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A Formação de Professores e o desafio para os cursos de LICENCIATURA Bernardete A. Gatti Fundação Carlos Chagas

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A Formação de Professores e o desafio para os cursos de

LICENCIATURA

Bernardete A. Gatti

Fundação Carlos Chagas

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Premissas

Formar Professores para a Educação Básica é formar Profissionais.

Perfil => demanda social => trabalho

Papel do Professor:

1. Ensinar educando

2. Garantir aprendizagens

3. Propiciar o desenvolvimento humano de crianças e jovens.

Um Profissional Professor deve:

Portar conhecimentos gerais sobre o campo em que vai atuar e sobre práticas

relevantes a esse campo

Ter formação científica em sua área de atuação

Ter conhecimento da área disciplinar para o ensino

Ter formação humanista de tal forma que possa tornar-se um formador de cidadãos

=> valores e ética

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O que ocorre em relação a essas premissas?

Dados sobre um duplo ângulo:

=> Cenário da educação escolar

=> Cenário das licenciaturas

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CENÁRIO HOJE - Alguns Dados para

Reflexão

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ESCOLA BÁSICA: CENÁRIO GERAL Preocupações atuais: Matriculados/Concluintes EF = 80% => “Perda” de 20% Ensino Médio = apenas 51% da faixa etária correspondente

Desempenho = avaliações externas => de sofrível a ruim GRANDE DESAFIO= QUALIDADE DAS APRENDIZAGENS

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Cenário: Resultados escolaridade

A) Proporção da População de 12 anos de idade com ao menos os anos

iniciais do Ensino Fundamental concluídos – 2011

Brasil – 62,7%

São Paulo – 80,6 % DF – 79,4 % MG – 69,5%

RS – 64,6% RJ – 56,5% PE – 52% AL – 42,1%

_______________________________________________________________________________

B) Porcentagem de alunos que aprenderam o que seria adequado ao final

de cada etapa de educação

Ano Português Matemática

5º EF 45% 40%

9º EF 29% 16%

3º EM 27% 9%

(Microdados Saeb/Inep- Elaboração Todos pela Educação)

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CENÁRIO REDES: Professores

Professores em exercício licenciados na disciplina em

que lecionam

Tabela 1

Proporção de professores dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio

das escolas públicas com formação na área de atuação por região (em %) Brasil

(2009)

Área1

Brasil Regiões

N % Norte NE SE Sul

Centro-

Oeste

Português 224.926

54,0 31,6 35,9 74,9 68,2 59,3

Biologia 45.911 50,4 31,7 41,8 57,6 58,4 60,5

Matemática 209.686 38,6 25,9 21,8 58,8 42,9 42,7

Educação Física 110.652 36,4 13,1 14,6 65,1 55,8 29,0

História 167.674 34,3 19,7 21,7 51,8 45,3 36,2

Química 40.625 33,2 17,3 19,1 52,1 43,0 24,7

Geografia 164.136 29,4 19,6 18,6 44,4 36,1 34,2

Física 46.649 16,9 10,2 11,3 23,8 20,0 13,6

Fonte: Elaboração a partir dos microdados do Censo Escolar 2009, fornecidos pelo INEP.

Nota (1): Foram considerados licenciaturas na área de atuação e bacharelados na área de

atuação com licenciatura em outra área.

Nota (2): Tabela extraída e adaptada de Alves e Silva (2013, p. 871)

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Cenário Licenciaturas

2013 – Licenciaturas – Pres + EaD

Total de Matrículas

Brasil Pública Privada

1.374.134 599.718 774.456

Ingressantes

469.237 153.372 315.865

Concluintes

201.353 71.149 130.204

Ingressantes 2010/2011 X Concluintes 2013 – Estimativa média de conclusões

= 44%

(Fonte: INEP – Censo da Educação Superior, 2010, 2011, 2013)

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Comentários:

Perdas enormes na escolarização da população: quantitativamente e qualitativamente.

Professores improvisados em várias áreas do conhecimento por falta de licenciados na disciplina.

