A ferida e reflexos de uma perda

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A ferida e reflexos de uma perda GeorGe Planes

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Um testemunho de cura interior

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A ferida e

reflexos de

uma perda

GeorGe Planes

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Primeira edição: 2013

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9610, de 19/02/ 1998. É expressamente

proibida a reprodução total ou parcial deste livro, por quaisquer meios eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação e outros, sem prévia

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(31) 3482-6086

Capa: Gabriel [email protected]

Autor: George Planes

E-mail: [email protected]: @GeorgePlanes

Facebook: PrGeorgePlanes

FICHA TÉCNICA

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aGradecimento

A Deus, fiel amigo.

À minha querida e sempre família:

Valquíria, Nathanael e David Planes.

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dedicatória

Dedico aos órfãos, que perderam seus pais, e aos órfãos, que têm seus pais vivos, mas que são órfãos do amor pa-terno e materno.

Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós. (João 14:18)

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sumário

Agradecimento 03

Dedicatória 05

Prefácio 11

Introdução 15

O início 17

A perda e a ferida 23

Conhecendo o Senhor 29

O fim da revolta 35

Reflexos da perda 41

Conhecendo o Senhor - Parte dois 45

Reflexos da cura 49

Sobre o autor 57

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Ferida e reFlexos

de uma Perda

Fazei justiça ao pobre e ao órfão;

justificai o aflito e o necessitado.

(Salmos 82:3)

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PreFácio

Minha família e eu tivemos o privilégio de conhecer o Pastor Ge-orge Planes e sua família no ano de 2003, um ano de dor que passávamos ministerialmente. Parecia tudo per-dido, mas aquele dia reacendeu uma chama em nós, de esperança e certe-za que Deus tem mais, e que o melhor ainda estava por vir. E a partir dali, ti-vemos esta família como referencial, e posso afirmar que é um homem que não se vende, ou seja, não negocia os princípios de Deus. É um profeta da nossa geração, e os profetas, muitas

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vezes, são rejeitados, têm uma visão que, para muitos, parece loucura.

George Planes é um profeta, pro-feta do amor. Parece uma contradição, por tudo o que passou, descrevê-lo assim, mas Deus usa os improváveis, Deus chama os feridos e rejeitados, como Davi que, no maior evento na sua família, não fora convidado, onde sua família recebera, nada mais nada menos que o profeta Samuel, e ali iria oferecer um sacrifício. Era notó-rio que algo de muito especial estava para acontecer, mas ele, Davi, não era importante, não precisava estar ali, pensavam seus pais e irmãos, todos enganados. Samuel, depois de receber instrução de ungir um novo rei, per-gunta a seu pai, depois de Jessé passar os seus sete filhos diante dele: “Aca-baram-se os teus filhos?” (I Samuel

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16:10 e 11). O que não fora convidado para a festa, considerado sem impor-tância, seria o maior rei da história do povo de Israel, da linhagem do próprio Deus, Jesus, o Filho de Davi. É assim que Deus faz.

Ao ler este livro, você será muito abençoado, e o sentimento de solidão e esquecimento, que por muitos anos você carrega, será o canal para jorrar doçura para muitos.

Nayara Leão

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introdução

Este não é, de forma alguma, um texto doutrinário, ou só uma experi-ência particular que vivi. Creio que é parte da história da minha vida que Deus já tinha escrito, e tive o desejo de compartilhar fraquezas e falhas. Sei que ninguém gosta de se expor e, quando o faço, posso não ser compre-endido, porém prefiro correr este ris-co e você ser abençoado. Sei também que Jesus é o único homem que não falhou.

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“Corramos com perseverança a carreira que nos está proposta,

olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus.”

(Hebreus 12:1-2)

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Capítulo I

o início

No ano de 1978, minha mãe pre-cisou sair da cidade de Montes Claros, no norte de Minas Gerais, separando e fugindo do meu pai, pois ele chega-va em casa todas as noites completa-mente embriagado, quebrando tudo e querendo bater em minha mãe. Várias vezes, com muito medo, tínhamos de sair correndo para a casa de vizinhos, onde passávamos toda a noite e assim escapávamos. Com a fuga definitiva da minha mãe, a pouca estrutura da nossa família sofria o primeiro abalo.

