A escola em 2025

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PNE: o desafio Iniciativas educacionais inovadoras no Brasil de suas metas e no mundo A escola em 2025 Perspectivas, desafios, utopias. Especialistas e profissionais de educação discutem como será a escola do futuro nº 1 2º trimestre / 2015

Transcript of A escola em 2025

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PNE: o desafio

Iniciativas educacionais

inovadoras no Brasil

de suas metas

e no mundo

A escola em 2025Perspectivas, desafios, utopias. Especialistas e profissionais

de educação discutem como será a escola do futuro

nº 1

2º trimestre / 2015

Page 2: A escola em 2025

Qual a sua visão sobre atecnologia na educação?

Vamos conversar?www.mstech.com.br+55 14 3235-5500 / 14 3235-5509

aprender ensinar transformar

Somos uma empresa de tecnologia educacional que busca a inovação não pela simples ação, e sim para fazer a diferença no meio em que atuamos.

Como posso ter informações administrativas e pedagógicas de forma ágil e simplificada para tomada de decisões assertivas?

Como saber quais as dificuldades na aprendizagem dos alunos, gerenciar e acompanhar atividades por meio de recursos digitais na sala de aula?

Page 3: A escola em 2025

ApresentaçãoEscola 2025: pensando a escola que vamos construir na próxima década

Caros amig@s da educação, é uma honra

poder testemunhar o nascimento de um pensa-

mento coletivo, uma reflexão ou mesmo a expres-

são de um desejo de pensar na escola da próxima

década. Esta é a primeira edição da Revista Escola

2025 e temos muito orgulho de poder reunir neste

projeto pessoas que admiramos, convivemos e

que, assim como nós, trabalham todo dia com

uma coisa em mente: a escola.

A Escola 2025 nasceu com um único objeti-

vo: reunir quem vive de e para a escola na constru-

ção de diferentes visões de futuro, a respeito dos

desafios que estamos entendendo cada vez melhor

no nosso presente. As tecnologias já estão por aí. Os

problemas já estão (em sua maior parte) mapeados.

As empresas, o governo, líderes educacionais e

educadores estão se mobilizando. Mas nada disso

vai dar certo se, para cada problema, a resposta

for uma solução pontual, desarticulada da escola

e de suas idiossincrasias e, mais importante, sem

uma visão a longo prazo.

Pessoalmente, venho de diversas experiên-

cias que foram se desenvolvendo desde o ano de

2005, ano em que tive a oportunidade de realizar

o primeiro projeto de software pedagógico para

escolas. Alguns projetos foram um sucesso, outros

foram bons, mas não o suficiente para escalar e,

avaliando à luz de um pensamento mais rigoroso,

posso reconhecer com serenidade que existem

projetos educacionais em que a tecnologia estava

certa, a proposta pedagógica era sólida e, ainda

assim, o projeto não sobreviveu à fase piloto. Uma

década depois, é fácil chegar à conclusão de que

o problema não estava no projeto em si, mas sim

na expectativa de tê-lo maduro em apenas seis

meses (quando não, menos!).

Não queremos propor soluções mágicas,

puros reducionismos ou ideias mirabolantes.

Sabemos que assim não vamos ter boas histórias

para contar na próxima década. Mas se começar-

mos aceitando que problemas complexos, muitas

vezes, exigem soluções que, mesmo simples,

demandam tempo para serem implementadas,

tenho certeza de que, em uma década, teremos

um outro nível de qualidade em nossas escolas.

Para isso desenvolvemos esta revista.

Queremos abrir espaço para debater e divulgar

pensamentos que, acreditamos, serão de grande

valia para os tomadores de decisão da educação

e, também, para os educadores. Queremos dar

visibilidade às estratégias de tecnologia, estra-

tégias de soluções e estratégias de inovação que

possam sobreviver à fase piloto. E a hora é agora.

Neste ano de 2015, o Secretário de Educação dos

Estados Unidos, Arne Duncan, estabeleceu me-

tas rigorosas para o sistema público americano

que, entre outras coisas, passará a incentivar

a adoção de livros digitais, de forma a reduzir

gradualmente o dinheiro investido nos tradi-

cionais livros impressos até 2020. Mudanças

estão em curso não só em função da revolução

trazida pela tecnologia de consumo (smartpho-

nes, redes sociais, internet de banda larga etc.).

As mudanças estão em curso também porque

o Estado e suas políticas públicas passaram a

empreender de forma mais ativa para mudar

a educação.

Portanto, a Escola 2025 tem uma respon-

sabilidade já assumida. Não se trata apenas

de idealizarmos um tipo de escola próxima da

utopia. Se as soluções para uma melhor escola

forem pensadas dentro de uma perspectiva de

excelência em educação, e que esta excelência

terá seu tempo próprio para ser construída,

então esta é uma estrada em que se vale a pena

viajar pela próxima década. E que a Escola

2025 seja um espaço de construção para esta

agenda positiva!

Aquele abraço,Daniel IgarashiDiretor de Estratégias e Negócios | MSTECH

Qual a sua visão sobre atecnologia na educação?

Vamos conversar?www.mstech.com.br+55 14 3235-5500 / 14 3235-5509

aprender ensinar transformar

Somos uma empresa de tecnologia educacional que busca a inovação não pela simples ação, e sim para fazer a diferença no meio em que atuamos.

Como posso ter informações administrativas e pedagógicas de forma ágil e simplificada para tomada de decisões assertivas?

Como saber quais as dificuldades na aprendizagem dos alunos, gerenciar e acompanhar atividades por meio de recursos digitais na sala de aula?

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Índice

CORPO EDITORIALDaniel IgarashiDariel de CarvalhoLaura Paniagua Justino

EDITORFernando Mendonça (MTB 57449/SP)

JORNALISTA RESPONSÁVELMichelly Fogaça (MTB 0075987/SP)

REDAÇÃO Michelly Fogaça

REVISÃO ORTOGRÁFICAEduardo CarboneFernando Mendonça

APOIO EDITORIALEduardo CarboneHelena SylvestreVinicius Carrasco

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃOJoão BrizziJúnior Morasco

ILUSTRAÇÃO E INFOGRÁFICOSJoão BrizziJúnior Morasco

GERENTE DE MARKETING E VENDASBruno Piubeli

MARKETINGAna Paula MarouboCaio Spoladore

[email protected]

Revista Escola 2025 é uma realização daMSTECH Educação e Tecnologia S.A.

Todos os direitos são reservados.

Jornalista Caio Dib percorreu 17 mil quilômetros para conhecer escolas do Brasil.

A Escola do Futuro

pág. 11Planejar para realizar

pág. 22

O caminho a seguir

pág. 28Aprender e ensinar sob medida

pág. 37

Escola e sociedade

pág. 44Opinião de estudante

pág. 46

Pelo Brasil e pelo Mundo

pág. 5

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Pelo Brasil e pelo Mundo

Pesquisas e estudos revelam panorama de escolas e medidas que são

destaque na busca pela evolução da educação

Michelly Fogaça

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Jornalista Caio Dib percorreu 17 mil quilômetros para conhecer escolas do Brasil.

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A tendência natural dos seres vivos é a evolu-

ção, uma afirmação conhecida desde as publicações

de Charles Darwin em 1859. Nos seres humanos, essa

tendência à evolução não leva apenas à sobrevivência

do corpo físico, mas principalmente ao aprimoramento

intelectual. Não é à toa que as revoluções industriais

e tecnológicas estão intrinsecamente ligadas ao cres-

cimento informacional das pessoas. E o que isso tem

a ver com a escola? As instituições de ensino são o

berçário para a evolução intelectual dos seres hu-

manos e, assim como no Darwinismo, é preciso que

essas se adaptem aos alunos de hoje e do futuro e às

necessidades emergentes desse público e da socie-

dade, para que não se caracterizem como ambientes

deslocados da realidade.

Seja por iniciativa governamental ou não, insti-

tuições do mundo todo estão encontrando maneiras de

se adaptar e de melhorar a forma de ofertar educação

à população. Essa mudança no paradigma das escolas

eleva o desempenho dos alunos em pesquisas sobre

a qualidade de ensino e, dependendo da estratégia

abordada em cada instituição, prepara os estudantes

para que sejam cidadãos mais ativos e profissionais

mais qualificados. Alguns exemplos dessas mudan-

ças foram relatados no estudo da Organização para

a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE,

divulgado no início deste ano.

PREPARAR ALUNO PARA MERCADO DE TRA-

BALHO E OFERECER MELHOR AMBIENTE ESCOLAR

SÃO DESTAQUES EM ESTUDO

A OCDE analisou mais de 450 iniciativas adota-

das nos últimos sete anos por 34 países, em sua maioria

com alto índice de desenvolvimento humano e PIB

elevado. Dentre essas iniciativas, a mais implantada,

em 29% dos países analisados, é referente ao preparo

dos alunos para o mercado de trabalho e à continui-

dade dos estudos, com ensino profissional e técnico.

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O que, segundo os especialistas responsáveis pela

pesquisa, auxilia no fortalecimento da economia do

país, uma vez que interfere na qualidade técnica e

amplia a produtividade dos trabalhadores.

Um exemplo dessa iniciativa voltada ao mercado

de trabalho está em Portugal. Com o objetivo de am-

pliar as matrículas dos jovens no ensino profissional,

os cursos oferecidos passaram a ser compatíveis com

a demanda do mercado de trabalho nas diferentes

regiões do país. Com intenção similar e buscando a re-

dução da desistência de alunos, a Dinamarca também

tem reformulado seu sistema de ensino profissional.

A melhoria no ambiente escolar é a segunda

iniciativa mais tomada pelos países da pesquisa. Em

cerca de 24% deles a preocupação está em reduzir o

número de alunos por turma, reformular os currículos

e capacitar professores para atender melhor ao perfil

do estudante de hoje. Para atingir essas expectativas,

Austrália, França e Holanda passaram a investir no

treinamento de docentes, com criação de institutos

para trabalhar a parte prática e teórica da docência,

e a atrair os melhores alunos da educação básica para

a graduação em cursos na área de educação.

Em 16% dos países a qualidade importa tanto

quanto a quantidade no quesito educação, por isso

foram tomadas medidas para que toda a população,

ou a maior parte dela, tenha acesso a, pelo menos,

um nível mínimo de ensino. No Chile, por exemplo,

já é proibida qualquer seleção para escolas de ensino

fundamental que apresente como critério renda ou

performance. Essas mesmas instituições de ensino

também não podem excluir um aluno por baixo de-

sempenho ao longo da vida escolar.

Na Nova Zelândia, a preocupação com as mi-

norias foca em estratégias para melhorar a educação

dos maoris, a população nativa do país que representa

cerca de um quarto dos habitantes. Já na Inglaterra,

fundos adicionais são repassados às escolas para que

mantenham, nas classes, crianças em risco social.

Outras iniciativas da pesquisa se aproximam

de ações já presentes no Brasil, como avaliação das

escolas para comparativo e estabelecimento de metas.

Um projeto na Itália, por exemplo, possibilita que

as escolas decidam se serão avaliadas ou não. Esse

processo engloba a autoavaliação da instituição e

uma avaliação externa. As informações sobre essas

avaliações são divulgadas publicamente e usadas para

que um plano de objetivos de melhoria e crescimento

seja traçado.

Também presentes no Brasil, a organização do

sistema educacional e a definição de uma política

nacional de educação representam o foco de 9% das

reformas apresentadas pela OCDE. Em um acordo

envolvendo todos os partidos políticos do país, a Di-

namarca reformou a estrutura, tanto concreta quanto

metodológica, de suas escolas públicas. A intenção

da ação foi simplificar objetivos curriculares e abrir

escolas para as comunidades. Na Estônia, o uso de tec-

nologia digital no processo de ensino e aprendizagem

está entre as cinco metas nacionais para a educação

estabelecidas no país.

Para a OCDE, a análise dos resultados dessas

políticas é um processo longo, mas só o aspecto das

iniciativas já demonstra o interesse na melhoria dos

sistemas de ensino dos países envolvidos. E, apesar

dessas iniciativas serem direcionadas a cada cultu-

ra e política educacional em específico, toda ideia

de mudança na busca por resultados positivos pode

ser referência para outras iniciativas com o mesmo

intuito.

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Pelo Brasil, várias iniciativas também são to-

madas na busca pela potencialização do ensino e, con-

sequentemente, da aprendizagem. Conhecer projetos

que já fazem a diferença mostra que o país caminha

para uma reforma na educação, entretanto, também

enfatiza o que precisa ser mudado com urgência para

que, de fato, as escolas se preparem para as demandas

de uma instituição do futuro. E foi esse cenário que o

jornalista Caio Dib explorou ao longo de 2013, ano em

que percorreu 17 mil quilômetros, rodados de carro,

barco, ônibus e avião, para conhecer 58 cidades de 12

estados diferentes e o Distrito Federal.

O interesse pela área se desenvolveu da curio-

sidade do comunicador sobre como a educação pode

transformar os alunos e a sociedade a partir do

protagonismo e de novas maneiras de aprender e

ensinar, mas a motivação em fazer a viagem veio

da percepção de que é preciso conhecer de perto a

realidade do país para saber quais são realmente as

necessidades das escolas e o que de diferencial já está

sendo trabalhado nas mesmas, seja por iniciativas

governamentais ou não. “Em um momento da minha

vida, queria conversar com as pessoas, conhecer as

realidades brasileiras e descobrir o que realmente

estava acontecendo de bom na educação brasileira e

que pouca gente conhecia. Então, vi na viagem uma

oportunidade muito rica de viver essa experiência e

estar mais perto das pessoas”, justifica o jornalista.

Pesquisa de campo: ideiasinovadoras e protagonismo na educação levaram jornalista a viajar por escolas do Brasil

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Iniciativa em Pentecoste, interior do Ceará, utiliza

a metodologia de aprendizagem cooperativa.

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Iniciativas como a de Caio tornam-se um regis-

tro extraoficial da situação das escolas e do ensino

no país, muitas vezes mais detalhado do que os ela-

borados por institutos de pesquisa. As experiências

da viagem foram transformadas no livro Caindo no

Brasil: uma viagem pela diversidade da educação, no

qual o autor retratou algumas das ações com as quais

teve contato (confira parte delas no quadro da pág. 10).

“O Caindo no Brasil, projeto que deu nome à viagem

e hoje continua mapeando pessoas e iniciativas que

fazem a diferença na educação, busca iniciativas

que realmente estejam mais consolidadas (não sejam

apenas pontuais) e que trabalhem com uma educação

para a vida, iniciativas que realmente desenvolvam

crianças, jovens e adultos”, destaca o autor.

Entre as ações com que o jornalista teve contato,

que vão do incentivo à remodelagem da maneira de

estudar à inserção de responsabilidade ambiental e

sustentabilidade na realidade escolar, Caio destaca

que não há em nenhuma delas uma resposta única

para reformular a educação no país. Segundo ele,

“cada modelo tem seus benefícios e seus desafios para

cada objetivo de aprendizado”, ou seja, cada instituição

ou grupo de escolas, aproximadas por necessidades

semelhantes, devem investir em projetos que levem

em consideração as necessidades locais.

Para Caio, “muita coisa boa” já acontece na edu-

cação brasileira, mas alguns dados, de infraestrutura,

por exemplo, preocupam o jornalista, como mais de

60% das escolas públicas não terem esgoto via rede

pública. Independentemente de pertencer ao setor

privado ou público, a estrutura do local de ensino

também influencia no desenvolvimento escolar dos

alunos e na implantação de medidas que modernizem

o sistema educacional do país.