“Perdas” na formação inicial de professores – questões intra-cursos.

Quase impossibilidade de monitoramento dos cursos – Práticas X Propostas (no papel).

=>>> Pergunta-se pela formação inicial oferecida nas IES

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Pesquisas: Instituições e Currículos na Formação

de Professores

Diretrizes específicas mantêm espírito do bacharelado Projetos Pedagógicos não operantes. Currículos fragmentados.

Ausência de consideração de Perfil do Profissional a formar: para quê;

porquê; para onde, para qual contexto Há predomínio de formação específica relativa ao conhecimento de

área específica e pouca formação relativa ao conhecimento para o ensino.

A relação teoria-prática, tão enfatizada pelos acadêmicos, por documentos e normas, não se concretiza no cotidiano das diferentes licenciaturas.

Estágios mal planejados, mal orientados.

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Dificuldades no reconhecimento dos diferenciais do exercício do magistério nos diferentes níveis de ensino

Vácuo na formação de professores para a Educação Infantil:

Creches e Pré-Escolas.

A transferência para o Ensino Superior da formação de professores para os primeiros anos da educação básica – sem orientações para esse processo e sem estudo de situações específicas.

Indefinições: Pedagogia – “pedagogo” ou “professor”?

Demanda e capacidade de atendimento/Insatisfação dos gestores

Concepções vigentes nas Licenciaturas => força da cultura/tradição

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Estudo Gatti et al. 2012 - UFs

% Disciplinas Biologia História L. Port. Matem.

Conhecimentos da Área 78,8 63 59,5 53

Formação em Educação 22,7 17 18 24,5

Metodologias e Práticas 7,5 8,5 7,5 11

Pedagogia

Fundamentos - 37%

Metodologia e Práticas – 21,5%

Conhec. Área Relacionado ao Currículo da Ed. Básica – 6,5%

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Pouco preparo de docentes das IES para atuar na formação de professores

- Os docentes das IES que atuam nas graduações em diferentes licenciaturas, em sua maioria, não tiveram formação didática

- Pouca compreensão que há conhecimentos específicos para o ensinar, que há saberes pedagógicos para a atuação como um professor na educação básica

- Estudantes de cursos de licenciatura levantam a questão do despreparo de seus formadores para tratar de questões que dizem respeito às redes escolares, à escola e à profissão docente

- Formato da pós-graduação

- Formato dos concursos nas IES públicas

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=> Outros Sinalizadores da Crise

- desempenho em concursos públicos

- pesquisas: cotidiano escolar e ensino

- pesquisas com egressos das licenciaturas

- pesquisas com professores iniciantes

- análise de itens do ENADE

Foco que se delineia: crise na formação inicial de professores

> falta aquisição de condições para o

exercício qualificado do trabalho docente

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Pano de fundo: Concepções Arraigadas

– “qualquer um pode ser professor “

- “dar aula é “fichinha” => banalização da atividade

docente

- (um pouco + sofisticada) – “quem tem conhecimento

sabe ensinar”

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Constata-se:

=> desconsideração pelo conhecimento pedagógico

=> desconsideração pela pesquisa em educação e ensino

=> desconhecimento sobre com quem vai trabalhar

=> desconsideração pelo trabalho escolar

Essas concepções:

Impactam as práticas de formação de professores

Desqualificam a profissão

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A formação de professores não pode ser pensada apenas a

partir das ciências/áreas disciplinares como adendo destas áreas.

Precisa ser pensada e realizada a partir da função social própria à educação básica, à ESCOLA e aos processos de escolarização – ensinar às novas gerações o conhecimento acumulado e consolidar valores e práticas coerentes com nossa vida civil.

=> do trabalho à concepção

Apontamentos

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O histórico legal e institucional dos cursos formadores de professores por mais de um século, nos permite avaliar a força de uma tradição e de uma visão sobre um modelo formativo de professores que se petrificou no início do século vinte.

