórico-cultural constitui um deles. Interessa tanto aos profissionais da educação, das áreas de história, e de geografia e por que não, da literatura. A química e a biologia não podem ficar de fora [...].

Compete enfatizar que os PCNs inovaram ao trazer formas de se trabalhar

temas transversais e a interdisciplinaridade nos currículos escolares, ressaltando

que a temática da educação patrimonial está prevista nos PCNs para o ensino de

História. Por isso a importância desse trabalho nas escolas, propondo aos

professores, a importância dessa temática como forma de pulsão da comunidade

escolar e circundante nas práticas de valorização e preservação do patrimônio

cultural. Desse modo, provoca uma reflexão acerca da função da escola, sobre o

que, quando, como e para que ensinar e aprender, dando destaque a temas sociais

urgentes.

Todavia, há um fator importante que precisa ser levado em consideração

antes de se tomar tais medidas de inclusão desta temática nos currículos, é a

formação dos futuros educadores, nesse caso é fundamental. De acordo com

Figueredo (2002, p. 52), “[...] reconhece-se que os professores que têm formação

universitária, têm um preparo limitado e, em muitos casos, nenhuma formação

específica sobre as temáticas referentes às discussões e reflexões relativas ao

patrimônio.” Portanto, todo um esquema de ações necessita ser posto em prática.

Uma delas é fornecida por Freire (1984, p. 99),

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53

[...] a educação ou ação cultural para a libertação, em lugar de ser aquela alienante transferência de conhecimento, é autentico ato de conhecer, em que os educandos – também educadores – como consciências intencionadas ao mundo, ou como corpos conscientes, se inserem com os educadores – educandos também – na busca de novos conhecimentos, como consequência do ato de reconhecer o conhecimento existente.

Logo, a transversalidade e a interdisciplinaridade devem ser mais difundidas

de maneira geral em todas as instituições escolares, visto que, para se trabalhar

com a educação patrimonial, é indispensável esses dois temas.

Consequentemente estará propiciando um resultado coeso e enriquecedor,

numa atuação integradora das disciplinas obrigatórias, além de permitir a todo o

instante o desenvolvimento de tais ações dentro e fora da sala de aula.

Portanto, percebe-se que há espaços normativos para que a instituição de

ensino vivencie experiências inovadoras capazes de provocar nos alunos o interesse

pelo conhecimento e pela preservação de nossos bens culturais. No entanto, para

que a legislação seja cumprida, é necessário que os órgãos públicos responsáveis,

com Secretarias de Educação, Escolas por meio de seus Projetos Políticos

Pedagógicos (PPP), em parceria com os órgãos de preservação, permitam a criação

de projetos pedagógicos que estimulem a preservação e a valorização do patrimônio

cultural. Assim, é possível criar as condições essenciais para que a Escola se

constitua num ambiente privilegiado para o exercício da cidadania do aluno,

mediante o conhecimento e a valorização dos bens culturais que compõem o

patrimônio histórico nacional.

Todas essas ações contribuirão para a valorização da preservação do

patrimônio no âmbito escolar. Dessa maneira, vale a pena ressaltar as discussões

no 1º Encontro Nacional de Educação Patrimonial, realizado em São Cristóvão,

Sergipe-PE, no ano de 2005, quando Casco (2006, p. 1) conclui que:

As ações educativas, voltadas para a preservação do patrimônio e desenvolvidas pela sociedade, aparecem como iniciativas de grupos que assim entendem ser seu papel ou que resolvem ocupar o vazio deixado pela ausência de uma ação efetiva do Estado (municípios, governos estaduais e governo federal) nesse campo.

Conforme Casco (2006, p. 2), “[...] ainda são carentes os investimentos da

Educação acerca da valorização do patrimônio, onde o Estado não elaborou uma

metodologia, normas e diretrizes que ajudassem a organizar esse campo promissor

e incipiente”. A Lei 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação

Brasileira (LDB), ampara como um dos princípios do ensino no país a divulgação da

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54

cultura, e para tanto, institui que os currículos da educação básica devem ter uma

base diversificada se ajustando às características regionais e locais da sociedade e

da cultura.

A importância do processo educacional acerca do patrimônio cultural é

garantida nesse documento e, de acordo com os PCNs, o ensino fundamental

preconiza o desenvolvimento dos alunos capazes de:

[...] conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao País; conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro […] posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais; (BRASIL, 1997, p. 9)

As ações de valorização do patrimônio cultural recaem, portanto, sobre o PPP

da Escola, enquanto valorizador da identidade da comunidade escolar.

Dessa forma, Veiga (1995, p. 93), afirma que:

O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político por estar intimamente articulado ao compromisso sócio-político com os interesses reais e coletivos da população majoritária.

No procedimento de construção do PPP da escola, notam-se alguns

problemas que necessitam ser elencados como importantes desafios, acerca da

educação patrimonial como elemento reconhecedor do patrimônio cultural.

Inicialmente, enfatiza-se a ausência de políticas públicas a respeito da educação

patrimonial. De acordo com Casco (2006, p. 2) “[...] falta de uma política estatal de

patrimônio voltada para a educação e uma política de educação voltada para a

preservação do patrimônio e da memória.” Ainda que as leis acima citadas ressaltem

o reconhecimento e a valorização da diversidade cultural do país, estas ocorrem de

forma tímida. Igualmente, na finalidade de buscar progressos, a educação

patrimonial necessita estender suas potencialidades na escola, sendo essa a forma

mais segura para a construção de respeito e preservação do patrimônio cultural de

uma determinada região.

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55

2.9 AÇÕES QUE PODEM SER CONQUISTADAS NA ESCOLA COM A ATUAÇÃO DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

O método educacional, em qualquer área de ensino/aprendizagem, tem como

finalidade de levar os alunos a utilizarem suas aptidões intelectuais para a aquisição

e o uso de conceitos e habilidades, na prática, em sua vida diária e no próprio

processo educacional. “O uso leva à aquisição de novas habilidades e conceitos”.

(HORTA, 2004, p. 3).

A educação patrimonial consiste em provocar situações de aprendizado sobre

o processo cultural e, a partir de suas manifestações, despertar no aluno o interesse

em resolver questões significativas para sua própria vida pessoal e coletiva. O

patrimônio histórico e o meio ambiente em que está inserido oferecem

oportunidades de provocar nos alunos sentimentos de surpresa e curiosidade,

levando-os a querer conhecer mais sobre eles. Nesse sentido, podemos falar na

“necessidade do passado”, para compreendermos melhor o “presente” e projetarmos

o “futuro”. Os estudos dos remanescentes do passado motivam-nos a compreender

e avaliar o modo de vida e os problemas enfrentados pelos que nos antecederam,

as soluções que encontraram para enfrentar esses problemas e desafios, e a

compará-las com as soluções que encontramos para os mesmos problemas

(moradia, saneamento, abastecimento de água, entre outros). Podemos facilmente

comparar essas soluções, discutir as causas e origens dos problemas identificados e

projetar as soluções ideais para o futuro, um exercício de consciência crítica e de

cidadania.

As instituições de ensino podem e devem participar deste processo de

apropriação, através de visitas a museus. No caso específico em São Mateus do

Sul-Pr, essas práticas podem se tornar difíceis. Apesar deste município possuir

importância histórica, conta com um precário estado de conservação dos seus bens

patrimoniais, devido à ausência absoluta de uma política pública de preservação.

Esse município conta apenas com um museu, um arquivo público e uma

biblioteca municipal. Além disso, a Secretaria de Educação e Cultura (SEMEC) não

desenvolve ações de cunho pedagógico (educativa e participativa) que envolva a

comunidade escolar, mas há inúmeras outras ações, que podem ser utilizadas pelos

docentes. Por exemplo: aproveitarem objetos culturais na sala de aula ou nos

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56

próprios locais onde são encontrados, como peças chave no desenvolvimento dos

currículos e não simplesmente como mera ilustração das aulas.

Por conseguinte, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

(IPHAN) vem se empenhando na proteção dos bens patrimoniais do país, redigindo

uma legislação específica, realizando tombamentos e restaurações que garantem a

continuação da maior parte do acervo arquitetônico e urbanístico brasileiro, bem

como do acervo documental, etnográfico, das obras de arte integradas e dos bens

móveis. Em sua luta pela proteção do patrimônio cultural, estendeu sua ação à

proteção dos acidentes geográficos notáveis e das paisagens agenciadas pelo

homem (IPHAN, 1999).

Esta instituição vem promovendo ações educativas, por meio de divulgação

da importância do Patrimônio Histórico-Cultural para todos os cidadãos, assim

propondo a prática de um programa de educação patrimonial. Desta forma,

organizou um Guia Básico de Educação Patrimonial, contendo conceitos, critérios,

objetivos, metodologias, sugestões de atividades e bibliografia que deverão nortear

a elaboração e desenvolvimento de ações que auxiliem e cooperem para a

“educação” dos indivíduos, referente às questões do patrimônio cultural,

colaborando para sua preservação.

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3. CONTEXTO DA PESQUISA

3.1 ELEMENTOS HISTÓRICOS DE SÃO MATEUS DO SUL

3.1.1 – Origem Histórica de São Mateus do Sul

Para entender a caracterização atual do município de São Mateus do Sul, é

necessário conhecer aspectos importantes de sua história, as formas de

crescimento e desenvolvimento desde a sua fundação, há mais de um século. Para

o texto a seguir, tomam-se os dados dos arquivos da Prefeitura Municipal de São

Mateus do Sul (PMSMS), 2000.

O município teve sua origem a partir da chegada de bandeiras militares

povoadoras, lançadas pelo governador da Província de São Paulo, Dr. Luiz Antonio

de Souza Botelho Mourão, na conquista de Guarapuava. Foi então o Ten. Bruno da

Costa Figueiras, chefe da quarta expedição, com 25 homens, que se destinava ao

rio Tibagi que primeiro pisou nas terras do atual município, José Carvalho Sobrinho

seria o novo administrador da futura cidade que se desenhava.

Em 1885, chegaram a São Mateus do Sul, os primeiros alemães atraídos pela

notícia da existência de petróleo na região, entre eles Rodolpho Wolff e Gustavo

Frederico Thenius. Inicialmente a colônia recebeu o nome de porto Santa Maria,

como homenagem à protetora das esposas e filhos dos fundadores. Após, foi

denominada Maria Augusta, em honra à esposa do engenheiro-chefe José Carvalho

Sobrinho, mais tarde São Mateus em homenagem ao santo padroeiro, sendo

comemorado no dia do aniversário do município dia 21 de setembro.

Os primeiros habitantes eram de origem cabocla, havendo em seguida a

chegada de uma leva de imigrantes europeus, entre eles espanhóis, alemães e

eslavos. Em 1890, chefiados por Sebastião Edmundo Sarposki, chegaram à Colônia

Maria Augusta 200 famílias polonesas, estabelecendo-se nas Colônias Iguaçu,

Canoas, Cachoeira, Taquaral, Água Branca e Rio Claro, e, em 1907, um novo

contingente de ucranianos, que também passou a viver nas colônias do município.

A comunidade de São Mateus foi denominada município em 1908, pela Lei

Estadual nº 763 de 02 de fevereiro de 1908, com instalação a 21 de setembro do

mesmo ano. A vila de São Mateus adquiriu foro de cidade através da Lei Estadual

1.189 de 15 de abril de 1912, e passou a denominar-se São Mateus do Sul a partir

de 30 de dezembro de 1943, por força do Decreto Lei Estadual nº 199. Além da

sede, o município conta com um único Distrito Administrativo, Fluviópolis.

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58

3.2 – LOCALIZAÇÃO E POPULAÇÃO DE SÃO MATEUS DO SUL3

O município de São Mateus do Sul localiza-se ao sul do Estado do Paraná, na

zona fisiográfica do Irati, o município, à margem direita do Rio Iguaçu, tem a sua

sede a uma altitude de 750 metros acima do nível do mar, apresentando como

coordenadas geográficas, 25° 52’ 23” de latitude su l, e 50° 23’ 05” de longitude W-

Gr. Distante 140 km de Curitiba, capital do Estado do Paraná. É banhado pelos rios

Iguaçu, Negro, Potinga, São Miguel, Turvo, Bonito, Claro, Taquaral e Canoas.

Possui extensão territorial de 1.334,52 Km², com uma população de

aproximadamente 41.257 mil habitantes. São 25.706 pessoas que residem na área

urbana, e, 15.551 pessoas que residem na área rural (IBGE, 2010). Esta população

é constituída, em sua maioria, de descendência europeia, com predominância

polonesa.

Gráfico 1 – População Urbana e Rural de São Mateus do Sul–PR. Fonte: (IBGE, 2010)

O município de São Mateus do Sul possui uma densidade demográfica de

30,73 (hab/km²), limita-se, geograficamente, com os municípios de Antonio Olinto,

3 Os textos referentes aos elementos históricos de São Mateus do Sul foram fornecidos pela Biblioteca

Municipal de São Mateus do Sul, em documentos não oficiais.

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Mallet, Rebouças, São João do Triunfo, Paulo Frontin e com os municípios de Três

Barras e Canoinhas no Estado de Santa Catarina.

Figura 1- Mapa de localização do município de São M ateus do Sul - PR Fonte: (FIEP, 2011)

3.3 ATIVIDADES ECONÔMICAS DE SÃO MATEUS DO SUL

O cultivo da erva mate, a exploração da madeira e a navegação no rio Iguaçu,

foram as primeiras atividades econômicas do município, juntamente com o xisto,

que, com os estudos de Thenius, Rudholff Wolff e Roberto Angewitz (o famoso

"Perna de Pau") tiravam óleo da pedra (xisto) como mágica. Essa atividade também

se incorporou às atividades econômicas do município, sendo hoje uma das maiores

fontes de renda explorada pela Petrobrás que, ao lado da Incepa e outras empresas,

investem no município, atraindo importantes investimentos à região.

3.3.1 Histórico das Atividades Econômicas de São Mateus do Sul

O município de São Mateus do Sul sempre foi reconhecido pelas suas

atividades agrícolas, principalmente voltadas para a produção de erva-mate, o que

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60

impulsionou a economia do município, sendo ainda hoje uma de suas principais

atividades econômicas.

As atividades voltadas para o cultivo da erva-mate no município ganhou

grandes proporções com o advento da navegação no rio Iguaçu, onde o porto de

Santa Maria, no município seria o principal escoador do produto beneficiado para

outras partes do Estado, do Brasil e da América do Sul, sobretudo, Uruguai,

Argentina e Paraguai.

O Paraná é o maior produtor de erva-mate do país, responsável por 70% da

produção nacional, segundo a Pesquisa da Produção da Extração Vegetal e da

Silvicultura do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2000). De

acordo com o levantamento, 15 dos 20 principais municípios produtores da erva-

mate são paranaenses. São Mateus do Sul se destaca como o maior produtor do

país, respondendo por 14% da produção nacional.

A cultura da erva-mate é atualmente uma das principais atividades

econômicas da agropecuária de São Mateus do Sul e abastece oito indústrias

instaladas no município. Levantamento feito pelo Instituto de Assistência Técnica e

Extensão Rural do Estado do Paraná (EMATER-PR, 2010) aponta que existem

cerca de 2,6 mil produtores que se dedicam a esta atividade: 2 mil exploram a erva-

mate nativa numa área de 19,5 mil hectares, com rendimento médio anual de 1,6

mil quilos por hectare; e outros 600 produtores têm a cultura plantada, numa área

que chega a 5,3 mil hectares e rendimento médio de 8 mil quilos por hectare/ano. A

atividade rende para o município uma renda bruta anual próxima de R$15 milhões.

A era fluvial foi de grande importância para o desenvolvimento econômico,

social e demográfico para o município de São Mateus do Sul, pois no final do século

XIX e início do século XX, havia a necessidade do escoamento dos principais

produtos da região: madeira, erva-mate, sem contar que, através do rio Iguaçu,

chegavam os imigrantes europeus.