A adaptação das escolas funcionará como uma

seleção natural: aquelas que não conseguirem atender

às demandas e formar os alunos necessários à socieda-

de do futuro estarão à parte da evolução da educação,

serão obsoletas. Na perspectiva do jornalista, a escola

do futuro será mais integrada ao espaço social que a

cerca. Dessa forma, “será possível aprender física na

oficina mecânica e matemática na papelaria”. Caio

acredita que “a lousa e o giz continuarão presentes,

mas cada vez mais apoiados por tecnologias que fa-

çam sentido no processo de ensino e aprendizagem,

colaborando com o ensino personalizado e também

incentivando o trabalho em grupo e o protagonismo

do aluno”.

O jornalista também defende a importância da

participação da sociedade nos processos educacionais

do país e na cobrança para que o tema tenha destaque

em ações políticas, como a redistribuição de verbas

entre as secretarias e ministérios para privilegiar

a pasta. Caio espera “que os problemas de infraes-

trutura sejam minimizados (apenas 41% das escolas

públicas têm internet banda larga e 78% das escolas

particulares – e nem sempre de boa qualidade) para

que o processo educativo seja mais eficaz. A mudança

acontece no plural; apenas juntos vamos conseguir

transformar a educação para melhor”.

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O Caindo no Brasil busca ini-ciativas que realmente este-jam mais consolidadas e que trabalhem com uma educação para a vida, iniciativas que re-almente desenvolvam crian-ças, jovens e adultos.

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CAINDO NO BRASILDentre a pluralidade de iniciativas registradas no trabalho de Caio Dib,

a Escola 2025 destaca três. Conheça-as.

Na zona rural de Pentecoste, interior do Ceará, a metodologia de aprendizagem coopera-tiva é trabalhada há 18 anos com estudantes locais. Ao longo desse tempo, a pequena comunidade se orgulha dos 500 jovens que ingressaram na universidade. A iniciativa foi do professor formado em Química, filho de agricultores, Manoel Andrade, que participou de uma ação semelhante na juventude, a qual o ajudou a entrar no curso superior. Para retribuir, criou e incentiva o projeto na comunidade. Como ele, muitos jovens retornam para auxiliar outros estudantes. O Programa de Educação em Células Cooperativas (Prece), atualmente, é apoiado pela Universidade Federal do Ceará e pela Secretaria de Educação do Governo do Estado do Ceará.

No Rio de Janeiro, a Escola Sesc de Ensino Médio, uma iniciativa do Serviço Social do Comércio, é uma escola--residência. Em seu proces-so seletivo, a intenção é contemplar alunos de todo o país, considerando a renda familiar dos mesmos (mais da metade tem renda familiar entre um e três salários mínimos). As salas de aula têm apenas quinze alunos cada e o aprendiza-do acontece dentro e fora delas, já que tanto alunos quanto professores moram no campus. Além do currículo tradicional, também há aulas extras e tudo é planejado para formar cidadãos com habilidades e competências embasadas nas demandas da sociedade e do mercado de trabalho, como responsa-bilidade, autonomia, traba-lho em equipe, diálogo e visão ampla de mundo.

Localizado no Distrito Federal, o Centro de Ensino Médio Setor Leste é uma escola pública que fica em um terreno com dois blocos de salas de aula, ginásio, academia de ginástica, laboratórios, horta, sala de dança, auditório, piscina aquecida e quadras esportivas. Mas não é só a estrutura do prédio que transforma o ensino e a aprendizagem na instituição. Usando uma metodologia embasada na UnB (Universidade de Brasília), os profes-sores dessa escola planejam as atividades de forma interdisciplinar. As avaliações são elaboradas pensan-do no agrupamento das matérias em três blocos: matemática e suas tecnologias (Matemática, Física, Química e Biologia), linguagens e seus códigos (Educação Física, Línguas e Artes) e ciências humanas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia).

Para saber mais sobre o projeto Caindo no Brasil, do jornalista Caio Dib, acesse: www.caindonobrasil.com.br.

ESCOLARESIDÊNCIA

APRENDIZAGEMCOOPERATIVA

INTERDISCI-PLINARIDADE

Infográfico: Júnior Morasco | Texto: Michelly Fogaça

Page 11: A escola em 2025

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CAINDO NO BRASILDentre a pluralidade de iniciativas registradas no trabalho de Caio Dib,

a Escola 2025 destaca três. Conheça-as.

Na zona rural de Pentecoste, interior do Ceará, a metodologia de aprendizagem coopera-tiva é trabalhada há 18 anos com estudantes locais. Ao longo desse tempo, a pequena comunidade se orgulha dos 500 jovens que ingressaram na universidade. A iniciativa foi do professor formado em Química, filho de agricultores, Manoel Andrade, que participou de uma ação semelhante na juventude, a qual o ajudou a entrar no curso superior. Para retribuir, criou e incentiva o projeto na comunidade. Como ele, muitos jovens retornam para auxiliar outros estudantes. O Programa de Educação em Células Cooperativas (Prece), atualmente, é apoiado pela Universidade Federal do Ceará e pela Secretaria de Educação do Governo do Estado do Ceará.

No Rio de Janeiro, a Escola Sesc de Ensino Médio, uma iniciativa do Serviço Social do Comércio, é uma escola--residência. Em seu proces-so seletivo, a intenção é contemplar alunos de todo o país, considerando a renda familiar dos mesmos (mais da metade tem renda familiar entre um e três salários mínimos). As salas de aula têm apenas quinze alunos cada e o aprendiza-do acontece dentro e fora delas, já que tanto alunos quanto professores moram no campus. Além do currículo tradicional, também há aulas extras e tudo é planejado para formar cidadãos com habilidades e competências embasadas nas demandas da sociedade e do mercado de trabalho, como responsa-bilidade, autonomia, traba-lho em equipe, diálogo e visão ampla de mundo.

Localizado no Distrito Federal, o Centro de Ensino Médio Setor Leste é uma escola pública que fica em um terreno com dois blocos de salas de aula, ginásio, academia de ginástica, laboratórios, horta, sala de dança, auditório, piscina aquecida e quadras esportivas. Mas não é só a estrutura do prédio que transforma o ensino e a aprendizagem na instituição. Usando uma metodologia embasada na UnB (Universidade de Brasília), os profes-sores dessa escola planejam as atividades de forma interdisciplinar. As avaliações são elaboradas pensan-do no agrupamento das matérias em três blocos: matemática e suas tecnologias (Matemática, Física, Química e Biologia), linguagens e seus códigos (Educação Física, Línguas e Artes) e ciências humanas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia).

Para saber mais sobre o projeto Caindo no Brasil, do jornalista Caio Dib, acesse: www.caindonobrasil.com.br.

ESCOLARESIDÊNCIA

APRENDIZAGEMCOOPERATIVA

INTERDISCI-PLINARIDADE

Infográfico: Júnior Morasco | Texto: Michelly Fogaça

A Escola do FuturoEspecialistas e profissionais fazem projeções, discutem desafios

e olham adiante para o que será a educação em 2025

Entrevistas:

Michelly Fogaça

Redação e edição:

Eduardo Carbone, Fernando Mendonça,

Helena Sylvestre e Michelly Fogaça

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Tecnologia na Educaçãopor Daniel Igarashi

TECNOLOGIA USADA COMO FERRAMENTA

PREDITIVA E DIAGNÓSTICA CONTRA A POSSIBI-

LIDADE DE FRACASSO ACADÊMICO

“Quando um aluno começa a demonstrar dificul-

dades nas aulas um, dois, três... quando ele chega no

final do bimestre ou no final do semestre acumulando

sucessivas falhas de aprendizagem, provavelmente esse

aluno vai perder não só o semestre, mas o ano inteiro e,

quem sabe, o seguimento inteiro. Isso infelizmente acon-

tece, mas é onde a tecnologia pode realmente contribuir,

na capacidade de fazer uma abordagem mais preditiva

a respeito dos alunos que vão fracassar academica-

mente. Então, para o aluno que começa a fracassar nas

primeiras aulas ou nas primeiras habilidades que são

trabalhadas no currículo, o professor pode já, de forma

mais proativa, intervir para que o aluno não fracasse.

Essa talvez seja a maior contribuição da tecnologia.”

PROFESSOR COMO AGENTE DE GESTÃO

“Muitas secretarias de educação ou escolas pos-

suem sistemas de gestão: gestão acadêmica, gestão de

notas, até mesmo boletim on-line de notas. São ferramen-

tas de gestão, mas que talvez ficam mais no computador

da escola ou da rede de ensino do que, efetivamente, na

mão do professor. Na próxima década, provavelmente

nós vamos ver o professor sendo também um agente

de gestão, utilizando, por exemplo, uma ferramenta

dessas em seu tablet ou celular para fazer apontamentos

de valor pedagógico, que vão ajudar no desempenho

acadêmico do aluno ao longo de sua trajetória.”

A TECNOLOGIA DEVERÁ ESTAR VERDADEIRA-

MENTE DENTRO DA SALA DE AULA

“É estranho dizer isso, mas a tecnologia dentro

da sala de aula ainda não acontece. Os celulares são

Diretor de estratégias e negócios da MSTECH acredita numa gestão da aprendizagem capaz deromper com o modelo tradicional de ensino e respeitar o ritmoda assimilação de conteúdode cada aluno

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proibidos, o professor, no máximo, usa uma lousa

interativa, embora a gente tenha um ou dois exemplos

de escolas que façam uso mais intensivo das tecnolo-

gias, mas nem sempre articulado ao currículo e nem

sempre durante o processo de ensino como um todo.

Eu acho que tudo isso vai mudar. Na próxima década,

as coisas simplesmente vão acontecer. Os professores

e os alunos vão ter uma relação com tecnologia mais

próxima do que existe hoje com os profissionais no

mercado de trabalho. Então, é difícil você imaginar

que um profissional da indústria, por exemplo, não

use o celular, não se comunique por e-mail ou faça

uma apresentação digital. Essas coisas, que eram um

pouco distantes de uma sala de aula, vão naturalmente

começar a acontecer nesse espaço. Eu acho que não

vai ter nada como hologramas, impressoras 3D, lutas

entre robôs dentro da sala de aula, tudo isso é um

pouco fetichismo tecnológico, mas as coisas que vão

acontecer naturalmente, elas por si só já são bastante

ricas e ainda não acontecem.”

HABILIDADES DO SÉCULO XXI E SUA RELA-

ÇÃO COM A TECNOLOGIA

“Hoje a gente fala muito em habilidades do sé-

culo XXI e a tecnologia acaba permeando todas essas

habilidades. Mas a gente fala de habilidades do século

XXI já faz mais de uma década, quer dizer, desde o

início dos anos 2000, com a temática da introdução

da tecnologia nas escolas, já se falava que elas eram

importantes por conta das habilidades do século XXI.

A abordagem não estava errada, mas alguns fatos

indicam que alunos que foram formados na ‘geração

habilidades do século XXI’ também formam a geração

‘nem-nem’: nem estudam e nem trabalham. Isso me

faz pensar que a tecnologia não foi trabalhada com

a devida complexidade junto aos alunos, a ponto de

fazer estes saírem do sistema de ensino e continua-

rem uma trajetória relacionada à tecnologia. Então,

quando falamos a respeito da contribuição da tecno-

logia na formação desse aluno, sobre o que esse aluno

vai ser no futuro, nós estamos aprendendo que não

basta apenas apresentar e introduzir a tecnologia, é

necessário ir um pouco mais além.”

ALUNOS CAPAZES DE PRODUZIR CIÊNCIA

“Para isso, será preciso trabalhar um pouco

mais com conceitos de ciência ou de alfabetização

científica, se for o caso. Então, acho que na escola de

2025 algumas coisas vão estar mais maduras. Escolas

de tempo integral, por exemplo, vão ter no seu con-

traturno de aula projetos de robótica, projetos de

economia criativa, projetos de inovação, de pesquisa

científica, tudo isso acontecendo no espaço escolar. Tal-

vez esse tipo de trabalho com tecnologia, articulado por

um currículo de habilidades do século XXI, realmente

vá fazer com que os alunos que vão sair da escola de

2025 saiam mais verdadeiramente preparados para

produzir ciência, para ingressar numa carreira cien-

tífica ou mesmo ingressar numa carreira relacionada

a humanas, mas com uma visão mais ampla de mundo.

Esse aluno, com certeza, vai tirar mais proveito do seu

curso de ensino superior, de sua profissão ou do seu

empreendedorismo, ou o que quer que seja. Ele vai ter

ferramentas melhores para trabalhar.”

CADA ALUNO APRENDENDO AO SEU TEMPO,

AO SEU MODO

“Uma coisa que eu acho uma pena é que o aluno

tenha que estudar durante 12 anos se ele, de fato, con-

seguir assimilar tudo o que ele precisa em nove. Então,

permitindo uma utopia do que poderia ser a escola em

2025, eu acho que nós vamos ter uma capacidade de

fazer a gestão da aprendizagem do aluno num nível tão

profundo, com tanta precisão, que a gente vai ser capaz

de permitir que um aluno, em nove anos, conclua todo

o ensino básico. Ele, em nove anos, já esteja apto, por

exemplo, a ingressar num curso de Medicina. Hoje

nós temos um, dois, três casos isolados de alunos

que vão como ‘testeiros’ no Enem e acabam passando

num curso de Medicina, e eles não podem ingressar

lá porque não concluíram o ensino médio. Isso é um

desperdício de talento. Essa é uma geração super capaz,

que tem muita informação ao seu alcance e, além disso,

está tendo acesso às melhores práticas de ensino que

existem. Então, meu sonho, minha utopia para uma es-

cola em 2025 é uma escola onde o aluno possa concluir

todo um currículo na velocidade que ele consiga.”

Fale com o Igarashi:

[email protected]

Daniel Igarashi é diretor de estratégias e negócios

da MSTECH, empresa brasileira de educação e tecnologia.

Page 14: A escola em 2025

14

Educação Inclusivapor Leda Rodrigues

Especialista em Práticas de Educação Especial Inclusiva comenta sobreas necessidades de mudanças nos processos de inclusão no cenárioeducacional, e expõe suas idealizações acerca do uso das tecnologiaspara o aprimoramento das habilidades do aluno na escola do futuro

UM TEMA QUE NECESSITA SER AMPLAMENTE

DISCUTIDO EM TODOS OS NÍVEIS

“Ao elencarmos mudanças e transformações

ocorridas na educação, algumas delas ainda geram

constantes discussões: as avaliações de larga escala, o

ensino em tempo integral e a utilização dos recursos

de tecnologia no contexto educacional são exemplos

disso. Um outro exemplo é a inclusão das pessoas com

deficiência. Este tema aponta, ainda, para a necessidade

de ampla discussão, por muitos anos defendida pelos

movimentos sociais, por tratados/convenções interna-

cionais, programas/planos e legislações que abarcam

esse público. Mas, na prática, o processo ainda não

envolve todos os níveis educacionais.”

