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1 Eixo 01: História e Historiografia da Educação A ESCOLA REGIONAL DE MERITI: ESCOLANOVISMO, RURALISMO E O DEBATE NA HISTORIOGRAFIA DA EDUCAÇÃO Vinicius Kapicius Plessim (UERJ-FEBF/PPGECC) 1 Resumo: O estudo tenciona estabelecer uma análise da Escola Regional de Meriti a partir da revisão bibliográfica em andamento sobre a escola e a docente Armanda Álvaro Alberto, tendo em vista a importância desta instituição para os estudos em história da educação no Brasil e enquanto experiência escolanovista e ruralista na atual cidade de Duque de Caxias. Busca-se tencionar a produção acadêmica sobre a Escola Regional de Meriti com os debates da historiografia da educação sobre a escola nova. Por intermédio da história local e da experiência escolar, buscam-se compreender os mecanismos sociais, políticos e pedagógicos desenvolvidos pela docente que permitem classificar tal experiência em Meriti como escolanovista ainda problematizar a relação entre a história da educação e memória escolar a partir da escola. Para além da questão do escolanovismo, busca-se identificar os agentes e agências da Baixada Fluminense que financiaram tal projeto pedagógico em Meriti, buscando por meio do projeto da escola compreender o sentido do ruralismo nas atitudes introduzidas no seio escolar, aspecto este ainda pouco estudado na historiografia educacional fluminense. O presente estudo na sua estruturação dialogou com fontes produzidas sobre a Escola Regional de Meriti como dissertações de mestrado e teses de doutorado que auxiliaram na construção da revisão bibliográfica em andamento articulando uma ponte teórica e conceitual com fontes da historiografia educacional brasileira em que abordam a temática do escolanovismo e do ruralismo. Nota-se um recorte histórico entre 1921 anos este da fundação da Escola Proletária de Merity até o ano de 1937 sendo o mesmo o marco inicial do Estado Novo Varguista. Palavras-chave: Escola Regional de Meriti; ruralismo; escola nova. 1 Vinicius Kapicius Plessim, Universidade do Estado do Rio de Janeiro/Faculdade de Educação da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: [email protected]

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Eixo 01: História e Historiografia da Educação

A ESCOLA REGIONAL DE MERITI: ESCOLANOVISMO,

RURALISMO E O DEBATE NA HISTORIOGRAFIA DA

EDUCAÇÃO

Vinicius Kapicius Plessim (UERJ-FEBF/PPGECC) 1

Resumo: O estudo tenciona estabelecer uma análise da Escola Regional de Meriti a

partir da revisão bibliográfica em andamento sobre a escola e a docente Armanda

Álvaro Alberto, tendo em vista a importância desta instituição para os estudos em

história da educação no Brasil e enquanto experiência escolanovista e ruralista na atual

cidade de Duque de Caxias. Busca-se tencionar a produção acadêmica sobre a Escola

Regional de Meriti com os debates da historiografia da educação sobre a escola nova.

Por intermédio da história local e da experiência escolar, buscam-se compreender os

mecanismos sociais, políticos e pedagógicos desenvolvidos pela docente que permitem

classificar tal experiência em Meriti como escolanovista ainda problematizar a relação

entre a história da educação e memória escolar a partir da escola. Para além da questão

do escolanovismo, busca-se identificar os agentes e agências da Baixada Fluminense

que financiaram tal projeto pedagógico em Meriti, buscando por meio do projeto da

escola compreender o sentido do ruralismo nas atitudes introduzidas no seio escolar,

aspecto este ainda pouco estudado na historiografia educacional fluminense. O presente

estudo na sua estruturação dialogou com fontes produzidas sobre a Escola Regional de

Meriti como dissertações de mestrado e teses de doutorado que auxiliaram na

construção da revisão bibliográfica em andamento articulando uma ponte teórica e

conceitual com fontes da historiografia educacional brasileira em que abordam a

temática do escolanovismo e do ruralismo. Nota-se um recorte histórico entre 1921 anos

este da fundação da Escola Proletária de Merity até o ano de 1937 sendo o mesmo o

marco inicial do Estado Novo Varguista.

Palavras-chave: Escola Regional de Meriti; ruralismo; escola nova.

1 Vinicius Kapicius Plessim, Universidade do Estado do Rio de Janeiro/Faculdade de Educação da

Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: [email protected]

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Introdução

A partir de uma breve análise na trajetória de vida da docente Armanda Álvaro

Alberto, o presente estudo procura compreender por intermédio da Escola Regional de

Meriti os sentidos do ruralismo e do escolanovismo por meio das práticas políticas,

pedagógicas e sociais introduzidas no seio escolar por meio da professora. Outro ponto

de compreensão levantado no estudo a seguir consistiu em identificar os agentes e as

agências da sociedade civil e política que permitiram a consolidação da experiência

escolar de Armanda em Meriti na Baixada Fluminense2.

Vale destacar que o ensaio a seguir estabeleceu um recorte entre os período de

1921 à 1937, onde respectivamente tais momentos históricos confluem no início da

experiência de Armanda na Baixada por intermédio da Escola Proletária de Meriti e o

período de tensão política que irá influenciar diretamente a docente, sendo o marco

inicial do Estado Novo Varguista no Brasil.

O artigo é estruturado a partir de três seções, onde a primeira intitulada de

Experiência Escolar em Meriti procura apresentar o processo de consolidação do

projeto educacional da professora Armanda na Baixada Fluminense, destacando os

mecanismos adotados pela mesma que possibilitaram sucesso em sua empreitada em

Meriti.

Na segunda seção de nominata A Escola Regional de Meriti: Ruralismo e

Escolanovismoprocura-se compreender por meio das práticas pedagógicas, políticas e

socias adotadas por Armanda no seio escolar e na comunidade de Meriti os sentidos do

ruralismo e do escolanovismo, frente a uma dualidade inerente de Meriti na época que

constrastava-se entre o urbano e o rural.

A construção do artigo, se baseou em um diálogo ferrenho com fontes

produzidas sobre a escola destacando Baú de Memórias, Bastidores de Histórias: O

Legado Pioneiro de Armanda Álvaro Alberto (2002) de Ana Chrystina Venancio

Mignot, Cuidando do Corpo e do Espírito Num Sertão Próximo: A Experiência e o

Exemplo da Escola Regional de Meriti (1921-1937) (2008) de autoria de Julio Cesar

Paixão Santos e ainda Um Caminho Inovador: O Projeto Educacional da Escola

2Atuais Municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias, São João de Meriti, Belford Roxo, Nilópolis,

Mesquita, Japeri e Queimados.