O grande idealizador da navegação do rio Iguaçu foi o Coronel Amazonas de

Araujo Marcondes, nascido em Palmas-Pr em 1847. Com ideia de reduzir o caminho

entre Palmas e Curitiba, idealizou a navegação sobre o rio Iguaçu. Então mediante o

Decreto Imperial nº 7.248 de 19 de abril de 1879, foi concedido ao Cel. Amazonas, o

privilégio para estabelecer por si, uma companhia de navegação a vapor no rio

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Iguaçu. O primeiro vapor fluvial lançado no rio Iguaçu, foi o vapor “Cruzeiro”, em

dezembro de 1882.

Com o surgimento da navegação a vapor no rio Iguaçu, o escoamento da

erva-mate aumentou, gerando progresso em todos os povoados da região que

viviam dessa riqueza. A navegação transformou matas virgens em povoados e

povoados em cidades. O município de São Mateus do Sul deve seu

desenvolvimento, em grande parte, à iniciativa do Cel. Amazonas e sua empresa de

navegação.

São Mateus do Sul se tornou no início do século XX, a capital da erva mate

no Paraná, a produção ervateira e madeireira contribuíram decisivamente para a

navegação fluvial no município.

Os proprietários de barcos a vapores, quase todos industriais ervateiros,

visavam, sobretudo, ao transporte da matéria-prima para as suas indústrias, os

chamados engenhos de erva-mate, que eram mecanizados para o trabalho de

seleção, trituração, dissecação, mistura e enchimento das barricas para o produto

ser exportando para outros estados e países da América do Sul, sobretudo Uruguai,

Argentina e Paraguai.

O auge da navegação do rio Iguaçu ocorreu a partir do ano de 1915, quando

proprietários dos barcos a vapores, na maioria ervateiros da região, uniram-se e

criaram a Companhia “Lloyd Paranaense”, com sede em São Mateus do Sul, esta

empresa seria a união das várias pequenas empresas de navegação no município

que, inicialmente, destinava-se ao escoamento da produção de erva-mate e

madeira. A partir de então, a empresa passou a atender às diversas necessidades

de transporte e passou a transportar também passageiros, assim o transporte no rio

Iguaçu, tornou-se mais eficiente.

O porto de São Mateus era “parada” obrigatória para os vapores que subiam

ou desciam o rio Iguaçu, tornando o porto da cidade, muito ativo em passageiros e

mercadorias. No porto foram construídos estaleiros, dos quais saíram quase todos

os vapores do Iguaçu. Neste porto, eram montados ou remontados os barcos a

vapor, tarefa realizada pelos profissionais locais.

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62

Figura 2 - Vapor Cruzeiro – lançado nas águas do Ig uaçu no dia 17 de dezembro de 1882. Fonte: (Casa da Memória, de São Mateus do Sul, 1937).

Durante 71 anos, a navegação no rio Iguaçu foi promotora do

desenvolvimento da região, mas após a década de 1930, a navegação fluvial iniciou

a sua decadência. Tal fato se deve à decadência da economia ervateira, pois a

Argentina, a principal compradora da erva mate paranaense, sobretudo

sãomateuense, passou a cultivá-la e a concorrer com o produto paranaense no

mercado mundial; o desenvolvimento do transporte rodoviário e com a construção

de rodovias, em especial em São Mateus do Sul, construção da ponte, que liga o

município a BR-476 – Rodovia do Xisto. Essa rodovia liga Curitiba-PR. até a divisa

do Estado do Paraná com Santa Catarina, ligando também a outras duas

importantes rodovias federais: a BR-116 e a BR-153, esta em Santa Catarina. O

nome da rodovia se deve às grandes reservas de xisto que se encontram no

município, onde a Petrobrás construiu uma usina para a industrialização do xisto

pirobetuminoso. Além de servir a indústria do xisto, a rodovia também favorece o

escoamento de toda a produção agrícola da região sul do Paraná.

Outro motivo que levou à decadência da navegação no rio Iguaçu foi a

diminuição do nível das águas, em virtude do desmatamento de suas margens, o

que impossibilitou a navegação no período de estiagem.

Em 1953, com a liquidação da Companhia Lloyd Paranaense, extinguiu-se a

navegação do rio Iguaçu. Os vapores que sobraram foram desmontados ou

transferidos para outros rios. Nesse mesmo período, outra atividade econômica de

Page 62: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

63

grande proporção no município já estava em fase de exploração, o xisto

pirobetuminoso.

Geologicamente, xisto é uma das principais rochas metamórficas de origem

sedimentar, sendo resultantes da decomposição de matérias minerais e orgânicas

no fundo de grandes lagos ou mares interiores. Agentes químicos e

microorganismos transformaram, ao longo de milhões de anos, a matéria orgânica

em um complexo orgânico de composição indefinida, denominado querogênio

(gerador de cera), que, quando convenientemente aquecido, produz um óleo

semelhante ao petróleo. Existem dois tipos de xisto: o xisto betuminoso e o

pirobetuminoso, cujas diferenças são as seguintes:

• no xisto betuminoso, a matéria orgânica (betume) disseminada em seu meio é

quase fluida, sendo facilmente extraída;

• no xisto pirobetuminoso, a matéria orgânica (querogênio), que depois será

transformada em betume, é sólida à temperatura ambiente, sendo explorado

na Usina de Xisto pela empresa Petrobrás em São Mateus do Sul – Pr.

Essa atividade de exploração e transformação do xisto em combustível em

escala largamente industrial começou no município a partir do ano de 1957, pela

Petrobrás. Mas a história das experiências com o xisto remonta à década de 1930,

quando veio para São Mateus do Sul, o jovem e ambicioso Roberto Angewitz, de

descendência alemã, nascido em São Bento do Sul-SC. Seu apelido era “Perna-de-

pau”, devido a uma prótese que usava, quando na infância fora mordido por uma

cobra, e teve que amputar sua perna e usar uma prótese de madeira.

Estabelecendo-se em São Mateus do Sul em 1932, criou um laboratório iniciando

várias experiências com o xisto, construiu várias retortas4, para destilar e decantar,

através do vapor aquecido, o óleo e o gás resultantes desse processo. Na época, o

interventor do Paraná, Manoel Ribas, incentivou a iniciativa pioneira do Perna-de-

pau. Assim em 1935, as tentativas de tirar óleo de pedra, foram coroadas com êxito,

e Angewitz já fornecia gasolina para uma empresa de ônibus e dezenas de veículos

da região, inclusive a empresa de Angewitz, chegou a fornecer combustível

Southern Brazil Lumber Cel. Co., empresa que explorava madeira em Três Barras-

SC.

4 Vaso de gargalo estreito e curvo, para destilação.

Page 63: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

64

A usina criada por Angewitz produzia e comercializava, além de gasolina, a

benzina, o querosene, óleo diesel e solventes. Por ocasião da 2ª guerra mundial, a

usina de Angewitz foi encampada pelos militares brasileiros.

Os estudos para exploração do xisto em escala industrial começaram no ano

de 1957 pela Petrobrás, em 1959, o governo federal autorizou a construção de uma

usina para a exploração do xisto, que começou a operar no ano de 1972, quando a

PETROBRÁS colocou em operação, em São Mateus do Sul, a Usina Protótipo de

Irati (UPI), com o objetivo de comprovar a operabilidade do Processo PETROSIX em

escala comercial, testar e desenvolver novos equipamentos, levantar dados básicos

para o projeto da Usina Industrial e desenvolver tecnologia de proteção ambiental.

Concluído o desenvolvimento do Processo PETROSIX na UPI, seus objetivos

foram direcionados para o máximo de produção. Desde 1980, a UPI vem produzindo

uma média de 700 barris de óleo por dia, além de 12 toneladas por dia de enxofre,

principal subproduto da UPI. Em 1988, o desempenho da Usina foi bastante

melhorado, obtendo-se uma produção média de 835 barris de óleo por dia de

operação, juntamente com 18 toneladas de enxofre.

O xisto, depois de minerado a céu aberto, é transportado para um britador,

que o reduz a fragmentos. Em seguida, estes fragmentos são levados por uma

correia a um reator cilíndrico vertical - conhecido também como retorta, para serem

aquecidos em alta temperatura. O xisto libera, então, matéria orgânica em forma de

óleo e gás. Em outra etapa, é resfriado, o que resulta na condensação dos vapores

de óleo que, sob a forma de gotículas, são transportados para fora da retorta pelos

gases.

Os gases de xisto passam por outro processo de limpeza para a obtenção do

óleo leve. O restante é encaminhado para a unidade de tratamento de gases, onde

são produzidos gás combustível e gás liquefeito (GLP) e onde é feita a recuperação

do enxofre.

As 7.800 toneladas de xisto processadas diariamente na SIX geram toneladas

de óleo combustível, nafta de xisto, gás combustível (GLP) e enxofre, além de

volumes variáveis de insumos para asfalto e subprodutos que podem ser utilizados

nas indústrias cimenteiras, agrícola e de cerâmica.

A Petrobrás possui o domínio completo da tecnologia de processamento de

xisto pelo processo Petrosix, porém continua realizando estudos e pesquisas

visando ao aumento da eficiência térmica do processo e melhoramentos que serão

Page 64: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

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introduzidos no Módulo Industrial. A Petrobrás, por intermédio de sua unidade de

negócio da Superintendência Industrialização do Xisto (SIX), é referência mundial

em pesquisa, exploração e processamento de xisto, possuindo uma tecnologia

consolidada de extração do xisto, a qual denomina Petrosix, e, hoje, todo o xisto

processado diariamente, em conformidade com os requisitos das normas de

qualidade, meio ambiente, saúde e segurança no trabalho. O fato de o Brasil possuir

uma das maiores reservas mundiais de xisto - a Formação Irati5, que também está

situada sob o estado do Paraná - contribui para esse know-how.

A Unidade também funciona como centro avançado de pesquisa, sendo o

maior do mundo na categoria, onde a SIX, em parceria com o centro de pesquisa e

desenvolvimento da Petrobrás, o Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de

Mello (CENPES), e universidades, desenvolve projetos na área do refino.

O Parque Tecnológico da SIX é um dos maiores do mundo em plantas-piloto

de grande porte. É composto por unidades criadas para suprir as demandas dos

variados processos de refino e também laboratórios com equipamentos de última

geração que dão suporte a todas as unidades do Parque Tecnológico.

A Petrobrás, por meio da SIX, mantém um programa de reabilitação de áreas

mineradas mediante o replantio de espécies nativas e o retorno da fauna aos

terrenos recuperados. Por meio da utilização de tecnologia única, licenciada junto

aos órgãos ambientais, a Petrobrás-SIX reaproveita no processamento do xisto

pneus inservíveis, obtendo desse material, óleo, gás e enxofre. Há também estudos

de aproveitamento do xisto processado na produção de insumos agrícolas.

Enfim, a Petrobrás-SIX atua com competência, tecnologia de ponta, qualidade

e respeito ao meio ambiente e está apta a fornecer aos clientes os melhores

produtos e subprodutos do xisto, e contribuindo para o desenvolvimento do

município de São Mateus do Sul.

Esse processo de formação socioeconômico levou à construção de um

patrimônio que caracteriza os aspectos peculiares do município.

5 Formação Irati é o nome de uma formação geológica da Bacia do Paraná, da onde se extrai o xisto em escala industrial. Ocorre nas regiões Sul, Sudeste do Brasil São Paulo e triângulo mineiro e nos estados de Goiás e Mato Grosso do Sul, mas e explorável no muncicípio de São Mateus do Sul-PR.

Page 65: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

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3.4 PATRIMÔNIO CULTURAL DE SÃO MATEUS DO SUL

Os lugares possuem determinados elementos que os identificam, possuindo

sua cultura própria, que sustenta sua identidade e o diferencia de outros grupos, não

abarca apenas os monumentos históricos, como foi por bastante tempo considerado,

mas também o desenho urbanístico e outros bens físicos, e a experiência vivida

condensada em linguagens, conhecimentos, tradições imateriais, modos de usar os

bens e os espaços físicos. São Mateus do Sul é um município que possui

peculiaridades bastante distintas nas suas manifestações culturais através do seu

patrimônio.

São Mateus do Sul é um município com mais de 100 anos de história. Desde

que iniciou a exploração do xisto, e com os poloneses se estabelecendo na região

em 1890, o município se desenvolveu e passou por vários ciclos econômicos, como

da erva-mate, da madeira e extração do xisto. Seus habitantes construíram um

amplo patrimônio histórico e cultural ao longo da história, baseado nas heranças

culturais trazidas pelos imigrantes.

Como afirmam Anderson e Parker (1971, p. 583) “[...] a história do homem

está delineada por suas migrações por este planeta e por seu cruzamento com

populações já estabelecidas em áreas habitáveis [...]”, gerando assim uma

mestiçagem, um cruzamento de culturas. Nesse caso, temos o polonês e o alemão

se integrando na região, juntamente com os caboclos que viviam no local, e a partir

dessa mestiçagem, tem-se a formação da identidade cultural do povo

sãomateuense.

São Mateus do Sul, como todo município, possui a sua história,

características próprias, que ao longo dos anos, seus habitantes desenvolveram,

tornando cada fato uma conquista, edificando o patrimônio cultural material e

imaterial construídos pelos seus habitantes. O município apresenta uma história de

valorização e reconhecimento que, de certo modo, pode ser materializado pelo

conjunto de bens patrimoniais que o município apresenta, podendo ser citados os

seguintes bens patrimoniais:

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CASA TÍPICA POLONESA

Figura 3 – Casa típica polonesa Fonte: (Ledur, 2011)

A arquitetura das casas polonesas no município de São Mateus do Sul é

constituída de rara beleza. O arremate do telhado feito com lambrequins, ou as

“pingadeiras de polaco”, facilita o escoamento da água da chuva, de modo a

proteger o madeiramento do telhado e dar proteção ao beiral, constituíam-se em

elementos decorativos, dado o requinte de desenho, que lembra aos poloneses, a

neve escorrendo pelo telhado.

Esse ornamento foi introduzido nas construções das casas de madeira no

século XIX, quando imigrantes europeus - mais precisamente os poloneses -

encontraram abundância de madeira nas matas de araucárias em São Mateus do

Sul.

A casa acima citada, e está situada à Rua Paulino Vaz da Silva, no centro da

cidade. Essa casa, apesar de muito bem conservada, não é utilizada como atrativo

turístico do município, pois hoje abriga o maternal da escola Centro de Educação

Infantil A Sementinha.

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CUIA E ERVA-MATE

Figura 4 – Caixa d’água da cidade em forma de cuia Fonte: (Ledur, 2011).

Em homenagem à produção de erva-mate no município, o reservatório de

água da cidade tem forma de cuia. Essa cuia foi construída em 1968, junto com a

estação de tratamento. Possui uma capacidade de 180 m³.

São Mateus do Sul é considerado o maior produtor de erva-mate do Paraná e

do Brasil, segundo a EMATER-PR (2010). Tanto a erva-mate quanto a cuia fazem

parte do patrimônio cultural. O monumento da “Cuia” está localizado na rua D. Pedro

II, junto à estação de tratamento de água da Companhia de Saneamento do Paraná,

(SANEPAR-PR).

IGREJA MATRIZ

Figura 5 – Igreja Matriz de São Mateus do Sul Fonte: (Ledur, 2011).

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Antes mesmo de chegar em São Mateus do Sul, já se avista a Igreja Matriz,

que fica na entrada da cidade para quem chega pela BR-476. Essa Igreja foi

construída em 1954, em estilo gótico, tendo a sua torre com aproximadamente 70

metros de altura. Construída com a ajuda dos imigrantes poloneses que, com

esforço e devoção, ajudaram a erguer esse monumento que consideramos um dos

valiosos patrimônios do município.