MECANISMOS NORTEADORES DAS POLÍTICAS

PÚBLICAS DE INCLUSÃO

“Os tratados e convenções internacionais são con-

siderados mecanismos norteadores das políticas públi-

cas em nosso país. Num trajeto cronológico, temos como

principais marcos: a ‘Declaração Universal dos Direitos

Humanos’ (UNESCO, 1948) que estabelece a garantia

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da educação para todos, independentemente de suas

origens ou de suas condições sociais; ‘Conferência de

Jomtien’ (UNESCO, 1990) que aprova a ‘Declaração

Mundial sobre educação para todos’ e também o pla-

no de ação para atender as necessidades básicas de

aprendizagem, com finalidade de atingir os objetivos

estabelecidos na declaração e retomar o ponto que a

educação é um direito fundamental a todos; a ‘Decla-

ração de Salamanca’, em 1994, marco da inclusão, com

base nas várias declarações e tratados internacionais,

que demanda que os Estados assegurem que a educa-

ção de pessoas com deficiência faça parte do sistema

educacional, reafirmando o compromisso ‘Educação

para todos’; e a ‘Convenção de Nova York’, em 2007,

momento da assinatura da ‘Convenção Internacional

sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência’ e seu

Protocolo Facultativo, do qual o Brasil é país signatá-

rio, instituindo a convenção com status equivalente

ao das emendas constitucionais, por meio do Decreto

nº 6949/2009. Como se vê, as mudanças são constantes,

são criados planos, programas e leis que disciplinam

e apresentam diretrizes frente à inclusão no contexto

educacional, porém, tudo isso ainda é só o começo,

pois o preconceito, a discriminação, a falta de recursos

apropriados e o apoio de equipe multidisciplinar aos

professores, ainda se apresentam como obstáculos, no

que diz respeito à inclusão da pessoa com deficiência

nos diferentes níveis e contextos educacionais.”

PRIORIDADES NO PROCESSO DE INCLUSÃO

“Há diversas ações, documentos e planos nor-

mativos para efetivar a inclusão da pessoa com de-

ficiência nas escolas públicas e privadas. Porém, os

aspectos clínico e assistencial ainda são tidos como

carros-chefe desse público e referências de defesa

contra a inclusão. Como prioridade, a sociedade deve

pensar, agir e realizar, considerando as especifici-

dades e necessidades das pessoas com deficiência,

e romper as barreiras atitudinais, arquitetônicas e

comunicacionais. Sendo possível, assim, propiciar

à pessoa com deficiência desempenhar seu papel e

demonstrar seu potencial.”

USO DE RECURSOS DE TECNOLOGIA ASSIS-

TIVA DESDE A EDUCAÇÃO INFANTIL

“Tendo como base o desenvolvimento humano,

se for iniciado na educação infantil o uso de recursos

de tecnologia assistiva no apoio da escrita, do desenho, da

leitura e de outras atividades lúdicas (e de aprendizagem,

que compreendem o universo desse nível educacional),

o aluno do Ensino Fundamental já terá habilidade com o

uso dos recursos que facilitam sua expressão gráfica, co-

municacional e de locomoção. Assim, o professor poderá

focar sua atenção no processo de aprendizagem do aluno

com deficiência, tornando este apto a desenvolver suas

competências e habilidades, demonstrar seu potencial

e se preparar, como qualquer cidadão, para a vida e o

mercado de trabalho.”

DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS E

HABILIDADES NO FUTURO

“Espera-se que no ano de 2025, os recursos de tecno-

logia educacional, disponíveis no espaço correspondente

a uma sala de aula, estejam todos adaptados para atender

às diferentes necessidades de todos os perfis de alunos.

Os sistemas possibilitarão diferentes parametrizações

e irão possuir um sistema adaptativo que registra o

desempenho de cada aluno, além de considerar recur-

sos de acessibilidade em todas as funções necessárias.

Uma mesma atividade irá se apresentar com níveis de

dificuldades diferenciados, dependendo das trilhas de

aprendizagem de cada aluno. O professor continuará ten-

do o papel fundamental de educador: seu planejamento

terá métricas que possibilitarão análises e evidências de

aprendizagem, de acordo com as estratégias e recursos

utilizados com cada aluno. Dessa forma, será realizado

o agrupamento dos alunos, não mais seriado, mas de

acordo com o desenvolvimento das competências e

habilidades escolhidas, colocando em prática, também,

a autonomia na tomada de decisão.”

Fale com a Leda:

[email protected]

Leda Rodrigues é Mestre em Psicologia do Desenvol-

vimento e Aprendizagem pela Unesp-Bauru, especialista

em Práticas da Educação Especial Inclusiva e graduada

em Pedagogia. Atuou como consultora técnica especiali-

zada no PNUD/ONU - Programa das Nações Unidas para

o Desenvolvimento. Atualmente, é Gerente de Projetos

Educacionais na MSTECH e professora conteudista de

Tecnologia Assistiva nos cursos de especialização da

UNESP/NEAD/REDEFOR.

Page 16: A escola em 2025

16

Currículo e Aprendizagempor Dariel de Carvalho

TRANSFORMAÇÃO PRECISA SER CONSTANTE

“A escola antigamente atendia às necessidades

educacionais do seu tempo, pois trazia para o aluno

a informação, a novidade. Poucos tinham recursos

para explorar fora da escola, talvez acesso à enciclo-

pédia ‘Barsa’. O desenvolvimento mudou muito esse

percurso e transformou as necessidades dos alunos.

Atualmente, eles recebem muitas informações, são

mais questionadores e a escola ainda não conseguiu

absorver essa transformação. A escola tenta impor

um ritmo de 30 ou 40 anos atrás para ensinar um

aluno de hoje. Essa dificuldade mostra que as pessoas

mudaram muito seu comportamento, sua estrutura

familiar, sua dinâmica de vida, mas a escola pouco

se transformou para acompanhar essas mudanças.

Acredito que os alunos serão os principais iniciadores

desse processo de transformação, pois a educação

é deles e para eles. Dessa forma, os professores, na

busca por melhor atendê-los, irão novamente buscar

ser condizentes com o público que eles atendem e

a escola passará a desenvolver um novo papel de

relevância na sociedade, relacionada à missão mais

assertiva de formar o cidadão com as competências

de que ele necessita.”

Para Doutor em Educação e Mestre em Educação Especial, mudançade currículo e inclusão de conceitos sobre gestão e controle de processosserão fundamentais para a evolução do ensino e da aprendizagemna escola do futuro

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Page 17: A escola em 2025

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MAIOR ACESSO À ESCOLA, MAS NECESSIDA-

DE DE MUDANÇAS ESTRUTURAIS

“A escola, hoje, é um grande centro de convivên-

cia, que integra as pessoas e realiza isso muito bem.

Considero um ponto positivo as pessoas na escola, pois

ela deve ser para todos mesmo, e isso é o grande avanço

que temos vivenciado. Ainda considero como pontos

negativos a estrutura escolar, as políticas públicas e

as metodologias de ensino, que não estão preparadas

totalmente para receber de forma construtiva essas

novas gerações. Esses pontos ainda precisam ser re-

vistos. Acredito que o desenvolvimento ocorre sempre

na necessidade de aperfeiçoar, de buscar soluções,

então sou otimista em acreditar que, para os próximos

anos, teremos uma educação melhor e condizente com

o tempo e a sociedade contemporânea.”

TECNOLOGIA NO PROCESSO DE PERSONA-

LIZAÇÃO, GERENCIAMENTO E AUTOGERENCIA-

MENTO DA APRENDIZAGEM

“Acredito na mudança de currículo, pois precisa-

mos ter um ensino básico que atenda aos anseios e às

necessidades contemporâneas, levando em considera-

ção competências necessárias para o desenvolvimento

holístico do ser humano. Outro ponto importante a ser

considerado é a metodologia: acredito que, cada vez

mais, conceitos de gerenciamento, gestão e controle

de processos, hoje eficientes nas empresas, ganharão

espaço nas escolas. Pois, para se planejar, executar

e aprimorar processos, se faz necessário uma visão

de acompanhamento mais apurada e acredito que a

educação será muito beneficiada com a estrutura que

empresas já implantam. Com relação às tecnologias,

acredito que agora, depois de uma fase em que tudo

foi pensado para ser incluído no processo de ensino

e aprendizagem, passamos por um momento no qual

tudo precisa ser analisado para verificar se realmente

faz sentido. As perguntas passam a ser: o uso desse

recurso irá contribuir de que forma? Vale a pena?

Então, a tecnologia no processo de personalização e

de gerenciamento ou, por que não, autogerenciamento

da aprendizagem, passa a fazer total sentido.”

DESPRENDER-SE DE RAÍZES PARA EVOLUIR

PROCESSOS

“Precisamos de profissionais que olhem a edu-

cação desprendida das raízes, que busquem romper

com modelos postos e seguidos por todos, mas que tenham

coerência em suas ações e que acompanhem sempre a

evolução dos processos para que nada seja feito sem

respaldo científico, e que favoreça o alunado, razão pela

qual a escola existe. A tendência é de apresentação de

inovações e crescimento do número de avaliações e men-

surações, pois, tudo de novo que está sendo implantado

necessita de acompanhamento e constante avaliação.”

PROFESSORES, ALUNOS, FAMÍLIA E GESTORES

EDUCACIONAIS: UMA MAIOR INTEGRAÇÃO PARA A

ESCOLA DO FUTURO

“Acredito que, no futuro, os alunos terão maior

autonomia para realizar suas ações dentro da escola,

com o respaldo tecnológico necessário para suportar

essas ações. Podemos falar em plataformas integra-

das, adaptativas, com conteúdos personalizados que

realmente facilitem e colaborem para o seu desenvol-

vimento efetivo, dentro de suas escolhas e habilidades.

O professor, um arquiteto da aprendizagem, mostrando

mais as questões práticas, vivências e experiências das

aplicações, mediando todo esse processo e conduzindo o

aluno em seu caminho e escolhas. A família entendendo

que é necessário acompanhar mais a vida do seu filho,

mesmo que por meio de dispositivos móveis e sistemas

de monitoramento. Mas, com a visão otimista, acredito

que a família irá compartilhar mais com a escola a res-

ponsabilidade da formação de seus filhos. E os gestores

educacionais acompanhando de perto todo esse processo

de transformação, conduzindo os esforços para atendi-

mento de metas e desenvolvimento integral do aluno.”

Fale com o Dariel:

[email protected]

Dariel de Carvalho trabalha com educação e tec-

nologia desde 1998, é graduado em Informática pela Fa-

culdade de Tecnologia de Jaú, especialista em Marketing,

com Mestrado em Educação Especial e Doutorado em

Educação. Atualmente é pesquisador na Universidade

do Sagrado Coração – USC, trabalhando na graduação

de Pedagogia e na pós-graduação de Psicopedagogia.

Pesquisa as áreas de tecnologia aplicada à educação

e tecnologias assistivas. Gerencia a área de Ensino e

Aprendizagem na MSTECH.

Page 18: A escola em 2025

18

Tecnologia e Conteúdopor Rafael Teixeira

Mestre em Ciência da Computação explica sobre como o uso de recursostecnológicos vem sendo adaptado ao contexto educacional, sobreas necessidades de articulação entre tecnologia e conteúdos pedagógicos,e aponta suas expectativas para um ensino individualizado no futuro

ENTENDENDO COMO A IMERSÃO EM TEC-

NOLOGIA FOI POSSÍVEL

“Como previsto há muito tempo na lei de Moore,

o poder computacional de um chip (ou processador)

dobraria a cada um ano e meio. Isso aconteceu e,

aliado ao fato de terem seus tamanhos reduzidos

drasticamente, possibilitou uma invasão de tablets e

smartphones, que chegaram às mãos dos alunos e pro-

fessores mais jovens. Outro fator, que já é um jargão,

foi o barateamento e a acessibilidade da internet, que

impulsionou ainda mais essa convivência da última

geração com a tecnologia.”

A ADOÇÃO DA TECNOLOGIA NO CONTEXTO

EDUCACIONAL

“Se pensarmos que a geração dos professores

que estão exercendo a profissão atualmente não teve

contato tão estreito com a tecnologia, como os jovens

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Page 19: A escola em 2025

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estão tendo agora, podemos notar que, de certa for-

ma, estes forçaram os professores e a escola a adotar

a tecnologia de várias maneiras. Entendo que esse

cenário levou, naturalmente, os educadores e gesto-

res a questionarem mais como a tecnologia e outras

tendências podem trazer inovações ao processo de

ensinar e aprender, iniciando, assim, apenas o co-

meço de uma transformação que tem tudo para ser

integral e profunda.”

TECNOLOGIA E ARTICULAÇÃO PEDAGÓGICA

“Nos últimos anos, as escolas procuraram adotar

diversas soluções e novidades tecnológicas, de siste-

mas e aplicativos, a projetos complicados de realidade

aumentada. Mas, um ponto que talvez trouxe uma

certa frustação em diversas iniciativas, foi a desarti-

culação com o currículo e o conteúdo didático, além

da não integração com a gestão do aluno em meio

a essas tecnologias. De certa forma, isso é natural

em qualquer processo de mudança, como Gartner

descreve o modelo dos Hype cycles, que existe uma

euforia quando uma novidade aparece, seguida de

uma crescente expectativa, que em seguida pode cair

em declínio devido a frustrações provocadas pela

não correspondência dessa expectativa. Entretanto,

logo a escola irá entender a maturidade da tecnolo-

gia e o real papel dela, compreendendo o mercado e

entrando num estágio de adoção estabilizada. Assim,

irá diminuir o uso da tecnologia sem planejamento

prévio quanto à articulação pedagógica, que é funda-

mental para que essas iniciativas tenham longevidade

dentro da escola.”

A RELAÇÃO DA ESCOLA NO BRASIL COM A

TECNOLOGIA

“Um aspecto positivo dessa relação é que a esco-

la, hoje, está procurando rever o papel da tecnologia

em seus processos, como o de ensino e aprendizagem.

Também vem buscando melhorar a gestão da escola e

seus recursos. Além disso, o contato com a tecnologia

no dia a dia aumentou, ajudando a diminuir a resistên-

cia ao uso dela para a educação. Como aspecto negativo

dessa relação, eu reforço a necessidade de articular a

adoção das tecnologias, em um cenário que temos de

empresas e iniciativas muitas vezes despreparadas

para atender as necessidades da educação, para que

não acabem atrasando a escola em adotar soluções

realmente relevantes para o seu foco principal, que é o

desenvolvimento do aluno.”

DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS TECNOLÓ-

GICOS PARA A EDUCAÇÃO

“O BYOD (do inglês ‘traga seu próprio dispositivo’),

que já é realidade em muitos lugares, provavelmente se

intensificará, por conta dos smartphones e tablets esta-

rem se comoditizando na sociedade como um todo. Isso

quebrará uma primeira barreira, que é a necessidade da

escola adquirir equipamentos antes de obter uma solução.

Entretanto, será preciso tornar ainda mais multidiscipli-

nares os times que trabalham com o desenvolvimento de

recursos tecnológicos para esse mercado [da educação],

convergindo as atuações de especialistas das áreas de

tecnologia e pedagogia. Cada colaborador precisa saber

exatamente qual o real benefício daquela tecnologia,

além de conhecer as necessidades que essa tecnologia

terá durante o desenho de suas funcionalidades.”

PROJEÇÕES DE MELHORIAS PARA A ESCOLA

DO FUTURO

“Será necessário pensar em técnicas e formas de

entender as vocações e interesses do aluno em determina-

do momento da sua vida acadêmica e, a partir daí, fazer

com que sejam direcionadas ao aluno oportunidades

com ênfase no desenvolvimento que ele precisa, para

potencializar seus conhecimentos. Acredito, também,

que as escolas passarão a adotar mais iniciativas de

blended learning, em que são criados ambientes mistos

de aprendizagem, mesclando o aprendizado físico em

sala de aula com ambientes virtuais. Na parte de ges-

tão, acredito que os avanços na interoperabilidade dos

sistemas de educação e a análise de dados irão permitir

diagnosticar e aprimorar as ferramentas de ensino. Com

isso, será possível, por exemplo, criar ambientes total-

mente adaptáveis ao aluno, propondo conteúdos variados

e atividades diferentes, conforme seu progresso.”