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Regional de Merity (1921-1937) (2008) de Vilma Correa Amâncio da Silva que serão

base para a construção do presente pensamento em estudo. A partir das presentes fontes,

estabeleceu-se uma ponto com fontes secundárias oriundas da historiografia brasileira

de educação que abordam a essência do ruralismo e do escolanovismo, afim de, elucidar

os questionamentos e as propostas apresentadas anteriormente por meio deste estudo.

Armanda Álvaro Alberto, nascida na cidade do Rio de Janeiro em 1892, filha do

médico doutor Álvaro Alberto e Maria Teixeira, tinha ainda em sua composição

familiar seu irmão Álvaro Alberto. No ano de 1917, tendo seu irmão se dedicado ao

estudo de rupturita conforme seu pai funda a Fábrica Venâncio e Cia na Baixada

Fluminense3 em Meriti, estabelecimento que inclusive será responsável pelo

financiamento da escola de Armanda.

A vida no magistério de Armanda tem início no ano de 1917 por intermédio do

Colégio Jacobina cujo seio escolar onde a mesma adquire experiências, os seus laços de

amizade começam a se estreitar intensamente com as famílias da elite carioca, contatos

estes que serão responsáveis por investir em seu projeto educacional em Meriti.

(SILVA, 2008, 20)

A docente Armanda buscou enxergar na educação, através de um engajamento

político e uma luta social para buscar soluções para os problemas do país a partir do

setor educacional. A mesma vinculou sua luta política a educação, se denota a intenção

da professora em buscar lutar pelos direitos femininos frente à conjuntura política e

social da década de 20. (MIGNOT, 2002, 153)

Com o intuito de enfrentar os problemas da educação pelo país, Armanda

participa da Liga Brasileira contra o Analfabetismo em 1917, tendo caráter nacionalista

a mesma instituição que chama a responsabilidade do Estado para resolver as mazelas

oriundas da educação. (MIGNOT, 2002, 142)

A efervescência da década de 20 com os debates a cerca da educação, levam

Armanda participar da Associação Brasileira de Educação em 1924, objetivando

encontrar soluções para os problemas do país a partir da educação, sendo criada por

3Atuais municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias, São João de Meriti, Belford Roxo, Nilópolis,

Mesquita, Japeri e Queimados.

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Heitor Lyra4 que foi influenciado pela conjuntura da escola nova européia cujas ideias

chegam ao Brasil. Armanda participa no interior da instituição da Seção de cooperação

da família, cujo objetivo era buscar criar mecanismos para aproximar as famílias do

processo de educação de seus filhos, chamando sua responsabilidade e na causa

educacional dos mesmos. (MIGNOT, 2002, p.108)

A importância da Associação Brasileira Educacional se vincula também em

expandir pelo país seus ideais e uma forma estabelecida de pela mesma é a formação de

congressos nacionais de educação que visa discutir idéias e soluções frente à conjuntura

educacional e política do país. Vale destacar a importância da primeira conferência

nacional de educação ocorrida em 1927, onde inclusive com a participação de Armanda

a mesma chama a importância de sua experiência escolar em Meriti para apontar os

benefícios da sua instituição para a localidade e apresentar ainda seu projeto para

aqueles que ainda não tivessem tido um contato. A importância da primeira conferência

nacional de educação é ratificada por Marta Chagas de Carvalho que:

Tal projeto formulava-se como programa de disciplinarização das

populações capaz de implantar hábitos de trabalho e cultivar a

operosidade como valor cívico. Mas não se esgotava nisso, pois era

preciso como pontificava Lourenço Filho na primeira Conferência

Nacional de Educação, em 1927, garantir a unidade política do país,

inculcando, ‘’ em todas as crianças brasileiras, idéias e sentimentos

necessários à própria existência da nacionalidade. (CARVALHO,

1989, p.5)

Com o limiar dos anos de 1930, Armanda intensifica sua luta pela educação no

país tendo sido uma das signatárias do manifesto dos pioneiros da escola nova, redigido

por Fernando de Azevedo5. A partir do presente manifesto, se estabelece uma defesa

clara de uma educação que seja pública, gratuita, sem distinção de gênero, com o Estado

4Nasceu em 1893, sendo formado pela escola politécnica do Rio de Janeiro. Dedicou sua vida a causa da

educação, sendo responsável por fundar no ano de 1924 a Associação Brasileira de Educação, cuja

instituição Armanda fez parte e exerceu militância participando das conferências nacionais de educação

pelo país que eram promovidas pela ABE. 5Foi Responsável por engajar a luta política através da educação ao lado de Anísio Teixeira, tendo

destaque na Associação Brasileira de Educação como secretário de educação do DF e ainda responsável

pela elaboração do manifesto dos pioneiros da escola nova em 1932.

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chamando a responsabilidade para si no intuito de investir maciçamente neste setor,

estabelecendo uma defesa de que a educação deveria buscar desenvolver no aluno um

olhar crítico, reflexivo, observador e ainda científico. A importância do Estado no

processo educacional a partir do manifesto é ratifico por Ana Magaldi onde

No bojo dessa ampla bandeira assumida pelos signatários do

Manifesto, situavam-se, por exemplo, preocupações com a

democratização do acesso ao ensino e com sua organização através de

um sistema nacional de educação sob o controle do Estado. Afirmava-

se a defesa da escola pública, gratuita e leiga, bem como de práticas

educativas apoiadas em métodos pedagógicos de base científica e na

centralidade do lugar do educando no processo de ensino-

aprendizagem. (MAGALDI, 2003, p.78)

Por meio de Julio Cesar Paixão, onde o mesmo apresenta a importância do

Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova em 1932, sendo Armanda uma das signatárias

conforme apresentado anteriormente conforme inclusive Mignot (2002) destacou,

estabelecendo uma defesa da regionalização do ensino, estabelecendo pelo mesmo uma

crítica com a situação estrutural do país nas esferas política, sociais e educacionais.

Destacando ainda que em muitos momentos o projeto da escola e a visão dos pioneiros

irá se contrapuser a concepção de setores conservadores católicos, que criticavam o fato

do manifesto defender claramente o fim do ensino religioso em prol de uma laicização

do sistema educacional, na defesa conforme Armanda apresentou de um ensino

agrícola, universal, gratuito para todos. (SANTOS, 2008, p.205)

O advento do governo de Getúlio Vargas com que as tensões políticas e

ideológicas se acentuassem. Neste contexto o marido de Armanda Edgar Sussekind de

Mendonça que também foi um dos financiadores do projeto desenvolvido por Armanda

em Meriti na Baixada Fluminense, se auto declara comunista, tendo sua esposa

estabelecida apenas uma defesa dos direitos do proletariado no presente período.