PINHEIRO

Figura 6 - Pinheiro na localidade de Nova Tesoura, São Mateus do Sul-Pr Fonte: (Ledur, 2011)

Conhecido como um dos símbolos do Estado do Paraná, o “Pinheiro do

Paraná” ou “Araucária”6 é apreciado por sua magnitude e porte elegante. Sua

madeira é de alta qualidade e já foi de grande importância para a economia

sãomateuense. O município ainda preserva uma das últimas reservas naturais de

Araucárias do Brasil. Hoje, resta sua preservação, admirá-lo e exaltá-lo como um

dos importantes patrimônios culturais ainda presente nas matas do nosso município.

6 A araucária (Araucaria angustifolia), é a espécie arbórea dominante da floresta ombrófila mista, ocorrendo majoritariamente na região Sul do Brasil, bem como no leste e sul do estado de São Paulo, extremo sul do estado de Minas Gerais, e em pequenos trechos da Argentina e Paraguai, sendo conhecida por muitos nomes populares, entre eles pinheiro-brasileiro e pinheiro-do-paraná; é também chamada pelo nome de origem indígena, curi.

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XISTO

Figura 7 - Mina de xisto em São Mateus do Sul-PR Fonte: (Ledur, 2011)

A PETROBRÁS/SIX desenvolveu em São Mateus do Sul uma tecnologia

pioneira na industrialização do xisto7, produzindo óleo, nafta, gás e enxofre. O Xisto

se tornou um patrimônio do nosso município, pois trouxe crescimento e

desenvolvimento através da instalação da Petrosix, atraindo migrantes de várias

partes do Brasil, sobretudo, paulistas, mineiros, nordestinos e gaúchos, que se

instalaram no município.

VAPOR PERY

Figura 8 – Vapor Pery, símbolo da navegação no rio Iguaçu Fonte: (Ledur, 2011).

7 Geologicamente, xisto é uma das principais rochas metamórficas de origem sedimentar, sendo resultantes da decomposição de matérias minerais e orgânicas no fundo de grandes lagos ou mares interiores.

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Segundo Döepfer (2004) o vapor Pery foi lançado às águas do Iguaçu em

1912 pela firma de navegação Guiblin & Cia, situada no município. Suas máquinas

tinham uma potência de 75 cavalos-vapor. Sua capacidade de carga era de 1100

sacas de erva mate ou 400 dúzias de tábuas. Passou por três reformas que lhe

deram, cada uma, aspectos diferentes como: a mudança do casco de madeira para

ferro, o oferecimento de quatro cabines fechadas com beliches aos passageiros que,

em sua ultima reforma em 1939, passaram para a tolda. No ano de 1996, os projetos

de recuperação do Vapor Pery tiveram início. Seu casco foi restaurado e foram

reconstruídos os apetrechos do convés. Sua reconstrução foi concluída no início de

1997. Está localizado às margens do Rio Iguaçu, na Praça Iguaçu. Os visitantes

podem ter uma ideia de como eram os vapores usados no transporte de passageiros

e cargas no Rio Iguaçu.

O Vapor Pery é considerado um patrimônio de São Mateus do Sul, pois

representa uma fase importante da economia do município, a navegação. Nas águas

do Rio Iguaçu, vapores deslizavam levando as riquezas da região, como a madeira e

a erva-mate. Por essas águas, também chegaram os poloneses, desbravadores

dessas terras, entusiasmados, vieram fazer de São Mateus do Sul, o seu lugar para

morar.

Em comemoração ao aniversário do município no mês de setembro, ocorre a

Festa do Charque à Vapor, pois desde o período das navegações do rio Iguaçu, o

charque à vapor, tornou-se um dos pratos típicos do município, pois era a principal

alimentação das tripulações e passageiros dos barcos à vapor, por não haver um

sistema de conservação da carne fresca. Os cozinheiros dos barcos, observando o

gosto dos passageiros, acabaram criando vários tipos de pratos com o charque, tais

como: charque com batata, charque com feijão, arroz carreteiro com charque, farofa

de charque, entre outros pratos que eram fornecidos aos passageiros e à tripulação.

Assim, a população sãomateuense foi assimilando esses pratos ao seu cotidiano, de

modo como os cozinheiros faziam o prato a bordo no barco à vapor, por isso o nome

charque “à vapor”.

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CASA DA MEMÓRIA PADRE BAUER

Figura 9 – Casa da Memória, Museu de São Mateus do Sul-PR Fonte: (LEDUR, 2011).

Instalada na antiga Casa Paroquial, foi inaugurada em 1995, implantada com

o objetivo de resgatar e preservar o passado do povo sãomateuense, através da

exposição de objetos, documentos e fotografias de incalculável valor cultural e

histórico. Localiza-se na Praça São José ao lado da Igreja Matriz São Mateus.

MONUMENTO EM HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DA IMIGRAÇÃO POLONESA

Figura 10- Monumento em Homenagem ao Centenário da Imigração Polonesa Fonte: (LEDUR, 2011).

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Monumento projetado pelo arquiteto sãomateuense Cesariel França Santos

para comemorar os 100 anos da chegada dos imigrantes poloneses ao município

(1890 - 1990). Foi inaugurado em dezembro de 1990.

Projetado em forma de cunha, lembrando os pioneiros que iniciaram a

construção de São Mateus do Sul. A cunha maior lembra a colônia polonesa de São

Mateus. As cunhas menores (na parte superior) lembram as quatro colônias

polonesas que se formaram ao redor de São Mateus: Iguaçu, Taquaral, Canoas e

Cachoeira. Localiza-se na Praça Nossa Senhora da Conceição, em frente à Igreja

Matriz São Mateus, na entrada principal da cidade.

IGREJA DA AGUA BRANCA

Figura 11 – Igreja Centenária Polonesa da Água Bran ca, vista externa Fonte: (LEDUR, 2011).

Foto 12 - Interior da Igreja Centenária Polonesa da Água Branca, vista interna Fonte: (LEDUR, 2011).

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Foto 13 - Interior da Igreja Centenária Polonesa da Água Branca, Nossa Senhora de Czestochowa Fonte: (LEDUR, 2011).

A Igreja de São José, na Água Branca, localizada na zona rural de município,

é um dos patrimônios deixados pelos imigrantes poloneses a partir dos anos de

1890 e 1892. Projetada em forma de cruz e concluída no ano de 1900. Toda a

madeira utilizada na construção foi serrada e sepilhada manualmente. Nas laterais,

existem 4 altares, todos trabalhados em madeira. Por sobre o altar principal, vê-se

uma inscrição em polonês: “Wr. 1900 Jezus Chrystus, Bóg-Czlowiek zyje, króluje,

panuje”. Traduzindo: “Desde o ano de 1900 Jesus Cristo, Deus-Homem vive, reina,

impera”. A pintura interna foi feita em 1923 por Ewaldo Ducat, do município de Irati-

PR. Os quadros da via sacra e dos santos vieram da Polônia e da Bélgica. Localiza-

se na Colônia de Água Branca, distante da sede do município aproximadamente 14

km.

No mês de agosto, é comemorado o mês polonês no município, vários

eventos ocorrem com a Tradycje Polskie, como Jantar típico polonês, baile com a

escolha da Rainha dos poloneses, Festa da Boa Colheita, palestras, exposições,

noites culturais, e sempre finaliza no último domingo do mês de agosto com a

grande carreata e festa em homenagem à Nossa Senhora de Czestochowa, na

localidade da Água Branca, onde está situada a Igreja Centenária.

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MONUMENTO DOS EXPEDICIONÁRIOS

Figura 14 – Monumento em homenagem aos Expedicionár ios Sãomateuenses Fonte: (LEDUR, 2011).

O Monumento dos Expedicionários, localizado na Praça da Rodoviária, no

centro da cidade, foi contruído em 1968, com recursos do município e apoio da

PETROBRÁS/SIX. O monumento homenageia os "63 pracinhas", esses valentes

guerreiros da Força Expedicionária Brasileira (FEB), sãomateuenses, que deixaram

a sua terra, seus familiares e foram lutar na Segunda Guerra Mundial, em favor da

democracia, da liberdade, por amor a bandeira brasileira.

CARROÇA POLONESA

Figura 15 - Carroça Polonesa situada na localidade de São Miguel da Roseira, em São Mateus do Sul-PR. Fonte: (LEDUR, 2011).

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Os poloneses foram também os principais responsáveis pela difusão de um

meio específico de transporte: a carroça. A “carroça polonesa” tornou-se a marca

inconfundível do Paraná e também do município de São Mateus do Sul. Através

desse meio de transporte, os poloneses trabalhavam na lavoura, vendiam seus

produtos na cidade, usavam para fazer passeios, sendo também um meio de

transporte importante nos dias de festas na Colônia, como o casamento. Nesse dia,

a carroça era toda enfeitada, e cavalos eram domados, pois com o “foguetório”,

colocavam-se um cavalo manso e outro xucro na carroça, assim com o barulho dos

foguetes, os cavalos xucros eram amansados.

Até hoje, a carroça é utilizada como meio de transporte na zona rural de São

Mateus do Sul, sendo então considerada mais um elemento do patrimônio cultural

do município.

MONUMENTO HOMENAGEM AOS POLONESES QUE PARTICIPARAM DA REVOLUÇÃO FEDERALISTA (1893-1894)

Figura 16 – Monumento em homenagens aos poloneses q ue combateram na Revolução Federalista Fonte: (LEDUR, 2011)

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Os poloneses também defenderam São Mateus do Sul na Revolução

Federalista. O ano de 1893 marca a revolta dos maragatos no Rio Grande do Sul,

que tinham a intenção de marchar até o Rio de Janeiro para depor o então

presidente Marechal Floriano Peixoto. Nas terras de São Mateus do Sul, formou-se

um exército (pica-paus), sob a liderança do Major João José Portes residente no

município, em apoio ao governo federal para barrar o avanço dos maragatos. Os

poloneses, que haviam acabado de chegar, ingressaram no exército, em favor da

República. O monumento em homenagem aos combatentes poloneses foi

construído no ano de 1997, e se encontra na praça São José, em frente ao museu

Casa da Memória.

PRAÇA DO CARVALHO

Figura 17 – Praça do Carvalho Fonte: (LEDUR, 2011).

O carvalho é considerado o símbolo da imigração polonesa em São Mateus

do Sul. Sua semente foi trazida pelo imigrante João Puchalski, em 1982, onde foi

plantada no primeiro local de acampamento dos poloneses, hoje a Praça Alvir

Licheski, ou conhecida como Praça do Carvalho, situada no centro da cidade,

considerada a única árvore exótica imune de corte no Paraná, tombada pelo

Patrimônio Histórico Cultural do Estado em 1990, sob Inscrição Tombo 19-I

Processo Número 001 de 1988. Pela sua representatividade como identidade

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cultural dos poloneses no município. Essa árvore caiu no dia 01 de agosto de 2011.

A comunidade já se mobilizou e com ajuda da Prefeitura, outra muda do Carvalho foi

plantada no mesmo local.

Esta árvore tornou-se importante para a comunidade de São Mateus do Sul

por perpetuar referências históricas do povo polonês residente no município.

PIEROGUI

Figura 18 - Pierogui Fonte: (LEDUR, 2011).

Trazido pelos poloneses, o pierogui, uma massa de pastel cozida com recheio

de batata cozida e amassada com ricota, muito apreciado com molho de nata com

bacon, tornou-se um dos pratos típicos do município, apreciado pelos habitantes e

visitantes, surgindo, inclusive, a Festa e o Baile do Pierogui, onde se elege a Rainha

do Pierogui, que ocorre sempre no mês de agosto, mês dedicado às homenagens à

imigração polonesa. Este é mais um exemplo da valorização da cultura polonesa

materializada, no patrimônio histórico do município.

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DANÇA TÍPICA POLONESA

Figura 19 – Grupo Karolinka Fonte: (LEDUR, 2011)

O Grupo Folclórico Polonês KAROLINKA foi fundado em 22 de fevereiro de

1992, em uma iniciativa da Braspol (integração Brasil-Polônia) - núcleo de São

Mateus do Sul, com a intenção de estreitar os laços entre o Brasil e a Polônia, e

resgatar e preservar a cultura dos antepassados que imigraram ao Brasil no final do

século XIX, através das danças folclóricas adaptadas para o palco. O nome

KAROLINKA surgiu em função de uma música polonesa popular que tem o mesmo

nome. Este grupo é uma manifestação da cultura polonesa infiltrada em São Mateus

do Sul.

A partir da apresentação dos principais patrimônios culturais do município,

pretende-se discutir a importância do patrimônio como expressão de cultura e de

identidade, e a sua valorização na comunidade escolar. O conhecimento e a

valorização dos bens culturais contribuem com o despertar da cidadania e com a

noção de que expressam a história e a tradição local e regional. Por isso, acredita-se

que o patrimônio cultural aguça o sentimento de pertencimento. Sua revitalização é

uma alternativa para o desenvolvimento que viabiliza a inserção social da

comunidade.

Assim, a educação patrimonial vem com a responsabilidade de envolver a

sociedade, sobretudo as comunidades escolares, e atentá-las para seu papel na

preservação do seu patrimônio parte da identidade cultural. O despertar no indivíduo

a responsabilidade de que ele faz parte do meio social, deve lhe dar ciência das

obrigações, enquanto cidadãos. A educação patrimonial, como tema, deve

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desenvolver nas crianças e nos adultos, o sentido crítico, proporcionando-lhes a

possibilidade de reconhecer o patrimônio cultural existente em seu convívio social,

seja ele material ou imaterial.

A valorização da cultura local será a responsabilidade para a preservação da

história de vidas. Através do processo educacional, o professor terá a capacidade de

reconhecer em seus alunos a realidade de vida de cada um, e poderá trabalhar

aspectos que desenvolvam a percepção cultural dentro de cada localidade.

3.5 ESTRUTURA EDUCACIONAL DE SÃO MATEUS DO SUL ACERCA DO PATRIMÔNIO CULTURAL

O município de São Mateus do Sul conta com vinte e quatro escolas públicas

municipais de 1ª a 4ª série, oito escolas públicas estaduais com ensino fundamental

e médio e quatro escolas privadas com educação infantil, fundamental e médio.

As escolas públicas municipais e estaduais estão distribuídas pelo município

na área urbana e rural, enquanto que as escolas privadas estão todas situadas na

área urbana.

Segundo dados do IBGE (2010), foram realizadas no município 6.768

matrículas no ensino fundamental, sendo que 3.088 matrículas foram realizadas nas

escolas públicas estaduais a nível de 5ª a 8ª série do ensino fundamental; 2.994

matrículas foram realizadas nas escolas públicas municipais a nível de 1ª a 4ª série

do ensino fundamental; 686 matrículas foram realizadas nas escolas privadas a nível

de 1ª a 4ª série do ensino fundamental.

Foram pesquisadas quatro escolas municipais e uma escola privada, todas

localizadas no perímetro urbano do município de São Mateus do Sul-PR. Para fazer

a escolha das escolas mencionadas a seguir, foram seguidos alguns critérios, tais

como: essas escolas atendem cerca de 1.668 alunos e são consideradas as maiores

em espaço físico, são as mais tradicionais e antigas, e estão situadas perto dos

principais bens patrimoniais do município. A seguir descreveremos as escolas8 que

fizeram parte da pesquisa:

8 As informações dos históricos das escolas a seguir mencionadas, foram retiradas dos Projetos Políticos Pedagógicos das mesmas.