Fale com o Rafael:

[email protected]

Rafael Teixeira é Mestre em Ciência da Computa-

ção pela Unesp e graduado em Sistemas de Informação

pela mesma instituição. Atualmente, exerce a função de

gerente de desenvolvimento na MSTECH.

Page 20: A escola em 2025

20

Ensino Personalizadopor Mario Ghio Júnior

CEO de Educação na Abril Educação discorre sobre a necessidade de personalizar o ensino direcionado aos alunos da nova geração, o papel do professor na escola do futuro e a importância do exercício da ética no ambiente escolar

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Page 21: A escola em 2025

O PERFIL DO NOVO ALUNO

“O aluno, pela primeira vez, é detentor de cer-

tas habilidades que os professores não têm, porque

a escola, em si, é uma entidade que muda pouco. Há

vários séculos a escola é muito parecida. E a tecnologia

é interessante, pois os alunos, em geral, conhecem

muito mais de tecnologia e usam tecnologia de uma

forma mais fluente do que os próprios mestres. Então,

embora a escola seja bastante parecida com o que

era há um tempo atrás, ela tem dificuldade de lidar

com esse aluno que vem com habilidades novas, com

desejos novos. O aluno, daqui a dez anos, buscará o

conhecimento em uma série de fontes diferentes. Ele

irá depender do professor como orientador de um

percurso exclusivo para si, e não para qualquer outro

aluno. Eu diria que essa é a grande mudança da escola

e é a grande oportunidade que a gente tem, também.”

PERSONALIZAÇÃO DO ENSINO

“A escola, por definição, é um esforço coletivo,

seja uma escola pública ou uma escola privada, e

nela o aluno é parte de uma turma. Mas, até agora, os

professores ensinam para aquele ‘aluno médio’ que

eles têm e dominam poucas habilidades de conexão

com o aluno da geração atual. Nesse sentido, acredito

que o professor, hoje, seja o nó da questão. A minha

perspectiva é de que o uso maciço da tecnologia ajude

a personalizar o ensino de cada aluno, mesmo com

uma aula igual para todo mundo. Aqueles que têm

mais dificuldades serão expostos a atividades que

vão sanar essas dificuldades, e aqueles que têm muita

facilidade vão ser sempre estimulados a continuar

caminhando, para se tornarem alunos cada vez mais

excelentes. Essa será a grande conquista da escola

do futuro: enxergar que cada um de nós é diferente,

aprende de um jeito diferente e, portanto, precisará

gerenciar o nosso aprendizado de maneira particular.”

O PAPEL DO PROFESSOR COMO GERENCIA-

DOR DE APRENDIZAGEM

“O professor do futuro vai ser muito mais um

gerenciador de aprendizagem do aluno do que pro-

priamente aquele único elemento da escola respon-

sável por transmitir conhecimento. Fala-se muito,

hoje, no modelo de ensino centrado no aluno, mas o

problema é como fazer isso numa aula que continua

e continuará sendo coletiva. O educador de amanhã

vai ser aquele professor capaz de pegar os elementos

do estudo individual do aluno e ajudar a cada um dos

alunos, com o uso da tecnologia, a melhorar. Os bons

viram excelentes, aqueles que não estão acompanhando

se transformam em bons alunos e o professor tem que se

enxergar, não como o violinista solo da orquestra, mas

como o regente, o maestro daquela orquestra.”

MODELO DA ESCOLA QUE TRANSFORMARÁ A

SOCIEDADE DO FUTURO

“A escola do futuro é aquela que vai garantir uma

qualidade de ensino para todos os seus alunos. E todo

aluno que tiver ou que terminar sua escolaridade básica,

com a qualidade adequada, será um aluno que não terá

limites para evoluir. Eu sempre digo que fico muito triste

quando um aluno escolhe o seu futuro não pelo que ele

sabe fazer, mas pelo que ele não sabe. Por exemplo, jovens

que gostariam de ser engenheiros, mas que desistem des-

sa carreira porque não conhecem bem a matemática. A

escola de 2025 será aquela capaz de integrar à sociedade

pessoas com liberdade de escolha, com locomoção, com a

possibilidade de serem o que quiserem. A escola precisa

melhorar muito, para que todos os alunos que passem

por ela possam escolher o seu futuro.”

APRENDIZADO, SABEDORIA E ÉTICA

“Para mim a escola utópica é aquela em que o aluno

conseguirá evoluir dentro dos padrões adequados da so-

ciedade brasileira. Aprender aquilo que a gente definiu

que é o adequado para ele em cada série, que ele consiga

dar mais um passo, que é: ‘puxa, eu não só quero estar

adequado à minha série, mas também quero ter certeza

de que se o meu sonho é ser médico, ao fim do ensino

médio, que eu também esteja adequado à curva de aqui-

sição de conhecimento que todos os alunos anteriores a

mim, que conseguiram virar médico, tiveram’. Então, o

sujeito poderá se focar em seu sonho e fazer isso de um

jeito divertido e ético, não é? A escola utópica é aquela

em que os alunos aprendem, ficam mais cultos, mais

sábios e mais éticos, também.”

Fale com o Mario Ghio:

[email protected]

Mario Ghio Júnior é pós-graduado em Pedagogia e

gestão de negócios, e possui graduação em Engenharia

Química. Atualmente, exerce a função de CEO de Edu-

cação na Abril Educação.

Page 22: A escola em 2025

Planejar para realizarGestão da aprendizagem eficiente só é possível com organização

e dedicação aos objetivos da sala de aula e da comunidade escolar

Michelly Fogaça

Foto: Arquivo Secretaria de Educação de Sertãozinho

Sol do Saber é projeto extraclasse de destaque

em escola municipal de Sertãozinho - SP.

Page 23: A escola em 2025

23

Há um provérbio africano que diz ser preciso

“toda uma aldeia para se educar uma única criança”.

Mesmo sua autoria sendo desconhecida, é possível

imaginar que quem o usou pela primeira vez tinha

ao menos uma ideia da complexidade que envolve a

gestão da aprendizagem. O processo que leva alguém

a aprender abrange aspectos internos e externos ao

ser humano, ou seja, é uma ação social de resultado

pessoal. E é diante desse desafio que a organização

no âmbito escolar deve valer-se de sua importância

para a eficiência de tal processo.

Segundo o Professor Celso dos Santos Vascon-

cellos, Doutor em Educação pela USP e Mestre em His-

tória e Filosofia da Educação pela PUC/SP, a ação que

pode ajudar a gerir de maneira mais hábil o processo

de aprendizagem é aquela que tem como pressuposto

que a gestão da aprendizagem é um dos elementos de

um processo maior, que engloba a gestão da sala de

aula e a gestão escolar como um todo. Para o especia-

lista, é preciso lembrar que “a gestão da aprendizagem

não se faz de maneira isolada da gestão da disciplina e

da organização da coletividade” e, ainda, que um dos

grandes cuidados que se deve ter “é estar atento tanto

aos aspectos objetivos quanto aos aspectos subjetivos

daquilo que interfere no processo de aprendizagem

dos educandos”.

Vasconcellos destaca que há seis exigências

subjetivas essenciais para que o ser humano aprenda,

possibilitadas a partir do desenvolvimento de sua

função simbólica. São elas: a capacidade sensorial e

motora ligadas à capacidade de operar mentalmente;

o conhecimento prévio; o acesso à informação; o que-

rer; o agir; o expressar-se. Esses aspectos subjetivos

dizem respeito à base orgânica da aprendizagem, às

referências trazidas de fora da escola, à reação ao

meio e demais ações ligadas ao intrínseco natural do

ser individual e social.Do ponto de vista objetivo, o especialista destaca

o que ele considera um elemento básico: um professor que queira e saiba ensinar. “Pode-se ter um conjunto de elementos objetivos, como, por exemplo, o número de alunos em sala de aula, materiais, equipamentos, até salário, mas se falta essa disposição, esse querer do professor, as coisas não acontecem. Em termos institucionais, enquanto variável isolada, o querer do professor é o fator que mais interfere no querer do aluno, que é uma das exigências para a aprendi-zagem”, explica o educador.

APRENDIZAGEM DO ALUNO É RESPONSABILI-

DADE DE VÁRIOS MEMBROS DO SISTEMA DE ENSINO

O ambiente escolar e os agentes da educação são

peças com grande peso na aprendizagem do aluno.

Se o aprender consiste em algo externo e interno, o

meio em que o aluno está e o que lhe é proporcionado

neste afetam-no direta e indiretamente. Dessa forma,

cada parte constituinte de um sistema de ensino tem

responsabilidades com a gestão da aprendizagem, seja

no estabelecimento de metas e políticas, na cobrança

das mesmas ou em sua aplicação.

As secretarias de ensino, por exemplo, são res-

ponsáveis por gerir as políticas públicas que garantem

as condições materiais, institucionais e organizacio-

nais para que o ensino e a aprendizagem aconteçam

de forma coerente com o Projeto Político Pedagógico

da rede de ensino e de cada escola. Já os diretores de

unidades escolares devem prezar pela qualidade e

cumprimento das metas estabelecidas nas institui-

ções sob sua responsabilidade e garantir uma gestão

democrática, para que o envolvimento seja de todos.

Quanto aos coordenadores pedagógicos, como

descreve Celso Vasconcellos, cabe “perceber as deman-

das do grupo escolar e ajudá-lo” para que, coletivamen-

te, seus membros encontrem alternativas e soluções.

Uma unidade escolar confusa repassa isso aos estu-

dantes, o que atrapalha também seu desenvolvimento

dentro da sala de aula. Nesse espaço, em específico,

os professores são os mais próximos aos alunos e sua

responsabilidade é dedicarem-se ao aprimoramento

intelectual dos estudantes, proporcionando a eles pos-

sibilidades de aprender conforme suas necessidades e

superando os problemas encontrados ou apresentados

por falhas externas à sala de aula. É essa ação que

Vasconcellos define como um “desafio” docente.

O especialista também destaca que há uma

grande tendência em responsabilizar os pais pela

aprendizagem dos alunos, mas não concorda plena-

mente com isso. Cabe aos pais a educação familiar

e social do aluno, mas a aprendizagem curricular é

É estar atento tanto aos as-pectos objetivos quanto aos aspectos subjetivos daquilo que interfere no processo de aprendizagem dos educandos.

Page 24: A escola em 2025

24

responsabilidade da rede de ensino a qual o aluno

está vinculado. Para Vasconcellos, “o papel dos pais

é complementar, de apoio, no sentido de valorizar a

educação, o professor e a escola, de criar ambiente e

rotinas para o estudo dos filhos. O grande papel de

mediação da aprendizagem tem que ser mesmo dos

agentes do sistema escolar”.

FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS PARA AUXI-

LIAR E DIVERSIFICAR A GESTÃO DA APRENDIZAGEM

De sistemas para controle patrimonial escolar a

aplicativos de diário de classe, o uso de ferramentas

tecnológicas para auxiliar na organização de redes de

ensino já é uma realidade em várias escolas e secreta-

rias de educação. A boa tecnologia, disponibilizada no

mercado por empresas especializadas em educação, é

uma tendência que também ajuda, e muito, na gestão

da aprendizagem dentro da sala de aula.

É importante destacar que a tecnologia é uma

mediação, é um facilitador e potencializador de ações

funcionais realizadas pelos agentes escolares. Como

destaca Celso Vasconcellos, “os meios tecnológicos

criam condições para que possamos romper essa es-

trutura de sala de aula em que o professor é o único

detentor do saber”.

Com o uso apenas do quadro e do giz, as intera-

ções ficam limitadas a esse espaço e às formas possí-

veis de exposição do conteúdo que lhe são cabíveis.

Consequentemente, isso também limita as maneiras

de aprender do aluno. Já com as novas tecnologias

da informação e da comunicação “são criadas con-

dições para uma reinvenção da sala de aula, como

por exemplo, para sair da metodologia meramente

expositiva e se caminhar para o currículo organizado

por projetos”, exemplifica Vasconcellos. Dinamizar a

maneira como a aprendizagem é gerida, utilizando a

tecnologia, aproxima o aluno das tendências muitas

vezes já presentes em seu cotidiano extraescolar e

facilita sua compreensão do conteúdo, tornando mais

eficiente o processo de ensino e aprendizagem.

Outra contribuição da tecnologia apontada pelo

especialista para uma boa gestão da aprendizagem

é no processo de interação, sobretudo a interação

fora da sala de aula. “Através dessas tecnologias, o

professor pode ter contato com o aluno praticamente

a qualquer hora, e em qualquer lugar, possibilitando

novas formas de interação. É claro que isso traz tam-

bém a necessidade de se repensar a própria questão

do contrato de trabalho do professor, o que isso vai

significar em termos de horas de trabalho etc. Mas

as possibilidades são enormes”, enfatiza o educador.

Em complemento, Vasconcellos lembra que, para

uma escola do futuro em que a aprendizagem seja

efetiva, são necessárias mudanças não apenas tecno-

lógicas, mas de toda a estrutura e da perspectiva dos

agentes escolares, incluindo maior e melhor formação

de professores, remuneração adequada, condições

e ambiente de trabalho estáveis, o compromisso e

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Roda de leitura para o Dia das Mães,

dentro do projeto Sol do Saber.

Page 25: A escola em 2025

envolvimento afetivo com a aprendizagem do aluno,

“além disso, é importante o registro, a sistematização

e a divulgação para o amplo conhecimento das prá-

ticas inovadoras que estão em andamento em toda

a educação básica, tanto no Brasil como no mundo.

Os educadores devem saber que outra escola e outra

forma de aprendizagem é possível”.

SOLUÇÃO DE NECESSIDADES E ATUALIZA-

ÇÃO ESCOLAR PARA GARANTIR A EFICIÊNCIA

DA APRENDIZAGEM

Em Bauru, interior de São Paulo, um colégio

particular está em fase de inclusão de um sistema

de gestão da aprendizagem com foco no desempenho

escolar. A ferramenta possibilita o acesso, por versão

web e mobile, a funções como gestão de turmas, pla-

nejamento anual e bimestral, organização da grade

curricular, lançamento de frequência, enviar ativi-

dades aos alunos, verificar seu desempenho, enviar

atividades ao professor, entre outras.

A escolha pela adesão a essa plataforma foi feita

para aliar modernidade às necessidades de sempre

atualizar as maneiras de gerir a aprendizagem na

escola da melhor forma, ano a ano, como explica a

pedagoga e coordenadora de 6º ao 9º ano do colégio em

questão, Lilian Blanco Dalla Rú. Para a educadora, “ao

somar as ferramentas tecnológicas corretas, voltadas

às potencialidades dos alunos, o processo de ensino e

aprendizagem, por consequência, beneficia a capaci-

dade desses novos estudantes de se adaptarem muito

mais rapidamente às linguagens que o mundo impõe

e cobra no ambiente social, dessa forma, acreditamos

que a tecnologia acaba direcionando a uma valoração

do conteúdo proposto, de forma a solidificar nossa

proposta, pautada nos pilares da educação”.