(MIGNOT, 2002, p.229)

Na luta pelos direitos femininos, como o voto e melhorias de condições de

trabalho. Armanda se destacou ocupando o cargo da União Feminina do Brasil criada

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em 1935. A aproximação com Luís Carlos Prestes 6por meio da Aliança Nacional

Libertadora7 e Olga Benário8 levou a docente a receber intensas críticas por parte do

governo e da imprensa sendo declarada como subversiva e comunista. Os ataques foram

tão Ferrenhos que levaram a docente juntamente com seu esposo Edgar à prisão no ano

de 1935 sendo soltos em 1937. (MIGNOT, 2002, 272)

Experiência Escolar em Meriti

Nesta seção objetiva-se apresentar uma breve trajetória da Escola Regional de

Meriti, destacando os mecanismos políticos, sociais e pedagógicos adotados por

Armanda Álvaro Alberto na escola e na comunidade de Meriti na Baixada Fluminense

para consolidação de sua experiência escolar.

A partir da experiência no Colégio Jacobina, Armanda no ano de 1919 começa a

estabelecer um ensaio de escola ativa na região de Angra dos Reis, acompanhando seu

irmão que servia a marinha. O objetivo de Armanda era ofertar uma escola inclusiva

que atendesse aos filhos de pescadores da região que não tinha condições de custear os

estudos de seus filhos. A luta contra o analfabetismo não somente na região, como em

todo país, é constatado a partir de 1915 com a criação da Liga Contra o Analfabetismo

apresentando esta um caráter nacionalista. (MIGNOT)

A partir do ano de 1921 recebe o convite do seu irmão para conhecer e ver o

andamento da fábrica de rupturita localizada em Meriti, onde ao se deparar com as

condições de vida na localidade, que carecia de investimentos na área da saúde,

educação, não tinha uma infraestrutura básica levaram a docente a vincular sua luta

educacional como solução dos problemas locais em Meriti. (SILVA, 2008, p.23)

6Nasceu em Porto Alegre em 1898, foi membro do Partido Comunista Brasileiro durante o governo

Vargas e uma das lideranças da Aliança Nacional Libertadora contra o imperialismo Varguista, o

fascismo e o integralismo. 7Organização política de esfera nacional criada em 1935com o intuito de combater o fascismo e o

imperialismo. 8Nasceu em Munique na Alemanha em 1908, membro do partido comunista alemão tendo contato com

Luís Carlos Prestes em 1931 onde se conhecem e acabam se casando, vindo para o Brasil lutou contra o

fascismo e o integralismo, tendo participação na Aliança Nacional Libertadora.

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Os fatos mencionados anteriormente culminaram na formação da Escola

Proletária de Merity, escola esta que tinha seu nome inicial apenas provisório

intencionalmente passando a se chamar Escola Regional de Meriti no ano de 1924. No

primeiro momento de sua caminhada a ideia seria atender aos filhos dos operários da

fábrica do irmão de Armanda, todavia, a partir da formação de uma escola que fosse

regional a ideia seria formar uma escola que atendesse as dificuldades locais, sendo

incorporada pelo meio, buscando formar uma consciência nacional a partir da escola.

(SILVA, 2008, p.23)

No primeiro ano de formação da escola, Armanda criou em seu espaço escolar o

Museu regional e ainda a Biblioteca Euclides da Cunha que objetivavam buscar

acrescentar em seu interior pertences da região com o intuito de apresentar para as

crianças. Nota-se uma defesa de Armanda em apresentar para suas crianças um

ambiente vivo e dinâmico no espaço escolar, enfeitando o mesmo com flores e ainda

criando um calendário escolar que fosse florido. (SANTOS, 2008, p.156)

Nota-se desde o primeiro momento a intenção de formar uma escola chegasse e

atendesse a todos, onde ‘’A escola era particular, gratuita e sem fins lucrativos’’.

(MIGNOT, 2002, p.171). Outro ponto importante na escola consiste na forma de

avaliação, uma vez que, a mesma não tinha prova e somente muito depois de sua

criação é que a escola começa a emitir boletins, mas não com notas, mas sim avaliações

escritas do rendimento do aluno na escola.

A formação de uma escola que fosse regional tinha o intuito de desenvolver o

espírito cívico em seu aluno, do amor à pátria, diversidade assim propostas pedagógicas

que existiam no Brasil, sendo uma alternativa e uma possibilidade de experimentação

para o país, chamando a responsabilidade da professora no processo educativo da

criança, sendo responsável por levar a criança a descoberta e a experimentação, contra

um ensino que se apresentava no país de apenas memorização de conteúdo, levando-se

em conta o desempenho o aluno nas tarefas desenvolvidas a escola não desenvolvia a

prática de formar exames tanto que apenas em 1926 a docente Armanda irá criar o

boletim não havendo notas.

No interior da escola, cada aluno tinha uma função a exercer, com o intuito de

criar nele e nos demais alunos um espírito dinâmico, tendo inclusive aulas de trabalhos

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manuais formando uma educação moral pelo trabalho e um ensino integral para os

alunos, chamando o corpo discente da escola para uma vida em comunidade. A ideia de

Armanda também era formar uma escola voltada para experimentação que era comum

na pedagogia norte-americana, aliando teoria à pratica e valorizando o método

cientifico, uma vez que,

Meriti, zona rural, em 1921, permitiu Armanda à Armanda

atender as crianças provenientes das camadas populares, numa

escola nova, diferente que servisse de exemplo, sendo um

‘’laboratório de pedagogia prática’’. Essa concepção de escola

experimental, escola-laboratório, diferente de escola-modelo,

visava dar à educação o mesmo estatuto dos laboratórios em

relação às ciências físicas, como preconizava Dewey.

(MIGNOT, 2002, p.184)

A escola Regional de Meriti no seu contexto de formação acabou vinculando sua

proposta educacional ao movimento sanitarista promovido na Baixada Fluminense pelo

doutor Belisário Penna. A ideia de Armanda era buscar dar as crianças e também as

famílias uma conscientização de higiene e saúde, promovendo a puericultura e ainda

formando cursos que pudessem ser ministrados na escola para os familiares com uma

intenção de aprimoramento quanto à questão sanitária. A importância do movimento

higienista vinculado a educação é confirmado por Júlio Cesar:

Assim, através de realizações práticas como a de Armanda, este

acreditava que poderia se corporificar o Brasil do futuro desejado. A

Escola Regional passaria, com o tempo, a ser tida como um exemplo

de possibilidade de realização dos objetivos dos movimentos sanitário

e educacional (...). (SANTOS, 2008, p.74)

Aos poucos a influência do movimento higienista é sentida na escola, com

influências de agentes da saúde e agências como Belisário Penna, o doutor Hugo dos

Santos Silva, como a criação formação da professora enfermeira tendo em vista que a

escola foi responsável pela profissionalização de inúmeras mulheres, a criação de cursos

de saúde como o ocorrido em 1925 conforme foi mencionado em parágrafos anteriores.