Tradição disciplinar e resistência à interdisciplinaridade e a aspectos fundamentais relativos à educação escolar: crianças e jovens => fragmentação entre as licenciaturas

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Necessário:

Valorização das Licenciaturas nas IES por sua

afirmação acadêmica e das ciências da educação.

Formação de professores para além do improviso, na

direção de superação de uma posição missionária ou de ofício, deixando de lado ambigüidades quanto a seu papel como profissional.

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Dificuldades:

Superação da perspectiva cientificista do século XIX

A estrutura das IES: divisões irreconciliáveis

Dependência administrativa e questões sociais

As concepções cristalizadas

Questões de ensino e sua pesquisa: sem valor na “academia”

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COMPLEXIDADE

Ensino como atividade

profissional

Professor como Profissional

O que devem saber os profissionais da docência?

Que saberes estão na base de sua profissão?

Onde e como deverão ser adquiridos esses conhecimentos?

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Transformam:

a natureza do

trabalho docente;

as relações com o

conhecimento e as

relações entre os

sujeitos envolvidos no

processo educativo

Contexto de complexidade em que as ESCOLAS se

situam hoje

Conjunto de

mudanças

Interferem na

organização das

ESCOLAS

Pedem redefinição

de prioridades

novas demandas

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Torna-se cada vez mais necessário que os cursos de

LICENCIATURA dediquem maior atenção ao seu

modo de conceber, organizar e desenvolver seu

projeto formativo visando formar para responder às

demandas do trabalho docente na educação básica.

Considerar que essa profissão é exercida em

instituições específicas:

uma ESCOLA que se situa em uma

REDE ESCOLAR

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O que implica no contexto das Universidades ?

Desenvolver reflexões coletivas sobre o papel da universidade na formação dos professores face aos desafios que se colocam à docência na educação básica hoje. Redimensionar e dinamizar novas formas curriculares para a formação de professores. Proporcionar condições de troca de experiências formadoras entre os docentes.

Discutir/estudar formas de organização do trabalho pedagógico na sua relação com o ensino, a aprendizagem, a avaliação e a comunicação professor-aluno.

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Encampar a interdisciplinaridade e a integração

formativa em espaços específicos.

Estudar/ pesquisar/ conhecer as crianças e

adolescentes, suas expectativas, crenças, valores e

concepções.

Estudar/pesquisar a contribuição das disciplinas e

práticas curriculares do curso para o desenvolvimento

profissional dos estudantes nas licenciaturas

Trabalhar em equipe

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Ações dessa natureza podem possibilitar

a criação de uma “comunidade de conhecimento

educacional”, uma “comunidade de investigação” e uma

“rede” de conhecimento, de vivências didáticas,

experiências pedagógicas para as mais diferentes áreas

de conhecimento, abrindo espaço para

INOVAÇÕES EDUCACIONAIS

Tanto dentro das Licenciaturas

Quanto para a educação básica

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Assim,

as formas de exercer a profissão de professor

formador e o compromisso social da

educação “[...] dejan de ser individuales y

empiezan a ser institucionales”

(TEDESCO, 2006, p. 335)

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Desenvolver uma boa iniciação à

docência para a educação básica é

compromisso

ético e político

com o desenvolvimento

das pessoas como cidadãos.

É responsabilidade de Universidades e demais IES.

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J. Tedesco, 2010

na área da educação temos elaborado muitas soluções para problemas que não são concretos e continuamos sem soluções para os problemas concretos das redes de ensino.

o “problema educativo é que as crianças não aprendem e que temos enormes níveis de desigualdades nos resultados de aprendizagens de nossos alunos”.(p.19)

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Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova

“Todas as gerações que nos precederam ... foram vítimas de vícios orgânicos de nosso “aparelhamento de cultura” cuja reorganização não se podia esperar de uma mentalidade política, sonhadora e romântica, ou estreita e utilitária, para a qual a educação nacional não passa geralmente de um tema para variações líricas ou dissertações eruditas.”

... - uma “alma antiga” em um “mundo novo”

[Introdução – Fernando de Azevedo (Azevedo, 1932)]

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Bibliografia Geral

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