A coordenadora destaca que uma das principais

preocupações da escola, que guia sua maneira de or-

ganização, é solucionar as necessidades individuais

e coletivas dos alunos, por meio de uma estrutura

amparada em uma visão social e alinhada ao Projeto

Político Pedagógico da instituição, o que, segundo Li-

lian, coloca a instituição em uma posição privilegiada,

a qual reflete todos os ganhos dos colaboradores e

alunos, principalmente quanto à aprendizagem destes.

“Consoante a isso, agregamos ferramentas que justifi-

cam a eficácia e o resultado dessa gestão, tais quais

os investimentos tecnológicos, os aprimoramentos

pedagógicos constantes, com habitualidade na parti-

cipação de congressos, cursos, palestras e simpósios,

acesso a materiais didáticos de qualidade e precisos,

enaltecendo, assim, o conteúdo dos colaboradores”,

pontua a pedagoga.

Ainda sobre a organização da escola, Lilian ex-

plica que “quinzenalmente é realizada uma reunião

do conselho diretor, na qual se definem metas para

aquele novo período”. Também acontecem reuniões

entre coordenadores e professores, a fim de alinhar

todo o conteúdo que se pretende atingir na sala de aula.

Para a coordenadora, essas ações levam ao aprimora-

mento gradual da instituição e de seus profissionais,

preparando-os para o futuro da educação, com uma

aprendizagem efetiva dos alunos.

VALORIZAÇÃO DOCENTE, AMOR AO TRABA-

LHO E PROJETOS EXTRACLASSE SÃO RECEITA DE

SUCESSO DE REDE MUNICIPAL DE ENSINO

Com cerca de 17 mil alunos matriculados em

escolas públicas, Sertãozinho, município do nordeste

paulista, é referência pela qualidade do ensino mu-

nicipal, refletida nos indicadores nacionais, como o

Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica,

que de 2005 a 2013 avançou de 4,9 para 6,4. Para a

psicopedagoga e assessora de educação Maria Helena

Foto: Arquivo Secretaria de Educação de Sertãozinho

Projeto de música em escola de Sertãozinho - SP.

Quinzenalmente é realizada uma reunião do conselho dire-tor, na qual se definem metas para aquele novo período.

Page 26: A escola em 2025

26

Viel, o sucesso na aprendizagem dos alunos está li-

gado a inúmeras ações da rede, desde a valorização

dos docentes até projetos extraclasse (confira alguns

no quadro da página seguinte). “Não tratamos as

escolas e creches como depósitos de crianças, nos

preocupamos com a qualidade do que é passado aos

estudantes e de como isso é passado”, afirma Lena,

como é conhecida na cidade.

Para o aperfeiçoamento da prática pedagógica

no município, os educadores de Sertãozinho partici-

pam de quatro programas de capacitação no ano. O

destacado pela assessora é a Semana Municipal de

Educação, que faz parte da rede desde 1996. Durante

os dias de programação, os professores têm a oportu-

nidade de assistir a palestras, participar de oficinas,

conferências e debates relacionados à docência.

Outro fator que faz parte da valorização desses

profissionais na cidade é a remuneração. Segundo a

assessora pedagógica, o piso salarial pago atualmente

aos professores de Sertãozinho está significativamente

acima do piso nacional praticado para a categoria. “Se

o professor faz um bom trabalho, ele deve ser valo-

rizado, e se o professor é valorizado, ele faz um bom

trabalho. Uma coisa leva a outra e isso reflete dentro

da sala de aula”, declara a psicopedagoga.

A forma como o aluno é visto também contribui

para sua aprendizagem. E não é apenas dentro da

sala de aula e seguindo o currículo tradicional que

Sertãozinho investe na qualidade de sua educação.

A gestão da aprendizagem nas escolas municipais da

cidade inclui projetos extraclasse, como o Sol do Saber,

elaborado para estimular o interesse pela leitura entre

as crianças do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental.

Pelo menos uma aula na semana acontece na biblio-

teca da escola, onde os “professores de biblioteca”

leem para as crianças e as orientam sobre os livros

e quais desses seriam mais interessantes para elas.

A partir desse incentivo, os alunos tratam a leitura

com prazer e não como obrigação escolar. A assessora

complementa que a cidade também recebe uma feira

do livro anualmente. “Nessa época, sempre trazemos

um convidado especial para deixar ainda mais inte-

ressante o evento. Em uma dessas feiras nosso con-

vidado foi o Rolando Boldrin (cantor e apresentador)

e foi um sucesso”.

Para Maria Luíza de Oliveira, pedagoga e di-

retora da EMEIF Profª Annita Bartolletti Rodrigues,

também de Sertãozinho, essa flexibilidade no currí-

culo da escola é um dos fatores fundamentais para

a eficiência da gestão da aprendizagem. A diretora

considera a escola como segunda instituição para a

criança, “não apenas um espaço social”, por isso, ao

elaborar e colocar em prática o currículo da institui-

ção, devem ser levadas em consideração as caracterís-

ticas do ambiente escolar, de seus docentes, demais

funcionários e dos alunos.

Quanto ao papel do professor para a qualidade

da aprendizagem do aluno, Maria Luíza acentua o

diagnóstico e a análise das várias formas de ensinar

e aprender em uma sala de aula. “O professor tam-

bém precisa participar das formações, estabelecer

metas claras, promover parcerias entre os demais

educadores e, principalmente, enxergar sua função

como primordial para a aprendizagem do aluno”,

destaca a diretora.

Entre escolas de período integral com aulas

de dança, música e teatro no contraturno, políticas

de formação e aprimoramento docente, projetos ex-

traclasse e de inclusão de alunos com deficiência

e tantos outros, a assessora de educação da cidade

também atribui a boa gestão da aprendizagem ao

sentimento colocado nesse trabalho. “Não fazemos

apenas porque está previsto em lei, mas para fazer a

diferença, para melhorar o desempenho dos alunos

na escola e na vida. Além da organização, é preciso

amar o trabalho para que ele dê certo, e aqui nós

amamos. Esse é o segredo para as escolas de hoje e

de amanhã”, enfatiza a educadora.

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A dança é uma das atividades realizadas

no contraturno das aulas.

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GESTÃO DA APRENDIZAGEMAlguns dos projetos de Sertãozinho-SP

Centro de Recursos e Apoio Pedagógico (CRAP)Criado em 29 de maio de 2006, o CRAP tem como objeti-vo atender as necessidades educacionais de crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizagem. A equipe técnica, que atende a todos os alunos da rede, é composta por psicólogos, pedagogos, psicopedagogos e fonoaudiólogos. Para manter a inclusão sem distinção, desde 2003 também há no projeto a presença de um professor cuidador exclusivo para crianças com algum tipo de deficiência.

Escola de Período IntegralDesde 2003 o projeto Escola de Período Integral é man-tido em duas escolas de Sertãozinho, localizadas em bairros periféricos da cidade. Nesse projeto, as crianças permanecem no ambiente escolar os cinco dias letivos da semana, durante nove horas diárias. Com esse modelo de escola, a intenção é evitar que as crianças fiquem ociosas em casa ou na rua e potencializem seu aprendizado através da interdisciplinaridade, com as aulas previstas no currículo regular e, também, ativi- dades de coral, fotografia, matemática lúdica, produ- ção textual e tênis de mesa, entre outras.

Sol do SaberPara melhor aproveitar as bibliotecas das escolas da rede, em 2001 foi criado o projeto Sol do Saber. A ação conta com professoras, leitoras e contadoras de histórias que atuam dentro das bibliotecas escolares municipais incentivando a leitura em crianças do 1º ao 9º ano do ensino fundamental. Nas visitas às bibliote-cas acontecem sessões de histórias, oficinas, rodas de leituras e projetos culturais que envolvem oralidade e artes visuais. O trabalho desenvolvido pelos alunos é exposto na Feira do Livro da cidade, que acontece, geralmente, no mês de setembro.

Texto: Michelly FogaçaInfográfico: Júnior Morasco

Page 28: A escola em 2025

O caminho a seguirPesquisadores e dados governamentais expõem a importância

do Plano Nacional de Educação para conduzir mudanças fundamentais

no país nos próximos dez anos

Michelly Fogaça

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Planejar é essencial para alcançar objetivos.

Planejam-se as férias, os fins de semana, os dias de tra-

balho, a rotina imediata e até o futuro mais distante.

Mesmo que imprevistos ocorram, traçar um plano é o

primeiro passo para concretizar ações. Se o planeja-

mento ajuda nas atividades mais corriqueiras, faz-se

fundamental naquilo que diz respeito ao interesse de

todos, no caso, a educação. Aí começa a importância

de um Plano Nacional para tratar do tema.

Mas nem sempre a educação foi do interes-

se público. Em uma obra clássica sobre o assunto,

História da Educação Pública, de 1959, o pedagogo

e pesquisador espanhol Lorenzo Luzuriaga definiu

alguns tipos de educação pública e retratou que a

educação começou a deixar de ser exclusividade do

interesse privado no final do século XVI e começo do

século XVII, com a Reforma Protestante. Na época, a

intenção era alfabetizar a população para aprimorar

os cristãos na leitura da Bíblia. O autor denotou esse

tipo de educação pública como religiosa.

Segundo Luzuriaga, a educação como interesse

nacional que conhecemos hoje, chamada por ele de

democrática, desenvolveu-se do século XIX ao XX e se

diferencia pelo crescimento da participação da popu-

lação na tomada de decisões referentes ao processo

de ensino e aprendizagem no país. Essa participação

da população é, aliás, uma das características da ela-

boração do Plano Nacional de Educação aprovado em

2014 e com vigência até 2024.

CONCEPÇÃO DE UM PLANO NACIONAL DE

EDUCAÇÃO

Doutora em Educação e autora de vários livros,

Áurea Costa pesquisa há alguns anos sobre os laços da

educação com o governo, como retrata em seu livro

As relações entre estado e escola no neoliberalismo,

publicado em 2013 pela editora APPRIS. Embasada

em sua experiência como pesquisadora e docente, a

especialista afirma que “conforme a concepção do

plano, sua influência na história da educação vai se

dar de forma diferente”.

Como explica a docente, os planos nacionais são

estabelecidos por meio de uma legislação, mas não se

confundem com as leis de diretrizes e bases, as quais

definem e regularizam o sistema de educação no Bra-

sil baseadas nos princípios constitucionais. A função

de um PNE é a de se constituir num instrumento em

que se antecipem as ações e estratégias, bem como os

prazos e as metas para que as matérias estabelecidas

em lei sejam cumpridas. “Outra característica é que

as leis que estabelecem os planos têm vigência por um

tempo determinado, pois a cada período, que pode ser

de uma década, por exemplo, faz-se necessário avaliar

as necessidades educacionais do país, em função das

eventuais mudanças na composição demográfica, ou

de o fato de já terem sido cumpridas metas anterio-

res, ou, ainda, em função de mudanças estruturais,

econômicas, sociais, históricas”, esclarece. Ou seja, o

estabelecimento de um plano nacional periódico vai

determinar o caminho da educação e a reestrutura-

ção da escola para um futuro determinado, no caso

atual, para 2024.

O PNE EM UM RESGATE HISTÓRICO

Em um resgate histórico, o primeiro conceito

de plano de educação no país vem dos anos de 1930

e era muito parecido com o que hoje são as leis com-

plementares e ordinárias. Era um modelo que Áurea

descreve como “mais legalista e técnico do que políti-

co”. Depois de se passar por outros modelos, com focos

mais dispersos da educação em si, chegou-se ao padrão

de plano nacional embasado em um diagnóstico da

educação brasileira, estabelecido na lei 10.172/2001,

vigente até 2011. “Esse plano foi feito no gabinete,

apesar de a sociedade ter se organizado e produzido

uma minuta de plano em que se reivindicava uni-

versalização do ensino superior e 10% do PIB para

educação. Esse plano ratificou o papel do Estado de

normatização, fomento e fiscalização e instituiu o uso

de fontes alternativas de financiamento da educação

pública”, contextualiza a docente.

Já o plano atual foi pensado a partir da Confe-

rência Nacional da Educação – CONAE, de 2010. Essa

iniciativa, do Governo Federal, teve o envolvimento

dos municípios e das universidades e, apesar da tutela

estatal, restringindo a discussão aos temas propostos

pelo próprio Estado, a exposição de demandas da

sociedade para o contexto influenciou a expectativa

depositada nesse PNE, o qual, como ressalta Áurea,

“se revolucionou também na estrutura do texto, bem

como no fato de legislar de forma mais geral, sem se

debruçar sobre questões específicas, tendendo a tra-

Page 30: A escola em 2025

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tar a população escolar de forma mais homogênea”.

O texto do documento atual, lei 13.005/2014, com-

parado ao anterior, que continha metas para cada um

dos dez temas destacados na lei 10.172/2001, descritas

em 81 páginas, conta com 20 metas, e a previsão de

conjuntos de estratégias para cada uma, em apenas 15

páginas. “Trata-se de um texto em que a ênfase é na

universalização da educação escolar nos diferentes

níveis, com destaque às modalidades de educação

especial e profissional”, destaca a especialista.

PARTICIPAÇÃO E IMPORTÂNCIA DA SOCIE-

DADE NO PNE

Retomando a educação pública democrática de

Luzuriaga, a interação da sociedade civil na elabo-

ração e para atingir as metas do PNE deve ser cons-

tante, com o intuito de atender as reais demandas da

educação no país e poder realizar a mudança efetiva

na estrutura das escolas, tanto no âmbito curricular

quanto no espaço físico e nas ferramentas dispo-

nibilizadas para a potencialização do ensino e da

aprendizagem, acompanhando a evolução do mercado

de trabalho e das necessidades localizadas fora do

ambiente escolar, mas direta e indiretamente ligadas

à qualidade da educação.

O projeto de lei 103/2012, que iniciou as discus-

sões sobre o atual PNE, deu entrada no Senado em

outubro de 2012 e tramitou até a lei ser sancionada,

em junho de 2014. Esse projeto passou no Senado e na

Câmara dos Deputados pelas Comissões de Assuntos

Econômicos, Constituição e Justiça, Educação, Cultura

e Esporte. Durante esses trâmites, a sociedade civil

organizada pôde participar, contando com a inter-

locução de deputados e senadores. “Vivemos numa

república federativa, sob um regime presidencialista,

em que há uma centralização das decisões políticas

e referentes ao financiamento muito grande. Apesar

disso, dependendo das correlações de forças entre

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os grupos e como são representados na Câmara e no

Senado, são implementadas as metas que refletem o

interesse de tais grupos. Por isso, é muito importante

a organização social, de modo a mobilizar para que

o Plano Nacional da Educação atenda realmente à

maioria da população”, coloca Áurea sobre a parte

que cabe à população na responsabilidade de mudar

o futuro da educação pelo caminho do PNE.

Uma das instituições mais representativas na

cobrança por uma educação de qualidade no país é

a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que

surgiu em 1999 do incentivo de organizações da so-

ciedade civil que participariam da Cúpula Mundial

de Educação em Dakar, no Senegal, no ano seguinte. O

intuito desse grupo fundador foi o de somar diferentes

forças políticas, priorizando ações de mobilização,

pressão política e comunicação. Hoje, a Campanha

articula mais de 200 grupos e entidades distribuídas

por todo o país, incluindo movimentos sociais, sin-

dicatos, organizações não governamentais nacionais

e internacionais, fundações, grupos universitários,

estudantis, juvenis e comunitários.