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A aproximação não somente da família, como também da comunidade local, era

fator providencial para Armanda, uma vez que, possibilitaria conhecer a realidade de

seu alunado. No intuito de buscar fundos para sua formação e ainda conhecer e

melhorar a realidade de Meriti no ano de 1923 Armanda começa a promover concursos

como o de janelas floridas e de criações vinculados a sua instituição escolar. O primeiro

formado foi o Concurso de Janelas floridas sendo destinadas as meninas visando o

incentivo ao trabalho e o embelezamento da cidade de Merity sendo também promovido

no mesmo ano o concurso de utilidades destino aos meninos buscando incentivar os

trabalhos de carpintaria. (SILVA. 2008, p.68)

Objetivando aumentar ainda mais a formação e a integração com os familiares, a

docente Armanda estabeleceu na escola o círculo de mães no ano de 1925, com o intuito

de promover conferências e cursos para as mães, apresentar seu projeto pedagógico,

ofertar uma formação para as responsáveis, onde o ‘’objetivo era o de transpor o

abismo, freqüentemente mencionado, entre a educação dada pelos pais, vista como

inapropriada, e aquela considerada apropriada, ministrada pela escola. (MAGALDI,

2003, p.84)

Vale destacar que Armanda ao desenvolver eu projeto educacional em Meriti na

Baixada Fluminense, a docente não ficou sozinha diante de tal desafio. A professora

Armanda recebeu apoio de membros tanto da sociedade política como da sociedade

civil, podendo aqui destacar o financiamento e também a divulgação da experiência

escolar a partir de seu marido Edgar Sussekind que acompanha a rotina na escola, o

professor Roquette Pinto9, Anísio Teixeira10, Heitor Lyra, Belisário Penna conforme foi

apresentado anteriormente, Cecília Meireles11, Júlia Lopes de Almeida12, Fernando de

9Nascido em 1884, foi um médico legista, professor, escritor e antropólogo, dedicou sua vida a

radiodifusão, foi um dos responsáveis por divulgar a importância da experiência escolar de Armanda em

Meriti na Baixada Fluminense. 10Nasceu em Caitité na Bahia no ano de 1900, exerceu a função não apenas de educador como de

advogado, enxergou na educação a solução para os problemas do país, sendo um dos signatários do

manifesto da escola nova no país, defensor do ensino laico em contraste com o religioso, defendeu a

função do Estado na educação, onde para o mesmo a educação é um direito e não um privilégio, com a

escola público sendo o motor para o mesmo para embutir os valores da democracia. 11Jornalista e poetisa uma das signatárias do manifesto dos pioneiros da escola nova de 1932, defensora

de que através de um ensino público, gratuito, laico e universal, sem distinção gênero poderia superar os

problemas do analfabetismo do país. Além destas bases, Cecília foi uma das defensoras da importância da

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Azevedo, dentre outros que enxergaram no projeto escolar a solução para os problemas

aos qual o Brasil passava na conjuntura do século XX.

Adotando práticas assistencialistas por intermédio da escola, é perceptível ainda

pensando no aliar do movimento higienista com a questão educacional na Baixada

Fluminense, a criação da professora visitadora que visitava as famílias dos alunos da

escola com o intuito de perceber a realidade a qual ele estava inserido e ainda a criação

do médico escolar que adentrando a rotina escolar procurava atender as crianças do

local, ofertando as mesmas noções de higiene e palestras. (SANTOS, 2008, p.174)

A Escola Regional de Meriti não tinha uma defesa de uniformização do ensino

primário, mas sim um exemplo de possibilidade adaptadas ao meio e exercendo

influencia sobre ele, não podendo dizer que a escola regional era uma escola pobre, ou

ainda ‘’com poucos recursos e tendo a pessoa mais instruída do local como professor’’

(SANTOS, 2008, p.89)

Vale destacar que a Escola Regional de Meriti também exerceu influências na

elite local, defendendo o fato de que a escola configurou uma noção de cidade para a

localidade, onde seria ‘’um projeto voltado para melhoria e progresso da cidade e de sua

população’’. (SILVA, 2008, p.67)

Constata-se a importância da renovação escolar e seus efeitos nas práticas

pedagógicas de Armanda por meio da Regional de Meriti, estabelecendo uma análise da

trajetória histórica da educação brasileira. A autora destaca a importância da escola de

Armanda que busca por meio de suas práticas formem uma identidade nacional e ser um

modelo na educação de seu país. (SILVA, 2008, p.136)

No que tange ao ambiente escolar, foi criado além da biblioteca e do museu

escolar, o concurso janelas floridas e as conferências populares dos anos de 1925 e

1926. No que confere ao museu se percebe a influência de Roquette Pinto e Pacheco

Leão para buscar fundos para a criação dos mesmos e sua divulgação, assim como em

sua estruturação buscavam elementos locais para poder guardar no seu interior,

literatura infantil, fomentando uma consciência lúdica na criança, fustigando o espírito de experimentação

e observação na mesma. 12Contista, romancista, cronista, teatróloga. Foi uma das pioneiras da literatura infantil no Brasil,

presidenta da legião da mulher brasileira e ainda foi uma das intelectualidades que planejaram a criação

da Academia Brasileira de Letras.

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apresentava a coleção regional de zoologia e botânica com o intuito de por meio dele as

crianças pudessem conhecer a sua região, estimulando estudos da natureza, ou ainda ‘’o

contato com a terra e com a natureza, através de excursões e de estudos do ambiente

natural’’ (SANTOS, 2008, p.185).

A Escola Regional de Meriti: Ruralismo e Escolanovismo

A presente seção tem como finalidade apresentar o cenário da história da

educação brasileira frente à conjuntura política e social das décadas de 20 e 30,

estabelecendo uma análise como esta conjuntura influenciou na formação da Escola

Regional de Meriti e seus agentes e agências de atuação na concretização do projeto

pedagógico de Armanda fomentando uma cultura de memória escolar. Para a produção

da seção foi estabelecido um diálogo com as fontes produzidas sobre a escola de Ana

Chrystina Mignot, Vilma Correa e Júlio Cezar denotando contrastes e aproximações das

mesmas fazendo ainda uma ponte na linha de idéias defendidas pelas mesmas com

fontes secundárias da história da educação brasileira.

A partir de uma leitura crítica da obra de Mignot (2002) se constatou a intenção

da autora em abordar uma discussão teórica e metodológica a partir dos conceitos de

Memória e história da educação frente à figura de atuação da docente Armanda,

denotando uma crítica ao fato de na historiografia se valorizar e estudar mais uma

memória masculina do que a feminina, e, sobretudo, dos homens que foram signatários

do manifesto dos pioneiros da escola nova no Brasil em 1932, destacando buscar

compreender os silêncios e esquecimentos a cerca da figura de Armanda e os motivos

que levaram a mesma a ser uma das signatárias do presente manifesto.