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Meu pai vivia uma vida debaixo do espiritismo, do alcoolismo e da pros-tituição. Nesta fuga, minha mãe esta-va trazendo consigo os sete filhos, um pouco de roupa e muita esperança de ter uma vida digna e melhor. Ela foi corajosa e guerreira mudando-se para a cidade de Belo Horizonte, sem ter uma casa ou qualquer condição básica para começar uma nova vida com seus filhos.

Eu, com apenas dois anos de ida-de, me lembro muito pouco das situ-ações, mas segundo meus irmãos, fo-mos morar com uma tia, que já tinha uma família grande de seis filhos e também com condições desfavoráveis. Lembro-me que sempre meus primos tinham a primazia em todas as coisas e, por que seria diferente? Afinal de contas, éramos os “intrusos”.

Foi uma infância muito difícil, sem casa, sem pai, sem dinheiro e,

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muitas vezes, também sem comida. Lembro-me de minha mãe trabalhando durante o dia e na máquina de costura durante a noite, em casa, para tentar suprir, de alguma forma, pelo menos o nosso alimento. A minha irmã mais velha, com aproximadamente catorze anos de idade, não podia fazer muita coisa, financeiramente falando, mas ajudava colocando e mantendo a or-dem em casa com seus seis irmãos mais novos.

Tenho poucas lembranças de minha mãe. Na realidade, são só três, pelo fato de ela ter de trabalhar dia e noite. Uma das lembranças é ela tra-balhando naquela máquina de costura boa parte da noite, e eu podia apenas ficar olhando. A outra coisa que acon-tecia, que me traz uma lembrança, eram os sábados à noite, quando meus irmãos mais velhos saíam e ela fica-va em casa descansando e assistindo televisão comigo. Em poucos e raros

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momentos pude desfrutar de sua pre-sença. Ela, normalmente, acabava dormindo no sofá, com as palmas das mãos para cima, e eu ficava brincando com seus dedos. Eu os apertava como se fossem teclas de um piano, fazendo os sons com a boca. Quando ia dormir, me deitava por trás dela abraçando-a. Lembranças... Isso são só lembranças.

A terceira lembrança, na realida-de, é a que eu preferia que não exis-tisse, é a lembrança que eu não queria ter.

Com o passar do tempo, nós já estávamos com uma casa alugada e vivendo bem melhor do que quan-do chegamos na cidade. Eu já estava com seis anos de idade. Minha mãe saía todas as manhãs e sempre volta-va à noite. Trabalhava o dia inteiro em

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uma lavanderia, cerca de trinta minu-tos da nossa casa. Minha irmã mais velha, já com dezoito anos, dava uma ajuda melhor junto com meus outros irmãos. A vida caminhava para aquilo que chamamos de normalidade. Está-vamos conseguindo vencer, graças ao exemplo que tínhamos da nossa mãe.

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Capítulo II

a Perda e a Ferida

No mês de maio de 1982, o meu pequeno mundo caiu. A sequência do que eu estava vivendo foi quebrado, interrompido bruscamente. Perdi a pouca estrutura que tinha. No horário da tarde, quando minha mãe sempre chegava, naquele dia foi diferente. Ela não chegou e não chegaria mais. Um dia que eu não queria que tivesse existido.

Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele, nem resplandeça sobre ele a luz. A escuridão tome aquela noite, e não se goze entre os dias do ano, e não en-tre no número dos meses! (Jó 3:4-6).

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Nós aguardávamos, mas nenhu-ma boa notícia chegava. Ela não apa-receu lá em cima, como de costume, descendo as escadas, como todos os dias. A última imagem que eu tinha dela era da noite anterior, imagem que nem me lembro mais, pois pela ma-nhã, ela tinha saído bem cedo e eu ain-da dormia.

E a noite foi chegando, o dia es-curecendo e escurecia também a nossa vida. Meus irmãos, muito mais preo-cupados do que eu, conscientes diante da possível situação. De repente, veio uma jovem magra descendo aquela mesma escada e não era a minha mãe, e ela trazia a pior notícia da minha vida. Chegou e perguntou se era ali que morava a Maria, e quando foi res-pondido que sim, ela, sem graça, dis-se a meus irmãos: sua mãe sofreu um

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acidente hoje pela manhã e faleceu no hospital.