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- ESCOLA MUNICIPAL PEDRO EFFCO – EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL A Escola foi fundada em 1964, mas somente no ano de 1975, pelo parecer

001 de 1973 recebeu a aprovação do plano de implantação do ensino de 1º grau,

apresentando-se como Escola Vila Prohmann – Ensino de 1º Grau, integrando-se

aos moldes da Lei 5692 de 1971 das Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A

partir do ano de 1975, a Escola passou a funcionar no prédio atual, situado à Rua

Barão do Rio Branco, 1335, no bairro denominado Vila Prohmann. A Escola era

municipalizada até o ano de 1982, quando através da resolução nº 3920 de 1982

passou a pertencer ao âmbito estadual. Porém, através da resolução 1431 de 1991,

a Escola que era mantida pelo governo do Estado, passa a ter como entidade

mantenedora, a Prefeitura Municipal de São Mateus do Sul. A resolução 1626 de

1998 altera a denominação de Escola Municipal Vila Prohmann, para Escola

Municipal Pedro Effco – Educação Infantil e Ensino Fundamental. A partir do ano de

2010, ocorre uma nova alteração no ensino, através das Leis de Diretrizes e Bases

nº 11.274 de 2006, que torna obrigatório a matrícula das crianças a partir de seis

anos de idade no Ensino Fundamental.

A Escola Municipal Pedro Effco – Educação Infantil e Ensino Fundamental

possui, atualmente, cerca de 550 alunos, distribuídos em doze turmas de Ensino

Regular, incluindo classe especial e sala de recursos. Conta com uma diretora, com

uma coordenadora e vinte e seis professores.

- ESCOLA MUNICIPAL DR. PAULO FORTES – EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL

Fundada em 1924 com o nome de Grupo Escolar São Matheus, a Escola

funcionava, onde hoje está instalada a Secretaria de Obras do município, no prédio

da Prefeitura Municipal. Apenas no ano de 1945, foi inaugurado o prédio onde a

Escola funciona até nos dias de hoje, no centro da cidade, tendo seu nome

modificado para Grupo Escolar “Dr. Paulo Fortes”, nome este que homenageia um

importante médico do município. A partir do Decreto nº 3920 de 1982, a Escola

passou a pertencer ao âmbito estadual com o nome, Colégio São Mateus – Ensino

de 1º e 2º Graus. Somente com o Decreto nº 1427 de 1991, a Escola foi novamente

municipalizada, com o nome de Escola Municipal Drº Paulo Fortes – Ensino Pré-

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Escolar e 1º Grau. Contudo, no ano de 1998, através da Deliberação 003 de 1998,

alterou a nomenclatura da Escola, passando a denominar-se Escola Municipal Drº

Paulo Fortes – Educação Infantil e Ensino Fundamental.

A Escola atende anualmente cerca de 330 alunos, distribuídos em treze

turmas de ensino regular. Conta, também, com uma diretora, uma coordenadora

pedagógica e vinte professores.

- ESCOLA MUNICIPAL ODEMIRA CUNHA – EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL Fundada em 1956, com a denominação de Escola Isolada Odemira Cunha,

no Bairro Vila Amaral. Em 1983, pelo Decreto nº 2310 de 1976, passou a se chamar

Escola Odemira Cunha – ensino de 1º Grau, passando para o âmbito estadual. Em

1991, com a municipalização das Escolas, passou a se chamar Escola Municipal

Odemira Cunha – Ensino de 1º Grau. Somente no ano de 2000, com a resolução

636 de 2000, recebe a autorização para o funcionamento da Educação Infantil,

mudando sua nomenclatura para Escola Municipal Odemira Cunha – Educação

Infantil e Ensino Fundamental.

A Escola atende cerca de 350 alunos, distribuídos em turno matutino e

vespertino, os quais 263 estão no ensino fundamental, e 38 na modalidade de

educação infantil. A Escola conta com um diretor, duas coordenadoras pedagógicas

e dezesseis professores.

- ESCOLA MUNICIPAL PREFEITO OLÍVIO WOLFF DO AMARAL – EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL

- Fundada em 1957, com o nome Escola Isolada de Palmeirinha, por

membros da comunidade. A Escola se situa na Vila Palmeirinha, perímetro urbano.

Atualmente, a Escola conta com cento e dezoito alunos, uma diretora, uma

coordenadora pedagógica e cinco professores.

Todas as escolas acima citadas são públicas, de âmbito municipal, tendo

como mantenedora a Prefeitura de São Mateus do Sul, e situam-se no perímetro

urbano do município acima citado.

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- SISTEMA DE ENSINO MARIA AUGUSTA – ENSINO FUNDAMENTAL, MÉDIO E

TÉCNICO (SEMA)

O SEMA foi fundado no ano de 1991, tendo como primeiro nome “Escola A

Sementinha”, contando apenas com turmas de Educação Infantil. Em 1993, iniciou

com o Ensino Fundamental I. A partir do ano de 1997, a Escola iniciou as atividades

com Ensino Fundamental II, e no ano de 2003, com o Ensino Médio.

Ao longo desses 20 anos, a Escola mudou seu nome por várias vezes como:

A Sementinha – Ensino Fundamental, Escola A Sementinha Master – Ensino

Fundamental, Escola Maria Augusta. E hoje tem o nome de Sistema de Ensino

Maria Augusta – Ensino Fundamental, Médio e Técnico – SEMA, enquanto que a

Educação Infantil, que atende berçário, maternal, jardim I e Jardim II, continuou com

o nome Escola A Sementinha.

Hoje, A Escola A Sementinha atende 110 alunos, contando com uma

coordenadora pedagógica e vinte e seis professoras; e o SEMA, atende cerca de

320 alunos, contando com uma diretora, uma coordenadora pedagógica, uma

psicopedagoga, trinta e dois professores, sendo assim distribuídos: onze

professores no Ensino Fundamental I, vinte e um professores no Ensino

Fundamental II e Ensino Médio.

As escolas acima pesquisadas têm uma relação com o patrimônio cultural do

município, pois são as mais antigas, estão edificadas perto desses bens

patrimoniais, e sempre estão tentando estabelecer um diálogo pedagógico entre a

escola e a comunidade, voltado para a valorização do patrimônio cultural.

Acredita-se que, por essas características, essas escolas assumem um papel

relevante na sociedade, segundo as análises feitas nos PPP das referidas escolas, à

medida que os saberes trabalhados são parte de um patrimônio cultural valorizado e

julgado indispensável ao cidadão, que deve ser capaz de uma constante (re)criação

de novos significados e subjetividades, onde a escola é vista como uma instituição

de “aculturação” na busca de promover a homogeneidade social e cultural.

Em todas as escolas pesquisadas foram também realizadas uma análise

minuciosa nos seus respectivos PPP, onde constatou-se que o critério utilizado para

a confecção desses PPP, foram os mesmos, ou seja, a estrutura organizacional são

semelhantes, pois todos passaram pelo crivo da Secretaria Municipal de Educação e

Cultura (SEMEC). Portanto, todas as Escolas em seus PPP, quando se referiam à

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84

pluralidade cultural, como sendo um tema transversal, e à valorização da história

local e de seu patrimônio cultural, discursam que, todo o trabalho voltado para a

valorização da história local e a valorização do patrimônio cultural, também é de

responsabilidade da Escola, “[...] sendo este trabalho um pedagógico pautado no

comprometimento da realização de ações educacionais voltadas para o pleno

desenvolvimento do ser humano (PPPa, p. 8, 2010)9.

Em todos os Projetos Políticos Pedagógicos analisados, constatou-se a

preocupação das escolas em atender às necessidades específicas do meio no qual

está inserida, “[...] com a finalidade de construir sua identidade própria” (PPPb, p.

12, 2010)10, de forma a garantir ao aluno situações de construção do conhecimento

promovendo o seu crescimento pessoal, social de forma consciente, responsável,

participativa e crítica, visando a sua integração e atuação no meio sociocultural.

A função da escola, segundo os PPP, está em proporcionar um conjunto de

práticas preestabelecidas, que tem o propósito de contribuir para que os alunos se

apropriem de conteúdos sociais e culturais de maneira crítica e construtiva, sendo

de fundamental importância que a escola assuma a valorização da cultura de seu

próprio grupo e, ao mesmo tempo, busque ultrapassar seus limites, propiciando às

crianças e aos jovens pertencentes aos diferentes grupos sociais o acesso ao saber,

tanto no que diz respeito aos conhecimentos socialmente relevantes da cultura

brasileira no âmbito nacional e regional, como no que faz parte do patrimônio

universal da humanidade.

Em todos os PPP das escolas analisadas estão elencados os temas

transversais, em especial a pluralidade cultural, pois segundo o PPP da Escola

Municipal Pedro Effco, “[...] para estar em consonância com as demandas atuais da

sociedade, é necessário que a escola trate de questões que interferem na vida dos

alunos e com as quais se veem confrontados no seu dia a dia.” (PPP, p. 26, 2010).

Assim, para viver democraticamente em uma sociedade plural, é preciso respeitar e

valorizar a diversidade étnica e cultural que a constitui.

Por sua formação histórica, a sociedade brasileira é marcada pela presença

de diferentes etnias e grupos culturais. No que se refere à composição populacional,

9 PPPa - Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Dr. Paulo Fortes – Educação Infantil e Ensino Fundamental. São Mateus do Sul–Pr. 2009. 10 PPPb - Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Dr. Pedro Effco – Educação Infantil e Ensino Fundamental. São Mateus do Sul–Pr. 2009.

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as regiões brasileiras apresentam diferenças entre si; cada região é marcada por

características culturais próprias, assim como pela convivência interna de grupos

diferenciados. Neste sentido, a escola deve ser local da aprendizagem de que as

regras do espaço público democrático garantem a igualdade, do ponto de vista da

cidadania, e ao mesmo tempo a diversidade, como direito.

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86

4 APRESENTAÇÃO E ANALISE DOS DADOS

4.1 APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS ENTREVISTAS REALIZADAS COM OS EDUCADORES ENVOLVIDOS NA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

Entre os meses de outubro e novembro de 2011, foram realizadas entrevistas

com educadores envolvidos na Educação Patrimonial do município, sendo eles: o

Secretário de Educação e Cultura, os diretores e coordenadores, e também com

todos os professores das escolas analisadas.

Para preservar a identidade dos entrevistados, será adotada uma

nomenclatura para se referir a eles durante as análises das entrevistas, onde serão

referenciados por letras os grupos e números os indivíduos, como a tabela a seguir

mostra:

Tabela 1 - Divisão dos Grupos dos Entrevistados

A Secretário

B Diretores e Coordenadores

C Professores

Fonte: (Ledur, 2012)

Tabela 2 – Subdivisão dos Grupos de Entrevistados

A1 Secretário Municipal de Educação e

Cultura

B1 Diretor e Coordenador Escola Mun. Pedro Effco

B2 Diretor e Coordenador Escola Mun. Drº. Paulo Fortes

B3 Diretor e Coordenador Escola Mun. Olivio Wolff do Amaral

B4 Diretor e Coordenador Escola Mun. Odemira Cunha

B5 Diretor e Coordenador Sistema de Ensino Maria Augusta

C1 Professores Escola Mun. Pedro Effco

C2 Professores Escola Mun. Drº. Paulo Fortes

C3 Professores Escola Mun. Olivio Wolff do Amaral

C4 Professores Escola Mun. Odemira Cunha

C5 Professores Sistema de Ensino Maria Augusta

Fonte: (Ledur, 2012)

Page 86: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

87

A partir das tabelas anteriores, iniciamos as análises das entrevistas.

4.1.1 Análise da Entrevista com o Secretário de Educação e Cultura

No dia 24 de outubro de 2011, foi realizada uma entrevista com o Secretário

de Educação e Cultura, que está nesse cargo há 11 anos. A entrevista foi

semiestruturada, pois, além as perguntas pré-estabelecidas, foram formuladas

outras ao longo da entrevista.

Entre os principais resultados que serão apontados na análise, constatou-se

que a secretaria de educação e cultura do município de São Mateus do Sul, não

utiliza o patrimônio cultural municipal como recurso didático em suas atividades

pedagógicas constantes, ou seja, a educação patrimonial que deveria ser algo

contínuo e sistemático não é utilizado como recurso didático. Evidenciou-se como

causa, fatores como a falta de conhecimento a respeito do assunto e a

desconsideração desta prática como atividade comum, embora o entrevistado

sempre se mostrou interessado pelo assunto, ressaltando o apoio incondicional da

secretaria de educação e cultura para essa prática.

Quando foi perguntado ao entrevistado, qual era a proposta da secretaria de

educação e cultura no sentido de contemplar a preservação da memória e do

patrimônio cultural do município, esse respondeu que a secretaria sempre está

empenhada, juntamente com os diretores das escolas, para realizar atividades para

preservar e divulgar o patrimônio cultural do município, em muitos momentos, o

entrevistado ressaltou as atividades realizadas no mês do aniversário do município,

setembro.

Na entrevista, percebemos que a educação patrimonial não é tratada como

um processo permanente e sistemático de trabalho educacional, centrado no

patrimônio cultural, como fonte primária de conhecimento e enriquecimento

individual e coletivo, pois estudos do patrimônio cultural do município só ganha

corpo no mês de setembro.

Verificou-se na entrevista, que o tema da educação patrimonial é bastante

incipiente. Ainda causa estranheza falar desse assunto na Secretaria Municipal de

Educação (SEMEC). Tal estranhamento está estreitamente ligado ao fato de que a

cultura e a preservação cultural não integram a agenda de preocupações da

sociedade, pois quando foi perguntado sobre as ações da secretaria de educação e

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cultura a respeito dos investimentos em curso de capacitação dos professores,

investimentos em materiais didáticos e procedimentos metodológicos, projetos de

valorização e divulgação do patrimônio, a resposta foi imediata por parte do

entrevistado, que todas as ações acima citadas são realizadas, mas, quando se

pergunta: de que forma são realizadas? A elaboração da resposta é demorada.

Investimentos para a capacitação de professores acontecem sim, mas não

evidenciando o tema educação patrimonial, os investimentos em materiais didáticos

a respeito do assunto não existe, apenas incentivos por parte da secretaria e direção

das escolas, para que os professores vão em busca de materiais e informações que

ajudem a desenvolver o assunto em sala de aula, e realizem passeios, visita ao

museu, exposições em suas escolas, mas nunca divulgado para a comunidade em

geral, sempre ficando restrito à comunidade escolar.

O apoio e planejamento de atividades culturais, segundo a secretaria de

educação e cultura, são constantes, em parceria com a Fundação Cultural,

atividades culturais são realizadas, mas, mais uma vez se percebeu na entrevista

que essas atividades ficam restrito ao mês de agosto, considerado o mês cultural

polonês, e ao mês de setembro, em ocasião das comemorações do aniversário do

município.

Apesar dos avanços ocorridos nas últimas décadas, a cultura não é

concebida como um bem público que precisa ser cuidado e gerido, de forma a

preservar as memórias e as identidades culturais.

Segundo o entrevistado, as políticas públicas e os investimentos públicos e

privados são fundamentais para a preservação cultural, mas eles ficam limitados em

seus efeitos se não vierem acompanhados de um processo educativo, por meio do

qual as pessoas aprendem e ensinam novas formas de se relacionarem com as

dimensões culturais de que fazem parte. O entrevistado concorda em dizer a

respeito das limitações que cercam a educação formal no Brasil e, sobretudo no

município, pois, segundo ele,

[...] muitas vezes deixamos de desenvolver práticas educacionais no sentido de valorizar a história do município, para ter que se desgastar com problemas relacionados com transporte escolar, merenda escolar, problemas burocráticos que desrespeitam a gestão escolar, e esses assuntos que considero de suma importância, muitas vezes, ficam para segundo plano”. (A1, 2011)

De acordo com a resposta do entrevistado, a SEMEC respeita as leis do

município, do estado e da união, no que se refere às leis da educação e do

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patrimônio cultural, também o entrevistado desconhece o plano nacional de cultura.

Segundo esse,

[...] todas as leis do patrimônio são respeitadas por nós, onde as utilizamos para criar ações de preservação e divulgação do nosso patrimônio. Sempre cumprimos as ações acerca da valorização do patrimônio, a partir do que o estado e o município nos oferecem na questão financeira. (A1, 2011)

Quando foi perguntado ao entrevistado a respeito da realização da

Conferência de Cultura anual, para liberação de verbas para investimentos culturais

no município, ele respondeu que sempre acontece. Em seguida, foi perguntado

quando e onde ocorre, mais uma vez não ocorreu resposta imediata, dizendo que as

conferências ocorrem de uma forma regionalizada, com a presença de nove

municípios que fazem parte da Ansupar (associação dos municípios do sul do

Paraná), inclusive São Mateus do Sul, onde o próprio secretário de educação e

cultura é o presidente. As conferências “[...] acontecem a cada dois anos, mas esse

ano, não aconteceu por falta de tempo” (A1, 2011).