Essa representatividade foi marcante na elabo-

ração do Plano Nacional de Educação atual, princi-

palmente no que se refere ao Custo Aluno-Qualidade

Inicial, o CAQi, que é um indicador de quanto deve

ser investido, por aluno, com base no custo de insu-

mos e materiais didáticos considerados essenciais

para o aprendizado, no número adequado de alunos

por turma e na remuneração de professores, entre

outros fatores. Para Daniel Cara, cientista social e

coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direi-

to à Educação, o uso desse indicador, publicado pela

Campanha em 2007, torna o PNE “revolucionário” e

“se for consolidado, e isso deve ocorrer até 2016, as

principais metas do plano serão cumpridas. Se as

metas forem cumpridas, teremos escolas mais bem

equipadas, professores com melhor formação, muito

menos alunos fora da escola e, certamente, já seremos

um país mais digno para se viver”.

A RELAÇÃO DO ENSINO PRIVADO COM O PNE

Um ponto polêmico no Plano Nacional de Edu-

cação vigente é a relação do governo com o ensino

privado. Um exemplo são as verbas destinadas a pro-

gramas como o Universidade para Todos (ProUni), o

Ciência sem Fronteiras, o Fundo de Financiamento

Estudantil (Fies) e o Programa Nacional de Acesso ao

Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Áurea Costa ex-

plica que, do ponto de vista da intervenção do Estado

na gestão escolar, tanto o Plano Nacional de Educação

quanto a Lei de Diretrizes e Bases são resoluções fe-

derais que devem ser cumpridas por todo o sistema

de ensino nacional, e isso engloba escolas públicas e

particulares. Mas, pelo fato de as instituições de ensino

privadas se constituírem como empresas com estatuto

de pessoa jurídica, com autonomia para reger suas

próprias regras, o Estado instituiu a responsabilidade

da fiscalização e a vigilância.

A especialista argumenta que a polêmica pode

vir da interpretação de que, sob a visão da gestão do

sistema de ensino mais amplo, o PNE prevê a utilização

de fontes alternativas para o cumprimento das metas,

e essas fontes seriam verbas não estatais. Ela aponta

que uma situação paradoxal pode surgir disso, pois,

“se o plano, por um lado, admite tal situação e, por

outro, a LDB incorpora o ensino privado no sistema

nacional de ensino, então, certamente, para o cum-

primento de tais metas há que se considerar o papel

das escolas privadas e os percentuais da população

escolar que elas atendem, para fins de cumprimento

das metas. Isso pode levar à privatização do ensino,

pois o Estado passa a contar com a colaboração das

instituições privadas de ensino para o cumprimento de

um direito social, o direito à educação, que, naquelas

instituições, converte-se em serviço, destituindo-se

do caráter de direito”.

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Alfabetizar todas as cri- anças, no máximo, até o final do 3º ano do ensi- no fundamental.

Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos alunos da educação básica.

Oferecer, no mínimo, 25% das ma- trículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educa-ção profissional.

Triplicar as matrículas da edu- cação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo me- nos 50% da expansão no seg- mento público.

Universalizar, até 2016, o atendi-mento escolar para toda a popula-ção de 15 a 17 anos e elevar, até o final do período de vigência deste PNE, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85%.

Universalizar o ensino fundamental de nove anos para toda a população de seis a quatorze anos e garantir que pelo menos 95% dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência deste PNE.

Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crian-ças de quatro a cinco anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches, de forma a atender, no mínimo, 50% das crianças de até três anos até o final da vigência deste PNE.

Elevar a escolaridade média da popula-ção de 18 a 29 anos, de modo a alcançar, no mínimo, 12 anos de estudo no último ano de vigência deste Plano, para as po- pulações do campo, da região de menor escolari-dade no País e dos 25% mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e não negros declarados à Fundação Instituto Brasileiro de Geo- grafia e Estatística (IBGE).

Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de planos de carreira para os profissionais da educação básica e superior pública de todos os sistemas de ensino e, para o plano de carreira dos profissionais da educação básica pública, tomar como referência o piso salarial nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do art. 206 da Constituição Federal.

Formar, em nível de pós-graduação, 50% dos professores da educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos os pro- fissionais da educação básica for- mação continuada em sua área de atuação, considerando as necessida-des, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino.

Assegurar condições, no prazo de dois anos, para a efetivação da gestão democrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito e de- sempenho e à consulta pública à co- munidade escolar, no âmbito das es- colas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto.

Fonte: pne.mec.gov.br (adaptado)Infográfico: Júnior Morasco

Elevar gradualmente o núme- ro de matrículas na pós-gra- duação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de 60.000 mestres e 25.000 doutores.

Elevar a qualidade da educação su- perior e ampliar a proporção de mes- tres e doutores do corpo docente em efetivo exercício no conjunto do sis- tema de educação superior para 75%, sendo, do total, no mínimo, 35% doutores.

Ampliar o investimento públi- co em educação pública de for- ma a atingir, no mínimo, o pa- tamar de 7% do Produto Inter- no Bruto (PIB) do País no 5º ano de vigência desta Lei e, no mí- nimo, o equivalente a 10% do PIB ao final do decênio.

Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurada a quali-dade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% das novas matrículas, no segmento público.

Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e, até o final da vigência deste PNE, erradicar o analfa-betismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional.

Fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo es- colar e da aprendizagem, de modo a atingir as seguin-tes médias nacionais para o IDEB: 6,0 nos anos ini- ciais do ensino fundamental; 5,5 nos anos finais do ensino fundamental; 5,2 no ensino médio.

Valorizar os profissionais do magistério das redes públicas de educação básica de forma a equiparar seu rendimento mé- dio ao dos demais profissio-nais com escolaridade equiva-lente, até o final do sexto ano de vigência deste PNE.

As metas do Plano Nacional de Educação

As metas do Plano Nacional de Educação

Universalizar, para a população de quatro a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdo-tação, o acesso à educação básica e ao atendi-mento educacional especializado, preferencial-mente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados.

Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-pios, no prazo de um ano de vigência deste PNE, política nacional de formação dos profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III do caput do art. 61 da Lei nº 9.394, de 20/12/1996, assegurado que todos os professores da educa-ção básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.

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Alfabetizar todas as cri- anças, no máximo, até o final do 3º ano do ensi- no fundamental.

Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos alunos da educação básica.

Oferecer, no mínimo, 25% das ma- trículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educa-ção profissional.

Triplicar as matrículas da edu- cação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo me- nos 50% da expansão no seg- mento público.

Universalizar, até 2016, o atendi-mento escolar para toda a popula-ção de 15 a 17 anos e elevar, até o final do período de vigência deste PNE, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85%.

Universalizar o ensino fundamental de nove anos para toda a população de seis a quatorze anos e garantir que pelo menos 95% dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência deste PNE.

Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crian-ças de quatro a cinco anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches, de forma a atender, no mínimo, 50% das crianças de até três anos até o final da vigência deste PNE.

Elevar a escolaridade média da popula-ção de 18 a 29 anos, de modo a alcançar, no mínimo, 12 anos de estudo no último ano de vigência deste Plano, para as po- pulações do campo, da região de menor escolari-dade no País e dos 25% mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e não negros declarados à Fundação Instituto Brasileiro de Geo- grafia e Estatística (IBGE).

Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de planos de carreira para os profissionais da educação básica e superior pública de todos os sistemas de ensino e, para o plano de carreira dos profissionais da educação básica pública, tomar como referência o piso salarial nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do art. 206 da Constituição Federal.

Formar, em nível de pós-graduação, 50% dos professores da educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos os pro- fissionais da educação básica for- mação continuada em sua área de atuação, considerando as necessida-des, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino.

Assegurar condições, no prazo de dois anos, para a efetivação da gestão democrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito e de- sempenho e à consulta pública à co- munidade escolar, no âmbito das es- colas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto.

Fonte: pne.mec.gov.br (adaptado)Infográfico: Júnior Morasco

Elevar gradualmente o núme- ro de matrículas na pós-gra- duação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de 60.000 mestres e 25.000 doutores.

Elevar a qualidade da educação su- perior e ampliar a proporção de mes- tres e doutores do corpo docente em efetivo exercício no conjunto do sis- tema de educação superior para 75%, sendo, do total, no mínimo, 35% doutores.

Ampliar o investimento públi- co em educação pública de for- ma a atingir, no mínimo, o pa- tamar de 7% do Produto Inter- no Bruto (PIB) do País no 5º ano de vigência desta Lei e, no mí- nimo, o equivalente a 10% do PIB ao final do decênio.

Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurada a quali-dade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% das novas matrículas, no segmento público.

Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e, até o final da vigência deste PNE, erradicar o analfa-betismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional.

Fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo es- colar e da aprendizagem, de modo a atingir as seguin-tes médias nacionais para o IDEB: 6,0 nos anos ini- ciais do ensino fundamental; 5,5 nos anos finais do ensino fundamental; 5,2 no ensino médio.

Valorizar os profissionais do magistério das redes públicas de educação básica de forma a equiparar seu rendimento mé- dio ao dos demais profissio-nais com escolaridade equiva-lente, até o final do sexto ano de vigência deste PNE.

As metas do Plano Nacional de Educação

As metas do Plano Nacional de Educação

Universalizar, para a população de quatro a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdo-tação, o acesso à educação básica e ao atendi-mento educacional especializado, preferencial-mente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados.

Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-pios, no prazo de um ano de vigência deste PNE, política nacional de formação dos profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III do caput do art. 61 da Lei nº 9.394, de 20/12/1996, assegurado que todos os professores da educa-ção básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.

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Em uma visão mais direta do processo, Daniel

Cara coloca que o Plano Nacional de Educação é mais

voltado à rede pública de ensino, pois esse sistema

educacional sofreu um desgaste amplo na qualidade

ao longo dos anos e está bem atrás no comparativo com

outros países da América do Sul, como Chile, Argentina

e Uruguai, os quais são parâmetros brasileiros para se

atingir ao fim da vigência do atual PNE. Entretanto,

coloca que qualquer escola, pública ou particular, é

responsável pela qualidade da educação no país, assim

“os estabelecimentos privados também devem seguir

as diretrizes do PNE, pois também ofertam educação”.

Pensando na educação de maneira ampla, Áu-

rea Costa expõe que a sociedade como um todo deve

refletir sobre a eficiência da escola para o futuro, o

que inclui estabelecimentos de ensino particular e

público, e não se apegar ao resultado quantitativo e

sim ao qualitativo, pois há um longo caminho para a

mudança, o qual deve ser cauteloso. “A relação entre

a qualidade do ensino e os resultados imediatos não

é linear. Urge uma reflexão profunda sobre o tipo

de homem que queremos formar, para qual tipo de

sociedade, de forma franca, sob pena de reproduzir-

mos o formalismo do nosso passado colonial. A nossa

juventude é o nosso maior tesouro, portanto, há que

se investir no seu futuro, para que tenhamos, para

além de uma nação forte, um povo emancipado da

ignorância”, conclui a especialista.

AÇÕES MUNICIPAIS PARA ATINGIR AS ME-

TAS DO PNE

A partir da aprovação do Plano Nacional de Edu-

cação, as cidades precisam se preparar para elaborar

seus Planos Municipais (chamados PME), documento

que vai gerir o andamento da rede educacional local.

Segundo texto do Ministério da Educação, “o PNE traz

o desafio da articulação para a oferta educacional de

maneira integrada e colaborativa. Para concretizar-se

como Política de Estado que extrapola os tempos das

gestões governamentais, precisa estar vinculado aos

planos estaduais, do Distrito Federal e municipais de

Educação, além de servir de referência para a elabo-

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Page 35: A escola em 2025

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ração dos Planos Plurianuais nas diferentes esferas

de gestão. As metas são nacionais, portanto, todos têm

compromisso com cada uma delas”. O MEC também

disponibiliza dados para comparar o alcance atual

das metas com o esperado para o fim da vigência do

atual PNE (confira alguns desses dados ao final da

matéria, em quadro complementar).

Em Lençóis Paulista, interior de São Paulo, o

trabalho com metas é realizado desde 2005. Para a

adequação ao atual PNE, a Diretora de Educação da

cidade, Lucinara Barbosa, relata algumas medidas

que já são tomadas no município. “Com a aprovação do

PNE em 2014, iniciou-se a avaliação do cumprimento

de metas do Plano Municipal de Educação e alinha-

mento ao PNE 2014–2024. Para atingir as metas do

PME, a Diretoria Municipal de Educação acompanha

as ações e objetivos educacionais do Mapa Estratégico

da rede municipal de educação, como também as ações

educacionais desenvolvidas na rede privada, nas ins-

tituições filantrópicas e de ensino profissionalizante”.

A diretora também lista que, na cidade, o acom-

panhamento de resultados e atingimento de metas

acontece por meio de consultas públicas como SEADE

e INEP, o monitoramento das metas que compõem o

Mapa Estratégico da Diretoria de Educação, assim

como as que compõem o Mapa Estratégico de cada

Unidade Escolar (metas de aprendizagem e operacio-

nais) e um sistema de avaliação educacional da própria

cidade, o SAELP, aplicado apenas nas escolas da rede

municipal. Lucinara também ressalta que o município

investe na formação continuada de profissionais da

Educação e oferece atendimento a crianças de faixa

etária de zero a três anos e 11 meses, em creches

com sistema de Lista Única, com objetivo de atender

prioritariamente famílias de baixa renda.

Para auxiliar na gestão das metas em Lençóis

Paulista, foram implantados sistemas informatizados

para a área administrativa, para o controle de ma-

trícula e avaliação funcional, por exemplo, e para a

área pedagógica, para auxílio docente com ficha de

acompanhamento do aluno, assessoria pedagógica

informatizada, avaliação institucional, SAELP, rela-

tórios de avaliação, entre outros. “Com os sistemas

informatizados conseguimos monitorar os resultados

gerais da rede, das escolas, das turmas e de cada alu-

no. A gestão dos processos administrativos também é

facilitada, com isso otimizamos recursos e planejamos

melhor nossas ações”, conta Lucinara.

A diretora completa que a viabilidade das metas

do Plano Municipal alinhado ao PNE trará os bene-

fícios de uma educação de qualidade, a equidade e o

desenvolvimento sociocultural dos alunos, além de

qualificação profissional, o que proporcionará um

bom parâmetro de escolas para o futuro.

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Page 36: A escola em 2025

36

EDUCAÇÃO NO BRASILOnde se está e aonde se pretende chegar

Acompanhe abaixo algumas informações divulgadas pelo Ministério da Educação sobre a educação no Brasil e os números almejados após o alcance das metas do PNE 2014-2024.

Educação infantilPercentual da população de 4 e 5 anos que frequenta a escola.Contabilizado: 81,4%Almejado: 100%

Ensino fundamentalPercentual de pessoas de 16 anos com pelo

menos o ensino fundamental concluído.Contabilizado: 66,7%

Almejado: 95%

Ensino médioTaxa de escolarização líquida no ensino médio da população de 15 a 17 anos.Contabilizada: 55,3%Almejada: 85%

Elevação da escolaridade/DiversidadeEscolaridade média da população de

18 a 29 anos residente em área rural.Contabilizada: 7,8 anos

Almejada: 12 anos

Educação profissionalMatrículas em educação profissional técnica de nível médio na rede pública.Contabilizadas: 900.519Almejadas: 2.503.465

Formação de professores da educação básicaPercentual de professores da educação básica

com pós-graduação lato sensu ou stricto sensu.Contabilizado: 30,2%

Almejado: 50%

Meta 1

Meta 2

Meta 3

Meta 8

Meta 11

Meta 16

Saiba mais: para conhecer detalhes sobre o PNE, suas metas e dados nacionais relacionados ao alcance das mesmas, acesse http://pne.mec.gov.br/.