Meu Deus, passados trinta e um anos, me lembro como se fosse ontem.

Um desespero, um terror tomou conta mim e de meus irmãos. Agora, éramos só nós. A sensação era como se uma nuvem negra estivesse por cima de nossa casa. Dentre algumas coisas que me lembro, vejo meus ir-mãos desesperados. Eles não sabiam o que fazer naquele exato momento. É a terceira e última lembrança que tenho de minha mãe. Ela deitada no caixão, em seu velório, aos trinta e seis anos de idade.

A partir daquela data, nós pre-cisaríamos começar de novo. Tudo o que estávamos construindo caiu por terra em um só dia. A nossa estrutura

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familiar foi abalada pela segunda vez e, desta vez, foi mais forte e irreversí-vel. Estávamos em uma cidade nova, sem pai, começando a construir uma vida e agora sem mãe. Perdemos o nosso farol, o ponto de referência e o comando.

“Porque toda carne é como erva, e toda a glória do homem, como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; mas a Palavra do Senhor perma-nece para sempre.” (l Pedro 1:24,25).

Deus tinha levado para Ele a nossa querida mãe.

Dali em diante, éramos nós e um Deus que conhecíamos de ouvir falar.

Minha irmã mais velha, com o mesmo espírito de guerreira da minha mãe, juntou todos os irmãos, recusando

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todos os pedidos de adoção. Decidiu que ficaríamos unidos e ela iria cuidar de todos nós juntos, e isto ela fez mui-to bem. O Senhor a usou de uma for-ma que crescemos com caráter e sem que nenhum de nós se perdesse, livres de situações que nos colocasse à mar-gem da sociedade.

O tempo foi passando e as coi-sas ficaram mais difíceis quando meu pai resolveu vir morar conosco. Ele ainda continuava debaixo do poder das trevas, se embriagando com álcool todos os dias e, ainda por cima, ficava possesso de espíritos imundos. Foram anos de caos completos. Faltava comi-da, dinheiro, roupa, paz, segurança e sobrava escassez, insegurança e medo. Vivíamos aterrorizados com a ação do inimigo na vida de meu pai.

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Se eu contasse todas as dificul-dades que vivemos, certamente daria um livro inteiro, de muitas páginas, só com elas.

Meus irmãos contam que eu fica-va deitado e chorando por horas, gri-tando por minha mãe.

Graças a Deus, disto eu não me lembro perfeitamente, mas sinto den-tro de mim que isto realmente acon-teceu.

Os anos foram se passando e, em meio a tantas dificuldades, o que mais causava dor era a ausência da minha mãe. Fui crescendo, tentando levar a vida normalmente, mas sempre depa-rava com a situação que parecia um buraco aberto em minha vida.

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Capítulo III

conhecendo o senhor

Em 15 de novembro de 1991, em uma pequena reunião de oração, faltando dois meses para chegar aos dezesseis anos, o Senhor, com sua in-finita misericórdia, se aproximou de mim e se revelou. Ali, começava uma história diferente em minha vida.

Conhecer o Senhor é algo com-pletamente incomparável a qualquer situação ou experiência positiva ou negativa que se possa ter na vida.

A partir daquele momento,

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realmente me converti ao Senhor e me interessei intensamente em servi-lo, amá-lo e obedecê-lo. Comecei a me dedicar ao Seu chamado e me humi-lhei diante de Seu resplendor e de Sua majestade. A conversão foi verdadeira e as experiências iam se tornando cada vez mais profundas. Comecei a buscá-lo além daquilo que me ofereciam nos cultos. Se existia mais, eu queria, se tinha um ministro de Deus liberando algo, eu ia atrás. Ia às vigílias na igreja com os irmãos e, em casa, somente eu e o Senhor. Foram várias e várias noi-tes inteiras acordado, buscando a face de Deus, experiências com milagres e sinais e acontecimentos sobrenaturais. Aquele Deus que eu conhecia de ou-vir falar agora estava ali comigo, do meu lado, falando ao meu coração, me amando. Ele passara a ser um amigo

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íntimo e eu estava completamente in-teressado em descobrir mais. Eu tinha encontrado mais do que um diamante mais do que ouro ou prata, tinha en-contrado alguém, que me preenchia. Ele era tudo para mim.