Os dados da entrevista constataram que, apesar do município de São Mateus

do Sul, ser carente na área da educação patrimonial, há interesse por parte do

entrevistado nesta temática. O aparente interesse pelo patrimônio cultural do

município, permite-nos questionar o fato de que embora o município seja rico em

bens patrimoniais, não há nenhuma proposta e atenção por parte do poder público

ou entidades afins da valorização dos seus bens patrimoniais de fato.

Não podemos deixar de mencionar que o termo patrimônio foi confundido com

equipamentos e mobiliários11.

O patrimônio cultural, ao contrário, não se apresenta de forma cristalizada,

mas traduz todas as informações culturais de um grupo expressas através de seu

modo de vida e de seus valores éticos e morais.

11 O que leva a deduzir que o assunto patrimônio não está na pauta das ações cotidianas da SEMEC. no início da entrevista, onde a assistente do secretário de educação que participava da conversa, se referiu ao patrimônio, as carteiras e cadeiras que o Estado havia entregado para substituir as “velhas carteiras” das escolas municipais, ainda ele afirmou:“[...] nosso patrimônio é muito bem preservado, possuímos um programa de computador, onde todos os bens patrimoniais do município são cadastrados e etiquetados, assim podemos ter o controle de tudo.” Esta assimilação tem a ver com o contexto material e capitalista atual, em que o que não é visível não pode ser comercializado, portanto, passa a não ter importância, porque não tem valor para troca. (2011)

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90

Esses dados reforçam a ideia de carência por parte do poder público em

relação às questões locais e da necessidade de investir em ações de valorização

dos bens culturais, que ainda são deficientes.

Embora a DCNs de 2010 contemple as questões culturais e a valorização

sobre os aspectos locais, na prática nem sempre encontramos inseridos na estrutura

do sistema de ensino, a preocupação com a preservação do patrimônio cultural local

e, ao contrário do que se pensa, o indivíduo que valoriza e preserva é o que tem

acesso à educação, e não necessariamente o que pertence a uma elite econômica,

por isso a preocupação em criar ações e projetos que contemplem a educação

patrimonial nas escolas do município.

Acredita-se que os resultados dessa investigação poderão ser importantes

aos professores, às escolas e aos gestores da educação, que formulam as políticas

públicas educacionais. Interessa-nos, sobremaneira, contribuir com o enraizamento

da educação patrimonial nas escolas e nos diferentes espaços educativos.

4.1.2 Análise das Entrevistas realizadas com os Diretores e Coordenadores das Escolas Pesquisadas

Entre os dias 25 de outubro e 03 de novembro de 2011, foram realizadas

entrevistas com os diretores e coordenadores das escolas pesquisadas. A entrevista

foi semiestruturada, pois, além das perguntas pré-estabelecidas, foram formuladas

outras ao longo da entrevista, finalizando com uma análise das respostas.

Aos diretores e coordenadores foram perguntadas quais eram as propostas

do ensino do município para a contemplação da preservação da memória e do

patrimônio cultural em São Mateus do Sul.

De acordo com os entrevistados, os incentivos para a preservação da

memória e do patrimônio cultural do município por parte da SEMEC em conjunto

com as escolas são poucos, segundo o coordenador da Escola Municipal Drº Paulo

Fortes, “[...] todas as atividades são realizadas por conta própria [...]” (B2, 2011),

inclusive em análise no PPP das escolas, estão contemplados a valorização da

história local, que deve ser trabalhada em paralelo com o livro didático adotado pela

escola.

Também os diretores e coordenadores das escolas entrevistadas, ressaltam a

importância das visitas ao museu, no sentido de valorizar e preservar o patrimônio

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em sala de aula, através de atividades que contemplem o tema. Geralmente, essas

propostas estão contempladas nas disciplinas de história, artes e geografia, a

história do município tem destaque somente no mês de setembro, mês do

aniversário do município.

Apesar dos PPPs das escolas contemplam essas práticas de educação

patrimonial, essas são trabalhadas de forma tímida, pois os planos de aula são

sobrecarregados, não dando muito tempo para se trabalhar a história local.

Embora as DCNs e os PPPs das escolas contemplem as questões culturais e

sua preservação, na prática, nem sempre se encontram inseridos esses aspectos na

estrutura do currículo escolar, percalços, como falta de apoio da SEMEC, falta de

tempo por parte dos professores, e currículos sobrecarregados, são alguns

elementos que fazem com que temas referentes às questões culturais sejam

deixados de lado.

Quando foi perguntado para os diretores e coordenadores, quais eram as

ações que as suas escolas desenvolvem para a preservação da memória e do

patrimônio cultural do município, as respostas foram unânimes em ressaltar que, as

escolas, segundo o PPP, ofertam condições no contexto disciplinar para a

valorização da memória e do patrimônio cultural, bem como: visitas a feiras culturais,

passeios, divulgação do patrimônio cultural, além de inclusão de projetos de

preservação da história local. Essas atividades são geralmente realizadas nas

disciplinas de História, Geografia e Artes, onde a professora trabalha a história local

em paralelo com o livro didático.

Já os cursos de capacitação para os professores acontecem e são realizados

no início de cada semestre, mas a temática da educação patrimonial apenas foi

pauta de discussões uma vez, no ano de 2008. Os entrevistados disseram que “[...]

as escolas fazem planejamentos de atividades culturais no início do ano, todo esse

planejamento é feito sem apoio da SEMEC, e não se veem ações por parte da

SEMEC para a educação patrimonial no município.” (B1, 2011). Segundo o

entrevistado da Escola Municipal Pedro Effco, (B1, 2011):

Nossa escola possui uma biblioteca com um acervo sobre o patrimônio cultural e materiais didáticos atualizados onde as professoras podem pesquisar além de ter um computador na coordenação com internet disponível para pesquisas. Os alunos sempre participam de eventos que incentivam a preservação do patrimônio cultural do nosso município. Nossos professores estão sempre empenhados em fazer atividades que promovem a valorização das atividades culturais no nosso município. Da nossa escola já saíram várias atividades nesse sentido.

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Todos os anos as escolas pesquisadas participam de desfiles cívicos com

temas referentes ao município, também confeccionam murais e realizam feiras

culturais, mas geralmente essas atividades são realizadas no mês de setembro, mês

do aniversário do município. E as divulgações das atividades realizadas nas escolas

são feitas pelos próprios alunos.

De acordo com os diretores das escolas pesquisadas, ainda são muito

deficientes materiais didáticos que ressaltam a história local, mas a SEMEC

constantemente repassa às escolas vários livros de história do Paraná, que, por

vezes, mencionam a história e a geografia de São Mateus do Sul, mas, segundo a

coordenadora do Sistema de Ensino Maria Augusta, “[...] durante as nossas

pesquisas para se trabalhar a história do município, sempre estamos colhendo

informações, apostilas, documentos da prefeitura, muitas fotos antigas, inclusive

temos uma grande quantidade de fotos antigas, todas catalogadas, tudo sem apoio

da SEMEC.” (B5, 2011).

Essa prática de pesquisas, entrevistas, confecção de apostilas, busca de

documentação na prefeitura, é uma prática realizada por todas as escolas

pesquisadas, segundo entrevistas feitas com os diretores e coordenadores.

Vale ressaltar que através das entrevistas, notou-se que as atividades,

envolvendo o patrimônio cultural do município, são restritas apenas aos meses de

agosto, por ocasião das comemorações do mês polonês, e no mês de setembro, por

ocasião do aniversário do município, onde são realizadas inúmeras atividades com a

intenção de valorizar a história local.

Dessa forma, fica claro que não existe por parte da SEMEC e das escolas

pesquisadas uma interação para a valorização das questões culturais, todas as

escolas mencionam que têm como objetivos nos seus PPPs a valorização e a

propagação da cultural local, porém, todas as escolas fazem isso de forma isolada,

até porque, a SEMEC não oferece cursos de capacitação de professores e oficinas

pedagógicas no sentido de prepará-los para tal prática. Mas ficou evidente que

atividades culturais são realizadas nas escolas, como participação do desfile cívico,

onde sempre homenageiam o município e seus aspectos culturais, e realizações de

várias outras atividades culturais já mencionadas. Essas atividades somente se

restringem no mês de setembro, decorrente das comemorações do aniversário do

município. E os materiais didáticos são precários, fazendo com que os educadores

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tenham que “garimpar” materiais referentes à história do município e aos seus bens

patrimoniais, que possam ser utilizados em suas aulas.

Quando foi perguntado aos diretores e coordenadores como a sua escola

interage com as políticas públicas do município, visando o reconhecimento e à

valorização do Patrimônio Cultural em São Mateus do Sul, as respostas foram

confusas, dando a perceber que não há conhecimento por parte dos diretores e

coordenadores, o que venha a ser políticas públicas, pois as respostas vieram todas

sem coerência.

O entrevistado do SEMA respondeu: “[...] como a nossa escola é privada, não

há uma interação com a SEMEC, nós fazemos nossas atividades sem apoio da

prefeitura, mas sempre os convidamos para participar, mas dificilmente aparecem.”

(B5, 2011)

Todas as respostas das escolas municipais foram voltadas para a ideia de

que existem as atividades desenvolvidas junto ao SEMEC, mas de forma tímida, tais

como resgate da cultura polonesa, incentivo à juventude para a conservação do

patrimônio cultural, através de atividades culturais, os usos e costumes dos

poloneses, mas segundo o entrevistado da Escola Odemira Cunha, “[...] mas como

já foi falado, essas atividades são restritas apenas para o mês de setembro. A

escola interage no sentido de transmitir o conhecimento necessário que possa

auxiliar na formação de um cidadão crítico e consciente.” (B4, 2011).

As atividades voltadas para a preservação do patrimônio cultural, por vezes

são de forma tímida, principalmente onde ela deveria ser mais preservada e

difundida: no âmbito escolar. Ações voltadas para esse fim são deixadas de lado, e

ganham somente destaque em períodos considerados comemorativos, como é o

caso de São Mateus do Sul, com a comemoração do seu aniversário.

Portanto, seria através do PPP, que essas questões deveriam ser

mencionadas, onde as escolas teriam a incumbência em propor uma forma de

organizar o trabalho pedagógico, visando à preservação do Patrimônio Cultural do

município. Segundo Libâneo (2004), o PPP é o documento que detalha objetivos,

diretrizes e ações do processo educativo a ser desenvolvido na escola, expressando

a síntese das exigências sociais e legais do sistema de ensino e os propósitos e

expectativas da comunidade escolar.

Na verdade, o PPP é a expressão da cultura da escola com sua (re) criação e

desenvolvimento, pois expressa a cultura da escola, impregnada de crenças,

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94

valores, significados, modos de pensar e agir das pessoas que participaram da sua

elaboração.

Assim, o projeto orienta a prática de produzir uma realidade. Para isso, é

preciso primeiro conhecer essa realidade. Em seguida, reflete-se sobre ela, para só

depois planejar as ações para a construção da realidade desejada. É imprescindível

que, nessas ações, estejam contempladas as metodologias mais adequadas para

atender às necessidades sociais e individuais dos educandos.

Outra constatação que apuramos, foi a falta de conhecimento em relação à

interação da SEMEC do município com as políticas públicas do Estado do Paraná e

governo federal para a afirmação das políticas de preservação do patrimônio

cultural. Todos os entrevistados das escolas pesquisadas desconhecem as políticas

públicas para a preservação do patrimônio cultural. Segundo o diretor da Escola

Municipal Dr. Paulo Fortes, “[...] sinceramente, desconhecemos”. (B2, 2011)

Na análise sobre as respostas das entrevistas e nos PPPs nas escolas

pesquisadas em São Mateus do Sul, observou-se que a importância de se valorizar

a cultura local e o seu patrimônio está em destaque, sempre em respaldo nas DCNs

(2010), para os diferentes níveis de ensino, onde a legislação educacional brasileira,

quanto à composição curricular, contempla dois eixos, que seria na Base Nacional

Comum, com a qual se garante uma unidade nacional, para que todos os alunos

possam ter acesso aos conhecimentos mínimos necessários ao exercício da vida

cidadã. A Base Nacional Comum é, portanto, uma dimensão obrigatória dos

currículos nacionais e é definida pela União; e uma Parte Diversificada do currículo,

também obrigatória, que se compõe de conteúdos complementares, identificados na

realidade regional e local, que devem ser escolhidos em cada sistema ou rede de

ensino e em cada escola. Assim, a escola tem autonomia para incluir temas de seu

interesse. Assim, através da construção da proposta pedagógica da escola que a

Base Nacional Comum e a Parte Diversificada se integram.

Apesar de existirem leis que contemplem a importância da educação

patrimonial, ainda é carente o campo da educação para o patrimônio de ações

sistemáticas do Estado, tal como a cobrança pela elaboração e difusão de

metodologias, normas e diretrizes que ajudassem a organizar esse campo promissor

e incipiente. (CASCO, 2006, p. 2)

A Lei 9.394 de 1996, que institui as Diretrizes e Bases da Educação brasileira,

defende como um dos princípios do ensino no país a divulgação da cultura, e para

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tanto, estabelece que os currículos da educação básica devem ter uma base

diversificada de acordo com as características regionais e locais da sociedade e da

cultura.

Mas na prática, observamos gestores e profissionais da educação

despreparados para tal ato, pois falta de capacitação de professores, a falta de

conhecimentos das leis e das políticas públicas nas três esferas, a falta de materiais

didáticos, a falta de estímulo, e sobrecarregamento nos currículos, fazem com que a

prática da educação patrimonial nas Escolas seja deixada para segundo plano.

No município de São Mateus do Sul, os PPPs das escolas, segundo a

SEMEC, contemplam a educação patrimonial, porém, na prática, como foi acima

citado não é o que se vê, há potencial para se desenvolver essa prática, contudo,

as ações acerca da valorização do patrimônio na prática educacional ainda são

deficientes.

Quando foram perguntados quais são os processos metodológicos e

materiais didáticos utilizados na Escola para valorizar o patrimônio cultural do

município de São Mateus do Sul, todos os entrevistados responderam que se utiliza

de passeios a museu, monumentos, realizam reflexão sobre a importância de

valorizar a cultura local, através das aulas expositivas, conversação, pesquisas,

palestras, visitas ao museu, exposição de trabalhos, confecções de maquetes,

utilização de fotos, estudos dos costumes dos imigrantes poloneses, como a

culinária, teatros, passeios, sempre preocupados com a conscientização da

valorização do patrimônio cultural do município. Esses procedimentos metodológicos

geralmente são desenvolvidos das disciplinas de História, Geografia e Artes.

Quantos aos materiais didáticos utilizados na Escola para valorizar o

patrimônio cultural do município de São Mateus do Sul, os entrevistados

responderam que utilizam recursos audiovisuais, como a interpretação do hino do

município, fontes iconográficas do município, entrevistas que os alunos fazem com

pessoas mais velhas, materiais que os professores coletam na prefeitura municipal e

no museu, como mapas, objetos antigos, apostilas, livros, documentos, e a própria

bandeira do município é utilizada com fonte de estudos, entre outros.

Chamando atenção para a resposta do diretor da Escola Municipal Pedro

Effco: “[...] preservação do pátio e do prédio da escola conscientizando que todos os

alunos e demais funcionários devem cuidar para preservar o patrimônio que também

pertence a eles” (B1, 2011).