Fonte: IBGE/Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) – 2013 (adaptado)Infográfico: Júnior Morasco

Page 37: A escola em 2025

Aprender e ensinarsob medida

Plataformas adaptativas são aposta para uma efetiva personalização

do ensino nas escolas de hoje e do futuro

Michelly Fogaça

EDUCAÇÃO NO BRASILOnde se está e aonde se pretende chegar

Acompanhe abaixo algumas informações divulgadas pelo Ministério da Educação sobre a educação no Brasil e os números almejados após o alcance das metas do PNE 2014-2024.

Educação infantilPercentual da população de 4 e 5 anos que frequenta a escola.Contabilizado: 81,4%Almejado: 100%

Ensino fundamentalPercentual de pessoas de 16 anos com pelo

menos o ensino fundamental concluído.Contabilizado: 66,7%

Almejado: 95%

Ensino médioTaxa de escolarização líquida no ensino médio da população de 15 a 17 anos.Contabilizada: 55,3%Almejada: 85%

Elevação da escolaridade/DiversidadeEscolaridade média da população de

18 a 29 anos residente em área rural.Contabilizada: 7,8 anos

Almejada: 12 anos

Educação profissionalMatrículas em educação profissional técnica de nível médio na rede pública.Contabilizadas: 900.519Almejadas: 2.503.465

Formação de professores da educação básicaPercentual de professores da educação básica

com pós-graduação lato sensu ou stricto sensu.Contabilizado: 30,2%

Almejado: 50%

Meta 1

Meta 2

Meta 3

Meta 8

Meta 11

Meta 16

Saiba mais: para conhecer detalhes sobre o PNE, suas metas e dados nacionais relacionados ao alcance das mesmas, acesse http://pne.mec.gov.br/.

Fonte: IBGE/Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) – 2013 (adaptado)Infográfico: Júnior Morasco

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Page 38: A escola em 2025

38

Padronização. Essa é uma das características

mais marcantes do sistema de ensino brasileiro até o

momento. A padronização no sentido da estagnação,

da manutenção de uma metodologia que coloca os

alunos como um todo homogêneo e predeterminado

a chegar aos mesmos objetivos, pelo mesmo caminho

e ao mesmo tempo.

Hoje, para professores e demais profissionais

da educação, torna-se cada vez mais evidente que o

caminho não é esse. Mas, se não há um padrão, por

onde seguir? Talvez tenha sido na percepção dessa

dúvida que a personalização ganhou seu destaque.

Mas para entender o porquê de personalizar, é pre-

ciso entender os tipos de ensino mais comuns e suas

características.

DIFERENTES METODOLOGIAS COLOCAM O

ALUNO EM POSIÇÕES DISTINTAS NO PROCESSO

DE ENSINO

O primeiro método e o mais antigo é o Ensino

Individual. Como o próprio nome sugere, ele é dire-

cionado a uma única pessoa. Exemplos disso são os

preceptores, responsáveis pela orientação nos estudos

dos filhos de famílias nobres, desde a Antiguidade até

a Modernidade. Os professores particulares exercem

a mesma função atualmente, mas essa metodologia

não garante a eficiência do aprendizado. Mesmo que o

professor se ocupe de um único aluno, o método usado

pode não ser embasado nas facilidades e dificuldades

reais do estudante.

Com a necessidade de a educação ser mais abran-

gente a todas as classes sociais, surgiu o Ensino Mas-

sivo. Nesse método, um elevado número de pessoas

é orientado ao mesmo tempo, pelo padrão embasado

na média da turma, ou seja, define-se um aluno hipo-

tético como o perfil a ser ensinado. É o método mais

disseminado, econômico e eficaz na aproximação

social dos indivíduos, entretanto, a padronização

que gera ressalta as desigualdades na aprendizagem,

uma vez que a mesma é individual e depende das

características particulares de cada aluno.

A junção das melhores características desses

dois métodos apresenta-se no Ensino Personaliza-

do: individualizar o estudo sem a necessidade de

isolar o aluno. E a discussão sobre o assunto não é

nova, ela começou com a revolução social dos anos

de 1960, em que a crítica sobre a estrutura do en-

sino no mundo ocidental ganhou fomento. Desde a

época, as questões essenciais explanadas sobre esse

método são sua capacidade de tornar o ensino mais

eficiente e atender o aluno como um ser individual

e único, com dificuldades e tempo de desenvolvi-

mento singulares.

Diante disso, o aspecto básico para o ensino per-

sonalizado é conhecer bem os alunos, mas não embasar

esse conhecimento em percepções e juízos apenas, o

professor precisa de ferramentas para auxiliá-lo nessa

tarefa. Surge então a necessidade de tecnologias para

o aprimoramento dessa nova metodologia.

PLATAFORMAS ADAPTATIVAS SÃO APOSTA

TECNOLÓGICA PARA POTENCIALIZAR OS NÍVEIS

DE APRENDIZAGEM

Em 2012, o Departamento de Educação de Nova

York inseriu o uso de plataformas adaptativas em 125

de suas 1700 escolas públicas. No mesmo ano, a ação

foi premiada pelo IMS Global Learning Consortium,

concurso internacional que seleciona e avalia práti-

cas inovadoras na área de educação. Com a iniciativa

nos Estados Unidos, o assunto ganhou destaque e as

plataformas começaram a ser vistas como a tendência

para as salas de aula do futuro. Essa expectativa se

dá pelo fato de que as plataformas adaptativas são

o auxílio tecnológico à personalização do ensino,

discutida lá atrás, desde a década de 1960.

Segundo a pedagoga e especialista em Gestão

Escolar, Laura Paniagua Justino, que coordena a área

pedagógica de um projeto de implantação de plata-

formas adaptativas em uma rede de ensino do país,

essas ferramentas contribuem para o desenvolvimento

escolar dos alunos por oferecerem mecanismos de

avaliação contínua, diagnosticando as lacunas de

aprendizagem de forma particularizada e compreen-

dendo, por meio de dados, as preferências de cada um

no que se refere à personalidade e ao comportamento.

“A partir desse conjunto de informações, o sistema

entende o perfil do aluno e indica os conteúdos com

as estratégias mais adequadas para que ele aprenda

melhor, possibilitando maior autonomia em seus

estudos”, comenta.

O sistema dessas plataformas agrupa os dados,

obtidos pela realização de atividades e demais inter-

Page 39: A escola em 2025

39

câmbios entre aluno e ferramenta, em relatórios de

acompanhamento da aprendizagem. Essa função ofe-

rece ao professor a possibilidade de realizar a gestão

da sala de aula de maneira mais adequada e tomar

decisões sobre intervenções e planejamento, confor-

me necessidades específicas dos alunos. A pedagoga

explica que “as interações dos alunos na plataforma

permitem a avaliação da aprendizagem e, a partir do

resultado, o sistema propõe atividades com diferentes

estratégias, como games, infográficos, leituras, vídeos,

entre outros, ou seja, um mesmo conteúdo pode ser

apresentado aos alunos sob medida, de acordo com

seu perfil”.

Essa visualização do processo de aprendi-

zagem do aluno contribui para que o professor

recupere aqueles alunos que apresentam mais di-

ficuldades e ofereça mais desafios aos que podem

ir além. Assim, como conclui a especialista, “o pro-

fessor não precisa esperar resultados de simulados

ou avaliações bimestrais para fazer as intervenções

junto aos alunos, podendo lançar mão de novas es-

tratégias para melhorar a aprendizagem dos mesmos

de forma pontual”.

ORGANIZAÇÃO DE DADOS PARA TRAÇAR

PERFIL DO ALUNO E AUXILIAR TRABALHO DO

PROFESSOR

Com a experiência da sala de aula e o contato

com os alunos, o professor obtém suas impressões

sobre o perfil de cada um, mas tais percepções, emba-

sadas em valores pessoais, não são tão fiéis à realidade

quanto a análise baseada em dados organizados por

meio de combinações estatísticas, o que é usado na

criação das plataformas adaptativas.

A quantidade e variedade de dados gerados e

armazenados diariamente é imensa. Eles estão nos

bancos, nas operadoras de telefonia, nas buscas on-li-

ne, enfim, os exemplos são inúmeros, mas o que faz a

diferença na relatividade desses dados é a forma como

eles são organizados e usados. A expressão Big Data é

comum para designar esses dados que precisam ser

organizados para tornar as informações extraídas dos

mesmos úteis e utilizáveis em tempo hábil.

No contexto das plataformas adaptativas, os

estudantes são responsáveis pela geração de inú-

meros dados ao usarem a ferramenta. Esses dados

são armazenados, analisados e combinados e, das

informações resultantes desse processo, são sugeridos

os conteúdos e atividades que incentivam o aluno a

explorar suas dificuldades e elevar seu nível de estudo.

“Uma plataforma adaptativa precisa, basica-

mente, ser inteligente o suficiente para que utilize

algoritmos que proponham atividades diferentes para

cada aluno, sob medida, a partir de suas respostas e

reação às tarefas. Essas tarefas vêm acompanhadas de

conteúdos que complementam o aprendizado, como

vídeos, imagens, textos ou propostas de atividades

em grupo. Tudo isso para incentivar que o estudante

trabalhe sua dificuldade até superá-la”, esclarece Wa-

shington Moisés Rodrigues, líder de desenvolvimento

em projetos de plataformas adaptativas.

A sugestão de conteúdo é parte indispensável

da plataforma, por isso os softwares das mesmas são

desenvolvidos sob a supervisão de especialistas em

educação e profissionais da área pedagógica, que

participam do ensino nas salas de aula e possuem ex-

periência na produção de materiais didáticos. “Todas

Alunos de Taboão da Serra acessam plata-

forma adaptativa em aplicativo no celular.

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A partir desse conjunto de in-formações, o sistema entende o perfil do aluno e indica os con-teúdos com as estratégias mais adequadas para que ele aprenda melhor, possibilitando maior au-tonomia em seus estudos.

Page 40: A escola em 2025

40

COMO FUNCIONA UMAPLATAFORMA ADAPTATIVA?

O sistema é desenvolvido para guardar informações de uso de cada usuário

Esses dados também chegam ao professor em forma de gráficos e tabelas

Infográfico: Júnior Morasco Texto: Michelly Fogaça

O aluno acessa a plataforma e responde questões de uma disciplina

O sistema agrupa respostas, o tempo em cada questão, os erros e os acertos

A “memória” da plataforma indica conteúdos complementares condizentes com a necessidadedo estudante

A plataforma ajuda no direcionamento do estudo e na intervenção pedagógica do professor

1

2

3

4

5

6

A

080706050403020100

B C D F

a)b)c)d)

Page 41: A escola em 2025

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as etapas de criação dos softwares passam por uma

avaliação que tem por objetivo analisar a usabilidade

da ferramenta, procurando identificar sua contribui-

ção para o aprimoramento escolar do aluno”, elucida

o desenvolvedor.

Com toda essa organização dos dados possi-

bilitada por softwares de qualidade, os professores

podem visualizar o desempenho dos alunos de forma

detalhada, como a resposta que o usuário escolheu,

os conteúdos de apoio que utilizou para trabalhar na

atividade e o tempo que levou para fazer os exercí-

cios. Dessa forma, a junção da estrutura pedagógica

com a tecnologia mostra-se uma parceria funcional

na personalização do ensino por meio das platafor-

mas adaptativas.

ADOTAR A PLATAFORMA ADAPTATIVA É

SE PREPARAR PARA UM MODELO DE EDUCAÇÃO

DO FUTURO

A tendência de plataformas adaptativas chega

para desmassificar o método de ensino de hoje, no qual

“os meios de entrega de conteúdo mais empregados

apresentam exatamente o mesmo material a todos os

alunos, independentemente de suas particularidades”,

constata Bruno Penteado, especialista em Pesquisa e

Aplicação na área de tecnologias aplicadas à educação

e doutorando em Computação aplicada à Educação na

Universidade de São Paulo – USP.

Segundo o especialista, os conteúdos utilizados

até hoje não foram de todo inadequados, eles apenas

não acompanharam a evolução dos alunos com a

mesma velocidade de adaptação. “Eles (conteúdos)

tiveram sucesso, pois apresentam vantagens como

a relação custo-benefício, ao entregar instrução em

larga escala e nivelar todos os alunos em uma pro-

gramação didática fixa. Porém, uma limitação desses

meios, mesmo se transpostos para ambientes digitais,

é que eles fornecem as mesmas páginas, mesmos

materiais, mesmas dicas nos mesmos lugares, sendo

uma prática massificada, com abordagem única e

sugerindo, por exemplo, as mesmas sequências de

estudo, no mesmo ritmo, a pessoas com diferentes

objetivos e conhecimentos prévios sobre o assunto”,

contextualiza Bruno.

Com o desenvolvimento tecnológico e sua po-

pularização considerável, acompanhar a evolução

dos processos de ensino e aprendizagem tornou-se

fundamental para a escola se preparar para o futu-

ro. Penteado explica que oferecer meios para que o

professor possa gerir a aprendizagem dos alunos de

maneira mais adequada e, como consequência,

tornar a mesma mais eficiente para cada estudante é o

caminho para uma educação de sucesso, desde que as

ferramentas sejam empregadas da maneira adequada.

Para o especialista, a personalização do ensino

por meio das plataformas adaptativas apresenta-se

como um dos métodos mais otimistas e eficazes de

aplicação de ferramenta tecnológica em busca da efici-

ência do ensino e aprendizagem, principalmente pela

sua estrutura de concepção. “Os sistemas adaptativos

educacionais se baseiam em três componentes princi-

pais: o modelo do usuário (características e traços in-

dividuais), o modelo do domínio (o que será adaptado)

e os modelos instrucionais (abordagens pedagógicas

para o processo de ensino). Quanto melhor o sistema

for modelado em cima de características relevantes e

mensuráveis de cada um desses componentes, mais

Ação de implantação de plataforma

adaptativa com alunos de Taboão.

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Page 42: A escola em 2025

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relevante tende a ser o resultado”, explica.

Em complemento à ideia de Bruno, a pedagoga

Laura Justino afirma que a escola deve buscar ferra-

mentas e materiais de qualidade, bem construídos, e

que sejam empregados para o desenvolvimento não

só do aluno, mas de toda a escola. “Se a excelência de

uma escola está em assegurar o sucesso de todos os

alunos, a personalização do ensino passa a ser uma

das estratégias mais importantes. Nesse sentido, acre-

dito que as plataformas adaptativas devem chegar

ao centro do processo de ensino e aprendizagem em

todas as escolas do Brasil”, conclui a pedagoga.

ONDE A MUDANÇA JÁ COMEÇOU...

Um colégio particular do município de Taboão

da Serra, São Paulo, participa desde setembro do ano

passado de um projeto de implantação de plataforma

adaptativa, elaborada para a rede de ensino da qual

faz parte. Representantes do projeto fizeram visitas

à escola para conhecer a estrutura do local e as ex-

pectativas de gestores, professores e alunos quanto

à mudança, que será gradativa, na forma de os estu-

dantes realizarem seus estudos, e de os professores

e gestores acompanharem seus resultados.

“Os nossos alunos estão no século XXI e o pro-

fessor na escola está com giz e lousa do século XIX,

por isso eu vejo com muito bons olhos a inserção

dessa plataforma na escola”, declara de maneira

positiva Anadiso França, mantenedor do colégio em

Taboão da Serra. O gestor recebeu a ideia de uma

plataforma adaptativa para a rotina dos alunos “com

muito entusiasmo”.