Naquela época, mesmo saindo da adolescência, não queria coisas que eram normais para a minha idade, como namorar, dinheiro ou qualquer outra coisa que tirasse a minha aten-ção deste maravilhoso Deus.

Foi uma entrega total ao mundo espiritual de Deus, mas mesmo assim eu ainda sofria, sofria com a ausência de minha querida mãe. Cada dia das mães para mim era um dia de terror. Eu chorava o dia inteiro, querendo que ela estivesse comigo, chorava em qual-quer lugar. A igreja era o pior lugar,

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pois ali se fazia homenagens às mães, e eu tinha um misto de sentimentos dentro de mim. Era tristeza, raiva e ódio. Tristeza por não tê-la, raiva das pessoas junto com suas mães e ódio de tudo e de toda a situação. Eu acredita-va que jamais conseguiria superar isto. Deus, para mim, era tão importante, eu acreditava n’Ele em tudo, mas só não acreditava que Ele pudesse um dia me curar nesta área e me libertar, pois eu associava isto com a impossibilidade da presença de minha mãe e a certeza de sua ausência.

Dentro de mim, com a revolta que tinha, eu chamava o Senhor de mentiroso e dizia que Ele jamais po-deria suprir a falta que eu sentia dela, e que o versículo que diz: “O meu Deus, segundo as suas riquezas, su-prirá todas as vossas necessidades em

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glória, por Cristo Jesus” (Filipenses 4:19), era falso e mentiroso, pois eu tinha uma necessidade que não seria suprida.

Eu via Deus somente como um ser masculino e, na minha pequena mente, Ele não poderia se colocar em minha vida no lugar da minha mãe.

Assim se arrastaram três inter-mináveis anos, com muita experiência e entrega a Deus, mas uma grande re-volta que, cada vez mais, aumentava, por não aceitar e nem compreender como um Deus tão maravilhoso e que me amava tanto, teve a coragem de le-var de mim o bem que eu tanto ama-va. Eu aceitava qualquer coisa, menos aquilo. Foram lutas e batalhas pesso-ais com Deus, sofrimentos emocionais indescritíveis. Eu vivia um sentimento

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inexplicável, queria tanto alguém, mas ao mesmo tempo, sabia que aquele de-sejo era impossível de se realizar por conhecer as leis e regras que o próprio Deus tinha estabelecido em Sua Pala-vra. Eu amava o Senhor profundamen-te, mas sempre pensava que Ele tinha um débito comigo (só Deus para me aguentar). Ele tinha uma dívida por tê-la tirado de mim.

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Capítulo IV

o Fim da revolta

Aos dezoito anos de idade, no ano de 1994, já como um líder de jovens na igreja, no primeiro ano de tempo integral na obra de Deus, eu es-tava participando de um acampamento sobre oração, jejum e cura interior e, naquele dia tão especial, Deus agiu de uma maneira mais forte comigo.

Aliás, Ele sempre é assim comi-go. Penso que sou tão difícil de lidar que, em alguns momentos, Deus só age de uma maneira mais firme, com palavras diretas e sem opções.

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Após ouvir a ministração daque-la manhã, curvei os meus joelhos, sen-ti a Sua Presença e ouvi a Sua voz. Ele me disse assim:

- George, Eu não sou menti-roso e não minto. Quando digo que supro todas as suas necessidades, é porque Eu posso supri-las.

De repente, comecei a sentir um amor tão grande d’Ele por mim, como se fosse o amor da minha mãe. Naque-le momento, a sensação que tive foi que Ele se colocou no lugar vazio da minha mãe, que existia dentro de mim, e aquele vazio foi sendo preenchido. Ele ia como que se tornando minha mãe. Era algo impossível de explicar, mas era para ser vivido e sentido. Era como se fosse um Deus, que eu via apenas como pai, se tornasse a minha

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mãe e me amasse como ela me amou. Lágrimas foram derramadas naquele instante, como são derramadas agora ao me lembrar deste dia maravilhoso. Aquela revolta foi quebrada, arranca-da, destruída, aquele sentimento ma-ligno que confrontava Deus de dentro de mim estava sendo tirado. Eu estava sendo liberto da inimizade que existia em mim, em relação a Deus, e chorava e chorava muito por horas, molhando o chão daquele lugar. Lembro-me que, quase no final daquele momento, Deus falava assim: Eu posso suprir todas as suas necessidades.