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Avaliando que essa foi uma resposta fora do contexto, a pergunta foi

formulada novamente. Então conseguimos uma resposta de acordo com o que

buscávamos. “[...] utilizamos os materiais didáticos da nossa biblioteca, e materiais

que os professores conseguem com entrevistas ou reportagem que o jornal local faz

na nossa cidade.” (B1, 2011). Pelas análises feitas nas entrevistas, fica evidente que

para desenvolver essa prática de preservação e divulgação do patrimônio local, é

necessário a escola recorrer à comunidade para buscar informações, já que

materiais didáticos são deficientes, e os educadores têm que recorrer a entrevistas,

busca de fotografias, coletas de dados e informações a respeito do assunto. Nota-se

que essas informações recolhidas não são geralmente armazenadas, pois todos os

anos é feita essa “corrida” para buscar materiais. Passeios aos monumentos, visitas

ao museu, foram constantemente citados como um processo metodológico utilizado

pelas escolas para dar suporte às aulas, sendo que essas práticas ocorrem

geralmente no mês de setembro. Não se pode considerar que apenas visitas a

museus, depois conversações em sala de aula, como foi acima citado, sejam

práticas de educação patrimonial, pois não há um processo permanente, sistemático

e contínuo de trabalho educacional, centrado no patrimônio cultural, como fonte

primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo.

Tem como objetivo, a experiência e do contato direto com as evidências e

manifestações da cultura e dos seus bens patrimoniais, em todos os seus

significados, levar o educando a um processo ativo de conhecimento, apropriação e

valorização de sua herança cultural. Utiliza-se como justificativa o conhecimento

crítico e a apropriação consciente, pelas comunidades, do seu patrimônio cultural

que são fatores indispensáveis, no processo de preservação sustentável desses

bens, assim como, no fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania.

A luta pelo reconhecimento e preservação do patrimônio cultural é

permanente em todos os setores da sociedade, sobretudo no âmbito educacional,

luta que é mantida com desafios diários e inesperados. Nas entrevistas obtidas com

os diretores e coordenadores das escolas pesquisadas, obteve como resposta, que

a educação patrimonial não é praticada, pois ela é definida como um processo

permanente e sistemático de trabalho educacional, o que não ocorre nas escolas

pesquisadas.

Horta (1983) afirma que a educação patrimonial é um instrumento de

“alfabetização cultural” que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o

Page 96: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

97

rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-

temporal em que está inserido. Este processo busca reforço e dedicação dos

indivíduos e comunidades envolvidas na valorização da sua cultura, compreendida

como múltipla e plural, sendo que essa prática não foi percebida nas entrevistas,

pois esse exercício somente é desenvolvido em datas comemorativas do município.

Nas análises das entrevistas, temas que envolvem o patrimônio cultural do

município, são apenas trabalhados nas disciplinas de história, geografia e artes. É

condição básica para a aplicação da educação patrimonial, a transversalidade

curricular permanente. Disciplinas como a matemática, ciências, português, história,

geografia e outras devem adequar seus conteúdos pedagógicos e a necessária

graduação em cada período. Mas para que isto aconteça, precisa-se qualificar o

processo pedagógico, depois rever conteúdos e alterar grades. É isso que a

educação brasileira precisa para salvar e preservar o seu patrimônio cultural. Na

verdade, o que se propõe estimular nesta fala é o que está na Constituição Federal

de 1988, Art. 216, Parágrafo 1º, ali se outorga poderes à colaboração da

comunidade e à vigilância.

Constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (BRASIL, 1988)

Segundo Fonseca (2005), as políticas de preservação geralmente atuam com

o objetivo de reforçar uma identidade coletiva, visando à educação e à formação de

cidadãos. Esse é o discurso que costuma justificar a constituição desses patrimônios

e o desenvolvimento de tais políticas públicas de preservação, mas, na prática, é

preciso criar mecanismos que viabilizem e estreitem de fato a relação entre

patrimônio e sociedade. Esse é o papel da educação patrimonial.

Para Fonseca (2005, p. 43), “[...] a escola cumpre muito precária e limitadamente

uma de suas funções principais, que é a de formar cidadãos com uma base cultural

comum, e onde o hábito de consumo de bens culturais é incrivelmente restrito”. Pois,

nas análises das entrevistas, percebe-se a falta de conhecimentos por parte dos

Page 97: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

98

gestores da educação das políticas públicas para a preservação do patrimônio

cultural.

Assim, concorda-se com Fonseca (2005), se a escola não desempenha seu

papel devidamente, a iniciativa da educação patrimonial pode e deve partir também

das instituições detentoras do patrimônio histórico-cultural – não excluindo de forma

alguma a importância da participação e envolvimento das instituições de ensino em

todos os níveis nesse processo.

No caso específico de São Mateus do Sul, as poucas instituições que atuam

nas áreas de preservação do patrimônio cultural, como s Secretaria Municipal de

Educação e Cultura e a Fundação Cultural, deveriam promover uma política de

divulgação de suas atividades e de esclarecimento de suas práticas e instrumentos

de ação, a fim de estabelecer amplos canais de comunicação com todos os

segmentos da sociedade, de modo claro e direto, pois não é isso que ocorre, pois

atividades são realizadas de forma acanhada, sem a divulgação necessária, onde os

indivíduos teriam o direito de ter acesso à sua própria cultura, à sua história, à

memória coletiva e social.

As atividades voltadas para a preservação do patrimônio cultural, por vezes,

são de forma tímida, principalmente onde ela deveria ser mais preservada e

difundida: no âmbito escolar. Ações voltadas para esse fim são deixadas de lado, e

ganham somente destaque em períodos considerados comemorativos, como é o

caso de São Mateus do Sul, com a comemoração do seu aniversário.

As escolas pesquisadas também ressaltaram que, no início de cada ano

letivo, são elaborados os planejamentos anuais, onde são contempladas as

atividades que serão desenvolvidas durante o ano letivo, mas as práticas referentes

às questões culturais locais sempre ficam restritas ao mês de setembro, por ocasião

do aniversário do município.

Durante as entrevistas, dá-se destaque ao Sistema de Ensino Maria Augusta,

a escola sempre promove atividades voltadas para a valorização do patrimônio

cultural do município, que não ficam restritas somente ao mês de setembro.

Segundo a coordenadora:

[...] esse ano, por exemplo, a profª. de História em conjunto com os demais professores das demais disciplinas, realizaram atividades contando a história do município, com todas as turmas do colégio, onde cada turma utilizou recursos como, poemas, música, documentários, fotos, maquetes e teatros para valorizar e divulgar a cultura local, através de valorização dos nossos bens patrimoniais. Essas atividades realizadas na Escola são

Page 98: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

99

abertas ao público externo, onde sempre recebemos escolas, e a comunidade em geral para visitar, dessa forma divulgamos o que o nosso município tem de melhor, uma rica história. (B5, 2011)

Portanto, seria através de um PPP bem estruturado e de fácil acesso aos

professores, que as escolas teriam a incumbência em propor uma forma de

organizar o trabalho pedagógico, dando importância de realizar práticas de

educação patrimonial, visando à preservação do patrimônio cultural do município.

Apesar dos projetos políticos pedagógicos das escolas pesquisadas contemplarem

as práticas culturais, mas o que está registrado não condiz com a prática.

Sabe-se, também, que o currículo escolar é um dos pontos mais difíceis a

serem enfrentados pela escola. Duas questões podem ser inicialmente levantadas

em relação a esse aspecto, que seria: quem define o que e como a escola deve

ensinar? Tradicionalmente, as escolas públicas têm a sua prática pedagógica

determinada ou por orientações oriundas das secretarias de educação ou pelos

próprios livros didáticos. Isso resulta, na maioria das vezes, em uma prática

curricular muito improdutiva, que não leva em conta nem a experiência trazida pelo

próprio professor, nem a trazida pelo aluno, ou mesmo às características da

comunidade em que a escola está inserida.

Por outro lado, isso restringe a autonomia intelectual do professor e o

exercício da sua criatividade, e ainda não permite que a escola construa sua

identidade, ocorrendo uma visão restrita de currículo, próxima do conceito de

programa de uma simples grade curricular, ou de mera listagem dos conteúdos que

devem ser tratados. Daí, porque, muitos professores se orientam apenas pelos

sumários ou índices dos livros didáticos.

O currículo, entretanto, abrange tudo o que ocorre na escola, as atividades

programadas e desenvolvidas sob a sua responsabilidade e que envolvem a

aprendizagem dos conteúdos escolares pelos alunos, na própria escola ou fora dela,

e isso precisa ser muito bem pensado na hora de elaborar um projeto político-

pedagógico.

Page 99: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

100

4.1.3 Análise das Entrevistas realizadas com os professores das Escolas Pesquisadas

Entre os dias 10 e 14 de outubro de 2011, foram realizadas entrevistas com

os professores das escolas pesquisadas. A entrevista foi semiestruturada, pois, além

as perguntas pré-estabelecidas, foram formuladas outras ao longo da entrevista,

finalizando com uma análise das respostas.

Nas entrevistas com os professores, foi utilizada a técnica de coletas de

dados, chamado de grupo focal (originalmente chamada de entrevista focalizada em

grupo). Morgan (1997) define grupos focais como uma técnica de pesquisa que

coleta dados por meio das interações grupais ao se discutir um tópico especial

sugerido pelo pesquisador. Como técnica, ocupa uma posição intermediária entre a

observação participante e as entrevistas em profundidade. Pode ser caracterizado

também como um recurso para compreender o processo de construção das

percepções, atitudes e representações sociais de grupos humanos (Veiga et al,

2001).

Então, o grupo focal como um procedimento de coleta de dados no qual o

pesquisador tem a possibilidade de ouvir vários sujeitos ao mesmo tempo, além de

observar as interações características do processo grupal. Tem como objetivo obter

uma variedade de informações, sentimentos, experiências, representações de

pequenos grupos acerca de um tema determinado.

Os professores pesquisados são todos do sexo feminino. A docência é uma

das profissões que apresenta o maior percentual de trabalhadores mulheres. A

feminização do magistério é um fenômeno antigo no Brasil, de modo que uma

pesquisa realizada em todo o país pela UNESCO (2004, p. 46) constatou que 81,3%

dos docentes brasileiros são do sexo feminino. O perfil dos professores da nossa

pesquisa também se aproxima ao verificado em âmbito nacional.

Com relação à formação acadêmica, dos setenta e oito professores

entrevistados, 21% dos professores possuem graduação, 79% complementaram sua

formação com especialização (Lato sensu) não existindo nenhum docente com

formação em nível de mestrado. Ocorrem, também, cursos de capacitação de

professores em diversas áreas, todas programadas pela SEMEC, ao longo do ano

letivo. Abaixo estão relacionados, em tabelas, o tempo de magistério e o tempo de

atuação dos professores em suas respectivas escolas.

Page 100: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

101

Tabela 3 – Tempo de Magistério e Docência na Escola Municipal Pedro Effco - Educação Infantil e Ensino Fundamental Tempo de Magistério Tempo de Escola

P1 12 32 anos 6 anos

P2 26 anos 7 anos

P3 23 anos 3 anos

P4 22 anos 4 anos

P5 20 anos 10 anos

P6 18 anos 11 anos

P7 18 anos 7 anos

P8 17 anos 14 anos

P9 17 anos 15 anos

P10 16 anos 15 anos

P11 15 anos 14 anos

P12 15 anos 10 anos

P13 15 anos 14 anos

P14 15 anos 6 anos

P15 14 anos 11 anos

P16 14 anos 9 anos

P17 13 anos 13 anos

P18 13 anos 8 anos

P19 12 anos 7 anos

P20 11 anos 7 anos

P21 10 anos 8 anos

P22 9 anos 9 anos

P23 9 anos 7 anos

P24 9 anos 6 anos

P25 9 anos 5 anos

P26 9 anos 3 anos

Fonte: (Ledur, 2012)

12 O nome dos docentes foram preservados, sendo substituídos pela letra P=professor.

Page 101: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

102

Tabela 4 – Tempo de Magistério e Docência na Escola Municipal Dr. Paulo Fortes – Educação Infantil e Ensino Fundamental Tempo de Magistério Tempo de Escola

P1 37 anos 20 anos

P2 30 anos 17 anos

P3 29 anos 10 anos

P4 29 anos 16 anos

P5 25 anos 10 anos

P6 23 anos 18 anos

P7 21 anos 17 anos

P8 19 anos 14 anos

P9 18 anos 16 anos

P10 18 anos 11 anos

P11 17 anos 6 anos

P12 17 anos 16 anos

P13 15 anos 14 anos

P14 15 anos 12 anos

P15 15 anos 1 ano

P16 15 anos 13 anos

P17 13 anos 13 anos

P18 13 anos 8 anos

P19 12 anos 9 anos

P20 10 anos 3 anos

Fonte: (Ledur, 2012)

Page 102: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

103

Tabela 5 – Tempo de Magistério e Docência na Escola Municipal Odemira Cunha – Educação Infantil e Ensino Fundamental Tempo de Magistério Tempo de Escola

P1 19 anos 3 anos

P2 19 anos 8 anos

P3 16 anos 6 anos

P4 16 anos 8 anos

P5 14 anos 10 anos

P6 12 anos 7 anos

P7 12 anos 5 anos

P8 11 anos 6 anos

P9 9 anos 5 anos

P10 9 anos 5 anos

P11 8 anos 6 anos

P12 8 anos 6 anos

P13 7 anos 4 anos

P14 7anos 6 anos

P15 7 anos 7 anos

P16 6 anos 6 anos

Fonte: (Ledur, 2012) Tabela 6 – Tempo de Magistério e Docência na Escola Municipal Olivio Wolff do Amaral – Educação Infantil e Ensino Fundamental Tempo de Magistério Tempo de Escola

P1 23 anos 17 anos

P2 21 anos 18 anos

P3 19 anos 11 anos

P4 15 anos 14 anos

P5 14 anos 10 anos

Fonte: (Ledur, 2012)

Page 103: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

104

Tabela 7 – Tempo de Magistério e Docência no Sistem a de Ensino Maria Augusta – Ensino Fundamental, Médio e Profissional Tempo de Magistério Tempo de Escola

P1 20 anos 20 anos

P2 20 anos 20 anos

P3 19 anos 19 anos

P4 19 anos 19 anos

P5 18 anos 18 anos

P6 15 anos 14 anos

P7 15 anos 13 anos

P8 13 anos 13 anos

P9 11 anos 10 anos

P10 8 anos 3 anos

P11 6 anos 2 anos

Fonte: (Ledur, 2012)

21%

60%

19%

professores que

têm acima de 20

anos de

magistério

professores que

têm entre 10 e 19

anos de

magistério

professores que

têm menos de 9

anos de

magistério

Gráfico 2 – Tempo de Carreira do Magistério dos Pr ofessores Entrevistados Fonte: (Ledur, 2012)

Page 104: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

105

4%

49%

47%

Atuação como

professor na

Escola - com 20

anos

Atuação como

professor na

Escola - entre 10

e 19 anos

Atuação como

professor na

Escola - entre 1 e

9 anos

Gráfico 3 – Tempo de Atuação dos Professores Entre vistados Fonte: (Ledur, 2012)

Pelas análises das tabelas e gráficos acima, percebemos que dos setenta e

oito professores das escolas analisadas, 21% dos professores têm mais de vinte

anos de magistério, 60% dos professores têm entre dez e dezenove anos de

magistério, e 19% dos professores têm menos de nove anos de magistério. Sendo

que professores atuantes na mesma instituição de ensino são: 4% dos professores

têm vinte anos de docência na mesma instituição de ensino, 49% dos professores

têm entre dez e dezenove anos de docência, e 47% dos professores têm menos de

9 anos de docência.

Portanto, podemos concluir que o número elevado de professores com tempo

de magistério considerável alto, ou seja, 81% com mais de dez anos, e atuação na

mesma instituição de ensino, relativamente alto, leva nos a crer que um trabalho

sistemático de educação patrimonial poderia ocorrer, já que a rotatividade de

professores é baixa.