Num ponto distinto de Mignot (2002), Júlio Cesar (2008) que toma a obra da

autora como referência na construção de sua dissertação de mestrado, procurou

estabelecer um diálogo entre a história da educação no Brasil e a história das ciências e

da saúde no país, buscando compreender como o movimento higienista desenvolvido na

década de 20 vinculou a educação como soluções para os problemas de Meriti como

também de todo o país, vinculando os mecanismos adotados por intelectuais da área da

saúde como Belisário Penna e a docente Armanda junto com sua equipe escolar no

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tocante de cuidar tanto do corpo como ainda do espírito da presente localidade em

estudo.

Numa rota de divergência a partir da obra de Vilma Correa (2008) se constatou

uma defesa da autora em apresentar como a Escola Regional de Meriti exerceu

influência na localidade e as práticas adotadas pela professora Armanda a partir da

Escola que vincularam a comunidade presente em Meriti e consolidaram sua proposta

de escola nova na Baixada Fluminense. A obra de Vilma (2008), que também usou

como referência o corpo textual de Mignot (2002), se distancia da mesma, a partir do

momento em que ela não finca seu estudo apenas em compreender a trajetória de vida

de Armanda e as práticas adotadas pela mesma que levaram a sua pessoa a ter uma

atuação de destaque não somente na educação como na política, ou ainda em perceber a

memória feminina em Armanda, mas sim em perceber pela docente a pela escola como

existiu uma aproximação das duas frentes com a comunidade de Meriti, fomentando

métodos que pudessem atrair esta população local.

Com a dissertação de Júlio Cesar (2008), a partir do enfoque trazido pelo mesmo

através do movimento sanitarista e a educação na Baixada, constatou-se a importância

que Armanda teve pela experiência desenvolvida em Angra dos Reis formando uma

escola ativa, com aulas práticas ao ar livre, ofertando o ensino para os filhos dos

pescadores da localidade em 1919 que não tinham condições de custear os estudos de

seus filhos. Ponto importante destacado por Júlio (2008) consistiu em apresentar que

neste momento Armanda começa a ter contato com Belisário Penna que foi responsável

pela condução do movimento sanitarista na Baixada Fluminense e de forma específica

por aliar o mesmo movimento com a educação através da Escola Regional de Meriti.

Outro ponto importante que foi confirmado tanto por Júlio (2008) como Mignot (2002)

é que nesta conjuntura Armanda já sofria influência de idéias pedagógicas vindas da

Europa de Montessori e Pestalozzi.

Através da dissertação de Vilma (2008) que ratifica ainda a ideia apresentada

por Mignot (2002) é que a partir do ano de 1921 se formará na Baixada a escola

proletária de Merity. As duas autoras estabelecem uma defesa de que tal projeto nunca

foi uma experiência escolar isolada, havendo contribuições de membros da sociedade

civil e política para que o projeto fosse à frente. A importância de se entender que foram

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os agentes e as agências da sociedade civil e política que angariaram o presente projeto,

confirma ainda a visão de Sonia Regina de Mendonça13onde

Cabe ao pesquisador verificar quem são os atores integrantes desses

sujeitos coletivos organizados, bem como a que classe ou fração

encontram-se organicamente vinculados e, sobretudo, o que estão

disputando junto a cada uma das agências do Estado restrito, sem

jamais perder de vista que Sociedade Civil e Sociedade Política

encontram-se em permanente relação. (MENDONÇA, 2005, 12)

O auxílio na compreensão dos primeiros anos da experiência escolar em Meriti

teve como base a obra de Mignot (2002), que chamou a atenção para as dificuldades

encontradas por Armanda em levar a frente seu projeto, criando no segundo ano a caixa

escolar para buscar fundar, recebeu concessões financeiras da fábrica de rupturita de seu

irmão, criou o museu regional e a biblioteca Euclides da Cunha com o intuito de

aproximar a escola da comunidade. A partir de 1924 a escola intencionalmente de

proletária para regional, buscando a partir da escola em formar uma identidade local. As

idéias presentes defendidas por Mignot (2002), sobretudo, no que tange as dificuldades

encontradas por Armanda são confirmadas por Vilma (2008) em sua dissertação, onde

inclusive a docente teve que lutar contra a evasão escolar, uma vez que, seus alunos

saiam da escola cedo para trabalhar, ou ainda devido as condições de saúde da

localidade ficavam doentes. Constataram-se também críticas fundamentadas pelos pais

das crianças aos métodos nos anos iniciais da escola e ainda a dificuldades de Armanda

para com seus professores em compreender seu projeto educacional.

O projeto da escola começa a ganhar ‘’corpo’’ desde seus primeiros anos, a partir

do momento, em que a docente Armanda constata que era necessário formar uma

instituição que estivesse atrelada aos problemas da localidade, incorporando os mesmos

em seu princípio educativo. A escola teve como principais divulgadores e financiadores

13Possui doutorado pela Universidade de São Paulo em 1990 e atualmente é docente aposentada da

Universidade Federal Fluminense.

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membros do movimento de renovação educacional como Lourenço Filho14, Fernando de

Azevedo, Julia Lopes de Almeida, Edgar, Roquette Pinto, médicos sanitaristas e

higienistas, onde a partir da mudança do nome em 1924 a autora estabeleceu uma defesa

de apresentar que o regionalismo era uma ideia de formar uma identidade nacional a

partir da escola. (SILVA, 2008, p.31)

A formação de uma escola rural, abrangendo a dualidade entre o urbano e o rural

de Meriti foi confirmado por Julio Cesar (2008) e Mignot (2002), destacando a

relevância dos estudos cujo enfoque se torna a escola agrícola nos anos 20 e 30 e os

motivos para os seus surgimentos, que são confirmados por Sonia de Mendonça onde

1) A escola rural enquanto instrumento de alfabetização ou 2) a escola

rural enquanto instrumento de trabalho. A vitória momentânea desta

última posição não impediria que, a partir da implantação do Estado

Novo, fosse resgata a chamada ‘’vertente ruralizadora’’ do ensino

básico agrícola, centrada no binômio educação e treinamento.

(MENDONÇA, 2006, p.137)

Conforme apresentado acima por Sonia de Mendonça (2006), a escola agrícola

em muitos momentos teve sua inserção ligada em voltar um ensino para o trabalho. A

partir da obra de Mignot (2002) e Júlio Cesar (2008) estes fatos permitem uma

confirmação, uma vez que, a Escola Regional de Meriti buscando solucionar os

problemas voltados a evasão escolar, vinculou um ensino que buscasse dimensionar o

aluno com um ensino voltado ao trabalho, assim como, promover eventos de obras

artísticas feitas pelos alunos, onde o lucro era revertido tanto para a escola como

também para o aluno.