Oh dia feliz, (oh dia feliz)

Oh dia feliz, (oh dia feliz)

Quando Jesus lavou (quando Je-sus lavou)

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Quando Jesus lavou (quando Je-sus lavou)

Quando meu Jesus lavou (quan-do meu Jesus lavou)

Levou meus pecados embora.

(trecho da canção de Lauryn Hill)

Só o Senhor e eu sabíamos a pro-fundidade do que estava acontecendo naquele momento comigo. Só nós sa-bíamos o quanto eu queria me tornar amigo de Deus, sem ter nenhum tipo de reserva.

Naquele dia, o tratamento come-çava. A revolta que existia dentro de mim foi tirada completamente. Eu es-tava livre daquele sentimento. A ferida estava sendo exposta, aberta para, em seguida, ser tratada e curada.

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É importante você entender que eu continuava sentindo saudades da minha mãe, pois eu a amava e ela era a minha mãe, mas a grande diferença é que, a partir daquela experiência, não tinha mais nenhuma revolta pelo fato de o Senhor tê-la levado. Fui liberto e suprido em amor, mas continuava sen-tindo muito a falta de sua presença, e um grande sentimento de saudades.

A princípio, eu vivia sem ela, mas encostado no sentimento de revolta, agora, precisava aprender a viver sem ela, mas também sem a esperança de tê-la de novo, pois eu não tinha onde me esconder mais, pois Deus tinha me amado e me preenchido. Eu precisava encarar a realidade, precisava apren-der a viver sem a esperança de um dia tê-la de novo, sem ser revoltado e isto era uma outra etapa.

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Capítulo V

reFlexos da Perda

O tempo ia passando e a cada dia eu ia superando essa perda, mas ain-da tinha o que chamo de reflexos da perda. Quando se aproximava o dia das mães, como diz um amigo meu, eu descia “no porão do poço”, ficava mal, descia no pó. Passava todo o ano bem, mas nessa data era muito difí-cil. Não queria ficar sozinho. Não era como antes, quando eu ficava amargu-rado e revoltado. Era diferente porque agora era um sentimento de tristeza, a tristeza da aceitação da sua ausência

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e a realidade de que eu estava conde-nado a viver sem ela e precisava viver com esta situação e respeitar a felici-dade dos outros. Vivi assim por mui-tos anos, sofrendo no mês de maio, e quando passava por alguma dificulda-de, que normalmente se passaria facil-mente, aproveitava e chorava também por causa da minha mãe. Escondia-me em uma tristeza emocional. Passei a ser uma pessoa dividida: vivia feliz com o Senhor, mas de vez em quan-do, afundava-me em uma profunda tristeza. A questão não era mais com Deus e nem mesmo com as pessoas, mas era comigo mesmo. Eu vivia uma vida cheia de reflexos da perda, tinha medo de que alguém mais da minha família morresse, que um deles saísse e não retornasse mais.

Aos 21 anos de idade, recém

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casado, eu não queria que minha es-posa saísse sozinha e se ela fosse eu precisava saber que horas ia voltar. Tinha medo que ela não chegasse no horário. No dia das mães, eu não que-ria ir para lugar algum e também não gostava que ela fosse, pois não queria ficar sozinho e me sentia abandonado justamente no dia que era mais difícil para mim.

Hoje, vejo que Deus me livrou de ser um jovem revoltado, e passei a ser, involuntariamente, um homem, ocasionalmente, com uma tristeza muito forte. O tempo foi passando e Deus foi tirando esses reflexos, e acre-dito que Ele está tirando alguns até hoje. Para mim, a sensação da forma que foi a perda da minha mãe não foi e nunca será fácil. Não sei se acontece assim com todos. É como se o cordão

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umbilical estivesse ligado até hoje e parece que os reflexos nunca vão aca-bar. Uns vão passando ao longo dos tempos, outros vão se manifestando. Cada pessoa tem uma forma diferen-te de resposta para cada situação que se passa em sua vida, e a vida vai nos ensinando a vencer e transmitir isto a outros. Acredito que este livro poderia chegar ao fim só depois que o Senhor me levasse desta terra para minha casa celestial, pois assim partiriam junto comigo todas as minhas fraquezas, os meus sentimentos carnais e os reflexos desta perda.