Mas, a partir das entrevistas, essa prática não ocorre, pois os setenta e oito

professores entrevistados nas escolas pesquisadas, cinquenta e dois professores,

ou seja, 66% dos entrevistados, não utilizam o patrimônio cultural municipal como

conteúdo de conhecimento em suas atividades pedagógicas. Evidenciou-se como

causa, fatores como a falta de conhecimento a respeito do assunto e a

desconsideração desta prática como atividade comum, pois a maioria destes

docentes não foram preparados neste sentido quando de sua formação como

educador. “Não me lembro de ter estudado no curso de Pedagogia, educação

patrimonial” (C5, 2011). Contudo, os professores também demonstraram que têm

Page 105: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

106

interesse de promover o uso do patrimônio cultural como ferramenta de ensino, mas

este deveria ser um processo que acontece em várias esferas, ao qual eles estariam

aderindo.

Verificou-se, nas entrevistas, que o tema da educação patrimonial é bastante

incipiente. Ainda causa estranheza falar desse assunto nas escolas, e até mesmo na

SEMEC. Tal estranhamento está estreitamente ligado ao fato de que a cultura e a

preservação cultural não integram a agenda de preocupações da sociedade.

Apesar dos avanços ocorridos nas últimas décadas, a cultura não é

concebida como um bem público que precisa ser cuidado e gerido, de forma a

preservar as memórias e as identidades culturais.

Segundo os professores entrevistados, as políticas públicas e os

investimentos públicos e privados são fundamentais para a preservação cultural,

mas eles ficam limitados em seus efeitos, se não vierem acompanhados de um

processo educativo, por meio do qual as pessoas aprendem e ensinam novas

formas de se relacionarem com as dimensões culturais de que fazem parte. Os

professores concordam em dizer a respeito das limitações que cercam a educação

formal no Brasil, as escolas continuam sendo espaços privilegiados para a formação

cultural das crianças e dos jovens, sobretudo para o desenvolvimento da

consciência e de práticas de preservação cultural.

Os docentes, em particular, podem atuar como importantes agentes de

educação patrimonial nas diferentes unidades escolares e disciplinas onde atuam. O

processo educativo é dependente de inúmeros fatores, mas a ação do educador é,

sem dúvida, um dos mais importantes. Ao planejar as aulas, podem ser incluídos

assuntos culturais e históricos que envolvam o ambiente em que a escola está

inserida. Os hábitos culturais e o conhecimento, por parte dos professores, são

fundamentais, pois deles vai depender o conhecimento e a sensibilidade dos

educandos em relação aos temas relacionados à cultura. Horta (1999) também

partilham desta opinião, quando afirmam que participar e conhecer a realidade local

é indispensável no momento de definir os objetivos e resultados esperados da

educação patrimonial.

Levando em consideração a definição de Horta (1999), esta pesquisa

priorizou um estudo sobre as concepções e as práticas dos professores sobre o

patrimônio cultural local; sobre seus conhecimentos acerca da contemplação da

educação patrimonial no PPP da Escola que trabalha; como o patrimônio cultural é

Page 106: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

107

tratado no município; como são os processos metodológicos e materiais didáticos

utilizados nessa prática, também se elencou nessa investigação o conhecimento das

políticas públicas do Estado e do Município por parte dos professores.

Os dados da entrevista constataram que, embora o município de São Mateus

do Sul seja carente na área da educação patrimonial, há interesse por parte dos

educadores nesta proposta. Este dado demonstra conscientização da importância

do patrimônio histórico e cultural dos docentes. O aparente interesse pelo patrimônio

cultural do município nos permite questionar o fato de que, embora o município seja

rico em bens patrimoniais, não há nenhum registro, ou seja, mesmo tendo demanda,

não despertou a atenção por parte do poder público ou entidades afins da

valorização dos seus bens patrimoniais.

O trabalho educacional sobre a preservação do patrimônio é de suma

importância e compete a toda a comunidade escolar, mas, principalmente, ao

professor. Para que se visualizem ações neste sentido, é necessário que se

conheça a visão deste profissional sobre o patrimônio cultural. De outra forma, torna-

se impraticável qualquer investimento no setor. Isso sugere, neste primeiro

momento, que há uma falta de familiaridade com o assunto, e isso se deve, em

parte, a lacunas em sua formação acadêmica que nem sempre oferece condições

satisfatórias para uma formação cultural.

É corrente que a formação acadêmica dos professores, geralmente, não se

realiza em ambientes planejados para serem culturalmente ricos, incluindo leituras,

exposições e outras formas de manifestação cultural. É preciso que os professores

de todos os segmentos da escolaridade básica tenham uma sólida e ampla

formação cultural.

Quando lançamos a questão a respeito do conhecimento e valorização do

patrimônio cultural do município, os professores foram unânimes em responder que

essa prática somente ocorre no mês do aniversário do município, setembro.

Não podemos deixar de mencionar que o termo patrimônio foi duas vezes

confundido com propriedade, nesse caso sendo considerado como todo e qualquer

patrimônio que pode ser convertido em dinheiro. Esta assimilação tem a ver com o

contexto capitalista em que vivemos, em que o que não é visível não pode ser

comercializado; portanto, passa a não ter importância, porque não tem valor para

troca. O patrimônio cultural, ao contrário, não se apresenta de forma cristalizada,

Page 107: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

108

mas traduz todas as informações culturais de um grupo expressas através de seu

modo de vida e de seus valores éticos e morais.

Estes dados reforçam a ideia de carência na formação dos educadores com

relação às questões locais, e da necessidade de investir na capacitação destes

profissionais, já que foram unânimes em dizer que essa prática é deficiente. Embora

possa soar redundante, salientamos que o conhecimento dos docentes não difere da

maioria dos cidadãos comuns neste ponto. Todavia, não pesquisamos

numericamente a opinião pública leiga, mas conhecemos esta realidade por

convivência e inserção no meio social de São Mateus do Sul e região.

Embora as leis da educação contemplem as questões culturais e a

valorização sobre os aspectos locais, na prática, nem sempre encontramos inseridos

na estrutura do sistema de ensino, a preocupação com a preservação do patrimônio

cultural local e, ao contrário do que se pensa, o indivíduo que valoriza e preserva é o

que tem acesso à educação, e não necessariamente o que pertence a uma elite

econômica.

A escola é um espaço frequentado pela família, pela comunidade em geral;

logo, torna-se um ambiente formador de ideias, opiniões e disseminador dos valores

produzidos. Neste sentido, procuramos entender de que forma a escola e seu

principal expoente, o professor, contribuem para a produção deste conhecimento.

Era nosso interesse saber, também, se os professores tinham apoio da escola

quanto às iniciativas culturais. Há um consenso entre os entrevistados, que a escola

apoia tais iniciativas. No entanto, elas acontecem de forma esporádica,

principalmente no mês do aniversário do município, no formato de apresentações,

exposições, palestras e normalmente não envolvem a comunidade. Estas atividades

culturais são desenvolvidas por ocasião de determinadas datas comemorativas, não

podem ser entendidas como educação patrimonial, pois não se configuram no

processo educativo previsto na educação patrimonial, que deve ser permanente,

sistemático, abordado em todos os momentos oportunos, despertando nos

educandos ações próprias.

Não é preciso organizar um grande evento para convidar pessoas da

comunidade, não é preciso parar toda a escola. Pode-se fazer por etapas,

selecionando as turmas de acordo com o conteúdo.

O importante é promover tais encontros. Afinal, a valorização dos bens

patrimoniais e as tradições cultivadas no entorno da escola também são

Page 108: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

109

fundamentais e são significativas quando inseridas no meio escolar, tanto do ponto

de vista da valorização quanto da preservação.

Tomando como base os resultados obtidos em resposta sobre os promotores

de ações para a preservação da memória e do patrimônio do município, no caso a

SEMEC, as respostas foram unânimes em dizer que há carência nesse quesito,

talvez por falta de um planejamento coletivo por parte da SEMEC e das escolas. A

falta de conhecimento das políticas públicas por parte dos professores, também

contribui para a deficiência da educação patrimonial, pois 100% dos professores

dizem desconhecer as políticas públicas do Estado do Paraná e do município para a

preservação do patrimônio cultural do município. Eis a questão: como cobrar o que

se desconhece?

Com relação à utilização de materiais didáticos e a metodologia para auxiliar

na preservação do patrimônio cultural do município, todos os professores

responderam que há uma deficiência em materiais didáticos, tendo que utilizar

recursos como: visitas ao museu, utilização de fotografias ou texto de jornais locais

sobre o assunto.

Durante a entrevista, perguntamos de que forma o professor introduz na sua

prática pedagógica a questão cultural local e como é a interrelação das disciplinas

para se trabalhar o patrimônio cultural do município. Em alguns casos, foi possível

perceber interesse por parte dos docentes em trabalhar as influências culturais

locais e os bens patrimoniais, sobretudo em conjunto, mas todos os professores

responderam que geralmente esta interrelação de disciplinas ocorre entre História,

Geografia e Artes no mês de setembro, quando se comemora o aniversário do

município.

Dificilmente isso ocorre, salvo das comemorações do mês de aniversário do município que nos reunimos para dividir as tarefas e fazer uma grande atividade, mas geralmente isso ocorre nas disciplinas de Artes, Geografia e História. (C3, 2011)

A capacidade de introduzir e utilizar a história local e o patrimônio cultural

local em diferentes situações é uma condição necessária para que possamos

conscientizar os jovens para a vontade de preservar a identidade coletiva e fazer

valer seus direitos de cidadão. No entanto, ficou visível, também, que o assunto

ainda não é abordado de forma satisfatória. A justificativa dos professores

entrevistados nos chama a atenção: “[...] quando surge uma oportunidade, não é

Page 109: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

110

sempre que dá, a gente tem sempre a aula pronta, e precisamos vencer as

propostas ditadas no currículo escolar [...] então fica difícil [...] sair daquilo [...]” (C1,

2011).

O planejamento da aula não pode tornar-se uma barreira, pelo contrário,

deve-se prever, além das contribuições dos alunos, que certamente surgem, tempo

para discutir outros assuntos relacionados com o tema da aula. Esses são os

chamados temas transversais. O espaço de sala de aula é um espaço de produção

de conhecimento. Nele, o professor deve valorizar o aluno para que ele reconheça

no professor como um mediador do conhecimento. Esta valorização inclui,

principalmente, os saberes produzidos ou incorporados pelos alunos. Neste sentido,

questionamos os professores para saber como eles valorizam o conhecimento, e de

que forma envolvem o aluno na sua realidade cultural ao abordar o tema em sala de

aula. Os professores entrevistados apontaram a “falta de tempo” como principal

razão para a não inserção do tema do patrimônio em sala de aula.

Os depoimentos são claros: não há um aproveitamento satisfatório dos

elementos culturais locais na prática educativa, muito menos a prática da educação

patrimonial. É evidente que cada profissional vai desenvolvendo ao longo de sua

carreira uma linha de pensamento que vai caracterizando sua didática, e

respeitamos cada posição, mas entendemos que a utilização das pessoas e das

manifestações e dos bens culturais presentes na comunidade e região contribuem

muito para a significação do ensino, para a valorização do patrimônio cultural e sua

preservação. Quando perguntamos como o professor trabalha os conceitos de

cultura, patrimônio, preservação, interação na sua prática e que conceitos ele

constrói com seus alunos, e novamente obtivemos respostas que não condizem com

o esperado: a falta de tempo e de espaço no currículo, são as respostas

apresentadas pelos docentes.

Aos professores, perguntamos: em sua opinião, como a questão

patrimonial/cultural pode auxiliar na conservação da memória? As respostas variam,

porém, em alguns pontos, os entrevistados foram unânimes em dizer que, essa

questão é muito importante, pois abordando temas locais, reaviva a conscientização

para a valorização do patrimônio cultural, pois se não existirem essas práticas,

esses assuntos podem cair no esquecimento. “[...] abordando temas locais, estamos

promovendo e vivenciando os fatos, relembrando pessoas importantes, para o

Page 110: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

111

desenvolvimento cultural da região, destacando a sua importância e a contribuição

para a história local.” (C5, 2011).

Mas para que esta conservação da memória ocorra através da valorização

do patrimônio, precisa que haja incentivos do poder público local, sobretudo da

SEMEC.

Considerando que os professores não trabalham a preservação cultural em

sala de aula, solicitamos que indicassem os motivos pelo qual não faziam isso. As

respostas foram unânimes em dizer que “[...] há falta de tempo, incentivos, falta de

material, ou admitem não ter conhecimento sobre o assunto.” (C2, 2011)

Considerando que o corpo docente não tenha um conhecimento na área da

educação patrimonial, pedimos para que os professores indicassem que ações

julgavam relevantes e que poderiam ser desenvolvidas neste sentido. Dentre as

opções sugeridas, os professores indicaram a criação de oficinas, como a melhor

forma para capacitar os professores. As palestras com profissionais na área da

cultura também foram mencionadas como estratégias para suprir a falta de tal

conhecimento do assunto.

“Nós, professores, acreditamos que deveriam existir mais incentivos da

SEMEC, como palestras e oficinas para melhor capacitar os profissionais da

educação [...]” (C2, 2011). Também foram citadas a ideia de produção e distribuição

de apostilas específicas sobre o assunto, que seriam adequadas para o propósito.

Este ponto é crucial para a pesquisa, mesmo deixando de considerar o

instrumento sugerido, todos optaram por alguma alternativa, o que demonstra que o

corpo docente tem consciência de sua defasagem frente ao tema e estaria disposto

a se capacitar. Este é um ponto de partida para adoção de uma política educacional

para a valorização da cultura local.

Page 111: a educação patrimonial formal como elemento reconhecedor do ...

112

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diversos fatores podem explicar a pouca importância pelo patrimônio cultural

em São Mateus do Sul, mas o desconhecimento é, sem dúvida, o mais crucial,

porque alimenta o desinteresse. Uma das dificuldades, segundo a nossa pesquisa,

diz respeito às lacunas na formação dos professores na Universidade; a ausência de

cursos de capacitação com relação às questões culturais e preservacionistas; a

ressonância destas carências nos alunos; o desconhecimento por parte dos

docentes em relação ao PPP das suas respectivas escolas e a falta de

conhecimento das leis da educação para a preservação do patrimônio cultural.

No caso da formação dos professores, percebemos através das entrevistas

com os mesmos, que o sistema educacional universitário está desprovido de uma

concreta e reflexiva relação teórica-prática em relação à educação patrimonial,

levando futuros professores a saírem das universidades despreparados para

atuarem na realidade que lhes espera, ou seja, a história local a ser trabalhada em

sala de aula. Muitas vezes, esse docente se vê incapaz de atuar de maneira

competente em diversas situações que são desafiadoras.

Atualmente, reconhece-se a urgência de maiores investimentos para melhorar

a qualidade da formação dos professores, sendo que, nesse processo de formação,

destacam se o curso de graduação, reconhecido como etapa privilegiada do

processo, tornando-se, por isso, imprescindível oferecer aos futuros professores um

consistente suporte teórico-metodológico, baseado na unidade teoria-prática.

Não podemos esquecer que o âmbito de formação e qualificação profissional

é bastante complexa, e está profundamente ligado a contextos sociais e culturais,

necessitando do rompimento de antigos paradigmas neste campo. Posto que, é

lícito afirmar que a deficiência de formação se deve, em uma parte, à ineficiência

dos cursos de graduação e em outra a uma necessidade de constante atualização

deste docente que tem como premícia a preparação para acompanhar os constantes

avanços da sociedade tecnológica. É notório que dificilmente os professores sairão

dos cursos de graduação preparados para todas as situações que a profissão irá

exigir. Este deve, sim, estar preparado para buscar subsídios e respostas às

situações e temas que vierem surgir no decorrer de seu trabalho.