A ideia de vincular uma educação fosse voltada com um engajamento político, é

confirmado nas três dissertações de mestrado, sobretudo, com a participação de

Armanda na Liga Brasileira contra o Analfabetismo, na Associação Brasileira de

Educação que teve seu início em 1924 por meio de Heitor Lyra com Armanda

participação em 1925 também da Seção de Cooperação da Família, visando sempre à

14 Educador e pedagogo brasileiro, sendo responsável pela reforma de ensino público no Ceará entre os

anos de 1922-1923. No Rio de Janeiro nos anos 30 exerceu a função chefe de gabinete do ministro da

educação Francisco Campos.

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causa da educação e luta pelos direitos femininos no país. A importância da ABE

enquanto instituição de luta pela educação como solução para os problemas do país, é

confirmado por Marta de Carvalho:

A intensa agitação que marcara o movimento de renovação

educacional nos anos 20 tinha se traduzido na organização da

Associação Brasileira de Educação (ABE), promotora das notórias

Conferências Nacionais de Educação. A convergência de projetos de

construção da nacionalidade através da educação possibilitou forte

coesão do movimento neutralizando divergências que aflorariam na

década de 30. (CARVALHO, 1989, p.2)

A realização de Conferências Nacionais de Educação pela ABE foi confirmada

na obra de Mignot (2002), onde Armanda vinculando a educação na Regional de Meriti

buscou mostrar sua escola para o país tendo seu começo e ápice com a primeira

conferência nacional de educação em 1927, onde Armanda destaca sua experiência e

aponta os mecanismos adotados pela mesma na escola que levaram sua caminhada em

Meriti ao sucesso.

O aliar a educação ao movimento higienista torna-se relevante a nossa discussão,

tendo como referência a obra de Júlio Cesar (2008), que defende os mecanismos

adotados dos dois lados tantos dos sanitaristas como dos educadores para poder resolver

os problemas na saúde em Meriti. A importância de este aliar é confirmada por Ana

Maria Magaldi onde:

(...) a Escola de Meriti chegou a implementar ações diversas, como

conferências públicas e campanhas voltadas para o saneamento da

região, bem como para outros aspectos identificados com a melhoria

da condição de vida da localidade. Concursos também eram

promovidos, como ‘’os das janelas floridas’’, em que se pretendia

‘’combater a fealdade e o desconforto em Meriti. (...) (MAGALDI,

2003, p.84)

Como mecanismos adotados além de cursos de formação que visavam

conscientizar a população através de noções de higiene, defendendo conforme foi

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apresentado por Julio Cesar (2008) e Vilma Correa (2008), diferente de Mignot (2002),

que a Escola Regional de Meriti buscou dar uma formação através da prática de

puericultura, acompanhando a população em todos os momentos, destacando ainda o

assistencialismo pela escola com a presença do médico escolar, da professora visitadora

que acompanhava a família dos alunos da escola com o objetivo de conhecer sua

realidade e seus problemas, ou ainda a entrega de medicamentos e eventos de saúde

com o intuito de aproximar também a comunidade da escola, fomentando uma cultura

de saúde ou ainda de higiene em Meriti conforme destacou Júlio Cesar (2008).

Outro ponto que cabe aqui mencionar consistiu na defesa de Vilma Correa em

apresentar os mecanismos adotados por Armanda que permitem classificar a experiência

da Escola Regional de Meriti como uma escola ativa e pertencendo ao movimento de

escola nova que teve suas bases na Europa e chegou ao país na década de 20.

Como método adotado por Armanda percebe-se nas três dissertações o ressaltar

da importância do círculo de mães no ano de 1925, onde o ‘’objetivo era o de transpor o

abismo, freqüentemente mencionado, entre a educação dada pelos pais, vista como

inapropriada, e aquela considerada apropriada, ministrada pela escola. (MAGALDI,

2003, p.84)

Outro ponto importante consistiu na adoção de concursos para buscar esta

integração com a comunidade, como o conforme mencionado anteriormente o de janelas

floridas iniciado em 1923. A Escola Regional de Meriti, escola esta de ensino primário,

não estabeleceu provas ou avaliações, somente muito depois começou a emitir boletins,

mas sem constar neles notas, o que foi confirmado nas obras de Mignot (2002) e Vilma

Correa (2008).

A ideia desde início era formar uma escola que não houvesse separação de

gênero, com cada aluno sendo responsável por uma função dentro da escola, havendo

aulas ao ar livre como a de estudo da natureza com o intuito de incentivar a

experimentação, observação e o olhar cientifico do aluno. Com uma educação voltada

para o trabalho eram comuns aulas práticas de carpintaria conforme foi apresentado nas

três obras.

Conforme destacou Mignot (2002) e Júlio Cesar (2008) que desde o início de

sua fundação, a docente Armanda buscou formar um ambiente vivo, prático, dinâmico e

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científico estabelecendo uma defesa da solidariedade entre os membros da escola,

separando o mundo do adulto do da criança, onde se tornava necessário trabalhar o

lúdico do discente por intermédio da literatura infantil.

Os adventos dos anos 30 levaram Armanda a uma luta frenética pela educação

de seu país. Em 1932, se tem o estabelecimento do manifesto dos pioneiros da escola

nova, manifesto este que será intensamente criticado pela ala conservadora da Igreja

Católica. O embate ideológico dos anos 30, sobretudo entre aqueles que se intitulavam

como reformadores ou tradicionalistas é confirmado na obra de Mignot (2002) e

também ratificado por Marta de Carvalho:

Nela se lê que ‘’doutrinas extremadas’’ e um conflito de ideologias

importado teriam turvado as cristalinas águas de um embate, cujo teor

é captado como oposição entre ‘’novos’’ e ‘’velhos’, ‘’fato normal e

constante em todas as sociedades’’. Os agentes da contenda são

diluídos: a política escolar da Igreja é apenas fator desencadeador de

um embate, que se deu no campo ideológico mais amplo, como

conflito entre posições de esquerda e de direita. Mas, também este

conflito é esvaziado: tais ‘’doutrinas extremadas’’ teriam sacudido e

turvado, sem conseguir desviá-la de seu curso, a contenda entre

‘’tradicionalistas’’ e ‘’renovadores. (CARVALHO, 1989, p.3)

Outro ponto defendido por Mignot (2002) e que também é apresentado por

Marta de Carvalho (1989), é que a década de 30, demarcou profundos reflexos na

educação oriundos da dita “revolução” de 1930, por intermédio da criação de uma

consciência educacional, de um ministério da educação e a reorganização de um ensino

secundário e superior.