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Capítulo VI

conhecendo o senhor

Parte dois

Deus foi me ensinando e me dan-do crescimento para aprender como viver com a ausência dela, até que, no ano de 1999, o Senhor me deu uma ex-periência sobrenatural com o Seu amor.

Eu já tinha tido experiências com curas e sinais, mas depois de intensos oito anos na presença do Senhor, em uma noite, quando participava de uma

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ministração com pastores de Toronto, Deus me disse:

- George, você não me ama.

E eu, muito santo, retruquei na hora, dizendo:

- Não, Senhor, eu não. Você está dizendo isto para a pessoa errada.

Pois eu realmente tinha uma vida dedicada e zelosa ao Senhor, orava nos três turnos do dia, passava boa parte da madrugada em oração, sempre era competente, produtivo, compromissa-do, totalmente participativo nos traba-lhos da igreja local, lia constantemen-te a bíblia e ainda tinha experiências que poucos que eu conhecia tinham, e Deus continuou:

- Todas as vezes que você orou, leu a bíblia ou participou

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dos trabalhos na igreja, você fez porque tinha de fazer, e quando fez algo porque você tinha de fazer, eu não recebi.

Naquele momento, entrou uma dor tão forte de arrependimento dentro do meu coração, que comecei a pedir perdão, a clamar e chorar.

Ele continuou dizendo:

- Nesta noite, estou curando-o. Vou ministrar o meu amor no seu coração, e mostrar um pouco do quanto eu o amo, pois se Eu mostrar tudo, você não será capaz de supor-tar. E, a partir de hoje, você não vai mais orar porque tem de orar, mas você vai orar porque me ama e por-que quer orar. Você não vai mais ler a bíblia porque tem de ler e, sim, porque você me ama e quer ler. Você

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não vai mais fazer qualquer coisa porque tem de fazer e, sim, porque você me ama.

Depois disto, senti um amor tão grande de Deus por mim, que tudo, na-quele momento, se tornou irrelevante e a única vontade que eu tinha era de morrer e ir para o céu. Eu clamava ao Senhor que me matasse, pois a única vontade era de estar com Ele.

Levantei-me daquele chão com-pletamente atordoado. Não queria sair daquele lugar. Foi a experiência mais forte que tive até àquele momento.

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Capítulo VII

reFlexos da cura

Alguns dias depois, naquele mesmo ano, tive uma segunda expe-riência. Tive um sonho em que eu es-tava em um velório onde uma criança tinha perdido sua mãe e se tornado órfão. Deus colocava esta criança no meu colo e dizia:

- George, você perdeu sua mãe e venceu. Agora, quero que você en-sine outros a vencerem também.

A partir daquele dia, comecei a entender como Deus queria usar

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aquela situação de perda em minha vida, usando-me como exemplo para outros, incentivando e mostrando que existe um caminho de cura e vitória. Então, tomei uma posição, pois Deus tinha matado o jovem revoltado, aca-bou com o homem sentimentalmente triste e estava levantando um ministro do Seu amor, como alguém que enxer-gou tudo aquilo como uma experiên-cia de vida para ser usado por Ele na vida de outros filhos órfãos.

Comecei a acreditar que, daque-la dolorosa experiência, que queria me matar a cada dia e me aprisionar no meu mundo egoísta, eu poderia encon-trar e compartilhar frutos de bênçãos para outros.

E, depois de alguns dias, voltou ele para a tomar; e, apartando-se do

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caminho a ver o corpo do leão morto, eis que, no corpo do leão, havia um enxame de abelhas com mel. E tomou-o em suas mãos e foi-se andando e co-mendo dele, e foi-se a seu pai e a sua mãe e deu-lhes dele, e comeram; po-rém não lhes deu a saber que tomara o mel do corpo do leão. (Juízes 14:8-9)

O leão – representa o Leão da tri-bo de Judá, que foi morto, por causa do homem (humanidade), deu a sua vida para que pudéssemos ter vida. Através do seu corpo encontramos o alimento, suprimento para o sedento e para o faminto.