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Apesar de todos os avanços obtidos com as normatizações de leis, estas

ainda apresentam sérias falhas quanto à formação do professor como profissional,

percebe-se que na prática ainda persiste a histórica divisão entre teoria-prática-

realidade, ou seja, os professores precisam explorar mais a realidade dos seus

educandos na prática, explorando mais a história local e seus patrimônios culturais

na sala de aula, não ficando presos em assuntos programáticos, substituindo os

conhecimentos locais aos assuntos macros tratados no livro didático, assim dessa

forma continua persistindo um estudo teórico superficial e, impossibilitando ao

professor um saber-fazer pedagógico reflexivo.

Vislumbrando-se ainda a atuação docente na perspectiva da educação

patrimonial, segundo Bittencourt (1997), a formação continuada estará contribuindo

com o processo de formação de uma consciência preservacionista do patrimônio

cultural, garantindo um referencial identitário, contribuindo para a construção de uma

cidadania social.

A partir da formação continuada, cursos de extensão, oficinas ou seminários

que esclareçam e discutam a educação patrimonial, os professores passam a

visualizar aspectos da sua realidade que, até então, não eram perceptíveis como

valores culturais, situações-problemas, cotidiano, entre outros. Nesse sentido,

constatam, na prática, que o “estudo do meio” traz amplas possibilidades de trabalho

em sala de aula, e para uma consciência preservacionista do patrimônio cultural-

local.

Daí, a importância em se proporcionar aos docentes oportunidades de

realização de cursos e oficinas pedagógicas, dando ênfase ao estudo do meio, visto

como decorrente desse, poderão realizar pesquisas por meio de observações,

criando atividades que despertam o gosto pelo reconhecimento da história local,

estendendo esta prática aos educandos.

Dessa forma, estabelece-se uma relação entre o trabalho pedagógico e o

patrimônio cultural, ocorrendo um reconhecimento de bens culturais locais, e um

despertar de consciência preservacionista, como referencial identitário para as

novas gerações e, contribuir no processo de sua formação para uma cidadania

social.

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114

Assim, envolvendo-se num processo de formação acerca do patrimônio

cultural-local, os docentes se atualizam, enriquecem seus conhecimentos, atingindo

os objetivos propostos nas leis da educação.

Outro sintoma provocado pelas falhas na formação do professor é o fato

deste profissional não conseguir agregar conhecimentos locais aos assuntos macros

tratados no livro didático. Então, o que se ensina é, basicamente, uma história quase

sempre vitoriosa e que exalta o nome de alguns privilegiados, desconsiderando o

viés coletivo e local. É preciso transpor esta visão fortemente arraigada de que as

questões locais são menos importantes e iniciarmos um processo que, entremeando

as questões contempladas na literatura nacional, produza o reconhecimento de nós

mesmos, dos outros e do patrimônio histórico/cultural construído e vivido pelos

alunos.

No que tange ao conhecimento dos sujeitos pesquisados sobre patrimônio

cultural, a educação patrimonial, as leis que fomentam essa prática e os recursos

necessários para disseminar tal prática, os dados mostram que não há uma

familiaridade por parte dos professores com o assunto. Na mesma direção, está a

percepção dos docentes sobre a educação patrimonial, em que grande parte

interpreta como o estudo sobre os monumentos, edificações históricas, visitas a

museus e similares, que podem ser feito esporadicamente.

Quanto à incorporação do conhecimento sobre o patrimônio cultural local à

prática educativa, os depoimentos dos professores apontaram a falta de tempo

como o principal impedimento para tratar questões culturais, e a interrelação entre

as disciplinas no que tange à questão cultural do município também ocorrem

esporadicamente, quando se quer “[...] ganhar tempo, geralmente artes e história

fazem algumas atividades juntas, geralmente no mês de aniversário do município”

(C1, 2011). Há os que deram a entender que há conhecimentos mais importantes

que não podem ser deixados de lado. “Nossa... é tanto conteúdo para ser trabalhado

durante o ano, que esses assuntos passam despercebidos, mas é falha nossa,

porque isso não podia acontecer”. (C4, 2011). Estas justificativas não procedem,

primeiro porque a educação patrimonial não requer um tempo específico para sua

aplicação, pois é uma atividade continua. As questões vão sendo inseridas nos

temas trabalhados, de possíveis “ganchos” que, com certeza, surgem numa aula

que prima pela participação ativa do aluno; além disso, está previsto na LDB. A falta

de conhecimento dos professores na área não permite que se abordem, de forma

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satisfatória, a questão, faltam políticas públicas e incentivos por parte da SEMEC

para a realização de cursos de capacitação, uma metodologia para nortear as

atividades e materiais didáticos que amenizem a carência.

Outra constatação feita a partir das análises das entrevistas com os

professores mostra que o número elevado de professores com tempo de magistério

considerável alto, ou seja, 81% com mais de 10 anos, e atuação na mesma

instituição de ensino, relativamente alto, leva-nos a crer que um trabalho sistemático

de educação patrimonial poderia ocorrer, já que a rotatividade de professores é

baixa, apenas seria necessária uma política de conscientização por parte dos

gestores da educação e professores para que essa prática fosse difundida.

A preservação do patrimônio cultural e a importância da educação patrimonial

na forma estabelecida na Constituição Federal também têm destaque na legislação

estadual e municipal. Como ressaltado ao longo de todo desse estudo, educação

patrimonial é relativamente considerada como um aspecto chave de uma política

pública essencial de preservação do patrimônio cultural nessas três esferas, mas,

porém, não há uma interação do Estado, para que políticas públicas sejam criadas

para esse fim.

A educação patrimonial não é, por si só, a solução para a preservação do

patrimônio cultural, porém, indiscutivelmente, é um dos aspectos fundamentais para

que isso aconteça. O poder público tem o dever e a possibilidade de enfrentar

desafios, como de capacitação dos docentes, criando metodologias e materiais

didáticos que possam dar suporte aos docentes e que garanta o seu uso adequado

com os alunos.

Outra necessidade para que o poder público tenha êxito em suas ações é a

criação de um conselho municipal de defesa do patrimônio local, até então

inexistente no município. A existência desse conselho traz consigo a configuração

de uma estrutura de trabalho personalizada, que interage diretamente com a

população local. A ausência de um conselho local em defesa do patrimônio deixa o

município sem lei específica sobre o assunto, não contribuindo para o

desenvolvimento de uma educação patrimonial continuada, com intenção de

preservar a identidade cultural do povo.

O conhecimento adquirido na investigação da realidade cultural de São

Mateus do Sul permite a indicação de iniciativas, todas elas possíveis de serem

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capitaneadas pelo setor público ou ainda em parceria com instituições privadas,

sejam de ensino ou não. São elas:

• Capacitar os docentes sobre a Educação Patrimonial e a importância da

inserção das questões preservacionistas na educação, por meio de oficinas e

palestras, como eles próprios sugeriram, conforme está registrado na

pesquisa;

• Organizar campanhas educativas junto à comunidade visando ao

conhecimento, à valorização e preservação do patrimônio cultural através da

imprensa local, com folders, palestras, oficinas ou seminários;

• Produzir um inventário cultural, registrando todas as formas de manifestações

culturais no município;

• Elaborar um projeto para a viabilização de um espaço de memória, embora

para uma cidade do porte socioeconômico de São Mateus do Sul não dispor

de um espaço de exposição e preservação histórica adequada, seja algo a se

lamentar, nem por isto se poderia deixar de valorizar as questões ligadas ao

patrimônio cultural e afins.

Uma forma de suprir esta carência seria a organização de mostras temáticas

fixas ou itinerantes, que pudessem contemplar escolas e comunidade. Apesar de

que a SEMEC afirma que atividades de divulgação cultural são realizadas, mas não

frequentemente, e sempre que existe, esta é feita de forma tímida.

Cremos que esta pesquisa proporcionou duas contribuições fundamentais.

Primeiramente, a identificação de que os fatores que explicam a defasagem de

conhecimento e aplicação da cultura local em sala de aula são frutos de um círculo

vicioso que envolve todas as etapas do processo educativo. Isto também poderia ser

alvo de uma nova investigação, sobre o processo formativo dos professores na

graduação das áreas abordadas neste trabalho.

Num segundo momento, pode-se, também, inferir que este trabalho aponta na

direção dos elementos pedagógicos que podem sustentar a utilização do patrimônio

cultural-local como ferramenta de ensino, trabalhados para a realidade específica

sãomateuense.

Acredita-se que os resultados dessa investigação poderão ser importantes

aos professores, às escolas e aos gestores da educação, que formulam as políticas

públicas educacionais. Interessa-nos, sobremaneira, contribuir com o enraizamento

da educação patrimonial nas escolas e nos diferentes espaços educativos, com a

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intenção de promover o desenvolvimento cultural-local, pois a relação patrimônio

cultural e desenvolvimento local torna-se cada vez mais relevante a partir do papel

dinâmico desempenhado pela educação, permitindo um maior entendimento e

valorização dos cidadãos da sua própria história. Segundo Dowbor (2007, p.76) “[...]

a ideia de educação para o desenvolvimento local está diretamente vinculada a essa

compreensão e à necessidade de se formarem indivíduos que futuramente possam

participar de forma ativa das iniciativas capazes de transformar o seu entorno, de

gerar dinâmicas construtivas.”

A educação formal deve levar o indivíduo a compreender sua própria

existência e em consequência, suas necessidades e as necessidades ao seu

entorno, assim deve levar à articulação da sociedade, propiciando coesão e

identidade entre as pessoas, construindo identidades coletivas, fortalecendo os elos

comuns, passo fundamental para a continuidade e sobrevivência de uma

comunidade.

Como afirmou Furtado (1984, p. 32) uma “[...] política de desenvolvimento

deve ser posta a serviço do processo de enriquecimento cultural [...]”, pois,

dimensão fundamental do desenvolvimento das sociedades, dos grupos sociais e

dos indivíduos, a cultura representa um único e insubstituível corpo de valores que

alimenta o enriquecimento do patrimônio comum da humanidade, na medida em que

as tradições de uma sociedade ou de um grupo social e suas formas de expressão

são seus meios de afirmar sua presença no mundo.

A preservação de bens culturais se justifica, hoje, como condição de garantia

dos direitos universais do ser humano. Desta forma, as instituições criadas para

proteger o patrimônio e as questões que o permeiam devem ser suficientemente

sólidas visando a sustentação de suas práticas. Nesse sentido, a escola como lócus

de conhecimento é indispensável para a concretização desta formação, pois ela

permite socializar com os alunos o conhecimento e a valorização dos elementos que

compõem este patrimônio cultural.

Neste sentido, compreender o valor da memória, da identidade e do

conhecimento da história, bem como a preservação do patrimônio torna-se um fator

importante na formação escolar visando o desenvolvimento local. Promover o

desenvolvimento local diz respeito à capacidade de integração e de

complementaridade que a sociedade tem na busca de interesses comuns que

atendam as necessidades sociais, econômicas, culturais, políticas e ambientais.

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O desenvolvimento deve ser pensado a partir da riqueza que a localidade

possui, no que diz respeito à cultura herdada, as atividades predominantes da

região, as possibilidades existentes, e, nesse sentido, as soluções para

determinada região deverá ser pensada de forma a atender às suas necessidades e

à sua qualidade de vida. A partir desta compreensão a escola pode ser articuladora

entre as necessidades locais e os conhecimentos correspondentes, ela deve educar

para a cidadania e para a democratização do conhecimento e para a instituição da

identidade.

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APÊNDICES

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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – UnC PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGI ONAL

ENTREVISTA COM O SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO E CULTURA Data da entrevista: Nome: Cargo: Formação : ( ) Magistério ( ) Graduação : Matemática ( ) Pós- Graduação Lato Sensu Tempo de serviço no Magistério: Como Secretário de Educação e Cultura: 01. Como a proposta do ensino do município contempla a preservação da memória e do patrimônio cultural em São Mateus do Sul? 02. Quais são as ações desenvolvidas pela Secretaria de Educação e Cultura do município para a preservação da memória e do Patrimônio Cultural em São Mateus do Sul, tais como: - investimentos em cursos de capacitação de professores; - investimentos em materiais didáticos; - planejamentos de atividades culturais, como conferências, e eventos; - projetos de valorização do patrimônio cultural; - divulgação do patrimônio local. 03. Como a Secretaria de Educação e Cultura interage com as Políticas Públicas do município, visando o reconhecimento e a valorização do Patrimônio Cultural em São Mateus do Sul? 04. Como a Secretaria de Educação e Cultura interage com as Políticas Públicas do Estado do Paraná e Governo Federal para a afirmação das políticas de preservação do patrimônio cultural em São Mateus do Sul? 05. Quais são as orientações metodológicas que a Secretaria de Educação e Cultura adota para valorizar o patrimônio cultural do município de São Mateus do Sul? 06. Quais são os materiais didáticos utilizados para valorizar o patrimônio cultural do município de São Mateus do Sul?

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ENTREVISTAS COM OS DIRETORES E COORDENADORES DAS ES COLAS PESQUISADAS

Data da entrevista: Nome: Cargo: Formação : ( ) Magistério ( ) Graduação : Matemática ( ) Pós- Graduação Lato Sensu Tempo de serviço no Magistério: Tempo de serviço na Escola: 01. Como a proposta do ensino do município contempla a preservação da memória e do patrimônio cultural em São Mateus do Sul? 02. Quais são as ações desenvolvidas pela Escola para a preservação da memória e do Patrimônio Cultural em São Mateus do Sul, tais como: - investimentos em cursos de capacitação de professores; - investimentos em materiais didáticos; - planejamentos de atividades culturais, como conferências, e eventos; - projetos de valorização do patrimônio cultural; - divulgação do patrimônio local. 03. Como a Escola interage com as Políticas Públicas do município, visando o reconhecimento e a valorização do Patrimônio Cultural em São Mateus do Sul? 04. Como a Secretaria de Educação e Cultura interage com as Políticas Públicas do Estado do Paraná e Governo Federal para a afirmação das políticas de preservação do patrimônio cultural em São Mateus do Sul? Sinceramente, desconhecemos 05. Quais são os processos metodológicos utilizados na Escola para valorizar o patrimônio cultural do município de São Mateus do Sul? Valoriza-se bastante o patrimônio do município, através de atividades que são realizadas desde a educação infantil até o ensino médio, trabalham-se essas atividades dentro das disciplinas, principalmente de História e Geografia. 06. Quais são os materiais didáticos utilizados na Escola para valorizar o patrimônio cultural do município de São Mateus do Sul?

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ENTREVISTAS COM OS PROFESSORES Data da entrevista: Nome: Cargo: Formação : ( ) Magistério ( ) Graduação : Matemática ( ) Pós- Graduação Lato Sensu Tempo de serviço no Magistério: Tempo de serviço na Escola: 01.Dentro do Plano Político Pedagógico e dentro do Currículo da Escola, como a Educação Patrimonial é contemplada? 02.Como o patrimônio cultural é tratado em seu município? 03. Será que o estudo do patrimônio cultural pode auxiliar na conservação da memória coletiva promovendo a construção da história do seu município? Como? 04. Quais são os processos metodológicos utilizados em sala de aula para valorizar o patrimônio cultural do município de São Mateus do Sul? 05. Quais são os materiais didáticos utilizados em sala de aula para valorizar o patrimônio cultural do município de São Mateus do Sul? 06. Qual é a interação das Políticas Públicas do Estado do Paraná e do município quanto ao reconhecimento e a valorização do Patrimônio Cultural de São Mateus do Sul – Pr. 07. Na sua Escola há interrelação das disciplinas para se trabalhar o patrimônio cultural em São Mateus do Sul. 08. Quais são as ações desenvolvidas pela Secretaria de Educação e Cultura do município para a preservação da memória e do Patrimônio Cultural em São Mateus do Sul, tais como:

- investimentos em cursos de capacitação de professores; - investimentos em materiais didáticos; - planejamentos de atividades culturais, como conferências, e eventos; - projetos de valorização do patrimônio cultural; - divulgação do patrimônio local.