No ano de 1933 ocorre a fundação da União Popular Caxiense 15que inclusive

exerceu auxílio na localidade conjuntamente com a escola promovendo medidas

assistencialistas como atendimento médico e odontológico, distribuindo roupas e

remédios à população local.

Vale ressaltar a influência de Froebel sobre o pensamento de Armanda, uma vez

que, a educadora estabeleceu a utilização do jardim e do jardim de infância, tendo em

15Instituição que lutou pela emancipação de Duque de Caxias, sendo composta por jornalistas, médicos e

políticos locais.

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vista que as crianças seriam como flores. (SANTOS, 2002, p.123). A formação de uma

educação higiênica é notória em Meriti, onde o cultivo da infância é apresentado e

difundido através dos jardins e das árvores presentes na escola.

Na conjuntura dos anos 20 no Brasil, através da influência de Belisário Penna se

percebe que por meio do discurso higienista busca-se mudar as relações sociais e

políticas em Meriti, onde a educação e o cuidado com a criança eram instrumentos de

luta para modificar tais relações. O movimento higienista era apresentado como a

solução dos problemas do país atrelado a questão educacional onde ‘’A ação educativa e

civilizadora eliminaria os fatores adversos, os vícios, produzindo uma nação regenerada

e grandiosa para os indivíduos, a sociedade e o Estado’’, (SANTOS, 2008, p.132)

A formação de uma pedagogia higienista é perceptível, moldada sobre os pilares

da ordem e da moral, onde a ideia consistia na melhora do homem por meio do futuro

através da educação, onde era dever da educação melhorar a vida na localidade, o futuro

do país.

No tocante a escola nova no Brasil, se percebe a defesa de Júlio Cesar (2008) em

apresentar as características destas na escola regional de Meriti, onde existia a defesa da

autonomia da consciência da criança, liberdade pessoal de escolha, compreensão da

realidade da criança, onde a mesma deveria ter contato com a terra, tendo aulas de

carpintaria e jardinagem.

Analisar a Escola Regional de Meriti também é perceber as instituições que

patrocinaram o movimento higienista através da mesma, como o Serviço de Profilaxia

Rural, que juntamente com a escola tinha por objetivo acompanhar o aluno e sua

realidade a qual estava inserido e o Departamento Nacional de Saúde Público que foi

responsável também por atuar na promoção da saúde pública na localidade. (SANTOS,

2008, p.157)

Com o manifesto dos pioneiros da escola nova em 1932, conforme apresentou

Júlio Cesar (2008) e Vilma Correa (2008), Armanda solidificou as estruturas de sua

escola em Meriti na Baixada Fluminense, estabelecendo conforme destacou Sônia

Camara um ensino laico, sem distinção de gênero, chamando a responsabilidade do

Estado apesar de sua iniciativa particular em promover a educação na localidade, onde:

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Partindo deste pressuposto sobre o Estado e seu papel diante da

educação, defendiam como preocupação primeira a concepção da

escola única, acompanhada da defesa da laicidade, da obrigatoriedade,

da gratuidade e da coeducação como condições essenciais para a

política de educação a ser erigida pelo Estado (CAMARA, 2003, p.39)

Vale destacar que a ideia dos reformadores conforme defendeu Mignot (2002)

em sua obra consistiu em enfrentar os problemas relativos à educação brasileira por

intermédio da organização de uma cultura, onde a educação é enxergada em moldes

nacionalistas por intermédio da noção de trabalho, defendendo ainda novos métodos de

administração escolar e a aplicação mais larga dos métodos científicos aos problemas

oriundos da educação no país. As críticas sofridas pelos reformadores se acentuaram

quando os católicos que não aceitavam a defesa do manifesto na premissa de um ensino

laico em detrimento do ensino religioso acabaram culminando na saída destes da

Associação Brasileira de Educação nos anos 30.

Outro ponto importante a mencionar na presente discussão, consiste em destacar

conforme apresentou Mignot (2002) e Vilma Correa (2008) em que a Escola Regional

de Meriti buscou romper com os valores de uma educação tradicional que era marcada

por castigos, rigor excessivo para com o aluno por parte dos professores, apenas visando

uma memorização de conteúdo. A partir da experiência em Meriti, Armanda defende

uma escola que estimule o aluno a estar naquele ambiente, valorizando o cientificismo,

a experimentação, a contextualização dos fatos, o meio sendo inserido na escola. Tais

práticas podem ser classificadas como medidas oriundas da escola nova, onde Carlos

Monarcha confirma tais fatos quando:

É de notar o modo pelo qual engendrou-se um mito de origem da

Escola Nova situado nas nascentes de um extenso rio luminoso que

trazia nas águas uma educação branda centrada no contato com a

natureza, no trabalho coletivo, na autonomia individual e no princípio

de interesse. (MONARCHA, 2009, p.61)

Torna-se fecundo destacar ainda a partir de um olhar em Gramsci e seu

pensamento, que tanto os membros da sociedade civil e política são marcados por atores

ou agências que irão promover medidas no parâmetro social, educacional, cultural,

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institucional na conjuntura de seu tempo sob a tutela ou não do Estado. Tais fatos são

confirmados por Sonia Regina de Mendonça onde:

Pensar o Estado gramscianamente é pensá-lo sob dupla perspectiva. A

primeira remete às formas mediante as quais as frações de classe se

consolidam e se organizam para além da produção, no seio da

Sociedade Civil, enquanto a segunda, refere-se às formas pelas quais

as agências ou órgãos públicos contemplam projetos e/ou atores

sociais emanados dos aparelhos privados de hegemonia dos quais a

sociedade civil é portadora. (MENDONÇA, 2005, PP.11-12)

A partir do ponto mencionado acima, torna-se fecundo ainda apresentar

conforme destacou Júlio Cesar (2008) e Vilma Correa (2008) determinados agentes e

agências da sociedade civil e política que possibilitaram o desenvolvimento da

experiência escolar da Regional de Meriti na Baixada Fluminense.

Vale destacar ainda o emprego do conceito de Sertão para a região da Baixada

Fluminense, onde tal conceito de Sertões parte de premissas com uma visão negativa

apresentando a noção de sertão como atraso e outra positiva o sertão como caminho

para uma autêntica consciência nacional. A partir disso, o autor estabelece que o sistema

educacional criado em Meriti fosse criado através das leituras nacionais realizadas pelos

intelectuais da saúde, dos conceitos apreendidos por educadores estrangeiros e ainda por

questões práticas da localidade que sofria com as doenças endêmicas e o abandono.