Corpo do leão – simbolicamen-te, a Igreja, o corpo de Cristo. Deus estabeleceu a Igreja e Jesus morreu por ela e vive para ela. O alimento e

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a vida vêm do corpo de Cristo. Deus tem uma aliança com a igreja, o corpo de Cristo, em qualquer situação que ela se encontre. Este corpo é a fonte de vida, de cura e de suprimento para qualquer um que clame: dá-me desta água. Aquele leão era seu inimigo, ele veio para matá-lo. Precisamos apren-der que, de uma situação de dificulda-de, de morte, de desespero, situações que fugiram do nosso controle, quan-do não existe mais esperança, pode-mos encontrar doçura, suprimento de Deus para nossa vida.

Essas situações não podem pa-rar você. Tome o mel em suas mãos e alimente-se, supra suas necessidades e continue andando, continue vivendo e leve a outros a doçura e o suprimento que Deus tem lhe dado.

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Comecei a enxergar os órfãos an-tes mesmo de saber que eram órfãos.

Em muitas reuniões que minis-tro, não oro por algumas pessoas, mas apenas as abraço, ministrando o amor de Deus e elas são profundamente to-cadas por Ele. Tomei a decisão que, a partir daquelas experiências, a dor não iria me vencer. Eu me posicionava como um ministro, como um profeta do amor de Deus aos carentes.

Quero compartilhar com você uma parte de duas canções do Fernan-dinho, que muito tem me abençoado

(Eu serei Pai de multidões

Tocarei em muitas gerações

Eu vejo um povo tão distante

Tão sozinho buscando salvação

Eu vejo órfãos e viúvas

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Filhos pródigos tão longe do Pai

Consolar os que choram

Libertar os cativos

Preparar o caminho

Anunciar tua salvação)

(Eu sei que sempre estás comigo, Senhor

Também sei que nada acontece sem a tua vontade,

Mas preciso aprender a confiar em Ti

Mas preciso aprender a descansar em Ti

Tu és meu Senhor

Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que te amam. São pala-vras que têm gritado uma verdade nes-ses dias de hoje.

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Tendo por certo isto mesmo: que aque-le que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cris-to. (Filipenses 1:6)

Pois temos muitos órfãos e viú-vas.

E temos a necessidade que se le-vantem os pais de multidões.

Deus o abençoe!

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sobre o autor

Sendo o mais novo de uma família de sete filhos, George nasceu no norte do Estado de Minas Gerais, em uma cidade chamada Montes Claros. Aos dois anos de idade, devido à separação de seus pais, foi levado por sua mãe para a Metrópole de Belo Horizonte, juntamente com seus dois irmãos e suas quatro irmãs. Teve uma vida sofrida, pois quatro anos mais tarde, sua mãe, que era sua única referên-cia de autoridade, faleceu após um aci-dente de ônibus, ficando sob os cuidados de sua irmã mais velha, que, tendo apenas dezoito anos de idade, cuidou de seus seis irmãos mais novos.

Na noite de 15 de novembro de

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1991, perto de completar 16 anos, conhe-ceu o Senhor Jesus e, dali em diante, co-meçou uma mudança tão grande em sua vida, em que ele jamais seria o mesmo. Foram anos de experiências pessoais com o Senhor que geraram transformações e uma sede de devoção e entrega ao chama-do de Deus, que sentia em seu coração. Começou trabalhar em tempo integral na obra de Deus aos 18 anos.

Quando se casou, tinha 21 anos e teve dois filhos, Nathanael e David.

Na oportunidade do chamado de Deus, teve o privilégio de servir ministé-rios de referência no Brasil e no exterior, como: Clamor Pelas Nações, Ministério Paixão, Fogo e Glória, Uma Chamada Para as Nações, entre outros. Sempre tra-balhando como obreiro, coordenador de eventos, palestrante de escolas e seminá-rios, conferencista, ele exerce o ministé-rio há 19 anos.

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Esteve viajando por vários esta-dos do Brasil e também em outros países como África, Haiti, Bolívia e EUA, pre-gando o evangelho através de impactos evangelísticos, trabalhos sociais e reuni-ões de avivamento.

Hoje, além de continuar com o tra-balho pastoral, também está se dedicando à escrita, conferências, palestras e ao seu trabalho voluntário nas cruzadas evange-lísticas com a Associação Evangelística Billy Graham.

Valquíria Planes

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