Professora de Matemática e Física no colégio,

Fernanda Cristina da Silva ressalta a ajuda que a

plataforma dará na identificação dos perfis dos

alunos, principalmente daqueles que chegaram à

escola há pouco tempo. “Quando você conhece um

aluno há mais tempo, até consegue reconhecer as

dificuldades dele e ajudar no que é possível, den-

tro de uma sala de aula com vários outros alunos,

mas quando um aluno vem de fora, os dados da

plataforma facilitam muito no direcionamento do

que fazer para ajudar esse aluno a melhorar o seu

desempenho na escola”, comenta.

Para Laura Paniagua Justino, esse tipo de

aproximação pré-implantação é a melhor maneira

de conhecer os maiores interessados no ensino per-

sonalizado e garantir o sucesso da plataforma. “É

fundamental ouvir, possibilitar a experiência do uso

e entender as necessidades de gestores, professores e

alunos. Uma plataforma de ensino adaptativo só será

efetivamente eficaz se for capaz de oferecer recursos

aderentes ao dia a dia da escola, proporcionando a

cada pessoa a melhoria de processos, seja no âmbito

da gestão da escola ou na execução de tarefas diárias

pelos alunos”, afirma.

“Nos sentimos honrados e felizes por estar

contribuindo com o projeto. É muito interessante

para nós que o desenvolvimento desse sistema seja

embasado nas opiniões das pessoas que vão traba-

lhar com ele no dia a dia”, ressalta França. O colégio

de Taboão continua no projeto ao longo de 2015, ano

em que a plataforma implantada na instituição e

seu aplicativo receberão as melhorias sugeridas

por alunos e professores de todas as escolas parti-

cipantes da ação.

PARA SABER MAIS

O educador português João Nogueira Pimentel

abordou a personalização do ensino em 1988, no texto

Reflexões sobre as qualidades da personalização

do ensino, que pode ser lido em: http://www.ipv.pt/

millenium/ect10_pimtl.htm.

Se quiser relembrar fatos marcantes dos anos

de 1960, alguns livros interessantes são: Brasil: anos

60, de José Geraldo Couto – Editora Ática; Os incríveis

anos 60-70, de Nenê Benvenutti – Editora Novo Século;

De volta aos anos 60: uma viagem pelo fim do ideal re-

volucionário, de Pierre Bergouniox – Editora Alameda.

Nos sentimos honrados e fe-lizes por estar contribuindo com o projeto. É muito inte-ressante para nós que o de-senvolvimento desse sistema seja embasado nas opiniões das pessoas que vão trabalhar com ele no dia a dia.

Page 43: A escola em 2025

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Page 44: A escola em 2025

44

Escola e sociedade“Como empresário de educação, e principalmente como pai, acredito

em uma escola que proporcione integração tecnológica, um currículo

adequado e valores sociais aos estudantes”

Em meados de 1999 e 2000, eu vinha de uma

indústria de software do segmento corporativo e assis-

tia às empresas se informatizando muito rapidamente.

Quando me propuseram a olhar com mais cuidado

o mercado de educação, eu percebi que essa área e

as escolas em si estavam décadas atrás da inovação

tecnológica. Era evidente que a tecnologia evoluía,

os estudantes fora da escola acompanhavam essa

evolução, mas dentro da escola isso não acontecia.

Foi dessa realidade que eu vi a oportunidade de cons-

truir algo que complementasse as ações nas escolas

e diminuísse esse espaço entre o ambiente escolar e

o avanço tecnológico.

A dúvida então foi por onde começar. Com o

apoio de alguns parceiros, como Intel e Microsoft, nós

participamos de um projeto em Bauru, para visitar 22

escolas estaduais durante um ano e sentir, dentro da

escola, quais eram as necessidades desses ambientes

de ensino. Eu e a pequena equipe da empresa, na

época, unimos a essa experiência a vontade de ofere-

cer uma plataforma de serviços e soluções que fosse

escalável para o setor público, para atingir o maior

número de escolas possível. Nessa mesma época, e

acompanhando de perto o trabalho da escola e dos

professores, percebemos que o docente não precisava

apenas da tecnologia na escola, mas de apoio para

enfrentar uma sala de aula digital.

O professor não estava familiarizado com o

computador ou qualquer outro dispositivo. Inserir

essa tecnologia na escola sem ajudá-lo a entendê-la

seria prejudicar e não ajudar o processo de ensino

e aprendizagem. A intenção não era oferecer ape-

nas tecnologia, era proporcionar avanço tecnológico

na educação. Estudamos o que já era oferecido pelo

mundo e localizamos as soluções na Malásia, indi-

cadas pela Intel, que deram origem a dois produtos

do portfólio da empresa atualmente e foram as duas

primeiras funcionalidades que trouxemos para a

educação pública.

Como empresário de tecnologia voltada à edu-

cação, a idealização sempre foi estar à frente no tipo

de tecnologia que pudesse ser inserida na escola para

atualizar e potencializar o meio educacional. Mas um

dos maiores desafios que ainda vejo, mais de quinze

anos depois de firmar o trabalho nesse meio, é real-

mente conseguir atualizar a escola e seus agentes em

uma velocidade próxima da compatível com a evolução

tecnológica acompanhada pelos alunos. Ainda levamos

as tecnologias mais simples do começo (atualizadas,

mas mesmo assim simples) aos professores e vemos a

Eduardo Stevanato é empre-

sário no ramo de tecnologia volta-

da à educação há mais de quinze

anos, Diretor Presidente e CEO da

MSTECH Educação e Tecnologia,

pai de dois filhos e crédulo de que

a tecnologia, bem empregada, au-

xiliará na escola e na sociedade

do futuro.Foto

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Page 45: A escola em 2025

45

surpresa em suas reações, o olhar de descoberta pe-

rante o novo. Isso mostra que a escola ainda tem muito

a avançar no aspecto tecnológico. Claro que muitas

instituições já caminham para isso, mas diante do total

brasileiro, a quantidade ainda é pequena.

A questão vai muito além de inserir a tecnologia.

Além de vencer a barreira de uso, de permitir que

o professor consiga conduzir uma aula construtiva

dentro de um ambiente digital, a escola só mudará

e acompanhará as necessidades dos estudantes do

futuro quando as ferramentas tecnológicas se torna-

rem uma extensão do método tradicional de ensino.

Os conteúdos não podem apenas ser transpostos, eles

devem estar adaptados ao meio digital e oferecer aquilo

que o livro e o caderno de papel, sozinhos, não podem.

Essa minha percepção das necessidades escola-

res ficou ainda maior quando meus filhos, hoje com

cinco e seis anos, passaram a fazer parte do público

atendido pelas instituições de ensino. Encontrar uma

escola que atendesse às minhas expectativas e de mi-

nha esposa para a educação dos nossos filhos foi uma

missão árdua e cautelosa. Trabalhar com educação

me fez um pai ainda mais exigente em relação ao que

seria oferecido aos meus pequenos estudantes, uma

vez que eu os entregava à escola aspirando a uma

educação acompanhada da tecnologia, que já é tão

natural a essa geração, e de valores socioculturais,

essenciais para a formação de cidadãos completos,

preparados para o mundo, o mercado de trabalho e

as exigências sociais como um todo.

É um grande desafio ser empresário de educação

e pai ao mesmo tempo, porque cria em você a res-

ponsabilidade de saber o que oferecer para os filhos

dos outros e a vontade de que os seus filhos também

utilizem aquilo que de melhor você oferece, de forma

adequada e construtiva. Então, quando eu e minha

esposa começamos a procurar as escolas, um dos cri-

térios para a escolha era como esses lugares lidavam

com a tecnologia no ambiente escolar.

É claro que há instituições de ensino, tanto da

rede pública quanto da privada, que oferecem métodos

de ensino exemplares, como as que possuem o ensino

individualizado, para o aluno explorar todo o seu po-

tencial enquanto ele está na escola. No entanto, para

mim é claro que tudo isso pode ser potencializado com

a inserção da tecnologia como ferramenta de apoio ao

trabalho do professor e, consequentemente, à aprendi-

zagem do aluno. Como pai, considero que uma escola

completa é aquela que trabalha o currículo adequado

ao estilo de seus alunos e inclui no processo de ensino

valores sociais, para que seus estudantes estejam pre-

parados para a fase da vida que vem além das salas de

aula. Se a tecnologia é uma das demandas do mercado

de trabalho e da vida cotidiana em geral, tê-la na es-

cola deve ser tão natural quanto ter cadernos, livros e

demais materiais didáticos já comuns nesse ambiente.

A tecnologia na escola também auxilia na res-

ponsabilidade dos pais com a vida acadêmica dos fi-

lhos. Posso exemplificar isso com algo que aconteceu

comigo há algum tempo. Eu estava viajando e não

podia acompanhar minha esposa em uma reunião

de pais no colégio dos meus filhos. Mas acho funda-

mental a presença nessas reuniões, então participei

por teleconferência. Esse tipo de funcionalidade já é

comum em outras ocorrências e deve se tornar também

em situações assim. A responsabilidade da educação

dos filhos é dos pais e a escola é um dos instrumentos

escolhidos para dar suporte a ela, por isso é uma de-

cisão tão importante. O ambiente escolar deve refletir

o que os pais buscam para a educação dos seus filhos.

Não adianta você colocar a criança na escola e esperar

que ela venha pronta, sabendo tudo. Existe o dever

dos pais com o ensino e a aprendizagem dos filhos,

dentro e fora da escola, e a correria do dia a dia não

deve atrapalhar essa ação. Aí vem a tecnologia mais

uma vez se mostrando uma grande aliada da educação.

Vivenciando tudo isso, e depois de impactar mais

de 10.000 escolas e 8 milhões de alunos com as tecnolo-

gias desenvolvidas pela MSTECH, sinto-me novamente

como no início da empresa e me perguntando por

qual caminho seguir, mas agora com mais clareza na

resposta. Nós estamos desenvolvendo tecnologias no

presente que eu vejo realmente bem implantadas daqui

a 10, 15 anos. E vejo isso como uma missão, tanto como

empresário quanto como pai: pensar no hoje o ensino

do futuro. Então, quando penso na escola em 2025, vejo

um tempo hábil para mudanças consistentes, para o

mercado absorver todas essas tecnologias para melho-

rar a aprendizagem no país. Trabalho com uma grande

equipe para que a educação melhore constantemente,

para que cada vez mais haja equidade na qualidade

entre escolas públicas e particulares. Quando acredi-

tamos na educação e trabalhamos para que ela evolua,

investimos em um futuro melhor para todos.

Page 46: A escola em 2025

46

Opinião de estudanteAluna do segundo ano do ensino médio conta o que acha da escola

de hoje e o que deseja para a escola do futuro

Ana Martha Delling tem dezesseis anos e está

no segundo ano do ensino médio de um colégio parti-

cular em Taboão da Serra-SP. Ela frequenta a mesma

escola desde criança, pela qual demonstra bastante

carinho, e é considerada uma aluna muito dedicada

pelos professores e gestores da instituição. A Revista

Escola 2025 acompanhou a classe da estudante durante

a fase de implantação de uma plataforma adaptativa

da rede de ensino de que faz parte o colégio onde

estuda (veja mais sobre esse processo na página 42).

A estudante mostrou-se bem interessada pelas

novidades apresentadas à turma e empolgada com as

diferentes possibilidades de direcionar seus estudos.

Segundo dados da plataforma em implantação no

colégio, ela foi a aluna com mais acessos no período

avaliado para as ações na escola. Diante disso, a re-

dação da Escola 2025 conversou com a Ana Martha

para saber a opinião dela sobre o modelo de escola

de hoje, suas idealizações profissionais e o que ela

considera interessante para uma escola do futuro.

Em seu tempo livre, a estudante diz que gosta

de ler livros, revistas, acessar as redes sociais e ver

filmes, mas bastante focada nos estudos, também faz

atividades da área de Humanas, que engloba suas

disciplinas favoritas, “para passar o tempo” ou saber

se aprendeu o conteúdo. Ana Martha também conta

que pretende cursar faculdade de Psicologia.

Sobre a escola de hoje, a adolescente afirma

que “requer muita dedicação” ao método utilizado,

mas que um aspecto bem positivo são “os diferentes

estilos de professores, cada um com seu jeito de en-

sinar”. Em contrapartida, a aluna acha que a carga

horária dedicada ao currículo tradicional é muito

extensa e não deixa tempo hábil para atividades fora

da escola, durante a semana. Uma alternativa a isso

seria a inserção de mais atividades extraclasse nas

próprias instituições de ensino.

Para a escola do futuro, Ana Martha almeja mais

ferramentas tecnológicas, que prendam a atenção

dos alunos e tornem as aulas menos “monótonas”.

“A escola ideal seria, para mim, aquela que tivesse

a utilização de computadores ao invés de cadernos,

aulas práticas e fora do ambiente escolar com mais

frequência”, conta a estudante.

Michelly Fogaça

Ana Martha, à esquerda, acompanha o conteúdo

da aula, com sua colega de classe, pelo smartphone.

Foto

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Mais uma vez, os municípios que utilizam os sistemas de ensino da Abril Educação registraram melhora no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB): 98% dasescolas parceiras de Ensino Fundamental 1 e 94% das escolas parceiras de Ensino Fundamental 2 estão acima da média brasileira.

Enquanto a média nacional para o Ensino Fundamental 1 chegou a 4,9, a Abril Educação atingiu a média de 5,9 – índice igual ao do estado de MG, o mais bem colocado na avaliação do IDEB 2013.

No Ensino Fundamental 2, a média nacional foi de 3,9. Mas os municípios parceiros da Abril Educação atingiram a

média de 5,1. Sendo que, entre os estados da federação, a melhor média é a de Minas Gerais, com 4,6.

Com o município de Itápolis, a Abril Educação obteve ainda o 3º melhor resultado do Brasil no Ensino Fundamental 2, que foi a média de 6,6.

Parabéns a todos os nossos parceiros, que confiaram nas soluções educacionais da Abril Educação.

Parabéns, gestores, professores, alunos e pais.

A Educação é nossa marca.

Bras

il

4,93,9

5,95,1

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Ensino Fundamental 1 (EF1) Ensino Fundamental 2 (EF2)

abrileducacao.com.br • [email protected] • (11) 4383-8211 (11) 4383-8351

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IDEB COMPROVA. ONDE TEMABRIL EDUCAÇÃO, O ENSINO ÉACIMA DA MÉDIA NACIONAL.

Page 47: A escola em 2025

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Mais uma vez, os municípios que utilizam os sistemas de ensino da Abril Educação registraram melhora no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB): 98% dasescolas parceiras de Ensino Fundamental 1 e 94% das escolas parceiras de Ensino Fundamental 2 estão acima da média brasileira.

Enquanto a média nacional para o Ensino Fundamental 1 chegou a 4,9, a Abril Educação atingiu a média de 5,9 – índice igual ao do estado de MG, o mais bem colocado na avaliação do IDEB 2013.

No Ensino Fundamental 2, a média nacional foi de 3,9. Mas os municípios parceiros da Abril Educação atingiram a

média de 5,1. Sendo que, entre os estados da federação, a melhor média é a de Minas Gerais, com 4,6.

Com o município de Itápolis, a Abril Educação obteve ainda o 3º melhor resultado do Brasil no Ensino Fundamental 2, que foi a média de 6,6.

Parabéns a todos os nossos parceiros, que confiaram nas soluções educacionais da Abril Educação.

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