(SANTOS, 2008, PP.43-44)

Importante destacar que se torna fecundo repensar as práticas pedagógicas com

as modificações da organização espacial e social da Baixada Fluminense, que mesmo

com a criação de instituições que buscassem dar um saneamento adequado na

conjuntura dos anos 10 e 20 ocorriam em anos posteriores como a dos anos de 28 e 29

de febre amarela gerando um teor caótico na população local, onde na maioria dos casos

o Estado que deveria promover tais mudanças e soluções fechava seus olhos para uma

população concebida pelo ideal de sertão, isto é, atrasada e abandonada.

Considerações Finais

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A partir da revisão de bibliografia, o artigo tencionou apresentar a trajetória de

vida política, social e educacional de Armanda, que enquanto filha de seu tempo, sofreu

e exerceu influência da conjuntura dos anos 20 e 30. Na sua luta pela educação em

Meriti, por intermédio da Escola Regional de Meriti, engatou sua experiência escolar, a

causa política do país, enxergando que por meio da educação era possível se libertar dos

inúmeros problemas que assolavam o solo brasileiro.

Nota-se que o projeto desenvolvido por Armanda Álvaro Alberto na Baixada,

não foi um projeto isolado, mas sim que recebeu inúmeros financiamentos de agentes da

sociedade política e civil. A partir das influências da escola nova européia de

Montessori e Pestalozzi, assim como a escola laboratório de Dewey, começou a

empregar métodos de escola ativa em Meriti no ano de 1921, fundando a Escola

Proletária de Merity.

A partir de uma escola que adotou prática de escola nova na localidade,

buscando desde o início a integração com a comunidade, formando uma educação que

fosse voltada para o trabalho, lutando contra as condições precárias de higiene na região

aliando o movimento sanitarista de Belisário Penna a causa educacional, formando a

professora visitadora com o intuito de conhecer a realidade de seu aluno e ainda o

médico escolar que fomentou cursos e conferências na escola para conscientizar os

alunos e seus responsáveis da questão de saúde e higiene da região.

Outro ponto constatado consistiu na vinculação política com instituições de

cunho privado, como a Associação Brasileira de Educação, a Liga Nacional Contra o

Analfabetismo, a União Feminina do Brasil, a Associação Cristã Feminina, a Seção de

Cooperação da Família que investiram e financiou o projeto de Armanda com o intuito

de divulgar suas idéias pelo país, enxergando também a importância dos direitos das

mulheres na luta pelas suas conquistas na sociedade e também a educação.

Vale ressaltar que Armanda adotou métodos na escola contrários a educação

tradicional que valoriza a memorização do aluno e castigos na mesma como forma de

disciplina, em oposição à docente empregou aulas práticas ao ar livre com Estudos da

Natureza, introduziu na escola a biblioteca Euclides da Cunha, criou o Museu Escolar,

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formou um ensino primário integral, introduziu a merenda escolar, defendeu a literatura

infantil e ainda o uso da linguagem que fosse acessível às crianças, o estímulo a

observação, experimentação e a utilização do método científico, não formou avaliações

e provas para o seu aluno, defendeu a liberdade deste de se expressar, buscou

desenvolver em cada aluno para que este executasse uma função dentro da escola,

estimulando a solidariedade social, demonstrando por estes mecanismos, que é possível

se formar através do espaço escolar, uma memória local que fomente a identidade da

região.

A docente com o intuito de aproximar e consolidar seu projeto pedagógico na

Baixada Fluminense, promoveu cursos como o de Janelas Floridas e o de criações

aproximando a região e a escola, criou em 1925 o Círculo de Mães fustigando um

contato com os membros das famílias, transmitindo além de formação a estes o

desenvolvimento da puericultura nos encontros.

A articulação com a educação e a política em Armanda, é perceptível com a

participação da mesma na Primeira Conferência Nacional de Educação em 1927, onde

na mesma a docente procurou apresentar o seu projeto escolar em Meriti. Acentuando

tal fato, se percebe em Armanda sua participação como uma das signatárias do

Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova em 1932, que estabeleceu uma defesa de um

ensino laico em contraste ao religioso, onde o Estado deveria promover o mesmo, com

uma educação sem distinção de gênero e ainda gratuita.

A discussão sobre o presente Manifesto se acentuou recebendo críticas de

católicos e integralistas, que o acusaram diante do seu tom de ter laços com o

comunismo e ao fato do mesmo defender o ensino laico em detrimento do ensino

religioso.

Apesar da experiência de Armanda na Baixada, ser de uma escola de iniciativa

particular, a mesma sempre defendeu que ensino chegasse a todos, sem restrição de

sexo, buscando sugar o meio a qual a escola estava inserida, com o intuito de formar

uma escola rural na mescla entre o urbano e o rural de Meriti, fustigando a busca pela

identidade local e nacional a partir de uma escola que fosse regional.

Vale destacar que a partir da Escola Regional de Meriti, cuja mesma de caráter

ruralista na Baixada Fluminense, buscou por intermédio de seu ruralismo, fomentar uma

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cultura e memória escolar, buscando formar por meio de um ensino agrícola com aulas

de Estudo da Natureza para seus alunos, formando também a identidade local,

integrando a comunidade com seu projeto escolar.

A partir das práticas desenvolvidas na escola por Armanda, constatou-se que o

ruralismo fomentado a partir da escola, está vinculado a um engajamento político, de

luta social, conotado também pela mudança de nome da escola em 1924 para uma

escola que fosse regional e ainda fustigasse nos alunos uma consciência nacional, onde

a educação seria a solução para os problemas do país.

Outro ponto constatado consistiu em vincular a causa educacional ruralista e

higienista visando à solução dos problemas do Sertão como era rotulada a região da

Baixada Fluminense, especificamente Meriti, tendo em vista que agentes e agências da

própria Baixada promoveram a experiência escolar de Armanda, em meio a uma cidade

que estava contrastada pela dualidade entre o urbano e o rural.

O projeto educacional de Armanda, vinculando o ruralismo por meio de uma

escola agrícola na Baixada Fluminense, foi consolidado também por meio da adoção de

práticas escolanovistas em Meriti, ações estas advindas da Europa, que procuraram

formar uma escola viva, dinâmica, prática, formando uma educação que fosse voltada

ao trabalho, com cada aluno sendo chamado a exercer uma função dentro do seio

escolar, lutando contra os indicadores alarmantes na saúde pública da região, por meio

do movimento sanitarista de Belisário Pena conforme mencionado anteriormente.

Constatou-se ainda que a dualidade entre ruralismo e escolanovismo no projeto escolar

de Armanda está intrinsecamente ligada e em profundo diálogo, buscando formar uma

identidade local e uma cultura ainda de memória escolar por meio do espaço e da

integração entre a escola e a comunidade de Meriti.

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